FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Unidade IV EDUCAÇÃO, CULTURA E FILOSOFIA 13 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Será que toda teoria pedagógica pressupõe uma teoria epistemológica? Será que todo professor na sua atuação prática faz uso de uma teoria do conhecimento? Pode-se afirmar que toda teoria pedagógica pressupõe uma teoria epistemológica, a qual o professor faz uso, mesmo que ele não tenha consciência disso. Ou seja, mesmo que o professor não saiba qual teoria do conhecimento sustenta sua práxis pedagógica, ele faz-se uso de alguma, ainda que isso não seja lhe seja claro. Isso porque o ato de educar pressupõe a quem educar e como educar. Quem eu vou educar já sabe alguma coisa? Quem eu vou educar não sabe nada, é como uma lousa em branco? Se eu concebo meu aluno como uma lousa em branco, eu, professor, serei o transmissor exclusivo do conhecimento. Se eu não concebo meu aluno como uma lousa em branco, meu procedimento deverá ser diferente. Epistemologia: reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa). 13.1 Empirismo e a pedagogia diretiva Na pedagogia diretiva, o professor é o centro do processo de conhecimento. Ele é o portador do conhecimento que deve ser transmitido aos alunos. O aluno é concebido como uma lousa em branco, como uma tabula rasa ou mesmo um balde vazio, que deverá ser preenchido com os conhecimentos transmitidos pelo professor. A epistemologia que sustenta essa prática é a do empirismo. Nessa concepção, o indivíduo nasce como uma folha em branco, que será preenchida no seu contato como o meio físico e social. Na escola, quem representa os conhecimentos, conteúdos e valores a serem transmitidos são os professores. Daí que, na relação sujeito e objeto, o professor é o sujeito do processo de conhecimento, o detentor do conhecimento, e o aluno, o não sujeito ou um sujeito ainda não dotado de conhecimento. Dessa forma, tanto o conteúdo dos conhecimentos quanto a capacidade do aluno de conhecer vem do meio físico ou social. O professor é o agente do conhecimento e considera seu aluno como uma folha em branco, não apenas quando nasceu ou quando chegou à escola, mas sempre que inicia um novo conteúdo da 65 Unidade IV matéria (Becker, 2001, p. 17). Dessa forma, cabe ao professor transmitir os conhecimentos e depois avaliar, medindo o “nível de conhecimento” que foi transferido aos alunos (Machado, 2004, p. 16). Essa relação epistemológica é caracterizada pela passividade dos alunos, já que eles devem ficar sentados, enfileirados, em silêncio, prestando atenção para, assim, obterem o conhecimento transmitido pelo professor. Tal modelo epistemológico favorece a reprodução da ideologia e a manutenção do status quo, ou seja, da situação existente, uma vez que não há incentivo ao questionamento, à reflexão e à criatividade (Becker, 2001, p. 18). 13.2 Apriorismo e a pedagogia não diretiva A concepção pedagógica não diretiva ou apriorista, do ponto de vista epistemológico, apoia-se na concepção idealista que admite a existência de ideias inatas no indivíduo. Na pedagogia não diretiva, o aluno é o centro do processo de conhecimento, e o professor é um mediador, um facilitador da aprendizagem. O aluno é concebido como sendo dotado de potencialidades inatas, por sua bagagem genética. Cabe ao professor despertar o que cada um já tem em potência. O aluno aprende não porque o professor ensina, mas porque ele já nasceu com o dom de aprender, ou seja, a inteligência é algo dado a priori, nasce com o aluno e necessita ser desenvolvida. Cabe ao professor auxiliar, ajudando a despertar o conhecimento já existente no aluno. Se na concepção anterior, o professor era o centro do processo e seu poder e autoridade eram legitimados pelo modelo epistemológico, aqui isso já não poderia ocorrer. Por outro lado, já que o modelo epistemológico não legitima o poder do professor, esse poder acaba, em geral, assumindo uma forma mais dissimulada e perversa que no modelo tradicional (idem, p. 21). Segundo Becker, essa mesma epistemologia, que concebe o ser humano como dotado de um saber “de nascença”, conceberá, também, dependendo das conveniências, um ser humano desprovido da mesma capacidade, “deficitário”. Esse “déficit”, porém, não tem causa externa; sua origem é hereditária. Onde se detecta maior incidência de dificuldades ou retardos de aprendizagem? Entre os miseráveis, os malnutridos, os pobres, os marginalizados (...). A criança marginalizada, entregue a si mesma, em uma sala de aula não diretiva, produzirá, com alta probabilidade, menos, em termos de conhecimento, que uma criança de classe média ou alta. Trata-se, aqui, de acordo com o apriorismo, de déficit herdado; epistemologicamente legitimado, portanto (idem, p. 22). 13.3 Construtivismo e a pedagogia relacional Na pedagogia relacional ou construtivista, os polos sujeito-objeto, aluno-professor não estão dicotomizados, conforme exposto nas teorias anteriores. Nessa concepção, o conhecimento não é visto como algo que vem do exterior para o interior, como na tendência com base no empirismo, ou como algo dado de forma inata, como na tendência com base no apriorismo.1 O termo inato indica uma ordem psicológica, significa o que já nasce com o indivíduo. Já o termo a priori, indica uma ordem lógica do conhecimento, significa o que é anterior à experiência. 1 66 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Na pedagogia construtivista, o conhecimento é algo concebido como uma construção contínua, realizada na interação entre sujeito e objeto. Tanto a bagagem hereditária quanto o meio social são importantes para o processo de conhecimento, mas nenhum desses fatores pode assumir uma independência em relação ao outro. Desde que nasce, a criança irá, na sua relação com o meio, construir conhecimento por meio de um processo que altera mobilidade e estabilidade, avançando sempre a novos equilíbrios mais consistentes que os anteriores. Segundo Becker, o professor construtivista não acredita na tese de que a mente do aluno é tabula rasa, isto é, que o aluno, frente a um conhecimento novo, seja totalmente ignorante e tenha de aprender tudo da estaca zero, não importando o estágio do desenvolvimento em que se encontre. Ele acredita que tudo o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta se abrirá para o novo conhecimento – é só questão de descobri-la; ele descobre isso por construção (idem, p. 24). 14 CULTURA E EDUCAÇÃO2 O que é cultura? Em um sentido amplo e antropológico, podemos entender por cultura toda produção que o ser humano realiza ao construir sua existência, seja produção material ou espiritual. Por exemplo, em uma tribo indígena, seus utensílios, suas armas, suas moradias, suas crenças, sua língua, seus mitos fazem parte da sua cultura. Daí falarmos em cultura tupi-guarani, em cultura chinesa, em cultura brasileira, entre outras. Quando se pensa no mundo humano, costuma-se fazer uma primeira e grosseira divisão entre “sociedades primitivas” e “sociedades civilizadas”. Tanto entre as “sociedades primitivas” quanto entre as “sociedades civilizadas”, os grupos que as compõem são muito diversos e diferentes em relação às suas crenças e aos seus costumes. Tal questão se deve ao fato de cada grupo humano (primitivo ou civilizado) possuir uma cultura própria para sobreviver. Sem cultura,3 um grupo humano não sobrevive. É do interesse do grupo que a cultura não pereça nem seja esquecida. Para isso, é preciso que seja transmitida para as gerações mais jovens a cultura adquirida pelas gerações adultas. A cultura deve ser aprendida, e esse é o caráter mais geral e fundamental de uma cultura. Essa transmissão da cultura é feita pela educação (Abbagnano; Visalberghi, 1999, p. 11). Mesmo que as sociedades primitivas não possuam escolas tal como a concebemos, elas possuem um processo educativo. Tal processo é informal, e a aprendizagem se dá nas várias atividades cotidianas do grupo. Assim, pode-se afirmar que a educação não tem uma única forma, mas sim que pode assumir diferentes formas de acordo com o grau de desenvolvimento dos grupos: O texto desse item foi extraído do capítulo IV de Fernandes (2006). Segundo Abbagnano e Visalberghi: “(...) por ‘cultura’ entenderemos o conjunto de técnicas de uso, de produção e de comportamento, mediante os quais um grupo de homens pode satisfazer suas necessidades (...). Em resumo, uma cultura é o conjunto das faculdades e habilidades não puramente instintivas de que dispõe um grupo de homens para manter-se vivo singular e coletivamente (quer dizer, em grupo)” (1999, p. 11). 2 3 67 Unidade IV Mas em essência é sempre a mesma coisa, isto é, a transmissão da cultura do grupo de uma geração a outra, dádiva pela qual as novas gerações adquirem a habilidade necessária para manejar as técnicas que condicionam a sobrevivência do grupo (idem, 1999, p. 12). Nas sociedades primitivas, suas técnicas culturais de comportamento, de sobrevivência, acabam por adquirir um caráter sacro. Os ritos que acompanham várias de suas atividades servem para garantir a repetição das técnicas tradicionais, de forma que elas não sejam esquecidas nem modificadas. De acordo com Abbagnano e Visalberghi (1999), quanto mais difícil para o grupo é a transmissão e conservação de sua cultura, maior a tendência de atribuir um caráter sacro a cada elemento do seu patrimônio cultural e, dessa forma, adotar uma postura conservadora ao extremo em relação aos elementos da sua cultura, imprimindo, assim, um caráter estático à mesma. Já as sociedades denominadas de secundárias são mais permeáveis às mudanças. Segundo os autores, “(...) são aquelas cuja cultura está aberta às inovações e possui instrumentos aptos para fazer-lhes frente, compreendê-las e utilizá-las” (idem, p. 13). É por meio do saber racional que estas últimas podem enfrentar o duplo problema da conservação e da renovação dos elementos culturais considerados válidos na sua sociedade. Segundo expõe Jaeger (2001), em Paideia, “a educação é uma função tão natural e universal da comunidade humana, que por sua mesma evidência tarda muito tempo em chegar à plena consciência daqueles que a recebem e a praticam” (p. 19). Ou seja, embora a educação ocorra em várias épocas e lugares de modo difuso e informal, a plena consciência de seu processo é um fruto tardio. O ser humano é um ser que precisa ser socializado para sobreviver. Desde que nasce, ele é submetido a um constante processo de aprendizagem por meio da educação informal. Por intermédio da família, da comunidade, da igreja, dos meios de comunicação etc., as pessoas vão tomando contato com os conhecimentos e valores de sua sociedade; quais são os comportamentos adequados a sua idade, a seu sexo, a sua classe social etc. Então, podemos dizer que mesmo em sociedades em que não há escolas, existe educação, uma educação informal. À medida que a sociedade vai se tornando mais complexa e começa a lidar com questões como produção, divisão do trabalho e, relacionada a esta, a questão do poder, é que a educação vai, segundo Brandão (1994), sendo vista como um problema. A partir do momento em que a educação é concebida como um problema, faz-se necessário refletir sobre sua prática. A busca de como lidar com a transmissão do saber vai levando paulatinamente à instituição dos meios necessários para tal fim. Dessa forma, a educação formal surge quando as sociedades vão se tornando mais complexas e há a necessidade de organizar a transmissão dos conhecimentos em lugar específico, como a escola. 15 DIVERSOS TIPOS DE CULTURA Podemos definir cultura em um sentido amplo e antropológico, conforme foi abordado anteriormente, significando tudo que o ser humano produz ao construir sua existência. Assim, diferentes povos criam suas próprias e diferentes culturas. Já, em sentido restrito, podemos entender por cultura as diversas 68 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO produções intelectuais realizadas por um povo e expressas na arte, filosofia, ciência, religião, enfim, nas diversas obras espirituais. Nesse sentido, falamos em cultura erudita, cultura popular, cultura de massa, cultura popular individualizada. A cultura erudita, segundo Aranha (2006, p. 61), é a produção elaborada, acadêmica, centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade, também conhecida como cultura de elite ou alta cultura, por ser produzida por uma minoria de intelectuais das mais diversas especialidades (escritores, artistas em geral, cientistas, tecnólogos). Esse tipo de cultura implica elevado rigor na sua produção e, devido a isso, acaba se restringindo a um público reduzido. Em geral, em sociedades desiguais, a maioria das pessoas não tem oportunidade e/ou não são incentivadas a participarem, tanto da produção como do consumo desse tipo de cultura. A cultura popular possui um conceito complexo, mas, de um modo geral, consiste na cultura anônima produzida pelos habitantes do campo, das cidades do interior ou pela população suburbana das grandes cidades. No sentido mais comum, a cultura popular é identificada ao folclore, que constitui o conjunto de lendas, contos, provérbios, práticas e concepções transmitido oralmente pela tradição (idem, p. 62). Isso não significa que o folclore seja uma realidade pronta imutável, porque toda cultura implica certa dinâmica, implica transformação. A cultura de massa, por sua vez, resulta dos meios de comunicação de massa, ou mídia. São considerados meios de comunicação de massa o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo, a imprensa, as revistas de grande circulação, que atingem rapidamente um número enorme de pessoas pertencentes a todas as classes sociais e de diferente formação cultural (idem, p. 63). Essa cultura tem como diferencial a figura do produtor cultural, que não realiza um trabalho individual, nem anônimo, mas sim coletivo, trabalho de equipe, de um conjunto de especialistas. Ao contrário da cultura popular, a cultura de massa é produzida “de baixo para cima”, impõe padrões e homogeneíza o gosto por meio do poder de difusão de seus produtos. Em linhas gerais, é também uma produção estandardizada que visa ao passatempo, ao divertimento e ao consumo (ibidem). 69 Unidade IV Já a cultura popular individualizada se caracteriza por ser produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e, portanto, não produzem cultura erudita) nem são típicos representantes da cultura popular (que se caracteriza pelo anonimato), tampouco da cultura de massa (que resulta do trabalho de equipe) (idem, p. 64). É nesse tipo de cultura que podemos classificar, por exemplo, a música de Caetano Veloso ou de Tom Zé, o teatro de Plínio Marcos, a poesia de Manoel Bandeira, entre outros. De acordo com o que foi abordado, fica evidente a diversidade cultural, tanto nas diferentes sociedades como dentro de cada uma delas, nas suas diferentes manifestações. 16 PLURALIDADE CULTURAL E EDUCAÇÃO4 A educação formal é a educação que se faz de modo sistemático e busca ter clareza em relação às questões: o que ensinar, como ensinar, a quem ensinar, para que ensinar, por que ensinar. Isso surge quando a educação passa a ser vista como um problema e, dessa forma, faz-se necessária a sua organização. Um dos desafios que a educação enfrenta é em relação à dialética conservação-transformação. Quais elementos da cultura devem ser conservados? Por que são valorizados? Quais devem ser transformados? Por que são considerados ultrapassados? A própria etimologia latina da palavra educação remete também a um processo dialético do par conservação-transformação. Segundo Haydt, a educação, do ponto de vista social, é a ação que as gerações adultas exercem sobre as gerações jovens, orientando sua conduta, por meio da transmissão do conjunto de conhecimentos, normas, valores, crenças, usos e costumes aceitos pelo grupo social. Nesse sentido, o termo educação tem sua origem no verbo latino educare, que significa alimentar, criar. Esse verbo expressa, portanto, a ideia de que a educação é algo externo, concedido a alguém (2001, p. 11). Nesse sentido, a educação visa à transmissão e à preservação da cultura na qual o indivíduo encontra-se inserido. Tem como objetivo que a cultura se mantenha viva por meio da sua aquisição pelas novas gerações. Nessa perspectiva, privilegia-se o elemento externo – sociedade – que se impõe ao interno – aluno. Essa concepção se encontra, de forma extrema, naquele que é considerado o pai da sociologia, Émile Durkheim. Para ele, “a educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social (...)” (1978, p. 41), e deve preparar as crianças para a integração harmônica ao social. Na sua visão funcionalista do social, a educação é entendida como um elemento externo coercitivo, que deve integrar os indivíduos à sociedade existente independentemente das suas vontades. Mas há outro sentido para o termo educação, ainda segundo Haydt: O texto desse item foi extraído do capítulo IV de Fernandes (2006). 4 70 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Do ponto de vista individual, a educação refere-se ao desenvolvimento das aptidões e potencialidades de cada indivíduo, tendo em vista o aprimoramento de sua personalidade. Nesse sentido, o termo educação se refere ao verbo latino educare,5 que significa fazer sair, conduzir para fora. O verbo latino expressa, nesse caso, a ideia de estimulação e liberação de forças latentes (2001, p. 12). Nessa abordagem, privilegia-se o interno, e o externo deve propiciar as condições favoráveis para que os educandos desenvolvam sua própria personalidade, sua singularidade, para que cada um se torne aquilo que pode ser. Nessa perspectiva, possibilita-se que cada um se torne um sujeito ativo e criativo, que não adote uma postura apenas passiva em relação à cultura vigente, mas que também seja crítico e produtor de cultura. Outro desafio, relacionado a este, que a educação enfrenta é: como lidar com a pluralidade cultural, referida nos itens anteriores? Há uma tendência de muitos considerarem sua própria cultura como a única válida e verdadeira, e, consequentemente, as outras culturas são concebidas como “estranhas”, “exóticas” ou mesmo “inferiores”. Tal concepção revela uma postura etnocêntrica, ou seja, uma visão de mundo que tem como centro sua própria cultura, e tal postura pode levar à xenofobia, isto é, aversão e ódio em relação ao diferente, que sustenta práticas de violência e dominação em relação aos considerados “outros”. É necessário considerar a diversidade cultural entre as várias culturas e dentro de uma mesma cultura, a diversidade pessoal e, ainda mais: que não existem raças, apenas a raça humana do animal symbolicum, que constrói diferentes interpretações simbólicas para o mundo. Daí a necessidade da tolerância. Tolerar que a criatividade do ser simbólico, que é o homem, leva a uma diversidade de respostas diante do existente e do não existente, ou do não empírico. Dito de outro modo, os seres humanos, diante do existente, produzem diferentes interpretações, escolhem diferentes perspectivas; dessa forma, a diversidade do produzir atesta a igualdade na capacidade humana de produção. Assim, tolerar implica reconhecer o outro como um outro-eu, como um animal symbolicum, e buscar entender sua perspectiva. Eis um desafio para a educação: preparar para a diversidade cultural. Saiba mais O etnocentrismo, segundo Everardo Rocha Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades, como também facilmente encontrável no dia a dia das nossas vidas. Alguns autores usam o termo educare para o primeiro sentido e o termo educere para este segundo sentido (cf. Libâneo, 2001, p. 64 ). 5 71 Unidade IV Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade. Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica, temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí então de repente, nós nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente”, que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico pode, pois, seguir um caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto! Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa? Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?! Não, a vida dele não presta, é selvagem, bárbara, primitiva! Decisão hostil! O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta num considerável reforço da identidade do “nosso” grupo. No limite, algumas sociedades chamam-se por nomes que querem dizer “perfeitos”, “excelentes” ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao “outro”, ao estrangeiro, chamam, por vezes, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. De qualquer forma, a sociedade do “eu” é a melhor, a superior. É representada como o espaço da cultura e da civilização por excelência. É onde existem o saber, o trabalho, o progresso. A sociedade do “outro” é atrasada. É o espaço da natureza. São os selvagens, os bárbaros. São qualquer coisa menos humanos, pois estes somos nós. O barbarismo evoca a confusão, a desarticulação, a desordem. O Selvagem é o que vem da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O “outro” é o “aquém” ou o “além”, nunca o “igual” ao “eu”. O que importa realmente, neste conjunto de ideias, é o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. O etnocentrismo não é propriedade, como já disse, de uma única sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos. 72 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO A atitude etnocêntrica tem, por outro lado, um correlato bastante importante e que talvez seja elucidativo para a compreensão destas maneiras exacerbadas e até cruéis de encarar o “outro”. Existe realmente, paralelo à violência que a atitude etnocêntrica encerra, o pressuposto de que o “outro” deva ser alguma coisa que não desfrute da palavra para dizer algo de si mesmo (2006, p. 10). 17 KANT – EDUCAÇÃO PARA AUTONOMIA: A SAÍDA DA MENORIDADE6 Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem da sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung] (Kant, 2005, p. 64). Kant, no seu texto “Resposta à pergunta: Que é ‘esclarecimento’?”, explica que liberdade corresponde à autonomia, isto é, ser capaz de seguir as próprias leis pensadas pelo sujeito moral, e não simplesmente seguir passivamente o que é ditado. É poder fazer uso do próprio esclarecimento. Para Kant, esclarecimento significa a saída do homem da condição de menoridade, menoridade essa caracterizada como a incapacidade de utilizar o próprio entendimento sem a orientação de outrem. Para esse filósofo, a não saída da condição de menoridade é culpa do próprio homem, que não tem coragem de fazer uso do seu entendimento. Segundo Kant, as causas que explicam a não saída de muitos homens da menoridade são a preguiça e a covardia. Por um lado, existe a preguiça em mudar de posicionamento e, por outro, covardia para tomar tal atitude. “É tão cômodo ser menor!”. Por isso é mais fácil continuar sendo o que se é: menor. Muitos preferem simplesmente não pensar, já que tem aqueles que pensam por eles: o padre, o médico, o político, entre outros. Esses tutores procuram manter os homens sob sua orientação, prevenindo-lhes que é perigoso caminhar por si mesmo. Por isso, muitos consideram difícil e perigosa a passagem para a maioridade. Para Kant, esse perigo não é muito grande, pois após algumas quedas se aprenderia a andar por conta própria. Mas, para muitos, essa menoridade tornou-se quase que uma natureza e se adquiriu amor por ela, pois nunca os deixaram sair dessa condição. A condição para que um povo se esclareça é a liberdade. Sem ela, apenas poucos conseguem a transformação necessária para sair da menoridade. Para Kant, liberdade significa poder fazer uso público da própria razão em quaisquer questões. Ou seja, poder usar a razão de forma livre e pública entre os homens sobre todos os assuntos. A liberdade ética do sujeito moral não é algo dado, mas sim que deve ser conquistada. Pressupõe sair da condição cômoda, mas nefasta da dependência. Em épocas de crise social, manter a liberdade se torna uma tarefa mais difícil, pois, se esta não está bem embasada, os indivíduos passam a desconfiar de si mesmos. Como liberdade pressupõe pensar, escolher, decidir etc., ela é considerada muitas vezes mais como um problema do que uma conquista ou privilégio. E como é mais cômodo ter quem assuma essa tarefa e pense pelos outros, os homens acabam abrindo mão desse privilégio, acabam desejando e aceitando o feitiço de Circe.7 O texto desse item foi extraído do capítulo III de Fernandes (2000). Na Odisseia, de Homero, a feiticeira Circe transformou os companheiros de Ulisses em animais selvagens. 6 7 73 Unidade IV Dessa forma, Kant valoriza o aprimoramento da razão como condição que possibilita ao ser humano libertar-se de sua condição de menoridade. É necessário Sapere aude!, ousar pensar, ousar “fazer uso do próprio entendimento”. Nessa tarefa, a educação tem um papel fundamental. Para refletir Como a educação pode contribuir para que o ser humano saia da sua condição de menoridade? 18 HANNAH ARENDT: CRISE NA EDUCAÇÃO8 A pensadora Hannah Arendt9 é autora do texto “A crise na educação”, que vem sendo considerado clássico para a reflexão sobre o papel da educação na sociedade, em uma perspectiva filosófica. Apesar de ser um texto que reflete uma problemática que ocorria na década de 1950, nos Estados Unidos da América, ele não permanece circunscrito à sua época, uma vez que discute conceitos intrínsecos à questão educacional de qualquer época. Arendt esclarece que não é uma educadora profissional, mas que a crise oferece oportunidade para reflexão. A crise obriga a se buscar respostas e também a retornar às próprias perguntas. O que é desastroso diante de uma crise é quando se busca responder com respostas prontas, com preconceitos, não desenvolvendo reflexão. Segundo Arendt, há uma crise recorrente na educação dos EUA e que atinge o patamar de um problema político. E o que explica isso é justamente o fato de que a educação norte-americana desempenha um papel de natureza política. Ou seja, os EUA, desde a sua formação histórica e política, são uma terra de imigrantes. Assim, a educação tem o papel de fusão e integração em relação aos diferentes grupos étnicos. E, segundo a autora, a imigração ainda desempenha um importante papel no país, que é a garantia da “Nova ordem no mundo”, lema este impresso nas notas de dólar. Essa nova ordem, instituída nos EUA, buscava fundar um mundo novo que superasse a opressão e a pobreza vividas no velho continente. Arendt identifica um pathos pelo novo nos EUA, um entusiasmo por tudo o que é novo, e tal fato, na educação, trouxe graves consequências no século XX. A educação progressista, que era testada na Europa, acabou sendo implantada em larga escala nos EUA, exceto nas escolas particulares e católicas. Tal fato leva a uma crise, já que a razão humana falhou na busca por respostas ao problema político vinculado à educação. Daí, como responder a questões como: Por que os alunos não conseguem ler? Ou de um modo mais amplo: Por que a escola nos EUA encontra-se atrasada em relação ao padrão médio dos países europeus? A resposta não está no fato de serem os EUA um país jovem, aquém dos padrões europeus, mas, pelo contrário, os problemas são decorrentes do fato de ser o país mais avançado, e os problemas da educação, por sua vez, também serem mais “evoluídos”. As modernas teorias pedagógicas foram O texto desse item foi extraído do capítulo IV de Fernandes (2006). Pensadora alemã, que emigrou para os Estados Unidos em 1940, devido ao nazismo, e naturalizou-se norte-americana em 1951. Autora de A condição humana, As origens do totalitarismo, Entre o passado e o futuro, entre outras obras. 8 9 74 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO implantadas de forma indiscriminada e em larga escala. Daí que a crise na educação revela, por um lado, a falência da pedagogia progressista e, por outro, a dificuldade do problema, por ter surgido com o desenvolvimento da sociedade de massas. Outro elemento que, segundo Arendt, não gerou a crise, mas a agravou, está no papel desempenhado pelo conceito de igualdade na sociedade americana, nos vários âmbitos: político, econômico, social, que, segundo ela, torna-se problemático por extrapolar a legítima igualdade, seja de oportunidades, ou perante a lei, ou ainda em relação à educação. Assim, o que torna a crise educacional na América tão particularmente aguda é o temperamento político do país, que espontaneamente peleja para igualar ou apagar tanto quanto possível as diferenças entre jovens e velhos, entre dotados e pouco dotados, entre crianças e adultos e, particularmente, entre alunos e professores (2003, p. 229). A efetivação desse nivelamento acaba tendo como consequência a perda da autoridade do mestre e o prejuízo para os alunos mais dotados. Esses fatores gerais, abordados nos parágrafos anteriores, não explicam totalmente a crise, segundo Arendt, nem justificam as medidas adotadas, que se sustentam em três pressupostos básicos, já conhecidos. O primeiro está na concepção de que há um mundo autônomo de crianças que se autogovernam, em que os adultos apenas auxiliam. Nessa situação, o adulto não possui autoridade, pois esta emana do próprio grupo de crianças. Dessa forma, as relações que seriam normais entre crianças e adultos não existem. Nesse tipo de relação, o que é levado em conta é o grupo e não a criança individual. E a própria criança nessa situação de grupo encontra-se pior que antes, segundo Arendt, já que a autoridade do grupo é mais severa e tirânica do que a de um adulto isolado. A ação autônoma da criança é quase nula, já que age conforme o grupo: Assim, ao emancipar-se da autoridade dos adultos, a criança não foi libertada, e sim sujeita a uma autoridade muito mais terrível e verdadeiramente tirânica, que é a tirania da maioria. Em todo o caso, foram as crianças, por assim dizer, banidas do mundo dos adultos (idem, p. 230). O resultado dessa situação é que as crianças foram abandonadas a si mesmas, separadas do mundo dos adultos, e ficaram à mercê da tirania do seu próprio grupo. Tal situação, segundo Arendt, traz consequências nefastas, como o conformismo e a delinquência. O segundo pressuposto básico, segundo Arendt, está relacionado ao ensino. Sob a influência da Psicologia moderna e dos princípios do Pragmatismo, a Pedagogia transformou-se em uma ciência do ensino em geral, a ponto de se emancipar inteiramente da matéria efetiva a ser ensinada. Um professor, pensava-se, é um homem que pode simplesmente ensinar qualquer coisa; sua formação é no ensino, e não no domínio de qualquer assunto particular (idem, p. 231). 75 Unidade IV Tal fato tem como consequência, segundo Arendt, um descuido na formação dos professores, especialmente na rede pública. Assim, o professor deixa de ter domínio sobre a própria matéria que ministra e, dessa forma, mina-se a autoridade advinda do conhecimento, que é sua fonte mais legítima. O terceiro pressuposto básico está relacionado à aplicação de uma teoria da aprendizagem embasada no pragmatismo. Esse pressuposto básico é o de que só é possível conhecer e compreender aquilo que nós mesmos fizermos, e sua aplicação à educação é tão primária quanto óbvia: consiste em substituir, na medida do possível, o aprendizado pelo fazer (idem, p. 232). O objetivo desse procedimento era de que o professor não ensinasse conhecimentos petrificados, mas sim o processo do saber. Segundo Arendt, tal procedimento produziu algumas habilidades práticas, mas não fez com que os alunos aprendessem os elementos básicos de um currículo padrão. O que agrava isso é que o saber foi substituído pelo fazer, e trabalho, pelo brincar, levando a uma autonomia do mundo da criança. Os problemas decorrentes são óbvios: sob o argumento de se respeitar à autonomia das crianças, elas são separadas do mundo dos adultos; ficam em um mundo artificial, excluídas da relação natural entre crianças e adultos, que seria, entre outras, a relação de ensino/aprendizagem. Eclipsa-se a condição da criança como ser em processo, em preparação, em desenvolvimento para a vida adulta. A filósofa, então, propõe-se a refletir sobre “(...) o que podemos aprender dessa crise acerca da essência da educação (...)” (idem, p. 234), ou seja, sobre qual o verdadeiro papel da educação em relação à civilização, sobre o fato de nascerem crianças e quais obrigações isso acarreta para as sociedades humanas. Pode-se afirmar que a educação se dirige especialmente à criança, que é seu objeto, e esta se apresenta ao educador em uma dupla característica: a. “(...) é nova num mundo que lhe é estranho e se encontra em processo de formação (...)”; e b. “(...) é um novo ser humano e é um ser humano em formação (...)” (idem, p. 235). Esse duplo aspecto é característico dos seres humanos, e não se aplica a outros seres vivos. Também não é evidente por si só. Envolve um relacionamento também duplo: com o mundo e com a vida. Os pais por meio da concepção geram um novo ser humano e o introduzem em um mundo já existente. A criança é nova em relação a este mundo e está em processo de formação. Os pais, ao conceberem, assumem, ou deveriam assumir, a responsabilidade pela preservação da vida, pelo devir da criança e pela continuidade do mundo (idem, p. 235). A criança precisa ser protegida dos elementos destrutivos do mundo, e o mundo, por sua vez, precisa ser protegido para não ser derrubado pelas novas gerações. A criança precisa ser preservada do mundo para crescer e se desenvolver, por isso seu lugar é no aconchego do lar, no seio da família. Na vida familiar privada, em convivência com os adultos, preservada da vida pública, encontra o lugar seguro para desenvolver-se. 76 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Tudo o que vive, e não apenas a vida vegetativa, emerge das trevas, e, por mais forte que seja sua tendência natural a orientar-se para a luz, mesmo assim precisa da segurança da escuridão para poder crescer (idem, p. 236). Para Arendt, o problema da educação moderna é que ela buscou servir à criança estabelecendo um mundo de crianças, mas errou ao minar justamente aquilo que era condição de possibilidade para o desenvolvimento delas. “(...) A educação moderna, na medida em que procura estabelecer um mundo de crianças, destrói as condições necessárias ao desenvolvimento e crescimento vitais” (ibidem). A autora questiona: como isso pode acontecer? Se a educação passada foi criticada por ver a criança como um adulto em miniatura, como pode a educação moderna expor as crianças ao aspecto público do mundo, que é o que mais caracteriza o mundo adulto? Essas condições básicas para o crescimento vital que foram violadas não o foram intencionalmente, já que o objetivo era o bem-estar da criança, mesmo que os resultados não tenham sido os esperados. Dessa forma, Arendt questiona: qual o papel da escola e qual sua relação com a família e com o mundo? A escola é uma espécie de espaço intermediário entre o espaço do lar e o espaço do mundo. Em suas palavras, a escola não é de modo algum o mundo e não deve fingir sê-lo; ela é, em vez disso, a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo com o fito de fazer com que seja possível a transição, de alguma forma, da família para o mundo (idem, p. 238). Uma vez que as crianças chegam à escola, os professores devem assumir a responsabilidade por elas. Não tanto a responsabilidade pelo crescimento vital, mas sim pelo desenvolvimento da sua singularidade. O educador diante da criança e do jovem deve assumir a responsabilidade de representante do mundo, deve possibilitar o acesso ao o que o mundo é. Segundo Arendt, essa responsabilidade é fundamental e está implícita na tarefa educativa. “Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças, e é preciso proibi-la de tomar parte em sua educação” (idem, p. 239). 18.1 Hannah Arendt: autoridade e educação10 Hannah Arendt, em seu texto “A crise na educação”, esclarece que autoridade e qualificação do educador não são a mesma coisa, não são sinônimas: Embora certa qualificação seja indispensável para a autoridade, a qualificação, por maior que seja, nunca engendra por si só autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se assenta na responsabilidade que assume por este mundo (ibidem). Assim, a qualificação, entendida como conhecimento do mundo e competência em relação aos conteúdos ministrados, não conduz automaticamente à autoridade, uma vez que esta só se configura à medida que o professor assume responsabilidade, ou seja, que responde por seus atos em relação ao 10 O texto desse item foi extraído do capítulo IV de Fernandes (2006). 77 Unidade IV papel que assume enquanto representante do mundo. “A autoridade foi recusada pelos adultos, e isso somente pode significar uma coisa: que os adultos se recusam a assumir a responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças” (idem, p. 240). Para Arendt, autoridade não deve ser confundida com o autoritarismo dos países totalitários. A autoridade legítima implica assumir responsabilidade pelo devir das coisas, o que não vem ocorrendo na vida pública e política. Para Arendt, é necessário um caráter conservador para a educação, mas não para a política. Na política, pressupõe-se, por um lado, uma igualdade entre pessoas que já foram educadas e, por outro lado, que a conservação levaria à estagnação e destruição de algo que deve permanecer em devir. Em relação à educação, Arendt entende que a conservação é inerente à atividade educacional, uma vez que sua “(...) tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa – a criança contra o mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o velho, o velho contra o novo” (idem, p. 242). E por que a educação deve ser conservadora? Arendt explica o caráter dialético de tal situação: Exatamente em benefício daquilo que é novo e revolucionário em cada criança é que a educação precisa ser conservadora; ela deve preservar essa novidade e introduzi-la como algo novo em um mundo velho, que, por mais revolucionário que possa ser em suas ações, é sempre, do ponto de vista da geração seguinte, obsoleto e rente à destruição (idem, p. 243). O fator complicador da educação moderna encontra-se na dificuldade de preservar um mínimo de conservação necessária para a existência da própria educação. Segundo Arendt, há uma íntima conexão entre a crise da tradição e a crise da autoridade na educação. O professor é um ser que representa o passado, que faz a ligação entre o passado e o presente, entre o velho e o novo, e isso não é tarefa fácil. Tal situação não se colocava para os antigos, que tinham o passado como modelo de excelência, cuja autoridade do professor encontrava apoio nesse passado. O problema da educação moderna é uma crise em relação à autoridade e à tradição, mas a situação agora é outra, e não adianta querer retomar o passado. Nas palavras de Arendt: O problema da educação no mundo moderno está no fato de, por sua natureza, não poder abrir mão nem da autoridade, nem da tradição, e ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é estruturado nem pela autoridade nem tampouco mantido coeso pela tradição (idem, p. 246). Assim, Arendt propõe que não só educadores e professores, mas adultos de um modo geral, devam ter uma relação apropriada com crianças e jovens, relação esta que faça uso da autoridade e da tradição específica para eles. Nas suas palavras, (...) devemos ter em relação a eles uma atitude radicalmente diversa da que guardamos um para com o outro. Cumpre divorciarmos decisivamente o âmbito da educação dos demais, e acima de tudo do âmbito da vida pública e política, para aplicar exclusivamente a ele um conceito de autoridade e uma atitude face ao passado que lhe são apropriados mas não possuem validade geral, não devendo reclamar uma aplicação generalizada no mundo dos adultos (ibidem). 78 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Para ela, a consequência prática dessa atitude “(...) seria uma compreensão bem clara de que a função da escola é ensinar as crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver” (ibidem). Também não se devem tratar as crianças como se fossem maduras, mas isso não significa separá-las totalmente do mundo adulto, como se a infância tivesse uma autonomia em relação a ele. Segundo Arendt, a relação entre adultos e crianças em geral não deve ser um problema exclusivo da pedagogia. Cabe a todos nós essa questão, já que habitamos um mundo comum, que é renovado pelo nascimento. A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum (idem, p. 247). Saiba mais Discurso do método, de René Descartes Questionamentos sobre a educação recebida. (...) Fui instruído nas letras desde a infância, e por me haver convencido de que, por intermédio delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las. Porém, assim que terminei esses estudos, ao cabo do qual costuma-se ser recebido na classe dos eruditos, mudei totalmente de opinião. Pois me encontrava embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido outro proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância. E, contudo, estudara numa das mais célebres escolas da Europa, onde imaginava que devia haver homens sábios, se é que havia em algum lugar da Terra. Aprendera aí tudo o que os outros aprendiam, e mesmo não havendo me contentado com ciências que nos ensinavam, lera todos os livros que tratam daquelas que são reputadas as mais curiosas e as mais raras, que vieram a cair em minhas mãos. Além disso, eu conhecia os juízos que os outros faziam de mim; e não via de modo algum que me julgassem inferior a meus colegas, apesar de entre eles haver alguns já destinados a ocupar os lugares de nossos mestres. E, enfim, o nosso século parecia-me tão luminoso e tão fértil em bons espíritos como qualquer um dos anteriores, o que me levava a tomar a liberdade de julgar por mim todos os outros e de pensar que não havia doutrina no mundo que fosse tal como antes me haviam feito presumir. (...) 79 Unidade IV Deleitava-me principalmente com as matemáticas, devido à certeza e à evidência de suas razões; mas ainda não percebia sua verdadeira aplicação, e, julgando que só serviam às artes mecânicas, espantava-me de que, sendo seus fundamentos tão seguros e sólidos, não se houvesse construído sobre eles nada de mais elevado. Da mesma forma que, ao contrário, eu comparava os escritos dos antigos pagãos que tratam de hábitos a magníficos palácios erigidos apenas sobre a areia e a lama. Elevam muito alto as virtudes e as apresentam como as mais dignas de estima entre todas as coisas que existem no mundo; mas não ensinam bastante a conhecê-las, e frequentemente o que chamam com um nome tão belo não passa de uma insensibilidade, ou de um orgulho, ou de um desespero, ou de um parricídio. Eu venerava a nossa teologia e pretendia, como qualquer um, ganhar o céu; porém, tendo aprendido, como algo muito certo, que o seu caminho não está menos franqueado aos mais ignorantes do que aos mais sábios e que as verdades reveladas que para lá conduzem estão além de nossa inteligência, não me atreveria a submetê-las à debilidade de meus raciocínios, e pensava que, para empreender sua análise e obter êxito, era preciso receber alguma extraordinária assistência do céu e ser mais do que homem. Nada direi a respeito da filosofia, exceto que, vendo que foi cultivada pelos mais elevados espíritos que viveram desde muitos séculos e que, apesar disso, nela ainda não se encontra uma única coisa a respeito da qual não haja discussão, e consequentemente que não seja duvidosa, eu não alimentava esperança alguma de acertar mais que os outros; e que, ao considerar quantas opiniões distintas, defendidas por homens eruditos, podem existir acerca de um mesmo assunto, sem que possa haver mais de uma que seja verdadeira, achava quase como falso tudo quanto era apenas provável. A respeito das outras ciências, por tomarem seus princípios da filosofia, acreditava que nada de sólido se podia construir sobre alicerces tão pouco firmes. E nem a honra, nem o lucro que elas prometem, eram suficientes para me exortar a aprendê-las; pois graças a Deus não me sentia de maneira alguma numa condição que me obrigasse a converter a ciência num ofício, para o alívio de minha fortuna; e se bem que não desprezasse a glória como um cínico, fazia, contudo, muito pouca questão daquela que eu só podia esperar obter com falsos títulos. Por fim, no que diz respeito às más doutrinas, julgava já conhecer suficientemente o que valiam, para não mais correr o risco de ser enganado, nem pelas promessas de um alquimista, nem pelas predições de um astrólogo, nem pelas imposturas de um mágico, nem pelas artimanhas ou arrogâncias dos que manifestam saber mais do que realmente sabem. Aqui está por que, apenas a idade me possibilitou sair da submissão aos meus preceptores, abandonei totalmente o estudo das letras. E, decidindo-me a não mais procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em mim mesmo, ou então no grande livro do mundo, aproveitei o resto de minha juventude para viajar, para ver cortes e exércitos, para frequentar pessoas de diferentes humores e condições, para fazer variadas experiências, para pôr a mim mesmo à prova nos reencontros que o destino me propunha e, por toda parte, para refletir a respeito das coisas que se me apresentavam, a fim de que eu pudesse tirar algum proveito delas. Pois acreditava poder encontrar muito mais 80 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO verdade nos raciocínios que cada um forma no que se refere aos negócios que lhe interessam, e cujo desfecho, se julgou mal, deve penalizá-lo logo em seguida, do que naqueles que um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra consequência salvo, talvez, a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum, por causa do outro tanto de espírito e artimanha que necessitou empregar no esforço de torná-las prováveis. E eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso, para ver claramente minhas ações e caminhar com segurança nesta vida. A verdade é que, ao limitar-me a observar os costumes dos outros homens, pouco encontrava que me satisfizesse, pois percebia neles quase tanta diversidade como a que notara anteriormente entre as opiniões dos filósofos. De forma que o maior proveito que daí tirei foi que, vendo uma quantidade de coisas que, apesar de nos parecerem muito extravagantes e ridículas, são comumente recebidas e aprovadas por outros grandes povos, aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo hábito; e, dessa maneira, pouco a pouco, livrei-me de muitos enganos que ofuscam a nossa razão e nos tornam menos capazes de ouvir a razão. Porém, após dedicar-me por alguns anos em estudar assim no livro do mundo, e em procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a decisão de estudar também a mim próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir. Isso, a meu ver, trouxe-me muito melhor resultado do que se nunca tivesse me distanciado de meu país e de meus livros.11 Exercícios (Prefeitura Municipal de Barueri – SP – 2006) 1. Os docentes definem o ensino da filosofia como o momento de construção de conhecimentos por meio da interação professor-aluno. Um fator considerável que o professor não deve desvalorizar é a opinião que cada estudante tem de determinado assunto, portanto: Alguns filmes que podem propiciar uma inter-relação com os conteúdos da unidade. Ponto de mutação. Dir. Bernt Capra, 116 minutos, 1992. A língua das mariposas. Dir. Cristiano Bortone, 96 minutos, 2006. A) A aula deve ser uma “enxurrada” de conteúdos. B) A dialogicidade na sala de aula precisa ser construída. C) A filosofia pode ser ensinada, o que não se pode é ensinar a filosofar. D) Há ideias dos alunos que são incoerentes, e, neste caso, não podem ser valorizadas. E) A aula de filosofia é o momento de doutrinar os jovens. DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução Enrico Corvisieri. Disponível em <http://br.egroups.com/group/ acropolis>. 81 Unidade IV (Prefeitura Municipal de Barueri – SP – 2006) 2. O professor Alberto, de filosofia, colocou em seu plano de ensino, como objetivo do curso: possibilitar que o aluno “assuma uma atividade crítica”. Isso quer dizer procurar ver: A) Com clareza, profundidade, abrangência. Ver claro, ver fundo, ver largo. B) Com óculos da neutralidade, da objetividade, das crenças. Ver de modo estrito e dogmático. C) Com ausência de sentimentos, com racionalidade, pois o homem é essencialmente um animal racional. D) Só com sentimentos, alcançando a visão do microscópio, que aponta detalhes à ação externa do ser humano. E) Com “garra”, com força, com o braço, pois o “coração” é o telescópio da nossa visão míope. (Prefeitura Municipal de Barueri – SP – 2006) 3. Desde uma perspectiva especificamente filosófica, o trabalho teórico requer a prática de questionar constantemente os nossos saberes, ideias e valores e de nos esforçarmos permanentemente por elucidar, debater e avaliar os pressupostos e implicações de nossa prática. Dessa forma, vai se gestando um movimento duplo, em que: A) A teoria é uma, a prática é outra. O que escrevo, não faço. O que faço, não escrevo. B) A prática nada tem a ver com a teoria, e a teoria é erudição. C) A prática transforma a teoria, e a teoria transforma a prática (ação, reflexão e ação). D) Na prática, a verdade é outra, o papel aceita tudo. E) Teoria é academicismo, quem sabe é o que faz. (Prefeitura Municipal de Barueri – SP – 2006) 4. “Uma aula ou uma palestra não é algo que se dá, é algo que se faz junto, e não posso dizer que dei, se não contei com a disponibilidade das pessoas para acolher aquilo que vim trazer.” Essas considerações afirmam que o professor: A) Abre mão da sua responsabilidade de conduzir a aula e a transfere para os alunos, que são desinteressados. 82 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO B) Entende as aulas como uma atividade de trocas, troca de mercadorias, troca de ideias, troca de experiências. C) Fala de aulas, que são momentos de trocas, e não de partilhas, pois nas partilhas nunca há perdas, só acréscimos. D) Deve vê-las como o momento de o aluno ouvir, assistir à sua explanação, e este deve comparecer com o domínio pleno do conteúdo a ser transmitido. E) Deve ver as aulas como espaços que possibilitam a troca de ideias, a troca de experiências. (UFSC – UFFS – 2009) 5. Kant inicia o seu texto “Resposta à pergunta: que é esclarecimento (Aufklärung)?” declarando: “esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, do qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento” (KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento (Aufklarung)? In: Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 100). Sobre esse tema, podermos afirmar corretamente que: I. O esclarecimento se alicerça na decisão do indivíduo em transpor sua vontade em deliberar por si mesmo. II. O problema para o entendimento não está na esfera da razão, mas na ausência da firme determinação em buscar o conhecimento por si mesmo. III. O esclarecimento se apoia sobremaneira na vontade do indivíduo, que, porém, submete-se, também, à intermediação de outros. IV. A menoridade racional é uma segunda natureza para o homem, que aceita a dominação racional por outro. Assinale a alternativa correta: A) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. B) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. C) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 83 Unidade IV D) Somente as afirmativas II e IV são corretas. E) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 6. Essa concepção pedagógica é caracterizada pela passividade dos alunos, já que eles devem ficar sentados, enfileirados, em silêncio, prestando atenção para assim obterem o conhecimento transmitido pelo professor. Tal modelo epistemológico favorece a reprodução da ideologia e a manutenção do status quo, ou seja, da situação existente, uma vez que não há incentivo ao questionamento, à reflexão e à criatividade. Trata-se da: A) Pedagogia diretiva. B ) Pedagogia não diretiva. C) Pedagogia relacional. D) Pedagogia hipotética. E) Antipedagogia. 7. Segundo Becker, o professor adepto dessa concepção “não acredita na tese de que a mente do aluno é tabula rasa, isto é, que o aluno, frente a um conhecimento novo, seja totalmente ignorante e tenha de aprender tudo da estaca zero, não importando o estágio do desenvolvimento em que se encontre. Ele acredita que tudo o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta se abrirá para o novo conhecimento – é só questão de descobri-la; ele descobre isso por construção” (Becker, 2001). O texto refere-se à: A) Pedagogia diretiva. B) Pedagogia não diretiva. C) Pedagogia relacional. D) Pedagogia hipotética. E) Antipedagogia. 8. “A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum” (2003). 84 FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Esta citação corresponde às ideias de: A) Immanuel Kant. B) Émile Durkheim. C) Hannah Arendt. D) John Locke. E) René Descartes. 9. Esse tipo de cultura “se caracteriza por ser produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e, portanto, não produzem cultura erudita) nem são típicos representantes da cultura popular (que se caracteriza pelo anonimato), tampouco da cultura de massa (que resulta do trabalho de equipe)” (Aranha, 2006). Trata-se da: A) Cultura erudita. B) Cultura popular. C) Cultura de massa. D) Cultura popular individualizada. E) Incultura. 10. De acordo com o filósofo alemão, o homem prefere entregar o seu ____________ a tutores, que mostram aos seus “pupilos” o perigo que os ameaça caso tentem “andar” sozinhos. O pensador diz que essa intimidação é realizada por preceitos e fórmulas, e cita como exemplo a atitude das autoridades religiosas que convocam a comunidade a crer sem questionamentos. “Kant diz que a imaturidade religiosa é a mais perniciosa de todas e isso torna o texto bastante atual, pois a nossa época é marcada por várias formas de fanatismo religioso, e isso cega as pessoas. As religiões podem infundir o medo e cegar os fiéis, que passam a ser usados por alguns como ferramentas de poder”.11 A palavra que completa a lacuna é: A) Ato de meditar. B) Bem-estar. C) Esclarecimento. D) Sentido. E) Sentimento. Disponível em <http://www.mundovestibular.com.br/articles/5253/1/Que-e-Esclarecimento-pelo-filosofo-alema o-Immanuel-Kant/Paacutegina1.html>. 11 85 Unidade IV Respostas dos testes UNIDADE I 1B, 2D, 3D, 4B, 5A, 6D, 7C, 8D, 9C, 10A UNIDADE II 1C, 2C, 3D, 4C, 5B, 6A, 7D, 8B, 9D, 10B UNIDADE III 1A, 2D, 3C, 4D, 5A, 6B, 7B, 8A, 9C, 10C UNIDADE IV 1B, 2A, 3C, 4E, 5B, 6A, 7C, 8C, 9D, 10C Bibliografia básica ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. VERNANT, Jean-Pierre. O Universo, os deuses, os homens. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Bibliografia complementar ABBAGNANO, N.; VISALBERGHI, A. Historia de la pedagogia. México-Buenos Aires: Fondo de cultura económica, 1999. ARANHA, M. L. de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. 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