DA MULHER , .....--- .! ~ ·GRUPO DA MULHER DA AAC· PR Eça: 15.00 EDITORIAL "CRIME DE OFENSA A. MORAL E INCITAMENTO AO CRIME", e i s a acusação que colocou uma Mulher / Maria Antónia Pa lla em Tribunal . Os mesmos tribunais que são chamados a jul gar~ e começam , de facto , a fazê - lo , as mu= l heres que abortam . Um filme fala / infor ma / (re)põeaver dade dos factos . Afirma : Elas abortam . Diz porquê e em que condições o fazem(os) . Uma acusação que fala , não em nome das mulheres , mas em seu nome , em nome da " sua mora l" • Abuso de pal a"ra que pretende colocar atrás de si a pop ulação , que esquece por ém que as mul heres que dela fazem parte , católicas talvez , não deixam de sentir este problema , do "'bo,"tar , de sofrer na pe le , no cor po , graves problemas físicos , de morrer mesmo . Acusação que fala por si . N::\' o por nós . Que fala da sua moral . Nã0 da nossa . Moral que condena ma is de 2 . 000 f.m lheres à mort e anualmente , em nome do " sa= grado d i re i to do fe t o à vida ", do " irreme diáve l destin o da mulher a se r mãe e só is so", da inev i ta;:ilidade da maternidade e exclusão de qual quer direito da mulher à sua, sexual idade , seu praze r. A "moral " aue condena Antónia Pal l a tem 2 car as . Uma é a rec usa de que a mulr1e r controle o s eu corpo , direi to considerad.o como o-posto ao pudor e à moral ( a sua moral evi dentemente) . A outra é a defesa da mulher / objecto , da mu l her me r cadoria para venda a qualquer homem que a de se je com prar -- Temos o exemplo do Concurso das"Mis ses". Ofensa ao pudor? evi dentemente que não ! O pudor destes senhores l imita- se apenas a tudo o que extravase , ultrapasse as fro nt8iras da situaç ão de mulher mãe ou ob jeeto' de prazer . Ali , a mul her se expõe à morte , ao aborto clandestino , evita unia gravidez que não deseja, faz uma tentativa (6ltima) de contr ole do seu corpo que l he é negado --- há que c ondená- la . Lá , a mul her se expõe , lhe/nos medem as ancas , o pei t o , nos compram tal como carne no talho -- tal como ela a mercadoria se val oriza e velhos/velhos , novos/velho s , dis putam o seu saber em matéria de mu l h~r/fê = 2 mea -- há que preservá-la , pois então . Eles exigem-no . Vinte e duas ace itam-no . Nós não . As duas facetas da mesma moeda : A defesa da mulher mãe -- 6til para a procriação , e a defesa da mulher objecto útil para o prazer macho . Chamando à defesa do "pudor" para ata car uma mulher que ouso u romper as barrei= ras do "pudor deles" e falar de probl emasque nos interessam a t ndas , estes senho res , arautos da " moralidade " aceitam -- i; centi vam -- ap oiam -- organizam um fe sti= _ val de carne para consumo , tratam a mulher como gado em feira . Mas esses , esses não vão (evidentemente) a tribunal . Ao julgamento de Maria Antónia Palla , souberam -- saberão as mul heres responder com a sua mobilização e luta . Ao julgamento não efectuado , o dos promotores da "ven da do nosso corpo", saherão as mulheres ponder com a sua r ecusa , por vezes o seu s i lê nc io quotidiano , às exigê ncias de pa$~~ = v i dade que nos exigem . Fartas de ser objecto de consumo , afirmamo - nos hoje e sempre como mul he res , finalmente , não vistas pelo vosso espel~o que só re produz barrigas grandes -- reprodutoras ou sexos apet it osos -- ao vos-r,> dis pôr , mas que reflecte mulheres plenas , nas da sua sexualidade e maternidade:Cada vez mais recusamos a mul her com 90 de mamas para morder , 60 de cinta para apertar , 90 de coxas para violar e O de ca beça para decidir . res mu/he r trabalhadora Saimo s para fazer uma entrev ista a duas empregadas de limpeza. Duas no me io de muitas outr a s . Di sseram-nos: "até que enfim . J á é tempo de se falar de nós. Sabe, é um trabalho muito duro !" Começámos p or fazer al gumas perguntas , que foram desde problemas salR,riais a horário f', de trabalho e tudo aquilo que sem-ore se t em p or hábito per guntar . As respos t as são quase sempre as mesmas. Por demais conhecidas , mas muito duras de sentir . Bom, ao fim e ao cabo falámos e falar a m-nos. A nossa conversa durou largo tem .. . - ~ . .' t \ ) ,- ' ~ ~ l.,., :J.,.'-., __", t- : . ,I .. po e , no fundo já não era só uma "entrevista" . Falámos ab~rtamente dos nossos problemas, da situaçao da mul her tra balhador a em geral , dos tempos livres (q ue não exist e m) Um p o"co de tudo. O tempo - o eléctrico- o trabaL~o - o eléctrico - a c asa ( o tra balho doméstico) - o dia seguinte - o mesmo despertador - o eléctrico ••. o fim do dia, o cansaço, a rotina, a angústia . Uma vida em que não lhes sobra um minuto para pensar em si próprias . O jantar o almoço - a roupa su ja - o marido - os :3 - fi l hos -- o chao -- o t r apo -- somos máqu~ nas ! --" Ai! a minha cabeça". Limpa -- suja- -- limpa •• • -- "Qu'é do me u t r abalho !", e mais , mais. Uma pequena pa r te da nossa conversa : G.M.- . O que pensam do vosso trabalho? avô morrer am a trabé".lh·, ~ . Só quero é ter tempo ce chegar a casa ant es de morrE Senhora~. - Re sp ondeu- nos imediatamente: -é um tra balho muito duro . Muito du r o e sem compensações . E depois~ se vê , quer dizer a gente l a va e pouco depois já está sujo . G.M.- ~lal é o vosso horário de trabalho? Há quantos ::lDOS é que vocês t rabalham? Sp. nhora L -- Olhe ! eu cá tenho 57 ano s e trabalho aqui Ja há 21 anos . O nosso horário é das 9 da manhã às 6 da tarde , men os às sextas - f e iras , que trabalhamo s s ó até à s quatro e t r i n ta . Mas eu ai nda saio da qui vo u traba lha r m6l..Í.s> 3 hora s nau tro sítio . e Se nhora C -- Te nho 35 anos , trabalho à qua se 10 anos aqui , mas já t r a bã lhei noutro s s ítios . G. M.- Senhora C -- Nout r o dia caí u-me um muro ao pé de minha casa e fui eu quem teve de dar serventia de pedre i r o. Tive a casa a arra~. ~ um trabal hã o ! ·Quando chego não tenho nada feito e nrnguém me a j uda . Tenho . que fazer tu, do . Uma pe ssoa habi tua- se a trabal har e não nade estar pa rada . Sinto- me muito cansa= da da cabeça . Não tenho um bo cadinho para conversar com as ami gas . Não me can so de an dar de trás para a frente .C an so- me mais de ser eu a pensar em tudo . As mulher es é que têm as resp onsabilidade s todas , a té a de ter filhos . E o vosso salário? Sel".hora C -- ~ 6 800$00 f or a os des c onto s . G.K .- Como é evidente o ordenad o não c he ga , pois não? Senh ora L -- M3.o chega ! E t a nt o ass im é que quando saio da qui vou traoalhar noutro lado , pois sempr e é uma ajuda , mas é muit o cansativo . Ando sempre mui to nervosa , no tempo que estou em casa e lá só eu. é que f aç o to do o serviço . Vou no eléctrI co e já vou a pensar no que he i-de fazer primeiro . And o no médico dos nervos a tratar - me . Tenho mui t o trabalho em capa e não te nho quem me ajude . O meu sogro é c ego ;~ 11 anos , está de cama com ve lhice , precisa que o lave e l he dê de comer ~ boca , e não posso deixá-lo sozinho e s e m cui dados . Não paro um bocadinho , mas pr efiro trabalhar fo r a , sempre ando mais distra í da , vejo outras pessoas , at e p or que sou uma pessoa muito activa ! J á o meu pa i e o meu a 4 G. M. - E quanto a distracções? Como o s vossos tempos livres? Se nhora L -- Tempos l ivr es? são I sso é que e- ~~ bom! Se eu em casa páro um bocadinho e vou ouvir mUS l ca clássica, sabe, eu gosto é des ta música, fico mais calma ,rlú penso em nada , mas o meu fi lho põe- se logo a dizer que sou perguiçosa e dorminhoca . Quando penso que as vizinhas , v ~ o ao cinema, e aqui e ali , e '~ sinto-me triste, nunca S3io para me distrai r . E é uma luta COG i ~ o mesma, até porque~ fim do di a já não aguento mais, estou mui t o cansada e tenho de me levantar cedo no outro dia. E rlepois é o marido que chega a casa e diz que e st ou de trom bas. Mas ele nem seque r per: gunta porque é que estou as- A divisão sexual do trabalho s ignifica que homens e mulheres ocupam postos diferentes nas relações sociai s . As mulheres entram na produção dos be ns de consumo enquanto os homens produzem bens que circuIam ; compartilham assim a exploração e a ex periênc ia de alienação da força de traba: lho dos traba lhadores homens dentro do capitalismo . Mas e porque, dentro da divi são social do trabalho do sistema capit~s ta a tarefa de manut enção e reproduç ão dos produtor es de bens de consumo é largamente dada às mulhere s, as relaçõe s , exte:::-iore s são mantidas em parte pela separação dos papeis macho/fêmea, pelos valo~es de auto ridade e competição , e em par te pela famí 'a com~ideal -- depósito fant~smagórico, ",-e emoçoes . Si gnifica também que as mulheres c onstituem um contingente de reserva convenien te que trabalhará sujeito a meio ordenadõ e que pode ser reabsorvido na famíl i a no caso de desemprego. Como mão-de-obra disponível é chamada a integrar- se na actividade económica , ou é repelida c onsoante as necessidades de momento , da situação polí tica ou económica. Durante a última guerra, porque os homens se encontravam mobilizados na frente de combate, surgiu a nece s s i dade da cooperação das mulheres na "de fesa da pátria" . Então e las ocuparam os "lugares dos homens" nas fábricas , oficinas etc .• Te rminada a guerra e com o aumento de mão-de-obra, volta de novo a servir o i deal da mulher no lar , da indi spensabilidade da presença da mulher em casa, volta- se ao mito da "doc e fada do lar" . sim , só exig6 V~:0as e Güisas, é uma angústia muito grande. Nós somos escravas do homem. A nossa conversa não acabou aqui, continuou , muito , muito mais tempo . Saimoscan tentes por um tempo maravilhoso que passá: mos juntas e por termos atirado cá para fora muitos problemas que guardávamos cá den tro o Por termos ouvido dos vossos. Impo: tentes , por ém . Dois casos de entre milhares , duas mulheres entre milhões . Uma situação que é preciso modificar . Precisamos falar , nos reunir , unirmo- nos,para lutarmos todas juntas contra esta situação, contra mui tas outras , que não nos perna "Gcm assumir l ivremente aquilo que desejariamos ser . Limpa -- Suja -- Limpa . Até quando? ~ , por outro l ado , mão- de - obra barata por que existe em grande quant idade (a popu lação feminina é em Portugal cerca de 53,6% e por se continuar a considerar o salário da mulher como suplemento do salário do homem , o chefe de família . Actuando como catal izador , a mão- de - obra feminina é chamada à produção mediante propaganda e le gislação adequada . A desigualdade das mulheres no trabalho é constituída dentro da estrutura de pr odução capitalista e da divisão cio trabalho na indústria e na família. Hoje , quand o há cada vez mai s mulheres a procurar o mercado do trabalho,a for mação profissional continua a ser feudo~ cul ino e as mulheres exercem as profissões que p or insignificantes , mal r emuneradas ou maçad oras , o homem não quer . ~ inegáve l ainda agora que a mulher é muito menos " profissional" que o homem, c"onsti tuindo o empre go a sua segunda profissão , absorvidas como estão pelos proble mas da casa e dos filhos . Daí aceitarem qual quer trabal ho , cri ando uma ponte entre as tarefas que as mulheres "aceitam desempenhar" e as que os homens lhe reservam . A mulher entra no mercado do trabalho em condições desiguais e portanto concorrenciais em relação ao homem ; este facto ser ve para r eforçar a imagem tradi cionalda mulher , per petua r " o seu papel secundário, contribuindo para o desajuste futuro , cont i nuador do passado . Hoje , cada vez mai s a mulher procura salt ar o mundo das " suas profissões "tradic i onais" (ligadas à sua função social e como tal desvalorizadas) ! E gasta- se na pro 5 cura, na l uta , pela conqulsta do seu lugar: o direito a escolher a sua profissão; o direito a salário igual; direito a condições materiais para o exercício da sua profissão ; direito a qualifi cação e dignificação profissional; direito a iguais poss ib ilidades de promoção . PARA QUANDO? A consagração constitucional destes direitos não implica por si só a sua efectivação . Por outro lado , os blocos que existem contra nós , mulheres , enquanto gru- po sujeito a uma opressão específica, são bem reais: Coexi stência complementarizante da hierarquia de classes, e da hierarquia de sexos, a preservação do princlplo masc ulino dominante, e a realização dos in teresses da classe pr-iv'il~giada. . .. Para quando? •.. Quando todos os que estão realmente vivos se convencerem que 40% das mulher es portuguesas são analfabetas e muitas outras são vítimas desse analfabeti smo que nasce do não rec onhecime nto de si próprio e dos outros , e que isto assim ••• não vai! ~ri~~~c&1jW~~ ~xtl~aido do 3l.l2ajuridico da mulherJ A especial consagração da igualdade de direitos entre ambos os sexos -'e l:lIlca-se em parte na legislação p ortuguesa e deve ser vista como um apelo à efectiva partici pação da mulher La actividade económica e não como uma !lIera conquista vazia de COrl-' teúdo . Exemrlo disso é o consagrado tanto no plano constitucional <oomo nos próprios preceitos específicos do trabalho - lei ('O contrato de trabalho e demais legislação ~ dinárió.. "C onsagrando a igualdade de oportunidades na escolha de profissão ou géne ro de trabalho e cond l r:ão para que não seja veda do ou limit ado , em funç~o do sexo , o aces= so a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais", a lei const i tucicnal, estabelece que, "tod os têm o direito de escolher livremente a profi s são ou s~nero de tralialho ••• salvo as restrições legais impostas pelo interesse colectivo ou inerentes à sua própria capacidade ." Por outro lado " o estado reconhece a maternidade como valor social eminente,pro tegeúdo a mãe nas exigências específicas dã . sua insubstituível acção quanto à educação dos filhos e garantindo a sua ,: realização profissional e a sua participação na vida cívica do país", ao mesmo tempo que lhe incumbe assegurar "a especial protecção do trabalho das mulheres durante a gravidez e apÓE o parto ••. " Plano 1. pró~rio do direito de trabalho TRABAlBO: ACTIVIDADES VEDADAS Encont ram-se em vigor normas que pro i bem o emprego de mulheres elE aG':.~vi' , --lO';;: consideradas peri gos'1'" ou insalúbres. Apesar de justificadas a t ravés do intuito de protecção da integridade física e mora.l das trabalhadoras, algumas dessas medidas traduziam, de facto, restriçõe~ às suas possi bilidades de er.1prego e obstáculos à elevação dos seus níveis de remuneração . AI~m disso não se pode deixar de referir que mui tos dos trabalh os apontados como perigosos para a mulher são-no efectivame nte para to dos os trabalhadores. A adopção de medi = das tendentes a melhorar as condições de trabalho bem como a vigilância m~dica acti va impõe-se para todos os trabalhadores em geral. No caso específico d.a mul her tornou- se imEeriosa a ne cessidade de r eforçar a prot ecçao à maternidade quando os riscos inerentes ao traba l ho a afectam na 5ua fun ção genética - esta limitação só pode ser' alvo de uma lei ou portaria de regulamenta ção de trabalho e não de contrato indi vidu= alou de convenção colectiva . os Assim, são proíbidos às mulheres trabalhos que exigem a utilização de s1..1bstâncias tóxica s (mercúrio , benzeno, sulfure to de carbono , etc . ) Em atmosfera de ar comprimido Que exijam o transpor te manual de cargas cujo peso excede 15 Kg . Que a exponham a radiações ionizantes . E dur ante a gravidez : Os tTabalhos que exijam a sua permanênc i a a inda que por breve período de tempo em todos os l ocais em que se ut i lizem substâncias tóxicas~ O transporte manual de qualquer carga que exceda os lO kg. Os trabalhos que comportem o risco frequente de vi brações e 'trepidações (continuaremos no próximo número do boletim com a legislação de trabalho. Fah.rF,:,mos je : Contrato I ndividual de Tra balho 1 Tra'oa.lh8 Eventual e a prazo IDes pedimentos ; Faltas e Sanções; H orári~ de Trabalho e Segurança Social) . CNAC AS MULHERES ACUSAI1 fJDORTO Dia 24 ele J unho . Voz do Operário . Mulheres vão re "ynir , testemunha r , exigir nova legislação sobre o abort o . Organizado pelo CNAC, advogadas , socióogas , p s icólo gas , médicas vão f a l ar da l~ ~ islação actual , das suas consequênci as s ~ ciais / psíquicas / f í sicas par a as mulheres . E eles vão falar dos abortos que f ize ram , dep~r dos risco s que correram dos pro blemas que enfrentaram , dize r,- "~ que, os tribü nais calam . Os tribunais vão julgar uma mulher acusada de crime ab orto , em Lisboa, no dia 5 de Julho. No dia 24 vai-se fa l ar de outra forma/por outras palavras/ pelas nossas palavras. Maria Antónia PalIa está em Tribunal. Vamos defender no dia 24 o direito a uma informaç~o que sirva de f ac t o os interesses 80S direitos das mul hereso A sessi'io pública de jul gamento de lei, aprovará ainda os pontos gerai s de uma nova legislação a ser reivindicada por todas(os) nós . SEDE NACIONAL DO CNAC -- Rua Rodri gues o Sampaio , n. 32-r/c-Esq . o , Li sboa . LEi DO o 31 D ~ t1~RÇO no mundo No dia 31 de Março , convocado pelo ICAR como Dia lirte:rnacional de Ac~, tiveram lugar em dezenas de paí ses mobilizaçõe s pela defesa do direito da mulher à contracepção, ao aborto livre , grat uito e ass i stido contra a este rili zação compulsiva . ~ a primeira vez que se organiza de f ~rma coordenada uma campanha internacional por estes ob jectivos , se bem que em muitos países a ní vel nacional , estas exigênci as venham mobilizando as mulheres de há vári os anos para cá. A importância desta camp anha está precisamente nesta coo rdenaç~o a nível mundial d a luta pelos direitos da mu l her , daí a sua força e o seu signif icado. A '"' la aderi r am já. cente nas de organizações de mais de vinte países ; agrupando desde grupos e movimentos de mul he res , organizações polític as , sindicatos , organismos de planeamento familiar, etc •• O d i a 31 de Març o , fo i o primeir o dia mundial de acção que será cont inuado co m o desenvo l ver da campanha de agora em d i ante . No momento em que escrevemos estas páginas a inda não há i nformaç ões completas sobre as re a l izaç ões que tiveram lugar em todos os países participantes J!a campanha ~ as info rmações a seguir divulgadas são assim as prime iras recolhidas . El as r evelam porém desde já , que a primeira J ornada Interna cional , foi no geral um grande êxito . H 1 .a . n o d a A ornada começou com a man i festaç ~ o de bic i cleta , que fez a vol ta a todas as Gm~)aixa das , mas em que o obje ctivo era em particular a embaixada da Irlanda . Te o'minou com uma gra:2 de festa em Haye . No norte do país , realizou- se uma mani festaç~o de 1 500 pessoas e no sul de 3 000 pessoas . G r ã-B r e t a n h a Londr es , 5 000 pessoas na manifestação , que percorr eu as' ruas desde o Hyde Park até Tra falgar Squaer , l evando slogans internacionais e exigindo ma i s c línicas ~ aborto . A presença internaci onal foi muito importante , estiveram present es mulheres do movimento feminista espanhol , dos Estados Unidos , Améric a Lat ina, I tália e Alemanha . Na c oncentração final tomaram a inda a palavra represen t antes da U. N. E., da campanha nacional pe l o aborto , da comuni dade Asiática , do Si nd icato Nacional dos Pr ofessores e da coor denação nacional do ICAR . B é 1 g i c t... Em Bruxelas , 8 000 pessoas manifestaram- se . A manifestaç ã o foi apoiada pelo P . S. (com a presença de cartazes deste partido na mani festação ) , o P. S . U., J. S . e as J .C. ( o P oC. B.rfu apoiou nem part i cipou nesta iniciativa) , e a L. R. T .• A manifestação mobilizou o movimento trahal'l aclo:ces de mulheres ~ escal a nacional , os comités pe l a de spenalização do aborto , os das clínicas e o movimento homossexual . As mul heres Lati no- Americanas estiveram presentes em grande número, bem como a or ganiz ac ã o para o planeamento da família e s indicatos . I t á 1 i a Turim - Uma concentração convocada pela U. D. I. (Organização de Mulheres afectas ao PCr) e pelos GCR ( Secção Italiana da Quarta I nternacional ) reagrup ou uma centenas de pessoas . Nos ta iniciativa falou a i nda uma oradora sueca e outra uruguaia , e fo r am representados numero= sos sketches acerca da s ituação do abort o em It ália .~< Em Roma , da parte da manhã , realiz ou- se uma conf erência de imprem;a do movimento de mulheres s obre a situação nacional. À tarde reaJizou- se um Meet ing promovido pelo movimento de mulheres sobre a situação do aborto nos dife r e,-·t e s países . Em Milão teve l ugar um Meet ing na Univer sidade . 8 o 31 DE t1ARÇü no munc::lo S u i ç a 300 pessoas est i veram pres 'ntes no Meeting em Berna , resp ondendo ao apelo do PS ,PC, outros part.idos da ex t r ema esquerda , dife r entes movimentos feministas e c omi t é s pe l o direi to ao aborto . Daí sairam diferent es moç õe s sobre o Irão , a Holanda e África . Este mee ting~ mitiu l ançar as bases para uma futura campanha nacional . L u x e _ g o Espanh a b u r Concentração de mu l he re s frente à Embaixada de Espanha . aborto - an ticoncepción : derecho de las ll1ujeres no alaesterilización forzosa las Illujeres deciden ( (lN RACEP T l or~ . ~ ~r. ' -l r"=_, .~.•. 'f, 1" et . ·. ·· '·'R.. I, -."'"L,~ ~ AVO LI ~ ~ c ~fo I r- ~ dia internacional de acción 31 de marzo de 1979 1000 pesso as em Barcelona e em Madrid , conce ntr a r a m- se r espondendo a o apelo de Comités locais , apo iado por um grande número de part idos e movimentos . Fni a primeira vez que em ~ spanha , mulheres que abo rtaram te stemunharam publica mente as condições que o fiz eram,as vi agens ao est r angei ro , e t c •... Em Sevi lha , t eve lugar um mee t ing com 300 pessoas c onvocadõ pel o movimento de mulhre s , onde estiveram pre se ntes t odos os partid os c 8nvidados e se efectuou um aceso de bate . li' r a n ç a Em Loude ar ( Norte ) o Planeamento Famili a r organizou e m c onj unto com o ~, o PS , a LeR, o PCML, a CEDT, CGT , FEN, FO, uma tarde de mulhe:re s. Em Pari s , a c oordena ção do s grup os de mul he re s Nord 92, r ecolheu um abaixo assinado por centros de IVE (Inte rrupção Voluntária da Gravidez) , animando numerosos gr upo s de discuss80 . Os grupos de mul heres do XVIII O,Xo e IXo , or ganiz aram uma concentraç ão . Em Montpellier, f or a m d i s tribu í dos 18 000 exemp l a res de um comun icado e laborado p or um co l e ctivo , r eagrupand o a FEN, CFDT, Grupos de Mulhere s , Planeamento Fami li ar , CNSC, MAS , União Geral da Educ ação Nacional , PS, PSU , LeR, OCT,PCml,JCR-(a CGT r etirou no último momen t o o s eu apoio alegando a presença de partidos da ext r ema es querda ) . No apelo c ol ectivo, exige- se : " o ab orto livre e levado a cabo pelos serviços de saúde social" e propos- s e a prepar ar em Montpel lier centros de aborto livre, gr atuit o e as- 9 sist ido . Ainda se r eali zaram manifestaçõe s em Lyon e em Havre . Em França , onde a "lei Veil" deverá se r r edi scutida brevemente no parl amento , a mobilização não foi tão grande qua~ Costa Bica Em San J osé r ealiz ou- se pela primeira vez uma c nncentração pelo abo r to e contracepçãono gr ande parque centr a l da Cidade . A Televisão e a impre nsa nacional estiveram presentes . V e n e z u e 1 a Meet i ng no dia 30 de Março , em Caracas , que reagrupo u 1 000 pessoas . U o S. A. Manifestaç ões em 25 c idades entre as quais : Nova York , Hartfo r d , Bo ston , Dallas , Aust i n , San António , S~n Francisco , Sacramento , Los Angels , Portl and , Eugene , Pittsbur gh , Philadelphia , Búffalo , Kansas Cyte , Cinic i natti , Columbos Chicago , Milwvaukee . C a n a d á Manifestações e m Vancouver , Montreal e Tor onto . / -- -------------------------- -- - -- - I ,Planeamento Jami!tar \ \ '- ?~" ------------------------------------------------------------------------------------------~ Já não é a primeira vez que falamos em p l aneamento familiar . T ~mbém não é a pri meira vez que reafi rmamos o dire i t o da mulher a uma mate rn idade c ons ciente e deseja da , a nece ss i dade de uma amp la d i vulga çãõ 10s mé t odos contraceptivos , a urgência da legalizaç~o do abort o i nclu ído nos 5erviços de a ssi stê ncia médica do paí s . Se é vel: dade que hoje uma percentagem razoável de mul heres util iza já meios anti - concepcionai s , também é verdade que a grande maioria continua na mais completa i gnorânciano que respe ita à sua comp l eta existê ncia ou ao modo como se deve m utilizar . Podemos me smo dizer que uma boa percentagem das " fa lhas" dos mét odos se de vem não aos métodos " e m s i", mas a erros e fal has que se come tem na sua ap l icaç ã o . ~ então sempre e cada vez mai s importante avançar com este tra bal ho de esclarecimento / di vul rTação do Plã neamento Familiar , tornando- o cada vez mais aces~ ível à s mul heres que o pretendam , alar gando cada vez ma i s o número das que a ele recorrem . E também é evidente que para t a l 10 ~.I) nã o é suficiente ( apesar de ser fundamen tal) a existência ou abertura de consultas em hospitais e ce ntros de saúde . ~ pre ciso ampliar cada vez mais o número de pes,--soas dispostas / capazes de um trabalho de tipo diferente , que po s sa ir de facto ao encontro da s populações , das mulheres , e já nã.o tanto que se . limite a esperar que as mu l heres venham até ele . ~ necessárioum traba lho conju nto , coordenado entre_ pessoal técnico (m~dicos , enfermeiros , por e xemplo) e monitores de planeamento , ass ir~co mo todo um sector de pessoas ( assistentes soc i ais por exemplo) que se d i sponha a ir para a frente com este trabalho . ~ em tal act i vidade que está empenhado o Grupo da Mu l her da AAC que , em conjunto com a APF de Coimbra , rea l izou um curso para " mon itores de PJ aneamento Famili ar". Depois do cur so passado , há mui to a fazer -- para já vaI - se passar ainda este ano um inquérito so= bre Pl aneamento F~miliar bem como real izar sessões de divulgação num bairro de Coimbra e na Universidade . Associação para o planeamento da família , o CNAC l evou a cabo no Porto , no dia 27 oe Haio nas I nstalaç ões da Coopera+, iva Árvore, em conjunto com o GAHP, a projecçã o do Filme " Aborto não é um crime" (fi l me que motivou a acusaç ão a Maria Antó.,. . n.ia Pal I a) , seguido de decate , no qua}_ e s ti ve ram pre sentes cerca de 150 ~essoas , e no qual ~ntrevie ::êam , entre outras , I nê s Lour enço , Fina da Armada , médicos e jornalistas . Lisboa - Rua Artilharia 1 , o 38- 2 . , DtQ - 1200 LISBOA-Tel . 653993 Co imbra - Av, Navarro(por ci ma do Pat acão)2 . Õ B, permanê nc ias das 15 às 19horas Estão a funciona:>:' no di strito de Coimbra as seguintes ccnsult as de p l aneam~nt o fami liar : Distrito de COIMBRA Arganil Lousã Centro de Saúde de Arganil Rua Condessa de Canas Te!. 22475 • 5.0 I. das 10 as 12 h . Centro de Saúde da Lousã Praça Cândido dos Re is Te!. 99138 • 3." f . e 5.0 I. das 16 às 17.30 h . Cantanhede Mira Centro de Saúde de Ca ntanhede Edifício do Hospital Te!. 42415 • segundas e últimas 6 .os I. de cada mês das 14 as 17.30 h . Centro de Saú de de Mira Av . 25 de Abril Te!. 45444 • 2.0 I. das 17 às 19 h . Coimbra Centro de Saúde de Miranda do Corvo Cruz Branca Te!. 52260 • 3.0 I. e 5.0 f. das 10 às 12 h . Miranda do Corvo Centro de Saúde Distrital Rua Augusto Roc ha Te!. 22619 • 2.0 1. , 4.0 f e 6.0 I. das 14 as 17 h . Coimbra n Hospital da Universidade Largo da Un ive rsidade Te!. 22133 • 3.0 I. e 4.0 I. as 8.30 h . Montemor-o-Velho Centro de Saúde de Montemor-o-Velho Te l. 68225 • Informar-se no Centro Coimbra Maternidade Es co lar Santa Teresa (") Trav. do Espirito Santo Tel. 22065 / 8 • Informar-se na Maternidade Coimbra n Cen tro Hosp italar Bissaya Barreto Quinta da Rainha Te!. 220 17 / 9, 29021 /2 • 2.0 1. , 5." I. e 6.0 I. marcações das 8.30 às 10.30 h . seguindo-se as consultas. Penacova Centro de Saú de de Penaccva Edi fício do Hospítal Te!. 47134 • 4.0 f . e 6.0 f . das 16 às 18 h . Penela Centro de Saú de de Penela Edifício do Hospita l Te!. 56160 • 2.0 1. , 5.0 I. e 6.0 f. das 14 às 17.30 h . ii , nos e... flJiolô(ão , a dor d<1 gente Quantas de nós não sent imos já meao nas ruas? Quantas de nós não evitamos andar de noite sózinhas? Quantas de nós não _foram já viol adas? g evi dente que dentro da nossa soc iedadeto dos os dias os direit os mais essenciais ~ violados , com especial re l evo os direitos da mulher . Um deles é a violentaç ~ o física da mulher . Porquê? . Há várias teorias e cada urna à sua maneira tenta explicar o porquê da s violações . Uns baseiam- se na hereditariedade , ou seja , um indivíduo que nasce já t r az em s i o germen de violador . g a rapariga que provoca os homens , dirão outros . E mai s recente é talvez a daquela ""outora" australiana que descobriu , que , quando na mulher se dáa 0vulação emite determinado cheiro que é captado pelo violador e o subconsciente de s te impe l e~a violar a mulher . E que dirá esta "doutora" acerca da vio l aç ão de criança s? Que chei ros emit em? Pa r a faze rmos urna anál i se do problema da violaç ã o não nos podemos desli8ar de to da urna moral , urna educaç ão , enf im , de t odã a sociedade . g o desemprego , é o anal fabe tismo , é a fome que milhare·s de pessoas sofrem por dia ge rando um clima de tensão do vic1ência . ~ a educaç ã o ; e toda a família sorri ao ver o pequenito l evantar as saias para espreitar as pernas de, criada . Já nessa altura ele é ensinado a ver na mulher um objecto c om pernas e mamas . São os fi lmes , é a te l evisão . 'Tudo c ontribui para que a mulher se j a conside r ada um object o . Um objecto para quê? Para dar praze r ao homem . ~ o resumo da moral da história da nossa sociedade . A mulher ou é vio l ada passivament e na cama pelo marido ou violentada à . J, f orça na rua . Sempre a mesma lmagem : e s o abrir as pernas , a bem ou a mal ••• At é quando? ?? 12 . Sa\ no Jornal Notícia do jornal " Foi hoje capturado por elementos da G N R,F ..• que há duas semanas tinha abusado de F •.• de 7 anos , que teve que sofrer internamento hospitalar". Resposta de uma nossa colega vi ola{a qu ando lhe perguntámos se ao ler no jornalcã sos de violação de raparigas , tinha algumã vez pensado !}ue isso também l he poderia vir a acontecer : "Acontecia-me r i r, pelo insó litD ou pela . nossa segurança dele.i tores ~ "acon.t ecimento.s."-. em :relação aos .quais . nos sentimos minimamente envolvidos. Como diz o Obico Buarque"a dor da gente não sai no jornal" . quando no s zangamos , cha mam- nos \p'-'s t éricas, • , Ent retant o e ent re ".,.a ún i ca suec a com que ele p ode viver ••• " surge uma enor me , gama de arti go s para "fac ilitar" o t r a: balho d a mulher , A escrava do l ar é agora a téc nica que prepar a r efei ções TIA ROSA , limpa o chão c om Glo- co , usa aspirador es Nilfi sk e purif i ca o seu l a r com ar oma de pinhe iro , A mulher sofr e da contr adição , que só poderá r esol ver- se pela compr a de apareliLs de uso domé stico : frigorí fico s , batedeiras, etc . -- pois a obri gaç ã o de trabal har e ser s imul taneame nte uma Raque l Welch , terá qiJe se r esolver em benef í cio da indústria l i geir a . A publicidade d i rigida à mul her tem vi n do a i mpulsionar a c onver gência de dois i = deais : -- a mul he r bela e à moda "Mi nha Senhora f aça- se bela" "Minha Senhora faça- se bela' Usando .•. " ~ Agr ade e seduza ! e A DONA DE CAS A FI RMEMENTE AGARRADA ZINHA À CO- OMO LAVA MAIS BRANCO.•. LI MPA TUDO COMO UM TORNADO BRANCO .•. "Cl Maria , lembra- te disto ••. Quero c asa bom pet i s co" em A imagem que apre goam para preparar a mulher para a competição sex ua l está pré- estabelecida ( para os devidos efe i tos con sulta r qualque r revista da actualidade) . As mulhe r es convertem- se em at r act ivas mercadori as/ objectos paTét consumo de uma po pulaç ão masculina ávida de novas experiê n= cias . E a evitar que ela desperte , sur ge a ~o ciedade de consumo ." Por outro lado , as revi stas mundana s ji estão a ter a " sua vers ~.o de l ibertaçioo s e xual" : como desp ir- se em f r ente do mar i dõ, cuidad os a ter com o s eu corp o , r epr ovaç ão da E3.ssi v if:'. a ':le na cama , 100 maneiras de engatar o marido , etc ., etc ., ... reduza- se ao consumo ! depois ofereça- se e exiba- se ! Agora ,já não há a necessidade de criar c ondi ç ões para a produção de mercadorias , mas cr i ar condições par a a venda das mesmas , A nrocura já não existe ," faz - se " (o sabor de que se aprende a gost ar •• , )e passa a ser produto acabado de rádio , televi s ~ o , publ icidade . g ass i m que , atravé s da elaboração de uma ideo l o ~ia de venda ~nseparável dos val or es dominante s da classe no poder , a chamada sociedade de consumo , procura lev ar a mul her a comprar , comprar , comprar , cada vez mais e a não produzi r •• , E já isto para não falar no aproveitamento da " fi gura mul her" na contraparte das t éc ni cas Marketing' mulheres boazonas, mai s ou menos vestidas , alienadas •.• sempre acompanhando um produto para você comprar. Como já disse Maria Antónia Firlde iro : " , • . g por que você nã o sabe que só existe como ob j ecto de de se j o alienado e que é por isso que vem se mpre associada e ao lado de uma mercadori a , de . um produto , uma embalagemru i nvól ucro ••• " Er a ass i m que nos que r iam : passivas e obedi entes , i ns i gnificantes e esposas , idio tas ••• mas ••• " boas" •.• Seja assim •.. sej a dele ! Enc ontrará dono ! Sorria , . sorria sempre ! Todos estes co nceitos de pre t ensa natureza femi nina s ão elabor ado s em culturas dominadas por homens , emb uídas de pr e t enções , na generalidade vi ndãs da época manu elina ( para uso naci onal : •. ) mas outra s ra: cionalizando já a f orma que o patri a rcad o assumiu no capital ismo . A" feminil i dade " é o me i o conve nientep~ ra nos fazer acreditar que a submi ssã o , doçura , fraqueza , medo , etc ., etc . é qualquer coisa de irremediavelmente natural ... E 13 í sexualidade ~ ~~_ _ _ __ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ v __ . _ _ __ _ \ Então , o qUe e ser virgem? Pode-se fa lar de um ponto de vista f í sico , mas sobr~ tudo , do ponto de vista soc~a l . Para aque las que tive ram uma educação religiosa a perca da virginda,de antes dc casamento é um "pecado" - Um adeus à castidade , à pur~ za branca e imaculada . " .•. Como a maior parte das mulheres nos aros 60 , eu ignora va tudo soure contr~ cepção , mesmo depois das minhas p~ci ::lejras experi&ncias sexuais . Não ?usav~ falar _a um médico , por causa da leglslaçao entao em vigor e do r.leu próprio sentimento de cul pa - tinba vindo de uma família católica C o~tentei - me cor,1 " flirts " e a I greja Católica considera que é pecado fazer amor antes do casamento . Deixei a Igreja no dia em que , no confsssionário , me deparei com um padre que me disse que fazer a.mo r com o meu noivo era r,ecado e que referi u que eu não era séria , não seria uma espcsa fiel se antes de casar tivesse uma experlencia sexua.l ; e le recusou-me a absolviç ão e eu nao voltei mais lá", " • . . A oposição entre a " ·virgem" e a " puta" não é apenas uma noção abstra cta .Ela transmite - se atravé s de obras literári as , ela f az igualmente parte de uma expe ri& ncia quotidiana de adolesc9ntes que somos . Nos anos 60 , o grupo de j ovens c om luem ia à escola sustentava esta dicotomia. Virgem ou puta . Nós não empregavamos esses termos , claro , mas era assim que julgávamos as raparigas . Havia uma c l ara diferença entre a " rapariga bem" que não teria relações antes do casamento , e aque l a que se "deitava" com um rapaz , c1enomina",: de " fácil ", mas não havia um julgamento s~ milar para os rapazes que dormiam com as " fácei s". Achavamos até que eles deviam adquirir experiências para aprenderem a f~ zer amor com as jovens raparigas virgens que desposariam ." 14 . A Revolução sexual, depois de 1968 , e a utilização pro gressiva da p ílula veio questionar esta atitude perante a virgindade . Antes , se um horr.em nos ped ia para fazer âmor com ele podiamos sempre evocar a nossa " virgi ndaje " ou dizer que tinhamos medo de fic 2,r grávidas . Agora é dif íc il r ecusar: " ser virgem já não está na moda" e os métodos contraceptivos e stão bas tante divul gados . E preciso saber dizer não a um homem que não d esejamos . A perca da virgindade , da " pureza e da inoc&ncia", é vista agora como um afastame!lto e pa c; sagem da infância para a " ida~e adulta", marca um ruptura , é cons ideradâ como" urr, passo para a autonomia" , " Ej pur a ironia ver a minha mãe , que t ambém foi r eprimida sexualmente a protege r a minha virgi.ndade para a ' ofe re cer " a um ho me m que não c onhece ," " .•. Est a oposição entre a desvirgindade e casamento, .obriga- me a casar mais cedo do que gostaria , pois a únfca forma de ter relações sexuais é casando- me " . Faland c do tabu' da "d es fl oraçao - " vemos que os manuais matrimoniais consagram- lh e cap í t~ l os inteiros , os manuais pornográfic as também . As passag ens dos manuai s p .:)r no gráfi cos dão- nos uma ' sensação de náusea :· os golpes do homem , as .suas (l ificul ·:: a(,~, es em "penetr:ir" os gritos da mulher , a insis t ênc i a do homem , o reconhecimento do pape l de mulher " çue se entrega" . Eis o que , na f orma mais violenta , os homens esperam da S1OO. pri meira r elação com uma Jr. L:lher virgem . E: a educação que lhe s impõe esta violência , e o mai s triste é que muitas de nós a acei tarn . OhÍmen é uma memb:::-ana flexível , é pre c i so d i zê- l o , que se rorr,pe sem , ou antes da primeira r elação . Contrariamente ao que se pEn sa , and ar a cavalo ou trepar às arvor e s não tem p~ém nenhum efeito sobre o h{men. Entr etanto , a introdução do dedo ( durante caríc ias) ou até de um tampão pode provocar urna ruptura . As primeiras rel aç ões não provocam , então nenhuma dor f í s ica. O homem não tem então necessidade de se comportar como um tanque e a mulher de gritar ou desmaiar . A ideologia e mitos que a ssimilámo s deformam a realidade , fazem aparecer as mul heres como seres "débe is " e os homens como sere s " agres;s ivos". Porque devemos ou temos que sofrer essa dor? _ o J Os manuais matrimon~ais sugerem que o marido deve diminuir " sofrimento" através de certas técnicas de contracção , mas não mencionam esquecem- no propositadamente , a possibilidade de evitar qualquer dor . Sim , .p orque a "dor" tem também o seu papel na ma.nutença.o da desigualdade . E: pa ra uma mulher a coisa mais s imples do mundo romper c seu hímen introduzindo , um dedo na vagina e exer cendo per iodicamen'e, e pressão sobre as paredes . E: de t al forma simples que a maioria de nós nem pensa ni sso . Se quizermos privar os homens da " sua gota de s angue '.' , não custa nada . A virgi ndade e tudo o que a rod e ia con ti nua a. pesar sobre as no ssas vidas . Nó';não conhecemos os nossos próprios corpos e de sejos . Mais uma vez os fazemos depender d os outros e das inst itui ç~es o (Extraído da EnCiclopédia " l'ilClTRE CORPS , nous mêmes " - elabora9ão de um colectivo de mulheres francesas) . iJ E , digamos , segundo um model o biológico que a dominaç ã o de sexo é repre sentada : as mu.l heres como únicos seres humanos com vagina são os únicos susceptíveis de serem"penetrados" - esta ideia é aliás reforçada pela concepção br utal izante da relação sexual (que aliás t e:'li a sua mais dramática expressão na violação) , e que vale , para o homem , como br utal afirmaçãc de virilidade , corolária de uma frontal ignorância dos mecanismos de acesso ao prazer pela ::; mulheres , e , conseque ntemente , do direito a es se acesso , que é negado . Como único orifíc io com f unções espec i ficame nte sexuais , a vagina é sobreval orizada c omo instrumento de prazer para o homem , ignorando- se o clitóri s como principal região erógena do corpo· da mulher . Para homem o princípio do prazer , para a mulher o princípi ~ da reprodução( ' ~se és homem , afiTma~te enquanto tal , é por i sso que v21es e te farás vale r ; se és mulher trata mas é de ~rran j&r um homem que te saiba manter no teu lugar , que é a í que estás bem") - mas esquece - se que ' o aces so ao prazer o~ é livre e plenamente empreendido pelos dois em igualdade de circunstâncias , ou nenhum conseguirá o máximo do seu corpo , bem supremo da natur eza . Mais ; a mul her enquanto único ser humano possuidor de vagina , é propriedade em si mesma (e como tal negoci ável pela pro st ituição e pelo casamento) , objecto de uso do macho . Este , sujeito desse u s~ é proprietário, o falo , seu ins t r umento de uso , é instr umento de poder e , segundo a ideol ogia patriarcal, prerrogativa que lhe assegura a sua condição dominante . 15 A mulher será assim o objecto sexual suje it o à " ofensi va" masculina , fálica:';: ,'Submissa, pass i va , " aberta", poço fundo que se l imita a r eceber o sémen , num ventre em que gestar2:o os seus filhos , que aliás há- de criar para uma sociedade feita bem ma is à medida dele que àsua, ma s afinal não em função da re alizaç ã o humana de nen!'mm . Aqui , é o macho o " ofens()~ ", o" for te ", E é aqui t ambém que radic a a interdição a~so l uta da penetração entre machos ,interdiçã) mo:cal, cient ífica ( ou qUE'.: ;::;omo tal se mascara) , " clínica", jurí dica , e enfim , políticét , exac tamente porque nos enc ontramo s já no ca.mpo cio poder -- o corpo é o l ocal como convergem õ poder privado e o poder mais l atame n te público , que a ideologia dom::'nante postulá, come um único que é verdadeiramente " político " . Qualquer home;n o sabe ; intimamente ele reconhece - o~ pesar de tudo sempre t enho um cu) , num mi sto de medo e de culto , ele reage agredind,o , ag!:'e = dindo a mulhe :c (a r e lação sexual é tomada como uma vitória sobre a mulher) e agr9d i ndo , mas já de outro l ado , qu a l quer " traidor" - o â nus é negado enquanto objecto de penetração . Violental1ente dessexualizado , porque a única " brecha" pela q ual o macho " dominador" poderia ser dominado , ofendido submetido à últ ima das perversões da natureza , ou melhor da SUA nature za de homem domi nador . Ser" dor.ünado " p or outro horaem seria sllbv·.> rter Lodas as relações estabelecidas ao n í vel do poder inter-pessoal, inter- individ ual , tào político ele como o nível da dominação patrão-operário . E depois , qual 2 o homem que qu~r sentir- se domi~ado? Se a relação sexual com outro homem lhe é dada como uma relação de dominação , como pode ele acei tá- la, Para o homem, ( e r eferimo- nos sobretudo ao homem embuído de valores maxistas e patriarcais) , é deste modo que é valorada a homossexualida.d.e masculina , Quanto à sua congé nere fe mlnlna é já valorada de outro modo ó entre duas mulhe:t'es não se p õe já a quest ão de domi~a: ção mútua , pois em termos de " sens:) comum", apenas o falo masculino é valorizado '; enquanto instrumento de poder , o que não acontece co m qualque r dos orgão s sexuais da mul her . O inter cürso sexual entre mulheres não assume , por isso , para muita gente , a gravidade que a mesmã relação entr,:~ dois homens ( todos conhecemos um d o s máximos insultos da lingüagem machistaql..B envolve em si a carga de poder da sociedade patria:ccal :" Vai- te foder !" ) - enquanto que para o homem machista a, " f ufa " é a m'~lher que até tem fama de o saber satisfazer como nenhuma mulher heterossexuaL o " paneleiro " é o home m que aceita ser dominado por outro , I sto não s~nifica que a homossexualidade feminina não constitua , cOl1t udo um desafio à sociedade patriarcal e à sua ideologi a d ominante, assim como às práticas fa l ocráticas que J.h:; corc:'8spondem - ao assumir uma mülher COlil::J seu objecto sexual preferencial , a _mu l~er lé sbica demonstc:'a por essa atitude a não necessidade de um homem para sua sat isfaçao , procuran do um ser do mesmo sexo para a:nar , Este desafio , aliás correspondido pe l a mulher não lé sbica qua~'ldi) assume o p r azer cli torid.ia.no como fo nte primordial .de todo o se'~ prazer , é um desa:io que S2 desenrola no campo do poder , poder inter- pessoal que esta >e L;ce as relações <ln tid ianas e que mantém uma conexão estreita com a OJ~ga,üzaç ã o do poder público , " político",pois tod os saber.los como é n ecessária a qualquer formaç ã o sócio- económica uma consentânea cii.s posição das relações que os homens e as mulheres ma:lt êm com o 3e~~ próprio corpo , a maneirã como o exploram e o aceitam o Na soc'cedade capitalista em que nos situamos , e é este o exem pIo que nos i nteressa , a organização da economia s °'Xual é· fei ta seg~mdo um princ í pio da re: produção ( co!:'respondente na economia política do sistema capitalista a um princ í pio de l u·- '- cc:'o) e não segundo um prin c{pio de prazer , o qual , a. ser rei vindicado e ass'J.mido ela prática pol í tica no quotidiano , iria alte r a r r adicalmente as relações de poder e de propriedade que atravessalil o interc urso ' sexual e afectivo entre os sexos o 16 cu/tuta/ '-------------------------------------------------------------- ~ ':7J'11nu.de:fC .hRtXHl1 ~~& iZt Porquê um filme sobre violação? Porque a partir do crime individual va mos descobrindo pouco a pouco um crime de s ociedade que nos abrange a todos . Porque é que apresenta os quatro "violadores " como pessoas normais? Porque a grande maioria dos agressores são homens normais . Todos os inquéritos e testes o provam . Mas é , evidente mente , mai s seguro deixar a creditar qt:E as vi olações sejam cometidas por tarados sexuais . Como explica que indivíduos cuja vida s oci a l e a fec t iva é normal , pos sam ter tais procedimentos? O seu comportamento é condic ionado pelos conceitos sociais e culturais. Na escola , em família , na rua , na trop~ra pazes são mentalizados da superiorida= de do s exo mas culino . Uma mulher é fei ta para ser conqui stada , dominada. Há: então , uma con f usao entre agressividade e virilidade . E quaY'n o as ví timas se queixam e a soc iedade condena , sen- tem- se confundidos : o que terão feito de tão r epreensível se tal acto não pas sa de exercer a sua superi oridade de mac ho? A sequência da violaç~o é apresentada em imagens muito realistas . Porquê? Aparentemente o f ilme acaba com uma reconc iliação . Poder- se- á falar de um filme optimista? Há uma enorme tendência em apresentar, a vi olação como um acidente , mas normalmente é pouco focado Q traumatismo psicológico da vítima . Sómente ima[ens brutais podem dar uma icl eia do hor r or de tal agressão . Não . A verdadei r a reconciliaç~o só se poderá estabelec e r pouco a pouco ao fim dum longo caminho que os homen s e ~s mulheres terão de percorre r juntos.Sal var o amor ? E porque não? 11 J~c)c~ () ecran o eeran trdns torm8do ... d Habituadas que estamos a um cenário cul tural e cinematográfico por excelência po: bre e omisso no que respeito aos problemas da Mu1her , que tem primado até hoje peia difusao de ~ma imagem de mulher / objecto , o filme de ~annick Bellon " amor violado ",si da "regra do Jogo ", numa tentativa de tra..., zer (finalmente) para o ecran imagens reais do nosso dia a dia , num convite a o pôr em causa. A"violação" em foco, em filme ' a porém tao proxima de cada uma de nós, que sala de cinema se alarga e sai dos muros restri tos do espectácul o para a rua . A desmistificação completa da ideia de " violação consentida" , veiculada por muito s (que atiDge o seu auge no filme pornográf ico), para o acto de violência masculina sobre um corpo de mulher que se debate, rec us a ; não cede/se es ~ ota; não aceita; é violentado . Uma cena que se prolonga por mais de 15 minutos , em que a violação é trazida ao écran assim mesmo , tal co mo ela é , com toda a violência,agressão podridão que encerra . Ce na "demasiadamente choc ante " nara quem não se choca com o dia a dia , que> vive isolado de realidade ex terior que é a nossa . Talvez "demasiadanen te leve " se tivermos em - conta a agressãõ mais vasta que é toªa a vida de uma Mlllhen A desmistificaçao também da violaçãoen quanto não cometido por um " punhado de mar gina is~ diferentes do homem normal , ao~ quais há que dar uma certa mar~ emde desculpa por que " são vítimas da sociedade ". Os violadores são apresentados como homens "normais", com a sua profissão , a sua fam í lia , que é o que se passa na maio r ia dos c asos . E precisamente pelo seu estatutode homem Dormal , com tudo o que ele impl ica(a ceitaçao de um determi nado tipo de moralpe valores) qL'e a viol ação é a (c orYsequênc:ia na tural. Uma imagem 'que quebra a dicotomiatD mem normal /violador , viaja até ao fundo do problema e põe em causa mais do que "um pu nhado de homens", a cultura patriarcal as:::: similada, presente em todos nós . Do problema part icular privado , sentido p or cada uma de nós , para o problema"co lec ti vo" que a violação é . Do " eu" para õ "nós" , da " minha violação " para as " nossas violações" - um amontoar de casos individuais que repentinamente se transfor ma em caso colectivo . ~ desprivatização d e um problema que de privado nada tem . - .t~ . t, ru.a não II .. o retrato exacto, quase perfeito da ideolo gia que preside à violação e que não ca"'e só nas ca~'eças rl~s " v: oradores '" r~,a ideologia que preside ao julgamento , dos tribunais que nos / os julgam , que nos col ocam no lugar de "rés" porque " não temes o direito a ultrapassar os estreitos limites que a sociedade nos concede , e que nos man têm seguras(?) - única forma denão "pro: vocarmo s " o homem - e se os ultrapassamos .. . há que sofrer as consequênc i a s . e 18 Um manifesto actual , talvez demasiadamente esquemático , de qual quer forma neces ' s ári o e belo , que coloca um problema que ho . j e , j unto com mui tos outros , começam a S3ir d os " d i á r ios í ntimos " para se r fa l ados p or t odos . Uma pre oc upação nos ficou porém : Yannick 3ellon retrata um caso "exempIar", suficientemente claro para =1ue o pró prio tribunal o penalize . Mas que dizer dos. milhares de viola~ diárias, em circunstâncias diferente3, não tão " ideai s "? Que di3er dos milhares de casos mais isolados, despercebidos, daqueles que não vão a tribunal? Do s que vão e p or lá ficam numa gaveta? Dos que cada uma de nós calou / cala? Dos que nunca chegam a ser notícia"? Um fim dema siadamente "feliz" para uma real i dade em que a mulher raras vezes sai " vence d " , um II happy end " que nos faz fiora càr descansadas ou dizer "é assim mesmo !" p orque a justiça se fez no écran. . . MA~ E FORA DELE? J ~~ ••• ~~~- 7n4'~ ~~~ d>d:U ~~ J!!.U ~ r ' '- . ... \ 'i. 1 \"~ J '"- __ ~ .. , . I ~ / ;: ... " \ •. Florbela Espanca , nasce a 8 deDezembr o de 1894 -- registada como filha de A~tónia da Concei ção Lobo e pai incógnito . Só em 1964 e der"~ C~. :':'.:::: morte , o pai , J oão E s panca a vem 2.1~erfilhar . Florbela" não teve , aquilo a que se ch~ ma uma "vida em fam í lia". Criada p or mães adoptivas e numa célula social mais ampla , desenvo lve- se l ivre Guma ' séri e ,de preconce i tos e moral tradicionais . Em 1905 matricu l a - se no Liceu de Evora que frequenta até 1912 . Casa pela primeira vez em 1913 , mas continua os estudos l~ ceai s que terminam em 1917 . Neste mesmo ~ no Florbela vai viver para Lisboa e matri cula- se na Faculdade de Direito onde estuda até ao ter ceiro ano , em 1919 -- a l tura r \' (\1 < "l , em que é pub licado o "Livro de Mágoas". A 30 de Abril de 1921 é decretad? ' em ~vora o divór cio de Florbela , em J unho c a sa pela segunda vez e em 1923 é publicado o"l ivro de Soror Saudade " . Em 1924 seu ma ri do apresenta a acção de divórcio . Um ano is tarde , Fl orbe la vo l ta a casar . Morre em 1930, a 7 de Dezembro e dia 8 é püblicado o l ivr o "Charneca em Flor" . Florbela Espanca viveu numa época de grande s agitações e mudanças sociais , mas que nada l he diziam . Não se interessava p~ los pro cernas sociais , não a preocupava as mudanças e agitaç õe s e a pol ít ica , quer em Portugal , quer n~ Estrange iro. As suas preõcupações estavam voltadas para os seus problemas pessoais e os de quem amava , Era urna mulher com um tipo de vida Qi· ferente das da sua época . Urna mulher que nunc a se adapt ou a urna soc ie: ade sempre pronta a cal uniar e margina l izar tOQOS os que saiem da"regra do jogo", aqueles que não re spe i t am de a l gumas forma as sua smi~ co s tumes e moral. Fl orbela fu gia desta s ~ ciedade que a limitava , e i sol a va- se , so nhava e refugiava- se nos seus versos . Neles e la " vivia", " sent j,a", " amava" o que que ria ou não queria . A sua" fu ga" à realidade , dif í cil de enfrentar por urna pessoafrà ca , impunha urna máscar a de s i à sociedade ~ Nela só encontra o prazer do luxo , da elegância , do vest ir bem . Depois foge dela a sete pé s como um bicho ferido que se escon de dum mundo exterior q..l8 não a satisfaz que não faz parte do seu tão sonhado i deaL A segu ir, o vazio , um \'azio mui to grande que o seu lirismo , a sua melanc olia, li gados com a neurose e o desespero , faziam de la urna inadapt ada . Não sabe o que quer,por is so idealiza e BOrma . Nã o enfrenta a rea lidade e isola- se num m~ndo seu , chei o de mágoas e s ofr i mentos em que o amor se t orna urna busca c onstante e nunca conseguida. E desesper ada , des i ludida , cheia de contradições é na poesia que se revia e se en contrava . Flor be la suicidou- se precisamen te um dia antes do a ni ve rsário do s eu nas: cimento e da publicação do seu livro de poe mas "'"'ha rneca em Flor" livro este chamadõ de " rec ordações". Tal vez . ~ um suicidio ' premeditado pe la poetisa para um dia prec~ so , segundo transparece p or cartas escritas ao seu editor pouco antes da morte . Num mundo ainda desconhecido de Florbela , abrimos <l}.l'é uma pequeníssi ma porta , com estas pal avras / frases / poemas . 13 Vffi~~ A (!J~ ~do ~-MM- (lM-0..2 fz~ (YU'~LM-- (J T~ h ~ ~1{,: ~ ~ a::U.>c:U> ?cn.~ ~ ~. tu- CL% a. ~ fU./W.-O fVt-c:<Á c.eJL., fitW»-D- / ):CYlJIL 4L /OZ-~ / ~~ . ;e,ÚL P~'1l-U tJ ~ ~-i'U) PO'V1Wl ~r ~ ~ /!IS () H. ().N1 do ;uo ~7..~ L ? ~ U-<2- -i o tJ "Ó fYVt..U-l - {) Ai.. aA.a. s f-& ---. .u.-u.- ~ fx;. J. 0-5 ) rr:;ÚYJ ~cfd» - ... .ê K Ca.M...D / ~ fÚ..J..J--1 5~ Via ,.u ) .I JCV7.--~ ~ ~ /l>-€JL~ fao - AtyVL 01- ? . to oU; ..Á lÚ1..rvt. elo ~ ~ Já- diú ,,5 ~03 / ~ h~c.0-3 fecAarncW ~ o rn-/C:rvvi- to . r Á ~1a.. .oo !v~o vO- o o r/t-fYVl-á. _.. p~ lL. Ao ~'}CU1, t:ML~ ~ (YYlR.;U. ~ - chJ.. f'C<5YVL~&t. 1 A~an., p~ '(YL.( Lo-J /~a..- ~oJ LvJ- ~ ~- c.a..cLa.. po.i ,v&.- rz;.[o-v ~ (}J1.YL0Jj LC<./LCt... ,E lo .d.P- t..&io .. ' r A h ! ~~ ~oJ., / .R.a.A 4 LJ.. .e. ~ . ~ o tCh. .d~ ;é~cu.J!;cM dC<Y> 1/ / f~~° d.~ ;1IlCYt0 ~ ~ ~ ~ / .A~ ([J (YVLU.U) PnQ.C0:5 ro- ~co- (ho-J ~ f~cn' .QJY'JA.- rr:b fO-.l0oJL p~o- (YLM ~W\.. (-!eA.' - 20 ocd..A' . eh cg--a..( ~. -,d.;. /'fVl..J..J'Uuí' , LS(Yvz.crfa. tO- ?(l) ~ ~cz..t., rr-u- ~~ ;/;;~ m rÚtJJJ ~ ~aYJ I ?~ ~ ~cY1.- I . I-! d fu.°~CLol.o-s r-CJ'L- (YUM~ o JÍO-HVL~ c:;u.Elo,. j)JJVLCt /1.J..V3 ;tJÚ- ~~ ~ .( AMAR! Eb- ~ ~J ~OJL ~dL~ A(YYl.. a.JL r ?ó O"'Z- tf ~ M JL A q;uili {A a.JL.. ,f .4. A {'YYl.()JZ... , ? P/UJU-cÁvL~ ,ou- ;j .l.UYY\. C< FU: p~ ,AI2. 5o ,-c:Ú.. S ~ - - , tClU-Gi.o ~ ~ c:la. , a- ~ ~ /l.UJ.... - -, r ~ - (Yt...<.. f'V\.. ~ tfVYYl.CJ.A.- , ( ? T ~~'~ !_-, F t! d.4 ? /0Z rc9oÚ.. ,(.'~ ;tn-o<,.C<. juJ. f1A.o'- a./LJ-UL a ~ (Y1....CX..D Es '1ll.Q Ce/t. ~c:u..JL. ~ ii c: /O I (YY1. "RR.co("d.coA- --~' ,.aJYYLQ...7\. ,( c..a.. eLo.. UI' rO.N\Ao.A- ~ fl-'Ll'1 ~ lfCI?J f".i pCUl.-a.. o.i!..~ fCfL~ /l.- ~ l JÇ. d... a. : reau.'eLa ~0:- .R.. a. a.>"'A_":~ ~? (YYLa.J? É ~I ~ h-L ~ ~ Ú '(Yl. J-o.. tyVLQ.. .c.. JL ('YY\.,' (.,L rVLo... oL a. lA.a lÁ cri G.. M..r-.. I [) /.JJ.).J..o. a.luCfl.ada. .a.cu.'-fr.o.. ~ OÚA. " ' ~ 'Po..n-o.. i3 Q. .fu...l- d..9. o/-Ã.' a M..tLL..U- LJ...A. ~ C(J'L. • - • .rncon Stâl'l/c4OJ fJl-O~ o ?~dJ.,.' c{ LI\' C-a.-S d-a. (")-Yl. a....U? ,.d.o ~~o.. olaLa fi /:ir;. rYLc... f{u..... ~J ~ [Lf.o ,d; iu.3 (WtJ>- ~ Cju..t. #.0. IZ.. cÁ..< , '7 u..L F'e a c1..a..Ua. I li a eo..ó....t. ( (YY'.L T cu.J-o ~~ M-~ ~1I~ 7u...f.dcy:u. t J: a..ulD ~'fo ta.. 1m co... /VVU- ~'í)'Y2. Q/tTa / E bz.-Q o ro-e ~ ~ fcJYl-~ ~~&o...lIC<..1 J- ~J ;tau-Lõ /..~ rf1 LU.. a-. p~' a ui cJLa.... C<- 4. tuú, so--f .d..u-UA.. c!...(a.. c;U-CZo ..d...o A 5 bM/ln'1 CLS ra.cn ~CUL. d c.J-&cn 12 a. fl.. S ')/...L./l. CL..Jt '" a.. CI... rC/Z. ~ CjUJl.CtU1. o.M.do _. (YYl.4. ~ ~ s G.. [ .I. _. OMACIl ,!UP a..~ s.' (Y>'\-- ~ ~ ç ",,' ~J O<... V'C<.Á f<..<-~'/Vl-c/LO ClAJI..<. Ci1.. ~ ,ou..c;:.o C/cu' ~~'M"lo/ ~ Âti. - d-L /~cuiM. I ~ .... ~oI..o ••• 21 j S OLID~O Meu corpo está seco est éril sem forças J a' na- o consegue amar Mui tas vezes já não sente o Sul E a cor que lhe era própria E a vida , a Alegria que dele ima nava Secara Fugiram frias , assustadas Da vida estéril que l he dão e est ip ulam Num país em que a vida é proíbida E amar é pecado , Da solidão a qU:'l foi vot a do Dada TO NORMA JEAN (Ma r ylin Monroe) Não t em regre s so o rio que nos leva ma s há nele um d i a pelo menos um pelo me nos único em que a secura das l ágrimas se traduz de todas as cor es do vento nos prados verdes como m0nte s infi nitos de todas as hollywoode scas califórni a s deste mundo de stars e de fãs Há perante os astros -- os verdadeiros -- uma máscara de par a í so aqui mesmo onde o azu l do l ago te espelha o corpo num l eito sinistro ( Será o par a í so algo mais que a s ~a máscara?) Fa lamos ·J a úl tima estrela como d o úl tiJlo moicano : é s empre a sua doçura Um frut o ácido o romance e •a da ferida quando nada mais nO'B r e sta senão faz ermo- nos ' sangrar para nos sentirmo s ( nem seq~~e:r vi vos mas apena s para no::: s entirmo s) aqui um outro aqui um céu californiano f e ito tela de cenár io te f a z fria a pele sobre um l ençol de erotismo prospecc i onado em teu rosto de boneca uma toneca sem rosto di z I lave you vende - se aos milhões tantos c omo pode te r o núme r o da morte tanta quantos os homens que só puderam possuir- t.e de i xar correr o sémen e m fot ogr a fia sobre o papel da tua peje de cale!1dário quanto s ? 22 olho - te gasta por quantos olhares, boca$ dedos famintos sexos latejantes no suor dos sonhos Um dia fÓ um dia Pelo menos um pelo menos lín"i ('{") de todas as frestas do desejo quando soubermos distinguir o ar na morte respirada nas sombras sorridentes da tela numa sala escura Aproximem- se é só um fClrmigueiro que nem se consegue pautar uma voz aveludada dese~ha figuras etéreas ( não é nada calma senh ore s espectadores tudo está bem) : nenhum cadáver nú repousa em nenhuma nuven em nenhuma praia povoa1a. de flores pássaros conchas vermelhos caranguejos azuis Sol a ocidente das dunas urna a mais feliz do mundo a fazer castelos de areia sentada toda silênci o hirta toda à espera do sono u~ illeni~a a'lêli um outro oêltro aqui este rio corre este rio mOTre que te provam toda as tuas mãos publ ici tariamente so')re os seios o sexo urna amé rica toda esvaída -no sorriso de ti amar go o sol a peso de ouro e tu ainda a correr nos teus esquis de brinquedo até que o cordeiro morte possa ainda não morrer q\\e para sempre o pôtro desconheça a aspereza do laço um outro vento só A. C. noticias A contracepção ~lo Mund o Cerca de 250 ~ilh5es de casais prati caram a co~tracepçao em 1977 , enquanto que em 1970 apenas 147 m'lh5es o haviam f eito de e,cordo com o estudo citado na revi sta "Population Reports " de Setembr o /78 , a divisão é a seguinte : Esterilização/80 rnilhõe~ , p ílula 55 milhões , perservativo J5 milhoes , Diu 15 milh5es , outros 65 milh5es . Escassez de serviços para abortos nos EUA. Um e s tudo sobre aborto nos EUA , feito entre 1976 e 1977 , revela que mais de meio milhões de mulheres não obtiveram os servi ços para aborto que pretendiam . Campanha Nacional para o Abor to e Contracepção - O CNAC tem a sua sede central , em Lisboa , na Rua Rodrigues Sampaio , na Sede do Movimento Cristãos pel o Socialismo. 23 As mulh 2r e s r e unem- se no Bras il : l~C on gre sso da Mul he r Brasi l e i :r:-a , Pel a prime i r a vez , ma is de quinhentasmu lh (' r e s repr e se ntam os gr upos de Ba irro,Grü pos de Mul here s , operári os sind i calizado s: reuniram- ~ e em S . Pa ulo par a de bater os pr obl e mas da mu l he r na sociedade br as ile i r a , ' De 3 a 8 de Ma rç o a borda r am to dos os probl emas r el at i vos ao traba lho da Mul he r, ao sal ári.. o , .à s c o~d ições de t r abalho , à sexualidade , à contrac epç ã o , à or gan iza ção so c ial , etc •• A impor tância d 2ste a c onte ci': me n t~_que t e ve lugar no di a 8 a 11 a ni ve l naciona l , é dupl o : em pri mei r o l ugar a s mu l he r es br as il eir as afi rmar am , c riar am a suã vi pr esenç a e suas l utas de uma mane ira br ante , num entus i asmo e num extr a ord i náno cli ma de festa e so lidariedade . - Flor bela Espanca - A Vida O"br a de Agostina Bessa Lui s . - Um Quarto que seja se u Virgi:lia \10 01f - Os três gui néus Elas afir mara m o s eu combate no momento onde , no Brã s il ~ os f or tes da ditadura começar am a se abr l r um pouco . Os sind i catos e outros movimentos mex em- se , reivindicam com força , As mulhe r es também . E está aqui o segundo ponto i mp ortante . Desde 6 princípio da abertura as mulheres manifes+am a su~ presença em todo o lado , testemunham 'o trabal ho , dur ante estes a "os , apoiando as lutas que visam instaurar um re gime democrático no Bras il, afirmando totalmente a sua aut onomia e a especificidade dos seus proble mas no ~nterior desta luta . Elas te~minã r am este pr i meiro congresso nacio nal pe lã cr i aç ã o duma frente da mulner , pelo voto dum,man ~ festo " pelo voto de uma moção de s ~l ldarledade as mulhres irani anas e pe lo por no l ugar os grupos que c omeçam imediatamente um trabalho efectivo so bre os probl ema das creches . Vir!!i nia Woo l f - Ser Mul he r na URSS e paj_ses de Leste Ta mar a Volkova e D,Bor e' outros textos de L,Trotsky , A, Kol l ontai , Al an Brossat , - ' Crór: ic 2. da ma i s velha profi ssão do Je ann8 Corde l ie r ~1und o - A P{l ul a , O Exame G nec ológico , A Menopausa . Gruppo Fe mminista per l a sal ute de lla donna - Roma ) , - Cri s á1ida Ai cha Lemsine , - Guia J ur í dico da Mul he r , Revistas : Sit uaç ã o Mul he r Revista M Bol etim do GAMP ( Gr upo Autónomo de Mul heres do Porto ) . morada : Rua do Bonjard im , 299 - 3º, 4000- PORTOo Re vi st a Mulh er es Re vista Mulhere s de Abril Saíu '0 núme ro 3 do Boletim da Associação para o Pl aneamento da Famí lia , onde podes ler entre outr as coisas : - Mães adolescentes em Por tugal : das 20 mil em 1977 , quantas ter~o querido sê - lo? A Cont r ac e pç ão pelo Diu Ano Internac io nal da Criança - Como se nasce em Por tugal , Obs t áculos à c ontracepção . INTERNACIONAL A Revoluç ão Iraniana trouxe consigo uma das mais extraordinárias e combativas ITD bilizações de mulh eres dos últimos anos. Muito para lá do Tchador foi todo o estat uto social da mulher que as iranianas,nas ruas, aos milhares, em manifestações , questionaram . "Eles esqueceram um dos objectivos da ~evoluçã o Iraniana -- a libertaçao da mulher", Subjugadas por séculos da mais terrível opressão , vanguarda na luta contra o re gime ditatorial do Shah , as mulheres ira nianas não estão hoje d i spostas a aceitar passivamente o desvirtuar da Revolução pelas forças r e li giosas , t ão pouco a recuar na hi st ória e se encerrarem por detrás do véu ou permanecerem enc l ausuradas nos harins . Às mulneres iranianas que combateram e que l utam ainda, como as francesas em 1789, as russas em 1917, as espanholas em 1936, as chinesas da "longa marcha", as argelinas em 1953 , que lugar lhes vai pertenc rr amanhã? Sómente o de boas esposas e de bcas mães? Que direitos terão na nova const ituição , perante a herança, o casamento,a contracepção, o aborto, o divórcio, os estudos , o trabalho, o acesso a todos os po~ tos sem distinção, os salários? Os artigos que se seguem pretendem reflectir testemunhos recolhidos no próprio Irão por mulheres que viveram, se empenha ram ou simpl esmente presenciaram factos,pa lavras, mobilizações, e os transcreveramrã ra papel . - -HlsrÓR/D OE UIIO REVOLUcAo~ !! \.I .~ .-- Que uma direcção nacionalista burguesa nunca pode dirigir consequentemente uma Revolução, é uma realidade que toda a experiência histórica de revoluções em países col oni ais e semi- coloni ais teill vindo a confirmar sem excepções . E se alguma dúvi da restasse, o caso do Irão não poderia dei xar de a afastar de uma vez por todas. Uma Revolução que sem dúvida ficarána h i stória como exempl ar, em que as massas derrubaram com as cuas próprias forças um poderosíssimo exército e desmantelaram um regime odioso e odiado por anos e anos,uma Revolução assim, diziamos , acabou por dar o poder à única estrutura organizada que e xistia no I rão em oposição ao Shah: o cle= ro xiita. Hoje, a l guns meses passados sobre o go verno de Khomeiny e Bazargan , a situação pol í t ica está l onge de se encontrar esclarecida . Kh omeiny fez tudo o que pôde para conso l idar o seu regime ' sobre uma Revolução inacabada e que ele pretendia a lodo o custo travar. Lançou o anátema divino ~ bre a greve dos operári o s petroleiros ; pre-=tendeu impôr o uso do Tchador e toda a legi slação reaccionária sobre as mulheres;ten tou consolidar o seu governo através de um plebiscito anti-democrático que dava como única a l ternativa o sim ou não à República Isl âmica; sem definir be'11 o que isso significava, até porque a Constituinte,insistentemente prometida para contentar as mas sas,não se vê ainda sequer no horizonte. Mas nem o carisma que Khomeiny conseguiu granjear , nem o poder das suas milícias , nem sequer a protecção do seu Deus fo ram suficientes ao "Ayatolhah" para travar a Revolução Iraniana . O referendo não atingiu os .ob jectivos esperados, pois é hoje perfeitamente claro que os números anunciados são absolutamente fantasiosos, e a percentagem de abstenções terá sido muito elevada. Dz Confrontado com o movime nto de massas crescente (numa entrevista dada ao "Le Mon de" r ecentemente , o primeiro ministro Ba= zargan queixava-se do"irrealismo" das massas que constanteme nte punham em cheque o seu governo) que a todo o momento o põem em causa, e que se iniciou com o 8 de Março e as manifestações de mulheres, o clero xii ta parece e star também agora a jogar nas mobilizações de massas . Todo o pretexto é bom para pgr manifes tações em movimento contra o comunismo ,con tra a esquerda em geral. O mais recente foi o assassinato do Ayat ol hah , que um gru po suspeito de se r composto por agentes da Savac cometeu há umas semanas . No funeral, um milhão de pessoas bem manipuladas por uma perfeita organização dos xii tas,tes temunhada pelo correspondente do "Le Mon= de", grito u insistentemente "morte ao comu nismo". O maior jornal de esquerda,o Ka= yan, foi proibido e teve que passar à clan destinidade. As sedes das organizações de esquerda encontram-se barricadas e armadas. prevendo a eventualidade dum ataque de sectores mais fanáticos. Não há dúvida que muito se vai jogar nos próximos meses. Para já, uma coisa é certa: a direcção de Khomeiny , apesar de um conjunto de ·medidas progressivas que to mou, nomeadamente a nível de política externa, não quer passar os marcos do capitalismo e de um regime burguês nacionalista ;do outro ladá , as massas organizadas ms comissões de fábrica,de universidade, nos bairros, nas organizações de mulheres, nos diversos partidos de esquerda, buscam ir mais longe , Subsistituir Khomeiny por uma nova direcção revolucionária será o próximo passo a . dar, sem o qual a Revolução Ira niana irá ficar mais uma vez inacabada. Contribuição do CEAI (Centro de Estudo s An ti-Imperialistas da A A.C.) J)S AnOS cho.'{e, _ _ A luta das mulheres no Irão não data de hoje . Ela enco 'otra as suas raízes no sé culo XIX , quando as mu l heres se levantaram contra os ingleses que acabavam de obter o monopól io do tabaco nesta região . No Harén do Shah , as mulheres queimaram todos os cachimbos. Depois desta época a l gumas datas chave contam a sua história: 1921 - As primeira s feministas iranianas são originárias do Noroeste do Irão. Ne sta região, as mul he re s de tinham uma parte importante da economia : pequeno comércio ,pequenas propriedades fundiárias . I nspiradas pela revolução soviét ic a que acabava de estalar no outro lado do ma r cáspio, criaram grupos de mulheres e abriram as pri meiras esco l as de r apari gas o Celebrar am a jornada inte rnacional da mulher no 8 de Março e pub lic avam um jornal: "Mensageiras da Felicidade" 1922 - Professoras e Professores primári os agr upar am- se para lut ar contra o porte do Tchador . O seu jornal - "O Mundo das Mul heres" viria a se r fechado , depois da publicaç ão de cinco n1).meros , em ligação c om os socialüta:; muçulmanos . 1925 - Golpe de Estado de Reza Shah .Todas mulheres que tivessem tiô.o actividade polít ica f or am presas. 1935 - Reza Shah ordena às mulhe re s que a bandonem o véu . Os soldados perc orrem o país e arrancam o Tc hador a todas as mulheres que enc ontram. Não se tratava porém de uma medida para libertar a mul her nem de luta c ontra a reli giã o , mas anies destinava- se a favor ecer a inse rç ao das iranianas na v~ da ec onómica. Ne ssa a ltur a , o Irão t~ nha ne cess i ~ad e de uma mão-de-obra numerosa e barata . Mas o Tchad.or, vestimenta que envolvia todo o corpo da mulhe r e l he dificultava o moviment o das mão s , impedia a actividade das tr~ balhadoras. Donde , a necessidade de o proibir. Imediatamente a seguir à pro mulgaç ão deste decreto , o número de 0= perárias nasmadústrias Têxtei s aumen to u para o dobro . 1941 - Os aliados obrigam Rez a Shah, simpatizante nazi a demitir- se . Sucede-lhe o filho . En t r e 1941 e 51, temos dez anos de um governo relativamente li beral. Os 7rupos de mulheres multipli= cam- se . As mulheres revolucionáriasfa zem campanha contra o véu e lutam por obter direitos iguais . 1951-53 - Mossadegh é primeiro-ministro. Decide nacionalizar o petróleo. As Ira niana s apoiam- no massivamente na lutã contra o imperialismo americano e inglê s . Mas não conseguem obter o direi to de voto . 1953 - O Shah retoma o poder. Absoluto. Prende , tortura e deporta toda a mulher com actividade política ou feminista . As r euniões e os j ornais de mulheres s ã o proibidos . 1963 - Uma r eforma do Shah dá o direito de voto às m,) lheres. Mas as eleições"fan toches " serão largamente boic otadas. - R evo l uç ~o. A l e i marcial é decretada em Setembro . As mulheres que começam a vestir o Tchador são cada vez em maior núme ro, como símbolo de opo~ sição ao r egime ocidental e prevertido do Shah. Tchador que permite também esconder as armas. 1978 - 1979 - O Shah foge . Khomeiny regressa.As iranianas continuam a l uta p or uma ver dade ira democracia. ZRDI ."l/be~Jo/e' ,. . . • ATE M,f L.LET tC5t etf1L{l1h~ Imaginem , i maginem mul heres , cent enas de mulheres iranianas escalando , trepando as grades da uni versidad9 para se i rem manifestar nas rua s de Teerão . Tinham- nas fe chado . Era 8 de Março, dia I nternacional da Mul her . El as eram 5 . 000 . Nem um sójar nal ista , nem um só fot ógrafo , nem uma só c§. mara de televisão l á estiveram . Estas ima: ge ns históricas do primeir o movimento espontâneo de mulheres iranianas não as ver e mos mais . P orque a Imprensa nã o se inte= res sava a i nda pelas suas l utas . Era prec i so entâo mobilizar a oplnl ã o internacional . Lembrem- se de Angela Davis . Foi p orque mul heres e alguns homens a apoiara m que e l a p ode escapar à câmara de gás na Califórnia . Nós , mulheres , devemo s lutar contra governos e naç ões , c hamar a solidariedade I nte rnacional que é a nossa úni ca arma . Traídas por todas as Revol uções , atiradas de novo para o lar quando o barulho das armas cessa , o mesmo d est ino espera as Iranianas . E~ tas mulheres, que me convidaram a ir ao seu país para festejar o 8 de Março, fizeram a revol uç ã o ao l ado dos homens , para derrubar o poder tirânico do Shah . Nesse momento , o Tchador e o hedjab eram o símbolo das resi st ê ncia ao r egime Pahlavi . Khomeiny er a vene rad o pois simbolizava a resistência iraniana . Mrls o que se passou depois? Kh ome iny vol tou . O Povo Iran iano que fez a Revo l uç ã o par a c onquistar uma democracia re a l , herdou um tirano teocrático . Profundamente , nada mudou . Uma sociedade repressi va instalou- se , diri g i da pe l a força , (o exército , a po l ícia , u poder re li gioso) • As aspirações das mulheres a direitos i guais ser ão esmagadas . Como será traí do o desejo dos homens e das mulheres irani anos em l uta ,. de uma verdade ira democracia . Khomeiny governa do céu , atr avés de le i s papai s . Er a como se o papa impusesse os cânones da I gr eja a todas e todos hoje .E que , em nome da l ei sagrada , a I greja C at ~ l ica persegui sse as mulheres que abo r taram , impedi sse o d i vór cio ... E grotesco .E dramátic o . E r evol tante . E é preci samente con tra isto que as mul heres iranianas se l e= vantaram . No 12 de Ma r ço , e l as e ram 20 . 000 a mani festar- se dosde a Universida de até à Pra ça da Li berdade em Teerão . A sua acção s~ D4 b olizou o avanço do femiminismo no mundo in teiro . O que queriam est as mulheres?" Aza di, Azad i! " Grit aram ao l ongo de dez quiló metros . Liberdade . Liberdade de esco lher t raz er ou não o véu , libe r dade para trabalhar , liberdade para abortar. Direito a pra ticar a contrac e pção , direito também a um salário igual aos homens, direito à educaç ã o . As suas r eivindicações são as mesmas d.e todas as mulheres . Rei vindicações que não são plenamente sat isfeitas em ne nhuma parte do mundo . Neste momento , as mulheres iranianas est ã o a correr perigo . E l as t êm medo . Todas as fo r mas de p urita= nismo vê m ao poder ao mesmo tempo que a re pressão se instala . Sob a capa da reli: gi~o tudo é censurado pelos fanáticos reli giosos. E apesar de tudo isto , a coragem destas mul heres é extraordinária . Cercadas de milic ianos armados de metralhadoras (sempre com o dedo no gati lho e c·om a cabe ça cheia dos seus fantasmas de machos ) vi: - as , a estas mulheres, r ealizarem tranquilamente as suas reuniões . P ol itizadas pela luta contra o regime abominável do Shah --- milhares de mulheres encontravam-se pre sas -- as iranianas aceitam hoje morre r pe l a igualdade de di r e i tos . Que faze r ? A nossa so li dariedade deve ser extrema . E preciso manter informada a opinião internacional . E preciso manter em Tee rão a presença de mulheres que tenham au diência internacional . J ornali stas , fotó: grafas, e l as poder~o testemunhar a l ut a das iranianas . Expulsa do Irão pelo governo , ao fim de quinze dias , não p ude despedir- me das mi nhas irmãs iranianas . Mas quero que elas saibam que , sem descanso , fal arei delas Pas suas lutas . Esta é a mensagem que de s ejo que elas ouçam e que esc revi aquando da mi nha detenção no aeroportot " Na véspera dã mi nha partida prematur a e que me foi imp c's ta sem r a zão , exprimo- vo s todo o meu afe c to , a minha so lida ri edade , a minha admira: ção pe l a vossa coragem e determinaç ã o . no c ombate pe la vossa liber dade . Liberdade ~ r ~ vós próprias , liberdade e justiça para o vosso povo " . = ·/e/ dB ppotecç8oda !ami!;a. r Vot ada em 1936 pelo parlamento do Shah esta lei esteve vários anos . Elaborada por mulberes juristas , sofreu muitas modificações antes de ser submetida aos deputados . "Por mais insatisfatória que ela pudes se ser, de qualquer modo esta lei l imitavã consideravelmente o direito dos homens a po ligamia e ao repúdio . Um homem não pode ter mais que duas esposas e somente duas nos seguintes casos : - se a primeira mulher fosse estéril - se a primeira mulher dá o seu consentimento a um segundo casamento • • Uma mulher n~o pode se r rep udiada pe la simples decisão verbal do marido ~ Este deve dirigir um pedido de divór cio ao tribunal dos assuntos familiã res . • Uma esposa pode dirigir a este mesmo tribunal um pedido de divórcio ( de facto , parece que 10 mulheres para 100 homens obtêm satisfação) . A modificação mais importante apresentada no projecto lei inicial foi aquela qm diz respeito aos direitos sobre as cria~ . Esta va previsto que em caso de divórcio , a protecção não pertenceria de facto ao pai, mas seria resolvido pe l o Presidente do Tri bunal com aquele que dos dois conjuges pu: desse melhor cuidar da existência e da edu cação das crianças. -movimento de defesa dos d·...eitos das mu.1J.,eJ-es Este texto nunca saiu. Os homens e apenas eles continuam a e"Libertação das mulheres e libertação xercer autoridade paternal sobre os seusfi da sociedade " é o título da brochura que lhos. foi edi tada e vendida por est e grupo. No seu preâmbulo,as dez mulheres que o redigiram exprime m o seu apoio à actual Revol ução, afirmando que a sua luta específica é a continuação necessária desta Revoluç ão. Os ob j ectivos da l uta foram resumidos numa platafo rma r eivindicativa : Casamento l ivr e e não por contrato. Fim da venda e da compra das mulheres através d o dote e de outras medidas fi' nanceiras . Fim d o direito de f l agelação. Di vór c io r ecíproco . De saparecimento das leis que dão todo o p oder ao s homens . Lei i gual em matéria de herança . Acesso igual à ed uc ação para raparigas e r apa ze s . A mesma oportunidade de acesso ao empr ego para ambos os sexos . Trabalho, i gual, salário igual. Ajuda económica temporária às mulheres divorciadas a fim d e lhes f acilitar o acesso a urna vida prcfissi onal. Ds · 11 CI/DR UHR II SlJRRC~OLIIÇRO~ m./chelle /,ert-ei" "T odas as mulheres estão ligadas ao dor quer o tragam ou não". T~ Tchador, Tchador , T":::hador, a palavra aparece , obcessiva , desde que se fale do ! rão , tanto em Teerão como em Paris . Não de veria ser assim . O Tchador é uma peça de vestuári o . Deveri a ser tomado c omo tal. Mas será que existe um vestuário inocente? Dizer que o Tchador foi o s ímbolo da oposiç2:o ao Shah , que é rei vindicado ainda ho je- e ainda vestido , é suficiente? N::í o , de facto não é . Se se pretende que o Tchador t6 um s ímbol o , tem- se razão , na condição de nQo tomar a palavra símbolo levi anamente . Símbolo é uma palavra forte e a questão do Tch2.dor uma história p !mgente , :?orque exprime , cobre , esconde , uma. verdade na qual estão comprometidas , envolvidas as mulheres. Desta viagem a Teerão , trago imagens, pala.\fras , trocas , mas também uma comp:ceen são mais funda da noss3. cvmplexidade femi : nina , c.a. n05sa di visão , paradoxalmente da no:c;sa simiJ.i tude ar'.tagónic3. . A pa l av":ca Tena dor evoca talvez as iranianas mas na realI dade , :10 fundo , Gla cor;t.e m- :los a t.odas . To::: das as mulheres estão ligadas ao Tchac; or quer o +Jrac;am 0'.1 não . Todas se debatem de " ba:xo dele . Por debaixo dele podem jUlgaE - se inimigas ql.:a.:1do o não s ã o , umas e cutras oprimi·- las . A mi;1h~ primeira imagem violen ta. ao de '~e mbarcar em Tee:r:-2:o é a Praç3. da Li herdade, imensa e redond.a , em volta de um monumento eri gido, vest~ g i os do Shah . Na rua , carros parados . Na pr'aça mulheres em Tch a.do:-:- ne {!;To fdam . ~ esta actividade / act.:l.vismo das mulhe r es que se demarc3: pri.rE~o ::'ro que tudo . Tchadors pretos , .~l()rijos , ' pouco im port.:;" as mulhere s co::qu5 staram o direi tõ à palavr3. e servem- se dele . No ce mi té:-:-io , em Toerão , octx"as mu:'..he res de negro , do:; que não 'vemos senão cs olho s , o na:-:-j z , 2. bcca , descem de aut.ocarrcs e dAp5em bandeira8 , c~ntando , fazendo o V da vitória . Vieraí:! saudar os seus mét:tt.i re ";3 , Elas têl~l 50 éU1C[; , 12 anos , mas o que as c~ract eriza, o que as une é terem feito a Re vol ução . Na Universi dade (mas na rua também)duas f ormas de vestido coexistein, Raparigas novas com calç as de ganga , cabelos pen~ ea dos , passeiam com as suas camaradas vesti das de áusteros e l nngos mantos , com mangas , mais práticos que o véu para transpor tar os livros, a testa coberta até às so= brance lhas . Quais as mais int eressantes? As que se vestem à Europeia asseme l ham- se mais connosco , mas sera assim? A pIlmeira frase i ntere ssante que ouvi saiu de um grupo de rapari gas cobertas dos pés à cabe ça de azul vivo . Tinham talvez 16 anos , pa reci am freiras, po ss1.üdas de uma alegria an gélica . Uma delas atira- nos : " julgas que as mulheres ocidentais são mais livres que nós? J ulgam que despir- se para se tornar num objecto de prazer é a liberdade? O que nós queremos é que não se fale do nosso cor po . Não queremos que ele chame a atençãõ }l; ao no sso pensamento que é preciso diri• II glrmo- nos. ~ f/aes tões ll./yel1tes . Que exigem as div~rsas feministas de Teerão acusadas pelos mais fanáticos religiosos de serem manipuladas Quer pe l a Sa vak (antiga polícia do Shah) Quer de serem comunistas? Elas são muçulmanas , também e las não se pronunciam nem contra nem a favor do Tchador, exigem o direito de esco~ lha a usá-lo ou não . Co locam Questões pre cisas e concretas' sobre o direito à educa: ça~ o direito ao trabalho , aos salários iguais para i gual trabalho , ao divórcio , à herança , Questionam a compra de mulheres , Querem ppier aderir a partidos políticos .E xigem uma sociedade sem classes mais justã. Que re spondem as I s lâmicas? Elas comen tam o corão . Tudo está escrito , basta inte rpretar um presente . "O corão niR, proi be o divórcio, explicam , mas é preciso evi tá-lo p ~ r causa das criança.s ; o corao naõ interdita a poligamia, mas tudo se e~pl~ ca porQue no telT!po de Maomet havia mais mulheres Que homens . Para as crianças e melhor partilhar um homem do.Que não o terem. Aliás, este homeQ deve ser capaz de amar com jus+.iça ec ,-,nómic a e afectiva as sua.s mu l heres , e a primeira esposa , tem Que lhe conceder o acordo . O corão é sobretudo contra os órfãos , contra a i nfe lici dade das crianç2.s". ~ claro Que , em sentido inverso , podemos pôr o caso de uma mulher que ser i a suficientemente jus-'-.a para amar " económica e af ect ivamente " Quatro homens , mas i sso não entra cm linha de conta , pois estarí amos a sair do princípio da realidade . A mulher é mãe , e isto é o fundamenta l, e a criança não de'le ter mais Que um pai . Todo o corão acenta sobre " a unidade cOEjugal complementar" • E Quanto aos homossexuais. ~ justo fIa ge lá-lo s , fuzilá- los? Não têm direitos nõ novo regime? O ~orã(; opõe- se aos homossexual s porQue não é favorável senão à famíl ia. O homos:se xua l cometeria assim um prime iro " crime cõn tra a sociedade " e s colhendo o seu prazer acima da procriação ; um s egundo crime sen do hostil ao se xo oposto . O prazer pelõ prazer é vivamente desaconselhado . ~ pre cis o l utar contra o desejo, jejuando , por exemplo . Entre estas mulheres acolhedoras, tão Quentes , tão frias , tão próximas , tão longínQuas , e nós , mais o díálogo avança, mais se impõe , realidade e fantasma , o Tchador, como máscara à Qual se junta um chicote: o sexo castigado . A ordem moral mete medo. cIepolel7Jentos C. 28 anos, formada em Química, professora desempregada . Pa rtic ipa na grande manifestação de mulhe res contra a obri gação de uso do Tchador~ Por acaso . E não está arrependida : "Para lá do véu foi o nosso direito ao trabalho , a no ssa participação nas actividades sociais e políticas , Que defendemos :" Quem as ameaça? A república Islâmica? Ninguém sabe ainda o Que ela reserva às mu l heres (nem tão pouco aos homens) no capí: tulo das l i b~rdades : Os mollahs, trazidos pela revoluçao Que têm sobre a população um poder moral e judicial? Ou os Ayatoliahs , dond'e o mais célebre , Khomeiny , lançou apa lavra , atacando as " mulheres nuas" , ou seJ'ã sem veu? EnQuanto se manifestaram em cortejo,as mulheres foram batidas, lace radas , com espingardas . Homens em gr upo , fazendo valer o s eu sexo , gritaram às Que , das janelas observavam as manifestantes " se não Quiserem o tchador, terão i sto !" Estas ameaç as não são tomadas levemente . Se o poder religioso recuou peranteas mulheres ( " aconselhando-as " somente a usarem um fato decente , Quer dizer , tradicional) não parece nada disposto a recuar na aplicação da l e i islâmica em matéria de le gislação familiar ou social . A não ser pã ra o direito de voto, Que parece ter sidõ conseguido tanto para os homens com,) para as mulheres , a l e i do corão não foi modifi cada . E esta l e i ancestral, Que , hoje , de facto, gOverna o Irão . D, 45 anos , advogada . Exp lica: "Depois do retorno de Khomeiny, a lei sobre a protecção f amiliar , instituída em 1975 ~ já ~ão est á em vigor. Esta lei ~ga rantla a 19ualdade entre os sexos na famí= lia , mas oferecia às mulheres a possibilidade de divórcio, e também de contestar as acções intentadas pelos maridos. Era ,apesar de tudo , uma mudança em relação à prática Islâmica". Exemplos desta prática: A herança dos rapazes é o dobro da das raparigas; O marido tem o d ireito de se opôr ao trabalho da mulher, às suas viagens ao estrangeiro; o homem pode ter várias esposas mesmo a título temporário, caso o deseje; as mães não d i spõem de qualquer auto ridade em relação aos fi l hos ; em questões cm ~. Em meados do mês de Março , a Imprensa de todo o Mundo , ocupou- se de um facto "i naudito". Milhare s de Mulheres Iranianas desceram às ruas com a abs oluta convicção da sua justa luta. Enfrentar am ti ros,pancadas, espancamentos e esp ingardas , paradi zer N~O AO TCHADOR! O que em determinado momento foi símbo lo da luta contr a o Shah , converteu- se agõ ra num entrave para o avanço das suas con= quistas . Antes , o Shah e o seu regime pro ibiam o uso do T hador porque era uma de= monstração de repúdio pelo regime . O Tcha dor era usado por muitas mulheres como sím bolo de apoio ao I slamismo e recusa da pe= netração Imperiali sta . Mas posteriormente converteu- se numa contradição insolúvel pois o I s lamismo e o seu executor ,Kh omeiny, pretenderam torná-lo obrigatório e atacar assim o justo direito élO progresso ~ igualdade s ocial c om o homem em todos os campos. Esta brutal contradição em que se encontravam as mulheres após se terem incorp orado massivamente no processo revolucionário que derrubou o Shah , fez com que e las se enfrentassem com o próprio Khomeiny pelo qual t inham antes empunhado armas . E é esta a explicação de porque é que as mulheres irromperam na cena política Iraniana como uma multidão oposta ao novo governo e às suas leis. Foram elas que iniciaram as exigências abrindo um novo processo ao qual se juntaram logo amplos sectores da popülação.D'3 sde os Kurdos a"Os próp'~ios tl?3:bal:hador;;; s . ~ assim que a mais profunda revolução dos últimos tempos demonstrou como as mulheres são um sector profundamente revolucionário,quando se organizam e mobilizam. Se não, escutemos organismos como "Bidarieh Zanan", uma organização feminista Iraniana qU€ diz: "é absurdo que se pretenda revogar o divórcio e outras leis progressivas, como por exemplo a igualdade de sálários com os ho mens. Nós lutámos contra o Shah, 0 .D8· de justiça, o testemunho de duas mulheres é necessário para i gualar o de um homem~ A aplicação do corão não é uma novidade no Irão. E as suas interpretações ao longo dos séculos, colocaram a mulher no lu gar que conhecemos. O que temem C. e D.~ entretanto, é que, a Revolução s e ja recuperada pelo clero. Alimentavam para elas própri as e para o povo Iraniano, outras es peranças. mas agora não ret r ocedemo s ". Es ta úl t i ma frase é a que me l hor re fl e ct ~ a po sição da maioria das mulheres I ranianis. Ao mesmo tempo que a mobilização das mu l heres se massificava e or gan i zava , a im~ prensa reacc i onária Mundia l t r at ou de ut ilizar o facto para demonstrar o "progres s i vo" da soc i edade oc i dental e c r istã s im: bolizada pelo Shah . Mi l hares de tomada s de posi çao imperial istas , conver t e r am-se do dia para a noite em "r'lefensor es da c a usa feminina", descebri r am a " f orça das mu ~ h e res " , o seu " p oder de mobilização", a s ua "valentia e a'ttuácia" . Os jornalistas mai s destacados escreveram sol-re a sua capac ida de e che garam a dizer que "Elas podem dar a volta ao Mundo " , Esta campanha hipóc rita e reaccionária não nos engana . Pretendeu- se utilizar a justa mobi l ização das mu lheres Iranianas , para re ivindicar o Shah e o seu re gime . Pr etend eu- se com tal c a~ panha de monstrar as "b ondades" do imperia~ li smo e d os seus lac a ios , os mesmos que aI tir?m as mul heres dos seus paí ses para as mais aberrantes e inj ustas desigualdades . ~ creditaram , enfim , poder utilizar a sua ac ção , para desvi a r as mulheres.do cam i nhõ da Juta perm ~ nent e de todo o povo . N6s , so cialistas , estamos porém convenc i dos que no Irão se abriu uma nova et ap a de revo l ução , na qual as massas não s ó questionam o novo gover no , como l utam para o derrubar . As mulheres , como parte importantíssi ma des te processo entenderam muito bem que tê m õ justo direito de exigir perante Khomeiny . Ganharam esse di reito nas ru as e na l uta - que Kh ocontra o Shah . E, n0 r esta razao meiny se viu obrigado a retroceder e a d i zer ue " não era obri gató yj o o uso do Tcha r dor". A d i nâmica da mob il izaçã o das mul he r es contra o tcha d or, l onge de se col ocar de l ado do Shah e d o I mperial i s mo , soube diz e r NÃO à sua campanha demagógica . Ho je , tanto a c l a sse operár ia no s eu c on junto , como a s mul fle r es Iran i a na s de vem d i scut ir como actua r para avançar c om o proce sso em c urso . As mulhe re s , s e bem que de vam manter por um lado a s ua i ndependência , devem incorp or a r - se por out r o l ado ao movi men t o ma i s ge r a l dos trabalhad or es , únic a fo rma de c onseguir a força sufi c i ente para de rrotar o novo r egime . P or que não s~ o só as l e i s I slâmi cas as que afogam e oprime m. Sã o as próprias bases do sistema capi talista que origi nam a opressã o da Mulhe r , a s que há que derr ubar . As mesmas que sustent am as crenças r e li giosas de todo o tipo . 0 <:;\ tra,ba lhador es Iranianos e as f or ças d~ esquerda têm também uma obri gaç §o imediata : i nc l " i r no seu programa e acçaO de conjunto ; as r eivindi caç ões das m:: l he r es . Nós , mul he r es soc i a l istas saudamos o exemp l o das nossas irmãs I ranianas , com a profunda convi cção da sua f or ça e c apac ida de não s ó para l utar pelos s e us object i vos . espec í f ic os , mas também para consti tuir um motor f undamental que produza , em conjunto com o s trabalhadores , a ª errota do r egime capital ista e a constr uç a o ~o social ismo . As mul he r es e os t rabalhado r es de todo o mundo , têm uma impor tante exp eriênci a a r eco l he r . ( extractos de um ar tigo p ublicado no jorna l Opc ión -- orgão do Part i do Soc i a l ista dos trabal hador es da Argenti na) • "Libe:rdad !" Gritaram as mulheres Ira e nianas nas ruas d. nacionalidade, raça, religião, OU ~er tença A acção deste mité, anuncia Simone de Beauvoir , será o en vio ao Irão de uma dele gação de mu lher , encarregada de uma missão de soli: es d ariedade e informação . Sala al guns iraDi scussão acesa . Na niano s e iranianas , manife stam- se contra a ~artida da delegação . OutroS e outras aUm homem diz ' " não é o momento !" Simo Beauvoir " vi muitos re de ses muitas revoluÇões . Cada vez que se tratou de defender as mulheres ' não era o momento o~ortuno '''. ~olftica. cente"Soud.arl-edade ! " Res~ onderam todo nas de mulheres em o mundO . ~róximo "Venham até cá . Enviem-nos mulheres que testemunharão. O mundO tem que saber a ver dadeira razão das nossas lutas". Alertadas ~or um tel efonema vindo do Irão um ~unhadO de j ornal istas ~ari siense s mobilizam- se . Vi ajar até Teerão ~ara ~ar tilhar as horas históricas que vivem as Mias ranianas e na sua luta? Sim. . como , Ae ideia em nome ~uem? de um c omité Inde de criação a~oia-Ias ~oiam-na. e ternacional de a~oio e de informaçã o ,nasce . A~elos na Alemanha , em Es~anha , no Egi~to , Ja~ão , noS Estados UnidoS , na Suí ça , etc ••. Três dias e três noites mais tarde o c omité constitufdo conta já com mais de 100 membros chegam dar o e nomes . Uma pequena sala LigadOS Direitos do Homem. E~a Im~rensa , alertada à última hora , telef one. Câmaras de tüevisão ~ro"tas antes que tudo comece . Uma faixa a~arece , enfim . A tem~o . Lê- se em grand es letraS negras "Comité Internacional Lireito s das Mulheres" (C IDF) . Um c omité tem al gumas ho ra mas que vai dar que falar . s Si mone ,~_e Beau voir , ~resicF;nte do Comi té , abre a sessão . Ela descreve a razão de ser e os objectivOs do CIDF : o seu objeCtivO ~rinci~al será o de inf ormar ~ermanen t emente sobre os ac ontecimentos que modificar 0'--' afectar a condição da mulher em qualquer do mundo , e de difund ir ao máximo esta informaçãp . I gual mente , oe de todas as acções e lutas das ;TIul re s seuS direitos , sem discriminação ~ue ~ue ~arte ~elos -- C~ res~onde ; ~af disse-se~ ~ara a~oio em~restada ~ela ~or ~elos a~oiar ~rimeira a~enas ~ossam !;"'1'.'~; r.l.'.I!; 11 r~.da, ~,de ~bn?'z, oef ~~ ~~J' mos o direito da mulher a ter um marido ~ a ser mã es com o seu direito prio ritário . Não podemos privar as mulhe= res destes direitos e condená- l a a uma vida de prostituta ou amante . Não é uma obrigação ter várias mulheres. Ás QUE SE BATEM PELA SUA LIBERDADE E PELA LIBERDADE DE TODOS OS HOMENS -- O QUE VAI OFERECER A NOVA CONSTITUIÇÃO? p. As mulheres terão o direito a se divor c iar? R. Barri Sadr ( adjunto de Khomeiny) A mulher tem o direito a divorciar-se, Khome iny disse - o claramente , pode- seffiffi mo escrevê-l o no contrato de casamentõ. O homem n~o tem o direito de castigara sua mul her : Só se se estiver perante um caso de masoquismo , se a mulher gos tar de uma violência do marido ... se l a não ace ita deitar- se com ele , ele tem o direito de a castigar , é o único caso que é permitido . ~ o médico que dirá se houve ou não violê ncia . e p. R. A poligamia vai ser mantida? AYatollab Taleghani -- "Falei disso em . Itáli a : No I slão não há poli gamia . O I slão diz que o homem tem direito a uma mulher . Se é j usto pode tomar duas, quer dizer, se pode respeitar o direito das mulheres . ~ um fenómeno permanente na história humana : o número de mulheres é excedentário . Nós respeita p. Haverá igual dade absoluta entre os 2 se xos? R. Primeiro -- ministro Baza rgan -- A na tureza não qu i s assim , não só p ara ã espécie humana , mas igualmente no reino vegetal e animal. p. O ministério da just iç a prepara uma cir cular interd itando as mulheres de se= rem juizes , porque s~o demasiado sensí ve i s ., . R, Bazargan p. O que pensa das mulheres que se festaram pelas s uas liberdades? R, Não foram mani fes tações naturais.Há aí intrigas por parte de personalidades e grupos suspe itos , anti-revolucionários, ant i-Islâmicos . . Muito emotivas , sim .,. mani- D1.'2.