UMA SITUAÇÃO DE DESCASO: PLANEJAMENTO URBANO E IMPACTOS AMBIENTAIS PRESENTES NO BAIRRO SANTA CRUZ – CASCAVEL, PR. Fernanda Raquel Vier Hermann1 Bruna Keli Bianchini Bratti2 Bruna Aparecida Schadeck Bocalon3 RESUMO O planejamento urbano no Brasil é identificado como a atividade intelectual de elaborar planos. Para que estes planos ocorram da maneira desejada e correta, é necessário que seja feito um estudo de impactos de vizinhança, buscando a melhor maneira de implantar tal mudança requerida em determinado local. Através de inspeções realizadas no bairro Santa Cruz, em Cascavel – PR, elaborou-se uma pesquisa que buscou identificar quais os impactos ambientais locais presentes naquela localidade, os elementos causadores das mesmas e se são de grande importância ou não, classificando-os em impactos sociais, ambientais e econômicos, pontuando também as qualidades presentes em cada um dos itens. PALAVRAS-CHAVE: Ambiente; impactos; urbanismo. ABSTRACT In Brazil, the urban planning is identified as the intellectual activity to elaborate plans. In order to these plans occur in the desired and correct way, it is necessary to make a study of neighborhood impacts, searching the best way to implant the required change in certain place. Starting from inspections made through the Santa Cruz neighborhood, in Cascavel - PR, was elaborated a research that identify which are the local ambient impacts in that locality, they causes and if they are of great importance or not, classifying them in social, ambiental and economic impacts, also demonstrates the qualities in each one of the item. KEY-WORDS: Environment; impacts; urbanism. 1 Acadêmica do 4º período do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz – FAG; [email protected]. 2 Acadêmica do 4º período do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz – FAG; [email protected] 3 Acadêmica do 4º período do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz – FAG; [email protected] 1 1. INTRODUÇÃO De acordo com Deák (2004), rapidez e intensidade têm caracterizado o processo de urbanização desde seus primórdios. Entendia-se por planejamento urbano o conjunto de ações de ordenação espacial das atividades urbanas que, não podendo ser realizadas ou sequer orientadas pelo mercado, tinham de ser assumidas pelo Estado, tanto na sua concepção quanto na sua implementação. O processo de urbanização teve início logo após a consolidação da nova nação-Estado, a partir da dominação dos movimentos separatistas e/ou republicanos que estouravam do Sul ao Norte com focos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, também abrangendo um leque de províncias do Rio Grande do Sul ao Pará (1849). Logo em 1850, duas medidas fundamentais foram tomadas: a promulgação da Lei das Terras e a supressão de fato da importação de escravos. A primeira preparava a condição institucional da existência do trabalho „livre‟, isto é do trabalho assalariado: transformando a terra em propriedade privada, priva de seu meio de sobrevivência o trabalhador, que, assim, para viver, é obrigado a vender sua força de trabalho e, com o salário recebido, comprar seus próprios meios de sustento no mercado. A segunda medida livrara a nova relação de trabalho – o assalariamento – da competição da escravidão e com isso acelerava sobremaneira a transição desta para aquela. (DEÁK, 2004) Esvaziado de seu conteúdo e reduzido a discurso, alteram-se os conceito de “plano” e planejamento. O planejamento urbano no Brasil passa a ser identificado com a atividade intelectual de elaborar planos. Uma atividade desvinculada das políticas públicas e da ação concreta do Estado, mesmo que, eventualmente, procure justificá-las. Nesse processo, os planos passam a ser encarados e avaliados, não por seus efeitos, mas por suas características intrínsecas, sua lógica e coerência internas. O planejamento urbano passa a ser uma atividade intelectual pura, e a própria atividade profissional é afetada por isso. (VILLAÇA, 2004) O Plano Diretor é um instrumento fundamental para o planejamento das cidades, definindo a política de desenvolvimento e expansão urbana, buscando a proteção dos recursos naturais, em defesa do bem-estar da população, mas mesmo as cidades que não possuem a obrigação legal podem desde já começar a planejar as ações a serem desenvolvidas em prol do desenvolvimento organizado (ELIAS, 2014). 2 Por meio do plano diretor, define-se: o zoneamento e o uso do solo urbano; a gestão tributária; a gestão urbana; a gestão pública (social); a gestão ambiental; a gestão educacional; a expansão, sustentável, do espaço urbano (MARCONDES, 2014). Conforme o Artigo 1º da Resolução n.º 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a definição de impacto ambiental é: "Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitário-ambientais; a qualidade dos recursos ambientais". Várias ações humanas causam significativo impacto ambiental sem que estejam fundamentalmente associadas à emissão de poluentes (por exemplo, a construção de barragens ou instalação de um parque de geradores eólicos). A poluição é uma das causas de impacto ambiental, mas podem ser ocasionados por outras ações também (MILANI, 2013). Podemos diferenciar os impactos ambientais em escala local, regional e global. Há também como separá-los naqueles ocorridos em um ecossistema natural, em um ecossistema agrícola ou em um sistema urbano. Embora um impacto ocorra à primeira vista em escala local, ele pode ter também consequências em escala global (SILVA NETO, 2010). Os impactos dividem-se em ligados ao solo (erosão, depósito indevido de lixo que derrama o chorume, poluição por agrotóxicos), à vegetação (desmatamento, queimadas), à água (poluição de rios e lagos, tratamento indevido de dejetos e esgoto, vazamento de petrolíferas) e à atmosfera (chuva ácida, inversão térmica, aquecimento global, degradação da camada de ozônio, ilhas de calor) (SILVA NETO, 2010). A correlação entre os termos anteriormente citados se dá no momento em que é possível a diminuição dos impactos ambientais urbanos com a presença do projeto urbano bem elaborado, que visa agregar valor à localidade que será aplicado. 3 2. MATERIAIS E MÉTODOS Com base em pesquisas em materiais didáticos relacionados ao urbanismo e à integração da natureza no meio urbano e a partir de relatos cotidianos, ponderam-se as consequências que a falta de estruturação do meio urbano causa na vida da população cascavelense. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 ARBORIZAÇÃO A presença de arborização em frente à maioria dos lotes é frequente, garantindo umidade constante para o ar local, além de sombras. Aparentemente, nenhuma das árvores está posicionada sob as linhas de energia e nem sobre a calçada, ou ao redor desta, não causando, assim, estragos. Nota-se que não há a aplicação da padronização estabelecida pelas leis do município de Cascavel nas calçadas, faltando a faixa que serve de guia para as pessoas com deficiência visual e o uso de materiais antiderrapantes (Figura 1). Problemas como a falta de calçada nos terrenos - localizados na esquina da quadra à esquerda e no do meio da quadra da direita (Figura 2) - e a presença de árvores que podem encostar-se à rede elétrica também estão explícitos. Deve-se apontar a questão de falta de árvores em relação a primeiras figuras apresentadas (Figura 3). Como consequência, a umidade do ar se torna relativamente baixa, provocando desconforto aos moradores, além de não proporcionar áreas de sombra no local, acarretando a formação de ilhas de calor. As calçadas também não estão padronizadas, porém, não possuem obstrução alguma para o tráfego de pedestres. 3.2 PARQUES, PRAÇAS E JARDINS Em relação aos parques e praças, verifica-se que não há a presença de muitas no bairro. As que estão localizadas naquele ponto, são para o uso predominante de idosos, com intuito de proporcionar lazer e ajudá-los a manter a saúde em bom estado e melhorar a preparação física. 4 Além de ser pouco presente, percebe-se que não há arborização nessa localidade (Figura 4), sendo assim necessário usufruir desta praça apenas na parte da noite, visto que a radiação solar prejudica a saúde dos que frequentam o local, podendo causar queimaduras, envelhecimento precoce e câncer de pele. A falta área verde faz com que não haja como providenciar as necessidades para a nossa existência. A carência das mesmas resulta na insuficiência de sombreamento, não tornado o ambiente tão atrativo, calmo e adequado para recreação como poderia ser. 3.3 LIXO E ENTULHOS Entre os fatores observados na figura 5, foi detectado um grande problema em relação às águas dos rios, onde é encontrada uma quantidade significante de lixo, o qual vem causando danos à saúde humana e animal. Além de algumas redes de esgoto tomar caminhos incorretos, acabarem parando nos rios. Desta maneira, o bem-estar dos que convivem em suas proximidades é ainda mais afetado. A água poluída pode causar múltiplas doenças, como a hepatite A, a cólera e a diarreia, estendendo-se por vários lugares, levadas pela correnteza, comprometendo a saúde e o bem-estar de inúmeras pessoas, sem considerar o odor causado na redondeza, provocando a desvalorização e degradação do meio ambiente. Presente, também, está o entulho que foi abandonado em um ponto qualquer da rua (Figura 6). O acúmulo deste lixo provoca a infestação por insetos e animais peçonhentos, podendo estes ser vetores de doenças tais como a dengue. A forma correta de despacho destes materiais deve ser realizada para que não haja a proliferação de doenças e de vetores. Assim, também, o aspecto visual do local torna-se mais adequado. 3.4 FUNDOS DE VALE No rio Bezerra, que percorre parte do bairro Santa Cruz, verifica-se a imensa falta de cuidado e descaso com o mesmo, observando-se a grande quantidade de lixo e resíduos depositados em sua margem e em seu leito. Outro fator crítico encontrado são as residências construídas a pouquíssimos metros de sua borda (Figuras 7 e 8), onde o mínimo requisitado é trinta metros, constata-se que algumas possuem apenas entre dois e três metros de distância, 5 colocando ainda mais em consideração a beneficência das águas e da saúde dos moradores que habitam em seus arredores. 3.5 ANÁLISE DOS PONTOS IMPACTANTES DO BAIRRO SANTA CRUZ 3.5.1 DETRAN Tráfego lento devido à intensa presença de aprendizes de condução. Grande quantidade de carros e pedestres que vão até o local, causando, às vezes, tumulto. Presença de veículos de grande porte, como carretas, que vão até lá para que seja feita a regularização dos mesmos, mesmo que as ruas que fazem o acesso sejam estreitas e inadequadas para este fim. Apesar de apresentar pontos negativos, há também itens que agregam qualidades, como a melhora do atendimento ao público devido à estrutura e ao espaço que estão destinados a este fim. 3.5.2 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO Congestionamento gerado por indivíduos que queiram chegar à localidade. Grande movimentação nos horários de pico. Torna possível à população em geral o acesso aos serviços públicos ali prestados. 3.5.3 FAG/UNIVEL Apresentam como principais impactos ambientais negativos o congestionamento antes e depois do horário de aula, sendo este um elemento causador de ruídos que ocasionam incomodo à vizinhança. As ruas apresentam-se muitas vezes com falhas de sinalização, onde há a falta de placas de regulamentação de trânsito, não presença de sinalização horizontal e faixas de pedestres apagadas, por exemplo. Além destes, deve-se citar que todo o lixo jogado na rua e esgoto deságuam no leito do Rio Bezerra, causando a poluição das águas do mesmo. Já do ponto de vista positivo, cita-se o acréscimo de comércios aos seus arredores, estes sendo responsáveis por desenvolver a economia no bairro. Com a vinda de estabelecimentos os moradores locais não têm a preocupação de se descolar até o grande centro comercial da cidade para suprir as necessidades que possuem. 3.5.4 COLÉGIO/ESCOLA/UBS 6 Movimento excessivo de bicicletas, carros e ônibus nos arredores do colégio e escola, no início e término das aulas. A grande concentração de crianças e adolescentes neste ponto traz riscos, como o de atropelamentos. Como estão localizados no bairro, não é necessário que a população se desloque até a área central da cidade para ter acesso à educação e ao atendimento básico de saúde. A UBS apresenta como ponto positivo, a possibilidade aos que ali residem de ser atendidos imediatamente quando houver alguma emergência, não dependendo, às vezes, de ter que se deslocar quando não possuem condições físicas para isto. Trata-se de um local de atendimento público, atendendo, assim, todos os que necessitarem seu socorro. Apesar de ser considerado como um benefício aos habitantes, apresenta estrutura deficiente e precária. 3.5.5 UOPECCAN A presença de um hospital de grande porte no bairro causa impactos de todos os modos. Há a circulação de diversos tipos de veículos, desde motos até vãs e ônibus que vêm de cidades vizinhas trazendo pacientes. O excesso de automóveis causa poluição sonora, o que não agrada à vizinhança nem aos que estão no hospital. O despejo de lixo hospitalar também deve ter atenção redobrada, para que este tome o destino correto. A existência dele proporciona o acréscimo de pequenos comércios ao seu arredor, estes visando atender ao que estão de passagem pelo hospital visitando algum conhecido. 3.5.6 COMÉRCIOS Os impactos causados pelos comércios nos arredores são, na maioria, econômicos. Estes fazem com que haja o giro na pequena economia local. A presença de mercados, postos de combustíveis, farmácias, materiais de construção, etc. faz com que os residentes não tenham que sofrer grandes deslocamentos para adquirirem itens de sua necessidade. Há, com a presença destes, a valorização imobiliária em suas proximidades. Apesar de possuírem vários aspectos positivos, há os que não trazem proveito ao bairro, como a presença de movimento de veículos e alta sonorização. Em locais como os mercados, postos de combustíveis e lojas de materiais de construção, há o problema com o tráfego de veículos pesados, estes que causam congestionamentos e estragos nas ruas por onde passam. No caso do posto, há também o perigo de vazamento de combustível e despejo de resíduos contaminantes no solo. 7 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A natureza desempenha importantíssimo papel em nossas cidades, e é só com a sua vitalidade que se torna possível a presença de todos os organismos nesse mundo. Em relação à estrutura de Cascavel - PR, é de suma importância mencionar que a capacidade para se tornar uma cidade exemplo é eminente, porém, é algo que depende das atitudes tomadas pelos moradores para que se realize. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORBUSIER, Le. Urbanismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. DEÁK, C.; SCIFFER, S. R. (Org). O Processo de Urbanização no Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. ELIAS, J. A importância do planejamento urbano. Disponível em: <http://www.amm.org.br/amm/constitucional/noticia.asp?iId=183494&iIdGrupo=6267> Acesso 05 de mar de 2014. MARCONDES, M. Planejamento urbano: Existente ou não existente? Disponível em: <http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/25/artigo134491-2.asp> Acesso 05 de mar de 2014. SILVA NETO, H. M. Principais tipos de impacto ambiental. < http://geoblografia.blogspot.com.br/2010/10/principais-tipos-de-impacto-ambiental_22.html< Acesso 05 de mar de 2014. VILLAÇA, F. In: DEÁK, C.; SCIFFER, S. R. (Org). O Processo de Urbanização no Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. 8 ANEXOS FIGURA 1. Arborização típica do bairro implantada no passeio público. FIGURA 2. Riscos de curto circuito com a arborização. 9 FIGURA 3. Pouca arborização nos terrenos. FIGURA 4. Praça para exercícios físicos. Pouca presença de árvores e de área verde. 10 FIGURA 5. Rio Bezerra. Acumulo de lixo no leito do rio. FIGURA 6. Lote com acúmulo de detritos. 11 FIGURA 7. Rio Bezerra e as residências próximas ao seu leito. FIGURA 8. Casa implantada próximo ao fundo de vale. 12