UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação Especial Inclusiva Rosângela Pereira Barbosa O ALUNO DEFICIENTE VISUAL E OS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM LINS – SP 2010 Barbosa, Rosângela Pereira O aluno deficiente visual e os recursos disponíveis para o B211a ensino-aprendizagem/ Rosângela Pereira Barbosa. – – Lins, 2010. 55p. il. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação em Educação Especial Inclusiva, 2010 Orientadores: Fatima Eliana Frigatto Bozzo; Heloisa Helena Rovery da Silva. 1. Deficiência visual. pedagógicos. I. Título. 2. Ensino-aprendizagem. CDU 376 3. Recursos ROSÂNGELA PEREIRA BARBOSA O ALUNO DEFICIENTE VISUAL E OS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Educação Especial Inclusiva sob a orientação dos Professores M.Sc. Fatima Eliana Frigatto Bozzo e Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva. LINS – SP 2010 ROSÂNGELA PEREIRA BARBOSA O ALUNO DEFICIENTE VISUAL E OS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de Especialista em Educação Especial Inclusiva. Aprovada em: ____/____/______ Banca Examinadora: Profª Fatima Eliana Frigatto Bozzo Mestre em Odontologia - Saúde Coletiva pela Universidade do Sagrado Coração _________________________________ Profª Heloisa Helena Rovery da Silva Mestre em Administração pela CNEC / FACECA - MG. _________________________________ LINS – SP 2010 A Deus pelo milagre da vida, saúde, força e oportunidade que nos deu de ensinar e aprender durante todos os dias de nossas vidas. Ao meu filho, por ser a razão do meu viver. Ao meu marido, por ser meu companheiro e dividir comigo as conquistas de minha vida. AGRADECIMENTOS À minha orientadora M.Sc. Fatima Eliana Frigatto Bozzo pelo esforço, bondade, credibilidade e apoio dedicados na orientação deste trabalho. À Prof. M.Sc Heloisa Helena Rovery da Silva o apoio e dedicação que com sua sapiência, carinho e colaboração nos foi dado durante a orientação Ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium - Unisalesiano que possibilitou a realização deste sonho. RESUMO A pessoa com deficiência não é incapaz, normalmente os seres humanos que possuem dificuldades para realizar algumas atividades em geral tem extrema habilidade em outras. A pessoa com deficiência visual normalmente perde um importante canal de relacionamento com o mundo exterior, mais com a ajuda da família, escola e sociedade estes podem enfrentar os obstáculos colocados pela deficiência. Na escola o deficiente visual pode debater e analisar questões relacionadas às suas limitações e satisfazer suas necessidades de aprendizagem. As necessidades educacionais básicas dos alunos com deficiência visual são geralmente as mesmas que as das crianças de visão normal. Nesse contexto são muitas as tentativas de capacitação dos professores do ensino regular a realidade educacional brasileira, porém a realidade mostra lacunas e graves problemas no processo de inclusão de alunos com deficiências visuais. Sob a filosofia de inclusão escolar, entende-se que todos os estudantes devem ser escolarizados numa mesma sala de aula, evitando-se sistemática de exclusão temporária ou permanente dos alunos com necessidades educacionais especiais dessas turmas. Entretanto, essa prática implica em desafios consideráveis para o professor de classe comum que tem uma numerosa e heterogênea turma de alunos. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo traçar considerações sobre a deficiência visual e descrever sobre o trabalho pedagógico desenvolvido com o aluno deficiente visual. Procura-se descobrir quais os recursos disponíveis para o ensino-aprendizagem do deficiente visual e verificar sua eficácia como trabalho pedagógico. Entende-se que o desafio maior da escola inclusiva é a quebra de paradigmas, enfrentamento do desconhecido, aceitação do não saber e efetivação, na prática, dos princípios que fundamentam uma escola inclusiva. Faz-se necessário, portanto, a necessidade de conhecer a real dificuldade enfrentada pelos professores que recebem esses alunos e quais as alternativas geradas por eles para adquirir a metodologia e a aprendizagem necessária para desenvolver seu alunado. Palavras-chave: pedagógicos. Deficiência visual. Ensino-aprendizagem. Recursos ABSTRACT A disabled person is incapable, generally humans who have difficulties in carrying out some activities in general has great skill in others. The visually impaired person usually loses an important channel for relations with the outside world, but with the help of family, school and society may face these obstacles posed by disability. At school the visually impaired can discuss and analyze issues related to their limitations and meet their learning needs. The basic educational needs of students with visual impairments are usually the same as those of children with normal vision. In this context there are many attempts in the training of regular teachers the Brazilian educational reality, but reality shows serious gaps and problems in the process of inclusion of students with visual impairments. Under the philosophy of inclusive education means that all students should be educated in the same classroom, avoiding systematic temporary or permanent exclusion of pupils with special educational needs of these groups. However, this practice implies considerable challenges to the regular class teacher who has a large and heterogeneous group of students. Thus, this study aims to make some considerations about visual impairment and describe on the pedagogical work developed with the visually impaired student. It seeks to discover what resources are available for teaching and learning of visually impaired and verify its effectiveness as a pedagogical work. It is understood that the greatest challenge of inclusive schooling is to break paradigms, facing the unknown, not knowing and accepting the realization in practice of the principles that underpin an inclusive school. It is necessary, therefore, need to know the real difficulty faced by teachers who receive these students and what the alternatives generated by them to acquire the methodology and learning needed to develop its students. Keywords: Visual impairment. Teaching-learning. Educational resources. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Alfabeto Braille (leitura): disposição universal dos 63 sinais simples do sistema Braille ................................................................................ 40 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Classificação da perda da visão (OMS/ Escala Optométrica Decimal de Snellen) .......................................................................................... 17 Quadro 2: Classificação da perda da visão (OMS/ Escala Optométrica Decimal de Snellen) .......................................................................................... 20 Quadro 3: Paralelo e intersecção da classificação médica e educacional ........ 25 Quadro 4: Recursos ópticos e não-ópticos ....................................................... 42 Quadro 5: Materiais didáticos para o aluno deficiente visual ............................ 46 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADV - Atividades da Vida Diária AVP - Atividades da Vida Prática CAPs - Centros de Apoio Pedagógico aos Deficientes Visuais ICEVI - Educação de Pessoas com Deficiência Visual OMS - Organização Mundial da Saúde USP - Universidade de São Paulo SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12 CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFICIÊNCIA VISUAL ............... 15 1 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO ................................................................ 15 1.1 Conceitos de deficiência visual .............................................................. 15 1.2 Classificação para a deficiência visual ................................................... 16 1.3 Causas da deficiência visual .................................................................. 20 1.4 Implicações e desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual ............................................................................................................... 22 1.4.1 Implicações sob a abordagem clínica e educacional ............................ 24 CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL ...... 26 2 CLASSIFICAÇÃO EDUCACIONAL ...................................................... 26 2.1 Desenvolvimento do alunado com deficiência visual ............................. 27 2.2 Atendimento educacional ao alunado com deficiência visual ................. 31 2.2.1 As normas pedagógicas sugeridas pela da Secretaria de Estado da Educação .......................................................................................................... 34 2.2.2 Conceitos importantes para a alfabetização e aprendizagem da criança com deficiência visual........................................................................... 38 2.2.2.1 Espaço físico e mobiliário ..................................................................... 38 2.2.2.2 Comunicação e relacionamento ............................................................ 39 2.2.2.3 O sistema Braille ................................................................................... 39 2.2.2.4 Recursos ópticos e não-ópticos ............................................................ 42 2.2.2.5 Atividades ............................................................................................. 43 2.2.2.6 Avaliação .............................................................................................. 44 2.2.2.7 Recursos didáticos ................................................................................ 44 2.2.2.8 Outros Recursos ................................................................................... 47 CONCLUSÃO ................................................................................................... 50 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 52 12 INTRODUÇÃO A visão caracteriza-se por um sentido de especial relevância para a vida de relação, sendo responsável por importante parcela da informação assimilada, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento cognitivo (GUYTON; HALL, 1997). Importante canal e relacionamento do indivíduo com o mundo exterior, a visão, capta registros próximos ou distantes e permite organizar, no nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos. (GIL, 2000) Os graus de visão abrangem um amplo espectro de possibilidades: desde a cegueira total, até a visão perfeita, também total. A expressão deficiência visual se refere ao espectro que vai da cegueira até a visão subnormal e acarreta limitações ou impedimentos quanto à aquisição de conceitos, acesso direto à palavra escrita, à orientação e mobilidade independente, à interação social e ao controle do ambiente, o que poderá trazer atrasos no desenvolvimento normal. (DE MASI, 2002, p. 7). Importantes aliados à integração do indivíduo com deficiência visual, a família, a escola e a sociedade podem (e devem) contribuir no sentido de ajudá-lo a enfrentar os obstáculos colocados pela deficiência. Na escola o deficiente visual poderá debater e analisar questões relacionadas a preconceitos, mitos e estigmas com professores, alunos e funcionários. (GIL, 2000). “Ao se tornar um espaço de inclusão, a escola promove trocas enriquecedoras para toda a equipe escolar, incluindo os alunos e suas famílias”. (GIL, 2000, p. 3). De Masi (2002) comenta que: A criança deficiente visual é aquela que difere da média a tal ponto que irá necessitar de professores especializados, adaptações curriculares e ou materiais adicionais de ensino, para ajudá-la a atingir um nível de desenvolvimento proporcional às suas capacidades. O compromisso com a formação do cidadão com deficiência visual, exige uma prática educacional voltada à compreensão da realidade social, dos direitos e das responsabilidades em relação à sua vida pessoal e comunitária. As questões da ética, da pluralidade do conhecimento, da cultura e da socialização, devem ser amplamente observadas e trabalhadas pelo educador dentro de um ambiente que inspire a mútua confiança, o intercâmbio de informações e experiências, a liberdade e independência para a transferência do conhecimento. (DE MASI, 2002, p. 8). 13 A observação de De Masi (2002) não identifica a necessidade de se criar uma disciplina específica para a formação educacional deste aluno, é importante que a organização escolar permita que se conheça a fundo as deficiências, e nela inclui-se a deficiência visual, dando subsídios ao educador entre em contato com novos objetos, pessoas e situações e, assim, saber (ou aprender). Nesse aspecto Pereira; Costa (2009) consideram muito importante que os professores do ensino regular detenham conhecimentos sobre as pessoas com necessidades educacionais especiais, com o objetivo de melhor adequar as suas práticas pedagógicas em sala de aula. É freqüente nestes alunos terem baixos níveis de expectativa com relação ao rendimento acadêmico, motivado pelo desconhecimento das possibilidades da pessoa que tem essa deficiência. As necessidades educacionais básicas dos alunos com deficiência visual são geralmente as mesmas que as das crianças de visão normal, estes alunos não constituem um grupo homogêneo, com características comuns de aprendizagem. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). Apesar dos esforços realizados para a capacitação dos professores do ensino regular a realidade educacional brasileira aponta lacunas e graves problemas no processo de inclusão de alunos com deficiências visuais. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). Manzini (2006) observa que a filosofia de inclusão escolar, argumenta que todos os estudantes devem ser escolarizados numa mesma sala de aula, evitando-se sistemática de exclusão temporária ou permanente dos alunos com necessidades educacionais especiais dessas turmas. Entretanto, essa prática implica em desafios consideráveis para o professor de classe comum que tem uma numerosa e heterogênea turma de alunos. Todavia, segundo Manzini (2006): Faltam aspectos básicos para garantir não apenas o acesso, mas a permanência e o sucesso desses alunos com necessidades educacionais especiais matriculados em classes comuns, que seriam principalmente a oferta de serviços de apoio especializado e formação de professores. (MANZINI, 2006, p. 33). Nesse contexto, cabe lembrar a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, apud VIDAL, 2009) quando define que: 14 As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiências ou superdotadas, crianças de rua ou crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais. (UNESCO, 1994, apud VIDAL, 2009). A luz dos conceitos o presente estudo pretende através de revisão bibliográfica esclarecer sobre a deficiência visual e apresentar dados e discussões acerca do ensino aprendizagem deste aluno. O trabalho tem como objetivo principal traçar considerações sobre a deficiência visual e descrever sobre o trabalho pedagógico desenvolvido com o aluno deficiente visual. Tem como objetivos específicos verificar os recursos didáticos disponíveis para a alfabetização e aprendizagem do aluno com deficiência visual, analisar a atual situação educacional do deficiente visual, verificar as dificuldades de docentes e alunos com deficiência visual no ensinoaprendizagem. Desta forma, questiona-se: Em que medida os recursos disponíveis para o ensino-aprendizagem do deficiente visual são eficazes como trabalho pedagógico? A priori, o desafio maior da escola inclusiva é a quebra de paradigmas, enfrentamento do desconhecido, aceitação do não saber e efetivação, na prática, dos princípios que fundamentam uma escola inclusiva. Faz-se necessário, portanto, a necessidade de conhecer a real dificuldade enfrentada pelos professores que recebem esses alunos e quais as alternativas geradas por eles para adquirir a metodologia e a aprendizagem necessária para desenvolver seu alunado. O trabalho foi assim dividido: o Capítulo I fala sobre a deficiência visual, conceitos, classificação, causas implicações no desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual e as sobre abordagem clínica e educacional. O Capítulo II traz comentários sobre a educação do aluno com deficiência visual com a classificação educacional, desenvolvimento, atendimento educacional e as normas pedagógicas sugeridas ao alunado com deficiência visual. A Conclusão sintetiza os conceitos vistos. 15 CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES SOBRE DEFICIÊNCIA VISUAL 1 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO Um dos mais importantes sentidos humanos, a visão caracteriza-se pelo canal que relaciona a pessoa ao meio exterior, pois ela “capta registros próximos ou distantes e permite organizar, no nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos”. (GIL, 2000, p. 10). Estudos revelam que a visão não é uma habilidade inata, o ser humano após o nascimento deve aprender a ver e são nos primeiros os anos de vida que acontece o desenvolvimento das funções visuais. Atualmente, testes de acuidade visual avaliam a visão do recém-nascido. (CAMARGO, 2008). A visão é um dos sistemas-guia humanos utilizados pelo indivíduo para orientar no espaço, se o indivíduo for cego ele utiliza-se de outros tipos de sistema-guia para se orientar (CAMARGO, 2008). 1.1 Conceitos de Deficiência visual A deficiência visual possui vários graus que num espectro vão desde a visão perfeita até a cegueira total. Segundo Hernandes (2005, p. 12) “a expressão deficiência visual se refere ao espectro que vai da cegueira até a visão subnormal”. Entretanto, várias patologias podem causar problemas visuais e devem ser tratadas assim que identificadas, principalmente para não prejudicar a criança na fase escolar, dentre elas miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, estas não constituem necessariamente deficiência visual. (GIL, 2000). 16 O Ministério da Educação (MEC, 2010), traz a seguinte definição para deficiência visual É a perda ou redução de capacidade visual em ambos os olhos em caráter definitivo, que não possa ser melhorada ou corrigida com o uso de lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. Existem também pessoas com visão sub-normal, cujos limites variam com outros fatores, tais como: fusão, visão cromática, adaptação ao claro e escuro, sensibilidades a contrastes, entre outros. (MEC, 2010). Campos (2004) salienta que a deficiência visual é uma situação onde ocorre diminuição da resposta visual de forma irreversível devido a causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. Essa diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual (cegueira). O Grupo Consultivo do Programa da OMS, em reunião sobre a prevenção da cegueira, Genebra 1981, preocupado com a localização, notificação, incidência, etiologia, prevenção e tratamento da deficiência visual, salienta a importância de uma definição que, além de satisfazer as necessidades atuais, seja adotada em todo o mundo. Recomenda também a diferenciação entre cegueira e visão subnormal. 1.2 Classificação para a deficiência visual São muitas as classificações existentes para a deficiência visual que variam conforme as limitações e os fins que se destinam. De acordo com Campos (2004), a deficiência visual pode ser leve, moderada, profunda, severa e perda total da visão, Conforme o com comprometimento de campo visual, tem-se o comprometimento central, periférico e sem alteração, a deficiência pode ser congênita ou adquirida de acordo com a idade de início. Munster; Almeida (2005) sugerem que a deficiência visual surge para que as desvantagens decorrentes da visão funcional de cada indivíduo sejam minimizadas, baseado no fato de que os indivíduos com deficiência visual 17 possuem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e anatômicas que promovem modificações e resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, que interferem no desempenho de cada um. O Quadro 1 apresenta a classificação da perda da visão adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1982). Esta classificação auxiliou, principalmente os oftalmologistas, a melhorar as Atividades da Vida Diária (ADV) e nas Atividades da Vida Prática (AVP) de seus pacientes, na medida em que orientou-os na preocupação com a visão funcional deles. (DE MASI, 2002). GRAU DE PERDA ACUIDADE VISUAL DE VISÃO (com ambos os olhos e melhor correção óptica possível) Máxima menor que 1 - visão subnormal 2 - visão subnormal 6/18 (metros)* 6/60 3/10 (0,3) 1/10 (0,1) 20/70 (pés) 20/200 6/60 3/60 1/10 (0,1) 1/20 (0,05) 20/200 20/400 3/60 3 - cegueira Mínima igual ou maior que 1/20 (0,05) 20/400 1/60 (capacidade de contar dedos a um metro) 1/50 (0,02) 5/300 1/60 (capacidade de contar 4- cegueira dedos a um metro) 1/50 (0,02) Percepção de luz 5/300 5 - cegueira Não percebe luz 9 - Indeterminada ou não especificada CID 2000. * A fração 6/18 metros significa que o indivíduo vê a seis metros o que normalmente se veria a 18 metros. O mesmo ocorrendo com 20/70 pés, ele vê a 20 pés o que seria visto a 70 e assim sucessivamente conforme proposto na tabela. Apesar da conversão em metros e decimal, os oftalmologistas utilizam com maior freqüência a expressão da acuidade visual medida em pés e, algumas vezes, em decimal, conforme proposto na escala de Snellen. Fonte: OMS (1982) Quadro 1: Classificação da perda da visão (OMS/ Escala Optométrica Decimal de Snellen) 18 Os portadores de deficiência visual apresentam uma variação de perdas que poderão se manifestar em diferentes graus de acuidade visual que pode ir desde a ausência da percepção de luz até 0,3 (Snellen), conforme detalhado nas definições médica e educacional. Utilizada para medir a acuidade visual para longe, a escala optométrica decimal de Snellen mede a percepção de forma e posição dos objetos da seguinte forma: A uma distância de 6 metros, as figuras e, em negro, em diferentes posições são alinhadas sobre uma carta branca, diminuindo seu tamanho de cima para baixo, numa proporção direta de distância e tamanho baseados em uma escala decimal que varia de 0,1 a 1. Considerando a amplitude do campo visual, os indivíduos com campo maior do que 5 graus e menor do que 10 graus ao redor do ponto central de fixação devem ser colocados na categoria 3 e aqueles cujo campo visual não ultrapasse os 5 graus ao redor do ponto central de fixação na categoria 4, quando não está afetada a agudeza visual central (DE MASI, 2002, p. 10). De acordo com a OMS (1982), a deficiência visual pode ser considerada pela baixa acuidade visual ou campo visual restrito. Segundo Crós et al. (2006), Para que possa ocorrer um bom entendimento das classificações da deficiência visual faz-se necessário o entendimento das funções visuais, ocorrendo uma maior compreensão do funcionamento visual dos alunos, que abrange a acuidade visual (capacidade de distinguir detalhes, dada pela relação entre o tamanho do objeto e a distância onde está situado), a binocularidade (é a capacidade de fusão da imagem proveniente de ambos os olhos em convergência ideal, o que proporciona a noção de profundidade), o campo visual (é avaliado a partir da fixação do olhar, quando é determinada a área circundante visível ao mesmo tempo), a visão de cores (capacidade para distinguir diferentes tons e nuances das cores), a sensibilidade à luz (capacidade de adaptação frente aos diferentes níveis de luminosidade do ambiente) e a sensibilidade ao contraste (habilidade para discernir pequenas diferenças na luminosidade de superfícies adjacentes) (CRÓS et al., 2006). Segundo a OMS (apud, CAMPOS, 2004), o indivíduo com baixa visão ou visão subnormal é aquele que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo após tratamento e/ou correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/18 à percepção de luz, ou um campo visual menor que 10 graus do seu ponto de fixação, mas que usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para o planejamento e/ou execução de uma tarefa. Também chamada baixa visão, a visão subnormal caracteriza-se na alteração da capacidade funcional devido a vários fatores, tais como “o 19 rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades”. (GIL, 2000, p. 10). Normalmente, a pessoa com visão subnormal possui conserva resíduos visuais e não conseguem enxergar com clareza a distâncias pequenas. (CARVALHO, 1994). Uma definição mais voltada para a visão funcional é apresentada por Veitzman (2000), que apresenta o conceito elaborado em 1992 em Bangkok, a saber: O portador de baixa visão é aquele que possui um comprometimento do seu funcionamento visual mesmo após tratamento ou correção de erros refracionais comuns e apresenta uma acuidade visual inferior a 6/18 até percepção luminosa e um campo visual inferior a 10 graus do seu ponto de fixação, mas que utiliza ou é potencialmente capaz de utilizar a visão para o planejamento ou a execução de uma tarefa. (VEITZMAN, 2000, p. 3) Os resíduos visuais, até a pouco tempo, não eram considerados como úteis e as pessoas eram tratadas como cegas, atualmente, oftalmologistas, terapeutas e educadores desenvolveram técnicas para aproveitar o resíduo visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer. Com isso, conseguiu-se melhorar significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, mesmo sem eliminar a deficiência. (GIL, 2000). Pessoas com visão subnormal apresentam visão embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo, distinguem apenas vultos, claridade ou objetos a pouca distância e, normalmente, usam auxílios ópticos, tais como: óculos, lupas e outros. (CARVALHO, 1994). Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são lentes especiais ou dispositivos formados por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, que se utilizam do princípio da magnificação da imagem, para que possa ser reconhecida e discriminada pelo portador de baixa visão. Os auxílios ópticos estão divididos em dois tipos, de acordo com sua finalidade: recursos ópticos para perto e recursos ópticos para longe. (BRAGA, 1997, p. 12). A cegueira, ou perda total da visão, pode ser adquirida, ou congênita, caso o indivíduo perca a visão após o nascimento este guarda memórias visuais de imagens, luzes e cores e este fator faz-se importante para a sua readaptação. (GIL, 2000). 20 1.3 Causas da deficiência visual Segundo Crós et al. (2006), as causas da deficiência visual podem ser congênitas ou adquiridas que resultam na deficiência visual direta ou indireta. De acordo com Gil (2000), as causas mais freqüentes de cegueira e visão subnormal são: a) Retinopatia da prematuridade causada pela imaturidade da retina, em decorrência de parto prematuro ou de excesso de oxigênio na incubadora; b) Catarata congênita em conseqüência de rubéola ou de outras infecções na gestação; c) Glaucoma congênito que pode ser hereditário ou causado por infecções; d) Atrofia óptica; e) Degenerações retinianas e alterações visuais corticais; f) A cegueira e a visão subnormal podem também resultar de doenças como diabetes, descolamento de retina ou traumatismos oculares. O Quadro 2 descreve as causas congênita ou adquirida da deficiência visual. continua CAUSAS CONGÊNITAS Albinismo: patologia caracterizada pela deficiência na pigmentação da íris, o que resulta em grande sensibilidade à luz CAUSAS ADQUIRIDAS Ambliopia ou olho preguiçoso: baixa acuidade visual em decorrência do estrabismo Anirídia: ausência ou má formação da Ansiometropia: é a diferença acentuada de grau entre íris, resultando na deficiência visual. os olhos Atrofia ótica: deteriorização de parte ou Astigmatismo: de todas as fibras nervosas do nervo meridianos da córnea que podem causar distorção e óptico embaçamento da visão Catarata: opacidade do cristalino, Catarata: pode ser corrigida através de cirurgia causando o embaçamento da visão, com implante de uma lente artificial na parte pode ser congênita ou adquirida interna da estrutura capsular do cristalino são variações na curvatura dos 21 conclusão CAUSAS CONGÊNITAS CAUSAS ADQUIRIDAS Corriorrentinite macular: inflamação da coróide, atingindo a mácula geralmente Conjuntivite: inflamação conjuntiva causada por toxoplasmose Estrabismo: os olhos desalinhados impedindo encontram-se Deslocamento de retina: é a separação entre as a diferentes fusão da camadas da retina, decorrente de imagem inflamações e infecções Glaucoma: aumento anormal da pressão Diabetes: doença metabólica que pode levar a diversas intra-ocular alterações visuais Hipermetropia: erro da refração que dificulta a focalização de objetos próximos Miopia: dificuldade para enxergar a distancia Presbiopia ou vista cansada: perda da capacidade de acomodação da lente decorrente do processo de envelhecimento, resultando em limitações visuais Retinóide pigmentar: degeneração e atrofia da retina iniciando na região periférica conduzindo ao afunilamento gradativo da visão Rubéola Glaucoma: pode ser congênito ou adquirido materna: infecção febril e virótica que pode resultar na deficiência visual, na perda auditiva e em déficits mentais e neurológicos quando a mãe sofre contágio no primeiro trimestre de gestão Retinoblastoma: doença manifestada por presença de tumor maligno na retina de um ou dos dois olhos, aparece geralmente antes dos cinco anos Retinoplatia ou prematuridade: neurovascularização dos vasos retinianos por excesso de oxigenação em bebês prematuros mantidos formação de uma em incubadoras, há membrana pós-cristalina e geralmente provoca deslocamento da retina Sarampo: doença aguda virótica, com evolução febril Sífilis: é uma doença infecciosa que que pode levar a cegueira. pode Subluxação do cristalino: deslocamento parcial do causar a paralisia do nervo óculomotor cristalino afetando os principais mecanismos de refração e acomodação podendo causar hipermetropia Toxoplasmose: pode ser congênita, através da Toxoplasmose: pode causar inflamação transmissão da mãe ao feto durante a gestação ou prévia na retina, resultando na deficiência adquirida, através do contato com fezes de animais visual contaminados ou da ingestão de carne crua ou mal cozida infectadas pelo protozoário Toxoplama gondi Fonte: Crós et al. (2006) Quadro 2: Classificação da perda da visão (OMS/ Escala Optométrica Decimal de Snellen) 22 1.4 Implicações e desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual A deficiência visual quer seja congênita ou adquirida causa variações no desenvolvimento individual e psicológico do indivíduo. Já a cegueira resulta também em perdas emocionais; das habilidades básicas (mobilidade, execução das atividades diárias); da atividade profissional; da comunicação; e da personalidade como um todo. Essa experiência traumática exige acompanhamento terapêutico para a pessoa e para a família. (GIL, 2000). Muitas crianças, além da deficiência visual ainda possuem outras deficiências aditivas, de fala entre outros, desta forma, além do diagnóstico precoce uma equipe multidisciplinar deve acompanhar o seu desenvolvimento para que se obtenha um resultado satisfatório. Em crianças, o tratamento adequado deve ser dado o mais cedo possível, devido à necessidade de cuidados especiais pelo comprometimento do canal sensorial e para que a deficiência visual não cause prejuízos ao desenvolvimento neuropsicomotor, com repercussões educacionais, emocionais e sociais, que podem perdurar ao longo de toda a vida. Faz-se necessário elaborar sistemas de ensino que transmitam, por vias alternativas, as informações que não podem ser obtidas por meio da visão. (DE MASI, 2002). A partir do diagnóstico, deve ser elaborado um programa de educação precoce, que inclui atividades lúdicas de acordo com a idade. Sua aplicação depende, em primeiro lugar, da efetiva participação da família. (GIL, 2000). Um programa de orientação e mobilidade deve ser diferente para crianças portadoras de cegueira e de visão subnormal. Técnicas especializadas podem desenvolver o sentido de orientação usando o tato, a audição e o olfato para se relacionar com os objetos significativos que estão no ambiente nos programas de estimulação precoce, orientação e mobilidade para que a criança aprenda a usar seus outros sistemas-guia. (FELIPPE; ÁLVARO, 1997). O treinamento da orientação e da mobilidade permite que a pessoa se movimente e se oriente com segurança na escola, em casa, no trânsito, em locais públicos entre outros, de acordo com sua idade. (GIL, 2000). 23 Para as crianças com visão subnormal se desenvolve um programa de estimulação visual, também baseado em jogos e brincadeiras, criados ou adaptados para as mais diferentes ocasiões. Essas atividades se destinam a estimular a visão residual (quando há), e também os outros sentidos. (GIL, 2000). Durante anos, o preconceito impedia o desenvolvimento da pessoa deficiente visual com vistas à sua autonomia. Esta era tolhida a executar várias atividades, dentre elas, deslocar-se com independência, cuidar-se e vestir-se com adequação, alimentar-se, interagir socialmente, competir no mercado de trabalho, casar-se dentre outros. (FELIPPE; ÁLVARO, 1997). Atualmente, programas desenvolvidos por serviços de atendimento às crianças portadoras de deficiência visual já incorporam um trabalho voltado para as atividades de vida diária (AVD) e para a orientação e a mobilidade. Estes programas têm a intenção de capacitar estes indivíduos para o prazer da autosuficiência, libertação da ajuda e da proteção excessivas e motivação para o crescimento pessoal, por meio de atitudes e valores positivos. (FELIPPE; ÁLVARO, 1997). Estes programas são importantes não só para a independência das necessidades pessoais básicas, mas também para o desenvolvimento da autoconfiança e valorização das próprias capacidades, aquisição de naturalidade, eficiência e desenvoltura no universo social e uma atitude que favorece a conscientização da sociedade em relação às potencialidades do portador de deficiência. (GIL, 2000). Nesse contexto, cabe à família a tarefa oferecer ao portador de deficiência visual condições para seu crescimento fazendo com que este indivíduo seja uma pessoa total, que tem potencialidades outras que dão condições de estudo, independência, trabalho, práticas esportivas dentre outras coisas que o permitam levar uma vida normal. De acordo com De Masi (2002), para que se possa compreender a necessidade que crianças ou adultos com deficiência, há a necessidade de ocorrer uma troca de experiências, principalmente entre pais e profissionais para que ocorra a construção de novos e significativos valores. Na opinião de Gil (2000, p. 14), no Brasil, “ainda predomina, em relação à deficiência, uma concepção assistencialista, permeada de barreiras sociais” 24 onde o portador de deficiência e sua família ficam a mercê da assistência de instituições, serviços médicos ou profissionais que possam curar ou auxiliar nos problemas que envolvem a deficiência. Para isso, faz-se necessária a informação antes de tudo, para que estes possam encontrar interlocutores para discutir sua problemática e para se identificar. De acordo com De Masi (2002), a deficiência da visão é uma limitação sensorial que pode atingir uma gravidade capaz de praticamente anular a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo diversas classificações de redução da visão. Portanto, ao se adotar determinada classificação, deve-se considerar as finalidades propostas para sua utilização. Existem, basicamente, dois enfoques para isso: a conotação clínica determinada pela Organização Mundial da Saúde e a conotação com propósitos educacionais. 1.4.1 Implicações sob a abordagem clínica e educacional Conforme dito anteriormente, a Organização Mundial da Saúde utiliza a Escala de Snellen que são critérios médicos de medidas de acuidade visual para determinar resultados estáticos em condições especiais de distância e iluminação, sem considerar outras características físicas e psicológicas dos indivíduos que podem alterar o resultado (GARCIA, 1984). A definição educacional é mais funcional e dinâmica, pois a acuidade visual, conforme a Escala de Snellen é muito menos importante do que o uso real que o indivíduo faz da visão. A eficiência visual não pode ser expressa por medidas estáticas, encontrando-se enormes diferenças na eficiência visual entre indivíduos com perdas semelhantes de visão. A eficiência psicovisual ou o uso da visão residual é determinada por fatores como a natureza e extensão da doença do olho, idade em que ocorreu a perda da visão, oportunidades de estimulação visual e de ver materiais visuais, condições psicológicas do indivíduo e sua atitude em relação à deficiência. (FAYE; BARRAGA, 1985, p. 98). A definição da OMS é utilizada para fins legais, econômicos e estatísticos, a educacional se preocupa com o desempenho visual, visando a 25 formação e participação do indivíduo na sociedade, conforme salienta De Masi (2002). Sendo assim, não se deve seguir a risca os diagnósticos baseados na distância padrão de medidas da acuidade visual para prognósticos educacionais, pois muitas crianças podem ter alguma visão para perto potencialmente aproveitável, mas não desenvolvida. (DE MASI, 2002). Isto significa que às pessoas de qualquer idade, portadoras de visão residual, devem ser facilitadas a utilização desta visão o mais cedo possível, devendo ser preparadas para isso, evitando-lhes a imputação do rótulo de cegueira. (DE MASI, 2002). O Quadro 3 apresenta a um paralelo entre a Classificação médica e educacional. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA Diagnóstico médico – CLASSIFICAÇÃO EDUCACIONAL baseado na Acuidade visual. Ênfase no que enxerga. Finalidade legal, Eficiência Visual. econômica e Ênfase no como enxergar. Finalidade estatística. Resultado prática e funcional em termos de desempenho na orientação e estático em mobilidade na AVD e nas tarefas condições escolares especiais de distância e iluminação. Diagnóstico educacional - baseado na Dados Quantitativos (numéricos) Resultado dinâmico em condições de vida prática. Dados qualitativos Obs.: Uma complementa a outra. O diagnóstico médico não leva necessariamente ao prognóstico educacional (pode haver uma capacidade de visão para perto não desenvolvida). Fonte: De Masi (2002, p. 34) Quadro 3: Paralelo e intersecção da classificação médica e educacional Em 1992, a OMS e o Conselho Internacional para Educação de Pessoas com Deficiência Visual (ICEVI), em reunião realizada em Bangcoc, Tailândia, sugerem nova avaliação clínico-funcional, para a participação dos portadores de baixa visão, nos diferentes programas de educação e reabilitação (DE MASI, 2002). 26 CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL A educação de crianças portadoras de deficiência visual, durante muitos anos, visou somente êxitos intelectuais com o intuito de alcançar desempenho acadêmico satisfatório e bom nível de informação e verbalização, não sendo vislumbrada autonomia e independência. (GIL, 2000). A criança na idade pré-escolar começa a desenvolver seu relacionamento com outras pessoas, é o momento em ela inicia suas amizades, aprende a compartilhar brinquedos e a deficiência visual constitui um empecilho de desempenho desses papéis o que acarretará insatisfação e isolamento, trazendo prejuízos a sua aprendizagem. (DA MATA, VASCONCELOS, 2001). Para alguns autores, a limitação na orientação e na mobilidade pode ser considerada o efeito mais grave da cegueira. (GIL, 2000). O desenvolvimento das habilidades de orientação e mobilidade, parte essencial do processo educacional de qualquer criança deficiente visual, precisa começar desde cedo, em casa, com o apoio dos pais. Depois, o treinamento continuará na escola, com o professor especializado. (GIL, 2000). Como dito anteriormente, várias são as classificações da deficiência visual, cabe aqui traçar as observações sobre a classificação educacional da deficiência. 2 CLASSIFICAÇÃO EDUCACIONAL A capacidade de ver não é inata, conforme comprovam os estudos e pesquisas de Barraga (1997), ela depende de habilidades aprendidas em cada estágio do desenvolvimento com base no fato de que a estimulação da visão residual podem levar à eficiência visual. 27 Os estudos de Barraga (1997), revelaram que 89% dos educandos com acuidade visual inferior a 0,1 (Escala Optométrica Decimal de Snellen) tem visão residual possível de utilização e desenvolvimento. Antigamente, os serviços em educação especial tinham por objetivo a conservação da visão através da utilização de materiais e métodos que exigissem sua mínima utilização (GARCIA, 1984). Os alunos portadores de visão subnormal, na época chamados de amblíopes, eram aqueles que apresentavam acuidade visual 0,1 a 0,3 (Escala de Snellen), enquanto os de acuidade visual menor que 0,1 eram considerados cegos e forçados a utilizar o Sistema Braille no processo de leitura e escrita. Quanto aos considerados cegos, os sentidos do tato e da audição eram estimulados, ignorando-se totalmente o potencial da visão ainda existente e com possibilidades de melhorar a sua eficiência. (DE MASI, 2002, p. 15). Faye; Barraga (l985) salientam que os educandos portadores de cegueira apresentam ausência total de visão com perda de projeção de luz, devendo utilizar o Sistema Braille no processo ensino/aprendizagem, mesmo que a percepção de luz os auxilie na orientação e mobilidade. Já os educando com visão subnormal, segundo Faye; Barraga (l985), apresentam condições de indicar projeção de luz até o grau em que a redução de sua acuidade visual limite o seu desempenho. 2.1 Desenvolvimento do alunado com deficiência visual A classificação educacional do deficiente visual determina as diferenças nos programas de orientação e mobilidade para estas crianças, sendo que os portadores de visão subnormal que se encontram no limite superior utilizarão poucos recursos adicionais, usando quase exclusivamente a visão para a orientação e mobilidade enquanto que os que se encontram como limítrofes da cegueira necessitam de treinamento sensório-perceptivo com o objetivo de utilizar melhor as informações provenientes dos outros sentidos, servindo como pistas em sua orientação espacial. (DE MASI, 2002). Para que se possa entender o desenvolvimento da criança portadora de deficiência visual há a necessidade de considerar alguns aspectos, tais como: 28 idade em que aconteceu, a associação (ou não) com outras deficiências, os • aspectos hereditários e aspectos ambientais e o tratamento recebido. (GIL, 2000). Ainda, segundo Scholl (1982, apud DE MASI, 2002), algumas variáveis intervenientes afetam o grau da perda visual tais como: a idade em que se manifestou o problema visual, forma de manifestação, etiologia, tipo e grau de visão, nos casos em que existe algum resíduo de visão. De acordo com Scholl (1982, apud DE MASI, 2002), é importante saber a idade em que manifestou o problema visual por que uma criança com cegueira congênita dependerá da audição e do tato para adquirir conhecimentos e formar imagens mentais, enquanto uma criança cuja cegueira ou perda acentuada da visão ocorra depois do nascimento, poderá reter imagens visuais e ser capaz de relacioná-las com as impressões recebidas pelos outros sentidos. As crianças que perdem a visão antes dos cinco anos, não são capazes de reter imagens visuais, conforme observa Lowenfeld (1963, apud DE MASI, 2002). Já a criança que adquire a deficiência antes ou depois da alfabetização, terá mais resistência ou dificuldade para a aceitação da escrita Braille. É importante também saber de que forma se manifestação a deficiência, pois a criança ou jovem de baixa visão que vai perdendo-a progressivamente, poderá estar melhor preparada para a aceitação da perda total, enquanto aqueles que a perdem subitamente, podem ter reações diferentes, requerendo apoio e compreensão por mais tempo para poderem aceitar sua nova condição. Porém, é comum, em ambos os casos o aparecimento de problemas ou interferências no ajustamento emocional. A aceitação da deficiência pelo indivíduo é importante para que este tenha melhores resultados. (DE MASI, 2002). Em relação à etiologia, faz-se importante sua verificação, na em que certas patologias trazem problemas adicionais que podem causar diferentes formas de comportamento, como no caso do glaucoma congênito que causa dor, ou outro fator como a iluminação que em certas patologias requerem pouco ou muita luz. Outras dificuldades enfrentadas pelos alunos com baixa visão referem-se a certas circusntâncias, tais como: objetos situados em ambientes mal iluminados, ambiente muito claro ou ensolarado, objetos ou 29 materiais que não proporcionam contraste, objetos e seres em movimento, visão de profundidade, percepção de formas complexas, representação de objetos tridimensionais, e tipos impressos ou figuras não condizentes com o potencial da visão. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Na escola, os professores costumam confundir ou interpretar erroneamente algumas atitudes e condutas de alunos com baixa visão que oscilam entre o ver e o não ver. A partir deste entendimento, o professor poderá decidir com o aluno qual o melhor lugar para ele ficar na classe. No que se refere à iluminação, é oportuno lembrar que os casos de catarata, glaucoma, aniridia, ceratocone e albinismo, respondem melhor quando há menor intensidade de luz, enquanto alguns erros de refração, a retinose pigmentar, a atrofia óptica e degeneração macular requerem maior quantidade de luz para estimular as células da fóvea (componente do sistema visual) e melhorar a clareza e agudeza visual. No entanto, poderão ocorrer variações entre dois indivíduos com a mesma etiologia, onde um poderá exigir maior, e outro, menor quantidade de luz (BARRAGA, 1971, apud DE MASI, 2002, p. 14). Outra variável que afeta o grau da perda visual é o tipo e grau de visão residual, ou seja, o grau de visão subnormal juntamente com o tipo de afecção existente poderá causar interferências no aproveitamento do aluno devido ao esforço que poderá fazer na tentativa de querer enxergar mais do que realmente pode, provocando tensão, tanto física, quanto emocional. Nesses casos nota-se a necessidade de se utilizar materiais impressos em tipos ampliados e em braille ao mesmo tempo. Muitas vezes, os recursos ópticos existentes não são estéticos e são rejeitados pelos seus usuários que muitas vezes mostram-se frustrados e possuem baixo rendimento escolar. Zimmerman (1965, apud DE MASI, 2002), nota que muitas vezes a criança portadora de cegueira total apresenta um melhor ajustamento do que a de visão subnormal devido, principalmente a menor expectativa impostas às crianças cegas do que as com visão subnormal. Além destes itens mencionados por Scholl (1982), Norris et al. (1957) comentam sobre a oportunidade para aprender da criança com deficiência visual que deverá através de outras vias adquirir conhecimentos. (DE MASI, 2002). 30 Em seus estudos, Norris et al. (1957, apud DE MASI, 2002, p. 65) concluíram que as crianças pré-escolares necessitam de oportunidades para aprender e não, simplesmente, de estimulação. A oportunidade para aprender implica “um clima emocional dentro do qual é dada à criança orientação e liberdade em proporções justas e relativas às suas necessidades como uma personalidade em desenvolvimento”. Para que se possa identificar as necessidades específicas e potencialidades da criança portadora de deficiência visual, há a necessidade de se fazer uma avaliação que deverá ser feita profissionais da área da saúde e da educação que, por sua vez, devem trabalhar junto à criança e à família, desde o momento do diagnóstico. (AMIRALIAN, 1994). O papel da família é primordial para o sucesso do desenvolvimento da criança com deficiência visual, assim como a escola que deve integralizar discussões acerca dos problemas, mitos e preconceitos. Ao se tornar um espaço de inclusão, a escola promove trocas enriquecedoras para toda a equipe escolar, incluindo os alunos e suas famílias. (GIL, 2000). Para conhecer o deficiente visual o educador deve entender como ele é, percebe, age, pensa, fala e sente buscando atender aos seus interesses e descobrindo suas habilidades, prestando atenção ao referencial perceptual que ele irá revelar, que não é o da visão. A partir daí, o educador pode oferecerlhes oportunidades para entrarem em contato com novos objetos, pessoas e situações e, assim, saber (ou aprender). (MASINI, 1993). No trabalho com crianças cegas ou portadoras de visão subnormal há necessidade de um conhecimento prévio de cada caso, para elaboração de um plano educacional adequado às características e necessidades do educando. Algumas informações importantes devem ser colhidas junto aos pais ou responsáveis pela mesma, as quais serão posteriormente ampliadas ou rejeitadas de acordo com o desenvolvimento das atividades no contato direto com o aluno. (DE MASI, 2002). Nesse contexto, salienta-se a importância das relações interpessoais podem ser saudáveis e baseadas na reciprocidade. 31 2.2 Atendimento educacional ao alunado com deficiência visual Atualmente, a educação da criança deficiente visual ocorre através de programas diferentes desenvolvidos em classes e escolas especiais, ou através do ensino integrado, nas salas de recursos, no ensino itinerante ou na classe comum, recebendo apoio do professor especializado. Embora, a educação especial atual tendencie manter as crianças com necessidades educativas especiais em escola comum num programa regular de ensino, com ou sem serviços suplementares, pois nota-se que o interesse da criança, da família e da comunidade em geral, é melhor atendido quando os programas de educação especial são instalados em escolas locais, proporcionando ao educando o máximo de convivência com outras crianças e pessoas de seu próprio círculo de relações sociais. (DE MASI, 2002). Em ambos os casos, programas diferenciados ou escolas comuns, as crianças necessitam de requisitos especiais, fazendo ou não, uso de materiais ou equipamentos de apoio e professores especializados nesta área, métodos e técnicas específicas de trabalho, instalações e equipamentos especiais, bem como algumas adaptações ou adições curriculares. (DE MASI, 2002). A educação de alunos com baixa visão baseia-se no princípio de estimular a utilização plena do potencial de visão e dos sentidos remanescentes, bem como na superação de dificuldades e conflitos emocionais. Para isso, é necessário conhecer e identificar, por meio da observação contínua, alguns sinais ou sintomas físicos característicos e condutas freqüentes, tais como: tentar remover manchas, esfregar excessivamente os olhos, franzir a testa, fechar e cobrir um dos olhos, balançar a cabeça ou movê-la para frente ao olhar para um objeto próximo ou distante, levantar para ler o que está escrito no quadro negro, em cartazes ou mapas, copiar do quadro negro faltando letras, tendência de trocar palavras e mesclar sílabas, dificuldade na leitura ou em outro trabalho que exija o uso concentrado dos olhos, piscar mais que o habitual, chorar com freqüência ou irritar-se com a execução de tarefas, tropeçar ou cambalear diante de pequenos objetos, aproximar livros ou objetos miúdos para bem perto dos olhos, desconforto ou intolerância à claridade. Esses alunos costumam trocar a posição do livro e perder a seqüência das linhas em uma página ou mesclar letras semelhantes. Eles demonstram falta de interesse ou dificuldade em participar de jogos que exijam visão de distância. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 20). 32 O professor deve despertar o interesse do aluno com baixa visão através de atividades que proporcionem prazer e motivação para o desenvolvimento da iniciativa e a autonomia, que são os objetivos primordiais da estimulação visual para que este desenvolva a eficiência visual, estabeleça o conceito de permanência do objeto, e facilite a exploração dirigida e organizada. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Conhecer o desenvolvimento global do aluno, o diagnóstico, a avaliação funcional da visão, o contexto familiar e social, bem como as alternativas e os recursos disponíveis, facilitam o planejamento de atividades e a organização do trabalho pedagógico. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Lowenfeld (1973, apud DE MASI, 2002) estabeleceu cinco princípios básicos didáticos para a educação das crianças e jovens deficientes visuais. Os princípios consideram o aluno globalmente e envolvem a individualização, concretização, ensino unificado, estímulo adicional e auto-atividade. Quando Lowenfeld (1973, apud DE MASI, 2002) cita individualização, ele refere-se às diferenças individuais dos alunos com dificuldades visuais que exigem um programa individualizado que venha a atender às necessidades de cada criança, de acordo com suas potencialidades e ritmo de desempenho. Em relação à concretização, Lowenfeld (1973, apud DE MASI, 2002) refere-se ao conhecimento dos outros sentidos da criança deficiente visual que irão se demonstrar através da percepção de objetos passíveis de toque e manipulação fazendo com que ela adquira a noção de forma, tamanho, peso, solidez, textura, flexibilidade, temperatura e outras características dos objetos, principalmente através do tato. Face às barreiras reais que o ambiente pode oferecer a criança deficiente deverá ser estimulada a comparar, detectar diferenças para, realmente, conhecer e se inteirar do que é. No ensino unificado a experiência visual tende a unificar, globalizar o conhecimento em sua totalidade através de orientações transmitidas de modo global permitindo, assim, que a criança localize-se numa situação real de vida, para poder ser auxiliada na aquisição de novos conhecimentos em que não haja condições de observação em conjunto, estruturando interiormente suas experiências num todo organizado. Para facilitar essa globalização devem ser dadas ao educando oportunidades de observação através de todos os sentidos remanescentes. O professor deve procurar descobrir todas as 33 possibilidades auditivas, gustativas, olfativas, táteis e cenestésicas do aluno e utilizá-las não só na exploração dos conteúdos específicos da aprendizagem formal, como também nas atividades gerais da vida diária e na orientação e mobilidade, sugerindo aos pais para também fazerem o mesmo, sempre que possível (LOWENFELD, 1973, apud DE MASI, 2002, p. 36). O estímulo adicional deve ser dado para criar novas situações para acarretar aprendizagem incidental. Desta forma, deve-se desenvolver as imagens mentais das crianças deficientes visuais orientando-as para ambientes mais amplos com estimulação adequada e sistemática, em um nível proporcional ao seu desenvolvimento e motivação, fazendo-a conhecer o mundo através de sua própria observação e experiência. A orientação mental sobre ambientes mais próximos pode ser iniciada pela exploração detalhada dos mesmos, seguida de descrição ou representação, iniciando-se, por exemplo, pelo próprio quarto, sala, cozinha e demais dependências; a sala de aula, banheiro, diretoria, refeitório e demais ambientes que deve circular na escola; procurando estabelecer relações de tamanho e distância entre os ambientes conhecidos, tanto do lar quanto da escola, evoluindo conforme o interesse e domínio da criança. (LOWENFELD, 1973, apud DE MASI, 2002, p. 37). Este tipo de atividade irá contribuir para que, futuramente, o aluno tenha os pré-requisitos necessários para uma locomoção independente. Finalmente, a auto-atividade proporciona à criança deficiente visual desenvolvimento físico e motor harmonioso através da motivação e estímulo de seu desejo de movimentar-se livremente. A mobilidade, a fala, o ato de preensão, de alimentar-se, a socialização e outros aspectos poderão ser retardados se ela não for orientada para executar tais atividades; ela só irá dominar estas habilidades fazendo. Por outro lado, a maturação também precisa ser auxiliada em todos os seus estágios, sendo necessário oferecer à criança oportunidades para poder fazer sozinha atividades compatíveis com suas condições, num ritmo crescente de interesses e complexidade. (LOWENFELD, 1973, apud DE MASI, 2002). De acordo com Sá; Campos; Silva (2007), a alfabetização e aprendizagem da criança com deficiência visual envolve o conhecimento desta como um todo, através de seus outros sistemas-guia, como audição, o tato, o paladar e o olfato. Além destes, a linguagem amplia o desenvolvimento 34 cognitivo porque favorece o relacionamento e proporciona os meios de controle do que está fora de alcance pela falta da visão. É através da comunicação e representações que ocorre a interação com o meio físico e social. O aprimoramento e a aplicação das linguagens oral e escrita manifestam-se nas habilidades de falar e ouvir, ler e escrever. Ao professor cabe observar como os alunos se relacionam com os seus colegas e com os adultos e verificar a qualidade da experiência comunicativa nas diversas situações de aprendizagem. De acordo com Sá; Campos; Silva (2007, p. 46), as crianças cegas operam com dois tipos de conceitos: Aqueles que têm significado real para elas a partir de suas experiências e aqueles que fazem referência a situações visuais, que embora sejam importantes meios de comunicação, podem não ser adequadamente compreendidos ou decodificados e ficam desprovidos de sentido. Nesse caso, essas crianças podem utilizar palavras ou expressões descontextualizadas, sem nexo ou significado real, por não basearem-se em experiências diretas e concretas. Esse fenômeno é denominado verbalismo e sua preponderância pode ter efeitos negativos em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 46). A falta de visão promove nas crianças comportamentos estereotipados por comprometer a imitação deixando uma lacuna a ser preenchida com outras modalidades de percepção. Por esse motivo, há a necessidade de incentivar o comportamento exploratório, a observação e a experimentação para que estes alunos possam ter uma percepção global necessária ao processo de análise e síntese. 2.2.1 As normas pedagógicas sugeridas pela da Secretaria de Estado da Educação Para que a criança cega ou de visão subnormal aprenda a viver com pessoas que não são deficientes há a necessidade de da intervenção da sociedade que deve prover os auxílios necessários para que a criança se capacite e possa integrar-se no grupo social a que pertence. (DE MASI, 2002). 35 Nesse contexto, a rede regular de ensino regular deve manter em suas escolas serviços de apoio pedagógico para esta clientela nas classes especiais, salas de recursos, na classe comum e no ensino itinerante, contando ainda, com centrais de atendimento (Centros de Apoio Pedagógico - CAP), que oferece serviços especializados complementares a alunos matriculados em qualquer classe ou nível do ensino regular, orientando os pais, professores, pessoal da escola e a comunidade, bem como oferecendo cursos de formação continuada aos especialistas da educação. (DE MASI, 2002). A classe especial constitui-se no agrupamento tradicionalmente utilizado nas escolas especiais organizadas para o atendimento de um determinado tipo de deficiência, no caso, a visual. Embora tais escolas possam oferecer oportunidades mais completas para o ensino face aos recursos disponíveis, são evidentes as desvantagens da própria institucionalização como a rotina, formalidade, segregação familiar e social, rigidez de horários e outros aspectos. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). Atualmente, as escolas especiais vêm proporcionando um eficiente processo de reformulação de conceitos e de seus programas com o objetivo de melhor atender a clientela sob sua responsabilidade e minorar os efeitos decorrentes da segregação. Estas escolas desenvolvem programas educacionais e de internato ou semi-internato e seus cursos se norteiam pela orientação geral das escolas comuns. Planejam suas atividades em função do ano letivo, estimulando amplamente a saída dos alunos nos fins-de-semana e nos períodos de férias, nos casos de internato, numa tentativa de manter, dentro do possível, a convivência familiar e social. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004) As crianças deficientes visuais devem ser educadas com as crianças videntes, devendo a escola especial servir apenas aquelas que precisam e não podem beneficiar-se de um serviço educacional especializado em sua própria comunidade. (DE MASI, 2002). Já as salas de recursos são criadas e instaladas em estabelecimentos de ensino regular, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão central de educação, contando com um professor especializado à disposição da unidade escolar onde a mesma se encontra instalada e deve atender a todos os educandos cegos e portadores de visão subnormal que estejam 36 matriculados no estabelecimento em qualquer série ou grau. Nestes, o atendimento ao aluno cego ou portador de visão subnormal ocorre após avaliação educacional, a partir daí faz-se o desenvolvimento de atividades introdutórias. Em muitos casos o aluno pode ser encaminhado a uma classe comum correspondente ao seu nível de adiantamento, recorrendo à sala de recursos quando encontrar dificuldades de aprendizagem decorrentes de problemas impostos por sua limitação visual. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). Nas salas de recursos o professor deve estar atento para que esta não se torne uma classe especial, evitando manter nela os alunos por períodos mais longos do que o necessário, visto que esta situação contraria os pressupostos desta forma de atendimento. Um aluno deficiente visual que inicia a escolaridade, não poderá ser colocado diretamente numa classe de ensino regular, sendo necessário um conhecimento prévio do mesmo para avaliação e definição da proposta de trabalho a ser desenvolvida, sendo que o sistema Braille deverá ser ensinado na sala de recursos e posterior, ou concomitantemente, ser escolhida a classe comum que o aluno irá ficar após preparo do professor comum e dos colegas que o terão na classe. No que se refere aos alunos portadores de visão subnormal há necessidade de conhecimento sobre o nível de potencialidade visual, oportunidades para usar a visão existente e adequação aos equipamentos e recursos que irá necessitar. As séries iniciais do ensino fundamental favorecem a integração do aluno, tendo em vista os tipos de atividades desenvolvidas; entretanto, quando o mesmo inicia a escolaridade em idade mais avançada que não permite o agrupamento com crianças menores, ou porque suas necessidades exigem um período mais longo na sala de recursos, o professor poderá sugerir sua participação na classe comum através do plano cooperativo entre as duas classes. Através deste plano o aluno inicialmente participa apenas de atividades gerais da classe comum, desenvolvendo-se num crescente proporcional às suas condições, até atingir a completa integração tanto em termos sociais quanto pedagógicos. (DE MASI, 2002, p. 28). O programa de ensino itinerante atende aos alunos deficientes visuais que estejam matriculados em estabelecimentos de ensino comum de sua comunidade em qualquer idade, série ou período. O ensino itinerante proporciona maiores oportunidades para a integração do aluno. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). O programa é indicado quando o número de alunos a serem atendidos, em qualquer das escolas ou região, não justifica a criação de uma sala de recursos e cujas necessidades específicas dos educandos podem ser 37 atendidas através dos esforços conjugados do professor de classe regular e do ensino itinerante, bem como da própria família. Neste tipo de atendimento, o professor atende o aluno na escola em que este se encontra matriculado obedecendo a um planejamento elaborado de forma a satisfazer às necessidades individuais de cada aluno e do pessoal da escola. Através da prestação de serviços diretos e indiretos, o professor procura solucionar as dificuldades acarretadas pela deficiência, de modo a possibilitar a inclusão do aluno na vida escolar, familiar e social; estimula a participação dos pais no processo educacional, orientando-os sobre os procedimento mais adequados com relação à criança, além de a melhor forma de auxiliarem nas tarefas escolares como leituras, gravações, aprendizado do Braille, consultas a bibliotecas especializadas, ampliação de materiais e outros esforços necessários para possibilitar a continuidade do usufruto da convivência familiar dessas crianças, ao mesmo tempo em que estudam em um ambiente competitivo, junto à pessoas de visão normal e próximo de sua residência. (DE MASI, 2002, p. 30). Apesar de bem intencionado, o programa apresenta fracassos que estão ligados ao padrão das escolas e dos professores comuns, personalidade e competência do professor especializado ou do próprio aluno, bem como carência de recursos humanos e materiais especializados, do que ao tipo de atendimento propriamente dito. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004). No ensino itinerante o professor especializado trabalha diretamente com o aluno e indiretamente, podendo deixar orientações e atividades a serem realizadas, até o seu retorno, pelo próprio aluno, o professor comum, a família ou pelo pessoal da escola. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004) Atualmente alguns professores de salas de recursos saem de suas unidades, exercendo funções de itinerante, ou recebem ex-alunos que foram remanejados para outros estabelecimentos e que se encontram sem orientação especializada. (PEREIRA; ROBERTO; OLIVEIRA, 2004) Os Centros de Apoio Pedagógico (CAP) surgiram nos últimos, mas tem dificuldades na ampliação dos serviços de atendimento para deficientes visuais, face à carência de professores especializados, insuficiência de materiais para estudos e pesquisas dos alunos, tanto em Braille quanto em tipos ampliados por esse motivo contam, atualmente, com o suporte de centros especializados. (DE MASI, 2002). O objetivo do Projeto CAP é garantir às pessoas cegas e às de baixa visão o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola de ensino 38 regular, assim como acesso a literatura, à pesquisa e à cultura por meio da utilização de equipamentos da moderna tecnologia e da impressão do livro em Braille. Uma das alternativas para dinamizar e favorecer a integração dos deficientes visuais consiste, principalmente, na produção de material impresso em Braille, na ampliação de textos, na adaptação de materiais, na qualificação de recursos humanos e outros recursos necessários ao processo de ensino e aprendizagem do aluno. (DE MASI, 2002). Além do atendimento específico ao deficiente visual, o CAP orienta pais e professores das escolas onde os alunos estão matriculados, além de organizar programas e cursos para formação continuada e de capacitação dos professores especializados da rede, colocando à disposição dos mesmos bibliografia atualizada, materiais de apoio e equipamentos de última geração para uso deles e de seus alunos. (DE MASI, 2002). 2.2.2 Conceitos importantes para a alfabetização e aprendizagem da criança com deficiência visual 2.2.2.1 Espaço físico e mobiliário De início, o espaço físico não é percebido pelos alunos cegos, por isso é necessário possibilitar a este aluno o conhecimento e o reconhecimento do espaço físico e da disposição do mobiliário que deve ser feita através de informações dadas de forma processual e analítica através da exploração do espaço concreto da sala de aula e do trajeto rotineiro dos alunos: entrada da escola, pátio, cantina, banheiros, biblioteca, secretaria, sala dos professores e da diretoria, escadas, obstáculos entre outros. (GIL, 2000). O mobiliário deve estar estático e qualquer modificação deve ser avisada, deve-se reservar um espaço na sala de aula com mobiliário adequado para a disposição dos instrumentos utilizados por esses alunos que devem incumbir-se da ordem e organização do material para assimilar pontos de 39 referência úteis para eles. Portas devem ficar completamente abertas ou fechadas para evitar acidentes. (PEREIRA; COSTA, 2009). 2.2.2.2 Comunicação e relacionamento É comum professores não saberem como proceder em relação aos alunos cegos e por esse motivo apresentarem dificuldades de comunicação. Nestes casos, somente o diálogo pode quebrar paradigmas proporcionando novas atitudes, procedimentos e posturas. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). É através do contato com os familiares do aluno com deficiência visual que os educadores poderão esclarecer dúvidas ou responder perguntas dos colegas na sala de aula, tomando o cuidado de evitar a comunicação gestual e visual na interação com esses alunos. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). 2.2.2.3 O sistema Braille Foi em 1580 que ocorreu a primeira tentativa no sentido de desenvolver um sistema de leitura para pessoas sem visão. Através de letras do alfabeto romano gravadas em baixo-relevo, sobre pedacinhos de madeira. (GIL, 2000). A partir daí, somente em 1825, Louis Braille criou o sistema Braille, método eficiente de leitura e escrita para cegos. O sistema baseia-se na combinação de 63 pontos que representam as letras do alfabeto, os números e outros símbolos gráficos. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). A combinação dos pontos é obtida pela disposição de seis pontos básicos, organizados espacialmente em duas colunas verticais com três pontos à direita e três à esquerda de uma cela básica denominada cela braille. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). O sistema Braille pode ser escrito com dois tipos de equipamento: o conjunto manual de reglete e punção e a máquina de datilografia (PerkinsBraille), que começou a ser produzida no Brasil em 1999. 40 A reglete é uma régua de madeira, metal ou plástico com um conjunto de celas Braille dispostas em linhas horizontais sobre uma base plana. O punção é um instrumento em madeira ou plástico no formato de pêra ou anatômico, com ponta metálica, utilizado para a perfuração dos pontos na cela Braille. O movimento de perfuração deve ser realizado da direita para a esquerda para produzir a escrita em relevo de forma não espelhada. Já a leitura é realizada da esquerda para a direita. Esse processo de escrita tem a desvantagem de ser lento devido à perfuração de cada ponto, exige boa coordenação motora e dificulta a correção de erros. A máquina de escrever tem seis teclas básicas correspondentes aos pontos da cela Braille. O toque simultâneo de uma combinação de teclas produz os pontos que correspondem aos sinais e símbolo desejados. É um mecanismo de escrita mais rápido, prático e eficiente. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 49). Fonte: Sá; Campos; Silva (2007, p. 23). Figura 1: Alfabeto Braille (leitura): disposição universal dos 63 sinais simples do sistema Braille 41 O processo de escrita em relevo e a leitura tátil requer o desenvolvimento de habilidades do tato que envolvem conceitos espaciais e numéricos, sensibilidade, destreza motora, coordenação bimanual, discriminação, dentre outros aspectos e baseiam-se em componentes específicos no que diz respeito ao movimento das mãos, mudança de linha, adequação da postura e manuseio do papel. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). As pessoas com deficiência visual nem sempre conseguem ter suficiente velocidade de leitura para conseguir ler de forma eficiente e prazerosa. A velocidade da leitura em braille depende da idade em que a pessoa aprendeu a ler, e também do grau de desenvolvimento do tato: quanto maiores forem as oportunidades para pesquisar e explorar o ambiente e quanto antes se iniciar o processo de alfabetização, melhor será a qualidade da leitura. (GIL, 2000). Pesquisas comprovam que a leitura tátil é três vezes mais fatigante que a leitura visual. Também são cansativos os movimentos das duas mãos e a posição em que se precisa manter os braços. A temperatura ambiente é outro fator adverso; no tempo frio, é comum a sensação de amortecimento nos dedos, o que prejudica o tato. (GIL, 2000). Educadores devem ter domínio do alfabeto Braille e de noções básicas do sistema para serem eficientes no processo de ensino-aprendizagem da criança portadora de deficiência visual. Alguns cursos, como o Braille Virtual curso on-line, criado e desenvolvido por uma equipe de profissionais da Universidade de São Paulo (USP) podem possibilitar estes entendimento, pois o cursos tem como objetivo possibilitar o aprendizado do sistema Braille de forma simples, gratuita e lúdica. (PEREIRA; COSTA, 2009). Um conhecimento mais aprofundado do sistema Braille é necessário para quem realiza trabalhos de revisão, adaptação de textos e livros e de produção Braille em geral. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Os meios informáticos ampliam significativamente as possibilidades de produção e impressão Braille. Existem diferentes tipos de impressoras com capacidade de produção de pequeno, médio e grande portes que representam um ganho qualitativo e quantitativo no que se refere à produção Braille em termos de velocidade, eficiência, desempenho e sofisticação. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). 42 2.2.2.4 Recursos ópticos e não-ópticos Ao portador de visão subnormal cabe a utilização de auxílios ópticos adequados e materiais adaptados a suas necessidades especiais, como por exemplo os textos com letras ampliadas. Na sala de aula, o professor precisa estar atento para planejar a melhor posição (localização da carteira em relação à lousa, à janela entre outros) do aluno, de forma a facilitar sua aprendizagem. Utilizados sob mediante prescrição e orientação oftalmológica, os recursos ou auxílios ópticos caracterizam-se por lentes de uso especial ou dispositivo formado por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, com o objetivo de ampliar a imagem da retina. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). O Quadro 4 relacionam os recursos ópticos e não- ópticos mais utilizados atualmente. RECURSOS ÓPTICOS RECURSOS NÃO-ÓPTICOS Tipos ampliados: ampliação de fontes, de sinais e Recursos ópticos para longe: telescópio: usado para leitura no quadro símbolos gráficos em livros, apostilas, textos avulsos, jogos, agendas, entre outros. negro, restringem muito o campo visual; Acetato amarelo: diminui a incidência de claridade sobre telessistemas, telelupas e lunetas. o papel. Recursos ópticos para perto: óculos Plano inclinado: carteira adaptada, com a mesa especiais com lentes de aumento que inclinada para que o aluno possa realizar as atividades servem para melhorar a visão de perto. com conforto visual e estabilidade da coluna vertebral. (óculos bifocais, esferoprismáticas, lentes lentes monofocais esféricas, sistemas telemicroscópicos). Acessórios: lápis 4B ou 6B, canetas de ponta porosa, suporte para livros, cadernos com pautas pretas espaçadas, tiposcópios (guia de leitura), gravadores. Lupas manuais ou lupas de mesa e Softwares com magnificadores de tela e Programas com de apoio: úteis para ampliar o tamanho síntese de voz. de fontes para a leitura, as dimensões Chapéus e bonés: ajudam a diminuir o reflexo da luz em de mapas, gráficos, diagramas, figuras sala de aula ou em ambientes externos. e outros. Quanto maior a ampliação do tamanho, menor o campo de visão com Circuito fechado de televisão: aparelho acoplado a um diminuição da velocidade de leitura e monitor de TV monocromático ou colorido que amplia até maior fadiga visual. 60 vezes as imagens e as transfere para o monitor. Fonte: Sá; Campos; Silva (2007, p. 25) Quadro 4: Recursos ópticos e não-ópticos 43 Dependendo da patologia, este recurso é utilizado por indivíduos com baixa visão que necessitem dele. Outros recursos como lentes, lupas, óculos, telescópios também são utilizados, porém ainda há a necessidade de adaptação de material e de outros cuidados. (PEREIRA; COSTA, 2009). A utilização de recursos ópticos e não-ópticos envolve o trabalho de pedagogia, de psicologia, de orientação e mobilidade e outros que se fizerem necessários. As escolhas e os níveis de adaptação desses recursos em cada caso devem ser definidos a partir da conciliação de inúmeros fatores. Entre eles, destacam-se: necessidades específicas, diferenças individuais, faixa etária, preferências, interesses e habilidades que vão determinar as modalidades de adaptações e as atividades mais adequadas. (GIL, 2000). 2.2.2.5 Atividades Dentre as atividades que envolvem a alfabetização e aprendizagem da criança com deficiência visual algumas devem ser adaptadas com antecedência e outras durante a sua realização por meio de descrição, informação tátil, auditiva, olfativa e qualquer outra referência que favoreçam a configuração do cenário ou do ambiente, como por exemplo, a exibição de filmes ou documentários, excursões e exposições. (PEREIRA; COSTA, 2009). A descrição oral de imagens, cenas mudas e leitura de legenda simultânea se não houver dublagem são necessárias nas apresentações em vídeo e um resumo da atividade deveria ser apresentada para os alunos. (PEREIRA; COSTA, 2009). Os esquemas, símbolos e diagramas presentes nas diversas disciplinas devem ser descritos oralmente. Os desenhos, os gráficos e as ilustrações devem ser adaptados e representados em relevo. O ensino de língua estrangeira deve priorizar a conversação em detrimento de recursos didáticos visuais que devem ser explicados verbalmente. Experimentos de ciências e biologia devem remeter ao conhecimento por meio de outros canais de coleta de informação. As atividades de educação física podem ser adaptadas com o uso de barras, cordas, bolas com guiso e outros. O aluno deve ficar próximo do professor que recorrerá a ele para demonstrar os exercícios ao mesmo tempo em que ele aprende. Outras atividades que envolvem expressão corporal, dramatização, arte, música podem ser 44 desenvolvidas com pouca ou nenhuma adaptação. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Cabe salientar, que a deficiência visual não deve impedir que os alunos cegos não participem de todas as atividades, principalmente aquelas que envolvem criatividade, confecção de material e cooperação entre os participantes, com diferentes níveis e modalidades de adaptação. 2.2.2.6 Avaliação Assim como as atividades, as avaliações também devem ser adaptadas representações e relevo, como por exemplo, desenhos, gráficos, diagramas, gravuras, uso de microscópios, principalmente aquelas baseados em referências visuais (PEREIRA; COSTA, 2009). Os exercícios orais também podem ser recomendados, através da adaptação e produção de material, a transcrição de provas, exercícios e de textos em geral para o sistema Braille podem ser realizadas em salas multimeios, núcleos, serviços ou centros de apoio pedagógico. Caso não exista nenhum educador que domine o sistema Braille, far-se-á necessário a conversão da escrita Braille para a escrita em tinta. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). O tempo de avaliação deverá ser estendido se necessário desde que observadas as peculiaridades já mencionadas em relação à percepção não visual. Os alunos podem realizar trabalhos e tarefas escolares utilizando a máquina de escrever em Braille ou o computador, sempre que possível. (PEREIRA; COSTA, 2009). 2.2.2.7 Recursos didáticos Os recursos didáticos para o aluno deficiente visual devem ser envolver a tecnologia existente, equipamentos e jogos pedagógicos para que a 45 aprendizagem sejam mais agradável e motivadora em um ambiente de cooperação e reconhecimento das diferenças. O bom senso e a criatividade devem dar subsídios para se selecionar, confeccionar ou adaptar recursos abrangentes ou de uso específico. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). A predominância de recursos didáticos eminentemente visuais ocasiona uma visão fragmentada da realidade e desvia o foco de interesse e de motivação dos alunos cegos e com baixa visão. Os recursos destinados ao Atendimento Educacional Especializado desses alunos devem ser inseridos em situações e vivências cotidianas que estimulem a exploração e o desenvolvimento pleno dos outros sentidos. A variedade, a adequação e a qualidade dos recursos disponíveis possibilitam o acesso ao conhecimento, à comunicação e à aprendizagem significativa. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 46). Outros recursos podem ser adaptados para alunos cegos ou com baixa visão é o caso dos jogos, instrumentos de medir, mapas de encaixe e diversos objetos de baixo custo e sucatas como embalagens descartáveis, frascos, retalhos de papéis e tecidos com texturas diferentes, botões, palitos entre outros. (PEREIRA; COSTA, 2009). Os recursos didáticos devem promover estímulos visuais e táteis que atendam às diferentes condições visuais para que ocorra uma comunicação e entrosamento entre todos os alunos. A estimulação visual dos recursos didáticos baseia-se na escolha adequada do material, que deve ter cores fortes ou contrastes que melhor se adaptem à limitação visual de cada aluno e significado tátil. O relevo deve ser facilmente percebido pelo tato e, sempre que possível, constituir-se de diferentes texturas para melhor destacar as partes componentes do todo. Contrastes do tipo liso/áspero, fino/espesso, permitem distinções adequadas. O material não deve provocar rejeição ao manuseio e ser resistente para que não se estrague com facilidade e resista à exploração tátil e ao manuseio constante. Deve ser simples e de manuseio fácil, proporcionando uma prática utilização e não deve oferecer perigo para os alunos. (GIL, 2000). A confecção de recursos didáticos para alunos cegos deve se basear em alguns critérios muito importantes para a eficiência de sua utilização. Entre eles, destacamos a fidelidade da representação que deve ser tão exata quanto possível em relação ao modelo original. Além disso, deve ser atraente para a visão e agradável ao tato. A adequação é outro critério a ser respeitado, considerando-se a pertinência em relação ao conteúdo e à faixa etária. As dimensões e o tamanho devem ser observados. Objetos ou desenhos em relevo pequenos demais não ressaltam detalhes de suas partes 46 componentes ou se perdem com facilidade. O exagero no tamanho pode prejudicar a apresentação da totalidade dificultando a percepção global. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 48). A disponibilidade de recursos que atendam ao mesmo tempo às diversas condições visuais dos alunos pressupõe a utilização do sistema Braille, de fontes ampliadas e de outras alternativas no processo de aprendizagem. (GIL, 2000). O Quadro 5 apresenta sugestões de Sá; Campos; Silva (2007) de materiais didáticos para o aluno deficiente visual. continua MATERIAL Cela Braille Celinha Braille: Cela Braille Vasada Caixa de vocabulário Alfabeto Gaveteiro alfabético DESCRIÇÃO confeccionada com caixas de papelão, frascos de desodorantes e embalagem de ovos. feitas com caixas de chicletes, botões, cartelas de comprimidos, caixa de fósforo, emborrachado. confeccionada em vários tamanhos com acetato usado em radiografias ou papelão. caixa de plástico ou de papelão contendo miniaturas coladas em cartões com o nome do objeto em Braille e em tinta. letras cursivas confeccionadas com emborrachado, papelão ou em arame flexível. cada gaveta contém miniaturas de objetos iniciados com a letra fixada em relevo e em Braille na parte externa. caixa de plástico ou de papelão contendo cartelas imantadas com palavras Pesca-palavras em Braille para serem pescadas com vareta de churrasco com imã na ponta. Roleta das letras Livro de bolso disco na forma de relógio com um ponteiro giratório contendo as letras do alfabeto em Braille e em tinta. as páginas são bolsos de pano contendo reálias e com palavras, frases ou expressões escritas em Braille. Grade para escrita pautas confeccionadas com caixa de papelão, radiografias, emborrachado cursiva e outros. Medidor garrafas plásticas de água mineral cortadas, com capacidade para um litro e meio. caixas de plástico ou de papelão contendo miniaturas. Colar na parte Caixa de números externa o numeral, em tinta, relevo e em Braille, correspondente à quantidade de objetos guardados no interior da caixa. 47 conclusão MATERIAL Fita métrica adaptada. Pranchas para desenhos em relevo DESCRIÇÃO com marcações na forma de orifícios e pequenos recortes. retângulo de eucatex recoberto com tela de náilon de proteção para produção de desenhos com lápis-cera ou recoberto com couro para desenhos com carretilhas. Brincando com as representação de frações utilizando embalagens de pizza e bandejas de frações isopor. Bandeira do Brasil confeccionada com diferentes materiais em relevo com encaixe ou superposição das partes. Dominó adaptado com diferentes texturas de tecido. Jogo de dama adaptado com velcro. Jogo da velha adaptado com peças de encaixe ou imantadas. adaptado com embalagem de ovos e bolinhas de isopor ou papel machê Resta-um Figuras e bolinhas de gude geométricas em relevo confeccionadas com emborrachado, papelão e outros. caneta Bic com um fio comprido de lã enrolado em um carretel na parte Caneta maluca superior e com a ponta enfiada no lugar da carga para desenhar sobre prancha de velcro. Livro de texturas Calendário-mural Baralho Mural do tempo confeccionado em cartolina com cartelas móveis para o registro em tinta e em braille dos dias, meses e ano. adaptado com inscrição em Braille do número e naipe. cartaz com frases curtas em braille e em tinta e desenho em relevo expressando as condições do tempo em cada dia da semana. Fonte: Sá; Campos; Silva (2007, p. 50). Quadro 5: Materiais didáticos para o aluno deficiente visual 2.2.2.8 Outros Recursos Entre outros recursos didáticos para o aluno deficiente visual Gil (2000) cita modelos e maquetes, mapas, sorobã, livro didático adaptado, livro acessível e recursos tecnológicos Os modelos e maquetes trabalham as noções e os conceitos 48 relacionados aos acidentes geográficos, ao sistema planetário e aos fenômenos da natureza. Para isso, os modelos devem ser criteriosamente escolhidos e demonstrados com explicações objetivas. Os objetos muito pequenos devem ser ampliados para que os detalhes sejam percebidos e os objetos muito grandes e intocáveis devem ser convertidos em modelos miniaturizados, por exemplo, as nuvens, as estrelas, o sol, a lua, os planetas, entre outros. (GIL, 2000). Os mapas podem ser representados em relevo, utilizando-se de cartolina, linha, barbante, cola, e outros materiais de diferentes texturas. Já o sorobã constitui-se num instrumento utilizado para trabalhar cálculos e operações matemáticas. O sorobã é uma espécie de ábaco que contém cinco contas em cada eixo e borracha compressora para deixar as contas fixas. (GIL, 2000). Os livros didáticos são ilustrados com desenhos, gráficos, cores, diagramas, fotos e outros recursos inacessíveis para os alunos com limitação visual. A transcrição de um texto ou de um livro para o sistema Braille tem características específicas em relação ao tamanho, à paginação, à representação gráfica, aos mapas e às ilustrações devendo ser fiel ao conteúdo e respeitar normas e critérios estabelecidos pela Comissão Brasileira do Braille. A adaptação parcial ou integral desses livros é complexa e pode ser realizada nos Centros de Apoio Pedagógico aos Deficientes Visuais (CAPs) ou em serviços similares, enquanto a produção em grande escala fica sob a responsabilidade das instituições especializadas em parceria com o Ministério da Educação. (GIL, 2000). O livro acessível visa contemplar a todos os leitores apresentando-se como um produto referenciado no modelo do desenho universal. O livro ideal, ainda não está disponível nas livrarias e bibliotecas e se constitui como objeto de debate que depende de regulamentação e de negociação entre o governo e os elos da cadeia produtiva do livro. Em relação aos recursos tecnológicos pode ser relacionados os meios informáticos que facilitam as atividades de educadores e educandos porque possibilitam a comunicação, a pesquisa e o acesso ao conhecimento. Existem programas leitores de tela com síntese de voz, concebidos para usuários cegos, que possibilitam a navegação na internet, o uso do correio eletrônico, o processamento de textos, de planilhas e uma infinidade de aplicativos operados por meio de comandos de teclado que dispensam o uso do mouse. 49 Existem, ainda, outras ferramentas que possibilitam a produção de livros em formato digital, em áudio e em Braille. É o caso, por exemplo, de scanner, de programas de reconhecimento óptico de caracteres para a digitalização de textos e programas que permitem converter o texto digitalizado em arquivo de áudio. Além disso, há programas magnificadores de tela, geralmente, conjugados com síntese de voz, desenvolvidos para quem tem baixa visão. É necessário que essas ferramentas estejam disponíveis no âmbito do sistema escolar, nos serviços e centros de apoio que visam promover a inclusão escolar e social. Os laboratórios de informática, os telecentros e os programas de inclusão digital devem contar com meios informáticos acessíveis para pessoas cegas e com baixa visão, porque o uso de computadores e de outros recursos tecnológicos são tão fundamentais para elas quanto os olhos são para quem enxerga. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 52). 50 CONCLUSÃO Este trabalho foi desenvolvido com o intuito de explicitar os conceitos, sugestões e princípios que norteiam uma ação educativa voltada para o respeito e a valorização dos deficientes visuais que aprendem e os que ensinam. O sucesso do ensino-aprendizagem desta população envolve o desejo de ensinar e de aprender, a postura de observação, indagação e investigação constante, bem como a valorização e a aceitação das diferenças. Os investimentos dos educadores devem ser os mesmos em relação a todos os alunos e este deve entender que o alunado cego e com baixa visão têm as mesmas potencialidades que os outros, pois a deficiência visual não limita a capacidade de aprender. Em resposta ao questionamento do estudo pode-se dizer que os recursos disponíveis para o ensino-aprendizagem do deficiente visual são eficazes como trabalho pedagógico a partir do momento que são adequados às condições visuais destes educandos através de estratégias de aprendizagem, procedimentos, meios de acesso ao conhecimento e à informação, além dos instrumentos de avaliação. Para este fim, outros fatores devem ser observados, como as normas pedagógicas sugeridas pela da Secretaria de Estado da Educação, o espaço físico e mobiliário onde ocorre o ensino-aprendizagem, a comunicação e o relacionamento, o sistema Braille , os recursos ópticos e não-ópticos, as atividades, a avaliação e os recursos didáticos . Nesse contexto a cooperação das famílias e a mobilização da comunidade em busca de melhor qualidade de vida, educação e participação social dos alunos com deficiência visual anunciam novos tempos, de combate às atitudes discriminatórias, de disseminação do conhecimento e, principalmente, com a criação de uma sociedade mais acolhedora e solidária. Além disso, as exigências da escola inclusiva para com o professor regular e o professor do ensino especial exigem empenho e trabalho assíduo. Em mútua colaboração e entendimento, o professor do ensino regular e o professor do ensino especial podem assegurar uma escolaridade estimulante, 51 não apenas às crianças portadoras de deficiência visual, mas a toda a classe/turma no seu conjunto. A presença do aluno portador de deficiência na classe/turma pode e deve ser um bom pretexto para incrementar o desenvolvimento de um grande leque de valores ligados à cidadania, nos colegas da turma e da própria escola. 52 REFERÊNCIAS AMIRALIAN, M. L. T. 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