Guilherme Franco Netto VIGILÂNCIA EM SAÚDE RELACIONADA A QUÍMICOS NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Guilherme Franco Netto, Médico, Ph.D. Coordenador Geral de Vigilância em Saúde Ambiental Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, estabelece um conjunto de deveres e direitos fundamentais à melhoria da qualidade de vida da população brasileira. O Capítulo da Saúde, posteriormente estabelecido e ampliado na Lei nº 8080, conhecida como a Lei do Sistema Único de Saúde – SUS, determina que a saúde é um direito da cidadania e um dever do Estado, baseado em princípios que assegurem o universal acesso da população a serviços de promoção, prevenção, atenção e recuperação da saúde. A complexidade da vida contemporânea, em que coexistem o desenvolvimento e a aplicação de ciência e tecnologia em larga escala e profunda iniqüidade econômica e social, traduz-se em múltiplos novos riscos à saúde, seja nos ambientes formais e informais de trabalho, seja nos ambientes domésticos, bem como nos ambientes públicos e comunitários. Nesse contexto, a exposição humana a substâncias químicas é cada vez maior, e decorre de diversas atividades e fontes: produtos e serviços que os contém; atividades laborais que os produzem e manipulam (extração mineral, processamento e transformação industrial); disposição inadequada de resíduos; contaminação ambiental de corpos d’água, atmosfera e solos, entre outros. Iniciativas internacionais, no âmbito das Nações Unidas, têm demonstrado a importância de que o tema da segurança química seja adequadamente tratado. Assim, protocolos e compromissos tais como o Fórum Internacional de Segurança Química, o banimento de Produtos Orgânicos Persistentes, o Informe Prévio de Comercialização de Químicos, a Regulação Internacional do Transporte de Resíduos Perigosos, e mais recen- temente, a Estratégia Global de Segurança Química, visam reduzir os riscos à saúde e ao ambiente, por meio de mecanismos de controle das substâncias químicas ao longo de seus ciclos de vida. No Brasil, a Comissão Nacional de Segurança Química, CONASQ, presidida pelo Ministério do Meio Ambiente, da qual o Ministério da Saúde é integrante, expressa as preocupações e iniciativas do governo e da sociedade brasileira nesse tema. O Ministério da Saúde vem se estruturando e organizando serviços na direção de colaborar com a estratégia da segurança química. Dentre estes, destaca-se o Programa Nacional de Vigilância em Saúde Relacionada a Substâncias Químicas – VIGIQUIM, que está em fase de estruturação. O VIGIQUIM consiste na detecção, conhecimento, mapeamento e no monitoramento de populações expostas a substâncias químicas de reconhecido interesse à saúde em razão de seus efeitos prejudiciais. Na presente fase, foram eleitos cinco (5) contaminantes prioritários: amianto; agrotóxicos; benzeno; chumbo e mercúrio. Outra iniciativa é o Programa Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Áreas com Solos Contaminados – VIGISOLO, o qual consiste na detecção, conhecimento, mapeamento e monitoramento de populações expostas a áreas com solos contaminados. A análise dos dados obtidos pelo Ministério da Saúde, informa que existem pelo menos 689 áreas que exigem a aplicação de metodologia de avaliação de risco à saúde. Os padrões de controle do risco à saúde relacionado à contaminação da água por químicos são regulados pela Portaria MS nº 518. A sua aplicação e monitoramen- – 19 – Vigilância em Saúde Relacionada a Químicos no Âmbito do Sistema Único de Saúde to é exercida pelo Programa Nacional de Vigilância em Saúde Relacionado à Qualidade da Água Para Consumo Humano – VIGIÁGUA. Com essas iniciativas, dentre outras já existentes, o Ministério da Saúde, em cooperação com diversos mi- nistérios, está efetivamente contribuindo com a construção de uma forte agenda de segurança química no Brasil, voltada a assegurar com que a defesa da saúde e do meio ambiente sejam consideradas no desenvolvimento econômico. – 20 –