UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
VALERIA PORTUGAL
O USO DA TERAPIA CRANIOSSACRAL NO PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
CORPORAL
Rio de Janeiro
2004
VALERIA PORTUGAL
O USO DA TERAPIA CRANIOSSACRAL NO PROCESSO DE AMPLIAÇÃO
DA CONSCIÊNCIA CORPORAL
Monografia apresentada em cumprimento
as exigências do Curso de Graduação
em Fisioterapia na Universidade Estácio
de Sá.
ORIENTADOR: Profª Dra. MSC Danielli Righetti Ladeira
Rio de Janeiro
2004
P839u PORTUGAL, Valéria.
O uso da terapia craniossacral no processo de ampliação da
consciência corporal / Valéria Portugal. - Rio de Janeiro, 2004.
44 f; 30cm.
Monografia (Graduação em Fisioterapia)-Universidade Estácio de
Sá, 2004.
Bibliografia: f. 44-41
1. Fisioterapia 2. Sistema craniossacro 3. Craniossacral, Terapia 4.
Desenvolvimento Psicomotor I. Título.
CDD
615.82
VALERIA PORTUGAL
O USO DA TERAPIA CRANIOSSACRAL NO PROCESSO DE AMPLIAÇÃO DA
CONSCIÊNCIA CORPORAL
Monografia apresentada em cumprimento
as exigências do Curso de Graduação
em Fisioterapia na Universidade Estácio
de Sá.
Aprovado em _14_ / _12_ / _2004_
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dra. MSC Danielli Righetti Ladeira
Universidade Estácio de Sá
_____________________________________________
Prof. Dra. MSC Mari Stela Sanches
Universidade Estácio de Sá
_____________________________________________
Prof. Dr. MSC Alisson Hygino Silva
Universidade Estácio de Sá
Ao mestre,
José Mauro Garcia
AGRADECIMENTOS
À Profa. Rita Thompson
À Profa. Roberta Leite de Souza
... sem o espírito não podem fazer-se
perguntas e nunca existiu qualquer
demonstração sólida de um espírito sem
um corpo (EDELMAN, 1992).
RESUMO
Ao se considerar o termo consciência corporal em seu aspecto mais abrangente,
aborda-se além das características físicas do sujeito, as emocionais e intelectuais a
partir das vivências motoras e afetivas do ser humano.
A
partir da análise do
desenvolvimento psicomotor, verifica-se que para entender o outro corporalmente é
preciso aceitar manifestações não lineares, pois o corpo guarda uma história pessoal
vivida desde antes da aquisição da linguagem pela relação do sujeito consigo
mesmo e com o ambiente que o cerca. Muitas vezes o sintoma físico ou o sinal que
se manifesta tem como determinante uma disfunção emocional ou psíquica. Tornase de significativa importância analisar uma terapia que se propõe a intervir nesse
processo.
A Terapia Craniossacral usa toques suaves e específicos para atuar
sobre um sistema hidráulico semi-fechado composto pelo líquido cefalorraquidiano,
pelas meninges e pelos ossos cranianos e da coluna vertebral que as envolvem, e
está em íntimo contato com o sistema nervoso central. Neste trabalho verifica-se
que a Terapia Craniossacral pode influenciar no processo de ampliação da
consciência corporal, durante o qual os sintomas devem desvanecer ao se tratar as
causas subjacentes.
O estudo se limita a abordar indivíduos sem doenças
específicas. O método utilizado baseia-se numa revisão de literatura de autores da
área de psicomotricidade e de osteopatia.
Palavras-chave: Terapia Craniossacral, sistema craniossacro, consciência corporal,
desenvolvimento psicomotor
ABSTRACT
Considering the term bodily conscience in a larger meaning, the approach to the
individual goes beyond its physical aspects to include also the emotional and the
intelectual aspects acquired from the being's experiences based on the development
of his motricity and the quality of his relationships. To undesrstand the other person
through a body therapy, it is necessary to accept non-linear manifestations, because
the body keeps its own history that began before the acquisition of language, from
the relatioship of the individual with himself and with his surroundings. The physical
symptom often indicates some emotional or psyquic disfunction. Thus it is quite
important to verify a therapy with instruments capable of acting in this whole process.
The Craniosacral therapy is a subtle and profound healing form which assists the
body's natural capacity for self-repair. It works over the craniosacral system, which
covers the central nervous system and has influence over it. In this work it is verifyed
that the craniosacral therapy influences the process of enlargement of the bodily
conscience, during which it is expected that the symptoms will disapear because the
factors that caused them are being treated. The study is limited to people without
specific deseases. It is a literary review based on works of psychomotricity and
osteopathy.
Keywords:
Craniosacral therapy, craniosacral
psychomotor development
system,
bodily
conscience,
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Manobra do osso frontal
......................................................... 31
Figura 2: Avaliação da pulsação craniossacral ...................................... 32
Figura 3: Manobra de indução ao 'stillpoint' ........................................... 34
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 10
2.
OBJETIVOS E MÉTODOS ................................................................... 13
2.1
OBJETIVO GERAL ..................................................................................13
2.2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................13
2.3
MÉTODO .................................................................................................13
3.
REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................14
3.1
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR ...................................................14
3.2
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA CORPORAL ........................19
3.3
SISTEMA CRANIOSSACRO ....................................................................23
3.4
TERAPIA CRANIOSSACRAL ..................................................................31
4.
DISCUSSÃO ...........................................................................................36
5.
CONCLUSÃO ..........................................................................................42
REFERÊNCIAS .......................................................................................43
10
1.
INTRODUÇÃO
O efeito cumulativo de desequilíbrios posturais ao longo da vida, de
processos traumáticos ou patológicos, de estresse físico e emocional, de tendência
estrutural e da própria degeneração fisiológica natural provoca disfunções orgânicas,
levando o indivíduo para além de um limiar de dor e outras manifestações clínicas.
Tratar a causa da disfunção e não apenas o sintoma ou o sinal é a abordagem mais
significativa para a obtenção de resultados duradouros para a manutenção do
estado de saúde do indivíduo. No entanto, os determinantes da disfunção podem
estar mascarados pelos mais diversos aspectos do ser e até mesmo pelos sintomas
e pelos sinais que se manifestam.
Orientando o paciente a apoderar-se de seu
próprio processo de restauração da saúde, o terapeuta percebe seu papel como
mediador, como interventor em uma determinada etapa, ciente de que a
responsabilidade primeira é do próprio indivíduo que pretende curar-se.
Como
intervenção neste processo, a proposta de provocar a expansão da consciência
corporal pode conduzir o paciente a vislumbrar novas formas de tratamento e
melhoria (TAVARES, 2003; WEIL, 1996).
Neste estudo, o significado do termo consciência corporal refere-se aos
conhecimentos fisiológicos, somáticos, emocionais e sensoriais do sujeito e aos
aspectos cognitivos do ser - estados internos subjetivos e qualitativos e estados
mentais intencionais que são processos biológicos conduzidos por vias neurais
(EDELMAN, 1992; SEARLE, 1997).
Dada a estreita correlação, verificada através da análise do desenvolvimento
psicomotor, da maturação do sistema nervoso e das vivências emocionais e sociais
11
com a construção das posturas corporais, a intervenção terapêutica não pode ser
dissociada dos diversos aspectos que compõem o indivíduo (TAVARES, 2003).
Intimamente relacionado ao sistema nervoso, o sistema craniossacro o
influencia e é influenciado por ele, além de atuar ainda sobre os demais sistemas
orgânicos (GARCIA, 2000).
O sistema craniossacro é um sistema fisiológico hidráulico semifechado
composto pelas meninges, pelos ossos que com elas se relacionam, pelo líquido
cefaloraquidiano, pelas
partes não-ósseas compostas
de
tecido conectivo
relacionadas às membranas meníngeas e pelas estruturas de produção do líquor. A
terapia se fundamenta na pulsação craniossacral resultante do contínuo processo de
produção e reabsorção do líquor, e pela sua circulação por entre as meninges
(UPLEDGER, 2001).
A terapia Craniossacral, baseada em toques sutis e específicos, é um
trabalho corporal cujo objetivo é desbloquear restrições, que são empecilhos ao
funcionamento fisiológico normal dentro do organismo, e dissipar tensões ao longo
do corpo todo (GARCIA, 2000).
A resposta do corpo como um todo ao sistema craniossacro está baseada no
conceito de continuidade fascial. A fáscia é uma membrana contínua de tecido
conectivo que se espalha tridimensionalmente através de todo o corpo sem
interrupção. As restrições fasciais ocorrem devido à alteração da orientação de suas
fibras (UPLEGER e VREDEVOOGD, 1990).
As manobras craniossacrais, utilizadas para a retirada de aderências ao longo
do sistema por onde circula o líquor, e as técnicas de liberação miofascial procuram
restabelecer o equilíbrio funcional, podendo proporcionar ao paciente uma atitude
12
mais perceptiva de si mesmo pelo processo autocorretivo que nele se manifesta
(GARCIA, 2000).
O objetivo de despertar a consciência corporal, através da abordagem da
liberação craniana e fascial da terapia Craniossacral, favorece uma via de condução
para a busca do equilíbrio, seja através da própria terapia, seja através de meios
diversos que o paciente possa vir a perceber.
Este estudo pretende explorar os efeitos das manobras craniossacrais como
abordagem terapêutica que possa mediar o processo neurofisiológico de ampliação
da consciência corporal.
13
2.
OBJETIVOS E MÉTODOS
2.1
OBJETIVO GERAL
Descrever os efeitos da terapia Craniossacral no processo de ampliação da
consciência corporal.
2.2
2.3
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Descrever aspectos básicos do desenvolvimento psicomotor
•
Descrever o processo de desenvolvimento da consciência corporal
•
Descrever o sistema craniossacro
•
Descrever a Terapia Craniossacral
MÉTODO
O método utilizado para a realização deste trabalho consiste em uma revisão
de literatura baseada em assuntos pertinentes a psicomotricidade, osteopatia, em
especial a técnica craniossacral, anatomia e consciência corporal.
14
3.
REVISÃO DE LITERATURA
3.1
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Através do corpo o indivíduo se manifesta no mundo e para o mundo, não
apenas fisicamente, mas também pelas suas relações afetivas e sociais.
Percebendo sua corporalidade face ao espaço, ao tempo e aos objetos, ele pode
sentir-se mais profundamente e situar-se no ambiente em que vive. Portanto para
conhecer o corpo não se pode dissociar sua dimensão neurofisiológica e mecânica
de suas dimensões psicológica, cognitiva e social. A aquisição da noção de corpo
ocorre a partir de um processo evolutivo no qual os aspectos da maturação do
sistema nervoso, das vivências corporais e das afetivas estão interrelacionados,
imprimindo nos tecidos orgânicos uma história individual (FONSECA, 1993).
A abordagem terapêutica deve enfatizar portanto a tomada de consciência da
realidade pessoal, para que o indivíduo assuma seu desenvolvimento cognitivo e
psicológico, suas possibilidades de relação consigo mesmo e com os outros e sua
adaptação ao meio (TAVARES, 2003).
Compreende-se melhor a construção dessa noção corporal e a possibilidade
de se intervir sobre ela por intermédio do corpo, considerando sempre o indivíduo
em sua unicidade, a partir do entendimento do desenvolvimento psicomotor. Desde
Broca e Wernick, que com seu método estático anatomo-clínico estabeleciam uma
relação direta e de causalidade entre a lesão num ponto focal do cérebro e os
sintomas, passando por Ernst Dupré, a quem se deve os primeiros estudos sobre as
relações psíquicas e as relações motoras, até os trabalhos mais recentes como os
de Henri Wallon, Piaget e Ajuriaguerra, dentre vários outros autores, os estudos do
15
corpo e da motricidade englobam teorias diferentes procurando abordar o ser
humano em suas dimensões neurofisiológica, biológica, psicológica, pedagógica e
social (FONSECA, 1993).
Tentando evitar a linha separatista entre psicologia e fisiologia, não se pode
entender o corpo como um mecanismo movimentado pelo psiquismo cerebral. Os
fenômenos motores do comportamento humano têm base biológica e também uma
estreita relação funcional entre o indivíduo e seu meio. É através do movimento que
se manifesta uma existência (MATTOS e THOMPSON, 2002),
O controle do
movimento humano, pela teoria dos sistemas dinâmicos, uma abordagem que
recorre a multidisciplinaridade para fundamentar seus pressupostos, se dá como um
sistema complexo "que se comporta de forma semelhante àquela de qualquer
sistema físico ou biológico" (MELO, 2001).
É justamente esta complexidade o
motivo pelo qual nesta teoria o controle do movimento humano não obedece a uma
progressão linear, ou seja, as variações comportamentais em função do tempo não
se dão seguindo uma linha determinada e não maleável.
As formas de expressão do sujeito começam pela expressão corporal,
passam pela utilização do objeto como meio de expresso e atinge a forma de
manifestação através da palavra articulada.
Deve-se, portanto, enfatizar a
importância da motricidade na emergência da consciência, correlacionando o
movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e ao comportamento habitual
durante o desenvolvimento da criança. A construção da personalidade não pode
ocorrer de forma separada das emoções vividas. E o tônus, fundamental em todo ato
motor, está diretamente correlacionado com as emoções e vice-versa (SABOYA,
1995).
16
A forma de comunicação entre a mãe e o bebê ocorre através das
manifestações e alternâncias tônico-afetivas.
Esta forma de comunicação foi
nomeada de diálogo tônico, caracterizada pela hipertonia do desejo (manifestação
tônica observada através do choro e do aumento de tônus do bebê quando este
sente necessidades) e pela hipotonia da satisfação (manifestação tônica observada
através de um estado de relaxamento global quando suas necessidades são
satisfeitas) (FONSECA, 1993).
As primeiras relações da criança de contato com o mundo, que ocorrem
através do movimento, vão alterar a tonicidade produzindo esquemas que modificam
sua musculatura e constituem uma compleição motora individual (COSTE, 1992).
O tônus é importante para a conscientização de si e para a estruturação do
conhecimento do mundo e do outro. Ele permite a acomodação das posturas, a
partir destas o equilíbrio e a coordenação, bem como permite as atitudes e as
expressões faciais. Sua regulação, bastante complexa, é dependente das emoções,
do controle afetivo e da organização progressiva do sistema nervoso (FONSECA,
2000).
Wallon concluiu que as variações de tônus estão ligadas às variações da
sensibilidade afetiva. Entre o tônus e a afetividade coexiste uma reciprocidade de
ação imediata. As sensações são recebidas pelo contato com o mundo exterior, a
elas são dadas significações de acordo com a vivência emocional do indivíduo, e a
contração muscular, por meio da qual o movimento é possível, ocorre então para
manifestar o gesto; ou seja, a ação ocorre mutuamente com a sensação gerada no
próprio indivíduo (FONSECA, 1993).
CANNON (apud FONSECA, 1993) propôs dividir a motilidade em motilidade
proprioceptiva, realizada pela contração tônica da musculatura (contração lenta, de
17
suporte); e em motilidade extero-afetiva, resultante das contrações fásicas
(contração rápida, energética). A função do tônus deve ser a de manter o músculo
num grau de tensão ótimo para executar a ação adequada. Assim a atividade tônica
apresenta um papel duplo:
tanto como atividade muscular que prepara a ação
motora, quanto como atividade mental que prepara a forma de expressão das
emoções na esfera da afetividade. Daí não existir diferença entre tensão nervosa e
tensão muscular e, segundo FONSECA (2000), o mesmo é dizer que todo o conflito
intrapsíquico se pode repercutir em conseqüências motoras.
Para REICH (1995), há uma noção de identidade funcional entre a atividade
muscular e atitudes caracteriais. O tônus sustenta uma reação muscular de defesa,
que ele chama de armadura, e que se encontra ligada aos mecanismos de defesa
da estrutura psíquica do indivíduo. Quando a estrutura psíquica não suporta os
conflitos, pode projetá-los na esfera motora como uma perturbação orgânica, dando
origem a uma doença psicossomática.
O estudo do tônus confere o entendimento do equilíbrio entre reações
periféricas e centros nervosos fundamentalmente ligado à personalidade do ser
humano. A relação do tônus com a atividade motora é a de preparar, orientar e
suportar a eficácia do movimento (TAVARES, 2003).
Até determinado momento do desenvolvimento psicomotor da criança, o
movimento está ligado à percepção dos objetos exteriores de forma subjetiva. É
então a representação mental que fornece a intencionalidade ao gesto. A criança
passa a se exprimir por gestos, o que lhe permite a organização do pensamento e
uma certa presença. A possibilidade de expressão, a construção do real através da
exteriorização das ações e a conquista do espaço ocorre por intermédio da marcha e
18
da palavra, gerando a sensação de autonomia, importante na formação da
autoconfiança e da iniciativa (SABOYA, 1995).
A forma de expressão emotiva fundamenta a formação da consciência, que
permitirá a formulação das significações e dará origem à representação mental.
Enfatiza-se a importância do movimento para o desenvolvimento mental da criança,
sendo que esta evolução mental não se dá apenas a partir das relações entre
indivíduo e natureza física, mas também por fundamentos sócio-culturais,
dependentes de um contexto histórico (FONSECA, 2000).
A representação com bases simbólicas tem uma significação social, e a
linguagem, como resultado da representação, dá origem à inteligência. Para que
ocorra a aquisição da linguagem três condições são necessárias: a maturação do
sistema nervoso, a integração num grupo humano e a motivação afetiva (TAVARES,
2003).
Como afirma FONSECA (2000), opera-se as modificações no mundo exterior
pelo movimento, que, em si,
opera uma modificação na pessoa que o realiza,
encaminhando-a na representação como forma criadora de relações. Depois da
motricidade e baseada nela, a linguagem introduz a criança no mundo e na
sociedade e, reciprocamente, introduz o mundo na sua própria personalidade.
19
3.2
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA CORPORAL
As primeiras estruturas do comportamento humano são de ordem motora e só
mais tarde que serão também de ordem mental. A criança nasce com um elenco de
reflexos que, com a maturação do sistema nervoso central, devem ir sendo inibidos
para que ocorra a emergência da motricidade voluntária, que, devido ao
enriquecimento de trocas do indivíduo com o meio, estabelece uma relação
interdependente com a consciência. O desaparecimento dos reflexos do tipo motor
possibilita a construção de circuitos perceptivo-motores responsáveis pela
estruturação das funções cognitivas e práxicas (FONSECA, 1993).
A vida mental se organiza pela capacidade de crescimento e aprendizagem
do sistema nervoso, que se desenvolve e se estrutura pelo movimento, sendo este a
primeira forma de integração do ser humano com o mundo exterior. Essa atividade
de relação com o mundo permite a evolução psicológica do indivíduo, que ocorre
então não só como resultado da maturação nervosa mas também pela assimilação
desses estímulos ambientais (físicos), sociais e culturais (TAVARES, 2003).
O córtex cerebral, ao receber as aferências sensoriais e afetivas, se
encarrega da percepção do meio que só pode ser adquirida através das
experiências motoras, integradoras dos fenômenos do espaço e do tempo, e das
relações com o mundo dos objetos e com o mundo das pessoas (FONSECA (2000),
A exploração dos objetos permite ultrapassar o campo motor e entrar no de
experimentação humana. Posicionar-se no espaço e conquistá-lo advém de uma
atividade de orientação dependente da reação tônica. A orientação é o que permite
a construção espacial e ocorre pela interrelação entre motricidade e esquema
corporal (TAVARES, 2003).
20
O conceito de esquema corporal se refere ao conhecimento do corpo e de
seus diferentes segmentos corporais e de sua função, construído pelas vivências
corporais e pelo processo de integração neurossensorial (MATTOS e THOMPSON,
2002).
Schilder entende o esquema corporal como o conhecimento da experiência
do próprio corpo, resultado de uma síntese de impressões sensoriais diversas.
Existe um dispositivo cortical que o subentende, dispositivo esse que, quando
lesado, determina inúmeras perturbações (TAVARES, 2003).
O corpo é o agente do sujeito na percepção do mundo e é através dele que
se exprimem suas necessidades e emoções.
O conceito de esquema corporal
possui quatro aspectos que o constituem: nomeação, localização, conscientização e
utilização das partes do corpo. Os dois primeiros são fatores objetivos, os dois
últimos têm caráter subjetivo relacionado à experiência e à aprendizagem individual
(MATTOS e THOMPSON, 2002).
Já a elaboração da imagem do corpo se estrutura na infância e se estende ao
longo da existência do indivíduo. É um conceito subjetivo, construído com base nos
contatos sociais. A imagem corporal é a representação mental que o indivíduo tem
de si a partir de suas vivências afetivas. A integração da imagem do corpo se
estabelece pela maturação do equipamento neurofisiológico e pelas reações diante
do mundo exterior. A importância do outro é fundamental no desenvolvimento da
noção de corpo, pois a imagem corporal é elaborada de acordo com as experiências
obtidas através dos atos e atitudes com os outros. Wallon afirma que o outro está
para a organização afetiva do conhecimento assim como o objeto está para a
organização dos esquemas sensoriomotores, enfatizando que o conhecimento é
produto do sistema emocional (FONSECA, 1993).
21
A integração da noção de corpo é fundamental para o estabelecimento do
equilíbrio e da personalidade do indivíduo. Uma alteração psicopatológica surge
com modificações da imagem corporal e da motricidade. O corpo e sua projeção no
espaço e no tempo é de vital importância para as organizações sensoriomotoras
onde, pela adequada integração da imagem, se processam os afetos e as relações
de socialização (MATTOS e THOMPSON, 2002).
Desenvolver a imagem corporal implica dois processos:
imagens e a estruturação da identidade do corpo.
a produção de
É importante ter muitas
referências sobre o próprio corpo, mas, para que se saiba que elas são pertinentes
ao corpo real, é fundamental assegurar a sua conexão com as sensações corporais.
É preciso experienciar o corpo com o qual a pessoa nasce para que ele se manifeste
como uma unidade, levando em consideração a permanente relação dos aspectos
fisiológicos, afetivos e culturais.
O desenvolvimento ocorre, portanto, dentro de
limitações impostas pelo meio externo. Esse corpo imaginário imposto pelo contexto
cultural não corresponde de forma exata ao corpo concreto.
A necessidade do
sujeito de se integrar a uma ordem social estabelecida muitas vezes sacrifica o
indivíduo em sua essência enquanto ser original. A possibilidade do indivíduo ser
reconhecido e valorizado pela sua singularidade é crucial para o desenvolvimento de
uma identidade corporal integrada e positiva (TAVARES, 2003),
"A ação que ocorre de forma conectada à identidade da
pessoa resulta em prazer e tende a se manter pela importante função
de abrir caminho para o fluir de nossa energia que está relacionada
com nossas pulsões. Coloca o sujeito com mais autonomia para
experimentar novos caminhos pois não está totalmente vinculado às
gratificações externas, uma vez que a todo momento está preenchido
por uma realidade interna muito viva: suas sensações corporais."
(TAVARES, 2003)
Para que o corpo se apresente como imagem na mente é preciso que ele
exista para o sujeito como objeto cujo significado está relacionado ao processo de
22
vivenciar sensações, refletindo por um lado seu mundo interno e por outro as
exigências do externo. A mente, onde as imagens se formam, faz parte do corpo.
Este, por sua vez, transcende os aspectos afetivos e sociais, as percepções e a
ação indispensáveis para a organização das imagens, por ser fonte do potencial
humano (TAVARES, 2003).
Outros aspectos, como o fator psicológico, o ambiente, e as doenças
influenciam o corpo. Nesse contexto é preciso considerar que numa intervenção
terapêutica que vise facilitar o processo de desenvolvimento da imagem corporal não
se pode prever com exatidão seu efeito em cada pessoa, sendo necessário lidar
com a subjetividade de cada um. E assim como uma intervenção psicoterapêutica
eficaz interfere no padrão de postura, toda terapia corporal significativa influencia na
estrutura psicológica do indivíduo (FONSECA, 2000; TAVARES, 2003).
Consciência corporal deve ser entendida então como uma integração
adequada da representação mental (imagem) que o indivíduo faz de si com seu
esquema corporal. Indivíduos saudáveis, orgânica e relacionalmente, mantêm uma
circularidade dinâmica de integração dos estímulos externos à sua identidade
pessoal. A ampliação da consciência corporal permite um maior conhecimento de si
e possibilita o indivíduo adaptar-se melhor ao ambiente onde vive (SABOYA, 1995).
23
3.3
SISTEMA CRANIOSSACRO
A partir de uma abordagem corporal, a terapia Craniossacral é um método de
avaliação e tratamento de um sistema fisiológico corporal denominado sistema
craniossacro - composto pelas meninges e pelo líquido cefalorraquidiano que
envolve e protege a medula e o encéfalo. O sistema é denominado craniossacro
porque grande parte do acesso a ele é feito através dos ossos do crânio, da cervical
superior e do sacro. Qualquer interferência na habilidade da membrana dura-mater
em acomodar as diferenças de pressão do líquor pode ser fonte de problemas no
organismo.
Realizando um trabalho de desbloqueio de restrições, que são
empecilhos ao funcionamento fisiológico normal do organismo, para dissipar tensões
ao longo de todo o corpo do paciente e melhorar o funcionamento do sistema
nervoso central, a terapia Craniossacral complementa o processo natural de
restabelecimento do estado de saúde do organismo, permitindo também a
manifestação de fatores emocionais que podem acompanhar os traumas físicos
(GARCIA, 2000).
Tradicionalmente os livros de anatomia classificam as suturas cranianas como
sinartroses, ou articulações imóveis, considerando a mandíbula como o único osso
móvel da cabeça. Pesquisas recentes indicam entretanto que, mesmo em idade
avançada, permanece um grau de mobilidade palpável e mensurável nas suturas
cranianas. Como preceito básico das teorias de manipulação craniana, existe um
ritmo palpável - o impulso rítmico craniano (IRC) - que representa um meio direto
para avaliar o estado do mecanismo craniano. Embora haja controvérsia de como o
IRC é gerado, ele representa uma função biológica sutil que pode ser útil numa
avaliação clínica qualitativa (CHAITOW, 2001).
24
William Sutherland, osteopata americano, fascinado pelo desenho e estrutura
dos ossos cranianos, observou a mobilidade articular entre eles por volta de 1900. A
partir de várias experiências, ele identificou através de palpação movimentos
rítmicos em crânios de pessoas de diversas idades.
Efetivamente, estudos
detalhados do crânio humano e de suas suturas indicam o potencial para a
mobilidade interóssea, embora o grau de movimento nas suturas seja bem pequeno
(GARCIA, 2000).
Sutherland (apud GARCIA, 2000) sugeriu, ainda, a existência de uma força
motivadora do movimento craniano, denominada 'mecanismo respiratório primário'.
Ele desenvolveu um modelo no qual o osso esfenóide transmitiria a força para os
demais ossos através das articulações com o occipital, temporal, frontal, parietal,
etmóide, vomer e zigomático.
Neste modelo, o osso esfenóide mover-se-ia em
resposta à circulação do líquido cefaloraquidiano e de seu efeito sobre as meninges.
A partir de 1970, o Dr. John Upledger, pesquisador do Departamento de
Biomecânica da Universidade Estadual de Michigan e fundador do Instituto
Upledger, uniu as técnicas de avaliação e tratamento do Dr. Sutherland com suas
próprias observações sobre a movimentação do sistema de meninges e com seu
conhecimento científico para desenvolver e comprovar as manobras da terapia
CrânioSacral (UPLEDGER, 2001).
Nos estudos da osteopatia craniana, a natureza física da sutura determina o
tipo de movimento que ela permite que seja realizado. Analisando-se o crânio como
um modelo mecânico, o movimento de um osso induz o movimento de outros ossos
relacionados, fazendo com que todo o crânio se mova em resposta à força
motivadora que, no modelo utilizado, se deve à diferença de pressão pela produção
e absorção do líquido cefalorraquidiano (CHAITOW, 2001; UPLEDGER, 2001).
25
É preciso separar, no entanto, a palpação do impulso rítmico craniano (IRC)
da avaliação dos movimentos que acontecem entre as diversas articulações que
compõem o crânio. Esse movimento não se manifesta como nas outras articulações
do corpo, ele é uma elasticidade composta de uma acomodação na articulação
aliada à flexibilidade do osso vivo (CHAITOW, 2001).
A sutura é um tipo de articulação que une as bordas de ossos contíguos com
tecido conectivo. As suturas cranianas podem ser classificadas como: denteada,
serreada, escamosa, esquindilese, lumbosa e plana. A ponte formada entre o
occipital e o esfenóide compõe-se de tecido cartilaginoso do tipo hialina, sendo esta
articulação classificada como sincondrose (UPLEDGER e VREDEVOOGD, 1990).
Estudos histológicos feitos em macacos adultos, dos quais foram retirados
amostra de tecido ósseo do crânio, não mostraram nenhuma evidência de
ossificação das suturas.
Nas amostras estudadas, as suturas apresentavam cinco
camadas distintas de células e fibras entre as bordas articulares dos ossos.
A
camada mais externa é uma zona de tecido conjuntivo que transpassa a sutura,
promovendo a ligação entre os ossos, mas permitindo algum movimento entre eles.
A existência de vasos sangüíneos e de fibras nervosas também eram evidentes.
Embora não se saiba a função das fibras nervosas, elas podem estar envolvidas no
efeito fisiológico da terapia craniana (RETZLAFF et al, 1976).
Do ponto de vista ósseo, a cabeça apresenta duas regiões distintas: o crânio,
ou crânio neural, e a face, ou crânio visceral. O esqueleto da cabeça aloja o
encéfalo e as meninges, ligados ao canal vertebral através do forame magno. Aloja
também os órgãos dos sentidos e as partes iniciais das vias respiratória e digestória.
O crânio é composto de oito ossos, sendo quatro destes pares: os parietais e os
temporais, e quatro ímpares: frontal, occipital, esfenóide e etmóide. O crânio tem
26
uma extremidade superior, a calvária, e uma inferior, a base do crânio, que se
articula anteriormente com os ossos da face e no centro com a primeira vértebra
cervical. Na sua parte posterior se fixam os músculos da nuca. A face é constituída
por 14 ossos:
2 maxilares, 2 palatinos, 2 zigomáticos, 2 lacrimais, 2 nasais, 2
conchas nasais inferiores, vômer e mandíbula. Os primeiros se articulam entre si e
com o terço anterior da base do crânio por meio de suturas.
A mandíbula possui
movimentos mais amplos pois se articula com o osso temporal através da
articulação sinovial temporo-mandibular (FIGUN e GARINO, 1994).
Estruturalmente a coluna é composta por 33 ossos. Suas funções, dentre
outras, são proteger a medula espinhal e possibilitar o movimento do tronco e a
marcha. O sacro, um conjunto de 5 vértebras fundidas, constitui um osso triangular e
apresenta uma base, um ápice e faces pélvica, dorsal e lateral. A fusão das peças
sacrais esconde o canal sacral que corresponde ao canal vertebral na coluna. Pelos
forames sacrais emergem os ramos dos nervos sacrais. Superiormente articula-se
com a quinta vértebra lombar (L5) através do disco intervertebral lombosacral e das
facetas articulares verticalizadas e frontalizadas que permitem grande amplitude de
flexão e extensão nesta junção. Lateralmente articula-se com com o ilíaco e
inferiormente com o cóccix (SOBOTTA, 2000).
Três membranas conjuntivas denominadas meninges envolvem o sistema
nervoso central, fornecendo proteção para o encéfalo e a medula espinhal. Da parte
externa para a interna apresentam-se a dura-mater, a aracnóide e a pia-mater. A
camada mais externa possui estreita relação com os ossos da caixa craniana. Na
região da coluna vertebral, o espaço existente entre ela e o periósteo das vértebras
chama-se espaço extradural, ou epidural, e está preenchido pelo plexo venoso
vertebral interno e por tecido gorduroso. Entre a dura-mater e a aracnóide existe
27
apenas um espaço virtual denominado espaço subdural, com uma pequena
quantidade de líquido para evitar aderência. No espaço entre a aracnóide e a piamater, o espaço subaracnóideo, circula o líquido cefalorraquidiano, ou líquor
(MACHADO, 1993).
A região da dura-mater que recobre o encéfalo possui duas lâminas.
A
camada externa, ricamente vascularizada e inervada, se adere aos ossos do crânio,
comportando-se com o periósteo deles, embora não possua função osteogênica
(MACHADO, 1993). Esta estreita adesão permite que se use os ossos do crânio
como suporte para acesso ao sistema composto pelas meninges e pelo líquor.
Como salientam UPLEDGER e VREDEVOOGD (1990), em recém-nascidos a
distância entre as bordas dos ossos que formam a cavidade craniana é considerável
e diminui conforme o indivíduo envelhece, mas não desaparece. As suturas não se
ossificam, mantendo um certo grau de mobilidade.
Daí a possibilidade de se
considerar os ossos, sobre os quais a membrana está aderida, como alavancas para
acessar a meninge.
A camada interna da dura-mater destaca-se da externa em algumas regiões
para formar a foice do cérebro, o tentório do cerebelo, a foice do cerebelo e o
diafragma da sela. Na osteopatia craniana, estas dobras durais são conhecidas
como membranas recíprocas de tensão. São elas que permitem a funcionalidade
do sistema craniossacro.
Tensão anormal nestas membranas podem gerar
disfunções no sistema craniossacro.
As fibras colágenas que compõem a
membrana estão entrelaçadas e aparentemente desorganizadas. Se a membrana é
submetida à tensão por um longo período de tempo, as fibras se organizam,
alinhando-se
na
direção
VREDEVOOGD, 1990).
da
tensão
(MACHADO,
1993;
UPLEDGER
e
28
Apenas a camada interna é contínua com a dura-mater espinhal. A pia-mater
espinhal, assim como na região encefálica, se adere intimamente ao tecido nervoso
da superfície da medula.
Quando esta termina no cone medular, a membrana
continua formando o filamento terminal, perfura o fundo do saco dural e vai até o
hiato sacral.
periósteo
Recebe prolongamentos da dura-mater e o conjunto se insere no
da superfície dorsal do cóccix.
Na região lombar, o saco dural e a
aracnóide que o acompanha terminam em S2 (segunda vértebra sacral), e a medula
e a pia mater que a envolve terminam em L2 (MACHADO, 1993).
O encéfalo e a medula espinhal são estruturas fundamentais para o
funcionamento do corpo e, no entanto, são delicadas e frágeis. São protegidos por
um envoltório ósseo representados pela cavidade craniana e pelo canal vertebral
respectivamente. As meninges compõem outra parte deste mecanismo protetor. No
interior deste revestimento ósseo, circulando no espaço subaracnóideo, o líquido
cefalorraquidiano atua como um acolchoamento líquido entre o estojo ósseo e o
sistema nervoso central e tem a função de
amortecer os choques aos quais o
sistema nervoso está sujeito. O líquido cefalorraquidiano, ou líquor, tem também a
função de retirar os resíduos do metabolismo, servir como meio de difusão de
células de defesa imunológica e de nutrir o epêndima e estruturas periventriculares
(MARTIN, 1998).
O sistema nervoso central possui uma organização tubular em cujo interior
existem cavidades cheias de líquor que compõem o sistema ventricular. Projetandose nas cavidades ventriculares está o plexo coróide, uma evaginação de vasos
envolvidos pela pia mater e cobertos pela camada epitelial de origem ependimal. A
função do plexo é a produção de líquor. Grande parte do líquido cefalorraquidiano,
ao sair dos ventrículos, flui para cima através do espaço subaracnóideo até atingir
29
as vilosidades aracnóides que se projetam para o seio venoso sagital e outros seios
venosos, passando para o sangue venoso através dessas vilosidades (MACHADO,
1993).
A produção do líquor em uma extremidade e sua absorção em outra é
suficiente para determinar sua movimentação, que é bastante lenta. Outro fator que
pode influenciar a circulação do líquor é a pulsação das artérias intracranianas que,
a cada sístole, aumenta a pressão liquórica, possivelmente contribuindo para
empurrar o líquido para as granulações aracnóideas. A pressão do líquido é
regulada pela sua absorção através das vilosidades aracnóideas. Por um lado, a
formação de líquor é constante, por outro, as vilosidades funcionam como válvulas
que permitem o fluxo do líquido para o sangue venoso dos seios e impedem que o
sangue flua de volta em direção oposta (MACHADO, 1993; MARTIN, 1998).
No modelo de John Upledger, o ritmo crâniosacral é resultado da variação de
pressão entre o sangue arterial, o líquido cefaloraquidiano e do sangue venoso
(BARRAL, 1988). Pelo estudo anatômico das estruturas que compõem o sistema
craniossacro, verifica-se a relação das partes ósseas do crânio e da coluna
vertebral, com as membranas conjuntivas que encobrem o sistema nervoso e
formam
um
circuito
interno
de
conexão
entre os
ossos,
e
do líquido
cefalorraquidiano, circulando pelo sistema de meninges e responsável pela pulsação
rítmica (GARCIA, 2000).
Esta pulsação pode ser percebida em qualquer parte do corpo devido ao
tecido conectivo, a fáscia, que envolve as estruturas viscerais e musculares de
forma contínua.
A fáscia liga mecanicamente o conjunto dos elementos de
locomoção. Todo o movimento ritmado de qualquer um desses elementos acarreta
o movimento ritmado de todos os outros (BIENFAIT, 1989; GARCIA, 2000).
30
Os tecidos conjuntivos que formam a fáscia são diferenciados mas guardam
algumas características comuns. As células estão distanciadas entre si e imersas na
substância fundamental, composta de vários elementos, dentre eles uma proteína, o
colágeno, que forma uma rede de fibras entrelaçadas que formam feixes orientados
no mesmo sentido das solicitações mecânicas suportadas pelo tecido. Uma outra
proteína, a elastina, forma uma rede de fibras que fornecem a capacidade elástica
do tecido. A fáscia pode, então, dependendo de sua localização e de sua função, ser
mais ou menos densa, possuir fibras orientadas em sentidos diversos, conter
quantidades diferentes de fibras elásticas, mas trata-se sempre do mesmo tecido,
um tecido mecânico. Por causa disso, as modificações que sofre modificam-no sem
cessar (BIENFAIT, 1989).
A maioria dos planos fasciais do corpo humano estão orientados em sentido
longitudinal.
O deslizamento, mobilidade característica desses tecidos, é mais
aparente portanto no sentido longitudinal do que no transverso.
Existem
anatomicamente, no entanto, divisões estruturais específicas que atuam como áreas
de restrição funcional ao deslizamento natural longitudinal. Estas divisões estão
localizadas onde o tecido conjuntivo possui orientação transversa em relação ao
corpo. Estes cortes transversais são denominados diafragmas e podem impedir o
deslizamento longitudinal livre das lâminas fasciais (UPLEDGER e VREDEVOOGD,
1990).
Existem manobras crâniosacrais nestas regiões que têm o objetivo de
diagnosticar a amplitude do movimento aí apresentado e aumentá-lo caso esteja
restrito ou modificar o seu padrão (GARCIA, 2000).
31
3.4
TERAPIA CRANIOSSACRAL
As manobras craniossacrais servem tanto para diagnóstico quanto para
tratamento do sistema craniossacro. Como diagnóstico pode-se avaliar a amplitude,
a freqüência e a qualidade da pulsação, verificando a vitalidade da pessoa como um
todo (GARCIA, 2000).
No modelo de John Upledger, o ritmo craniossacral é
resultado da variação de pressão entre o sangue arterial, o líquido cefaloraquidiano
e do sangue venoso (BARRAL, 1988).
Figura 1: Manobra do osso frontal
Fonte: The craniosacral therapy association of the UK, 2004
Alguma área que apresente restrição poderá estar causando uma diminuição
do fluxo do líquor e afetando a função de outros sistemas. As manobras básicas da
terapia craniossacral são realizadas colocando-se as mãos gentilmente sobre o osso
que deve ser manipulado (veja Figura 1).
Avalia-se a restrição ali presente e,
respeitando a amplitude de movimento daquele local, realiza-se a manobra indicada.
Os efeitos de se liberar as restrições ao longo do sistema craniossacro são, dentre
outros, o relaxamento, a diminuição da dor e da disfunção, e o aumento da energia e
da vitalidade pessoal (UPLEDGER e VREDEVOOGD, 1990).
32
É possível ainda aprofundar o trabalho terapêutico ao estabelecer uma via de
comunicação pelo diálogo com a pulsação craniossacral, e também através do
trabalho com cistos energéticos, liberação somática emocional e imagem terapêutica
(veja Figura 2). O trabalho com cistos energéticos e o de liberação somática
emocional propõem formas de se liberar a energia excedente armazenada no corpo
devido aos traumas físicos ou emocionais.
Para tanto é imprescindível que o
terapeuta se treine para que possa acolher as diversas manifestações que venham
do paciente e assim propiciar a sua transformação (GARCIA, 2000; UPLEDGER,
2001).
Figura 2: Avaliação da pulsação crâniossacral
Fonte: The craniosacral therapy association of the UK, 2004
De acordo com a experiência de UPLEDGER (1990), é comum um paciente
seu chegar carregado de emoções potencialmente destrutivas, como raiva, medo e
ressentimento, que, quando liberadas pela ação do sistema nervoso simpático
exercem uma função importante, mas que, quando mantidas estagnadas no
organismo, levam a efeitos negativos. a energia que compreende tais emoções é a
mesma que gera as emoções construtivas como amor, alegria e esperança. Parece
lógico, portanto, para a conservação de energia do paciente e para melhorar a sua
33
auto-estima, converter as emoções destrutivas em construtivas.
Quando as
emoções negativas tornam-se persistentes e invasivas, as pessoas podem
racionalmente querer agir com seu potencial construtivo, mas são emocionalmente
incapazes de fazê-lo.
Emoções destrutivas, como medo e raiva, favorecem a formação de cistos
energéticos e emoções construtivas, como alegria e amor, facilitam a dissipação da
energia imposta externamente conduzindo mais prontamente à reabilitação.
Os
cistos são um acúmulo de energia externa alojada em alguma parte do organismo
(UPLEDGER, 2002).
Segundo o modelo de UPLEDGER (1990), quando o indivíduo sofre uma
lesão traumática, há um excesso de entrada de energia em seu corpo, alojando-se
esta em forma de um cisto energético a determinada profundidade proporcional à
força de impacto e à densidade do tecido por onde sua trajetória passa. Depois de
alojado, o cisto irradia ondas concêntricas de energia, sugerindo que os tecidos
circunvizinhos possuem coeficientes de condutividade específicos.
A energia
externa é caótica e não se encaixa na organização dos sistemas internos de
energia, podendo se alojar em alguma víscera causando-lhe danos ou interferindo
em sua função.
Uma vez localizado o cisto, é preciso encontrar a 'posição
terapêutica' na qual o corpo do paciente assume uma posição que simula a posição
em que estava no momento da entrada do excesso de energia, possibilitando que
esta seja liberada na mesma trajetória em linha reta de sua entrada.
Neste
momento, o ritmo craniossacral pára e só retorna após a liberação.
GARCIA (2003) propõe uma outra forma de se retirar o cisto através de uma
manobra indireta seguindo o movimento circular até a sua amplitude máxima e
terminando a manobra depois de ocorrido um sinal de liberação.
34
Um fenômeno que freqüentemente acompanha a liberação de cistos
energéticos é a expressão emocional relacionada ao trauma sofrido. Como se o
cisto guardasse consigo a memória de sua criação e a emoção que estava presente
nesse momento (GARCIA, 2003; UPLEDGER 2002).
Um modelo utilizado para explicar a liberação somática emocional é o do
cérebro como um gerador de informações energéticas precisas e específicas de
acordo com as quais as mais diversas partes do corpo ressonam.
As mensagens
enviadas pelo cérebro incluem entre outras o controle da circulação sangüínea, da
tonicidade muscular, e a quantidade de hormônios presente nos tecidos. A parte
corporal que recebe a mensagem pode se tornar disfuncional por qualquer motivo
que interfira na trajetória da mensagem. A interferência pode ocorrer no próprio
sistema de envio da mensagem, no caminho, ou ainda no componente corporal
incapaz de receber ou confirmar a recepção da mensagem, quebrando o mecanismo
de retroalimentação necessário para que o cérebro saiba que a informação foi
recebida com sucesso. Uma vez que as restrições são liberadas, o sistema volta a
fluir novamente (UPLEDGER, 1990).
Figura 3: Manobra de indução ao 'stillpoint'
Fonte: The craniosacral therapy association of the UK, 2004
35
UPLEDGER (1990) ressalta, ainda, como manifestação do processo
terapêutico, o aparecimento de imagens que devem estar relacionadas com
símbolos cabíveis de interpretação pelo próprio paciente, mas que também podem
ser utilizadas como recurso de orientação.
Uma manobra que favorece o aparecimento de imagens é o 'stillpoint',
durante a qual o sistema entra em descanso (veja Figura 3). No estado de 'stillpoint'
espera-se sempre melhorar o funcionamento do sistema nervoso autônomo,
diminuindo o tônus e relaxando os tecidos conjuntivos, o que também beneficia
lesões musculoesqueléticas agudas e crônicas (GARCIA, 2000; UPLEDGER, 1990).
A terapia craniossacral é um método de trabalho corporal, onde o respeito e a
delicadeza são a base da técnica.
O trabalho é indicado no tratamento de
disfunções corporais, estresse, dores crônicas e outras desordens ligadas ao
sistema nervoso central, sendo um excelente recurso adicional às terapias
convencionais. O equilíbrio do sistema craniossacro é de fundamental importância
para o organismo. O seu desequilíbrio pode afetar o desenvolvimento e as funções
do cérebro e da medula espinhal, podendo resultar em mau funcionamento motor,
sensorial, intelectual e emocional. Isto ocorre devido à sua íntima ligação com o
sistema nervoso. A determinação de equilíbrio deve observar variáveis como
freqüência, amplitude e qualidade do ritmo de pulsação (GARCIA, 2000).
36
4.
DISCUSSÃO
A questão a ser analisada refere-se à conexão das sensações corporais com
o significado dado a elas em conseqüência dos processos emocionais vivenciados,
e ao estabelecimento da integração de sensação e significado em uma
representação mental condizente com a estrutura orgânica, definição esta que se
encontra em concordância com o conceito de consciência corporal.
A
ampliação
da
consciência
corporal
é
um
processo
dinâmico
interdependente das forças internas ao indivíduo, seus aspectos psicológicos e
sensoriais, e das forças externas que agem sobre ele, ou seja, de fatores ambientais
e sociais. Formar uma consciência corporal condizente com a identidade do sujeito
requer tanto a capacidade de percepção das sensações que lhe são internas para
que daí possa dar significado a elas, quanto consciência para compreender os
aspectos externos e incorporá-los ao ser apenas se lhe forem compatíveis.
Perceber a coesão das partes e reconhecer os limites e as potencialidades estão
fundamentalmente conectados ao sentido de identidade de cada sujeito.
Os desequilíbrios funcionais, tanto orgânicos quanto psicológicos, ocorriam
devido à falta de reconhecimento e da não integração do que é próprio ao indivíduo
nas suas próprias percepções, fatores gerados por um processo de dissociação de
intimidade consigo e pela falta de conhecimento de si mesmo. Ou seja, muitos
sintomas como dor, doença e infelicidade seriam conseqüências de causas
primárias relacionadas a distúrbios de consciência corporal.
Lesões neurológicas comprometem o desenvolvimento normal da imagem
corporal acarretando em distúrbios ou retardo do processo como mostra CORREA,
COSTA e FERNANDES (2004). Caso não haja lesões específicas, a desconexão
37
com o estado interno e a incapacidade de avaliar a influência das forças externas
sobre si devem advir de relações afetivas empobrecidas e da falta de qualidade das
vivências corporais durante o crescimento.
Daí a adoção de um padrão de
comportamento por crenças adquiridas a respeito de si mesmo. Padrões que muitas
vezes estão fora do âmbito cognitivo e que portanto devem também ser desfeitos
fora desse âmbito. Esta censura imposta a si mesmo, muitas vezes fora da mente
consciente, pode gerar sintomas como dor e mal-estar ou provocar a doença. A
própria doença se manifesta como sinal da falta de perspectiva de vida pela
confusão gerada com adoção de comportamentos que são impostos embora não
sejam condizentes com a verdadeira essência do ser.
A abordagem do tratamento sintomático de alguma disfunção pode mascarar
os possíveis determinantes que provocaram a ocorrência da disfunção em si.
Fazendo uma analogia com um dos ensinamentos mais importantes de Samuel
Hahmemann, médico alemão que desenvolveu a homeopatia, o qual se refere ao
perigo de se suprimir sintomas visíveis das doenças, pois uma vez suprimidos os
sintomas mais externos, eles podem atingir órgãos internos, mais vitais e mais
resistentes aos remédios (WEIL, 1996); ao se tratar a dor, a doença ou a
infelicidade, sendo elas sintomas e sinais, possivelmente os determinantes dessas
disfunções irão gerar outros sintomas. Deve-se criar um espaço para que a causa
se manifeste, ao invés de torná-la mais inacessível pela abordagem do tratamento
de sintomas.
A disfunção, por sua vez, talvez pudesse se desvanecer com o
restabelecimento da integridade do ser, ou seja, através de processos de ampliação
da consciência corporal.
Para tanto um tratamento que permita a liberação de
restrições físicas e emocionais e que permita um espaço para a reintegração de
sensações à essência interior torna-se fundamental.
38
BERTHERAT (2001) afirma que ao se tomar consciência dos próprios
bloqueios musculares e ao procurar as suas origens, compreende-se melhor o
motivo das escolhas pessoais. A finalidade de um trabalho de desenvolvimento da
consciência corporal é fazer com que o indivíduo assuma a responsabilidade de seu
próprio processo, sem entregá-lo a uma entidade externa, seja o remédio ou o
terapeuta. A tomada de consciência pode não trazer conforto de imediato, mas
propicia descobertas cujas interpretações devem estar a cargo do indivíduo e elas
podem indicar soluções para o problema que o aflige. A relação entre os distúrbios
físicos e psíquicos estão a cargo do próprio paciente e o entendimento desse
processo se deve a ele mesmo.
Buscar um caminho de evolução pessoal através da ampliação da
consciência corporal pode ser, portanto, um processo durante o qual os sintomas e
os sinais desapareçam pelo fato de se ir de encontro às causas primárias que deram
origem ao desconforto e à desconexão.
Assim o corpo, através do qual o indivíduo se manifesta e sobre o qual o
ambiente age, existe na sua relação consigo mesmo e com o mundo.
Uma
intervenção terapêutica que tenha uma abordagem corporal deve considerar este
aspecto relacional e atingir além das camadas que o corpo mostra ou esconde.
Embora os resultados do estudo de KOCK e RICS (2004) não tenham sido muito
expressivos em demonstrar a influência do fator psicológico sobre a postura,
evidenciam a importância da interação corpo-mente.
Perceber a própria relação com o corpo é perceber a relação das partes do
corpo entre si. As limitações que uma rigidez corporal impõe ao indivíduo traz malestar e sofrimento.
Para dissolver o sofrimento, portanto, é preciso entrar em
contato com a história da rigidez e permitir que todos os aspectos que se relacionem
39
com ela, sejam físicos, emocionais ou psicológicos, se manifestem e encontrem sua
própria forma de liberação.
Nessa perspectiva, as manobras crâniossacrais são técnicas através das
quais o terapeuta estabelece uma comunicação com o corpo do paciente.
Sua
eficácia está na qualidade dessa comunicação e não somente na aplicação da
técnica em si.
Compor um diálogo significativo implica em treinamento e
amadurecimento do terapeuta e em respeito pelo ritmo, amplitude e profundidade do
processo do paciente e aceitação dele. Os mais diversos aspectos que podem ser
percebidos em uma sessão de terapia CrânioSacro, a citar, as sensações corporais
suscitadas, as emoções liberadas, o fluxo espontâneo de reações não censurado
pelo controle mental e as imagens internalizadas, são componentes e constituintes
da história de cada sujeito e devem ocorrer em um processo terapêutico eficaz.
A terapia psicomotora é um trabalho que utiliza o corpo em movimento,
visando a humanização do indivíduo com o seu mundo interno e o seu mundo
externo. Ao lado do trabalho corporal, utiliza ainda a representação no objeto como
recurso de compreensão da realidade do ser e a comunicação verbal. SABOYA
(1995) propõe três esferas para observação do ser em integração com o meio: uma
esfera onde a sensação gera o movimento e vice-versa, outra onde o sentimento
gera a emoção e vice-versa e a terceira onde o pensamento gera a palavra e viceversa. Um indivíduo saudável na relação consigo e com o mundo apresenta uma
circularidade em cada uma destas esferas e uma integração harmônica entre elas e
na troca com o meio. Dada a interdependência de um grande número de fatores
que esta proposta suscita, não se pode abordar o homem tendo um pensamento
linear. TAVARES (2003) complementa ao afirmar que, como as representações
corporais já possuem uma histórias significativa quando ocorre a aquisição da
40
linguagem, para compreender o outro corporalmente é fundamental aceitar a
limitação de explicações lineares e reconhecer o inesperado que pode surgir como
manifestação corporal.
A eficácia da terapia corporal está na abertura de espaço para esse
reconhecimento do próprio estado emocional em conexão com as sensações
despertadas. Ao reconhecer a sua continência (sensações corporais), o indivíduo
pode compreender seus significados (consciência).
Assim como na abordagem psicomotora, a terapia crâniossacral é um
trabalho que considera o homem em sua unicidade, a partir de sua história genética,
suas vivências afetivas, suas experiências motoras e as influências ambientais a que
está exposto.
A terapia craniosacral encontra-se em estreita relação com os movimentos
mais sutis que o corpo manifesta seja na liberação de microtensões musculares, na
retirada de aderências fasciais, no aprofundamento da respiração, seja numa
instância mais interna, ao propiciar um momento de silêncio interior e relaxamento,
condições férteis para que o paciente tenha a percepção do estado do corpo e para
que haja o afloramento de sensações. Assim ela proporciona a possibilidade de se
abordar aspectos ainda desconhecidos e integrá-los como uma nova experiência
vivida, fatores essenciais no desenrolar de processos internos e de evolução pessoal
(GARCIA, 2003).
As sensações, recebidas através dos órgãos dos sentidos, vinculam o homem
ao mundo e se apresentam com a condição básica para o desenvolvimento da
psique. Pois através delas o homem percebe o ambiente externo e o estado de seu
organismo. As percepções estão relacionadas às vivências específicas de cada
41
indivíduo e baseiam-se em aspectos psicológicos.
A capacidade perceptiva do
homem depende de vontade, de orientação e de consciência.
Assim como em outras intervenções terapêuticas que visem facilitar o
processo de desenvolvimento da consciência corporal, não se pode prever com
exatidão a dimensão da proposta da terapia craniossacral, já que é preciso lidar com
a subjetividade de cada paciente, e atuar sem entrar por caminhos lineares.
Portanto o prazo para o surgimento dos efeitos e a própria incorporação do processo
de forma favorável à vida da pessoa depende fundamentalmente dela mesma.
Uma intervenção profissional significativa deve abrir caminhos na existência
das pessoas para que se dinamize seu processo de evolução.
Grande parte do trabalho da terapia craniossacral baseia-se no conceito de
quebra de padrões fixos mecânicos em sua transformação, de forma consciente, em
um novo ritmo mais fluido que permita uma maior funcionalidade da estrutura
trabalhada, pois padrões de tensão causam movimentos rígidos que apresentam
como conseqüência a diminuição de sua amplitude.
Movimentos mais fluidos
implicam em relações mais flexíveis, já que o direcionamento que se dá ao corpo
está vinculado ao significado dos movimentos e às relações com o mundo.
Com uma abordagem corporal, a partir de toques sutis e específicos, a terapia
craniossacral tem um alcance profundo dando vazão aos processos psicológicos e
emocionais que devem ocorrer conjuntamente à mudança de postura e de
entendimento de si e do mundo.
Ao possibilitar, a um só tempo, que o paciente entre em contato com as
sensações que o corpo lhe comunica e com o processo interior que se desenrola, a
terapia oferece também o espaço para que ocorra essa integração, e deve
proporcionar, de tal forma, a ampliação da consciência corporal.
42
5.
CONCLUSÃO
O termo consciência corporal tem um significado abrangente e está
relacionado a uma integração relevante para o sujeito das sensações corporais que
ele percebe, através das quais ele se relaciona com o mundo, com o processamento
e a regulação internos delas. Na medida que o indivíduo realiza esta integração dos
novos estímulos que recebe de maneira adequada com o seu mundo interno garante
um desenvolvimento saudável. De modo inverso, se existir conflito na integração do
esquema com a imagem corporal, haverá o aparecimento iminente ou tardio de
alguma disfunção, seja ela física, mental ou emocional.
Atuar terapeuticamente com a intenção de abordar o indivíduo em sua
integridade, considerando a interrelação de todos os aspectos que o compõem,
torna-se um meio de fornecer a ele ferramentas para alcançar resultados mais
duradouros no processo de restabelecimento da saúde e da manutenção dela.
Indivíduos saudáveis, orgânica e psiquicamente, mantêm um intercâmbio fluido ente
sensação e movimento, sentimento e emoção, e pensamento e palavra.
Com o uso da terapia craniossacral, devido à sua influência sobre o sistema
nervoso central e aos resultados verificados na prática, o terapeuta pode tratar
disfunções específicas e concomitantemente viabilizar a ampliação do processo de
entendimento dos determinantes da disfunção, o que possibilita ao paciente refletir e
construir sobre seu próprio processo de restabelecimento da saúde, que é subjetivo
e portanto dependente do próprio paciente e do vínculo que se estabelece com o
terapeuta.
43
REFERÊNCIAS
BARRAL, Jean-Pierre, Visceral Manipulation. Seattle: Eastland Press, 1988.
BERTHERAT, Thérèse, BERNSTEIN, Carol. O corpo tem suas razões. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
BIENFAIT, Marcel. Fisiologia da terapia manual. São Paulo: Summus, 1989.
CHAITOW, Leon. Teoria e prática da manipulação craniana. Rio de Janeiro:
Manole, 2001.
CORRÊA, Fernanda, COSTA, Tamine, FERNANDES, Moisés. Estudo da imagem e
esquema corporal em crianças portadoras de paralisia cerebral do tipo tetraparética
espástica. Fisioterapia Brasil, Rio de Janeiro, ano. 5, n. 2, p. 131-135, mar./abr.
2004.
COSTE, Jean-Calude. A Psicomotricidade. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1992.
EDELMAN, Gerald. Biologia da Consciência. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.
FIGÚN, M, Mario Eduardo, GARINO, Ricardo Rodolfo. Anatomia Odontológica
Funcional e Aplicada. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994.
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade: Filogênese, ontogênese e retrogênese, 2
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
GARCIA, José Mauro, NAVYIA, André Luiz. CrânioSacro Essencial, um sistema.
Rio de Janeiro, 2000. Apostila Didática.
GARCIA, José Mauro. CrânioSacro Essencial, módulo avançado. Rio de Janeiro,
2003. Apostila Didática.
KOCK, Kelser de Souza, RICS, Lilian. A influência da personalidade na postura.
Fisioterapia Brasil, Rio de Janeiro, ano. 5, n. 2, p. 82-85, mar./abr. 2004.
MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1993.
MARTIN, John. Neuroanatomia, Texto e Atlas. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998.
MATTOS, Vera, THOMPSON, Rita. Psicomotricidade. Apostila didática da
disciplina de Psicomotricidade na Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2002.
44
MELO, José Pereira de. Aprendizagem motora na escola. In: GUEDES, C. (org).
Atividade física e esportes: conteúdos e perspectivas evolutivas. João Pessoa:
Unipê, 2001.
REICH, Wilhelm. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
RETZLAFF, Ernest W. et al. The structures of cranial bone sutures. The journal of
the American Osteopathic Association, Chicago, v. 75, p. 607-608, fev. 1976.
SABOYA, Beatriz. Bases Psicomotoras - aspectos neuropsicomotores e
relacionais no primeiro anos de vida. Rio de Janeiro: Trainel, 1995.
SEARLE, John. A redescoberta da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 21 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2000.
TAVARES, Maria da Consolação, Imagem Corporal. Barueri: Manole, 2003.
THE CRANIOSACRAL THERAPY ASSOCIATION OF THE UK, About craniosacral
therapy. Disponível em <http://www.craniosacral.co.uk/>. Acesso em: 10 nov. 2004.
UPLEDGER, John, VREDEVOOGD, Jon. Craniosacral Therapy. Seattle: Eastland
Press, 1990.
UPLEDGER, John. SomatoEmotional release and beyond. Palm Beach Gardens:
UI Publishing, 1990.
UPLEDGER, John. Seu Médico Interno e você. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
UPLEDGER, John. SomatoEmotional release: deciphering the language of life.
Berkeley: North Atlantic Books, 2002.
WEIL, Andrew. Cura Espontânea, Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
Download

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Rio de Janeiro 2004