DISCURSO NO DIA 1 DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR Almoço dos Trabalhadores Social Democratas (TSD) – Mercado da Ribeira – Lisboa – 01/05/2008 Caros Amigos e Amigas Na pessoa do seu Presidente, Arménio Santos, permitam-me que saúde todos os homens e mulheres que constituem os Trabalhadores Social Democratas, essa parte fundamental de um partido interclassista, como é o PSD, como foi o PPD de Francisco Sá Carneiro. É um duplo prazer estar aqui hoje. Em primeiro lugar, porque também eu sou, desde há muitos anos, um filiado dos TSD. E depois, porque esta será, muito provavelmente, a última vez que uso da palavra na qualidade de Vice-Presidente do PSD. Gostaria que o 1º de Maio não fosse para nós, apenas o cumprir de uma formalidade, como já vai sendo infelizmente o 25 de Abril ou o 5 de Outubro. Falar do 1º de Maio, é relembrar a luta dos trabalhadores por melhores condições sociais. É relembrar esse dia 1 de Maio de 1886, quando 500.000 trabalhadores saíram à rua em Chicago, a exigir a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. A repressão policial causou centenas de feridos e mais de 100 operários mortos. Estavam criados o Mártires de Chicago. A 5 de Maio, nova manifestação. Mais feridos. Mais mortos. 3 operários condenados a prisão perpétua. Mas a luta não parou por ali. As greves e as manifestações continuaram. Em 1888, o governo americano teve que nomear um novo júri no tribunal que acabou por ilibar os trabalhadores. E em 1889, o Congresso Operário Internacional decretou o 1º de Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, para assinalar para sempre a repressão patronal e policial. Nos USA, o chamado Labor Day, comemora-se a 3 de Setembro. No Canadá,m comemora-se hoje, mas chama-se o “8 Hours Day”. Em Portugal, o 1º de Maio, para as gerações dos sobreviventes da ditadura, estará para sempre ligado ao 25 de Abril, e aos dias que se lhes seguiram. O 1º de Maio de 1974, em Lisboa, foi algo de inalcançável, de irrepetível, uma maré imparável de alegria e de libertação. Há quem diga que só encontra paralelo com a celebração do dia do armistício no final da II Guerra Mundial, em Paris. O 1º de Maio é um dia que chama à lembrança da justiça social, da solidariedade. Ao papel do sindicalismo no progresso económico que todos desejamos em benefício de todos e não apenas de alguns. Infelizmente, vivem-se dias em Portugal de retrocesso nos direitos dos trabalhadores, na míngua do crescimento salarial, cada vez mais longe da média europeia, num país que ocupa o 1º lugar da sinistralidade laboral na Europa, e onde a concertação e a negociação colectiva estão bloqueadas. Em Portugal, ser despedido hoje, é como tomar conhecimento de que se tem um cancro. Só importa saber como se conseguirá sobreviver. A semana das 40 horas só chegou a Portugal em Maio de 1996, mas hoje existem problemas novos como as horas extra, o trabalho aos fins-de-semana, as novas formas de organização do trabalho, a precarização do emprego, a globalização, a exploração do trabalho infantil, da mulher e da imigração. A Doutrina Social da Igreja propõe a solidariedade como o meio mais eficaz para a luta dos trabalhadores pela sua dignidade. Uma atitude moral e social, sobre a interdependência entre os homens, e porque não dizê-lo, entre o capital e o trabalho. O 1º de Maio, para a Igreja, é o dia de S. José Operário. A simbologia do 1º de Maio não pode ser perdida no conforto de uma mesa de restaurante, porque ele significa tanta luta, tanta dor, tanta conquista, tanto esforço, tanto sangue até. Não se pode banalizar. Vivemos um tempo em que a esmagadora parte das famílias portuguesas estão próximas do limite da resistência. Vivem na angústia do futuro, à medida que os custos e a inflação vão comendo os salários. Cada vez sobra mais mês ao salário. Há famílias que, quando o padeiro subiu pela terceira vez, nos últimos seis meses, o preço do pão, investiram numa maquineta de fazer pão em casa. Quando a gasolina bateu novo recorde em Janeiro último, venderam um dos dois carros. Quando o preço do leite em pó para o bebé, o gás, ou as sobremesas de chocolate continuaram a subir, começaram a contar os cêntimos, e a medir as doses. E isto, numa família com dois empregos, um deles se calhar é professor. A pergunta que fazem é: se isto acontece connosco, como se safam os outros?... Um pouco por todo o lado cresce este sentimento no estrato médio da força de trabalho – funcionários públicos, administrativos, trabalhadores qualificados ou até gestores de classe média-baixa – de que estão a ser empurrados para as margens do sistema como nunca tinham sentido antes, numa combinação de custos crescentes e salários estagnados, o que desvaloriza o seu poder de compra. Famílias que tiveram até há pouco tempo um estilo de vida agradável suportado em dois salários, descobrem-se agora a contar os tostões, na comida e nos bens diários, cortando com todos os extras, desde os bilhetes de cinema até às férias. Há toda uma geração de trabalhadores a ter um sentimento crescente de injustiça de uma realidade que é a de que irão viver pior do que os seus pais, e não sabem como explicar isto aos seus filhos. Mesmo a obtenção de diplomas universitários nas profissões clássicas da classe média, já não é a garantia de nada de melhoria de estatuto. A verdade é que estamos a pedalar contra o vento. Temos que pedalar mais rápido, para não abrandarmos o ritmo. Mas pedalar mais rápido, nem sequer quer dizer que estamos a ir mais rápido. O risco de pobreza em Portugal é de 20%. Na Europa é de 16%. Somos o país com mais índice de desigualdade na redistribuição de rendimentos. Não é por acaso que no Reino Unido, na última semana, e pela primeira vez em 20 anos, os professores fecharam as escolas e foram para a rua protestar por melhores salários. No último ano a comida subiu 7% e a gasolina 20%. Não é por acaso que no último mês, os trabalhadores da Alemanha, numa série de sectores, desencadearam greves de reivindicação por uma maior fatia do bolo económico, depois de uma série de anos a cederem na estagnação salarial. Na França, uma série de profissões, desde os professores os operários, saíram para a rua a exigir dos políticos um fim ao declínio continuado do poder de compra. Neste país, o desemprego já não é o nº 1 das preocupações populares. Isto levou o Presidente Sarkozy a lançar a fiscalização sobre os abusos do pricing por parte dos comerciantes. Em Ljubliana, capital da Eslovénia, presidente da EU, milhares de trabalhadores europeus fizeram o mesmo. O problema do declínio do poder de compra, em Portugal, é agravado pela gula do sistema bancário e pela rapina fiscal do estado. O problema, que apanhou a classe política desprevenida, e os empresários também, é que as forças da globalização estão a impor as suas regras, e a fórmula de manter a contenção salarial em paralelo com o controle da inflação para manter o crescimento económico está em ruptura. A distribuição da riqueza é desigual, beneficia sobretudo os mais fortes e um pequena parte de indivíduos bem posicionados. A ideia de exigir sacrifícios para salvar empregos está a morrer. Já não é a classe operária que saiu à rua. É a própria classe média que está à beira do colapso. E quem não compreender isto, será levado no aluvião da política. Já passámos a fase do apertar do cinto. Já estamos bem dentro da fase de perder as casas, por incapacidade de pagar os empréstimos tributários. Já entrámos na fase mais perigosa: a de não ter o que levar à boca para comer. Importa, pois, saber, porque razão sobe o preço dos cereais e de outros bens alimentares essenciais. Importa saber porque está de volta a inflação, de forma descontrolada. A inflação é o mais cruel dos impostos. Porque afecta pesadamente os países mais pobres, e porque afecta os cidadãos mais pobres. E porque razão, desta vez, são os preços da alimentação a alimentar o fogo da inflação. Desde logo, estes aumentam, devido ao crescimento explosivo das economias emergentes, com a China e a Índia à cabeça. À medida que enriquecem, ou que o seu PIB cresce, aumenta exponencialmente o consumo de cereais e de carne, já para não falar dos metais, dos combustíveis, etc. Mas isto não explica tudo. Um outro factor, ditado pelo preço explosivo do petróleo, e também por preocupações ambientais, tem a ver com a produção de bio-csrburantes, consumidores de cereais. Mas existe um outro, que tem a ver com a entrada no chamado mercado das commodities, de um apreciável número de especuladores financeiros que, desejosos de aumentar os seus lucros e diversificar os seus port-folios, através de contractos de futuros, segurando produções inteiras para vender aos preços mais altos e no tempo mais conveniente. Finalmente, o proteccionismo. Países produtores de cereais e de carne, receosos de sofrer penúrias no mercado interno, desataram a proibir as exportações, como é o caso da Rússia e da Argentina. O preço do arroz, por exemplo, subiu 150% só desde Janeiro deste ano. Antes, as crises parciais deste mercado aconteciam por causa das inundações, do fogo, das guerras. Agora, a guerra e outra, e apanhou os governos de surpresa. Porque há um valor que domina o mundo dos dias de hoje, e chama-se GANÂNCIA! E o governo português não demonstra acção nem preocupação especial com esta situação que afecta a esmagadora maioria da população portuguesa. Perante este valor, palavras como solidariedade e justiça social, parecem relegadas para o cantinho das velharias e do esquecimento. Penso que os TSD devem lutar para que isto não seja assim. Devem reflectir a sério nestes problemas e nas suas soluções. E eu gostaria muito de ver, na bancada do PSD em Outubro de 2009, também operários, agricultores, sindicalistas. Se os temos na militância, porque não aparecem na representatividade? Temos hoje aqui vários candidatos à presidência do PSD. Quem sabe se um deles terá essa responsabilidade de dar verdadeiro sentido parlamentar ao partido interclassista que somos, de trabalhadores e de empresários, de ricos e de pobres, de classe média, que é a nossa principal base de apoio. Desculpem ter tido que o dizer, mas é aquilo que penso! Vivam os TSD! Tenham um bom Primeiro de Maio.