EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NO PARQUE ECOLÓGICO CACHOEIRA DO URUBU, EM ESPERANTINA, PIAUÍ. RESUMO De tempos em tempos, o ser humano busca e explora novos lugares em busca de lazer, trabalho, desta forma o deslocamento contínuo de pessoas de um lugar para o outro tende a ser cada vez mais expansório e muitas vezes, não respeita o desenvolvimento e manutenção dos sistemas naturais em seus diversos graus. Das modalidades de turismo voltado para a natureza, o segmento que mais cresceu foi o ecoturismo, pois, procura fomentar a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente natural O presente estudo realizou-se período de cheia da Cachoeira do Urubu, nos meses de abril a junho, e no período de seca, nos meses de julho a dezembro, através de pesquisa de campo, diante da análise de impactos e relatos para a observação in loco dos impactos causados pela atividade antrópica na região. Durante visitas feitas ao parque foi possível comprovar que, embora a população e turistas tenham conhecimento da importância da área para o desenvolvimento turístico da região, muitos não colaboram com a preservação do local, fato esse que foi constatado na observação do destino dado ao lixo, jogado nas águas da cachoeira, onde só é possível vê-lo quando a mesma está seca. Propõe-se aqui a reestruturação do parque, restaurando a infra-estrutura já existente, o que possibilitará conforto tanto ao meio ambiente quanto ao turista. Serão necessárias também medidas como educação ambiental, zoneamento da região e a existência de uma fiscalização eficiente. Palavras-chave: Ecoturismo, natureza, sustentabilidade, lixo, infra-estrutura. 1. INTRODUÇÃO De tempos em tempos, o ser humano busca e explora novos lugares em busca de lazer, trabalho, desta forma o deslocamento contínuo de pessoas de um lugar para o outro tende a ser cada vez mais expansório e muitas vezes, não respeita o desenvolvimento e manutenção dos sistemas naturais em seus diversos graus. Dessa forma, o turismo de grande fluxo deve atentar-se aos elementos humanos e naturais para que seja produtivo. No Brasil, o turismo caracteriza-se pela procura de atrativos naturais, o qual possui uma grande diversidade, sendo alguns pouco ou totalmente inexplorados, ainda, pelo homem. A procura por melhor qualidade de vida e o surgimento e fortalecimento de uma ética ambiental são os principais fatores relacionados ao expressivo crescimento do turismo de natureza (D’AMORE, 1993, apud KINKER, 2002). O conceito de ecoturismo, ou turismo ecológico, remete a noção de que este deve explorar as potencialidades naturais ou ecológicas da área em que será realizado. Desta forma, tal atividade requer um planejamento integrado com as condições ambientais, ou seja, com a noção de desenvolvimento sustentável. O ecoturismo, como ferramenta de conscientização, encarrega-se, sobretudo da sensibilização e aquisição de conhecimentos ecológicos (MATHEUS, MORAES & CAFFIGNI, 2005). O turismo ecológico é considerado uma atividade econômica, de baixo impacto ambiental, que se orienta para áreas de significativo valor natural e cultural, e que contribui para a conservação da bio e sociodiversidade, resultando em benefícios para as comunidades receptoras (RODRIGUES, 2003). Utilizando-se da educação ambiental como artifício para superar a dicotomia existente entre natureza e sociedade, através da formação de uma atitude ecológica nos indivíduos, este tipo de turismo tem como um de seus alicerces a visão sócio ambiental, na qual afirma que o meio ambiente é um espaço de relações e um campo de interações culturais, sociais e naturais. A educação ambiental neste caso é de grande auxílio para o desenvolvimento de uma consciência preservacionista que vise a proteção e manutenção do patrimônio natural, bem como o conhecimento aprofundado dos benefícios trazidos pelo equilíbrio de um ecossistema saudável. A educação ambiental se fortalece como via para a construção de uma nova relação sociedade-ambiente e seus princípios devem ser sempre a base para qualquer ação ambiental educativa. Estes princípios são: participação, pensamento crítico-reflexivo, sustentabilidade, ecologia de saberes, responsabilidade, continuidade, igualdade, conscientização, coletividade, emancipação e transformação social (GONZALEZ et al , 2007). Sendo o Brasil internacionalmente conhecido por suas belezas naturais e potencialidades para o desenvolvimento ecoturístico, a Cachoeira do Urubu, localizada em uma Área de Proteção Ambiental entre os municípios de Esperantina e Batalha, a 180 quilômetros ao norte de Teresina, no Piauí, torna-se um ambiente de estudo propício para o desenvolvimento do turismo ambiental. A vegetação deste parque mistura elementos do cerrado, caatinga e palmeiras de carnaubais. Nos meses de janeiro a maio, com o período chuvoso e época de cheia da cachoeira, ocorre o aumento do número de turistas com a consequente elevação do índice de impactos gerados ao meio ambiente. Os danos gerados por esse descaso são perceptíveis durante os meses de agosto a dezembro, onde se observa a grande quantidade de lixo lançado na água. O objetivo deste trabalho é mostrar tanto para a população quanto para as autoridades que é possível aliar o desenvolvimento dos recursos naturais com as atividades antrópicas, visando um equilíbrio entre ambos. Apesar da existência de poucos trabalhos relacionados à Cachoeira do Urubu, visa-se aqui também contribuir para um estudo aprofundado da área, propondo soluções para os problemas observados. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. LOCAL DE ESTUDO Localizado na Microrregião do Baixo Parnaíba Piauiense o município de Esperantina, distante 180 km de Teresina – capital do Estado do Piauí – possui uma área total de 1.038 km² com uma população de 34.077 habitantes. A cidade está integrada no roteiro ecoturístico do estado, devido ao seu potencial natural que é o Parque Ecológico Cachoeira do Urubu. O parque fica localizado a 21 km do centro da cidade, entre os municípios de Batalha e Esperantina, no povoado João Paz e é muito procurado nos meses de janeiro a maio, período em que o volume de água do Rio Longá aumenta devido às chuvas. O Parque Ecológico Cachoeira do Urubu é uma Unidade de Conservação (UC) não incluída no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O parque se encaixa na categoria Unidades de Uso Sustentável, que, de acordo com o SNUC, tem como objetivo básico compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. O parque é dotado de uma infra-estrutura receptiva como: restaurante de comida típica, bares, pousada, posto telefônico e uma passarela de 400 m sobre a cachoeira, sendo possível praticar várias atividades como: trekking, pesca, futebol de areia, camping, trilhas ecológicas, caminhada, etc. A cachoeira possui várias quedas sendo a maior delas com 12 m de altura, localizada em Esperantina (Figura 01). FIGURA 01. CACHOEIRA DO URUBU 2.2. METODOLOGIA O presente estudo realizou-se entre através da pesquisa de campo nos meses de abril a junho, período de cheia da Cachoeira do Urubu, e no período de seca, nos meses de julho a março. A partir da análise de impactos e relatos, a observação in loco e da pesquisa bibliográfica, foi possível obter resultados acerca dos impactos causados pela atividade turística na região. Foram levados em consideração os benefícios que a relação entre a educação ambiental e o turismo sustentável podem trazer à ao local de estudo, através da percepção ambiental da população local com relação a utilização do rio e a sugestão para uma maior preocupação como mesmo, visto que ele é um símbolo para a cidade de Esperantina. 2.3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS A partir do levantamento de dados e das observações feitas no Parque Ecológico Cachoeira do Urubu, foi possível compreender a riqueza natural existente naquele local, bem como o seu nível de degradação. Assim, através da análise dos principais impactos causados pelo turismo ali presente pode-se constatar que os impactos causados pela atividade humana nessa área estão relacionados com a falta de infraestrutura de turismo adequada ao local, desta forma o turista que visita o parque acaba lixiviando o mesmo. Em meio a falta de lugares apropriados de descarte de lixo, os mesmos são lançados de qualquer forma (Figura 02), nas águas da cachoeira (Figura 03), em lugares visivelmente despreparados ecologicamente que servem de lazer e entretenimento aos visitantes (Figura 04). FIGURA 02: LIXO NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO; FIGURA 03: LIXO EM MEIO ÀS ÁGUAS DA CACHOEIRA; FIGURA 04: LIXO JOGADO AO LADO DA COZINHA DO RESTAURANTE. Pode-se perceber que a falta de orientação juntamente com uma administração eficiente culminam não só com a degradação ambiental da área, mas também acarretam na diminuição da economia local, já que como atrativo turístico, o parque é fonte de investimentos e geração de renda para a cidade. Em conversas informais com a população local, percebeu-se que os mesmos pouco ou nunca visitaram o parque, conhecendo pouco da riqueza proveniente deste valioso bem natural e pouco fazem para preservá-lo. Alguns pescadores afirmaram descarregar no próprio leito do rio, os dejetos produzidos pela limpeza dos peixes coletados, desta forma, os urubus famosos da região, alimentam-se desta matéria orgânica em decomposição. A mentalidade quanto à disponibilidade dos recursos naturais está ligada à abundância ainda existente que a natureza oferece em alimento e recursos hídricos para a população local. Ao passo que houver um decréscimo na oferta de bens naturais, é provável que se dê início ao processo de conscientização ambiental. O Rio Longá, que dá origem à cachoeira do Urubu, é importante para a população local, pois fornece meios de alimentos e subsídios para um desenvolvimento humano adequado, porém, mesmo ciente da relevância deste manancial, esta mesma população não é ativa ambientalmente, ou seja, não tem consciência de preservar e conservar o rio e os demais elementos vivos que os cercam, trazendo malefícios ao ambiente de onde retiram o seu sustento. Pode-se verificar que um dos atrativos do parque para a população e até mesmo para os visitantes, é o fato de o parque ser ponto de encontro de amigos (Figura 05). A perturbação sonora propiciada pelos auto-falantes dos carros estacionados no local, acabam gerando um estresse à fauna local, desequilibrando em certo grau o bioma estudado. FIGURA 05: ENTRETENIMENTO NO PARQUE ECOLÓGICO CACHOEIRA DO URUBU Faz-se necessário a existência e treinamento de monitores para auxiliar no desenvolvimento de ações que minimizem os impactos gerados pela presença humana em ambientes naturais como este, ajustando as atividades humanas Percebe-se que o maior atrativo do parque é a cheia da cachoeira (Figura 06) onde a população pode apreciar sua quedas d’águas. Pode-se notar, como já se foi mencionado, que mesmo morando na cidade, uma parte significativa dos entrevistados nunca visitaram o parque, o que dificulta o conhecimento por grande parte da população local da real situação ambiental do parque ecológico, que é de interesse de todos. FIGURA 06: CHEIA DA CACHOEIRA DO URUBU O conhecimento da situação ambiental em que se encontra atualmente o parque por toda a população fortaleceria programas de conscientização e preservação ambiental, promovendo progressos no que diz respeito à minimização dos impactos ocasionados pelo turismo comum. Nesse ínterim, notou-se a existência de placas informativas (Figura 07), o que não impediu que alguns visitantes poluíssem o local. FIGURA 07: PLACAS INFORMATIVAS Neste caso, uma educação ambiental é de extrema importância para que mesmo sem placas informativas, os visitantes tenham a consciência de não poluir os ambientes naturais e nem degradaram em menor ou maior grau o parque em estudo. Segundo DIAS, 2003, a educação ambiental e o ecoturismo têm um papel bastante relevante de desenvolver uma nova cultura ambiental nos lugares que são foco do turismo voltado para a natureza, como são as áreas naturais protegidas. Percebeu-se, durante as visitas, que o parque possui uma estrutura natural que propicia o turismo ecológico e o turismo de aventura (Figura 08) turismo esse que é pouco ou de forma alguma apreciado pelos visitantes e população local. FIGURA 08: ELEMENTOS NATURAIS DO PARQUE ECOLÓGICO CACHOEIRA DO URUBU Assim, um turismo que vise o conhecimento aprofundado dos recursos naturais da área, diminuirá drasticamente os níveis de degradação antrópica ao qual o parque vem sofrendo. Ou seja, a medida em que se perceba a riqueza de um local e os benefícios que este conjunto de elementos naturais ressoem nas comunidades humanas, menos a probabilidade de exaustão destes mesmos recursos. Como em comparação, WEARIN & NEIL, 2001, afirmaram em seu livro afirmaram que além de um maior conhecimento e consciência da natureza o ecoturismo pode contribuir para a conservação do meio ambiente e o benefício da comunidade local, já que visa levar pequenos grupos de pessoas a áreas naturais ou de proteção, com um mínimo de impacto sobre os ambientes físicos, sociais e culturais Assim, aliando o turismo, educação ambiental e estruturação física adequado, é possível o desenvolvimento humano aliado ao natural, minimizando por vezes a relação estremecida entre o homem e a natureza. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante as observações feitas e de acordo com os resultados obtidos foi possível comprovar que, embora a população e os visitantes tenham conhecimento da importância da área para o desenvolvimento turístico da região, muitos não colaboram com a preservação do local, fato esse que foi constatado na observação do destino dado ao lixo, jogado nas águas da cachoeira, onde só é possível vê-lo quando a mesma está seca. A degradação ambiental é um problema de saúde pública, que ao longo do tempo compromete o ecossistema e acaba atingindo o ser humano, muitas vezes tendo como alvo seu bem-estar e saúde. Desta forma, políticas de segurança ambiental devem ser urgentemente proferidas para que os impactos locais sejam contidos e minimizados. Propõe-se aqui a reestruturação do parque, restaurando a infra-estrutura mínima já existente, o que possibilitará o conforto tanto ao meio ambiente quanto do turista como trilhas, iluminação e sinalização adequada, lixeiros em todos os locais e principalmente a revitalização da ponte existente sobre a cachoeira. Medidas como educação ambiental, tanto para os turistas quanto para os moradores da região e a existência de uma fiscalização eficiente poderão minimizar de forma significativa os danos causados por anos de turismo predatório. O zoneamento da região deve ser feito para analisar, identificar e catalogar as espécies de fauna e de flora do parque, assim será possível ter uma visão de seu patrimônio natural, monitorando as perdas e ganhos do turismo para o ecossistema em estudo, servindo de estímulo para futuras pesquisas mais aprofundadas sobre o ecossistema presente no parque. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, R. Planejamento do Turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003. GONZALEZ, L. T. V.; TOZONI-REIS, M. F. C.; DINIZ, R. E. S. Educação ambiental na comunidade: Uma proposta de pesquisa–ação. Revista Eletrônica de Mestrado em Educação Ambiental Vol. 18. São Paulo: Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 2007. KINKER, S. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. Campinas: Papirus, 2002. MATHEUS, C. E.; MORAES, A. J. de; CAFFAGNI, C. W. do A. Educação ambiental para o turismo sustentável: vivências integradas e outras estratégias metodológicas. São Carlos: Rima, 2005. RODRIGUES, A. B. Ecoturismo no Brasil: possibilidades e limites. São Paulo: Contexto, 2003. WEARING, S.; NEIL, J. Ecoturismo: impactos, potencialidades e possibilidades. São Paulo: Manole, 2001.