Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal This Provisional PDF corresponds to the article as it appeared upon acceptance. Fully formatted PDF english version will be made available soon. Análise da variabilidade da frequência cardíaca na mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo: nota técnica. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 Glauber Sá Brandão Antônia Adonis Callou Sampaio Glaudson Sá Brandão Jéssica Julioti Urbano Nina Teixeira Fonsêca Nadua Apostólico Ezequiel Fernandes de Oliveira Eduardo de Araujo Perez Rafael da Guia Almeida Ismael Sousa Dias Israel Reis Santos Sergio Roberto Nacif Luis Vicente Franco de Oliveira ISSN 2236-5435 Article type Technical Note Submission date 15 June 2014 Acceptance date 13 October 2014 Publication date 28 October 2014 Article URL http://www.submission-mtprehabjournal.com http://www.mtprehabjournal.com Like all articles in Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, this peer-reviewed article can be downloaded, printed and distributed freely for any purposes (see copyright notice below). For information about publishing your research in Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, go to http://www.mtprehabjournal.com 631 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. Análise da variabilidade da frequência cardíaca na mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo: nota técnica. Analysis of heart rate variability in the measurement of the activity of the autonomic nervous system: technical note. Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos (SP), Brasil. Glauber Sá Brandão(1), Antônia Adonis Callou Sampaio(2), Glaudson Sá Brandão(3), Jéssica Julioti Urbano(4), Nina Teixeira Fonsêca(5), Nadua Apostólico(5), Ezequiel Fernandes de Oliveira(5), Eduardo de Araujo Perez(6), Rafael da Guia Almeida(5), Ismael Sousa Dias(5), Israel Reis Santos(5), Sergio Roberto Nacif(5), Luis Vicente Franco de Oliveira(5). 1Mestre em Bioengenharia pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos (SP), Brasil. 2Docente, Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestranda em Gestão e Tecnologia Aplicada a Educação (GESTEC), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Senhor do Bonfim (BA), Brasil. 3Médico do Hospital São Sebastião, Filadélfia (BA), Brasil. Discente da especialização em dor, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil. 4Discente do curso de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. 5Programa de mestrado e doutorado em ciências da reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE) São Paulo, (SP), Brasil. 6Fisioterapeuta, Hospital da Luz, São Paulo (SP), Brasil. Autor Correspondente Luis Vicente F. Oliveira Rua Itapicuru 380, apto 111, Perdizes, São Paulo, SP, Brazil. CEP 05006-000 email: [email protected] Fax number: 0055 11 38681681 MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 632 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. RESUMO Introdução: A análise da variabilidade da freqüência cardíaca tem sido empregada como recurso para a mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo em diversas situações. Esta análise baseia-se na identificação da força das bandas de baixas e altas freqüências da função espectral dos intervalos R-R da freqüência cardíaca. Estudos revelaram que o tônus parassimpático relacionado à banda de alta freqüência controla o estado de repouso, enquanto o exercício está associado a uma ativação simpática, ligada às bandas de baixa freqüência. O sistema nervoso autônomo tem um papel importante na mediação das respostas cardiovasculares induzidas pelo estresse. Objetivo: Descrever a técnica de análise da variabilidade da frequência cardíaca na mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo. Discussão: Para efetuar a análise da VFC, o “Nerve-Express” utiliza uma representação visual efetiva e transparente, conhecida como Método de Ritmografia, que reflete a estrutura de onda da VFC e atua como uma “impressão digital” dos mecanismos regulatórios autonômicos. Os intervalos de onda R-R são registrados sequencialmente, formando um ritmograma, ou seja, um retrato de onda curvo-específica da variabilidade dos intervalos R-R. Palavras Chave: Variabilidade Cardíaca, Nerve-Express, Sistema Nervoso Autônomo. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 633 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. ABSTRACT Introduction: The analysis of heart rate variability (HRV) has been used as a resource for the measurement of autonomic nervous system activity in different situations. This analysis is based on identifying the strength of bands of low and high frequencies of the spectral function of the RR intervals in heart rate. Studies have shown that the related high frequency band parasympathetic tone controls the resting state, while exercise is associated with sympathetic activation, linked to lower frequency bands. The autonomic nervous system plays an important role in mediating the cardiovascular responses induced by stress. Objective: To describe a technique for analysis of heart rate variability in the measurement of autonomic nervous system activity. Discussion: To perform HRV analysis the "Nerve-Express" uses an effective and transparent visual representation, known as rhythmography method which reflects the structure of HRV wave and acts as a "fingerprint" of autonomic regulatory mechanisms. The wave RR intervals are recorded sequentially forming a rhythmogram, namely a picture of curved wave-specific variability of RR intervals. Keywords: Heart Variability, Nerve-Express, Autonomic Nervous System MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 634 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. INTRODUÇÃO O sistema nervoso autônomo (SNA) contribui para a regulação do débito cardíaco durante o repouso, exercício e em situações de doença cardiovascular, enquanto sua utilidade na mensuração da função simpática e de todo o equilíbrio autonômico permanece controversa. Estudos revelaram que o tônus parassimpático controla o estado de repouso, enquanto o exercício é associado a uma indução de retraimento do tônus vagal e uma subseqüente ativação simpática. Inversamente, o retorno ao repouso após o exercício, denominado como fase de recuperação, é caracterizado pela ativação parassimpática seguida de redução de atividade do simpático. As anormalidades na fisiologia autonômica – especialmente o aumento da atividade simpática, o tônus vagal atenuado e a diminuição da freqüência cardíaca na recuperação – têm sido associados ao aumento da mortalidade.(1) O conceito de estresse, desde quando foi descrito pela primeira vez por Hans Selye, em 1936 tem sido amplamente utilizado, não apenas em pesquisas científicas. O termo estresse é empregado como sinônimo de fadiga, dificuldade, frustração, ansiedade, desamparo e desmotivação. O estresse é visto como responsável pela maioria dos males que nos afligem, principalmente os relacionados ao atual estilo de vida urbana.(2) O SNA tem um importante papel na mediação das alterações cardiovasculares provocadas pelo estresse. As mudanças hemodinâmicas agudas estão associadas a altos níveis de descarga simpática e a uma atividade parassimpática flutuante.(3) Segundo Ribeiro et al.(4), uma das mais acessíveis e confiáveis fontes de informação dos efeitos do SNA sobre o sistema cardiovascular é a VFC. A variação batimento a batimento, obtida pelo intervalo R-R do eletrocardiograma, pode ser analisada em função das freqüências que compõem essa variabilidade. A análise da VFC é uma técnica não invasiva, simples, usada para avaliar as variações instantâneas de batimento por batimento em termos de intervalos R-R.(5) Os indivíduos sadios têm uma variação fisiológica nos intervalos interbatimentos em fase com os ciclos respiratórios. Esta “arritmia sinusal” tem sido considerada como sinal de um sistema cardiovascular saudável e é mais acentuada nos jovens e nos MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 635 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. desportistas. Foi no campo da obstetrícia e no estudo da diabete que primeiramente foi reconhecida à importância clínica do estudo da variabilidade da freqüência cardíaca, cujas aplicações práticas vêm sendo reconhecidas em outros campos da medicina. (6) A FC humana no repouso apresenta flutuações espontâneas que refletem a influência contínua do SNA no nódo sino-atrial. As oscilações devem ser corretamente quantificadas provendo assim um poderoso método de investigação do equilíbrio simpato-vagal no coração.(7) Este estudo teve com objetivo descrever o comportamento do sistema nervoso autônomo junto à análise da variabilidade da frequência cardíaca. O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O coração é um órgão central na manutenção da homeostase e, nesse sentido, uma das suas principais características consiste na possibilidade de aumentar ou diminuir, de maneira variável, a frequência dos seus batimentos. No indivíduo normal as alterações da FC são comuns e esperadas, ocorrendo secundariamente ao esforço, ao estress físico ou mental, à respiração, às alterações metabólicas, entre outros.(6) A maioria das fibras cardíacas, que fazem parte do sistema especializado de condução do coração, têm capacidade de auto-excitação, processo que pode produzir descarga e contração rítmica automática, porém a parte desse sistema que apresenta auto-excitação em maior grau, maior freqüência de descargas, são as fibras do nodo sinusal (SA). Por essa razão, o nodo sinusal, normalmente controla a freqüência dos batimentos cardíacos, sendo assim considerado o marcapasso fisiológico do coração.(8) Embora a automaticidade cardíaca seja intrínseca ao coração, a eficiência do bombeamento cardíaco também é controlada pelos nervos da cadeia simpática e parassimpática (vago), que, abundantemente inervam o coração.(9) O sistema nervoso visceral ou da vida vegetativa relaciona-se com a inervação das estruturas viscerais e é muito importante para a integração da atividade das vísceras no sentido da manutenção da constância do meio interno, homeostase.(10) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 636 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. Segundo Powers e Howley(11), o sistema nervoso vegetativo (SNV) também é chamado de sistema nervoso autonômico, porque, mais frequentemente, não é percebido de forma consciente e atua de forma independente. O SNV é formado por duas unidades; o sistema nervoso simpático ou ortossimpático ou toracolombar, porque suas fibras eferentes emergem do sistema nervoso central (SNC), ao nível da medula torácica e lombar, e o sistema nervoso parassimpático ou crânio-sacral, porque suas fibras eferentes emergem do SNC ao nível do tronco cerebral e da medula sacra. A maioria dos órgãos recebe dupla inervação, com exceção das glândulas sudoríparas e dos vasos. Os dois sistemas exercem com freqüência, efeito oposto sobre o órgão-alvo. Entretanto, a ativação tônica dos dois sistemas permite a regulação fina por meio do aumento, ou da redução, da atividade de um ou do outro. De um modo geral, o sistema simpático tem ação antagônica à do parassimpático em um determinado órgão, porém, é importante acentuar que os dois sistemas, apesar de, na maioria dos casos, terem ações antagônicas, colaboram e trabalham harmonicamente na coordenação da atividade visceral, adequando o funcionamento de cada órgão às diversas situações a que é submetido o organismo.(10) A maioria dos órgãos e tecidos é inervada tanto pela divisão simpática como pela divisão parassimpática, e a interação entre as duas divisões podem ser de dois tipos: antagonista – a mais comum – ou sinergista. Na estratégia antagonista, a ativação parassimpática provoca efeito contrário à ativação simpática, logo, quando a atividade de uma aumenta, a outra diminui. Na estratégia sinergista, por outro lado, ambas as divisões provocam o mesmo efeito. Em alguns casos, entretanto, a estratégia de controle pode ser considerada exclusiva – no caso de regiões de musculatura lisa que são inervadas exclusivamente pela divisão simpática, que desempenham o controle através do aumento ou diminuição de sua freqüência de disparo.(12) Segundo Windmaier(13), o coração, várias glândulas e os músculos lisos são inervados por ambas as fibras simpáticas e parassimpáticas; isto é, eles recebem inervação dupla. Qualquer efeito que uma divisão venha ter sobre as células efetoras, a outra divisão tem, normalmente, efeito oposto. Além disso, as duas divisões são MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 637 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. normalmente ativadas reciprocamente; isto é, quando a atividade de uma está aumentada a da outra está diminuída. A inervação dupla por fibras nervosas que causam respostas opostas fornece um grau bastante acurado de controle sobre o órgão efetor. Os axônios pré-ganglionares parassimpáticos tendem a realizar sinapses com seus correspondentes pós-ganglionares em seus tecidos alvos ou próximo deles, como no caso de fibras pélvicas, no plexo pélvico. Eles também possuem um grande número de fibras parassimpáticas aferentes conectadas a fibras motoras que realizam o feedback de um grande número de sinais sensoriais necessários a homeostase. A divisão entérica é composta de nervos e plexos ganglionares que são encontrados na parede do trato gastrointestinal e do pâncreas, formando uma complexa rede de componentes sensoriais, motores e interneuronais que utilizam uma gama diversa de neurotransmissores. Esta divisão é previamente programada para realizar os movimentos peristálticos clássicos associados a cada sessão do trato gastrointestinal, entretanto, seus efeitos são modificados por reflexos locais, pela demanda autonômica extrínseca, por hormônios e mediadores imunes.(3) Os principais neurotransmissores utilizados em cada sistema são diferentes. Tanto as fibras pré ganglionares simpáticas e parassimpáticas utilizam a acetilcolina. Apesar dos neurônios pós ganglionares parassimpáticos também utilizarem a acetilcolina, os neurônios pós ganglionares simpáticos têm como principal neurotransmissor a noradrenalina, que deve atuar em receptores α ou β. As exceções são os nervos simpáticos que suprem as glândulas sudoríparas, utilizando acetilcolina no lugar de noradrenalina. Nos últimos anos, descobriu-se que uma grande quantidade de neurotransmissores está envolvida com o SNA (substância P, peptídeos vasoativos intestinais, aminas, óxido nitroso) particularmente na divisão entérica. Enquanto suas funções permanecem obscuras, alguns parecem desempenhar um papel modulatório suprimindo ou reforçando as ações dos neurotransmissores clássicos em seus locais de ação. Para aumentar a complexidade, recentemente foi reconhecido que existem numerosos subtipos de cada uma das diferentes classes de receptores adrenérgicos e colinérgicos.(3) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 638 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. A estimulação simpática provoca a liberação do hormônio norepinefrina (noradrenalina) nas terminações nervosas simpáticas. O mecanismo preciso pelo qual esse hormônio atua sobre as fibras musculares cardíacas ainda não está completamente elucidado, mas acredita-se que ele aumente a permeabilidade da membrana da fibra aos íons Na+ e Ca++. No nodo SA o aumento da permeabilidade ao Na + produz potencial de repouso positivo, resultando em aumento da freqüência da variação do potencial de membrana para o valor limiar da auto-excitação e, portanto, aumentando a freqüência cardíaca.(9) A acetilcolina liberada nas terminações nervosas vagais aumenta acentuadamente a permeabilidade das membranas das fibras ao potássio. Isso provoca aumento da negatividade no interior das fibras, efeito chamado de hiperpolarização, fazendo com que esse tecido excitável fique muito menos excitável. Este estado de hiperpolarização diminui o potencial de repouso da membrana do nodo SA para um valor mais negativo (65 a – 75 mV) que o normal (- 55 a – 60 mV). Portanto, a elevação do potencial de membrana do nodo SA provocada pelo influxo de Na+ necessita mais tempo para alcançar o potencial limiar para excitação. Isso diminui a freqüência da ritmicidade das fibras nodais. Se a estimulação vagal é muito forte, é possível parar completamente a auto-excitação rítmica desse nodo.(9) O SNA dispõe de dois modos de controle do organismo: um modo reflexo e um modo comando. O “modo reflexo” envolve o recebimento de informações provenientes de cada órgão ou sistema orgânico e a programação e execução de uma resposta apropriada. Os reflexos empregados neste tipo de controle podem ser locais, isto é, situados na própria víscera, ou então centrais, ou seja, envolvendo neurônios e circuitos do SNC. O “modo de comando” envolve a ativação do SNA por regiões corticais e subcorticais, muitas vezes voluntariamente. Muitas vezes o SNA emprega simultaneamente o modo reflexo e o modo comando.(12) Os reflexos autonômicos são respostas que ocorrem quando impulsos nervosos percorrem um arco reflexo autonômico. Esses reflexos têm participação fundamental na regulação de condições controladas no corpo, como a pressão arterial, por meio de MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 639 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. ajustes na freqüência cardíaca, da força de contração ventricular e do diâmetro dos vasos sanguíneos.(14) Qualquer que seja o modo de controle, o SNA utiliza diferentes estratégias para comandar os efetores – células ou órgãos que realizam certa “tarefa” em resposta a uma mensagem química transmitida por via sináptica difusional ou através da circulação sanguínea – que podem ser células secretoras (glandulares) ou células contráteis (musculares ou mioepiteliais).(12) A estimulação simpática ao coração aumenta acentuadamente a sua atividade, tanto com relação à freqüência cardíaca quanto à sua força de bombeamento, já o sistema nervoso parassimpático apesar de ser extraordinariamente importante para muitas outras funções do corpo, ele desempenha apenas um papel menor na regulação da circulação. Seu único efeito circulatório realmente importante é o controle da freqüência cardíaca por meio das fibras parassimpáticas levadas para o coração pelos nervos vagos. Os efeitos da estimulação parassimpática sobre a função do coração incluem uma acentuada diminuição da freqüência cardíaca e um pequeno decréscimo da contratilidade muscular cardíaca.(14) Durante o estresse físico ou emocional, a divisão simpática domina a divisão parassimpática. O tônus simpático elevado favorece as funções corporais que podem manter atividades físicas vigorosas, com rápida produção de ATP. Ao mesmo, tempo a divisão simpática reduz as funções corporais que favorecem o armazenamento de energia. Além do esforço físico, numerosas emoções – como as de medo, embaraço ou raiva – estimulam a divisão simpática. A atividade da divisão simpática e a liberação dos hormônios pela medula adrenal põem em curso a série de respostas fisiológicas conhecidas, em conjunto, como resposta de “fuga-ou-luta”.(15) As respostas parassimpáticas sustentam as funções corporais que conservam e restauram a energia corporal, durante os períodos de repouso e recuperação. Nos intervalos de calma, entre os períodos de exercício, os impulsos parassimpáticos, para as glândulas digestivas e para o músculo liso, no trato gastrintestinal, predominam sobre os impulsos simpáticos, permitindo que os alimentos, supridores de energia sejam digeridos MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 640 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. e absorvidos. Ao mesmo tempo as respostas parassimpáticas reduzem as funções corporais que mantêm a atividade física.(15) Uma das funções importantes do controle nervoso da circulação é sua capacidade de causar aumentos rápidos da pressão arterial. Para este objetivo, todas as funções vasoconstritoras e cardio-aceleradoras do sistema nervoso simpático são estimuladas como uma unidade. Ao mesmo tempo, há inibição recíproca dos sinais inibitórios vagais parassimpáticos para o coração. O mais bem conhecido dos mecanismos nervosos para o controle da pressão arterial é o reflexo baroceptor, que é iniciado por receptores de estiramento, chamado de baroceptores ou pressoceptores, que são terminações nervosas ramificadas localizadas nas paredes das grandes artérias sistêmicas.(16) Segundo o autor, a excitação dos baroceptores pela pressão aumentada nas artérias, emite impulsos para o centro vasomotor no tronco cerebral, que vai provocar a diminuição da PA por reduzir a resistência vascular periférica e o débito cardíaco. Inversamente, a PA baixa tem efeito oposto, inibindo os baroceptores, fazendo com que a pressão suba de modo reflexo de volta ao nível normal. Intimamente associado ao sistema de controle da pressão pelos baroceptores há um reflexo quimioceptor que opera de modo semelhante ao reflexo baroceptor, exceto pelo fato de que são quimioceptores, em vez dos receptores de estiramento, que iniciam a resposta. Os quimioceptores são células químio sensíveis que respondem à falta de oxigênio, ao excesso de dióxido de carbono ou ao excesso de íons hidrogênio, que estão localizados em dois corpos carotídeos, um em cada bifurcação da artéria carótida e em vários corpos aórticos adjacentes à aorta. Os quimioceptores excitam as fibras nervosas que, juntamente com as fibras baroceptoras, seguem pelos nervos de Hering e nervos vagos para o centro vasomotor. Sempre que a PA cai abaixo de um nível crítico, os quimioceptores são estimulados por causa do fluxo diminuído dos corpos e seus sinais são transmitidos para o centro vasomotor, que ajuda a elevar a PA.(16) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 641 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. Apesar de que certos fatores locais, como mudanças de temperatura e elasticidade tecidual, possam afetar a freqüência cardíaca, o sistema nervoso autônomo é o principal meio pelo qual a freqüência cardíaca é controlada.(17) A VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA E A ATIVIDADE DO SNA O reconhecimento das variações da freqüência do pulso remotam à antiguidade, sendo que a primeira observação de que a freqüência cardíaca e a pressão arterial variam batimento a batimento data do século XVIII e foi efetuada por Stephens Hales que, pela primeira vez, efetuou a medição quantitativa da pressão arterial. Estes autores verificaram existir uma correlação entre o ciclo respiratório, o intervalo interbatimentos e a pressão arterial sistólica.(6) A variação batimento a batimento, obtida pelo intervalo R-R do eletrocardiograma, pode ser analisada em função das freqüências que compõem essa variabilidade, fornecendo informações sobre o efeito do SNA sobre o sistema cardiovascular.(4) A figura 1 representa um traçado eletrocardiográfico típico, destacando as ondas P, Q, R, S e T, bem como o intervalo R-R. Figura 1. Traçado eletrocardiográfico com suas ondas, segmentos e intervalos. A análise da variabilidade da freqüência cardíaca é uma técnica não invasiva, simples, usada para avaliar as variações instantâneas de batimento por batimento em termos de intervalos R-R. Essa VFC foi considerada como um marcador adequado para a estimulação da função do SNA.(5) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 642 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. Os indivíduos normais têm uma variação fisiológica nos intervalos interbatimentos em fase com os ciclos respiratórios. Esta “arritmia sinusal” tem sido considerada como sinal de um sistema cardiovascular saudável e é mais acentuada nos jovens e nos desportistas. Foi no campo da obstetrícia e no estudo da diabete que primeiramente foi reconhecida à importância clínica do estudo da variabilidade da freqüência cardíaca, cujas aplicações práticas vêm sendo reconhecidas em outros campos da medicina.(6) A FC humana no repouso apresenta flutuações espontâneas que refletem a influência contínua do SNA no nódo sino-atrial. As oscilações devem ser corretamente quantificadas provendo assim um poderoso método de investigação do equilíbrio simpato-vagal no coração. O sinal gerado pelas oscilações da FC em repouso é obtido da superfície do eletrocardiograma e convertido em séries de pulsos via detecção precisa das ondas QRS sendo processado para o cálculo dos índices de VFC.(18) A modulação autonômica é o principal mecanismo de controle da freqüência cardíaca (FC) em indivíduos saudáveis. O ramo simpático do sistema nervoso autônomo aumenta a FC, implicando em intervalos mais curtos entre os batimentos cardíacos. Por sua vez, o ramo parassimpático a desacelera, resultando em intervalos maiores entre os batimentos. Assim, a variabilidade da freqüência cardíaca pode ser estimada com base nos intervalos entre os batimentos, os quais são mais facilmente observados como intervalos RR, que são os intervalos de tempo entre duas ondas R consecutivas do eletrocardiograma.(19) O incremento da freqüência cardíaca durante a execução de atividade física é modulado pelo sistema nervoso autônomo. Durante o exercício dinâmico o ajuste inicial da freqüência cardíaca é dependente da inibição do tônus vagal, enquanto os incrementos subseqüentes são atribuídos ao aumento na atividade dos nervos simpáticos. A modulação entre os dois sistemas (simpático e parassimpático) depende da intensidade do exercício.(20) Os valores de VFC dependem da duração do intervalo R-R, quanto menor o intervalo menor o limite de variação que pode ser medido. Um aumento no impulso simpático, que reduz os intervalos R-R também reduz a VFC. A redução da freqüência MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 643 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. cardíaca por um aumento na atividade parassimpática leva a um aumento dos intervalos R-R e uma maximização da VFC.(5) As variações dos intervalos R-R presentes durante condições de repouso representam uma boa modulação dos mecanismos de controle dos batimentos cardíacos. A atividade vagal eferente parece estar sob restrição “tônica” pela atividade simpática aferente cardíaca. As atividades vagal e eferente simpática quando direcionadas ao nódulo sinusal estão caracterizadas por desencadearem grandes sincronismos com cada ciclo cardíaco que podem ser modulados pelos osciladores centrais (centros respiratórios e vasomotores) e periféricos (oscilações na PA e na freqüência e profundidade respiratória). Estes osciladores geram flutuações rítmicas na descarga eferente neural que se manifestam como oscilações de curta ou longa duração na atividade cardíaca. A análise destes ritmos permite inferências a respeito do estado e função dos osciladores centrais, da atividade simpática e vagal, dos fatores hormonais e do nódulo sinusal.(18) As variações de FC provêm um padrão favorável de resposta no SNA. A sua ausência prediz problemas. Em particular a ausência de uma força de baixa freqüência, ou seja, atividade vagal para o coração, revela um risco iminente de morte súbita. A literatura científica afirma que a banda de baixa freqüência representa a atividade do SNS, ao contrário da banda de alta freqüência que representa exclusivamente a atividade vagal para o coração no ritmo respiratório.(21) A multiplicidade dos sinais periféricos e centrais é integrada pelo sistema nervoso central, que, por meio da estimulação ou da inibição de dois efetores principais, o vago e o simpático, modula a resposta da freqüência cardíaca, adaptando-a as necessidades de cada momento. A variação batimento a batimento, obtida pelo intervalo entre duas ondas R do eletrocardiograma, pode ser analisada em função das freqüências que competem essa variabilidade.(20) O valor prognóstico da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) com relação à sobrevivência de infarto miocárdico tem atraído um crescente interesse. Com o Holter ECG, pode ser coletada uma grande quantidade de dados dos pacientes de forma fácil e não invasiva. Além do ECG, irregularidades no ritmo cardíaco receberam atenção porque MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 644 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. a VFC reflete equilíbrio autonômico. Não será surpreendente que recentes estudos revelem possibilidades de prognóstico do infarto miocárdico através da variabilidade do ritmo cardíaco.(22) A análise da variabilidade da freqüência cardíaca tem sido estudada em repouso como meio não invasivo para avaliação da regulação autonômica cardíaca, sendo que sua diminuição está relacionada à maior risco cardiovascular. Entretanto durante o exercício, quando ocorrem importantes alterações neurais, seu comportamento deve ser melhor documentado.(23,24) De acordo com os autores citados, normalmente, o retraimento simpático relacionado à regulação da PA é revelado em manifestações repentinas dos batimentos cardíacos. Devido ao controle por barorreflexos da circulação, um maior número de manifestações ocorre se a PA estiver abaixo de um ponto predeterminado, até que a PA seja elevada suficientemente acima deste ponto novamente e as manifestações simpáticas cessem. Isto vai induzir uma oscilação em toda atividade simpática e na PA na banda de baixa freqüência. Entretanto, se a função cardíaca estiver muito prejudicada devido à grande quantidade de estímulos aferentes de alarme, a atividade simpática será ativada quase continuamente. Nerve-Express Software O Nerve-Express (NE) é um sistema computadorizado totalmente automático e não-invasivo, destinado à análise quantitativa da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático baseado na análise da variabilidade da freqüência cardíaca. Este equipamento utiliza dois métodos de avaliação das funções vitais fisiológicas, baseado em diferentes tipos de análise da VFC o Nerve-Express e o Health-Express. O NE utiliza 3 modalidades de testes para a avaliação da FC, o Teste Ortostático onde o paciente altera a sua posição de supino para ereto, a Manobra de Valsalva combinada com a respiração profunda e a monitoração contínua de longa duração do paciente. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 645 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. Para efetuar a análise da VFC, o “Nerve-Express” utiliza uma representação visual efetiva e transparente, conhecida como Método de Ritmografia, que reflete a estrutura de onda da VFC e atua como uma “impressão digital” dos mecanismos regulatórios autonômicos. Os intervalos de onda R-R são registrados sequencialmente, formando um ritmograma, ou seja, um retrato de onda curvo-específica da variabilidade dos intervalos R-R. Nerve-Express O NE possibilita a identificação de três tipos de padrão como resposta, o equilíbrio autonômico (homeostase vegetativa), a prevalência simpática e a prevalência parassimpática. O sistema reconhece automaticamente 74 estados do SNA que representam diferentes relações entre as atividades do SNS e SNPS e as variações em seu equilíbrio. No sistema cartesiano de eixos do sistema nervoso simpático/parassimpático, o princípio básico é que os parâmetros exibidos no ponto de equilíbrio autônomo (SNPS ≥ 0) ou a sua direita representam basicamente pessoas saudáveis, enquanto aqueles que se colocam à esquerda (SNPS < 0) em sua maioria representam disfunções temporárias ou pessoas cronicamente doentes. Na leitura dos ritmogramas constata-se que quanto mais agudo e regular o padrão de flutuação, mais saudável é a pessoa que está sendo avaliada e, da mesma forma, quanto menos aguda e irregular for à flutuação, menos saudável será a pessoa detentora deste ritmograma. O equipamento registra a atividade parassimpática no eixo X ou horizontal e a atividade simpática no eixo Y ou vertical. O ponto de intersecção dos eixos simpático e parassimpático é o ponto de equilíbrio autonômico. Para a direita e acima deste ponto de equilíbrio, o NE mostra uma área de atividade simpática e parassimpática aumentada em 4 graduações. As diminuições nas atividades do SNS e SNPS são mostradas à esquerda e abaixo do ponto de equilíbrio. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 646 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. Figura 2. Categorias de condições do sistema nervoso autônomo. Os 74 estados do SNA categorizados pelo NE são subdivididos em 9 categorias. Categoria 1 – Prevalência do SNPS com nível médio de atividade do SNS. Esta categoria representa dominância do SNPS. É normalmente observada em pacientes em repouso ou durante a primeira fase do sono (N-REM). Na segunda fase do sono (REM), a atividade do SNS geralmente aumenta. Assim, esta categoria é subdividida em 4 subcategorias, dependendo do nível de dominância do SNPS (leve, moderada, significante ou aguda). Esta categoria é de certo modo limitada, já que só pode ser observada em pacientes com valores estritamente médios de atividade do SNS. Categoria 2 – Aumento nas atividades do SNS e SNPS. Esta categoria é subdividida em 16 combinações diferentes de atividade do SNS e SNPS. É caracteristicamente uma das mais ricas divisões. Uma área distintiva nesta categoria representa o que pode ser chamado de estado “simpato-adrenérgico alto”, MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 647 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. correspondente a um aumento significante do SNS (pontos [3.1], [3.2], [3.3], [3.4], [4.1], [4.2], [4.3] e [4.4]). Uma pessoa alcança este estado quando experimenta uma maior amplificação de energia (um aumento agudo do SNS). O estado “simpatoadrenérgico alto” é caracterizado por uma repentina liberação de adrenalina similar ao qual um atleta experimenta antes da competição. As categorias de 1 a 3 representam basicamente pessoas saudáveis, entretanto, temos que ter em mente que pessoas saudáveis podem apresentar dois estados fisiológicos diferentes. Um estado possui nível baixo de atividade simpática e o outro tem um aumento significante da atividade simpática, sendo que ambos os estados são distinguidos por um aumento da atividade parassimpática. Um aumento no SNPS associado a um aumento significante no SNS reflete o estresse positivo, enquanto que uma diminuição no SNPS associada a um aumento significante no SNS reflete “distress” ou estresse negativo. A condição de uma pessoa saudável com um aumento significante no SNS e aumento do SNPS (estado simpato-adrenérgico alto) correspondem à idéia de um estresse positivo. Categoria 3 – Prevalência do SNS. Esta categoria representa um aumento do SNS associado a um valor médio de atividade do SNPS. Do ponto de vista fisiológico, esta categoria representa um estado transicional entre as categorias 2 e 4. Categoria 4 – Diminuição do SNPS com aumento de SNS. Esta categoria pode aplicar-se tanto para indivíduos clinicamente saudáveis como para indivíduos clinicamente doentes. Entretanto, o uso do termo “saudável” não é sempre apropriado já que o desequilíbrio funcional do estresse, exaustão física, tensão nervosa, infecção, intoxicação (incluindo drogas e álcool), exacerbação de condições crônicas e muitas outras causas ainda podem estar presentes. Nestes casos, uma diminuição no SNPS devido à depressão dos seus centros nervosos pode ser observada, MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 648 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. com uma ativação simpática simultânea disparada pela tentativa do sistema nervoso em equilibrar-se. Quando a ativação simpática é elevada (pontos [-2.3], [-2.4], [-3.3], [-3.4], [4.3] e [-4.4], o indivíduo alcança um estado “agudo” característico de uma doença grave ou extremo estresse ou disfunção. Esta seção “aguda” da categoria 4 corresponde claramente à idéia de “distress” ou “estresse negativo”. Categoria 5 – Diminuição do SNPS com nível médio de atividade do SNS. Esta categoria, como a terceira, é uma fase transicional. Tudo o que pertence à quarta categoria pode ser relacionado a ela, mas aqui a atividade do SNS aparece com valores médios. Isto significa que o estresse ou sobrecarga nervosa é irrelevante. Esta categoria pode freqüentemente refletir uma depressão do sistema receptor do SNPS, indicando a possibilidade de uma patologia crônica. Categoria 6 – Diminuição das atividades do SNS e SNPS. A sexta categoria, especialmente em torno do ponto – 3 dos dois eixos, reflete uma degeneração involuntária geral dos centros nervosos do SNS e do SNPS. A maioria dos casos encontrados nesta categoria se encontrão pacientes muito idosos ou aqueles cujas patologias causam uma diminuição significante na sensibilidade de todo o sistema receptor aliada à degeneração parcial dos centros nervosos. Os exemplos são pacientes que sofrem de câncer ou outras doenças que causem uma depressão similar dos centros do SNA. Os pontos [-1.-2], [-1.-3] e [-1.-4] são usualmente, mas não exclusivamente, observados em pacientes com níveis excessivos de íons potássio, o que altera o estado polarizado usual das fibras do músculo cardíaco levando a uma diminuição da freqüência e da força de suas contrações. Se a concentração de íons potássio for muita elevada, a transmissão dos impulsos cardíacos pode ser bloqueada e a atividade cardíaca pode cessar repentinamente (parada cardíaca). MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 649 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. Categoria 7 – Equilíbrio autonômico. Esta é uma categoria, apesar de formalmente ser apenas um ponto. Todos os outros pontos em torno dela pertencem às outras oito categorias devendo ser interpretados como valores de borda do equilíbrio autonômico. Categoria 8 – Diminuição do SNS com nível médio de atividade do SNPS. Esta categoria, como a terceira e a quinta, é transicional. Tudo o que pertence às categorias 6 e 9 pode ser relacionado a ela, mas aqui a atividade do SNPS adquire valores médios. Categoria 9 – Aumento do SNPS com diminuição do SNS. A ocorrência da nona categoria não é comum, pois normalmente um aumento do SNPS é acompanhado de um aumento do SNS. Esta condição rara é encontrada em atletas de pólo aquático, corredores de longa distância, marinheiros e pessoas com treinamento cardíaco especial para mergulho profundo no mar. Quando se utiliza o NE é necessário atentar para o fato de que qualquer reação esperada do SNA não depende somente do tipo e intensidade do fator impactante, mas também, é determinada pelo estado funcional do próprio SNA e de sua habilidade de reagir. Health-Express O Health-Express (HE) utiliza um tipo diferente de análise da VFC para a mensuração do estado geral de saúde, ou seja, os níveis de aptidão física, bem estar e capacidade funcional. A principal diferença é que o HE leva em conta o período de transição do ritmograma do ortoteste, enquanto o NE não. Na figura 3, temos a representação em onda que é composta de 448 intervalos R-R da frequência cardíaca. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 650 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. Figura 3. Ritmograma gerado no software Nerve-Express. O período de transição (intervalos R-R de 192 a 256) corresponde ao processo transicional entre as posições supina e ereta no ortoteste. Suas principais características são o “mín” (o intervalo RR mais curto, correspondente à freqüência cardíaca mais elevada ou HR máxima, enquanto o paciente está mudando de posição de supino para ereto) e o “máx” (o intervalo RR mais longo, correspondente à freqüência cardíaca mais baixa ou HR mín, enquanto o coração está se estabilizando na posição ereta). A regra básica é que quanto mais “profunda” a curva transicional, mais saudável é a pessoa a que ela pertence e melhor é o funcionamento de seus processos fisiológicos. Especificamente, quanto mais profunda a curva “no sentido inferior”, mais saudável é o coração (mais rápido ele reage aumentando a FC). A reação cardíaca é analisada a partir de um dos principais parâmetros do período de transição – a reação cronotrópica (ChMR). Se a mesma curva estiver mais profunda “no sentido superior”, mais saudável o sistema vascular periférico (mais rápida a compensação através da diminuição da FC ao seu nível inicial na posição supino). DISCUSSÃO O software Nerve Express na modalidade Health-Express (HE) utiliza um tipo diferente de análise da VFC na mensuração do estado geral de saúde, ou seja, os níveis de aptidão física, bem estar e capacidade funcional. A análise dos dados fornecidos pelo Software Nerve Express na modalidade Health-Express que define o ponto mínimo e ponto máximo do processo transicional, permite um maior grau de apuração na MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 651 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. determinação dos níveis de reação cronotrópica miocárdica (ChMR), dos parâmetros de variabilidade ótima e o índice de discrepância. O período de transição (intervalos R-R de 192 a 256) corresponde ao processo transicional entre as posições supino e ereta no ortoteste. Suas principais características são o “mín” (o intervalo RR mais curto, correspondente à freqüência cardíaca mais elevada ou HR máxima, enquanto o paciente está mudando de posição de supino para ereto) e o “máx” (o intervalo R-R mais longo, correspondente à freqüência cardíaca mais baixa ou HR mín, enquanto o coração está se estabilizando na posição ereta). A regra básica é que quanto mais “profunda” a curva transicional, mais saudável é a pessoa a que ela pertence e melhor é o funcionamento de seus processos fisiológicos. Especificamente, quanto mais profunda a curva “no sentido inferior”, mais saudável o coração (mais rápido ele reage aumentando a FC). A reação cardíaca é analisada a partir de um dos principais parâmetros do período de transição – a reação cronotrópica (ChMR). Se a mesma curva estiver mais profunda “no sentido superior”, mais saudável o sistema vascular periférico (mais rápida a compensação através da diminuição da FC ao seu nível inicial na posição supino). Segundo Riftine(25), o parâmetro de variabilidade ótima (POV) mostra quantitativamente a aproximação de um valor ideal de uma estrutura individual, definindo o desvio da variabilidade cardíaca avaliada de uma variabilidade cardíaca ideal. O índice de discrepância (ID) oferece uma avaliação quantitativa da discrepância da variabilidade da freqüência cardíaca após o período transicional. Este parâmetro também é conhecido como parâmetro de equilíbrio, o qual permite a avaliação da estrutura de onda da variabilidade cardíaca de recuperação após qualquer impacto.(25) A variabilidade da freqüência cardíaca é caracterizada por uma variedade de oscilações periódicas e não periódicas. As análises de sua dinâmica têm sido consideradas como uma fonte provedora de importantes informações a respeito do controle cardiovascular autonômico. Em particular, a análise espectral dos componentes harmônicos envolvidos na VFC parece mensurar o estado do equilíbrio simpato-vagal em várias condições fisiológicas e patofisiológicas.(26) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 652 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. Em adição à atividade simpática eferente, a oscilação da força da banda de baixa freqüência é resultado de vários fatores, como a responsividade cardiovascular dos órgãos-alvo, respiração, sensibilidade dos quimiorreceptores, sensibilidade dos baroceptores e atividade simpática aferente.(26) Segundo Notarius e Floras(27), a análise da força espectral da VFC tem a vantagem de ser uma ferramenta de simples utilização e caráter não-invasivo, capaz de acessar as mudanças dinâmicas do controle autonômico da freqüência cardíaca. Ela utiliza a análise do domínio da freqüência para identificar oscilações superimpostas que contribuem para as variações da FC. Já que o nódulo sino-atrial está sob controle do sistema nervoso autônomo, é pensado que o estudo deste comportamento oscilatório pode identificar a ocorrência de ações autonômicas sobre o coração. Nozdrachev e Shcherbatykh(28), afirmam que o método de investigação da VFC através da análise espectral das séries de intervalos R-R tem se tornado cada vez mais popular. Este método mostra a distribuição da freqüência da força num espectro geral da freqüência cardíaca. Segundo estes autores, a análise espectral abre novas oportunidades para a investigação dos centros do sistema nervoso autônomo, pois as flutuações da freqüência cardíaca são causadas por ações de estruturas cerebrais que regulam o coração. A análise da variabilidade da freqüência cardíaca pelo método de domínio da freqüência e do tempo tem sido utilizada para avaliar a regulação autonômica cardíaca. O Nerve-Express é um sistema digital que realiza a análise quantitativa do estado do sistema nervoso autônomo. O sistema utiliza um único algoritmo, que realiza a análise dos picos de amplitudes em baixa e alta freqüência espectral e oferece uma representação gráfica da relação quantitativa entre a atividade simpática e parassimpática.(29) No indivíduo normal as alterações da FC são comuns e esperadas, ocorrendo secundariamente ao esforço, ao estresse físico ou mental, à respiração, a alterações metabólicas e após a ingestão de determinadas drogas lícitas e ilícitas.(8) MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 653 Variabilidade da FC na mensuração da atividade do SNA. Os avanços na bioengenharia e no processamento de sinais biológicos têm permitido inúmeras possibilidades de novos procedimentos terapêuticos não-invasivos, bem como aumentado a capacidade de diagnóstico, especialmente na área cardiovascular. Recentemente a análise da variabilidade da freqüência cardíaca realizada por um computador trouxe possibilidades reais de observação e compreensão dos mecanismos extrínsecos do controle e ritmo cardíaco em situações fisiológicas e patológicas.(4,23) A atividade do sistema nervoso proporciona o mecanismo fundamental no controle da pressão arterial. Pequenas alterações nos níveis de sua atividade alteram de maneira significativa os graus de vasoconstricção dos vasos sanguíneos de vários órgãos chaves em nosso organismo. Isto ocorrendo frequentemente, aumento e reduções do fluxo sanguíneo destes órgãos, afeta tanto a função destes como também a pressão artéria.(21) CONCLUSÃO Para efetuar a análise da VFC, o “Nerve-Express” utiliza uma representação visual efetiva e transparente, conhecida como Método de Ritmografia, que reflete a estrutura de onda da VFC e atua como uma “impressão digital” dos mecanismos regulatórios autonômicos. Os intervalos de onda R-R são registrados sequencialmente, formando um ritmograma, ou seja, um retrato de onda curvo-específica da variabilidade dos intervalos R-R. REFERÊNCIAS 1. Rosenwinkel ET, Bloomfield DM, Arwady MA, Goldsmith RL. Exercise and autonomic function in health and cardiovascular disease. Cardiol Clin. 2001;19(3):369-387. 2. Filgueiras JC, Hippert MI. Estresse. In: Jacques MG, Codo W, organizadores. Saúde mental & trabalho. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002. 3. Smith RP, Veale D, Pépin JL, Lévy PA. Obstructive sleep apnoea and the autonomic nervous system. Sleep Med Rev. 1998;2(2):69-92. 4. Ribeiro MP, Brum JM, Ferrario CM. Análise Espectral da Freqüência Cardíaca. Conceitos Básicos e Aplicação Clínica. Arq Bras Cardiol. 1992;59:141-9. MTP&RehabJournal 2014, 12:630-655 654 Glauber S Brandão, Antônia AC Sampaio, Glaudson S Brandão, Jéssica J Urbano, Nina T Fonsêca, Nadua Apostólico, et al. 5. Migliaro ER, Contreras P, Bech S, Etxagibel A, Castro M, Ricca R, et al. 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