CORRENTES INFANTIL PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO O Planejamento na Educação Infantil e as Atuais Tendências Pedagógicas - O Trabalho com Projetos INTRODUÇÃO O estudo da disciplina CPEI - Correntes Pedagógicas da Educação Infantil tem como principal objetivo instigar reflexões sobre: - O planejamento na educação infantil e as atuais tendências pedagógicas - o trabalho com projetos - A leitura e a escrita - linguagens expressivas como instrumentos de integração nos projetos e o papel do professor nesse processo Essas reflexões são importantes, pois em muitas escolas ainda há um trabalho mecânico, repetitivo, no qual o professor usa o mesmo planejamento por vários anos, sem levar em consideração as diferenças entre as crianças de uma turma para outra, seus interesses, desejos e necessidades. Em muitas escolas ainda se desenvolve um tipo de trabalho extremamente assistencialista, sem atividades envolventes, que propiciem a ampliação da aprendizagem das crianças. Há casos em que os professores não contam com coordenadores parceiros que, por incrível que pareça, desconhecem a existência do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, entre outros materiais de grande valor, para que se busque um mínimo de qualidade no processo pedagógico e um mínimo de respeito com as crianças pequenas. Esses materiais, de fácil acesso e linguagem clara, são apropriados a qualquer professor, iniciante ou experiente, que queira aprimorar sua prática. É preciso também refletir sobre as influências que sofrem as crianças e uma delas, talvez a principal, seja a mídia televisiva, que as “bombardeia” diariamente com variadas informações que podem ter efeito positivo ou negativo, dependendo do adulto que as acompanha. No caso de um adulto atento, preocupado em dosar o tempo de exposição e preocupado com o uso adequado desse meio de comunicação, as influências podem ser positivas, mas se este for usado como forma de manter a criança quieta, os efeitos podem ser desastrosos. Além da TV, existem, provavelmente em menor escala, os jogos eletrônicos e computadores que exercem o mesmo fascínio e poder sobre as crianças e que também podem ser revertidos para o bem ou para o mal, conforme a orientação dos adultos responsáveis. A Escola de Educação Infantil, em seu ambiente e na figura do professor, deve estimular a reflexão da criança para todas essas influências e, para isso, é preciso que a criança pense, interprete o mundo, selecione o que lhe possa interessar ou não, interaja para a formação de sua cidadania e sua participação ativa na sociedade. Para ler e interpretar esse mundo, os principais instrumentos de que a criança irá dispor são a leitura e a escrita. Num mundo repleto de informações gráficas, o analfabeto é prejudicado pela falta de acesso à informação escrita, pela inabilidade de acessar recursos que dependam da leitura e pela dificuldade de manejar ferramentas que dependam da escrita. Um exemplo básico é o uso do computador, cada vez mais exigido no cotidiano de nossa sociedade. Para que o pequeno cidadão exerça seus direitos e deveres, dentro de uma instituição preocupada com aprendizagem e desenvolvimento plenos, não há como negar a importância do profissional que nela atua e a preocupação com a formação do professor, que diretamente promoverá as possibilidades de construção de conhecimento nos ambientes pedagógicos. O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E AS ATUAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS - O TRABALHO COM PROJETOS O Planejamento e as atuais tendências pedagógicas em Educação Infantil As tendências pedagógicas atualmente praticadas nas salas de Educação Infantil não surgiram de forma mágica. Há uma trajetória histórica, social, e tudo começa com os estudos nas várias áreas do desenvolvimento humano como a Psicologia, a Biologia, a Sociologia e Antropologia. Grandes nomes como Comenius e Rousseau já tratavam da importância da intervenção educacional para crianças em torno de seis anos de idade. Froebel, que criou os Jardins da Infância, enfatizou a brincadeira, a interação entre a mãe e seu bebê como essenciais para a aprendizagem dos pequenos, além da formação de professores específicos para a faixa etária de até seis anos de idade. Maria Montessori e Decroly, de maneira mais sistematizada, criaram seus métodos de ensino apropriados para o ambiente escolar. Com esses estudos, recebemos informações importantes sobre o desenvolvimento e aprendizagem da criança, desde o nascimento, e de como esse processo evolui até a vida adulta. Mesmo que o trabalho não seja direcionado à educação escolar, podem-se tirar dele implicações pedagógicas. É o caso da pesquisa de Jean Piaget, que estudou as fases evolutivas da criança pela sua interação com os elementos do ambiente. O professor pode utilizar essas informações para planejar atividades e organizar o ambiente escolar de forma a propiciar os estímulos desafiadores apropriados ao nível da criança, respeitando sempre seu ritmo e a sua maneira própria de pensar nas soluções dos problemas. Foi assim que, no percurso das correntes pedagógicas da Educação Infantil, passamos da idéia de que a criança era um ser desprovido de pensamento, um adulto em miniatura, cujo pensamento já estaria formado, uma sementinha que deveria receber cuidados apropriados, um ser passivo que deveria ser lapidado ou moldado, para a concepção atual. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a criança é um sujeito social e histórico, que faz parte de uma organização familiar inserida numa sociedade, possui uma natureza singular que a caracteriza como ser que sente e pensa o mundo de um jeito muito próprio e constrói o conhecimento a partir das interações com o meio e outras pessoas. Partindo dessa idéia, o professor deve organizar seu trabalho possibilitando à criança agir sobre o ambiente, interagir com outras pessoas, pensar, resolver, testar hipóteses, ou seja, construir o seu conhecimento e não recebê-lo passivamente de maneira pronta. O planejamento na Educação Infantil reflete a visão de criança que o professor possui e como essa concepção sofreu um processo evolutivo, o planejamento deve acompanhá-la. Pode-se notar que, embora em muitas escolas de Educação Infantil o discurso seja de respeito à ação da criança, não há essa conexão na prática, o que se revela através do planejamento mal elaborado pelo professor. Além disso, o planejamento é a bússola, o plano de vôo, o destino ao qual o professor encaminhará seus alunos. E não se pode ir sem saber para onde... Uma escola sem planejamento é uma barco à deriva, um jogo sem estratégia. O planejamento é muito mais do que uma obrigação burocrática a cumprir. Algo que se faz por fazer, apenas porque a direção ou coordenação da escola exigem. Planejar é importante em todos os setores da vida. Toda pessoa, ao acordar pela manhã, pensa em uma série de atividades que precisa executar e traça um plano mental para tornar mais eficiente o cumprimento dessas tarefas. Imagine-se dentro de um ônibus, no horário exato para chegar ao seu local de trabalho, sabendo que algo importante precisa ser desenvolvido. Desse trabalho depende a vida ou a felicidade de outras pessoas, e você vai analisando como será gratificante ajudá-las. De repente, o motorista entra numa rua que você não conhece e após tantos anos de um mesmo trajeto, você pergunta a ele se houve alteração desse trajeto. Ele lhe responde: - Ah, não! Não houve nenhuma mudança! Fui eu quem cansou do mesmo caminho, todos os dias e joguei fora o itinerário. Hoje vamos andar a esmo, sem rumo, pelas ruas bonitas de nossa cidade, sem compromisso, apreciando a bela paisagem urbana. Certamente você diria que o motorista enlouqueceu, levando à revelia, tantas pessoas a um destino qualquer, desrespeitando a vontade e as necessidades dos passageiros, roubando-lhes o direito primário de ir e vir com liberdade. Você provavelmente não encontraria um motivo plausível para que esse motorista agisse dessa forma. É isso que o professor faz com seus alunos ao submetê-los a atividades sem sentido, com extrema falta de comprometimento com a educação. Roubalhes o direito de aprender dentro de situações especialmente criadas para eles, nas quais há preciosa intenção de investir no potencial humano dessas crianças. Intenção é uma palavra importante para um trabalho de qualidade. Qual o objetivo de uma professora de Educação Infantil quando, com sua turma de alunos, passa na porta da sala de outra professora e diz: - Olha! Minha aluna trouxe um DVD de desenhos. Mais tarde, vamos juntar as turmas para assistir? Não há nenhum objetivo além de almejar que o dia passe rapidamente, de preencher o tempo da criança até que chegue a hora da saída e de conversar com a colega de trabalho sobre amenidades. Enquanto as crianças, impacientes, pulam, levantam, brigam, as professoras chamam a atenção para que assistam ao filme. Ao elaborar seu planejamento, esse professor se pergunta, constantemente: para quem, o quê, como, por quê. Para quem ou qual a tipo de alunos é composta a sala de aula? O quê, ou quais objetivos são importantes para a aprendizagem dos alunos? Como desenvolver ou quais estratégias utilizar para desenvolver determinados conteúdos? Por quê, ou quais conteúdos selecionar para esse grupo de alunos? São essas perguntas que definem se há ou não intencionalidade no trabalho do profissional. Sem esses freqüentes questionamentos não há como o professor refletir e avaliar seu trabalho para melhorá-lo. É diante das respostas a essas questões que ele define os próximos passos a serem dados na longa estrada da Educação Infantil. Uma estrada que se apresenta diferente a cada momento e parece não ter fim. Luciana Esmeralda Ostetto, em um dos capítulos de seu livro Encontros e Encantamentos na Educação Infantil faz uma análise sobre os tipos de planejamento habitualmente usados nas escolas de Educação Infantil; sua colaboração é imensa para que o professor avalie o tipo de trabalho por ele desenvolvido. Ela afirma que a maneira como o professor registra o seu planejamento não é o mais importante, pois cada um tem seu jeito. Alguns precisam de tudo registrado e bem explicado para acompanharem passo a passo o que foi traçado. Outros precisam apenas de tópicos para lembrarem a próxima etapa. Porém é importante definir os princípios que determinam as escolhas por um ou outro tipo de planejamento. Assim, Ostetto nos apresenta os tipos de planejamento mais utilizados no cotidiano das escolas de Educação Infantil: É aquele tipo de planejamento no qual o professor faz uma lista de atividades que, na maioria das vezes, não têm relação umas com outras, misturadas às situações de rotina como alimentação, higiene e sono. Parece que o único objetivo é o de manter as crianças ocupadas durante o período em que permanecem na escola, sem nenhuma preocupação com o seu desenvolvimento e aprendizagem. As crianças passam o dia trocando de atividades, do desenho para os jogos de encaixe, que invariavelmente são derrubados, pelo próprio professor, de uma grande caixa para o chão, dos jogos de encaixe para a massinha e, assim, sucessivamente, dia após dia. A hora da atividade, muitas vezes, acaba também por cair na rotina, pois são sempre as mesmas e os professores, frequentemente, solicitam sugestões aos colegas. As novidades são aceitas com entusiasmo, tanto pelas crianças como pelos profissionais, mas sua utilização em excesso acaba provocando desgaste e, novamente, o trabalho se torna rotineiro. Esse tipo de planejamento é o que melhor representa a função assistencialista da Escola de Educação Infantil, pois o compromisso com a aprendizagem da criança não está claro e definido. A preocupação maior é “tomar conta”, como se a escola fosse um depósito de crianças, no qual elas dão entrada, ficam guardadas enquanto seus pais trabalham, e são retiradas ao final do dia, exatamente do mesmo jeito como chegaram.