Uma Nova Forma de Financiamento da Previdência Social Luigi Nese∗ A importância da Previdência Social para o bem estar brasileiro é significativa. Ela funciona como o maior distribuidor de renda do país, atendendo a todas as classes sociais. Porém, seu crescente déficit (média de R$ 40 bilhões nos últimos 5 anos) inviabiliza reajustes previdenciários suficientes para repor perdas passadas. Além disso, o ciclo de vida mais longo promove o envelhecimento da população brasileira, pressionando o orçamento previdenciário com novos clientes que entram no sistema todos os anos. Para resolver esse impasse, a CNS/FESESP (Confederação Nacional de Serviços / Federação de Serviços do Estado de São Paulo), entra no debate com uma proposta viável, baseada em um estudo elaborado pela FGV/SP: a substituição de recolhimento Patronal ao INSS por uma contribuição sobre Movimentação Financeira. É a solução apresentada pelo setor de serviços, responsável por 66% do PIB Nacional e por 35% dos empregos em 2009, e que cresce em média, mesmo em anos de crise, 2,5% ao ano. O objetivo é desonerar o trabalho, eliminando as contribuições patronais sobre a Folha de Pagamento, como 20% de INSS, 2,5% Salário Educação e 0,2% INCRA. É a busca de uma alternativa capaz de gerar volume financeiro que irá comportar essa substituição dos recursos, sem ter um impacto negativo junto à sociedade: basta descontar 0,69% sobre a movimentação financeira. Esse tipo de imposto é de fácil fiscalização, pois é feito diretamente na movimentação financeira bancária, permitindo que todos possam contribuir para a melhoraria da arrecadação da Previdência Social. Os reflexos dessa mudança de base tributária são numericamente positivos em relação à arrecadação do INSS. De acordo com o quadro abaixo: Tabela 1 - Reflexo para a Economia PIB Elevação de 1,65% EMPREGO Aumento de 1,60% no nível geral de emprego IGPM Redução de 0,75% no IGPM IPC Redução de 0,45% no IPC Demanda Total Elevação de 1,77% Fonte: Fundação Getulio Vargas Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico *Movimentação Financeira de 0,69% Conforme o quadro de estudo elaborado pela FGV/SP, a implantação desta proposta de Contribuição Sobre Movimentação Financeira oferece vários pontos positivos para todo o espectro social, num curto espaço de tempo. Neste cenário, observa-se um avanço no PIB de 1,65% em razão da mudança da estrutura tributária. Esse crescimento do nível de atividade ∗ Presidente da CNS-Confederação Nacional de Serviços. econômica seria acompanhando por uma elevação de 1,60% no emprego. A substituição de tributos passa a incidir não somente no setor formal da economia, mas também sobre a economia informal. O efeito multiplicador dessa expansão da base de arrecadação reduz a carga tributária, estimulando assim o crescimento econômico. Os índices de inflação, por conseqüência, apresentam variações negativas, tanto o IGPM 0,75% quanto o IPC 0,45%, visto que tanto o custo como a carga tributária serão reduzidos, proporcionando assim um maior fôlego. Cria-se uma alíquota única, o que torna mais fácil o seu cálculo e fiscalização. Em contrapartida, a CNS/FESESP propõe que, para implantar o projeto, haja um aumento de 0,69% dos salários de pessoas em contrato CLT. A finalidade é não onerar o funcionário com os encargos tributáveis, quando o mesmo for sacar os recursos no banco. Veja quadro abaixo: Tabela 2 - Simulação da Contribuição Sobre Movimentação Financeira R$ Aumento de 0,69% Mov. Financeira 0,69% 2.000,00 2.013,80 13,90 Salário Elaboração: DEPEC - Departamento de Econômia - Conferderação Nacional de Serviços Nos quadros abaixo, podemos realizar um comparativo utilizando os anos de 2009 e 2010: 90.000.000 84.929.639 85.000.000 81.419.011 80.000.000 75.000.000 70.000.000 65.000.000 60.000.000 55.000.000 50.000.000 45.000.000 40.000.000 10.945.802 8.414.434 7.898.746 7.348.605 6.546.372 6.626.277 6.907.447 7.082.208 6.799.361 6.753.310 6.856.794 6.965.176 6.468.904 6.043.091 6.715.107 6.503.242 6.767.936 6.500.898 6.705.132 6.384.267 6.533.656 6.359.728 6.046.681 6.175.474 35.000.000 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 5.000.000 0 Acumulado jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 2009 Gráfico 1 - Contribuição sobre Mov.Financeira (0,69%) X Recolhimento Empresa sobre Folha de Pgto ao INSS (20%) - 2009 Mov Fin (acum) Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico Fonte: INSS e Banco Central Dezembro - 2009 * Movimentação Financeira de 0,69% INSS - Emp (acum) Mov Fin (Mensal) INSS - Emp (mensal) 11.500.000 11.000.000 10.500.000 10.000.000 9.500.000 9.000.000 8.500.000 8.000.000 7.500.000 7.000.000 6.500.000 6.000.000 5.500.000 5.000.000 4.500.000 4.000.000 3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 - 50.000.000 46.327.355 8.000.000 7.952.813 45.990.846 45.000.000 7.865.817 7.802.068 7.851.868 40.000.000 7.824.049 7.692.051 7.724.768 35.000.000 7.634.843 30.000.000 7.409.195 25.000.000 7.583.153 7.605.411 7.500.000 20.000.000 7.372.165 15.000.000 10.000.000 5.000.000 - 7.000.000 Acumulado 2010 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 Gráfico 2 - Contribuição sobre Mov.Financeira (0,69%) X Recolhimento Empresa sobre Folha de Pgto ao INSS (20%) - 2010 Mov Fin (acum) INSS - Emp (acum) Mov Fin (Mensal) INSS - Emp (mensal) Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico Fonte: INSS e Banco Central * Movimentação Financeira de 0,69% Julho - 2010 No gráfico nota-se que no período de 2009 há uma diferença negativa (-3,88) entre o modelo atual de arrecadação do INSS e a arrecadação da Contribuição Sobre Movimentação Financeira; já no período de 2010 essa diferença fica em 2,5% positiva para a arrecadação sobre movimentação financeira sobre INSS. Vejamos no quadro abaixo o período de 2006 a 2008. 80.000.000 78.117.460 76.419.743 66.640.694 66.373.071 58.464.378 57.959.987 60.000.000 40.000.000 20.000.000 0 (20.000.000) (40.000.000) (37.355.553) (51.312.462) (42.065.104) (60.000.000) Mov Fin - INSS - 2008 Saldo INSS Mov Fin - INSS - 2007 Saldo INSS Mov Fin - INSS - 2006 Saldo INSS 2008 - 2008 2007 - 2007 2006 - 2006 Gráfico 3 - Mov. Financeira X Recolhimento Empresa X Saldo do INSS - (2006 - 2008) Mov Fin - 2008 INSS - 2008 Saldo INSS - 2008 Mov Fin - 2007 Saldo INSS - 2007 Mov Fin - 2006 INSS - 2006 Saldo INSS - 2006 Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico Fonte: INSS e Banco Central Setembro - 2010 * Movimentação Financeira de 0,69% INSS - 2007 Como podemos analisar através do gráfico acima, caso fosse adotado a sistemática proposta, a arrecadação da Previdência Social teria um acréscimo de receita por parte do INSS e somente no ano de 2009 teríamos um déficit de arrecadação. Tabela 3 - % Variação entre arrecadação movimentação financeira X arrecadação INSS Ano Var % 2006 0,9% 2007 0,4% 2008 2,2% 2009 -4,3% 2010* 0,5% Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico 2010* (período de janeiro a agosto de 2010) Vejamos agora num período mais prolongado de 2000 a 2010. ja n/ m 00 ai /0 se 0 t/ 0 ja 0 n/ m 01 ai /0 se 1 t/ 0 ja 1 n/ m 02 ai /0 se 2 t/ 0 ja 2 n/ m 03 ai /0 se 3 t/ 0 ja 3 n/ m 04 ai /0 se 4 t/ 0 ja 4 n/ m 05 ai /0 se 5 t/ 0 ja 5 n/ m 06 ai /0 se 6 t/ 0 ja 6 n/ m 07 ai /0 se 7 t/ 0 ja 7 n/ m 08 ai /0 se 8 t/ 0 ja 8 n/ m 09 ai /0 se 9 t/ 0 ja 9 n/ m 10 ai /1 0 11.500.000 11.000.000 10.500.000 10.000.000 9.500.000 9.000.000 8.500.000 8.000.000 7.500.000 7.000.000 6.500.000 6.000.000 5.500.000 5.000.000 4.500.000 4.000.000 3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 - Gráfico 4 - Recolhimento Empresa ao INSS X Movimentação Financeira Simulada - (2000 à 2010) INSS - Emp Mov Fin (Simu) Elaboração: Confederação Nacional de Serviços - Departamento Econômico Fonte: INSS e Banco Central Setembro - 2010 *Movimentação Financeira de 0,69% Pelo gráfico percebe-se na arrecadação simulada da Previdência Social uma distribuição mais uniforme, eliminando picos de dezembro, beneficiando as empresas e a previdência, com este fluxo dos recursos. Outro fator importante seria a redução da inadimplência e informalidade, pois cada empresa, profissional liberal ou cidadão que tivesse sua conta bancária, estaria contribuindo para o sistema previdenciário. Haveria então uma melhora no relacionamento entre empregado e empregador, eliminando sensivelmente as alternativas que são utilizadas para a redução da carga tributária, resultando em ações como “PLR”, “CLT Flex.”, “Cooperativa PJ’s”, “Cota de benefícios”, que são instrumentos legais, porém de difícil controle e implantação. É importante ressaltar a causa dos reflexos positivos da implantação deste novo sistema de tributação, tanto no crescimento das atividades econômicas do país quanto na redução de preços: trata-se da redução das distorções de preços e das ineficiências que surgem com a elevada tributação sobre mão-de-obra, que incide exclusivamente sobre a economia formal, onerando a produtividade. A redução da carga tributária com a ampliação da base de contribuintes para a Previdência Social, com a inclusão de parte da economia informal e sonegadores, permite que seja obtida a mesma arrecadação num ambiente de maior prosperidade econômica. Referências FGV. Fundo sobre a Carga Tributária no Setor de Serviços e Impactos da Desoneração da Folha de Pagamentos na Economia Brasileira. São Paulo: FGV, 2009. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS. Departamento Econômico. SÃO PAULO, 2010.