1 REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO EM GRUPO COM LICENCIANDOS DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR DE SÃO PAULO. Eduardo Ferreira Abrahão São Paulo - SP 2010 2 Eduardo Ferreira Abrahão REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO EM GRUPO COM LICENCIANDOS DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR DE SÃO PAULO. Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientado pela Professora Magda Medhat Pechliye. São Paulo 2010 3 AGRADECIMENTOS Um agradecimento mais que especial a Deus, por ter me capacitado e permitido eu me tornar o homem que sou hoje. A todo corpo docente de licenciatura do instituto do CCBS – UPM que ao longo desses anos investiram em minha formação e contribuíram na realização desse trabalho ao, e em especial a professora Magda que acompanhou intimamente a produção desta pesquisa com suas valiosas orientações. A toda minha família por terem criado um novo significado para o amor se doando incondicionalmente a minha formação. E que ao longo dessa jornada se tornaram uma só carne comigo, me dando força, ânimo e sabedoria. Ao aluno Luiz Theodoro, pelas valiosas sugestões que me animaram num momento crítico da minha produção. E meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma se doaram direta ou indiretamente, tornando-se fundamentais para a realização do meu sonho em realidade 4 RESUMO A presente pesquisa abordou a temática de trabalho em grupo nas escolas através da análise das concepções de 31 alunos de um curso de formação de professores de uma universidade particular paulista. Os dados coletados a partir dos questionários foram analisados a luz da teoria que aborda temas como: a mediação do professor, a dinâmica do grupo, a comunicação, e a resolução de conflitos. Pode-se observar que talvez haja uma ausência de valorização dos professores de algumas características para tornar o trabalho em grupo mais efetivo, o que acaba condicionando a concepção e a valorização que os alunos dão ao trabalho em grupo no seu processo de aprendizagem. Palavras chave: trabalho em grupo, dinâmica em grupo, concepção dos alunos 5 ABSTRACT The present study addressed the issue of team groups in schools throughout analysis of thirty students’ conceptions from a teachers training course in a private São Paulo university. The surveyed responses collected by questionnaire were analyzed through the theory that takes in consideration several themes such as: the teachers’ roll, the group dynamics, the communication, and conflicts resolution. It was able to realize that perhaps there’s an absence of teacher’s appreciation for some characteristics responsible for rendering more effective team groups, which ultimately affect the design and appreciation that students give to team groups in their learning process. Keywords: team work, group dynamics, students’ conception 6 SUMÁRIO: 1. Introdução 07 2. Fundamentação Teórica 09 4.1 Dinâmica em Grupo 09 4.2 Comunicação e Resolução de Conflitos 16 4.3 Mediação Pelo Professor e Aluno 22 3. Procedimentos Metodológicos 30 4. Resultados 36 5. Análise 43 6. Considerações Finais 52 7. Referências Bibliográficas 53 8. Apêndice A 55 7 INTRODUÇÃO Ao longo da minha evolução acadêmica, deparei com muitas situações de trabalho em grupo, que logo me fizeram perceber a necessidade de uma postura, de atitudes, posicionamentos e falas diferentes das quais eu estava comumente habituado. Não podia muitas vezes permitir que meu impulso, minha amizade ou inimizade falassem por mim, pois sabia que haveriam consequências diversas dentro do grupo que poderiam prejudicar a produção, a comunicação, e até a amizade. Um dos maiores desafios com certeza continua sendo o de me relacionar harmoniosamente com pessoas diferentes de mim ou das quais eu estou habituado a trabalhar, pessoas que possuem habilidades, capacidades, ideias, objetivos, ritmos e modos de trabalho diferentes dos meus. Este desafio não se restringe a um ambiente escolar, mas ocorre a todo instante em nossas interações sociais, como por exemplo, nos grupos de família, de trabalho, institucional, escolares, do círculo de amizades e outros. Com ênfase nas práticas escolares, vemos o trabalho em grupo sendo utilizado nas diversas séries e áreas do conhecimento. Coll (2002) revela que as aprendizagens advindas de experiências cooperativas, favorecem o estabelecimento de interações entre os alunos muito mais positivas, resultando num rendimento e uma produtividade superiores de construção de conceitos e resolução de problemas, quando comparadas com experiências individuais ou competitivas. Por isso a ênfase na reflexão e destrinchamento destas atividades de modo a compreendê-la melhor, tornando nossas ações relacionadas aos objetivos do trabalho em grupo mais conscientes, e não mecânicas, como habitualmente vemos sendo praticada pelos professores pela técnica de “erro e acerto”. Isto provavelmente não ocorre de forma leviana ou inconsequente, porém um estudo e uma valorização são merecidos a estes processos grupais quando analisadas sua importância e frequência com que ocorrem. 8 Diante desses apontamentos, esse trabalho de pesquisa tem como objetivo analisar quais as concepções sobre o trabalho em grupo de alunos envolvidos com um curso de formação de professores, relacionando-as com algumas reflexões sobre o trabalho grupal no ambiente escolar. O presente trabalho encontra-se subdividido em 3 capítulos. No primeiro, estão descritas algumas das funções do professor, sua postura como orientador que constrói o conhecimento juntamente com o aluno trabalhando sua autonomia. Se deve existir a divisão de tarefa dentro do grupo levando-se em conta a personalidade e conhecimento do aluno. A necessidade ou não do trabalho individual complementar ao trabalho em grupo. Como o professor deve lidar com a heterogeneidade, e como deve ser feita a avaliação diante de tantos aspectos moduladores e variáveis neste processo. Qual a importância deste trabalho com alunos de diferentes idades. A necessidade da construção do conteúdo atitudinal e procedimental na formação de atitudes e habilidades específicas. A importância de se criar um ambiente adequado para a construção cooperativa do conhecimento entre alunos e professor. A importância da contextualização para o aprendizado significativo, motivador do aluno. A comunicação e a resolução de conflitos dentro dos grupos, e a importância de atribuir ao conflito um novo significado, transformando-o em oportunidade para que o aluno realize a construção do conhecimento. A importância de explicitar, tornando claro ao grupo as regras e objetivos da atividade. A necessidade de realizar diagnósticos destes conflitos de forma a orientar as interações desejadas dentro do grupo, e a importância fundamental da comunicação na resolução de conflitos dentro de um ambiente coeso e saudável. No segundo, estão descritos os procedimentos metodológicos adotados no presente estudo, descrevendo como foi realizado o processo de coleta de dados, com a montagem dos questionários, a elaboração das questões, e as justificativas pela escolha do mesmo. As razões pela escolha da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e por este grupo de alunos. Como foi realizada a organização dos dados para análise. E um modelo do mesmo em anexo para visualização. No terceiro, estão expostos os resultados da coleta de dados através das respostas coletadas em cada uma das questões. Nas questões abertas, os dados 9 estão exibidos em gráficos de frequência, enquanto que as questões fechadas, os dados estão quantificados por frequência em categorias criadas previamente. No quarto, estão descritas as análises realizadas de acordo com a fundamentação teórica. Explicitando algumas reflexões sobre o trabalho grupal escolar, relacionado com as concepções do trabalho em grupo de alunos envolvidos com um curso de formação de professores. CAPÍTULO 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A despeito de qual tenha sido a formação do professor ou suas experiências vividas ao longo de sua carreira com atividades grupais, a reflexão acerca de suas concepção e metodologia deve sempre ser considerada como um constante processo de renovação. Almejando assim, atingir maior eficiência e obter como resultado final a aprendizagem conjunta do aluno e do professor de conceitos, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes. Por isso, este trabalho de pesquisa tem como objetivo analisar quais as concepções a respeito do trabalho em grupo de alunos envolvidos com um curso de formação de professores, relacionando-as com algumas reflexões sobre o trabalho grupal no ambiente escolar. CAP. 1.1 DINÂMICA EM GRUPO Albigenor e Militão (2009) discorrem brevemente sobre o início da dinâmica em grupo, mesmo sabendo que estas relações já existiam desde antes da educação formalizada em instituições. Em 1912 Levy Moreno propõe uma nova forma de relacionamento significativo entre os seres humanos, enfatizando a relação afetiva, 10 de compreensão e comunicação baseada na empatia, para então em 1945 Kurt Lewin explicar o conceito de dinâmica em grupo na área da educação como sendo um conjunto de forças sociais, intelectuais e morais que produzem atividades e mudança numa esfera específica. O início da dinâmica em grupo se dá quando as pessoas passam a ver a necessidade de generalizar o ensino da leitura e da escrita para um grande número de pessoas em outras camadas sociais, de forma que ao mesmo tempo o máximo de alunos passe pelo mesmo processo de aprendizagem, maximizando este processo. A natureza destas interações que se estabeleceram em forma de tramas de comunicações tanto entre alunos como com o professor, foram o meio essencial para atingir-se as metas educacionais estabelecidas (ZABALA, 1998). Para Minicucci (2002) e Heldman (2003) o emprego da expressão “dinâmica em grupo” está vinculada a solução conjunta dos problemas, como uma prática empregada para ajudar o grupo a aperfeiçoar as diversas variáveis que influenciam neste processo utilizando-se da diversidade de habilidades e capacidades que o grupo oferece. Para Coll (2002) e Martins et al. (2006), a dinâmica grupal é a origem e o motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual que nos acompanhou nos primeiros anos de vida e nos acompanhará até o final. Ela favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico e a aquisição de conteúdos graças a um processo de reorganização cognitiva e de interiorização pela superação das controvérsias dentro do grupo. Contreras (1999) e Minicucci (2002) atribuem uma relatividade ao trabalho em grupo de diferentes idades, com indivíduos jovens o grupo assume uma função de auxiliá-lo no desenvolvimento de sua identidade e de um comportamento grupal adequado, o que acaba gerando diversos conflitos internos já que constantemente necessita avaliar suas práticas e concepções. Porém com indivíduos adultos, sua autonomia e identidade já são acrescidas, e por isso se torna mais seguro para expor sua opinião e trabalhar com pessoas diferentes. 11 De acordo com Mizukami (1986) e Contreras (1999) este agrupamento de indivíduos jovens se faz de maneira espontânea, através do estabelecimento de relações comuns entre eles, agrupando-se frequentemente por afinidade. Estas relações determinam suas identidades, quem são, o que fazem e o que apreciam, seja na área recreativa, profissional, familiar, religiosa e outras, assim, a influência do indivíduo ao grupo é recíproca e complementar no processo de desenvolvimento intelectual. Por isso que durante a procura de sua identidade nos primeiros anos de vida é que o aluno experimenta a necessidade imperiosa de apegar-se a um grupo. O grupo presta um auxilio transitório ao adolescente, que passa por um processo de adaptação no meio escolar, ao desenvolver-se intelectualmente e estruturalmente, assumindo-se como definitiva na personalidade dele, é uma forma de apoio a este período que cada aluno atravessa individualmente (MINICUCCI, 2002). Heldman (2003) descreve 4 etapas pelas quais os grupos podem passar durante a formação de um grupo no ambiente escolar. A primeira de “formação” seria a etapa inicial, quando os membros reunidos tomam conhecimento dos objetivos e a razão do porque estarem trabalhando em conjunto. Numa próxima etapa de “confrontação”, temos os indivíduos naturalmente entrando em confronto um com o outro pela posição de status dentro do grupo, quando estas situações se acalmam. Entramos na etapa de “normatização” quando eles já se conhecem bem e estão seguros dentro de sua posição no grupo, passando a tratar dos problemas coletivos ao invés dos individuais demonstrando afeição e familiaridade entre si. E por fim a “execução”, quando os indivíduos passam a atuar num cenário produtivo e eficaz por causa da confiança obtida entre eles como resultado das etapas anteriores. De acordo com o psicólogo Lev Vygotsky (apud MARTINS et al., 2009), o agrupamento é fundamental para que cada aluno se desenvolva com a ajuda de outros. Este não se restringe apenas ao grupo escolar, mas a todos onde realiza interação com outras pessoas, caracterizando-se como uma forma de aprendizado social. 12 Aprendizado social e cultural este descrito e caracterizado como um processo de “socialização” por Contreras (1999) e Zabala (1998), deste processo partem aprendizagens importantes relacionadas à formação de atitudes e comportamentos, desenvolvimento da inserção social, da relação interpessoal, da autonomia pessoal, da capacidade de equilíbrio próprio. Eles aprendem a respeitar e obedecer aos valores, às normas, e os comportamentos adequados esperados por um grupo, uma organização ou pela sociedade, impelindo-o de adotar determinados comportamentos. Para Coll (2002) e Zabala (1998) este processo de desenvolvimento social e cultural se dá pela interação do aluno com o modelo que os adultos passam, influenciando no processo de apropriação. Se o próprio professor não apresentar valores que espera que sejam atribuídos aos seus alunos como atitudes de tolerância, justiça, cooperação, solidariedade, liberdade, responsabilidade e respeito mútuo, seus alunos com certeza não enxergarão nele um referencial, e não tomarão como propriedade, deixando de praticá-las em seu dia a dia. Um trabalho com o objetivo de apropriar tais valores, atitudes e concepções aos alunos não pode limitar-se a uma atividade simplesmente acadêmica ou conceitual, porém devem ser contempladas atividades em que o aluno leve em conta os demais, e renuncie a imposição do seu ponto de vista, tornando-se aberto a análise de suas práticas e interiorização de novas outras. Ou seja, devem ser valorizadas atividades que potencializem a colaboração e não a competição ou imposição. De igual maneira a “socialização” descrita por Contreras (1999) e Zabala (1998) contribui na formação destes comportamentos e atitudes quando são estabelecidos ambientes e relações presididas pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança. Criando um espaço em que ele não se sente tão inseguro movido pelas suas dúvidas individuais, mas passa a pensar no coletivo e levar em conta suas posições. Este processo resulta na “formação do autoconceito”, que levaria o aluno a enxergar através dos olhos da outra pessoa, colocando-se em seu lugar, levando em conta dessa forma os comportamentos, sentimentos e atitudes alheias. Este respeito mútuo entra em cena quando levamos em conta o aluno como ator principal e não coadjuvante do processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, 13 propondo atividades que se relacionem com o contexto lógico de cada idade, que supõe não anteciparmos os acontecimentos expondo-os precocemente ao mundo dos adultos ignorando sua formação inicial e negando espaço para autodescoberta, nem reiterarmos conceitos já vistos pelo grupo, infantilizando-os e perdendo espaço para trabalhar novas concepções, habilidades e conhecimentos (CONTRERAS, 1999). Além de propormos atividades que se relacionem com o aluno, criar o ambiente adequado é igualmente importante na hora de levarmos em conta as contribuições dos alunos, que passam a se expressar melhor num clima saudável e aberto, promovendo o debate de opiniões e permitindo as relações entre os conteúdos prévios uns dos outros (ZABALA, 1998 e HELDMAN, 2003). Além de orientá-los de acordo com suas habilidades ao longo da atividade, favorecendo o desenvolvimento do grupo que passa a agir no sentido de um grupo coordenado, funcional e eficiente (HELDMAN, 2003). Esta modulação do ambiente é muito importante pois já temos a influência da cultura que nos cerca como uma variável social importante, marcando-nos e criando modelos de personalidade, de conhecimento e interpretação do mundo que nos cerca. Determinando experiências cruciais para o desenvolvimento emotivo e social (MINICUCCI, 2002). Zabala (1998) descreve duas formas de organizar os alunos em sala, em grupos fixos, grupos flexíveis e individualmente. Ao “grupo fixo” ele atribui dois pontos positivos, a organização, que favorece as funções de controle e gestão da classe como a atribuição de tarefas determinadas, e o de convivência, que proporciona aos alunos um grupo afetivamente mais acessível, permitindo relações pessoais mais profundas e significativas, passando a comprometer-se não somente com a tarefa, mas com o sucesso do seu amigo. Já na organização em grupos flexíveis, sua aplicação preferencial seria com grupos que necessitam de atenção diferenciada, distinguindo então a sua tarefa dos demais, sua aplicação também é preferencial quando visamos à atribuição de atitudes, em que o conflito e o constante encontro de opiniões divergentes são mais necessários do que a afetividade entre os integrantes. E o trabalho individual, que por mais que a aprendizagem se apóie num processo interpessoal e compartilhado, é sempre 14 carregada de uma apropriação pessoal, a diferença esta no papel e importância que se dá a este trabalho, em que momento é utilizado, qual conteúdo é trabalhado e qual seu grau de adaptação as características pessoais de cada aluno. Porém devemos tomar muito cuidado quando agrupamos os alunos de acordo com estereótipos, como o “nerd”, burro, pobre, agressivo, repetente, a patricinha e outros, pois estigmatiza a criança e as desestimula a encontrar sua identidade, sua personalidade, que passa a ser imposta por outra pessoa. Se for um rótulo positivo, este aluno pode acabar achando-se superior, ou se acomodar, ignorando a sua capacidade de auto-crítica ou de respeito a opinião alheia. Caso este rótulo seja negativo, o aluno torna-se desmotivado, reduzido, e inibido a demonstrar seu ponto de vista. O interessante é pensar que todas as características únicas de cada estudante são uma ferramenta em potencial para se trabalhar a diversidade no grupo, seja esta, cultural, de doença, biotipo e outros (MARTINS et al., 2009). Lembrando que o trabalho em grupo deve sim ser arquitetado pelo professor, mas deve haver espaço para a criatividade, pois é elemento fundamental para o comportamento espontâneo dos indivíduos ao se expressarem no grupo, gerando propostas de trabalho, ações para intervenção social e contribuindo para o desenvolvimento comum (CONTRERAS, 1999). Cabe ao educador criar condições para que os alunos realizem o trabalho, definindo a tarefa a ser realizada, dando instruções e sugestões de encaminhamentos, fazendo correções e explicando as regras de cooperação dentro do grupo, mantendo o agrupamento produtivo por parte de todos os integrantes, objetivando a autonomia dos alunos que passarão a atuar com as próprias ferramentas que lhe foram interiorizadas (MARTINS et al., 2009). Contreras (1999) alerta com relação a esta modulação da atividade, dizendo ser importante ela relacionar-se a realidade de nosso país, pois atualmente o que vemos com a maioria dos educadores é a criação de contextos paralelos que não se relacionam. Isto é atribuído em grande parte ao enorme avanço das mídias de comunicação, resultando no afastamento com as práticas educativas encontradas no ambiente escolar, que acabam influenciando de modo determinante na aprendizagem do aluno. A utilização de mídias da informação como ferramenta do 15 professor é fundamental como dinamizadora das propostas de trabalho em grupo, ao proporcionar um recurso contextualizado na realidade dos nossos alunos. Por mais perversas que possam ser, cabe ao professor extrair o melhor delas buscando empregá-la como instrumento de avanço ao trabalho coletivo. Martirani afirma que: Nessa dinâmica, os meios de comunicação social acabam por desempenhar, querendo-se ou não, funções educativas (complementares e/ou expandidas) ou “(des) educativas” demandando a necessidade de se trabalhar no âmbito da educação, sentidos e significados desses processos – leitura crítica da comunicação [...] (MARTIRANI, 2008 p. 2). O trabalho reflexivo com estas mídias exercitaria o olhar crítico do aluno e suas capacidades de expressão e comunicação com os indivíduos de um grupo, favorecendo o desenvolvimento da percepção sobre a realidade e sua própria identidade como receptor crítico e ativo. Os objetivos deste processo seriam a aquisição de conhecimentos sobre assuntos que não dominam, e o desenvolvimento de ações de intervenção nos processos de comunicação social. Por isso vemos uma oportunidade aliada à necessidade, visto a importância de se trabalhar com as diversas mídias da informação, aliada ao trabalho em grupo (MARTIRANI, 2008). Albigenor e Militão (2009) propõe que a aplicação de atividades em grupo sejam feitas sempre em propostas de jogos justificando que eles gerariam aprendizado a partir dos participantes e não do professor. Esta proposta proporcionaria flexibilidade de aplicação em diversas condições, e haveria a participação de todos, ou a oportunidade do mesmo, criando maior responsabilidade dos participantes que tem que respeitar a critérios ou regras. Zabala (1998) e Martins et al. (2006) concordam ao dizer que a contextualização os ajuda a encontrar sentido no que fazem, se tornando relevante, atrativa e significante no momento que os motivamos a desenvolver a produção conjunta. Para isso não é suficiente ele saber no que ele irá trabalhar, mas o motivo do mesmo, ajudando-o a ver ao explicitar os processos e produtos que se espera que produza e adquira. 16 Contreras (1999) define a motivação como produto de uma atividade significativa para os alunos. Ela os movimenta, impulsiona em direção a um objetivo, distinguindo-se em motivação intrínseca, que são impulsos que vem do próprio indivíduo, e a motivação extrínseca, que são impulsos advindos do exterior e acabam fomentando uma necessidade de ação do aluno. Esta motivação produz um entusiasmo contagioso e auto-suficiente o bastante para gerar criatividade na solução de problemas, ajudando as pessoas a trabalharem mais eficientemente produzindo resultados melhores caso haja expectativas claras e procedimentos explícitos (HELDMAN 2003). CAP 1.2 COMUNICAÇÃO E RESOLUÇÃO DE CONFLITOS Para Contreras (1999), deve-se afastar a idéia de que o “conflito” é algo negativo, pois ele apenas será se não soubermos lidar com ele. Extraem-se consequências positivas de qualquer situação, é outra forma de aprendizagem, vendo-se o que não funciona e aprendendo com isso. Por isso devemos passar a considerá-lo como processo natural de qualquer interação entre sociedades e grupos com concepções diferentes, buscando esclarecer ambas as percepções, e torná-las compreensíveis aos olhos de ambas as partes. A questão chave consiste em transformar conflitos (consequência de toda situação de interação natural) em controvérsias que possam ser resolvidas de forma construtiva, pois se não trabalhadas de forma correta podem ter efeitos negativos na formação do aluno (COLL,2002). Coll (2002) lista certas condições desejáveis a fim de tornar potencialmente construtivas estas soluções de divergências: Quanto mais relevante e contextualizado a informação disponibilizada, mais motivados e preparados intelectualmente para discordar eles estarão, tendo como efeito a construção destas divergências e não apenas confrontações vazias; 17 Quanto maior a tendência de discordarem sem atribuir a origem destes conflitos à incompetência, à falta de informação ou ao volume e qualidade dos conhecimentos do companheiro, mais construtivos serão os efeitos das controvérsias; Quanto maior a capacidade de sintetizar e expor seu ponto de vista de forma cooperativa, dando espaço para o estabelecimento de um clima de aceitação na busca de um ponto de vista comum, maior serão os efeitos construtivos. Atritos causados durante a realização da tarefa devem ser mediados evitando que a produtividade do grupo seja afetada, caso o diagnóstico contínuo do aluno mostre uma diminuição em seu desempenho devido ao atrito, cabe ao professor avaliar a necessidade de mudá-lo de grupo. Porém vale lembrar que estes conflitos quando reconhecidos como oportunidades, devem ser trabalhados com o grupo como forma de ensiná-los a lidar conjuntamente com as diferenças (MARTINS et al., 2009). A pesquisadora argentina Delia Lerner da faculdade de educação de Buenos Aires (apud Martins et al., 2009) comprovou que a diversidade de posições, estejam elas corretas ou não, leva a conflitos e, por consequência, ao desenvolvimento intelectual, a reestruturação de concepções e à aprendizagem conjunta. Contreras (1999) diz que ao tomarmos decisões, entramos no campo do improvável e do incerto, por isso a necessidade de previsão e conhecimento de variáveis intrínsecas a este processo, pelos alunos e professores, se faz necessária para objetivar-se a maior eficácia da construção cooperativa. Ele ainda discute algumas muito comuns que aparecem durante o processo de resolução de conflitos como a votação, quando vemos a maioria vencendo e o resto sendo obrigado a submeter-se à idéia, esta opção não é interessante, pois perderíamos a oportunidade de trabalhar o compartilhamento ou aceitação de novas concepções. Outra situação também encontrada é a imposição, quando vemos uma minoria ou a maioria pressionando o grupo que acaba cedendo por insistência, e novamente se vêem obrigados a acatá-la, mesmo sem compartilhar ou aceitar destas concepções. Estes possíveis desfechos são frutos dos diferentes modelos internos de cada um, 18 interagindo dentro de um plano grupal, o que acaba estabelecendo uma grande complexidade de variáveis e incerteza do processo. Heldman (2003) descreve sobre a necessidade de previsão das variáveis com tomadas de ações preventivas como uma forma de garantir o desenvolvimento do grupo evitando maiores impactos ou conflitos. Esta seria feita através de diagnósticos que constatariam a deficiência no indivíduo ou no grupo, permitindo a tomada de ações conscientes que corroborem com o desenvolvimento e correção daquela característica do indivíduo. Estes diagnósticos indicariam 5 possíveis situações que ocorrem durante uma resolução de conflitos, a “IMPOSIÇÃO”, quando alguém impõe algo ao parceiro, o grupo concordará porque se sente obrigado e não porque concorde com a solução, esta é principalmente notável com a presença de um líder que acaba convencendo o grupo que passivamente acata as suas decisões. A “ATENUAÇÃO” não leva a uma solução permanente, é um modo temporário de resolver os conflitos, em que alguém tenta minimizar sua importância. O “ACORDO” é obtido quando ocorre desistência de uma das partes em prol da solução, porém somente após a negociação dos itens que abrirá mão, e dos quais não renunciará. A “RETIRADA” ocorre quando uma das partes se recusa a discutir sobre o conflito, e com certeza é a pior das técnicas. A “CONFRONTAÇÃO” seria considerada a melhor maneira de resolver conflitos, pois somente haveria uma solução correta para um problema, e os fatos levarão inevitavelmente a esta solução oferecendo-a respaldo e transparência, resultando na unanimidade pela escolha (HELDMAN, 2003). A resolução de conflitos de forma construtiva produz conflitos conceituais, culturais, atitudinais e outros, que por sua vez geram sentimentos de incerteza e um desequilíbrio cognitivo e afetivos dos participantes. Esta resolução deve ser acompanhada intimamente pelo professor de forma a promover a autonomia pessoal do aluno, levando-o a adotar posturas mais imparciais na busca por novas informações e análise através de outras perspectivas que o grupo disponibiliza para ele (COLL, 2002). Uma forma interessante de se trabalhar sua autonomia seria explicitando diferentes métodos de resolução e suas particularidades aos grupos como 19 ferramentas, que passariam a trabalhar usando-as num processo resolução, buscando o consenso ao avaliar as diferentes concepções e concordar juntamente pela melhor proposta (CONTRERAS, 1999). Esta explicitação se faz através da comunicação que de acordo com Gayotto (2002) pode ocorrer em dois níveis, o VERBAL e o NÃO-VERBAL-CORPORAL, ambos se dão a partir do conteúdo interno de uma pessoa interagindo com o do outro, através de suas diversas formas de comunicação, exercendo papel fundamental na dinâmica grupal. Ele ainda diz que caso esta interação não esteja sendo feita de maneira saudável, seja consciente ou inconscientemente, elas criam ruídos na comunicação que podem acabar gerando conflitos, e que podem acabar sendo obstáculos ou não na elaboração conjunta do grupo. Neste ambiente dinâmico as contribuições individuais provavelmente irão suscitar contradições, dilemas ou conflitos como obstáculos da elaboração conjunta do grupo, quando os desejos, necessidades e os objetivos dos parceiros são incompatíveis com os dos outros. É nesse meio que entra a habilidade de comunicar-se eficazmente, assegurando que as ideias, orais ou escritas, sejam claras, completas e explícitas para que as outras pessoas não tenham dificuldade em entender a mensagem que está sendo transmitida (HELDMANN, 2003). Por isso que a intenção de se formular verbalmente a sua concepção com a finalidade de comunicá-la ao resto do grupo obriga o indivíduo a reconsiderar e reanalisar o que se pretende transmitir, como consequência de um processo de regulamentação externa que regulamenta diretrizes para uma comunicação construtiva (COLL, 2002). Zabala (1998) discute acerca da comunicação e a importância do professor promover canais de comunicação fluentes comuns a todos, evitando possíveis malentendidos e incompreensões. Ele também deve regular o processo de negociação e participação construtiva entre o professor e entre os alunos, vivenciando o progresso à medida que enfrenta discussões e debates causados pela troca de informações, conhecimentos e concepções diferentes das suas. 20 Quando um dos membros passa a impor seu ponto de vista, ou os outros integrantes passivamente o adotam, apenas reproduzindo o conhecimento explicitado, não se observa qualquer progresso de aptidões intelectuais, neste processo precisa haver a confrontação de pontos de vistas divergentes, que levariam ao aluno a reconsiderar seus próprios conhecimentos e a construir novas concepções do saber (COLL, 2002). Por isso que numa atividade grupal, a comunicação se torna fundamental para resolver dificuldades que estejam implícitas ou não na construção conjunta, Gayotto (2002) caracteriza a pessoa que fala dos aspectos relativos às dificuldades como o “porta-voz”. Quando o grupo encara estas dificuldades explicitadas e passam a enfrentá-las buscando soluções, os dilemas são criados e um espaço para uma construção cooperativa passa a ser estabelecido. Podemos dizer então que, toda vez que algo implícito se torna conhecido, pelo professor ou pelo aluno, pode ser entendido e resolvido, deixando de ser um obstáculo para a dinâmica grupal. Minicucci (2002) propõe algumas sugestões para desenvolver a coesão, ou interação saudável nos grupos de classe, tais como elevar a consciência do aluno sobre os atrativos do agrupamento, suas futuras aplicações num meio profissional e a explicitação do que deve ser levado em conta para que ofereça uma garantia maior de êxito na aprendizagem conjunta do grupo. Gayotto (2002) discute acerca desta coesão, dizendo que o existem dois tipos de dinâmicas, a visível e a invisível que estão intrinsecamente ligados. A dinâmica visível é a que se manifesta num grupo de forma aberta, compartilhada, já a dinâmica invisível, é o que fica nas entrelinhas, é um aspecto consciente do grupo, são as dificuldades que eles não desejam falar a respeito para realizarem juntos a tarefa, pois elas são somatórias de dificuldades individuais. E você falar a respeito de algo que traz divergência significa sair da zona de conforto e enfrentar limites, explorar novas aptidões, novas formas de sentir, pensar e agir. Contreras (1999) propõe a criação e explicitação de habilidades que podem ajudar o aluno e o professor a lidar com as interações, e a resolução de conflitos de modo efetivo através de um diagrama: 21 Fig. 1 – Diagrama de habilidades para ajudar a lidar com agrupamentos (CONTRERAS, 1999 p. 84). Heldman (2003) desenvolve algumas diretrizes para ouvir melhor, facilitando a comunicação ao criar um espaço saudável para a troca de informações, como parecer interessado, desta forma a pessoa que fala ficará mais tranquila e o receptor se beneficiará pela transmissão mais natural da mensagem, como consequência o receptor ficará realmente interessado e compartilhará de uma quantidade maior de informações. Outra ferramenta igualmente eficiente é a de olhar nos olhos do orador, assim ele sabe que você está prestando atenção e que está realmente interessado na mensagem a ser passada. Tranquilizar o orador mostrando interesse e ansiedade para ouvir o que ele tem a dizer é uma forma eficiente para que ele comece o discurso, durante o mesmo acene a cabeça em sinal de concordância, sorria, ou faça comentários pertinentes para confirmar que você está entendendo a mensagem, caso não esteja, espere ele terminar o raciocínio e calmamente faça perguntas esclarecedoras. Interromper é uma maneira rude de dizer ao orador que você não está querendo ouvir o que ele tem a dizer, e que você está mais interessado em expor seu ponto de vista do que ouvi-lo, isto pode deixar uma pessoa sem jeito, fazendo-a perder a linha de raciocínio ou até irritá-la. Ao final do discurso do orador é interessante que se faça uma recapitulação do que o orador disse concisamente em suas próprias palavras, e depois permitir que o orador de continuidade a fala. 22 Heldman (2003) também propõe um diagrama que representaria um circulo de comunicação em rede com 6 participantes com as linhas de comunicação interligando-os: Fig. 2. Rede de comunicação circular com 6 participantes (HELDMAN, 2003 p.254). CAP. 1.3 MEDIAÇÃO PELO PROFESSOR E ALUNOS De acordo com Zabala (1998), o professor deve refletir sobre sua prática educacional, afastando-se de conceitos simplistas e errôneos que a abordagem tradicional comumente o taxa como detentor e transmissor do conhecimento e controlador dos resultados obtidos. E superar a imagem do aluno como um indivíduo passivo, capaz de reproduzir mecanicamente a cópia do modelo memorizado, reduzindo-o a um reprodutor da informação e um espectador do processo de aprendizagem. Ainda é muito grande a dependência de uma concepção do professor como responsável por transmitir o conhecimento ao aluno, que é reduzido nessa relação a 23 uma esponja ou um vaso onde jogamos informações que são absorvidas, enquanto o aluno é conduzido a adotar de forma mecânica suas explicações sem que haja mediação alguma da construção intelectual. E quando ocorrem relações entre os alunos, elas são reduzidas por serem consideradas como fonte de condutas perturbadoras, e ineficiente do aspecto de aquisição de conhecimento (COLL, 2002). Ensinar estabelece uma relação muito mais profunda e significativa a cada aluno, que deve ser capaz de elaborar e estabelecer relações sobre os objetos de aprendizagem, construindo sua interpretação pessoal, sua concepção. Este processo se dá de forma igual a todos, mesmo compartilhando das mesmas ferramentas e interações, cada um terá resultados diferentes deste processo, estabelecendo-se interpretações únicas e pessoais (ZABALA 1998). Por isso que as relações entre alunos e o modo como se dá a construção pessoal é de primaz importância no processo de ensino-aprendizagem quando estabelecidas situações de interações favoráveis, ou seja,. O importante não é a quantidade, mas a qualidade da interação. Qualquer educador pode utilizar as atividades grupais em sala de aula, mas é necessário esforço e dedicação para aqueles que o fazem de forma a apresentar ao aluno o ensino como um processo de construção compartilhada numa via de mão dupla, flexível de maneira que se adéque a heterogeneidade, significativa ao cotidiano dos alunos, realizada em ambientes saudáveis para a promoção de relações de afeto e mútuo respeito, orientada para a autonomia do aluno (COLL, 2002). Autonomia esta conferida quando o professor realiza a construção dirigida de conhecimento ao mediar na tarefa a ser realizada, dando instruções, sugestões de encaminhamentos, indicando materiais e compartilhando as regras de cooperação entre o grupo (MARTINS et al.,2009). Dar autonomia não significa deixar de intervir, Coll (2002) diferencia duas construções de acordo com a influência do professor, a dirigida, que implica na mediação do professor em conjunto com a turma, e a colaborativa, que seria a construção somente entre os integrantes do grupo. 24 Permitir o aluno atuar de forma mais autônoma supõe intervir e oferecer apoio nas atividades, tanto intelectual quanto emocional, possibilitando o aluno modificar os esquemas de conhecimento ao atribuir novos significados e sentidos a situações cada vez mais complexas. A função do professor nesta mediação seria a de promover a construção “auto-estruturante”, possibilitando o aluno a ter uma ação autônoma, pois compreende o que faz e porque o faz. Somente então a construção ganha sentido para ele, que se torna capaz de avaliar e trabalhar em cima de suas dificuldades com as ferramentas que lhe foram fornecidos, ou seja, o professor toma ações de construção orientadas para trabalhar o controle e autonomia do aluno, e não para opor-se a ela (ZABALA, 1998). Podemos também discutir sobre a mediação ou não do professor com relação à divisão de tarefas entre os grupos e entre seus respectivos integrantes. Martins et al., (2000) descreve sobre a divisão de tarefas afirmando que o professor deve realizar um planejamento e um acompanhamento minucioso das responsabilidades e produções individuais do grupo, impedindo que haja uma divisão indevida onde apenas um integrante faz todo o trabalho ou cada um faz sua parte individualmente, e depois as reúnem, sem que haja a construção conjunta. Vemos situações como essa de “agrupamento” das produções individuais, quando consciente ou inconsciente um indivíduo é eleito líder do grupo (pode ser o aluno ou também o professor), que passa a impor ou então o grupo aceita passivamente suas concepções. Estes eventos ferem o conceito de igualdade entre os integrantes, restringindo a produção conjunta e a construção cooperativa, cabendo ao professor intervir no grupo e orientando-os a construção coletiva através da cooperação (HELDMAN, 2003). A interação direta do professor com os alunos deve permitir o mais íntimo acompanhamento dos processos que são realizados, na forma de observação ativa, mesmo que isso signifique intervir para permitir os alunos a trabalhar de forma conjunta, do modo mais eficiente e desejado possível numa proposta de trabalho em grupo (ZABALA, 1998). 25 Vale lembrar que isto não significa que todos os alunos tenham ou não que ter papéis específicos dentro do grupo, porém ele deve desempenhá-lo com a ajuda do grupo (MARTINS et al., 2009). Para Gayotto (2002) o trabalho em conjunto praticado de forma cooperativa, é a realização da tarefa por meio de papéis diferenciados e contribuições individuais, que surgem na dinâmica grupal pela interação entre a história pessoal e a grupal em face dos obstáculos e conflitos de uma produção conjunta. Este processo caracterizado pela coordenação de papéis assumidos pelos integrantes, controle do trabalho pelos alunos e a divisão de responsabilidades cooperando para a execução conjunta da tarefa, resulta em relações cooperativas entre os membros reunidos no processo de resolução de conflitos e da construção de habilidades e conhecimentos diversos (COLL, 2002). A construção de atitudes, concepções e conhecimentos diversos que vão além do âmbito conceitual são fundamentais para o aluno, pois estão intimamente envolvidos com a construção de habilidades e conhecimentos diversos, e ao desenvolvimento social e cultural do aluno (MINUCCI, 2002). Caso apropriar tais valores, atitudes e concepções aos alunos seja o objetivo do professor, ele não pode se limitar a propor uma atividade simplesmente acadêmica ou conceitual, porém devem ser contempladas atividades em que o aluno leve em conta as demais posições e renuncie a imposição do seu ponto de vista, tornando-se aberto a análise de suas práticas e interiorização de novas. Devem ser prezadas atividades que potencializem a construção conjunta de forma colaborativa e não a competição ou imposição (ZABALA, 1998). O agrupamento está intrinsecamente ligado aos objetivos a serem alcançados, se este será espontâneo dos alunos, por sorteio, direcionado pelo professor, ou até mesmo individualmente cabe ao professor definir quais das interações cognitivas são desejadas para serem trabalhadas na construção conjunta de conhecimentos. Tal consciência da aplicação das atividades grupais e suas consequências é fruto de constante reflexão dos princípios e critérios utilizados. O ponto de partida seria dado de acordo com um pré-diagnóstico de conceitos, 26 concepções, representações e conhecimentos construídos previamente pelo aluno, que seria repetido ao longo do ano como forma de acompanhar a evolução do aluno, para então pensar em seus objetivos relacionados com o conteúdo a ser ensinado (MARTINS et al., 2009). Como responsável pela atividade, o professor deve assegurar que os integrantes do grupo conheçam os verdadeiros objetivos e suas atribuições, levar em conta a opinião dos alunos na hora de defini-los é recomendado desde que o professor tenha clareza dos mesmos e saiba conferir elasticidade adotando as sugestões ou não (HELDMAN, 2003). Quando estabelecemos os objetivos, devemos levar em conta que estes devem ser passiveis de se alcançar, conduzindo o aluno à aprendizagem de novos conhecimentos, domínio de novas habilidades e a melhora de comportamentos. Estas somente serão alcançadas com um processo de acompanhamento contínuo, esforço e ajuda necessárias ao aluno dando liberdade para que estabeleça o máximo de relações significativas possíveis, e assegurando sua autonomia através do controle pessoal sobre os conhecimentos. Somente então ele estará motivado superá-los (ZABALA, 1998) Levar em conta as contribuições, opiniões e conhecimentos prévios dos alunos tanto no início, como durante a mesma, é de extrema importância, pois não poderíamos exigir que os alunos estabeleçam vínculos entre os novos conteúdos e conhecimentos prévios sem que tenhamos sondado suas motivações, habilidades, comportamentos e realidade que estão inseridos. É indispensável que neste processo, haja o respeito mútuo dos professores que sinceramente acreditem na capacidade dos alunos permitindo que eles tenham a chance de se expressar sobre suas preferências e refletir acerca destas, identificando suas limitações ou afinidades (ZABALA, 1998). Para Minicucci (2002) a maior parte da metodologia educativa reconhece a importância de que as pessoas aprendam a participar efetivamente em grupos, mas mesmo assim, objetiva exclusivamente o desenvolvimento individual e lança mão dos meios que podem ajudá-lo a relacionar-se de modo mais saudável com o grupo. 27 O trabalho coletivo sozinho muitas das vezes não dá conta de alcançar as metas de aprendizagem estabelecidas, sendo muitas vezes manifestadas somente após produções realizadas individualmente (COLL, 2002). Segundo a educadora argentina Delia Lerner da faculdade de educação de Buenos Aires (apud Martins et al., 2009), a articulação entre o trabalho em grupo e o trabalho individual se dá em dois processos complementares, um ascendente e outro descendente, no primeiro vemos o trabalho individual sendo valorizado no início como diagnóstico através de produções pré-atividade grupal, até irmos aumentando gradativamente o número de indivíduos por grupo até que a interação seja compartilhada por toda a sala, enquanto que no segundo o processo se dá analogamente, através de avaliações coletadas por produções pós-atividade grupal, normalmente esta é uma tarefa muito difícil que não conseguiriam realizar individualmente no início porque o resultado delas geralmente são mais completos e corretos (MARTINS et al., 2009). Diante de todas estas variáveis envolvidas num processo de agrupamento que destacamos a necessidade de se aplicar uma ferramenta capaz de realizar um diagnóstico de todo o processo, tanto do início, quanto do meio até o final. Sendo capaz de sondar as necessidades educacionais de cada um, de forma a contemplar o heterogêneo respeitando o indivíduo e ajudando-o de maneira mais eficiente (MARTINS et al., 2009). Autores como Coll (2002), Zabala (1998), Minicucci (2002) e Contreras (1999) discutem sobre a valorização de algumas variáveis que modulam os processos de ensino-aprendizagem do aluno de maneira a atender ao mesmo tempo as necessidades individuais e coletivas heterogêneas. Tais como: O Diagnóstico de verificação de domínio de certo conteúdo permitindo um agrupamento mais criterioso. A formação do grupo propriamente dita, em tamanho, afinidade, número de grupos, por ordem de conhecimento e outros. A divisão homogênea de tarefas ou não entre os componentes e entre os grupos evitando a ociosidade, estimulando a interação. 28 A mediação e acompanhamento de resultados pelo professor, estabelecimento de metas específicas ou não para cada grupo e fornecimento de ferramentas para a realização da atividade. Atribuição de critérios que permitam uma avaliação não só do produto final, mas do processo como um todo. sem A atividade em grupo com diferentes idades e com alunos distintos, estereotipá-los como tímido, articulado, agressivo, desinibida, extrovertido, pobre entre outros. Formação do aluno não somente de conteúdos conceituais, mas de outros igualmente importantes como a formação de atitudes, habilidades e capacidades específicas. Resultando numa maior autonomia pessoal, capacidade de equilíbrio, adaptação as normas, superação do egocentrismo, e reflexão do seu ponto de vista, necessárias para uma relação interpessoal saudável. O professor deve fazer uso da variabilidade e flexibilidade para criar estratégias e oportunidades diferenciadas no processo de construção, favorecendo uma multiplicidade de formas do aluno relacionar e interagir com o conhecimento. Ela deve atuar como meio fomentador para atingirem-se as intenções educacionais estabelecidas com seus alunos, caso esta não seja feita, o aluno facilmente acabará questionando a homogeneidade das propostas, que acaba excluindo aqueles que não encontram sentido, tirando-lhe toda a satisfação da realização da atividade (ZABALA, 1998 e COLL, 2002). Coll (2002) acredita que a heterogeneidade deve ser valorizada, pois o avanço e construção de novos conhecimentos e concepções vêm como consequência da confrontação de pontos de vista diferentes. Por isso não é necessário e nem recomendável que todos compartilhem de certa homogeneidade, ou que um dos participantes já saiba ou domine o conhecimento (COLL, 2002). Uma forma de valorizarmos a heterogeneidade seria a de designar tarefas com graus de desafios, ou teor dos conteúdos diferentes para cada grupo, porém estes devem sempre estar relacionados com o objetivo proposto coletivo e individual (MARTINS et al., 2009) 29 Mesmo entendendo que as situações de aprendizagem num grupo aconteçam de formas diferentes, muitas vezes os sujeitos envolvidos nestas interações são tratados durante a análise de resultados de forma homogênea, dando por certo que as interações sociais estabelecidas entre eles foram idênticas, e que não houve uma construção individual específica para cada um ao longo do processo. Por isso deve haver uma valorização da comparação entre os resultados obtidos como resultado da evolução de todo o processo entre os diferentes grupos e entre os diferentes integrantes. Para que esta avaliação se faça de forma eficiente, três requisitos que devem aparecer, a observação da evolução das interações entre os participantes, a evolução do processo de realização da tarefa e observar como ambos se coordenam e se condicionam mutuamente (COLL, 2002). A avaliação deve ser feita conforme as capacidades e esforços do grupo, levando-se em conta o ponto pessoal de partida e o processo pelo qual cada um passou individualmente. Incentivando também o esforço para a progressão continuada resultando numa auto-avaliação das competências, superação de obstáculos, consciência de suas performances, como foram ajudados e como ajudaram e várias outras variáveis cabíveis de avaliação. E como consequência deste processo, a mudança do aluno inconscientemente passa a ser um meio de favorecer a regulação e controle das interações saudáveis e respeitosas dentro do grupo (ZABALA, 1998 e HELDMAN, 2003). Para o psicólogo e filósofo espanhol Joan Bonals (apud MARTINS et al., 2009), a avaliação deve transpor apenas o conceitual e deve abranger igualmente o atitudinal e o comportamental como um conteúdo em si, pois para que a produção seja eficiente, o aluno precisa trabalhar diversas capacidades como manter o foco, propor concepções, avaliar-se, coordenar e conciliar concepções e tarefas, enquanto que outras características também devem ser trabalhadas para ser neutralizada como a competição, o domínio, a falta de foco, a abstenção, o excesso de brincadeiras e outros. 30 CAP. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Todos os procedimentos metodológicos utilizados neste trabalho de pesquisa visavam uma coleta de dados fidedigna aos objetivos propostos em analisar quais as concepções que alunos envolvidos com um curso de formação de professores têm sobre o trabalho em grupo, e a partir destes os relacionar com algumas reflexões sobre o trabalho grupal no ambiente escolar. Para a coleta de dados deste trabalho de pesquisa optamos por aplicar questionários a 31 alunos do 3º semestre da licenciatura do curso de ciências biológicas de uma universidade particular em São Paulo, como meio de identificar e analisar quais as concepções dos alunos sobre a atividade grupal realizada no ambiente escolar. A escolha pela aplicação de questionários nesta pesquisa se deu, pois a análise documental permitiria tentar identificar informações factuais sobre as concepções dos alunos, a partir da realização de questões abertas e fechadas. Esta análise permitiu que fosse realizada uma seleção de dados mais relevantes da amostra, devido ao grande número de resultados obtidos. Garantindo maior flexibilidade e rapidez ao selecionar documentos representativos da pesquisa. Além de obter informações contextualizadas por alunos envolvidos com tais propostas diariamente, permitindo atribuir-lhe maior significância (LÜDKE, 1986). Além desta técnica apresentar um baixo custo, o fato de ser considerada como uma técnica não obstrusiva foi igualmente favorável, já que não são positivas, bruscas alterações no ambiente ou nos sujeitos estudados, ou uma técnica que demandasse uma grande quantidade de tempo ou recurso financeiro para aplicação (LÜDKE, 1986). A escolha desta universidade para a realização desta pesquisa se deve a observações do autor desta pesquisa que esteve envolvido com eventos que ocorreram ao longo do curso de formação de professores durante a realização de trabalhos em grupo. 31 No questionário proposto foram elaboradas 6 questões fechadas com 4 a 5 alternativas possíveis de resposta cada. Nas questões 1 e 2 os alunos deveriam somente assinalar uma das alternativas disponíveis. Enquanto que nas questões 3, 4, 5 e 6 foi orientado aos alunos que as numerassem por ordem de preferência cada uma das alternativas, na escala de 1 a 5, sendo a 1 a mais apreciada/importante, e a 5 a menos apreciada/importante. Nas 4 questões abertas os alunos foram instruídos a somente respondê-las com individualmente. Totalizando 10 questões que foram respondidas individualmente pelos alunos em sala de aula durante os 10 minutos iniciais de uma aula do curso de formação dos alunos. Segue modelo do mesmo a seguir. E os questionários respondidos pelos alunos podem ser encontrados no final deste trabalho, no APÊNDICE A. 32 TRABALHO EM GRUPO O objetivo deste questionário é a coleta de dados que serão utilizados para análise do meu TCC de licenciatura de “Concepção de trabalho em grupo de alunos”, a ser orientada pela professora Magda Medhat Pechliye, garantindo o anonimato de todos os participantes. Obrigado! Obrigatoriamente assinale para as questões 1 e 2 apenas uma alternativa. 1) Você gosta de trabalho em grupo? Sim ( ) Não ( ) 2) Caso pudesse optar entre fazer um trabalho sozinho ou em grupo você escolheria: Em grupo ( ) Individual ( ) Depende da atividade ( ) Assinale para as questões 3, 4, 5 e 6 mais de uma alternativa por ordem crescente de preferência. 1- Muito importante/prefiro mais 2- ... 3- ... 4- Não é importante/prefiro menos 3) Você prefere grupos com quantos integrantes? 2( ) 3( ) 4 ( ) mais de 5 ( ) 4) Qual tipo de trabalho você mais gosta de fazer em grupo? Lúdicos (teatro, maquete) ( ) Discussão ( ) Escrito ( ) Atividades de Campo ( ) Outro ( )Qual_____________________ 5) Qual característica é mais importante para tornar o trabalho em grupo produtivo? A comunicação ( ) A amizade ( ) O modo que o grupo foi formado ( ) A orientação do professor ( ) 6) Quando você forma o grupo quais critérios você usa? Amizade ( ) Conhecimento do assunto ( ) Pessoas que saibam diferentes coisas ( ) Pessoas do mesmo sexo ( ) Pessoas do sexo oposto ( ) 33 7) Se você fosse o professor, como você formaria os grupos para uma atividade? Justifique. (sorteio, os alunos escolhem, o professor escolhe, outros) ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 8) Durante uma atividade, você percebe que alguns alunos não estão ajudando o grupo, o que você faria como professor, e como aluno? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 9)Em sua opinião, o trabalho em grupo contribui em algo para sua formação? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 10) Em sua opinião, como deveria ser avaliado o trabalho em grupo? (notas individuais, uma nota para o grupo, nota pelo processo, outros) ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ As questões 1, 2 e 3 têm como finalidade identificar a preferência da atividade em grupo ou individual dos alunos, e a quantidade de integrantes que os motiva à realização do mesmo. A questão 4 busca identificar quais as atividades que tornam o aluno motivado ou não, a realizar a atividade em grupo. Já a questão 5 procura verificar 34 quais características mais importantes para promover a cooperação e um desenvolvimento maior do grupo em prol da atividade. A questão 6 busca identificar quais critérios o aluno julga mais importante na hora de formar o grupo. As questões 7, 8, 9 e 10 busca apresentar situações aos alunos, e pedir que dissertem sobre qual seria a atitude deles durante a formação de grupo, diante da parcela de contribuição individual dos alunos na produção conjunta, a contribuição do mesmo para a sua formação e identificar qual seria a forma de avaliar mais adequada neste processo. Com a finalidade de refinar este instrumento de coleta de respostas mais fidedignas e coerentes possível com a proposta de pesquisa acerca de quais seriam as concepções dos alunos sobre o trabalho em grupo, foi realizada a aplicações piloto no Colégio Presbiteriano Mackenzie no 2º semestre de 2009 com 80 alunos do ensino médio, e mais recentemente no mês de março de 2010 com 20 alunos do 6º semestre do curso de licenciatura da Universidade presbiteriana Mackenzie após reformulação de algumas perguntas e inserção de outras a partir de orientações da professora Magda Medhat Pechliye. Vale apontar que durante o processo de contagem das respostas para análise, foram verificadas questões fechadas preenchidas de forma inesperada por alguns alunos, que repetiram as preferências nas alternativas e/ou deixaram de numerar outras. Enquanto que nas questões abertas, o aluno deixou de responder a questão proposta ou forneceu uma resposta que se enquadrava em várias das categorias criadas para a questão. O que acabou levando a uma discrepância numérica nos dados dos resultados que apresentaram valores maiores ou menores do que os esperados de 31 questionários aplicados. Por esta razão a quantificação e cálculo da porcentagem dos dados não foi realizada pelo número geral das respostas por perguntas, que seria de 31 respostas por item. Mas pelo número de amostras encontradas para cada item, pois as amostras possuíam quantidades diferentes de respostas, variando de 28 a 31 respostas. 35 Durante a análise das questões fechadas, foram utilizados somente os dados de escolha como 1º e 4º preferência pelos alunos em cada uma das alternativas. Pois as escolhas dos alunos como 2º e 3º preferência requeriam que lhe fossem atribuídas valores e significâncias relativas as outras características, tornando a análise qualitativa. Na análise das questões abertas, foram criadas categorias como forma de organizar os resultados obtidos, auxiliando durante a análise. Tais categorias foram criadas a partir da identificação da frequência com que palavras chaves contidas nas respostas apareciam, e agrupamento das comuns entre si, possibilitando criar categorias que se relacionassem tanto com as perguntas fechadas, quanto com o referencial teórico lido sobre trabalho em grupo. Garantindo maior rigor científico e menor parcialidade na interpretação das mesmas. 36 CAP. 3 RESULTADOS 1) Você gosta de trabalho em grupo? Sim ( ) Não ( ) 83,9 90 80 70 60 50 Sim 40 Não 16,1 30 20 10 0 Sim Não Gráfico 1. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 1 se eles gostam ou não de trabalho em grupo, 83,9% responderam que sim, e 16,1% que não. 2) Caso pudesse optar entre fazer um trabalho sozinho ou em grupo você escolheria: Em grupo ( ) Individual ( ) Depende da atividade ( ) 90 80,1 80 70 60 50 40 Em Grupo 30 Individual 20 13,3 Depende da Atividade 6,6 10 0 Em Grupo Individual Depende da Atividade Gráfico 2. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 2 se preferiam fazer trabalho em grupo ou individual, 80,1% respondeu que depende da atividade, 13,3% respondeu que preferem em grupo e 6,6% preferem fazer individualmente. 37 3) Você prefere grupos com quantos integrantes? 2( ) 3( ) 4 ( ) mais de 5 ( ) 74,1 80 70 60 50 40 30 43,3 43 30 27 25,8 20,1 2º Preferência 30 23,3 3º Preferência 17 20 10 1º Preferência 40 3,2 13,3 3,2 4º Preferência 10 3 0 2 Pessoas 3 Pessoas 4 Pessoas 5 ou mais Pessoas Gráfico 3. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 3 quantos integrantes eles preferem ao fazer um trabalho em grupo: 20,1% escolheram como 1º preferência o grupo com 2 pessoas; 23,3% escolheram como 1º preferência o grupo com 3 pessoas; 43,3% escolheram como 1º preferência o grupo com 4 pessoas; 13,3% escolheram como 1º preferência o grupo com 5 ou mais pessoas. 25,8% escolheram como 4º preferência o grupo com 2 pessoas; 3,2% escolheram como 4º preferência o grupo com 3 pessoas; 3,2% escolheram como 4º preferência o grupo com 4 pessoas; 74,1% escolheram como 4º preferência o grupo com 5 ou mais pessoas. 38 4) Qual tipo de trabalho você mais gosta de fazer em grupo? Lúdicos (teatro, maquete) ( ) Discussão ( ) Escrito ( ) Atividades de Campo ( ) Outro ( )Qual_____________________ 70 61 60 50 40 40 30 40 32,1 25,8 16,6 20 10 32,1 1º preferência 29 17,9 2º preferência 22,6 17,9 22,6 17,9 3º preferência 14 4º preferência 7,1 3,3 0 0 0 0 0 Lúdicos Discussão Escrito Atividades em Campo Outros Gráfico 4. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 4 qual tipo de atividade eles gostam de fazer em grupo: 40% responderam como 1º preferência as atividades em campo; 40% responderam como 1º preferência as atividades lúcidas; 16,6% responderam como 1º preferência as atividades com discussão; 0% responderam como 1º preferência as atividades escritas. 14% responderam como 4º preferência as atividades em campo; 7,1% responderam como 4º preferência as atividades lúdicas; 17,9% responderam como 4º preferência as atividades com discussão; 61% responderam como 4º preferência as atividades escritas. 39 5) Qual característica é mais importante para tornar o trabalho em grupo produtivo? A comunicação ( ) A amizade ( ) O modo que o grupo foi formado ( ) A orientação do professor ( ) 70 67,8 60 1º Preferência 35,5 40 30 48,3 46,4 50 28,6 22,6 19,3 20,721,4 22,6 24,1 3º Preferência 19,3 20 10 6,9 2º Preferência 4º Preferência 9,7 3,6 3,2 0 Comunicação Amizade Modo que foi formado Orientação do professor Gráfico 5. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 5 qual a característica mais importante para tornar o trabalho em grupo produtivo: 67,8% responderam como 1º preferência a comunicação; 19,3% responderam como 1º preferência a amizade; 9,7% responderam como 1º preferência o modo como foi formado; 3,2% responderam como 1º preferência a orientação do professor. 3,6% responderam como 4º preferência a comunicação; 21,4% responderam como 4º preferência a amizade; 46,4% responderam como 4º preferência o modo como foi formado; 28,6% responderam como 4º preferência a orientação do professor. . 40 6) Quando você forma o grupo quais critérios você usa? Amizade ( ) Conhecimento do assunto ( ) Pessoas que saibam diferentes coisas ( ) Pessoas do mesmo sexo ( ) Pessoas do sexo oposto ( ) 70 67,8 60 56,2 53,6 50 40 30 20 10 0 48,7 43,6 50 37,5 32,1 1º preferência 25 17,9 14,3 2,6 0 19,3 2º preferência 5,1 0 9,7 6,3 0 0 0 3,6 3,2 3,6 3º preferência 0 4º preferência 5º preferência Gráfico 6. Ao perguntarmos aos licenciandos na questão 6 quais critérios ele usa para formar o grupo: 67,8% responderam como 1º preferência a amizade; 19,3% responderam como 1º preferência a conhecimento do assunto; 9,7% responderam como 1º preferência pessoas que saibam diferentes coisas; 0% responderam como 1º preferência pessoas do mesmo sexo; 3,2% responderam como 1º preferência o sexo oposto. 0% responderam como 5º preferência a amizade; 0% responderam como 5º preferência a conhecimento do assunto; 6,3% responderam como 5º preferência pessoas que saibam diferentes coisas; 56,2% responderam como 5º preferência pessoas do mesmo sexo; 37,5% responderam como 5º preferência o sexo oposto. 41 7) Se você fosse o professor, como você formaria os grupos para uma atividade? Justifique. (sorteio, os alunos escolhem, o professor escolhe, outros) CATEGORIAS FREQUÊNCIA (%) Aluno forma 35,5 Aluno forma/ professor interfere antes 3,2 Aluno forma/ professor interfere depois 19,4 Professor forma 3,2 Sorteio 12,9 Depende da atividade 25,8 Tabela 1. Tabela representando a frequência de respostas coletadas na questão 7, ao questioná-los como eles formariam o grupo na posição de professor. 8) Durante uma atividade, você percebe que alguns alunos não estão ajudando o grupo, o que você faria como professor, e como aluno? PROFESSOR CATEGORIAS Conversar e Resolver Advertiria Conversaria e tiraria nota Mudaria o aluno de grupo Nada,o grupo que deve resolver FREQUÊNCIA (%) 51,6 3,2 9,7 25,8 9,7 ALUNO CATEGORIAS Nada Tiraria do grupo Trocaria de grupo Conversaria Não colocaria seu nome Brigaria com ele FREQUÊNCIA (%) 16,3 6,4 6,4 54,8 6,4 9,7 Tabela 2. Gráfico representando a frequência de respostas coletadas na questão 8 em como o aluno agiria na posição de professor, e aluno, ao perceber que alguns alunos não estão ajudando o grupo. 42 9)Em sua opinião, o trabalho em grupo contribui em algo para sua formação? SIM CATEGORIAS FREQUÊNCIA (%) Aceitar opiniões, experiências e ideias diferentes Saber trabalhar em grupo Facilitar o processo da atividade 70,1 20,3 6,4 NÃO CATEGORIAS FREQUÊNCIA (%) Pois o trabalho é sempre dividido errado 3,2 Tabela 3. Gráfico representando a frequência de respostas coletadas na questão 9 ao perguntar aos alunos se o trabalho em grupo contribuía em algo a sua formação. Caso a resposta fosse sim, qual seria esta contribuição. 10) Em sua opinião, como deveria ser avaliado o trabalho em grupo? (notas individuais, uma nota para o grupo, nota pelo processo, outros) CATEGORIAS Notas Individuais Notas para o grupo Notas pelo processo Auto-avaliação Conjunto de Avaliações Depende do local/ da atividade Nota pelo processo e individual Nota pelo processo e grupo Nota para o grupo e individual FREQUÊNCIA (%) 9,7 16,2 9,7 6,4 22,5 9,7 6,4 6,4 13 Tabela 4. Gráfico representando a frequência de respostas coletadas na questão 10 ao perguntar ao aluno como deveria ser realizada a avaliação do trabalho em grupo. 43 CAP. 4 ANÁLISE Na questão 1 vemos que 16,1% dos alunos disseram não gostar de trabalhos feitos em grupo, enquanto que 83,9% disseram ser favoráveis ao mesmo. Porém na hora de optar pelo trabalho individual ou em grupo, vemos na questão 2 que os alunos levam mais em conta o tipo de atividade a ser aplicada com 80,1%. Devemos considerar ambos os processos como essenciais, pois de acordo com Martins et al., (2009), a articulação entre os trabalhos individuais e grupais se dá de forma complementar, onde podemos atribuir diferentes valores a ambas dependendo de como será o processo. Pois não é a quantidade de atividades em grupo ou individual que determinarão a aprendizagem do aluno, mas a sua natureza (COLL, 2002). Novamente na questão 1 vemos que 83,9% dos alunos gostam das atividades grupais e na questão 4, 40% preferem as atividades em campo e lúdicos. Estas preferências talvez apareçam porque de acordo com Zabala (1998) e Coll (2002), estas atividades fogem do aspecto tradicional por não haver somente uma resposta correta, e a interação social entre os alunos ser vista como positivas no processo de ensino-aprendizagem. A relação de ensino não passa mais a ser vista como os alunos representando uma esponja ou um vaso onde o professor detentor da informação coloca o conhecimento, mas sim como uma construção compartilhada numa via de mão dupla entre os alunos e o professor. Relacionada à preferência de 83,9% dos alunos pelo trabalho em grupo na questão 1, observamos na questão 2 a preferência de 80,1% dos alunos pela atividade em grupo ou individual dependente da atividade. De acordo com Zabala (1998), quando uma tarefa é imposta ao aluno e ele não entende o que faz, porque o faz ou quais seus benefícios em sua formação, a atividade perde o sentido para ele que acaba não se filiando a proposta. Podemos talvez inferir que por isso, há uma divisão de tarefas indevida, pois os alunos passam a realizar as tarefas individualmente para posteriormente agrupá-las, 44 Martins et al. (2000) diz que a divisão de tarefas deve existir, mas elas devem ser feitas em grupo, promovendo a construção conjunta do conhecimento. Podemos talvez constatar isto através das respostas do aluno 1 e 21 respectivamente na questão 9 quando questionado se o trabalho em grupo contribuía em algo para a sua formação, as respostas obtidas foram: “não muito, pois sempre as tarefas são divididas”, “Sim, pois ele ensina a dividir tarefas tendo uma noção do aspecto geral”. Podemos ainda inferir que a preferência na questão 6 pela amizade com 67,8% como critério principal para a formação do grupo poderia facilitar esta divisão indevida de tarefas, pois de acordo com Zabala (1998), a existência de um grupo afetivo favorece uma comunicação mais acessível para a convivência, e uma gestão de papéis específicos menos conflituosa e mais cômodo dentro do grupo. Esta divisão indevida de tarefas talvez seja a mesma descrita por Heldman (2003) chamada de “ACORDO”, nesta há a negociação de itens entre os alunos que abrem a mão de alguns itens e tomam para si a posse de outros da forma menos conflituosa possível. Martins et al. (2009) diz que cabe ao professor realizar um planejamento e um acompanhamento minucioso das responsabilidades e produções individuais do grupo, impedindo que haja uma divisão indevida onde apenas um integrante faz todo o trabalho ou cada um faz sua parte individualmente, e depois as reúnem, sem que haja a construção conjunta. Diante disto talvez possamos dizer que na questão 4 a 4º preferência pelos grupos com mais de 5, esteja ligada ao fato de grupos grandes dificultarem a divisão e coordenação de tarefas no grupo, deixando-se de ser mais cômodo e fácil. Pois de acordo com Coll (2002), grupos maiores provavelmente apresentariam uma heterogeneidade maior, e como conseqüência, um número de conflitos e divergências de idéias e concepções maiores, que se não trabalhadas corretamente podem facilmente se tornar em empecilhos para a produção conjunta do grupo. Já na questão 4 a 3º preferência pelos grupos com 2 pessoas de 74,1%, poderia estar vinculada ao fato de não conseguir agrupar todo o círculo ou grupo de amigos que querem estar juntos durante a realização do trabalho em grupo, e que os forçaria a se separarem em grupos diferentes. Isto lhes traria desconforto e descontentamento pois o grupo presta um auxilio ao adolescente que passa por um processo de adaptação no meio escolar, ao desenvolver-se intelectualmente e 45 estruturalmente num momento de intensos conflitos internos de reavaliação e reconstrução de sua identidade, concepções e práticas (MINICUCCI, 2002 e CONTRERAS, 1999). Relacionado a estes, os grupos de 4 pessoas escolhidos como 1º preferência com 43,3%, e de 3 pessoas com 23,3%, parecem atender ambas as necessidades do grupo e por isso, podem ter se estabelecido como as mais preferidas pelos alunos. Laughlin et al. (2006) diz que grupos de duas pessoas não diferem significativamente de uma atividade com pessoas trabalhando individualmente, porém agrupamentos com três, quatro e cinco integrantes que trabalham de forma cooperativa são superiores ao trabalho individual, favorecendo a construção compartilhada de conhecimentos do grupo. Na questão 4 observamos uma preferência de 16,6% pelas atividades de discussão, talvez possamos dizer que a pouca preferência pela discussão esteja ligada a concepções negativas dos alunos sobre as discussões e os conflitos, mesmo que não entendam que estes são parte natural e integrante de todo processo de ensino-aprendizagem de grupos com indivíduos heterogêneos, e necessários para a construção conjunta (CONTRERAS, 1999). Ainda na questão 4, as preferências de 40% pelas atividades em campo e 40% pelas lúdicas, e de 61% como 4º preferência pelas atividades escritas podem estar ligadas ao fato da atividade escrita envolver a árdua tarefa de fazer o aluno sair de sua zona de conforto e encarar os conflitos de ideias e concepções diferentes através da reestruturação de concepções e ideias pelo grupo. Objetivando assim a reelaboração das ideias individuais por uma conjunta através da aceitação, do consenso do e respeito mútuo (GAYOTTO, 2002). Enquanto que as atividades lúdicas e em campo, não apresentam apenas uma resposta, ou ideia, correta, o que poderia tornar a realização da atividade mais prazerosa, pela menor quantidade de conflitos que normalmente dão lugar a divergências de opiniões e visões diferentes (COLL, 2002). Na questão 9, 70,1% disseram que a contribuição do trabalho em grupo para sua formação seria de aceitar opiniões, experiências e ideias diferentes. Porém na questão 6 na hora de formar os grupos, os alunos optam pela amizade com 67,8% 46 de preferência, ou por alguém que já tenha conhecimento do assunto com 19,3%, ao invés do grupo com pessoas que saibam coisas diferentes com 9,7%. Aqui poderíamos imaginar que os alunos abrem mão do trabalho em grupo efetivo, baseado na construção conjunta através da superação de conflitos com pessoas que saibam diferentes coisas, ao valorizar mais a amizade. Talvez os alunos considerem o grupo de amizade suficientemente heterogêneo para que haja este processo de construção conjunta, e para Coll (2002) a heterogeneidade deve ser valorizada, pois não é necessário e nem recomendável que todos compartilhem de certa homogeneidade, ou que um dos participantes já saiba ou domine a solução. Porém os grupos reunidos por afinidade ou um fio comum não são tão heterogêneos quanto um grupo compostos de indivíduos com criações, gostos, valores e concepções diferentes (MINICUCCI 2002). Por isso é importante explicitarmos o que deve ser valorizado ou não dentro do trabalho em grupo, trazendo a consciência do aluno que esta heterogeneidade talvez não seja suficiente para que haja uma garantia de êxito na aprendizagem em algumas atividades (COLL, 2002). Podemos observar na questão 5 a escolha dos alunos como 4º preferência com 46,4% no modo como foi formado o grupo para tornar o trabalho em grupo efetivo, e na questão 7 a baixa frequência de 12,9% na escolha dos professores pelo sorteio como forma de agrupar os alunos, talvez possamos inferir que os alunos apenas seguem o modelo apropriado dos professores, pois se o professor não apresentar critérios na hora de formar os grupos e acabar optando pelo mais cômodo e menos conflituoso (técnica de erro e acerto), os alunos também não saberão o que valorizar neste processo para torná-lo efetivo, por isso não tomarão como propriedade a formação de grupo consciente, e passarão a se apropriar do referencial que o professor passa de como agrupar. Zabala (1998) e Coll (2002) dizem que os alunos provavelmente irão agrupar-se e dividir as tarefas de forma indevida, mais fácil e cômoda, pois não vêem ou valorizam como positivo o processo de transformar conflitos em controvérsias de forma conjunta e construtiva. Zabala (1998) e Martins et al. (2006) dizem que é necessário o professor explicitar ao aluno o porquê, os objetivos, quais foram nossos critérios e razões do agrupamento, sua importância, benefícios, quais características devem ser trabalhadas para que se ofereça êxito e os produtos que se espera desta atividade, não somente conceituais, mas atitudinais, procedimentais e comportamentais também. Pois desta forma a 47 atividade ganha sentido e se torna relevante ao aluno que vê agora um objetivo e um fim esperado. Observamos na questão 7 uma preferência grande aos alunos que dizem que a atividade modula a forma como o grupo deve ser agrupado com 25,8%. Porém na questão 5 vemos uma baixa importância no modo como o grupo foi formado para tornar o trabalho produtivo com 9,7%, e uma frequência de 67,8% para a comunicação como características mais importantes para tornar o trabalho em grupo produtivo. Parece que os alunos entendem que cada atividade requer uma forma de agrupamento diferente dependendo dos objetivos a serem almejados, porém, não tem consciência da real importância de como “o modo como o grupo foi formado” influencia na atividade, contanto que haja comunicação entre o grupo. Autores como, Minicucci (2002) e Contreras (1999) discutem sobre a necessidade da valorização das variáveis que modulam os processos de ensino-aprendizagem dependendo da atividade e dos objetivos propostos ao aluno. Não basta apenas os colocarmos um do lado do outro permitindo que interajam e apresentem resultados favoráveis. As formas como se dão as relações entre alunos, o professor, e a construção do conhecimento é de primaz importância no processo de ensinoaprendizagem quando estabelecidas situações de interações favoráveis (COLL, 2002). Na questão 7 com 35,5% de preferência pela montagem dos grupos pelos alunos. Talvez quando os alunos têm a possibilidade de definir as atividades, há uma maior significação e autoria por eles, que os motiva e leva a produzirem resultados melhores (HELDMAN, 2003 e Zabala, 1998). Cabendo ao professor avaliar a necessidade de valorizar aspectos que leve o aluno a sentir-se a vontade durante a tarefa com o grupo para que se filie a atividade proposta e produza resultados melhores (CONTRERAS, 1999). Na questão 7 podemos relacionar a frequência de 35,5% na escolha dos alunos como responsáveis por formar o grupo, e apenas 3,2% para o professor os agrupar. A frequência de 67,8% na escolha da amizade como característica para tornar o trabalho em grupo produtivo. 48 Como analisamos anteriormente, os professores talvez não possuam critérios na hora de agrupar, mas quando o fazem, eles agrupam os alunos de forma diferente da qual estão normalmente habituados para que possam aceitar opiniões, experiências e idéias diferentes. Esta forma de agrupamento os tiraria do seu grupo de apoio relativamente homogêneo colocando-o num grupo heterogêneo, com diferentes idéias, concepções e valores. De acordo com Coll (2002), quanto mais heterogêneo com relação à personalidade, sexo, aptidões, conhecimentos prévios e outros, maior a chance de que surjam conflitos e controvérsias. Heldman (2003) e Contreras (1999) dizem ser de grande importância a explicitação aos alunos da necessidade de encarar, e transformar estes conflitos em controvérsias de forma construtiva, trabalhando a autonomia dos alunos, pois senão eles irão preferir retornar ao grupo de amizade dele e não obterão um aproveitamento maior das atividades. Talvez possamos constatar esta concepção do aluno com a resposta do aluno 5 na questão 9: “Um trabalho em grupo deve ter o foco em ajudar o desenvolvimento do tema por diferentes pontos de vista, apesar de particularmente não gostar, acredito que pessoas diferentes acrescentam conhecimentos diferentes” A questão 5 indicando uma frequência de 9,7% no modo como o grupo foi formado para tornar o trabalho em grupo produtivo, relacionada às frequências na questão 7 de 3,2% e 19,4% indicando a interferência do professor na formação dos grupos antes e depois. Podem indicar que talvez não haja uma verdadeira relação de respeito mutuo entre o professor e os alunos, que promove uma autonomia disfarçada ao aluno quando vê seu grupo sendo mudado caso o professor não tenha gostado da forma do agrupamento. Para Coll (2002), Martins et al. (2009) e Zabala (1998), o professor deve intervir nas atividades tomando ações de construção orientadas para trabalhar o controle e autonomia do aluno, e não para opor-se a ela. É indispensável que neste processo, haja um respeito mútuo dos professores que sinceramente acreditem na capacidade dos alunos, e os permitam se expressar sobre suas preferências e refletir acerca destas, identificando suas limitações ou afinidades. Podemos observar como 4º preferência de 13,7% e 15,3% a formação de grupo baseada nas pessoas do mesmo sexo e de sexo diferente respectivamente. E talvez possamos dizer de acordo com Minicucci (2002) que a razão pelo qual os 49 alunos mais velhos envolvidos com um curso de formação de professores talvez não levem mais tanto em conta a ausência da homogeneidade, é porque já estabeleceram sua personalidade e autonomia, permitindo que se relacionem mais facilmente com pessoas de grupos diferentes. E isto não acaba se tornando em um empecilho para a realização da tarefa. Porém educação é específica para indivíduos menores que assumem ao trabalho em grupo a função de auxiliá-lo na busca de sua identidade, e por isso se acabam se apegando muito a formação do grupo homogêneo, comum a eles, ou seja, os meninos se agrupam com meninos e as meninas com as meninas. Na questão 8 vemos que na posição de professores, 25,8% dos alunos optariam por trocar o aluno que não estivesse ajudando o grupo. E na questão 9 podemos observar uma frequência de 70,1% dos alunos que dizem que a importância do trabalho em grupo é de aceitar opiniões, experiências e ideias diferentes. De acordo com Martins et al. (2009) a razão pela qual os alunos valorizam tanto a importância do trabalho em grupo como sendo a de aprender a trabalhar com outras pessoas e de aceitar opiniões, experiências e ideias diferentes, porém consideram como efetiva a opção de tirar o aluno do grupo, é porque os alunos não enxergam estes conflitos como oportunidades para serem trabalhados com o grupo como forma de ensiná-los a lidar conjuntamente com as diferenças. Mas enxergam os conflitos como fator negativo a produção conjunta, que deve ser extirpado e evitado a todo custo, retirando o elemento perturbador antes mesmo de tentar entender o porquê de ele não estar cooperando na atividade. Heldman (2003) descreve duas formas de resolução de conflitos que são consideradas como sendo a mais negativa e a mais eficiente possível para o processo de ensino-aprendizagem dos envolvidos. A “RETIRADA” ocorre quando uma das partes se recusa a discutir sobre o conflito, ou se retira do grupo que está, esta resolução não leva a uma solução permanente, e é apenas um modo temporário e ineficiente de resolver os conflitos. A outra resolução seria a de “CONFRONTAÇÃO”, pois os indivíduos envolvidos buscam juntos por apenas uma solução que inevitavelmente se apresentará como a mais correta e transparente, resultando na unanimidade pela sua escolha. 50 Na questão 8, tanto na posição de professor como de aluno, vemos uma frequência de 51,6% e 54,8% respectivamente, dos alunos que dizem que optariam por conversar para resolver uma situação de problema dentro do grupo. Esta quando relacionada com a preferência de 67,8% pela comunicação na questão 5 como fator importante para tornar o trabalho em grupo produtivo e a preferência pela amizade na hora de formar os grupos com uma frequência de67,8%, pode talvez nos levar a inferir que estes canais de comunicação estabelecidos não sejam baseados no respeito, aceitação, confiança, mas se assemelhe mais a comunicação afetiva descrita por Zabala (1998), que diz que favorece uma comunicação mais acessível, e por isso uma gestão tarefas e conflitos mais fácil e cômoda dentro do grupo, reduzindo a comunicação e as interações entre o grupo a encontros para apaziguar conflitos ou dividis menos conflituosamente as tarefas entre os indivíduos. Heldman (2009) descreve a resolução de conflitos chamada de “ACORDO”, nesta há a simples negociação de itens entre os alunos que optam sem divergência pelo que mais lhe agrada ou não, caso haja resistência por parte de outro aluno ao mesmo item, o aluno então optaria pela “RETIRADA” do conflito por ser mais fácil e confortável para ele. Na questão 10 pudemos observar que 22,5% dos alunos acreditam que a avaliação do aluno deve ser feita com um conjunto de avaliações, porém 9,7%, 16,2%, 9,7%, 6,4% dos alunos acreditam que a avaliação deva ser feita somente com notas individuais, para o grupo, pelo processo ou através da auto-avaliação respectivamente. Podemos também relacionar com as respostas dos alunos na questão 10: Aluno 8: “Quando fosse feito em casa a nota seria obtida individualmente. Já na sala de aula, onde eu observaria os alunos, a nota seria para o grupo.” Aluno 30: Depende do trabalho, mas no geral, se é um grupo então o grupo que tem que ser avaliado, porque se a avaliação for individual, não vai estimular a conversação entre os integrantes e a proposta seria perdida.” Aluno 9: Nota para o grupo, pois espera-se que este trabalho tenha um “produto final”, e este foi feito por todos (ou pelo menos espera-se isso).” 51 Os alunos parecem ter variadas concepções relacionadas ao valor da avaliação no trabalho em grupo, e sobre quais características ele deve ou não valorizar dentro do mesmo talvez por não possuírem critérios ao analisar o trabalho e o próprio professor não tê-las explicitado e explicado a importância para eles. Alguns atribuem à nota um valor de troca, para que haja o estímulo de conversa entre os integrantes, outros acreditam que o aluno não tem autonomia para realizar o trabalho corretamente, e para isso seria necessário um fiscal, o professor, outros somente consideram importante avaliar o produto final do grupo, sem considerar como ocorreu o processo do mesmo. Autores como Coll (2002), Zabala (1998), Minicucci (2002) e Contreras (1999) discutem sobre a importância de valorização de critérios que permitam uma avaliação não só do produto final, mas do processo como um todo. Deve-se considerar o ponto de partida, o processo e o resultado final pelo qual passaram em grupo e individualmente, afinal cada aluno tem um desenvolvimento único e pessoal. Na busca da formação da autonomia do aluno deve-se incentivar a auto-avaliação das competências, superações de obstáculos, consciência de suas performances, como foram ajudados e como ajudaram transpondo a simples avaliação conceitual e passando a abranger igualmente os conteúdos atitudinais. E através deste talvez afastar-se da idéia que o professor deve vigiar os alunos ou utilizar de moedas de troca para que as interações ocorram efetivamente (ZABALA, 1998); (HELDMAN, 2003). 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS Parece que importantes relações foram traçadas entre as concepções do aluno e características envolvidas com o trabalho em grupo, observando que muitas das concepções dos alunos se assemelham as de um trabalho em grupo efetivo, porém não tem consciência do processo, do que valorizar, do que trabalhar e muitas vezes o fazem mecanicamente por modelos incorporados da técnica de “erro e acerto”. Talvez reflexões interessantes tenham sido realizadas a respeito das preferências dos alunos e suas concepções sobre o trabalho em grupo efetivo, ao observarmos que muitas vezes os alunos optam pelo mais cômodo e fácil, abrindo mão de um trabalho em grupo realmente contraditório que traria um debate e discussão maior de idéias, concepções e experiências diferentes. É necessária maior investigação que venham a elucidar como este processo efetivamente ocorre, e como a influência da concepção dos professores e dos alunos influencia neste processo. Maiores investigações também podem ser interessantes com o objetivo de identificar como a concepção que o professor tem sobre o trabalho em grupo influencia os alunos. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBIGENOR e MILITÃO. R. Jogos,dinâmicas e vivencias grupais, como desenvolver sua melhor “técnica” em atividades grupais São Paulo, Quality Mark Editora. 2009 p.22-29. COLL, C. 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APÊNDICE A 56 Estou ciente do conteúdo da Monografia “REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO EM GRUPO COM LICENCIANDOS DE UMA UNIVERSIDADE PARTICULAR” ________________________________________________ Prof. Dr. Magda Medhat Pechliye (Orientadora – Universidade Presbiteriana Mackenzie - CCBS) _________________________________________________ Eduardo Ferreira Abrahão (Aluno – Código de Matrícula 4073389-0) Junho/2010