1288
7 - PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO
Este eixo temático propôs uma reflexão a respeito do planejamento e da
gestão do turismo a partir das políticas públicas e dos planos de
desenvolvimento turístico, assim como suas repercussões nas loca lidades
que vivenciam o processo de turistificação. Buscou-se ainda, analisar a
dinâmica das inter-relações entre os atores, as metodologias de
planejamento participativo, os paradigmas empresariais no turismo, os
instrumentos de avaliação, os indicadores, os mercados e a comunidade
no turismo com base local.
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Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios
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12 a 14 de abril de 2010
A DEMANDA TURÍSTICA REAL: UM ESTUDO DE CASO DOS VISITANTES DA
CIDADE DE DIAMANTINA/MG
Juliana Medaglia Silveira, MSc.
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
[email protected]
Carlos Eduardo Silveira, Dr.
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
[email protected]
RESUMO
O artigo que segue apresenta os primeiros resultados da pesquisa de demanda
realizada em Diamantina com Turistas que a visitaram entre 08 e 19 de maio de
2009. Destaca-se que Diamantina, além de patrimônio da humanidade e tombada
como patrimônio nacional, é um dos 65 destinos indutores do referido programa
do Governo Federal, e apesar de algumas iniciativas isoladas é a primeira vez
que a cidade é alvo de uma pesquisa de demanda realizada de forma sistemática
e aprofundada. Trata-se, portanto, de um estudo da demanda real do destino,
para o qual alunos do curso de Turismo da UFVJM aplicaram questionários,
previamente testados, com 215 turistas em pontos da cidade definidos através de
seleção de atrativos mais freqüentados, tendo obtido um total de 185
questionários válidos. A amostra foi aleatória, baseada na visitação desses
atrativos nos dias de aplicação dos questionários. Os resultados foram tabulados
com a ajuda de bolsistas de iniciação científica e apresentados em forma de
gráficos e tabelas, a fim de permitirem comparações com as próximas edições,
visando a criação de uma série histórica. Os principais objetivos deste artigo
foram, baseado nos resultados desta pesquisa, aliar as teorias utilizadas nas
disciplinas de Marketing e Planejamento Turístico ao desenvolvimento do turismo
de Diamantina, demonstrando a importância do conhecimento acerca do públicoalvo do destino para a gestão do turismo local. Os resultados iniciais confirmam
algumas impressões generalizadas sobre o público que freqüenta a cidade, mas
também apresenta dados que fogem do senso comum. Entre os dados
previamente conhecidos que foram confirmados, concluiu-se que os principais
freqüentadores de Diamantina são belorizontinos que viajam com família, em
veículo próprio nos fins de semana. Já entre os dados que apresentaram
novidades estão o fato da imagem da cidade estar mais relacionada à cultura
como um todo e não particularmente aos espetáculos musicais que acontecem no
destino, além da ampla faixa de renda e alta escolaridade dos turistas.
Palavras Chave: Turismo, Pesquisa de Demanda Real, Diamantina.
ABSTRACT
The following article presents the first results of the demand research carried out
with tourists who visited Diamantina between 8 and 19 of May 2009. It is important
to highlight that even though Diamantina is both World and National Heritage City
as well as one of the 65 main Brazilian Destinations according to the current
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1289
National Policy, this is the first time a tourism demand research takes place in a
systematic and thorough way. The article presents, therefore, a study of the actual
tourist demand of the destination for which Tourism undergraduate students of
UFVJM carried a survey (that had been previously tested) with 215 tourists in
predetermined spots in the city chosen according to the yearly amount of visitors.
The final number of validated forms numbered 185, and compounded the random
sample based on the number of visitor in each chosen site during the period of
data collection. The results have been arranged in tables and graphs in order to be
compared to future editions targeting the creation of historical data. The main
goals of this article were compare theories used on Marketing and Tourism
Planning disciplines and increase the participaton of the academy in the local
tourism development, based on the research results, thus emphasising the
importance of knowing the target consumers in order to develop local tourism in
accordance to their carachteristics. The initial results reinforced some foreknown
impressions and also brought some new information. It has been confirmed, for
instance, that most of Diamantina visitors come from Belo Horizonte, in the
weekends, with their families driving their own cars. However, in terms of image, it
has been found out that people consider Diamantina as a cultural destination, in
general terms, not only related to the specific music shows that take place in the
city. Also it has been surprising the wide range of incomes declares by the
respondents, as well as the high education level of the tourists.
Key words: Tourism, Actual Demand Research, Diamantina.
1290
1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS DE
DEMANDA PARA O TURISMO
Atualmente a sociedade e os processos produtivos passam por
transformações significativas. A globalização avança sobre as sociedades de
forma acelerada, re-criando modelos sociais que vão desde a re-organização de
núcleos familiares a transformações profundas no mercado de trabalho, gerando
entre outras conseqüências, cenários extremamente competitivos. A relação entre
globalização e aumento da concorrência foi apresentada pela Organização
Mundial do Turismo (OMT, 2004:25) ao afirmar que em 1959 os quinze primeiros
destinos do mundo contabilizavam 87% das chegadas internacionais, em 1970
este número era de 75% e já em 2000 somente 62%. Assim, o estudo do
fenômeno turístico vem acompanhando as transformações da sociedade
contemporânea e, a partir das diversas áreas que interagem na atividade turística
(acordes ao caráter inter e multidisciplinar do fenômeno), vem desenvolvendo,
investigando, pesquisando e criando seus próprios estudos e teorias, em um
processo
claro
de
amadurecimento,
profissionalização
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e
até
mesmo
popularização do acesso ao turismo e ao lazer para as demais camadas da
população.
Neste processo, a necessidade de conhecer o perfil do turista real de uma
destinação turística é um dos primeiros passos para o desenvolvimento do
planejamento estratégico de um destino, que deve sempre buscar o equilibro
entre a oferta e demanda em suas proposições. Assim, o estudo da demanda é
vital para o êxito dos destinos turísticos, seja para a adequação da oferta fren te às
necessidades e desejos de seus consumidores; seja para a produção da
quantidade real de produtos e serviços de maneira que garanta a rentabilidade de
uma determinada empresa ou organização (Medaglia, 2005).
Estes estudos tornam-se ainda mais essenciais ao se considerar que, de
acordo com Mazón (2001:97) “estamos assistindo a uma série de mudanças
sociais, e sendo os turistas elementos ativos desta sociedade, é seguro que esta
nova realidade repercutirá devidamente sobre o turismo.”, ou seja, é essencial
para o turismo contemporâneo conhecer estes turistas, seus anseios, seu
comportamento e sua relação com as localidades visitadas.
1291
Assim, a partir dos turistas que já freqüentam Diamantina torna-se possível
estabelecer os mercados-alvo a serem reforçados, bem como os demais
mercados que têm perfil semelhante e devem ser alvos de ações. Dessa forma, o
levantamento e sistematização de informações acerca da demanda turística real
podem e muito, contribuir com a cidade de Diamantina enquanto destino turístic o.
A comprovação do valor das informações acerca dos turistas de Diamantina, são
apresentados neste trabalho, a seguir.
2. CONHECENDO DIAMANTINA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO
Diamantina, localizada no Estado de Minas Gerais, na região Sudeste do
Brasil, é uma cidade que na sua essência já atraía espontaneamente visitantes, já
que desde 1729, quando chegaram os primeiros bandeirantes exploradores das
riquezas naturais brasileiras, a cidade foi se transformando em função da grande
quantidade de diamantes nela encontrada. Assim, Diamantina passou a fazer
parte da história brasileira e herdou, do período colonial do Brasil, precioso
patrimônio tangível e intangível.
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Assim, considerando sua relação com o turismo, Diamantina vem evoluindo
no cenário turístico desde o lançamento da campanha pelo título de Patrimônio
Cultural da Humanidade pela UNESCO, adquirido efetivamente em 1999.
Algumas das metas propostas na campanha incluíam o desenvolvimento
econômico através do turismo e a geração de renda e empregos, o que r ealmente
vem acontecendo. Somam-se ao Título de Patrimônio da Humanidade, as
características da cidade do século XVIII como casarios coloniais extremamente
preservados em seu centro histórico. Outra peculiaridade que faz da cidade um
preciso destino turístico é seu entorno natural, já que a cidade está instalada na
Serra do Espinhaço. A cidade também é berço de personagens ilustres da história
brasileira, como a escrava Chica da Silva e o presidente Juscelino Kubitscheck de
Oliveira.
Com todo este potencial turístico, Diamantina apresenta também um
evento único com seu principal produto turístico: a Vesperata. No início o evento
não foi criado com a pretensão de se tornar produto turístico da cidade, mas
atualmente gera a ocupação máxima da planta hoteleira da cidade nos finais da
semana em que ocorre. O espetáculo musical acontece de março a outubro, em
finais de semana previamente estabelecidos, no centro histórico da cidade, cuja
arquitetura proporciona uma acústica perfeita. Os maestros são colocados em
uma pequena plataforma no meio do público e os músicos – muitos oriundos da
Escola pública de música da Cidade (Conservatório Musical Lobo de Mesquita) –
instalam-se nas sacadas do casario histórico, tocando e emocionando turistas e
moradores autóctones.
O atual Governo Brasileiro vem investindo efetivamente no Turismo desde
sua chegada ao poder em 2003, quando instalou pela primeira vez um numa
pasta exclusiva o Ministério de Turismo – MTur, o qual vem atuando diretamente
em planos de desenvolvimento, ações de promoção e comercialização,
estruturação das políticas públicas do setor, qualificação e até estudos de
marketing do Brasil e seus destinos. Essa profissionalização do setor teve
impacto direto nas políticas turísticas em outros níveis.
Na cidade de Diamantina pode-se apontar como mais recente reflexo
desse processo a inclusão da cidade em um Estudo da Fundação Getulio Vargas
(2008) encomendado pelo MTur, define os 65 (sessenta e cinco) Destinos
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Indutores de Turismo no Brasil. Em consonância com o Plano Nacional de
Turismo (2007-2010) e tendo como base os Planos de Marketing Internacional
(Plano Aquarela, 2005a) e Nacional (Plano Cores, 2005b) o estudo apontou todas
as capitais e até cinco cidades em cada Estado como capazes de induzir o
desenvolvimento turístico de sua região (Barbosa, 2008). Esses destinos,
incluindo Diamantina, estão sendo priorizados com políticas públicas específicas,
mas para serem assim beneficiados, devem oferecer contrapartidas, que vão
desde recursos do poder público local, até pesquisas que versem sobre o turismo
no município e região.
Neste contexto, é que foi realizada a “Pesquisa de Demanda Real de
Diamantina e Região (Silveira e Medaglia, 2009), cujos resultados, focados nas
percepções, emoções e outras relações desta encantadora cidade turística com
sua demanda real, são apresentadas a seguir.
3. OS CAMINHOS PARA CONHECER A DEMANDA TURÍSTICA REAL DE
DIAMANTINA
Conforme comentado, as informações apresentadas neste trabalho são
fruto de uma pesquisa realizada com os turistas em Diamantina. Com uma
amostra aleatória, foram aplicados 215 questionários, dos quais 185 foram
considerados como válidos pelos coordenadores da pesquisa; no período de 08 a
19 de maio de 2009, em 8 atrativos turísticos da cidade. Estes pontos de
aplicação foram selecionados através de outra pesquisa realizada pela Secretaria
de Patrimônio, Cultura e Turismo da Prefeitura de Diamantina, denominada “Fluxo
de Visitação nos Monumentos em Diamantina 2008” (SECTUR, 2008), e que
identificou os lugares mais freqüentados pelos turistas que visitam Diamantina.
Desta forma, 23 acadêmicos da turma 2007/1 do Curso de Turismo da
UFVJM, coletaram os dados, por meio de um questionário estruturado com 24
questões, sendo: 11 perguntas fechadas, 03 abertas e 10 semi-abertas; ainda
sub-divididas em “Característica da Viagem”, “Motivações”, Percepções e
Expectativas”, Circuito dos Diamantes” e Dados Estatísticos”. Com um
questionário tão extenso e por iniciativa dos alunos, o Curso de Turismo e a
Assessoria de Comunicação da UFVJM, bem como o Circuito dos Diamantes,
cederam brindes para incentivar a participação dos turistas. Já a tabulação ficou
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sob responsabilidade dos bolsistas de Iniciação Científica (PIBIC-FAPEMIG), que
anteriormente, já haviam também realizado um levantamento das pesquisas de
demanda realizadas até o momento
na cidade de Diamantina. Todas essas
etapas e ações foram realizadas sob supervisão dos professores coordenadores
da pesquisa.
Neste contexto, apresenta-se a seguir os principais resultados da Pesquisa
de Demanda Real de Diamantina, acreditando ser esta pesquisa um valioso
instrumento de tomada de decisões estratégicas do destino turístico Diamantina.
4.
AS
PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS
DA
DEMANDA
REAL
DE
DIAMANTINA
O bloco de questões „Características da Viagem‟, teve como objetivo
máximo identificar o perfil geral dos turistas, bem como descobrir de que forma
são organizadas as viagens até Diamantina.
Diante destas indagações pode-se dizer que o turista que frequenta
Diamantina reside especialmente em Belo Horizonte, capital do Estado de Minas
Gerais, e de diversas outras cidades do Estado, já que, somando estas duas
categorias de visitantes, chega-se ao percentual de 70%. Todas as outras regiões
do país foram contempladas, ainda que discretamente, a não ser pela região
sudeste que teve mais destaque. A participação internacional foui pouco
expressiva, mesmo sendo Diamantina Patrimônio da Humanidade, apenas 3%
dos turistas entrevistados eram estrangeiros.
A demanda é composta
especialmente por pequenos grupos que viajam em veículo próprio, indicando um
destino familiar, porém esse turista viaja tanto em pequenos grupos quanto em
grandes excursões; é frequentador esporádico do destino Diamantina, com 44%
dos entrevistados afirmando não ser sua primeira visita à cidade. O tempo de
permanência 2 e 3 dias na cidade foi mencionado por 72% dos entrevistados; que
viajam por meio rodoviário seja carro próprio ou ônibus de excursão (80%); ficam
hospedados em meios tradicionais como hotéis e pousadas (72%); efetuando um
gasto médio diário variado, com 37% dos entrevistados investindo entre R$51,00
e R$100,00 por dia e 31% deixando até R$50,00. Esse turista apresenta um
altíssimo grau de intenção de retorno, de mais de 95% e demonstra que o turismo
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está sendo desenvolvido apenas no Centro da cidade, já que apenas 28% dos
entrevistados conheceu outros bairros. Neste primeiro grupo de questões, cabe
destacar os seguintes gráficos:
Gráfico 1 – PRIMEIRA VISITA A DIAMANTINA?
A taxa de retorno de turistas a Diamantina, apresentada no gráfico acima,
representa um dado importante de satisfação com o destino. Da amostra
pesquisada, mais da metade, 56%, já haviam estado na cidade ao menos uma
vez. A estes foi perguntado com freqüência visitam Diamantina e as respostas
1295
são apresentadas no gráfico seguinte.
Gráfico 2 – COM QUE FREQUÊNCIA VISITA DIAMANTINA
Ainda que não haja referência específica a quantas vezes ao ano
frequentam a cidade, 79% afirma vir à cidade esporadicamente, alguns com
freqüência mensal e outros algumas vezes ao ano.
Estes gráficos apontam para um alto número de reicidência de visita, ou
seja, demonstra que o turista que conhece Diamantina tem motivos e interesses
para continuar frequentando o destino.
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Gráfico 3 – INTENÇÃO DE RETORNO
1296
O alto grau de intenção de retorno aponta para um Destino Turístico com
grande potencial e que apresenta uma demanda considerada fiel. Entre os
motivos que mais chamam a atenção na intenção de retorno, são a falta de tempo
de ver tudo que leva ao desejo de voltar para conhecer mais coisas, e a intenção
de voltar trazendo outras pessoas, especilamente amigos e familiares. Dos
poucos comentários negativos em relação à intenção de retorno, destacaram-se
os relativos à distância.
Estes dados apontam para o potencial turístico da cidade de Diamantina,
que apresenta um turista real, frequentador do destino, mas que permanece
poucos dias. Vencer o desafio de aumentar o tempo de permanência do turista,
não é grande dificuldade para Diamantina, haja vista o baixo número de
entrevistados que visitou outros bairros da cidade, que notoriamente apresentam
outros ponteciais turísticos. Estes resultados também apontam para a atenção
especial que deve ser dada ao turista que vem de Belo Horizonte, bem como,
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aponta para o potencial de demanda a ser trabalhado em outros Estados
brasileiros, pouco presentes ou ausentes na pesquisa.
5. AS MOTIVAÇÕES DA DEMANDA REAL DE DIAMANTINA
Uma vez que a cidade de Diamantina ainda não apresenta dados
estatísticos acerca de seus turistas, este bloco de perguntas teve por objetivo
compreender as motivações reais que atraíram os visitantes da cidade,
Este bloco de perguntas permitiu perceber que a Cultura e suas
especificidades foram o motivo de maior destaque entre os visitantes
entrevistados. Isso porque, a variável Cultura foi diretamente citada por estes
turistas, seguida da Arquitetura e dos Personagens – elementos também
relacionados a Cultura – como motivação principal para visitar a cidade. Esta
questão apontou também, de certa maneira, para a hospitalidade da comunidade
local, já que muitos dos entrevistados tiveram como motivação Visitar os Amigos.
As surpresas negativas ficaram por conta da Estrada Real (rota estabelecida pelo
Governo do Estado de Minas Gerais e talvez considerada o principal produto
turístico da região) com poucas menções bem como a Natureza. Dado também
comprovado pela questão relacionada ao Meio Natural que apontou que 66% dos
entrevistados não visitaram nenhum atrativo natural e 19% visitaram o Parque do
Biribiri. Entre os atrativos culturais visitados houve certo equilíbrio, com destaque
para o Mercado Velho, A Casa de JK, Casa de Chica da Silva e a Casa da Glória.
Quanto aos eventos da cidade, merecem destaque a Feira do Mercado, que teve
a maior participação e a Vesperata. Provavelmente este último refere-se aos
turistas que viajam por pacote turístico, que geralmente apresentam um roteiro
que incluem a Vesperata. Contudo, o alto índice de pessoas que não participaram
de nenhum evento cultural indica que há também pacotes que, por contemplarem
outras cidades do Ciclo do Ouro, passam por Diamantina durante a semana, e
além de não incluírem eventos culturas, muitos desses pacotes reduzem o tempo
de permanência na cidade. Para melhor compreensão, apresentam-se os gráficos
a seguir:
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1297
Gráfico 4 – MOTIVAÇÃO PRINCIPAL
A principal motivação dos turistas para sua vinda a Diamantina foram os
aspectos culturais, que foram tanto denominados como a própria cultura, por 67
pessoas, como também como arquitetura (29), e os personagens que habitaram a
cidade (15). Interessantemente, visitas a amigos e parentes, e motivações
relacionadas a trabalho e estudo, foram mais representativos (28 e 25
respectivamente) do que o esperado. Expressiva também foi a soma de
Vesperata e Eventos, com 46 respostas, sendo que a Vesperata isoladamente
teve 24 menções. Assim, pode-se concluir que a Vesperata atrai número
expressivo de turistas, mas os aspectos culturais do destino atraem muito mais
visitantes que esse evento. Além disso, negócios e estudos fomentam um fluxo
considerável em Diamantina, demonstrando seu potencial diversificado. A menor
representatividade nas motivações fico com os atrativos naturais, como se mostra
a seguir:
Gráfico 5 – ATRATIVOS NATURAIS VISITADOS
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A supresa anterior se comprovou nesta questão, pois
66% dos
entrevistados não visitaram nenhum atrativo natural. Foi questionado aos turistas
quais atrativos naturais visitaram. O Parque Estadual do Biribiri (PEB) recebeu 38
visitas, o que pode ser justificado pela sua proximidade com a cidade de
Diamantina. Muitos dos turistas que visitaram o PEB também estiveram em outros
atrativos naturais como trilhas, Parque Estadual do Itambé, Cachoeiras, Parque
Estadual do Rio Preto, Parque Nacional das Sempre Vivas e Gruta do Salitre.
1299
Esta última recebeu 18 visitantes, sendo o segundo atrativo mais visitado, o que
pode ser explicado por estar localizada próxima ao centro da cidade e ser parte
de roteiros organizados.
Gráfico 6 – ATRATIVOS CULTURAIS
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Novamente tem-se a confirmação de gráficos anteriores de que a
motivação cultural é a mais citada pelos entrevistados. Percebe-se certo equilíbrio
entre os atrativos citados: Casa de Chica da Silva, Casa da Glória, Casa de JK,
Museu do Diamante e o Mercado Velho, todos com mais de 70 citações. As
Igrejas também apresentaram certo equilíbrio, com destaque para a do Carmo e a
São Francisco.
Foi constatado maior número de visitações ao Centro Cultural David
Ribeiro conhecido como Mercado Velho, 114 pessoas. Acredita-se que devido a
sua localização estratégica e ao fato de ser o monumento em que acontecem
determinados eventos, como a Sexta Cultural e a Feira do Mercado Velho. O
Museu Casa de JK foi visitado por 92 pessoas, o que pode ser explicado pela
representatividade do personagem na história política do país e pelo fato de ser
um atrativo bem estruturado. A Casa da Chica da Silva se destaca com 83
pessoas e também é um ícone histórico brasileiro. O atrativo Casa da Glória foi
visitado por 74 pessoas pelo fato de ser um dos cartões postais do município. O
Museu do Diamante obteve 51 visitantes, isso pode ser justificado pela identidade
com o diamante que a cidade possui e por estar localizado em região central.
Gráfico 7 – PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES/ EVENTOS
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Nota-se que a maioria dos entrevistados, correspondente a 70 pessoas,
não haviam participado de nenhuma atividade na cidade, até o momento da
entrevista. Isso pode ser justificado pelo fato dos entrevistados terem iniciado
suas atividades de lazer no sábado pela manhã, a e maioria delas ocorrerem no
final de semana. Um número significativo de pessoas visitou somente a feira do
Mercado Velho, 86 no total, por ser um monumento postal de Diamantina, ter
localização estratégica e comercializar produtos regionais. A segunda maior
parcela, 70 pessoas, não participou de nenhum evento na cidade e 63 turistas
afirmaram ter participado da Vesperata.
Gráfico 8 – DE QUAL ATIVIDADE MAIS GOSTOU?
1301
Dentre as atividades que os entrevistados participaram, a Vesperata foi o
evento mais apreciado, com número expressivo de 65% das respostas. Assim, é
possível constatar que a Vesperata ainda é o principal produto turístico de
Diamantina.
Este grupo de perguntas apontou claramente para a necessidade de ações
de consolidação e diversificação dos atrativos culturais, que possam cumprir um
papel importante na inclusão social da comunidade autóctone, tanto do ponto de
vista da apropriação e auto-estima com a valorização da cultura, quanto do
envolvimento com o turismo que pode e precisa de renovação constante, seja no
caráter econômico da atividade turística (com a geração de emprego e renda, por
exemplo), quanto no caráter social do turismo (com os benefícios que a
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convivência com outras pessoas pode trazer). Do ponto de vista dos atrativos
naturais, o quê a princípio assusta, pelo sub-aproveitamento do potencial para
turismo em meios naturais, traz o ponto positivo da ainda preservação deste
patrimônio, que tem condições de ser desenvolvido de forma sustentável, o que
não seria possível se este potencial tivesse sido explorado em um passado
recente.
6. PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DOS TURISTAS DE DIAMANTINA
Na continuidade da Pesquisa as questões tiveram o objetivo de detectar a
imagem do destino para os turistas entrevistados, além de se tentar saber se as
expectativas destes visitantes foram atendidas no destino.
Assim, felizmente a Imagem que os turistas têm da cidade parece condizer
com a realidade de Diamantina, com Cidade Colonial em destaque, com 96
menções, seguida de Arquitetura com 29, Diamante/Garimpo com 26 e
personalidades com 22, demonstrando ser esse um destino de tradições. Merece
destaque ainda maior a Arquitetura, que além de condizer com a Imagem
consegue mesmo, assim, sem o „fator surpresa‟ (já que está é esperada pelo
turista) encantar, juntamente com a Hspitalidade, a Natureza, que se percebeu
anteriormente como potencial turístico, e a História, que parecem pertencer à
natureza da cidade, enquanto palco do período colonial do Brasil e seu povo
notoriamente acolhedor. Já a questão que investigou a qualidade da estrutura
turística não apresentou surpresas, com altos índices de „Bom‟ ou „Não sabe‟. Os
principais resultados deste bloco de questões podem ser melhor visualizados a
seguir:
Gráfico 9 – ENCANTAMENTO
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De acordo com o gráfico, 73 turistas entrevistados apontaram o estilo
arquitetônico colonial, 34 a hospitalidade do local e 29 as belezas naturais como
os maiores motivos de encantamento. Destaca-se ainda a história, com 23
citações e a musicalidade com 17. Em menor proporção vêm as personalidades,
com 12 menções (o que pode significar uma falta de aproveitamento dessa
imagem) e as Igrejas, com 11.
Neste mesmo bloco de perguntas, buscou-se avaliar a satisfação em
relação à estrutura turística em geral, questionando-se a respeito de cerca de 30
itens, por meio de perguntas específicas entre ótimo e péssimo, com uma opção
de “não sabe/não usou”. Alguns destes itens são apresentados na tabela a seguir.
Tabela 1 –
ESTRUTURA TURÍSTICA
Ótimo
Bom
Regular
Ruim
Péssimo
Não
Sabe
Atendimento em Geral
60
107
5
1
2
5
Sinalização
14
61
50
24
14
17
Aparência à cidade
77
89
8
3
2
1
Acesso cidade
Acesso aos Atrativos
26
19
96
94
33
33
7
2
9
8
9
23
Meios de Hospedagem
50
88
15
3
0
24
Qualidade no Atendimento Bares &
Restaurantes
42
77
15
0
1
45
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Lojas de Artesanato
41
56
10
0
0
73
Acesso às Informações Turísticas
24
69
14
11
5
58
Qualidade das Informações Turísticas
26
76
19
1
7
49
Segurança
39
92
10
2
1
36
Receptividade do Povo
83
72
1
1
0
13
Limpeza
48
95
24
2
1
10
Conservação do Casario
65
83
14
2
2
14
Paisagem no trajeto à cidade
70
70
12
2
0
26
A julgar pela boa imagem que a cidade demonstrou gozar junto aos seus
turistas, cabe a ação de discussão entre os líderes do turismo local, a fim de
verificar como essa imagem pode ser reforçada e, obviamente, se é essa a
imagem que se pretende passar. Tal imagem pode ser acompanhada das
variáveis de encantamento detectadas, já que a arquitetura se repete, ao passo
que Natureza, História e Hospitalidade realmente fazem parte do cotidiano da
cidade e são pontos bastante positivos, que costumam caracterizar destinos
turísticos consolidados. Cabe ainda destacar a importância da continuidade nas
ações de conservação e preservação que vem sendo feita na cidade, pelos
Organismos competentes. Por último, a hospi talidade se reflete também nos
serviços turísticos, já que a classificação geral na prestação destes foi „Bom‟, o
que aponta também que, como usual, sempre existe espaço para melhorar e
tentar alcançar o „Ótimo‟.
7. PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS TURISTAS DE DIAMANTINA
Pra finalizar e completar o levantamento de informações acerca da
demanda turística real de Diamantina, o questionário foi encerrado com questões
relativas ao perfil sócio-econômico destes turistas. Para não constranger os
turistas com perguntas pessoais, estas questões foram apresentadas no final da
entrevista sob – nome „Somente para fins Estatísticos‟. Mas, em termos de
estudos de demanda turística, sabe-se que estes são dados valiosos que podem
e devem nortear o desenvolvimento do turismo de Diamantina.
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1304
Assim, é possível afirmar que houve grande equilíbrio de gênero, faixa
etária, e renda, com destaque para o público adulto, mas sem grandes variações.
A faixa de renda familiar foi alta para os padrões brasileiros, tendo prevalecido a
renda superior a R$ 6.301,00, mas com grande representatividade das outras
faixas. O que teve especial destaque foi o nível de escolaridade da demanda, com
76% apresentando de nível superior incompleto para cima, caracterizando um
público bem informado, e possivelmente com um grau de exigência elevado.
Novamente, os principais gráficos deste grupo de perguntas, são apresentados a
seguir:
Gráfico 10 – ESCOLARIDADE
1305
Este gráfico aponta que os turistas que visitaram a cidade de Diamantina
possuem boa escolaridade, com destaque para os 41% dos com ensino superior
completo, 14% incompleto e 21% pós-graduados. A soma dessas categorias,
76%, atestam o elevado nível de educação da demanda, o que vai ao encontro
das motivações culturais expressadas nos gráficos iniciais.
Gráfico 11 – RENDA MENSAL FAMILIAR
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A diversidade de público de Diamantina é novamente reforçada pelo gráfico
acima, onde se percebe um considerável equilíbrio entre as faixas de renda.
Destaca-se que a maior parcela possui renda familiar superior a R$ 6.301,00, o
que em conjunto com o gráfico anterior, sugere uma incidência de público
exigente.
1306
Gráfico 12 – FAIXA
ETÁRIA
O equilíbrio percebido no gráfico anterior se repete, mas agora mais
amplamente, com 13% de jovens entre 18 e 24 anos, 17% adultos de 34 a 42 e
16% adultos entre 43 e 51 anos. Destaca-se que a maior fatia é de pessoas entre
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52 e 60 anos de idade, 24%, mas mesmo assim não desponta com tanta
diferença para as outras faixas, o que reitera o equilíbrio da demanda do destino.
Destaca-se ainda a baixa incidência de pessoas com mais de 71 anos de idade, o
que supõe-se seja decorrência das características geográficas de Diamantina,
que dificultam especialmente a locomoção.
Tabela 2 – FAIXA ETÁRIA E RENDA FAMILIAR
Faixa Etária
Faixa de
renda mensal
Até R$ 900
R$ 901 a R$ 1500
R$ 1501 a R$ 2100
R$ 2101 a R$ 2700
R$ 2701 a R$ 3300
R$ 3301 a R$ 3900
R$ 3901 a R$ 4500
R$ 4501 a R$ 5100
R$ 5101 a R$ 5700
R$ 5701 a R$ 6300
Acima R$ 6301
NQR
Total geral
Menos
de 18
1
18 a 24
25 a 33
34 a 42
43 a 51
52 a 60
61 a 70
4
2
5
4
2
3
2
5
1
2
2
4
4
3
4
3
3
1
1
5
3
2
4
1
2
1
1
2
1
1
1
1
4
5
2
1
1
1
2
2
1
1
1
4
7
3
3
3
12
3
41
1
1
3
1
23
5
25
2
7
30
28
Acima
de 71
Total
geral
2
1
16
12
24
18
13
5
10
1
2
1
1
10
8
11
43
6
176
1
8
3
20
8
Buscou-se identificar em que faixa etária encontravam-se as maiores
rendas e o resultado aponta para a maior incidência de pessoas com renda
familiar acima de R$ 6.301,00 a partir dos 34 anos de idade até os 70. Ressaltase ainda que a distribuição de renda nas faixas de idade apresenta igualmente
bastante equilíbrio, exceto a faixa de até 18 anos de idade que teve concentração
na renda abaixo de R$ 900,00, o que não chega a representar uma surpresa.
Por fim, a „quantificação‟ deste público aponta para um segmento de
mercado bastante desejado por diversos destinos turísticos no Brasil e no mundo.
Se forem agregadas aos dados estatísticos deste bloco as respostas obtidas nos
demais blocos, estes turistas são independentes, motivados pela cultura, mas
observadores de outros pontos, como a Natureza; se hospedam em meios de
hospedagem tradicionais; apresentam um bom gasto médio diário; avaliam os
serviços turísticos com bons; têm disposição para interagir com o Destino, haja
vista sua participação em atividades de atrativos culturais; e quase a metade
deles tem disposição para visitar outras localidades turísticas na Região. Este
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perfil se comprova, inclusive, nos itens tratados na Tabela 3, de comentários e
sugestões. Com este breve resumo e considerando o segmento apontado por
este perfil, indica-se que a busca do desenvolvimento turístico local deve
considerar informações turísticas precisas (web site, mapas, folhetos), prestação
de serviços de qualidade e diversificação de atrativos, no Planejamento do
Destino Diamantina.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados aqui apresentados são fruto de um projeto de pesquisa
realizado pelos autores, com a imprescindível participação dos academicos do
Curso de Turismo da UFVJM, que teve início no segundo semestre do ano de
2008 e que não tem previsão de término, tendo uma nova edição já a caminho
(semestre 2009-2), uma vez que o objetivo maior criar uma série histórica que
possa, com número mais expressivo e estatísticamente adequado, ser de valia
para o Turismo em Diamantina e Região.
São muitas as possibilidades que se apresentam ao compartilhar os
resultados de uma pesquisa com turistas. Desde a importância comprovada de
estudos de demanda até a diversificação de produtos turísticos possíveis para
Diamantina, passando qualidade do perfil sócio-econômico dos turistas deste
destino, até a produção de dados estratégicos para a tomada de decisões no
planejamento turístico do destino Diamantina.
De maneira objetiva, o que se tenciona, é que as pesquisas de mercado
próprias do marketing possam „alimentar‟ os caminhos do planejamento turístico,
enquanto que este, pode oferecer ao marketing produtos turísticos realmente
estruturados em premissas de cooperação público-privada, sustentabilidade e
qualidade, para que sejam promovidos e comercializados de maneira mais efetiva
(Medaglia e Silveira, 2009). Isso implica também numa maior aproximação em
termos acadêmicos e científicos entre as disciplinas de marketing e planejamento
turístico, a fim de gerarem pesquisas e conhecimentos complementares,
diminuindo a „departamentalização‟
desses
conhecimentos nas
curriculares.
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matrizes
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9. REFERÊNCIAS
BARBOSA, L. G. M. (org). Estudo de Competitividade dos 65 Destinos
Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. 2 ed.– Relatório Brasil.
Brasília: Ministério do Turismo, 2008.
BRASIL. MTur. Plano Nacional do Turismo: diretrizes, metas e programas
2003 – 2007. Brasil, 2003.
BRASIL. MTur; Chias Marketing. Plano Aquarela: marketing turístico
internacional do Brasil. Brasil, 2005a.
BRASIL. MTur; Chias Marketing. Plano Cores do Brasil: marketing turístico
nacional. Fase I – diagnóstico. Brasil, 2005b.
MAZÓN, T. “El nuevo modelo turístico en las sociedades desarrolladas”. Papers
de Turisme (29), 91-107, 2001.
MEDAGLIA, J; SILVEIRA, C.E. “La evolución del marekting de destinos: su
sinergia con la planificación turística”, Estudios y Perspectivas en turismo,
18(5), 530-545, 2009.
MEDAGLIA, J., SILVEIRA, C.E. Pré-teste de pesquisa: perfil da demanda
turística real de Diamantina e região. Diamantina: UFVJM, 2008.
MEDAGLIA, J. Un estudio sobre la necesaria evolución del Marketing de
Destinos Turísticos y su sinergia con la Planificación Estratégica de
Destinos Turísticos. Málaga: Universidad de Málaga, Facultad de Comunicación
y Turismo, 2005.
OMT. Observations on International Tourism Communications: report from
the first world conference on tourism communications. OMT, Madrid, 2004.
SECTUR. Fluxo de Visitação nos Monumentos em Diamantina. Diamantina,
PMD, 2008.
SILVEIRA, C.E.; MEDAGLIA, J. (coord.) Perfil da demanda turística real de
Diamantina e região: características de viagem, motivações, percepções e
expectativas. Diamantina: UFVJM, 2009.
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ANÁLISE PRELIMINAR DA GESTÃO DO TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DA COSTA DOS CORAIS (AL/PE)
Gisela Livino de Carvalho
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/MMA – ICMBio
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise preliminar de como a atividade turística vem
sendo desenvolvida na Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais. Esta
Unidade de Conservação se insere nos biomas brasileiros marinho e costeiro,
estendendo-se desde a foz do Rio Meirim, em Maceió, a capital de Alagoas, até a
foz do Rio Formoso, em Tamandaré, Pernambuco, englobando todas as praias e
estuários inseridos neste trecho do litoral da região Nordeste do Brasil. A análise
em questão partiu do ponto de vista de alguns dos principais gestores nas áreas
de turismo e meio ambiente, tanto do serviço público quanto da iniciativa privada.
Foram estudados, em particular, os municípios de Maragogi e Tamandaré, que
são os que apresentam as maiores demandas turísticas da região. Apesar das
dificuldades encontradas, em particular o baixo índice regional de educação e a
ineficácia política, os prognósticos levantados para o turismo foram otimistas. Ao
final, são propostas medidas com vistas à melhoria da gestão, visando à
participação efetiva da sociedade civil envolvida e demais entidades públicas
parceiras, assim como o alcance da sustentabilidade da atividade turística, na
área estudada.
Palavras-chave: Turismo Sustentável, Unidade de Conservação, Gestão
Ambiental, Área de Proteção Ambiental, Costa dos Corais.
ABSTRACT
This work presents a preliminar analysis of how the tourist activity comes being
developed in the Costa dos Corais Environmental Protection Area. This
Conservation Unit is inserted in Brazilian marine and coastal biomas, extending
itself since the Meirim River estuary, in Maceió, capital of the state of Alagoas,
until the Formoso River estuary, in Tamandaré, state of Pernambuco, enclosing all
the beaches and inserted estuaries in this area of the coast of the Northeast
region of Brazil. The analysis in question was resultant of the point of view of some
of the main managers, in the areas of tourism and environment, as of the public
service how of the private initiative. In particular, the cities of Maragogi and
Tamandaré had been studied. They are the ones that presents the highest tourist
demands of that region. Despite the difficulties found, in particular the low regional
index of education and the politics inefficacy, the prognostics raised for the tourism
had been optimistical. To the end, proposals are measured with sights to the
improvement of the management, searching the involved civil society and any
public institutions partners efective participation, with objective of the tourist
activity sustentability, in the studied area.
Keywords: Sustainable tourism, Conservation Unit, Environmental Management,
Environmental Protection Area, Costa dos Corais.
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1 INTRODUÇÃO
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Costa dos Corais é uma Unidade de
Conservação (UC), configurada como de uso sustentável e criada pelo Decreto
Federal s/nº de 23/10/1997, a qual apresenta, como objetivos de criação :
I - garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, com sua
fauna e flora; II - manter a integridade do habitat e preservar a população do
Peixe-boi marinho (Trichechus manatus); III - proteger os manguezais em
toda a sua extensão, situados ao longo das desembocaduras dos rios, com
sua fauna e flora; IV - ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e
demais atividades econômicas compatíveis com a conservação ambiental; e
V - incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da
diversidade cultural regional. (IBAMA, 2007)
Acredita-se que A APA Costa dos Corais não terá como atingir seus objetivos
de conservação ambiental e ordenamento do turismo se não promover um processo
de planejamento da atividade turística, inserido na gestão ambiental da UC, que
envolva a conscientização da população residente e visitante, a respeito dos
conflitos e possíveis soluções sócio-ambientais. Parece ser necessário um trabalho
consistente de sensibilização, conscientização e educação ambiental, voltado para
as comunidades locais e para os turistas que visitam as praias da APA, para que
seja alcançada a sustentabilidade da atividade turística na região.
Esta configura-se como uma das principais fontes de renda dos habitantes
dos municípios inseridos na APA Costa dos Corais. É evidente que qualquer
atividade econômica deve ser exercida de forma a que alcance sua sustentabilidade
ambiental, social e econômica. Em se tratando do turismo, cujo principal produto de
venda é a paisagem, a necessidade da conservação ambiental torna-se ainda mais
óbvia.
O presente trabalho tem por finalidade propor algumas soluções para o
planejamento da atividade turística na APA Costa dos Corais. Neste caso, em que é
delimitada, como objeto de estudo, uma APA, a necessidade de que uma atividade
econômica seja exercida de forma sustentável torna-se, além de tudo, uma
exigência para que a UC atinja seus objetivos, previstos em lei, de conservação e
bem estar da população.
Justifica-se, portanto, este estudo, como um elemento preliminar para que
seja obtido um diagnóstico mais amplo de como vem sendo exercida a atividade
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turística na APA, além de um subsídio para a proposição de possíveis soluções para
os obstáculos encontrados à eficiência na gestão da unidade.
Com o intuito de oferecer ferramentas à gestão do turismo como parte
integrante da gestão ambiental da APA Costa dos Corais, este trabalho objetiva
analisar como a atividade turística vem sendo desenvolvida na APA Costa dos
Corais e propor subsídios para o seu planejamento, visando à sustentabilidade do
turismo na região e à ampla participação social na gestão da UC.
Para tanto, foram traçados os seguintes objetivos específicos:

verificar e analisar opiniões dos gestores públicos que atuam na região da
APA, ligados às áreas de turismo e meio ambiente;

levantar sugestões e demandas junto aos empresários locais, no sentido de
compatibilizar desenvolvimento turístico com gestão ambiental; e

propor soluções para a gestão do turismo, como parte integrante da gestão
socioambiental e participativa da UC.
A metodologia empregada baseia-se em um estudo de caso, adaptado para a
obtenção de um diagnóstico prévio de como vem sendo exercido o turismo nos
municípios mais visitados dessa Unidade de Conservação (UC) federal, quais sejam:
Tamandaré, no Estado de Pernambuco, e Maragogi, no Estado de Alagoas.
Foram levantados dados através de levantamento bibliográfico, com
conseguinte análise de documentos disponíveis nos arquivos da APA Costa dos
Corais. Posteriormente, alguns gestores que atuavam nas áreas de turismo e meio
ambiente dos municípios estudados - escolhidos por abrangerem um amplo leque de
atividades, e por estarem à época há, no mínimo, dois anos em suas funções - foram
entrevistados. Finalmente, com uma abordagem qualitati va, o resultado destas
entrevistas foi analisado, em conjunto com as informações anteriormente obtidas,
como forma de obtenção de subsídios para a proposição de metas para a gestão da
APA.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Planejamento do Turismo
O planejamento do turismo - atividade econômica já existente como tal,
basicamente após a Revolução Industrial, mas só recentemente sujeita a normas e
padronização de procedimentos - não poderia ficar de fora da gestão ambiental. Há
intersecções diversas entre esta última e a gestão do turismo. Em primeiro lugar, o
fato de, apenas nas últimas duas décadas, ter sido definida uma regulamentação
efetiva, por parte do setor público, no intuito de ordenar as atividades, tanto ligadas
ao meio ambiente quanto ao turismo. Em decorrência disso, ultimamente tem se
verificado um surgimento crescente de cursos para a colocação no mercado de
profissionais capacitados a atuarem nessas áreas, vide o sem número de cursos
recém criados de bacharelado e pós-graduação em turismo e gestão ambiental. Na
década de 1970, tais cursos não existiam. Além disso, é de relevância lembrar que
os insumos para o desenvolvimento da atividade turística é o meio ambiente e a
cultura regional, impossibilitando, portanto, qualquer tipo de planejamento do
turismo, sem que sejam levados em consideração, a priori, os instrumentos da
gestão socioambiental.
A finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do
homem sobre o território e ocupa-se em direcionar a construção de
equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os
efeitos negativos nos recursos, que destroem ou reduzem sua
atratividade.[...] o planejamento é fundamental e indispensável para o
desenvolvimento turístico equilibrado e em harmonia com os recursos
físicos, culturais e sociais das regiões receptoras, evitando, assim, que o
turismo destrua as bases que o fazem existir. (RUSCHMANN, 2004, p.
9,10)
De acordo com a citação anterior, o planejamento é fundamental para garantir
a sustentabilidade, não só da atividade turística, como do ambiente em que esta se
desenvolve. Contribui, portanto, para que a atividade turística continue a se
desenvolver, sem prejudicar suas próprias fontes de existência. É importante lembrar
aqui que, segundo o conceito atual, a condição socioeconômica local está
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englobada no termo “meio ambiente”, assim como os atributos bióticos e abióticos
locais.
Em relação ao planejamento do turismo, este estudo orienta-se através da
concepção de Hall (2004). Em primeiro lugar cabe aqui salientar que o planejamento
turístico pode ser baseado em diferentes escalas (nacional, estadual, regional e
local) e esta deve estar bem definida para o
desenvolvimento das análises,
propostas e ações necessárias. No entanto, independente da abrangência da escala
escolhida, é de extrema relevância de que o trabalho esteja integrado e em
constante articulação com os demais níveis de planejamento, em escalas maiores e
menores, através de projetos e/ou ações que também ocorram em outros níveis, sob
pena de ineficácia do processo, tanto por lapsos de ações que sejam necessárias e
ainda não foram previstas em nenhuma das instâncias, quanto por duplicidade, a
qual implica em desperdício de recursos para pouca eficiência de resultados.
Ainda segundo o mesmo autor, outro aspecto de suma importância no
planejamento é o ponto de vista do espectador ou participante do processo de
planejamento turístico. Healey (1997 apud HALL, 2004, p.85) explicita perfeitamente
o que entendemos por importância da participação de todos os atores envolvidos no
processo de planejamento: “[...] compreende-se agora no campo do planejamento
que este é um processo interativo, realizado em um contexto social e não um mero
processo técnico de projeto, análise e gerenciamento”. Hall (2004, p.85) corrobora
as ideias de Healey e acrescenta
Esse é um ponto crucial. Muitos livros didáticos referem-se a planejamento
como um processo técnico no qual o autor se encontra em segundo plano
e o livro parece ter sido escrito como uma série de fatos ou instruções que
indicam como se deve agir. E não é assim. [...] há várias tradições
diferentes em planejamento turístico, cada qual com um enfoque, sendo
que nenhuma delas é inerentemente certa ou errada. Nós as consideramos
adequadas ou não, baseados em uma série de critérios que, por sua vez,
refletem o que acreditam ser planejamento turístico e o que ele deve tentar
atingir. Essa base em processo de mudança reflete percepções mais
amplas do expert em turismo e do „planejador‟ na sociedade. [...]
Precisamos, portanto, reconhecer que nossa posição no planejamento
turístico está relacionada ao ponto em que nos encontramos no sistema
turístico, e aos vários envolvidos, interesses e fatores com que interagimos.
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Reiteramos as ideias dos autores citados, considerando que um processo de
planejamento deve ser dinâmico, em movimento contínuo de adaptação às variantes
locais, que se modificam constantemente, assim como participativo, desde o início
de seu diagnóstico, até a proposição de ações que se proponham a beneficiar a
atividade, continuando com o monitoramento dos resultados alcançados, assim
como a elaboração de novas propostas. Tal processo não pode, em nenhuma das
etapas, se afastar da comunidade diretamente afetada pelo desenvolvimento do
turismo em uma determinada região, e dos gestores locais, sob pena de não
apresentar resultados eficazes. Esta participação é necessária, tanto por trazer
conhecimentos, inerentes aos atores sociais locais, para o processo, quanto para
que os envolvidos colaborem de fato com as ações desenvolvidas, como
consequência de seu envolvimento. Sem essa colaboração, por melhores e mais
adequadas que sejam as propostas, estas não surtirão os resultados desejados.
2.2 Fundamentos para a Sustentabilidade da Atividade Turística
De acordo com Leite Junior (2007), um projeto de desenvolvimento, para ser
sustentável, precisa ser ao mesmo tempo economicamente viável, ecologicamente
correto e socialmente justo. Esta afirmativa define bem os pilares do conceito da
sustentabilidade, em qualquer atividade econômica. Pela lógica capitalista, a
viabilidade econômica é a primeira condição a ser cumprida. Recentemente, o
caráter ecológico passou a ter sido mais cuidado, a partir do momento que o
empresário em turismo, cada vez mais, apreende o senso de que a conservação do
patrimônio, seja ele natural ou cultural, é o que vai garantir a viabilidade de sua
empresa. Além disso, a responsabilidade no tocante ao uso dos recursos naturais no
Brasil (assim como no resto do mundo) tem sido alvo de intensos movimentos
ambientalistas e de consistente regulamentação, tendo em vista a legislação
ambiental, criada nas últimas décadas. No entanto, em relação à justiça social, este
estudo mostra comprova que ainda há muito que aprendermos e colocarmos em
prática.
Segundo Pires (2002), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
estabelece os componentes do ecoturismo, o qual define como uma versão de
turismo na natureza orientada para a sustentabilidade. São eles: contribuir para a
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conservação da biodiversidade; contribuir para o bem-estar das populações locais;
incluir a interpretação ambiental, a experiência da aprendizagem no ambiente;
envolver ações responsáveis dos turistas e da indústria do turismo; disseminar
fundamentalmente em pequenos grupos envolvendo negócios de pequena escala;
requerer o mais baixo consumo possível de recursos não renováveis; dar ênfase à
participação local e à oportunização de negócios e iniciativas empreendedoras,
especialmente para a população rural.
O turismo deve ser visto sob o enfoque do benefício à comunidade que
recebe e não só como um meio de atender às expectativas do visitante. Para
Rodrigues (1997), o turismo deve funcionar como uma alternativa para os
“excluídos”. A autora vê, neste setor econômico, um grande potencial para o
enfrentamento da exclusão social, contanto que o poder público - principal integrante
da superestrutura do SISTUR - sistema turístico de Beni (2001) - execute sua
política e ações no sentido de viabilizar uma “economia solidária”, ou seja, o governo
deve promover iniciativas para o desenvolvimento de um empreendedorismo social,
como forma de criar oportunidades de inserção das comunidades receptoras no
resultado do crescimento do fluxo econômico gerado pelo desenvolvimento do
turismo naquela localidade. Ainda segundo Rodrigues, “há que adotar-se estratégias
macroeconômicas de combate ao desemprego, procurando inserir os novos
microempresários num setor econômico especialmente projetado para maximizar as
chances de sucesso como o turismo, por exemplo”. Outro questionamento
interessante levantado pela autora é que o “chamado mercado informal, [...] se
configura como uma das únicas opções para a sobrevivência, com certa dignidade,
apesar da falta de segurança social” (RODRIGUES, 1997, p.62, 63) e que, apesar
do preconceito associado à informalidade, esta deve ser vista como alternativa de
inserção da comunidade na economia, porque é o que acontece na prática.
Em relação ao empreendedorismo social, temos o conhecimento de duas
iniciativas muito interessantes, não iniciadas pelo poder público, tendo em vista que
o Estado não vem cumprindo a contento o seu papel regulador, o qual entendemos
que deveria ser o de defender o bem comum em detrimento dos interesses
essencialmente mercadológicos da classe empresarial, que é o que se tem visto de
fato na prática política deste país. Aqui, presenciamos mais uma vez o terceiro setor
ocupando as lacunas deixadas pelo poder público.
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A
primeira
experiência
interessante
verificada
no
sentido
do
empreendedorismo social para o turismo trata-se do sistema de gestão por
cooperativas de moradores da Prainha do Canto Verde, no Ceará. Esta localidade,
no litoral do Ceará, no município de Beberibe, a cerca de 100 km de Fortaleza, em
sentido leste, apresenta uma população formada por pescadores descendentes dos
primeiros moradores da região, que se associaram para promover a gestão do
turismo local. Como em vários outros destinos turísticos litorâneos, segundo
Mendonça (2007), a comunidade estava sendo ameaçada de ser expulsa de suas
terras pela especulação imobiliária, nas décadas de setenta e oitenta. No final desta
última, passaram a contar com a ajuda do executivo suíço René Scharer e com o
Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos (CDPDH), para constituir sua
Associação de Moradores e dar início ao Projeto de Desenvolvimento Comunitário
desenvolvido pela Fundação dos Amigos da Prainha do Canto Verde, em dezembro
de 1991. Atualmente, a Cooperativa de Turismo, vinculada à Associação de
Moradores, é quem faz toda a gestão do atrativo e de seus equipamentos turísticos,
sem a interferência do Estado nem de nenhum empresário vindo de fora. 1
A segunda iniciativa que tomamos conhecimento é a descrita no artigo
“Turismo, Inovações e Desarticulação das Atividades Tradicionais” (LIMA, 2000).
Neste trabalho, o autor se propôs a elaborar uma “reflexão sobre as relações entre
cultura, educação, turismo e as discussões acerca do conceito de desenvolvimento
local”. Seu objeto de estudo é a comunidade da Ilha de Itaparica, na Bahia, “onde as
atividades tradicionais, como a pesca e o veraneio em pequena escala, são
reordenadas em função de um processo de modernização, traduzido no turismo que
reorientou a organização dos usos do tempo e do espaço”. Seu estudo teve como
foco “as relações entre espaço e cultura como elementos propiciadores às
circunstâncias favoráveis ou inibidoras às condições de vida social e econômica
traduzidas no conceito de desenvolvimento”. Por ocasião da publicação do artigo
citado, o autor ainda não havia chegado às suas conclusõ es finais mas, na verdade,
formulado uma proposta de análise do desenvolvimento de uma inovação na lógica
da economia do turismo em Itaparica, através de estratégias planejadas para que os
1
Após o fechamento deste estudo, em 2009, por demanda da comunidade local, a Prainha do
Canto Verde tornou-se uma Reserva Extrativista, que se configura em outra categoria de Unidade de
Conservação de Uso Sustentável definida pela Lei 9985/2000.
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recursos advindos da atividade sejam mais bem distribuídos e permaneçam com a
população local, na medida em que lhe são dadas ferramentas para a gestão do que
Rodrigues (op. Cit.) chamou de “economia solidária”.
Pelo disposto neste referencial teórico, fica claro que o planejamento da
gestão do turismo, com vistas à sua sustentabilidade econômica, ambiental e social,
e como meio de atingir os objetivos de criação (principalmente pelo estipulado em
seu decreto de criação como objetivos nos IV e V) da APA Costa dos Corais é
indispensável na gestão ambiental da UC, além do fato desta estar inserida nos
Pólos “Costa dos Arrecifes” (PE) e “Costa dos Corais” (AL) do Programa de
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE), portanto situada em
área de extremo interesse por parte dos setores público e privado, para o
desenvolvimento do turismo.
3 CARACTERIZAÇÃO DA APA COSTA DOS CORAIS
A APA Costa dos Corais (que está sob gestão, atualmente, do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao
Ministério do Meio Ambiente, sucessora do IBAMA na atribuição de gerir Unidades
de Conservação) possui uma área de 413.563 hectares e localiza-se nos estados de
Alagoas e Pernambuco. Partindo de Maceió via AL-01 Norte - litoral, percorre-se
uma distância de 20 Km até chegar ao Rio Meirim (povoado de pescadores). Neste
local inicia-se a APA, e daí a unidade segue pela área costeira por mais 220 Km, até
a foz do rio Formoso em Pernambuco (IBAMA, 2007).
É importante salientar que a faixa litorânea entre Recife e Maceió engloba os
Pólos Costa dos Arrecifes (PE) e Costa dos Corais (AL) do PRODETUR/NE e
recebe diversos incentivos e recursos público-privados, por ser um dos mais
importantes alvos da política nacional de desenvolvimento turístico do Ministério do
Turismo. Maragogi faz parte do programa “Destinos Indutores” deste Ministério.
Exatamente por apresentar um crescente fluxo turístico, atingindo diretamente as
comunidades tradicionalmente localizadas em seus municípios, dentre outros fatores
de exploração de seus recursos naturais, como a pesca, c aracteriza-se como uma
região tão susceptível a graves impactos ambientais e socioculturais, justificando-se
a proteção concedida com a criação da UC.
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Localização da APA Costa dos Corais
Font
e: Arquivo de documentos da APA Costa dos Corais/ICMBio.
1319
4. METODOLOGIA
Em princípio, os dados foram coletados por observação, levantamento
bibliográfico e análise documental. Entretanto, o foco principal deste estudo foi dado
na obtenção de opiniões e sugestões de gestores públicos e privados das áreas de
meio ambiente e turismo, atuantes na APA Costa dos Corais, como descrito adiante.
4.1 Coleta dos Dados
Para que fossem alcançados os objetivos propostos neste trabalho, foi
realizado, primeiramente, um levantamento bibliográfico e documental com o intuito
de conhecer outros autores, pesquisadores ou instituições que venham trabalhando
temas na área de conhecimento relativa ao turismo em áreas protegidas, educação
e gestão ambiental e afins, ou à atividade turística na região estudada. Para tanto,
foram pesquisadas fontes impressas e digitais, tais como livros, periódicos e
documentos institucionais, além de outros estudos relacionados a turismo e
unidades de conservação.
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O Roteiro Metodológico para Gestão de Área de Proteção Ambiental,
publicado pelo IBAMA, identifica como atividade preliminar para o planejamento da
gestão, a identificação dos agentes envolvidos, com o subsequente “levantamento
de expectativas dos agentes” e elaboração de um “quadro de identificação de
potenciais / limitações e posicionamentos destes” (IBAMA, 2001, p.48). A partir desta
orientação,
concentramos o foco deste trabalho no levantamento dessas
expectativas, através de entrevistas.
A pesquisa de campo visando às atuais condições em que está se dando o
desenvolvimento turístico na APA Costa dos Corais foi elaborada por meio de
observação e entrevistas semi-estruturadas, direcionadas à temática do turismo na
região relacionando-as às perspectivas para o alcance de sua sustentabilidade.
Estas entrevistas foram efetuadas junto a gestores públicos ligados de maneira
direta ou indireta à atividade turística e à gestão ambiental, assim como aos
empresários representantes de organizações e associações ligadas ao turismo em
Tamandaré (PE) e Maragogi (AL), municípios escolhidos para o estudo. A
observação foi efetuada não apenas durante o desenvolvimento deste estudo, mas
durante todo o período em que a autora esteve trabalhando vinculada à gestão da
APA Costa dos Corais, entre 2002 e 2005 e novamente em 2007. Também foram
obtidas informações do acervo de documentos disponíveis no escritório da APA
Costa dos Corais, ou outros ligados à sua gestão.
Foram entrevistados os gestores a seguir, que se encontravam nos
respectivos cargos em dezembro de 2007: o Chefe da APA Costa dos Corais; o
Analista Ambiental do ICMBio lotado na APA Costa dos Corais; o Secretário de
Turismo, Comércio, Cultura e Meio Ambiente de Tamandaré; o Vice-presidente da
Associação de Hotéis, Pousadas, Restaurantes e Similares de Tamandaré –
AHPREST; a Chefe da APA de Guadalupe 2; O Secretário de Turismo de Maragogi; o
Secretário de Meio Ambiente de Maragogi; o Presidente da Associação dos
Proprietários de Catamarãs de Maragogi – APCM; e o Presidente da Associação de
Hotéis e Pousadas de Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras e São Miguel dos
Milagres – AHMAJA.
2
A Área de Proteção Ambiental de Guadalupe é uma Unidade de Conservação administrada
pelo Estado de Pernambuco e se estende por quatro municípios: Barreiros, Tamandaré, Rio Formoso e
Sirinhaém. Possui uma área de intersecção com a APA Costa dos Corais no litoral de Tamandaré e Barreiros.
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Em resumo, os dados analisados foram obtidos através de observação,
primeiramente, mas também com leitura e análise de documentos e, principalmente,
pela realização das entrevistas e obtenção de depoimentos de pessoas ligadas ao
turismo na APA Costa dos Corais.
4.2 Análise dos Dados
Após a realização das entrevistas, as mesmas foram sistematizadas e
analisadas separadamente, por tema abordado.
A partir dos resultados levantados, na forma de conceitos, análise e
sugestões verificadas nas entrevistas com os gestores selecionados, passamos a
compilar, analisar e interpretar, respeitando a sequencia de assuntos abordada no
roteiro pré-definido para a realização das entrevistas semi-estruturadas, resumido a
seguir:

Conceito pessoal de “sustentabilidade”;

Pontos favoráveis identificados para o desenvolvimento do turismo local;

Pontos desfavoráveis identificados para o desenvolvimento do turismo local;

Estágio de desenvolvimento atual do turismo local;

Planos, projetos e ações previstos e em andamento relacionados à gestão do
turismo;

Sugestões para aliar a qualidade do turismo com a do meio ambiente

Como beneficiar a comunidade local?;

Prognóstico para o turismo ambiental e socialmente responsável; e

Obstáculos identificados para atingir o resultado desejado.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Pelos resultados obtidos com o presente estudo, pretendemos contribuir para
o planejamento da gestão do turismo na Área de Proteção Ambiental da Costa dos
Corais, situada entre os municípios de Maceió, em Alagoas e Rio Formoso, em
Pernambuco. A partir dos dados obtidos, o produto de sua sistematização e
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consequentes problemas e proposições levantados junto a alguns dos principais
gestores ligados ao turismo, públicos e privados, dos municípios de maior
movimento turístico – Maragogi (AL) e Tamandaré (PE) desta Unidade de
Conservação, propusemo-nos a qualificar, de alguma forma, a gestão social e
ambiental da APA, através de subsídios levantados para o planejamento e a gestão
do turismo em seus municípios. Pretendemos assim, chegar mais perto de alcançar
os objetivos de criação da unidade, particularmente o quarto, que diz respeito ao
ordenamento do “turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades
econômicas compatíveis com a conservação ambiental” (IBAMA, 2007).
A APA Costa dos Corais foi criada em 23 de outubro de 1997, tendo
completado doze anos de existência em outubro passado. Alguns bons trabalhos já
foram executados, como é o caso do Termo de Ajustamento de Conduta, visando ao
ordenamento da visitação às “Galés de Maragogi” (termo local para piscinas naturais
marinhas, atrativo mais visitado da unidade). Entretanto, os instrumentos de gestão
mais básicos para a administração de uma Unidade de Conservação ainda não
existem, quais sejam seu conselho gestor e seu plano de manejo. A equipe da APA
resumia-se, à época do estudo, a seu chefe, um analista ambiental e um técnico de
nível médio, enquanto a UC abrange treze municípios, segundo o seu Decreto de
Criação.
Surpreendentemente, o conceito de sustentabilidade foi um dos pontos mais
divergentes entre as entrevistas. Apenas a Chefe da APA de Guadalupe descreveu
sustentabilidade da forma como foi esclarecida por Leite Junior (2007): “atividade
economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta”. Abrangência
semelhante foi obtida na resposta do Secretário de Turismo de Maragogi: “atividades
com ações planejadas, sejam elas dos governos ou empresas levando-se em conta
as questões sociais, ambientais e econômicas”. As demais respostas variaram
bastante: “Garantia de continuidade por gerações, sem afetar o meio em que está
sendo desenvolvida.” “A manutenção da atividade não compromete a sua realização
no futuro.” “Exercer uma atividade sem modificar o ambiente, preservando-o e
integrando atividades afins.” “Beneficiar a comunidade e perdurar por um longo
período.” “Atividade desenvolvida de forma racional, atendendo as necessidades das
gerações atuais, sem comprometer as das futuras.” “Consegue se manter, gerando
lucro e benefícios sociais, com o aumento constante de emprego e renda e o
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crescimento da região onde se encontra.” “Atividade que não destrói, ao contrário,
preserva e recupera o ambiente em que se encontra.”
Apesar da incomparável beleza cênica da região ter sido apontada com
unanimidade como o ponto mais favorável para o desenvolvimento turístico local, os
entrevistados, preocupados, queixaram-se da falta de presença institucional do
ICMBio e de gestão da UC. Devido à falta de compromisso do governo com a
questão ambiental, as poucas ações que a equipe do ICMBio consegue promover
não chegam a ter grande visibilidade, pois os órgãos de meio ambiente no Brasil
encontram-se desestruturados e não há gestão participativa de fato, que envolva a
comunidade local. É necessário um bom planejamento e contar com a ação de
parcerias.
A falta de vontade política em executar bons planos para o desenvolvimento
da região, já existentes, e em cuidar da qualidade da educação e do meio ambiente,
foi apontada com unanimidade pelos entrevistados como o principal obstáculo para
o alcance da sustentabilidade do turismo na região estudada.
Quanto ao estágio de desenvolvimento do turismo local, a equipe da APA
Costa dos Corais aponta a necessidade do diagnóstico, iniciado com esta análise
preliminar, para o planejamento da gestão do turismo na UC, como um todo, visando
à sustentabilidade da atividade:
afirmam que a situação não está boa, não há
planejamento nem diagnóstico visando o turismo sustentável e que não há visão de
longo prazo e nem planejamento na prática profissional cotidiana. No entanto, as
análises mais localizadas diferiram entre os dois municípios estudados. Enquanto
Tamandaré foi definido como tendo um desenvolvimento ainda incipiente, sendo um
destino principalmente de veraneio, com poucos leitos, segundo o seu Secretário de
Turismo, que não atendem à demanda em alta estação, Maragogi é identificado,
pelos gestores locais, como o segundo polo turístico de Alagoas, perdendo em
movimento apenas para Maceió.
Um bom resultado, verificado neste estudo, foi identificar que as sugestões de
planos e ações a serem implementadas, visando ao desenvolvimento do turismo
com qualidade, de forma sustentável, gerando educação ambiental e inserção da
comunidade local na cadeia produtiva, foram muito parecidas, mesmo que tenham
sido originadas de visões tão diferentes. Foi identificado que os gestores locais
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entrevistados tem um bom conhecimento da região e convergem quanto ao
diagnóstico de suas possibilidades e dificuldades.
Como já referido, foram entrevistados gestores públicos, ligados às áreas de
turismo e meio ambiente, nos dois municípios, assim como empresários. Verificamos
que o nível de conhecimento sobre as questões do turismo, por parte dos gestores
da área de meio ambiente, assim como a recíproca, foi muito bom. E vimos também
que, apesar da consciência sobre a necessidade de justiça social não estar tão
introjetada no empresariado do turismo quanto a questão da qualidade ambiental
(em nossa opinião e na da maior parte de nossos entrevistados), ela já começa a
tomar forma na condução dos trabalhos por uma boa parte dos gestores públicos.
Não ocorreu esta mesma constatação nas entrevistas com os empresários.
Identificamos também entre os entrevistados, de maneira geral, a ideia de que
a gestão pública participativa é uma necessidade premente, o que classificamos
como um resultado positivo neste levantamento.
Como ponto negativo, entendemos que o nível de educação básica, formal e
informal, da população daquela região é tão baixo, que dificulta muito os trabalhos
de capacitação para as atividades profissionais ligadas ao turismo, direcionados às
comunidades locais, o que atrapalha a possibilidade de inserção dos moradores do
entorno da APA na cadeia produtiva. Em relação a este ponto, o seu órgão gestor, o
ICMBio, que tem como objetivo institucional cuidar diretamente da gestão das UCs,
pode fazer muito pouco, pois educação básica é atribuição das Secretarias de
Educação do Município e Estado. Pode, institucionalmente, colaborar com a rede
pública de ensino nas questões de educação ambiental. No entanto, através de um
trabalho bem feito neste sentido, podem-se obter bons resultados, pelo menos no
tocante ao uso do patrimônio natural e cultural nas atividades econômicas loc ais.
Mais uma vez, trata-se de uma questão fundamentalmente dependente do empenho
e vontade política para o desenvolvimento regional no Nordeste.
6 PROPOSIÇÕES PARA A GESTÃO DA APA COSTA DOS CORAIS
Tendo em vista o que foi levantado através da análise das entrevistas, em
relação a pontos desfavoráveis e obstáculos, encontramos as opiniões dos diversos
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gestores do turismo em Maragogi e Tamandaré, sejam integrantes do poder público
ou empresários, consonantes com o que levantamos na introdução deste trabalho.
Afirmamos o mesmo em relação aos pontos favoráveis e sugestões para aliar a
qualidade do turismo com a proteção ambiental e a justiça social. Objetivamos
então, neste item, propor algumas ações que auxiliem à APA Costa dos Corais em
seu trabalho de gestão da atividade turística, como meio de alcançar os objetivos de
criação da UC.
5.1 Agilizar a Formação de seu Conselho Gestor
Cada entrevistado foi visitado separadamente, em seu local de trabalho, e foi
identificado que a análise dos problemas feita por todos foi bem parecida. Mas, na
prática, eles não estão conversando entre si. Entendemos que o conselho criado e
efetivamente em funcionamento, será o instrumento adequado para conciliar os
diversos interesses e saberes locais, como forma de otimizar a gestão da UC, seja
em relação ao desenvolvimento do turismo, seja em outras questões.
1325
5.2 Elaborar seu Plano de Manejo de forma Participativa
A nossa proposta, aqui, é de que o Plano de Manejo desta UC seja elaborado
da forma amplamente participativa, de preferência após a formação do conselho
gestor, que possibilitará que a sociedade civil e demais parceiros de entidades
públicas colaborem ativamente na construção deste documento.
O
Plano
de
Manejo da APA Costa dos Corais é que realmente deverá definir, de forma
amplamente participativa, as diretrizes do seu Plano de Gestão Turística.
5.3 Criar um Centro de Visitação para a APA
Existe uma pequena demanda, não sistemática, de visitação ao escritório
onde está instalada, provisoriamente, a sede da APA, por alguns visitantes que vão
a Tamandaré, normalmente oriundos de áreas de trabalho ligadas à questão
ambiental, ou por turmas de estudantes universitários. De acordo com o que é
verificado em nossa experiência profissional, as UC´s que possuem Centro de
Visitação interagem muito melhor com a comunidade, além de funcionar como
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atrativo para os turistas. Este deverá servir como espaço de promoção de sua
gestão participativa, local para o desenvolvimento de programas de educação
ambiental e conscientização para o uso sustentável dos recursos naturais pela
comunidade, centro de treinamento e capacitação para o turismo sustentável e a
gestão socioambiental. O Centro de Visitação deve ser um atrativo turístico por si só,
o que tende a promover a visibilidade da APA, assim como agregar valor ao produto
turístico local.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, este trabalho pretendeu ser apenas um levantamento preliminar
de opiniões e propostas, por parte de alguns importantes atores sociais ligados ao
turismo, no intuito de iniciar a elaboração de um diagnóstico adequado para a
estruturação de um plano para o desenvolvimento do turismo com sustentabilidade
na APA Costa dos Corais. Este deve estar inserido em seu Plano de Manejo,
fundamental ferramenta para a gestão da UC, o qual, para ser realmente eficaz,
deve ser elaborado de forma participativa, para que os gestores contem com a
parceria da comunidade local, trazendo então legitimidade ao processo de gestão do
uso sustentável de seus recursos naturais e culturais.
Uma das conclusões mais relevantes a que chegamos é a de que, apesar de
ser uma prerrogativa legal instituída há uma década pelo SNUC (Sistema Nacional
de Unidades de Conservação – Lei 9985/2000), a gestão participativa ainda está
longe de ser uma prática efetiva na gestão de áreas protegidas no Brasil, seja na
APA Costa dos Corais, ou na maioria das UCs espalhadas pelo território nacional. A
falta de participação da comunidade local e demais instituições públicas na tomada
de decisão dos gestores à frente das UCs acarreta dificuldade na implementação
das ações voltadas à
conservação ambiental e sustentabilidade das atividades
econômicas correlacionadas, dentre elas o desenvolvimento turístico regional.
Sugerimos ainda que este diagnóstico seja estendido aos o utros municípios
da APA, os quais, certamente, apresentarão diferenças quanto ao desenvolvimento
e propostas para o turismo. Também seria interessante que fosse feito o
levantamento de opiniões e proposições, junto aos turistas e também aos
moradores, principalmente aqueles ligados à atividade. Com a junção desses dados
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ao presente estudo, pode-se proceder a uma análise mais consistente do
desenvolvimento atual do turismo na APA Costa dos Corais e será mais seguro
projetar seu futuro e propor um plano para as adequações necessárias identificadas.
Por fim, acreditamos que, na medida em que a APA Costa dos Corais contar
com Conselho Gestor - que atue efetivamente, contando com a participação da
sociedade nas tomadas de decisão quanto ao manejo e gerenciamento da unidade Plano de Manejo e Centro de Visitação, terá a possibilidade de ter uma gestão
socioambiental mais eficaz, aproximando-se do alcance de seus objetivos de criação
e com instrumentos para fazer um bom trabalho de planejamento e adequação da
atividade turística objetivando a sua sustentabilidade.
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APONTAMENTOS SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NO ESTADO
DO PARANÁ
Marino Castillo Lacay
Economista- Coordenador 3
Mestre em Desenvolvimento Agrícola (CPDA-UFRRJ),
Mestrando em Geografia (UFPR), Pesquisador do IPARDES
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho, que se insere na temática da economia do turismo, é resultado
de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES), com o objetivo traçar um perfil da Cadeia Produtiva
do Turismo e a sua organização espacial no Estado do Paraná. Foram aplicados
7.730 questionários entre diferentes agentes (administradores ou proprietários de
estabelecimentos, turistas e moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado.
A unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada
atividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte
Rodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades
Recreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados
ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. Entre outros,
os resultados apontam que na Cadeia Produtiva do Turismo do Paraná os serviços
de alimentação, os de meios de hospedagem e o transporte rodoviário de
passageiros são os elos mais fortes. Também ficou demonstrada a predominância
de micro-empresas e as debilidades nos laços de cooperação e associativismo entre
os estabelecimentos do setor.Texto letra arial 12, espaço simples, sem parágrafo
(até 500 palavras)
Palavras Chave: Cadeia Produtiva do Turismo, Turismo, Paraná, Micro-empresas.
Abstract: This work, that is inserted in the theme of the economy of the tourism, is a
result of a research developed at the Parana´s Institute of Economic and Social
Development (IPARDES), with the goal of designing a profile of the Value Chain on
Tourism and its spatial organization in the State of Parana. 7.730 questionnaires
were applied among different agents (managers or company owners, tourists and
locals), distributed in 171 cities of the State. The basic units of collecting information
were the tourist establishments for each activity researched: Means of
Accommodation, Food Services, Bus Transportation; Car Rent; Tourism Agencies;
Natural Attractions (adapted or planned), Cultural, Historical, Religious and Leisure
Activities. Among other, the results point that in the Productive Chain of the Tourism
of Paraná the feeding services, the one of lodging means and the passengers' road
3
Membros da equipe técnica: Carlos Frederico de Camargo Fayet – Economista, Ciro Cézar Barbosa – Economista, Cláudio
Jesus de Oliveira Esteves- Geógrafo, Cleide Maria Perito de Bem- Socióloga, Elisabete Cosmala Baggio- Economista, Mar ina
Maruyama Mori – Economista, Mariza Chr istina Kloss – Administradora de Empresas.
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transport are the strongest links. It was also demonstrated the predominance of
personal computer-companies and the weaknesses in the cooperation bows and
associativismo among the establishments of the section.
Key words: Productive Chain of the Tourism, Parana State, Tourism
1 INTRODUÇÃO
O Estado do Paraná é privilegiado em termos de atrativos turísticos, atributo
fundamental para o desenvolvimento do turismo, apresentando significativo potencial
em múltiplos segmentos, tais como: lazer, negócios, sol e praia, eventos, festas
regionais, rural, ecológico, aventura, religioso e saúde, entre outros .
O turismo, do ponto de vista econômico, interage com uma série de
atividades. É um componente do setor de serviços cujo produto é particularmente
complexo e depende da organização de uma oferta de serviços significativamente
diversificada, onde cada um dos elos da atividade produtiva corresponde a uma
atividade no produto turístico final, formando uma cadeia. Por sua vez, além de ser o
local de produção, o destino turístico é também o local principal de consumo dos
bens e serviços produzidos e, consequentemente, o local de implantação e
desenvolvimento de atividades dos estabelecimentos ligados ao setor e, portanto,
lócus da busca da sustentabilidade da atividade.
O presente trabalho é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido
pela equipe técnica que pesquisa a atividade turística no Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). A pesquisa de campo foi
realizada durante o ano de 2006, quando foram aplicados 7.730 questionários entre
diferentes agentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e
moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado. A unidade básica de coleta
de informações foi o estabelecimento turístico para cada atividade pesquisada:
Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte Rodoviário de
Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades Recreativas,
Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados ou
planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. O relatório
completo do estudo, bem como as tabelas com os dados contidos neste trabalho,
podem ser acessados em http://www.ipardes.gov.br .
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1330
Acredita-se que o instrumento de Cadeia Produtiva pode ser uma importante
ferramenta para o entendimento do comportamento da atividade turística no espaço
geográfico
do
estado
do
Paraná.
Também busca-se
contribuir
para
o
desenvolvimento de uma atividade turística sustentável no estado do Paraná.
2 OBJETIVOS
O estudo teve como objetivo traçar o perfil da Cadeia Produtiva do Turismo e
a sua organização espacial no Estado do Paraná. Além disso, pretendeu analisar o
comportamento de cada atividade (elo da cadeia), sob a ótica da oferta, identificando
serviços oferecidos, sazonalidades, mercados e preços praticados, os cuidados
ambientais e as condições de acesso e sinalização aos mesmos. O trabalho também
buscou conhecer a opinião da comunidade sobre as condições do desenvolvimento
turístico local, visto se tratarem de atores fundamentais na construção de um turismo
sustentável.
3 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL
Cadeia produtiva é o sistema constituído por atores e atividades inter relacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação,
comercialização e consumo em um espaço determinado. Pela sua visão prospectiva,
Castro, Lima e Cristo (2002) apontam que o enfoque de cadeia é pertinente no
contexto atual de evolução da economia mundial globalizada, em que temas como
competitividade, inovação tecnológica e sistemas de produção são discutidos de
forma sistêmica em todos os âmbitos da economia, desde as atividades produtivas
agro-alimentares até o setor de serviços, no qual se inclui o turismo. Uma atividade
econômica tão dinâmica e complexa como turismo encontra no enfoque sistêmico de
cadeia produtiva uma ferramenta para o diagnóstico e a formulação de estratégias de
competitividade.
O conceito de cadeia produtiva no turismo pressupõe a existência de um
produto ou de um atrativo turístico que, em um determinado território, atua como
elemento indutor para gerar uma dinâmica integradora entre as diferentes atividades
que compõem o setor. Isto é, o produto ou o atrativo funciona como gerador de uma
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rede de serviços apoiados no desenvolvimento de uma infra-estrutura local e
regional, cuja dinâmica pode promover o incremento dos fluxos de informação,
produção, inovação e consumo, sempre ponderados pela eficiência coletiva
(Schmitz, 1997).
Cabe registrar que o conceito de cadeia produtiva utilizado neste trabalho
considera a sustentabilidade como elemento importante para a construção da
competitividade sistêmica. A sustentabilidade é entendida como o princípio que
envolve a melhoria da qualidade de vida, o crescimento econômico eficiente com
eqüidade social, a preservação de valores culturais e a conservaç ão do meio
ambiente associados à participação efetiva das comunidades (Jacobi, 1999).
4 METODOLOGIA
A pesquisa de campo foi desenvolvida nas nove regiões turísticas do
Paraná, durante o ano de 2006. Ao todo, foram aplicados 7.730 questionários entre
diferentes agentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e
moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado, integrantes das nove regiões
de pesquisa.
Embora a unidade espacial selecionada tenha sido o município, cada região
constituiu uma amostra independente, eleita unidade privilegiada de análise.
A
unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada
atividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte
Rodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; Atividades
Recreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptados
ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer. Na tabela 1
estão demonstradas o número de formulários aplicados conforme o tipo de atividade
e a região de pesquisa.
A partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do
Trabalho e Emprego (RAIS – MTE) foi obtido número mínimo de estabelecimentos a
serem pesquisados em cada um dos municípios da amostra. Subsidiariamente,
também se recorreu aos inventários turísticos dos municípios e nos casos em que
não havia inventário, utilizou-se o cadastro da secretaria de finanças de cada
município, nas quais são controladas as bases de arrecadação do Imposto Predial e
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Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).
Para definição final dos municípios participantes da amostra, além dos dados da
RAIS, utilizaram-se a classificação dos municípios do Instituto Brasileiro do Turismo
(EMBRATUR), que os divide em Potencialmente Turísticos (MPTs) e Turísticos
(MTs); a segmentação do turismo existente nos municípios; e o IDH-municipal e
IDH-renda. No mapa 1 são demonstrados os municípios participantes da coleta de
dados.
TABELA 1 - NÚMERO DE FORMULÁRIOS APLICADOS NOS
ESTABELECIMENTOS E AOS MORADORES E TURISTAS, SEGUNDO REGIÕES
TURÍSTICAS DO ESTADO - PARANÁ - 2006
REGIÃO TURÍSTICA DO ESTA DO
ITEM
Número de munic ípios
pesquisados
Litoral Campos Centro Sudoeste Centro-Sul Oeste
Gerais
Noroeste
TOTAL
Região
Metropolitana
de Curitiba
Norte
7
11
8
16
10
22
41
38
18
171
80
67
31
52
24
184
117
122
163
840
Serviços de Alimentação
180
100
53
77
42
225
242
265
469
1.653
Transporte Rodoviário de
Passageiros
13
33
7
32
9
120
78
78
107
477
Locação de Veículos
7
8
2
1
0
13
21
4
46
102
Agências de Viagem
7
17
8
15
11
145
94
66
294
657
Atrativos Naturais e Planejados
9
9
16
30
25
83
61
62
72
367
Atrativos Culturais, Históricos e
Religiosos
17
34
19
14
35
74
105
111
129
538
Atrativos Esportivos e de Lazer
21
29
27
25
21
75
106
90
235
629
334
297
163
246
167
919
824
798
1.515
5.263
Moradores
70
72
46
100
70
244
359
330
605
1.896
Turistas
93
70
0
0
0
102
108
111
87
571
497
439
209
346
237 1.265
1.291
1.239
2.207
7.730
Atividade
Meios de Hospedagem
SUBTOTAL
TOTAL
FONTE: Pesquisa de Campo - IPA RDES
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MAPA 1 - MUNICÍPIOS PESQUISADOS, SEGUNDO REGIÕES TURÍSTICAS PARANÁ - 2006
1334
FONTE: IPA RDES - Pesquisa de Campo
BASE CARTOGRÁFICA: SEMA (2004)
5 CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO
Do universo de 41.454 estabelecimentos comerciais típicos do turismo no
Paraná em 2006, aproximadamente 95% eram microempresas (BRASIL, 2006) . A
seguir dá-se destaque para as principais características da cadeia produtiva do
turismo revelados pela pesquisa de campo (IPARDES, 2008):
Condição de posse: predomínio de estabelecimentos em imóvel próprio. Esse
aspecto é mais evidente nos Atrativos Naturais e Projetados, nos Meios de
Hospedagem e nos Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos, cujo percentual de
funcionamento em imóveis próprios está acima de 75%. As três atividades que
fogem à regra são Agências de Turismo, Serviços de Alimentação e Locação de
Veículos, as quais, em sua maioria, operam em imóveis alugados
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Forma jurídica: fundamentalmente estabelecimentos únicos (que não pertencem a
redes, cadeias ou franquias), de gestão familiar (administrados por seus
proprietários), a exceção das atividades de Atrativos Culturais, Históricos e
Religiosos, onde o estado é mais presente.
Formas de divulgação: a divulgação dos estabelecimentos pesquisados ainda é feita
de modo tradicional, particularmente por meio do uso de material impresso e de mídia
local, o que restringe o seu alcance. A internet, de forma geral, é pouco utilizada (por
menos de 10% dos estabelecimentos pesquisados) , embora constitua um importante
canal de difusão dos Atrativos Naturais, Culturais, Históricos e Religiosos através de
páginas eletrônicas de divulgação turística dos municípios e do estado. A pesquisa
também captou que cerca de um quarto dos estabelecimentos não faz nenhum tipo
de divulgação.
Origem do público: o público atendido pelos estabelecimentos turísticos é
diversificado, não se restringindo aos moradores dos municípios onde se localizam.
Mesmo assim, é grande o número de estabelecimentos voltados para o público local,
particularmente nas atividades dos Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos,
Esporte e Lazer, nos Atrativos Naturais e Projetados e nos Serviços de Alimentação.
Registra-se que a freqüência de turistas estrangeiros concentra-se nos maiores
centros, notadamente Curitiba, Foz do Iguaçu e Litoral, destinos indutores do
Paraná.
Formas de reserva: os serviços ofertados ainda são feitos de modo tradicional, ou
seja predominam aquelas feitas no estabelecimento ou por telefone/fax. Observa-se,
contudo, que as reservas pela internet, especialmente nos Meios de Hospedagem,
constituem uma realidade consolidada.
Formas de pagamento: aproximadamente 50% dos estabelecimentos aceita cartões
de débito e de crédito. As exceções ocorrem nas atividades de Atrativos Naturais e
Projetados, Culturais, Históricos e Religiosos e de Esporte e Lazer nas quais essa
prática é pouco usual. As atividades de Locação de Veículos e Agências de Turismo
são aquelas em que mais se utilizam cartões de créditos como forma de pagamento.
Nestas duas atividades, o cartão de crédito pode ser utilizado como garantia e/ou
parcelamento.
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Mão de obra: em 2006, ano da pesquisa de campo, haviam 58.714 ocupados nos
estabelecimentos pesquisados incluídos os empregados informais, os temporários,
os estagiários e a mão de obra familiar, sendo que mais da metade desses
trabalhadores possuíam contratos formais de trabalho. As atividades que mais
empregavam, em termos absolutos, eram a de Serviços de Alimentação e a de Meios
de Hospedagem. Ressalte-se, ainda, que a atividade de Meios de Hospedagem é a
que apresentou o maior número médio de trabalhadores por estabelecimento
pesquisado: 16,1.
Experiência profissional: para contratação de empregados as atividades de
Transporte Rodoviário de Passageiros, Agências de Turismo, Locação de Veículos e
Serviços de Alimentação são as mais exigentes em termos de qualificação (acima de
50%).
Treinamento da mão-de-obra: as Agências de Turismo, Serviços de Alimentação e
Locação de Veículos se destacam na oferta de qualificação profissional.
Operações de crédito e financiamento: a pesquisa apontou que, excetuando a
atividade de Transporte Rodoviário de Passageiros, há relativa subutilização dos
instrumentos de financiamento por parte dos estabelecimentos da Cadeia Produtiva
do Turismo no Paraná. A pesquisa indicou a existência de projetos de melhoria na
maior parte dos estabelecimentos para o período posterior à pesquisa (2007),
direcionados principalmente para reforma e ampliação e, para melhoria de
tecnologia e compra de equipamentos.
Nas atividades de Transporte Rodoviário de Passageiros e de Locação de
Veículos, os projetos de melhoria, com maior destaque, referiam-se à ampliação da
frota. De modo geral, os proprietários afirmaram não enfrentar problemas nem
dificuldades para levar os projetos adiante. No entanto a pesquisa apontou que no
ano de 2005 menos da metade dos estabelecimentos havia realizado investimentos
em modernização.
Sistemas de operação e cooperação (formas de associação e eficiência coletiva). A
pesquisa captou significativa importância dada para os seguintes aspectos:
-
Dificuldades na administração dos estabelecimentos: altas taxas e os elevados
impostos cobrados, a falta de empregados qualificados, o fluxo limitado de
clientes, a dificuldade em manter os preços dos serviços, a falta de capital e os
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juros elevados, são as maiores dificuldades apontadas pelos entrevistados;
-
Transações comerciais realizadas na região de localização dos estabelecimentos:
os entrevistados destacaram, principalmente, a contratação de mão-de-obra local,
seguida de compra e venda de produtos, compra de serviços e de equipamentos e
componentes.
-
Participação em entidades de classe ou sindicatos: há predominância dos
estabelecimentos pesquisados vinculados a entidades representativas o que
indica a possibilidade concreta de articulação horizontal (intratividade) e com os
demais elos da cadeia (interatividade). No entanto são poucos, menos de 30%,
os estabelecimentos que realizam parcerias ou atividades cooperadas, seja com
o setor público, seja com o privado
Cuidados ambientais básicos: Esse ainda é um campo que necessita de ações no
sentido de sensibilização da difusão de boas práticas de gestão ambiental como
requisito para alcançar um turismo sustentável no Estado. Apesar de muitos dos
estabelecimentos pesquisados adotarem procedimentos de cuidados ambientais nas
suas atividades, a separação dos resíduos gerados, por exemplo, ainda não é
praticada pelo conjunto dos estabelecimentos pesquisados. Quanto ao controle do
desperdício de água e energia elétrica, constatou-se que quando os estabelecimentos
adotam alguma medida, essa é motivada, sobretudo, por razões de natureza
econômica.
Opinião dos moradores: Por entender que a participação da comunidade local é
fundamental na busca da sustentabilidade do turismo, a pesquisa buscou apreender
a opinião dos moradores. Para tanto foram aplicados 1.896 questionários entre
moradores das cidades participante do estudo. O que permitiu investigar a
percepção acerca da sua cidade de moradia e da respectiva atividade turística.
Embora mais da metade dos entrevistados acredite que o turismo pode
trazer impactos sociais e ambientais negativos para o município, do ponto de vista
econômico a pesquisa também apontou que a comunidade acredita que o
desenvolvimento da atividade turística cria empregos e gera renda. O formulário dos
moradores buscou captar se os entrevistados percebem o seu município de moradia
como turístico. Dos entrevistados, 64,8% consideraram que sim, embora menos da
metade tenha afirmado conhecer todos ou a maioria dos pontos turísticos da sua
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cidade. Dos que afirmam que a sua cidade é turística, os principais motivos que os
levam a ter essa percepção são: belezas naturais (42,1%), eventos e negócios
(21,6%), história/cultura/arqueologia e festas/folclore/artesanato (18,0% e 16,5%
respectivamente).
Em relação ao que poderia ser feito para melhor receber o turista, as
informações recolhidas apontam a melhoria da infra-estrutura dos atrativos (39,7%);
a capacitação de mão-de-obra local (33,2%); a integração entre governo, empresas
e comunidades (29,0%); a melhoria de estradas e acessos aos municípios (27,7%);
e da segurança (26,5%),
6 LIMITES AO DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NO
PARANÁ
Os dados da pesquisa permitiram destacar os principais obstáculos que
pautam os vínculos com o mercado, as relações inter e intracadeia e a eficiência
coletiva em cada uma das atividades da Cadeia Produtiva do Turismo no Paraná:
Vínculo com o mercado: dada a escala, as micro, pequenas e médias empresas são
1338
relativamente autônomas em termos de organização empresarial. Porém, essa
autonomia, por ser relativa, pode ser refreada por obrigações para com fornecedores,
instituições financeiras e para com as relações exigidas pelo Estado e/ou município.
Além disso no quesito relacionamento com o mercado, apresentam certo desinteresse
da empresa em estabelecer relações de cooperação e parceria com vistas a ampliar
sua atuação no mercado.
Relações inter e intracadeia produtiva: o adensamento da cadeia produtiva depende
do fortalecimento dos relacionamentos horizontais e verticais das micro e pequenas
empresas que integram a atividade. A constatação da falta de empreendedorismo
conjugada com o baixo nível de confiança dos agentes da Cadeia para a integração
de esforços em torno de agendas comuns (que defendam seus interesses e
derrubem as barreiras culturais e obstáculos à partilha de informações) dificultam o
desenvolvimento de sistemas mais avançados de organização empresarial, que
possam evoluir para arranjos produtivos de competição cooperada de modo a
dinamizar a atividade. O trabalho das associações de classe não tinha apontado,
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até a data da pesquisa, para a redução dos efeitos da heterogeneidade produtiva
que se reproduzem em várias das atividades do sistema turístico no Paraná.
Eficiência coletiva. Os resultados das pesquisas quantitativa e qualitativa apontaram
a falta de eficiência coletiva, na orientação dada por Schimtz (1997), para os micro e
pequenos empreendimentos produtivos e a falta de práticas e ações concertadas
entre os agentes públicos e privados e destes, com a comunidade. Esse é um fator
que contribui para restringir a oferta de novos atrativos e produtos turísticos
formatados e competitivos, em sistema de cooperação entre todos os elos da
cadeia. Embora todos – empresários, moradores e turistas – concordem que o
Paraná tem muito a oferecer em termos de turismo, há queixas provenientes do
poder público municipal em relação ao estadual, das empresas em relação a ambos
e do governo federal e da comunidade em relação a todos os envolvidos.
Pode-se ainda dar destaque para algumas particularidades relativas a cada
atividade:
Meios de Hospedagem - elo com participação mais forte na cadeia, pela
consolidação da atividade no Paraná. Sua importância advém das formas de
operação que executa, da capilaridade, da geração de empregos e dos
investimentos que realiza nas regiões onde os estabelecimentos estão sediados,
especialmente em relação à compra de produtos e ao uso da mão-de-obra local. No
entanto,
há uma clara diferenciação entre os pequenos e os grandes
estabelecimentos, especialmente os vinculados às redes (cadeias), que são os que
determinam o comportamento de mercado. Enquanto os grandes atuam de forma
reticular, os pequenos não formalizam ações cooperadas. Também são os grandes
que adotam inovações tecnológicas e equipamentos. Embora haja participação ativa
em entidades de classe e esforços de várias instituições, a exemplo do SEBRAE, em
fazer com que a atividade atue de forma cooperada para a melhoria da eficiência
coletiva, a pesquisa constatou que somente 19,2% dos estabelecimentos visitados
fazem algum tipo de parceria.
Serviços de Alimentação - elo forte, por ser a atividade mais numerosa em termos de
empregos, capilarizada em termos de estabelecimentos e com participação
crescente na cadeia. Apesar de sua fortaleza, é uma atividade que cresce
independentemente do turismo, por atender também à população local. As formas
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de operação que executa são significativas em todo o Estado, especialmente em
relação à compra de produtos e ao uso da mão-de-obra local. Apesar de haver
poucas ações cooperadas e em parceria, a articulação intra-setorial é média e há um
esforço da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) em catalogar
e identificar os estabelecimentos que atuam na atividade, até mesmo por conta da
atuação do poder público no que se refere a orientar e controlar o desenvolvimento,
dentro dos padrões sanitários. Ressalta-se que a atividade vem crescendo
principalmente com base nas microempresas e, ainda, com importante participação
de mão-de-obra familiar.
Transporte Rodoviário de Passageiros - por também pertencer à logística de outras
cadeias, constitui um elo independente, porém forte, no sistema produtivo do turismo. O
Transporte Rodoviário de Passageiros é submetido a controles específicos e opera sob
um marco regulatório próprio, que inclui o controle, pelo poder público, da entrada de
concorrentes no mercado, seja mediante seleção discricionária, seja por meio de
processo licitatório. Frente à existência de um mercado discricionário, inerente àquelas
empresas que detêm a concessão das principais linhas de Transporte Rodoviário de
Passageiros, vêm proliferando micro e pequenas empresas de transporte. Esses
pequenos estabelecimentos, que trabalham de forma esporádica para o turismo,
atendem
preferencialmente
ao
transporte
escolar/universitário
intermunicipal,
transportando estudantes das regiões mais afastadas do Estado para os centros
regionais onde se concentram as instituições de ensino superior. Embora utilizem-se
da mão-de-obra local em larga escala, outras atividades de operação e cooperação
não são tão comuns: as transações de compra de serviços e produtos, em sua
maioria, são feitas fora da região de atuação do estabelecimento.
Locadora de Veículos - elo de suporte da atividade de Transporte Rodoviário de
Passageiros. A expansão da atividade está vinculada mais à modernização de
processos produtivos do que ao desenvolvimento do turismo. No Paraná, essa
atividade cresceu na década de 1990 quando o governo estadual e muitos
municípios aderiram à terceirização da frota de transportes para não arcar com
custos de depreciação. Essa prática foi o chamariz para grandes grupos se
instalarem nos principais centros urbanos, cuja presença tornou-se um indicativo da
ampliação da atividade no mercado estadual. Como no caso das cadeias de Meios
de Hospedagem, há nesta atividade dois tipos de comportamento operacional e de
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mercado: um deles comandado pelos grandes grupos, que determina regras de
mercado de tipo oligopólico; e outro, concorrencial, que envolve todas as micro e
pequenas empresas e que depende do mercado local e regional. É fraca a
realização
de
operações
comerciais
na
região
de
funcionamento
do
estabelecimento, pois geralmente os veículos, peças e outros componentes
característicos da atividade são comprados em grandes lotes. Apesar do elevado
percentual de participação em entidades representativas, realizam-se poucas
atividades cooperadas ou em parcerias.
Atividades Recreativas Culturais e Desportivas - elo com forte participação do setor
público. A busca de práticas sustentáveis no turismo vem alavancando o
crescimento da atividade, que no Estado, dada sua diversidade, torna-se de
importância para a prática de novas formas de turismo. Parte dos estabelecimentos
dessas atividades, especialmente os estabelecimentos históricos e culturais, estão
vinculados às esferas municipal, estadual ou federal. É importante, porém, fazer uma
leitura em separado das atividades que a compõem. i) Atrativos Naturais e
Planejados: no Estado essa atividade vêm crescendo de forma considerável, por
serem suporte de atividades estratégicas para o turismo. Nele desenvolvem-se
novos segmentos, como o turismo de aventura e o ecoturismo, entre outros.
Também
se
destaca
pela
crescente
participação
do
setor
privado
no
desenvolvimento de atividades, como, por exemplo, os pesque-pagues, que se
tornaram alternativa de lazer popular em todo o Estado, visitados por excursionistas.
Quanto às áreas naturais controladas pelo setor público, há limitações impostas pela
sua natureza jurídica no que tange ao desenvolvimento de operações comerciais.
No entanto, são empregadoras de mão-de-obra local. ii) Esporte e Lazer: existe
participação do Sistema “S” e da iniciativa privada, havendo forte demanda desses
equipamentos pela população local. Há indícios de pouca atividade cooperada e
participação em entidades de classe, o que contraria uma prática comum na
atividade esportiva, que tem larga tradição de organização em associações,
federações e confederações esportivas. iii) Atrativos Culturais, Históricos e
Religiosos é a atividade que conta com menor participação da iniciativa privada e a
que mais emprega mão-de-obra formal. Por sua natureza pública ou religiosa,
participa pouco de entidades de classe e mantém poucas operações comerciais no
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município onde se encontra localizado, devido à dependência de pr ocessos
licitatórios.
Agências de Turismo - elo que ganha destaque na medida em que o turismo vem se
sedimentando como atividade econômica de relevância nos aglomerados urbanos.
Se na década de 1990 exerciam um papel importante de captação de divisas, hoje a
especialização e a diversificação das atividades faz com que atuem de forma
focalizada em segmentos da demanda. Dessa forma, cumprem com a função de
dinamizar a atividade turística nas regiões do Estado onde atuam, como receptoras
por excelência dos visitantes e turistas. Contudo, as Agências de Turismo possuem
uma hierarquia de funcionamento que reforça o caráter assimétrico do mercado: um
pequeno grupo de consolidadoras e operadoras controla a grande parcela das
Agências de Turismo que realizam a atividade de emissivas, porque não possuem
licença para operar no mercado em melhores condições (dadas as regulações
existentes principalmente na emissão de passagens aéreas), por conta de controles
realizados pela EMBRATUR. A contratação de mão-de-obra local é grande entre as
Agências de Turismo, sendo a atividade da Cadeia que mais oferece treinamento.
Mantêm um expressivo número de transações comerciais no Estado e também
possuem considerável adesão às entidades e associações representativas do setor.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Cabe pontuar que são poucas as decisões de investimento feitas dentro de
estratégias de longo prazo, por conta do ambiente de incerteza e risco que as
empresas, pelo seu tamanho, têm que enfrentar. Na Cadeia Produtiva do Turismo, as
micro e pequenas empresas (NAJBERG; PUGA, 2002, p.149-162) se deparam com
uma série de barreiras para o alcance de níveis de competitividade compatíveis com
as práticas de gestão sustentável no setor, que são cada vez maiores. Nesse sentido,
para o fortalecimento da Cadeia Produtiva do Turismo, há uma série de medidas que
devem ser adotadas e que a seguir, de forma sintética, são expostas:
a) promover a formação e o desenvolvimento de mecanismos de gestão
sustentáveis;
b) investir na capacitação e no desenvolvimento de recursos humanos;
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c) apropriar o uso de sistemas de informação, para o conhecimento do
mercado e para o planejamento estratégico;
d) usar instrumentos visando à redução de custos e ao aumento da
comercialização cooperada;
e) incorporar o uso das novas tecnologias (TICs), inclusive como ferramentas
de marketing das empresas;
f) facilitar o acesso a linhas de financiamento e de crédito adequadas e em
condições competitivas.
Questões como acessibilidade, estradas e investimentos em infra-estrutura,
bem como a capacitação do pessoal ocupado diretamente nas atividades turísticas e
a divulgação dos atrativos existentes devem ser identificadas e potencializadas pela
ação conjunta das lideranças locais. Esse esforço deve apontar para a formação e o
fortalecimento da governança local no turismo.
As restrições observadas não representam, contudo, limites intransponíveis
ao
desenvolvimento
do
setor,
tampouco
sugerem
retirar
do
Estado
a
responsabilidade na condição de condutor do processo de crescimento do tur ismo.
Observam-se processos embrionários em curso que, aprimorados e difundidos entre
os proprietários dos empreendimentos, devem ser incentivados pelas autoridades
regionais, junto ao trade do Estado, principal mercado demandante.
Do ponto de vista da comunidade, há um longo percurso a percorrer a partir
de uma proposta de turismo sustentável, tratado aqui como paradigma do
desenvolvimento da atividade no futuro. A sustentabilidade deixa de ser um conceito
atrelado apenas ao meio ambiente para abraçar o contexto econômico e social,
reforçando a necessidade de equilíbrio, de inclusão e igualdade entre os que moram
no Estado e os que o visitam, convertendo-se em instrumento de exercício da
cidadania para todos.
Existem boas perspectivas de expansão para o turismo no Paraná, desde que
se respeitem as restrições que o próprio crescimento sustentável da atividade
acarreta. É importante sublinhar que os processos de inovação podem ocorrer nas
diferentes esferas de produção e circulação de mercadorias e serviços e estar
vinculados a produtos, processos e gestão (IPARDES, 2005). Não se pode dizer,
portanto, que o Estado, devido à sua posição nos mercados do turismo nacional e
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internacional, não possa vir a afirmar sua liderança na aplicação de inovações
tecnológicas e sociais na atividade, consolidando redes de cooperação para a
sustentabilidade do sistema turístico.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho e do
Emprego. Brasília, 2006. 1 CD-ROM.
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ASPECTOS INFORMACIONAIS SOBRE SEGMENTAÇÃO DO MERCADO
TURÍSTICO: UM ESTUDO PRELIMINAR ACERCA DE VARIAÇÕES NA
DEMANDA ESTADUNIDENSE NO MERCADO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2008
Marcelo Augusto Mascarenhas
Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisa Social / CEFET-RJ; NUPETUR/UFOP;
GETDS/UNIRIO; NEITT/CEFET-RJ
[email protected]
RESUMO
O presente trabalho versa sobre aspectos da segmentação no mercado turístico
nacional, através de uma análise sobre a entrada de turistas estadunidenses em
solo brasileiro, entre os anos de 2003 e 2008. Seu objetivo é tecer uma breve
análise acerca das variações que têm ocorrido com os fluxos de turistas
estadunidenses que entraram no Brasil nos últimos anos. A metodologia que
sustenta a construção deste trabalho é a construção de uma breve revisão
bibliográfica e o desenvolvimento de algumas reflexões sobre este nicho de mercado
internacional para o turismo brasileiro, seguida de um estudo com base na análise
de séries temporais, a partir de algumas estatísticas básicas que possibilitem novos
avanços em estudos posteriores. Como principais resultados, pudemos observar que
o fluxo de turistas estadunidenses em direção ao Brasil têm diminuído nos últimos
anos (o que vai na contra-mão do total de turistas estrangeiros que têm entrado no
país), que o padrão sazonal de entrada dos turistas de origem dos EUA é diferente
da sazonalidade para o total de visitantes estrangeiros, e que a variação cambial do
dólar americano frente ao Real não demonstra ser um estímulo ou impedimento tão
significativo à entrada dos turistas estadunidenses em nosso país.
Palavras Chave: turismo, fluxos, estadunidenses, série temporal, sazonalidade.
ABSTRACT
This paper discusses aspects of segmentation in domestic tourism market through an
analysis of the entry of american travelers on Brazilian soil, between the years 2003
and 2008. Your goal is to make a brief analysis about the changes that have
occurred with the flow of american tourists who arrived in Brazil in recent years. The
methodology which supports this work is the construction of a brief literature review
and develop some thoughts on this niche market for tourism in Brazil, followed by a
study based on time series analysis, based on some basic statistics enabling new
advances in future studies. As main results, we observed that the flow of american
tourists into the Brazil has decreased in recent years (which goes in the direction
opposite to the total of foreign tourists who have entered the country), the seasonal
pattern of arrival of american tourists is different from the seasonal pattern for the
total of foreign visitors, and that the exchange rate of U.S.
Key words: tourism, flows, americans, time series, seasonality.
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1 INTRODUÇÃO
À medida que crescem os avanços nas áreas de gestão e planejamento do
turismo, também se faz necessário um aumento nas ações de pesquisa que
envolvem este mesmo setor.
Falando especificamente da gestão pública do turismo brasileiro, podemos
afirmar que de fato esta é uma prática bastante recente. Ainda que em teoria tenham
existido políticas de turismo antes dos anos 80 (CAVALCANTI; DA HORA, 2002;
BENI, 2006), podemos dizer que, em termos práticos foi somente deste período em
diante que se desenvolveram ações mais concretas que trabalhassem fortemente
pelo desenvolvimento da atividade turística.
Com o crescimento do interesse pela atividade turística, iniciativa privada e
poder público passaram a buscar melhorias nas suas formas de atuação perante
este crescente mercado. Dos anos 90 em diante, podemos dizer que o Brasil
começou a enfrentar um trabalho contínuo (ainda que lento) de profissionalização no
que diz respeito às práticas de gestão pública do turismo. Frente a esta nova
postura, que se mostrou como uma resposta inevitável às destinações que
buscavam se manter competitivas diante do mercado global, cada vez mais acirrado,
podemos destacar os crescentes esforços de segmentação que tem sido
trabalhados não só pelo governo brasileiro (expressos nos seus diferentes níveis de
gestão, ou seja, federal, estadual e municipal), como também pelas organizações
que atuam no campo da iniciativa privada ou até mesmo no terceiro setor.
É diante desta partição do mercado consumidor do turismo que este trabalho
visa desenvolver seu conteúdo. A partir dos avanços na produção de informações no
campo do turismo, e da segmentação que tem sido feita atualmente, vamos
trabalhar neste artigo com um estudo sobre as variações da demanda turista efetiva
(BENI, 2001), proveniente dos Estados Unidos da América [EUA], entre os anos de
2003 e 2008. Para formalizar a proposta deste trabalho, podemos dizer que o
objetivo do mesmo é apresentar um estudo sobre algumas variações observadas no
volume de turistas estadunidenses que entraram em solo brasileiro, entre os anos de
2003 a 2008. A realização deste trabalho se justifica por diversos motivos dentre os
quais podemos destacar, a importância qualitativa e quantitativa da demanda
estadunidense para o turismo internacional em nosso país, a carência de estudos
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que trabalhem de forma quantitativa e com apoio estatístico a questão da
segmentação de fluxos estrangeiros no Brasil, e a complementaridade que deve
existir entre estudos de uma perspectiva macro (como é o caso deste trabalho) com
as perspectivas micro, junção tão necessária para a evolução do turismo nacional e
principalmente das ações que visem trabalhar com a ótica local.
Para facilitar a compreensão e orientar a leitura deste trabalho, o
fragmentamos em alguns subitens como, revisão bibliográfica (onde serão
apresentados alguns conceitos das áreas de turismo, marketing e estatística,
elementares para o entendimento deste estudo), metodologia, análise dos
resultados, considerações finais e referências bibliográficas.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 ASPECTOS ELEMENTARES SOBRE TURISMO E ESTUDO DE DEMANDA
Para darmos continuação ao desenvolvimento deste estudo, é interessante
proceder com um exercício de revisão da literatura sobre questões relacionadas ao
universo do turismo e elementos do marketing que fazem interface com este campo,
a citar, por exemplo, a questões que envolvem segmentação de mercado e estudos
sobre demanda.
Antes de entrarmos nas questões teóricas com maior aproximação do
marketing, vamos refletir sobre alguns pontos elementares mas de vital importância
para entendimento do turismo e a construção de um raciocínio que nos permita
evoluir em alguns aspectos que dizem respeito à gestão deste setor.
Por mais evoluídas que estejam as ações com foco no planejamento e gestão
do turismo brasileiro, cada vez mais solidificadas em um política descentralizadora
que vem sendo construída desde os mandatos do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso até o presente momento, e que tem cada vez mais priorizado a atenção nos
fluxos turísticos domésticos (aqueles que ocorrem apenas dentro do Brasil), não
podemos deixar de ficar atentos às populações internacionais que visitam o país.
Certamente o governo federal não tem diminuído sua atenção em relação ao
mercado internacional, entretanto, podemos afirmar que a evolução de estudos e
novas ações internacionais não têm se apresentado tão intensa quanto o que se
observa em relação ao mercado interno. Reconhecemos que as ações promocionais
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para o mercado exterior cresceram bastante, assim como houve uma melhora na
pesquisa de perfil do turista internacional que visita o Brasil. A proposta desta
reflexão não é de questionar estes fatos ou mesmo de investir contra as práticas do
governo desenvolvidas até o momento (que de fato evoluíram muito, se
compararmos o momento atual a um passado bastante recente), mas sim de
fomentar uma indagação no que diz respeito ao entendimento e à atenção
empreendida a um mercado consumidor tão importante quanto os Estados Unidos.
Por mais distante que o questionamento acima pareça da idéia do turismo de
base local, é importante lembrarmos-nos da ótica sistêmica proposta por uma série
de estudiosos da área em questão. Como Beni (2001) destaca, o turismo é um
sistema aberto, ou seja, realiza trocas constantes com outros diversos ambientes.
Ainda que não fale exatamente de turismo Castels (1999) também nos coloca em
uma sociedade plenamente interconectada quando desenvolve o conceito de
sociedade em rede na qual estamos inseridos. Partindo destes dois pressupostos, é
interessante notarmos como cada vez mais a nossa realidade tem mostrado que
eventos globais acabam gerando diversos impactos de abrangência local, ou mesmo
que eventos locais podem se propagar e criar situações de interferência global. Em
linhas gerais, o que pretendemos dizer com a reflexão deste parágrafo, é que
pensamentos/ações globais ou locais são questões complementares e que
dificilmente podem ser isolados uns dos outros (principalmente no atual contexto em
que vivemos).
Como foi dito na introdução deste artigo, nosso objeto de análise se trata de
algumas variações no que diz respeito à demanda real ou efetiva de turistas
estadunidenses que visitaram o Brasil. De acordo com Cooper et. al (2001), a
demanda real ou efetiva se trata de um componente da demanda turística total. Esta
primeira diz respeito somente ao número de turista que realmente estão viajando ou
que viajaram para um destino específico, ou seja, não faz menção a elementos de
demanda potencial. De acordo com o autor, este é o tipo de informação mais
apresentada nas publicações de estatística de turismo quando se abordam ques tões
referentes à demanda deste setor. A título de esclarecimento, e para fins de
abreviação, ao longo deste estudo usaremos a palavra demanda como sinônimo de
demanda real ou efetiva. O entendimento do conceito apresentado acima é
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importante uma vez que fundamenta o uso que fizemos das informações extraídas
dos Anuários Estatísticos do Ministério do Turismo [MTUR].
Agora mudando um pouco o nosso foco de análise, vamos compreender
melhor algumas questões que dizem respeito à segmentação de mercado. De
acordo com Kotler (2001), o trabalho de segmentação de mercado diz respeito ao
conjunto de ações que objetivam dar mais precisão aos esforços de marketing. Esta
precisão que o autor menciona está diretamente relacionada à escolha de
segmentos de mercado para serem investidos com maior ênfase e conhecimento.
Falando especificamente de segmentação no campo do turismo, podemos dizer que
existem diferentes maneiras de se orientar esta partição e seleção do mercado
consumidor. Como destacam Lohmann e Panosso Netto (2008), ao citar a
Organização Mundial do Turismo (2001) e Vaz (1999), os critérios de segmentação
podem ser desenvolvidos em função de aspectos demográficos (em função de
idade, sexo, renda, etc.), geográficos (país, estado, ou demais variações geográficas
de
um
território),
psicológicos
ou
econômicos,
e
passíveis
de
serem
complementados com as formas de segmentação psicográfica (focada na
personalidade do consumidor), comportamental (apoiada nos hábitos das pessoas),
demográfica pessoal (atenção a elementos básicos de identidade, como aspectos
físicos e genéticos), ou demográfica socioeconômica (centrada na formação e
posicionamento social de um grupo de indivíduos).
Em razão do que foi dito acima, quando optamos por analisar somente o fluxo
de entrada dos turistas de origem dos EUA, realizamos um processo de
segmentação em nossas análises da demanda turística internacional que visita o
Brasil. Para compreendermos um pouco a importância deste segmento para o
turismo internacional em solo brasileiro, vale destacar que os Estados Unidos tem
sido por muitos anos o segundo país a enviar mais turistas para o Brasil anualmente,
ficando atrás somente da Argentina. No ano de 2008, de todos turistas estrangeiros
que entraram no Brasil, pouco mais de 12% deles tinham os EUA como país de
origem (MTUR, 2009). Apesar deste fato, se observarmos os dados dos últimos
anos (ver mais informações na seção 4, análise dos resultados), podemos notar que
os fluxos deste importante mercado consumidor em direção ao Brasil têm diminuído
a alguns anos. Além de fatores externos já conhecidos (como atentados terroristas,
variações na economia e no câmbio), não podermos descartar a hipótese de uma
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falta de conhecimento e atenção devida a este segmento. É por esta razão que
decidimos investir neste tipo de estudo.
Na sessão seguinte, vamos observar e refletir acerca de algumas importantes
questões que envolvem a aproximação do setor de turismo com o universo da área
estatística.
2.2 RELAÇÕES ENTRE TURISMO E ESTATÍSTICA
Se podemos considerar os avanços nas áreas de planejamento e gestão do
turismo como eventos ainda bastante recentes, o que seria possível dizer acerca da
aproximação e uso de estatísticas no campo do turismo? Por maior que seja a
necessidade de atender demandas específicas que pedem certa fuga de ações
puramente racionalistas, é inegável que o setor de turismo, assim como qualquer
outra atividade que perpasse tanto por aspectos ambientais, sociais, culturais e
econômicos, também precise de um determinado rigor e suporte racional nos seus
processo de gestão. É diante de uma série de processos incertos que pode e deve
ocorrer a aproximação do turismo com o universo da estatística. Mais do que
produzir ou tabular números, a ciência estatística é um campo de conhecimento que
visa trabalhar com eventos incertos, ou seja, que se relacionam a algum tipo de
probabilidade de acontecimento. Como as certezas encontradas na realidade de
qualquer gestor são normalmente muito escassas, a estatística e suas ferramentas
acabam se apresentando como uma importante forma de auxiliar os processos de
tomada de decisão. Não que este campo seja capaz de garantir opções assertivas,
mas certamente o uso correto dos seus métodos, acompanhado de outras fontes de
orientação (como domínio sobre o assunto, experiência, entre outros elementos)
pode minimizar em muito as chances de se tomar uma decisão errada (HALL, 2004).
Ao falar sobre os processos de planejamento e gestão do turismo, e
participação do Estado neste esforço, Beni (2001) ressalta a importância de se criar
não somente um Sistema de Informação de Turismo, mas também um Sistema
Nacional de Estatísticas do Turismo. O próprio Ministério do Turismo, em seus dois
últimos Planos Nacionais para este setor (MTUR, 2003; 2007), deixa bastante clara
a importância de se produzir e manipular informação para direcionar os gestores
desta atividade. O Programa de Regionalização do Turismo [PRT] (MTUR, 2004),
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considerado a maior política desenvolvida pelo atual governo para este setor,
também apresenta um desmembramento de sua documentação cujo foco está
direcionado para a organização de um sistema de informações turísticas (MTUR,
2006).
Ainda que diversos autores e mesmo os gestores de turismo reafirmem
constantemente o quão importante é o uso de métodos estatístic os, podemos dizer
que existe um significativo descompasso entre a fala e a prática. Um pequeno, mas
muito significativo exemplo desta discrepância é a incapacidade de evoluir na
produção e uso de informações turísticas municipais, ainda que estejamos sob a
orientação de uma política descentralizadora com este foco desde meados da
década passada, quando foi implantado o Programa Nacional de Municipalização do
Turismo [PNMT]. São poucos os municípios do Brasil que geram e/ou usam
estatísticas para direcionar suas ações de planejamento e gestão. Outro exemplo
bastante claro desta ineficiência pode ser visto na sessão de estatísticas estaduais,
no site do Ministério do Turismo (dentro da área de dados e fatos). Do momento em
que esta área se tornou disponível até a escrita deste artigo, eram poucas as
unidades da federação que tinham um link disponível para acessar os seus estudos.
E mesmo quando este fato ocorre, nota-se que as estatísticas publicadas por
diferentes estados não aparentam seguir qualquer tipo de orientação básica mínima
que auxilie na uniformização de aspectos metodológicos. Assim como foi dito
anteriormente, não podemos negar que ocorreu um significativo nível de melhora
com relação à produção de informações acerca do turismo em nosso país, mas
também é inegável que este processo transcorreu em ritmo muitíssimo menor que
outras investidas trabalhadas pelos gestores deste setor. Não queremos dizer que a
produção de informações devesse ser colocada como prioridade, mas sim que esta
poderia ser incentivada de maneira complementar e na mesma medida em que
foram promovidas outras ações em benefício da política de regionalização.
Mudando um pouco a direção do nosso olhar, vamos refletir sobre alguns
elementos básicos da estatística que serão utilizados na construção deste artigo.
Como trabalharemos com uma sequência de dados históricos acerca de um
determinado evento, ou seja, a entrada de turistas estrangeiros no Brasil, a nossa
principal referência de estudo é o campo das séries temporais. De acordo com
Souza e Carmargo (2004, p. 13), uma “série temporal é um conjunto de observações
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de uma dada variável, ordenadas segundo o parâmetro tempo, geralmente em
intervalos eqüidistantes”. Os autores também apresentam um agrupamento de
variações que podem ser usadas para classificar as séries temporais como:
discretas, contínuas, determinísticas, estocásticas, multivariadas (discretas ou
contínuas) e multidimensionais.
Continuando a falar de elementos estatísticos e buscando aproximá-los ainda
mais do turismo, é interessante observar que o estudo das séries temporais se
preocupa com um tipo de variação que é bastante característica dos fluxos turísticos;
a sazonalidade. Morettin e Toloi (2006) consideram como eventos sazonais aqueles
que ocorrem de forma regular ao longo do tempo, mas que apresentam variações
constantes em um mesmo período, e que se mantêm repetidas à medida que
avançamos nas unidades de tempo. Ao falar sobre a sazonalidade no campo de
turismo, Koc e Altinay (2007) nos apresentam duas categorias para diferenciar esta
variação. De acordo com os autores, no turismo podemos encontrar um tipo de
sazonalidade natural, que seria aquela provocada por mudanças regulares em
aspectos naturais como o clima, estações do ano, e outros fenômenos deste gênero,
ou então um padrão de sazonalidade institucional, que é resultado de intervenções
religiosas, culturais, políticas, sociais ou mesmo empresariais.
Antes de iniciarmos um estudo com o uso de séries temporais, vale observar
as sugestões de Makridakis, Wheelwright, e Hyndman (1998), quando estes afirmam
sobre a importância de se desenvolver investigações através de representações
visuais, por meio de apresentações gráficas dos dados, assim como o uso de
estatísticas básicas, que de fato são medidas essenciais para investirmos em um
posterior exercício de modelagem e previsão. Ao apresentarem seu trabalho de
estatística básica, Morettin e Bussab (2003) sugerem algumas diferentes estatísticas
resumo para variados casos de análise de dados. Vale dizer que todo o supor te
estatístico demandado por este artigo se encontra detalhado nas obras de referência
mencionadas acima.
Na sessão a seguir, vamos apresentar uma breve descrição sobre a
metodologia que orientou a construção deste trabalho.
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3 METODOLOGIA
Para desenvolver o estudo que deu origem a este trabalho, nos
fundamentamos basicamente nos dados apresentado pelo Anuário Estatístico de
Turismo (novo nome do antigo Anuário Estatístico da EMBRATUR), publicado pelo
MTUR. Para as informações contidas neste artigo, foram utilizadas as publicações
de 2005 a 2009, capazes de nos fornecer dados de 2003 a 2008 (este último ano é o
período mais recente com informações disponíveis).
Além de um exercício reflexivo amparado por um trabalho de revisão
bibliográfica (elementos apresentados ao longo do item 2 deste artigo), também
desenvolvemos um processo de análise estatística básica frente a alguns elementos
passíveis de serem observados nas séries históricas que apresentadas aqui. A
opção por um estudo estatístico mais simplificado se deve em função da temática do
evento, que de fato se aproxima em maior grau de estudos reflexivos ao invés de
trabalhos com excessivo rigor técnico áreas exatas como a do campo citado acima,
além deste ser um trabalho de apresentação para outros estudos posteriores e mais
rigorosos em seu aspectos técnicos, acerca da temática sobre segmentação de
mercado e aspectos comportamentais da demanda estadunidense frente ao produto
turístico brasileiro.
Ainda que existam dados disponíveis para uma série histórica maior que a
trabalhada aqui, optamos por delimitar o lapso temporal entre 2003 e 2008 como um
período representativo do mandato e das políticas desenvolvidas pelo atual
presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Estudos posteriores podem tentar verificar a
existência de algum tipo de padrão caracterizado por diferentes mandatos políticos,
como o citado aqui.
No que diz respeito ao trabalho de análise estatística que desenvolveremos
aqui, podemos dizer que nos ateremos a apresentações gráficas, que segundo
Makridakis, Wheelwright e Hyndman (1998) são uma excelente forma de observar
de maneira rápida e intuitiva como os dados tendem a se comportar. Além desta
visão inicial, vamos trabalhar também como medidas resumo que nos auxiliarão a
observar a tendência central (através da média aritmética simples) dos conjuntos
numéricos, seus níveis de dispersão (por meio do desvio padrão, comparação de
amplitudes), tendências de aumento ou diminuição dos fluxos (entre outras medidas,
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aqui faremos uso dos valores mínimo e máximo observados para os meses de cada
ano) além de algumas possíveis relações entre diferente variáveis.
Para tabular os dados e produzir os gráficos e tabelas apresentados neste
estudo, foi utilizado o aplicativo Microsoft Excel 2007, e em especial o seu
suplemento de análise de dados.
Na sessão a seguir, vamos apresentar alguns dos resultados obtidos através
do estudo que foi feito mediante a análise de fluxos turísticos estrangeiros que
entraram no Brasil.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para iniciar a análise dos resultados obtidos, vamos começar com a
interpretação do gráfico 1, que nos mostra as séries do total de turistas estrangeiros
que entraram no Brasil entre 2003 e 2008, e uma série específica para os turistas de
origem dos EUA neste mesmo período.
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Igualmente foi destacado por diversos autores como Beni (2001; 2006),
Cooper (2001) e Rabahy (2003), podemos ver claramente no gráfico acima o quanto
os fluxos turísticos estudados apresentam um elevado nível de sazonalidade. Se
analisarmos de maneira comparativa as variações encontradas na série do total de
turistas estrangeiros, com a linha que trata somente dos viajantes estadunidenses,
podemos ver que o primeiro caso citado apresenta uma regularidade bem mais clara
do que o segundo exemplo em estudo. É interessante observar que, apesar do
mercado estadunidense ser o segundo maior público consumidor do turismo
brasileiro, podemos dizer que a similaridade entre os padrões das séries não se
mostra bastante clara no gráfico acima. Um outro aspecto que nos informa a
diferença entre os dois conjuntos de dados é a linha de tendência que acompanha
cada uma das duas séries apresentadas. Enquanto os dados referentes ao conjunto
total de turistas estrangeiros mostra-se em leve tendência de crescimento, nota-se
que o mesmo não ocorre com o fluxo de turistas de origem estadunidense que
entraram em nosso país. Apoiados na tabela 1, exibida mais abaixo, vamos reforçar
esta análise.
1355
Tabela 1 – ESTATÍSTICAS RESUMO SOBRE O NÚMERO DE
TURISTAS QUE ENTRARAM NO BRASIL, POR MÊS,
ORIGINADOS DOS EUS, ENTRE 2003 E 2008
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Mínimo
37.047
46.070
55.869
46.329
48.814
39.781
Máximo
78.466
77.716
76.607
78.230
71.050
67.962
Amplitude
41.419
31.646
20.738
31.901
22.236
28.181
Média
55.722
58.833
66.130
60.136
57.979
52.126
Desvio Padrão
13.218
9.408
7.451
11.552
6.334
9.171
Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do MTUR.
A partir das estatísticas resumo apresentadas acima, vamos observar
algumas características básicas da série histórica dos EUA. Assim como nos
mostrou a linha de tendência observada no gráfico um, podemos notar que também
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existe uma tendência de queda no valor apresentado para as médias e número
máximo de grande parte dos anos pesquisados. Em uma análise anterior à produç ão
desta tabela, verificamos que o mesmo tipo de comportamento ocorre nos valores
encontrados para as medianas, que não foram apresentadas aqui uma vez que se
mostraram como medidas bastante similares aos números expostos pelas médias.
Para observarmos de maneira mais clara esta tendência à diminuição na entrada de
turistas estadunidenses entre 2003 e 2008, vamos observar o gráfico 2 apresentado
mais abaixo.
1356
De acordo com o gráfico citado, onde podemos notar com mais clareza o
comportamento a série temporal dos EUA, nota-se claramente como houve uma
razoável estagnação no crescimento do número de turistas que entraram no Brasil,
seguida posteriormente por um claro movimento de declínio no fluxo de viajantes
nos últimos três anos de análise.
Continuando a falar de alguns padrões observados na série histórica
estadunidense, vamos observar como se comportou a variabilidade do número de
turistas ao longo dos seis anos avaliados aqui. Primeiramente, a partir de uma
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análise visual com base no gráfico 2, podemos notar que de forma bastante clara
ocorreu uma diminuição da variabilidade mensal ao longo destes seis anos
observados, ou seja, a sazonalidade do fluxo de origem estadunidense tem sido
atenuada de forma bastante razoável. Apesar desta constatação, é importante
destacar que não temos condição de explicar neste estudo quais seriam as razões
para este evento. Uma hipótese a ser levada em consideração é a diminuição dos
valores de visitação máxima que eram observados anteriormente, ou seja, os meses
de maior e menor visitação estadunidense apresentam mais proximidade entre seus
valores, como podemos notar claramente através das medidas de amplitude e
desvio padrão exibidas na tabela 1. Todavia, não podemos afirmar que este seja o
único motivo para a suavização da sazonalidade citada. Faz-se necessária uma
investigação mais criteriosa e focada em outras questões (como, por exemplo, uma
análise criteriosa de ações e políticas do Brasil para a diminuição da sazonalidade
observada no fluxo de turistas estrangeiros) que não poderiam ser desenvolvidas
aqui por uma questão de espaço limitado e pelo foco que pretendemos seguir em
relação ao objetivo deste trabalho, que de fato é apresentar uma análise mais
introdutória sobre algumas variações detectadas no fluxo de turistas originados dos
EUA.
Continuando a analisar a variação mensal dos fluxos ao longo dos anos,
vamos observar o gráfico 3, que nos mostra de maneira comparativa e mais clara as
diferenças entre cada um destes doze períodos anuais.
Para facilitar a visualização das linhas que representam os anos, optamos por
agrupar somente o último quadriênio em um mesmo gráfico. Com base na
apresentação visual feita acima, podemos notar que os anos de 2005 e 2008 se
destacam como períodos de maior e menor fluxo, respectivamente, para uma grande
parte dos meses em questão. Com relação a 2005, observar-se que este ano
apresentou por nove meses os maiores fluxos de turistas, em comparação com os
outros três períodos também avaliados neste gráfico. Se levarmos em consideração
que o mês de janeiro de 2005 também apresentou valor similar ao maior fluxo deste
período, que foi o movimento ocorrido em 2006, podemos afirmar que de fato o
primeiro dos quatro anos em questão se posiciona como o de maior volume na
entrada de turistas. O contrário pode ser dito em relação a 2008, que também
apresentou valores extremos em nove meses, só que para números menores.
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1357
Acerca dos anos 2006 e 2007, vemos uma distribuição irregular entre os meses com
valores mais altos ou mais baixos. Em uma comparação entre estes dois anos, notase que 2006 foi um ano de maiores fluxos em sete meses do ano, e 2007 adquiriu
este status por cinco período mensais.
1358
Continuando nossas investigações, também vamos observar de maneira um
tanto introdutória qual seria uma possível relação existente entre a variação mensal
de turistas estadunidenses que entraram no Brasil, e a cotação média mensal que o
dólar americano atingiu frente ao Real neste mesmo período de tempo. Por limitação
de espaço e tempo, não vamos desenvolver neste artigo uma análise que aprofunde
a correlação entre as duas variáveis citadas, levanto em consideração fatores como
período de férias escolares e estações climáticas do ano.
Ao analisarmos visualmente o gráfico 4, podemos notar que não existe u m
nível de correlação bastante significativo entre as duas variáveis, ou seja, não
podemos dizer que apenas as mudanças na cotação do dólar americano frente ao
Real são significativas para influenciar em grande medida o volume de turistas dos
EUA que viajam para o Brasil. Antes de encerrarmos nossa análise acerca desta
última relação, que pode ser melhor verificada em estudos posteriores, é importante
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dizer que de fato existe uma correlação positiva (e igual a 0,14) entre o valor
alcançado pelo dólar frente à moeda brasileira e o número de turistas do EUA que
entraram em nosso país, mas o nível de associação encontrado é bastante
pequeno, o que nos permite inferir que somente a variação cambial não seja um
impedimento ou estímulo tão significativo à entrada de turistas estadunidenses no
Brasil. De fato se faz necessária uma averiguação mais profunda sobre esta questão
apresentada aqui.
1359
Na próxima sessão, vamos tecer as considerações finais acerca da
contribuição que este trabalho desenvolveu a partir do que foi objetivado no
processo de construção do mesmo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das pesquisas que têm sido feitas acerca de alguns segmentos
internacionais ante o mercado turístico brasileiro, podemos dizer que este é o
primeiro esforço de publicação dos resultados alcançado até então. Como foi dito no
objetivo e na metodologia deste trabalho, a proposta do mesmo não era de
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apresentar resultados com excessiva base estatística ou mesmo um estudo que se
prendesse apenas no exercício de revisão da literatura. Ao contrário destes dois
casos, a proposta do presente estudo era de apresentar um trabalho introdutório,
mas nem por isso de menor valor, e que mesclasse a revisão bibliográfica e um
trabalho reflexivo sob o contexto vivenciado (com base no tratamento de dados
reais, acerca de elementos que envolvam a checagem inicial de um segmento
específico dentro do mercado turístico). Pela importância dos fluxos estadunidenses
em direção ao Brasil, optamos por este foco e, além disso, mantemos o nosso
horizonte de análise em um período de significativa atenção política às questões
relacionadas ao setor de turismo.
Dentro deste nosso campo de análise, valeria destacar a interessante
diferença observada na série histórica dos turistas frente ao conjunto de dados q ue
engloba todos turistas estrangeiros que entraram no Brasil entre 2003 e 2008. Além
deste fato, também merece uma atenção mais direcionada a diferença entre as
tendências de crescimento observadas para os grupos de dados mencionados
acima. Averiguar quais seriam as possíveis razões que tem diminuído a vinda de
turistas dos EUA para o Brasil, e trabalhar para que este cenário se reverta para
uma direção mais positiva em favor do Brasil, são questões que de fato devem tomar
a atenção de estudiosos e gestores (públicos e privados) deste setor.
Outros dois assuntos que também demandam maiores esforços investigativos
para auxiliar na orientação de ações e políticas de turismo são, as questões que
perpassam a diminuição da sazonalidade mensal dos fluxos estadunidenses que
entram no Brasil todos os anos, e também a real influência que a valorização do
Real frente o dólar americano gera no volume de turistas dos EUA que ingressam ou
deixam de ingressar em nosso país.
Ainda que os resultados apresentados neste estudo representem uma
contribuição bastante introdutória para o tema que foi abordado neste artigo, é
importante destacar o marco inicial que esta publicação pode representar. De fato
este trabalho não se esgota em si mesmo, quer por suas imperfeições ou mesmo
pela complexidade do assunto que aborda, ou seja, este artigo cumpre apenas a sua
função que é de contribuir com a abertura de mais caminhos para a construção de
novos estudos acerca das temáticas que se propõe a explorar.
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CADEIA PRODUTIVA DA HOSPITALIDADE: ANÁLISE PRELIMINAR DOS
STAKEHOLDERS E SUAS RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO E CONFLITO PARA
OBTER VANTAGEM COMPETITIVA
Érika Sayuri Koga
Mestranda em Hospitalidad; Universidade Anhembi Morumbi
[email protected]
RESUMO
Discussão preliminar sobre a cadeia produtiva da hospitalidade, considerada como
as atividades realizadas pelos viajantes na região dos destinos turísticos. O estudo
baseou-se na teoria de stakeholders, clusters e arranjos produtivos. Além da
pesquisa bibliográfica, identificaram-se os stakeholders e integrantes desta cadeia
para obter uma análise de como se constitui a rede produtiva e as funções
específicas de cada elemento. Acrescenta-se a pesquisa, uma análise estrutural dos
meios de hospedagem da Vila do Abraão - Ilha Grande, as forças competitivas e a
identificação dos stakeholders que influenciam o setor. Identificou-se que o caso
estudado ainda está mal organizado, em vista do processo desordenado da
atividade turística. Como resultados identificaram-se possíveis estratégias de
cooperação e competição como relacionamento para maior competitividade e
sustentabilidade do destino. O estudo merece continuidade, através de entrevistas
aos stakeholders para verificar a viabilidade dessas estratégias.
Palavras Chave: Turismo, Arranjo Produtivo Local, Stakeholders, Cooperação,
Vantagem Competitiva, Ilha Grande.
ABSTRACT
Preliminary discussion of the hospitality supply chain, considered as traveler‟s
activities realized at the region of destination. The study is based on the theory of
stakeholders, clusters and local productive arrangement. In the literature, we
identified the stakeholders and members of this chain for an analysis of how the
network is productive and the specific functions of each element. In addition, a
structural analysis of the lodging facilities to Vila do Abraão - Ilha Grande was
constructed and the competitive forces and the chain of stakeholders that influence
the industry were identified. It is clear that the case study is still poorly organized, in
view of the disorderly process of tourism. The results identified possible strategies of
cooperation and competition as relationships for greater competitiveness and
sustainability of the destination. The study deserves to continue, through interviews
with stakeholders to verify the feasibility of these strategies.
Key words: Tourism, Local Productive Arrangement, Stakeholders, Cooperation,
Competitive Advantage, Ilha Grande.
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INTRODUÇÃO
Este artigo analisa a formação da cadeia produtiva do turismo, sob a
perspectiva da região de destino dos viajantes (LEIPER, 1990), aqui chamada de
cadeia produtiva da hospitalidade. Este processo é recente e formado por aspectos
específicos que devem partir de uma maior integração entre os atores formadores
dessa rede. O estudo parte da identificação dos stakeholders e de suas funções
para, posteriormente analisar as relações de cooperação e conflito. Analisa também
as forças competitivas do setor de meios de hospedagem no destino escolhido para
o estudo: Vila do Abraão na Ilha Grande, pertencente à Angra dos Reis – RJ.
Através de uma análise preliminar do contexto deste destino, discutem-se algumas
estratégias competitivas possíveis.
Foram consultadas publicações relacionadas a sistemas de turismo (BENI,
2007; LOHMANN e PANOSSO NETTO, 2008), cadeias produtivas (COSTA, 2005;
SAMPAIO, 2005), análise estrutural do setor (PORTER, 1986; 1999), arranjos
produtivos locais e sistemas de redes (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006;
PRAHALAD, 2005; TINSLEY e LYNCH, 2008; GIBSON et al, 2005) para formular o
referencial teórico e discutir os preceitos para análise do caso. Realizaram
levantamentos dos dados em entrevista junto ao assistente do gestor do Parque
Estadual da Ilha Grande, em trabalho de consultoria (MPE, 2004) e pesquisas
acadêmicas (MENDONÇA, 2008; PRADO, 2003a, 2003b; SAMPAIO, 2005) para
caracterizar e analisar a evolução do turismo e situação atual na Ilha Grande.
1. SISTEMA DE TURISMO E DA HOSPITALIDADE
É importante oferecer uma estrutura de organizações que leve em
consideração as atividades praticadas pelos turistas ao permitir a identificação de
setores da cadeia produtiva. Nesse sentido, faz-se referência ao modelo de Leiper
(1990, apud COOPER et al, 2007, p.37) para apresentar os três elementos que
compõem o sistema turístico básico: os turistas, que “constituem grupos
heterogêneos, que reúnem diferentes personalidades e perfis demográficos, em
experiências diversificadas” (COOPER et al, 2007, p.45); os elementos geográficos,
que subdividem-se em Região Emissora de Viajantes, Região do Destino Turístico e
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Região de Trânsito; e, por fim, o setor turístico, que são uma gama de empresas e
de organizações envolvidas em apresentar o produto turístico.
Figura 1: SISTEMA DE TURISMO
Localização dos
viajantes, dos turistas e
do setor
Viajantes que estão de partida
Viajantes em retorno
Ambientes: humano, sociocultural, econômico, tecnológico, físico, político, legal, etc.
Fonte: Leiper, 1990 (apud COOPER et al, 2007, p.37)
1364
A escolha pela utilização do sistema de Leiper se deu pela facilidade em
aplicar de forma clara e objetiva para ilustração da cadeia produtiva da
hospitalidade. O foco na Região do Destino Turístico ocorre, pois é onde se dá o
processo de acolhimento dos visitantes pelos anfitriões daquele local, e, portanto,
compõem a oferta de serviços e produtos das empresas e instituições do destino
responsáveis pela hospitalidade, somado às características da população receptora,
que Camargo (2003, p.12) invoca de estilo da hospitalidade. E a hospitalidade
pensada nessa perspectiva vai desvelar os tempos/espaços nos quais se realizam
os modelos culturais neles embutidos, os públicos (os demais residentes e os
turistas), os seus equipamentos, a sua engenharia financeira e os seus recursos
humanos (CAMARGO, 2003).
Considerando o elemento essencial do sistema, que é a relação e a interação
entre os elementos que o compõem, a análise destacada à Região do Destino se
fará com o intuito específico deste artigo em estruturar a cadeia produtiva da
hospitalidade.
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O destino é também a razão de ser do turismo, onde uma série de atrativos
especiais se distingue do cotidiano por sua importância cultural, histórica ou
natural. Essa força de atratividade para visitação dos destinos turísticos
energiza todo o sistema turístico, incentivando a demanda pela viagem na
região emissora. Assim é no destino que acontecem as inovações do
turismo – como o desenvolvimento de novos produtos e a apresentação de
novas experiências. (COOPER et al, 2007, p.37)
Partindo-se do fato de que o destino é o espaço onde ocorre a oferta de
atrativos, serviços de acomodação, entretenimento e alimentação àqueles que se
deslocam temporariamente engajados por variados motivos, se faz primordial
“constatar junto à população residente se concorda com tal colocação e conhece as
mudanças necessárias para que isso ocorra” (WADA, 2003). A pesquisadora sugere
a partir dessa reflexão o levantamento e análise de: tradições, relacionamentos,
expectativas, necessidades, desejos e soluções dos anfitriões.
Levando-se em consideração a Região de Destino do modelo de Leiper e a
intenção de identificar os anfitriões e as organizações instaladas no destino que se
propõem a servir às necessidades específicas dos turistas, será ilustrada a cadeia
produtiva da hospitalidade.
2. CADEIA PRODUTIVA DA HOSPITALIDADE
As atividades turísticas que ocorrem na Região de Destino, caracterizadas
neste artigo como atividades da hospitalidade, são diversas e complexas,
necessitando vislumbrar a partir de uma visão sistêmica para compreensão de suas
particularidades, bem como identificação dos atores e análise de suas relações.
A identificação dos diversos setores que propiciam serviços e produtos para
compor a experiência turística (ou da hospitalidade) já nos dá uma visão da
heterogeneidade de organizações, que prestam desde hospedagem, alimentação,
serviços de guias e agenciamento de passeios a lojas de souvenirs, farmácias e
caixas eletrônicos. Configura-se assim uma cadeia de organizações produtoras,
intermediadoras ou distribuidoras cujas atividades se complementam e propiciam a
satisfação dos viajantes.
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Em vistas destas discussões e baseados em estudos de Sampaio (2005) e
Beni (2007) desenvolveu-se a cadeia produtiva da hospitalidade da Ilha Grande
(Figura 2), identificando os atores envolvidos, segmentados em três estruturas e as
relações existentes entre as organizações para com a experiência turística e com os
turistas.
Figura 2: CADEIA PRODUTIVA DA HOSPITALIDADE NA ILHA GRANDE
Cadeia Produtiva da Hospitalidade na Vila do Abraão - Ilha Grande
ESTRUTURA INSTITUCIONAL DE APOIO
AMHIG
CEADS
Brigada
CODIG
CONSIG AMAIG SEBRAE/RJ
UERJ
Mirim
SENAC Rio
Associação de barqueiros e
embarcações independentes
Operadoras
Nacionais e
Internacionais
Convention
& Visitors
Bureau da
Ilha Grande
Pousadas, Campings,
Albergues e Casas
para locação
Restaurantes,
Bares e afins
Experiência
Turística
Agências de turismo
receptivo
Outras
empresas
comerciais
Barcas SA
ESTRUTURA DO PRODUTO TURÍSTICO
ESTRUTURA DE ACESSO AO MERCADO
Sub-Prefeitura
IEF INEA
da Ilha Grande
Turistas
Fonte: adaptado de SAMPAIO (2005)
Fonte: adaptado de Sampaio (2005)
Dentro da cadeia produtiva da Ilha Grande identificam-se três conjuntos de
organização (SAMPAIO, 2005):

Estrutura do Produto Turístico que são as empresas que, em
conjunto ou individualmente, prestam serviços ao turista e propiciam uma boa
ou má experiência – Pousadas, Campings e Casas para Locação; Associação
dos Barqueiros e embarcações independentes; Restaurantes, Bares e afins;
Barcas SA, Agências de turismo receptivo; e, outras empresas comerciais.

Estrutura de Acesso ao Mercado, representando a Ilha Grande
em questões comerciais e de divulgação do destino, determinando como
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responsabilidade de um conjunto de organizações a tarefa de captar turistas
diretamente ou utilizar operadores nacionais ou internacionais como
intermediários para tanto – Ilha Grande Convention & Visitors Bureau; e,
Operadoras nacionais e internacionais.

Estrutura
Institucional
de
Apoio
–
Estas
organizações
desenvolvem projetos na Ilha Grande e representam a classe patronal,
sociedade civil, poder público ou instituições de educação. Funcionam como
organismos caracterizados dentro da superestrutura do Sistema de Turismo
(SISTUR) (BENI, 2007) – Sub-Prefeitura da Ilha Grande; Instituto Estadual de
Florestas (IEF); Instituto Estadual do Ambiente (INEA); Associação dos Meios
de Hospedagem da Ilha Grande (AMHIG); Centro de Educação Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(CEADS/UERJ); Conselho de Defesa da Ilha Grande (CODIG); Conselho de
Desenvolvimento Sustentável da Baía da Ilha Grande (CONSIG); ONG
Brigada Mirim; Associação de Moradores e Amigos da Ilha Grande (AMAIG);
SEBRAE e SENAC/Rio.
Dessa maneira, em função dessas características levantadas a respeito do
SISTUR e da cadeia produtiva, pode-se vislumbrar a necessidade de cooperação do
setor através de uma rede de turismo (COSTA, 2005).
Uma rede pode ser definida como um conjunto de relações entre indivíduos
atuando em organizações ou empresas privadas para atingir um fim específico
(GIBSON et al, 2005). O envolvimento dos organismos através de rede permite
principalmente que as pequenas empresas envolvidas construam um nível de
confiança necessária para compartilharem com o desenvolvimento do produto
turístico local (TINSLEY e LYNCH, 2008).
Diversos benefícios podem ser ocasionados com o desenvolvimento e
aperfeiçoamento das redes de empresas de turismo em uma localidade. Lynch et al
(2000 apud GIBSON et al, 2005) resumem os benefícios em três grupos principais:
aprendizagem e intercâmbio, atividades empresariais e benefícios para a
comunidade. No entanto, os autores alegam que nem todos os benefícios venham
acontecer. Participação e envolvimento em uma rede de turismo dependem de uma
disposição favorável influenciada por comportamentos e atitudes dos participantes e,
em especial, de seus valores. Portanto, compreender porque os indivíduos se
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envolvem com as redes do turismo está fundamentalmente relacionada em
compreender as atitudes e valores.
Contribuindo para o fato de que as redes possam obter valores e benefícios
tanto para desenvolvimento de oportunidades de negócios, quanto fortalecer ganhos
comunitários, Gibson et al (2005) estudam formação de rede a partir de uma
organização que reúna diversas empresas, de pequeno porte, para fomentar o
desenvolvimento do turismo sustentável em um destino para o benefício da
comunidade, das empresas e dos visitantes. Daí pode-se chamar uma rede deste
tipo de "organização mista”. Esta organização mista está tentando construir uma
ponte sobre diferentes setores e valores da sociedade calcada em “dupla fidelidade”.
A primeira proposta de fidelidade está relacionada às empresas envolvidas, que
esperam desenvolver os seus negócios através desta rede e obter vantagem
comercial. Por outro lado, a rede tem uma fidelidade política ou social para com a
comunidade, uma vez que quer e espera-se contribuir para o desenvolvimento da
comunidade em termos de criação de emprego e assim por diante (GIBSON et al,
2005).
Tremblay (1998 apud COSTA, 2005) sustenta que as redes locais em
destinações turísticas desempenham um papel fundamental ao balancear os
interesses de vários stakeholders e aumentar a vantagem competitiva, interligando
as diferentes capacidades fragmentadas da destinação. Sem estas ligações
cooperativas, o comportamento de competição seria danoso à comunidade local a
aos próprios lucros, haja vista a dificuldade para manter posições competitivas
individuais em cada firma.
3. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
Com o estudo da formação de clusters ou aglomerados, oriundo do campo da
administração, verificou-se interesse por estudiosos do turismo em utilizar essa
ferramenta para enfrentar as adversidades e surpresas do modelo. Cluster significa,
resumidamente, organização de um arranjo produtivo local (LOHMANN e PANOSSO
NETTO, 2008).
De
acordo
com
Porter
(1999)
aglomerado
é
um
agrupamento
geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições
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correlatas
numa
determinada
área,
vinculada
por
elementos
comuns
e
complementares. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua
profundidade e sofisticação, mas incluem empresas de produtos ou serviços finais,
fornecedores de insumos especializados, componentes, equipamentos e serviços,
instituições financeiras e empresas em setores correlatos. E adiciona que são
sistemas de empresas cujo valor como um todo é maior do que a soma das partes.
Um arranjo produtivo local (APL) se forma com as condições de proximidade
geográfica de diversas organizações e atrativos que se relacionam de forma
cooperada, formando uma cadeia produtiva (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006). Para
o turismo, a formação de aglomerados deve partir do funcionamento cooperado
entre as empresas e diversos atores que compõem a cadeia produtiva compondo
um sistema de hospitalidade, conforme demonstrado anteriormente, integrado e com
fortes relações de cooperação para que obtenham vantagens competitivas em
relação a outros aglomerados ou destinos turísticos.
Para Prahalad (2005) a geração de riquezas na base da pirâmide, fazendo
uma analogia com destinações turísticas em desenvolvimento turístico, cujas
comunidades encontram-se em situações de deficiências econômicas e/ou sociais,
podem
vislumbrar
oportunidades
de
crescimento
em função
de
melhor
relacionamento entre os elementos que compõe, o que o autor chama, ecossistema.
Um ecossistema baseado em mercado é uma estrutura que permite ao setor privado
e a vários outros participantes sociais, muitas vezes com tradições e motivações
diferentes, e de tamanhos e áreas de influência diferente, agir juntos e criar riqueza
numa relação simbiótica (PRAHALAD, 2005).
Fazem parte do portfólio os seguintes componentes: empreendimentos nãogovernamentais extralegais, microempresas, pequenas e médias empresas,
cooperativas, grandes empresas multinacionais locais e ONGs. A importância de
cada um dos componentes é diferente dependendo da localidade do aglomerado
analisado.
O funcionamento desse ecossistema requer mais do que propriedade e
influência direta sobre todos os elementos. Entretanto, a empresa do setor privado
ou formuladores de políticas públicas devem oferecer estrutura, orientação
intelectual e os processos segundo os quais o sistema é controlado e operado.
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Nesse sentido, acesso e influência são aspectos mais importantes do que
propriedade dos elementos, da mesma forma que padrões de qualidade, obrigações
mútuas, compromissos com relações contratuais e um conjunto de valores
compartilhados se fazem necessários para a criação de valor dentro do ecossistema.
O setor privado no contexto da base da pirâmide inclui organizações sociais de
diferentes espécies que interagem para criar mercados e desenvolver produtos e
serviços apropriados e fornecer valor. Um sistema de negócios está no coração do
ecossistema para a criação de riquezas. (PRAHALAD, 2005)
É interessante perceber, comparativamente, a relação dos ecossistemas com
as características básicas para a formação de um APL, conforme listam Lohmann e
Panosso Netto (2008): 1. Aglomeração de um conjunto de empresas concentradas
geograficamente que desejem se inter-relacionar para alavancar a atividade turística,
a partir de alianças estratégicas que permitam trocas de produtos, intercâmbio de
tecnologias, assistência especializada, enfim, tudo o que for necessário para
desenvolver com maior competitividade o turismo; 2. Afinidade entre as empresas do
ramo turístico, convidando a participação de ONGs, empresários, associações e
políticos desta área; e, 3. Articulação entre os membros do APL, colaborando uns
com os outros, trocando experiências e, ao mesmo tempo, competindo no mercado
que atuam.
Os APLs privilegiam aspectos intangíveis como o capital social, as práticas
cooperativas e a governança, sendo mais apropriado para a análise de
aglomerações, sobretudo de micro, pequenas e médias empresas em regiões
menos desenvolvidas (COSTA e SOUTO-MAIOR, 2006). Dessa maneira, analisar o
potencial para criação e desenvolvimento dos APLs em destinações turísticas se faz
estratégica, uma vez que a estrutura é composta principalmente por empresas de
pequeno porte, prestadoras de serviços específicos, que compõem um sistema
complexo de atividades diversas e dependem da cooperação entre todas para
favorecer a cadeia de hospitalidade e obter sucesso em oferecer a melhor
experiência turística.
Fazendo uma compilação a respeito dos benefícios advindos do trabalho
cooperado através de redes, desenvolvido por diversos autores, Costa e SoutoMaior (2006) elaboraram uma relação e possíveis aplicações aos sistemas de
turismo locais: reduzir riscos e lidar com incertezas, enfrentar a competição externa,
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aumentar participação no mercado, melhorar o conhecimento e gerar inovações,
reforçar a imagem local, reduzir custos de transação, criar mais valor para o cliente e
produzir efeitos positivos na economia local.
Os destinos turísticos em si são um importante construto para a exploração
das redes de turismo. Elas estão geograficamente limitadas, mesmo que em níveis
nacional, regional ou local, onde interações econômicas e sociais estão presentes e
que desenvolve a idéia de “comunidade”. A idéia de comunidade pode ser definida
como todas as pessoas morando em uma determinada localidade, com laços
afetivos e sociais que impliquem certo grau de obrigação mútua (TINSLEY e
LYNCH, 2008).
4. ANÁLISE ESTRUTURAL DE EMPRESAS
A partir do crescimento da internacionalização da economia intensificou-se a
necessidade da reorganização dos fatores produtivos e os modos de gestão
empresarial com a finalidade de compatibilizar a organização com padrões
internacionais de qualidade e produtividade (OLAVE e AMATO NETO, 2001).
Além dos aspectos de padrões de qualidade e produtividade, o setor de
turismo e hospitalidade retrata a integração de valores comunitários e comerciais e,
precisa identificar ainda os diversos elementos e relacionamentos entre si para que
obtenham um posicionamento e uma estratégia competitiva comum para o
desenvolvimento do destino (BENI, 2007; COSTA, 2006; SAMPAIO, 2005).
Porter (1986) retrata sobre a estratégia competitiva das empresas e articula
que o meio ambiente em que se envolve, ou seja, a estrutura do setor influencia
fortemente nas atividades de todas as empresas. A intensidade da concorrência
depende de cinco forças competitivas básicas – ameaça de entrada, poder de
negociação dos fornecedores, pressão dos produtos substitutos, poder de
negociação dos compradores e intensidade da rivalidade entre os concorrentes
existentes. O conjunto dessas forças sobre uma empresa/organização determina o
potencial de rentabilidade e seu sucesso nesse meio competitivo.
Porter (1986, p.22) argumenta sobre a importância da identificação das
forças, uma vez que tais elementos estão aparentes a toda concorrência:
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O conhecimento destas forças subjacentes da pressão competitiva põe em
destaque os pontos fortes e os pontos fracos críticos da companhia, anima
o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que
mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e põe em
destaque as áreas em que as tendências da indústria são da maior
importância, quer como oportunidades, quer como ameaças.
Em consonância com a cooperação entre os membros da comunidade
associam-se as idéias de Freeman (1984) sobre gerenciamento dos stakeholders 4
que inclui a compreensão de que para gerenciar empresas requer a identificação
das demais empresas com as quais irão relacionar-se ou que possam vir a
relacionar e também identificar a interconexão entre esses grupos de interesse.
Ao verificar um determinado stakeholder cujos interesses sejam conflitantes
com a gestão do empreendimento, adotar medidas contraditórias a este grupo pode
ser uma visão simplista para um gestor e também imediata, porque logo novas
ações deste grupo podem vir a neutralizar suas medidas ou mesmo agravar a
situação anterior. Adotar uma estratégia calcada na visão de stakeholders poderia vir
a obter um ganho mútuo das empresas com interesses conflitantes e ainda resultar
em diferencial competitivo pela primazia da atitude.
A partir deste escopo baseado em stakeholders, o entendimento dos meios
de hospedagem ultrapassa os limites internos das empresas contextualizados no
espaço e no tempo das relações sociais, abrangendo as implicações com o
ambiente externo.
5. ILHA GRANDE: ATIVIDADES ECONÔMICAS E REALIDADE SOCIAL
Apesar de ilha e, portanto, um pedaço de terra cercada por água, o
isolamento da Ilha Grande, localizada na Baía da Ilha Grande, município de Angra
dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, não a impediu de vivenciar diversas
atividades econômicas e uma evolução histórica peculiar. Desde a descoberta pelos
portugueses, em 1502 até o seu estágio atual de desenvolvimento turístico, diversas
“qualquer grupo ou indivíduo que pode influenciar ou ser influenciado pelo alcance dos objetivos de uma
corporação, incluindo tanto quem investe (aposta), financeiramente, na empresa, quanto aquele que influencia de
outras formas (fazendo um bom trabalho, por exemplo), ou que, simplesmente, sofre as conseqüências das ações
organizacionais” (FREEMAN, 1984)
4
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atividades econômicas sustentaram o local: fazenda agrícola; primeiro leprosário do
país - Lazareto; parada de navios negreiros que deixavam os escravos doentes;
prisão para políticos divergentes do Governo; colônia agrícola para presidiários
comuns; atividades agrícolas de subsistência; atividades pesqueiras e fabricação de
sardinha.
Com a demolição do presídio em 1994 e com a decadência das atividades
pesqueiras, como principal fonte econômica, a Ilha Grande passa a ser um lugar de
natureza paradisíaca, em função de seu isolamento geográfico e preservação pelas
Unidades de Conservação5 (PRADO, 2003).
A transformação econômica da “pesca para o turismo” mesmo que recente
aconteceu de forma muito rápida e sem muitas preocupações com a organização e
envolvimento local, além da falta de planejamento para o intenso fluxo de pessoas e
de atividades que passaram a fazer parte do cotidiano local. O turismo como
justificativa de prosperidade econômica transforma-se em prática incentivada pelos
principais órgãos públicos, vislumbrando como boa oportunidade para empresários.
Esse quadro constitui uma intensa mudança das características locais em todos os
âmbitos (ambientais, sociais, políticos, econômicos) gerando diversos impactos e
preocupações para com essas novas atividades.
A Vila do Abraão, considerada “capital da Ilha”, concentra a maior parte dos
habitantes da Ilha e onde está localizado o Cais das Barcas que dá acesso ao
continente e às outras vilas e praias da ilha, proporcionando o incremento de
serviços turísticos como meios de hospedagem, agências receptivas, barcos para
passeio,
restaurantes,
agências
de
mergulho,
etc.
A
abertura
destes
empreendimentos ocorreu em função do crescimento de turistas. O aumento
desordenado das empresas provocou uma procura maior por clientes, redução dos
preços e também falta de padrão de qualidade dos serviços e atendimento. Muitos
negócios, apesar de movimentados durante a alta temporada, acabaram fechados
nos meses de baixo fluxo de visitantes.
É notável a falta de planejamento e gestão profissional na maioria das
empresas, verificando a falta de preocupação em qualificação, pesquisar o mercado
Dentro do território da Ilha Grande existem quatro Unidades de Conservação: Parque Estadual da Ilha Grande –
PEIG (1971), Reserva Biológica da Praia do Sul (1981), Área de Proteção Ambiental de Tamoios – APA de
Tamoios (1982) e Parque Estadual Marinho do Aventureiro (1990).
5
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1373
e avaliar a viabilidade dos negócios. Além da inexistência de trabalho de cooperação
dos empreendimentos que poderiam se desenvolver conjuntamente para benefício
mútuo, e que acabam focando apenas em interesses individuais e de curto prazo.
Além dos impactos relacionados à infra-estrutura do local, tão preocupante
são os impactos ocasionados sobre a população de moradores que ali vivem desde
a época do presídio e das atividades ligadas à pesca.
O ambiente formado pela natureza, a necessidade de sua preservação e o
potencial de seus recursos; a população com suas características e valores; as
atividades econômicas, baseadas principalmente no turismo formam atualmente um
contexto desequilibrado na Vila do Abraão. A evolução desses contrastes, mantidos
dessa maneira, possivelmente levará a uma situação insustentá vel. Caso isso
ocorra, não é somente o turismo que perderá sua atratividade, mas também a
população de moradores que deixará de ter seu espaço de convivência e integração,
os empresários estarão fadados à falência ou transferência para outros locais, o
ambiente natural correrá o risco de chegar a níveis de degradação não recuperáveis,
o espaço físico, sejam os prédios e as infra-estruturas construídas, ficarão como
legado sem utilidade alguma.
6. AS FORÇAS COMPETITIVAS DO SETOR DE MEIOS DE HOSPEDAGEM DA
ILHA GRANDE
A partir do exposto sobre o contexto do turismo na Ilha Grande e as forças
competitivas explicadas por Porter (1986), este trabalho desenvolveu uma análise
estrutural preliminar das empresas de meio de hospedagem localizadas na Vila do
Abraão (Figura 3). A partir desta discussão, destacaram-se os pontos fortes e fracos
do setor (Quadro 1), que permitirão o desenvolvimento de estratégias competitivas
(Quadro 2) para melhor posicionamento, vislumbrando os cenários de oportunidades
e ameaças.
Conforme levantamento executado pelo “Programa Melhores Práticas de
Ecoturismo” (MPE, 2004) existiam 67 pousadas (1.895 leitos), 16 campings (2.986
pessoas) e algumas casas para locação (786 leitos) na Vila do Abraão, estimando
uma capacidade total de 5.667 leitos.
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Figura 3: FORÇAS QUE DIRIGEM A CONCORRÊNCIA DOS MEIOS DE
HOSPEDAGEM NA ILHA GRANDE
RESORTS,
OUTROS MHs
Contato com turistas fora da Ilha
Preços com altos custos operacionais
Mão de obra desqualificada
SUPERMERCADOS,
AGÊNCIAS E
OPERADORAS
Barreiras a novas construções e retaliação
Limites das UCs
Concorrentes
Sazonalidade
Segmentação
HÓSPEDES
Pousadas,
Campings e Casas
para locação Muitos MHs e diversidade
Interesse do CVB
$ restaurantes e lojas
Ausência de diferenciação
CRUZEIROS,
EXCURSIONISTAS
Fonte: adaptado de Porter (1986)
1375
Conforme Porter (1986), a rivalidade entre os concorrentes é a disputa
corriqueira por posição no mercado, sejam através de preços, publicidade, aumentos
dos serviços ou das garantias ao cliente. Pode ser conseqüência de inúmeros
fatores que se interagem, tais como: concorrentes numerosos ou bem equilibrados,
crescimento lento do setor, custos fixos altos, ausência de diferenciação,
concorrentes divergentes, barreiras de saídas elevadas etc.
No caso da Vila do Abraão identificou-se a existência de muitos concorrentes
que disputam uma demanda de 359 mil visitantes, divididos entre 115 mil turistas
(com pernoite) e 244 mil diaristas ao ano (MPE, 2004). A previsão do crescimento de
visitantes foi estimada analogamente ao crescimento do turismo doméstico e
internacional do Brasil, a 12% ao ano. Ao estarem situados em uma ilha, os
empreendimentos apresentam custos altos de operação, além das altas taxas de
impostos. E, levantou-se inclusive (MPE, 2004), que um dos problemas
apresentados pelos empresários era a informalidade de alguns empreendimentos
que acabavam tendo vantagens de menores custos e conseqüentemente menores
preços cobrados aos hóspedes. Verifica-se a diversidade de meios de hospedagem
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entre pousadas, campings, casas para locação de temporada, além de albergues
disputando a demanda de visitantes principalmente através de valores das diárias.
Identificar as barreiras de entrada existentes propiciará o reconhecimento das
reações que um novo entrante pode esperar dos concorrentes já existentes. Dessa
maneira, se as barreiras são altas, pode-se esperar retaliação acirrada dos
concorrentes na defensiva. Aspectos como economia de escala, diferenciação do
produto, necessidades de capital, altos custos de mudança e dificuldade de acesso
aos canais de distribuição são barreiras de entradas que serão analisadas pelos
novos entrantes antes de participar de um novo mercado (PORTER, 1986).
No caso do setor de hospedagem da Vila do Abraão verifica-se que as
barreiras de entrada a novos empreendimentos resumem-se à retaliação dos
concorrentes já existentes e, principalmente aos limites de construção na Vila e
também em áreas no entorno, considerada áreas de Unidades de Conservação
(Parque Estadual da Ilha Grande e Área de Proteção Ambiental de Tamoios), cujas
restrições para construção são muito rigorosas.
A identificação de produtos substitutos é verificada através de pesquisas na
busca de outros produtos que possam desempenhar a mesma função que aquele da
indústria. Os produtos substitutos que exigem maior atenção são aqueles que estão
sujeitos a tendências de melhoramento do seu preço-desempenho ou são
produzidos por setores com lucros altos (PORTER, 1986, p.40).
Associando ao setor de hospedagem da Vila do Abraão, identificaram-se os
cruzeiros e os excursionistas (visitantes que não pernoitem) como possíveis
produtos substitutos, pois ameaçam diretamente as empresas de acomodação, uma
vez que seus usuários usufruem os atrativos e alguns equipamentos da Vila,
entretanto não necessitam de meio de hospedagem para fruição dessa experiência.
Os excursionistas em uma percepção geral dos moradores e empresários locais não
são muito receptivos, uma vez que trazem seus itens de consumo do continente e
muitas vezes deixam o lixo nas praias. Já os cruzeiristas são vistos como boa fonte
de renda aos restaurantes, lojas de souvenirs, agências e barcos para passeio.
Os compradores competem com as empresas de um determinado setor
forçando os preços para baixo, barganhando por qualidade ou mais serviços e
jogando os concorrentes uns contra os outros. Tudo à custa da rentabilidade das
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empresas. Portanto, analisar a importância dos grupos compradores, seus volumes
de compra e exigências de qualidade influenciarão a força e as estratégias
competitivas para o mercado (PORTER, 1986).
Em relação aos visitantes da Vila do Abraão, atenta-se o principal aspecto de
sua sazonalidade. A taxa de ocupação média anual das pousadas é de 25%,
enquanto campings e casas de locação estimam-se em 7% (MPE, 2004). Entretanto,
em épocas de alta temporada, a Vila do Abraão extrapola seu limite de carga, em
relação à infra-estrutura básica (água e esgoto) e verificam-se médias de ocupação
em torno de 80% (MPE, 2004). Nesse sentido, o poder de negociação dos turistas é
grande em épocas de baixa temporada (maio a setembro), uma vez que os meios de
hospedagem mantêm suas estruturas e custos durante o ano todo. Mas, percebe-se
uma evolução da segmentação dos turistas que visitam a ilha atualmente, buscando
alternativas de hospedagem com melhor qualidade em estrutura, atendimento,
serviços agregados e diferenciais.
E, por fim, a força de negociação dos fornecedores influencia diretamente nos
custos elevados e redução da qualidade dos bens e serviços fornecidos, sugando,
conseqüentemente, a rentabilidade da empresas, se forem incapazes de repassar
os altos custos para seus próprios preços (PORTER, 1986).
Como fornecedores dos meios de hospedagem existem, de um lado, as
agências e operadoras de turismo, que representam um forte aliado como canal de
distribuição dos serviços de hospedagem para potenciais visitantes brasileiros e
estrangeiros. De outro lado, supermercados, padarias e lojas em geral localizadas
na própria Vila, as quais são recorridas para compras de abastecimento dos
empreendimentos, apontam-se altos preços praticados, além de falta de qualificação
dos funcionários e visão dos fornecedores em desenvolver parcerias e ganhos
mútuos.
7. ANÁLISE E RESULTADOS
Resumidamente, listaram-se os pontos fortes e fracos identificados a partir da
análise estrutural dos meios de hospedagem da Vila do Abraão, conforme as forças
competitivas existentes neste mercado.
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Quadro 1: ANÁLISE PONTOS FORTES E FRACOS E SITUAÇÃO COMPETITIVA
DOS MEIOS DE HOSPEDAGEM
Pontos Fortes
Pontos Fracos

Rivalidade
entre
Muitos
e
diversos
meios de hospedagem
os
-
concorrentes

Ausência
de
diferenciação

Novos
Entrantes
–
Barreiras a novas
construções
Resorts e novos meios
de hospedagem

Forte retaliação

Limite das UCs
Produtos Substitutos –
Cruzeiros
-
e
-

Interesse do CVB

Renda
para
restaurantes,
Excursionistas
agências,
barcos, restaurantes, etc.
Compradores
Fornecedores
–

Segmentação

Contato
com
Supermercados,
turistas fora da Ilha
Agências de Turismo
Grande

Sazonalidade

Preços
com
1378
altos
custos operacionais

Mão
de
obra
desqualificada
Fonte: A autora (2010)
Em decorrência das atividades turísticas já avançadas no destino,
identificaram-se pontos fracos em maior quantidade do que os pontos fortes. A partir
desse levantamento, se faz primordial analisar os pontos críticos dessa situação e
desenvolver estratégias para minimizar os impactos, bem como otimizar as
oportunidades e potencial do segmento.
Dessa maneira, utilizando-se dos resultados desta pesquisa, listaram-se
algumas estratégias para posicionamento competitivo do destino (Quadro 2), através
de relações cooperativas e gestão de conflitos e os atores que devem ser envolvidos
para criar resultados positivos e integrados. A cadeia produtiva da Ilha Grande é
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complexa e a necessidade de operarem conjuntamente vislumbra-se a necessidade
da cooperação entre as empresas e os atores sociais.
Quadro 2: ESTRATÉGIA E ATORES ENVOLVIDOS
Estratégias
Atores Sociais envolvidos
Parcerias com operadoras e agências
Ilha Grande (AMHIG), Meios de Hospedagem
de turismo
(MHs), Operadoras e Agências
Formação de pacotes de viagem
AMHIG, MHs, Operadoras e Agências
AMHIG, MHs e Convention & Visitors Bureau
Sistema unificado de reservas
(CVB)
Sistemas de pesquisas corporativas
Conjunto
Associação dos Meios de Hospedagem da
de
política
de
preços
AMHIG, MHs e CVB
e
divulgação
AMHIG e MHs
AMHIG, MHs, Associação de Moradores e
Acordos sobre mão de obra e empregos
Amigos da Ilha Grande (AMAIG) e CVB
Treinamentos em comum
AMHIG, MHs e AMAIG
Canais de troca de informação
AMHIG e MHs
Clube de Compras
AMHIG, MHs e fornecedores
AMHIG, MHs, CVB, Prefeitura Municipal de
Parcerias Público-Privada
Angra
dos
Reis,
Instituto
Estadual
do
Ambiente
Fonte: A autora (2010)
A relação de estratégias baseada em estudos anteriores e pesquisas já
consolidadas trazem à luz uma nova proposta de cooperação entre entidades que
participam ou são afetadas pelas atividades dos meios de hospedagem no destino
Vila do Abraão – Ilha Grande. As propostas representam oportunidades de maior
integração entre os stakeholders e devem ser discutidas juntos aos atores sociais
envolvidos sobre o interesse, a viabilidade e também importância de cada estratégia.
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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema de hospitalidade é composto por setores complementares
(hospedagem, alimentação, transportes, agenciamento, etc.) que trabalham em
conjunto para formar um produto da hospitalidade. Sua estrutura depende ainda de
intermediários e fornecedores que irão impactar na qualidade e no preço final.
A Vila do Abraão, localizado na Ilha Grande tem limites de capacidade
(acomodação, infra-estrutura básica, UCs) que devem ser zelados por todos os
elementos da cadeia produtiva para a sustentabilidade e competitividade do destino.
Além desses problemas estruturais, detectou-se que a ilegalidade e problemas
ambientais e sociais despertam o desinteresse dos moradores e de turistas
qualificados.
Os estudos dos arranjos produtivos e da cadeia produtiva da hospitalidade
corroboraram para a análise do caso real de desenvolvimento turístico. A Ilha
Grande é uma destinação frágil (tanto em aspectos ambientais como sociais) e
encaminhada para um crescimento da atividade de forma desordenada, caso novas
propostas e organização das sociedades, tanto públicas, como privadas e também
civis não se coordenem de forma cooperada para obtenção de sustentabilidade e
conseqüente competitividade no mercado.
O estudo atual vislumbra a continuidade de pesquisas com os seguintes
passos: atualizar os dados dos Meios de Hospedagem, do Convention & Visitors
Bureau da Ilha Grande e da Associação de Meios de Hospedagem da Ilha Grande
(AMHIG); diagnosticar a existência de estratégias atuais; entrevistar stakeholders; e,
analisar os interesses e viabilidade de aplicação das estratégias propostas.
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CAMPO GRANDE, MS: IDENTIDADE CULTURAL E IMAGEM TURÍSTICA
Daniela Sottili Garcia
Bacharel em Turismo (UCDB, 2000), Especialista em Gestão de Turismo, Hotelaria e
Eventos (Uniderp, 2002), Mestre em Geografia (UFMS, 2005), Doutoranda em
Geografia (UFPR). Professora Efetiva do Curso de Turismo da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, Bolsista Fundect.
[email protected]
Miguel Bahl
Doutor em Ciências da Comunicação (Turismo) pela Universidade de São
Paulo (USP). Professor do Curso de Graduação em Turismo e do Programa de PósGraduação em Geografia (UFPR).
[email protected]
RESUMO
Campo Grande, capital do estado do Mato Grosso do Sul (MS), foi utilizada como
tema principal para a pesquisa aqui proposta, e esta, tem como principal objetivo
interpretar como a paisagem de Campo Grande se desfaz de sua identidade cultural
em prol da criação de imagens turísticas veiculadas nos projetos de
desenvolvimento do Estado. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva e
exploratória e de base essencialmente bibliográfica. Como resultado verificou-se que
no caso de Campo Grande, freqüentemente, moradores e turistas são surpreendidos
quando indagados sobre qual seria a real identidade cultural da cidade atualmente
afetada pela divulgação de aspectos não característicos da sua condição social e
respectiva posição geográfica. Nesse sentido também se verificou que se fazem
necessários estudos posteriores que permitam refletir sobre aspectos sociais e
culturais da população campograndense e, conseqüentemente, sobre a sua
identidade, contudo, é importante ressaltar que os agentes sociais que fazem e
refazem a cidade não podem perder de foco as suas raízes culturais.
Palavras-chave: Campo Grande, MS (Brasil); Identidade Cultural; Imagem turística;
Turismo e cultura.
ABSTRACT
Campo Grande, capital of Mato Grosso do Sul (MS), will be the main topic of the
research here proposed, and it has as main objective to interpret how the landscape
of Campo Grande – MS come apart of your cultural identity in favor of the creation of
touristy images associated with development projects of the State. This research
proposed is bibliographic, narrative, and pioneer. As a result it was found that in the
case of Campo Grande, often locals and tourists are surprised when asked about
what would be the real cultural identity of the City currently affected by disclosure
aspects uncharacteristic of her social condition and its geographical position. In this
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sense was also identified is necessary studies that allowe to reflect about cultural
and politic aspects of the campograndense population and, consequently, about your
identity, however, it is important to remember that the social agents that make and
remake the city can not loose your roots.
Key-words: Campo Grande,MS (Brasil); Cultural Identity; Touristy Image; Tourism
and culture.
1 INTRODUÇÃO
No mundo vigente, o espaço urbano está carregado de novos significados,
gerados pelo processo de globalização da sociedade e da economia, assumindo
grande importância, já que a natureza se transforma, em seu todo, numa forma
produtiva e que contribui para as especializações dadas ao espaço, onde cada lugar
recebe um novo papel, ganhando um novo valor (SANTOS, 1997).
A cidade enquanto espaço urbano primordial pode ser compreendida como:
A mediação entre as mediações. Contendo a ordem próxima, ela a mantém;
sustenta relações de produção e de propriedade; é o local de sua produção.
Contida na ordem distante, ela se sustenta; encana-a; projeta-a sobre um
terreno (o lugar) e sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade
inscreve esta ordem, prescreve-a, escreve-a, texto num contexto mais
amplo e inapreensível como tal e não ser para a meditação (LEFEBVRE,
2001, p. 46).
Nesta lógica, entende-se a grande cidade capitalista como o lugar onde o
homem realiza a forma mais concreta de alterações no espaço geográfico. Não é
sem pretensão que as grandes cidades tornaram-se, nas últimas décadas, objetos
de estudo de acentuado interesse, tanto empíricos quanto conceituais. As cidades
transformaram-se em importantes elementos da reprodução do capital, pois é nelas
que ocorrem com mais intensidade as trocas de bens, serviços e informações, o que
faz com que a paisagem natural se modifique a cada dia, conforme os diferentes
interesses dos agentes sociais.
A complexidade das ações dos agentes sociais inclui mudanças na produção
espacial das cidades, proporcionando deteriorização de algumas áreas; renovação
urbana; relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coerciva ou não, do
conteúdo social e econômico de determinadas áreas das cidades. Porém, mesmo
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com alterações constantes na paisagem, o espaço urbano se mantém fragmentado
e articulado.
A comunidade de Campo Grande, objeto de estudo deste trabalho, tem, ao
longo do tempo, construído sua história por meio de seus agentes sociais; sendo
que, teoricamente é sua história que reflete e constrói sua cultura. Mas na prática, o
que se percebe também é a preocupação em transformar o seu espaço em
potencialização para a atividade turística, sem a preocupação adequada com sua
cultura mais caracterizadora, que inclui representações e identidade.
Entende-se que, neste processo, o ideal para o desenvolvimento da atividade
turística de Campo Grande enquanto destino turístico fosse o de evidenciar à sua
real “marca urbana”, fazendo com que, sempre que esta fosse lembrada, logo se
destacasse sua principal singularidade, qual seja, sua identidade. Isso porque há de
se ter todo um cuidado para não tornar o espaço passível de caracterizar -se como
um “não lugar”, sendo que a partir desse conceito pode-se subtender a idéia de um
lugar destituído de significado, que não expressa a cultura de um lugar ou de um
povo (CARLOS, 1996).
1384
O estudo ora proposto trata especialmente sobre a cidade de Campo Grande,
capital do estado do Mato Grosso do Sul, localizada geograficamente na sua porção
central e contando um contingente populacional de 765.247 6 habitantes.
É a cidade mais populosa do estado, o que contribui para que ofereça uma
melhor infra-estrutura urbana e turística. Pela sua posição geográfica no estado em
que está localizada a maior parte do Pantanal, tornou-se passagem obrigatória para
os turistas que se destinam àquela região. Aproveitando-se disso, o trade turístico se
somando aos interesses das iniciativas públicas governamentais: municipal e
estadual, criaram para a cidade uma imagem relacionada com motivos de forte apelo
pantaneiro. Essa realidade, por muitas vezes, tem distorcido ou ainda ignorado a
sua verdadeira identidade (SOTTILI, 2005), já que o Pantanal localiza-se a 400
quilômetros de distância da sua sede.
6
Informações obtidas pelo site do IBGE no dia 07 de março de 2007, às 13h, de acordo com o censo
preliminar de 01 de julho de 2006.
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Por meio da análise de pesquisas anteriormente realizadas por SOTTILI
(2005) em que a autora investigou o imaginário do Pantanal no espaço urbano de
Campo Grande, é possível afirmar que a identidade cultural de Campo Grande está
mais relacionada à pecuária, do que puramente ao Pantanal. Campo Grande, assim
como outras cidades, passou e ainda passa por ações de agentes sociais que
incluem mudanças na sua produção sócio-espacial, fato que tem ocasionado
diversidade de interpretações a respeito dos elementos que de fato caracterizam sua
cultura pelos citadinos.
2 CAMPO GRANDE: TURISMO E IDENTIDADE CULTURAL?
Para um melhor entendimento das transformações das cidades ao longo do
tempo, a discussão e o entendimento da noção de espaço urbano se fazem
necessários neste trabalho, na expectativa de não considerá-lo apenas como palco
ou como um mero pano de fundo para os acontecimentos urbanos, mas, sobretudo
como sendo o grande propulsor e fomentador para os acontecimentos de ordem
política, econômica e cultural no desenvolvimento das cidades.
Entende-se o espaço urbano como reflexo e condicionante da sociedade
urbana, de maneira que a interação do homem com o espaço urbano, ao longo do
tempo, forme também um espaço cultural.
O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo,
condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas – é um produto
social, resultado de ações acumuladas ao longo do tempo, e engendradas
por agentes que produzem e consomem o espaço (CORRÊA, 1989, p. 11).
A fragmentação do espaço urbano se dá pelos seus diferentes usos, entre
eles: comércio, lazer e indústria. Já a articulação manifesta-se mais ou menos de
forma visível, de acordo com as ações do homem (CORRÊA; ROSENDHAL, 1989).
Em complemento a isso e baseando-se em Castrogiovanni (2000) pode-se
afirmar que os citadinos fazem parte da visão que se tem de uma cidade, já que são
eles que contribuem com a produção do espaço urbano, fazendo-o singular. As suas
ações criam “marcas urbanas”, que são os sinais e signos incorporados à paisagem.
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A cidade é um mundo de representações. Por meio das pessoas que nela
vivem, possui vida e constitui uma identidade que lhe é peculiar. Nesse contexto,
Campo Grande deve pleitear sua condição de cidade turística a partir de elementos
e ações oriundos da sua própria história – “marca urbana”.
Essas ações proporcionam uma forma, um lugar, e a idéia de lugar:
„consiste da extensão do acontecer homogêneo ou do acontecer solidário, a
partir de duas construções: a configuração territorial e a norma, mesmo que
efêmera‟ (SANTOS, 1994, p. 36, grifo do autor).
Nesse sentido a cidade de Campo Grande precisa trazer em evidência suas
características que a tornam um lugar. Por sua vez, o lugar deve ser entendido como
toda uma sociedade, constituindo-se de fatos e situações que definem o seu
cotidiano. Quanto mais inserido na mundialidade, mais apartado da história ele se
torna, afirmação esta que aponta o risco de os lugares buscarem o simulacro e o
quão é importante valorizar as especificidades locais.
Ainda nesse sentido, considera-se pertinente realizar uma discussão mais
ampla sobre o significado da expressão “o lugar” de acordo com alguns autores,
iniciando por Milton Santos:
O lugar é a oportunidade do evento. E este, ao se tornar espaço, ainda que
não perca suas marcas de origem, ganha características locais. É como se
a flecha do tempo se entortasse no contacto com o lugar. O evento é, ao
mesmo tempo, deformante e deformado. Por isso, fala-se na
imprevisibilidade do evento, a que Ricoeur chama de autonomia, a
possibilidade, no lugar, de construir uma história das ações que seja
diferente dos projetos dos atores homogênicos. É esse o grande papel do
lugar na produção da História e apontá-lo é a grande tarefa dos geógrafos
neste fim de século (GOMES, 2003 p. 486, grifo do autor)7.
A citação acima evidencia a importância dos gestores das cidades
desenvolverem para cada uma delas o seu próprio lugar – apontando suas
particularidades e destacando suas principais características. É o particular de cada
cidade que despertará nos turistas o interesse em visitá-las, entende-se que o
simulacro ou a simples reprodução não desperta muita curiosidade nos turistas e
nem fortalece a identidade das cidades.
7
Santos, M. Técnica, espaço, tempo, globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo:
Hucitec, 1994.
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Para Damiani (2005, p. 169): “A vida cotidiana, o lugar do simples e do
sórdido, é, simultaneamente, o lugar e no tempo em que o humano se realiza”.
Existem duas formas de um lugar se definir; de dentro ou de fora, na primeira
ele utiliza sua própria identidade, já na segunda ele deixa de possuir um caráter
próprio (GOMES, 2003). Para as cidades que buscam se desenvolver no setor
turístico, o ideal é que elas se divulguem de dentro para fora, ou seja, que levem em
conta, sobretudo suas particularidades.
As particularidades dos lugares contribuem para seus desenvolvimentos
turísticos e para trazer à tona as identidades locais, fortalecendo os fluxos turísticos
e ainda, destacando a história de suas sociedades.
Os lugares são ligados pela informação e acabam tendo um papel
fundamental no espaço, como se eles fossem desamarrar o “nó” existente na
sociedade, por conta das desigualdades por elas vivenciadas.
Mas, o primordial sobre um lugar é entender o todo e o particular como uma
totalidade dialética e passível de transformação. No caso dos espaços urbanos, é
importante que uma cidade possua identidade própria e que, sobretudo tenha
conseguido construir um lugar dentro de seu espaço, algo que se destaque e possa
ser reconhecido, esse lugar deve possuir um significado para a construção cultural
da cidade.
O significado e a importância dos lugares variam por diversos fatores como
história, as condições existentes no momento da internalização e o jogo de relações
que se estabelecem entre o que chega e o que já existe. É esse conjunto de coisas
que contribui para que os resultados sejam diferentes, particulares, segundo os
lugares. “Os elementos que se agrupam dando a configuração espacial de um lugar
têm que passar por um estudo aprofundado, desde o homem até as instituições que
vão dirigir, juntamente com as firmas, as formas de materialização da sociedade”
(SANTOS, 1997).
Os lugares são também perceptíveis nas paisagens que, sendo uma
unidade conceitual da geografia, podem ser definidas como uma área
composta por associação distinta de formas ao mesmo tempo físicas e
culturais. „Paisagem é tudo aquilo que vemos, o que nossa visão alcança, é
a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a
vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores,
movimentos, odores, sons, etc.‟ (SANTOS, 1997, p. 61, grifo do autor).
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Sauer (1925) apud Corrêa e Rosendhal (2004, p. 7) 8, explica “a paisagem
geográfica como o resultado da ação cultural, ao longo do tempo, sobre a paisagem
natural” e por isso ela apresenta uma dimensão histórica e é portadora de
significados que expressam valores, crenças, mitos e utopias, caracterizando assim
uma dimensão simbólica entendida, desta forma, como paisagem cultural.
O mesmo autor ainda afirma que a paisagem cultural seria, então, a
transformação da paisagem natural, onde a cultura seria o agente, a área natural o
meio e a paisagem cultural o resultado. Carlos (2007) 9 confirma isso quando discorre
que a paisagem está sempre em transformação. A paisagem é plurimodal ativa,
passiva, potencial etc. Em complemento a isso, mencione-se a opinião de Cosgrove
(2004), que identifica dois tipos de paisagens geográficas; a paisagem da cultura
dominante, onde o grupo dominante exerce seu poder, e as paisagens alternativas,
que são as residuais, emergentes e excluídas.
Para o entendimento de como Campo Grande se apresenta enquanto cidade
turística é importante analisar quais desses tipos de paisagens são aplicados a ela.
Subentende-se que “a paisagem tem uma identidade que é baseada na
constituição reconhecível, limites e relações genéricas com outras paisagens, que
constituem um sistema geral” (SAUER, 2004, p. 23). Dessa maneira, se pode
trabalhar com o fato de que a paisagem não é simplesmente uma cena real, mas sim
uma cena observada por partes individuais que constituem um todo. Além desse
fato, toda paisagem possui uma relação com outras paisagens, nenhuma é réplica
de outra, pois são levadas em consideração as percepções pessoais que as fazem
diferir das demais pelo entendimento individual de cada observador.
A paisagem possui um conteúdo, mas este é menor do que a totalidade, ele é
constituído por partes. Sendo assim, a identidade da paisagem é determinada pela
visibilidade da forma, porque o conteúdo aqui mencionado é determinado por
interesses e julgamentos pessoais (CORRÊA; ROSENDHAL, 2004).
Os mesmos autores acima afirmam que a paisagem é dividida em duas
metades. A primeira recebe a designação de sítio e a segunda metade, que vem ao
8
SAUER, C. The morphology of landscape. University of California, Publications in Geography, v.2, n
2,1925.
9
Ana Fani Carlos em Entrevista apresentada ao programa da Rede Globo – Fantástico no dia 25 de
março de 2007.
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encontro aos interesses aqui propostos, é vista como uma unidade bilateral e que
apresenta sua expressão cultural. Vale ressaltar que se busca abordar aqui o tema
cultura como uma expressão geográfica, de maneira que não há lugar para o
dualismo da paisagem.
Então, não se pode pensar em paisagem se não associada ao tempo, com
suas relações vinculadas ao espaço, o que contribui para que as ações do homem
constituam a paisagem cultural, uma vez que ele vai expressando seu lugar na
natureza como um agente distinto de modificação. A paisagem cultural é, pois, ent ão
sujeita a mudanças pelo desenvolvimento da cultura ou pela sua substituição
(CORRÊA; ROSENDHAL, 2004).
Seguindo essa linha de raciocínio pode-se apresentar em complemento:
A paisagem cultural é a área geográfica em seu último significado. Suas
formas são todas as obras do homem que caracterizam a paisagem. Com
base nesta definição, em geografia não nos preocupamos com a energia,
costumes ou crenças do homem, mas com as marcas do homem na
paisagem (SAUER, 2004, p. 57).
1389
Isso de maneira alguma significa que a paisagem natural não tenha sua
importância, pois é ela que fornece materiais com os quais a paisagem cultural é
formada. Ainda, de acordo com Corrêa e Rosendahl (2004): “ao contrário da maioria
das ciências sociais, a geografia cultural sempre levará cuidadosamente em conta o
material físico do qual cada cultura imprime a marca que lhe é própria – marca que
ela considera como uma geo-grafia [...]”.
Diante disso, entende-se que a paisagem natural tem um papel fundamental
no processo de construção da paisagem cultural para a formação da identidade,
sendo a própria cultura a modeladora dessa paisagem.
É válido, porém, ressaltar que quando acima se citou que não são as crenças,
os costumes e a energia levados em conta não se teve a intenção de desmerecêlos, uma vez que são eles que compõem ou contribuem na construção da identidade
de uma cidade.
Isso colabora para uma reflexão sobre Campo Grande, uma vez que ela
possui uma cultura evidenciada capaz de modelar uma identidade local,
transformando-a em destino turístico.
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Por meio de sua história, é possível identificar na cidade a existência de uma
cultura relacionada à pecuária desde seus primórdios e mais atualmente surgindo
também o setor econômico relacionado a eventos.
A paisagem é uma marca, pois, expressa uma civilização, mas também é
uma matriz porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e
de ação – ou seja, de cultura – que canalizam, em um certo sentido, a
relação da sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a
paisagem do seu ecúmeno. E assim, sucessivamente, por infinitos laços de
co-determinação (BERQUE, 2004, p. 85, grifos do autor).
São consideráveis as interrogações feitas por Berque (2004), quando
questiona de que forma a paisagem imposta é sentida e, eventualmente,
interpretada?
Como se pode projetar nela um imaginário? A geografia não se limita à
observação e à descrição do visível, de maneira que o imaginário entra em cena
sempre que a atividade turística é idealizada para uma futura realização.
A sociedade organiza, transforma e, em certos casos, escolhe seu meio
ambiente graças a técnicas de enquadramento que são, segundo P.
Gourou, a expressão de uma „civilização‟. Por outro lado, a „cultura‟ contribui
para a interpretação do espaço, permite a articulação entre o imaginário e
as „coisas do real‟ (BERQUE, 2004, p. 89, grifos do autor).
Assim, o significado de uma propriedade ou de uma função em uma
paisagem geográfica varia. Alguns fatores contribuem para isso; por exemplo,
quanto maior for a dimensão de um objeto, maior será seu entendimento. Para
compreensão mais real se faz necessário haver informações do meio que o rodeia e
o compõe, para tanto, é de expressiva relevância o observador ter conhecimento do
todo, da história da cidade, para compreender melhor os lugares que compõem o
todo – a cidade.
De fato, a autonomia dos indivíduos é limitada por sua vinculação a grupos, o
que leva, em alguns casos, a formação da paisagem ter características apenas da
elite política e econômica de determinada cidade.
A percepção construída pelo citadino é concentrar o que ele conhece sobre a
sua cidade, mas é válido ressaltar que sendo ele o sujeito deste processo, ele pode
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ter informações totais ou parciais, o que contribui para a construção da imagem
turística da cidade, que pode ou não estar relacionada com a realidade.
A cultura pode influenciar a percepção de tal maneira que as pessoas podem
ver coisas que não existem (TUAN, 1980).
A comunidade local pode vir a absorver e divulgar uma imagem que não
existe, ou que não seja a mais apropriada. Isso se dá pelo envolvimento dela com a
cidade, não se dando a oportunidade de analisar a cidade sem interferências
comerciais ou midiáticas. Resultado do homem na sociedade capitalista, ou seja: o
homem-peça da cidade máquina, máquina de fazer réplicas, fato este ocorrido nos
últimos anos sobre as cidades turísticas, sendo conseqüência a construção tanto
pelo poder público como pelo privado, de réplicas de locais turísticos.
Na
maioria
das
vezes,
por
estarem
envolvidos
no
processo
de
desenvolvimento das cidades, passam a não perceber as particularidades destas,
que seriam muito mais atraentes aos olhos do turista do que meramente a
construção de simulacros de outras cidades, muitas vezes já consolidadas como
destinos turísticos.
1391
Mas é fato também que as réplicas nem sempre agradam aos olhos, os
desejos e sonhos de quem as compra - os turistas -, o que acaba contribuindo na
insatisfação das expectativas e no baixo sucesso dos destinos turísticos. Porque o
que realmente atrai os turistas é o inusitado, as especificidades de cada cidade.
No caso das cidades que buscam a construção de uma imagem semelhante a
de outras já existentes, elas correm dois riscos; o primeiro deles é o fato de se
tornarem conhecidas apenas pelas semelhanças com as outras, sem demonstrarem
as suas imagens com seus valores históricos, e sem serem lembradas pelos seus
próprios potenciais, o outro é o fato de os visitantes interpretarem-nas como sendo
um potencial artificial, sem significativos potenciais turísticos, e conseqüentemente,
sem valores individuais da especificidade cultural, uma vez que elas se submetem
aos julgamentos individuais.
Cabe aqui mencionar que, para os núcleos turísticos, o ideal é a paisagem
constituída pela cultura dominante, desde que proporcione espaço para as
manifestações culturais e interesses de sua comunidade como um todo.
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A cidade pode ser analisada por diferentes formas, e uma delas é a cultural,
que ganhou maior destaque no campo científico a partir da década de 1960.
„E a cultura resulta da capacidade dos seres humanos se comunicarem
entre si por meio de símbolos‟ (CORRÊA; ROSENDAHL, 2003, p. 28, grifo
dos autores).
No caso de Campo Grande, freqüentemente, moradores e turistas ficam
surpreendidos quando indagados sobre qual seria a real identidade cultural da
cidade. Percebe-se que isso se dá principalmente porque os próprios moradores não
têm claramente definida qual é a identidade da cidade na qual eles vivem e fazem
parte, consequentemente se torna difícil convencer os turistas sobre essa identidade
que por muitas vezes não é conhecida pela comunidade local, trade e poder público.
Nesse sentido se fazem necessários outros estudos complementares que
permitam refletir sobre aspectos sociais e culturais da população campograndense
e, conseqüentemente, sobre a sua identidade. É importante lembrar que os agentes
sociais que fazem e refazem a cidade não podem perder suas raízes culturais.
Para tanto, o papel da cultura neste processo é impar:
1392
A identidade de uma cidade, vista como lugar dotado de uma singularidade
que o distingue dos outros, pode ser de modo marcante o resultado de uma
construção intelectual, derivada de tradição étnica cujos traços são
permanentemente recriados. Essa identidade cultural do lugar, reconhecida
tanto interna quanto externamente (Relph, 1976), expressa-se em vários
aspectos relativos à sua organização social, política e espacial. No entanto,
pode ser objeto de contestação, por meio de práticas políticas que
introduzem novos significados ao lugar, criando um confronto identitário
(CORRÊA; ROSENDHAL, 2006, p. 148).
É necessário que os governantes tomem medidas para evitar a perda da
identidade cultural, que poderá ser trabalhada como o próprio atrativo ou motivo de
visitação ou referencial das localidades turísticas (BAHL, 2004).
A problemática se estabelece na medida em que emergem cidades que
desempenham o papel de transformação cultural, constituindo outras cidades,
alterando o mapa cultural e contribuindo para que essas cidades fiquem sem suas
“marcas urbanas”. Buscam se destacar enquanto potencial turístico por intermédio
da imitação de outras cidades já consolidadas turisticamente, ocasionando a
construção de simulacros, deixando de lado suas próprias identidades culturais, ou
ainda, não identificando qual seria a própria identidade cultural delas.
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A globalização da cultura possibilitou Hannerz apud Corrêa e Rosendhal
(2006, p. 159) 10 elaborar o conceito creole culture. Para este autor, esse conceito
envolve a diversidade, interconectividade e inovação. Ainda, segundo este autor a
diversidade refere-se à confluência recente de tradições culturais histórica e
geograficamente distintas, e a interconectividade seriam as interações permanentes
entre significado e formas simbólicas, gerando inovações mercantilizadas.
Adaptando essa expressão às cidades que buscam desenvolver uma imagem
turística, pode-se entender que o ideal seria trabalhar suas imagens turísticas
vinculadas diretamente às suas identidades culturais, contudo, poderia ser
trabalhada paralelamente a forma mais apropriada para comercialização destas
cidades sem perder o foco de suas raízes culturais (CORRÊA; ROSENDHAL, 2006).
Ainda, segundo os autores citados acima, a globalização cultural tem duas
vertentes, uma é a de reforçar algumas características locais e a outra persiste em
diluir determinadas características.
Sob essa ótica, a cidade de Campo Grande se desenvolve em direção à
segunda vertente ora apresentada, que, do ponto de vista turístico, é a menos
favorável para seu desenvolvimento e seu sucesso enquanto destino turístico.
A “marca urbana” é a identidade de uma cidade; é ela que redefine as
relações entre as pessoas, grupos, lugares, coisas, porém historicamente ela está
muito mais voltada à ideologia, remetendo-a à ambigüidade. A questão do tempo
colabora para o esquecimento de algumas ações que contribuíram para a
construção identitária de uma cidade, prevalecendo o campo econômico como fator
de maior importância (YÁZIGI, 2002).
As cidades parecem estar em um concurso, disputando quem chega mais
próximo da imitação perfeita. Por enquanto, talvez isso resolva em termos de
número de turistas recebidos e divisas deixadas no receptivo, mas com o passar do
tempo, com a diversidade e surgimento crescente de novos destinos turísticos,
acredita-se que os turistas optarão por aquelas cidades que se destacarem por suas
especificidades e que ultrapassarem a única barreira até então desejada, que é a
econômica.
10
HANNERZ, U. Transnational connections. Londres: Routledge, 1996.
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Em dado momento, a imagem urbana representa a cidade e a ela soma-se a
percepção, dela busca-se extrair informações capazes de formar uma imagem
representativa, agregada de valores que variam de acordo com o percepto. As
imagens urbanas despertam percepções dos citadinos, bem como dos visitantes. A
diferença se estabelece, principalmente, nas informações e conteúdos que marcam
a rotina desses citadinos, levando-os à agregação de diversos e diferentes
significados sobre uma determinada imagem. Imagem que, para o turista certamente
terá outra conotação, visto que ele observa uma imagem que se pode chamar de
nua, sem informação alguma sobre tal (FERRARA, 1993).
As representações sobre a natureza e o espaço socialmente construído
incluem inúmeras figuras de linguagem. Os estudos sobre as cidades também estão
impregnados de metáforas, metonímias e sinédoques, revelando que a cidade pode
ser interpretada como um texto. Seguindo afirmações de Corrêa e Rosendahl (2006)
pode-se estipular que a cidade pode ser interpretada, interpretando-se, porém, a
história de seu povo, de sua construção, apresentando suas raízes.
Dessa forma, este trabalho possui como objetivo complementar propor que
outras pesquisas sejam realizadas sobre a percepção da comunidade de Campo
Grande em relação ao seu aparato cultural, com intuito de investigar a cultura
construída diariamente pelos moradores que marcam o cenário sócio-cultural, e as
imagens turísticas associadas aos projetos de desenvolvimento do estado,
demonstrando a importância da “vertente da especificidade” para seu marketing
turístico (YAZIGI, 2002).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Julga-se pertinente esclarecer que um dos principais aspectos levados em
conta neste trabalho foi o de não considerar o espaço urbano como mero pano de
fundo para o desenvolvimento da atividade turística. No caso específico de Campo
Grande, cidade em estudo, se pretendeu trazer à tona a necessidade e a
importância de se buscar subsídios para a composição de uma identidade cultural
oriunda da própria comunidade e por meio desta, identificar uma possível imagem
para a cidade (enquanto destino turístico) mais atrelada à sua realidade social e
cultural.
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Na busca de uma base teórica de maior profundidade foram realizadas
leituras sobre assuntos relacionados à cultura, espaço urbano e turismo, que por sua
vez, poderão contribuir para um aporte teórico mais direcionado aos estudos
específicos sobre identidade urbana.
Por meio de observação direta na cidade de Campo Grande aliada a esses
estudos, pode-se considerar que a priori, já foi possível constatar a ausência de uma
identidade cultural mais condizente para Campo Grande, de maneira que se fazem
necessários desenvolver mais estudos in loco e outros de cunho teórico mais
aprofundados para obter subsídios que apontem de fato qual é a real identidade
cultural desta sociedade.
Contudo, considera-se que este trabalho pode servir de aporte preliminar para
se buscar indicadores ainda mais densos e precisos que demonstrem que Campo
Grande, por intermédio de sua população, pouco conhece sobre a história que
contribuiu para a construção da cidade. Considera-se que tal evidência colaborará
diretamente para explicar a falta de percepção dos moradores sobre a identidade
desta cidade, tendo como conseqüência que esta falta de identidade bem definida
também está interferindo nos planos de desenvolvimento das campanhas
publicitárias dos governos em âmbito municipal e estadual. O mesmo ocorrendo com
o trade turístico privado no que se refere à imagem turística divulgada ter pouco ou
nenhuma relação com a identidade cultural de Campo Grande.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE A OFERTA TURÍSTICA PARA O ARQUEOTURISMO
NO POLO DAS ORIGENS NO PIAUI.
Claudia Corrêa de Almeida Moraes
Mestre; Docente do Departamento de Turismo UFF
[email protected]
RESUMO
O principal atrativo arqueoturístico do Brasil está no conjunto de sítios históricos do
sudeste do Piauí, localizado no denominado Pólo das Origens e situa-se nos
Parques Nacionais da Serra da Capivara-PNSC e da Serra das Confusões-PNSCO.
Há trinta anos estes sítios estão sendo estudados e conservados por equipes
multidisciplinares da FUNDHAM e de organismos das três esferas governamentais.
O objetivo principal deste artigo é entender a situação atual da oferta turística
arqueológica nos dois citados parques. Para realizar este estudo foram utilizadas
pesquisas documentais e bibliográficas, visita a campo com um roteiro desenvolvido
para atender a metodologia de Manzato (2005) e a análise das propostas do Plano
de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no Piauí (2000). Os
dados foram comparados e completados para se obter um diagnóstico da oferta.
Também se usou a pesquisa da demanda da IBERTUR de 2008 e algumas
entrevistas estruturadas feitas com pessoas da localidade. O resultado a que se
chegou aponta que o PNSC atingiu na metodologia de análise de Manzato (2005) o
maior índice “muito adequado” e no plano de marketing, apenas alguns pontos não
foram satisfatórios. No entanto, o PNSCO, na época da pesquisa, atingiu o índice
“não adequado” e a maioria das propostas do plano de marketing não foram sido
realizadas.
Palavras Chave: planejamento
arqueoturismo, piauí.
e
gestão
turística,
patrimônio
cultural,
ABSTRACT: The main archaeological tourism attraction of Brazil is at the joint of
historical sites from southwest of Piauí, located in the so called Polo das Origens, at
the Parque Nacional da Serra da Capivara-PNSC and Parque Nacional da Serra das
Confusões- PNSCO. These sites are been studied and preserved for thirty years, by
FUNDHAM multidisciplinary staff and organism of the three spheres of government.
The main goal of this article is to understand the current situation of the archaeologic
tourism offer at the two parks quotted above. To achieved it, this study used
documentary and bibliographical researchs, local visits with a script developed to
consider the Manzato (2005) methodology, and the analysis of the proposal from the
Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no Piauí
(2000). This data were compared and completed to have a offer diagnostic. Also, it
was used the research of demand from IBERTUR (2008) and some structure
interviews with local people. The results that came across shows that the Parque
Nacional da Capivara has reached the highest index “very appropriated” on Manzato
(2005) methodology analysis, and only a few points weren‟t reached on the
marketing plan. On the other hand, the PNSCO, at the research time, has obtained
the index “not appropriated” and most of the proposals of the marketing plan weren‟t
made.
Key words: tourist planning and management, cultural heritage, archaeologic, piaui.
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
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12 a 14 de abril de 2010
1397
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objeto de estudo o turismo arqueológico no
estado do Piauí, precisamente o existente no zoneamento turístico atual
denominado Pólo das Origens, ou seja, o patrimônio arqueológico do Parque
Nacional da Serra da Capivara e no Parque Nacional da Serra das Confusões.
O Piauí possui uma grande quantidade de sítios arqueológicos e alguns com
importância nacional e internacional, como os do Parque Nacional da Serra da
Capivara – (PNSC) que são inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade
da UNESCO, desde 1991. Os sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra das
Confusões (PNSCO) são similares aos encontrados no PNSC, mas estão pouco
estruturados para a visitação e o processo de conservação e estudo deste
patrimônio têm uma abrangência menor se comparado com o PARNA Serra da
Capivara.
Propomos neste estudo analisar as condições da oferta dos atrativos na
segmentação do turismo arqueológico nos citados PARNAs e para fazê-lo realizouse levantamento bibliográfico e com a finalidade de discernir, descrever e analisar as
condições da oferta do arqueoturismo nos dois parques nacionais do Pólo. Como
pesquisa de campo para a obtenção dos dados primários, se adotou como
parâmetro para a visita duas orientações: a verificação do cumprimento das
recomendações do Plano de Marketing para o Turismo Arqueológico no Piauí
(2000). Na sequência foram verificadas se estas recomendações foram cumpridas.
As recomendações consistem em:
QUADRO 1: RECOMENDAÇÕES DO PLANO DE MARKETING PARA O
TURISMO ARQUEOLÓGICO NO PIAUÍ
1. Preparação dos sítios arqueológicos, com as indispensáveis ações de
conservação;
2. Implantação de estruturas para a recepção de visitante;
3. Ações de educação patrimonial visando à conscientização sobre a
importância dos sítios arqueológicos e a necessidade de mudanças de
costumes para a obtenção dos benefícios esperados;
4. Construção e reparação de vias de acesso com o saneamento das suas
margens, utilizadas como aterros sanitários e, nos barreiros, como
bebedouros dos animais soltos nas rodovias;
5. Implantação de serviços de saneamento básico, de assistência médica e
de comunicação, onde se fizerem necessárias;
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios
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12 a 14 de abril de 2010
1398
Continuação Quadro1
6. Preparação de recursos humanos para monitoramente de sítios e
atendimento ao público visitante
Fonte: Plano de Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no
Piauí, 2000.
Incluímos como objeto de análise se há estudos da capacidade de carga para
sitio a ser visitado.
Para a outra verificação usou-se a metodologia desenvolvida por Manzato
(2005) para o arqueoturismo, verificando qual é a situação do atrativo frente as suas
condições atuais que possibilitem à visitação turística. Manzato (2005) define quatro
variáveis para a visitação turística:
QUADRO 2 – VARIÁVEIS INDICADAS POR MANZATO PARA AS VISITAÇÕES
AO ARQUEOTURISMO
1. Disponibilidade de sanitários, placas indicativas e informativas;
2. Monitoria,
3. Condições específicas para alimentação e descanso,
4. Material turístico como impressos, entre outros.
Fonte: Adaptado de Manzato, 2005.
A metodologia de Manzato (2005) consiste em um levantamento bibliográfico
e uma visita in loco aos atrativos, já realizada em julho de 2009. Todos os itens
coletados foram analisados e classificados como Muito Adequado (peso 3),
Adequado (peso 2), Pouco Adequado (peso 1), Não Adequado (peso zero). A
somatória desses pontos indicou o nível da adequação do sítio arqueológico ao uso
turístico e se expressou segundo a escala avaliativa: Muito Adequado: maior ou igual a 16
pontos, Adequado: entre 11 e 15 pontos, Pouco Adequado: entre 6 e 10 pontos, Não Adequado: de 0
a 5 pontos.
Os dois conjuntos de variáveis têm alguns pontos em comum como monitoria
e estrutura para recepção do visitante. O emprego de ambos possibilitou uma
análise mais ampla envolvendo a conservação do atrativo e o seu uso visando à
exploração turística.
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1399
Para a análise também foi utilizada uma pesquisa de demanda realizada pela
Universidade de Barcelona – UB e a Rede de Patrimônio,
Desenvolvimento
Sustentável
-
IBERTUR,
no
âmbito
do
Turismo e
“Projeto
de
Desenvolvimento Sustentável do Turismo da Região da Serra da Capivara” –
Instituto Ambiental Brasil Sustentável – IABS, Agência Espanhola de Cooperação
Internacional para o Desenvolvimento – AECID e Ministério do Turismo – MTur
MTur/IABS/AECID, 2008). Esta pesquisa procurou identificar o perfil do turista
arqueológico potencial nacional e internacional para o PARNA da Serra da Capivara
– PNSC. Embora em 2009 já tenha ocorrido outra pesquisa, os dados ainda não
estão disponíveis ao público, por isso não foram considerados.
Metodologicamente a pesquisa contou com a distribuição de questionários por
e-mail, diretamente ao público-alvo, ou seja, turistas, homens e mulheres,
interessados nos destinos de turismo cultural, especializados em arqueologia, com
amostras de 5.390 entrevistas no período entre 1º de maio e 31 de junho de 2008.
(MTur/IABS/AECID, 2008).
Além deste estudo, realizou-se pesquisa por meio de entrevista guiada
composta de três questões abertas: 1) Que segmentação de turista freqüenta o
PNSC? 2) Quantos dias ficam no destino? 3) Qual sua origem?. Esta foi aplicada em
oito pessoas dos municípios de Coronel José Dias e São Raimundo Nonato, a saber:
o presidente da associação dos monitores, um guia, um pesquisador do PARNA, um
técnico do museu e outro do centro cultural e três representantes municipais do
turismo da região oriundos do poder público, em julho de 2009, com o objetivo de
conhecer a demanda real para o PNSC.
2. ARQUEOTURISMO
O fenômeno da mundialização e as novas demandas turísticas trouxeram ao
turismo cultural resultados satisfatórios, principalmente porque as comunidades
receptoras têm necessidade de redescobrir e fortalecer a sua identidade cultural e
dar novo significado a seu patrimônio. Além disso, pelo lado dos grupos visitantes,
tem ocorrido o surgimento renovado do interesse pela cultura (CORREIO UNESCO,
1999).
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1400
Manzato (2005, p.44) define Turismo Arqueológico ou Arqueoturismo como um
“processo
decorrente do deslocamento e da permanência de visitantes a locais
denominados sítios arqueológicos onde são encontrados vestígios re manescentes
de antigas sociedades, sejam elas pré-históricas ou históricas e passíveis de
visitação terrestres ou aquáticas”.
Manzato e Rejowski (2005) explicam que a ampliação dos novos roteiros
internacionais de turismo arqueológico é resultado da consolidação deste segmento
em nível mundial (SCATAMACCHIA, 2005) e o seu rápido crescimento (O´NEILL,
2004). No entanto, embora o Brasil possua um patrimônio arqueológico diversificado
e em grande quantidade, ainda não atingiu uma demanda significativa e nem as
estruturas oferecidas para a visitação estão a contento.
O turismo cultural baseado no patrimônio arqueológico é uma maneira de
gerar recursos para muitas regiões. Alguns sítios arqueológicos no Brasil localizamse em lugares muito pobres com poucos recursos e, por isso, sua exploração
turística pode ser uma das oportunidades para melhorar as condições de vida dos
moradores locais e a conservação destes sítios arqueológicos.
O turismo tem condições de ajudar na descoberta da importância deste
patrimônio por parte dos moradores, que em muitos casos, desconhece o seu valor
provocando a sua destruição física por meio da exploração imobiliária desordenada
ou pelo vandalismo.
Se for utilizado um programa de turismo bem estruturado para arqueoturismo,
poderá ocorrer a conservação desses bens e de sua manutenção, desde que haja
condições de uma visitação segura.
Quanto ao uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos há de se
considerar, segundo Morais (2002, p.98) “as expectativas da comunidade que detém
o patrimônio em seu território e a imposição das normas legais vigentes que
intervém na interface arqueologia/turismo”. O sucesso ou fracasso do turismo será
determinado pelo grau de sensibilização da comunidade e dos visitantes.
Na visão do turismo sustentável, o convívio entre moradores e visitantes deve
acontecer por meio de relações que tragam benefícios para ambos e respeito entre
as suas diversidades culturais. O comprometimento dos moradores e dos visitantes
frente ao patrimônio arqueológico é capaz de estimular posturas de preservação,
valorização e divulgação deste patrimônio como fator de atração turística.
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1401
O patrimônio arqueológico consiste no processo de formação do sítio
arqueológico ou do vestígio, que compreende o produto e a produção, o registro do
momento da ação e sua sequência. Este patrimônio é uma memória que procura se
resguardar do apagamento provocado pela transformação do tempo histórico. Estes
lugares de memória são testemunhos da existência de uma época e representam a
“ilusão da eternidade” (NORA, 1993).
Para Morais (2002) a apropriação do patrimônio arqueológico é possível
quando se compreende a história do outro, reconhece os espaços desconhecidos e
valoriza os responsáveis pela existência do patrimônio.
A função social do turismo é o principal argumento para o uso do patrimônio
arqueológico para fins turísticos. Segundo a Constituição da República Federativa
do Brasil (1988) a União, os estados membros, Distrito Federal e municípios têm o
dever de preservar o patrimônio arqueológico localizado tanto em terrenos
particulares como públicos para fins de estudos e para o uso social da comunidade,
o que inclui as atividades relacionadas ao turismo.
O Plano Diretor para o desenvolvimento do Turismo Arqueológico no estado
do Piauí (2000) propõe que o turismo arqueológico seja desenvolvido por meio de
visitações a sítios arqueológicos, desde que estes estejam preparados para este fim.
Sugere que se ofereçam aos turistas a possibilidade de participarem de atividades
relacionadas com a pesquisa arqueológica, como por exemplo, a prospecção. Estas
atividades devem ser obrigatoriamente acompanhadas por arqueólogos experientes
e o número de participantes limitado. Este exemplo, já é utilizado em alguns sítios
com os visitantes e os moradores. Conhecer os sítios com esta atividade de
educação patrimonial, possivelmente resultará em melhor compreensão desta
manifestação cultural do que apenas uma visita guiada.
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Na década de 1960 iniciaram-se estudos arqueológicos na região sudeste do
estado do Piauí e estes trouxeram dados que evidenciou a presença do homem préhistórico pelo menos há 50.000 anos na região e conviveram com uma fauna
gigantesca formada por preguiças de 8 m de altura, tigres dente-de-sabre,
mastodontes, ursos, paleolhamas, cavalos americanos, entre outros (GUIDON,
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2003). É provável que esta fauna tenha desaparecido da região há 12.000 anos, por
causa de uma grande mudança no clima que o tornou árido (RAUCK, 2009).
Os povos aos quais se atribui a tradição nordeste habitaram a região há cerca
de 20.000 anos. Fabricavam material lítico bem elaborado e executavam as pinturas
figurativas ricas em cenas da vida cotidiana, incluindo a fauna acima citada. A cerca
de 6.000 mil anos, novas migrações chegaram à região expulsando os povos que lá
viviam anteriormente. Sua produção pictórica ficou conhecida como tradição agreste,
que se caracteriza por uma pintura figurativa pouco trabalhada, sem representação
de cenas e uma indústria lítica grosseira quase inacabada. Em épocas mais
recentes, outros grupos humanos ocuparam a mesma região, estes dominavam a
técnica de produzir instrumentos em pedra polida e enterravam seus mortos em
grandes potes cerâmicos (GIDON, 2003).
No Piauí os sítios encontram-se distantes de grandes aglomerações
habitacionais e em locais de difícil acesso, por isso, estão em bom estado de
conservação se comparados com outras regiões do Brasil. Segundo o Plano Diretor
para o Turismo Arqueológico no Piauí (2000) existem na região do Pólo das Origens
mais de 500 sítios inseridos no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do IPHAN
(FUNDHAM, 2009).
Quanto à conservação dos sítios os problemas correntes a todos são os
depósitos naturais, galerias de cupins, ninhos de vespas e enxames de abelhas,
casas de marimbondos, eflorescências minerais, desagregação do suporte rochoso
e recobrimento das pinturas por raízes. São raros os depósitos de origem antrópica,
como fuligens e pichações (FIGUEIREDO, 2009).
A presença da Fundação do Museu do Homem Americano - FUNDHAM,
Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional- IPHAN, Ministério do Meio
Ambiente - MMA e Instituto Nacional de Reforma Agrária – INCRA e Universidade
Federal do Vale do São Francisco – UFVF têm possibilitado, não somente o
conhecimento fundamental para a preservação do patrimônio, mas também o
desenvolvimento de um modelo para a exploração de um turismo responsável e para
a conservação do patrimônio.
O Parque Nacional da Serra da Capivara- PNSC foi criado em 5 de junho de
1979, pelo Decreto 83.548 visando proteger a maior concentração de sítios
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1403
arqueológicos das Américas e uma área significativa da Caatinga, perfazendo
129.140 hectares em um perímetro de 214 km nos municípios de São Raimundo
Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Canto do Buriti, foi criado m (FUNDHAM,
2009).
A administração do Parque é realizada pelo Instituto Chico Mendes em
regime de co-gestão com a FUMDHAM. O acesso ao PNSC é por Petrolina (PE),
distante 300 km, sendo que o acesso também pode ser realizado pela rodovia PI140, a partir de Teresina distante 530 km (FUMDHAM, 2009). Desde junho de 2009
existe a pista do Aeroporto Internacional da Serra da Capivara, localizado no
Município de São Raimundo Nonato, mas não há nenhuma companhia aérea regular
servindo a região.
A principal motivação das visitas ao PARNA são os registros arqueológicos
dos povos pré-históricos acrescidos dos recursos naturais, destacando as formas de
relevo como planaltos ou chapadas, morros, serras, serrotes e planícies e a
vegetação de Caatinga, com suas espécies e a fauna endêmica.
Há no PARNA 14 circuitos turísticos compostos por trilhas com diferentes
graus de dificuldade que dão acesso a 22 sítios arqueológicos e possibilita o contato
com os monumentos, a paisagem, as formações vegetais e a fauna variada.
O PARNA está aberto desde 1995 e conta com boa infra-estrutura e serviços
para visitação, como centro de recepção no Sítio Toca do Boqueirão, informações,
visitas guiadas em português, inglês e espanhol, passarelas nos sítios, sinalização e
instalações sanitárias adaptadas, serviços de limpeza e segurança, lanchonete,
albergue e área para camping, localizada no povoado Sítio do Mocó, próximo à
entrada principal.
O Parque Nacional da Serra das Confusões - PNSCO foi criado pelo Decreto
de 98.346 de 02 de outubro de 1998, nos municípios de Caracol, Guaribas, Santa
Luz e Cristiano Castro, encravado no Cristalino – Formação Serra Grande e uma
bacia sedimentar – Chapada do Piauí Maranhão. Seu relevo é dividido em duas
feições com altitudes de 650 e 700 m, as Chapadas das Gerais e a Serra das
Confusões, Semi Tumba, das Guaribas, das Perdidas, dos Macacos, da Peneira e
das Pitombas (GUIA DOS PARQUES NACIONAIS, 2002). Possui área aproximada
de 502.411 hectares, sendo um dos maiores PARNA da região nordeste do Brasil.
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Pode ser acessado da mesma forma que o PNSC. Foi criado com o objetivo de
resguardar uma amostra significativa do ecossistema de caatinga numa região ainda
bastante preservada no estado do Piauí, de grande beleza cênica e alto valor
histórico, cultural e científico (IBAMA, 2009).
Atualmente não está aberto para a visitação pública, recebendo apenas
visitas de pesquisadores e alguns turistas acompanhados por técnicos do Instituto
Chico Mendes, mas a partir de março de 2010 deverá abrir para a visitação
(GONZAGA, 2009).
Segundo o IBAMA (2009) “a área desta unidade ainda encontra-se em estado
primitivo de conservação. Encontram-se inúmeros sítios arqueológicos em suas
cavernas e grutas, inclusive apresentando litogravuras nos paredões rochosos de
grande valor histórico, científico e cultural”. Segundo o subprojeto de “Pesquisa
Prospecções, Escavações Arqueológicas e Conservação de Registros Rupestres no
Parque Nacional Serra das Confusões e Entorno” foram encontrados no Parque 30
sítios arqueológicos com pinturas rupestres e esqueleto humano. O subprojeto está
vinculado ao projeto "Origem e Evolução Migratória dos Primeiros Grupos Humanos
no Sudeste do Piauí" (FUNDHAM, 2009).
O PNSCO possui plano de manejo desde 2003, mais ainda está sendo
implantado e há uma ausência de ações de conservação dos sitos arqueológicos se
comparados com o PNSC.
4. RESULTADO DAS ANÁLISES
Os resultados obtidos com análise das variáveis presentes no Plano de
Marketing para o Desenvolvimento do Turismo Arqueológico no estado do Piauí
(2000) são apresentados abaixo por meio de um quadro para facilitar a leitura.
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QUADRO 3 – AS CONDIÇÕES DA OFERTA DO PARNA SERRA DA CAPIVARA
Implantação de estruturas para As estruturas são eficientes e os recursos
a recepção de visitante.
humanos estão preparados. Além de contar com
locais de descanso e pequenas refeições.
Implantação de serviços de Este item é insuficiente. Existe serviço de
saneamento
básico,
de saneamento básico em apenas um município
assistência médica e de onde o PARNA se localiza. A assistência
comunicação.
médica e as comunicações não atendem a
contento.
Preparação
dos
sítios Há ações de preservação e conservação em
arqueológicos,
com
as vários sítios e realizadas com metodologias
indispensáveis
ações
de corretas e com equipes multidisciplinares e
conservação.
interinstitucionais. Servindo de modelo para
outros sítios no Brasil. Um ponto ainda difícil de
ser sanado é o investimento necessário para a
manutenção e preservação do patrimônio que é
muito elevado. Há ainda fatores relacionados ao
desequilíbrio ambiental que acabam afetando
sua conservação.
Preparação
dos
sítios Aparentemente não há problemas relacionados
arqueológicos,
com
as as via de acesso, saneamento das margens e
indispensáveis
ações
de bebedouros de animais, mas foram encontrados
conservação.
muitos animais soltos nas rodovias.
Construção e reparação de Para a formação dos recursos humanos, além
vias de acesso com o da presença da Universidade Federal com curso
saneamento
das
suas de Arqueologia, há a FUNDAM. A população
margens,
utilizadas
como local foi inserida no processo por meio de ações
aterros sanitários e, nos de inclusão social como o caso dos “Tarzans” e
barreiros, como bebedouros da Comunidade do Mocó. Ainda há problemas
dos
animais
soltos
nas relacionados com a comunicação em idiomas
rodovias.
estrangeiros.
Preparação
de
recursos Estas ações estão sendo desenvolvidas e
humanos para monitoramente abrangendo muitas pessoas dos municípios que
de sítios e atendimento ao envolvem o PARNA e de outros municípios do
público visitante.
Piauí. Para os turistas, a ação educativa ainda
não é suficiente.
Ações de educação patrimonial Atualmente a visitação ao parque ocorre em
visando à conscientização pequeno número de visitantes, até dez por guia.
sobre a importância dos sítios Estes internamente redirecionam os grupos para
arqueológicos e a necessidade que não estejam concomitantemente dois ou
de mudanças de costumes mais grupos em um mesmo lugar.
para a obtenção dos benefícios
esperados.
Fonte: RUSMANN CONSULTORES, 2009.
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No aspecto da visitação são poucas ações necessárias para que o turista
tenha um turismo de qualidade ao freqüentar o PNSC, neste item seu ponto mais
falho é a interpretação patrimonial e os monitores monolíngües.
O acesso ao parque se dá somente com o acompanhamento de guias, por
isso, dificilmente ocorrem ações de vandalismo ou outra que possa afetar o
patrimônio. Os grupos também são em números reduzidos. O PARNA possui
diversos roteiros e se houver uma demanda muito grande para um determinado sítio
o agendamento dos visitantes pode ser remanejado para outro.
Os atrativos são atingidos por problemas socioambientais do entorno do
PARNA como o lixo, falta de saneamento básico, animais na pista, queimadas, entre
outros. Por causa da ausência de preservação de alguns sítios ocorre a presença de
dejetos de animais, desplacamentos, poeira, microorganismos e marcas d‟água sob
as pinturas rupestres que as colocam em risco.
A maior dificuldade do PARNA é conseguir verbas para a sua manutenção e
pesquisas, embora frente a outros parques brasileiros a situação do PNSC seja
excepcional.
1407
QUADRO 4 – CONDIÇÕES DA OFERTA DO PARNA SERRA DAS CONFUSÕES
Implantação de estruturas As estruturas para a recepção do visitante estão
para a recepção de visitante. previstas, mas não foram implantadas. As
propostas do Plano de Manejo correspondem às
necessidades dos turistas.
Implantação de serviços de Este item é insuficiente.
saneamento
básico,
de
assistência médica e de
comunicação.
Preparação
dos
sítios Existem algumas ações de preservação e
arqueológicos,
com
as conservação em andamento, mas muito pouco
indispensáveis ações de ainda pelo que está previsto no Plano de Manejo.
conservação
O Plano de Manejo apresenta proposta
preocupada com esta questão.
Preparação de recursos Ainda não há formação e treinamento. Estão
humanos
para previstas para 2010 visando à abertura do Parque
monitoramente de sítios e no primeiro semestre do citado ano.
atendimento
ao
público
visitante.
Capacidade de Carga para Atualmente a visitação ao parque ocorre apenas
cada sitio a ser visitado.
com a companhia do funcionário do Instituto Chico
Mendes, pois o parque se encontra fechado. Mas
no Plano de Manejo está prevista a carga para
cada sítio.
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Ações
de
educação
patrimonial
visando
à
conscientização sobre a
importância
dos
sítios
arqueológicos
e
a
necessidade de mudanças
de
costumes
para
a
obtenção dos benefícios
esperados.
Construção e reparação de
vias de acesso com o
urgente saneamento das
suas margens, utilizadas
como aterros sanitários e,
nos
barreiros,
como
bebedouros dos animais
soltos nas rodovias.
Continuação do Quadro 4
Pouco se tem feito neste sentido. O Projeto da
FUNDHAM e Petrobrás Ambiental de “Educação
para a Conservação e Uso da Água” inseriu a
comunidade do entorno do Parque.
O Parque possui poucas ações no sentido de
melhorar os acessos, a região não tem
saneamento adequado, nem aterros sanitários,
também não há ainda sanitários, bebedouros e há
animais soltos nas rodovias. Embora estes itens
estejam previstos no Plano de Manejo, pouco
ainda foi feito.
Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009.
O PNSCO apresenta problemas de conservação no Sitio Toca do Pinga do
Velho, onde um grande número de blocos caíram da parede e estes c ontém figuras
geométricas. Há também a presença de insetos construtores, percolação das águas
das chuvas, raízes e liquens. No espaço Nossa História existe uma antiga
propriedade rural cujo estado atual deste patrimônio necessita ser restaurado e ser
recuperado. Ao mesmo tempo, as pinturas rupestres sofrem com a ação de dejetos
de animais, desplacamentos, poeira, microorganismos e marcas d‟água. No Baixão
das Andorinhas há uma propriedade com as características da cultura rural sertaneja
que necessita ser restaurada. No sítio Pedra das Andorinhas as pinturas rupestres,
em termos de conservação, apresentam a presença de insetos construtores,
desplacamentos do suporte rochoso, percolação da água da chuva, depósitos
minerais, dejetos animais e pichações vândalas.
Embora o PARNA permaneça fechado para garantir sua segurança, o não
uso também pode ser uma atitude que ajude a sua degradação, por isso, a ação do
governo em atender algumas exigências básicas e abri-lo pode acelerar a sua
conservação, desde que medidas de controle sejam implantadas.
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A capacidade de carga estipulada pelo Plano de Manejo precisa de mais
estudos e quando o parque abrir ao público, um sistema de recepção similar ao PN
SC deverá ser criado.
Não há um fluxo constante para o PNSCO, mas a sua demanda potencial é a
mesma que a do PNSC e deve-se estudar a promoção dos parques em conjunto por
terem aspectos similares e diferenciados. Esta promoção em conjunto pode
estimular a visitação para ambos e aumentar a atratividade do roteiro.
Análise seguindo a metodologia proposta por Manzato (2005):
Os atrativos culturais do Arqueoturismo no PNSC apresentam a
classificação Muito Adequada para a maioria de seus itens e Adequada
para alguns itens de comunicação, acesso e restauração. O único item
Pouco Adequado referiu-se para a Interpretação Patrimonial e Ações
Educativas como pode se observar na Tabela 1 abaixo:
TABELA 1 – ANALISE DAS CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA DO
ARQUEOTURISMO NO PARNA SERRA DA CAPIVARA
Parque Nacional da Serra da
Capivara
Muito
Adequado
Acesso
Placas Indicativas
Placas Informativas
Custo do Ingresso
Recepção
Material Turístico
Monitoria
Atividades de Ação Educativa –
Interpretação Patrimonial
Sanitários
Restauração
Área Específica para Descanso
Lojas de Souvenir
Acessibilidade para deficientes
Total
Adequado
Pouco
Adequado
1409
Não
Adequado
3
2
3
3
3
2
3
1
3
2
3
21
2
2
10
1
Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009.
Os
atrativos culturais
do
Arqueoturismo
no
PARNA
SERRA DAS
CONFUSÕES apresentam segundo a metodologia de Manzato (2005)
a
classificação Pouco Adequada aos itens informações, acesso e ação educativa e
interpretação patrimonial e Não Adequado nos demais itens. Deve-se levar em
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consideração que o Parque não está aberto ao público por isso, a baixa pontuação
em alguns itens como se pode observar na Tabela 2 abaixo.
TABELA 2 – ANALISE DAS CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA DO
ARQUEOTURISMO NO PARNA SERRA DAS CONFUNSÕES
Parque Nacional da Serra das
Confusões
Acesso
Placas Indicativas
Placas Informativas
Custo do Ingresso
Recepção
Material Turístico
Monitoria
Atividades de Ação Educativa –
Interpretação Patrimonial
Sanitários
Restauração
Área Específica para Descanso
Lojas de Souvenir
Acessibilidade para deficientes
Total
Muito
Adequado
Adequado
Pouco
Adequado
1
1
1
Não
Adequado
0
0
0
0
1
0
0
4
0
0
0
0
0
9
Fonte: RUSCHMANN CONSULTORES, 2009.
A oferta turística deve estar adaptada a sua demanda. A atratividade está
relacionada à oferta, mas também à demanda. Não adianta um atrativo muito bem
estruturado se não existe ninguém com interesse em visitá-lo. Neste sentido é
preciso saber quem é o visitante (demanda real) e quem têm condições para sê-lo
(demanda potencial). No caso dos sítios arqueológicos dos PARNAs do Pólo das
Origens
a
demanda
ainda
é
insignificante
frente
a
sua
potencialidade
(MTur/IABS/AECID, 2008) .
Dados encontrados na FUNDHAM (2009) sobre a demanda para o PNSC
apontam que 5.106 pessoas visitaram o Parque em 1999, sendo os meses de maior
freqüência janeiro, fevereiro, julho e novembro e o de maior baixa março, abril, maio
e outubro. Os principais turistas que visitaram o parque fizeram por motivações
educacionais com a permanência de 2 a 3 dias.
A demanda registrada pelo IBAMA entre janeiro e agosto/06 foi de 5.290
visitantes e na alta temporada, julho/06 foi de 1.175 visitantes. Comparando a
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pesquisa de 1999 com a de 2006, pode-se aferir que houve um acréscimo cerca de
1.300 visitantes na demanda para o PRSC após sete anos.
Em julho de 2009 houve em São Raimundo Nonato a versão anual do maior
evento de pintura rupestre do mundo o Global Rock Art. Este evento levou para a
região 600 turistas entre nacionais e internacionais motivados pelo estudo da pintura
rupestre e fez com que as cidades melhorassem a qualidade de sua oferta e que o
atrativo arqueológico do Pólo das Origens ficasse mais conhecido mundialmente.
A pesquisa realizada com os moradores locais por meio de entrevista em
julho de 2009, apontaram que a demanda real é composta, em maior número, por
escolares de municípios do estado do Piauí e estados limítrofes (turismo
pedagógico/educacional), seguida de pesquisadores brasileiros e estrangeiros
(turismo científico) e por último, turistas culturais e ecoturistas.
Oliveira Filho e Monteiro (2009) aferiram em pesquisa realizada 2006 que
59,21% dos visitantes ecoturistas são professores e estudantes que visitam o PNSC
e têm com interesse no arcabouço histórico da Unidade de Conservação e no
estudo da flora e fauna da caatinga, por meio de visitas promovidas por escolas ou
universidades. “Nesse sentido, denotou-se que a visitação no PNSC integrava, além
do ecoturismo, o turismo cultural, educacional, científico e de aventura” (OLIVEIRA
FILHO E MONTEIRO, 2009, p.242).
Esta classificação da segmentação em turismo pedagógico/educacional e
turismo científico podem ser considerados como arqueoturismo, porém em ambos os
casos não é espontânea. O escolar visita o PARNA como uma atividade proposta
pelo programa educativo das escolas e os cientistas estão a trabalho realizando
estudos. Os turistas culturais e ecoturistas optaram por conhecer o Parque entre as
várias opções que o turismo oferece de maneira espontânea.
O Governo do estado do Piauí e o Ministério do Turismo rea lizaram uma
pesquisa por meio da IBERTUR e a Universidade de Barcelona em 2008 e 2009
para identificar o perfil do turista arqueológico para o PNSC. Abaixo apresentamos
os dados de 2008.
 Quanto ao perfil socioeconômico dos turistas arqueológicos:
 Existe um percentual um pouco maior de turistas do sexo feminino (57%);
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 Existem mais de casadas (59%) com ou sem filhos do que solteiros (41%);
 A maioria dos turistas tem idade entre 25 a 44 anos;
 95% dos pesquisadores apresentam nível de escolaridade alto (graduados
30%, mestres 39% e doutores 26%);
 Grande parte dos entrevistados tem alguma vinculação profissional com o
setor arqueológico ou cultural (81%).
 47% dos pesquisadores recebem entre US$ 10.000 e US$ 39.000/ano.
 Dos 48% dos entrevistados estavam na Europa e 24% na América Latina e
Caribe. Dentre os brasileiros 31% estavam na própria Região Nordeste,
seguida pela Região Centro-Oeste (24%).
 87% viajavam por conta própria e hospedavam-se em estabelecimentos de
baixo custo.
 Apenas 1,8% dos pesquisadores já haviam viajado para o Brasil nos últimos
dois anos.
 0,78% associavam o Brasil ao turismo arqueológico – o país líder é a Itália,
seguido pelo Egito, Grécia, México e Peru.
O produto arqueoturístico do Polo das Origens atualmente teria, segundo a
pesquisa citada acima, como consumidor em potencial composto por: mulheres
casadas e solteiras, com idade entre 25 a 44 anos, com alto nível de escolaridade e
bom padrão econômico cuja motivação de visita está relacionada a interesses
profissionais ou ainda culturais. Dos estrangeiros quase a metade são europeus e
entre os brasileiros 30% são nordestinos e 25% da região Centro-Oeste, ou seja, de
maior proximidade corresponde 50%.
Comparando o perfil da demanda (real e potencial) e as condições da oferta,
pode-se aferir que a oferta do PNSC com poucas adaptações estará pronta para
receber a demanda potencial e a demanda atual que já recebe. No entanto, o
PNSCO ainda precisa de muitas ações para estar apto a receber a demanda
potencial e atual.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os atrativos arqueoturísticos do Pólo das Origens têm um grande potencial e
se o PNSCO tiver a mesma estrutura que o PNSC será provavelmente à melhor
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oferta arqueoturistica do Brasil, devido a sua importância por ser berço do homem
americano e pelos muitos sítios arqueológicos bem conservados. Somam a estes
atrativos o Museu do Homem Americano e o Centro Cultural que são muito bem
estruturados.
O Museu passou recentemente por uma reestruturação e um novo projeto
museológico foi desenvolvido com o apoio da Fundação Roberto Marinho que
utilizou os mesmos técnicos que trabalharam no Museu da Língua Portuguesa em
São Paulo para reformulá-lo. O novo projeto museológico e museográfico possui
tecnologia de ponta e sua visitação é interativa. No entanto, a ação educativa do
museu é voltada principalmente para os estudantes do turismo pedagógico e não
para os outros turistas.
O Centro Cultural é o local da pesquisa e interessa mais a quem quer se
aprofundar no assunto ou tem algum conhecimento específico. Seus visitantes são
em sua maioria estudantes e especialistas.
A transformação do patrimônio arqueológico em arqueoturismo no Piauí é de
fundamental importância para o desenvolvimento sócio-econômico da região e
principalmente para a integração entre a sociedade atual e a sociedade que habitou
anteriormente este lugar na pré-história. Isso é possível pela valorização do
patrimônio da população autóctone extinta frente à população atual. Entre ambas há
uma desvinculação, e por isso, ocorre à destruição da cultural ainda restante, seja
pela atividade extrativista, seja pelos projetos agropecuários e imobiliários, e o
agravamento da ação de agentes naturais, como a erosão (MENESES, 1986).
O maior problema do atrativo arqueoturístico no Pólo das Origens não está
em sua estrutura ou nas condições de visitação, e sim em atingir uma demanda
espontânea em quantidade e qualidade. O turismo não espontâneo traz poucos
recursos para os municípios onde os PARNAs se situam. Sua maior demanda
formada por estudantes de escolas públicas gastam em média R$ 30,00 reais por
dia, e sua presença nos municípios é no máximo de dois dias com um pernoite e
muitos nem pernoitam11. Dados obtidos na pesquisa de Oliveira Filho e Monteiro
(2009) apontam que quanto à duração da viagem 47,22%, 37,92% e 8,65% dos
11
Dado obtido por meio das entrevistas em julho de 2009 com representantes do turismo na
região.
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visitantes permanecem na região do PNSC 03 (três), 02 (dois) e 04 (quatro) dias,
respectivamente, manifestando um ecoturismo de final de semana.
Os atrativos visitados são todos sem custos, pois nada é cobrado dos
estudantes de escolas pública. Seus gastos ocorrem apenas com alimentação,
hospedagem e algum souvenir. Os pesquisadores embora gastem mais, são
poucos. Frente a esta situação é preciso ampliar a demanda para que os parques
possam ter melhores condições de investimento na preservação do patrimônio e que
a comunidade seja beneficiada com a presença do turismo.
O arqueoturismo não é um turismo de massa e mesmo com uma demanda
ampliada os espaços dos PARNAs são muito grandes sendo possível redistribuir a
demanda em pequenos grupos sem afetar a capacidade de carga.
Para atingir esta demanda existem algumas barreiras ainda difíceis de serem
transpostas.
 A primeira está relacionada ao deslocamento dos turistas. O custo para o
deslocamento dos principais centros emissores de turistas do Brasil
localizados na região sudeste até o Piauí é elevado. O número pequeno do
público para o arqueoturismo no Brasil não gera ainda uma demanda para
um vôo regular diretamente para São Raimundo Nonato. Assim, a melhor
opção seriam os charters e a demanda do próprio nordeste que poderia
fazê-lo por via terrestre.
 Outra questão é o múltiplo atrativo. No Brasil como citado por Funari (2003),
Morais (2003), Scatamacchia
(2005) e Manzato (2005) as experiências em
arqueoturismo são incipientes com uma baixa demanda nacional. Assim,
atrativos conjugados poderiam aumentar as chances de trazer mais turistas
como o ecoturismo que pode ser desenvolvido em ambos os PARNAs e no
entorno. Também o turismo de eventos culturais e gastronômicos, além de
realizar roteiros de destinos conjugados como o turismo de sol e praia
nordestino e/ou o turismo científico de Petrolina que são bem próximos.
Vários estudos como o citado de demanda da IBERTUR (2008/2009) e/ou
Estudo para o Ecoturismo realizado pelo Instituto Marca Brasil (2009) e algumas
ações de marketing foram realizados recentemente pelo EMBRATUR, Ministério do
Turismo e Governo do Piauí para promover o arqueoturismo na região.
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Sabe-se que o desenvolvimento de um destino demora um bom tempo para
se consolidar e ainda mais um novo segmento pouco demandado no Brasil como o
arqueoturismo.
Quanto aos atrativos do objeto de nosso estudo pudemos verificar que frente
às metodologias utilizadas para a análise, um dos atrativos se encontra em
excelentes condições de visitação e o outro precisa de muitos investimentos para
atingir esta mesma situação, mas tem um bom potencial.
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HOSPITALIDADE NO TURISMO DE BASE LOCAL: UM ENSAIO ANALÍTICO
SOBRE A REDE DE HOSPEDAGEM FAMILIAR, EM BELÉM-PA
Cleber Augusto Trindade Castro
Mestrando em Geografia/UFPA
[email protected]
Débora Rodrigues Oliveira Serra
Especialista em Gestão Empreendedora/UFPA
[email protected]
RESUMO
Este trabalho apresenta dados e reflexões iniciais sobre a relação entre a Rede de
Hospedagem Familiar, estruturada em Belém-PA inicialmente para atender aos
participantes do Fórum Social Mundial – 2009, e as concepções e premissas do
turismo de base local, visando compreender o processo de implantação da rede. A
metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, para um embasamento teórico e
conceitual sobre hospitalidade e turismo de base local, e uma pesquisa documental
sobre o projeto que estruturou a Rede de Hospedagem Familiar de Belém-PA,
disponibilizado aos autores pela Companhia Paraense de Turismo – PARATUR,
órgão do governo estadual responsável pela coordenação das ações de implantação
da rede. O artigo demonstra que o projeto foi idealizado e executado com
proximidade às concepções e premissas do turismo de base local, tendo o Estado
como indutor desse modo de organização e prática do turismo, com incentivo à
participação ativa da comunidade que formou a rede.
Palavras Chave: Hospitalidade. Turismo de Base Local. Hospedagem Familiar.
ABSTRACT
This paper presents initial information and reflections on the relationship between the
Network of Family Accommodation, structured in Belém-PA to receive participants in
the World Social Forum - 2009, and the ideas and assumptions on local tourism,
aiming to understand the process of deployment of the network. The methodology
was a literature search for a theoretical and conceptual approach to hospitality and
local tourism, beyond documental search about the project which developed the
Network of Family Accommodation in Belém-PA, available to authors for the State
Tourism Company - PARATUR, an agency of state government responsible for
coordinating the deployment of the. The paper concludes that the project was
conceived and executed as close to the concepts and assumptions of the local
tourism and that state was the inducer of this mode of organization and practice of
tourism, encouraging the active participation of the community that formed the
network.
Keywords: Hospitality. Local Tourism. Family Accommodation.
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1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento do turismo, contextualizado no capitalismo e nas
características da sociedade marcada por tal modo de produção, apresenta diversos
aspectos e conseqüências que,
estudadas contemporaneamente,
apontam
problemas na relação da atividade turística com o meio natural e c om os grupos
sociais envolvidos ou atingidos.
Os problemas relacionados ao turismo, como a degradação ambiental, as
alterações nas culturas autóctones, concentração dos lucros e exclusão de pessoas
nas dinâmicas social e econômica, instigam à reflexão sobre as possibilidades de
um modo de desenvolvimento dessa atividade onde esses e outros efeitos nãobenéficos sejam minimizados ou inexistentes.
Esse contexto envolve os estudos e experiências do turismo de base local,
que traz consigo uma alternativa de planejamento e implantação da atividade
turística, com uma ética que considera primordial a participação ativa da comunidade
autóctone, a distribuição equitativa dos ganhos, o respeito pelo ambiente natural, a
valorização da cultura local, entre outros aspectos.
1418
Desse modo, este trabalho procura relacionar a Rede de Hospedagem
Familiar, estruturada em Belém-PA inicialmente para atender a demanda de
participantes do Fórum Social Mundial – 2009, com as concepções e premissas do
turismo de base local, visando compreender as ações do processo de implantação
da Rede, e analisar sua relação com esse modelo de turismo.
Este estudo apresenta relevância no contexto das pesquisas sobre turismo de
base local por tratar de um assunto ainda pouco explorado – a hospitalidade no
turismo de base local – com abordagem de um projeto governamental ainda não
estudado cientificamente – a Rede de Hospedagem Familiar, em Belém-PA. Assim,
apresenta uma contribuição para o aprofundamento e adensamento teórico dessa
proposta de modelo de turismo.
A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, com o estudo de caso da Rede
de Hospedagem Familiar em Belém-PA. Para Chizzotti (2008, p. 102), o caso é
tomado como unidade significativa do todo que “tanto revela uma realidade quanto
revela a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada situação”.
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A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica, para um embasamento
teórico e conceitual sobre hospitalidade e turismo de base local e uma pesquisa
documental sobre o projeto que estruturou a Rede de Hospedagem Familiar em
Belém-PA, disponibilizado aos autores pela Companhia Paraense de Turismo –
PARATUR, órgão do Governo do Estado responsável pela coordenação das ações
de implantação da rede.
2 TURISMO DE BASE LOCAL
Na bibliografia sobre turismo de base local, recente e ainda um tanto restrita,
encontram-se outros termos que são essencialmente sinônimos a este conceito, a
saber, “turismo de base comunitária”, “turismo comunitário” e até mesmo “turismo
situado”. Neste trabalho, optamos por utilizar o termo “turismo de base local” por
considerar que é necessário um aprofundamento teórico e conceitual sobre
“comunidade” e “comunitário”, para uma coerente utilização desses termos.
Assim, o “local” aqui se revela muito mais próximo à teoria do “sítio simbólico
de pertencimento”, de Hassan Zaoual (que também merece maior discussão e
análise teórica e prática), onde esses sítios representam “comunidades de sentido”,
ou seja, não considera necessariamente uma demarcação ou limites físicos, mas é
no campo simbólico e identitário que o local configura-se e tal configuração pode ou
não acontecer em um espaço delimitado (apud BARTHOLO, 2009).
Araújo e Gelbcke (2008, p.366) apresentam a idéia de que, no contexto da
crise socioambiental e do crescimento do turismo massificado, o turismo de base
local “é um estratégia de desenvolvimento para grupos com menores condições de
ingressarem de maneira autônoma na cadeia produtiva do turismo”. No entanto,
ainda que seja coerente, esta concepção restringe as possibilidades de atuação
desse modelo de desenvolvimento do turismo, contribuindo para o entendimento de
que somente “comunidades de baixa renda” ou as chamadas “comunidades
tradicionais” podem desenvolver esse tipo de turismo.
Já para Irving (2009, p.111), o turismo de base local só poderá ser
desenvolvido se os protagonistas deste lugar forem sujeitos e não objetos do
processo. “Neste caso, o sentido de comunitário transcende a perspectiva clássica
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das „comunidades de baixa renda‟ ou „comunidades tradicionais‟ para alcançar o
sentido de comum, de coletivo”. Ainda para essa autora,
Este tipo de turismo representa, portanto, a interpretação “local” do turismo,
frente às projeções de demandas e de cenários do grupo social do destino,
tendo como pano de fundo a dinâmica do mundo globalizado, mas nã o as
imposições da globalização (IRVING, 2009, p. 111)
Vale ressaltar que o turismo de base local não corresponde simplesmente a
mais um tipo de turismo, nem um segmento mercadológico criado para atender a
uma demanda específica. Muito mais que isso, o turismo de base local é uma
proposta de modelo para o planejamento, gestão e prática do turismo (IRVING,
2009; ZECHNER, HENTIQUÉZ e SAMPAIO, 2008).
O desenvolvimento desta atividade exige a incorporação de princípios e
valores éticos, uma nova forma de pensar a democratização de
oportunidades e benefícios, e um novo modelo de implantação de projetos,
centrado em parceria, co-responsabilidade e participação [...] (ZECHNER;
HENRÍQUEZ E SAMPAIO, 2008, p. 12)
1420
Desse modo, o turismo de base local ultrapassa o sentido de uma atividade
produtiva para estimular a cooperação nas relações sociais, valorizando os recursos
de um território. E esse modo de desenvolvimento do turismo utiliza-se do conceito
de território, “pois enseja o desenvolvimento do turismo a partir de critérios e
prioridades pautadas nos interesses das comunidades autóctones; induzindo a
construção de sistemas produtivos localizados [...]” (ARAÚJO E GELBCKE, 2008,
p.366)
Irving (2009) apresenta seis premissas para o desenvolvimento do turismo de
base local, que subsidiarão as análises presentes neste trabalho – juntamente com
os demais aspectos teóricos apresentados – a saber:
1. base endógena da iniciativa e desenvolvimento local:
Para o desenvolvimento do turismo de base local deve haver motivação
endógena à localidade, ainda que agentes externos – como o Estado, instituições de
ensino e pesquisa e organizações não-governamentais – funcionem como indutores
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das iniciativas. Além disso, os objetivos com o desenvolvimento desse modelo de
turismo devem expressar os desejos dos grupos sociais locais.
2. Participação e protagonismo social no planejamento, implementação e
avaliação de projetos turísticos:
Em iniciativas de turismo de base local é imprescindível o engajamento e a
participação ativa dos agentes locais, com uma postura pró-ativa sob a ótica da coresponsabilidade nos processos de planejamento, implementação e avaliação dos
projetos turísticos.
No entanto, Irving (2008, p.114) ressalta que
[...] os processos participativos são lentos, envolvem custos adicionais nem
sempre considerados nos orçamentos em planejamento turístico, e exigem
um elevado investimento em formação de recursos humanos e construção
de arcabouços metodológicos capazes de lidar com as especificidades
locais e gerar respostas.
Desse modo, não são viáveis grandes resultados e mudanças em curto prazo
1421
no que se refere ao turismo de base local, uma vez que as ações para que os
grupos sociais locais dominem a auto-gestão da atividade turística é precedido de
um processo longo, que deve contar com um processo contínuo de educação para
esse modelo de desenvolvimento do turismo.
3. Escala limitada e impactos sociais e ambientais controlados:
O turismo de base local, por ser uma alternativa aos impactos e malefícios do
turismo massificado, deve acontecer com limites na recepção de turistas – devendo
desenvolver metodologias para apontar tais limites –, garantindo qualidade nas
dinâmicas sociais e nos aspectos ambientais, pois, segundo Irving (2008, p. 115)
“sem qualidade social e ambiental uma iniciativa comunitária tende a se fragilizar
com o tempo e, se esta estiver associada a um projeto turístico, muito
provavelmente terá a sua atratividade reduzida progressivamente”.
4. Geração de benefícios diretos à população local:
Os projetos de turismo de base local devem desenvolver dispositivos e
mecanismos para que os ganhos alcançados com o turismo sejam acessados pelos
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grupos sociais locais e que sejam transformados em melhoria na qualidade de vida,
de acordo com as necessidades locais.
5: Afirmação cultural e interculturalidade:
O turismo de base local deve acontecer – ao contrário do turismo massificado
– sem imposições de alterações nas culturas locais e fazendo destas culturas o
sentido da atratividade à visitação e o motivador de intercâmbio cultural entre
autóctones e turistas.
Irving (2209, p. 116) ressalta que
a valorização da cultura local constitui parâmetro essencial em turismo de
base comunitária, não no sentido de sua importância na configuração de um
“produto” de mercado, mas com o objetivo de afirmação de identidades e
pertencimento.
Desse modo, no turismo de base comunitária a interação entre as culturas
dos agentes envolvidos, que ocorre no sítio simbólico de pertencimento, deve
acontecer sem espetacularização – como no turismo massificado, para atender aos
anseios do mercado capitalista –, mas sim como uma maneira de se aproximar à
alteridade e valorizar a cultura local.
6: O “encontro” como condição essencial:
Semelhante a premissa da afirmação cultural e da interculturalidade, o
turismo de base local pode promover o encontro entre grupos sociais, permitindo o
compartilhamento de conhecimentos e aprendizagem mútua, com um “intercâmbio
real entre os sujeitos „que recebem‟ e os que „são recebidos‟” (IRVING, 2009, p.
116).
Araújo e Gelbcke (2008) apontam ainda a existência de uma relação dialética
entre os turistas e a comunidade receptora. Zechner, Hentiquéz e Sampaio (2008, p.
07) relacionam essa dialética à concepção de “convivencialidade” existente no
modelo de turismo em questão. Tal conceito compreende “uma relação social que se
interesse pelo outro, pelo diferente, pela alteridade [...]. A convivencialidade
potencializa espaços produtivos não economicistas de ganho coletivo”.
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O turismo de base local contempla modos pouco usuais de atividades
turísticas, que normalmente não são consideradas interessantes pelo “turista de
massa”, como as relacionadas aos modos de alimentação e moradia. Bartholo
(2009, p. 51) expõe que “no caso específico dos serviços turísticos os padrões
relacionais de acolhida e hospitalidade são elementos-chave para práticas situadas
de turismo de base comunitária”.
3 HOSPITALIDADE E TURISMO DE BASE LOCAL
Grande parte dos estudos realizados sobre a hospitalidade a analisa sob a
perspectiva comercial. Entretanto, por ser considerada um tipo de relação humana,
ela tem sido tratada por diversas áreas do conhecimento, entre elas a filosofia, a
geografia e as ciências sociais.
Camargo (2003) observa que para delimitar seu campo de estudo, na área
das ciências sociais, a hospitalidade pode ser dividida entre o eixo cultural e o social.
O primeiro envolve as 04 ações: receber, hospedar, alimentar e entreter pessoas;
enquanto o segundo apresenta 04 domínios: doméstico, público, comercial e virtual,
sendo que os três primeiros domínios foram baseados na obra “Em busca da
hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado”, organizado por Lashley e
Morrison em 2000.
Desta forma, Camargo (2003, p.19) define hospitalidade como “o ato humano,
exercido em contexto doméstico, público ou profissional, de recepcionar, hospedar,
alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas do seu habitat”. O autor
afirma ainda que dezesseis eixos teóricos para o estudo da hospitalidade surgem a
partir da interseção das ações e domínios dos eixos cultural e social.
Dada a amplitude do significado da hospitalidade, convém mencionar a
opinião de Godbout (1999). Para ele, o termo apresenta duas situações contrárias,
pois quando o anfitrião recebe o hóspede, ele também oferece acolhida e
alimentação, concluindo-se que o receber alguém implica em dar-lhe algo. Nota-se,
porém que o hóspede, por sua vez, sente-se na obrigação de retribuir a ação do
anfitrião.
Assim, as relações de hospitalidade baseiam-se nas ações de dar, receber e
retribuir. Em outras palavras, a relação é sempre de troca. Exemplificando, Pimentel
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(2007) observa que quando recebemos alguém, criamos também a possibilidade de
um dia nos tornarmos hóspedes daquele que recebemos. Para ela,
A mesma troca que me faz anfitrião,faz-me também um hóspede potencial.
Isto ocorre porque "dar e receber" implicam não só uma troca material,
mas também em uma troca espiritual, uma comunicação entre almas
(p.60).
Ao ressaltarem-se as relações de troca, diversos estudiosos do tema
abordado aproximam-no da teoria da dádiva de Mauss, que em seu “Ensaio sobre a
Dádiva”, publicado pela primeira vez em 1923, denomina como dom ou dádiva o
sistema de reciprocidade que está presente na totalidade da vida social (moral,
literatura, economia, religião, etc.) em todas as sociedades. As trocas nesta teoria
não se referem apenas ao que é material, mas também ao espiritual.
Autores como Godelier (2001) e Godbout (1999) divergem em suas opiniões
quanto à relação entre o sistema da dádiva e os sistemas de mercado. Godbout
acredita que a dádiva penetra nos sistemas do mercado e do Estado, enquanto para
Godelier, esses sistemas são opostos. Entretanto, Lanna (apud PIMENTEL, 2007,
p. 105) afirma que “há instâncias onde cada uma dessas idéias opostas se verificam,
a mercadoria ora pressupondo, ora destruindo a dádiva”, ou seja, há momentos em
que as lógicas da dádiva e da mercadoria são conflitantes, mas há outros em que
elas se complementam.
Considerando-se a dádiva como algo gratuito que está fora do sistema do
mercado, entende-se que a hospitalidade como dádiva pode ocorrer em diversos
ambientes. Comercialmente, por exemplo, há situações nos meios de hospedagem
tradicionais onde a relação entre anfitrião e hóspede excede o que é determinado
pelo contrato, tal como quando o recepcionista se propõe a ajudar o hóspede ao
perceber que ele está com alguma dificuldade.
Entretanto, por diversas razões, a dádiva na hospitalidade é mais facilmente
reconhecível nos espaços onde se desenvolve o turismo de base local.
Primeiramente por verificar-se que nestes ambientes, a relação entre anfitriões e
hóspedes não é meramente econômica, visto que há o real interesse no intercâmbio
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entre eles, ou seja, na troca de informações através da descoberta e da observação
de suas respectivas culturas.
Nos sítios simbólicos de pertencimento, a percepção do que é turístico parte
da própria comunidade. Sansolo e Bursztyn (2009, p. 150), afirmam que
o sítio é cheio de significados próprios, valorizados pela comunidade, e que
se coloca disponível para o intercâmbio. Não comercializam o que os
turistas desejam; disponibilizam o que entendem ser valoroso, em termos
culturais e ambientais. No intercâmbio, as relações são o princípio
fundamental do turismo de base comunitária, assim como quem busca está
aberto a se adaptar e valorizar os códigos dos lugares visitados. Trata-se,
portanto, de um turismo que tem nas relações de hospitalidade a principal
motivação.
As trocas interpessoais são uma necessidade humana e os pontos de
encontro são fundamentais para que elas ocorram. Tais pontos podem estar
localizados nos meios de hospedagem comerciais, porém destacam-se os
estabelecimentos menores, administrados pela própria família e que permitem uma
aproximação maior entre visitantes e visitados, ou seja, o que se chama de
hospedagem domiciliar.
Excluindo-se os casos dos imóveis alugados para temporada, a hospedagem
domiciliar trata-se de um empreendimento em que os moradores disponibilizam
parte de sua residência para receberem turistas mediante pagamento. Entretanto,
apesar do aspecto comercial, esta forma de hospedagem se diferencia das demais.
Para Pimentel (2007, p. 19) sua principal característica é a de criar “um espaço
privilegiado de promoção do encontro de qualidade entre hóspedes e anfitrião”. Ela
elenca também diversas vantagens da hospedagem familiar sobre as demais
formas, dentre elas o fato de não exceder a capacidade de carga local por não exigir
novas construções, a distribuição da renda entre a comunidade, o resgate dos
modos tradicionais de moradia, a possibilidade do proprietário poder exercer outras
atividades e não depender exclusivamente do turismo, além dos preços que
normalmente são mais acessíveis.
Estas características fazem com que diversas comunidades que desenvolvem
a atividade turística com base local utilizem-se desta modalidade como importante
meio de hospedagem. Há exemplos em todo o Brasil e alguns deles podem ser
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visualizados entre os cinqüenta projetos apoiados pelo Ministério do Turismo - MTur
por meio do Edital nº 01/2008 e descritos no livro “Turismo de Base Comunitária:
Diversidade de Olhares e Experiências Brasileiras”, editado eletronicamente em
2009 pelo MTur. São os casos de comunidades no município de Nova Olinda, no
Ceará, Maxaranguape, no Rio Grande do Norte, Morretes, no Paraná e Barão de
Melgaço, no Mato Grosso, entre outros.
No Estado do Pará, temos exemplos no município de Santarém, onde através
do Projeto Saúde e Alegria, grupos de visitantes podem conhecer parte da fauna e
flora amazônica e integrarem-se às comunidades, principalmente ao hospedarem-se
em suas casas; e na Praia do Pesqueiro, na Ilha do Marajó, através da Associação
das Mulheres do Pesqueiro que hospedam grupos de até dez pessoas por
residência.
A hospedagem domiciliar tem sido incentivada pelo poder público no Brasil.
Pimentel (2007) apresenta casos de hospedagem domiciliar em rede e dentre eles o
Projeto Cama e Café, de iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo,
desenvolvido em municípios que não possuem sistema de hospedagem formal. O
incentivo do governo surge para solucionar questões referentes à insuficiente
quantidade de leitos disponíveis, especialmente no momento em que um município é
escolhido para sediar um grande evento, como por exemplo, o Pan 2007, que
despertou o interesse da Prefeitura do Rio de Janeiro para esta modalidade de
hospedagem.
Em Belém, no Pará, a hospedagem domiciliar foi impulsionada pelo Governo
do Estado a partir de 2008 em virtude da realização do Fórum Social Mundial em
2009, tratada com mais detalhes no capítulo que segue.
4 A REDE DE HOSPEDAGEM FAMILIAR E O TURISMO DE BASE LOCAL EM
BELÉM-PA
Ao preparar-se para receber, em 2009, o Fórum Social Mundial - FSM, o
Governo do Estado constatou que em Belém, cidade sede do evento, o parque
hoteleiro convencional dispunha de 6.000 leitos, o que não seria suficiente para
atender a uma expectativa de mais de 100.000 participantes.
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A solução encontrada para suprir a carência de leitos foi a criação de uma
rede de hospedagem domiciliar, através da parceria com o Ministério do Turismo,
elaborando-se, assim, o Projeto de Implantação da Rede de Hospedagem Familiar
(PARÁ, 2009), pioneiro no Estado, que teve duração de 08 meses e consistia na
identificação, cadastro e seleção de residências, qualificação dos proprietários,
certificação, inclusão no banco de dados do FMS e criação de uma central de
reservas.
A rede abrangeu toda a região metropolitana de Belém, composta pela sede,
suas ilhas e distritos e por mais 04 municípios. Das 1.485 residências cadastradas,
955 foram selecionadas, resultando na disponibilidade de 7.503 leitos, divididos
entre camas de casal e de solteiro, colchonetes e redes, de acordo com a tabela 1.
TABELA 1: TIPOLOGIA DE LEITOS/QUANTIDADE
TIPOLOGIA DE LEITOS
Nº de
LEITOS
Cama de Casal
2.280
Cama de Solteiro
1.602
Colchonete
1.443
Rede
2.178
TOTAL
7.503
Fonte: PARATUR, 2009.
A central de reservas possibilitou um sistema on line no próprio site do
evento, que totalizou 180 atendimentos, com reservas para 1.153 hóspedes. As
informações obtidas durante os registros dos atendimentos serviram para se obter
um perfil dos que se utilizaram da rede, visando contribuir para futuras ações,
embora no relatório final do projeto, disponibilizado aos autores pela Companhia
Paraense de Turismo – PARATUR, este perfil refira-se apenas à nacionalidade dos
hóspedes, conforme a tabela 2, ou à naturalidade, no caso de brasileiros.
TABELA 2: QUANTIDADE DE HOSPEDE POR NACIONALIDADE
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HÓSPEDE POR NACIONALIDADE
Brasil
272
Itália
Argentina
Chile
Suécia
Alemanha
Espanha
USA
Canadá
Austrália
França
Peru
Suíça
Noruega
Índia
Paraguai
México
G.Francesa
Colômbia
Nepal
20
09
16
09
05
05
23
11
01
14
01
01
03
16
01
02
18
02
01
Fonte: PARATUR, 2009.
1428
Baseando-se no mencionado relatório e na fundamentação teórica discutida
nos capítulos anteriores, em especial, nas premissas para o turismo de base
comunitária levantadas por Irving, foi possível estabelecer uma relação entre a Rede
de Hospedagem Familiar em Belém e o turismo de base local.
Como primeira premissa, Irving (2009) aponta a “base endógena da iniciativa
e desenvolvimento local”. Embora o projeto tenha sido idealizado pelo Governo do
Estado, a participação das comunidades da Região Metropolitana de Belém foi
fundamental para o seu sucesso. O poder público, portanto, atuou como um indutor
da ação ao utilizar recursos que deram à população local uma nova oportunidade de
aumento da renda e de desenvolvimento local, visto que este tipo de iniciativa
contribui para o aumento da sua auto-estima e estimula a conservação urbana.
Ressalta-se também a importância do Estado como indutor quando se visualiza no
gráfico 1 que a maior parte dos entrevistados na avaliação realizada ao final do
projeto, não conhecia este modo de hospedagem. Para a equipe coordenadora, este
fato foi considerado inicialmente um entrave na sua implementação.
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GRÁFICO 1: CONHECIMENTO SOBRE A HOSPEDAGEM FAMILIAR
Fonte: PARATUR, 2009.
De acordo com o relatório, a participação dos proprietários das residências
nas oficinas de qualificação foi bastante ativa, mas o processo necessário para a
implantação da rede foi considerado longo, visto que a mobilização das
comunidades e sua preparação exigiram investimentos e mudanças de metodologia
para adaptarem-se à realidade local. Tais constatações vinculam-se à premissa da
“participação e protagonismo social no planejamento, implementação e avaliação de
projetos turísticos”.
Ao analisar-se o que Irving (2009) denomina “escala limitada e impactos
sociais e ambientais controlados”, percebe-se uma relação com as considerações
que Pimentel (2007) faz à hospedagem domiciliar. Assim, iniciativas como a Rede de
Hospedagem Familiar inibem a alta concentração de turistas num mesmo local, ao
atenderem pequenos grupos; não alteram a diversidade de atividades econômicas
da localidade por não estimularem os proprietários a dedicarem-se exclusivamente à
atividade turística, e não excedem a capacidade de carga local, visto que não
necessita de novas construções.
Ainda reportando-se a Camargo (2007), verifica-se que na hospedagem
domiciliar a renda é distribuída entre a comunidade, além de tornar -se uma
alternativa para a redução do desemprego. Estas características estão em sintonia
com a premissa da “geração de benefícios diretos à população local”. No relatório do
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projeto da Rede de Hospedagem Familiar, ressaltou-se que o desenvolvimento do
projeto “possibilitou que se colocasse em prática um dos maiores objetivos da
atividade turística, que é a distribuição de renda sem distinção de classe social”
(PARÁ, 2009, p.09). O referido documento explica que a metodologia utilizada para
a atribuição de preços aos serviços de hospedagem e alimentação se baseou nas
despesas comuns de manutenção de uma residência somadas ao que se
considerou uma renda solidária. Considerando que os valores abaixo se referem a
janeiro de 2009, a tabela 3 indica que os preços das diárias e a renda (por hóspede
e por dia de hospedagem) variavam conforme a classificação dos imóveis, sendo
cobrados R$ 25,00 para o “simples” e R$ 35,00 para o “superior”, de acordo com o
nível de conforto.
TABELA 3: COMPOSIÇÃO DE CUSTOS E RENDA
DIÁRIA (R$)
25,00
ITENS DE DESPESAS
Água, Energia, Telefone, Gás
9,78 (30%)
Material de limpeza
2,00
Auxiliar
2,00
Café-da-manhã (média)
6,00
TOTAL
19,78
RENDA PROPRIET ÁRIO
5,22
DIÁRIA (R$)
35,00
TAXA (R$)
ITENS DE DESPESAS
1430
TAXA (R$)
Água, Energia, Telefone, Gás
13,00 (40%)
Material de limpeza
4,00
Auxiliar
4,00
Café da manhã (média)
6,00
TOTAL
27,00
RENDA PROPRIET ÁRIO
8,00
Fonte: PARATUR, 2009.
A remuneração aos proprietários foi mediada pelo Governo Estadual, pois o
participante, através do site do evento, encaminhava o comprovante do pagamento
e recebia um voucher, que garantia ao proprietário o direito de receber, do Estado, o
valor acordado pelas diárias.
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Quanto às duas últimas premissas, a “afirmação cultural e interculturalidade”
e “o „encontro‟ como condição essencial”, deve-se destacar a importância da
valorização da cultura local e o intercâmbio entre os participantes do evento e os
anfitriões. Como este estudo trata de reflexões introdutórias, o seu aprofundamento
necessita ainda, entre outros, de uma pesquisa junto aos proprietários para se ter
mais clareza de como se deram as trocas de experiências entre visitantes e
visitados.
Após a realização do Fórum Social Mundial, os proprietários avaliaram o
projeto junto à equipe coordenadora. O relatório informa que nessa avaliação feita
junto a uma amostra dos proprietários, apenas 10% apontou exclusivamente a renda
extra como motivo para sua participação. Os demais indicaram também a
possibilidade de conhecer pessoas e culturas diferentes. Aliás, para 40% deles, esta
era a única motivação (PARÁ, 2009).
Uma curiosidade observada neste projeto foi a presença da rede (de
descanso) na contabilização dos leitos, algo incomum quando se estuda
convencionalmente a oferta de meios de hospedagem. Acredita-se que esta foi uma
forma de valorizar este utensílio de origem indígena e muito utilizado no Brasil,
principalmente nas regiões norte e nordeste.
Portanto, nota-se que o projeto da Rede de Hospedagem Familiar apresenta
diversos traços que possibilitam uma relação com parte da produção teórica que
busca conceituar o turismo de base local. Sabe-se, porém, que esta foi uma ação
pontual e não se tem conhecimento de sua continuidade, um ano após a realização
do evento que a motivou.
Apesar da avaliação do projeto ter sido realizado com uma amostra em torno
de apenas 5% de proprietários que tiveram suas residências ocupadas, o relatório
aponta o desejo de continuar recebendo hóspedes, que foi demonstrad o por 100%
dos entrevistados. Os proprietários foram questionados também sobre a satisfação
em terem recebido visitantes e 70% informaram que suas expectativas foram
atendidas. A insatisfação dos demais 30% deveu-se principalmente à não ocupação
total dos leitos ofertados e ao valor “baixo” das diárias. Esta visão deve ser disc utida
entre as comunidades, no caso de continuação do projeto, visto que o turismo de
base local não deve ter como único objetivo os benefícios econômicos. Nele o ganho
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é coletivo e, por esta razão, os valores das diárias devem ser calculados de modo a
favorecer também os visitantes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Rede de Hospedagem Familiar de Belém foi instalada por iniciativa do
Governo do Pará, detectada a insuficiência da capacidade dos meios de
hospedagem tradicionais da cidade para receber os participantes do Fórum Social
Mundial – 2009. Assim, o Estado foi o indutor desse tipo de hospedagem – que está
inserido na lógica do turismo de base local – em detrimento de outras alternativas
existentes no mercado turístico tradicional.
Então não se pode dizer que houve uma iniciativa endógena de grupos locais,
mesmo porque se deve considerar que o turismo de base local e as hospedagens
domiciliares ainda são novos e pouco conhecidos na sociedade em geral, o que faz
da experiência em Belém ser, além de pioneira, um modo de divulgação e
apresentação desse modelo de desenvolvimento do turismo à sociedade local.
Além disso, o projeto teve ampla aceitação de proprietários de residências na
Região Metropolitana de Belém, o que proporcionou uma grande participação
dessas pessoas nas atividades do projeto. Vale ressaltar que, de acordo com a
avaliação feita pela coordenação das ações de implantação da rede, várias pessoas
foram motivadas a participar do projeto pelas possibilidades de intercâmbio cultural
com os hóspedes e benefícios financeiros ao receber turistas em suas casas.
Portanto, é possível perceber a relação da Rede de Hospedagem Familiar com
concepções e premissas do turismo e base local.
Para que se caracterize de fato como ação de base local é necessário que
parta das comunidades o interesse na continuação do projeto. Elas deverão
participar de todas as etapas do planejamento, execução e avaliação das iniciativas
ligadas à hospitalidade domiciliar. O poder público, a sociedade civil organizada ou
mesmo as instituições de ensino podem agir como indutoras ou auxiliares no
processo, mas com o objetivo de preparar a população local para o autogerenciamento da ação.
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A hospitalidade é apenas uma parte da atividade turística. Portanto, a partir
desse projeto, as comunidades poderão também ampliar as ações voltadas ao
turismo de base local.
REFERÊNCIAS
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INDICADORES MUNICIPAIS PARA A GESTÃO PÚBLICA DO TURISMO: UMA
ANÁLISE SOBRE A EVOLUÇÃO DO SETOR NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
ENTRE 2003 E 2006
Marcelo Augusto Mascarenhas
Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisa Social / CEFET-RJ; NUPETUR/UFOP;
GETDS/UNIRIO; NEITT/CEFET-RJ
[email protected]
RESUMO
Com o crescimento do setor de turismo, Estado e iniciativa privada têm aumentado
seu interesse por este campo. Na busca por melhor entendimento e capacidade de
gestão sobre a atividade, ambos stakeholders passaram a demandar instrumentos
capazes de gerar suporte aos processos de decisão que envolvem a gestão do
turismo. Frente à demanda observada, o presente estudo tem como objetivo a
apresentação de dois indicadores municipais como proposta de ferramenta para a
observação de tendências no mercado turístico nacional. Sua metodologia é
baseada na análise das variações que ocorreram no mercado de trabalho formal,
dentro do setor de alojamento (atividade vista como estratégica na configuração do
mercado turístico total), a partir de dados da RAIS. Para explicar o uso de tais
instrumentos, foi realizada a aplicação destes nos 92 municípios do Estado do Rio
de Janeiro, entre 2003-2006. Como resultados do trabalho, verificamos as
oscilações ocorridas nos empregos formais do setor de alojamento nos municípios,
além da dependência aproximada que estas localidades têm em relação à economia
do turismo. Ao final deste estudo, chegou-se à conclusão que os indicadores
propostos são instrumentos que podem auxiliar gestores, investidores e estudiosos
do setor de turismo na observação de tendências sobre a expansão ou retração
deste mercado.
Palavras Chave: turismo; indicadores; municipal; tendências.
ABSTRACT
With the growth of tourism sector, Government and private initiatives have increased
their interest in this field. In the search for better understanding and capacity
management on the activity, both stakeholders began to demand tools that generate
support for decision-making involving the management of tourism. Facing the
demand observed, the present study aims at the presentation of two municipal
indicators as proposed tool for the observation of tren ds in the domestic tourist
market. His methodology is based on the analysis of the changes that have occurred
in the formal labour market, in the sector of accommodation (activity seen as
strategic in the configuration of the total tourism market), from the data RAIS. To
explain the use of such instruments, the application of these was held in 92
municipalities in the state of Rio de Janeiro, between 2003-2006. As results of the
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work, see the oscillations occurred in the formal employment sector of housing in
municipalities, and the approximate dependence which some locations have in
relation to the economy of tourism. At the end of this study, it was concluded that the
proposed indicators are tools that can help managers, investors and scholars in the
sector of tourism, in the observation of trends on the expansion or retraction of this
market.
Key words: tourism; indicators; municipal; trends.
1 INTRODUÇÃO
A partir dos anos 90, com a expansão do mercado turístico e a exibição anual
de suas volumosas taxas de crescimento, o setor mencionado tem obtido cada vez
mais a atenção do Estado, investidores e gestores da iniciativa privada (VALLS,
2006).
Mesmo que não
tenha condições de
assumir
por
completo
as
responsabilidades da máquina estatal na gestão pública do turismo (FRATUCCI,
2005), é bastante clara a posição deste ator em não querer abrir mão de seu status
de articulador no trabalho de organização da atividade turística nacional. De acordo
com o Ministério do Turismo [Mtur] (2007), o Plano Nacional de Turismo 2007-2010
é um instrumento de ações estratégicas, voltado para o planejamento e gestão deste
campo, que busca estabelecer a continuidade das ações já desenvolvidas por este
mesmo órgão, e pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo).
A partir de uma ótica mais generalista sobre a atuação do Estado, podemos
dizer que, uma vez abandonada a figura de provedor, esta organização assumiu
para si as funções de regulação, indução e articulação (BENI, 2003). Com o avanço
das tecnologias de gestão, o uso e a administração da informação tornaram-se
esforços cada vez mais necessários para avaliar os resultados das ações estatais,
conhecer seus cenários de atuação, e também para adequar o trabalho desta
instituição às demandas da sociedade e iniciativa privada.
Frente a este novo comportamento no campo do turismo, podemos dizer que
o presente estudo tem o objetivo de apresentar dois indicadores municipais como
proposta de ferramenta para a observação de tendências no mercado turístico em
seus mais diferentes níveis de gestão (municipal, estadual e federal). A justificativa
para realização deste trabalho é a necessidade de instrumentos informacionais que
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dêem um maior suporte às ações descentralizadas quem têm sido implantadas no
Brasil desde meados da década passada.
2 REFLEXÕES SOBRE TURISMO E SEUS ESFORÇOS DE GESTÃO
Para compreendermos um pouco melhor o universo a ser estudado aqui, é
interessante apresentar uma das muitas definições de turismo exibidas por Beni, que
apresenta a atividade como “a provisão de transporte, alojamento, recreação,
alimentação e serviços relacionados para viagens domésticas e do exterior.
Compreende a viagem para todos os propósitos, desde recreação até negócios”
(Ansett Air Lines, 1997 apud BENI, 2001, p. 34). Sobre a demarcação teórica exibida
acima, podemos afirmar que o texto em questão desenvolve um olhar mais
atencioso sobre o campo da oferta turística, que De Rose (2002) diz ser a união dos
recursos naturais, culturais, equipamentos, bens e serviços disponibilizados por uma
localidade a aqueles que a visitam.
Ao falar sobre a definição de turismo, Cooper et al. (2001), as Nações Unidas
- ONU e a Organização Mundial do Turismo - OMT (UNITED NATIONS; WORLD
TOURISM ORGANIZATION, 2007) destacam este setor sob duas óticas: a da oferta
e a da demanda. Por questões de objetividade deste trabalho, vamos direcionar o
foco deste apenas sob o primeiro caso, onde pesquisaremos especificamente a área
de alojamento. De acordo com o manual sobre a conta satélite de turismo, observase que o campo abordado (o setor de alojamento, neste caso) é uma das seis
atividades consideradas características do setor de turismo. Além da área de
alojamento, esta listagem destaca também os campos de: provisão de alimentos e
bebidas, transporte e serviços associados (locação de automóveis), organização de
viagens, guias turísticos, e serviços recreativos e culturais entre outros (MINISTÉRIO
DO ESPORTE E TURISMO; INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO, 1999).
Ainda que a estrutura do setor de turismo seja baseada tanto na sua oferta
quanto na demanda, vemos que a maioria dos indicadores relacionados a este setor
estão concentrados no segundo item. Com a proposta de exibir um olhar
diferenciado acerca do setor de turismo, vamos trabalhar aqui com indicadores que
são construídos essencialmente a partir de dados da oferta, que será representada
mais especificamente pelo número de empregados formais listados durante o ano.
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Outros detalhes sobre este tópico poderão ser observados na metodologia deste
estudo.
Uma das justificativas pela escolha do setor de alojamento para a construção
dos indicadores aqui utilizados, se deve ao fato deste ser um dos campos que mais
gera empregos formais dentre as diferentes atividades características do turismo.
Outra razão para tal escolha é a dependência deste segmento em relação ao setor,
uma vez que este dificilmente sobreviveria sem a existência da atividade turística
(COOPER et al., 2001). Ainda que não seja ideal tentar avaliar o mercado turístico
por meio de apenas um segmento, vale notar que o movimento do setor hoteleiro
pode ser um bom indicador de tendências sobre o que de fato tem ocorrido na área
maior aqui citada. Acerca deste assunto, confirmando o potencial atrativo que os
equipamentos turísticos podem agregar a um certo destino, é interessante notar as
palavras de Beni quando o autor fala sobre a oferta básica de uma localidade:
[...] sem levar em consideração os atrativos naturais das regiões que
motivam, numa primeira etapa, a criação de fluxos turísticos, pode-se definir
a oferta básica como o conjunto de equipamentos, bens e serviços de
alojamento, de alimentação, de recreação e lazer, de caráter artísticos,
cultural, social ou outros tipos, capaz de atrair e assentar numa determinada
região, durante um determinado período de tempo, um público visitante
(BENI, 2001, p. 159).
Ainda segundo Beni (2001, p. 160), os elementos em questão podem tanto
ser observados como subprodutos de um “produto turístico total” (isto sob uma ótica
macroeconômica do setor), ou como produtos turísticos em si (aqui sob um olhar
microeconômico). Apesar dos atrativos naturais, cultura, eventos e outros fatos
serem muito mais atrativos do que a infraestrutura turística de um local, é pertinente
entender que existem muito poucos turistas que se aventuram p or uma destinação
turística sem a presença deste suporte oferecido pelos serviços básicos (alojamento,
alimentação, transporte, agenciamento, etc.), ou seja, por mais atrativos que uma
localidade tenha, é pouco provável que este espaço se firme ou se mantenha como
um destino turístico sem a presença de infra-estrutura turística adequada (esteja ela
no mesmo município ou em regiões próximas). É nítido que a presença de tais
elementos é significativa na atratividade de um local. Em suma, a conectividade
entre os processos mercadológicas da área de turismo, e o peso atribuído ao setor
de alojamento dentro deste complexo mercado, nos permite inferir positivamente
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acerca da representatividade que um estudo com indicadores baseados na área de
hospedagem pode ter sobre o campo de turismo como um todo.
Ao pensarmos mais detalhadamente sobre o uso de indicadores nos esforços
de gestão pública do turismo, é válido citar que “[...] a maioria dos órgãos públicos
responsáveis pelo desenvolvimento do setor ainda não utiliza pesquisas e estudos
técnicos para balizar suas ações, para entender melhor essa complexa atividade e
minimizar os possíveis desvios.” (BARBOSA, ZAMOT, 2004, p. 89-90). Ainda que
seja deficitário o uso de tais ferramentas, a demanda por este tipo de instrumento é
cada mais exposta em publicações acadêmicas e documentos oficiais. Bartholo,
Delamaro e Badin (2005, p. 7) falam que “é raro encontrar dados estatísticos
desagregados sobre a atividade; em sua maior parte, limitam-se a indicadores
econômicos, que não bastam para dar conta do fenômeno turístico. Há poucas
pesquisas e análises mais profundas sobre o tema e seus impactos”. Diante da idéia
expressa pelos três autores, podemos dizer que o trabalho desenvolvido aqui
avança nas limitações das pesquisas existentes por não se ater apenas a questões
econômicas, por trabalhar com dados em bom nível de desagregação espacial (no
caso, municípios), e por analisar um período histórico de grande representatividade
para o Plano Nacional de Turismo - PNT 2003-2007 e para o Programa de
Regionalização do Turismo - PRT (que essencialmente é uma continuidade do
Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT).
Sobre o processo de descentralização observado na gestão pública do
turismo, é pertinente notar que este movimento tem sido uma tendência desde o final
do governo de Itamar Franco, quando foi lançado o PNMT (CRUZ, 2000; DIAS,
2003; GIOLITO, 2006). Ainda que as idéias governamentais sobre o processo de
empoderamento dos territórios com menor amplitude apresentem uma tendência
otimista, onde se permite maior autonomia política e no exercício de tomada de
decisões, Fratucci (2005) destaca que este é um comportamento encontrado em
muitos países onde o Estado não consegue cumprir com suas obrigações,
transferindo-as desta maneira para outros níveis de governo. Ao contrário desta
ótica, Oliveira (2006) ressalta que este é um processo importante para o exercício de
planejamento e estruturação de políticas públicas.
Para melhor compreender o atual cenário da gestão no campo do turismo, é
relevante notar que a busca por indicadores capazes de ajudar na tomada de
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decisões é uma demanda mundial, onde poucas nações estão alguns passos à
frente das demais. De um modo geral, pode-se dizer que esta é uma pauta bastante
atual nas discussões e estudos que desenvolvem o assunto turismo e sua gestão,
seja ela pública ou privada. Delisle (2001) afirma que nunca foi tão necessário ao
setor de turismo ter acesso a dados freqüentemente atualizados e ferramentas para
a análise de tendências, capazes de dar suporte às atividades de planejamento,
gestão e promoção deste campo.
Na próxima seção, apresentaremos uma breve reflexão sobre tópicos que
relacionem a gestão da informação e o uso destes esforços no campo do turismo.
3 ASPECTOS SOBRE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E TURISMO
De acordo com os Planos Nacionais de Turismo 2003-2007 e 2007-2010, o
Programa de Regionalização do Turismo e o Sistema de Informações Turísticas,
vemos que o uso de informações na gestão do turismo nacional (e seus menores
níveis territoriais – estadual, regional e municipal) é um dos pontos mais importantes
nos esforços de gestão pública deste setor (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003;
2004; 2006 2007).
Apesar da necessidade acerca do uso de informações, sabe-se que o setor
de turismo é bastante carente no que diz respeito ao acesso a estes insumos. Bissoli
(2002) destaca que a obtenção de dados acaba sendo um dos maiores problemas
dos gestores, uma vez que tende a prevalecer a escassez ou precariedade de
recursos financeiros e técnicos, principalmente na área pública e pequenas
organizações. Sobre a produção de informações acerca do mercado turístico em
nosso país, é interessante notar que tem sido observado um avanço (se comparado
apenas ao cenário anterior) importante na qualidade e na quantidade destes
insumos, contudo, vemos a persistência de uma grande fragilidade no que diz
respeito à produção e uso de dados em níveis territoriais mais desagregados, assim
como a busca por indicadores que ampliem os horizontes até então utilizados pelos
gestores públicos do setor aqui trabalhado.
Segundo Wöber (2003), a construção de indicadores pode ser de grande
utilidade para a estruturação de sistemas de informação que dêem apoio às
decisões na gestão do turismo. Sobre o uso de sistemas de informação por gestores
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de turismo, é interessante notar que, segundo Wöber e Gretzel (2000), a ausência
de familiaridade com este tipo de tecnologia de gestão normalmente causa
afastamento e visões negativas acerca de tal ferramenta. Com base na questão
acima, é importante pensar no tipo de gestão pública que normalmente tem sido
praticada no turismo brasileiro (especialmente em territórios de menor amplitude).
Os responsáveis governamentais pelo setor de turismo são em muitas ocasiões
selecionados a partir de favores que precisam ser traçados entre diferentes partidos
políticos, o que em diversos momentos aproxima deste setor pessoas com pouco ou
nenhum conhecimento e comprometimento para com o turismo. Além destes pontos,
vale dizer que a carência de verbas para esta área, o lento processo de
informatização da gestão pública em nosso país (e suas divisões territoriais) e a
burocracia estatal acabam por contribuir com o não desenvolvimento e uso de
ferramentas informacionais que possam auxiliar nos esforços de gestão de um
destino turístico específico.
Sobre a construção de um instrumento que possibilite suporte às decisões
dos gestores de turismo, vale observar o processo descrito por Ritchie e Ritchie
(2000). Além da proximidade entre governo e mercado citada pelos autores, seria
interessante considerar uma participação mais efetiva da academia neste tipo de
trabalho tão complexo. Um dos pontos interessantes no processo de construção do
sistema abordado pelos autores é o aproveitamento de pesquisas já existentes e o
pleno conhecimento de seus concorrentes. Com o aumento da competitividade entre
as destinações turísticas, tem sido cada vez mais importante manter a atenção sobre
os movimentos produzidos pelas localidades concorrentes, e também sobre as
próprias alterações comportamentais no cenário mercadológico (KOPTLER,1994;
DWYER, FORSYTH, 2000; HASSAN, 2000; DWYER, KIM, 2003).
Ao falarmos da formatação de destinações turísticas, vale notar que de forma
direta ou não, tem ocorrido um constante processo de aglomeração, o que pode ser
observado em diferentes destinos turísticos (como municípios por exemplo), e que
pode acabar estruturando um produto novo, mais completo e complexo na sua
totalidade. A construção deste tipo de relacionamento vai de encontro com a idéia de
redes apresentada por Kotler (2000), ou mesmo com a tão popular noção de
arranjos produtivos locais (APL‟s), encontrada em Barreto, Oliveira e Sicsú (2007).
Frente a este processo de aglutinação entre os espaços turísticos, surge também
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uma demanda por indicadores que trabalhem a análise destes conjuntos de
espaços.
Para encerrar a seção aqui desenvolvida pode-se dizer que, por maior que
seja a complexidade que estrutura a organização do mercado turístico, existe um
certo grau de conectividade entre as ações que ocorrem neste meio. Dentro desta
teia mercadológica, poderíamos destacar alguns de seus pontos (no caso setores
como alimentação, agenciamento, alojamento, etc.) como eixos de grande
importância para os desdobramentos que podem ser observados com a expansão
ou retrocesso de um mercado.
4 METODOLOGIA
Na estruturação do presente trabalho, além da revisão bibliográfica,
desenvolvemos a análise de alguns dados sobre o setor de alojamento para os 92
municípios do estado do Rio de Janeiro. Em função da escassez de espaço e tempo
para a construção deste trabalho, e também pela representatividade que o setor de
alojamento possui entre as atividades que não sobreviveriam sem o turismo
(COOPER et al, 2001), optamos por não apresentar, neste artigo, os resultados da
área de turismo que se envolvam com os setores de alimentação, agenciamento e
organização de viagens, além das atividades de transporte relacionadas ao nosso
foco de estudo.
No que diz respeito à temporalidade da pesquisa, os insumos uti lizados
representam o período entre 2003 e 2006, o que compreende um tempo muito
significativo para o avanço das propostas exibidas no PNT 2003-2007 e no PRT.
Além de escolhermos a época citada para avaliar alguns possíveis resultados destes
dois documentos, é interessante lembrar que durante estes quatro anos também
ocorreu um mandato político para presidente (cumprido pelo atual presidente
reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva) e governador (cumprido pela ex-governadora do
Rio de Janeiro, Rosângela Rosinha Garotinho B. A. M. de Oliveira).
Sobre a origem dos dados utilizados, podemos dizer que os mesmos foram
retirados da base de dados on-line do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, a
partir do Programa de Disseminação de Estatísticas deste mesmo órgão. Os dados
utilizados são da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS. Dentro deste
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universo numérico, optamos por trabalhar apenas com as seguintes classes de
atividades econômicas.
Quadro 1 - Lista de classes nas CNAE's 1.0 e 2.0 referentes ao setor de alojamento
Tipo
Sigla usada
Classe Cnae
Descrição Cnae
Cnae
nas tabelas
55108 Hotéis e similares
2.0
55906 Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente
Aloj
55131 Estabelecimentos hoteleiros
1.0
55190 Outros tipos de alojamento
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do site da Comissão Nacional de Classificações - Concla ( www.ibge.gov.br/concla ).
De acordo com a listagem de classes presentes na Classificação Nacional de
Atividades Econômicas - CNAE 1.0 (encerrada no ano de 2005) e na 2.0 (iniciada no
ano de 2006), vemos que duas classes são suficientes para compreender todo o
setor de alojamento. Detalhes sobre os tipos de empreendimentos encontrados em
cada uma das classes podem ser verificados no site da Concla. Para dar maior
objetividade a este trabalho, optamos por utilizar apenas os dados referentes ao
número de trabalhadores formais listados pela RAIS, para cada um dos anos aqui
pesquisados (excluindo de nossa análise o número de empreendimentos no setor de
1442
hospedagem). Mesmo que ambas informações sejam complementares e auxiliem de
maneira significativa a uma melhor compreensão do mercado, a razão por tal
escolha se deve à maior sensibilidade obtida através do estudo sobre a variação no
número de empregados. Outro detalhe importante é dizer qual a razão para falarmos
apenas de empregos formais. O motivo para tal “escolha” se deve à existência de
dados provenientes de fontes confiáveis, com bom nível de desagregação espacial e
de atividade econômica, além de serem periodicamente atualizados, o que não
ocorre nos raríssimos números publicados sobre o emprego informal em nosso país,
ou mesmo em qualquer outra nação.
Sobre a escolha do setor de alojamento para inferir acerca do turismo, é
pertinente afirmar que esta proposta se deu em razão do peso que este segmento
possui frente às outras atividades características do turismo. Maiores detalhes sobre
os cálculos que explicam tal constatação podem ser encontrados na dissertação de
mestrado que serviu de base para a elaboração deste artigo.
Para uma análise clara e resumida do setor de alojamento, optamos por expor
suas informações através de estatísticas resumo, capazes de nos dar uma boa
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amostra sobre o comportamento dos dados analisados. As estatísticas utilizadas
foram: valor mínimo, 1º Quartil, mediana, 3º quartil, valor máximo, média, desvio
padrão e coeficiente de Bowley. Estas medidas resumo foram utilizadas para
apresentar, anualmente, o número de empregados formais do setor de alojamento e
também dos outros segmentos econômicos.
Para falarmos um pouco sobre os dois conjunto numéricos mais importantes
deste estudo, no caso os dois indicadores aqui apresentados, vale dizer que o
resumo estatístico descrito acima foi replicado somente para um destes objetos; o
percentual de crescimento dos empregos formais no setor de alojamento. Já o
segundo indicador, que se refere ao percentual de empregados formais do setor de
alojamento dentro da economia dos municípios, teve sua apresentação realizada de
maneira espacial. Acerca de sua criação, podemos dizer que processo foi realizado
da seguinte maneira:
Indicador 1 (porcentagem anual de crescimento no número empregos
formais do setor de alojamento): Obtido através da diferença percentual entre o
somatório do número de trabalhadores para as classes 55108 e 55906 da CNAE 2.0
(caso os dados sejam da CNAE 1.0, somar as classes 55131 e 55190) segundo a
RAIS em um ano X, e o mesmo somatório acima, só que para um ano X-1.
Indicador 2 (porcentagem de trabalhadores formais em município e que
estão alocados no setor de alojamento): obtido por meio do percentual que os
empregados formais da área de hospedagem (55108 + 55906, se CNAE 2.0, ou
55131 + 55190, se CNAE 1.0) representam de todo o conjunto de trabalhadores
formais do município em um ano específico.
Como últimas colocações sobre o aspecto metodológico, é importante
destacar que os indicadores aqui apresentados não pretendem ser instrumentos
capazes de retratar fielmente a realidade do mercado turístico, ou mesmo do setor
de alojamento. O objetivo destes instrumentos é ser uma ferramenta de apoio à
decisão, habilitada especialmente para ajudar na observação de tendências,
acessível (barata e de fácil manipulação) à sociedade civil, acadêmicos, investidores
e gestores do setor de turismo. A respeito de sua simplicidade metodológica, vale
dizer que este é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada na busca por
indicadores de turismo cada vez mais precisos.
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Por fim, ainda que o presente estudo faça alguma relação dos resultados
observados com o período político e seus representantes nesta época, é possível
dizer que não se trata de uma crítica ou elogio ao trabalho dos gestores públicos. O
caráter atribuído a este estudo com indicadores é, por enquanto, simplesmente
acadêmico.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após as etapas de coleta e tratamento dos dados, a análise do setor de
alojamento nos municípios do estado do Rio de Janeiro, entre 2003 e 2006, pode ser
iniciada a partir da tabela 1, onde são apresentadas algumas estatísticas resumo
que nos mostram um pouco sobre a realidade observada.
Tabela 1 - Estatísticas descritivas sobre o número de empregados do setor de alojamento,
para os municípios do estado do Rio de Janeiro, 2003-2006
Ano
Estatística
2003
2004
2005
2006
Mínimo
0
0
0
0
1º Q
4
4
4
5
Mediana
28,5
26,5
29
30
3º
188
200
170
212
Máximo
14827
15156
15831
16587
Média
303
317
327
349
DP
1542
1578
1649
1729
Coefiente de Bowley
0,73
0,77
0,70
0,76
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da RAIS / MTE
De acordo com a tabela citada, pode-se ver a progressão anual do número de
empregados no setor de alojamento. Ainda que a média seja uma estatística
sensível à influência de números extremos na base de dados (o que ocorre no
conjunto de dados sobre os municípios do estado do Rio de Janeiro), é interessante
observar um representativo crescimento no número médio de trabalhadores.
Enquanto que, no ano de 2003, os municípios deste estado tiveram, em média, 303
trabalhadores formais na área de alojamento, em 2006 este valor subiu para 349.
Isto representa um aumento de aproximadamente 15,18% da mão-de-obra formal
utilizada pelo setor. Diante de número tão representativo, é possível supor que tal
variação não seja resultado de flutuações naturais ocorridas na economia do estado
e consecutivamente em seu mercado de trabalho.
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Apesar do crescimento observado para o valor médio do número de
trabalhadores formais empregados no setor de alojamento, pode-se ver que o
mesmo tipo de comportamento não ocorre nos valores encontrados para as outras
estatísticas resumo. Com base nas medianas dos dados, vemos que a tendência
central dos números não se modificou de forma tão destacada quanto a média.
Mesmo padrão é detectado ao observarmos o 1º quartil. Segundo esta medida, em
2003 aproximadamente 25% dos municípios do Rio de Janeiro tinha 4 ou menos
trabalhadores formais empregados no setor de alojamento, enquanto que no ano de
2006 este valor subiu apenas para 5 empregados.
Com a análise do 3º quartil, uma hipótese sobre o mercado no setor de
alojamento no estado do Rio de Janeiro começa a se configurar de maneira mais
clara. Ao contrário da pequena variação detectada na estatística anterior, vemos no
3º quartil algo muito similar a aquilo que foi encontrado para os valores médios. A
idéia que surge a partir dos números até então analisados é que, o crescimento do
mercado hoteleiro, e possivelmente do mercado turístico nos municípios do estado
do Rio de Janeiro, ocorreu de maneira mais volumosa em cidades onde o setor já
possuía um mercado razoavelmente estruturado. Isto significa que o setor de
alojamento quase não se modificou nas cidades que tem pouca ou nenhuma
tradição nesta área. Em linhas gerais, para os quatro anos estudados aqui, a
hipótese é de crescimento do setor nos mercados já existentes e com certo grau de
maturidade (isto sob uma ótica resumida de todos os municípios do estado), e
estagnação em mercados ainda não desenvolvidos ou inexistentes. É interessante
observar que os valores máximos encontrados corroboram a idéia desenvolvida
acima.
Ainda analisando a tabela número um, de acordo com os valores encontrados
para o desvio padrão, pode-se notar que é cada vez mais disperso o número de
trabalhos formais no setor de alojamento. Vemos que tem aumentado a distância
entre os municípios que muito empregam no setor, e aqueles que pouco ou nada
demandam neste campo. É possível dizer que trata-se de um mercado cada vez
mais heterogêneo, se compararmos os empregos do setor entre as diferentes
cidades analisadas. Se mudarmos o foco de nossa análise para o coeficiente de
Bowley, é possível detectar que existe um grande número de municípios com
nenhum ou poucos empregados formais no setor de alojamento. Diante de tal
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informação, cabe presumir que são poucas as localidades do estado que possuem
significativa oferta de infra-estrutura turística.
Terminada a etapa de análise mais geral sobre as estatísticas resumo para o
setor de alojamento nos municípios do estado do Rio de Janeiro, vamos observar
uma breve espacialização de alguns dados sobre deste segmento. Na figura número
um pode-se observar como se distribuiu ao longo do estado, em uma média para os
quatro anos de estudo, o percentual de trabalhadores formais empregados no setor
de alojamento.
1446
De acordo com a legenda da figura, vemos que as porcentagens podem
variar de 0 à 21,25%, com valores distribuídos entre as cinco categorias. A partir da
coloração do mapa, observa-se que a classe predominante é aquela entre 0,01 e 1%
do total da mão-de-obra formal trabalhando na área de alojamento. Para a classe de
valor nulo, vemos que existe um número pequeno de municípios, ou seja, são raros
os casos onde a economia da cidade não tem pelo menos 0,01% da classe
trabalhadora formal empregada no mercado de hospedagem. Continuando na
análise das classes, pode-se ver que também são poucos municípios que empregam
entre 1,01 e 2% de sua mão-de-obra formal no setor de alojamento. Mesmo
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comportamento é visto para as categorias com maior nível de emprego, quer dizer,
entre 2,01 e 7% e entre 7,01 e 21,25%. Sobre estas últimas classes, é possível
afirmar que nelas se encontram os maiores dependentes do setor de turismo no
estado, o que não se trata exatamente de uma boa constatação. Especialmente
sobre esta última categoria, pode-se dizer que falamos de localidades com a
economia pouco diversificada, o que aumenta sua fragilidade diante das inúmeras
incertezas que por vezes assolam o mercado turístico (modismos, acidentes com
meios de transporte, acidentes ambientais, epidemias, greves, variações cambiais,
oscilação no poder de compra das famílias, precariedade nos serviços de
infraestrutura turística, etc.).
Com base no mapa apresentado na figura 1, é interessante observar como
estão dispostos espacialmente os municípios com maior proporção de empregados
formais no setor de alojamento. É bastante nítida a formação de um conglomerado
de cidades próximas ao município de Armação de Búzios, que també m empregam
um percentual bem grande de sua mão de obra formal na área de hospedagem.
Além deste conjunto também vale destacar os clusters de Parati (junto com Angra
dos Reis e Mangaratiba), Itatiaia (junto com Resende) e Valença com Teresópolis
(que formam uma verdadeira “muralha” ao se juntarem com os municípios de Nova
Friburgo, Petrópolis, Miguel Pereira, Barra do Piraí, Piraí e Itaguaí). De maneira
isolada, também seria válido citar o caso de Itaperuna, que encontra-se
relativamente isolada dos maiores pólos da área de alojamento no estado. Pode-se
dizer que Itaperuna acaba exercendo a função de cidade dormitório para aqueles
que viajam próximo à sua região.
Ao iniciarmos uma análise um pouco mais detalhada sobre o crescimento
médio do número de empregos formais entre os anos de 2003 e 2006, não só para o
setor de alojamento como também para outros campos das economias municipais,
encontramos as seguintes estatísticas descritivas apresentadas na tabela 2 (em
números percentuais).
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Tabela 2 - Estatísticas descritivas sobre o crescimento médio observado para o número de empregos formais,
entre os anos de 2003 e 2006, para diferentes setores econômicos dos municípios do estado do Rio de Janeiro
Estatísticas
Aloj
Tot_Eco
Servicos
Comercio
C_Civil
Ind_Tran
Agropec
Mínimo
-38,89
-35,48
-22,84
-40,28
-89,08
-42,60
-52,97
1º Q
0,00
7,54
1,33
10,96
0,00
6,56
1,89
Mediana
2,79
13,04
6,12
18,87
34,32
17,82
12,64
3º
12,85
18,30
11,03
25,45
81,55
38,04
27,00
Máximo
121,59
86,28
151,10
75,81
13465,44
423,68
678,65
Média
7,90
14,94
9,85
19,73
242,78
34,61
26,57
DP
20,48
15,41
20,12
16,07
1401,47
62,68
76,92
Coefiente de Bowley
0,57
-0,02
0,01
-0,09
0,16
0,28
0,14
Fonte: Elaborada pelo autor com base n os dados da RAIS / M TE
Com base na tabela acima, pode-se observar que o menor crescimento médio
para o número de empregos formais foi o do setor de alojamento, abaixo inclusive do
percentual encontrado para toda a economia, que foi de 14,94%. A mediana dos
crescimentos entre os municípios também nos apresenta o mesmo resultado. Ainda
que não sejam tão claras como as duas estatísticas anteriores, os valores míni mo e
máximo, assim como o 1º e 3º quartís também nos dão fortes indícios que
efetivamente o crescimento no mercado de trabalho formal para o setor de
alojamento foi um dos menores que se observou na economia. Por se tratar de um
setor que não apresentou grandes oscilações no conjunto dos 92 municípios, vemos
que a variabilidade exposta pelo desvio padrão não chega a ser um número que
surpreende. Quanto ao coeficiente de Bowley, pelo valor encontrado podemos
afirmar que o setor de alojamento teve um crescimento balanceado no conjunto dos
municípios analisados, ou seja, não foi detectada grande concentração de cidades
com crescimento muito auto ou muito baixo. Sobre este tipo de comportamento,
pode-se afirmar que o mesmo ocorreu em praticamente toda a economia.
Ao espacializarmos entre os municípios do Rio de Janeiro, os percentuais de
crescimento médio do número de empregos no setor de alojamento, temos a
visualização do mapa exposto na figura 2.
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De acordo com as categorias da legenda, é interessante observar que as
maiores porcentagens de crescimento ocorreram em pequenos municípios sem
grande expressão no setor de turismo. Pode-se dizer que o crescimento encontrado
nestes locais seja fruto da expansão do setor hoteleiro visto em municípios vizinhos,
ou mesmo reflexo do crescimento econômico atingido por estas cidades. Se
observarmos a categoria com crescimento entre 11,23 e 33,33%, o que ainda pode
ser visto como valores de grande escala, encontramos municípios de maior porte e
com uma economia já razoavelmente desenvolvida, como é o caso de Petrópolis,
Macaé, Resende, entre outros. Ainda dentro deste grupo localiza-se o fenômeno de
atração turística chamado Armação de Búzios, que é o maior percentual do estado
em mão-de-obra formal no setor de alojamento, e ainda apresenta um dos maiores
percentuais de crescimento neste campo. O caso dos municípios de Macaé e
adjacências também merece destaque pela expansão do setor petrolífero ao longo
desta região, o que tem aumentado em muito a presença de equipamentos de
hospedagem atuando neste espaço.
De um modo geral, vemos que o setor de hospedagem acaba sendo um
reflexo do desenvolvimento econômico dos municípios, uma vez que as trocas entre
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mercados regionais são cada vez mais intensas, o que inevitavelmente fomenta o
tão promissor turismo de negócios. A busca por maiores incentivos fiscais, a
necessidade de um melhor custo beneficio na contratação de mão-de-obra, as
melhorias em algumas vias de transporte assim como a evolução dos automóveis
que trafegam sobre estas, são fatores que muito têm contribuído para a expansão
das fronteiras econômicas dos municípios, o que leva consigo uma significativa
demanda por equipamentos e profissionais que atuem na área de hospedagem.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados ao longo deste estudo, e nas
referências teóricas que deram suporte à reflexão desenvolvida aqui, pode-se dizer
que efetivamente os dados sobre o número de empregos formais no setor de
alojamento são uma boa proxy para analisar tendências acerca do desenvolvimento
turístico em um espaço e tempo específicos. Ainda que muitas estatísticas
apresentem os grandiosos percentuais de crescimento ostentados pelo setor de
turismo, pôde-se ver neste trabalho que o conjunto de municípios do Rio de Janeiro
não refletiu tão fidedignamente este padrão, quer dizer, o crescimento para o setor
de alojamento foi significativamente menor que aquele encontrado para a economia
de um modo geral ou mesmo para algumas áreas de maneira isolada (como
agropecuária, indústria de transformação serviços, comércio, etc.).
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“LA GESTIÓN LOCAL EN LA POLÍTICA PÚBLICA DEL TURISMO MEXICANO.
UN ANÁLISIS DEL PROGRAMA PUEBLOS MÁGICOS DE MÉXICO”
Ismael M. Rodríguez Herrera12
Juan Ignacio Pulido Fernández 13
RESUMEN
El papel del turismo como promotor del desarrollo local es claro y diversos autores
coinciden a ese respecto. Esto ha hecho que la mayoría de los países en desarrollo,
especialmente en Latinoamérica, promuevan políticas públicas que proponen al
turismo como una de las actividades económicas que puede impulsar el desarrollo
en localidades deprimidas, incluso se ha otorgado al turismo un papel protagónico
para el logro del desarrollo sostenible.
A través de una serie de análisis, el presente trabajo reflexiona en torno a un
programa público mexicano en particular, denominado Pueblos Mágicos, haciendo
hincapié en el papel que la población local tiene en el desarrollo turístico y de
manera especial en la gestión del destino, profundizando el análisis en dos de las
localidades que conforman este programa: Comala, en el estado de Colima y Real
de Asientos, en Aguascalientes.
Para ello, la metodología empleada comprende en primer lugar, la implementación
de un instrumento a manera de semáforo con el cual se pudo determinar el grado de
desarrollo turístico alcanzado en las localidades que integran el programa. Este
instrumento se apoya en una serie de indicadores de competitividad y los datos
obtenidos fueron contrastados con los resultados que recientemente presentó la
Secretaria de Turismo Federal. Posteriormente se hace una evaluación del grado de
satisfacción de los residentes respecto al desarrollo turístico para lo cual se ha
empleado un cuestionario que se adaptó de uno desarrollado por la Organización
Mundial del Turismo.
De esta manera, el trabajo evidencia las áreas de oportunidad de la política pública
respecto a la urgencia de empoderar a los actores locales en el desarrollo turístico y
propone a la gestión adaptativa como el modelo teórico que aplicado a la realidad de
los pueblos mágicos, puede conducir a una verdadera gestión local que sea, sobre
todo, incluyente y que en verdad propicie la sostenibilidad de la actividad turística.
Palabras clave: Turismo sostenible, población local, gestión adaptativa
12
Máster en Ecoturismo y Manejo de Áreas Protegidas por la Universidad Tecnológica Equinoccial de
Ecuador, cursa actualmente el Doctorado en Turismo en la Universidad Antonio de Nebrija de
España. Profesor Investigador de tiempo completo, adscrito al Departamento d e Turismo de la
Universidad Autónoma de Aguascalientes. E mail: [email protected]
13
Doctor Cum Laude en Ciencias Económicas por la Universidad de Jaén (con Premio
Extraordinario).Máster en Unión Económica y Monetaria Europea por la UNED. Director del
Laboratorio de Análisis e Innovación Turística (LAInnTUR), Departamento de Economía de la
Universidad de Jaén, España. Email: [email protected]
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RESUMO
O papel do turismo como promotor do desenvolvimento local é evidente e diversos
autores coincidem a esse respeito. Isso levou a maioria dos países em
desenvolvimento, especialmente na América Latina, a promover políticas públicas
que propõem o turismo como uma das atividades econômicas que podem
impulsionar o desenvolvimento em localidades deprimidas, inclusive conferindo ao
turismo um papel decisivo para alcançar o do desenvolvimento sustentável.
Através de uma série de análises, o presente trabalho trata de um programa público
mexicano denominado Povos Mágicos, enfatizando o papel que a comunidade local
tem no desenvolvimento turístico e, em particular, na gestão do destino,
aprofundando a análise em duas das localidades que fazem parte este programa:
Comala, no estado de Colima e Real de Asientos, em Aguascalientes.
Com este fim, a metodologia empregada compreende, em primeiro lugar, a
implementação de um instrumento denominado semáforo com o qual se pôde
determinar o grau de desenvolvimento turístico alcançado nas localidades que
integram o programa. Este instrumento se apóia em uma série de indicadores de
competitividade e os dados obtidos foram contrastados com os recentes resultados
apresentados pela Secretária de Turismo Federal. Posteriormente, se fez uma
avaliação do grau de satisfação dos residentes em relação ao desenvolvimento
turístico no qual se empregou um questionário adaptado de outro desenvolvido pela
Organização Mundial do Turismo.
Desta maneira, o trabalho evidencia as áreas de oportunidade da política pública em
relação à urgência em capacitar os atores locais no desenvolvimento turístico e
propõe a gestão adaptativa como o modelo teórico que, aplicado à realidade dos
povos mágicos, pode conduzir a uma gestão local efetiva e que seja, sobretudo,
verdadeiramente inclusiva e que propicie a sustentabilidade da atividade turística.
Palavras Chave: Turismo sustentável; população local; gestão adaptativa.
ABSTRACT
The role of tourism as a promoter of the local development is clear and a variety of
authors agree with this idea. This has made that the majority of the countries in
development, especially in Latin America, promote public politics that propose
tourism as one of the economic activities to improve the de velopment of isolated
communities, even though tourism has earned a leading role in order to gain
sustainable development.
Through a series of analysis, the current investigation reflects around a Mexican
public program in particular, a program known as Magic Towns, mentioning the role
of local population in the tourism development and in a special form the management
of the destiny, going deeper in the analysis of two locations that are part of this
program: Comala, in the state of Colima and Real de Asientos, in Aguascalientes
state.
First, the methodology used includes the implementation of an instrument as a
monitor, with it, it was able to establish the degree of tourism development reached in
the communities that are part of the program. This instrument rests in a series of
indicators of competitiveness and the obtained information was contrasted with the
results recently presented by the Federal Tourism Secretary. Later, it was necessary
to do an evaluation of the satisfaction degree of the residents related to the touristic
development reason why, an adaption of a questionnaire created by the Tourism
World Organization was used.
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Thus, this research evidence the areas of opportunity of public politic about the
priority of empower the local actors in the touristic development and propose the
adaptive management as the theoretical model that applied to the reality of magic
towns, can lead to a real local management that become, against all, inclusive and it
make possible the sustainability of the touristic activity.
Key words: sustainable tourism, local population, adaptive management.
1.INTRODUCCIÓN
El papel del turismo como un instrumento de desarrollo económico se ha
reconocido a nivel internacional y la revisión de la literatura económica reciente
sobre el tema da cuenta de ello (Cooper et al., 2007; Dwyer y Foryth, 2006; Lickorish
y Jenkins, 2000; Vanhove, 2005). Para el caso específico de México, diversos
autores también han opinado al respecto y la mayoría coincide en el papel
fundamental que el turismo ha tenido, inicialmente como una fuente de
financiamiento para la industrialización del país y posteriormente como actividad
generadora de desarrollo en sí misma y promotora del desarrollo regional y local
1455
(Jiménez, 1993; Jiménez, 2005; Rodríguez, 2003; Castro y Fonseca, 2008; López,
2004).
En ese sentido, debemos reconocer la gran diferencia que existe al analizar
los efectos del turismo en el ámbito macroeconómico, en donde se evidencia los
efectos positivos que los grandes megadesarrollos mexicanos generan, como puede
ser la contribución al Producto Interno Bruto Nacional 14, la generación de empleos
directos o el aporte para equilibrar la balanza comercial. Sin embargo, al llevar a
cabo dicho análisis en el nivel micro, los resultados no siempre son igual de
alentadores, pues cuando se observa con detalle los efectos y repercusiones que el
turismo genera en las pequeñas comunidades y poblaciones que funcionan como
14
Según la Cuenta Satélite del Turismo en México, el valor agregado Bru to Turístico representó 8.2%
del correspondiente al total del país durante 2006 (cifra superior a la del producto generado, de
manera conjunta, por actividades económicas como la agricultura y las industrias alimentaria, de la
madera, del papel, y de la química), esto significó un crecimiento del 4.5% respecto al año anterior.
La estructura productiva del Valor Agregado Bruto Turístico en 2006 se integró de la siguiente forma:
los denominados servicios diversos aportaron el 37% del total, seguidos de los servicios de transporte
25.5%, los de alojamiento 11.8%, los de restaurantes, bares y centros nocturnos 10.7% y las
actividades de producción de bienes y artesanías 11.9 por ciento. El restante 3.1% fue generado por
los
tiempos
compartidos
y
las
segundas
viviendas.
(http://www.inegi.org.mx/inegi/contenidos/espanol/prensa/comunicados/turismo.asp)
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destinos turísticos, la lectura puede ser muy distinta, máxime si la incorporación de
dichas poblaciones a la actividad turística, surge como resultado de una intervención
directa del gobierno –sobre todo a nivel federal o estatal- que, a través de programas
de desarrollo turístico, impulsa ésta actividad sin contar con la total complacencia de
los residentes de las poblaciones en donde se pretende impulsar el turismo, pues tal
como establece Rodríguez (2003):
“el desarrollo ha pasado de ser un simple incremento de factores
económicos hasta un proceso sumamente complejo donde los actores
sociales toman un papel importante para lograrlo y no estar a expensas de
lo que se obtenga en el ámbito externo a su territorio”
Por lo anterior, se considera fundamental realizar una evaluación de la
manera en que los programas de impulso al desarrollo turístico que ha puesto el
marcha la administración federal, consideran la incorporación de los diferentes
actores locales, y de manera especial a la población que vive en el sitio, en el
desarrollo e impulso de la actividad y de manera particular en la gestión turística. Y
es así como el presente trabajo, se enfoca especificamente em el programa
denominado Pueblos Mágicos de México, dado que ésta iniciativa se ha consolidado
a lo largo de dos administraciones y ha madurado como programa, por lo que a casi
diez años de su implementación, permite llevar a cabo un análisis en base a los
logros obtenidos y a los retos con los que ahora se enfrenta.
2.
DESARROLLO
2.1.
EL PROGRAMA PUEBLOS MÁGICOS DE MÉXICO Y LA GESTIÓN LOCAL
El programa surge en el año 2001 como una iniciativa de la Secretaria de
Turismo Federal, con la cual se pretendía revalorar a un conjunto de poblaciones y
reconocer la riqueza cultural e histórica que encierran. El programa busca propiciar
un desarrollo endógeno de las comunidades a través de la diversificación productiva
en el sector turístico, poniendo sobre todo en valor el patrimonio cultural y natural
local.
Los objetivos que la Secretaria de Turismo (2009) establece
programa Pueblos Mágicos en sus reglas de operación, son:
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para el
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“• Estructurar una oferta turística complementaria y diversificada hacía el
interior del país, basada fundamentalmente en los atributos histórico culturales de localidades singulares.
• Aprovechar la singularidad de las localidades para la generación de
productos turísticos basados en las diferentes expresiones de la cultura
local; artesanías, festividades, gastronomía, y tradiciones, entre otras.
• Aprovechar la singularidad de las localidades para la generación de otros
productos turísticos tales como la aventura y el deporte extremo, el
ecoturismo, la pesca deportiva, y otros que signifiquen un alto grado de
atractividad dentro del territorio de la localidad participante.
• Poner en valor, consolidar y/o reforzar los atractivos de las localidades con
potencial y atractividad turística, fomentando así flujos turísticos que
generen:
‒ Mayor gasto en beneficio de la comunidad receptora (artesanías,
gastronomía, amenidades y el comercio en general), así como,
‒ La creación y/o modernización de los negocios turísticos locales.
• Que el turismo local se constituya como una herramienta del desarrollo
sustentable de las localidades incorporadas al programa, así como en un
programa de apoyo a la gestión municipal.
• Que las comunidades receptoras de las localidades participantes
aprovechen y se beneficie del turismo como actividad redituable como
opción de negocio, de trabajo y de forma de vida.”
En ocho años de trabajo, conforme se han analizado los resultados de las
poblaciones incorporadas, se han realizado ajustes en las reglas de operación del
programa. Para el año 2008 incluso, se estableció un sistema de indicadores de
evaluación de desempeño que revela la operacionalidad del mismo, conservando o
revocando la declaratoria. Cabe hacer mención, que de acuerdo a la evaluación del
desempeño se revocaron tres declaratorias en el año 2009: Mezcaltitlán, Nayarit;
Tepoztlán, Morelos; y Papantla, Veracruz. Asimismo San Miguel de Allende salió del
programa por haber adquirido la categoría de Patrimonio de la Humanidad en julio
de 2008.
A la fecha, México cuenta con 32 localidades declaradas Pueblos Mágicos,
las cuales están distribuidas en las siguientes regiones: 9 en el centro, 2 en el golfo,
7 en el norte, 11 en el pacífico y 3 en el sureste. Los estados que agrupan 3
localidades son Jalisco y Michoacán, en Sinaloa y el Estado de México existen 2 en
cada uno. Los estados que no cuentan con ninguna localidad declarada son: Baja
California, Durango, Nayarit, Campeche, Tabasco, Morelos y el Distrito Federal, el
resto de los estados cuenta con un pueblo mágico. El 28% de las declaratorias se
otorgaron en el año 2002, mientras que en el año 2008 no se otorgó ninguna.
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Gráfico 1.
DESTINOS INTEGRANTES DEL PROGRAMA.
Fuente: SECTUR.
Respecto a la gestión local, y en concordancia con los dos últimos objetivos
del programa, las reglas de operación consideran como un aspecto importante en la
conformación del expediente, el involucramiento de la sociedad mediante la
constitución de un Comité Turístico y/o algún organismo, asociación civil o Grupo
Pro Pueblo Mágico, que se constituya en la voz de la comunidad ante las
autoridades e instancias gubernamentales pues según establecen las propias
Reglas de Operación (SECTUR, 2009):
“El programa Pueblos Mágicos basa su estrategia en la participación
comunitaria, su inclusión y permanencia, sus avances y logros serán
resultado del nivel de trabajo que la propia comunidad realice”
Lo anterior pone de manifiesto que, al menos en el papel, la gestión turística
de los destinos integrantes del programa, se debe dar en base a la inclusión de los
actores locales y a una participación activa de estos en lo referente al impulso del
turismo en su localidad.
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2.2.
EL GRADO DE DESARROLLO TURÍSTICO EN LAS LOCALIDADES
INTEGRANTES DEL PROGRAMA
El éxito de una política pública de desarrollo turístico puede ser medido en
función del incremento que la actividad turística presente en el sitio a raíz de la
incorporación de la localidad en dicho programa, es decir, determinando el aumento
que se dé en el desarrollo turístico del destino. En este sentido y para poder evaluar
el grado de desarrollo turístico que ha alcanzado cada una de las localidades
incorporadas al programa, se desarrolló un instrumento que permitió contar con
elementos más claros para evaluar el grado de avance en la consecución de los
objetivos del programa y, en consecuencia, valorar la eficacia del mismo en el
desarrollo de un modelo turístico alternativo al tradicional en México 15.
2.2.1. SEMÁFORO
PARA
CATEGORIZACIÓN
DE
LAS
LOCALIDADES
TURÍSTICAS EN BASE AL GRADO DE DESARROLLO TURÍSTICO
Para la obtención de los datos se diseñó un instrumento, mediante la
adaptación de una metodología integral de evaluación propuesta por la Secretaría
de Turismo de México (SECTUR, s.f.). Como resultado se integró un instrumento
que, además de una presentación, recoge 120 aspectos a evaluar, organizados en 6
secciones:
a)
Indicadores turísticos.
Tomando como punto de partida los
indicadores turísticos de la Agenda 21 para el Turismo Mexicano, en esta primera
parte se incluyen catorce aspectos referentes al grado de consolidación del c omité
local, las principales obras ejecutas y el grado de avance, los montos invertidos, una
relación sobre la afluencia de visitantes y la oferta hotelera en el destino, datos como
ocupación, estadía y gasto, entre otros.
b)
Infraestructura general y de servicios.
ítems que analizan
aspectos referentes a
Comprende diecinueve
transporte
terrestre y
aéreo,
comunicaciones, salud, servicios urbanos y energía.
c)
Infraestructura turística.
Esta sección abarca solamente seis
aspectos relacionados con transportación terrestre, aérea y acuática.
15
Para un análisis más profundo y detallado sobre este tema ver Rodr íguez y Pulido, 2009 y Rodr íguez Vargas
(2009a).
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d)
Equipamiento turístico.
Un total de cincuenta ítems se incluyen en
esta sección que cuestiona sobre los servicios de alojamiento, alimentación,
esparcimiento y otros, a nivel general y específicamente para segmentos de
mercado como son el de turismo cultural, turismo de salud, turismo de aventura,
ecoturismo y turismo rural.
e)
Instalaciones turísticas.
Utilizando los mismos segmentos de
mercado que la sección anterior, en ésta se incluyen diecisiete ítems que cuestionan
aspectos muy puntuales que se requieren para atender las demandas de turistas
muy especializados.
f)
Mercado turístico.
Y por último, la sección sobre el mercado
comprende catorce aspectos que indagan sobre la afluencia turística actual al
destino, la estadía estimada promedio, el gasto estimado promedio y la publicidad y
comercialización del producto ofertado.
Como su propio nombre indica, con excepción de la primera sección, el
cuestionario ofrecía tres opciones de respuesta, marcadas con los colores rojo, si se
carecía del aspecto; amarillo, si el elemento existía pero de manera deficiente o
precaria; y verde, cuando el aspecto se encontraba en optimas condiciones en el
destino. De manera simultánea con la asignación del color, cada respuesta tenía un
valor numérico: 1 para rojo, 2 para amarillo y 3 para verde. Esto permitió asignar un
valor numérico general para cada uno de los ámbitos de análisis y con ello poder
tabular, examinar y graficar los resultados para, en base a ello, determinar los
distintos niveles o categorías de desarrollo turístico de los municipios examinados.
La aplicación del cuestionario inicio con el establecimiento de un primer
contacto vía telefónica con las dependencias de turismo en cada uno de los 25
estados de la República que cuentan con, al menos, un destino integrado al
programa y hacer una invitación directa al departamento encargado del programa en
dichas dependencias. Posteriormente se hizo la distribución del cuestionario vía
correo electrónico, buscando con ello obtener la información de base sobre los 32
destinos que integran el programa.
Al enviar el cuestionario, se pidió a los técnicos de cada estado que
respondieran marcando aquella opción que reflejara la situación actual del destino, y
no aquella que resultara ideal, con lo que se pretendía obtener una fotografía sobre
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el grado de desarrollo que en ese momento presentaban cada uno de los destinos
que se incluyen en el programa.
Posteriormente, se hizo una labor de seguimiento personalizado, mediante
llamadas telefónicas y el envío de correos electrónicos, labor que, por diferentes
cuestiones se extendió más de tres meses y gracias a la cual se obtuvo información
sobre 20 destinos ubicados en 17 estados, lo que representa un 62.5% de los
destinos integrantes, y muestra una distribución y variedad interesante que garantiza
una representatividad significativa, suficiente para poder iniciar el análisis y
establecer la categorización.
No obstante, con la finalidad de validar los resultados obtenidos, una vez
sistematizada toda la información, se conformó un grupo de expertos a los que se
les pidió opinión sobre los resultados obtenidos 16.
Según se mencionó líneas arriba, para un mejor tratamiento de los datos se
asignaron de valores numéricos a las opciones de respuesta que presentaba el
cuestionario, lo cual permitió transformar la valoración cualitativa de cada destino en
una valoración cuantitativa, y con ello fue posible obtener diferentes estadísticos, así
como los promedios por sección, concretando los resultados del análisis a través de
diversas matrices. Para ello se utilizó el paquete estadístico SPSS (versión 17.0).
Para tener una visión más completa del desarrollo turístico de cada destino, el
cuestionario diseñado comprendía una valoración desde una perspectiva tanto de
oferta como de demanda. La primera, a través de las secciones infraestructura
general y de servicio, infraestructura turística, equipamiento turístico e instalaciones
turísticas. Respecto a la demanda, la valoración se realizó mediante el último
apartado del cuestionario denominado mercado turístico.
Los principales resultados se presentan en las tablas 1 y 2, y de ellas
podemos extraer algunas conclusiones que nos permiten tener un panorama general
16
Con la finalidad de validar el instrumento utilizado, los ítems y secciones consideradas, pero sobre
todo, los resultados obtenidos, se recurrió a un procedimiento de consulta a expertos para lo cual se
desarrollo un documento que explicaba la técnica de recolección de datos utilizada y el
procesamiento que se hizo de la información para llegar a la categorización de los destinos resultante.
Dicho documento fue repartido entre 15 investigadores especializados en temas turísticos y con
prestigio a nivel nacional, todos con grado de doctor y que colaboran en algunas de las universidades
con mayor prestigio a nivel nacional. Posterior a la evaluación del documento, los expertos
consultados emitieron sus juicios y comentarios sobre el mismo y esto nos permite confirmar la
validez de la información que presentamos, toda vez que tenemos la confianza de que la comunidad
científica mexicana avala los datos obtenidos.
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1461
sobre cuál es el grado de desarrollo turístico que se ha alcanzado en las diferentes
localidades analizadas:

No existe una correlación entre el año de incorporación al programa y
el grado de consolidación del comité.

En la mayoría de los indicadores analizados, existe una gran dispersión
de los datos y en este sentido tenemos destinos con afluencia promedio de turistas
que van desde los 1,192 turistas mensuales a los 54, 911 turistas promedio por mes.

La oferta de servicios tanto de hospedaje como de alimentación es muy
dispar pues tenemos destinos que solo cuentan con un solo hotel y ningún
establecimiento con calidad turística, hasta los destinos que cuentan con 439 hoteles
y 40 establecimientos de alimentación de calidad.

En el mismo sentido, la estadía promedio oscila entre localidades que
son destinos de excursión y por tanto no registran ninguna noche de estadía, hasta
aquellos destinos cuya estadía asciende hasta las 4 noches por turista.

El servicio de guianza también es muy dispar pues mientras hay
destinos en los que no se ubican guías certificados, existen otros que cuentan con
hasta 25 guías registrados.
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1462
Tapalpa
Tequila
Tlalpujahua
11,020
5,070
4,014
6,993
9,843
26,055
21,478
3,407
5,254
53,911
46,167
15
13
18
11
28
1
22
12
9
19
44
17
61
1
27
439
103
NC
7,606
33
NC
7,606
15
3,810
8,584
13
37.41%
16.97%
1.2
1.7
4.1
1.2
1.0
2.3
1.6
1.9
2.0
4.1
60.08%
29.00%
65.00%
44.56%
22.18%
65.00%
37.00%
100%
44.80%
38.93%
55.00%
32
1
35
31
15
14
1
28
6
7
$
$
$
$
$
905.25
520.00
800.00
500.00
300.00
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
580.00
859.50
571.00
650.00
1,520.00
525.00
468.17
328.85
550.00
545.00
75.00
797.00
500.00
1,800.00
2
0
0
0
0
4
0
0
5
1
0
4
25
25
Monto invertido desde la fecha de decreto
(expresado en pesos mexicanos)
3.3
3.0
1.0
1.1
1.0
Gasto promedio por turista por día
(expresado en pesos mexicanos)
Si
1,192
8,850
41.20%
40.00%
70.00%
20.79%
45.00%
Número de guías certificados disponibles
en el sitio
3
28
24
Número de establecimientos de A y B
registrados con calidad turística
4
6,946
Estadía promedio
(número de noches por persona)
4
Oferta de hospedaje
Si
No
No
Si
Si
Si
Si
No
Si
Si
Si
Si
Si
Si
No
Si
Si
No
Si
Si
Afluencia promedio mensual
durante 2008
4
4
4
3
3
3
3
3
4
5
4
5
5
4
3
5
3
3
4
4
PRINCIPALES INDICADORES
Ocupación promedio
(expresada en porcentaje)
2005
2007
2005
2008
2006
2002
2005
2002
2006
2009
2007
2001
2007
2005
2004
2002
2006
2001
2003
2006
2002
2003
2005
Cuenta con Plan de desarrollo turístico
Álamos
Bacalar
Bernal
Capulálpam
Coatepec
Comala
Cosalá
Cuetzalan
Cuitzeo
El Fuerte
Huamantla
Izamal
Jerez
Mazamitla
Parras de la Fuente
Pátzcuaro
Real de Asientos
Real de Catorce
San Cristóbal de las Casas
Santiago
Grado de consolidación del Comité *
Año de incorporación al programa
Tabla 1.
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
$
12,000,000.00
85,135,402.00
35,400,000.00
6,500,000.00
24,570,000.00
10,995,645.00
64,489,515.76
29,801,180.00
22,326,000.00
45,500,000.00
36,099,000.00
44,000,000.00
59,800,000.00
58,450,000.00
13,000,000.00
55,060,635.08
37,000,000.00
-
1.6
3.0
2.0
4
20
25
7
16
0
13
5
40
21.12%
1.8
35
0
$
321.14
38.27%
1.0
40
20
$
385.42
$ 54,000,000.00
$ 50,000,000.00
4.1
2
1
$
496.00
$ 20,530,305.05
*1: No se ha formado; 2: se formo pero no ha trabajado: 3: se está consolidando pero los avances son
pocos: 4: Los avances son significativos; 5: Trabaja excelente.
Fuente: elaboración propia

Como resultado de todo lo anterior, el gasto promedio por persona es
muy variado en los destinos integrantes del programa y oscila entre los $75.00 pesos
registrados en Real de Asientos, hasta los $1,800.00 pesos que reporta San
Cristóbal de las Casas.

Por otro lado, los montos de recursos invertidos desde que los destinos
se han incorporado al programa van desde los $6,500,000.00 que reporta
Calpulálpam (de muy reciente incorporación), hasta los $85,135,402.00 que se han
invertido en Bacalar, que se incorporó solo una año antes.
Al igual que la tabla 1, la segunda tabla muestra una gran disparidad en los
datos entre los diferentes destinos integrantes del programa. Y es así que
detectamos localidades que muestran importantes deficiencias en infraestructura,
equipamiento e instalaciones, como Real de Asientos, mientras que otras como
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1463
Pátzcuaro o Tlalpujahua, dan cuenta de la diversidad de servicios que ofrecen al
visitante.
Tabla 2. RESULTADOS GENERALES DE LA APLICACIÓN
OFERTA
I.
III.
II.
INFRAESTRUCTURA
EQUIPAMIENTO
INFRAESTRUCTURA
GENERAL Y DE
Y SERVICIOS
TURÍSTICA
SERVICIOS
TURÍSTICOS
DEMANDA
IV.
INSTALACIONES
TURÍSTICAS
PROMEDIO
GENERAL
V. MERCADO
TURÍSTICO
Álamos
1.3
2.0
2.3
2.4
2.0
2.8
Bacalar
2.3
2.0
1.8
2.1
2.0
2.4
Bernal
2.0
2.3
1.6
1.9
2.0
2.4
Capulálpam
2.3
2.3
2.5
2.5
2.4
2.6
Coatepec
2.4
1.8
2.0
2.3
2.1
2.6
Comala
2.3
1.8
1.7
2.1
2.0
2.3
Cosalá
2.2
2.3
1.8
1.8
2.0
2.4
Cuetzalan
1.8
1.7
1.9
2.2
1.9
2.3
Cuitzeo
2.3
2.3
2.6
2.4
2.4
2.2
El Fuerte
2.6
2.5
2.1
1.8
2.2
2.8
Huamantla
2.5
1.8
1.8
1.6
1.9
2.4
Izamal
2.3
2.2
2.2
2.4
2.3
2.6
Jerez
2.6
2.0
1.8
2.0
2.1
2.3
Parras de la Fuente
2.4
1.7
1.8
1.9
1.9
2.6
Pátzcuaro
2.5
2.7
2.8
2.9
2.7
3.0
Real de Asientos
1.8
1.5
1.2
1.5
1.5
2.0
Real de Catorce
1.8
2.0
1.9
1.8
1.9
2.9
San Cristóbal de las Casas
2.5
2.0
2.3
2.0
2.2
2.9
Santiago
2.3
2.0
1.7
1.4
1.8
2.5
Tlalpujahua
2.3
2.3
2.6
2.1
2.3
3.0
Fuente: elaboración propia
Lo anterior evidencia que el programa Pueblos Mágicos de México no ha sido
una alternativa equitativa de distribución de apoyos y como resultado, los diferentes
destinos integrantes de dicho programa, no han desarrollad o el turismo en la misma
intensidad. Habrá que considerar que algunos de los destinos que se incluyen, ya
tenían un importante desarrollo turístico muchos años antes de su incorporación al
programa, mientras que en otros casos, el programa ha sido el impulsor y detonante
del turismo en las localidades.
Otra razón pudiera ser el hecho de que no se ha logrado integrar a la
población local y por lo tanto, los actores relacionados en los destinos, no se han
empoderado y no han propiciado una gestión activa que genere y atraiga recursos
en pro del desarrollo turístico de la localidad.
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1464
2.3.
LA SATISFACCIÓN DE LOS RESIENTES EN DOS LOCALIDADES
INTEGRANTES DEL PROGRAMA
Además de las conclusiones antes presentadas, se consideró relevante hacer
una evaluación sobre cuál era el sentir de la población local, considerando que son
ellos los que día a día se benefician o padecen las repercusiones del turismo. Para
esto se seleccionaron dos de las localidades integrantes del programa (Real de
Asientos en el estado de Aguascalientes y Comala en Colima), y con la ayuda de
estudiantes de las Universidades públicas en ambos estados, los Cuerpos
Académicos de las dichas instituciones, realizaron una labor de investigación
coordinada, cuyos resultados se presentan a continuación y de los cuales se extraen
interesantes conclusiones 17.
Considerando que tanto la densidad poblacional como la actividad turística se
concentran en las cabeceras municipales de ambos municipios, el estudio se
desarrolló en estas zonas, específicamente en las viviendas que se ubican en las
inmediaciones de los principales establecimientos o atractivos turísticos.
Los datos fueron obtenidos mediante la aplicación directa de 260 encuestas
para el caso de Comala y 227 para Real de Asientos. En ambos casos se hic ieron a
los habitantes de la comunidad que se encontraban en su domicilio, procurando que
fueran personas con un periodo de residencia mayor a un año en la localidad y que
pudieran emitir un criterio confiable, por lo que el límite de edad fue de 16 años en
adelante.
Para el diseño de la encuesta se emplearon 4 variables para evaluar la
percepción de la localidad como un lugar turístico y 14 variables, sugeridas por la
OMT (2004), para evaluar la satisfacción de los residentes, empleando una escala
Likert, en las que los participantes expresaron qué tan de acuerdo están con los
temas mencionados. Se consideraron también aspectos socio-demográficos como
sexo, actividad que desempeñan, edad y tiempo de residencia en la localidad.
Los principales resultados se muestran en las tablas 3, 4, 5 y 6 y de ellas
podemos comentar lo siguiente:
17
Para ampliar sobre estas investigaciones ver los trabajos de Covarrubias y Conde (2009),
Covarrubias et al. (2009) y Rodríguez y Vargas (2009).
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1465
En relación a la satisfacción general de los residentes, podemos destacar que
aunque la gran mayoría de la población entrevista reconoce el potencial turístico de
su población y está conforme con la incorporación al programa, también es cierto
que son conscientes de la necesidad de servicios que se requieren para atender a
los visitantes de manera adecuada.
Tabla 3. SATISFACCIÓN GENERAL DE LOS RESIDENTES
Muy en
desacuerdo
Su población es un lugar turístico
Está de acuerdo con que su
población haya sido denominado
Pueblo Mágico
Se necesitan más servicios para
que haya más turismo
Está conforme con el turismo en su
población
Promedio
En
desacuerdo
Neutral
De acuerdo
Muy de
acuerdo
C*
RA**
C
RA
C
RA
C
RA
C
RA
1.2
1.8
3.8
5.3
4.2
11.8
52.7
52.6
37.3
27.6
2.7
3.1
9.2
3.9
9.6
10.1
50
21.1
27.7
61.0
2.7
5.3
11.9
14.5
9.6
8.8
39.2
37.7
35.8
33.3
2.3
5.7
10.4
4.4
20.4
6.1
51.9
28.9
14.2
54.4
2.2
3.9
8.82
7.0
10.9
9.2
48.45
35.1
28.75
44.1
*C: Comala
** RA: Real de Asientos
Fuente: elaboración propia
1466
Por otro lado, y desde el punto de vista económico, los residentes en los
destinos analizados, distinguen los beneficios que el turismo está generando en su
localidad, y desconocen posibles efectos económicos negativos, pero no perciben
los beneficios de manera directa. Esto último se observa de manera especial en Real
de Asientos.
Tabla 4. SATISFACCIÓN DE LOS RESIDENTES EN LA DIMENSIÓN ECONÓMICA
Muy en
desacuerdo
En
desacuerdo
Neutral
De acuerdo
Muy de
acuerdo
C*
RA**
C
RA
C
RA
C
RA
C
RA
1.5
10.5
10.4
23.7
18.5
17.1
45
38.6
23.8
9.6
El turismo está beneficiando a su
comunidad
El turismo da empleo a los jóvenes
de la localidad
Con el turismo han aumentado el
precio de las cosas (comida,
renta…)
El dinero que genera el turismo se
queda en su comunidad
En lo personal, el turismo me
beneficia
5.4
5.7
17.3
11.4
18.8
10.5
44.6
47.8
13.1
24.1
16.3
21.9
24.6
31.6
18.5
10.1
30.4
23.7
9.6
12.7
6.9
8.8
16.2
4.8
21.5
36.0
38.8
36.0
15.8
14.5
17.3
27.6
25
41.7
15.8
9.6
27.3
15.8
13.8
4.4
Promedio
9
14.9
18.7
22.6
18.62
16.7
37.22
32.4
15.22
13.1
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
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12 a 14 de abril de 2010
*C: Comala
** RA: Real de Asientos
Fuente: elaboración propia
Tabla 5. SATISFACCIÓN DE RESIDENTES EN LA DIMENSIÓN SOCIAL
Muy en
desacuerdo
En
desacuerdo
Neutral
De acuerdo
Muy de
acuerdo
C*
RA**
C
RA
C
RA
C
RA
C
RA
13.1
17.5
28.1
34.6
14.2
12.7
34.2
25.4
9.6
8.3
23.8
34.6
40.8
54.8
13.1
6.1
16.2
1.3
5.4
2.2
3.8
6.1
13.1
11.8
10.4
3.1
39.6
32.9
32.3
45.6
21.9
45.2
38.5
47.8
9.6
2.2
23.8
2.6
5.4
2.2
0.4
4.4
4.2
8.8
4.6
10.5
51.9
51.3
38.1
25.0
Existe descontrol del turismo
15.8
29.8
30.8
48.2
17.7
7.5
27.3
10.5
7.7
0.4
Hay más delincuencia desde que
hay más turismo
25.4
44.7
37.7
39.0
9.6
5.7
20.8
8.8
5.4
1.8
Promedio
14.89
26.1
27.6
35.0
11.31
6.8
30.54
19.0
14.84
12.2
Hay más servicios públicos desde
que hay más turismo
El turismo interrumpe el desarrollo
de las actividades locales
La gente de su comunidad puede
entrar a todos los lugares
turísticos
El turismo afecta las buenas
costumbres y la moral de las
familias
El turismo estimula la cultura local
y la venta de artesanías
*C: Comala
** RA: Real de Asientos
Fuente: elaboración propia
1467
En cuanto a la dimensión social, si bien es cierto que los residentes no
perciben impactos negativos generados por la actividad turística, es igualmente
cierto que los beneficios que el turismo debiera generar, no han sido del todo
sentidos por los residentes. Habría que considerar que en los destinos analizados, la
actividad turística es aun insipiente y por lo tanto se concentra solo en algunos
periodos vacacionales y durante los fines de semana, motivo por el cual las
repercusiones negativas del turismo no han sido tan significativas.
Por último, en relación a la dimensión ambiental,
la percepción de los
residentes es positiva pues no identifican afectaciones graves generadas por el
turismo en relación a los recursos naturales de que disponen, a pesar de que, sobre
todo en Comala, la gente es consciente de que al impulsar el turismo, se deben
compartir dichos recursos para poder satisfacer las necesidades de los visitantes.
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Tabla 6. CONCENTRADO DE RESULTADOS EN LA DIMENSIÓN AMBIENTAL
Muy en
desacuerdo
El turismo está dañando al medio
ambiente
El turismo usa los recursos que son
necesarios para los habitantes de
su comunidad (agua, luz, calles,
etc)
Promedio
En
desacuerdo
Neutral
De acuerdo
Muy de
acuerdo
C*
RA**
C
RA
C
RA
C
RA
C
RA
15.8
39.0
33.5
47.8
13.5
4.8
29.6
2.2
6.9
3.9
1.9
10.1
14.6
25.0
13.5
9.6
40
44.7
29.5
10.1
8.85
24.6
24.05
36.4
13.5
7.2
34.8
23.5
18.2
7.0
*C: Comala
** RA: Real de Asientos
Fuente: elaboración propia
Como se ha podido observar, a pesar de que la incorporación de las
poblaciones locales está considerado en las reglas de operación del programa, la
realidad es que el papel de éstas en la gestión turística del destino no ha sido
potenciada y según se evidencia en los análisis desarrollados, no se ha logrado que
el involucramiento de las mismas sea efectivo y que por tanto se dé un
empoderamiento de los actores locales.
Se requiere por tanto, desarrollar un modelo de gestión novedoso que
además de ser flexible, considere como unas de sus principales metas, la inclusión
de los residentes locales y la procuración del empoderamiento de éstos.
2.4.
LA GESTIÓN ADAPTATIVA COMO PROPUESTA DE SOLUCIÓN.
Según lo que visto hasta ahora, para poder mejorar la gestión turística en las
poblaciones
incorporadas
al
programa
Pueblos
Mágicos,
es
necesario
18
conceptualizar al turismo como un sistema complejo adaptable , según lo cual:
“si uno de los componentes del sistema turístico complejo adaptable sufre
una perturbación, esta afectará más lejos de su lugar de origen, casi
siempre con resultados múltiples e inesperados” (Farrel-Ward, 2004).
18
El concepto de sistema turístico complejo adaptable parte de la conceptualización que en
campos como la ciencia del cambio global, la ciencia de la sostenibilidad o la teoría de la complejidad
se viene haciendo respecto al enfoque de que la naturaleza está constituida como una multitud de
ecosistemas complejos adaptables que se organizan jerárquicamente por medio de interacciones no
lineales entre sus heterogéneos componentes y cuyo desarrollo no está totalmente determinado, sino
que se produce mediante una adaptación continua al medio (Pulido y Rodríguez, 2009).
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
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12 a 14 de abril de 2010
1468
Surge por tanto, la necesidad de una gestión con características de
flexibilidad, adaptabilidad e interdisciplinariedad, que permita responder a los
diversos estados en que se pueda encontrar el sistema turístico. Y en este sentido,
el conocido como buc le de Holling (ver gráfico 2) muestra los diferentes momentos
por los que pasa un sistema turístico en función de su grado de madurez.
Gráfico 2.
EL CICLO ADAPTATIVO
1469
Fuente: Holling y Gunderson (2002: 34).
De acuerdo con este planteamiento,
“la capacidad de un sistema turístico para mantener sus funciones frente a
los cambios exteriores viene determinada por tres propiedades: el potencial
disponible para el cambio; el grado de conectividad entre las variables y
procesos; y la resiliencia del sistema. Los sistemas turísticos impactados
pasan por cuatro fases, cuya sucesión es muy rápida en las dos primeras,
para luego ir ralentizándose” (Pulido y Rodríguez, 2009).
Según se puede observar en el gráfico, la parte exterior del bucle muestra un
movimiento más estable que tiende a la conservación, mientras que la parte interna
representa una situación menos predecible que puede derivar en cambios originados
por distintas perturbaciones, lo cual a su vez origina un nuevo orden con el cual
inicia un nuevo ciclo. En este sentido, este nuevo enfoque plantea la necesidad de
considerar la totalidad del ciclo al abordar el tema de la sostenibilidad del desarrollo
turístico y no solo centrarse en el estudio de algunas de sus partes o interacciones,
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como se ha hecho hasta ahora en la mayoría de los trabajos realizados (Pulido y
Rodríguez, 2009).
Las cuatro fases que se distinguen en el bucle –liberación o destrucción
creativa, reorganización, explotación y conservación- sintetizan la alternativa que el
sistema tiene para responder, reorganizarse y reestructurarse ante las afectaciones
que surgen como consecuencia de los colapsos que se generan a consecuencia de
las diferentes perturbaciones y de esta manera, recuperar los niveles de
conectividad perdidos y mejorar la eficiencia del sistema.
En este contexto, surge la propuesta de un modelo de gestión adaptativa
para los destinos integrantes del programa Pueblos Mágicos, la cual tiene como
objetivo ser un modelo de gestión flexible, adaptable, experimental y altamen te
interdisciplinar, que responda a los planteamientos conceptuales de los sistemas
complejos adaptables y que pueda servir de referencia para los destinos turísticos
integrantes del programa pueblos mágicos de México.
Como marco referencial habría que establecer que esta propuesta surge de
un proceso metodológico que incluyo el desarrollo de un análisis Delphi y de una
consulta a expertos, los cuales incluyeron a expertos mexicanos relacionados con el
tema en cuestión y procedentes de diversas instituciones tanto educativas, como
públicas y privadas, a lo largo y ancho del territorio nacional.
El modelo propuesto, según se puede ver en el gráfico 3, es una adopción
del TOMM utilizado por Twing-Ward en Samoa (ver Twining-Ward, 2002 y 2003;
Twining-Ward y Butler, 2002; Farrell y Twining-Ward, 2004; y OMT, 2004) que
adopta un enfoque circular, lo cual garantiza una revisión continua del ciclo (Pulido y
Rodríguez 2009).
El modelo se distingue, entre otras cuestiones, por la incorporación de las
partes interesadas (stakeholders) en todas y cada una de las fases del modelo, así
como en la creación de un sistema de indicadores que permite conocer tanto el
impacto del turismo en la evolución del ecosistema turístico en concreto, como el
grado de consecución de los objetivos respecto a la gestión turística de los mismos.
Lo anterior favorece un proceso de aprendizaje que se traduce en mejora continua y
en un proceso de desarrollo hacia la autogestión y empoderamiento de los actores
locales (Pulido y Rodríguez 2009).
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1470
Gráfico 3.
MODELO DE GESTIÓN TURÍSTICA ADAPTABLE PARA LOS
DESTINOS TURÍSTICOS MEXICANOS
Formulación de
objetivos
Establecimiento
de metas
Revisión de
actuaciones
Análisis de
resultados
Participación de las
partes interesadas
(stakeholders)
Diseño del Plan de
Gestión Turística
Definición de
indicadores
Seguimiento de
indicadores
Implementación
del Plan de Gestión
Turística
Fuente: Elaboración propia, adaptado de Twining-Ward y Butler (2002).
El proceso inicia con la determinación de objetivos y el establecimiento de
metas, las cuales deben surgir de un proceso participativo. Posteriormente, en una
segunda etapa, se debe definir el contenido del Plan de Gestión Turística y construir
un conjunto de indicadores que garanticen el posterior seguimiento y análisis de los
resultados. A continuación, se procede a la implementación del Plan y de manera
simultánea, se debe delimitar las diferentes competencias para la implementación
del proceso y garantizar de este modo, un estadio de coordinación institucional,
inexistente hasta el momento (Pulido y Rodríguez 2009).
Considerando que las circunstancias de cada destino integrante del programa
son diferentes, se vuelve imprescindible el adaptar el modelo propuesto a cada uno
de ellos y, en consecunecia, las estrategias que deberán implementarse. Por tanto,
cada cual deberá orientar el contenido de su Plan de Gestión Turística de acuerdo
con el planteamiento de acciones realizado por los gestores, que habrán establecido
diferentes tipos de estrategias (ver Pulido 2007): de proceso, de gestión, de prod ucto
y/o transversales (Pulido y Rodríguez 2009).
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1471
3.
CONCLUSIONES
En base a todo lo anteriormente expuesto, podemos concluir que a pesar de
que la intensión del programa gubernamental en cuestión es la incorporación de la
población local en la gestión turística del destino, según consta en la reglas de
operación de dicho programa, la realidad es que la población local se siente ajena al
desarrollo turístico.
No debemos dejar de reconocer los logros que el programa Pueblos Mágicos
ha tenido, sobre todo en cuanto a mejoras en la imagen urbana de los destinos y el
aprovisionamiento de infraestructura turística necesaria para el desarrollo turístico.
Adicionalmente, podemos referir que aún y cuando no era un objetivo planteado al
inicio del programa, la verdad es que se ha constituido una marca turística alrededor
de las localidades integrantes, con el inconveniente de que al incluirse destinos con
tanta diversidad en cuanto a grado de desarrollo turístico (según se revisó en el
apartado 2.2), la imagen y las expectativas que el visitante tenga de los destinos
pueden convertirse en decepción en algunos de los casos, debido a la falta de
servicios turísticos básicos que aun presentan algunas de las localidades.
1472
Volviendo al tema en cuestión, la gestión local en los destinos integrantes del
programa Pueblos Mágicos, podrá mejorarse de manera sustancial si tal como se
propone en este trabajo, se considera al turismo como un sistema complejo
adaptable y por tanto, se adopta y sobre todo se adecua, según las particularidades
de cada caso, un modelo de gestión adaptativa.
Estamos convencidos que la implementación de un modelo de gestión
adaptativa en los destinos integrantes del programa Pueblos Mágicos, contribuirá de
manera sustancial al desarrollo sostenible de dichos destinos, puesto que propiciará
el involucramiento de los diversos actores locales, incluida por supuesto la población
local, pero además, contribuirá al empoderamiento de dichos actores hasta llegar a
convertirlos en autogestores de su propio desarrollo.
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MAPEAMENTO DE CONFLITOS NO ROTEIRO TURÍSTICO COSTA NORTE
(JERICOACOARA - DELTA DO PARNAÍBA - LENÇÓIS MARANHENSES)
Helena Araújo Costa
Doutora em Desenvolvimento Sustentável, Mestre em Turismo e Hotelaria,
Administradora
Professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília
Membro do LETS (Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade)/CDS/UnB
Email: [email protected]
Elimar Pinheiro do Nascimento
Sociólogo, Doutor em Sociologia pela Université de Paris V (René Descartes); Pósdoutor em Ciências Sociais pela EHESS - Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales de Paris
Diretor do CDS/UnB
Coordenador do LETS (Laboratório de Estudos de Turismo e
Sustentabilidade)/CDS/UnB
Email: [email protected]
RESUMO
O artigo trata do componente conflituoso presente nas relações sociais que
envolvem micro e pequenas empresas (MPE) no roteiro integrado formado pelas
regiões de Jericoacoara (Ceará), Delta do Parnaíba (Piauí) e Lençóis Maranhenses
(Maranhão), também conhecido como Costa Norte. O objetivo é mapear os conflitos
que envolvem as MPE do turismo. A metodologia foi composta por duas etapas.
Uma qualitativa, que fez uso de observação e entrevistas semi-estruturadas. A outra,
quantitativa, com questionários estruturados aplicados em entrevistas a
proprietários, sócios e gerentes de 213 empresas. Os resultados revelam que os
principais conflitos assemelham-se nas três localidades, e são com: governos locais;
outras empresas de turismo locais; e autônomos que trabalham com turismo. As
razões mais cogitadas para os conflitos são a falta de ação do governo local e a
excessiva competição entre empresas e autônomos nos destinos turísticos. Além
disso, os resultados mais frequentemente observados foram as perdas para a
localidade e para as empresas. Contudo, foram revelados resultados positivos a
partir de alguns conflitos.
Palavras Chave: conflito, micro e pequenas empresas (MPE), turismo, Costa Norte.
ABSTRACT
The paper focuses on the conflictive component present in social relations social
relationships which involve micro and small tourism businesses situated on Costa
Norte, coastal zone formed by municipalities of three north eastern Brazilian counties
named Ceará, Piauí and Maranhão. The goal is to map the conflicts involving the
micro and small tourism enterprises. The methodology consisted of two stages. The
first was a qualitative study followed by quantitative interviews with owners,
shareholders and managers of 213 companies. The results show that the main
conflicts in the three main destinations are with: local governments, other local
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tourism enterprises and autonomous workers. The reasons considered for the
conflicts are the lack of local government action and excessive competition inside the
private sector. Furthermore, conflitcs‟ most observed results were losses for the
destination and the businesses. However, positive results were revealed from some
conflicts.
Key words: conflicts, micro and small enterprises, tourism, Costa Norte.
1
INTRODUÇÃO
Conflitos podem ser
entendidos como interações que
materializam
discordância, geralmente permeados pelo confronto de interesses, valores e
concepções divergentes 19. Apesar de estarem presentes na realidade, como uma
face da moeda das relações sociais, diversas teorias sociológicas e estudos das
relações entre organizações, tendem a, ilusoriamente, ignorar o conflito como parte
das relações estabelecidas na sociedade.
Portanto, a partir da identificada escassez de estudos empíricos que
reconhecem os conflitos como constitutivos das relações sociais, essenciais à
coesão social e à formação de atores, essa pesquisa lança a pergunta: como se dão
os conflitos que envolvem as MPE de turismo da Costa Norte? A partir disso, o
objetivo do artigo é mapear os conflitos que envolvem MPE do turismo nos três
destinos turísticos brasileiros que compõem o roteiro integrado chamado Costa
Norte. O mapeamento busca identificar: (1) os principais conflitos, com quem
ocorrem e as razões de ocorrência, (2) quais os mecanismos criados para lidar com
os eles e (3) seus resultados.
A escolha da Costa Norte para a pesquisa empírica se justifica por uma série
de fatores, entre eles: o contexto de pobreza, com sua gravidade expressa por seus
indicadores de saúde, alfabetização e renda, condensados em baixos escores de
IDH municipais; o dinamismo da atividade turística, a fragilidade ambiental, que a
tornam especialmente fértil para análises de cunho socioambiental, ao lado da
criação de um consórcio interestadual para o turismo na perspectiva da roteirização,
o que torna mais interessante o conhecimento sobre as relações sociais.
19
Ainda que seja tomada como verdadeira a premissa de que cooperação e conflito
coexistem na realidade social, neste momento, o enfoque recai sobre o segundo aspecto, a fim de
permitir uma exposição mais pormenorizada do tema.
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1476
2
O CONFLITO COMO COMPONENTE DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Conflitos, de modo geral, são entendidos como interações que expressam
discordância, divergência (MCINTYRE, 2007), ações de rivalidade e individualismo
(TREMBLAY, 1998; WATKINS e BELL, 2002; LEIPER, 2003). É importante notar
que um conflito social emerge quando dois ou mais indivíduos ou grupos manifestam
objetivos, ou percepções, incompatíveis (KRIESBERG, 2003). Os adversários
podem ser indivíduos, organizações ou conjuntos grandes como governos, partidos,
que exibem suas crenças, interesses e intenções.
Uma estrutura social é produzida pelas interações entre relações de conflito e
relações cooperativas (SIMMEL, 1969). Tal interação pode ser vista com clareza
quando membros se unem em forma de cooperação ou coalizão contra inimigos
comuns, pois as funções conectivas do grupo desenvolvidas pelo conflito criam
fronteiras, tornando mais robusta a consciência grupal (COSER, 1961; SIMMEL,
1969). Portanto, é de se pressupor que cooperação e conflito não se opõem
radicalmente e que o tecido social não se forma exclusivamente com um ou outro
tipo de relação. Uma incursão em estudos com viés sociológico mostra que,
tradicionalmente, tais relações eram tratadas de forma antagônica, dividindo as
abordagens teóricas entre duas principais interpretações da realidade (BIRNBAUM,
1995; BOBBIO et al., 1995):
Na primeira ordem de interpretação, pela perspectiva da integração, a ordem
e o consenso adquirem destaque (NASCIMENTO, 2001). O conflito é visto como
patológico e disfuncional. Esta visão embasa o entendimento que os conflitos devem
ser prevenidos, contidos ou eliminados (KRIESBERG, 2003), e, sobretudo, evitados,
pois são sinais de desfuncionalidades sociais. Na segunda ordem de abordagem,
pela perspectiva do conflito, harmonia e equilíbrio são vistos como estranhos à
sociedade, naturalmente conflituosa. O conflito tem relações com a vitalidade, a
possibilidade de mudança e a coesão. Ele é entendido como inerente à dinâmica
social e não carrega a conotação negativa de distúrbio da ordem. Simmel (1969)
destaca-se como a principal referência dessa abordagem da teoria de conflito, tendo
influenciado fortemente os trabalhos nesse campo com sua visão sobre a natureza e
função social dos conflitos (BIRNBAUM, 1995; NASCIMENTO, 2001).
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O conflito coloca em risco o status quo, as condições em que alguns estão
confortáveis e articulam-se para defendê-las. Os conflitos podem ter várias origens,
entre elas a luta pela manutenção ou pela mudança da distribuição do poder; a
frustração deflagrada por alguma privação e, ainda, diferenças referentes a normas
ou valores culturais associados a identidades (XIMENES, 2006). Todavia, partes em
conflitos não têm apenas objetos de disputa, têm também alguma zona de trânsito
comum, um campo em que dividem crenças, objetivos ou valores (KRIESBERG,
2003). Não há conflito entre grupos ou mundos que sejam absolutamente estranhos.
O conflito supõe algo em comum entre as partes conflituosas.
Os conflitos são diferentes entre si, podendo ser mais ou menos importantes,
ameaçadores e irreparáveis (GRAY et al., 2007). Eles, ainda, evoluem de formas
distintas e variam de acordo com múltiplas dimensões, forças, recursos20 e objetivos.
Até mesmo o envolvimento dos atores se dá em graus diferentes (BIRNBAUM, 1995;
BOBBIO et al., 1995; LITTLE, 2001). O conflito existe porque, naturalmente, pessoas
e organizações têm interesses, personalidades, necessidades e objetivos próprios e
opostos. Entra-se em conflito, sobretudo, para estabelecer e conservar as
identidades e fronteiras das sociedades e dos grupos, o que leva Coser a crer, a
partir de contribuições de Simmel (1969), que “um certo grau de conflito está longe
de ser disfuncional, é um elemento essencial na formação de um grupo e da
persistência de sua vida” (1964, p. 34). Se esses são os motivos que levam o conflito
a existir, quais seriam os motivos para o seu fim? Simmel (1969) aponta alguns:
desaparição do objeto em disputa;
vitória;
conciliação ou irreconciliação
sedimentada.
A noção que frequentemente permeia estudos de relações entre empresas
tende a considerar que “organização é preferível à fragmentação; cooperação é
preferível ao conflito” (LOVELOCK, 2002, p. 7). Porém, analisando um aspecto
pouco explorado, Casson e Giusta (2007) usam a expressão “efeitos perversos da
cooperação” entre negócios, para indicar como eles restringem o comércio e
20
Neste trabalho, não serão tratados os conflitos violentos, ainda que a violência seja um
recurso a ser empregado em situações conflituosas, como sugerem Bobbio et al. (1995). Assim como
não se abordará o conflito violento, não será abordada a cooperação gerada por meio de coerção
sugerida por Gillinson (2004).
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concentram poder. Paralelamente, podem ser apuradas vantagens e desvantagens
do conflito.
Certamente, há conflitos destruidores, como exemplos dados por Schelling
(THE ROYAL SWEDISH ACADEMY OF SCIENCES, 2005). Entre os conflitos com
resultados nocivos, aventam-se aqueles que destroem oponentes, limitam o diálogo,
geram perdas de chances de desenvolver a cidade, prejuízos de oportunidades para
negócios ou danos ambientais graves ou irreversíveis. No âmbito dos negócios, há
danos causados pela excessiva concorrência ou deslealdade nela. Mas nem todos
os conflitos são contraproducentes (COSER, 1964; KRIESBERG, 2003). Aqueles
considerados “construtivos” são os que não contam com violência e ampliam a
possibilidade de diálogos entre grupos. Kriersberg (2003) exemplifica alguns:
embates para preservação do meio ambiente, para depor um regime autoritário, para
ter o direito de votar. O autor chama a atenção para o fato de um conflito
devidamente regulado e institucionalizado constituir um meio efetivo para promover
a justiça e contribuir para organização da sociedade em longo prazo.
De toda forma, é por meio do conflito que os indivíduos estabelecem suas
normas e leis, assim como as modificam, que garantem a “conviviabilidade” entre os
humanos. Para a localidade onde ocorrem, resultados positivos dos conflitos podem
ser observados quando promovem modificação e criação de novas leis; facilitam o
desenvolvimento de novas estruturas institucionais; a elevação da consciência de
normas antes latentes; a intensificação da participação na vida social (COSER,
1961). Para as MPE, espera-se que o engajamento em conflitos gere benefícios
como a criação de novas normas, a influência sobre as políticas públicas e a
amplificação da força de suas opiniões (THOMAS, 2007), que isoladamente não
chegam a impactar os ambientes sociais e políticos em que estão inseridas.
Aumentar o diálogo entre atores sociais relevantes; angariar incrementos de
infraestrutura requerida para o trabalho das MPE; proteger melhor o meio ambiente;
gerar mais condições de inclusão da população local por meio do trabalho podem
ser especulados como alguns resultados positivos dos conflitos.
Na literatura do turismo, o conflito aparece de distintas maneiras. Há estudos
com ênfase na relação entre turistas e habitantes (MAITLAND, 2008), impactos de
guerras, terrorismo ou conflitos étnicos no turismo (SONMEZ et al., 1999), em
discussões focadas nos conflitos territoriais sobre uso e gestão de recursos (MELO e
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IRVING, 2007; VALLEJO, 2007) ou mesmo a argumentação em favor do turismo
como uma atividade que diminui os conflitos e aumenta a tolerância 21 entre os
povos. Na discussão de turismo sustentável, os conflitos inerentes à vida social
tendem a ser ignorados. Isso dá uma conotação de que a comunidade é homogênea
e afetada de modo similar pelo turismo, o que não representa a realidade
(RICHARDS e HALL, 2002).
Em resumo, a literatura tende a não considerar a interface do conflito nas
relações sociais ou simplesmente a escamotear os aspectos positivos provenientes
do conflito, aprisionando-o na noção de senso comum, como algo prejudicial, nocivo,
enfim, algo a ser evitado.
Poucas exceções, a exemplo do trabalho de Wilkinson e March (2008), levam
o conflito em consideração na análise de redes no turismo, mas enfatizando seus
aspectos negativos. Os autores reconhecem que existe um contínuo entre as
relações, que podem variar da simbiose a uma relação predatória proporcionada
pela disputa por recursos escassos. Apenas Lovelock (2002) foi identificado como
um autor que introduz na discussão da sustentabilidade do turismo o aspecto do
conflito em sua positividade. O autor reconhece que toda a literatura da área tende a
não considerar o conflito entre os atores sociais como construtivo, principalmente em
áreas ambientalmente delicadas (LOVELOCK, 2002). O autor mostra que o conflito
entre ONGs e outros atores, em função da preservação ambiental, pode gerar
impactos positivos para a sustentabilidade do destino.
3
A COSTA NORTE
A região estudada é designada pelas políticas públicas federais como “Costa
Norte”, algumas vezes “Polo Costa Norte”; pelo Sebrae como “Roteiro CEPIMA”
(Ceará, Piauí e Maranhão); e pelo nome fantasia de “Rota das Emoções” em sua
promoção comercial. É um dos Roteiros Integrados resultantes do Programa de
Regionalização do desenvolvimento da atividade turística no Brasil, que tem como
objetivo “promover o crescimento econômico, a criação e manutenção de novos
21
Conforme concepção da Organização Mundial do Turismo (UNWTO). Disponível em
www.unwto.org.
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postos de trabalho, de forma a buscar o desenvolvimento sustentável nas regiões
turísticas envolvidas” (MTUR, 2005).
O roteiro consiste em uma faixa litorânea que perpassa três estados –
Maranhão, Piauí e Ceará. Em linha reta, a região totaliza cerca de 300 quilômetros e
é composta por doze municípios, organizados em três regiões:

Região dos Lençóis Maranhenses (MA): Araioses, Tutóia, Água
Doce do Maranhão, Paulino Neves e Barreirinhas;

Região do Delta do Parnaíba (PI): Cajueiro da Praia, Luís
Correia, Ilha Grande e Parnaíba;

Região de Jericoacoara (CE): Jijoca de Jericoacoara, Camocim
e Barroquinha.
O turismo no território vincula-se, principalmente, ao lazer, contemplação,
esporte e aventura no meio ambiente natural realizado na zona costeira. Os
principais atrativos da região são os Parques Nacionais dos Lençóis Maranhenses e
de Jericoacoara, afora as Áreas de Proteção Ambiental Federais do Delta do
Parnaíba e de Jericoacoara, sendo estes os atrativos naturais de maior interesse
turístico da região (LIMA/COPPE/UFRJ, 2006). Merece considerações a disparidade
da realidade do turismo nas localidades investigadas, porquanto os destinos
apresentam estágios de vida bastante diferenciados e forte distinção no que diz
respeito não somente ao fluxo de turistas, mas também aos serviços turísticos
oferecidos.
As
demais
localidades,
atualmente,
ocupam
uma
posição
predominantemente de rota e não de destinos dentro da lógica do roteiro, se
considerado o sistema de Leiper (LEIPER, 2003).
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Figura 1 – Localização da Costa Norte
Fonte: dados da pesquisa
Resumidamente, a Costa Norte apresenta um contexto de acentuada pobreza
– consubstanciado em baixos escores de IDH (PNUD, 2006) – e de fragilidade
ambiental, com perda de identidade cultural em alguns casos, escassas alternativas
econômicas e disparidade na inserção de seus destinos no mercado do turismo.
Como exemplo, todos os municípios da Costa Norte apresentavam, em 2000, IDH
menores do que as médias do Brasil (0,766) e mesmo o do Nordeste (0,676),
variando do mais baixo, de Araioses (0,486), ao mais alto, de Parnaíba (0,579),
ainda que sem fortes dispersões (PNUD, 2006). Por outro lado, a região tem
recebido crescente atenção de políticas públicas, com destaque para intervenções
vinculadas ao turismo, firmando o pioneirismo nacional na criação de um consórcio
interestadual para gestão da região.
Economicamente, alguns municípios têm como setor produtivo mais relevante
o turismo, particularmente nos três municípios chamados âncoras (Barreirinhas,
Parnaíba e Jericoacoara). Os demais municípios se concentram em atividades de
pesca e
agricultura,
sendo raras
as indústrias
manufatureiras.
Tratando
especialmente das empresas turísticas, em 2006 compilaram-se aproximadamente
403 de hospedagem, receptivo e alimentação no território da Costa Norte 22, a maior
parte concentrada no estado do Ceará (192 empresas), enquanto os demais estados
apresentam quantidades semelhantes e aproximadas a 100 empreendimentos.
22
Fonte: Sebrae; Senac; Mtur (2006) e folheteria promocional do roteiro. Reconhece-se que essas
quantidades sejam somente aproximações pela dinâmica própria de micro e pequenos negócios,
normalmente informais, ainda ser sujeita ao intenso rodízio de aberturas e fechamentos sem
registros. Incluem empresas sediadas nas capitais dos estados e que trabalham no roteiro.
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4
MÉTODOS E TÉCNICAS
O estudo empírico consistiu de duas etapas, desenvolvidas entre os anos de
2006 e 2008. A primeira foi qualitativa, composta por observação direta do local e
entrevistas semiestruturadas em 11 dos 12 municípios envolvidos com o roteiro
integrado, além das capitais dos estados em questão. Teve o objetivo de apurar as
percepções dos atores locais representativos do turismo nas localidades (DUARTE,
2002). A saturação foi empregada como critério para estipular a amostragem n esta
primeira etapa (FONTANELLA et al., 2008), que totalizou 53 entrevistados.
Na segunda etapa, procedeu-se uma pesquisa quantitativa (survey) com MPE
empresas do turismo de Barreirinhas, Parnaíba e Jericoacoara, os destinos turísticos
principais da Costa Norte. Utilizou-se um questionário estruturado, aplicado em
entrevista pessoal e individual. No total, 213 empresas responderam de modo válido,
gerando um índice de resposta de 90,6%, já que o universo era de 235 elementos.
As entrevistas foram realizadas entre setembro e novembro de 2008 e tiveram como
público-alvo proprietários/sócios, gerentes e diretores de associações empresariais
de estabelecimentos com atividade principal de hospedagem, alimentação,
transporte turístico, pacotes receptivos (passeios e guias) ou uma combinação entre
estas atividades. As questões que têm suas respostas analisadas nesse artigo são
quatro: (1) Com quem são os seus principais desentendimentos? (2) Por que
aconteceram
solucionar?
estes
Se
problemas/desentendimentos?
sim,
qual?
(4)
Quais
foram
(3)
os
Houve
tentativa
resultados
de
destes
problemas/desentendimentos?
Os dados quantitativos, provenientes do formulário, foram tratados com
instrumental estatístico com suporte do software SPSS 16.0. Para análise foram
utilizadas medidas descritivas (de tendência central e dispersão), as medidas de
associação entre as variáveis categóricas foram calculadas utilizando-se o Quiquadrado (Q) e o Coeficiente de Contigência (C) (MALHOTRA, 2001; NORUSIS,
2002).
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5
OS CONFLITOS DAS MPE DO TURISMO NA COSTA NORTE
Os conflitos investigados são descritos quanto a seus (1) principais atores e
razões para envolverem-se em conflitos; (2) mecanismos para lidar com eles (3)
resultados percebidos dos conflitos.
5.1 ATORES ENVOLVIDOS E RAZÕES PARA OS CONFLITOS
27,7% dos 213 respondentes válidos compõem a parcela que afirma
participar de algum conflito. Essa é uma quantidade expressiva, embora seja de se
supor que a incidência de conflitos seja maior do que revelado nas entrevistas
anteriores, tendo em vista o traço cultural predominante entre os brasileiros de não
admitir a participação em conflitos. Como explica Sorj (2000), o fato de ser uma
sociedade baseada em favores pessoais, reflete na pouca inclinação da cultura
nacional para a confrontação declarada e a crítica aberta, já que nunca se sabe
quando será necessário recorrer à boa vontade do outro.
Todas as localidades apresentam semelhantes padrões de distribuição de
respostas afirmativas e negativas do conflito. Portanto, revela-se que não há
qualquer associação da localidade com a participação em conflitos por parte das
MPE, o que surpreende, pelo fato de terem sido apontadas em Jericoacoara mais
características conflituosas do que nos demais locais, quando da caracterização das
relações do destino, etapa prévia da pesquisa. O que pode estar aqui configurado é
um pensamento apreendido ao longo das entrevistas: a resistência de tratar do
conflito quando trazido para a primeira pessoa. Ou seja, a negação de si como um
ator conflitivo, tendo em vista que essa relação carrega um indicativo de desajuste
social. Em outras palavras, traz em seu bojo a ideia de ser de “bom tom” a pessoa
não ter conflito com ninguém, apesar de conflitos existirem no destino e, sobretudo,
conflitos que envolvem as empresas de turismo.
Os conflitos mais recorrentes são com governos municipais (39%) e dentro do
setor privado com autônomos do turismo (34%) e outras empresas de turismo da
cidade (32,2%) (Gráfico 1).
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Gráfico 1 – Principais conflitos das MPE do turismo na Costa Norte
Fonte: dados da pesquisa
A despeito das fragilidades ambientais e sociais da região, conflitos com
órgãos ambientais (12%) e comunidades/moradores da localidade (6,8%) não se
destacam como conflitos centrais das empresas na Costa Norte. Ambos eram
estimados com valores superiores, havendo a expectativa do conflito com órgãos
ambientais ocupar posição central na perspectiva das MPE que operam suas
atividades em unidades de conservação ambiental e seus entornos. Ainda com
menor relevância no contexto da Costa Norte estão os conflitos com empresas de
outras cidades (5%) e, com a mais baixa incidência, cooperativas locais (3,4%). Não
se registra qualquer conflito com empresas de outros setores na mesma localidade
ou com ONG ambientalista, conflitos socioambientais corriqueiros em áreas
ambientalmente frágeis.
Comparando as redes de conflitos formadas nos três destinos 23 vê-se que
elas se assemelham quanto aos três principais conflitos: com os governos locais;
com outras empresas de turismo locais; com autônomos que trabalham com turismo.
Por isso, as localidades não apresentam diferenças estatisticamente significativas
23
Por não serem significativamente distintas, foi representada apenas a rede total das
localidades, em detrimento das três redes que deram origem a essa.
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nesse aspecto.24 Todavia, conhecer as especificidades locais dos conflitos e
aprofundar-se nelas revela aspectos interessantes para discussão.
Jericoacoara concentra a maior parte dos conflitos das MPE com o governo
municipal, na faixa de 42% dos respondentes que confirmam ter conflitos. Com mais
nitidez em Barreirinhas e pouco menos nas outras localidades, é possível entrever
uma realidade assemelhada àquela revelada por Page et al. (1999), em que os
principais obstáculos identificados pelas MPE do turismo no Reino Unido estavam
ligados à competição no mercado local, e não com outros atores externos. Na
investigação desses autores as pequenas empresas de turismo tinham como maior
obstáculo para seu desenvolvimento – a partir da ótica dos empresários – a
competição local, em detrimento de quaisquer outros fatores, inclusive da
competição com empresas grandes. Era esperada uma relevância mais acentuada
de conflitos com empresas de turismo de alcance regional, tendo em vista que a
roteirização pode não somente ampliar o campo de cooperação, mas também de
conflitos, com o aumento do alcance da atuação das empresas anteriormente
circunscritas a seu destino-base. Afinal, tais empresas existem e podem “roubar”
parte do mercado. No entanto, até o momento, a roteirização tem parecido fomentar
a cooperação de modo mais expressivo do que o conflito entre as MPE da Costa
Norte.
Conflitos com os órgãos ambientais e a comunidade não figuram como
conflitos centrais para as MPE em qualquer das localidades, contrariando
expectativas em áreas pobres, de entorno de unidades de conservação e que delas
dependem para a oferta do turismo.
Quanto às razões para entrar em conflito, uma análise agregada da região,
revela semelhança de natureza do conflito que as MPE identificam nas três
localidades, basicamente ligada à falta de ação do ente público local. As principais
razões mencionadas são:
1. a falta de provimento de infraestrutura para o turismo, fortemente
destacada nas três localidades e que reforça o expressivo conflito com tal
ator;
24
O teste de associação não ofereceu significância para as cidades. A técnica de Análise
Discriminante a partir dos 59 respondentes válidos não mostrou nenhum conflito diferenciador das
localidades entre si, confirmando que as realidades são bastante similares nos três conflitos que as
definem.
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2. a falta de regulação do mercado do turismo local, o que lança luz
sobre o expressivo conflito entre entes privados (empresas e autônomos).
Existe não somente o conflito entre as MPE em Barreirinhas, principalmente
agências, mas também delas com cooperativas e com os “meninos de rua” (guias
autônomos informais). Uma das razões aparentes para tamanha competição entre
agências e autônomos que fazem transporte turístico e passeios nas localidades é a
excessiva padronização dos passeios oferecidos. Talvez esse embate seja menos
aparente entre meios de hospedagem e empreendimentos de alimentação porque
sua oferta é naturalmente mais segmentada: um restaurante popular não disputa o
mesmo espaço que um restaurante refinado; um hotel cinco estrelas não concorre
pelo mesmo público que um albergue. Isso potencializa que a competição seja feita
em nichos e não de modo tão disseminado. Ou seja, se por um lado a própria falta
de diferenciação dos passeios faz com que eles se concentrem sobre o mesmo
público, cobrem os mesmos preços e ofertem serviços extremamente similares, por
outro lado a competição acirrada parece desencorajar a inovação e diferenciação de
produtos. Isso em razão da dificuldade de sobrevivência e dos riscos que devem
enfrentados ao iniciar uma mudança. Outra vez inaugura-se um círculo vicioso: MPE
ficam presas a uma oferta muito similar porque têm a venda assegurada; e o
mercado apenas compra aquilo tendo em vista não haver diferenciação aparente.
Sem diferenciação de qualidade, resta a guerra de preços como mecanismo de
sobrevivência.
5.2 OS MECANISMOS PARA LIDAR COM OS CONFLITOS
Na investigação dos mecanismos para lidar com os conflitos, aos
entrevistados que apontaram ter se envolvido em conflitos foi indagado se houve
inclinação para solucionar as questões. A tentativa de solução aqui não é vista como
uma “cura”, na conotação do conflito como patológico ou disfuncional, mas sim como
uma possibilidade de articulação de grupos e estabelecimento de regras mais claras,
potencializando coesão interna aos conjuntos. A tentativa de solução de conflitos
também se relaciona com as próprias articulações de cooperação.
No grupo investigado, é predominante a percepção de ter havido esforços
para solucionar os conflitos em que as MPE estavam envolvidas (76,3%). Do total,
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23,7% mencionam não ter havido tentativas de solução. Tomando uma perspecti va
comparativa, não houve qualquer manifestação de associação estatística entre a
tentativa de solucionar conflitos e a cidade, já que todas as três apresentaram
distribuição semelhante e com forte predominância ao “sim” (70% a 80%), não
permitindo diferenciá-las sob esse aspecto. Portanto, a análise comparada serve
para evidenciar qualitativamente quais são as articulações ocorridas para solucionar
conflitos em cada local.
De modo sucinto, em Jericoacoara aparecem tentativas de diálogo com o
poder municipal instituído, todas consideradas infrutíferas pelos respondentes.
Constantes tentativas surgem na localidade e fracassam. Recentemente, surgiu uma
associação com perspectivas de abranger todo o segmento do turismo na vila em
uma visão comum (Adetur- Jeri), que já é considerada a mais ativa pelos
respondentes.
Parnaíba mostra uma articulação pouco mais avançada para fazer frente aos
conflitos entre empresários do turismo, na medida em que a principal associação
ruiu e as empresas de passeios permanecem organizando uma lista única de saída
de barcos, a fim de minimizar riscos e maximizar lucros individualmente, já que não
há demanda para que todas lancem mão de seus barcos diariamente, o que poderia
resultar em uma competição danosa para todas as MPE. Um dos entrevistados que
participa dessa iniciativa não relaciona a ela qualquer traço de confiança nos
parceiros, mas sim como um modo de zelar pela sobrevivência. Esse exemplo
mostra como os limites entre cooperação e conflito são tênues, revelando tais
relações como faces de uma mesma moeda e em constante ajuste. Afinal, uma ação
de cooperação pode surgir para atenuar conflitos, e o conflito pode recriar a maneira
como as ações em parceria se organizam, criando novas regras de coexistência.
Entretanto, é em Barreirinhas que se encontra a articulação cooperativa mais
complexa da região, em resposta aos conflitos mais centrais no turismo da
localidade com a organização de MPE do turismo, com a intenção de instituir o
voucher único de entrada nos atrativos. Apesar ainda de não citado por nenhum dos
entrevistados como uma busca de soluções para os conflitos do turismo da cidade,
chama a atenção tal articulação, a exemplo da governança instituída em Bonito
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(MS).25 Esse ingresso garantiria o respeito à capacidade de carga determinada,
asseguraria a visitação acompanhada de guias credenciados, bem como reverteria
recursos para a administração pública local (CDS/UNB, 2008). Tal proposta tem sido
vista como a solução do problema por parte de diversos respondentes e conta com
apoio da Prefeitura, uma ação conduzida pelo empresariado local, diretamente
ligada com a participação da associação criada pelos empresários das MPE e do
conselho municipal de turismo. A instituição do voucher único traz consigo dois
possíveis desdobramentos: ou de potencializar soluções inovadoras para o destino
sob a influência da governança conduzida pelo setor privado, protegendo recursos
naturais, incrementando a experiência turística e ampliando o diálogo com outros
atores sociais; ou de promover crescente exclusão dos grupos com que se têm
atritos na medida em que fortalece tal instância de gestão.
5.3 OS RESULTADOS DOS CONFLITOS
Aqueles
que
perceberam resultados escolheram entre opções que
articulavam condições favoráveis e desfavoráveis para a sustentabilidade do destino,
resultando em uma questão de múltipla escolha com as opções apresentadas no
Gráfico 2.
Os dados mostram que um percentual de 43% das empresas envolvidas
em algum conflito não percebe qualquer resultado, opinião expressa pelas frases
“nada mudou” ou “tudo continua igual”. Tal opinião tem incidência semelhante nas
três localidades. Dentre os 57% que percebem ter havido resultados a partir dos
conflitos,
a
maioria
menciona
aqueles
considerados
desfavoráveis
à
sustentabilidade, enquanto uma parcela reduzida percebe resultados favoráveis
para os grupos e para as localidades a partir dos conflitos.
25 (VIEIRA, 2003; LUNAS, 2006).
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Gráfico 2 – Resultados dos conflitos na Costa Norte
1490
Fonte: dados da pesquisa
Nenhum dos resultados obteve opinião da maioria dos respondentes. O
resultado mais observado, porém, aponta a perda de chances de melhorar a cidade
(41,2%). Em seguida, 38,2% atribuem aos conflitos a perda de negócios para as
empresas. Em terceiro lugar, outros resultados são mencionados, discutidos
especificamente para cada localidade a seguir.
Em
contrapartida,
os
resultados
menos
observados
são
a
formação/fortalecimento de grupos, mencionado por 2,9%, e as melhorias para a
cidade (5,9%). Evidencia-se que poucos apontam a positividade do conflito esperada
a partir de Coser (1964) e Simmel (1969).
Tais características levam a refletir se os conflitos não produziram soluções
interessantes ou se os respondentes, como o senso comum predominante no País,
têm uma visão estigmatizada dos conflitos. 26 Afinal, ainda que tão poucos resultados
positivos do conflito tenham sido reconhecidos por parte dos respondentes, fica
26
Um dos entrevistados expressou bem essa ideia, quando comentou durante a entrevista
que não tinha qualquer sentido perguntar se havia resultados positivos do conflito.
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marcado que diversas articulações de cooperação surgem dos conflitos: o voucher
em Barreirinhas; a lista única de embarcações em Parnaíba; a articulação para
limpeza da praia em Jericoacoara.
Em uma visão comparada dos possíveis resultados investigados para os
conflitos entre as cidades, a característica que melhor as distingue 27 está presente
em Parnaíba, com expressiva maior incidência de opiniões que mostram os conflitos
como geradores de perdas para a cidade. As demais características não diferenciam
as cidades, seja porque incidem de modo expressivo e semelhante, a exemplo da
perda de negócios para as empresas, seja porque foram praticamente inexistentes,
como as melhorias para a cidade.
Em Parnaíba, 85,7% das empresas que estabeleceram algum conflito
percebem que ele resulta em perdas de chances de melhorar a cidade, em valores
bastante menores em Jericoacoara (38,9%) e Barreirinhas (33,3%). Chama atenção
o fato de ser Parnaíba a localidade onde menos tensão é comunicada pelo conjunto
dos dados, e que lá haja mais percepção de resultados danosos do conflito. Uma
possível mensagem contida nesses dados se traduz em: “como não nos unimos e
não agimos juntos e de maneira persistente, perdemos chances de melhorar a
cidade”. Em outros termos, a desunião e a independência excessiva contribuindo
para que resultados coletivos favoráveis não sejam alcançados, mais do que o
próprio conflito.
Quando analisadas as respostas dadas à categoria outros resultados – que
corresponde à última entre as opções de resposta da questão –, é interessante
observar a marcação por parte de uma parcela de 35,5% dos respondentes, o que
classifica opção escolhida como a terceira característica mais incidente na Costa
Norte. Isso indica que as categorias de resultados oferecidas para o conflito não
foram exaustivas, e pode refletir uma necessidade de avanço rumo ao estudo
empírico da relação conflito–sustentabilidade. Todos os outros resultados percebidos
pelos entrevistados ressaltam efeitos positivos do conflito. Todos eles estão
concentrados em Jericoacoara e Barreirinhas, já que em Parnaíba nenhum outro
resultado foi mencionado.
27
Foi empregada a técnica de Análise Discriminante com 58 respondentes.
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Em Jericoacoara são mencionados entre outros possíveis resultados apenas
resultados favoráveis dos conflitos, tais quais: a “aproxi mação da empresa com a
comunidade”; a “união da própria comunidade” e o fato de a “comunidade perceber
seu valor”; a “insistência para a melhoria da cidade”; as “conversas com a Adetur Jeri para resolver os problemas” e o “crescimento de trabalhos conjuntos”.28 Em
Barreirinhas, entre os outros resultados figuram a implementação de “mudanças
pedidas” e o “calçamento da região próxima à duna na área central da cidade”,
ambos ressaltando aspectos positivos como resultados do conflito. Portanto, alguns
exemplos de resultados coletivos favoráveis do conflito são identificados nas
localidades mais conflituosas.
6
CONCLUSÕES
A esmagadora maioria dos conflitos é, em grande parte, fruto da falta de
regulação da atividade por parte da autoridade pública responsável. Em última
instância o principal espaço do conflito é criado pela inoperância do setor público.
Os conflitos mais presentes na Costa Norte foram aqueles com governos
locais, com autônomos do turismo e com empresas locais do setor turístico. Eles
foram assentados sobre a falta de ação das prefeituras e sobre a falta de regulação
da atividade turística, que abre espaço para disputas desleais e práticas
excessivamente predatórias de mercado entre as empresas.
Ao lado disso, não há centralidade do conflito com os órgãos ambientais,
difícil de compreender em destinos inerentemente voltados para seus recursos
naturais. Afinal, esses conflitos estão por todos os lados materializados nas
intervenções do órgão ambiental para frear desmatamento, construções nas
margens dos rios, realização de trilhas sobre dunas, despejamento de resíduos
sólidos das embarcações nas águas, entre outras questões. Possivelmente a baixa
capacidade de fiscalização dos órgãos ambientais – proporcionada pela escassez
de recursos financeiros e humanos em vastas áreas – seja uma das explicações
para esse conflito não ter centralidade na realidade das MPE do turismo.
28
Três respostas foram invalidadas por não serem claras.
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Os três principais conflitos assemelharam-se nas três localidades, sendo com:
governos locais; outras empresas de turismo locais e autônomos que trabalham com
turismo. Como as principais razões cogitadas para os conflitos na região estão a
inação do governo local em diversos aspectos e a brutal competição entre empresas
e autônomos do turismo nos destinos. Quanto aos resultados dos conflitos, apesar
de não contar com maioria, os mais frequentes foram as perdas para a localidade e
para as empresas. Contudo, foram revelados resultados positivos a partir do conflito
tais como aqueles que ampliam o diálogo, a representatividade de segmentos
anteriormente excluídos, que aprimoram processos democráticos de participação, já
que esses resultados podem ser considerados positivos para a consolidação da
governança do destino.
As evidências da pesquisa levam a crer que ambos os aspectos das relaçõe s
sociais, de cooperação e de conflito, coexistem organicamente. Aparentemente, o
conflito condiciona o aparecimento da cooperação e a cooperação também atua
sobre o desenrolar dos conflitos, sendo uma forma de resposta a eles. Isso fornece
indícios de para inaugurar uma linha de investigação mais complexa das relações
sociais que envolvem as MPE do turismo.
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XIMENES, T. A gestão de recursos naturais de uso comum e tipos de conflitos. III
Encontro da ANPPAS. Anais… Brasília, 2006
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MATRIZ DE RELAÇÃO CLIMA-TURISMO: UM CONTRIBUTO PARA O
PLANEJAMENTO DE DESTINOS TURÍSTICOS
Alisson Silva Fernandes
Especialista em Turismo/Universidade de Brasília - UnB
[email protected]
Luís Henrique De Souza
Mestre em Turismo/Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
RESUMO
O clima e suas relações com o turismo são tratados neste artigo como importantes
insumos para o planejamento de destinos turísticos, trazendo à ribalta a
necessidade de analisar adequadamente os fundamentos teóricos e práticos da
relação clima-turismo para um melhor planejamento turístico. É respeitável antecipar
os fenômenos atmosféricos, mais especificamente os desastres ambientais que
consequentemente trazem danos ao turismo e elevam os riscos para os turistas. A
situação atual do globo terrestre em relação às diversas mudanças climáticas foi um
dos marcos para a elaboração do presente artigo. Tempestades adversas,
temperaturas acima ou abaixo do normal, furacões em locais inéditos, são alguns
exemplos da verdadeira situação mundial e estes fenômenos afetam diretamente a
atividade turística. O objetivo deste estudo é propor uma Matriz com a relação climaturismo essencial ao planejamento turístico. O método qualitativo e de natureza
descritiva, além de pesquisa e coleta de dados bibliográficos, foram aplicados para a
construção da Matriz. Os resultados ressaltam que as séries de dados produzidas
pela aplicação da Matriz possibilitam uma melhor caracterização do destino turístico,
à luz de suas identidades climáticas, propiciando uma melhor adequação da oferta
às condições climáticas e aumentar a satisfação da demanda turística.
Palavras Chave: Climatologia; Meteorologia; Planejamento turístico; Matriz ClimaTurismo
ABSTRACT
Climate and its connections with tourism are presented in this article as important
inputs for planning tourist destinations, highlighting the need to properly analyze the
theoretical and practical aspects between climate and tourism for a better touristic
planning. It´s respectable to anticipate the atmospheric phenomenas, particularly the
environmental disasters that consequently bring harm to tourism and raise the risk for
tourists. The current situation of the globe and its climate change was o ne of the
milestone for this article. Adverse storms, temperatures above or below normal,
hurricanes happening in unpublished places are some examples how climate is
changing around the world and these phenomenas directly affect tourism. The aim of
this study is to propose a Matrix with the climate-tourism relationship to be applied
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into tourism planning. Qualitative methods based on descriptive techniques, and
research and collecting bibliographic data were applied to construct the Matrix. The
results emphasize that the data sets produced by applying the Matrix enable a better
characterization of destinations according to their climate identities and by this way to
provide adjust of tourism supply to climate conditions and increase the satisfaction of
tourism demand.
Key words: Climatology; Meteorology; Tourism Planning, Matrix Climate-Tourism.
1 INTRODUÇÃO
A relação clima-turismo exige planejamento e a estratégia é adequar
sistematicamente as diversas informações climatológicas e meteorológicas ao fator
turismo. O conceito de turismo por si só já aborda e facilita a importância da união
com Climatologia e a Meteorologia, pois devido ao deslocamento que o turista tem
que fazer, ou seja, visitar uma região diferente e com condições meteorológicas e
climatológicas divergentes das quais ele está acostumado a presenciar, o
planejamento climático-meteorológico torna-se imprescindível. Vale ressaltar que os
danos causados pelos fenômenos da natureza, quando não anunciados de forma
antecipada, são bastante prejudiciais às cidades e às pessoas, e ainda mais quando
se trata de uma localidade turística.
O Brasil, por ter um grande território, está propício aos variados fenômenos
climáticos. A Amazônia, quente e úmida, contrasta com o Nordeste semi-árido. A
sucessão das estações seca e chuvosa do Planalto Central se distingue da quase
regularidade das chuvas da Região Sul. Os climas saudáveis dos altos montes
contrapõem-se às depressões quentes, úmidas e pouco ventiladas. Apesar de tanta
diversidade climática e grande potencial turístico-ambiental, a relação clima-turismo
ainda não é abordada com a atenção que merece.
Nesse contexto, esta investigação irá realizar uma abordagem teórica
preliminar acerca da importância da inserção do componente “clima” no
planejamento de destinos turísticos e, em sequência, apresentará a metodologia de
construção da Matriz Qualidade Clima-Turismo – Matriz QCT, como instrumento que
permite fornecer informações sobre o clima em destinos turísticos. O artigo é
finalizado com os resultados da aplicação da Matriz em alguns destinos turísticos
brasileiros.
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1496
2. TURISMO E CLIMA: UMA RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA
Pode-se pensar o turismo por intermédio de várias características que
apresentam forte correlação e grande importância em diversos contextos:
econômico, social, psicológico, espacial, cultural, antropológico, etc. Experiência
econômica, contato pessoal, admiração artística e sentimental e contemplação
paisagística são elementos dignos de apreços por aqueles que estejam envolvidos
com o turismo. Além disso, o sistema do turismo tem uma característica transversal
e heterogênea que o expõe de certa singularidade como atividade de forte interrelação entre fatores econômicos, sociais, culturais, políticos, além dos fatores
naturais (TALAYA et al, 2004, p. 657).
A superfície do planeta Terra é significativamente diferente em seus vários
lugares. Essa diferenciação é decorrente da existência de paisagens, resultado da
combinação atuante de ações naturais, como a geológica, a hidrológica, a
vegetação, a fauna, o clima. Diante das ações naturais que atingem a superfície
terrestre que diferenciam os espaços paisagísticos, o clima atua na configuração
externa da paisagem e nos elementos que ali estão, por isso, o estudo do clima em
1497
relação às atividades sociais é imprescindível ao equilíbrio planetário.
A Climatologia, como ciência que estuda o clima em suas atividades
funcionais, ajuda a entender melhor a reação geofísica do meio ambiente natural.
Essa ciência estuda os fenômenos atmosféricos do ponto de vista de suas
propriedades estatísticas (médias e variabilidades) para caracterizar o clima em
função
da
localização
geográfica,
estação
do
ano,
hora
do
dia
etc.
“Etimologicamente, Climatologia significa o estudo do clima. É um ramo da ciência
que é estudado tanto pela Geografia quanto pela Meteorologia.” (VIANELLO;
RAINIER, 2000, p. 377).
Os aspectos da Climatologia estão relacionados aos fatores meteorológicos,
porque é preciso analisar os fenômenos atmosféricos de forma mais dinâmica e
desenvolvê-los com mais facilidade de entendimento e com métodos indispensáveis
para uma transmissão de dados relativamente importantes para aqueles sistemas
que necessitem das informações, dentre eles as do turismo.
Se, por um lado, a Climatologia estuda as influências da atmosfera no espaço
geográfico, a Meteorologia, ciência Física, limita-se exclusivamente a estudar a
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própria atmosfera e seus fenômenos. Do grego meteoros que significa elevado no
ar, e logos que significa estudo, Meteorologia é a ciência que estuda a atmosfera
terrestre. De acordo com o INMET (2009), a Meteorologia no seu sentido mais amplo
é uma ciência extremamente vasta e complexa, pois a atmosfera é muito extensa,
variável e sede de um grande número de fenômenos. A Meteorologia, em caráter
regional, pode ser definida como o estado da atmosfera em região e momento
determinados, e pode ser descrito com respeito a uma única estação de observação
ou uma área em particular da superfície da localidade.
Certas ideias e conceitos básicos estão presentes em todas as áreas da
Meteorologia, mas para fins deste estudo será abordada a Meteorologia e sua
relação com o turismo em suas atividades social e ambiental natural. Deriva-se disso
que o conhecimento do clima é consequência do conhecimento do tempo
meteorológico e que o primeiro representa uma generalização e o último reflete um
acontecimento em particular.
O homem pode ser conhecedor das influências que os fatores climatológicos
e meteorológicos exercem sobre sua vida e suas atividades; as que são
desenvolvidas ao ar livre, afetadas em maior grau. E em decorrência disso, ciente
também das ações que algumas dessas atividades exercem sobre a atmosfera,
dentre essas atividades que influem sobre o clima estão, sem dúvida, as atividades
turísticas.
O turista, elemento motriz do sistema turístico, reúne necessidades e está
ávido para, no destino, consolidar uma experiência, uma vivência caracterizada pela
admiração de acontecimentos e obras históricas que sobrevivem no território e nos
quais se atribuem valor monumental, artístico ou cultural, pelos hábitos e pela
gastronomia local, além das paisagens naturais abrigadas. É com esse pensamento
que as atividades turísticas refletem procedimentos diferenciais a partir do meio
ambiente e das culturas, fazendo com que, por intermédio da relação clima-turismo,
características de um se incline para o outro.
Diante das características do mundo contemporâneo, o turismo pode
desempenhar um papel muito importante na conexão entre ser humano (cultura) e
espaço (meio ambiente). Conexão esta desenvolvida com planejamento estratégico,
a analisar fenômenos sociais e naturais, como as climáticas, tendem a gerar
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atributos e percalços sobressalentes que, às vezes, implicam na satisfação dos
turistas.
A satisfação do turista gera contentamento em toda a cadeia turística. A
expectativa de deslocamento de turistas para um espaço turístico constitui
expectativas de relações sociais, culturais, econômicas e do meio geográfico. “Para
as ciências geográficas, por exemplo, o turismo constitui, na realidade, os
deslocamentos de pessoas de um ponto a outro da superfície terrestre.”
(ACERENZA, 2002, p. 27). Esta aproximação espacial evidencia que o turismo
demanda e consome um espaço geográfico. O espaço geográfico (e por extensão
de seus elementos constituintes, entre eles o clima) pode ser suporte e recurso para
as atividades humanas.
O turismo é um fenômeno dinâmico, ou seja, está sujeito a mudanças em sua
estrutura, de acordo com o destino explorado. De forma mais eficiente, quando uma
crise atinge um destino turístico, ao mesmo tempo outro destino estará apto a
receber turistas. A ideia de relação climático-turística é ampla, dado integrar tanto a
relação casual natural como a relação racional social, admitindo a co-relação
significativa da ação do clima (casual) com o comportamento relativo da sociedade
(racional).
A relação clima-turismo tem realizado numerosas reflexões. Estas reflexões
têm se ordenado mediante três posturas diferenciadas. A primeira considera
que a atração do clima, como elemento do meio natural, é suficiente para
explicar a maior parte dos centros e fluxos turísticos. A segunda reforça que
todo clima é potencialmente turístico. A terceira, no meio do caminho entre
as anteriores, põe em evidência o papel dos fatores climáticos no s
comportamentos turísticos e, às vezes, manifesta a necessidade de avaliar
o potenciar de atração dos diferentes climas de um território. [...]. Entre
todos estes elementos, cuja consideração é necessária para realizar um
planejamento coerente, de acordo com as novas exigências da demanda,
merece ser destacado o clima. (MARTÍN, 2005, p. 21-22).
Na procura da superação do casual-racional, os que usufruem da
dependência mútua, da ação recíproca entre clima e turismo determinam o fluxo da
sua atividade. A opção é relativa ao clima, somente, ou ao turismo, só, ou a ambos
em conjunto. Nas posturas diferenciadas apresentadas por Martín (2005) é mister
que a primeira torne-se a principal escolha do turista, ainda que este, mesmo não
ciente das condições climáticas do destino, considere a Climatologia da região. A
segunda confirma todo clima como potencial turístico, mas é necessário as
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condições climáticas estejam em consonância com as escolhas e estados físicos
dos turistas. A terceira é principal, pois evidencia o planejamento pelo agente
turístico na real situação de cada território e na correlação casual e racional.
As múltiplas interações entre o clima e o turismo são essenciais para ambos,
ou melhor, são elementares para os dois sistemas. O sistema [climático] consiste da
atmosfera, oceanos, massas de gelo e neve, superfície terrestre, rios, lagos e a
biosfera (incluindo o ser humano). (BECKEN; HAY, 2009). O sistema turístico, em
sua maioria, é dependente do sistema climático, uma vez que a maior parte dos
diversos tipos de clima da Terra funciona como meio para as práticas turísticas.
Dessa forma, a relação entre o sistema climático e o sistema turístico tem sido
abordada tradicionalmente do ponto de vista natural, considerando-se o clima como
um recurso natural especial entre os recursos turísticos naturais por ser renovável e
não degradável. Porém, ao se identificar o clima como uma variável de planejamento
turístico, é válido dizer que o espaço geográfico-turístico, a demanda turística, a
oferta turística e os agentes do sistema podem se ver alterados, direta ou
indiretamente, pelos fenômenos das mudanças climáticas.
A mais recente publicação da OMT sobre o tema elucida os seguintes pontos
acerca da influência das variações climáticas sobre o turismo: o cli ma define a
duração e a qualidade das estações turísticas, sendo muitos destinos totalmente
dependentes do clima, assim, o clima é muitas vezes o principal recurso sobre o
qual o turismo se estabelece; o clima afeta diretamente os custos das operações
turísticas, como fornecimento e qualidade da água, aquecimento, necessidade de
irrigação, controle epidêmico, etc.; muitos recursos naturais são atrações críticas
para muitos destinos e são sensíveis às variações climáticas, como vida selvagem e
biodiversidade, nível e qualidade das águas, existência de neve, etc.; o clima
também é responsável por fatores que podem inibir o turismo como epidemias,
incêndios florestais, proliferação de algas, ou eventos extremos como furacões,
enchentes, etc.; as flutuações climáticas são determinantes na tomada de decisão
do turista quanto a escolha de seu destino, e nesse aspecto, o tempo é um
componente intrínseco na experiência da viagem e influencia na satisfação do turista
(UNWTO, 2009).
Destarte, o clima, recurso turístico natural, ajuda na elaboração do produto
turístico. A prática das modalidades turísticas utiliza os recursos naturais e valoriza
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socialmente o meio natural pelos deslocamentos dos interessados. Sintetizando,
valoriza o conjunto de seu meio ambiente. É neste sentido que Martín (2005, apud
FURIÓ, 1996) expressa que uma parte significativa do turismo atual se fundamenta
no uso de características físico-naturais reunidas em um espaço concreto.
Por conseguinte, o clima se constitui num recurso básico para diver sas
atividades, como indica Martín (2005, apud SMITH, 1993) de que existem as
atividades dependentes do clima/tempo meteorológico, como, por exemplo, o
turismo de sol e praia, os esportes de verão, o turismo de saúde ou os esportes
náuticos, entre outros. O heliotropismo é um argumento fundamental que explica por
si só importantes fluxos turísticos: encontrar e desfrutar do sol aparece como uma
das motivações principais das saídas de férias de muitos turistas. A UNWTO (2003)
estima que 60% dos mais de 180 milhões de deslocamentos turísticos que
anualmente têm no mundo são em decorrência de uma motivação climática.
Diante de tais pressupostos, advoga-se a necessidade de incluir o
componente climático no planejamento de destinos turísticos. Precaver-se das
armadilhas dos fenômenos meteorológicos e climatológicos, ainda mais trabalhando
com a atividade turística, torna-se cada vez indispensável. É necessário está alerta
aos problemas atmosféricos e associar as soluções desses problemas ao turismo.
A primeira Conferência sobre Mudanças Climáticas e Turismo, organizada
pela UNWTO em 2003, trouxe à baila uma série de preocupações no âmbito da
influência do desenvolvimento do turismo no que respeita o clima, principalmente
sobre aspectos relacionados ao transporte aéreo e incentivos ao uso de energias
alternativas pelos empreendimentos turísticos. Resultou, também, desta Conferência
uma série de conclusões do ponto de vista das políticas públicas em que se
destacaram: introduzir incentivos fiscais ou ajudas financeiras com vistas à
modificação das infraestruturas turísticas; incrementar os investimentos públicos em
infraestruturas para novos desenvolvimentos turísticos que amenizem os impactos
das mudanças climáticas; proporcionar aos usuários do setor turístico uma formação
orientada para tratar as consequências das mudanças climáticas, incluindo a
assistência prática para tomar decisões. (UNWTO, 2003).
Em recente documento publicado pela UNWTO, são apontados mecanismos
com objetivos de mitigar os impactos das atividades turísticas no clima e que podem
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ser considerados no planejamento de destinos e nas atividades operacionais de
empresas do setor turístico, notadamente a hotelaria e o transporte aéreo: redução
do uso de energia, aperfeiçoamento de tecnologias em eficiência energética, de
forma a reduzir o consumo de combustíveis pelo transporte aéreo, melhorando a
performance de aeronaves; aumento no uso de energias renováveis, com
investimentos em painéis solares, re-utilização da água, energia eólica, etc.;
seqüestro de carbono ou compensação pelo uso do carbono (UNWTO, 2009).
Em linhas gerais, a Climatologia e a Meteorologia, ao menos no Brasil, não
são discutidos com a ênfase que merecem no âmbito do turismo. É preciso
potencializar esses meios em qualquer planejamento turístico, enfatizando as
informações sobre a atual situação atmosférica do planeta, como as mudanças
climáticas globais, que de resto representam fortes ameaças ao turismo.
O poder público e a iniciativa privada possuem ampla responsabilidade na
inclusão do clima no planejamento de destinos turísticos. Para a UNWTO(2009), os
governos precisam encorajar e implementar políticas regulatórias e oferecer
incentivos financeiros para a indústria do turismo reduzir seus impactos negativos ao
meio ambiente. Por sua vez, a iniciativa privada deve participar ativamente dos
fóruns de planejamento de destinos e apresentarem seus planos de mitigação de
impactos. Juntos, governo e a iniciativa privada das diversas atividades do turismo
possuem papéis cruciais no enfrentamento das mudanças climáticas e seus
impactos nos destinos turísticos. As mudanças climáticas, quaisquer que sejam as
suas causas, apresentam desafios, não apenas relativos à velocidade destas
mudanças mas principalmente na forma que os destinos se ajus tam e se adaptam
para enfrentá-los.
3. METODOLOGIA
Esta investigação assenta numa pesquisa qualitativa de natureza descritiva,
sendo delineada por meio de um estudo bibliográfico sistematizado nos
fundamentos da relação clima-turismo, tendo como foco o planejamento da atividade
turística à luz da questão climática. Apresentam-se a seguir os passos necessários à
construção da Matriz Qualidade Clima-Turismo – Matriz QCT - que foi desenvolvida
com atribuições climatológicas e meteorológicas a partir dos cinco principais
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informantes que ilustram as mais variadas questões relacionadas com os fenômenos
atmosféricos: o Canal do Tempo (The weather channel), o CPTEC, A Climatempo, o
INMET e o INPE. A aplicação da Matriz contribui para o planejamento de destinos
focalizado no clima e seu uso em destinos do turismo de base local ressalta os
atributos climáticos da localidade uma vez que permite a coleta de dados
sistemáticos sobre a localidade.
Elaborou-se uma série de Quadros com níveis ótimos para os principais
elementos climático-meteorológicos, depois de uma avaliação pontual simples, com
auxílio de uma operação matemática simples de adição e divisão, a qual levará ao
objetivo principal que é aplicar a Matriz QCT e assim obter os dados para o
planejamento do turismo no que respeita às condições climáticas do destino.
Todos os dados obtidos para a criação e estruturação da Matriz QCT foram
por intermédio da rede mundial de computadores (Internet), nos endereços dos
informantes climático-meteorológicos cujos dados disponibilizados são fundamentais
para a construção da Matriz.
Para aplicar a Matriz QCT, com o objetivo de apresentar os resultados
obtidos, foram escolhidos de forma aleatória alguns destinos turísticos brasileiros, os
quais serão analisados de acordo com os dados climático-meteorológicos e os
resultados poderão sugerir a atratividade ou não atratividade turística: Barreirinhas –
MA, destino que dá acesso aos Lençóis Maranhenses; Ponte Alta do Tocantins –
TO, cidade próxima do Parque Nacional do Jalapão; e por fim a cidade sulista de
São Joaquim – SC, onde o clima frio é o principal atrativo turístico, podendo nevar
em épocas de inverno. Destaca-se, entretanto, que qualquer outro destino poderia
ser utilizado para exemplificar a aplicação da Matriz. Para efeito deste artigo, a
escolha de Barreirinhas, Jalapão e São Joaquim se deve ao fato de serem destinos
que utilizam o clima como recurso turístico.
Para iniciar a Matriz QCT, elaboraram-se, em primeiro lugar, os Níveis QCT,
para pontuá-los – conforme Quadro 1 (Critérios de pontuação) - de acordo com o
grau ótimo de aceitabilidade climática. Os critérios definidos para se determinar os
Níveis QCT foram os pontos, que estão distribuídos de “0 a 10”, os quais, os níveis
com pontuação “0” serão o mínimo e com pontuação “10” o máximo; e os critérios
que vão do grau de “totalmente estressado” até “nenhum estresse”, sendo este o
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melhor grau para a satisfação turística. Para um melhor entendimento, os graus de
“estresse” dos turistas foram divididos em percentagem, ou seja, o grau de
“NENHUM ESTRESSE” foi fixado em 100% e o grau de “TOTALMENTE
ESTRESSADO” em 0%. As demais percentagens distribuíram-se de dez em dez, em
consonância com as pontuações.
QUADRO 1 – CRITÉRIOS DE PONTUAÇÃO
CRITÉRIOS PARA PONTUAÇÃO DOS NÍVEIS E MATRIZ-PROPOSTA QCT
GRAU DE ESTRESSE
DOS TURISTAS
Totalmente
0
Nenhum
MATRIZ-PROPOSTA QCT
PONTOS
PONTUAÇÃO
EQUIVALENTE
ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO
(LETRAS DE “A” a “F”)
0a5
F
6 a 10
E
11 a 15
D
0%
0
10%
1
20%
2
30%
3
40%
4
50%
5
16 a 20
60%
6
21 a 25
70%
80%
7
26 a 30
8
31 a 35
90%
9
100%
10
C
1504
B
36 a 40
A
PONTUAÇÃO MÁXIMA – 4 elementos avaliados
40
PONTUAÇÃO MÍNIMA – 4 elementos avaliados
0
Para a definição das pontuações, utilizam-se os seguintes fatores climáticometeorológicos:
1. Temperatura: Levou-se em consideração a média de temperatura (MdT) a
qual foi determinada pela média aritmética simples entre a temperatura máxima e a
temperatura mínima, medidas em grau Celsius (ºC). Para se fixar as pontuações do
fator temperatura, primeiramente atribuem níveis QCT para diversas faixas de
temperatura conforme o Quadro 2. Em seguida, é necessário ponderar que o nível
de satisfação de um turista com a temperatura poderá estar associado a sua
motivação perante uma temperatura associada ao calor ou ao frio. Dessa forma, os
níveis QCT do Quadro 2 serão relacionados ao calor e ao frio, e as pontuações
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atribuídas irão variar de acordo com o nível de conforto nestes estados. Assim, para
os turistas que buscam calor, uma faixa confortável corresponde ao nível QCT 7 (26
a 30ºC) e, assim, receberá pontuação máxima de 10. Por outro lado, para os turistas
que buscam frio, o nível QCT “2” corresponderá a uma sensação de conforto e
receberá a maior pontuação. Ver Quadros 2, 3,4.
QUADRO 2 – NÍVEL QCT
RELACIONADO À
TEMPERATURA
QUADRO 3 –
PONTUAÇÃO DAS
ALTAS
TEMPERATURAS
(CALOR)
TEMPERAT URA
NÍV EL
QCT
QUADRO 4 –
PONTUAÇÃO DAS
BAIXAS
TEMPERATURAS
(FRIO)
FRIO
TEMPERAT URA M ÉDIA (ºC)
CALOR
0
-10 a - 6
1
-5 a 0
2
1a 5
3
6 a 10
4
11 a 15
5
16 a 20
6
21 a 25
7
26 a 30
8
31 a 35
9
36 a 40
10
acima de 40
NÍV EL QCT
PONT UAÇÃO
5
1
6
6
7
10
8
8
9
2
10
0
NÍV ELQCT
PONT UAÇÃO
0
1
1
6
2
10
3
9
4
2
acima de 4
0
1505
2. Vento: Considerou-se a velocidade do vento, medida em (Km/h) e o
raciocínio para a atribuição da pontuação é semelhante ao fator temperatura. Os
níveis QCT e as pontuações atribuídas estão descritas nos Quadros 5, 6 e 7.
QUADRO 5 – NÍVEL QCT
RELACIONADO AO
VENTO
VENTO
NÍV EL
QCT
0
VELOCIDADE DO
VENTO ( Km /h)
0a 5
1
6 a 10
2
11 a 15
3
16 a 20
4
5
21 a 25
acima de 25
QUADRO 6 –
PONTUAÇÃO DA
VELOCIDADE DO
VENTO PARA O
CALOR
VENTO
QUADRO 7 –
PONTUAÇÃO DA
VELOCIDADE DO
VENTO PARA O FRIO
VENTO
NÍV EL QCT
PONT UAÇÃO
NÍV EL QCT
PONT UAÇÃO
0
10
0
2
1
9
1
4
2
6
2
6
3
4
3
10
4
1
4
8
5
0
5
1
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3. Umidade relativa do ar: medida em percentagem (%) e representa a
quantidade de partículas de água elevadas no ar. De acordo com o Diagrama de
conforto térmico, para o nível QCT “4”, umidade entre 71 a 90%, atribui-se a maior
pontuação (10). Ver Quadros 8 e 9.
QUADRO 8 – NÍVEL QCT
RELACIONADO À UMIDADE
RELATIVA DO AR
UMIDADE RELATIVA DO AR
NÍV EL QCT
(%)
0
0 a 10
1
11 a 20
2
21 a 40
3
41 a 70
4
71 a 90
5
acima de 90
QUADRO 9 – PONTUAÇÃO DA
UMIDADE RELATIVA DO AR
UMIDADE RELATIVA DO AR
NÍV EL QCT
PONT UAÇÃO
0
1
1
2
2
4
3
8
4
10
5
6
4. Precipitação: Levou-se em consideração a previsão do tempo no que
respeita a ocorrência de chuvas, sendo atribuídos números para a elaboração do
Nível QCT de previsão do tempo e foram dispostas isoladamente para o calor e para
o frio, porém, sendo que esta definição baseia-se no clima da localidade. Por
exemplo, se a média de temperatura do local escolhido estiver entre -10ºC e 15ºC
será considerado frio, e se a média de temperatura estiver acima de 15ºC será
considerado calor. Dessa forma, os números atribuídos para a previsão foram: 1 Céu claro, predomínio de sol e parcialmente nublado; 2 - Nublado e encoberto; 3 Chuvas isoladas e chuvisco; 4 - Possibilidade de pancadas de chuvas e pancadas
de chuvas; 5 - Nublado e pancadas de chuvas e instável; 6 - Pancadas de chuvas
pela manhã e pancadas de chuvas à tarde; 7 - Chuvas e encoberto e chuvas
isoladas; 8 - Chuvoso; 9 - Tempestade; 10 - Neve; 11 - Nevoeiro; 12 - Geada.
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QUADRO 10 – NÍVEL
QCT RELACIONADO À
PREVISÃO DO TEMPO
TEMPO PREVISÃ O
NÍV EL QCT
QUADRO 11 –
PONTUAÇÃO DA
PREVISÃO DO TEMPO
PARA O CALOR
LEGENDA
QUADRO 12 –
PONTUAÇÃO DA
PREVISÃO DO
TEMPO PARA O
FRIO
TEMPO PREVISÃO
PONT UAÇÃO
TEMPO PREVISÃO
0
1
NÍV EL
2a 4
0
10
NÍV EL
QCT
PONT UAÇÃO
1
2
5a7
1
6
0
10
2
4
3
8a9
1
4
3
0
4
10
4
0
2
1
5
11 a 12
5
0
3
0
4
10
5
8
A partir das pontuações definidas pelos Quadros 2 a 12, constrói-se a Matriz
Qualidade Climático-Turística conforme detalhado no Quadro 13.
QUADRO 13 – MATRIZ-PROPOSTA DE QUALIDADE CLIMÁTICO-TURÍSTICA
TOTALMENTE ACEITÁVEL
APLICAÇÃO DA MATRIZ-PROPOSTA DE QUALIDADE
CLIMÁTICO-TURÍSTICA (QCT)
ACEITÁVEL
NÃO RECOMENDADO
NÃO ACEITÁVEL
Índice
classificatório
PONTUAÇÃO
MÁXIMA
40
MÍNIMA
0
CLASSIFICAÇÃO
ÓTIMA
Aa F
Extremamente Acima do
Normal
A
Acima do Normal
B
Normal
C
11 a 15
Ligeiramente Abaixo do
Normal
D
6 a 10
Abaixo do Normal
E
0a5
Extremamente Abaixo
do Normal
F
36 a 40
31 a 35
26 a 30
TIPO DE TURISMO
CALOR
21 a 25
16 a 20
Fonte: os autores
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12 a 14 de abril de 2010
FRIO
1507
QUADRO 14 – INTERPRETAÇÃO DA MATRIZ-PROPOSTA QCT
INT ERPRETANDO A MATRIZ-PROPOSTA QCT
MARGEM DE PONT OS ADQUIRIDOS DOS DADOS DOS EL EM ENT OS CLIMÁTICOMET EOROL ÓGICOS
GRAU DE CONFORT O CLIMÁTICO AO TURISTA DE ACORDO COM A SUA
ESCOL HA DO TIPO DE TURISMO
AVALIAÇÃO DA MATRIZ EM RELAÇÃO À CLASSIFICAÇÃO ÓTIMA, AO TIPO DE
TURISMO E AO GRAU DE CONFORTO DO T URISTA
PONT UAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO ÓTIMA
ÍNDICE CLASSIFICAT ÓRIO
GRAU DE ACEITAÇÃO PARA A PRÁTICA DO T URISMO DE CLIMA: “CALOR” OU
“FRIO”
VERDE CLARO
VERDE ESCURO
AMARELO
VERM ELHO
NÍV EL QCT DE
TOTAL
NÍV EL QCT DE
NÍV EL QCT NÃO
NÍV EL QCT DE
ACEITAÇÃO
ACEITAÇÃO
RECOM ENDADO
NÃO ACEITAÇÃO
PARA A
PARA A PRÁTICA
PARA A PRÁTICA
PARA A PRÁTICA
PRÁTICA DO
DO T URISMO DE
DO T URISMO DE
DO T URISMO DE
TURISMO DE
CALOR OU FRIO
CALOR OU FRIO
CALOR OU FRIO
CALOR OU FRIO
TIPO DE TURISMO
CORES
Uma vez detalhados os aspectos construtivos da Matriz QCT, apresentam-se
alguns resultados de aplicação desta metodologia.
4. RESULTADOS
A seguir apresentam-se os resultados para a aplicação da Matriz QCT. A
partir dos dados meteorológicos coletados no website da Climatempo, construiramse os Quadros de previsão para os destinos turísticos de Barreirinhas/MA, Ponte
Alta do Tocantins/TO e São Joaquim/SC (ver Quadros 15, 17 e 19) e suas
respectivas Matrizes QCT´s apresentadas nos Quadros 16, 18 e 20.
QUADRO 15 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE BARREIRINHAS - MA, EM
12/04/2009
Local:
Previsão do tempo
Barreirinhas/MA
Data da previsão
Temperatura
Temperatura
Máxima
mínima
32ºC
23ºC
Nublado e encoberto
UR% MAX
UR%MIN
12/04/2009
Vento
(Km/h)
84%
Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
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Niterói - RJ
12 a 14 de abril de 2010
57%
12
1508
QUADRO 16 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE
BARREIRINHAS - MA
12/04/2009
9h
BARREIRINHAS – MA
EL EM ENT OS
INFORMAÇÕES OBTIDAS
NÍV EL
QCT
PONT OS
TEMPERATURA MÉDIA (ºC)*
28,5
7 (CALOR)
10
VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h)
12
2
6
UMIDA DE RELATIVA DO AR (%)
83
4
10
TEMPO PREV ISÃO
2
(nublado e encoberto)
1
6
PONT UAÇÃO TOTAL
32
RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA
CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA
ACIMA DO NORMAL
ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO
B
TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO
CALOR/TOTALMENT E ACEITÁV EL**
( * ) MT = TM (32) + Tm (23)
2
(**) RESULTADO FINAL : O clima de Barreirinhas - MA, em 12 de abr il de 2009, era totalmente aceitável para receber
qualquer grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima quente.
1509
Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC
QUADRO 17 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE PONTE ALTA DO TOCANTINS TO, EM 12/04/2009
Local:
Ponte Alta do Tocantins - TO
Previsão do tempo
Temperatura
Temperatura
Máxima
mínima
29
23
Nublado e pancada de
Data da previsão
UR% MAX
UR%MIN
12/04/2009
Vento
(Km/h)
77
chuva
Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC
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12 a 14 de abril de 2010
48
6
QUADRO 18 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE PONTE ALTA
DO TOCANTINS - TO
12/04/2009
9h
PONT E ALTA DO TOCANTINS – TO
EL EM ENT OS
INFORMAÇÕES OBTIDAS
NÍV EL QCT
PONT OS
TEMPERATURA MÉDIA (ºC)*
26
7 (CALOR)
10
VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h)
6
1
4
UMIDA DE RELATIVA DO AR (%)
77
4
10
TEMPO PREV ISÃO
5
(nublado e pancada de chuva)
2
4
PONT UAÇÃO TOTAL
28
RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA
CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA
ACIMA DO NORMAL
ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO
B
TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO
CALOR/TOTALMENT E ACEITÁV EL**
( * ) MT = TM (29) + Tm (23)
2
(**) RESULTADO FINAL : O clima de Ponte Alta do Tocantins - TO, em 12 de abril de 2009, era totalmente aceitável para
receber qualquer grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima quente.
Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC
1510
QUADRO 19 – PREVISÃO PARA A CIDADE DE SÃO JOAQUIM/SC, EM
12/04/2009
Local:
Ponte Alta do Tocantins - TO
Previsão do tempo
Temperatura
Temperatura
Máxima
mínima
22ºC
8ºC
Sol com algumas nuvens
Data da previsão
UR% MAX
UR%MIN
12/04/2009
Vento
(Km/h)
100%
- parcialmente nublado
Fonte: CLIMATEMPO / CPTEC
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12 a 14 de abril de 2010
35%
6
QUADRO 20 – APLICAÇÃO DA MATRIZ QCT PARA A CIDADE DE SÃO
JOAQUIM – SC
12/04/2009
9h
SÃO JOAQUIM – SC
EL EM ENT OS
INFORMAÇÕES OBTIDAS
NÍV EL
QCT
PONT OS
TEMPERATURA MÉDIA (ºC)*
15
4 (FRIO)
2
VELOCIDADE DO V ENTO (Km/h)
6
1
9
UMIDA DE RELATIVA DO AR (%)
100
5
6
TEMPO PREV ISÃO
1
(parcialmente nublado)
0
10
PONT UAÇÃO TOTAL
27
RESULTADOS DA MATRIZ-PROPOSTA CLIMÁTICO-TURÍSTICA
CLASSIFICA ÇÃO ÓTIMA
ACIMA DO NORMAL
ÍNDICE CLASSIFICATÓRIO
B
TIPO DE TURISMO/GRA U DE ACEITA ÇÃO
FRIO/TOTALMENT E ACEITÁV EL**
( * ) MT = TM (22) + Tm (8)
2
(**) RESULTADO FINAL : O clima de São Joaquim, em 12 de abril de 2009, era totalmente aceitável para receber qualquer
grupo de turistas que estivesse a fim de usufruir o turismo de clima frio.
FONTE: CLIMATEMPO / CPTEC
Considerando-se as informações do clima e da dinâmica do turismo, pode-se
planejar de forma concreta, para o melhor usufruto possível pelo turista. Nas
análises acima (Quadros 16, 18 e 20), alguns destinos turísticos foram avaliados em
consonância com a Matriz QCT, para uma melhor ênfase e dimensão do que seja
desempenhar um turismo satisfatório nas devidas proporções do grau de aceitação
frio ou calor do turista. Diante do exposto, e com as principais informações
meteorológicas das cidades analisadas chegou-se ao seguinte epílogo para a data
de análise de 12 de abril de 2009;
a) Barreirinhas:
As dunas e lagoas desta cidade maranhense são seus atrativos turísticos. A
pontuação obtida na análise meteorológica foi “32” e a vocação era totalmente
aceitável para o calor, com grau de aceitação turística de 70% a 80%.
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1511
b) Ponte Alta do Tocantins:
Esta cidade tocantinense é uma das passagens para se chegar ao Parque
Nacional do Jalapão. Ponte Alta do Tocantins obteve pontuação “28”, com vocação
totalmente aceitável para o calor e grau de aceitação turística de 70% a 80%.
c) São Joaquim:
Conhecida como uma das cidades mais frias do Brasil, a cidade da Serra
Catarinense concentra o turismo, praticamente, no período de baixas temperaturas,
principalmente no inverno, em que a temperatura pode ficar abaixo dos 0ºC.
Obtendo a pontuação “27”, São Joaquim possuía vocação aceitável para o frio e
grau de aceitação turística de 70% a 80%.
Diante do que foi analisado, não importa a temperatura ou o local, mas sim o
conjunto formado pela relação clima-turismo. Não basta apenas escolher um lugar
turístico e desenvolver
o turismo.
É necessário idealizar
estratégias de
planejamentos turísticos: lugar, atrativo, restaurante, hospedagem, são alguns dos
meios importantes para se obter o sucesso de um planejamento turístico. Todavia
um fator elementar não pode ficar de fora: o clima. Este fator revela e limita o tipo de
turismo que será realizado, assim como será desenvolvido.
Para planejar uma viagem a Barreirinhas – MA, por exemplo, o planejador, já
possuindo informações turísticas e de infra-estrutura da cidade, avaliará as
condições climáticas e, utilizando a Matriz QCT, vincular todos os aspectos
climático-turísticos. Caso a pontuação fique na condição “vermelha”, isso não quer
dizer que o turismo estará proibido ou não será possível desenvolvê-lo, mas que o
planejamento deverá ser bem estruturado, pois a probabilidade de as condições
climáticas não satisfazerem os que queriam usufruir do turismo de clima frio ou
quente será grande.
O objetivo da aplicação da Matriz-proposta QCT é reunir as principais
informações dos fatores climático-meteorológicos de um local e, mediante a
construção de série de dados climáticos se determinarão as estratégias certas diante
do planejamento turístico. Comunidades que desenvolvem a atividade turística com
base no recurso clima podem igualmente se beneficiar pelo uso da Matriz, uma vez
que a catalogação de dados sistemáticos sobre o clima da localidade servirá para
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12 a 14 de abril de 2010
1512
melhor caracterizá-la em termos de seus atributos de conforto atmosférico,
incentivando, por essa via, a visitação.
5. CONCLUSÕES
Ao planejar uma atividade turística é mister que o planejador relacione as
informações climático-meteorológicas atuais, bem como a climatologia desse lugar
ao sistema turístico. Fenômenos atmosféricos acontecem e, por vezes, muitos
destinos são castigados pelas intempéries climáticas. Por este raciocínio, os turistas
correm riscos, sendo necessário um planejamento climático-turístico detalhado nos
locais de riscos elevados de catástrofes climáticas.
Um destino com condições climatológicas típicas de temperaturas altas (calor)
ou baixas (frio) bem definidas tem a possibilidade de usar as informações em prol da
prática turística. Uma cidade que repita durante anos, em uma estação do ano, por
exemplo, a média climática de 9ºC, estará mais propícia a receber turistas que
desejam usufruir climas mais amenos. Já em climas com temperaturas elevadas, a
probabilidade de uma cidade com médias de 26ºC, por exemplo, receber mais
turistas é maior, pois as características das altas temperaturas estão mais próximas
da média de sensação térmica agradável para a maioria das pessoas.
Qualquer localidade que tenha o clima como fator de atratividade turística
desenvolve o seu turismo em função do melhor conforto possível ao turista. Se o
local apresentar vocação para clima frio, o seu sistema turístico estará voltado para
as características das baixas temperaturas. E com o clima quente, a região
equivalente fará o possível para o seu sistema turístico esteja em harmonia com as
características das altas temperaturas. Quando, por exemplo, a época de uma
região turística de Climatologia de baixas temperaturas sofrer impactos climátic os e
a temperatura aumentar significativamente, ao ponto de a sensação ser como os
locais de altas temperaturas, o turismo daquela região estará sujeita a não
atratividade, ocasionando impactos negativos na estrutura do sistema turístico.
Assim sendo, o turismo – como sistema – não tem a capacidade de prevê impactos
climáticos. À medida que a demanda diminui, nesse modelo climático, o sistema
turístico não estará apto a mudar sua estrutura a tempo de manter o sucesso antes
conquistado. O importante é planejar o turismo, incluindo as características
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1513
climáticas, desse modo, o turismo não preverá os impactos climáticos, mas
adequará o sistema ao clima atual, mantendo o foco no turista e na Climatologia
local.
Cada local tem sua Climatologia, suas condições ambientais. E as
características climatológicas e meteorológicas podem se assemelhar a outras
características de regiões diferentes, porém não serão iguais. Temperaturas, ventos,
umidades relativas do ar, precipitações, ou outro elemento natural, são important es
nas formações paisagísticas de regiões turísticas, contribuindo para a qualidade de
vida das populações envolvidas. Os turistas não elegerão apenas as características
geográficas do espaço, mas também as características climático-meteorológicas,
pois a procura é por um lugar que ofereça condições de conforto e segurança, ainda
que os atrativos turísticos estejam no topo de suas escolhas. A percepção de
conforto climático é peculiar a cada ser humano: alguns sentirão mais frio ou calor e
ficarão doentes, outros sentirão menos e não ficarão doentes. Entretanto o que se
sugere em qualquer lugar, ainda mais turístico, é a harmonia dos sistemas turísticos
com os sistemas climáticos, planejando para aperfeiçoar e corrigir, o máximo, para
que os turistas sintam-se no melhor conforto possível.
Na concepção de turismo, as previsões climatológicas e meteorológicas
podem trazer sensações de confortos, alívio, segurança e confiabilidade aos turistas
e a todos os envolvidos diretamente na gestão do turismo. Como o turismo, às
vezes, é uma atividade desenvolvida no meio ambiente natural, está mais favorável
às condições climáticas e seus fenômenos. O planejamento climático-turístico é
condição necessária na dinâmica do turismo, motivando estratégias elementares
para a preservação do sistema turístico e da qualidade de vida de seus envolvidos.
Dessa forma, a Matriz proposta QCT sugere um método para ajudar na elaboração
de um planejamento climático-turístico.
A Matriz QCT para fins do planejamento turístico e climático-turístico facilitará
a todos os que necessitem agregar os fatores climatológicos e meteorológicos aos
turísticos. As instituições ligadas à Climatologia e à Meteorologia, como O Canal do
tempo (The weather channel), Climatempo, CPTEC, INMET e INPE, são
especializadas em informações, de forma aceitável e confiável, sobre o clima e são
essas informações que facilitarão a aplicação da Matriz QCT. Com ênfase nos
destinos turísticos e nos turistas que visitam esses lugares, e com o intuito de
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1514
manter a imagem do destino e a satisfação do potencial consumidor, a Matriz QCT
torna-se o primeiro passo para o planejamento responsável e possíveis divulgações
de regiões com potenciais climáticos para o turismo.
Muito pouco foi publicado sobre o assunto no Brasil e, dessa forma, buscouse elaborar um método que contribuísse para a aquisição de conhecimentos úteis à
compreensão dos fenômenos atmosféricos e turísticos do dia-a-dia. A Matriz
Qualidade Climático-Turística é imprescindível para tornar visível a importância da
união dos fatores climatológicos e meteorológicos com o turismo.
REFERÊNCIAS
ACERENZA, Miguel Ángel. Administração do turismo: conceituação e organização.
Bauru: EDUSC, 2002.
BECKEN, S.; HAY, J. E. A Review of tourism and climate changes: risks and
opportunities. Clevedon: Channel view, 2009.
CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Climatologia e
Meteorologia. Disponível em: <http://www.inpe.cptec.br>. Acesso em: 12 abr. 2009.
INMET, Instituto Nacional de Meteorologia. Climatologia e Meteorologia. Disponível
em: <http://www.inmet.gov.br>. Acesso em: 10 nov. 2009.
MARTÍN, María Belén Gómez. Reflexión Geográfica en torno al Binómio Climaturismo. Boletín de la A.G.E., Barcelona, n. 40, p. 111-134, 2005. Disponível em:
<http://www.ieg.csic.es/age/boletin/40/05-REFLEXION.pdf>. Acesso em: 10 dez
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Disponível em: <http ://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/124824297923
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TALAYA, A. E.; LÓPEZ, F. P.; PÉREZ, E. A. Impactos del cambio climático en
España. Impactos sobre el sector turístico. [S.l.: s.n., 2004?]; p. 653-690. Disponível
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UNWTO - World Tourism Organization. Climate Change and Tourism. Proceedings
of the 1st International Conference on Climate Change and Tourism, Djerba, Tunisia,
2003. 55 p. Disponível em: <http://www.world-tourism.org/climateand tourism.htm>.
Acesso em: 09 dez. 2009.
_ From Davos to Copenhagen and Beyond: advancing tourism´s response to climate
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jan. de 2010.
VIANELLO, R. L.; RAINIER, A. A.. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV,
2000.
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Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios
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12 a 14 de abril de 2010
1515
MOTIVAÇÃO E SATISFAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS: DISCUSSÃO DAS
DIVERSAS TEORIAS DE MOTIVAÇÃO E POSSÍVEL RELAÇÃO COM
SATISFAÇÃO DOS HÓSPEDES DE MEIOS DE HOSPEDAGEM
INDEPENDENTES DE PEQUENO PORTE.
Gislene Duarte Garcia
Mestre em hospitalidade pelo programa de mestrado em Hospitalidade da
Universidade Anhembi Morumbi.
Especialista em Gestão Hoteleira.
Professora do Curso Técnico de Turismo e do curso de graduação em
Administração do CEFET-MG.
[email protected].
RESUMO
O presente trabalho busca estabelecer uma relação entre a motivação dos
funcionários de hotéis independentes de pequeno porte com a respectiva satisfação
dos hóspedes desses estabelecimentos através de uma abordagem teórica. A
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica exploratória, onde buscou-se
elucidar as principais teorias sobre a motivação humana no trabalho, e sua relação
com a satisfação dos clientes. Concluiu-se que entre hotéis de categoria semelhante
com serviços compatíveis, um fator que pode diferenciar um hotel do outro, é a
qualidade no atendimento, o que torna fundamental a qualificação tanto técnica
quanto comportamental dos funcionários. Este trabalho visa ajudar aos
administradores de hotéis na compreensão dos motivos que levam as pessoas a
trabalhar para que possam gerenciar suas equipes com profissionalismo.
Palavras Chave: indústria da hospitalidade, hotel de pequeno porte, motivação,
satisfação do cliente.
ABSTRACT
The present work looks to establish a relation between the motivation of the officials
of hotels independent of small size with the respective satisfaction of the guests of
these establishments through a theoretical approach. The used methodology was to
inquiry exploratory of bibliographical hallmark, where it was looked to elucidate the
principal theories on the human motivation in the work trying to know his influence in
the behavior of the man in the work and, still there for looked for opinion some of the
motives that take the clients of a hotel to feel satisfied. What it was possible to end is
that, between hotels inside the same category, which differentiates a contestant of
other, in the search for the satisfaction of the clients, is the quality of the contact
between the guest and the official, what basic compensation to preoccupation with
the qualification of the human resources in hotels. Such a qualification suffers the
development of technical and human skills. Such a fact reinforces the importance
and validity of this work, so, the administrators of small hotels for what they look to
XI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
Turismo e Tr ansdisciplinaridade: n ov os desafios
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12 a 14 de abril de 2010
1516
secure in the market his marks, they need to understand the motives that take the
persons to work so that they can manage with bigger professionalism.
Key words: hospitality industry, small hotel, motivation, guest satisfaction
1 INTRODUÇÃO
A hospitalidade vem sendo pesquisada no Brasil nos últimos anos com maior
intensidade, sendo que este é, na verdade, um tema bastante antigo na história da
humanidade. Neste sentido, a idéia de hospitalidade aqui apresentada refere-se ao
ato de acolher, alimentar e cuidar de visitantes dentro do próprio lar, bem como,
também, à evolução deste costume para formas comerciais de hospitalidade.
Segundo Lashley, Morrison(2004) existem três domínios em que a
hospitalidade pode ocorrer, o domínio público, onde os diversos lugares, em seu
estado natural ou com diversas intervenções do homem, são, também, espaços de
hospitalidade; o domínio privado, onde as relações entre os envolvidos se dão em
espaços domésticos, onde quem recebe abre mão do seu conforto e privacidade
para satisfazer algumas necessidades do outro; e o domínio comercial que parte
do princípio de que a oferta de abrigo, comida, bebida ou entretenimento, terá como
retribuição uma soma em dinheiro.
É importante reforçar que esses domínios são propostos apenas como forma
de facilitar o entendimento das diversas formas de receber, não sendo nada além de
um recurso teórico utilizado para esse trabalho. Por outro lado, ajudam a mostrar
que, à medida que a humanidade cresceu e aumentou sua mobilidade, a
necessidade de lugares para descansar e se alimentar aumentou, propiciando o
aparecimento de meios de hospedagem e de estabelecimentos de alimentação
comerciais. Tal evolução deu origem ao que hoje se conhece como hotéis,
restaurantes, bares dentre outros, todos pertencentes à indústria da hospitalidade.
Essa indústria na verdade é um setor de empresas que prestam serviç os
relacionados a alimentar e/ou hospedar e/ou entreter pessoas que estão fora de
seus lares, tendo como contrapartida o pagamento(de diárias, no caso de hotéis).
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1517
Esta oferta busca satisfazer a um conjunto de necessidades apresentadas
pelos clientes como, por exemplo, abrigo, segurança, alimentação e até mesmo
lazer, entretenimento ou ainda negócios e/ou crescimento profissional. E é da
percepção de satisfação destas necessidades que surge o sentimento de satisfação
com os serviços prestados pelo hotel.
Para satisfazer seus clientes os hotéis precisam, então, buscar atendê-los
através dos recursos disponíveis tais como a estrutura física do hotel, a qualidade
das instalações e equipamentos, o uso adequado das tecnologias disponíveis e,
principalmente a presença de funcionários preparados e motivados a atender da
melhor forma possível.
Sabe-se que estrutura física e tecnologias estão ao alcance de todos os
hotéis de forma proporcional à sua categoria, ou seja, conforme seu nível de
conforto, dentro de uma mesma categoria, todos os hotéis têm condições de
oferecer tais elementos de forma semelhante. Sendo as características físicas
facilmente copiadas, o que os pode diferenciar
essencialmente é o tratamento
dispensado aos clientes por sua equipe de funcionários. E para se ter uma equipe
qualificada, necessita-se dar atenção a vários aspectos como, por exemplo,
habilidades técnicas, que representam os conhecimentos sobre as atividades
desenvolvidas, habilidades conceituais, que simbolizam a capacidade de visão de
futuro e de enxergar o negócio como um todo, e as habilidades humanas, que são
a capacidade do indivíduo liderar e motivar pessoas ajudando-as a desenvolver o
que possuem de melhor em prol da empresa (KATZ,1955 apud CHIAVENATO,
2000, p.3-4).
Neste trabalho buscou-se identificar um dos aspectos relacionados às
habilidades humanas que é a motivação humana, ou seja, buscou-se identificar os
motivos que levam as pessoas a agirem de determinada forma no ambiente de
trabalho, através do estudo das principais teorias motivacionais.
Feito isso, buscou-se investigar a possível relação da satisfação e motivação
dos funcionários no trabalho com a satisfação dos clientes de hotéis independentes
de pequeno porte, sendo que estes estabelecimentos são de grande importância no
cenário econômico e social do Brasil, uma vez que representam a grande maioria
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1518
dos
estabelecimentos
hoteleiros
do
país,
gerando
diversos empregos
e
possibilitando o desenvolvimento do setor turístico.
Uma vez que os hotéis enquadram-se no setor de serviços, para efeito do
presente trabalho, um hotel de pequeno porte é aquele que possui de 10 a 49
pessoas empregadas, segundo critérios do SEBRAE(2005).
2 HOTÉIS INDEPENDENTES E DE PEQUENO PORTE
Fazem-se importantes algumas considerações acerca do conceito de
hotelaria e de hospitalidade comercial no Brasil pois se na maioria dos países o
conceito
de
hospitalidade
comercial
(Hospitality
Industry)
caracteriza
empreendimentos que oferecem alimentação, hospedagem e/ou bebidas mediante o
pagamento de diária(GUERRIER,2001), no Brasil o correspondente a este conjunto
de empresa recebeu o nome de Hotelaria.
Por isso neste trabalho, os termos hospitalidade comercial, hotelaria e
empresa hoteleira aparecem designando a mesma coisa, ou seja, meios de
hospedagem, ou hotel. Para um melhor entendimento deste tipo de organização,
apresenta-se a seguir dois conceitos, um do Instituto Brasileiro de Turismo
(EMBRATUR) e outro de Geraldo Castelli, um autor de trabalhos diversos sobre o
tema hotelaria, no Brasil.
Conforme o artigo 5º do Regulamento dos Meios de Hospedagem da
Embratur “empresa hoteleira é a pessoa jurídica que explora ou administra meios de
hospedagem e que tenha em seus objetivos sociais o exercício da atividade
hoteleira” (PETROCCHI, 2002, p.19).
Segundo Castelli (2001, p. 56) “uma empresa hoteleira pode ser entendida
como sendo uma organização que, mediante o pagamento de diárias, oferece
alojamento à clientela indiscriminada”.
Estes conceitos são complementares, pois ambos descrevem a empresa
hoteleira, sendo um com uma visão de sua constituição legal e o outro com a visão
de seu serviço prestado. O conceito proposto por Castelli é bastante pertinente para
o presente estudo pois ao deixar claro a oferta de alojamento aos clientes de forma
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indiscriminada, abre importante precedente ao estudo da hospitalidade, sendo esta
entendida como o bem acolher, o bem receber, as trocas cordiais entre quem recebe
e quem visita.
O objeto de pesquisa deste trabalho são os hotéis independentes de pequeno
porte, entendidos aqui como os meios de hospedagem que se enquadram nos
critérios de pequena empresa já apresentados, e que além disso não pertencem e
não tem sociedade e nem afiliação administrativa com outras propriedades, ou seja,
não têm ligação com outros hotéis em relação a políticas, normas, procedimentos ou
mesmo obrigações financeiras(DAVIES, 2002).
A expressividade do segmento de hotéis independentes pode ser observada
nos valores apresentados a seguir. Segundo dados da HIA (Hotel Investment
Advisors), até outubro de 2002, o Brasil possuia 5.254 hotéis sendo 4.876
independentes o que significa que cerca de 92% do total de meios de hospedagem
seriam de hotéis independentes, conforme pode-se observar na tabela a seguir. Tais
números ajudam a entender a importância de um melhor conhecimento da realidade
vivenciada nestes estabelecimentos e reforça o papel que pesquisas empíricas
podem desempenhar, gerando informações úteis para os gestores destes hotéis,
aproximando os que geram pesquisas dos que as consumem, pois segundo Weiler
(2003,p.87) “existe um hiato entre os produtores de pesquisa em turismo e seus
consumidores”.
Tipo
Tabela 1 – Evolução do Número de Hotéis no Brasil 1992 - 2002
Quartos
Tipo
1992
Out./2002
Hotéis Quartos
%
Hotéis Quartos
Independentes 2393 120.000 95,72 4.876
200.500
Hotéis e aparthotéis de
65
12.000
2,6
170
26.000
cadeia
internacional
Hotéis e apart42
8.000
1,68
208
34.400
hotéis nacionais
Total
2500 140.000 100
5.254
260.900
%
92,80
3,24
3,96
100
Fonte: (HIA, 2005).
Sabe-se que o setor de hotelaria é caracterizado dentro do setor de serviços,
então se faz importante uma breve explicação do que significa a prestação de um
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serviço, bem como suas principais características. Com isso pretende-se ajudar a
compreender melhor a natureza deste setor e algumas questões importantes para
um gerenciamento adequado, bem como para a satisfação dos clientes.
Não há uma definição unânime para o termo serviço, pois a conceituação
deste termo pode apresentar diferenças em função da variedade dos tipos de
serviço que podem ser prestados.
Conforme Grönroos serviço é:
Um processo, consistindo em uma série de atividades mais ou
menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre,
ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de ser viço e/ou
recursos ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são
fornecidas como solução para problemas do cliente (GRÖNROOS, 2003, p.
65).
Segundo a Associação Americana de Marketing, serviços são “aquelas
atividades, vantagens ou mesmo satisfações que são oferecidas à venda ou que são
proporcionadas em conexão com a venda de mercadorias” (LAS CASAS, 1991,
1521
p.15).
Com base nestas definições, pode-se, então, entender “serviços” como um
desempenho, uma operação, que pode ser praticada e comercializada por um ser
humano ou uma máquina, e que não pode ser tocada, apalpada, apenas percebida
por outros seres humanos.
No setor turístico, a grande maioria das empresas são essencialmente
especializadas na prestação de serviços ao turista. Tem-se como principais
exemplos, as empresas de transportes, os meios de hospedagem, os restaurantes,
as agências de viagem, os centros de informações turísticas e os equipamentos de
recreação e entretenimento.
Compreender melhor os aspectos que permeiam as organizações que atuam
no setor de turismo implica no entendimento das características próprias dos
serviços e que se encaixam bem aos hotéis. As principais características são:
intangibilidade, heterogeneidade, inseparabilidade e perecibilidade.
Apesar de os serviços oferecidos por um hotel incluírem também elementos
tangíveis, por exemplo a cama em que o hóspede se deita ou a comida do café da
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manhã, “a essência do serviço é a intangibilidade do próprio fenômeno”
(GRÖNROOS, 1993, p.38). Esta é a principal característica da prestação de serviços
e a que gera maiores desafios para os gestores de hotéis, pois, quando descritos
por clientes expressões como experiência, tato e confiança aparecem para definir
serviço. Desta forma, enquanto as mercadorias (bens tangíveis) podem ser tocadas,
comparadas e testadas, os serviços proporcionam apenas uma recordação ou
lembrança para o cliente dos benefícios que lhe foram prestados.
Gianesi e Correa (1996) observam que, devido a essa intangibilidade, avaliar
um serviço é complicado e extremamente delicado pois depende da percepção de
cada
individuo,
nesse
sentido
são
interessantes
os
trabalhos
sobre
o
comportamento do consumidor em especial os trabalhos de Blackwell, Engel e
Miniard. A condição sócio-econômica, a formação cultural, o estado físico e
psicológico são alguns dos muitos fatores que podem interferir nesta percepção.
Esta particularidade exige uma certa complexidade para a padronização dos
serviços e faz com que eles sejam não-patenteáveis.
Grönroos afirma que em função do impacto causado pelas pessoas
(empregados ou clientes) nos serviços, estes apresentam “um aspecto de
heterogeneidade (...) um serviço a um cliente não é exatamente este ‟mesmo
serviço‟ ao próximo cliente” (GRÖNROOS, 1993, p. 40). A heterogeneidade cria uma
dificuldade de se manter a qualidade do serviço uniforme, devido ao fato do mesmo
ser produzido por seres humanos. Tal fato é observado em muitas funções
desenvolvidas nos hotéis como a arrumação dos quartos ou o atendimento na
recepção. Como a natureza humana é instável, a qualidade dos serviços produzidos
pelo homem fatalmente não obedecerá a um padrão pré-estabelecido. (LAS CASAS,
1999).
O caráter heterogêneo dos serviços indica a importância do perfil das pessoas
envolvidas com a produção/prestação de serviços, bem como de sua vontade de
servir pessoas. Elas têm que estar conscientes de que lidar com clientes não é o
mesmo que lidar com máquinas, mas também, precisam estar satisfeitas com o que
fazem para poder atender bem os clientes, daí a importância deste trabalho.
Segundo Kotler et al. (2003, p. 53), a filosofia que garante o sucesso do Ritz-Carlton
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é “Para cuidar dos clientes, você tem de cuidar primeiro das pessoas que cuidam
dos clientes29”.
A inseparabilidade é outra característica dos serviços e que também está
presente em hotéis e significa que, na maioria das vezes, não há etapa intermediária
entre a produção de um serviço e seu consumo por parte de um cliente. Os serviços
prestados no restaurante do hotel são geralmente realizados na presença do cliente,
e, na maioria das vezes, são produzidos e consumidos simultaneamente.
“Não há qualidade pré-produzida para ser controlada com antecedência,
antes de o serviço ser vendido e consumido” (GÖNROOS, 1993, p.39).
Na fabricação de mercadorias, como na indústria calçadista, por exemplo, o
produtor geralmente não necessita da presença do cliente para iniciar a produção e
ainda pode testar a qualidade dos produtos antes de vendê-los. O mesmo não
acontece na produção de serviços onde o próprio cliente, ou, em alguns casos, um
bem de sua posse, é o fator desencadeador da produção e o elemento que checa a
eficiência e qualidade do serviço.
Exemplificando esta propriedade dos serviços, pode-se observar que num
hotel é necessária a presença física do hóspede para que haja a prestação de
serviços, do mesmo modo que o turista não pode consumir a estada se não estiver
em pessoa dentro do estabelecimento hoteleiro.
A perecibilidade de um hotel é percebida quando, pelo fato de o mesmo
manter mão-de-obra e instalações funcionando de forma ininterrupta, no intuito de
fornecer melhores serviços, o prejuízo causado pela não utilização desta capacidade
produtiva disponível é irreversível. Não há como reaver o capital investido no
excedente de produção de serviços, já que estes não podem ser estocados.
Lovelock (1995) lembra que, devido a esta propriedade e as flutuações de
demanda que ocorrem no mercado, enquanto numa fábrica de automóveis pode-se
estocar os carros em um pátio a espera de consumidores, num cinema as cadeiras
desocupadas durante uma sessão representam uma perda irreparável para os
fornecedores do serviço. O mesmo ocorre num meio de hospedagem, onde cada
29
Tradução da autora.
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noite em que uma Unidade Habitacional (UH) 30dorme vazia representa perda de
ganho que não poderá ser reposta em outro dia.
Essas características relativas a serviços não são uniformes em todos os
setores de um hotel, por isso se faz necessário um esclarecimento de como essas
interações são diferentes entre os setores de um mesmo hotel e ao mesmo tempo
entre hotéis diferentes.
Dentro da organização interna das empresas, os cargos juntamente com os
funcionários que mantêm o contato direto com os clientes, são denominados de
“front office”. (GIANESI; CORRÊA, 1996, p. 42). As operações de elevado contato
com os clientes são caracterizadas por se darem num ambiente carregado de
incerteza e variabilidade, devido à inconstância dos seres humanos envolvidos no
processo.
Estes processos, por não obedecerem a padrões preestabelecidos, e por
estarem mais próximos da percepção dos clientes, requerem maior autonomia,
treinamento e conscientização dos funcionários, além de uma remuneração
satisfatória e um excelente suporte de trabalho.
Já as operações de baixo contato com os clientes, que possuem um ambiente
mais previsível e constante, são denominadas de back room. Estes processos
servem de apoio para os processos do front office, e portanto estão voltados para o
atendimento dos clientes internos31 da organização. A qualidade destes processos
está intimamente ligada à padronização e/ou automatização das atividades.
Para que a empresa atinja seus objetivos estratégicos é necessário que os
processos de back room e front office operem em conjunto, somando esforços para
atingir um único objetivo, a satisfação do cliente.
Kotler(2000) entende a satisfação como a sensação de prazer ou
desapontamento que resulta da comparação feita entre o desempenho percebido de
um produto ou serviço e a expectativa criada pelo comprador.
Por esta definição entende-se que a satisfação é razão de expectativa e
desempenho, ou seja, se o desempenho alcança as expectativas o cliente fica
30
31
Unidade Habitacional corresponde a um quarto de hotel.
Cliente interno é todo funcionário de uma empresa.
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satisfeito, se o desempenho não alcança as expectativas o cliente fica insatisfeito e
se o desempenho supera as expectativas, o cliente fica encantado.
A consideração dos conceitos de front office e back room assim como o grau
de dificuldade de avaliação dos resultados de um serviço e a intensidade de uso de
mão-de-obra, contribuem para a diferenciação das operações de serviço e para o
entendimento da importância de os hotéis possuírem funcionários não apenas
qualificados tecnicamente, mas também, motivados a trabalhar.
Além dessas características típicas de empresas prestadoras de serviços, os
hotéis possuem, ainda, algumas características que tradicionalmente t enderam a
desabonar o trabalho neste setor, e que certamente tenderam a manter baixos os
níveis de satisfação de muitos funcionários de hotéis, principalmente os de pequeno
porte, devido a sua maior proximidade ao trabalho doméstico em relação aos hotéis
de grandes redes hoteleiras.
Segundo Guerrier a “indústria da hospitalidade oferece grande número de
empregos que são relativamente pouco qualificados, podem ser temporários,
sazonais ou „em horários de trabalho não sociais‟ e costumam ser mal remunerados”
(2001, p. 73). A referida autora ressalta ainda que normalmente as qualificações
requeridas por um determinado cargo seguem o status atribuído a esse cargo. Ou
seja, entende-se que todo trabalho que requer pouca qualificação será realizado por
pessoas de baixo status.
Mullins (2004, p. 187) corrobora esse pensamento, afirmando que há opiniões
divergentes sobre a natureza do trabalho na hospitalidade e que uma delas “é a de
que muitas funções são monótonas, simples e rotineiras em sua natureza,
desenvolvidas sob difíceis condições de trabalho e sob pressão dos clientes”.
Com o que foi exposto até o momento, percebe-se que os gestores de
pequenos hotéis precisam conhecer melhor os motivos que levam as pessoas a
trabalharem para que assim, possam permitir que as mesmas se motivem a atender
da melhor maneira os hóspedes.
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3 TEORIAS SOBRE MOTIVAÇÃO.
Para Minicucci “[...] a motivação leva você a agir em direção a um objetivo
(...), é a força impulsionadora do indivíduo para um objetivo” (apud SILVA, 2004, p.
6). A importância deste fato reside em um questionamento fundamental que muitas
vezes o pequeno hoteleiro deixa de realizar que é o de como, por exemplo, “uma
camareira, desmotivada pelo modo sem respeito como é tratada, pode ter energia
para atender bem um hóspede?” (SILVA, 2004, p. 6). Ou ainda, “se essa camareira
percebe-se como um nada na empresa, que energia ela terá para comprar a idéia
que o hóspede é tudo?” (SILVA, 2004, p. 6).
As contribuições que esta pesquisa sobre a motivação em pequenos meios
de hospedagem
pode oferecer aos gestores desses estabelecimentos são
evidenciadas por pensamentos como o acima citado e ainda reforçadas pela
seguinte colocação do mesmo autor:
Algumas chefias despreparadas insistem para que seus
subordinados atendam com qualidade os clientes, entretanto, não percebem
que são funcionários altamente desmotivados (sem energia) em função de
necessidades pessoais mal resolvidas na empresa, que, em geral, seriam
de fácil resolução (por exemplo o funcionário ser mais respeitado , ser
ouvido, sentir-se importante) (SILVA , 2004, p. 6).
A motivação Humana deve representar uma das principais preocupações das
empresas, pois num mundo competitivo, acompanhado de grandes mudanças, o
comprometimento dos funcionários torna-se peça chave para essa grande
engrenagem que caracteriza o funcionamento das empresas. Funcionários
motivados dedicam-se e comprometem-se mais a atingirem os objetivos
empresariais além de proporcionar um clima organizacional tranqüilo que possibilite
a organização a concentrar seus esforços a fim de atingirem o sucesso e a
satisfação dos clientes.
O funcionário desmotivado tende a ser menos tolerante, voltando-se contra a
empresa apresentando atitudes prejudiciais à organização. Por outro lado, o
funcionário motivado tende a ser mais comprometido com a empresa tornando o
clima mais propício para um melhor desempenho no trabalho.
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A motivação pode ser entendida como ”a situação ou contexto que envolve os
motivos (as necessidades) e as ações (os comportamentos), ou seja, os ”motivos”
são os responsáveis pelos impulsos à “ação”...A ação dirige-se para objetivos que
satisfazem aos motivos” (SILVA, 2004, p. 2). Segundo Kast & Rosenzweig (apud
CHIAVENATO, 1999, p. 88) “motivo é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de
determinada forma ou, pelo menos, que dá origem a uma propensão a um
comportamento específico”. Tal impulso a agir pode ser provocado por um estímulo
provindo do ambiente e pode também ser gerado internamente nos processos de
raciocínio do indivíduo.
Percebe-se que há uma relação direta entre motivação e necessidades
humanas, ou seja, o indivíduo possui necessidades de naturezas diversas, e
estabelece objetivos a fim de satisfazer estas necessidades, ele, então se põe em
movimento para atingir estes objetivos, que uma vez satisfeitos, levam o indivíduo a
um estado de tranqüilidade. Porém, esta tranqüilidade cessa, a partir do momento
em que outras necessidades se apresentam, formado-se, assim, um ciclo de
atitudes voltadas ao alcance de objetivos que levam ou não à satisfação de
necessidades.
1527
Segundo Davis & Newstrom (1992) a forma mais simples de classificar as
necessidades é dividi-las em dois grupos, ou seja, como necessidades físicas
básicas ou necessidades primárias e necessidades sociais e psicológicas ou
necessidades
secundárias.
Alimentos,
água
e
sexo
são
exemplos
de
necessidades primárias enquanto que auto-estima, rivalidade e senso de dever são
exemplos
de
necessidades
secundárias.
As
necessidades
primárias
são
praticamente universais entre as pessoas, variando de intensidade, já as
secundárias variam muito mais entre as pessoas, podendo até ser contrárias.
Uma vez compreendido o mecanismo motivacional, apresentam-se, a seguir ,
três teorias motivacionais, buscando identificar os possíveis motivos que
impulsionam os indivíduos à ação, sendo que estes motivos relacionam-se com a
satisfação de necessidades individuais.
A primeira teoria apresentada é a da hierarquia das necessidades de
Maslow que, conforme Maximiano (2004), Abraham Maslow foi um psicólog o e
consultor americano que desenvolveu a idéia de que as necessidades apresentamXI ENCONTRO NAC ION AL DE TURISMO COM BAS E LOCAL
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se de forma mais complexa que apenas em dois grupos. Em sua teoria, as
necessidades estão divididas em cinco grupos. À medida que o homem satisfaz
suas necessidades básicas, outras mais elevadas tomam o predomínio do
comportamento. Na base da pirâmide estão as necessidades mais baixas
(necessidades fisiológicas) e no topo as necessidades mais elevadas (as
necessidades de auto-realização).
As Necessidades Fisiológicas constituem o nível mais baixo de todas as
necessidades humanas, mas de vital importância. São necessidades instintivas e
que já nascem com o indivíduo como fome, sede e sono. Estas necessidades são as
que mais influenciam na motivação do indivíduo, ou seja, quando alguma dessas
necessidades não está satisfeita, ela domina a direção do comportamento, porém
quando satisfeita essas necessidades deixam de ser uma motivação importante.
As Necessidades de Segurança constituem o segundo nível das
necessidades humanas e representam a busca de proteção contra a ameaça ou
privação, a fuga ao perigo.
As Necessidades Sociais:
surgem no comportamento,
quando as
necessidades mais baixas (fisiológicas e de segurança) se encontram relativamente
satisfeitas. São as necessidades de associação, de participação, de aceitação por
parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor.
As Necessidades de Estima estão relacionadas com a maneira pela qual o
indivíduo se vê e se avalia. Envolve a auto-apreciação, autoconfiança, a
necessidade de aprovação social e de respeito, de status, de prestígio e de
consideração. Maslow a divide em dois grupos, o primeiro relacionado à realização,
ao poder, à confiança perante o mundo, à independência e à liberdade. O segundo,
relacionado ao prestígio ou reputação, dominação, reconhecimento e admiração por
outras pessoas. A frustração pode produzir sentimentos de inferioridade, fraqueza,
dependência e desamparo que, por sua vez, podem levar ao desânimo ou atividades
compensatórias.
As Necessidades de Auto-realização estão no topo da hierarquia e são as
necessidades de cada pessoa de realizar o seu próprio potencial e de auto
desenvolvimento contínuo. Dentre todas as necessidades esta parece ser a que
mais desafia os estudiosos pois, devido às dificuldades de se encontrar pessoas
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realizadas em todas as suas necessidades, pré-requisitos para se chegar à autorealização, pouco se sabe a seu respeito (PAULA, 1990).
A segunda teoria apresentada é a teoria “X” e a teoria “Y” de Douglas
McGregor que contribuiu de forma significativa para a compreensão do fenômeno
da motivação pois, apesar de sua teoria não ser uma teoria motivacional
propriamente dita, é uma teoria sobre uma nova filosofia administrativa, com novos
conceitos a respeito do comportamento do homem nas organizações, diferentes dos
defendidos, até então.
As teorias “X” e “Y” de McGregor apresentam os dois extremos da visão sobre
a natureza humana no trabalho, sendo que a teoria “X” representa a visão tradicional
da teoria organizacional e se baseia nos seguintes pressupostos:
1- O ser humano, de modo geral, tem uma aversão essencial ao
trabalho e o evita sempre que possível;
2- Devido a essa característica humana de aversão ao trabalho, a
maioria das pessoas precisa ser coagida, controlada, dirigida, ameaçada de
punição para que se esforce no sentido da consecução dos objetivos
organizacionais;
3- O ser humano, de modo geral, prefere ser dirigido, quer evitar
responsabilidade, tem relativamente pouca ambição e quer garantia acima
de tudo (McGREGOR, 1999, p. 37-38).
Já os pressupostos da teoria “Y” são os seguintes:
1- O dispêndio de esforço físico e mental no trabalho é tão natural
como o jogo ou o descanso.
2- O Controle externo e a ameaça de punição não são os únicos
meios de estimular o trabalho em vista dos objetivos organizacionais. O
homem está sempre disposto a se autodirigir e se autocontrolar a serviço de
objetivos com os quais se compromete.
3- O compromisso com os objetivos é dependente das
recompensas associadas à sua consecução.
4- O ser humano comum aprende, sob condições adequadas, não
só a aceitar responsabilidades como a procura-las.
5- A capacidade de usar um grau relativamente alto de imaginação,
de engenhosidade e de criatividade na solução de problemas
organizacionais é mais amplamente distribuída na população do que
geralmente se pensa.
6- Nas condições da vida industrial moderna, as potencialidades
intelectuais do ser humano comum estão sendo parcialmente usadas
(McGREGOR, 1999, p.53-54).
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A esse respeito a autor acrescenta que para as estratégias gerenciais das
empresas essa teoria é nitidamente diferente da teoria “X” pois pressupõe que o que
limita as ações das pessoas não é a natureza humana, mas sim, a capacidade da
direção em desenvolver o potencial de seus recursos humanos.
Pôde-se perceber até o momento que tanto Maslow quanto McGregor
entendem que a motivação humana para o trabalho depende de fatores intrínsecos,
relacionados às necessidades de nível mais elevado e que, por isso, cabe à direção
das empresas proporcionar a satisfação das necessidades de nível mais básico,
promovendo condições para a livre busca individual de seus maiores anseios, o que
permitiria aos funcionários enxergarem no trabalho algo mais que o “preço pago”
para a felicidade fora do trabalho.
A terceira teoria que se apresenta neste trabalho é a teoria dos fatores
motivacionais e higiênicos de Herzberg que, assim como Maslow, faz distinção
entre necessidades de nível mais elevado e de nível mais básico, partiu de sua
preocupação em identificar as fontes de satisfação e de insatisfação do homem no
trabalho e suas influências positivas ou negativas sobre as atitudes dos mesmos
frente às situações que se apresentam.
Em seus estudos Herzberg concluiu que existem, então, duas categorias de
necessidades distintas, que influenciam o comportamento do homem. Quando as
pessoas se diziam satisfeitas no trabalho, isto tinha a ver com as atividades que
desenvolviam no mesmo. Já quando as pessoas se diziam insatisfeitas com o
trabalho, isto tinha a ver com o ambiente de trabalho.
Os fatores que se caracterizam por necessidades intrínsecas, que produzem
crescimento psicológico e têm efeito de longa duração são chamados de
motivacionais sendo eles: realização; reconhecimento; possibilidade de progresso;
o trabalho em si e responsabilidade.
Já os fatores que são extrínsecos, têm relação com o ambiente de trabalho e
evitam que as pessoas reclamem do mesmo, são chamados de higiênicos sendo
eles:políticas administrativas; competência do supervisor; salário; relacionamento
com colegas e segurança no emprego.
Para um melhor entendimento das diferenças entre os dois fatores, o próprio
autor coloca que:
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(...) os fatores de higiene satisfazem os anseios do homem de evitar
aborrecimentos. „Não gosto de ser tratado dessa maneira. Não quero sofrer
privações por causa de um baixo salário; relações interpessoais más me
causam aborrecimento‟. Em outras palavras, desejam que suas vidas sejam
higienicamente limpas. Os fatores motivacionais por outro lado tornam as
pessoas felizes com seus serviços porque atendem à necessidade básica e
humana de crescimento psicológico; uma necessidade de se tornar mais
competente (HERZBERG, 1973, p. 58).
Para Herzberg, sua teoria também contribui para o entendimento de
fenômenos que acontecem com a gerência de Relações Industriais 32, alertando que
se a mesma opta por se dedicar somente às questões higiênicas, pode resolver
temporariamente os problemas de seus funcionários, porém não necessariamente
os deixará mais envolvidos com o trabalho.
Não existe nada de errado em oferecer o máximo de vantagens higiênicas
ao empregado, tanto quanto a sociedade pode providenciar (que parece ser
mais que os gritos históricos de angústia que sempre acompanharam a
melhoria de condições higiênicas de trabalho). O que está errado é a soma
de necessidades humanas em termos totalmente higiênicos. As
conseqüências dessa visão unilateral da natureza humana têm levado a
resultados desfavoráveis de muito maior importância que os custos
monetários diretos desses programas de nossas organizações. O efeito
mais pertinente tem sido sobre as premissas psicológicas das relações
industriais e seus efeitos, por sua vez, na auto-estima dos empregados
(HERZBERG, 1973, p. 59).
Conforme afirma Araújo (1985), os resultados da pesquisa de Herzberg
apresentam pontos semelhantes aos das pesquisas de Maslow e McGregor. Os
fatores motivacionais corresponderiam aos dois níveis mais elevados de
necessidades, enquanto que os fatores higiênicos corresponderiam às três
necessidades mais básicas.
Do exposto até o momento, percebe-se a necessidade de envolvimento do
funcionário com os objetivos da empresa para que os mesmos sejam atingidos.
Como os profissionais são o primeiro mercado da empresa, eles precisam acreditar
na prestação do melhor serviço, ou não irão conseguir transmitir essa idéia aos
clientes( ALBRECHT, 1992,apud WEBER, 2004). Eles precisam de motivação para
agir de forma positiva e obter resultados de qualidade que se traduzam na satisfação
32
Hoje, Gestão de Recursos Humanos.
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de seus clientes. Uma pessoa motivada, tem atitudes positivas na realização de
suas tarefas, uma vez que vê benefícios para si. Já as pessoas sem ímpeto e
impulso,
que não possuem a motivação em si,
reagem ao invés
de
agirem(DRUCKER, 1997).
Para conseguir o envolvimento dos funcionários se faz necessária a utilização
do marketing interno que é segundo Gronros(1984, apud WEBER,2004) o trabalho
de treinamento e motivação dos funcionários para que atendam bem os clientes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise e revisão de literatura desenvolvidos, foi possível constatar
que todas as teorias sobre motivação investigadas apresentam uma importante
contribuição ao entendimento do comportamento do homem no trabalho, porém,
todas apresentam limitações se analisadas isoladamente. Contudo percebe-se que a
utilização de pressupostos de várias teorias pode se mostrar mais eficiente na busca
pela motivação dos funcionários de uma empresa do que a utilização de apenas
uma delas como parâmetro.
Conclui-se também que os hotéis de pequeno porte, em função de suas
características precisam buscar em seus funcionários o diferencial competitivo, uma
vez que este mercado apresenta um elevado grau de competitividade e que seus
clientes estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade dos serviços ofertados
em relação aos seus custos. Ou seja, os clientes procuram sempre a melhor relação
custo/benefício, o que impõe outro desafio aos gestores destes hotéis, desafio este
relacionado ao grau de qualificação e preparo de sua equipe.
Uma vez que tal qualificação passa pelo desenvolvimento de várias
habilidades com destaque para as habilidades humanas, fica evidente a importância
da motivação destes profissionais a trabalhar para o alcance da satisfação dos
clientes.
Este fato se reforça pela constatação de que qualquer funcionário do hotel,
durante seu trabalho, está realizando um tipo de propaganda, ou seja, divulgando a
empresa a seus clientes, mesmo sem perceber. Isto porque o cliente entra, na
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maioria das vezes, em contato com os funcionários da empresa durante a prestação
do serviço. A imagem que os hóspedes irão formar do hotel será influenciada pela
imagem transmitida pelo funcionário, que servirá de parâmetro para medir a
qualidade do hotel e, conseqüentemente, a satisfação do hóspede em relação ao
mesmo.
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NAVEGANDO NOS AMBIENTES DA ILHA GRANDE DOS MARINHEIROS:
TURISMO RESPONSÁVEL E GERAÇÃO DE RENDA
Gilmar Gomes
Juliane Magagnin Da Soller
Geógrafos/UFRGS
[email protected]
RESUMO
O presente artigo se constitui a partir do relato de experiência de um trabalho em
extensão universitária para iniciação científica, dado através da investigação e da
reflexão do ambiente dialogado com o desenvolvimento local, tendo este como
parâmetro fundamental do crescimento do sujeito como aquele que constrói a vida.
Este artigo se apropria das oficinas de Educação Ambiental e de Trilhas, realizadas
dentro do curso de Capacitação em Cooperativismo e Autogestão, produzido pelo
Núcleo de Economia Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Este curso foi realizado junto a Cooperativa Mista de Produção e Serviços
Arquipélago Ltda. (COOPAL), localizada na Ilha Grande dos Marinheiros, uma ilha
do município de Porto Alegre, com objetivo de instrumentalizar os membros desta
cooperativa na gestão e fortalecimento do empreendimento, de forma que o mesmo
se configure em um elemento multiplicador em sua comunidade. A compreensão da
produção de vida, eu e nós no espaço vivido, o aprofundamento das relações
sociais e a ampliação dos horizontes oportunizando novas frentes de trabalho, com
a ótica do turismo responsável, da educação ambiental e das trilhas interpretativas,
foram os temas referenciais destes encontros.
Palavras Chave:
Turismo, educação, ambiente, trilha.
ABSTRACT
This article presents an account of a university extensional for undergraduate
research work developed through the investigation and reflection about the dialogue
between environment and local development, taking the last as a fundamental
parameter of the subject‟s growth as the one who constructs life. The article takes
into consideration the workshops about Environmental Education and Trail promoted
by the Alternative Economy Center of the Federal University of Rio Grande do Sul
(UFRGS) as part of the course Cooperativeness and Self-Management. The course
was designed for the Mixed Cooperative of Production and Services Arquipélago
(COOPAL), located in Ilha Grande dos Marinheiros, an island in the city of Porto
Alegre. The aim of the course was to enlighten the cooperative‟s members to
manage and straighten their enterprise for it to become a multiplying element in their
community. The main themes of these encounters were the comprehension of the
production of life, of the self and of the collective in the living space, the
intensification of social relations and horizons amplification in order to generate work,
with the responsible tourism, environment education and interpretive trails.
Key words: Tourism, education, environment, trails.
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1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho é construído a partir de um relato de experiência, que
busca fazer uma reflexão sobre possibilidades da extensão universitária contribuir, a
partir da ação prática, provocando no nível teórico uma relação que mostre
evidenciar que o ambiental dialoga com a produção da vida e com a geração de
renda dentro de um espaço vivido. 33
O trabalho de extensão analisado (Curso de formação) foi realizado pelo
Núcleo de Economia Alternativa / Incubadora de Cooperativas Populares da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 34 em parceria com outros
departamentos desta Universidade: Direito, Economia, Geografia e Psicologia
Social, junto à Cooperativa Mista de Produção e Serviços Arquipélago Ltda
(COOPAL). A COOPAL está localizada na Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto
Alegre.
A população da Ilha Grande dos Marinheiros se caracteriza por sua extrema
vulnerabilidade
social,
em situação
de
pobreza absoluta,
com escassas
oportunidades de trabalho. Sendo uma ilha fluvial (banhada pelo Rio Furado Grande
e Jacuí) fica suscetível às variações dos níveis da água, com constantes enchentes
na estação chuvosa e falta de água na seca, situação agravada ambientalmente
pelo desmatamento de grande parte da área e socialmente pela carência de esgotos
tratados.
As questões ambientais e as questões sociais estão inti mamente ligadas
nesse ambiente. Essa união corrente, indissociando ações físico-naturais das
sociais, nem sempre é tarefa fácil de ser compreendida e trabalhada, contudo é
essencial na construção da vida humana.
Trabalharemos aqui com a noção de campo ambiental conforme a noção
ressaltada por Carvalho (CARVALHO 2001, p.19). Com a noção de campo
ambiental interessa circunscrever certo conjunto de relações sociais, sentidos e
33
: “O espaço vivido pode ser entendido como a rede de manifestações da cotidianidade desse sistema em
torno das intersubjetividades que são, por sua vez, as redes nas quais se constituem as existências individuais –
no trabalho, na escola, na família, nas outras formas da vida societária.” (RÊGO 2000).
34
O Núcleo de Economia Alternativa é um espaço de extensão, pesquisa e produção de conhecimentos na área
do trabalho prestando assessoria a pequenos empreendimentos organizados em rede e mantém uma
incubadora de cooperativas populares. Está localizado na Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS.
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experiências que configuram um universo social particular. O campo ambiental seria
então um espaço onde as relações sociais são postas em evidência através da
participação dos sujeitos enquanto sujeitos coletivos que se relacionam política e
historicamente com o ambiente em sua volta a partir de uma rede que envolve
relações com o poder público e com a sociedade civil, mas mantém sua autonomia.
Esta relação, dependendo do grau de exigência das demandas da comunidade e
dos problemas ambientais pode ser mais ou menos tensa.
Assim, queremos dizer que, de nada adianta tratarmos da reconstituiç ão e/ou
preservação da saúde do ambiente se não estivermos também preocupados em
lidar com a saúde do ser humano. E para ter saúde o ser humano precisa dispor das
condições materiais e subjetivas que lhe permita viver com dignidade.
Neste artigo nos apropriaremos das oficinas de Educação Ambiental e de
Trilhas Turísticas realizadas em parceria com o Departamento de Geografia da
UFRGS 35, que foram instrumentos para viabilização da política de extensão de uma
universidade que se pretende pública e pensa o desenvolvimento local no parâmetro
fundante do crescimento do sujeito como aquele que constrói a vida.
1537
2. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE
O MARINHEIRO, MARINHEIRO, QUE LUGAR É ESTE?
A Ilha Grande dos Marinheiros, com outras 15 ilhas, compõe o bairro
arquipélago na cidade de Porto Alegre/RS. É constituída pelos sedimentos de quatro
rios (Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí) que formam o Delta do Jacuí e que
desembocam no Lago Guaíba. É a segunda ilha do conjunto mais povoada, bem
como em processo de urbanização. Esta ocorrência somada com a falta de políticas
públicas adequadas e com sua frágil localização geográfica tem produzido profundos
impactos sobre o ambiente e conseqüentemente na qualidade de vida desta
comunidade.
35
Este trabalho contou com a orientação do professor Dr. Nelson Rego e com a colaboração do professor Dr.
Álvaro Heidrich.
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LOCALIZAÇÃO DA ILHA GRANDE DOS MARINHEIROS
As oportunidades e alternativas de trabalho que existem estão ligadas à
pesca e à catação e separação de lixo para a reciclagem, além de trabalhos
temporários (biscates, faxinas,...), porque o lugar em que este grupo vive é resultado
de múltiplos déficits (oferta de vagas nas escolas, alto índice de violência, fome,
alcoolismo, drogadição, falta de saneamento básico, habitações precárias, doenças
endêmicas, mortalidade infantil e gravidez na adolescência). Além destes déficits de
fundo, há aqueles que se agregam, tais como, a falta de atividades alternativas para
os jovens.
Esta população enfrenta a exclusão social. Suas moradias encontravam-se
irregulares com aterros clandestinos até o final de 2005, quando faziam parte da
Unidade de Conservação Integral Parque Estadual Delta do Jacuí, decretado em
1976. Nesta época, por estarem irregulares não se podia encaminhar pedido para a
melhoria da infraestrutura, resultando na inexistência de saneamento básico,
acúmulo de lixo, esgotos sem tratamento jogados direto nos corpos de água, água
poluída considerada imprópria para o banho e pesca.
Ainda se caracteriza por apresentar visíveis contradições socioeconômicas,
sendo que a ilha se transformou em uma área muito valorizada e elitizada de Porto
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Alegre, com mansões construídas para veraneios ao lado de moradias bem mais
simples, também irregulares na época.
Neste panorama temos de um lado um dos problemas ambientais urbanos de
maior importância que é aquele relacionado à preservação dos ecossistemas
naturais ainda existentes nas cidades e de outro uma população fixada no local
vivendo em condições de vulnerabilidade social com poucas oportunidades de
desenvolvimento social.
CARACTERIZAÇÃO DA COOPAL
O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO SÓ?
Mesmo com tantas adversidades a população carente da Ilha vem se
articulando em muitas instâncias de participação e organização comunitária. Uma
destas iniciativas é a Cooperativa Mista de Produção e Serviço do Arquipélago
(COOPAL) que vem atuado profissionalmente na ilha desde 2001 em ações voltadas
para prestação de serviços de modo geral. Em 2003 teve o primeiro grande contrato
(uma vez que envolveu 20 pessoas de uma só vez) na área de limpeza ambiental
(contrato com empresa terceirizada - COOTRAVIPA 36 via Departamento Municipal
de Limpeza Urbana - DMLU37 até 2004). Nas palavras do cooperado Pedro Amaral
Pires, publicadas no Boletim do Arquipélago (Jun 2004): “Ninguém acreditava na
nossa cooperativa. Agora trabalhamos com a parceria do DMLU, tirando os entulhos
e dejetos do lixo deixados na ilha.”
A Cooperativa tem formado líderes que exercem sua atuação para além dos
limites do empreendimento e mesmo da comunidade. Líderes destacados da
COOPAL são muitas vezes representantes do Bairro no Orçamento Participativo,
educadores do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA),
palestrantes em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre
em várias comunidades de periferia no tema da economia solidária; representantes
36
Cooperativa de Trabalhadores das Vilas de Porto Alegre. Presta serviços na área da limpeza
urbana. Apesar de se constituir como uma empresa-cooperativa convencional, este empreendimentos
se destaca por acolher em seus quadros pessoas portadoras de HIV/AIDS e portadoras de
necessidades especiais.
37
Departamento Municipal do Limpeza Urbana. Este trabalho, na verdade uma novidade, tratou -se de
uma limpeza que ocorreu em grande parte dentro dos quintais dos moradores das ilhas do Bairro
Arquipélago. Durante muitos anos essas ilhas foram “lixões” e apresentam um horizonte de acúmulo
de resíduos sólidos bastante espesso – cerca de 40 cm.
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na REDE 38 e coordenação do Programa Fome Zero no Bairro e monitoria na área de
educação ambiental.
COOPERADOS DA COOPAL
Em 2006 foi conquistado um novo grande contrato com a Secretaria Municipal
de Saúde. Este previu o combate e a prevenção às doenças transmitidas por
mosquitos, em especial, a dengue nas ilhas habitadas do Bairro Arquipélago,
podendo ser estendido para outras áreas urbanas de periferia da Cidade.
Este contrato amplia, em relação ao anterior, para 43 pessoas envolvidas.
3. DESENVOLVIMENTO
O MARINHEIRO, MARINHEIRO, QUEM TE ENSINOU A NADAR?
Decorrente da necessidade de ampliar a discussão entre os cooperados
sobre os princípios da cooperativa formulou-se o Curso de Capacitação em
Cooperativismo e Autogestão, atividade de extensão produzida pelo NEA. O curso
objetivou instrumentalizar, do ponto de vista teórico e prático, os membros da
COOPAL na gestão e fortalecimento da cooperativa, de forma que o mesmo se
configure em um elemento multiplicador em sua comunidade. Nesse sentido, pode
38
A REDE é uma organização que congrega entidades comunitárias, ongs e poder público do
conjunto de Ilhas habitadas do Bairro Arquipélago. Nesse espaço a comunidade discute, decide e
encaminha questões relevantes aos interesses do Bairro.
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também ampliar sua capacidade de referência a outros setores populares que lutam
por um espaço social, pela monitoria ambiental e pela conquista de uma vida digna
capaz
de
propiciar
renda
deixando
de
depender
apenas
das
políticas
compensatórias dos governos.
A metodologia aplicada no curso baseou-se em aulas dialogadas e oficinas
práticas dentro da perspectiva da educação de jovens a adultos e tendo enfoque no
trabalho como princípio educativo (FRIGOTO, 1998). A base teórica principal
buscamos em Paulo Freire na figura do agente social (GAYOTTO, 1987). Este seria,
antes de tudo, um educador social, mas sua atuação pretende ir além da sala de
aula em uma convivência de mútuo respeito acompanhando os passos dos
educandos em sua auto-organização e participação comunitária. Como educador
parte do princípio de que o conhecimento não é um produto pronto, acabado, que se
encontra disponível para “transmitir” ao aluno, e sim de que o mesmo está
permanentemente em suas mãos e nas mãos de seus educandos como um
arcabouço que lhe sustenta a vida. Sua atuação é, antes de qualquer coisa, resgatar
o conhecimento popular acumulado e de posse do seu, formatado e acadêmico,
fazendo um diálogo permanente a fim da construção de um outro conhecimento
produzido de forma coletiva e dialógica.
O Programa do Curso procurou contemplar as especificidades que se
apresentavam como demandas do grupo cooperativo da Ilha Grande, percebidas
através do convívio de quatro anos no processo de incubação do empreendimento
que o Núcleo de Economia Alternativa vem realizando junto a COOPAL, tendo
sempre como referência à gestão participativa e democrática (autogestão). A
perspectiva da interdisciplinaridade, aqui é compreendida concebendo a realidade
como interdisciplinar, pois é ela, e neste caso, a coletividade organizada no
empreendimento e seu entorno que vai exigir esta ou aquela área do conhecimento.
A nós, extensionistas, cabe a sensibilidade em operar de forma conectada com esta
realidade (BRANDÃO 1985).
Nosso trabalho enquadra-se no que autores como Carlos Rodrigues Brandão,
Guido Irineu Engel e Michel Jean-Marie Thiollent denominam Pesquisa-Ação, sendo
a
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“pesquisa-ação um tipo de pesquisa social com base empírica que é
concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os
participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de
modo cooperativo ou participativo” (THILLENT 1986).
Reportaremos-nos ainda, se tratando da metodologia, a Paulo Freire que nos
dá a base de inserção nesta pesquisa como agente participante do processo ao
mesmo tempo reflexivo e práxico.
QUEM TE ENSINOU A NADAR?
FOI O BALANÇO DAS ÁGUAS E O CONHECIMENTO DO MAR (VIDA)?
Entendemos por Educação Ambiental (EA) o conjunto de práticas e reflexões
que se propõem a dialogar as inter-relações do indivíduo e da comunidade com o
ambiente, tornando-as mais conscientes, tanto a nível local quanto global e
fortalecendo a identidade local com o reconhecimento e a valorização de suas
tradições e cultura. A EA coloca-se dentro de uma concepção de construção
interdisciplinar e multidiscilpinar do conhecimento, visando à consolidação da
cidadania com cooperação aos seus semelhantes. A partir de conteúdos
problematizadores vinculados ao cotidiano e aos interesses da população, busca
originar formas de organização da comunidade solidárias e relações responsáveis
com o meio ambiente, bem como soluções diversificadas que não dependem apenas
de recursos econômicos, mas que impliquem uma remodelação do processo de
vida.
Para esta remodelação é essencial termos a compatibilização com as
legislações ambientais em políticas orientadas para um envolvimento sustentável,
que estimulem a infraestrutura adequada aos recursos e as produções locais. O
querer deste trabalho é propiciar a participação efetiva da população na gestão de
sua comunidade, ampliando seus horizontes “profissionais” e contemplando uma
melhoria da qualidade de vida de todos envolvidos. Pois, conforme Milton Santos, a
realidade ao mudar muda também seu observador (1987).
Em relação aos princípios e fins de educação nacional os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) destacam que: “(...) a principal função do trabalho
com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes,
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aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo
comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e
global.” Nesse sentido, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a
EA se proponha a trabalhar com atitudes, formação de valores, com o ensino e a
aprendizagem de habilidades e de procedimentos. Trata-se, portanto, da construção
de uma nova visão nas relações do homem com o seu meio e da adoção de novas
posturas pessoais e coletivas.
Segundo a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (1998) para a
educação “o mais importante são os processos e não os produtos”, e que para isso
ocorra deve-se envolver os educandos e especificamente os da Ilha Grande dos
Marinheiros, em:

“Resgatar a identidade cultural do aluno como ilhéu, integrando -o ao
meio em que vive, desenvolvendo nele o gosto e o respeito à natureza e a
valorizando de seu ambiente natural e social;”

“Avaliar criticamente as transformações ocorridas e seus reflexos no
ambiente, no decorrer do processo histórico de ocupação do local, be m
como a projeção de cenários para o futuro.”
1543
As trilhas interpretativas e a EA se fundem na prática. A interpretação
ambiental realizada em uma trilha se constitui em um importante instrumento
didático em EA propiciando a (re) descoberta do ambiente, com a investigação e a
percepção dos fenômenos e das inúmeras relações existentes entre os seres vivos,
sua história e o meio local.
A utilização de trilhas de interpretação ambiental, planejadas de modo a
oferecer mais possibilidades de contato com o meio, é um excelente suporte para o
desenvolvimento de habilidades como a observação, caracterização e avaliação da
realidade local, ao mesmo passo em que provoca um sentido de maravilha
importante para o despertar de uma conduta conservacionista.
O modo da exploração do espaço em que vivemos é totalmente influenciado
pela cultura da sociedade que o ocupa, e retorna na mesma influência para a
mesma sociedade delimitando toda sua organização. Nesta roda de influências,
temos tido uma pressão forte do ambiente construído sobre o ambiente natural cru.
Estas pressões diárias levam a tendência ao sentimento constante de insatisfação, a
competição desleal entre os seres em busca de um poder ganancioso com a
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inversão dos valores morais, ao mesmo tempo em que gera grande desejo de
contato com a natureza. Este contato é vital para nosso equilíbrio e precisa se dar
com tato e com consciência dos nossos atos para o exercício da nossa cidadania e
do coletivo comum.
3.1 O CURSO
O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.
Anteriores as oficinas específicas do Curso, foram realizados dois encontros
com a COOPAL. Estes encontros foram importantes para que os ministrantes das
oficinas e os participantes se conhecessem possibilitando a troca de primeiras
impressões, a investigação dos anseios dos grupos e a maneira como os membros
desse grupo se compreendem enquanto indivíduos sociais do local, o que Paulo
Freire chamou “leitura do mundo”. Segundo este educador para educar precisa-se “ir
„lendo‟ cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos populares com quem se
trabalha fazem de seu contexto imediato e do maior de que o seu é parte “.
(FREIRE, 1996)
O primeiro encontro ocorreu na sede da cooperativa, na própria Ilha e contou
com a presença de muitos cooperados e dos ministrantes. Após apresentação dos
presentes, seguiu-se um relato da situação institucional do Delta do Jacuí, que todos
aguardavam ansiosos, pois naquela data estava em vias de passar de Unidade de
Conservação Parque Estadual do Delta do Jacuí para Unidade de Conservação
Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Jacuí.
A problematização, parte constitutiva da metodologia, foi fundamental porque
a ela estava ligada à identificação dos temas a serem abordados na oficina de
Educação Ambiental. Sua intencionalidade estava diretamente ligada ao estímulo da
curiosidade epistemológica39 à cerca da questão ambiental e aos pressupostos
políticos e éticos. Questionavam os cooperados: Por que nossas casas não estão
certas? Para onde seremos deslocados na própria ilha? Onde estão e como é o
esgoto dos “ricos”? Qual a infraestrutura que chegará sendo APA? Como ficará a
natureza? Como podemos melhorar nossa qualidade de vida e a qualidade
ambiental da ilha? Quem fará parte do Conselho que administrará a APA? Por que
agora esta transição de Unidades está sendo viabilizada?
39
Para este conceito ver FREIRE, P. À sombra desta mangueira, Editora Olho Dágua: SP, 1995.
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O segundo encontro aconteceu na abertura oficial do evento. Neste encontro
realizou-se uma dinâmica que consiste na retirada aleatória de um papel por cada
participante, onde há escrito um dos temas abordados no curso: cooperativismo,
relações humanas, cooperação, economia solidária, autogestão, gestão, educação
ambiental. A idéia era que falassem qualquer coisa, sem preocupação com acertos.
Sendo o número de participantes maior que o número de temas, mais de uma
pessoa tirou o mesmo tema. As primeiras respostas foram repetidas pelos demais
demonstrando como costumamos repetir as idéias dos outros colegas, bem como da
mídia, sem analisá-las em nossos conceitos.
Verificou-se também um conhecimento li mitado a respeito dos temas
selecionados. Essa análise serviu como interpretação inicial dos ministrantes na
compreensão da abordagem pelos participantes.
Para Educação Ambiental (EA) a resposta comum foi a de que é preciso
preservar a natureza e cuidar do lixo. Nota-se com isso, o conhecimento apenas
superficial do tema, com a repetição de slogans comerciais e distanciamento do
cidadão-objeto, o não reconhecimento da inter-relação das “minhas ações” com as
conseqüências que “me circundam”. Acreditamos que a educação ambiental é
aprofundar essas questões no sentido de compreender como nossos atos interferem
no meio em que vivemos, o que é nossa responsabilidade e o que compete à
administração pública, os porquês e como preservar a natureza.
Os encontros de EA buscaram estabelecer um espaço para o diálogo aberto,
discussões, trocas, criação e aprofundamento de valores e atitudes ambientais e
cooperativistas. Através destes pressupostos visa sensibilizar os participantes para a
inserção de cada um na construção do seu hoje e para as questões socioambientais
pertinentes ao seu contexto local ampliando-as ao regional/global.
Nos dois encontros da oficina de Educação Ambiental foram trabalhados os
significados e conceitos socioambientais relacionando-os a Ilha. As dinâmicas de
apresentação inicial (relaciona o nome de cada um a algo do local); de investigação
dos pontos importantes do ambiente e de seus pontos negativos e a dos mapas
mentais, que depois se transformou no “Mapa da Ilha”, tiveram o intuito de aproximar
criticamente os participantes de seu lugar de vida, refletindo sobre o mesmo. Nestas
dinâmicas verificou-se que os locais de significado na comunidade assinalados são
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os locais construídos e de uso coletivo, as edificações sociais e educativas. Uma das
participantes explica as escolhas: “As coisas importantes são as que participo: Clube
de Mães e Creche”.
De acordo com Milton Santos
“A cultura, forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é
uma herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre
o homem e seu meio, um resultado obtido através do próprio processo de
viver. Esta não provém do simples fato de viver, mas da comunhão com que
se faz com ele”. (SANTOS 1987)
Assim podemos considerar uma maior comunhão com o lado cultural
edificado da ilha do que com a natureza. Para elucidar mais esta preposição citamos
Pierre George “(...) afirma-se que quanto mais explorado, quanto mais técnicas e
urbanização mais o espaço natural deixa de ter importância em sua forma, tendo
uma relação abstrata com o atual”. (GEORGE 1969)
MAPA DA ILHA CONSTRUÍDO PELO GRUPO
1546
A discussão sobre o significado dos locais coletivos construídos e naturais foi
aprofundada. Outros significados vieram à tona e ao desenhar coletivamente o
“Mapa da Ilha” em papel, demais locais foram adicionados. Ao expressar as idéias
através de formas, cores e movimentos, tornamos mais papável o ambiente em que
se vive, fazendo com que o imaginário chegue ao real e o real ao imaginário.
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Com base no Atlas Ambiental de Porto Alegre “navegamos” pelo lago Guaíba,
pelo Delta do Jacuí e pelo bairro Arquipélago. Neste momento tivemos a
oportunidade também de especificarmos a importância da proteção das margens e a
problematização prática no cotidiano da degradação destas águas.
As Unidades de Conservação (UC) foram apresentadas em uma retomada do
histórico da ilha baseada nas vivências e histórias de cada, verificando como se deu
e como se dá a ocupação do local e das diferentes classes sociais inseridas, em
como
ter
maior
infraestrutura
aliada
à
conservação
da
natureza,
e
conseqüentemente o porquê de discutirmos isso tudo e dos interesses de cada e do
poder público em ser Parque ou APA.
As situações propostas, mesmo no restrito tempo de duas noites, permitiram
aos participantes refletir a importância do ambiente social e natural na apropriação
real do seu local, aprofundando a consciência ambiental e coletiva, despertando-os
para cidadãos comprometidos e responsáveis ao avaliar suas interferências e as dos
outros na natureza e, com isso, desempenhar o verdadeiro papel político que lhes
cabe na busca de caminhos para uma vida mais qualificada.
1547
O MARINHEIRO, MARINHEIRO. MARINHEIRO NAS TRILHAS TURÍSTICAS.
As trilhas interpretativas são instrumentos efetivos da vivência com o meio, de
interação com o local por onde passamos e nos desperta para os contrastes e
nuanças da paisagem. Este despertar propicia elementos para o desenvolvimento
da educação e do lazer, apresentado de forma real e lúdica o ambiente e os fatos
aos residentes-visitantes, colocando a realidade para ser vista pela pessoa,
contribuindo para uma visão crítica dos problemas sócio-ambientais e coletivos
locais. Neste trabalho que buscou fundamentalmente a interação do residente com o
seu meio, estimulando a expressividade e o sentimento de importância de suas
características naturais e históricas e das suas manifestações culturais, as trilhas
interpretativas concretizaram essa intenção.
A interação consciente e constante com nosso espaço comum, com nossa
comunidade, possibilitada em uma trilha, provoca a visualização e avaliação das
ações que realizamos para o todo e para a compreensão da mesma e do ambiente
em que vivemos. Esta compreensão traz a identificação real do espaço e da cultura
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local além de propiciar um momento de reflexão que pode gerar atitudes capazes de
afetar comportamentos e posturas políticas.
As trilhas interpretativas têm a mesma raiz das trilhas turísticas dentro do
turismo responsável, uma vez que a idéia central é a de promover ao visitante, seja
ela turista ou residente, o contato com o entorno. Assim ao planejarmos a trilha
precisamos contemplar estes objetivos e preocuparmos em potencializar nossos
atrativos com a minimização de nossos impactos negativos, de modo a termos uma
atividade em harmonia com a natureza e com valorização da cultura.
Para delimitar o roteiro da trilha partiu-se do “Mapa da Ilha” com os pontos
relevantes levantados pelos participantes nos encontros de Educação Ambiental
(EA) e das questões e reflexões de interação e identificação do meio.
Partimos para a trilha, mapeando os pontos em um novo papel pardo e
descrevendo considerações e interpretações a respeito dos pontos de parada.
A ideia inicial foi de irmos coletando objetos pertencentes e não pertencentes
à natureza para depois juntarmos ao mapa e termos a visualização dos elementos
que compõe o ambiente. Ainda nesta ideia, posterior a reflexão socioambiental com
os elementos, estes podem construir instrumentos musicais ou um mural como
finalização da oficina.
Ao término da trilha, retornamos a escola para uma avaliação do trajeto, sua
duração, sua motivação, os pontos que todos gostaram mais e as facilidades de
acesso. Surgiu à proposta de transformar essa trilha em um produto turístico e
agenciar visitas guiadas pelos próprios residentes gerando uma nova frente de
trabalho.
A partir desta idéia do produto turístico, discutimos o número limite aceitável
de visitantes (capacidade de suporte) na trilha e a importância de uma conversa
sensibilizadora sobre o ambiente antes de iniciar o passeio, buscando garantir a
qualidade da experiência de todos bem como a sustentação do ambiente. Algumas
paradas foram descartadas pela dificuldade de acesso ou pela similaridade dos
atrativos. Considerou importante incluir um trajeto de barco com uma parada em
outra ilhota sem ocupação humana a fim de diversificar e aprimorar o passeio em si,
identificando a vegetação com menor interferência humana.
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A questão do monitor/condutor para a trilha foi estabelecida como um canal
de comunicação, de ensino-aprendizagem, onde sempre que se ensina se aprende
e sempre que se aprende se ensina, e de uma relação afetiva entre o intérprete e os
visitantes, essencial para a compreensão e o melhor resultado da vivência.
Atualmente o turismo responsável vem sendo uma alternativa de valorização
ambiental e social, de promoção da conservação do meio, de difusão da educação
conservacionista e de retorno socioeconômico para a população e para o
desenvolvimento local. Este turismo é aqui compreendido como uma atividade que
respeita as culturas locais, minimiza impactos ambientais, e complementa nossos
ideais de desenvolvimento, assegurando à comunidade melhores condições de vida
e reais benefícios, a satisfação aos visitantes e ao meio ambiente uma ferramenta
de conservação e valorização dos recursos naturais e das características culturais.
Na Ilha Grande dos Marinheiros tais premissas do turismo responsável
podem ser contempladas em sua realidade. A Ilha Grande dos Marinheiros reúne
características favoráveis para o desenvolvimento da atividade em sua história viva
da ocupação da Ilha com suas relações humanas e seus impactos ambientais; em
seu ecossistema local com o delta em sua geografia e ambiente de transição
natural-urbano; sendo uma Unidade de Conservação; e com sua comunidade já
articulada nas questões referentes à conservação da natureza local e políticas
públicas, com autonomia na organização em grupo e habilidade para realizar a
interface turista – comunidade. Somando a isto, ainda tem localização privilegiada
próxima do grande centro da cidade; infraestrutura para lazer já existente como o
Clube do Grêmio e as potencialidades que os membros da COOPAL têm
manifestado no trato com as questões ambientais 40 junto à capacidade que têm de
articulação e discussão coletivas, com a assessoria da Universidade e de outras
instituições.
Contudo, sem um planejamento participativo da comunidade e o desejo
manifesto de interesse destes, o que exige envolvimento e monitoramento contínuo
com medidas mitigadoras associadas no manejo dos atrativos e da trilha, e sem o
poder público em parceria no desenvolvimento das ações, essa mesma atividade
40
Em 2007 com ajuda de uma Organização Não Governamental (ONG) eles construíram um
projeto, com protótipo de uma mini usina de tratamento sanitário.
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pode apresentar problemas sérios tanto ambientais como sociais. Dentro desse
quadro, existe o risco de aumento da individualidade e da competitividade na busca
de “pegar o turista”, a desestruturação das relações sociais e familiares em frente às
relações momentâneas com os turistas e de valorização única do que o turista traz,
causa degradação ambiental advindos do crescimento do fluxo turístico com o
aumento da produção de lixo e esgoto, compactação e erosão do solo pelo pisoteio
e trânsito de veículos, entre outros.
O turismo em geral é um fator de valorização dos lugares, pois leva para
estes locais a promoção do simbólico e da conservação da natureza e novas fontes
de receita e de empregos. Por outro lado, sem planejamento exerce pressão sóciocultural nas sociedades residentes das regiões receptoras, incidindo sobre o modo
de vida e o comportamento das mesmas, conforme discuti Cazes (CAZES, 1996).
Posteriormente realizou-se a trilha com visitantes e estudantes de curso de
Turismo da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). A repercussão foi muito
positiva na comunidade com os turistas valorizando o local e gerando renda para a
condutora, para o barqueiro e para a cozinheira do lanche, e mostrando a real
possibilidade de uma nova frente de trabalho digno.
Contudo, atualmente o projeto do Turismo Responsável na Ilha Grande dos
Marinheiros está parado. Tentativas de viabilizar o roteiro foram feitas pelos
moradores com a orientação da Universidade, como promoção em eventos da
cidade41 e parcerias com a Prefeitura, mas com a morte de um dos líderes da
COOPAL por uso de droga, a dinâmica da vida que impossibilitaram outros
participantes da COOPAL de assumirem a frente este projeto, o afastamento da
UFRGS, restringindo apenas ao Núcleo de Economia Alternativa / Incubadora de
Cooperativas Populares a assessoria continuado, enfraqueceram a idéia e a
vontade da comunidade de navegar pelas trilhas do turismo.
41
No Fórum Social Mundial de 2005 a promoção teve resultados positivos com interesse do
grande público e algumas visitas realizadas.
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4. CONCLUSÃO
Acreditamos que o que torna relevante este trabalho é, sobretudo, ter
desafiado a Universidade a tornar prática às idéias defendidas pela academia em
especial a questão ambiental ligada à produção da vida, ou seja, o empoderamento
das comunidades que habitam áreas protegidas a partir do desenvolvimento local.
Outra questão importante é o saber escutar as comunidades quando essas
demandam intervenções de áreas do conhecimento em sua realidade de forma
interdisciplinar e não impondo um modelo autoritário de interdisciplinaridade que na
prática nada mais é do que um amontoado de disciplinas.
Mas a figura do agente social, conforme este trabalho apresenta baseado em
Paulo Freire não se nega a apresentar seu conhecimento e a forma que ele faz isso
é que fará a diferença. Pode ser de forma autoritária, impositiva (educação bancária)
ou pode ser dialogada, trocando conhecimentos em busca de uma terceira via
(dialógica). Acreditamos que nossa intervenção na Ilha dos Marinheiros foi f iel a esta
assertiva, pois conforme relatamos ao iniciarmos o Curso de Extensão havia sido
recém decretada a transformação de grande parte do Parque Estadual Delta do
Jacuí em APA. Nós problematizamos esta decisão de cima para baixo do governo
estadual com todo cuidado para não ferir as expectativas da comunidade.
Colocamos questões. Hoje, a comunidade reconhece que a ação do governo era
mera politicagem, pois até agora (2009) não foi formado o Conselho gestor da APA
(Área de Proteção Ambiental).
Acreditamos que foi possível trabalhar o (re)conhecimento e valorização do
espaço em que se vive, sua história e suas tradições, seu comportamento frente à
preservação e à degradação ambiental. Isto vem na compreensão que o meio
ambiente é um direito de todos e que sua proteção é um dever a ser partilhado, pois
afinal só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece.
Por fim, acreditamos que a partir deste trabalho foi possível inverter a lógica
da concepção de educação ambiental do governo estadual onde o cidadão era a
APA e o objeto era a comunidade. Nosso trabalho não mudou definitivamente a
situação precária daquela comunidade, mas serviu para instrumentalizar os atores
(em especial a COOPAL) na sua luta cotidiana por condições dignas de habitar e
viver em comunidade e ampliou seus horizontes de trabalho.
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Reconhecemos a importância de refletir acerca da responsabilidade da
Universidade em suas práticas de extensão em trabalho continuado, sabendo até
onde deve ir para garantir que a ideia germine e onde deve parar para não ter
conotação paternalista.
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O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL INFANTOJUVENIL NO TURISMO PARA ALÉM DA COPA DE 2014
Adriana Costa de Miranda
Mestre em Sociologia/Secretaria de Estado de Educação do DF
[email protected]
Juliana Viégas P. V. dos Santos
Especialista em Planejamento e Marketing do Turismo/
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília
[email protected]
RESUMO:
este artigo versa sobre a importância da permanência e do fortalecimento de
políticas públicas voltadas para o enfrentamento da exploração sexual comercial
infanto-juvenil no turismo no Brasil para além dos eventos: Copa do mundo de
Futebol e as Olimpíadas que serão realizados no país em 2014 e 2016,
respectivamente. O trabalho objetiva demonstrar a importância da formação dos
profissionais do trade turístico para a promoção dos direitos das crianças e dos
adolescentes brasileiros. O estudo teórico aprofundado do fenômeno da violência
sexual relacionado à gestão do turismo foi a metodologia utilizada e o principal
resultado aqui alcançado é a verificação da importância de traçar políticas públicas
para a gestão do turismo nacional capazes não só de denunciar os casos de
exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes, mas também, de
preveni-los.
Palavras-chave: Exploração sexual comercial; crianças, adolescentes, turismo.
ABSTRACT:
This article discusses the necessity of establishing strong and permanent public
policies to confront the commercial sexual exploitation of children in Brazil by tourists
beyond the following events: World Cup and the Olympic games, which will be held in
Brazil in 2014 and 2016 respectively. The objective of this work is to demonstrate the
importance of training professionals in the tourism trade to promote of the rights of
Brazilian children and adolescents. The theoretical study carefully examining the
phenomenon of sexual violence related the business of tourism is the methodology
used and the principal finding here is the verification of importance of outlining public
policies related to the management of tourism capable not only of indicting cases of
the commercial sexual exploitation of children and adolescents but of preventing
them.
Key-words: Commercial sexual exploitation; children, adolescents, tourism.
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A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL
A violência sexual contra a criança e o adolescente é um fenômeno social
mundial e “democrático” (AZEVEDO e GUERRA, 2000: 11), uma vez que atinge
crianças e adolescentes pertencentes aos diversos segmentos sociais, etnias e
culturas.
Tal fenômeno é, também, um problema social grave, pois compromete o
desenvolvimento físico e emocional saudável de meninos e meninas provocandolhes dor e sofrimento, arrasando-lhes a auto-estima e levando-os, por vezes, ao
auto-extermínio.
No Brasil, a violência sexual contra a criança e o adolescente tem suas bases
consolidadas na cultura patrimonialista e patriarcalista (COSTA, 1979; FREIRE,
2000). Significa dizer que, ao longo de nossa História, tanto a criança quanto o
adolescente não têm sido reconhecidos como sujeitos sociais, mas como um bem,
no caso, um objeto sexual que pode ser utilizado pelo adulto, tanto no espaço
privado quanto no espaço público.
Uma das expressões da violência sexual contra crianças e adolescentes é a
exploração sexual comercial42, que é definida como um tipo de violência que “ocorre
nas relações de produto e mercado por meio de venda dos serviços sexuais de
crianças e adolescentes pelas redes de comercialização do sexo pelos pais ou não”
(2009: 09).
Na maioria das vezes, as crianças e os adolescentes que são explorados
sexualmente por seus pais e mães pertencem a famílias que vivem em situação de
pobreza e de vulnerabilidade social. Porém, também podem ser explorados por
membros de redes de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes que
são formadas por diversos atores sociais, quais sejam: aliciadores, aliciadoras,
taxistas, caminhoneiros, cafetões, cafetinas, empresários e profissionais do ramo
hoteleiro, agentes de viagens e, por fim, os usuários.
As informações relativas ao fenômeno da exploração sexual comercial
infanto-juvenil no Brasil são recentes, pois foi só a partir do relatório da Comissão
42
A partir do Congresso de Estocolmo, na Suécia, realizado em 1996, que se definem quatro
dimensões da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, são elas: pros tituição, tráfico
de crianças e adolescentes, turismo voltado para a exploração sexual e pornografia infanto -juvenil.
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Parlamentar de Inquérito de 1993 que ocorreu a conscientização, a mobilização e a
ação de setores engajados da sociedade civil, dos poderes executivo, legislativo e
judiciário, da mídia e de organismos internacionais para o enfrentamento do
problema social em questão.
Essa mobilização resultou
numa maior visibilidade do fenômeno, na definição de estratégias, na
implantação de programas e na realização de pesquisas, campanha s,
notícias e reportagens na mídia, criação de bancos de dados, programas de
atendimento, prevenção, defesa e responsabilização, formação de agentes
sociais, atuação de policiais especializados na área de proteção ao
segmento infanto-juvenil e monitoramento legislativo. Tratava-se... de
enfrentar o desafio através da elaboração de um plano nacional integrado e
orgânico (MJ/SEDH/DCA, 2001: 9).
O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil
desde sua criação realiza, sistematicamente, a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres,
Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil –
PESTRAF – que organizou o seguinte quadro:
a maioria das mulheres, crianças e adolescentes são traficadas por redes
organizadas, através de rotas internacionais, intermunicipais e
interestaduais. Tais caminhos são estrategicamente desenhados para
atender sexualmente diferenciados modelos de clientela ao longo do trajeto.
A PESTRAF apontou 241 rotas de tráfico no Brasil. Destas, 131 levam
garotas e mulheres para o exterior, principalmente para a Espanha. Nas
demais 110 rotas transitam principalmente adolescentes traficadas entre
municípios e estados brasileiros. As rotas de tráfico para a exploração
sexual engrossam as estimativas do UNICEF sobre o número de crianças
que desaparecem todos os anos, que pode chegar a um milhão
(FALEIROS, 1997: 15).
É fundamental observar que o trato deste problema social tão delicado só foi
possível a partir da abertura política na década de 80, do fortalecimento do debate
acerca da democracia e da consolidação dos debates sobre os direitos das crianças
e dos adolescentes, bem como por serem reconhecidos como sujeitos sociais entre
os profissionais que atuavam na área da infância e da juventude. A culminância
desses debates foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na
década de 90.
Nesta recente perspectiva, formalizaram-se “os direitos e deveres individuais
e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
condição peculiar de desenvolvimento” (ECA, Art. 6º) que necessitam de cuidados e
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de proteção adequados à sua idade por parte do Estado, da família e da sociedade
para crescerem e se desenvolverem livres de toda forma de violência e opressão.
Apesar da gravidade do fenômeno apresentado, é difícil o seu enfrentamento
em função da organização da rede 43 de exploração sexual de seres humanos, da
desinformação de profissionais de áreas diversas e do medo do cidadão brasileiro
de denunciar casos ou suspeitas de casos de quaisquer expressões da violência
sexual.
Diante de tais dificuldades, é fundamental que ocorra a sensibilização, a
formação e a mobilização de profissionais das áreas diversas para que ocorra o
efetivo enfrentamento da exploração sexual comercial infanto-juvenil no Brasil. No
presente trabalho, o foco é o papel fundamental que os profissionais que atuam no
trade turístico nacional tem no referido enfrentamento, uma vez que estes
profissionais atuam diretamente junto a turistas brasileiros e estrangeiros.
Ressalvamos
que,
nesta
perspectiva,
estes
também
devem
ser
informados/educados sobre os direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros,
independente de serem ou não abusadores sexuais.
1557
O TURISMO DE ESPORTES E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Apresentado o problema da exploração sexual comercial infanto-juvenil no
Brasil passaremos a relacioná-lo ao turismo de esportes para que se possa
compreender porque eventos como a Copa Mundial de Futebol e as Olimpíadas
podem intensificar tal exploração sexual.
Primeiramente, para se compreender a complexidade do fenômeno turístico
nas localidades e nas comunidades, é necessário entender como é organizado o
turismo e a importância de sua segmentação para fins de planejamento, gestão e
mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos
de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda.
Com enfoque na demanda, a segmentação é definida pela identificação de
certos grupos de consumidores com interesses turísticos em comum. Neste sentido,
o turista que pratica o turismo de esportes tem como sua principal motivação a
realização de campeonatos, torneios e similares.
43
Chama-se de rede a organização de pessoas/profissionais que trabalham objetivando um mesmo
fim. Em relação à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, há redes organizadas
para fortalecê-la, bem como para enfrentá-la.
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De acordo com o Manual de segmentação do turismo do Ministério do
Turismo, o ato de viajar por razões esportivas e seus desdobramentos começa a ser
tratado como atividade turística particularmente no século XX e foi impulsionado pela
propagação da prática esportiva associada à imagem de vida saudável, culminando
com a popularização mundial das grandes competições esportivas como, por
exemplo, os jogos olímpicos, copas do mundo, jogos de inverno, dentre outros.
Assim, o Ministério do Turismo estabelece que: “o turismo de esportes compreende
as atividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de
modalidades esportivas” (2010).
De acordo com a definição acima, entende-se que o turista de esportes é
caracterizado tanto pelo esportista ou atleta como pelos observadores e ou
torcedores, participantes de eventos esportivos.
Nos próximos seis anos, o Brasil receberá os dois mais importantes eventos
esportivos mundiais: a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas do Rio
de Janeiro em 2016, caracterizados pela forte movimentação da economia e,
conseqüentemente, do setor de serviços e turismo.
As estimativas do Ministério do Turismo são de que a copa de 2014 traga ao
país entre 500 mil a 600 mil turistas. Dentro desta perspectiva, milhares de
empregos devem ser gerados, ainda que a maioria temporários, especialmente no
setor de serviços, impulsionado pelo maior fluxo de turistas.
Por trás de todos esses benefícios, há uma séria preocupação das
organizações que atuam na área de defesa dos direitos da infância, como também
das comissões organizadoras de grandes eventos esportivos que é a representada
pelo aumento do fluxo de turistas e o risco que este movimento causa para crianças
e adolescentes em situação de vulnerabilidade, pois ocorre o aumento do trabalho
infantil e da exploração sexual de crianças e adolescentes.
Segundo a Agência de Notícias dos Direitos da Infância, esta preocupação
fundamenta-se no relato de organizações internacionais que se dedicam ao
enfrentamento da violência sexual contra meninos e meninas. Estudos e relatórios
oficiais indicam que copas e olimpíadas anteriores registraram um preocupante
crescimento de casos de desrespeito aos direitos humanos de crianças de
adolescentes.
Neste sentido, no momento, os organismos internacionais se encontram
preocupados com o enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil para a
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próxima Copa Mundial de Futebol que ocorrerá nos meses de junho e julho de 2010
na África tendo como referência registros que apontam para o fortalecimento do
tráfico de meninos e meninas, voltado a atender a demanda da indústria do sexo.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, estima-se
que cerca de 400 mil crianças e adolescentes, anualmente, são traficadas entre as
fronteiras da África com interesses comerciais, prostituição, trabalho escravo e crime
organizado, sendo que há uma estimativa que cerca de trinta e oito mil crianças
possam ser vítimas de diferentes tipos de violência, em especial do trabalho infantil e
da exploração sexual durante o evento, devido ao grande “fluxo de mão de obra
masculina, ao aumento da movimentação financeira e ao fluxo de turistas nas
localidades que se tornam centros atrativos para a indústria do sexo” (2009: 12).
Diante dessas estimativas, torna-se necessário, o planejamento adequado do
evento com políticas e projetos de prevenção e enfrentamento à exploração sexual
infanto-juvenil, assim como, ações que restrinjam a atuação de pessoas e/ou
profissionais que desconheçam ou não demonstrem atenção em relação à
legislação pertinente à criança e ao adolescente em grandes eventos esportivos
como a copa e as olimpíadas. Contudo, é imprescindível que a iniciativa privada
esteja juntamente com os órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal,
empenhada em combater a exploração sexual comercial na atividade turística.
Como em qualquer grande evento que movimenta um enorme fluxo de
turistas e visitantes, os impactos devem ser previstos com muita antecedência, com
o intuito de minimizar os negativos e potencializar os positivos. Sediar uma copa do
mundo envolve diversas organizações nas várias localidades sedes do evento,
dentre elas: envolver a comunidade local nas oportunidades que surgirão de
emprego e renda, elaborar programas de enfrentamento a exploração sexual nos
empreendimentos que sirvam de ponto de partida para mudanças de paradigmas já
elaborados por turistas estrangeiros em relação, principalmente, às mulheres
brasileiras, aproveitando a oportunidade para mostrar ao mundo as belezas naturais
e culturais espalhadas nas doze cidades brasileiras que irão sediar o evento, assim
como o forte potencial brasileiro para a organização de grandes eventos em especial
eventos esportivos, são práticas que irão mitigar as conseqüências negativas do
turismo e fomentar informações positivas para o Brasil sobre o mundo.
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POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA
– propõe algumas ações que resguardam a criança e o adolescente não só da
exploração sexual comercial, quanto do trabalho infanto-juvenil na Copa e nas
Olimpíadas que serão realizadas no Brasil. São elas: 1. capacitação de policiais e
endurecimento do policial no tratamento destes crimes; 2. formação de cadeias
sistêmicas de produção para a Copa nas cidades onde ocorrerão os jogos, 3.
criação de Comissões de Direitos Humanos nas empresas e; 4. envolvimento dos
meios de comunicação em divulgar informações e dados relativos ao fenômeno,
bem como, em sensibilizar a população para o seu enfrentamento.
De acordo com as diretrizes nacionais de enfrentamento da exploração sexual
comercial de crianças e adolescentes, o Ministério do Turismo em seu Plano
Nacional de Turismo, 2007 – 2010 – Uma viagem de inclusão, desenvolveu, a partir
do Programa de Turismo Sustentável e Infância - TSI, as seguintes ações de
enfrentamento ao problema posto, de acordo com sua coordenadora, Elizabeth
Bahia: 1. capacitação de 850 jovens a serem inseridos no mercado de trabalho do
turismo em 12 cidades brasileiras no biênio 2008 – 2009; 2. campanhas de
comunicação e divulgação do disque-denúncia nacional 100 com aproximadamente
475 mil materiais de promoção distribuídos junto ao trade turístico e à sociedade
civil; 3. realização de 52 seminários em todo o Brasil que incentivem o empresariado
a prevenir e denunciar qualquer forma de exploração à pessoa humana nos
equipamentos turísticos; 4. apresentação no IV Salão do Turismo de um
documentário e dois filmes de curta-metragem; 5. participação do Programa TSI em
quarenta reuniões internacionais e; 6. realização de parcerias, convênios e
cooperações técnicas, como exemplo, a realizada entre o Centro de Excelência em
Turismo – Universidade de Brasília e o Ministério do Turismo objetivando realizar
cursos sobre o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas
cidades sede da Copa do Mundo de 2014.
Todas estas ações são relevantes para o enfrentamento da violência sexual
comercial infanto-juvenil, no entanto, não deveriam ser adotadas apenas no decorrer
destes eventos, mas no nosso dia a dia até que os direitos das crianças e
adolescentes brasileiros estivessem promovidos de fato.
No entanto, chamamos a atenção para o fato de que estas ações não são
suficientes para resguardar nossas crianças e adolescentes de múltiplas situações
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de violência em eventos esportivos como a copa e as olimpíadas e fora deles, se
não for oferecida formação continuada a todos os profissionais que lidam com eles,
sendo que, toda formação deve ter por princípio sensibilizá-los para a promoção dos
direitos da criança e do adolescente a partir dos parâmetros sócio-culturais
responsáveis por mantê-las sem voz nem vez ao longo da nossa história.
Da mesma forma devem ser formados os profissionais do trade turístico que,
por outro lado, lidam diretamente com adultos, homens e mulheres, brasileiros e
estrangeiros.
Chamamos a atenção para a referida sensibilização nas formações
propostas, pois o arcabouço cultural recai sobre todos nós e isto, por vezes, dificulta
a identificação de uma expressão de violência contra a criança e o adolescente e a
ação para coibi-la. Por exemplo, o profissional que aprendeu que os pais tem o
direito de educar os filhos como bem entenderem, dificilmente tentará impedir o
espancamento de uma criança que esteja sendo corrigida por seus responsáveis de
um comportamento considerado indesejado.
No âmbito da violência sexual isto também ocorre, apesar desta ser a
expressão de violência contra a criança e o adolescente 44 que mais causa revolta
social (GAUDERER e MORGADO, 1992).
Além da sensibilização para a condição de ser criança e adolescente no
Brasil, outra questão que deve ser trabalhada de forma pontual nas formações é o
conceito de enfrentamento da violência sexual.
A palavra „enfrentar‟, significa: “encarar; defrontar; ficar frente a; pôr-se frente
a” (FERNANDES, 2001, -), quer dizer, o termo indica a necessidade dos atores
sociais despojarem-se de suas dificuldades emocionais, de suas crenças, para
poderem „colocar-se frente‟ a si mesmos e a situações de violência sexual para,
então, procurar solucioná-las.
O termo „enfrentar‟ também distingue-se do termo „combater‟ que significa
“sustentar combate contra; opor-se a; impugnar; atacar; contestar; pelejar; lutar;
debater-se; estar em conflito” (FERNANDES, 2001, -). Em situações de violência
sexual contra a criança e o adolescente, muitas vezes, o desejo é de vingança
contra o(a) agressor(a) sexual, em última instância, o desejo é de matá-lo. No
44
As expressões de violência contra a criança e o adolescente são classificadas em: física, sexual,
psicológica e negligência, podendo ocorrer de forma sobreposta ou não (AZEVEDO e GUERRA,
2000: 10).
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entanto, os estudos a respeito de interações sexuais violentas tem mostrado a
necessidade de agir de forma a punir legalmente o(s) agressor(es), e de encaminhálo(s) a tratamento psicológico, pois muitos deles/delas já sofreram algum tipo de
violência sexual, geralmente, intrafamiliar.
Por fim, além da denúncia do(a) agressor(a) sexual, a prevenção também é
uma estratégia fundamental de enfrentamento à exploração sexual comercial
infanto-juvenil.
Aqui nos remetemos novamente à formação continuada dos profissionais do
trade turístico, porque é a partir dela que estes profissionais poderão traçar ações de
prevenção a este problema social, conforme sua realidade, porque cada contexto
social, cada momento histórico tem especificidades que devem ser consideradas,
pois, conforme mostrado anteriormente, o problema em momentos de eventos, como
a copa do mundo, tem características distintas de outros espaços turísticos.
Alguns dos benefícios da formação profissional voltada para a prevenção da
exploração sexual são:

favorecimento do estudo, do diálogo e do questionamento dos diversos
atores sociais em relação ao fenômeno em questão. É importante para
romper o silêncio sobre a questão, desvendar mitos e levar à
compreensão de que a criança e o adolescente são sujeitos sociais,
sujeitos de direito;

conhecimento da rede local de proteção da criança e do adolescente. É
importante porque dá ao profissional do turismo conhecimento de que
ele pode contar com a colaboração de profissionais de outras áreas no
encaminhamento de crianças e adolescentes vítimas de exploração
sexual comercial aos serviços de atendimento especializados;

sensibilização dos profissionais do turismo quanto a urgência de sua
inserção na rede local de proteção da criança e do adolescente. É
importante para fortalecer o enfrentamento de toda expressão de
violência contra a criança e o adolescente, bem como, para a
promoção de seus direitos;

organização de estágios para aprendizes 45 na área de turismo como
forma de gerar empregabilidade com mão-de-obra local. É importante
45
Segundo o ECA, aprendiz é o menor a partir de 14 anos.
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para dar conhecimento a adolescentes que o campo turístico é rico e
merece ser explorado de forma a gerar emprego, sustentabilidade
ambiental e inclusão social e não a exploração sexual e de mão de
obra;

criação de código de conduta para proteção de crianças e
adolescentes contra a exploração sexual nos empreendimentos
turísticos para que tanto o turista, quanto os funcionários das empresas
tenham clareza em relação às normas da empresa.

fortalecimento das ações realizadas pelo Programa de Turismo
Sustentável e Infância do Ministério do Turismo iniciadas em 2007 nas
12 cidades onde serão realizados os jogos da Copa do Mundo 2014 e
para além dela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os números da exploração sexual de crianças e de adolescentes no Brasil
mostram que há necessidade de haver uma melhor distribuição de renda no país
para que as famílias que vivem em situação de pobreza tenham maior acesso a
bens materiais e culturais capazes de abrir-lhes novas perspectivas sociais,
perspectivas onde a criança e o adolescente sejam reconhecidos e tratados como
sujeitos sociais e não mais objetalizados, explorados.
No entanto, sabemos que esta é uma decisão política que depende da
vontade de nossos governantes e das ações da sociedade civil organizada em prol
da promoção dos direitos sociais, que já está ocorrendo, mas a passos lentos.
A necessidade urgente é a de quebrar o silêncio e falar sobre a exploração
sexual comercial, o que é primordial para alertar a sociedade sobre um problema
que lesa física, emocional e/ou psicologicamente milhares de crianças. É a
informação que dá condições de conhecermos este problema e dele nos
defendermos.
A informação também é capaz de mexer com a nossa formação cultural, de
transformar nossa mentalidade a ponto de nos responsabilizarmos pelo crescimento
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saudável das crianças e dos adolescentes brasileiros e não de culpabilizá-los pela
situação de risco em que vivem46.
Assim, é fundamental que o trade turístico esteja sempre em formação e
alerta para a promoção dos direitos da criança e do adolescente não só em
momentos de realização de Copas ou Olimpíadas, mas continuamente, pois só
assim poderemos transformar de fato nossa realidade. Deve haver permanência das
políticas públicas voltadas para a gestão do turismo no Brasil no que diz respeito ao
enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes.
Ressaltamos a importância do profissional do turismo compor a rede de
proteção da criança e do adolescente de sua localidade para fortalecer suas ações,
agir de forma segura e contribuir diretamente para a mudança da imagem do Brasil
no exterior, fazendo com que o país seja cada vez mais conhecido e admirado pelas
suas características naturais e culturais, assim como pela excelência nos serviços e
na hospitalidade.
REFERÊNCIAS
ANDI. „Exploração sexual de crianças e adolescentes na Copa e nas Olimpíadas:
não queremos o Brasil neste pódio‟ in Direitos, Infância e Agenda Pública / Agência
de Notícias dos Direitos da Infância. Brasília: ANDI, 2009.
AZEVEDO, Maria Améilia e GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. TELELACRI
2000. São Paulo: Edusp, 2000.
BRASIL. Ministério da Justiça. SEDH/DCA. Plano nacional de enfrentamento da
violência sexual infanto-juvenil. Brasília: MJ/SEDH/DCA, 2001.
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: CONANDA, 1997.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1979.
FALEIROS, Vicente de Paula e FALEIROS, Eva Tersinha Silveira (coordenadores).
Fundamentos e políticas contra exploração e abuso sexual de crianças e
adolescentes – relatório de estudos. Brasília: MJ/SNDF/DCA/CECRIA, 1997.
FERNANDES. Dicionário Brasileiro Globo. São Paulo: Globo, 2001.
FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala: formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 2000.
GAUDERER, E. Christian e MORGADO, Kátia. Abuso sexual na criança e no
adolescente. Jornal de Pediatria: vol. 68, 1992.
http://www.jornaldeturismo.com.br acessado em 19 de março de 2010.
HTTP://www.turismo.gov.br/turismo/home.html acessado em 28 de janeiro de 2010.
46
A proposta de redução da maioridade penal no Brasil vai nesta linha de raciocínio, pois o que se
pretende é punir cada vez em mais tenra idade o adolescente sem que haja qualquer endurecimento
de punição para os adultos que os utilizam para cometer crimes ou políticas públicas de
empregabilidade e de distribuição de renda capazes de retirar crianças, adolescentes e suas famílias
de situações de pobreza que as deixam vulneráveis socialmente.
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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual
infanto-juvenil / Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
/Departamento da Criança e do Adolescente. Brasília: MJ, 2001.
UNICEF. Situação Mundial da Infância 2009 / Fundo das Nações Unidas para a
Infância. Brasília: UNICEF, 2009.
ZACARIAS, Nilza Valéria. „Conceituando a exploração: crianças como mercadorias‟.
Revista Transformação. Exploração Sexual: Infância Roubada. Recife, ano XVII, p.
5, maio. 2006.
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O ESTUDO DO PERFIL DO TURISTA QUE VISITA A CIDADE DE GOIÂNIA COMO
UMA CONTRIBUIÇÃO AO PLANEJAMENTO LOCAL
Clarinda Aparecida da Silva
Profª do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/IFG
[email protected]
Rosiane Dias Mota
Mestranda/Universidade Federal de Goiás
[email protected]
RESUMO
Esse estudo objetivou-se em analisar o perfil do turista que visita a cidade de
Goiânia, levando em conta as suas motivações, percepções, preferências e
sugestões em relação à infraestrutura, aos serviços e à atratividade local. O turismo,
se bem planejado e executado, pode ser um vetor de desenvolvimento sócioespacial. Portanto, o estudo do perfil do turista é um dos instrumentos que deve ser
implementado para subsidiar as ações, programas e planos adequados à captação
de turistas, às necessidades da demanda e à apropriação do espaço urbano. Os
resultados desta pesquisa apontam, além das características do turista que visita
Goiânia, o olhar desses visitantes sobre o espaço urbano, suporte da atividade
turística. Esses dados revelam que ainda não há uma fusão de ações do
planejamento urbano com a prática do turismo. Faz-se necessária a implementação
de ações que ordenem o crescimento urbano, articulando a oferta turística e a visão
da cidade, sobretudo, como espaço de existência das pessoas.
Palavras-Chave: planejamento local; demanda turística; Goiânia, atrativos.
ABSTRACT
This study was objectified to analyze the profile of the tourist who visits Goiânia,
leading in account its motivations, perceptions, preferences and suggestions in
relation to the infrastructure, the services and the local attractiveness. The tourism, if
planned well and executed, can be a vector of partner-space development.
Therefore, the study of the profile of the tourist, he is one of the instruments that must
be implemented to subsidize the adequate actions, programs and plans to the
captation of tourism to the necessities of its demand and the appropriation of the
urban space. The results of this research point, beyond the characteristics of the
tourist who visits Goiânia, the look of these visitors on the urban space, support of
the tourist activity. These datas disclose that not yet it has a fusing of action of the
urban planning with the practical one of the tourism. It becomes necessary the
implementation of actions that command the urban growth articulating offer tourist
and the vision of the city, over all, as space of existence of the people.
Key words: local planning; tourist demand; Goiânia, attractive.
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INTRODUÇÃO
Cada cidade é singular e oferece um espetáculo diferenciado, centraliza
uma série de possibilidades que criam um grande poder de sedução.
(CASTROGIOVANNI, 2001, p. 7/8).
As cidades, conforme as palavras de Castrogiovanni
são espaços
privilegiados com relação à concentração de serviços, símbolos e atrações culturais
que possibilitam um maior incremento da oferta e da demanda turística. Contudo, é a
apropriação e funcionalização desses espaços pela atividade turística que n os
permite designar uma cidade como turística. “O lugar turístico existe em função da
prática do turismo que lhe dá uma existência, uma identidade própria e singular”
(ALMEIDA, 2004, s/p).
Nesta perspectiva, a cidade de Goiânia, devido a sua posição estratégica no
centro do país, sua condição de capital goiana e de porta de entrada para o estado
de Goiás, sua infraestrutura para determinados serviços públicos e para eventos,
vem adquirindo importância cada vez maior no cenário do turismo, projetando uma
nova identidade no cenário nacional.
O crescimento desse setor vem desencadeando um incremento na receita
local, pois abrange um amplo e diversificado conjunto de atividades econômicas
principalmente no setor de serviços e comércio, atrelado à geração, direta ou
indireta, de emprego e renda. Além disso, esta atividade proporciona a dotação de
infraestrutura urbana e uma diversificada oferta de lazer, que também são
instrumentos para melhoria da qualidade de vida e satisfação das necessidades
humanas e sociais da população local. Portanto, capaz de mobilizar grandes
contingentes de pessoas, o turismo de qualquer natureza, se bem planejado e
executado, pode ser um vetor de desenvolvimento sócio-espacial47.
Todavia, não podemos esquecer que a prática turística implica em
transformações significativas, e as vezes negativas, na forma e na dinâmica
territorial. Os núcleos receptores de turistas, segundo Almeida (2004), sofrem
47
Compreendido como um processo de superação de problemas e conquista de condições
(culturais, técnico-tecnológicas, político institucionais, espaço territoriais) propiciadoras de maior
felicidade individual e coletiva o desenvolvimento exige a consideração simultânea das diversas
dimensões constituintes das relações sociais (cultura, economia e política) e também do espaço
natural e social (Souza, 2002, p.18-19).
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diversas transformações socioespaciais, tais como: infraestruturas montadas e/ou
apropriadas em função da acessibilidade dos visitantes; infraestrutura de
hospedagem, de alimentação, lazer e de serviços em geral. Ainda com a autora, o
“turismo é capaz de reorganizar sociedades inteiras para que ele possa acontecer,
mormente apoiado por políticas ditas de desenvolvimento que “redescobrem”
regiões eleitas como turistificáveis.”
Por conseguinte, o planejamento para a atividade turística [...] “deve ser parte
de vários outros planejamentos destinados ao meio ambiente urbano, ao agrário,
vistos de forma integrada e global” (ALMEIDA, 2004, s/p). O turismo executado de
forma planejada e organizada é um vetor, porém não o único, de desenvolvimento
sócio-espacial. É preciso considerar que tanto a participação efetiva da população
local, quanto às peculiaridades – sociais, naturais, econômicas e culturais - que
singularizam os lugares constitui-se em referenciais a serem incorporadas no
planejamento e na gestão do turismo (ibd). O planejamento turístico é apenas uma
das facetas de um planejamento urbano abrangente e integrado.
Nesse contexto, o estudo do perfil do turista é um dos instrumentos que deve
ser implementado para subsidiar as ações de sensibilização quanto ao uso do
espaço urbano e turístico; no tocante à implementação de infraestrutura e serviços
turísticos adequados e à preparação de recursos humanos, dentre outras estratégias
voltadas para o turista, para o fortalecimento da comunidade local e defesa do meio
ambiente. A investigação do perfil do turista confere aos planejadores e gestores da
atividade turística a possibilidade de conhecer as características de cada segmento
do turismo para a avaliação dos programas implantados. Nas palavras de O liveira
(2000, p. 38):
Conhecer as razões que levam os turistas para uma região, seus hábitos,
costumes e o que eles esperam no local visitado é importante para o
turismo receptivo, porque ter conhecimento prévio sobre o interesse dos
visitantes permitirá realizar um plano de empreendimento turístico e de
marketing de acordo com o desejo dos visitantes [...].
Com isso, esse estudo possibilita a definição de novas ações, programas e
planos adequados à captação de turistas, às necessidades da demanda e à
apropriação do espaço urbano.
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A ATIVIDADE TURÍSTICA NO CONTEXTO DA CIDADE DE GOIÂNIA
A cidade de Goiânia dispõe de uma rede hoteleira relativamente grande, um
diversificado serviço de restauração e um conjunto de equipamentos de infra
estrutura de apoio ao turista como: um moderno centro de convenções, pavilhão de
exposições, diversas feiras industriais e um parque de exposições agropecuárias. De
acordo com Duarte (2002), a grande quantidade de estabelecimentos de
hospedagens, de várias categorias e origens, leva-nos a supor a existência de uma
demanda considerável. Todo este investimento somente ocorre porque os grupos
hoteleiros vêem o grande potencial que existe na cidade para o turismo.
Todavia o conhecimento da demanda turística e a formação de banco de
dados é uma das maiores necessidades atuais das políticas públicas estaduais e
municipais e de todo o trade turístico goianiense, os quais esbarram na ausência de
um sistema de informações a respeito desta atividade. Segundo Lemos (2001, p.
42):
Nós, os pesquisadores do turismo, temos uma parcela de culpa ao
propormos o foco da busca de informações por meio de inventários,
examinando somente o lado da oferta. Obviamente essencial, a oferta
turística nos demonstra potenciais que podem ser transformados em valores
turísticos. Mas não devemos esquecer que esses valores só são validados
quando chancelados pela demanda – os turistas – e produzidos pelos
agentes econômicos do turismo.
Portanto, ainda com o autor, é necessário o incentivo à pesquisa e a
formação de núcleos de investigação como suporte às decisões dos agentes do
mercado e às ações das políticas públicas de turismo. Fazendo isto, os responsáveis
pela atividade turística (poder público, comerciantes, academia, trade turístico em
geral) estarão ampliando o ciclo de vida do produto turístico.
Por esta ótica, é que nos empenhamos em procurar identificar e analisar o
perfil do turista que visita Goiânia, levando em conta as suas motivações,
preferências e sugestões em relação à infraestrutura, aos serviços e à atratividade
local. Colocado o desafio, algumas questões centrais orientam nossa investigação:
Quem é o turista que visita Goiânia? Qual a origem desse turista? Qual a motivação
da viagem? Que tipo de produtos ele consome? Qual o meio de transporte e de
hospedagem ele utiliza? O que ele gostaria de fazer? O que chama atenção desse
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turista na cidade de Goiânia? A identificação e análise desses e outros
questionamentos permitiu apontar algumas das percepções, preferências e
sugestões dos turistas quanto à atratividade da cidade e em relação aos produtos e
serviços turísticos oferecidos.
O TURISTA QUE VISITA GOIÂNIA: A INVESTIGAÇÃO
Para o alcance dos objetivos propostos na investigação 48 construímos um
conjunto de estratégias que nortearam a pesquisa. Dentre elas podemos destacar o
levantamento bibliográfico e documental pertinente a temática e à aplicação de um
questionário com questões abertas e fechadas como técnica de coleta de dados.
Este instrumento de investigação foi aplicado, a uma amostra não probabilística
acidental de 423 turistas, em locais pré-estabelecidos como nos terminais rodoviário
e aeroviário, nas feiras livres, em hotéis, em casas de apóio a visitantes para
tratamento de saúde, dentre outros espaços comuns a diversos tipos de turistas.
Entre os entrevistados 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino,
os quais se encontram na faixa etária média entre 26 a 55 anos. Quanto ao estado
civil 46% são casados, 41% solteiros, 10% divorciados e os outros 3% viúvos. O
levantamento mostrou também que 55% dos turistas viajam sozinhos e 45%
acompanhado por
familiares,
provavelmente,
justifica pela
se
amigos ou grupos/excursão.
quantidade de estudantes,
Um perfil que
comerciantes,
vendedores e representantes de empresas, dentre outros profissionais que a cidade
recebe para congressos, negócios e eventos 49.
Com base nos dados levantados constatamos que 34% dos turistas
entrevistados vêm a Goiânia, motivados pela realização de Negócios. No entanto, a
visita a parentes e amigos também atrai 24% desses visitantes. Outra motivação
relevante para 16% dos entrevistados é a participação em Convenções e
Congressos. A infraestrutura oferecida pela cidade, com uma rede hoteleira e
48
Essa pesquisa foi realizada em 2008, mas atualmente está send o ampliada através do projeto
“Analise do perfil do turista que visita municípios indutores do turismo em Goiás: uma contribuição ao
planejamento”, em desenvolvimento através da parceria entre a Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado de Goiás/FAPEG e a Coordenação de Turismo e Hospitalidade do IFG. Os municípios
considerados indutores do turismo nesse projeto são: Goiânia, Caldas Novas, Aruanã, Rio Quente,
Alto Paraíso, Goiás e Pirenópolis.
49 “Turismo de Negócios e Eventos compreende o conjunto de atividad es turísticas decorrentes dos
encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional,
técnico, científico e social” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p. 6).
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gastronômica diversificada e vários tipos de espaços para eventos, explica a
relevância destas motivações. Já o fato da capital goiana ser referência nacional no
tratamento de câncer, queimaduras, doenças tropicais e outras enfermidades,
impulsionou a vinda de 12% dos pesquisados. Os 14% restantes se dividem entre
recreação e férias, compras e outros motivos (Figura 1).
Figura 1: Motivação dos turistas para visitar
Goiânia
5% 3%
6%
34%
12%
16%
24%
NEGÓCIOS
VISITA A PA RENTES E A MIGOS
CONV ENÇÕES E CONGRESSOS
SAÚDE
OUTROS
1571
RECREA ÇÃO E FÉRIAS
COMPRAS
Paralela a essa questão, indagamos se os pesquisados também visitam
outras
cidades
do
estado
de
Goiás
durante
sua
estadia
na
capital.
Surpreendentemente, 69% dos sujeitos afirmaram que não visitaram nenhuma
cidade além de Goiânia. Isto mostra que, em sua maioria, quem vem à Goiânia tem
uma motivação relacionada diretamente à capital.
Em relação ao local de origem, 32,8 % dos entrevistados são provenientes do
interior do Estado de Goiás e 65,2% vieram de outros Estados do Brasil,
principalmente de São Paulo, Brasília e Tocantins. De origem estrangeira encontrase apenas 2% da amostra (Figura 2).
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Figura 2: Local de origem do turista que visita Goiânia
35,0
31,1
30,0
25,0
20,0
15,0
9,8
10,0
8,1 7,8
5,0
1,7
5,9 5,4
3,4
3,7
2,2 1,0
2,0
0,7
5,9
0,7
2,4
2,0 1,2 2,0
0,5 1,2 0,7
0,2 0,2
0,2
Á
A
AI
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-C
AP
IT
AL
0,0
A maior parte destes turistas (70%), conforme mostra a figura 3, utiliza o
transporte rodoviário - geralmente, ônibus estaduais e interestaduais - para chegar à
Goiânia. Os outros 30% vêem por meio aéreo. Porém, o predomínio do transporte
rodoviário em detrimento do aéreo pode ser explicado, por um lado, pelo número de
turistas provenientes de municípios do interior do Estado de Goiás, providos apenas
dos meios terrestres de deslocamento. Por outro lado, muitos visitantes são oriundos
de estados vizinhos e a relação distância-tempo-custo, explica a preferência por
essa modalidade de transpor te.
Figura 3: Meio de transporte
8%
18%
CARRO
AVIÃO
ÔNIBUS
44%
OUTRO
30%
A análise dos dados sobre os meios de hospedagem utilizados por esses
turistas revela a preferência pela casa de parentes e amigos como principal forma de
hospedagem
(Figura
4).
A
expressividade
desse
tipo
de
hospedagem,
provavelmente, se explica pela demanda que a cidade recebe provinda do interior do
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estado contando com apoio de parentes e amigos na capital. Essa prática de
hospedagem diminui o custo financeiro da viagem para o turista. Porém, implica na
redução do consumo de produtos e serviços turísticos das cidades receptoras.
Figura 4: Meio de hospedagem do
turista em Goiânia
44%
1%
2%
2%
4%
4%
43%
CASA DE PARENTES/AMIGOS
HOTEL
NENHUM
ALOJAMENTO
CASA DE APOIO
OUTROS
POUSADA
Outro meio de hospedagem importante para o fluxo turístico na capital são os
hotéis, utilizados por 43% dos pesquisados. As demais formas de hospedagem
dividem-se entre pousadas, alojamentos, apartamentos alugados, casas de apoio,
hospitais como acompanhantes de pessoas enfermas. O conhecimento dos tipos de
hospedagem utilizados permite a identificação da oferta hoteleira predominante nas
escolhas dos turistas para que se possam oferecer os padrões de hospedagem, e os
serviços mais adequados.
No que se refere à renda salarial, destaca-se uma maioria (43,8%) que ganha
de 1 a 3 salários mínimos, conforme mostra a figura 5. Verifica-se uma estreita
relação entre a renda salarial e os valores consumidos na cidade, porque maior
parte desses sujeitos (53,4%) gasta somente até 100 reais por dia.
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Figura 5: Faixa de renda salarialdo turista que
visita Goiânia
43,8
19,6
16,1
11,0
8,8
O
U
FO
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20
DE
20
IN
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11
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10
5
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3
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3
SA
LÁ
R
IO
S
0,7
Além dessas características do turista que visita Goiânia, cabe ainda destacar
o olhar desses visitantes sobre o espaço urbano, que é o suporte da atividade
turística. Por conseguinte, gerir o turismo urbano remete inevitavelmente à
compreensão dos processos de reestruturação e valorização do espaço urbano
SIVIEIRO (2005). Nesse caso, as políticas públicas devem assumir atividades que
orientem a organização e o desenvolvimento do turismo no que se refere à
infraestrutura urbana, ao saneamento e ao sistema viário. Os investimentos em
infraestrutura urbana e turística fortalecem o município como lócus privilegiado para
a prática do turismo. Essas ações devem propiciar uma ambiência favorável aos
fluxos turístico e, sobretudo, permitir a elevação das condições materiais de vida das
populações residentes.
Vale ressaltar que um número expressivo de pesquisados (63%) já visitou
Goiânia mais de 3 vezes (figura 6). A quantidade de visitas, somado ao tempo de
permanecia na capital pode ser uma interessante fonte de receitas para o destino.
Além disso, contribui para uma análise mais ampla do visitante em relação à base
material, econômica e aos serviços prestados a cidade. Entendemos que, quanto
mais tempo o turista fica em uma localidade, mais ele usa a infraestrutura local e,
assim se tem mais subsídios para avaliar.
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Figura 6: Quantidade de visitas à Goiânia
15%
10%
1
2
3
63%
12%
MAIS DE 3 VEZES
Constatamos uma percepção positiva dos pesquisados quanto aos serviços
de telefonia, limpeza urbana e, principalmente, de segurança. É relevante a
avaliação qualitativa de 96,07% dos sujeitos em relação à segurança da cidade. No
que se refere à limpeza urbana, 75,73% consideraram como satisfatória. Já os
serviços de telefonia receberam um índice de satisfação de 71,12% dos
entrevistados.
Em contrapartida, a sinalização da cidade apesar de ter sido avaliada como
satisfatória pela maioria (63,47%) dos sujeitos, sofreu várias reclamações
relacionadas, principalmente às diferentes denominações atribuídas às ruas e
praças da cidade. Já o transito da capital teve o pior desempenho na avaliação do
turista. Entre os entrevistados, (49,88%) declararam insatisfação com o número de
automóveis nas ruas e com o comportamento dos motoristas.
Os olhares pesquisados mostram que ainda não há uma fusão de ações do
planejamento urbano com a prática do turismo. Alguns serviços turísticos não são ou
poucos são utilizados pelos visitantes. Por um lado, percebemos um relevante grau
de satisfação dos turistas que utilizaram o setor hoteleiro. Somado aos serviços
hoteleiros, a rede de bares e restaurantes de Goiânia é destacada como de boa
qualidade por 49,74% dos turistas. Já no que se refere às diversões noturnas da
capital, constatamos que 58% dos turistas não usam este equipamento, justificando
não dispor de tempo. Entre aqueles (42%) que utilizam esses serviços, 38% deles
demonstram um relevante grau de satisfação.
Por outro lado, uma porcentagem considerável de turistas (65,06%) afirmou
não ter utilizado qualquer tipo de informações turísticas. Em decorrência da
ineficácia desse tipo de serviço, 61% dos visitantes não se interessaram por
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passeios/city tours e reclamam da falta de locais para visitar ou de agências que
promovam estes passeios. Esse fator deve proporcionar preocupação aos
profissionais do turismo. As formas de consumo do produto turístico e o interesse
pela atratividade da cidade estão estreitamente relacionados às informações sobre
essa atividade e, consequentemente, ao ciclo de vida do turismo e ao incremento na
receita da localidade receptora.
Os poucos atrativos visitados - parques, shopping centers e feiras livres - se
sobressaem nos meios de divulgação e promoção da cidade e entre as opções de
passeios registradas em guias ou revistas ligadas ao turismo e lazer. As
atratividades da cidade - sua história, objetos, monumentos e tradições que
constroem a identidade local - ainda não são aproveitadas a contento, ou nem
mesmo entendidas e divulgadas como elementos essenciais para a atividade
turística.
Com isso, nenhum atrativo cultural da cidade se destacou ao olhar dos
visitantes. Este aspecto mostra que os monumentos, o patrimônio cultural art déco,
os mercados municipais e outros espaços vinculados à história da cidade, apesar de
sua relevância como elemento de identidade local não se evidenciam ao olhar do
turista. Uma justificativa possível para esse fato, como mencionamos anteriormente,
é a falta de informação turística. A contribuição dos hotéis, dos guias de turismo,
motoristas de táxi, dentre outros profissionais direta ou indiretamente ligados á
atividade turística, em relação a esse quesito é pequena. Uma quantidade
expressiva dos turistas afirmou que as informações obtidas sobre os atrativos da
cidade foram oriundas de amigos ou parentes. Esse fato remete-nos ao seguinte
questionamento: Os locais de importância histórica e cultural de Goiânia não são
conhecidos desses amigos e parentes que vivem em Goiânia?
Segundo Silva e Mancini (2008) a população de uma cidade, para tornar -se
promotora dos bens que fazem parte de sua vida, deve conhecer e compreender os
aspectos culturais, a história e a atratividade do local em que vive. Nessa
perspectiva Goiânia requer políticas publicas de turismo que contemplem a
implementação de programas de educação patrimonial e turística. O processo
educativo - formal ou não formal - deve propiciar a formação de sujeitos ativos e
participativos nas ações de proteger e divulgar seus bens patrimoniais e turísticos e,
consecutivamente, contribuir para um turismo responsável.
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1576
Ademais, os profissionais do turismo a fim de serem especulativos e, com
isso, mais criativos, necessitam sempre criar estratégias que visam despertar o
visitante para perceber as características significativas da cidade. Todo núcleo
receptor precisa revelar o potencial da cidade através do aproveitamento
valorização, promoção e divulgação de todos os atrativos. Os profissionais do
turismo, os comerciantes, administradores e planejadores da atividade turística e
outros que compõem o trade turístico precisam reconhecer esse papel como de
suma importância para com a cidade e para a relação com o visitante.
CONCLUSÃO
Os dados apresentados permitem constatar a necessidade da oferta de
serviços de receptivo consolidados em Goiânia. Esses serviços devem atender
turistas individuais ou mesmo em grupos que se interessem pelos atrativos turísticos
da cidade. É fundamental que as agências de receptivo se conscientizem sobre a
existência de uma demanda potencial e organizem roteiros turísticos que retratam a
atratividade e os significados da cidade do ponto de vista econômico, social, cultural
1577
e turístico.
A promoção de cidades como destino turístico implica em criar e/ou divulgar
produtos e serviços que permitam diversas escolhas conforme o desejo e as
necessidades dos consumidores/turistas (Duarte, 2002). Um turista poderá encontrar
um elemento do seu total interesse num espaço urbano aparentemente desprovido
de significados turísticos, pois uma necessidade ou um desejo podem ser
previamente, despertados no visitante (CASTROGIOVANNI, 2001).
Cumpre destacar que, apesar dos problemas levantados, um alto índice de
visitantes revelou a intenção de retornar. A forma com que os visitantes são tratados
é um diferencial que caracteriza esse desejo de voltar. Em Goiânia, a expressão
“cidade acolhedora” caracteriza a cidade como hospitaleira e as respostas da
maioria dos entrevistados confirmam esse valor da população goianiense.
Cabe, porém, às políticas publicas e a todo o trade turístico goianiense pensar
a cidade como atração capaz de proporcionar o desfrute e a experiência da
interação do visitante com as especificidades locais. Por conseguinte, disponibilizar
informações para que o visitante aproveite melhor sua estada e permaneça mais
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tempo no município. Para isso, é indispensável também, um Inventário da oferta
turística com posterior banco de dados atualizado e com divulgação por meio de
folheteria, da internet, dentre outras formas de comunicação.
Os problemas de infraestrutura básica e turística identificados nas
reclamações dos pesquisados podem ser superados a partir da fusão de ações do
planejamento urbano com a prática do turismo. Nesse caso, as políticas públicas
devem assumir atividades que orientem a organização e o desenvolvimento do
turismo no tocante a infraestrutura urbana e ao sistema viário. Essas ações devem
propiciar uma ambiência favorável aos fluxos turístico e, sobretudo, permitir a
elevação das condições materiais de vida das populações residentes e a visão da
cidade como espaço de existência das pessoas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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O PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO E A RACIONALIDADE
DO ESPAÇO TURÍSTICO NO PÓLO COSTA DO SOL/RJ
Maria Aparecida Pontes da Fonseca
Doutora-Departamento de Geografia/UFRN
[email protected]
RESUMO:
O objetivo do artigo é estabelecer uma relação entre a racionalidade encontrada no
interior espaço turístico constituído pelo Pólo Costa do Sol e a natureza das
intervenções manifestadas localmente pelo Programa de Regionalização do
Turismo. Em nossa análise partiremos do pressuposto que internamente o espaço
divide-se em áreas que desempenham funções distintas e complementares, gerando
assimetrias espaciais, de modo que a área principal concentra os equipamentos da
atividade turística, enquanto outras situadas no seu entorno encontram-se os
atrativos turísticos e desempenham o papel de áreas subsidiárias e complementares
daquela que concentra pos meios de produção. A estrutura espacial resultante
desse processo mostra que a organização interna do espaço turístico é desigual e
combinada, onde algumas áreas são mais beneficiadas do que outras, apesar de
dialéticamente uma só existir em função da outra. Esta racionalidade que
identificamos no espaço turístico resulta das ações dos atores hegemônicos,
conforme aponta Santos(1999), no caso, pelo mercado. No entanto, as ações do
poder público vêm ratificar e estimular as assimetrias promovidas pelo
funcionamento do mercado. Tal afirmação pode ser exemplificada pelo Progr ama de
Regionalização do Turismo, que reforça a desigualdade já existente no interior do
espaço turístico ao eleger os municípios com melhor infraestrutura turística como
indutores do desenvolvimento turístico dos pólos identificados pelo Programa. Nos
procedimentos metodológicos adotados foram utilizados dados da Relação Anual de
Informações Sociais e do Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro na
obtenção de dados secundários e a realização de entrevistas junto a algumas
lideranças do setor turístico, vinculadas tanto ao setor público, como ao privado.
Palavras Chave: Programa de Regionalização do Turismo; Pólo Costa do Sol/RJ;
Desenvolvimento desigual e combinado.
ABSTRACT:
The purpose of this article is to establish a relationship between the rationality found
inside tourist area comprising the Pole of the Sun Coast and the nature of the
interventions locally expressed by the Regionalization Program for Tourism. In our
analysis on the assumption that internally the space is divided into areas that have
distinct and complementary functions, generating spatial asymmetries, so the main
focus of the tourism facilities, while others located in its surroundings are the
attraction tour and play the role of subsidiary and additional areas that focus gr oups
that means of production. The spatial structure resulting from this process shows that
the internal organization of space tourism is uneven and combined, where some
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areas are more benefit than others, although there is only one dialectically in terms of
another. The rationale we identify the space tourism follows the actions of hegemonic
actors as points Santos (1999), where, by the market. However, the actions of public
power has ratified and promoted by the asymmetries stimulate functioning of the
market. This statement can be exemplified by the Regionalization Program for
Tourism, which strengthens the inequality existing within the space tourism to choose
the cities with the best tourist infrastructure as inducers of the tourism development of
clusters identified by the program. Methodological procedures adopted in data were
used for the Annual Social Information and the Center for Information Data of Rio de
Janeiro in obtaining secondary data and conducting interviews with some leaders of
the tourism sector , linked to both the public sector, and the private sector.
Key words: Regionalization Program for Tourism; Pole of The Sun Coast/RJ;
Combined and uneven development.
1 INTRODUÇÃO
O Programa de Regionalização do Turismo (PRT), instituído em 2004, se
constitui atualmente em uma das principais políticas do Ministério do Turismo. Em
sua formulação a dimensão espacial assume relevância, primeiro porque ressalta as
características intrínsecas ao território na elaboração do produto turístico, tendo em
vista suas peculiaridades e diferenciais; segundo porque concebe o território turístico
de forma integrada e articulada, a partir de áreas regionalizadas em pólos turísticos,
cujo funcionamento ocorre a partir das interações espaciais entre os vários
municípios que compõem os referidos pólos.
Tendo em vista a valorização do território nesta política de intervenção, tornase necessário analisar como o espaço turístico tem sido concebido e qual a lógica
manifestada na produção do espaço turístico, cuja diretriz é formulada pelas políticas
de Estado. Segundo Santos (1999), a produção do espaço geográfico expressa uma
racionalidade que é imprimida pelas ações dos atores hegemônicos e se manifestam
materialmente na distribuição dos objetos, os fixos ou ainda nas formas espaciais.
Dessa forma, algumas questões se colocam para os geógrafos e outros estudiosos
do turismo, tais como: qual é a lógica interna do espaço turístico ou, de outra forma,
como se manifesta a divisão territorial do trabalho no interior de um espaço turístico?
Como ocorrem as interações espaciais no interior desse espaço? Como as ações
dos agentes hegemônicos (Estado e mercado) se manifestam no espaço
turistificado, dotando-o de uma racionalidade? A partir de tais questionamentos,
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desenvolveremos o artigo com o objetivo de estabelecer uma relação entre a
racionalidade encontrada no interior espaço turístico constituído pelo Pólo Costa do
Sol e a natureza das intervenções manifestadas localmente pelo Programa de
Regionalização do Turismo.
Em nossa análise partiremos do pressuposto que internamente o espaço
divide-se em áreas que desempenham funções distintas e complementares, gerando
assimetrias espaciais, de modo que a área principal concentra os meios de produção
da atividade turística, isto é, a infraestrutura turística composta pelos meios de
hospedagens, espinha dorsal da atividade, mas também restaurantes, agências de
viagens e locadoras de automóveis; enquanto outras situadas no seu entorno
encontram-se os atrativos turísticos e desempenham o papel de áreas subsidiárias e
complementares daquela que concentra pos meios de produção. A estrutura
espacial resultante desse processo mostra que a organização interna do espaço
turístico é desigual e combinada, onde algumas áreas são mais beneficiadas do que
outras, apesar de dialeticamente uma só existir em função da outra. Esta
racionalidade que identificamos no espaço turístico resulta das ações dos atores
hegemônicos, conforme aponta Santos (1999), no caso, pelo mercado. No entanto,
as ações do poder público vêm ratificar e estimular as assimetrias promovidas pelo
funcionamento do mercado. Tal afirmação pode ser exemplificada pelo Programa de
Regionalização do Turismo, que reforça a desigualdade já existente no interior do
espaço turístico ao eleger os municípios com melhor infraestrutura turística como
indutores do desenvolvimento turístico dos pólos identificados pelo Programa.
Assim, a análise se fundamentará na teoria do desenvolvimento desigual e
combinado, que aponta as forças do mercado como
responsável pelas
desigualdades sócioeconómicas encontradas no espaço. No entanto, é preciso
reconhecer os limites teóricos dessa abordagem, que em sua reformulação recente
reconhece que além das forças do mercado é necessário também considerar os
elementos endógenos do território para explicar as assimetrias espaciais verificadas
em suas diversas escalas de análise. Nos procedimentos metodológicos adotados
foram utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais/Mte) e do
Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro (Cide/RJ) na obtenção de dados
secundários; e a realização de entrevistas junto a algumas lideranças do setor
turístico, vinculadas tanto ao setor público, como ao privado. Apesar da área objeto
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do presente estudo referir-se ao Pólo Costa do Sol, nos deteremos mais na análise
dos três municípios turísticos mais relevantes: Arraial do Cabo, Armação de Búzios e
Cabo Frio, conhecidos como ABC.
2. A RACIONALIDADE MANIFESTADA NO ESPAÇO TURÍSTICO
O Pólo Costa do Sol 50, anteriormente denominado Região dos Lagos, se
constitui em um dos mais importantes pólos de atração turística do estado
fluminense, abrangendo 10,3% do número de pessoal empregado em hotéis e
similares e 22,5% dos meios de hospedagens existentes do total estadual no ano
de 2007 (Rais), que se caracterizam pelo predomínio de pousadas e pequenos
estabelecimentos hoteleiros.
Desde o início da década de cinqüenta a região turística denominada hoje de
Pólo Costa do Sol era freqüentada por uma seleta elite carioca para fins de veraneio,
concentrando-se em uma pequena vila de pescadores, atual município de Armação
de Búzios (Fonseca et el., 2001). Posteriormente os argentinos começaram a
chegar, construir residências e alugar quartos até transformar suas próprias
residências em pequenas pousadas. No entanto, foi a partir dos anos setenta, com a
construção da Ponte Rio-Niterói em 1977, que ocorreu o boom turístico na região
devido à facilidade de acesso que a mesma proporcionou, ocasionando também
grande proliferação de segundas residências. Dessa forma, a visita de B. Bardot e a
construção da referida ponte são dois fatos que contribuíram para difusão do turismo
no Pólo, sendo que Armação de Búzios assumiu localmente maior relevância
turística. Na Gráfico 1 podemos observar a evolução recente dos estabelecimentos
hoteleiros do pólo e a liderança incontestável desse município.
50
Segundo regionalização turística elaborada pelo Ministério do Turismo, o Pólo Costa do Sol
compreende treze municípios: Araruama, Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio,
Carapebus, Cassimiro de Abreu, Iguaba Grande, Macaé, Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, São
Pedro da Aldeia e Saquarema.
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180
Araruama
160
Armação de Búzios
140
Arraial do Cabo
Cabo Frio
120
Carapebus
100
Cassimiro de Abreu
Iguaba Grande
80
Macaé
60
Maricá
40
Quissama
20
Rio das Ostras
Sao Pedro da Aldeia
0
2002
2003
2004
2005
2006
Saquarema
2007
Gráfico 1 - Evolução dos estabelecimentos hoteleiros no
Pólo Costa do Sol/RJ – 2002/2007
Fonte: Rais, 2007
A presente análise se fundamenta na teoria do desenvolvimento desigual e
combinado, que destaca as forças do mercado como a principal responsável na
geração de desigualdades encontradas no espaço geográfico. (Smith,1988). Harvey
(2004, p.98) reafirma que as desigualdades espaciais são fundamentais para a
própria reprodução do capitalismo, especialmente no contexto da globalização,
sugerindo
inclusive
uma
“mudança
de
linguagem,
de
globalização
para
desenvolvimento geográfico desigual”.
Em sua formulação recente, os elementos internos ao território, tal como
enfatizados pela teoria do desenvolvimento endógeno (a cultura, disponibilidade de
capitais, disponibilidades de recursos humanos, organização institucional, dentre
outros), também são considerados na explicação dos fatores responsáveis pela
geração de assimetrias espaciais, no entanto, as forças do mercado assumem papel
preponderante nessa explicação (Méndez,1997).
Ao discutir a lógica do desenvolvimento desigual desencadeada pelo
processo de reprodução do capital, Smith (1988, p.19) observa o que de fato o
capital realiza é “a produção do espaço na sua própria imagem e a exploração dessa
idéia levará a uma mais completa integração do espaço e da sociedade na teoria do
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desenvolvimento desigual. Pois o capital não somente produz o espaço em geral,
mas também produz as reais escalas espaciais que dão ao desenvolvimento
desigual a sua coerência”.
1600
Araruama
Armação de Búzios
Arraial do Cabo
Cabo Frio
Carapebus
Casimiro de Abreu
Iguaba Grande
Macaé
Maricá
Quissamã
Rio das Ostras
Sao Pedro da Aldeia
Saquarema
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Gráfico 2 - Evolução do número de empregados em hotéis e similares no
Pólo Costa do Sol/RJ – 2002/2007
Fonte: Rais, 2007
Dessa forma, o desenvolvimento desigual pode ser identificado nas suas
diversas escalas espaciais (regional, nacional e global) como um processo
decorrente das forças do mercado. Nos estudos desenvolvidos por Samir Amin na
segunda metade do século XX, o autor destaca a dimensão polarizadora do
capitalismo, observando que o sistema econômico é constituído de dois pólos: um
centro e diversas periferias (Benko, 1999). A constituição de áreas centrais é
fundamental para a realização do capital.
Armação de Búzios pertencia anteriormente a Cabo Frio e o desenvolvimento
turístico e crescimento populacional do município foi tal que no ano de 1997 ocorreu
sua emancipação política. O desenvolvimento inicial da atividade foi espontâneo e
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condições endógenas local mais propicias possibilitaram sua expansão, de modo
que este município foi assumindo a liderança e centralidade no turismo regional,
convertendo-se no principal espaço produtivo do turismo regional, onde se concentra
os equipamentos e infraestrutura turística (ver Gráfico 1). O município assume,
portanto, conforme Sánchez (1991), o papel econômico como meio de produção
direto, se constituindo numa área central para a reprodução do capital, via atividade
turística.
Os treze municípios que compõem o pólo se diferenciam no que se refere a
sua importância turística no contexto regional, bem como às funções que exercem
para o funcionamento da atividade. O município de Macaé se destaca na dotação de
infraestrura básica e hoteleira, no entanto sua dinâmica não advém da atividade
turística e sim da petrolífera desenvolvida na Bacia de Campos. No conjunto,
existem três municípios turísticos que assumem maior relevância turística: Arraial do
Cabo, Armação de Búzios e Cabo Frio. Englobam 63% dos estabelecimentos
hoteleiros e 62,5% dos empregados em hotéis e similares existentes no pólo. Esses
municípios possuem uma unidade fisiográfica, se complementam e exercem papéis
diferenciados para o funcionamento do turismo regional. Armação de Búzios
concentra os meios de produção e os empregos gerados pela atividade (ver Gráficos
1 e 2), Cabo Frio participa oferecendo atrativos turísticos (naturais e culturais),
infraestrutura, serviços básicos e instituições de capacitação de mão de obra,
enquanto Arraial do Cabo participa do turismo regional basicamente c omo local de
visitação turística por possuir vários atrativos turísticos naturais (FONSECA, 2009).
Armação de Búzios assume, portanto, papel central na atividade turística do
pólo e utiliza-se dos recursos existentes nos demais municípios (atrativos turísticos e
infraestutura básica) para promover e expandir sua atividade turística, que constitui
na única atividade econômica do município. Sua economia se resume na atividade
turística.
As interações espaciais resultantes no interior desse espaço ocorrem de
modo a concentrar a riqueza gerada pelo turismo no município polarizador da
atividade, isto é Armação de Búzios enquanto os demais dão sustentação a principal
atividade econômica desse município e, particularmente, no caso de Arraial do Cabo
a atividade tem se mostrado bastante conflituosa, gerando desentendimentos em
função dos impactos negativos gerados localmente, particularmente com os
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pecadores, já que os passeios náuticos e as atividades de mergulho são os
principais atrativos para os visitantes.
3. O PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO
No primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) foi
criado o Ministério do Turismo (MTur) e uma das políticas idealizadas que assumiu
importância, sendo inclusive priorizada na segunda gestão de seu governo, refere-se
ao Programa de Regionalização do Turismo (PRT). Para os geógrafos,
particularmente, este Programa governamental assume relevância uma vez que
incide diretamente no espaço, considerando-se a seletividade das ações no que diz
respeito às áreas prioritárias das ações e investimentos e a importância da dimensão
espacial na operacionalização do Programa estruturado a partir da concepção de
pólos, conforme veremos adiante.
Foram identificadas 200 regiões turísticas no Brasil e 3.819 municípios fazem
parte do Programa. Nas palavras do ministro Walfrido dos Mares Guia, “o modelo de
gestão adotado pelo MTur está voltado para o interior dos municípios do Brasil, para
as suas riquezas ambientais, materiais e patrimoniais, e para suas populaç ões, em
contraponto aos prejuízos impostos pela modernização” (MTur, 2004, p. 8). Através
da regionalização, esse Programa procura criar uma sinergia e desenvolver ações
de parceria e cooperação entre os municípios do interior do país que apresentam
potencialidades turísticas, segundo os documentos oficiais.
Desta forma, o Programa de Regionalização do Turismo pretende, entre
outras coisas, interiorizar o turismo e estruturar a atividade a partir dos pólos
turísticos identificados por todo o país (Brasil, 2004). Um dos pontos centrais do
Programa foi a identificação dos municípios que pudessem desencadear o
desenvolvimento do turismo regional, chamados municípios indutores, de modo que
através destes fosse possível estruturar as destinações para o turismo internacional.
Através do Conselho de Desenvolvimento do Turismo (CONDETUR), procura-se,
dentre outras atribuições pertinentes ao conselho, identificar e viabilizar roteiros
turísticos de modo a integrar os municípios englobados no Pólo, visando a promoção
do desenvolvimento turístico regional.
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Tal modelo parece ter sido inspirado na teoria dos pólos de crescimento
desenvolvido por François Perroux, nos anos sessenta do século XX, que apregoava
a idéia de que através de um centro regional seria possível promover o
desenvolvimento sócio econômico por toda a área polarizada em seu entorno,
através da implantação de unidades industriais, o que, na prática não se mostrou
muito exitoso em algumas experiências empreendidas no final do século anterior.
Para Becker (1996) o Plano Nacional de Turismo (PLANTUR), instituído em
1992, já previa o desenvolvimento de pólos turísticos integrados e se constituía no
cerne da estratégia de diversificação e expansão do turismo para novas áreas do
país, uma vez que a infra-estrutura turística estava fortemente concentrada no Sul e
Sudeste do país. Uma década depois essa idéia é retomada e reformatada,
constituindo-se em uma das principais políticas de turismo do atual governo.
No que se refere ao PRT, os objetivos são menos ambiciosos do que aqueles
que se almejavam com a implantação dos pólos de desenvolvimento, na medida em
que a finalidade é a promoção do turismo regional, visando a preparação da
destinação, agora concebida em termos de pólo, para receber uma demanda
turística internacionalizada e que portanto deve se adequar a um padrão de
qualidade mais exigente e elevado.
No Rio de Janeiro foram identificados onze pólos turísticos: Agulhas Negras,
Metropolitano, Costa do Sol, Serra Verde Imperial, Costa Verde, Vale do Café,
Baixada Fluminense, Serra Norte, Caminhos da Mata, Costa Doce e Noroeste das
Águas.
No que se refere ao Pólo Costa do Sol, a pesquisa identificou uma enorme
distância entre a proposição dessa política pública e as condições objetivas
verificadas internamente entre os municípios englobados pelo pólo para que sua
implantação seja exitosa e atenda aos objetivos propostos no sentido de integrar
turisticamente os municípios. É importante mencionar que esse pólo já se constitui
numa destinação internacional, sendo que Armação de Búzios é bastante conhecida
fora do país.
Primeiramente é necessário considerar que a atividade turística do Pólo Costa
do Sol vem passando por dificuldades. Obser vando os indicadores da Tabela 1
verifica-se que, a partir de 2006, começa haver um declínio no número de
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estabelecimentos hoteleiros e similares nos municípios turísticos mais importantes e
no seu entorno (Aramação de Búzios, Arraial do Cabo, Araruama, Iguaba Grande,
Maricá, Saquarema); enquanto outros permanecem estagnados (Cassimiro de
Abreu, Quissama e São Pedro da Aldeia); apresentando um pequeno crescimento
apenas os municípios de Cabo Frio, Macaé e Rio das Ostras. No conjunto do pólo
verifica-se uma ligeira redução de 1,1% do número de hotéis 51.
Mesmo considerando-se que o declínio pode ter ocorrido em função das
mudanças na classificação efetuada na obtenção dos dados pela RAIS a partir de
2006, e que tal fato possa ter influenciado esses indicadores, as entrevistas
realizadas indicaram que a atividade turística regional é motivo de preocupação,
especialmente pelo fato dos agentes turísticos dos municípios turísticos não se
entenderem e não terem uma política articulada decorrente da competitividade
verificada entre eles. As ações de cada município ocorrem de forma isolada.
Outro fator que tem contribuído para a crise que se anuncia para o setor
hoteleiro é a enorme proliferação de casas de veraneio que também são utilizadas
para a obtenção de renda extra pelos seus proprietários, causando problemas para
os empresários locais, conforme manifestado por representantes do segmento
empresarial tanto de Armação de Búzios como de Cabo Frio. Segundo depoimento
de uma das lideranças de Armação de Búzios verifica-se inclusive um dilema entre
ser uma cidade turística ou uma cidade de veraneio.
Além da dificuldade de articulação verifica-se a insatisfação de alguns
municípios que se sentem inseridos no turismo de forma marginal, como é o caso de
Arraial do Cabo, que se constitui um importante local de visitação de turistas para
realização de passeios náuticos, mas, no entanto, fica apenas com os efeitos
residuais dos dividendos gerados pela atividade, além dos problemas ambientais e
sociais mencionados acima.
Todos pos agentes turísticos locais – públicos e privados – consideram que o
PRT é importante e depositam enorme expectativa para uma revitalização do
turismo regional que hoje agoniza no meio de inúmeros problemas, inclusive de
identidade. Ressaltam que o principal problema é de ordem política, devido às
dificuldades de conciliar os interesses.
51
Há que se considerar as mudanças da classificação efetuada na obtenção dos dados na RAIS, que
talvez tenha influenciado nesse indicadores.
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Nesse sentido, o Conselho de Desenvolvimento do Turismo (CONDETUR) do
Pólo Costa do Sol foi estruturado e seu presidente está firmemente disposto no
sentido de criar uma sinergia no Pólo e promover maior integração. Uma das ações
que está sendo desenvolvida é a criação de roteiros turísticos. No que se refere à
Armação de Búzios o presidente do Conselho observa ... temos poucos atrativos,
por isso a importância da regionalização. Ou seja, a lógica subjacente nesse
discurso é que o desempenho satisfatório do turismo buziano, numa perspectiva
futura, depende da ampliação dos atrativos encontrados e que poderão ser
implantados nos demais municípios englobados no PCS e que, portanto, o PRT vem
de encontro com os interesses do setor empresarial turístico de Armação de Búzios.
Já os agentes dos demais municípios consideram relevante o PRT, conforme
manifestaram em suas falas, no entanto parecem um tanto céticos, pois observam
que Armação de Búzios é o centro do turismo regional para onde é canalizada a
riqueza gerada pela atividade, permanecendo os efeitos residuais e impactos
ambientais nos locais de visitação que dão sustentação a economia do turismo de
Armação de Búzios. Assim, não se mobilizam muito para o êxito do Programa.
No intuito de promover a dinamização dos pólos criados pelo Mitur, foram
selecionados em todas as unidades da federação brasileira os municípios indutores
do turismo, através do qual seria promovido e operacionalizado o desenvolvimento
do turismo regional. No Rio de Janeiro foram selecionados cinco municípios
indutores: Rio de Janeiro (Pólo Metropolitano), Parati, Angra dos Reis (Pólo Costa
Verde), Petrópolis (Serra Verde Imperial) Armação de Búzios (Pólo Costa do Sol).
Assim, a racionalidade espacial oriunda pelo próprio funcionamento do
mercado também é identificada nas políticas governamentais. Na medida em que
Armação de Búzios é selecionado pelos agentes de turismo atuantes na esfera
pública federal para desempenhar o papel de indutor do turismo regional, esta ação
vem reforçar as interações espaciais resultantes das forças do mercado, que através
da criação e reafirmação de centralidades possibilitam condições mais vantajosas
para a reprodução do capital, resultando em um espaço desigual e combinado.
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4. CONCLUSÃO
A racionalidade do capital implica em uma racionalidade espacial, cuja lógica
é oriunda dos agentes hegemônicos. No caso enfocado no presente estudo, tais
agentes referem-se ao mercado e ao poder público, que desenvolvem ações e
geram fixos materializados espacialmente de forma desigual, implicando em
interações espaciais que canalizam a riqueza para algumas áreas em detrimento de
outras. Procuramos mostrar que o funcionamento da atividade turística resulta em
uma estrutura espacial desigual e combinada, de modo que a s diferentes parcelas
do espaço desempenham papéis distintos e complementares.
Armação de Búzios se constitui o lugar central e de comando da atividade
turística no interior do Pólo Costa do Sol por concentrar os meios de produção da
atividade e os demais municípios adjacentes dão sustentação à sua atividade
econômica, na medida em que a infraestrutura e atrativos turísticos encontrados nos
mesmos são necessários para a constituição do seu produto turístico.
No que se refere ao Programa de Regionalização de Turismo, estruturado
através de pólos, as perspectivas de êxito não são muito promissoras localmente
haja visto o descompasso entre a proposição dessa políticas e os conflitos de
interesses existentes entre os municípios, que em seu conjunto estão descontentes
com as perspectivas da atividade turística no pólo. A omissão do poder público
estadual em relação aos rumos do turismo fluminense vem comprometer ainda mais
esse quadro de incertezas existente localmente
Nesse sentido, um dos aspetos que merece ser melhor analisado é a forma
como a disseminação de segundas residências tem afetado o desempenho da
atividade econômica baseada no turismo. O aluguel das casas de veraneio causa
forte impacto para os empresários do segmento hoteleiro, que se sentem
prejudicados com o aluguel dessas casas para potenciais clientes. Esta
preocupação é generalizada nos três municípios analisados na pesquisa. Além
disso, a agressividade do mercado imobiliário provoca impactos ambientais, com a
verticalização e a implantação de empreendimentos em locais inadequados,
contribuindo para intensificar ainda mais os problemas já existentes, comprometendo
o futuro turístico do Pólo Costa do Sol.
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TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS NO RIO DE JANEIRO: UMA ANÁLISE
INTRODUTÓRIA
Frederico G. Serrano Neves Júnior
Mestre em Administração
Faculdade SENAC
[email protected]
William Cléber Domingues Silva
Mestre em Turismo
DAT- UFRRJ
[email protected]
RESUMO
Este artigo objetiva possibilitar uma discussão introdutória a respeito de possíveis
relações existentes entre o segmento de negócios e eventos e o fomento da
atividade turística na cidade do Rio de Janeiro. Para isso, realizou-se uma pesquisa
documental com o intuito de melhor conhecer as características do setor bem como
avaliar a vocação da localidade para a realização dos mais variados tipos de
eventos. Após essa análise, pôde-se concluir que o setor de negócios e eventos
vem assumindo cada vez mais destaque na economia local. Por essa razão,
sugerem-se mais investimentos na qualificação profissional, no desenvolvimento de
novos espaços e instalações e ainda incentivos que motivem a iniciativa privada a
investir na profissionalização do setor, o que poderá originar benefícios econômicos
e sociais para a cidade.
Palavras Chave: Turismo, Eventos, Agências Promotoras
ABSTRACT
The purpose of this article is to enable an introductory discussion about possible links
between the Business Events Industry and the promotion of tourism in the city of Rio
de Janeiro. In order to do that a documental research was conducted in order to
better understand the features of the industry and to assess the vocation of the town
for the most varied types of events. As a result of such analysis one concluded that
the Business Events Industry has been getting increasing prominence in the local
economy, so, it is recommendable that greater investments be made on personnel
qualification, development of new spaces and facilities plus incentives which motivate
the private sector to invest in the professionalization of the industry, which could bring
many economic and social benefits to the city.
Key Words: Tourism, Business Events Industry, Promotion Agencies
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1 INTRODUÇÃO
1.1 O TURISMO E SUA RELAÇÃO COM O SETOR DE EVENTOS
Nos últimos anos, percebe-se, em diferentes localidades, maior esforço por
parte dos acadêmicos, das empresas e dos países por compreenderem melhor o
fenômeno turístico que pode ser entendido como uma rede complexa de
equipamentos e serviços que envolve o deslocamento do viajante, passando por
hospedagem, alimentação, entretenimento, cultura e lazer (BARRETO, 2006).
Aprofundando a análise e contribuindo com uma visão antropológica,
atualmente, nota-se que a atividade turística transcende a cultura local e ao
consumismo da globalização, sobrepondo o crescimento econômico do século XX
(VASCONCELLOS, 2006)
Ao refletirmos sobre as definições acima, podemos perceber a complexidade
da atividade turística, no que se refere ao seu conceito e às possibilidades de suas
práticas.
Quanto às potencialidades de exploração da atividade turística, atualmente,
são enormes, pois o turismo exibe suas fronteiras no espaço, sendo poucos os se us
limites diante dos avanços da economia globalizada com destaque para a grande
evolução dos meios de comunicação e transportes. (SERRANO et al. 2000).
Considerando-se a expansão do número de deslocamentos domésticos e
internacionais, observa-se, em muitos países, especial interesse em desenvolver e
explorar diferentes nichos ou segmentos do turismo.
Tal interesse pode estar apoiado na possibilidade de captação de uma
demanda maior de turistas, o que pode representar benefícios para a localidade.
Nesse contexto, ressaltam-se, dentre as diferentes possibilidades de especialização
e segmentação da atividade turística no país, destacam-se tunidades na exploração
do turismo cultural, do turismo de aventuras, do ecoturismo, do turismo de negócios
e eventos etc.
O objetivo de analisar neste estudo as possíveis relações existentes entre o
setor de negócios e eventos com o desenvolvimento turístico da cidade do Rio de
Janeiro justifica-se pelo fato de o mesmo possibilitar à localidade uma maior
visibilidade e isso pode se configurar na ampliação do número de turistas que
visitam a cidade. Dentro dessa conjuntura, pode-se compreender que um evento é
entendido como uma centralização de pessoas ou organizações com data e horário
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marcados, com objetivos diversos, sejam eles sociais, de lazer ou negócios
(ZANELLA, 2004).
Dados referentes ao setor demonstram que cerca de 330 mil eventos são
realizados por ano no Brasil, sendo que o movimento financeiro do setor gira em
torno de R$ 45 bilhões ao envolver aproximadamente 80 milhões de participantes e
gerar aproximadamente 3 milhões de empregos diretos e indiretos (CLARO e
SOUZA, 2009).
Além dos números do setor, que são de grande importância para a
elaboração de dados estatísticos referentes ao turismo de negócios e eventos,
estudos ressaltam que os grandes benefícios dos eventos estão relacionados ao
envolvimento coletivo e à melhoria da atmosfera da cidade que eles proporcionam.
Em relação a esse fato, acredita-se que um maior envolvimento da população no
planejamento e realização dos eventos captados pela cidade deve proporcionar o
aumento da autoestima dos atores envolvidos no processo, além de garantir o
sentimento de cidadania e maior coesão social (FERRACCIÚ, 1997).
Muitos autores concordam que a realização de eventos, naturalmente,
proporciona benefícios para a cidade ou país que os realizam. Nesse sentido,
observa-se que as cidades que captam diferentes tipos de eventos normalmente
percebem que os mesmos combatem a sazonalidade, proporcionam mídia
espontânea, ampliam a arrecadação de impostos, favorecem maior permanência
dos turistas na localidade dentre outros benefícios (TENAN (2000).
Para MELO NETO (1999, p. 18), “é por meio da participação em eventos, que
o homem moderno aprende e reaprende a ter emoções, desenvolve o seu senso
crítico, aprimora suas visões, preza a liberdade e adquire maior sensibilidade”.
Seguindo o raciocínio a respeito das possíveis contribuições do segmento de
turismo de negócios e eventos, CLARO e SOUZA acrescem que um evento, seja ele
de lazer ou negócios, movimenta a economia de uma cidade ao envolver gastos com
deslocamento, hospedagem, alimentação, além de arrecadar impostos e estimular
prestadores de serviço de pequeno e médio porte. Para os autores, essas empresas
são características do setor de eventos (CLARO e SOUZA, 2009).
Desse modo, percebe-se grande aderência da cidade do Rio de Janeiro na
captação, organização e execução dos mais variados tipos de eventos. Tal
aderência pode estar baseada na estrutura já existente na cidade, em se us
diferenciais turísticos e nos investimentos em promoção que estão sendo realizados
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pela cidade maravilhosa através de diferentes entidades como, por exemplo, a
Embratur e o Rio Visitors and Convention Bereau – Rio C&VB.
Acredita-se, no entanto, que para o Rio de Janeiro continuar desenvolvendose, nesse nicho de mercado, deverá investir na formação de recursos humanos, na
ampliação de espaços para a realização dos mais variados tipos de eventos e ainda
na aproximação entre as instituições de ensino, as entidades de classe, o setor
público e ainda as empresas que fazem parte do trade turístico.
No entanto, esse desenvolvimento é extremamente dependente dos
investimentos públicos que também devem ser acompanhados por projetos e
intervenções realizadas pelo setor privado que possui procedimentos e dinamismo
capazes de se adequarem às constantes mudanças das necessidades e desejos
dos viajantes.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 O TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS NO BRASIL: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
1595
De acordo com NAKANE (apud COUTINHO e COUTINHO, 2007, p. 5), “o
turismo de negócios colabora na divulgação dos atrativos naturais, culturais e sociais
da região sede do evento e usa os recursos em momento de baixa estação, ou seja,
quando a sua procura não é tão significativa por parte dos turistas de lazer”.
Outros estudiosos concordam com a ideia e acrescentam que os eventos
reinventaram a atividade turística, ao possibilitar novos mercados, desenvolvimento
de novos destinos e alcance da sazonalidade financeira da localidade (COUTINHO e
COUTINHO, 2007).
Estudos divulgados em 2009 pela Associação Internacional de Congressos e
Convenções (ICCA) demonstram que o Brasil, primeiro país latino-americano a
figurar entre os top 10 do ranking da ICCA no ano de 2006, vem consolidando sua
vocação para a realização de eventos internacionais. Essa afirmação se justifica
pelo fato de o país ter conseguido se manter entre os 10 principais destinos para
eventos internacionais no mundo, nos anos de 2007 e 2008, ocupando atualmente a
sétima posição (ICCA, 2009).
Sobrepõe-se que o mesmo estudo aponta para a descentralização dos locais
de realização desses eventos, já que o número de cidades que captaram e
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realizaram eventos internacionais saltou de 22 em 2003 para 42 em 2009 o que,
nesse viés, demonstra maior maturidade e profissionalização do setor em diferentes
cidades do país como Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Curitiba, Porto
Alegre, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador e Manaus, entre outros destinos.
Nesse sentido, nota-se que atualmente os eventos captados pelas cidades
são muito diversificados e podem variar desde congressos acadêmicos, feiras ou
desfiles até grandes eventos culturais ou mega eventos esportivos.
Sugere-se, portanto, que tanto a administração pública quanto a iniciativa
privada façam investimentos em equipamentos, necessários ao suporte da atividade
turística e do setor de eventos, dentre os quais enfatizamos a importância da
ampliação das salas e, ou de salões para reuniões e eventos, dos centros de
convenções, dos hotéis, e de áreas públicas para realização dos mesmos.
Refletindo sobre a relação do setor de negócios e eventos com outras
empresas atuantes no segmento de turismo, CANTON (2004, p. 310) afirma que “a
hotelaria investe consideravelmente e estrategicamente no setor, os núcleos
potencialmente turísticos passam a entender a importância dos eventos como
alavancador da demanda turística.”
Ao analisar a relevância do setor de negócios e eventos para o turismo,
entende-se também que as pessoas reunidas por um mesmo objetivo, em um
evento, ajudam a desenvolver o turismo, pois atraem pessoas de diversas regiões,
investem na economia e promovem a troca cultural da cidade (CAMPOS, 2000).
Nesse ambiente favorável de expansão da atividade turística, tem-se
percebido nos últimos anos um grande desenvolvimento do setor de negócios e
eventos no Rio de Janeiro e em várias outras regiões do país. Essa expansão pode
ser mais bem entendida pelo fato de o setor de eventos evidenciar ligação com a
cadeia produtiva do turismo (SEBRAE, 2005),
Aprofundando a análise, acrescenta-se que dos 330 mil eventos realizados no
país no ano de 2001 mais da metade (52%) concentraram-se na região sudeste,
especialmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Seguese a região sul com a captação de cerca de (19%), acompanhadas da região
nordeste, com 18% e da região centro-oeste que, no mesmo período, obteve apenas
9% dos eventos realizados no país (SEBRAE, 2005).
É importante esclarecer a relevância econômica da atividade, uma vez que
pesquisas demonstram que o gasto médio diário desse tipo de turista gira em torno
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de US$ 240 dólares por dia, o que representa até três vezes mais o gasto diário de
um turista que viaja a lazer, o que permite salientar que os estudiosos de turismo
dão grande importância à adequação e exploração profissional do setor negócios e
eventos no país (EMBRATUR; C&VB, 2006).
Portanto, percebe-se que o desenvolvimento do setor de negócios e eventos
no país passa por um momento de expansão. No caso específico da cidade do Rio
de Janeiro, observa-se que o setor de turismo também vem sendo beneficiado, pois
uma maior aproximação entre as diferentes esferas de governo possibilitou
implementar o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro (PECRJ), elaborado
entre 1994 e 1995. Esse Plano, dentre outras metas, objetivou discutir a viabilidade
da cidade em diferentes áreas, dentre as quais o setor de turismo e eventos.
Soma-se que o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro vem buscando
maior participação popular nos projetos de recuperação e desenvolvimento da
cidade. Ilustrando essa afirmação, ressaltamos que um dos fatores cruciais para a
escolha da cidade como sede das Olimpíadas de 2016 foi o maciço apoio popular.
No contexto de preparação para realizar obras que viabilizarão explorar a
Camada Pré Sal, efetivar a final da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos
de 2016, o setor de turismo, negócios e eventos vive uma grande expectativa,
considerando-se que os investimentos previstos somam aproximadamente R$ 120
bilhões entre 2010 e 2012 e se destacam pela dimensão e diversidade nas
prioridades (URANI, 2009).
O setor de turismo visualiza muitas oportunidades para o país e para a cidade
neste início de século. Ressalta-se, no entanto, que a recuperação econômica da
cidade e do estado do Rio de Janeiro deve se basear não somente na exploração do
setor
de
turismo,
negócios e
eventos,
mas
também em outras áreas
complementares e de grande relevância econômica e social como os setores de
petróleo e gás, mídia, cultura, design, esporte, entretenimento, dentre outros.
2.2 O PAPEL DAS AGÊNCIAS PROMOTORAS NO CONTEXTO DO SEGMENTO
DE TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS
Apesar de ainda serem pouco estudados no campo do turismo e da
hospitalidade, atualmente, reconhece-se a importância dos Conventions and
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Visistors Bereau 52 (C&VBx) para o marketing de destinos e também para o
desenvolvimento turístico de muitas cidades situadas no Brasil e, ou no exterior.
Os C&VBx incentivam o segmento de turismo de negócios e eventos, pois os
mesmos reúnem diversos atores locais envolvidos com o turismo, o que possibilita
melhor preparação para a exploração das potencialidades do destino e também para
futura captação de eventos (OLIVEIRA, 2000).
O surgimento desse tipo de organização ocorreu em 1896 na cidade de
Detroit – EUA. De acordo com o referido autor, nessa época, alguns empresários
locais decidiram potencializar a captação de novos eventos para a cidade,
contratando profissionais específicos para essa finalidade, o que possibilitou a
fundação do Detroit Convention & Tourist Bereau, nomenclatura adotada a partir de
1907 (GARTRELL, 1998).
Nos anos seguintes à iniciativa de Detroit, algumas cidades americanas
perceberam os possíveis benefícios da implantação de um C&VBx e também
resolveram confiar na ideia o que garantiu a criação de novos escritórios em
Cleveland (1904), Atlantic City (1908), Denver e St Loius (1909), Louisville e Los
Angeles (1910), Atlanta e Mineapolis (1913), Columbus e Omaha (1914), Beltimore e
Milwaukee (1915). Nesse período, observou-se também o surgimento de entidades
semelhantes na Europa, mais especificamente em Paris (1901) e em Londres (1905)
(MARTINS, 2008).
No Brasil, de acordo com os dados da Federação Brasileira de Conventions
and Visitors Bereau 53, existem atualmente cerca de 80 cidades filiadas a essa
federação, destacando-se, no entanto, o pioneirismo dos C&VBx das cidades de
São Paulo (1983) e do Rio de Janeiro (1984) que muito auxiliaram na formação de
novos escritórios em cidades como Brasília, Manaus, Belo Horizonte, Salvador, Ouro
Preto, Curitiba, Londrina, Juiz de fora, dentre outras.
CANTON (2002, p. 49) define que “a finalidade dos Conventions é fazer o
marketing do destino que ele representa”. Entretanto, para ANDRADE (2002, p. 99),
o C&VB “é uma organização que desenvolve as atividades operacionais e os
estudos para o desenvolvimento, geração e captação de eventos ”.
52
Escritório de Convenções e Eventos (tradução própria).
Disponível em: http://www.fbcvb.org.br/docs/downloads/fbcvb_cvbx_associados.pdf - acesso em
19/03/2010.
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Fundamentando-se nos estudos de MARTINS (2008), CANTON (2002) e
ANDRADE (2002), compreendem-se os C&VBx como uma entidade local, de direito
privado, sem fins lucrativos e com estatuto próprio que atua na captação de eventos,
no desenvolvimento de uma marca e de sua promoção em diferentes localidades e,
ou meios de comunicação.
No contexto brasileiro, um dos organismos mais representativos no fomento
do turismo de eventos é o Rio C&VB. Essa entidade vem se especializando, desde
meados da década de 1980, na captação de eventos nacionais e internacionais. Tal
experiência lhe possibilita fazer atualmente intervenções a favor do desenvolvimento
do turismo de negócios e eventos na capital fluminense. Nesse sentido, credita-se à
instituição parte dos benefícios gerados pela expansão do setor de serviços na
localidade. Esse reconhecimento se apoia no fato de o Rio C&VB ter auxiliado na
captação e organização dos principais eventos realizados na cidade nas últimas três
décadas.
Com o intuito de incrementar suas ações, o Rio C&VBx atua diretamente na
promoção e divulgação da cidade como destino turístico, sendo que essa iniciativa
visa contribuir com a expansão do número de turistas que visitam a cidade. Para
alcançar seu objetivo, a entidade participa de feiras nacionais e internacionais de
turismo, negocia e apoia iniciativas de lançamentos de novos vôos para a cidade,
distribui material promocional em diferentes cidades, estados e países, organiza
viagens de familiarização para jornalistas brasileiros e estrangeiros e ainda
disponibiliza informações gerais sobre o Rio de Janeiro e de sua infraestrutura
turística e de serviços.
Existem, também, outras entidades que estão ligadas ao setor de eventos no
país, como, por exemplo, a Associação Brasileira de Centros de Convenções e
Feiras (ABRACEF), entidade criada em 1985 que reúne e associa centros de
convenções e exposições em todo Brasil, tendo como objeti vos o desenvolvimento
de estudos, pesquisas e eventos sobre o setor e o oferecimento aos interessados de
assessoria técnica em projetos de implantação, construção e reforma de espaços
para eventos.
Outro organismo atuante na organização e promoção do setor de negócios e
eventos é a Associação Brasileira das Empresas de Evento (ABEOC), instituição
fundada em 1977 que tem por objetivo congregar as empresas organizadoras e
prestadoras de serviços especializados em eventos. Atualmente, com mais de 500
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empresas filiadas, a ABEOC disponibiliza recursos ao mercado, por meio de seus
associados, pessoal qualificado e equipamentos para os mais variados tipos de
eventos.
De acordo com a nova diretoria da ABEOC RJ 54 – eleita para o período
2010/2011 – as prioridades da entidade para o biênio estão relacionadas ao
desenvolvimento de parcerias com o SENAC e com o SEBRAE, a fim de permitir aos
seus associados ministrar cursos profissionalizantes para o mercado, apoiar a
realização de eventos como o “Salão Estadual de Turismo”, trabalhar para que a Lei
Geral do Turismo se consolide, dentre outras medidas relacionadas, por exemplo, ao
fortalecimento da entidade e ao aumento de seu quadro associativo.
No que tange ao fortalecimento da atividade turística nacional, destacamos o
papel que vem sendo desempenhado pelo Ministério do Turismo na organização e
coordenação do desenvolvimento do setor de turismo no Brasil. Dentre suas
iniciativas em prol do desenvolvimento da atividade, destacamos o empenho na
captação dos Jogos Mundiais Militares em 2011, da Copa do Mundo de 2014 e das
Olimpíadas e Para-Olimpíadas de 2016 na cidade do Rio de Janeiro.
Além disso, observa-se a atuação do Ministério do Turismo em outras frentes
como, por exemplo, na coordenação de pesquisas para o setor, na divulgação do
Salão de Turismo, na aprovação da Lei Geral do Turismo, na implantação do
Cadastur, na elaboração de programas como o Prodetur, dentre várias outras ações
que favorecem a expansão dos negócios turísticos.
3 O TURISMO DE EVENTOS E O FOMENTO DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
A concorrência no mercado de eventos e negócios é áspera e os mercados
estão sempre se expandindo e mudando, seja nacionalmente ou internacionalmente.
Nesse cenário, novos destinos surgem, enquanto outros se reinventam para entrar
na disputa por um mercado de concorrência internacional. Há uma tendência na
preservação dos atrativos naturais e culturais para criar o desenvolvimento de uma
herança. Sendo assim, existem diversos destinos que redescobriram seu passado e
tiraram proveito disso, e a cidade do Rio de Janeiro é uma delas (KOTLER, 2007).
54
Disponível em: http://www.abeoc.org.br/rj/conteudo.php?pg=conteudo_estaduais&id=147 – acesso
em 20/03/2010.
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Portanto, o turismo de eventos assume um papel fundamental na composição
de atrações da cidade. Diante desse cenário repleto de oportunidades de negócios,
a cidade do Rio de Janeiro firmou-se no país como segundo destino internacional de
eventos, perdendo apenas para a cidade de São Paulo. Nas Américas, a cidade está
na terceira colocação, atrás apenas de São Paulo e Bueno Aires. E no mundo situase na 26ª colocação, à frente de cidades como Nova Iorque (EUA), Santiago (Chile)
Quebec e Toronto (Canadá).
TABELA 1
POSIÇÃO DO RIO DE JANEIRO NO RANKING DA ICCA55
Brasil Américas Mundo
2a
3a
26a
Fonte: C&VB, 2006.
Nº de eventos
48
A pesquisa Impacto Econômico dos Eventos Internacionais realizados no
Brasil 2007/2008 pela Fundação Getulio Vargas (FGV) demonstra que o gasto médio
diário do turista estrangeiro no Rio de Janeiro apresenta-se acima da média
nacional, US$ 295,35 com hotel, alimentação e compras, sendo a média nacional
US$ 240,00. A realização dos 10 eventos internacionais captados entre os anos de
2007 e 2008 no Rio de Janeiro geraram divisas de US$ 15 milhões para o destino
(FGV, 2009).
Com isso o turista que chega ao Rio de Janeiro permanece em media 2,3 dias
após os eventos, com cerca de 50% da permanência para o lazer. Mais da metade
(52,1%) pretendem retornar a cidade e quase todos (92,4%) pretendem voltar ao
Brasil. Destes 25% destacam as pessoas como o principal atrativo (EMBRATUR;
FGV, 2009).
Assim, o Rio de Janeiro como o segundo destino para a realização de
eventos no Brasil atrai importantes eventos nacionais e internacionais. E, para suprir
a necessidade de serviços, a cidade conta com 124 empresas prestadoras de
serviços na área de eventos cadastradas no Ministério do Turismo, excetuando-se
as organizações ainda não-cadastradas (C&VB, 2009). A cidade possui instalações
para eventos bem localizados e equipados, uma gama de hotéis espalhados pela
orla, uma gastronomia diversificada, etc.
55
Associação Internacional de Convenções e Congressos (tradução própria).
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Sabe-se ainda que a localidade é genuinamente o berço da boemia e do
samba, o que possibilita ao destino ser caracterizado como centro cultural e social
do Brasil. Complementando, é importante esclarecer que o Réveillon e o Carnaval
mais famosos do país identificam o Rio de Janeiro no cenário local e global o que
favorece a expansão dos negócios e a divulgação dos vários atrativos espalhados
pela cidade, com destaque para o Cristo Redentor, eleito uma das sete novas
maravilhas do mundo.
O Rio de Janeiro possui um Aeroporto Internacional com duas pistas e dois
terminais, com uma capacidade de operação de 520 vôos por dia. Geograficamente
bem localizado, o Aeroporto Internacional está a cerca de 20 minutos dos principais
hotéis e atrações turísticas. Existe uma capacidade instalada de 280 meios de
hospedagem com aproximadamente 24 mil quartos, metade dos quais oferecidos em
hotéis padrões 4 e 3 estrelas. A taxa de ocupação média é de 65%, e desses cerca
de 55% do motivo de hospedagem é negócios e eventos. Dos turistas recebidos nos
hotéis 53 % viajam dentro do Brasil e 47% são procedentes de fora do país (C&VB,
2009).
A Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA) classifica o
Rio de Janeiro entre as sete cidades mais procuradas do mundo para a rea lização
de congressos internacionais.
Para a realização de seus eventos a cidade conta com o maior centro de
convenções da América Latina, o Riocentro, que possui mais de 100.000m2 e uma
ampla gama de centros com capacidades diversas para todos os tamanhos e tipos
de grupos profissionais.
Além desse complexo, a cidade possui diversos outros tipos de equipamentos
e instalações para eventos, estando esses espalhados em hotéis, clubes, shoppings
e teatros. A infraestrutura de eventos do Rio de Janeiro conta ainda com espaços
variados, como: o centro de eventos Mário Henrique Simonsen, o centro
gastronômico Victoria, o Pão de Açúcar, o Pier Mauá - estação marítima de
passageiros, o Rio Marina da Glória, o Vivo Rio, o HSBC Arena, o Canecão, o centro
de convenções SulAmerica, dentre outros de menor expressão.
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3.1 O TURISMO DE EVENTOS NO RIO DE JANEIRO EM ANÁLISE
Apesar da segunda colocação da cidade para sediar eventos no Brasil e de
ter sediado eventos como a ECO 92 e o Pan Americano 2007, o Rio demonstra que
ainda está se preparando para sediar eventos, principalmente mega eventos como
Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas.
Portanto, essa busca por grandes eventos cria uma competição nas cidades
concorrentes. E no Rio de Janeiro isso não está sendo diferente. Os espaços
destinados a esses eventos são insuficientes, e a necessidade de construção e
adequação da infraestrutura é latente. A corrida para construir, reformar e
modernizar os locais para os eventos se acelera.
Essa sucessão de eventos na área desportiva permite que muitas das obras
realizadas para um evento sejam aproveitadas para outros grandes acontecimentos.
Especialmente as obras ligadas a infraestrutura urbana e de acesso como metrôs,
corredores de ônibus, estacionamentos, aeroviária, portos, seg urança, saneamento
e saúde.
No entanto, não foi o que ocorreu com o Pan Americano de 2007, quando as
obras foram feitas às pressas e os orçamentos estourados. Para 2014 e 2016, serão
quase R$ 30 bilhões de investimentos que, se não forem tratados com um
planejamento orçamentário rigoroso, podem não deixar um legado positivo para a
sociedade.
Destaca-se grande importância para o assunto, uma vez que o Rio de Janeiro
é o principal destino turístico do Brasil (31,5%), e a atividade turística corresponde a
15% do PIB do estado, gerando R$ 45 bilhões por ano (FGV, 2009).
Em 2008, no réveillon, o Rio de Janeiro recebeu 612 mil turistas e arrecadou
US$ 444 milhões; no carnaval 719 mil turistas e US$ 521 milhões e em toda a
temporada 1,9 milhões de turistas e US$ 2,5 bilhões (SINDRIO, 2009). Além disso, o
Rio de Janeiro é a cidade mais lembrada pelos turistas estrangeiros (90%) dentre as
outras cidades do Brasil, segundo pesquisa encomendada pelo Ministério do
Turismo em 2009.
Sendo assim, percebe-se que o turismo junto com o setor de serviços é a
grande fonte de recursos do estado, depois da indústria Petroquímica. Para tanto, o
Governo Federal com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previu
investimentos da ordem de R$ 4 bilhões no Rio de Janeiro, incluindo três eixos:
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logística – rodoviária, ferroviária, portuária, hidroviária e aeroportuária; energética –
geração e transmissão de energia elétrica, petróleo, gás natural e energias
renováveis e social e urbana – Programa Luz para Todos, saneamento, habitação,
metrôs, recursos hídricos (MTUR, 2009).
A cidade tem a oportunidade para despontar na área de eventos no Brasil e
no Mundo, bastando, para isto, realizar as mudanças necessárias com qualidade e
discernimento para o longo prazo. Cabe, no momento que antecede a esses
eventos, um exaustivo diálogo entre o poder público, a iniciativa privada e a
população, para que os frutos colhidos sejam sadios, retornando para a cidade os
nutrientes deles tirados.
4 CONCLUSÃO
O setor de negócios e eventos é, sem dúvida, fundamental para dinamização
do turismo para a cidade do Rio de Janeiro, em função da sua estrutura geradora de
investimentos, emprego e renda. Entende-se que em uma economia globalizada em
que as pessoas circulam pelo globo terrestre para as mais diversas trocas, o setor
de eventos e negócios configura-se como essencial.
Dessa forma, pode-se considerar que a cidade do Rio de Janeiro, por possuir
um reconhecido patrimônio natural e cultural aliado a uma boa estrutura de serviços,
está apta a disputar com outros centros urbanos nacionais e internacionais o
planejamento, a organização e a execução de variados tipos de eventos.
No decorrer da revisão de literatura pertinente, identificam-se possíveis
contribuições do setor de negócios e eventos para o desenvolvimento local e
também para a expansão da atividade turística. A exemplo, evidenciam-se os
investimentos previstos para Copa do Mundo e Olimpíadas, que deixarão um legado
de modernidade e qualidade de vida para os cariocas e aos que pela cidade
passarem.
Por outro lado, salienta-se que constantes investimentos sejam feitos em
mobilidade pública, rede hoteleira, sinalização turística, qualificação de recursos
humanos, segurança pública, serviços de receptivo, dentre outros, dado que a
garantia de sucesso dos recursos investidos nesses itens será decisiva para afiançar
o posicionamento estratégico esperado para a cidade.
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Outro fato importante a ser destacado e que vem contribuindo com a
otimização do potencial da cidade para uma exploração ordenada de diferentes
áreas é o seu plano estratégico que vem sendo executado desde a década de 1990.
Agora os desafios estão no plano estratégico 2009-2012.
Concluindo, argumenta-se que a cidade do Rio de Janeiro deverá perceber
nos próximos anos grande desenvolvimento turístico o qual poderá garantir a
melhoria das condições de vida de toda sua população. A cidade do Rio de Janeiro
possui o segundo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado perdendo
apenas para Niterói. no entanto, enquanto o Rio possui pouco mais de 6 milhões de
habitantes, Niterói conta com aproximadamente 500 mil.
Nesse cenário, o setor de turismo identifica no nicho de eventos um grande
gerador de emprego e renda, além de ser possível afirmar que essa atividade
também possibilita ao poder público ampla arrecadação de recursos que devem ser
revertidos em investimentos públicos. Considerando-se o contexto, a necessidade
de o setor de eventos e negócios se estruturar e se modernizar fica evidenciada
neste estudo, pois trata-se de um setor extremamente competitivo. Essas
necessidades serão utilizadas para demarcarem a diferença da cidade no cenário
nacional e internacional.
Informações mais detalhadas sobre os impactos do setor de eventos e
negócios da cidade devem ser coletados e analisados, pois os dados disponíveis
para pesquisa encontram-se dispersos e segmentados. Um estudo profundo e
detalhado sobre o setor de negócios e eventos e sua relação com o
desenvolvimento turístico é latente e de curto prazo, uma vez que os investimentos
pesados ocorrerão entre 2014 e 2016.
Finalizando, espera-se que em 2017 o Rio de Janeiro esteja muito mais
preparado para a exploração de todo o seu potencial turístico, que certamente é um
dos maiores do mundo.
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cao=30
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PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA E LITORAL DO PARANÁ
Margarete Araujo Teles
Mestre Geografia/UFPR
[email protected]
Renata Maria Ribeiro
Mestre Geografia/UFPR
[email protected]
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar uma síntese da trajetória do processo de
planejamento e gestão do turismo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e
Litoral do Paraná, a partir da Política Estadual do Turismo e do Programa de
Regionalização do Turismo do Governo Federal. Sabe-se que a estratégia adotada
para o desenvolvimento do turismo no período de 2003 a 2009 foi o planejamento
estratégico e participativo, e envolveu entidades públicas e privadas. Para abordar o
objeto de estudo desta pesquisa utilizou-se o referencial teórico-metodológico da
Geografia, do Turismo e ciências afins. O turismo como fenômeno transforma o
espaço e, por sua natureza complexa, é reconhecido pelos estudiosos como um
tema que deve ser tratado no âmbito de um quadro interativo de disciplinas, em que
o enfoque geográfico é de fundamental importância, uma vez que, por tradição, trata
da dualidade sociedade e natureza (RODRIGUES, 2001). Para estruturar o trabalho
adotou-se a pesquisa empírica do tipo exploratória, englobando levantamento
documental (ou fontes primárias) e bibliográfico (ou de fontes secundárias) , com
base nos dados fornecidos pela Secretaria de Estado do Turismo do Paraná (SETU),
Instituto Curitiba de Turismo, Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba
(COMEC) e Serviço Social Autônomo Ecoparaná. Utilizou-se também como
referência de pesquisa os relatórios das oficinas de trabalho dos anos de 2005,
2006, 2008 e 2009 da SETU, que resultaram nos Planos Estratégicos de
Desenvolvimento do Turismo Regional, e que enfocam aspectos concernentes ao
planejamento regional do turismo na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do
Paraná. Os resultados preliminares da pesquisa apontaram que, embora a
metodologia aplicada pelo Ministério do Turismo e pela SETU no processo de
planejamento estratégico e participativo seja a mesma para todas as regiões,
existem discrepâncias na Região Metropolitana de Curitiba, se comparada aos
avanços diagnosticados no litoral. Dentre as várias diferenças destaca-se a definição
e constituição legal da Instância de Governança no Litoral, a partir da criação da
Agência de Desenvolvimento do Litoral – ADETUR, órgão de articulação e fomento,
e que define as ações a serem tomadas para a gestão do turismo de modo
estratégico e participativo nessa região. No entanto, pôde-se observar que a Região
Metropolitana de Curitiba ainda encontra dificuldades de articulação entre o setor
público e o privado, uma vez que não há uma definição clara quanto aos meios de
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gestão de governança, o que impede a execução do Plano de Desenvolvimento
Regional do Turismo.
Palavras Chave: planejamento estratégico e participativo, governança, turismo,
desenvolvimento regional.
ABSTRACT
This main goal of this paper is to present a synthesis on the trajectory of the planning
and management of tourism process in Curitiba‟s Metropolitan Region (RMC) and in
Parana‟s Coastline, approaching the Política Estadual de Turismo and the Tourism
Regionalization Program from the Federal Government. It is known that strategy
adopted for development of tourism in the period of 2003 to 2009 was the strategic
and participative planning and involved by public and private institutions. In order to
achieve the purpose of this study, a theorical methodological reference of Geography
and Tourism and sciences alike has been used. The tourism as a phenomenon that
transforms the space and its complex nature, known by scholars, is a theme that
must be studied in an interacted discipline scope, in which the geographic approach
is extremely important, since, traditionally, it deals with the duality society and nature
(RODRIGUES, 2001). To structure this paper was adopted the empirical explorer
research applying document survey (or primary sources) and bibliographic survey (or
secondary sources), based on data from Secretaria de Estado do Turismo do Paraná
(SETU), Instituto Curitiba de Turismo, Coordenação da Região Metropolitana de
Curitiba (COMEC) e Serviço Social Autônomo Ecoparaná. As reference, the reports
from SETU workshops of years 2005, 2006, 2008 and 2009 were used, which
generated the Strategic Plans of Development of Regional Tourism and focused on
aspects concerning the planning of regional tourism in Curitiba‟s Metropolitan Region
and in Parana‟s Coastline. The research shows that even though the methodologies
applied by the Ministério do Turismo and SETU in the process of strategic and
participative planning are the same for all regions, there are discrepancies and
advances on the strategic planning of these regions. Among the differences, we
highlight and legal constitution the definition of Governance Instance, which is
already a reality in the coastline, since the constitution of the Agência de
Desenvolvimento do Litoral – ADETUR, organization of articulation and fomentation,
and that defines the actions to be taken to the management of tourism in a strategic
and participative way. However, Curitiba‟s Metropolitan Region still faces difficulties
articulating public and the private sectors, since there is not a clear definition on the
means of governance management; this situation prevents the execution of the
Regional Tourism Development Plan.
Key words: strategic and participative planning, governance, tourism, regional
development.
1 INTRODUÇÃO
Apesar das primeiras tentativas de organizar e incentivar o turismo no Paraná
a partir de 1932, é sobretudo em meados dos anos noventa que certas ações de
planejamento vão orientar a política de desenvolvimento turístico no Estado. Dentre
as estratégias implementadas na década de 90, destaca-se o Programa Nacional de
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Municipalização do Turismo – PNMT, elaborado no âmbito do governo federal,
período de 1996/2002.
Em consonância com a Política Nacional de Turismo 2003-2007, o Paraná
atualizou e publicou a Lei 15.973, de 13 de novembro de 2008, que trata da Política
Estadual de Turismo, e atribui ao Plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraná
2008-2011 a função de definir áreas estratégicas, macroprogramas, programas e
ações que viabilizem o turismo estadual, traçando ações conjuntas para os
municípios turísticos em um horizonte de quatro anos. Esse plano surge “como
ferramenta para o desenvolvimento econômico, sustentável e descentralizado, mas
principalmente para a promoção da cidadania, inclusão e justiça social através de
uma gestão pública transparente e integrada”. (Plano de Desenvolvimento do
Turismo do Paraná 2008-2011).
Partindo desse pressuposto, a Secretaria de Estado do Turismo definiu três
áreas estratégicas de atuação para desencadear um novo processo de
desenvolvimento turístico no Paraná: Gestão e Fomento; Desenvolvimento de
Destinos Turísticos e Promoção e Apoio à Comercialização que se desdobram em 6
(seis) macroprogramas, apresentados no fluxograma (FIG.1).
O estabelecimento das estratégias exigiu um novo ordenamento territorial
para a execução dos macroprogramas; desse modo, as regiões turísticas do Litoral,
Curitiba e Região Metropolitana, Campos Gerais, Oeste e Lindeiros ao Lago de
Itaipu, Norte, Noroeste, Centro, Centro-Sul e Sudoeste (FIG.2) passaram a ter
função de agregar suas ações no sentido de unir esforços para consolidar a
atividade turística municipal e regional.
Nesse aspecto houve uma reestruturação de conceitos de municipalização e
regionalização, que outrora eram vistos de modo isolado, mas que atualmente estão
integrados definindo o entrelaçamento e dependência entre município e região.
A necessidade de uma nova gestão estratégica fez com que as instâncias de
governança fossem adotadas com o objetivo de fortalecer a integração entre os
municípios participantes, fortalecendo a regionalização.
Dentre as regiões turísticas existentes no Paraná, este ensaio preliminar
prioriza o Litoral e a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), uma vez que estas
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regiões são objetos de pesquisas das autoras no Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Paraná.
Assim, adotou-se como metodologia a análise de documentos que fazem
parte do processo de construção do planejamento e gestão do turismo no Paraná,
com uma base de dados disponíveis sobre a atividade turística na RMC e Litoral do
Paraná, em particular os disponibilizados pela Secretaria de Estado do Turismo
(SETU) e pela Coordenadoria da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC). Esta
pesquisa de cunho exploratório faz algumas considerações a cerca do processo de
planejamento e gestão do turismo destas duas regiões, consideradas prioritárias no
Programa de Regionalização do Turismo do Governo Federal.
FIGURA 1 – PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DO PARANÁ 20082011
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FIGURA 2 – REGIÕES TURÍSTICAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO TURÍSTICO
Para contextualizar o planejamento turístico é importante que se faça uma
retomada nas definições do planejamento propostas por alguns autores.
A necessidade de planejar é inerente ao processo de organização de
empresas ou municípios, deste modo, os gestores municipais têm mudado sua
postura quanto ao planejamento municipal. Para tanto, pode-se concordar com
Birkholz (1980), ao definir que a palavra planejamento em um sentido amplo é o
método de aplicação, contínuo e permanente, destinado a resolver racionalmente os
problemas que afetam uma sociedade situada em determinado espaço, em
determinada época, através de uma previsão ordenada capaz de antecipar suas
ulteriores consequências.
Ou ainda, segundo Beni (1998, p. 108): “o planejamento do ponto de vista
governamental consiste, no seu sentido mais lato, em um processo que estabelece
objetivos, define linhas de ação e planos detalhados para atingi-los, e determina os
recursos necessários à sua consecução”.
Segundo Cooper et al.(2007, p. 317), “o planejamento do turismo nacional
abrange os planos de desenvolvimento do turismo para um país como um todo, mas
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muitas vezes inclui objetivos específicos para regiões subnacionais ou tipos de áreas
dentro das fronteiras nacionais”.
O processo de planejamento envolve, também, a elaboração de políticas
públicas. Em se tratando do setor de turismo, Cruz (2006, p. 342) afirma que “A
política pública de turismo deve ser um documento público, que reúna o pensamento
do(s) poder(es) público(s) (local, estadual, regional ou nacional) com relação à
organização do setor do turismo em dado território.”
Em relação ao planejamento regional, requer a abdicação, por parte dos
poderes públicos e municipais, de parte de seus projetos individuais em prol de um
projeto coletivo [...], pode significar para muitas municipalidades a única
possibilidade de inserção no seleto rol de lugares que conseguiram fazer do turismo
um instrumento de seu desenvolvimento social e econômico. (CRUZ, 2006, p.343)
Deve-se atentar que o planejamento pode ser operacionalizado em ambientes
naturais, rurais e urbanos, e que para cada território o método deverá ser adaptado
para o alcance de objetivos estabelecidos. Pode-se considerar esta fase teórica
como primordial a todos os ambientes a serem modificados e caberá ao planejador e
equipe institucional traçar as características próprias da localidade para garantir os
resultados adequados àquele espaço físico habitado. (RIBEIRO, 2005, p. 7)
É fundamental insistir que o território não é apenas espaço físico, palco das
atividades humanas, tampouco é inerte. A sociedade ao atuar no espaço, incorporao à sua própria dinâmica. (RODRIGUES, 2007, p.17)
Para o planejamento estratégico, o estabelecimento de eixos, bases,
diretrizes para o desenvolvimento e construção do futuro das cidades, possui como
principal objetivo ”conseguir a transposição da visão individual de cidadãos
conscientes e envolvidos para um horizonte mais amplo, dentro de uma moldura
global”. (LOPES, 1998, p. 91)
Concorda-se com Lopes no sentido de que os gestores municipais chamem a
responsabilidade para a população local, propondo deste modo a legitimação no
processo de planejamento estrategicamente organizado para transpor plataformas
eleitorais, imprescindível ao desenvolvimento contínuo dos municípios brasileiros.
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1612
GOVERNANÇA UMA FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO DO
TURISMO NO BRASIL
O Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil propõe a
implementação do turismo em cada região turística do Brasil. Para tanto, deve-se
buscar a descentralização do poder de decisão, com base na gestão democrática da
participação social. Ressalta também que em todo processo que envolve
planejamento, desenvolvimento e implantação de planos e programas, é necessário
que exista uma organização. Esta, por sua vez, deve encarregar-se da coordenação,
do acompanhamento e da gestão das ações planejadas. (MTUR, 2007, p.16 -17)
Neste sentido, o que se propõe nas Diretrizes Operacionais do Programa é a
instância de governança. A instância significa o “ente organizacional”. É um tipo de
organização social que pode assumir vários formatos: conselho, fórum, associação,
agência e outros. A governança
é a capacidade que os governos têm de criar condições e de responder as
demandas da sociedade.Em se tratando da governança social ou
governança democrática, essa capacidade de governar pressupõe uma
administração participativa que envolve as populações locais na elaboração,
monitoramento e, em alguns casos, na execução de políticas públicas em
nível nacional, estadual, regional e municipal. (SETU, 2009, p.14)
Deste modo, a instância de governança do turismo conta com a participação
de representações do poder público, da sociedade civil organizada e de entidades
empresariais vinculadas ao turismo em um determinado território (país, estado,
região ou município). (SETU, 2009, p.14)
Cada instância de coordenação tem sua competência:

Nacional – Ministério do Turismo, apoiado pelo Conselho
Nacional do Turismo;

Estadual – órgão oficial de turismo da Unidade da Federação,
apoiado pelo fórum/conselho;

Regional – instância de governança regional apoiada pelo órgão
oficial de turismo da UF e pelo fórum/conselho estadual de turismo;

Local – órgão municipal de turismo, apoiado pelo colegiado local
(conselho municipal de turismo).
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1613
De acordo com Fuini e Pires (2009, p.291) a governança faz parte das
estratégias de planejamento e desenvolvimento territorial atual e vem evoluindo
desde 1970, sendo utilizada como “novas formas de regulação e coordenação
emergentes em articulações inéditas entre os atores locais (as empresas,
associações, sindicatos, poder público e universidades).”
Ainda:
a noção de governança vai além de uma simples forma de organização
econômica inter-regional, definida pelo Estado ou por relações de troca
puramente mercantis, associando-se também às modalidades de
coordenação socioeconômicas mais complexas que abraçam instituições,
convenções, registro de ação e formas de incerteza, definindo, assim, um
tipo de regulação, misto entre político e o econômico, entre o local, o
nacional e o global, com forte conteúdo territorial.(FUINI, PIRES, 2009,
p.292-293)
Quando se trata da proximidade geográfica dos municípios, a governança
territorial definida por Colletis, Gilly et.al. (1999), citado por Fuini e Pires (2009),
estaria dentro dos objetivos da Política Nacional do Turismo.
Como um processo institucional-organizacional de construção de uma
estratégia para compatibilizar os diferentes modos de coordenação entre
atores geograficamente próximos em caráter parcial e provisório, atendendo
a premissa de resolução de problemas inéditos. (COLLETIS, GILLY et.al.
1999, IN: FUINI E PIRES, 2009, p. 301)
Assim os “atores econômicos devem articular-se entre si e estes com os
atores institucionais-sociais e políticos através de „regras do jogo‟ e, a dimensão
local e a global através das mediações realizadas por atores ancorados no território.”
(FUINI e PIRES, 2009, p. 301)
É importante salientar que o processo de decisão para a escolha do formato
da instância de governança se dá a partir das escolhas tomadas pelos diferentes
atores envolvidos no processo, e que de modo horizontal e vertical podem
estruturar-se como: fórum, conselho, associação, agência e outros, apontados
detalhadamente a seguir:
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QUADRO 1- FORMATO DE GOVERNANÇA PARA GESTÃO DO TURISMO NO
BRASIL
FORMATO
CARACTERIZAÇÃO
Fórum
A palavra fórum significa reunião, congresso, conferência que envolve
debate de um tema. É um espaço democrático que serve como instrumento
de comunicação, reflexão, debate, intercâmbio, articulação, ajuda mútua na
solução de dúvidas e problemas, exposição de idéias, opiniões e sugestões
sobre um determinado tema.
No fórum as pessoas podem se reunir para discutir sobre um determinado
assunto por meio de debates temáticos, criação de agendas e pautas de
discussão, articulação política, social, cultural e econômica, proposição e
organização de atividades coletivas, sempre com um propósito determinado.
A organização do fórum pressupõe a escolha democrática de um presidente,
um vice-presidente e coordenadores de cada um dos comitês temáticos.
Conselho
Órgão ou instancia colegiada de caráter permanente, deliberativo e/ou
consultivo, que por vezes integra a estrutura básica da secretaria ou órgão
equivalente e tem sua composição, organização e competência fixados em
lei.
Os Conselhos têm o papel de estabelecer a mediação das relações
sociedade/Estado. A partir da Constituição de 1988, leis orgânicas
específicas passaram a regulamentar o direito constitucional à participa ção,
por meio de Conselhos com composição paritária entre representantes do
Poder Executivo e da sociedade civil.
Associação
Pessoa jurídica, formada por vários indivíduos que se organizam de forma
democrática para realização de atividades sem fins lucrativos, em defesa de
seus interesses. Distingue-se de outras entidades pela dupla identidade dos
associados, que seção, ao mesmo tempo gestores e usuários. Suas
principais características são:
- Entidades de direito privado e não público;
- Constituídas pela reunião de duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas
para realização de objetivos comuns;
-Têm patrimônio formado pela contribuição dos participantes por doações,
subvenções, etc;
- Podem ter finalidades alteradas pelos associados, em assembléia geral;
- Deliberam livremente, em assembléia geral, por meio do direto de voto de
cada sócio.
Agência de
Organização técnico-institucional de caráter executivo que atua na
desenvolvimento
identificação, elaboração, implementação e monitoramento de projetos de
desenvolvimento setorial ou territorial. Sua estrutura organizacional é
composta normalmente por: Assembléia Geral; Presidente e Vice-Presidente;
Administração: Conselho Fiscal: Superintendente ou Diretor Executivo e
quadro técnico.
Os aspectos mais relevantes de uma agência são:
- Ser aceita e entendida pelas estruturas políticas e institucionais;
- Traduzir todos os seus objetivos em projetos e atividades concretas;
- Coordenar esforços com outras organizações regionais já existentes;
- Mobilizar os recursos financeiros, públicos e/ou privados, necessários à sua
estrutura básica e necessários a implementação de novos projetos;
- Ter autonomia e independência institucional necessárias para tomar suas
próprias decisões no contexto regional:
- Revelar forte empenho do pessoal técnico, de modo a obter resultados concretos.
Fonte: SETU, 2009, p.19.
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO ESTUDO
Este estudo é uma análise preliminar do planejamento e gestão do turismo da
RMC e do litoral, regiões eleitas como prioritárias para o desenvolvimento do turismo
regional, com competitividade internacional no Programa de Regionalização do
Turismo. O aprofundamento desta análise deverá ser concluído após a coleta de
outros dados no decorrer de 2010. No entanto, a partir desta etapa exploratória, já é
possível apresentar a evolução do planejamento turístico das duas regiões.
Na primeira fase deste estudo foram referenciados autores que tratam dos
conceitos de planejamento turístico como BENI (1998); CRUZ (2006); COOPER,
(2007); RIBEIRO (2005), e que estão diretamente relacionados ao planejamento e
gestão da atividade. Também se fez necessário o conhecimento das políticas
públicas de turismo em nível federal e estadual, em que observou-se uma tendência
de fortalecer as instâncias de governança e o planejamento estratégico regional do
turismo a partir de documentos do Ministério do Turismo - MTUR (2007) e da SETU,
(2005 a 2009); e de autores como FUINI e PIRES (2009) que fundamentaram a
pesquisa específica também relacionada à governança no contexto teórico.
1616
A pesquisa a partir dos documentos técnicos da SETU apontaram que as
duas regiões alvo desse trabalho participaram de quatro módulos operacionais do
Programa de Regionalização do Turismo, dos nove propostos pelo Ministério do
Turismo. No entanto, apesar dos encaminhamentos dos trabalhos, as duas regiões
ora estudadas têm algumas dificuldades de implementar as ações propostas pelo
Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008-2011.
PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA
A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) abrange uma área de
aproximadamente 15.500 Km² e corresponde a cerca de 8,3% do Estado do Paraná,
possuindo 26 municípios: Adrianópolis, Agudos do Sul, Almirante Tamandaré,
Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo Largo,
Campo Magro, Cerro Azul, Colombo, Contenda, Curitiba, Doutor Ulysses, Fazenda
Rio Grande, Itaperuçu, Lapa, Mandirituba, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras,
Quitandinha, Rio Branco do Sul, São José dos Pinhais, Tijucas do Sul e Tunas do
Paraná.
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Esta mesma região possui outra denominação que é utilizada pela SETU,
Curitiba e Região Metropolitana. Na divisão regional para fins turísticos, três
municípios de outra região foram agregados, Piên, Rio Negro e Campo do Tenente e
assim a região turística tem 29 municípios.
O planejamento do turismo na RMC teve origem em 1998 através de uma
proposta regional da então Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural – EMATER/PR (atualmente Instituto Paranaense de Assistência Técnica e
Extensão Rural) e da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC.
A proposta visou desenvolver roteiros de turismo no entorno da capital Curitiba. A
interligação dos mesmos era representada no mapa através de um círculo que foi
denominado de “Anel de Turismo da Região Metropolitana de Curitiba”. A partir de
1999 a proposta regional contou também com a participação do Serviço Social
Autônomo Ecoparaná 56, instituição ligada ao órgão estadual de turismo.
O projeto do Anel de Turismo da Região Metropolitana de Curitiba (PARANÁ,
2000) focava o desenvolvimento sustentável em áreas de interesse de preservação
e em áreas representadas por valores étnico-culturais dos povos colonizadores. Os
objetivos do projeto visavam ampliar as oportunidades de lazer, por meio de
formatação de roteiros turísticos, revitalizar eixos históricos, recuperar elementos
urbanos e edificações de valor histórico, assim como desenvolver vocações rurais da
região.
Em dezembro de 2003 foi criado o Fórum Metropolitano de Turismo, com a
participação dos Secretários Municipais, e por iniciativa da Associação dos
Municípios da Região Metropolitana – ASSOMEC. Embora esta entidade não se
constitua como pessoa jurídica, os objetivos são apresentados, no Art.1º.
O Fórum Metropolitano de Turismo é uma entidade civil sem fins lucrativos,
regido por este Estatuto e pelo seu Regimento Interno, com a finalidade de
representar legalmente, os interesses e aspirações dos órgãos municipais
de turismo dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba, e de
fomentar o turismo visando o desenvolvimento sócio – econômico – político
– ambiental – cultural dos Municípios, com visão regional.(FORUM, 2008)
56
O Serviço Social Autônomo Ecoparaná foi criado com o objetivo de planejar as atividades
turísticas,
elaborando os projetos regionais de turismo desta e de outras regiões do Estado. É uma entidade
sem fins lucrativos, vinculada ao Estado por meio de contrato de gestão, e que tem a
responsabilidade de idealizar projetos e ações relacionados à promoção da atividade turística,
atendendo aos interesses tanto do poder público quanto da iniciativa privada (Ecoparaná, 2002).
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1617
Com a criação do Fórum surge o Guia Turístico Rotas do Pinhão, primeira
ação prática desta entidade, lançado em 2004, que apresentou os roteiros, rotas,
caminhos e circuitos de 15 municípios de Curitiba e Região Metropolitana. É
importante ressaltar que houve um aproveitamento do projeto Anel de Turismo da
Região Metropolitana de Curitiba.
Com o propósito de atender as diretrizes do Programa de Regionalização do
Turismo – Roteiros do Brasil, em 2005 é realizada a 5ª oficina para elaborar o plano
de desenvolvimento turístico regional, com objetivo de atender ao Módulo
Operacional do Plano de Desenvolvimento Turístico Regional. Participaram
representantes dos Órgãos Oficiais de Turismo, dos Conselhos Municipais de
Turismo, do Sistema „S‟ (SENAC, SESC, SEBRAE, SENAR), e da iniciativa privada
que integram a Região Turística Curitiba e Região Metropolitana.
De acordo com Relatório Oficina 2005, o Plano de Desenvolvimento Turístico
Regional
é o instrumento principal para orientar o processo de desenvolvimento
sustentável do turismo na Região, devendo ser o resultado de um
planejamento integrado e participativo, com envolvimento dos atores locais,
para a definição de estratégias que irão nortear o desenvolvimento e
fortalecimento do turismo regional.(2005, p.10)
Nesta oficina, seus participantes consideraram a ati vidade turística na RMC
incipiente, devido aos vários problemas identificados: gestão do turismo ineficaz,
atrativos turísticos sub e/ou mal utilizados, infraestrutura de apoio ao turismo
precária, equipamentos e serviços turísticos deficientes, qualificaç ão dos serviços e
treinamento insuficientes, promoção e comercialização desarticuladas.
Diante das condições negativas, a equipe propôs que estas questões fossem
reformuladas em condições positivas, desejáveis e possíveis de serem alcançadas:
envolvimento eficiente da comunidade, gestão do turismo eficaz, atrativos turísticos
melhor utilizados.
Ainda tratando das propostas para o desenvolvimento regional do turismo da
RMC, o Ministério do Turismo, juntamente com a Secretaria de Turismo do Estado
do Paraná priorizou quatro regiões no Estado para a criação dos roteiros turísticos.
Assim, entre as regiões prioritárias encontra-se a Região Metropolitana de Curitiba,
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1618
composta por municípios que apresentam grande diversidade em opções de turismo:
rural - predominante na Região, turismo de eventos, turismo cultural, ecoturismo,
negócios e aventura.
Em 2008, o Ministério do Turismo, por meio do Programa de Regionalização
do Turismo, propõe três destinos indutores 57 para o Paraná: Curitiba, Paranaguá e
Foz do Iguaçu.
Conforme o Plano Estratégico de 2008
A comunicação e atuação conjunta de entidades públicas e privadas, locais
e regionais, bem como a iniciativa privada, deve ser buscada. Qualificação
dos serviços, integração entre os produtos já existentes, aplicação correta
de recursos são pontos identificados e que precisam de intervenção para
que os cenários futuros sejam alterados e evoluam (2008, p.16)
E ainda, conforme o mesmo plano, “a implementação e o fortalecimento da
instância de governança regional deve ser um dos objetivos primordiais, visto que
ela teria o papel de articuladora e fomentadora do desenvolvimento turístico
regional.” (PEDTR, 2008-2011, p.16).
1619
A capital, Curitiba, é um polo emissor e receptor do turismo no Estado,
apresenta infraestrutura turística, equipamentos, atrativos e instalações turísticas.
Considerado município com padrão internacional (MTUR,2008) tem, porém,
problemas com a divulgação do turismo.
Os outros municípios da região, além do problema com a divulgação, têm
problemas com a infraestrutura para o turismo, equipamentos, qualificação da mãode-obra, fomento e articulação. Os documentos apontam que a maioria dos
municípios não têm plano de desenvolvimento turístico, e somente Curitiba tem
pesquisa de demanda.
Baseada em oficinas anteriores, a SETU realizou uma análise de diagnóstico
para verificação da situação atual (principais pontos fortes e a melhorar) da Região
Metropolitana de Curitiba, seguindo três campos orientadores: planejamento,
organização e promoção.
57
Segundo o Ministério do Turismo (2007), destinos indutores são aqueles que possuem
infraestrutura básica e turística e atrativos qualificados, sendo capazes de atrair e distribuir visitantes
para seu entorno, movimentando a economia local.
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QUADRO 2 - DIAGNÓSTICO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
Campo orientador 1: Avaliação de planejamento na região
Pontos fortes
Pontos a melhorar
Diversidade / segmentação
- Existência do Fórum Metropolitano / Câmara
Técnica
-Existência de planos, projetos, pesquisas em
Andamento (demanda,cadeia produtiva)
-Interesse de entidades diversas em participa
SEBRAE em alguns municípios / SENAC
- Curitiba: pólo indutor
- Existência de roteiros
- Sustentabilidade (social, econômica, ambiental,
cultural, política)
- Fraca e contraditória atuação dos órgãos
regionais (Comec, Fórum, Associação dos
Municípios)
- Envolvimento da iniciativa privada
Campo orientador 2: Avaliação de organização na região
Pontos fortes
Pontos a melhorar
Diversidade cultural, ambiental, rural, negócios.
- Sustentabilidade (social, econômica,
ambiental, cultural política)
- Implementação da governança
- Recursos financeiros (insuficientes e mal
alocados)
- Envolvimento da iniciativa privada
- Falta política integrada
- Maior integração entre os municípios
- Qualificação dos serviços oferecidos para
públicos diferenciados (rural, microempresários urbanos, grandes empresários)
- Roteiros não integrados
- Alinhamento das entidades envolvidas
Campo orientador 3: Avaliação de promoção na região
Pontos Fortes
Pontos a melhorar
- Fraca divulgação da diversidade
- Estratégia mercadológica para
comercialização
- Pouco envolvimento político
- Pesquisa como programa
- Falta material promocional integrado
- Política de preços na região
- Inexistência de sinalização integrada
Fonte: Programa de Regionalização do Turismo no Estado do Paraná Oficina de Planejamento
Estratégico das instâncias de Governanças – Curitiba, 03 e 04/03/2008
A articulação entre os setores público e privado na Região Metropolitana de
Curitiba ainda é incipiente, e o Fórum que é Instância de Governança, que deveria
ser constituído de diversos representantes, continua sem representantes do setor
privado e sociedade civil.
De acordo com os participantes do processo, a mudança de gestão nas
prefeituras provoca a falta de continuidade das propostas de desenvolvimento do
turismo, o que prejudica essa articulação.
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Beni (2006, p.72) identifica que “A interação e integração de atores de
entidades públicas e privadas fornece um valioso aprendizado, obtido por meio da
concentração de entidades em um local isento de políticas partidárias”.
Assim, o planejamento estratégico com vistas ao desenvolvimento econômico
e social do turismo na região deve buscar um órgão de articulação que dê
continuidade às ações planejadas.
PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO NO LITORAL DO PARANÁ
O litoral do Paraná é uma região compreendida de sete municípios em uma
área territorial de 6.333,233 km², sendo extensão de praias de 90 km², e uma
população permanente de 235.840 habitantes (IBGE, 2000) com estimativa de
crescimento populacional para 2009 de 256.365 habitantes, o que significa um
aumento populacional em média de 9% em nove anos.
De acordo com o documento Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Turismo Regional 2008-2011, Região Turística do Litoral (SETU, 2008), a região foi
definida em abril de 2004, com 7 municípios: Morretes, Antonina, Paranaguá,
Matinhos, Guaratuba, Pontal do Paraná e Guaraqueçaba.
Dando continuidade ao processo de implementação do Programa de
Regionalização do Turismo (PRT) – “Roteiros do Brasil”, coordenado pelo Ministério
do Turismo através da Secretaria de Políticas de Turismo, e no Estado do Paraná
pela Secretaria de Estado do Turismo/Paraná Turismo contando com o apoio do
Conselho Estadual de Turismo, é organizada a Oficina de Institucionalização da
Governança Regional do Litoral, em setembro de 2005, em que participaram os
setores público, privado e sociedade civil.
Dentre as prioridades, definiram-se alguns objetivos para o início dos
trabalhos:
•
promover o uso racional e otimizado dos recursos naturais, humanos e
materiais disponíveis, como meio para propiciar o desenvolvimento
sustentável na região;
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•
ordenar e integrar as atividades turísticas, por meio da formação de
parcerias, como forma de evitar desperdícios, duplicidades e paralelismo de
ações, dentro de uma mesma região;
•
fornecer aos órgãos públicos e parceiros um instrumento norteador
para as
ações intra e interinstitucionais.
Diante dos objetivos e das abordagens e necessidades prementes à região,
definiu-se a importância da criação de um órgão que pudesse desempenhar ações
em favor do desenvolvimento sustentável do litoral do Paraná. Desse modo,
acordaram que o modelo de instância de governança mais adequado à gestão
integradora do turismo seria uma “Agência de Desenvolvimento do Turismo
Sustentável do Litoral do Paraná”, denominada simplesmente “AGÊNCIA”, que foi
constituída em 20 de outubro de 2006, como pessoa jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos, e com duração por tempo indeterminado. A partir dessa definição foi
realizada em novembro de 2006, a Oficina de Estruturação e Planejamento da
ADETUR Litoral que tinha como objetivos estruturar a ADETUR Litoral, dar
continuidade ao processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Turístico do
Litoral e comprometer os participantes com esse processo. Assim, os integrantes da
oficina definiram como proposta para a Agência de Desenvolvimento do Turismo do
Paraná – ADETUR:
Promover a articulação e integração entre as organizações públicas e
privadas que atuam na cadeia produtiva do turismo, bem como o seu
fortalecimento, utilizando-se de ferramentas de gestão estratégica que
busquem o planejamento integrado e participativo, através da
compatibilização dos diferentes interesses e ambientes, das potencialidades
e dos desafios a enfrentar, e orientem o direcionamento a ser dado para o
turismo
na
região
do
Litoral
do
Paraná.
(ADETUR,
In:
http://www.adeturlitoral.com.br/acoes, 2009)
É importante destacar que, com a participação dos atores locais, várias
atividades foram priorizadas para o ano de 2007, o que certamente racionalizou e
permitiu a viabilidade das atividades propostas.
Algumas prioridades definidas compuseram o relatório da Oficina de
Estruturação e Planejamento da ADETUR Litoral, realizada em 07 de novembro de
2006:
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-Sensibilizar governantes através da apresentação de dados estatísticos,
política de resultados, participação em eventos e relatórios;
-Integrar os setores no programa de regionalização;
-Incentivar a elaboração de propostas;
-Promover eventos, encontros, reuniões para divulgação das propostas e
resultados;
-Inserir o turismo/educação ambiental no ensino médio;
-Realizar visitas de esclarecimento e aproximação com as secretarias
municipais.
A região do litoral é um grande receptor de turistas de Curitiba e Região
Metropolitana e outros estados, e tem sua economia voltada para serviços,
especialmente turismo, de dezembro a fevereiro.
Embora haja dificuldades relacionadas à infraestrutura, sazonalidade,
saneamento básico e implementação de algumas ações conforme quadro 3,
a
instância de governança ADETUR, “desde sua fundação, tem se mostrado presente
nas ações promocionais que o Estado desenvolve, bem como em ações
promocionais de parceiros como SEBRAE, SETU, BRAZTOA” (PEDTR, 2008, 10).
QUADRO 3 – DIAGNÓSTICO DA REGIÃO LITORAL DO PARANÁ
Campo orientador 1: Avaliação de planejamento na região
-
PONTOS FORTES
Diversificação de segmentos;
Melhor viabilidade nos roteiros turísticos;
Aumento da oferta;
Pesquisa de demanda turística.
PONTOS A MELHORAR
- Falta de integração entre SETU e órgão
ambiental;
- Postura impositiva do IAP;
- Falta de acompanhamento técnico dos projetos
nos municípios;
- Falta de plano de manejo nas UCs;
- Criação e execução de um plano de marketing;
- Qualificação profissional
Campo orientador 2: Avaliação de organização na região
PONTOS FORTES
- ADETUR Litoral
- Apresentação de projeto regional para
captação de recursos federais
- Trabalhos: city tour, terceira idade
- Participação da ADETUR na Capa da M&P/
criação grupo de trabalho
PONTOS A MELHORAR
- Transporte coletivo entre os municípios do
Litoral;
- Falta de participação efetiva de alguns
municípios;
- Falta de divulgação do litoral e das ações da
ADETUR e Grupo Litoral.
- Conscientização e participação dos
empresários do litoral.
Campo orientador 2: Avaliação de promoção na região
PONTOS FORTES
PONTOS A MELHORAR
- Participação nos principais eventos de turismo
- Falta uma imagem do Litoral ( identidade);
da América do Sul;
- Forma de participação e divulgação do litoral
-Mapa Turístico do Litoral;
nos eventos institucionais;
-Catálogo do Litoral;
- Criação do Portal Regional (Internet)
- Melhoria do guia receptivo do Litoral: banco de
imagens. Calendário regional
- Posto de informações turísticas do litoral.
Fonte: Adap. Programa de Regionalização do Turismo no Estado do Paraná Oficina de Planejamento
Estratégico das instâncias de Governanças – Curitiba, 03 e 04/03/2008
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Certamente ainda há muito a realizar e pontos a melhorar, como a falta de
acompanhamento técnico dos projetos nos municípios, a melhoria do transporte
coletivo entre os municípios do litoral, conscientização e participação dos
empresários do litoral, falta de uma imagem do litoral (identidade) e a criação de
portal regional (internet)58 . No entanto, pôde-se perceber os avanços e os esforços
em conjunto dos atores locais para que o turismo no litoral paranaense possa
realmente ser regionalizado, sem perder a personalidade de cada município, mas
integrando-os em benefício da atividade turística.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se em primeiro lugar que os Planos de Desenvolvimento Estratégico
de Turismo de Curitiba e Região Metropolitana e Litoral estão em consonância com
o Plano Estadual de Turismo, e que o objetivo é desenvolver e fortalecer o turismo
“dentro dos padrões de sustentabilidade, qualidade e competitividade, utilizando-se
de ações e de gestão, fomento e promoção, que permite m incremento da economia
estadual e a inclusão social de sua população e satisfação dos seus visitantes”
(Planos de Desenvolvimento Estratégico, 2008).
É importante ressaltar que, embora os planos das regiões contemplem as
diretrizes do Plano Estadual de Turismo, a realidade socioeconômica, ambiental e
cultural de cada região são distintas, como também a gestão das instâncias de
governança propostas pelo Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do
Brasil, conforme apontados nos quadros 2 e 3.
O processo de implementação do turismo focado nas regiões é bastante
complexo, pois há centralização das decisões de políticas públicas em alguns
municípios e nos órgãos gestores, e ainda depende da cooperação e parceria dos
agentes, públicos e privados.
Neste sentido, Beni (2007, p. 148) afirma que o “turismo pressupõe, para seu
desenvolvimento, atitudes e ações de intersetorialidade, portanto, de ação
obrigatoriamente conjunta e integrada no seio do próprio governo e do setor
privado.“
58
O portal regional foi criado em 2009.
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Nesta perspectiva, Cooper et.al. (2001) aponta que o desenvolvimento do
turismo não atingirá seu ponto ótimo, caso fique inteiramente nas mãos do setor
público ou privado, uma vez que o setor público teoricamente voltará seus objetivos
para maximizar os benefícios sociais e o setor privado, os lucros.
Assim, a articulação entre o setor público e o privado e outros atores sociais
deve ser constante, pois o objetivo é desenvolver o turismo de forma sustentada,
que respeite as características ambientais e culturais que permeiam as diretrizes do
planejamento regional, conforme apontam os diagnósticos das regiões. Neste
contexto, ainda, deve haver uma ação interinstitucional de todos os envolvidos, pois,
o dinamismo do mercado turístico pode ser benéfico à atividade turística se,
baseada no princípio do planejamento estratégico e participativo.
Quanto à instância de governança como ferramenta do planejamento e
gestão, o que irá determinar sua consolidação nas regiões será o equilíbrio
organizacional entre seus participantes, pois o que se recomenda é que 70% destes
devem advir da iniciativa privada, e 30% das organizações públicas, contexto que,
se adotado, quebra o vínculo de subserviência das ações do turismo com a
burocracia da gestão pública brasileira.
Constata-se, portanto, que o desenvolvimento regional do turismo na RMC e
no litoral já avançou, mas depende de maior articulação entre os atores sociais,
conforme propõe a instância de governança.
Espera-se que a proposta de regionalização do turismo do governo federal, a
partir das diretrizes do planejamento estratégico e participativo, e por meio das
instâncias de governança, seja uma ferramenta de envolvimento entre os
municípios, com objetivos gerais e conjuntos com vistas a integrar o processo de
desenvolvimento turístico na RMC e Litoral.
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09 de fevereiro de 2010.
ALBANEZ, P. Proposta para o envolvimento da iniciativa privada com o Programa de
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BENI. M. C. Planejamento estratégico e gestão local/regional do turismo. In: Turismo
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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E PARCERIAS NO TURISMO: O PROCESSO
DE ELABORAÇÃO DO G5 – GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
RECEPTIVO DAS ESCOLAS DE SAMBA DA ZONA NORTE DE SÃO PAULO
Tatiana Teixeira Gomes
Bacharel em Lazer e Turismo/EACH-USP
[email protected]
Marcelo Vilela de Almeida
Doutor em Ciências da Comunicação/EACH-USP
[email protected]
RESUMO
Este estudo teve como objetivo geral investigar as possibilidades de aplicação do
planejamento participativo e do estabelecimento de parcerias no turismo, tendo
como objeto de pesquisa o planejamento e os resultados do G5 – Grupo de
Desenvolvimento do Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte, um
consórcio formado por iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE entre cinco escolas de samba da zona norte da cidade de São
Paulo: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche e
X-9 Paulistana. A partir de entrevistas semi-estruturadas com os responsáveis pelo
G5 em três das cinco escolas (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro e Unidos do
Peruche), com o consultor contratado e com a gestora do Grupo (ambos vinculados
ao Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP) e de pesquisa bibliográfica,
verificou-se a importância da participação da comunidade carnavalesca no
planejamento e das parcerias no desenvolvimento do turismo para viabilizar a
formação do G5.
Palavras Chave: planejamento turístico; participação; parcerias; terceiro setor;
carnaval; escolas de samba.
ABSTRACT
The focus of the study hereby presented is to investigate possible applications of
touristic participative planning and partnerships. This research was based upon
planning and results of the G5 – Zona Norte Samba Schools´ Receptive Tourism
Development Group. G5 is an association of five samba schools from northern São
Paulo: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do Peruche
and X-9 Paulistana, all supported by SEBRAE. From semi-structured interviewing
with three of the responsible for the schools (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro and
Unidos do Peruche), the project´s consultant and the group´s manager (both related
to SEBRAE-SP Northern Regional Office) as well as through references and
bibliography researching, it has been ascertained that the involvement of the carnival
community in the process of planning and developing partnerships is vital to the
accomplishment of G5.
Key words: touristic planning; involvement; partnership; third sector; carnival; samba
schools.
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo, resultado de um trabalho de conclusão de curso de graduação, foi
desenvolvido com o objetivo geral de investigar as possibilidades de aplicação do
planejamento participativo em projetos turísticos e do estabelecimento de parcerias
no turismo. O objeto de estudo foi o G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo
Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte, um consórcio formado graças à
iniciativa do Escritório Regional Norte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas – SEBRAE-SP entre as seguintes escolas de samba
paulistanas: Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Unidos da Vila Maria, Unidos do
Peruche e X-9 Paulistana 59.
Os objetivos específicos do trabalho foram:
 Descrever o processo de formação do G5 – Grupo de Desenvolvimento do
Turismo Receptivo das Escolas de Samba da Zona Norte;
 Verificar quais foram os resultados a partir desse Grupo para as escolas de
samba e para o turismo paulistano.
Sendo assim, foram formuladas as seguintes hipóteses:
 O G5 foi elaborado a partir de um planejamento participativo;
 A participação no referido Grupo se deu de forma efetiva, propiciando um
verdadeiro engajamento dos atores envolvidos;
 O G5 apresentou resultados positivos para as escolas de samba nele
envolvidas.
A hipótese de que foi utilizado planejamento participativo no G5 se deu, pois,
segundo Teixeira (1999 apud DIAS, 2003, p.116): “a indisponibilidade comunitária
com relação ao turismo ou a inadequação dos atrativos turísticos locais ao conceito
de produto oferecido comprometerão seriamente qualquer tentativa de exploração
turística [...]”. Sendo um dos elementos das escolas de samba a comunidade local
(CHAGAS, 2002), é essencial que a comunidade participe desse planejamento,
mesmo porque resultados positivos a beneficiam.
59 <http://www.sebraesp.com.br/principal/not%C3%ADcias/materias/2006/setembro/27/ntc1.wspx>,
acesso em: 22 março 2008.
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Os temas planejamento turístico participativo, escolas de samba e parcerias
foram escolhidos a partir do interesse pessoal em investigar o planejamento
participativo no turismo (que ainda é relativamente recente no Brasil), que pode ser
uma forma inovadora e eficiente de planejamento, contribuindo para que os setores
público e privado, além de todos os demais envolvidos com a atividade, possam
usufruir dos resultados gerados.
Uma das motivações para a escolha do objeto de estudo decorre do fato que
se trata de um recorte ainda não encontrado nos acervos bibliográficos estudados,
dentre eles, as bibliotecas virtuais do Scielo 60 e do Caderno Virtual de Turismo 61, os
sistemas de bibliotecas do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo 62, da
Faculdade Cásper Líbero 63, da Universidade de São Paulo 64 e da Universidade São
Judas Tadeu 65. Além disso,
[...] discutir a participação no planejamento do turismo é ampliar nossa
percepção do conceito, e integrar atores diversos, não presentes no
cotidiano das pessoas, e outros que irão integrar-se ao longo da
implantação dos projetos e programas delineados no plano de
desenvolvimento turístico (DIAS, 2003, p.112).
Além da contribuição acadêmica, de acordo com Dias (2003, p.112), “o
planejamento da atividade turística coloca de uma forma totalmente nova a
participação de diversos atores no processo, pela própria característica da atividade
de envolver amplos setores [...]”, por essa razão, abordar o estabelecimento de
parcerias no turismo é importante, devido à diversidade de atores que podem
participar do desenvolvimento turístico. Ademais, o processo de formaç ão do G5 e
seus resultados podem ser usados como parâmetro para outros projetos, tanto pelos
acertos, quanto pelos erros.
Para atingir os objetivos estabelecidos, o trabalho usou como métodos de
investigação a pesquisa bibliográfica e documental, além da realização de
entrevistas semi-estruturadas, gravadas e transcritas, com responsáveis pelo Grupo
60 <http://www.scielo.br/>, acesso em: 06 novembro 2008.
61 <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/>, acesso em: 06 novembro 2008.
62 <http://www.belasartes.br/biblioteca/index.php>, acesso em: 13 outubro 2008.
63 <http://201.33.97.7/pergamum/biblioteca/index.php?resolution2=10 24_1>, acesso em: 13 outubro
2008.
64 <http://dedalus.usp.br:4500/ALEPH/POR/USP/USP/USP>, acesso em: 13 outubro 2008.
65 <http://www.usjt.br/biblioteca/>, acesso em: 13 outubro 2008.
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de três das cinco escolas participantes (Mocidade Alegre, Rosas de Ouro e Unidos
do Peruche).
2 TURISMO, PLANEJAMENTO E PARTICIPAÇÃO – ABORDAGEM TEÓRICA
Embora haja um reconhecimento da importância e expansão das atividades
turística, ainda não há um consenso na definição do que seja o turismo (LAGE;
MILONE, 2001).
Segundo Camargo (2003, p.40), atualmente o turismo é entendido como um
“fenômeno gestado e expandido no contexto da sociedade industrial”.
De modo mais abrangente que boa parte das definições, restritas ao ponto de
vista econômico, o turismo é definido por Gastal e Moesch (2007, p.11) como “um
campo de práticas histórico-sociais que pressupõem o deslocamento dos sujeitos
em tempos e espaço diferentes daqueles dos seus cotidianos”. Dias (2003) aponta
alguns aspectos relevantes para o turismo, como planejamento, participação,
comunidade receptora e organizações do terceiro setor.
No Brasil, segundo Oliveira (2006, p.282), o planejamento “sempre esteve
ligado à elaboração de planos e a controle”. Da mesma forma, estudiosos do turismo
têm suas definições de planejamento também atreladas à elaboração de planos.
Para Ruschmann (1997, p.83), por exemplo, planejamento é “uma atividade
que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos
propostos”; para Molina (2005, p.45), “o planejamento consiste em estabelecer um
curso de ação que conduza à obtenção de uma situação desejada, mediante um
esforço constante, coerente, organizado, sistemático e generalizado”; Braga (2007,
p.1) lembra, ainda, da continuidade do processo de planejamento, pois é necessário
freqüentemente fazer reajustes de planos devido a constantes mudanças da
realidade.
O planejamento turístico, de acordo com Ruschmann (2001, p.67) é:
[...] o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre
uma localidade turística, bem como direcionar a construção de
equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando seus efeitos
negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade.
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Braga (2007) propõe uma definição mais completa, incluindo os atores
envolvidos no planejamento: núcleo receptor (comunidade, oferta turística e
demanda real), demanda potencial e destinos turísticos concorrentes.
Alguns autores como Braga (2007), Petrocchi (2002) e Molina (2005) dividem,
respectivamente,
planejamento
turístico
em
níveis
distintos
(planejamento
preventivo, planejamento corretivo e planejamento misto) ou diferentes tipos (modelo
mediterrâneo ou urbano e modelo fechado ou americano), ou ainda variadas
dimensões: espacial (planejamento nacional, regional, estadual ou provincial e
municipal), temporal (planejamento de curto, médio ou longo prazo) e planejamento
segundo seu objeto (global, econômico, social, intersetorial, setorial, institucional e
físico).
Portanto, o planejamento visa minimizar impactos negativos, bem como
maximizar os positivos de forma organizada, através da elaboração de metas e
objetivos, diagnósticos, planos, estratégias, entre outros. O planejamento turístico
deve ser efetuado pelo setor público e privado, incluindo a participação da
comunidade, se possível, por meio de organizações do Terceiro Setor.
1631
Nas palavras de Bordenave (1986, p.22), “participação é fazer parte, tomar
parte ou ter parte”. O mesmo autor apresenta diferentes modos de se exercer a
participação, a partir de duas bases complementares: uma base afetiva e uma base
instrumental. Completa afirmando que há diversas maneiras de participar: a
participação pode ser de fato, espontânea, imposta, voluntária, provocada (dirigida
ou manipulada) e concedida. Ainda há a participação passiva e ativa, a
microparticipação e a macroparticipação, além da participação simbólica e a
participação real. Também é possível dividir os graus de participação, em ordem
crescente: informação, informação/reação, consulta facultativa, consulta obrigatória,
elaboração/recomendação, co-gestão, delegação e, por fim, a auto-gestão
(BORDENAVE, 1986).
A participação de uma comunidade no planejamento turístico de uma
localidade é de suma importância, possibilitando a influência em decisões que
podem afetar essa comunidade. Dowbor (1987 apud FIGUEIREDO, 1998, p.379),
porém, adverte que “a organização da participação, entretanto, num país que não
tem tradições de política participativa, exige muita flexibilidade e o aproveitamento
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de todas as oportunidades de mobilização”. Pode-se complementar então, que
nessas oportunidades de mobilização é “importante garantir que as populações
tenham acesso a decisões tão significativas, no sentido em que suas necessidades
sejam sempre levadas em consideração” (FIGUEIREDO, 1998, p.379).
Deste modo, há de se formular planejamentos com vista à participação dos
interessados. A respeito do assunto, mais uma vez Araújo (2006, p. 154) coloca que
“o termo participação se tornou quase que um lugar-comum nos textos oficiais
referentes a políticas públicas no Brasil, a exemplo da Política Nacional de Meio
Ambiente e da Política Nacional de Turismo”. No entanto, o autor completa que
“apesar do reconhecimento da importância da participação de um amplo espectro de
atores sociais na criação das políticas setoriais de desenvolvimento, tem havido
pouca discussão na literatura de turismo no Brasi l sobre esse tema” (ARAÚJO,
2006, p.155). Contudo, alguns atores já abordam a participação em seus textos,
sobretudo os que focam sustentabilidade e meio ambiente (no ecoturismo, no
turismo rural, entre outros).
Araújo (2006), fundamentado nas obras mencionadas em seu artigo,
destacou, dentre outros, os seguintes aspectos positivos atrelados ao planejamento
turístico participativo: o desenvolvimento sustentável, a conservação de recursos
ambientais, o aprimoramento do processo democrático, a dimensão educac ional e a
aquisição de habilidades de planejamento. Baseado em Pretty (1995), Araújo (2006)
apresentou ainda a tipologia de participação sociopolítica no planejamento turístico:
participação manipuladora,
participação passiva,
participação por
consulta,
participação por incentivos materiais, participação funcional, participação interativa e
participação por auto-mobilização. Nota-se que há tipos de participação semelhantes
com a tipologia apresentada por Bordenave (1986).
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda que relacionada ao
aspecto cultural, a participação é assegurada no artigo XXVII: “todo ser humano tem
o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e
de participar do progresso científico e de seus benefícios”.66 Atualmente, o tema é
tão recorrente que existem até empresas voltadas a ministrar cursos de capacitação
66 <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>, acesso em: 03 agosto 2008.
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e prestar serviços de moderação frente a processos participativos 67. De qualquer
forma, o que se quis destacar até aqui foi o valor da participação, tanto na sociedade
de modo geral, quanto nos processos de planejamento turístico.
3 PARCERIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO: ASPECTOS
CONCEITUAIS E IDENTIFICAÇÃO DE AGENTES E ATORES
Sendo participação um elemento importante a ser
incorporado
ao
planejamento turístico, além da comunidade receptora, órgãos públicos, privados e o
Terceiro Setor podem estabelecer parcerias para, assim, efetivar um trabalho em
conjunto.
Valarelli (1999 apud ALVARENGA & NOVAES, 2007, p.576) garante que
parceria “tem sido um termo bastante utilizado e difundido, buscando designar certas
formas de cooperação entre organizações da sociedade que trabalham em uma
ação conjunta, motivadas por interesses e objetivos partilhados”. As parcerias têm
muito a contribuir com o desenvolvimento de diversas áreas como, por exemplo,
transporte, energia elétrica e turismo, além de tantas outras, mesmo porque, por se
tratar de parceria, se pressupõe uma cooperação entre mais de uma organização,
com um objetivo comum, como já citado.
Apesar da necessidade da presença do poder público, não é preciso restringir
as ações a ele, tampouco esperar que o mesmo tome a iniciativa para o
desenvolvimento do turismo. “É chegado o momento de promovermos alianças
estratégicas entre os diversos parceiros e, definitivamente, abandonarmos a visão
paternalista e acomodada de apenas transferir responsabilidades” (CARVALHO,
2002, p.156). Uma parceria estratégica já bastante comum é aquela realizada com o
chamado Terceiro Setor, que pode ser entendido da seguinte forma:
Trata-se de organizações de natureza privada e finalidade pública, portanto
sem finalidade de lucro, cujas ações estão voltadas para questões como
cidadania, emancipação, autonomia e direitos da população em geral, e dos
excluídos preferencialmente (SALVATORE, 2004, p.28).
67 <http://www.participando.com.br> e <http://www.scordioli.com.br/index.htm>, acesso em: 03
agosto 2008.
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Um tipo de organização que presta serviços, sem fins lucrativos e merece ser
destacada nesse presente trabalho é o SEBRAE, devido a sua participação na
formação do G5. O SEBRAE pertence ao chamado “Sistema S”, que se insere no
terceiro setor. O Sistema S:
É o conjunto de organizações das entidades corporativas dos empresariais
voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria,
pesquisa e assistência técnica, que além de terem em comum seu nome
iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais
similares (GOMES, 2005, p.1).
O SEBRAE é uma entidade privada de interesse público, sem fins lucrativos,
que, desde 1972, vem apoiando a abertura e a expansão de pequenos negócios. “O
SEBRAE nasceu como resultado da privatização do Centro Brasileiro de Apoio à
Pequena e Média Empresa – CEBRAE” (SEBRAE-SP, 1992, p.159) e, dentre suas
linhas de atuação do estão: orientação empresarial; educação e desenvolvimento da
cultura
empreendedora;
desenvolvimento
territorial;
e
acessos a
serviços
financeiros68.
1634
A atuação do SEBRAE-SP engloba o setor turístico, pois em diversos lugares
pequenos negócios necessitam de apoio em relação às linhas anteriormente
mencionadas, por exemplo: orientação empresarial para donos de pequenos hotéis,
acessos a serviços financeiros para restaurantes etc.. Atualmente, o SEBRAE-SP
tem um programa chamado Programa de Desenvolvimento Territorial – PDT, o qual,
segundo Camila Patrício (gestora do G5, entrevistada na pesquisa de campo), surgiu
a partir da metodologia do Programa de Desenvolvimento do Turismo Receptivo –
PDTR. O PDTR foi criado em 2001, tendo sido implantado em cerca de 100
municípios do Estado de São Paulo.
Como o SEBRAE-SP não fica somente à espera da demanda de serviços,
ocorrem casos em que ele a identifica e toma a iniciativa de começar, orientar ou
mesmo oficializar um negócio. Foi o que ocorreu com o objeto de estudo deste
trabalho, o G5, quando o Escritório Regional Capital Norte visualizou no carnaval e
68 <http://www.sebraesp.com.br/institucional/atuacao>, acesso em: 07 outubro 2008.
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nas escolas de samba a oportunidade de desenvolver o turismo, iniciando o trabalho
com a metodologia do PDTR.
4 CARNAVAL: ORIGENS, ESTRUTURAÇÃO E MANIFESTAÇÕES NA CIDADE
DE SÃO PAULO
As escolas de samba, nas quais o SEBRAE-SP identificou oportunidade de
desenvolvimento turístico, são uma das diversas maneiras de manifestação do
carnaval, uma grande festa popular. Suas raízes são bem antigas, porém, um tanto
hipotéticas, como assevera Urbano (2006, p. 21): “suas origens são bastante
incertas, confusas, e sua história apresenta lacunas, visto que a celebração, em
grande parte dos países onde ele é realizado, remonta a um passado longínquo.”
De acordo com DaMatta (1997), o carnaval é festa do povo e o
classifica como um ritual nacional, justificando que é u m rito fundado “na
possibilidade de dramatizar valores globais, críticos e abrangentes de nossa
sociedade” (DAMATTA, 1997, p.46). Já Sebe (1986, p.33) entende o carnaval como
uma rede de manifestações:
Pensando no carnaval brasileiro pode-se tranqüilamente considerar que se
trata de uma rede infindável de manifestações regionais que, através dos tempos,
tem recebido um tratamento nivelador, tentando determiná-las como se fossem uma
única manifestação.
Alguns autores como Chagas (2002), Urbano, Nabhan e Santos (1987) e
Sebe (1986) encontram relação entre o carnaval e as escolas de samba com a arte.
Por trás desse universo carnavalesco artístico está a comunidade. Segundo Chagas
(2002, p.18), “o espetáculo do carnaval não existe sem a comunidade local, sem o
território como lugar de prática social, sem o patrimônio cultural, sem a memória,
sem os compositores, sem os passistas, sem as baianas e sem o carnavalesco”. A
comunidade é, então, composta:
[...] diretamente pelos componentes da escola (mais ou menos 3 .000
pessoas por desfile) e por outros que vivem dela e para ela. A comunidade
é formada por passistas, compositores, tias baianas, músicos, crianças,
costureiras, figurinistas, serralheiros, eletricistas, engenheiros, designers,
artistas plásticos, cantores, patrocinadores, membros da velha guarda,
crianças, adolescentes e mais (CHAGAS, 2002, p.17).
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Com o tempo houve uma grande expansão do carnaval, a qual se refletiu nas
escolas de samba, pois:
Inicialmente a escola de samba se apresentava de forma simples e
espontânea. Hoje é um verdadeiro produto da indústria cultural. Os próprios
critérios do desfile (seus funcionamento e organização), as negociações
mantidas com agências de turismo vão influenciar a programação dos meios
de comunicação de massa – as mídias – e alterar a produção, o que pode
ser observado na confecção do suporte visual – fantasias e alegorias – e na
mobilização dos confeccionados (URBANO, NABHAN & SANTOS, 1987,
p.10).
Conforme apontado por Urbano, Nabhan e Santos (1987), atualmente as
escolas de samba são produtos da indústria cultural, tendo se transformado em
atrações turísticas. Por isto, necessitam de planejamento, sobretudo com
participação da comunidade, além de parcerias para melhorar e fortalecer o
adequado desenvolvimento da atividade.
Tendo incorporado a idéia de desenvolver o turismo nas escolas de samba, o
Escritório Regional Norte do SEBRAE-SP tomou a iniciativa de procurar as
agremiações paulistanas. Cinco escolas de samba da zona norte da cidade se
reuniram criando, então, o G5 – Grupo de Desenvolvimento do Turismo Receptivo
das Escolas de Samba da Zona Norte.
5 PESQUISA: EXPLICITAÇÃO DA METODOLOGIA, DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
Para se obter as informações a respeito do G5 necessárias à realização do
estudo, foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelo grupo em três das
cinco escolas de samba participantes: Unidos do Peruche, Mocidade Alegre e Rosas
de Ouro, além do consultor do G5 e a gestora do Escritório Regional Capital Norte
do SEBRAE-SP. Tentou-se entrevistar as cinco escolas do grupo, no entanto,
apenas essas três escolas responderam às mensagens eletrônicas enviadas. De
acordo com Dencker (2003, p.137), “a entrevista é uma comunicação verbal entre
duas ou mais pessoas, com um grau de estruturação previamente definido, cuja
finalidade é a obtenção de informações de pesquisa”.
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1636
Através do site do SEBRAE-SP 69 foram identificas as cinco escolas
participantes do grupo:

Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Unidos do Peruche;

Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mocidade Alegre;

Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana;

Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Unidos de Vila Maria;

Sociedade Rosas de Ouro.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, as quais, segundo Martins e
Theóphilo (2007, p.86), são conduzidas “[...] com uso de um roteiro previamente
definido e aplicado para todos os entrevistados”. Dois roteiros foram elaborados para
as entrevistas, um aplicado aos entrevistados das escolas de samba e outro aos do
SEBRAE-SP.
Martins e Theóphilo (2007, p. 87) recomendam que se use gravador “com a
concordância do entrevistado”, deixando a técnica de entrevista semelhante à
técnica da história oral: “o que caracteriza um levantamento como História Oral (HO)
é que o relato transcrito, o documento produzido, se transforma em fonte de
pesquisa” (MARTINS & THEÓPHILO, 2007, p.95). Portanto, a semelhança se deu
pelo uso do gravador que originou a transcrição das entrevistas semi-estruturadas,
gerando, assim, documentos que serviram como fonte de pesquisa.
Também foi possível realizar pesquisa documental, que, de acordo com
Dencker (2003, p.125) “difere da pesquisa bibliográfica por utilizar material que ainda
não recebeu tratamento analítico ou que pode ser reelaborado”; assim, o documento
obtido através de Camila Patrício, gestora do Escritório Regional Capital Norte do
SEBRAE-SP, encaixa-se na definição de fonte documental: trata-se do “Relatório de
Ações 2004 a 2007”, resumido abaixo.
5.1 PESQUISA DOCUMENTAL: SÍNTESE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS
69 <http://www.sebraesp.com.br/principal/not%C3%ADcias/materias/2006/setembro/27/ntc1.wspx>,
acesso em: 22 março 2008.
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No ano de 2004 o projeto foi iniciado, após a realização de discussões,
oficinas de capacitação, treinamento, mobilização da comunidade e planejamento. O
trabalho foi realizado desde o início de forma voluntária por sambistas veteranos e
novatos.
Por iniciativa do SEBRAE-SP, em parceria com a Liga das Escolas de Samba
de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo, foi criado um projeto do qual se originou o
G5, o SP Samba, “que busca profissionalizar o Carnaval paulista e as comunidades
das escolas de samba e ampliar as oportunidades de negócios envolvidos
diretamente e indiretamente com a festa” (RELATÓRIO DE AÇÕES 2004 a 2007,
p.3).
O SEBRAE-SP desenvolveu ações específicas para o projeto SP Samba,
entre elas: barracão oficina; clínica tecnológica; grupos de trabalho, cooperativas e
incubadoras; feira de negócios; missões empresariais; rodadas de negócios;
capacitação turística; Carnatur e selo de qualidade turística. O relatório tinha o foco
nas ações de capacitação turística, portanto, não havia informações a respeito das
demais ações.
1638
O Escritório Regional Capital Norte do SEBRAE-SP, com base no calendário
do projeto SP Samba, convidou as escolas de samba localizadas na sua jurisdição
para participarem do programa de capacitação turística. Os presidentes das
agremiações indicaram os representantes de suas escolas que participariam do
programa de capacitação turística; estes representantes formaram um grupo gestor
para conduzir o PDTR, utilizando a metodologia do SEBRAE-SP.
O PDTR é um sistema modular, que permitiu ao G5 o preparo de um modelo
de trabalho correspondente a sua realidade. Na primeira fase os três módulos do
programa foram: sensibilização da comunidade (conscientização sobre a importância
do turismo para as escolas de samba, por meio de oficinas temáticas, palestras,
workshops e reuniões), formatação de produtos turísticos (além de participação em
eventos diversos, especialmente de turismo) e estrutura de recepção aos turistas
(por limitações restringiram-se aos fatores humanos e técnicos, através de
treinamentos e capacitação técnica do SEBRAE-SP).
O Grupo redigiu um tópico no relatório especialmente para os principais
parceiros, em reconhecimento aos mesmos, sobretudo ao SEBRAE-SP, que
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viabilizou as ações do grupo por meio de consultoria, apoio e orientação durante as
negociações e intermediações com mercado, dando auxílio à divulgação e
montagem de todos os eventos dos quais o Grupo participou, dentre eles, o de
lançamento da logomarca do G5.
5.2 ENTREVISTAS
Após recolher as informações impressas disponíveis, foram entrevistadas os
seguintes indivíduos (todos os integrantes das escolas eram representantes, no G5,
das suas respectivas agremiações):

Adriana Gomes: porta-bandeira da Mocidade Alegre e secretária do Grupo;

Antonio Carlos Afonso: consultor do G5, contratado pelo SEBRAE-SP;

Camila Patrício: funcionária do Escritório Regional Capital Norte do SEBRAESP, gestora do projeto SP Samba;

Márcia Calvo: diretora de eventos da Unidos do Peruche;

Ricardo Paschoal: diretor de ala da Rosas de Ouro;

Roseli dos Santos: diretora do departamento de eventos e secretária da
1639
presidente da Mocidade Alegre.
As
entrevistas
foram
feitas
individualmente,
salvo
uma,
realizada
simultaneamente com duas pessoas, Adriana e Roseli, ambas da Mocidade Alegre.
De modo geral, os depoimentos foram parecidos, sem grandes disparidades. As
transcrições foram utilizadas como fonte de pesquisa.
Primeiramente abordou-se a elaboração do G5. Todos os integrantes das
escolas de samba, de alguma maneira, fazem referência à criação de turismo
receptivo dentro das quadras das agremiações. Todos os entrevistados falaram,
também, sobre os trabalhos do G5, abordando as reuniões, as sensibilizações, os
treinamentos, sempre correspondendo às informações encontrada s no relatório do
G5. Inclusive, a respeito dos elogios aos parceiros, novamente viu-se o destaque ao
SEBRAE-SP. Vale destacar que os entrevistados das escolas de samba também
falaram da relação entre as próprias escolas, destacando que a rivalidade fica dentro
do sambódromo – fora dele, elas são parceiras.
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Com exceção de um, todos os demais participantes das escolas afirmaram
que eles que foram responsáveis pela elaboração do Grupo, com o auxílio do
SEBRAE-SP e a partir da consulta às comunidades das respectivas escolas,
deixando assim o G5 no formato que o Grupo queria e respeitando os interesses e
desejos das comunidades carnavalescas; todavia, o entrevistado da Rosas de Ouro
disse ter dúvidas se de fato os interesses das comunidades eram considerados.
Em suma, todos os entrevistados concordam que o G5 já obteve resultados,
financeiros, com a venda de produtos turísticos (visita às quadras, por exemplo) e no
crescimento das escolas, que começaram a trabalhar no turismo com mais
profissionalismo e qualificação. Um grande problema apontado foi a falta de
continuidade, pois o SEBRAE-SP visa a autonomia de seus projetos e para Antonio
Carlos, consultor do SEBRAE-SP faltou mais participação.
Finalmente, o Grupo, argumentando que precisava se reestruturar para não
perder seu foco na comunidade e ficar predominantemente comercial, suspendeu as
atividades do G5; no entanto, se procurado 70, encaminha os interessados às
agremiações.
1640
5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS
A partir da descrição da formação do G5, pôde-se confirmar a hipótese de
que o Grupo foi elaborado a partir de um planejamento participativo, visto que as
escolas de samba participaram da preparação do projeto. O que não ficou claro foi
se os representantes das agremiações correspondiam aos interesses das suas
respectivas comunidades.
Analisando a definição de Bordenave (1986, p.25), que afirma que em “uma
sociedade participativa [...] os cidadãos têm parte na produção, gerência e usufruto
dos bens da sociedade...”, e transferindo-a ao objeto de estudo (o G5), verificou-se
que os representantes das agremiações fizeram parte da formação e da gerência do
projeto; e, ainda que trabalhem voluntariamente, usufruem dos benefícios gerados
pelo Grupo (eles estão satisfeitos com o retorno que o G5 deu às escolas, não só no
aspecto financeiro, mas também na questão do crescimento e desenvolvimento da
comunidade). Contudo, a participação na ação de gerenciar o Grupo não foi tão forte
70 O G5 não possuía um escritório físico, mas havia telefone para contato e endereço eletrônico.
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quanto era de se esperar, visto que o G5 sofre atualmente com problemas de
estruturação devido à sua mudança de foco (sobressaindo o aspecto comercial ao
invés do fomento à renda e emprego).
Pôde-se confirmar, também, a hipótese de que a participação, no Grupo, se
deu de forma efetiva na formação do G5, propiciando um verdadeiro engajamento
dos atores envolvidos, sobretudo quando eles se referem aos integrantes do Grupo
e não à comunidade da agremiação como um todo.
A terceira e última hipótese também se confirmou, pois o projeto apresentou
resultados positivos para as escolas de samba nele envolvidas. Entre os resultados
estão a qualificação no atendimento aos visitantes, o retorno financeiro e ganho de
visibilidade e credibilidade.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pesquisar as possibilidades de aplicação do planejamento participativo em
projetos turísticos, nota-se que muitos autores que escrevem sobre o setor
recomendam o uso desta metodologia devido à importância de se inserir a
comunidade (ou população local) como interessada e possível beneficiada. A
comunidade precisa participar das decisões de como serão desenvolvidas as
atividades do setor, ainda mais em se tratando da comunidade carnavalesca, dada a
importância das decisões referentes às escolas de samba.
O estabelecimento de parcerias, assim como o planejamento participativo é
indicado por vários motivos, dentre eles: o fortalecimento de alianças estratégicas e
a contribuição ao desenvolvimento do turismo sustentável, além de, por vezes,
minimizar a freqüente ineficiência do Estado na prestação de serviços e na
formulação de políticas públicas – o que, aliás, remete ao surgimento das
organizações do terceiro setor, entidades privadas com fins públicos. O SEBRAE-SP
é uma organização do terceiro setor que tem destaque no segmento turístico por sua
atuação no fomento de pequenos e micro negócios de diversos modos – por
exemplo, no caso do G5, ao incentivar o desenvolvimento turístico nas escolas de
samba e prestar consultoria para a formação do Grupo.
O carnaval no Brasil é uma grande festa popular, a qual se manifesta de
diferentes maneiras pelo país. Em São Paulo, a maior expressão do carnaval
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paulistano são os desfiles das escolas de samba. Atualmente, buscam-se as
quadras das agremiações com o intuito de conhecer e prestigiar o trabalho e os
ensaios das escolas, fazendo desses espaços atrações turísticas não apenas
durante o período que antecede o carnaval. As cinco escolas de samba que
aceitaram o convite do SEBRAE-SP para integrar um produto turístico já colheram
alguns resultados gerados pela formação do G5: capacitação técnica, englobando
distintos assuntos (recepção ao turista, planejamento estratégico etc.), sensibilização
da comunidade, participação em eventos variados, formulação de parcerias, entre
outros.
Através das entrevistas, foi possível constatar que a maioria dos participantes
do G5 acredita na participação efetiva. Observou-se que esta participação ocorreu
na formulação do Grupo e que os processos participativos sofrem com a falta de
continuidade – no caso do G5, destaca-se a falta de foco no objetivo de fomentar
renda e emprego.
O carnaval e o turismo paulistano somente ganharam com o Grupo, devido à
profissionalização no recebimento de turistas. O G5 ainda mostrou que seu trabalho
não se restringiu aos ensaios das escolas de samba: workshops e shows em
eventos externos também fazem parte do rol de atividades do Grupo.
Um projeto dessa magnitude não pode acabar por falta de engajamento, pois
sua importância local na geração de emprego e renda para a comunidade e para o
engrandecimento do turismo receptivo da cidade não pode ser desconsiderada,
mesmo porque também há o crescimento pessoal e profissional das pessoas nele
envolvidas e da própria comunidade. Outro fator a ressaltar foi a coerência nas falas
dos entrevistados, pois não houve nenhuma grande disparidade ou divergência,
evidenciando uma sintonia entre os participantes do Grupo entrevistados, os quais
afirmaram unanimemente que desejam que o G5 seja reestruturado e que não
acabe, pois todos acham o projeto interessante.
O G5 é um projeto recente e outros estudos sobre ele podem ser realizados.
Por exemplo, através do caráter econômico, pode-se medir o impacto turístico
econômico do carnaval em São Paulo, inclusive, especificando o impacto nas
escolas (em todas ou só nas do G5); ou através do ponto de vista da hospitalidade,
tratar o tema a partir da ótica do turismo receptivo nas escolas de samba; pode-se,
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ainda, comparar o turismo receptivo das agremiações que pertencem ao G5 com as
que não pertencem; e há, também, a possibilidade de se realizar uma pesquisa de
satisfação dos visitantes recebidos nas escolas, para verificar se há necessidades
de melhoras e em quais aspectos.
Portanto, distintos assuntos podem ser estudados a respeito do carnaval
paulistano e sua relação com o turismo, não só pelo aspecto econômico, pois os
elementos estudados (planejamento, participação, parcerias, Terceiro Setor etc.)
estão presentes nas discussões referentes ao desenvolvimento do turismo, e são
relevantes tanto no âmbito acadêmico como no mercadológico, para o próprio
sucesso do carnaval como produto turístico e como gerador de benefícios
socioeconômicos e culturais para as pessoas nele envolvidas.
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO EM SÃO LUÍS: DA MARATUR A SETUR
Saulo Ribeiro dos Santos
Mestre em Administração / Universidade Federal do Maranhão
[email protected]
Carla Cristina Pinheiro Silva
Bacharel em Turismo / Universidade Federal do Maranhão
[email protected]
RESUMO
As políticas públicas de turismo têm a função de direcionar ações de ordenamento
para o desenvolvimento da atividade, portanto compreendendo a importância das
políticas, faz-se uma análise das ações realizadas pelas Secretarias de Estado do
Turismo do Maranhão, para compreender de que forma estas auxiliaram na melhoria
do turismo da cidade de São Luís. Portanto, objetiva-se analisar as contribuições
que ocorreram para o município de São Luís com o desenvolvimento de políticas
públicas desde o período da Empresa Maranhense de Turismo ( MARATUR) a
Secretaria de Turismo do Estado do Maranhão (SETUR-MA). A metodologia
caracteriza-se por pesquisa bibliográfica e empírica. Os resultados apontam que as
políticas públicas de turismo no estado do maranhão pouco tiveram êxito em suas
concretizações. Então, conclui-se que o Maranhão através de sua Secretaria de
Turismo deve estar direcionando as estratégias e monitorando as mesmas para que
os objetivos propostos sejam alcançados.
Palavras Chave: Políticas públicas de turismo. São Luís. MARATUR. SETUR
ABSTRACT
Public policies on tourism are meant to guide actions in planning for the development
of activity, so understanding the importance of policies, it is an analysis of the actions
taken by Secretaries of State for Tourism of Maranhão, to understand how these
helped the improvement of tourism in the city of St Louis Therefore, the objective is to
analyze the contributions that occurred to the city of St. Louis with the development
of public policy since the period of the Tourism Company of Maranhão (MARATUR)
the Secretary of State Tourism Maranhão (SETUR-MA). The methodology is
characterized by literature and empirical. The results show that the public policies of
tourism in the state of Maranhão had little success in their achievements. So it
follows that the Maranhão through its Department of Tourism should be directi ng the
strategies and monitoring the same for the proposed objectives are achieved.
Key words: Tourism Public Politics. São Luís. MARATUR. SETUR
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1 INTRODUÇÃO
O poder público torna-se responsável em estabelecer políticas públicas em
todos os níveis (municipal, estadual federal) e setores como saúde, segurança, e o
turismo, condizentes com as necessidades do local, regulando a atividade e
oferecendo infra-estrutura. À iniciativa privada compete realizar investimentos em
equipamentos turísticos, que possam fomentar a atividade. À sociedade civil cabe
envolver-se no contexto, trabalhando para que haja harmonia quanto aos benefícios
proporcionados pelo turismo, entre a comunidade local e o visitante.
No Maranhão, em especial na capital, São Luís, a demanda turística vem se
intensificando nos últimos anos, entretanto, a infra-estrutura não acompanha tal
crescimento. Dessa forma, é importante que o poder público intervenha com um
planejamento por parte dos Órgãos Públicos de Turismo para que a atividade no
Estado continue a se desenvolver, levando em consideração todos os aspectos
locais e regionais, implantando políticas públicas eficazes que possam proporcionar
à cidade um maior desenvolvimento turístico.
Neste contexto, busca-se identificar as ações de turismo desde os primórdios
da atividade em São Luís, vindo desde a implementação da Empresa Maranhense
de Turismo (MARATUR) em 1976, até o ano de 2007, com a atuação da Secretaria
Estadual de Turismo do Maranhão (SETUR-MA).
O tema da pesquisa foi escolhido pela constante necessidade de atualização
dos dados em relação ao assunto. Escolheu-se também por causa do acervo
bibliográfico e viabilidade de realização da pesquisa in loco, uma vez que os dados
necessários encontram-se disponíveis nos arquivos da Secretaria Estadual de
Turismo.
2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO
A política é uma forma de gerenciamento de diversos interesses, em prol do
mesmo objetivo. Dessa forma, a política torna-se dinâmica e flexível, adequando às
necessidades
de
cada
localidade,
suprindo
as
deficiências
existentes,
principalmente em sua fase de implantação. Deve ser considerada como uma forma
para mostrar quais os caminhos a serem utilizados para satisfação do bem comum.
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Para Lobato (2006, p. 87) existem três pontos de vista a partir dos qu ais se
pode conceituar a política: “o da participação do homem na sociedade, o referente
ao planejamento e o da atuação dos poderes públicos”.
Enquanto participação do homem na sociedade, a política torna-se um
instrumento que permite desenvolver de forma organizada sua vida em comunidade.
Quanto ao planejamento, a política passa a ser o conjunto de orientações que
facilitam o processo de tomada de decisões por parte do planejador, indicando-lhes
parâmetros e direções para alcançar os objetivos estabelecidos. Já do ponto de vista
da atuação dos poderes públicos, a política é entendida como a ação dos mesmos
em favor da sociedade. Mas para que o benefício da política tenha em vista a
sociedade, é preciso que o Estado seja o agente regulador, instituindo políticas
públicas cujos objetivos beneficiem a sociedade alcançando o bem estar social.
Neste caso, Vieira (2005 p.16) diz que:
As políticas públicas têm como função histórica apresentar a sociedade
ações para minimizar ou solucionar problemas que, porventura, aflijam ou
afetem a população, com o objetivo de contribuir para com o
amadurecimento da cidadania, alcançando assim, a participação da
população na construção da nação.
Por isso, a política pública visa suprir as necessidades de uma sociedade
como um todo. Dias (2003) diz que a política pública seria o conjunto de ações
executadas pelo Estado em prol das necessidades de uma sociedade. Assim, o
Estado torna-se responsável em estabelecer ações que visem à coletividade. É
importante ressaltar que, apesar da expressiva participação da sociedade, o
estabelecimento de políticas públicas é ação exclusiva do Estado. É ele quem define
as metas e objetivos a serem alcançados.
Mas para que ocorra o crescimento da atividade turística, a atuação do poder
público é essencial, pois ele é o responsável pelo direcionamento da atividade. É o
poder público que garante os interesses coletivos sobrepondo-os aos interesses de
um pequeno grupo ou de um indivíduo.
Devido ao expressivo crescimento do setor turístico, a iniciativa privada e o
poder público passaram a dar mais ênfase na atividade, cabendo ao Estado formular
e aplicar políticas públicas, através de um planejamento pré – estabelecido.
Acerca da política de turismo, Beni (2003, p. 177) diz:
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A política de turismo é a espinha dorsal do formular (planejamento), do
pensar (plano), do fazer (projetos, programas), do executar (preservação,
conservação, utilização e ressignificação dos patrimônios natural e cultural e
sua sustentabilidade), do reprogramar (estratégia) e do fomentar
(investimentos e vendas) o desenvolvimento turístico de um país ou de uma
região e seus produtos finais.
Numa outra definição, o autor diz ainda que se entende por políticas de
turismo o conjunto de fatores condicionantes e de diretrizes básicas que expressam
os caminhos para atingir os objetivos globais para o turismo de um país (BENI,
2003). Ou seja, as políticas públicas de turismo surgem então para incentivar a
atividade turística de um país, integrar as pessoas que fazem parte da sociedade e
os órgãos públicos e privados, com o objetivo de dinamizar o turismo, gerando
assim, emprego e renda para a localidade.
3 RETROSPECTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO MARANHÃO
Neste tópico, utiliza-se como base para desenvolvimento do mesmo, a
dissertação da autora Lobato (2001).
Da mesma forma que em todo o Brasil, no Maranhão também foi tardiamente
1648
que as políticas públicas voltadas para o turismo começaram a ser implantadas.
Data de 1943 a primeira intenção do governo em relação ao turismo, com o
financiamento da construção do Palácio do Comércio em São Luís, o qual iria
abrigar o Hotel Central de São Luís.
Em 1962, o então governador Newton Belo criou o Departamento de Turismo
e Promoções do Estado, através da Lei nº 2.239/62, que tinha como função
“assessorar o governo do Estado quanto às questões relativas ao turismo, estando
subordinado, na estrutura administrativa do Estado ao Gabinete do Governador”
(LOBATO, 2001, p 76). Durante esse período predominava no poder público a
filosofia de que era necessário investir a construção de equipamentos hoteleiros.
Em 1963, com o objetivo de criar subsídios financeiros para o Departamento
de Turismo e Promoções do Estado, o governador estabeleceu o Fundo Especial de
Desenvolvimento do Turismo, que consistia em uma taxa e 0,5%, que seria cobrado
dos empresários do turismo, sobre a venda de ingressos de serviços de
entretenimento e da receita das empresas prestadoras de serviços turísticos.
Domingos Vieira Filha, folclorista e então Diretor de Cultura do Estado, foi nomeado
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para coordenar e administrar o Fundo, que, juntos, passaram a ter o
desenvolvimento da cultura local como objetivo principal, e fazendo com que os
objetivos iniciais, de promoção do turismo estadual, ficassem esquecidos.
Também data de 1963, a criação do Departamento Municipal de Turismo e
Promoções Culturais, pelo governo municipal, que tinha como objetivos a promoção
de tombamentos, a restauração e conservação de monumentos públicos, o
cadastramento de prédios coloniais, a reeditação de obras clássicas maranhenses, a
organização de excursões, a formação de Guias de Turismo, o incentivo ao folclore,
a elaboração de documentários, entre outros. O governo municipal, da mesma forma
que o estadual, instituiu a taxa de 10% sobre os serviços turísticos.
Em 1971 foi criada a Coordenadoria de Turismo e Cultura Popular, e o Fundo
Rotativo do Turismo (FURINTUR) passou a ter as suas atribuições concentradas ao
incentivo ao artesanato e folclore, e em 1973, o mesmo foi extinto sem maiores
contribuições ao desenvolvimento das políticas de turismo no Estado.
Numa tentativa de desenvolver o turismo em São Luís, Américo Azevedo
Neto, então dirigente da Coordenadoria de Turismo, estabeleceu um Plano de
Desenvolvimento Turístico. As empresas de consultoria Assessores Técnicos
(ASTEL) e OLAF PROCHNINK foram contratadas para realizar esse Plano.
O Plano de Desenvolvimento Turístico propôs a descentralização da gestão
pública, através da criação de um Conselho Estadual de Turismo, para formular e
coordenar a política estadual de turismo, da Empresa Maranhense de Turismo,
como órgão executivo, e de Órgãos Executivos em nível municipal, para
complementar os demais. O Plano indicou também propostas de atuação em infraestrutura direta e indireta, desenvolvimento e valorização das atrações turísticas e
medida qualitativas de preservação dos atrativos naturais e culturais. Entretanto,
quase nada do que foi proposto pelo Plano foi executado, ficando restrito aos
projetos culturais.
No ano de 1973, através da Lei nº 3.347/73, foi criada a Secretaria de
Indústria e Comércio, que tinha em sua estrutura um Departamento de Turismo, que
tinha como atribuições “propor diretrizes básicas para a Política de Desenvolvimento
do Turismo, promover estudos para identificar e aproveitar os recursos turísticos,
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estimular a criação de infra-estrutura de turismo no Estado e fomentar a atividade
empresarial ligada ao setor” (LOBATO, 2001, p 84).
Durante todo esse período, desde a criação do Departamento de Turismo e
Promoções do Estado, até a criação do Departamento de Turismo, pouco foi
realmente feito pelo desenvolvimento das políticas públicas de turismo no Estado,
ficando as ações voltadas para a cultura, com pouca estrutura e planejamento.
Em 1976 o governo do Estado resolveu acatar as proposta do Plano de
Desenvolvimento do Turismo e criou, simultaneamente, o Conselho Estadual de
Turismo e a Empresa Maranhense de Turismo (MARATUR).
O Conselho Estadual de Turismo foi instituído com “competências de
estabelecer a formulação das diretrizes básicas da Política Estadual de Turismo e a
aprovação dos Planos Anuais e Plurianuais de Turismo, elaboradas pela MARATUR”
(LOBATO, 2001, p. 86).
Em 1979, foi criada a Companhia Municipal de Turismo e Patrimônio, através
da Lei nº 2.402, tendo como coordenador Américo Azevedo Neto, entretanto, pouco
foi o tempo de atuação da Companhia, sendo que em 1980, o órgão foi extinto e
suas atribuições passadas para a MARATUR.
Com o intuito de promover e desenvolver o setor turístico do Maranhão,
tornando-o capaz de promover fortes impactos econômicos, sociais e culturais,
através de planejamento e rentabilidade, em 1979, o então Governador João
Castelo elaborou a Programação de Turismo para o Estado do Maranhão.
Das ações propostas, poucas foram realmente implantadas, e aque las que
foram implantadas, tinham enfoque maior na área cultural, como a instalação do
Museu do Folclore e Arte Popular; a recuperação do solar da Baronesa de São
Bento, para abrigar a escola de música; o apoio financeiro aos órgãos de artesanato
e folclore e a criação do Arquivo Público.
Em 1980, a MARATUR elaborou um Programa de Zoneamento do Estado do
Maranhão, tendo como objetivo melhor direcionar o potencial turístico do Estado e
descentralizar as ações, levando em conta a metodologia da EMBRATUR para
Inventários da Oferta Turística. Foram definidas cinco zonas turísticas: Zona
Histórica–Cultural: São Luís, Alcântara, São José de Ribamar e Paço do Lumiar;
Zona dos Lençóis: Cedral, Cururupu e Guimarães; Zona Litorânea do Artesanato:
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Araioses, Barreirinhas e Tutóia; Zona dos Cocais: Caxias e Timon; Zona dos Lagos:
Arari, Itapecuru-Mirin, Penalva, Pindaré, Santa Inês, Viana e Vitória do Mearim.
Entretanto, somente a zona Histórica–Cultural tinha real potencial turístico,
ficando as demais áreas como zonas potenciais e a cidade de Imperatriz como
centro de apoio. A concentração foi feita no eixo São Luís – Alcântara, sendo
realizadas algumas ações como pesquisa de demanda em convênio com a
Superintendência do Desenvolvimento
do
Nordeste (SUDENE);
criação e
estruturação do Boletim Estatístico de Ocupação Hoteleira; organização e
coordenação de festas juninas em São Luís e organização e coordenação da Festa
do Divino Espírito Santo, em Alcântara.
Após o ingresso na Comissão de Turismo Integrado do Nordeste, a Empresa
Maranhense de Turismo passou a investir mais em recursos humanos, e durante os
anos de 1988 e 1989, foi realizado o inventario turístico dos municípios de São Luís,
Alcântara, São José de Ribamar e Paço do Lumiar.
No inicio da década de 90, Fernando César Mesquita, ex governador de
Fernando de Noronha, passou a comandar a presidência da MARATUR,
reestruturou a empresa, e concretizou antigos objetivos, como melhoria do
transporte
marítimo
para
Alcântara,
instituição
do
Fundo
Estadual
de
Desenvolvimento Industrial (FEDIT), e o lançamento de Carolina e Barreirinhas no
cenário turístico nacional e internacional.
Dando prosseguimento às tentativas de estabelecer uma política de turismo
no Maranhão, em 1993, a MARATUR apresentou o Programa de Ação para o
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/MA), que foi organizado em
uma parceria entre a SUDENE e a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR),
com participação do Banco do Nordeste do Brasil, além da Comissão de Turismo
Integrado do Nordeste.
No Maranhão, o PRODETUR foi desenvolvido pela Secretaria de Estado de
Meio Ambiente juntamente com a Secretaria de Infra-estrutura, e tinha como
objetivos: contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Estado através do
desenvolvimento da atividade turística; elevar o tempo de permanência do turista, a
partir de programas e ações que concretizassem roteiros dinâmicos, atrativos e
integrados; induzir novos investimentos na infra-estrutura turística, a partir do setor
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público e privado; e gerar emprego e renda por meio da exploração direta ou indireta
da atividade turística.
Foi adotada para os anos de 1996-1999, a tentativa de consolidar o Maranhão
como pólo turístico nacional e internacional, melhorar a infra – estrutura básica e de
apoio turístico, melhorar qualitativamente os bens e serviços turísticos e promover o
Maranhão como produto no Estado e no cenário nacional.
Seguindo tal política, o Estado foi divido em três zonas turísticas: Zona de
Patrimônio Histórico, com os municípios de São Luís, Alcântara, São José de
Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar; Zona dos Lençóis Maranhenses, com os
municípios de Barreirinhas, Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro,
Paulino Neves e Araioses; e Zona das Chapadas, com Balsas, Barra do Corda,
Carolina, Grajaú, Imperatriz, Riachão e Mirador.
Em 1998, após as reformas administrativas que aconteceram no governo, em
que a MARATUR foi extinta, passando as suas atribuições para a Subgerência de
Turismo, que era ligada a Gerência de Planejamento, em uma parceira entre o
Governo do Estado e o PRODETUR/MA, a empresa Marketing SYSTEMS, foi
contratada para elaborar a nova Política de Turismo do Maranhão, que ficou
conhecido como Plano Maior, e que ficou dividido em três fases, o diagnostico e
estratégia de desenvolvimento, plano operacional e implantação.
No plano operacional, havia quatro macroprogramas. Eram eles: “1.
Macroprograma de Desenvolvimento; 2. Macroprograma Maior Q; 3.Macroprograma
de Sensibilização da Comunidade; 4. Macroprograma de Comunicação”. (LOBATO,
2001, p.98).
A divisão do Estado por zonas continuou também no Plano Maior, com um
novo marketing, estabelecendo cinco pólos: Pólo Histórico Cultural; Pólo dos
Lençóis; Pólo Delta das Américas; Pólo Floresta dos Guarás; e Pólo da Chapa das
Mesas. (LOBATO, 2001, p.99).
Hoje, após várias mudanças estruturais, como a criação da ADETUR, ficando
subordinada a antiga Gerência de Planejamento, e poucas ações de destaque, as
políticas de turismo do Estado são definidas pela Secretaria Estadual de Turismo do
Maranhão, que foi implantada em 2006.
4 METODOLOGIA
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O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, pesquisa
de campo onde “o investigador na pesquisa de campo assume o papel de
observador e explorador, coletando diretamente os dados no local (campo) e m que
se deram ou surgiram os fenômenos” (BARROS; LEHFELD, 2001, p. 34). Quanto a
abordagem é quantitativa e qualitativa. E quanto aos fins é descritiva.
O universo pesquisa foi a Secretaria Estadual de Turismo, as agências Baluz
Turismo, Caravelas Turismo, Portal do Turismo, Conect Tur Viagens e Turismo,
Giltur Turismo, Organiza Eventos e Turismo, Santur Viagens e Turismo, Sea and Air
Turismo Receptivo, Taguatur Turismo e Voyage Turismo, e nos hotéis Bellágio
Hotel, Brisamar Hotel, Calhau Praia Hotel, Hotel Abeville, Hotel Premier, Litorânea
Praia Hotel, Lord Hotel, Pousada Portas da Amazônia, San Fernando Hotel, Skina
Palace Hotel, Solare Number One Flat, no período de 10 a 27 de junho de 2008.
A amostra da pesquisa foram os profissionais que trabalharam na Maratur,
na Agência Extraordinária de Desenvolvimento do Turismo do Maranhão (Adetur) e
os que trabalham na Secretaria Estadual de Turismo, além de agentes de viagem
(10) e gerentes dos hotéis (10).
1653
A coleta de dados para a pesquisa de campo foi realizada através da
aplicação de questionários para o trade turístico e entrevistas com funcionários da
Secretaria Estadual de Turismo.
5 ANÁLISES DOS DADOS
5.1 TRADE TURÍSTICO DE SÃO LUÍS
Neste tópico faz-se uma análise dos resultados obtidos junto aos
entrevistados, onde no gráfico 1, foi perguntando o tempo de atuação dos mesmos.
Ao analisar o tempo de atuação dos profissionais do trade turístico, percebese que a maior parte deles (75%) está trabalhando há mais de quatro anos, portanto,
estes tem acompanhado ao longo dos anos o desenvolvimento da atividade turística
em São Luís, o que contribui para o esclarecimento do questionamento da pesquisa.
Por outro lado, cerca de 10% atuam entre três e quatro anos e 5% está no ramo
somente há dois anos. Os que estão entre 3 e 4 anos no mercado só conhecem as
ações da atual SETUR-MA, o que de certa forma esclarece como as políticas
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públicas desenvolvidas e aplicas por esta estão tendo impacto tanto positivo quanto
negativo no mercado.
Gráfico 1: TEMPO DE ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO TRADE TURÍSTICO
DE SÃO LUÍS
Da mesma forma que em todo o Brasil, a atividade turística em São Luís
começou de forma desordenada, sem maiores preocupações e investimentos por
parte do poder público. Não havia nem mesmo organização estrutural dos orgãos
oficiais de turismo, e a atividade muitas vezes dividia as atenções com outros
setores, como cultura e desportos (gráfico 2).
Gráfico 2: TURISMO EM SÃO LUÍS
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A preocupação com o desenvolvimento do turismo só começou a ter mais
ênfase a partir da década de 1990, com as parcerias junto ao Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BIRD), e surgimento de projetos como o Prodetur e o
Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR).
No gráfico 2, tem-se que 40% dos entrevistados consideram que a atividade
na cidade encontra-se em desenvolvimento, entretanto ainda é preciso melhorar a
infra-estrutura. Já os 20% disseram que o turismo está em desenvolvimento, mas
com muitas lacunas a serem preenchidas. 15% dos entrevistados afirmaram que a
cidade possui um grande potencial turístico, entretanto não há políticas públicas
para desenvolver a atividade. 10% responderam que vêem o turismo em São Luís
voltado para o segmento de negócios, que ultimamente tem sido investido pelo
órgão estadual através da criação do Centro de Convenções e também teve-se o
surgimento do São Luís Convention & Visitors Bureau (SLZCVB). Ainda houve quem
destacou que falta a inserção e participação da comunidade local no processo
turístico, e que é preciso melhorar a estrutura hoteleira, e o turismo na cidade é
muito fraco, com pouca demanda, com 5% cada. Ou seja, há uma necessidade do
governo estadual através da atual gestão de turismo desenvolver políticas públicas
para o desenvolvimento da atividade, pois com os resultados percebe-se que é
necessário ter políticas públicas articuladas a outras como saúde, educação,
agricultura, energia, saneamento, entre outros, que possibilitem a melhoria da
estrutura física e também um aumento na promoção e divulgação.
Gráfico 3: CONHECIMENTO DO TRADE DAS AÇÕES REALIZADAS PELO
ESTADO DESDE A MARATUR
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Apesar dos esforços da Empresa Maranhense de Turismo, poucas ações
deram reais resultados, ora devido a fragilidade estrutural que possuía, ora por falta
de comprometimento dos próprios governantes. No gráfico 3, 75% dos entrevistados
do trade turístico de São Luís disseram conhecer alguma ação realizada pelo
Governo do Estado desde a Maratur. Portanto, as ações da Maratur tiveram um
alcance positivo junto ao trade, pois os mesmos conheceram os projetos. Então, a
divulgação foi um ponto positivo, pois conseguiu promover as políticas para que os
participantes do mercado turístico de São Luís tivessem a oportunidade de conhecer
as políticas e poderem atuar em direção da mesma, criando planos que pudessem ir
de encontro com as mesmas.
Gráfico 4: AÇÕES DESENVOLVIDAS DESDE A MARATUR CONHECIDAS PELO
TRADE
1656
No gráfico 4, tem-se as ações que os profissionais conhecem, dando
destaque principalmente as realizações do Carnaval e São João com 29%, ou seja,
os festejos culturais são destaques de atuação ao longo dos anos no setor público.
Em seguida tem-se a execução do Projeto Reviver com 18%, como sendo o
segundo intem mais lembrado. Mas é necessário destacar que o Projeto Reviver não
foi diretamente uma política pública do órgão de turismo, mas que acaba fazendo
com que os profssionais lembrem deste devido a região ser o principal produto
turístico da cidade de São Luís. Com 12% tem-se a implantação do Plano Maior e a
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participação em feiras e workshop. Há ainda a Rodade Negócios, o Apoio à 3ª idade,
a criação do Convention Bureau e a Recepção de Turistas no Aeroporto, com 6%
das respostas, cada.
Gráfico 5: AS AÇÕES QUE O GOVERNO DESENVOLVE PARA O TURISMO NA
VISÃO DO TRADE
É
dever
do
Estado
implantar
políticas
públicas
eficazes
para
o
desenvolvimento da atividade turística nas localidades. É ele quem determina as
metas a serem alcançadas, havendo, claro, a participação de todos os níveis, como
empresariado e sociedade civil organizada, além da inserção da comunidade local
no processo de tomada de decisões, entretanto, é o Estado que diz as diretrizes a
serem seguidas. Para o trade de São Luís, 70% dos entrevistados consideram que
as ações que o governo estadual realiza ajudam a desenvolver de alguma forma o
turismo na cidade. 30% disseram que as políticas desenvolvidas pelo governo não
tem auxiliado no desenvolvimento da atividade turística. Portanto, o governo, através
da atual Secretaria de Turismo, deve identificar que ações são necessárias para que
a cidade de São Luís possa ofertar melhores produtos e serviços turísticos.
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Gráfico 6: POR QUE AS AÇÕS DO GOVERNO AJUDAM A DESENVOLVER O
TURISMO NA VISÃO DO TRADE?
1658
O Estado quem define e gerencia ações e resultados alcançados das políticas
públicas implantadas. É destacado também que a política de turismo é o fator
principal para se determinar quais os objetivos globais que um país deve alcançar
para desenvolver a atividade. Para os empresários de turismo em São Luís, 35%
acreditam que as ações realizadas pelo governo ao longo dos anos ajudam a
desenvolver o turismo, uma vez que divulgam o Estado e dessa forma, atraem mais
turistas para a cidade. Há ainda aqueles que consideram que existem boas ações
sendo realizadas, entretanto elas poderiam ser melhores, quem considere que as
ações do poder público enfatizam somente a área dos Lençóis Maranhenses, ainda
quem enfatiza que faltam planejamento e políticas de marketing para o setor, e que
há pouca divulgação das ações implantadas, com 10% cada.
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A falta de infra-
estrutura básica e a falta de retorno dessas atividades tiveram seus destaques, com
5% das respostas cada.
Gráfico 7: AÇÕES DO GOVERNO QUE MERECEM DESTAQUE PARA O TRADE
DE SÃO LUÍS
1659
Na tentativa de desenvolver o turismo em São Luís e no Estado, projetos
como o Prodetur e o Plano Maior foram implantados. Entre os gestores das
empresas turísticas da cidade, a divulgação externa da cidade foi uma das ações do
governo do estado que mais merece destaque, com 27% das respostas. Foram
citadas ainda a participação em feiras e workshop, com 14%, a implantação do
Projeto Reviver e a criação do Convention Bureau, com 9% cada, o apoio a datas
festivas, a criação do Vale Festejar, a construção da Avenida Litorânea e da Lagoa
da Jansen, entre outros mais.
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Gráfico 8: PARTICIPAÇÃO DO TRADE NA ATIVIDADE TURÍSTICA NA
ATIVIDADE TURÍSTICA DE SÃO LUÍS
1660
Para o desenvolvimento organizado da atividade turística é necessário que
haja participação de todos os setores (empresários, sociedade civil organizada, entre
outros), para implantação e acompanhamento dos resultados obtidos, além da
inserção da comunidade local no processo de tomada de decisões. Dentre os
empresários do trade turístico de São Luís, 43% dos entrevistados dizem participar
para desenvolver o turismo através divulgação da cidade e atrativos através de sites,
folhetos informativos e indicações feitas na recepção, houve ainda quem respondeu
que procura prestar um serviço de qualidade, com 24%, aqueles que participam de
reuniões em sindicatos e associações do setor, com 10%, os que buscam parcerias,
e que realizam pesquisas de opinião junto aos turistas, com 5% cada.
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5.2 ÓRGÃO ESTADUAL DE TURISMO
De acordo com as informações repassadas pelos funcionários da SETUR-MA,
pode-se analisar que não houve continuidade nas ações realizadas desde o período
da Maratur, devido os governos sucessores que não valorizaram os projetos
implantados, pelas novas diretrizes da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR)
e Ministério do Turismo, as quais todos os órgãos oficiais de Turismo do Brasil
deveriam seguir. Porém, segundo um funcionário, independente de qualquer
governo, a realização da promoção do Estado é uma ação obrigatória, sendo
modificadas somente as formas com que são realizadas.
Outro
funcionário
lembra
que
a
Maratur
era
bem
estruturada
administrativamente e possuía uma boa organização, além de uma ampla biblioteca
com os documentos e arquivos e que eram disponibilizados aos visitantes,
documentos estes que foram perdidos, com as sucessivas mudanças físicas nos
governos sucessores. Ela comenta que a implantação da Maratur foi um marco para
as políticas públicas de turismo no Estado, uma vez que só havia um Departamento
com as responsabilidades de implantação de políticas voltadas para o tur ismo no
1661
Maranhão.
Destaca também a gestão da Zelinda Lima, na implantação da Maratur, e o
período da presidência do Fernando Mesquita, que ajudou a desenvolver a atividade
turística, indo a loco dos atrativos que o Estado possui.
Os profissionais da SETUR-MA consideram que hoje o Maranhão está mais
bem estruturado quanto ao turismo no Estado. Ambos destacam que a implantação
da atual Secretaria foi um grande ganho para a atividade, pois houve mudanças no
quadro funcional, com funcionários que possuem conhecimento da área.
O funcionário frisa que há na SETUR-MA uma constante avaliação das ações,
para que assim, possa avaliar os prós e contras, sendo que tal supervisão ocorreu
para as ações dos governos passados, sendo que as atividades relacionadas à
valorização da cultura e a promoção externa do Estado em feiras e workshops
mereceram mais destaques por parte da atual gestão. A implantação do Projeto
Reviver, a construção do Centro de Convenções e a Internacionalização do
Aeroporto, foram lembrados ainda pelos funcionários que acompanharam o
desenvolver da atividade turística em São Luís ao longo desse anos.
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Além disso, esclarecem que o turismo de negócios é uma ramificação que
vem crescendo e que esta tendo destaque com a implantação do Centro de
Convenções, trazendo assim, um grande número de turistas para a cidade. São Luís
possui também um grande foco voltado para o turismo cultural, pelo título de
Patrimônio Cultural da Humanidade e pela diversidade folclórica.
Quanto à organização estrutural, a Secretaria Estadual de Turismo encontrase estabelecida com duas Superintendências, cinco Supervisões, além, do
Secretário e Secretária Adjunta.
Segundo o Supervisor de Relações Institucionais e Controle, a busca de
parcerias para o trabalho em conjunto é uma constante. Cita entre as atividades
realizadas em parcerias, o caso do Mercado da Feira da Praia Grande, quando
entidades como Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), Vigilância Sanitária,
Corpo de Bombeiros, e participantes do Núcleo Gestor de São Luís, o qual a
SETUR-MA é integrante, realizaram uma grande limpeza e organização do local. Ele
esclarece que o trabalho em conjunto é muito importante, uma vez que há
diminuição dos custos e maximização dos resultados. Destaca ainda, a integração
da Secretaria com as associações do trade turístico, como Associação Brasileira das
Agências de Viagens e Turismo (ABAV), Associação Brasileira da Indústria de
Hotéis (ABIH), São Luís Convention & Visitors Bureau (SLZCVB), entre outros,
participando das reuniões e buscando resoluções para os problemas diretamente
com os operadores da atividade turística.
Quando perguntado sobre a gestão municipal do turismo, é enfatizado que há
uma boa relação entre o governo estadual e municipal, com ações conjuntas, entre
elas, a implantação da sinalização turística na cidade, a realização de pesquisas
mercadológicas, e na promoção da cidade, exemplificando a participaç ão de ambos
no Salão do Turismo promovido pelo MTUR.
Ele disse ainda que a SETUR-MA possui projetos voltados para São Luís,
como a realização de pesquisas mercadológicas e a implantação da sinalização
turística, em parceria com a Prefeitura Municipal, a capacitação dos gestores –
microempresários do turismo, a capacitação dos taxistas para atendimento ao
turista, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e
o Sindicato dos Taxistas, além da promoção do Estado em feiras e workshops.
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Finalizando, a Secretaria possui como metas para serem alcançadas até o fim
da atual gestão, o fortalecimento do setor e a inserção da comunidade no processo
turístico, através destas ações:
a) Organização do Mercado turístico;
b) Fortalecimento Institucional;
c) Aumento do Cadastur, cadastro que conta com dados de agências,
hotéis, operadoras de turismo, transportadoras, empresas de eventos,
guia e bacharéis em turismo, e que através dele há a liberação de verbas
do Ministério do Turismo ( Mtur);
d) Organização do Conselho Estadual de Turismo;
e) Criação do Conselho Regional do Pólo São Luis, com a participação das
Prefeituras de toda a Ilha de São Luís;
f)
Implantação da Sinalização Turística na cidade;
g) Promoção externa em eventos como Salão do Turismo, e em feiras
internacionais; e
h) Fortalecimento do roteiro São Luís – Lençóis Maranhenses, unificando os
atrativos culturais e naturais.
6 CONCLUSÃO
A implantação da Secretaria Estadual de Turismo do Maranhão como órgão
oficial de turismo no Estado pode ser definida como um grande avanço para as
políticas públicas desse setor no Maranhão, demonstrando dessa forma, a
preocupação do governo para com o desenvolvimento da atividade, para que a
mesma possa gerar lucros e divisas, além da inserção da comunidade no processo
de tomada de decisões, e na participação dos benefícios promovidos pelo turismo.
Apesar dos esforços do poder público, poucas ações obtiveram êxito em seus
resultados, uma vez que o turismo foi dividido durante muito tempo com outros
setores, tendo seu enfoque maior para a cultura.
Hoje esse cenário está começando a modificar-se, com maiores ações por
parte dos órgãos oficiais de turismo, que buscam desenvolver de forma organizada e
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sustentável a atividade na cidade. Muito já se foi realizado em São Luís, porém,
muito ainda há para se desenvolver, sendo que para isso, é necessária a
colaboração e participação de todos os setores envolvidos direta ou indiretamente
na atividade turística.
REFERÊNCIAS
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metodológicas. 12.ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
BENI, Mário Carlos. A Política de Turismo. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (Org.).
Como aprender turismo, como ensinar. 3 ed. São Paulo: Senac, 2003.
CARVALHO, Alan Francisco de. Políticas públicas em turismo no Brasil. Sociedade
e cultura, v. 3, n. 1 e 2, p. 97-109, jan/dez., 2000.
DIAS, Reinaldo. Planejamento turístico. São Paulo: Manole, 2003.
LOBATO, Fabiana. Descentralização das Políticas Públicas de Turismo: a
municipalização do turismo no Maranhão. São Paulo: 2001. (Dissertação de
Mestrado). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2001.
MARANHÃO. Secretaria de Coordenação e Planejamento. Programa de Turismo
para o Estado do Maranhão. São Luís, 1979. (Mimeografado).
MARATUR. Subsídios para a História do Turismo no Maranhão. São Luís, 1982.
VIEIRA, Gustavo Henrique Bezerra. Políticas públicas para o turismo no
Nordeste: o Prodetur no Maranhão. Trabalho de conclusão de curso. Universidade
Federal do Maranhão. São Luís: 2005.
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO ESTADO DE GOIÁS: o caso do BAIXO
VALE PARANAÍBA
Jean Carlos Vieira Santos
Doutorando (IGUFU) Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia; Bolsista Capes - PDEE/Universidade do Algarve (Portugal); Professor da
Universidade Estadual de Goiás – UEG; E-mail: [email protected]
Rosselvelt José Santos
Orientador. Professor do Programa de Pós-Graduação (IGUFU) Instituto de
Geografia da Universidade Federal de Uberlândia; Responsável pelo Laboratório de
Geografia Cultural e Turismo (IGUFU). E-mail: [email protected].
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo central suscitar uma discussão acerca da atual
realidade das políticas públicas de turismo no interior de Goiás, visando apresentar
parte do debate da pesquisa de doutorado intitulada: “Políticas Públicas de
Regionalização e Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. A tese
vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Geografia
da Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais). Este texto apresenta uma
breve discussão teórica e conceitual em torno das políticas de turismo, destacando
autores como: Cunha (2006), Vieira (1997), Santos (1979), Moraes (1990), Valls
(2004), Bezzi (2004), Almeida (2002), entre outros. A área de estudo compreende os
municípios de Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã,
Paranaiguara, Itajá, São Simão e Lagoa Santa, com uma área total superior a
dezesseis mil quilômetros quadrados (16.117,60Km²). Essa paisagem regional
encontra-se na Bacia do Rio Paranaíba, portanto, a microrregião de Quirinópolis
será aqui definida como “Baixo Vale do Paranaíba Goiano”. Este trabalho pretende
apresentar que nas duas últimas décadas, essa microrregião tem vivenciado uma
relevante valorização do setor turístico pelos atores públicos e privados,
principalmente nos municípios de Lagoa Santa e São Simão.
Palavras-chave: Região de Quirinópolis, Lagoa Santa, São Simão, Região
Turística.
ABSTRACT
This paper aims at raising a discussion about the current reality of public policies f or
tourism in the country of Goias, to present part of the debate in the doctoral research
entitled: "Public Policies of regionalization and the Creation of New Tourist Settings in
the country of Goias. The thesis has been developed at the Postgraduate Program of
Geography Institute, University Federal de Uberlândia (Minas Gerais). This paper
presents a brief theoretical and conceptual discussion around tourism policies,
highlighting many authors, Cunha (2006), Vieira (1997), Santos (1979), Moraes
(1990), Valls (2004), Bezzi (2004), Almeida (2002), and others. The study area
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covers the municipalities of Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu,
Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão and Lagoa Santa, with a total area over six
square miles (6,222808 square miles). This regional landscape is founded in Basin of
Paranaíba River, therefore the region of Quirinópolis is here defined as Down Valley
do Paranaíba Goiano. This paper presents that in the two past decades, this region
has experienced an important recovery of the tourism sector by public and private
actors, mainly in the municipalities of Lagoa Santa and São Simão.
Key Words: Region of Quirinópolis, Lagoa Santa, São Simão, Tourist Region.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo central suscitar uma discussão acerca da
atual realidade das políticas públicas de turismo no interior de Goiás, visando
apresentar parte do debate da pesquisa de doutorado intitulada: “Políticas Públicas
de Regionalização e Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. A
tese vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação do Instituto de
Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais/Brasil), que tem
como objetivo compreender as Políticas Públicas direcionadas ao Turismo e como
estas ocorrem nos espaços regionalizados por projetos e programas estatais.
Parte-se do princípio que o desenvolvimento da atividade turística no interior
goiano encontra-se dependente de proposições estatais que visam ampliar o destino
turístico dos visitantes, exigindo novas posturas e estratégias na gestão das políticas
públicas. Isso implica em mudanças no relacionamento entre as esferas do poder
público e a sociedade civil, exigindo negociações, acordos, planejamentos e
organização dos grupos sociais envolvidos com a atividade turística.
Para compreendermos os desdobramentos da regionalização do turismo
nessa parte do país iniciamos uma discussão sobre as políticas públicas, que no
caso da área de investigação deste trabalho apresenta-se em sua maioria
atendendo as demandas sócio-espaciais dentro de cada municipalidade. Desse
modo, preocupamo-nos com a atual realidade das políticas de turismo nas cidades
da microrregião de Quirinópolis.
Na pesquisa aqui apresentada, os trabalhos de campo foram etapas em que a
presença do pesquisador nos “espaços vividos” foi indispensável para a produção do
texto final. Esses foram realizados também para melhorar a percepção e
compreensão das manifestações do turismo nos espaços de cada cidade, e também
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uma forma de vivenciar as implicações das políticas públicas no território e lugar.
Para Santos (1999, p.117):
[...] o trabalho de campo, vai além da coleta de dados para o
desenvolvimento de uma pesquisa comprometida com a realidade das
populações, visto que será também um esforço acurado do pesquisador em
lapidar esse diamante, que é a memória das populações em relação ao
vivido. Esses procedimentos exigirão dos pesquisadores um respeito radical
pelos modos de sentir, pensar e agir e reagir do outro (SANTOS, 1999,
p.117).
A literatura citada destaca ainda que, a partir da memória e do gênero de vida
das populações pesquisadas, pode-se extrair e lapidar os elementos que permitam
compreender com profundidade os sentimentos e as experiências que tornaram
possível a vida das pessoas no lugar. Esse procedimento permitiu ao pesquisador
analisar as transformações do espaço, paisagens, territórios e o surgimento do
turismo, por meio de ações do poder público local, bem como a presença de
investimentos privados.
No contado direto com a realidade fomos percebendo as formas pelas quais
os
projetos
governamentais
foram
incorporando
paisagens,
promovendo
transformações no modo de vida, desencontros e contradições, principalmente nos
ambientes urbanos, com desdobramentos nas práticas e representações sociais das
comunidades e grupos sociais envolvidos. Por meio dessa inserção colheram-se as
informações e estabeleceram diálogos com os envolvidos direta e indiretamente com
o turismo, bem como o registro fotográfico das paisagens.
Para compreensão dos critérios de divisão regional da área de estudo,
consideramos os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desse modo, o estado de Goiás é dividido em cinco mesorregiões: Norte Goiano,
Leste Goiano, Noroeste Goiano, Centro Goiano e Sul Goiano, nessa última
encontram-se localizados os municípios da microrregião de pesquisa.
É importante frisar que as regiões do IBGE seguem os limites administrativos
municipais, o que facilita o trabalho com os dados e indicadores socioeconômicos,
valendo salientar que é assim em todos os estados do Brasil (Arrais, 2004, p. 33).
Nesse contexto, os estados nacionais são divididos em mesorregiões geográficas,
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que são, por sua vez, subdivididas em microrregiões, contanto Goiás atualmente
com dezoito subdivisões (microrregiões), onde:
[...] 11 delas levam o nome de referência dos municípios, 5 elementos do
quadro natural – duas ligadas ao relevo (Chapada dos Veadeiros e Vão do
Paraná) e 3 bacias hidrográficas (Meia Ponte, Rio Vermelho e Rio dos Bois)
-, uma se refere à localização (Sudoeste) e outra ao processo de
urbanização decorrente da construção de Brasília (Entorno de Brasília)
(ARRAIS, 2004, p. 33).
Nesse ordenamento, os nomes das microrregiões revelam as características
e os fatores que tiveram influência na sua conceituação. Desse modo, a microrregião
de Quirinópolis (Mapa 01) é composta pelos municípios de Quirinópolis,
Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão e
Lagoa Santa, com uma área total superior a dezesseis mil quilômetros quadrados
(16.117,60Km²).
Essa paisagem regional encontra-se na Bacia do Rio Paranaíba, drenagem
que abrange terras dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul,
nascendo na serra da Mata da Corda em Minas Gerais, a uma altitude de 1.140
metros. Dessa região até sua foz, ou seja, ao encontro com o rio Grande percorre
uma extensão de 1.120 Km, com uma área de captação e drenagem de 220.195
quilômetros quadrados, sendo que 67,89% localiza-se em Goiás. Seu percurso está
definido em três trechos distintos:
Alto Paranaíba – nascente até o Km 370; Médio Paranaíba – do km 370 até
a barragem de Cachoeira Dourada com 370 km; Baixo Paranaíba – da
barragem de Cachoeira Dourada até a sua foz, com extensão de 380 km. O
trecho Alto Paranaíba encontra-se em sua maior parte, em território mineiro.
Depois de passar por uma região de topografia acentuada [...] (AGMA/EIBH,
2005, p.04).
Portanto, a microrregião de Quirinópolis será aqui definida como “Baixo Vale
do Paranaíba Goiano”, pois a mesma localiza-se abaixo do reservatório da
hidrelétrica de Cachoeira Dourada, na parte onde o rio apresenta uma seção
relativamente calma, compreendendo a área a montante e a jusante do reservatório
da hidrelétrica da São Simão. Apresentado a área de estudo, a seguir este artigo se
desdobrará em três frentes, isto é, na discussão sobre as políticas de turismo e o
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papel do estado, as políticas do setor em Goiás e o caso do Baixo Vale Paranaíba
Goiano.
Mapa 01: LOCALIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE QUIRINÓPOLIS- GOIÁS/
BRASIL.
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Fonte: Extraído da Tese de Doutorado em Geografia IGUF U: “Políticas Públicas de Regionalização e
Criação de Novos Cenários Turísticos no Interior de Goiás”. Organização: VIEIRA SANTOS, J. C.;
CUNHA, D. 2008.
2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO E O PAPEL DO ESTADO
Neste momento discutiremos os eixos teóricos sobre políticas públicas e o
papel do estado, apresentando as políticas estatais relacionadas com os programas
de desenvolvimento do turismo, isto é, com base nos diversos autores que analisam
as políticas do “Estado”.
O século XXI inicia-se com um turismo consolidado a nível mundial porque se
democratizou, transformou num fenômeno planetário e passou a fazer parte do
modo de vida da maior parte dos países. Até recentemente, o turismo circunscreviase à Europa Ocidental e à América do Norte, tanto em termos de origens como de
destinos e atualmente alarga-se a todos os continentes (Cunha, 2006, p. 55-60).
Nesse prisma, Vieira (1997, p.137) ainda destaca que ““dentro de cada país, é a
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nível regional e local que o turismo se manifesta com maior impacto e que o seu
efeito multiplicador no processo de desenvolvimento econômico e social é mais
significativo””.
Contudo, quando a unidade geográfica ou espacial de estudo é o “EstadoNação”, a região ou municipalidade não é mais do que uma subunidade, um
subsistema do sistema nacional. A região não tem existência autônoma, ela não é
mais que uma abstração se a tomarmos separadamente do espaço nacional
considerado como um todo. Diante dessas palavras, é importante a citação de
Santos (1979, p.28), dizendo que um país, um espaço nacional, pode ser estudado
como um sistema, onde um “Estado-Nação” é uma formação sócio-econômica e
uma totalidade.
Nos propósitos deste artigo pode-se definir que o estado é agente de
transformação, difusão, dotação e é intermediário entre as forças internas e
externas, ou seja, não é passivo as demandas da região. Ao contrário, orienta os
estímulos e é o grande criador das condições socioeconômicas de desenvolvimento.
Esse ““Estado manifesta o modo de produção, nas várias porções de Terra, e é por
este determinado; logo, passa a sua lógica ao estabelecer e dirigir a ordem espacial
(Moraes, 1990, p. 24)””.
Desse modo, o Estado tem papel fundamental nas políticas de educação,
saúde, segurança, transporte, meio ambiente, turismo, lazer, entretenimento,
atividades esportivas, cultura, entre outros. Ele é o principal regulador dos usos e
apropriações espaciais, examinando e fiscalizando os diversos grupos econômicos
em cada nova atividade criada, cuja resposta determinará futuras decisões no
âmbito das gestões públicas e desenvolvimento regional. Daí para a Confederação
de Turismo Português – CTP (2005, p.75) ordenar um território, paisagem ou região
é um dos mais complexos domínios da gestão pública:
A ocupação e uso do solo, o acentuar ou atenuar das assimetrias regionais
e do litoral em relação ao interior, a redefinição da estrutura das cidades, a
definição de acessibilidades e de outros equipamentos públicos, são
questões fundamentais para uma política de ambiente, mas que
condicionam, igualmente, todas as restantes áreas políticas setoriais (CTP,
2005, p.75).
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Nesse sentido, a qualidade de vida das populações relaciona-se com a
ocupação do território, pelas articulações entre os espaços urbano e rural, que são
muitas vezes condicionados a informações incompletas, que se efetuaram ao longo
dos anos. Nesses termos, o estado e seus órgãos são responsáveis pelos arranjos
territoriais e desenvolvimento do turismo. Na contemporaneidade das políticas
públicas de turismo, um documento que se torna relevante para as análises teóricas
deste trabalho, é a Declaração de Manila, resultante da Conferência Mundial de
Turismo realizada em 1980.
Ao analisar as diferentes estratégias do desenvolvimento turístico no passado
e aquelas que são recomendáveis em virtude das novas preocupações, o
documento de Manila coloca em destaque as tendências da estratégia de
desenvolvimento turístico recomendável. Entre as ações foi
destacada a
responsabilidade dos poderes públicos em guiar, dirigir e supervisionar a indústria
turística e de integrar o turismo no planejamento nacional do desenvolvimento
econômico (Cunha, 2006, p.49). Diante desse quadro, pode-se dizer que atualmente
o estado ainda assume um papel “mister” no desenvolvimento do turismo,
principalmente injetando fundos públicos nas “municipalidades consideradas
turísticas”.
Para Valls (2004, p.27-28) a atuação das administrações públicas em matéria
de turismo é de responsabilidade dos políticos e funcionários dos diferentes níveis
territoriais, que operam de forma direta no setor, através dos respectivos órgãos
administrativos ou através dos entes criados para esse fim. No âmbito local, as
competências turísticas se relacionam com a ordenação local do território e a criação
de infraestruturas e equipamentos turísticos, com a concessão de licenças e alvarás
de construção, com a propriedade e proteção dos atrativos naturais e patrimoniais,
com a promoção, com autoridade inspetora e criação de impos tos especiais.
No âmbito supra municipal os entes estaduais cooperam com os entes locais
complementando o seu trabalho, juntando esforços e proporcionando conhecimento,
dimensão e fundos para o seu desenvolvimento. No âmbito nacional, os trabalhos se
concentram na fixação e no direcionamento das políticas turísticas, na promoção
exterior conjunta dos produtos estruturados, elaboração de planos gerais a serviço
das regiões, da criação de produtos e melhoria das empresas turísticas, no
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desenvolvimento de determinadas áreas, na formação, fiscalização, estruturação de
observatórios turísticos, entre outros.
É geralmente reconhecido que é da ação do estado que resulta a melhoria de
competitividade dos destinos turísticos, mas o papel do estado no turismo ainda n ão
foi amplamente assumido pelos governantes, principalmente no interior do Brasil.
Aqui é importante destacar que cabe aos mesmos reconhecerem a importância da
atividade não só como fator estratégico de desenvolvimento econômico, mas
também como fenômeno social que faz parte da vida de todos os cidadãos, e isso:
É um passo essencial para a estruturação da organização institucional do
turismo, para a plena compreensão do papel de cada um dos intervenientes
nessa organização e para a mobilização do conjunto de todos eles no
processo de desenvolvimento turístico. [...] a intervenção do Estado no
turismo pode assumir formas e dimensões muito diferenciadas mas, em
regra, consideram-se as seguintes as principais áreas de intervenção:
coordenação, promoção, planejamento, regulamentação, criação de
incentivos e estímulos e produção (CUNHA, 2001, P.421).
Nessa reflexão, às políticas públicas de turismo são explicitamente
defendidas pelo estado. Sendo esse considerado o sujeito principal do planejamento
e desenvolvimento local, estabelecendo, com os agentes econômicos e sociais, o
estilo de desenvolvimento a ser executado. O planejamento, por meio do estado,
corresponde à definição e aplicação de medidas políticas que permitam diminuir as
desigualdades entre as regiões (Bezzi, 2004, p.145).
Então, o estado aparece e cria novas configurações, onde para Bezzi (2004,
p. 147) esse processo ““ reside na dependência mútua entre os lugares “”, e ainda
continua dizendo que essa interdependência é ““ ao mesmo tempo, contínua e
descontínua, segundo as características sociais e físicas dos espaços que se
relacionam entre si “”. Nesse caso, o estado é um elemento fundamental para as
políticas de turismo, principalmente na abordagem orientada para o envolvimento
das estruturas distritais e comunidades locais, com implicações enormes nos
processos de administração pública e desenvolvimento da capacidade de recursos
humanos. Já nos estados da União Européia:
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[...] Concedem aos respectivos nacionais toda a liberdade de movimentos
no espaço da União, mas não concedem da mesma maneira aos nacionais
de outros Estados. De fato, um português pode deslocar -se livremente, tal
como fará dentro de Portugal, para a França e viajar livremente no interior
deste país bem como um italiano o pode fazer para Espanha e vice-versa,
mas um russo ou um brasileiro já não pode deslocar-se livremente para
qualquer um país da União Européia (CUNHA, 2001, P.45).
Na contramão do desenvolvimento e sobre as responsabilidades do estado,
Cunha (2001, p.418) cita na sua obra que a aceleração das transformações que se
operam no turismo, contribui para criar uma série de novos problemas. Problemas
ecológicos, violência ou simplesmente uma série de reportagens desfavoráveis
podem afetar os longos anos de trabalho sério desenvolvido pelo poder estatal,
como o desenvolvimento de novas tecnologias ou as alterações monetárias e
financeiras (Criação de uma nova moeda) podem introduzir novos fatores de
mudança.
A gestão das crises e das mudanças é de responsabilidade do estado, pois
reconhece que os destinos turísticos e os modelos de desenvolvimento evoluem por
fases, desde o seu nascimento ao seu esgotamento. Isto é, criando problemas de
saturação e declínio dos produtos oferecidos, o que obriga os governos a terem de
dinamizar o planejamento incentivando a criatividade e a inovação. Do mesmo modo
à massificação e a sobrecarga turística, que têm conduzido à “monocultura do
atrativo” e à destruição de recursos básicos do turismo, exigem do estado à
promoção da diversificação e a criação de novos produtos.
Cabe então, ao estado o papel de planejador efetivo, no sentido de ampliar a
oferta e disponibilidade de fundos públicos, buscando gerar formação profissional,
melhoria da oferta e criando novas oportunidades perante a concorrência dos
mercados. ““Um dos papéis mais importantes do governo é o da coordenação dos
diferentes intervenientes públicos no turismo bem como das ações e estratégias que
desenvolvem (Cunha, 2001, p.421)””. Nessa vertente, Baptista (2003, p.80) afirma
que devido à complexidade e interdependência de muitas atividades direta e
indiretamente relacionadas ao lazer e turismo, não é fácil conceber e tornar eficaz
uma organização institucional centralizada, tanto a nível nacional como regional e
local que possa assegurar a representatividade e ação política de todos os domínios
em causa.
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Pelo exposto, entende-se, que para a concretização das políticas de turismo
nesse início de século XXI, principalmente nas urbanidades do interior do Brasil é
fundamental a participação do estado na organização das paisagens turísticas.
Contudo, defendemos a participação e interação ativa dos atores locais e regionais,
bem como na execução de parcerias e criação de redes sociais de solidariedade e
sociabilidade, o que fortalece as ações em relação ao turismo definidas pelo
Ministério do setor (Governo Federal), governos estaduais e municipais.
Nesse contexto de considerações e preposições, compreendemos que o
estado presente na região ou em cada municipalidade juntamente com uma
sociedade local ativa deverá definir com maior precisão as prioridades e as formas
que essas poderão emergir a partir das novas configurações marcadas pelo
desenvolvimento do turismo, estimulando a realização de investimentos e apoio
financeiros para empresas públicas e privadas. Partindo dessas reflexões, pode-se
verificar que através da formulação de políticas, aprovação de estratégias de
desenvolvimento,
promoção,
regulamentação,
inspeção
e
proteção
de
consumidores, o estado se faz presente nos lugares, com uma política
descentralizadora e com as competências e responsabilidades distribuídas entres as
administrações centrais, regionais e locais.
3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO ESTADO DE GOIÁS
A descrição do contexto histórico das políticas públicas de turismo em Goiás é
realizada por Almeida (2002, p.200-202) a partir da década de 1960, destacando
que tanto a Embratur como o Plano Nacional do Turismo (PNT) tiveram
repercussões animadoras. Entretanto somente no governo de Leonino Caiado
(1970-1976) serão adotadas medidas para tornar o turismo um instrumento de
desenvolvimento social e econômico. Nesse governo foi criado o Departamento de
Turismo (Detur) e, pelo Decreto 188, de 19/07/1971, criou-se o grupo de trabalho de
Turismo (GTT).
Os objetivos do GTT era identificar as principais regiões goianas com
potencialidades turísticas para uma posterior implantação do Sistema Estadual de
Turismo. Consta no relatório da Secretaria Estadual da Indústria e Comércio de
Goiás, assinado pelo GTT (1971), que o estado não possuía experiência técnica
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nem estrutura política e jurídica funcional no setor turístico, devendo, portanto,
estreitar relações com a Embratur e espelhar-se nos demais estados a fim de
adquirir subsídios para a implementação de uma política de desen volvimento do
turismo.
Sobre as vocações e potencialidades do turismo goiano, o Grupo de Trabalho
de Turismo (GTT) limitou-se a recomendar a implementação do turismo nas regiões
do Araguaia, Caldas Novas e as cidades históricas de Goiás e Pirenópolis, não
apontando nesse período nenhuma municipalidade do Baixo Vale Paranaíba
Goiano. Em 1972 o Detur transformou-se em Goiastur (Empresa Goiana de
Turismo), que existiu até 1999 dando lugar a criação da AGETUR (Agência Goiana
de Turismo). A Goiastur consistia em uma diretoria subordinada à Secretaria
Estadual de Indústria e Comércio, com uma superintendência de promoção de
eventos e outra de operações com suas atribuições inerentes.
Ela contava ainda com um órgão consultivo, o Conselho Estadual de Turismo,
e administrava o Centro de Convenções, recebendo recursos provenientes da
locação do seu espaço físico. Na década de 1980, o governo de Ary Valadão (19791982), procurou-se dinamizar o turismo com estímulos à iniciativa privada,
assumindo com empresários o compromisso de intensificar a divulgação nacional e
internacional, elegendo as regiões do Araguaia, Caldas Novas, Goiás, Pirenópolis,
Corumbá de Goiás e Formosa. A administração seguinte dá continuidade às ações
com a assinatura do protocolo de intenção entre a Goiastur e Embratur.
Durante esse período, treinamentos e qualificação da mão-de-obra com a
participação do Senac são realizados e surge a preocupação de implementar uma
infraestrutura turística no estado. Já no relatório de 1988 registra uma etapa em que
a Goiastur se incumbiu de fomento e fiscalização das iniciativas, planos, programas
e projetos pertinentes ao seu campo de atuação. Esse período caracterizou-se
principalmente pela promoção de eventos e participação em festas, campeonatos e
feiras. Entretanto, de acordo com Almeida (2002, p. 202) são outras iniciativas ali
mencionadas para espacializar a atividade turística que merecem destaque:
[...] pesquisa e levantamento para o diagnóstico no Programa Integrado de
Três Ranchos, levantamento nas cavernas de São Domingos e o
lançamento da proposta para implantação do Pólo de Desenvolvimento
Turístico da Região Leste Goiana. Essas iniciativas demonstram o empenho
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da Goiastur em estabelecer uma atividade duradoura baseada em um
melhor conhecimento dos atrativos e potencialidades (ALMEIDA, 2002, p.
202).
No ano de 1993, essa atividade goiana é fortalecida, onde as políticas
apoiaram-se na instituição estadual Goiastur, nas empresas privadas, Associação
Brasileira dos Agentes de Viagens (Abav), Sindicato dos Empregados do Turismo
(Sindetur), Sindicato dos Gerentes Empresarias do Turismo (SINGETUR) e
Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhorbs). Nesses primeiros
anos da década de 1990, o governo goiano amplia a malha viária pavimentada em
mais de 4.000 km, e no dia 19/04/1994 inaugura o Centro de Convenções do Estado
de Goiás, ações que possibilitou a expansão da atividade turística.
Para Almeida (2002, p. 202-203), apesar de ressaltar o turismo histórico e
cultural nas cidades de Goiás, Pirenópolis, Corumbá de Goiás, Trindade e Muquém,
as duas últimas com as festas e romarias, eram o turismo verde e da natureza (Vale
do Araguaia e Parques Nacionais) e o favorecimento de equipamentos turísticos nas
regiões de águas termais do Rio Quente e Caldas Novas que atraíam maiores
incentivos públicos e privados, onde a intenção se fazia cada vez mais presente no
setor.
Nessa década, consolidou uma maior atuação do Sebrae na promoção das
atividades de turismo e foi criado o Projeto de Execução Descentralizada (PED), que
instituiu pólos de ecoturismo no estado. Conforme Almeida (2002, p.204) através do
projeto intitulado “Criação de Quatro Pólos Indicadores de Desenvolvimento do
Ecoturismo Microrregional”, o PED desenvolveu-se em Goiás sob a égide do
Conselho Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), selecionando
para esse projeto os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Pirenópolis, São
Domingos e Três Ranchos.
Sintetizando esse processo histórico, em
71
11 de novembro de 1998, pela Lei
13.550 foi criada a AGETUR (Agência Goiana de Turismo), órgão responsável pela
atual execução da política turística goiana e pela interlocução com o projeto de
regionalização do turismo – roteiros do Brasil. O regulamento desse órgão foi
aprovado pelo decreto número 5.862, de 17 de novembro de 2003, dando autonomia
71
Fonte extraída da página www.goiasbrasil.com.br, no “Documento AGETUR – Estratégia e Gestão
do ano de 1999”. Consulta realizada em 15 de Março de 2008.
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administrativa, financeira, patrimonial e jurisdicionada à Secretaria de Indústria e
Comércio. Ainda em 1999, o ““Sebrae firma um acordo de cooperação técnicoinstitucional com a Agetur e promove o primeiro Fórum de Turismo de Goiás
(Almeida, 2002, p.212)””.
Diante desse novo ordenamento, as competências da Agência Goiana de
Turismo (AGETUR) passaram a propiciar o fortalecimento e o crescimento do
turismo em Goiás. Cabe ao órgão estatal fomentar o desenvolvimento do turismo e
os processos socioeconômicos, cultural e técnico-científico, atraindo para os
municípios convenções, feiras, exposições, congressos, seminários, conferências e
outros eventos de caráter local, regional, nacional e internacional, atendendo
particularidades setoriais de acordo com a estrutura e vocação de cada município.
Promover a divulgação de eventos em articulação com os demais órgãos estaduais,
contribuir:
[...] para a qualidade dos serviços turísticos, no âmbito do Estado de Goiás,
que devem ser compatíveis com as características de mercado e com os
investimentos em turismo; garantir padrões internacionais de qualidade na
prestação de serviços turísticos, atendendo produtivamente às
necessidades da clientela; participar de planos e programas turísticos
coordenados pelo governo federal e, ao mesmo tempo, promover e facilitar
o intercâmbio com as demais entidades turísticas municipais, estaduais,
nacionais e internacionais; firmar convênios, acordos, contratos,
intercâmbios ou parcerias com pessoas físicas ou jurídicas de direito público
ou privado, nacionais ou estrangeiras, a fim de facilitar e/ou participar de
atividades e processos destinados à melhoria, ao aperfeiçoamento e à
inovação do setor turístico (GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, 2003,
p.02).
Outras funções do órgão são pesquisar fontes de financiamento na esfera do
Governo Federal, de organismos internacionais, públicos ou privados, manter banco
de dados da atividade turística, com vistas a divulgar e promover o surgimento de
novos empreendimentos, e planejar e desenvolver programas e projetos em
articulação com os organismos públicos ou privados. As unidades administrativas
que constituem a estrutura básica e complementar do órgão são: o conselho de
gestão, diretoria executiva, presidência, chefia de gabinete, diretoria administrativa e
financeira, diretoria de desenvolvimento turístico, diretoria de operações turísticas e
diretoria de relações institucionais.
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Nesse contexto, a aprovação das propostas de planos, programas, projetos,
orçamentos, contratação de empréstimos, bem com a supervisão e execução
desses é de responsabilidade do conselho de gestão (Governo do Estado de Goiás,
2003, p.02-03). As competências da diretoria de desenvolvimento turístico da
AGETUR são: executar com base nos estudos socioeconômicos de mercado, as
atividades relacionadas com a aplicação de recursos financeiros, orçamentários e
extra-orçamentários nos programas e projetos, com vistas a dinamizar a oferta e
demanda do turismo.
Cabe ainda a AGETUR atuar no estabelecimento de regras e procedimentos
para o total aproveitamento da gestão das potencialidades turísticas, desenvolverem
estudos de viabilidade econômica, analisando as melhores estratégias de
implantação de projetos, coletar, organizar, manter e disponibilizar informações e
conhecimento do segmento do turismo, desenvolver e aprimorar os instrumentos
técnicos necessários à obtenção das informações e padronizações de serviços e
produtos turísticos, e analisar as oportunidades de mercado, para definição de metas
e objetivos mercadológicos. Em seguida, chega-se ao estudo de caso deste artigo,
apresentando um quadro focado no turismo regional.
4. O CASO DO BAIXO VALE PARANAÍBA GOIANO NO INTERIOR DE GOIÁS
Como já exposto, o Baixo Vale Paranaíba Goiano compreende os municípios
da microrregião de Quirinópolis, composta pelas cidades de Quirinópolis,
Gouvelândia, Cachoeira Alta, Caçu, Itarumã, Paranaiguara, Itajá, São Simão e
Lagoa Santa. Durante a proposta de Regionalização do Turismo, publicada pelo
Ministério do Turismo no início do Governo Lula (2003/2004), essa microrregião do
estado de Goiás foi inserida na “Região Turística das Águas”.
Essa nova configuração regional propiciou a entrada, na região turística, dos
municípios de Água Limpa, Aloândia, Anhanguera, Bom Jesus de Goiás, Buriti
Alegre, Cachoeira Dourada, Caldas Novas, Campo Alegre de Goiás, Catalão,
Corumbaíba, Cromínia, Cumari, Davinópolis, Goiandira, Goiatuba, Inaciolândia,
Ipameri, Itumbiara, Joviânia, Mairipotaba, Marzagão, Morrinhos, Nova Aurora,
Ouvidor, Panamá, Piracanjuba, Pontalina, Porteirão, Professor Jamil, Rio Quente,
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Três Ranchos e Vicentinópolis, juntamente com as municipalidades do Baixo Vale
Paranaíba Goiano.
É importante ressaltar que as atuais divisões do Ministério do Turismo no
estado de Goiás não seguem os limites administrativos das microrregiões. A “Região
Turística das Águas”, por exemplo, apropria-se dos espaços geográficos das
microrregiões de Quirinópolis, Meia Ponte e Catalão, fazendo essas, parte de um
outro plano regional de desenvolvimento e inserção das atividades de turismo nesta
área do interior goiano. O que distancia essas municipalidades e não fortalece as
trocas de informações e criações de redes como propõe as políticas do Ministério do
Turismo e AGETUR.
Desse modo, as contemporâneas e amplas regiões turísticas têm favorecido o
isolamento de municípios, que no caso, da “Região Turística das Águas” atualmente
a instância regional, ou seja, o órgão responsável pela gestão da mesma fica
localizado na cidade de
72
Três Ranchos, dificultando o diálogo e a integração com os
atores sociais locais e representantes dos poderes públicos nas cidades do Baixo
Vale Paranaíba Goiano.
1679
Nesse caso, Gouvelândia é a cidade da microrregião mais próxima dos
gestores responsáveis, 340 quilômetros, já Lagoa Santa a mais distante com 574
quilômetros. Tudo isso só defende e fortalece os interesses individuais e
particulares, não propiciando a construção dos sistemas de redes, parcerias e trocas
de experiências, pois é a articulação entre esses municípios que dá existência e
forma a uma “Região Turística”.
Apesar das atuais informações e propostas do Ministério do Turismo e
AGETUR não chegarem concretamente aos municípios do Baixo Vale Paranaíba
Goiano, isso não impede a existência de ações pontuais e atores sensibilizados e
persuadidos em difundir e disseminar as atividades turísticas da região. Ou seja,
existem pessoas envolvidas com a atividade nos municípios que permitem o
entendimento da mesma no contexto regional e a partir das lógicas desenvolvidas
72
Região Turística das Águas - Caldas Novas é o destino indutor; endereço da instância: GO 330 Km
– 1 Zona Urbana/ Av. Cel. Levino Lopes Coelho, 18 – Centro, Três Ranchos – Goiás. CEP:75720000. Informações retiradas do site do Ministério do Turismo (http://www.turismo.gov.br) consultado no
dia 21 de outubro de 2009.
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no local, constatando práticas privadas e uma política pública que visa fixar esse
setor econômico na microrregião de Quirinópolis.
Por exemplo, Lagoa Santa e São Simão têm seus postos de atendimento ao
visitante e secretarias de turismo, bem como as cidades de Caçu e Itarumã que
também possuem suas secretarias municipais envolvidas com a atividade. Nesses
casos, os quadros de funcionários e colaboradores têm sua manutenção feita com
orçamentos municipais, pois por falta de funcionamento do Conselho Municipal de
Turismo (COMTUR), poucas verbas federais chegam para o setor nessas cidades.
Não existem órgãos de turismo nas outras cidades da microrregião.
É relevante lembrar, que na cidade de São Simão, nos finais de semana e
feriados, dias com maior movimentação de pessoas exógenas à cidade, não ocorre
o funcionamento do Centro de Atendimento ao Turista (CAT). E com exceção de
Lagoa Santa, todos os municípios possuem Terminais Rodoviários, com estrutura
física que oferece aos visitantes e passageiros serviços de bares, restaurantes,
estacionamentos de embarque e desembarque, guichês para compra de passagens
e táxis, fazendo ocorrer um intenso comércio no entorno dessas rodoviárias.
1680
As empresas que atuam na microrregião têm escalas nessas cidades,
disponibilizando várias opções de itinerários, integrando e incorporando essa
paisagem a outras regiões do país. As cidades oferecem, em seus terminais, linhas
intermunicipais e interestaduais, que tem as cidades de Goiânia (Capital do estad o),
Rio Verde (GO), Itumbiara (GO), Jataí (GO) Ituiutaba (MG), Uberlândia (MG), Cuiabá
(MT) e São Paulo (SP) como os principais destinos.
Cabe ressaltar neste artigo, que atualmente apenas São Simão e Lagoa
Santa possuem estrutura espacial para se desenvolverem como centros de
recepção, circulação e distribuição regional turística. Esses municípios possuem
uma variada opção de comércio de alimentação e hospedagens, ou seja, é nesses
núcleos urbanos que os hóspedes têm as melhores prestações de serviços e onde
os referidos órgãos vêm investindo em tecnologias, técnicas e recursos que atendam
visitantes mais exigentes. No entanto, nas demais cidades que compõem a
microrregião de Quirinópolis ou Baixo Vale Paranaíba Goiano, a maior parte dos
meios de hospedagens e setores de alimentação tem seus gerenciamentos e
serviços prestados, pautados no trabalho familiar. Desse formato de exploração
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turística, observamos no objeto de estudo, algumas semelhanças, principalmente no
que se refere aos meios de hospedagens citados por Coriolano:
[...] pequenos meios de hospedagem estão instalados em imóveis de
propriedades dos gestores, tendo sido adaptados. Muitos eram casas de
residência da família e em outros, mesmo após a adaptação para a
atividade empresarial, a família permanece residindo no empreendimento
(CORIOLANO, ET AL, 2009, P.126).
Na paisagem de estudo ainda existem hotéis, pensões e pousadas que
funcionam em antigas residências, que com o aumento da demanda os proprietários
(moradores locais) foram transformando essas estruturas em espaços de locação
turísticas, com quartos simples, sem banheiros privativos e não disponibilizando
telefone e televisão. Onde de acordo com Andrade et al (1999, p.21) ““os
proprietários da maioria das casas de pensão e hospedarias passaram a utilizar a
denominação de hotel, com a intenção de elevar o conceito de casa””.
Com maiores exigências em relação à qualidade dos serviços prestados,
essas pequenas empresas familiares passaram a oferecer também apartamentos
1681
com banheiros, ar condicionado ou ventilador, frigobar e café da manhã. Excetuando
Lagoa Santa e São Simão, as demais cidades da microrregião de Quirinópolis têm
sua demanda hoteleira impulsionada pelo agronegócio, principalmente pela
monocultura canavieira que vem promovendo o aumento do número de
hospedagens nesses lugares, pois nesses municípios o turismo não é uma atividade
econômica predominante.
Desse modo, não se pode afirmar que as novas estruturas hoteleiras que
surgiram nas demais cidades foram a partir de um movimento organizado pelos
órgãos municipais de turismo, e sim para acompanhar os alargados investimentos
em torno dos setores agrícolas e pecuários. São Simão dispõe ainda de aeroporto
com pista de 1800 metros de cumprimento por 45 metros de largura, infraestrutura
deixada durante a construção da Hidrelétrica de São Simão, mas que é pouco
utilizada pela sociedade local e regional, ou seja, apenas para pousos e decolagens
de pequenas aeronaves que são de propriedade dos empresários locais e de outros
que vem a microrregião a negócios.
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Esse aeroporto não funciona 24 horas, pois não conta com balizamento
noturno e também não possui serviços contra incêndio, torre de controle aéreo e
empresas aéreas operando com vôos diários. Contudo é o principal aeroporto da
microrregião, com uma estrutura física de atendimento e estacionamento, mas sem
os serviços de receptividade, embarque e praça de alimentação. Outra pequena
pista de pouso regional encontra-se na cidade de Quirinópolis, porém com menor
estrutura que a sãosimonense. Apesar dessas limitações, o turismo existe e para
atender a nova atividade econômica e os novos visitantes foi surgindo um grupo de
empreendedores com visão econômica e social diferente da realidade regional, isto
é, os nichos explorados passaram a ser distintos do agronegócio existente. De um
lado a agricultura e pecuária continua em expansão, mas de outro está surgindo
hotéis com administrações não familiares e com mão de obra mais especializada, o
que fez melhorar a qualidade dos serviços, atendimento e estruturas físicas.
Pode-se afirmar que os hotéis dessa paisagem passam por uma
“metamorfose administrativa” devido à inserção, expansão e valorização da atividade
turística. Entre os principais hotéis dos núcleos urbanos de São Simão e Lagoa
Santa, estão o
73
Mágica Visão, a Pousada da Ilha e o
74
Hotel Thermas Lagoa Santa,
com modernas infraestruturas de atendimento. Dessa forma, fica explícito que
mudanças vêm ocorrendo na microrregião de Quirinópolis, pois até as últimas
décadas do século XX, os negócios hoteleiros eram gerenciados apenas por grupos
familiares que atuavam sem um planejamento mais específico para o setor, pois
nem sempre as reservas realizadas eram garantias de turistas chegarem aos locais
e terem os quartos disponíveis. Nesse interior de Goiás esses grupos familiares
ainda existem e são a maioria, mas parcialmente alguns deles têm procurado
realizar investimentos focados na especialização para conseguir acompanhar a
complexidade e modernidade do setor turístico.
Fica evidente que os hotéis de base familiar muito contribuíram com a gênese
do turismo na microrregião, mas precisam evoluir no receptivo se quiseram se
manter no negocio. Como existem diferenças no setor, estabelecimentos hoteleiros
73
(http://www.hotelmagicavisao.com.br) e (http://www.pousadadailha.com.br) – sites dos hotéis
Magica Visão e Pousada da Ilha no município de São Simão, nesse endereço é possível encontrar
diversas informações. Consultado no dia 27 de setembro de 2009.
74
(http://www.thermaslagoasanta.com.br). Site do hotel Termas Lagoa Santa no município de Lagoa
Santa, nesse endereço é possível encontrar diversas informações. Consultado no dia 27 de setembro
de 2009.
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como o Mágica Visão, Ilha do Pescador e Hotel Thermas Lagoa Santa foram
construídos para oferecer serviços antes inexistentes, como o tradicional café da
manhã, estacionamento, quartos com Tv, frigobar e ar condicionado, e esses vem se
tornando os principais parceiros dos poderes públicos locais.
Outras ações importantes no contexto do turismo regional são os eventos
realizados pelos poderes públicos do Baixo Vale Paranaíba Goiano, estando entre
eles às festas de peões em todos os municípios, que são desenvolvidas nos recintos
urbanos dos Sindicatos Rurais, locais conhecidos no Cerrado como “Parques de
Exposições Agropecuárias”, isto é, esse festejo está enraizado no calendário dessas
comunidades, atraindo para as cidades um grande número de pessoas.
Tem também os carnavais de São Simão e Lagoa Santa, e os festivais
gastronômicos de São Simão e da “Chica Doida” em Quirinópolis, que constituem
atrativos importantes para atração de turistas em determinada época do ano. O
festival gastronômico “Chica doida” leva esse nome para homenagear um prato
exótico a base de milho conhecido regionalmente e que teve sua origem na
75
Fazenda Cachoeirinha do Rio Preto. Em suma, esses eventos são realizados na
“Praia Artificial de São Simão, Praças Públicas, Parques de Exposições
Agropecuárias e em Parques Municipais”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No estado de Goiás e especificamente na microrregião de Quirinópolis, aqui
também definida como Baixo Vale Paranaíba Goiano as políticas públicas de turismo
podem ser consideradas como jovens na estrutura orgânico-funcional das prefeituras
municipais. Apesar disso nas duas últimas décadas, a região tem vivenciado uma
relevante valorização do setor turístico pelos atores públicos e privados,
principalmente nos municípios de Lagoa Santa e São Simão. No entanto, há várias
carências no receptivo, demonstrando limitações nas transferências de orientações
decorrentes de políticas de governo que não chegam ou demoram no seu processo
75
Dona Petronilha Ferreira Cabral e o marido João Batista da Rocha foram os responsáveis pela
criação do prato goiano, pois gostavam de reunir a família e os amigos para as pamonhadas. Conta à
história que em uma dessas pamonhadas as palhas de milho acabaram e como ainda havia muita
massa resolveu inventar um prato, e no contexto da literatura regional “[...] criaram a receita
acrescentando a massa já temperada, queijo, lingüiça, jiló, cebola e outros c ondimentos e levou ao
forno para assar (STIVAL, 2008, p.19)”.
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de implantação nas escalas regionais e locais. Isso significa que o turismo ainda
convive com as precárias condições de informações que dificultam a implementação
de projetos como o de “regionalização do turismo – roteiros do Brasil”, de
responsabilidade do Ministério do Turismo brasileiro.
Isso também inibe ou retardam o desenvolvimento do setor, contribuindo para
que as atividades ligadas aos setores de turismo e lazer se concentrem nas cidades
pólos. Portanto, na medida em que o projeto estatal de regionalização do turismo se
propaga democraticamente com a finalidade de acelerar as transformações que se
operam nas regiões e municípios, faz com que os gestores públicos do setor se
vejam obrigados a se posicionar nessas áreas com novas políticas, propiciando
oportunidades econômicas e sociais. Levar o estado para o “sertão do país” a partir
de organismos governamentais e propiciar integração deve ser um das novas
preocupações das políticas públicas voltadas para o turismo. Desse modo, na
elaboração de suas ações, o estado, em seus projetos deverá apontar para o
respeito às especificidades regionais, as quais podem exercer um papel importante
na integração desses municípios. Também deverá agir permitindo uma adaptação
mais eficaz dos atores locais e no caso do estado de Goiás, para ordenar o turismo
no seu território, terá que criar imediatamente uma secretaria estadual de turismo.
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ¹
Elcivânia de Oliveira Barreto
Bacharel em Turismo/ Instituto Esperança de Ensino Superior
[email protected]
RESUMO
As políticas públicas de turismo de um país é o instrumento imprescindível para
conduzir o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável e harmônica
entre o meio econômico, social e no que condiz ao ambiente natural. No Brasil as
Políticas Públicas de Turismo são efetivadas de forma descentralizada, na ação
participativa entre o Governo Federal, Estadual e Municipal, além é claro da
importante participação de setores privados. Destarte, o presente estudo intitulado
“Políticas Públicas de Turismo no município de Oriximiná”, foi resultado de uma
pesquisa realizada no ano de 2005 no município de Oriximiná/Pará, como trabalho
de conclusão do Curso de Turismo pelo Instituto Esperança de Ensino Superior na
cidade de Santarém/Pará. Visando investigar se o município, através do órgão
responsável pelo turismo, seguia as diretrizes propostas na Política Nacional de
Turismo, bem como identificar os objetivos e a missão deste órgão, além de
conhecer como estava estruturado e o papel do conselho municipal de turismo, a
pesquisa de caráter qualitativo, realizou-se a partir de uma pesquisa bibliográfica,
documental e de campo. Na pesquisa documental, foram consultados o Plano
Nacional de Turismo 2003-2007, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de
Oriximiná, Lei de criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do
Conselho e Atas de reuniões do Conselho Municipal de Turismo. No que se refere à
pesquisa de campo, foi elaborado um roteiro de entrevista, direcionado a Secretária
Municipal de Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de
Turismo, buscando justamente perceber a articulação destes dois órgãos
importantes ao desenvolvimento do turismo no município. Após a coleta dos dados,
fez-se uma minuciosa análise destes, buscando-se, sobretudo resultados coerentes
e fidedignos com o objetivo da pesquisa. Os resultados da pesquisa apontam a
existência de diretrizes para o fomento da atividade turística no município de acordo
com a Política Nacional de Turismo. Apesar de algumas discordâncias nas respostas
das entrevistadas, observou-se que ambas acreditam na importância de inserção do
turismo como elemento propulsor do desenvolvimento e sustentabilidade econômica,
social e ambiental. Um aspecto negativo, constatado durante a pesquisa, foi a forte
dependência que o órgão competente tem da Prefeitura para viabilizar qualquer tipo
de atividade, principalmente quando se constatou a ilegalidade da secretaria. Com o
advento do turismo no âmbito municipal, torna-se crucial a criação de um órgão
oficial de turismo no município, este que indubitavelmente, será um mecanismo
fortalecedor das políticas públicas de turismo, permitindo o desenvolvimento da
atividade de forma responsável, participativa, e integrada.
Palavras Chave: Turismo, Política Pública, Desenvolvimento, Oriximiná.
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ABSTRACT
The public politics of tourism of a country are the indispensable instrument to lead the
development of the tourist activity in a maintainable and harmonic way among the
economical system, social and in the one what mean to the natural environment. In
Brazil the Public Politics of Tourism are executed in a decentralized way, in partner
among the Federal Government, State and Municipal, besides the important
participation of private sections. Thus, the present study entitled “Políticas Públicas
de Turismo no Município de Oriximiná” (Public Politics of Tourism in the municipal
district of Oriximiná), it was resulted of a research accomplished in the year of 2005
in the municipal district of Oriximiná/Pará, as essay of conclusion of the Course of
Tourism for Instituto Esperança de Ensino Superior (Esperança College) in the city of
Santarém/Pará. Seeking to investigate if the municipal district, by the responsible
organ for the tourism, followed the guidelines proposed in the National Politics of
Tourism, as well as to identify the purpose and the mission of this organ, besides
knowing how it was structured and the paper of the municipal advice of tourism, the
research of qualitative character, took place starting by a bibliographical research,
documental and of field. In the documental research, the National Plan of Tourism
2003-2007, Law of the Sport Department and Tourism Department of Oriximiná, Law
of creation of the Municipal Council of Tourism, Internal Regiment of the Council and
register of meetings of the Municipal Council of Tourism were consulted. In the
referring to the field research, an interview route was elaborated, addressed the
Municipal Clerkship of environment and Tourism and the President of the Municipal
Council of Tourism, looking for exactly to notice the articulation of th ese two
important organs to the development of the tourism in the municipal district. After the
collection of the data, it was made a meticulous analysis, in purpose to, among all
coherent and trustworthy results with the objective of the research. The results of the
research point the existence of guidelines for the fomentation of the tourist activity in
the municipal district in agreement with the National Politics of Education. In spite of
some disagreements in the interviewees' answers, it was observed that both believe
in the importance of insert of the tourism as element propeller of the development
and economical support, social and environmental. A negative aspect, verified during
the research, it was the strong dependence that the competent organ has of the City
hall to make possible any activity type, mainly when the illegality of the tourism
department was verified. With the coming of the tourism in the municipal ambit, it
becomes crucial the creation of an official organ of tourism in the municipal district,
this that undoubtedly, it will be a strengthen mechanism of the public politics of
tourism, allowing the development of the activity in a responsible way, partnership,
and integrated.
Key words: Tourism, Public Politics, Development, Oriximiná.
1. INTRODUÇÃO
O turismo tornou-se nos últimos anos no Brasil e no mundo, um importante
agente no crescimento da economia, e no desenvolvimento social e espacial de
vários centros turísticos. Assim como benefícios, a atividade acarreta também
malefícios, sendo fundamental traçar diretrizes que permitam o fomento da atividade
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visando, sobretudo à maximização dos benefícios, e isto sem dúvida é o maior
desafio, pois não basta apenas dispor de atrativos turísticos, é necessário cogitá-la
em parâmetro econômico, social e ambiental que atinja todas as camadas da
sociedade e promova um ambiente mais justo e equitativo. Diante disso, a política
pública de turismo de um país é imprescindível no estabelecimento de diretrizes para
a elaboração do planejamento, promoção e controle da atividade turística. O Brasil
apresenta uma política de turismo, baseada na descentralização, na ação
participativa e articuladora entre o Governo Federal, Estadual e Municipal, no
entanto, deve partir da Esfera Federal a formulação de diretrizes para dar
embasamento tanto aos Estados quanto aos Municípios, para desenvolver a
atividade de forma sustentável.
Devido as características da Política Nacional de Turismo, sentiu-se a
necessidade de estudar no Município de Oriximiná, como o órgão responsável, a
Secretaria de Meio Ambiente e Turismo, tem seguido as diretrizes propostas pela
Política Nacional de Turismo, tendo em vista que a necessidade de se adotar a
política de turismo no planejamento da atividade turística, parte da importância de se
desenvolver e controlar a expansão desta atividade, que assim como as demais
atividades econômicas está atrelada ao modelo capitalista, detendo dentre outros,
não só caráter predatório, mas também benéfico, isto dependerá da forma como
esta é planejada. Durante a pesquisa, buscou-se ainda identificar quais os objetivos,
a missão, e a estrutura organizacional desta Secretaria, bem como a presença do
Conselho Municipal de Turismo.
Para atingir tais objetivos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, documental
e de campo. Na pesquisa documental, foram consultados o Plano Nacional de
Turismo 2003-2007, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de Oriximiná, Lei de
criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do Conselho e Atas
de reuniões do Conselho Municipal de Turismo. No que se refere à pesquisa de
campo, foi elaborado um roteiro de entrevista, direcionado à Secretária Municipal de
Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de Turismo. Dessa
forma, este artigo apresenta inicialmente uma abordagem do cenário atual do
turismo, bem como os impactos advindos deste. Em seguida se enfatiza a Política
de Turismo, contextualizando-a com a realidade nacional. Dando sequência,
apresenta-se os procedimentos metodológicos utilizados na realização da pesquisa,
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posteriormente são expostos os resultados obtidos com as pesquisas documental e
de campo, destacando o potencial turístico, bem com o turismo na estrutura
governamental do Município de Oriximiná,
e finalmente apresenta-se
as
considerações finais da pesquisa, destacando dentre outros pontos a ocorrência de
Políticas Públicas de Turismo no município em consonância com a Política Nacional
de Turismo.
2. O TURISMO NA ATUALIDADE
A expansão do turismo no espaço mundial demonstra cada ve z mais o
interesse de instituições públicas e privadas pelo potencial da atividade no
desenvolvimento socioeconômico de determinados países. De acordo com a OMT
(2006, apud MOURA & GARCIA, 2009) o turismo tornou-se responsável por 6% do
valor total arrecadado com exportações de bens e serviços no mundo, o que coloca
a atividade em quarto lugar no ranking das exportações, só perdendo para
combustíveis, produtos químicos e produtos automotivos. No ano de 2009, no
entanto a atividade sofreu uma regressão em consequência da crise econômica,
agravada ainda mais com a pandemia da Gripe A (H1N1), causando, com base na
evolução dos três primeiros trimestres de 2009, uma queda nas receitas em torno de
6%. Apesar de este representar, sem dúvida um resultado bem decepc ionante para
um setor acostumado a um crescimento constante, isto também pode ser
interpretado como um sinal de força comparativa, dado o ambiente econômico muito
difícil, principalmente quando se comparam os números com a queda estimada de
12% das exportações mundiais, como resultado da crise global. Para 2010, as
perspectivas para a atividade são otimistas, no entanto se fazem necessário
rigorosas políticas globais de apoio ao turismo (OMT, 2010).
No Brasil, o turismo aparece com destaque, em 13º lugar no ranking de
países, que leva em consideração vários indicadores do setor, como a importância
do turismo para o PIB, geração de empregos, divisas geradas por turistas
internacionais e investimentos públicos e privados, e esta posição de acordo com o
ministro do turismo, é sem duvida positiva, levando em conta a crise mundial. De
acordo com Jeanine Pires, presidente da EMBRATUR, os dados de 2010, assim
como as perspectivas otimistas para o período de dez anos, revelam que o Brasil
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vem se afirmando como um dos grandes emergentes do turismo global, destacandose principalmente na geração de empregos e na geração de divisas com o turismo
internacional (EMBRATUR, 2010). Tais dados comprovam que o setor vem
ocupando aos poucos seu espaço, sintonizando a geração de emprego e renda,
alcançando patamares na balança comercial mundial, isto leva a crença de que o
turismo seja a mais nova panacéia, principalmente das economias estagnadas de
alguns países.
3. OS IMPACTOS DO TURISMO
É inegável a importância do Turismo para o desenvolvimento socioeconômico
de países, seu potencial gerador de emprego e renda que movimenta todos os
setores da sociedade, no entanto a atividade de acordo com Ignarra (2003)
apresenta um comportamento cíclico, pois a mesma varia de acordo com os f atores
externos (globais), como conflitos entre países, declínio da moeda nacional, dentre
outros, isto faz com que nem sempre uma localidade turística permaneça no ápice
do mercado. Beni (2003, p.15) ao abordar tal questão, afirma que o turismo está
“indissoluvelmente ligado às problemáticas contemporâneas”, necessitando de uma
visão estratégica e principalmente da formulação e aplicação da política pública de
turismo, levando em consideração os aspectos que permeiam a sociedade, dentre
os quais econômicos, sociais e ambientais.
O quadro atual do turismo é instável, e nos remete a seguinte pergunta: Será
que o turismo é uma alternativa viável para o desenvolvimento de Estados,
municípios, cidades? A resposta para tal pergunta dependerá da forma como
ocorrerá o implemento dessa atividade em determinada localidade. Para McIntoch &
Goeldner (1986, p. 305 apud RUSCHMANN, 2002, p. 164)
O desenvolvimento do turístico só deve ocorrer como consequência de uma
política de planejamento cuidadosa – não calcada apenas na balança de
pagamentos dos países em desenvolvimento ou na região de custos e
benefícios. Ele deve estruturar-se sobre idéias e princípios de bem estar e
de felicidade das pessoas. Os problemas sociais dos países não poderão
ser solucionados sem uma economia forte e em crescimento, e o turismo
pode contribuir para criá-la.
No entanto, o que se observa é que o desenvolvimento da atividade ocorre
sem nenhuma diretriz, dificultando o desencadeamento da mesma em parâmetros
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sociais, culturais e ambientais das localidades que já vêm utilizando o turismo como
alternativa para seu desenvolvimento econômico, o que acarreta gradativamente
impactos negativos irreversíveis ao meio ambiente. Ignarra (2003, p. 78-79) ao
afirmar a importância socioeconômica do setor, cita alguns benefícios provindos
desta atividade como:
Gerar divisas estrangeiras; favorecer o entendimento e a paz mundial;
incrementar a renda; favorecer o processo de globalização mundial;
incrementar o Produto Interno Bruto; criar uma imagem externa favorável da
localidade; poder desenvolver-se sobre estrutura já existente; romper as
barreiras de língua, classe, raça, credo religioso e políticas; criar infraestrutura que também ajuda o comércio e a indústria local; proporcionar
instalações turísticas e recreacionais que também podem ser utilizadas pela
população local, utilizar produtos locais e recursos locais; proporcionar
empregos a artistas, músicos e outros, estimulando a produção cultural;
contribuir para a diversificação da economia; justificar a proteção e o
melhoramento das condições ambientais; tendência a se tornar uma
atividade de desenvolvimento econômico mais acessível para uma área ao
complementar outras atividades econômicas; reforçar a conservação dos
usos e costumes; estender o desenvolvimento para áreas deprimidas;
melhorar as condições de vida da população local; ter um grande efeito
multiplicador; melhorar os horizontes educativos, culturais e o sentimento de
auto-estima da população; aumentar a arrecadação de impostos.
1691
Diante disso, observa-se que são diversos os benefícios que o turismo
proporciona a uma localidade, o qual funciona como é a mola mestra do
desenvolvimento, beneficiando não apenas um setor da sociedade, mas a todos que
direta ou indiretamente estão envolvidos nessa ati vidade. Contudo, tal atividade não
produz apenas benefícios, por isso vale ressaltar ainda Ignarra (2003, p. 80-81) que
aponta alguns malefícios que podem surgir com a implementação desta, como
Criar uma demanda excessiva de recursos, contribuir para a propagação de
enfermidades; causar dificuldades sazonais; colaborar para a instabilidade
econômica; provocar inflação; provocar congestionamentos; poder provocar
um desenvolvimento econômico desequilibrado; gerar conflitos com a
comunidade anfitriã; gerar problemas sociais; criar falsos conceitos,
degradar o ambiente físico natural, comercializar a religião, as artes e a
cultura, degradar o ambiente cultural, desarticular as estruturas familiares;
aumentar os índices de criminalidade, prostituição e jogos por dinheiro;
aumentar a vulnerabilidade aos câmbios políticos e econômicos (maior
dependência da economia externa).
Sendo assim, constata-se que o turismo pode trazer tanto benefícios, quanto
malefícios, porém para que os impactos positivos prevaleçam dian te dos negativos é
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fundamental a utilização da política de turismo no processo de planejamento da
atividade.
4. AS POLÍTICAS DE TURISMO
Para Goeldner, Ritchie & McIntoch (2002, p.294) política de turismo é
entendida como:
O conjunto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e
estratégias de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na
qual são tomadas as decisões coletivas e individuais que afetam
diretamente o desenvolvimento turístico e as atividades diárias dentro de
uma destinação.
A formulação da política de turismo se dá de acordo com a realidade de cada
país, geralmente dentro de um sistema econômico misto, ou seja, que tem como seu
elemento constituinte não apenas o poder público, mas “[...] organizações privadas,
associações de classes nacionais e internacionais, que interligadas, interferem
decisivamente no SISTUR – Sistema de Turismo” (BENI, 2004 p.100).
Deve estar no âmbito da política de turismo, a criação de um espaço turístico
sustentável, com apoio e facilidades de benefícios tanto à comunidade anfitriã,
quanto ao turista/visitante. Para tanto, Goeldner, Ritchie & McIntoch (2002, p.295)
estabelecem as seguintes funções que a política de turismo assume:
Define as regras do jogo – os termos nos quais as operações turísticas
devem funcionar; estabelece atividades e comportamentos aceitáveis;
fornece uma direção comum a orientação para todos os interessados no
turismo em uma destinação; facilita o consenso em torno de estratégias e
objetivos específicos para uma destinação; fornece uma estrutura para
discussões públicas e privadas sobre o papel e as contribuições do setor
turístico para a economia e para a sociedade em geral; permite que o
turismo estabeleça interfaces com outros setores da economia de forma
mais eficaz.
Vendo por este prisma, a política de turismo abrange vários ambientes que
compõem a sociedade, como econômico, social, político, cultural além do meio
natural, embora não deva ter uma preocupação específica, o que vem acontecendo
em diversas localidades que implementaram a atividade turística, empresas privadas
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e até mesmo o setor público tem priorizado apenas o crescimento econômico, sem
possibilitar benefícios à população local. Os benefícios econômicos provindos do
turismo devem ser sentidos em cenário interno e externo, repercutindo no produto
interno bruto e entrada de divisas. No entanto, esses benefícios econômicos devem
estender-se, primeiramente à localidade receptora e seus habitantes, visando o
desenvolvimento da atividade de forma sustentável, e mitigando os impactos
negativos provenientes da mesma. Reforçando tal idéia Goeldner, Ritchie &
McIntoch (2002, p.294) afirma que “a política de turismo busca garantir que a
recepção de visitantes seja feita de forma que maximize benefícios aos
interessados, enquanto minimiza os efeitos, custos e impactos associados à garantia
do sucesso da destinação”.
Ao se tratar da formulação da política pública de turismo, por mais que nesta,
o sujeito seja apenas o Estado, deve-se considerar a sociedade como um importante
ator neste processo, pois sua participação pode contribuir para a construção e
implementação de uma política coerente com suas diretrizes e fidedigna com as
necessidades da população, em prol sempre do bem coletivo.
De acordo com Hall (2001 apud SANSOLO & CRUZ, 2003, p.3) “a política
pública, por sua vez, é parte do processo de planejamento governamental e envolve
tudo aquilo que um governo decide fazer ou não relativamente a um dado setor da
vida social”, sendo assim, a política pública de turismo deve se configurar em um
documento público, constituindo no retrato de interesses do(s) poder (es) público(s)
(local, estadual, regional ou nacional) com relação à organização do setor turismo
em um dado território, tornando-se crucial a clareza dos objetivos, metas, diretrizes e
estratégias propostos em tal documento, pois a política pública setorial é uma
referência para o planejamento do setor, tanto para os agentes públicos quanto para
a iniciativa privada (CRUZ, 2006). Destarte a política pública pode ser mais ou
menos generalizante. No que se refere ao turismo, podem desdobrar-se de uma
política de turismo outras políticas específicas, como uma política de marketing
turístico, de capacitação de mão-de-obra (SANSOLO & CRUZ, 2003, p.3).
Diante disso, deve-se considerar na elaboração das políticas públicas de
turismo os interesses dos diferentes atores da sociedade, tendo em vista, citando
Cruz (2006, p.342) que o “desenvolvimento do turismo deve ser um projeto
construído coletivamente e não uma resposta a interesses particulares, de grupos
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sociais específicos”, fomentar o turismo a partir deste prisma é sem dúvida incitar o
desenvolvimento local.
Dando
ênfase
ao
desenvolvimento
local,
Bava
(1996,
p.58
apud
CAMPANHOLA & SILVA, 2000, p.14) ressalta que este “nasce de forças internas da
sociedade; constituindo um todo, com dimensões ecológicas, culturais, sociais,
econômicas, institucionais e políticas, sendo que a ação a seu serviço deve integrar
todas essas dimensões”. Por tudo isso, é imprescindível o envolvimento da
comunidade em práticas democrático-participativos, a realização de projetos locais,
na cidade e no campo, de cooperativismo, que sejam potencializadores, indutores
do desenvolvimento local, contribuindo na geração e aumento da renda da
população e na própria arrecadação de tributos para o município, conduzindo a uma
sustentabilidade econômica e social, bem como na conservação do meio ambiente
(ROLA & HESPANHOL, 2010). E isto indubitavelmente, são práticas que o turismo
pode estar fomentando e consolidando em uma localidade, principalmente quando
as políticas públicas são formuladas e executadas no âmbito do bem estar comum
da comunidade local.
1694
4.1. A POLÍTICA PÚBLICA DE TURISMO NO BRASIL
A política de turismo no Brasil a principio é marcada por um longo período de
decretos, os quais deram início a intervenção do Estado no setor, assim como a
sustentação do turismo nacional, porém somente a partir da década de 1990 que o
governo cria um documento que dá ênfase ao fomento do turismo em territór io
nacional, intitulado “Política Nacional de Turismo: diretrizes e programas –
1996/1999, este que traçava diretrizes e estratégias para a condução do turismo no
Brasil, mesmo com este importante documento, a atividade ainda permanecera de
forma inibida no cenário brasileiro.
Com a criação do Ministério de Turismo no ano de 2003, o turismo no Brasil
ganha um novo lugar na esfera governamental, representando, sem dúvida um
grande momento do turismo no país, pois deixa de ser relegado e passa a ser
priorizado, como um mecanismo para o alcance do desenvolvimento sustentável do
país, em que são medidos não somente o peso que o mesmo tem na balança
comercial, mas a qualidade de vida da população, mitigando as disparidades sociais,
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bem como os impactos negativos gerados às localidades turísticas (PLANO
NACIONAL DO TURISMO 2003-2007).
A gestão do turismo no que concerne a união, estrutura-se da seguinte forma:
Ministério do Turismo, o Conselho Nacional e o Fórum Nacional de Secretários e
dirigentes Estaduais de Turismo. Neste âmbito, formula-se um novo Plano de
Turismo, que permearia durante os anos de 2003 a 2007. A elaboração do Plano
contou de imediato com a participação dos vários setores da sociedade,
demonstrando a preocupação em manter a articulação com tais setores. No plano,
foram primeiramente diagnosticados alguns problemas, os quais têm sido
empecilhos no desenvolvimento do turismo, como a falta de articulações entre os
setores governamentais e os privados, com base neste, foram traçados seus
objetivos, e a partir destes as metas que deveriam ser alcançadas durante a
prevalência do plano. Tal documento ainda expressava algumas características do
plano antecedente a este, pois evidenciava ainda uma gestão descentralizadora do
turismo, em que o município torna-se elemento fundamental no processo de
elaboração de programas e/ou projetos para o desenvolvimento do turismo no
âmbito local. Para tanto, exprime a necessidade de uma maior articulação entre os
Governos Federal, Estadual e Municipal, e não se pode dei xar de mencionar outros
importantes atores, o setor privado e a própria sociedade.
Destarte, a política pública de turismo no Brasil, atende não apenas as
necessidades do Governo Federal, mas de todas as Esferas seja esta Estadual ou
Municipal, além é claro de setores privados ou não. E é justamente esta articulação,
a ação participativa de tais instituições que possibilitará o desenvolvimento da
atividade turística de forma sustentável, incitando acima de tudo o desenvolvimento
local de um destino turístico.
5. OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo foi realizado na cidade de Oriximiná, estado do Pará,
sendo uma pesquisa de caráter qualitativo, onde se fez pesquisa bibliográfica,
documental e de campo.
Segundo Gil (1999, p.66) a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida a partir de
material já elaborado”, desta forma para a realização da pesquisa bibliográfica foram
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consultados constantemente livros para dar subsídios principalmente para a
aplicação da pesquisa de campo.
De acordo com Gil (1999) a pesquisa documental assemelha-se à pesquisa
bibliográfica, no entanto a natureza de suas fontes a torna distinta, pois na pesquisa
documental são estudados materiais que ainda não passaram por uma análise mais
científica. Para tanto, na pesquisa documental foram consultados documentos como
o Plano Nacional de Turismo, Lei da Secretaria de Desporto e Turismo de Oriximiná,
Lei de Criação do Conselho Municipal de Turismo, Regimento Interno do Conselho,
Regimento Interno do Conselho e Atas de Reuniões do Conselho do Município.
No que se refere à pesquisa de campo, esta foi realizada junto à Secretária
Municipal de Meio Ambiente e Turismo e a Presidente do Conselho Municipal de
Turismo, as quais se constituíram nos sujeitos da pesquisa, principalmente quando
representam organismos responsáveis pelo planejamento, execução e controle da
atividade turística no município.
Como instrumento de coleta de dados, elaborou-se dois roteiros de
entrevistas, sendo um destinado à Secretária Municipal de Turismo e um à
Presidente do Conselho, sendo que existiam algumas perguntas semelhantes
nestes, visando constatar a existência de articulação entre a Secretaria e o Conselho
Municipal de Turismo. Os dados obtidos com as entrevistas passaram por um estudo
minucioso, estabelecendo sempre uma relação com o material coletado com a
pesquisa documental, buscando, sobretudo resultados fidedignos com o objetivo da
pesquisa.
6. ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ
Localizado no noroeste do Estado do Pará, às margens do Rio Trombeta s, na
Zona Fisiográfica do Baixo Amazonas, o município de Oriximiná (Figura 1) se
destaca dentre outros do Estado, principalmente por apresentar-se como sede de
instalação do Projeto Trombetas a partir da década de 1970. A instalação do projeto,
através da Empresa Mineração Rio do Norte, contribuiu de forma acirrada para o
desenvolvimento no núcleo urbano de Oriximiná, principalmente por ser beneficiado
com os royalties, que contribuem diretamente para a melhoria da infra-estrutura
urbana da sede do Município.
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Figura 1
1697
Como meios de acesso para o município de Oriximiná utiliza-se o terrestre, o
aéreo e o fluvial. Por via aérea, através do aeroporto municipal de Oriximiná e do
aeroporto localizado no Distrito de Porto Trombetas, com as companhia s aéreas:
Meta, Total entre outras. Por via fluvial, são várias embarcações que servem como
transportes de passageiros e de cargas, interligando às várias cidades da Amazônia.
Com uma população aproximadamente de 58.683 mil habitantes (IBGE,
2009), o município vem passando por uma intensa expansão urbana, bem como
uma nova reestruturação de seu espaço geográfico. A economia do município gira
em torno de atividades como agricultura, pecuária e o extrativismo, estas que
recebem intenso incentivo da Poder Público Local. Neste contexto, pode-se destacar
o turismo, uma atividade que gradativamente vem se incorporando na economia do
município, porém ainda de forma muito inibida, talvez por ainda não representar ao
poder público, estimativas reais de dinamização da economia local, daí também o
pouco incentivo que a atividade recebe da Prefeitura do Município, incidindo
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diretamente como um entrave no desenvolvimento da atividade turística no
Município de Oriximiná.
O município de Oriximiná desponta como importante potencialidade turística
da região, de acordo com Picanço (2004), tais potencialidades são percebidas
principalmente em suas áreas naturais. No entanto, não se pode restringir sua
potencialidade a tais áreas, apesar de sua imensa biodiversidade, corroborando a
uma forte tendência ao desenvolvimento do ecoturismo, destaca-se a presença de
comunidades tradicionais, como quilombolas e ribeirinhos, dando subsídios para a
implementação do turismo comunitário; a diversidade cultural, demonstrada em sua
música, culinária, e principalmente no Círio de Santo Antônio, um dos maiores círios
fluviais noturno do mundo, que aponta para a prática do turismo religioso e cultural.
Reforçando tal potencial a Paratur – Companhia Paraense de Turismo do Estado do
Pará (2010), destaca alguns atrativos existentes no município
[...] como a moderna indústria extrativista de bauxita, ao lado da Reserva
Biológica do Trombetas, os povoados remanescentes de antigos quilombos,
bem como a pesca amadora do rio Trombetas, já incluída no roteiro
internacional da EMBRATUR.
Fora todos esses produtos potenciais ao longo do rio, em áreas adjacentes
a esses núcleos são identificados vários outros atrativos: inúmeros lagos
piscosos para pesca amadora, campos naturais e fazendas para o
aproveitamento do turismo rural e aventura, praias fluviais, etc.
O turismo em Oriximiná é uma prática recente, que surgiu oficialmente na
década de 90 com a criação da Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo, bem
como do Conselho Municipal de Turismo. Apesar de despontar como grande
potencial turístico, o município pouco tem se destacado como destino turístico, o que
se observa em torno desta prática são ações pontuais voltadas para o que se pode
denominar turismo de eventos, talvez esta não seja a nomenclatura mais adequada
para utilizar ao turismo desenvolvido no município, porém são em eventos, como o
Círio de Santo Antônio que ocorre anualmente no mês de agosto, que se percebe
maior articulação, investimentos da sociedade e do próprio poder público. Outro
evento, que vale ressaltar é o Torneio de Pesca Esportiva (pesque e solte) que
ocorre também anualmente, recebendo apoio de instituições públicas e privadas.
Diante disso, percebe-se que o turismo no município é desenvolvido de forma
pontual, enfatizando principalmente os eventos considerados com mais potencial de
atrair turistas, ou melhor, que exista demanda.
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Contudo, devido a imensa diversidade de atrativos potenciais que o município
detém, este pode tornar-se um importante destino turístico e sem dúvida ser incluído
no roteiro turístico nacional, porém é fundamental que sejam articuladas ações que
não se restrinjam aos exemplos citados acima, mas ações que a atividade turística
se consolide e ocorra de forma constante, com opções de turismo durante o ano
todo, e atrelada a tais ações devem estar as ditas políticas públicas, que certamente
hão
de repercutir
na
excelência da
atividade
turística,
esta excelência
correspondendo sobretudo em melhorias na qualidade vida da população local,
refletindo diretamente no desenvolvimento local. Sendo assim se fez necessário,
conhecer o que o município, através de seu órgão gestor pelo turismo, tem feito no
âmbito das Políticas Públicas, para tanto se apresenta a seguir os resultados da
pesquisa documental, através de uma pequena análise, bem como os resultados
obtidos em campo, com as entrevistas.
6.1. RESULTADOS DA PESQUISA DOCUMENTAL
Na pesquisa documental foram consultados os seguintes documentos: Lei de
criação da Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo, já não mais e xistente, no
entanto como ainda não havia nenhum documento que legalizasse o atual órgão
responsável pelo turismo no município, optou-se pelo estudo desta lei. Foram
consultados ainda a Lei de Criação do Conselho e do Fundo Municipal de Turismo;
Regimento Interno do Conselho Municipal; e atas das reuniões realizadas pelo
Conselho Municipal de Turismo.
A Lei de Criação da Secretaria de Cultura Desporto e Turismo possibilitou a
identificação do período em que o turismo passou a ser reconhecido pelo governo
local, no ano de 1993, com a Lei nº 5.787 que instituía a criação da Secretaria de
Cultura, Desporto e Turismo. Dentre seus artigos, destaca-se o 1º artigo que fazia
referência ao objetivo da secretaria, que seria “planejar as ações de caráter cultural,
artístico, desportivo e turístico do Município de Oriximiná” (Lei nº 5.787). Com esta
lei conjectura-se que a expansão do turismo alcança os limites do município de
Oriximiná, confirmando ainda a política de descentralização disposta na Política
Nacional de Turismo.
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A principal função da Secretaria seria “promover e incentivar o turismo como
fator de desenvolvimento social e econômico”, percebeu-se neste item a importância
que a atividade turística recebera em âmbito municipal, e principalmente este
pensado de acordo com o disposto na Política Nacional, cogitado em parâmetros
não apenas econômico, mas também social. De acordo com esta lei, a Secretaria
estava composta da seguinte forma: Nível de Direção – Secretaria Municipal de
Cultura, Desporto e Turismo; Nível de Atuação Programática – dividido entre dois
setores, o Setor Administrativo e Setor de Patrimônio Histórico, Cultural, e Artístico;
e o Nível de Atuação – este dividido em Casa da Cultura, Setor de Desporto, e Setor
de Turismo.
Com as eleições do ano de 2004, ocorreu mudança na Gestão Municipal, e
consequentemente no órgão responsável pelo turismo, criando outra secretaria,
Secretaria de Meio Ambiente e Turismo. Contudo, não foi possível fazer o estudo da
lei de criação da mesma, pois o novo governo ainda não havia conseguido se
organizar plenamente, atrasando o processo de legalização da nova Secretaria.
Porém, o estudo da Lei nº 5.787 foi fundamental para elucidar o momento em que o
turismo iniciou sua trajetória no município, bem como contextualizá-lo com o cenário
nacional.
Outro importante documento consultado foi a Lei de Criação do Conselho
Municipal, a Lei nº 6.101 de 29 de junho de 1999, que atribuía às seguintes funções,
o funcionamento
como
um órgão
consultivo,
deliberativo,
normativo,
de
assessoramento e fiscalizador, sendo de sua responsabilidade a promoção, assim
como o aprimoramento das diretrizes do desenvolvimento turístico do município.
Pode-se dizer que a criação do Conselho foi um “grande passo” no que condiz às
políticas públicas de turismo, pois é através deste que articulação entre instituições
governamentais e não governamentais se dará. De acordo com esta lei, o conselho
deveria ser composto por órgãos governamentais e não governamentais, sendo
assim dos órgãos governamentais foram selecionados a Secretaria de Cultura,
Desporto e Turismo; Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente; Secretaria
Municipal de Educação; Secretaria Municipal de Agricultura; e Câmara Municipal de
Oriximiná. A seleção dos órgãos não governamentais foi feita através de uma
Conferência Municipal específica, e nesta, cada instituição governamental ou não,
indicava um ou dois representantes para a votação e assim compunham o conselho.
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Para confirmar tal informação, consultou-se ainda as atas das reuniões
realizadas, onde consta que tal conferência para eleição dos membros do conselho
ocorreu no dia 24 de setembro de 1999. Como organizações não governamentais
fizeram parte, associações de bairros e dos comerciantes locais e sindicatos.
Posteriormente à eleição, outras instituições não-governamentais fizeram parte do
conselho, como se pôde observar em atas e no próprio Regimento Interno do
Conselho.
No Regimento Interno do Conselho, consta que os membros deveriam ser
nomeados no prazo máximo de 30 dias depois de realizada a conferência, no
entanto, segundo as atas, foi feito apenas dois meses depois. No que se refere a
estrutura organizacional do Conselho, este deveria se formado por um Presidente,
um vice-presidente e um secretário. Apesar de formado o Conselho, a regularização
de seu funcionamento só ocorrera em 12 de dezembro de 2003, quatro anos depois
de empossados seus membros, isso sem duvida incita a várias reflexões da real
importância do turismo no município.
Retomando o Regimento Interno do Conselho, vale destacar seu artigo 4º que
estabelece a seguinte formação da estrutura básica do Conselho: Plenário; Diretoria
Executiva; Secretaria Executiva; Comissões ou Grupos de Trabalho. Neste âmbito,
frisa-se o Plenário, tendo em vista que sua competência é justamente instituir, dentre
outras coisas, as normas necessárias à regulamentação e implantação da Política
Municipal de Turismo, bem como estabelecer diretrizes e aprovar os programas
anuais e plurianuais do Fundo Municipal de Turismo.
O Fundo Municipal de Turismo de acordo com o artigo 7º da Lei nº 6.101, é o
instrumento de captação e aplicação de recursos que deverão ser utilizados para o
desenvolvimento de programas e projetos turísticos no município de Oriximiná,
sendo de competência do Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Turismo gerir
o fundo. A destinação dos recursos contidos no Fundo era discutida em reuniões
realizadas pelo Conselho, como se pôde observar nas atas. De acordo com tais
Atas, os recursos foram utilizados para a viabilização de programas e projetos
pertinentes à atividade turística no município, como a cursos de capacitação de mãode-obra local, e a inserção do turismo na iniciação escolar dentre outros.
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A criação do Conselho Municipal, bem como do Fundo Municipal do Turismo
em Oriximiná, foi crucial para se estabelecer uma articulação entre instituições
governamentais e não-governamentais em prol do desenvolvimento turístico no
município. Traçar diretrizes, tendo em vista não apenas as necessidades do
Governo local, mas as necessidades de toda uma sociedade, seja esta empresa
e/ou cidadão comum, é algo que a partir da criação destes, se tornará possível.
6.2. RESULTADOS DAS ENTREVISTAS
A entrevista foi realizada na cidade de Oriximiná, com a Secretária Municipal
de Turismo e a Presidente do Conselho Municipal, sendo os roteiros das entrevistas
aplicados em momentos distintos, buscando dados que reafirmassem os
encontrados nos documentos, bem como identificar subsídios da aplicação da
política pública de turismo em âmbito municipal.
De acordo com a Secretária Municipal de Turismo, este órgão é responsável
em desenvolver um plano, que promova a geração de renda e participação de toda a
população no desenvolvimento do turismo. Sendo que sensibilizar a população da
importância desta atividade em cenário local, é fundamental para que haja seu
fomento de forma sustentável. E esta participação se dá principalmente através do
Conselho, que é fundamental na tomada de decisões frente ao desenvolvimento de
ações voltadas ao turismo.
Questionada sobre a Política Municipal de Turismo, a Secretária revelou que
a política pública de turismo no âmbito municipal, se concretizou a partir da criação
do Conselho e da eleição de seus membros, que representam de uma forma ou de
outra a população. Diante disso, além de ser decisivo no destino final dos recursos
existentes no fundo, cabe ao Conselho sugerir quais as áreas que devem ser
contempladas dentro do turismo. Tratando-se ainda da entrevista com a Secretária
Municipal de Meio Ambiente e Turismo, questionou-se a mesma, se o município tem
desenvolvido a Política, os programas previstos em âmbito Federal, e a informante
ressaltou que o órgão tem seguido as diretrizes propostas pelo Ministério do
Turismo, no entanto, a maioria destas são adequadas à realidade do município,
considerando irrefutável a presença do Conselho no desenvolvimento turístico do
Município.
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Destacando agora a entrevista com a Presidente do Conselho, observou-se
que a mesma apresentou insegurança em algumas respostas, e principalmente
algumas discordâncias entre as respostas dadas pela Secretária Municipal de Meio
Ambiente e Turismo, no entanto isso se atribui ao pouco tempo desta como
Presidente. Segundo a informante o Conselho é composto por 5 (cinco) entidades
governamentais e 5 (cinco) entidades não governamentais. No que se refere à
estrutura organizacional, este se apresenta com um Presidente, um Vice-Presidente
e um Secretário. Quando se questionou a respeito da existência de um Plano
Municipal, ela revelou a existência de um Plano de Ação, contrapondo a resposta
dada pela Secretária. Sendo que a elaboração deste plano fica a cargo do próprio
Conselho, que optará pelas melhores áreas, setores que serão contempladas com
os recursos do Fundo Municipal de Turismo, o destino deste é disposto no P.P.A
(Plano Plurianual do Município).
A partir dos resultados obtidos com as entrevistas, constatou-se que tanto a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, quanto o Conselho Municipal de
Turismo, têm desenvolvido ações articuladas entre si, principalmente quando se tem
em vista a destinação dos recursos do Fundo Municipal de Turismo, entretanto de
acordo com a Secretária Municipal de Turismo, a apropriação deste recurso, ocorria
de forma muito burocrática, principalmente quando existia interferência da Gestão
Municipal.
Os dados coletados com as entrevistas permitiram uma comparação com os
documentos consultados na pesquisa documental, e assim identificar a sintonia
entre a Legislação que ampara o Turismo no município, com os órgãos r esponsáveis
pela promoção, execução e controle da política pública de turismo no município,
como o desenvolvimento da atividade turística. Os resultados alcançados com a
pesquisa documental e de campo permitiram comprovar a incidência de políticas
públicas de turismo no município de Oriximiná, e que o mesmo tem seguido as
diretrizes propostas na Política Nacional, e isto é percebido principalmente quando
se tem um Conselho Municipal de Turismo atuante junto a Secretaria Municipal de
Meio Ambiente e Turismo. Esta articulação é imprescindível quando se percebe a
importância do turismo para o desenvolvimento e sustentabilidade do meio
econômico, social e ambiental de uma localidade, pois isto é pensar no turismo,
vislumbrando o bem estar da comunidade receptora, pensar o desenvolvimento
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local, e para isso as políticas públicas de turismo se fazem necessárias, e neste
caso, o Município de Oriximiná, através principalmente do Conselho tem se
mostrado interessado em desenvolver.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados obtidos na pesquisa de campo constatou-se
algumas discordâncias quanto às respostas das duas informantes, no entanto, é
importante ressaltar que a Presidente do Conselho Municipal de Turismo assumiu o
cargo em 05 (cinco) de julho de 2005, e a entrevista fora aplicada no mês de
novembro do mesmo ano, podendo ser justificado tal discordância. Apesar das
discordâncias, percebeu-se pelas demais respostas dadas nas entrevistas que a
Secretária, assim como a Presidente do Conselho, têm conhecimento e
desenvolvem no Município de Oriximiná ações de turismo de acordo com a Política
Nacional, o que é reforçado pela documentação existente na Secretaria e no
Conselho, porém observou-se que a Secretaria ainda é muito dependente da
prefeitura. Com a expansão do turismo no município há necessidade da criação de
um órgão oficial de turismo, o qual consolidará cada vez mais as políticas públicas
para a condução responsável, participativa e integrada do turismo.
Vale ressaltar o compromisso do Órgão responsável pelo Turismo no
Município, em desenvolver a atividade turística de forma planejada e coordenada,
sempre em parceria com a sociedade civil, buscando alternativas que mitiguem ao
máximo os impactos negativos advindos com a viabilização da atividade turística de
forma desordenada. Os trabalhos desenvolvidos pela Secretaria em consonância
com as propostas estabelecidas no Conselho demonstram que há uma preocupação
em qualificar a mão-de-obra local para torná-los “ótimos anfitriões” na recepção dos
turistas, e isto sem dúvida eleva a importância de qualquer destino turístico.
Apesar da atuação da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo, bem como do
Conselho Municipal de Turismo, poucos resultados são percebidos, principalmente
quando se identifica ações pontuais voltadas especificamente para o turismo
eventual. Diversificar os atrativos, estabelecendo um planejamento anual das
atividades que podem ser desenvolvidas ao longo do ano, é perceber no turismo
uma alternativa de desenvolvimento economicamente viável e socialmente justo,
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vislumbrado a equalização de benefícios à sociedade “Oriximinaense” como um
todo, configurando dessa forma, o desenvolvimento local, porém este cenário,
levando em consideração a falta de incentivos da Prefeitura Municipal, e as ações
pontuais executadas em prol do fomento da atividade, se distancia cada vez mais da
realidade do município, principalmente quando as ações voltadas à organização e
consolidação da atividade, se mostram ineficazes, diante ao desafio que é a
promoção do desenvolvimento local de Oriximiná, este que se constitui em um
desenvolvimento condutor da equalização da conservação ambiental, conservação e
valorização da identidade cultural, geração de emprego e de renda, desenvolvimento
participativo e a qualidade de vida.
Para tanto, é de suma importância que haja maiores incentivos do Poder
Público Local. Neste âmbito, referente a incentivos diretos da Prefeitura Municipal de
Oriximiná, levando em consideração que há um órgão responsável pelo turismo no
município, porém com pouca autonomia. Articular com a Prefeitura Municipal, para
que esta disponibilize de recursos necessários a fim de estabelecer um
planejamento adequado para o fomento e consolidação do turismo no município é
crucial quando se almeja o desenvolvimento local.
Destarte, torna-se imprescindível, no processo de formulação, execução das
políticas públicas a sensibilização da Prefeitura Municipal, pois como já destacado a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, assim como o Conselho
Municipal de Turismo tem desempenhado um ótimo papel no que concerne as
Políticas Públicas de Turismo no município, porém a atuação da Prefeitura do
município frente ao Turismo inibe consideravelmente a inserção desta como
alternativa altamente potencial do desenvolvimento sócio-econômico do Município
de Oriximiná.
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REINVENTANDO A PARTICIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO TURISMO DE BASE
LOCAL-ROTA DAS ESPECIARIAS
Antonio Carlos Castrogiovanni
Doutor em Comunicação Social/ UFRGS/PUCRS
[email protected]
Marutschka Martini Moesch
Doutora em Turismo/ PUCRS
[email protected]
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo registrar e discutir experiência de planejamento
participativo, com vistas ao turismo sustentável. O planejamento e as posteriores
intervenções, dentro de uma metodologia de pesquisa ação, tiveram como local o
município de Viamão, na grande Porto Alegre, elegido como laboratório para
atividades de ensino e extensão. Viamão apresenta significativas qualidades
ambientais e paisagísticas, próprias ao turismo, mas ao mesmo tempo tem indícios
socioeconômicos bastante precários. As intervenções acadêmicas resultaram, entre
outros, da criação da Rota das Especiarias, projeto de turismo rural, e na inclusão do
local como município induzido de Porto Alegre, na proposta do Ministério do Turismo,
no Programa de Regionalização. O presente projeto de pesquisa e extensão teve a
participação da equipe de professores e alunos do curso de Turismo da PUCRS.
Palavras Chave: Turismo Sustentável; Planejamento Participativo; Rota das
Especiarias; Viamão/RS.
ABSTRACT
This article aims to register and discuss participatory planning experience, with a view
to sustainable tourism. The planning and subsequent interventions, within an action
research methodology, had as object the municipality of Viamão, in Porto Alegre,
elected as a laboratory for teaching and extension activities. Viamão presents
significant environmental and landscape qualities, own tourism, but at the same time
is very precarious socioeconomic signs. Academic interventions resulted, among
other things, the creation of the route of spices, rural tourism project, and the
inclusion of local municipality induced Porto Alegre, in the proposal of the Ministry of
tourism, in regionalisation. This extension and research project had the participation
of teachers and students PUCRS tourism.
Key words: Sustainable tourism; participatory planning; route of spices; Viamão/RS.
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1 INTRODUÇÃO
O desencadeamento do desenvolvimento local exige uma mudança de
paradigma na ação do poder público frente às políticas que envolvem o Turismo em
um município. Isto porque o setor turístico para gerar crescimento, também deve
estabelecer o compromisso de fomentar o desenvolvimento baseado em políticas de
combate a pobreza, geração de trabalho local, emprego e renda - com conseqüente
melhoria na qualidade de vida dos sujeitos residentes. É preciso confirmar uma
solidariedade que articule e promova a gestão compartilhada junto ao setor turístico
na direção de um fortalecimento local não excludente e, abra o espaço de
participação nos novos moldes de gestão que representam as democracias
participativas.
Para a construção do destino turístico Viamão buscou-se, além de valorizar as
qualidades ambientais e paisagísticas, situadas dentro da Região Metropolitana de
Porto Alegre, também estimular a revitalização da história e da manifestações
culturais locais, nem sempre presentes como memória e identidade para a
comunidade viamonense ao mesmo tempo em que houvesse incremento de renda.
Outro desafio para nós foi o de construir com a participação da comunidade local e
da comunidade acadêmica do Curso de Turismo da PUCRS em um projeto de
desenvolvimento turístico alternativo ao modelo de turismo imediatista e predatório,
que costuma deixar saldos perversos em termos de exclusão das comunidades nos
processos e, não raro, déficit ambiental e cultural. Desde o início a proposta
acreditava numa epistemologia do turismo com a participação de todos os sujeitos,
com as suas experiências, dúvidas desconfortos. Como diz Moesch (2002, p.25),
[...] uma epistemologia do Turismo envolve cuidados teóricos, advindos
um entendimento complexo sobre uma prática social que se dissemina
forma diferenciada, a partir de subjetividades infinitamente diversa s e
vivências múltiplas dos sujeitos que as praticam, em um mundo que
globaliza.
de
de
de
se
O Curso de Turismo da PUCRS construiu, nos seus quase quarenta anos de
existências, importantes práticas didático-pedagógicas pautadas no saber-fazer.
Para tanto, no corpo de suas práticas, destacavam-se a interdisciplinaridade e os
trabalhos de campo. A prática do curso de Turismo da PUCRS foi sempre a
interdisciplinaridade visto a sua complexidade. Ansarah (2001, p.16), afirma:
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Não podemos nos limitar a uma definição de Turismo, pois essa disciplina se
encontra ligada praticamente a quase todos os setores da atividade social. A
grande variedade de conceitos, todos eles válidos, circunscreve-se aos
campos em que o Turismo é estudado..
Com essa postura pedagógica, as praticas dos alunos não ficavam restritas às
disciplinas de Estagio e Projeto Experimental, mas permeavam toda grade curricular,
tendo como metodologia o aprendizado pela resolução de problemas. Esta leitura,
nos anos 1990, já havia levado ao planejamento e implantação do projeto Rota
Romântica. A Rota Romântica tinha como preocupação ligar num percurso turístico
roteirizado, o município de São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, ao município de
São Francisco de Paula, passando por Nova Petrópolis, Gramado e Canela, tendo
como eixo integrador a herança da imigração alemã, ainda muito forte na área
percorrida. O projeto Turismo Sustentável em Viamão, ampliou e aprofundou a
experiência anterior, considerando as novas contingências do turismo e do turista, no
início do século XXI.
Na presente explanação, iremos nos ater a relatar um segmento do projeto,
que foi a criação e implantação da Rota das Especiarias.
1710
2 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E TURISMO SUSTENTÁVEL
As melhores práticas em turismo apontam que é muito difícil separar
participação e sustentabilidade. Nesses termos, o projeto de desenvolvimento
sustentável do turismo, conduzido pelo Curso de Turismo da PUCRS, teve como
sujeitos a comunidade local, empresários, proprietários, poder público e instituições
afins viamonenses, alunos, professores e funcionários da PUCRS, tanto do campus
central como do campus de Viamão. A ação em destaque partiu da interação entre
os diferentes atores envolvidos no processo, para a construção da Rota das
Especiarias, na área rural de Viamão, tendo como eixo central a Estrada do Espigão.
O embrião da Rota das Especiarias surgiu a partir da I Conferência Municipal
de Turismo, ocorrida no dia 12 de dezembro de 2006. Na I Conferência Municipal de
Turismo participaram 101 delegados, com 3 eixos de discussão, resultando em 73
propostas para o desenvolvimento local a partir do turismo. Foram envolvidos 09
professores e 28 alunos da PUCRS. A metodologia da Conferência Municipal foi
construída pelos professores da PUCRS, apresentada ao poder público municipal de
Viamão e legitimada por ato assinado pelo prefeito.
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A Conferência teve como objetivo discutir e definir diretrizes gerais para a
formação de uma gestão compartilhada (pública e privada) de Turismo do Município,
de responsabilidade da Prefeitura Municipal, pela Secretaria de Desenvolvimento
Econômico. Na ocasião, elegeram-se os paradigmas da sustentabilidade econômica,
ambiental, sócio-cultural e antropológica como diretrizes para a construção do
Turismo em Viamão.
Tal concepção, legitimada pela excelente participação, balizou também as
ações propostas para a Rota das Especiarias. A partir da Conferência, ocorreram
encontros periódicos com a comunidade, visando, em um primeiro momento, a
sinergia necessária para projetos participativos desse porte, bem como equilíbrio
teórico-conceitual. Desde então, professores e alunos da PUCRS adotaram práticas
de aprendizagem de campo, levantando dados, mapeando, capturando imagens e
registrando histórias a partir do olhar dos atores locais.
Com esses elementos resultou o Projeto de Desenvolvimento Sustentável do
Turismo de Viamão, que busca a construção de redes que integram o espaço rural à
preservação do ecossistema existente. O foco está na construção de novas
alternativas de prevenção e qualidade de vida aos moradores, consequentemente,
da Região Metropolitana de Porto Alegre. O projeto entende o Turismo como um
fenômeno social, com possibilidades para integrar os diferentes interesses da
comunidade local. Entende que os limites territoriais locais são transpostos quando
fomentado a preservação ambiental, e cultural, tão importantes na manutenção do
planeta diante de impactos destruidores derivados de modelos econômicos já
ultrapassados.
Viamão cedia a possibilidade e os desafios em utilizarmos os processos de
implantação de um modelo sustentável de desenvolvimento, impedindo o
crescimento impactador ocorrido, no século passado, na maioria dos demais
municípios formadores da Região Metropolitana de Porto Alegre. Acreditamos ser
necessário recriar novas relações sistêmicas entre a terra, o homem e a cultura,
assim contemplar esta trilogia transpondo modelos tradicionais desconstrutores
desta relação.
O Turismo é possibilitador de preservação ambiental, e da inclusão social
quando pensado e planejado como meio integrador de diferentes interesses; e
pedagógico, ou seja, enquanto instrumento de novas formas de cidadania. Expressa
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esta vocação, pois atinge o setor público, os empresários, a comunidade, as
universidades, o terceiro setor. É interdisciplinar em sua essência, pois se constituí
das áreas culturais, sociais, econômicas, comunicacionais e geográficas entre
outras. Não se expressa como indutor de um desenvolvimento sustentável sem
garantir a relação sistêmica e orgânica entre as diferentes partes. É interdisciplinar,
pois possibilita a sinergia de diversos atores: do proprietário do empreendimento ao
trabalhador do setor; do gestor ao artesão; do comerciante ao produtor rural; ou do
jovem que venha a se qualificar e participar prestando serviços; mas esta articulação
se dá em rede, e deve ser vista como forma cooperativada.
3 O MUNICÍPIO DE VIAMÃO
Viamão localiza-se na Região Metropolitana de Porto Alegre, com uma
população de 260.740 habitantes (IBGE, 2009). Com uma área de 1.494,26 km2, o
município é o segundo maior produtor de hortigrangeiros (boa parte orgânicos) do
Estado Gaúcho e maior produtor de folhosas, segundo dados da Ceasa (2006),
possuindo boa parte do território com pequenas propriedades. Um dos primeiros
municípios do Estado do Rio Grande do Sul, sua trajetória histórico, política e
econômica o defronta, na atualidade, com o desafio de buscar novas formas de
desenvolvimento, mantendo e preservando para as próximas gerações, a qualidade
ambiental existente. Em Viamão se localizam áreas da Mata Atlântica, ainda
preservadas, em reservas naturais como a existente nos parques de Itapuã e SaintHilaire, vários lagos e uma extensa orla junto ao lago Guaíba e da Laguna dos Patos.
Toda a extensão da Planície Costeira que inclui o município de Viamão faz parte de
importante área biológica.
Em termos culturais, a diversidade também é uma marca importante. No
município estão presentes grupos afro-brasileiros. Há quatro áreas quilombolas, três
aldeias indígenas Mbya-guarani, e remanescentes da colonização portuguesa e
espanhola, além de forte presença da cultura regional campeira gaúcha, dentro de
um processo dinâmico incorporando hoje novos grupos étnicos oriundos da
reorganização do território rural (divisão vendas de grandes glebas, surgindo
pequenas propriedades), como os japoneses.
Na dinâmica de crescimento e novos processos econômicos, o município de
Viamão enfrenta uma ocupação urbana desordenada, com elevado número de
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jovens que convivem com a falta de perspectivas para seu futuro ocorrendo
diariamente a chamada migração pendular.
3 ROTA DA ESPECIARIAS
A partir da realização da Conferência Municipal de Turismo, que apontou a
necessidade de roteirizações que organizassem e induzissem visitas a área rural de
Viamão, a escolha para um primeiro projeto recaiu sobre a área do Espigão, onde há
especial composição ambiental, econômica e cultural. A produção orgânica de
hortifrutigranjeiros, a diversidade produtiva como cogumelos, floricultura, criação de
chinchila e cavalos, ervas medicinais, oleaginosas, óleos essenciais e chás,
somados às inúmeras atrações de lazer e animação já existentes, afirmam a
potencialidade da localidade para o desenvolvimento do Turismo.
Para os alunos e professores do Curso de Turismo da PUCRS, tanto a
Conferência Municipal de Turismo como o Projeto Rota das Especiarias de Viamão
se colocou como ensino, pesquisa e extensão, tendo como objetivo o de estimular o
desenvolvimento de projetos participativos mais amplos assim como específicos, por
exemplo, a agricultura familiar orgânica e a instalação de um caminho turístico rural
ecológico, a partir do eixo das ervas aromáticas e especiarias. Entre os objetivos
específicos iniciais colocavam-se: (1) Propor possibilidades de oferta de novos
produtos ou melhorias sob o ponto de vista do Turismo às já existentes; (2)
Identificar/Inventariar o patrimônio natural e cultural das propriedades; (3) Ordenar os
atrativos já existentes para a oferta do produto Rota das Especiarias; (4)
Aproveitar/capitalizar o patrimônio natural e cultural existentes e possível de ser
trabalhado na formatação do produto Rota das Especiarias; (5) Construir uma rota
turística cujo ideário nominalístico esteja associado ao conjunto de sentidos
atribuídos ao termo especiarias e inserida na compreensão da sustentabilidade
complexa.
Com o avanço da proposta, os objetivos evoluíram para: (1) Estimular a
agricultura familiar e o cultivo orgânico; (2) Organizar um projeto baseado em
encontros e ações contínuas incluindo atividades voltadas à realidade dos
participantes; (2) Divulgar empreendimentos bem sucedidos, envolvendo o plantio de
ervas aromáticas; (3)
Capacitar tecnicamente proprietários interessados e seus
colaboradores no cultivo de plantas aromáticas; (4) Fornecer atendimento
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especializado aos cultivos de ervas aromáticas nas propriedades envolvidas; (5)
Proporcionar trocas de experiências entre os produtores envolvidos; (6) Contribuir
com a divulgação do potencial turístico regional; (7) Apresentar uma alternativa
prática de incremento à renda familiar associada ao uso sustentável dos recursos
naturais; (8) Envolver
a PUCRS e demais Instituições de Ensino regionais
interessadas em um trabalho educativo-pedagógico; (9) Promover o resgate cultural
local através de um diagnóstico valorizando o emprego de plantas aromáticas na
região.
Em sua versão oficial, os objetivos foram sintetizados da seguinte maneira: (1)
Implantar a Rota das Especiarias na área rural de Viamão, inicialmente a partir de
um roteiro experimental construído coletivamente; (2) Demonstrar a possibilidade da
implementação na prática, de conceitos de sustentabilidade ambiental, social,
cultural, econômica e política na sociedade balizada pelo sistema capitalista; (3)
Construir vivências de aprendizagem teórico-práticas para o desenvolvimento
sustentado do turismo e da hospitalidade; (4) Gerar desenvolvimento sustentável do
Turismo no Município de Viamão, possibilitando a empregabilidade da comunidade
local; (5) Construir uma rede de cooperação visando o trabalho em parceria com a
comunidade local.
A evolução dos objetivos mostra não só o crescimento do grupo, mas a sua
maturidade a partir das práticas da construção coletiva, tanto para a comunidade
local como para a comunidade acadêmica. Os desafios na construção coletiva da
proposta foram ocorrendo no dia-a-dia e sendo superados de forma nem sempre
imediata.
3.1 O IMAGINÁRIO
Sabemos que planejar não é apenas organizar espaço físico, produtos e
serviços.
Planejar, hoje, significa conduzir o olhar. [...]. Pós-moderrnamente, numa época
que vivemos de significantes e não de significados, a autenticidade é a leitura
de um texto que precisa ter coerência única e exclusivamente no interior do
próprio texto que constrói (GASTAL, 2003, p.59).
Para nós o imaginário, as representações que construímos através das
(inter)ações que a vida nos oferece, é algo muito importante e que deve estar
presente em todo o processo do planejamento. No caso do Turismo Rural, por
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exemplo, deve ser repensado o entendimento da chamada “rusticidade” e da
“autenticidade”. O “rústico” incorporado ao imaginário contemporâneo tende a
valorizar o sofisticado, o diferente, com muita limpeza, conforto e bem estar.
Tradicionalmente o imaginário mais agregado ao Turismo é a idéia de paraíso
natural (GASTAL, 2003, p.57) com especificidades culturais.
Assim, nesse percurso houve, a exemplo do que já havia acontecido quando
da criação da Rota Romântica/RS, a incorporação de imaginários, como ferramenta
auxiliar ao planejamento turístico. Se no caso da Rota Romântico/RS, o imaginário
foi a germanidade herdada dos imigrantes que vieram para o Sul do Brasil no século
XIX, no caso de Viamão trabalhou-se especiarias, em especial associadas aos
sabores e aromas.
Especiaria reporta a outras duas grandes rotas: à Rota das Sedas ainda na
Idade Média, e à Rota das Especiarias associada às Índias, na Idade Moderna.
Portanto a existência de rotas como esse eixo integrador, ou melhor, como
imaginário, não seria novidade deste início de século. Pensou-se, no corpo do
projeto, em especiarias como produtos constituídos de partes de uma ou mais
espécies vegetais aromáticas usadas para condimentar os alimentos com o
propósito de mantê-los; aguçar o sabor e despertar sensações. O termo foi
empregado na Idade Média como “substâncias utilizadas pelos farmacêuticos”, ou
seja, algo que faz bem à saúde. Já os aromas são substâncias voláteis perceptíveis
através do olfato. São substâncias ou misturas possuidoras de propriedades
odoríficas, capazes de conferir ou intensificar o aroma ou sabor de alimentos,
bebidas ou produtos de higiene.
O Projeto Rota das Especiarias retomou o imaginário que o nominalismo
especiaria possui, associando à formação étnica açoriana do município e a já
produção de especiarias produzidas por uma empresa em áreas que c onstituem o
espaço da rota planejada. São vegetais utilizados como aromatizantes, dos quais
utilizamos as folhas, sementes e flores. As especiarias são cultivadas desde os
primórdios da civilização, sendo capazes de sensibilizar o nosso olfato de modo
agradável e contribuir para que tenhamos uma vida de melhor qualidade. Desde o
início do projeto tínhamos claro que o seu plantio oferece uma alternativa para
particularizar os elementos paisagísticos, além de representar uma fonte de renda
economicamente viável a pequenos produtores locais.
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1715
3.2 A ROTEIRIZAÇÃO
O conceito inicial de rota turística foi concebido pelo grupo de pesquisadores
como sendo a promoção de uma área, de uma região ou de um município. Uma rota
pode ter vários roteiros, mas deve, sempre, manter a identidade inicial da área. É um
itinerário temático para a descoberta e valorização de um patrimônio, utilizando
recursos e serviços, sendo, portanto, uma experiência construída e susceptível de
ser comercializado. O objetivo é promover a mobilidade dos visitantes. Deve ser
estruturada em etapas, através de itinerários, de sítios com estrutura de acolhimento,
com ações de animação, oferta de produtos, possibilidades de contemplação e
promoção. A rota pode ter três segmentos, um de acesso, outro de retorno e a rota
recreativa. Uma rota turística deve ter uma identidade reforçada constantemente pela
oferta e pela utilização. Deve haver um ordenamento para a sua utilização. Deve ter
um ponto de partida – central de acolhimento inicial. O trajeto ou trajetos devem ser
pensados sob o ponto de vista a possibilitar diferentes roteiros. Os roteiros podem se
apresentar de forma temática particular ao patrimônio presente ou construído.
Uma forma de construção de uma rota é através de uma nucleação inicial, ou
seja, o estabelecimento de atrativos que geram fluxo e aos poucos incentivam novos
empreendedores.
4 METODOLOGIA
Podemos dizer que o caminho metodológico foi trilhado com os passos da
observação participante e da pesquisa-ação. A observação participante serviu para
conhecermos, mesmo que provisoriamente, a complexidade que envolve o Espaço
Geográfico Viamão. Como afirma Travancas (2008, p.103) “Este termo significa que
antes de mais anda o cientista social não se coloca ingenuamente, ou pelo menos
não deve se colocar, em relação a sua presença no grupo. Ele deve estar atento ao
seu papel no grupo”. Muitos encontros e desencontros foram realizados buscando
trocas e (re)conhecimentos. O objetivo da pesquisa-ação é de mudar os sujeitos
participantes do processo, assim como as situações que vão sendo avaliadas. O
conhecimento que é produzido retorna ao grupo e se transforma em instrumento de
mudança, oferecendo autonomia ao mesmo tempo em que solicita uma constante
troca. As diversas reuniões, cursos de formação, visitas técnicas que ocorreram
procuravam valorizar a participação de todos os envolvidos e envolvê-los cada vez
mais, sendo este movimento extremamente desafiante ao planejador.
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4.1 MÓDULOS DE TRABALHO PARTICIPATIVO
O planejamento proposto centrou a sua atenção na conjuntura que envolve o
jogo imediato dos atores sociais. O contexto conjuntural do programa representa
uma permanente passagem entre o conflito, a negociação e o consenso; nesta
dialógica foi/é onde tudo se decide.
O trabalho participativo na organização da Rota das Especiarias realizou
visitas técnicas, reuniões para a identificação de problemas e potencialidades
conforme as solicitações expostas no relatório da Conferência Municipal de Turismo.
Foram trabalhadas inicialmente as 57 propriedades rurais que se inscreveram
inicialmente no programa, desencadeando-se 5 fases metodológicas construídas
pela equipe de pesquisadores e com a inserção dos alunos do Curso de Turismo da
PUCRS, descritas a seguir:
Fase 1 – Identificação dos Cenários
- Cadastro das propriedades interessadas em participar do projeto
1717
- Inventario das propriedades
- Levantamento fotográfico
- Sistematização da fase 1
As informações coletadas através da faze 1 serviram para o sucesso da chamada
fase 2.
Fase 2 - Análise de Cenários:
- Identificação das potencialidades das propriedades (alta, média, baixa) nos
quesitos artesanato, alimentação, hospedagem, animação, lazer, turismo eqüestre,
ecoturismo, turismo de pesca, observação de flora e fauna.
- Análise da infra estrutura (não existe, precária, boas condições) nos quesitos como
identificação
da
propriedade,
acesso,
local
de
acolhimento,
banheiros,
estacionamento, água potável, luz, tratamento de afluentes, coleta de lixo, destino e
tratamento dos resíduos sólidos /líquidos, telefonia fixa/móvel.
- Identificação das fragilidades das propriedades
- Hierarquização dos problemas.
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Com o desenvolvimento da fase 2 foi possível traçar caminhos que envolvessem a
comunidade, oferecendo conhecimentos específicos a mesma.
Fase 3 – Diagnóstico Participativo Descritivo:
- Aplicação do curso de qualificação de empreendimentos turísticos desenvolvido na
disciplina de Projeto Experimental II. Trabalhado pela equipe técnica – Professores
da PUC
O curso de qualificação oferecido provocou a necessidade de ser ampliada a
formação e construiu a idéia para ser constituída uma OSCIP a fim de criar maior
autonomia para grupo que forma a Rota das Especiarias.
Fase 4 - Critérios para Inclusão das Propriedades para a Rota das Especiarias
- Participar dos cursos;
- Adaptar a propriedade para atender aos turistas;
- Participar da OSCIP - Instituto Viamontes.
Fase 5 – Operacionalização do roteiro experimental em 8 de dezembro de 2007
- Participaram 19 propriedades; realização de avaliação por parte dos visitantes.
1718
A pesquisa iniciou em forma de pesquisa qualitativa de caráter exploratório,
evoluindo para a pesquisação. Os alunos trabalharam com o aprendizado pela
resolução de problemas, no caso: realizar o planejamento turístico do município com
a comunidade, criando e buscando sustentabilidade para a Rota das Especiarias.
Os resultados obtidos pelo Programa de Desenvolvimento Sustentável Local
nos anos de 2006 - 2008 que implantaram ações contemplativas às propostas da
Conferência Municipal de Turismo podem ser assim sintetizados:
4.1 Ações propostas a partir da Conferência Municipal de Turismo:
a) A construção de projetos de extensão de formação e qualificação para o trabalho,
evidenciando a aprendizagem dos atores e a busca de sua inclusão social através
das atividades na área do turismo e hospitalidade como:
b) Palestra sobre o papel das Políticas Públicas e do Turismo na Sociedade
Contemporânea promovidas pelo curso de Turismo da PUCRS.
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c) A realização de 04 oficinas sobre o tema Políticas Públicas e Turismo na
Sociedade Contemporânea. Esta ação resultou em diversas propostas divididas em
3 eixos:
- Promover a inclusão social através do desenvolvi mento econômico sustentável.
- Resgatar, preservar e valorizar a identidade e a cultura locais.
- Educar e qualificar para a sustentabilidade sócio-ambiental local.
d) Realização de cursos de preparação para o turismo tendo como público-alvo os
funcionários da Prefeitura Municipal, sujeitos vinculados às diferentes associações
existentes no município, efetivos da Brigada Militar, funcionários de empresas como:
Floresta Encantada Vô Rangel e Quinta de Estância, que já atuavam no município;
cursos de qualificação para os propriedades rurais situados na Rota das Especiarias.
4.2 Ações propostas a partir da identificação dos problemas do município para o seu
desenvolvimento, como, por exemplo, a pouca auto-estima diante do estigma,
historicamente construído, por ser morador de Viamão, município dormitório de Porto
Alegre. Tais ações foram:
a) A melhoria da auto-estima da comunidade envolvida pelo levantamento da oferta
turística cultural, com a recuperação da memória do patrimônio histórico, no total de
sete até o momento (2009), que incluem o roteiro de visitação do centro histórico;
b) Manter a motivação de todos os envolvidos, sobretudo da comunidade local. Para
tanto, tornou-se imprescindível à concretização de um dos sonhos projetados pelos
atores – tornar a área uma atração turística. Visitas técnicas, pesquisa sobre os
atrativos locais resultaram na proposta de dois Roteiros Turísticos Rurais, um roteiro
histórico para a área central e roteiros temáticos (religioso, esotérico) que foram
criados (2008-2009).
Neste sentido, foi proposta a prática de um roteiro experimental da Rota das
Especiarias, realizado em 12 de dezembro de 2007. Um exercício didático para os
alunos envolvidos e um workshop para os proprietários rurais da área do Espigão.
Após a experiência houve uma avaliação por parte das participantes.
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O roteiro turístico construído continua em processo de qualificação e
ampliação de atrativos, bem como na formatação da rede de cooperação entre
produtores e prestadores de serviços.
Foi organizada uma OSCIP- Instituto Viamontes, visando representar de forma
orgânica os atores envolvidos e profissionalizar os projetos construídos, já em fase
de publicação do edital.
4.3 Melhorias Pedagógicas nos cursos de Turismo e Hotelaria:
Como as melhorias pedagógicas tivemos, principalmente, a aumento do
comprometimento dos alunos dos cursos de Turismo e de Hotelaria com os
problemas que afetam as comunidades e melhoria de suas concepções de
responsabilidade, ética e sustentabilidade ampliando sua dedicação à profissão
escolhida.
5. CONCLUSÃO
Houve um desenvolvimento endógeno com a mobilização social e a participação
comunitária. Foram construídos caminhos através do empreendedorismo no
processo de ordenação do turismo na localidade da Estrada do Espigão.
A ampliação da cooperação com a competência da PUCRS, no ensino e
pesquisa do Turismo, permitiu incrementar a qualidade do destino turístico urbano e
rural, estabelecendo a dialética entre a concorrência global e a competência local;
radicalizando a relação de integração entre as cidades num âmbito estadual,
nacional, internacional e as redes de desenvolvimento regionais. Foi construída uma
rede de cooperação visando o trabalho em parceria da comunidade local, ampliando
o seu capital social pelo turismo sustentável.
Sabemos, enquanto pesquisadores do Turismo que sem a relação sistêmica e
orgânica entre as diferentes partes, não se expressa um indutor para que ocorra
desenvolvimento sustentável. Somente com a sinergia de diversos atores, do
proprietário do empreendimento ao trabalhador do setor: o gestor, o artesão, o
comerciante, o produtor rural, o jovem que venha a se qualificar e participar
prestando serviços, em rede, de forma cooperativada, é que acreditamos na
possibilidade do Turismo Sustentável. E isto temos constatado neste projeto de
pesquisa e extensão.
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REFERÊNCIAS
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Aprender, Como Ensinar, 2. ANSARAH, Marília Gomes dos Reis (org.). São Paulo:
Ed. SENAC, 2001.
GASTAL, Susana. Turismo na Pós-modenidade: agregando imaginários. In:
GASTAL, Susana e CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (org.). Turismo na PósModernidade (des)inquietações. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
MOESCH, M. Para Além das Disciplinas: o desafio do próximo século. In: GASTAL,
Susana. Turismo, Investigação e Crítica. São Paulo: Contexto, 2002.
TRAVANCAS, Isabel. Fazendo Etnografia no Mundo da Comunicação.In: DUARTE,
J. e BARROS (orgs), A. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2ª Ed.
São Paulo: Atlas, 2008.
1721
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REPRESENTAÇÕES DE TURISMO, TURISTA E PLANEJAMENTO NO
PLANEJAMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL DO MUNICIPIO DE VALENÇABAHIA A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS
Fernanda Meneses de Miranda Castro
Mestre em Cultura e Turismo/Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Moema Maria Badaró Cartibani Midlej
Doutora em Educação/UESC
[email protected]
RESUMO
O objetivo central desta pesquisa foi analisar como as representações das palavras
turismo, turista e planejamento são contempladas no planejamento turístico do
município de Valença a partir da percepção dos atores sociais envolvidos no
segmento turístico. Para isso, investigou-se como é realizado o planejamento
turístico do município e qual a imagem dos representantes do segmento acerca
deste planejamento e sua participação no desenvolvimento do turismo através das
técnicas de análise de conteúdo e associação livre de palavras. Os resultados
obtidos apontaram para ruídos na comunicação entre a gestão pública do turismo e
os representantes do segmento, pois as ações propostas pelo planejamento turístico
da cidade de Valença não consideram efetivamente a participação popular na
decisão de políticas públicas de turismo e tais representantes não se sentem
partícipes deste planejamento. Conclui que o processo de estruturação do turismo
baseado na participação e integração dos setores público, privado e da comunidade
local, pode trazer resultados mais efetivos e condizentes com a realidade da região e
que a orientação da Gestão Participativa no desenvolvimento turístico de Valença se
posiciona como um elemento chave para solucionar seus pontos fracos, ressaltar os
fortes e inserir o município competitivamente no mercado, trazendo resultados mais
condizentes com suas potencialidades.
Palavras Chave: planejamento turístico; representações sociais; Valença-Bahia,
participação.
ABSTRACT
The objective of this research was to examine how the representations of the words
tourism, tourist and planning are addressed in tourism planning in the city of Valença
from the perception of social actors involved in the tourism sector. For this, we
investigated how planning is conducted tour of the city and which the image of the
representatives of this segment on planning and participation in tourism development
in the city, through the techniques of content analysis and free association of words.
The results pointed to noise in the communication between the public management
of tourism and representatives of the segment, as proposed actions for planning
tourist city of Valença does not actually consider popular participation in policy
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decision of tourism and such representatives do not feel share in this planning. It
concludes that the structuring process of tourism based on the participation and
integration of public and private sectors and the local community, can yield more
effective and consistent with the reality of the region and the orientation of
Participatory Management in the development of tourism in Valencia is positioned as
a key element to address their weaknesses, highlight the strengths and enter the city
in a competitive market, bringing data according to their potential.
Keywords:tourism planning, social representations, Valença, Bahia, participation.
1 INTRODUÇÃO
Segundo Petrocchi (2004), o planejamento turístico identifica os segmentos
específicos que poderão ser trabalhados com a oferta de produtos particulares que
atendam as necessidades e desejos da demanda localizada, mas, para tanto há a
necessidade do envolvimento da população residente neste processo, pois, o
principal vendedor deste produto é quem mais o consome, ou seja, a comunidade
local. No uso e produção da dimensão espacial, percebe-se que os sujeitos, através
das suas práticas exercidas no seu espaço de vida, constroem a partir de suas
percepções as representações que constituem uma matriz de existência social, uma
mediação entre suas experiências vividas e suas representações (BOMFIM, 2006).
Nesse contexto, o planejamento deve se constituir em uma ferramenta de uso
imprescindível para Administrações Públicas Municipais que apostam no incremento
do turismo através do desenvolvimento sustentável, da intervenção de diferentes
níveis da Administração Pública e, principalmente, da necessidade de integração do
planejamento turístico com outros instrumentos de organização do território.
O Sul da Bahia, no Nordeste do Brasil, um dos lugares turísticos mais
promovidos do país, encanta o turista por seu abundante patrimônio natural, que
percorre desde a aridez da caatinga até as praias cercadas pela Mata Atlântica
remanescente. A relação do homem com o território que ele constrói e habita é
conseqüência da sua cultura local, uma mistura de etnias indígena, negra e branca.
Lugar de onde se originou o Brasil, o Sul da Bahia é um paradoxo, seduzindo e
chocando quem o visita, pois está situado numa região com graves problemas sócioeconômicos, com um histórico de uma sociedade orientada pelos acontecimentos
políticos.
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O município de Valença é o ponto central deste estudo. Este município
apresenta algumas dificuldades para o desenvolvimento turístico. Atualmente, é
utilizado, majoritariamente, como passagem de turistas em direção ao Morro de São
Paulo, em Cairú, funcionando como “corredor turístico”. O pouco aproveitamento dos
recursos culturais e naturais, o descuido com o meio ambiente, a dificuldade de
recursos para obras de infra-estrutura, a carência de mão de obra qualificada e a
falta de conscientização da população, entre outros, são fatores que representam
problemas e aguardam soluções. Os residentes deste município não interagem com
o processo de desenvolvimento turístico e não despertaram para o fato de que este
processo deve ser construído por eles, pela sua iniciativa de atuação e vontade de
melhorar a sua vida.
A partir deste cenário, surgiu a necessidade de investigar: quais as
representações sociais construídas pelos atores sociais, de vários segmentos da
comunidade local sobre turismo, turista e planejamento, no município de Valença?
Como o conteúdo dessas representações pode contribuir para o planejamento
participativo e sustentável da atividade turística?
Assim, o objetivo central desta pesquisa foi identificar e analisar o conteúdo
das representações sobre turismo, turista e planejamento construídas pelos atores
sociais do segmento turístico do município de Valença, Bahia.
Esta investigação é parte de uma pesquisa realizada no município em
questão entre os anos de 2007 e 2008, quando através da técnica da análise de
conteúdo nas representações sociais buscou levantar opiniões, comportamentos,
atitudes e crenças buscando identificar as representações sociais sobre os símbolos
materiais e imateriais dos termos turismo, turista e planejamento. Deste modo,
procurou-se aprofundar os conhecimentos sobre a realidade, justificando a razão e o
porquê do fenômeno estudado.
Como instrumento de pesquisa primária foi utilizada uma entrevista semi estruturada, privilegiando-se a livre expressão dos depoentes. Este processo referese à tomadas de informações em profundidade das representações e impressões do
grupo. Além disso, os dados obtidos nas entrevistas foram confrontados com os
dados secundários referentes ao planejamento turístico do município obtidos na
Secretaria de Cultura e Turismo.
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A população de interesse para identificar qual a efetiva participação dos
atores sociais envolvidos pelo segmento turístico no planejamento e estratégias,
bem como a gama de produtos e serviços turísticos foi os diversos atores sociais
residentes no município, nascidos ou não em Valença, que estão diretamente
ligados à atividade turística.
A compilação e análise dos dados, como fora citado, foram elaboradas com o
auxílio da técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004). Este instrumento se
constitui em um conjunto de técnicas para analisar formas de comunicação e foi a
base da organização, inferência, análise e interpretação dos dados. O método de
Análise de Conteúdo considera a produção de inferências acerca de dados verbais
e/ou simbólicos obtidos a partir de perguntas e observações de interesse do
pesquisador. As interpretações dos resultados e análises foram feitas de acordo com
os principais aspectos teóricos fundantes do trabalho que é Representações Sociais.
Os resultados desta pesquisa indicaram que existe uma grande falha de
comunicação entre os gestores do turismo e os atores sociais.
1725
2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Para a realização desta pesquisa foram aplicados dois tipos de formulários,
um para membro da Secretaria de Turismo e outro para os atores sociais. O
formulário aplicado na Secretaria de Turismo serviu apenas como um instrumento
norteador da entrevista. Foram elaboradas três questões: como é realizado o
planejamento turístico; se a população participa do planejamento e de que forma e
quais ações estão sendo traçadas atualmente no planejamento turístico do
município. O formulário aplicado nos atores sociais iniciava com a formação do perfil
do entrevistado e em seguida, apresentava perguntas referentes à idéia de turismo,
planejamento turístico e a sua importância, como cada ator social se vê inserido no
planejamento turístico e a importância desta participação, sobre os atrativos
turísticos do município que os atores consideram como principais, sobre a
importância da história do município na constituição dos produtos turísticos e como o
ator social apresentaria a cidade para quem não a conhecesse (co-ocorrência livre).
Ademais, o formulário apresentava as palavras-chave e expressões-chave
previamente escolhidas e o pesquisador solicitou a cada ator social que dissesse
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uma ou mais palavras que viessem a cabeça quando ouvisse cada termo (coocorrência induzida). As palavras-chave estimuladoras escolhidas para este recorte
foram: turismo, turista, e planejamento.
No processo de sistematização, interpretação e análise das informações foi
utilizado o percurso realizado por
Avena (2002),
através dos seguintes
procedimentos: a determinação das palavras-chave, as co-ocorrências e as
relações. As palavras-chave, previamente escolhidas conforme citado, foram
instrumentos de análise, que foram submetidos a um tratamento quantitativo de
aparecimento nas falas. Neste procedimento de quantificação, excluíram-se os
termos semânticos e os conectivos, privilegiando-se os substantivos, adjetivos,
verbos e advérbios. No processo de levantamento das palavras-chave, foi feito um
agrupamento de palavras -
identidades,
tendo como critério significados
semelhantes, ou pelo sentido dado pelos sujeitos.
As palavras com maior freqüência foram destacadas nas unidades de análise
(frases), de onde foram extraídas as co-ocorrências e relações, etapas preparatórias
para a Análise de Conteúdo. Conforme expõe Teixeira (1983), as palavras-chave
(ocorrências) têm a função de norteadores que encerram significações para o
entendimento das condições de produção e são tomadas como origem da análise.
Esta transforma todas as outras da unidade de análise (frase) em co-ocorrências.
As relações, de acordo com Midlej (2004) referem-se à “rede de ligações
entre as palavras-chave e suas co-ocorrências, independentemente da interferência
do pesquisador, e que dão sentido e definem as intenções”.
A partir da organização dessa grade, procedeu-se à classificação, por ordem
de freqüência, das co-ocorrências e de suas respectivas relações (positivas ou
negativas), classificadas como “Associações” ou “Oposições” feitas a partir das
leituras dos textos explicativos, sistematizadas em “Quadros de Apurações” e
“Quadros de co-ocorrências”. Os quadros de análise foram extraídos destes
instrumentos. Estes resultados deram base à discussão da pesquisa.
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2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO EM
VALENÇA
No âmbito da presente pesquisa, busca-se compreender como o contexto
socioeconômico, histórico e cultural, presente na mentalidade local e suas
representações sociais manifestadas nas idéias de turismo, turista e planejamento
estão contempladas no planejamento turístico traçado para o município de Valença,
Bahia. No tratamento da análise de conteúdo do presente estudo, partind o-se da
seleção de palavras-chave, do levantamento da freqüência com que ocorreram no
texto e da identificação das co-ocorrências com associações positivas e/ou
negativas, montou-se um quadro geral que possibilitou uma análise preliminar dos
resultados. Na interpretação dos resultados mediante a análise de conteúdo,
procedeu-se a reescritura dos discursos mediante utilização de recursos gráficos,
onde as percepções dos sujeitos tomadas das co-ocorrências e relações produzidas
são grafadas em negrito e itálico .
Nos
quadros
gerais
demonstrativos
das
co-ocorrências
e
relações
correspondentes a cada palavra-chave, identificou-se para as comunidades interna
(Secretaria de Turismo) e externa (Representantes do Segmento Turístico) as
respectivas Associações Positivas (Associações) e Negativas (Oposições).
Mediante a apresentação da palavra-chave TURISMO, foi solicitado aos
sujeitos que expressassem duas palavras que lhe viessem à cabeça e que se
relacionassem com a mesma. A co-ocorrência livre mais marcante relativa a esta
palavra-chave foi renda, seguida de planejamento turístico. Ambas associadas às
questões econômicas, tanto nas associações positivas, quanto nas negativas, com
maior ênfase e participação relativa às relações positivas, com 69% das ocorrências.
Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o maior índice de coocorrência também foi relacionado às questões econômicas, contudo relacionados
aos termos emprego (geração de) e lazer (gastos com). Nesta apuração as
associações positivas representaram 90% dos dados, o que indica que, para os
representantes do segmento turístico, o turismo precisa ser planejado para ser
uma fonte de renda e gerar empregos. A seguir são apresentados os quadros que
representam as etapas do tratamento da palavra-chave TURISMO. A primeira fase
apresenta e analisa as co-ocorrências livres (Quadro 1), a segunda as coocorrências induzidas (Quadro 2) e a terceira as co-ocorrencias livres e induzidas
(Quadro 3).
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Turism o
Co-ocorrência
livre
Renda
Capacitação,
Educação
Participação
Enriquecimento
cultural
Relações
Percentual
Palavra-chave
Estim uladora
Freqüência
Quadro 1 – QUADRO GERAL ADMINISTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS
LIVRES E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE
TURISMO
Positivas
ASSOCIAÇÕES
Negativas
OPOSIÇÕES
207
111
100
53,63
143 (69%)
Maior fonte de renda do
munic ípio.
Desenvolvimento
8
3,86
As pessoas precisam ter
educação para tratar o
turista
Conscientização
da
importância da atividade
15
08
7,25
3,86
65
31,40
64 (31%)
População não usufrui
Resume-se ao Guaibim
Falta
de
acomodação
empenho,
Fraco, deixou o município
com um destino sem
atratividade.
- turismo infantil
- turismo sexual
Planejamento
turístico
Co-ocorrência
induzida
Turism o
Percentua
l
Palavra-chave
Estim uladora
Freqüênci
a
Quadro 2 – QUADRO GERAL ADMINISTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS
INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE
TURISMO
Relações
Positivas
ASSOCIAÇÕES
27 (90%)
Negativas
OPOSIÇÕES
03 (10%)
Limpeza
Cordialidade
Passeio lazer
Negócios
30
01
01
04
03
100
3,33
3,33
13,33
10
Praia
Emprego
01
05
3,33
16,66
Sustentabilidade
01
3,33
Pessoas
Guaibim
02
02
6,66
6,66
Valença
Economia
Cultura
Decadência
01
02
01
01
3,33
6,66
3,33
3,33
Através dela chega-se ao Guaibim
A cidade se movimenta
Prosperidade
Morro de São
Paulo
Movimento
03
01
10
3,33
Potencialidade, esperança
01
3,33
A cidade fica mais movimentada com o
turismo
As pessoas passeiam e gastam
Para fazer turismo tem que
dinheiro;
gastar
Gera emprego;
Fonte de renda para a população, o
turismo provoca a diversão das pessoas;
Alavanca do Brasil;
Gerador de renda
É uma atividade que um dos principais
focos é a não destruição do patrimônio
Além dos recursos naturais, traz pessoas
Acho a praia linda e sossegada
Não vê turis mo
em Valença
O turismo já foi
melhor
Não vê turis mo
em Valença
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Quadro 3 – RELAÇAO DA PALAVRA CHAVE TURISMO COM AS COOCORRENCIAS LIVRES E INDUZIDAS, ASSOCIAÇÕES E
OPOSIÇÕES
Co-ocorrência
Renda
Planejamento Tur ístico
Participação
Cultura‟
Capacitação, Educação
Emprego
Passeio Lazer
Negócios
Prosperidade
Guaibim
Economia
Pessoas
Decadência
Valença
Morro de São Paulo
Movimento
Limpeza
Praia
Sustentabilidade
Cordialidade
TOTAL
Freqüência
111
65
15
09
08
05
04
03
03
02
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
237
Percentual (%)
46,83
27,43
6,33
3,80
3,37
2,11
1,69
1,27
1,27
0,84
0,84
0,84
0,42
0,42
0,42
0,42
0,42
0,42
0,42
0,42
100
Associações
Oposições
84
43
27
22
15
09
8
05
04
03
01
01
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
170
67
Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da
segunda fase, as relações de associação são preponderantes. Do total de relações
28% são de oposição e 72% são relações de associação. Sempre que aparece, a
1729
palavra TURISMO é acompanhada, em sua maioria, de co-ocorrências fortemente
impregnadas do sentido positivo (renda, planejamento turístico, empregos,
contribuição para o desenvolvimento local) e, quando a relação negativa ratifica-se a
percepção de que o planejamento é a principal ferramenta para o desenvolvimento
do TURISMO, pois, as oposições caracterizam a ausência de planejamento.
A concepção de TURISMO como fonte de renda e desenvolvimento regional,
quando associado ao planejamento turístico participativo se evidencia nos discursos,
em diversos trechos, quando se delineia o seu significado:
Então eu acho que o turismo é fundamental na minha vida e para todos
esses que queiram trabalhar para o turismo. É uma fonte de renda,
completamente certa. Então... Em particular eu não acho bom o
planejamento turístico de Valença porque Valença não abraça
turisticamente o nome turismo (S14) 76
Na verdade o turismo em Valença ainda está começando a se achar. Eles
ainda não têm um programa específico para o planejamento e
desenvolvimento do turismo com relação à atividade turística. Agora que a
gente começa a ver algumas modificações, algumas pessoas trabalhando
76
Conforme definição estabelecida a codificação dos sujeitos da pesquisa para fins de citação é: C1
para a comunidade interna e S1 a S15 para a comunidade externa, genericamente denominada
“Sociedade”.
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em prol do turismo, a gente já vê algumas reuniões em prol da atividade,
mas assim, tem muita reunião e pouca ação. Não tem ainda uma estratégia
definida. (S4)
Ah, meu Deus, (o turismo) representa tudo. Porque eu acho que o turismo
em Valença deveria ser a alternativa básica para a questão da
sobrevivência das pessoas, só que não há credibilidade, os governantes
não acreditam. E a gente não acredita no turismo e por sua vez ele vai se
esvaindo né? E a comunidade não tem consciência do retorno que eles
podem estar obtendo no investimento de turismo, desde o atendimento né,
a questão de estar recepcionando até a preparação mesmo para acolher os
turistas. (S3)
...(o turismo) é meu meio de vida. Mas (o planejamento turístico) é péssimo.
Porque nada é feito. Nada é feito em prol do turismo. Acho importante
planejar. Porque tudo planejado tem mais chance de dar certo né? Você
fazer a coisa assim de agora para daqui a pouco é mais difícil de você
conseguir êxito. (S7)
Diversos autores discutem os prós e contras da atividade turística. Dentre os
aspectos positivos, pode-se destacar principalmente o turismo como gerador de
divisas, como uma “indústria que não polui”, como a principal atividade econômica
da atualidade, etc. Contudo, dentre os aspectos negativos, é unânime a conclusão
que o turismo, se não for bem planejado, poderá causar mais impactos negativos do
que positivos, pois é essencial planejar buscando a sustentabilidade em modelos de
gestões políticas públicas organizadas e associadas, aumentando a capacidade
socioeconômica, ambiental e cultural da atividade, o que nem sempre ocorre.
Ainda em relação à palavra-chave TURISMO pode-se destacar no discurso
dos atores a associação aos termos cultura, participação e capacitação/
educação, vinculados respectivamente ao enriquecimento cultural, a falta de
empenho na participação e a conscientização da importância da atividade.
Dentre as oposições desta segunda parte da análise vale destacar a falta de
empenho na participação. O discurso dos autores dá a entender que existe uma
acomodação entre as partes: nem a população interessa-se em participar, nem os
gestores do turismo incluem a população no planejamento ou ainda que a população
não acredite no turismo como um vetor de desenvolvimento econômico, ou seja,
ainda não tem educação para o turismo em todas as suas vertentes: seja no sentido
de conservação dos espaços, sustentabilidade sócio-econômico-cultural, na
capacitação profissional - oferta de produtos turísticos, qualidade no serviço.
prestado, educação para tratar bem o turista – quanto na conscientização do
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1730
potencial que a atividade pode ter no desenvolvimento das comunidades. Por isto,
não há participação
Especificamente de Valença eu ainda não me sinto assim. Porque uma das
coisas que seria importante seria exatamente essa participação dentro do
planejamento turístico. Então se não tem um planejamento turístico então a
gente não... Conseqüentemente a gente não participa do planejamento. (...)
E na verdade eu acho que as próprias pessoas de Valença não se sentem...
As próprias pessoas de Valença não se sentem assim tão por dentro da
atividade turística, elas não conhecem o potencial que o município tem para
a atividade. (S4)
Porque eu acho que o turismo em Valença deveria ser a alternativa básica
para a questão da sobrevivência das pessoas, só que não há credibilidade,
os governantes não acreditam. E a gente não acredita no turismo e por sua
vez ele vai se esvaindo né? E a comunidade não tem consciência do
retorno que eles podem estar obtendo no investimento de turismo, desde o
atendimento né, a questão de estar recepcionando até a preparação mesmo
para acolher os turistas.(S3)
Então é por isso que o turismo aqui é muito acomodado. Enquanto não
crescer essa visão, Valença não vai dar um pouco de diferença entre as
outras praias que já estão se expandindo, já estão crescendo, com um
desenvolvimento maior, com pouco tempo do que o nosso. É muito
complicada essa parte turística, Valença. (S14)
Tais resultados reforçam a assertiva de que é a falta de envolvimento dos
atores sociais no processo de planejamento do município em questão ocorre em
função da não conscientização dos envolvidos (atores e gestores do turismo) sobre
a importância do planejamento participativo no turismo. Contudo, como se pode
definir o sucesso do planejamento turístico do município através das aspirações da
população, se a mesma, de acordo com resultados, desconhece a importância da
atividade?
Quanto ao conceito da palavra-chave TURISTA a co-ocorrência livre mais
marcante foi visitante, seguida de segurança. O termo visitante foi associado,
majoritariamente às questões econômicas, e o termo segurança, em sua maioria
referia-se à necessidade de proteção ao turista. A maior ênfase e participação
relativa às relações positivas, com 54,8% das ocorrências estão relacionadas às
questões de acolhimento ao turista (segurança) e econômicas.
Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o maior índice também
foi relacionado às questões econômicas, contudo direcionado aos termos renda
(67%) e olhar, cliente e outra cultura (todos com 10%). Nesta apuração as
associações positivas representaram 90% dos dados, o que indica que, para os
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1731
representantes do segmento turístico, o TURISTA representa dinheiro entrando na
cidade, uma fonte de sobrevivência, um cliente que traz o conhecimento de
uma nova cultura. A seguir são apresentados o conjunto de quadros que
representam as etapas do tratamento da palavra-chave TURISTA com as coocorrências e as associações e oposições identificadas nos discursos dos sujeitos.
Quadro 4 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO- OCORRÊNCIAS
LIVRES RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE TURISTA
Turista
Relações
Percentual
Co-ocorrência livre
Freqüência
Palavra-chave
Estim uladora
Positivas
ASSOCIAÇÕES
Negativas
OPOSIÇÕES
17 (54,8%)
14 (45,2%)
Desconhecimento
da
importância do turista para a
cidade.
31
06
100
19,35
09
03
29,03
9,67
Turista visita e gera renda
Visitante
Segurança
Acolhimento
11
04
35,48
12,9
Criação da DELTUR
Preparação para acolher
Descaso
da
população - não sabe
atrair o turista
Não visita Valença porque não
vê atratividade.
O turista precisa de proteção
Quadro 5 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS
INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA- CHAVE
TURISTA
Turista
Relações
Percentual
Co-ocorrência
induzida
Freqüência
Palavrachave
Estim uladora
30
100
01
3,33
Educação
01
3,33
Segurança
Dinheiro, renda
01
05
3,33
16,67
Visão
01
3,33
Olhar
03
10
01
3,33
01
03
01
3,33
10
3,33
Um
necessário
Diamante
turismo
Invasor
Cliente
Pessoas
vontade
conhecer,
mal
do
com
de
1732
Positivas
ASSOCIAÇÕES
Negativas
OPOSIÇÕES
27 (90%)
03 (10%)
Porque ele não tem educação e destrói o meio
ambiente, é aquele que ao invés de tirar uma
foto ele mata o animal para levar.
O turista precisa ser educado respeitar o
patrimônio histórico, cultural, qualidade das
coisas que ele anda.Eles não respeitam o
patrimônio. Vão numa igreja e escrevem um
coraçãozinho fulano ama beltrano. Eu soube
que aqui tem uma grutas de cultura rupestre,
eu nem falo nisso, porque quando eles
descobrirem vão lá e escrevem tudo em cima.
Entrando na cidade, sem
ele não há como sobreviver
Precisa
ter
visão
direcionada para decidir o
destino que quer viajar
Um outro olhar, diferença,
intercâmbio
Ajuda as pessoas a se
conscientizarem
Invade o espaço das outras pessoas
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12 a 14 de abril de 2010
explorar
Outra cultura
Bahia
03
01
10
3,33
Brasil
01
3,33
Riqueza
Americanos
Italianos
Brasileiros
Visitante
bem
vindo
02
01
01
01
01
6,67
3,33
3,33
3,33
3,33
Conhecimento
Levar o Guaibim ao
território nacional
Fazer o Guaibim ser
conhecido no nosso
Estado.
Cultural, econômica
Quadro 6 – RELAÇÃO DA PALAVRA- CHAVE TURISTA COM AS CO-OCORRÊNCIAS
LIVRES E INDUZIDAS
Co-ocorrência
Visitante bem vindo
Segurança
Descaso da população - não sabe atrair o turista
Dinheiro, renda
Acolhimento
Olhar
Cliente
Outra cultura
Riqueza
Pessoas com vontade de conhecer, explorar
Bahia
Brasil
Diamante do tur ismo
Invasor
Americanos
Italianos
Brasileiros
Um mal necessário
Educação
Visão
TOTAL
Freqüência
13
12
06
05
04
03
03
03
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
Percentual
21,31
19,67
9,83
8,2
6,55
4,92
4,92
4,92
3,28
1,64
1,64
1,64
1,64
1,64
1,64
1,64
1,64
1,64
01
01
61
1,64
1,64
100
Associações
10
03
Oposições
03
09
06
05
04
03
03
03
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
01
44
17
Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da
segunda fase, as relações de associação são preponderantes. Do total de relações
28% são de oposição e 72% são relações de associação. Verifica-se então, a
preponderância de relações positivas entre as co-ocorrências e expressões
produzidas.
Dados da pesquisa indicam que as palavras-chave TURISMO e TURISTA
muitas vezes se confundem. Ambas, para os atores sociais, representam
majoritariamente, divisas entrando no município. Nesta última apuração vale
ressaltar a preocupação com a segurança do turista.
O resultado mais expressivo da Co-Ocorrência Livre indica que para os
representantes do segmento turístico o TURISTA é um visitante bem vindo
(29,03%), que gera renda, mas também, deixa de visitar a cidade porque a
mesma não oferece atratividade (9,67%). Segundo depoimentos, boa parte dos
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1733
turistas passam por Valença para dirigirem-se ao Morro de São Paulo, à praia do
Guaibim ou às demais cidades da Costa do Dendê, reduzindo a cidade a, apenas,
um corredor turístico em direção a Morro de São Paulo e Camamú (demais cidades
da Costa do Dendê).
Valença é um portal para o Morro de São Paulo e para outras regiões
turísticas. (S2)
Então a única coisa que ocorre aqui em turismo só vem a parte do Guaibim
sendo que atualmente depois da construção do aeroporto, também colocou
em frente ao aeroporto a... Como é que chama o local? O atracadouro.
Então isso dificultou mais porque as pessoas quando utilizam o aeroporto,
os turistas, só vem para dois lugares: Morro de São Paulo e Mediterrané,
então isso dificultou porque de primeiro, as pessoas tinham que vir, quando
vinha para o Morro de São Paulo, tinham de vir, rodar a cidade toda
praticamente para poder chegar até a praça, pegar os barcos, as lanchas
para ir até o Morro e hoje não precisa porque uns vem de carro, tem um
estacionamento grande no atracadouro, e tem gente que nem aqui aparece,
e as vezes até no Guaibim. (S11)
Essa é minha opinião, sobre... Não sobre o turismo, eu não digo que nossa
região é uma região turística porque sobre a nossa potencialidade nem um
por cento é explorado, eu diria que essa é uma análise sobre a nossa
incompetência em explorar um dos segmentos que mais crescem no
mundo, que mais trazem divisas... A Espanha, você não vê nenhuma
indústria espanhola, nenhum carro, mas o Uruguai é menor do que o Rio
Grande do Sul, mas recebe mais turistas do que o Brasil inteiro, nós não
temos políticas adequadas, nós somos incompetentes na área turística.
(S15)
A diversidade cultural também foi ressaltada no símbolo do turista.
Americanos, italianos, brasileiros (3% cada) que visitam o município trazem o
conhecimento (10%) e riqueza econômica e cultural (6,67%), através de um
novo olhar, olhar da diferença (10%). Contudo, dentre as oposições, ainda chama
a atenção a falta de conscientização ambiental e sustentabilidade, pois o termo
educação (3,33%) foi evocado indicando
O turista precisa ser educado respeitar o patrimônio histórico, cultural,
qualidade das coisas que ele anda. Eles não respeitam o patrimônio. Vão
numa igreja e escrevem um coraçãozinho fulano ama beltrano. Eu soube
que aqui tem umas grutas de cultura rupestre, eu nem falo nisso, porque
quando eles descobrirem vão lá e escrevem tudo em cima. (S1)
Mediante a apresentação da palavra-chave PLANEJAMENTO, foi solicitado
aos sujeitos que expressassem duas palavras que lhe viessem à cabeça e que se
relacionassem com a mesma. A co-ocorrência livre mais marcante relativa a esta
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1734
palavra-chave foi planejamento turístico, seguida de participação. Ambas
associadas às questões organizacionais, tanto nas associações positivas, quanto
nas negativas, com maior ênfase e participação relativa às relações negativas, com
64,29% das ocorrências. Quanto à co-ocorrência induzida, pôde-se verificar que o
maior índice de co-ocorrência também foi relacionado às questões organizacionais,
contudo relacionados aos termos essencial e inexistente.
A seguir são apresentados o conjunto de quadros e gráfico que
representam as etapas do tratamento da palavra-chave PLANEJAMENTO com as
co-ocorrências e as associações e oposições identificadas nos discursos dos
sujeitos.
Planejamento
Co-ocorrência
livre
Relações
Percentual
Palavra-chave
Estim uladora
Freqüência
Quadro 7 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS LIVRES E
RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA-CHAVE PLANEJAMENTO
Positivas
ASSOCIAÇÕES
Negativas
OPOSIÇÕES
42
05
100
11,9
15 (35,71%)
Importância de planejar o turis mo
02
4,76
Aumentar o fluxo de turistas
Participação
11
06
10
26,19
14,28
23,8
Organização
06
14,28
01
2,38
02
4,76
Planejamento
turístico
Desenvolviment
o sustentável
27 (64,29%)
Falta de participação do trade
1735
no planejamento
Desconhecimento
do
planejamento
Não há planejamento
Falta de planos e ações efetivas
Inexistência de planejamento
participativo
Necessidade de elaboração de
planos
Muito planejamento e pouca
ação
Abismo entre planejamento e
realidade
Planos de manejo, etc.
Planejamento
Coocorrência
induzida
Percentu
al
Palavra-chave
Estim uladora
Freqüên
cia
Quadro 8 – QUADRO GERAL DEMONSTRATIVO DAS CO-OCORRÊNCIAS
INDUZIDAS E RELAÇÕES ARTICULADAS À PALAVRA-CHAVE
PLANEJAMENTO
19
100
Ordenar
04
21
Infra-estrutura
Saúde
01
03
5,26
15,79
Essencial
06
31,58
Relações
Positivas
ASSOCIAÇÕES
15 (79%)
Negativas
OPOSIÇÕES
04 (21%)
Colocar em prática, para
tudo tem que haver
planejamento
Definir o foco
Familiar, há muitas mulheres
grávidas e não há controle.
Pr incipio
básico
qualquer negócio
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de
Acessório correto para o
desenvolvimento tur ístico
Base
do
negócio
Vai acontecer,
inexistente
01
5,26
06
31,58
Sucesso
Pesquisa
01
02
5,26
10,52
Futuro
02
10,52
Ainda não vê o planejamento
efetivo, é pouco explorado
Precisa sair do papel
Falta de vontade política
Incapacidade
Buscar solução para os
problemas que estão ai ou
possam surgir
Crescimento
Quadro 9 – RELAÇÃO DA PALAVRA-CHAVE PLANEJAMENTO COM AS COOCORRÊNCIAS LIVRES E INDUZIDAS, ASSOCIAÇÕES E OPOSIÇÕES
Co-ocorrência
Planejamento Tur ístico
Ordenar
Participação
Essencial
Vai acontecer, inexistente
Saúde
Desenvolvimento sustentável
Pesquisa
Futuro
Base do negócio
Sucesso
Infra-estrutura
TOTAL
Freqüência
24
Percentual
38,42
Associações
04
Oposições
20
11
10
06
06
03
02
02
02
01
01
01
100
19,67
16,39
9,84
9,84
4,69
2,38
2,38
2,38
1,64
1,64
1,64
61
10
01
10
06
01
02
02
01
01
30
06
03
01
31
1736
Fazendo-se o somatório das associações e oposições, da primeira e da
segunda fase, verifica-se um empate entre as relações de associação e oposição,
com uma leve vantagem para as oposições (51%). Tais resultados ocorreram
apenas na compilação dos dados, pois na co-ocorrência livre, constata-se que o
planejamento é visto como uma ferramenta essencial ao desenvolvimento do
turismo (21%), entretanto, para os atores, esta ferramenta ou não existe (31, 5%)
ou não é usada pelos gestores do turismo.
(...) eu posso até estar errada porque existem vários planejamentos agora
nenhum planejamento é colocado em prática. Na realidade, todo
planejamento, a gente faz parte de reunião, faz parte de tudo agora nada é
colocado em prática. Então que eu faço parte do planejamento, faço, acho
importante fazer parte acho, agora o que não acontece é ser realizado nada
(S7).
O planejamento daqui eu vejo bom né? Mas eu acho que tem que levar
mais a sério. Porque o planejamento surge, é muita reunião, é muito... O
que vai acontecer, mas eu acho que na hora... Não sei é... Acho que
desanimam os órgãos em dar segmento... É tanta reunião que você
participe, tanto efetivo, é muito treinamento né, muito treinamento na mão
de obra, mas é periodozinho muito curto. (S13)
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Planejamento turístico do município. Eu o vejo com uma ação fraca. Ação
fraca, pois não existe programação de recepção e de sedução dos
visitantes. Eu acho que tinha que ter alguma coisa assim, que chamasse
mais. Então eles fazem... Tem um planejamento turístico sim, não restam
dúvidas, mas... Eles dizem não eu preciso melhorar isso... Valença é linda!
(S3)
Embora este empate tenha ocorrido as associações são predominantes
(79%), o que indica que o planejamento turístico é o principal instrumento para o
desenvolvimento integrado do turismo em todas as suas formas, como discute
Petrocchi,
O planejamento dá coerência e convergência às atividades em prol do
turismo. Além disso, deve converter recursos naturais em recursos
turísticos, ordenando o território e melhorando as infra-estruturas,
equipamentos, serviços, promoções e preservação do ambiente físico,
natural e urbano. É algo sistêmico, dinâmico. O macroambiente deve ser
permanentemente monitorado, de forma que o sistema turístico tenha
sempre uma visão atualizada do que o cerca. (2004, p. 72)
Um outro fator que merece destaque na discussão destes resultados é a
palavra participação. Para os atores há notadamente significados negativos em
relação ao termo (16,39%).
Esta preponderância se acentua quando é feita a
análise da relação entre estas co-ocorrências livres e induzidas e o conteúdo das
expressões/frases enunciadas pelos sujeitos. Para eles o que há é a inexistência
de planejamento participativo.
Não porque eu acho que deveria haver uma campanha, onde as pessoas
formadoras de opinião pudessem estar participando nas sugestões para a
construção do planejamento. (S3)
O que a gente pode perceber é que não existe um planejamento definido.
Quando existe a gente vê que o que foi feito não foi um planejamento
participativo, que a gente que estuda planejamento estratégico sabe que é
uma das coisas mais importantes, que haja participação da comunidade, da
sociedade civil organizada, mas é uma coisa que não acontece ainda. (S4)
Pode-se observar que os dados coletados indicam que os sujeitos têm
construído nos seus imaginários uma representação acentuadamente positiva da
palavra PLANEJAMENTO. Por intermédio da estimulação induzida, os sujeitos
verbalizaram a palavra acessório correto para o desenvolvimento turístico na
maior parte das co-ocorrências (31,58%) empatado com o termo, vai acontecer,
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inexistente (31,58%), desta vez, em oposição ao planejamento turístico do
município de Valença.
O Turismo é extremamente dependente do setor público, pois o Poder Público
é o principal responsável pela qualidade do produto turístico. A participação da
população na implementação de uma política de desenvolvimento que envolva a
maioria dos segmentos da sociedade é possível porque a qualidade do produto
turístico depende do envolvimento sistêmico dos diversos componentes integrantes
do produto global único que é o Turismo. O papel do setor público é facilitar, induzir
e organizar, pois a atividade turística, por ser bastante dinâmica, traz benefícios em
curto prazo, mas também pode prejudicar o meio ambiente natural e sociocultural
com a mesma velocidade.
Segundo Dias (2005, 139-140),
Mais do que qualquer outra atividade, a intervenção pública é
absolutamente necessária no turismo, principalmente pelos seguintes
motivos:
a)
b)
o turismo é uma atividade altamente dinâmica e pode gerar tanto
efeitos positivos quanto negativos, e é necessário frear a avidez de lucro
para que se possa ter uma atividade sustentável econômica, social e
ambientalmente;
no caso do turismo, os bens públicos são de fundamental
importância; tanto a infra-estrutura, a segurança, muitos recursos naturais e
culturais dependem do Estado. Além disso, são as administrações públicas
que irão cuidar da acessibilidade, salubridade, beleza, segurança, etc. de
muitos recursos turísticos.
Portanto, para que o turismo desenvolva-se com sucesso, há a necessidade
não apenas da intervenção do setor público, mas da parceria entre os diversos
segmentos atuantes na atividade, conduzindo a um processo sinérgico, onde o todo
é maior que a soma das partes integrantes do sistema.
Nota-se que há uma falha de comunicação entre os atores sociais envolvidos
pelo turismo e os atuais gestores de turismo, pois, de acordo com dados
secundários coletados, constatou-se que a Secretaria de Turismo organiza-se para
desenvolver a atividade através da realização de planos de ação (como esta descrito
abaixo) e, dentre as atividades propostas, é visível a preocupação em envolver os
atores sociais comprometidos com o turismo. A Secretaria de Turismo de Valença
não dispõe dos dados das gestões anteriores. Sabe-se que foi adotado, em outras
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1738
administrações, o modelo de planejamento elaborado por Doris Ruschamann,
porém, sem qualquer adaptação para o município.
A Sectur do município trabalha em conjunto com alguns outros órgãos. È
denominada Secretaria de Cultura, Indústria e Comércio, e Promoção e Eventos. O
Plano de Ação para a atual gestão é de curta duração (2007-2008) e aborda
principalmente a aproximação da visão do planejamento às visões das comunidades
e mercados. O fundamento deste plano é a partir de uma análise da atual situação
do município propor algumas ações objetivando o fortalecimento da gestão
municipal do turismo. Os principais objetivos da Secretaria de Turismo envolvem as
dimensões organizacional, operacional e de sustentabilidade (SEC TUR, 2007). Na
dimensão organizacional enfoca-se o fortalecimento e a estruturação dos Conselhos
Municipais e Fundos Municipais; a existência de planejamento municipal eficiente
para a gestão do turismo, cultura, promoção, eventos, indústria e comércio; uma
base legal eficiente e/ou correta aplicação; e uma estrutura organizacional e
administrativa adequadas. A dimensão operacional pretende aumentar o quadro de
pessoal (com capacitação técnica) para as ações de desenvolvimento do turismo,
cultura, promoção, eventos, indústria e comércio e; maior capacidade técnica e
política para captar, ampliar e aplicar recursos próprios e de terceiros para as ações
de desenvolvimento do turismo. A dimensão de sustentabilidade intenciona
aumentar os níveis de interação e cooperação entre os órgãos municipais, entre os
municípios e entre as demais esferas de governo; maior envolvimento e participação
da comunidade nos projetos municipais para o turismo; aplicação de recursos com
vínculo com a viabilidade econômica, social e ambiental dos projetos da secretaria.
Para o desenvolvimento de tais ações a Secretaria de Turismo realizou um
estudo com os empresários e hoteleiros de Valença e da praia do Guaibim,
questionando as suas principais dificuldades, principais preocupações enquanto
empresários, quais as expectativas em relação à prefeitura Municipal de Valença e
da Secretaria de Turismo, que tipos de cursos sugerem para os funcionários, que
tipos de atividades esperavam para o ano e como eles, enquanto empresários
poderiam colaborar com PMV (Prefeitura Municipal de Valença) e a SECTUR para
melhorar a economia e o turismo regional.
A partir desse resultado o órgão oficial de turismo do município propôs
algumas ações de cunho organizacional, vinculadas às principais aspirações e
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dificuldades dos empreendedores. Um ponto positivo da gestão do turismo em
Valença é a constante comunicação e atuação junto às esferas estadual e federal,
apontando a efetivação de uma das principais características do desenvolvimento
turístico: o entrosamento de todas as esferas de atuação, ao nível de governo. Outro
ponto que merece destaque é a parceria entre o Conselho de Turismo (COMTUR) e
a Secretaria.
Além das aspirações do trade, a Secretaria propõe ações de cunho estrutural,
visando o desenvolvimento sinérgico do meio ambiente, da cultura e do turismo,
visando à adequação turística de todos os seus atrativos. Pode-se citar a criação da
“Lei Municipal do Turismo”, a elaboração de diversos projetos visando organizar o
funcionamento das atividades turísticas, o fortalecimento do marketing e promoção
da cidade, o fomento às manifestações culturais locais e a implementação junto aos
demais órgãos responsáveis, de leis de proteção ao patrimônio e á cultura,
buscando a sustentabilidade dos diversos tipos de manifestações culturais, etc.
Uma análise superficial indica que a atual gestão da SECTUR de Valença
buscou organizar-se de acordo com os princípios de um planejamento turístico
sustentável, embora não haja o Planejamento Efetivo, em longo prazo, há apenas a
proposta de um Plano de Ação. Também não há um diagnóstico das potencialidades
do município. Não foram apontados pela secretaria quais são os pontos fortes,
pontos fracos, ameaças e oportunidades da cidade. Sabe-se que uma das bases
norteadoras de um planejamento estratégico é a sua visão em longo prazo. Como
não foram encontrados dados anteriores, pressupõe-se que essa ação seja pioneira
no município, porém a necessidade de implantação de um Planejamento Turístico é
fundamental para que as ações tenham continuidade e consigam contemplar,
efetivamente, todas as esferas envolvidas no processo, pois gestões políticas
passam e a continuidade de um trabalho é fundamental para o sucesso da atividade.
Ademais, ainda verificou-se a existência de um Plano Anual de Investimentos
para o Turismo, realizado pelo Conselho de Turismo do município no ano de 2006.
Tal plano foi elaborado em consonância com o Protocolo de Intenções visando à
Execução de Ações para a melhoria da Atividade Turística na Costa do Dendê,
firmado entre o Governo do Estado, através da BAHIATURSA e a AMUBS Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia, ou seja, mais uma vez
conjugando todas as esferas de atuação. Este plano continha elencadas ações no
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intuito de promover o turismo no município. Dentre tais ações pode-se destacar a
inventariação dos recursos naturais, culturais e históricos (materiais e imateriais)
existentes no município e a proposta de ações para o desenvolvimento turístico.
Dentre as ações propostas podem-se destacar os roteiros ecológicos, históricoculturais, de turismo de aventura, a revitalização das manifestações culturais e a
criação de um calendário anual de eventos. Comparado ao Plano de Ação 20072008 pode-se certificar que a única ação concluída e em plana atividade é a do
calendário de eventos. Percebe-se que o município conhece o seu potencial e seus
recursos existentes, contudo não consegue organizar-se de modo a cumprir
efetivamente o que planeja. Constatou-se também que o Plano Anual de
Investimentos para o Turismo, vigente no ano de 2007 tem o mesmo conteúdo da
proposta do ano anterior, ou seja, o Conselho não conseguiu cumpri-lo em 2006.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados da pesquisa, os representantes do segmento
turístico acreditam que o turismo deve ser bem planejado para tornar -se uma fonte
de renda, emprego e lazer. O turista é um cliente visitante, que deve ser protegido
para trazer e ser um meio de acesso às novas culturas. O planejamento é o
instrumento que põe em prática eficazmente a relação turismo, turista – a atividade
turística. Aparentemente há uma sintonia teórico-conceitual entre os termos turismo,
turista e planejamento enquanto ciência e as representações estabelecidas no
universo mental dos atores sociais e gestores do turismo. Contudo, quando se
observa a operacionalização desta relação para o desenvolvimento turístico
sustentável, percebe-se que ainda não existem meios efetivos para estabelecer a
harmonia entre os gestores do turismo e os representantes deste segmento.
Ressalta-se que o principal problema encontrado nos resultados da pesquisa
é a falta de comunicação entre as partes integrantes deste planejamento. Ambas
esperam o contato da outra. Todos trabalham em prol do desenvolvimento turístico,
mas não de maneira integrada. Há intenção de fazer conhecer as propostas e ações
desenvolvidas pela Secretaria de Turismo, porém ainda não há uma metodologia
estabelecida para efetivar esta participação e conseguir por em prática os
fundamentos da gestão participativa.
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Não obstante, Dencker (2004) colocar que as decisões das comunidades não
detem poder para contrariar as políticas nacionais e estaduais, ou seja, não há como
negar que apesar das discussões sobre a importância da participação da
comunidade no planejamento turístico é muito difícil achar um meio que possibilite a
sua efetivação.
Pode-se perceber que os representantes do trade turístico conhecem o
potencial do município e têm fundamentação para as suas colocações. No decorrer
das entrevistas, sugeriram a criação de novos atrativos para o município. Contudo,
verifica-se que os gestores do turismo no município não têm acesso a tais
sugestões, porque, há uma falta de interação na comunicação entre os gestores e
os representantes do trade. De acordo com o Plano de Ação 2007-2008, previsto
para o município, são agendadas reuniões periódicas com a comunidade no intuito
de praticar a gestão participativa, porém, verifica-se que não há efetivação nas
ações discutidas, provavelmente por descompromisso dos gestores do turismo e
seus partícipes. Para os atores, a Secretaria de Turismo espera que os
representantes do trade mobilizem o desenvolvimento turístico, e os gestores
aguardam ações dos atores sociais. A partir dos resultados da pesquisa conclui-se
que o planejamento turístico do município de Valença, para conseguir efetivamente
atingir os objetivos traçados quanto à participação popular, necessita de um
mecanismo de comunicação entre gestores e representantes do trade, com vistas a
tornar a interlocução entre os dois segmentos mais eficientes e as idéias discutidas,
transformadas em ações concretas para o desenvolvimento do turismo no município.
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hostis a hospes em Ilhéus, Bahia. 2002, 367 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade
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______. Plano Emergencial de Turismo de Valença. Valença: 2006. (Apresentação
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TEIXEIRA, M. G. “... Nós, os Batistas...”: um estudo de história das mentalidades.
1983. 512 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo.
1743
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TERRITÓRIOS EM REDE: O TURISMO DE BASE LOCAL COMO ATIVIDADE
ALTERNATIVA EM COMUNIDADES CEARENSES
Luciana Maciel Barbosa
Bacharel em Geografia/Universidade Estadual do Ceará - UECE
[email protected]
Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano
Doutora em Geografia/Universidade Estadual do Ceará – UECE
[email protected]
RESUMO
Algumas comunidades brasileiras acreditam que, a partir da organização comunitária
é possível produzir um turismo diferenciado - comunitário - que possibilite melhoria
de vida para os residentes, tornando esta atividade alternativa e complementar à
renda familiar. Essas comunidades apresentam um conjunto de experiências
articuladas para a promoção e a venda de serviços turísticos que se voltam à
preservação da cultura e das características locais. A interação entre comunidades
turísticas promotoras do turismo de base local dá origem a redes de turismo
comunitário. O objeto de estudo desta pesquisa são as redes dos territórios do
turismo comunitário no Ceará, que fazem contraponto às redes do turismo
convencional, tendo como empírico as territorialidades de comunidades cearenses.
A escolha deste tema deve-se à expansão das redes do turismo comunitário em
todo o país, tornando necessária a compreensão deste fenômeno também no estado
do Ceará, e dessa forma, entender as transformações, os conflitos e contradições da
produção espacial pelo turismo. A pesquisa é orientada por abordagens qualitativas
e quantitativas, tendo como base levantamento bibliográfico, dados secundários e
roteiros de entrevistas. A ação do Estado para melhoria de infra-instruturas e
assistencialismo às comunidades, a influência e assessoria de ONGs no
desenvolvimento das redes e do turismo comunitário, além da luta pela posse de
terra em muitas comunidades cearenses ainda são questões que geram
controvérsias e críticas por parte dos moradores locais.
Palavras Chave: turismo comunitário, redes, território
ABSTRACT
Some brazilian communities believes that they can produce a differentiated tourism community - enabling improved life for residents, making this alternative activity and
complement the family income. These communities have a set of experiences based
on the promotion and sale of tourist services that focus on the preservation of culture
and local characteristics. The interaction between tourist communities promoting
tourism on local leads to networks of community tourism. The object of this research
are the networks of territories community in Ceará. The choice of this theme is due to
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the growth of networks of community tourism across the country, making it necessary
to understand this phenomenon also in the state of Ceará, and to understand the
changes, conflicts and contradictions of production space for tourism. The research is
guided by qualitative and quantitative approaches, based on literature review,
secondary data and scripts for interviews. The state action to improve the
infrastructure and welfare to communities, the influence and advice of ONGs in the
development of networks and community tourism, and the struggle for land
ownership in many communities of Ceará are still issues that generate controversy
and criticism part of local residents.
Key words: comunity tourism, networks, territory
1 INTRODUÇÃO
A intensificação dos fluxos, a reconfiguração dos fixos, a articulação em
redes, a diferenciação geográfica e seletividade dos lugares, a atuação dos poderes
públicos e privados são fenômenos relacionados à produção e consumo do espaço
estudado pela geografia ao analisar a influência de atividades, como o turismo, na
produção espacial. O turismo é uma atividade econômica contemporânea que segue
o modelo do sistema capitalista, transforma espaços em mercadorias, promove e
concentra riquezas, gera emprego e renda, contribui, assim, para a produção e
organização de territórios.
O turismo veicula-se por dois eixos: convencional ou de luxo, produzido por
empresários detentores de capital; e o comunitário, também chamado de alternativo,
solidário, turismo de base local ou de base comunitária, em que há a participação da
comunidade na organização e execução da atividade, desenvolvendo práticas e
serviços diferenciados do turismo convencional, embora também objetivando
integrar-se à cadeia produtiva do turismo. Assim, pequenas comunidades acabam
por encontrar no turismo opções de trabalho e de ganhos para subsistência, mesmo
estando à margem do sistema.
No Ceará, o turismo destaca-se no cenário nacional a partir da década de
1990, com a valorização de cidades para as segundas residências e para a
acumulação pelo mercado imobiliário. Com ação de empresários, apoiados pelo
Estado, há o desencadeamento, principalmente no litoral cearense, da especulação
imobiliária e da desapropriação de algumas comunidades pesqueiras, tendo em vista
a dinamização da economia por meio da expansão do mercado de imóveis e da
atividade turística no estado.
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Muitas comunidades litorâneas no Ceará sofrem os impactos da especulação
imobiliária e do avanço do turismo em seus territórios, pois muitas colônias
pesqueiras tornaram-se importantes núcleos receptores de turistas, nacionais e
internacionais, dando lugar a um turismo excludente, que deixa a população local à
margem dos ganhos e dos benefícios gerados pela atividade.
Há, no entanto, comunidades que resistem ao avanço desse turismo predador
e colonizador. Organizam seus territórios a partir de um turismo diferenciado,
partindo da base local. A atividade passa a ser organizada e executada com a
participação da população local e com a influência de instituições externas como
organizações não-governamentais (ONGs), tendo como base o trabalho comunitário
e participativo, encontrando formas de desenvolver o lugar, valorizar a história e a
cultura local.
No Ceará, o turismo comunitário é realizado, principalmente em comunidades
pesqueiras, entretanto, populações indígenas, de assentamentos rurais, em áreas
urbanas, além de outras localizadas no sertão central e região do cariri também vêm
se interessando e organizando o turismo local, o que demonstra que não apenas o
turismo de luxo, voltado ao binômio sol e praia avança no estado, mas também o
eixo do turismo de base comunitária encontra-se organizado, articulado e em
expansão.
Algumas comunidades cearenses optam por desenvolver o turismo local,
formando redes entre associações comunitárias, organizações não-governamentais
(ONGs) e Estado para melhor organização e dinamização da atividade turística,
podendo, assim, conter o avanço do turismo convencional em seus territórios. Isso
demonstra a representatividade de comunidades que lutam contra os poderes dos
agentes hegemônicos – grandes capitalistas –, objetivando o desenvolvimento de
atividades alternativas, como o turismo comunitário, que possibilitem a sobrevivência
de comunidade e a valorização dos territórios.
2 A ATIVIDADE TURÍSTICA E A EXPANSÃO DO EIXO COMUNITÁRIO EM
COMUNIDADES CEARENSES
O turismo é resultante do processo de industrialização, sendo a partir do
século XX que mudanças significativas vieram a ocorrer para a ampliação dessa
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atividade no mundo. A massificação dos padrões de consumo, a regulação e
limitação da jornada de trabalho, aposentadoria, legislação social, valorização dos
fins de semana, feriados e férias, além da modernização dos meios de transporte e
comunicação contribuíram para a emergência do turismo de massa 77 (BECKER,
2001). O aproveitamento do tempo livre 78 dos operários possibilitou a transformação
do ócio em negócio (negação ao ócio), estimulando viagens e consumo de espaços
de lazer criados ou adaptados para o novo público - os turistas (CORIOLANO,
2005).
A importância dada ao turismo no contexto internacional motivou o Estado
brasileiro a investir no desenvolvimento dessa atividade no país. O interesse do
governo em promover o turismo nacional inicia-se a partir da década de 1980, mas é
nos anos de 1990 que a atividade ganha mais visibilidade e se concretiza com a
Política Nacional de Turismo – PNT, em 1996, pautada no discurso da geração de
renda, emprego e desenvolvimento socieconomico do país (FONSECA, 2005).As
cidades litorâneas constituem uma das principais atrações para os turistas e o
investimento de capitais, em especial estrangeiros, na Região Nordeste, inclusive no
Ceará, apoiados por políticas públicas e iniciativas privadas, potencializam o
crescimento da atividade. A Secretaria de Turismo do Estado de Ceará – SETUR/CE
(2009), em estudo sobre a evolução da atividade turística no estado (Quadro 1),
apresenta a crescente participação do fluxo de turistas internacionais para o Ceará,
variando de 1,65% a 6,25% durante o período de 1998 a 2006.
77
Cruz (2003) define turismo de massa “uma forma de organização do turismo que envolve o
agenciamento, transporte e hospedagem, de modo a proporcionar o barateamento dos custos da
viagem e permitir, consequentemente, que um grande número de pessoas viaje” (p.6).
78
Padilha (2000) destaca que tempo livre e capitalismo formam um par imperfeito, em decorrência da
ocupação do tempo liberado do trabalho por atividades relativas ao plano econômico. O ócio e o lazer
realizados durante o tempo livre do trabalhador foram transformados pelo capitalismo em atividades
de consumo, tendo como objetivo a garantia de sua reprodução constante.
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QUADRO 1: TURISMO INTERNACIONAL (MILHÕES)
Fonte: OMT, EMBRA TUR e SETUR/CE (2009)
Matéria publicada no Jornal O Povo, em 26 de janeiro de 2010, informa que o
Secretário de Turismo do Estado (SETUR), Bismark Maia, apresentou em entrevista
coletiva números otimistas em relação ao turismo no Ceará. Segundo o secretário, o
número de turistas que viajaram para o estado cresceu 13,2% em 2009, comparado
a 2008. A renda gerada pela atividade atingiu R$ 6,3 bilhões no ano de 2009, e o
gasto diário de um turista nacional foi em torno de R$ 135,51 e do internacional R$
208,92. Tais números mostram o andamento e o crescimento da atividade no
estado.
O estado do Ceará apresenta 573 quilômetros de faixa litorânea, ocupado por
espaços de lazer e de turismo. Os atrativos naturais são considerados atrações para
os turistas, entretanto o luxo e o conforto também são importantes atrações para
aqueles que podem pagar pelo lazer elitizado. Os mega empreendimentos, resorts,
parques aquáticos constituem verdadeiros paraísos artificiais privados, reproduzem
“a imagem de outro universo, diferente daquele que conhecemos ou de que estamos
a par” (BAUMAM, 2007, p.102), que contrasta com a realidade do lugar quando
instalado sobre territórios de comunidades tradicionais pobres e que pouco se
beneficiam com o empreendimento construído, destinadas ao consumo e
reprodução intensa do capital.
Para Beni (2000), o turismo é um fenômeno eminentemente social que ao
fazer surgir atividades relacionadas ao transporte, hospedagem, alimentação e
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recreação também contribui para a ocorrência de uma série de mudanças nos
lugares de caráter econômico, social, cultural e ecológico. O consumo dos espaços
pelo turismo transforma paisagens, altera cultura, articula os negócios, dinamizando,
assim, a organização territorial.
A atividade turística interfere na organização de territórios, podendo essas
transformações favorecer ao lugar ou desfavorecê-lo por beneficiar grupos externos.
Assim, afirma Queiroz (2006, p.80), o turismo destaca-se como uma atividade “que
tanto pode gerar riquezas, valorizar espaços, promover novas relações entre os
povos e culturas como, simultaneamente, tornar-se predador cultural, degradador
ecológico e explorador econômico”. Podendo, assim, beneficiar um considerável
número de pessoas e oferecer melhores condições àqueles que vêem no turismo
oportunidade de trabalho, como grupos que organizam o chamado turismo
comunitário.
Ao ser questionado sobre os benefícios e os pontos negativos da chegada do
turismo em Icapuí, no litoral oeste do Ceará, um dos moradores responde que a
atividade turística contribui “diretamente na melhoria da qualidade de vida da
população local, na valorização da mulher no mercado de trabalho, e no
protagonismo juvenil na comunidade” (morador de Icapuí e integrante da Fundação
Brasil Cidadão, 2009). Entretanto, a valorização de alguns espaços e a segregação
de outros é tida, para o entrevistado, como principal malefício do turismo na
comunidade, em decorrência do aumento da competitividade e a “concorrência não
saudável” entre os territórios.
Coriolano (2003, p.41) define turismo comunitário como
aquele desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passam a
ser os articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o
lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida;
levar todos a se sentirem capazes de contribuir, e organizar as estratégias
de desenvolvimento do turismo.
O turismo comunitário é, portanto, a atividade turística organizada, planejada
e executada pelos moradores locais, com a realização de trabalho em conjunto ou
cooperativo, e tem como objetivo a valorização do patrimônio histórico, cultural e
ambiental, associado ao desenvolvimento local.
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No Ceará, o turismo comunitário é realizado nas comunidades de Tatajuba
(Camocim), Guajiru (Trairi), Balbino (Cascavel), Prainha do Canto Verde e Parajuru
(Beberibe), Ponta Grossa e Redonda (Icapuí) e Batoque (Aquiraz). Todos alocados
na costa cearense. Embora a maioria das comunidades cearenses promotoras do
turismo de base local seja litorânea, essas experiências não são exclusivas, elas
também podem ser encontradas no interior do estado (sertão e serras cearenses).
Locais onde a população trabalha na perspectiva do turismo rural e comunitário
como o trabalho desenvolvido pela Fundação Casa Grande, no município de Nova
Olinda (Região do Cariri).
A valorização do saber, da memória, da cultura local é importante para que a
história de um povo possa ser conhecida e repassada às gerações. No caso de
comunidades turísticas esses relatos de vida ou patrimônios imateriais, se mostram
de suma relevância para a atração e entretenimento de visitantes que têm o desejo
de conhecer histórias de lutas e resistências pela garantia da terra, manutenção da
vida em família e do trabalho simples, que para os turistas são novidades, diferentes
da realidade urbana que muitos vivem.
A organização do turismo comunitário está relacionada, portanto, ao
desenvolvimento do conhecimento tradicional, ou seja, ao saber e saber -fazer que,
segundo Diegues (2004, p.14), são gerados no âmbito da sociedade nãourbano/industrial, transmitidos, em geral, oralmente de geração em geração” e à
autodependência explicada por Max-Neef (1994), que
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planejamento e gestão do turismo - Universidade Federal Fluminense