Sábado, 9 de junho de 2012 Jornal de Brasília CIDADES 11 RAPHAEL RIBEIRO CEILÂNDIA l Adolescente volta para casa e denuncia tentativa de homicídio G Da Redação [email protected] aflição da mãe que procurava pela filha adolescente, desaparecida após supostas ameaças de morte, acabou ontem, após o reencontro com a jovem. Depois da aparição da garota, no Setor P-Norte de Ceilândia, veio à tona a suspeita de que mais do que uma ameaça de morte, a estudante de 16 anos sofreu uma tentativa de homicídio. Os hematomas no pescoço denunciam que ela foi vítima de uma tentativa de estrangulamento. O caso nebuloso que envolve ainda uma amiga da jovem está em investigação, segundo a Polícia Civil. Não foram apenas as ameaças de morte que levaram A. a fugir de casa na última terça-feira, quando ela foi vista pela última vez pelo irmão, saindo de casa com dois rapazes. Naquele dia, teria sido agredida por homens que praticariam vários crimes na região. Os mesmos suspeitos teriam escondido anteriormente uma amiga de A. Em recuperação do trauma e escondida em um local distante de Ceilândia Norte, a garota conversou com a reportagem do Jornal de Brasília, lembrando dos momentos de pânico que passou. Consequência do envolvimento com pessoas er- A SAIBA radas, como constatou a garota. “Tentei ajudar uma amiga que estava envolvida com as pessoas erradas, mas acabei virando o alvo destas pessoas”, desabafou. Tudo começou quando a amiga de A., a adolescente T., de 14 anos, teria conhecido uma nova amiga que morava nas proximidades da escola. Elas teriam começado a frequentar a casa da nova amiga, onde a mãe dela as recebia muito bem. O local também era frequentado por suspeitos de crimes, e talvez envolvida pela emoção, a garota não tenha percebido o risco que corria. FUGA No dia 27 de maio, a menina T. teria suspeitado de estar grávida de um dos rapazes que frequentava a tal casa. Por isso, a estudante, com medo de contar para os pais, fugiu de casa e retornou após dez dias. Segundo a vítima da tentativa de homicídio, A., ela continuou visitando a amiga para ver como ela estava. “No terceiro dia que ela estava escondida, a dona da casa e outras pessoas colocaram em votação se a menina com suspeita de gravidez deveria ficar lá. Só eu votei contra a estada dela, acreditando que ela precisava voltar. A partir daí, passei a ser ameaçada”, disse. Nos dias seguintes, a dona da casa teria ido na escola de A. para ameaçá-la. “Ela foi lá dentro da minha escola e me ameaçou de morte, assim como ameaçou minha família. Eu estava muito assustada”, disse a adolescente. Durante aqueles dias, mensagens foram enviadas ao celular da garota com mais ameaças, até que desistiu de ir à aula. Pela internet, ameaças também foram feitos pelo grupo criminoso. + Segundo a 19ª DP (P-Norte), uma equipe continua investigando o caso. A menina de 14 anos T. também foi retirada de casa, por questões de segurança. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social e Distribuição de Renda (Sedest), de janeiro a abril deste ano, 28% das vítimas de desaparecimento não foram localizadas. PAULA CARVALHO Jovem sofreu agressão Hematomas indicam que adolescente foi vítima de agressões. Boletim de ocorrência foi registrado na delegacia da área, a 19ª DP Reencontro com a mãe Na última terça-feira, a amiga T. finalmente voltou para casa. Para isso, a mãe da menina de 14 anos teria ido até a casa dos criminosos, e exigido o retorno da filha. Foram cerca de dez dias desaparecida. Quando A., que já estava sob ameaças por supostamente ter delatado o paradeiro da amiga, decidiu voltar à escola, foi encontrada por um dos criminosos. Ela foi levada até a casa e sofreu a tentativa de homicídio por estrangulamento. “Depois daquilo, sabia que minha mãe iria perguntar o que eram aquelas marcas em meu pescoço, os hematomas. Não queria contar, pois sabia que ela iria à polícia e minha família poderia estar em risco. Deixei a carta e saí com dois conhecidos, que me ajudaram a ir para um lugar menos arriscado”, disse a menina. No início da noite de quinta-feira, a mãe da jovem, E., recebeu uma ligação de uma amiga informando que a filha havia sido vista no Taguaparque. “Foi um alívio. Cho- “Choramos muito no encontro. Tive medo o tempo todo de que alguma coisa pior acontecesse” E., mãe da jovem que estava desaparecida ramos muito no encontro. Tive medo o tempo todo de que alguma coisa pior acontecesse. Só a achamos porque não parei um minuto. Nem dormi nem comi nas duas piores noites da minha vida”, disse a mãe. Ela afirma que compreendeu o medo da filha, especialmente depois de tantas ameaças, mas mesmo de- pois de tanto medo, não sentiu a presença da polícia no caso. “Tentei ir registrar a localização dela, inclusive por ela ter sido agredida. A polícia nem registrou, exigiu a presença dela”, afirmou. Segundo o delegado de plantão que responde pela 19ª DP (P-Norte), Celísio Espíndola, a necessidade de registro é imediata, e caso tenha havido negativa por parte dos agentes, isso pode configurar transgressão disciplinar. “A polícia não deve aguardar nada para registrar desaparecimento ou localização, nem mesmo em plantão, isso pode representar punição aos policiais”, afirmou. Segundo ele, a importância da rapidez no registro é a maior possibilidade de prisão. Mesmo em situações em que não se sabe se houve fuga voluntária ou não, o registro deve ser imediato para evitar outros crimes contra a criança e o adolescente. “É uma questão preventiva. Tem que registrar com celeridade, para que tomemos providências”.