CONTROLE DE DOENÇAS NA CULTURA DO FEIJÃO-VAGEM
Gislaine Gabardo (BIC/Fundação Araucária, Ações Afirmativas-UEPG),
Andre Manosso Correa Prestes, Maristella Dalla Pria (Orientador), e-mail:
[email protected]
Universidade Estadual de Ponta Grossa/Depto de Fitotecnia/Ponta Grossa, PR.
Ciências Agrárias, Agronomia.
Palavras-chave: Antracnose, controle, feijão-vagem.
Resumo:
Além da antracnose, a mancha-angular e o mofo-branco são as
doenças de maior importância da cultura do feijão-vagem. O controle
químico é o método mais utilizado no controle destas doenças, uma
alternativa é o leite de vaca in natura e fungos antagonistas, como espécies
de Trichoderma. O experimento utilizou a cultivar de feijão-vagem manteiga
baixo. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com 7 tratamentos
e 4 repetições. A menor área abaixo da curva de progresso da doença para
a mancha-angular foi observada nos tratamentos com mancozeb e
difenoconazol. Não houve efeito dos tratamentos para o número e peso de
vagens, severidade de antracnose nas folhas e a incidência de mofo-branco
nas vagens.
Introdução
A antracnose (Colletotrichum lindemuthianum) da cultura do feijão-vagem
(Phaseolus vulgaris L.) é uma das doenças de maior importância, podendo
causar perdas de até 100% (BIANCHINI et al., 2005). Os sintomas podem
ser observados em toda a parte aérea da planta, sendo lesões necróticas de
coloração marrom-escura nas nervuras na face inferior das folhas, os
sintomas mais característicos (SARTORATO e RAVA, 1994).
Além da antracnose, a mancha-angular (Phaeoisariopsis griseola
(Sacc. Ferr.) pode causar perdas de 7 a 70 %. Nas folhas as lesões têm
formato angular e nos caules e ramos, as lesões são alongadas, de
coloração castanho-escura. Nas vagens, as lesões são inicialmente
superficiais, quase circulares, de coloração castanho-avermelhada com
bordos escuros (BIANCHINI et al., 2005).
O mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum (Lib.)) causa perdas no
rendimento de grãos que atingem em média 50%. Os sintomas iniciais são
lesões encharcadas que se espalham rapidamente para as hastes, ramos e
vagens. Com o progresso da doença ocorre formação de escleródios
(CANTERI et al., 1999).
Como alternativa de controle estão o leite de vaca in natura e fungos
antagonistas, como espécies de Trichoderma (MARTINEZ, 2002; BETTIOL e
GHINI, 2003; STADNIK e BETTIOL, 2001; BETTIOL e ASTIARRAGA, 2000).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o controle da antracnose, mancha-
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
angular e mofo-branco na cultura do feijão-vagem com aplicação produtos
alternativos e de fungicidas.
Materiais e métodos
O experimento foi conduzido no município de Ponta Grossa, PR. A
semeadura do feijão-vagem, cultivar manteiga baixo foi realizada
mecanicamente em fileiras espaçadas de 0,80 m, a uma profundidade de
0,04 a 0,05 m.
O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com 7 tratamentos
e 4 repetições. Os tratamentos utilizados foram: 1- testemunha, 2pulverizações semanais de Trichoderma asperellum (2,0x106 esporos mL-1);
3- pulverizações semanais de leite de vaca in natura a 20%; 4pulverizações semanais de leite de vaca in natura a 20%, acrescido de óleo
vegetal (1,6 mL. L-1); 5- pulverizações de fungicida azoxystrobin (80 g i.a. ha 1
); 6- pulverizações de fungicida mancozeb (2,0 kg i.a. ha-1) e 7pulverizações de fungicida difenoconazol (0,3 L i.a. ha-1).
Todas as avaliações foram realizadas semanalmente em 8 plantas
escolhidas ao acaso nas linhas centrais de cada parcela. Para a antracnose
e mancha-angular nas folhas, estimou-se a porcentagem de tecido foliar
atacado, utilizando-se escala diagramática (CANTERI et al., 1999). Com os
dados de severidade da mancha-angular calculou-se a área abaixo da curva
de progresso da doença (AACPD).
A intensidade de antracnose e mancha-angular nas vagens foi
estimada por escala de notas e os valores obtidos transformados em Índice
de Doença pela equação de McKinney (MCKINNEY,1923). Avaliou-se
também a incidência de mofo-branco. Na avaliação de produtividade
determinou-se o número e o peso de vagens das oito plantas das linhas
centrais da área útil da parcela. Para análise os dados de porcentagem
foram transformados em arc sen x / 100 . Os dados foram submetidos à
análise de variância e as diferenças entre as médias, quando significativas,
comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Os menores valores de AACPD para a mancha-angular foram observados
nos tratamentos com os fungicidas mancozeb e difenoconazol (Tabela 1). O
fungicida mancozeb também foi similar aos tratamentos com azoxystrobin,
T. asperellum e ao leite de vaca, com e sem adição de óleo vegetal, que por
sua vez, não diferiram da testemunha.
A ocorrência do mofo-branco só foi observada nas avaliações,
realizadas aos 37 e 44 dias após a emergência. Os tratamentos testados
não controlaram o mofo-branco (Tabela 1).
Tanto os fungicidas como as aplicações de T. asperellum e do leite de
vaca in natura + óleo vegetal controlaram a antracnose nas vagens (Tabela
2), na maioria das avaliações.
Não houve efeito dos tratamentos para o peso e número de vagens
(Tabelas 3 e 4), em nenhuma das avaliações, indicando que os tratamentos
não interferiram na produtividade da cultura.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Tabela 1. Área abaixo da curva de progresso (AACPD) da mancha-angular
(Phaeoisariopsis griseola) e incidência (%) de mofo-branco
sclerotiorum) após aplicações de diferentes tratamentos.
Tratamentos
AACPD
56,8 a*
42,4 ab
40,4 ab
36,9 ab
33,9 abc
19,6 bc
10,4 c
29,9
1. Testemunha
2. Trichoderma asperelum
3. leite de vaca 20%
4. leite de vaca 20% + óleo
5. azoxystrobin
6. mancozeb
7. difenoconazol
C. V. %
Mofo-branco
37 DAE1
0,25 a
0,25 a
0,0 a
1,0 a
0,0 a
0,0 a
0,0 a
22,5
(Sclerotinia
Mofo-branco
44 DAE
0,25 a
0,25 a
0,0 a
0,0 a
0,0 a
0,0 a
0,0 a
11,1
1
DAE=dias após a emergência da cultura; *Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferiram entre si pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação.
Tabela 2. Índice de antracnose (%) nas vagens de feijão-vagem (Phaseolus
vulgaris) após diferentes tratamentos, em cinco avaliações.
Tratamentos
1. Testemunha
2. Trichoderma asperelum
3. leite de vaca 20%
4. leite de vaca 20% + óleo
5. azoxystrobin
6. mancozeb
7. difenoconazol
C. V. %
37 DAE1
0,36 a*
0,00 b
0,15 a
0,00 b
0,00 b
0,00 b
0,00 b
51,89
44 DAE
2,69 b
0,00 c
0,14 c
7,86 a
0,00 c
0,00 c
0,00 c
34,47
55 DAE
1,99 ab
2,08 a
2,94 a
0,00 c
0,710 b
0,00 c
0,00 c
32,25
62 DAE
11,32 a
0,00 c
7,44 a
0,05 c
0,08 c
0,00 c
3,14 b
31,62
69 DAE
13,43 a
1,67 b
0,39 bcd
0,17 cd
0,08 cd
0,00 d
0,61 bc
33,65
1
DAE=dias após a emergência da cultura; *Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferiram entre si pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação.
Tabela 3. Peso de vagens de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) após aplicação de
diferentes tratamentos, em cinco avaliações.
Tratamentos
1. Testemunha
2. Trichoderma asperelum
3. leite de vaca 20%
4. leite de vaca 20% + óleo
5. azoxystrobin
6. mancozeb
7. difenoconazol
C. V. %
37 DAE1
44 DAE
55 DAE
62 DAE
69 DAE
18,4 a*
18,1 a
18,1 a
16,6 a
15,4 a
13,5 a
12,8 a
36,7 a
25,0 a
24,3 a
19,3 a
18,0 a
16,5 a
14,3 a
18,3 a
16,7 a
16,1 a
15,5 a
14,3 a
11,8 a
9,9 a
26,8 a
26,3 a
23,9 a
22,2 a
18,2 a
17,8 a
13,7 a
22,2 a
21,4 a
20,5 a
20,0 a
18,0 a
16,9 a
12,8 a
48,3
55,6
51,8
29,9
47,7
1
DAE=dias após a emergência da cultura; *Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferiram entre si pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação.
Algumas espécies de Trichoderma apresentam grande potencial
como antagonistas em experimentos conduzidos in vitro para o controle de
Colletotrichum spp (JEFFRIES e YOUNG 1994). No presente experimento,
foi observada a sua eficiência no controle de C. lindemuthianum em
condições de campo. Portanto, este antagonista e o leite de vaca têm
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
potencial como alternativa a aplicações de fungicidas.
Tabela 4. Número de vagens de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) após diferentes
tratamentos alternativos e com fungicidas.
Tratamentos
1. Testemunha
2. Trichoderma asperelum
3. leite de vaca 20%
4. leite de vaca 20% + óleo
5. azoxystrobin
6. mancozeb
7. difenoconazol
C. V. %
37 DAE1
3,69 a*
3,28 a
3,16 a
3,04 a
2,88 a
2,75 a
2,38 a
42,32
44 DAE
8,41 a
6,47 a
6,04 a
5,81 a
5,13 a
4,22 a
3,88 a
53,04
55 DAE
3,97 a
3,94 a
3,66 a
3,66 a
3,38 a
2,88 a
2,85 a
42,33
62 DAE
5,87 a
5,66 a
5,35 a
5,19 a
4,97 a
4,28 a
3,50 a
27,42
69 DAE
6,75 a
6,28 a
5,94 a
5,64 a
5,56 a
5,15 a
4,53 a
47,37
1
DAE=dias após a emergência da cultura; *Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferiram entre si pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade; C.V.= coeficiente de variação.
Conclusões
O T. asperellum e leite de vaca in natura com adição de óleo vegetal e os
fungicidas azoxystrobin, mancozeb e difenoconazol controlaram a
antracnose nas vagens.
Os tratamentos com mancozeb e difenoconazol foram os que melhor
controlaram a mancha-angular.
Não houve efeito dos tratamentos para o número e peso de vagens, e
na incidência de mofo-branco.
Referências
BETTIOL, W.; ASTIARRAGA, B.D. Leite de vaca no controle alternativo do oídio.
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v.1, n.2, Porto Alegre, abr/jun 2000.
BETTIOL, W.; GHINI, R. Proteção de plantas em sistemas agrícolas alternativos. In:
CAMPANHOLA, C,; BETTIOL, W. Métodos alternativos de controle fitossanitário.
Jaguariúna, Embrapa Meio ambiente, 2003. p. 80-96.
BIANCHINI, A.; MARINGONI, A.C.; CARNEIRO, S.M.T.P.G. Doenças Do feijoeiro. In:
Manual de Fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. São Paulo, Editora Ceres,
2005, v.2, cap. 37, p.333-350.
CANTERI, M.G.; DALLA PRIA, M.; SILVA, O.C. Principais doenças fúngicas do feijoeiro.
Ponta Grossa. Editora UEPG, 1999.
JEFFRIES, P.; YOUNG, T.W.K. Interfungal parasitic relationships. Cambridge: University
Press,1994. 296p.
MARTINEZ, S.S. O Nim: Azadirachta indica – natureza, usos múltiplos, produção. Londrina:
IAPAR, 2002. 142p.
MCKINNEY, H.H. Influence of soil temperature and moisture on infection of wheat seedlings
by Helminthosporium sativum. Journal of Agricultutral Research, v.26, n.5, p.195-219,
1923.
SARTORATO, A.; RAVA, C.A. Mancha-angular. In: Sartorato, A.; Rava, C.A. (Eds.).
Principais doenças do feijoeiro comum e seu controle. Brasília: EMBRAPA, 1994. p.4168.
STADNIK, M.J.; BETTIOL, W. Pulverização com leite estimula a microflora do filoplano e
reduz a severidade do oídio em pepino. Summa Phytopathologica, v.27, n.1, p.109, 2001.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Download

TÍTULO DO RESUMO