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ISSN 2175-9596
ENTRE A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ E O CONTROLE EM TEMPO
REAL: VISÕES SOBRE DUAS EXPERIÊNCIAS DE WIKICIDADE
Between citizen participation and control in real time: views on two experiences of wikicidade
Brenda de Fraga Espindula a
(a)
UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, e-mail: [email protected]
Resumo
Cidade ubíqua, cidade digital, cidade virtual e cibercidade são termos que procuram explicar a mediação
entre tecnologia e espaço urbano e sugerem como pelas tecnologias pode-se perceber as maneiras de
imaginar, conceber, representar e gerir as cidades. Apresenta-se aqui que a interação entre o espaço virtual
e o território das cidades pode ser pensada ou como “espaço urbano ampliado” ou como espaços
qualitativamente diferentes, tendo implicações analíticas para a investigação sobre o caráter das
tecnologias digitais, em especial para os mapeamentos colaborativos que geram e compartilham
informações sobre o espaço urbano, as denominadas wikicidades. Nesse sentido, o artigo analisa duas
experiências de wikicidade, a plataforma Portoalegre.cc e a Real Time Rome, discutindo a concepção, os
objetivos e o funcionamento de cada uma delas. Verificou-se que a primeira aposta na dinâmica do
ciberespaço para favorecer práticas de participação cidadã ligadas ao espaço urbano, entendendo que são
espaços diferenciados; enquanto a segunda proposta sustenta-se na ideia de que as tecnologias digitais
colaborativas são expressão da dinâmica do espaço urbano, aproximando-se da concepção de “espaço
urbano ampliado”. Por fim, avalia-se que o tipo da informação e a forma da colaboração são aspectos
fundamentais para a análise do caráter das tecnologias digitais colaborativas.
Palavras chaves: Espaço urbano; tecnologias digitais colaborativas; controle em tempo real; wikicidade.
Abstract
Ubiquitous city, digital city, virtual city and cybercity are terms that seek to explain the mediation
between technology and urban space and suggest how the technologies can perceive the ways of
imagining, designing, represent and manage cities. The article presents that the interaction between the
virtual space and the territory of the cities can be thought or as a "augmented urban space" or as
qualitatively different spaces. This leads analytical implications for research on the character of digital
technologies, especially for collaborative mapping that generate and share information about the urban
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space, the so-called wikicidades. In this sense, the article analyzes two experiences of wikicidade, the
Portoalegre.cc platform and the Real Time Rome, discussing the design, the objectives and the operation
of each. As a result, Portoalegre.cc bet in cyberspace dynamics to favor practices of citizen participation
linked to urban space, understanding that are differentiated spaces; while Real Time Rome holds up the
idea that collaborative digital technologies are an expression of the dynamics of urban space,
approaching the concept of "augmented urban space". Finally, the kind of information and the form of
collaboration are crucial for the analysis of the nature of collaborative digital technologies.
Keywords: Urban space; collaborative digital technologies; real-time control; wikicity.
INTRODUÇÃO
Cidade ubíqua, cidade digital, cidade virtual e cibercidade são termos que procuram explicar a
mediação entre tecnologia e espaço urbano e sugerem como, pelas tecnologias, pode-se perceber
as maneiras de imaginar, conceber, representar e gerir as cidades. Por um lado, a interação entre
as tecnologias de informação e comunicação com o espaço urbano pode ser pensada como o
conjunto de sistemas urbanos de informação baseados na Web e de comunidades virtuais que
inscrevem as cidades de camadas de informação. Por esse viés, é difícil perceber a fronteira clara
entre os espaços físicos e virtuais, pois não são duas dimensões separadas e sim constituem-se
enquanto partes de um continuum em um todo. Deste modo, a forma urbana assume a
característica de “espaço urbano ampliado” (Aurigi, 2008). De outro, a relação entre a cidade e o
ciberespaço pode ser considerada como articulação entre dois espaços qualitativamente
diferentes, já que, para além dos aspectos físicos e topológicos, as diferenças entre eles
sustentam-se “em qualidades de processos sociais que se opõem” (Lévy, 1999, p. 195). Pode-se
avaliar que a formulação de Castells (1995) também alinha-se com a ideia de que, mesmo com a
presença crescente das tecnologias digitais com o espaço urbano, eles mantém-se como espaços
de qualidades diferenciadas, pois o espaço dos fluxos - engendrado pelas tecnologias – tem sido
apropriado mais pelas grandes e poderosas corporações do que pelas pessoas, estas continuam
orientadas pelos espaços dos lugares, o espaço da comunidade, da vizinhança e das interações
face-a-face.
A proposição do “espaço urbano ampliado” sustenta-se na extensão de funcionalidades como Wifi e a popularização dos dispositivos móveis, pois aponta que a computação ubíqua e as
tecnologias móveis estão nublando a distinção entre espaço físico e mídias digitais, apresentandose sob formas complexas. Nesse sentido, essa distinção não é clara, pois “o espaço passa a ser
crescentemente veículo de informação e a informação (materializada no espaço) torna-se cada
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vez mais espacialmente orientada” (Aurigi; De Cindio, 2008). Em certa medida, essa perspectiva
distancia-se de uma concepção dualista do impacto da dimensão tecnológica na interface com a
cidade, pois trata o espaço como um todo uno e indivisível, complexo e rico em tecnologias.
Já Lévy (1999) propõe que a relação entre cidade e ciberespaço – entre esses dois espaços
qualitativamente diferentes - se estabelece a partir de quatro categorias: 1) a primeira delas
concebe as comunidades virtuais análogas às comunidades “reais”, demarcando na cidade digital
a duplicação de equipamentos e instituições da cidade “material”; 2) a segunda se apoia na ideia
de que as funções da cidade podem ser substituídas pelos serviços e recursos virtuais, difundida
por práticas como teletrabalho ou trabalho on-line e a educação à distância; 3) já a terceira aponta
para a assimilação do ciberespaço a um equipamento no território urbano, agregando à
infraestrutura urbana as redes de comunicação interativa; e 4) a quarta explora os diferentes tipos
de articulação entre o funcionamento urbano e “as novas formas de inteligência coletiva que se
desenvolvem no ciberespaço” (p. 186).
O autor defende que este último caráter favorece com maior intensidade a potencial do
ciberespaço, pois, pela articulação com o território, ele está a proveito da inteligência coletiva,
um conceito que “visa tornar, o quanto possível, os grupos humanos conscientes daquilo que
fazem em conjunto e a dar-lhes meios práticos de se coordenarem para colocar e resolver os
problemas dentro de uma lógica de proximidade e envolvimento” (Lévy, 1999, p. 196, grifos do
autor). Nesse contexto, é bom destacar que perspectivas críticas ao debate sobre cibercultura e
afirmação da potencialidade libertadora do ciberespaço têm apontado que, na maioria dos casos,
esses estudos pouco explanam sobre como ideologias utópicas servem de pano de fundo para as
formulações do caráter das tecnologias digitais (Turner, 2006).
Nesse sentido, a conjugação entre o espaço virtual e o território das cidades, seja desdobrando-a
analiticamente como “espaço urbano ampliado” ou como espaços diferenciados, pode ser
investigada em especial pela análise das tecnologias digitais que associam conteúdos
informacionais a um local específico da cidade, as nomeadas de mídias locativas digitais. Ao
agregarem conteúdo digital a uma localidade, essas tecnologias servem para funções de
monitoramento, vigilância, mapeamento, geoprocessamento, anotações e jogos. As características
delas podem servir de casos empíricos para pensar as propriedades do espaço urbano e
especialmente as transformações que nele vêm ocorrendo nos últimos anos, a exemplo da própria
intensificação da urbanização, dos processos de mundialização do capital e mesmo a ampliação
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de contatos e encontros de povos de diferentes nações.
Dentre as múltiplas tecnologias digitais colaborativas, em especial a que tem a característica de
mídia locativa, preferiu neste estudo exploratório deter-se nas denominadas wikicidades.
Tecnologias e processos muito diferentes entre si têm sido chamadas desta forma, mas pode-se
descrever minimamente as wikicidades como mapeamentos colaborativos que geram e
compartilham informações sobre o espaço urbano. Tem-se certa intuição de que elas se
distanciam das formulações de cibercidade ou cidade digital na medida em que a especificidade
das wikicidades são produtos da evolução do tipo e da organização da informação computacional
(muitos designam de Web 2.0), que talvez tenha alterado significativamente a formulação
original de cibercidade/cidade digital. Essa evolução das arquiteturas digitais permitiu que os
softwares funcionem pela Internet; que vários programas se integrem, formando uma plataforma;
que o usuário tenham a possibilidade de participar na geração e organização das informações e
que, mesmo o conteúdo não sendo gerado por ele, permite que seja enriquecido através de
comentários, avaliação e personalização. O termo “colaborativo” tem sido associado a essas
novas arquiteturas das tecnologias digitais.
Entretanto, mais do que uma caracterização consistente, os casos que são chamados por
wikicidades guardam entre si bastante diferenças. A colaboração como informação que partem de
indivíduos pode ser identificada como um requisito comum, mas o processo de colaboração, o
tipo de informação, o uso e os produtos a partir dessa informação ou mesmo as arquiteturas
digitais que a suportam são diferentes entre si. De uma busca no Google, pelas palavras
wikicidade/wikiciudad/wikicity, são referidos desde a extensão GeoData, um aplicativo para
dispositivos móveis, que permite a qualquer usuário o geotagging de verbetes e artigos criados na
Wikipedia; a apresentação de um aplicativo nomeado Yobi para a cidade de Nova Iorque, que
promete transformar a cidade em seu jardim de casa; ou a ação de um coletivo em Bogotá que
promove ações de voluntariado para cuidar da cidade; e a proposta do plano de desenvolvimento
urbano de Amsterdam que sustenta-se na ideia de promoção de processos participativos para a
construção da cidade; entre outras referências.
Diante da variedade de casos de tecnologias digitais colaborativas para o espaço urbano, sugerese aqui que a concepção assumida para perceber a interação das tecnologias digitais e as cidades ou “espaço urbano ampliado” ou “espaços qualitativamente diferentes” - tem implicação para a
análise do caráter dessas tecnologias digitais, aqui em especial as colaborativas e locativas, nas
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formas nomeadas de wikicidade.
Para isso, este artigo pretende comparar duas experiências de wikicidades, a Portoalegre.cc e a
Real Time Rome, discutindo a concepção, os objetivos e o funcionamento de cada uma delas.
Entende-se que as experiências podem ser comparadas pelo fato de que, mais do que serem
mídias locativas digitais, elas desenvolvem tanto a função de mapeamento e monitoramento do
movimento no espaço urbano, quanto a função de geolocalização, pela qual são agregadas
informações digitais a mapas (podendo estas serem chamadas de geotagging ou marcação
geográfica).
WIKICIDADE PORTOALEGRE.CC
Na plataforma Portoalegre.cc, cada um dos bairros do município de Porto Alegre - Brasil são
cartograficamente representados em um mapa digital: nele são publicados conteúdos relacionados
a qualquer local da cidade, através de wikispots, isto é, marcações criadas pelo usuário para
chamar atenção a algum aspecto que, para ele, mereça ser tornado público e que se transforme
numa causa compartilhada. Além disso, é possível compartilhar esses conteúdos em mídias
sociais como o Twitter, Facebook, YouTube e Vimeo. Idealizada a partir da licença de
propriedade intelectual de Creative Commons, indicada pelo termo .cc como extensão do
endereço eletrônico, a plataforma permite compartilhar conteúdos digitais com todos, já que todo
conteúdo dos wikispots pode ser utilizado por qualquer um que utilize a plataforma. Ainda, ações
como mutirão de limpeza, piqueniques coletivos e ocupação de parques públicos são
desencadeadas a partir das causas compartilhadas na plataforma.
Lançada em março de 2011, a plataforma Portoalegre.cc foi concebida e criada pela startup Lung,
apoiada pelo Tecnosinos, parque tecnológico da Universidade do Vale dos Sinos – Unisinos; com
o apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Parceiros Voluntários, organização nãogovernamental criada por iniciativa do empresariado do estado do Rio Grande do Sul com vistas
a tecnologias sociais para o voluntariado.
A plataforma digital Portoalegre.cc é definida como uma wikicidade, sendo “um espaço de
colaboração cidadã, onde [se] pode conhecer, debater, inspirar e transformar a própria cidade”,
definição apresentada na abertura da página da plataforma. O objetivo principal da Portoalegre.cc
é se constituir enquanto um metamovimento, em que interfaces de participação política e cívica
sejam criadas, fomentando a possibilidade de uma wikicidadania.
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A concepção da plataforma liga-se à ideia do potencial de inteligência coletiva, pois considera a
PortoAlegre.cc como “um espaço de radicalização da democracia, onde [se] tem voz e vez para
discutir a cidade, mostrando o que ela tem de bom e o que precisa ser melhorado”. A sua
metodologia é nomeada de Inteligência Social, pela qual pretende-se alicerçar a possibilidade de
construção de um novo conceito de cidadania, através de mobilizações por dinâmicas virtuais
(em sites de redes sociais, como Facebook e Twitter) e presenciais (através de reuniões
presenciais, assembléias, congressos, encontros e eventos). A metodologia sugere que, por meio
da plataforma, é possível construir interfaces de participação política e cívica, pelas quais emerge
um novo posicionamento do cidadão, no qual ele sente-se corresponsável pelo
espaço que ocupa na sociedade. Os entes governamentais permanecem com suas
atribuições constitucionais, porém contam com o auxílio do cidadão, da
iniciativa privada, das organizações não-governamentais e de universidades e
órgãos de pesquisa. Desse ambiente nasce a wikicidadania, local de
manifestação do conceito territorial de wikicidade1.
Para difundir e ampliar o desenvolvimento do projeto, a empresa Lung estabeleceu parceria com
a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, processo articulado a partir da participação da
Portoalegre.cc na condução e sistematização dos debates do V Congresso da Cidade. A partir dos
dados das causas compartilhadas na plataforma, extratos foram criados para subsidiar as
discussões presenciais do Congresso. A partir do convênio firmado em 2012 entre as partes,
foram executadas oficinas à população sobre o uso da tecnologia, reuniões de voluntariado, bem
como algumas das causas cadastradas no PortoAlegre.cc foram colocadas em prática através da
mobilização dos próprios voluntários do projeto.
Em apresentação sobre a Portoalegre.cc, um dos seus diretores apresentou que a plataforma já
contou com 220 mil visitas e foram registradas mais de 1800 causas nas categorias já
previamente definidas como opções na plataforma: meio ambiente, empreendedorismo,
mobilidade urbana, tecnologia, cultura, esportes e lazer, saúde e bem-estar, educação, segurança,
cidadania, urbanismo e turismo. Os usuários podem cadastrar causas na plataforma e
georreferenciar essa causa, inserindo fotos, compartilhando no Facebook (o que já somou mais de
16 mil fans na fanpage e 90.000 acessos por semana). Os números apresentados no relatório de
prestação de contas indicam que há distribuição praticamente equilibrada entre os sexos
1Informações
provenientes do Documento de Prestação de Contas de 1 ano do projeto, fornecido pelos organizadores para a
pesquisadora.
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masculino e feminino e, em relação a faixa etária do público, observa-se grande concentração
entre 18 e 34 anos.
O projeto inicial da plataforma conta com a implantação de 5 módulos. Atualmente, o projeto
conseguiu desenvolver o módulo 1 e 2, sendo o módulo 1, nomeado de Despertar e conectar,
colocou o projeto em funcionamento, partindo da conexão com as redes sociais (Facebook e
Twitter) e iniciou a inserção de causas. Já o módulo 2, chamado Colaborar, envolveu a inserção
de conteúdos gerados pelo cidadão a partir dos 82 bairros da cidade de Porto Alegre. Os módulos
que ainda se pretende implantar são o módulo 3, Mensurar, que buscará mapear o que o cidadão
diz na plataforma e nas redes sociais, visando a gerar nuvens com maiores menções e relatórios
de inteligência; o módulo 4, chamado de Portar, que disponibilizará os conteúdos, causas e
menções também nos dispositivos móveis e, por fim, o módulo 5, Projetar, deverá implementar
aplicações para a construção de cenários futuros, estimulando o lúdico e a discussão sobre os
rumos da cidade.
Se avaliarmos o desenvolvimento do projeto da plataforma, a wikicidade está nos seus primeiros
módulos que envolvem basicamente a inserção de causas e de conteúdos gerados pelos usuários,
mas se avaliarmos os outros módulos ainda não implantados, percebemos a finalidade de gerar
relatórios de inteligência que mapeiam o que os usuários estão gerando e dizendo sobre a cidade
e a finalidade de colaboração dos usuários na projeção de cenários futuros sobre os rumos da
cidade.
REAL TIME ROME WIKICITY
Já a Real Time Rome é uma experiência criada pelo MIT SENSEable City Lab, em parceria com
a Telecom Italia, e apresentada em forma de um software de implementação na Bienal de Veneza
no ano de 2006. Através dela, procurou-se entender a dinâmica de Roma em tempo real, a partir
de dados agregados de celulares, ônibus e táxis em Roma fornecidos pelos parceiros do projeto,
em geral provenientes da iniciativa privada. A partir desses dados coletados, o laboratório criou
um software para agregação, processamento e visualização dos mesmos. Além disso, outras
cidades como Copenhague e Amsterdam têm participado do projeto do MIT Senseable City.
Conforme descrição do projeto, a Real Time Rome objetivou mostrar como a tecnologia pode
tornar indivíduos mais informados sobre o desenvolvimento urbano e como ela pode reduzir
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ineficiências com vistas a um futuro urbano sustentável. A proposta dessa wikicidade centra-se
na ideia de como uma cidade pode ser efetivamente modelada e controlada em tempo real como
um “Cyber Physical System”. Os criadores afirmam que nas últimas décadas os sistemas de
controle em tempo real têm sido desenvolvido para aplicações na engenharia e que eles têm
aumentado a eficiência dos sistemas, através da economia de energia, regulação da dinâmica,
entre outros aspectos. As características que compõem um sistema desse tipo são: 1) é uma
entidade a ser controlada em um ambiente caracterizado pela incerteza; 2) têm sensores capazes
de adquirir informações sobre o estado da entidade em tempo real; 3) desenvolve uma
inteligência capaz de avaliar o desempenho do sistema contra os resultados desejados; 4) conta
com atuadores físicos capazes de atuar sobre o sistema para realizar a estratégia de controle.
A proposta do projeto é que a cidade funcione como um sistema de controle em tempo. Assim, o
controle em um ambiente cheio de incerteza e mesmo a aquisição de informação em tempo real, a
partir de sensores não seriam problemas, já que se partiria de telefones celulares e aparelhos de
GPS para coletar os padrões de movimento de pessoas e sistemas de transporte, entre outros
mecanismos. Entretanto, os criadores do projeto problematizam como a cidade poderia ser
acionada, através de atuadores. Nesse sentido, por mais que a cidade contenha semáforos e outros
equipamentos de sinalização que tenham a condição de atuadores, a proposta é de que os próprios
habitantes da cidade sejam atuadores. Assim, o objetivo da Wiki City Rome é o desenvolvimento
de plataformas e aplicativos em que os dados coletados e processados sejam apresentados,
tornando-se acessíveis aos usuários por dispositivos móveis, interfaces web e mesmo objetos com
interfaces físicas, para que os próprios habitantes sejam atuadores distribuídos e que sejam eles
mesmos atores para melhorar a eficiência do espaço urbano.
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE WIKICIDADES
Na experiência da Portoalegre.cc, sob a forma de causas compartilhadas (comentários, opiniões,
descrição de lugares, reclamações e sugestões), as marcações geográficas ou geotags registradas
na wikicidade, para além de uma constatação da realidade imediata, evocam um desejo de cidade.
Isto pode ser considerado pelo fato de que essas representações, sob forma de conteúdo digital,
restituem as práticas espaciais na cidade dos usuários da plataforma Portoalegre.cc e sinalizam
quais mudanças ou continuidades gostariam de ver materializadas no ponto da causa.
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Já a experiência da wikicidade Real Time Rome, ao ser caracterizada como um Cyber Physical
System, dialoga com a ideia de as cidades contemporâneas são a conjunção entre bits e átomos e
que o desenvolvimento urbano passa cada vez mais pela subsunção das funções mentais aos
computadores. Assim, a expansão de sensores e de dispositivos eletrônicos móveis permite que,
através de interfaces digitais, os habitantes e suas práticas na cidade sejam absorvidas no
monitoramento e no controle em tempo real com vistas à gestão do espaço urbano.
Se posicionarmos analiticamente as experiências a partir das duas concepções de interface entre
as tecnologias digitais com o espaço urbano, apresentadas no início do artigo, pode-se verificar
que a experiência da wikicidade Portoalegre.cc orienta-se pela perspectiva de que a ação dos
usuários da plataforma, ao compartilharem causas para determinados lugares da cidade “física”,
pode gerar efeitos para a convivência comunitária e para o fortalecimento de práticas de
participação cidadã, já que a plataforma seria instrumento para garantir essas repercussões. É uma
aposta nos efeitos sociais do ciberespaço para a mudança do espaço “físico” e para a
sociabilidade dos indivíduos nas cidades, sendo que a dinâmica específica de um poderia
transformar o outro, colocando-se de certa maneira na confiança de uma tecno-utopia. Já o
caráter da Real Time Rome pode ser aproximado da ideia de “espaço urbano ampliado”, pois as
informações que alimentam as tecnologias digitais são objetivamente coletadas a partir de
sensores, como celulares, GPS, etc. Assim, a dinâmica do espaço físico e do movimento/condição
dos habitantes é o que conforma a dinâmica da tecnologia digital, sendo que o limite e a
potencialidade de um caracterizaria o outro. Desta maneira, pode-se concluir que o tipo da
informação e a forma da colaboração são aspectos fundamentais para a análise do caráter das
tecnologias digitais colaborativas.
REFERÊNCIAS
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Turner, F. (2006). How digital media found utopian ideology: lessons from first Hackers'
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