X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Equações Matemáticas na Predição da Condutividade Hidráulica Saturada do Solo Claudia Klein(1); Vilson Antonio Klein(2) ; Flávia Levinski(3); Délcio Rudinei Bortolanza(3); Djulia Taís Broch (3) (1) Engenheira Agrônoma, Mestra em agronomia, doutoranda do Programa de Pós Graduação em Agronomia da Universidade de Passo Fundo; BR 285, São José, Passo Fundo, 99052-9000; [email protected]);(2) Engenheiro Agrônomo Doutor, Professor da Universidade Passo Fundo; (3) Discentes do Programa de Pós Graduação em Agronomia da Universidade de Passo Fundo. RESUMO - A condutividade hidráulica (Ksat) é essencial para estudos relacionados a erosão do solo e escoamento superficial, é considerada a taxa de infiltração básica de um solo, portanto determina o fluxo de água em profundidade. A determinação desta propriedade é trabalhosa e demorada quando realizada no campo, e em laboratório pode ser imprecisa. O objetivo deste trabalho foi elaborar equações para determinar a Ksat com base em propriedades físicas do solo. Para tanto foram coletadas amostras de solo indeformadas e determinou-se densidade do solo, porosidade, granulometria e estabilidade do agregados. A densidade do solo, densidade relativa e porosidade total apresentaram correlação com a K sat, e as equações geradas foram consideradas extremamente fracas. Não foi possivel estabelecer equações fidedignas para Ksat baseadas em propriedades físicas de fácil determinação. Palavras-chave: Densidade do solo; Taxa de infiltração básica. INTRODUÇÃO - A água é fundamental ao desenvolvimento das culturas. Porém, é necessário que seja fornecida e armazenada no solo para posterior uso pelas plantas. Notadamente observa-se áreas com elevada erosão e baixo desenvolvimento das plantas, o que pode caracterizar problemas físicos do solo, tal como compactação, que diminui a infiltração de água no solo e potencializa as perdas de solo por erosão. A condutividade hidráulica é requerida para inferir algumas propriedades do solo, tais como de fluxo e transporte de sedimentos, e em estratégias para manejo de água no solo. A determinação desta propriedade é trabalhosa e demorada se realizada no campo e pode ser imprecisa em laboratório. No laboratório é mais comum determinar-se a condutividade hidráulica do solo saturado (Ksat), que refere-se a taxa básica de infiltração no solo. A Ksat é determinada em amostras de estrutura indeformada, retiradas em cilindros especiais, o que facilita bastante o trabalho quando esta metodologia é comparada as demais, especialmente infiltração de água no solo, que demanda mais materiais e uma fonte/revervatório de água próximo ao local, além de questões topográficas que podem dificultar a realização desta. A estimativa da Ksat através de equações pode ser uma alternativa rápida e viável, pois quando constatados problemas no desenvolvimento das plantas, advindos possivelmente de problemas físicos, os agricultores e técnicos não estão preparados para a coleta de amostras, portanto poderiam encaminhar ao laboratório amostras deformadas (soltas) ou receber treinamento para coleta de material indeformada e obteriam resultados com confiabilidade, sem precisar de mão de obra e equipamentos especializados para tais coletas. Desta forma, elaborar equações de regressão para determinação da Ksat baseada em propriedades físicas do solo torna-se uma alternativa viável, rápida e econômica em laboratórios de prestação de serviços. MATERIAL E MÉTODOS - O estudo foi desenvolvido no município de Tapera-RS, em Latossolo Vermelho Aluminoférrico (Streck et al., 2008). Para caracterização física foram coletadas amostras nas profundidades de 0-7, 7-14, 14-21, 21-28 cm com dezesseis repetições. Amostras com estrutura indeformadas foram drimadas, preparadas e saturadas para determinação de macroporos em funis de Haynes e posteriormente acoplou-se um sobrecilindro nestas para determinação da Ksat em permeâmetro de carga constante (Youngs, 1991), posteriormente estas foram secadas em estufa até massa constante para definição da densidade do solo (DS) (Embrapa, 1997) e porosidade total (Pt) (Embrapa, 1997). Nas amostras com estrutura deformada determinou-se a textura do solo, pelo teores de argila, silte e areia, sendo que o fracionamento da areia foi realizado por tamisação. A argila dispersa em água conforme Embrapa, (1997), densidade dos sólidos e estabilidade dos agregados (Embrapa, 1997), através dos parâmetros do diâmetro médio geométrico (DMG) e ponderado (DMP. Os criptoporos foram estimados em função do teor de argila (%) pela equação PMP=0,003x+0,0118 (Klein et al., 2010) , a densidade máxima do solo pela equação DMS=-0,092x+2,0138 de Marcolin & Klein (2011), a densidade relativa (Klein, 2014) pela fórmula DR=DS/DMS. X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Os dados foram submetidos a análise estatística, onde realizou-se análise de correlação simples entre Ksat e as demais variáveis. A posteriori observou-se e selecionouse os dados mais significativos para realização da análise de regressão múltipla e geração das equações matemáticas que descrevem o fenômeno. RESULTADOS E DISCUSSÃO - O coeficiente de correlação de Pearson (r) é uma medida de associação linear entre variáveis (Figueiredo Filho & Silva Junior, 2009). A tabela 1 revela a ocorrência de significância a 5% de probabilidade para a interação entre a condutividade hidráulica do solo saturada e as variáveis densidade do solo (g cm-3), densidade relativa e porosidade total (%) embora o valor “p” baixo signifique que a probabilidade de obter um valor estatístico observado é muito improvável. Tabela 1. Coeficientes de correlação linear (r2) e probabilidade de erro (5%) entre as variáveis e a condutividade hidráulica do solo saturado (Ksat). FAMVUPF, 2014 Ksat Variável (mm p min) Argila (%) Silte (%) Areia (%) Areia muito grossa (%) Areia grossa (%) Areia média (%) Areia fina (%) Areia muito fina (%) Argila dispersa (%) DMP (mm) DMG (mm) DMS (g cm-3) Densidade dos sólidos (g cm-3) DS (g cm-3) Macroporos (m3 m-3) Microporos (m3 m-3) Criptoporos (m3 m-3) Densidade Relativa Porosidade Total (%) Índice de Floculação (%) 0,013 0,003 -0,037 0,130 0,127 -0,199 -0,111 0,039 -0,150 0,048 0,016 -0,013 0,92 ns 0,98 ns 0,77 ns 0,30 ns 0,32 ns 0,11 ns 0,38 ns 0,758 ns 0,23 ns 0,71 ns 0,90 ns 0,92 ns 0,012 0,92 ns -0,406 -0,206 -0,167 0,013 -0,380 0,394 0,133 0,0009* 0,10 ns 0,19 ns 0,92 ns 0,0020* 0,0013* 0,30 ns coeficientes de correlação, r = 0,10 até 0,30 (fraco); r = 0,40 até 0,6 (moderado); r = 0,70 até 1 (forte). Neste caso os coeficientes foram extremamente fracos, abaixo de 0,10. A regressão linear considera que a relação da resposta às variáveis é uma função linear dos parâmetros que apresentaram valor “p” significativo. Na tabela 2 estão apresentadas todas as possibilidades de equações para a estimativa da Ksat, utilizando as variáveis de forma individual e combinada. Observa-se que os coeficientes de correlação também são classificados como fracos, reafirmando a probabilidade de não obter-se um valor estatístico próximo ao observado. Estes resultados se justificam pelo elevada variação do espaço poroso do solo. Tabela 2. Equações de regressão linear múltipla com inserção de variáveis para a estimativa da condutividade hidráulica saturada (Ksat). FAMV-UPF, 2014 Equação R2 Ksat1= 1200,87-776,97*Ds Ksat2= -871,15+1994,72*Pt Ksat3= 1089,81-977,24*DR Ksat4= -56,30-475,80*DR+1290,08*Pt Ksat5= 1234,29-594,20*Ds-293,55*DR Ksat6= 607,29-566,76*Ds+602,53*Pt Ksat7=535,62-325,55*Ds-325,55*DR+712,91*Pt 0,16 0,15 0,14 0,17 0,17 0,17 0,17 CONCLUSÃO – A Ksat deve ser determinada em laboratório, pois a magnitude de sua variação impede a formulação de modelos matemáticos precisos. AGRADECIMENTOS- À Fapergs, Capes e UPF pela concessão de bolsas de pós-graduação e ao CNPq pela bolsa de produtividade em pesquisa. REFERÊNCIAS DANCEY, C. & REIDY, J., Estatística Sem Matemática para Psicologia: Usando SPSS para Windows. Porto Alegre, Artmed, 2006. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo. 2. ed. Rio de Janeiro, 1997. 212 p. ns : não significativo; * Significativo à 5% de probabilidade de erro. O sinal da correlação indica direção positiva ou negativa da relação ente as variáveis, neste caso o valor sugere a força da relação entre as variáveis. As variáveis densidade do solo e densidade relativa apresentam correlação negativa, indicando que a cada ponto de aumento da Ksat diminui estas variáveis e o inverso ocorre para a porosidade total (correlação positiva), portanto para cada ponto de aumento da Ksat aumenta a Pt. O que é uma relação justificável, pois quanto maior a porosidade do solo e menor o impedimento mecânico (compactação e adensamento) maior será o fluxo de água no solo. Dancey & Reidy (2005) propõem a seguinte classificação para os FIGUEIREDO FILHO, D. B.; SILVA JUNIOR, J. A. Desvendando os Mistérios do Coeficiente de Correlação de Pearson (r) Revista Política Hoje, v. 18, n. 1, p. 115-146, 2009. KLEIN, V. A. Física do solo. Passo Fundo: EDIUPF, 2014, 240p. KLEIN, V. A.; BASEGGIO, M.; MADALOSSO, T.; MARCOLIN, C. D. Textura do solo e a estimativa do teor de água no ponto de murcha permanente com psicrômetro. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.7, p.1550-1556, 2010. MARCOLIN, C. D.; KLEIN, V. A. Determinação da densidade relativa do solo por uma função de pedotransferência da 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul densidade do solo máxima. Acta Scientarum Agronomy, v.33, p. 349-354, 2011. PINTO, L. F. S. Solos do Rio Grande do Sul. 2 ª Ed. Porto Alegre, EMATER, RS, 2008. 222p. STRECK, E. V.; KAMPF, N; DALMOLIN, R. S. D.; KLAMT, E.; NASCIMENTO, P. C.; SCHNEIDER, P.; GIASSON, E.; YOUNGS, E.G. Hydraulic conductivity of saturated soils. In: SMITH, K.A.; MULLINS, C.E. (Ed). Soil analysis: physical methods. New York: Marcel Dekker. cap. 4, p. 161-207. 1991. 3