CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DA COGNIÇÃO E DA APRENDIZAGEM
PARA A EaD
Gleyva Maria S. de Oliveira
Você professor(a), em algum momento da sua vida, você já se deparou com o
conflito de “fazer” com que estudantes aprendessem um conceito, um conteúdo?
Você saberia dizer quais os conhecimentos necessários
para que um professor possa colaborar com a
aprendizagem de seus alunos?
Por falar em conceitos e conteúdos, você saberia definir o conceito de:
aprendizagem, conhecimento e ensino?
Então, antes de continuar a leitura, tente elaborar esses conceitos. (Se preferir
escreva numa folha a parte).
Aprendizagem:_________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
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Conhecimento:
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_____________________________________________________________________________
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____________________________________________________________________________
Ensino:
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Além desses conceitos, você considera haver outros importantes para que
autores, professores, tutores, monitores, enfim uma equipe pedagógica
necessite para colaborar com o processo de ensino-aprendizagem?
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Se você considerou que sim, é porque está olhando para além da sala de aula,
ou seja, seu olhar está sendo lançado para o contexto em que a prática
pedagógica se efetiva.
E o que isso implica?
Implica em considerarmos não apenas o conteúdo e os conceitos a serem
trabalhados com os estudantes, mas a busca de entendimento mais amplo e
mais complexo acerca do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, o “não
dito”, o “não escrito”, o “não aparente”, fatores que interferem nesse processo,
mas que, muitas vezes, estão ocultados pelas relações de poder, por ideologias,
entre outros.
Portanto, ao elaborar o projeto pedagógico do curso e/ou ao produzirmos o
material didático, se pretendemos colaborar com o processo de ensino e
aprendizagem, no qual ancorar nossa proposta de ensino, alguns
conhecimentos são muito importantes, dentre eles:
-aqueles
acerca
do
contexto
sócio-históricoeconômico-cultural de nossos alunos;
- as representações (mentais, sociais, simbólicas), que
eles elaboram sobre o mundo, a escola e a
sociedade;
- saber o que os alunos já conhecem sobre o conteúdo
ou disciplina que iremos desenvolver.
Ufa! Se fôssemos elencar possibilidades teríamos uma lista extensa.
São muitos os conhecimentos necessários para embasarmos uma prática
educativa/formativa, não acha?
Por isso a Educação se fundamenta em várias ciências, tais como: antropologia,
sociologia, filosofia, psicologia.
Para estudos acerca da dimensão histórico-econômico-cultural, a sociologia, a
antropologia e a filosofia são as grandes colaboradoras. Mas apesar delas
também serem importantes para o entendimento acerca do processo de ensinoaprendizagem, devemos destacar o importante papel que vem sendo
desempenhado pela psicologia, principalmente acerca dos estudos de cognição
e aprendizagem.
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Então, para focarmos nosso diálogo daqui para frente no processo de ensino e
aprendizagem, no sentido de buscar entender um pouco mais sobre esse
assunto, convidamos você a refletir sobre algumas proposições teóricas.
É importante você saber que vamos conversar sobre teorias de cognição e de
aprendizagem. Não entraremos no campo das teorias de ensino, por
entendermos que além da Didática Magna de João Amós Comênio, que
elaborou um tratado de “como ensinar tudo a todos”, jamais foi elaborada
qualquer teoria que almejasse descrever as estratégias de “como ensinar”.
Comênio
(15921670)
Porém, por meio das teorias de aprendizagem, é possível aos educadores
pensar em projetos, programas, metodologias, estratégias de ensino, pois elas
permitem o conhecimento acerca dos processos mentais, sociais, culturais,
afetivos, psicomotores, que atuam nos processos de cognição e aprendizagem.
Além disso, podemos contar atualmente com teóricos que conseguiram escrever
teorias de aprendizagens numa abordagem mais instrucional, ou seja, que leva
em consideração o universo escolar e isso nos aproxima muito da noção de
como pensar os processos formativos/educativos.
1- As contribuições da psicologia para o entendimento acerca da cognição
e da aprendizagem
Você concorda que para colaborar com a aprendizagem dos estudantes, é de
fundamental importância buscar conhecimentos sobre o que é aprendizagem, ou
seja:
Como o ser humano aprende? Por que aprende? O que significa
aprender? Para que é necessário aprender? Quais os tipos de
aprendizagem?
A começar pela última questão, pautados na concepção de David Ausubel,
podemos considerar que há três tipos de aprendizagem:
- a afetiva diz respeito às estruturas emocionais (dor, prazer, satisfação,
descontentamento);
- a psicomotora é referente às estruturas musculares;
- a cognitiva se refere às estruturas mentais.
Essas aprendizagens possuem suas peculiaridades, mas todas elas se
relacionam. Assim, podemos visualizar que qualquer habilidade requer cognição
e mesmo os mecanismos de cognição envolvem a afetividade e
psicomotricidade.
Ausubel
(1918-)
Médicopsiquiatra.
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Pense comigo. Imagine aquela situação de quem está aprendendo a dirigir. Há
pessoas que tremem, sentem náuseas, desconforto, tensão muscular,
nervosismo, entre outros, somente em pensar que irá para trânsito ainda nas
primeiras lições. Ora, como conciliar a necessidade de se manter atento a tudo a
sua volta e ao mesmo tempo controlar tantos pedais e tantas marchas?
Agora imagine essa pessoa dois anos após ter tirado sua carteira. Excetuando
os casos de traumas, poderíamos considerar que o quadro modificou?
É bastante provável que sim. É possível que tal pessoa já tenha até
automatizado o momento em que deve mudar as marchas ou mexer os pedais,
podendo dedicar sua atenção muito mais ao que acontece à sua volta.
Segundo você, que tipo de aprendizagem ocorreu?
( ) cognitiva
( ) cognitiva e psicomotora
( ) afetiva
( ) psicomotora
( ) afetiva, cognitiva e psicomotora
Você acertou se pensou que nessa situação ocorreram os três tipos de
aprendizagens. Ou seja: aprendizagem afetiva, psicomotora e cognitiva.
Você já reparou que todas as vezes que você necessita resolver um problema,
uma tensão nervosa ou certo desconforto aparece?
Pense, por exemplo, na necessidade de fazer uma prova (prática ou escrita),
utilizar um novo programa de computador, um novo aparelho eletro-eletrônico, a
inserção de uma nova taxa no imposto de renda, o comportamento “pouco”
compreensível de um filho, o relacionamento conjugal, entre outros.
Você já parou para pensar que nesses momentos você tem uma “tempestade
mental”? Que o tempo todo você está voltado para a resolução desse problema?
Quando isso acontece, você começa a explorar em sua mente os
conhecimentos que possui, para a partir deles buscar uma solução. Se ainda
assim, você continua em “conflito cognitivo”, o que você faz?
Procura um manual? Uma assistência técnica? Um serviço de esclarecimento?
Um profissional da área competente? Um livro? Um professor? Alguém que já
tenha passado pela experiência? Um amigo?
Para resolver um problema, você terá que aprender, terá que
obter os conhecimentos necessários para lidar com ele.
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O que é preciso fazer para aprender?
Essa questão foi o problema central de muitos pesquisadores. E é sobre isso
que iremos conversar. Ou seja, para entendermos um pouco sobre como nós
seres humanos aprendemos, lhes proponho um diálogo com alguns dos
principais teóricos sobre esse assunto, ou seja: Piaget, Vygotsky e Ausubel.
Certamente, você conhece suas teorias ou, pelo menos, deve ter ouvido falar
desses autores ou de palavras como: construtivismo, interacionismo, sóciointeracionismo, aprendizagem significativa, mediação.
Apesar desses autores não serem os únicos a tratar do assunto, nossa escolha
deve-se ao fato deles serem os autores mais utilizados, atualmente, como bases
epistemológicas de projetos e de materiais didáticos para cursos em Educação a
Distância e isso se deve particularmente ao aprofundamento e consistências de
suas teorias.
São autores incluídos no rol dos cognitivistas, mas não podemos considerar,
com isso, que todos viam a cognição da mesma maneira. Na diferença entre as
teorias desses autores, reside as possibilidades de explorarmos conceitos que
estão relacionados com mecanismos mentais, como por exemplo, assimilação,
mas também a fatores sociais, culturais e afetivos, que implicam diretamente no
processo de aprendizagem, como a interação social e a mediação.
Em Piaget, encontramos a possibilidade de observar as relações entre cognição
e aprendizagem pelo foco da construção da inteligência, por meio de operações
mentais, na interação sujeito-objeto, numa concepção de que o desenvolvimento
cognitivo engloba a aprendizagem. Entendendo que o ser humano é um sujeito
ativo na construção do conhecimento, porque é capaz de transformar o objeto
do conhecimento e, em função dessa ação sobre o objeto, transformar a si
mesmo. Assim, assimilar o objeto significa adaptar-se ao meio.
Piaget
(18961980)
Suíço,
biólogo,
epistemó
logo.
Vygotsky nos propõe o exercício de observarmos o oposto, ou seja, como a
aprendizagem colabora para o desenvolvimento cognitivo. Nesse caso, a
cultura, que para esse autor é uma construção simbólica, pode ser construída,
modificada, transformada, porque o ser humano, diferentemente dos demais
animais, tem o domínio sobre a natureza, ele não apenas se adapta a ela. Ele
tem condições por meio da mediação sujeito-sujeito de aprender e ao fazê-lo,
ele torna-se transformador das suas estruturas mentais, elevando-a a níveis
superiores e mais complexos.
Vygostky
(18961934)
Russo,
formado em
direito,
medicina,
professor de
psicologia e
literatura .
Se para Piaget o foco de seus estudos não foi a aprendizagem, mas o
desenvolvimento cognitivo, não podemos considerar o mesmo acerca de
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Vygotsky, pois para ele, não era possível falar de desenvolvimento cognitivo,
sem falar em aprendizagem.
Portanto, em Piaget encontramos condições para entendermos o aspecto
individual do desenvolvimento cognitivo, pois não podemos desconsiderar que o
desenvolvimento cognitivo é resultante de processos internos, de operações
mentais, que apenas o indivíduo é capaz de fazer, e o faz individualmente. O
foco é o sujeito em interação com o objeto.
Em Vygotsky podemos observar o aspecto cultural, social, intervindo no
desenvolvimento cognitivo, pois também não podemos desconsiderar que o ser
humano é um ser social, portanto, capaz de um desenvolvimento cognitivo
pautado na interação entre o sujeito e o objeto, mediado por sujeitos que já
possuem o conhecimento e por uma educação sistematizada e organizada, que
utiliza conceitos científicos e é capaz de lhe oferecer a possibilidade de aprender
e desenvolver seu sistema cognitivo, ao intervir em seus processos psicológicos
e comportamentais.
Ao contrário do que afirmam os defensores de uma e outra teoria, nós
consideramos que nessa diferença está a riqueza de conhecimentos, que nos
permite observar o sujeito em sua amplitude, ou seja, no aspecto individual e
social. Portanto, entendê-las como teorias complementares, nos coloca diante
da importância de não fecharmos nosso foco de visão, de retirarmos dessas
teorias os conhecimentos necessários para entendermos o complexo processo
da cognição e da aprendizagem.
Podemos considerar que, nesse sentido, a teoria da aprendizagem de Ausubel,
aprofundada pelo psicólogo norte-americano Joseph D. Novak (professor de
Educação na Universidade de Cornell - EUA), avançou sobre o conceito de
aprendizagem, propondo a existência de variados tipos, sem deixar de
relacioná-los com os processos cognitivos.
Sua teoria oferece importante referencial para entendermos a cognição e
aprendizagem numa abordagem instrucional, uma vez que fornece referencial
de como trabalhar com conceitos, pois para ele, a estrutura cognitiva influencia a
aprendizagem. Mas, a estrutura cognitiva é formada por uma estrutura de
conceitos que estão organizados hierarquicamente, onde no topo dessa
hierarquia se encontram os sendo que os conceitos mais inclusivos e com
maiores poderes de generalização.
Conhecer que conceitos estão formados na estrutura cognitiva e partir
desses conceitos para propor a formação de novos conceitos reside a
possibilidade de fazer com que estudantes aprendam de maneira não
arbitrária.
Vamos entender melhor essas teorias?
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.
2 - Aprendizagem e Desenvolvimento Cognitivo
Você se lembra que Piaget, Vygotsky e Ausubel apesar de serem considerados
cognitivistas, manifestaram preocupações diferenciadas acerca dos objetos de
suas teorias, não é?
Assim, para Piaget, que separava o conceito de aprendizagem, do conceito de
desenvolvimento cognitivo, a preocupação central estava em descobrir como
ocorre o desenvolvimento da inteligência no ser humano.
Vamos conversar um pouco mais sobre isso?
2.1 – A Teoria de Jean Piaget
Piaget considerava que o desenvolvimento cognitivo era um processo
espontâneo, ligado ao processo de embriogênese (desenvolvimento do corpo,
funções inatas). Nesse sentido, o desenvolvimento cognitivo explicava a
aprendizagem, mas não poderia ser considerado como uma soma discreta de
experiências de aprendizagem.
A aprendizagem por sua vez, era um caso oposto ao caso do desenvolvimento
cognitivo, pois era provocada por situações de experimento psicológico. Ela era
um processo limitado a um único problema ou a uma única estrutura e estaria
subordinada ao desenvolvimento.
Ao falar em desenvolvimento cognitivo, Piaget trabalha com a idéia de sujeito
epistêmico, o sujeito do conhecimento.
Conhecimento para Piaget não significava “copiar a
realidade”, no sentido de conceber a cópia como uma
imagem mental. Significava agir sobre o objeto de
conhecimento, modificá-lo, transformá-lo, entender o
processo de transformação e, enfim, entender como o objeto
foi construído.
Somente a partir da ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento e do objeto
sobre o sujeito, seria possível haver construção de conhecimento. Desse modo,
a aprendizagem teria que ser duradoura e, para tal, a estrutura por ela
desenvolvida teria que ter alcançado o equilíbrio.
O que isso significa?
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De maneira simplificada, podemos afirmar que quem construiu o conhecimento,
assimilou o objeto. Considerando que uma estrutura mental é formada por
esquemas conceituais, assimilar o objeto significa internalizá-lo, torná-lo parte de
um esquema conceitual.
Em nível figurativo, seria como considerar que nosso cérebro é um arquivo, nele
colocamos tudo o que aprendemos e sempre que estamos diante de algo que
ainda não conhecemos, vamos até o arquivo e buscamos o que é mais próximo
ou mais semelhante para operarmos sobre o “novo” objeto de conhecimento.
Mas isso não significa que o objeto foi assimilado tal qual ele é, o objeto não é
“copiado”, a realidade não é copiada.
E por que isso não ocorre?
Porque o sujeito opera sobre o objeto, e tais operações promovem
transformações nos sujeitos que, por conta dessas transformações, também
transformam o objeto.
Há incômodo, angústia, “conflito” nessa operação.
É por isso que quando estamos diante de algo “novo” nos
sentimos “ameaçados” e, quando já tivemos uma experiência que
nos promoveu a construção do conhecimento, ficamos aliviados.
Lembra-se da aprendizagem sobre direção?
Se estiver “aprendendo”, o incômodo faz com que você se irrite, que até mesmo
se desespere, daí o carro apaga no momento em que o sinal fica verde. Você
não consegue descobrir o porquê de você ligá-lo e ele apagar novamente, até
descobrir que a marcha não estava na primeira.
Mas, se você assimilou o objeto, você não treme mais, dirigir pode se tornar até
uma forma de relaxamento, não é?
E por que isso ocorre?
Quando assimilamos o objeto em nossa estrutura mental
atingimos o equilíbrio
A assimilação tem uma relação fundamental entre desenvolvimento e
aprendizagem. Por meio dela, o sujeito integra qualquer espécie de realidade
dentro de uma estrutura. Assim, podemos concluir que o sujeito da
aprendizagem para Piaget é um sujeito ativo, pois opera sobre o objeto,
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transformando-o e ao fazê-lo, transforma-se também, de maneira a alcançar
níveis mais elevados de operações mentais e, sempre que estiver diante de um
novo objeto ou nova situação, novamente entrará em conflito, o que o fará
operar sobre o objeto, até assimilá-lo para equilibrar-se, e isso será um contínuo
em sua existência.
Até aqui, você me dirá, tudo bem, interessante essa teoria. Mas, e daí?
Quais as contribuições da Teoria de Piaget na produção de
material didático em EaD?
Considerando o exemplo acima, você diria que um material didático baseado na
teoria de Piaget proporia atividades de repetição, focadas na cópia de um
modelo? Ou melhor, o que é importante para que um estudante aprenda, de
acordo com essa teoria?
Se você considerou que o importante é que o estudante tenha experiência com
o objeto de conhecimento, você acertou.
O que mais essa teoria nos ensina é que a construção do conhecimento ocorre
na interação entre o sujeito e o objeto de conhecimento.
Para aprender a pilotar um avião, podemos até utilizar um simulador, mas
somente saberemos se aprendemos ou não, quando pilotarmos o avião.
Isso significa que devemos ter atividade prática o tempo todo?
Não. Isso significa que quando estamos diante de algo novo, necessitamos
manipular, observar, mexer, montar, desmontar, pois para operar sobre o objeto,
utilizamos nossos esquemas conceituais e, nos primeiros contatos com o objeto,
utilizamos muito a memória, porque precisamos formar imagens mentais, elas
ficarão representadas em nossa mente, depois disso passamos a abstrair o
objeto, a partir desse momento, dependendo do estágio cognitivo, poderemos
utilizar o pensamento hipotético-dedutivo.
O sentido inverso não é possível. Como poderemos abstrair algo que jamais
tivemos qualquer experiência? Ainda assim, podemos formar hipóteses,
concorda? Nisso reside a possibilidade de aprender algo novo, pois temos
esquemas conceituais que nos darão suporte para operar sobre um novo objeto.
Assim, por exemplo, quem nunca comeu “bignole” (palavra italiana), ao receber
algumas descrições poderá imaginar o que. Vamos ver se você consegue?
Pelo nome, o que você consegue imaginar que seja?
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- Doce?
- Salgado?
- Um prato?
- Uma sobremesa?
Acertou quem imaginou que seria um doce, uma sobremesa.
Mas, com o que se parece?
- É fria?
- É natural?
- É flambada?
Acertou se imaginou que se serve fria, geladinha diria.
- É consistente ou é macia?
A resposta é macia.
- Tem recheio, cobertura, nada?
Tem recheio.
Agora você consegue imaginar o que é “bignole”?
É possível que você esteja imaginado algo como um sonho, uma bomba, um
profiteroles.
Mas, não é nada disso. É bignole!
Agora para você ver e conhecer, ou você pesquisa, ou vai até a Itália. A única coisa que
posso garantir é que, para os adeptos do doce, será uma experiência inesquecível.
O que quis dizemos dizer com esse exemplo?
Que essa teoria pode colaborar conosco no sentido de, na condição de autores,
nos vigiarmos acerca do nosso ímpeto de dizer o que sabemos de maneira
direta, incisiva.
Às vezes, nossa experiência nos faz considerar que o que estamos dizendo é
tão claro e tão simples que qualquer pessoa entende. Mas, o entendimento do
estudante acerca de um assunto não depende apenas daquilo que dizemos e de
como dizemos, depende também das experiências anteriores dele acerca desse
assunto.
E, para saber se há por parte do estudante alguma experiência em relação ao
assunto, é necessário desafiá-lo a pensar e a escrever o que sabe.
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Um texto, pautado nessa teoria tem o propósito de fazer o estudante pensar,
de fazer com que ele recorra ao que já sabe e, a partir daí, conduzi-lo ao
assunto, utilizando, sempre que possível, recursos como exemplos e situações
problemas.
É importante destacar que as etapas do desenvolvimento cognitivo, amplamente
difundidas (estágio sensório-motor, pré-operacional, operações concretas e
estágio formal), não significam que as operações mentais ocorrem de maneira
específica a cada uma dessas etapas, porque o sujeito atingiu certa idade.
Apesar das pesquisas terem sido realizadas em praticamente todos os
continentes e a margem etária ter se firmado, com poucas nuances de diferença,
o que mais importa observar acerca da construção do conhecimento é a
operação do sujeito sobre o objeto.
O que queremos dizer é que, às vezes, esperamos que os estudantes já
possuam condições para realizar operações mentais mais complexas como, por
exemplo, as que exigem abstrações. Mas, dependendo da experiência desse
estudante em relação ao assunto estudado, pode acontecer dele necessitar,
copiar, imitar, memorizar. Quando isso acontece, consideramos que o estudante
está no nível figurativo, mas isso não será um problema se permitirmos essa
prática inicialmente e a partir dela criarmos condições para que ele atinja o nível
das abstrações.
Quais condições, por exemplo?
No material didático, podemos inserir nos enunciados de cada assunto alguns
exemplos ou experiências de estudantes, que podem ser as principais dúvidas
que apresentaram sobre o assunto, principais equívocos e como eles foram
resolvidos. Para isso, o registro das falas dos estudantes é de fundamental
importância. Se você não possui esses registros, faça um pré-teste do seu
material com estudantes de cursos presenciais, peça para eles exporem as
principais dúvidas sobre o que leram e utilize essas dúvidas como exemplos no
seu material.
Esse tipo de situação permite que o autor forneça ao leitor um ponto de
referência. É mais ou menos aquela situação de sair de um destino para chegar
a outro. Se for a primeira vez que vamos à sua casa, você nos ensina a chegar
lá nos fornecendo pontos de referência, não é? Então, informe aos estudantes o
que é necessário saber para compreender um conceito. Peça para eles
formularem hipóteses, proponha atividades de auto-avaliação, colocando as
respostas ao final do material, ou em uma folha a parte para que o tutor possa
entregar no próximo encontro.
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É importante também escrever o material como se estivesse na sala
de aula, dialogando com o leitor. Procure propor atividades como
associações livres. Esse tipo de atividade permitirá ao tutor verificar
quais hipóteses os alunos estão elaborando acerca dos conceitos
que serão trabalhados.
Exemplo:
Associação Livre
1- Quando você lê a palavra “íon”, o que lhe vem à cabeça? Pense nessa palavra e
escreva abaixo exatamente o que lhe vem à cabeça.
Vamos lá?
ÍON
1- _________________________________________
2- _________________________________________
3- _________________________________________
4- _________________________________________
5- _________________________________________
Essa atividade pode ser tabulada pelo tutor, que irá verificar quais palavras são
ditas no primeiro e segundo lugar. Geralmente aquelas palavras que estão
nessas posições tendem a ser “noções” que estão mais presentes na cabeça e,
portanto, podem colaborar ou não com a aprendizagem. Se a noção ou conceito
estiver equivocado, é importante conversar com o estudante para saber o
porquê de ele estar fazendo tal associação e, a partir da resposta dele, a
orientação deve ser planejada.
Caso você opte por utilizar tal recurso, é importante esclarecer ao estudante seu
objetivo, isso inclusive poderá auxiliá-lo nos momentos de orientação com os
tutores.
É importante criar espaços para que após cada unidade, os estudantes
registrem o que aprenderam. Nesse sentido podemos utilizar, por exemplo, os
diários de bordo.
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Exemplo:
DIÁRIO DE BORDO (Exemplo)
Nome:
Data:
Assunto:
Texto:
Atividade:
O que aprendi:
Dúvidas:
Onde procurar:
Resolvi a dúvida, porque:
Criar atividades que exijam que o aluno pense, que ele evite a cópia. Ou seja,
atividades em que o conceito permanece, mas o enunciado é mudado, no
sentido de verificar a constância da resposta, pois essa é uma característica de
que o sujeito construiu o conhecimento.
É importante dizer que a Teoria de Jean Piaget não é instrucional, ele não se
preocupou com a aprendizagem, mas com o desenvolvimento cognitivo, e não
realizou estudos acerca das práticas escolares. Mas, sua teoria oferece
referencial para que possamos propor ações pedagógicas e é nesse sentido que
ousamos demonstrar algumas possibilidades, que não se esgotam aqui, elas
serão mais ricas e qualitativas a partir de maiores aprofundamentos de leituras.
2.2 – A teoria de Lev S. Vygotsky
Para Vygotsky o desenvolvimento cognitivo não pode ser entendido sem
referência ao meio social. Nesse sentido, podemos afirmar que o
desenvolvimento cognitivo se dá por meio da conversão das relações sociais em
relações mentais.
Vygotsky considera que o desenvolvimento cognitivo é a interiorização de
instrumentos e signos produzidos culturalmente e que criados ao longo da
história, modificam e influenciam o desenvolvimento social e cultural dos seres
humanos. Mas essa interiorização não ocorre de maneira direta, ela é mediada.
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A mediação seria a conversão de relações sociais em funções
psicológicas.
Na teoria de Vygotsky o conhecimento ocorre na interação sujeito-objeto, pela
mediação de um sujeito mais experiente (que já possui o conhecimento). A
interação, nessa teoria, ocorre no nível inter e intrapessoal e, envolve a
experiência,
a
participação,
a
reciprocidade,
bidirecionalidade,
o
compartilhamento e o intercâmbio de significados.
A aprendizagem é condição para o desenvolvimento das funções mentais
superiores. Ela se situa na zona de desenvolvimento proximal ou potencial. Ou
seja, por meio da mediação de um sujeito mais experiente, um aprendiz tem a
possibilidade de internalizar instrumentos e signos, o que lhe favorece passar de
um patamar mais elementar das funções mentais, a um patamar mais complexo.
A zona de desenvolvimento proximal ou potencial é a região onde ocorre o
desenvolvimento cognitivo. Ela pode ser entendida, de maneira simplificada,
como a diferença entre o que o indivíduo pode fazer sozinho e com a ajuda de
outros.
Quais as contribuições da Teoria de Vygostsky na produção de
material didático em EaD?
Essa teoria é de grande contribuição para entendermos as implicações da
dimensão sócio-histórico-cultural nos processos de aprendizagem e
desenvolvimento cognitivo. Dimensão esta que se efetiva na prática da interação
social, como meio de aprendizagem e, portanto, de aquisição de instrumentos e
signos culturais.
Nas primeiras experiências com o mundo cultural, nossa interação é assimétrica,
pois são os adultos que, por serem portadores da mensagem cultural,
transmitem às crianças os signos e diferentes sistemas semióticos que, do ponto
de vista genético, têm função de comunicação.
Portanto, podemos considerar que a comunicação é um instrumento que permite
a organização e o controle do comportamento individual.
Então, se a interação social ocorre por meio da comunicação, podemos
considerar que a interação social tem o papel formador, no sentido de atuar
sobre o comportamento, e construtor, pois ela é fundamental para a construção
das funções mentais superiores do tipo, atenção voluntária, memória, lógica,
pensamento verbal e conceitual, emoções complexas, entre outras.
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A aprendizagem significa, portanto, adquirir signos e instrumentos. A língua, por
exemplo, é um instrumento que, ao ser adquirido, se converte em estruturas
psíquicas.
A língua escrita é um bom exemplo do exposto. Ela
muda os modos de funcionamento da percepção, da
memória, do pensamento. Ao se apropriar desse
instrumento, o indivíduo apropria-se de técnicas
oferecidas por sua cultura e interioriza essas técnicas.
Quando isso acontece, o instrumento se torna
individual e privado.
Assim, vale frisar que Instrumentos e técnicas assimilados influem nas funções
mentais. Por meio deles são criados estímulos artificiais e exteriores, mediante
os quais o homem domina seus estados interiores.
A cultura possibilita o controle dos processos mentais e comportamentais e é
nesse sentido que são criados instrumentos e tecnologias que apóiam os
processos psicológicos.
Você já havia pensado que, ao criar um material didático, você está criando
uma tecnologia que irá apoiar os processos psicológicos dos estudantes?
A utilização do material didático pelo estudante implica na sua experiência com
os signos e instrumentos da língua escrita. Além disso, se você, ao escrever um
material didático, espera colaborar com a aprendizagem dos estudantes, é
necessário considerar que a experiência com os conhecimentos estruturados no
material não será na sua presença.
Em função disso, o formato de um material didático para Educação a Distância
demonstra preocupação em utilizar linguagem dialogada e coloquial, com a
finalidade de materializar a presença do professor.
Localizado em um sistema educacional, o conteúdo do material didático será
estruturado com base em conceitos científicos. Tais conceitos têm influência não
somente no desenvolvimento cognitivo, mas na reestruturação das funções do
comportamento, ou seja, quando você seleciona o conteúdo, organiza os
conceitos e as proposições, você está estabelecendo o objetivo de intervenção
sobre os processos cognitivos dos estudantes.
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Mas, o modo de se sistematizar e organizar a sua intenção é que poderá ou não
fazer com que você atinja o seu objetivo.
Ao escrever, considere o contexto sócio-cultural, procure
esclarecer sua fala com exemplos que sejam locais, que façam
parte do contexto cultural dos estudantes.
Lembre-se que, na construção do conhecimento, o sujeito necessita, num
primeiro momento, no nível das primeiras experiências, observar, manipular. Irá
apresentar, inicialmente, uma dependência em relação ao objeto (dificuldade de
abstração) e por isso utilizará muito a memória.
Nesse sentido, é importante:
- levar em consideração que o excesso de “novas” informações poderá confundir
o leitor;
- selecionar conceitos-chaves, fundamentais para a construção do conhecimento
e a partir deles, elaborar atividades que levem em consideração a visualização.
Daí a importância de atividades do tipo simulação.
Sem perder de vista que o principal objetivo é atingir a zona de desenvolvimento
potencial, ou seja, que ele aprenda, que ele adquira instrumentos e signos, que
interaja com conceitos científicos, numa experiência que, a partir da qual, ele
passe de um nível cognitivo mais elementar, para um nível superior; essas
atividades terão que se complexificar, de modo a exigir dos estudantes a
capacidade de lógica, linguagem verbal, memória voluntária,abstração e
percepção.
Considere a necessidade da mediação, da interação social, proponha aos
estudantes que o material não deve esgotar em si mesmo. Para isso, formule
desafios, situações problemas que impulsionem os estudantes a se encontrarem
com seus tutores, colegas, ou profissionais, pois esse tipo de trabalho tende a
favorecer a aprendizagem.
2.3 – A teoria de David Ausubel
Para Ausubel é a estrutura cognitiva que influencia a aprendizagem. Ela é
formada por uma estrutura de conceitos organizada hierarquicamente, onde os
conceitos mais inclusivos, com maiores poderes de generalização se situam no
topo.
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Ocorre que as aprendizagens apresentadas por Ausubel não são estanques,
elas podem se completar e mesmo se mesclar.
Assim, há vários tipos de aprendizagens: significativa, mecânica, por
descoberta, por recepção. Mas também, aprendizagem receptiva significativa,
receptiva mecânica, por descoberta significativa, por descoberta mecânica.
A aprendizagem significativa tem sido a mais difundida entre
os educadores, talvez, porque revela que para aprender o aluno
tem que partir de um referencial (imagem, conceito, etc.) que já
esteja na sua estrutura mental.
Além disso, a aprendizagem significativa ocorre quando o material a ser
aprendido pelo aluno apresenta substantividade e não-arbitrariedade. Assim,
podemos considerar que um conteúdo não pode, por exemplo, desconsiderar,
ao apresentar um novo conceito, quais relações esse novo conceito estabelece
com aqueles que vinham sendo estudados. Além disso, quando o autor
considerar que um símbolo é demasiado complexo, deve fazer uso dos seus
sinônimos, que não alterem o conceito, tornando seu texto mais acessível.
Ainda que possa se pautar na aprendizagem significativa para elaborar o
material didático, o autor deve deixar claro para o estudante, qual a intenção do
material e que atitude se espera dele, pois isso poderá ajudá-lo a se posicionar
positivamente diante do material, de modo a relacionar substantivamente o que
há de novo à sua estrutura mental.
Entretanto, o autor pode preferir apresentar o conteúdo diretamente ao
estudante, em sua forma final, sem qualquer questionamento, sem estimulá-lo a
utilizar seus conhecimentos prévios. Poderemos, então, considerar que o autor
está pretendendo que o aluno aprenda “por recepção” (aprendizagem receptiva
mecânica) e, portanto, o principal recurso mental a ser utilizado será a
memorização. Isso poderá ser eficaz por um curto espaço de tempo, pois o
material que não é incorporado à estrutura mental tenderá a ser esquecido.
Numa via contrária a essa, o autor pode optar por não apresentar ao estudante o
conteúdo em sua forma final, criando assim, estratégias para que ele faça
“descobertas”, associações, organize informações de modo que possa construir
conceitos (descoberta significativa).
Além dessas, podemos verificar, por exemplo, uma aprendizagem “receptiva e
significativa” ao mesmo tempo, ela irá ocorrer se, apesar do material ter sido
passado ao estudante na sua forma final, ele encontrar condições para
relacioná-lo com sua estrutura mental.
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A aprendizagem que é por descoberta, mas também é mecânica, ocorre quando
o aluno consegue chegar por ele mesmo a uma generalização, e ainda assim
opta por memorizá-la.
Ausubel apresenta também a idéia da utilização de “organizadores prévios”, ou
seja, a elaboração de materiais introdutórios, a serem apresentados para os
estudante antes do material a ser aprendido. Eles servem de ponte entre o que o
aluno sabe e o que ele deve saber. O guia didático, por exemplo, que o
professor elabora orientando as leituras e atividades do aluno, se inclui nessa
perspectiva.
Enfim, a teoria de Ausubel nos permite visar a elaboração de “material
potencialmente significativo, ou seja, material organizado de maneira que possa
incorporar-se às estruturas cognitivas do estudante de maneira não arbitrária,
não literal. Porém, se ainda assim o estudante optar por memorizar conceitos,
de maneira arbitrária e literal, nem o processo, nem o produto da aprendizagem
serão significativos, pois a verificação da aprendizagem significativa envolve a
compreensão de conceitos, ou seja, o estudante tem que estar de posse de um
significado, claro, preciso e transferível.
Aceitando o Desafio...
Para que você possa avaliar sua compreensão sobre esse texto, convido que
faça a atividade de aprendizagem.
Cuiabá, NEAD/UFMT, março 2007.
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