UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE IMPAIRMENT Redução no Valor Recuperável de Ativos Por: Alex Barbosa Paiva Orientador Prof. Luciano Gerard Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE IMPAIRMENT Redução no Valor Recuperável de Ativos Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em controladoria. Por: Alex Barbosa Paiva auditoria e 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço à Minha Esposa, que me deu forças para iniciar e concluir esta pós-graduação, bem como me apoiou no processo de pesquisa e desenvolvimento da monografia. Sou grato também aos meus pais, que sempre me incentivaram a buscar o melhor e investir em meu futuro, assim como aos meus colegas da Petrobras, que me disponibilizaram material para agregar valor ao meu estudo. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho em especial à minha esposa, Patrícia, aos meus pais, Nizia e Edison e à minha irmã, Aline. Por eles luto na vida em busca do crescimento profissional e como forma de retribuição pelo amor e carinho que sempre tiveram comigo, além de me fazerem acreditar que sou capaz de lutar e vencer. 5 RESUMO Este trabalho busca analisar a aplicação do teste de impairment, uma vez que é obrigatório para as demonstrações contábeis encerradas desde 31 de dezembro de 2008 para todas as empresas de grande porte e de capital aberto, e salutar para todas aquelas que queiram imprimir em suas demonstrações atributos de transparência e seriedade, conceitos estes alicerçados no modelo de governança corporativa que vem se firmando no Brasil e no mundo. Tentaremos, aqui, explorar a necessidade de realização e a forma de aplicação do teste de impairment em grandes empresas, sobretudo nas do segmento de energia, como a Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras. Esse assunto é de grande importância para a contabilidade, pois o teste visa a assegurar que os ativos não estejam avaliados, contabilmente, por um valor superior àquele passível de ser recuperado no tempo, por uso nas operações ou por venda. 6 METODOLOGIA Para atendimento aos objetivos propostos este estudo caracteriza-se como descritivo e delineado por meio de pesquisa bibliográfica, a qual ofereceu suporte e fundamentação teórica, e pesquisa documental e de análise de casos múltiplos. Para a realização deste trabalho foram utilizados livros da área de Contabilidade, artigos de revistas e, sobretudo, informações disponíveis na internet e obtidas diretamente na Contabilidade da Petrobras. Sob a ótica da Teoria da Contabilidade e Contabilidade Internacional, a apresentação das normas norte-americanas, internacionais e brasileiras, relativas aos procedimentos do reconhecimento da perda de recuperabilidade do ativo (impairment), também assume as características de uma pesquisa documental, no sentido de coleta de dados nos relatórios financeiros da Comissão de Valores Mobiliários - CVM e da Securities Exchange Commission - SEC. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I A IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO 1.1 – Principal fonte de energia 1.2 – A exploração e a produção no Brasil 1.3 – Fontes de energia renováveis e não renováveis 1.3.1 – Oferta de energia no Brasil e no mundo 1.3.2 – Energias renováveis 1.4 – O processo de exploração e produção (E&P) 1.4.1 – Descobertas do Pré-Sal CAPÍTULO II CONTABILIDADE DE PETRÓLEO E GÁS 2.1 – Tratamento contábil 2.1.1 – Método dos Gastos Totais – Full Cost 2.1.2 – Método dos Esforços Bem Sucedidos – Successful Efforts Cost 2.1.3 – Comparação entre os Métodos de Contabilização de Petróleo e Gás CAPÍTULO III REDUÇÃO NO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS - IMPAIRMENT 3.1 – Avaliação dos ativos 3.1.1 – Normas Internacionais 3.1.2 – Normas Brasileiras 3.2 – Pronunciamento Técnico CPC 01: Redução no Valor Recuperável de Ativos 8 3.2.1 – Identificação da Unidade Geradora de Caixa (UGC) à qual um ativo pertence 3.2.2 – Valor Recuperável e valor contábil de uma UGC 3.2.3 – Composição de estimativas de fluxos de caixa futuros 3.2.4 – Taxa ou Taxas de Desconto 3.2.5 – Ágio em decorrência de expectativa de resultados futuros (goodwill) CAPÍTULO IV IMPAIRMENT NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS 4.1 – Particularidades do segmento 4.2 – Impairment em Propriedades não Provadas 4.3 – Impairment em Propriedades Provadas 4.4 – Elaboração das Estimativas de Fluxos de Caixa Futuros 4.5 – Determinação do Valor Justo (Fair Value) dos Ativos de petróleo e Gás CAPÍTULO V IMPAIRMENT NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA PETROBRAS 5.1 – Divulgação das informações 5.2 – Valorização dos fluxos de caixa futuros descontados líquidos relacionados a quantidades provadas de petróleo e gás e as correspondentes movimentações 5.3 – Resultados do teste de impairment 5.4 – Impairment do ágio com expectativa de rentabilidade futura 5.5 – Análises dos impactos causados nas demonstrações contábeis da Petrobras em decorrência do impairment CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ANEXOS 9 INTRODUÇÃO Dentre as atividades de uma empresa de energia, a de exploração e produção de óleo e gás caracteriza-se por ser tipicamente de capital intensivo, envolver altos riscos e longos prazos de maturação do investimento, evidenciando valores altamente significativos dos ativos empregados e, consequentemente, apresentando dificuldade na recuperação dos montantes capitalizados. Assim os testes para verificar a recuperação do valor dos ativos ganham importância acentuada para o setor. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva realizar um levantamento dos principais pronunciamentos dos órgãos contábeis nacionais e internacionais sobre desvalorização de ativos, efetuando uma análise para se determinar como fatores extrabalanço se relacionam com as despesas de impairment reconhecidas pelas empresas de energia que exploram e produzem petróleo. Apesar da importância do setor petrolífero, existe uma escassez de literatura nacional específica relacionada aos aspectos contábeis das atividades de exploração e produção de petróleo, além de ainda não existirem normas contábeis específicas nem um plano de contas estruturado para o setor no Brasil. Nesse contexto, este estudo se justifica pela importância do setor petrolífero para a economia brasileira e mundial, pela representatividade que as perdas por impairment podem ocasionar no resultado das empresas desse segmento e pela contribuição aos usuários das demonstrações contábeis na compreensão das informações divulgadas pelas empresas em relação aos impactos da adoção do impairment em seus ativos. Cabe ressaltar que a redução no valor recuperável dos ativos tende a evitar a superavaliação desses bens, o que ocasionaria riscos aos investidores. 10 CAPÍTULO I A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO 1.1 – Principal fonte de energia O petróleo representa a principal fonte de energia primária consumida no mundo e movimenta bilhões de dólares diariamente em atividades industriais gigantescas, sendo imprescindível às facilidades e comodidades da vida moderna. Além disso, os benefícios proporcionados pelo setor petrolífero são verificados em termos de finanças públicas, balança comercial, geração de emprego, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, bem como em termos fiscais, em razão da multiplicidade de fatos geradores de impostos a ele associados. O desempenho da indústria do petróleo e da economia mundial está também condicionado ao preço desse produto no mercado internacional. As oscilações no preço da commodity causadas pelo poder de mercado dos grandes demandantes ou pelo poder dos grandes produtores (principalmente os associados a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP), afetam tanto a economia dos países desenvolvidos quanto a dos em desenvolvimento (ARAGÃO, 2005). No ano de 2009, conforme ranking divulgado pela revista de negócios Fortune, dentre as dez maiores empresas do mundo em faturamento anual, sete eram petrolíferas, com os seguintes montantes: Royal Dutch Shell (Holanda) – US$ 458 bilhões, Exxon Mobil (EUA) – US$ 442 bilhões, BP (Grã-Bretanha) – US$ 367 bilhões, Chevron (EUA) – US$ 263 bilhões, Total (França) – US$ 234 bilhões, ConocoPhillips (EUA) – US$ 230 bilhões, Sinopec (China) – US$ 207 bilhões. 11 No Brasil, segundo Aragão (2005, p. 1), a estimativa da contribuição média do setor de petróleo no Produto Interno Bruto (PIB) tem sido crescente, apresentando as seguintes médias: 2,44% (anos 60), 2,79% (anos 70), 4,20% (anos 80), 3,36% (1990/97) e 4,94% (1998/2003). Com base na revista Exame (Edição 952; setembro/2009), em 2009, continuando a trajetória de crescimento observada após a Lei 9478/97, a representatividade do setor petrolífero alcançou 10% do PIB. Com o pré-sal, a estimativa é que essa participação chegue a 20% até 2020. A relevância da indústria mundial do petróleo está além de sua posição energética, pois impacta significativamente em outros segmentos da cadeia produtiva, influência esta que pode ser verificada em termos econômicos, políticos e financeiros. O investimento estimado do setor para o período de 2001 a 2030 é de US$ 3,04 trilhões, distribuídos em: US$ 2,18 trilhões para o segmento de exploração e produção (72%); US$ 395 bilhões para o refino (13%) e US$ 456 milhões para os demais segmentos (15%) (ARAGÃO, 2005). 1.2 – A exploração e a produção no Brasil A Petróleo Brasileiro S.A. — Petrobras foi constituída em 1953, a fim de conduzir as atividades de hidrocarboneto do governo brasileiro. A companhia começou suas operações em 1954 e por cerca de quarenta anos conduziu atividades de refino e produção de petróleo bruto e gás natural no Brasil. Na década de 90, numa série de medidas legislativas o Estado brasileiro renunciou a seu monopólio sobre as atividades de petróleo e gás. Em 9 de novembro de 1995, a Constituição do Brasil foi alterada a fim de autorizar o governo brasileiro a contratar com qualquer empresa estatal ou privada para conduzir atividades nas áreas de exploração e produção (upstream) e abastecimento (downstream) de petróleo e gás no Brasil. 12 Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados brasileiros de petróleo bruto, derivados de petróleo e gás natural. Com vigência a partir de 2 de janeiro de 2002, o Brasil desregulamentou os preços do petróleo, derivados de petróleo e gás natural. Em 2008, conforme comentado no Relatório Form 20-F da Pertobras, a produção média nacional diária de hidrocarbonetos pela empresa foi de 2.176 mboe/d (milhares de barris de óleo equivalente por dia), uma estimativa de 98,5% do total do Brasil. Mais de 84% das reservas provadas da empresa estão localizadas em campos grandes, contíguos e altamente produtivos na costa da Bacia de Campos, permitindo que concentre sua infraestrutura operacional e restrinja seus custos de exploração, desenvolvimento e produção. Em 40 anos de desenvolvimento das bacias marítimas do Brasil, a Petrobras desenvolveu uma habilidade especial na exploração e produção em águas profundas, que a empresa explora tanto no Brasil, quanto em outras províncias petrolíferas marítimas. No Brasil os dados estatísticos da Agência Nacional do Petróleo – ANP apresentam as “reservas totais”, que consideram o somatório de reservas provadas, prováveis e possíveis, sinalizando o limite superior da disponibilidade de reservas de petróleo. Segundo dados recentes da ANP, de um total aproximado de 21 bilhões de barris em 2008, 92,8 % das reservas totais nacionais de petróleo se localizam no mar (campos “off shore”), e o restante se localiza em campos terrestres. Três estados respondem pela maior parcela de contribuição das reservas terrestres: Bahia (32%), Rio Grande do Norte (24%) e Sergipe (23%). Já as reservas brasileiras “off shore” situam-se, basicamente, em estados da Região Sudeste: Rio de Janeiro (84%) e Espírito Santo (12%). A participação dos demais estados é marginal. 13 Um indicador relevante se refere à razão entre as reservas provadas e as reservas totais, que se situou em torno de 0,61 em 2008, ou seja, do volume total de reservas conhecidas no Brasil, cerca de 61% são consideradas economicamente recuperáveis com as condições atuais de tecnologia e preço. As reservas totais de petróleo no Brasil vêm crescendo sistematicamente na última década, graças às descobertas “off shore”. As reservas em terra praticamente não se alteraram. 1.3 – Fontes de energia renováveis e não renováveis Tecnicamente, o petróleo é constituído, basicamente, por uma mistura de compostos químicos orgânicos, os chamados hidrocarbonetos. Assume a forma gasosa quando é composto de moléculas de pequeno tamanho e o estado físico líquido quanto os hidrocarbonetos são compostos por moléculas maiores, considerando as condições normais de temperatura e pressão (THOMAS, 2004, p. 4). O petróleo ocupa papel de destaque na matriz energética global, uma vez que o crescimento e o desenvolvimento econômico dependem grandemente, entre outros fatores, das fontes de energia provenientes do petróleo. O Gráfico 1 demonstra como está distribuído o consumo energético mundial, desde a década de oitenta, das principais fontes de energia. Na análise da distribuição do consumo de energia, percebe-se que as matrizes energéticas mundial e brasileira estão mais baseadas em recursos minerais de fontes não renováveis, conforme demonstrado no subitem a seguir. 1.3.1 – Oferta de energia no Brasil e no mundo 14 Em razão de sua importância para a economia mundial, o petróleo é fator decisivo na geopolítica mundial. O crescimento econômico está diretamente associado à disponibilidade de energia, mas sabe-se que a distribuição das reversas de petróleo não ocorre de maneira uniforme no planeta e que o consumo é maior em regiões de economia desenvolvida. O levantamento feito pela gigantesca petrolífera British Petroleum - BP em 2006, com dados de 2005, mostra que os 1.200,7 bilhão de barris de petróleo disponíveis como reservas provadas no planeta e os 179,83 trilhões de metros cúbicos de gás natural estão distribuídos da seguinte maneira: 51% concentrados no Oriente Médio, 24% na Europa e Euroásia, 9% na América Central e do Sul, 6% na África, 6% na região da Ásia-Pacifico e 4% na América do Norte. Demonstramos a seguir a distribuição das principais fontes de energia do Brasil e do mundo. Fonte: site do Ministério das Minas e Energia 1.3.2 – Energias renováveis As fontes de energia mais utilizadas pelo homem são as chamadas de “nãorenováveis”, as quais se encontram na natureza em quantidades limitadas e se 15 extinguem com a sua utilização. Uma vez esgotadas, as reservas não podem ser regeneradas. Consideram-se fontes de energia não renováveis os combustíveis fósseis (carvão, petróleo bruto e gás natural) e o urânio, que é a matéria-prima necessária para obter a energia resultante dos processos de fissão ou fusão nuclear. Todas essas fontes de energia têm reservas finitas, uma vez que é necessário muito tempo para repô-las, e a sua distribuição geográfica não é homogênea, ao contrário das fontes de energia renováveis, originada graças ao fluxo contínuo de energia proveniente da natureza. Geralmente, as fontes de energia não-renováveis são denominadas fontes de energia convencionais, uma vez que o sistema energético atual assenta na utilização dos combustíveis fósseis. São também consideradas energias sujas, já que sua utilização é causa direta de importantes danos para o meio ambiente e para a sociedade: destruição de ecossistemas, danos em bosques e aquíferos, doenças, redução da produtividade agrícola, corrosão de edificações, monumentos e infra-estruturas, deterioração da camada de ozônio ou chuva ácida. Sem esquecer os efeitos indiretos, como os acidentes em sondagens petrolíferas e minas de carvão ou a contaminação por derramamentos químicos ou de combustível. Em razão das características acima apresentadas, a Petrobras tem concentrado grandes esforços no estudo e desenvolvimento de energias renováveis, prevendo, inclusive, investimento de US$ 669 milhões até 2013 em projetos que incluem geração de energia elétrica por meio de usinas eólicas, solares e PCHs. Energia eólica A Petrobras desenvolveu projetos próprios em locais em que seu Centro de Pesquisa - Cenpes vem realizando a medição do potencial eólico há anos. Algumas parcerias também foram firmadas para a participação, em 2009, do leilão específico de energia eólica preparado pelo Governo Federal. O primeiro 16 projeto de energia eólica do Governo, a Usina Piloto de Macau, com 1,8 MW instalados, completou cinco seis de operação, atingindo a marca de 24.500 MWh produzidos desde sua implantação, evitando a emissão de cerca de 6 mil toneladas de CO2 por ano para a atmosfera. Energia solar A Petrobras possui oito sistemas termossolares instalados em refinarias, fábricas de fertilizantes e no edifício sede da companhia, para aquecimento da água destinada a vestiários e refeitórios. Ao longo de 2008, esses sistemas, totalizando 2.180 m2 de coletores planos fechados, evitaram a emissão de 309 toneladas de CO2 para a atmosfera. Também em 2008, em busca da conservação energética e contribuição para o meio ambiente, sem perder o foco no vetor econômico, tiveram continuidade os trabalhos de prospecção, análises técnicas e financeiras, e elaboração de projetos básicos. Pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) Foram realizados estudos de otimização do projeto da PCH Pira, que prevê capacidade instalada de 19,5 MW e será construída pela Petrobras no Rio do Peixe, em Santa Catarina. O impacto ambiental será baixo, pois a área prevista para o seu reservatório é de 0,3 km2, considerada pequena mesmo quando comparada à de outras PCHs, que, na maioria dos casos, apresentam áreas de até 3 km2. Em 2009 foram desenvolvidos novos projetos de PCHs, visando ampliar a carteira de empreendimentos da companhia. 1.4 – O processo de exploração e produção (E&P) A exploração e a produção de petróleo estão voltadas para a descoberta e a extração de reservas de óleo e gás natural, que são o nosso principal ativo. 17 As acumulações de óleo e gás natural ocorrem, predominantemente, em formações geológicas sedimentares. A existência dessas acumulações é inferida por meio de métodos indiretos e confirmada, ou não, por meio da perfuração de poços pioneiros. A ocorrência de petróleo depende da combinação de vários fatores que determinam os diferentes riscos exploratórios nas diversas bacias sedimentares. Uma vez que a avaliação destes riscos se apóia na interpretação de dados geológicos, quanto mais informações disponíveis, menores serão os riscos envolvidos. A ocorrência de petróleo é definida pelos volumes de matéria orgânica presentes nas rochas sedimentares e pelas condições geológicas favoráveis, ou seja, (a) soterramento suficiente para que com aumento da pressão e temperatura, a matéria orgânica se transforme em petróleo, (b) dutos de migração, para que o petróleo expelido das rochas geradoras migre para (c) rochas-reservatório porosas e permeáveis, (d) recobertas por rochas impermeáveis (selos) (e) dispostas em trapas (armadilhas) estruturais ou estratigráficas, permitindo que o petróleo gerado migre e se acumule. Se a acumulação tiver porte (volume) suficiente, poderá ser explotado comercialmente. Confirmada a acumulação de petróleo, novos poços são perfurados com vistas a delimitar a jazida e permitir a avaliação técnico-econômica da extração. Uma vez determinada a atratividade econômica, é executado um projeto de lavra (desenvolvimento da produção), que requer investimentos adicionais na perfuração de poços e na implantação de instalações industriais. Esse processo requer, desde a descoberta até o início da produção, cinco anos, em média, na atividade marítima, e de um a dois anos, na atividade terrestre. A partir daí, a vida útil do projeto é da ordem de quinze anos. O ciclo de vida do projeto de produção se encerra com a sua desativação, que requer 18 recursos adicionais para o abandono das instalações de produção e dos poços de petróleo. A ocorrência de petróleo é definida pelos volumes de sedimentos orgânicos e pelas condições geológicas favoráveis para acumular o óleo ou o gás formado, e existentes há milhões de anos. O petróleo bruto é uma complexa mistura de hidrocarbonetos e outros compostos, que não é utilizável em sua forma natural, e necessita ser processado em unidades industriais (refinarias), para obtenção dos seus derivados (GLP ou gás de cozinha, gasolina, nafta petroquímica, solventes, querosenes, óleo diesel, óleos lubrificantes, parafinas, óleo combustível, asfalto e outros). O processamento do petróleo é iniciado pela destilação, que permite a separação de diversas correntes (GLP, nafta, querosenes, óleo diesel, gasóleos e óleo combustível). Algumas dessas correntes sofrem um processamento secundário para conversão em outros produtos, enquanto outras passam por um tratamento para melhoria de suas características e atendimento das exigências dos consumidores expressas nas especificações de qualidade. As refinarias recebem o petróleo através de dutos desde os campos petrolíferos ou de terminais marítimos, onde é desembarcado de navios petroleiros. O transporte dos produtos acabados é efetivado também por dutos até as bases de distribuição ou terminais expedidores, de onde os produtos são carregados em navios especializados, em vagões-tanque ou caminhões para entrega ao mercado consumidor. O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos gasosos que tem a vantagem de poder ser utilizado diretamente ou após um processamento menos complexo (do que o petróleo bruto), onde são removidos os componentes mais pesados (GLP e gasolina natural). Sua entrega ao mercado é usualmente feita 19 através de gasodutos de transporte, aos quais são interligadas as redes de distribuição. O gás natural é utilizado como matéria-prima petroquímica ou para fertilizantes, ou como energético em substituição a outros combustíveis. Outras utilizações, em menor escala, são: como redutor siderúrgico, como combustível automotivo e para uso domiciliar através de redes de distribuição de gás canalizado. 1.4.1 – Descobertas do Pré-Sal O termo pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções marinhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petróleo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se estende por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessuras de até 2.000m. O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram sendo depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal, pode chegar a mais de 7 mil metros. As maiores descobertas de petróleo, no Brasil, foram feitas recentemente pela Petrobras na camada pré-sal localizada entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo, onde se encontrou grandes volumes de óleo leve. Na Bacia de Santos, por exemplo, o óleo já identificado no pré-sal tem uma densidade de 28,5º API (índice de pressão atmosférica), baixa acidez e baixo teor de enxofre. São características de um petróleo de alta qualidade e maior valor de mercado. O sucesso da atividade exploratória na seção pré-sal das bacias sedimentares brasileiras do Sul e Sudeste marcou o ano de 2008, o que deverá sustentar o crescimento da produção de petróleo nas próximas décadas. 20 Na Bacia de Santos, em agosto daquele ano, por exemplo, a companhia descobriu significativa acumulação de óleo leve e gás natural, com volume recuperável estimado entre 3 e 4 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) na área conhecida como Iara (bloco original BM-S-11). Essa descoberta decorreu da perfuração do poço 1-RJS-656, a cerca de 230 km do litoral da cidade do Rio de Janeiro, em lâmina d’água de 2.230 metros. A nova área soma-se à de Tupi, descoberta em 2006 no mesmo bloco, com volume recuperável estimado entre 5 e 8 bilhões de boe, conforme anunciado em novembro de 2007. A Petrobras detém 65% dessa concessão e está associada, na área, à BG Group e à Galp Energia, que participam com 25% e 10%, respectivamente. No litoral do Espírito Santo, ao norte da Bacia de Campos, foram feitas duas descobertas importantes na seção pré-sal do Parque das Baleias, nos campos de Baleia Azul e Baleia Franca, com volume recuperável total estimado entre 1,5 e 2 bilhões de boe (30º API). O volume total de óleo estimado na área do Parque das Baleias, incluindo os reservatórios acima e abaixo da camada de sal, chega a aproximadamente 3,5 bilhões de boe. Em setembro, com o início do teste de longa duração do poço 1-ESS-103A, interligado à plataforma P-34, no campo de Jubarte, no norte da Bacia de Campos, a companhia começou a produzir na seção pré-sal do litoral do Espírito Santo. O portfólio de concessões exploratórias da companhia, com as aquisições e as devoluções efetuadas em 2008, passou a contar com 265 blocos, somando 142,3 mil km². Além disso, outras 35 áreas em operação, com 12,7 mil km², encontravam-se em fase de avaliação de descobertas. A área exploratória da Petrobras naquele ano totalizava 155 mil km². Está em discussão no governo o modelo que deverá ser adotado para a exploração do pré-sal, que poderá ser de concessão ou de partilha. No primeiro as empresas são proprietárias do óleo que encontram, em troca de pagamento de royalties, participações especiais e outras taxas. Na segundo o Estado é 21 remunerado com o petróleo extraído, em parcelas que podem passar da metade da produção, dependendo da regulamentação adotada. CAPÍTULO II CONTABILIDADE DE PETRÓLEO E GÁS 2.1 – Tratamento contábil Apesar de alguns países terem emitido normas específicas, ainda não existe pronunciamento contábil uniforme para a indústria de petróleo e gás. Talvez por esse motivo, a regra contábil mais utilizada no tratamento dos gastos das empresas desse segmento seja a norte-americana SFAS nº 19 – Financial Accounting and Reporting by Oil and Gas Producing Companies e Disclosures About Oil and Gás Producing Activities. Além das reservas, o tratamento contábil dos outros gastos de E&P, tais como: pré-licença de prospecção; aquisição ou contratação dos diretos de exploração; exploração, delimitação e avaliação; desenvolvimento, produção e abandono, também é diferenciado entre as normas. A principal questão que se discute está relacionada à escolha entre a capitalização dos gastos (ativação) ou à contabilização diretamente no resultado. Em decorrência dessa questão, os métodos mais largamente utilizados, com base nas normas norte-americanas, são o método dos gastos totais (Full Cost) e o método dos esforços bem sucedidos (Successful Efforts Cost). A escolha do método de contabilização depende do porte da empresa. Geralmente as empresas de médio porte utilizam o full cost, enquanto que as maiores do setor adotam o successful efforts cost. Apesar das diferenças, percebe-se que em ambos os métodos, a avaliação dos ativos está fortemente baseada no custo histórico. 22 2.1.1 – Método dos Gastos Totais – Full Cost Este método foi desenvolvido na década de 50, sendo a Belco Petroleum a primeira corporação a utilizá-lo em 1957. Geralmente é adotado por empresas de pequeno e médio porte e em especial por aquelas que buscam recursos no mercado de capitais, por acreditarem que esse método é mais justo ao demonstrar os ganhos com menos volatilidade (JOHNSTON; JOHNSTON, 2006). Este método preceitua que os gastos decorrentes das atividades de geologia e geofísica, poços secos na fase exploratória, custos de aquisição de área, poços exploratório com sucesso, poços secos na fase de desenvolvimento e desenvolvimento de poços bem sucedidos, são todos capitalizados independentemente do sucesso da exploração do campo. Os critérios de contabilização deste método são regulados pelo Regulation SX Rule 4-10. 2.1.2 – Método dos Esforços Bem Sucedidos – Successful Efforts Cost Estabelecido na década de 70, com sua utilização o FASB tentou definir este método como o único para as empresas de petróleo e gás, mas em função do lobby das empresas de pequeno e médio porte, permitiu-se a adoção dos métodos Full Cost e Sucessful Efforts Cost, a critério das empresas. Segundo esta metodologia, serão reconhecidos como despesa diretamente no resultado os gastos com geologia e geofísica e com poços secos ou não econômicos na fase exploratória, sendo capitalizados os demais gastos como o custo de aquisição de área, poços exploratórios com sucesso, poços secos na fase de desenvolvimento e desenvolvimento de poços bem sucedidos. 23 Segundo Silva (2004), o método dos esforços bem sucedidos somente capitaliza como custo do ativo de petróleo e gás os custos das atividades que resultem na descoberta de reservas de petróleo economicamente viáveis. Os custos exploratórios de poços secos, custos de geologia e geofísica em geral, bem como outros custos relativos a propriedades não-provadas são considerados como despesas do período. De maneira geral, os custos capitalizados são amortizados pelo método das unidades produzidas, tendo por base as reservas provadas. 2.1.3 – Comparação entre os Métodos de Contabilização de Petróleo e Gás Segundo Silva (2004), a principal diferença entre o método dos gastos totais e o método dos esforços bem sucedidos refere-se aos custos que não podem ser diretamente relacionados às descobertas de reservas específicas de petróleo e gás. Em outras palavras, a diferença básica entre estes dois métodos concentra-se nos custos de exploração que serão capitalizados como custos de poços produtivos. A diferença de metodologia reflete diretamente no valor do ativo fixo, considerando que os métodos não registram a totalidade das reservas, somente reconhecem os gastos para explorar e desenvolver as áreas. Percebe-se que no método dos gastos totais (full cost), os ativos fixos tendem a ser maiores do que os ativos fixos reconhecidos pelo método dos esforços bem sucedidos devido, basicamente, à capitalização dos gastos com geologia e geofísica e com os gastos exploratórios. Godoy (2004. p, 107), comparando os dois métodos de contabilização, pondera que o método de esforços bem sucedidos é mais conservador que o método da capitalização total, considerando que os gastos que não apresentam relação direta entre os ativos e algum valor identificável devem ser lançados para 24 despesas. Os custos relacionados à descoberta de poços secos é um exemplo desse entendimento. As principais diferenças entre os métodos de contabilização são sumarizadas e destacadas pelo SFAS 19, parágrafo 110: a) Categorias de reservas utilizadas como base da amortização; b) Para os casos em que os custos de desenvolvimento são antecipados, desde que os custos de aquisição, exploração e desenvolvimento forem amortizados com base no total das reservas presentes; c) Na medida de agregação das propriedades quando da amortização; d) Nas bases de determinação das taxas de amortização de produção conjunta de petróleo e gás; e) Nas categorias de reservas e os métodos de avaliação utilizados para estabelecer o limite dos gastos capitalizados (celling test); e f) Na definição dos critérios de alocação dos custos indiretos de produção. De uma forma mais direta, Johnston e Johnston (2006) sumarizam as principais diferenças em relação ao tratamento dos gastos de E&P, considerando os dois métodos de contabilização, as quais podem ser observadas no quadro abaixo: 25 Fonte: Adaptado Johnston e Johnston (2006) O método do full cost é mais restritivo em relação ao reconhecimento de despesa. Essa metodologia faz com que os resultados apresentados pelas companhias sejam mais uniformes, de forma que os insucessos na exploração não causam grandes oscilações nos lucros das companhias. No método do successful efforts o resultado não é preservado, o reconhecimento em despesa é imediato na fase de geologia e geofísica (G&G) e nos insucessos da fase exploratória (poços secos e não comerciais). Essa metodologia impacta fortemente o lucro das companhias que se encontram nas fases iniciais do processo de exploração e produção, mas como esse método é utilizado por empresas de grande porte, tais despesas não chegam a causar distorções representativas nos ganhos das companhias. CAPÍTULO III REDUÇÃO NO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS - IMPAIRMENT 3.1 – Avaliação dos ativos A aprovação da Lei n.º 11.638 em 28 de dezembro de 2007, resultado do Projeto de Lei n.º 3.741/2000, contribuiu, entre outras coisas, para a condução das normas contábeis brasileiras (BR-GAAP) a um padrão mundial, o que vem sendo realizado pelos órgãos reguladores, como o Comitê de Práticas Contábeis – CPC. A necessidade de um consenso mundial é reconhecida tanto pelo Financial Accounting Standards Board (FASB) quanto pelo International Accounting Standards Board (IASB), que concordam que a convergência dos padrões contábeis é essencial para diminuir as divergências entre os diversos padrões contábeis que, no conjunto, causam muitos problemas na utilização, 26 preparação, auditoria e regulamentação dos relatórios financeiros (SILVA et al, 2006; SANTOS et al, 2003). Uma das divergências discutidas na contabilidade, e que reforça a necessidade de uma harmonização de normas e conceitos, é a definição de ativo. Para Iudícibus (2006), das várias definições apresentadas para ativo na literatura contábil, deve-se depreender que o ativo deve ser considerado quanto à sua controlabilidade por parte da entidade e precisa estar incluído uma probabilidade de serviços futuros (fluxos de caixa futuros). Para o FASB, conforme a Statement Financial Accounting Concepts – SFAC nº 6, ativos são prováveis benefícios econômicos futuros obtidos ou controlados por uma entidade particular como resultado de transações ou eventos passados. A valoração de um ativo, de acordo com a teoria contábil, deve levar em consideração a probabilidade de obtenção de benefícios futuros pela entidade que o controla. Deste conceito, Iudícibus et al (2007, p. 202) depreende que o valor econômico de um ativo permanente é estimado pelo valor presente dos benefícios líquidos futuros decorrentes de seu uso. Em outras palavras, esse valor presente é o valor econômico que o ativo gerará no futuro e deve ser suficiente para cobrir pelo menos o seu custo. Dentro deste contexto, surge o teste de impairment ou teste de recuperabilidade do custo de um ativo, que objetiva assegurar que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de ser recuperado por uso ou por venda. Em sua tradução literal, impairment é uma palavra em inglês que significa deterioração. Para Martins (2006) é importante dizer que a figura do impairment, em teoria contábil, é coisa de mais de dois séculos atrás. O ativo se não for capaz de ter o saldo contábil recuperado ou pela venda ou pelo uso, tem que ser baixado. 27 Atualmente, as normas mais conhecidas que regulam esse instrumento são a SFAS 144 - Accounting for the Impairment or Disposal of Long-Lived Assets, emitida pelo FASB, e a IAS 36 - Impairment of Assets, emitida pelo IASB. Na atividade de E&P o teste de impairment tem grande importância e utilidade, pois como afirmado por Santos et al (2006) a indústria do petróleo caracterizase por ser tipicamente de capital intensivo, com altos riscos nas atividades de exploração, altos investimentos em desenvolvimento da produção e longos prazos de maturação do investimento, evidenciando altos valores de ativos imobilizados registrados em relação ao ativo total. A sistemática utilizada para adequar a capacidade de geração de benefícios futuros do ativo ao valor registrado pela contabilidade se baseia nas metodologias de avaliação de ativos. Para fins desse estudo, limitou-se sua discussão aos ativos de longa duração mantidos para uso. Os ativos de longa duração são, na maioria das situações, avaliados pelo custo histórico. A adequação ao valor justo do ativo (fair value) leva em consideração a utilização dos ativos pela entidade, suas especificidades, operacionalidade, fatores técnicos e de mercado. A observância desses aspectos é fundamental para que se minimize o risco de distorção entre o critério de avaliação e o real retorno econômico do ativo. Segundo Rield (2004, p. 825), avaliação de ativos de longa duração para efeitos de impairment implica em desafios significativos na sua divulgação, pois na maioria das vezes requer uma previsão de desempenho com base, geralmente, em previsões de valores futuros, tendo em vista que se busca aferir o benefício econômico futuro do ativo. Ainda de acordo com Rield (2004), essa avaliação pode não retratar o valor justo dos ativos, os quais podem ser avaliados freqüentemente abaixo do seu valor de liquidação. Consequentemente, a estimativa de impairment requer julgamentos e estimativas, dando-lhe por vezes um alto grau de subjetividade. 28 3.1.1 – Normas Internacionais As regras que disciplinam os critérios de aplicação do impairment, para as normas internacionais, ou seja, aquelas emitidas pelo IASB estão descritas no IAS 36 – Impairment of Asset, vigente desde julho de 1999. A norma foi revisada em março de 2004 em decorrência da emissão do IFRS 3 – Business Combinations. De acordo com Riley (2002), antes da emissão do IAS 36 já existiam normas que abrangiam algumas premissas para o reconhecimento de perdas com a desvalorização do ativo, como o IAS 16 – Property, Plant and Equipment, o IAS 28 - Investments in Associates e o IAS 31 - Interests in Joint Ventures. Contudo, o IAS 36 detalhou melhor os critérios de aplicabilidade do impairment determinando questões como: identificação do bem desvalorizado; mensuração de seu valor recuperável e reconhecimento da perda. Além do IAS 36, o IFRS 6 – Exploration for and Evaluation of Mineral Resources foi emitido para viabilizar a inclusão das empresas exploradoras de recursos minerais, dentre elas as empresas petrolíferas, nas regras contábeis internacionais quando da adoção das normas do IASB, além de mencionar a realização do impairment nos ativos dessas empresas. As normas norte-americanas abordam o assunto impairment em dois pronunciamentos distintos: no SFAS 142 – Goodwill and Other Intangible Assets, aplicável ao goodwill e ativos intangíveis e no SFAS 144 – Accounting for the Impairment or Disposal of Long-Lived Assets, que trata dos ativos de longa duração e de ativos colocados a disposição para venda. 3.1.2 – Normas Brasileiras No ambiente contábil brasileiro, as principais normas que mencionam o tratamento do impairment são: Resolução CFC nº 1.110/07; Deliberação CVM 29 527/07; e, sobretudo, o CPC01 – Redução no Valor Recuperável de Ativos, norma que busca uniformizar as orientações contábeis sobre o tema. 3.2 – Pronunciamento Técnico CPC 01: Redução no Valor Recuperável de Ativos O Comitê de Pronunciamentos Contábeis é um órgão criado em 2005 e implementado em agosto de 2006, que tem por objetivo o estudo, o preparo e a emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade, além da divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pelas entidades reguladoras brasileiras. O Órgão visa à centralização e uniformização do processo de produção de tais normas e leva sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Participam do CPC as seguintes entidades: ABRASCA, APIMEC NACIONAL, BMF&BOVESPA, Conselho Federal de Contabilidade, FIPECAFI e IBRACON. Pode contar ainda com a presença de órgãos convidados, como: Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários, Secretaria da Receita Federal e Superintendência de Seguros Privados. O Pronunciamento Técnico CPC 01 tem por objetivo promover a convergência das normas contábeis brasileiras sobre o impairment com as normas internacionais. Desse modo, os conceitos utilizados no CPC 01 são semelhantes aos preceitos do IAS 36. Em relação à aplicabilidade do pronunciamento, esta é bastante abrangente, uma vez que é aplicável aos ativos de maneira geral, com exceção daqueles relacionados a: contratos de construção; instrumentos financeiros; plano de pensão e benefícios a empregados; e ativos mantidos para venda ou classificados nesse grupo. 30 A norma considera que o impairment deve ser aplicado quando há indícios de que o valor recuperável do ativo está abaixo do seu valor registrado contabilmente. Os indicativos internos e externos de perda no valor recuperável do ativo são os mesmos descritos no IAS 36, da mesma forma que os critérios de relevância e materialidade dos ativos sujeitos a perda de valor também são semelhantes aos descritos na norma internacional. Quanto à mensuração dos ativos, o pronunciamento pondera sobre duas metodologias: valor líquido de venda e valor de uso. Na utilização do valor de uso, a norma estabelece a utilização do fluxo de caixa que pode ser o tradicional (que considera um único cenário) ou o fluxo de caixa esperado (que considera vários cenários com probabilidades de ocorrência). Esses critérios também estão aderentes com as normas internacionais. O tratamento contábil da perda por impairment, de acordo com o CPC 01 consiste no registro de uma provisão para perda no ativo em contrapartida a uma perda no resultado. A norma não especifica, entretanto, em que linha da demonstração do resultado deve-se registrar a perda, se operacional ou não operacional. Para o caso em que o ativo desvalorizado tiver sido objeto de reavaliação, a contrapartida da provisão de perda será uma dedução do valor da reserva de reavaliação no patrimônio líquido até o montante da reserva constituída pela reavaliação do ativo. A parcela que ultrapassar o valor da reserva de reavaliação é registrada diretamente no resultado. O CPC 01 também prevê e permite a reversão da perda por impairment para o caso em que haja mudanças significativas nas premissas que originaram o reconhecimento da perda. O tratamento contábil consiste em reverter os registros contábeis da perda por impairment, ou seja, o débito do valor revertido no ativo em contrapartida a um crédito no resultado ou na reserva de reavaliação. Em relação ao aumento do valor do ativo, este só pode ocorrer até o limite do valor do ativo que originalmente sofreu o impairment. 31 Depois do reconhecimento de uma perda por desvalorização, a despesa de depreciação, amortização ou exaustão do ativo deve ser ajustada em períodos futuros para alocar o valor contábil revisado do ativo, menos seu valor residual, se houver, em uma base sistemática sobre sua vida útil remanescente. Por ser bastante semelhante ao IAS 36, o CPC 01 traz como novidade o tratamento dos ativos de vida útil indefinida e, principalmente, estabelece procedimentos para a adoção do valor presente através da metodologia do fluxo de caixa. Em relação aos critérios de divulgação propostos, os principais pontos são: a) O valor da perda (reversão de perda) com desvalorizações reconhecidas no período, e eventuais reflexos em reservas de reavaliação; b) Os eventos e circunstâncias que levaram ao reconhecimento ou reversão da desvalorização; c) Relação dos itens que compõem a unidade geradora de caixa e uma descrição das razões que justifiquem a maneira como foi identificada a unidade geradora de caixa; e d) Se o valor recuperável é o valor líquido de venda, divulgar a base usada para determinar esse valor e, se o valor recuperável é o valor do ativo em uso, a taxa de desconto usada nessa estimativa. A divulgação deve detalhar ainda as informações sobre as estimativas utilizadas na mensuração do valor recuperável das unidades geradores de caixa que contenham goodwill ou ativos intangíveis de vida indefinida (IAS 36, §§ 134, 135). 3.2.1 – Identificação da Unidade Geradora de Caixa (UGC) à qual um ativo pertence 32 O CPC 01 determina que se houver qualquer indicação de que um ativo possa estar desvalorizado, o valor recuperável deve ser estimado individualmente para esse bem. Se isso não for possível, a entidade deve determinar o valor recuperável da unidade geradora de caixa (UGC) à qual o ativo pertence (a UGC do ativo). O valor recuperável de um ativo não pode ser determinado individualmente se: (a) O valor em uso do ativo não puder ser estimado como tendo valor próximo de seu valor líquido de venda (por exemplo, quando os fluxos de caixa futuros provenientes de uso contínuo do ativo não podem ser estimados como sendo insignificantes); e (b) O ativo gerar entradas de caixa que não são em grande parte independentes daquelas provenientes de outros ativos. Nesses casos, o valor em uso e, portanto, o valor recuperável, pode ser determinado somente para a UGC do ativo. Uma UGC é o menor grupo de ativos que gera entradas de caixa que são em grande parte independentes das entradas de caixa provenientes de outros ativos ou grupos de ativos. A identificação de uma UGC requer julgamento. Se o valor recuperável não puder ser determinado para cada ativo, a entidade identificará o menor grupo de ativos que geram entradas de caixa, em grande parte independentes. Se existir um mercado ativo para o produto produzido por um ativo ou grupo de ativos, esse ativo ou grupo de ativos deve ser identificado como uma UGC, ainda que alguns ou todos os produtos sejam usados internamente. Mesmo se toda ou parte da produção de um ativo ou de um grupo de ativos for usada por outras unidades da entidade, por exemplo, produtos em um estágio intermediário de um processo de produção, esse ativo ou grupo de ativos forma 33 uma UGC separada se a entidade puder vender esse produto em um mercado ativo. Isso acontece porque esse ativo ou grupo de ativos poderia gerar entradas de caixa que seriam em grande parte independentes das entradas de caixa provenientes de outros ativos ou grupos de ativos. Ao usar informações baseadas em orçamentos e previsões financeiras que estão relacionadas a essa UGC, ou a qualquer outro ativo ou UGC afetada pelo preço interno de transferência, a entidade deve ajustar essa informação se os preços internos de transferência não refletirem a melhor estimativa, por parte da administração, dos que seriam conseguidos numa transação entre partes independentes. As UGCs devem ser identificadas de maneira consistente de período para período para o mesmo ativo ou tipos de ativos, a menos que haja justificativa para uma mudança. 3.2.2 – Valor Recuperável e valor contábil de uma UGC O valor recuperável de uma UGC é o valor mais alto entre o valor líquido de venda e o valor em uso. Porém, nem sempre é necessário determinar esses dois valores, pois se qualquer um exceder o valor contábil do ativo, este não tem desvalorização e, portanto, não é necessário estimar o outro valor. Pode ser possível determinar o valor líquido de venda mesmo que um ativo não seja negociado em um mercado ativo. Entretanto, algumas vezes não será possível determinar o valor líquido de venda, porque não há base para se fazer uma estimativa confiável do valor a ser obtido pela venda do ativo em uma transação em bases comutativas, entre partes conhecedoras e interessadas. Nesse caso, o valor em uso poderá ser utilizado como seu valor recuperável e os seguintes elementos devem ser refletidos em seu cálculo: (a) Estimativa dos fluxos de caixa futuros que a entidade espera obter com esse ativo; 34 (b) Expectativas sobre possíveis variações no montante ou período desses fluxos de caixa futuros; (c) O valor do dinheiro no tempo, representado pela atual taxa de juros livre de risco; (d) O preço decorrente da incerteza inerente ao ativo; e (e) Outros fatores, tais como falta de liquidez, que participantes do mercado iriam considerar ao determinar os fluxos de caixa futuros que a entidade espera obter com o ativo. A estimativa do valor em uso de um ativo envolve os seguintes passos: (a) Estimar futuras entradas e saídas de caixa decorrentes de uso contínuo do ativo e de sua baixa final; e (b) Aplicar taxa de desconto adequada a esses fluxos de caixa futuros. Seja qual for a abordagem que a entidade adote para refletir expectativas sobre eventuais variações no valor ou momento de fluxos de caixa futuros, o resultado será o reflexo do valor presente esperado dos fluxos de caixa futuros, ou seja, a média ponderada de todos os resultados possíveis. O valor contábil de uma UGC deve ser determinado de maneira consistente com o modo pelo qual é determinado seu valor recuperável, considerando ainda que: (a) Deve incluir o valor contábil somente daqueles ativos que podem ser atribuídos diretamente ou alocados em base razoável e consistente à UGC, e que gerarão as futuras entradas de caixa utilizadas para determinar o valor em uso da UGC; 35 (b) Deve incluir o ágio ou deságio gerado e relativo ao(s) ativo(s) em decorrência de uma aquisição ou subscrição, cujo fundamento seja a diferença entre o valor de mercado de parte ou de todos os bens do ativo e o respectivo valor contábil; e (c) Não deve incluir o valor contábil de qualquer passivo reconhecido, a menos que o valor contábil da UGC não possa ser determinado sem considerar esse passivo. Isso ocorre porque o valor líquido de venda e o valor em uso de uma UGC são determinados excluindo-se os fluxos de caixa que estão relacionados a ativos que não sejam parte da UGC e passivos que foram reconhecidos nas demonstrações contábeis. Quando os ativos são agrupados para avaliação de sua recuperabilidade, é importante incluir na UGC todos os ativos que geram ou são utilizados para gerar o fluxo relevante de entradas de caixa. De outra forma, a UGC pode parecer ser totalmente recuperável quando, de fato, ocorreu uma perda por desvalorização. Em alguns casos, mesmo que alguns ativos contribuam para os fluxos de caixa futuros estimados de uma UGC, eles não podem ser alocados à UGC em base razoável e consistente. Esse poderia ser o caso de ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) ou ativos corporativos, tais como ativos de um escritório central. Poderá ser necessário considerar alguns passivos reconhecidos para determinar o valor recuperável da UGC. Isso poderá ocorrer se na alienação de uma UGC há exigência de que o comprador assuma um passivo. Nesse caso, o valor líquido de venda, ou o fluxo de caixa estimado da baixa final da UGC, é o preço de venda estimado para os ativos da UGC e o passivo juntos, menos as despesas da baixa. A fim de efetuar uma comparação significativa entre o valor contábil da UGC e seu valor recuperável, o saldo do passivo deve ser deduzido ao se determinar tanto o valor em uso da UGC quanto seu valor contábil. 36 Por razões práticas, o valor recuperável de uma UGC é algumas vezes determinado depois de se considerar os ativos que não são parte da UGC (contas a receber ou outros ativos financeiros) ou passivos que tenham sido reconhecidos (contas a pagar, pensões e outras provisões). Nesses casos, o valor contábil da UGC deve ser aumentado pelo valor contábil desses ativos e diminuído pelo valor contábil desses passivos. 3.2.3 – Composição de estimativas de fluxos de caixa futuros As estimativas de fluxos de caixa futuros devem incluir: (a) projeções de entradas de caixa a partir do uso contínuo do ativo; (b) projeções de saídas de caixa, que são incorridas necessariamente para gerar as entradas de caixa decorrentes do uso contínuo do ativo, incluindo saídas de caixa para preparar o ativo para uso, e que podem ser diretamente atribuídas ou alocadas ao ativo, em base consistente e razoável; e (c) se houver, fluxos líquidos de caixa, a serem recebidos ou pagos no momento da baixa do ativo no fim de sua vida útil. As estimativas de fluxos de caixa futuros e a taxa de desconto devem refletir premissas consistentes sobre aumentos de preço devido à inflação geral. Portanto, se a taxa de desconto incluir o efeito dos aumentos de preço devido à inflação geral, os fluxos de caixa futuros devem ser estimados em termos nominais. Se a taxa de desconto excluir o efeito de aumentos de preço devido à inflação geral, os fluxos de caixa futuros devem ser estimados em termos reais, porém devem incluir aumentos ou futuras reduções de preços específicos. As projeções de saídas de caixa devem incluir aquelas necessárias para utilização e manutenção do ativo, bem como as despesas gerais indiretas que 37 podem ser atribuídas diretamente ou alocadas ao uso do ativo, em base razoável e consistente. Quando o valor contábil de um ativo ainda não inclui todas as saídas de caixa a serem incorridas antes de estar pronto para uso ou venda, a previsão de saídas de fluxos de caixa futuros deve incluir uma previsão de qualquer saída de caixa adicional que se espera incorrer antes que o ativo esteja pronto para uso ou venda. As estimativas de fluxos de caixa futuros não devem incluir: (a) entradas ou saídas de caixa provenientes de atividades de financiamento; ou (b) recebimentos ou pagamentos de tributos sobre a renda. Fluxos de caixa futuros estimados devem refletir premissas consistentes com a maneira pela qual a taxa de desconto é determinada. De outra forma, o efeito de algumas premissas será contado duas vezes ou ignorado. Como o valor da moeda no tempo é considerado no desconto de fluxos de caixa futuros estimados, esses fluxos de caixa excluem as entradas ou saídas de caixa provenientes das atividades de financiamento. Similarmente, uma vez que a taxa de desconto é determinada antes dos impostos, os fluxos de caixa futuros são também estimados antes de impostos. 3.2.4 – Taxa ou Taxas de Desconto A taxa (ou as taxas) de desconto deve(m) ser a taxa (ou as taxas) antes dos impostos, que reflita(m) as avaliações atuais de mercado: (a) do valor da moeda no tempo; e 38 (b) dos riscos específicos do ativo para os quais as futuras estimativas de fluxos de caixa não foram ajustadas. Uma taxa que reflita avaliações atuais de mercado do valor da moeda no tempo e os riscos específicos do ativo é o retorno que os investidores exigiriam se eles tivessem que escolher um investimento que gerasse fluxos de caixa de montantes, tempo e perfil de risco equivalentes àqueles que a entidade espera extrair do ativo. Essa taxa é estimada a partir de taxas implícitas em transações de mercado atuais para ativos semelhantes, ou ainda do custo médio ponderado de capital de uma companhia aberta que tenha um ativo único, ou uma carteira de ativos semelhantes em termos de potencial de serviço e de riscos do ativo sob revisão. Entretanto, se os fluxos estiverem em moeda de poder aquisitivo constante, ou ajustados por determinados riscos, a(s) taxa(s) de desconto utilizada(s) para mensurar o valor de um ativo em uso não deve(m) refletir a inflação projetada e os riscos para os quais as futuras estimativas de fluxos de caixa já tiverem sido ajustadas. Caso contrário, o efeito de algumas premissas será levado em consideração em duplicidade. Quando uma taxa de um ativo específico não estiver diretamente disponível no mercado, a entidade deve usar substitutos para estimar a taxa de desconto. 3.2.5 – Ágio em decorrência de expectativa de resultados futuros (goodwill) Alocação do Ágio (goodwill) para UGCs O CPC 01 determina que para fins de teste de redução ao valor recuperável, o ágio (goodwill) pago em uma aquisição em decorrência de expectativa de resultado futuro deverá, a partir da data da aquisição, ser alocado a cada uma das unidades geradoras de caixa do adquirente, ou a grupos de unidades geradoras de caixa, que devem se beneficiar das sinergias da aquisição, independentemente de os outros ativos ou passivos da entidade adquirida serem ou não atribuídos a essas unidades ou grupos de unidades. Cada 39 unidade ou grupo de unidades ao qual o ágio (goodwill) é alocado dessa forma deverá: (a) representar o nível mais baixo dentro da entidade no qual o ágio (goodwill) é monitorado para fins administrativos internos; e (b) não ser maior do que um segmento, baseado tanto no formato de relatório primário como no secundário da entidade, determinado, quando aplicável, de acordo com o Relatório por Segmento quando essa forma de evidenciação for utilizada pela entidade. O ágio pago, correspondente à diferença entre o valor de mercado de parte ou de todos os bens do ativo da entidade adquirida e o respectivo valor contábil, deve ser reconhecido pela investidora como custo desses ativos. O ágio pago, decorrente de expectativa de rentabilidade futura em uma aquisição de entidades (goodwill), representa um desembolso realizado por um adquirente na expectativa de benefícios econômicos futuros de ativos, para os quais a administração não conseguiu individualmente separadamente reconhecê-los. Esse ágio não gera identificá-los e fluxos de caixa independentemente de outros ativos ou grupos de ativos, e frequentemente contribui para os fluxos de caixa de diversas unidades geradoras de caixa. Às vezes, esse ágio não pode ser alocado de forma não-arbitrária para unidades geradoras de caixa individuais, mas apenas a grupos de unidades geradoras de caixa. Assim, o nível mais baixo dentro da entidade, no qual o ágio por expectativa de resultado futuro é monitorado para fins administrativos internos, às vezes inclui algumas unidades geradoras de caixa às quais o ágio se relaciona, mas às quais não pode ser alocado. Se a alocação inicial do ágio pago, decorrente de rentabilidade futura em uma aquisição de entidades, não puder ser concluída antes do fim do período anual 40 no qual a aquisição foi realizada, a alocação inicial deverá ser concluída antes do fim do primeiro período anual subsequente à data de aquisição. Se, ao fim do período no qual a aquisição é realizada, a contabilização inicial puder ser determinada apenas provisoriamente, o adquirente: (a) deve contabilizar a aquisição usando esses valores provisórios; e (b) deve reconhecer como parte desses valores provisórios quaisquer ajustes que ocorrerem dentro dos primeiros doze meses a contar da data da aquisição. Se o goodwill tiver sido alocado a uma UGC e a entidade se desfaz de uma operação dentro daquela unidade, o ágio associado à operação baixada deverá ser: (a) incluído no valor contábil da operação, ao determinar os ganhos ou as perdas na baixa; e (b) medido com base nos valores relativos da operação baixada e na parcela da UGC retida, a menos que a entidade consiga demonstrar que algum outro método reflita melhor o goodwill associado à operação baixada. O fluxograma contido na figura abaixo demonstra as etapas da aplicação do teste de impairment conforme as regras do IAS 36 - base para o CPC 01: 41 CAPÍTULO IV IMPAIRMENT NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS 4.1 – Particularidades do segmento Wolk, Francis e Tearney (1984) apud Godoy (2004), ponderam que os segmentos industriais possuem particularidades de acordo com seu ramo operacional ou área de atuação, mas que é raro encontrar um setor com tantas particularidades, tanto nos negócios quanto na contabilidade, como o setor petrolífero. 42 A necessidade de se avaliar periodicamente o retorno dos benefícios dos ativos de petróleo e gás ficou evidente após o declínio do preço, principalmente no período de 1982 a 1984. Em 1986, o acentuado declínio do preço de petróleo, aliado a metodologias não uniformes, causou fortes distorções nos resultados apresentados pelas companhias petrolíferas (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000). A decisão de explorar petróleo permeia diversas etapas, tais como: aquisição de área, campo não delimitado, delineamento de área – reservas provadas não desenvolvidas e reversas desenvolvidas, etc. Em todas essas etapas devem ser realizados os acompanhamentos de viabilidade econômica do projeto (GODOY, 2004). Por esse motivo, a maioria dos ativos de petróleo e gás que são submetidos ao teste de impairment não é avaliada individualmente, mas através de unidades geradoras de caixa, pois os benefícios futuros dos recursos investidos na formação dos ativos geralmente são provenientes da atuação conjunta desses ativos. De acordo com Wright e Gallun (2005, p. 308), “um dos aspectos mais críticos é a determinação dos ativos que serão testados para impairment”. Assim, os ativos devem ser agrupados ao menor nível para o qual se pode conseguir atribuir fluxo de caixa futuro identificável. Nas atividades de petróleo e gás, os ativos como os poços, equipamentos e facilidades de produção de petróleo e gás são tipicamente agrupados ao nível de um campo produtor (reservatório) para propósitos do teste de impairment. Os ativos da indústria de petróleo e gás, especialmente no segmento de E&P, apresentam características específicas não somente em decorrência dos métodos de reconhecimento contábil, mas também em relação à identificação dos benefícios futuros gerados por esses ativos. Desse modo, considerando as peculiaridades do ativo do segmento de E&P, a avaliação desses ativos representa fator crítico em sua mensuração. A 43 utilização do valor de mercado nem sempre é viável, pois na maioria das vezes não há mercado ativo para esses bens. A comparação com bens de características semelhantes também não se apresenta como a metodologia de avaliação mais adequada, tendo em vista que as características do projeto de exploração e produção de petróleo e gás o tornam particular, inclusive na composição dos ativos, não sendo possível na maioria das vezes, portanto, a comparação com ativos similares. Assim, a utilização das metodologias de avaliação considerando o valor de mercado ou o valor de bens similares é questionável, já que não necessariamente representam o real valor do beneficio do ativo. Nesse contexto, o fluxo de caixa é apresentado como uma alternativa de avaliação dos ativos de petróleo e gás, apesar da subjetividade envolvida nesse método de mensuração. O critério de identificação do impairment também varia de acordo com o método de contabilização utilizado. No caso das normas norte-americanas, para o método dos gastos totais é utilizada a metodologia do celling test (valor limite ou teto máximo) de acordo com o SFAS 19 e para o método dos esforços bem sucedidos são utilizadas as seguintes regras: para as propriedades não provadas, os preceitos do SFAS 19 e para as propriedades provadas, os preceitos do SFAS 144. Em relação às normas internacionais, os preceitos do IAS 36 e IFRS 6 são aplicados a toda indústria de petróleo e gás que adotam as normas do IASB, não importando o método de contabilização dos gastos e nem a divisão dos ativos em propriedades não provadas e propriedades provadas (WRIGHT; GALLUN, 2005, p. 316). O impairment, de acordo com as regras do SFAS 144, ocorre em duas etapas. Em ambas, os fluxos de caixa e a determinação do fair value são operacionalizados levando em consideração as particularidades e o segmento no qual a empresa está inserida. Para efeito de um melhor entendimento do 44 SFAS 144, os ativos de longa duração de petróleo e gás associados foram divididos em propriedades não provadas e propriedades provadas. Com isso, as particularidades na elaboração da estimativa do fluxo de caixa futuro e a determinação do valor justo dos ativos relacionados a propriedades provadas nas empresas petrolíferas são discutidas nos subitens a seguir. 4.2 – Impairment em Propriedades não Provadas Na fase de exploração, os ativos de petróleo e gás começam a ser formados, principalmente, pelos gastos que envolvem as etapas de aquisição dos direitos minerais. Esses gastos também podem ser denominados de aquisição de propriedades não provadas e representam de fato direitos de exploração de uma área na qual não existe certeza da existência de petróleo. Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000), as companhias de petróleo estão interessadas em assegurar o direito de extração e produção de petróleo e gás. A probabilidade da existência do produto em determinada área, mesmo sem confirmação, faz com que as companhias paguem por esse direito além do valor contratual estipulado. Por esse motivo, em muitos casos tem-se um pagamento de uma espécie de “ágio”, também denominado de bônus. No Brasil, o direito de exploração de áreas é concedido desde 1999, através de leilões realizados pela Agência Nacional de Petróleo – ANP, a qual estabelece ao interessado, dentre outras obrigações, um bônus mínimo que varia de acordo com as características técnicas dos blocos oferecidos no leilão. Esses gastos são considerados como gastos de E&P de propriedades não provadas e seu tratamento contábil depende de fatores como relevância e metodologia de contabilização dos gastos de E&P. No método dos gastos totais esses desembolsos são capitalizados. Para o método dos esforços bem sucedidos, o reconhecimento contábil pode ocorrer 45 de três maneiras: como despesas, quando incorridas; capitalização de todos os gastos de maneira global; e capitalização de todos os gastos especificando por áreas (JENNING; FEITEN; BROCK 2000). Esses autores (2000) ponderam ainda que caso o valor seja irrelevante o tratamento mais usual é o reconhecimento direto no resultado, mas a decisão de capitalização também dependerá da intenção da companhia, pois o direito de exploração da área pode ser negociado visando, por exemplo, a formação de parcerias operacionais (joint ventures) ou em operações de combinações de negócios (business combinations). Geralmente entre 70% e 90% das propriedades não provadas adquiridas são abandonadas antes de se iniciar o processo produtivo da área, conforme afirmam Jenning, Feiten e Brock (2000). Levando-se em conta o histórico de insucessos inerente à indústria petrolífera, esses ativos estão naturalmente sujeitos ao impairment, pois constantemente precisam estar sendo testados em relação a seu benefício econômico futuro esperado. O conceito de impairment para as propriedades não provadas foi introduzido pelo SFAS 19. Entretanto, nem o FASB nem a SEC definem de forma clara os critérios de mensuração. A aplicação do impairment nesse tipo de ativo não faz parte do escopo do SFAS 144. Neste caso, a aplicabilidade do teste de impairment pode ser feita com base em orientações diversas. Na norma AC Section Oi5 do FASB, por exemplo, há a indicação de que esses ativos devem passar periodicamente pelo teste de impairment e na existência de perda do valor econômico recuperável, essa deverá ser reconhecida como provisão, reduzindo o valor do ativo. Existem duas possibilidades de avaliação do valor justo desses ativos para efeitos de teste de impairment: avaliação individual das propriedades ou em grupo de ativo (JENNING; FEITEN; BROCK 2000). a) Avaliação individual das propriedades não provadas: não há um conceito claro indicando como esse ativo deve ser mensurado. Jenning, Feiten e Brock 46 (2000, p. 152), se referindo a pesquisa da PricewaterhouseCoopers realizada em companhias de petróleo e gás, “Survey of U.S Petroleum Accounting Pratices”, de 1999, sugerem que seja considerado principalmente o plano de investimentos nas áreas não provadas, sempre tendo como limite o valor contábil da área. b) Avaliação em grupo de ativos das propriedades não provadas: geralmente a mensuração através desse método está associada a pouca relevância do valor individual das áreas não provadas, mas que no conjunto são relevantes. Nesse caso, podem-se utilizar as seguintes abordagens: ênfase nas despesas de amortização e ênfase na avaliação de ativos (asset valuation). b.1) Ênfase nas despesas de amortização: a noção básica é a de que as propriedades que não serão produtivas “over time” deverão sofrer impairment. A avaliação do ativo será feita utilizando estimativas baseadas em suas experiências de sucesso exploratório de áreas anteriormente exploradas ou na média de sucesso da indústria do mesmo segmento, o que for mais factível para a empresa. b.2) Ênfase na avaliação de ativos: considera o ajuste da provisão de impairment para um percentual predeterminado dos arrendamentos de áreas não provadas. Esse procedimento simplificado será apropriado somente se as aquisições e devoluções de áreas não provadas se mantiverem estáveis ano a ano e se o valor não provado das propriedades individualmente não for representativo. Wright e Gallun (2005) entendem que a determinação do procedimento de avaliação do valor justo, para aplicabilidade do teste de impairment em propriedades não provadas, é difícil e altamente subjetivo, tanto do ponto de vista do SFAS 144 quanto das normas internacionais IAS 36 e IFRS 6. A maior dificuldade, segundo as autoras (2005), é a determinação do valor recuperável associado a esses ativos, tendo em vista que não existe um mercado ativo para se determinar o valor desses ativos e que a determinação do valor em uso 47 pelo método de fluxo de caixa é virtualmente impossível (WRIGHT; GALLUN, 2005). As autoras (2005) especificam algumas questões norteadoras para a identificação do impairment, quais sejam: a) existência de dados de geologia e geofísica que indiquem baixa probabilidade de se encontrar petróleo ou a ocorrência de “poços secos” na área adquirida; b) se o programa de trabalho realizado na área está de acordo com o contrato de aquisição da propriedade; e c) para o caso de não haver programa de trabalho, se existe algum plano definido para perfuração da área. Operacionalmente, o impairment desses tipos de ativos é tratado como uma provisão e poderá ser revertida se houver mudanças nas condições que o originaram e apenas quando estiverem classificados como propriedades não provadas. No momento em que as propriedades não provadas forem reclassificadas como propriedades provadas, as mesmas estarão sujeitas às regras do SFAS 144. 4.3 – Impairment em Propriedades Provadas Nas empresas petrolíferas que adotam o método dos esforços bem sucedidos, o impairment é operacionalizado conforme as regras do SFAS 144, e abrange os ativos associados a propriedades provadas, que são compostas basicamente pelos gastos bem sucedidos de exploração, gastos de desenvolvimento e ativos de produção, bem como equipamentos e facilidades relacionadas a essas áreas. O teste de impairment em ativos fixos de longa duração de petróleo e gás deve ser aplicado quando houver evidências da perda econômica do ativo. Esses indícios dependem do ambiente econômico no qual a empresa está inserida. 48 Nas empresas petrolíferas, conforme Jenning, Feiten e Brock (2000, p. 437), podem ser indicadores da redução do valor econômico recuperável dos ativos e, consequentemente, ao teste de impairment os seguintes itens: a) Critério de amortização pelo método da unidade produzida (é provável que ocorra um aumento do impairment com a passagem do tempo quando a produção do grupo de ativos se aproximar de seu limite econômico); b) Diminuição na expectativa de preço futuro de petróleo e gás; c) Quando os custos atuais e futuros de desenvolvimento da produção forem mais relevantes que a antecipação prévia dos benefícios do grupo de ativos; d) Significativo declínio nas revisões das estimativas de reservas do campo; e e) Mudanças significativas no ambiente regulatório. Outro fator importante é que esses ativos geralmente são agrupados em campos, os quais agregam todos os gastos de equipamentos e facilidades para se produzir em uma determinada área. Por esse motivo, normalmente a avaliação desses ativos é feita de forma conjunta, ou seja, o campo (grupo de ativos) será a menor unidade na qual se pode atribuir um fluxo de caixa para se apurar o retorno futuro do ativo. Em pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers, em 1999, constatou-se que as seis maiores companhias do setor avaliam seus ativos de E&P em grupo de ativos, a partir dos campos de exploração de petróleo e gás. Na aplicação da pesquisa em 30 empresas petrolíferas, observou-se que 53% delas avaliam seus ativos por campo e isso independentemente do método de contabilização utilizado (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000). 49 A aplicação do impairment em ativos associados a propriedades provadas é realizada obedecendo às seguintes etapas: verificação do beneficio futuro do ativo através da estimativa de fluxo de caixa futuro; e, caso haja indícios de perda na recuperabilidade de ativos, é realizada a estimativa de fluxo de caixa descontado para que seja definido o valor da perda por impairment. Para exemplificar a aplicação do teste de impairment em propriedades provadas, conforme o SFAS 144, considere o caso de três campos (A, B e C, respectivamente), cujo valor contábil líquido é de $10.000; $4.000 e $8.000. O primeiro passo do teste consiste em apurar o valor justo das propriedades (campos). No exemplo, apurou-se o fluxo de caixa futuro associado a cada campo, cujo valor resultou em $8.000; $5.000 e $10.000. Confrontando o valor justo apurado pelo método do fluxo de caixa com o valor contábil líquido de campo, apenas o campo A apresentou indícios de perda no valor econômico recuperável do ativo (valor justo menor que o valor contábil líquido). No passo seguinte, apura-se o valor do fluxo de caixa futuro do campo A a valor presente (fluxo descontado) para se determinar o valor da perda por impairment, que no exemplo será de $3.000. O Quadro a seguir mostra a aplicação do teste: Em US$ milhões TESTE DE IMPAIRMENT Gastos Capitalizados de Propriedades Provadas Despesas de Depreciação e Amortização Acumuladas Ativos de abandono Líquido Valor Contábil Líquido Fluxo de caixa estimado não descontado antes dos impostos Indicativo de Perda por Impairment MENSURAÇÃO DO IMPAIRMENT Valor Contábil Líquido Fair Value - Fluxo de Caixa Descontado Valor da perda por impairment Campo A 18.000 (8.000) 10.000 Campo B Campo C 7.000 15.000 (3.000) (7.000) 4.000 8.000 8.000 5.000 10.000 Sim Não Não 10.000 (7.000) 3.000 Além dos indicadores e do grupamento de ativos, a determinação do fluxo de caixa futuro é o ponto principal da aplicação do impairment nos ativos de 50 petróleo e gás, já que essa metodologia é a utilizada para se verificar o valor justo de tais ativos. Com isso, o fluxo de caixa deve ser elaborado tendo por base a melhor estimativa embasada por cenários e projeções que garantam razoável probabilidade do retorno dos ativos. 4.4 – Elaboração das Estimativas de Fluxos de Caixa Futuros Na elaboração do fluxo de caixa para o teste de impairment pode-se identificar algumas premissas que geralmente são utilizadas pela indústria petrolífera. Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000), na avaliação dos ativos de E&P devem ser consideradas as seguintes premissas: reservas, preços, custos, gastos administrativos (overhead) e impostos. a) Reservas Segundo Thomas (2001), estimativa de reservas é a atividade dirigida à obtenção de volumes de fluídos que possam ser retirados do reservatório até que ele chegue à condição de abandono. Essas estimativas dos volumes a serem produzidos são feitas não só por ocasião da descoberta da jazida de petróleo e gás, mas também ao longo de sua vida produtiva, à medida que se vão obtendo informações mais detalhadas a respeito da reserva. Para Szuster et al (2006), o ponto essencial no reconhecimento das reservas ocorre quando ainda não existe produção, ou seja, o petróleo ou gás ainda encontra-se no subsolo, ou na fase de desenvolvimento quando ainda não se pode quantificálas com precisão. Dessa forma, na avaliação de reservas, assume-se a estimativa como o melhor número da reversa a partir de uma certeza razoável. Os padrões de classificação de reservas de petróleo (classes e subclasses) internacionalmente aceitos foram definidos por organizações técnicas, agências governamentais e indústria petrolífera, destacando-se: “Society of Petroleum Engineers” (SPE), “World Petroleum Congress” (WPC) e “American 51 Association of Petroleum Geologists” (AAPG), “Securities Exchange Commission” (SEC) e agências reguladoras da atividade em cada país produtor. Segundo o Manual de Procedimentos para Cálculo de Reservas da Petrobras (2006), as definições da SEC (1978) e da SPE (1981) servem como base para o esforço empreendido ao longo de 20 anos, que culminou com o estabelecimento das definições de reservas SPE/WPC/AAPG de 2001 nas categorias provada, provável e possível. Estas definições têm sido adotadas por diversas companhias, agências governamentais e países como base técnica para estimativa e classificação de reservas por todo o mundo. Ainda segundo esse manual, no Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) estabeleceu através da Portaria nº 9, de 21 de janeiro de 2000, os critérios de estimativas de volumes de petróleo que têm como base os critérios definidos pela SPE. De acordo com a ANP (2000), reservas são recursos descobertos de petróleo, comercialmente recuperáveis a partir de uma determinada data denominada declaração de comercialidade. Seu reconhecimento ocorre no momento em que a companhia define junto à ANP o interesse em desenvolver a descoberta contida na área exploratória. A ANP permite, ainda, que sejam divulgadas as estimativas de reservas para o período de produção até o final da vida útil do campo, utilizando-se para isto os critérios SPE. Fora do Brasil, geralmente se usa o período do contrato como limite máximo de tempo para contabilizar reservas. As reservas a serem utilizadas na elaboração do fluxo de caixa futuro estimado para o teste de impairment deverão ser aquelas avaliadas pelos critérios da SEC de avaliação de reservas, para as empresas que adotam as normas norteamericanas. 52 As definições de reserva provada adotadas pela SEC estão de acordo com o ASR- Accounting Series Release nº. 257 do Departamento de Energia dos Estados Unidos (U.S. DOE). As reservas, quando constituem reservas provadas de petróleo, de acordo com os critérios SEC, terão os volumes estimados de petróleo, gás natural e líquido de gás natural avaliados monetariamente pela análise dos dados de geologia e de engenharia, desde que apresentem razoável certeza de serem recuperáveis, no futuro. Os reservatórios serão mensurados sob condições econômicas, regulamentos e métodos de operação existentes, ou seja, a preços e custos vigentes na época da avaliação. Para a análise econômica de reserva somente pode ser considerado o preço do petróleo comercializado no último dia do ano fiscal. O preço deve ser constante para todo o fluxo de caixa e alterações de preços, projeções ou médias históricas somente podem ser usadas se constarem dos contratos. A taxa de desconto a ser utilizada na avaliação econômica deve ser uma taxa padrão de 10% ao ano. As reservas impactam diretamente no fluxo de caixa, pois são fundamentais para estimativa futura das receitas que o campo pode gerar. Desse modo, a quantidade de reserva de uma empresa petrolífera pode influenciar decisivamente nas estimativas dos benefícios econômicos futuros dos ativos associados a propriedades provadas, para efeito do teste de recuperabilidade. Na elaboração dos fluxos de caixa futuros estimados, geralmente são utilizadas as reservas provadas, prováveis e, de maneira questionável, as reservas consideradas possíveis (com o objetivo de diminuir o risco das estimativas). Por conveniência, as companhias podem usar somente reservas provadas para rapidamente eliminar muitas propriedades e uma grande quantidade de propriedades (ativos) sujeitas a impairment. Para as propriedades 53 remanescentes é feita uma análise mais refinada na determinação do fluxo de caixa futuro, podendo ser utilizadas as provadas, prováveis e em alguns casos as reservas possíveis (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000). b) Preço O preço representa uma das variáveis que estão expostas às grandes oscilações de mercado, tendo em vista as condições geopolíticas e econômicas que envolvem o preço do petróleo. Desde a década de 60 observa-se grande elevação dos preços, principalmente na década de 70, em decorrência da intervenção na oferta do produto e consequente controle de preços imposto pelos países exportadores de petróleo através da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Entretanto, o preço de mercado não necessariamente significa o melhor indicador de preço a ser utilizado no fluxo de caixa futuro para o teste de impairment dos ativos de petróleo e gás associados às propriedades provadas, pois as empresas petrolíferas têm tipos de petróleo diferentes, bem como preços de realização (preço de venda) diferenciados de acordo com esses tipos de petróleo. Por esse motivo devem ser adotados, preferencialmente, os preços que tenham uma forte correlação como os preços futuros utilizados nos orçamentos de longo prazo para o gerenciamento dos negócios da companhia, ou ainda os preços futuros estipulados em contratos futuros, se existirem (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000). c) Custos Os custos futuros projetados utilizados nos fluxos de caixa futuros deverão estar baseados na melhor estimativa dos gastos futuros de capital, gastos operacionais e, eventualmente, os gastos com depreciação, abandono e amortização associados com impairment. 54 Deve-se buscar associar os custos com alto grau de correlação com os gastos operacionais e de investimentos futuros utilizados no orçamento de longo prazo de gerenciamento do projeto onde o ativo tenha sido utilizado. Os custos operacionais fixos e variáveis estão associados às curvas de produção, mas podem variar também em função da tecnologia e métodos de produção. d) Gastos Administrativos (Overhead) A utilização do overhead não é usual nas companhias de petróleo e gás. Segundo pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers, em 1999, 86% das empresas pesquisadas ignoram os dados de despesas administrativas na elaboração do fluxo de caixa futuro, pois essa informação não está diretamente relacionada com a perda do valor recuperável do ativo. e) Impostos Referem-se às contribuições e encargos que impactam os fluxos de caixa futuros, tais como royalties e outros relacionados à produção. Após a elaboração do fluxo de caixa futuro para a aplicação do teste de impairment a próxima etapa remete a apuração do valor justo (fair value) para que seja calculado o valor da perda do ativo. 4.5 – Determinação do Valor Justo (Fair Value) dos Ativos de petróleo e Gás Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000, p. 734), a abordagem da avaliação pelo método do fluxo de caixa descontado é a metodologia usualmente utilizada pelas empresas petrolíferas. Sua função, basicamente, é medir o valor justo dos ativos, bem como demonstrar a expectativa futura de fluxo de caixa líquido. 55 Os autores, em pesquisa de mercado realizada em 1993 para identificar a metodologia predominante utilizada para avaliar seus ativos, demonstraram que de 95 empresas petrolíferas consultadas, 45 utilizavam apenas o fluxo de caixa; 50 usavam o fluxo de caixa associado a outro método de avaliação e somente seis companhias não adotavam a metodologia do fluxo de caixa (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000). Depreende-se, portanto, que as avaliações das propriedades de petróleo e gás são realizadas, predominantemente, por meio da expectativa futura de fluxo de caixa, ou seja, na mensuração do retorno econômico futuro gerado pelos ativos de petróleo e gás (fair value), a abordagem mais aderente seria o fluxo de caixa, que também pode ser utilizado para fins de impairment. O SFAS 144 determina que para esse tipo de avaliação devam ser utilizadas as regras do SFAC nº 7 – Using Cash Flow Information and Present Value in Accounting Measurements, que permite a abordagem de cenários de probabilidades ou a tradicional. Em relação à norma internacional IAS 36, na definição do valor em uso, também se preconiza a utilização do fluxo de caixa futuro. A abordagem do fluxo de caixa simples preconiza a utilização da estimativa considerando apenas um único cenário e uma única taxa de desconto que reflita o risco associado com o uso do ativo. Considerando a abordagem do fluxo de caixa estimado, são utilizados múltiplos cenários que buscam refletir em intervalos as possibilidades de fluxos de caixa para determinados ativos. O mesmo acontece com a taxa de desconto utilizada, que deve refletir o risco associado a cada cenário estimado. De acordo com Machado (2003), considerando que as avaliações de probabilidade utilizam todas as informações disponíveis no instante da elaboração, tais avaliações assumem natureza bastante subjetiva e, em muitos casos, podem limitar o julgamento dos administradores sobre os prováveis 56 cenários (otimista, mais provável e pessimista) que serão utilizados na elaboração das estimativas de fluxos de caixa futuros. Não existe uma determinação expressa sobre qual modelo as empresas petrolíferas devem adotar, mas pressupõe-se que as empresas adotem o fluxo de caixa estimado, considerando cenários múltiplos (probabilidades), pois as oscilações macro-econômicas e as características técnicas do campo são fatores que conferem especificidades a esses ativos, uma vez que, a principio, não teria seu valor justo adequadamente retratado através do fluxo de caixa simples (tradicional) (WRIGHT; GALLUN, 2005). A baixa do ativo, sobretudo se considerada permanente, está associada principalmente a eventos econômicos, ou seja, a exposição econômica que os ativos de longa duração de petróleo e gás estão sujeitos e a utilização do impairment serve como medida para ajustar o valor do ativo a seu benefício econômico futuro esperado e demonstrar mais adequadamente o desempenho dos ativos operacionais das companhias (exposição e utilização). Além disso, na indústria de petróleo e gás também poderá ser indicativo do índice de sucesso das empresas e de retorno de seus investimentos na atividade de E&P. CAPÍTULO V IMPAIRMENT NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA PETROBRAS 5.1 – Divulgação das informações Neste capítulo analisaremos a aplicação do teste de impairment na Petrobras e seus impactos nas demonstrações financeiras da empresa em 31.12.2008. Para atingir o objetivo deste estudo buscou-se confrontar os conceitos estudados com a realidade da referida empresa, a qual foi escolhida em razão de vários fatores, como: 57 - É a maior empresa do Brasil e 8ª do mundo em valor de mercado, estando presente em 29 países; - Atua de forma integrada nas atividades de exploração e produção, refino, comercialização, transporte e petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica; e - Possui extrema importância no cenário sócio-econômico brasileiro. A empresa elabora suas demonstrações financeiras de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil (BR GAAP) e também conforme os princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos da América (US GAAP). Ambas as demonstrações são revisadas por auditores externos e posteriormente divulgadas ao mercado de capitais. No Formulário 20-F, elaborado pela companhia de acordo com as práticas contábeis em US GAAP e arquivado na SEC, são evidenciadas as unidades de negócio que sofreram Impairment e informados os principais fatores decisivos na perda do valor recuperável dos ativos. Destacam-se também os impactos no resultado do período, informando a taxa utilizada no cálculo do fluxo de caixa descontado. O relatório menciona que a empresa utiliza as regras SFAS 144 para a realização do impairment e faz referência ao impacto que as estimativas das reservas e os preços do petróleo e do gás causam no cálculo, detalhando os critérios de avaliação dos ativos de E&P e informando que sua mensuração baseia-se principalmente no fluxo de caixa descontado. Ressalta ainda que são consideradas as reservas provadas e prováveis, de acordo com as especificidades dos ativos envolvidos. A empresa destaca que o fator preço do petróleo influencia na avaliação dos ativos e por esse motivo são utilizadas estimativas de preços de longo prazo, 58 ressaltando que a desvalorização (desconto) da moeda não tem sido relevante nos últimos anos. Na demonstração do resultado consolidado há o destaque em linha específica da perda por impairment dos períodos divulgados. Nas notas de imobilizado e intangível são destacados, novamente, os montantes do impairment, bem como os fatores principais e impactos da desvalorização dos ativos. O impairment também é destacado na demonstração de resultado por segmento, com linha específica informando a perda no segmento de Exploração e Produção. O relatório da empresa é apresentado de forma bastante aderente com os critérios de divulgação do SFAS 144, mas não menciona os procedimentos utilizados no teste de recuperabilidade dos ativos relacionados a propriedades não provadas. 5.2 – Valorização dos fluxos de caixa futuros descontados líquidos relacionados a quantidades provadas de petróleo e gás e as correspondentes movimentações Conforme o Formulário 20-F, a valorização padronizada dos fluxos de caixa líquidos futuros descontados referentes às reservas de petróleo e gás provadas é feita na Petrobras com base no SFAS 69. As entradas de caixa futuras estimadas de atividades de produção da companhia no Brasil são apuradas através da aplicação dos preços do final do exercício, obtidos segundo a metodologia de determinação interna de preços de petróleo e gás, pelas quantidades estimadas das reservas provadas líquidas no fim do exercício. As entradas de caixa futuras estimadas de atividades de produção relativas ao segmento Internacional são apuradas através da aplicação dos preços no final do exercício para petróleo e gás às quantidades das reservas estimadas provadas líquidas, também ao final do exercício. 59 As variações nos preços futuros se limitam às variações previstas em contratos existentes no fim de cada exercício. Os custos de desenvolvimento e produção futuros correspondem aos dispêndios estimados necessários para desenvolver e extrair as reservas provadas no fim do exercício com base em indicadores de custo no fim do exercício, assumindo que terá continuidade das condições econômicas. A estimativa de imposto de renda e contribuição social futuros é calculada utilizando as alíquotas oficiais em vigor no fim do exercício. Essas alíquotas refletem deduções permitidas sendo aplicadas aos fluxos de caixa futuros líquidos estimados antes da tributação menos a base fiscal dos ativos relacionados. Os fluxos de caixa futuros descontados líquidos são calculados utilizando fatores de desconto de 10%. Essa estimativa deve ser reavaliada ano a ano a partir do momento em que os dispêndios futuros serão incorridos e quando as reservas serão extraídas. Com base nas premissas acima, o seguinte fluxo de caixa foi apresentado pela companhia no Formulário 20-F: Em US$ milhões Brasil Internacional Total 298.408 26.349 324.757 Custos de produção futuros (163.427) (7.036) (170.463) Custos de desenvolvimento futuros (41.063) (3.196) (44.259) Despesa futura de imposto de renda (33.679) (9.022) (42.701) 60.239 7.095 67.334 (22.772) (2.540) (25.312) 37.467 4.555 42.022 - 240 240 Em 31 de dezembro de 2008 Fluxos de caixa futuros Fluxos de caixa líquidos futuros não descontados Desconto anual de 10% dos fluxos de caixa estimados Fluxo de caixa líquidos futuros padronizados descontados Participação proporcional em medida padronizada do fluxo de caixa futuro descontado líquido relativo às reservas provadas em empresas não consolidadas 60 5.3 – Resultados do teste de impairment Em decorrência da volatilidade dos preços de petróleo, a Petrobras optou por manter os campos que não possuem reserva SEC no cálculo do impairment, considerando os fluxos de reservas prováveis para determinar a recuperabilidade dos ativos. Os campos que ainda não estão em produção também não foram considerados para fins do cálculo do impairment, pois ao iniciar a produção, os fluxos de caixa dos reservatórios representam projeções apenas conceituais. Desta forma, anteriormente a essa etapa é feito um projeto base em que à medida que se inicia a produção é feita a coleta de dados para determinar o fluxo de caixa real do campo. A companhia divulgou em suas demonstrações contábeis de 31.12.2008, em BR GAAP, os seguintes valores resultantes do teste de redução ao valor recuperável de ativos: Por área de negócio: R$ mil Consolidado Controladora Exploração e produção 602.675 602.675 Internacional 330.413 - Total 933.088 602.675 Por tipo de ativo: R$ mil Consolidado Controladora Edificações e benfeitorias 3.832 - Equipamento e outros bens 90.766 89.153 838.490 513.522 933.088 602.675 Gastos com exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás Total 61 Considerando-se as particularidades dos ativos da Petrobras, a companhia utiliza o valor em uso para avaliação do teste de redução ao valor recuperável, exceto quando especificamente indicado. Este valor de uso é estimado com base no valor presente de fluxos de caixa futuros, resultado das melhores estimativas da companhia. Os fluxos de caixa, decorrentes do uso contínuo dos ativos relacionados, são ajustados pelos riscos específicos e utilizam a taxa de desconto pré-imposto, a qual deriva da taxa pós-imposto estruturada no Custo Médio Ponderado de Capital (WACC). As principais premissas dos fluxos de caixa são: preços baseados no último plano estratégico divulgado, curvas de produção associadas aos projetos existentes no portfólio da companhia, custos operacionais de mercado e investimentos necessários para realização dos projetos. Exploração e Produção Os ativos foram agrupados em unidades geradoras de caixa para identificação de possíveis perdas por desvalorização. Cada campo corresponde a uma unidade geradora de caixa. Em 2008 o segmento de Exploração e Produção da Petrobras registrou despesas com provisão para perda por desvalorização de ativos no montante de R$ 602.675 mil. A perda foi relacionada principalmente aos ativos em produção no Brasil. Durante o ano dois fatores influenciaram negativamente os resultados dos campos da companhia: o preço do Brent (tipo de petróleo) de 31 de dezembro de 2008 e os custos operacionais (equipamentos e serviços) que não tiveram uma queda tão acentuada quanto o do Brent. Esses dois fatores durante a análise econômica tiveram efeitos redutores, que levaram a constituição de provisão para perda por desvalorização em alguns campos. 62 Internacional No exercício de 2008 foram reconhecidas perdas por desvalorização de ativos no segmento Internacional no montante de R$ 330.413 mil, apuradas, principalmente, sobre os gastos exploratórios do campo de Cottonwood, nos Estados Unidos (R$ 307.784 mil), em decorrência dos baixos preços projetados do petróleo e das altas taxas praticadas. Abastecimento, Gás e Energia e Distribuição Não houve perdas por desvalorização de ativos em 2008. 5.4 – Impairment do ágio com expectativa de rentabilidade futura A Petrobras América Inc., controlada indireta da Petrobras, registrou em 2008 uma perda por desvalorização do ágio pago na aquisição das empresas Pasadena Refining System, Inc.e Pasadena Trading Company no valor de R$ 384.431 mil. Os fatores determinantes para o cálculo foram: (a) Declínio constante e substancial do petróleo bruto e preço dos produtos nos últimos doze meses daquele ano; (b) Diminuição do refino e margem bruta do mercado atacadista; e (c) Diminuição da demanda de produtos refinados. 5.5 – Análises dos impactos causados nas demonstrações contábeis da Petrobras em decorrência do impairment Apresentamos no anexo I a este trabalho exemplos de impacto nas demonstrações contábeis da Petrobras (controladora) de 2007 e 2008 em consequência da aplicação do impairment. 63 Comparamos os dois exercícios e analisamos os efeitos em alguns indicadores de desempenho, após a contabilização da redução no valor recuperável dos ativos da companhia. 64 CONCLUSÃO O impairment é a sistemática utilizada para adequar a capacidade de geração de benefício futuro do ativo ao valor registrado pela contabilidade. As principais diretrizes sobre este instrumento estão contidas nas normas IAS 36 Impairment of Assets e SFAS 144 - Accounting for the Impairment or Disposal of Long-Lived Assets, além da norma brasileira CPC 01 – Redução no Valor Recuperável de Ativos. Esse estudo foi estruturado no sentido de apresentar as principais características da aplicação do impairment, considerando os aspectos da teoria da contabilidade, principais normas contábeis relacionadas a sua utilização e divulgação e sua aplicabilidade nos ativos, sobretudo naqueles referentes ao segmento de exploração e produção de petróleo e gás. A utilização do valor de mercado ou o valor de bens similares é questionável já que não necessariamente representam o real valor do beneficio trazido para a entidade. Nesse contexto, o fluxo de caixa se apresenta a melhor opção, apesar da subjetividade envolvida no método em relação à taxa de desconto. Para os ativos da indústria de óleo e gás, especialmente no segmento de E&P pelas suas particularidades, o método mais apropriado para valorização dos ativos é o fluxo de caixa. Procuramos nesse estudo abordar a importância do petróleo para o mundo e os tratamentos contábeis pertinentes para o registro das operações envolvendo essa commodity. No capítulo I analisamos as opções de energia mais exploradas e as alternativas buscadas pelo homem em substituição às energias não renováveis. No capítulo II analisamos o tratamento contábil dado às principais operações relacionadas à indústria de petróleo e gás, destacando que a diferença básica entre o método dos gastos totais e o dos esforços bem sucedidos concentra-se na capitalização dos custos de exploração. 65 Procuramos explorar no capítulo III as principais normas contábeis referentes ao teste de impairment, seja no cenário externo, principalmente com o IAS 36 e o SFAS 144, ou no cenário interno, com o CPC 01. Na comparação entre as normas contábeis que disciplinam o impairment constatou-se que as diferenças observadas podem provocar distorções no valor recuperável dos ativos e comprometer a qualidade da informação aos seus diversos usuários, principalmente o externo, além de distorcer o real objetivo do instrumento que seria o de garantir que os registros contábeis retratem o valor mais acurado possível dos benefícios econômicos futuros que os ativos podem auferir à entidade. Concentramos nossas análises sobre os principais pontos a serem observados com relação à norma CPC 01, dando destaque às dificuldades na identificação da UGC à qual um ativo pertence, às diferenças entre valor recuperável e valor contábil de uma UGC, à composição de estimativas de fluxos de caixa futuros, às taxas de desconto e ao goodwill. Buscamos no capítulo IV a consolidação das diretrizes abordadas no capítulo III, considerando sua aplicação na indústria de petróleo e gás, a qual possui diversas particularidades e cujos saldos contábeis são, em geral, bastante relevantes. Destacamos a realização do teste em propriedades provadas e não provadas, além da metodologia de utilização dos fluxos de caixa futuros. Por fim, tentamos conciliar os procedimentos adotados no cálculo do impairment com a realidade da maior empresa do Brasil e uma das maiores empresas de energia do mundo, a Petrobras. Utilizamos informações disponibilizadas pela empresa ao mercado de capitais, através de seus relatórios arquivados na CVM e na SEC, bem como de informações obtidas no site da companhia e diretamente com sua área de Contabilidade. Conforme divulgado no relatório contábil de 31.12.2008, arquivado na CVM, na elaboração do teste de impairment as principais premissas dos fluxos de caixa 66 utilizadas pela companhia são: preços baseados no último plano estratégico divulgado, curvas de produção associadas aos projetos existentes no portfólio da companhia, custos operacionais de mercado e investimentos necessários para realização dos projetos. Os ativos foram agrupados em UGCs para identificação de possíveis perdas por desvalorização, sendo que cada campo corresponde a uma UGC. Vale destacar que algumas informações referentes ao cálculo do impairment da Petrobras são de caráter sigiloso, não sendo divulgadas pela companhia e não nos possibilitando, portanto, utilizá-las e apresentá-las como objeto desse estudo. Com base em todo o trabalho realizado, concluímos que a metodologia adotada no cálculo do impairment pode gerar impactos relevantes nos balanços das empresas. Contudo, os conceitos e objetivos apresentados apontam que sua adoção é um fator que trará os valores dos ativos mais próximos da realidade e, portanto, mais próximo da essência das empresas. Em função de todo o exposto acima, verifica-se que não apenas novos estudos das normas do impairment podem ser mais bem explorados, como também sua aplicação e conseqüências em casos reais, garantindo a esse assunto um campo vasto para novas pesquisas. 67 BIBLIOGRAFIA ARAGÃO, Amanda Pereira. Estimativa da contribuição do setor petróleo ao produto interno bruto brasileiro: 1995/2004. Dissertação (Mestrado em Planejamento Estratégico). Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2005. ANP – Agência Nacional do Petróleo; Disponível em: http://www.anp.gov.br; Acesso em 01/02/2010. BRITISH PETROLEUM - BP. BP statistical review of world energy quantifying energy. June 2006. Disponível em: www.bp.com/centres/energy>. Acesso em: 03/02/2010. CVM – Comissão de Valores Mobiliários. 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Diferença em Percentual ( % ) 2007 211.233.010 45.248 211.280.265 0,02% 2008 311.010.867 602.675 311.612.942 0,19% Impacto sobre o lucro por ação Controladora Lucro por ação Lucro Líquido Perda na Recuperação de Ativos Lucro Líquido + Impairment Número de ações Lucro líquido por ação considerando o lucro líquido + a perda na recuperação de ativos Redução por perda na recuperação de ativos em cada ação 2007 5,03 22.028.691 45.248 22.073.939 4.379.461 2008 4,16 36.469.549 602.675 37.072.224 8.766.719 5,04 4,23 0,01 0,07 72 Impacto sobre a margem líquida Controladora Ano 2007 2008 Ano 2007 2008 Vendas Líquidas 126.767.001 161.709.506 Vendas Líquidas 126.767.001 161.709.506 Lucro Líquido com perda 22.028.691 36.469.549 Lucro Líquido sem perda 22.073.939 37.072.224 Margem Líquida 17,38 22,55 Margem Líquida 17,41 22,93