1288 7 - PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO Este eixo temático propôs uma reflexão a respeito do planejamento e da gestão do turismo a partir das políticas públicas e dos planos de desenvolvimento turístico, assim como suas repercussões nas loca lidades que vivenciam o processo de turistificação. Buscou-se ainda, analisar a dinâmica das inter-relações entre os atores, as metodologias de planejamento participativo, os paradigmas empresariais no turismo, os instrumentos de avaliação, os indicadores, os mercados e a comunidade no turismo com base local. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A DEMANDA TURÍSTICA REAL: UM ESTUDO DE CASO DOS VISITANTES DA CIDADE DE DIAMANTINA/MG Juliana Medaglia Silveira, MSc. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM [email protected] Carlos Eduardo Silveira, Dr. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM [email protected] RESUMO O artigo que segue apresenta os primeiros resultados da pesquisa de demanda realizada em Diamantina com Turistas que a visitaram entre 08 e 19 de maio de 2009. Destaca-se que Diamantina, além de patrimônio da humanidade e tombada como patrimônio nacional, é um dos 65 destinos indutores do referido programa do Governo Federal, e apesar de algumas iniciativas isoladas é a primeira vez que a cidade é alvo de uma pesquisa de demanda realizada de forma sistemática e aprofundada. Trata-se, portanto, de um estudo da demanda real do destino, para o qual alunos do curso de Turismo da UFVJM aplicaram questionários, previamente testados, com 215 turistas em pontos da cidade definidos através de seleção de atrativos mais freqüentados, tendo obtido um total de 185 questionários válidos. A amostra foi aleatória, baseada na visitação desses atrativos nos dias de aplicação dos questionários. Os resultados foram tabulados com a ajuda de bolsistas de iniciação científica e apresentados em forma de gráficos e tabelas, a fim de permitirem comparações com as próximas edições, visando a criação de uma série histórica. Os principais objetivos deste artigo foram, baseado nos resultados desta pesquisa, aliar as teorias utilizadas nas disciplinas de Marketing e Planejamento Turístico ao desenvolvimento do turismo de Diamantina, demonstrando a importância do conhecimento acerca do públicoalvo do destino para a gestão do turismo local. Os resultados iniciais confirmam algumas impressões generalizadas sobre o público que freqüenta a cidade, mas também apresenta dados que fogem do senso comum. Entre os dados previamente conhecidos que foram confirmados, concluiu-se que os principais freqüentadores de Diamantina são belorizontinos que viajam com família, em veículo próprio nos fins de semana. Já entre os dados que apresentaram novidades estão o fato da imagem da cidade estar mais relacionada à cultura como um todo e não particularmente aos espetáculos musicais que acontecem no destino, além da ampla faixa de renda e alta escolaridade dos turistas. Palavras Chave: Turismo, Pesquisa de Demanda Real, Diamantina. ABSTRACT The following article presents the first results of the demand research carried out with tourists who visited Diamantina between 8 and 19 of May 2009. It is important to highlight that even though Diamantina is both World and National Heritage City as well as one of the 65 main Brazilian Destinations according to the current XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1289 National Policy, this is the first time a tourism demand research takes place in a systematic and thorough way. The article presents, therefore, a study of the actual tourist demand of the destination for which Tourism undergraduate students of UFVJM carried a survey (that had been previously tested) with 215 tourists in predetermined spots in the city chosen according to the yearly amount of visitors. The final number of validated forms numbered 185, and compounded the random sample based on the number of visitor in each chosen site during the period of data collection. The results have been arranged in tables and graphs in order to be compared to future editions targeting the creation of historical data. The main goals of this article were compare theories used on Marketing and Tourism Planning disciplines and increase the participaton of the academy in the local tourism development, based on the research results, thus emphasising the importance of knowing the target consumers in order to develop local tourism in accordance to their carachteristics. The initial results reinforced some foreknown impressions and also brought some new information. It has been confirmed, for instance, that most of Diamantina visitors come from Belo Horizonte, in the weekends, with their families driving their own cars. However, in terms of image, it has been found out that people consider Diamantina as a cultural destination, in general terms, not only related to the specific music shows that take place in the city. Also it has been surprising the wide range of incomes declares by the respondents, as well as the high education level of the tourists. Key words: Tourism, Actual Demand Research, Diamantina. 1290 1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS DE DEMANDA PARA O TURISMO Atualmente a sociedade e os processos produtivos passam por transformações significativas. A globalização avança sobre as sociedades de forma acelerada, re-criando modelos sociais que vão desde a re-organização de núcleos familiares a transformações profundas no mercado de trabalho, gerando entre outras conseqüências, cenários extremamente competitivos. A relação entre globalização e aumento da concorrência foi apresentada pela Organização Mundial do Turismo (OMT, 2004:25) ao afirmar que em 1959 os quinze primeiros destinos do mundo contabilizavam 87% das chegadas internacionais, em 1970 este número era de 75% e já em 2000 somente 62%. Assim, o estudo do fenômeno turístico vem acompanhando as transformações da sociedade contemporânea e, a partir das diversas áreas que interagem na atividade turística (acordes ao caráter inter e multidisciplinar do fenômeno), vem desenvolvendo, investigando, pesquisando e criando seus próprios estudos e teorias, em um processo claro de amadurecimento, profissionalização XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 e até mesmo popularização do acesso ao turismo e ao lazer para as demais camadas da população. Neste processo, a necessidade de conhecer o perfil do turista real de uma destinação turística é um dos primeiros passos para o desenvolvimento do planejamento estratégico de um destino, que deve sempre buscar o equilibro entre a oferta e demanda em suas proposições. Assim, o estudo da demanda é vital para o êxito dos destinos turísticos, seja para a adequação da oferta fren te às necessidades e desejos de seus consumidores; seja para a produção da quantidade real de produtos e serviços de maneira que garanta a rentabilidade de uma determinada empresa ou organização (Medaglia, 2005). Estes estudos tornam-se ainda mais essenciais ao se considerar que, de acordo com Mazón (2001:97) “estamos assistindo a uma série de mudanças sociais, e sendo os turistas elementos ativos desta sociedade, é seguro que esta nova realidade repercutirá devidamente sobre o turismo.”, ou seja, é essencial para o turismo contemporâneo conhecer estes turistas, seus anseios, seu comportamento e sua relação com as localidades visitadas. 1291 Assim, a partir dos turistas que já freqüentam Diamantina torna-se possível estabelecer os mercados-alvo a serem reforçados, bem como os demais mercados que têm perfil semelhante e devem ser alvos de ações. Dessa forma, o levantamento e sistematização de informações acerca da demanda turística real podem e muito, contribuir com a cidade de Diamantina enquanto destino turístic o. A comprovação do valor das informações acerca dos turistas de Diamantina, são apresentados neste trabalho, a seguir. 2. CONHECENDO DIAMANTINA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO Diamantina, localizada no Estado de Minas Gerais, na região Sudeste do Brasil, é uma cidade que na sua essência já atraía espontaneamente visitantes, já que desde 1729, quando chegaram os primeiros bandeirantes exploradores das riquezas naturais brasileiras, a cidade foi se transformando em função da grande quantidade de diamantes nela encontrada. Assim, Diamantina passou a fazer parte da história brasileira e herdou, do período colonial do Brasil, precioso patrimônio tangível e intangível. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Assim, considerando sua relação com o turismo, Diamantina vem evoluindo no cenário turístico desde o lançamento da campanha pelo título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, adquirido efetivamente em 1999. Algumas das metas propostas na campanha incluíam o desenvolvimento econômico através do turismo e a geração de renda e empregos, o que r ealmente vem acontecendo. Somam-se ao Título de Patrimônio da Humanidade, as características da cidade do século XVIII como casarios coloniais extremamente preservados em seu centro histórico. Outra peculiaridade que faz da cidade um preciso destino turístico é seu entorno natural, já que a cidade está instalada na Serra do Espinhaço. A cidade também é berço de personagens ilustres da história brasileira, como a escrava Chica da Silva e o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Com todo este potencial turístico, Diamantina apresenta também um evento único com seu principal produto turístico: a Vesperata. No início o evento não foi criado com a pretensão de se tornar produto turístico da cidade, mas atualmente gera a ocupação máxima da planta hoteleira da cidade nos finais da semana em que ocorre. O espetáculo musical acontece de março a outubro, em finais de semana previamente estabelecidos, no centro histórico da cidade, cuja arquitetura proporciona uma acústica perfeita. Os maestros são colocados em uma pequena plataforma no meio do público e os músicos – muitos oriundos da Escola pública de música da Cidade (Conservatório Musical Lobo de Mesquita) – instalam-se nas sacadas do casario histórico, tocando e emocionando turistas e moradores autóctones. O atual Governo Brasileiro vem investindo efetivamente no Turismo desde sua chegada ao poder em 2003, quando instalou pela primeira vez um numa pasta exclusiva o Ministério de Turismo – MTur, o qual vem atuando diretamente em planos de desenvolvimento, ações de promoção e comercialização, estruturação das políticas públicas do setor, qualificação e até estudos de marketing do Brasil e seus destinos. Essa profissionalização do setor teve impacto direto nas políticas turísticas em outros níveis. Na cidade de Diamantina pode-se apontar como mais recente reflexo desse processo a inclusão da cidade em um Estudo da Fundação Getulio Vargas (2008) encomendado pelo MTur, define os 65 (sessenta e cinco) Destinos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1292 Indutores de Turismo no Brasil. Em consonância com o Plano Nacional de Turismo (2007-2010) e tendo como base os Planos de Marketing Internacional (Plano Aquarela, 2005a) e Nacional (Plano Cores, 2005b) o estudo apontou todas as capitais e até cinco cidades em cada Estado como capazes de induzir o desenvolvimento turístico de sua região (Barbosa, 2008). Esses destinos, incluindo Diamantina, estão sendo priorizados com políticas públicas específicas, mas para serem assim beneficiados, devem oferecer contrapartidas, que vão desde recursos do poder público local, até pesquisas que versem sobre o turismo no município e região. Neste contexto, é que foi realizada a “Pesquisa de Demanda Real de Diamantina e Região (Silveira e Medaglia, 2009), cujos resultados, focados nas percepções, emoções e outras relações desta encantadora cidade turística com sua demanda real, são apresentadas a seguir. 3. OS CAMINHOS PARA CONHECER A DEMANDA TURÍSTICA REAL DE DIAMANTINA Conforme comentado, as informações apresentadas neste trabalho são fruto de uma pesquisa realizada com os turistas em Diamantina. Com uma amostra aleatória, foram aplicados 215 questionários, dos quais 185 foram considerados como válidos pelos coordenadores da pesquisa; no período de 08 a 19 de maio de 2009, em 8 atrativos turísticos da cidade. Estes pontos de aplicação foram selecionados através de outra pesquisa realizada pela Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo da Prefeitura de Diamantina, denominada “Fluxo de Visitação nos Monumentos em Diamantina 2008” (SECTUR, 2008), e que identificou os lugares mais freqüentados pelos turistas que visitam Diamantina. Desta forma, 23 acadêmicos da turma 2007/1 do Curso de Turismo da UFVJM, coletaram os dados, por meio de um questionário estruturado com 24 questões, sendo: 11 perguntas fechadas, 03 abertas e 10 semi-abertas; ainda sub-divididas em “Característica da Viagem”, “Motivações”, Percepções e Expectativas”, Circuito dos Diamantes” e Dados Estatísticos”. Com um questionário tão extenso e por iniciativa dos alunos, o Curso de Turismo e a Assessoria de Comunicação da UFVJM, bem como o Circuito dos Diamantes, cederam brindes para incentivar a participação dos turistas. Já a tabulação ficou XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1293 sob responsabilidade dos bolsistas de Iniciação Científica (PIBIC-FAPEMIG), que anteriormente, já haviam também realizado um levantamento das pesquisas de demanda realizadas até o momento na cidade de Diamantina. Todas essas etapas e ações foram realizadas sob supervisão dos professores coordenadores da pesquisa. Neste contexto, apresenta-se a seguir os principais resultados da Pesquisa de Demanda Real de Diamantina, acreditando ser esta pesquisa um valioso instrumento de tomada de decisões estratégicas do destino turístico Diamantina. 4. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA REAL DE DIAMANTINA O bloco de questões „Características da Viagem‟, teve como objetivo máximo identificar o perfil geral dos turistas, bem como descobrir de que forma são organizadas as viagens até Diamantina. Diante destas indagações pode-se dizer que o turista que frequenta Diamantina reside especialmente em Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, e de diversas outras cidades do Estado, já que, somando estas duas categorias de visitantes, chega-se ao percentual de 70%. Todas as outras regiões do país foram contempladas, ainda que discretamente, a não ser pela região sudeste que teve mais destaque. A participação internacional foui pouco expressiva, mesmo sendo Diamantina Patrimônio da Humanidade, apenas 3% dos turistas entrevistados eram estrangeiros. A demanda é composta especialmente por pequenos grupos que viajam em veículo próprio, indicando um destino familiar, porém esse turista viaja tanto em pequenos grupos quanto em grandes excursões; é frequentador esporádico do destino Diamantina, com 44% dos entrevistados afirmando não ser sua primeira visita à cidade. O tempo de permanência 2 e 3 dias na cidade foi mencionado por 72% dos entrevistados; que viajam por meio rodoviário seja carro próprio ou ônibus de excursão (80%); ficam hospedados em meios tradicionais como hotéis e pousadas (72%); efetuando um gasto médio diário variado, com 37% dos entrevistados investindo entre R$51,00 e R$100,00 por dia e 31% deixando até R$50,00. Esse turista apresenta um altíssimo grau de intenção de retorno, de mais de 95% e demonstra que o turismo XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1294 está sendo desenvolvido apenas no Centro da cidade, já que apenas 28% dos entrevistados conheceu outros bairros. Neste primeiro grupo de questões, cabe destacar os seguintes gráficos: Gráfico 1 – PRIMEIRA VISITA A DIAMANTINA? A taxa de retorno de turistas a Diamantina, apresentada no gráfico acima, representa um dado importante de satisfação com o destino. Da amostra pesquisada, mais da metade, 56%, já haviam estado na cidade ao menos uma vez. A estes foi perguntado com freqüência visitam Diamantina e as respostas 1295 são apresentadas no gráfico seguinte. Gráfico 2 – COM QUE FREQUÊNCIA VISITA DIAMANTINA Ainda que não haja referência específica a quantas vezes ao ano frequentam a cidade, 79% afirma vir à cidade esporadicamente, alguns com freqüência mensal e outros algumas vezes ao ano. Estes gráficos apontam para um alto número de reicidência de visita, ou seja, demonstra que o turista que conhece Diamantina tem motivos e interesses para continuar frequentando o destino. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Gráfico 3 – INTENÇÃO DE RETORNO 1296 O alto grau de intenção de retorno aponta para um Destino Turístico com grande potencial e que apresenta uma demanda considerada fiel. Entre os motivos que mais chamam a atenção na intenção de retorno, são a falta de tempo de ver tudo que leva ao desejo de voltar para conhecer mais coisas, e a intenção de voltar trazendo outras pessoas, especilamente amigos e familiares. Dos poucos comentários negativos em relação à intenção de retorno, destacaram-se os relativos à distância. Estes dados apontam para o potencial turístico da cidade de Diamantina, que apresenta um turista real, frequentador do destino, mas que permanece poucos dias. Vencer o desafio de aumentar o tempo de permanência do turista, não é grande dificuldade para Diamantina, haja vista o baixo número de entrevistados que visitou outros bairros da cidade, que notoriamente apresentam outros ponteciais turísticos. Estes resultados também apontam para a atenção especial que deve ser dada ao turista que vem de Belo Horizonte, bem como, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 aponta para o potencial de demanda a ser trabalhado em outros Estados brasileiros, pouco presentes ou ausentes na pesquisa. 5. AS MOTIVAÇÕES DA DEMANDA REAL DE DIAMANTINA Uma vez que a cidade de Diamantina ainda não apresenta dados estatísticos acerca de seus turistas, este bloco de perguntas teve por objetivo compreender as motivações reais que atraíram os visitantes da cidade, Este bloco de perguntas permitiu perceber que a Cultura e suas especificidades foram o motivo de maior destaque entre os visitantes entrevistados. Isso porque, a variável Cultura foi diretamente citada por estes turistas, seguida da Arquitetura e dos Personagens – elementos também relacionados a Cultura – como motivação principal para visitar a cidade. Esta questão apontou também, de certa maneira, para a hospitalidade da comunidade local, já que muitos dos entrevistados tiveram como motivação Visitar os Amigos. As surpresas negativas ficaram por conta da Estrada Real (rota estabelecida pelo Governo do Estado de Minas Gerais e talvez considerada o principal produto turístico da região) com poucas menções bem como a Natureza. Dado também comprovado pela questão relacionada ao Meio Natural que apontou que 66% dos entrevistados não visitaram nenhum atrativo natural e 19% visitaram o Parque do Biribiri. Entre os atrativos culturais visitados houve certo equilíbrio, com destaque para o Mercado Velho, A Casa de JK, Casa de Chica da Silva e a Casa da Glória. Quanto aos eventos da cidade, merecem destaque a Feira do Mercado, que teve a maior participação e a Vesperata. Provavelmente este último refere-se aos turistas que viajam por pacote turístico, que geralmente apresentam um roteiro que incluem a Vesperata. Contudo, o alto índice de pessoas que não participaram de nenhum evento cultural indica que há também pacotes que, por contemplarem outras cidades do Ciclo do Ouro, passam por Diamantina durante a semana, e além de não incluírem eventos culturas, muitos desses pacotes reduzem o tempo de permanência na cidade. Para melhor compreensão, apresentam-se os gráficos a seguir: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1297 Gráfico 4 – MOTIVAÇÃO PRINCIPAL A principal motivação dos turistas para sua vinda a Diamantina foram os aspectos culturais, que foram tanto denominados como a própria cultura, por 67 pessoas, como também como arquitetura (29), e os personagens que habitaram a cidade (15). Interessantemente, visitas a amigos e parentes, e motivações relacionadas a trabalho e estudo, foram mais representativos (28 e 25 respectivamente) do que o esperado. Expressiva também foi a soma de Vesperata e Eventos, com 46 respostas, sendo que a Vesperata isoladamente teve 24 menções. Assim, pode-se concluir que a Vesperata atrai número expressivo de turistas, mas os aspectos culturais do destino atraem muito mais visitantes que esse evento. Além disso, negócios e estudos fomentam um fluxo considerável em Diamantina, demonstrando seu potencial diversificado. A menor representatividade nas motivações fico com os atrativos naturais, como se mostra a seguir: Gráfico 5 – ATRATIVOS NATURAIS VISITADOS XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1298 A supresa anterior se comprovou nesta questão, pois 66% dos entrevistados não visitaram nenhum atrativo natural. Foi questionado aos turistas quais atrativos naturais visitaram. O Parque Estadual do Biribiri (PEB) recebeu 38 visitas, o que pode ser justificado pela sua proximidade com a cidade de Diamantina. Muitos dos turistas que visitaram o PEB também estiveram em outros atrativos naturais como trilhas, Parque Estadual do Itambé, Cachoeiras, Parque Estadual do Rio Preto, Parque Nacional das Sempre Vivas e Gruta do Salitre. 1299 Esta última recebeu 18 visitantes, sendo o segundo atrativo mais visitado, o que pode ser explicado por estar localizada próxima ao centro da cidade e ser parte de roteiros organizados. Gráfico 6 – ATRATIVOS CULTURAIS XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Novamente tem-se a confirmação de gráficos anteriores de que a motivação cultural é a mais citada pelos entrevistados. Percebe-se certo equilíbrio entre os atrativos citados: Casa de Chica da Silva, Casa da Glória, Casa de JK, Museu do Diamante e o Mercado Velho, todos com mais de 70 citações. As Igrejas também apresentaram certo equilíbrio, com destaque para a do Carmo e a São Francisco. Foi constatado maior número de visitações ao Centro Cultural David Ribeiro conhecido como Mercado Velho, 114 pessoas. Acredita-se que devido a sua localização estratégica e ao fato de ser o monumento em que acontecem determinados eventos, como a Sexta Cultural e a Feira do Mercado Velho. O Museu Casa de JK foi visitado por 92 pessoas, o que pode ser explicado pela representatividade do personagem na história política do país e pelo fato de ser um atrativo bem estruturado. A Casa da Chica da Silva se destaca com 83 pessoas e também é um ícone histórico brasileiro. O atrativo Casa da Glória foi visitado por 74 pessoas pelo fato de ser um dos cartões postais do município. O Museu do Diamante obteve 51 visitantes, isso pode ser justificado pela identidade com o diamante que a cidade possui e por estar localizado em região central. Gráfico 7 – PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES/ EVENTOS XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1300 Nota-se que a maioria dos entrevistados, correspondente a 70 pessoas, não haviam participado de nenhuma atividade na cidade, até o momento da entrevista. Isso pode ser justificado pelo fato dos entrevistados terem iniciado suas atividades de lazer no sábado pela manhã, a e maioria delas ocorrerem no final de semana. Um número significativo de pessoas visitou somente a feira do Mercado Velho, 86 no total, por ser um monumento postal de Diamantina, ter localização estratégica e comercializar produtos regionais. A segunda maior parcela, 70 pessoas, não participou de nenhum evento na cidade e 63 turistas afirmaram ter participado da Vesperata. Gráfico 8 – DE QUAL ATIVIDADE MAIS GOSTOU? 1301 Dentre as atividades que os entrevistados participaram, a Vesperata foi o evento mais apreciado, com número expressivo de 65% das respostas. Assim, é possível constatar que a Vesperata ainda é o principal produto turístico de Diamantina. Este grupo de perguntas apontou claramente para a necessidade de ações de consolidação e diversificação dos atrativos culturais, que possam cumprir um papel importante na inclusão social da comunidade autóctone, tanto do ponto de vista da apropriação e auto-estima com a valorização da cultura, quanto do envolvimento com o turismo que pode e precisa de renovação constante, seja no caráter econômico da atividade turística (com a geração de emprego e renda, por exemplo), quanto no caráter social do turismo (com os benefícios que a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 convivência com outras pessoas pode trazer). Do ponto de vista dos atrativos naturais, o quê a princípio assusta, pelo sub-aproveitamento do potencial para turismo em meios naturais, traz o ponto positivo da ainda preservação deste patrimônio, que tem condições de ser desenvolvido de forma sustentável, o que não seria possível se este potencial tivesse sido explorado em um passado recente. 6. PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DOS TURISTAS DE DIAMANTINA Na continuidade da Pesquisa as questões tiveram o objetivo de detectar a imagem do destino para os turistas entrevistados, além de se tentar saber se as expectativas destes visitantes foram atendidas no destino. Assim, felizmente a Imagem que os turistas têm da cidade parece condizer com a realidade de Diamantina, com Cidade Colonial em destaque, com 96 menções, seguida de Arquitetura com 29, Diamante/Garimpo com 26 e personalidades com 22, demonstrando ser esse um destino de tradições. Merece destaque ainda maior a Arquitetura, que além de condizer com a Imagem consegue mesmo, assim, sem o „fator surpresa‟ (já que está é esperada pelo turista) encantar, juntamente com a Hspitalidade, a Natureza, que se percebeu anteriormente como potencial turístico, e a História, que parecem pertencer à natureza da cidade, enquanto palco do período colonial do Brasil e seu povo notoriamente acolhedor. Já a questão que investigou a qualidade da estrutura turística não apresentou surpresas, com altos índices de „Bom‟ ou „Não sabe‟. Os principais resultados deste bloco de questões podem ser melhor visualizados a seguir: Gráfico 9 – ENCANTAMENTO XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1302 De acordo com o gráfico, 73 turistas entrevistados apontaram o estilo arquitetônico colonial, 34 a hospitalidade do local e 29 as belezas naturais como os maiores motivos de encantamento. Destaca-se ainda a história, com 23 citações e a musicalidade com 17. Em menor proporção vêm as personalidades, com 12 menções (o que pode significar uma falta de aproveitamento dessa imagem) e as Igrejas, com 11. Neste mesmo bloco de perguntas, buscou-se avaliar a satisfação em relação à estrutura turística em geral, questionando-se a respeito de cerca de 30 itens, por meio de perguntas específicas entre ótimo e péssimo, com uma opção de “não sabe/não usou”. Alguns destes itens são apresentados na tabela a seguir. Tabela 1 – ESTRUTURA TURÍSTICA Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Não Sabe Atendimento em Geral 60 107 5 1 2 5 Sinalização 14 61 50 24 14 17 Aparência à cidade 77 89 8 3 2 1 Acesso cidade Acesso aos Atrativos 26 19 96 94 33 33 7 2 9 8 9 23 Meios de Hospedagem 50 88 15 3 0 24 Qualidade no Atendimento Bares & Restaurantes 42 77 15 0 1 45 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1303 Lojas de Artesanato 41 56 10 0 0 73 Acesso às Informações Turísticas 24 69 14 11 5 58 Qualidade das Informações Turísticas 26 76 19 1 7 49 Segurança 39 92 10 2 1 36 Receptividade do Povo 83 72 1 1 0 13 Limpeza 48 95 24 2 1 10 Conservação do Casario 65 83 14 2 2 14 Paisagem no trajeto à cidade 70 70 12 2 0 26 A julgar pela boa imagem que a cidade demonstrou gozar junto aos seus turistas, cabe a ação de discussão entre os líderes do turismo local, a fim de verificar como essa imagem pode ser reforçada e, obviamente, se é essa a imagem que se pretende passar. Tal imagem pode ser acompanhada das variáveis de encantamento detectadas, já que a arquitetura se repete, ao passo que Natureza, História e Hospitalidade realmente fazem parte do cotidiano da cidade e são pontos bastante positivos, que costumam caracterizar destinos turísticos consolidados. Cabe ainda destacar a importância da continuidade nas ações de conservação e preservação que vem sendo feita na cidade, pelos Organismos competentes. Por último, a hospi talidade se reflete também nos serviços turísticos, já que a classificação geral na prestação destes foi „Bom‟, o que aponta também que, como usual, sempre existe espaço para melhorar e tentar alcançar o „Ótimo‟. 7. PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS TURISTAS DE DIAMANTINA Pra finalizar e completar o levantamento de informações acerca da demanda turística real de Diamantina, o questionário foi encerrado com questões relativas ao perfil sócio-econômico destes turistas. Para não constranger os turistas com perguntas pessoais, estas questões foram apresentadas no final da entrevista sob – nome „Somente para fins Estatísticos‟. Mas, em termos de estudos de demanda turística, sabe-se que estes são dados valiosos que podem e devem nortear o desenvolvimento do turismo de Diamantina. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1304 Assim, é possível afirmar que houve grande equilíbrio de gênero, faixa etária, e renda, com destaque para o público adulto, mas sem grandes variações. A faixa de renda familiar foi alta para os padrões brasileiros, tendo prevalecido a renda superior a R$ 6.301,00, mas com grande representatividade das outras faixas. O que teve especial destaque foi o nível de escolaridade da demanda, com 76% apresentando de nível superior incompleto para cima, caracterizando um público bem informado, e possivelmente com um grau de exigência elevado. Novamente, os principais gráficos deste grupo de perguntas, são apresentados a seguir: Gráfico 10 – ESCOLARIDADE 1305 Este gráfico aponta que os turistas que visitaram a cidade de Diamantina possuem boa escolaridade, com destaque para os 41% dos com ensino superior completo, 14% incompleto e 21% pós-graduados. A soma dessas categorias, 76%, atestam o elevado nível de educação da demanda, o que vai ao encontro das motivações culturais expressadas nos gráficos iniciais. Gráfico 11 – RENDA MENSAL FAMILIAR XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A diversidade de público de Diamantina é novamente reforçada pelo gráfico acima, onde se percebe um considerável equilíbrio entre as faixas de renda. Destaca-se que a maior parcela possui renda familiar superior a R$ 6.301,00, o que em conjunto com o gráfico anterior, sugere uma incidência de público exigente. 1306 Gráfico 12 – FAIXA ETÁRIA O equilíbrio percebido no gráfico anterior se repete, mas agora mais amplamente, com 13% de jovens entre 18 e 24 anos, 17% adultos de 34 a 42 e 16% adultos entre 43 e 51 anos. Destaca-se que a maior fatia é de pessoas entre XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 52 e 60 anos de idade, 24%, mas mesmo assim não desponta com tanta diferença para as outras faixas, o que reitera o equilíbrio da demanda do destino. Destaca-se ainda a baixa incidência de pessoas com mais de 71 anos de idade, o que supõe-se seja decorrência das características geográficas de Diamantina, que dificultam especialmente a locomoção. Tabela 2 – FAIXA ETÁRIA E RENDA FAMILIAR Faixa Etária Faixa de renda mensal Até R$ 900 R$ 901 a R$ 1500 R$ 1501 a R$ 2100 R$ 2101 a R$ 2700 R$ 2701 a R$ 3300 R$ 3301 a R$ 3900 R$ 3901 a R$ 4500 R$ 4501 a R$ 5100 R$ 5101 a R$ 5700 R$ 5701 a R$ 6300 Acima R$ 6301 NQR Total geral Menos de 18 1 18 a 24 25 a 33 34 a 42 43 a 51 52 a 60 61 a 70 4 2 5 4 2 3 2 5 1 2 2 4 4 3 4 3 3 1 1 5 3 2 4 1 2 1 1 2 1 1 1 1 4 5 2 1 1 1 2 2 1 1 1 4 7 3 3 3 12 3 41 1 1 3 1 23 5 25 2 7 30 28 Acima de 71 Total geral 2 1 16 12 24 18 13 5 10 1 2 1 1 10 8 11 43 6 176 1 8 3 20 8 Buscou-se identificar em que faixa etária encontravam-se as maiores rendas e o resultado aponta para a maior incidência de pessoas com renda familiar acima de R$ 6.301,00 a partir dos 34 anos de idade até os 70. Ressaltase ainda que a distribuição de renda nas faixas de idade apresenta igualmente bastante equilíbrio, exceto a faixa de até 18 anos de idade que teve concentração na renda abaixo de R$ 900,00, o que não chega a representar uma surpresa. Por fim, a „quantificação‟ deste público aponta para um segmento de mercado bastante desejado por diversos destinos turísticos no Brasil e no mundo. Se forem agregadas aos dados estatísticos deste bloco as respostas obtidas nos demais blocos, estes turistas são independentes, motivados pela cultura, mas observadores de outros pontos, como a Natureza; se hospedam em meios de hospedagem tradicionais; apresentam um bom gasto médio diário; avaliam os serviços turísticos com bons; têm disposição para interagir com o Destino, haja vista sua participação em atividades de atrativos culturais; e quase a metade deles tem disposição para visitar outras localidades turísticas na Região. Este XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1307 perfil se comprova, inclusive, nos itens tratados na Tabela 3, de comentários e sugestões. Com este breve resumo e considerando o segmento apontado por este perfil, indica-se que a busca do desenvolvimento turístico local deve considerar informações turísticas precisas (web site, mapas, folhetos), prestação de serviços de qualidade e diversificação de atrativos, no Planejamento do Destino Diamantina. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados aqui apresentados são fruto de um projeto de pesquisa realizado pelos autores, com a imprescindível participação dos academicos do Curso de Turismo da UFVJM, que teve início no segundo semestre do ano de 2008 e que não tem previsão de término, tendo uma nova edição já a caminho (semestre 2009-2), uma vez que o objetivo maior criar uma série histórica que possa, com número mais expressivo e estatísticamente adequado, ser de valia para o Turismo em Diamantina e Região. São muitas as possibilidades que se apresentam ao compartilhar os resultados de uma pesquisa com turistas. Desde a importância comprovada de estudos de demanda até a diversificação de produtos turísticos possíveis para Diamantina, passando qualidade do perfil sócio-econômico dos turistas deste destino, até a produção de dados estratégicos para a tomada de decisões no planejamento turístico do destino Diamantina. De maneira objetiva, o que se tenciona, é que as pesquisas de mercado próprias do marketing possam „alimentar‟ os caminhos do planejamento turístico, enquanto que este, pode oferecer ao marketing produtos turísticos realmente estruturados em premissas de cooperação público-privada, sustentabilidade e qualidade, para que sejam promovidos e comercializados de maneira mais efetiva (Medaglia e Silveira, 2009). Isso implica também numa maior aproximação em termos acadêmicos e científicos entre as disciplinas de marketing e planejamento turístico, a fim de gerarem pesquisas e conhecimentos complementares, diminuindo a „departamentalização‟ desses conhecimentos nas curriculares. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 matrizes 1308 9. REFERÊNCIAS BARBOSA, L. G. M. (org). Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. 2 ed.– Relatório Brasil. Brasília: Ministério do Turismo, 2008. BRASIL. MTur. Plano Nacional do Turismo: diretrizes, metas e programas 2003 – 2007. Brasil, 2003. BRASIL. MTur; Chias Marketing. Plano Aquarela: marketing turístico internacional do Brasil. Brasil, 2005a. BRASIL. MTur; Chias Marketing. Plano Cores do Brasil: marketing turístico nacional. Fase I – diagnóstico. Brasil, 2005b. MAZÓN, T. “El nuevo modelo turístico en las sociedades desarrolladas”. Papers de Turisme (29), 91-107, 2001. MEDAGLIA, J; SILVEIRA, C.E. “La evolución del marekting de destinos: su sinergia con la planificación turística”, Estudios y Perspectivas en turismo, 18(5), 530-545, 2009. MEDAGLIA, J., SILVEIRA, C.E. Pré-teste de pesquisa: perfil da demanda turística real de Diamantina e região. Diamantina: UFVJM, 2008. MEDAGLIA, J. Un estudio sobre la necesaria evolución del Marketing de Destinos Turísticos y su sinergia con la Planificación Estratégica de Destinos Turísticos. Málaga: Universidad de Málaga, Facultad de Comunicación y Turismo, 2005. OMT. Observations on International Tourism Communications: report from the first world conference on tourism communications. OMT, Madrid, 2004. SECTUR. Fluxo de Visitação nos Monumentos em Diamantina. Diamantina, PMD, 2008. SILVEIRA, C.E.; MEDAGLIA, J. (coord.) Perfil da demanda turística real de Diamantina e região: características de viagem, motivações, percepções e expectativas. Diamantina: UFVJM, 2009. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1309 ANÁLISE PRELIMINAR DA GESTÃO DO TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA COSTA DOS CORAIS (AL/PE) Gisela Livino de Carvalho Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/MMA – ICMBio RESUMO Este trabalho apresenta uma análise preliminar de como a atividade turística vem sendo desenvolvida na Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais. Esta Unidade de Conservação se insere nos biomas brasileiros marinho e costeiro, estendendo-se desde a foz do Rio Meirim, em Maceió, a capital de Alagoas, até a foz do Rio Formoso, em Tamandaré, Pernambuco, englobando todas as praias e estuários inseridos neste trecho do litoral da região Nordeste do Brasil. A análise em questão partiu do ponto de vista de alguns dos principais gestores nas áreas de turismo e meio ambiente, tanto do serviço público quanto da iniciativa privada. Foram estudados, em particular, os municípios de Maragogi e Tamandaré, que são os que apresentam as maiores demandas turísticas da região. Apesar das dificuldades encontradas, em particular o baixo índice regional de educação e a ineficácia política, os prognósticos levantados para o turismo foram otimistas. Ao final, são propostas medidas com vistas à melhoria da gestão, visando à participação efetiva da sociedade civil envolvida e demais entidades públicas parceiras, assim como o alcance da sustentabilidade da atividade turística, na área estudada. Palavras-chave: Turismo Sustentável, Unidade de Conservação, Gestão Ambiental, Área de Proteção Ambiental, Costa dos Corais. ABSTRACT This work presents a preliminar analysis of how the tourist activity comes being developed in the Costa dos Corais Environmental Protection Area. This Conservation Unit is inserted in Brazilian marine and coastal biomas, extending itself since the Meirim River estuary, in Maceió, capital of the state of Alagoas, until the Formoso River estuary, in Tamandaré, state of Pernambuco, enclosing all the beaches and inserted estuaries in this area of the coast of the Northeast region of Brazil. The analysis in question was resultant of the point of view of some of the main managers, in the areas of tourism and environment, as of the public service how of the private initiative. In particular, the cities of Maragogi and Tamandaré had been studied. They are the ones that presents the highest tourist demands of that region. Despite the difficulties found, in particular the low regional index of education and the politics inefficacy, the prognostics raised for the tourism had been optimistical. To the end, proposals are measured with sights to the improvement of the management, searching the involved civil society and any public institutions partners efective participation, with objective of the tourist activity sustentability, in the studied area. Keywords: Sustainable tourism, Conservation Unit, Environmental Management, Environmental Protection Area, Costa dos Corais. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1310 1 INTRODUÇÃO A Área de Proteção Ambiental (APA) da Costa dos Corais é uma Unidade de Conservação (UC), configurada como de uso sustentável e criada pelo Decreto Federal s/nº de 23/10/1997, a qual apresenta, como objetivos de criação : I - garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, com sua fauna e flora; II - manter a integridade do habitat e preservar a população do Peixe-boi marinho (Trichechus manatus); III - proteger os manguezais em toda a sua extensão, situados ao longo das desembocaduras dos rios, com sua fauna e flora; IV - ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental; e V - incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade cultural regional. (IBAMA, 2007) Acredita-se que A APA Costa dos Corais não terá como atingir seus objetivos de conservação ambiental e ordenamento do turismo se não promover um processo de planejamento da atividade turística, inserido na gestão ambiental da UC, que envolva a conscientização da população residente e visitante, a respeito dos conflitos e possíveis soluções sócio-ambientais. Parece ser necessário um trabalho consistente de sensibilização, conscientização e educação ambiental, voltado para as comunidades locais e para os turistas que visitam as praias da APA, para que seja alcançada a sustentabilidade da atividade turística na região. Esta configura-se como uma das principais fontes de renda dos habitantes dos municípios inseridos na APA Costa dos Corais. É evidente que qualquer atividade econômica deve ser exercida de forma a que alcance sua sustentabilidade ambiental, social e econômica. Em se tratando do turismo, cujo principal produto de venda é a paisagem, a necessidade da conservação ambiental torna-se ainda mais óbvia. O presente trabalho tem por finalidade propor algumas soluções para o planejamento da atividade turística na APA Costa dos Corais. Neste caso, em que é delimitada, como objeto de estudo, uma APA, a necessidade de que uma atividade econômica seja exercida de forma sustentável torna-se, além de tudo, uma exigência para que a UC atinja seus objetivos, previstos em lei, de conservação e bem estar da população. Justifica-se, portanto, este estudo, como um elemento preliminar para que seja obtido um diagnóstico mais amplo de como vem sendo exercida a atividade XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1311 turística na APA, além de um subsídio para a proposição de possíveis soluções para os obstáculos encontrados à eficiência na gestão da unidade. Com o intuito de oferecer ferramentas à gestão do turismo como parte integrante da gestão ambiental da APA Costa dos Corais, este trabalho objetiva analisar como a atividade turística vem sendo desenvolvida na APA Costa dos Corais e propor subsídios para o seu planejamento, visando à sustentabilidade do turismo na região e à ampla participação social na gestão da UC. Para tanto, foram traçados os seguintes objetivos específicos: verificar e analisar opiniões dos gestores públicos que atuam na região da APA, ligados às áreas de turismo e meio ambiente; levantar sugestões e demandas junto aos empresários locais, no sentido de compatibilizar desenvolvimento turístico com gestão ambiental; e propor soluções para a gestão do turismo, como parte integrante da gestão socioambiental e participativa da UC. A metodologia empregada baseia-se em um estudo de caso, adaptado para a obtenção de um diagnóstico prévio de como vem sendo exercido o turismo nos municípios mais visitados dessa Unidade de Conservação (UC) federal, quais sejam: Tamandaré, no Estado de Pernambuco, e Maragogi, no Estado de Alagoas. Foram levantados dados através de levantamento bibliográfico, com conseguinte análise de documentos disponíveis nos arquivos da APA Costa dos Corais. Posteriormente, alguns gestores que atuavam nas áreas de turismo e meio ambiente dos municípios estudados - escolhidos por abrangerem um amplo leque de atividades, e por estarem à época há, no mínimo, dois anos em suas funções - foram entrevistados. Finalmente, com uma abordagem qualitati va, o resultado destas entrevistas foi analisado, em conjunto com as informações anteriormente obtidas, como forma de obtenção de subsídios para a proposição de metas para a gestão da APA. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1312 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Planejamento do Turismo O planejamento do turismo - atividade econômica já existente como tal, basicamente após a Revolução Industrial, mas só recentemente sujeita a normas e padronização de procedimentos - não poderia ficar de fora da gestão ambiental. Há intersecções diversas entre esta última e a gestão do turismo. Em primeiro lugar, o fato de, apenas nas últimas duas décadas, ter sido definida uma regulamentação efetiva, por parte do setor público, no intuito de ordenar as atividades, tanto ligadas ao meio ambiente quanto ao turismo. Em decorrência disso, ultimamente tem se verificado um surgimento crescente de cursos para a colocação no mercado de profissionais capacitados a atuarem nessas áreas, vide o sem número de cursos recém criados de bacharelado e pós-graduação em turismo e gestão ambiental. Na década de 1970, tais cursos não existiam. Além disso, é de relevância lembrar que os insumos para o desenvolvimento da atividade turística é o meio ambiente e a cultura regional, impossibilitando, portanto, qualquer tipo de planejamento do turismo, sem que sejam levados em consideração, a priori, os instrumentos da gestão socioambiental. A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem sobre o território e ocupa-se em direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os efeitos negativos nos recursos, que destroem ou reduzem sua atratividade.[...] o planejamento é fundamental e indispensável para o desenvolvimento turístico equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões receptoras, evitando, assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir. (RUSCHMANN, 2004, p. 9,10) De acordo com a citação anterior, o planejamento é fundamental para garantir a sustentabilidade, não só da atividade turística, como do ambiente em que esta se desenvolve. Contribui, portanto, para que a atividade turística continue a se desenvolver, sem prejudicar suas próprias fontes de existência. É importante lembrar aqui que, segundo o conceito atual, a condição socioeconômica local está XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1313 englobada no termo “meio ambiente”, assim como os atributos bióticos e abióticos locais. Em relação ao planejamento do turismo, este estudo orienta-se através da concepção de Hall (2004). Em primeiro lugar cabe aqui salientar que o planejamento turístico pode ser baseado em diferentes escalas (nacional, estadual, regional e local) e esta deve estar bem definida para o desenvolvimento das análises, propostas e ações necessárias. No entanto, independente da abrangência da escala escolhida, é de extrema relevância de que o trabalho esteja integrado e em constante articulação com os demais níveis de planejamento, em escalas maiores e menores, através de projetos e/ou ações que também ocorram em outros níveis, sob pena de ineficácia do processo, tanto por lapsos de ações que sejam necessárias e ainda não foram previstas em nenhuma das instâncias, quanto por duplicidade, a qual implica em desperdício de recursos para pouca eficiência de resultados. Ainda segundo o mesmo autor, outro aspecto de suma importância no planejamento é o ponto de vista do espectador ou participante do processo de planejamento turístico. Healey (1997 apud HALL, 2004, p.85) explicita perfeitamente o que entendemos por importância da participação de todos os atores envolvidos no processo de planejamento: “[...] compreende-se agora no campo do planejamento que este é um processo interativo, realizado em um contexto social e não um mero processo técnico de projeto, análise e gerenciamento”. Hall (2004, p.85) corrobora as ideias de Healey e acrescenta Esse é um ponto crucial. Muitos livros didáticos referem-se a planejamento como um processo técnico no qual o autor se encontra em segundo plano e o livro parece ter sido escrito como uma série de fatos ou instruções que indicam como se deve agir. E não é assim. [...] há várias tradições diferentes em planejamento turístico, cada qual com um enfoque, sendo que nenhuma delas é inerentemente certa ou errada. Nós as consideramos adequadas ou não, baseados em uma série de critérios que, por sua vez, refletem o que acreditam ser planejamento turístico e o que ele deve tentar atingir. Essa base em processo de mudança reflete percepções mais amplas do expert em turismo e do „planejador‟ na sociedade. [...] Precisamos, portanto, reconhecer que nossa posição no planejamento turístico está relacionada ao ponto em que nos encontramos no sistema turístico, e aos vários envolvidos, interesses e fatores com que interagimos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1314 Reiteramos as ideias dos autores citados, considerando que um processo de planejamento deve ser dinâmico, em movimento contínuo de adaptação às variantes locais, que se modificam constantemente, assim como participativo, desde o início de seu diagnóstico, até a proposição de ações que se proponham a beneficiar a atividade, continuando com o monitoramento dos resultados alcançados, assim como a elaboração de novas propostas. Tal processo não pode, em nenhuma das etapas, se afastar da comunidade diretamente afetada pelo desenvolvimento do turismo em uma determinada região, e dos gestores locais, sob pena de não apresentar resultados eficazes. Esta participação é necessária, tanto por trazer conhecimentos, inerentes aos atores sociais locais, para o processo, quanto para que os envolvidos colaborem de fato com as ações desenvolvidas, como consequência de seu envolvimento. Sem essa colaboração, por melhores e mais adequadas que sejam as propostas, estas não surtirão os resultados desejados. 2.2 Fundamentos para a Sustentabilidade da Atividade Turística De acordo com Leite Junior (2007), um projeto de desenvolvimento, para ser sustentável, precisa ser ao mesmo tempo economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo. Esta afirmativa define bem os pilares do conceito da sustentabilidade, em qualquer atividade econômica. Pela lógica capitalista, a viabilidade econômica é a primeira condição a ser cumprida. Recentemente, o caráter ecológico passou a ter sido mais cuidado, a partir do momento que o empresário em turismo, cada vez mais, apreende o senso de que a conservação do patrimônio, seja ele natural ou cultural, é o que vai garantir a viabilidade de sua empresa. Além disso, a responsabilidade no tocante ao uso dos recursos naturais no Brasil (assim como no resto do mundo) tem sido alvo de intensos movimentos ambientalistas e de consistente regulamentação, tendo em vista a legislação ambiental, criada nas últimas décadas. No entanto, em relação à justiça social, este estudo mostra comprova que ainda há muito que aprendermos e colocarmos em prática. Segundo Pires (2002), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estabelece os componentes do ecoturismo, o qual define como uma versão de turismo na natureza orientada para a sustentabilidade. São eles: contribuir para a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1315 conservação da biodiversidade; contribuir para o bem-estar das populações locais; incluir a interpretação ambiental, a experiência da aprendizagem no ambiente; envolver ações responsáveis dos turistas e da indústria do turismo; disseminar fundamentalmente em pequenos grupos envolvendo negócios de pequena escala; requerer o mais baixo consumo possível de recursos não renováveis; dar ênfase à participação local e à oportunização de negócios e iniciativas empreendedoras, especialmente para a população rural. O turismo deve ser visto sob o enfoque do benefício à comunidade que recebe e não só como um meio de atender às expectativas do visitante. Para Rodrigues (1997), o turismo deve funcionar como uma alternativa para os “excluídos”. A autora vê, neste setor econômico, um grande potencial para o enfrentamento da exclusão social, contanto que o poder público - principal integrante da superestrutura do SISTUR - sistema turístico de Beni (2001) - execute sua política e ações no sentido de viabilizar uma “economia solidária”, ou seja, o governo deve promover iniciativas para o desenvolvimento de um empreendedorismo social, como forma de criar oportunidades de inserção das comunidades receptoras no resultado do crescimento do fluxo econômico gerado pelo desenvolvimento do turismo naquela localidade. Ainda segundo Rodrigues, “há que adotar-se estratégias macroeconômicas de combate ao desemprego, procurando inserir os novos microempresários num setor econômico especialmente projetado para maximizar as chances de sucesso como o turismo, por exemplo”. Outro questionamento interessante levantado pela autora é que o “chamado mercado informal, [...] se configura como uma das únicas opções para a sobrevivência, com certa dignidade, apesar da falta de segurança social” (RODRIGUES, 1997, p.62, 63) e que, apesar do preconceito associado à informalidade, esta deve ser vista como alternativa de inserção da comunidade na economia, porque é o que acontece na prática. Em relação ao empreendedorismo social, temos o conhecimento de duas iniciativas muito interessantes, não iniciadas pelo poder público, tendo em vista que o Estado não vem cumprindo a contento o seu papel regulador, o qual entendemos que deveria ser o de defender o bem comum em detrimento dos interesses essencialmente mercadológicos da classe empresarial, que é o que se tem visto de fato na prática política deste país. Aqui, presenciamos mais uma vez o terceiro setor ocupando as lacunas deixadas pelo poder público. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1316 A primeira experiência interessante verificada no sentido do empreendedorismo social para o turismo trata-se do sistema de gestão por cooperativas de moradores da Prainha do Canto Verde, no Ceará. Esta localidade, no litoral do Ceará, no município de Beberibe, a cerca de 100 km de Fortaleza, em sentido leste, apresenta uma população formada por pescadores descendentes dos primeiros moradores da região, que se associaram para promover a gestão do turismo local. Como em vários outros destinos turísticos litorâneos, segundo Mendonça (2007), a comunidade estava sendo ameaçada de ser expulsa de suas terras pela especulação imobiliária, nas décadas de setenta e oitenta. No final desta última, passaram a contar com a ajuda do executivo suíço René Scharer e com o Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos (CDPDH), para constituir sua Associação de Moradores e dar início ao Projeto de Desenvolvimento Comunitário desenvolvido pela Fundação dos Amigos da Prainha do Canto Verde, em dezembro de 1991. Atualmente, a Cooperativa de Turismo, vinculada à Associação de Moradores, é quem faz toda a gestão do atrativo e de seus equipamentos turísticos, sem a interferência do Estado nem de nenhum empresário vindo de fora. 1 A segunda iniciativa que tomamos conhecimento é a descrita no artigo “Turismo, Inovações e Desarticulação das Atividades Tradicionais” (LIMA, 2000). Neste trabalho, o autor se propôs a elaborar uma “reflexão sobre as relações entre cultura, educação, turismo e as discussões acerca do conceito de desenvolvimento local”. Seu objeto de estudo é a comunidade da Ilha de Itaparica, na Bahia, “onde as atividades tradicionais, como a pesca e o veraneio em pequena escala, são reordenadas em função de um processo de modernização, traduzido no turismo que reorientou a organização dos usos do tempo e do espaço”. Seu estudo teve como foco “as relações entre espaço e cultura como elementos propiciadores às circunstâncias favoráveis ou inibidoras às condições de vida social e econômica traduzidas no conceito de desenvolvimento”. Por ocasião da publicação do artigo citado, o autor ainda não havia chegado às suas conclusõ es finais mas, na verdade, formulado uma proposta de análise do desenvolvimento de uma inovação na lógica da economia do turismo em Itaparica, através de estratégias planejadas para que os 1 Após o fechamento deste estudo, em 2009, por demanda da comunidade local, a Prainha do Canto Verde tornou-se uma Reserva Extrativista, que se configura em outra categoria de Unidade de Conservação de Uso Sustentável definida pela Lei 9985/2000. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1317 recursos advindos da atividade sejam mais bem distribuídos e permaneçam com a população local, na medida em que lhe são dadas ferramentas para a gestão do que Rodrigues (op. Cit.) chamou de “economia solidária”. Pelo disposto neste referencial teórico, fica claro que o planejamento da gestão do turismo, com vistas à sua sustentabilidade econômica, ambiental e social, e como meio de atingir os objetivos de criação (principalmente pelo estipulado em seu decreto de criação como objetivos nos IV e V) da APA Costa dos Corais é indispensável na gestão ambiental da UC, além do fato desta estar inserida nos Pólos “Costa dos Arrecifes” (PE) e “Costa dos Corais” (AL) do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE), portanto situada em área de extremo interesse por parte dos setores público e privado, para o desenvolvimento do turismo. 3 CARACTERIZAÇÃO DA APA COSTA DOS CORAIS A APA Costa dos Corais (que está sob gestão, atualmente, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, sucessora do IBAMA na atribuição de gerir Unidades de Conservação) possui uma área de 413.563 hectares e localiza-se nos estados de Alagoas e Pernambuco. Partindo de Maceió via AL-01 Norte - litoral, percorre-se uma distância de 20 Km até chegar ao Rio Meirim (povoado de pescadores). Neste local inicia-se a APA, e daí a unidade segue pela área costeira por mais 220 Km, até a foz do rio Formoso em Pernambuco (IBAMA, 2007). É importante salientar que a faixa litorânea entre Recife e Maceió engloba os Pólos Costa dos Arrecifes (PE) e Costa dos Corais (AL) do PRODETUR/NE e recebe diversos incentivos e recursos público-privados, por ser um dos mais importantes alvos da política nacional de desenvolvimento turístico do Ministério do Turismo. Maragogi faz parte do programa “Destinos Indutores” deste Ministério. Exatamente por apresentar um crescente fluxo turístico, atingindo diretamente as comunidades tradicionalmente localizadas em seus municípios, dentre outros fatores de exploração de seus recursos naturais, como a pesca, c aracteriza-se como uma região tão susceptível a graves impactos ambientais e socioculturais, justificando-se a proteção concedida com a criação da UC. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1318 Localização da APA Costa dos Corais Font e: Arquivo de documentos da APA Costa dos Corais/ICMBio. 1319 4. METODOLOGIA Em princípio, os dados foram coletados por observação, levantamento bibliográfico e análise documental. Entretanto, o foco principal deste estudo foi dado na obtenção de opiniões e sugestões de gestores públicos e privados das áreas de meio ambiente e turismo, atuantes na APA Costa dos Corais, como descrito adiante. 4.1 Coleta dos Dados Para que fossem alcançados os objetivos propostos neste trabalho, foi realizado, primeiramente, um levantamento bibliográfico e documental com o intuito de conhecer outros autores, pesquisadores ou instituições que venham trabalhando temas na área de conhecimento relativa ao turismo em áreas protegidas, educação e gestão ambiental e afins, ou à atividade turística na região estudada. Para tanto, foram pesquisadas fontes impressas e digitais, tais como livros, periódicos e documentos institucionais, além de outros estudos relacionados a turismo e unidades de conservação. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 O Roteiro Metodológico para Gestão de Área de Proteção Ambiental, publicado pelo IBAMA, identifica como atividade preliminar para o planejamento da gestão, a identificação dos agentes envolvidos, com o subsequente “levantamento de expectativas dos agentes” e elaboração de um “quadro de identificação de potenciais / limitações e posicionamentos destes” (IBAMA, 2001, p.48). A partir desta orientação, concentramos o foco deste trabalho no levantamento dessas expectativas, através de entrevistas. A pesquisa de campo visando às atuais condições em que está se dando o desenvolvimento turístico na APA Costa dos Corais foi elaborada por meio de observação e entrevistas semi-estruturadas, direcionadas à temática do turismo na região relacionando-as às perspectivas para o alcance de sua sustentabilidade. Estas entrevistas foram efetuadas junto a gestores públicos ligados de maneira direta ou indireta à atividade turística e à gestão ambiental, assim como aos empresários representantes de organizações e associações ligadas ao turismo em Tamandaré (PE) e Maragogi (AL), municípios escolhidos para o estudo. A observação foi efetuada não apenas durante o desenvolvimento deste estudo, mas durante todo o período em que a autora esteve trabalhando vinculada à gestão da APA Costa dos Corais, entre 2002 e 2005 e novamente em 2007. Também foram obtidas informações do acervo de documentos disponíveis no escritório da APA Costa dos Corais, ou outros ligados à sua gestão. Foram entrevistados os gestores a seguir, que se encontravam nos respectivos cargos em dezembro de 2007: o Chefe da APA Costa dos Corais; o Analista Ambiental do ICMBio lotado na APA Costa dos Corais; o Secretário de Turismo, Comércio, Cultura e Meio Ambiente de Tamandaré; o Vice-presidente da Associação de Hotéis, Pousadas, Restaurantes e Similares de Tamandaré – AHPREST; a Chefe da APA de Guadalupe 2; O Secretário de Turismo de Maragogi; o Secretário de Meio Ambiente de Maragogi; o Presidente da Associação dos Proprietários de Catamarãs de Maragogi – APCM; e o Presidente da Associação de Hotéis e Pousadas de Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres – AHMAJA. 2 A Área de Proteção Ambiental de Guadalupe é uma Unidade de Conservação administrada pelo Estado de Pernambuco e se estende por quatro municípios: Barreiros, Tamandaré, Rio Formoso e Sirinhaém. Possui uma área de intersecção com a APA Costa dos Corais no litoral de Tamandaré e Barreiros. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1320 Em resumo, os dados analisados foram obtidos através de observação, primeiramente, mas também com leitura e análise de documentos e, principalmente, pela realização das entrevistas e obtenção de depoimentos de pessoas ligadas ao turismo na APA Costa dos Corais. 4.2 Análise dos Dados Após a realização das entrevistas, as mesmas foram sistematizadas e analisadas separadamente, por tema abordado. A partir dos resultados levantados, na forma de conceitos, análise e sugestões verificadas nas entrevistas com os gestores selecionados, passamos a compilar, analisar e interpretar, respeitando a sequencia de assuntos abordada no roteiro pré-definido para a realização das entrevistas semi-estruturadas, resumido a seguir: Conceito pessoal de “sustentabilidade”; Pontos favoráveis identificados para o desenvolvimento do turismo local; Pontos desfavoráveis identificados para o desenvolvimento do turismo local; Estágio de desenvolvimento atual do turismo local; Planos, projetos e ações previstos e em andamento relacionados à gestão do turismo; Sugestões para aliar a qualidade do turismo com a do meio ambiente Como beneficiar a comunidade local?; Prognóstico para o turismo ambiental e socialmente responsável; e Obstáculos identificados para atingir o resultado desejado. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS Pelos resultados obtidos com o presente estudo, pretendemos contribuir para o planejamento da gestão do turismo na Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais, situada entre os municípios de Maceió, em Alagoas e Rio Formoso, em Pernambuco. A partir dos dados obtidos, o produto de sua sistematização e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1321 consequentes problemas e proposições levantados junto a alguns dos principais gestores ligados ao turismo, públicos e privados, dos municípios de maior movimento turístico – Maragogi (AL) e Tamandaré (PE) desta Unidade de Conservação, propusemo-nos a qualificar, de alguma forma, a gestão social e ambiental da APA, através de subsídios levantados para o planejamento e a gestão do turismo em seus municípios. Pretendemos assim, chegar mais perto de alcançar os objetivos de criação da unidade, particularmente o quarto, que diz respeito ao ordenamento do “turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental” (IBAMA, 2007). A APA Costa dos Corais foi criada em 23 de outubro de 1997, tendo completado doze anos de existência em outubro passado. Alguns bons trabalhos já foram executados, como é o caso do Termo de Ajustamento de Conduta, visando ao ordenamento da visitação às “Galés de Maragogi” (termo local para piscinas naturais marinhas, atrativo mais visitado da unidade). Entretanto, os instrumentos de gestão mais básicos para a administração de uma Unidade de Conservação ainda não existem, quais sejam seu conselho gestor e seu plano de manejo. A equipe da APA resumia-se, à época do estudo, a seu chefe, um analista ambiental e um técnico de nível médio, enquanto a UC abrange treze municípios, segundo o seu Decreto de Criação. Surpreendentemente, o conceito de sustentabilidade foi um dos pontos mais divergentes entre as entrevistas. Apenas a Chefe da APA de Guadalupe descreveu sustentabilidade da forma como foi esclarecida por Leite Junior (2007): “atividade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta”. Abrangência semelhante foi obtida na resposta do Secretário de Turismo de Maragogi: “atividades com ações planejadas, sejam elas dos governos ou empresas levando-se em conta as questões sociais, ambientais e econômicas”. As demais respostas variaram bastante: “Garantia de continuidade por gerações, sem afetar o meio em que está sendo desenvolvida.” “A manutenção da atividade não compromete a sua realização no futuro.” “Exercer uma atividade sem modificar o ambiente, preservando-o e integrando atividades afins.” “Beneficiar a comunidade e perdurar por um longo período.” “Atividade desenvolvida de forma racional, atendendo as necessidades das gerações atuais, sem comprometer as das futuras.” “Consegue se manter, gerando lucro e benefícios sociais, com o aumento constante de emprego e renda e o XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1322 crescimento da região onde se encontra.” “Atividade que não destrói, ao contrário, preserva e recupera o ambiente em que se encontra.” Apesar da incomparável beleza cênica da região ter sido apontada com unanimidade como o ponto mais favorável para o desenvolvimento turístico local, os entrevistados, preocupados, queixaram-se da falta de presença institucional do ICMBio e de gestão da UC. Devido à falta de compromisso do governo com a questão ambiental, as poucas ações que a equipe do ICMBio consegue promover não chegam a ter grande visibilidade, pois os órgãos de meio ambiente no Brasil encontram-se desestruturados e não há gestão participativa de fato, que envolva a comunidade local. É necessário um bom planejamento e contar com a ação de parcerias. A falta de vontade política em executar bons planos para o desenvolvimento da região, já existentes, e em cuidar da qualidade da educação e do meio ambiente, foi apontada com unanimidade pelos entrevistados como o principal obstáculo para o alcance da sustentabilidade do turismo na região estudada. Quanto ao estágio de desenvolvimento do turismo local, a equipe da APA Costa dos Corais aponta a necessidade do diagnóstico, iniciado com esta análise preliminar, para o planejamento da gestão do turismo na UC, como um todo, visando à sustentabilidade da atividade: afirmam que a situação não está boa, não há planejamento nem diagnóstico visando o turismo sustentável e que não há visão de longo prazo e nem planejamento na prática profissional cotidiana. No entanto, as análises mais localizadas diferiram entre os dois municípios estudados. Enquanto Tamandaré foi definido como tendo um desenvolvimento ainda incipiente, sendo um destino principalmente de veraneio, com poucos leitos, segundo o seu Secretário de Turismo, que não atendem à demanda em alta estação, Maragogi é identificado, pelos gestores locais, como o segundo polo turístico de Alagoas, perdendo em movimento apenas para Maceió. Um bom resultado, verificado neste estudo, foi identificar que as sugestões de planos e ações a serem implementadas, visando ao desenvolvimento do turismo com qualidade, de forma sustentável, gerando educação ambiental e inserção da comunidade local na cadeia produtiva, foram muito parecidas, mesmo que tenham sido originadas de visões tão diferentes. Foi identificado que os gestores locais XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1323 entrevistados tem um bom conhecimento da região e convergem quanto ao diagnóstico de suas possibilidades e dificuldades. Como já referido, foram entrevistados gestores públicos, ligados às áreas de turismo e meio ambiente, nos dois municípios, assim como empresários. Verificamos que o nível de conhecimento sobre as questões do turismo, por parte dos gestores da área de meio ambiente, assim como a recíproca, foi muito bom. E vimos também que, apesar da consciência sobre a necessidade de justiça social não estar tão introjetada no empresariado do turismo quanto a questão da qualidade ambiental (em nossa opinião e na da maior parte de nossos entrevistados), ela já começa a tomar forma na condução dos trabalhos por uma boa parte dos gestores públicos. Não ocorreu esta mesma constatação nas entrevistas com os empresários. Identificamos também entre os entrevistados, de maneira geral, a ideia de que a gestão pública participativa é uma necessidade premente, o que classificamos como um resultado positivo neste levantamento. Como ponto negativo, entendemos que o nível de educação básica, formal e informal, da população daquela região é tão baixo, que dificulta muito os trabalhos de capacitação para as atividades profissionais ligadas ao turismo, direcionados às comunidades locais, o que atrapalha a possibilidade de inserção dos moradores do entorno da APA na cadeia produtiva. Em relação a este ponto, o seu órgão gestor, o ICMBio, que tem como objetivo institucional cuidar diretamente da gestão das UCs, pode fazer muito pouco, pois educação básica é atribuição das Secretarias de Educação do Município e Estado. Pode, institucionalmente, colaborar com a rede pública de ensino nas questões de educação ambiental. No entanto, através de um trabalho bem feito neste sentido, podem-se obter bons resultados, pelo menos no tocante ao uso do patrimônio natural e cultural nas atividades econômicas loc ais. Mais uma vez, trata-se de uma questão fundamentalmente dependente do empenho e vontade política para o desenvolvimento regional no Nordeste. 6 PROPOSIÇÕES PARA A GESTÃO DA APA COSTA DOS CORAIS Tendo em vista o que foi levantado através da análise das entrevistas, em relação a pontos desfavoráveis e obstáculos, encontramos as opiniões dos diversos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1324 gestores do turismo em Maragogi e Tamandaré, sejam integrantes do poder público ou empresários, consonantes com o que levantamos na introdução deste trabalho. Afirmamos o mesmo em relação aos pontos favoráveis e sugestões para aliar a qualidade do turismo com a proteção ambiental e a justiça social. Objetivamos então, neste item, propor algumas ações que auxiliem à APA Costa dos Corais em seu trabalho de gestão da atividade turística, como meio de alcançar os objetivos de criação da UC. 5.1 Agilizar a Formação de seu Conselho Gestor Cada entrevistado foi visitado separadamente, em seu local de trabalho, e foi identificado que a análise dos problemas feita por todos foi bem parecida. Mas, na prática, eles não estão conversando entre si. Entendemos que o conselho criado e efetivamente em funcionamento, será o instrumento adequado para conciliar os diversos interesses e saberes locais, como forma de otimizar a gestão da UC, seja em relação ao desenvolvimento do turismo, seja em outras questões. 1325 5.2 Elaborar seu Plano de Manejo de forma Participativa A nossa proposta, aqui, é de que o Plano de Manejo desta UC seja elaborado da forma amplamente participativa, de preferência após a formação do conselho gestor, que possibilitará que a sociedade civil e demais parceiros de entidades públicas colaborem ativamente na construção deste documento. O Plano de Manejo da APA Costa dos Corais é que realmente deverá definir, de forma amplamente participativa, as diretrizes do seu Plano de Gestão Turística. 5.3 Criar um Centro de Visitação para a APA Existe uma pequena demanda, não sistemática, de visitação ao escritório onde está instalada, provisoriamente, a sede da APA, por alguns visitantes que vão a Tamandaré, normalmente oriundos de áreas de trabalho ligadas à questão ambiental, ou por turmas de estudantes universitários. De acordo com o que é verificado em nossa experiência profissional, as UC´s que possuem Centro de Visitação interagem muito melhor com a comunidade, além de funcionar como XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 atrativo para os turistas. Este deverá servir como espaço de promoção de sua gestão participativa, local para o desenvolvimento de programas de educação ambiental e conscientização para o uso sustentável dos recursos naturais pela comunidade, centro de treinamento e capacitação para o turismo sustentável e a gestão socioambiental. O Centro de Visitação deve ser um atrativo turístico por si só, o que tende a promover a visibilidade da APA, assim como agregar valor ao produto turístico local. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalmente, este trabalho pretendeu ser apenas um levantamento preliminar de opiniões e propostas, por parte de alguns importantes atores sociais ligados ao turismo, no intuito de iniciar a elaboração de um diagnóstico adequado para a estruturação de um plano para o desenvolvimento do turismo com sustentabilidade na APA Costa dos Corais. Este deve estar inserido em seu Plano de Manejo, fundamental ferramenta para a gestão da UC, o qual, para ser realmente eficaz, deve ser elaborado de forma participativa, para que os gestores contem com a parceria da comunidade local, trazendo então legitimidade ao processo de gestão do uso sustentável de seus recursos naturais e culturais. Uma das conclusões mais relevantes a que chegamos é a de que, apesar de ser uma prerrogativa legal instituída há uma década pelo SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Lei 9985/2000), a gestão participativa ainda está longe de ser uma prática efetiva na gestão de áreas protegidas no Brasil, seja na APA Costa dos Corais, ou na maioria das UCs espalhadas pelo território nacional. A falta de participação da comunidade local e demais instituições públicas na tomada de decisão dos gestores à frente das UCs acarreta dificuldade na implementação das ações voltadas à conservação ambiental e sustentabilidade das atividades econômicas correlacionadas, dentre elas o desenvolvimento turístico regional. Sugerimos ainda que este diagnóstico seja estendido aos o utros municípios da APA, os quais, certamente, apresentarão diferenças quanto ao desenvolvimento e propostas para o turismo. Também seria interessante que fosse feito o levantamento de opiniões e proposições, junto aos turistas e também aos moradores, principalmente aqueles ligados à atividade. Com a junção desses dados XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1326 ao presente estudo, pode-se proceder a uma análise mais consistente do desenvolvimento atual do turismo na APA Costa dos Corais e será mais seguro projetar seu futuro e propor um plano para as adequações necessárias identificadas. Por fim, acreditamos que, na medida em que a APA Costa dos Corais contar com Conselho Gestor - que atue efetivamente, contando com a participação da sociedade nas tomadas de decisão quanto ao manejo e gerenciamento da unidade Plano de Manejo e Centro de Visitação, terá a possibilidade de ter uma gestão socioambiental mais eficaz, aproximando-se do alcance de seus objetivos de criação e com instrumentos para fazer um bom trabalho de planejamento e adequação da atividade turística objetivando a sua sustentabilidade. REFERÊNCIAS ACIOLI, F. & SILVA, J.N. Educação Ambiental: A Dimensão Socioeconômica e Cultural de uma Comunidade Pesqueira para o Sustento Legitimado. Projeto de Pesquisa Apresentado à Coordenação Geral de Educação Ambiental no Curso de Introdução à Educação no Processo de Gestão Ambiental. Tamandaré: IBAMA, 2002. BENI, M.C. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo, Senac, 2001. ______. SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza: Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de Agosto de 2002. 6 ed. Brasília: MMA, 2006. BRASIL / MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA) & MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO (MPOG). Projeto Orla: Manual de Gestão. Disponível em: <http://www.spu.planejamento.gov.br/arquivos_down/publicacao/proj_orla_manual.p df> Acesso em: 28 dez 2007. CARVALHO, I.C.M. Desafios e Dilemas Políticos das Lutas e Movimentos Ambientais. In: QUINTAS, José Silva. Pensando e Praticando a Educação Ambiental na Gestão do Meio Ambiente. Brasília: IBAMA, 2002. CHAVES, V.M. 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Turismo, Inovações e Desarticulação das Atividades Tradicionais. Scripta Nova: Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona Nº 69 (59), 1 de agosto de 2000. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn-6959.htm> Acesso em: 21 dez 2007. MENDONÇA, T. Prainha do Canto Verde: Histórico – Fatos Mais Relevantes. Disponível em: <http://www.prainhadocantoverde.com.br/> Acesso em: 21 dez 2007. MERCADANTE, M. Apresentação. In: BRASIL / MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE / Secretaria de Biodiversidade e Florestas / Diretoria de Áreas Protegidas. Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação. Brasília: MMA, 2006. PIRES, P. S. Dimensões do Ecoturismo. São Paulo: SENAC, 2002. PRODETUR – Apresentação: Ampliando as atividades turísticas do Nordeste. Disponível em: <http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/PRODETUR/Apresentacao/gerados/aprese ntacao.asp> Acesso em: 28 dez 2007. RODRIGUES, A. B. Turismo Desenvolvimento Local. São Paulo: Hucitec, 1997. RUSCHMANN, D. Turismo e Planejamento Sustentável: A Proteção do Meio Ambiente. 11a ed. Campinas: Papirus, 2004. 1328 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 APONTAMENTOS SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NO ESTADO DO PARANÁ Marino Castillo Lacay Economista- Coordenador 3 Mestre em Desenvolvimento Agrícola (CPDA-UFRRJ), Mestrando em Geografia (UFPR), Pesquisador do IPARDES E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho, que se insere na temática da economia do turismo, é resultado de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), com o objetivo traçar um perfil da Cadeia Produtiva do Turismo e a sua organização espacial no Estado do Paraná. Foram aplicados 7.730 questionários entre diferentes agentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado. A unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada atividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte Rodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades Recreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. Entre outros, os resultados apontam que na Cadeia Produtiva do Turismo do Paraná os serviços de alimentação, os de meios de hospedagem e o transporte rodoviário de passageiros são os elos mais fortes. Também ficou demonstrada a predominância de micro-empresas e as debilidades nos laços de cooperação e associativismo entre os estabelecimentos do setor.Texto letra arial 12, espaço simples, sem parágrafo (até 500 palavras) Palavras Chave: Cadeia Produtiva do Turismo, Turismo, Paraná, Micro-empresas. Abstract: This work, that is inserted in the theme of the economy of the tourism, is a result of a research developed at the Parana´s Institute of Economic and Social Development (IPARDES), with the goal of designing a profile of the Value Chain on Tourism and its spatial organization in the State of Parana. 7.730 questionnaires were applied among different agents (managers or company owners, tourists and locals), distributed in 171 cities of the State. The basic units of collecting information were the tourist establishments for each activity researched: Means of Accommodation, Food Services, Bus Transportation; Car Rent; Tourism Agencies; Natural Attractions (adapted or planned), Cultural, Historical, Religious and Leisure Activities. Among other, the results point that in the Productive Chain of the Tourism of Paraná the feeding services, the one of lodging means and the passengers' road 3 Membros da equipe técnica: Carlos Frederico de Camargo Fayet – Economista, Ciro Cézar Barbosa – Economista, Cláudio Jesus de Oliveira Esteves- Geógrafo, Cleide Maria Perito de Bem- Socióloga, Elisabete Cosmala Baggio- Economista, Mar ina Maruyama Mori – Economista, Mariza Chr istina Kloss – Administradora de Empresas. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1329 transport are the strongest links. It was also demonstrated the predominance of personal computer-companies and the weaknesses in the cooperation bows and associativismo among the establishments of the section. Key words: Productive Chain of the Tourism, Parana State, Tourism 1 INTRODUÇÃO O Estado do Paraná é privilegiado em termos de atrativos turísticos, atributo fundamental para o desenvolvimento do turismo, apresentando significativo potencial em múltiplos segmentos, tais como: lazer, negócios, sol e praia, eventos, festas regionais, rural, ecológico, aventura, religioso e saúde, entre outros . O turismo, do ponto de vista econômico, interage com uma série de atividades. É um componente do setor de serviços cujo produto é particularmente complexo e depende da organização de uma oferta de serviços significativamente diversificada, onde cada um dos elos da atividade produtiva corresponde a uma atividade no produto turístico final, formando uma cadeia. Por sua vez, além de ser o local de produção, o destino turístico é também o local principal de consumo dos bens e serviços produzidos e, consequentemente, o local de implantação e desenvolvimento de atividades dos estabelecimentos ligados ao setor e, portanto, lócus da busca da sustentabilidade da atividade. O presente trabalho é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido pela equipe técnica que pesquisa a atividade turística no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). A pesquisa de campo foi realizada durante o ano de 2006, quando foram aplicados 7.730 questionários entre diferentes agentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado. A unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada atividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte Rodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades Recreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. O relatório completo do estudo, bem como as tabelas com os dados contidos neste trabalho, podem ser acessados em http://www.ipardes.gov.br . XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1330 Acredita-se que o instrumento de Cadeia Produtiva pode ser uma importante ferramenta para o entendimento do comportamento da atividade turística no espaço geográfico do estado do Paraná. Também busca-se contribuir para o desenvolvimento de uma atividade turística sustentável no estado do Paraná. 2 OBJETIVOS O estudo teve como objetivo traçar o perfil da Cadeia Produtiva do Turismo e a sua organização espacial no Estado do Paraná. Além disso, pretendeu analisar o comportamento de cada atividade (elo da cadeia), sob a ótica da oferta, identificando serviços oferecidos, sazonalidades, mercados e preços praticados, os cuidados ambientais e as condições de acesso e sinalização aos mesmos. O trabalho também buscou conhecer a opinião da comunidade sobre as condições do desenvolvimento turístico local, visto se tratarem de atores fundamentais na construção de um turismo sustentável. 3 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL Cadeia produtiva é o sistema constituído por atores e atividades inter relacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação, comercialização e consumo em um espaço determinado. Pela sua visão prospectiva, Castro, Lima e Cristo (2002) apontam que o enfoque de cadeia é pertinente no contexto atual de evolução da economia mundial globalizada, em que temas como competitividade, inovação tecnológica e sistemas de produção são discutidos de forma sistêmica em todos os âmbitos da economia, desde as atividades produtivas agro-alimentares até o setor de serviços, no qual se inclui o turismo. Uma atividade econômica tão dinâmica e complexa como turismo encontra no enfoque sistêmico de cadeia produtiva uma ferramenta para o diagnóstico e a formulação de estratégias de competitividade. O conceito de cadeia produtiva no turismo pressupõe a existência de um produto ou de um atrativo turístico que, em um determinado território, atua como elemento indutor para gerar uma dinâmica integradora entre as diferentes atividades que compõem o setor. Isto é, o produto ou o atrativo funciona como gerador de uma XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1331 rede de serviços apoiados no desenvolvimento de uma infra-estrutura local e regional, cuja dinâmica pode promover o incremento dos fluxos de informação, produção, inovação e consumo, sempre ponderados pela eficiência coletiva (Schmitz, 1997). Cabe registrar que o conceito de cadeia produtiva utilizado neste trabalho considera a sustentabilidade como elemento importante para a construção da competitividade sistêmica. A sustentabilidade é entendida como o princípio que envolve a melhoria da qualidade de vida, o crescimento econômico eficiente com eqüidade social, a preservação de valores culturais e a conservaç ão do meio ambiente associados à participação efetiva das comunidades (Jacobi, 1999). 4 METODOLOGIA A pesquisa de campo foi desenvolvida nas nove regiões turísticas do Paraná, durante o ano de 2006. Ao todo, foram aplicados 7.730 questionários entre diferentes agentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado, integrantes das nove regiões de pesquisa. Embora a unidade espacial selecionada tenha sido o município, cada região constituiu uma amostra independente, eleita unidade privilegiada de análise. A unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada atividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte Rodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades Recreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. Na tabela 1 estão demonstradas o número de formulários aplicados conforme o tipo de atividade e a região de pesquisa. A partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS – MTE) foi obtido número mínimo de estabelecimentos a serem pesquisados em cada um dos municípios da amostra. Subsidiariamente, também se recorreu aos inventários turísticos dos municípios e nos casos em que não havia inventário, utilizou-se o cadastro da secretaria de finanças de cada município, nas quais são controladas as bases de arrecadação do Imposto Predial e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1332 Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Para definição final dos municípios participantes da amostra, além dos dados da RAIS, utilizaram-se a classificação dos municípios do Instituto Brasileiro do Turismo (EMBRATUR), que os divide em Potencialmente Turísticos (MPTs) e Turísticos (MTs); a segmentação do turismo existente nos municípios; e o IDH-municipal e IDH-renda. No mapa 1 são demonstrados os municípios participantes da coleta de dados. TABELA 1 - NÚMERO DE FORMULÁRIOS APLICADOS NOS ESTABELECIMENTOS E AOS MORADORES E TURISTAS, SEGUNDO REGIÕES TURÍSTICAS DO ESTADO - PARANÁ - 2006 REGIÃO TURÍSTICA DO ESTA DO ITEM Número de munic ípios pesquisados Litoral Campos Centro Sudoeste Centro-Sul Oeste Gerais Noroeste TOTAL Região Metropolitana de Curitiba Norte 7 11 8 16 10 22 41 38 18 171 80 67 31 52 24 184 117 122 163 840 Serviços de Alimentação 180 100 53 77 42 225 242 265 469 1.653 Transporte Rodoviário de Passageiros 13 33 7 32 9 120 78 78 107 477 Locação de Veículos 7 8 2 1 0 13 21 4 46 102 Agências de Viagem 7 17 8 15 11 145 94 66 294 657 Atrativos Naturais e Planejados 9 9 16 30 25 83 61 62 72 367 Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos 17 34 19 14 35 74 105 111 129 538 Atrativos Esportivos e de Lazer 21 29 27 25 21 75 106 90 235 629 334 297 163 246 167 919 824 798 1.515 5.263 Moradores 70 72 46 100 70 244 359 330 605 1.896 Turistas 93 70 0 0 0 102 108 111 87 571 497 439 209 346 237 1.265 1.291 1.239 2.207 7.730 Atividade Meios de Hospedagem SUBTOTAL TOTAL FONTE: Pesquisa de Campo - IPA RDES XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1333 MAPA 1 - MUNICÍPIOS PESQUISADOS, SEGUNDO REGIÕES TURÍSTICAS PARANÁ - 2006 1334 FONTE: IPA RDES - Pesquisa de Campo BASE CARTOGRÁFICA: SEMA (2004) 5 CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO Do universo de 41.454 estabelecimentos comerciais típicos do turismo no Paraná em 2006, aproximadamente 95% eram microempresas (BRASIL, 2006) . A seguir dá-se destaque para as principais características da cadeia produtiva do turismo revelados pela pesquisa de campo (IPARDES, 2008): Condição de posse: predomínio de estabelecimentos em imóvel próprio. Esse aspecto é mais evidente nos Atrativos Naturais e Projetados, nos Meios de Hospedagem e nos Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos, cujo percentual de funcionamento em imóveis próprios está acima de 75%. As três atividades que fogem à regra são Agências de Turismo, Serviços de Alimentação e Locação de Veículos, as quais, em sua maioria, operam em imóveis alugados XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Forma jurídica: fundamentalmente estabelecimentos únicos (que não pertencem a redes, cadeias ou franquias), de gestão familiar (administrados por seus proprietários), a exceção das atividades de Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos, onde o estado é mais presente. Formas de divulgação: a divulgação dos estabelecimentos pesquisados ainda é feita de modo tradicional, particularmente por meio do uso de material impresso e de mídia local, o que restringe o seu alcance. A internet, de forma geral, é pouco utilizada (por menos de 10% dos estabelecimentos pesquisados) , embora constitua um importante canal de difusão dos Atrativos Naturais, Culturais, Históricos e Religiosos através de páginas eletrônicas de divulgação turística dos municípios e do estado. A pesquisa também captou que cerca de um quarto dos estabelecimentos não faz nenhum tipo de divulgação. Origem do público: o público atendido pelos estabelecimentos turísticos é diversificado, não se restringindo aos moradores dos municípios onde se localizam. Mesmo assim, é grande o número de estabelecimentos voltados para o público local, particularmente nas atividades dos Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos, Esporte e Lazer, nos Atrativos Naturais e Projetados e nos Serviços de Alimentação. Registra-se que a freqüência de turistas estrangeiros concentra-se nos maiores centros, notadamente Curitiba, Foz do Iguaçu e Litoral, destinos indutores do Paraná. Formas de reserva: os serviços ofertados ainda são feitos de modo tradicional, ou seja predominam aquelas feitas no estabelecimento ou por telefone/fax. Observa-se, contudo, que as reservas pela internet, especialmente nos Meios de Hospedagem, constituem uma realidade consolidada. Formas de pagamento: aproximadamente 50% dos estabelecimentos aceita cartões de débito e de crédito. As exceções ocorrem nas atividades de Atrativos Naturais e Projetados, Culturais, Históricos e Religiosos e de Esporte e Lazer nas quais essa prática é pouco usual. As atividades de Locação de Veículos e Agências de Turismo são aquelas em que mais se utilizam cartões de créditos como forma de pagamento. Nestas duas atividades, o cartão de crédito pode ser utilizado como garantia e/ou parcelamento. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1335 Mão de obra: em 2006, ano da pesquisa de campo, haviam 58.714 ocupados nos estabelecimentos pesquisados incluídos os empregados informais, os temporários, os estagiários e a mão de obra familiar, sendo que mais da metade desses trabalhadores possuíam contratos formais de trabalho. As atividades que mais empregavam, em termos absolutos, eram a de Serviços de Alimentação e a de Meios de Hospedagem. Ressalte-se, ainda, que a atividade de Meios de Hospedagem é a que apresentou o maior número médio de trabalhadores por estabelecimento pesquisado: 16,1. Experiência profissional: para contratação de empregados as atividades de Transporte Rodoviário de Passageiros, Agências de Turismo, Locação de Veículos e Serviços de Alimentação são as mais exigentes em termos de qualificação (acima de 50%). Treinamento da mão-de-obra: as Agências de Turismo, Serviços de Alimentação e Locação de Veículos se destacam na oferta de qualificação profissional. Operações de crédito e financiamento: a pesquisa apontou que, excetuando a atividade de Transporte Rodoviário de Passageiros, há relativa subutilização dos instrumentos de financiamento por parte dos estabelecimentos da Cadeia Produtiva do Turismo no Paraná. A pesquisa indicou a existência de projetos de melhoria na maior parte dos estabelecimentos para o período posterior à pesquisa (2007), direcionados principalmente para reforma e ampliação e, para melhoria de tecnologia e compra de equipamentos. Nas atividades de Transporte Rodoviário de Passageiros e de Locação de Veículos, os projetos de melhoria, com maior destaque, referiam-se à ampliação da frota. De modo geral, os proprietários afirmaram não enfrentar problemas nem dificuldades para levar os projetos adiante. No entanto a pesquisa apontou que no ano de 2005 menos da metade dos estabelecimentos havia realizado investimentos em modernização. Sistemas de operação e cooperação (formas de associação e eficiência coletiva). A pesquisa captou significativa importância dada para os seguintes aspectos: - Dificuldades na administração dos estabelecimentos: altas taxas e os elevados impostos cobrados, a falta de empregados qualificados, o fluxo limitado de clientes, a dificuldade em manter os preços dos serviços, a falta de capital e os XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1336 juros elevados, são as maiores dificuldades apontadas pelos entrevistados; - Transações comerciais realizadas na região de localização dos estabelecimentos: os entrevistados destacaram, principalmente, a contratação de mão-de-obra local, seguida de compra e venda de produtos, compra de serviços e de equipamentos e componentes. - Participação em entidades de classe ou sindicatos: há predominância dos estabelecimentos pesquisados vinculados a entidades representativas o que indica a possibilidade concreta de articulação horizontal (intratividade) e com os demais elos da cadeia (interatividade). No entanto são poucos, menos de 30%, os estabelecimentos que realizam parcerias ou atividades cooperadas, seja com o setor público, seja com o privado Cuidados ambientais básicos: Esse ainda é um campo que necessita de ações no sentido de sensibilização da difusão de boas práticas de gestão ambiental como requisito para alcançar um turismo sustentável no Estado. Apesar de muitos dos estabelecimentos pesquisados adotarem procedimentos de cuidados ambientais nas suas atividades, a separação dos resíduos gerados, por exemplo, ainda não é praticada pelo conjunto dos estabelecimentos pesquisados. Quanto ao controle do desperdício de água e energia elétrica, constatou-se que quando os estabelecimentos adotam alguma medida, essa é motivada, sobretudo, por razões de natureza econômica. Opinião dos moradores: Por entender que a participação da comunidade local é fundamental na busca da sustentabilidade do turismo, a pesquisa buscou apreender a opinião dos moradores. Para tanto foram aplicados 1.896 questionários entre moradores das cidades participante do estudo. O que permitiu investigar a percepção acerca da sua cidade de moradia e da respectiva atividade turística. Embora mais da metade dos entrevistados acredite que o turismo pode trazer impactos sociais e ambientais negativos para o município, do ponto de vista econômico a pesquisa também apontou que a comunidade acredita que o desenvolvimento da atividade turística cria empregos e gera renda. O formulário dos moradores buscou captar se os entrevistados percebem o seu município de moradia como turístico. Dos entrevistados, 64,8% consideraram que sim, embora menos da metade tenha afirmado conhecer todos ou a maioria dos pontos turísticos da sua XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1337 cidade. Dos que afirmam que a sua cidade é turística, os principais motivos que os levam a ter essa percepção são: belezas naturais (42,1%), eventos e negócios (21,6%), história/cultura/arqueologia e festas/folclore/artesanato (18,0% e 16,5% respectivamente). Em relação ao que poderia ser feito para melhor receber o turista, as informações recolhidas apontam a melhoria da infra-estrutura dos atrativos (39,7%); a capacitação de mão-de-obra local (33,2%); a integração entre governo, empresas e comunidades (29,0%); a melhoria de estradas e acessos aos municípios (27,7%); e da segurança (26,5%), 6 LIMITES AO DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NO PARANÁ Os dados da pesquisa permitiram destacar os principais obstáculos que pautam os vínculos com o mercado, as relações inter e intracadeia e a eficiência coletiva em cada uma das atividades da Cadeia Produtiva do Turismo no Paraná: Vínculo com o mercado: dada a escala, as micro, pequenas e médias empresas são 1338 relativamente autônomas em termos de organização empresarial. Porém, essa autonomia, por ser relativa, pode ser refreada por obrigações para com fornecedores, instituições financeiras e para com as relações exigidas pelo Estado e/ou município. Além disso no quesito relacionamento com o mercado, apresentam certo desinteresse da empresa em estabelecer relações de cooperação e parceria com vistas a ampliar sua atuação no mercado. Relações inter e intracadeia produtiva: o adensamento da cadeia produtiva depende do fortalecimento dos relacionamentos horizontais e verticais das micro e pequenas empresas que integram a atividade. A constatação da falta de empreendedorismo conjugada com o baixo nível de confiança dos agentes da Cadeia para a integração de esforços em torno de agendas comuns (que defendam seus interesses e derrubem as barreiras culturais e obstáculos à partilha de informações) dificultam o desenvolvimento de sistemas mais avançados de organização empresarial, que possam evoluir para arranjos produtivos de competição cooperada de modo a dinamizar a atividade. O trabalho das associações de classe não tinha apontado, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 até a data da pesquisa, para a redução dos efeitos da heterogeneidade produtiva que se reproduzem em várias das atividades do sistema turístico no Paraná. Eficiência coletiva. Os resultados das pesquisas quantitativa e qualitativa apontaram a falta de eficiência coletiva, na orientação dada por Schimtz (1997), para os micro e pequenos empreendimentos produtivos e a falta de práticas e ações concertadas entre os agentes públicos e privados e destes, com a comunidade. Esse é um fator que contribui para restringir a oferta de novos atrativos e produtos turísticos formatados e competitivos, em sistema de cooperação entre todos os elos da cadeia. Embora todos – empresários, moradores e turistas – concordem que o Paraná tem muito a oferecer em termos de turismo, há queixas provenientes do poder público municipal em relação ao estadual, das empresas em relação a ambos e do governo federal e da comunidade em relação a todos os envolvidos. Pode-se ainda dar destaque para algumas particularidades relativas a cada atividade: Meios de Hospedagem - elo com participação mais forte na cadeia, pela consolidação da atividade no Paraná. Sua importância advém das formas de operação que executa, da capilaridade, da geração de empregos e dos investimentos que realiza nas regiões onde os estabelecimentos estão sediados, especialmente em relação à compra de produtos e ao uso da mão-de-obra local. No entanto, há uma clara diferenciação entre os pequenos e os grandes estabelecimentos, especialmente os vinculados às redes (cadeias), que são os que determinam o comportamento de mercado. Enquanto os grandes atuam de forma reticular, os pequenos não formalizam ações cooperadas. Também são os grandes que adotam inovações tecnológicas e equipamentos. Embora haja participação ativa em entidades de classe e esforços de várias instituições, a exemplo do SEBRAE, em fazer com que a atividade atue de forma cooperada para a melhoria da eficiência coletiva, a pesquisa constatou que somente 19,2% dos estabelecimentos visitados fazem algum tipo de parceria. Serviços de Alimentação - elo forte, por ser a atividade mais numerosa em termos de empregos, capilarizada em termos de estabelecimentos e com participação crescente na cadeia. Apesar de sua fortaleza, é uma atividade que cresce independentemente do turismo, por atender também à população local. As formas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1339 de operação que executa são significativas em todo o Estado, especialmente em relação à compra de produtos e ao uso da mão-de-obra local. Apesar de haver poucas ações cooperadas e em parceria, a articulação intra-setorial é média e há um esforço da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) em catalogar e identificar os estabelecimentos que atuam na atividade, até mesmo por conta da atuação do poder público no que se refere a orientar e controlar o desenvolvimento, dentro dos padrões sanitários. Ressalta-se que a atividade vem crescendo principalmente com base nas microempresas e, ainda, com importante participação de mão-de-obra familiar. Transporte Rodoviário de Passageiros - por também pertencer à logística de outras cadeias, constitui um elo independente, porém forte, no sistema produtivo do turismo. O Transporte Rodoviário de Passageiros é submetido a controles específicos e opera sob um marco regulatório próprio, que inclui o controle, pelo poder público, da entrada de concorrentes no mercado, seja mediante seleção discricionária, seja por meio de processo licitatório. Frente à existência de um mercado discricionário, inerente àquelas empresas que detêm a concessão das principais linhas de Transporte Rodoviário de Passageiros, vêm proliferando micro e pequenas empresas de transporte. Esses pequenos estabelecimentos, que trabalham de forma esporádica para o turismo, atendem preferencialmente ao transporte escolar/universitário intermunicipal, transportando estudantes das regiões mais afastadas do Estado para os centros regionais onde se concentram as instituições de ensino superior. Embora utilizem-se da mão-de-obra local em larga escala, outras atividades de operação e cooperação não são tão comuns: as transações de compra de serviços e produtos, em sua maioria, são feitas fora da região de atuação do estabelecimento. Locadora de Veículos - elo de suporte da atividade de Transporte Rodoviário de Passageiros. A expansão da atividade está vinculada mais à modernização de processos produtivos do que ao desenvolvimento do turismo. No Paraná, essa atividade cresceu na década de 1990 quando o governo estadual e muitos municípios aderiram à terceirização da frota de transportes para não arcar com custos de depreciação. Essa prática foi o chamariz para grandes grupos se instalarem nos principais centros urbanos, cuja presença tornou-se um indicativo da ampliação da atividade no mercado estadual. Como no caso das cadeias de Meios de Hospedagem, há nesta atividade dois tipos de comportamento operacional e de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1340 mercado: um deles comandado pelos grandes grupos, que determina regras de mercado de tipo oligopólico; e outro, concorrencial, que envolve todas as micro e pequenas empresas e que depende do mercado local e regional. É fraca a realização de operações comerciais na região de funcionamento do estabelecimento, pois geralmente os veículos, peças e outros componentes característicos da atividade são comprados em grandes lotes. Apesar do elevado percentual de participação em entidades representativas, realizam-se poucas atividades cooperadas ou em parcerias. Atividades Recreativas Culturais e Desportivas - elo com forte participação do setor público. A busca de práticas sustentáveis no turismo vem alavancando o crescimento da atividade, que no Estado, dada sua diversidade, torna-se de importância para a prática de novas formas de turismo. Parte dos estabelecimentos dessas atividades, especialmente os estabelecimentos históricos e culturais, estão vinculados às esferas municipal, estadual ou federal. É importante, porém, fazer uma leitura em separado das atividades que a compõem. i) Atrativos Naturais e Planejados: no Estado essa atividade vêm crescendo de forma considerável, por serem suporte de atividades estratégicas para o turismo. Nele desenvolvem-se novos segmentos, como o turismo de aventura e o ecoturismo, entre outros. Também se destaca pela crescente participação do setor privado no desenvolvimento de atividades, como, por exemplo, os pesque-pagues, que se tornaram alternativa de lazer popular em todo o Estado, visitados por excursionistas. Quanto às áreas naturais controladas pelo setor público, há limitações impostas pela sua natureza jurídica no que tange ao desenvolvimento de operações comerciais. No entanto, são empregadoras de mão-de-obra local. ii) Esporte e Lazer: existe participação do Sistema “S” e da iniciativa privada, havendo forte demanda desses equipamentos pela população local. Há indícios de pouca atividade cooperada e participação em entidades de classe, o que contraria uma prática comum na atividade esportiva, que tem larga tradição de organização em associações, federações e confederações esportivas. iii) Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos é a atividade que conta com menor participação da iniciativa privada e a que mais emprega mão-de-obra formal. Por sua natureza pública ou religiosa, participa pouco de entidades de classe e mantém poucas operações comerciais no XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1341 município onde se encontra localizado, devido à dependência de pr ocessos licitatórios. Agências de Turismo - elo que ganha destaque na medida em que o turismo vem se sedimentando como atividade econômica de relevância nos aglomerados urbanos. Se na década de 1990 exerciam um papel importante de captação de divisas, hoje a especialização e a diversificação das atividades faz com que atuem de forma focalizada em segmentos da demanda. Dessa forma, cumprem com a função de dinamizar a atividade turística nas regiões do Estado onde atuam, como receptoras por excelência dos visitantes e turistas. Contudo, as Agências de Turismo possuem uma hierarquia de funcionamento que reforça o caráter assimétrico do mercado: um pequeno grupo de consolidadoras e operadoras controla a grande parcela das Agências de Turismo que realizam a atividade de emissivas, porque não possuem licença para operar no mercado em melhores condições (dadas as regulações existentes principalmente na emissão de passagens aéreas), por conta de controles realizados pela EMBRATUR. A contratação de mão-de-obra local é grande entre as Agências de Turismo, sendo a atividade da Cadeia que mais oferece treinamento. Mantêm um expressivo número de transações comerciais no Estado e também possuem considerável adesão às entidades e associações representativas do setor. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS. Cabe pontuar que são poucas as decisões de investimento feitas dentro de estratégias de longo prazo, por conta do ambiente de incerteza e risco que as empresas, pelo seu tamanho, têm que enfrentar. Na Cadeia Produtiva do Turismo, as micro e pequenas empresas (NAJBERG; PUGA, 2002, p.149-162) se deparam com uma série de barreiras para o alcance de níveis de competitividade compatíveis com as práticas de gestão sustentável no setor, que são cada vez maiores. Nesse sentido, para o fortalecimento da Cadeia Produtiva do Turismo, há uma série de medidas que devem ser adotadas e que a seguir, de forma sintética, são expostas: a) promover a formação e o desenvolvimento de mecanismos de gestão sustentáveis; b) investir na capacitação e no desenvolvimento de recursos humanos; XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1342 c) apropriar o uso de sistemas de informação, para o conhecimento do mercado e para o planejamento estratégico; d) usar instrumentos visando à redução de custos e ao aumento da comercialização cooperada; e) incorporar o uso das novas tecnologias (TICs), inclusive como ferramentas de marketing das empresas; f) facilitar o acesso a linhas de financiamento e de crédito adequadas e em condições competitivas. Questões como acessibilidade, estradas e investimentos em infra-estrutura, bem como a capacitação do pessoal ocupado diretamente nas atividades turísticas e a divulgação dos atrativos existentes devem ser identificadas e potencializadas pela ação conjunta das lideranças locais. Esse esforço deve apontar para a formação e o fortalecimento da governança local no turismo. As restrições observadas não representam, contudo, limites intransponíveis ao desenvolvimento do setor, tampouco sugerem retirar do Estado a responsabilidade na condição de condutor do processo de crescimento do tur ismo. Observam-se processos embrionários em curso que, aprimorados e difundidos entre os proprietários dos empreendimentos, devem ser incentivados pelas autoridades regionais, junto ao trade do Estado, principal mercado demandante. Do ponto de vista da comunidade, há um longo percurso a percorrer a partir de uma proposta de turismo sustentável, tratado aqui como paradigma do desenvolvimento da atividade no futuro. A sustentabilidade deixa de ser um conceito atrelado apenas ao meio ambiente para abraçar o contexto econômico e social, reforçando a necessidade de equilíbrio, de inclusão e igualdade entre os que moram no Estado e os que o visitam, convertendo-se em instrumento de exercício da cidadania para todos. Existem boas perspectivas de expansão para o turismo no Paraná, desde que se respeitem as restrições que o próprio crescimento sustentável da atividade acarreta. É importante sublinhar que os processos de inovação podem ocorrer nas diferentes esferas de produção e circulação de mercadorias e serviços e estar vinculados a produtos, processos e gestão (IPARDES, 2005). Não se pode dizer, portanto, que o Estado, devido à sua posição nos mercados do turismo nacional e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1343 internacional, não possa vir a afirmar sua liderança na aplicação de inovações tecnológicas e sociais na atividade, consolidando redes de cooperação para a sustentabilidade do sistema turístico. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho e do Emprego. Brasília, 2006. 1 CD-ROM. CASTRO, A. M. G. de; LIMA, S. M. V.; CRISTO, C. M. P. N. Cadeia produtiva: marco conceitual para apoiar a prospecção tecnológica. 22º Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Salvador, 2002. Disponível em: <www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl1197031881.pdf>. Acesso em: 30/11/2009. IPARDES. Inovação tecnológica no setor serviços do Paraná: subsídios para uma política pública. Curitiba, 2005. _____. Cadeia Produtiva do Turismo: estudo sobre as regiões turísticas do estado. IPARDES, Curitiba : IPARDES, 2008. 122 p. Disponível em <http://www.ipardes.gov.br> Acesso em 30/01/2009. JACOBI, P. Poder Local, Políticas Sociais e Sustentabilidade. In.: Saúde e Sociedade, São Paulo, 8 (1): 31-48. 1999. Jan./Fev. 1999. NAJBERG, S. ; PUGA, F. P.. O ciclo de vida das firmas e seu impacto no emprego: o caso brasileiro 1995/2000. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 9, n. 18, p.149-162, dez. 2002. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/ rev1805.pdf>. Acesso em: 20/11/2009. SCHIMTZ, H. Eficiência coletiva: caminho de crescimento para a indústria de pequeno porte. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 18, n.2, p. 164-200, 1997. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1344 ASPECTOS INFORMACIONAIS SOBRE SEGMENTAÇÃO DO MERCADO TURÍSTICO: UM ESTUDO PRELIMINAR ACERCA DE VARIAÇÕES NA DEMANDA ESTADUNIDENSE NO MERCADO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2008 Marcelo Augusto Mascarenhas Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisa Social / CEFET-RJ; NUPETUR/UFOP; GETDS/UNIRIO; NEITT/CEFET-RJ [email protected] RESUMO O presente trabalho versa sobre aspectos da segmentação no mercado turístico nacional, através de uma análise sobre a entrada de turistas estadunidenses em solo brasileiro, entre os anos de 2003 e 2008. Seu objetivo é tecer uma breve análise acerca das variações que têm ocorrido com os fluxos de turistas estadunidenses que entraram no Brasil nos últimos anos. A metodologia que sustenta a construção deste trabalho é a construção de uma breve revisão bibliográfica e o desenvolvimento de algumas reflexões sobre este nicho de mercado internacional para o turismo brasileiro, seguida de um estudo com base na análise de séries temporais, a partir de algumas estatísticas básicas que possibilitem novos avanços em estudos posteriores. Como principais resultados, pudemos observar que o fluxo de turistas estadunidenses em direção ao Brasil têm diminuído nos últimos anos (o que vai na contra-mão do total de turistas estrangeiros que têm entrado no país), que o padrão sazonal de entrada dos turistas de origem dos EUA é diferente da sazonalidade para o total de visitantes estrangeiros, e que a variação cambial do dólar americano frente ao Real não demonstra ser um estímulo ou impedimento tão significativo à entrada dos turistas estadunidenses em nosso país. Palavras Chave: turismo, fluxos, estadunidenses, série temporal, sazonalidade. ABSTRACT This paper discusses aspects of segmentation in domestic tourism market through an analysis of the entry of american travelers on Brazilian soil, between the years 2003 and 2008. Your goal is to make a brief analysis about the changes that have occurred with the flow of american tourists who arrived in Brazil in recent years. The methodology which supports this work is the construction of a brief literature review and develop some thoughts on this niche market for tourism in Brazil, followed by a study based on time series analysis, based on some basic statistics enabling new advances in future studies. As main results, we observed that the flow of american tourists into the Brazil has decreased in recent years (which goes in the direction opposite to the total of foreign tourists who have entered the country), the seasonal pattern of arrival of american tourists is different from the seasonal pattern for the total of foreign visitors, and that the exchange rate of U.S. Key words: tourism, flows, americans, time series, seasonality. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1345 1 INTRODUÇÃO À medida que crescem os avanços nas áreas de gestão e planejamento do turismo, também se faz necessário um aumento nas ações de pesquisa que envolvem este mesmo setor. Falando especificamente da gestão pública do turismo brasileiro, podemos afirmar que de fato esta é uma prática bastante recente. Ainda que em teoria tenham existido políticas de turismo antes dos anos 80 (CAVALCANTI; DA HORA, 2002; BENI, 2006), podemos dizer que, em termos práticos foi somente deste período em diante que se desenvolveram ações mais concretas que trabalhassem fortemente pelo desenvolvimento da atividade turística. Com o crescimento do interesse pela atividade turística, iniciativa privada e poder público passaram a buscar melhorias nas suas formas de atuação perante este crescente mercado. Dos anos 90 em diante, podemos dizer que o Brasil começou a enfrentar um trabalho contínuo (ainda que lento) de profissionalização no que diz respeito às práticas de gestão pública do turismo. Frente a esta nova postura, que se mostrou como uma resposta inevitável às destinações que buscavam se manter competitivas diante do mercado global, cada vez mais acirrado, podemos destacar os crescentes esforços de segmentação que tem sido trabalhados não só pelo governo brasileiro (expressos nos seus diferentes níveis de gestão, ou seja, federal, estadual e municipal), como também pelas organizações que atuam no campo da iniciativa privada ou até mesmo no terceiro setor. É diante desta partição do mercado consumidor do turismo que este trabalho visa desenvolver seu conteúdo. A partir dos avanços na produção de informações no campo do turismo, e da segmentação que tem sido feita atualmente, vamos trabalhar neste artigo com um estudo sobre as variações da demanda turista efetiva (BENI, 2001), proveniente dos Estados Unidos da América [EUA], entre os anos de 2003 e 2008. Para formalizar a proposta deste trabalho, podemos dizer que o objetivo do mesmo é apresentar um estudo sobre algumas variações observadas no volume de turistas estadunidenses que entraram em solo brasileiro, entre os anos de 2003 a 2008. A realização deste trabalho se justifica por diversos motivos dentre os quais podemos destacar, a importância qualitativa e quantitativa da demanda estadunidense para o turismo internacional em nosso país, a carência de estudos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1346 que trabalhem de forma quantitativa e com apoio estatístico a questão da segmentação de fluxos estrangeiros no Brasil, e a complementaridade que deve existir entre estudos de uma perspectiva macro (como é o caso deste trabalho) com as perspectivas micro, junção tão necessária para a evolução do turismo nacional e principalmente das ações que visem trabalhar com a ótica local. Para facilitar a compreensão e orientar a leitura deste trabalho, o fragmentamos em alguns subitens como, revisão bibliográfica (onde serão apresentados alguns conceitos das áreas de turismo, marketing e estatística, elementares para o entendimento deste estudo), metodologia, análise dos resultados, considerações finais e referências bibliográficas. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 ASPECTOS ELEMENTARES SOBRE TURISMO E ESTUDO DE DEMANDA Para darmos continuação ao desenvolvimento deste estudo, é interessante proceder com um exercício de revisão da literatura sobre questões relacionadas ao universo do turismo e elementos do marketing que fazem interface com este campo, a citar, por exemplo, a questões que envolvem segmentação de mercado e estudos sobre demanda. Antes de entrarmos nas questões teóricas com maior aproximação do marketing, vamos refletir sobre alguns pontos elementares mas de vital importância para entendimento do turismo e a construção de um raciocínio que nos permita evoluir em alguns aspectos que dizem respeito à gestão deste setor. Por mais evoluídas que estejam as ações com foco no planejamento e gestão do turismo brasileiro, cada vez mais solidificadas em um política descentralizadora que vem sendo construída desde os mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso até o presente momento, e que tem cada vez mais priorizado a atenção nos fluxos turísticos domésticos (aqueles que ocorrem apenas dentro do Brasil), não podemos deixar de ficar atentos às populações internacionais que visitam o país. Certamente o governo federal não tem diminuído sua atenção em relação ao mercado internacional, entretanto, podemos afirmar que a evolução de estudos e novas ações internacionais não têm se apresentado tão intensa quanto o que se observa em relação ao mercado interno. Reconhecemos que as ações promocionais XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1347 para o mercado exterior cresceram bastante, assim como houve uma melhora na pesquisa de perfil do turista internacional que visita o Brasil. A proposta desta reflexão não é de questionar estes fatos ou mesmo de investir contra as práticas do governo desenvolvidas até o momento (que de fato evoluíram muito, se compararmos o momento atual a um passado bastante recente), mas sim de fomentar uma indagação no que diz respeito ao entendimento e à atenção empreendida a um mercado consumidor tão importante quanto os Estados Unidos. Por mais distante que o questionamento acima pareça da idéia do turismo de base local, é importante lembrarmos-nos da ótica sistêmica proposta por uma série de estudiosos da área em questão. Como Beni (2001) destaca, o turismo é um sistema aberto, ou seja, realiza trocas constantes com outros diversos ambientes. Ainda que não fale exatamente de turismo Castels (1999) também nos coloca em uma sociedade plenamente interconectada quando desenvolve o conceito de sociedade em rede na qual estamos inseridos. Partindo destes dois pressupostos, é interessante notarmos como cada vez mais a nossa realidade tem mostrado que eventos globais acabam gerando diversos impactos de abrangência local, ou mesmo que eventos locais podem se propagar e criar situações de interferência global. Em linhas gerais, o que pretendemos dizer com a reflexão deste parágrafo, é que pensamentos/ações globais ou locais são questões complementares e que dificilmente podem ser isolados uns dos outros (principalmente no atual contexto em que vivemos). Como foi dito na introdução deste artigo, nosso objeto de análise se trata de algumas variações no que diz respeito à demanda real ou efetiva de turistas estadunidenses que visitaram o Brasil. De acordo com Cooper et. al (2001), a demanda real ou efetiva se trata de um componente da demanda turística total. Esta primeira diz respeito somente ao número de turista que realmente estão viajando ou que viajaram para um destino específico, ou seja, não faz menção a elementos de demanda potencial. De acordo com o autor, este é o tipo de informação mais apresentada nas publicações de estatística de turismo quando se abordam ques tões referentes à demanda deste setor. A título de esclarecimento, e para fins de abreviação, ao longo deste estudo usaremos a palavra demanda como sinônimo de demanda real ou efetiva. O entendimento do conceito apresentado acima é XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1348 importante uma vez que fundamenta o uso que fizemos das informações extraídas dos Anuários Estatísticos do Ministério do Turismo [MTUR]. Agora mudando um pouco o nosso foco de análise, vamos compreender melhor algumas questões que dizem respeito à segmentação de mercado. De acordo com Kotler (2001), o trabalho de segmentação de mercado diz respeito ao conjunto de ações que objetivam dar mais precisão aos esforços de marketing. Esta precisão que o autor menciona está diretamente relacionada à escolha de segmentos de mercado para serem investidos com maior ênfase e conhecimento. Falando especificamente de segmentação no campo do turismo, podemos dizer que existem diferentes maneiras de se orientar esta partição e seleção do mercado consumidor. Como destacam Lohmann e Panosso Netto (2008), ao citar a Organização Mundial do Turismo (2001) e Vaz (1999), os critérios de segmentação podem ser desenvolvidos em função de aspectos demográficos (em função de idade, sexo, renda, etc.), geográficos (país, estado, ou demais variações geográficas de um território), psicológicos ou econômicos, e passíveis de serem complementados com as formas de segmentação psicográfica (focada na personalidade do consumidor), comportamental (apoiada nos hábitos das pessoas), demográfica pessoal (atenção a elementos básicos de identidade, como aspectos físicos e genéticos), ou demográfica socioeconômica (centrada na formação e posicionamento social de um grupo de indivíduos). Em razão do que foi dito acima, quando optamos por analisar somente o fluxo de entrada dos turistas de origem dos EUA, realizamos um processo de segmentação em nossas análises da demanda turística internacional que visita o Brasil. Para compreendermos um pouco a importância deste segmento para o turismo internacional em solo brasileiro, vale destacar que os Estados Unidos tem sido por muitos anos o segundo país a enviar mais turistas para o Brasil anualmente, ficando atrás somente da Argentina. No ano de 2008, de todos turistas estrangeiros que entraram no Brasil, pouco mais de 12% deles tinham os EUA como país de origem (MTUR, 2009). Apesar deste fato, se observarmos os dados dos últimos anos (ver mais informações na seção 4, análise dos resultados), podemos notar que os fluxos deste importante mercado consumidor em direção ao Brasil têm diminuído a alguns anos. Além de fatores externos já conhecidos (como atentados terroristas, variações na economia e no câmbio), não podermos descartar a hipótese de uma XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1349 falta de conhecimento e atenção devida a este segmento. É por esta razão que decidimos investir neste tipo de estudo. Na sessão seguinte, vamos observar e refletir acerca de algumas importantes questões que envolvem a aproximação do setor de turismo com o universo da área estatística. 2.2 RELAÇÕES ENTRE TURISMO E ESTATÍSTICA Se podemos considerar os avanços nas áreas de planejamento e gestão do turismo como eventos ainda bastante recentes, o que seria possível dizer acerca da aproximação e uso de estatísticas no campo do turismo? Por maior que seja a necessidade de atender demandas específicas que pedem certa fuga de ações puramente racionalistas, é inegável que o setor de turismo, assim como qualquer outra atividade que perpasse tanto por aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos, também precise de um determinado rigor e suporte racional nos seus processo de gestão. É diante de uma série de processos incertos que pode e deve ocorrer a aproximação do turismo com o universo da estatística. Mais do que produzir ou tabular números, a ciência estatística é um campo de conhecimento que visa trabalhar com eventos incertos, ou seja, que se relacionam a algum tipo de probabilidade de acontecimento. Como as certezas encontradas na realidade de qualquer gestor são normalmente muito escassas, a estatística e suas ferramentas acabam se apresentando como uma importante forma de auxiliar os processos de tomada de decisão. Não que este campo seja capaz de garantir opções assertivas, mas certamente o uso correto dos seus métodos, acompanhado de outras fontes de orientação (como domínio sobre o assunto, experiência, entre outros elementos) pode minimizar em muito as chances de se tomar uma decisão errada (HALL, 2004). Ao falar sobre os processos de planejamento e gestão do turismo, e participação do Estado neste esforço, Beni (2001) ressalta a importância de se criar não somente um Sistema de Informação de Turismo, mas também um Sistema Nacional de Estatísticas do Turismo. O próprio Ministério do Turismo, em seus dois últimos Planos Nacionais para este setor (MTUR, 2003; 2007), deixa bastante clara a importância de se produzir e manipular informação para direcionar os gestores desta atividade. O Programa de Regionalização do Turismo [PRT] (MTUR, 2004), XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1350 considerado a maior política desenvolvida pelo atual governo para este setor, também apresenta um desmembramento de sua documentação cujo foco está direcionado para a organização de um sistema de informações turísticas (MTUR, 2006). Ainda que diversos autores e mesmo os gestores de turismo reafirmem constantemente o quão importante é o uso de métodos estatístic os, podemos dizer que existe um significativo descompasso entre a fala e a prática. Um pequeno, mas muito significativo exemplo desta discrepância é a incapacidade de evoluir na produção e uso de informações turísticas municipais, ainda que estejamos sob a orientação de uma política descentralizadora com este foco desde meados da década passada, quando foi implantado o Programa Nacional de Municipalização do Turismo [PNMT]. São poucos os municípios do Brasil que geram e/ou usam estatísticas para direcionar suas ações de planejamento e gestão. Outro exemplo bastante claro desta ineficiência pode ser visto na sessão de estatísticas estaduais, no site do Ministério do Turismo (dentro da área de dados e fatos). Do momento em que esta área se tornou disponível até a escrita deste artigo, eram poucas as unidades da federação que tinham um link disponível para acessar os seus estudos. E mesmo quando este fato ocorre, nota-se que as estatísticas publicadas por diferentes estados não aparentam seguir qualquer tipo de orientação básica mínima que auxilie na uniformização de aspectos metodológicos. Assim como foi dito anteriormente, não podemos negar que ocorreu um significativo nível de melhora com relação à produção de informações acerca do turismo em nosso país, mas também é inegável que este processo transcorreu em ritmo muitíssimo menor que outras investidas trabalhadas pelos gestores deste setor. Não queremos dizer que a produção de informações devesse ser colocada como prioridade, mas sim que esta poderia ser incentivada de maneira complementar e na mesma medida em que foram promovidas outras ações em benefício da política de regionalização. Mudando um pouco a direção do nosso olhar, vamos refletir sobre alguns elementos básicos da estatística que serão utilizados na construção deste artigo. Como trabalharemos com uma sequência de dados históricos acerca de um determinado evento, ou seja, a entrada de turistas estrangeiros no Brasil, a nossa principal referência de estudo é o campo das séries temporais. De acordo com Souza e Carmargo (2004, p. 13), uma “série temporal é um conjunto de observações XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1351 de uma dada variável, ordenadas segundo o parâmetro tempo, geralmente em intervalos eqüidistantes”. Os autores também apresentam um agrupamento de variações que podem ser usadas para classificar as séries temporais como: discretas, contínuas, determinísticas, estocásticas, multivariadas (discretas ou contínuas) e multidimensionais. Continuando a falar de elementos estatísticos e buscando aproximá-los ainda mais do turismo, é interessante observar que o estudo das séries temporais se preocupa com um tipo de variação que é bastante característica dos fluxos turísticos; a sazonalidade. Morettin e Toloi (2006) consideram como eventos sazonais aqueles que ocorrem de forma regular ao longo do tempo, mas que apresentam variações constantes em um mesmo período, e que se mantêm repetidas à medida que avançamos nas unidades de tempo. Ao falar sobre a sazonalidade no campo de turismo, Koc e Altinay (2007) nos apresentam duas categorias para diferenciar esta variação. De acordo com os autores, no turismo podemos encontrar um tipo de sazonalidade natural, que seria aquela provocada por mudanças regulares em aspectos naturais como o clima, estações do ano, e outros fenômenos deste gênero, ou então um padrão de sazonalidade institucional, que é resultado de intervenções religiosas, culturais, políticas, sociais ou mesmo empresariais. Antes de iniciarmos um estudo com o uso de séries temporais, vale observar as sugestões de Makridakis, Wheelwright, e Hyndman (1998), quando estes afirmam sobre a importância de se desenvolver investigações através de representações visuais, por meio de apresentações gráficas dos dados, assim como o uso de estatísticas básicas, que de fato são medidas essenciais para investirmos em um posterior exercício de modelagem e previsão. Ao apresentarem seu trabalho de estatística básica, Morettin e Bussab (2003) sugerem algumas diferentes estatísticas resumo para variados casos de análise de dados. Vale dizer que todo o supor te estatístico demandado por este artigo se encontra detalhado nas obras de referência mencionadas acima. Na sessão a seguir, vamos apresentar uma breve descrição sobre a metodologia que orientou a construção deste trabalho. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1352 3 METODOLOGIA Para desenvolver o estudo que deu origem a este trabalho, nos fundamentamos basicamente nos dados apresentado pelo Anuário Estatístico de Turismo (novo nome do antigo Anuário Estatístico da EMBRATUR), publicado pelo MTUR. Para as informações contidas neste artigo, foram utilizadas as publicações de 2005 a 2009, capazes de nos fornecer dados de 2003 a 2008 (este último ano é o período mais recente com informações disponíveis). Além de um exercício reflexivo amparado por um trabalho de revisão bibliográfica (elementos apresentados ao longo do item 2 deste artigo), também desenvolvemos um processo de análise estatística básica frente a alguns elementos passíveis de serem observados nas séries históricas que apresentadas aqui. A opção por um estudo estatístico mais simplificado se deve em função da temática do evento, que de fato se aproxima em maior grau de estudos reflexivos ao invés de trabalhos com excessivo rigor técnico áreas exatas como a do campo citado acima, além deste ser um trabalho de apresentação para outros estudos posteriores e mais rigorosos em seu aspectos técnicos, acerca da temática sobre segmentação de mercado e aspectos comportamentais da demanda estadunidense frente ao produto turístico brasileiro. Ainda que existam dados disponíveis para uma série histórica maior que a trabalhada aqui, optamos por delimitar o lapso temporal entre 2003 e 2008 como um período representativo do mandato e das políticas desenvolvidas pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Estudos posteriores podem tentar verificar a existência de algum tipo de padrão caracterizado por diferentes mandatos políticos, como o citado aqui. No que diz respeito ao trabalho de análise estatística que desenvolveremos aqui, podemos dizer que nos ateremos a apresentações gráficas, que segundo Makridakis, Wheelwright e Hyndman (1998) são uma excelente forma de observar de maneira rápida e intuitiva como os dados tendem a se comportar. Além desta visão inicial, vamos trabalhar também como medidas resumo que nos auxiliarão a observar a tendência central (através da média aritmética simples) dos conjuntos numéricos, seus níveis de dispersão (por meio do desvio padrão, comparação de amplitudes), tendências de aumento ou diminuição dos fluxos (entre outras medidas, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1353 aqui faremos uso dos valores mínimo e máximo observados para os meses de cada ano) além de algumas possíveis relações entre diferente variáveis. Para tabular os dados e produzir os gráficos e tabelas apresentados neste estudo, foi utilizado o aplicativo Microsoft Excel 2007, e em especial o seu suplemento de análise de dados. Na sessão a seguir, vamos apresentar alguns dos resultados obtidos através do estudo que foi feito mediante a análise de fluxos turísticos estrangeiros que entraram no Brasil. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Para iniciar a análise dos resultados obtidos, vamos começar com a interpretação do gráfico 1, que nos mostra as séries do total de turistas estrangeiros que entraram no Brasil entre 2003 e 2008, e uma série específica para os turistas de origem dos EUA neste mesmo período. 1354 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Igualmente foi destacado por diversos autores como Beni (2001; 2006), Cooper (2001) e Rabahy (2003), podemos ver claramente no gráfico acima o quanto os fluxos turísticos estudados apresentam um elevado nível de sazonalidade. Se analisarmos de maneira comparativa as variações encontradas na série do total de turistas estrangeiros, com a linha que trata somente dos viajantes estadunidenses, podemos ver que o primeiro caso citado apresenta uma regularidade bem mais clara do que o segundo exemplo em estudo. É interessante observar que, apesar do mercado estadunidense ser o segundo maior público consumidor do turismo brasileiro, podemos dizer que a similaridade entre os padrões das séries não se mostra bastante clara no gráfico acima. Um outro aspecto que nos informa a diferença entre os dois conjuntos de dados é a linha de tendência que acompanha cada uma das duas séries apresentadas. Enquanto os dados referentes ao conjunto total de turistas estrangeiros mostra-se em leve tendência de crescimento, nota-se que o mesmo não ocorre com o fluxo de turistas de origem estadunidense que entraram em nosso país. Apoiados na tabela 1, exibida mais abaixo, vamos reforçar esta análise. 1355 Tabela 1 – ESTATÍSTICAS RESUMO SOBRE O NÚMERO DE TURISTAS QUE ENTRARAM NO BRASIL, POR MÊS, ORIGINADOS DOS EUS, ENTRE 2003 E 2008 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Mínimo 37.047 46.070 55.869 46.329 48.814 39.781 Máximo 78.466 77.716 76.607 78.230 71.050 67.962 Amplitude 41.419 31.646 20.738 31.901 22.236 28.181 Média 55.722 58.833 66.130 60.136 57.979 52.126 Desvio Padrão 13.218 9.408 7.451 11.552 6.334 9.171 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do MTUR. A partir das estatísticas resumo apresentadas acima, vamos observar algumas características básicas da série histórica dos EUA. Assim como nos mostrou a linha de tendência observada no gráfico um, podemos notar que também XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 existe uma tendência de queda no valor apresentado para as médias e número máximo de grande parte dos anos pesquisados. Em uma análise anterior à produç ão desta tabela, verificamos que o mesmo tipo de comportamento ocorre nos valores encontrados para as medianas, que não foram apresentadas aqui uma vez que se mostraram como medidas bastante similares aos números expostos pelas médias. Para observarmos de maneira mais clara esta tendência à diminuição na entrada de turistas estadunidenses entre 2003 e 2008, vamos observar o gráfico 2 apresentado mais abaixo. 1356 De acordo com o gráfico citado, onde podemos notar com mais clareza o comportamento a série temporal dos EUA, nota-se claramente como houve uma razoável estagnação no crescimento do número de turistas que entraram no Brasil, seguida posteriormente por um claro movimento de declínio no fluxo de viajantes nos últimos três anos de análise. Continuando a falar de alguns padrões observados na série histórica estadunidense, vamos observar como se comportou a variabilidade do número de turistas ao longo dos seis anos avaliados aqui. Primeiramente, a partir de uma XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 análise visual com base no gráfico 2, podemos notar que de forma bastante clara ocorreu uma diminuição da variabilidade mensal ao longo destes seis anos observados, ou seja, a sazonalidade do fluxo de origem estadunidense tem sido atenuada de forma bastante razoável. Apesar desta constatação, é importante destacar que não temos condição de explicar neste estudo quais seriam as razões para este evento. Uma hipótese a ser levada em consideração é a diminuição dos valores de visitação máxima que eram observados anteriormente, ou seja, os meses de maior e menor visitação estadunidense apresentam mais proximidade entre seus valores, como podemos notar claramente através das medidas de amplitude e desvio padrão exibidas na tabela 1. Todavia, não podemos afirmar que este seja o único motivo para a suavização da sazonalidade citada. Faz-se necessária uma investigação mais criteriosa e focada em outras questões (como, por exemplo, uma análise criteriosa de ações e políticas do Brasil para a diminuição da sazonalidade observada no fluxo de turistas estrangeiros) que não poderiam ser desenvolvidas aqui por uma questão de espaço limitado e pelo foco que pretendemos seguir em relação ao objetivo deste trabalho, que de fato é apresentar uma análise mais introdutória sobre algumas variações detectadas no fluxo de turistas originados dos EUA. Continuando a analisar a variação mensal dos fluxos ao longo dos anos, vamos observar o gráfico 3, que nos mostra de maneira comparativa e mais clara as diferenças entre cada um destes doze períodos anuais. Para facilitar a visualização das linhas que representam os anos, optamos por agrupar somente o último quadriênio em um mesmo gráfico. Com base na apresentação visual feita acima, podemos notar que os anos de 2005 e 2008 se destacam como períodos de maior e menor fluxo, respectivamente, para uma grande parte dos meses em questão. Com relação a 2005, observar-se que este ano apresentou por nove meses os maiores fluxos de turistas, em comparação com os outros três períodos também avaliados neste gráfico. Se levarmos em consideração que o mês de janeiro de 2005 também apresentou valor similar ao maior fluxo deste período, que foi o movimento ocorrido em 2006, podemos afirmar que de fato o primeiro dos quatro anos em questão se posiciona como o de maior volume na entrada de turistas. O contrário pode ser dito em relação a 2008, que também apresentou valores extremos em nove meses, só que para números menores. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1357 Acerca dos anos 2006 e 2007, vemos uma distribuição irregular entre os meses com valores mais altos ou mais baixos. Em uma comparação entre estes dois anos, notase que 2006 foi um ano de maiores fluxos em sete meses do ano, e 2007 adquiriu este status por cinco período mensais. 1358 Continuando nossas investigações, também vamos observar de maneira um tanto introdutória qual seria uma possível relação existente entre a variação mensal de turistas estadunidenses que entraram no Brasil, e a cotação média mensal que o dólar americano atingiu frente ao Real neste mesmo período de tempo. Por limitação de espaço e tempo, não vamos desenvolver neste artigo uma análise que aprofunde a correlação entre as duas variáveis citadas, levanto em consideração fatores como período de férias escolares e estações climáticas do ano. Ao analisarmos visualmente o gráfico 4, podemos notar que não existe u m nível de correlação bastante significativo entre as duas variáveis, ou seja, não podemos dizer que apenas as mudanças na cotação do dólar americano frente ao Real são significativas para influenciar em grande medida o volume de turistas dos EUA que viajam para o Brasil. Antes de encerrarmos nossa análise acerca desta última relação, que pode ser melhor verificada em estudos posteriores, é importante XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 dizer que de fato existe uma correlação positiva (e igual a 0,14) entre o valor alcançado pelo dólar frente à moeda brasileira e o número de turistas do EUA que entraram em nosso país, mas o nível de associação encontrado é bastante pequeno, o que nos permite inferir que somente a variação cambial não seja um impedimento ou estímulo tão significativo à entrada de turistas estadunidenses no Brasil. De fato se faz necessária uma averiguação mais profunda sobre esta questão apresentada aqui. 1359 Na próxima sessão, vamos tecer as considerações finais acerca da contribuição que este trabalho desenvolveu a partir do que foi objetivado no processo de construção do mesmo. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das pesquisas que têm sido feitas acerca de alguns segmentos internacionais ante o mercado turístico brasileiro, podemos dizer que este é o primeiro esforço de publicação dos resultados alcançado até então. Como foi dito no objetivo e na metodologia deste trabalho, a proposta do mesmo não era de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 apresentar resultados com excessiva base estatística ou mesmo um estudo que se prendesse apenas no exercício de revisão da literatura. Ao contrário destes dois casos, a proposta do presente estudo era de apresentar um trabalho introdutório, mas nem por isso de menor valor, e que mesclasse a revisão bibliográfica e um trabalho reflexivo sob o contexto vivenciado (com base no tratamento de dados reais, acerca de elementos que envolvam a checagem inicial de um segmento específico dentro do mercado turístico). Pela importância dos fluxos estadunidenses em direção ao Brasil, optamos por este foco e, além disso, mantemos o nosso horizonte de análise em um período de significativa atenção política às questões relacionadas ao setor de turismo. Dentro deste nosso campo de análise, valeria destacar a interessante diferença observada na série histórica dos turistas frente ao conjunto de dados q ue engloba todos turistas estrangeiros que entraram no Brasil entre 2003 e 2008. Além deste fato, também merece uma atenção mais direcionada a diferença entre as tendências de crescimento observadas para os grupos de dados mencionados acima. Averiguar quais seriam as possíveis razões que tem diminuído a vinda de turistas dos EUA para o Brasil, e trabalhar para que este cenário se reverta para uma direção mais positiva em favor do Brasil, são questões que de fato devem tomar a atenção de estudiosos e gestores (públicos e privados) deste setor. Outros dois assuntos que também demandam maiores esforços investigativos para auxiliar na orientação de ações e políticas de turismo são, as questões que perpassam a diminuição da sazonalidade mensal dos fluxos estadunidenses que entram no Brasil todos os anos, e também a real influência que a valorização do Real frente o dólar americano gera no volume de turistas dos EUA que ingressam ou deixam de ingressar em nosso país. Ainda que os resultados apresentados neste estudo representem uma contribuição bastante introdutória para o tema que foi abordado neste artigo, é importante destacar o marco inicial que esta publicação pode representar. De fato este trabalho não se esgota em si mesmo, quer por suas imperfeições ou mesmo pela complexidade do assunto que aborda, ou seja, este artigo cumpre apenas a sua função que é de contribuir com a abertura de mais caminhos para a construção de novos estudos acerca das temáticas que se propõe a explorar. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1360 REFERÊNCIAS BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 6ª ed. São Paulo: SENAC SP, 2001. ______. Política de planejamento do turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. CASTELS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CAVALCANTI, K. B.; DA HORA, A. S. S. Política de turismo no Brasil. 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Acrescenta-se a pesquisa, uma análise estrutural dos meios de hospedagem da Vila do Abraão - Ilha Grande, as forças competitivas e a identificação dos stakeholders que influenciam o setor. Identificou-se que o caso estudado ainda está mal organizado, em vista do processo desordenado da atividade turística. Como resultados identificaram-se possíveis estratégias de cooperação e competição como relacionamento para maior competitividade e sustentabilidade do destino. O estudo merece continuidade, através de entrevistas aos stakeholders para verificar a viabilidade dessas estratégias. Palavras Chave: Turismo, Arranjo Produtivo Local, Stakeholders, Cooperação, Vantagem Competitiva, Ilha Grande. ABSTRACT Preliminary discussion of the hospitality supply chain, considered as traveler‟s activities realized at the region of destination. The study is based on the theory of stakeholders, clusters and local productive arrangement. In the literature, we identified the stakeholders and members of this chain for an analysis of how the network is productive and the specific functions of each element. In addition, a structural analysis of the lodging facilities to Vila do Abraão - Ilha Grande was constructed and the competitive forces and the chain of stakeholders that influence the industry were identified. It is clear that the case study is still poorly organized, in view of the disorderly process of tourism. The results identified possible strategies of cooperation and competition as relationships for greater competitiveness and sustainability of the destination. The study deserves to continue, through interviews with stakeholders to verify the feasibility of these strategies. Key words: Tourism, Local Productive Arrangement, Stakeholders, Cooperation, Competitive Advantage, Ilha Grande. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1362 INTRODUÇÃO Este artigo analisa a formação da cadeia produtiva do turismo, sob a perspectiva da região de destino dos viajantes (LEIPER, 1990), aqui chamada de cadeia produtiva da hospitalidade. Este processo é recente e formado por aspectos específicos que devem partir de uma maior integração entre os atores formadores dessa rede. O estudo parte da identificação dos stakeholders e de suas funções para, posteriormente analisar as relações de cooperação e conflito. Analisa também as forças competitivas do setor de meios de hospedagem no destino escolhido para o estudo: Vila do Abraão na Ilha Grande, pertencente à Angra dos Reis – RJ. Através de uma análise preliminar do contexto deste destino, discutem-se algumas estratégias competitivas possíveis. Foram consultadas publicações relacionadas a sistemas de turismo (BENI, 2007; LOHMANN e PANOSSO NETTO, 2008), cadeias produtivas (COSTA, 2005; SAMPAIO, 2005), análise estrutural do setor (PORTER, 1986; 1999), arranjos produtivos locais e sistemas de redes (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006; PRAHALAD, 2005; TINSLEY e LYNCH, 2008; GIBSON et al, 2005) para formular o referencial teórico e discutir os preceitos para análise do caso. Realizaram levantamentos dos dados em entrevista junto ao assistente do gestor do Parque Estadual da Ilha Grande, em trabalho de consultoria (MPE, 2004) e pesquisas acadêmicas (MENDONÇA, 2008; PRADO, 2003a, 2003b; SAMPAIO, 2005) para caracterizar e analisar a evolução do turismo e situação atual na Ilha Grande. 1. SISTEMA DE TURISMO E DA HOSPITALIDADE É importante oferecer uma estrutura de organizações que leve em consideração as atividades praticadas pelos turistas ao permitir a identificação de setores da cadeia produtiva. Nesse sentido, faz-se referência ao modelo de Leiper (1990, apud COOPER et al, 2007, p.37) para apresentar os três elementos que compõem o sistema turístico básico: os turistas, que “constituem grupos heterogêneos, que reúnem diferentes personalidades e perfis demográficos, em experiências diversificadas” (COOPER et al, 2007, p.45); os elementos geográficos, que subdividem-se em Região Emissora de Viajantes, Região do Destino Turístico e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1363 Região de Trânsito; e, por fim, o setor turístico, que são uma gama de empresas e de organizações envolvidas em apresentar o produto turístico. Figura 1: SISTEMA DE TURISMO Localização dos viajantes, dos turistas e do setor Viajantes que estão de partida Viajantes em retorno Ambientes: humano, sociocultural, econômico, tecnológico, físico, político, legal, etc. Fonte: Leiper, 1990 (apud COOPER et al, 2007, p.37) 1364 A escolha pela utilização do sistema de Leiper se deu pela facilidade em aplicar de forma clara e objetiva para ilustração da cadeia produtiva da hospitalidade. O foco na Região do Destino Turístico ocorre, pois é onde se dá o processo de acolhimento dos visitantes pelos anfitriões daquele local, e, portanto, compõem a oferta de serviços e produtos das empresas e instituições do destino responsáveis pela hospitalidade, somado às características da população receptora, que Camargo (2003, p.12) invoca de estilo da hospitalidade. E a hospitalidade pensada nessa perspectiva vai desvelar os tempos/espaços nos quais se realizam os modelos culturais neles embutidos, os públicos (os demais residentes e os turistas), os seus equipamentos, a sua engenharia financeira e os seus recursos humanos (CAMARGO, 2003). Considerando o elemento essencial do sistema, que é a relação e a interação entre os elementos que o compõem, a análise destacada à Região do Destino se fará com o intuito específico deste artigo em estruturar a cadeia produtiva da hospitalidade. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 O destino é também a razão de ser do turismo, onde uma série de atrativos especiais se distingue do cotidiano por sua importância cultural, histórica ou natural. Essa força de atratividade para visitação dos destinos turísticos energiza todo o sistema turístico, incentivando a demanda pela viagem na região emissora. Assim é no destino que acontecem as inovações do turismo – como o desenvolvimento de novos produtos e a apresentação de novas experiências. (COOPER et al, 2007, p.37) Partindo-se do fato de que o destino é o espaço onde ocorre a oferta de atrativos, serviços de acomodação, entretenimento e alimentação àqueles que se deslocam temporariamente engajados por variados motivos, se faz primordial “constatar junto à população residente se concorda com tal colocação e conhece as mudanças necessárias para que isso ocorra” (WADA, 2003). A pesquisadora sugere a partir dessa reflexão o levantamento e análise de: tradições, relacionamentos, expectativas, necessidades, desejos e soluções dos anfitriões. Levando-se em consideração a Região de Destino do modelo de Leiper e a intenção de identificar os anfitriões e as organizações instaladas no destino que se propõem a servir às necessidades específicas dos turistas, será ilustrada a cadeia produtiva da hospitalidade. 2. CADEIA PRODUTIVA DA HOSPITALIDADE As atividades turísticas que ocorrem na Região de Destino, caracterizadas neste artigo como atividades da hospitalidade, são diversas e complexas, necessitando vislumbrar a partir de uma visão sistêmica para compreensão de suas particularidades, bem como identificação dos atores e análise de suas relações. A identificação dos diversos setores que propiciam serviços e produtos para compor a experiência turística (ou da hospitalidade) já nos dá uma visão da heterogeneidade de organizações, que prestam desde hospedagem, alimentação, serviços de guias e agenciamento de passeios a lojas de souvenirs, farmácias e caixas eletrônicos. Configura-se assim uma cadeia de organizações produtoras, intermediadoras ou distribuidoras cujas atividades se complementam e propiciam a satisfação dos viajantes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1365 Em vistas destas discussões e baseados em estudos de Sampaio (2005) e Beni (2007) desenvolveu-se a cadeia produtiva da hospitalidade da Ilha Grande (Figura 2), identificando os atores envolvidos, segmentados em três estruturas e as relações existentes entre as organizações para com a experiência turística e com os turistas. Figura 2: CADEIA PRODUTIVA DA HOSPITALIDADE NA ILHA GRANDE Cadeia Produtiva da Hospitalidade na Vila do Abraão - Ilha Grande ESTRUTURA INSTITUCIONAL DE APOIO AMHIG CEADS Brigada CODIG CONSIG AMAIG SEBRAE/RJ UERJ Mirim SENAC Rio Associação de barqueiros e embarcações independentes Operadoras Nacionais e Internacionais Convention & Visitors Bureau da Ilha Grande Pousadas, Campings, Albergues e Casas para locação Restaurantes, Bares e afins Experiência Turística Agências de turismo receptivo Outras empresas comerciais Barcas SA ESTRUTURA DO PRODUTO TURÍSTICO ESTRUTURA DE ACESSO AO MERCADO Sub-Prefeitura IEF INEA da Ilha Grande Turistas Fonte: adaptado de SAMPAIO (2005) Fonte: adaptado de Sampaio (2005) Dentro da cadeia produtiva da Ilha Grande identificam-se três conjuntos de organização (SAMPAIO, 2005): Estrutura do Produto Turístico que são as empresas que, em conjunto ou individualmente, prestam serviços ao turista e propiciam uma boa ou má experiência – Pousadas, Campings e Casas para Locação; Associação dos Barqueiros e embarcações independentes; Restaurantes, Bares e afins; Barcas SA, Agências de turismo receptivo; e, outras empresas comerciais. Estrutura de Acesso ao Mercado, representando a Ilha Grande em questões comerciais e de divulgação do destino, determinando como XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1366 responsabilidade de um conjunto de organizações a tarefa de captar turistas diretamente ou utilizar operadores nacionais ou internacionais como intermediários para tanto – Ilha Grande Convention & Visitors Bureau; e, Operadoras nacionais e internacionais. Estrutura Institucional de Apoio – Estas organizações desenvolvem projetos na Ilha Grande e representam a classe patronal, sociedade civil, poder público ou instituições de educação. Funcionam como organismos caracterizados dentro da superestrutura do Sistema de Turismo (SISTUR) (BENI, 2007) – Sub-Prefeitura da Ilha Grande; Instituto Estadual de Florestas (IEF); Instituto Estadual do Ambiente (INEA); Associação dos Meios de Hospedagem da Ilha Grande (AMHIG); Centro de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (CEADS/UERJ); Conselho de Defesa da Ilha Grande (CODIG); Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Baía da Ilha Grande (CONSIG); ONG Brigada Mirim; Associação de Moradores e Amigos da Ilha Grande (AMAIG); SEBRAE e SENAC/Rio. Dessa maneira, em função dessas características levantadas a respeito do SISTUR e da cadeia produtiva, pode-se vislumbrar a necessidade de cooperação do setor através de uma rede de turismo (COSTA, 2005). Uma rede pode ser definida como um conjunto de relações entre indivíduos atuando em organizações ou empresas privadas para atingir um fim específico (GIBSON et al, 2005). O envolvimento dos organismos através de rede permite principalmente que as pequenas empresas envolvidas construam um nível de confiança necessária para compartilharem com o desenvolvimento do produto turístico local (TINSLEY e LYNCH, 2008). Diversos benefícios podem ser ocasionados com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das redes de empresas de turismo em uma localidade. Lynch et al (2000 apud GIBSON et al, 2005) resumem os benefícios em três grupos principais: aprendizagem e intercâmbio, atividades empresariais e benefícios para a comunidade. No entanto, os autores alegam que nem todos os benefícios venham acontecer. Participação e envolvimento em uma rede de turismo dependem de uma disposição favorável influenciada por comportamentos e atitudes dos participantes e, em especial, de seus valores. Portanto, compreender porque os indivíduos se XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1367 envolvem com as redes do turismo está fundamentalmente relacionada em compreender as atitudes e valores. Contribuindo para o fato de que as redes possam obter valores e benefícios tanto para desenvolvimento de oportunidades de negócios, quanto fortalecer ganhos comunitários, Gibson et al (2005) estudam formação de rede a partir de uma organização que reúna diversas empresas, de pequeno porte, para fomentar o desenvolvimento do turismo sustentável em um destino para o benefício da comunidade, das empresas e dos visitantes. Daí pode-se chamar uma rede deste tipo de "organização mista”. Esta organização mista está tentando construir uma ponte sobre diferentes setores e valores da sociedade calcada em “dupla fidelidade”. A primeira proposta de fidelidade está relacionada às empresas envolvidas, que esperam desenvolver os seus negócios através desta rede e obter vantagem comercial. Por outro lado, a rede tem uma fidelidade política ou social para com a comunidade, uma vez que quer e espera-se contribuir para o desenvolvimento da comunidade em termos de criação de emprego e assim por diante (GIBSON et al, 2005). Tremblay (1998 apud COSTA, 2005) sustenta que as redes locais em destinações turísticas desempenham um papel fundamental ao balancear os interesses de vários stakeholders e aumentar a vantagem competitiva, interligando as diferentes capacidades fragmentadas da destinação. Sem estas ligações cooperativas, o comportamento de competição seria danoso à comunidade local a aos próprios lucros, haja vista a dificuldade para manter posições competitivas individuais em cada firma. 3. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS Com o estudo da formação de clusters ou aglomerados, oriundo do campo da administração, verificou-se interesse por estudiosos do turismo em utilizar essa ferramenta para enfrentar as adversidades e surpresas do modelo. Cluster significa, resumidamente, organização de um arranjo produtivo local (LOHMANN e PANOSSO NETTO, 2008). De acordo com Porter (1999) aglomerado é um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1368 correlatas numa determinada área, vinculada por elementos comuns e complementares. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua profundidade e sofisticação, mas incluem empresas de produtos ou serviços finais, fornecedores de insumos especializados, componentes, equipamentos e serviços, instituições financeiras e empresas em setores correlatos. E adiciona que são sistemas de empresas cujo valor como um todo é maior do que a soma das partes. Um arranjo produtivo local (APL) se forma com as condições de proximidade geográfica de diversas organizações e atrativos que se relacionam de forma cooperada, formando uma cadeia produtiva (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006). Para o turismo, a formação de aglomerados deve partir do funcionamento cooperado entre as empresas e diversos atores que compõem a cadeia produtiva compondo um sistema de hospitalidade, conforme demonstrado anteriormente, integrado e com fortes relações de cooperação para que obtenham vantagens competitivas em relação a outros aglomerados ou destinos turísticos. Para Prahalad (2005) a geração de riquezas na base da pirâmide, fazendo uma analogia com destinações turísticas em desenvolvimento turístico, cujas comunidades encontram-se em situações de deficiências econômicas e/ou sociais, podem vislumbrar oportunidades de crescimento em função de melhor relacionamento entre os elementos que compõe, o que o autor chama, ecossistema. Um ecossistema baseado em mercado é uma estrutura que permite ao setor privado e a vários outros participantes sociais, muitas vezes com tradições e motivações diferentes, e de tamanhos e áreas de influência diferente, agir juntos e criar riqueza numa relação simbiótica (PRAHALAD, 2005). Fazem parte do portfólio os seguintes componentes: empreendimentos nãogovernamentais extralegais, microempresas, pequenas e médias empresas, cooperativas, grandes empresas multinacionais locais e ONGs. A importância de cada um dos componentes é diferente dependendo da localidade do aglomerado analisado. O funcionamento desse ecossistema requer mais do que propriedade e influência direta sobre todos os elementos. Entretanto, a empresa do setor privado ou formuladores de políticas públicas devem oferecer estrutura, orientação intelectual e os processos segundo os quais o sistema é controlado e operado. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1369 Nesse sentido, acesso e influência são aspectos mais importantes do que propriedade dos elementos, da mesma forma que padrões de qualidade, obrigações mútuas, compromissos com relações contratuais e um conjunto de valores compartilhados se fazem necessários para a criação de valor dentro do ecossistema. O setor privado no contexto da base da pirâmide inclui organizações sociais de diferentes espécies que interagem para criar mercados e desenvolver produtos e serviços apropriados e fornecer valor. Um sistema de negócios está no coração do ecossistema para a criação de riquezas. (PRAHALAD, 2005) É interessante perceber, comparativamente, a relação dos ecossistemas com as características básicas para a formação de um APL, conforme listam Lohmann e Panosso Netto (2008): 1. Aglomeração de um conjunto de empresas concentradas geograficamente que desejem se inter-relacionar para alavancar a atividade turística, a partir de alianças estratégicas que permitam trocas de produtos, intercâmbio de tecnologias, assistência especializada, enfim, tudo o que for necessário para desenvolver com maior competitividade o turismo; 2. Afinidade entre as empresas do ramo turístico, convidando a participação de ONGs, empresários, associações e políticos desta área; e, 3. Articulação entre os membros do APL, colaborando uns com os outros, trocando experiências e, ao mesmo tempo, competindo no mercado que atuam. Os APLs privilegiam aspectos intangíveis como o capital social, as práticas cooperativas e a governança, sendo mais apropriado para a análise de aglomerações, sobretudo de micro, pequenas e médias empresas em regiões menos desenvolvidas (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006). Dessa maneira, analisar o potencial para criação e desenvolvimento dos APLs em destinações turísticas se faz estratégica, uma vez que a estrutura é composta principalmente por empresas de pequeno porte, prestadoras de serviços específicos, que compõem um sistema complexo de atividades diversas e dependem da cooperação entre todas para favorecer a cadeia de hospitalidade e obter sucesso em oferecer a melhor experiência turística. Fazendo uma compilação a respeito dos benefícios advindos do trabalho cooperado através de redes, desenvolvido por diversos autores, Costa e SoutoMaior (2006) elaboraram uma relação e possíveis aplicações aos sistemas de turismo locais: reduzir riscos e lidar com incertezas, enfrentar a competição externa, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1370 aumentar participação no mercado, melhorar o conhecimento e gerar inovações, reforçar a imagem local, reduzir custos de transação, criar mais valor para o cliente e produzir efeitos positivos na economia local. Os destinos turísticos em si são um importante construto para a exploração das redes de turismo. Elas estão geograficamente limitadas, mesmo que em níveis nacional, regional ou local, onde interações econômicas e sociais estão presentes e que desenvolve a idéia de “comunidade”. A idéia de comunidade pode ser definida como todas as pessoas morando em uma determinada localidade, com laços afetivos e sociais que impliquem certo grau de obrigação mútua (TINSLEY e LYNCH, 2008). 4. ANÁLISE ESTRUTURAL DE EMPRESAS A partir do crescimento da internacionalização da economia intensificou-se a necessidade da reorganização dos fatores produtivos e os modos de gestão empresarial com a finalidade de compatibilizar a organização com padrões internacionais de qualidade e produtividade (OLAVE e AMATO NETO, 2001). Além dos aspectos de padrões de qualidade e produtividade, o setor de turismo e hospitalidade retrata a integração de valores comunitários e comerciais e, precisa identificar ainda os diversos elementos e relacionamentos entre si para que obtenham um posicionamento e uma estratégia competitiva comum para o desenvolvimento do destino (BENI, 2007; COSTA, 2006; SAMPAIO, 2005). Porter (1986) retrata sobre a estratégia competitiva das empresas e articula que o meio ambiente em que se envolve, ou seja, a estrutura do setor influencia fortemente nas atividades de todas as empresas. A intensidade da concorrência depende de cinco forças competitivas básicas – ameaça de entrada, poder de negociação dos fornecedores, pressão dos produtos substitutos, poder de negociação dos compradores e intensidade da rivalidade entre os concorrentes existentes. O conjunto dessas forças sobre uma empresa/organização determina o potencial de rentabilidade e seu sucesso nesse meio competitivo. Porter (1986, p.22) argumenta sobre a importância da identificação das forças, uma vez que tais elementos estão aparentes a toda concorrência: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1371 O conhecimento destas forças subjacentes da pressão competitiva põe em destaque os pontos fortes e os pontos fracos críticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e põe em destaque as áreas em que as tendências da indústria são da maior importância, quer como oportunidades, quer como ameaças. Em consonância com a cooperação entre os membros da comunidade associam-se as idéias de Freeman (1984) sobre gerenciamento dos stakeholders 4 que inclui a compreensão de que para gerenciar empresas requer a identificação das demais empresas com as quais irão relacionar-se ou que possam vir a relacionar e também identificar a interconexão entre esses grupos de interesse. Ao verificar um determinado stakeholder cujos interesses sejam conflitantes com a gestão do empreendimento, adotar medidas contraditórias a este grupo pode ser uma visão simplista para um gestor e também imediata, porque logo novas ações deste grupo podem vir a neutralizar suas medidas ou mesmo agravar a situação anterior. Adotar uma estratégia calcada na visão de stakeholders poderia vir a obter um ganho mútuo das empresas com interesses conflitantes e ainda resultar em diferencial competitivo pela primazia da atitude. A partir deste escopo baseado em stakeholders, o entendimento dos meios de hospedagem ultrapassa os limites internos das empresas contextualizados no espaço e no tempo das relações sociais, abrangendo as implicações com o ambiente externo. 5. ILHA GRANDE: ATIVIDADES ECONÔMICAS E REALIDADE SOCIAL Apesar de ilha e, portanto, um pedaço de terra cercada por água, o isolamento da Ilha Grande, localizada na Baía da Ilha Grande, município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, não a impediu de vivenciar diversas atividades econômicas e uma evolução histórica peculiar. Desde a descoberta pelos portugueses, em 1502 até o seu estágio atual de desenvolvimento turístico, diversas “qualquer grupo ou indivíduo que pode influenciar ou ser influenciado pelo alcance dos objetivos de uma corporação, incluindo tanto quem investe (aposta), financeiramente, na empresa, quanto aquele que influencia de outras formas (fazendo um bom trabalho, por exemplo), ou que, simplesmente, sofre as conseqüências das ações organizacionais” (FREEMAN, 1984) 4 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1372 atividades econômicas sustentaram o local: fazenda agrícola; primeiro leprosário do país - Lazareto; parada de navios negreiros que deixavam os escravos doentes; prisão para políticos divergentes do Governo; colônia agrícola para presidiários comuns; atividades agrícolas de subsistência; atividades pesqueiras e fabricação de sardinha. Com a demolição do presídio em 1994 e com a decadência das atividades pesqueiras, como principal fonte econômica, a Ilha Grande passa a ser um lugar de natureza paradisíaca, em função de seu isolamento geográfico e preservação pelas Unidades de Conservação5 (PRADO, 2003). A transformação econômica da “pesca para o turismo” mesmo que recente aconteceu de forma muito rápida e sem muitas preocupações com a organização e envolvimento local, além da falta de planejamento para o intenso fluxo de pessoas e de atividades que passaram a fazer parte do cotidiano local. O turismo como justificativa de prosperidade econômica transforma-se em prática incentivada pelos principais órgãos públicos, vislumbrando como boa oportunidade para empresários. Esse quadro constitui uma intensa mudança das características locais em todos os âmbitos (ambientais, sociais, políticos, econômicos) gerando diversos impactos e preocupações para com essas novas atividades. A Vila do Abraão, considerada “capital da Ilha”, concentra a maior parte dos habitantes da Ilha e onde está localizado o Cais das Barcas que dá acesso ao continente e às outras vilas e praias da ilha, proporcionando o incremento de serviços turísticos como meios de hospedagem, agências receptivas, barcos para passeio, restaurantes, agências de mergulho, etc. A abertura destes empreendimentos ocorreu em função do crescimento de turistas. O aumento desordenado das empresas provocou uma procura maior por clientes, redução dos preços e também falta de padrão de qualidade dos serviços e atendimento. Muitos negócios, apesar de movimentados durante a alta temporada, acabaram fechados nos meses de baixo fluxo de visitantes. É notável a falta de planejamento e gestão profissional na maioria das empresas, verificando a falta de preocupação em qualificação, pesquisar o mercado Dentro do território da Ilha Grande existem quatro Unidades de Conservação: Parque Estadual da Ilha Grande – PEIG (1971), Reserva Biológica da Praia do Sul (1981), Área de Proteção Ambiental de Tamoios – APA de Tamoios (1982) e Parque Estadual Marinho do Aventureiro (1990). 5 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1373 e avaliar a viabilidade dos negócios. Além da inexistência de trabalho de cooperação dos empreendimentos que poderiam se desenvolver conjuntamente para benefício mútuo, e que acabam focando apenas em interesses individuais e de curto prazo. Além dos impactos relacionados à infra-estrutura do local, tão preocupante são os impactos ocasionados sobre a população de moradores que ali vivem desde a época do presídio e das atividades ligadas à pesca. O ambiente formado pela natureza, a necessidade de sua preservação e o potencial de seus recursos; a população com suas características e valores; as atividades econômicas, baseadas principalmente no turismo formam atualmente um contexto desequilibrado na Vila do Abraão. A evolução desses contrastes, mantidos dessa maneira, possivelmente levará a uma situação insustentá vel. Caso isso ocorra, não é somente o turismo que perderá sua atratividade, mas também a população de moradores que deixará de ter seu espaço de convivência e integração, os empresários estarão fadados à falência ou transferência para outros locais, o ambiente natural correrá o risco de chegar a níveis de degradação não recuperáveis, o espaço físico, sejam os prédios e as infra-estruturas construídas, ficarão como legado sem utilidade alguma. 6. AS FORÇAS COMPETITIVAS DO SETOR DE MEIOS DE HOSPEDAGEM DA ILHA GRANDE A partir do exposto sobre o contexto do turismo na Ilha Grande e as forças competitivas explicadas por Porter (1986), este trabalho desenvolveu uma análise estrutural preliminar das empresas de meio de hospedagem localizadas na Vila do Abraão (Figura 3). A partir desta discussão, destacaram-se os pontos fortes e fracos do setor (Quadro 1), que permitirão o desenvolvimento de estratégias competitivas (Quadro 2) para melhor posicionamento, vislumbrando os cenários de oportunidades e ameaças. Conforme levantamento executado pelo “Programa Melhores Práticas de Ecoturismo” (MPE, 2004) existiam 67 pousadas (1.895 leitos), 16 campings (2.986 pessoas) e algumas casas para locação (786 leitos) na Vila do Abraão, estimando uma capacidade total de 5.667 leitos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1374 Figura 3: FORÇAS QUE DIRIGEM A CONCORRÊNCIA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM NA ILHA GRANDE RESORTS, OUTROS MHs Contato com turistas fora da Ilha Preços com altos custos operacionais Mão de obra desqualificada SUPERMERCADOS, AGÊNCIAS E OPERADORAS Barreiras a novas construções e retaliação Limites das UCs Concorrentes Sazonalidade Segmentação HÓSPEDES Pousadas, Campings e Casas para locação Muitos MHs e diversidade Interesse do CVB $ restaurantes e lojas Ausência de diferenciação CRUZEIROS, EXCURSIONISTAS Fonte: adaptado de Porter (1986) 1375 Conforme Porter (1986), a rivalidade entre os concorrentes é a disputa corriqueira por posição no mercado, sejam através de preços, publicidade, aumentos dos serviços ou das garantias ao cliente. Pode ser conseqüência de inúmeros fatores que se interagem, tais como: concorrentes numerosos ou bem equilibrados, crescimento lento do setor, custos fixos altos, ausência de diferenciação, concorrentes divergentes, barreiras de saídas elevadas etc. No caso da Vila do Abraão identificou-se a existência de muitos concorrentes que disputam uma demanda de 359 mil visitantes, divididos entre 115 mil turistas (com pernoite) e 244 mil diaristas ao ano (MPE, 2004). A previsão do crescimento de visitantes foi estimada analogamente ao crescimento do turismo doméstico e internacional do Brasil, a 12% ao ano. Ao estarem situados em uma ilha, os empreendimentos apresentam custos altos de operação, além das altas taxas de impostos. E, levantou-se inclusive (MPE, 2004), que um dos problemas apresentados pelos empresários era a informalidade de alguns empreendimentos que acabavam tendo vantagens de menores custos e conseqüentemente menores preços cobrados aos hóspedes. Verifica-se a diversidade de meios de hospedagem XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 entre pousadas, campings, casas para locação de temporada, além de albergues disputando a demanda de visitantes principalmente através de valores das diárias. Identificar as barreiras de entrada existentes propiciará o reconhecimento das reações que um novo entrante pode esperar dos concorrentes já existentes. Dessa maneira, se as barreiras são altas, pode-se esperar retaliação acirrada dos concorrentes na defensiva. Aspectos como economia de escala, diferenciação do produto, necessidades de capital, altos custos de mudança e dificuldade de acesso aos canais de distribuição são barreiras de entradas que serão analisadas pelos novos entrantes antes de participar de um novo mercado (PORTER, 1986). No caso do setor de hospedagem da Vila do Abraão verifica-se que as barreiras de entrada a novos empreendimentos resumem-se à retaliação dos concorrentes já existentes e, principalmente aos limites de construção na Vila e também em áreas no entorno, considerada áreas de Unidades de Conservação (Parque Estadual da Ilha Grande e Área de Proteção Ambiental de Tamoios), cujas restrições para construção são muito rigorosas. A identificação de produtos substitutos é verificada através de pesquisas na busca de outros produtos que possam desempenhar a mesma função que aquele da indústria. Os produtos substitutos que exigem maior atenção são aqueles que estão sujeitos a tendências de melhoramento do seu preço-desempenho ou são produzidos por setores com lucros altos (PORTER, 1986, p.40). Associando ao setor de hospedagem da Vila do Abraão, identificaram-se os cruzeiros e os excursionistas (visitantes que não pernoitem) como possíveis produtos substitutos, pois ameaçam diretamente as empresas de acomodação, uma vez que seus usuários usufruem os atrativos e alguns equipamentos da Vila, entretanto não necessitam de meio de hospedagem para fruição dessa experiência. Os excursionistas em uma percepção geral dos moradores e empresários locais não são muito receptivos, uma vez que trazem seus itens de consumo do continente e muitas vezes deixam o lixo nas praias. Já os cruzeiristas são vistos como boa fonte de renda aos restaurantes, lojas de souvenirs, agências e barcos para passeio. Os compradores competem com as empresas de um determinado setor forçando os preços para baixo, barganhando por qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros. Tudo à custa da rentabilidade das XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1376 empresas. Portanto, analisar a importância dos grupos compradores, seus volumes de compra e exigências de qualidade influenciarão a força e as estratégias competitivas para o mercado (PORTER, 1986). Em relação aos visitantes da Vila do Abraão, atenta-se o principal aspecto de sua sazonalidade. A taxa de ocupação média anual das pousadas é de 25%, enquanto campings e casas de locação estimam-se em 7% (MPE, 2004). Entretanto, em épocas de alta temporada, a Vila do Abraão extrapola seu limite de carga, em relação à infra-estrutura básica (água e esgoto) e verificam-se médias de ocupação em torno de 80% (MPE, 2004). Nesse sentido, o poder de negociação dos turistas é grande em épocas de baixa temporada (maio a setembro), uma vez que os meios de hospedagem mantêm suas estruturas e custos durante o ano todo. Mas, percebe-se uma evolução da segmentação dos turistas que visitam a ilha atualmente, buscando alternativas de hospedagem com melhor qualidade em estrutura, atendimento, serviços agregados e diferenciais. E, por fim, a força de negociação dos fornecedores influencia diretamente nos custos elevados e redução da qualidade dos bens e serviços fornecidos, sugando, conseqüentemente, a rentabilidade da empresas, se forem incapazes de repassar os altos custos para seus próprios preços (PORTER, 1986). Como fornecedores dos meios de hospedagem existem, de um lado, as agências e operadoras de turismo, que representam um forte aliado como canal de distribuição dos serviços de hospedagem para potenciais visitantes brasileiros e estrangeiros. De outro lado, supermercados, padarias e lojas em geral localizadas na própria Vila, as quais são recorridas para compras de abastecimento dos empreendimentos, apontam-se altos preços praticados, além de falta de qualificação dos funcionários e visão dos fornecedores em desenvolver parcerias e ganhos mútuos. 7. ANÁLISE E RESULTADOS Resumidamente, listaram-se os pontos fortes e fracos identificados a partir da análise estrutural dos meios de hospedagem da Vila do Abraão, conforme as forças competitivas existentes neste mercado. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1377 Quadro 1: ANÁLISE PONTOS FORTES E FRACOS E SITUAÇÃO COMPETITIVA DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM Pontos Fortes Pontos Fracos Rivalidade entre Muitos e diversos meios de hospedagem os - concorrentes Ausência de diferenciação Novos Entrantes – Barreiras a novas construções Resorts e novos meios de hospedagem Forte retaliação Limite das UCs Produtos Substitutos – Cruzeiros - e - Interesse do CVB Renda para restaurantes, Excursionistas agências, barcos, restaurantes, etc. Compradores Fornecedores – Segmentação Contato com Supermercados, turistas fora da Ilha Agências de Turismo Grande Sazonalidade Preços com 1378 altos custos operacionais Mão de obra desqualificada Fonte: A autora (2010) Em decorrência das atividades turísticas já avançadas no destino, identificaram-se pontos fracos em maior quantidade do que os pontos fortes. A partir desse levantamento, se faz primordial analisar os pontos críticos dessa situação e desenvolver estratégias para minimizar os impactos, bem como otimizar as oportunidades e potencial do segmento. Dessa maneira, utilizando-se dos resultados desta pesquisa, listaram-se algumas estratégias para posicionamento competitivo do destino (Quadro 2), através de relações cooperativas e gestão de conflitos e os atores que devem ser envolvidos para criar resultados positivos e integrados. A cadeia produtiva da Ilha Grande é XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 complexa e a necessidade de operarem conjuntamente vislumbra-se a necessidade da cooperação entre as empresas e os atores sociais. Quadro 2: ESTRATÉGIA E ATORES ENVOLVIDOS Estratégias Atores Sociais envolvidos Parcerias com operadoras e agências Ilha Grande (AMHIG), Meios de Hospedagem de turismo (MHs), Operadoras e Agências Formação de pacotes de viagem AMHIG, MHs, Operadoras e Agências AMHIG, MHs e Convention & Visitors Bureau Sistema unificado de reservas (CVB) Sistemas de pesquisas corporativas Conjunto Associação dos Meios de Hospedagem da de política de preços AMHIG, MHs e CVB e divulgação AMHIG e MHs AMHIG, MHs, Associação de Moradores e Acordos sobre mão de obra e empregos Amigos da Ilha Grande (AMAIG) e CVB Treinamentos em comum AMHIG, MHs e AMAIG Canais de troca de informação AMHIG e MHs Clube de Compras AMHIG, MHs e fornecedores AMHIG, MHs, CVB, Prefeitura Municipal de Parcerias Público-Privada Angra dos Reis, Instituto Estadual do Ambiente Fonte: A autora (2010) A relação de estratégias baseada em estudos anteriores e pesquisas já consolidadas trazem à luz uma nova proposta de cooperação entre entidades que participam ou são afetadas pelas atividades dos meios de hospedagem no destino Vila do Abraão – Ilha Grande. As propostas representam oportunidades de maior integração entre os stakeholders e devem ser discutidas juntos aos atores sociais envolvidos sobre o interesse, a viabilidade e também importância de cada estratégia. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1379 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema de hospitalidade é composto por setores complementares (hospedagem, alimentação, transportes, agenciamento, etc.) que trabalham em conjunto para formar um produto da hospitalidade. Sua estrutura depende ainda de intermediários e fornecedores que irão impactar na qualidade e no preço final. A Vila do Abraão, localizado na Ilha Grande tem limites de capacidade (acomodação, infra-estrutura básica, UCs) que devem ser zelados por todos os elementos da cadeia produtiva para a sustentabilidade e competitividade do destino. Além desses problemas estruturais, detectou-se que a ilegalidade e problemas ambientais e sociais despertam o desinteresse dos moradores e de turistas qualificados. Os estudos dos arranjos produtivos e da cadeia produtiva da hospitalidade corroboraram para a análise do caso real de desenvolvimento turístico. A Ilha Grande é uma destinação frágil (tanto em aspectos ambientais como sociais) e encaminhada para um crescimento da atividade de forma desordenada, caso novas propostas e organização das sociedades, tanto públicas, como privadas e também civis não se coordenem de forma cooperada para obtenção de sustentabilidade e conseqüente competitividade no mercado. O estudo atual vislumbra a continuidade de pesquisas com os seguintes passos: atualizar os dados dos Meios de Hospedagem, do Convention & Visitors Bureau da Ilha Grande e da Associação de Meios de Hospedagem da Ilha Grande (AMHIG); diagnosticar a existência de estratégias atuais; entrevistar stakeholders; e, analisar os interesses e viabilidade de aplicação das estratégias propostas. REFERÊNCIAS BENI, M. Análise estrutural do turismo. São Paulo: SENAC, 2007. CAMARGO, L. Os domínios da hospitalidade. In: DENCKER, A.; BUENO, M. (Orgs.) Hospitalidade: cenários e oportunidades. São Paulo: Thomsom, 2003. COOPER, C.; FLETCHER, J.; FYALL, A; GILBERT, D.; WANHILL, S. Turismo: princípios e práticas. Porto Alegre: Bookman, 2007. COSTA, H. e SOUTO-MAIOR, A. Sistemas produtivos locais em turismo: relacionamentos estratégicos e aglomeração territorial como vantagens competitivas. Observatório de Inovação no Turismo – Revista Acadêmica, v.1, n.1, p.1-22, 2006. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1380 COSTA, H. Análise de relações de rede do perfil de competitividade turística: estudo comparativo entre São Francisco do Sul e Laguna – SC. Dissertação de mestrado. Vale do Itajaí, UNIVALI, 2005. FREEMAN, R. Edward. Strategic Management: a stakeholder approach. Minnesota: Pitman, 1984. GIBSON, L; LYNCH, P.; MORRISON, A. The Local Destination Tourism Network: Development Issues. In: Tourism and Hospitality Planning & Development, v.2, n.2, p.87–99, ago. 2005. LOHMANN, G. e PANOSSO NETTO, A. Teoria do turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph, 2008. MENDONÇA, T. C. O turismo que se tem e o turismo que se quer: discurso e significados a propósito do turismo na Vila do Abraão – Ilha Grande (Angra dos Reis, RJ). 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XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1381 CAMPO GRANDE, MS: IDENTIDADE CULTURAL E IMAGEM TURÍSTICA Daniela Sottili Garcia Bacharel em Turismo (UCDB, 2000), Especialista em Gestão de Turismo, Hotelaria e Eventos (Uniderp, 2002), Mestre em Geografia (UFMS, 2005), Doutoranda em Geografia (UFPR). Professora Efetiva do Curso de Turismo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, Bolsista Fundect. [email protected] Miguel Bahl Doutor em Ciências da Comunicação (Turismo) pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Curso de Graduação em Turismo e do Programa de PósGraduação em Geografia (UFPR). [email protected] RESUMO Campo Grande, capital do estado do Mato Grosso do Sul (MS), foi utilizada como tema principal para a pesquisa aqui proposta, e esta, tem como principal objetivo interpretar como a paisagem de Campo Grande se desfaz de sua identidade cultural em prol da criação de imagens turísticas veiculadas nos projetos de desenvolvimento do Estado. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva e exploratória e de base essencialmente bibliográfica. Como resultado verificou-se que no caso de Campo Grande, freqüentemente, moradores e turistas são surpreendidos quando indagados sobre qual seria a real identidade cultural da cidade atualmente afetada pela divulgação de aspectos não característicos da sua condição social e respectiva posição geográfica. Nesse sentido também se verificou que se fazem necessários estudos posteriores que permitam refletir sobre aspectos sociais e culturais da população campograndense e, conseqüentemente, sobre a sua identidade, contudo, é importante ressaltar que os agentes sociais que fazem e refazem a cidade não podem perder de foco as suas raízes culturais. Palavras-chave: Campo Grande, MS (Brasil); Identidade Cultural; Imagem turística; Turismo e cultura. ABSTRACT Campo Grande, capital of Mato Grosso do Sul (MS), will be the main topic of the research here proposed, and it has as main objective to interpret how the landscape of Campo Grande – MS come apart of your cultural identity in favor of the creation of touristy images associated with development projects of the State. This research proposed is bibliographic, narrative, and pioneer. As a result it was found that in the case of Campo Grande, often locals and tourists are surprised when asked about what would be the real cultural identity of the City currently affected by disclosure aspects uncharacteristic of her social condition and its geographical position. In this XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1382 sense was also identified is necessary studies that allowe to reflect about cultural and politic aspects of the campograndense population and, consequently, about your identity, however, it is important to remember that the social agents that make and remake the city can not loose your roots. Key-words: Campo Grande,MS (Brasil); Cultural Identity; Touristy Image; Tourism and culture. 1 INTRODUÇÃO No mundo vigente, o espaço urbano está carregado de novos significados, gerados pelo processo de globalização da sociedade e da economia, assumindo grande importância, já que a natureza se transforma, em seu todo, numa forma produtiva e que contribui para as especializações dadas ao espaço, onde cada lugar recebe um novo papel, ganhando um novo valor (SANTOS, 1997). A cidade enquanto espaço urbano primordial pode ser compreendida como: A mediação entre as mediações. Contendo a ordem próxima, ela a mantém; sustenta relações de produção e de propriedade; é o local de sua produção. Contida na ordem distante, ela se sustenta; encana-a; projeta-a sobre um terreno (o lugar) e sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade inscreve esta ordem, prescreve-a, escreve-a, texto num contexto mais amplo e inapreensível como tal e não ser para a meditação (LEFEBVRE, 2001, p. 46). Nesta lógica, entende-se a grande cidade capitalista como o lugar onde o homem realiza a forma mais concreta de alterações no espaço geográfico. Não é sem pretensão que as grandes cidades tornaram-se, nas últimas décadas, objetos de estudo de acentuado interesse, tanto empíricos quanto conceituais. As cidades transformaram-se em importantes elementos da reprodução do capital, pois é nelas que ocorrem com mais intensidade as trocas de bens, serviços e informações, o que faz com que a paisagem natural se modifique a cada dia, conforme os diferentes interesses dos agentes sociais. A complexidade das ações dos agentes sociais inclui mudanças na produção espacial das cidades, proporcionando deteriorização de algumas áreas; renovação urbana; relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coerciva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas das cidades. Porém, mesmo XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1383 com alterações constantes na paisagem, o espaço urbano se mantém fragmentado e articulado. A comunidade de Campo Grande, objeto de estudo deste trabalho, tem, ao longo do tempo, construído sua história por meio de seus agentes sociais; sendo que, teoricamente é sua história que reflete e constrói sua cultura. Mas na prática, o que se percebe também é a preocupação em transformar o seu espaço em potencialização para a atividade turística, sem a preocupação adequada com sua cultura mais caracterizadora, que inclui representações e identidade. Entende-se que, neste processo, o ideal para o desenvolvimento da atividade turística de Campo Grande enquanto destino turístico fosse o de evidenciar à sua real “marca urbana”, fazendo com que, sempre que esta fosse lembrada, logo se destacasse sua principal singularidade, qual seja, sua identidade. Isso porque há de se ter todo um cuidado para não tornar o espaço passível de caracterizar -se como um “não lugar”, sendo que a partir desse conceito pode-se subtender a idéia de um lugar destituído de significado, que não expressa a cultura de um lugar ou de um povo (CARLOS, 1996). 1384 O estudo ora proposto trata especialmente sobre a cidade de Campo Grande, capital do estado do Mato Grosso do Sul, localizada geograficamente na sua porção central e contando um contingente populacional de 765.247 6 habitantes. É a cidade mais populosa do estado, o que contribui para que ofereça uma melhor infra-estrutura urbana e turística. Pela sua posição geográfica no estado em que está localizada a maior parte do Pantanal, tornou-se passagem obrigatória para os turistas que se destinam àquela região. Aproveitando-se disso, o trade turístico se somando aos interesses das iniciativas públicas governamentais: municipal e estadual, criaram para a cidade uma imagem relacionada com motivos de forte apelo pantaneiro. Essa realidade, por muitas vezes, tem distorcido ou ainda ignorado a sua verdadeira identidade (SOTTILI, 2005), já que o Pantanal localiza-se a 400 quilômetros de distância da sua sede. 6 Informações obtidas pelo site do IBGE no dia 07 de março de 2007, às 13h, de acordo com o censo preliminar de 01 de julho de 2006. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Por meio da análise de pesquisas anteriormente realizadas por SOTTILI (2005) em que a autora investigou o imaginário do Pantanal no espaço urbano de Campo Grande, é possível afirmar que a identidade cultural de Campo Grande está mais relacionada à pecuária, do que puramente ao Pantanal. Campo Grande, assim como outras cidades, passou e ainda passa por ações de agentes sociais que incluem mudanças na sua produção sócio-espacial, fato que tem ocasionado diversidade de interpretações a respeito dos elementos que de fato caracterizam sua cultura pelos citadinos. 2 CAMPO GRANDE: TURISMO E IDENTIDADE CULTURAL? Para um melhor entendimento das transformações das cidades ao longo do tempo, a discussão e o entendimento da noção de espaço urbano se fazem necessários neste trabalho, na expectativa de não considerá-lo apenas como palco ou como um mero pano de fundo para os acontecimentos urbanos, mas, sobretudo como sendo o grande propulsor e fomentador para os acontecimentos de ordem política, econômica e cultural no desenvolvimento das cidades. Entende-se o espaço urbano como reflexo e condicionante da sociedade urbana, de maneira que a interação do homem com o espaço urbano, ao longo do tempo, forme também um espaço cultural. O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas ao longo do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço (CORRÊA, 1989, p. 11). A fragmentação do espaço urbano se dá pelos seus diferentes usos, entre eles: comércio, lazer e indústria. Já a articulação manifesta-se mais ou menos de forma visível, de acordo com as ações do homem (CORRÊA; ROSENDHAL, 1989). Em complemento a isso e baseando-se em Castrogiovanni (2000) pode-se afirmar que os citadinos fazem parte da visão que se tem de uma cidade, já que são eles que contribuem com a produção do espaço urbano, fazendo-o singular. As suas ações criam “marcas urbanas”, que são os sinais e signos incorporados à paisagem. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1385 A cidade é um mundo de representações. Por meio das pessoas que nela vivem, possui vida e constitui uma identidade que lhe é peculiar. Nesse contexto, Campo Grande deve pleitear sua condição de cidade turística a partir de elementos e ações oriundos da sua própria história – “marca urbana”. Essas ações proporcionam uma forma, um lugar, e a idéia de lugar: „consiste da extensão do acontecer homogêneo ou do acontecer solidário, a partir de duas construções: a configuração territorial e a norma, mesmo que efêmera‟ (SANTOS, 1994, p. 36, grifo do autor). Nesse sentido a cidade de Campo Grande precisa trazer em evidência suas características que a tornam um lugar. Por sua vez, o lugar deve ser entendido como toda uma sociedade, constituindo-se de fatos e situações que definem o seu cotidiano. Quanto mais inserido na mundialidade, mais apartado da história ele se torna, afirmação esta que aponta o risco de os lugares buscarem o simulacro e o quão é importante valorizar as especificidades locais. Ainda nesse sentido, considera-se pertinente realizar uma discussão mais ampla sobre o significado da expressão “o lugar” de acordo com alguns autores, iniciando por Milton Santos: O lugar é a oportunidade do evento. E este, ao se tornar espaço, ainda que não perca suas marcas de origem, ganha características locais. É como se a flecha do tempo se entortasse no contacto com o lugar. O evento é, ao mesmo tempo, deformante e deformado. Por isso, fala-se na imprevisibilidade do evento, a que Ricoeur chama de autonomia, a possibilidade, no lugar, de construir uma história das ações que seja diferente dos projetos dos atores homogênicos. É esse o grande papel do lugar na produção da História e apontá-lo é a grande tarefa dos geógrafos neste fim de século (GOMES, 2003 p. 486, grifo do autor)7. A citação acima evidencia a importância dos gestores das cidades desenvolverem para cada uma delas o seu próprio lugar – apontando suas particularidades e destacando suas principais características. É o particular de cada cidade que despertará nos turistas o interesse em visitá-las, entende-se que o simulacro ou a simples reprodução não desperta muita curiosidade nos turistas e nem fortalece a identidade das cidades. 7 Santos, M. Técnica, espaço, tempo, globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1386 Para Damiani (2005, p. 169): “A vida cotidiana, o lugar do simples e do sórdido, é, simultaneamente, o lugar e no tempo em que o humano se realiza”. Existem duas formas de um lugar se definir; de dentro ou de fora, na primeira ele utiliza sua própria identidade, já na segunda ele deixa de possuir um caráter próprio (GOMES, 2003). Para as cidades que buscam se desenvolver no setor turístico, o ideal é que elas se divulguem de dentro para fora, ou seja, que levem em conta, sobretudo suas particularidades. As particularidades dos lugares contribuem para seus desenvolvimentos turísticos e para trazer à tona as identidades locais, fortalecendo os fluxos turísticos e ainda, destacando a história de suas sociedades. Os lugares são ligados pela informação e acabam tendo um papel fundamental no espaço, como se eles fossem desamarrar o “nó” existente na sociedade, por conta das desigualdades por elas vivenciadas. Mas, o primordial sobre um lugar é entender o todo e o particular como uma totalidade dialética e passível de transformação. No caso dos espaços urbanos, é importante que uma cidade possua identidade própria e que, sobretudo tenha conseguido construir um lugar dentro de seu espaço, algo que se destaque e possa ser reconhecido, esse lugar deve possuir um significado para a construção cultural da cidade. O significado e a importância dos lugares variam por diversos fatores como história, as condições existentes no momento da internalização e o jogo de relações que se estabelecem entre o que chega e o que já existe. É esse conjunto de coisas que contribui para que os resultados sejam diferentes, particulares, segundo os lugares. “Os elementos que se agrupam dando a configuração espacial de um lugar têm que passar por um estudo aprofundado, desde o homem até as instituições que vão dirigir, juntamente com as firmas, as formas de materialização da sociedade” (SANTOS, 1997). Os lugares são também perceptíveis nas paisagens que, sendo uma unidade conceitual da geografia, podem ser definidas como uma área composta por associação distinta de formas ao mesmo tempo físicas e culturais. „Paisagem é tudo aquilo que vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.‟ (SANTOS, 1997, p. 61, grifo do autor). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1387 Sauer (1925) apud Corrêa e Rosendhal (2004, p. 7) 8, explica “a paisagem geográfica como o resultado da ação cultural, ao longo do tempo, sobre a paisagem natural” e por isso ela apresenta uma dimensão histórica e é portadora de significados que expressam valores, crenças, mitos e utopias, caracterizando assim uma dimensão simbólica entendida, desta forma, como paisagem cultural. O mesmo autor ainda afirma que a paisagem cultural seria, então, a transformação da paisagem natural, onde a cultura seria o agente, a área natural o meio e a paisagem cultural o resultado. Carlos (2007) 9 confirma isso quando discorre que a paisagem está sempre em transformação. A paisagem é plurimodal ativa, passiva, potencial etc. Em complemento a isso, mencione-se a opinião de Cosgrove (2004), que identifica dois tipos de paisagens geográficas; a paisagem da cultura dominante, onde o grupo dominante exerce seu poder, e as paisagens alternativas, que são as residuais, emergentes e excluídas. Para o entendimento de como Campo Grande se apresenta enquanto cidade turística é importante analisar quais desses tipos de paisagens são aplicados a ela. Subentende-se que “a paisagem tem uma identidade que é baseada na constituição reconhecível, limites e relações genéricas com outras paisagens, que constituem um sistema geral” (SAUER, 2004, p. 23). Dessa maneira, se pode trabalhar com o fato de que a paisagem não é simplesmente uma cena real, mas sim uma cena observada por partes individuais que constituem um todo. Além desse fato, toda paisagem possui uma relação com outras paisagens, nenhuma é réplica de outra, pois são levadas em consideração as percepções pessoais que as fazem diferir das demais pelo entendimento individual de cada observador. A paisagem possui um conteúdo, mas este é menor do que a totalidade, ele é constituído por partes. Sendo assim, a identidade da paisagem é determinada pela visibilidade da forma, porque o conteúdo aqui mencionado é determinado por interesses e julgamentos pessoais (CORRÊA; ROSENDHAL, 2004). Os mesmos autores acima afirmam que a paisagem é dividida em duas metades. A primeira recebe a designação de sítio e a segunda metade, que vem ao 8 SAUER, C. The morphology of landscape. University of California, Publications in Geography, v.2, n 2,1925. 9 Ana Fani Carlos em Entrevista apresentada ao programa da Rede Globo – Fantástico no dia 25 de março de 2007. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1388 encontro aos interesses aqui propostos, é vista como uma unidade bilateral e que apresenta sua expressão cultural. Vale ressaltar que se busca abordar aqui o tema cultura como uma expressão geográfica, de maneira que não há lugar para o dualismo da paisagem. Então, não se pode pensar em paisagem se não associada ao tempo, com suas relações vinculadas ao espaço, o que contribui para que as ações do homem constituam a paisagem cultural, uma vez que ele vai expressando seu lugar na natureza como um agente distinto de modificação. A paisagem cultural é, pois, ent ão sujeita a mudanças pelo desenvolvimento da cultura ou pela sua substituição (CORRÊA; ROSENDHAL, 2004). Seguindo essa linha de raciocínio pode-se apresentar em complemento: A paisagem cultural é a área geográfica em seu último significado. Suas formas são todas as obras do homem que caracterizam a paisagem. Com base nesta definição, em geografia não nos preocupamos com a energia, costumes ou crenças do homem, mas com as marcas do homem na paisagem (SAUER, 2004, p. 57). 1389 Isso de maneira alguma significa que a paisagem natural não tenha sua importância, pois é ela que fornece materiais com os quais a paisagem cultural é formada. Ainda, de acordo com Corrêa e Rosendahl (2004): “ao contrário da maioria das ciências sociais, a geografia cultural sempre levará cuidadosamente em conta o material físico do qual cada cultura imprime a marca que lhe é própria – marca que ela considera como uma geo-grafia [...]”. Diante disso, entende-se que a paisagem natural tem um papel fundamental no processo de construção da paisagem cultural para a formação da identidade, sendo a própria cultura a modeladora dessa paisagem. É válido, porém, ressaltar que quando acima se citou que não são as crenças, os costumes e a energia levados em conta não se teve a intenção de desmerecêlos, uma vez que são eles que compõem ou contribuem na construção da identidade de uma cidade. Isso colabora para uma reflexão sobre Campo Grande, uma vez que ela possui uma cultura evidenciada capaz de modelar uma identidade local, transformando-a em destino turístico. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Por meio de sua história, é possível identificar na cidade a existência de uma cultura relacionada à pecuária desde seus primórdios e mais atualmente surgindo também o setor econômico relacionado a eventos. A paisagem é uma marca, pois, expressa uma civilização, mas também é uma matriz porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, de cultura – que canalizam, em um certo sentido, a relação da sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a paisagem do seu ecúmeno. E assim, sucessivamente, por infinitos laços de co-determinação (BERQUE, 2004, p. 85, grifos do autor). São consideráveis as interrogações feitas por Berque (2004), quando questiona de que forma a paisagem imposta é sentida e, eventualmente, interpretada? Como se pode projetar nela um imaginário? A geografia não se limita à observação e à descrição do visível, de maneira que o imaginário entra em cena sempre que a atividade turística é idealizada para uma futura realização. A sociedade organiza, transforma e, em certos casos, escolhe seu meio ambiente graças a técnicas de enquadramento que são, segundo P. Gourou, a expressão de uma „civilização‟. Por outro lado, a „cultura‟ contribui para a interpretação do espaço, permite a articulação entre o imaginário e as „coisas do real‟ (BERQUE, 2004, p. 89, grifos do autor). Assim, o significado de uma propriedade ou de uma função em uma paisagem geográfica varia. Alguns fatores contribuem para isso; por exemplo, quanto maior for a dimensão de um objeto, maior será seu entendimento. Para compreensão mais real se faz necessário haver informações do meio que o rodeia e o compõe, para tanto, é de expressiva relevância o observador ter conhecimento do todo, da história da cidade, para compreender melhor os lugares que compõem o todo – a cidade. De fato, a autonomia dos indivíduos é limitada por sua vinculação a grupos, o que leva, em alguns casos, a formação da paisagem ter características apenas da elite política e econômica de determinada cidade. A percepção construída pelo citadino é concentrar o que ele conhece sobre a sua cidade, mas é válido ressaltar que sendo ele o sujeito deste processo, ele pode XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1390 ter informações totais ou parciais, o que contribui para a construção da imagem turística da cidade, que pode ou não estar relacionada com a realidade. A cultura pode influenciar a percepção de tal maneira que as pessoas podem ver coisas que não existem (TUAN, 1980). A comunidade local pode vir a absorver e divulgar uma imagem que não existe, ou que não seja a mais apropriada. Isso se dá pelo envolvimento dela com a cidade, não se dando a oportunidade de analisar a cidade sem interferências comerciais ou midiáticas. Resultado do homem na sociedade capitalista, ou seja: o homem-peça da cidade máquina, máquina de fazer réplicas, fato este ocorrido nos últimos anos sobre as cidades turísticas, sendo conseqüência a construção tanto pelo poder público como pelo privado, de réplicas de locais turísticos. Na maioria das vezes, por estarem envolvidos no processo de desenvolvimento das cidades, passam a não perceber as particularidades destas, que seriam muito mais atraentes aos olhos do turista do que meramente a construção de simulacros de outras cidades, muitas vezes já consolidadas como destinos turísticos. 1391 Mas é fato também que as réplicas nem sempre agradam aos olhos, os desejos e sonhos de quem as compra - os turistas -, o que acaba contribuindo na insatisfação das expectativas e no baixo sucesso dos destinos turísticos. Porque o que realmente atrai os turistas é o inusitado, as especificidades de cada cidade. No caso das cidades que buscam a construção de uma imagem semelhante a de outras já existentes, elas correm dois riscos; o primeiro deles é o fato de se tornarem conhecidas apenas pelas semelhanças com as outras, sem demonstrarem as suas imagens com seus valores históricos, e sem serem lembradas pelos seus próprios potenciais, o outro é o fato de os visitantes interpretarem-nas como sendo um potencial artificial, sem significativos potenciais turísticos, e conseqüentemente, sem valores individuais da especificidade cultural, uma vez que elas se submetem aos julgamentos individuais. Cabe aqui mencionar que, para os núcleos turísticos, o ideal é a paisagem constituída pela cultura dominante, desde que proporcione espaço para as manifestações culturais e interesses de sua comunidade como um todo. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A cidade pode ser analisada por diferentes formas, e uma delas é a cultural, que ganhou maior destaque no campo científico a partir da década de 1960. „E a cultura resulta da capacidade dos seres humanos se comunicarem entre si por meio de símbolos‟ (CORRÊA; ROSENDAHL, 2003, p. 28, grifo dos autores). No caso de Campo Grande, freqüentemente, moradores e turistas ficam surpreendidos quando indagados sobre qual seria a real identidade cultural da cidade. Percebe-se que isso se dá principalmente porque os próprios moradores não têm claramente definida qual é a identidade da cidade na qual eles vivem e fazem parte, consequentemente se torna difícil convencer os turistas sobre essa identidade que por muitas vezes não é conhecida pela comunidade local, trade e poder público. Nesse sentido se fazem necessários outros estudos complementares que permitam refletir sobre aspectos sociais e culturais da população campograndense e, conseqüentemente, sobre a sua identidade. É importante lembrar que os agentes sociais que fazem e refazem a cidade não podem perder suas raízes culturais. Para tanto, o papel da cultura neste processo é impar: 1392 A identidade de uma cidade, vista como lugar dotado de uma singularidade que o distingue dos outros, pode ser de modo marcante o resultado de uma construção intelectual, derivada de tradição étnica cujos traços são permanentemente recriados. Essa identidade cultural do lugar, reconhecida tanto interna quanto externamente (Relph, 1976), expressa-se em vários aspectos relativos à sua organização social, política e espacial. No entanto, pode ser objeto de contestação, por meio de práticas políticas que introduzem novos significados ao lugar, criando um confronto identitário (CORRÊA; ROSENDHAL, 2006, p. 148). É necessário que os governantes tomem medidas para evitar a perda da identidade cultural, que poderá ser trabalhada como o próprio atrativo ou motivo de visitação ou referencial das localidades turísticas (BAHL, 2004). A problemática se estabelece na medida em que emergem cidades que desempenham o papel de transformação cultural, constituindo outras cidades, alterando o mapa cultural e contribuindo para que essas cidades fiquem sem suas “marcas urbanas”. Buscam se destacar enquanto potencial turístico por intermédio da imitação de outras cidades já consolidadas turisticamente, ocasionando a construção de simulacros, deixando de lado suas próprias identidades culturais, ou ainda, não identificando qual seria a própria identidade cultural delas. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A globalização da cultura possibilitou Hannerz apud Corrêa e Rosendhal (2006, p. 159) 10 elaborar o conceito creole culture. Para este autor, esse conceito envolve a diversidade, interconectividade e inovação. Ainda, segundo este autor a diversidade refere-se à confluência recente de tradições culturais histórica e geograficamente distintas, e a interconectividade seriam as interações permanentes entre significado e formas simbólicas, gerando inovações mercantilizadas. Adaptando essa expressão às cidades que buscam desenvolver uma imagem turística, pode-se entender que o ideal seria trabalhar suas imagens turísticas vinculadas diretamente às suas identidades culturais, contudo, poderia ser trabalhada paralelamente a forma mais apropriada para comercialização destas cidades sem perder o foco de suas raízes culturais (CORRÊA; ROSENDHAL, 2006). Ainda, segundo os autores citados acima, a globalização cultural tem duas vertentes, uma é a de reforçar algumas características locais e a outra persiste em diluir determinadas características. Sob essa ótica, a cidade de Campo Grande se desenvolve em direção à segunda vertente ora apresentada, que, do ponto de vista turístico, é a menos favorável para seu desenvolvimento e seu sucesso enquanto destino turístico. A “marca urbana” é a identidade de uma cidade; é ela que redefine as relações entre as pessoas, grupos, lugares, coisas, porém historicamente ela está muito mais voltada à ideologia, remetendo-a à ambigüidade. A questão do tempo colabora para o esquecimento de algumas ações que contribuíram para a construção identitária de uma cidade, prevalecendo o campo econômico como fator de maior importância (YÁZIGI, 2002). As cidades parecem estar em um concurso, disputando quem chega mais próximo da imitação perfeita. Por enquanto, talvez isso resolva em termos de número de turistas recebidos e divisas deixadas no receptivo, mas com o passar do tempo, com a diversidade e surgimento crescente de novos destinos turísticos, acredita-se que os turistas optarão por aquelas cidades que se destacarem por suas especificidades e que ultrapassarem a única barreira até então desejada, que é a econômica. 10 HANNERZ, U. Transnational connections. Londres: Routledge, 1996. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1393 Em dado momento, a imagem urbana representa a cidade e a ela soma-se a percepção, dela busca-se extrair informações capazes de formar uma imagem representativa, agregada de valores que variam de acordo com o percepto. As imagens urbanas despertam percepções dos citadinos, bem como dos visitantes. A diferença se estabelece, principalmente, nas informações e conteúdos que marcam a rotina desses citadinos, levando-os à agregação de diversos e diferentes significados sobre uma determinada imagem. Imagem que, para o turista certamente terá outra conotação, visto que ele observa uma imagem que se pode chamar de nua, sem informação alguma sobre tal (FERRARA, 1993). As representações sobre a natureza e o espaço socialmente construído incluem inúmeras figuras de linguagem. Os estudos sobre as cidades também estão impregnados de metáforas, metonímias e sinédoques, revelando que a cidade pode ser interpretada como um texto. Seguindo afirmações de Corrêa e Rosendahl (2006) pode-se estipular que a cidade pode ser interpretada, interpretando-se, porém, a história de seu povo, de sua construção, apresentando suas raízes. Dessa forma, este trabalho possui como objetivo complementar propor que outras pesquisas sejam realizadas sobre a percepção da comunidade de Campo Grande em relação ao seu aparato cultural, com intuito de investigar a cultura construída diariamente pelos moradores que marcam o cenário sócio-cultural, e as imagens turísticas associadas aos projetos de desenvolvimento do estado, demonstrando a importância da “vertente da especificidade” para seu marketing turístico (YAZIGI, 2002). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Julga-se pertinente esclarecer que um dos principais aspectos levados em conta neste trabalho foi o de não considerar o espaço urbano como mero pano de fundo para o desenvolvimento da atividade turística. No caso específico de Campo Grande, cidade em estudo, se pretendeu trazer à tona a necessidade e a importância de se buscar subsídios para a composição de uma identidade cultural oriunda da própria comunidade e por meio desta, identificar uma possível imagem para a cidade (enquanto destino turístico) mais atrelada à sua realidade social e cultural. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1394 Na busca de uma base teórica de maior profundidade foram realizadas leituras sobre assuntos relacionados à cultura, espaço urbano e turismo, que por sua vez, poderão contribuir para um aporte teórico mais direcionado aos estudos específicos sobre identidade urbana. Por meio de observação direta na cidade de Campo Grande aliada a esses estudos, pode-se considerar que a priori, já foi possível constatar a ausência de uma identidade cultural mais condizente para Campo Grande, de maneira que se fazem necessários desenvolver mais estudos in loco e outros de cunho teórico mais aprofundados para obter subsídios que apontem de fato qual é a real identidade cultural desta sociedade. Contudo, considera-se que este trabalho pode servir de aporte preliminar para se buscar indicadores ainda mais densos e precisos que demonstrem que Campo Grande, por intermédio de sua população, pouco conhece sobre a história que contribuiu para a construção da cidade. Considera-se que tal evidência colaborará diretamente para explicar a falta de percepção dos moradores sobre a identidade desta cidade, tendo como conseqüência que esta falta de identidade bem definida também está interferindo nos planos de desenvolvimento das campanhas publicitárias dos governos em âmbito municipal e estadual. O mesmo ocorrendo com o trade turístico privado no que se refere à imagem turística divulgada ter pouco ou nenhuma relação com a identidade cultural de Campo Grande. REFERÊNCIAS BAHL, M. Fatores ponderáveis no turismo: sociais, culturais e políticos. Curitiba: Protesto, 2004. BERQUE. A. Paisagem – Marca, Paisagem matriz: Elementos da problemática para uma geografia cultural. In: CORRÊA. R. L.; ROSENDAHL, Z. Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro, UERJ, 2004. CARLOS, A. F. A. O Lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. CASTROGIOVANNI, A. C. Turismo e ordenação no espaço urbano. In: ______. (Org.). Turismo urbano. São Paulo: Contexto, 2000. CORRÊA. R. 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Claudia Corrêa de Almeida Moraes Mestre; Docente do Departamento de Turismo UFF [email protected] RESUMO O principal atrativo arqueoturístico do Brasil está no conjunto de sítios históricos do sudeste do Piauí, localizado no denominado Pólo das Origens e situa-se nos Parques Nacionais da Serra da Capivara-PNSC e da Serra das Confusões-PNSCO. Há trinta anos estes sítios estão sendo estudados e conservados por equipes multidisciplinares da FUNDHAM e de organismos das três esferas governamentais. O objetivo principal deste artigo é entender a situação atual da oferta turística arqueológica nos dois citados parques. Para realizar este estudo foram utilizadas pesquisas documentais e bibliográficas, visita a campo com um roteiro desenvolvido para atender a metodologia de Manzato (2005) e a análise das propostas do Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no Piauí (2000). Os dados foram comparados e completados para se obter um diagnóstico da oferta. Também se usou a pesquisa da demanda da IBERTUR de 2008 e algumas entrevistas estruturadas feitas com pessoas da localidade. O resultado a que se chegou aponta que o PNSC atingiu na metodologia de análise de Manzato (2005) o maior índice “muito adequado” e no plano de marketing, apenas alguns pontos não foram satisfatórios. No entanto, o PNSCO, na época da pesquisa, atingiu o índice “não adequado” e a maioria das propostas do plano de marketing não foram sido realizadas. Palavras Chave: planejamento arqueoturismo, piauí. e gestão turística, patrimônio cultural, ABSTRACT: The main archaeological tourism attraction of Brazil is at the joint of historical sites from southwest of Piauí, located in the so called Polo das Origens, at the Parque Nacional da Serra da Capivara-PNSC and Parque Nacional da Serra das Confusões- PNSCO. These sites are been studied and preserved for thirty years, by FUNDHAM multidisciplinary staff and organism of the three spheres of government. The main goal of this article is to understand the current situation of the archaeologic tourism offer at the two parks quotted above. To achieved it, this study used documentary and bibliographical researchs, local visits with a script developed to consider the Manzato (2005) methodology, and the analysis of the proposal from the Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no Piauí (2000). This data were compared and completed to have a offer diagnostic. Also, it was used the research of demand from IBERTUR (2008) and some structure interviews with local people. The results that came across shows that the Parque Nacional da Capivara has reached the highest index “very appropriated” on Manzato (2005) methodology analysis, and only a few points weren‟t reached on the marketing plan. On the other hand, the PNSCO, at the research time, has obtained the index “not appropriated” and most of the proposals of the marketing plan weren‟t made. Key words: tourist planning and management, cultural heritage, archaeologic, piaui. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1397 1. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objeto de estudo o turismo arqueológico no estado do Piauí, precisamente o existente no zoneamento turístico atual denominado Pólo das Origens, ou seja, o patrimônio arqueológico do Parque Nacional da Serra da Capivara e no Parque Nacional da Serra das Confusões. O Piauí possui uma grande quantidade de sítios arqueológicos e alguns com importância nacional e internacional, como os do Parque Nacional da Serra da Capivara – (PNSC) que são inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO, desde 1991. Os sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra das Confusões (PNSCO) são similares aos encontrados no PNSC, mas estão pouco estruturados para a visitação e o processo de conservação e estudo deste patrimônio têm uma abrangência menor se comparado com o PARNA Serra da Capivara. Propomos neste estudo analisar as condições da oferta dos atrativos na segmentação do turismo arqueológico nos citados PARNAs e para fazê-lo realizouse levantamento bibliográfico e com a finalidade de discernir, descrever e analisar as condições da oferta do arqueoturismo nos dois parques nacionais do Pólo. Como pesquisa de campo para a obtenção dos dados primários, se adotou como parâmetro para a visita duas orientações: a verificação do cumprimento das recomendações do Plano de Marketing para o Turismo Arqueológico no Piauí (2000). Na sequência foram verificadas se estas recomendações foram cumpridas. As recomendações consistem em: QUADRO 1: RECOMENDAÇÕES DO PLANO DE MARKETING PARA O TURISMO ARQUEOLÓGICO NO PIAUÍ 1. Preparação dos sítios arqueológicos, com as indispensáveis ações de conservação; 2. Implantação de estruturas para a recepção de visitante; 3. Ações de educação patrimonial visando à conscientização sobre a importância dos sítios arqueológicos e a necessidade de mudanças de costumes para a obtenção dos benefícios esperados; 4. Construção e reparação de vias de acesso com o saneamento das suas margens, utilizadas como aterros sanitários e, nos barreiros, como bebedouros dos animais soltos nas rodovias; 5. Implantação de serviços de saneamento básico, de assistência médica e de comunicação, onde se fizerem necessárias; XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1398 Continuação Quadro1 6. Preparação de recursos humanos para monitoramente de sítios e atendimento ao público visitante Fonte: Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no Piauí, 2000. Incluímos como objeto de análise se há estudos da capacidade de carga para sitio a ser visitado. Para a outra verificação usou-se a metodologia desenvolvida por Manzato (2005) para o arqueoturismo, verificando qual é a situação do atrativo frente as suas condições atuais que possibilitem à visitação turística. Manzato (2005) define quatro variáveis para a visitação turística: QUADRO 2 – VARIÁVEIS INDICADAS POR MANZATO PARA AS VISITAÇÕES AO ARQUEOTURISMO 1. Disponibilidade de sanitários, placas indicativas e informativas; 2. Monitoria, 3. Condições específicas para alimentação e descanso, 4. Material turístico como impressos, entre outros. Fonte: Adaptado de Manzato, 2005. A metodologia de Manzato (2005) consiste em um levantamento bibliográfico e uma visita in loco aos atrativos, já realizada em julho de 2009. Todos os itens coletados foram analisados e classificados como Muito Adequado (peso 3), Adequado (peso 2), Pouco Adequado (peso 1), Não Adequado (peso zero). A somatória desses pontos indicou o nível da adequação do sítio arqueológico ao uso turístico e se expressou segundo a escala avaliativa: Muito Adequado: maior ou igual a 16 pontos, Adequado: entre 11 e 15 pontos, Pouco Adequado: entre 6 e 10 pontos, Não Adequado: de 0 a 5 pontos. Os dois conjuntos de variáveis têm alguns pontos em comum como monitoria e estrutura para recepção do visitante. O emprego de ambos possibilitou uma análise mais ampla envolvendo a conservação do atrativo e o seu uso visando à exploração turística. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1399 Para a análise também foi utilizada uma pesquisa de demanda realizada pela Universidade de Barcelona – UB e a Rede de Patrimônio, Desenvolvimento Sustentável - IBERTUR, no âmbito do Turismo e “Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Turismo da Região da Serra da Capivara” – Instituto Ambiental Brasil Sustentável – IABS, Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID e Ministério do Turismo – MTur MTur/IABS/AECID, 2008). Esta pesquisa procurou identificar o perfil do turista arqueológico potencial nacional e internacional para o PARNA da Serra da Capivara – PNSC. Embora em 2009 já tenha ocorrido outra pesquisa, os dados ainda não estão disponíveis ao público, por isso não foram considerados. Metodologicamente a pesquisa contou com a distribuição de questionários por e-mail, diretamente ao público-alvo, ou seja, turistas, homens e mulheres, interessados nos destinos de turismo cultural, especializados em arqueologia, com amostras de 5.390 entrevistas no período entre 1º de maio e 31 de junho de 2008. (MTur/IABS/AECID, 2008). Além deste estudo, realizou-se pesquisa por meio de entrevista guiada composta de três questões abertas: 1) Que segmentação de turista freqüenta o PNSC? 2) Quantos dias ficam no destino? 3) Qual sua origem?. Esta foi aplicada em oito pessoas dos municípios de Coronel José Dias e São Raimundo Nonato, a saber: o presidente da associação dos monitores, um guia, um pesquisador do PARNA, um técnico do museu e outro do centro cultural e três representantes municipais do turismo da região oriundos do poder público, em julho de 2009, com o objetivo de conhecer a demanda real para o PNSC. 2. ARQUEOTURISMO O fenômeno da mundialização e as novas demandas turísticas trouxeram ao turismo cultural resultados satisfatórios, principalmente porque as comunidades receptoras têm necessidade de redescobrir e fortalecer a sua identidade cultural e dar novo significado a seu patrimônio. Além disso, pelo lado dos grupos visitantes, tem ocorrido o surgimento renovado do interesse pela cultura (CORREIO UNESCO, 1999). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1400 Manzato (2005, p.44) define Turismo Arqueológico ou Arqueoturismo como um “processo decorrente do deslocamento e da permanência de visitantes a locais denominados sítios arqueológicos onde são encontrados vestígios re manescentes de antigas sociedades, sejam elas pré-históricas ou históricas e passíveis de visitação terrestres ou aquáticas”. Manzato e Rejowski (2005) explicam que a ampliação dos novos roteiros internacionais de turismo arqueológico é resultado da consolidação deste segmento em nível mundial (SCATAMACCHIA, 2005) e o seu rápido crescimento (O´NEILL, 2004). No entanto, embora o Brasil possua um patrimônio arqueológico diversificado e em grande quantidade, ainda não atingiu uma demanda significativa e nem as estruturas oferecidas para a visitação estão a contento. O turismo cultural baseado no patrimônio arqueológico é uma maneira de gerar recursos para muitas regiões. Alguns sítios arqueológicos no Brasil localizamse em lugares muito pobres com poucos recursos e, por isso, sua exploração turística pode ser uma das oportunidades para melhorar as condições de vida dos moradores locais e a conservação destes sítios arqueológicos. O turismo tem condições de ajudar na descoberta da importância deste patrimônio por parte dos moradores, que em muitos casos, desconhece o seu valor provocando a sua destruição física por meio da exploração imobiliária desordenada ou pelo vandalismo. Se for utilizado um programa de turismo bem estruturado para arqueoturismo, poderá ocorrer a conservação desses bens e de sua manutenção, desde que haja condições de uma visitação segura. Quanto ao uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos há de se considerar, segundo Morais (2002, p.98) “as expectativas da comunidade que detém o patrimônio em seu território e a imposição das normas legais vigentes que intervém na interface arqueologia/turismo”. O sucesso ou fracasso do turismo será determinado pelo grau de sensibilização da comunidade e dos visitantes. Na visão do turismo sustentável, o convívio entre moradores e visitantes deve acontecer por meio de relações que tragam benefícios para ambos e respeito entre as suas diversidades culturais. O comprometimento dos moradores e dos visitantes frente ao patrimônio arqueológico é capaz de estimular posturas de preservação, valorização e divulgação deste patrimônio como fator de atração turística. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1401 O patrimônio arqueológico consiste no processo de formação do sítio arqueológico ou do vestígio, que compreende o produto e a produção, o registro do momento da ação e sua sequência. Este patrimônio é uma memória que procura se resguardar do apagamento provocado pela transformação do tempo histórico. Estes lugares de memória são testemunhos da existência de uma época e representam a “ilusão da eternidade” (NORA, 1993). Para Morais (2002) a apropriação do patrimônio arqueológico é possível quando se compreende a história do outro, reconhece os espaços desconhecidos e valoriza os responsáveis pela existência do patrimônio. A função social do turismo é o principal argumento para o uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos. Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) a União, os estados membros, Distrito Federal e municípios têm o dever de preservar o patrimônio arqueológico localizado tanto em terrenos particulares como públicos para fins de estudos e para o uso social da comunidade, o que inclui as atividades relacionadas ao turismo. O Plano Diretor para o desenvolvimento do Turismo Arqueológico no estado do Piauí (2000) propõe que o turismo arqueológico seja desenvolvido por meio de visitações a sítios arqueológicos, desde que estes estejam preparados para este fim. Sugere que se ofereçam aos turistas a possibilidade de participarem de atividades relacionadas com a pesquisa arqueológica, como por exemplo, a prospecção. Estas atividades devem ser obrigatoriamente acompanhadas por arqueólogos experientes e o número de participantes limitado. Este exemplo, já é utilizado em alguns sítios com os visitantes e os moradores. Conhecer os sítios com esta atividade de educação patrimonial, possivelmente resultará em melhor compreensão desta manifestação cultural do que apenas uma visita guiada. 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Na década de 1960 iniciaram-se estudos arqueológicos na região sudeste do estado do Piauí e estes trouxeram dados que evidenciou a presença do homem préhistórico pelo menos há 50.000 anos na região e conviveram com uma fauna gigantesca formada por preguiças de 8 m de altura, tigres dente-de-sabre, mastodontes, ursos, paleolhamas, cavalos americanos, entre outros (GUIDON, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1402 2003). É provável que esta fauna tenha desaparecido da região há 12.000 anos, por causa de uma grande mudança no clima que o tornou árido (RAUCK, 2009). Os povos aos quais se atribui a tradição nordeste habitaram a região há cerca de 20.000 anos. Fabricavam material lítico bem elaborado e executavam as pinturas figurativas ricas em cenas da vida cotidiana, incluindo a fauna acima citada. A cerca de 6.000 mil anos, novas migrações chegaram à região expulsando os povos que lá viviam anteriormente. Sua produção pictórica ficou conhecida como tradição agreste, que se caracteriza por uma pintura figurativa pouco trabalhada, sem representação de cenas e uma indústria lítica grosseira quase inacabada. Em épocas mais recentes, outros grupos humanos ocuparam a mesma região, estes dominavam a técnica de produzir instrumentos em pedra polida e enterravam seus mortos em grandes potes cerâmicos (GIDON, 2003). No Piauí os sítios encontram-se distantes de grandes aglomerações habitacionais e em locais de difícil acesso, por isso, estão em bom estado de conservação se comparados com outras regiões do Brasil. Segundo o Plano Diretor para o Turismo Arqueológico no Piauí (2000) existem na região do Pólo das Origens mais de 500 sítios inseridos no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do IPHAN (FUNDHAM, 2009). Quanto à conservação dos sítios os problemas correntes a todos são os depósitos naturais, galerias de cupins, ninhos de vespas e enxames de abelhas, casas de marimbondos, eflorescências minerais, desagregação do suporte rochoso e recobrimento das pinturas por raízes. São raros os depósitos de origem antrópica, como fuligens e pichações (FIGUEIREDO, 2009). A presença da Fundação do Museu do Homem Americano - FUNDHAM, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional- IPHAN, Ministério do Meio Ambiente - MMA e Instituto Nacional de Reforma Agrária – INCRA e Universidade Federal do Vale do São Francisco – UFVF têm possibilitado, não somente o conhecimento fundamental para a preservação do patrimônio, mas também o desenvolvimento de um modelo para a exploração de um turismo responsável e para a conservação do patrimônio. O Parque Nacional da Serra da Capivara- PNSC foi criado em 5 de junho de 1979, pelo Decreto 83.548 visando proteger a maior concentração de sítios XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1403 arqueológicos das Américas e uma área significativa da Caatinga, perfazendo 129.140 hectares em um perímetro de 214 km nos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Canto do Buriti, foi criado m (FUNDHAM, 2009). A administração do Parque é realizada pelo Instituto Chico Mendes em regime de co-gestão com a FUMDHAM. O acesso ao PNSC é por Petrolina (PE), distante 300 km, sendo que o acesso também pode ser realizado pela rodovia PI140, a partir de Teresina distante 530 km (FUMDHAM, 2009). Desde junho de 2009 existe a pista do Aeroporto Internacional da Serra da Capivara, localizado no Município de São Raimundo Nonato, mas não há nenhuma companhia aérea regular servindo a região. A principal motivação das visitas ao PARNA são os registros arqueológicos dos povos pré-históricos acrescidos dos recursos naturais, destacando as formas de relevo como planaltos ou chapadas, morros, serras, serrotes e planícies e a vegetação de Caatinga, com suas espécies e a fauna endêmica. Há no PARNA 14 circuitos turísticos compostos por trilhas com diferentes graus de dificuldade que dão acesso a 22 sítios arqueológicos e possibilita o contato com os monumentos, a paisagem, as formações vegetais e a fauna variada. O PARNA está aberto desde 1995 e conta com boa infra-estrutura e serviços para visitação, como centro de recepção no Sítio Toca do Boqueirão, informações, visitas guiadas em português, inglês e espanhol, passarelas nos sítios, sinalização e instalações sanitárias adaptadas, serviços de limpeza e segurança, lanchonete, albergue e área para camping, localizada no povoado Sítio do Mocó, próximo à entrada principal. O Parque Nacional da Serra das Confusões - PNSCO foi criado pelo Decreto de 98.346 de 02 de outubro de 1998, nos municípios de Caracol, Guaribas, Santa Luz e Cristiano Castro, encravado no Cristalino – Formação Serra Grande e uma bacia sedimentar – Chapada do Piauí Maranhão. Seu relevo é dividido em duas feições com altitudes de 650 e 700 m, as Chapadas das Gerais e a Serra das Confusões, Semi Tumba, das Guaribas, das Perdidas, dos Macacos, da Peneira e das Pitombas (GUIA DOS PARQUES NACIONAIS, 2002). Possui área aproximada de 502.411 hectares, sendo um dos maiores PARNA da região nordeste do Brasil. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1404 Pode ser acessado da mesma forma que o PNSC. Foi criado com o objetivo de resguardar uma amostra significativa do ecossistema de caatinga numa região ainda bastante preservada no estado do Piauí, de grande beleza cênica e alto valor histórico, cultural e científico (IBAMA, 2009). Atualmente não está aberto para a visitação pública, recebendo apenas visitas de pesquisadores e alguns turistas acompanhados por técnicos do Instituto Chico Mendes, mas a partir de março de 2010 deverá abrir para a visitação (GONZAGA, 2009). Segundo o IBAMA (2009) “a área desta unidade ainda encontra-se em estado primitivo de conservação. Encontram-se inúmeros sítios arqueológicos em suas cavernas e grutas, inclusive apresentando litogravuras nos paredões rochosos de grande valor histórico, científico e cultural”. Segundo o subprojeto de “Pesquisa Prospecções, Escavações Arqueológicas e Conservação de Registros Rupestres no Parque Nacional Serra das Confusões e Entorno” foram encontrados no Parque 30 sítios arqueológicos com pinturas rupestres e esqueleto humano. O subprojeto está vinculado ao projeto "Origem e Evolução Migratória dos Primeiros Grupos Humanos no Sudeste do Piauí" (FUNDHAM, 2009). O PNSCO possui plano de manejo desde 2003, mais ainda está sendo implantado e há uma ausência de ações de conservação dos sitos arqueológicos se comparados com o PNSC. 4. RESULTADO DAS ANÁLISES Os resultados obtidos com análise das variáveis presentes no Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no estado do Piauí (2000) são apresentados abaixo por meio de um quadro para facilitar a leitura. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1405 QUADRO 3 – AS CONDIÇÕES DA OFERTA DO PARNA SERRA DA CAPIVARA Implantação de estruturas para As estruturas são eficientes e os recursos a recepção de visitante. humanos estão preparados. Além de contar com locais de descanso e pequenas refeições. Implantação de serviços de Este item é insuficiente. Existe serviço de saneamento básico, de saneamento básico em apenas um município assistência médica e de onde o PARNA se localiza. A assistência comunicação. médica e as comunicações não atendem a contento. Preparação dos sítios Há ações de preservação e conservação em arqueológicos, com as vários sítios e realizadas com metodologias indispensáveis ações de corretas e com equipes multidisciplinares e conservação. interinstitucionais. Servindo de modelo para outros sítios no Brasil. Um ponto ainda difícil de ser sanado é o investimento necessário para a manutenção e preservação do patrimônio que é muito elevado. Há ainda fatores relacionados ao desequilíbrio ambiental que acabam afetando sua conservação. Preparação dos sítios Aparentemente não há problemas relacionados arqueológicos, com as as via de acesso, saneamento das margens e indispensáveis ações de bebedouros de animais, mas foram encontrados conservação. muitos animais soltos nas rodovias. Construção e reparação de Para a formação dos recursos humanos, além vias de acesso com o da presença da Universidade Federal com curso saneamento das suas de Arqueologia, há a FUNDAM. A população margens, utilizadas como local foi inserida no processo por meio de ações aterros sanitários e, nos de inclusão social como o caso dos “Tarzans” e barreiros, como bebedouros da Comunidade do Mocó. Ainda há problemas dos animais soltos nas relacionados com a comunicação em idiomas rodovias. estrangeiros. Preparação de recursos Estas ações estão sendo desenvolvidas e humanos para monitoramente abrangendo muitas pessoas dos municípios que de sítios e atendimento ao envolvem o PARNA e de outros municípios do público visitante. Piauí. Para os turistas, a ação educativa ainda não é suficiente. Ações de educação patrimonial Atualmente a visitação ao parque ocorre em visando à conscientização pequeno número de visitantes, até dez por guia. sobre a importância dos sítios Estes internamente redirecionam os grupos para arqueológicos e a necessidade que não estejam concomitantemente dois ou de mudanças de costumes mais grupos em um mesmo lugar. para a obtenção dos benefícios esperados. Fonte: RUSMANN CONSULTORES, 2009. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1406 No aspecto da visitação são poucas ações necessárias para que o turista tenha um turismo de qualidade ao freqüentar o PNSC, neste item seu ponto mais falho é a interpretação patrimonial e os monitores monolíngües. O acesso ao parque se dá somente com o acompanhamento de guias, por isso, dificilmente ocorrem ações de vandalismo ou outra que possa afetar o patrimônio. Os grupos também são em números reduzidos. O PARNA possui diversos roteiros e se houver uma demanda muito grande para um determinado sítio o agendamento dos visitantes pode ser remanejado para outro. Os atrativos são atingidos por problemas socioambientais do entorno do PARNA como o lixo, falta de saneamento básico, animais na pista, queimadas, entre outros. Por causa da ausência de preservação de alguns sítios ocorre a presença de dejetos de animais, desplacamentos, poeira, microorganismos e marcas d‟água sob as pinturas rupestres que as colocam em risco. A maior dificuldade do PARNA é conseguir verbas para a sua manutenção e pesquisas, embora frente a outros parques brasileiros a situação do PNSC seja excepcional. 1407 QUADRO 4 – CONDIÇÕES DA OFERTA DO PARNA SERRA DAS CONFUSÕES Implantação de estruturas As estruturas para a recepção do visitante estão para a recepção de visitante. previstas, mas não foram implantadas. As propostas do Plano de Manejo correspondem às necessidades dos turistas. Implantação de serviços de Este item é insuficiente. saneamento básico, de assistência médica e de comunicação. Preparação dos sítios Existem algumas ações de preservação e arqueológicos, com as conservação em andamento, mas muito pouco indispensáveis ações de ainda pelo que está previsto no Plano de Manejo. conservação O Plano de Manejo apresenta proposta preocupada com esta questão. Preparação de recursos Ainda não há formação e treinamento. Estão humanos para previstas para 2010 visando à abertura do Parque monitoramente de sítios e no primeiro semestre do citado ano. atendimento ao público visitante. Capacidade de Carga para Atualmente a visitação ao parque ocorre apenas cada sitio a ser visitado. com a companhia do funcionário do Instituto Chico Mendes, pois o parque se encontra fechado. Mas no Plano de Manejo está prevista a carga para cada sítio. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Ações de educação patrimonial visando à conscientização sobre a importância dos sítios arqueológicos e a necessidade de mudanças de costumes para a obtenção dos benefícios esperados. Construção e reparação de vias de acesso com o urgente saneamento das suas margens, utilizadas como aterros sanitários e, nos barreiros, como bebedouros dos animais soltos nas rodovias. Continuação do Quadro 4 Pouco se tem feito neste sentido. O Projeto da FUNDHAM e Petrobrás Ambiental de “Educação para a Conservação e Uso da Água” inseriu a comunidade do entorno do Parque. O Parque possui poucas ações no sentido de melhorar os acessos, a região não tem saneamento adequado, nem aterros sanitários, também não há ainda sanitários, bebedouros e há animais soltos nas rodovias. Embora estes itens estejam previstos no Plano de Manejo, pouco ainda foi feito. Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009. O PNSCO apresenta problemas de conservação no Sitio Toca do Pinga do Velho, onde um grande número de blocos caíram da parede e estes c ontém figuras geométricas. Há também a presença de insetos construtores, percolação das águas das chuvas, raízes e liquens. No espaço Nossa História existe uma antiga propriedade rural cujo estado atual deste patrimônio necessita ser restaurado e ser recuperado. Ao mesmo tempo, as pinturas rupestres sofrem com a ação de dejetos de animais, desplacamentos, poeira, microorganismos e marcas d‟água. No Baixão das Andorinhas há uma propriedade com as características da cultura rural sertaneja que necessita ser restaurada. No sítio Pedra das Andorinhas as pinturas rupestres, em termos de conservação, apresentam a presença de insetos construtores, desplacamentos do suporte rochoso, percolação da água da chuva, depósitos minerais, dejetos animais e pichações vândalas. Embora o PARNA permaneça fechado para garantir sua segurança, o não uso também pode ser uma atitude que ajude a sua degradação, por isso, a ação do governo em atender algumas exigências básicas e abri-lo pode acelerar a sua conservação, desde que medidas de controle sejam implantadas. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1408 A capacidade de carga estipulada pelo Plano de Manejo precisa de mais estudos e quando o parque abrir ao público, um sistema de recepção similar ao PN SC deverá ser criado. Não há um fluxo constante para o PNSCO, mas a sua demanda potencial é a mesma que a do PNSC e deve-se estudar a promoção dos parques em conjunto por terem aspectos similares e diferenciados. Esta promoção em conjunto pode estimular a visitação para ambos e aumentar a atratividade do roteiro. Análise seguindo a metodologia proposta por Manzato (2005): Os atrativos culturais do Arqueoturismo no PNSC apresentam a classificação Muito Adequada para a maioria de seus itens e Adequada para alguns itens de comunicação, acesso e restauração. O único item Pouco Adequado referiu-se para a Interpretação Patrimonial e Ações Educativas como pode se observar na Tabela 1 abaixo: TABELA 1 – ANALISE DAS CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA DO ARQUEOTURISMO NO PARNA SERRA DA CAPIVARA Parque Nacional da Serra da Capivara Muito Adequado Acesso Placas Indicativas Placas Informativas Custo do Ingresso Recepção Material Turístico Monitoria Atividades de Ação Educativa – Interpretação Patrimonial Sanitários Restauração Área Específica para Descanso Lojas de Souvenir Acessibilidade para deficientes Total Adequado Pouco Adequado 1409 Não Adequado 3 2 3 3 3 2 3 1 3 2 3 21 2 2 10 1 Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009. Os atrativos culturais do Arqueoturismo no PARNA SERRA DAS CONFUSÕES apresentam segundo a metodologia de Manzato (2005) a classificação Pouco Adequada aos itens informações, acesso e ação educativa e interpretação patrimonial e Não Adequado nos demais itens. Deve-se levar em XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 consideração que o Parque não está aberto ao público por isso, a baixa pontuação em alguns itens como se pode observar na Tabela 2 abaixo. TABELA 2 – ANALISE DAS CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA DO ARQUEOTURISMO NO PARNA SERRA DAS CONFUNSÕES Parque Nacional da Serra das Confusões Acesso Placas Indicativas Placas Informativas Custo do Ingresso Recepção Material Turístico Monitoria Atividades de Ação Educativa – Interpretação Patrimonial Sanitários Restauração Área Específica para Descanso Lojas de Souvenir Acessibilidade para deficientes Total Muito Adequado Adequado Pouco Adequado 1 1 1 Não Adequado 0 0 0 0 1 0 0 4 0 0 0 0 0 9 Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009. A oferta turística deve estar adaptada a sua demanda. A atratividade está relacionada à oferta, mas também à demanda. Não adianta um atrativo muito bem estruturado se não existe ninguém com interesse em visitá-lo. Neste sentido é preciso saber quem é o visitante (demanda real) e quem têm condições para sê-lo (demanda potencial). No caso dos sítios arqueológicos dos PARNAs do Pólo das Origens a demanda ainda é insignificante frente a sua potencialidade (MTur/IABS/AECID, 2008) . Dados encontrados na FUNDHAM (2009) sobre a demanda para o PNSC apontam que 5.106 pessoas visitaram o Parque em 1999, sendo os meses de maior freqüência janeiro, fevereiro, julho e novembro e o de maior baixa março, abril, maio e outubro. Os principais turistas que visitaram o parque fizeram por motivações educacionais com a permanência de 2 a 3 dias. A demanda registrada pelo IBAMA entre janeiro e agosto/06 foi de 5.290 visitantes e na alta temporada, julho/06 foi de 1.175 visitantes. Comparando a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1410 pesquisa de 1999 com a de 2006, pode-se aferir que houve um acréscimo cerca de 1.300 visitantes na demanda para o PRSC após sete anos. Em julho de 2009 houve em São Raimundo Nonato a versão anual do maior evento de pintura rupestre do mundo o Global Rock Art. Este evento levou para a região 600 turistas entre nacionais e internacionais motivados pelo estudo da pintura rupestre e fez com que as cidades melhorassem a qualidade de sua oferta e que o atrativo arqueológico do Pólo das Origens ficasse mais conhecido mundialmente. A pesquisa realizada com os moradores locais por meio de entrevista em julho de 2009, apontaram que a demanda real é composta, em maior número, por escolares de municípios do estado do Piauí e estados limítrofes (turismo pedagógico/educacional), seguida de pesquisadores brasileiros e estrangeiros (turismo científico) e por último, turistas culturais e ecoturistas. Oliveira Filho e Monteiro (2009) aferiram em pesquisa realizada 2006 que 59,21% dos visitantes ecoturistas são professores e estudantes que visitam o PNSC e têm com interesse no arcabouço histórico da Unidade de Conservação e no estudo da flora e fauna da caatinga, por meio de visitas promovidas por escolas ou universidades. “Nesse sentido, denotou-se que a visitação no PNSC integrava, além do ecoturismo, o turismo cultural, educacional, científico e de aventura” (OLIVEIRA FILHO E MONTEIRO, 2009, p.242). Esta classificação da segmentação em turismo pedagógico/educacional e turismo científico podem ser considerados como arqueoturismo, porém em ambos os casos não é espontânea. O escolar visita o PARNA como uma atividade proposta pelo programa educativo das escolas e os cientistas estão a trabalho realizando estudos. Os turistas culturais e ecoturistas optaram por conhecer o Parque entre as várias opções que o turismo oferece de maneira espontânea. O Governo do estado do Piauí e o Ministério do Turismo rea lizaram uma pesquisa por meio da IBERTUR e a Universidade de Barcelona em 2008 e 2009 para identificar o perfil do turista arqueológico para o PNSC. Abaixo apresentamos os dados de 2008. Quanto ao perfil socioeconômico dos turistas arqueológicos: Existe um percentual um pouco maior de turistas do sexo feminino (57%); XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1411 Existem mais de casadas (59%) com ou sem filhos do que solteiros (41%); A maioria dos turistas tem idade entre 25 a 44 anos; 95% dos pesquisadores apresentam nível de escolaridade alto (graduados 30%, mestres 39% e doutores 26%); Grande parte dos entrevistados tem alguma vinculação profissional com o setor arqueológico ou cultural (81%). 47% dos pesquisadores recebem entre US$ 10.000 e US$ 39.000/ano. Dos 48% dos entrevistados estavam na Europa e 24% na América Latina e Caribe. Dentre os brasileiros 31% estavam na própria Região Nordeste, seguida pela Região Centro-Oeste (24%). 87% viajavam por conta própria e hospedavam-se em estabelecimentos de baixo custo. Apenas 1,8% dos pesquisadores já haviam viajado para o Brasil nos últimos dois anos. 0,78% associavam o Brasil ao turismo arqueológico – o país líder é a Itália, seguido pelo Egito, Grécia, México e Peru. O produto arqueoturístico do Polo das Origens atualmente teria, segundo a pesquisa citada acima, como consumidor em potencial composto por: mulheres casadas e solteiras, com idade entre 25 a 44 anos, com alto nível de escolaridade e bom padrão econômico cuja motivação de visita está relacionada a interesses profissionais ou ainda culturais. Dos estrangeiros quase a metade são europeus e entre os brasileiros 30% são nordestinos e 25% da região Centro-Oeste, ou seja, de maior proximidade corresponde 50%. Comparando o perfil da demanda (real e potencial) e as condições da oferta, pode-se aferir que a oferta do PNSC com poucas adaptações estará pronta para receber a demanda potencial e a demanda atual que já recebe. No entanto, o PNSCO ainda precisa de muitas ações para estar apto a receber a demanda potencial e atual. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os atrativos arqueoturísticos do Pólo das Origens têm um grande potencial e se o PNSCO tiver a mesma estrutura que o PNSC será provavelmente à melhor XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1412 oferta arqueoturistica do Brasil, devido a sua importância por ser berço do homem americano e pelos muitos sítios arqueológicos bem conservados. Somam a estes atrativos o Museu do Homem Americano e o Centro Cultural que são muito bem estruturados. O Museu passou recentemente por uma reestruturação e um novo projeto museológico foi desenvolvido com o apoio da Fundação Roberto Marinho que utilizou os mesmos técnicos que trabalharam no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo para reformulá-lo. O novo projeto museológico e museográfico possui tecnologia de ponta e sua visitação é interativa. No entanto, a ação educativa do museu é voltada principalmente para os estudantes do turismo pedagógico e não para os outros turistas. O Centro Cultural é o local da pesquisa e interessa mais a quem quer se aprofundar no assunto ou tem algum conhecimento específico. Seus visitantes são em sua maioria estudantes e especialistas. A transformação do patrimônio arqueológico em arqueoturismo no Piauí é de fundamental importância para o desenvolvimento sócio-econômico da região e principalmente para a integração entre a sociedade atual e a sociedade que habitou anteriormente este lugar na pré-história. Isso é possível pela valorização do patrimônio da população autóctone extinta frente à população atual. Entre ambas há uma desvinculação, e por isso, ocorre à destruição da cultural ainda restante, seja pela atividade extrativista, seja pelos projetos agropecuários e imobiliários, e o agravamento da ação de agentes naturais, como a erosão (MENESES, 1986). O maior problema do atrativo arqueoturístico no Pólo das Origens não está em sua estrutura ou nas condições de visitação, e sim em atingir uma demanda espontânea em quantidade e qualidade. O turismo não espontâneo traz poucos recursos para os municípios onde os PARNAs se situam. Sua maior demanda formada por estudantes de escolas públicas gastam em média R$ 30,00 reais por dia, e sua presença nos municípios é no máximo de dois dias com um pernoite e muitos nem pernoitam11. Dados obtidos na pesquisa de Oliveira Filho e Monteiro (2009) apontam que quanto à duração da viagem 47,22%, 37,92% e 8,65% dos 11 Dado obtido por meio das entrevistas em julho de 2009 com representantes do turismo na região. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1413 visitantes permanecem na região do PNSC 03 (três), 02 (dois) e 04 (quatro) dias, respectivamente, manifestando um ecoturismo de final de semana. Os atrativos visitados são todos sem custos, pois nada é cobrado dos estudantes de escolas pública. Seus gastos ocorrem apenas com alimentação, hospedagem e algum souvenir. Os pesquisadores embora gastem mais, são poucos. Frente a esta situação é preciso ampliar a demanda para que os parques possam ter melhores condições de investimento na preservação do patrimônio e que a comunidade seja beneficiada com a presença do turismo. O arqueoturismo não é um turismo de massa e mesmo com uma demanda ampliada os espaços dos PARNAs são muito grandes sendo possível redistribuir a demanda em pequenos grupos sem afetar a capacidade de carga. Para atingir esta demanda existem algumas barreiras ainda difíceis de serem transpostas. A primeira está relacionada ao deslocamento dos turistas. O custo para o deslocamento dos principais centros emissores de turistas do Brasil localizados na região sudeste até o Piauí é elevado. O número pequeno do público para o arqueoturismo no Brasil não gera ainda uma demanda para um vôo regular diretamente para São Raimundo Nonato. Assim, a melhor opção seriam os charters e a demanda do próprio nordeste que poderia fazê-lo por via terrestre. Outra questão é o múltiplo atrativo. No Brasil como citado por Funari (2003), Morais (2003), Scatamacchia (2005) e Manzato (2005) as experiências em arqueoturismo são incipientes com uma baixa demanda nacional. Assim, atrativos conjugados poderiam aumentar as chances de trazer mais turistas como o ecoturismo que pode ser desenvolvido em ambos os PARNAs e no entorno. Também o turismo de eventos culturais e gastronômicos, além de realizar roteiros de destinos conjugados como o turismo de sol e praia nordestino e/ou o turismo científico de Petrolina que são bem próximos. Vários estudos como o citado de demanda da IBERTUR (2008/2009) e/ou Estudo para o Ecoturismo realizado pelo Instituto Marca Brasil (2009) e algumas ações de marketing foram realizados recentemente pelo EMBRATUR, Ministério do Turismo e Governo do Piauí para promover o arqueoturismo na região. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1414 Sabe-se que o desenvolvimento de um destino demora um bom tempo para se consolidar e ainda mais um novo segmento pouco demandado no Brasil como o arqueoturismo. Quanto aos atrativos do objeto de nosso estudo pudemos verificar que frente às metodologias utilizadas para a análise, um dos atrativos se encontra em excelentes condições de visitação e o outro precisa de muitos investimentos para atingir esta mesma situação, mas tem um bom potencial. REFERÊNCIAS BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Brasília, Presidência da República – Casa Civil, 1998. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htmhttp://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htmhttp://www.planalto.go v.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso: em 10 jan 2009. FIGUEIREDO, D e PUCCIONI, S (orgs). Consolidação Estrutural da Toca da Entrada do Pajaú – Diagnóstico e Proposta de intervenção. Teresina: IPHAN, 2009. FUNDHAM. Fundação do Museu do Homem Americano. Disponível em http: www.fumdham.org.br. Acesso: em 14 jul 2009. FUNARI, P e PINSK, J (orgs). Turismo e patrimônio cultural. 2 ed. 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Acesso: em 20 jan 2009. 1416 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 HOSPITALIDADE NO TURISMO DE BASE LOCAL: UM ENSAIO ANALÍTICO SOBRE A REDE DE HOSPEDAGEM FAMILIAR, EM BELÉM-PA Cleber Augusto Trindade Castro Mestrando em Geografia/UFPA [email protected] Débora Rodrigues Oliveira Serra Especialista em Gestão Empreendedora/UFPA [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta dados e reflexões iniciais sobre a relação entre a Rede de Hospedagem Familiar, estruturada em Belém-PA inicialmente para atender aos participantes do Fórum Social Mundial – 2009, e as concepções e premissas do turismo de base local, visando compreender o processo de implantação da rede. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, para um embasamento teórico e conceitual sobre hospitalidade e turismo de base local, e uma pesquisa documental sobre o projeto que estruturou a Rede de Hospedagem Familiar de Belém-PA, disponibilizado aos autores pela Companhia Paraense de Turismo – PARATUR, órgão do governo estadual responsável pela coordenação das ações de implantação da rede. O artigo demonstra que o projeto foi idealizado e executado com proximidade às concepções e premissas do turismo de base local, tendo o Estado como indutor desse modo de organização e prática do turismo, com incentivo à participação ativa da comunidade que formou a rede. Palavras Chave: Hospitalidade. Turismo de Base Local. Hospedagem Familiar. ABSTRACT This paper presents initial information and reflections on the relationship between the Network of Family Accommodation, structured in Belém-PA to receive participants in the World Social Forum - 2009, and the ideas and assumptions on local tourism, aiming to understand the process of deployment of the network. The methodology was a literature search for a theoretical and conceptual approach to hospitality and local tourism, beyond documental search about the project which developed the Network of Family Accommodation in Belém-PA, available to authors for the State Tourism Company - PARATUR, an agency of state government responsible for coordinating the deployment of the. The paper concludes that the project was conceived and executed as close to the concepts and assumptions of the local tourism and that state was the inducer of this mode of organization and practice of tourism, encouraging the active participation of the community that formed the network. Keywords: Hospitality. Local Tourism. Family Accommodation. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1417 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento do turismo, contextualizado no capitalismo e nas características da sociedade marcada por tal modo de produção, apresenta diversos aspectos e conseqüências que, estudadas contemporaneamente, apontam problemas na relação da atividade turística com o meio natural e c om os grupos sociais envolvidos ou atingidos. Os problemas relacionados ao turismo, como a degradação ambiental, as alterações nas culturas autóctones, concentração dos lucros e exclusão de pessoas nas dinâmicas social e econômica, instigam à reflexão sobre as possibilidades de um modo de desenvolvimento dessa atividade onde esses e outros efeitos nãobenéficos sejam minimizados ou inexistentes. Esse contexto envolve os estudos e experiências do turismo de base local, que traz consigo uma alternativa de planejamento e implantação da atividade turística, com uma ética que considera primordial a participação ativa da comunidade autóctone, a distribuição equitativa dos ganhos, o respeito pelo ambiente natural, a valorização da cultura local, entre outros aspectos. 1418 Desse modo, este trabalho procura relacionar a Rede de Hospedagem Familiar, estruturada em Belém-PA inicialmente para atender a demanda de participantes do Fórum Social Mundial – 2009, com as concepções e premissas do turismo de base local, visando compreender as ações do processo de implantação da Rede, e analisar sua relação com esse modelo de turismo. Este estudo apresenta relevância no contexto das pesquisas sobre turismo de base local por tratar de um assunto ainda pouco explorado – a hospitalidade no turismo de base local – com abordagem de um projeto governamental ainda não estudado cientificamente – a Rede de Hospedagem Familiar, em Belém-PA. Assim, apresenta uma contribuição para o aprofundamento e adensamento teórico dessa proposta de modelo de turismo. A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, com o estudo de caso da Rede de Hospedagem Familiar em Belém-PA. Para Chizzotti (2008, p. 102), o caso é tomado como unidade significativa do todo que “tanto revela uma realidade quanto revela a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada situação”. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, para um embasamento teórico e conceitual sobre hospitalidade e turismo de base local e uma pesquisa documental sobre o projeto que estruturou a Rede de Hospedagem Familiar em Belém-PA, disponibilizado aos autores pela Companhia Paraense de Turismo – PARATUR, órgão do Governo do Estado responsável pela coordenação das ações de implantação da rede. 2 TURISMO DE BASE LOCAL Na bibliografia sobre turismo de base local, recente e ainda um tanto restrita, encontram-se outros termos que são essencialmente sinônimos a este conceito, a saber, “turismo de base comunitária”, “turismo comunitário” e até mesmo “turismo situado”. Neste trabalho, optamos por utilizar o termo “turismo de base local” por considerar que é necessário um aprofundamento teórico e conceitual sobre “comunidade” e “comunitário”, para uma coerente utilização desses termos. Assim, o “local” aqui se revela muito mais próximo à teoria do “sítio simbólico de pertencimento”, de Hassan Zaoual (que também merece maior discussão e análise teórica e prática), onde esses sítios representam “comunidades de sentido”, ou seja, não considera necessariamente uma demarcação ou limites físicos, mas é no campo simbólico e identitário que o local configura-se e tal configuração pode ou não acontecer em um espaço delimitado (apud BARTHOLO, 2009). Araújo e Gelbcke (2008, p.366) apresentam a idéia de que, no contexto da crise socioambiental e do crescimento do turismo massificado, o turismo de base local “é um estratégia de desenvolvimento para grupos com menores condições de ingressarem de maneira autônoma na cadeia produtiva do turismo”. No entanto, ainda que seja coerente, esta concepção restringe as possibilidades de atuação desse modelo de desenvolvimento do turismo, contribuindo para o entendimento de que somente “comunidades de baixa renda” ou as chamadas “comunidades tradicionais” podem desenvolver esse tipo de turismo. Já para Irving (2009, p.111), o turismo de base local só poderá ser desenvolvido se os protagonistas deste lugar forem sujeitos e não objetos do processo. “Neste caso, o sentido de comunitário transcende a perspectiva clássica XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1419 das „comunidades de baixa renda‟ ou „comunidades tradicionais‟ para alcançar o sentido de comum, de coletivo”. Ainda para essa autora, Este tipo de turismo representa, portanto, a interpretação “local” do turismo, frente às projeções de demandas e de cenários do grupo social do destino, tendo como pano de fundo a dinâmica do mundo globalizado, mas nã o as imposições da globalização (IRVING, 2009, p. 111) Vale ressaltar que o turismo de base local não corresponde simplesmente a mais um tipo de turismo, nem um segmento mercadológico criado para atender a uma demanda específica. Muito mais que isso, o turismo de base local é uma proposta de modelo para o planejamento, gestão e prática do turismo (IRVING, 2009; ZECHNER, HENTIQUÉZ e SAMPAIO, 2008). O desenvolvimento desta atividade exige a incorporação de princípios e valores éticos, uma nova forma de pensar a democratização de oportunidades e benefícios, e um novo modelo de implantação de projetos, centrado em parceria, co-responsabilidade e participação [...] (ZECHNER; HENRÍQUEZ E SAMPAIO, 2008, p. 12) 1420 Desse modo, o turismo de base local ultrapassa o sentido de uma atividade produtiva para estimular a cooperação nas relações sociais, valorizando os recursos de um território. E esse modo de desenvolvimento do turismo utiliza-se do conceito de território, “pois enseja o desenvolvimento do turismo a partir de critérios e prioridades pautadas nos interesses das comunidades autóctones; induzindo a construção de sistemas produtivos localizados [...]” (ARAÚJO E GELBCKE, 2008, p.366) Irving (2009) apresenta seis premissas para o desenvolvimento do turismo de base local, que subsidiarão as análises presentes neste trabalho – juntamente com os demais aspectos teóricos apresentados – a saber: 1. base endógena da iniciativa e desenvolvimento local: Para o desenvolvimento do turismo de base local deve haver motivação endógena à localidade, ainda que agentes externos – como o Estado, instituições de ensino e pesquisa e organizações não-governamentais – funcionem como indutores XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 das iniciativas. Além disso, os objetivos com o desenvolvimento desse modelo de turismo devem expressar os desejos dos grupos sociais locais. 2. Participação e protagonismo social no planejamento, implementação e avaliação de projetos turísticos: Em iniciativas de turismo de base local é imprescindível o engajamento e a participação ativa dos agentes locais, com uma postura pró-ativa sob a ótica da coresponsabilidade nos processos de planejamento, implementação e avaliação dos projetos turísticos. No entanto, Irving (2008, p.114) ressalta que [...] os processos participativos são lentos, envolvem custos adicionais nem sempre considerados nos orçamentos em planejamento turístico, e exigem um elevado investimento em formação de recursos humanos e construção de arcabouços metodológicos capazes de lidar com as especificidades locais e gerar respostas. Desse modo, não são viáveis grandes resultados e mudanças em curto prazo 1421 no que se refere ao turismo de base local, uma vez que as ações para que os grupos sociais locais dominem a auto-gestão da atividade turística é precedido de um processo longo, que deve contar com um processo contínuo de educação para esse modelo de desenvolvimento do turismo. 3. Escala limitada e impactos sociais e ambientais controlados: O turismo de base local, por ser uma alternativa aos impactos e malefícios do turismo massificado, deve acontecer com limites na recepção de turistas – devendo desenvolver metodologias para apontar tais limites –, garantindo qualidade nas dinâmicas sociais e nos aspectos ambientais, pois, segundo Irving (2008, p. 115) “sem qualidade social e ambiental uma iniciativa comunitária tende a se fragilizar com o tempo e, se esta estiver associada a um projeto turístico, muito provavelmente terá a sua atratividade reduzida progressivamente”. 4. Geração de benefícios diretos à população local: Os projetos de turismo de base local devem desenvolver dispositivos e mecanismos para que os ganhos alcançados com o turismo sejam acessados pelos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 grupos sociais locais e que sejam transformados em melhoria na qualidade de vida, de acordo com as necessidades locais. 5: Afirmação cultural e interculturalidade: O turismo de base local deve acontecer – ao contrário do turismo massificado – sem imposições de alterações nas culturas locais e fazendo destas culturas o sentido da atratividade à visitação e o motivador de intercâmbio cultural entre autóctones e turistas. Irving (2209, p. 116) ressalta que a valorização da cultura local constitui parâmetro essencial em turismo de base comunitária, não no sentido de sua importância na configuração de um “produto” de mercado, mas com o objetivo de afirmação de identidades e pertencimento. Desse modo, no turismo de base comunitária a interação entre as culturas dos agentes envolvidos, que ocorre no sítio simbólico de pertencimento, deve acontecer sem espetacularização – como no turismo massificado, para atender aos anseios do mercado capitalista –, mas sim como uma maneira de se aproximar à alteridade e valorizar a cultura local. 6: O “encontro” como condição essencial: Semelhante a premissa da afirmação cultural e da interculturalidade, o turismo de base local pode promover o encontro entre grupos sociais, permitindo o compartilhamento de conhecimentos e aprendizagem mútua, com um “intercâmbio real entre os sujeitos „que recebem‟ e os que „são recebidos‟” (IRVING, 2009, p. 116). Araújo e Gelbcke (2008) apontam ainda a existência de uma relação dialética entre os turistas e a comunidade receptora. Zechner, Hentiquéz e Sampaio (2008, p. 07) relacionam essa dialética à concepção de “convivencialidade” existente no modelo de turismo em questão. Tal conceito compreende “uma relação social que se interesse pelo outro, pelo diferente, pela alteridade [...]. A convivencialidade potencializa espaços produtivos não economicistas de ganho coletivo”. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1422 O turismo de base local contempla modos pouco usuais de atividades turísticas, que normalmente não são consideradas interessantes pelo “turista de massa”, como as relacionadas aos modos de alimentação e moradia. Bartholo (2009, p. 51) expõe que “no caso específico dos serviços turísticos os padrões relacionais de acolhida e hospitalidade são elementos-chave para práticas situadas de turismo de base comunitária”. 3 HOSPITALIDADE E TURISMO DE BASE LOCAL Grande parte dos estudos realizados sobre a hospitalidade a analisa sob a perspectiva comercial. Entretanto, por ser considerada um tipo de relação humana, ela tem sido tratada por diversas áreas do conhecimento, entre elas a filosofia, a geografia e as ciências sociais. Camargo (2003) observa que para delimitar seu campo de estudo, na área das ciências sociais, a hospitalidade pode ser dividida entre o eixo cultural e o social. O primeiro envolve as 04 ações: receber, hospedar, alimentar e entreter pessoas; enquanto o segundo apresenta 04 domínios: doméstico, público, comercial e virtual, sendo que os três primeiros domínios foram baseados na obra “Em busca da hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado”, organizado por Lashley e Morrison em 2000. Desta forma, Camargo (2003, p.19) define hospitalidade como “o ato humano, exercido em contexto doméstico, público ou profissional, de recepcionar, hospedar, alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas do seu habitat”. O autor afirma ainda que dezesseis eixos teóricos para o estudo da hospitalidade surgem a partir da interseção das ações e domínios dos eixos cultural e social. Dada a amplitude do significado da hospitalidade, convém mencionar a opinião de Godbout (1999). Para ele, o termo apresenta duas situações contrárias, pois quando o anfitrião recebe o hóspede, ele também oferece acolhida e alimentação, concluindo-se que o receber alguém implica em dar-lhe algo. Nota-se, porém que o hóspede, por sua vez, sente-se na obrigação de retribuir a ação do anfitrião. Assim, as relações de hospitalidade baseiam-se nas ações de dar, receber e retribuir. Em outras palavras, a relação é sempre de troca. Exemplificando, Pimentel XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1423 (2007) observa que quando recebemos alguém, criamos também a possibilidade de um dia nos tornarmos hóspedes daquele que recebemos. Para ela, A mesma troca que me faz anfitrião,faz-me também um hóspede potencial. Isto ocorre porque "dar e receber" implicam não só uma troca material, mas também em uma troca espiritual, uma comunicação entre almas (p.60). Ao ressaltarem-se as relações de troca, diversos estudiosos do tema abordado aproximam-no da teoria da dádiva de Mauss, que em seu “Ensaio sobre a Dádiva”, publicado pela primeira vez em 1923, denomina como dom ou dádiva o sistema de reciprocidade que está presente na totalidade da vida social (moral, literatura, economia, religião, etc.) em todas as sociedades. As trocas nesta teoria não se referem apenas ao que é material, mas também ao espiritual. Autores como Godelier (2001) e Godbout (1999) divergem em suas opiniões quanto à relação entre o sistema da dádiva e os sistemas de mercado. Godbout acredita que a dádiva penetra nos sistemas do mercado e do Estado, enquanto para Godelier, esses sistemas são opostos. Entretanto, Lanna (apud PIMENTEL, 2007, p. 105) afirma que “há instâncias onde cada uma dessas idéias opostas se verificam, a mercadoria ora pressupondo, ora destruindo a dádiva”, ou seja, há momentos em que as lógicas da dádiva e da mercadoria são conflitantes, mas há outros em que elas se complementam. Considerando-se a dádiva como algo gratuito que está fora do sistema do mercado, entende-se que a hospitalidade como dádiva pode ocorrer em diversos ambientes. Comercialmente, por exemplo, há situações nos meios de hospedagem tradicionais onde a relação entre anfitrião e hóspede excede o que é determinado pelo contrato, tal como quando o recepcionista se propõe a ajudar o hóspede ao perceber que ele está com alguma dificuldade. Entretanto, por diversas razões, a dádiva na hospitalidade é mais facilmente reconhecível nos espaços onde se desenvolve o turismo de base local. Primeiramente por verificar-se que nestes ambientes, a relação entre anfitriões e hóspedes não é meramente econômica, visto que há o real interesse no intercâmbio XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1424 entre eles, ou seja, na troca de informações através da descoberta e da observação de suas respectivas culturas. Nos sítios simbólicos de pertencimento, a percepção do que é turístico parte da própria comunidade. Sansolo e Bursztyn (2009, p. 150), afirmam que o sítio é cheio de significados próprios, valorizados pela comunidade, e que se coloca disponível para o intercâmbio. Não comercializam o que os turistas desejam; disponibilizam o que entendem ser valoroso, em termos culturais e ambientais. No intercâmbio, as relações são o princípio fundamental do turismo de base comunitária, assim como quem busca está aberto a se adaptar e valorizar os códigos dos lugares visitados. Trata-se, portanto, de um turismo que tem nas relações de hospitalidade a principal motivação. As trocas interpessoais são uma necessidade humana e os pontos de encontro são fundamentais para que elas ocorram. Tais pontos podem estar localizados nos meios de hospedagem comerciais, porém destacam-se os estabelecimentos menores, administrados pela própria família e que permitem uma aproximação maior entre visitantes e visitados, ou seja, o que se chama de hospedagem domiciliar. Excluindo-se os casos dos imóveis alugados para temporada, a hospedagem domiciliar trata-se de um empreendimento em que os moradores disponibilizam parte de sua residência para receberem turistas mediante pagamento. Entretanto, apesar do aspecto comercial, esta forma de hospedagem se diferencia das demais. Para Pimentel (2007, p. 19) sua principal característica é a de criar “um espaço privilegiado de promoção do encontro de qualidade entre hóspedes e anfitrião”. Ela elenca também diversas vantagens da hospedagem familiar sobre as demais formas, dentre elas o fato de não exceder a capacidade de carga local por não exigir novas construções, a distribuição da renda entre a comunidade, o resgate dos modos tradicionais de moradia, a possibilidade do proprietário poder exercer outras atividades e não depender exclusivamente do turismo, além dos preços que normalmente são mais acessíveis. Estas características fazem com que diversas comunidades que desenvolvem a atividade turística com base local utilizem-se desta modalidade como importante meio de hospedagem. Há exemplos em todo o Brasil e alguns deles podem ser XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1425 visualizados entre os cinqüenta projetos apoiados pelo Ministério do Turismo - MTur por meio do Edital nº 01/2008 e descritos no livro “Turismo de Base Comunitária: Diversidade de Olhares e Experiências Brasileiras”, editado eletronicamente em 2009 pelo MTur. São os casos de comunidades no município de Nova Olinda, no Ceará, Maxaranguape, no Rio Grande do Norte, Morretes, no Paraná e Barão de Melgaço, no Mato Grosso, entre outros. No Estado do Pará, temos exemplos no município de Santarém, onde através do Projeto Saúde e Alegria, grupos de visitantes podem conhecer parte da fauna e flora amazônica e integrarem-se às comunidades, principalmente ao hospedarem-se em suas casas; e na Praia do Pesqueiro, na Ilha do Marajó, através da Associação das Mulheres do Pesqueiro que hospedam grupos de até dez pessoas por residência. A hospedagem domiciliar tem sido incentivada pelo poder público no Brasil. Pimentel (2007) apresenta casos de hospedagem domiciliar em rede e dentre eles o Projeto Cama e Café, de iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo, desenvolvido em municípios que não possuem sistema de hospedagem formal. O incentivo do governo surge para solucionar questões referentes à insuficiente quantidade de leitos disponíveis, especialmente no momento em que um município é escolhido para sediar um grande evento, como por exemplo, o Pan 2007, que despertou o interesse da Prefeitura do Rio de Janeiro para esta modalidade de hospedagem. Em Belém, no Pará, a hospedagem domiciliar foi impulsionada pelo Governo do Estado a partir de 2008 em virtude da realização do Fórum Social Mundial em 2009, tratada com mais detalhes no capítulo que segue. 4 A REDE DE HOSPEDAGEM FAMILIAR E O TURISMO DE BASE LOCAL EM BELÉM-PA Ao preparar-se para receber, em 2009, o Fórum Social Mundial - FSM, o Governo do Estado constatou que em Belém, cidade sede do evento, o parque hoteleiro convencional dispunha de 6.000 leitos, o que não seria suficiente para atender a uma expectativa de mais de 100.000 participantes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1426 A solução encontrada para suprir a carência de leitos foi a criação de uma rede de hospedagem domiciliar, através da parceria com o Ministério do Turismo, elaborando-se, assim, o Projeto de Implantação da Rede de Hospedagem Familiar (PARÁ, 2009), pioneiro no Estado, que teve duração de 08 meses e consistia na identificação, cadastro e seleção de residências, qualificação dos proprietários, certificação, inclusão no banco de dados do FMS e criação de uma central de reservas. A rede abrangeu toda a região metropolitana de Belém, composta pela sede, suas ilhas e distritos e por mais 04 municípios. Das 1.485 residências cadastradas, 955 foram selecionadas, resultando na disponibilidade de 7.503 leitos, divididos entre camas de casal e de solteiro, colchonetes e redes, de acordo com a tabela 1. TABELA 1: TIPOLOGIA DE LEITOS/QUANTIDADE TIPOLOGIA DE LEITOS Nº de LEITOS Cama de Casal 2.280 Cama de Solteiro 1.602 Colchonete 1.443 Rede 2.178 TOTAL 7.503 Fonte: PARATUR, 2009. A central de reservas possibilitou um sistema on line no próprio site do evento, que totalizou 180 atendimentos, com reservas para 1.153 hóspedes. As informações obtidas durante os registros dos atendimentos serviram para se obter um perfil dos que se utilizaram da rede, visando contribuir para futuras ações, embora no relatório final do projeto, disponibilizado aos autores pela Companhia Paraense de Turismo – PARATUR, este perfil refira-se apenas à nacionalidade dos hóspedes, conforme a tabela 2, ou à naturalidade, no caso de brasileiros. TABELA 2: QUANTIDADE DE HOSPEDE POR NACIONALIDADE XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1427 HÓSPEDE POR NACIONALIDADE Brasil 272 Itália Argentina Chile Suécia Alemanha Espanha USA Canadá Austrália França Peru Suíça Noruega Índia Paraguai México G.Francesa Colômbia Nepal 20 09 16 09 05 05 23 11 01 14 01 01 03 16 01 02 18 02 01 Fonte: PARATUR, 2009. 1428 Baseando-se no mencionado relatório e na fundamentação teórica discutida nos capítulos anteriores, em especial, nas premissas para o turismo de base comunitária levantadas por Irving, foi possível estabelecer uma relação entre a Rede de Hospedagem Familiar em Belém e o turismo de base local. Como primeira premissa, Irving (2009) aponta a “base endógena da iniciativa e desenvolvimento local”. Embora o projeto tenha sido idealizado pelo Governo do Estado, a participação das comunidades da Região Metropolitana de Belém foi fundamental para o seu sucesso. O poder público, portanto, atuou como um indutor da ação ao utilizar recursos que deram à população local uma nova oportunidade de aumento da renda e de desenvolvimento local, visto que este tipo de iniciativa contribui para o aumento da sua auto-estima e estimula a conservação urbana. Ressalta-se também a importância do Estado como indutor quando se visualiza no gráfico 1 que a maior parte dos entrevistados na avaliação realizada ao final do projeto, não conhecia este modo de hospedagem. Para a equipe coordenadora, este fato foi considerado inicialmente um entrave na sua implementação. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 GRÁFICO 1: CONHECIMENTO SOBRE A HOSPEDAGEM FAMILIAR Fonte: PARATUR, 2009. De acordo com o relatório, a participação dos proprietários das residências nas oficinas de qualificação foi bastante ativa, mas o processo necessário para a implantação da rede foi considerado longo, visto que a mobilização das comunidades e sua preparação exigiram investimentos e mudanças de metodologia para adaptarem-se à realidade local. Tais constatações vinculam-se à premissa da “participação e protagonismo social no planejamento, implementação e avaliação de projetos turísticos”. Ao analisar-se o que Irving (2009) denomina “escala limitada e impactos sociais e ambientais controlados”, percebe-se uma relação com as considerações que Pimentel (2007) faz à hospedagem domiciliar. Assim, iniciativas como a Rede de Hospedagem Familiar inibem a alta concentração de turistas num mesmo local, ao atenderem pequenos grupos; não alteram a diversidade de atividades econômicas da localidade por não estimularem os proprietários a dedicarem-se exclusivamente à atividade turística, e não excedem a capacidade de carga local, visto que não necessita de novas construções. Ainda reportando-se a Camargo (2007), verifica-se que na hospedagem domiciliar a renda é distribuída entre a comunidade, além de tornar -se uma alternativa para a redução do desemprego. Estas características estão em sintonia com a premissa da “geração de benefícios diretos à população local”. No relatório do XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1429 projeto da Rede de Hospedagem Familiar, ressaltou-se que o desenvolvimento do projeto “possibilitou que se colocasse em prática um dos maiores objetivos da atividade turística, que é a distribuição de renda sem distinção de classe social” (PARÁ, 2009, p.09). O referido documento explica que a metodologia utilizada para a atribuição de preços aos serviços de hospedagem e alimentação se baseou nas despesas comuns de manutenção de uma residência somadas ao que se considerou uma renda solidária. Considerando que os valores abaixo se referem a janeiro de 2009, a tabela 3 indica que os preços das diárias e a renda (por hóspede e por dia de hospedagem) variavam conforme a classificação dos imóveis, sendo cobrados R$ 25,00 para o “simples” e R$ 35,00 para o “superior”, de acordo com o nível de conforto. TABELA 3: COMPOSIÇÃO DE CUSTOS E RENDA DIÁRIA (R$) 25,00 ITENS DE DESPESAS Água, Energia, Telefone, Gás 9,78 (30%) Material de limpeza 2,00 Auxiliar 2,00 Café-da-manhã (média) 6,00 TOTAL 19,78 RENDA PROPRIET ÁRIO 5,22 DIÁRIA (R$) 35,00 TAXA (R$) ITENS DE DESPESAS 1430 TAXA (R$) Água, Energia, Telefone, Gás 13,00 (40%) Material de limpeza 4,00 Auxiliar 4,00 Café da manhã (média) 6,00 TOTAL 27,00 RENDA PROPRIET ÁRIO 8,00 Fonte: PARATUR, 2009. A remuneração aos proprietários foi mediada pelo Governo Estadual, pois o participante, através do site do evento, encaminhava o comprovante do pagamento e recebia um voucher, que garantia ao proprietário o direito de receber, do Estado, o valor acordado pelas diárias. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Quanto às duas últimas premissas, a “afirmação cultural e interculturalidade” e “o „encontro‟ como condição essencial”, deve-se destacar a importância da valorização da cultura local e o intercâmbio entre os participantes do evento e os anfitriões. Como este estudo trata de reflexões introdutórias, o seu aprofundamento necessita ainda, entre outros, de uma pesquisa junto aos proprietários para se ter mais clareza de como se deram as trocas de experiências entre visitantes e visitados. Após a realização do Fórum Social Mundial, os proprietários avaliaram o projeto junto à equipe coordenadora. O relatório informa que nessa avaliação feita junto a uma amostra dos proprietários, apenas 10% apontou exclusivamente a renda extra como motivo para sua participação. Os demais indicaram também a possibilidade de conhecer pessoas e culturas diferentes. Aliás, para 40% deles, esta era a única motivação (PARÁ, 2009). Uma curiosidade observada neste projeto foi a presença da rede (de descanso) na contabilização dos leitos, algo incomum quando se estuda convencionalmente a oferta de meios de hospedagem. Acredita-se que esta foi uma forma de valorizar este utensílio de origem indígena e muito utilizado no Brasil, principalmente nas regiões norte e nordeste. Portanto, nota-se que o projeto da Rede de Hospedagem Familiar apresenta diversos traços que possibilitam uma relação com parte da produção teórica que busca conceituar o turismo de base local. Sabe-se, porém, que esta foi uma ação pontual e não se tem conhecimento de sua continuidade, um ano após a realização do evento que a motivou. Apesar da avaliação do projeto ter sido realizado com uma amostra em torno de apenas 5% de proprietários que tiveram suas residências ocupadas, o relatório aponta o desejo de continuar recebendo hóspedes, que foi demonstrad o por 100% dos entrevistados. Os proprietários foram questionados também sobre a satisfação em terem recebido visitantes e 70% informaram que suas expectativas foram atendidas. A insatisfação dos demais 30% deveu-se principalmente à não ocupação total dos leitos ofertados e ao valor “baixo” das diárias. Esta visão deve ser disc utida entre as comunidades, no caso de continuação do projeto, visto que o turismo de base local não deve ter como único objetivo os benefícios econômicos. Nele o ganho XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1431 é coletivo e, por esta razão, os valores das diárias devem ser calculados de modo a favorecer também os visitantes. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Rede de Hospedagem Familiar de Belém foi instalada por iniciativa do Governo do Pará, detectada a insuficiência da capacidade dos meios de hospedagem tradicionais da cidade para receber os participantes do Fórum Social Mundial – 2009. Assim, o Estado foi o indutor desse tipo de hospedagem – que está inserido na lógica do turismo de base local – em detrimento de outras alternativas existentes no mercado turístico tradicional. Então não se pode dizer que houve uma iniciativa endógena de grupos locais, mesmo porque se deve considerar que o turismo de base local e as hospedagens domiciliares ainda são novos e pouco conhecidos na sociedade em geral, o que faz da experiência em Belém ser, além de pioneira, um modo de divulgação e apresentação desse modelo de desenvolvimento do turismo à sociedade local. Além disso, o projeto teve ampla aceitação de proprietários de residências na Região Metropolitana de Belém, o que proporcionou uma grande participação dessas pessoas nas atividades do projeto. Vale ressaltar que, de acordo com a avaliação feita pela coordenação das ações de implantação da rede, várias pessoas foram motivadas a participar do projeto pelas possibilidades de intercâmbio cultural com os hóspedes e benefícios financeiros ao receber turistas em suas casas. Portanto, é possível perceber a relação da Rede de Hospedagem Familiar com concepções e premissas do turismo e base local. Para que se caracterize de fato como ação de base local é necessário que parta das comunidades o interesse na continuação do projeto. Elas deverão participar de todas as etapas do planejamento, execução e avaliação das iniciativas ligadas à hospitalidade domiciliar. O poder público, a sociedade civil organizada ou mesmo as instituições de ensino podem agir como indutoras ou auxiliares no processo, mas com o objetivo de preparar a população local para o autogerenciamento da ação. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1432 A hospitalidade é apenas uma parte da atividade turística. Portanto, a partir desse projeto, as comunidades poderão também ampliar as ações voltadas ao turismo de base local. REFERÊNCIAS ARAÚJO, G. P.; GELBCKE, D. L.. Turismo Comunitário. Uma perspectiva ética e educativa de desenvolvimento. Revista Turismo Visão e Ação. v.10, nº 03, 2008 p. 357 – 378. BARTHOLO, R. Sobre o sentido da proximidade: implicações para um turismo situado de base comunitária. In: BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. (Orgs.). Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009. CAMARGO, L. O. L.. Os domínios da hospitalidade. In: DENCKER, Ada F. M ; BUENO, Maryelis S. (Org.). Hospitalidade: cenários e oportunidades. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003, v. 1, p. 7-14. CHIZZOTTI, A.. 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Na busca por melhor entendimento e capacidade de gestão sobre a atividade, ambos stakeholders passaram a demandar instrumentos capazes de gerar suporte aos processos de decisão que envolvem a gestão do turismo. Frente à demanda observada, o presente estudo tem como objetivo a apresentação de dois indicadores municipais como proposta de ferramenta para a observação de tendências no mercado turístico nacional. Sua metodologia é baseada na análise das variações que ocorreram no mercado de trabalho formal, dentro do setor de alojamento (atividade vista como estratégica na configuração do mercado turístico total), a partir de dados da RAIS. Para explicar o uso de tais instrumentos, foi realizada a aplicação destes nos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro, entre 2003-2006. Como resultados do trabalho, verificamos as oscilações ocorridas nos empregos formais do setor de alojamento nos municípios, além da dependência aproximada que estas localidades têm em relação à economia do turismo. Ao final deste estudo, chegou-se à conclusão que os indicadores propostos são instrumentos que podem auxiliar gestores, investidores e estudiosos do setor de turismo na observação de tendências sobre a expansão ou retração deste mercado. Palavras Chave: turismo; indicadores; municipal; tendências. ABSTRACT With the growth of tourism sector, Government and private initiatives have increased their interest in this field. In the search for better understanding and capacity management on the activity, both stakeholders began to demand tools that generate support for decision-making involving the management of tourism. Facing the demand observed, the present study aims at the presentation of two municipal indicators as proposed tool for the observation of tren ds in the domestic tourist market. His methodology is based on the analysis of the changes that have occurred in the formal labour market, in the sector of accommodation (activity seen as strategic in the configuration of the total tourism market), from the data RAIS. To explain the use of such instruments, the application of these was held in 92 municipalities in the state of Rio de Janeiro, between 2003-2006. As results of the XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1434 work, see the oscillations occurred in the formal employment sector of housing in municipalities, and the approximate dependence which some locations have in relation to the economy of tourism. At the end of this study, it was concluded that the proposed indicators are tools that can help managers, investors and scholars in the sector of tourism, in the observation of trends on the expansion or retraction of this market. Key words: tourism; indicators; municipal; trends. 1 INTRODUÇÃO A partir dos anos 90, com a expansão do mercado turístico e a exibição anual de suas volumosas taxas de crescimento, o setor mencionado tem obtido cada vez mais a atenção do Estado, investidores e gestores da iniciativa privada (VALLS, 2006). Mesmo que não tenha condições de assumir por completo as responsabilidades da máquina estatal na gestão pública do turismo (FRATUCCI, 2005), é bastante clara a posição deste ator em não querer abrir mão de seu status de articulador no trabalho de organização da atividade turística nacional. De acordo com o Ministério do Turismo [Mtur] (2007), o Plano Nacional de Turismo 2007-2010 é um instrumento de ações estratégicas, voltado para o planejamento e gestão deste campo, que busca estabelecer a continuidade das ações já desenvolvidas por este mesmo órgão, e pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo). A partir de uma ótica mais generalista sobre a atuação do Estado, podemos dizer que, uma vez abandonada a figura de provedor, esta organização assumiu para si as funções de regulação, indução e articulação (BENI, 2003). Com o avanço das tecnologias de gestão, o uso e a administração da informação tornaram-se esforços cada vez mais necessários para avaliar os resultados das ações estatais, conhecer seus cenários de atuação, e também para adequar o trabalho desta instituição às demandas da sociedade e iniciativa privada. Frente a este novo comportamento no campo do turismo, podemos dizer que o presente estudo tem o objetivo de apresentar dois indicadores municipais como proposta de ferramenta para a observação de tendências no mercado turístico em seus mais diferentes níveis de gestão (municipal, estadual e federal). A justificativa para realização deste trabalho é a necessidade de instrumentos informacionais que XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1435 dêem um maior suporte às ações descentralizadas quem têm sido implantadas no Brasil desde meados da década passada. 2 REFLEXÕES SOBRE TURISMO E SEUS ESFORÇOS DE GESTÃO Para compreendermos um pouco melhor o universo a ser estudado aqui, é interessante apresentar uma das muitas definições de turismo exibidas por Beni, que apresenta a atividade como “a provisão de transporte, alojamento, recreação, alimentação e serviços relacionados para viagens domésticas e do exterior. Compreende a viagem para todos os propósitos, desde recreação até negócios” (Ansett Air Lines, 1997 apud BENI, 2001, p. 34). Sobre a demarcação teórica exibida acima, podemos afirmar que o texto em questão desenvolve um olhar mais atencioso sobre o campo da oferta turística, que De Rose (2002) diz ser a união dos recursos naturais, culturais, equipamentos, bens e serviços disponibilizados por uma localidade a aqueles que a visitam. Ao falar sobre a definição de turismo, Cooper et al. (2001), as Nações Unidas - ONU e a Organização Mundial do Turismo - OMT (UNITED NATIONS; WORLD TOURISM ORGANIZATION, 2007) destacam este setor sob duas óticas: a da oferta e a da demanda. Por questões de objetividade deste trabalho, vamos direcionar o foco deste apenas sob o primeiro caso, onde pesquisaremos especificamente a área de alojamento. De acordo com o manual sobre a conta satélite de turismo, observase que o campo abordado (o setor de alojamento, neste caso) é uma das seis atividades consideradas características do setor de turismo. Além da área de alojamento, esta listagem destaca também os campos de: provisão de alimentos e bebidas, transporte e serviços associados (locação de automóveis), organização de viagens, guias turísticos, e serviços recreativos e culturais entre outros (MINISTÉRIO DO ESPORTE E TURISMO; INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO, 1999). Ainda que a estrutura do setor de turismo seja baseada tanto na sua oferta quanto na demanda, vemos que a maioria dos indicadores relacionados a este setor estão concentrados no segundo item. Com a proposta de exibir um olhar diferenciado acerca do setor de turismo, vamos trabalhar aqui com indicadores que são construídos essencialmente a partir de dados da oferta, que será representada mais especificamente pelo número de empregados formais listados durante o ano. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1436 Outros detalhes sobre este tópico poderão ser observados na metodologia deste estudo. Uma das justificativas pela escolha do setor de alojamento para a construção dos indicadores aqui utilizados, se deve ao fato deste ser um dos campos que mais gera empregos formais dentre as diferentes atividades características do turismo. Outra razão para tal escolha é a dependência deste segmento em relação ao setor, uma vez que este dificilmente sobreviveria sem a existência da atividade turística (COOPER et al., 2001). Ainda que não seja ideal tentar avaliar o mercado turístico por meio de apenas um segmento, vale notar que o movimento do setor hoteleiro pode ser um bom indicador de tendências sobre o que de fato tem ocorrido na área maior aqui citada. Acerca deste assunto, confirmando o potencial atrativo que os equipamentos turísticos podem agregar a um certo destino, é interessante notar as palavras de Beni quando o autor fala sobre a oferta básica de uma localidade: [...] sem levar em consideração os atrativos naturais das regiões que motivam, numa primeira etapa, a criação de fluxos turísticos, pode-se definir a oferta básica como o conjunto de equipamentos, bens e serviços de alojamento, de alimentação, de recreação e lazer, de caráter artísticos, cultural, social ou outros tipos, capaz de atrair e assentar numa determinada região, durante um determinado período de tempo, um público visitante (BENI, 2001, p. 159). Ainda segundo Beni (2001, p. 160), os elementos em questão podem tanto ser observados como subprodutos de um “produto turístico total” (isto sob uma ótica macroeconômica do setor), ou como produtos turísticos em si (aqui sob um olhar microeconômico). Apesar dos atrativos naturais, cultura, eventos e outros fatos serem muito mais atrativos do que a infraestrutura turística de um local, é pertinente entender que existem muito poucos turistas que se aventuram p or uma destinação turística sem a presença deste suporte oferecido pelos serviços básicos (alojamento, alimentação, transporte, agenciamento, etc.), ou seja, por mais atrativos que uma localidade tenha, é pouco provável que este espaço se firme ou se mantenha como um destino turístico sem a presença de infra-estrutura turística adequada (esteja ela no mesmo município ou em regiões próximas). É nítido que a presença de tais elementos é significativa na atratividade de um local. Em suma, a conectividade entre os processos mercadológicas da área de turismo, e o peso atribuído ao setor de alojamento dentro deste complexo mercado, nos permite inferir positivamente XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1437 acerca da representatividade que um estudo com indicadores baseados na área de hospedagem pode ter sobre o campo de turismo como um todo. Ao pensarmos mais detalhadamente sobre o uso de indicadores nos esforços de gestão pública do turismo, é válido citar que “[...] a maioria dos órgãos públicos responsáveis pelo desenvolvimento do setor ainda não utiliza pesquisas e estudos técnicos para balizar suas ações, para entender melhor essa complexa atividade e minimizar os possíveis desvios.” (BARBOSA, ZAMOT, 2004, p. 89-90). Ainda que seja deficitário o uso de tais ferramentas, a demanda por este tipo de instrumento é cada mais exposta em publicações acadêmicas e documentos oficiais. Bartholo, Delamaro e Badin (2005, p. 7) falam que “é raro encontrar dados estatísticos desagregados sobre a atividade; em sua maior parte, limitam-se a indicadores econômicos, que não bastam para dar conta do fenômeno turístico. Há poucas pesquisas e análises mais profundas sobre o tema e seus impactos”. Diante da idéia expressa pelos três autores, podemos dizer que o trabalho desenvolvido aqui avança nas limitações das pesquisas existentes por não se ater apenas a questões econômicas, por trabalhar com dados em bom nível de desagregação espacial (no caso, municípios), e por analisar um período histórico de grande representatividade para o Plano Nacional de Turismo - PNT 2003-2007 e para o Programa de Regionalização do Turismo - PRT (que essencialmente é uma continuidade do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT). Sobre o processo de descentralização observado na gestão pública do turismo, é pertinente notar que este movimento tem sido uma tendência desde o final do governo de Itamar Franco, quando foi lançado o PNMT (CRUZ, 2000; DIAS, 2003; GIOLITO, 2006). Ainda que as idéias governamentais sobre o processo de empoderamento dos territórios com menor amplitude apresentem uma tendência otimista, onde se permite maior autonomia política e no exercício de tomada de decisões, Fratucci (2005) destaca que este é um comportamento encontrado em muitos países onde o Estado não consegue cumprir com suas obrigações, transferindo-as desta maneira para outros níveis de governo. Ao contrário desta ótica, Oliveira (2006) ressalta que este é um processo importante para o exercício de planejamento e estruturação de políticas públicas. Para melhor compreender o atual cenário da gestão no campo do turismo, é relevante notar que a busca por indicadores capazes de ajudar na tomada de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1438 decisões é uma demanda mundial, onde poucas nações estão alguns passos à frente das demais. De um modo geral, pode-se dizer que esta é uma pauta bastante atual nas discussões e estudos que desenvolvem o assunto turismo e sua gestão, seja ela pública ou privada. Delisle (2001) afirma que nunca foi tão necessário ao setor de turismo ter acesso a dados freqüentemente atualizados e ferramentas para a análise de tendências, capazes de dar suporte às atividades de planejamento, gestão e promoção deste campo. Na próxima seção, apresentaremos uma breve reflexão sobre tópicos que relacionem a gestão da informação e o uso destes esforços no campo do turismo. 3 ASPECTOS SOBRE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E TURISMO De acordo com os Planos Nacionais de Turismo 2003-2007 e 2007-2010, o Programa de Regionalização do Turismo e o Sistema de Informações Turísticas, vemos que o uso de informações na gestão do turismo nacional (e seus menores níveis territoriais – estadual, regional e municipal) é um dos pontos mais importantes nos esforços de gestão pública deste setor (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003; 2004; 2006 2007). Apesar da necessidade acerca do uso de informações, sabe-se que o setor de turismo é bastante carente no que diz respeito ao acesso a estes insumos. Bissoli (2002) destaca que a obtenção de dados acaba sendo um dos maiores problemas dos gestores, uma vez que tende a prevalecer a escassez ou precariedade de recursos financeiros e técnicos, principalmente na área pública e pequenas organizações. Sobre a produção de informações acerca do mercado turístico em nosso país, é interessante notar que tem sido observado um avanço (se comparado apenas ao cenário anterior) importante na qualidade e na quantidade destes insumos, contudo, vemos a persistência de uma grande fragilidade no que diz respeito à produção e uso de dados em níveis territoriais mais desagregados, assim como a busca por indicadores que ampliem os horizontes até então utilizados pelos gestores públicos do setor aqui trabalhado. Segundo Wöber (2003), a construção de indicadores pode ser de grande utilidade para a estruturação de sistemas de informação que dêem apoio às decisões na gestão do turismo. Sobre o uso de sistemas de informação por gestores XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1439 de turismo, é interessante notar que, segundo Wöber e Gretzel (2000), a ausência de familiaridade com este tipo de tecnologia de gestão normalmente causa afastamento e visões negativas acerca de tal ferramenta. Com base na questão acima, é importante pensar no tipo de gestão pública que normalmente tem sido praticada no turismo brasileiro (especialmente em territórios de menor amplitude). Os responsáveis governamentais pelo setor de turismo são em muitas ocasiões selecionados a partir de favores que precisam ser traçados entre diferentes partidos políticos, o que em diversos momentos aproxima deste setor pessoas com pouco ou nenhum conhecimento e comprometimento para com o turismo. Além destes pontos, vale dizer que a carência de verbas para esta área, o lento processo de informatização da gestão pública em nosso país (e suas divisões territoriais) e a burocracia estatal acabam por contribuir com o não desenvolvimento e uso de ferramentas informacionais que possam auxiliar nos esforços de gestão de um destino turístico específico. Sobre a construção de um instrumento que possibilite suporte às decisões dos gestores de turismo, vale observar o processo descrito por Ritchie e Ritchie (2000). Além da proximidade entre governo e mercado citada pelos autores, seria interessante considerar uma participação mais efetiva da academia neste tipo de trabalho tão complexo. Um dos pontos interessantes no processo de construção do sistema abordado pelos autores é o aproveitamento de pesquisas já existentes e o pleno conhecimento de seus concorrentes. Com o aumento da competitividade entre as destinações turísticas, tem sido cada vez mais importante manter a atenção sobre os movimentos produzidos pelas localidades concorrentes, e também sobre as próprias alterações comportamentais no cenário mercadológico (KOPTLER,1994; DWYER, FORSYTH, 2000; HASSAN, 2000; DWYER, KIM, 2003). Ao falarmos da formatação de destinações turísticas, vale notar que de forma direta ou não, tem ocorrido um constante processo de aglomeração, o que pode ser observado em diferentes destinos turísticos (como municípios por exemplo), e que pode acabar estruturando um produto novo, mais completo e complexo na sua totalidade. A construção deste tipo de relacionamento vai de encontro com a idéia de redes apresentada por Kotler (2000), ou mesmo com a tão popular noção de arranjos produtivos locais (APL‟s), encontrada em Barreto, Oliveira e Sicsú (2007). Frente a este processo de aglutinação entre os espaços turísticos, surge também XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1440 uma demanda por indicadores que trabalhem a análise destes conjuntos de espaços. Para encerrar a seção aqui desenvolvida pode-se dizer que, por maior que seja a complexidade que estrutura a organização do mercado turístico, existe um certo grau de conectividade entre as ações que ocorrem neste meio. Dentro desta teia mercadológica, poderíamos destacar alguns de seus pontos (no caso setores como alimentação, agenciamento, alojamento, etc.) como eixos de grande importância para os desdobramentos que podem ser observados com a expansão ou retrocesso de um mercado. 4 METODOLOGIA Na estruturação do presente trabalho, além da revisão bibliográfica, desenvolvemos a análise de alguns dados sobre o setor de alojamento para os 92 municípios do estado do Rio de Janeiro. Em função da escassez de espaço e tempo para a construção deste trabalho, e também pela representatividade que o setor de alojamento possui entre as atividades que não sobreviveriam sem o turismo (COOPER et al, 2001), optamos por não apresentar, neste artigo, os resultados da área de turismo que se envolvam com os setores de alimentação, agenciamento e organização de viagens, além das atividades de transporte relacionadas ao nosso foco de estudo. No que diz respeito à temporalidade da pesquisa, os insumos uti lizados representam o período entre 2003 e 2006, o que compreende um tempo muito significativo para o avanço das propostas exibidas no PNT 2003-2007 e no PRT. Além de escolhermos a época citada para avaliar alguns possíveis resultados destes dois documentos, é interessante lembrar que durante estes quatro anos também ocorreu um mandato político para presidente (cumprido pelo atual presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva) e governador (cumprido pela ex-governadora do Rio de Janeiro, Rosângela Rosinha Garotinho B. A. M. de Oliveira). Sobre a origem dos dados utilizados, podemos dizer que os mesmos foram retirados da base de dados on-line do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, a partir do Programa de Disseminação de Estatísticas deste mesmo órgão. Os dados utilizados são da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS. Dentro deste XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1441 universo numérico, optamos por trabalhar apenas com as seguintes classes de atividades econômicas. Quadro 1 - Lista de classes nas CNAE's 1.0 e 2.0 referentes ao setor de alojamento Tipo Sigla usada Classe Cnae Descrição Cnae Cnae nas tabelas 55108 Hotéis e similares 2.0 55906 Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente Aloj 55131 Estabelecimentos hoteleiros 1.0 55190 Outros tipos de alojamento Fonte: Elaborado pelo autor a partir do site da Comissão Nacional de Classificações - Concla ( www.ibge.gov.br/concla ). De acordo com a listagem de classes presentes na Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 1.0 (encerrada no ano de 2005) e na 2.0 (iniciada no ano de 2006), vemos que duas classes são suficientes para compreender todo o setor de alojamento. Detalhes sobre os tipos de empreendimentos encontrados em cada uma das classes podem ser verificados no site da Concla. Para dar maior objetividade a este trabalho, optamos por utilizar apenas os dados referentes ao número de trabalhadores formais listados pela RAIS, para cada um dos anos aqui pesquisados (excluindo de nossa análise o número de empreendimentos no setor de 1442 hospedagem). Mesmo que ambas informações sejam complementares e auxiliem de maneira significativa a uma melhor compreensão do mercado, a razão por tal escolha se deve à maior sensibilidade obtida através do estudo sobre a variação no número de empregados. Outro detalhe importante é dizer qual a razão para falarmos apenas de empregos formais. O motivo para tal “escolha” se deve à existência de dados provenientes de fontes confiáveis, com bom nível de desagregação espacial e de atividade econômica, além de serem periodicamente atualizados, o que não ocorre nos raríssimos números publicados sobre o emprego informal em nosso país, ou mesmo em qualquer outra nação. Sobre a escolha do setor de alojamento para inferir acerca do turismo, é pertinente afirmar que esta proposta se deu em razão do peso que este segmento possui frente às outras atividades características do turismo. Maiores detalhes sobre os cálculos que explicam tal constatação podem ser encontrados na dissertação de mestrado que serviu de base para a elaboração deste artigo. Para uma análise clara e resumida do setor de alojamento, optamos por expor suas informações através de estatísticas resumo, capazes de nos dar uma boa XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 amostra sobre o comportamento dos dados analisados. As estatísticas utilizadas foram: valor mínimo, 1º Quartil, mediana, 3º quartil, valor máximo, média, desvio padrão e coeficiente de Bowley. Estas medidas resumo foram utilizadas para apresentar, anualmente, o número de empregados formais do setor de alojamento e também dos outros segmentos econômicos. Para falarmos um pouco sobre os dois conjunto numéricos mais importantes deste estudo, no caso os dois indicadores aqui apresentados, vale dizer que o resumo estatístico descrito acima foi replicado somente para um destes objetos; o percentual de crescimento dos empregos formais no setor de alojamento. Já o segundo indicador, que se refere ao percentual de empregados formais do setor de alojamento dentro da economia dos municípios, teve sua apresentação realizada de maneira espacial. Acerca de sua criação, podemos dizer que processo foi realizado da seguinte maneira: Indicador 1 (porcentagem anual de crescimento no número empregos formais do setor de alojamento): Obtido através da diferença percentual entre o somatório do número de trabalhadores para as classes 55108 e 55906 da CNAE 2.0 (caso os dados sejam da CNAE 1.0, somar as classes 55131 e 55190) segundo a RAIS em um ano X, e o mesmo somatório acima, só que para um ano X-1. Indicador 2 (porcentagem de trabalhadores formais em município e que estão alocados no setor de alojamento): obtido por meio do percentual que os empregados formais da área de hospedagem (55108 + 55906, se CNAE 2.0, ou 55131 + 55190, se CNAE 1.0) representam de todo o conjunto de trabalhadores formais do município em um ano específico. Como últimas colocações sobre o aspecto metodológico, é importante destacar que os indicadores aqui apresentados não pretendem ser instrumentos capazes de retratar fielmente a realidade do mercado turístico, ou mesmo do setor de alojamento. O objetivo destes instrumentos é ser uma ferramenta de apoio à decisão, habilitada especialmente para ajudar na observação de tendências, acessível (barata e de fácil manipulação) à sociedade civil, acadêmicos, investidores e gestores do setor de turismo. A respeito de sua simplicidade metodológica, vale dizer que este é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada na busca por indicadores de turismo cada vez mais precisos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1443 Por fim, ainda que o presente estudo faça alguma relação dos resultados observados com o período político e seus representantes nesta época, é possível dizer que não se trata de uma crítica ou elogio ao trabalho dos gestores públicos. O caráter atribuído a este estudo com indicadores é, por enquanto, simplesmente acadêmico. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS Após as etapas de coleta e tratamento dos dados, a análise do setor de alojamento nos municípios do estado do Rio de Janeiro, entre 2003 e 2006, pode ser iniciada a partir da tabela 1, onde são apresentadas algumas estatísticas resumo que nos mostram um pouco sobre a realidade observada. Tabela 1 - Estatísticas descritivas sobre o número de empregados do setor de alojamento, para os municípios do estado do Rio de Janeiro, 2003-2006 Ano Estatística 2003 2004 2005 2006 Mínimo 0 0 0 0 1º Q 4 4 4 5 Mediana 28,5 26,5 29 30 3º 188 200 170 212 Máximo 14827 15156 15831 16587 Média 303 317 327 349 DP 1542 1578 1649 1729 Coefiente de Bowley 0,73 0,77 0,70 0,76 Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da RAIS / MTE De acordo com a tabela citada, pode-se ver a progressão anual do número de empregados no setor de alojamento. Ainda que a média seja uma estatística sensível à influência de números extremos na base de dados (o que ocorre no conjunto de dados sobre os municípios do estado do Rio de Janeiro), é interessante observar um representativo crescimento no número médio de trabalhadores. Enquanto que, no ano de 2003, os municípios deste estado tiveram, em média, 303 trabalhadores formais na área de alojamento, em 2006 este valor subiu para 349. Isto representa um aumento de aproximadamente 15,18% da mão-de-obra formal utilizada pelo setor. Diante de número tão representativo, é possível supor que tal variação não seja resultado de flutuações naturais ocorridas na economia do estado e consecutivamente em seu mercado de trabalho. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1444 Apesar do crescimento observado para o valor médio do número de trabalhadores formais empregados no setor de alojamento, pode-se ver que o mesmo tipo de comportamento não ocorre nos valores encontrados para as outras estatísticas resumo. Com base nas medianas dos dados, vemos que a tendência central dos números não se modificou de forma tão destacada quanto a média. Mesmo padrão é detectado ao observarmos o 1º quartil. Segundo esta medida, em 2003 aproximadamente 25% dos municípios do Rio de Janeiro tinha 4 ou menos trabalhadores formais empregados no setor de alojamento, enquanto que no ano de 2006 este valor subiu apenas para 5 empregados. Com a análise do 3º quartil, uma hipótese sobre o mercado no setor de alojamento no estado do Rio de Janeiro começa a se configurar de maneira mais clara. Ao contrário da pequena variação detectada na estatística anterior, vemos no 3º quartil algo muito similar a aquilo que foi encontrado para os valores médios. A idéia que surge a partir dos números até então analisados é que, o crescimento do mercado hoteleiro, e possivelmente do mercado turístico nos municípios do estado do Rio de Janeiro, ocorreu de maneira mais volumosa em cidades onde o setor já possuía um mercado razoavelmente estruturado. Isto significa que o setor de alojamento quase não se modificou nas cidades que tem pouca ou nenhuma tradição nesta área. Em linhas gerais, para os quatro anos estudados aqui, a hipótese é de crescimento do setor nos mercados já existentes e com certo grau de maturidade (isto sob uma ótica resumida de todos os municípios do estado), e estagnação em mercados ainda não desenvolvidos ou inexistentes. É interessante observar que os valores máximos encontrados corroboram a idéia desenvolvida acima. Ainda analisando a tabela número um, de acordo com os valores encontrados para o desvio padrão, pode-se notar que é cada vez mais disperso o número de trabalhos formais no setor de alojamento. Vemos que tem aumentado a distância entre os municípios que muito empregam no setor, e aqueles que pouco ou nada demandam neste campo. É possível dizer que trata-se de um mercado cada vez mais heterogêneo, se compararmos os empregos do setor entre as diferentes cidades analisadas. Se mudarmos o foco de nossa análise para o coeficiente de Bowley, é possível detectar que existe um grande número de municípios com nenhum ou poucos empregados formais no setor de alojamento. Diante de tal XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1445 informação, cabe presumir que são poucas as localidades do estado que possuem significativa oferta de infra-estrutura turística. Terminada a etapa de análise mais geral sobre as estatísticas resumo para o setor de alojamento nos municípios do estado do Rio de Janeiro, vamos observar uma breve espacialização de alguns dados sobre deste segmento. Na figura número um pode-se observar como se distribuiu ao longo do estado, em uma média para os quatro anos de estudo, o percentual de trabalhadores formais empregados no setor de alojamento. 1446 De acordo com a legenda da figura, vemos que as porcentagens podem variar de 0 à 21,25%, com valores distribuídos entre as cinco categorias. A partir da coloração do mapa, observa-se que a classe predominante é aquela entre 0,01 e 1% do total da mão-de-obra formal trabalhando na área de alojamento. Para a classe de valor nulo, vemos que existe um número pequeno de municípios, ou seja, são raros os casos onde a economia da cidade não tem pelo menos 0,01% da classe trabalhadora formal empregada no mercado de hospedagem. Continuando na análise das classes, pode-se ver que também são poucos municípios que empregam entre 1,01 e 2% de sua mão-de-obra formal no setor de alojamento. Mesmo XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 comportamento é visto para as categorias com maior nível de emprego, quer dizer, entre 2,01 e 7% e entre 7,01 e 21,25%. Sobre estas últimas classes, é possível afirmar que nelas se encontram os maiores dependentes do setor de turismo no estado, o que não se trata exatamente de uma boa constatação. Especialmente sobre esta última categoria, pode-se dizer que falamos de localidades com a economia pouco diversificada, o que aumenta sua fragilidade diante das inúmeras incertezas que por vezes assolam o mercado turístico (modismos, acidentes com meios de transporte, acidentes ambientais, epidemias, greves, variações cambiais, oscilação no poder de compra das famílias, precariedade nos serviços de infraestrutura turística, etc.). Com base no mapa apresentado na figura 1, é interessante observar como estão dispostos espacialmente os municípios com maior proporção de empregados formais no setor de alojamento. É bastante nítida a formação de um conglomerado de cidades próximas ao município de Armação de Búzios, que també m empregam um percentual bem grande de sua mão de obra formal na área de hospedagem. Além deste conjunto também vale destacar os clusters de Parati (junto com Angra dos Reis e Mangaratiba), Itatiaia (junto com Resende) e Valença com Teresópolis (que formam uma verdadeira “muralha” ao se juntarem com os municípios de Nova Friburgo, Petrópolis, Miguel Pereira, Barra do Piraí, Piraí e Itaguaí). De maneira isolada, também seria válido citar o caso de Itaperuna, que encontra-se relativamente isolada dos maiores pólos da área de alojamento no estado. Pode-se dizer que Itaperuna acaba exercendo a função de cidade dormitório para aqueles que viajam próximo à sua região. Ao iniciarmos uma análise um pouco mais detalhada sobre o crescimento médio do número de empregos formais entre os anos de 2003 e 2006, não só para o setor de alojamento como também para outros campos das economias municipais, encontramos as seguintes estatísticas descritivas apresentadas na tabela 2 (em números percentuais). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1447 Tabela 2 - Estatísticas descritivas sobre o crescimento médio observado para o número de empregos formais, entre os anos de 2003 e 2006, para diferentes setores econômicos dos municípios do estado do Rio de Janeiro Estatísticas Aloj Tot_Eco Servicos Comercio C_Civil Ind_Tran Agropec Mínimo -38,89 -35,48 -22,84 -40,28 -89,08 -42,60 -52,97 1º Q 0,00 7,54 1,33 10,96 0,00 6,56 1,89 Mediana 2,79 13,04 6,12 18,87 34,32 17,82 12,64 3º 12,85 18,30 11,03 25,45 81,55 38,04 27,00 Máximo 121,59 86,28 151,10 75,81 13465,44 423,68 678,65 Média 7,90 14,94 9,85 19,73 242,78 34,61 26,57 DP 20,48 15,41 20,12 16,07 1401,47 62,68 76,92 Coefiente de Bowley 0,57 -0,02 0,01 -0,09 0,16 0,28 0,14 Fonte: Elaborada pelo autor com base n os dados da RAIS / M TE Com base na tabela acima, pode-se observar que o menor crescimento médio para o número de empregos formais foi o do setor de alojamento, abaixo inclusive do percentual encontrado para toda a economia, que foi de 14,94%. A mediana dos crescimentos entre os municípios também nos apresenta o mesmo resultado. Ainda que não sejam tão claras como as duas estatísticas anteriores, os valores míni mo e máximo, assim como o 1º e 3º quartís também nos dão fortes indícios que efetivamente o crescimento no mercado de trabalho formal para o setor de alojamento foi um dos menores que se observou na economia. Por se tratar de um setor que não apresentou grandes oscilações no conjunto dos 92 municípios, vemos que a variabilidade exposta pelo desvio padrão não chega a ser um número que surpreende. Quanto ao coeficiente de Bowley, pelo valor encontrado podemos afirmar que o setor de alojamento teve um crescimento balanceado no conjunto dos municípios analisados, ou seja, não foi detectada grande concentração de cidades com crescimento muito auto ou muito baixo. Sobre este tipo de comportamento, pode-se afirmar que o mesmo ocorreu em praticamente toda a economia. Ao espacializarmos entre os municípios do Rio de Janeiro, os percentuais de crescimento médio do número de empregos no setor de alojamento, temos a visualização do mapa exposto na figura 2. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1448 De acordo com as categorias da legenda, é interessante observar que as maiores porcentagens de crescimento ocorreram em pequenos municípios sem grande expressão no setor de turismo. Pode-se dizer que o crescimento encontrado nestes locais seja fruto da expansão do setor hoteleiro visto em municípios vizinhos, ou mesmo reflexo do crescimento econômico atingido por estas cidades. Se observarmos a categoria com crescimento entre 11,23 e 33,33%, o que ainda pode ser visto como valores de grande escala, encontramos municípios de maior porte e com uma economia já razoavelmente desenvolvida, como é o caso de Petrópolis, Macaé, Resende, entre outros. Ainda dentro deste grupo localiza-se o fenômeno de atração turística chamado Armação de Búzios, que é o maior percentual do estado em mão-de-obra formal no setor de alojamento, e ainda apresenta um dos maiores percentuais de crescimento neste campo. O caso dos municípios de Macaé e adjacências também merece destaque pela expansão do setor petrolífero ao longo desta região, o que tem aumentado em muito a presença de equipamentos de hospedagem atuando neste espaço. De um modo geral, vemos que o setor de hospedagem acaba sendo um reflexo do desenvolvimento econômico dos municípios, uma vez que as trocas entre XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1449 mercados regionais são cada vez mais intensas, o que inevitavelmente fomenta o tão promissor turismo de negócios. A busca por maiores incentivos fiscais, a necessidade de um melhor custo beneficio na contratação de mão-de-obra, as melhorias em algumas vias de transporte assim como a evolução dos automóveis que trafegam sobre estas, são fatores que muito têm contribuído para a expansão das fronteiras econômicas dos municípios, o que leva consigo uma significativa demanda por equipamentos e profissionais que atuem na área de hospedagem. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos resultados apresentados ao longo deste estudo, e nas referências teóricas que deram suporte à reflexão desenvolvida aqui, pode-se dizer que efetivamente os dados sobre o número de empregos formais no setor de alojamento são uma boa proxy para analisar tendências acerca do desenvolvimento turístico em um espaço e tempo específicos. Ainda que muitas estatísticas apresentem os grandiosos percentuais de crescimento ostentados pelo setor de turismo, pôde-se ver neste trabalho que o conjunto de municípios do Rio de Janeiro não refletiu tão fidedignamente este padrão, quer dizer, o crescimento para o setor de alojamento foi significativamente menor que aquele encontrado para a economia de um modo geral ou mesmo para algumas áreas de maneira isolada (como agropecuária, indústria de transformação serviços, comércio, etc.). REFERÊNCIAS BADIN, L.; CAMPOS, A.; BURSZTYN, I.; OLIVEIRA, J. H. Apresentação. In BARTHOLO, R.; DELAMARO, M.; BADIN, L. (orgs.). Turismo e sustentabilidade no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. BARBOSA, L. G. M.; ZAMOT, F. S. Políticas públicas para o desenvolvimento do Turismo: o caso do município de Rio das Ostras. In BARBOSA, L. G. M.; ZOUAIN, D. M. (orgs.). Gestão em turismo e hotelaria: experiências públicas e privadas. São Paulo : Aleph, 2004. BARRETO, R.; OLIVEIRA, E. 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Esto ha hecho que la mayoría de los países en desarrollo, especialmente en Latinoamérica, promuevan políticas públicas que proponen al turismo como una de las actividades económicas que puede impulsar el desarrollo en localidades deprimidas, incluso se ha otorgado al turismo un papel protagónico para el logro del desarrollo sostenible. A través de una serie de análisis, el presente trabajo reflexiona en torno a un programa público mexicano en particular, denominado Pueblos Mágicos, haciendo hincapié en el papel que la población local tiene en el desarrollo turístico y de manera especial en la gestión del destino, profundizando el análisis en dos de las localidades que conforman este programa: Comala, en el estado de Colima y Real de Asientos, en Aguascalientes. Para ello, la metodología empleada comprende en primer lugar, la implementación de un instrumento a manera de semáforo con el cual se pudo determinar el grado de desarrollo turístico alcanzado en las localidades que integran el programa. Este instrumento se apoya en una serie de indicadores de competitividad y los datos obtenidos fueron contrastados con los resultados que recientemente presentó la Secretaria de Turismo Federal. Posteriormente se hace una evaluación del grado de satisfacción de los residentes respecto al desarrollo turístico para lo cual se ha empleado un cuestionario que se adaptó de uno desarrollado por la Organización Mundial del Turismo. De esta manera, el trabajo evidencia las áreas de oportunidad de la política pública respecto a la urgencia de empoderar a los actores locales en el desarrollo turístico y propone a la gestión adaptativa como el modelo teórico que aplicado a la realidad de los pueblos mágicos, puede conducir a una verdadera gestión local que sea, sobre todo, incluyente y que en verdad propicie la sostenibilidad de la actividad turística. Palabras clave: Turismo sostenible, población local, gestión adaptativa 12 Máster en Ecoturismo y Manejo de Áreas Protegidas por la Universidad Tecnológica Equinoccial de Ecuador, cursa actualmente el Doctorado en Turismo en la Universidad Antonio de Nebrija de España. Profesor Investigador de tiempo completo, adscrito al Departamento d e Turismo de la Universidad Autónoma de Aguascalientes. E mail: [email protected] 13 Doctor Cum Laude en Ciencias Económicas por la Universidad de Jaén (con Premio Extraordinario).Máster en Unión Económica y Monetaria Europea por la UNED. Director del Laboratorio de Análisis e Innovación Turística (LAInnTUR), Departamento de Economía de la Universidad de Jaén, España. Email: [email protected] XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1453 RESUMO O papel do turismo como promotor do desenvolvimento local é evidente e diversos autores coincidem a esse respeito. Isso levou a maioria dos países em desenvolvimento, especialmente na América Latina, a promover políticas públicas que propõem o turismo como uma das atividades econômicas que podem impulsionar o desenvolvimento em localidades deprimidas, inclusive conferindo ao turismo um papel decisivo para alcançar o do desenvolvimento sustentável. Através de uma série de análises, o presente trabalho trata de um programa público mexicano denominado Povos Mágicos, enfatizando o papel que a comunidade local tem no desenvolvimento turístico e, em particular, na gestão do destino, aprofundando a análise em duas das localidades que fazem parte este programa: Comala, no estado de Colima e Real de Asientos, em Aguascalientes. Com este fim, a metodologia empregada compreende, em primeiro lugar, a implementação de um instrumento denominado semáforo com o qual se pôde determinar o grau de desenvolvimento turístico alcançado nas localidades que integram o programa. Este instrumento se apóia em uma série de indicadores de competitividade e os dados obtidos foram contrastados com os recentes resultados apresentados pela Secretária de Turismo Federal. Posteriormente, se fez uma avaliação do grau de satisfação dos residentes em relação ao desenvolvimento turístico no qual se empregou um questionário adaptado de outro desenvolvido pela Organização Mundial do Turismo. Desta maneira, o trabalho evidencia as áreas de oportunidade da política pública em relação à urgência em capacitar os atores locais no desenvolvimento turístico e propõe a gestão adaptativa como o modelo teórico que, aplicado à realidade dos povos mágicos, pode conduzir a uma gestão local efetiva e que seja, sobretudo, verdadeiramente inclusiva e que propicie a sustentabilidade da atividade turística. Palavras Chave: Turismo sustentável; população local; gestão adaptativa. ABSTRACT The role of tourism as a promoter of the local development is clear and a variety of authors agree with this idea. This has made that the majority of the countries in development, especially in Latin America, promote public politics that propose tourism as one of the economic activities to improve the de velopment of isolated communities, even though tourism has earned a leading role in order to gain sustainable development. Through a series of analysis, the current investigation reflects around a Mexican public program in particular, a program known as Magic Towns, mentioning the role of local population in the tourism development and in a special form the management of the destiny, going deeper in the analysis of two locations that are part of this program: Comala, in the state of Colima and Real de Asientos, in Aguascalientes state. First, the methodology used includes the implementation of an instrument as a monitor, with it, it was able to establish the degree of tourism development reached in the communities that are part of the program. This instrument rests in a series of indicators of competitiveness and the obtained information was contrasted with the results recently presented by the Federal Tourism Secretary. Later, it was necessary to do an evaluation of the satisfaction degree of the residents related to the touristic development reason why, an adaption of a questionnaire created by the Tourism World Organization was used. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1454 Thus, this research evidence the areas of opportunity of public politic about the priority of empower the local actors in the touristic development and propose the adaptive management as the theoretical model that applied to the reality of magic towns, can lead to a real local management that become, against all, inclusive and it make possible the sustainability of the touristic activity. Key words: sustainable tourism, local population, adaptive management. 1.INTRODUCCIÓN El papel del turismo como un instrumento de desarrollo económico se ha reconocido a nivel internacional y la revisión de la literatura económica reciente sobre el tema da cuenta de ello (Cooper et al., 2007; Dwyer y Foryth, 2006; Lickorish y Jenkins, 2000; Vanhove, 2005). Para el caso específico de México, diversos autores también han opinado al respecto y la mayoría coincide en el papel fundamental que el turismo ha tenido, inicialmente como una fuente de financiamiento para la industrialización del país y posteriormente como actividad generadora de desarrollo en sí misma y promotora del desarrollo regional y local 1455 (Jiménez, 1993; Jiménez, 2005; Rodríguez, 2003; Castro y Fonseca, 2008; López, 2004). En ese sentido, debemos reconocer la gran diferencia que existe al analizar los efectos del turismo en el ámbito macroeconómico, en donde se evidencia los efectos positivos que los grandes megadesarrollos mexicanos generan, como puede ser la contribución al Producto Interno Bruto Nacional 14, la generación de empleos directos o el aporte para equilibrar la balanza comercial. Sin embargo, al llevar a cabo dicho análisis en el nivel micro, los resultados no siempre son igual de alentadores, pues cuando se observa con detalle los efectos y repercusiones que el turismo genera en las pequeñas comunidades y poblaciones que funcionan como 14 Según la Cuenta Satélite del Turismo en México, el valor agregado Bru to Turístico representó 8.2% del correspondiente al total del país durante 2006 (cifra superior a la del producto generado, de manera conjunta, por actividades económicas como la agricultura y las industrias alimentaria, de la madera, del papel, y de la química), esto significó un crecimiento del 4.5% respecto al año anterior. La estructura productiva del Valor Agregado Bruto Turístico en 2006 se integró de la siguiente forma: los denominados servicios diversos aportaron el 37% del total, seguidos de los servicios de transporte 25.5%, los de alojamiento 11.8%, los de restaurantes, bares y centros nocturnos 10.7% y las actividades de producción de bienes y artesanías 11.9 por ciento. El restante 3.1% fue generado por los tiempos compartidos y las segundas viviendas. (http://www.inegi.org.mx/inegi/contenidos/espanol/prensa/comunicados/turismo.asp) XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 destinos turísticos, la lectura puede ser muy distinta, máxime si la incorporación de dichas poblaciones a la actividad turística, surge como resultado de una intervención directa del gobierno –sobre todo a nivel federal o estatal- que, a través de programas de desarrollo turístico, impulsa ésta actividad sin contar con la total complacencia de los residentes de las poblaciones en donde se pretende impulsar el turismo, pues tal como establece Rodríguez (2003): “el desarrollo ha pasado de ser un simple incremento de factores económicos hasta un proceso sumamente complejo donde los actores sociales toman un papel importante para lograrlo y no estar a expensas de lo que se obtenga en el ámbito externo a su territorio” Por lo anterior, se considera fundamental realizar una evaluación de la manera en que los programas de impulso al desarrollo turístico que ha puesto el marcha la administración federal, consideran la incorporación de los diferentes actores locales, y de manera especial a la población que vive en el sitio, en el desarrollo e impulso de la actividad y de manera particular en la gestión turística. Y es así como el presente trabajo, se enfoca especificamente em el programa denominado Pueblos Mágicos de México, dado que ésta iniciativa se ha consolidado a lo largo de dos administraciones y ha madurado como programa, por lo que a casi diez años de su implementación, permite llevar a cabo un análisis en base a los logros obtenidos y a los retos con los que ahora se enfrenta. 2. DESARROLLO 2.1. EL PROGRAMA PUEBLOS MÁGICOS DE MÉXICO Y LA GESTIÓN LOCAL El programa surge en el año 2001 como una iniciativa de la Secretaria de Turismo Federal, con la cual se pretendía revalorar a un conjunto de poblaciones y reconocer la riqueza cultural e histórica que encierran. El programa busca propiciar un desarrollo endógeno de las comunidades a través de la diversificación productiva en el sector turístico, poniendo sobre todo en valor el patrimonio cultural y natural local. Los objetivos que la Secretaria de Turismo (2009) establece programa Pueblos Mágicos en sus reglas de operación, son: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 para el 1456 “• Estructurar una oferta turística complementaria y diversificada hacía el interior del país, basada fundamentalmente en los atributos histórico culturales de localidades singulares. • Aprovechar la singularidad de las localidades para la generación de productos turísticos basados en las diferentes expresiones de la cultura local; artesanías, festividades, gastronomía, y tradiciones, entre otras. • Aprovechar la singularidad de las localidades para la generación de otros productos turísticos tales como la aventura y el deporte extremo, el ecoturismo, la pesca deportiva, y otros que signifiquen un alto grado de atractividad dentro del territorio de la localidad participante. • Poner en valor, consolidar y/o reforzar los atractivos de las localidades con potencial y atractividad turística, fomentando así flujos turísticos que generen: ‒ Mayor gasto en beneficio de la comunidad receptora (artesanías, gastronomía, amenidades y el comercio en general), así como, ‒ La creación y/o modernización de los negocios turísticos locales. • Que el turismo local se constituya como una herramienta del desarrollo sustentable de las localidades incorporadas al programa, así como en un programa de apoyo a la gestión municipal. • Que las comunidades receptoras de las localidades participantes aprovechen y se beneficie del turismo como actividad redituable como opción de negocio, de trabajo y de forma de vida.” En ocho años de trabajo, conforme se han analizado los resultados de las poblaciones incorporadas, se han realizado ajustes en las reglas de operación del programa. Para el año 2008 incluso, se estableció un sistema de indicadores de evaluación de desempeño que revela la operacionalidad del mismo, conservando o revocando la declaratoria. Cabe hacer mención, que de acuerdo a la evaluación del desempeño se revocaron tres declaratorias en el año 2009: Mezcaltitlán, Nayarit; Tepoztlán, Morelos; y Papantla, Veracruz. Asimismo San Miguel de Allende salió del programa por haber adquirido la categoría de Patrimonio de la Humanidad en julio de 2008. A la fecha, México cuenta con 32 localidades declaradas Pueblos Mágicos, las cuales están distribuidas en las siguientes regiones: 9 en el centro, 2 en el golfo, 7 en el norte, 11 en el pacífico y 3 en el sureste. Los estados que agrupan 3 localidades son Jalisco y Michoacán, en Sinaloa y el Estado de México existen 2 en cada uno. Los estados que no cuentan con ninguna localidad declarada son: Baja California, Durango, Nayarit, Campeche, Tabasco, Morelos y el Distrito Federal, el resto de los estados cuenta con un pueblo mágico. El 28% de las declaratorias se otorgaron en el año 2002, mientras que en el año 2008 no se otorgó ninguna. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1457 Gráfico 1. DESTINOS INTEGRANTES DEL PROGRAMA. Fuente: SECTUR. Respecto a la gestión local, y en concordancia con los dos últimos objetivos del programa, las reglas de operación consideran como un aspecto importante en la conformación del expediente, el involucramiento de la sociedad mediante la constitución de un Comité Turístico y/o algún organismo, asociación civil o Grupo Pro Pueblo Mágico, que se constituya en la voz de la comunidad ante las autoridades e instancias gubernamentales pues según establecen las propias Reglas de Operación (SECTUR, 2009): “El programa Pueblos Mágicos basa su estrategia en la participación comunitaria, su inclusión y permanencia, sus avances y logros serán resultado del nivel de trabajo que la propia comunidad realice” Lo anterior pone de manifiesto que, al menos en el papel, la gestión turística de los destinos integrantes del programa, se debe dar en base a la inclusión de los actores locales y a una participación activa de estos en lo referente al impulso del turismo en su localidad. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1458 2.2. EL GRADO DE DESARROLLO TURÍSTICO EN LAS LOCALIDADES INTEGRANTES DEL PROGRAMA El éxito de una política pública de desarrollo turístico puede ser medido en función del incremento que la actividad turística presente en el sitio a raíz de la incorporación de la localidad en dicho programa, es decir, determinando el aumento que se dé en el desarrollo turístico del destino. En este sentido y para poder evaluar el grado de desarrollo turístico que ha alcanzado cada una de las localidades incorporadas al programa, se desarrolló un instrumento que permitió contar con elementos más claros para evaluar el grado de avance en la consecución de los objetivos del programa y, en consecuencia, valorar la eficacia del mismo en el desarrollo de un modelo turístico alternativo al tradicional en México 15. 2.2.1. SEMÁFORO PARA CATEGORIZACIÓN DE LAS LOCALIDADES TURÍSTICAS EN BASE AL GRADO DE DESARROLLO TURÍSTICO Para la obtención de los datos se diseñó un instrumento, mediante la adaptación de una metodología integral de evaluación propuesta por la Secretaría de Turismo de México (SECTUR, s.f.). Como resultado se integró un instrumento que, además de una presentación, recoge 120 aspectos a evaluar, organizados en 6 secciones: a) Indicadores turísticos. Tomando como punto de partida los indicadores turísticos de la Agenda 21 para el Turismo Mexicano, en esta primera parte se incluyen catorce aspectos referentes al grado de consolidación del c omité local, las principales obras ejecutas y el grado de avance, los montos invertidos, una relación sobre la afluencia de visitantes y la oferta hotelera en el destino, datos como ocupación, estadía y gasto, entre otros. b) Infraestructura general y de servicios. ítems que analizan aspectos referentes a Comprende diecinueve transporte terrestre y aéreo, comunicaciones, salud, servicios urbanos y energía. c) Infraestructura turística. Esta sección abarca solamente seis aspectos relacionados con transportación terrestre, aérea y acuática. 15 Para un análisis más profundo y detallado sobre este tema ver Rodr íguez y Pulido, 2009 y Rodr íguez Vargas (2009a). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1459 d) Equipamiento turístico. Un total de cincuenta ítems se incluyen en esta sección que cuestiona sobre los servicios de alojamiento, alimentación, esparcimiento y otros, a nivel general y específicamente para segmentos de mercado como son el de turismo cultural, turismo de salud, turismo de aventura, ecoturismo y turismo rural. e) Instalaciones turísticas. Utilizando los mismos segmentos de mercado que la sección anterior, en ésta se incluyen diecisiete ítems que cuestionan aspectos muy puntuales que se requieren para atender las demandas de turistas muy especializados. f) Mercado turístico. Y por último, la sección sobre el mercado comprende catorce aspectos que indagan sobre la afluencia turística actual al destino, la estadía estimada promedio, el gasto estimado promedio y la publicidad y comercialización del producto ofertado. Como su propio nombre indica, con excepción de la primera sección, el cuestionario ofrecía tres opciones de respuesta, marcadas con los colores rojo, si se carecía del aspecto; amarillo, si el elemento existía pero de manera deficiente o precaria; y verde, cuando el aspecto se encontraba en optimas condiciones en el destino. De manera simultánea con la asignación del color, cada respuesta tenía un valor numérico: 1 para rojo, 2 para amarillo y 3 para verde. Esto permitió asignar un valor numérico general para cada uno de los ámbitos de análisis y con ello poder tabular, examinar y graficar los resultados para, en base a ello, determinar los distintos niveles o categorías de desarrollo turístico de los municipios examinados. La aplicación del cuestionario inicio con el establecimiento de un primer contacto vía telefónica con las dependencias de turismo en cada uno de los 25 estados de la República que cuentan con, al menos, un destino integrado al programa y hacer una invitación directa al departamento encargado del programa en dichas dependencias. Posteriormente se hizo la distribución del cuestionario vía correo electrónico, buscando con ello obtener la información de base sobre los 32 destinos que integran el programa. Al enviar el cuestionario, se pidió a los técnicos de cada estado que respondieran marcando aquella opción que reflejara la situación actual del destino, y no aquella que resultara ideal, con lo que se pretendía obtener una fotografía sobre XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1460 el grado de desarrollo que en ese momento presentaban cada uno de los destinos que se incluyen en el programa. Posteriormente, se hizo una labor de seguimiento personalizado, mediante llamadas telefónicas y el envío de correos electrónicos, labor que, por diferentes cuestiones se extendió más de tres meses y gracias a la cual se obtuvo información sobre 20 destinos ubicados en 17 estados, lo que representa un 62.5% de los destinos integrantes, y muestra una distribución y variedad interesante que garantiza una representatividad significativa, suficiente para poder iniciar el análisis y establecer la categorización. No obstante, con la finalidad de validar los resultados obtenidos, una vez sistematizada toda la información, se conformó un grupo de expertos a los que se les pidió opinión sobre los resultados obtenidos 16. Según se mencionó líneas arriba, para un mejor tratamiento de los datos se asignaron de valores numéricos a las opciones de respuesta que presentaba el cuestionario, lo cual permitió transformar la valoración cualitativa de cada destino en una valoración cuantitativa, y con ello fue posible obtener diferentes estadísticos, así como los promedios por sección, concretando los resultados del análisis a través de diversas matrices. Para ello se utilizó el paquete estadístico SPSS (versión 17.0). Para tener una visión más completa del desarrollo turístico de cada destino, el cuestionario diseñado comprendía una valoración desde una perspectiva tanto de oferta como de demanda. La primera, a través de las secciones infraestructura general y de servicio, infraestructura turística, equipamiento turístico e instalaciones turísticas. Respecto a la demanda, la valoración se realizó mediante el último apartado del cuestionario denominado mercado turístico. Los principales resultados se presentan en las tablas 1 y 2, y de ellas podemos extraer algunas conclusiones que nos permiten tener un panorama general 16 Con la finalidad de validar el instrumento utilizado, los ítems y secciones consideradas, pero sobre todo, los resultados obtenidos, se recurrió a un procedimiento de consulta a expertos para lo cual se desarrollo un documento que explicaba la técnica de recolección de datos utilizada y el procesamiento que se hizo de la información para llegar a la categorización de los destinos resultante. Dicho documento fue repartido entre 15 investigadores especializados en temas turísticos y con prestigio a nivel nacional, todos con grado de doctor y que colaboran en algunas de las universidades con mayor prestigio a nivel nacional. Posterior a la evaluación del documento, los expertos consultados emitieron sus juicios y comentarios sobre el mismo y esto nos permite confirmar la validez de la información que presentamos, toda vez que tenemos la confianza de que la comunidad científica mexicana avala los datos obtenidos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1461 sobre cuál es el grado de desarrollo turístico que se ha alcanzado en las diferentes localidades analizadas: No existe una correlación entre el año de incorporación al programa y el grado de consolidación del comité. En la mayoría de los indicadores analizados, existe una gran dispersión de los datos y en este sentido tenemos destinos con afluencia promedio de turistas que van desde los 1,192 turistas mensuales a los 54, 911 turistas promedio por mes. La oferta de servicios tanto de hospedaje como de alimentación es muy dispar pues tenemos destinos que solo cuentan con un solo hotel y ningún establecimiento con calidad turística, hasta los destinos que cuentan con 439 hoteles y 40 establecimientos de alimentación de calidad. En el mismo sentido, la estadía promedio oscila entre localidades que son destinos de excursión y por tanto no registran ninguna noche de estadía, hasta aquellos destinos cuya estadía asciende hasta las 4 noches por turista. El servicio de guianza también es muy dispar pues mientras hay destinos en los que no se ubican guías certificados, existen otros que cuentan con hasta 25 guías registrados. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1462 Tapalpa Tequila Tlalpujahua 11,020 5,070 4,014 6,993 9,843 26,055 21,478 3,407 5,254 53,911 46,167 15 13 18 11 28 1 22 12 9 19 44 17 61 1 27 439 103 NC 7,606 33 NC 7,606 15 3,810 8,584 13 37.41% 16.97% 1.2 1.7 4.1 1.2 1.0 2.3 1.6 1.9 2.0 4.1 60.08% 29.00% 65.00% 44.56% 22.18% 65.00% 37.00% 100% 44.80% 38.93% 55.00% 32 1 35 31 15 14 1 28 6 7 $ $ $ $ $ 905.25 520.00 800.00 500.00 300.00 $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ 580.00 859.50 571.00 650.00 1,520.00 525.00 468.17 328.85 550.00 545.00 75.00 797.00 500.00 1,800.00 2 0 0 0 0 4 0 0 5 1 0 4 25 25 Monto invertido desde la fecha de decreto (expresado en pesos mexicanos) 3.3 3.0 1.0 1.1 1.0 Gasto promedio por turista por día (expresado en pesos mexicanos) Si 1,192 8,850 41.20% 40.00% 70.00% 20.79% 45.00% Número de guías certificados disponibles en el sitio 3 28 24 Número de establecimientos de A y B registrados con calidad turística 4 6,946 Estadía promedio (número de noches por persona) 4 Oferta de hospedaje Si No No Si Si Si Si No Si Si Si Si Si Si No Si Si No Si Si Afluencia promedio mensual durante 2008 4 4 4 3 3 3 3 3 4 5 4 5 5 4 3 5 3 3 4 4 PRINCIPALES INDICADORES Ocupación promedio (expresada en porcentaje) 2005 2007 2005 2008 2006 2002 2005 2002 2006 2009 2007 2001 2007 2005 2004 2002 2006 2001 2003 2006 2002 2003 2005 Cuenta con Plan de desarrollo turístico Álamos Bacalar Bernal Capulálpam Coatepec Comala Cosalá Cuetzalan Cuitzeo El Fuerte Huamantla Izamal Jerez Mazamitla Parras de la Fuente Pátzcuaro Real de Asientos Real de Catorce San Cristóbal de las Casas Santiago Grado de consolidación del Comité * Año de incorporación al programa Tabla 1. $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ 12,000,000.00 85,135,402.00 35,400,000.00 6,500,000.00 24,570,000.00 10,995,645.00 64,489,515.76 29,801,180.00 22,326,000.00 45,500,000.00 36,099,000.00 44,000,000.00 59,800,000.00 58,450,000.00 13,000,000.00 55,060,635.08 37,000,000.00 - 1.6 3.0 2.0 4 20 25 7 16 0 13 5 40 21.12% 1.8 35 0 $ 321.14 38.27% 1.0 40 20 $ 385.42 $ 54,000,000.00 $ 50,000,000.00 4.1 2 1 $ 496.00 $ 20,530,305.05 *1: No se ha formado; 2: se formo pero no ha trabajado: 3: se está consolidando pero los avances son pocos: 4: Los avances son significativos; 5: Trabaja excelente. Fuente: elaboración propia Como resultado de todo lo anterior, el gasto promedio por persona es muy variado en los destinos integrantes del programa y oscila entre los $75.00 pesos registrados en Real de Asientos, hasta los $1,800.00 pesos que reporta San Cristóbal de las Casas. Por otro lado, los montos de recursos invertidos desde que los destinos se han incorporado al programa van desde los $6,500,000.00 que reporta Calpulálpam (de muy reciente incorporación), hasta los $85,135,402.00 que se han invertido en Bacalar, que se incorporó solo una año antes. Al igual que la tabla 1, la segunda tabla muestra una gran disparidad en los datos entre los diferentes destinos integrantes del programa. Y es así que detectamos localidades que muestran importantes deficiencias en infraestructura, equipamiento e instalaciones, como Real de Asientos, mientras que otras como XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1463 Pátzcuaro o Tlalpujahua, dan cuenta de la diversidad de servicios que ofrecen al visitante. Tabla 2. RESULTADOS GENERALES DE LA APLICACIÓN OFERTA I. III. II. INFRAESTRUCTURA EQUIPAMIENTO INFRAESTRUCTURA GENERAL Y DE Y SERVICIOS TURÍSTICA SERVICIOS TURÍSTICOS DEMANDA IV. INSTALACIONES TURÍSTICAS PROMEDIO GENERAL V. MERCADO TURÍSTICO Álamos 1.3 2.0 2.3 2.4 2.0 2.8 Bacalar 2.3 2.0 1.8 2.1 2.0 2.4 Bernal 2.0 2.3 1.6 1.9 2.0 2.4 Capulálpam 2.3 2.3 2.5 2.5 2.4 2.6 Coatepec 2.4 1.8 2.0 2.3 2.1 2.6 Comala 2.3 1.8 1.7 2.1 2.0 2.3 Cosalá 2.2 2.3 1.8 1.8 2.0 2.4 Cuetzalan 1.8 1.7 1.9 2.2 1.9 2.3 Cuitzeo 2.3 2.3 2.6 2.4 2.4 2.2 El Fuerte 2.6 2.5 2.1 1.8 2.2 2.8 Huamantla 2.5 1.8 1.8 1.6 1.9 2.4 Izamal 2.3 2.2 2.2 2.4 2.3 2.6 Jerez 2.6 2.0 1.8 2.0 2.1 2.3 Parras de la Fuente 2.4 1.7 1.8 1.9 1.9 2.6 Pátzcuaro 2.5 2.7 2.8 2.9 2.7 3.0 Real de Asientos 1.8 1.5 1.2 1.5 1.5 2.0 Real de Catorce 1.8 2.0 1.9 1.8 1.9 2.9 San Cristóbal de las Casas 2.5 2.0 2.3 2.0 2.2 2.9 Santiago 2.3 2.0 1.7 1.4 1.8 2.5 Tlalpujahua 2.3 2.3 2.6 2.1 2.3 3.0 Fuente: elaboración propia Lo anterior evidencia que el programa Pueblos Mágicos de México no ha sido una alternativa equitativa de distribución de apoyos y como resultado, los diferentes destinos integrantes de dicho programa, no han desarrollad o el turismo en la misma intensidad. Habrá que considerar que algunos de los destinos que se incluyen, ya tenían un importante desarrollo turístico muchos años antes de su incorporación al programa, mientras que en otros casos, el programa ha sido el impulsor y detonante del turismo en las localidades. Otra razón pudiera ser el hecho de que no se ha logrado integrar a la población local y por lo tanto, los actores relacionados en los destinos, no se han empoderado y no han propiciado una gestión activa que genere y atraiga recursos en pro del desarrollo turístico de la localidad. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1464 2.3. LA SATISFACCIÓN DE LOS RESIENTES EN DOS LOCALIDADES INTEGRANTES DEL PROGRAMA Además de las conclusiones antes presentadas, se consideró relevante hacer una evaluación sobre cuál era el sentir de la población local, considerando que son ellos los que día a día se benefician o padecen las repercusiones del turismo. Para esto se seleccionaron dos de las localidades integrantes del programa (Real de Asientos en el estado de Aguascalientes y Comala en Colima), y con la ayuda de estudiantes de las Universidades públicas en ambos estados, los Cuerpos Académicos de las dichas instituciones, realizaron una labor de investigación coordinada, cuyos resultados se presentan a continuación y de los cuales se extraen interesantes conclusiones 17. Considerando que tanto la densidad poblacional como la actividad turística se concentran en las cabeceras municipales de ambos municipios, el estudio se desarrolló en estas zonas, específicamente en las viviendas que se ubican en las inmediaciones de los principales establecimientos o atractivos turísticos. Los datos fueron obtenidos mediante la aplicación directa de 260 encuestas para el caso de Comala y 227 para Real de Asientos. En ambos casos se hic ieron a los habitantes de la comunidad que se encontraban en su domicilio, procurando que fueran personas con un periodo de residencia mayor a un año en la localidad y que pudieran emitir un criterio confiable, por lo que el límite de edad fue de 16 años en adelante. Para el diseño de la encuesta se emplearon 4 variables para evaluar la percepción de la localidad como un lugar turístico y 14 variables, sugeridas por la OMT (2004), para evaluar la satisfacción de los residentes, empleando una escala Likert, en las que los participantes expresaron qué tan de acuerdo están con los temas mencionados. Se consideraron también aspectos socio-demográficos como sexo, actividad que desempeñan, edad y tiempo de residencia en la localidad. Los principales resultados se muestran en las tablas 3, 4, 5 y 6 y de ellas podemos comentar lo siguiente: 17 Para ampliar sobre estas investigaciones ver los trabajos de Covarrubias y Conde (2009), Covarrubias et al. (2009) y Rodríguez y Vargas (2009). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1465 En relación a la satisfacción general de los residentes, podemos destacar que aunque la gran mayoría de la población entrevista reconoce el potencial turístico de su población y está conforme con la incorporación al programa, también es cierto que son conscientes de la necesidad de servicios que se requieren para atender a los visitantes de manera adecuada. Tabla 3. SATISFACCIÓN GENERAL DE LOS RESIDENTES Muy en desacuerdo Su población es un lugar turístico Está de acuerdo con que su población haya sido denominado Pueblo Mágico Se necesitan más servicios para que haya más turismo Está conforme con el turismo en su población Promedio En desacuerdo Neutral De acuerdo Muy de acuerdo C* RA** C RA C RA C RA C RA 1.2 1.8 3.8 5.3 4.2 11.8 52.7 52.6 37.3 27.6 2.7 3.1 9.2 3.9 9.6 10.1 50 21.1 27.7 61.0 2.7 5.3 11.9 14.5 9.6 8.8 39.2 37.7 35.8 33.3 2.3 5.7 10.4 4.4 20.4 6.1 51.9 28.9 14.2 54.4 2.2 3.9 8.82 7.0 10.9 9.2 48.45 35.1 28.75 44.1 *C: Comala ** RA: Real de Asientos Fuente: elaboración propia 1466 Por otro lado, y desde el punto de vista económico, los residentes en los destinos analizados, distinguen los beneficios que el turismo está generando en su localidad, y desconocen posibles efectos económicos negativos, pero no perciben los beneficios de manera directa. Esto último se observa de manera especial en Real de Asientos. Tabla 4. SATISFACCIÓN DE LOS RESIDENTES EN LA DIMENSIÓN ECONÓMICA Muy en desacuerdo En desacuerdo Neutral De acuerdo Muy de acuerdo C* RA** C RA C RA C RA C RA 1.5 10.5 10.4 23.7 18.5 17.1 45 38.6 23.8 9.6 El turismo está beneficiando a su comunidad El turismo da empleo a los jóvenes de la localidad Con el turismo han aumentado el precio de las cosas (comida, renta…) El dinero que genera el turismo se queda en su comunidad En lo personal, el turismo me beneficia 5.4 5.7 17.3 11.4 18.8 10.5 44.6 47.8 13.1 24.1 16.3 21.9 24.6 31.6 18.5 10.1 30.4 23.7 9.6 12.7 6.9 8.8 16.2 4.8 21.5 36.0 38.8 36.0 15.8 14.5 17.3 27.6 25 41.7 15.8 9.6 27.3 15.8 13.8 4.4 Promedio 9 14.9 18.7 22.6 18.62 16.7 37.22 32.4 15.22 13.1 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 *C: Comala ** RA: Real de Asientos Fuente: elaboración propia Tabla 5. SATISFACCIÓN DE RESIDENTES EN LA DIMENSIÓN SOCIAL Muy en desacuerdo En desacuerdo Neutral De acuerdo Muy de acuerdo C* RA** C RA C RA C RA C RA 13.1 17.5 28.1 34.6 14.2 12.7 34.2 25.4 9.6 8.3 23.8 34.6 40.8 54.8 13.1 6.1 16.2 1.3 5.4 2.2 3.8 6.1 13.1 11.8 10.4 3.1 39.6 32.9 32.3 45.6 21.9 45.2 38.5 47.8 9.6 2.2 23.8 2.6 5.4 2.2 0.4 4.4 4.2 8.8 4.6 10.5 51.9 51.3 38.1 25.0 Existe descontrol del turismo 15.8 29.8 30.8 48.2 17.7 7.5 27.3 10.5 7.7 0.4 Hay más delincuencia desde que hay más turismo 25.4 44.7 37.7 39.0 9.6 5.7 20.8 8.8 5.4 1.8 Promedio 14.89 26.1 27.6 35.0 11.31 6.8 30.54 19.0 14.84 12.2 Hay más servicios públicos desde que hay más turismo El turismo interrumpe el desarrollo de las actividades locales La gente de su comunidad puede entrar a todos los lugares turísticos El turismo afecta las buenas costumbres y la moral de las familias El turismo estimula la cultura local y la venta de artesanías *C: Comala ** RA: Real de Asientos Fuente: elaboración propia 1467 En cuanto a la dimensión social, si bien es cierto que los residentes no perciben impactos negativos generados por la actividad turística, es igualmente cierto que los beneficios que el turismo debiera generar, no han sido del todo sentidos por los residentes. Habría que considerar que en los destinos analizados, la actividad turística es aun insipiente y por lo tanto se concentra solo en algunos periodos vacacionales y durante los fines de semana, motivo por el cual las repercusiones negativas del turismo no han sido tan significativas. Por último, en relación a la dimensión ambiental, la percepción de los residentes es positiva pues no identifican afectaciones graves generadas por el turismo en relación a los recursos naturales de que disponen, a pesar de que, sobre todo en Comala, la gente es consciente de que al impulsar el turismo, se deben compartir dichos recursos para poder satisfacer las necesidades de los visitantes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Tabla 6. CONCENTRADO DE RESULTADOS EN LA DIMENSIÓN AMBIENTAL Muy en desacuerdo El turismo está dañando al medio ambiente El turismo usa los recursos que son necesarios para los habitantes de su comunidad (agua, luz, calles, etc) Promedio En desacuerdo Neutral De acuerdo Muy de acuerdo C* RA** C RA C RA C RA C RA 15.8 39.0 33.5 47.8 13.5 4.8 29.6 2.2 6.9 3.9 1.9 10.1 14.6 25.0 13.5 9.6 40 44.7 29.5 10.1 8.85 24.6 24.05 36.4 13.5 7.2 34.8 23.5 18.2 7.0 *C: Comala ** RA: Real de Asientos Fuente: elaboración propia Como se ha podido observar, a pesar de que la incorporación de las poblaciones locales está considerado en las reglas de operación del programa, la realidad es que el papel de éstas en la gestión turística del destino no ha sido potenciada y según se evidencia en los análisis desarrollados, no se ha logrado que el involucramiento de las mismas sea efectivo y que por tanto se dé un empoderamiento de los actores locales. Se requiere por tanto, desarrollar un modelo de gestión novedoso que además de ser flexible, considere como unas de sus principales metas, la inclusión de los residentes locales y la procuración del empoderamiento de éstos. 2.4. LA GESTIÓN ADAPTATIVA COMO PROPUESTA DE SOLUCIÓN. Según lo que visto hasta ahora, para poder mejorar la gestión turística en las poblaciones incorporadas al programa Pueblos Mágicos, es necesario 18 conceptualizar al turismo como un sistema complejo adaptable , según lo cual: “si uno de los componentes del sistema turístico complejo adaptable sufre una perturbación, esta afectará más lejos de su lugar de origen, casi siempre con resultados múltiples e inesperados” (Farrel-Ward, 2004). 18 El concepto de sistema turístico complejo adaptable parte de la conceptualización que en campos como la ciencia del cambio global, la ciencia de la sostenibilidad o la teoría de la complejidad se viene haciendo respecto al enfoque de que la naturaleza está constituida como una multitud de ecosistemas complejos adaptables que se organizan jerárquicamente por medio de interacciones no lineales entre sus heterogéneos componentes y cuyo desarrollo no está totalmente determinado, sino que se produce mediante una adaptación continua al medio (Pulido y Rodríguez, 2009). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1468 Surge por tanto, la necesidad de una gestión con características de flexibilidad, adaptabilidad e interdisciplinariedad, que permita responder a los diversos estados en que se pueda encontrar el sistema turístico. Y en este sentido, el conocido como buc le de Holling (ver gráfico 2) muestra los diferentes momentos por los que pasa un sistema turístico en función de su grado de madurez. Gráfico 2. EL CICLO ADAPTATIVO 1469 Fuente: Holling y Gunderson (2002: 34). De acuerdo con este planteamiento, “la capacidad de un sistema turístico para mantener sus funciones frente a los cambios exteriores viene determinada por tres propiedades: el potencial disponible para el cambio; el grado de conectividad entre las variables y procesos; y la resiliencia del sistema. Los sistemas turísticos impactados pasan por cuatro fases, cuya sucesión es muy rápida en las dos primeras, para luego ir ralentizándose” (Pulido y Rodríguez, 2009). Según se puede observar en el gráfico, la parte exterior del bucle muestra un movimiento más estable que tiende a la conservación, mientras que la parte interna representa una situación menos predecible que puede derivar en cambios originados por distintas perturbaciones, lo cual a su vez origina un nuevo orden con el cual inicia un nuevo ciclo. En este sentido, este nuevo enfoque plantea la necesidad de considerar la totalidad del ciclo al abordar el tema de la sostenibilidad del desarrollo turístico y no solo centrarse en el estudio de algunas de sus partes o interacciones, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 como se ha hecho hasta ahora en la mayoría de los trabajos realizados (Pulido y Rodríguez, 2009). Las cuatro fases que se distinguen en el bucle –liberación o destrucción creativa, reorganización, explotación y conservación- sintetizan la alternativa que el sistema tiene para responder, reorganizarse y reestructurarse ante las afectaciones que surgen como consecuencia de los colapsos que se generan a consecuencia de las diferentes perturbaciones y de esta manera, recuperar los niveles de conectividad perdidos y mejorar la eficiencia del sistema. En este contexto, surge la propuesta de un modelo de gestión adaptativa para los destinos integrantes del programa Pueblos Mágicos, la cual tiene como objetivo ser un modelo de gestión flexible, adaptable, experimental y altamen te interdisciplinar, que responda a los planteamientos conceptuales de los sistemas complejos adaptables y que pueda servir de referencia para los destinos turísticos integrantes del programa pueblos mágicos de México. Como marco referencial habría que establecer que esta propuesta surge de un proceso metodológico que incluyo el desarrollo de un análisis Delphi y de una consulta a expertos, los cuales incluyeron a expertos mexicanos relacionados con el tema en cuestión y procedentes de diversas instituciones tanto educativas, como públicas y privadas, a lo largo y ancho del territorio nacional. El modelo propuesto, según se puede ver en el gráfico 3, es una adopción del TOMM utilizado por Twing-Ward en Samoa (ver Twining-Ward, 2002 y 2003; Twining-Ward y Butler, 2002; Farrell y Twining-Ward, 2004; y OMT, 2004) que adopta un enfoque circular, lo cual garantiza una revisión continua del ciclo (Pulido y Rodríguez 2009). El modelo se distingue, entre otras cuestiones, por la incorporación de las partes interesadas (stakeholders) en todas y cada una de las fases del modelo, así como en la creación de un sistema de indicadores que permite conocer tanto el impacto del turismo en la evolución del ecosistema turístico en concreto, como el grado de consecución de los objetivos respecto a la gestión turística de los mismos. Lo anterior favorece un proceso de aprendizaje que se traduce en mejora continua y en un proceso de desarrollo hacia la autogestión y empoderamiento de los actores locales (Pulido y Rodríguez 2009). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1470 Gráfico 3. MODELO DE GESTIÓN TURÍSTICA ADAPTABLE PARA LOS DESTINOS TURÍSTICOS MEXICANOS Formulación de objetivos Establecimiento de metas Revisión de actuaciones Análisis de resultados Participación de las partes interesadas (stakeholders) Diseño del Plan de Gestión Turística Definición de indicadores Seguimiento de indicadores Implementación del Plan de Gestión Turística Fuente: Elaboración propia, adaptado de Twining-Ward y Butler (2002). El proceso inicia con la determinación de objetivos y el establecimiento de metas, las cuales deben surgir de un proceso participativo. Posteriormente, en una segunda etapa, se debe definir el contenido del Plan de Gestión Turística y construir un conjunto de indicadores que garanticen el posterior seguimiento y análisis de los resultados. A continuación, se procede a la implementación del Plan y de manera simultánea, se debe delimitar las diferentes competencias para la implementación del proceso y garantizar de este modo, un estadio de coordinación institucional, inexistente hasta el momento (Pulido y Rodríguez 2009). Considerando que las circunstancias de cada destino integrante del programa son diferentes, se vuelve imprescindible el adaptar el modelo propuesto a cada uno de ellos y, en consecunecia, las estrategias que deberán implementarse. Por tanto, cada cual deberá orientar el contenido de su Plan de Gestión Turística de acuerdo con el planteamiento de acciones realizado por los gestores, que habrán establecido diferentes tipos de estrategias (ver Pulido 2007): de proceso, de gestión, de prod ucto y/o transversales (Pulido y Rodríguez 2009). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1471 3. CONCLUSIONES En base a todo lo anteriormente expuesto, podemos concluir que a pesar de que la intensión del programa gubernamental en cuestión es la incorporación de la población local en la gestión turística del destino, según consta en la reglas de operación de dicho programa, la realidad es que la población local se siente ajena al desarrollo turístico. No debemos dejar de reconocer los logros que el programa Pueblos Mágicos ha tenido, sobre todo en cuanto a mejoras en la imagen urbana de los destinos y el aprovisionamiento de infraestructura turística necesaria para el desarrollo turístico. Adicionalmente, podemos referir que aún y cuando no era un objetivo planteado al inicio del programa, la verdad es que se ha constituido una marca turística alrededor de las localidades integrantes, con el inconveniente de que al incluirse destinos con tanta diversidad en cuanto a grado de desarrollo turístico (según se revisó en el apartado 2.2), la imagen y las expectativas que el visitante tenga de los destinos pueden convertirse en decepción en algunos de los casos, debido a la falta de servicios turísticos básicos que aun presentan algunas de las localidades. 1472 Volviendo al tema en cuestión, la gestión local en los destinos integrantes del programa Pueblos Mágicos, podrá mejorarse de manera sustancial si tal como se propone en este trabajo, se considera al turismo como un sistema complejo adaptable y por tanto, se adopta y sobre todo se adecua, según las particularidades de cada caso, un modelo de gestión adaptativa. Estamos convencidos que la implementación de un modelo de gestión adaptativa en los destinos integrantes del programa Pueblos Mágicos, contribuirá de manera sustancial al desarrollo sostenible de dichos destinos, puesto que propiciará el involucramiento de los diversos actores locales, incluida por supuesto la población local, pero además, contribuirá al empoderamiento de dichos actores hasta llegar a convertirlos en autogestores de su propio desarrollo. REFERENCIAS CASTELL, C. (2000): “Los programas de seguimiento ecológico en espacios naturales protegidos”, en AA. VV.: Actas del 5º Congreso EUROPARC España, Fundación Fernando González Bernáldez, Madrid, pp. 30-36. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 CASTRO, U. y FONSECA, M. (2008): “Políticas públicas, turismo y desarrollo local”, en Orozco, J. et al. (coords.): Desarrollo turístico y sustentabilidad social . 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XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1474 MAPEAMENTO DE CONFLITOS NO ROTEIRO TURÍSTICO COSTA NORTE (JERICOACOARA - DELTA DO PARNAÍBA - LENÇÓIS MARANHENSES) Helena Araújo Costa Doutora em Desenvolvimento Sustentável, Mestre em Turismo e Hotelaria, Administradora Professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília Membro do LETS (Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade)/CDS/UnB Email: [email protected] Elimar Pinheiro do Nascimento Sociólogo, Doutor em Sociologia pela Université de Paris V (René Descartes); Pósdoutor em Ciências Sociais pela EHESS - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris Diretor do CDS/UnB Coordenador do LETS (Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade)/CDS/UnB Email: [email protected] RESUMO O artigo trata do componente conflituoso presente nas relações sociais que envolvem micro e pequenas empresas (MPE) no roteiro integrado formado pelas regiões de Jericoacoara (Ceará), Delta do Parnaíba (Piauí) e Lençóis Maranhenses (Maranhão), também conhecido como Costa Norte. O objetivo é mapear os conflitos que envolvem as MPE do turismo. A metodologia foi composta por duas etapas. Uma qualitativa, que fez uso de observação e entrevistas semi-estruturadas. A outra, quantitativa, com questionários estruturados aplicados em entrevistas a proprietários, sócios e gerentes de 213 empresas. Os resultados revelam que os principais conflitos assemelham-se nas três localidades, e são com: governos locais; outras empresas de turismo locais; e autônomos que trabalham com turismo. As razões mais cogitadas para os conflitos são a falta de ação do governo local e a excessiva competição entre empresas e autônomos nos destinos turísticos. Além disso, os resultados mais frequentemente observados foram as perdas para a localidade e para as empresas. Contudo, foram revelados resultados positivos a partir de alguns conflitos. Palavras Chave: conflito, micro e pequenas empresas (MPE), turismo, Costa Norte. ABSTRACT The paper focuses on the conflictive component present in social relations social relationships which involve micro and small tourism businesses situated on Costa Norte, coastal zone formed by municipalities of three north eastern Brazilian counties named Ceará, Piauí and Maranhão. The goal is to map the conflicts involving the micro and small tourism enterprises. The methodology consisted of two stages. The first was a qualitative study followed by quantitative interviews with owners, shareholders and managers of 213 companies. The results show that the main conflicts in the three main destinations are with: local governments, other local XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1475 tourism enterprises and autonomous workers. The reasons considered for the conflicts are the lack of local government action and excessive competition inside the private sector. Furthermore, conflitcs‟ most observed results were losses for the destination and the businesses. However, positive results were revealed from some conflicts. Key words: conflicts, micro and small enterprises, tourism, Costa Norte. 1 INTRODUÇÃO Conflitos podem ser entendidos como interações que materializam discordância, geralmente permeados pelo confronto de interesses, valores e concepções divergentes 19. Apesar de estarem presentes na realidade, como uma face da moeda das relações sociais, diversas teorias sociológicas e estudos das relações entre organizações, tendem a, ilusoriamente, ignorar o conflito como parte das relações estabelecidas na sociedade. Portanto, a partir da identificada escassez de estudos empíricos que reconhecem os conflitos como constitutivos das relações sociais, essenciais à coesão social e à formação de atores, essa pesquisa lança a pergunta: como se dão os conflitos que envolvem as MPE de turismo da Costa Norte? A partir disso, o objetivo do artigo é mapear os conflitos que envolvem MPE do turismo nos três destinos turísticos brasileiros que compõem o roteiro integrado chamado Costa Norte. O mapeamento busca identificar: (1) os principais conflitos, com quem ocorrem e as razões de ocorrência, (2) quais os mecanismos criados para lidar com os eles e (3) seus resultados. A escolha da Costa Norte para a pesquisa empírica se justifica por uma série de fatores, entre eles: o contexto de pobreza, com sua gravidade expressa por seus indicadores de saúde, alfabetização e renda, condensados em baixos escores de IDH municipais; o dinamismo da atividade turística, a fragilidade ambiental, que a tornam especialmente fértil para análises de cunho socioambiental, ao lado da criação de um consórcio interestadual para o turismo na perspectiva da roteirização, o que torna mais interessante o conhecimento sobre as relações sociais. 19 Ainda que seja tomada como verdadeira a premissa de que cooperação e conflito coexistem na realidade social, neste momento, o enfoque recai sobre o segundo aspecto, a fim de permitir uma exposição mais pormenorizada do tema. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1476 2 O CONFLITO COMO COMPONENTE DAS RELAÇÕES SOCIAIS Conflitos, de modo geral, são entendidos como interações que expressam discordância, divergência (MCINTYRE, 2007), ações de rivalidade e individualismo (TREMBLAY, 1998; WATKINS e BELL, 2002; LEIPER, 2003). É importante notar que um conflito social emerge quando dois ou mais indivíduos ou grupos manifestam objetivos, ou percepções, incompatíveis (KRIESBERG, 2003). Os adversários podem ser indivíduos, organizações ou conjuntos grandes como governos, partidos, que exibem suas crenças, interesses e intenções. Uma estrutura social é produzida pelas interações entre relações de conflito e relações cooperativas (SIMMEL, 1969). Tal interação pode ser vista com clareza quando membros se unem em forma de cooperação ou coalizão contra inimigos comuns, pois as funções conectivas do grupo desenvolvidas pelo conflito criam fronteiras, tornando mais robusta a consciência grupal (COSER, 1961; SIMMEL, 1969). Portanto, é de se pressupor que cooperação e conflito não se opõem radicalmente e que o tecido social não se forma exclusivamente com um ou outro tipo de relação. Uma incursão em estudos com viés sociológico mostra que, tradicionalmente, tais relações eram tratadas de forma antagônica, dividindo as abordagens teóricas entre duas principais interpretações da realidade (BIRNBAUM, 1995; BOBBIO et al., 1995): Na primeira ordem de interpretação, pela perspectiva da integração, a ordem e o consenso adquirem destaque (NASCIMENTO, 2001). O conflito é visto como patológico e disfuncional. Esta visão embasa o entendimento que os conflitos devem ser prevenidos, contidos ou eliminados (KRIESBERG, 2003), e, sobretudo, evitados, pois são sinais de desfuncionalidades sociais. Na segunda ordem de abordagem, pela perspectiva do conflito, harmonia e equilíbrio são vistos como estranhos à sociedade, naturalmente conflituosa. O conflito tem relações com a vitalidade, a possibilidade de mudança e a coesão. Ele é entendido como inerente à dinâmica social e não carrega a conotação negativa de distúrbio da ordem. Simmel (1969) destaca-se como a principal referência dessa abordagem da teoria de conflito, tendo influenciado fortemente os trabalhos nesse campo com sua visão sobre a natureza e função social dos conflitos (BIRNBAUM, 1995; NASCIMENTO, 2001). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1477 O conflito coloca em risco o status quo, as condições em que alguns estão confortáveis e articulam-se para defendê-las. Os conflitos podem ter várias origens, entre elas a luta pela manutenção ou pela mudança da distribuição do poder; a frustração deflagrada por alguma privação e, ainda, diferenças referentes a normas ou valores culturais associados a identidades (XIMENES, 2006). Todavia, partes em conflitos não têm apenas objetos de disputa, têm também alguma zona de trânsito comum, um campo em que dividem crenças, objetivos ou valores (KRIESBERG, 2003). Não há conflito entre grupos ou mundos que sejam absolutamente estranhos. O conflito supõe algo em comum entre as partes conflituosas. Os conflitos são diferentes entre si, podendo ser mais ou menos importantes, ameaçadores e irreparáveis (GRAY et al., 2007). Eles, ainda, evoluem de formas distintas e variam de acordo com múltiplas dimensões, forças, recursos20 e objetivos. Até mesmo o envolvimento dos atores se dá em graus diferentes (BIRNBAUM, 1995; BOBBIO et al., 1995; LITTLE, 2001). O conflito existe porque, naturalmente, pessoas e organizações têm interesses, personalidades, necessidades e objetivos próprios e opostos. Entra-se em conflito, sobretudo, para estabelecer e conservar as identidades e fronteiras das sociedades e dos grupos, o que leva Coser a crer, a partir de contribuições de Simmel (1969), que “um certo grau de conflito está longe de ser disfuncional, é um elemento essencial na formação de um grupo e da persistência de sua vida” (1964, p. 34). Se esses são os motivos que levam o conflito a existir, quais seriam os motivos para o seu fim? Simmel (1969) aponta alguns: desaparição do objeto em disputa; vitória; conciliação ou irreconciliação sedimentada. A noção que frequentemente permeia estudos de relações entre empresas tende a considerar que “organização é preferível à fragmentação; cooperação é preferível ao conflito” (LOVELOCK, 2002, p. 7). Porém, analisando um aspecto pouco explorado, Casson e Giusta (2007) usam a expressão “efeitos perversos da cooperação” entre negócios, para indicar como eles restringem o comércio e 20 Neste trabalho, não serão tratados os conflitos violentos, ainda que a violência seja um recurso a ser empregado em situações conflituosas, como sugerem Bobbio et al. (1995). Assim como não se abordará o conflito violento, não será abordada a cooperação gerada por meio de coerção sugerida por Gillinson (2004). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1478 concentram poder. Paralelamente, podem ser apuradas vantagens e desvantagens do conflito. Certamente, há conflitos destruidores, como exemplos dados por Schelling (THE ROYAL SWEDISH ACADEMY OF SCIENCES, 2005). Entre os conflitos com resultados nocivos, aventam-se aqueles que destroem oponentes, limitam o diálogo, geram perdas de chances de desenvolver a cidade, prejuízos de oportunidades para negócios ou danos ambientais graves ou irreversíveis. No âmbito dos negócios, há danos causados pela excessiva concorrência ou deslealdade nela. Mas nem todos os conflitos são contraproducentes (COSER, 1964; KRIESBERG, 2003). Aqueles considerados “construtivos” são os que não contam com violência e ampliam a possibilidade de diálogos entre grupos. Kriersberg (2003) exemplifica alguns: embates para preservação do meio ambiente, para depor um regime autoritário, para ter o direito de votar. O autor chama a atenção para o fato de um conflito devidamente regulado e institucionalizado constituir um meio efetivo para promover a justiça e contribuir para organização da sociedade em longo prazo. De toda forma, é por meio do conflito que os indivíduos estabelecem suas normas e leis, assim como as modificam, que garantem a “conviviabilidade” entre os humanos. Para a localidade onde ocorrem, resultados positivos dos conflitos podem ser observados quando promovem modificação e criação de novas leis; facilitam o desenvolvimento de novas estruturas institucionais; a elevação da consciência de normas antes latentes; a intensificação da participação na vida social (COSER, 1961). Para as MPE, espera-se que o engajamento em conflitos gere benefícios como a criação de novas normas, a influência sobre as políticas públicas e a amplificação da força de suas opiniões (THOMAS, 2007), que isoladamente não chegam a impactar os ambientes sociais e políticos em que estão inseridas. Aumentar o diálogo entre atores sociais relevantes; angariar incrementos de infraestrutura requerida para o trabalho das MPE; proteger melhor o meio ambiente; gerar mais condições de inclusão da população local por meio do trabalho podem ser especulados como alguns resultados positivos dos conflitos. Na literatura do turismo, o conflito aparece de distintas maneiras. Há estudos com ênfase na relação entre turistas e habitantes (MAITLAND, 2008), impactos de guerras, terrorismo ou conflitos étnicos no turismo (SONMEZ et al., 1999), em discussões focadas nos conflitos territoriais sobre uso e gestão de recursos (MELO e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1479 IRVING, 2007; VALLEJO, 2007) ou mesmo a argumentação em favor do turismo como uma atividade que diminui os conflitos e aumenta a tolerância 21 entre os povos. Na discussão de turismo sustentável, os conflitos inerentes à vida social tendem a ser ignorados. Isso dá uma conotação de que a comunidade é homogênea e afetada de modo similar pelo turismo, o que não representa a realidade (RICHARDS e HALL, 2002). Em resumo, a literatura tende a não considerar a interface do conflito nas relações sociais ou simplesmente a escamotear os aspectos positivos provenientes do conflito, aprisionando-o na noção de senso comum, como algo prejudicial, nocivo, enfim, algo a ser evitado. Poucas exceções, a exemplo do trabalho de Wilkinson e March (2008), levam o conflito em consideração na análise de redes no turismo, mas enfatizando seus aspectos negativos. Os autores reconhecem que existe um contínuo entre as relações, que podem variar da simbiose a uma relação predatória proporcionada pela disputa por recursos escassos. Apenas Lovelock (2002) foi identificado como um autor que introduz na discussão da sustentabilidade do turismo o aspecto do conflito em sua positividade. O autor reconhece que toda a literatura da área tende a não considerar o conflito entre os atores sociais como construtivo, principalmente em áreas ambientalmente delicadas (LOVELOCK, 2002). O autor mostra que o conflito entre ONGs e outros atores, em função da preservação ambiental, pode gerar impactos positivos para a sustentabilidade do destino. 3 A COSTA NORTE A região estudada é designada pelas políticas públicas federais como “Costa Norte”, algumas vezes “Polo Costa Norte”; pelo Sebrae como “Roteiro CEPIMA” (Ceará, Piauí e Maranhão); e pelo nome fantasia de “Rota das Emoções” em sua promoção comercial. É um dos Roteiros Integrados resultantes do Programa de Regionalização do desenvolvimento da atividade turística no Brasil, que tem como objetivo “promover o crescimento econômico, a criação e manutenção de novos 21 Conforme concepção da Organização Mundial do Turismo (UNWTO). Disponível em www.unwto.org. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1480 postos de trabalho, de forma a buscar o desenvolvimento sustentável nas regiões turísticas envolvidas” (MTUR, 2005). O roteiro consiste em uma faixa litorânea que perpassa três estados – Maranhão, Piauí e Ceará. Em linha reta, a região totaliza cerca de 300 quilômetros e é composta por doze municípios, organizados em três regiões: Região dos Lençóis Maranhenses (MA): Araioses, Tutóia, Água Doce do Maranhão, Paulino Neves e Barreirinhas; Região do Delta do Parnaíba (PI): Cajueiro da Praia, Luís Correia, Ilha Grande e Parnaíba; Região de Jericoacoara (CE): Jijoca de Jericoacoara, Camocim e Barroquinha. O turismo no território vincula-se, principalmente, ao lazer, contemplação, esporte e aventura no meio ambiente natural realizado na zona costeira. Os principais atrativos da região são os Parques Nacionais dos Lençóis Maranhenses e de Jericoacoara, afora as Áreas de Proteção Ambiental Federais do Delta do Parnaíba e de Jericoacoara, sendo estes os atrativos naturais de maior interesse turístico da região (LIMA/COPPE/UFRJ, 2006). Merece considerações a disparidade da realidade do turismo nas localidades investigadas, porquanto os destinos apresentam estágios de vida bastante diferenciados e forte distinção no que diz respeito não somente ao fluxo de turistas, mas também aos serviços turísticos oferecidos. As demais localidades, atualmente, ocupam uma posição predominantemente de rota e não de destinos dentro da lógica do roteiro, se considerado o sistema de Leiper (LEIPER, 2003). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1481 Figura 1 – Localização da Costa Norte Fonte: dados da pesquisa Resumidamente, a Costa Norte apresenta um contexto de acentuada pobreza – consubstanciado em baixos escores de IDH (PNUD, 2006) – e de fragilidade ambiental, com perda de identidade cultural em alguns casos, escassas alternativas econômicas e disparidade na inserção de seus destinos no mercado do turismo. Como exemplo, todos os municípios da Costa Norte apresentavam, em 2000, IDH menores do que as médias do Brasil (0,766) e mesmo o do Nordeste (0,676), variando do mais baixo, de Araioses (0,486), ao mais alto, de Parnaíba (0,579), ainda que sem fortes dispersões (PNUD, 2006). Por outro lado, a região tem recebido crescente atenção de políticas públicas, com destaque para intervenções vinculadas ao turismo, firmando o pioneirismo nacional na criação de um consórcio interestadual para gestão da região. Economicamente, alguns municípios têm como setor produtivo mais relevante o turismo, particularmente nos três municípios chamados âncoras (Barreirinhas, Parnaíba e Jericoacoara). Os demais municípios se concentram em atividades de pesca e agricultura, sendo raras as indústrias manufatureiras. Tratando especialmente das empresas turísticas, em 2006 compilaram-se aproximadamente 403 de hospedagem, receptivo e alimentação no território da Costa Norte 22, a maior parte concentrada no estado do Ceará (192 empresas), enquanto os demais estados apresentam quantidades semelhantes e aproximadas a 100 empreendimentos. 22 Fonte: Sebrae; Senac; Mtur (2006) e folheteria promocional do roteiro. Reconhece-se que essas quantidades sejam somente aproximações pela dinâmica própria de micro e pequenos negócios, normalmente informais, ainda ser sujeita ao intenso rodízio de aberturas e fechamentos sem registros. Incluem empresas sediadas nas capitais dos estados e que trabalham no roteiro. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1482 4 MÉTODOS E TÉCNICAS O estudo empírico consistiu de duas etapas, desenvolvidas entre os anos de 2006 e 2008. A primeira foi qualitativa, composta por observação direta do local e entrevistas semiestruturadas em 11 dos 12 municípios envolvidos com o roteiro integrado, além das capitais dos estados em questão. Teve o objetivo de apurar as percepções dos atores locais representativos do turismo nas localidades (DUARTE, 2002). A saturação foi empregada como critério para estipular a amostragem n esta primeira etapa (FONTANELLA et al., 2008), que totalizou 53 entrevistados. Na segunda etapa, procedeu-se uma pesquisa quantitativa (survey) com MPE empresas do turismo de Barreirinhas, Parnaíba e Jericoacoara, os destinos turísticos principais da Costa Norte. Utilizou-se um questionário estruturado, aplicado em entrevista pessoal e individual. No total, 213 empresas responderam de modo válido, gerando um índice de resposta de 90,6%, já que o universo era de 235 elementos. As entrevistas foram realizadas entre setembro e novembro de 2008 e tiveram como público-alvo proprietários/sócios, gerentes e diretores de associações empresariais de estabelecimentos com atividade principal de hospedagem, alimentação, transporte turístico, pacotes receptivos (passeios e guias) ou uma combinação entre estas atividades. As questões que têm suas respostas analisadas nesse artigo são quatro: (1) Com quem são os seus principais desentendimentos? (2) Por que aconteceram solucionar? estes Se problemas/desentendimentos? sim, qual? (4) Quais foram (3) os Houve tentativa resultados de destes problemas/desentendimentos? Os dados quantitativos, provenientes do formulário, foram tratados com instrumental estatístico com suporte do software SPSS 16.0. Para análise foram utilizadas medidas descritivas (de tendência central e dispersão), as medidas de associação entre as variáveis categóricas foram calculadas utilizando-se o Quiquadrado (Q) e o Coeficiente de Contigência (C) (MALHOTRA, 2001; NORUSIS, 2002). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1483 5 OS CONFLITOS DAS MPE DO TURISMO NA COSTA NORTE Os conflitos investigados são descritos quanto a seus (1) principais atores e razões para envolverem-se em conflitos; (2) mecanismos para lidar com eles (3) resultados percebidos dos conflitos. 5.1 ATORES ENVOLVIDOS E RAZÕES PARA OS CONFLITOS 27,7% dos 213 respondentes válidos compõem a parcela que afirma participar de algum conflito. Essa é uma quantidade expressiva, embora seja de se supor que a incidência de conflitos seja maior do que revelado nas entrevistas anteriores, tendo em vista o traço cultural predominante entre os brasileiros de não admitir a participação em conflitos. Como explica Sorj (2000), o fato de ser uma sociedade baseada em favores pessoais, reflete na pouca inclinação da cultura nacional para a confrontação declarada e a crítica aberta, já que nunca se sabe quando será necessário recorrer à boa vontade do outro. Todas as localidades apresentam semelhantes padrões de distribuição de respostas afirmativas e negativas do conflito. Portanto, revela-se que não há qualquer associação da localidade com a participação em conflitos por parte das MPE, o que surpreende, pelo fato de terem sido apontadas em Jericoacoara mais características conflituosas do que nos demais locais, quando da caracterização das relações do destino, etapa prévia da pesquisa. O que pode estar aqui configurado é um pensamento apreendido ao longo das entrevistas: a resistência de tratar do conflito quando trazido para a primeira pessoa. Ou seja, a negação de si como um ator conflitivo, tendo em vista que essa relação carrega um indicativo de desajuste social. Em outras palavras, traz em seu bojo a ideia de ser de “bom tom” a pessoa não ter conflito com ninguém, apesar de conflitos existirem no destino e, sobretudo, conflitos que envolvem as empresas de turismo. Os conflitos mais recorrentes são com governos municipais (39%) e dentro do setor privado com autônomos do turismo (34%) e outras empresas de turismo da cidade (32,2%) (Gráfico 1). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1484 Gráfico 1 – Principais conflitos das MPE do turismo na Costa Norte Fonte: dados da pesquisa A despeito das fragilidades ambientais e sociais da região, conflitos com órgãos ambientais (12%) e comunidades/moradores da localidade (6,8%) não se destacam como conflitos centrais das empresas na Costa Norte. Ambos eram estimados com valores superiores, havendo a expectativa do conflito com órgãos ambientais ocupar posição central na perspectiva das MPE que operam suas atividades em unidades de conservação ambiental e seus entornos. Ainda com menor relevância no contexto da Costa Norte estão os conflitos com empresas de outras cidades (5%) e, com a mais baixa incidência, cooperativas locais (3,4%). Não se registra qualquer conflito com empresas de outros setores na mesma localidade ou com ONG ambientalista, conflitos socioambientais corriqueiros em áreas ambientalmente frágeis. Comparando as redes de conflitos formadas nos três destinos 23 vê-se que elas se assemelham quanto aos três principais conflitos: com os governos locais; com outras empresas de turismo locais; com autônomos que trabalham com turismo. Por isso, as localidades não apresentam diferenças estatisticamente significativas 23 Por não serem significativamente distintas, foi representada apenas a rede total das localidades, em detrimento das três redes que deram origem a essa. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1485 nesse aspecto.24 Todavia, conhecer as especificidades locais dos conflitos e aprofundar-se nelas revela aspectos interessantes para discussão. Jericoacoara concentra a maior parte dos conflitos das MPE com o governo municipal, na faixa de 42% dos respondentes que confirmam ter conflitos. Com mais nitidez em Barreirinhas e pouco menos nas outras localidades, é possível entrever uma realidade assemelhada àquela revelada por Page et al. (1999), em que os principais obstáculos identificados pelas MPE do turismo no Reino Unido estavam ligados à competição no mercado local, e não com outros atores externos. Na investigação desses autores as pequenas empresas de turismo tinham como maior obstáculo para seu desenvolvimento – a partir da ótica dos empresários – a competição local, em detrimento de quaisquer outros fatores, inclusive da competição com empresas grandes. Era esperada uma relevância mais acentuada de conflitos com empresas de turismo de alcance regional, tendo em vista que a roteirização pode não somente ampliar o campo de cooperação, mas também de conflitos, com o aumento do alcance da atuação das empresas anteriormente circunscritas a seu destino-base. Afinal, tais empresas existem e podem “roubar” parte do mercado. No entanto, até o momento, a roteirização tem parecido fomentar a cooperação de modo mais expressivo do que o conflito entre as MPE da Costa Norte. Conflitos com os órgãos ambientais e a comunidade não figuram como conflitos centrais para as MPE em qualquer das localidades, contrariando expectativas em áreas pobres, de entorno de unidades de conservação e que delas dependem para a oferta do turismo. Quanto às razões para entrar em conflito, uma análise agregada da região, revela semelhança de natureza do conflito que as MPE identificam nas três localidades, basicamente ligada à falta de ação do ente público local. As principais razões mencionadas são: 1. a falta de provimento de infraestrutura para o turismo, fortemente destacada nas três localidades e que reforça o expressivo conflito com tal ator; 24 O teste de associação não ofereceu significância para as cidades. A técnica de Análise Discriminante a partir dos 59 respondentes válidos não mostrou nenhum conflito diferenciador das localidades entre si, confirmando que as realidades são bastante similares nos três conflitos que as definem. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1486 2. a falta de regulação do mercado do turismo local, o que lança luz sobre o expressivo conflito entre entes privados (empresas e autônomos). Existe não somente o conflito entre as MPE em Barreirinhas, principalmente agências, mas também delas com cooperativas e com os “meninos de rua” (guias autônomos informais). Uma das razões aparentes para tamanha competição entre agências e autônomos que fazem transporte turístico e passeios nas localidades é a excessiva padronização dos passeios oferecidos. Talvez esse embate seja menos aparente entre meios de hospedagem e empreendimentos de alimentação porque sua oferta é naturalmente mais segmentada: um restaurante popular não disputa o mesmo espaço que um restaurante refinado; um hotel cinco estrelas não concorre pelo mesmo público que um albergue. Isso potencializa que a competição seja feita em nichos e não de modo tão disseminado. Ou seja, se por um lado a própria falta de diferenciação dos passeios faz com que eles se concentrem sobre o mesmo público, cobrem os mesmos preços e ofertem serviços extremamente similares, por outro lado a competição acirrada parece desencorajar a inovação e diferenciação de produtos. Isso em razão da dificuldade de sobrevivência e dos riscos que devem enfrentados ao iniciar uma mudança. Outra vez inaugura-se um círculo vicioso: MPE ficam presas a uma oferta muito similar porque têm a venda assegurada; e o mercado apenas compra aquilo tendo em vista não haver diferenciação aparente. Sem diferenciação de qualidade, resta a guerra de preços como mecanismo de sobrevivência. 5.2 OS MECANISMOS PARA LIDAR COM OS CONFLITOS Na investigação dos mecanismos para lidar com os conflitos, aos entrevistados que apontaram ter se envolvido em conflitos foi indagado se houve inclinação para solucionar as questões. A tentativa de solução aqui não é vista como uma “cura”, na conotação do conflito como patológico ou disfuncional, mas sim como uma possibilidade de articulação de grupos e estabelecimento de regras mais claras, potencializando coesão interna aos conjuntos. A tentativa de solução de conflitos também se relaciona com as próprias articulações de cooperação. No grupo investigado, é predominante a percepção de ter havido esforços para solucionar os conflitos em que as MPE estavam envolvidas (76,3%). Do total, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1487 23,7% mencionam não ter havido tentativas de solução. Tomando uma perspecti va comparativa, não houve qualquer manifestação de associação estatística entre a tentativa de solucionar conflitos e a cidade, já que todas as três apresentaram distribuição semelhante e com forte predominância ao “sim” (70% a 80%), não permitindo diferenciá-las sob esse aspecto. Portanto, a análise comparada serve para evidenciar qualitativamente quais são as articulações ocorridas para solucionar conflitos em cada local. De modo sucinto, em Jericoacoara aparecem tentativas de diálogo com o poder municipal instituído, todas consideradas infrutíferas pelos respondentes. Constantes tentativas surgem na localidade e fracassam. Recentemente, surgiu uma associação com perspectivas de abranger todo o segmento do turismo na vila em uma visão comum (Adetur- Jeri), que já é considerada a mais ativa pelos respondentes. Parnaíba mostra uma articulação pouco mais avançada para fazer frente aos conflitos entre empresários do turismo, na medida em que a principal associação ruiu e as empresas de passeios permanecem organizando uma lista única de saída de barcos, a fim de minimizar riscos e maximizar lucros individualmente, já que não há demanda para que todas lancem mão de seus barcos diariamente, o que poderia resultar em uma competição danosa para todas as MPE. Um dos entrevistados que participa dessa iniciativa não relaciona a ela qualquer traço de confiança nos parceiros, mas sim como um modo de zelar pela sobrevivência. Esse exemplo mostra como os limites entre cooperação e conflito são tênues, revelando tais relações como faces de uma mesma moeda e em constante ajuste. Afinal, uma ação de cooperação pode surgir para atenuar conflitos, e o conflito pode recriar a maneira como as ações em parceria se organizam, criando novas regras de coexistência. Entretanto, é em Barreirinhas que se encontra a articulação cooperativa mais complexa da região, em resposta aos conflitos mais centrais no turismo da localidade com a organização de MPE do turismo, com a intenção de instituir o voucher único de entrada nos atrativos. Apesar ainda de não citado por nenhum dos entrevistados como uma busca de soluções para os conflitos do turismo da cidade, chama a atenção tal articulação, a exemplo da governança instituída em Bonito XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1488 (MS).25 Esse ingresso garantiria o respeito à capacidade de carga determinada, asseguraria a visitação acompanhada de guias credenciados, bem como reverteria recursos para a administração pública local (CDS/UNB, 2008). Tal proposta tem sido vista como a solução do problema por parte de diversos respondentes e conta com apoio da Prefeitura, uma ação conduzida pelo empresariado local, diretamente ligada com a participação da associação criada pelos empresários das MPE e do conselho municipal de turismo. A instituição do voucher único traz consigo dois possíveis desdobramentos: ou de potencializar soluções inovadoras para o destino sob a influência da governança conduzida pelo setor privado, protegendo recursos naturais, incrementando a experiência turística e ampliando o diálogo com outros atores sociais; ou de promover crescente exclusão dos grupos com que se têm atritos na medida em que fortalece tal instância de gestão. 5.3 OS RESULTADOS DOS CONFLITOS Aqueles que perceberam resultados escolheram entre opções que articulavam condições favoráveis e desfavoráveis para a sustentabilidade do destino, resultando em uma questão de múltipla escolha com as opções apresentadas no Gráfico 2. Os dados mostram que um percentual de 43% das empresas envolvidas em algum conflito não percebe qualquer resultado, opinião expressa pelas frases “nada mudou” ou “tudo continua igual”. Tal opinião tem incidência semelhante nas três localidades. Dentre os 57% que percebem ter havido resultados a partir dos conflitos, a maioria menciona aqueles considerados desfavoráveis à sustentabilidade, enquanto uma parcela reduzida percebe resultados favoráveis para os grupos e para as localidades a partir dos conflitos. 25 (VIEIRA, 2003; LUNAS, 2006). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1489 Gráfico 2 – Resultados dos conflitos na Costa Norte 1490 Fonte: dados da pesquisa Nenhum dos resultados obteve opinião da maioria dos respondentes. O resultado mais observado, porém, aponta a perda de chances de melhorar a cidade (41,2%). Em seguida, 38,2% atribuem aos conflitos a perda de negócios para as empresas. Em terceiro lugar, outros resultados são mencionados, discutidos especificamente para cada localidade a seguir. Em contrapartida, os resultados menos observados são a formação/fortalecimento de grupos, mencionado por 2,9%, e as melhorias para a cidade (5,9%). Evidencia-se que poucos apontam a positividade do conflito esperada a partir de Coser (1964) e Simmel (1969). Tais características levam a refletir se os conflitos não produziram soluções interessantes ou se os respondentes, como o senso comum predominante no País, têm uma visão estigmatizada dos conflitos. 26 Afinal, ainda que tão poucos resultados positivos do conflito tenham sido reconhecidos por parte dos respondentes, fica 26 Um dos entrevistados expressou bem essa ideia, quando comentou durante a entrevista que não tinha qualquer sentido perguntar se havia resultados positivos do conflito. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 marcado que diversas articulações de cooperação surgem dos conflitos: o voucher em Barreirinhas; a lista única de embarcações em Parnaíba; a articulação para limpeza da praia em Jericoacoara. Em uma visão comparada dos possíveis resultados investigados para os conflitos entre as cidades, a característica que melhor as distingue 27 está presente em Parnaíba, com expressiva maior incidência de opiniões que mostram os conflitos como geradores de perdas para a cidade. As demais características não diferenciam as cidades, seja porque incidem de modo expressivo e semelhante, a exemplo da perda de negócios para as empresas, seja porque foram praticamente inexistentes, como as melhorias para a cidade. Em Parnaíba, 85,7% das empresas que estabeleceram algum conflito percebem que ele resulta em perdas de chances de melhorar a cidade, em valores bastante menores em Jericoacoara (38,9%) e Barreirinhas (33,3%). Chama atenção o fato de ser Parnaíba a localidade onde menos tensão é comunicada pelo conjunto dos dados, e que lá haja mais percepção de resultados danosos do conflito. Uma possível mensagem contida nesses dados se traduz em: “como não nos unimos e não agimos juntos e de maneira persistente, perdemos chances de melhorar a cidade”. Em outros termos, a desunião e a independência excessiva contribuindo para que resultados coletivos favoráveis não sejam alcançados, mais do que o próprio conflito. Quando analisadas as respostas dadas à categoria outros resultados – que corresponde à última entre as opções de resposta da questão –, é interessante observar a marcação por parte de uma parcela de 35,5% dos respondentes, o que classifica opção escolhida como a terceira característica mais incidente na Costa Norte. Isso indica que as categorias de resultados oferecidas para o conflito não foram exaustivas, e pode refletir uma necessidade de avanço rumo ao estudo empírico da relação conflito–sustentabilidade. Todos os outros resultados percebidos pelos entrevistados ressaltam efeitos positivos do conflito. Todos eles estão concentrados em Jericoacoara e Barreirinhas, já que em Parnaíba nenhum outro resultado foi mencionado. 27 Foi empregada a técnica de Análise Discriminante com 58 respondentes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1491 Em Jericoacoara são mencionados entre outros possíveis resultados apenas resultados favoráveis dos conflitos, tais quais: a “aproxi mação da empresa com a comunidade”; a “união da própria comunidade” e o fato de a “comunidade perceber seu valor”; a “insistência para a melhoria da cidade”; as “conversas com a Adetur Jeri para resolver os problemas” e o “crescimento de trabalhos conjuntos”.28 Em Barreirinhas, entre os outros resultados figuram a implementação de “mudanças pedidas” e o “calçamento da região próxima à duna na área central da cidade”, ambos ressaltando aspectos positivos como resultados do conflito. Portanto, alguns exemplos de resultados coletivos favoráveis do conflito são identificados nas localidades mais conflituosas. 6 CONCLUSÕES A esmagadora maioria dos conflitos é, em grande parte, fruto da falta de regulação da atividade por parte da autoridade pública responsável. Em última instância o principal espaço do conflito é criado pela inoperância do setor público. Os conflitos mais presentes na Costa Norte foram aqueles com governos locais, com autônomos do turismo e com empresas locais do setor turístico. Eles foram assentados sobre a falta de ação das prefeituras e sobre a falta de regulação da atividade turística, que abre espaço para disputas desleais e práticas excessivamente predatórias de mercado entre as empresas. Ao lado disso, não há centralidade do conflito com os órgãos ambientais, difícil de compreender em destinos inerentemente voltados para seus recursos naturais. Afinal, esses conflitos estão por todos os lados materializados nas intervenções do órgão ambiental para frear desmatamento, construções nas margens dos rios, realização de trilhas sobre dunas, despejamento de resíduos sólidos das embarcações nas águas, entre outras questões. Possivelmente a baixa capacidade de fiscalização dos órgãos ambientais – proporcionada pela escassez de recursos financeiros e humanos em vastas áreas – seja uma das explicações para esse conflito não ter centralidade na realidade das MPE do turismo. 28 Três respostas foram invalidadas por não serem claras. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1492 Os três principais conflitos assemelharam-se nas três localidades, sendo com: governos locais; outras empresas de turismo locais e autônomos que trabalham com turismo. Como as principais razões cogitadas para os conflitos na região estão a inação do governo local em diversos aspectos e a brutal competição entre empresas e autônomos do turismo nos destinos. Quanto aos resultados dos conflitos, apesar de não contar com maioria, os mais frequentes foram as perdas para a localidade e para as empresas. Contudo, foram revelados resultados positivos a partir do conflito tais como aqueles que ampliam o diálogo, a representatividade de segmentos anteriormente excluídos, que aprimoram processos democráticos de participação, já que esses resultados podem ser considerados positivos para a consolidação da governança do destino. As evidências da pesquisa levam a crer que ambos os aspectos das relaçõe s sociais, de cooperação e de conflito, coexistem organicamente. Aparentemente, o conflito condiciona o aparecimento da cooperação e a cooperação também atua sobre o desenrolar dos conflitos, sendo uma forma de resposta a eles. Isso fornece indícios de para inaugurar uma linha de investigação mais complexa das relações sociais que envolvem as MPE do turismo. REFERÊNCIAS BIRNBAUM, P. Conflitos. In: BOUDON, R. O. (org.). Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro, 1995, p.247-282 BOBBIO, N. et al. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1, 1995 CDS/UNB. Carta de Potencialidades e Problemas do Turismo na Costa Norte. Projeto Turismo Sustentável. Convênio MTUR, AECID, IABS. Brasília, 2008 COSER, L. The functions of social conflict: The Free Press, 1964 DUARTE, R. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. In Cadernos de Pesquisa [online], v. 115, n., p. 139-154, 2002 FONTANELLA, B.J.B. et al. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. In Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 1, p., 2008 GRAY, B. et al. Intractable Conflict: New Perspectives on the Causes and Conditions for Change. 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Anais… Brasília, 2006 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1494 MATRIZ DE RELAÇÃO CLIMA-TURISMO: UM CONTRIBUTO PARA O PLANEJAMENTO DE DESTINOS TURÍSTICOS Alisson Silva Fernandes Especialista em Turismo/Universidade de Brasília - UnB [email protected] Luís Henrique De Souza Mestre em Turismo/Universidade Federal de Sergipe [email protected] RESUMO O clima e suas relações com o turismo são tratados neste artigo como importantes insumos para o planejamento de destinos turísticos, trazendo à ribalta a necessidade de analisar adequadamente os fundamentos teóricos e práticos da relação clima-turismo para um melhor planejamento turístico. É respeitável antecipar os fenômenos atmosféricos, mais especificamente os desastres ambientais que consequentemente trazem danos ao turismo e elevam os riscos para os turistas. A situação atual do globo terrestre em relação às diversas mudanças climáticas foi um dos marcos para a elaboração do presente artigo. Tempestades adversas, temperaturas acima ou abaixo do normal, furacões em locais inéditos, são alguns exemplos da verdadeira situação mundial e estes fenômenos afetam diretamente a atividade turística. O objetivo deste estudo é propor uma Matriz com a relação climaturismo essencial ao planejamento turístico. O método qualitativo e de natureza descritiva, além de pesquisa e coleta de dados bibliográficos, foram aplicados para a construção da Matriz. Os resultados ressaltam que as séries de dados produzidas pela aplicação da Matriz possibilitam uma melhor caracterização do destino turístico, à luz de suas identidades climáticas, propiciando uma melhor adequação da oferta às condições climáticas e aumentar a satisfação da demanda turística. Palavras Chave: Climatologia; Meteorologia; Planejamento turístico; Matriz ClimaTurismo ABSTRACT Climate and its connections with tourism are presented in this article as important inputs for planning tourist destinations, highlighting the need to properly analyze the theoretical and practical aspects between climate and tourism for a better touristic planning. It´s respectable to anticipate the atmospheric phenomenas, particularly the environmental disasters that consequently bring harm to tourism and raise the risk for tourists. The current situation of the globe and its climate change was o ne of the milestone for this article. Adverse storms, temperatures above or below normal, hurricanes happening in unpublished places are some examples how climate is changing around the world and these phenomenas directly affect tourism. The aim of this study is to propose a Matrix with the climate-tourism relationship to be applied XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1495 into tourism planning. Qualitative methods based on descriptive techniques, and research and collecting bibliographic data were applied to construct the Matrix. The results emphasize that the data sets produced by applying the Matrix enable a better characterization of destinations according to their climate identities and by this way to provide adjust of tourism supply to climate conditions and increase the satisfaction of tourism demand. Key words: Climatology; Meteorology; Tourism Planning, Matrix Climate-Tourism. 1 INTRODUÇÃO A relação clima-turismo exige planejamento e a estratégia é adequar sistematicamente as diversas informações climatológicas e meteorológicas ao fator turismo. O conceito de turismo por si só já aborda e facilita a importância da união com Climatologia e a Meteorologia, pois devido ao deslocamento que o turista tem que fazer, ou seja, visitar uma região diferente e com condições meteorológicas e climatológicas divergentes das quais ele está acostumado a presenciar, o planejamento climático-meteorológico torna-se imprescindível. Vale ressaltar que os danos causados pelos fenômenos da natureza, quando não anunciados de forma antecipada, são bastante prejudiciais às cidades e às pessoas, e ainda mais quando se trata de uma localidade turística. O Brasil, por ter um grande território, está propício aos variados fenômenos climáticos. A Amazônia, quente e úmida, contrasta com o Nordeste semi-árido. A sucessão das estações seca e chuvosa do Planalto Central se distingue da quase regularidade das chuvas da Região Sul. Os climas saudáveis dos altos montes contrapõem-se às depressões quentes, úmidas e pouco ventiladas. Apesar de tanta diversidade climática e grande potencial turístico-ambiental, a relação clima-turismo ainda não é abordada com a atenção que merece. Nesse contexto, esta investigação irá realizar uma abordagem teórica preliminar acerca da importância da inserção do componente “clima” no planejamento de destinos turísticos e, em sequência, apresentará a metodologia de construção da Matriz Qualidade Clima-Turismo – Matriz QCT, como instrumento que permite fornecer informações sobre o clima em destinos turísticos. O artigo é finalizado com os resultados da aplicação da Matriz em alguns destinos turísticos brasileiros. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1496 2. TURISMO E CLIMA: UMA RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA Pode-se pensar o turismo por intermédio de várias características que apresentam forte correlação e grande importância em diversos contextos: econômico, social, psicológico, espacial, cultural, antropológico, etc. Experiência econômica, contato pessoal, admiração artística e sentimental e contemplação paisagística são elementos dignos de apreços por aqueles que estejam envolvidos com o turismo. Além disso, o sistema do turismo tem uma característica transversal e heterogênea que o expõe de certa singularidade como atividade de forte interrelação entre fatores econômicos, sociais, culturais, políticos, além dos fatores naturais (TALAYA et al, 2004, p. 657). A superfície do planeta Terra é significativamente diferente em seus vários lugares. Essa diferenciação é decorrente da existência de paisagens, resultado da combinação atuante de ações naturais, como a geológica, a hidrológica, a vegetação, a fauna, o clima. Diante das ações naturais que atingem a superfície terrestre que diferenciam os espaços paisagísticos, o clima atua na configuração externa da paisagem e nos elementos que ali estão, por isso, o estudo do clima em 1497 relação às atividades sociais é imprescindível ao equilíbrio planetário. A Climatologia, como ciência que estuda o clima em suas atividades funcionais, ajuda a entender melhor a reação geofísica do meio ambiente natural. Essa ciência estuda os fenômenos atmosféricos do ponto de vista de suas propriedades estatísticas (médias e variabilidades) para caracterizar o clima em função da localização geográfica, estação do ano, hora do dia etc. “Etimologicamente, Climatologia significa o estudo do clima. É um ramo da ciência que é estudado tanto pela Geografia quanto pela Meteorologia.” (VIANELLO; RAINIER, 2000, p. 377). Os aspectos da Climatologia estão relacionados aos fatores meteorológicos, porque é preciso analisar os fenômenos atmosféricos de forma mais dinâmica e desenvolvê-los com mais facilidade de entendimento e com métodos indispensáveis para uma transmissão de dados relativamente importantes para aqueles sistemas que necessitem das informações, dentre eles as do turismo. Se, por um lado, a Climatologia estuda as influências da atmosfera no espaço geográfico, a Meteorologia, ciência Física, limita-se exclusivamente a estudar a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 própria atmosfera e seus fenômenos. Do grego meteoros que significa elevado no ar, e logos que significa estudo, Meteorologia é a ciência que estuda a atmosfera terrestre. De acordo com o INMET (2009), a Meteorologia no seu sentido mais amplo é uma ciência extremamente vasta e complexa, pois a atmosfera é muito extensa, variável e sede de um grande número de fenômenos. A Meteorologia, em caráter regional, pode ser definida como o estado da atmosfera em região e momento determinados, e pode ser descrito com respeito a uma única estação de observação ou uma área em particular da superfície da localidade. Certas ideias e conceitos básicos estão presentes em todas as áreas da Meteorologia, mas para fins deste estudo será abordada a Meteorologia e sua relação com o turismo em suas atividades social e ambiental natural. Deriva-se disso que o conhecimento do clima é consequência do conhecimento do tempo meteorológico e que o primeiro representa uma generalização e o último reflete um acontecimento em particular. O homem pode ser conhecedor das influências que os fatores climatológicos e meteorológicos exercem sobre sua vida e suas atividades; as que são desenvolvidas ao ar livre, afetadas em maior grau. E em decorrência disso, ciente também das ações que algumas dessas atividades exercem sobre a atmosfera, dentre essas atividades que influem sobre o clima estão, sem dúvida, as atividades turísticas. O turista, elemento motriz do sistema turístico, reúne necessidades e está ávido para, no destino, consolidar uma experiência, uma vivência caracterizada pela admiração de acontecimentos e obras históricas que sobrevivem no território e nos quais se atribuem valor monumental, artístico ou cultural, pelos hábitos e pela gastronomia local, além das paisagens naturais abrigadas. É com esse pensamento que as atividades turísticas refletem procedimentos diferenciais a partir do meio ambiente e das culturas, fazendo com que, por intermédio da relação clima-turismo, características de um se incline para o outro. Diante das características do mundo contemporâneo, o turismo pode desempenhar um papel muito importante na conexão entre ser humano (cultura) e espaço (meio ambiente). Conexão esta desenvolvida com planejamento estratégico, a analisar fenômenos sociais e naturais, como as climáticas, tendem a gerar XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1498 atributos e percalços sobressalentes que, às vezes, implicam na satisfação dos turistas. A satisfação do turista gera contentamento em toda a cadeia turística. A expectativa de deslocamento de turistas para um espaço turístico constitui expectativas de relações sociais, culturais, econômicas e do meio geográfico. “Para as ciências geográficas, por exemplo, o turismo constitui, na realidade, os deslocamentos de pessoas de um ponto a outro da superfície terrestre.” (ACERENZA, 2002, p. 27). Esta aproximação espacial evidencia que o turismo demanda e consome um espaço geográfico. O espaço geográfico (e por extensão de seus elementos constituintes, entre eles o clima) pode ser suporte e recurso para as atividades humanas. O turismo é um fenômeno dinâmico, ou seja, está sujeito a mudanças em sua estrutura, de acordo com o destino explorado. De forma mais eficiente, quando uma crise atinge um destino turístico, ao mesmo tempo outro destino estará apto a receber turistas. A ideia de relação climático-turística é ampla, dado integrar tanto a relação casual natural como a relação racional social, admitindo a co-relação significativa da ação do clima (casual) com o comportamento relativo da sociedade (racional). A relação clima-turismo tem realizado numerosas reflexões. Estas reflexões têm se ordenado mediante três posturas diferenciadas. A primeira considera que a atração do clima, como elemento do meio natural, é suficiente para explicar a maior parte dos centros e fluxos turísticos. A segunda reforça que todo clima é potencialmente turístico. A terceira, no meio do caminho entre as anteriores, põe em evidência o papel dos fatores climáticos no s comportamentos turísticos e, às vezes, manifesta a necessidade de avaliar o potenciar de atração dos diferentes climas de um território. [...]. Entre todos estes elementos, cuja consideração é necessária para realizar um planejamento coerente, de acordo com as novas exigências da demanda, merece ser destacado o clima. (MARTÍN, 2005, p. 21-22). Na procura da superação do casual-racional, os que usufruem da dependência mútua, da ação recíproca entre clima e turismo determinam o fluxo da sua atividade. A opção é relativa ao clima, somente, ou ao turismo, só, ou a ambos em conjunto. Nas posturas diferenciadas apresentadas por Martín (2005) é mister que a primeira torne-se a principal escolha do turista, ainda que este, mesmo não ciente das condições climáticas do destino, considere a Climatologia da região. A segunda confirma todo clima como potencial turístico, mas é necessário as XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1499 condições climáticas estejam em consonância com as escolhas e estados físicos dos turistas. A terceira é principal, pois evidencia o planejamento pelo agente turístico na real situação de cada território e na correlação casual e racional. As múltiplas interações entre o clima e o turismo são essenciais para ambos, ou melhor, são elementares para os dois sistemas. O sistema [climático] consiste da atmosfera, oceanos, massas de gelo e neve, superfície terrestre, rios, lagos e a biosfera (incluindo o ser humano). (BECKEN; HAY, 2009). O sistema turístico, em sua maioria, é dependente do sistema climático, uma vez que a maior parte dos diversos tipos de clima da Terra funciona como meio para as práticas turísticas. Dessa forma, a relação entre o sistema climático e o sistema turístico tem sido abordada tradicionalmente do ponto de vista natural, considerando-se o clima como um recurso natural especial entre os recursos turísticos naturais por ser renovável e não degradável. Porém, ao se identificar o clima como uma variável de planejamento turístico, é válido dizer que o espaço geográfico-turístico, a demanda turística, a oferta turística e os agentes do sistema podem se ver alterados, direta ou indiretamente, pelos fenômenos das mudanças climáticas. A mais recente publicação da OMT sobre o tema elucida os seguintes pontos acerca da influência das variações climáticas sobre o turismo: o cli ma define a duração e a qualidade das estações turísticas, sendo muitos destinos totalmente dependentes do clima, assim, o clima é muitas vezes o principal recurso sobre o qual o turismo se estabelece; o clima afeta diretamente os custos das operações turísticas, como fornecimento e qualidade da água, aquecimento, necessidade de irrigação, controle epidêmico, etc.; muitos recursos naturais são atrações críticas para muitos destinos e são sensíveis às variações climáticas, como vida selvagem e biodiversidade, nível e qualidade das águas, existência de neve, etc.; o clima também é responsável por fatores que podem inibir o turismo como epidemias, incêndios florestais, proliferação de algas, ou eventos extremos como furacões, enchentes, etc.; as flutuações climáticas são determinantes na tomada de decisão do turista quanto a escolha de seu destino, e nesse aspecto, o tempo é um componente intrínseco na experiência da viagem e influencia na satisfação do turista (UNWTO, 2009). Destarte, o clima, recurso turístico natural, ajuda na elaboração do produto turístico. A prática das modalidades turísticas utiliza os recursos naturais e valoriza XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1500 socialmente o meio natural pelos deslocamentos dos interessados. Sintetizando, valoriza o conjunto de seu meio ambiente. É neste sentido que Martín (2005, apud FURIÓ, 1996) expressa que uma parte significativa do turismo atual se fundamenta no uso de características físico-naturais reunidas em um espaço concreto. Por conseguinte, o clima se constitui num recurso básico para diver sas atividades, como indica Martín (2005, apud SMITH, 1993) de que existem as atividades dependentes do clima/tempo meteorológico, como, por exemplo, o turismo de sol e praia, os esportes de verão, o turismo de saúde ou os esportes náuticos, entre outros. O heliotropismo é um argumento fundamental que explica por si só importantes fluxos turísticos: encontrar e desfrutar do sol aparece como uma das motivações principais das saídas de férias de muitos turistas. A UNWTO (2003) estima que 60% dos mais de 180 milhões de deslocamentos turísticos que anualmente têm no mundo são em decorrência de uma motivação climática. Diante de tais pressupostos, advoga-se a necessidade de incluir o componente climático no planejamento de destinos turísticos. Precaver-se das armadilhas dos fenômenos meteorológicos e climatológicos, ainda mais trabalhando com a atividade turística, torna-se cada vez indispensável. É necessário está alerta aos problemas atmosféricos e associar as soluções desses problemas ao turismo. A primeira Conferência sobre Mudanças Climáticas e Turismo, organizada pela UNWTO em 2003, trouxe à baila uma série de preocupações no âmbito da influência do desenvolvimento do turismo no que respeita o clima, principalmente sobre aspectos relacionados ao transporte aéreo e incentivos ao uso de energias alternativas pelos empreendimentos turísticos. Resultou, também, desta Conferência uma série de conclusões do ponto de vista das políticas públicas em que se destacaram: introduzir incentivos fiscais ou ajudas financeiras com vistas à modificação das infraestruturas turísticas; incrementar os investimentos públicos em infraestruturas para novos desenvolvimentos turísticos que amenizem os impactos das mudanças climáticas; proporcionar aos usuários do setor turístico uma formação orientada para tratar as consequências das mudanças climáticas, incluindo a assistência prática para tomar decisões. (UNWTO, 2003). Em recente documento publicado pela UNWTO, são apontados mecanismos com objetivos de mitigar os impactos das atividades turísticas no clima e que podem XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1501 ser considerados no planejamento de destinos e nas atividades operacionais de empresas do setor turístico, notadamente a hotelaria e o transporte aéreo: redução do uso de energia, aperfeiçoamento de tecnologias em eficiência energética, de forma a reduzir o consumo de combustíveis pelo transporte aéreo, melhorando a performance de aeronaves; aumento no uso de energias renováveis, com investimentos em painéis solares, re-utilização da água, energia eólica, etc.; seqüestro de carbono ou compensação pelo uso do carbono (UNWTO, 2009). Em linhas gerais, a Climatologia e a Meteorologia, ao menos no Brasil, não são discutidos com a ênfase que merecem no âmbito do turismo. É preciso potencializar esses meios em qualquer planejamento turístico, enfatizando as informações sobre a atual situação atmosférica do planeta, como as mudanças climáticas globais, que de resto representam fortes ameaças ao turismo. O poder público e a iniciativa privada possuem ampla responsabilidade na inclusão do clima no planejamento de destinos turísticos. Para a UNWTO(2009), os governos precisam encorajar e implementar políticas regulatórias e oferecer incentivos financeiros para a indústria do turismo reduzir seus impactos negativos ao meio ambiente. Por sua vez, a iniciativa privada deve participar ativamente dos fóruns de planejamento de destinos e apresentarem seus planos de mitigação de impactos. Juntos, governo e a iniciativa privada das diversas atividades do turismo possuem papéis cruciais no enfrentamento das mudanças climáticas e seus impactos nos destinos turísticos. As mudanças climáticas, quaisquer que sejam as suas causas, apresentam desafios, não apenas relativos à velocidade destas mudanças mas principalmente na forma que os destinos se ajus tam e se adaptam para enfrentá-los. 3. METODOLOGIA Esta investigação assenta numa pesquisa qualitativa de natureza descritiva, sendo delineada por meio de um estudo bibliográfico sistematizado nos fundamentos da relação clima-turismo, tendo como foco o planejamento da atividade turística à luz da questão climática. Apresentam-se a seguir os passos necessários à construção da Matriz Qualidade Clima-Turismo – Matriz QCT - que foi desenvolvida com atribuições climatológicas e meteorológicas a partir dos cinco principais XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1502 informantes que ilustram as mais variadas questões relacionadas com os fenômenos atmosféricos: o Canal do Tempo (The weather channel), o CPTEC, A Climatempo, o INMET e o INPE. A aplicação da Matriz contribui para o planejamento de destinos focalizado no clima e seu uso em destinos do turismo de base local ressalta os atributos climáticos da localidade uma vez que permite a coleta de dados sistemáticos sobre a localidade. Elaborou-se uma série de Quadros com níveis ótimos para os principais elementos climático-meteorológicos, depois de uma avaliação pontual simples, com auxílio de uma operação matemática simples de adição e divisão, a qual levará ao objetivo principal que é aplicar a Matriz QCT e assim obter os dados para o planejamento do turismo no que respeita às condições climáticas do destino. Todos os dados obtidos para a criação e estruturação da Matriz QCT foram por intermédio da rede mundial de computadores (Internet), nos endereços dos informantes climático-meteorológicos cujos dados disponibilizados são fundamentais para a construção da Matriz. Para aplicar a Matriz QCT, com o objetivo de apresentar os resultados obtidos, foram escolhidos de forma aleatória alguns destinos turísticos brasileiros, os quais serão analisados de acordo com os dados climático-meteorológicos e os resultados poderão sugerir a atratividade ou não atratividade turística: Barreirinhas – MA, destino que dá acesso aos Lençóis Maranhenses; Ponte Alta do Tocantins – TO, cidade próxima do Parque Nacional do Jalapão; e por fim a cidade sulista de São Joaquim – SC, onde o clima frio é o principal atrativo turístico, podendo nevar em épocas de inverno. Destaca-se, entretanto, que qualquer outro destino poderia ser utilizado para exemplificar a aplicação da Matriz. Para efeito deste artigo, a escolha de Barreirinhas, Jalapão e São Joaquim se deve ao fato de serem destinos que utilizam o clima como recurso turístico. Para iniciar a Matriz QCT, elaboraram-se, em primeiro lugar, os Níveis QCT, para pontuá-los – conforme Quadro 1 (Critérios de pontuação) - de acordo com o grau ótimo de aceitabilidade climática. Os critérios definidos para se determinar os Níveis QCT foram os pontos, que estão distribuídos de “0 a 10”, os quais, os níveis com pontuação “0” serão o mínimo e com pontuação “10” o máximo; e os critérios que vão do grau de “totalmente estressado” até “nenhum estresse”, sendo este o XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1503 melhor grau para a satisfação turística. Para um melhor entendimento, os graus de “estresse” dos turistas foram divididos em percentagem, ou seja, o grau de “NENHUM ESTRESSE” foi fixado em 100% e o grau de “TOTALMENTE ESTRESSADO” em 0%. As demais percentagens distribuíram-se de dez em dez, em consonância com as pontuações. QUADRO 1 – CRITÉRIOS DE PONTUAÇÃO CRITÉRIOS PARA PONTUAÇÃO DOS NÍVEIS E MATRIZ-PROPOSTA QCT GRAU DE ESTRESSE DOS TURISTAS Totalmente 0 Nenhum MATRIZ-PROPOSTA QCT PONTOS PONTUAÇÃO EQUIVALENTE ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO (LETRAS DE “A” a “F”) 0a5 F 6 a 10 E 11 a 15 D 0% 0 10% 1 20% 2 30% 3 40% 4 50% 5 16 a 20 60% 6 21 a 25 70% 80% 7 26 a 30 8 31 a 35 90% 9 100% 10 C 1504 B 36 a 40 A PONTUAÇÃO MÁXIMA – 4 elementos avaliados 40 PONTUAÇÃO MÍNIMA – 4 elementos avaliados 0 Para a definição das pontuações, utilizam-se os seguintes fatores climáticometeorológicos: 1. Temperatura: Levou-se em consideração a média de temperatura (MdT) a qual foi determinada pela média aritmética simples entre a temperatura máxima e a temperatura mínima, medidas em grau Celsius (ºC). Para se fixar as pontuações do fator temperatura, primeiramente atribuem níveis QCT para diversas faixas de temperatura conforme o Quadro 2. Em seguida, é necessário ponderar que o nível de satisfação de um turista com a temperatura poderá estar associado a sua motivação perante uma temperatura associada ao calor ou ao frio. Dessa forma, os níveis QCT do Quadro 2 serão relacionados ao calor e ao frio, e as pontuações XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 atribuídas irão variar de acordo com o nível de conforto nestes estados. Assim, para os turistas que buscam calor, uma faixa confortável corresponde ao nível QCT 7 (26 a 30ºC) e, assim, receberá pontuação máxima de 10. Por outro lado, para os turistas que buscam frio, o nível QCT “2” corresponderá a uma sensação de conforto e receberá a maior pontuação. Ver Quadros 2, 3,4. QUADRO 2 – NÍVEL QCT RELACIONADO À TEMPERATURA QUADRO 3 – PONTUAÇÃO DAS ALTAS TEMPERATURAS (CALOR) TEMPERAT URA NÍV EL QCT QUADRO 4 – PONTUAÇÃO DAS BAIXAS TEMPERATURAS (FRIO) FRIO TEMPERAT URA M ÉDIA (ºC) CALOR 0 -10 a - 6 1 -5 a 0 2 1a 5 3 6 a 10 4 11 a 15 5 16 a 20 6 21 a 25 7 26 a 30 8 31 a 35 9 36 a 40 10 acima de 40 NÍV EL QCT PONT UAÇÃO 5 1 6 6 7 10 8 8 9 2 10 0 NÍV ELQCT PONT UAÇÃO 0 1 1 6 2 10 3 9 4 2 acima de 4 0 1505 2. Vento: Considerou-se a velocidade do vento, medida em (Km/h) e o raciocínio para a atribuição da pontuação é semelhante ao fator temperatura. Os níveis QCT e as pontuações atribuídas estão descritas nos Quadros 5, 6 e 7. QUADRO 5 – NÍVEL QCT RELACIONADO AO VENTO VENTO NÍV EL QCT 0 VELOCIDADE DO VENTO ( Km /h) 0a 5 1 6 a 10 2 11 a 15 3 16 a 20 4 5 21 a 25 acima de 25 QUADRO 6 – PONTUAÇÃO DA VELOCIDADE DO VENTO PARA O CALOR VENTO QUADRO 7 – PONTUAÇÃO DA VELOCIDADE DO VENTO PARA O FRIO VENTO NÍV EL QCT PONT UAÇÃO NÍV EL QCT PONT UAÇÃO 0 10 0 2 1 9 1 4 2 6 2 6 3 4 3 10 4 1 4 8 5 0 5 1 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 3. Umidade relativa do ar: medida em percentagem (%) e representa a quantidade de partículas de água elevadas no ar. De acordo com o Diagrama de conforto térmico, para o nível QCT “4”, umidade entre 71 a 90%, atribui-se a maior pontuação (10). Ver Quadros 8 e 9. QUADRO 8 – NÍVEL QCT RELACIONADO À UMIDADE RELATIVA DO AR UMIDADE RELATIVA DO AR NÍV EL QCT (%) 0 0 a 10 1 11 a 20 2 21 a 40 3 41 a 70 4 71 a 90 5 acima de 90 QUADRO 9 – PONTUAÇÃO DA UMIDADE RELATIVA DO AR UMIDADE RELATIVA DO AR NÍV EL QCT PONT UAÇÃO 0 1 1 2 2 4 3 8 4 10 5 6 4. Precipitação: Levou-se em consideração a previsão do tempo no que respeita a ocorrência de chuvas, sendo atribuídos números para a elaboração do Nível QCT de previsão do tempo e foram dispostas isoladamente para o calor e para o frio, porém, sendo que esta definição baseia-se no clima da localidade. Por exemplo, se a média de temperatura do local escolhido estiver entre -10ºC e 15ºC será considerado frio, e se a média de temperatura estiver acima de 15ºC será considerado calor. Dessa forma, os números atribuídos para a previsão foram: 1 Céu claro, predomínio de sol e parcialmente nublado; 2 - Nublado e encoberto; 3 Chuvas isoladas e chuvisco; 4 - Possibilidade de pancadas de chuvas e pancadas de chuvas; 5 - Nublado e pancadas de chuvas e instável; 6 - Pancadas de chuvas pela manhã e pancadas de chuvas à tarde; 7 - Chuvas e encoberto e chuvas isoladas; 8 - Chuvoso; 9 - Tempestade; 10 - Neve; 11 - Nevoeiro; 12 - Geada. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1506 QUADRO 10 – NÍVEL QCT RELACIONADO À PREVISÃO DO TEMPO TEMPO PREVISà O NÍV EL QCT QUADRO 11 – PONTUAÇÃO DA PREVISÃO DO TEMPO PARA O CALOR LEGENDA QUADRO 12 – PONTUAÇÃO DA PREVISÃO DO TEMPO PARA O FRIO TEMPO PREVISÃO PONT UAÇÃO TEMPO PREVISÃO 0 1 NÍV EL 2a 4 0 10 NÍV EL QCT PONT UAÇÃO 1 2 5a7 1 6 0 10 2 4 3 8a9 1 4 3 0 4 10 4 0 2 1 5 11 a 12 5 0 3 0 4 10 5 8 A partir das pontuações definidas pelos Quadros 2 a 12, constrói-se a Matriz Qualidade Climático-Turística conforme detalhado no Quadro 13. QUADRO 13 – MATRIZ-PROPOSTA DE QUALIDADE CLIMÁTICO-TURÍSTICA TOTALMENTE ACEITÁVEL APLICAÇÃO DA MATRIZ-PROPOSTA DE QUALIDADE CLIMÁTICO-TURÍSTICA (QCT) ACEITÁVEL NÃO RECOMENDADO NÃO ACEITÁVEL Índice classificatório PONTUAÇÃO MÁXIMA 40 MÍNIMA 0 CLASSIFICAÇÃO ÓTIMA Aa F Extremamente Acima do Normal A Acima do Normal B Normal C 11 a 15 Ligeiramente Abaixo do Normal D 6 a 10 Abaixo do Normal E 0a5 Extremamente Abaixo do Normal F 36 a 40 31 a 35 26 a 30 TIPO DE TURISMO CALOR 21 a 25 16 a 20 Fonte: os autores XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 FRIO 1507 QUADRO 14 – INTERPRETAÇÃO DA MATRIZ-PROPOSTA QCT INT ERPRETANDO A MATRIZ-PROPOSTA QCT MARGEM DE PONT OS ADQUIRIDOS DOS DADOS DOS EL EM ENT OS CLIMÁTICOMET EOROL ÓGICOS GRAU DE CONFORT O CLIMÁTICO AO TURISTA DE ACORDO COM A SUA ESCOL HA DO TIPO DE TURISMO AVALIAÇÃO DA MATRIZ EM RELAÇÃO À CLASSIFICAÇÃO ÓTIMA, AO TIPO DE TURISMO E AO GRAU DE CONFORTO DO T URISTA PONT UAÇÃO CLASSIFICAÇÃO ÓTIMA ÍNDICE CLASSIFICAT ÓRIO GRAU DE ACEITAÇÃO PARA A PRÁTICA DO T URISMO DE CLIMA: “CALOR” OU “FRIO” VERDE CLARO VERDE ESCURO AMARELO VERM ELHO NÍV EL QCT DE TOTAL NÍV EL QCT DE NÍV EL QCT NÃO NÍV EL QCT DE ACEITAÇÃO ACEITAÇÃO RECOM ENDADO NÃO ACEITAÇÃO PARA A PARA A PRÁTICA PARA A PRÁTICA PARA A PRÁTICA PRÁTICA DO DO T URISMO DE DO T URISMO DE DO T URISMO DE TURISMO DE CALOR OU FRIO CALOR OU FRIO CALOR OU FRIO CALOR OU FRIO TIPO DE TURISMO CORES Uma vez detalhados os aspectos construtivos da Matriz QCT, apresentam-se alguns resultados de aplicação desta metodologia. 4. RESULTADOS A seguir apresentam-se os resultados para a aplicação da Matriz QCT. A partir dos dados meteorológicos coletados no website da Climatempo, construiramse os Quadros de previsão para os destinos turísticos de Barreirinhas/MA, Ponte Alta do Tocantins/TO e São Joaquim/SC (ver Quadros 15, 17 e 19) e suas respectivas Matrizes QCT´s apresentadas nos Quadros 16, 18 e 20. QUADRO 15 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE BARREIRINHAS - MA, EM 12/04/2009 Local: Previsão do tempo Barreirinhas/MA Data da previsão Temperatura Temperatura Máxima mínima 32ºC 23ºC Nublado e encoberto UR% MAX UR%MIN 12/04/2009 Vento (Km/h) 84% Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 57% 12 1508 QUADRO 16 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE BARREIRINHAS - MA 12/04/2009 9h BARREIRINHAS – MA EL EM ENT OS INFORMAÇÕES OBTIDAS NÍV EL QCT PONT OS TEMPERATURA MÉDIA (ºC)* 28,5 7 (CALOR) 10 VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h) 12 2 6 UMIDA DE RELATIVA DO AR (%) 83 4 10 TEMPO PREV ISÃO 2 (nublado e encoberto) 1 6 PONT UAÇÃO TOTAL 32 RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA ACIMA DO NORMAL ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO B TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO CALOR/TOTALMENT E ACEITÁV EL** ( * ) MT = TM (32) + Tm (23) 2 (**) RESULTADO FINAL : O clima de Barreirinhas - MA, em 12 de abr il de 2009, era totalmente aceitável para receber qualquer grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima quente. 1509 Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC QUADRO 17 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE PONTE ALTA DO TOCANTINS TO, EM 12/04/2009 Local: Ponte Alta do Tocantins - TO Previsão do tempo Temperatura Temperatura Máxima mínima 29 23 Nublado e pancada de Data da previsão UR% MAX UR%MIN 12/04/2009 Vento (Km/h) 77 chuva Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 48 6 QUADRO 18 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE PONTE ALTA DO TOCANTINS - TO 12/04/2009 9h PONT E ALTA DO TOCANTINS – TO EL EM ENT OS INFORMAÇÕES OBTIDAS NÍV EL QCT PONT OS TEMPERATURA MÉDIA (ºC)* 26 7 (CALOR) 10 VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h) 6 1 4 UMIDA DE RELATIVA DO AR (%) 77 4 10 TEMPO PREV ISÃO 5 (nublado e pancada de chuva) 2 4 PONT UAÇÃO TOTAL 28 RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA ACIMA DO NORMAL ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO B TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO CALOR/TOTALMENT E ACEITÁV EL** ( * ) MT = TM (29) + Tm (23) 2 (**) RESULTADO FINAL : O clima de Ponte Alta do Tocantins - TO, em 12 de abril de 2009, era totalmente aceitável para receber qualquer grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima quente. Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC 1510 QUADRO 19 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE SÃO JOAQUIM/SC, EM 12/04/2009 Local: Ponte Alta do Tocantins - TO Previsão do tempo Temperatura Temperatura Máxima mínima 22ºC 8ºC Sol com algumas nuvens Data da previsão UR% MAX UR%MIN 12/04/2009 Vento (Km/h) 100% - parcialmente nublado Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 35% 6 QUADRO 20 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE SÃO JOAQUIM – SC 12/04/2009 9h SÃO JOAQUIM – SC EL EM ENT OS INFORMAÇÕES OBTIDAS NÍV EL QCT PONT OS TEMPERATURA MÉDIA (ºC)* 15 4 (FRIO) 2 VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h) 6 1 9 UMIDA DE RELATIVA DO AR (%) 100 5 6 TEMPO PREV ISÃO 1 (parcialmente nublado) 0 10 PONT UAÇÃO TOTAL 27 RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA ACIMA DO NORMAL ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO B TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO FRIO/TOTALMENT E ACEITÁV EL** ( * ) MT = TM (22) + Tm (8) 2 (**) RESULTADO FINAL : O clima de São Joaquim, em 12 de abril de 2009, era totalmente aceitável para receber qualquer grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima frio. FONTE: CLIMATEMPO / CPTEC Considerando-se as informações do clima e da dinâmica do turismo, pode-se planejar de forma concreta, para o melhor usufruto possível pelo turista. Nas análises acima (Quadros 16, 18 e 20), alguns destinos turísticos foram avaliados em consonância com a Matriz QCT, para uma melhor ênfase e dimensão do que seja desempenhar um turismo satisfatório nas devidas proporções do grau de aceitação frio ou calor do turista. Diante do exposto, e com as principais informações meteorológicas das cidades analisadas chegou-se ao seguinte epílogo para a data de análise de 12 de abril de 2009; a) Barreirinhas: As dunas e lagoas desta cidade maranhense são seus atrativos turísticos. A pontuação obtida na análise meteorológica foi “32” e a vocação era totalmente aceitável para o calor, com grau de aceitação turística de 70% a 80%. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1511 b) Ponte Alta do Tocantins: Esta cidade tocantinense é uma das passagens para se chegar ao Parque Nacional do Jalapão. Ponte Alta do Tocantins obteve pontuação “28”, com vocação totalmente aceitável para o calor e grau de aceitação turística de 70% a 80%. c) São Joaquim: Conhecida como uma das cidades mais frias do Brasil, a cidade da Serra Catarinense concentra o turismo, praticamente, no período de baixas temperaturas, principalmente no inverno, em que a temperatura pode ficar abaixo dos 0ºC. Obtendo a pontuação “27”, São Joaquim possuía vocação aceitável para o frio e grau de aceitação turística de 70% a 80%. Diante do que foi analisado, não importa a temperatura ou o local, mas sim o conjunto formado pela relação clima-turismo. Não basta apenas escolher um lugar turístico e desenvolver o turismo. É necessário idealizar estratégias de planejamentos turísticos: lugar, atrativo, restaurante, hospedagem, são alguns dos meios importantes para se obter o sucesso de um planejamento turístico. Todavia um fator elementar não pode ficar de fora: o clima. Este fator revela e limita o tipo de turismo que será realizado, assim como será desenvolvido. Para planejar uma viagem a Barreirinhas – MA, por exemplo, o planejador, já possuindo informações turísticas e de infra-estrutura da cidade, avaliará as condições climáticas e, utilizando a Matriz QCT, vincular todos os aspectos climático-turísticos. Caso a pontuação fique na condição “vermelha”, isso não quer dizer que o turismo estará proibido ou não será possível desenvolvê-lo, mas que o planejamento deverá ser bem estruturado, pois a probabilidade de as condições climáticas não satisfazerem os que queriam usufruir do turismo de clima frio ou quente será grande. O objetivo da aplicação da Matriz-proposta QCT é reunir as principais informações dos fatores climático-meteorológicos de um local e, mediante a construção de série de dados climáticos se determinarão as estratégias certas diante do planejamento turístico. Comunidades que desenvolvem a atividade turística com base no recurso clima podem igualmente se beneficiar pelo uso da Matriz, uma vez que a catalogação de dados sistemáticos sobre o clima da localidade servirá para XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1512 melhor caracterizá-la em termos de seus atributos de conforto atmosférico, incentivando, por essa via, a visitação. 5. CONCLUSÕES Ao planejar uma atividade turística é mister que o planejador relacione as informações climático-meteorológicas atuais, bem como a climatologia desse lugar ao sistema turístico. Fenômenos atmosféricos acontecem e, por vezes, muitos destinos são castigados pelas intempéries climáticas. Por este raciocínio, os turistas correm riscos, sendo necessário um planejamento climático-turístico detalhado nos locais de riscos elevados de catástrofes climáticas. Um destino com condições climatológicas típicas de temperaturas altas (calor) ou baixas (frio) bem definidas tem a possibilidade de usar as informações em prol da prática turística. Uma cidade que repita durante anos, em uma estação do ano, por exemplo, a média climática de 9ºC, estará mais propícia a receber turistas que desejam usufruir climas mais amenos. Já em climas com temperaturas elevadas, a probabilidade de uma cidade com médias de 26ºC, por exemplo, receber mais turistas é maior, pois as características das altas temperaturas estão mais próximas da média de sensação térmica agradável para a maioria das pessoas. Qualquer localidade que tenha o clima como fator de atratividade turística desenvolve o seu turismo em função do melhor conforto possível ao turista. Se o local apresentar vocação para clima frio, o seu sistema turístico estará voltado para as características das baixas temperaturas. E com o clima quente, a região equivalente fará o possível para o seu sistema turístico esteja em harmonia com as características das altas temperaturas. Quando, por exemplo, a época de uma região turística de Climatologia de baixas temperaturas sofrer impactos climátic os e a temperatura aumentar significativamente, ao ponto de a sensação ser como os locais de altas temperaturas, o turismo daquela região estará sujeita a não atratividade, ocasionando impactos negativos na estrutura do sistema turístico. Assim sendo, o turismo – como sistema – não tem a capacidade de prevê impactos climáticos. À medida que a demanda diminui, nesse modelo climático, o sistema turístico não estará apto a mudar sua estrutura a tempo de manter o sucesso antes conquistado. O importante é planejar o turismo, incluindo as características XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1513 climáticas, desse modo, o turismo não preverá os impactos climáticos, mas adequará o sistema ao clima atual, mantendo o foco no turista e na Climatologia local. Cada local tem sua Climatologia, suas condições ambientais. E as características climatológicas e meteorológicas podem se assemelhar a outras características de regiões diferentes, porém não serão iguais. Temperaturas, ventos, umidades relativas do ar, precipitações, ou outro elemento natural, são important es nas formações paisagísticas de regiões turísticas, contribuindo para a qualidade de vida das populações envolvidas. Os turistas não elegerão apenas as características geográficas do espaço, mas também as características climático-meteorológicas, pois a procura é por um lugar que ofereça condições de conforto e segurança, ainda que os atrativos turísticos estejam no topo de suas escolhas. A percepção de conforto climático é peculiar a cada ser humano: alguns sentirão mais frio ou calor e ficarão doentes, outros sentirão menos e não ficarão doentes. Entretanto o que se sugere em qualquer lugar, ainda mais turístico, é a harmonia dos sistemas turísticos com os sistemas climáticos, planejando para aperfeiçoar e corrigir, o máximo, para que os turistas sintam-se no melhor conforto possível. Na concepção de turismo, as previsões climatológicas e meteorológicas podem trazer sensações de confortos, alívio, segurança e confiabilidade aos turistas e a todos os envolvidos diretamente na gestão do turismo. Como o turismo, às vezes, é uma atividade desenvolvida no meio ambiente natural, está mais favorável às condições climáticas e seus fenômenos. O planejamento climático-turístico é condição necessária na dinâmica do turismo, motivando estratégias elementares para a preservação do sistema turístico e da qualidade de vida de seus envolvidos. Dessa forma, a Matriz proposta QCT sugere um método para ajudar na elaboração de um planejamento climático-turístico. A Matriz QCT para fins do planejamento turístico e climático-turístico facilitará a todos os que necessitem agregar os fatores climatológicos e meteorológicos aos turísticos. As instituições ligadas à Climatologia e à Meteorologia, como O Canal do tempo (The weather channel), Climatempo, CPTEC, INMET e INPE, são especializadas em informações, de forma aceitável e confiável, sobre o clima e são essas informações que facilitarão a aplicação da Matriz QCT. Com ênfase nos destinos turísticos e nos turistas que visitam esses lugares, e com o intuito de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1514 manter a imagem do destino e a satisfação do potencial consumidor, a Matriz QCT torna-se o primeiro passo para o planejamento responsável e possíveis divulgações de regiões com potenciais climáticos para o turismo. Muito pouco foi publicado sobre o assunto no Brasil e, dessa forma, buscouse elaborar um método que contribuísse para a aquisição de conhecimentos úteis à compreensão dos fenômenos atmosféricos e turísticos do dia-a-dia. A Matriz Qualidade Climático-Turística é imprescindível para tornar visível a importância da união dos fatores climatológicos e meteorológicos com o turismo. REFERÊNCIAS ACERENZA, Miguel Ángel. Administração do turismo: conceituação e organização. Bauru: EDUSC, 2002. BECKEN, S.; HAY, J. E. 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XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1515 MOTIVAÇÃO E SATISFAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS: DISCUSSÃO DAS DIVERSAS TEORIAS DE MOTIVAÇÃO E POSSÍVEL RELAÇÃO COM SATISFAÇÃO DOS HÓSPEDES DE MEIOS DE HOSPEDAGEM INDEPENDENTES DE PEQUENO PORTE. Gislene Duarte Garcia Mestre em hospitalidade pelo programa de mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi. Especialista em Gestão Hoteleira. Professora do Curso Técnico de Turismo e do curso de graduação em Administração do CEFET-MG. [email protected]. RESUMO O presente trabalho busca estabelecer uma relação entre a motivação dos funcionários de hotéis independentes de pequeno porte com a respectiva satisfação dos hóspedes desses estabelecimentos através de uma abordagem teórica. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica exploratória, onde buscou-se elucidar as principais teorias sobre a motivação humana no trabalho, e sua relação com a satisfação dos clientes. Concluiu-se que entre hotéis de categoria semelhante com serviços compatíveis, um fator que pode diferenciar um hotel do outro, é a qualidade no atendimento, o que torna fundamental a qualificação tanto técnica quanto comportamental dos funcionários. Este trabalho visa ajudar aos administradores de hotéis na compreensão dos motivos que levam as pessoas a trabalhar para que possam gerenciar suas equipes com profissionalismo. Palavras Chave: indústria da hospitalidade, hotel de pequeno porte, motivação, satisfação do cliente. ABSTRACT The present work looks to establish a relation between the motivation of the officials of hotels independent of small size with the respective satisfaction of the guests of these establishments through a theoretical approach. The used methodology was to inquiry exploratory of bibliographical hallmark, where it was looked to elucidate the principal theories on the human motivation in the work trying to know his influence in the behavior of the man in the work and, still there for looked for opinion some of the motives that take the clients of a hotel to feel satisfied. What it was possible to end is that, between hotels inside the same category, which differentiates a contestant of other, in the search for the satisfaction of the clients, is the quality of the contact between the guest and the official, what basic compensation to preoccupation with the qualification of the human resources in hotels. Such a qualification suffers the development of technical and human skills. Such a fact reinforces the importance and validity of this work, so, the administrators of small hotels for what they look to XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1516 secure in the market his marks, they need to understand the motives that take the persons to work so that they can manage with bigger professionalism. Key words: hospitality industry, small hotel, motivation, guest satisfaction 1 INTRODUÇÃO A hospitalidade vem sendo pesquisada no Brasil nos últimos anos com maior intensidade, sendo que este é, na verdade, um tema bastante antigo na história da humanidade. Neste sentido, a idéia de hospitalidade aqui apresentada refere-se ao ato de acolher, alimentar e cuidar de visitantes dentro do próprio lar, bem como, também, à evolução deste costume para formas comerciais de hospitalidade. Segundo Lashley, Morrison(2004) existem três domínios em que a hospitalidade pode ocorrer, o domínio público, onde os diversos lugares, em seu estado natural ou com diversas intervenções do homem, são, também, espaços de hospitalidade; o domínio privado, onde as relações entre os envolvidos se dão em espaços domésticos, onde quem recebe abre mão do seu conforto e privacidade para satisfazer algumas necessidades do outro; e o domínio comercial que parte do princípio de que a oferta de abrigo, comida, bebida ou entretenimento, terá como retribuição uma soma em dinheiro. É importante reforçar que esses domínios são propostos apenas como forma de facilitar o entendimento das diversas formas de receber, não sendo nada além de um recurso teórico utilizado para esse trabalho. Por outro lado, ajudam a mostrar que, à medida que a humanidade cresceu e aumentou sua mobilidade, a necessidade de lugares para descansar e se alimentar aumentou, propiciando o aparecimento de meios de hospedagem e de estabelecimentos de alimentação comerciais. Tal evolução deu origem ao que hoje se conhece como hotéis, restaurantes, bares dentre outros, todos pertencentes à indústria da hospitalidade. Essa indústria na verdade é um setor de empresas que prestam serviç os relacionados a alimentar e/ou hospedar e/ou entreter pessoas que estão fora de seus lares, tendo como contrapartida o pagamento(de diárias, no caso de hotéis). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1517 Esta oferta busca satisfazer a um conjunto de necessidades apresentadas pelos clientes como, por exemplo, abrigo, segurança, alimentação e até mesmo lazer, entretenimento ou ainda negócios e/ou crescimento profissional. E é da percepção de satisfação destas necessidades que surge o sentimento de satisfação com os serviços prestados pelo hotel. Para satisfazer seus clientes os hotéis precisam, então, buscar atendê-los através dos recursos disponíveis tais como a estrutura física do hotel, a qualidade das instalações e equipamentos, o uso adequado das tecnologias disponíveis e, principalmente a presença de funcionários preparados e motivados a atender da melhor forma possível. Sabe-se que estrutura física e tecnologias estão ao alcance de todos os hotéis de forma proporcional à sua categoria, ou seja, conforme seu nível de conforto, dentro de uma mesma categoria, todos os hotéis têm condições de oferecer tais elementos de forma semelhante. Sendo as características físicas facilmente copiadas, o que os pode diferenciar essencialmente é o tratamento dispensado aos clientes por sua equipe de funcionários. E para se ter uma equipe qualificada, necessita-se dar atenção a vários aspectos como, por exemplo, habilidades técnicas, que representam os conhecimentos sobre as atividades desenvolvidas, habilidades conceituais, que simbolizam a capacidade de visão de futuro e de enxergar o negócio como um todo, e as habilidades humanas, que são a capacidade do indivíduo liderar e motivar pessoas ajudando-as a desenvolver o que possuem de melhor em prol da empresa (KATZ,1955 apud CHIAVENATO, 2000, p.3-4). Neste trabalho buscou-se identificar um dos aspectos relacionados às habilidades humanas que é a motivação humana, ou seja, buscou-se identificar os motivos que levam as pessoas a agirem de determinada forma no ambiente de trabalho, através do estudo das principais teorias motivacionais. Feito isso, buscou-se investigar a possível relação da satisfação e motivação dos funcionários no trabalho com a satisfação dos clientes de hotéis independentes de pequeno porte, sendo que estes estabelecimentos são de grande importância no cenário econômico e social do Brasil, uma vez que representam a grande maioria XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1518 dos estabelecimentos hoteleiros do país, gerando diversos empregos e possibilitando o desenvolvimento do setor turístico. Uma vez que os hotéis enquadram-se no setor de serviços, para efeito do presente trabalho, um hotel de pequeno porte é aquele que possui de 10 a 49 pessoas empregadas, segundo critérios do SEBRAE(2005). 2 HOTÉIS INDEPENDENTES E DE PEQUENO PORTE Fazem-se importantes algumas considerações acerca do conceito de hotelaria e de hospitalidade comercial no Brasil pois se na maioria dos países o conceito de hospitalidade comercial (Hospitality Industry) caracteriza empreendimentos que oferecem alimentação, hospedagem e/ou bebidas mediante o pagamento de diária(GUERRIER,2001), no Brasil o correspondente a este conjunto de empresa recebeu o nome de Hotelaria. Por isso neste trabalho, os termos hospitalidade comercial, hotelaria e empresa hoteleira aparecem designando a mesma coisa, ou seja, meios de hospedagem, ou hotel. Para um melhor entendimento deste tipo de organização, apresenta-se a seguir dois conceitos, um do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) e outro de Geraldo Castelli, um autor de trabalhos diversos sobre o tema hotelaria, no Brasil. Conforme o artigo 5º do Regulamento dos Meios de Hospedagem da Embratur “empresa hoteleira é a pessoa jurídica que explora ou administra meios de hospedagem e que tenha em seus objetivos sociais o exercício da atividade hoteleira” (PETROCCHI, 2002, p.19). Segundo Castelli (2001, p. 56) “uma empresa hoteleira pode ser entendida como sendo uma organização que, mediante o pagamento de diárias, oferece alojamento à clientela indiscriminada”. Estes conceitos são complementares, pois ambos descrevem a empresa hoteleira, sendo um com uma visão de sua constituição legal e o outro com a visão de seu serviço prestado. O conceito proposto por Castelli é bastante pertinente para o presente estudo pois ao deixar claro a oferta de alojamento aos clientes de forma XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1519 indiscriminada, abre importante precedente ao estudo da hospitalidade, sendo esta entendida como o bem acolher, o bem receber, as trocas cordiais entre quem recebe e quem visita. O objeto de pesquisa deste trabalho são os hotéis independentes de pequeno porte, entendidos aqui como os meios de hospedagem que se enquadram nos critérios de pequena empresa já apresentados, e que além disso não pertencem e não tem sociedade e nem afiliação administrativa com outras propriedades, ou seja, não têm ligação com outros hotéis em relação a políticas, normas, procedimentos ou mesmo obrigações financeiras(DAVIES, 2002). A expressividade do segmento de hotéis independentes pode ser observada nos valores apresentados a seguir. Segundo dados da HIA (Hotel Investment Advisors), até outubro de 2002, o Brasil possuia 5.254 hotéis sendo 4.876 independentes o que significa que cerca de 92% do total de meios de hospedagem seriam de hotéis independentes, conforme pode-se observar na tabela a seguir. Tais números ajudam a entender a importância de um melhor conhecimento da realidade vivenciada nestes estabelecimentos e reforça o papel que pesquisas empíricas podem desempenhar, gerando informações úteis para os gestores destes hotéis, aproximando os que geram pesquisas dos que as consumem, pois segundo Weiler (2003,p.87) “existe um hiato entre os produtores de pesquisa em turismo e seus consumidores”. Tipo Tabela 1 – Evolução do Número de Hotéis no Brasil 1992 - 2002 Quartos Tipo 1992 Out./2002 Hotéis Quartos % Hotéis Quartos Independentes 2393 120.000 95,72 4.876 200.500 Hotéis e aparthotéis de 65 12.000 2,6 170 26.000 cadeia internacional Hotéis e apart42 8.000 1,68 208 34.400 hotéis nacionais Total 2500 140.000 100 5.254 260.900 % 92,80 3,24 3,96 100 Fonte: (HIA, 2005). Sabe-se que o setor de hotelaria é caracterizado dentro do setor de serviços, então se faz importante uma breve explicação do que significa a prestação de um XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1520 serviço, bem como suas principais características. Com isso pretende-se ajudar a compreender melhor a natureza deste setor e algumas questões importantes para um gerenciamento adequado, bem como para a satisfação dos clientes. Não há uma definição unânime para o termo serviço, pois a conceituação deste termo pode apresentar diferenças em função da variedade dos tipos de serviço que podem ser prestados. Conforme Grönroos serviço é: Um processo, consistindo em uma série de atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de ser viço e/ou recursos ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como solução para problemas do cliente (GRÖNROOS, 2003, p. 65). Segundo a Associação Americana de Marketing, serviços são “aquelas atividades, vantagens ou mesmo satisfações que são oferecidas à venda ou que são proporcionadas em conexão com a venda de mercadorias” (LAS CASAS, 1991, 1521 p.15). Com base nestas definições, pode-se, então, entender “serviços” como um desempenho, uma operação, que pode ser praticada e comercializada por um ser humano ou uma máquina, e que não pode ser tocada, apalpada, apenas percebida por outros seres humanos. No setor turístico, a grande maioria das empresas são essencialmente especializadas na prestação de serviços ao turista. Tem-se como principais exemplos, as empresas de transportes, os meios de hospedagem, os restaurantes, as agências de viagem, os centros de informações turísticas e os equipamentos de recreação e entretenimento. Compreender melhor os aspectos que permeiam as organizações que atuam no setor de turismo implica no entendimento das características próprias dos serviços e que se encaixam bem aos hotéis. As principais características são: intangibilidade, heterogeneidade, inseparabilidade e perecibilidade. Apesar de os serviços oferecidos por um hotel incluírem também elementos tangíveis, por exemplo a cama em que o hóspede se deita ou a comida do café da XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 manhã, “a essência do serviço é a intangibilidade do próprio fenômeno” (GRÖNROOS, 1993, p.38). Esta é a principal característica da prestação de serviços e a que gera maiores desafios para os gestores de hotéis, pois, quando descritos por clientes expressões como experiência, tato e confiança aparecem para definir serviço. Desta forma, enquanto as mercadorias (bens tangíveis) podem ser tocadas, comparadas e testadas, os serviços proporcionam apenas uma recordação ou lembrança para o cliente dos benefícios que lhe foram prestados. Gianesi e Correa (1996) observam que, devido a essa intangibilidade, avaliar um serviço é complicado e extremamente delicado pois depende da percepção de cada individuo, nesse sentido são interessantes os trabalhos sobre o comportamento do consumidor em especial os trabalhos de Blackwell, Engel e Miniard. A condição sócio-econômica, a formação cultural, o estado físico e psicológico são alguns dos muitos fatores que podem interferir nesta percepção. Esta particularidade exige uma certa complexidade para a padronização dos serviços e faz com que eles sejam não-patenteáveis. Grönroos afirma que em função do impacto causado pelas pessoas (empregados ou clientes) nos serviços, estes apresentam “um aspecto de heterogeneidade (...) um serviço a um cliente não é exatamente este ‟mesmo serviço‟ ao próximo cliente” (GRÖNROOS, 1993, p. 40). A heterogeneidade cria uma dificuldade de se manter a qualidade do serviço uniforme, devido ao fato do mesmo ser produzido por seres humanos. Tal fato é observado em muitas funções desenvolvidas nos hotéis como a arrumação dos quartos ou o atendimento na recepção. Como a natureza humana é instável, a qualidade dos serviços produzidos pelo homem fatalmente não obedecerá a um padrão pré-estabelecido. (LAS CASAS, 1999). O caráter heterogêneo dos serviços indica a importância do perfil das pessoas envolvidas com a produção/prestação de serviços, bem como de sua vontade de servir pessoas. Elas têm que estar conscientes de que lidar com clientes não é o mesmo que lidar com máquinas, mas também, precisam estar satisfeitas com o que fazem para poder atender bem os clientes, daí a importância deste trabalho. Segundo Kotler et al. (2003, p. 53), a filosofia que garante o sucesso do Ritz-Carlton XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1522 é “Para cuidar dos clientes, você tem de cuidar primeiro das pessoas que cuidam dos clientes29”. A inseparabilidade é outra característica dos serviços e que também está presente em hotéis e significa que, na maioria das vezes, não há etapa intermediária entre a produção de um serviço e seu consumo por parte de um cliente. Os serviços prestados no restaurante do hotel são geralmente realizados na presença do cliente, e, na maioria das vezes, são produzidos e consumidos simultaneamente. “Não há qualidade pré-produzida para ser controlada com antecedência, antes de o serviço ser vendido e consumido” (GÖNROOS, 1993, p.39). Na fabricação de mercadorias, como na indústria calçadista, por exemplo, o produtor geralmente não necessita da presença do cliente para iniciar a produção e ainda pode testar a qualidade dos produtos antes de vendê-los. O mesmo não acontece na produção de serviços onde o próprio cliente, ou, em alguns casos, um bem de sua posse, é o fator desencadeador da produção e o elemento que checa a eficiência e qualidade do serviço. Exemplificando esta propriedade dos serviços, pode-se observar que num hotel é necessária a presença física do hóspede para que haja a prestação de serviços, do mesmo modo que o turista não pode consumir a estada se não estiver em pessoa dentro do estabelecimento hoteleiro. A perecibilidade de um hotel é percebida quando, pelo fato de o mesmo manter mão-de-obra e instalações funcionando de forma ininterrupta, no intuito de fornecer melhores serviços, o prejuízo causado pela não utilização desta capacidade produtiva disponível é irreversível. Não há como reaver o capital investido no excedente de produção de serviços, já que estes não podem ser estocados. Lovelock (1995) lembra que, devido a esta propriedade e as flutuações de demanda que ocorrem no mercado, enquanto numa fábrica de automóveis pode-se estocar os carros em um pátio a espera de consumidores, num cinema as cadeiras desocupadas durante uma sessão representam uma perda irreparável para os fornecedores do serviço. O mesmo ocorre num meio de hospedagem, onde cada 29 Tradução da autora. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1523 noite em que uma Unidade Habitacional (UH) 30dorme vazia representa perda de ganho que não poderá ser reposta em outro dia. Essas características relativas a serviços não são uniformes em todos os setores de um hotel, por isso se faz necessário um esclarecimento de como essas interações são diferentes entre os setores de um mesmo hotel e ao mesmo tempo entre hotéis diferentes. Dentro da organização interna das empresas, os cargos juntamente com os funcionários que mantêm o contato direto com os clientes, são denominados de “front office”. (GIANESI; CORRÊA, 1996, p. 42). As operações de elevado contato com os clientes são caracterizadas por se darem num ambiente carregado de incerteza e variabilidade, devido à inconstância dos seres humanos envolvidos no processo. Estes processos, por não obedecerem a padrões preestabelecidos, e por estarem mais próximos da percepção dos clientes, requerem maior autonomia, treinamento e conscientização dos funcionários, além de uma remuneração satisfatória e um excelente suporte de trabalho. Já as operações de baixo contato com os clientes, que possuem um ambiente mais previsível e constante, são denominadas de back room. Estes processos servem de apoio para os processos do front office, e portanto estão voltados para o atendimento dos clientes internos31 da organização. A qualidade destes processos está intimamente ligada à padronização e/ou automatização das atividades. Para que a empresa atinja seus objetivos estratégicos é necessário que os processos de back room e front office operem em conjunto, somando esforços para atingir um único objetivo, a satisfação do cliente. Kotler(2000) entende a satisfação como a sensação de prazer ou desapontamento que resulta da comparação feita entre o desempenho percebido de um produto ou serviço e a expectativa criada pelo comprador. Por esta definição entende-se que a satisfação é razão de expectativa e desempenho, ou seja, se o desempenho alcança as expectativas o cliente fica 30 31 Unidade Habitacional corresponde a um quarto de hotel. Cliente interno é todo funcionário de uma empresa. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1524 satisfeito, se o desempenho não alcança as expectativas o cliente fica insatisfeito e se o desempenho supera as expectativas, o cliente fica encantado. A consideração dos conceitos de front office e back room assim como o grau de dificuldade de avaliação dos resultados de um serviço e a intensidade de uso de mão-de-obra, contribuem para a diferenciação das operações de serviço e para o entendimento da importância de os hotéis possuírem funcionários não apenas qualificados tecnicamente, mas também, motivados a trabalhar. Além dessas características típicas de empresas prestadoras de serviços, os hotéis possuem, ainda, algumas características que tradicionalmente t enderam a desabonar o trabalho neste setor, e que certamente tenderam a manter baixos os níveis de satisfação de muitos funcionários de hotéis, principalmente os de pequeno porte, devido a sua maior proximidade ao trabalho doméstico em relação aos hotéis de grandes redes hoteleiras. Segundo Guerrier a “indústria da hospitalidade oferece grande número de empregos que são relativamente pouco qualificados, podem ser temporários, sazonais ou „em horários de trabalho não sociais‟ e costumam ser mal remunerados” (2001, p. 73). A referida autora ressalta ainda que normalmente as qualificações requeridas por um determinado cargo seguem o status atribuído a esse cargo. Ou seja, entende-se que todo trabalho que requer pouca qualificação será realizado por pessoas de baixo status. Mullins (2004, p. 187) corrobora esse pensamento, afirmando que há opiniões divergentes sobre a natureza do trabalho na hospitalidade e que uma delas “é a de que muitas funções são monótonas, simples e rotineiras em sua natureza, desenvolvidas sob difíceis condições de trabalho e sob pressão dos clientes”. Com o que foi exposto até o momento, percebe-se que os gestores de pequenos hotéis precisam conhecer melhor os motivos que levam as pessoas a trabalharem para que assim, possam permitir que as mesmas se motivem a atender da melhor maneira os hóspedes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1525 3 TEORIAS SOBRE MOTIVAÇÃO. Para Minicucci “[...] a motivação leva você a agir em direção a um objetivo (...), é a força impulsionadora do indivíduo para um objetivo” (apud SILVA, 2004, p. 6). A importância deste fato reside em um questionamento fundamental que muitas vezes o pequeno hoteleiro deixa de realizar que é o de como, por exemplo, “uma camareira, desmotivada pelo modo sem respeito como é tratada, pode ter energia para atender bem um hóspede?” (SILVA, 2004, p. 6). Ou ainda, “se essa camareira percebe-se como um nada na empresa, que energia ela terá para comprar a idéia que o hóspede é tudo?” (SILVA, 2004, p. 6). As contribuições que esta pesquisa sobre a motivação em pequenos meios de hospedagem pode oferecer aos gestores desses estabelecimentos são evidenciadas por pensamentos como o acima citado e ainda reforçadas pela seguinte colocação do mesmo autor: Algumas chefias despreparadas insistem para que seus subordinados atendam com qualidade os clientes, entretanto, não percebem que são funcionários altamente desmotivados (sem energia) em função de necessidades pessoais mal resolvidas na empresa, que, em geral, seriam de fácil resolução (por exemplo o funcionário ser mais respeitado , ser ouvido, sentir-se importante) (SILVA , 2004, p. 6). A motivação Humana deve representar uma das principais preocupações das empresas, pois num mundo competitivo, acompanhado de grandes mudanças, o comprometimento dos funcionários torna-se peça chave para essa grande engrenagem que caracteriza o funcionamento das empresas. Funcionários motivados dedicam-se e comprometem-se mais a atingirem os objetivos empresariais além de proporcionar um clima organizacional tranqüilo que possibilite a organização a concentrar seus esforços a fim de atingirem o sucesso e a satisfação dos clientes. O funcionário desmotivado tende a ser menos tolerante, voltando-se contra a empresa apresentando atitudes prejudiciais à organização. Por outro lado, o funcionário motivado tende a ser mais comprometido com a empresa tornando o clima mais propício para um melhor desempenho no trabalho. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1526 A motivação pode ser entendida como ”a situação ou contexto que envolve os motivos (as necessidades) e as ações (os comportamentos), ou seja, os ”motivos” são os responsáveis pelos impulsos à “ação”...A ação dirige-se para objetivos que satisfazem aos motivos” (SILVA, 2004, p. 2). Segundo Kast & Rosenzweig (apud CHIAVENATO, 1999, p. 88) “motivo é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá origem a uma propensão a um comportamento específico”. Tal impulso a agir pode ser provocado por um estímulo provindo do ambiente e pode também ser gerado internamente nos processos de raciocínio do indivíduo. Percebe-se que há uma relação direta entre motivação e necessidades humanas, ou seja, o indivíduo possui necessidades de naturezas diversas, e estabelece objetivos a fim de satisfazer estas necessidades, ele, então se põe em movimento para atingir estes objetivos, que uma vez satisfeitos, levam o indivíduo a um estado de tranqüilidade. Porém, esta tranqüilidade cessa, a partir do momento em que outras necessidades se apresentam, formado-se, assim, um ciclo de atitudes voltadas ao alcance de objetivos que levam ou não à satisfação de necessidades. 1527 Segundo Davis & Newstrom (1992) a forma mais simples de classificar as necessidades é dividi-las em dois grupos, ou seja, como necessidades físicas básicas ou necessidades primárias e necessidades sociais e psicológicas ou necessidades secundárias. Alimentos, água e sexo são exemplos de necessidades primárias enquanto que auto-estima, rivalidade e senso de dever são exemplos de necessidades secundárias. As necessidades primárias são praticamente universais entre as pessoas, variando de intensidade, já as secundárias variam muito mais entre as pessoas, podendo até ser contrárias. Uma vez compreendido o mecanismo motivacional, apresentam-se, a seguir , três teorias motivacionais, buscando identificar os possíveis motivos que impulsionam os indivíduos à ação, sendo que estes motivos relacionam-se com a satisfação de necessidades individuais. A primeira teoria apresentada é a da hierarquia das necessidades de Maslow que, conforme Maximiano (2004), Abraham Maslow foi um psicólog o e consultor americano que desenvolveu a idéia de que as necessidades apresentamXI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 se de forma mais complexa que apenas em dois grupos. Em sua teoria, as necessidades estão divididas em cinco grupos. À medida que o homem satisfaz suas necessidades básicas, outras mais elevadas tomam o predomínio do comportamento. Na base da pirâmide estão as necessidades mais baixas (necessidades fisiológicas) e no topo as necessidades mais elevadas (as necessidades de auto-realização). As Necessidades Fisiológicas constituem o nível mais baixo de todas as necessidades humanas, mas de vital importância. São necessidades instintivas e que já nascem com o indivíduo como fome, sede e sono. Estas necessidades são as que mais influenciam na motivação do indivíduo, ou seja, quando alguma dessas necessidades não está satisfeita, ela domina a direção do comportamento, porém quando satisfeita essas necessidades deixam de ser uma motivação importante. As Necessidades de Segurança constituem o segundo nível das necessidades humanas e representam a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga ao perigo. As Necessidades Sociais: surgem no comportamento, quando as necessidades mais baixas (fisiológicas e de segurança) se encontram relativamente satisfeitas. São as necessidades de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. As Necessidades de Estima estão relacionadas com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. Envolve a auto-apreciação, autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, de prestígio e de consideração. Maslow a divide em dois grupos, o primeiro relacionado à realização, ao poder, à confiança perante o mundo, à independência e à liberdade. O segundo, relacionado ao prestígio ou reputação, dominação, reconhecimento e admiração por outras pessoas. A frustração pode produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza, dependência e desamparo que, por sua vez, podem levar ao desânimo ou atividades compensatórias. As Necessidades de Auto-realização estão no topo da hierarquia e são as necessidades de cada pessoa de realizar o seu próprio potencial e de auto desenvolvimento contínuo. Dentre todas as necessidades esta parece ser a que mais desafia os estudiosos pois, devido às dificuldades de se encontrar pessoas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1528 realizadas em todas as suas necessidades, pré-requisitos para se chegar à autorealização, pouco se sabe a seu respeito (PAULA, 1990). A segunda teoria apresentada é a teoria “X” e a teoria “Y” de Douglas McGregor que contribuiu de forma significativa para a compreensão do fenômeno da motivação pois, apesar de sua teoria não ser uma teoria motivacional propriamente dita, é uma teoria sobre uma nova filosofia administrativa, com novos conceitos a respeito do comportamento do homem nas organizações, diferentes dos defendidos, até então. As teorias “X” e “Y” de McGregor apresentam os dois extremos da visão sobre a natureza humana no trabalho, sendo que a teoria “X” representa a visão tradicional da teoria organizacional e se baseia nos seguintes pressupostos: 1- O ser humano, de modo geral, tem uma aversão essencial ao trabalho e o evita sempre que possível; 2- Devido a essa característica humana de aversão ao trabalho, a maioria das pessoas precisa ser coagida, controlada, dirigida, ameaçada de punição para que se esforce no sentido da consecução dos objetivos organizacionais; 3- O ser humano, de modo geral, prefere ser dirigido, quer evitar responsabilidade, tem relativamente pouca ambição e quer garantia acima de tudo (McGREGOR, 1999, p. 37-38). Já os pressupostos da teoria “Y” são os seguintes: 1- O dispêndio de esforço físico e mental no trabalho é tão natural como o jogo ou o descanso. 2- O Controle externo e a ameaça de punição não são os únicos meios de estimular o trabalho em vista dos objetivos organizacionais. O homem está sempre disposto a se autodirigir e se autocontrolar a serviço de objetivos com os quais se compromete. 3- O compromisso com os objetivos é dependente das recompensas associadas à sua consecução. 4- O ser humano comum aprende, sob condições adequadas, não só a aceitar responsabilidades como a procura-las. 5- A capacidade de usar um grau relativamente alto de imaginação, de engenhosidade e de criatividade na solução de problemas organizacionais é mais amplamente distribuída na população do que geralmente se pensa. 6- Nas condições da vida industrial moderna, as potencialidades intelectuais do ser humano comum estão sendo parcialmente usadas (McGREGOR, 1999, p.53-54). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1529 A esse respeito a autor acrescenta que para as estratégias gerenciais das empresas essa teoria é nitidamente diferente da teoria “X” pois pressupõe que o que limita as ações das pessoas não é a natureza humana, mas sim, a capacidade da direção em desenvolver o potencial de seus recursos humanos. Pôde-se perceber até o momento que tanto Maslow quanto McGregor entendem que a motivação humana para o trabalho depende de fatores intrínsecos, relacionados às necessidades de nível mais elevado e que, por isso, cabe à direção das empresas proporcionar a satisfação das necessidades de nível mais básico, promovendo condições para a livre busca individual de seus maiores anseios, o que permitiria aos funcionários enxergarem no trabalho algo mais que o “preço pago” para a felicidade fora do trabalho. A terceira teoria que se apresenta neste trabalho é a teoria dos fatores motivacionais e higiênicos de Herzberg que, assim como Maslow, faz distinção entre necessidades de nível mais elevado e de nível mais básico, partiu de sua preocupação em identificar as fontes de satisfação e de insatisfação do homem no trabalho e suas influências positivas ou negativas sobre as atitudes dos mesmos frente às situações que se apresentam. Em seus estudos Herzberg concluiu que existem, então, duas categorias de necessidades distintas, que influenciam o comportamento do homem. Quando as pessoas se diziam satisfeitas no trabalho, isto tinha a ver com as atividades que desenvolviam no mesmo. Já quando as pessoas se diziam insatisfeitas com o trabalho, isto tinha a ver com o ambiente de trabalho. Os fatores que se caracterizam por necessidades intrínsecas, que produzem crescimento psicológico e têm efeito de longa duração são chamados de motivacionais sendo eles: realização; reconhecimento; possibilidade de progresso; o trabalho em si e responsabilidade. Já os fatores que são extrínsecos, têm relação com o ambiente de trabalho e evitam que as pessoas reclamem do mesmo, são chamados de higiênicos sendo eles:políticas administrativas; competência do supervisor; salário; relacionamento com colegas e segurança no emprego. Para um melhor entendimento das diferenças entre os dois fatores, o próprio autor coloca que: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1530 (...) os fatores de higiene satisfazem os anseios do homem de evitar aborrecimentos. „Não gosto de ser tratado dessa maneira. Não quero sofrer privações por causa de um baixo salário; relações interpessoais más me causam aborrecimento‟. Em outras palavras, desejam que suas vidas sejam higienicamente limpas. Os fatores motivacionais por outro lado tornam as pessoas felizes com seus serviços porque atendem à necessidade básica e humana de crescimento psicológico; uma necessidade de se tornar mais competente (HERZBERG, 1973, p. 58). Para Herzberg, sua teoria também contribui para o entendimento de fenômenos que acontecem com a gerência de Relações Industriais 32, alertando que se a mesma opta por se dedicar somente às questões higiênicas, pode resolver temporariamente os problemas de seus funcionários, porém não necessariamente os deixará mais envolvidos com o trabalho. Não existe nada de errado em oferecer o máximo de vantagens higiênicas ao empregado, tanto quanto a sociedade pode providenciar (que parece ser mais que os gritos históricos de angústia que sempre acompanharam a melhoria de condições higiênicas de trabalho). O que está errado é a soma de necessidades humanas em termos totalmente higiênicos. As conseqüências dessa visão unilateral da natureza humana têm levado a resultados desfavoráveis de muito maior importância que os custos monetários diretos desses programas de nossas organizações. O efeito mais pertinente tem sido sobre as premissas psicológicas das relações industriais e seus efeitos, por sua vez, na auto-estima dos empregados (HERZBERG, 1973, p. 59). Conforme afirma Araújo (1985), os resultados da pesquisa de Herzberg apresentam pontos semelhantes aos das pesquisas de Maslow e McGregor. Os fatores motivacionais corresponderiam aos dois níveis mais elevados de necessidades, enquanto que os fatores higiênicos corresponderiam às três necessidades mais básicas. Do exposto até o momento, percebe-se a necessidade de envolvimento do funcionário com os objetivos da empresa para que os mesmos sejam atingidos. Como os profissionais são o primeiro mercado da empresa, eles precisam acreditar na prestação do melhor serviço, ou não irão conseguir transmitir essa idéia aos clientes( ALBRECHT, 1992,apud WEBER, 2004). Eles precisam de motivação para agir de forma positiva e obter resultados de qualidade que se traduzam na satisfação 32 Hoje, Gestão de Recursos Humanos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1531 de seus clientes. Uma pessoa motivada, tem atitudes positivas na realização de suas tarefas, uma vez que vê benefícios para si. Já as pessoas sem ímpeto e impulso, que não possuem a motivação em si, reagem ao invés de agirem(DRUCKER, 1997). Para conseguir o envolvimento dos funcionários se faz necessária a utilização do marketing interno que é segundo Gronros(1984, apud WEBER,2004) o trabalho de treinamento e motivação dos funcionários para que atendam bem os clientes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise e revisão de literatura desenvolvidos, foi possível constatar que todas as teorias sobre motivação investigadas apresentam uma importante contribuição ao entendimento do comportamento do homem no trabalho, porém, todas apresentam limitações se analisadas isoladamente. Contudo percebe-se que a utilização de pressupostos de várias teorias pode se mostrar mais eficiente na busca pela motivação dos funcionários de uma empresa do que a utilização de apenas uma delas como parâmetro. Conclui-se também que os hotéis de pequeno porte, em função de suas características precisam buscar em seus funcionários o diferencial competitivo, uma vez que este mercado apresenta um elevado grau de competitividade e que seus clientes estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade dos serviços ofertados em relação aos seus custos. Ou seja, os clientes procuram sempre a melhor relação custo/benefício, o que impõe outro desafio aos gestores destes hotéis, desafio este relacionado ao grau de qualificação e preparo de sua equipe. Uma vez que tal qualificação passa pelo desenvolvimento de várias habilidades com destaque para as habilidades humanas, fica evidente a importância da motivação destes profissionais a trabalhar para o alcance da satisfação dos clientes. Este fato se reforça pela constatação de que qualquer funcionário do hotel, durante seu trabalho, está realizando um tipo de propaganda, ou seja, divulgando a empresa a seus clientes, mesmo sem perceber. Isto porque o cliente entra, na XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1532 maioria das vezes, em contato com os funcionários da empresa durante a prestação do serviço. A imagem que os hóspedes irão formar do hotel será influenciada pela imagem transmitida pelo funcionário, que servirá de parâmetro para medir a qualidade do hotel e, conseqüentemente, a satisfação do hóspede em relação ao mesmo. REFERÊNCIAS CASTELLI, O. Administração Hoteleira. 8.ed. Caxias do Sul: EDUCS, 2001. CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos. Fundamentos básicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. ________. Gestão de Pessoas: O novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999 DAVES, K.; NEWSTROM, J.W. Comportamento Humano no Trabalho. V.1. São Paulo: Pioneira, 1992. DRUCKER,P.F. Fator Humano e Desempenho: o melhor de Peter F. Drucker sobre administração. 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Este curso foi realizado junto a Cooperativa Mista de Produção e Serviços Arquipélago Ltda. (COOPAL), localizada na Ilha Grande dos Marinheiros, uma ilha do município de Porto Alegre, com objetivo de instrumentalizar os membros desta cooperativa na gestão e fortalecimento do empreendimento, de forma que o mesmo se configure em um elemento multiplicador em sua comunidade. A compreensão da produção de vida, eu e nós no espaço vivido, o aprofundamento das relações sociais e a ampliação dos horizontes oportunizando novas frentes de trabalho, com a ótica do turismo responsável, da educação ambiental e das trilhas interpretativas, foram os temas referenciais destes encontros. Palavras Chave: Turismo, educação, ambiente, trilha. ABSTRACT This article presents an account of a university extensional for undergraduate research work developed through the investigation and reflection about the dialogue between environment and local development, taking the last as a fundamental parameter of the subject‟s growth as the one who constructs life. The article takes into consideration the workshops about Environmental Education and Trail promoted by the Alternative Economy Center of the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) as part of the course Cooperativeness and Self-Management. The course was designed for the Mixed Cooperative of Production and Services Arquipélago (COOPAL), located in Ilha Grande dos Marinheiros, an island in the city of Porto Alegre. The aim of the course was to enlighten the cooperative‟s members to manage and straighten their enterprise for it to become a multiplying element in their community. The main themes of these encounters were the comprehension of the production of life, of the self and of the collective in the living space, the intensification of social relations and horizons amplification in order to generate work, with the responsible tourism, environment education and interpretive trails. Key words: Tourism, education, environment, trails. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1535 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho é construído a partir de um relato de experiência, que busca fazer uma reflexão sobre possibilidades da extensão universitária contribuir, a partir da ação prática, provocando no nível teórico uma relação que mostre evidenciar que o ambiental dialoga com a produção da vida e com a geração de renda dentro de um espaço vivido. 33 O trabalho de extensão analisado (Curso de formação) foi realizado pelo Núcleo de Economia Alternativa / Incubadora de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 34 em parceria com outros departamentos desta Universidade: Direito, Economia, Geografia e Psicologia Social, junto à Cooperativa Mista de Produção e Serviços Arquipélago Ltda (COOPAL). A COOPAL está localizada na Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre. A população da Ilha Grande dos Marinheiros se caracteriza por sua extrema vulnerabilidade social, em situação de pobreza absoluta, com escassas oportunidades de trabalho. Sendo uma ilha fluvial (banhada pelo Rio Furado Grande e Jacuí) fica suscetível às variações dos níveis da água, com constantes enchentes na estação chuvosa e falta de água na seca, situação agravada ambientalmente pelo desmatamento de grande parte da área e socialmente pela carência de esgotos tratados. As questões ambientais e as questões sociais estão inti mamente ligadas nesse ambiente. Essa união corrente, indissociando ações físico-naturais das sociais, nem sempre é tarefa fácil de ser compreendida e trabalhada, contudo é essencial na construção da vida humana. Trabalharemos aqui com a noção de campo ambiental conforme a noção ressaltada por Carvalho (CARVALHO 2001, p.19). Com a noção de campo ambiental interessa circunscrever certo conjunto de relações sociais, sentidos e 33 : “O espaço vivido pode ser entendido como a rede de manifestações da cotidianidade desse sistema em torno das intersubjetividades que são, por sua vez, as redes nas quais se constituem as existências individuais – no trabalho, na escola, na família, nas outras formas da vida societária.” (RÊGO 2000). 34 O Núcleo de Economia Alternativa é um espaço de extensão, pesquisa e produção de conhecimentos na área do trabalho prestando assessoria a pequenos empreendimentos organizados em rede e mantém uma incubadora de cooperativas populares. Está localizado na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1536 experiências que configuram um universo social particular. O campo ambiental seria então um espaço onde as relações sociais são postas em evidência através da participação dos sujeitos enquanto sujeitos coletivos que se relacionam política e historicamente com o ambiente em sua volta a partir de uma rede que envolve relações com o poder público e com a sociedade civil, mas mantém sua autonomia. Esta relação, dependendo do grau de exigência das demandas da comunidade e dos problemas ambientais pode ser mais ou menos tensa. Assim, queremos dizer que, de nada adianta tratarmos da reconstituiç ão e/ou preservação da saúde do ambiente se não estivermos também preocupados em lidar com a saúde do ser humano. E para ter saúde o ser humano precisa dispor das condições materiais e subjetivas que lhe permita viver com dignidade. Neste artigo nos apropriaremos das oficinas de Educação Ambiental e de Trilhas Turísticas realizadas em parceria com o Departamento de Geografia da UFRGS 35, que foram instrumentos para viabilização da política de extensão de uma universidade que se pretende pública e pensa o desenvolvimento local no parâmetro fundante do crescimento do sujeito como aquele que constrói a vida. 1537 2. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE O MARINHEIRO, MARINHEIRO, QUE LUGAR É ESTE? A Ilha Grande dos Marinheiros, com outras 15 ilhas, compõe o bairro arquipélago na cidade de Porto Alegre/RS. É constituída pelos sedimentos de quatro rios (Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí) que formam o Delta do Jacuí e que desembocam no Lago Guaíba. É a segunda ilha do conjunto mais povoada, bem como em processo de urbanização. Esta ocorrência somada com a falta de políticas públicas adequadas e com sua frágil localização geográfica tem produzido profundos impactos sobre o ambiente e conseqüentemente na qualidade de vida desta comunidade. 35 Este trabalho contou com a orientação do professor Dr. Nelson Rego e com a colaboração do professor Dr. Álvaro Heidrich. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 LOCALIZAÇÃO DA ILHA GRANDE DOS MARINHEIROS As oportunidades e alternativas de trabalho que existem estão ligadas à pesca e à catação e separação de lixo para a reciclagem, além de trabalhos temporários (biscates, faxinas,...), porque o lugar em que este grupo vive é resultado de múltiplos déficits (oferta de vagas nas escolas, alto índice de violência, fome, alcoolismo, drogadição, falta de saneamento básico, habitações precárias, doenças endêmicas, mortalidade infantil e gravidez na adolescência). Além destes déficits de fundo, há aqueles que se agregam, tais como, a falta de atividades alternativas para os jovens. Esta população enfrenta a exclusão social. Suas moradias encontravam-se irregulares com aterros clandestinos até o final de 2005, quando faziam parte da Unidade de Conservação Integral Parque Estadual Delta do Jacuí, decretado em 1976. Nesta época, por estarem irregulares não se podia encaminhar pedido para a melhoria da infraestrutura, resultando na inexistência de saneamento básico, acúmulo de lixo, esgotos sem tratamento jogados direto nos corpos de água, água poluída considerada imprópria para o banho e pesca. Ainda se caracteriza por apresentar visíveis contradições socioeconômicas, sendo que a ilha se transformou em uma área muito valorizada e elitizada de Porto XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1538 Alegre, com mansões construídas para veraneios ao lado de moradias bem mais simples, também irregulares na época. Neste panorama temos de um lado um dos problemas ambientais urbanos de maior importância que é aquele relacionado à preservação dos ecossistemas naturais ainda existentes nas cidades e de outro uma população fixada no local vivendo em condições de vulnerabilidade social com poucas oportunidades de desenvolvimento social. CARACTERIZAÇÃO DA COOPAL O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO SÓ? Mesmo com tantas adversidades a população carente da Ilha vem se articulando em muitas instâncias de participação e organização comunitária. Uma destas iniciativas é a Cooperativa Mista de Produção e Serviço do Arquipélago (COOPAL) que vem atuado profissionalmente na ilha desde 2001 em ações voltadas para prestação de serviços de modo geral. Em 2003 teve o primeiro grande contrato (uma vez que envolveu 20 pessoas de uma só vez) na área de limpeza ambiental (contrato com empresa terceirizada - COOTRAVIPA 36 via Departamento Municipal de Limpeza Urbana - DMLU37 até 2004). Nas palavras do cooperado Pedro Amaral Pires, publicadas no Boletim do Arquipélago (Jun 2004): “Ninguém acreditava na nossa cooperativa. Agora trabalhamos com a parceria do DMLU, tirando os entulhos e dejetos do lixo deixados na ilha.” A Cooperativa tem formado líderes que exercem sua atuação para além dos limites do empreendimento e mesmo da comunidade. Líderes destacados da COOPAL são muitas vezes representantes do Bairro no Orçamento Participativo, educadores do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), palestrantes em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre em várias comunidades de periferia no tema da economia solidária; representantes 36 Cooperativa de Trabalhadores das Vilas de Porto Alegre. Presta serviços na área da limpeza urbana. Apesar de se constituir como uma empresa-cooperativa convencional, este empreendimentos se destaca por acolher em seus quadros pessoas portadoras de HIV/AIDS e portadoras de necessidades especiais. 37 Departamento Municipal do Limpeza Urbana. Este trabalho, na verdade uma novidade, tratou -se de uma limpeza que ocorreu em grande parte dentro dos quintais dos moradores das ilhas do Bairro Arquipélago. Durante muitos anos essas ilhas foram “lixões” e apresentam um horizonte de acúmulo de resíduos sólidos bastante espesso – cerca de 40 cm. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1539 na REDE 38 e coordenação do Programa Fome Zero no Bairro e monitoria na área de educação ambiental. COOPERADOS DA COOPAL Em 2006 foi conquistado um novo grande contrato com a Secretaria Municipal de Saúde. Este previu o combate e a prevenção às doenças transmitidas por mosquitos, em especial, a dengue nas ilhas habitadas do Bairro Arquipélago, podendo ser estendido para outras áreas urbanas de periferia da Cidade. Este contrato amplia, em relação ao anterior, para 43 pessoas envolvidas. 3. DESENVOLVIMENTO O MARINHEIRO, MARINHEIRO, QUEM TE ENSINOU A NADAR? Decorrente da necessidade de ampliar a discussão entre os cooperados sobre os princípios da cooperativa formulou-se o Curso de Capacitação em Cooperativismo e Autogestão, atividade de extensão produzida pelo NEA. O curso objetivou instrumentalizar, do ponto de vista teórico e prático, os membros da COOPAL na gestão e fortalecimento da cooperativa, de forma que o mesmo se configure em um elemento multiplicador em sua comunidade. Nesse sentido, pode 38 A REDE é uma organização que congrega entidades comunitárias, ongs e poder público do conjunto de Ilhas habitadas do Bairro Arquipélago. Nesse espaço a comunidade discute, decide e encaminha questões relevantes aos interesses do Bairro. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1540 também ampliar sua capacidade de referência a outros setores populares que lutam por um espaço social, pela monitoria ambiental e pela conquista de uma vida digna capaz de propiciar renda deixando de depender apenas das políticas compensatórias dos governos. A metodologia aplicada no curso baseou-se em aulas dialogadas e oficinas práticas dentro da perspectiva da educação de jovens a adultos e tendo enfoque no trabalho como princípio educativo (FRIGOTO, 1998). A base teórica principal buscamos em Paulo Freire na figura do agente social (GAYOTTO, 1987). Este seria, antes de tudo, um educador social, mas sua atuação pretende ir além da sala de aula em uma convivência de mútuo respeito acompanhando os passos dos educandos em sua auto-organização e participação comunitária. Como educador parte do princípio de que o conhecimento não é um produto pronto, acabado, que se encontra disponível para “transmitir” ao aluno, e sim de que o mesmo está permanentemente em suas mãos e nas mãos de seus educandos como um arcabouço que lhe sustenta a vida. Sua atuação é, antes de qualquer coisa, resgatar o conhecimento popular acumulado e de posse do seu, formatado e acadêmico, fazendo um diálogo permanente a fim da construção de um outro conhecimento produzido de forma coletiva e dialógica. O Programa do Curso procurou contemplar as especificidades que se apresentavam como demandas do grupo cooperativo da Ilha Grande, percebidas através do convívio de quatro anos no processo de incubação do empreendimento que o Núcleo de Economia Alternativa vem realizando junto a COOPAL, tendo sempre como referência à gestão participativa e democrática (autogestão). A perspectiva da interdisciplinaridade, aqui é compreendida concebendo a realidade como interdisciplinar, pois é ela, e neste caso, a coletividade organizada no empreendimento e seu entorno que vai exigir esta ou aquela área do conhecimento. A nós, extensionistas, cabe a sensibilidade em operar de forma conectada com esta realidade (BRANDÃO 1985). Nosso trabalho enquadra-se no que autores como Carlos Rodrigues Brandão, Guido Irineu Engel e Michel Jean-Marie Thiollent denominam Pesquisa-Ação, sendo a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1541 “pesquisa-ação um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (THILLENT 1986). Reportaremos-nos ainda, se tratando da metodologia, a Paulo Freire que nos dá a base de inserção nesta pesquisa como agente participante do processo ao mesmo tempo reflexivo e práxico. QUEM TE ENSINOU A NADAR? FOI O BALANÇO DAS ÁGUAS E O CONHECIMENTO DO MAR (VIDA)? Entendemos por Educação Ambiental (EA) o conjunto de práticas e reflexões que se propõem a dialogar as inter-relações do indivíduo e da comunidade com o ambiente, tornando-as mais conscientes, tanto a nível local quanto global e fortalecendo a identidade local com o reconhecimento e a valorização de suas tradições e cultura. A EA coloca-se dentro de uma concepção de construção interdisciplinar e multidiscilpinar do conhecimento, visando à consolidação da cidadania com cooperação aos seus semelhantes. A partir de conteúdos problematizadores vinculados ao cotidiano e aos interesses da população, busca originar formas de organização da comunidade solidárias e relações responsáveis com o meio ambiente, bem como soluções diversificadas que não dependem apenas de recursos econômicos, mas que impliquem uma remodelação do processo de vida. Para esta remodelação é essencial termos a compatibilização com as legislações ambientais em políticas orientadas para um envolvimento sustentável, que estimulem a infraestrutura adequada aos recursos e as produções locais. O querer deste trabalho é propiciar a participação efetiva da população na gestão de sua comunidade, ampliando seus horizontes “profissionais” e contemplando uma melhoria da qualidade de vida de todos envolvidos. Pois, conforme Milton Santos, a realidade ao mudar muda também seu observador (1987). Em relação aos princípios e fins de educação nacional os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) destacam que: “(...) a principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1542 aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global.” Nesse sentido, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a EA se proponha a trabalhar com atitudes, formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e de procedimentos. Trata-se, portanto, da construção de uma nova visão nas relações do homem com o seu meio e da adoção de novas posturas pessoais e coletivas. Segundo a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (1998) para a educação “o mais importante são os processos e não os produtos”, e que para isso ocorra deve-se envolver os educandos e especificamente os da Ilha Grande dos Marinheiros, em: “Resgatar a identidade cultural do aluno como ilhéu, integrando -o ao meio em que vive, desenvolvendo nele o gosto e o respeito à natureza e a valorizando de seu ambiente natural e social;” “Avaliar criticamente as transformações ocorridas e seus reflexos no ambiente, no decorrer do processo histórico de ocupação do local, be m como a projeção de cenários para o futuro.” 1543 As trilhas interpretativas e a EA se fundem na prática. A interpretação ambiental realizada em uma trilha se constitui em um importante instrumento didático em EA propiciando a (re) descoberta do ambiente, com a investigação e a percepção dos fenômenos e das inúmeras relações existentes entre os seres vivos, sua história e o meio local. A utilização de trilhas de interpretação ambiental, planejadas de modo a oferecer mais possibilidades de contato com o meio, é um excelente suporte para o desenvolvimento de habilidades como a observação, caracterização e avaliação da realidade local, ao mesmo passo em que provoca um sentido de maravilha importante para o despertar de uma conduta conservacionista. O modo da exploração do espaço em que vivemos é totalmente influenciado pela cultura da sociedade que o ocupa, e retorna na mesma influência para a mesma sociedade delimitando toda sua organização. Nesta roda de influências, temos tido uma pressão forte do ambiente construído sobre o ambiente natural cru. Estas pressões diárias levam a tendência ao sentimento constante de insatisfação, a competição desleal entre os seres em busca de um poder ganancioso com a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 inversão dos valores morais, ao mesmo tempo em que gera grande desejo de contato com a natureza. Este contato é vital para nosso equilíbrio e precisa se dar com tato e com consciência dos nossos atos para o exercício da nossa cidadania e do coletivo comum. 3.1 O CURSO O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Anteriores as oficinas específicas do Curso, foram realizados dois encontros com a COOPAL. Estes encontros foram importantes para que os ministrantes das oficinas e os participantes se conhecessem possibilitando a troca de primeiras impressões, a investigação dos anseios dos grupos e a maneira como os membros desse grupo se compreendem enquanto indivíduos sociais do local, o que Paulo Freire chamou “leitura do mundo”. Segundo este educador para educar precisa-se “ir „lendo‟ cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos populares com quem se trabalha fazem de seu contexto imediato e do maior de que o seu é parte “. (FREIRE, 1996) O primeiro encontro ocorreu na sede da cooperativa, na própria Ilha e contou com a presença de muitos cooperados e dos ministrantes. Após apresentação dos presentes, seguiu-se um relato da situação institucional do Delta do Jacuí, que todos aguardavam ansiosos, pois naquela data estava em vias de passar de Unidade de Conservação Parque Estadual do Delta do Jacuí para Unidade de Conservação Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Jacuí. A problematização, parte constitutiva da metodologia, foi fundamental porque a ela estava ligada à identificação dos temas a serem abordados na oficina de Educação Ambiental. Sua intencionalidade estava diretamente ligada ao estímulo da curiosidade epistemológica39 à cerca da questão ambiental e aos pressupostos políticos e éticos. Questionavam os cooperados: Por que nossas casas não estão certas? Para onde seremos deslocados na própria ilha? Onde estão e como é o esgoto dos “ricos”? Qual a infraestrutura que chegará sendo APA? Como ficará a natureza? Como podemos melhorar nossa qualidade de vida e a qualidade ambiental da ilha? Quem fará parte do Conselho que administrará a APA? Por que agora esta transição de Unidades está sendo viabilizada? 39 Para este conceito ver FREIRE, P. À sombra desta mangueira, Editora Olho Dágua: SP, 1995. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1544 O segundo encontro aconteceu na abertura oficial do evento. Neste encontro realizou-se uma dinâmica que consiste na retirada aleatória de um papel por cada participante, onde há escrito um dos temas abordados no curso: cooperativismo, relações humanas, cooperação, economia solidária, autogestão, gestão, educação ambiental. A idéia era que falassem qualquer coisa, sem preocupação com acertos. Sendo o número de participantes maior que o número de temas, mais de uma pessoa tirou o mesmo tema. As primeiras respostas foram repetidas pelos demais demonstrando como costumamos repetir as idéias dos outros colegas, bem como da mídia, sem analisá-las em nossos conceitos. Verificou-se também um conhecimento li mitado a respeito dos temas selecionados. Essa análise serviu como interpretação inicial dos ministrantes na compreensão da abordagem pelos participantes. Para Educação Ambiental (EA) a resposta comum foi a de que é preciso preservar a natureza e cuidar do lixo. Nota-se com isso, o conhecimento apenas superficial do tema, com a repetição de slogans comerciais e distanciamento do cidadão-objeto, o não reconhecimento da inter-relação das “minhas ações” com as conseqüências que “me circundam”. Acreditamos que a educação ambiental é aprofundar essas questões no sentido de compreender como nossos atos interferem no meio em que vivemos, o que é nossa responsabilidade e o que compete à administração pública, os porquês e como preservar a natureza. Os encontros de EA buscaram estabelecer um espaço para o diálogo aberto, discussões, trocas, criação e aprofundamento de valores e atitudes ambientais e cooperativistas. Através destes pressupostos visa sensibilizar os participantes para a inserção de cada um na construção do seu hoje e para as questões socioambientais pertinentes ao seu contexto local ampliando-as ao regional/global. Nos dois encontros da oficina de Educação Ambiental foram trabalhados os significados e conceitos socioambientais relacionando-os a Ilha. As dinâmicas de apresentação inicial (relaciona o nome de cada um a algo do local); de investigação dos pontos importantes do ambiente e de seus pontos negativos e a dos mapas mentais, que depois se transformou no “Mapa da Ilha”, tiveram o intuito de aproximar criticamente os participantes de seu lugar de vida, refletindo sobre o mesmo. Nestas dinâmicas verificou-se que os locais de significado na comunidade assinalados são XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1545 os locais construídos e de uso coletivo, as edificações sociais e educativas. Uma das participantes explica as escolhas: “As coisas importantes são as que participo: Clube de Mães e Creche”. De acordo com Milton Santos “A cultura, forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é uma herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e seu meio, um resultado obtido através do próprio processo de viver. Esta não provém do simples fato de viver, mas da comunhão com que se faz com ele”. (SANTOS 1987) Assim podemos considerar uma maior comunhão com o lado cultural edificado da ilha do que com a natureza. Para elucidar mais esta preposição citamos Pierre George “(...) afirma-se que quanto mais explorado, quanto mais técnicas e urbanização mais o espaço natural deixa de ter importância em sua forma, tendo uma relação abstrata com o atual”. (GEORGE 1969) MAPA DA ILHA CONSTRUÍDO PELO GRUPO 1546 A discussão sobre o significado dos locais coletivos construídos e naturais foi aprofundada. Outros significados vieram à tona e ao desenhar coletivamente o “Mapa da Ilha” em papel, demais locais foram adicionados. Ao expressar as idéias através de formas, cores e movimentos, tornamos mais papável o ambiente em que se vive, fazendo com que o imaginário chegue ao real e o real ao imaginário. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Com base no Atlas Ambiental de Porto Alegre “navegamos” pelo lago Guaíba, pelo Delta do Jacuí e pelo bairro Arquipélago. Neste momento tivemos a oportunidade também de especificarmos a importância da proteção das margens e a problematização prática no cotidiano da degradação destas águas. As Unidades de Conservação (UC) foram apresentadas em uma retomada do histórico da ilha baseada nas vivências e histórias de cada, verificando como se deu e como se dá a ocupação do local e das diferentes classes sociais inseridas, em como ter maior infraestrutura aliada à conservação da natureza, e conseqüentemente o porquê de discutirmos isso tudo e dos interesses de cada e do poder público em ser Parque ou APA. As situações propostas, mesmo no restrito tempo de duas noites, permitiram aos participantes refletir a importância do ambiente social e natural na apropriação real do seu local, aprofundando a consciência ambiental e coletiva, despertando-os para cidadãos comprometidos e responsáveis ao avaliar suas interferências e as dos outros na natureza e, com isso, desempenhar o verdadeiro papel político que lhes cabe na busca de caminhos para uma vida mais qualificada. 1547 O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO NAS TRILHAS TURÍSTICAS. As trilhas interpretativas são instrumentos efetivos da vivência com o meio, de interação com o local por onde passamos e nos desperta para os contrastes e nuanças da paisagem. Este despertar propicia elementos para o desenvolvimento da educação e do lazer, apresentado de forma real e lúdica o ambiente e os fatos aos residentes-visitantes, colocando a realidade para ser vista pela pessoa, contribuindo para uma visão crítica dos problemas sócio-ambientais e coletivos locais. Neste trabalho que buscou fundamentalmente a interação do residente com o seu meio, estimulando a expressividade e o sentimento de importância de suas características naturais e históricas e das suas manifestações culturais, as trilhas interpretativas concretizaram essa intenção. A interação consciente e constante com nosso espaço comum, com nossa comunidade, possibilitada em uma trilha, provoca a visualização e avaliação das ações que realizamos para o todo e para a compreensão da mesma e do ambiente em que vivemos. Esta compreensão traz a identificação real do espaço e da cultura XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 local além de propiciar um momento de reflexão que pode gerar atitudes capazes de afetar comportamentos e posturas políticas. As trilhas interpretativas têm a mesma raiz das trilhas turísticas dentro do turismo responsável, uma vez que a idéia central é a de promover ao visitante, seja ela turista ou residente, o contato com o entorno. Assim ao planejarmos a trilha precisamos contemplar estes objetivos e preocuparmos em potencializar nossos atrativos com a minimização de nossos impactos negativos, de modo a termos uma atividade em harmonia com a natureza e com valorização da cultura. Para delimitar o roteiro da trilha partiu-se do “Mapa da Ilha” com os pontos relevantes levantados pelos participantes nos encontros de Educação Ambiental (EA) e das questões e reflexões de interação e identificação do meio. Partimos para a trilha, mapeando os pontos em um novo papel pardo e descrevendo considerações e interpretações a respeito dos pontos de parada. A ideia inicial foi de irmos coletando objetos pertencentes e não pertencentes à natureza para depois juntarmos ao mapa e termos a visualização dos elementos que compõe o ambiente. Ainda nesta ideia, posterior a reflexão socioambiental com os elementos, estes podem construir instrumentos musicais ou um mural como finalização da oficina. Ao término da trilha, retornamos a escola para uma avaliação do trajeto, sua duração, sua motivação, os pontos que todos gostaram mais e as facilidades de acesso. Surgiu à proposta de transformar essa trilha em um produto turístico e agenciar visitas guiadas pelos próprios residentes gerando uma nova frente de trabalho. A partir desta idéia do produto turístico, discutimos o número limite aceitável de visitantes (capacidade de suporte) na trilha e a importância de uma conversa sensibilizadora sobre o ambiente antes de iniciar o passeio, buscando garantir a qualidade da experiência de todos bem como a sustentação do ambiente. Algumas paradas foram descartadas pela dificuldade de acesso ou pela similaridade dos atrativos. Considerou importante incluir um trajeto de barco com uma parada em outra ilhota sem ocupação humana a fim de diversificar e aprimorar o passeio em si, identificando a vegetação com menor interferência humana. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1548 A questão do monitor/condutor para a trilha foi estabelecida como um canal de comunicação, de ensino-aprendizagem, onde sempre que se ensina se aprende e sempre que se aprende se ensina, e de uma relação afetiva entre o intérprete e os visitantes, essencial para a compreensão e o melhor resultado da vivência. Atualmente o turismo responsável vem sendo uma alternativa de valorização ambiental e social, de promoção da conservação do meio, de difusão da educação conservacionista e de retorno socioeconômico para a população e para o desenvolvimento local. Este turismo é aqui compreendido como uma atividade que respeita as culturas locais, minimiza impactos ambientais, e complementa nossos ideais de desenvolvimento, assegurando à comunidade melhores condições de vida e reais benefícios, a satisfação aos visitantes e ao meio ambiente uma ferramenta de conservação e valorização dos recursos naturais e das características culturais. Na Ilha Grande dos Marinheiros tais premissas do turismo responsável podem ser contempladas em sua realidade. A Ilha Grande dos Marinheiros reúne características favoráveis para o desenvolvimento da atividade em sua história viva da ocupação da Ilha com suas relações humanas e seus impactos ambientais; em seu ecossistema local com o delta em sua geografia e ambiente de transição natural-urbano; sendo uma Unidade de Conservação; e com sua comunidade já articulada nas questões referentes à conservação da natureza local e políticas públicas, com autonomia na organização em grupo e habilidade para realizar a interface turista – comunidade. Somando a isto, ainda tem localização privilegiada próxima do grande centro da cidade; infraestrutura para lazer já existente como o Clube do Grêmio e as potencialidades que os membros da COOPAL têm manifestado no trato com as questões ambientais 40 junto à capacidade que têm de articulação e discussão coletivas, com a assessoria da Universidade e de outras instituições. Contudo, sem um planejamento participativo da comunidade e o desejo manifesto de interesse destes, o que exige envolvimento e monitoramento contínuo com medidas mitigadoras associadas no manejo dos atrativos e da trilha, e sem o poder público em parceria no desenvolvimento das ações, essa mesma atividade 40 Em 2007 com ajuda de uma Organização Não Governamental (ONG) eles construíram um projeto, com protótipo de uma mini usina de tratamento sanitário. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1549 pode apresentar problemas sérios tanto ambientais como sociais. Dentro desse quadro, existe o risco de aumento da individualidade e da competitividade na busca de “pegar o turista”, a desestruturação das relações sociais e familiares em frente às relações momentâneas com os turistas e de valorização única do que o turista traz, causa degradação ambiental advindos do crescimento do fluxo turístico com o aumento da produção de lixo e esgoto, compactação e erosão do solo pelo pisoteio e trânsito de veículos, entre outros. O turismo em geral é um fator de valorização dos lugares, pois leva para estes locais a promoção do simbólico e da conservação da natureza e novas fontes de receita e de empregos. Por outro lado, sem planejamento exerce pressão sóciocultural nas sociedades residentes das regiões receptoras, incidindo sobre o modo de vida e o comportamento das mesmas, conforme discuti Cazes (CAZES, 1996). Posteriormente realizou-se a trilha com visitantes e estudantes de curso de Turismo da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). A repercussão foi muito positiva na comunidade com os turistas valorizando o local e gerando renda para a condutora, para o barqueiro e para a cozinheira do lanche, e mostrando a real possibilidade de uma nova frente de trabalho digno. Contudo, atualmente o projeto do Turismo Responsável na Ilha Grande dos Marinheiros está parado. Tentativas de viabilizar o roteiro foram feitas pelos moradores com a orientação da Universidade, como promoção em eventos da cidade41 e parcerias com a Prefeitura, mas com a morte de um dos líderes da COOPAL por uso de droga, a dinâmica da vida que impossibilitaram outros participantes da COOPAL de assumirem a frente este projeto, o afastamento da UFRGS, restringindo apenas ao Núcleo de Economia Alternativa / Incubadora de Cooperativas Populares a assessoria continuado, enfraqueceram a idéia e a vontade da comunidade de navegar pelas trilhas do turismo. 41 No Fórum Social Mundial de 2005 a promoção teve resultados positivos com interesse do grande público e algumas visitas realizadas. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1550 4. CONCLUSÃO Acreditamos que o que torna relevante este trabalho é, sobretudo, ter desafiado a Universidade a tornar prática às idéias defendidas pela academia em especial a questão ambiental ligada à produção da vida, ou seja, o empoderamento das comunidades que habitam áreas protegidas a partir do desenvolvimento local. Outra questão importante é o saber escutar as comunidades quando essas demandam intervenções de áreas do conhecimento em sua realidade de forma interdisciplinar e não impondo um modelo autoritário de interdisciplinaridade que na prática nada mais é do que um amontoado de disciplinas. Mas a figura do agente social, conforme este trabalho apresenta baseado em Paulo Freire não se nega a apresentar seu conhecimento e a forma que ele faz isso é que fará a diferença. Pode ser de forma autoritária, impositiva (educação bancária) ou pode ser dialogada, trocando conhecimentos em busca de uma terceira via (dialógica). Acreditamos que nossa intervenção na Ilha dos Marinheiros foi f iel a esta assertiva, pois conforme relatamos ao iniciarmos o Curso de Extensão havia sido recém decretada a transformação de grande parte do Parque Estadual Delta do Jacuí em APA. Nós problematizamos esta decisão de cima para baixo do governo estadual com todo cuidado para não ferir as expectativas da comunidade. Colocamos questões. Hoje, a comunidade reconhece que a ação do governo era mera politicagem, pois até agora (2009) não foi formado o Conselho gestor da APA (Área de Proteção Ambiental). Acreditamos que foi possível trabalhar o (re)conhecimento e valorização do espaço em que se vive, sua história e suas tradições, seu comportamento frente à preservação e à degradação ambiental. Isto vem na compreensão que o meio ambiente é um direito de todos e que sua proteção é um dever a ser partilhado, pois afinal só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece. Por fim, acreditamos que a partir deste trabalho foi possível inverter a lógica da concepção de educação ambiental do governo estadual onde o cidadão era a APA e o objeto era a comunidade. Nosso trabalho não mudou definitivamente a situação precária daquela comunidade, mas serviu para instrumentalizar os atores (em especial a COOPAL) na sua luta cotidiana por condições dignas de habitar e viver em comunidade e ampliou seus horizontes de trabalho. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1551 Reconhecemos a importância de refletir acerca da responsabilidade da Universidade em suas práticas de extensão em trabalho continuado, sabendo até onde deve ir para garantir que a ideia germine e onde deve parar para não ter conotação paternalista. REFERÊNCIAS BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989. BRANDÃO, C. R. A Questão Política da Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 1985. 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V. dos Santos Especialista em Planejamento e Marketing do Turismo/ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília [email protected] RESUMO: este artigo versa sobre a importância da permanência e do fortalecimento de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da exploração sexual comercial infanto-juvenil no turismo no Brasil para além dos eventos: Copa do mundo de Futebol e as Olimpíadas que serão realizados no país em 2014 e 2016, respectivamente. O trabalho objetiva demonstrar a importância da formação dos profissionais do trade turístico para a promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros. O estudo teórico aprofundado do fenômeno da violência sexual relacionado à gestão do turismo foi a metodologia utilizada e o principal resultado aqui alcançado é a verificação da importância de traçar políticas públicas para a gestão do turismo nacional capazes não só de denunciar os casos de exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes, mas também, de preveni-los. Palavras-chave: Exploração sexual comercial; crianças, adolescentes, turismo. ABSTRACT: This article discusses the necessity of establishing strong and permanent public policies to confront the commercial sexual exploitation of children in Brazil by tourists beyond the following events: World Cup and the Olympic games, which will be held in Brazil in 2014 and 2016 respectively. The objective of this work is to demonstrate the importance of training professionals in the tourism trade to promote of the rights of Brazilian children and adolescents. The theoretical study carefully examining the phenomenon of sexual violence related the business of tourism is the methodology used and the principal finding here is the verification of importance of outlining public policies related to the management of tourism capable not only of indicting cases of the commercial sexual exploitation of children and adolescents but of preventing them. Key-words: Commercial sexual exploitation; children, adolescents, tourism. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1554 A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL A violência sexual contra a criança e o adolescente é um fenômeno social mundial e “democrático” (AZEVEDO e GUERRA, 2000: 11), uma vez que atinge crianças e adolescentes pertencentes aos diversos segmentos sociais, etnias e culturas. Tal fenômeno é, também, um problema social grave, pois compromete o desenvolvimento físico e emocional saudável de meninos e meninas provocandolhes dor e sofrimento, arrasando-lhes a auto-estima e levando-os, por vezes, ao auto-extermínio. No Brasil, a violência sexual contra a criança e o adolescente tem suas bases consolidadas na cultura patrimonialista e patriarcalista (COSTA, 1979; FREIRE, 2000). Significa dizer que, ao longo de nossa História, tanto a criança quanto o adolescente não têm sido reconhecidos como sujeitos sociais, mas como um bem, no caso, um objeto sexual que pode ser utilizado pelo adulto, tanto no espaço privado quanto no espaço público. Uma das expressões da violência sexual contra crianças e adolescentes é a exploração sexual comercial42, que é definida como um tipo de violência que “ocorre nas relações de produto e mercado por meio de venda dos serviços sexuais de crianças e adolescentes pelas redes de comercialização do sexo pelos pais ou não” (2009: 09). Na maioria das vezes, as crianças e os adolescentes que são explorados sexualmente por seus pais e mães pertencem a famílias que vivem em situação de pobreza e de vulnerabilidade social. Porém, também podem ser explorados por membros de redes de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes que são formadas por diversos atores sociais, quais sejam: aliciadores, aliciadoras, taxistas, caminhoneiros, cafetões, cafetinas, empresários e profissionais do ramo hoteleiro, agentes de viagens e, por fim, os usuários. As informações relativas ao fenômeno da exploração sexual comercial infanto-juvenil no Brasil são recentes, pois foi só a partir do relatório da Comissão 42 A partir do Congresso de Estocolmo, na Suécia, realizado em 1996, que se definem quatro dimensões da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, são elas: pros tituição, tráfico de crianças e adolescentes, turismo voltado para a exploração sexual e pornografia infanto -juvenil. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1555 Parlamentar de Inquérito de 1993 que ocorreu a conscientização, a mobilização e a ação de setores engajados da sociedade civil, dos poderes executivo, legislativo e judiciário, da mídia e de organismos internacionais para o enfrentamento do problema social em questão. Essa mobilização resultou numa maior visibilidade do fenômeno, na definição de estratégias, na implantação de programas e na realização de pesquisas, campanha s, notícias e reportagens na mídia, criação de bancos de dados, programas de atendimento, prevenção, defesa e responsabilização, formação de agentes sociais, atuação de policiais especializados na área de proteção ao segmento infanto-juvenil e monitoramento legislativo. Tratava-se... de enfrentar o desafio através da elaboração de um plano nacional integrado e orgânico (MJ/SEDH/DCA, 2001: 9). O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil desde sua criação realiza, sistematicamente, a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil – PESTRAF – que organizou o seguinte quadro: a maioria das mulheres, crianças e adolescentes são traficadas por redes organizadas, através de rotas internacionais, intermunicipais e interestaduais. Tais caminhos são estrategicamente desenhados para atender sexualmente diferenciados modelos de clientela ao longo do trajeto. A PESTRAF apontou 241 rotas de tráfico no Brasil. Destas, 131 levam garotas e mulheres para o exterior, principalmente para a Espanha. Nas demais 110 rotas transitam principalmente adolescentes traficadas entre municípios e estados brasileiros. As rotas de tráfico para a exploração sexual engrossam as estimativas do UNICEF sobre o número de crianças que desaparecem todos os anos, que pode chegar a um milhão (FALEIROS, 1997: 15). É fundamental observar que o trato deste problema social tão delicado só foi possível a partir da abertura política na década de 80, do fortalecimento do debate acerca da democracia e da consolidação dos debates sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, bem como por serem reconhecidos como sujeitos sociais entre os profissionais que atuavam na área da infância e da juventude. A culminância desses debates foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na década de 90. Nesta recente perspectiva, formalizaram-se “os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento” (ECA, Art. 6º) que necessitam de cuidados e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1556 de proteção adequados à sua idade por parte do Estado, da família e da sociedade para crescerem e se desenvolverem livres de toda forma de violência e opressão. Apesar da gravidade do fenômeno apresentado, é difícil o seu enfrentamento em função da organização da rede 43 de exploração sexual de seres humanos, da desinformação de profissionais de áreas diversas e do medo do cidadão brasileiro de denunciar casos ou suspeitas de casos de quaisquer expressões da violência sexual. Diante de tais dificuldades, é fundamental que ocorra a sensibilização, a formação e a mobilização de profissionais das áreas diversas para que ocorra o efetivo enfrentamento da exploração sexual comercial infanto-juvenil no Brasil. No presente trabalho, o foco é o papel fundamental que os profissionais que atuam no trade turístico nacional tem no referido enfrentamento, uma vez que estes profissionais atuam diretamente junto a turistas brasileiros e estrangeiros. Ressalvamos que, nesta perspectiva, estes também devem ser informados/educados sobre os direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros, independente de serem ou não abusadores sexuais. 1557 O TURISMO DE ESPORTES E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Apresentado o problema da exploração sexual comercial infanto-juvenil no Brasil passaremos a relacioná-lo ao turismo de esportes para que se possa compreender porque eventos como a Copa Mundial de Futebol e as Olimpíadas podem intensificar tal exploração sexual. Primeiramente, para se compreender a complexidade do fenômeno turístico nas localidades e nas comunidades, é necessário entender como é organizado o turismo e a importância de sua segmentação para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda. Com enfoque na demanda, a segmentação é definida pela identificação de certos grupos de consumidores com interesses turísticos em comum. Neste sentido, o turista que pratica o turismo de esportes tem como sua principal motivação a realização de campeonatos, torneios e similares. 43 Chama-se de rede a organização de pessoas/profissionais que trabalham objetivando um mesmo fim. Em relação à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, há redes organizadas para fortalecê-la, bem como para enfrentá-la. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 De acordo com o Manual de segmentação do turismo do Ministério do Turismo, o ato de viajar por razões esportivas e seus desdobramentos começa a ser tratado como atividade turística particularmente no século XX e foi impulsionado pela propagação da prática esportiva associada à imagem de vida saudável, culminando com a popularização mundial das grandes competições esportivas como, por exemplo, os jogos olímpicos, copas do mundo, jogos de inverno, dentre outros. Assim, o Ministério do Turismo estabelece que: “o turismo de esportes compreende as atividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades esportivas” (2010). De acordo com a definição acima, entende-se que o turista de esportes é caracterizado tanto pelo esportista ou atleta como pelos observadores e ou torcedores, participantes de eventos esportivos. Nos próximos seis anos, o Brasil receberá os dois mais importantes eventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, caracterizados pela forte movimentação da economia e, conseqüentemente, do setor de serviços e turismo. As estimativas do Ministério do Turismo são de que a copa de 2014 traga ao país entre 500 mil a 600 mil turistas. Dentro desta perspectiva, milhares de empregos devem ser gerados, ainda que a maioria temporários, especialmente no setor de serviços, impulsionado pelo maior fluxo de turistas. Por trás de todos esses benefícios, há uma séria preocupação das organizações que atuam na área de defesa dos direitos da infância, como também das comissões organizadoras de grandes eventos esportivos que é a representada pelo aumento do fluxo de turistas e o risco que este movimento causa para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, pois ocorre o aumento do trabalho infantil e da exploração sexual de crianças e adolescentes. Segundo a Agência de Notícias dos Direitos da Infância, esta preocupação fundamenta-se no relato de organizações internacionais que se dedicam ao enfrentamento da violência sexual contra meninos e meninas. Estudos e relatórios oficiais indicam que copas e olimpíadas anteriores registraram um preocupante crescimento de casos de desrespeito aos direitos humanos de crianças de adolescentes. Neste sentido, no momento, os organismos internacionais se encontram preocupados com o enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil para a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1558 próxima Copa Mundial de Futebol que ocorrerá nos meses de junho e julho de 2010 na África tendo como referência registros que apontam para o fortalecimento do tráfico de meninos e meninas, voltado a atender a demanda da indústria do sexo. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, estima-se que cerca de 400 mil crianças e adolescentes, anualmente, são traficadas entre as fronteiras da África com interesses comerciais, prostituição, trabalho escravo e crime organizado, sendo que há uma estimativa que cerca de trinta e oito mil crianças possam ser vítimas de diferentes tipos de violência, em especial do trabalho infantil e da exploração sexual durante o evento, devido ao grande “fluxo de mão de obra masculina, ao aumento da movimentação financeira e ao fluxo de turistas nas localidades que se tornam centros atrativos para a indústria do sexo” (2009: 12). Diante dessas estimativas, torna-se necessário, o planejamento adequado do evento com políticas e projetos de prevenção e enfrentamento à exploração sexual infanto-juvenil, assim como, ações que restrinjam a atuação de pessoas e/ou profissionais que desconheçam ou não demonstrem atenção em relação à legislação pertinente à criança e ao adolescente em grandes eventos esportivos como a copa e as olimpíadas. Contudo, é imprescindível que a iniciativa privada esteja juntamente com os órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal, empenhada em combater a exploração sexual comercial na atividade turística. Como em qualquer grande evento que movimenta um enorme fluxo de turistas e visitantes, os impactos devem ser previstos com muita antecedência, com o intuito de minimizar os negativos e potencializar os positivos. Sediar uma copa do mundo envolve diversas organizações nas várias localidades sedes do evento, dentre elas: envolver a comunidade local nas oportunidades que surgirão de emprego e renda, elaborar programas de enfrentamento a exploração sexual nos empreendimentos que sirvam de ponto de partida para mudanças de paradigmas já elaborados por turistas estrangeiros em relação, principalmente, às mulheres brasileiras, aproveitando a oportunidade para mostrar ao mundo as belezas naturais e culturais espalhadas nas doze cidades brasileiras que irão sediar o evento, assim como o forte potencial brasileiro para a organização de grandes eventos em especial eventos esportivos, são práticas que irão mitigar as conseqüências negativas do turismo e fomentar informações positivas para o Brasil sobre o mundo. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1559 POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA – propõe algumas ações que resguardam a criança e o adolescente não só da exploração sexual comercial, quanto do trabalho infanto-juvenil na Copa e nas Olimpíadas que serão realizadas no Brasil. São elas: 1. capacitação de policiais e endurecimento do policial no tratamento destes crimes; 2. formação de cadeias sistêmicas de produção para a Copa nas cidades onde ocorrerão os jogos, 3. criação de Comissões de Direitos Humanos nas empresas e; 4. envolvimento dos meios de comunicação em divulgar informações e dados relativos ao fenômeno, bem como, em sensibilizar a população para o seu enfrentamento. De acordo com as diretrizes nacionais de enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, o Ministério do Turismo em seu Plano Nacional de Turismo, 2007 – 2010 – Uma viagem de inclusão, desenvolveu, a partir do Programa de Turismo Sustentável e Infância - TSI, as seguintes ações de enfrentamento ao problema posto, de acordo com sua coordenadora, Elizabeth Bahia: 1. capacitação de 850 jovens a serem inseridos no mercado de trabalho do turismo em 12 cidades brasileiras no biênio 2008 – 2009; 2. campanhas de comunicação e divulgação do disque-denúncia nacional 100 com aproximadamente 475 mil materiais de promoção distribuídos junto ao trade turístico e à sociedade civil; 3. realização de 52 seminários em todo o Brasil que incentivem o empresariado a prevenir e denunciar qualquer forma de exploração à pessoa humana nos equipamentos turísticos; 4. apresentação no IV Salão do Turismo de um documentário e dois filmes de curta-metragem; 5. participação do Programa TSI em quarenta reuniões internacionais e; 6. realização de parcerias, convênios e cooperações técnicas, como exemplo, a realizada entre o Centro de Excelência em Turismo – Universidade de Brasília e o Ministério do Turismo objetivando realizar cursos sobre o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades sede da Copa do Mundo de 2014. Todas estas ações são relevantes para o enfrentamento da violência sexual comercial infanto-juvenil, no entanto, não deveriam ser adotadas apenas no decorrer destes eventos, mas no nosso dia a dia até que os direitos das crianças e adolescentes brasileiros estivessem promovidos de fato. No entanto, chamamos a atenção para o fato de que estas ações não são suficientes para resguardar nossas crianças e adolescentes de múltiplas situações XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1560 de violência em eventos esportivos como a copa e as olimpíadas e fora deles, se não for oferecida formação continuada a todos os profissionais que lidam com eles, sendo que, toda formação deve ter por princípio sensibilizá-los para a promoção dos direitos da criança e do adolescente a partir dos parâmetros sócio-culturais responsáveis por mantê-las sem voz nem vez ao longo da nossa história. Da mesma forma devem ser formados os profissionais do trade turístico que, por outro lado, lidam diretamente com adultos, homens e mulheres, brasileiros e estrangeiros. Chamamos a atenção para a referida sensibilização nas formações propostas, pois o arcabouço cultural recai sobre todos nós e isto, por vezes, dificulta a identificação de uma expressão de violência contra a criança e o adolescente e a ação para coibi-la. Por exemplo, o profissional que aprendeu que os pais tem o direito de educar os filhos como bem entenderem, dificilmente tentará impedir o espancamento de uma criança que esteja sendo corrigida por seus responsáveis de um comportamento considerado indesejado. No âmbito da violência sexual isto também ocorre, apesar desta ser a expressão de violência contra a criança e o adolescente 44 que mais causa revolta social (GAUDERER e MORGADO, 1992). Além da sensibilização para a condição de ser criança e adolescente no Brasil, outra questão que deve ser trabalhada de forma pontual nas formações é o conceito de enfrentamento da violência sexual. A palavra „enfrentar‟, significa: “encarar; defrontar; ficar frente a; pôr-se frente a” (FERNANDES, 2001, -), quer dizer, o termo indica a necessidade dos atores sociais despojarem-se de suas dificuldades emocionais, de suas crenças, para poderem „colocar-se frente‟ a si mesmos e a situações de violência sexual para, então, procurar solucioná-las. O termo „enfrentar‟ também distingue-se do termo „combater‟ que significa “sustentar combate contra; opor-se a; impugnar; atacar; contestar; pelejar; lutar; debater-se; estar em conflito” (FERNANDES, 2001, -). Em situações de violência sexual contra a criança e o adolescente, muitas vezes, o desejo é de vingança contra o(a) agressor(a) sexual, em última instância, o desejo é de matá-lo. No 44 As expressões de violência contra a criança e o adolescente são classificadas em: física, sexual, psicológica e negligência, podendo ocorrer de forma sobreposta ou não (AZEVEDO e GUERRA, 2000: 10). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1561 entanto, os estudos a respeito de interações sexuais violentas tem mostrado a necessidade de agir de forma a punir legalmente o(s) agressor(es), e de encaminhálo(s) a tratamento psicológico, pois muitos deles/delas já sofreram algum tipo de violência sexual, geralmente, intrafamiliar. Por fim, além da denúncia do(a) agressor(a) sexual, a prevenção também é uma estratégia fundamental de enfrentamento à exploração sexual comercial infanto-juvenil. Aqui nos remetemos novamente à formação continuada dos profissionais do trade turístico, porque é a partir dela que estes profissionais poderão traçar ações de prevenção a este problema social, conforme sua realidade, porque cada contexto social, cada momento histórico tem especificidades que devem ser consideradas, pois, conforme mostrado anteriormente, o problema em momentos de eventos, como a copa do mundo, tem características distintas de outros espaços turísticos. Alguns dos benefícios da formação profissional voltada para a prevenção da exploração sexual são: favorecimento do estudo, do diálogo e do questionamento dos diversos atores sociais em relação ao fenômeno em questão. É importante para romper o silêncio sobre a questão, desvendar mitos e levar à compreensão de que a criança e o adolescente são sujeitos sociais, sujeitos de direito; conhecimento da rede local de proteção da criança e do adolescente. É importante porque dá ao profissional do turismo conhecimento de que ele pode contar com a colaboração de profissionais de outras áreas no encaminhamento de crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual comercial aos serviços de atendimento especializados; sensibilização dos profissionais do turismo quanto a urgência de sua inserção na rede local de proteção da criança e do adolescente. É importante para fortalecer o enfrentamento de toda expressão de violência contra a criança e o adolescente, bem como, para a promoção de seus direitos; organização de estágios para aprendizes 45 na área de turismo como forma de gerar empregabilidade com mão-de-obra local. É importante 45 Segundo o ECA, aprendiz é o menor a partir de 14 anos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1562 para dar conhecimento a adolescentes que o campo turístico é rico e merece ser explorado de forma a gerar emprego, sustentabilidade ambiental e inclusão social e não a exploração sexual e de mão de obra; criação de código de conduta para proteção de crianças e adolescentes contra a exploração sexual nos empreendimentos turísticos para que tanto o turista, quanto os funcionários das empresas tenham clareza em relação às normas da empresa. fortalecimento das ações realizadas pelo Programa de Turismo Sustentável e Infância do Ministério do Turismo iniciadas em 2007 nas 12 cidades onde serão realizados os jogos da Copa do Mundo 2014 e para além dela. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os números da exploração sexual de crianças e de adolescentes no Brasil mostram que há necessidade de haver uma melhor distribuição de renda no país para que as famílias que vivem em situação de pobreza tenham maior acesso a bens materiais e culturais capazes de abrir-lhes novas perspectivas sociais, perspectivas onde a criança e o adolescente sejam reconhecidos e tratados como sujeitos sociais e não mais objetalizados, explorados. No entanto, sabemos que esta é uma decisão política que depende da vontade de nossos governantes e das ações da sociedade civil organizada em prol da promoção dos direitos sociais, que já está ocorrendo, mas a passos lentos. A necessidade urgente é a de quebrar o silêncio e falar sobre a exploração sexual comercial, o que é primordial para alertar a sociedade sobre um problema que lesa física, emocional e/ou psicologicamente milhares de crianças. É a informação que dá condições de conhecermos este problema e dele nos defendermos. A informação também é capaz de mexer com a nossa formação cultural, de transformar nossa mentalidade a ponto de nos responsabilizarmos pelo crescimento XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1563 saudável das crianças e dos adolescentes brasileiros e não de culpabilizá-los pela situação de risco em que vivem46. Assim, é fundamental que o trade turístico esteja sempre em formação e alerta para a promoção dos direitos da criança e do adolescente não só em momentos de realização de Copas ou Olimpíadas, mas continuamente, pois só assim poderemos transformar de fato nossa realidade. Deve haver permanência das políticas públicas voltadas para a gestão do turismo no Brasil no que diz respeito ao enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Ressaltamos a importância do profissional do turismo compor a rede de proteção da criança e do adolescente de sua localidade para fortalecer suas ações, agir de forma segura e contribuir diretamente para a mudança da imagem do Brasil no exterior, fazendo com que o país seja cada vez mais conhecido e admirado pelas suas características naturais e culturais, assim como pela excelência nos serviços e na hospitalidade. REFERÊNCIAS ANDI. „Exploração sexual de crianças e adolescentes na Copa e nas Olimpíadas: não queremos o Brasil neste pódio‟ in Direitos, Infância e Agenda Pública / Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Brasília: ANDI, 2009. AZEVEDO, Maria Améilia e GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. TELELACRI 2000. São Paulo: Edusp, 2000. BRASIL. Ministério da Justiça. SEDH/DCA. Plano nacional de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil. Brasília: MJ/SEDH/DCA, 2001. CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Estatuto da Criança e do Adolescente. 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HTTP://www.turismo.gov.br/turismo/home.html acessado em 28 de janeiro de 2010. 46 A proposta de redução da maioridade penal no Brasil vai nesta linha de raciocínio, pois o que se pretende é punir cada vez em mais tenra idade o adolescente sem que haja qualquer endurecimento de punição para os adultos que os utilizam para cometer crimes ou políticas públicas de empregabilidade e de distribuição de renda capazes de retirar crianças, adolescentes e suas famílias de situações de pobreza que as deixam vulneráveis socialmente. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1564 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual infanto-juvenil / Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos /Departamento da Criança e do Adolescente. Brasília: MJ, 2001. UNICEF. Situação Mundial da Infância 2009 / Fundo das Nações Unidas para a Infância. 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Portanto, o estudo do perfil do turista é um dos instrumentos que deve ser implementado para subsidiar as ações, programas e planos adequados à captação de turistas, às necessidades da demanda e à apropriação do espaço urbano. Os resultados desta pesquisa apontam, além das características do turista que visita Goiânia, o olhar desses visitantes sobre o espaço urbano, suporte da atividade turística. Esses dados revelam que ainda não há uma fusão de ações do planejamento urbano com a prática do turismo. Faz-se necessária a implementação de ações que ordenem o crescimento urbano, articulando a oferta turística e a visão da cidade, sobretudo, como espaço de existência das pessoas. Palavras-Chave: planejamento local; demanda turística; Goiânia, atrativos. ABSTRACT This study was objectified to analyze the profile of the tourist who visits Goiânia, leading in account its motivations, perceptions, preferences and suggestions in relation to the infrastructure, the services and the local attractiveness. The tourism, if planned well and executed, can be a vector of partner-space development. Therefore, the study of the profile of the tourist, he is one of the instruments that must be implemented to subsidize the adequate actions, programs and plans to the captation of tourism to the necessities of its demand and the appropriation of the urban space. The results of this research point, beyond the characteristics of the tourist who visits Goiânia, the look of these visitors on the urban space, support of the tourist activity. These datas disclose that not yet it has a fusing of action of the urban planning with the practical one of the tourism. It becomes necessary the implementation of actions that command the urban growth articulating offer tourist and the vision of the city, over all, as space of existence of the people. Key words: local planning; tourist demand; Goiânia, attractive. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1566 INTRODUÇÃO Cada cidade é singular e oferece um espetáculo diferenciado, centraliza uma série de possibilidades que criam um grande poder de sedução. (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 7/8). As cidades, conforme as palavras de Castrogiovanni são espaços privilegiados com relação à concentração de serviços, símbolos e atrações culturais que possibilitam um maior incremento da oferta e da demanda turística. Contudo, é a apropriação e funcionalização desses espaços pela atividade turística que n os permite designar uma cidade como turística. “O lugar turístico existe em função da prática do turismo que lhe dá uma existência, uma identidade própria e singular” (ALMEIDA, 2004, s/p). Nesta perspectiva, a cidade de Goiânia, devido a sua posição estratégica no centro do país, sua condição de capital goiana e de porta de entrada para o estado de Goiás, sua infraestrutura para determinados serviços públicos e para eventos, vem adquirindo importância cada vez maior no cenário do turismo, projetando uma nova identidade no cenário nacional. O crescimento desse setor vem desencadeando um incremento na receita local, pois abrange um amplo e diversificado conjunto de atividades econômicas principalmente no setor de serviços e comércio, atrelado à geração, direta ou indireta, de emprego e renda. Além disso, esta atividade proporciona a dotação de infraestrutura urbana e uma diversificada oferta de lazer, que também são instrumentos para melhoria da qualidade de vida e satisfação das necessidades humanas e sociais da população local. Portanto, capaz de mobilizar grandes contingentes de pessoas, o turismo de qualquer natureza, se bem planejado e executado, pode ser um vetor de desenvolvimento sócio-espacial47. Todavia, não podemos esquecer que a prática turística implica em transformações significativas, e as vezes negativas, na forma e na dinâmica territorial. Os núcleos receptores de turistas, segundo Almeida (2004), sofrem 47 Compreendido como um processo de superação de problemas e conquista de condições (culturais, técnico-tecnológicas, político institucionais, espaço territoriais) propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva o desenvolvimento exige a consideração simultânea das diversas dimensões constituintes das relações sociais (cultura, economia e política) e também do espaço natural e social (Souza, 2002, p.18-19). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1567 diversas transformações socioespaciais, tais como: infraestruturas montadas e/ou apropriadas em função da acessibilidade dos visitantes; infraestrutura de hospedagem, de alimentação, lazer e de serviços em geral. Ainda com a autora, o “turismo é capaz de reorganizar sociedades inteiras para que ele possa acontecer, mormente apoiado por políticas ditas de desenvolvimento que “redescobrem” regiões eleitas como turistificáveis.” Por conseguinte, o planejamento para a atividade turística [...] “deve ser parte de vários outros planejamentos destinados ao meio ambiente urbano, ao agrário, vistos de forma integrada e global” (ALMEIDA, 2004, s/p). O turismo executado de forma planejada e organizada é um vetor, porém não o único, de desenvolvimento sócio-espacial. É preciso considerar que tanto a participação efetiva da população local, quanto às peculiaridades – sociais, naturais, econômicas e culturais - que singularizam os lugares constitui-se em referenciais a serem incorporadas no planejamento e na gestão do turismo (ibd). O planejamento turístico é apenas uma das facetas de um planejamento urbano abrangente e integrado. Nesse contexto, o estudo do perfil do turista é um dos instrumentos que deve ser implementado para subsidiar as ações de sensibilização quanto ao uso do espaço urbano e turístico; no tocante à implementação de infraestrutura e serviços turísticos adequados e à preparação de recursos humanos, dentre outras estratégias voltadas para o turista, para o fortalecimento da comunidade local e defesa do meio ambiente. A investigação do perfil do turista confere aos planejadores e gestores da atividade turística a possibilidade de conhecer as características de cada segmento do turismo para a avaliação dos programas implantados. Nas palavras de O liveira (2000, p. 38): Conhecer as razões que levam os turistas para uma região, seus hábitos, costumes e o que eles esperam no local visitado é importante para o turismo receptivo, porque ter conhecimento prévio sobre o interesse dos visitantes permitirá realizar um plano de empreendimento turístico e de marketing de acordo com o desejo dos visitantes [...]. Com isso, esse estudo possibilita a definição de novas ações, programas e planos adequados à captação de turistas, às necessidades da demanda e à apropriação do espaço urbano. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1568 A ATIVIDADE TURÍSTICA NO CONTEXTO DA CIDADE DE GOIÂNIA A cidade de Goiânia dispõe de uma rede hoteleira relativamente grande, um diversificado serviço de restauração e um conjunto de equipamentos de infra estrutura de apoio ao turista como: um moderno centro de convenções, pavilhão de exposições, diversas feiras industriais e um parque de exposições agropecuárias. De acordo com Duarte (2002), a grande quantidade de estabelecimentos de hospedagens, de várias categorias e origens, leva-nos a supor a existência de uma demanda considerável. Todo este investimento somente ocorre porque os grupos hoteleiros vêem o grande potencial que existe na cidade para o turismo. Todavia o conhecimento da demanda turística e a formação de banco de dados é uma das maiores necessidades atuais das políticas públicas estaduais e municipais e de todo o trade turístico goianiense, os quais esbarram na ausência de um sistema de informações a respeito desta atividade. Segundo Lemos (2001, p. 42): Nós, os pesquisadores do turismo, temos uma parcela de culpa ao propormos o foco da busca de informações por meio de inventários, examinando somente o lado da oferta. Obviamente essencial, a oferta turística nos demonstra potenciais que podem ser transformados em valores turísticos. Mas não devemos esquecer que esses valores só são validados quando chancelados pela demanda – os turistas – e produzidos pelos agentes econômicos do turismo. Portanto, ainda com o autor, é necessário o incentivo à pesquisa e a formação de núcleos de investigação como suporte às decisões dos agentes do mercado e às ações das políticas públicas de turismo. Fazendo isto, os responsáveis pela atividade turística (poder público, comerciantes, academia, trade turístico em geral) estarão ampliando o ciclo de vida do produto turístico. Por esta ótica, é que nos empenhamos em procurar identificar e analisar o perfil do turista que visita Goiânia, levando em conta as suas motivações, preferências e sugestões em relação à infraestrutura, aos serviços e à atratividade local. Colocado o desafio, algumas questões centrais orientam nossa investigação: Quem é o turista que visita Goiânia? Qual a origem desse turista? Qual a motivação da viagem? Que tipo de produtos ele consome? Qual o meio de transporte e de hospedagem ele utiliza? O que ele gostaria de fazer? O que chama atenção desse XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1569 turista na cidade de Goiânia? A identificação e análise desses e outros questionamentos permitiu apontar algumas das percepções, preferências e sugestões dos turistas quanto à atratividade da cidade e em relação aos produtos e serviços turísticos oferecidos. O TURISTA QUE VISITA GOIÂNIA: A INVESTIGAÇÃO Para o alcance dos objetivos propostos na investigação 48 construímos um conjunto de estratégias que nortearam a pesquisa. Dentre elas podemos destacar o levantamento bibliográfico e documental pertinente a temática e à aplicação de um questionário com questões abertas e fechadas como técnica de coleta de dados. Este instrumento de investigação foi aplicado, a uma amostra não probabilística acidental de 423 turistas, em locais pré-estabelecidos como nos terminais rodoviário e aeroviário, nas feiras livres, em hotéis, em casas de apóio a visitantes para tratamento de saúde, dentre outros espaços comuns a diversos tipos de turistas. Entre os entrevistados 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino, os quais se encontram na faixa etária média entre 26 a 55 anos. Quanto ao estado civil 46% são casados, 41% solteiros, 10% divorciados e os outros 3% viúvos. O levantamento mostrou também que 55% dos turistas viajam sozinhos e 45% acompanhado por familiares, provavelmente, justifica pela se amigos ou grupos/excursão. quantidade de estudantes, Um perfil que comerciantes, vendedores e representantes de empresas, dentre outros profissionais que a cidade recebe para congressos, negócios e eventos 49. Com base nos dados levantados constatamos que 34% dos turistas entrevistados vêm a Goiânia, motivados pela realização de Negócios. No entanto, a visita a parentes e amigos também atrai 24% desses visitantes. Outra motivação relevante para 16% dos entrevistados é a participação em Convenções e Congressos. A infraestrutura oferecida pela cidade, com uma rede hoteleira e 48 Essa pesquisa foi realizada em 2008, mas atualmente está send o ampliada através do projeto “Analise do perfil do turista que visita municípios indutores do turismo em Goiás: uma contribuição ao planejamento”, em desenvolvimento através da parceria entre a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Goiás/FAPEG e a Coordenação de Turismo e Hospitalidade do IFG. Os municípios considerados indutores do turismo nesse projeto são: Goiânia, Caldas Novas, Aruanã, Rio Quente, Alto Paraíso, Goiás e Pirenópolis. 49 “Turismo de Negócios e Eventos compreende o conjunto de atividad es turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p. 6). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1570 gastronômica diversificada e vários tipos de espaços para eventos, explica a relevância destas motivações. Já o fato da capital goiana ser referência nacional no tratamento de câncer, queimaduras, doenças tropicais e outras enfermidades, impulsionou a vinda de 12% dos pesquisados. Os 14% restantes se dividem entre recreação e férias, compras e outros motivos (Figura 1). Figura 1: Motivação dos turistas para visitar Goiânia 5% 3% 6% 34% 12% 16% 24% NEGÓCIOS VISITA A PA RENTES E A MIGOS CONV ENÇÕES E CONGRESSOS SAÚDE OUTROS 1571 RECREA ÇÃO E FÉRIAS COMPRAS Paralela a essa questão, indagamos se os pesquisados também visitam outras cidades do estado de Goiás durante sua estadia na capital. Surpreendentemente, 69% dos sujeitos afirmaram que não visitaram nenhuma cidade além de Goiânia. Isto mostra que, em sua maioria, quem vem à Goiânia tem uma motivação relacionada diretamente à capital. Em relação ao local de origem, 32,8 % dos entrevistados são provenientes do interior do Estado de Goiás e 65,2% vieram de outros Estados do Brasil, principalmente de São Paulo, Brasília e Tocantins. De origem estrangeira encontrase apenas 2% da amostra (Figura 2). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Figura 2: Local de origem do turista que visita Goiânia 35,0 31,1 30,0 25,0 20,0 15,0 9,8 10,0 8,1 7,8 5,0 1,7 5,9 5,4 3,4 3,7 2,2 1,0 2,0 0,7 5,9 0,7 2,4 2,0 1,2 2,0 0,5 1,2 0,7 0,2 0,2 0,2 Á A AI M EA R C O R A IN IO R TE R R C NT A EX NÁ AT AR RA IB A PA RA SU O D DE PA L L E R SU O AC D SS O RO SA G R G IO R AT O M IN AN O RI TI BA U C TO DE JA N EI R F SA N IT O IO R O C ÍL IA /D AS BR PÍ R ES RÁ BU PA PE RN AM S AI S TI N AN AS IN M C G ER Í ÃO H TO C PI AU AN AR M G RO AL SS DA O S TE N R O IO VA R S D E G O IÁ S BA HI A UL O PA AT O M Sà O E D IO R Sà IN TE R O PA U LO -C AP IT AL 0,0 A maior parte destes turistas (70%), conforme mostra a figura 3, utiliza o transporte rodoviário - geralmente, ônibus estaduais e interestaduais - para chegar à Goiânia. Os outros 30% vêem por meio aéreo. Porém, o predomínio do transporte rodoviário em detrimento do aéreo pode ser explicado, por um lado, pelo número de turistas provenientes de municípios do interior do Estado de Goiás, providos apenas dos meios terrestres de deslocamento. Por outro lado, muitos visitantes são oriundos de estados vizinhos e a relação distância-tempo-custo, explica a preferência por essa modalidade de transpor te. Figura 3: Meio de transporte 8% 18% CARRO AVIÃO ÔNIBUS 44% OUTRO 30% A análise dos dados sobre os meios de hospedagem utilizados por esses turistas revela a preferência pela casa de parentes e amigos como principal forma de hospedagem (Figura 4). A expressividade desse tipo de hospedagem, provavelmente, se explica pela demanda que a cidade recebe provinda do interior do XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1572 estado contando com apoio de parentes e amigos na capital. Essa prática de hospedagem diminui o custo financeiro da viagem para o turista. Porém, implica na redução do consumo de produtos e serviços turísticos das cidades receptoras. Figura 4: Meio de hospedagem do turista em Goiânia 44% 1% 2% 2% 4% 4% 43% CASA DE PARENTES/AMIGOS HOTEL NENHUM ALOJAMENTO CASA DE APOIO OUTROS POUSADA Outro meio de hospedagem importante para o fluxo turístico na capital são os hotéis, utilizados por 43% dos pesquisados. As demais formas de hospedagem dividem-se entre pousadas, alojamentos, apartamentos alugados, casas de apoio, hospitais como acompanhantes de pessoas enfermas. O conhecimento dos tipos de hospedagem utilizados permite a identificação da oferta hoteleira predominante nas escolhas dos turistas para que se possam oferecer os padrões de hospedagem, e os serviços mais adequados. No que se refere à renda salarial, destaca-se uma maioria (43,8%) que ganha de 1 a 3 salários mínimos, conforme mostra a figura 5. Verifica-se uma estreita relação entre a renda salarial e os valores consumidos na cidade, porque maior parte desses sujeitos (53,4%) gasta somente até 100 reais por dia. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1573 Figura 5: Faixa de renda salarialdo turista que visita Goiânia 43,8 19,6 16,1 11,0 8,8 O U FO RM 20 DE 20 IN Nà O AC IM A A 11 6 A 10 5 A 3 AT É 3 SA LÁ R IO S 0,7 Além dessas características do turista que visita Goiânia, cabe ainda destacar o olhar desses visitantes sobre o espaço urbano, que é o suporte da atividade turística. Por conseguinte, gerir o turismo urbano remete inevitavelmente à compreensão dos processos de reestruturação e valorização do espaço urbano SIVIEIRO (2005). Nesse caso, as políticas públicas devem assumir atividades que orientem a organização e o desenvolvimento do turismo no que se refere à infraestrutura urbana, ao saneamento e ao sistema viário. Os investimentos em infraestrutura urbana e turística fortalecem o município como lócus privilegiado para a prática do turismo. Essas ações devem propiciar uma ambiência favorável aos fluxos turístico e, sobretudo, permitir a elevação das condições materiais de vida das populações residentes. Vale ressaltar que um número expressivo de pesquisados (63%) já visitou Goiânia mais de 3 vezes (figura 6). A quantidade de visitas, somado ao tempo de permanecia na capital pode ser uma interessante fonte de receitas para o destino. Além disso, contribui para uma análise mais ampla do visitante em relação à base material, econômica e aos serviços prestados a cidade. Entendemos que, quanto mais tempo o turista fica em uma localidade, mais ele usa a infraestrutura local e, assim se tem mais subsídios para avaliar. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1574 Figura 6: Quantidade de visitas à Goiânia 15% 10% 1 2 3 63% 12% MAIS DE 3 VEZES Constatamos uma percepção positiva dos pesquisados quanto aos serviços de telefonia, limpeza urbana e, principalmente, de segurança. É relevante a avaliação qualitativa de 96,07% dos sujeitos em relação à segurança da cidade. No que se refere à limpeza urbana, 75,73% consideraram como satisfatória. Já os serviços de telefonia receberam um índice de satisfação de 71,12% dos entrevistados. Em contrapartida, a sinalização da cidade apesar de ter sido avaliada como satisfatória pela maioria (63,47%) dos sujeitos, sofreu várias reclamações relacionadas, principalmente às diferentes denominações atribuídas às ruas e praças da cidade. Já o transito da capital teve o pior desempenho na avaliação do turista. Entre os entrevistados, (49,88%) declararam insatisfação com o número de automóveis nas ruas e com o comportamento dos motoristas. Os olhares pesquisados mostram que ainda não há uma fusão de ações do planejamento urbano com a prática do turismo. Alguns serviços turísticos não são ou poucos são utilizados pelos visitantes. Por um lado, percebemos um relevante grau de satisfação dos turistas que utilizaram o setor hoteleiro. Somado aos serviços hoteleiros, a rede de bares e restaurantes de Goiânia é destacada como de boa qualidade por 49,74% dos turistas. Já no que se refere às diversões noturnas da capital, constatamos que 58% dos turistas não usam este equipamento, justificando não dispor de tempo. Entre aqueles (42%) que utilizam esses serviços, 38% deles demonstram um relevante grau de satisfação. Por outro lado, uma porcentagem considerável de turistas (65,06%) afirmou não ter utilizado qualquer tipo de informações turísticas. Em decorrência da ineficácia desse tipo de serviço, 61% dos visitantes não se interessaram por XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1575 passeios/city tours e reclamam da falta de locais para visitar ou de agências que promovam estes passeios. Esse fator deve proporcionar preocupação aos profissionais do turismo. As formas de consumo do produto turístico e o interesse pela atratividade da cidade estão estreitamente relacionados às informações sobre essa atividade e, consequentemente, ao ciclo de vida do turismo e ao incremento na receita da localidade receptora. Os poucos atrativos visitados - parques, shopping centers e feiras livres - se sobressaem nos meios de divulgação e promoção da cidade e entre as opções de passeios registradas em guias ou revistas ligadas ao turismo e lazer. As atratividades da cidade - sua história, objetos, monumentos e tradições que constroem a identidade local - ainda não são aproveitadas a contento, ou nem mesmo entendidas e divulgadas como elementos essenciais para a atividade turística. Com isso, nenhum atrativo cultural da cidade se destacou ao olhar dos visitantes. Este aspecto mostra que os monumentos, o patrimônio cultural art déco, os mercados municipais e outros espaços vinculados à história da cidade, apesar de sua relevância como elemento de identidade local não se evidenciam ao olhar do turista. Uma justificativa possível para esse fato, como mencionamos anteriormente, é a falta de informação turística. A contribuição dos hotéis, dos guias de turismo, motoristas de táxi, dentre outros profissionais direta ou indiretamente ligados á atividade turística, em relação a esse quesito é pequena. Uma quantidade expressiva dos turistas afirmou que as informações obtidas sobre os atrativos da cidade foram oriundas de amigos ou parentes. Esse fato remete-nos ao seguinte questionamento: Os locais de importância histórica e cultural de Goiânia não são conhecidos desses amigos e parentes que vivem em Goiânia? Segundo Silva e Mancini (2008) a população de uma cidade, para tornar -se promotora dos bens que fazem parte de sua vida, deve conhecer e compreender os aspectos culturais, a história e a atratividade do local em que vive. Nessa perspectiva Goiânia requer políticas publicas de turismo que contemplem a implementação de programas de educação patrimonial e turística. O processo educativo - formal ou não formal - deve propiciar a formação de sujeitos ativos e participativos nas ações de proteger e divulgar seus bens patrimoniais e turísticos e, consecutivamente, contribuir para um turismo responsável. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1576 Ademais, os profissionais do turismo a fim de serem especulativos e, com isso, mais criativos, necessitam sempre criar estratégias que visam despertar o visitante para perceber as características significativas da cidade. Todo núcleo receptor precisa revelar o potencial da cidade através do aproveitamento valorização, promoção e divulgação de todos os atrativos. Os profissionais do turismo, os comerciantes, administradores e planejadores da atividade turística e outros que compõem o trade turístico precisam reconhecer esse papel como de suma importância para com a cidade e para a relação com o visitante. CONCLUSÃO Os dados apresentados permitem constatar a necessidade da oferta de serviços de receptivo consolidados em Goiânia. Esses serviços devem atender turistas individuais ou mesmo em grupos que se interessem pelos atrativos turísticos da cidade. É fundamental que as agências de receptivo se conscientizem sobre a existência de uma demanda potencial e organizem roteiros turísticos que retratam a atratividade e os significados da cidade do ponto de vista econômico, social, cultural 1577 e turístico. A promoção de cidades como destino turístico implica em criar e/ou divulgar produtos e serviços que permitam diversas escolhas conforme o desejo e as necessidades dos consumidores/turistas (Duarte, 2002). Um turista poderá encontrar um elemento do seu total interesse num espaço urbano aparentemente desprovido de significados turísticos, pois uma necessidade ou um desejo podem ser previamente, despertados no visitante (CASTROGIOVANNI, 2001). Cumpre destacar que, apesar dos problemas levantados, um alto índice de visitantes revelou a intenção de retornar. A forma com que os visitantes são tratados é um diferencial que caracteriza esse desejo de voltar. Em Goiânia, a expressão “cidade acolhedora” caracteriza a cidade como hospitaleira e as respostas da maioria dos entrevistados confirmam esse valor da população goianiense. Cabe, porém, às políticas publicas e a todo o trade turístico goianiense pensar a cidade como atração capaz de proporcionar o desfrute e a experiência da interação do visitante com as especificidades locais. Por conseguinte, disponibilizar informações para que o visitante aproveite melhor sua estada e permaneça mais XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 tempo no município. Para isso, é indispensável também, um Inventário da oferta turística com posterior banco de dados atualizado e com divulgação por meio de folheteria, da internet, dentre outras formas de comunicação. Os problemas de infraestrutura básica e turística identificados nas reclamações dos pesquisados podem ser superados a partir da fusão de ações do planejamento urbano com a prática do turismo. Nesse caso, as políticas públicas devem assumir atividades que orientem a organização e o desenvolvimento do turismo no tocante a infraestrutura urbana e ao sistema viário. Essas ações devem propiciar uma ambiência favorável aos fluxos turístico e, sobretudo, permitir a elevação das condições materiais de vida das populações residentes e a visão da cidade como espaço de existência das pessoas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALMEIDA, M. G. Desenvolvimento turístico ou desenvolvimento local? Algumas reflexões. In: ENCONTRO NACIONAL DE TURISMO COM BASE LOCAL, 2004, Curitiba. Anais eletrônicos. Curitiba: UFPR, 2004. 1CD CASTROGOVANNI, A. C. (Org). Turismo Urbano. São Paulo: Contexto, 2001, p. 7-8. DUARTE, I. F. Tipos de turismo em Goiânia e seus atrativos Principais. 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Em nossa análise partiremos do pressuposto que internamente o espaço divide-se em áreas que desempenham funções distintas e complementares, gerando assimetrias espaciais, de modo que a área principal concentra os equipamentos da atividade turística, enquanto outras situadas no seu entorno encontram-se os atrativos turísticos e desempenham o papel de áreas subsidiárias e complementares daquela que concentra pos meios de produção. A estrutura espacial resultante desse processo mostra que a organização interna do espaço turístico é desigual e combinada, onde algumas áreas são mais beneficiadas do que outras, apesar de dialéticamente uma só existir em função da outra. Esta racionalidade que identificamos no espaço turístico resulta das ações dos atores hegemônicos, conforme aponta Santos(1999), no caso, pelo mercado. No entanto, as ações do poder público vêm ratificar e estimular as assimetrias promovidas pelo funcionamento do mercado. Tal afirmação pode ser exemplificada pelo Progr ama de Regionalização do Turismo, que reforça a desigualdade já existente no interior do espaço turístico ao eleger os municípios com melhor infraestrutura turística como indutores do desenvolvimento turístico dos pólos identificados pelo Programa. Nos procedimentos metodológicos adotados foram utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais e do Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro na obtenção de dados secundários e a realização de entrevistas junto a algumas lideranças do setor turístico, vinculadas tanto ao setor público, como ao privado. Palavras Chave: Programa de Regionalização do Turismo; Pólo Costa do Sol/RJ; Desenvolvimento desigual e combinado. ABSTRACT: The purpose of this article is to establish a relationship between the rationality found inside tourist area comprising the Pole of the Sun Coast and the nature of the interventions locally expressed by the Regionalization Program for Tourism. In our analysis on the assumption that internally the space is divided into areas that have distinct and complementary functions, generating spatial asymmetries, so the main focus of the tourism facilities, while others located in its surroundings are the attraction tour and play the role of subsidiary and additional areas that focus gr oups that means of production. The spatial structure resulting from this process shows that the internal organization of space tourism is uneven and combined, where some XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1579 areas are more benefit than others, although there is only one dialectically in terms of another. The rationale we identify the space tourism follows the actions of hegemonic actors as points Santos (1999), where, by the market. However, the actions of public power has ratified and promoted by the asymmetries stimulate functioning of the market. This statement can be exemplified by the Regionalization Program for Tourism, which strengthens the inequality existing within the space tourism to choose the cities with the best tourist infrastructure as inducers of the tourism development of clusters identified by the program. Methodological procedures adopted in data were used for the Annual Social Information and the Center for Information Data of Rio de Janeiro in obtaining secondary data and conducting interviews with some leaders of the tourism sector , linked to both the public sector, and the private sector. Key words: Regionalization Program for Tourism; Pole of The Sun Coast/RJ; Combined and uneven development. 1 INTRODUÇÃO O Programa de Regionalização do Turismo (PRT), instituído em 2004, se constitui atualmente em uma das principais políticas do Ministério do Turismo. Em sua formulação a dimensão espacial assume relevância, primeiro porque ressalta as características intrínsecas ao território na elaboração do produto turístico, tendo em vista suas peculiaridades e diferenciais; segundo porque concebe o território turístico de forma integrada e articulada, a partir de áreas regionalizadas em pólos turísticos, cujo funcionamento ocorre a partir das interações espaciais entre os vários municípios que compõem os referidos pólos. Tendo em vista a valorização do território nesta política de intervenção, tornase necessário analisar como o espaço turístico tem sido concebido e qual a lógica manifestada na produção do espaço turístico, cuja diretriz é formulada pelas políticas de Estado. Segundo Santos (1999), a produção do espaço geográfico expressa uma racionalidade que é imprimida pelas ações dos atores hegemônicos e se manifestam materialmente na distribuição dos objetos, os fixos ou ainda nas formas espaciais. Dessa forma, algumas questões se colocam para os geógrafos e outros estudiosos do turismo, tais como: qual é a lógica interna do espaço turístico ou, de outra forma, como se manifesta a divisão territorial do trabalho no interior de um espaço turístico? Como ocorrem as interações espaciais no interior desse espaço? Como as ações dos agentes hegemônicos (Estado e mercado) se manifestam no espaço turistificado, dotando-o de uma racionalidade? A partir de tais questionamentos, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1580 desenvolveremos o artigo com o objetivo de estabelecer uma relação entre a racionalidade encontrada no interior espaço turístico constituído pelo Pólo Costa do Sol e a natureza das intervenções manifestadas localmente pelo Programa de Regionalização do Turismo. Em nossa análise partiremos do pressuposto que internamente o espaço divide-se em áreas que desempenham funções distintas e complementares, gerando assimetrias espaciais, de modo que a área principal concentra os meios de produção da atividade turística, isto é, a infraestrutura turística composta pelos meios de hospedagens, espinha dorsal da atividade, mas também restaurantes, agências de viagens e locadoras de automóveis; enquanto outras situadas no seu entorno encontram-se os atrativos turísticos e desempenham o papel de áreas subsidiárias e complementares daquela que concentra pos meios de produção. A estrutura espacial resultante desse processo mostra que a organização interna do espaço turístico é desigual e combinada, onde algumas áreas são mais beneficiadas do que outras, apesar de dialeticamente uma só existir em função da outra. Esta racionalidade que identificamos no espaço turístico resulta das ações dos atores hegemônicos, conforme aponta Santos (1999), no caso, pelo mercado. No entanto, as ações do poder público vêm ratificar e estimular as assimetrias promovidas pelo funcionamento do mercado. Tal afirmação pode ser exemplificada pelo Programa de Regionalização do Turismo, que reforça a desigualdade já existente no interior do espaço turístico ao eleger os municípios com melhor infraestrutura turística como indutores do desenvolvimento turístico dos pólos identificados pelo Programa. Assim, a análise se fundamentará na teoria do desenvolvimento desigual e combinado, que aponta as forças do mercado como responsável pelas desigualdades sócioeconómicas encontradas no espaço. No entanto, é preciso reconhecer os limites teóricos dessa abordagem, que em sua reformulação recente reconhece que além das forças do mercado é necessário também considerar os elementos endógenos do território para explicar as assimetrias espaciais verificadas em suas diversas escalas de análise. Nos procedimentos metodológicos adotados foram utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais/Mte) e do Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro (Cide/RJ) na obtenção de dados secundários; e a realização de entrevistas junto a algumas lideranças do setor turístico, vinculadas tanto ao setor público, como ao privado. Apesar da área objeto XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1581 do presente estudo referir-se ao Pólo Costa do Sol, nos deteremos mais na análise dos três municípios turísticos mais relevantes: Arraial do Cabo, Armação de Búzios e Cabo Frio, conhecidos como ABC. 2. A RACIONALIDADE MANIFESTADA NO ESPAÇO TURÍSTICO O Pólo Costa do Sol 50, anteriormente denominado Região dos Lagos, se constitui em um dos mais importantes pólos de atração turística do estado fluminense, abrangendo 10,3% do número de pessoal empregado em hotéis e similares e 22,5% dos meios de hospedagens existentes do total estadual no ano de 2007 (Rais), que se caracterizam pelo predomínio de pousadas e pequenos estabelecimentos hoteleiros. Desde o início da década de cinqüenta a região turística denominada hoje de Pólo Costa do Sol era freqüentada por uma seleta elite carioca para fins de veraneio, concentrando-se em uma pequena vila de pescadores, atual município de Armação de Búzios (Fonseca et el., 2001). Posteriormente os argentinos começaram a chegar, construir residências e alugar quartos até transformar suas próprias residências em pequenas pousadas. No entanto, foi a partir dos anos setenta, com a construção da Ponte Rio-Niterói em 1977, que ocorreu o boom turístico na região devido à facilidade de acesso que a mesma proporcionou, ocasionando também grande proliferação de segundas residências. Dessa forma, a visita de B. Bardot e a construção da referida ponte são dois fatos que contribuíram para difusão do turismo no Pólo, sendo que Armação de Búzios assumiu localmente maior relevância turística. Na Gráfico 1 podemos observar a evolução recente dos estabelecimentos hoteleiros do pólo e a liderança incontestável desse município. 50 Segundo regionalização turística elaborada pelo Ministério do Turismo, o Pólo Costa do Sol compreende treze municípios: Araruama, Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Carapebus, Cassimiro de Abreu, Iguaba Grande, Macaé, Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia e Saquarema. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1582 180 Araruama 160 Armação de Búzios 140 Arraial do Cabo Cabo Frio 120 Carapebus 100 Cassimiro de Abreu Iguaba Grande 80 Macaé 60 Maricá 40 Quissama 20 Rio das Ostras Sao Pedro da Aldeia 0 2002 2003 2004 2005 2006 Saquarema 2007 Gráfico 1 - Evolução dos estabelecimentos hoteleiros no Pólo Costa do Sol/RJ – 2002/2007 Fonte: Rais, 2007 A presente análise se fundamenta na teoria do desenvolvimento desigual e combinado, que destaca as forças do mercado como a principal responsável na geração de desigualdades encontradas no espaço geográfico. (Smith,1988). Harvey (2004, p.98) reafirma que as desigualdades espaciais são fundamentais para a própria reprodução do capitalismo, especialmente no contexto da globalização, sugerindo inclusive uma “mudança de linguagem, de globalização para desenvolvimento geográfico desigual”. Em sua formulação recente, os elementos internos ao território, tal como enfatizados pela teoria do desenvolvimento endógeno (a cultura, disponibilidade de capitais, disponibilidades de recursos humanos, organização institucional, dentre outros), também são considerados na explicação dos fatores responsáveis pela geração de assimetrias espaciais, no entanto, as forças do mercado assumem papel preponderante nessa explicação (Méndez,1997). Ao discutir a lógica do desenvolvimento desigual desencadeada pelo processo de reprodução do capital, Smith (1988, p.19) observa o que de fato o capital realiza é “a produção do espaço na sua própria imagem e a exploração dessa idéia levará a uma mais completa integração do espaço e da sociedade na teoria do XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1583 desenvolvimento desigual. Pois o capital não somente produz o espaço em geral, mas também produz as reais escalas espaciais que dão ao desenvolvimento desigual a sua coerência”. 1600 Araruama Armação de Búzios Arraial do Cabo Cabo Frio Carapebus Casimiro de Abreu Iguaba Grande Macaé Maricá Quissamã Rio das Ostras Sao Pedro da Aldeia Saquarema 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Gráfico 2 - Evolução do número de empregados em hotéis e similares no Pólo Costa do Sol/RJ – 2002/2007 Fonte: Rais, 2007 Dessa forma, o desenvolvimento desigual pode ser identificado nas suas diversas escalas espaciais (regional, nacional e global) como um processo decorrente das forças do mercado. Nos estudos desenvolvidos por Samir Amin na segunda metade do século XX, o autor destaca a dimensão polarizadora do capitalismo, observando que o sistema econômico é constituído de dois pólos: um centro e diversas periferias (Benko, 1999). A constituição de áreas centrais é fundamental para a realização do capital. Armação de Búzios pertencia anteriormente a Cabo Frio e o desenvolvimento turístico e crescimento populacional do município foi tal que no ano de 1997 ocorreu sua emancipação política. O desenvolvimento inicial da atividade foi espontâneo e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1584 condições endógenas local mais propicias possibilitaram sua expansão, de modo que este município foi assumindo a liderança e centralidade no turismo regional, convertendo-se no principal espaço produtivo do turismo regional, onde se concentra os equipamentos e infraestrutura turística (ver Gráfico 1). O município assume, portanto, conforme Sánchez (1991), o papel econômico como meio de produção direto, se constituindo numa área central para a reprodução do capital, via atividade turística. Os treze municípios que compõem o pólo se diferenciam no que se refere a sua importância turística no contexto regional, bem como às funções que exercem para o funcionamento da atividade. O município de Macaé se destaca na dotação de infraestrura básica e hoteleira, no entanto sua dinâmica não advém da atividade turística e sim da petrolífera desenvolvida na Bacia de Campos. No conjunto, existem três municípios turísticos que assumem maior relevância turística: Arraial do Cabo, Armação de Búzios e Cabo Frio. Englobam 63% dos estabelecimentos hoteleiros e 62,5% dos empregados em hotéis e similares existentes no pólo. Esses municípios possuem uma unidade fisiográfica, se complementam e exercem papéis diferenciados para o funcionamento do turismo regional. Armação de Búzios concentra os meios de produção e os empregos gerados pela atividade (ver Gráficos 1 e 2), Cabo Frio participa oferecendo atrativos turísticos (naturais e culturais), infraestrutura, serviços básicos e instituições de capacitação de mão de obra, enquanto Arraial do Cabo participa do turismo regional basicamente c omo local de visitação turística por possuir vários atrativos turísticos naturais (FONSECA, 2009). Armação de Búzios assume, portanto, papel central na atividade turística do pólo e utiliza-se dos recursos existentes nos demais municípios (atrativos turísticos e infraestutura básica) para promover e expandir sua atividade turística, que constitui na única atividade econômica do município. Sua economia se resume na atividade turística. As interações espaciais resultantes no interior desse espaço ocorrem de modo a concentrar a riqueza gerada pelo turismo no município polarizador da atividade, isto é Armação de Búzios enquanto os demais dão sustentação a principal atividade econômica desse município e, particularmente, no caso de Arraial do Cabo a atividade tem se mostrado bastante conflituosa, gerando desentendimentos em função dos impactos negativos gerados localmente, particularmente com os XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1585 pecadores, já que os passeios náuticos e as atividades de mergulho são os principais atrativos para os visitantes. 3. O PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO No primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) foi criado o Ministério do Turismo (MTur) e uma das políticas idealizadas que assumiu importância, sendo inclusive priorizada na segunda gestão de seu governo, refere-se ao Programa de Regionalização do Turismo (PRT). Para os geógrafos, particularmente, este Programa governamental assume relevância uma vez que incide diretamente no espaço, considerando-se a seletividade das ações no que diz respeito às áreas prioritárias das ações e investimentos e a importância da dimensão espacial na operacionalização do Programa estruturado a partir da concepção de pólos, conforme veremos adiante. Foram identificadas 200 regiões turísticas no Brasil e 3.819 municípios fazem parte do Programa. Nas palavras do ministro Walfrido dos Mares Guia, “o modelo de gestão adotado pelo MTur está voltado para o interior dos municípios do Brasil, para as suas riquezas ambientais, materiais e patrimoniais, e para suas populaç ões, em contraponto aos prejuízos impostos pela modernização” (MTur, 2004, p. 8). Através da regionalização, esse Programa procura criar uma sinergia e desenvolver ações de parceria e cooperação entre os municípios do interior do país que apresentam potencialidades turísticas, segundo os documentos oficiais. Desta forma, o Programa de Regionalização do Turismo pretende, entre outras coisas, interiorizar o turismo e estruturar a atividade a partir dos pólos turísticos identificados por todo o país (Brasil, 2004). Um dos pontos centrais do Programa foi a identificação dos municípios que pudessem desencadear o desenvolvimento do turismo regional, chamados municípios indutores, de modo que através destes fosse possível estruturar as destinações para o turismo internacional. Através do Conselho de Desenvolvimento do Turismo (CONDETUR), procura-se, dentre outras atribuições pertinentes ao conselho, identificar e viabilizar roteiros turísticos de modo a integrar os municípios englobados no Pólo, visando a promoção do desenvolvimento turístico regional. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1586 Tal modelo parece ter sido inspirado na teoria dos pólos de crescimento desenvolvido por François Perroux, nos anos sessenta do século XX, que apregoava a idéia de que através de um centro regional seria possível promover o desenvolvimento sócio econômico por toda a área polarizada em seu entorno, através da implantação de unidades industriais, o que, na prática não se mostrou muito exitoso em algumas experiências empreendidas no final do século anterior. Para Becker (1996) o Plano Nacional de Turismo (PLANTUR), instituído em 1992, já previa o desenvolvimento de pólos turísticos integrados e se constituía no cerne da estratégia de diversificação e expansão do turismo para novas áreas do país, uma vez que a infra-estrutura turística estava fortemente concentrada no Sul e Sudeste do país. Uma década depois essa idéia é retomada e reformatada, constituindo-se em uma das principais políticas de turismo do atual governo. No que se refere ao PRT, os objetivos são menos ambiciosos do que aqueles que se almejavam com a implantação dos pólos de desenvolvimento, na medida em que a finalidade é a promoção do turismo regional, visando a preparação da destinação, agora concebida em termos de pólo, para receber uma demanda turística internacionalizada e que portanto deve se adequar a um padrão de qualidade mais exigente e elevado. No Rio de Janeiro foram identificados onze pólos turísticos: Agulhas Negras, Metropolitano, Costa do Sol, Serra Verde Imperial, Costa Verde, Vale do Café, Baixada Fluminense, Serra Norte, Caminhos da Mata, Costa Doce e Noroeste das Águas. No que se refere ao Pólo Costa do Sol, a pesquisa identificou uma enorme distância entre a proposição dessa política pública e as condições objetivas verificadas internamente entre os municípios englobados pelo pólo para que sua implantação seja exitosa e atenda aos objetivos propostos no sentido de integrar turisticamente os municípios. É importante mencionar que esse pólo já se constitui numa destinação internacional, sendo que Armação de Búzios é bastante conhecida fora do país. Primeiramente é necessário considerar que a atividade turística do Pólo Costa do Sol vem passando por dificuldades. Obser vando os indicadores da Tabela 1 verifica-se que, a partir de 2006, começa haver um declínio no número de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1587 estabelecimentos hoteleiros e similares nos municípios turísticos mais importantes e no seu entorno (Aramação de Búzios, Arraial do Cabo, Araruama, Iguaba Grande, Maricá, Saquarema); enquanto outros permanecem estagnados (Cassimiro de Abreu, Quissama e São Pedro da Aldeia); apresentando um pequeno crescimento apenas os municípios de Cabo Frio, Macaé e Rio das Ostras. No conjunto do pólo verifica-se uma ligeira redução de 1,1% do número de hotéis 51. Mesmo considerando-se que o declínio pode ter ocorrido em função das mudanças na classificação efetuada na obtenção dos dados pela RAIS a partir de 2006, e que tal fato possa ter influenciado esses indicadores, as entrevistas realizadas indicaram que a atividade turística regional é motivo de preocupação, especialmente pelo fato dos agentes turísticos dos municípios turísticos não se entenderem e não terem uma política articulada decorrente da competitividade verificada entre eles. As ações de cada município ocorrem de forma isolada. Outro fator que tem contribuído para a crise que se anuncia para o setor hoteleiro é a enorme proliferação de casas de veraneio que também são utilizadas para a obtenção de renda extra pelos seus proprietários, causando problemas para os empresários locais, conforme manifestado por representantes do segmento empresarial tanto de Armação de Búzios como de Cabo Frio. Segundo depoimento de uma das lideranças de Armação de Búzios verifica-se inclusive um dilema entre ser uma cidade turística ou uma cidade de veraneio. Além da dificuldade de articulação verifica-se a insatisfação de alguns municípios que se sentem inseridos no turismo de forma marginal, como é o caso de Arraial do Cabo, que se constitui um importante local de visitação de turistas para realização de passeios náuticos, mas, no entanto, fica apenas com os efeitos residuais dos dividendos gerados pela atividade, além dos problemas ambientais e sociais mencionados acima. Todos pos agentes turísticos locais – públicos e privados – consideram que o PRT é importante e depositam enorme expectativa para uma revitalização do turismo regional que hoje agoniza no meio de inúmeros problemas, inclusive de identidade. Ressaltam que o principal problema é de ordem política, devido às dificuldades de conciliar os interesses. 51 Há que se considerar as mudanças da classificação efetuada na obtenção dos dados na RAIS, que talvez tenha influenciado nesse indicadores. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1588 Nesse sentido, o Conselho de Desenvolvimento do Turismo (CONDETUR) do Pólo Costa do Sol foi estruturado e seu presidente está firmemente disposto no sentido de criar uma sinergia no Pólo e promover maior integração. Uma das ações que está sendo desenvolvida é a criação de roteiros turísticos. No que se refere à Armação de Búzios o presidente do Conselho observa ... temos poucos atrativos, por isso a importância da regionalização. Ou seja, a lógica subjacente nesse discurso é que o desempenho satisfatório do turismo buziano, numa perspectiva futura, depende da ampliação dos atrativos encontrados e que poderão ser implantados nos demais municípios englobados no PCS e que, portanto, o PRT vem de encontro com os interesses do setor empresarial turístico de Armação de Búzios. Já os agentes dos demais municípios consideram relevante o PRT, conforme manifestaram em suas falas, no entanto parecem um tanto céticos, pois observam que Armação de Búzios é o centro do turismo regional para onde é canalizada a riqueza gerada pela atividade, permanecendo os efeitos residuais e impactos ambientais nos locais de visitação que dão sustentação a economia do turismo de Armação de Búzios. Assim, não se mobilizam muito para o êxito do Programa. No intuito de promover a dinamização dos pólos criados pelo Mitur, foram selecionados em todas as unidades da federação brasileira os municípios indutores do turismo, através do qual seria promovido e operacionalizado o desenvolvimento do turismo regional. No Rio de Janeiro foram selecionados cinco municípios indutores: Rio de Janeiro (Pólo Metropolitano), Parati, Angra dos Reis (Pólo Costa Verde), Petrópolis (Serra Verde Imperial) Armação de Búzios (Pólo Costa do Sol). Assim, a racionalidade espacial oriunda pelo próprio funcionamento do mercado também é identificada nas políticas governamentais. Na medida em que Armação de Búzios é selecionado pelos agentes de turismo atuantes na esfera pública federal para desempenhar o papel de indutor do turismo regional, esta ação vem reforçar as interações espaciais resultantes das forças do mercado, que através da criação e reafirmação de centralidades possibilitam condições mais vantajosas para a reprodução do capital, resultando em um espaço desigual e combinado. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1589 4. CONCLUSÃO A racionalidade do capital implica em uma racionalidade espacial, cuja lógica é oriunda dos agentes hegemônicos. No caso enfocado no presente estudo, tais agentes referem-se ao mercado e ao poder público, que desenvolvem ações e geram fixos materializados espacialmente de forma desigual, implicando em interações espaciais que canalizam a riqueza para algumas áreas em detrimento de outras. Procuramos mostrar que o funcionamento da atividade turística resulta em uma estrutura espacial desigual e combinada, de modo que a s diferentes parcelas do espaço desempenham papéis distintos e complementares. Armação de Búzios se constitui o lugar central e de comando da atividade turística no interior do Pólo Costa do Sol por concentrar os meios de produção da atividade e os demais municípios adjacentes dão sustentação à sua atividade econômica, na medida em que a infraestrutura e atrativos turísticos encontrados nos mesmos são necessários para a constituição do seu produto turístico. No que se refere ao Programa de Regionalização de Turismo, estruturado através de pólos, as perspectivas de êxito não são muito promissoras localmente haja visto o descompasso entre a proposição dessa políticas e os conflitos de interesses existentes entre os municípios, que em seu conjunto estão descontentes com as perspectivas da atividade turística no pólo. A omissão do poder público estadual em relação aos rumos do turismo fluminense vem comprometer ainda mais esse quadro de incertezas existente localmente Nesse sentido, um dos aspetos que merece ser melhor analisado é a forma como a disseminação de segundas residências tem afetado o desempenho da atividade econômica baseada no turismo. O aluguel das casas de veraneio causa forte impacto para os empresários do segmento hoteleiro, que se sentem prejudicados com o aluguel dessas casas para potenciais clientes. Esta preocupação é generalizada nos três municípios analisados na pesquisa. Além disso, a agressividade do mercado imobiliário provoca impactos ambientais, com a verticalização e a implantação de empreendimentos em locais inadequados, contribuindo para intensificar ainda mais os problemas já existentes, comprometendo o futuro turístico do Pólo Costa do Sol. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1590 REFERÊNCIAS Benko, G., A ciência regional, Celta Editora, Oeiras, 1999, Boyer, M., História do turismo de massa, EDUSC, Bauru, 2003. Brasil, Programa de Regionalização do Turismo. Roteiros do Brasil, Ministério do Turismo, Brasília, 2004. Fonseca, M. et al., O significado do mar no turismo de Armação de Búzios, in Faria, I.F (Coord.) Turismo. Sustentabilidade e novas territorialidades, EUAM, Manaus, pp. 123-136, 2001. Fonseca, M., Espaço, políticas de turismo e competitividade, EDUFRN, Natal, 2004. _____, Turismo e divisão territorial do trabalho no Pólo Costa do Sol/RJ. In Anais do XI Seminário Internacional de Turismo. Cd-rom, Curitiba, 2009. Harvey, D., Espaços de esperança, Ed. Loyola, São Paulo, 2004. Méndez, R., Geografia econômica. A lógica espacial del capitalismo global, Editorial Ariel, Barcelona, 1997. 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Para isso, realizou-se uma pesquisa documental com o intuito de melhor conhecer as características do setor bem como avaliar a vocação da localidade para a realização dos mais variados tipos de eventos. Após essa análise, pôde-se concluir que o setor de negócios e eventos vem assumindo cada vez mais destaque na economia local. Por essa razão, sugerem-se mais investimentos na qualificação profissional, no desenvolvimento de novos espaços e instalações e ainda incentivos que motivem a iniciativa privada a investir na profissionalização do setor, o que poderá originar benefícios econômicos e sociais para a cidade. Palavras Chave: Turismo, Eventos, Agências Promotoras ABSTRACT The purpose of this article is to enable an introductory discussion about possible links between the Business Events Industry and the promotion of tourism in the city of Rio de Janeiro. In order to do that a documental research was conducted in order to better understand the features of the industry and to assess the vocation of the town for the most varied types of events. As a result of such analysis one concluded that the Business Events Industry has been getting increasing prominence in the local economy, so, it is recommendable that greater investments be made on personnel qualification, development of new spaces and facilities plus incentives which motivate the private sector to invest in the professionalization of the industry, which could bring many economic and social benefits to the city. Key Words: Tourism, Business Events Industry, Promotion Agencies XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1592 1 INTRODUÇÃO 1.1 O TURISMO E SUA RELAÇÃO COM O SETOR DE EVENTOS Nos últimos anos, percebe-se, em diferentes localidades, maior esforço por parte dos acadêmicos, das empresas e dos países por compreenderem melhor o fenômeno turístico que pode ser entendido como uma rede complexa de equipamentos e serviços que envolve o deslocamento do viajante, passando por hospedagem, alimentação, entretenimento, cultura e lazer (BARRETO, 2006). Aprofundando a análise e contribuindo com uma visão antropológica, atualmente, nota-se que a atividade turística transcende a cultura local e ao consumismo da globalização, sobrepondo o crescimento econômico do século XX (VASCONCELLOS, 2006) Ao refletirmos sobre as definições acima, podemos perceber a complexidade da atividade turística, no que se refere ao seu conceito e às possibilidades de suas práticas. Quanto às potencialidades de exploração da atividade turística, atualmente, são enormes, pois o turismo exibe suas fronteiras no espaço, sendo poucos os se us limites diante dos avanços da economia globalizada com destaque para a grande evolução dos meios de comunicação e transportes. (SERRANO et al. 2000). Considerando-se a expansão do número de deslocamentos domésticos e internacionais, observa-se, em muitos países, especial interesse em desenvolver e explorar diferentes nichos ou segmentos do turismo. Tal interesse pode estar apoiado na possibilidade de captação de uma demanda maior de turistas, o que pode representar benefícios para a localidade. Nesse contexto, ressaltam-se, dentre as diferentes possibilidades de especialização e segmentação da atividade turística no país, destacam-se tunidades na exploração do turismo cultural, do turismo de aventuras, do ecoturismo, do turismo de negócios e eventos etc. O objetivo de analisar neste estudo as possíveis relações existentes entre o setor de negócios e eventos com o desenvolvimento turístico da cidade do Rio de Janeiro justifica-se pelo fato de o mesmo possibilitar à localidade uma maior visibilidade e isso pode se configurar na ampliação do número de turistas que visitam a cidade. Dentro dessa conjuntura, pode-se compreender que um evento é entendido como uma centralização de pessoas ou organizações com data e horário XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1593 marcados, com objetivos diversos, sejam eles sociais, de lazer ou negócios (ZANELLA, 2004). Dados referentes ao setor demonstram que cerca de 330 mil eventos são realizados por ano no Brasil, sendo que o movimento financeiro do setor gira em torno de R$ 45 bilhões ao envolver aproximadamente 80 milhões de participantes e gerar aproximadamente 3 milhões de empregos diretos e indiretos (CLARO e SOUZA, 2009). Além dos números do setor, que são de grande importância para a elaboração de dados estatísticos referentes ao turismo de negócios e eventos, estudos ressaltam que os grandes benefícios dos eventos estão relacionados ao envolvimento coletivo e à melhoria da atmosfera da cidade que eles proporcionam. Em relação a esse fato, acredita-se que um maior envolvimento da população no planejamento e realização dos eventos captados pela cidade deve proporcionar o aumento da autoestima dos atores envolvidos no processo, além de garantir o sentimento de cidadania e maior coesão social (FERRACCIÚ, 1997). Muitos autores concordam que a realização de eventos, naturalmente, proporciona benefícios para a cidade ou país que os realizam. Nesse sentido, observa-se que as cidades que captam diferentes tipos de eventos normalmente percebem que os mesmos combatem a sazonalidade, proporcionam mídia espontânea, ampliam a arrecadação de impostos, favorecem maior permanência dos turistas na localidade dentre outros benefícios (TENAN (2000). Para MELO NETO (1999, p. 18), “é por meio da participação em eventos, que o homem moderno aprende e reaprende a ter emoções, desenvolve o seu senso crítico, aprimora suas visões, preza a liberdade e adquire maior sensibilidade”. Seguindo o raciocínio a respeito das possíveis contribuições do segmento de turismo de negócios e eventos, CLARO e SOUZA acrescem que um evento, seja ele de lazer ou negócios, movimenta a economia de uma cidade ao envolver gastos com deslocamento, hospedagem, alimentação, além de arrecadar impostos e estimular prestadores de serviço de pequeno e médio porte. Para os autores, essas empresas são características do setor de eventos (CLARO e SOUZA, 2009). Desse modo, percebe-se grande aderência da cidade do Rio de Janeiro na captação, organização e execução dos mais variados tipos de eventos. Tal aderência pode estar baseada na estrutura já existente na cidade, em se us diferenciais turísticos e nos investimentos em promoção que estão sendo realizados XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1594 pela cidade maravilhosa através de diferentes entidades como, por exemplo, a Embratur e o Rio Visitors and Convention Bereau – Rio C&VB. Acredita-se, no entanto, que para o Rio de Janeiro continuar desenvolvendose, nesse nicho de mercado, deverá investir na formação de recursos humanos, na ampliação de espaços para a realização dos mais variados tipos de eventos e ainda na aproximação entre as instituições de ensino, as entidades de classe, o setor público e ainda as empresas que fazem parte do trade turístico. No entanto, esse desenvolvimento é extremamente dependente dos investimentos públicos que também devem ser acompanhados por projetos e intervenções realizadas pelo setor privado que possui procedimentos e dinamismo capazes de se adequarem às constantes mudanças das necessidades e desejos dos viajantes. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 O TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES 1595 De acordo com NAKANE (apud COUTINHO e COUTINHO, 2007, p. 5), “o turismo de negócios colabora na divulgação dos atrativos naturais, culturais e sociais da região sede do evento e usa os recursos em momento de baixa estação, ou seja, quando a sua procura não é tão significativa por parte dos turistas de lazer”. Outros estudiosos concordam com a ideia e acrescentam que os eventos reinventaram a atividade turística, ao possibilitar novos mercados, desenvolvimento de novos destinos e alcance da sazonalidade financeira da localidade (COUTINHO e COUTINHO, 2007). Estudos divulgados em 2009 pela Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA) demonstram que o Brasil, primeiro país latino-americano a figurar entre os top 10 do ranking da ICCA no ano de 2006, vem consolidando sua vocação para a realização de eventos internacionais. Essa afirmação se justifica pelo fato de o país ter conseguido se manter entre os 10 principais destinos para eventos internacionais no mundo, nos anos de 2007 e 2008, ocupando atualmente a sétima posição (ICCA, 2009). Sobrepõe-se que o mesmo estudo aponta para a descentralização dos locais de realização desses eventos, já que o número de cidades que captaram e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 realizaram eventos internacionais saltou de 22 em 2003 para 42 em 2009 o que, nesse viés, demonstra maior maturidade e profissionalização do setor em diferentes cidades do país como Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador e Manaus, entre outros destinos. Nesse sentido, nota-se que atualmente os eventos captados pelas cidades são muito diversificados e podem variar desde congressos acadêmicos, feiras ou desfiles até grandes eventos culturais ou mega eventos esportivos. Sugere-se, portanto, que tanto a administração pública quanto a iniciativa privada façam investimentos em equipamentos, necessários ao suporte da atividade turística e do setor de eventos, dentre os quais enfatizamos a importância da ampliação das salas e, ou de salões para reuniões e eventos, dos centros de convenções, dos hotéis, e de áreas públicas para realização dos mesmos. Refletindo sobre a relação do setor de negócios e eventos com outras empresas atuantes no segmento de turismo, CANTON (2004, p. 310) afirma que “a hotelaria investe consideravelmente e estrategicamente no setor, os núcleos potencialmente turísticos passam a entender a importância dos eventos como alavancador da demanda turística.” Ao analisar a relevância do setor de negócios e eventos para o turismo, entende-se também que as pessoas reunidas por um mesmo objetivo, em um evento, ajudam a desenvolver o turismo, pois atraem pessoas de diversas regiões, investem na economia e promovem a troca cultural da cidade (CAMPOS, 2000). Nesse ambiente favorável de expansão da atividade turística, tem-se percebido nos últimos anos um grande desenvolvimento do setor de negócios e eventos no Rio de Janeiro e em várias outras regiões do país. Essa expansão pode ser mais bem entendida pelo fato de o setor de eventos evidenciar ligação com a cadeia produtiva do turismo (SEBRAE, 2005), Aprofundando a análise, acrescenta-se que dos 330 mil eventos realizados no país no ano de 2001 mais da metade (52%) concentraram-se na região sudeste, especialmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Seguese a região sul com a captação de cerca de (19%), acompanhadas da região nordeste, com 18% e da região centro-oeste que, no mesmo período, obteve apenas 9% dos eventos realizados no país (SEBRAE, 2005). É importante esclarecer a relevância econômica da atividade, uma vez que pesquisas demonstram que o gasto médio diário desse tipo de turista gira em torno XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1596 de US$ 240 dólares por dia, o que representa até três vezes mais o gasto diário de um turista que viaja a lazer, o que permite salientar que os estudiosos de turismo dão grande importância à adequação e exploração profissional do setor negócios e eventos no país (EMBRATUR; C&VB, 2006). Portanto, percebe-se que o desenvolvimento do setor de negócios e eventos no país passa por um momento de expansão. No caso específico da cidade do Rio de Janeiro, observa-se que o setor de turismo também vem sendo beneficiado, pois uma maior aproximação entre as diferentes esferas de governo possibilitou implementar o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro (PECRJ), elaborado entre 1994 e 1995. Esse Plano, dentre outras metas, objetivou discutir a viabilidade da cidade em diferentes áreas, dentre as quais o setor de turismo e eventos. Soma-se que o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro vem buscando maior participação popular nos projetos de recuperação e desenvolvimento da cidade. Ilustrando essa afirmação, ressaltamos que um dos fatores cruciais para a escolha da cidade como sede das Olimpíadas de 2016 foi o maciço apoio popular. No contexto de preparação para realizar obras que viabilizarão explorar a Camada Pré Sal, efetivar a final da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, o setor de turismo, negócios e eventos vive uma grande expectativa, considerando-se que os investimentos previstos somam aproximadamente R$ 120 bilhões entre 2010 e 2012 e se destacam pela dimensão e diversidade nas prioridades (URANI, 2009). O setor de turismo visualiza muitas oportunidades para o país e para a cidade neste início de século. Ressalta-se, no entanto, que a recuperação econômica da cidade e do estado do Rio de Janeiro deve se basear não somente na exploração do setor de turismo, negócios e eventos, mas também em outras áreas complementares e de grande relevância econômica e social como os setores de petróleo e gás, mídia, cultura, design, esporte, entretenimento, dentre outros. 2.2 O PAPEL DAS AGÊNCIAS PROMOTORAS NO CONTEXTO DO SEGMENTO DE TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS Apesar de ainda serem pouco estudados no campo do turismo e da hospitalidade, atualmente, reconhece-se a importância dos Conventions and XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1597 Visistors Bereau 52 (C&VBx) para o marketing de destinos e também para o desenvolvimento turístico de muitas cidades situadas no Brasil e, ou no exterior. Os C&VBx incentivam o segmento de turismo de negócios e eventos, pois os mesmos reúnem diversos atores locais envolvidos com o turismo, o que possibilita melhor preparação para a exploração das potencialidades do destino e também para futura captação de eventos (OLIVEIRA, 2000). O surgimento desse tipo de organização ocorreu em 1896 na cidade de Detroit – EUA. De acordo com o referido autor, nessa época, alguns empresários locais decidiram potencializar a captação de novos eventos para a cidade, contratando profissionais específicos para essa finalidade, o que possibilitou a fundação do Detroit Convention & Tourist Bereau, nomenclatura adotada a partir de 1907 (GARTRELL, 1998). Nos anos seguintes à iniciativa de Detroit, algumas cidades americanas perceberam os possíveis benefícios da implantação de um C&VBx e também resolveram confiar na ideia o que garantiu a criação de novos escritórios em Cleveland (1904), Atlantic City (1908), Denver e St Loius (1909), Louisville e Los Angeles (1910), Atlanta e Mineapolis (1913), Columbus e Omaha (1914), Beltimore e Milwaukee (1915). Nesse período, observou-se também o surgimento de entidades semelhantes na Europa, mais especificamente em Paris (1901) e em Londres (1905) (MARTINS, 2008). No Brasil, de acordo com os dados da Federação Brasileira de Conventions and Visitors Bereau 53, existem atualmente cerca de 80 cidades filiadas a essa federação, destacando-se, no entanto, o pioneirismo dos C&VBx das cidades de São Paulo (1983) e do Rio de Janeiro (1984) que muito auxiliaram na formação de novos escritórios em cidades como Brasília, Manaus, Belo Horizonte, Salvador, Ouro Preto, Curitiba, Londrina, Juiz de fora, dentre outras. CANTON (2002, p. 49) define que “a finalidade dos Conventions é fazer o marketing do destino que ele representa”. Entretanto, para ANDRADE (2002, p. 99), o C&VB “é uma organização que desenvolve as atividades operacionais e os estudos para o desenvolvimento, geração e captação de eventos ”. 52 Escritório de Convenções e Eventos (tradução própria). Disponível em: http://www.fbcvb.org.br/docs/downloads/fbcvb_cvbx_associados.pdf - acesso em 19/03/2010. 53 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1598 Fundamentando-se nos estudos de MARTINS (2008), CANTON (2002) e ANDRADE (2002), compreendem-se os C&VBx como uma entidade local, de direito privado, sem fins lucrativos e com estatuto próprio que atua na captação de eventos, no desenvolvimento de uma marca e de sua promoção em diferentes localidades e, ou meios de comunicação. No contexto brasileiro, um dos organismos mais representativos no fomento do turismo de eventos é o Rio C&VB. Essa entidade vem se especializando, desde meados da década de 1980, na captação de eventos nacionais e internacionais. Tal experiência lhe possibilita fazer atualmente intervenções a favor do desenvolvimento do turismo de negócios e eventos na capital fluminense. Nesse sentido, credita-se à instituição parte dos benefícios gerados pela expansão do setor de serviços na localidade. Esse reconhecimento se apoia no fato de o Rio C&VB ter auxiliado na captação e organização dos principais eventos realizados na cidade nas últimas três décadas. Com o intuito de incrementar suas ações, o Rio C&VBx atua diretamente na promoção e divulgação da cidade como destino turístico, sendo que essa iniciativa visa contribuir com a expansão do número de turistas que visitam a cidade. Para alcançar seu objetivo, a entidade participa de feiras nacionais e internacionais de turismo, negocia e apoia iniciativas de lançamentos de novos vôos para a cidade, distribui material promocional em diferentes cidades, estados e países, organiza viagens de familiarização para jornalistas brasileiros e estrangeiros e ainda disponibiliza informações gerais sobre o Rio de Janeiro e de sua infraestrutura turística e de serviços. Existem, também, outras entidades que estão ligadas ao setor de eventos no país, como, por exemplo, a Associação Brasileira de Centros de Convenções e Feiras (ABRACEF), entidade criada em 1985 que reúne e associa centros de convenções e exposições em todo Brasil, tendo como objeti vos o desenvolvimento de estudos, pesquisas e eventos sobre o setor e o oferecimento aos interessados de assessoria técnica em projetos de implantação, construção e reforma de espaços para eventos. Outro organismo atuante na organização e promoção do setor de negócios e eventos é a Associação Brasileira das Empresas de Evento (ABEOC), instituição fundada em 1977 que tem por objetivo congregar as empresas organizadoras e prestadoras de serviços especializados em eventos. Atualmente, com mais de 500 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1599 empresas filiadas, a ABEOC disponibiliza recursos ao mercado, por meio de seus associados, pessoal qualificado e equipamentos para os mais variados tipos de eventos. De acordo com a nova diretoria da ABEOC RJ 54 – eleita para o período 2010/2011 – as prioridades da entidade para o biênio estão relacionadas ao desenvolvimento de parcerias com o SENAC e com o SEBRAE, a fim de permitir aos seus associados ministrar cursos profissionalizantes para o mercado, apoiar a realização de eventos como o “Salão Estadual de Turismo”, trabalhar para que a Lei Geral do Turismo se consolide, dentre outras medidas relacionadas, por exemplo, ao fortalecimento da entidade e ao aumento de seu quadro associativo. No que tange ao fortalecimento da atividade turística nacional, destacamos o papel que vem sendo desempenhado pelo Ministério do Turismo na organização e coordenação do desenvolvimento do setor de turismo no Brasil. Dentre suas iniciativas em prol do desenvolvimento da atividade, destacamos o empenho na captação dos Jogos Mundiais Militares em 2011, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas e Para-Olimpíadas de 2016 na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, observa-se a atuação do Ministério do Turismo em outras frentes como, por exemplo, na coordenação de pesquisas para o setor, na divulgação do Salão de Turismo, na aprovação da Lei Geral do Turismo, na implantação do Cadastur, na elaboração de programas como o Prodetur, dentre várias outras ações que favorecem a expansão dos negócios turísticos. 3 O TURISMO DE EVENTOS E O FOMENTO DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A concorrência no mercado de eventos e negócios é áspera e os mercados estão sempre se expandindo e mudando, seja nacionalmente ou internacionalmente. Nesse cenário, novos destinos surgem, enquanto outros se reinventam para entrar na disputa por um mercado de concorrência internacional. Há uma tendência na preservação dos atrativos naturais e culturais para criar o desenvolvimento de uma herança. Sendo assim, existem diversos destinos que redescobriram seu passado e tiraram proveito disso, e a cidade do Rio de Janeiro é uma delas (KOTLER, 2007). 54 Disponível em: http://www.abeoc.org.br/rj/conteudo.php?pg=conteudo_estaduais&id=147 – acesso em 20/03/2010. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1600 Portanto, o turismo de eventos assume um papel fundamental na composição de atrações da cidade. Diante desse cenário repleto de oportunidades de negócios, a cidade do Rio de Janeiro firmou-se no país como segundo destino internacional de eventos, perdendo apenas para a cidade de São Paulo. Nas Américas, a cidade está na terceira colocação, atrás apenas de São Paulo e Bueno Aires. E no mundo situase na 26ª colocação, à frente de cidades como Nova Iorque (EUA), Santiago (Chile) Quebec e Toronto (Canadá). TABELA 1 POSIÇÃO DO RIO DE JANEIRO NO RANKING DA ICCA55 Brasil Américas Mundo 2a 3a 26a Fonte: C&VB, 2006. Nº de eventos 48 A pesquisa Impacto Econômico dos Eventos Internacionais realizados no Brasil 2007/2008 pela Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstra que o gasto médio diário do turista estrangeiro no Rio de Janeiro apresenta-se acima da média nacional, US$ 295,35 com hotel, alimentação e compras, sendo a média nacional US$ 240,00. A realização dos 10 eventos internacionais captados entre os anos de 2007 e 2008 no Rio de Janeiro geraram divisas de US$ 15 milhões para o destino (FGV, 2009). Com isso o turista que chega ao Rio de Janeiro permanece em media 2,3 dias após os eventos, com cerca de 50% da permanência para o lazer. Mais da metade (52,1%) pretendem retornar a cidade e quase todos (92,4%) pretendem voltar ao Brasil. Destes 25% destacam as pessoas como o principal atrativo (EMBRATUR; FGV, 2009). Assim, o Rio de Janeiro como o segundo destino para a realização de eventos no Brasil atrai importantes eventos nacionais e internacionais. E, para suprir a necessidade de serviços, a cidade conta com 124 empresas prestadoras de serviços na área de eventos cadastradas no Ministério do Turismo, excetuando-se as organizações ainda não-cadastradas (C&VB, 2009). A cidade possui instalações para eventos bem localizados e equipados, uma gama de hotéis espalhados pela orla, uma gastronomia diversificada, etc. 55 Associação Internacional de Convenções e Congressos (tradução própria). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1601 Sabe-se ainda que a localidade é genuinamente o berço da boemia e do samba, o que possibilita ao destino ser caracterizado como centro cultural e social do Brasil. Complementando, é importante esclarecer que o Réveillon e o Carnaval mais famosos do país identificam o Rio de Janeiro no cenário local e global o que favorece a expansão dos negócios e a divulgação dos vários atrativos espalhados pela cidade, com destaque para o Cristo Redentor, eleito uma das sete novas maravilhas do mundo. O Rio de Janeiro possui um Aeroporto Internacional com duas pistas e dois terminais, com uma capacidade de operação de 520 vôos por dia. Geograficamente bem localizado, o Aeroporto Internacional está a cerca de 20 minutos dos principais hotéis e atrações turísticas. Existe uma capacidade instalada de 280 meios de hospedagem com aproximadamente 24 mil quartos, metade dos quais oferecidos em hotéis padrões 4 e 3 estrelas. A taxa de ocupação média é de 65%, e desses cerca de 55% do motivo de hospedagem é negócios e eventos. Dos turistas recebidos nos hotéis 53 % viajam dentro do Brasil e 47% são procedentes de fora do país (C&VB, 2009). A Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA) classifica o Rio de Janeiro entre as sete cidades mais procuradas do mundo para a rea lização de congressos internacionais. Para a realização de seus eventos a cidade conta com o maior centro de convenções da América Latina, o Riocentro, que possui mais de 100.000m2 e uma ampla gama de centros com capacidades diversas para todos os tamanhos e tipos de grupos profissionais. Além desse complexo, a cidade possui diversos outros tipos de equipamentos e instalações para eventos, estando esses espalhados em hotéis, clubes, shoppings e teatros. A infraestrutura de eventos do Rio de Janeiro conta ainda com espaços variados, como: o centro de eventos Mário Henrique Simonsen, o centro gastronômico Victoria, o Pão de Açúcar, o Pier Mauá - estação marítima de passageiros, o Rio Marina da Glória, o Vivo Rio, o HSBC Arena, o Canecão, o centro de convenções SulAmerica, dentre outros de menor expressão. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1602 3.1 O TURISMO DE EVENTOS NO RIO DE JANEIRO EM ANÁLISE Apesar da segunda colocação da cidade para sediar eventos no Brasil e de ter sediado eventos como a ECO 92 e o Pan Americano 2007, o Rio demonstra que ainda está se preparando para sediar eventos, principalmente mega eventos como Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas. Portanto, essa busca por grandes eventos cria uma competição nas cidades concorrentes. E no Rio de Janeiro isso não está sendo diferente. Os espaços destinados a esses eventos são insuficientes, e a necessidade de construção e adequação da infraestrutura é latente. A corrida para construir, reformar e modernizar os locais para os eventos se acelera. Essa sucessão de eventos na área desportiva permite que muitas das obras realizadas para um evento sejam aproveitadas para outros grandes acontecimentos. Especialmente as obras ligadas a infraestrutura urbana e de acesso como metrôs, corredores de ônibus, estacionamentos, aeroviária, portos, seg urança, saneamento e saúde. No entanto, não foi o que ocorreu com o Pan Americano de 2007, quando as obras foram feitas às pressas e os orçamentos estourados. Para 2014 e 2016, serão quase R$ 30 bilhões de investimentos que, se não forem tratados com um planejamento orçamentário rigoroso, podem não deixar um legado positivo para a sociedade. Destaca-se grande importância para o assunto, uma vez que o Rio de Janeiro é o principal destino turístico do Brasil (31,5%), e a atividade turística corresponde a 15% do PIB do estado, gerando R$ 45 bilhões por ano (FGV, 2009). Em 2008, no réveillon, o Rio de Janeiro recebeu 612 mil turistas e arrecadou US$ 444 milhões; no carnaval 719 mil turistas e US$ 521 milhões e em toda a temporada 1,9 milhões de turistas e US$ 2,5 bilhões (SINDRIO, 2009). Além disso, o Rio de Janeiro é a cidade mais lembrada pelos turistas estrangeiros (90%) dentre as outras cidades do Brasil, segundo pesquisa encomendada pelo Ministério do Turismo em 2009. Sendo assim, percebe-se que o turismo junto com o setor de serviços é a grande fonte de recursos do estado, depois da indústria Petroquímica. Para tanto, o Governo Federal com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previu investimentos da ordem de R$ 4 bilhões no Rio de Janeiro, incluindo três eixos: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1603 logística – rodoviária, ferroviária, portuária, hidroviária e aeroportuária; energética – geração e transmissão de energia elétrica, petróleo, gás natural e energias renováveis e social e urbana – Programa Luz para Todos, saneamento, habitação, metrôs, recursos hídricos (MTUR, 2009). A cidade tem a oportunidade para despontar na área de eventos no Brasil e no Mundo, bastando, para isto, realizar as mudanças necessárias com qualidade e discernimento para o longo prazo. Cabe, no momento que antecede a esses eventos, um exaustivo diálogo entre o poder público, a iniciativa privada e a população, para que os frutos colhidos sejam sadios, retornando para a cidade os nutrientes deles tirados. 4 CONCLUSÃO O setor de negócios e eventos é, sem dúvida, fundamental para dinamização do turismo para a cidade do Rio de Janeiro, em função da sua estrutura geradora de investimentos, emprego e renda. Entende-se que em uma economia globalizada em que as pessoas circulam pelo globo terrestre para as mais diversas trocas, o setor de eventos e negócios configura-se como essencial. Dessa forma, pode-se considerar que a cidade do Rio de Janeiro, por possuir um reconhecido patrimônio natural e cultural aliado a uma boa estrutura de serviços, está apta a disputar com outros centros urbanos nacionais e internacionais o planejamento, a organização e a execução de variados tipos de eventos. No decorrer da revisão de literatura pertinente, identificam-se possíveis contribuições do setor de negócios e eventos para o desenvolvimento local e também para a expansão da atividade turística. A exemplo, evidenciam-se os investimentos previstos para Copa do Mundo e Olimpíadas, que deixarão um legado de modernidade e qualidade de vida para os cariocas e aos que pela cidade passarem. Por outro lado, salienta-se que constantes investimentos sejam feitos em mobilidade pública, rede hoteleira, sinalização turística, qualificação de recursos humanos, segurança pública, serviços de receptivo, dentre outros, dado que a garantia de sucesso dos recursos investidos nesses itens será decisiva para afiançar o posicionamento estratégico esperado para a cidade. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1604 Outro fato importante a ser destacado e que vem contribuindo com a otimização do potencial da cidade para uma exploração ordenada de diferentes áreas é o seu plano estratégico que vem sendo executado desde a década de 1990. Agora os desafios estão no plano estratégico 2009-2012. Concluindo, argumenta-se que a cidade do Rio de Janeiro deverá perceber nos próximos anos grande desenvolvimento turístico o qual poderá garantir a melhoria das condições de vida de toda sua população. A cidade do Rio de Janeiro possui o segundo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado perdendo apenas para Niterói. no entanto, enquanto o Rio possui pouco mais de 6 milhões de habitantes, Niterói conta com aproximadamente 500 mil. Nesse cenário, o setor de turismo identifica no nicho de eventos um grande gerador de emprego e renda, além de ser possível afirmar que essa atividade também possibilita ao poder público ampla arrecadação de recursos que devem ser revertidos em investimentos públicos. Considerando-se o contexto, a necessidade de o setor de eventos e negócios se estruturar e se modernizar fica evidenciada neste estudo, pois trata-se de um setor extremamente competitivo. Essas necessidades serão utilizadas para demarcarem a diferença da cidade no cenário nacional e internacional. Informações mais detalhadas sobre os impactos do setor de eventos e negócios da cidade devem ser coletados e analisados, pois os dados disponíveis para pesquisa encontram-se dispersos e segmentados. Um estudo profundo e detalhado sobre o setor de negócios e eventos e sua relação com o desenvolvimento turístico é latente e de curto prazo, uma vez que os investimentos pesados ocorrerão entre 2014 e 2016. Finalizando, espera-se que em 2017 o Rio de Janeiro esteja muito mais preparado para a exploração de todo o seu potencial turístico, que certamente é um dos maiores do mundo. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. B. Manual de eventos. 8 ª Ed. Caxias do Sul: Educs, 2002. ANDRADE, J. V. Turismo: fundamentos e dimensões. 2ª Ed. São Paulo: Ática, 2002. BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. Campinas, SP: Papirus. 2000. (Coleção Turismo). CAMPOS, L. C. A. MENESCAL; WYSE, N.; ARAÚJO, Maria Luiza Motta da Silva. Eventos: oportunidades de novos negócios. 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Acesso em 11/01/10 no sitio http://www.sindrio.com.br/site/publicacao/publicacao.asp?cod_canal=9&cod_publica cao=30 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1606 PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA E LITORAL DO PARANÁ Margarete Araujo Teles Mestre Geografia/UFPR [email protected] Renata Maria Ribeiro Mestre Geografia/UFPR [email protected] RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar uma síntese da trajetória do processo de planejamento e gestão do turismo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e Litoral do Paraná, a partir da Política Estadual do Turismo e do Programa de Regionalização do Turismo do Governo Federal. Sabe-se que a estratégia adotada para o desenvolvimento do turismo no período de 2003 a 2009 foi o planejamento estratégico e participativo, e envolveu entidades públicas e privadas. Para abordar o objeto de estudo desta pesquisa utilizou-se o referencial teórico-metodológico da Geografia, do Turismo e ciências afins. O turismo como fenômeno transforma o espaço e, por sua natureza complexa, é reconhecido pelos estudiosos como um tema que deve ser tratado no âmbito de um quadro interativo de disciplinas, em que o enfoque geográfico é de fundamental importância, uma vez que, por tradição, trata da dualidade sociedade e natureza (RODRIGUES, 2001). Para estruturar o trabalho adotou-se a pesquisa empírica do tipo exploratória, englobando levantamento documental (ou fontes primárias) e bibliográfico (ou de fontes secundárias) , com base nos dados fornecidos pela Secretaria de Estado do Turismo do Paraná (SETU), Instituto Curitiba de Turismo, Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC) e Serviço Social Autônomo Ecoparaná. Utilizou-se também como referência de pesquisa os relatórios das oficinas de trabalho dos anos de 2005, 2006, 2008 e 2009 da SETU, que resultaram nos Planos Estratégicos de Desenvolvimento do Turismo Regional, e que enfocam aspectos concernentes ao planejamento regional do turismo na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do Paraná. Os resultados preliminares da pesquisa apontaram que, embora a metodologia aplicada pelo Ministério do Turismo e pela SETU no processo de planejamento estratégico e participativo seja a mesma para todas as regiões, existem discrepâncias na Região Metropolitana de Curitiba, se comparada aos avanços diagnosticados no litoral. Dentre as várias diferenças destaca-se a definição e constituição legal da Instância de Governança no Litoral, a partir da criação da Agência de Desenvolvimento do Litoral – ADETUR, órgão de articulação e fomento, e que define as ações a serem tomadas para a gestão do turismo de modo estratégico e participativo nessa região. No entanto, pôde-se observar que a Região Metropolitana de Curitiba ainda encontra dificuldades de articulação entre o setor público e o privado, uma vez que não há uma definição clara quanto aos meios de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1607 gestão de governança, o que impede a execução do Plano de Desenvolvimento Regional do Turismo. Palavras Chave: planejamento estratégico e participativo, governança, turismo, desenvolvimento regional. ABSTRACT This main goal of this paper is to present a synthesis on the trajectory of the planning and management of tourism process in Curitiba‟s Metropolitan Region (RMC) and in Parana‟s Coastline, approaching the Política Estadual de Turismo and the Tourism Regionalization Program from the Federal Government. It is known that strategy adopted for development of tourism in the period of 2003 to 2009 was the strategic and participative planning and involved by public and private institutions. In order to achieve the purpose of this study, a theorical methodological reference of Geography and Tourism and sciences alike has been used. The tourism as a phenomenon that transforms the space and its complex nature, known by scholars, is a theme that must be studied in an interacted discipline scope, in which the geographic approach is extremely important, since, traditionally, it deals with the duality society and nature (RODRIGUES, 2001). To structure this paper was adopted the empirical explorer research applying document survey (or primary sources) and bibliographic survey (or secondary sources), based on data from Secretaria de Estado do Turismo do Paraná (SETU), Instituto Curitiba de Turismo, Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC) e Serviço Social Autônomo Ecoparaná. As reference, the reports from SETU workshops of years 2005, 2006, 2008 and 2009 were used, which generated the Strategic Plans of Development of Regional Tourism and focused on aspects concerning the planning of regional tourism in Curitiba‟s Metropolitan Region and in Parana‟s Coastline. The research shows that even though the methodologies applied by the Ministério do Turismo and SETU in the process of strategic and participative planning are the same for all regions, there are discrepancies and advances on the strategic planning of these regions. Among the differences, we highlight and legal constitution the definition of Governance Instance, which is already a reality in the coastline, since the constitution of the Agência de Desenvolvimento do Litoral – ADETUR, organization of articulation and fomentation, and that defines the actions to be taken to the management of tourism in a strategic and participative way. However, Curitiba‟s Metropolitan Region still faces difficulties articulating public and the private sectors, since there is not a clear definition on the means of governance management; this situation prevents the execution of the Regional Tourism Development Plan. Key words: strategic and participative planning, governance, tourism, regional development. 1 INTRODUÇÃO Apesar das primeiras tentativas de organizar e incentivar o turismo no Paraná a partir de 1932, é sobretudo em meados dos anos noventa que certas ações de planejamento vão orientar a política de desenvolvimento turístico no Estado. Dentre as estratégias implementadas na década de 90, destaca-se o Programa Nacional de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1608 Municipalização do Turismo – PNMT, elaborado no âmbito do governo federal, período de 1996/2002. Em consonância com a Política Nacional de Turismo 2003-2007, o Paraná atualizou e publicou a Lei 15.973, de 13 de novembro de 2008, que trata da Política Estadual de Turismo, e atribui ao Plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraná 2008-2011 a função de definir áreas estratégicas, macroprogramas, programas e ações que viabilizem o turismo estadual, traçando ações conjuntas para os municípios turísticos em um horizonte de quatro anos. Esse plano surge “como ferramenta para o desenvolvimento econômico, sustentável e descentralizado, mas principalmente para a promoção da cidadania, inclusão e justiça social através de uma gestão pública transparente e integrada”. (Plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraná 2008-2011). Partindo desse pressuposto, a Secretaria de Estado do Turismo definiu três áreas estratégicas de atuação para desencadear um novo processo de desenvolvimento turístico no Paraná: Gestão e Fomento; Desenvolvimento de Destinos Turísticos e Promoção e Apoio à Comercialização que se desdobram em 6 (seis) macroprogramas, apresentados no fluxograma (FIG.1). O estabelecimento das estratégias exigiu um novo ordenamento territorial para a execução dos macroprogramas; desse modo, as regiões turísticas do Litoral, Curitiba e Região Metropolitana, Campos Gerais, Oeste e Lindeiros ao Lago de Itaipu, Norte, Noroeste, Centro, Centro-Sul e Sudoeste (FIG.2) passaram a ter função de agregar suas ações no sentido de unir esforços para consolidar a atividade turística municipal e regional. Nesse aspecto houve uma reestruturação de conceitos de municipalização e regionalização, que outrora eram vistos de modo isolado, mas que atualmente estão integrados definindo o entrelaçamento e dependência entre município e região. A necessidade de uma nova gestão estratégica fez com que as instâncias de governança fossem adotadas com o objetivo de fortalecer a integração entre os municípios participantes, fortalecendo a regionalização. Dentre as regiões turísticas existentes no Paraná, este ensaio preliminar prioriza o Litoral e a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), uma vez que estas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1609 regiões são objetos de pesquisas das autoras no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná. Assim, adotou-se como metodologia a análise de documentos que fazem parte do processo de construção do planejamento e gestão do turismo no Paraná, com uma base de dados disponíveis sobre a atividade turística na RMC e Litoral do Paraná, em particular os disponibilizados pela Secretaria de Estado do Turismo (SETU) e pela Coordenadoria da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC). Esta pesquisa de cunho exploratório faz algumas considerações a cerca do processo de planejamento e gestão do turismo destas duas regiões, consideradas prioritárias no Programa de Regionalização do Turismo do Governo Federal. FIGURA 1 – PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DO PARANÁ 20082011 1610 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 FIGURA 2 – REGIÕES TURÍSTICAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO TURÍSTICO Para contextualizar o planejamento turístico é importante que se faça uma retomada nas definições do planejamento propostas por alguns autores. A necessidade de planejar é inerente ao processo de organização de empresas ou municípios, deste modo, os gestores municipais têm mudado sua postura quanto ao planejamento municipal. Para tanto, pode-se concordar com Birkholz (1980), ao definir que a palavra planejamento em um sentido amplo é o método de aplicação, contínuo e permanente, destinado a resolver racionalmente os problemas que afetam uma sociedade situada em determinado espaço, em determinada época, através de uma previsão ordenada capaz de antecipar suas ulteriores consequências. Ou ainda, segundo Beni (1998, p. 108): “o planejamento do ponto de vista governamental consiste, no seu sentido mais lato, em um processo que estabelece objetivos, define linhas de ação e planos detalhados para atingi-los, e determina os recursos necessários à sua consecução”. Segundo Cooper et al.(2007, p. 317), “o planejamento do turismo nacional abrange os planos de desenvolvimento do turismo para um país como um todo, mas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1611 muitas vezes inclui objetivos específicos para regiões subnacionais ou tipos de áreas dentro das fronteiras nacionais”. O processo de planejamento envolve, também, a elaboração de políticas públicas. Em se tratando do setor de turismo, Cruz (2006, p. 342) afirma que “A política pública de turismo deve ser um documento público, que reúna o pensamento do(s) poder(es) público(s) (local, estadual, regional ou nacional) com relação à organização do setor do turismo em dado território.” Em relação ao planejamento regional, requer a abdicação, por parte dos poderes públicos e municipais, de parte de seus projetos individuais em prol de um projeto coletivo [...], pode significar para muitas municipalidades a única possibilidade de inserção no seleto rol de lugares que conseguiram fazer do turismo um instrumento de seu desenvolvimento social e econômico. (CRUZ, 2006, p.343) Deve-se atentar que o planejamento pode ser operacionalizado em ambientes naturais, rurais e urbanos, e que para cada território o método deverá ser adaptado para o alcance de objetivos estabelecidos. Pode-se considerar esta fase teórica como primordial a todos os ambientes a serem modificados e caberá ao planejador e equipe institucional traçar as características próprias da localidade para garantir os resultados adequados àquele espaço físico habitado. (RIBEIRO, 2005, p. 7) É fundamental insistir que o território não é apenas espaço físico, palco das atividades humanas, tampouco é inerte. A sociedade ao atuar no espaço, incorporao à sua própria dinâmica. (RODRIGUES, 2007, p.17) Para o planejamento estratégico, o estabelecimento de eixos, bases, diretrizes para o desenvolvimento e construção do futuro das cidades, possui como principal objetivo ”conseguir a transposição da visão individual de cidadãos conscientes e envolvidos para um horizonte mais amplo, dentro de uma moldura global”. (LOPES, 1998, p. 91) Concorda-se com Lopes no sentido de que os gestores municipais chamem a responsabilidade para a população local, propondo deste modo a legitimação no processo de planejamento estrategicamente organizado para transpor plataformas eleitorais, imprescindível ao desenvolvimento contínuo dos municípios brasileiros. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1612 GOVERNANÇA UMA FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NO BRASIL O Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil propõe a implementação do turismo em cada região turística do Brasil. Para tanto, deve-se buscar a descentralização do poder de decisão, com base na gestão democrática da participação social. Ressalta também que em todo processo que envolve planejamento, desenvolvimento e implantação de planos e programas, é necessário que exista uma organização. Esta, por sua vez, deve encarregar-se da coordenação, do acompanhamento e da gestão das ações planejadas. (MTUR, 2007, p.16 -17) Neste sentido, o que se propõe nas Diretrizes Operacionais do Programa é a instância de governança. A instância significa o “ente organizacional”. É um tipo de organização social que pode assumir vários formatos: conselho, fórum, associação, agência e outros. A governança é a capacidade que os governos têm de criar condições e de responder as demandas da sociedade.Em se tratando da governança social ou governança democrática, essa capacidade de governar pressupõe uma administração participativa que envolve as populações locais na elaboração, monitoramento e, em alguns casos, na execução de políticas públicas em nível nacional, estadual, regional e municipal. (SETU, 2009, p.14) Deste modo, a instância de governança do turismo conta com a participação de representações do poder público, da sociedade civil organizada e de entidades empresariais vinculadas ao turismo em um determinado território (país, estado, região ou município). (SETU, 2009, p.14) Cada instância de coordenação tem sua competência: Nacional – Ministério do Turismo, apoiado pelo Conselho Nacional do Turismo; Estadual – órgão oficial de turismo da Unidade da Federação, apoiado pelo fórum/conselho; Regional – instância de governança regional apoiada pelo órgão oficial de turismo da UF e pelo fórum/conselho estadual de turismo; Local – órgão municipal de turismo, apoiado pelo colegiado local (conselho municipal de turismo). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1613 De acordo com Fuini e Pires (2009, p.291) a governança faz parte das estratégias de planejamento e desenvolvimento territorial atual e vem evoluindo desde 1970, sendo utilizada como “novas formas de regulação e coordenação emergentes em articulações inéditas entre os atores locais (as empresas, associações, sindicatos, poder público e universidades).” Ainda: a noção de governança vai além de uma simples forma de organização econômica inter-regional, definida pelo Estado ou por relações de troca puramente mercantis, associando-se também às modalidades de coordenação socioeconômicas mais complexas que abraçam instituições, convenções, registro de ação e formas de incerteza, definindo, assim, um tipo de regulação, misto entre político e o econômico, entre o local, o nacional e o global, com forte conteúdo territorial.(FUINI, PIRES, 2009, p.292-293) Quando se trata da proximidade geográfica dos municípios, a governança territorial definida por Colletis, Gilly et.al. (1999), citado por Fuini e Pires (2009), estaria dentro dos objetivos da Política Nacional do Turismo. Como um processo institucional-organizacional de construção de uma estratégia para compatibilizar os diferentes modos de coordenação entre atores geograficamente próximos em caráter parcial e provisório, atendendo a premissa de resolução de problemas inéditos. (COLLETIS, GILLY et.al. 1999, IN: FUINI E PIRES, 2009, p. 301) Assim os “atores econômicos devem articular-se entre si e estes com os atores institucionais-sociais e políticos através de „regras do jogo‟ e, a dimensão local e a global através das mediações realizadas por atores ancorados no território.” (FUINI e PIRES, 2009, p. 301) É importante salientar que o processo de decisão para a escolha do formato da instância de governança se dá a partir das escolhas tomadas pelos diferentes atores envolvidos no processo, e que de modo horizontal e vertical podem estruturar-se como: fórum, conselho, associação, agência e outros, apontados detalhadamente a seguir: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1614 QUADRO 1- FORMATO DE GOVERNANÇA PARA GESTÃO DO TURISMO NO BRASIL FORMATO CARACTERIZAÇÃO Fórum A palavra fórum significa reunião, congresso, conferência que envolve debate de um tema. É um espaço democrático que serve como instrumento de comunicação, reflexão, debate, intercâmbio, articulação, ajuda mútua na solução de dúvidas e problemas, exposição de idéias, opiniões e sugestões sobre um determinado tema. No fórum as pessoas podem se reunir para discutir sobre um determinado assunto por meio de debates temáticos, criação de agendas e pautas de discussão, articulação política, social, cultural e econômica, proposição e organização de atividades coletivas, sempre com um propósito determinado. A organização do fórum pressupõe a escolha democrática de um presidente, um vice-presidente e coordenadores de cada um dos comitês temáticos. Conselho Órgão ou instancia colegiada de caráter permanente, deliberativo e/ou consultivo, que por vezes integra a estrutura básica da secretaria ou órgão equivalente e tem sua composição, organização e competência fixados em lei. Os Conselhos têm o papel de estabelecer a mediação das relações sociedade/Estado. A partir da Constituição de 1988, leis orgânicas específicas passaram a regulamentar o direito constitucional à participa ção, por meio de Conselhos com composição paritária entre representantes do Poder Executivo e da sociedade civil. Associação Pessoa jurídica, formada por vários indivíduos que se organizam de forma democrática para realização de atividades sem fins lucrativos, em defesa de seus interesses. Distingue-se de outras entidades pela dupla identidade dos associados, que seção, ao mesmo tempo gestores e usuários. Suas principais características são: - Entidades de direito privado e não público; - Constituídas pela reunião de duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas para realização de objetivos comuns; -Têm patrimônio formado pela contribuição dos participantes por doações, subvenções, etc; - Podem ter finalidades alteradas pelos associados, em assembléia geral; - Deliberam livremente, em assembléia geral, por meio do direto de voto de cada sócio. Agência de Organização técnico-institucional de caráter executivo que atua na desenvolvimento identificação, elaboração, implementação e monitoramento de projetos de desenvolvimento setorial ou territorial. Sua estrutura organizacional é composta normalmente por: Assembléia Geral; Presidente e Vice-Presidente; Administração: Conselho Fiscal: Superintendente ou Diretor Executivo e quadro técnico. Os aspectos mais relevantes de uma agência são: - Ser aceita e entendida pelas estruturas políticas e institucionais; - Traduzir todos os seus objetivos em projetos e atividades concretas; - Coordenar esforços com outras organizações regionais já existentes; - Mobilizar os recursos financeiros, públicos e/ou privados, necessários à sua estrutura básica e necessários a implementação de novos projetos; - Ter autonomia e independência institucional necessárias para tomar suas próprias decisões no contexto regional: - Revelar forte empenho do pessoal técnico, de modo a obter resultados concretos. Fonte: SETU, 2009, p.19. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1615 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO ESTUDO Este estudo é uma análise preliminar do planejamento e gestão do turismo da RMC e do litoral, regiões eleitas como prioritárias para o desenvolvimento do turismo regional, com competitividade internacional no Programa de Regionalização do Turismo. O aprofundamento desta análise deverá ser concluído após a coleta de outros dados no decorrer de 2010. No entanto, a partir desta etapa exploratória, já é possível apresentar a evolução do planejamento turístico das duas regiões. Na primeira fase deste estudo foram referenciados autores que tratam dos conceitos de planejamento turístico como BENI (1998); CRUZ (2006); COOPER, (2007); RIBEIRO (2005), e que estão diretamente relacionados ao planejamento e gestão da atividade. Também se fez necessário o conhecimento das políticas públicas de turismo em nível federal e estadual, em que observou-se uma tendência de fortalecer as instâncias de governança e o planejamento estratégico regional do turismo a partir de documentos do Ministério do Turismo - MTUR (2007) e da SETU, (2005 a 2009); e de autores como FUINI e PIRES (2009) que fundamentaram a pesquisa específica também relacionada à governança no contexto teórico. 1616 A pesquisa a partir dos documentos técnicos da SETU apontaram que as duas regiões alvo desse trabalho participaram de quatro módulos operacionais do Programa de Regionalização do Turismo, dos nove propostos pelo Ministério do Turismo. No entanto, apesar dos encaminhamentos dos trabalhos, as duas regiões ora estudadas têm algumas dificuldades de implementar as ações propostas pelo Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008-2011. PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) abrange uma área de aproximadamente 15.500 Km² e corresponde a cerca de 8,3% do Estado do Paraná, possuindo 26 municípios: Adrianópolis, Agudos do Sul, Almirante Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Cerro Azul, Colombo, Contenda, Curitiba, Doutor Ulysses, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Lapa, Mandirituba, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras, Quitandinha, Rio Branco do Sul, São José dos Pinhais, Tijucas do Sul e Tunas do Paraná. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Esta mesma região possui outra denominação que é utilizada pela SETU, Curitiba e Região Metropolitana. Na divisão regional para fins turísticos, três municípios de outra região foram agregados, Piên, Rio Negro e Campo do Tenente e assim a região turística tem 29 municípios. O planejamento do turismo na RMC teve origem em 1998 através de uma proposta regional da então Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/PR (atualmente Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) e da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC. A proposta visou desenvolver roteiros de turismo no entorno da capital Curitiba. A interligação dos mesmos era representada no mapa através de um círculo que foi denominado de “Anel de Turismo da Região Metropolitana de Curitiba”. A partir de 1999 a proposta regional contou também com a participação do Serviço Social Autônomo Ecoparaná 56, instituição ligada ao órgão estadual de turismo. O projeto do Anel de Turismo da Região Metropolitana de Curitiba (PARANÁ, 2000) focava o desenvolvimento sustentável em áreas de interesse de preservação e em áreas representadas por valores étnico-culturais dos povos colonizadores. Os objetivos do projeto visavam ampliar as oportunidades de lazer, por meio de formatação de roteiros turísticos, revitalizar eixos históricos, recuperar elementos urbanos e edificações de valor histórico, assim como desenvolver vocações rurais da região. Em dezembro de 2003 foi criado o Fórum Metropolitano de Turismo, com a participação dos Secretários Municipais, e por iniciativa da Associação dos Municípios da Região Metropolitana – ASSOMEC. Embora esta entidade não se constitua como pessoa jurídica, os objetivos são apresentados, no Art.1º. O Fórum Metropolitano de Turismo é uma entidade civil sem fins lucrativos, regido por este Estatuto e pelo seu Regimento Interno, com a finalidade de representar legalmente, os interesses e aspirações dos órgãos municipais de turismo dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba, e de fomentar o turismo visando o desenvolvimento sócio – econômico – político – ambiental – cultural dos Municípios, com visão regional.(FORUM, 2008) 56 O Serviço Social Autônomo Ecoparaná foi criado com o objetivo de planejar as atividades turísticas, elaborando os projetos regionais de turismo desta e de outras regiões do Estado. É uma entidade sem fins lucrativos, vinculada ao Estado por meio de contrato de gestão, e que tem a responsabilidade de idealizar projetos e ações relacionados à promoção da atividade turística, atendendo aos interesses tanto do poder público quanto da iniciativa privada (Ecoparaná, 2002). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1617 Com a criação do Fórum surge o Guia Turístico Rotas do Pinhão, primeira ação prática desta entidade, lançado em 2004, que apresentou os roteiros, rotas, caminhos e circuitos de 15 municípios de Curitiba e Região Metropolitana. É importante ressaltar que houve um aproveitamento do projeto Anel de Turismo da Região Metropolitana de Curitiba. Com o propósito de atender as diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, em 2005 é realizada a 5ª oficina para elaborar o plano de desenvolvimento turístico regional, com objetivo de atender ao Módulo Operacional do Plano de Desenvolvimento Turístico Regional. Participaram representantes dos Órgãos Oficiais de Turismo, dos Conselhos Municipais de Turismo, do Sistema „S‟ (SENAC, SESC, SEBRAE, SENAR), e da iniciativa privada que integram a Região Turística Curitiba e Região Metropolitana. De acordo com Relatório Oficina 2005, o Plano de Desenvolvimento Turístico Regional é o instrumento principal para orientar o processo de desenvolvimento sustentável do turismo na Região, devendo ser o resultado de um planejamento integrado e participativo, com envolvimento dos atores locais, para a definição de estratégias que irão nortear o desenvolvimento e fortalecimento do turismo regional.(2005, p.10) Nesta oficina, seus participantes consideraram a ati vidade turística na RMC incipiente, devido aos vários problemas identificados: gestão do turismo ineficaz, atrativos turísticos sub e/ou mal utilizados, infraestrutura de apoio ao turismo precária, equipamentos e serviços turísticos deficientes, qualificaç ão dos serviços e treinamento insuficientes, promoção e comercialização desarticuladas. Diante das condições negativas, a equipe propôs que estas questões fossem reformuladas em condições positivas, desejáveis e possíveis de serem alcançadas: envolvimento eficiente da comunidade, gestão do turismo eficaz, atrativos turísticos melhor utilizados. Ainda tratando das propostas para o desenvolvimento regional do turismo da RMC, o Ministério do Turismo, juntamente com a Secretaria de Turismo do Estado do Paraná priorizou quatro regiões no Estado para a criação dos roteiros turísticos. Assim, entre as regiões prioritárias encontra-se a Região Metropolitana de Curitiba, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1618 composta por municípios que apresentam grande diversidade em opções de turismo: rural - predominante na Região, turismo de eventos, turismo cultural, ecoturismo, negócios e aventura. Em 2008, o Ministério do Turismo, por meio do Programa de Regionalização do Turismo, propõe três destinos indutores 57 para o Paraná: Curitiba, Paranaguá e Foz do Iguaçu. Conforme o Plano Estratégico de 2008 A comunicação e atuação conjunta de entidades públicas e privadas, locais e regionais, bem como a iniciativa privada, deve ser buscada. Qualificação dos serviços, integração entre os produtos já existentes, aplicação correta de recursos são pontos identificados e que precisam de intervenção para que os cenários futuros sejam alterados e evoluam (2008, p.16) E ainda, conforme o mesmo plano, “a implementação e o fortalecimento da instância de governança regional deve ser um dos objetivos primordiais, visto que ela teria o papel de articuladora e fomentadora do desenvolvimento turístico regional.” (PEDTR, 2008-2011, p.16). 1619 A capital, Curitiba, é um polo emissor e receptor do turismo no Estado, apresenta infraestrutura turística, equipamentos, atrativos e instalações turísticas. Considerado município com padrão internacional (MTUR,2008) tem, porém, problemas com a divulgação do turismo. Os outros municípios da região, além do problema com a divulgação, têm problemas com a infraestrutura para o turismo, equipamentos, qualificação da mãode-obra, fomento e articulação. Os documentos apontam que a maioria dos municípios não têm plano de desenvolvimento turístico, e somente Curitiba tem pesquisa de demanda. Baseada em oficinas anteriores, a SETU realizou uma análise de diagnóstico para verificação da situação atual (principais pontos fortes e a melhorar) da Região Metropolitana de Curitiba, seguindo três campos orientadores: planejamento, organização e promoção. 57 Segundo o Ministério do Turismo (2007), destinos indutores são aqueles que possuem infraestrutura básica e turística e atrativos qualificados, sendo capazes de atrair e distribuir visitantes para seu entorno, movimentando a economia local. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 QUADRO 2 - DIAGNÓSTICO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Campo orientador 1: Avaliação de planejamento na região Pontos fortes Pontos a melhorar Diversidade / segmentação - Existência do Fórum Metropolitano / Câmara Técnica -Existência de planos, projetos, pesquisas em Andamento (demanda,cadeia produtiva) -Interesse de entidades diversas em participa SEBRAE em alguns municípios / SENAC - Curitiba: pólo indutor - Existência de roteiros - Sustentabilidade (social, econômica, ambiental, cultural, política) - Fraca e contraditória atuação dos órgãos regionais (Comec, Fórum, Associação dos Municípios) - Envolvimento da iniciativa privada Campo orientador 2: Avaliação de organização na região Pontos fortes Pontos a melhorar Diversidade cultural, ambiental, rural, negócios. - Sustentabilidade (social, econômica, ambiental, cultural política) - Implementação da governança - Recursos financeiros (insuficientes e mal alocados) - Envolvimento da iniciativa privada - Falta política integrada - Maior integração entre os municípios - Qualificação dos serviços oferecidos para públicos diferenciados (rural, microempresários urbanos, grandes empresários) - Roteiros não integrados - Alinhamento das entidades envolvidas Campo orientador 3: Avaliação de promoção na região Pontos Fortes Pontos a melhorar - Fraca divulgação da diversidade - Estratégia mercadológica para comercialização - Pouco envolvimento político - Pesquisa como programa - Falta material promocional integrado - Política de preços na região - Inexistência de sinalização integrada Fonte: Programa de Regionalização do Turismo no Estado do Paraná Oficina de Planejamento Estratégico das instâncias de Governanças – Curitiba, 03 e 04/03/2008 A articulação entre os setores público e privado na Região Metropolitana de Curitiba ainda é incipiente, e o Fórum que é Instância de Governança, que deveria ser constituído de diversos representantes, continua sem representantes do setor privado e sociedade civil. De acordo com os participantes do processo, a mudança de gestão nas prefeituras provoca a falta de continuidade das propostas de desenvolvimento do turismo, o que prejudica essa articulação. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1620 Beni (2006, p.72) identifica que “A interação e integração de atores de entidades públicas e privadas fornece um valioso aprendizado, obtido por meio da concentração de entidades em um local isento de políticas partidárias”. Assim, o planejamento estratégico com vistas ao desenvolvimento econômico e social do turismo na região deve buscar um órgão de articulação que dê continuidade às ações planejadas. PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NO LITORAL DO PARANÁ O litoral do Paraná é uma região compreendida de sete municípios em uma área territorial de 6.333,233 km², sendo extensão de praias de 90 km², e uma população permanente de 235.840 habitantes (IBGE, 2000) com estimativa de crescimento populacional para 2009 de 256.365 habitantes, o que significa um aumento populacional em média de 9% em nove anos. De acordo com o documento Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008-2011, Região Turística do Litoral (SETU, 2008), a região foi definida em abril de 2004, com 7 municípios: Morretes, Antonina, Paranaguá, Matinhos, Guaratuba, Pontal do Paraná e Guaraqueçaba. Dando continuidade ao processo de implementação do Programa de Regionalização do Turismo (PRT) – “Roteiros do Brasil”, coordenado pelo Ministério do Turismo através da Secretaria de Políticas de Turismo, e no Estado do Paraná pela Secretaria de Estado do Turismo/Paraná Turismo contando com o apoio do Conselho Estadual de Turismo, é organizada a Oficina de Institucionalização da Governança Regional do Litoral, em setembro de 2005, em que participaram os setores público, privado e sociedade civil. Dentre as prioridades, definiram-se alguns objetivos para o início dos trabalhos: • promover o uso racional e otimizado dos recursos naturais, humanos e materiais disponíveis, como meio para propiciar o desenvolvimento sustentável na região; XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1621 • ordenar e integrar as atividades turísticas, por meio da formação de parcerias, como forma de evitar desperdícios, duplicidades e paralelismo de ações, dentro de uma mesma região; • fornecer aos órgãos públicos e parceiros um instrumento norteador para as ações intra e interinstitucionais. Diante dos objetivos e das abordagens e necessidades prementes à região, definiu-se a importância da criação de um órgão que pudesse desempenhar ações em favor do desenvolvimento sustentável do litoral do Paraná. Desse modo, acordaram que o modelo de instância de governança mais adequado à gestão integradora do turismo seria uma “Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná”, denominada simplesmente “AGÊNCIA”, que foi constituída em 20 de outubro de 2006, como pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, e com duração por tempo indeterminado. A partir dessa definição foi realizada em novembro de 2006, a Oficina de Estruturação e Planejamento da ADETUR Litoral que tinha como objetivos estruturar a ADETUR Litoral, dar continuidade ao processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Turístico do Litoral e comprometer os participantes com esse processo. Assim, os integrantes da oficina definiram como proposta para a Agência de Desenvolvimento do Turismo do Paraná – ADETUR: Promover a articulação e integração entre as organizações públicas e privadas que atuam na cadeia produtiva do turismo, bem como o seu fortalecimento, utilizando-se de ferramentas de gestão estratégica que busquem o planejamento integrado e participativo, através da compatibilização dos diferentes interesses e ambientes, das potencialidades e dos desafios a enfrentar, e orientem o direcionamento a ser dado para o turismo na região do Litoral do Paraná. (ADETUR, In: http://www.adeturlitoral.com.br/acoes, 2009) É importante destacar que, com a participação dos atores locais, várias atividades foram priorizadas para o ano de 2007, o que certamente racionalizou e permitiu a viabilidade das atividades propostas. Algumas prioridades definidas compuseram o relatório da Oficina de Estruturação e Planejamento da ADETUR Litoral, realizada em 07 de novembro de 2006: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1622 -Sensibilizar governantes através da apresentação de dados estatísticos, política de resultados, participação em eventos e relatórios; -Integrar os setores no programa de regionalização; -Incentivar a elaboração de propostas; -Promover eventos, encontros, reuniões para divulgação das propostas e resultados; -Inserir o turismo/educação ambiental no ensino médio; -Realizar visitas de esclarecimento e aproximação com as secretarias municipais. A região do litoral é um grande receptor de turistas de Curitiba e Região Metropolitana e outros estados, e tem sua economia voltada para serviços, especialmente turismo, de dezembro a fevereiro. Embora haja dificuldades relacionadas à infraestrutura, sazonalidade, saneamento básico e implementação de algumas ações conforme quadro 3, a instância de governança ADETUR, “desde sua fundação, tem se mostrado presente nas ações promocionais que o Estado desenvolve, bem como em ações promocionais de parceiros como SEBRAE, SETU, BRAZTOA” (PEDTR, 2008, 10). QUADRO 3 – DIAGNÓSTICO DA REGIÃO LITORAL DO PARANÁ Campo orientador 1: Avaliação de planejamento na região - PONTOS FORTES Diversificação de segmentos; Melhor viabilidade nos roteiros turísticos; Aumento da oferta; Pesquisa de demanda turística. PONTOS A MELHORAR - Falta de integração entre SETU e órgão ambiental; - Postura impositiva do IAP; - Falta de acompanhamento técnico dos projetos nos municípios; - Falta de plano de manejo nas UCs; - Criação e execução de um plano de marketing; - Qualificação profissional Campo orientador 2: Avaliação de organização na região PONTOS FORTES - ADETUR Litoral - Apresentação de projeto regional para captação de recursos federais - Trabalhos: city tour, terceira idade - Participação da ADETUR na Capa da M&P/ criação grupo de trabalho PONTOS A MELHORAR - Transporte coletivo entre os municípios do Litoral; - Falta de participação efetiva de alguns municípios; - Falta de divulgação do litoral e das ações da ADETUR e Grupo Litoral. - Conscientização e participação dos empresários do litoral. Campo orientador 2: Avaliação de promoção na região PONTOS FORTES PONTOS A MELHORAR - Participação nos principais eventos de turismo - Falta uma imagem do Litoral ( identidade); da América do Sul; - Forma de participação e divulgação do litoral -Mapa Turístico do Litoral; nos eventos institucionais; -Catálogo do Litoral; - Criação do Portal Regional (Internet) - Melhoria do guia receptivo do Litoral: banco de imagens. Calendário regional - Posto de informações turísticas do litoral. Fonte: Adap. Programa de Regionalização do Turismo no Estado do Paraná Oficina de Planejamento Estratégico das instâncias de Governanças – Curitiba, 03 e 04/03/2008 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1623 Certamente ainda há muito a realizar e pontos a melhorar, como a falta de acompanhamento técnico dos projetos nos municípios, a melhoria do transporte coletivo entre os municípios do litoral, conscientização e participação dos empresários do litoral, falta de uma imagem do litoral (identidade) e a criação de portal regional (internet)58 . No entanto, pôde-se perceber os avanços e os esforços em conjunto dos atores locais para que o turismo no litoral paranaense possa realmente ser regionalizado, sem perder a personalidade de cada município, mas integrando-os em benefício da atividade turística. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observa-se em primeiro lugar que os Planos de Desenvolvimento Estratégico de Turismo de Curitiba e Região Metropolitana e Litoral estão em consonância com o Plano Estadual de Turismo, e que o objetivo é desenvolver e fortalecer o turismo “dentro dos padrões de sustentabilidade, qualidade e competitividade, utilizando-se de ações e de gestão, fomento e promoção, que permite m incremento da economia estadual e a inclusão social de sua população e satisfação dos seus visitantes” (Planos de Desenvolvimento Estratégico, 2008). É importante ressaltar que, embora os planos das regiões contemplem as diretrizes do Plano Estadual de Turismo, a realidade socioeconômica, ambiental e cultural de cada região são distintas, como também a gestão das instâncias de governança propostas pelo Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, conforme apontados nos quadros 2 e 3. O processo de implementação do turismo focado nas regiões é bastante complexo, pois há centralização das decisões de políticas públicas em alguns municípios e nos órgãos gestores, e ainda depende da cooperação e parceria dos agentes, públicos e privados. Neste sentido, Beni (2007, p. 148) afirma que o “turismo pressupõe, para seu desenvolvimento, atitudes e ações de intersetorialidade, portanto, de ação obrigatoriamente conjunta e integrada no seio do próprio governo e do setor privado.“ 58 O portal regional foi criado em 2009. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1624 Nesta perspectiva, Cooper et.al. (2001) aponta que o desenvolvimento do turismo não atingirá seu ponto ótimo, caso fique inteiramente nas mãos do setor público ou privado, uma vez que o setor público teoricamente voltará seus objetivos para maximizar os benefícios sociais e o setor privado, os lucros. Assim, a articulação entre o setor público e o privado e outros atores sociais deve ser constante, pois o objetivo é desenvolver o turismo de forma sustentada, que respeite as características ambientais e culturais que permeiam as diretrizes do planejamento regional, conforme apontam os diagnósticos das regiões. Neste contexto, ainda, deve haver uma ação interinstitucional de todos os envolvidos, pois, o dinamismo do mercado turístico pode ser benéfico à atividade turística se, baseada no princípio do planejamento estratégico e participativo. Quanto à instância de governança como ferramenta do planejamento e gestão, o que irá determinar sua consolidação nas regiões será o equilíbrio organizacional entre seus participantes, pois o que se recomenda é que 70% destes devem advir da iniciativa privada, e 30% das organizações públicas, contexto que, se adotado, quebra o vínculo de subserviência das ações do turismo com a burocracia da gestão pública brasileira. Constata-se, portanto, que o desenvolvimento regional do turismo na RMC e no litoral já avançou, mas depende de maior articulação entre os atores sociais, conforme propõe a instância de governança. Espera-se que a proposta de regionalização do turismo do governo federal, a partir das diretrizes do planejamento estratégico e participativo, e por meio das instâncias de governança, seja uma ferramenta de envolvimento entre os municípios, com objetivos gerais e conjuntos com vistas a integrar o processo de desenvolvimento turístico na RMC e Litoral. REFERÊNCIAS ADETUR LITORAL. http://www.adeturlitoral.com.br/br/?pg=adetur/acoes, acesso em 09 de fevereiro de 2010. ALBANEZ, P. Proposta para o envolvimento da iniciativa privada com o Programa de Regionalização do Turismo no Paraná. Curitiba, 2004. 94 p. (monografia de especialização, FAE). BENI. M. C. Planejamento estratégico e gestão local/regional do turismo. In: Turismo de base local: identidade cultural e desenvolvimento regional. (Org.) Giovanni SEABRA. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2007. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1625 _____. Análise Estrutural do Turismo. 2 ed. São Paulo: Editora SENAC, 1998. BIRKHOLZ, L. B. Os objetivos e os fundamentos do planejamento territorial. In: USP/FAU – Universidade de São Paulo/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Introdução ao Planejamento. São Paulo, 1980. COOPER C. et al. Turismo. Princípios e práticas. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. CRUZ. R. C. A. de. Planejamento governamental do turismo: convergências e contradições na produção do espaço. In: LEMOS, A.I.G. ARROYO, M.; SILVEIRA, M.L. América Latina: cidade, campo e turismo. Buenos Aires: CLACSO: São Paulo, 2006. p.342-343. FUINI, L.L.; PIRES, E.L.S. As dimensões da governança territorial: delineamento preliminar de aspectos teóricos e morfológicos. In: SAQUET, M. 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Curitiba, Novembro, 2007. SECRETARIA DE ESTADO DO TURISMO. Relatórios das Oficinas atinentes a RMC, do Programa Nacional de Regionalização do Turismo, do período de 2004 a 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1626 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E PARCERIAS NO TURISMO: O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO G5 – GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RECEPTIVO DAS ESCOLAS DE SAMBA DA ZONA NORTE DE SÃO PAULO Tatiana Teixeira Gomes Bacharel em Lazer e Turismo/EACH-USP [email protected] Marcelo Vilela de Almeida Doutor em Ciências da Comunicação/EACH-USP [email protected] RESUMO Este estudo teve como objetivo geral investigar as possibilidades de aplicação do planejamento participativo e do estabelecimento de parcerias no turismo, tendo como objeto de pesquisa o planejamento e os resultados do G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte, um consórcio formado por iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE entre cinco escolas de samba da zona norte da cidade de São Paulo: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche e X-9 Paulistana. A partir de entrevistas semi-estruturadas com os responsáveis pelo G5 em três das cinco escolas (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro e Unidos do Peruche), com o consultor contratado e com a gestora do Grupo (ambos vinculados ao Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP) e de pesquisa bibliográfica, verificou-se a importância da participação da comunidade carnavalesca no planejamento e das parcerias no desenvolvimento do turismo para viabilizar a formação do G5. Palavras Chave: planejamento turístico; participação; parcerias; terceiro setor; carnaval; escolas de samba. ABSTRACT The focus of the study hereby presented is to investigate possible applications of touristic participative planning and partnerships. This research was based upon planning and results of the G5 – Zona Norte Samba Schools´ Receptive Tourism Development Group. G5 is an association of five samba schools from northern São Paulo: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche and X-9 Paulistana, all supported by SEBRAE. From semi-structured interviewing with three of the responsible for the schools (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro and Unidos do Peruche), the project´s consultant and the group´s manager (both related to SEBRAE-SP Northern Regional Office) as well as through references and bibliography researching, it has been ascertained that the involvement of the carnival community in the process of planning and developing partnerships is vital to the accomplishment of G5. Key words: touristic planning; involvement; partnership; third sector; carnival; samba schools. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1627 1 INTRODUÇÃO Este artigo, resultado de um trabalho de conclusão de curso de graduação, foi desenvolvido com o objetivo geral de investigar as possibilidades de aplicação do planejamento participativo em projetos turísticos e do estabelecimento de parcerias no turismo. O objeto de estudo foi o G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte, um consórcio formado graças à iniciativa do Escritório Regional Norte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE-SP entre as seguintes escolas de samba paulistanas: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche e X-9 Paulistana 59. Os objetivos específicos do trabalho foram: Descrever o processo de formação do G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte; Verificar quais foram os resultados a partir desse Grupo para as escolas de samba e para o turismo paulistano. Sendo assim, foram formuladas as seguintes hipóteses: O G5 foi elaborado a partir de um planejamento participativo; A participação no referido Grupo se deu de forma efetiva, propiciando um verdadeiro engajamento dos atores envolvidos; O G5 apresentou resultados positivos para as escolas de samba nele envolvidas. A hipótese de que foi utilizado planejamento participativo no G5 se deu, pois, segundo Teixeira (1999 apud DIAS, 2003, p.116): “a indisponibilidade comunitária com relação ao turismo ou a inadequação dos atrativos turísticos locais ao conceito de produto oferecido comprometerão seriamente qualquer tentativa de exploração turística [...]”. Sendo um dos elementos das escolas de samba a comunidade local (CHAGAS, 2002), é essencial que a comunidade participe desse planejamento, mesmo porque resultados positivos a beneficiam. 59 <http://www.sebraesp.com.br/principal/not%C3%ADcias/materias/2006/setembro/27/ntc1.wspx>, acesso em: 22 março 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1628 Os temas planejamento turístico participativo, escolas de samba e parcerias foram escolhidos a partir do interesse pessoal em investigar o planejamento participativo no turismo (que ainda é relativamente recente no Brasil), que pode ser uma forma inovadora e eficiente de planejamento, contribuindo para que os setores público e privado, além de todos os demais envolvidos com a atividade, possam usufruir dos resultados gerados. Uma das motivações para a escolha do objeto de estudo decorre do fato que se trata de um recorte ainda não encontrado nos acervos bibliográficos estudados, dentre eles, as bibliotecas virtuais do Scielo 60 e do Caderno Virtual de Turismo 61, os sistemas de bibliotecas do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo 62, da Faculdade Cásper Líbero 63, da Universidade de São Paulo 64 e da Universidade São Judas Tadeu 65. Além disso, [...] discutir a participação no planejamento do turismo é ampliar nossa percepção do conceito, e integrar atores diversos, não presentes no cotidiano das pessoas, e outros que irão integrar-se ao longo da implantação dos projetos e programas delineados no plano de desenvolvimento turístico (DIAS, 2003, p.112). Além da contribuição acadêmica, de acordo com Dias (2003, p.112), “o planejamento da atividade turística coloca de uma forma totalmente nova a participação de diversos atores no processo, pela própria característica da atividade de envolver amplos setores [...]”, por essa razão, abordar o estabelecimento de parcerias no turismo é importante, devido à diversidade de atores que podem participar do desenvolvimento turístico. Ademais, o processo de formaç ão do G5 e seus resultados podem ser usados como parâmetro para outros projetos, tanto pelos acertos, quanto pelos erros. Para atingir os objetivos estabelecidos, o trabalho usou como métodos de investigação a pesquisa bibliográfica e documental, além da realização de entrevistas semi-estruturadas, gravadas e transcritas, com responsáveis pelo Grupo 60 <http://www.scielo.br/>, acesso em: 06 novembro 2008. 61 <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/>, acesso em: 06 novembro 2008. 62 <http://www.belasartes.br/biblioteca/index.php>, acesso em: 13 outubro 2008. 63 <http://201.33.97.7/pergamum/biblioteca/index.php?resolution2=10 24_1>, acesso em: 13 outubro 2008. 64 <http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/POR/USP/USP/USP>, acesso em: 13 outubro 2008. 65 <http://www.usjt.br/biblioteca/>, acesso em: 13 outubro 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1629 de três das cinco escolas participantes (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro e Unidos do Peruche). 2 TURISMO, PLANEJAMENTO E PARTICIPAÇÃO – ABORDAGEM TEÓRICA Embora haja um reconhecimento da importância e expansão das atividades turística, ainda não há um consenso na definição do que seja o turismo (LAGE; MILONE, 2001). Segundo Camargo (2003, p.40), atualmente o turismo é entendido como um “fenômeno gestado e expandido no contexto da sociedade industrial”. De modo mais abrangente que boa parte das definições, restritas ao ponto de vista econômico, o turismo é definido por Gastal e Moesch (2007, p.11) como “um campo de práticas histórico-sociais que pressupõem o deslocamento dos sujeitos em tempos e espaço diferentes daqueles dos seus cotidianos”. Dias (2003) aponta alguns aspectos relevantes para o turismo, como planejamento, participação, comunidade receptora e organizações do terceiro setor. No Brasil, segundo Oliveira (2006, p.282), o planejamento “sempre esteve ligado à elaboração de planos e a controle”. Da mesma forma, estudiosos do turismo têm suas definições de planejamento também atreladas à elaboração de planos. Para Ruschmann (1997, p.83), por exemplo, planejamento é “uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos”; para Molina (2005, p.45), “o planejamento consiste em estabelecer um curso de ação que conduza à obtenção de uma situação desejada, mediante um esforço constante, coerente, organizado, sistemático e generalizado”; Braga (2007, p.1) lembra, ainda, da continuidade do processo de planejamento, pois é necessário freqüentemente fazer reajustes de planos devido a constantes mudanças da realidade. O planejamento turístico, de acordo com Ruschmann (2001, p.67) é: [...] o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre uma localidade turística, bem como direcionar a construção de equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando seus efeitos negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1630 Braga (2007) propõe uma definição mais completa, incluindo os atores envolvidos no planejamento: núcleo receptor (comunidade, oferta turística e demanda real), demanda potencial e destinos turísticos concorrentes. Alguns autores como Braga (2007), Petrocchi (2002) e Molina (2005) dividem, respectivamente, planejamento turístico em níveis distintos (planejamento preventivo, planejamento corretivo e planejamento misto) ou diferentes tipos (modelo mediterrâneo ou urbano e modelo fechado ou americano), ou ainda variadas dimensões: espacial (planejamento nacional, regional, estadual ou provincial e municipal), temporal (planejamento de curto, médio ou longo prazo) e planejamento segundo seu objeto (global, econômico, social, intersetorial, setorial, institucional e físico). Portanto, o planejamento visa minimizar impactos negativos, bem como maximizar os positivos de forma organizada, através da elaboração de metas e objetivos, diagnósticos, planos, estratégias, entre outros. O planejamento turístico deve ser efetuado pelo setor público e privado, incluindo a participação da comunidade, se possível, por meio de organizações do Terceiro Setor. 1631 Nas palavras de Bordenave (1986, p.22), “participação é fazer parte, tomar parte ou ter parte”. O mesmo autor apresenta diferentes modos de se exercer a participação, a partir de duas bases complementares: uma base afetiva e uma base instrumental. Completa afirmando que há diversas maneiras de participar: a participação pode ser de fato, espontânea, imposta, voluntária, provocada (dirigida ou manipulada) e concedida. Ainda há a participação passiva e ativa, a microparticipação e a macroparticipação, além da participação simbólica e a participação real. Também é possível dividir os graus de participação, em ordem crescente: informação, informação/reação, consulta facultativa, consulta obrigatória, elaboração/recomendação, co-gestão, delegação e, por fim, a auto-gestão (BORDENAVE, 1986). A participação de uma comunidade no planejamento turístico de uma localidade é de suma importância, possibilitando a influência em decisões que podem afetar essa comunidade. Dowbor (1987 apud FIGUEIREDO, 1998, p.379), porém, adverte que “a organização da participação, entretanto, num país que não tem tradições de política participativa, exige muita flexibilidade e o aproveitamento XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 de todas as oportunidades de mobilização”. Pode-se complementar então, que nessas oportunidades de mobilização é “importante garantir que as populações tenham acesso a decisões tão significativas, no sentido em que suas necessidades sejam sempre levadas em consideração” (FIGUEIREDO, 1998, p.379). Deste modo, há de se formular planejamentos com vista à participação dos interessados. A respeito do assunto, mais uma vez Araújo (2006, p. 154) coloca que “o termo participação se tornou quase que um lugar-comum nos textos oficiais referentes a políticas públicas no Brasil, a exemplo da Política Nacional de Meio Ambiente e da Política Nacional de Turismo”. No entanto, o autor completa que “apesar do reconhecimento da importância da participação de um amplo espectro de atores sociais na criação das políticas setoriais de desenvolvimento, tem havido pouca discussão na literatura de turismo no Brasi l sobre esse tema” (ARAÚJO, 2006, p.155). Contudo, alguns atores já abordam a participação em seus textos, sobretudo os que focam sustentabilidade e meio ambiente (no ecoturismo, no turismo rural, entre outros). Araújo (2006), fundamentado nas obras mencionadas em seu artigo, destacou, dentre outros, os seguintes aspectos positivos atrelados ao planejamento turístico participativo: o desenvolvimento sustentável, a conservação de recursos ambientais, o aprimoramento do processo democrático, a dimensão educac ional e a aquisição de habilidades de planejamento. Baseado em Pretty (1995), Araújo (2006) apresentou ainda a tipologia de participação sociopolítica no planejamento turístico: participação manipuladora, participação passiva, participação por consulta, participação por incentivos materiais, participação funcional, participação interativa e participação por auto-mobilização. Nota-se que há tipos de participação semelhantes com a tipologia apresentada por Bordenave (1986). Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda que relacionada ao aspecto cultural, a participação é assegurada no artigo XXVII: “todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios”.66 Atualmente, o tema é tão recorrente que existem até empresas voltadas a ministrar cursos de capacitação 66 <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>, acesso em: 03 agosto 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1632 e prestar serviços de moderação frente a processos participativos 67. De qualquer forma, o que se quis destacar até aqui foi o valor da participação, tanto na sociedade de modo geral, quanto nos processos de planejamento turístico. 3 PARCERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO: ASPECTOS CONCEITUAIS E IDENTIFICAÇÃO DE AGENTES E ATORES Sendo participação um elemento importante a ser incorporado ao planejamento turístico, além da comunidade receptora, órgãos públicos, privados e o Terceiro Setor podem estabelecer parcerias para, assim, efetivar um trabalho em conjunto. Valarelli (1999 apud ALVARENGA & NOVAES, 2007, p.576) garante que parceria “tem sido um termo bastante utilizado e difundido, buscando designar certas formas de cooperação entre organizações da sociedade que trabalham em uma ação conjunta, motivadas por interesses e objetivos partilhados”. As parcerias têm muito a contribuir com o desenvolvimento de diversas áreas como, por exemplo, transporte, energia elétrica e turismo, além de tantas outras, mesmo porque, por se tratar de parceria, se pressupõe uma cooperação entre mais de uma organização, com um objetivo comum, como já citado. Apesar da necessidade da presença do poder público, não é preciso restringir as ações a ele, tampouco esperar que o mesmo tome a iniciativa para o desenvolvimento do turismo. “É chegado o momento de promovermos alianças estratégicas entre os diversos parceiros e, definitivamente, abandonarmos a visão paternalista e acomodada de apenas transferir responsabilidades” (CARVALHO, 2002, p.156). Uma parceria estratégica já bastante comum é aquela realizada com o chamado Terceiro Setor, que pode ser entendido da seguinte forma: Trata-se de organizações de natureza privada e finalidade pública, portanto sem finalidade de lucro, cujas ações estão voltadas para questões como cidadania, emancipação, autonomia e direitos da população em geral, e dos excluídos preferencialmente (SALVATORE, 2004, p.28). 67 <http://www.participando.com.br> e <http://www.scordioli.com.br/index.htm>, acesso em: 03 agosto 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1633 Um tipo de organização que presta serviços, sem fins lucrativos e merece ser destacada nesse presente trabalho é o SEBRAE, devido a sua participação na formação do G5. O SEBRAE pertence ao chamado “Sistema S”, que se insere no terceiro setor. O Sistema S: É o conjunto de organizações das entidades corporativas dos empresariais voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem em comum seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares (GOMES, 2005, p.1). O SEBRAE é uma entidade privada de interesse público, sem fins lucrativos, que, desde 1972, vem apoiando a abertura e a expansão de pequenos negócios. “O SEBRAE nasceu como resultado da privatização do Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa – CEBRAE” (SEBRAE-SP, 1992, p.159) e, dentre suas linhas de atuação do estão: orientação empresarial; educação e desenvolvimento da cultura empreendedora; desenvolvimento territorial; e acessos a serviços financeiros68. 1634 A atuação do SEBRAE-SP engloba o setor turístico, pois em diversos lugares pequenos negócios necessitam de apoio em relação às linhas anteriormente mencionadas, por exemplo: orientação empresarial para donos de pequenos hotéis, acessos a serviços financeiros para restaurantes etc.. Atualmente, o SEBRAE-SP tem um programa chamado Programa de Desenvolvimento Territorial – PDT, o qual, segundo Camila Patrício (gestora do G5, entrevistada na pesquisa de campo), surgiu a partir da metodologia do Programa de Desenvolvimento do Turismo Receptivo – PDTR. O PDTR foi criado em 2001, tendo sido implantado em cerca de 100 municípios do Estado de São Paulo. Como o SEBRAE-SP não fica somente à espera da demanda de serviços, ocorrem casos em que ele a identifica e toma a iniciativa de começar, orientar ou mesmo oficializar um negócio. Foi o que ocorreu com o objeto de estudo deste trabalho, o G5, quando o Escritório Regional Capital Norte visualizou no carnaval e 68 <http://www.sebraesp.com.br/institucional/atuacao>, acesso em: 07 outubro 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 nas escolas de samba a oportunidade de desenvolver o turismo, iniciando o trabalho com a metodologia do PDTR. 4 CARNAVAL: ORIGENS, ESTRUTURAÇÃO E MANIFESTAÇÕES NA CIDADE DE SÃO PAULO As escolas de samba, nas quais o SEBRAE-SP identificou oportunidade de desenvolvimento turístico, são uma das diversas maneiras de manifestação do carnaval, uma grande festa popular. Suas raízes são bem antigas, porém, um tanto hipotéticas, como assevera Urbano (2006, p. 21): “suas origens são bastante incertas, confusas, e sua história apresenta lacunas, visto que a celebração, em grande parte dos países onde ele é realizado, remonta a um passado longínquo.” De acordo com DaMatta (1997), o carnaval é festa do povo e o classifica como um ritual nacional, justificando que é u m rito fundado “na possibilidade de dramatizar valores globais, críticos e abrangentes de nossa sociedade” (DAMATTA, 1997, p.46). Já Sebe (1986, p.33) entende o carnaval como uma rede de manifestações: Pensando no carnaval brasileiro pode-se tranqüilamente considerar que se trata de uma rede infindável de manifestações regionais que, através dos tempos, tem recebido um tratamento nivelador, tentando determiná-las como se fossem uma única manifestação. Alguns autores como Chagas (2002), Urbano, Nabhan e Santos (1987) e Sebe (1986) encontram relação entre o carnaval e as escolas de samba com a arte. Por trás desse universo carnavalesco artístico está a comunidade. Segundo Chagas (2002, p.18), “o espetáculo do carnaval não existe sem a comunidade local, sem o território como lugar de prática social, sem o patrimônio cultural, sem a memória, sem os compositores, sem os passistas, sem as baianas e sem o carnavalesco”. A comunidade é, então, composta: [...] diretamente pelos componentes da escola (mais ou menos 3 .000 pessoas por desfile) e por outros que vivem dela e para ela. A comunidade é formada por passistas, compositores, tias baianas, músicos, crianças, costureiras, figurinistas, serralheiros, eletricistas, engenheiros, designers, artistas plásticos, cantores, patrocinadores, membros da velha guarda, crianças, adolescentes e mais (CHAGAS, 2002, p.17). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1635 Com o tempo houve uma grande expansão do carnaval, a qual se refletiu nas escolas de samba, pois: Inicialmente a escola de samba se apresentava de forma simples e espontânea. Hoje é um verdadeiro produto da indústria cultural. Os próprios critérios do desfile (seus funcionamento e organização), as negociações mantidas com agências de turismo vão influenciar a programação dos meios de comunicação de massa – as mídias – e alterar a produção, o que pode ser observado na confecção do suporte visual – fantasias e alegorias – e na mobilização dos confeccionados (URBANO, NABHAN & SANTOS, 1987, p.10). Conforme apontado por Urbano, Nabhan e Santos (1987), atualmente as escolas de samba são produtos da indústria cultural, tendo se transformado em atrações turísticas. Por isto, necessitam de planejamento, sobretudo com participação da comunidade, além de parcerias para melhorar e fortalecer o adequado desenvolvimento da atividade. Tendo incorporado a idéia de desenvolver o turismo nas escolas de samba, o Escritório Regional Norte do SEBRAE-SP tomou a iniciativa de procurar as agremiações paulistanas. Cinco escolas de samba da zona norte da cidade se reuniram criando, então, o G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte. 5 PESQUISA: EXPLICITAÇÃO DA METODOLOGIA, DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para se obter as informações a respeito do G5 necessárias à realização do estudo, foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelo grupo em três das cinco escolas de samba participantes: Unidos do Peruche, Mocidade Alegre e Rosas de Ouro, além do consultor do G5 e a gestora do Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP. Tentou-se entrevistar as cinco escolas do grupo, no entanto, apenas essas três escolas responderam às mensagens eletrônicas enviadas. De acordo com Dencker (2003, p.137), “a entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas, com um grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de informações de pesquisa”. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1636 Através do site do SEBRAE-SP 69 foram identificas as cinco escolas participantes do grupo: Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Unidos do Peruche; Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mocidade Alegre; Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana; Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Unidos de Vila Maria; Sociedade Rosas de Ouro. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, as quais, segundo Martins e Theóphilo (2007, p.86), são conduzidas “[...] com uso de um roteiro previamente definido e aplicado para todos os entrevistados”. Dois roteiros foram elaborados para as entrevistas, um aplicado aos entrevistados das escolas de samba e outro aos do SEBRAE-SP. Martins e Theóphilo (2007, p. 87) recomendam que se use gravador “com a concordância do entrevistado”, deixando a técnica de entrevista semelhante à técnica da história oral: “o que caracteriza um levantamento como História Oral (HO) é que o relato transcrito, o documento produzido, se transforma em fonte de pesquisa” (MARTINS & THEÓPHILO, 2007, p.95). Portanto, a semelhança se deu pelo uso do gravador que originou a transcrição das entrevistas semi-estruturadas, gerando, assim, documentos que serviram como fonte de pesquisa. Também foi possível realizar pesquisa documental, que, de acordo com Dencker (2003, p.125) “difere da pesquisa bibliográfica por utilizar material que ainda não recebeu tratamento analítico ou que pode ser reelaborado”; assim, o documento obtido através de Camila Patrício, gestora do Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP, encaixa-se na definição de fonte documental: trata-se do “Relatório de Ações 2004 a 2007”, resumido abaixo. 5.1 PESQUISA DOCUMENTAL: SÍNTESE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS 69 <http://www.sebraesp.com.br/principal/not%C3%ADcias/materias/2006/setembro/27/ntc1.wspx>, acesso em: 22 março 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1637 No ano de 2004 o projeto foi iniciado, após a realização de discussões, oficinas de capacitação, treinamento, mobilização da comunidade e planejamento. O trabalho foi realizado desde o início de forma voluntária por sambistas veteranos e novatos. Por iniciativa do SEBRAE-SP, em parceria com a Liga das Escolas de Samba de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo, foi criado um projeto do qual se originou o G5, o SP Samba, “que busca profissionalizar o Carnaval paulista e as comunidades das escolas de samba e ampliar as oportunidades de negócios envolvidos diretamente e indiretamente com a festa” (RELATÓRIO DE AÇÕES 2004 a 2007, p.3). O SEBRAE-SP desenvolveu ações específicas para o projeto SP Samba, entre elas: barracão oficina; clínica tecnológica; grupos de trabalho, cooperativas e incubadoras; feira de negócios; missões empresariais; rodadas de negócios; capacitação turística; Carnatur e selo de qualidade turística. O relatório tinha o foco nas ações de capacitação turística, portanto, não havia informações a respeito das demais ações. 1638 O Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP, com base no calendário do projeto SP Samba, convidou as escolas de samba localizadas na sua jurisdição para participarem do programa de capacitação turística. Os presidentes das agremiações indicaram os representantes de suas escolas que participariam do programa de capacitação turística; estes representantes formaram um grupo gestor para conduzir o PDTR, utilizando a metodologia do SEBRAE-SP. O PDTR é um sistema modular, que permitiu ao G5 o preparo de um modelo de trabalho correspondente a sua realidade. Na primeira fase os três módulos do programa foram: sensibilização da comunidade (conscientização sobre a importância do turismo para as escolas de samba, por meio de oficinas temáticas, palestras, workshops e reuniões), formatação de produtos turísticos (além de participação em eventos diversos, especialmente de turismo) e estrutura de recepção aos turistas (por limitações restringiram-se aos fatores humanos e técnicos, através de treinamentos e capacitação técnica do SEBRAE-SP). O Grupo redigiu um tópico no relatório especialmente para os principais parceiros, em reconhecimento aos mesmos, sobretudo ao SEBRAE-SP, que XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 viabilizou as ações do grupo por meio de consultoria, apoio e orientação durante as negociações e intermediações com mercado, dando auxílio à divulgação e montagem de todos os eventos dos quais o Grupo participou, dentre eles, o de lançamento da logomarca do G5. 5.2 ENTREVISTAS Após recolher as informações impressas disponíveis, foram entrevistadas os seguintes indivíduos (todos os integrantes das escolas eram representantes, no G5, das suas respectivas agremiações): Adriana Gomes: porta-bandeira da Mocidade Alegre e secretária do Grupo; Antonio Carlos Afonso: consultor do G5, contratado pelo SEBRAE-SP; Camila Patrício: funcionária do Escritório Regional Capital Norte do SEBRAESP, gestora do projeto SP Samba; Márcia Calvo: diretora de eventos da Unidos do Peruche; Ricardo Paschoal: diretor de ala da Rosas de Ouro; Roseli dos Santos: diretora do departamento de eventos e secretária da 1639 presidente da Mocidade Alegre. As entrevistas foram feitas individualmente, salvo uma, realizada simultaneamente com duas pessoas, Adriana e Roseli, ambas da Mocidade Alegre. De modo geral, os depoimentos foram parecidos, sem grandes disparidades. As transcrições foram utilizadas como fonte de pesquisa. Primeiramente abordou-se a elaboração do G5. Todos os integrantes das escolas de samba, de alguma maneira, fazem referência à criação de turismo receptivo dentro das quadras das agremiações. Todos os entrevistados falaram, também, sobre os trabalhos do G5, abordando as reuniões, as sensibilizações, os treinamentos, sempre correspondendo às informações encontrada s no relatório do G5. Inclusive, a respeito dos elogios aos parceiros, novamente viu-se o destaque ao SEBRAE-SP. Vale destacar que os entrevistados das escolas de samba também falaram da relação entre as próprias escolas, destacando que a rivalidade fica dentro do sambódromo – fora dele, elas são parceiras. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Com exceção de um, todos os demais participantes das escolas afirmaram que eles que foram responsáveis pela elaboração do Grupo, com o auxílio do SEBRAE-SP e a partir da consulta às comunidades das respectivas escolas, deixando assim o G5 no formato que o Grupo queria e respeitando os interesses e desejos das comunidades carnavalescas; todavia, o entrevistado da Rosas de Ouro disse ter dúvidas se de fato os interesses das comunidades eram considerados. Em suma, todos os entrevistados concordam que o G5 já obteve resultados, financeiros, com a venda de produtos turísticos (visita às quadras, por exemplo) e no crescimento das escolas, que começaram a trabalhar no turismo com mais profissionalismo e qualificação. Um grande problema apontado foi a falta de continuidade, pois o SEBRAE-SP visa a autonomia de seus projetos e para Antonio Carlos, consultor do SEBRAE-SP faltou mais participação. Finalmente, o Grupo, argumentando que precisava se reestruturar para não perder seu foco na comunidade e ficar predominantemente comercial, suspendeu as atividades do G5; no entanto, se procurado 70, encaminha os interessados às agremiações. 1640 5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS A partir da descrição da formação do G5, pôde-se confirmar a hipótese de que o Grupo foi elaborado a partir de um planejamento participativo, visto que as escolas de samba participaram da preparação do projeto. O que não ficou claro foi se os representantes das agremiações correspondiam aos interesses das suas respectivas comunidades. Analisando a definição de Bordenave (1986, p.25), que afirma que em “uma sociedade participativa [...] os cidadãos têm parte na produção, gerência e usufruto dos bens da sociedade...”, e transferindo-a ao objeto de estudo (o G5), verificou-se que os representantes das agremiações fizeram parte da formação e da gerência do projeto; e, ainda que trabalhem voluntariamente, usufruem dos benefícios gerados pelo Grupo (eles estão satisfeitos com o retorno que o G5 deu às escolas, não só no aspecto financeiro, mas também na questão do crescimento e desenvolvimento da comunidade). Contudo, a participação na ação de gerenciar o Grupo não foi tão forte 70 O G5 não possuía um escritório físico, mas havia telefone para contato e endereço eletrônico. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 quanto era de se esperar, visto que o G5 sofre atualmente com problemas de estruturação devido à sua mudança de foco (sobressaindo o aspecto comercial ao invés do fomento à renda e emprego). Pôde-se confirmar, também, a hipótese de que a participação, no Grupo, se deu de forma efetiva na formação do G5, propiciando um verdadeiro engajamento dos atores envolvidos, sobretudo quando eles se referem aos integrantes do Grupo e não à comunidade da agremiação como um todo. A terceira e última hipótese também se confirmou, pois o projeto apresentou resultados positivos para as escolas de samba nele envolvidas. Entre os resultados estão a qualificação no atendimento aos visitantes, o retorno financeiro e ganho de visibilidade e credibilidade. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao pesquisar as possibilidades de aplicação do planejamento participativo em projetos turísticos, nota-se que muitos autores que escrevem sobre o setor recomendam o uso desta metodologia devido à importância de se inserir a comunidade (ou população local) como interessada e possível beneficiada. A comunidade precisa participar das decisões de como serão desenvolvidas as atividades do setor, ainda mais em se tratando da comunidade carnavalesca, dada a importância das decisões referentes às escolas de samba. O estabelecimento de parcerias, assim como o planejamento participativo é indicado por vários motivos, dentre eles: o fortalecimento de alianças estratégicas e a contribuição ao desenvolvimento do turismo sustentável, além de, por vezes, minimizar a freqüente ineficiência do Estado na prestação de serviços e na formulação de políticas públicas – o que, aliás, remete ao surgimento das organizações do terceiro setor, entidades privadas com fins públicos. O SEBRAE-SP é uma organização do terceiro setor que tem destaque no segmento turístico por sua atuação no fomento de pequenos e micro negócios de diversos modos – por exemplo, no caso do G5, ao incentivar o desenvolvimento turístico nas escolas de samba e prestar consultoria para a formação do Grupo. O carnaval no Brasil é uma grande festa popular, a qual se manifesta de diferentes maneiras pelo país. Em São Paulo, a maior expressão do carnaval XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1641 paulistano são os desfiles das escolas de samba. Atualmente, buscam-se as quadras das agremiações com o intuito de conhecer e prestigiar o trabalho e os ensaios das escolas, fazendo desses espaços atrações turísticas não apenas durante o período que antecede o carnaval. As cinco escolas de samba que aceitaram o convite do SEBRAE-SP para integrar um produto turístico já colheram alguns resultados gerados pela formação do G5: capacitação técnica, englobando distintos assuntos (recepção ao turista, planejamento estratégico etc.), sensibilização da comunidade, participação em eventos variados, formulação de parcerias, entre outros. Através das entrevistas, foi possível constatar que a maioria dos participantes do G5 acredita na participação efetiva. Observou-se que esta participação ocorreu na formulação do Grupo e que os processos participativos sofrem com a falta de continuidade – no caso do G5, destaca-se a falta de foco no objetivo de fomentar renda e emprego. O carnaval e o turismo paulistano somente ganharam com o Grupo, devido à profissionalização no recebimento de turistas. O G5 ainda mostrou que seu trabalho não se restringiu aos ensaios das escolas de samba: workshops e shows em eventos externos também fazem parte do rol de atividades do Grupo. Um projeto dessa magnitude não pode acabar por falta de engajamento, pois sua importância local na geração de emprego e renda para a comunidade e para o engrandecimento do turismo receptivo da cidade não pode ser desconsiderada, mesmo porque também há o crescimento pessoal e profissional das pessoas nele envolvidas e da própria comunidade. Outro fator a ressaltar foi a coerência nas falas dos entrevistados, pois não houve nenhuma grande disparidade ou divergência, evidenciando uma sintonia entre os participantes do Grupo entrevistados, os quais afirmaram unanimemente que desejam que o G5 seja reestruturado e que não acabe, pois todos acham o projeto interessante. O G5 é um projeto recente e outros estudos sobre ele podem ser realizados. Por exemplo, através do caráter econômico, pode-se medir o impacto turístico econômico do carnaval em São Paulo, inclusive, especificando o impacto nas escolas (em todas ou só nas do G5); ou através do ponto de vista da hospitalidade, tratar o tema a partir da ótica do turismo receptivo nas escolas de samba; pode-se, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1642 ainda, comparar o turismo receptivo das agremiações que pertencem ao G5 com as que não pertencem; e há, também, a possibilidade de se realizar uma pesquisa de satisfação dos visitantes recebidos nas escolas, para verificar se há necessidades de melhoras e em quais aspectos. Portanto, distintos assuntos podem ser estudados a respeito do carnaval paulistano e sua relação com o turismo, não só pelo aspecto econômico, pois os elementos estudados (planejamento, participação, parcerias, Terceiro Setor etc.) estão presentes nas discussões referentes ao desenvolvimento do turismo, e são relevantes tanto no âmbito acadêmico como no mercadológico, para o próprio sucesso do carnaval como produto turístico e como gerador de benefícios socioeconômicos e culturais para as pessoas nele envolvidas. REFERÊNCIAS ALVARENGA, L. T. de; NOVAES, C. de O.. Estratégias na reforma psiquiátrica no município de Barbacena: a cooperação entre gestor público e o terceiro setor. História, ciências, saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 571-593, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010459702007000200010&lng=&nrm=iso>. Acesso em: 19 setembro 2008. ARAÚJO, L. M. de. Participação sociopolítica no planejamento turístico. 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XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1644 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO EM SÃO LUÍS: DA MARATUR A SETUR Saulo Ribeiro dos Santos Mestre em Administração / Universidade Federal do Maranhão [email protected] Carla Cristina Pinheiro Silva Bacharel em Turismo / Universidade Federal do Maranhão [email protected] RESUMO As políticas públicas de turismo têm a função de direcionar ações de ordenamento para o desenvolvimento da atividade, portanto compreendendo a importância das políticas, faz-se uma análise das ações realizadas pelas Secretarias de Estado do Turismo do Maranhão, para compreender de que forma estas auxiliaram na melhoria do turismo da cidade de São Luís. Portanto, objetiva-se analisar as contribuições que ocorreram para o município de São Luís com o desenvolvimento de políticas públicas desde o período da Empresa Maranhense de Turismo ( MARATUR) a Secretaria de Turismo do Estado do Maranhão (SETUR-MA). A metodologia caracteriza-se por pesquisa bibliográfica e empírica. Os resultados apontam que as políticas públicas de turismo no estado do maranhão pouco tiveram êxito em suas concretizações. Então, conclui-se que o Maranhão através de sua Secretaria de Turismo deve estar direcionando as estratégias e monitorando as mesmas para que os objetivos propostos sejam alcançados. Palavras Chave: Políticas públicas de turismo. São Luís. MARATUR. SETUR ABSTRACT Public policies on tourism are meant to guide actions in planning for the development of activity, so understanding the importance of policies, it is an analysis of the actions taken by Secretaries of State for Tourism of Maranhão, to understand how these helped the improvement of tourism in the city of St Louis Therefore, the objective is to analyze the contributions that occurred to the city of St. Louis with the development of public policy since the period of the Tourism Company of Maranhão (MARATUR) the Secretary of State Tourism Maranhão (SETUR-MA). The methodology is characterized by literature and empirical. The results show that the public policies of tourism in the state of Maranhão had little success in their achievements. So it follows that the Maranhão through its Department of Tourism should be directi ng the strategies and monitoring the same for the proposed objectives are achieved. Key words: Tourism Public Politics. São Luís. MARATUR. SETUR XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1645 1 INTRODUÇÃO O poder público torna-se responsável em estabelecer políticas públicas em todos os níveis (municipal, estadual federal) e setores como saúde, segurança, e o turismo, condizentes com as necessidades do local, regulando a atividade e oferecendo infra-estrutura. À iniciativa privada compete realizar investimentos em equipamentos turísticos, que possam fomentar a atividade. À sociedade civil cabe envolver-se no contexto, trabalhando para que haja harmonia quanto aos benefícios proporcionados pelo turismo, entre a comunidade local e o visitante. No Maranhão, em especial na capital, São Luís, a demanda turística vem se intensificando nos últimos anos, entretanto, a infra-estrutura não acompanha tal crescimento. Dessa forma, é importante que o poder público intervenha com um planejamento por parte dos Órgãos Públicos de Turismo para que a atividade no Estado continue a se desenvolver, levando em consideração todos os aspectos locais e regionais, implantando políticas públicas eficazes que possam proporcionar à cidade um maior desenvolvimento turístico. Neste contexto, busca-se identificar as ações de turismo desde os primórdios da atividade em São Luís, vindo desde a implementação da Empresa Maranhense de Turismo (MARATUR) em 1976, até o ano de 2007, com a atuação da Secretaria Estadual de Turismo do Maranhão (SETUR-MA). O tema da pesquisa foi escolhido pela constante necessidade de atualização dos dados em relação ao assunto. Escolheu-se também por causa do acervo bibliográfico e viabilidade de realização da pesquisa in loco, uma vez que os dados necessários encontram-se disponíveis nos arquivos da Secretaria Estadual de Turismo. 2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO A política é uma forma de gerenciamento de diversos interesses, em prol do mesmo objetivo. Dessa forma, a política torna-se dinâmica e flexível, adequando às necessidades de cada localidade, suprindo as deficiências existentes, principalmente em sua fase de implantação. Deve ser considerada como uma forma para mostrar quais os caminhos a serem utilizados para satisfação do bem comum. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1646 Para Lobato (2006, p. 87) existem três pontos de vista a partir dos qu ais se pode conceituar a política: “o da participação do homem na sociedade, o referente ao planejamento e o da atuação dos poderes públicos”. Enquanto participação do homem na sociedade, a política torna-se um instrumento que permite desenvolver de forma organizada sua vida em comunidade. Quanto ao planejamento, a política passa a ser o conjunto de orientações que facilitam o processo de tomada de decisões por parte do planejador, indicando-lhes parâmetros e direções para alcançar os objetivos estabelecidos. Já do ponto de vista da atuação dos poderes públicos, a política é entendida como a ação dos mesmos em favor da sociedade. Mas para que o benefício da política tenha em vista a sociedade, é preciso que o Estado seja o agente regulador, instituindo políticas públicas cujos objetivos beneficiem a sociedade alcançando o bem estar social. Neste caso, Vieira (2005 p.16) diz que: As políticas públicas têm como função histórica apresentar a sociedade ações para minimizar ou solucionar problemas que, porventura, aflijam ou afetem a população, com o objetivo de contribuir para com o amadurecimento da cidadania, alcançando assim, a participação da população na construção da nação. Por isso, a política pública visa suprir as necessidades de uma sociedade como um todo. Dias (2003) diz que a política pública seria o conjunto de ações executadas pelo Estado em prol das necessidades de uma sociedade. Assim, o Estado torna-se responsável em estabelecer ações que visem à coletividade. É importante ressaltar que, apesar da expressiva participação da sociedade, o estabelecimento de políticas públicas é ação exclusiva do Estado. É ele quem define as metas e objetivos a serem alcançados. Mas para que ocorra o crescimento da atividade turística, a atuação do poder público é essencial, pois ele é o responsável pelo direcionamento da atividade. É o poder público que garante os interesses coletivos sobrepondo-os aos interesses de um pequeno grupo ou de um indivíduo. Devido ao expressivo crescimento do setor turístico, a iniciativa privada e o poder público passaram a dar mais ênfase na atividade, cabendo ao Estado formular e aplicar políticas públicas, através de um planejamento pré – estabelecido. Acerca da política de turismo, Beni (2003, p. 177) diz: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1647 A política de turismo é a espinha dorsal do formular (planejamento), do pensar (plano), do fazer (projetos, programas), do executar (preservação, conservação, utilização e ressignificação dos patrimônios natural e cultural e sua sustentabilidade), do reprogramar (estratégia) e do fomentar (investimentos e vendas) o desenvolvimento turístico de um país ou de uma região e seus produtos finais. Numa outra definição, o autor diz ainda que se entende por políticas de turismo o conjunto de fatores condicionantes e de diretrizes básicas que expressam os caminhos para atingir os objetivos globais para o turismo de um país (BENI, 2003). Ou seja, as políticas públicas de turismo surgem então para incentivar a atividade turística de um país, integrar as pessoas que fazem parte da sociedade e os órgãos públicos e privados, com o objetivo de dinamizar o turismo, gerando assim, emprego e renda para a localidade. 3 RETROSPECTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO MARANHÃO Neste tópico, utiliza-se como base para desenvolvimento do mesmo, a dissertação da autora Lobato (2001). Da mesma forma que em todo o Brasil, no Maranhão também foi tardiamente 1648 que as políticas públicas voltadas para o turismo começaram a ser implantadas. Data de 1943 a primeira intenção do governo em relação ao turismo, com o financiamento da construção do Palácio do Comércio em São Luís, o qual iria abrigar o Hotel Central de São Luís. Em 1962, o então governador Newton Belo criou o Departamento de Turismo e Promoções do Estado, através da Lei nº 2.239/62, que tinha como função “assessorar o governo do Estado quanto às questões relativas ao turismo, estando subordinado, na estrutura administrativa do Estado ao Gabinete do Governador” (LOBATO, 2001, p 76). Durante esse período predominava no poder público a filosofia de que era necessário investir a construção de equipamentos hoteleiros. Em 1963, com o objetivo de criar subsídios financeiros para o Departamento de Turismo e Promoções do Estado, o governador estabeleceu o Fundo Especial de Desenvolvimento do Turismo, que consistia em uma taxa e 0,5%, que seria cobrado dos empresários do turismo, sobre a venda de ingressos de serviços de entretenimento e da receita das empresas prestadoras de serviços turísticos. Domingos Vieira Filha, folclorista e então Diretor de Cultura do Estado, foi nomeado XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 para coordenar e administrar o Fundo, que, juntos, passaram a ter o desenvolvimento da cultura local como objetivo principal, e fazendo com que os objetivos iniciais, de promoção do turismo estadual, ficassem esquecidos. Também data de 1963, a criação do Departamento Municipal de Turismo e Promoções Culturais, pelo governo municipal, que tinha como objetivos a promoção de tombamentos, a restauração e conservação de monumentos públicos, o cadastramento de prédios coloniais, a reeditação de obras clássicas maranhenses, a organização de excursões, a formação de Guias de Turismo, o incentivo ao folclore, a elaboração de documentários, entre outros. O governo municipal, da mesma forma que o estadual, instituiu a taxa de 10% sobre os serviços turísticos. Em 1971 foi criada a Coordenadoria de Turismo e Cultura Popular, e o Fundo Rotativo do Turismo (FURINTUR) passou a ter as suas atribuições concentradas ao incentivo ao artesanato e folclore, e em 1973, o mesmo foi extinto sem maiores contribuições ao desenvolvimento das políticas de turismo no Estado. Numa tentativa de desenvolver o turismo em São Luís, Américo Azevedo Neto, então dirigente da Coordenadoria de Turismo, estabeleceu um Plano de Desenvolvimento Turístico. As empresas de consultoria Assessores Técnicos (ASTEL) e OLAF PROCHNINK foram contratadas para realizar esse Plano. O Plano de Desenvolvimento Turístico propôs a descentralização da gestão pública, através da criação de um Conselho Estadual de Turismo, para formular e coordenar a política estadual de turismo, da Empresa Maranhense de Turismo, como órgão executivo, e de Órgãos Executivos em nível municipal, para complementar os demais. O Plano indicou também propostas de atuação em infraestrutura direta e indireta, desenvolvimento e valorização das atrações turísticas e medida qualitativas de preservação dos atrativos naturais e culturais. Entretanto, quase nada do que foi proposto pelo Plano foi executado, ficando restrito aos projetos culturais. No ano de 1973, através da Lei nº 3.347/73, foi criada a Secretaria de Indústria e Comércio, que tinha em sua estrutura um Departamento de Turismo, que tinha como atribuições “propor diretrizes básicas para a Política de Desenvolvimento do Turismo, promover estudos para identificar e aproveitar os recursos turísticos, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1649 estimular a criação de infra-estrutura de turismo no Estado e fomentar a atividade empresarial ligada ao setor” (LOBATO, 2001, p 84). Durante todo esse período, desde a criação do Departamento de Turismo e Promoções do Estado, até a criação do Departamento de Turismo, pouco foi realmente feito pelo desenvolvimento das políticas públicas de turismo no Estado, ficando as ações voltadas para a cultura, com pouca estrutura e planejamento. Em 1976 o governo do Estado resolveu acatar as proposta do Plano de Desenvolvimento do Turismo e criou, simultaneamente, o Conselho Estadual de Turismo e a Empresa Maranhense de Turismo (MARATUR). O Conselho Estadual de Turismo foi instituído com “competências de estabelecer a formulação das diretrizes básicas da Política Estadual de Turismo e a aprovação dos Planos Anuais e Plurianuais de Turismo, elaboradas pela MARATUR” (LOBATO, 2001, p. 86). Em 1979, foi criada a Companhia Municipal de Turismo e Patrimônio, através da Lei nº 2.402, tendo como coordenador Américo Azevedo Neto, entretanto, pouco foi o tempo de atuação da Companhia, sendo que em 1980, o órgão foi extinto e suas atribuições passadas para a MARATUR. Com o intuito de promover e desenvolver o setor turístico do Maranhão, tornando-o capaz de promover fortes impactos econômicos, sociais e culturais, através de planejamento e rentabilidade, em 1979, o então Governador João Castelo elaborou a Programação de Turismo para o Estado do Maranhão. Das ações propostas, poucas foram realmente implantadas, e aque las que foram implantadas, tinham enfoque maior na área cultural, como a instalação do Museu do Folclore e Arte Popular; a recuperação do solar da Baronesa de São Bento, para abrigar a escola de música; o apoio financeiro aos órgãos de artesanato e folclore e a criação do Arquivo Público. Em 1980, a MARATUR elaborou um Programa de Zoneamento do Estado do Maranhão, tendo como objetivo melhor direcionar o potencial turístico do Estado e descentralizar as ações, levando em conta a metodologia da EMBRATUR para Inventários da Oferta Turística. Foram definidas cinco zonas turísticas: Zona Histórica–Cultural: São Luís, Alcântara, São José de Ribamar e Paço do Lumiar; Zona dos Lençóis: Cedral, Cururupu e Guimarães; Zona Litorânea do Artesanato: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1650 Araioses, Barreirinhas e Tutóia; Zona dos Cocais: Caxias e Timon; Zona dos Lagos: Arari, Itapecuru-Mirin, Penalva, Pindaré, Santa Inês, Viana e Vitória do Mearim. Entretanto, somente a zona Histórica–Cultural tinha real potencial turístico, ficando as demais áreas como zonas potenciais e a cidade de Imperatriz como centro de apoio. A concentração foi feita no eixo São Luís – Alcântara, sendo realizadas algumas ações como pesquisa de demanda em convênio com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE); criação e estruturação do Boletim Estatístico de Ocupação Hoteleira; organização e coordenação de festas juninas em São Luís e organização e coordenação da Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara. Após o ingresso na Comissão de Turismo Integrado do Nordeste, a Empresa Maranhense de Turismo passou a investir mais em recursos humanos, e durante os anos de 1988 e 1989, foi realizado o inventario turístico dos municípios de São Luís, Alcântara, São José de Ribamar e Paço do Lumiar. No inicio da década de 90, Fernando César Mesquita, ex governador de Fernando de Noronha, passou a comandar a presidência da MARATUR, reestruturou a empresa, e concretizou antigos objetivos, como melhoria do transporte marítimo para Alcântara, instituição do Fundo Estadual de Desenvolvimento Industrial (FEDIT), e o lançamento de Carolina e Barreirinhas no cenário turístico nacional e internacional. Dando prosseguimento às tentativas de estabelecer uma política de turismo no Maranhão, em 1993, a MARATUR apresentou o Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/MA), que foi organizado em uma parceria entre a SUDENE e a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), com participação do Banco do Nordeste do Brasil, além da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste. No Maranhão, o PRODETUR foi desenvolvido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente juntamente com a Secretaria de Infra-estrutura, e tinha como objetivos: contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Estado através do desenvolvimento da atividade turística; elevar o tempo de permanência do turista, a partir de programas e ações que concretizassem roteiros dinâmicos, atrativos e integrados; induzir novos investimentos na infra-estrutura turística, a partir do setor XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1651 público e privado; e gerar emprego e renda por meio da exploração direta ou indireta da atividade turística. Foi adotada para os anos de 1996-1999, a tentativa de consolidar o Maranhão como pólo turístico nacional e internacional, melhorar a infra – estrutura básica e de apoio turístico, melhorar qualitativamente os bens e serviços turísticos e promover o Maranhão como produto no Estado e no cenário nacional. Seguindo tal política, o Estado foi divido em três zonas turísticas: Zona de Patrimônio Histórico, com os municípios de São Luís, Alcântara, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar; Zona dos Lençóis Maranhenses, com os municípios de Barreirinhas, Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro, Paulino Neves e Araioses; e Zona das Chapadas, com Balsas, Barra do Corda, Carolina, Grajaú, Imperatriz, Riachão e Mirador. Em 1998, após as reformas administrativas que aconteceram no governo, em que a MARATUR foi extinta, passando as suas atribuições para a Subgerência de Turismo, que era ligada a Gerência de Planejamento, em uma parceira entre o Governo do Estado e o PRODETUR/MA, a empresa Marketing SYSTEMS, foi contratada para elaborar a nova Política de Turismo do Maranhão, que ficou conhecido como Plano Maior, e que ficou dividido em três fases, o diagnostico e estratégia de desenvolvimento, plano operacional e implantação. No plano operacional, havia quatro macroprogramas. Eram eles: “1. Macroprograma de Desenvolvimento; 2. Macroprograma Maior Q; 3.Macroprograma de Sensibilização da Comunidade; 4. Macroprograma de Comunicação”. (LOBATO, 2001, p.98). A divisão do Estado por zonas continuou também no Plano Maior, com um novo marketing, estabelecendo cinco pólos: Pólo Histórico Cultural; Pólo dos Lençóis; Pólo Delta das Américas; Pólo Floresta dos Guarás; e Pólo da Chapa das Mesas. (LOBATO, 2001, p.99). Hoje, após várias mudanças estruturais, como a criação da ADETUR, ficando subordinada a antiga Gerência de Planejamento, e poucas ações de destaque, as políticas de turismo do Estado são definidas pela Secretaria Estadual de Turismo do Maranhão, que foi implantada em 2006. 4 METODOLOGIA XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1652 O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo onde “o investigador na pesquisa de campo assume o papel de observador e explorador, coletando diretamente os dados no local (campo) e m que se deram ou surgiram os fenômenos” (BARROS; LEHFELD, 2001, p. 34). Quanto a abordagem é quantitativa e qualitativa. E quanto aos fins é descritiva. O universo pesquisa foi a Secretaria Estadual de Turismo, as agências Baluz Turismo, Caravelas Turismo, Portal do Turismo, Conect Tur Viagens e Turismo, Giltur Turismo, Organiza Eventos e Turismo, Santur Viagens e Turismo, Sea and Air Turismo Receptivo, Taguatur Turismo e Voyage Turismo, e nos hotéis Bellágio Hotel, Brisamar Hotel, Calhau Praia Hotel, Hotel Abeville, Hotel Premier, Litorânea Praia Hotel, Lord Hotel, Pousada Portas da Amazônia, San Fernando Hotel, Skina Palace Hotel, Solare Number One Flat, no período de 10 a 27 de junho de 2008. A amostra da pesquisa foram os profissionais que trabalharam na Maratur, na Agência Extraordinária de Desenvolvimento do Turismo do Maranhão (Adetur) e os que trabalham na Secretaria Estadual de Turismo, além de agentes de viagem (10) e gerentes dos hotéis (10). 1653 A coleta de dados para a pesquisa de campo foi realizada através da aplicação de questionários para o trade turístico e entrevistas com funcionários da Secretaria Estadual de Turismo. 5 ANÁLISES DOS DADOS 5.1 TRADE TURÍSTICO DE SÃO LUÍS Neste tópico faz-se uma análise dos resultados obtidos junto aos entrevistados, onde no gráfico 1, foi perguntando o tempo de atuação dos mesmos. Ao analisar o tempo de atuação dos profissionais do trade turístico, percebese que a maior parte deles (75%) está trabalhando há mais de quatro anos, portanto, estes tem acompanhado ao longo dos anos o desenvolvimento da atividade turística em São Luís, o que contribui para o esclarecimento do questionamento da pesquisa. Por outro lado, cerca de 10% atuam entre três e quatro anos e 5% está no ramo somente há dois anos. Os que estão entre 3 e 4 anos no mercado só conhecem as ações da atual SETUR-MA, o que de certa forma esclarece como as políticas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 públicas desenvolvidas e aplicas por esta estão tendo impacto tanto positivo quanto negativo no mercado. Gráfico 1: TEMPO DE ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO TRADE TURÍSTICO DE SÃO LUÍS Da mesma forma que em todo o Brasil, a atividade turística em São Luís começou de forma desordenada, sem maiores preocupações e investimentos por parte do poder público. Não havia nem mesmo organização estrutural dos orgãos oficiais de turismo, e a atividade muitas vezes dividia as atenções com outros setores, como cultura e desportos (gráfico 2). Gráfico 2: TURISMO EM SÃO LUÍS XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1654 A preocupação com o desenvolvimento do turismo só começou a ter mais ênfase a partir da década de 1990, com as parcerias junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), e surgimento de projetos como o Prodetur e o Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR). No gráfico 2, tem-se que 40% dos entrevistados consideram que a atividade na cidade encontra-se em desenvolvimento, entretanto ainda é preciso melhorar a infra-estrutura. Já os 20% disseram que o turismo está em desenvolvimento, mas com muitas lacunas a serem preenchidas. 15% dos entrevistados afirmaram que a cidade possui um grande potencial turístico, entretanto não há políticas públicas para desenvolver a atividade. 10% responderam que vêem o turismo em São Luís voltado para o segmento de negócios, que ultimamente tem sido investido pelo órgão estadual através da criação do Centro de Convenções e também teve-se o surgimento do São Luís Convention & Visitors Bureau (SLZCVB). Ainda houve quem destacou que falta a inserção e participação da comunidade local no processo turístico, e que é preciso melhorar a estrutura hoteleira, e o turismo na cidade é muito fraco, com pouca demanda, com 5% cada. Ou seja, há uma necessidade do governo estadual através da atual gestão de turismo desenvolver políticas públicas para o desenvolvimento da atividade, pois com os resultados percebe-se que é necessário ter políticas públicas articuladas a outras como saúde, educação, agricultura, energia, saneamento, entre outros, que possibilitem a melhoria da estrutura física e também um aumento na promoção e divulgação. Gráfico 3: CONHECIMENTO DO TRADE DAS AÇÕES REALIZADAS PELO ESTADO DESDE A MARATUR XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1655 Apesar dos esforços da Empresa Maranhense de Turismo, poucas ações deram reais resultados, ora devido a fragilidade estrutural que possuía, ora por falta de comprometimento dos próprios governantes. No gráfico 3, 75% dos entrevistados do trade turístico de São Luís disseram conhecer alguma ação realizada pelo Governo do Estado desde a Maratur. Portanto, as ações da Maratur tiveram um alcance positivo junto ao trade, pois os mesmos conheceram os projetos. Então, a divulgação foi um ponto positivo, pois conseguiu promover as políticas para que os participantes do mercado turístico de São Luís tivessem a oportunidade de conhecer as políticas e poderem atuar em direção da mesma, criando planos que pudessem ir de encontro com as mesmas. Gráfico 4: AÇÕES DESENVOLVIDAS DESDE A MARATUR CONHECIDAS PELO TRADE 1656 No gráfico 4, tem-se as ações que os profissionais conhecem, dando destaque principalmente as realizações do Carnaval e São João com 29%, ou seja, os festejos culturais são destaques de atuação ao longo dos anos no setor público. Em seguida tem-se a execução do Projeto Reviver com 18%, como sendo o segundo intem mais lembrado. Mas é necessário destacar que o Projeto Reviver não foi diretamente uma política pública do órgão de turismo, mas que acaba fazendo com que os profssionais lembrem deste devido a região ser o principal produto turístico da cidade de São Luís. Com 12% tem-se a implantação do Plano Maior e a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 participação em feiras e workshop. Há ainda a Rodade Negócios, o Apoio à 3ª idade, a criação do Convention Bureau e a Recepção de Turistas no Aeroporto, com 6% das respostas, cada. Gráfico 5: AS AÇÕES QUE O GOVERNO DESENVOLVE PARA O TURISMO NA VISÃO DO TRADE É dever do Estado implantar políticas públicas eficazes para o desenvolvimento da atividade turística nas localidades. É ele quem determina as metas a serem alcançadas, havendo, claro, a participação de todos os níveis, como empresariado e sociedade civil organizada, além da inserção da comunidade local no processo de tomada de decisões, entretanto, é o Estado que diz as diretrizes a serem seguidas. Para o trade de São Luís, 70% dos entrevistados consideram que as ações que o governo estadual realiza ajudam a desenvolver de alguma forma o turismo na cidade. 30% disseram que as políticas desenvolvidas pelo governo não tem auxiliado no desenvolvimento da atividade turística. Portanto, o governo, através da atual Secretaria de Turismo, deve identificar que ações são necessárias para que a cidade de São Luís possa ofertar melhores produtos e serviços turísticos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1657 Gráfico 6: POR QUE AS AÇÕS DO GOVERNO AJUDAM A DESENVOLVER O TURISMO NA VISÃO DO TRADE? 1658 O Estado quem define e gerencia ações e resultados alcançados das políticas públicas implantadas. É destacado também que a política de turismo é o fator principal para se determinar quais os objetivos globais que um país deve alcançar para desenvolver a atividade. Para os empresários de turismo em São Luís, 35% acreditam que as ações realizadas pelo governo ao longo dos anos ajudam a desenvolver o turismo, uma vez que divulgam o Estado e dessa forma, atraem mais turistas para a cidade. Há ainda aqueles que consideram que existem boas ações sendo realizadas, entretanto elas poderiam ser melhores, quem considere que as ações do poder público enfatizam somente a área dos Lençóis Maranhenses, ainda quem enfatiza que faltam planejamento e políticas de marketing para o setor, e que há pouca divulgação das ações implantadas, com 10% cada. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A falta de infra- estrutura básica e a falta de retorno dessas atividades tiveram seus destaques, com 5% das respostas cada. Gráfico 7: AÇÕES DO GOVERNO QUE MERECEM DESTAQUE PARA O TRADE DE SÃO LUÍS 1659 Na tentativa de desenvolver o turismo em São Luís e no Estado, projetos como o Prodetur e o Plano Maior foram implantados. Entre os gestores das empresas turísticas da cidade, a divulgação externa da cidade foi uma das ações do governo do estado que mais merece destaque, com 27% das respostas. Foram citadas ainda a participação em feiras e workshop, com 14%, a implantação do Projeto Reviver e a criação do Convention Bureau, com 9% cada, o apoio a datas festivas, a criação do Vale Festejar, a construção da Avenida Litorânea e da Lagoa da Jansen, entre outros mais. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Gráfico 8: PARTICIPAÇÃO DO TRADE NA ATIVIDADE TURÍSTICA NA ATIVIDADE TURÍSTICA DE SÃO LUÍS 1660 Para o desenvolvimento organizado da atividade turística é necessário que haja participação de todos os setores (empresários, sociedade civil organizada, entre outros), para implantação e acompanhamento dos resultados obtidos, além da inserção da comunidade local no processo de tomada de decisões. Dentre os empresários do trade turístico de São Luís, 43% dos entrevistados dizem participar para desenvolver o turismo através divulgação da cidade e atrativos através de sites, folhetos informativos e indicações feitas na recepção, houve ainda quem respondeu que procura prestar um serviço de qualidade, com 24%, aqueles que participam de reuniões em sindicatos e associações do setor, com 10%, os que buscam parcerias, e que realizam pesquisas de opinião junto aos turistas, com 5% cada. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 5.2 ÓRGÃO ESTADUAL DE TURISMO De acordo com as informações repassadas pelos funcionários da SETUR-MA, pode-se analisar que não houve continuidade nas ações realizadas desde o período da Maratur, devido os governos sucessores que não valorizaram os projetos implantados, pelas novas diretrizes da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) e Ministério do Turismo, as quais todos os órgãos oficiais de Turismo do Brasil deveriam seguir. Porém, segundo um funcionário, independente de qualquer governo, a realização da promoção do Estado é uma ação obrigatória, sendo modificadas somente as formas com que são realizadas. Outro funcionário lembra que a Maratur era bem estruturada administrativamente e possuía uma boa organização, além de uma ampla biblioteca com os documentos e arquivos e que eram disponibilizados aos visitantes, documentos estes que foram perdidos, com as sucessivas mudanças físicas nos governos sucessores. Ela comenta que a implantação da Maratur foi um marco para as políticas públicas de turismo no Estado, uma vez que só havia um Departamento com as responsabilidades de implantação de políticas voltadas para o tur ismo no 1661 Maranhão. Destaca também a gestão da Zelinda Lima, na implantação da Maratur, e o período da presidência do Fernando Mesquita, que ajudou a desenvolver a atividade turística, indo a loco dos atrativos que o Estado possui. Os profissionais da SETUR-MA consideram que hoje o Maranhão está mais bem estruturado quanto ao turismo no Estado. Ambos destacam que a implantação da atual Secretaria foi um grande ganho para a atividade, pois houve mudanças no quadro funcional, com funcionários que possuem conhecimento da área. O funcionário frisa que há na SETUR-MA uma constante avaliação das ações, para que assim, possa avaliar os prós e contras, sendo que tal supervisão ocorreu para as ações dos governos passados, sendo que as atividades relacionadas à valorização da cultura e a promoção externa do Estado em feiras e workshops mereceram mais destaques por parte da atual gestão. A implantação do Projeto Reviver, a construção do Centro de Convenções e a Internacionalização do Aeroporto, foram lembrados ainda pelos funcionários que acompanharam o desenvolver da atividade turística em São Luís ao longo desse anos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Além disso, esclarecem que o turismo de negócios é uma ramificação que vem crescendo e que esta tendo destaque com a implantação do Centro de Convenções, trazendo assim, um grande número de turistas para a cidade. São Luís possui também um grande foco voltado para o turismo cultural, pelo título de Patrimônio Cultural da Humanidade e pela diversidade folclórica. Quanto à organização estrutural, a Secretaria Estadual de Turismo encontrase estabelecida com duas Superintendências, cinco Supervisões, além, do Secretário e Secretária Adjunta. Segundo o Supervisor de Relações Institucionais e Controle, a busca de parcerias para o trabalho em conjunto é uma constante. Cita entre as atividades realizadas em parcerias, o caso do Mercado da Feira da Praia Grande, quando entidades como Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), Vigilância Sanitária, Corpo de Bombeiros, e participantes do Núcleo Gestor de São Luís, o qual a SETUR-MA é integrante, realizaram uma grande limpeza e organização do local. Ele esclarece que o trabalho em conjunto é muito importante, uma vez que há diminuição dos custos e maximização dos resultados. Destaca ainda, a integração da Secretaria com as associações do trade turístico, como Associação Brasileira das Agências de Viagens e Turismo (ABAV), Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), São Luís Convention & Visitors Bureau (SLZCVB), entre outros, participando das reuniões e buscando resoluções para os problemas diretamente com os operadores da atividade turística. Quando perguntado sobre a gestão municipal do turismo, é enfatizado que há uma boa relação entre o governo estadual e municipal, com ações conjuntas, entre elas, a implantação da sinalização turística na cidade, a realização de pesquisas mercadológicas, e na promoção da cidade, exemplificando a participaç ão de ambos no Salão do Turismo promovido pelo MTUR. Ele disse ainda que a SETUR-MA possui projetos voltados para São Luís, como a realização de pesquisas mercadológicas e a implantação da sinalização turística, em parceria com a Prefeitura Municipal, a capacitação dos gestores – microempresários do turismo, a capacitação dos taxistas para atendimento ao turista, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e o Sindicato dos Taxistas, além da promoção do Estado em feiras e workshops. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1662 Finalizando, a Secretaria possui como metas para serem alcançadas até o fim da atual gestão, o fortalecimento do setor e a inserção da comunidade no processo turístico, através destas ações: a) Organização do Mercado turístico; b) Fortalecimento Institucional; c) Aumento do Cadastur, cadastro que conta com dados de agências, hotéis, operadoras de turismo, transportadoras, empresas de eventos, guia e bacharéis em turismo, e que através dele há a liberação de verbas do Ministério do Turismo ( Mtur); d) Organização do Conselho Estadual de Turismo; e) Criação do Conselho Regional do Pólo São Luis, com a participação das Prefeituras de toda a Ilha de São Luís; f) Implantação da Sinalização Turística na cidade; g) Promoção externa em eventos como Salão do Turismo, e em feiras internacionais; e h) Fortalecimento do roteiro São Luís – Lençóis Maranhenses, unificando os atrativos culturais e naturais. 6 CONCLUSÃO A implantação da Secretaria Estadual de Turismo do Maranhão como órgão oficial de turismo no Estado pode ser definida como um grande avanço para as políticas públicas desse setor no Maranhão, demonstrando dessa forma, a preocupação do governo para com o desenvolvimento da atividade, para que a mesma possa gerar lucros e divisas, além da inserção da comunidade no processo de tomada de decisões, e na participação dos benefícios promovidos pelo turismo. Apesar dos esforços do poder público, poucas ações obtiveram êxito em seus resultados, uma vez que o turismo foi dividido durante muito tempo com outros setores, tendo seu enfoque maior para a cultura. Hoje esse cenário está começando a modificar-se, com maiores ações por parte dos órgãos oficiais de turismo, que buscam desenvolver de forma organizada e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1663 sustentável a atividade na cidade. Muito já se foi realizado em São Luís, porém, muito ainda há para se desenvolver, sendo que para isso, é necessária a colaboração e participação de todos os setores envolvidos direta ou indiretamente na atividade turística. REFERÊNCIAS BARROS, A. de J. P. de; LEHFELD, N. A. de S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 12.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. BENI, Mário Carlos. A Política de Turismo. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (Org.). Como aprender turismo, como ensinar. 3 ed. São Paulo: Senac, 2003. CARVALHO, Alan Francisco de. Políticas públicas em turismo no Brasil. Sociedade e cultura, v. 3, n. 1 e 2, p. 97-109, jan/dez., 2000. DIAS, Reinaldo. Planejamento turístico. São Paulo: Manole, 2003. LOBATO, Fabiana. Descentralização das Políticas Públicas de Turismo: a municipalização do turismo no Maranhão. São Paulo: 2001. (Dissertação de Mestrado). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. MARANHÃO. Secretaria de Coordenação e Planejamento. Programa de Turismo para o Estado do Maranhão. São Luís, 1979. (Mimeografado). MARATUR. Subsídios para a História do Turismo no Maranhão. São Luís, 1982. VIEIRA, Gustavo Henrique Bezerra. Políticas públicas para o turismo no Nordeste: o Prodetur no Maranhão. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Maranhão. São Luís: 2005. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1664 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO ESTADO DE GOIÁS: o caso do BAIXO VALE PARANAÍBA Jean Carlos Vieira Santos Doutorando (IGUFU) Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia; Bolsista Capes - PDEE/Universidade do Algarve (Portugal); Professor da Universidade Estadual de Goiás – UEG; E-mail: [email protected] Rosselvelt José Santos Orientador. Professor do Programa de Pós-Graduação (IGUFU) Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia; Responsável pelo Laboratório de Geografia Cultural e Turismo (IGUFU). E-mail: [email protected]. RESUMO O presente artigo tem como objetivo central suscitar uma discussão acerca da atual realidade das políticas públicas de turismo no interior de Goiás, visando apresentar parte do debate da pesquisa de doutorado intitulada: “Políticas Públicas de Regionalização e Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. A tese vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais). Este texto apresenta uma breve discussão teórica e conceitual em torno das políticas de turismo, destacando autores como: Cunha (2006), Vieira (1997), Santos (1979), Moraes (1990), Valls (2004), Bezzi (2004), Almeida (2002), entre outros. A área de estudo compreende os municípios de Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão e Lagoa Santa, com uma área total superior a dezesseis mil quilômetros quadrados (16.117,60Km²). Essa paisagem regional encontra-se na Bacia do Rio Paranaíba, portanto, a microrregião de Quirinópolis será aqui definida como “Baixo Vale do Paranaíba Goiano”. Este trabalho pretende apresentar que nas duas últimas décadas, essa microrregião tem vivenciado uma relevante valorização do setor turístico pelos atores públicos e privados, principalmente nos municípios de Lagoa Santa e São Simão. Palavras-chave: Região de Quirinópolis, Lagoa Santa, São Simão, Região Turística. ABSTRACT This paper aims at raising a discussion about the current reality of public policies f or tourism in the country of Goias, to present part of the debate in the doctoral research entitled: "Public Policies of regionalization and the Creation of New Tourist Settings in the country of Goias. The thesis has been developed at the Postgraduate Program of Geography Institute, University Federal de Uberlândia (Minas Gerais). This paper presents a brief theoretical and conceptual discussion around tourism policies, highlighting many authors, Cunha (2006), Vieira (1997), Santos (1979), Moraes (1990), Valls (2004), Bezzi (2004), Almeida (2002), and others. The study area XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1665 covers the municipalities of Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão and Lagoa Santa, with a total area over six square miles (6,222808 square miles). This regional landscape is founded in Basin of Paranaíba River, therefore the region of Quirinópolis is here defined as Down Valley do Paranaíba Goiano. This paper presents that in the two past decades, this region has experienced an important recovery of the tourism sector by public and private actors, mainly in the municipalities of Lagoa Santa and São Simão. Key Words: Region of Quirinópolis, Lagoa Santa, São Simão, Tourist Region. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo central suscitar uma discussão acerca da atual realidade das políticas públicas de turismo no interior de Goiás, visando apresentar parte do debate da pesquisa de doutorado intitulada: “Políticas Públicas de Regionalização e Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. A tese vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais/Brasil), que tem como objetivo compreender as Políticas Públicas direcionadas ao Turismo e como estas ocorrem nos espaços regionalizados por projetos e programas estatais. Parte-se do princípio que o desenvolvimento da atividade turística no interior goiano encontra-se dependente de proposições estatais que visam ampliar o destino turístico dos visitantes, exigindo novas posturas e estratégias na gestão das políticas públicas. Isso implica em mudanças no relacionamento entre as esferas do poder público e a sociedade civil, exigindo negociações, acordos, planejamentos e organização dos grupos sociais envolvidos com a atividade turística. Para compreendermos os desdobramentos da regionalização do turismo nessa parte do país iniciamos uma discussão sobre as políticas públicas, que no caso da área de investigação deste trabalho apresenta-se em sua maioria atendendo as demandas sócio-espaciais dentro de cada municipalidade. Desse modo, preocupamo-nos com a atual realidade das políticas de turismo nas cidades da microrregião de Quirinópolis. Na pesquisa aqui apresentada, os trabalhos de campo foram etapas em que a presença do pesquisador nos “espaços vividos” foi indispensável para a produção do texto final. Esses foram realizados também para melhorar a percepção e compreensão das manifestações do turismo nos espaços de cada cidade, e também XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1666 uma forma de vivenciar as implicações das políticas públicas no território e lugar. Para Santos (1999, p.117): [...] o trabalho de campo, vai além da coleta de dados para o desenvolvimento de uma pesquisa comprometida com a realidade das populações, visto que será também um esforço acurado do pesquisador em lapidar esse diamante, que é a memória das populações em relação ao vivido. Esses procedimentos exigirão dos pesquisadores um respeito radical pelos modos de sentir, pensar e agir e reagir do outro (SANTOS, 1999, p.117). A literatura citada destaca ainda que, a partir da memória e do gênero de vida das populações pesquisadas, pode-se extrair e lapidar os elementos que permitam compreender com profundidade os sentimentos e as experiências que tornaram possível a vida das pessoas no lugar. Esse procedimento permitiu ao pesquisador analisar as transformações do espaço, paisagens, territórios e o surgimento do turismo, por meio de ações do poder público local, bem como a presença de investimentos privados. No contado direto com a realidade fomos percebendo as formas pelas quais os projetos governamentais foram incorporando paisagens, promovendo transformações no modo de vida, desencontros e contradições, principalmente nos ambientes urbanos, com desdobramentos nas práticas e representações sociais das comunidades e grupos sociais envolvidos. Por meio dessa inserção colheram-se as informações e estabeleceram diálogos com os envolvidos direta e indiretamente com o turismo, bem como o registro fotográfico das paisagens. Para compreensão dos critérios de divisão regional da área de estudo, consideramos os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desse modo, o estado de Goiás é dividido em cinco mesorregiões: Norte Goiano, Leste Goiano, Noroeste Goiano, Centro Goiano e Sul Goiano, nessa última encontram-se localizados os municípios da microrregião de pesquisa. É importante frisar que as regiões do IBGE seguem os limites administrativos municipais, o que facilita o trabalho com os dados e indicadores socioeconômicos, valendo salientar que é assim em todos os estados do Brasil (Arrais, 2004, p. 33). Nesse contexto, os estados nacionais são divididos em mesorregiões geográficas, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1667 que são, por sua vez, subdivididas em microrregiões, contanto Goiás atualmente com dezoito subdivisões (microrregiões), onde: [...] 11 delas levam o nome de referência dos municípios, 5 elementos do quadro natural – duas ligadas ao relevo (Chapada dos Veadeiros e Vão do Paraná) e 3 bacias hidrográficas (Meia Ponte, Rio Vermelho e Rio dos Bois) -, uma se refere à localização (Sudoeste) e outra ao processo de urbanização decorrente da construção de Brasília (Entorno de Brasília) (ARRAIS, 2004, p. 33). Nesse ordenamento, os nomes das microrregiões revelam as características e os fatores que tiveram influência na sua conceituação. Desse modo, a microrregião de Quirinópolis (Mapa 01) é composta pelos municípios de Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão e Lagoa Santa, com uma área total superior a dezesseis mil quilômetros quadrados (16.117,60Km²). Essa paisagem regional encontra-se na Bacia do Rio Paranaíba, drenagem que abrange terras dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, nascendo na serra da Mata da Corda em Minas Gerais, a uma altitude de 1.140 metros. Dessa região até sua foz, ou seja, ao encontro com o rio Grande percorre uma extensão de 1.120 Km, com uma área de captação e drenagem de 220.195 quilômetros quadrados, sendo que 67,89% localiza-se em Goiás. Seu percurso está definido em três trechos distintos: Alto Paranaíba – nascente até o Km 370; Médio Paranaíba – do km 370 até a barragem de Cachoeira Dourada com 370 km; Baixo Paranaíba – da barragem de Cachoeira Dourada até a sua foz, com extensão de 380 km. O trecho Alto Paranaíba encontra-se em sua maior parte, em território mineiro. Depois de passar por uma região de topografia acentuada [...] (AGMA/EIBH, 2005, p.04). Portanto, a microrregião de Quirinópolis será aqui definida como “Baixo Vale do Paranaíba Goiano”, pois a mesma localiza-se abaixo do reservatório da hidrelétrica de Cachoeira Dourada, na parte onde o rio apresenta uma seção relativamente calma, compreendendo a área a montante e a jusante do reservatório da hidrelétrica da São Simão. Apresentado a área de estudo, a seguir este artigo se desdobrará em três frentes, isto é, na discussão sobre as políticas de turismo e o XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1668 papel do estado, as políticas do setor em Goiás e o caso do Baixo Vale Paranaíba Goiano. Mapa 01: LOCALIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE QUIRINÓPOLIS- GOIÁS/ BRASIL. 1669 Fonte: Extraído da Tese de Doutorado em Geografia IGUF U: “Políticas Públicas de Regionalização e Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. Organização: VIEIRA SANTOS, J. C.; CUNHA, D. 2008. 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO E O PAPEL DO ESTADO Neste momento discutiremos os eixos teóricos sobre políticas públicas e o papel do estado, apresentando as políticas estatais relacionadas com os programas de desenvolvimento do turismo, isto é, com base nos diversos autores que analisam as políticas do “Estado”. O século XXI inicia-se com um turismo consolidado a nível mundial porque se democratizou, transformou num fenômeno planetário e passou a fazer parte do modo de vida da maior parte dos países. Até recentemente, o turismo circunscreviase à Europa Ocidental e à América do Norte, tanto em termos de origens como de destinos e atualmente alarga-se a todos os continentes (Cunha, 2006, p. 55-60). Nesse prisma, Vieira (1997, p.137) ainda destaca que ““dentro de cada país, é a XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 nível regional e local que o turismo se manifesta com maior impacto e que o seu efeito multiplicador no processo de desenvolvimento econômico e social é mais significativo””. Contudo, quando a unidade geográfica ou espacial de estudo é o “EstadoNação”, a região ou municipalidade não é mais do que uma subunidade, um subsistema do sistema nacional. A região não tem existência autônoma, ela não é mais que uma abstração se a tomarmos separadamente do espaço nacional considerado como um todo. Diante dessas palavras, é importante a citação de Santos (1979, p.28), dizendo que um país, um espaço nacional, pode ser estudado como um sistema, onde um “Estado-Nação” é uma formação sócio-econômica e uma totalidade. Nos propósitos deste artigo pode-se definir que o estado é agente de transformação, difusão, dotação e é intermediário entre as forças internas e externas, ou seja, não é passivo as demandas da região. Ao contrário, orienta os estímulos e é o grande criador das condições socioeconômicas de desenvolvimento. Esse ““Estado manifesta o modo de produção, nas várias porções de Terra, e é por este determinado; logo, passa a sua lógica ao estabelecer e dirigir a ordem espacial (Moraes, 1990, p. 24)””. Desse modo, o Estado tem papel fundamental nas políticas de educação, saúde, segurança, transporte, meio ambiente, turismo, lazer, entretenimento, atividades esportivas, cultura, entre outros. Ele é o principal regulador dos usos e apropriações espaciais, examinando e fiscalizando os diversos grupos econômicos em cada nova atividade criada, cuja resposta determinará futuras decisões no âmbito das gestões públicas e desenvolvimento regional. Daí para a Confederação de Turismo Português – CTP (2005, p.75) ordenar um território, paisagem ou região é um dos mais complexos domínios da gestão pública: A ocupação e uso do solo, o acentuar ou atenuar das assimetrias regionais e do litoral em relação ao interior, a redefinição da estrutura das cidades, a definição de acessibilidades e de outros equipamentos públicos, são questões fundamentais para uma política de ambiente, mas que condicionam, igualmente, todas as restantes áreas políticas setoriais (CTP, 2005, p.75). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1670 Nesse sentido, a qualidade de vida das populações relaciona-se com a ocupação do território, pelas articulações entre os espaços urbano e rural, que são muitas vezes condicionados a informações incompletas, que se efetuaram ao longo dos anos. Nesses termos, o estado e seus órgãos são responsáveis pelos arranjos territoriais e desenvolvimento do turismo. Na contemporaneidade das políticas públicas de turismo, um documento que se torna relevante para as análises teóricas deste trabalho, é a Declaração de Manila, resultante da Conferência Mundial de Turismo realizada em 1980. Ao analisar as diferentes estratégias do desenvolvimento turístico no passado e aquelas que são recomendáveis em virtude das novas preocupações, o documento de Manila coloca em destaque as tendências da estratégia de desenvolvimento turístico recomendável. Entre as ações foi destacada a responsabilidade dos poderes públicos em guiar, dirigir e supervisionar a indústria turística e de integrar o turismo no planejamento nacional do desenvolvimento econômico (Cunha, 2006, p.49). Diante desse quadro, pode-se dizer que atualmente o estado ainda assume um papel “mister” no desenvolvimento do turismo, principalmente injetando fundos públicos nas “municipalidades consideradas turísticas”. Para Valls (2004, p.27-28) a atuação das administrações públicas em matéria de turismo é de responsabilidade dos políticos e funcionários dos diferentes níveis territoriais, que operam de forma direta no setor, através dos respectivos órgãos administrativos ou através dos entes criados para esse fim. No âmbito local, as competências turísticas se relacionam com a ordenação local do território e a criação de infraestruturas e equipamentos turísticos, com a concessão de licenças e alvarás de construção, com a propriedade e proteção dos atrativos naturais e patrimoniais, com a promoção, com autoridade inspetora e criação de impos tos especiais. No âmbito supra municipal os entes estaduais cooperam com os entes locais complementando o seu trabalho, juntando esforços e proporcionando conhecimento, dimensão e fundos para o seu desenvolvimento. No âmbito nacional, os trabalhos se concentram na fixação e no direcionamento das políticas turísticas, na promoção exterior conjunta dos produtos estruturados, elaboração de planos gerais a serviço das regiões, da criação de produtos e melhoria das empresas turísticas, no XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1671 desenvolvimento de determinadas áreas, na formação, fiscalização, estruturação de observatórios turísticos, entre outros. É geralmente reconhecido que é da ação do estado que resulta a melhoria de competitividade dos destinos turísticos, mas o papel do estado no turismo ainda n ão foi amplamente assumido pelos governantes, principalmente no interior do Brasil. Aqui é importante destacar que cabe aos mesmos reconhecerem a importância da atividade não só como fator estratégico de desenvolvimento econômico, mas também como fenômeno social que faz parte da vida de todos os cidadãos, e isso: É um passo essencial para a estruturação da organização institucional do turismo, para a plena compreensão do papel de cada um dos intervenientes nessa organização e para a mobilização do conjunto de todos eles no processo de desenvolvimento turístico. [...] a intervenção do Estado no turismo pode assumir formas e dimensões muito diferenciadas mas, em regra, consideram-se as seguintes as principais áreas de intervenção: coordenação, promoção, planejamento, regulamentação, criação de incentivos e estímulos e produção (CUNHA, 2001, P.421). Nessa reflexão, às políticas públicas de turismo são explicitamente defendidas pelo estado. Sendo esse considerado o sujeito principal do planejamento e desenvolvimento local, estabelecendo, com os agentes econômicos e sociais, o estilo de desenvolvimento a ser executado. O planejamento, por meio do estado, corresponde à definição e aplicação de medidas políticas que permitam diminuir as desigualdades entre as regiões (Bezzi, 2004, p.145). Então, o estado aparece e cria novas configurações, onde para Bezzi (2004, p. 147) esse processo ““ reside na dependência mútua entre os lugares “”, e ainda continua dizendo que essa interdependência é ““ ao mesmo tempo, contínua e descontínua, segundo as características sociais e físicas dos espaços que se relacionam entre si “”. Nesse caso, o estado é um elemento fundamental para as políticas de turismo, principalmente na abordagem orientada para o envolvimento das estruturas distritais e comunidades locais, com implicações enormes nos processos de administração pública e desenvolvimento da capacidade de recursos humanos. Já nos estados da União Européia: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1672 [...] Concedem aos respectivos nacionais toda a liberdade de movimentos no espaço da União, mas não concedem da mesma maneira aos nacionais de outros Estados. De fato, um português pode deslocar -se livremente, tal como fará dentro de Portugal, para a França e viajar livremente no interior deste país bem como um italiano o pode fazer para Espanha e vice-versa, mas um russo ou um brasileiro já não pode deslocar-se livremente para qualquer um país da União Européia (CUNHA, 2001, P.45). Na contramão do desenvolvimento e sobre as responsabilidades do estado, Cunha (2001, p.418) cita na sua obra que a aceleração das transformações que se operam no turismo, contribui para criar uma série de novos problemas. Problemas ecológicos, violência ou simplesmente uma série de reportagens desfavoráveis podem afetar os longos anos de trabalho sério desenvolvido pelo poder estatal, como o desenvolvimento de novas tecnologias ou as alterações monetárias e financeiras (Criação de uma nova moeda) podem introduzir novos fatores de mudança. A gestão das crises e das mudanças é de responsabilidade do estado, pois reconhece que os destinos turísticos e os modelos de desenvolvimento evoluem por fases, desde o seu nascimento ao seu esgotamento. Isto é, criando problemas de saturação e declínio dos produtos oferecidos, o que obriga os governos a terem de dinamizar o planejamento incentivando a criatividade e a inovação. Do mesmo modo à massificação e a sobrecarga turística, que têm conduzido à “monocultura do atrativo” e à destruição de recursos básicos do turismo, exigem do estado à promoção da diversificação e a criação de novos produtos. Cabe então, ao estado o papel de planejador efetivo, no sentido de ampliar a oferta e disponibilidade de fundos públicos, buscando gerar formação profissional, melhoria da oferta e criando novas oportunidades perante a concorrência dos mercados. ““Um dos papéis mais importantes do governo é o da coordenação dos diferentes intervenientes públicos no turismo bem como das ações e estratégias que desenvolvem (Cunha, 2001, p.421)””. Nessa vertente, Baptista (2003, p.80) afirma que devido à complexidade e interdependência de muitas atividades direta e indiretamente relacionadas ao lazer e turismo, não é fácil conceber e tornar eficaz uma organização institucional centralizada, tanto a nível nacional como regional e local que possa assegurar a representatividade e ação política de todos os domínios em causa. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1673 Pelo exposto, entende-se, que para a concretização das políticas de turismo nesse início de século XXI, principalmente nas urbanidades do interior do Brasil é fundamental a participação do estado na organização das paisagens turísticas. Contudo, defendemos a participação e interação ativa dos atores locais e regionais, bem como na execução de parcerias e criação de redes sociais de solidariedade e sociabilidade, o que fortalece as ações em relação ao turismo definidas pelo Ministério do setor (Governo Federal), governos estaduais e municipais. Nesse contexto de considerações e preposições, compreendemos que o estado presente na região ou em cada municipalidade juntamente com uma sociedade local ativa deverá definir com maior precisão as prioridades e as formas que essas poderão emergir a partir das novas configurações marcadas pelo desenvolvimento do turismo, estimulando a realização de investimentos e apoio financeiros para empresas públicas e privadas. Partindo dessas reflexões, pode-se verificar que através da formulação de políticas, aprovação de estratégias de desenvolvimento, promoção, regulamentação, inspeção e proteção de consumidores, o estado se faz presente nos lugares, com uma política descentralizadora e com as competências e responsabilidades distribuídas entres as administrações centrais, regionais e locais. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO ESTADO DE GOIÁS A descrição do contexto histórico das políticas públicas de turismo em Goiás é realizada por Almeida (2002, p.200-202) a partir da década de 1960, destacando que tanto a Embratur como o Plano Nacional do Turismo (PNT) tiveram repercussões animadoras. Entretanto somente no governo de Leonino Caiado (1970-1976) serão adotadas medidas para tornar o turismo um instrumento de desenvolvimento social e econômico. Nesse governo foi criado o Departamento de Turismo (Detur) e, pelo Decreto 188, de 19/07/1971, criou-se o grupo de trabalho de Turismo (GTT). Os objetivos do GTT era identificar as principais regiões goianas com potencialidades turísticas para uma posterior implantação do Sistema Estadual de Turismo. Consta no relatório da Secretaria Estadual da Indústria e Comércio de Goiás, assinado pelo GTT (1971), que o estado não possuía experiência técnica XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1674 nem estrutura política e jurídica funcional no setor turístico, devendo, portanto, estreitar relações com a Embratur e espelhar-se nos demais estados a fim de adquirir subsídios para a implementação de uma política de desen volvimento do turismo. Sobre as vocações e potencialidades do turismo goiano, o Grupo de Trabalho de Turismo (GTT) limitou-se a recomendar a implementação do turismo nas regiões do Araguaia, Caldas Novas e as cidades históricas de Goiás e Pirenópolis, não apontando nesse período nenhuma municipalidade do Baixo Vale Paranaíba Goiano. Em 1972 o Detur transformou-se em Goiastur (Empresa Goiana de Turismo), que existiu até 1999 dando lugar a criação da AGETUR (Agência Goiana de Turismo). A Goiastur consistia em uma diretoria subordinada à Secretaria Estadual de Indústria e Comércio, com uma superintendência de promoção de eventos e outra de operações com suas atribuições inerentes. Ela contava ainda com um órgão consultivo, o Conselho Estadual de Turismo, e administrava o Centro de Convenções, recebendo recursos provenientes da locação do seu espaço físico. Na década de 1980, o governo de Ary Valadão (19791982), procurou-se dinamizar o turismo com estímulos à iniciativa privada, assumindo com empresários o compromisso de intensificar a divulgação nacional e internacional, elegendo as regiões do Araguaia, Caldas Novas, Goiás, Pirenópolis, Corumbá de Goiás e Formosa. A administração seguinte dá continuidade às ações com a assinatura do protocolo de intenção entre a Goiastur e Embratur. Durante esse período, treinamentos e qualificação da mão-de-obra com a participação do Senac são realizados e surge a preocupação de implementar uma infraestrutura turística no estado. Já no relatório de 1988 registra uma etapa em que a Goiastur se incumbiu de fomento e fiscalização das iniciativas, planos, programas e projetos pertinentes ao seu campo de atuação. Esse período caracterizou-se principalmente pela promoção de eventos e participação em festas, campeonatos e feiras. Entretanto, de acordo com Almeida (2002, p. 202) são outras iniciativas ali mencionadas para espacializar a atividade turística que merecem destaque: [...] pesquisa e levantamento para o diagnóstico no Programa Integrado de Três Ranchos, levantamento nas cavernas de São Domingos e o lançamento da proposta para implantação do Pólo de Desenvolvimento Turístico da Região Leste Goiana. Essas iniciativas demonstram o empenho XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1675 da Goiastur em estabelecer uma atividade duradoura baseada em um melhor conhecimento dos atrativos e potencialidades (ALMEIDA, 2002, p. 202). No ano de 1993, essa atividade goiana é fortalecida, onde as políticas apoiaram-se na instituição estadual Goiastur, nas empresas privadas, Associação Brasileira dos Agentes de Viagens (Abav), Sindicato dos Empregados do Turismo (Sindetur), Sindicato dos Gerentes Empresarias do Turismo (SINGETUR) e Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhorbs). Nesses primeiros anos da década de 1990, o governo goiano amplia a malha viária pavimentada em mais de 4.000 km, e no dia 19/04/1994 inaugura o Centro de Convenções do Estado de Goiás, ações que possibilitou a expansão da atividade turística. Para Almeida (2002, p. 202-203), apesar de ressaltar o turismo histórico e cultural nas cidades de Goiás, Pirenópolis, Corumbá de Goiás, Trindade e Muquém, as duas últimas com as festas e romarias, eram o turismo verde e da natureza (Vale do Araguaia e Parques Nacionais) e o favorecimento de equipamentos turísticos nas regiões de águas termais do Rio Quente e Caldas Novas que atraíam maiores incentivos públicos e privados, onde a intenção se fazia cada vez mais presente no setor. Nessa década, consolidou uma maior atuação do Sebrae na promoção das atividades de turismo e foi criado o Projeto de Execução Descentralizada (PED), que instituiu pólos de ecoturismo no estado. Conforme Almeida (2002, p.204) através do projeto intitulado “Criação de Quatro Pólos Indicadores de Desenvolvimento do Ecoturismo Microrregional”, o PED desenvolveu-se em Goiás sob a égide do Conselho Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), selecionando para esse projeto os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Pirenópolis, São Domingos e Três Ranchos. Sintetizando esse processo histórico, em 71 11 de novembro de 1998, pela Lei 13.550 foi criada a AGETUR (Agência Goiana de Turismo), órgão responsável pela atual execução da política turística goiana e pela interlocução com o projeto de regionalização do turismo – roteiros do Brasil. O regulamento desse órgão foi aprovado pelo decreto número 5.862, de 17 de novembro de 2003, dando autonomia 71 Fonte extraída da página www.goiasbrasil.com.br, no “Documento AGETUR – Estratégia e Gestão do ano de 1999”. Consulta realizada em 15 de Março de 2008. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1676 administrativa, financeira, patrimonial e jurisdicionada à Secretaria de Indústria e Comércio. Ainda em 1999, o ““Sebrae firma um acordo de cooperação técnicoinstitucional com a Agetur e promove o primeiro Fórum de Turismo de Goiás (Almeida, 2002, p.212)””. Diante desse novo ordenamento, as competências da Agência Goiana de Turismo (AGETUR) passaram a propiciar o fortalecimento e o crescimento do turismo em Goiás. Cabe ao órgão estatal fomentar o desenvolvimento do turismo e os processos socioeconômicos, cultural e técnico-científico, atraindo para os municípios convenções, feiras, exposições, congressos, seminários, conferências e outros eventos de caráter local, regional, nacional e internacional, atendendo particularidades setoriais de acordo com a estrutura e vocação de cada município. Promover a divulgação de eventos em articulação com os demais órgãos estaduais, contribuir: [...] para a qualidade dos serviços turísticos, no âmbito do Estado de Goiás, que devem ser compatíveis com as características de mercado e com os investimentos em turismo; garantir padrões internacionais de qualidade na prestação de serviços turísticos, atendendo produtivamente às necessidades da clientela; participar de planos e programas turísticos coordenados pelo governo federal e, ao mesmo tempo, promover e facilitar o intercâmbio com as demais entidades turísticas municipais, estaduais, nacionais e internacionais; firmar convênios, acordos, contratos, intercâmbios ou parcerias com pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, nacionais ou estrangeiras, a fim de facilitar e/ou participar de atividades e processos destinados à melhoria, ao aperfeiçoamento e à inovação do setor turístico (GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, 2003, p.02). Outras funções do órgão são pesquisar fontes de financiamento na esfera do Governo Federal, de organismos internacionais, públicos ou privados, manter banco de dados da atividade turística, com vistas a divulgar e promover o surgimento de novos empreendimentos, e planejar e desenvolver programas e projetos em articulação com os organismos públicos ou privados. As unidades administrativas que constituem a estrutura básica e complementar do órgão são: o conselho de gestão, diretoria executiva, presidência, chefia de gabinete, diretoria administrativa e financeira, diretoria de desenvolvimento turístico, diretoria de operações turísticas e diretoria de relações institucionais. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1677 Nesse contexto, a aprovação das propostas de planos, programas, projetos, orçamentos, contratação de empréstimos, bem com a supervisão e execução desses é de responsabilidade do conselho de gestão (Governo do Estado de Goiás, 2003, p.02-03). As competências da diretoria de desenvolvimento turístico da AGETUR são: executar com base nos estudos socioeconômicos de mercado, as atividades relacionadas com a aplicação de recursos financeiros, orçamentários e extra-orçamentários nos programas e projetos, com vistas a dinamizar a oferta e demanda do turismo. Cabe ainda a AGETUR atuar no estabelecimento de regras e procedimentos para o total aproveitamento da gestão das potencialidades turísticas, desenvolverem estudos de viabilidade econômica, analisando as melhores estratégias de implantação de projetos, coletar, organizar, manter e disponibilizar informações e conhecimento do segmento do turismo, desenvolver e aprimorar os instrumentos técnicos necessários à obtenção das informações e padronizações de serviços e produtos turísticos, e analisar as oportunidades de mercado, para definição de metas e objetivos mercadológicos. Em seguida, chega-se ao estudo de caso deste artigo, apresentando um quadro focado no turismo regional. 4. O CASO DO BAIXO VALE PARANAÍBA GOIANO NO INTERIOR DE GOIÁS Como já exposto, o Baixo Vale Paranaíba Goiano compreende os municípios da microrregião de Quirinópolis, composta pelas cidades de Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão e Lagoa Santa. Durante a proposta de Regionalização do Turismo, publicada pelo Ministério do Turismo no início do Governo Lula (2003/2004), essa microrregião do estado de Goiás foi inserida na “Região Turística das Águas”. Essa nova configuração regional propiciou a entrada, na região turística, dos municípios de Água Limpa, Aloândia, Anhanguera, Bom Jesus de Goiás, Buriti Alegre, Cachoeira Dourada, Caldas Novas, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Corumbaíba, Cromínia, Cumari, Davinópolis, Goiandira, Goiatuba, Inaciolândia, Ipameri, Itumbiara, Joviânia, Mairipotaba, Marzagão, Morrinhos, Nova Aurora, Ouvidor, Panamá, Piracanjuba, Pontalina, Porteirão, Professor Jamil, Rio Quente, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1678 Três Ranchos e Vicentinópolis, juntamente com as municipalidades do Baixo Vale Paranaíba Goiano. É importante ressaltar que as atuais divisões do Ministério do Turismo no estado de Goiás não seguem os limites administrativos das microrregiões. A “Região Turística das Águas”, por exemplo, apropria-se dos espaços geográficos das microrregiões de Quirinópolis, Meia Ponte e Catalão, fazendo essas, parte de um outro plano regional de desenvolvimento e inserção das atividades de turismo nesta área do interior goiano. O que distancia essas municipalidades e não fortalece as trocas de informações e criações de redes como propõe as políticas do Ministério do Turismo e AGETUR. Desse modo, as contemporâneas e amplas regiões turísticas têm favorecido o isolamento de municípios, que no caso, da “Região Turística das Águas” atualmente a instância regional, ou seja, o órgão responsável pela gestão da mesma fica localizado na cidade de 72 Três Ranchos, dificultando o diálogo e a integração com os atores sociais locais e representantes dos poderes públicos nas cidades do Baixo Vale Paranaíba Goiano. 1679 Nesse caso, Gouvelândia é a cidade da microrregião mais próxima dos gestores responsáveis, 340 quilômetros, já Lagoa Santa a mais distante com 574 quilômetros. Tudo isso só defende e fortalece os interesses individuais e particulares, não propiciando a construção dos sistemas de redes, parcerias e trocas de experiências, pois é a articulação entre esses municípios que dá existência e forma a uma “Região Turística”. Apesar das atuais informações e propostas do Ministério do Turismo e AGETUR não chegarem concretamente aos municípios do Baixo Vale Paranaíba Goiano, isso não impede a existência de ações pontuais e atores sensibilizados e persuadidos em difundir e disseminar as atividades turísticas da região. Ou seja, existem pessoas envolvidas com a atividade nos municípios que permitem o entendimento da mesma no contexto regional e a partir das lógicas desenvolvidas 72 Região Turística das Águas - Caldas Novas é o destino indutor; endereço da instância: GO 330 Km – 1 Zona Urbana/ Av. Cel. Levino Lopes Coelho, 18 – Centro, Três Ranchos – Goiás. CEP:75720000. Informações retiradas do site do Ministério do Turismo (http://www.turismo.gov.br) consultado no dia 21 de outubro de 2009. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 no local, constatando práticas privadas e uma política pública que visa fixar esse setor econômico na microrregião de Quirinópolis. Por exemplo, Lagoa Santa e São Simão têm seus postos de atendimento ao visitante e secretarias de turismo, bem como as cidades de Caçu e Itarumã que também possuem suas secretarias municipais envolvidas com a atividade. Nesses casos, os quadros de funcionários e colaboradores têm sua manutenção feita com orçamentos municipais, pois por falta de funcionamento do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), poucas verbas federais chegam para o setor nessas cidades. Não existem órgãos de turismo nas outras cidades da microrregião. É relevante lembrar, que na cidade de São Simão, nos finais de semana e feriados, dias com maior movimentação de pessoas exógenas à cidade, não ocorre o funcionamento do Centro de Atendimento ao Turista (CAT). E com exceção de Lagoa Santa, todos os municípios possuem Terminais Rodoviários, com estrutura física que oferece aos visitantes e passageiros serviços de bares, restaurantes, estacionamentos de embarque e desembarque, guichês para compra de passagens e táxis, fazendo ocorrer um intenso comércio no entorno dessas rodoviárias. 1680 As empresas que atuam na microrregião têm escalas nessas cidades, disponibilizando várias opções de itinerários, integrando e incorporando essa paisagem a outras regiões do país. As cidades oferecem, em seus terminais, linhas intermunicipais e interestaduais, que tem as cidades de Goiânia (Capital do estad o), Rio Verde (GO), Itumbiara (GO), Jataí (GO) Ituiutaba (MG), Uberlândia (MG), Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) como os principais destinos. Cabe ressaltar neste artigo, que atualmente apenas São Simão e Lagoa Santa possuem estrutura espacial para se desenvolverem como centros de recepção, circulação e distribuição regional turística. Esses municípios possuem uma variada opção de comércio de alimentação e hospedagens, ou seja, é nesses núcleos urbanos que os hóspedes têm as melhores prestações de serviços e onde os referidos órgãos vêm investindo em tecnologias, técnicas e recursos que atendam visitantes mais exigentes. No entanto, nas demais cidades que compõem a microrregião de Quirinópolis ou Baixo Vale Paranaíba Goiano, a maior parte dos meios de hospedagens e setores de alimentação tem seus gerenciamentos e serviços prestados, pautados no trabalho familiar. Desse formato de exploração XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 turística, observamos no objeto de estudo, algumas semelhanças, principalmente no que se refere aos meios de hospedagens citados por Coriolano: [...] pequenos meios de hospedagem estão instalados em imóveis de propriedades dos gestores, tendo sido adaptados. Muitos eram casas de residência da família e em outros, mesmo após a adaptação para a atividade empresarial, a família permanece residindo no empreendimento (CORIOLANO, ET AL, 2009, P.126). Na paisagem de estudo ainda existem hotéis, pensões e pousadas que funcionam em antigas residências, que com o aumento da demanda os proprietários (moradores locais) foram transformando essas estruturas em espaços de locação turísticas, com quartos simples, sem banheiros privativos e não disponibilizando telefone e televisão. Onde de acordo com Andrade et al (1999, p.21) ““os proprietários da maioria das casas de pensão e hospedarias passaram a utilizar a denominação de hotel, com a intenção de elevar o conceito de casa””. Com maiores exigências em relação à qualidade dos serviços prestados, essas pequenas empresas familiares passaram a oferecer também apartamentos 1681 com banheiros, ar condicionado ou ventilador, frigobar e café da manhã. Excetuando Lagoa Santa e São Simão, as demais cidades da microrregião de Quirinópolis têm sua demanda hoteleira impulsionada pelo agronegócio, principalmente pela monocultura canavieira que vem promovendo o aumento do número de hospedagens nesses lugares, pois nesses municípios o turismo não é uma atividade econômica predominante. Desse modo, não se pode afirmar que as novas estruturas hoteleiras que surgiram nas demais cidades foram a partir de um movimento organizado pelos órgãos municipais de turismo, e sim para acompanhar os alargados investimentos em torno dos setores agrícolas e pecuários. São Simão dispõe ainda de aeroporto com pista de 1800 metros de cumprimento por 45 metros de largura, infraestrutura deixada durante a construção da Hidrelétrica de São Simão, mas que é pouco utilizada pela sociedade local e regional, ou seja, apenas para pousos e decolagens de pequenas aeronaves que são de propriedade dos empresários locais e de outros que vem a microrregião a negócios. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Esse aeroporto não funciona 24 horas, pois não conta com balizamento noturno e também não possui serviços contra incêndio, torre de controle aéreo e empresas aéreas operando com vôos diários. Contudo é o principal aeroporto da microrregião, com uma estrutura física de atendimento e estacionamento, mas sem os serviços de receptividade, embarque e praça de alimentação. Outra pequena pista de pouso regional encontra-se na cidade de Quirinópolis, porém com menor estrutura que a sãosimonense. Apesar dessas limitações, o turismo existe e para atender a nova atividade econômica e os novos visitantes foi surgindo um grupo de empreendedores com visão econômica e social diferente da realidade regional, isto é, os nichos explorados passaram a ser distintos do agronegócio existente. De um lado a agricultura e pecuária continua em expansão, mas de outro está surgindo hotéis com administrações não familiares e com mão de obra mais especializada, o que fez melhorar a qualidade dos serviços, atendimento e estruturas físicas. Pode-se afirmar que os hotéis dessa paisagem passam por uma “metamorfose administrativa” devido à inserção, expansão e valorização da atividade turística. Entre os principais hotéis dos núcleos urbanos de São Simão e Lagoa Santa, estão o 73 Mágica Visão, a Pousada da Ilha e o 74 Hotel Thermas Lagoa Santa, com modernas infraestruturas de atendimento. Dessa forma, fica explícito que mudanças vêm ocorrendo na microrregião de Quirinópolis, pois até as últimas décadas do século XX, os negócios hoteleiros eram gerenciados apenas por grupos familiares que atuavam sem um planejamento mais específico para o setor, pois nem sempre as reservas realizadas eram garantias de turistas chegarem aos locais e terem os quartos disponíveis. Nesse interior de Goiás esses grupos familiares ainda existem e são a maioria, mas parcialmente alguns deles têm procurado realizar investimentos focados na especialização para conseguir acompanhar a complexidade e modernidade do setor turístico. Fica evidente que os hotéis de base familiar muito contribuíram com a gênese do turismo na microrregião, mas precisam evoluir no receptivo se quiseram se manter no negocio. Como existem diferenças no setor, estabelecimentos hoteleiros 73 (http://www.hotelmagicavisao.com.br) e (http://www.pousadadailha.com.br) – sites dos hotéis Magica Visão e Pousada da Ilha no município de São Simão, nesse endereço é possível encontrar diversas informações. Consultado no dia 27 de setembro de 2009. 74 (http://www.thermaslagoasanta.com.br). Site do hotel Termas Lagoa Santa no município de Lagoa Santa, nesse endereço é possível encontrar diversas informações. Consultado no dia 27 de setembro de 2009. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1682 como o Mágica Visão, Ilha do Pescador e Hotel Thermas Lagoa Santa foram construídos para oferecer serviços antes inexistentes, como o tradicional café da manhã, estacionamento, quartos com Tv, frigobar e ar condicionado, e esses vem se tornando os principais parceiros dos poderes públicos locais. Outras ações importantes no contexto do turismo regional são os eventos realizados pelos poderes públicos do Baixo Vale Paranaíba Goiano, estando entre eles às festas de peões em todos os municípios, que são desenvolvidas nos recintos urbanos dos Sindicatos Rurais, locais conhecidos no Cerrado como “Parques de Exposições Agropecuárias”, isto é, esse festejo está enraizado no calendário dessas comunidades, atraindo para as cidades um grande número de pessoas. Tem também os carnavais de São Simão e Lagoa Santa, e os festivais gastronômicos de São Simão e da “Chica Doida” em Quirinópolis, que constituem atrativos importantes para atração de turistas em determinada época do ano. O festival gastronômico “Chica doida” leva esse nome para homenagear um prato exótico a base de milho conhecido regionalmente e que teve sua origem na 75 Fazenda Cachoeirinha do Rio Preto. Em suma, esses eventos são realizados na “Praia Artificial de São Simão, Praças Públicas, Parques de Exposições Agropecuárias e em Parques Municipais”. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS No estado de Goiás e especificamente na microrregião de Quirinópolis, aqui também definida como Baixo Vale Paranaíba Goiano as políticas públicas de turismo podem ser consideradas como jovens na estrutura orgânico-funcional das prefeituras municipais. Apesar disso nas duas últimas décadas, a região tem vivenciado uma relevante valorização do setor turístico pelos atores públicos e privados, principalmente nos municípios de Lagoa Santa e São Simão. No entanto, há várias carências no receptivo, demonstrando limitações nas transferências de orientações decorrentes de políticas de governo que não chegam ou demoram no seu processo 75 Dona Petronilha Ferreira Cabral e o marido João Batista da Rocha foram os responsáveis pela criação do prato goiano, pois gostavam de reunir a família e os amigos para as pamonhadas. Conta à história que em uma dessas pamonhadas as palhas de milho acabaram e como ainda havia muita massa resolveu inventar um prato, e no contexto da literatura regional “[...] criaram a receita acrescentando a massa já temperada, queijo, lingüiça, jiló, cebola e outros c ondimentos e levou ao forno para assar (STIVAL, 2008, p.19)”. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1683 de implantação nas escalas regionais e locais. Isso significa que o turismo ainda convive com as precárias condições de informações que dificultam a implementação de projetos como o de “regionalização do turismo – roteiros do Brasil”, de responsabilidade do Ministério do Turismo brasileiro. Isso também inibe ou retardam o desenvolvimento do setor, contribuindo para que as atividades ligadas aos setores de turismo e lazer se concentrem nas cidades pólos. Portanto, na medida em que o projeto estatal de regionalização do turismo se propaga democraticamente com a finalidade de acelerar as transformações que se operam nas regiões e municípios, faz com que os gestores públicos do setor se vejam obrigados a se posicionar nessas áreas com novas políticas, propiciando oportunidades econômicas e sociais. Levar o estado para o “sertão do país” a partir de organismos governamentais e propiciar integração deve ser um das novas preocupações das políticas públicas voltadas para o turismo. Desse modo, na elaboração de suas ações, o estado, em seus projetos deverá apontar para o respeito às especificidades regionais, as quais podem exercer um papel importante na integração desses municípios. Também deverá agir permitindo uma adaptação mais eficaz dos atores locais e no caso do estado de Goiás, para ordenar o turismo no seu território, terá que criar imediatamente uma secretaria estadual de turismo. REFERÊNCIAS AGMA – Agência Goiana do Meio Ambiente. 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XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1685 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ¹ Elcivânia de Oliveira Barreto Bacharel em Turismo/ Instituto Esperança de Ensino Superior [email protected] RESUMO As políticas públicas de turismo de um país é o instrumento imprescindível para conduzir o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável e harmônica entre o meio econômico, social e no que condiz ao ambiente natural. No Brasil as Políticas Públicas de Turismo são efetivadas de forma descentralizada, na ação participativa entre o Governo Federal, Estadual e Municipal, além é claro da importante participação de setores privados. Destarte, o presente estudo intitulado “Políticas Públicas de Turismo no município de Oriximiná”, foi resultado de uma pesquisa realizada no ano de 2005 no município de Oriximiná/Pará, como trabalho de conclusão do Curso de Turismo pelo Instituto Esperança de Ensino Superior na cidade de Santarém/Pará. Visando investigar se o município, através do órgão responsável pelo turismo, seguia as diretrizes propostas na Política Nacional de Turismo, bem como identificar os objetivos e a missão deste órgão, além de conhecer como estava estruturado e o papel do conselho municipal de turismo, a pesquisa de caráter qualitativo, realizou-se a partir de uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa documental, foram consultados o Plano Nacional de Turismo 2003-2007, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de Oriximiná, Lei de criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do Conselho e Atas de reuniões do Conselho Municipal de Turismo. No que se refere à pesquisa de campo, foi elaborado um roteiro de entrevista, direcionado a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de Turismo, buscando justamente perceber a articulação destes dois órgãos importantes ao desenvolvimento do turismo no município. Após a coleta dos dados, fez-se uma minuciosa análise destes, buscando-se, sobretudo resultados coerentes e fidedignos com o objetivo da pesquisa. Os resultados da pesquisa apontam a existência de diretrizes para o fomento da atividade turística no município de acordo com a Política Nacional de Turismo. Apesar de algumas discordâncias nas respostas das entrevistadas, observou-se que ambas acreditam na importância de inserção do turismo como elemento propulsor do desenvolvimento e sustentabilidade econômica, social e ambiental. Um aspecto negativo, constatado durante a pesquisa, foi a forte dependência que o órgão competente tem da Prefeitura para viabilizar qualquer tipo de atividade, principalmente quando se constatou a ilegalidade da secretaria. Com o advento do turismo no âmbito municipal, torna-se crucial a criação de um órgão oficial de turismo no município, este que indubitavelmente, será um mecanismo fortalecedor das políticas públicas de turismo, permitindo o desenvolvimento da atividade de forma responsável, participativa, e integrada. Palavras Chave: Turismo, Política Pública, Desenvolvimento, Oriximiná. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1686 ABSTRACT The public politics of tourism of a country are the indispensable instrument to lead the development of the tourist activity in a maintainable and harmonic way among the economical system, social and in the one what mean to the natural environment. In Brazil the Public Politics of Tourism are executed in a decentralized way, in partner among the Federal Government, State and Municipal, besides the important participation of private sections. Thus, the present study entitled “Políticas Públicas de Turismo no Município de Oriximiná” (Public Politics of Tourism in the municipal district of Oriximiná), it was resulted of a research accomplished in the year of 2005 in the municipal district of Oriximiná/Pará, as essay of conclusion of the Course of Tourism for Instituto Esperança de Ensino Superior (Esperança College) in the city of Santarém/Pará. Seeking to investigate if the municipal district, by the responsible organ for the tourism, followed the guidelines proposed in the National Politics of Tourism, as well as to identify the purpose and the mission of this organ, besides knowing how it was structured and the paper of the municipal advice of tourism, the research of qualitative character, took place starting by a bibliographical research, documental and of field. In the documental research, the National Plan of Tourism 2003-2007, Law of the Sport Department and Tourism Department of Oriximiná, Law of creation of the Municipal Council of Tourism, Internal Regiment of the Council and register of meetings of the Municipal Council of Tourism were consulted. In the referring to the field research, an interview route was elaborated, addressed the Municipal Clerkship of environment and Tourism and the President of the Municipal Council of Tourism, looking for exactly to notice the articulation of th ese two important organs to the development of the tourism in the municipal district. After the collection of the data, it was made a meticulous analysis, in purpose to, among all coherent and trustworthy results with the objective of the research. The results of the research point the existence of guidelines for the fomentation of the tourist activity in the municipal district in agreement with the National Politics of Education. In spite of some disagreements in the interviewees' answers, it was observed that both believe in the importance of insert of the tourism as element propeller of the development and economical support, social and environmental. A negative aspect, verified during the research, it was the strong dependence that the competent organ has of the City hall to make possible any activity type, mainly when the illegality of the tourism department was verified. With the coming of the tourism in the municipal ambit, it becomes crucial the creation of an official organ of tourism in the municipal district, this that undoubtedly, it will be a strengthen mechanism of the public politics of tourism, allowing the development of the activity in a responsible way, partnership, and integrated. Key words: Tourism, Public Politics, Development, Oriximiná. 1. INTRODUÇÃO O turismo tornou-se nos últimos anos no Brasil e no mundo, um importante agente no crescimento da economia, e no desenvolvimento social e espacial de vários centros turísticos. Assim como benefícios, a atividade acarreta também malefícios, sendo fundamental traçar diretrizes que permitam o fomento da atividade XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1687 visando, sobretudo à maximização dos benefícios, e isto sem dúvida é o maior desafio, pois não basta apenas dispor de atrativos turísticos, é necessário cogitá-la em parâmetro econômico, social e ambiental que atinja todas as camadas da sociedade e promova um ambiente mais justo e equitativo. Diante disso, a política pública de turismo de um país é imprescindível no estabelecimento de diretrizes para a elaboração do planejamento, promoção e controle da atividade turística. O Brasil apresenta uma política de turismo, baseada na descentralização, na ação participativa e articuladora entre o Governo Federal, Estadual e Municipal, no entanto, deve partir da Esfera Federal a formulação de diretrizes para dar embasamento tanto aos Estados quanto aos Municípios, para desenvolver a atividade de forma sustentável. Devido as características da Política Nacional de Turismo, sentiu-se a necessidade de estudar no Município de Oriximiná, como o órgão responsável, a Secretaria de Meio Ambiente e Turismo, tem seguido as diretrizes propostas pela Política Nacional de Turismo, tendo em vista que a necessidade de se adotar a política de turismo no planejamento da atividade turística, parte da importância de se desenvolver e controlar a expansão desta atividade, que assim como as demais atividades econômicas está atrelada ao modelo capitalista, detendo dentre outros, não só caráter predatório, mas também benéfico, isto dependerá da forma como esta é planejada. Durante a pesquisa, buscou-se ainda identificar quais os objetivos, a missão, e a estrutura organizacional desta Secretaria, bem como a presença do Conselho Municipal de Turismo. Para atingir tais objetivos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa documental, foram consultados o Plano Nacional de Turismo 2003-2007, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de Oriximiná, Lei de criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do Conselho e Atas de reuniões do Conselho Municipal de Turismo. No que se refere à pesquisa de campo, foi elaborado um roteiro de entrevista, direcionado à Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de Turismo. Dessa forma, este artigo apresenta inicialmente uma abordagem do cenário atual do turismo, bem como os impactos advindos deste. Em seguida se enfatiza a Política de Turismo, contextualizando-a com a realidade nacional. Dando sequência, apresenta-se os procedimentos metodológicos utilizados na realização da pesquisa, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1688 posteriormente são expostos os resultados obtidos com as pesquisas documental e de campo, destacando o potencial turístico, bem com o turismo na estrutura governamental do Município de Oriximiná, e finalmente apresenta-se as considerações finais da pesquisa, destacando dentre outros pontos a ocorrência de Políticas Públicas de Turismo no município em consonância com a Política Nacional de Turismo. 2. O TURISMO NA ATUALIDADE A expansão do turismo no espaço mundial demonstra cada ve z mais o interesse de instituições públicas e privadas pelo potencial da atividade no desenvolvimento socioeconômico de determinados países. De acordo com a OMT (2006, apud MOURA & GARCIA, 2009) o turismo tornou-se responsável por 6% do valor total arrecadado com exportações de bens e serviços no mundo, o que coloca a atividade em quarto lugar no ranking das exportações, só perdendo para combustíveis, produtos químicos e produtos automotivos. No ano de 2009, no entanto a atividade sofreu uma regressão em consequência da crise econômica, agravada ainda mais com a pandemia da Gripe A (H1N1), causando, com base na evolução dos três primeiros trimestres de 2009, uma queda nas receitas em torno de 6%. Apesar de este representar, sem dúvida um resultado bem decepc ionante para um setor acostumado a um crescimento constante, isto também pode ser interpretado como um sinal de força comparativa, dado o ambiente econômico muito difícil, principalmente quando se comparam os números com a queda estimada de 12% das exportações mundiais, como resultado da crise global. Para 2010, as perspectivas para a atividade são otimistas, no entanto se fazem necessário rigorosas políticas globais de apoio ao turismo (OMT, 2010). No Brasil, o turismo aparece com destaque, em 13º lugar no ranking de países, que leva em consideração vários indicadores do setor, como a importância do turismo para o PIB, geração de empregos, divisas geradas por turistas internacionais e investimentos públicos e privados, e esta posição de acordo com o ministro do turismo, é sem duvida positiva, levando em conta a crise mundial. De acordo com Jeanine Pires, presidente da EMBRATUR, os dados de 2010, assim como as perspectivas otimistas para o período de dez anos, revelam que o Brasil XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1689 vem se afirmando como um dos grandes emergentes do turismo global, destacandose principalmente na geração de empregos e na geração de divisas com o turismo internacional (EMBRATUR, 2010). Tais dados comprovam que o setor vem ocupando aos poucos seu espaço, sintonizando a geração de emprego e renda, alcançando patamares na balança comercial mundial, isto leva a crença de que o turismo seja a mais nova panacéia, principalmente das economias estagnadas de alguns países. 3. OS IMPACTOS DO TURISMO É inegável a importância do Turismo para o desenvolvimento socioeconômico de países, seu potencial gerador de emprego e renda que movimenta todos os setores da sociedade, no entanto a atividade de acordo com Ignarra (2003) apresenta um comportamento cíclico, pois a mesma varia de acordo com os f atores externos (globais), como conflitos entre países, declínio da moeda nacional, dentre outros, isto faz com que nem sempre uma localidade turística permaneça no ápice do mercado. Beni (2003, p.15) ao abordar tal questão, afirma que o turismo está “indissoluvelmente ligado às problemáticas contemporâneas”, necessitando de uma visão estratégica e principalmente da formulação e aplicação da política pública de turismo, levando em consideração os aspectos que permeiam a sociedade, dentre os quais econômicos, sociais e ambientais. O quadro atual do turismo é instável, e nos remete a seguinte pergunta: Será que o turismo é uma alternativa viável para o desenvolvimento de Estados, municípios, cidades? A resposta para tal pergunta dependerá da forma como ocorrerá o implemento dessa atividade em determinada localidade. Para McIntoch & Goeldner (1986, p. 305 apud RUSCHMANN, 2002, p. 164) O desenvolvimento do turístico só deve ocorrer como consequência de uma política de planejamento cuidadosa – não calcada apenas na balança de pagamentos dos países em desenvolvimento ou na região de custos e benefícios. Ele deve estruturar-se sobre idéias e princípios de bem estar e de felicidade das pessoas. Os problemas sociais dos países não poderão ser solucionados sem uma economia forte e em crescimento, e o turismo pode contribuir para criá-la. No entanto, o que se observa é que o desenvolvimento da atividade ocorre sem nenhuma diretriz, dificultando o desencadeamento da mesma em parâmetros XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1690 sociais, culturais e ambientais das localidades que já vêm utilizando o turismo como alternativa para seu desenvolvimento econômico, o que acarreta gradativamente impactos negativos irreversíveis ao meio ambiente. Ignarra (2003, p. 78-79) ao afirmar a importância socioeconômica do setor, cita alguns benefícios provindos desta atividade como: Gerar divisas estrangeiras; favorecer o entendimento e a paz mundial; incrementar a renda; favorecer o processo de globalização mundial; incrementar o Produto Interno Bruto; criar uma imagem externa favorável da localidade; poder desenvolver-se sobre estrutura já existente; romper as barreiras de língua, classe, raça, credo religioso e políticas; criar infraestrutura que também ajuda o comércio e a indústria local; proporcionar instalações turísticas e recreacionais que também podem ser utilizadas pela população local, utilizar produtos locais e recursos locais; proporcionar empregos a artistas, músicos e outros, estimulando a produção cultural; contribuir para a diversificação da economia; justificar a proteção e o melhoramento das condições ambientais; tendência a se tornar uma atividade de desenvolvimento econômico mais acessível para uma área ao complementar outras atividades econômicas; reforçar a conservação dos usos e costumes; estender o desenvolvimento para áreas deprimidas; melhorar as condições de vida da população local; ter um grande efeito multiplicador; melhorar os horizontes educativos, culturais e o sentimento de auto-estima da população; aumentar a arrecadação de impostos. 1691 Diante disso, observa-se que são diversos os benefícios que o turismo proporciona a uma localidade, o qual funciona como é a mola mestra do desenvolvimento, beneficiando não apenas um setor da sociedade, mas a todos que direta ou indiretamente estão envolvidos nessa ati vidade. Contudo, tal atividade não produz apenas benefícios, por isso vale ressaltar ainda Ignarra (2003, p. 80-81) que aponta alguns malefícios que podem surgir com a implementação desta, como Criar uma demanda excessiva de recursos, contribuir para a propagação de enfermidades; causar dificuldades sazonais; colaborar para a instabilidade econômica; provocar inflação; provocar congestionamentos; poder provocar um desenvolvimento econômico desequilibrado; gerar conflitos com a comunidade anfitriã; gerar problemas sociais; criar falsos conceitos, degradar o ambiente físico natural, comercializar a religião, as artes e a cultura, degradar o ambiente cultural, desarticular as estruturas familiares; aumentar os índices de criminalidade, prostituição e jogos por dinheiro; aumentar a vulnerabilidade aos câmbios políticos e econômicos (maior dependência da economia externa). Sendo assim, constata-se que o turismo pode trazer tanto benefícios, quanto malefícios, porém para que os impactos positivos prevaleçam dian te dos negativos é XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 fundamental a utilização da política de turismo no processo de planejamento da atividade. 4. AS POLÍTICAS DE TURISMO Para Goeldner, Ritchie & McIntoch (2002, p.294) política de turismo é entendida como: O conjunto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na qual são tomadas as decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o desenvolvimento turístico e as atividades diárias dentro de uma destinação. A formulação da política de turismo se dá de acordo com a realidade de cada país, geralmente dentro de um sistema econômico misto, ou seja, que tem como seu elemento constituinte não apenas o poder público, mas “[...] organizações privadas, associações de classes nacionais e internacionais, que interligadas, interferem decisivamente no SISTUR – Sistema de Turismo” (BENI, 2004 p.100). Deve estar no âmbito da política de turismo, a criação de um espaço turístico sustentável, com apoio e facilidades de benefícios tanto à comunidade anfitriã, quanto ao turista/visitante. Para tanto, Goeldner, Ritchie & McIntoch (2002, p.295) estabelecem as seguintes funções que a política de turismo assume: Define as regras do jogo – os termos nos quais as operações turísticas devem funcionar; estabelece atividades e comportamentos aceitáveis; fornece uma direção comum a orientação para todos os interessados no turismo em uma destinação; facilita o consenso em torno de estratégias e objetivos específicos para uma destinação; fornece uma estrutura para discussões públicas e privadas sobre o papel e as contribuições do setor turístico para a economia e para a sociedade em geral; permite que o turismo estabeleça interfaces com outros setores da economia de forma mais eficaz. Vendo por este prisma, a política de turismo abrange vários ambientes que compõem a sociedade, como econômico, social, político, cultural além do meio natural, embora não deva ter uma preocupação específica, o que vem acontecendo em diversas localidades que implementaram a atividade turística, empresas privadas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1692 e até mesmo o setor público tem priorizado apenas o crescimento econômico, sem possibilitar benefícios à população local. Os benefícios econômicos provindos do turismo devem ser sentidos em cenário interno e externo, repercutindo no produto interno bruto e entrada de divisas. No entanto, esses benefícios econômicos devem estender-se, primeiramente à localidade receptora e seus habitantes, visando o desenvolvimento da atividade de forma sustentável, e mitigando os impactos negativos provenientes da mesma. Reforçando tal idéia Goeldner, Ritchie & McIntoch (2002, p.294) afirma que “a política de turismo busca garantir que a recepção de visitantes seja feita de forma que maximize benefícios aos interessados, enquanto minimiza os efeitos, custos e impactos associados à garantia do sucesso da destinação”. Ao se tratar da formulação da política pública de turismo, por mais que nesta, o sujeito seja apenas o Estado, deve-se considerar a sociedade como um importante ator neste processo, pois sua participação pode contribuir para a construção e implementação de uma política coerente com suas diretrizes e fidedigna com as necessidades da população, em prol sempre do bem coletivo. De acordo com Hall (2001 apud SANSOLO & CRUZ, 2003, p.3) “a política pública, por sua vez, é parte do processo de planejamento governamental e envolve tudo aquilo que um governo decide fazer ou não relativamente a um dado setor da vida social”, sendo assim, a política pública de turismo deve se configurar em um documento público, constituindo no retrato de interesses do(s) poder (es) público(s) (local, estadual, regional ou nacional) com relação à organização do setor turismo em um dado território, tornando-se crucial a clareza dos objetivos, metas, diretrizes e estratégias propostos em tal documento, pois a política pública setorial é uma referência para o planejamento do setor, tanto para os agentes públicos quanto para a iniciativa privada (CRUZ, 2006). Destarte a política pública pode ser mais ou menos generalizante. No que se refere ao turismo, podem desdobrar-se de uma política de turismo outras políticas específicas, como uma política de marketing turístico, de capacitação de mão-de-obra (SANSOLO & CRUZ, 2003, p.3). Diante disso, deve-se considerar na elaboração das políticas públicas de turismo os interesses dos diferentes atores da sociedade, tendo em vista, citando Cruz (2006, p.342) que o “desenvolvimento do turismo deve ser um projeto construído coletivamente e não uma resposta a interesses particulares, de grupos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1693 sociais específicos”, fomentar o turismo a partir deste prisma é sem dúvida incitar o desenvolvimento local. Dando ênfase ao desenvolvimento local, Bava (1996, p.58 apud CAMPANHOLA & SILVA, 2000, p.14) ressalta que este “nasce de forças internas da sociedade; constituindo um todo, com dimensões ecológicas, culturais, sociais, econômicas, institucionais e políticas, sendo que a ação a seu serviço deve integrar todas essas dimensões”. Por tudo isso, é imprescindível o envolvimento da comunidade em práticas democrático-participativos, a realização de projetos locais, na cidade e no campo, de cooperativismo, que sejam potencializadores, indutores do desenvolvimento local, contribuindo na geração e aumento da renda da população e na própria arrecadação de tributos para o município, conduzindo a uma sustentabilidade econômica e social, bem como na conservação do meio ambiente (ROLA & HESPANHOL, 2010). E isto indubitavelmente, são práticas que o turismo pode estar fomentando e consolidando em uma localidade, principalmente quando as políticas públicas são formuladas e executadas no âmbito do bem estar comum da comunidade local. 1694 4.1. A POLÍTICA PÚBLICA DE TURISMO NO BRASIL A política de turismo no Brasil a principio é marcada por um longo período de decretos, os quais deram início a intervenção do Estado no setor, assim como a sustentação do turismo nacional, porém somente a partir da década de 1990 que o governo cria um documento que dá ênfase ao fomento do turismo em territór io nacional, intitulado “Política Nacional de Turismo: diretrizes e programas – 1996/1999, este que traçava diretrizes e estratégias para a condução do turismo no Brasil, mesmo com este importante documento, a atividade ainda permanecera de forma inibida no cenário brasileiro. Com a criação do Ministério de Turismo no ano de 2003, o turismo no Brasil ganha um novo lugar na esfera governamental, representando, sem dúvida um grande momento do turismo no país, pois deixa de ser relegado e passa a ser priorizado, como um mecanismo para o alcance do desenvolvimento sustentável do país, em que são medidos não somente o peso que o mesmo tem na balança comercial, mas a qualidade de vida da população, mitigando as disparidades sociais, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 bem como os impactos negativos gerados às localidades turísticas (PLANO NACIONAL DO TURISMO 2003-2007). A gestão do turismo no que concerne a união, estrutura-se da seguinte forma: Ministério do Turismo, o Conselho Nacional e o Fórum Nacional de Secretários e dirigentes Estaduais de Turismo. Neste âmbito, formula-se um novo Plano de Turismo, que permearia durante os anos de 2003 a 2007. A elaboração do Plano contou de imediato com a participação dos vários setores da sociedade, demonstrando a preocupação em manter a articulação com tais setores. No plano, foram primeiramente diagnosticados alguns problemas, os quais têm sido empecilhos no desenvolvimento do turismo, como a falta de articulações entre os setores governamentais e os privados, com base neste, foram traçados seus objetivos, e a partir destes as metas que deveriam ser alcançadas durante a prevalência do plano. Tal documento ainda expressava algumas características do plano antecedente a este, pois evidenciava ainda uma gestão descentralizadora do turismo, em que o município torna-se elemento fundamental no processo de elaboração de programas e/ou projetos para o desenvolvimento do turismo no âmbito local. Para tanto, exprime a necessidade de uma maior articulação entre os Governos Federal, Estadual e Municipal, e não se pode dei xar de mencionar outros importantes atores, o setor privado e a própria sociedade. Destarte, a política pública de turismo no Brasil, atende não apenas as necessidades do Governo Federal, mas de todas as Esferas seja esta Estadual ou Municipal, além é claro de setores privados ou não. E é justamente esta articulação, a ação participativa de tais instituições que possibilitará o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável, incitando acima de tudo o desenvolvimento local de um destino turístico. 5. OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente estudo foi realizado na cidade de Oriximiná, estado do Pará, sendo uma pesquisa de caráter qualitativo, onde se fez pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Segundo Gil (1999, p.66) a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida a partir de material já elaborado”, desta forma para a realização da pesquisa bibliográfica foram XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1695 consultados constantemente livros para dar subsídios principalmente para a aplicação da pesquisa de campo. De acordo com Gil (1999) a pesquisa documental assemelha-se à pesquisa bibliográfica, no entanto a natureza de suas fontes a torna distinta, pois na pesquisa documental são estudados materiais que ainda não passaram por uma análise mais científica. Para tanto, na pesquisa documental foram consultados documentos como o Plano Nacional de Turismo, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de Oriximiná, Lei de Criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do Conselho, Regimento Interno do Conselho e Atas de Reuniões do Conselho do Município. No que se refere à pesquisa de campo, esta foi realizada junto à Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de Turismo, as quais se constituíram nos sujeitos da pesquisa, principalmente quando representam organismos responsáveis pelo planejamento, execução e controle da atividade turística no município. Como instrumento de coleta de dados, elaborou-se dois roteiros de entrevistas, sendo um destinado à Secretária Municipal de Turismo e um à Presidente do Conselho, sendo que existiam algumas perguntas semelhantes nestes, visando constatar a existência de articulação entre a Secretaria e o Conselho Municipal de Turismo. Os dados obtidos com as entrevistas passaram por um estudo minucioso, estabelecendo sempre uma relação com o material coletado com a pesquisa documental, buscando, sobretudo resultados fidedignos com o objetivo da pesquisa. 6. ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ Localizado no noroeste do Estado do Pará, às margens do Rio Trombeta s, na Zona Fisiográfica do Baixo Amazonas, o município de Oriximiná (Figura 1) se destaca dentre outros do Estado, principalmente por apresentar-se como sede de instalação do Projeto Trombetas a partir da década de 1970. A instalação do projeto, através da Empresa Mineração Rio do Norte, contribuiu de forma acirrada para o desenvolvimento no núcleo urbano de Oriximiná, principalmente por ser beneficiado com os royalties, que contribuem diretamente para a melhoria da infra-estrutura urbana da sede do Município. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1696 Figura 1 1697 Como meios de acesso para o município de Oriximiná utiliza-se o terrestre, o aéreo e o fluvial. Por via aérea, através do aeroporto municipal de Oriximiná e do aeroporto localizado no Distrito de Porto Trombetas, com as companhia s aéreas: Meta, Total entre outras. Por via fluvial, são várias embarcações que servem como transportes de passageiros e de cargas, interligando às várias cidades da Amazônia. Com uma população aproximadamente de 58.683 mil habitantes (IBGE, 2009), o município vem passando por uma intensa expansão urbana, bem como uma nova reestruturação de seu espaço geográfico. A economia do município gira em torno de atividades como agricultura, pecuária e o extrativismo, estas que recebem intenso incentivo da Poder Público Local. Neste contexto, pode-se destacar o turismo, uma atividade que gradativamente vem se incorporando na economia do município, porém ainda de forma muito inibida, talvez por ainda não representar ao poder público, estimativas reais de dinamização da economia local, daí também o pouco incentivo que a atividade recebe da Prefeitura do Município, incidindo XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 diretamente como um entrave no desenvolvimento da atividade turística no Município de Oriximiná. O município de Oriximiná desponta como importante potencialidade turística da região, de acordo com Picanço (2004), tais potencialidades são percebidas principalmente em suas áreas naturais. No entanto, não se pode restringir sua potencialidade a tais áreas, apesar de sua imensa biodiversidade, corroborando a uma forte tendência ao desenvolvimento do ecoturismo, destaca-se a presença de comunidades tradicionais, como quilombolas e ribeirinhos, dando subsídios para a implementação do turismo comunitário; a diversidade cultural, demonstrada em sua música, culinária, e principalmente no Círio de Santo Antônio, um dos maiores círios fluviais noturno do mundo, que aponta para a prática do turismo religioso e cultural. Reforçando tal potencial a Paratur – Companhia Paraense de Turismo do Estado do Pará (2010), destaca alguns atrativos existentes no município [...] como a moderna indústria extrativista de bauxita, ao lado da Reserva Biológica do Trombetas, os povoados remanescentes de antigos quilombos, bem como a pesca amadora do rio Trombetas, já incluída no roteiro internacional da EMBRATUR. Fora todos esses produtos potenciais ao longo do rio, em áreas adjacentes a esses núcleos são identificados vários outros atrativos: inúmeros lagos piscosos para pesca amadora, campos naturais e fazendas para o aproveitamento do turismo rural e aventura, praias fluviais, etc. O turismo em Oriximiná é uma prática recente, que surgiu oficialmente na década de 90 com a criação da Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo, bem como do Conselho Municipal de Turismo. Apesar de despontar como grande potencial turístico, o município pouco tem se destacado como destino turístico, o que se observa em torno desta prática são ações pontuais voltadas para o que se pode denominar turismo de eventos, talvez esta não seja a nomenclatura mais adequada para utilizar ao turismo desenvolvido no município, porém são em eventos, como o Círio de Santo Antônio que ocorre anualmente no mês de agosto, que se percebe maior articulação, investimentos da sociedade e do próprio poder público. Outro evento, que vale ressaltar é o Torneio de Pesca Esportiva (pesque e solte) que ocorre também anualmente, recebendo apoio de instituições públicas e privadas. Diante disso, percebe-se que o turismo no município é desenvolvido de forma pontual, enfatizando principalmente os eventos considerados com mais potencial de atrair turistas, ou melhor, que exista demanda. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1698 Contudo, devido a imensa diversidade de atrativos potenciais que o município detém, este pode tornar-se um importante destino turístico e sem dúvida ser incluído no roteiro turístico nacional, porém é fundamental que sejam articuladas ações que não se restrinjam aos exemplos citados acima, mas ações que a atividade turística se consolide e ocorra de forma constante, com opções de turismo durante o ano todo, e atrelada a tais ações devem estar as ditas políticas públicas, que certamente hão de repercutir na excelência da atividade turística, esta excelência correspondendo sobretudo em melhorias na qualidade vida da população local, refletindo diretamente no desenvolvimento local. Sendo assim se fez necessário, conhecer o que o município, através de seu órgão gestor pelo turismo, tem feito no âmbito das Políticas Públicas, para tanto se apresenta a seguir os resultados da pesquisa documental, através de uma pequena análise, bem como os resultados obtidos em campo, com as entrevistas. 6.1. RESULTADOS DA PESQUISA DOCUMENTAL Na pesquisa documental foram consultados os seguintes documentos: Lei de criação da Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo, já não mais e xistente, no entanto como ainda não havia nenhum documento que legalizasse o atual órgão responsável pelo turismo no município, optou-se pelo estudo desta lei. Foram consultados ainda a Lei de Criação do Conselho e do Fundo Municipal de Turismo; Regimento Interno do Conselho Municipal; e atas das reuniões realizadas pelo Conselho Municipal de Turismo. A Lei de Criação da Secretaria de Cultura Desporto e Turismo possibilitou a identificação do período em que o turismo passou a ser reconhecido pelo governo local, no ano de 1993, com a Lei nº 5.787 que instituía a criação da Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo. Dentre seus artigos, destaca-se o 1º artigo que fazia referência ao objetivo da secretaria, que seria “planejar as ações de caráter cultural, artístico, desportivo e turístico do Município de Oriximiná” (Lei nº 5.787). Com esta lei conjectura-se que a expansão do turismo alcança os limites do município de Oriximiná, confirmando ainda a política de descentralização disposta na Política Nacional de Turismo. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1699 A principal função da Secretaria seria “promover e incentivar o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico”, percebeu-se neste item a importância que a atividade turística recebera em âmbito municipal, e principalmente este pensado de acordo com o disposto na Política Nacional, cogitado em parâmetros não apenas econômico, mas também social. De acordo com esta lei, a Secretaria estava composta da seguinte forma: Nível de Direção – Secretaria Municipal de Cultura, Desporto e Turismo; Nível de Atuação Programática – dividido entre dois setores, o Setor Administrativo e Setor de Patrimônio Histórico, Cultural, e Artístico; e o Nível de Atuação – este dividido em Casa da Cultura, Setor de Desporto, e Setor de Turismo. Com as eleições do ano de 2004, ocorreu mudança na Gestão Municipal, e consequentemente no órgão responsável pelo turismo, criando outra secretaria, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo. Contudo, não foi possível fazer o estudo da lei de criação da mesma, pois o novo governo ainda não havia conseguido se organizar plenamente, atrasando o processo de legalização da nova Secretaria. Porém, o estudo da Lei nº 5.787 foi fundamental para elucidar o momento em que o turismo iniciou sua trajetória no município, bem como contextualizá-lo com o cenário nacional. Outro importante documento consultado foi a Lei de Criação do Conselho Municipal, a Lei nº 6.101 de 29 de junho de 1999, que atribuía às seguintes funções, o funcionamento como um órgão consultivo, deliberativo, normativo, de assessoramento e fiscalizador, sendo de sua responsabilidade a promoção, assim como o aprimoramento das diretrizes do desenvolvimento turístico do município. Pode-se dizer que a criação do Conselho foi um “grande passo” no que condiz às políticas públicas de turismo, pois é através deste que articulação entre instituições governamentais e não governamentais se dará. De acordo com esta lei, o conselho deveria ser composto por órgãos governamentais e não governamentais, sendo assim dos órgãos governamentais foram selecionados a Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo; Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente; Secretaria Municipal de Educação; Secretaria Municipal de Agricultura; e Câmara Municipal de Oriximiná. A seleção dos órgãos não governamentais foi feita através de uma Conferência Municipal específica, e nesta, cada instituição governamental ou não, indicava um ou dois representantes para a votação e assim compunham o conselho. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1700 Para confirmar tal informação, consultou-se ainda as atas das reuniões realizadas, onde consta que tal conferência para eleição dos membros do conselho ocorreu no dia 24 de setembro de 1999. Como organizações não governamentais fizeram parte, associações de bairros e dos comerciantes locais e sindicatos. Posteriormente à eleição, outras instituições não-governamentais fizeram parte do conselho, como se pôde observar em atas e no próprio Regimento Interno do Conselho. No Regimento Interno do Conselho, consta que os membros deveriam ser nomeados no prazo máximo de 30 dias depois de realizada a conferência, no entanto, segundo as atas, foi feito apenas dois meses depois. No que se refere a estrutura organizacional do Conselho, este deveria se formado por um Presidente, um vice-presidente e um secretário. Apesar de formado o Conselho, a regularização de seu funcionamento só ocorrera em 12 de dezembro de 2003, quatro anos depois de empossados seus membros, isso sem duvida incita a várias reflexões da real importância do turismo no município. Retomando o Regimento Interno do Conselho, vale destacar seu artigo 4º que estabelece a seguinte formação da estrutura básica do Conselho: Plenário; Diretoria Executiva; Secretaria Executiva; Comissões ou Grupos de Trabalho. Neste âmbito, frisa-se o Plenário, tendo em vista que sua competência é justamente instituir, dentre outras coisas, as normas necessárias à regulamentação e implantação da Política Municipal de Turismo, bem como estabelecer diretrizes e aprovar os programas anuais e plurianuais do Fundo Municipal de Turismo. O Fundo Municipal de Turismo de acordo com o artigo 7º da Lei nº 6.101, é o instrumento de captação e aplicação de recursos que deverão ser utilizados para o desenvolvimento de programas e projetos turísticos no município de Oriximiná, sendo de competência do Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Turismo gerir o fundo. A destinação dos recursos contidos no Fundo era discutida em reuniões realizadas pelo Conselho, como se pôde observar nas atas. De acordo com tais Atas, os recursos foram utilizados para a viabilização de programas e projetos pertinentes à atividade turística no município, como a cursos de capacitação de mãode-obra local, e a inserção do turismo na iniciação escolar dentre outros. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1701 A criação do Conselho Municipal, bem como do Fundo Municipal do Turismo em Oriximiná, foi crucial para se estabelecer uma articulação entre instituições governamentais e não-governamentais em prol do desenvolvimento turístico no município. Traçar diretrizes, tendo em vista não apenas as necessidades do Governo local, mas as necessidades de toda uma sociedade, seja esta empresa e/ou cidadão comum, é algo que a partir da criação destes, se tornará possível. 6.2. RESULTADOS DAS ENTREVISTAS A entrevista foi realizada na cidade de Oriximiná, com a Secretária Municipal de Turismo e a Presidente do Conselho Municipal, sendo os roteiros das entrevistas aplicados em momentos distintos, buscando dados que reafirmassem os encontrados nos documentos, bem como identificar subsídios da aplicação da política pública de turismo em âmbito municipal. De acordo com a Secretária Municipal de Turismo, este órgão é responsável em desenvolver um plano, que promova a geração de renda e participação de toda a população no desenvolvimento do turismo. Sendo que sensibilizar a população da importância desta atividade em cenário local, é fundamental para que haja seu fomento de forma sustentável. E esta participação se dá principalmente através do Conselho, que é fundamental na tomada de decisões frente ao desenvolvimento de ações voltadas ao turismo. Questionada sobre a Política Municipal de Turismo, a Secretária revelou que a política pública de turismo no âmbito municipal, se concretizou a partir da criação do Conselho e da eleição de seus membros, que representam de uma forma ou de outra a população. Diante disso, além de ser decisivo no destino final dos recursos existentes no fundo, cabe ao Conselho sugerir quais as áreas que devem ser contempladas dentro do turismo. Tratando-se ainda da entrevista com a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo, questionou-se a mesma, se o município tem desenvolvido a Política, os programas previstos em âmbito Federal, e a informante ressaltou que o órgão tem seguido as diretrizes propostas pelo Ministério do Turismo, no entanto, a maioria destas são adequadas à realidade do município, considerando irrefutável a presença do Conselho no desenvolvimento turístico do Município. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1702 Destacando agora a entrevista com a Presidente do Conselho, observou-se que a mesma apresentou insegurança em algumas respostas, e principalmente algumas discordâncias entre as respostas dadas pela Secretária Municipal de Meio Ambiente e Turismo, no entanto isso se atribui ao pouco tempo desta como Presidente. Segundo a informante o Conselho é composto por 5 (cinco) entidades governamentais e 5 (cinco) entidades não governamentais. No que se refere à estrutura organizacional, este se apresenta com um Presidente, um Vice-Presidente e um Secretário. Quando se questionou a respeito da existência de um Plano Municipal, ela revelou a existência de um Plano de Ação, contrapondo a resposta dada pela Secretária. Sendo que a elaboração deste plano fica a cargo do próprio Conselho, que optará pelas melhores áreas, setores que serão contempladas com os recursos do Fundo Municipal de Turismo, o destino deste é disposto no P.P.A (Plano Plurianual do Município). A partir dos resultados obtidos com as entrevistas, constatou-se que tanto a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, quanto o Conselho Municipal de Turismo, têm desenvolvido ações articuladas entre si, principalmente quando se tem em vista a destinação dos recursos do Fundo Municipal de Turismo, entretanto de acordo com a Secretária Municipal de Turismo, a apropriação deste recurso, ocorria de forma muito burocrática, principalmente quando existia interferência da Gestão Municipal. Os dados coletados com as entrevistas permitiram uma comparação com os documentos consultados na pesquisa documental, e assim identificar a sintonia entre a Legislação que ampara o Turismo no município, com os órgãos r esponsáveis pela promoção, execução e controle da política pública de turismo no município, como o desenvolvimento da atividade turística. Os resultados alcançados com a pesquisa documental e de campo permitiram comprovar a incidência de políticas públicas de turismo no município de Oriximiná, e que o mesmo tem seguido as diretrizes propostas na Política Nacional, e isto é percebido principalmente quando se tem um Conselho Municipal de Turismo atuante junto a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo. Esta articulação é imprescindível quando se percebe a importância do turismo para o desenvolvimento e sustentabilidade do meio econômico, social e ambiental de uma localidade, pois isto é pensar no turismo, vislumbrando o bem estar da comunidade receptora, pensar o desenvolvimento XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1703 local, e para isso as políticas públicas de turismo se fazem necessárias, e neste caso, o Município de Oriximiná, através principalmente do Conselho tem se mostrado interessado em desenvolver. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados obtidos na pesquisa de campo constatou-se algumas discordâncias quanto às respostas das duas informantes, no entanto, é importante ressaltar que a Presidente do Conselho Municipal de Turismo assumiu o cargo em 05 (cinco) de julho de 2005, e a entrevista fora aplicada no mês de novembro do mesmo ano, podendo ser justificado tal discordância. Apesar das discordâncias, percebeu-se pelas demais respostas dadas nas entrevistas que a Secretária, assim como a Presidente do Conselho, têm conhecimento e desenvolvem no Município de Oriximiná ações de turismo de acordo com a Política Nacional, o que é reforçado pela documentação existente na Secretaria e no Conselho, porém observou-se que a Secretaria ainda é muito dependente da prefeitura. Com a expansão do turismo no município há necessidade da criação de um órgão oficial de turismo, o qual consolidará cada vez mais as políticas públicas para a condução responsável, participativa e integrada do turismo. Vale ressaltar o compromisso do Órgão responsável pelo Turismo no Município, em desenvolver a atividade turística de forma planejada e coordenada, sempre em parceria com a sociedade civil, buscando alternativas que mitiguem ao máximo os impactos negativos advindos com a viabilização da atividade turística de forma desordenada. Os trabalhos desenvolvidos pela Secretaria em consonância com as propostas estabelecidas no Conselho demonstram que há uma preocupação em qualificar a mão-de-obra local para torná-los “ótimos anfitriões” na recepção dos turistas, e isto sem dúvida eleva a importância de qualquer destino turístico. Apesar da atuação da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo, bem como do Conselho Municipal de Turismo, poucos resultados são percebidos, principalmente quando se identifica ações pontuais voltadas especificamente para o turismo eventual. Diversificar os atrativos, estabelecendo um planejamento anual das atividades que podem ser desenvolvidas ao longo do ano, é perceber no turismo uma alternativa de desenvolvimento economicamente viável e socialmente justo, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1704 vislumbrado a equalização de benefícios à sociedade “Oriximinaense” como um todo, configurando dessa forma, o desenvolvimento local, porém este cenário, levando em consideração a falta de incentivos da Prefeitura Municipal, e as ações pontuais executadas em prol do fomento da atividade, se distancia cada vez mais da realidade do município, principalmente quando as ações voltadas à organização e consolidação da atividade, se mostram ineficazes, diante ao desafio que é a promoção do desenvolvimento local de Oriximiná, este que se constitui em um desenvolvimento condutor da equalização da conservação ambiental, conservação e valorização da identidade cultural, geração de emprego e de renda, desenvolvimento participativo e a qualidade de vida. Para tanto, é de suma importância que haja maiores incentivos do Poder Público Local. Neste âmbito, referente a incentivos diretos da Prefeitura Municipal de Oriximiná, levando em consideração que há um órgão responsável pelo turismo no município, porém com pouca autonomia. Articular com a Prefeitura Municipal, para que esta disponibilize de recursos necessários a fim de estabelecer um planejamento adequado para o fomento e consolidação do turismo no município é crucial quando se almeja o desenvolvimento local. Destarte, torna-se imprescindível, no processo de formulação, execução das políticas públicas a sensibilização da Prefeitura Municipal, pois como já destacado a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, assim como o Conselho Municipal de Turismo tem desempenhado um ótimo papel no que concerne as Políticas Públicas de Turismo no município, porém a atuação da Prefeitura do município frente ao Turismo inibe consideravelmente a inserção desta como alternativa altamente potencial do desenvolvimento sócio-econômico do Município de Oriximiná. 8. REFERÊNCIAS BENI, M. C. Globalização do Turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira. São Paulo: Aleph, 2003. BRASIL. Ministério do Turismo. Plano Nacional do Turismo: diretrizes, metas e programas – 2003/2007. Brasília/ DF. Disponível em: http://institucional.turismo.gov.br/Mintur/UserFiles/File/PlanoNacionalPortugues.pdf . Acesso em 25 de junho de 2005. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1705 ______. Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria-Geral da República. Turismo no Brasil cresce acima da média mundial. Disponível em http://www.brasil.gov.br. .Acesso em Setembro de 2005. CAMPANHOLA, C., SILVA, J.G. Desenvolvimento Local e a Democratização dos Espaços Rurais. In.: Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 17, n.1, p.11-40, jan/abr. 2000. Disponível em: http://www.ufpa.br/numa/PPGEDAM/edital%202009/Campanhola_e_Graziano_da_Si lva_1.pdf. Acesso em Agosto de 2009. COMPANHIA PARAENSE DE TURISMO. Oriximiná: Diversidade de atrativos. Disponível em: http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/para/oriximina. Acesso em Janeiro de 2010. CRUZ, R. C. A. Planejamento governamental do turismo: convergências e contradições na produção do espaço. In.: América Latina: cidade, campo e turismo. San Pablo. ISBN 978-987-1183-64-7. 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Acesso em Março de 2010. 1707 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 REINVENTANDO A PARTICIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO TURISMO DE BASE LOCAL-ROTA DAS ESPECIARIAS Antonio Carlos Castrogiovanni Doutor em Comunicação Social/ UFRGS/PUCRS [email protected] Marutschka Martini Moesch Doutora em Turismo/ PUCRS [email protected] RESUMO O presente artigo tem por objetivo registrar e discutir experiência de planejamento participativo, com vistas ao turismo sustentável. O planejamento e as posteriores intervenções, dentro de uma metodologia de pesquisa ação, tiveram como local o município de Viamão, na grande Porto Alegre, elegido como laboratório para atividades de ensino e extensão. Viamão apresenta significativas qualidades ambientais e paisagísticas, próprias ao turismo, mas ao mesmo tempo tem indícios socioeconômicos bastante precários. As intervenções acadêmicas resultaram, entre outros, da criação da Rota das Especiarias, projeto de turismo rural, e na inclusão do local como município induzido de Porto Alegre, na proposta do Ministério do Turismo, no Programa de Regionalização. O presente projeto de pesquisa e extensão teve a participação da equipe de professores e alunos do curso de Turismo da PUCRS. Palavras Chave: Turismo Sustentável; Planejamento Participativo; Rota das Especiarias; Viamão/RS. ABSTRACT This article aims to register and discuss participatory planning experience, with a view to sustainable tourism. The planning and subsequent interventions, within an action research methodology, had as object the municipality of Viamão, in Porto Alegre, elected as a laboratory for teaching and extension activities. Viamão presents significant environmental and landscape qualities, own tourism, but at the same time is very precarious socioeconomic signs. Academic interventions resulted, among other things, the creation of the route of spices, rural tourism project, and the inclusion of local municipality induced Porto Alegre, in the proposal of the Ministry of tourism, in regionalisation. This extension and research project had the participation of teachers and students PUCRS tourism. Key words: Sustainable tourism; participatory planning; route of spices; Viamão/RS. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1708 1 INTRODUÇÃO O desencadeamento do desenvolvimento local exige uma mudança de paradigma na ação do poder público frente às políticas que envolvem o Turismo em um município. Isto porque o setor turístico para gerar crescimento, também deve estabelecer o compromisso de fomentar o desenvolvimento baseado em políticas de combate a pobreza, geração de trabalho local, emprego e renda - com conseqüente melhoria na qualidade de vida dos sujeitos residentes. É preciso confirmar uma solidariedade que articule e promova a gestão compartilhada junto ao setor turístico na direção de um fortalecimento local não excludente e, abra o espaço de participação nos novos moldes de gestão que representam as democracias participativas. Para a construção do destino turístico Viamão buscou-se, além de valorizar as qualidades ambientais e paisagísticas, situadas dentro da Região Metropolitana de Porto Alegre, também estimular a revitalização da história e da manifestações culturais locais, nem sempre presentes como memória e identidade para a comunidade viamonense ao mesmo tempo em que houvesse incremento de renda. Outro desafio para nós foi o de construir com a participação da comunidade local e da comunidade acadêmica do Curso de Turismo da PUCRS em um projeto de desenvolvimento turístico alternativo ao modelo de turismo imediatista e predatório, que costuma deixar saldos perversos em termos de exclusão das comunidades nos processos e, não raro, déficit ambiental e cultural. Desde o início a proposta acreditava numa epistemologia do turismo com a participação de todos os sujeitos, com as suas experiências, dúvidas desconfortos. Como diz Moesch (2002, p.25), [...] uma epistemologia do Turismo envolve cuidados teóricos, advindos um entendimento complexo sobre uma prática social que se dissemina forma diferenciada, a partir de subjetividades infinitamente diversa s e vivências múltiplas dos sujeitos que as praticam, em um mundo que globaliza. de de de se O Curso de Turismo da PUCRS construiu, nos seus quase quarenta anos de existências, importantes práticas didático-pedagógicas pautadas no saber-fazer. Para tanto, no corpo de suas práticas, destacavam-se a interdisciplinaridade e os trabalhos de campo. A prática do curso de Turismo da PUCRS foi sempre a interdisciplinaridade visto a sua complexidade. Ansarah (2001, p.16), afirma: XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1709 Não podemos nos limitar a uma definição de Turismo, pois essa disciplina se encontra ligada praticamente a quase todos os setores da atividade social. A grande variedade de conceitos, todos eles válidos, circunscreve-se aos campos em que o Turismo é estudado.. Com essa postura pedagógica, as praticas dos alunos não ficavam restritas às disciplinas de Estagio e Projeto Experimental, mas permeavam toda grade curricular, tendo como metodologia o aprendizado pela resolução de problemas. Esta leitura, nos anos 1990, já havia levado ao planejamento e implantação do projeto Rota Romântica. A Rota Romântica tinha como preocupação ligar num percurso turístico roteirizado, o município de São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, ao município de São Francisco de Paula, passando por Nova Petrópolis, Gramado e Canela, tendo como eixo integrador a herança da imigração alemã, ainda muito forte na área percorrida. O projeto Turismo Sustentável em Viamão, ampliou e aprofundou a experiência anterior, considerando as novas contingências do turismo e do turista, no início do século XXI. Na presente explanação, iremos nos ater a relatar um segmento do projeto, que foi a criação e implantação da Rota das Especiarias. 1710 2 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E TURISMO SUSTENTÁVEL As melhores práticas em turismo apontam que é muito difícil separar participação e sustentabilidade. Nesses termos, o projeto de desenvolvimento sustentável do turismo, conduzido pelo Curso de Turismo da PUCRS, teve como sujeitos a comunidade local, empresários, proprietários, poder público e instituições afins viamonenses, alunos, professores e funcionários da PUCRS, tanto do campus central como do campus de Viamão. A ação em destaque partiu da interação entre os diferentes atores envolvidos no processo, para a construção da Rota das Especiarias, na área rural de Viamão, tendo como eixo central a Estrada do Espigão. O embrião da Rota das Especiarias surgiu a partir da I Conferência Municipal de Turismo, ocorrida no dia 12 de dezembro de 2006. Na I Conferência Municipal de Turismo participaram 101 delegados, com 3 eixos de discussão, resultando em 73 propostas para o desenvolvimento local a partir do turismo. Foram envolvidos 09 professores e 28 alunos da PUCRS. A metodologia da Conferência Municipal foi construída pelos professores da PUCRS, apresentada ao poder público municipal de Viamão e legitimada por ato assinado pelo prefeito. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 A Conferência teve como objetivo discutir e definir diretrizes gerais para a formação de uma gestão compartilhada (pública e privada) de Turismo do Município, de responsabilidade da Prefeitura Municipal, pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Na ocasião, elegeram-se os paradigmas da sustentabilidade econômica, ambiental, sócio-cultural e antropológica como diretrizes para a construção do Turismo em Viamão. Tal concepção, legitimada pela excelente participação, balizou também as ações propostas para a Rota das Especiarias. A partir da Conferência, ocorreram encontros periódicos com a comunidade, visando, em um primeiro momento, a sinergia necessária para projetos participativos desse porte, bem como equilíbrio teórico-conceitual. Desde então, professores e alunos da PUCRS adotaram práticas de aprendizagem de campo, levantando dados, mapeando, capturando imagens e registrando histórias a partir do olhar dos atores locais. Com esses elementos resultou o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Turismo de Viamão, que busca a construção de redes que integram o espaço rural à preservação do ecossistema existente. O foco está na construção de novas alternativas de prevenção e qualidade de vida aos moradores, consequentemente, da Região Metropolitana de Porto Alegre. O projeto entende o Turismo como um fenômeno social, com possibilidades para integrar os diferentes interesses da comunidade local. Entende que os limites territoriais locais são transpostos quando fomentado a preservação ambiental, e cultural, tão importantes na manutenção do planeta diante de impactos destruidores derivados de modelos econômicos já ultrapassados. Viamão cedia a possibilidade e os desafios em utilizarmos os processos de implantação de um modelo sustentável de desenvolvimento, impedindo o crescimento impactador ocorrido, no século passado, na maioria dos demais municípios formadores da Região Metropolitana de Porto Alegre. Acreditamos ser necessário recriar novas relações sistêmicas entre a terra, o homem e a cultura, assim contemplar esta trilogia transpondo modelos tradicionais desconstrutores desta relação. O Turismo é possibilitador de preservação ambiental, e da inclusão social quando pensado e planejado como meio integrador de diferentes interesses; e pedagógico, ou seja, enquanto instrumento de novas formas de cidadania. Expressa XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1711 esta vocação, pois atinge o setor público, os empresários, a comunidade, as universidades, o terceiro setor. É interdisciplinar em sua essência, pois se constituí das áreas culturais, sociais, econômicas, comunicacionais e geográficas entre outras. Não se expressa como indutor de um desenvolvimento sustentável sem garantir a relação sistêmica e orgânica entre as diferentes partes. É interdisciplinar, pois possibilita a sinergia de diversos atores: do proprietário do empreendimento ao trabalhador do setor; do gestor ao artesão; do comerciante ao produtor rural; ou do jovem que venha a se qualificar e participar prestando serviços; mas esta articulação se dá em rede, e deve ser vista como forma cooperativada. 3 O MUNICÍPIO DE VIAMÃO Viamão localiza-se na Região Metropolitana de Porto Alegre, com uma população de 260.740 habitantes (IBGE, 2009). Com uma área de 1.494,26 km2, o município é o segundo maior produtor de hortigrangeiros (boa parte orgânicos) do Estado Gaúcho e maior produtor de folhosas, segundo dados da Ceasa (2006), possuindo boa parte do território com pequenas propriedades. Um dos primeiros municípios do Estado do Rio Grande do Sul, sua trajetória histórico, política e econômica o defronta, na atualidade, com o desafio de buscar novas formas de desenvolvimento, mantendo e preservando para as próximas gerações, a qualidade ambiental existente. Em Viamão se localizam áreas da Mata Atlântica, ainda preservadas, em reservas naturais como a existente nos parques de Itapuã e SaintHilaire, vários lagos e uma extensa orla junto ao lago Guaíba e da Laguna dos Patos. Toda a extensão da Planície Costeira que inclui o município de Viamão faz parte de importante área biológica. Em termos culturais, a diversidade também é uma marca importante. No município estão presentes grupos afro-brasileiros. Há quatro áreas quilombolas, três aldeias indígenas Mbya-guarani, e remanescentes da colonização portuguesa e espanhola, além de forte presença da cultura regional campeira gaúcha, dentro de um processo dinâmico incorporando hoje novos grupos étnicos oriundos da reorganização do território rural (divisão vendas de grandes glebas, surgindo pequenas propriedades), como os japoneses. Na dinâmica de crescimento e novos processos econômicos, o município de Viamão enfrenta uma ocupação urbana desordenada, com elevado número de XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1712 jovens que convivem com a falta de perspectivas para seu futuro ocorrendo diariamente a chamada migração pendular. 3 ROTA DA ESPECIARIAS A partir da realização da Conferência Municipal de Turismo, que apontou a necessidade de roteirizações que organizassem e induzissem visitas a área rural de Viamão, a escolha para um primeiro projeto recaiu sobre a área do Espigão, onde há especial composição ambiental, econômica e cultural. A produção orgânica de hortifrutigranjeiros, a diversidade produtiva como cogumelos, floricultura, criação de chinchila e cavalos, ervas medicinais, oleaginosas, óleos essenciais e chás, somados às inúmeras atrações de lazer e animação já existentes, afirmam a potencialidade da localidade para o desenvolvimento do Turismo. Para os alunos e professores do Curso de Turismo da PUCRS, tanto a Conferência Municipal de Turismo como o Projeto Rota das Especiarias de Viamão se colocou como ensino, pesquisa e extensão, tendo como objetivo o de estimular o desenvolvimento de projetos participativos mais amplos assim como específicos, por exemplo, a agricultura familiar orgânica e a instalação de um caminho turístico rural ecológico, a partir do eixo das ervas aromáticas e especiarias. Entre os objetivos específicos iniciais colocavam-se: (1) Propor possibilidades de oferta de novos produtos ou melhorias sob o ponto de vista do Turismo às já existentes; (2) Identificar/Inventariar o patrimônio natural e cultural das propriedades; (3) Ordenar os atrativos já existentes para a oferta do produto Rota das Especiarias; (4) Aproveitar/capitalizar o patrimônio natural e cultural existentes e possível de ser trabalhado na formatação do produto Rota das Especiarias; (5) Construir uma rota turística cujo ideário nominalístico esteja associado ao conjunto de sentidos atribuídos ao termo especiarias e inserida na compreensão da sustentabilidade complexa. Com o avanço da proposta, os objetivos evoluíram para: (1) Estimular a agricultura familiar e o cultivo orgânico; (2) Organizar um projeto baseado em encontros e ações contínuas incluindo atividades voltadas à realidade dos participantes; (2) Divulgar empreendimentos bem sucedidos, envolvendo o plantio de ervas aromáticas; (3) Capacitar tecnicamente proprietários interessados e seus colaboradores no cultivo de plantas aromáticas; (4) Fornecer atendimento XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1713 especializado aos cultivos de ervas aromáticas nas propriedades envolvidas; (5) Proporcionar trocas de experiências entre os produtores envolvidos; (6) Contribuir com a divulgação do potencial turístico regional; (7) Apresentar uma alternativa prática de incremento à renda familiar associada ao uso sustentável dos recursos naturais; (8) Envolver a PUCRS e demais Instituições de Ensino regionais interessadas em um trabalho educativo-pedagógico; (9) Promover o resgate cultural local através de um diagnóstico valorizando o emprego de plantas aromáticas na região. Em sua versão oficial, os objetivos foram sintetizados da seguinte maneira: (1) Implantar a Rota das Especiarias na área rural de Viamão, inicialmente a partir de um roteiro experimental construído coletivamente; (2) Demonstrar a possibilidade da implementação na prática, de conceitos de sustentabilidade ambiental, social, cultural, econômica e política na sociedade balizada pelo sistema capitalista; (3) Construir vivências de aprendizagem teórico-práticas para o desenvolvimento sustentado do turismo e da hospitalidade; (4) Gerar desenvolvimento sustentável do Turismo no Município de Viamão, possibilitando a empregabilidade da comunidade local; (5) Construir uma rede de cooperação visando o trabalho em parceria com a comunidade local. A evolução dos objetivos mostra não só o crescimento do grupo, mas a sua maturidade a partir das práticas da construção coletiva, tanto para a comunidade local como para a comunidade acadêmica. Os desafios na construção coletiva da proposta foram ocorrendo no dia-a-dia e sendo superados de forma nem sempre imediata. 3.1 O IMAGINÁRIO Sabemos que planejar não é apenas organizar espaço físico, produtos e serviços. Planejar, hoje, significa conduzir o olhar. [...]. Pós-moderrnamente, numa época que vivemos de significantes e não de significados, a autenticidade é a leitura de um texto que precisa ter coerência única e exclusivamente no interior do próprio texto que constrói (GASTAL, 2003, p.59). Para nós o imaginário, as representações que construímos através das (inter)ações que a vida nos oferece, é algo muito importante e que deve estar presente em todo o processo do planejamento. No caso do Turismo Rural, por XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1714 exemplo, deve ser repensado o entendimento da chamada “rusticidade” e da “autenticidade”. O “rústico” incorporado ao imaginário contemporâneo tende a valorizar o sofisticado, o diferente, com muita limpeza, conforto e bem estar. Tradicionalmente o imaginário mais agregado ao Turismo é a idéia de paraíso natural (GASTAL, 2003, p.57) com especificidades culturais. Assim, nesse percurso houve, a exemplo do que já havia acontecido quando da criação da Rota Romântica/RS, a incorporação de imaginários, como ferramenta auxiliar ao planejamento turístico. Se no caso da Rota Romântico/RS, o imaginário foi a germanidade herdada dos imigrantes que vieram para o Sul do Brasil no século XIX, no caso de Viamão trabalhou-se especiarias, em especial associadas aos sabores e aromas. Especiaria reporta a outras duas grandes rotas: à Rota das Sedas ainda na Idade Média, e à Rota das Especiarias associada às Índias, na Idade Moderna. Portanto a existência de rotas como esse eixo integrador, ou melhor, como imaginário, não seria novidade deste início de século. Pensou-se, no corpo do projeto, em especiarias como produtos constituídos de partes de uma ou mais espécies vegetais aromáticas usadas para condimentar os alimentos com o propósito de mantê-los; aguçar o sabor e despertar sensações. O termo foi empregado na Idade Média como “substâncias utilizadas pelos farmacêuticos”, ou seja, algo que faz bem à saúde. Já os aromas são substâncias voláteis perceptíveis através do olfato. São substâncias ou misturas possuidoras de propriedades odoríficas, capazes de conferir ou intensificar o aroma ou sabor de alimentos, bebidas ou produtos de higiene. O Projeto Rota das Especiarias retomou o imaginário que o nominalismo especiaria possui, associando à formação étnica açoriana do município e a já produção de especiarias produzidas por uma empresa em áreas que c onstituem o espaço da rota planejada. São vegetais utilizados como aromatizantes, dos quais utilizamos as folhas, sementes e flores. As especiarias são cultivadas desde os primórdios da civilização, sendo capazes de sensibilizar o nosso olfato de modo agradável e contribuir para que tenhamos uma vida de melhor qualidade. Desde o início do projeto tínhamos claro que o seu plantio oferece uma alternativa para particularizar os elementos paisagísticos, além de representar uma fonte de renda economicamente viável a pequenos produtores locais. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1715 3.2 A ROTEIRIZAÇÃO O conceito inicial de rota turística foi concebido pelo grupo de pesquisadores como sendo a promoção de uma área, de uma região ou de um município. Uma rota pode ter vários roteiros, mas deve, sempre, manter a identidade inicial da área. É um itinerário temático para a descoberta e valorização de um patrimônio, utilizando recursos e serviços, sendo, portanto, uma experiência construída e susceptível de ser comercializado. O objetivo é promover a mobilidade dos visitantes. Deve ser estruturada em etapas, através de itinerários, de sítios com estrutura de acolhimento, com ações de animação, oferta de produtos, possibilidades de contemplação e promoção. A rota pode ter três segmentos, um de acesso, outro de retorno e a rota recreativa. Uma rota turística deve ter uma identidade reforçada constantemente pela oferta e pela utilização. Deve haver um ordenamento para a sua utilização. Deve ter um ponto de partida – central de acolhimento inicial. O trajeto ou trajetos devem ser pensados sob o ponto de vista a possibilitar diferentes roteiros. Os roteiros podem se apresentar de forma temática particular ao patrimônio presente ou construído. Uma forma de construção de uma rota é através de uma nucleação inicial, ou seja, o estabelecimento de atrativos que geram fluxo e aos poucos incentivam novos empreendedores. 4 METODOLOGIA Podemos dizer que o caminho metodológico foi trilhado com os passos da observação participante e da pesquisa-ação. A observação participante serviu para conhecermos, mesmo que provisoriamente, a complexidade que envolve o Espaço Geográfico Viamão. Como afirma Travancas (2008, p.103) “Este termo significa que antes de mais anda o cientista social não se coloca ingenuamente, ou pelo menos não deve se colocar, em relação a sua presença no grupo. Ele deve estar atento ao seu papel no grupo”. Muitos encontros e desencontros foram realizados buscando trocas e (re)conhecimentos. O objetivo da pesquisa-ação é de mudar os sujeitos participantes do processo, assim como as situações que vão sendo avaliadas. O conhecimento que é produzido retorna ao grupo e se transforma em instrumento de mudança, oferecendo autonomia ao mesmo tempo em que solicita uma constante troca. As diversas reuniões, cursos de formação, visitas técnicas que ocorreram procuravam valorizar a participação de todos os envolvidos e envolvê-los cada vez mais, sendo este movimento extremamente desafiante ao planejador. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1716 4.1 MÓDULOS DE TRABALHO PARTICIPATIVO O planejamento proposto centrou a sua atenção na conjuntura que envolve o jogo imediato dos atores sociais. O contexto conjuntural do programa representa uma permanente passagem entre o conflito, a negociação e o consenso; nesta dialógica foi/é onde tudo se decide. O trabalho participativo na organização da Rota das Especiarias realizou visitas técnicas, reuniões para a identificação de problemas e potencialidades conforme as solicitações expostas no relatório da Conferência Municipal de Turismo. Foram trabalhadas inicialmente as 57 propriedades rurais que se inscreveram inicialmente no programa, desencadeando-se 5 fases metodológicas construídas pela equipe de pesquisadores e com a inserção dos alunos do Curso de Turismo da PUCRS, descritas a seguir: Fase 1 – Identificação dos Cenários - Cadastro das propriedades interessadas em participar do projeto 1717 - Inventario das propriedades - Levantamento fotográfico - Sistematização da fase 1 As informações coletadas através da faze 1 serviram para o sucesso da chamada fase 2. Fase 2 - Análise de Cenários: - Identificação das potencialidades das propriedades (alta, média, baixa) nos quesitos artesanato, alimentação, hospedagem, animação, lazer, turismo eqüestre, ecoturismo, turismo de pesca, observação de flora e fauna. - Análise da infra estrutura (não existe, precária, boas condições) nos quesitos como identificação da propriedade, acesso, local de acolhimento, banheiros, estacionamento, água potável, luz, tratamento de afluentes, coleta de lixo, destino e tratamento dos resíduos sólidos /líquidos, telefonia fixa/móvel. - Identificação das fragilidades das propriedades - Hierarquização dos problemas. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Com o desenvolvimento da fase 2 foi possível traçar caminhos que envolvessem a comunidade, oferecendo conhecimentos específicos a mesma. Fase 3 – Diagnóstico Participativo Descritivo: - Aplicação do curso de qualificação de empreendimentos turísticos desenvolvido na disciplina de Projeto Experimental II. Trabalhado pela equipe técnica – Professores da PUC O curso de qualificação oferecido provocou a necessidade de ser ampliada a formação e construiu a idéia para ser constituída uma OSCIP a fim de criar maior autonomia para grupo que forma a Rota das Especiarias. Fase 4 - Critérios para Inclusão das Propriedades para a Rota das Especiarias - Participar dos cursos; - Adaptar a propriedade para atender aos turistas; - Participar da OSCIP - Instituto Viamontes. Fase 5 – Operacionalização do roteiro experimental em 8 de dezembro de 2007 - Participaram 19 propriedades; realização de avaliação por parte dos visitantes. 1718 A pesquisa iniciou em forma de pesquisa qualitativa de caráter exploratório, evoluindo para a pesquisação. Os alunos trabalharam com o aprendizado pela resolução de problemas, no caso: realizar o planejamento turístico do município com a comunidade, criando e buscando sustentabilidade para a Rota das Especiarias. Os resultados obtidos pelo Programa de Desenvolvimento Sustentável Local nos anos de 2006 - 2008 que implantaram ações contemplativas às propostas da Conferência Municipal de Turismo podem ser assim sintetizados: 4.1 Ações propostas a partir da Conferência Municipal de Turismo: a) A construção de projetos de extensão de formação e qualificação para o trabalho, evidenciando a aprendizagem dos atores e a busca de sua inclusão social através das atividades na área do turismo e hospitalidade como: b) Palestra sobre o papel das Políticas Públicas e do Turismo na Sociedade Contemporânea promovidas pelo curso de Turismo da PUCRS. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 c) A realização de 04 oficinas sobre o tema Políticas Públicas e Turismo na Sociedade Contemporânea. Esta ação resultou em diversas propostas divididas em 3 eixos: - Promover a inclusão social através do desenvolvi mento econômico sustentável. - Resgatar, preservar e valorizar a identidade e a cultura locais. - Educar e qualificar para a sustentabilidade sócio-ambiental local. d) Realização de cursos de preparação para o turismo tendo como público-alvo os funcionários da Prefeitura Municipal, sujeitos vinculados às diferentes associações existentes no município, efetivos da Brigada Militar, funcionários de empresas como: Floresta Encantada Vô Rangel e Quinta de Estância, que já atuavam no município; cursos de qualificação para os propriedades rurais situados na Rota das Especiarias. 4.2 Ações propostas a partir da identificação dos problemas do município para o seu desenvolvimento, como, por exemplo, a pouca auto-estima diante do estigma, historicamente construído, por ser morador de Viamão, município dormitório de Porto Alegre. Tais ações foram: a) A melhoria da auto-estima da comunidade envolvida pelo levantamento da oferta turística cultural, com a recuperação da memória do patrimônio histórico, no total de sete até o momento (2009), que incluem o roteiro de visitação do centro histórico; b) Manter a motivação de todos os envolvidos, sobretudo da comunidade local. Para tanto, tornou-se imprescindível à concretização de um dos sonhos projetados pelos atores – tornar a área uma atração turística. Visitas técnicas, pesquisa sobre os atrativos locais resultaram na proposta de dois Roteiros Turísticos Rurais, um roteiro histórico para a área central e roteiros temáticos (religioso, esotérico) que foram criados (2008-2009). Neste sentido, foi proposta a prática de um roteiro experimental da Rota das Especiarias, realizado em 12 de dezembro de 2007. Um exercício didático para os alunos envolvidos e um workshop para os proprietários rurais da área do Espigão. Após a experiência houve uma avaliação por parte das participantes. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1719 O roteiro turístico construído continua em processo de qualificação e ampliação de atrativos, bem como na formatação da rede de cooperação entre produtores e prestadores de serviços. Foi organizada uma OSCIP- Instituto Viamontes, visando representar de forma orgânica os atores envolvidos e profissionalizar os projetos construídos, já em fase de publicação do edital. 4.3 Melhorias Pedagógicas nos cursos de Turismo e Hotelaria: Como as melhorias pedagógicas tivemos, principalmente, a aumento do comprometimento dos alunos dos cursos de Turismo e de Hotelaria com os problemas que afetam as comunidades e melhoria de suas concepções de responsabilidade, ética e sustentabilidade ampliando sua dedicação à profissão escolhida. 5. CONCLUSÃO Houve um desenvolvimento endógeno com a mobilização social e a participação comunitária. Foram construídos caminhos através do empreendedorismo no processo de ordenação do turismo na localidade da Estrada do Espigão. A ampliação da cooperação com a competência da PUCRS, no ensino e pesquisa do Turismo, permitiu incrementar a qualidade do destino turístico urbano e rural, estabelecendo a dialética entre a concorrência global e a competência local; radicalizando a relação de integração entre as cidades num âmbito estadual, nacional, internacional e as redes de desenvolvimento regionais. Foi construída uma rede de cooperação visando o trabalho em parceria da comunidade local, ampliando o seu capital social pelo turismo sustentável. Sabemos, enquanto pesquisadores do Turismo que sem a relação sistêmica e orgânica entre as diferentes partes, não se expressa um indutor para que ocorra desenvolvimento sustentável. Somente com a sinergia de diversos atores, do proprietário do empreendimento ao trabalhador do setor: o gestor, o artesão, o comerciante, o produtor rural, o jovem que venha a se qualificar e participar prestando serviços, em rede, de forma cooperativada, é que acreditamos na possibilidade do Turismo Sustentável. E isto temos constatado neste projeto de pesquisa e extensão. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1720 REFERÊNCIAS ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Teoria Geral do turismo. In: Turismo, Como Aprender, Como Ensinar, 2. ANSARAH, Marília Gomes dos Reis (org.). São Paulo: Ed. SENAC, 2001. GASTAL, Susana. Turismo na Pós-modenidade: agregando imaginários. In: GASTAL, Susana e CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (org.). Turismo na PósModernidade (des)inquietações. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. MOESCH, M. Para Além das Disciplinas: o desafio do próximo século. In: GASTAL, Susana. Turismo, Investigação e Crítica. São Paulo: Contexto, 2002. TRAVANCAS, Isabel. Fazendo Etnografia no Mundo da Comunicação.In: DUARTE, J. e BARROS (orgs), A. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008. 1721 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 REPRESENTAÇÕES DE TURISMO, TURISTA E PLANEJAMENTO NO PLANEJAMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL DO MUNICIPIO DE VALENÇABAHIA A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS Fernanda Meneses de Miranda Castro Mestre em Cultura e Turismo/Universidade Federal de Sergipe [email protected] Moema Maria Badaró Cartibani Midlej Doutora em Educação/UESC [email protected] RESUMO O objetivo central desta pesquisa foi analisar como as representações das palavras turismo, turista e planejamento são contempladas no planejamento turístico do município de Valença a partir da percepção dos atores sociais envolvidos no segmento turístico. Para isso, investigou-se como é realizado o planejamento turístico do município e qual a imagem dos representantes do segmento acerca deste planejamento e sua participação no desenvolvimento do turismo através das técnicas de análise de conteúdo e associação livre de palavras. Os resultados obtidos apontaram para ruídos na comunicação entre a gestão pública do turismo e os representantes do segmento, pois as ações propostas pelo planejamento turístico da cidade de Valença não consideram efetivamente a participação popular na decisão de políticas públicas de turismo e tais representantes não se sentem partícipes deste planejamento. Conclui que o processo de estruturação do turismo baseado na participação e integração dos setores público, privado e da comunidade local, pode trazer resultados mais efetivos e condizentes com a realidade da região e que a orientação da Gestão Participativa no desenvolvimento turístico de Valença se posiciona como um elemento chave para solucionar seus pontos fracos, ressaltar os fortes e inserir o município competitivamente no mercado, trazendo resultados mais condizentes com suas potencialidades. Palavras Chave: planejamento turístico; representações sociais; Valença-Bahia, participação. ABSTRACT The objective of this research was to examine how the representations of the words tourism, tourist and planning are addressed in tourism planning in the city of Valença from the perception of social actors involved in the tourism sector. For this, we investigated how planning is conducted tour of the city and which the image of the representatives of this segment on planning and participation in tourism development in the city, through the techniques of content analysis and free association of words. The results pointed to noise in the communication between the public management of tourism and representatives of the segment, as proposed actions for planning tourist city of Valença does not actually consider popular participation in policy XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1722 decision of tourism and such representatives do not feel share in this planning. It concludes that the structuring process of tourism based on the participation and integration of public and private sectors and the local community, can yield more effective and consistent with the reality of the region and the orientation of Participatory Management in the development of tourism in Valencia is positioned as a key element to address their weaknesses, highlight the strengths and enter the city in a competitive market, bringing data according to their potential. Keywords:tourism planning, social representations, Valença, Bahia, participation. 1 INTRODUÇÃO Segundo Petrocchi (2004), o planejamento turístico identifica os segmentos específicos que poderão ser trabalhados com a oferta de produtos particulares que atendam as necessidades e desejos da demanda localizada, mas, para tanto há a necessidade do envolvimento da população residente neste processo, pois, o principal vendedor deste produto é quem mais o consome, ou seja, a comunidade local. No uso e produção da dimensão espacial, percebe-se que os sujeitos, através das suas práticas exercidas no seu espaço de vida, constroem a partir de suas percepções as representações que constituem uma matriz de existência social, uma mediação entre suas experiências vividas e suas representações (BOMFIM, 2006). Nesse contexto, o planejamento deve se constituir em uma ferramenta de uso imprescindível para Administrações Públicas Municipais que apostam no incremento do turismo através do desenvolvimento sustentável, da intervenção de diferentes níveis da Administração Pública e, principalmente, da necessidade de integração do planejamento turístico com outros instrumentos de organização do território. O Sul da Bahia, no Nordeste do Brasil, um dos lugares turísticos mais promovidos do país, encanta o turista por seu abundante patrimônio natural, que percorre desde a aridez da caatinga até as praias cercadas pela Mata Atlântica remanescente. A relação do homem com o território que ele constrói e habita é conseqüência da sua cultura local, uma mistura de etnias indígena, negra e branca. Lugar de onde se originou o Brasil, o Sul da Bahia é um paradoxo, seduzindo e chocando quem o visita, pois está situado numa região com graves problemas sócioeconômicos, com um histórico de uma sociedade orientada pelos acontecimentos políticos. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1723 O município de Valença é o ponto central deste estudo. Este município apresenta algumas dificuldades para o desenvolvimento turístico. Atualmente, é utilizado, majoritariamente, como passagem de turistas em direção ao Morro de São Paulo, em Cairú, funcionando como “corredor turístico”. O pouco aproveitamento dos recursos culturais e naturais, o descuido com o meio ambiente, a dificuldade de recursos para obras de infra-estrutura, a carência de mão de obra qualificada e a falta de conscientização da população, entre outros, são fatores que representam problemas e aguardam soluções. Os residentes deste município não interagem com o processo de desenvolvimento turístico e não despertaram para o fato de que este processo deve ser construído por eles, pela sua iniciativa de atuação e vontade de melhorar a sua vida. A partir deste cenário, surgiu a necessidade de investigar: quais as representações sociais construídas pelos atores sociais, de vários segmentos da comunidade local sobre turismo, turista e planejamento, no município de Valença? Como o conteúdo dessas representações pode contribuir para o planejamento participativo e sustentável da atividade turística? Assim, o objetivo central desta pesquisa foi identificar e analisar o conteúdo das representações sobre turismo, turista e planejamento construídas pelos atores sociais do segmento turístico do município de Valença, Bahia. Esta investigação é parte de uma pesquisa realizada no município em questão entre os anos de 2007 e 2008, quando através da técnica da análise de conteúdo nas representações sociais buscou levantar opiniões, comportamentos, atitudes e crenças buscando identificar as representações sociais sobre os símbolos materiais e imateriais dos termos turismo, turista e planejamento. Deste modo, procurou-se aprofundar os conhecimentos sobre a realidade, justificando a razão e o porquê do fenômeno estudado. Como instrumento de pesquisa primária foi utilizada uma entrevista semi estruturada, privilegiando-se a livre expressão dos depoentes. Este processo referese à tomadas de informações em profundidade das representações e impressões do grupo. Além disso, os dados obtidos nas entrevistas foram confrontados com os dados secundários referentes ao planejamento turístico do município obtidos na Secretaria de Cultura e Turismo. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1724 A população de interesse para identificar qual a efetiva participação dos atores sociais envolvidos pelo segmento turístico no planejamento e estratégias, bem como a gama de produtos e serviços turísticos foi os diversos atores sociais residentes no município, nascidos ou não em Valença, que estão diretamente ligados à atividade turística. A compilação e análise dos dados, como fora citado, foram elaboradas com o auxílio da técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004). Este instrumento se constitui em um conjunto de técnicas para analisar formas de comunicação e foi a base da organização, inferência, análise e interpretação dos dados. O método de Análise de Conteúdo considera a produção de inferências acerca de dados verbais e/ou simbólicos obtidos a partir de perguntas e observações de interesse do pesquisador. As interpretações dos resultados e análises foram feitas de acordo com os principais aspectos teóricos fundantes do trabalho que é Representações Sociais. Os resultados desta pesquisa indicaram que existe uma grande falha de comunicação entre os gestores do turismo e os atores sociais. 1725 2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE Para a realização desta pesquisa foram aplicados dois tipos de formulários, um para membro da Secretaria de Turismo e outro para os atores sociais. O formulário aplicado na Secretaria de Turismo serviu apenas como um instrumento norteador da entrevista. Foram elaboradas três questões: como é realizado o planejamento turístico; se a população participa do planejamento e de que forma e quais ações estão sendo traçadas atualmente no planejamento turístico do município. O formulário aplicado nos atores sociais iniciava com a formação do perfil do entrevistado e em seguida, apresentava perguntas referentes à idéia de turismo, planejamento turístico e a sua importância, como cada ator social se vê inserido no planejamento turístico e a importância desta participação, sobre os atrativos turísticos do município que os atores consideram como principais, sobre a importância da história do município na constituição dos produtos turísticos e como o ator social apresentaria a cidade para quem não a conhecesse (co-ocorrência livre). Ademais, o formulário apresentava as palavras-chave e expressões-chave previamente escolhidas e o pesquisador solicitou a cada ator social que dissesse XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 uma ou mais palavras que viessem a cabeça quando ouvisse cada termo (coocorrência induzida). As palavras-chave estimuladoras escolhidas para este recorte foram: turismo, turista, e planejamento. No processo de sistematização, interpretação e análise das informações foi utilizado o percurso realizado por Avena (2002), através dos seguintes procedimentos: a determinação das palavras-chave, as co-ocorrências e as relações. As palavras-chave, previamente escolhidas conforme citado, foram instrumentos de análise, que foram submetidos a um tratamento quantitativo de aparecimento nas falas. Neste procedimento de quantificação, excluíram-se os termos semânticos e os conectivos, privilegiando-se os substantivos, adjetivos, verbos e advérbios. No processo de levantamento das palavras-chave, foi feito um agrupamento de palavras - identidades, tendo como critério significados semelhantes, ou pelo sentido dado pelos sujeitos. As palavras com maior freqüência foram destacadas nas unidades de análise (frases), de onde foram extraídas as co-ocorrências e relações, etapas preparatórias para a Análise de Conteúdo. Conforme expõe Teixeira (1983), as palavras-chave (ocorrências) têm a função de norteadores que encerram significações para o entendimento das condições de produção e são tomadas como origem da análise. Esta transforma todas as outras da unidade de análise (frase) em co-ocorrências. As relações, de acordo com Midlej (2004) referem-se à “rede de ligações entre as palavras-chave e suas co-ocorrências, independentemente da interferência do pesquisador, e que dão sentido e definem as intenções”. A partir da organização dessa grade, procedeu-se à classificação, por ordem de freqüência, das co-ocorrências e de suas respectivas relações (positivas ou negativas), classificadas como “Associações” ou “Oposições” feitas a partir das leituras dos textos explicativos, sistematizadas em “Quadros de Apurações” e “Quadros de co-ocorrências”. Os quadros de análise foram extraídos destes instrumentos. Estes resultados deram base à discussão da pesquisa. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1726 2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO EM VALENÇA No âmbito da presente pesquisa, busca-se compreender como o contexto socioeconômico, histórico e cultural, presente na mentalidade local e suas representações sociais manifestadas nas idéias de turismo, turista e planejamento estão contempladas no planejamento turístico traçado para o município de Valença, Bahia. No tratamento da análise de conteúdo do presente estudo, partind o-se da seleção de palavras-chave, do levantamento da freqüência com que ocorreram no texto e da identificação das co-ocorrências com associações positivas e/ou negativas, montou-se um quadro geral que possibilitou uma análise preliminar dos resultados. Na interpretação dos resultados mediante a análise de conteúdo, procedeu-se a reescritura dos discursos mediante utilização de recursos gráficos, onde as percepções dos sujeitos tomadas das co-ocorrências e relações produzidas são grafadas em negrito e itálico . Nos quadros gerais demonstrativos das co-ocorrências e relações correspondentes a cada palavra-chave, identificou-se para as comunidades interna (Secretaria de Turismo) e externa (Representantes do Segmento Turístico) as respectivas Associações Positivas (Associações) e Negativas (Oposições). Mediante a apresentação da palavra-chave TURISMO, foi solicitado aos sujeitos que expressassem duas palavras que lhe viessem à cabeça e que se relacionassem com a mesma. A co-ocorrência livre mais marcante relativa a esta palavra-chave foi renda, seguida de planejamento turístico. Ambas associadas às questões econômicas, tanto nas associações positivas, quanto nas negativas, com maior ênfase e participação relativa às relações positivas, com 69% das ocorrências. Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o maior índice de coocorrência também foi relacionado às questões econômicas, contudo relacionados aos termos emprego (geração de) e lazer (gastos com). Nesta apuração as associações positivas representaram 90% dos dados, o que indica que, para os representantes do segmento turístico, o turismo precisa ser planejado para ser uma fonte de renda e gerar empregos. A seguir são apresentados os quadros que representam as etapas do tratamento da palavra-chave TURISMO. A primeira fase apresenta e analisa as co-ocorrências livres (Quadro 1), a segunda as coocorrências induzidas (Quadro 2) e a terceira as co-ocorrencias livres e induzidas (Quadro 3). XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1727 Turism o Co-ocorrência livre Renda Capacitação, Educação Participação Enriquecimento cultural Relações Percentual Palavra-chave Estim uladora Freqüência Quadro 1 – QUADRO GERAL ADMINISTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS LIVRES E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE TURISMO Positivas ASSOCIAÇÕES Negativas OPOSIÇÕES 207 111 100 53,63 143 (69%) Maior fonte de renda do munic ípio. Desenvolvimento 8 3,86 As pessoas precisam ter educação para tratar o turista Conscientização da importância da atividade 15 08 7,25 3,86 65 31,40 64 (31%) População não usufrui Resume-se ao Guaibim Falta de acomodação empenho, Fraco, deixou o município com um destino sem atratividade. - turismo infantil - turismo sexual Planejamento turístico Co-ocorrência induzida Turism o Percentua l Palavra-chave Estim uladora Freqüênci a Quadro 2 – QUADRO GERAL ADMINISTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE TURISMO Relações Positivas ASSOCIAÇÕES 27 (90%) Negativas OPOSIÇÕES 03 (10%) Limpeza Cordialidade Passeio lazer Negócios 30 01 01 04 03 100 3,33 3,33 13,33 10 Praia Emprego 01 05 3,33 16,66 Sustentabilidade 01 3,33 Pessoas Guaibim 02 02 6,66 6,66 Valença Economia Cultura Decadência 01 02 01 01 3,33 6,66 3,33 3,33 Através dela chega-se ao Guaibim A cidade se movimenta Prosperidade Morro de São Paulo Movimento 03 01 10 3,33 Potencialidade, esperança 01 3,33 A cidade fica mais movimentada com o turismo As pessoas passeiam e gastam Para fazer turismo tem que dinheiro; gastar Gera emprego; Fonte de renda para a população, o turismo provoca a diversão das pessoas; Alavanca do Brasil; Gerador de renda É uma atividade que um dos principais focos é a não destruição do patrimônio Além dos recursos naturais, traz pessoas Acho a praia linda e sossegada Não vê turis mo em Valença O turismo já foi melhor Não vê turis mo em Valença XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1728 Quadro 3 – RELAÇAO DA PALAVRA CHAVE TURISMO COM AS COOCORRENCIAS LIVRES E INDUZIDAS, ASSOCIAÇÕES E OPOSIÇÕES Co-ocorrência Renda Planejamento Tur ístico Participação Cultura‟ Capacitação, Educação Emprego Passeio Lazer Negócios Prosperidade Guaibim Economia Pessoas Decadência Valença Morro de São Paulo Movimento Limpeza Praia Sustentabilidade Cordialidade TOTAL Freqüência 111 65 15 09 08 05 04 03 03 02 02 02 01 01 01 01 01 01 01 01 237 Percentual (%) 46,83 27,43 6,33 3,80 3,37 2,11 1,69 1,27 1,27 0,84 0,84 0,84 0,42 0,42 0,42 0,42 0,42 0,42 0,42 0,42 100 Associações Oposições 84 43 27 22 15 09 8 05 04 03 01 01 02 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 170 67 Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da segunda fase, as relações de associação são preponderantes. Do total de relações 28% são de oposição e 72% são relações de associação. Sempre que aparece, a 1729 palavra TURISMO é acompanhada, em sua maioria, de co-ocorrências fortemente impregnadas do sentido positivo (renda, planejamento turístico, empregos, contribuição para o desenvolvimento local) e, quando a relação negativa ratifica-se a percepção de que o planejamento é a principal ferramenta para o desenvolvimento do TURISMO, pois, as oposições caracterizam a ausência de planejamento. A concepção de TURISMO como fonte de renda e desenvolvimento regional, quando associado ao planejamento turístico participativo se evidencia nos discursos, em diversos trechos, quando se delineia o seu significado: Então eu acho que o turismo é fundamental na minha vida e para todos esses que queiram trabalhar para o turismo. É uma fonte de renda, completamente certa. Então... Em particular eu não acho bom o planejamento turístico de Valença porque Valença não abraça turisticamente o nome turismo (S14) 76 Na verdade o turismo em Valença ainda está começando a se achar. Eles ainda não têm um programa específico para o planejamento e desenvolvimento do turismo com relação à atividade turística. Agora que a gente começa a ver algumas modificações, algumas pessoas trabalhando 76 Conforme definição estabelecida a codificação dos sujeitos da pesquisa para fins de citação é: C1 para a comunidade interna e S1 a S15 para a comunidade externa, genericamente denominada “Sociedade”. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 em prol do turismo, a gente já vê algumas reuniões em prol da atividade, mas assim, tem muita reunião e pouca ação. Não tem ainda uma estratégia definida. (S4) Ah, meu Deus, (o turismo) representa tudo. Porque eu acho que o turismo em Valença deveria ser a alternativa básica para a questão da sobrevivência das pessoas, só que não há credibilidade, os governantes não acreditam. E a gente não acredita no turismo e por sua vez ele vai se esvaindo né? E a comunidade não tem consciência do retorno que eles podem estar obtendo no investimento de turismo, desde o atendimento né, a questão de estar recepcionando até a preparação mesmo para acolher os turistas. (S3) ...(o turismo) é meu meio de vida. Mas (o planejamento turístico) é péssimo. Porque nada é feito. Nada é feito em prol do turismo. Acho importante planejar. Porque tudo planejado tem mais chance de dar certo né? Você fazer a coisa assim de agora para daqui a pouco é mais difícil de você conseguir êxito. (S7) Diversos autores discutem os prós e contras da atividade turística. Dentre os aspectos positivos, pode-se destacar principalmente o turismo como gerador de divisas, como uma “indústria que não polui”, como a principal atividade econômica da atualidade, etc. Contudo, dentre os aspectos negativos, é unânime a conclusão que o turismo, se não for bem planejado, poderá causar mais impactos negativos do que positivos, pois é essencial planejar buscando a sustentabilidade em modelos de gestões políticas públicas organizadas e associadas, aumentando a capacidade socioeconômica, ambiental e cultural da atividade, o que nem sempre ocorre. Ainda em relação à palavra-chave TURISMO pode-se destacar no discurso dos atores a associação aos termos cultura, participação e capacitação/ educação, vinculados respectivamente ao enriquecimento cultural, a falta de empenho na participação e a conscientização da importância da atividade. Dentre as oposições desta segunda parte da análise vale destacar a falta de empenho na participação. O discurso dos autores dá a entender que existe uma acomodação entre as partes: nem a população interessa-se em participar, nem os gestores do turismo incluem a população no planejamento ou ainda que a população não acredite no turismo como um vetor de desenvolvimento econômico, ou seja, ainda não tem educação para o turismo em todas as suas vertentes: seja no sentido de conservação dos espaços, sustentabilidade sócio-econômico-cultural, na capacitação profissional - oferta de produtos turísticos, qualidade no serviço. prestado, educação para tratar bem o turista – quanto na conscientização do XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1730 potencial que a atividade pode ter no desenvolvimento das comunidades. Por isto, não há participação Especificamente de Valença eu ainda não me sinto assim. Porque uma das coisas que seria importante seria exatamente essa participação dentro do planejamento turístico. Então se não tem um planejamento turístico então a gente não... Conseqüentemente a gente não participa do planejamento. (...) E na verdade eu acho que as próprias pessoas de Valença não se sentem... As próprias pessoas de Valença não se sentem assim tão por dentro da atividade turística, elas não conhecem o potencial que o município tem para a atividade. (S4) Porque eu acho que o turismo em Valença deveria ser a alternativa básica para a questão da sobrevivência das pessoas, só que não há credibilidade, os governantes não acreditam. E a gente não acredita no turismo e por sua vez ele vai se esvaindo né? E a comunidade não tem consciência do retorno que eles podem estar obtendo no investimento de turismo, desde o atendimento né, a questão de estar recepcionando até a preparação mesmo para acolher os turistas.(S3) Então é por isso que o turismo aqui é muito acomodado. Enquanto não crescer essa visão, Valença não vai dar um pouco de diferença entre as outras praias que já estão se expandindo, já estão crescendo, com um desenvolvimento maior, com pouco tempo do que o nosso. É muito complicada essa parte turística, Valença. (S14) Tais resultados reforçam a assertiva de que é a falta de envolvimento dos atores sociais no processo de planejamento do município em questão ocorre em função da não conscientização dos envolvidos (atores e gestores do turismo) sobre a importância do planejamento participativo no turismo. Contudo, como se pode definir o sucesso do planejamento turístico do município através das aspirações da população, se a mesma, de acordo com resultados, desconhece a importância da atividade? Quanto ao conceito da palavra-chave TURISTA a co-ocorrência livre mais marcante foi visitante, seguida de segurança. O termo visitante foi associado, majoritariamente às questões econômicas, e o termo segurança, em sua maioria referia-se à necessidade de proteção ao turista. A maior ênfase e participação relativa às relações positivas, com 54,8% das ocorrências estão relacionadas às questões de acolhimento ao turista (segurança) e econômicas. Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o maior índice também foi relacionado às questões econômicas, contudo direcionado aos termos renda (67%) e olhar, cliente e outra cultura (todos com 10%). Nesta apuração as associações positivas representaram 90% dos dados, o que indica que, para os XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1731 representantes do segmento turístico, o TURISTA representa dinheiro entrando na cidade, uma fonte de sobrevivência, um cliente que traz o conhecimento de uma nova cultura. A seguir são apresentados o conjunto de quadros que representam as etapas do tratamento da palavra-chave TURISTA com as coocorrências e as associações e oposições identificadas nos discursos dos sujeitos. Quadro 4 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS LIVRES RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE TURISTA Turista Relações Percentual Co-ocorrência livre Freqüência Palavra-chave Estim uladora Positivas ASSOCIAÇÕES Negativas OPOSIÇÕES 17 (54,8%) 14 (45,2%) Desconhecimento da importância do turista para a cidade. 31 06 100 19,35 09 03 29,03 9,67 Turista visita e gera renda Visitante Segurança Acolhimento 11 04 35,48 12,9 Criação da DELTUR Preparação para acolher Descaso da população - não sabe atrair o turista Não visita Valença porque não vê atratividade. O turista precisa de proteção Quadro 5 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE TURISTA Turista Relações Percentual Co-ocorrência induzida Freqüência Palavrachave Estim uladora 30 100 01 3,33 Educação 01 3,33 Segurança Dinheiro, renda 01 05 3,33 16,67 Visão 01 3,33 Olhar 03 10 01 3,33 01 03 01 3,33 10 3,33 Um necessário Diamante turismo Invasor Cliente Pessoas vontade conhecer, mal do com de 1732 Positivas ASSOCIAÇÕES Negativas OPOSIÇÕES 27 (90%) 03 (10%) Porque ele não tem educação e destrói o meio ambiente, é aquele que ao invés de tirar uma foto ele mata o animal para levar. O turista precisa ser educado respeitar o patrimônio histórico, cultural, qualidade das coisas que ele anda.Eles não respeitam o patrimônio. Vão numa igreja e escrevem um coraçãozinho fulano ama beltrano. Eu soube que aqui tem uma grutas de cultura rupestre, eu nem falo nisso, porque quando eles descobrirem vão lá e escrevem tudo em cima. Entrando na cidade, sem ele não há como sobreviver Precisa ter visão direcionada para decidir o destino que quer viajar Um outro olhar, diferença, intercâmbio Ajuda as pessoas a se conscientizarem Invade o espaço das outras pessoas XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 explorar Outra cultura Bahia 03 01 10 3,33 Brasil 01 3,33 Riqueza Americanos Italianos Brasileiros Visitante bem vindo 02 01 01 01 01 6,67 3,33 3,33 3,33 3,33 Conhecimento Levar o Guaibim ao território nacional Fazer o Guaibim ser conhecido no nosso Estado. Cultural, econômica Quadro 6 – RELAÇÃO DA PALAVRA- CHAVE TURISTA COM AS CO-OCORRÊNCIAS LIVRES E INDUZIDAS Co-ocorrência Visitante bem vindo Segurança Descaso da população - não sabe atrair o turista Dinheiro, renda Acolhimento Olhar Cliente Outra cultura Riqueza Pessoas com vontade de conhecer, explorar Bahia Brasil Diamante do tur ismo Invasor Americanos Italianos Brasileiros Um mal necessário Educação Visão TOTAL Freqüência 13 12 06 05 04 03 03 03 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 Percentual 21,31 19,67 9,83 8,2 6,55 4,92 4,92 4,92 3,28 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 01 01 61 1,64 1,64 100 Associações 10 03 Oposições 03 09 06 05 04 03 03 03 02 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 01 44 17 Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da segunda fase, as relações de associação são preponderantes. Do total de relações 28% são de oposição e 72% são relações de associação. Verifica-se então, a preponderância de relações positivas entre as co-ocorrências e expressões produzidas. Dados da pesquisa indicam que as palavras-chave TURISMO e TURISTA muitas vezes se confundem. Ambas, para os atores sociais, representam majoritariamente, divisas entrando no município. Nesta última apuração vale ressaltar a preocupação com a segurança do turista. O resultado mais expressivo da Co-Ocorrência Livre indica que para os representantes do segmento turístico o TURISTA é um visitante bem vindo (29,03%), que gera renda, mas também, deixa de visitar a cidade porque a mesma não oferece atratividade (9,67%). Segundo depoimentos, boa parte dos XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1733 turistas passam por Valença para dirigirem-se ao Morro de São Paulo, à praia do Guaibim ou às demais cidades da Costa do Dendê, reduzindo a cidade a, apenas, um corredor turístico em direção a Morro de São Paulo e Camamú (demais cidades da Costa do Dendê). Valença é um portal para o Morro de São Paulo e para outras regiões turísticas. (S2) Então a única coisa que ocorre aqui em turismo só vem a parte do Guaibim sendo que atualmente depois da construção do aeroporto, também colocou em frente ao aeroporto a... Como é que chama o local? O atracadouro. Então isso dificultou mais porque as pessoas quando utilizam o aeroporto, os turistas, só vem para dois lugares: Morro de São Paulo e Mediterrané, então isso dificultou porque de primeiro, as pessoas tinham que vir, quando vinha para o Morro de São Paulo, tinham de vir, rodar a cidade toda praticamente para poder chegar até a praça, pegar os barcos, as lanchas para ir até o Morro e hoje não precisa porque uns vem de carro, tem um estacionamento grande no atracadouro, e tem gente que nem aqui aparece, e as vezes até no Guaibim. (S11) Essa é minha opinião, sobre... Não sobre o turismo, eu não digo que nossa região é uma região turística porque sobre a nossa potencialidade nem um por cento é explorado, eu diria que essa é uma análise sobre a nossa incompetência em explorar um dos segmentos que mais crescem no mundo, que mais trazem divisas... A Espanha, você não vê nenhuma indústria espanhola, nenhum carro, mas o Uruguai é menor do que o Rio Grande do Sul, mas recebe mais turistas do que o Brasil inteiro, nós não temos políticas adequadas, nós somos incompetentes na área turística. (S15) A diversidade cultural também foi ressaltada no símbolo do turista. Americanos, italianos, brasileiros (3% cada) que visitam o município trazem o conhecimento (10%) e riqueza econômica e cultural (6,67%), através de um novo olhar, olhar da diferença (10%). Contudo, dentre as oposições, ainda chama a atenção a falta de conscientização ambiental e sustentabilidade, pois o termo educação (3,33%) foi evocado indicando O turista precisa ser educado respeitar o patrimônio histórico, cultural, qualidade das coisas que ele anda. Eles não respeitam o patrimônio. Vão numa igreja e escrevem um coraçãozinho fulano ama beltrano. Eu soube que aqui tem umas grutas de cultura rupestre, eu nem falo nisso, porque quando eles descobrirem vão lá e escrevem tudo em cima. (S1) Mediante a apresentação da palavra-chave PLANEJAMENTO, foi solicitado aos sujeitos que expressassem duas palavras que lhe viessem à cabeça e que se relacionassem com a mesma. A co-ocorrência livre mais marcante relativa a esta XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1734 palavra-chave foi planejamento turístico, seguida de participação. Ambas associadas às questões organizacionais, tanto nas associações positivas, quanto nas negativas, com maior ênfase e participação relativa às relações negativas, com 64,29% das ocorrências. Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o maior índice de co-ocorrência também foi relacionado às questões organizacionais, contudo relacionados aos termos essencial e inexistente. A seguir são apresentados o conjunto de quadros e gráfico que representam as etapas do tratamento da palavra-chave PLANEJAMENTO com as co-ocorrências e as associações e oposições identificadas nos discursos dos sujeitos. Planejamento Co-ocorrência livre Relações Percentual Palavra-chave Estim uladora Freqüência Quadro 7 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS LIVRES E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA-CHAVE PLANEJAMENTO Positivas ASSOCIAÇÕES Negativas OPOSIÇÕES 42 05 100 11,9 15 (35,71%) Importância de planejar o turis mo 02 4,76 Aumentar o fluxo de turistas Participação 11 06 10 26,19 14,28 23,8 Organização 06 14,28 01 2,38 02 4,76 Planejamento turístico Desenvolviment o sustentável 27 (64,29%) Falta de participação do trade 1735 no planejamento Desconhecimento do planejamento Não há planejamento Falta de planos e ações efetivas Inexistência de planejamento participativo Necessidade de elaboração de planos Muito planejamento e pouca ação Abismo entre planejamento e realidade Planos de manejo, etc. Planejamento Coocorrência induzida Percentu al Palavra-chave Estim uladora Freqüên cia Quadro 8 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA-CHAVE PLANEJAMENTO 19 100 Ordenar 04 21 Infra-estrutura Saúde 01 03 5,26 15,79 Essencial 06 31,58 Relações Positivas ASSOCIAÇÕES 15 (79%) Negativas OPOSIÇÕES 04 (21%) Colocar em prática, para tudo tem que haver planejamento Definir o foco Familiar, há muitas mulheres grávidas e não há controle. Pr incipio básico qualquer negócio XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 de Acessório correto para o desenvolvimento tur ístico Base do negócio Vai acontecer, inexistente 01 5,26 06 31,58 Sucesso Pesquisa 01 02 5,26 10,52 Futuro 02 10,52 Ainda não vê o planejamento efetivo, é pouco explorado Precisa sair do papel Falta de vontade política Incapacidade Buscar solução para os problemas que estão ai ou possam surgir Crescimento Quadro 9 – RELAÇÃO DA PALAVRA-CHAVE PLANEJAMENTO COM AS COOCORRÊNCIAS LIVRES E INDUZIDAS, ASSOCIAÇÕES E OPOSIÇÕES Co-ocorrência Planejamento Tur ístico Ordenar Participação Essencial Vai acontecer, inexistente Saúde Desenvolvimento sustentável Pesquisa Futuro Base do negócio Sucesso Infra-estrutura TOTAL Freqüência 24 Percentual 38,42 Associações 04 Oposições 20 11 10 06 06 03 02 02 02 01 01 01 100 19,67 16,39 9,84 9,84 4,69 2,38 2,38 2,38 1,64 1,64 1,64 61 10 01 10 06 01 02 02 01 01 30 06 03 01 31 1736 Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da segunda fase, verifica-se um empate entre as relações de associação e oposição, com uma leve vantagem para as oposições (51%). Tais resultados ocorreram apenas na compilação dos dados, pois na co-ocorrência livre, constata-se que o planejamento é visto como uma ferramenta essencial ao desenvolvimento do turismo (21%), entretanto, para os atores, esta ferramenta ou não existe (31, 5%) ou não é usada pelos gestores do turismo. (...) eu posso até estar errada porque existem vários planejamentos agora nenhum planejamento é colocado em prática. Na realidade, todo planejamento, a gente faz parte de reunião, faz parte de tudo agora nada é colocado em prática. Então que eu faço parte do planejamento, faço, acho importante fazer parte acho, agora o que não acontece é ser realizado nada (S7). O planejamento daqui eu vejo bom né? Mas eu acho que tem que levar mais a sério. Porque o planejamento surge, é muita reunião, é muito... O que vai acontecer, mas eu acho que na hora... Não sei é... Acho que desanimam os órgãos em dar segmento... É tanta reunião que você participe, tanto efetivo, é muito treinamento né, muito treinamento na mão de obra, mas é periodozinho muito curto. (S13) XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 Planejamento turístico do município. Eu o vejo com uma ação fraca. Ação fraca, pois não existe programação de recepção e de sedução dos visitantes. Eu acho que tinha que ter alguma coisa assim, que chamasse mais. Então eles fazem... Tem um planejamento turístico sim, não restam dúvidas, mas... Eles dizem não eu preciso melhorar isso... Valença é linda! (S3) Embora este empate tenha ocorrido as associações são predominantes (79%), o que indica que o planejamento turístico é o principal instrumento para o desenvolvimento integrado do turismo em todas as suas formas, como discute Petrocchi, O planejamento dá coerência e convergência às atividades em prol do turismo. Além disso, deve converter recursos naturais em recursos turísticos, ordenando o território e melhorando as infra-estruturas, equipamentos, serviços, promoções e preservação do ambiente físico, natural e urbano. É algo sistêmico, dinâmico. O macroambiente deve ser permanentemente monitorado, de forma que o sistema turístico tenha sempre uma visão atualizada do que o cerca. (2004, p. 72) Um outro fator que merece destaque na discussão destes resultados é a palavra participação. Para os atores há notadamente significados negativos em relação ao termo (16,39%). Esta preponderância se acentua quando é feita a análise da relação entre estas co-ocorrências livres e induzidas e o conteúdo das expressões/frases enunciadas pelos sujeitos. Para eles o que há é a inexistência de planejamento participativo. Não porque eu acho que deveria haver uma campanha, onde as pessoas formadoras de opinião pudessem estar participando nas sugestões para a construção do planejamento. (S3) O que a gente pode perceber é que não existe um planejamento definido. Quando existe a gente vê que o que foi feito não foi um planejamento participativo, que a gente que estuda planejamento estratégico sabe que é uma das coisas mais importantes, que haja participação da comunidade, da sociedade civil organizada, mas é uma coisa que não acontece ainda. (S4) Pode-se observar que os dados coletados indicam que os sujeitos têm construído nos seus imaginários uma representação acentuadamente positiva da palavra PLANEJAMENTO. Por intermédio da estimulação induzida, os sujeitos verbalizaram a palavra acessório correto para o desenvolvimento turístico na maior parte das co-ocorrências (31,58%) empatado com o termo, vai acontecer, XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1737 inexistente (31,58%), desta vez, em oposição ao planejamento turístico do município de Valença. O Turismo é extremamente dependente do setor público, pois o Poder Público é o principal responsável pela qualidade do produto turístico. A participação da população na implementação de uma política de desenvolvimento que envolva a maioria dos segmentos da sociedade é possível porque a qualidade do produto turístico depende do envolvimento sistêmico dos diversos componentes integrantes do produto global único que é o Turismo. O papel do setor público é facilitar, induzir e organizar, pois a atividade turística, por ser bastante dinâmica, traz benefícios em curto prazo, mas também pode prejudicar o meio ambiente natural e sociocultural com a mesma velocidade. Segundo Dias (2005, 139-140), Mais do que qualquer outra atividade, a intervenção pública é absolutamente necessária no turismo, principalmente pelos seguintes motivos: a) b) o turismo é uma atividade altamente dinâmica e pode gerar tanto efeitos positivos quanto negativos, e é necessário frear a avidez de lucro para que se possa ter uma atividade sustentável econômica, social e ambientalmente; no caso do turismo, os bens públicos são de fundamental importância; tanto a infra-estrutura, a segurança, muitos recursos naturais e culturais dependem do Estado. Além disso, são as administrações públicas que irão cuidar da acessibilidade, salubridade, beleza, segurança, etc. de muitos recursos turísticos. Portanto, para que o turismo desenvolva-se com sucesso, há a necessidade não apenas da intervenção do setor público, mas da parceria entre os diversos segmentos atuantes na atividade, conduzindo a um processo sinérgico, onde o todo é maior que a soma das partes integrantes do sistema. Nota-se que há uma falha de comunicação entre os atores sociais envolvidos pelo turismo e os atuais gestores de turismo, pois, de acordo com dados secundários coletados, constatou-se que a Secretaria de Turismo organiza-se para desenvolver a atividade através da realização de planos de ação (como esta descrito abaixo) e, dentre as atividades propostas, é visível a preocupação em envolver os atores sociais comprometidos com o turismo. A Secretaria de Turismo de Valença não dispõe dos dados das gestões anteriores. Sabe-se que foi adotado, em outras XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1738 administrações, o modelo de planejamento elaborado por Doris Ruschamann, porém, sem qualquer adaptação para o município. A Sectur do município trabalha em conjunto com alguns outros órgãos. È denominada Secretaria de Cultura, Indústria e Comércio, e Promoção e Eventos. O Plano de Ação para a atual gestão é de curta duração (2007-2008) e aborda principalmente a aproximação da visão do planejamento às visões das comunidades e mercados. O fundamento deste plano é a partir de uma análise da atual situação do município propor algumas ações objetivando o fortalecimento da gestão municipal do turismo. Os principais objetivos da Secretaria de Turismo envolvem as dimensões organizacional, operacional e de sustentabilidade (SEC TUR, 2007). Na dimensão organizacional enfoca-se o fortalecimento e a estruturação dos Conselhos Municipais e Fundos Municipais; a existência de planejamento municipal eficiente para a gestão do turismo, cultura, promoção, eventos, indústria e comércio; uma base legal eficiente e/ou correta aplicação; e uma estrutura organizacional e administrativa adequadas. A dimensão operacional pretende aumentar o quadro de pessoal (com capacitação técnica) para as ações de desenvolvimento do turismo, cultura, promoção, eventos, indústria e comércio e; maior capacidade técnica e política para captar, ampliar e aplicar recursos próprios e de terceiros para as ações de desenvolvimento do turismo. A dimensão de sustentabilidade intenciona aumentar os níveis de interação e cooperação entre os órgãos municipais, entre os municípios e entre as demais esferas de governo; maior envolvimento e participação da comunidade nos projetos municipais para o turismo; aplicação de recursos com vínculo com a viabilidade econômica, social e ambiental dos projetos da secretaria. Para o desenvolvimento de tais ações a Secretaria de Turismo realizou um estudo com os empresários e hoteleiros de Valença e da praia do Guaibim, questionando as suas principais dificuldades, principais preocupações enquanto empresários, quais as expectativas em relação à prefeitura Municipal de Valença e da Secretaria de Turismo, que tipos de cursos sugerem para os funcionários, que tipos de atividades esperavam para o ano e como eles, enquanto empresários poderiam colaborar com PMV (Prefeitura Municipal de Valença) e a SECTUR para melhorar a economia e o turismo regional. A partir desse resultado o órgão oficial de turismo do município propôs algumas ações de cunho organizacional, vinculadas às principais aspirações e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1739 dificuldades dos empreendedores. Um ponto positivo da gestão do turismo em Valença é a constante comunicação e atuação junto às esferas estadual e federal, apontando a efetivação de uma das principais características do desenvolvimento turístico: o entrosamento de todas as esferas de atuação, ao nível de governo. Outro ponto que merece destaque é a parceria entre o Conselho de Turismo (COMTUR) e a Secretaria. Além das aspirações do trade, a Secretaria propõe ações de cunho estrutural, visando o desenvolvimento sinérgico do meio ambiente, da cultura e do turismo, visando à adequação turística de todos os seus atrativos. Pode-se citar a criação da “Lei Municipal do Turismo”, a elaboração de diversos projetos visando organizar o funcionamento das atividades turísticas, o fortalecimento do marketing e promoção da cidade, o fomento às manifestações culturais locais e a implementação junto aos demais órgãos responsáveis, de leis de proteção ao patrimônio e á cultura, buscando a sustentabilidade dos diversos tipos de manifestações culturais, etc. Uma análise superficial indica que a atual gestão da SECTUR de Valença buscou organizar-se de acordo com os princípios de um planejamento turístico sustentável, embora não haja o Planejamento Efetivo, em longo prazo, há apenas a proposta de um Plano de Ação. Também não há um diagnóstico das potencialidades do município. Não foram apontados pela secretaria quais são os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades da cidade. Sabe-se que uma das bases norteadoras de um planejamento estratégico é a sua visão em longo prazo. Como não foram encontrados dados anteriores, pressupõe-se que essa ação seja pioneira no município, porém a necessidade de implantação de um Planejamento Turístico é fundamental para que as ações tenham continuidade e consigam contemplar, efetivamente, todas as esferas envolvidas no processo, pois gestões políticas passam e a continuidade de um trabalho é fundamental para o sucesso da atividade. Ademais, ainda verificou-se a existência de um Plano Anual de Investimentos para o Turismo, realizado pelo Conselho de Turismo do município no ano de 2006. Tal plano foi elaborado em consonância com o Protocolo de Intenções visando à Execução de Ações para a melhoria da Atividade Turística na Costa do Dendê, firmado entre o Governo do Estado, através da BAHIATURSA e a AMUBS Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia, ou seja, mais uma vez conjugando todas as esferas de atuação. Este plano continha elencadas ações no XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1740 intuito de promover o turismo no município. Dentre tais ações pode-se destacar a inventariação dos recursos naturais, culturais e históricos (materiais e imateriais) existentes no município e a proposta de ações para o desenvolvimento turístico. Dentre as ações propostas podem-se destacar os roteiros ecológicos, históricoculturais, de turismo de aventura, a revitalização das manifestações culturais e a criação de um calendário anual de eventos. Comparado ao Plano de Ação 20072008 pode-se certificar que a única ação concluída e em plana atividade é a do calendário de eventos. Percebe-se que o município conhece o seu potencial e seus recursos existentes, contudo não consegue organizar-se de modo a cumprir efetivamente o que planeja. Constatou-se também que o Plano Anual de Investimentos para o Turismo, vigente no ano de 2007 tem o mesmo conteúdo da proposta do ano anterior, ou seja, o Conselho não conseguiu cumpri-lo em 2006. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados da pesquisa, os representantes do segmento turístico acreditam que o turismo deve ser bem planejado para tornar -se uma fonte de renda, emprego e lazer. O turista é um cliente visitante, que deve ser protegido para trazer e ser um meio de acesso às novas culturas. O planejamento é o instrumento que põe em prática eficazmente a relação turismo, turista – a atividade turística. Aparentemente há uma sintonia teórico-conceitual entre os termos turismo, turista e planejamento enquanto ciência e as representações estabelecidas no universo mental dos atores sociais e gestores do turismo. Contudo, quando se observa a operacionalização desta relação para o desenvolvimento turístico sustentável, percebe-se que ainda não existem meios efetivos para estabelecer a harmonia entre os gestores do turismo e os representantes deste segmento. Ressalta-se que o principal problema encontrado nos resultados da pesquisa é a falta de comunicação entre as partes integrantes deste planejamento. Ambas esperam o contato da outra. Todos trabalham em prol do desenvolvimento turístico, mas não de maneira integrada. Há intenção de fazer conhecer as propostas e ações desenvolvidas pela Secretaria de Turismo, porém ainda não há uma metodologia estabelecida para efetivar esta participação e conseguir por em prática os fundamentos da gestão participativa. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1741 Não obstante, Dencker (2004) colocar que as decisões das comunidades não detem poder para contrariar as políticas nacionais e estaduais, ou seja, não há como negar que apesar das discussões sobre a importância da participação da comunidade no planejamento turístico é muito difícil achar um meio que possibilite a sua efetivação. Pode-se perceber que os representantes do trade turístico conhecem o potencial do município e têm fundamentação para as suas colocações. No decorrer das entrevistas, sugeriram a criação de novos atrativos para o município. Contudo, verifica-se que os gestores do turismo no município não têm acesso a tais sugestões, porque, há uma falta de interação na comunicação entre os gestores e os representantes do trade. De acordo com o Plano de Ação 2007-2008, previsto para o município, são agendadas reuniões periódicas com a comunidade no intuito de praticar a gestão participativa, porém, verifica-se que não há efetivação nas ações discutidas, provavelmente por descompromisso dos gestores do turismo e seus partícipes. Para os atores, a Secretaria de Turismo espera que os representantes do trade mobilizem o desenvolvimento turístico, e os gestores aguardam ações dos atores sociais. A partir dos resultados da pesquisa conclui-se que o planejamento turístico do município de Valença, para conseguir efetivamente atingir os objetivos traçados quanto à participação popular, necessita de um mecanismo de comunicação entre gestores e representantes do trade, com vistas a tornar a interlocução entre os dois segmentos mais eficientes e as idéias discutidas, transformadas em ações concretas para o desenvolvimento do turismo no município. REFERENCIAS AVENA, B. M. 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Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1743 XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 TERRITÓRIOS EM REDE: O TURISMO DE BASE LOCAL COMO ATIVIDADE ALTERNATIVA EM COMUNIDADES CEARENSES Luciana Maciel Barbosa Bacharel em Geografia/Universidade Estadual do Ceará - UECE [email protected] Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano Doutora em Geografia/Universidade Estadual do Ceará – UECE [email protected] RESUMO Algumas comunidades brasileiras acreditam que, a partir da organização comunitária é possível produzir um turismo diferenciado - comunitário - que possibilite melhoria de vida para os residentes, tornando esta atividade alternativa e complementar à renda familiar. Essas comunidades apresentam um conjunto de experiências articuladas para a promoção e a venda de serviços turísticos que se voltam à preservação da cultura e das características locais. A interação entre comunidades turísticas promotoras do turismo de base local dá origem a redes de turismo comunitário. O objeto de estudo desta pesquisa são as redes dos territórios do turismo comunitário no Ceará, que fazem contraponto às redes do turismo convencional, tendo como empírico as territorialidades de comunidades cearenses. A escolha deste tema deve-se à expansão das redes do turismo comunitário em todo o país, tornando necessária a compreensão deste fenômeno também no estado do Ceará, e dessa forma, entender as transformações, os conflitos e contradições da produção espacial pelo turismo. A pesquisa é orientada por abordagens qualitativas e quantitativas, tendo como base levantamento bibliográfico, dados secundários e roteiros de entrevistas. A ação do Estado para melhoria de infra-instruturas e assistencialismo às comunidades, a influência e assessoria de ONGs no desenvolvimento das redes e do turismo comunitário, além da luta pela posse de terra em muitas comunidades cearenses ainda são questões que geram controvérsias e críticas por parte dos moradores locais. Palavras Chave: turismo comunitário, redes, território ABSTRACT Some brazilian communities believes that they can produce a differentiated tourism community - enabling improved life for residents, making this alternative activity and complement the family income. These communities have a set of experiences based on the promotion and sale of tourist services that focus on the preservation of culture and local characteristics. The interaction between tourist communities promoting tourism on local leads to networks of community tourism. The object of this research are the networks of territories community in Ceará. The choice of this theme is due to XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1744 the growth of networks of community tourism across the country, making it necessary to understand this phenomenon also in the state of Ceará, and to understand the changes, conflicts and contradictions of production space for tourism. The research is guided by qualitative and quantitative approaches, based on literature review, secondary data and scripts for interviews. The state action to improve the infrastructure and welfare to communities, the influence and advice of ONGs in the development of networks and community tourism, and the struggle for land ownership in many communities of Ceará are still issues that generate controversy and criticism part of local residents. Key words: comunity tourism, networks, territory 1 INTRODUÇÃO A intensificação dos fluxos, a reconfiguração dos fixos, a articulação em redes, a diferenciação geográfica e seletividade dos lugares, a atuação dos poderes públicos e privados são fenômenos relacionados à produção e consumo do espaço estudado pela geografia ao analisar a influência de atividades, como o turismo, na produção espacial. O turismo é uma atividade econômica contemporânea que segue o modelo do sistema capitalista, transforma espaços em mercadorias, promove e concentra riquezas, gera emprego e renda, contribui, assim, para a produção e organização de territórios. O turismo veicula-se por dois eixos: convencional ou de luxo, produzido por empresários detentores de capital; e o comunitário, também chamado de alternativo, solidário, turismo de base local ou de base comunitária, em que há a participação da comunidade na organização e execução da atividade, desenvolvendo práticas e serviços diferenciados do turismo convencional, embora também objetivando integrar-se à cadeia produtiva do turismo. Assim, pequenas comunidades acabam por encontrar no turismo opções de trabalho e de ganhos para subsistência, mesmo estando à margem do sistema. No Ceará, o turismo destaca-se no cenário nacional a partir da década de 1990, com a valorização de cidades para as segundas residências e para a acumulação pelo mercado imobiliário. Com ação de empresários, apoiados pelo Estado, há o desencadeamento, principalmente no litoral cearense, da especulação imobiliária e da desapropriação de algumas comunidades pesqueiras, tendo em vista a dinamização da economia por meio da expansão do mercado de imóveis e da atividade turística no estado. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1745 Muitas comunidades litorâneas no Ceará sofrem os impactos da especulação imobiliária e do avanço do turismo em seus territórios, pois muitas colônias pesqueiras tornaram-se importantes núcleos receptores de turistas, nacionais e internacionais, dando lugar a um turismo excludente, que deixa a população local à margem dos ganhos e dos benefícios gerados pela atividade. Há, no entanto, comunidades que resistem ao avanço desse turismo predador e colonizador. Organizam seus territórios a partir de um turismo diferenciado, partindo da base local. A atividade passa a ser organizada e executada com a participação da população local e com a influência de instituições externas como organizações não-governamentais (ONGs), tendo como base o trabalho comunitário e participativo, encontrando formas de desenvolver o lugar, valorizar a história e a cultura local. No Ceará, o turismo comunitário é realizado, principalmente em comunidades pesqueiras, entretanto, populações indígenas, de assentamentos rurais, em áreas urbanas, além de outras localizadas no sertão central e região do cariri também vêm se interessando e organizando o turismo local, o que demonstra que não apenas o turismo de luxo, voltado ao binômio sol e praia avança no estado, mas também o eixo do turismo de base comunitária encontra-se organizado, articulado e em expansão. Algumas comunidades cearenses optam por desenvolver o turismo local, formando redes entre associações comunitárias, organizações não-governamentais (ONGs) e Estado para melhor organização e dinamização da atividade turística, podendo, assim, conter o avanço do turismo convencional em seus territórios. Isso demonstra a representatividade de comunidades que lutam contra os poderes dos agentes hegemônicos – grandes capitalistas –, objetivando o desenvolvimento de atividades alternativas, como o turismo comunitário, que possibilitem a sobrevivência de comunidade e a valorização dos territórios. 2 A ATIVIDADE TURÍSTICA E A EXPANSÃO DO EIXO COMUNITÁRIO EM COMUNIDADES CEARENSES O turismo é resultante do processo de industrialização, sendo a partir do século XX que mudanças significativas vieram a ocorrer para a ampliação dessa XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1746 atividade no mundo. A massificação dos padrões de consumo, a regulação e limitação da jornada de trabalho, aposentadoria, legislação social, valorização dos fins de semana, feriados e férias, além da modernização dos meios de transporte e comunicação contribuíram para a emergência do turismo de massa 77 (BECKER, 2001). O aproveitamento do tempo livre 78 dos operários possibilitou a transformação do ócio em negócio (negação ao ócio), estimulando viagens e consumo de espaços de lazer criados ou adaptados para o novo público - os turistas (CORIOLANO, 2005). A importância dada ao turismo no contexto internacional motivou o Estado brasileiro a investir no desenvolvimento dessa atividade no país. O interesse do governo em promover o turismo nacional inicia-se a partir da década de 1980, mas é nos anos de 1990 que a atividade ganha mais visibilidade e se concretiza com a Política Nacional de Turismo – PNT, em 1996, pautada no discurso da geração de renda, emprego e desenvolvimento socieconomico do país (FONSECA, 2005).As cidades litorâneas constituem uma das principais atrações para os turistas e o investimento de capitais, em especial estrangeiros, na Região Nordeste, inclusive no Ceará, apoiados por políticas públicas e iniciativas privadas, potencializam o crescimento da atividade. A Secretaria de Turismo do Estado de Ceará – SETUR/CE (2009), em estudo sobre a evolução da atividade turística no estado (Quadro 1), apresenta a crescente participação do fluxo de turistas internacionais para o Ceará, variando de 1,65% a 6,25% durante o período de 1998 a 2006. 77 Cruz (2003) define turismo de massa “uma forma de organização do turismo que envolve o agenciamento, transporte e hospedagem, de modo a proporcionar o barateamento dos custos da viagem e permitir, consequentemente, que um grande número de pessoas viaje” (p.6). 78 Padilha (2000) destaca que tempo livre e capitalismo formam um par imperfeito, em decorrência da ocupação do tempo liberado do trabalho por atividades relativas ao plano econômico. O ócio e o lazer realizados durante o tempo livre do trabalhador foram transformados pelo capitalismo em atividades de consumo, tendo como objetivo a garantia de sua reprodução constante. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1747 QUADRO 1: TURISMO INTERNACIONAL (MILHÕES) Fonte: OMT, EMBRA TUR e SETUR/CE (2009) Matéria publicada no Jornal O Povo, em 26 de janeiro de 2010, informa que o Secretário de Turismo do Estado (SETUR), Bismark Maia, apresentou em entrevista coletiva números otimistas em relação ao turismo no Ceará. Segundo o secretário, o número de turistas que viajaram para o estado cresceu 13,2% em 2009, comparado a 2008. A renda gerada pela atividade atingiu R$ 6,3 bilhões no ano de 2009, e o gasto diário de um turista nacional foi em torno de R$ 135,51 e do internacional R$ 208,92. Tais números mostram o andamento e o crescimento da atividade no estado. O estado do Ceará apresenta 573 quilômetros de faixa litorânea, ocupado por espaços de lazer e de turismo. Os atrativos naturais são considerados atrações para os turistas, entretanto o luxo e o conforto também são importantes atrações para aqueles que podem pagar pelo lazer elitizado. Os mega empreendimentos, resorts, parques aquáticos constituem verdadeiros paraísos artificiais privados, reproduzem “a imagem de outro universo, diferente daquele que conhecemos ou de que estamos a par” (BAUMAM, 2007, p.102), que contrasta com a realidade do lugar quando instalado sobre territórios de comunidades tradicionais pobres e que pouco se beneficiam com o empreendimento construído, destinadas ao consumo e reprodução intensa do capital. Para Beni (2000), o turismo é um fenômeno eminentemente social que ao fazer surgir atividades relacionadas ao transporte, hospedagem, alimentação e XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1748 recreação também contribui para a ocorrência de uma série de mudanças nos lugares de caráter econômico, social, cultural e ecológico. O consumo dos espaços pelo turismo transforma paisagens, altera cultura, articula os negócios, dinamizando, assim, a organização territorial. A atividade turística interfere na organização de territórios, podendo essas transformações favorecer ao lugar ou desfavorecê-lo por beneficiar grupos externos. Assim, afirma Queiroz (2006, p.80), o turismo destaca-se como uma atividade “que tanto pode gerar riquezas, valorizar espaços, promover novas relações entre os povos e culturas como, simultaneamente, tornar-se predador cultural, degradador ecológico e explorador econômico”. Podendo, assim, beneficiar um considerável número de pessoas e oferecer melhores condições àqueles que vêem no turismo oportunidade de trabalho, como grupos que organizam o chamado turismo comunitário. Ao ser questionado sobre os benefícios e os pontos negativos da chegada do turismo em Icapuí, no litoral oeste do Ceará, um dos moradores responde que a atividade turística contribui “diretamente na melhoria da qualidade de vida da população local, na valorização da mulher no mercado de trabalho, e no protagonismo juvenil na comunidade” (morador de Icapuí e integrante da Fundação Brasil Cidadão, 2009). Entretanto, a valorização de alguns espaços e a segregação de outros é tida, para o entrevistado, como principal malefício do turismo na comunidade, em decorrência do aumento da competitividade e a “concorrência não saudável” entre os territórios. Coriolano (2003, p.41) define turismo comunitário como aquele desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passam a ser os articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida; levar todos a se sentirem capazes de contribuir, e organizar as estratégias de desenvolvimento do turismo. O turismo comunitário é, portanto, a atividade turística organizada, planejada e executada pelos moradores locais, com a realização de trabalho em conjunto ou cooperativo, e tem como objetivo a valorização do patrimônio histórico, cultural e ambiental, associado ao desenvolvimento local. XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios Niterói - RJ 12 a 14 de abril de 2010 1749 No Ceará, o turismo comunitário é realizado nas comunidades de Tatajuba (Camocim), Guajiru (Trairi), Balbino (Cascavel), Prainha do Canto Verde e Parajuru (Beberibe), Ponta Grossa e Redonda (Icapuí) e Batoque (Aquiraz). Todos alocados na costa cearense. Embora a maioria das comunidades cearenses promotoras do turismo de base local seja litorânea, essas experiências não são exclusivas, elas também podem ser encontradas no interior do estado (sertão e serras cearenses). Locais onde a população trabalha na perspectiva do turismo rural e comunitário como o trabalho desenvolvido pela Fundação Casa Grande, no município de Nova Olinda (Região do Cariri). A valorização do saber, da memória, da cultura local é importante para que a história de um povo possa ser conhecida e repassada às gerações. No caso de comunidades turísticas esses relatos de vida ou patrimônios imateriais, se mostram de suma relevância para a atração e entretenimento de visitantes que têm o desejo de conhecer histórias de lutas e resistências pela garantia da terra, manutenção da vida em família e do trabalho simples, que para os turistas são novidades, diferentes da realidade urbana que muitos vivem. A organização do turismo comunitário está relacionada, portanto, ao desenvolvimento do conhecimento tradicional, ou seja, ao saber e saber -fazer que, segundo Diegues (2004, p.14), são gerados no âmbito da sociedade nãourbano/industrial, transmitidos, em geral, oralmente de geração em geração” e à autodependência explicada por Max-Neef (1994), que