DA MULHER ,
.....--- .! ~
·GRUPO DA MULHER DA AAC·
PR Eça: 15.00
EDITORIAL
"CRIME DE OFENSA A. MORAL E INCITAMENTO
AO CRIME", e i s a acusação que colocou uma
Mulher / Maria Antónia Pa lla em Tribunal .
Os mesmos tribunais que são chamados a jul
gar~ e começam , de facto , a fazê - lo , as mu=
l heres que abortam .
Um filme fala / infor ma / (re)põeaver
dade dos factos . Afirma : Elas abortam . Diz porquê e em que condições o fazem(os) .
Uma acusação que fala , não em nome das
mulheres , mas em seu nome , em nome da " sua
mora l" • Abuso de pal a"ra que pretende colocar atrás de si a pop ulação , que esquece
por ém que as mul heres que dela fazem parte , católicas talvez , não deixam de sentir
este problema , do "'bo,"tar , de sofrer na pe
le , no cor po , graves problemas físicos , de
morrer mesmo . Acusação que fala por si .
N::\' o por nós . Que fala da sua moral . Nã0 da
nossa . Moral que condena ma is de 2 . 000 f.m
lheres à mort e anualmente , em nome do " sa=
grado d i re i to do fe t o à vida ", do " irreme diáve l destin o da mulher a se r mãe e só is
so", da inev i ta;:ilidade da maternidade
e
exclusão de qual quer direito da mulher
à
sua, sexual idade , seu praze r.
A "moral " aue condena Antónia Pal l a tem
2 car as . Uma é a rec usa de que a mulr1e r
controle o s eu corpo , direi to considerad.o
como o-posto ao pudor e à moral ( a sua moral evi dentemente) . A outra é a defesa da
mulher / objecto , da mu l her me r cadoria para venda a qualquer homem que a de se je com
prar -- Temos o exemplo do Concurso das"Mis
ses". Ofensa ao pudor? evi dentemente
que
não ! O pudor destes senhores l imita- se apenas a tudo o que extravase , ultrapasse as
fro nt8iras da situaç ão de mulher mãe ou ob
jeeto' de prazer .
Ali , a mul her se expõe à morte , ao aborto clandestino , evita unia gravidez que
não deseja, faz uma tentativa (6ltima) de
contr ole do seu corpo que l he é negado --- há que c ondená- la .
Lá , a mul her se expõe , lhe/nos medem as
ancas , o pei t o , nos compram tal como carne
no talho -- tal como ela a mercadoria
se
val oriza e velhos/velhos , novos/velho s , dis
putam o seu saber em matéria de mu l h~r/fê =
2
mea -- há que preservá-la , pois então . Eles exigem-no . Vinte e duas ace itam-no . Nós
não .
As duas facetas da mesma moeda : A defesa da mulher mãe -- 6til para a procriação , e a defesa da mulher objecto
útil
para o prazer macho .
Chamando à defesa do "pudor" para ata
car uma mulher que ouso u romper as barrei=
ras do "pudor deles" e falar de probl emasque nos interessam a t ndas , estes
senho
res , arautos da " moralidade " aceitam -- i;
centi vam -- ap oiam -- organizam um fe sti= _
val de carne para consumo , tratam a mulher
como gado em feira . Mas esses , esses não
vão (evidentemente) a tribunal .
Ao julgamento de Maria Antónia Palla ,
souberam -- saberão as mul heres responder
com a sua mobilização e luta . Ao julgamento não efectuado , o dos promotores da "ven
da do nosso corpo", saherão as mulheres
ponder com a sua r ecusa , por vezes o seu s i
lê nc io quotidiano , às exigê ncias de pa$~~ =
v i dade que nos exigem .
Fartas de ser objecto de consumo , afirmamo - nos hoje e sempre como
mul he res ,
finalmente , não vistas pelo vosso espel~o
que só re produz barrigas grandes -- reprodutoras ou sexos apet it osos -- ao vos-r,> dis
pôr , mas que reflecte mulheres plenas ,
nas da sua sexualidade e maternidade:Cada vez mais recusamos a mul her com
90 de mamas para morder , 60 de cinta para
apertar , 90 de coxas para violar e O de ca
beça para decidir .
res
mu/he r trabalhadora
Saimo s para fazer uma entrev ista a duas
empregadas de limpeza. Duas no me io
de
muitas outr a s . Di sseram-nos: "até que enfim . J á é tempo de se falar de nós. Sabe,
é um trabalho muito duro !"
Começámos p or fazer al gumas perguntas ,
que foram desde problemas salR,riais a horário f', de trabalho e tudo aquilo que sem-ore se t em p or hábito per guntar . As respos
t as são quase sempre as mesmas. Por demais
conhecidas , mas muito duras de sentir .
Bom, ao fim e ao cabo falámos e falar a m-nos. A nossa conversa durou largo tem
.. . -
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~ ~ l.,., :J.,.'-., __", t- : .
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po e , no fundo já não era só uma
"entrevista" .
Falámos ab~rtamente dos nossos problemas, da situaçao da mul her tra balhador a em
geral , dos tempos livres (q ue não exist e m)
Um p o"co de tudo. O tempo - o eléctrico- o trabaL~o - o eléctrico - a c asa ( o
tra balho doméstico) - o dia seguinte - o
mesmo despertador - o eléctrico ••. o fim
do dia, o cansaço, a rotina, a angústia .
Uma vida em que não lhes sobra um minuto para pensar em si próprias . O jantar
o almoço - a roupa su ja - o marido - os
:3
-
fi l hos -- o chao -- o t r apo -- somos máqu~
nas !
--" Ai! a minha cabeça". Limpa -- suja-
-- limpa •• •
-- "Qu'é do me u t r abalho !", e mais , mais.
Uma pequena pa r te da nossa conversa :
G.M.- . O que pensam do vosso trabalho?
avô morrer am a trabé".lh·, ~ . Só
quero é ter tempo ce
chegar
a casa ant es de morrE
Senhora~.
- Re sp ondeu- nos imediatamente: -é um tra balho muito duro . Muito du
r o e sem compensações . E depois~
se vê , quer dizer a gente l a va
e
pouco depois já está sujo .
G.M.-
~lal é o vosso horário de trabalho?
Há quantos ::lDOS é que vocês t rabalham?
Sp. nhora L -- Olhe ! eu cá tenho 57 ano s
e
trabalho aqui
Ja há 21
anos . O nosso horário é das 9
da manhã às 6 da tarde , men os
às sextas - f e iras , que trabalhamo s s ó até à s quatro e t r i n
ta . Mas eu ai nda saio da qui
vo u traba lha r m6l..Í.s> 3 hora s nau
tro sítio .
e
Se nhora C -- Te nho 35 anos , trabalho à qua
se 10 anos aqui , mas já t r a bã
lhei noutro s s ítios .
G. M.-
Senhora C -- Nout r o dia caí u-me um muro ao
pé de minha casa e fui eu quem
teve de dar serventia de pedre i r o. Tive a casa a arra~.
~ um trabal hã o ! ·Quando chego
não tenho nada feito e nrnguém
me a j uda . Tenho . que fazer tu,
do . Uma pe ssoa habi tua- se a
trabal har e não nade estar pa
rada . Sinto- me muito cansa=
da da cabeça . Não tenho um bo
cadinho para conversar
com
as ami gas . Não me can so de an
dar de trás para a frente .C an
so- me mais de ser eu a pensar
em tudo . As mulher es é que têm
as resp onsabilidade s todas , a té a de ter filhos .
E o vosso salário?
Sel".hora C --
~
6 800$00 f or a os des c onto s .
G.K .- Como é evidente o ordenad o não c he ga , pois não?
Senh ora L -- M3.o chega ! E t a nt o ass im é que
quando saio da qui vou traoalhar noutro lado , pois sempr e
é uma ajuda , mas é muit o cansativo . Ando sempre
mui to
nervosa , no tempo que estou em
casa e lá só eu. é que f aç o to
do o serviço . Vou no eléctrI
co e já vou a pensar no
que
he i-de fazer primeiro .
And o
no médico dos nervos a tratar
- me . Tenho mui t o trabalho em
capa e não te nho quem me ajude . O meu sogro é c ego ;~ 11
anos , está de cama com
ve lhice , precisa que o lave
e
l he dê de comer ~ boca , e não
posso deixá-lo sozinho e s e m
cui dados . Não paro um bocadinho , mas pr efiro trabalhar
fo r a , sempre ando mais distra
í da , vejo outras pessoas , at e
p or que sou uma pessoa
muito
activa ! J á o meu pa i e o meu
a
4
G. M. -
E quanto a distracções? Como
o s vossos tempos livres?
Se nhora L -- Tempos l ivr es?
são
I sso é que e-
~~ bom! Se eu em casa páro um
bocadinho e vou ouvir mUS l ca
clássica, sabe, eu gosto é des
ta música, fico mais calma ,rlú
penso em nada , mas o meu fi lho põe- se logo a dizer
que
sou perguiçosa e dorminhoca .
Quando penso que as vizinhas ,
v ~ o ao cinema, e aqui e
ali ,
e '~ sinto-me triste, nunca S3io
para me distrai r . E é uma luta COG i ~ o mesma, até porque~
fim do di a já não aguento mais,
estou mui t o cansada e tenho de
me levantar cedo no outro dia.
E rlepois é o marido que chega
a casa e diz que e st ou de trom
bas. Mas ele nem seque r per:
gunta porque é que estou as-
A divisão sexual do trabalho s ignifica
que homens e mulheres ocupam postos diferentes nas relações sociai s . As mulheres
entram na produção dos be ns de consumo enquanto os homens produzem bens que circuIam ; compartilham assim a exploração e a ex
periênc ia de alienação da força de traba:
lho dos traba lhadores homens dentro do capitalismo . Mas e porque, dentro da divi são social do trabalho do sistema capit~s
ta a tarefa de manut enção e reproduç ão dos
produtor es de bens de consumo é largamente
dada às mulhere s, as relaçõe s , exte:::-iore s
são mantidas em parte pela separação dos
papeis macho/fêmea, pelos valo~es de auto ridade e competição , e em par te pela famí 'a com~ideal -- depósito fant~smagórico,
",-e emoçoes .
Si gnifica também que as mulheres c onstituem um contingente de reserva convenien
te que trabalhará sujeito a meio ordenadõ
e que pode ser reabsorvido na famíl i a
no
caso de desemprego. Como mão-de-obra disponível é chamada a integrar- se na actividade económica , ou é repelida c onsoante as
necessidades de momento , da situação polí tica ou económica. Durante a última guerra, porque os homens se encontravam mobilizados na frente de combate, surgiu a nece s s i dade da cooperação das mulheres na "de
fesa da pátria" . Então e las ocuparam
os
"lugares dos homens" nas fábricas , oficinas
etc .• Te rminada a guerra e com o aumento
de mão-de-obra, volta de novo a servir
o
i deal da mulher no lar , da indi spensabilidade da presença da mulher em casa, volta- se ao mito da "doc e fada do lar" .
sim , só exig6 V~:0as e Güisas,
é uma angústia muito grande.
Nós somos escravas do homem.
A nossa conversa não acabou aqui, continuou , muito , muito mais tempo . Saimoscan
tentes por um tempo maravilhoso que passá:
mos juntas e por termos atirado cá para fora muitos problemas que guardávamos cá den
tro o Por termos ouvido dos vossos. Impo:
tentes , por ém . Dois casos de entre milhares , duas mulheres entre milhões . Uma situação que é preciso modificar .
Precisamos falar , nos reunir , unirmo- nos,para lutarmos todas juntas contra esta situação,
contra mui tas outras , que não nos perna "Gcm
assumir l ivremente aquilo que desejariamos
ser .
Limpa -- Suja -- Limpa . Até quando?
~ , por outro l ado , mão- de - obra barata
por que existe em grande quant idade (a popu
lação feminina é em Portugal cerca de 53,6%
e por se continuar a considerar o salário
da mulher como suplemento do salário do homem , o chefe de família . Actuando como catal izador , a mão- de - obra feminina é chamada à produção mediante propaganda e le gislação adequada . A desigualdade das mulheres no trabalho é constituída dentro da estrutura de pr odução capitalista e da divisão cio trabalho na indústria e na família.
Hoje , quand o há cada vez mai s mulheres a procurar o mercado do trabalho,a for
mação profissional continua a ser feudo~
cul ino e as mulheres exercem as profissões
que p or insignificantes , mal r emuneradas ou
maçad oras , o homem não quer .
~ inegáve l ainda agora que a
mulher
é muito menos " profissional" que o homem,
c"onsti tuindo o empre go a sua segunda profissão , absorvidas como estão pelos proble
mas da casa e dos filhos . Daí
aceitarem
qual quer trabal ho , cri ando uma ponte entre
as tarefas que as mulheres "aceitam desempenhar" e as que os homens lhe reservam .
A mulher entra no mercado do trabalho
em condições desiguais e portanto concorrenciais em relação ao homem ; este
facto
ser ve para r eforçar a imagem tradi cionalda
mulher , per petua r " o seu papel secundário,
contribuindo para o desajuste futuro , cont i nuador do passado .
Hoje , cada vez mai s a mulher procura
salt ar o mundo das " suas profissões "tradic i onais" (ligadas à sua função social e como tal desvalorizadas) ! E gasta- se na pro
5
cura, na l uta , pela conqulsta do seu lugar:
o direito a escolher a sua profissão;
o direito a salário igual;
direito a condições materiais para o exercício da sua profissão ;
direito a qualifi cação e dignificação
profissional;
direito a iguais poss ib ilidades de promoção .
PARA QUANDO?
A consagração constitucional
destes
direitos não implica por si só a sua efectivação . Por outro lado , os blocos que existem contra nós , mulheres , enquanto gru-
po sujeito a uma opressão específica, são
bem reais: Coexi stência complementarizante da hierarquia de classes, e da hierarquia de sexos, a preservação do princlplo
masc ulino dominante, e a realização dos in
teresses da classe pr-iv'il~giada.
. .. Para quando?
•.. Quando todos os que estão realmente vivos se convencerem que 40% das mulher es portuguesas são analfabetas e
muitas
outras são vítimas desse analfabeti smo que
nasce do não rec onhecime nto de si próprio
e dos outros , e que isto assim ••• não vai!
~ri~~~c&1jW~~
~xtl~aido
do
3l.l2ajuridico da mulherJ
A especial consagração da igualdade de
direitos entre ambos os sexos -'e l:lIlca-se
em parte na legislação p ortuguesa e deve
ser vista como um apelo à efectiva partici
pação da mulher La actividade económica e
não como uma !lIera conquista vazia de COrl-'
teúdo . Exemrlo disso é o consagrado tanto
no plano constitucional <oomo nos próprios
preceitos específicos do trabalho - lei ('O
contrato de trabalho e demais legislação ~
dinárió..
"C onsagrando a igualdade de oportunidades na escolha de profissão ou géne ro
de
trabalho e cond l r:ão para que não seja veda
do ou limit ado , em funç~o do sexo , o aces=
so a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais", a lei const i tucicnal,
estabelece que, "tod os têm o direito
de
escolher livremente a profi s são ou s~nero
de tralialho ••• salvo as restrições legais
impostas pelo interesse colectivo ou inerentes à sua própria capacidade ."
Por outro lado " o estado reconhece
a
maternidade como valor social eminente,pro
tegeúdo a mãe nas exigências específicas dã
. sua insubstituível acção quanto à educação
dos filhos e garantindo a sua
,: realização
profissional e a sua participação na vida
cívica do país", ao mesmo tempo que lhe incumbe assegurar "a especial protecção
do
trabalho das mulheres durante a
gravidez
e apÓE o parto ••. "
Plano
1.
pró~rio
do direito de trabalho
TRABAlBO: ACTIVIDADES VEDADAS
Encont ram-se em vigor normas que pro i
bem o emprego de mulheres elE aG':.~vi' , --lO';;:
consideradas peri gos'1'" ou insalúbres. Apesar de justificadas a t ravés do intuito de
protecção da integridade física e mora.l das
trabalhadoras, algumas dessas medidas traduziam, de facto, restriçõe~ às suas possi bilidades de er.1prego e obstáculos à elevação dos seus níveis de remuneração . AI~m
disso não se pode deixar de referir que mui
tos dos trabalh os apontados como perigosos
para a mulher são-no efectivame nte para to
dos os trabalhadores. A adopção de medi =
das tendentes a melhorar as condições
de
trabalho bem como a vigilância m~dica acti
va impõe-se para todos os trabalhadores
em
geral. No caso específico d.a mul her tornou- se imEeriosa a ne cessidade de r eforçar
a prot ecçao à maternidade quando os riscos
inerentes ao traba l ho a afectam na 5ua fun
ção genética - esta limitação só pode ser'
alvo de uma lei ou portaria de regulamenta
ção de trabalho e não de contrato indi vidu=
alou de convenção colectiva .
os
Assim, são proíbidos às mulheres
trabalhos que exigem a utilização de s1..1bstâncias tóxica s (mercúrio , benzeno, sulfure
to de carbono , etc . )
Em atmosfera de ar comprimido
Que exijam o transpor te manual de cargas cujo peso excede 15 Kg .
Que a exponham a radiações ionizantes .
E dur ante a gravidez :
Os tTabalhos que exijam a sua permanênc i a a inda que por breve período de tempo em todos os l ocais em que se ut i lizem substâncias tóxicas~
O transporte manual de qualquer
carga
que exceda os lO kg.
Os trabalhos que comportem o risco frequente de vi brações e 'trepidações
(continuaremos no próximo número do boletim com a legislação de trabalho. Fah.rF,:,mos je : Contrato I ndividual de Tra
balho 1 Tra'oa.lh8 Eventual e a prazo IDes
pedimentos ; Faltas e Sanções; H orári~
de Trabalho e Segurança Social) .
CNAC
AS MULHERES ACUSAI1
fJDORTO
Dia 24 ele J unho . Voz do Operário . Mulheres vão re "ynir , testemunha r , exigir nova
legislação sobre o abort o .
Organizado pelo CNAC, advogadas , socióogas , p s icólo gas , médicas vão f a l ar da l~
~ islação actual , das suas consequênci as s ~
ciais / psíquicas / f í sicas par a as mulheres . E eles vão falar dos abortos que f ize
ram , dep~r dos risco s que correram dos pro
blemas que enfrentaram , dize r,- "~ que, os tribü
nais calam . Os tribunais vão julgar
uma
mulher acusada de crime ab orto , em Lisboa,
no dia 5 de Julho. No dia 24 vai-se fa l ar
de outra forma/por outras palavras/ pelas
nossas palavras. Maria Antónia PalIa está
em Tribunal. Vamos defender no dia 24
o
direito a uma informaç~o que sirva de f ac t o os interesses 80S direitos das mul hereso A sessi'io pública de jul gamento de lei,
aprovará ainda os pontos gerai s de uma nova legislação a ser reivindicada por
todas(os) nós .
SEDE NACIONAL DO CNAC -- Rua Rodri gues
o
Sampaio , n. 32-r/c-Esq . o , Li sboa .
LEi DO
o
31 D ~
t1~RÇO no mundo
No dia 31 de Março , convocado pelo ICAR como Dia lirte:rnacional de Ac~, tiveram lugar
em dezenas de paí ses mobilizaçõe s pela defesa do direito da mulher à contracepção, ao aborto livre , grat uito e ass i stido contra a este rili zação compulsiva .
~ a primeira vez que se organiza de f ~rma coordenada uma campanha internacional por estes ob jectivos , se bem que em muitos países a ní vel nacional , estas exigênci as venham mobilizando as mulheres de há vári os anos para cá. A importância desta camp anha está precisamente nesta coo rdenaç~o a nível mundial d a luta pelos direitos da mu l her , daí a sua força e
o seu signif icado. A '"' la aderi r am já. cente nas de organizações de mais de vinte países ; agrupando desde grupos e movimentos de mul he res , organizações polític as , sindicatos , organismos de planeamento familiar, etc •• O d i a 31 de Març o , fo i o primeir o dia mundial de acção
que será cont inuado co m o desenvo l ver da campanha de agora em d i ante . No momento em que escrevemos estas páginas a inda não há i nformaç ões completas sobre as re a l izaç ões que tiveram
lugar em todos os países participantes J!a campanha ~ as info rmações a seguir divulgadas são
assim as prime iras recolhidas . El as r evelam porém desde já , que a primeira J ornada Interna
cional , foi no geral um grande êxito .
H
1 .a . n
o
d
a
A ornada começou com a man i festaç ~ o de bic i cleta , que fez a vol ta a todas as Gm~)aixa­
das , mas em que o obje ctivo era em particular a embaixada da Irlanda . Te o'minou com uma gra:2
de festa em Haye .
No norte do país , realizou- se uma mani festaç~o de 1 500 pessoas e no sul de 3 000 pessoas .
G r ã-B r e t a n h a
Londr es , 5 000 pessoas na manifestação , que percorr eu as' ruas desde o Hyde Park até Tra
falgar Squaer , l evando slogans internacionais e exigindo ma i s c línicas ~ aborto . A presença internaci onal foi muito importante , estiveram present es mulheres do movimento feminista
espanhol , dos Estados Unidos , Améric a Lat ina, I tália e Alemanha . Na c oncentração final tomaram a inda a palavra represen t antes da U. N. E., da campanha nacional pe l o aborto , da comuni
dade Asiática , do Si nd icato Nacional dos Pr ofessores e da coor denação nacional do ICAR .
B é
1
g
i
c
t...
Em Bruxelas , 8 000 pessoas manifestaram- se . A manifestaç ã o foi apoiada pelo P . S. (com
a presença de cartazes deste partido na mani festação ) , o P. S . U., J. S . e as J .C. ( o P oC. B.rfu
apoiou nem part i cipou nesta iniciativa) , e a L. R. T .• A manifestação mobilizou o movimento
trahal'l aclo:ces
de mulheres ~ escal a nacional , os comités pe l a de spenalização do aborto , os
das clínicas e o movimento homossexual . As mul heres Lati no- Americanas estiveram presentes
em grande número, bem como a or ganiz ac ã o para o planeamento da família e s indicatos .
I
t
á
1
i
a
Turim - Uma concentração convocada pela U. D. I. (Organização de Mulheres afectas ao PCr)
e pelos GCR ( Secção Italiana da Quarta I nternacional ) reagrup ou uma centenas de pessoas . Nos
ta iniciativa falou a i nda uma oradora sueca e outra uruguaia , e fo r am representados numero=
sos sketches acerca da s ituação do abort o em It ália .~< Em Roma , da parte da manhã , realiz ou- se uma conf erência de imprem;a do movimento de mulheres s obre a situação nacional. À tarde
reaJizou- se um Meet ing promovido pelo movimento de mulheres sobre a situação do aborto nos
dife r e,-·t e s países . Em Milão teve l ugar um Meet ing na Univer sidade .
8
o 31
DE t1ARÇü
no munc::lo
S
u
i
ç
a
300 pessoas est i veram pres 'ntes no Meeting em Berna , resp ondendo ao apelo do PS ,PC, outros part.idos da ex t r ema esquerda , dife r entes movimentos feministas e c omi t é s pe l o direi to
ao aborto . Daí sairam diferent es moç õe s sobre o Irão , a Holanda e África . Este mee ting~
mitiu l ançar as bases para uma futura campanha nacional .
L
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Espanh
a
b
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Concentração de mu l he re s frente à Embaixada de Espanha .
aborto - an ticoncepción :
derecho de las ll1ujeres
no alaesterilización forzosa
las Illujeres
deciden
( (lN RACEP T l or~
. ~ ~r. ' -l r"=_, .~.•. 'f, 1"
et . ·. ·· '·'R.. I, -."'"L,~
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AVO
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~ ~ c ~fo
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dia internacional
de acción
31 de marzo de 1979
1000 pesso as em Barcelona e em Madrid , conce ntr a r a m- se r espondendo a o apelo de Comités
locais , apo iado por um grande número de part idos e movimentos . Fni a primeira vez que
em
~ spanha , mulheres que abo rtaram te stemunharam publica mente as condições que o fiz eram,as vi
agens ao est r angei ro , e t c •... Em Sevi lha , t eve lugar um mee t ing com 300 pessoas c onvocadõ
pel o movimento de mulhre s , onde estiveram pre se ntes t odos os partid os c 8nvidados e se efectuou um aceso de bate .
li'
r
a
n
ç
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Em Loude ar ( Norte ) o Planeamento Famili a r organizou e m c onj unto com o ~, o PS , a LeR,
o PCML, a CEDT, CGT , FEN, FO, uma tarde de mulhe:re s. Em Pari s , a c oordena ção do s
grup os
de mul he re s Nord 92, r ecolheu um abaixo assinado por centros de IVE (Inte rrupção Voluntária
da Gravidez) , animando numerosos gr upo s de discuss80 . Os grupos de mul heres do XVIII O,Xo e
IXo , or ganiz aram uma concentraç ão . Em Montpellier, f or a m d i s tribu í dos 18 000 exemp l a res de
um comun icado e laborado p or um co l e ctivo , r eagrupand o a FEN, CFDT, Grupos de Mulhere s , Planeamento Fami li ar , CNSC, MAS , União Geral da Educ ação Nacional , PS, PSU , LeR, OCT,PCml,JCR-(a CGT r etirou no último momen t o o s eu apoio alegando a presença de partidos da ext r ema es
querda ) . No apelo c ol ectivo, exige- se : " o ab orto livre e levado a cabo pelos serviços de
saúde social" e propos- s e a prepar ar em Montpel lier centros de aborto livre, gr atuit o e as-
9
sist ido . Ainda se r eali zaram manifestaçõe s em Lyon e em Havre . Em França , onde
a
"lei
Veil" deverá se r r edi scutida brevemente no parl amento , a mobilização não foi tão grande qua~
Costa
Bica
Em San J osé r ealiz ou- se pela primeira vez uma c nncentração pelo abo r to e contracepçãono
gr ande parque centr a l da Cidade . A Televisão e a impre nsa nacional estiveram presentes .
V e
n
e
z
u
e
1 a
Meet i ng no dia 30 de Março , em Caracas , que reagrupo u 1 000 pessoas .
U o S. A.
Manifestaç ões em 25 c idades entre as quais : Nova York , Hartfo r d , Bo ston , Dallas , Aust i n , San António , S~n Francisco , Sacramento , Los Angels , Portl and , Eugene , Pittsbur gh , Philadelphia , Búffalo , Kansas Cyte , Cinic i natti , Columbos Chicago , Milwvaukee .
C a
n
a
d
á
Manifestações e m Vancouver , Montreal e Tor onto .
/ -- -------------------------- -- -
--
-
I
,Planeamento Jami!tar
\
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?~"
------------------------------------------------------------------------------------------~
Já não é a primeira vez que falamos em
p l aneamento familiar . T ~mbém não é a pri meira vez que reafi rmamos o dire i t o da mulher a uma mate rn idade c ons ciente e deseja
da , a nece ss i dade de uma amp la d i vulga çãõ
10s mé t odos contraceptivos , a urgência da
legalizaç~o do abort o i nclu ído nos 5erviços de a ssi stê ncia médica do paí s . Se é vel:
dade que hoje uma percentagem razoável de
mul heres util iza já meios anti - concepcionai s , também é verdade que a grande maioria continua na mais completa i gnorânciano
que respe ita à sua comp l eta existê ncia ou
ao modo como se deve m utilizar .
Podemos
me smo dizer que uma boa percentagem das " fa
lhas" dos mét odos se de vem não aos métodos
" e m s i", mas a erros e fal has que se come tem na sua ap l icaç ã o . ~ então sempre e cada vez mai s importante avançar com este tra
bal ho de esclarecimento / di vul rTação do Plã
neamento Familiar , tornando- o cada vez mais
aces~ ível à s mul heres que o pretendam , alar
gando cada vez ma i s o número das que a ele
recorrem . E também é evidente que para t a l
10
~.I)
nã o é suficiente ( apesar de ser fundamen tal) a existência ou abertura de
consultas em hospitais e ce ntros de saúde . ~ pre ciso ampliar cada vez mais o número de pes,--soas dispostas / capazes de um
trabalho
de tipo diferente , que po s sa ir de
facto
ao encontro da s populações , das
mulheres ,
e já nã.o tanto que se . limite a esperar que
as mu l heres venham até ele . ~ necessárioum
traba lho conju nto , coordenado entre_ pessoal técnico (m~dicos , enfermeiros , por e xemplo) e monitores de planeamento , ass ir~co
mo todo um sector de pessoas ( assistentes
soc i ais por exemplo) que se d i sponha a ir
para a frente com este trabalho . ~ em tal
act i vidade que está empenhado o Grupo
da
Mu l her da AAC que , em conjunto com a APF de
Coimbra , rea l izou um curso para
" mon itores de PJ aneamento Famili ar". Depois do cur
so passado , há mui to a fazer -- para já vaI
- se passar ainda este ano um inquérito so=
bre Pl aneamento F~miliar bem como real izar
sessões de divulgação num bairro de Coimbra e na Universidade .
Associação para o planeamento da família ,
o CNAC l evou a cabo no Porto , no dia 27 oe Haio
nas I nstalaç ões da Coopera+, iva Árvore, em conjunto
com o GAHP, a projecçã o do Filme " Aborto não é um
crime" (fi l me que motivou a acusaç ão a Maria Antó.,. .
n.ia Pal I a) , seguido de decate , no qua}_
e s ti ve ram
pre sentes cerca de 150 ~essoas , e no qual ~ntrevie
::êam , entre outras , I nê s Lour enço , Fina da Armada ,
médicos e jornalistas .
Lisboa - Rua Artilharia 1 ,
o
38- 2 . , DtQ - 1200
LISBOA-Tel . 653993
Co imbra - Av, Navarro(por ci
ma do Pat acão)2 . Õ
B, permanê nc ias
das 15 às 19horas
Estão a funciona:>:' no di strito de
Coimbra
as seguintes ccnsult as de p l aneam~nt o fami
liar :
Distrito de COIMBRA
Arganil
Lousã
Centro de Saúde de Arganil
Rua Condessa de Canas
Te!. 22475
• 5.0 I. das 10 as 12 h .
Centro de Saúde da Lousã
Praça Cândido dos Re is
Te!. 99138
• 3." f . e 5.0 I. das 16 às 17.30 h .
Cantanhede
Mira
Centro de Saúde de Ca ntanhede
Edifício do Hospital
Te!. 42415
• segundas e últimas 6 .os I. de cada mês
das 14 as 17.30 h .
Centro de Saú de de Mira
Av . 25 de Abril
Te!. 45444
• 2.0 I. das 17 às 19 h .
Coimbra
Centro de Saúde de Miranda do Corvo
Cruz Branca
Te!. 52260
• 3.0 I. e 5.0 f. das 10 às 12 h .
Miranda do Corvo
Centro de Saúde Distrital
Rua Augusto Roc ha
Te!. 22619
• 2.0 1. , 4.0 f e 6.0 I. das 14 as 17 h .
Coimbra
n
Hospital da Universidade
Largo da Un ive rsidade
Te!. 22133
• 3.0 I. e 4.0 I. as 8.30 h .
Montemor-o-Velho
Centro de Saúde de Montemor-o-Velho
Te l. 68225
• Informar-se no Centro
Coimbra
Maternidade Es co lar Santa Teresa (")
Trav. do Espirito Santo
Tel. 22065 / 8
• Informar-se na Maternidade
Coimbra
n
Cen tro Hosp italar Bissaya Barreto
Quinta da Rainha
Te!. 220 17 / 9, 29021 /2
• 2.0 1. , 5." I. e 6.0 I. marcações das 8.30
às 10.30 h . seguindo-se as consultas.
Penacova
Centro de Saú de de Penaccva
Edi fício do Hospítal
Te!. 47134
• 4.0 f . e 6.0 f . das 16 às 18 h .
Penela
Centro de Saú de de Penela
Edifício do Hospita l
Te!. 56160
• 2.0 1. , 5.0 I. e 6.0 f. das 14 às 17.30 h .
ii
,
nos e...
flJiolô(ão
,
a dor d<1 gente
Quantas de nós não sent imos já meao nas
ruas?
Quantas de nós não evitamos andar de
noite sózinhas?
Quantas de nós não _foram já viol adas?
g evi dente que dentro da nossa soc iedadeto
dos os dias os direit os mais essenciais ~
violados , com especial re l evo os direitos
da mulher .
Um deles é a violentaç ~ o física da mulher . Porquê? .
Há várias teorias e cada urna à sua maneira tenta explicar o porquê da s violações .
Uns baseiam- se na hereditariedade , ou
seja , um indivíduo que nasce já t r az em s i
o germen de violador .
g a rapariga que provoca os homens , dirão outros . E mai s recente é talvez a daquela ""outora" australiana que descobriu ,
que , quando na mulher se dáa 0vulação emite determinado cheiro que é captado
pelo
violador e o subconsciente de s te impe l e~a
violar a mulher . E que dirá esta "doutora"
acerca da vio l aç ão de criança s? Que chei ros emit em?
Pa r a faze rmos urna anál i se do problema
da violaç ã o não nos podemos desli8ar de to
da urna moral , urna educaç ão , enf im , de t odã
a sociedade .
g o desemprego , é o anal fabe tismo , é a
fome que milhare·s de pessoas sofrem por dia
ge rando um clima de tensão do vic1ência .
~ a educaç ã o ; e toda a família sorri ao
ver o pequenito l evantar as saias para espreitar as pernas de, criada . Já nessa altura ele é ensinado a ver na mulher um objecto c om pernas e mamas . São os fi lmes ,
é a te l evisão . 'Tudo c ontribui para que a
mulher se j a conside r ada um object o . Um objecto para quê? Para dar praze r ao homem .
~ o resumo da moral da história da
nossa
sociedade . A mulher ou é vio l ada passivament e na cama pelo marido ou violentada à
.
J,
f orça na rua . Sempre a mesma lmagem : e s o
abrir as pernas , a bem ou a mal •••
At é quando? ??
12
.
Sa\
no Jornal
Notícia do jornal
" Foi hoje capturado por elementos da G
N R,F ..• que há duas semanas tinha abusado
de F •.• de 7 anos , que teve que sofrer internamento hospitalar".
Resposta de uma nossa colega vi ola{a qu
ando lhe perguntámos se ao ler no jornalcã
sos de violação de raparigas , tinha algumã
vez pensado !}ue isso também l he poderia vir
a acontecer : "Acontecia-me r i r, pelo insó
litD ou pela . nossa segurança dele.i tores ~
"acon.t ecimento.s."-. em :relação aos .quais . nos
sentimos minimamente envolvidos. Como diz
o Obico Buarque"a dor da gente não sai no
jornal" .
quando no s zangamos , cha mam- nos \p'-'s t éricas, • ,
Ent retant o e ent re ".,.a ún i ca
suec a
com que ele p ode viver ••• " surge uma enor
me , gama de arti go s para "fac ilitar" o t r a:
balho d a mulher , A escrava do l ar é agora
a téc nica que prepar a r efei ções TIA ROSA ,
limpa o chão c om Glo- co , usa
aspirador es
Nilfi sk e purif i ca o seu l a r com ar oma de
pinhe iro ,
A mulher sofr e da contr adição , que só
poderá r esol ver- se pela compr a de apareliLs
de uso domé stico : frigorí fico s , batedeiras,
etc . -- pois a obri gaç ã o de trabal har e ser
s imul taneame nte uma Raque l Welch , terá qiJe
se r esolver em benef í cio da indústria l i geir a .
A publicidade d i rigida à mul her tem vi n
do a i mpulsionar a c onver gência de dois i =
deais : -- a mul he r bela e à moda
"Mi nha Senhora f aça- se bela"
"Minha Senhora faça- se bela'
Usando .•. "
~
Agr ade e seduza !
e A DONA DE CAS A FI RMEMENTE AGARRADA
ZINHA
À
CO-
OMO LAVA MAIS BRANCO.•. LI MPA TUDO COMO UM TORNADO BRANCO .•.
"Cl Maria , lembra- te disto ••. Quero
c asa bom pet i s co"
em
A imagem que apre goam para preparar a
mulher para a competição sex ua l está pré- estabelecida ( para os devidos efe i tos con
sulta r qualque r revista da actualidade) . As mulhe r es convertem- se em at r act ivas
mercadori as/ objectos paTét consumo de uma po
pulaç ão masculina ávida de novas experiê n=
cias . E a evitar que ela desperte , sur ge a
~o ciedade de consumo ."
Por outro lado , as revi stas mundana s ji
estão a ter a " sua vers ~.o de l ibertaçioo s e
xual" : como desp ir- se em f r ente do mar i dõ,
cuidad os a ter com o s eu corp o , r epr ovaç ão
da E3.ssi v if:'. a ':le na cama , 100 maneiras de engatar o marido , etc ., etc .,
...
reduza- se ao consumo !
depois ofereça- se e exiba- se !
Agora ,já não há a necessidade de criar
c ondi ç ões para a produção de mercadorias ,
mas cr i ar condições par a a venda das mesmas , A nrocura já não existe ," faz - se " (o
sabor de que se aprende a gost ar •• , )e passa a ser produto acabado de rádio , televi s ~ o , publ icidade .
g ass i m que , atravé s da elaboração de
uma ideo l o ~ia de venda ~nseparável dos val or es dominante s da classe no poder , a chamada sociedade de consumo , procura
lev ar
a mul her a comprar , comprar , comprar , cada
vez mais e a não produzi r •• ,
E já isto para não falar no aproveitamento da " fi gura mul her" na contraparte das
t éc ni cas Marketing'
mulheres boazonas,
mai s ou menos vestidas , alienadas •.• sempre
acompanhando um produto para você comprar.
Como já disse Maria Antónia Firlde iro : " , • . g
por que você nã o sabe que só existe como ob
j ecto de de se j o alienado e que é por isso
que vem se mpre associada e ao lado de uma
mercadori a , de . um produto , uma embalagemru
i nvól ucro ••• "
Er a ass i m que nos que r iam : passivas e
obedi entes , i ns i gnificantes e esposas , idio
tas ••• mas ••• " boas" •.•
Seja assim •.. sej a dele !
Enc ontrará dono !
Sorria , . sorria sempre !
Todos estes co nceitos de pre t ensa natureza femi nina s ão elabor ado s em culturas
dominadas por homens , emb uídas de pr e t enções , na generalidade vi ndãs da época manu
elina ( para uso naci onal : •. ) mas outra s ra:
cionalizando já a f orma que o patri a rcad o
assumiu no capital ismo .
A" feminil i dade " é o me i o conve nientep~
ra nos fazer acreditar que a submi ssã o , doçura , fraqueza , medo , etc ., etc . é qualquer
coisa de irremediavelmente natural ...
E
13
í sexualidade
~
~~_ _ _ __ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _
v __
. _ _ __ _
\
Então , o qUe e ser virgem? Pode-se fa
lar de um ponto de vista f í sico , mas sobr~
tudo , do ponto de vista soc~a l . Para aque las que tive ram uma educação religiosa
a
perca da virginda,de antes dc casamento
é
um "pecado" - Um adeus à castidade , à pur~
za branca e imaculada .
" .•. Como a maior parte das
mulheres
nos aros 60 , eu ignora va tudo soure contr~
cepção , mesmo depois das minhas p~ci ::lejras
experi&ncias sexuais . Não ?usav~ falar _a
um médico , por causa da leglslaçao
entao
em vigor e do r.leu próprio sentimento de cul
pa - tinba vindo de uma família católica
C o~tentei - me cor,1 " flirts " e a I greja Católica considera que é pecado fazer amor antes do casamento . Deixei a Igreja no dia
em que , no confsssionário , me deparei com
um padre que me disse que fazer a.mo r com o
meu noivo era r,ecado e que referi u que eu
não era séria , não seria uma espcsa
fiel
se antes de casar tivesse uma experlencia
sexua.l ; e le recusou-me a absolviç ão e eu
nao voltei mais lá",
" • . . A oposição entre a " ·virgem" e a
" puta" não é apenas uma noção abstra cta .Ela transmite - se atravé s de obras
literári as , ela f az igualmente parte de uma expe ri& ncia quotidiana de adolesc9ntes
que
somos . Nos anos 60 , o grupo de j ovens c om
luem ia à escola sustentava esta dicotomia.
Virgem ou puta . Nós não empregavamos esses termos , claro , mas era assim que julgávamos as raparigas . Havia uma c l ara diferença entre a " rapariga bem" que não teria relações antes do casamento , e aque l a
que se "deitava" com um rapaz , c1enomina",:
de " fácil ", mas não havia um julgamento s~
milar para os rapazes que dormiam com
as
" fácei s". Achavamos até que eles
deviam
adquirir experiências para aprenderem a f~
zer amor com as jovens raparigas
virgens
que desposariam ."
14
.
A Revolução sexual, depois de 1968 , e
a utilização pro gressiva da p ílula
veio
questionar esta atitude perante a virgindade . Antes , se um horr.em nos ped ia
para
fazer âmor com ele podiamos sempre
evocar a nossa " virgi ndaje " ou dizer que tinhamos medo de fic 2,r grávidas . Agora é dif íc il r ecusar: " ser virgem já não está na
moda" e os métodos contraceptivos e stão bas
tante divul gados . E preciso saber
dizer
não a um homem que não d esejamos . A perca
da virgindade , da " pureza e da inoc&ncia",
é vista agora como um afastame!lto e pa c; sagem da infância para a " ida~e adulta", marca um ruptura , é cons ideradâ como" urr, passo para a autonomia" ,
"
Ej pur a ironia ver a minha mãe , que
t ambém foi r eprimida sexualmente a protege r a minha virgi.ndade para a ' ofe re cer " a
um ho me m que não c onhece ,"
" .•. Est a oposição entre a desvirgindade e casamento, .obriga- me a casar
mais
cedo do que gostaria , pois a únfca
forma
de ter relações sexuais é casando- me " .
Faland c do tabu' da "d es fl oraçao
- " vemos
que os manuais matrimoniais consagram- lh e
cap í t~ l os inteiros , os manuais pornográfic as também . As passag ens dos manuai s p .:)r no gráfi cos dão- nos uma ' sensação de náusea :·
os golpes do homem , as .suas (l ificul ·:: a(,~, es
em "penetr:ir" os gritos da mulher , a insis
t ênc i a do homem , o reconhecimento do pape l
de mulher " çue se entrega" . Eis o que , na
f orma mais violenta , os homens esperam da
S1OO. pri meira r elação com uma Jr. L:lher virgem .
E: a educação que lhe s impõe esta violência ,
e o mai s triste é que muitas de nós a acei
tarn . OhÍmen é uma memb:::-ana flexível , é pre
c i so d i zê- l o , que se rorr,pe sem , ou antes da
primeira r elação . Contrariamente ao que se
pEn sa , and ar a cavalo ou trepar às arvor e s
não tem p~ém nenhum efeito sobre o h{men.
Entr etanto , a introdução do dedo ( durante
caríc ias) ou até de um tampão pode provocar urna ruptura . As primeiras rel aç ões não
provocam , então nenhuma dor f í s ica.
O homem não tem então necessidade
de
se comportar como um tanque e a mulher de
gritar ou desmaiar . A ideologia e
mitos
que a ssimilámo s deformam a realidade , fazem
aparecer as mul heres como seres "débe is " e
os homens como sere s " agres;s ivos". Porque
devemos ou temos que sofrer essa dor? _
o
J
Os manuais matrimon~ais sugerem que o
marido deve diminuir " sofrimento" através
de certas técnicas de contracção , mas não
mencionam esquecem- no propositadamente , a
possibilidade de evitar qualquer dor .
Sim , .p orque a "dor" tem também o
seu
papel na ma.nutença.o da desigualdade . E: pa ra
uma mulher a coisa mais s imples do
mundo
romper c seu hímen introduzindo , um
dedo
na vagina e exer cendo per iodicamen'e, e pressão sobre as paredes . E: de t al forma simples que a maioria de nós nem pensa ni sso .
Se quizermos privar os homens da " sua gota
de s angue '.' , não custa nada .
A virgi ndade e tudo o que a rod e ia con
ti nua a. pesar sobre as no ssas vidas .
Nó';não conhecemos os nossos próprios corpos e
de sejos . Mais uma vez os fazemos depender
d os outros e das inst itui ç~es o
(Extraído da EnCiclopédia " l'ilClTRE CORPS ,
nous mêmes " - elabora9ão de um colectivo
de mulheres francesas) .
iJ
E , digamos , segundo um model o biológico que a dominaç ã o de sexo é repre sentada : as mu.l heres como únicos seres humanos com vagina são os únicos susceptíveis de serem"penetrados"
- esta ideia é aliás reforçada pela concepção br utal izante da relação sexual (que aliás t e:'li
a sua mais dramática expressão na violação) , e que vale , para o homem , como br utal afirmaçãc
de virilidade , corolária de uma frontal ignorância dos mecanismos de acesso ao prazer pela ::;
mulheres , e , conseque ntemente , do direito a es se acesso , que é negado . Como único orifíc io
com f unções espec i ficame nte sexuais , a vagina é sobreval orizada c omo instrumento de prazer
para o homem , ignorando- se o clitóri s como principal região erógena do corpo· da mulher . Para
homem o princípio do prazer , para a mulher o princípi ~ da reprodução( ' ~se és homem , afiTma~te
enquanto tal , é por i sso que v21es e te farás vale r ; se és mulher trata mas é de
~rran j&r
um homem que te saiba manter no teu lugar , que é a í que estás bem") - mas esquece - se que ' o
aces so ao prazer o~ é livre e plenamente empreendido pelos dois em igualdade de circunstâncias , ou nenhum conseguirá o máximo do seu corpo , bem supremo da natur eza . Mais ; a mul her
enquanto único ser humano possuidor de vagina , é propriedade em si mesma (e como tal negoci
ável pela pro st ituição e pelo casamento) , objecto de uso do macho . Este , sujeito desse u s~
é proprietário, o falo , seu ins t r umento de uso , é instr umento de poder e , segundo a ideol ogia patriarcal, prerrogativa que lhe assegura a sua condição dominante .
15
A mulher será assim o objecto sexual suje it o à " ofensi va" masculina , fálica:';: ,'Submissa,
pass i va , " aberta", poço fundo que se l imita a r eceber o sémen , num ventre em que gestar2:o os
seus filhos , que aliás há- de criar para uma sociedade feita bem ma is à medida dele que àsua,
ma s afinal não em função da re alizaç ã o humana de nen!'mm . Aqui , é o macho o " ofens()~ ", o" for
te ", E é aqui t ambém que radic a a interdição a~so l uta da penetração entre machos ,interdiçã)
mo:cal, cient ífica ( ou qUE'.: ;::;omo tal se mascara) , " clínica", jurí dica , e enfim , políticét , exac
tamente porque nos enc ontramo s já no ca.mpo cio poder -- o corpo é o l ocal como convergem
õ
poder privado e o poder mais l atame n te público , que a ideologia dom::'nante postulá, come
um
único que é verdadeiramente " político " . Qualquer home;n o sabe ; intimamente ele reconhece - o~
pesar de tudo sempre t enho um cu) , num mi sto de medo e de culto , ele reage agredind,o , ag!:'e =
dindo a mulhe :c (a r e lação sexual é tomada como uma vitória sobre a mulher) e agr9d i ndo , mas
já de outro l ado , qu a l quer " traidor" - o â nus é negado enquanto objecto de penetração . Violental1ente dessexualizado , porque a única " brecha" pela q ual o macho " dominador" poderia ser
dominado , ofendido submetido à últ ima das perversões da natureza , ou melhor da SUA nature za
de homem domi nador . Ser" dor.ünado " p or outro horaem seria sllbv·.> rter Lodas as relações estabelecidas ao n í vel do poder inter-pessoal, inter- individ ual , tào político ele como o nível
da dominação patrão-operário . E depois , qual 2 o homem que qu~r sentir- se domi~ado? Se
a
relação sexual com outro homem lhe é dada como uma relação de dominação , como pode ele acei
tá- la,
Para o homem, ( e r eferimo- nos sobretudo ao homem embuído de valores maxistas e patriarcais) , é deste modo que é valorada a homossexualida.d.e masculina , Quanto à sua congé nere fe
mlnlna é já valorada de outro modo ó entre duas mulhe:t'es não se p õe já a quest ão de domi~a:
ção mútua , pois em termos de " sens:) comum", apenas o falo masculino é valorizado '; enquanto
instrumento de poder , o que não acontece co m qualque r dos orgão s sexuais da mul her . O inter
cürso sexual entre mulheres não assume , por isso , para muita gente , a gravidade que a mesmã
relação entr,:~ dois homens ( todos conhecemos um d o s máximos insultos da lingüagem machistaql..B
envolve em si a carga de poder da sociedade patria:ccal :" Vai- te foder !" ) - enquanto que para o homem machista a, " f ufa " é a m'~lher que até tem fama de o saber satisfazer como nenhuma
mulher heterossexuaL o " paneleiro " é o home m que aceita ser dominado por outro ,
I sto não s~nifica que a homossexualidade feminina não constitua , cOl1t udo um desafio à
sociedade patriarcal e à sua ideologi a d ominante, assim como às práticas fa l ocráticas que J.h:;
corc:'8spondem - ao assumir uma mülher COlil::J seu objecto sexual preferencial , a _mu l~er lé sbica demonstc:'a por essa atitude a não necessidade de um homem para sua sat isfaçao , procuran do um ser do mesmo sexo para a:nar , Este desafio , aliás correspondido pe l a mulher não lé sbica qua~'ldi) assume o p r azer cli torid.ia.no como fo nte primordial .de todo o se'~ prazer , é um desa:io que S2 desenrola no campo do poder , poder inter- pessoal que esta >e L;ce as relações <ln
tid ianas e que mantém uma conexão estreita com a OJ~ga,üzaç ã o do poder público , " político",pois tod os saber.los como é n ecessária a qualquer formaç ã o sócio- económica uma consentânea cii.s
posição das relações que os homens e as mulheres ma:lt êm com o 3e~~ próprio corpo , a maneirã
como o exploram e o aceitam o Na soc'cedade capitalista em que nos situamos , e é este o exem
pIo que nos i nteressa , a organização da economia s °'Xual é· fei ta seg~mdo um princ í pio da re:
produção ( co!:'respondente na economia política do sistema capitalista a um princ í pio de l u·- '- cc:'o) e não segundo um prin c{pio de prazer , o qual , a. ser rei vindicado e ass'J.mido ela prática
pol í tica no quotidiano , iria alte r a r r adicalmente as relações de poder e de propriedade que
atravessalil o interc urso ' sexual e afectivo entre os sexos o
16
cu/tuta/
'-------------------------------------------------------------- ~
':7J'11nu.de:fC .hRtXHl1
~~&
iZt
Porquê um filme sobre violação?
Porque a partir do crime individual va
mos descobrindo pouco a pouco um crime
de s ociedade que nos abrange a todos .
Porque é que apresenta os quatro "violadores " como pessoas normais?
Porque a grande maioria dos agressores
são homens normais . Todos os inquéritos e testes o provam . Mas é , evidente
mente , mai s seguro deixar a creditar qt:E
as vi olações sejam cometidas por tarados sexuais .
Como explica que indivíduos cuja vida
s oci a l e a fec t iva é normal , pos sam ter
tais procedimentos?
O seu comportamento é condic ionado pelos conceitos sociais e culturais. Na
escola , em família , na rua , na trop~ra
pazes são mentalizados da superiorida=
de do s exo mas culino . Uma mulher é fei
ta para ser conqui stada , dominada. Há:
então , uma con f usao entre agressividade e virilidade . E quaY'n o as ví timas
se queixam e a soc iedade condena , sen-
tem- se confundidos : o que terão feito
de tão r epreensível se tal acto não pas
sa de exercer a sua superi oridade
de
mac ho?
A sequência da violaç~o é apresentada
em imagens muito realistas . Porquê?
Aparentemente o f ilme acaba com uma reconc iliação . Poder- se- á falar de um
filme optimista?
Há uma enorme tendência em apresentar,
a vi olação como um acidente , mas normalmente é pouco focado Q traumatismo
psicológico da vítima . Sómente
ima[ens brutais podem dar uma icl eia do hor
r or de tal agressão .
Não . A verdadei r a reconciliaç~o só se
poderá estabelec e r pouco a pouco ao fim
dum longo caminho que os homen s e ~s
mulheres terão de percorre r juntos.Sal
var o amor ? E porque não?
11
J~c)c~
() ecran
o eeran trdns torm8do ...
d
Habituadas que estamos a um cenário cul
tural e cinematográfico por excelência po:
bre e omisso no que respeito aos problemas
da Mu1her , que tem primado até hoje
peia
difusao de ~ma imagem de mulher / objecto ,
o filme de ~annick Bellon " amor violado ",si
da "regra do Jogo ", numa tentativa de tra...,
zer (finalmente) para o ecran imagens reais
do nosso dia a dia , num convite a o pôr em
causa.
A"violação" em foco, em filme
' a porém
tao proxima de cada uma de nós, que
sala
de cinema se alarga e sai dos muros restri
tos do espectácul o para a rua .
A desmistificação completa da ideia de
" violação consentida" , veiculada por muito s (que atiDge o seu auge no filme pornográf ico), para o acto de violência masculina sobre um corpo de mulher que se debate, rec us a ; não cede/se es ~ ota; não aceita; é violentado . Uma cena que se prolonga por mais de 15 minutos , em que a violação é trazida ao écran assim mesmo , tal co
mo ela é , com toda a violência,agressão
podridão que encerra . Ce na "demasiadamente choc ante " nara quem não se choca com o
dia a dia , que> vive isolado de realidade ex
terior que é a nossa . Talvez "demasiadanen
te leve " se tivermos em - conta a
agressãõ
mais vasta que é toªa a vida de uma Mlllhen
A desmistificaçao também da violaçãoen
quanto não cometido por um " punhado de mar
gina is~ diferentes do homem normal ,
ao~
quais há que dar uma certa mar~ emde desculpa por que " são vítimas da sociedade ". Os
violadores são apresentados como
homens
"normais", com a sua profissão , a sua fam í
lia , que é o que se passa na maio r ia
dos
c asos . E precisamente pelo seu estatutode
homem Dormal , com tudo o que ele impl ica(a
ceitaçao de um determi nado tipo de moralpe
valores) qL'e a viol ação é a (c orYsequênc:ia na
tural. Uma imagem 'que quebra a dicotomiatD
mem normal /violador , viaja até ao fundo do
problema e põe em causa mais do que "um pu
nhado de homens", a cultura patriarcal as::::
similada, presente em todos nós .
Do problema part icular privado , sentido p or cada uma de nós , para o problema"co
lec ti vo" que a violação é . Do " eu" para õ
"nós" , da " minha violação " para as " nossas
violações" - um amontoar de casos individuais que repentinamente se transfor ma em
caso colectivo . ~ desprivatização d e
um
problema que de privado nada tem .
-
.t~
.
t,
ru.a não II
..
o retrato exacto, quase perfeito da ideolo gia que preside à violação e que não
ca"'e só nas ca~'eças rl~s " v: oradores '" r~,a
ideologia que preside ao julgamento ,
dos
tribunais que nos / os julgam , que nos col ocam no lugar de "rés" porque " não temes o
direito a ultrapassar os estreitos limites
que a sociedade nos concede , e que nos man
têm seguras(?) - única forma denão "pro:
vocarmo s " o homem - e se os ultrapassamos .. .
há que sofrer as consequênc i a s .
e
18
Um manifesto actual , talvez demasiadamente esquemático , de qual quer forma neces '
s ári o e belo , que coloca um problema que ho
. j e , j unto com mui tos outros , começam a S3ir
d os " d i á r ios í ntimos " para se r fa l ados p or
t odos .
Uma pre oc upação nos ficou porém :
Yannick 3ellon retrata um caso "exempIar", suficientemente claro para =1ue o pró
prio tribunal o penalize .
Mas que dizer dos. milhares de viola~
diárias, em circunstâncias diferente3, não
tão " ideai s "? Que di3er dos milhares
de
casos mais isolados, despercebidos, daqueles que não vão a tribunal? Do s que vão e
p or lá ficam numa gaveta? Dos que cada uma
de nós calou / cala? Dos que nunca chegam
a ser notícia"?
Um fim dema siadamente "feliz" para uma
real i dade em que a mulher raras vezes sai
" vence d
" , um II happy end " que nos faz fiora
càr descansadas ou dizer "é assim mesmo !"
p orque a justiça se fez no écran. . .
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Florbela Espanca , nasce a 8 deDezembr o
de 1894 -- registada como filha de A~tónia
da Concei ção Lobo e pai incógnito . Só
em
1964 e der"~ C~. :':'.:::: morte , o pai , J oão E s
panca a vem 2.1~erfilhar .
Florbela" não teve , aquilo a que se ch~
ma uma "vida em fam í lia". Criada p or mães
adoptivas e numa célula social mais ampla ,
desenvo lve- se l ivre Guma ' séri e ,de preconce i tos e moral tradicionais .
Em 1905 matricu l a - se no Liceu de Evora
que frequenta até 1912 . Casa pela primeira vez em 1913 , mas continua os estudos l~
ceai s que terminam em 1917 . Neste mesmo ~
no Florbela vai viver para Lisboa e matri cula- se na Faculdade de Direito onde estuda até ao ter ceiro ano , em 1919 -- a l tura
r
\'
(\1 < "l
,
em que é pub licado o "Livro de Mágoas".
A 30 de Abril de 1921 é decretad? ' em
~vora o divór cio de Florbela , em J unho c a sa pela segunda vez e em 1923 é publicado
o"l ivro de Soror Saudade " . Em 1924 seu ma
ri do apresenta a acção de divórcio . Um ano
is tarde , Fl orbe la vo l ta a casar .
Morre em 1930, a 7 de Dezembro e
dia
8 é püblicado o l ivr o "Charneca em Flor" .
Florbela Espanca viveu numa época
de
grande s agitações e mudanças sociais , mas
que nada l he diziam . Não se interessava p~
los pro cernas sociais , não a preocupava as
mudanças e agitaç õe s e a pol ít ica , quer em
Portugal , quer n~ Estrange iro.
As suas preõcupações estavam voltadas
para os seus problemas pessoais e os de quem
amava ,
Era urna mulher com um tipo de vida Qi·
ferente das da sua época . Urna mulher que
nunc a se adapt ou a urna
soc ie: ade sempre
pronta a cal uniar e margina l izar tOQOS os
que saiem da"regra do jogo", aqueles
que
não re spe i t am de a l gumas forma as sua smi~
co s tumes e moral. Fl orbela fu gia desta s ~
ciedade que a limitava , e i sol a va- se , so nhava e refugiava- se nos seus versos . Neles
e la " vivia", " sent j,a", " amava" o que que ria ou não queria . A sua" fu ga" à realidade , dif í cil de enfrentar por urna pessoafrà
ca , impunha urna máscar a de s i à sociedade ~
Nela só encontra o prazer do luxo , da elegância , do vest ir bem . Depois foge dela a
sete pé s como um bicho ferido que se escon
de dum mundo exterior q..l8 não a
satisfaz
que não faz parte do seu tão sonhado i deaL
A segu ir, o vazio , um \'azio mui to
grande
que o seu lirismo , a sua melanc olia, li gados com a neurose e o desespero , faziam de
la urna inadapt ada . Não sabe o que quer,por
is so idealiza e BOrma . Nã o enfrenta a rea
lidade e isola- se num m~ndo seu , chei o de
mágoas e s ofr i mentos em que o amor se t orna urna busca c onstante e nunca conseguida.
E desesper ada , des i ludida , cheia de contradições é na poesia que se revia e se en
contrava . Flor be la suicidou- se precisamen
te um dia antes do a ni ve rsário do s eu nas:
cimento e da publicação do seu livro de poe
mas "'"'ha rneca em Flor" livro este chamadõ
de " rec ordações". Tal vez . ~ um
suicidio
' premeditado pe la poetisa para um dia prec~
so , segundo transparece p or cartas escritas ao seu editor pouco antes da morte . Num
mundo ainda desconhecido de Florbela , abrimos <l}.l'é uma pequeníssi ma porta , com estas
pal avras / frases / poemas .
13
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•••
21
j
S OLID~O
Meu corpo está seco
est éril
sem forças
J a' na- o consegue amar
Mui tas vezes já não sente o Sul
E a cor que lhe era própria
E a vida , a Alegria que dele
ima nava
Secara
Fugiram frias ,
assustadas
Da vida estéril que l he dão e
est ip ulam
Num país em que a vida
é proíbida
E amar é pecado ,
Da solidão a qU:'l foi vot a do
Dada
TO NORMA
JEAN (Ma r ylin Monroe)
Não t em regre s so o rio que nos leva
ma s há nele um d i a pelo menos um pelo me nos único
em que a secura das l ágrimas se traduz
de todas as cor es do vento nos prados
verdes como m0nte s infi nitos
de todas as hollywoode scas califórni a s deste mundo de stars
e de fãs
Há perante os astros -- os verdadeiros -- uma máscara de par a í so
aqui mesmo onde o azu l do l ago te espelha o corpo
num l eito sinistro
( Será o par a í so algo mais que a s ~a máscara?)
Fa lamos ·J a úl tima estrela como d o úl tiJlo moicano : é s empre a sua doçura
Um frut o ácido o romance
e •a da ferida quando nada mais
nO'B r e sta senão faz ermo- nos ' sangrar
para nos sentirmo s ( nem seq~~e:r vi vos
mas apena s para no::: s entirmo s)
aqui
um outro aqui um céu californiano
f e ito tela de cenár io
te f a z fria a pele sobre um l ençol de erotismo prospecc i onado
em teu rosto de boneca uma toneca sem rosto di z
I lave you vende - se aos milhões tantos
c omo pode te r o núme r o da morte
tanta quantos os homens que só puderam possuir- t.e
de i xar correr o sémen
e m fot ogr a fia
sobre o papel da tua peje de cale!1dário
quanto s ?
22
olho - te
gasta por quantos olhares,
boca$ dedos famintos sexos latejantes no suor dos sonhos
Um dia fÓ um dia
Pelo menos um pelo menos
lín"i ('{")
de todas as frestas do desejo
quando soubermos distinguir o ar na morte respirada
nas sombras sorridentes da tela numa sala escura
Aproximem- se
é só um fClrmigueiro que nem se consegue pautar
uma voz aveludada dese~ha figuras etéreas
( não é nada calma senh ore s espectadores tudo
está bem) :
nenhum cadáver nú repousa em nenhuma nuven
em nenhuma praia povoa1a. de flores
pássaros conchas vermelhos caranguejos azuis
Sol a ocidente das dunas urna
a mais feliz do mundo a fazer castelos de areia
sentada toda silênci o hirta toda à espera do sono
u~
illeni~a
a'lêli
um outro
oêltro aqui
este rio corre este rio mOTre
que te provam toda as tuas mãos publ ici tariamente so')re os seios
o sexo
urna amé rica toda esvaída -no sorriso de ti
amar go o sol a peso de ouro
e tu ainda a correr nos teus esquis de brinquedo
até que o cordeiro morte possa ainda não morrer
q\\e para sempre o pôtro desconheça a aspereza do laço
um outro vento
só
A. C.
noticias
A contracepção
~lo
Mund o
Cerca de 250 ~ilh5es de casais prati caram a co~tracepçao em 1977 , enquanto que
em 1970 apenas 147 m'lh5es o haviam f eito
de e,cordo com o estudo citado na
revi sta
"Population Reports " de Setembr o /78 , a divisão é a seguinte : Esterilização/80 rnilhõe~ , p ílula 55 milhões , perservativo
J5
milhoes , Diu 15 milh5es , outros 65 milh5es .
Escassez de serviços para abortos nos EUA.
Um e s tudo sobre aborto nos EUA , feito
entre 1976 e 1977 , revela que mais de meio
milhões de mulheres não obtiveram os servi
ços para aborto que pretendiam .
Campanha Nacional para o Abor to e Contracepção - O CNAC tem a sua sede central , em
Lisboa , na Rua Rodrigues Sampaio , na Sede
do Movimento Cristãos pel o Socialismo.
23
As mulh 2r e s r e unem- se no Bras il : l~C on
gre sso da Mul he r Brasi l e i :r:-a ,
Pel a prime i r a vez , ma is de quinhentasmu
lh (' r e s repr e se ntam os gr upos de Ba irro,Grü
pos de Mul here s , operári os sind i calizado s:
reuniram- ~ e em S . Pa ulo par a de bater
os
pr obl e mas da mu l he r na sociedade br as ile i r a , ' De 3 a 8 de Ma rç o a borda r am to dos os
probl emas r el at i vos ao traba lho da Mul he r,
ao sal ári.. o , .à s c o~d ições de t r abalho , à sexualidade , à contrac epç ã o , à or gan iza ção so
c ial , etc •• A impor tância d 2ste a c onte ci':
me n t~_que t e ve lugar no di a 8 a 11 a ni ve l
naciona l , é dupl o : em pri mei r o l ugar a s mu
l he r es br as il eir as afi rmar am , c riar am a suã
vi pr esenç a e suas l utas de uma mane ira
br ante , num entus i asmo e num extr a ord i náno
cli ma de festa e so lidariedade .
-
Flor bela Espanca - A Vida
O"br a de
Agostina Bessa Lui s .
-
Um Quarto que seja se u
Virgi:lia \10 01f
-
Os três gui néus
Elas afir
mara m o s eu combate no momento onde , no Brã
s il ~ os f or tes da ditadura começar am a
se
abr l r um pouco . Os sind i catos e outros movimentos mex em- se , reivindicam com força ,
As mulhe r es também . E está aqui o segundo
ponto i mp ortante . Desde 6 princípio da abertura as mulheres manifes+am a su~ presença em todo o lado , testemunham 'o trabal ho , dur ante estes a "os , apoiando as
lutas
que visam instaurar um re gime democrático
no Bras il, afirmando totalmente a sua aut onomia e a especificidade dos seus proble
mas no ~nterior desta luta . Elas te~minã
r am este pr i meiro congresso nacio nal pe lã
cr i aç ã o duma frente da mulner , pelo
voto
dum,man ~ festo " pelo voto de uma moção
de
s ~l ldarledade as mulhres irani anas e
pe lo
por no l ugar os grupos que c omeçam imediatamente um trabalho efectivo so bre os probl ema das creches .
Vir!!i nia Woo l f
-
Ser Mul he r na URSS e paj_ses de Leste
Ta mar a Volkova e D,Bor e' outros textos de L,Trotsky , A,
Kol l ontai , Al an Brossat ,
- ' Crór: ic 2. da ma i s velha profi ssão do
Je ann8 Corde l ie r
~1und o
-
A P{l ul a , O Exame G nec ológico , A Menopausa .
Gruppo Fe mminista per l a sal ute de lla donna - Roma ) ,
-
Cri s á1ida
Ai cha Lemsine ,
-
Guia J ur í dico da Mul he r ,
Revistas :
Sit uaç ã o Mul he r
Revista M
Bol etim do GAMP ( Gr upo Autónomo de Mul heres do Porto ) .
morada : Rua do Bonjard im , 299
- 3º, 4000- PORTOo
Re vi st a Mulh er es
Re vista Mulhere s de Abril
Saíu '0 núme ro 3 do Boletim da Associação para o Pl aneamento da Famí lia , onde podes ler entre outr as
coisas : - Mães adolescentes em Por
tugal : das 20 mil em 1977 , quantas
ter~o querido sê - lo?
A Cont r ac e pç ão pelo Diu
Ano Internac io nal da Criança - Como se nasce em Por tugal ,
Obs t áculos à c ontracepção .
INTERNACIONAL
A Revoluç ão Iraniana trouxe consigo uma das mais extraordinárias e combativas ITD
bilizações de mulh eres dos últimos anos. Muito para lá do Tchador foi todo o estat uto social da mulher que as iranianas,nas
ruas, aos milhares, em manifestações , questionaram .
"Eles esqueceram um dos objectivos
da ~evoluçã o Iraniana -- a libertaçao da mulher",
Subjugadas por séculos da mais terrível opressão , vanguarda na luta contra
o
re gime ditatorial do Shah , as mulheres ira
nianas não estão hoje d i spostas a aceitar
passivamente o desvirtuar da Revolução pelas forças r e li giosas , t ão pouco a recuar
na hi st ória e se encerrarem por detrás do
véu ou permanecerem enc l ausuradas nos harins .
Às mulneres iranianas que combateram e
que l utam ainda, como as francesas em 1789,
as russas em 1917, as espanholas em 1936,
as chinesas da "longa marcha", as argelinas em 1953 , que lugar lhes vai pertenc rr
amanhã? Sómente o de boas esposas e de bcas mães? Que direitos terão na nova const ituição , perante a herança, o casamento,a
contracepção, o aborto, o divórcio, os estudos , o trabalho, o acesso a todos os po~
tos sem distinção, os salários?
Os artigos que se seguem pretendem reflectir testemunhos recolhidos no próprio
Irão por mulheres que viveram, se empenha
ram ou simpl esmente presenciaram factos,pa
lavras, mobilizações, e os transcreveramrã
ra papel .
-
-HlsrÓR/D OE UIIO REVOLUcAo~
!!
\.I
.~ .--
Que uma direcção nacionalista burguesa nunca pode dirigir consequentemente uma
Revolução, é uma realidade que toda a experiência histórica de revoluções em países col oni ais e semi- coloni ais teill vindo a
confirmar sem excepções . E se alguma dúvi
da restasse, o caso do Irão não poderia dei
xar de a afastar de uma vez por todas.
Uma Revolução que sem dúvida ficarána
h i stória como exempl ar, em que as
massas
derrubaram com as cuas próprias forças um
poderosíssimo exército e desmantelaram um
regime odioso e odiado por anos e anos,uma
Revolução assim, diziamos , acabou por dar
o poder à única estrutura organizada que e
xistia no I rão em oposição ao Shah: o cle=
ro xiita.
Hoje, a l guns meses passados sobre
o
go verno de Khomeiny e Bazargan , a situação
pol í t ica está l onge de se encontrar esclarecida . Kh omeiny fez tudo o que pôde para
conso l idar o seu regime ' sobre uma Revolução inacabada e que ele pretendia a
lodo
o custo travar. Lançou o anátema divino ~
bre a greve dos operári o s petroleiros ; pre-=tendeu impôr o uso do Tchador e toda a legi slação reaccionária sobre as mulheres;ten
tou consolidar o seu governo através de um
plebiscito anti-democrático que dava como
única a l ternativa o sim ou não à República
Isl âmica; sem definir be'11 o que isso significava, até porque a Constituinte,insistentemente prometida para contentar as mas
sas,não se vê ainda sequer no horizonte. Mas nem o carisma que Khomeiny conseguiu granjear , nem o poder das suas milícias , nem sequer a protecção do seu Deus fo
ram suficientes ao "Ayatolhah" para travar
a Revolução Iraniana .
O referendo não atingiu os .ob jectivos
esperados, pois é hoje perfeitamente claro
que os números anunciados são absolutamente fantasiosos, e a percentagem de abstenções terá sido muito elevada.
Dz
Confrontado com o movime nto de massas
crescente (numa entrevista dada ao "Le Mon
de" r ecentemente , o primeiro ministro Ba=
zargan queixava-se do"irrealismo" das massas que constanteme nte punham em cheque o
seu governo) que a todo o momento o põem
em causa, e que se iniciou com o 8 de Março e as manifestações de mulheres, o clero
xii ta parece e star também agora a jogar nas
mobilizações de massas .
Todo o pretexto é bom para pgr manifes
tações em movimento contra o comunismo ,con
tra a esquerda em geral. O mais
recente
foi o assassinato do Ayat ol hah , que um gru
po suspeito de se r composto por agentes da
Savac cometeu há umas semanas . No funeral, um milhão de pessoas bem manipuladas
por uma perfeita organização dos xii tas,tes
temunhada pelo correspondente do "Le Mon=
de", grito u insistentemente "morte ao comu
nismo". O maior jornal de esquerda,o Ka=
yan, foi proibido e teve que passar à clan
destinidade. As sedes das organizações de
esquerda encontram-se barricadas e armadas.
prevendo a eventualidade dum ataque de sectores mais fanáticos.
Não há dúvida que muito se vai
jogar
nos próximos meses. Para já, uma coisa é
certa: a direcção de Khomeiny , apesar de
um conjunto de ·medidas progressivas que to
mou, nomeadamente a nível de política externa, não quer passar os marcos do capitalismo e de um regime burguês nacionalista ;do outro ladá , as massas organizadas ms
comissões de fábrica,de universidade, nos
bairros, nas organizações de mulheres, nos
diversos partidos de esquerda, buscam
ir
mais longe , Subsistituir Khomeiny por uma
nova direcção revolucionária será o próximo passo a . dar, sem o qual a Revolução Ira
niana irá ficar mais uma vez inacabada. Contribuição do CEAI (Centro de Estudo s An
ti-Imperialistas da A A.C.)
J)S AnOS cho.'{e, _ _
A luta das mulheres no Irão não data
de hoje . Ela enco 'otra as suas raízes no sé
culo XIX , quando as mu l heres se levantaram
contra os ingleses que acabavam de obter o
monopól io do tabaco nesta região . No Harén do Shah , as mulheres queimaram todos os
cachimbos.
Depois desta época a l gumas datas chave contam a sua história:
1921 -
As primeira s feministas iranianas
são originárias do Noroeste do Irão.
Ne sta região, as mul he re s de tinham uma parte importante da economia : pequeno comércio ,pequenas propriedades
fundiárias . I nspiradas pela revolução soviét ic a que acabava de estalar
no outro lado do ma r cáspio, criaram
grupos de mulheres e abriram as pri meiras esco l as de r apari gas o Celebrar am a jornada inte rnacional da mulher
no 8 de Março e pub lic avam um jornal:
"Mensageiras da Felicidade"
1922 - Professoras e Professores
primári os agr upar am- se para lut ar contra o
porte do Tchador . O seu jornal - "O
Mundo das Mul heres" viria a se r fechado , depois da publicaç ão de cinco
n1).meros , em ligação c om os socialüta:;
muçulmanos .
1925 -
Golpe de Estado de Reza Shah .Todas
mulheres que tivessem tiô.o actividade
polít ica f or am presas.
1935 -
Reza Shah ordena às mulhe re s que a
bandonem o véu . Os soldados perc orrem o país e arrancam o Tc hador a todas as mulheres que enc ontram. Não se
tratava porém de uma medida para libertar a mul her nem de luta c ontra a
reli giã o , mas anies destinava- se a favor ecer a inse rç ao das iranianas na v~
da ec onómica. Ne ssa a ltur a , o Irão t~
nha ne cess i ~ad e de uma mão-de-obra numerosa e barata . Mas o Tchad.or, vestimenta que envolvia todo o corpo
da
mulhe r e l he dificultava o moviment o
das mão s , impedia a actividade das tr~
balhadoras. Donde , a necessidade de o
proibir. Imediatamente a seguir à pro
mulgaç ão deste decreto , o número de 0=
perárias nasmadústrias Têxtei s aumen
to u para o dobro .
1941 -
Os aliados obrigam Rez a Shah, simpatizante nazi a demitir- se .
Sucede-lhe o filho . En t r e 1941 e 51, temos
dez anos de um governo relativamente li
beral. Os 7rupos de mulheres multipli=
cam- se . As mulheres revolucionáriasfa
zem campanha contra o véu e lutam por
obter direitos iguais .
1951-53 -
Mossadegh é primeiro-ministro.
Decide nacionalizar o petróleo. As Ira
niana s apoiam- no massivamente na lutã
contra o imperialismo americano e inglê s . Mas não conseguem obter o direi
to de voto .
1953 -
O Shah retoma o poder. Absoluto.
Prende , tortura e deporta toda a
mulher com actividade política ou feminista . As r euniões e os j ornais de mulheres s ã o proibidos .
1963 -
Uma r eforma do Shah dá o direito de
voto às m,) lheres. Mas as eleições"fan
toches " serão largamente boic otadas. -
R evo l uç ~o. A l e i marcial é decretada em Setembro . As mulheres que começam a vestir o Tchador são cada vez
em maior núme ro, como símbolo de opo~
sição ao r egime ocidental e prevertido do Shah. Tchador que permite também esconder as armas.
1978 -
1979 -
O Shah foge . Khomeiny regressa.As
iranianas continuam a l uta p or uma ver
dade ira democracia.
ZRDI ."l/be~Jo/e'
,.
.
.
•
ATE M,f L.LET
tC5t etf1L{l1h~
Imaginem , i maginem mul heres , cent enas
de mulheres iranianas escalando , trepando
as grades da uni versidad9 para se i rem manifestar nas rua s de Teerão . Tinham- nas fe
chado . Era 8 de Março, dia I nternacional
da Mul her . El as eram 5 . 000 . Nem um sójar
nal ista , nem um só fot ógrafo , nem uma só c§.
mara de televisão l á estiveram . Estas ima:
ge ns históricas do primeir o movimento espontâneo de mulheres iranianas não as ver e
mos mais . P orque a Imprensa nã o se inte=
res sava a i nda pelas suas l utas .
Era prec i so entâo mobilizar a oplnl ã o internacional . Lembrem- se de Angela Davis . Foi p orque mul heres e alguns homens
a apoiara m que e l a p ode escapar à
câmara
de gás na Califórnia . Nós , mulheres , devemo s lutar contra governos e naç ões ,
c hamar a solidariedade I nte rnacional que é a
nossa úni ca arma .
Traídas por todas as Revol uções , atiradas de novo para o lar quando o barulho
das armas cessa , o mesmo d est ino espera as
Iranianas . E~ tas mulheres, que me convidaram a ir ao seu país para festejar o
8
de Março, fizeram a revol uç ã o ao l ado dos
homens , para derrubar o poder tirânico do
Shah . Nesse momento , o Tchador e o hedjab
eram o símbolo das resi st ê ncia ao
r egime
Pahlavi . Khomeiny er a vene rad o pois simbolizava a resistência iraniana . Mrls o que
se passou depois? Kh ome iny vol tou . O Povo
Iran iano que fez a Revo l uç ã o par a c onquistar uma democracia re a l , herdou um tirano
teocrático . Profundamente , nada mudou . Uma
sociedade repressi va instalou- se , diri g i da
pe l a força , (o exército , a po l ícia , u poder
re li gioso) •
As aspirações das mulheres a direitos
i guais ser ão esmagadas . Como será traí do
o desejo dos homens e das mulheres irani anos em l uta ,. de uma verdade ira democracia .
Khomeiny governa do céu , atr avés
de
le i s papai s . Er a como se o papa impusesse
os cânones da I gr eja a todas e todos hoje .E
que , em nome da l ei sagrada , a I greja C at ~
l ica persegui sse as mulheres que abo r taram ,
impedi sse o d i vór cio ... E grotesco .E dramátic o . E r evol tante . E é preci samente con
tra isto que as mul heres iranianas se l e=
vantaram .
No 12 de Ma r ço , e l as e ram 20 . 000 a mani festar- se dosde a Universida de até à Pra
ça da Li berdade em Teerão . A sua acção s~
D4
b olizou o avanço do femiminismo no mundo in
teiro . O que queriam est as mulheres?" Aza
di, Azad i! " Grit aram ao l ongo de dez quiló
metros . Liberdade . Liberdade de esco lher
t raz er ou não o véu , libe r dade para trabalhar , liberdade para abortar. Direito a pra
ticar a contrac e pção , direito também a um
salário igual aos homens, direito à educaç ã o . As suas r eivindicações são as mesmas d.e todas as mulheres .
Rei vindicações
que não são plenamente sat isfeitas em ne nhuma parte do mundo . Neste momento ,
as
mulheres iranianas est ã o a correr perigo . E
l as t êm medo . Todas as fo r mas de p urita=
nismo vê m ao poder ao mesmo tempo que a re
pressão se instala . Sob a capa da
reli:
gi~o tudo é censurado pelos fanáticos reli
giosos. E apesar de tudo isto , a coragem
destas mul heres é extraordinária .
Cercadas de milic ianos armados de metralhadoras
(sempre com o dedo no gati lho e c·om a cabe
ça cheia dos seus fantasmas de machos ) vi:
- as , a estas mulheres, r ealizarem tranquilamente as suas reuniões . P ol itizadas pela
luta contra o regime abominável do Shah --- milhares de mulheres encontravam-se pre
sas -- as iranianas aceitam hoje morre r pe
l a igualdade de di r e i tos .
Que faze r ? A nossa so li dariedade deve
ser extrema . E preciso manter informada a
opinião internacional . E preciso manter em
Tee rão a presença de mulheres que tenham au
diência internacional . J ornali stas , fotó:
grafas, e l as poder~o testemunhar a
l ut a
das iranianas .
Expulsa do Irão pelo governo , ao
fim
de quinze dias , não p ude despedir- me das mi
nhas irmãs iranianas . Mas quero que elas
saibam que , sem descanso , fal arei delas Pas
suas lutas . Esta é a mensagem que de s ejo
que elas ouçam e que esc revi aquando da mi
nha detenção no aeroportot " Na véspera dã
mi nha partida prematur a e que me foi imp c's
ta sem r a zão , exprimo- vo s todo o meu afe c
to , a minha so lida ri edade , a minha admira:
ção pe l a vossa coragem e determinaç ã o . no
c ombate pe la vossa liber dade . Liberdade ~
r ~ vós próprias , liberdade e justiça para
o vosso povo " .
=
·/e/ dB ppotecç8oda !ami!;a.
r
Vot ada em 1936 pelo parlamento do Shah
esta lei esteve vários anos .
Elaborada por mulberes juristas , sofreu
muitas modificações antes de ser submetida
aos deputados .
"Por mais insatisfatória que ela pudes
se ser, de qualquer modo esta lei l imitavã
consideravelmente o direito dos homens a po
ligamia e ao repúdio .
Um homem não pode ter mais que duas
esposas e somente duas nos seguintes
casos :
- se a primeira mulher fosse estéril
- se a primeira mulher dá o seu consentimento a um segundo casamento •
• Uma mulher n~o pode se r rep udiada pe
la simples decisão verbal do marido ~
Este deve dirigir um pedido de divór
cio ao tribunal dos assuntos familiã
res .
• Uma esposa pode dirigir a este mesmo
tribunal um pedido de divórcio
( de
facto , parece que 10 mulheres
para
100 homens obtêm satisfação) .
A modificação mais importante apresentada no projecto lei inicial foi aquela qm
diz respeito aos direitos sobre as cria~ .
Esta va previsto que em caso de divórcio ,
a protecção não pertenceria de facto ao pai,
mas seria resolvido pe l o Presidente do Tri
bunal com aquele que dos dois conjuges pu:
desse melhor cuidar da existência e da edu
cação das crianças.
-movimento de defesa dos d·...eitos das mu.1J.,eJ-es Este texto nunca saiu.
Os homens e apenas eles continuam a e"Libertação das mulheres e libertação
xercer autoridade paternal sobre os seusfi
da sociedade " é o título da brochura
que
lhos.
foi edi tada e vendida por est e grupo.
No
seu preâmbulo,as dez mulheres que o redigiram exprime m o seu apoio à actual Revol ução, afirmando que a sua luta específica
é a continuação necessária desta Revoluç ão.
Os ob j ectivos da l uta foram resumidos
numa platafo rma r eivindicativa :
Casamento l ivr e e não por contrato.
Fim da venda e da compra das mulheres
através d o dote e de outras medidas fi'
nanceiras .
Fim d o direito de f l agelação.
Di vór c io r ecíproco .
De saparecimento das leis que dão todo
o p oder ao s homens .
Lei i gual em matéria de herança .
Acesso igual à ed uc ação para raparigas e r apa ze s .
A mesma oportunidade de acesso ao empr ego para ambos os sexos .
Trabalho, i gual, salário igual.
Ajuda económica temporária às mulheres
divorciadas a fim d e lhes f acilitar o
acesso a urna vida prcfissi onal.
Ds
· 11 CI/DR UHR II
SlJRRC~OLIIÇRO~
m./chelle /,ert-ei"
"T odas as mulheres estão ligadas ao
dor quer o tragam ou não".
T~
Tchador, Tchador , T":::hador, a palavra
aparece , obcessiva , desde que se fale do !
rão , tanto em Teerão como em Paris . Não de
veria ser assim . O Tchador é uma peça de
vestuári o . Deveri a ser tomado c omo tal.
Mas será que existe um vestuário inocente?
Dizer que o Tchador foi o s ímbolo da oposiç2:o ao Shah , que é rei vindicado ainda ho
je- e ainda vestido , é suficiente? N::í o , de
facto não é . Se se pretende que o Tchador
t6 um s ímbol o , tem- se razão , na condição de
nQo tomar a palavra símbolo levi anamente .
Símbolo é uma palavra forte e a questão do
Tch2.dor uma história p !mgente , :?orque exprime , cobre , esconde , uma. verdade na qual
estão comprometidas , envolvidas as mulheres.
Desta viagem a Teerão , trago
imagens,
pala.\fras , trocas , mas também uma comp:ceen
são mais funda da noss3. cvmplexidade femi :
nina , c.a. n05sa di visão , paradoxalmente da
no:c;sa simiJ.i tude ar'.tagónic3. . A pa l av":ca Tena
dor evoca talvez as iranianas mas na realI
dade , :10 fundo , Gla cor;t.e m- :los a t.odas . To:::
das as mulheres estão ligadas ao
Tchac; or
quer o +Jrac;am 0'.1 não . Todas se debatem de "
ba:xo dele . Por debaixo dele podem jUlgaE
- se inimigas ql.:a.:1do o não s ã o , umas e cutras oprimi·- las .
A mi;1h~ primeira imagem violen ta. ao de
'~e mbarcar em Tee:r:-2:o é a Praç3. da Li herdade,
imensa e redond.a , em volta de um monumento
eri gido, vest~ g i os do Shah . Na rua , carros
parados . Na pr'aça mulheres em Tch a.do:-:- ne {!;To fdam .
~ esta actividade /
act.:l.vismo
das mulhe r es que se demarc3: pri.rE~o ::'ro
que
tudo . Tchadors pretos , .~l()rijos , ' pouco im
port.:;" as mulhere s co::qu5 staram o direi tõ
à palavr3. e servem- se dele .
No ce mi té:-:-io , em Toerão , octx"as mu:'..he res de negro , do:; que não 'vemos senão cs olho s , o na:-:-j z , 2. bcca , descem de aut.ocarrcs
e dAp5em bandeira8 , c~ntando , fazendo o
V
da vitória . Vieraí:! saudar os seus mét:tt.i re ";3 , Elas têl~l 50 éU1C[; , 12 anos , mas o que
as c~ract eriza, o que as une é terem feito
a Re vol ução .
Na Universi dade (mas na rua também)duas f ormas de vestido coexistein, Raparigas
novas com calç as de ganga , cabelos pen~ ea ­
dos , passeiam com as suas camaradas vesti das de áusteros e l nngos mantos , com mangas , mais práticos que o véu para transpor
tar os livros, a testa coberta até às so=
brance lhas . Quais as mais int eressantes?
As que se vestem à Europeia asseme l ham- se
mais connosco , mas sera assim? A pIlmeira
frase i ntere ssante que ouvi saiu de um grupo de rapari gas cobertas dos pés à cabe ça de azul vivo . Tinham talvez 16 anos , pa
reci am freiras, po ss1.üdas de uma alegria an
gélica . Uma delas atira- nos : " julgas que
as mulheres ocidentais são mais livres que
nós? J ulgam que despir- se para se tornar
num objecto de prazer é a liberdade? O que
nós queremos é que não se fale do nosso cor
po . Não queremos que ele chame a atençãõ
}l; ao no sso pensamento que é preciso
diri•
II
glrmo- nos.
~ f/aes tões ll./yel1tes
. Que exigem as div~rsas feministas
de
Teerão acusadas pelos mais fanáticos religiosos de serem manipuladas Quer pe l a Sa vak (antiga polícia do Shah) Quer de serem
comunistas? Elas são muçulmanas , também e las não se pronunciam nem contra nem a favor do Tchador, exigem o direito de esco~
lha a usá-lo ou não . Co locam Questões pre
cisas e concretas' sobre o direito à educa:
ça~ o direito ao trabalho , aos salários iguais para i gual trabalho , ao divórcio , à
herança , Questionam a compra de mulheres ,
Querem ppier aderir a partidos políticos .E
xigem uma sociedade sem classes mais justã.
Que re spondem as I s lâmicas? Elas comen
tam o corão . Tudo está escrito , basta inte rpretar um presente . "O corão niR, proi be o divórcio, explicam , mas é preciso evi
tá-lo p ~ r causa das criança.s ; o corao naõ
interdita a poligamia, mas tudo se
e~pl~
ca porQue no telT!po de Maomet havia
mais
mulheres Que homens . Para as crianças
e
melhor partilhar um homem do.Que não o terem. Aliás, este homeQ deve ser capaz de
amar com jus+.iça ec ,-,nómic a e afectiva
as
sua.s mu l heres , e a primeira esposa , tem Que
lhe conceder o acordo . O corão é sobretudo contra os órfãos , contra a i nfe lici dade
das crianç2.s".
~ claro Que , em sentido inverso , podemos pôr o caso de uma mulher que ser i a suficientemente jus-'-.a para amar " económica e
af ect ivamente " Quatro homens , mas i sso não
entra cm linha de conta , pois estarí amos a
sair do princípio da realidade . A mulher
é mãe , e isto é o fundamenta l, e a criança
não de'le ter mais Que um pai . Todo o corão acenta sobre " a unidade cOEjugal complementar" •
E Quanto aos homossexuais. ~ justo fIa
ge lá-lo s , fuzilá- los? Não têm direitos nõ
novo regime?
O ~orã(; opõe- se aos homossexual s porQue
não é favorável senão à famíl ia. O homos:se
xua l cometeria assim um prime iro " crime cõn
tra a sociedade " e s colhendo o seu
prazer
acima da procriação ; um s egundo crime sen
do hostil ao se xo oposto . O prazer
pelõ
prazer é vivamente desaconselhado . ~ pre cis o l utar contra o desejo, jejuando , por
exemplo .
Entre estas mulheres acolhedoras, tão
Quentes , tão frias , tão próximas , tão longínQuas , e nós , mais o díálogo avança, mais
se impõe , realidade e fantasma , o Tchador,
como máscara à Qual se junta um chicote: o
sexo castigado . A ordem moral mete medo.
cIepolel7Jentos
C. 28 anos, formada em Química, professora
desempregada .
Pa rtic ipa na grande manifestação de mulhe
res contra a obri gação de uso do Tchador~
Por acaso . E não está arrependida :
"Para lá do véu foi o nosso direito ao
trabalho , a no ssa participação nas actividades sociais e políticas , Que defendemos :"
Quem as ameaça? A república Islâmica?
Ninguém sabe ainda o Que ela reserva às mu
l heres (nem tão pouco aos homens) no capí:
tulo das l i b~rdades : Os mollahs, trazidos
pela revoluçao Que têm sobre a população um
poder moral e judicial? Ou os Ayatoliahs ,
dond'e o mais célebre , Khomeiny , lançou apa
lavra , atacando as " mulheres nuas" , ou seJ'ã
sem veu?
EnQuanto se manifestaram em cortejo,as
mulheres foram batidas, lace radas , com espingardas . Homens em gr upo , fazendo valer
o s eu sexo , gritaram às Que , das
janelas
observavam as manifestantes " se não Quiserem o tchador, terão i sto !"
Estas ameaç as não são tomadas levemente . Se o poder religioso recuou peranteas
mulheres ( " aconselhando-as " somente a usarem um fato decente , Quer dizer , tradicional) não parece nada disposto a recuar na
aplicação da l e i islâmica em matéria de le
gislação familiar ou social . A não ser pã
ra o direito de voto, Que parece ter
sidõ
conseguido tanto para os homens com,) para
as mulheres , a l e i do corão não foi modifi
cada . E esta l e i ancestral, Que , hoje , de
facto, gOverna o Irão .
D, 45 anos , advogada . Exp lica:
"Depois do retorno de Khomeiny, a lei
sobre a protecção f amiliar , instituída em
1975 ~ já ~ão est á em vigor. Esta lei ~ga
rantla a 19ualdade entre os sexos na famí=
lia , mas oferecia às mulheres a possibilidade de divórcio, e também de contestar as
acções intentadas pelos maridos. Era ,apesar de tudo , uma mudança em relação à prática Islâmica".
Exemplos
desta prática:
A herança dos rapazes é o dobro da das
raparigas;
O marido tem o d ireito de se opôr
ao
trabalho da mulher, às suas viagens ao estrangeiro; o homem pode ter várias esposas mesmo a título temporário, caso o deseje; as mães não d i spõem de qualquer auto
ridade em relação aos fi l hos ; em questões
cm
~.
Em meados do mês de Março , a Imprensa
de todo o Mundo , ocupou- se de um facto "i naudito". Milhare s de Mulheres Iranianas
desceram às ruas com a abs oluta convicção
da sua justa luta. Enfrentar am ti ros,pancadas, espancamentos e esp ingardas , paradi
zer N~O AO TCHADOR!
O que em determinado momento foi símbo
lo da luta contr a o Shah , converteu- se agõ
ra num entrave para o avanço das suas con=
quistas . Antes , o Shah e o seu regime pro
ibiam o uso do T hador porque era uma de=
monstração de repúdio pelo regime . O Tcha
dor era usado por muitas mulheres como sím
bolo de apoio ao I slamismo e recusa da pe=
netração Imperiali sta . Mas posteriormente
converteu- se numa contradição
insolúvel
pois o I s lamismo e o seu executor ,Kh omeiny,
pretenderam torná-lo obrigatório e atacar
assim o justo direito élO progresso ~ igualdade s ocial c om o homem em todos os campos.
Esta brutal contradição em que se encontravam as mulheres após se terem incorp orado massivamente no processo revolucionário que derrubou o Shah , fez com que e las se enfrentassem com o próprio Khomeiny
pelo qual t inham antes empunhado armas . E
é esta a explicação de porque é que as mulheres irromperam na cena política Iraniana como uma multidão oposta ao novo governo e às suas leis. Foram elas que iniciaram as exigências abrindo um novo processo
ao qual se juntaram logo amplos sectores da
popülação.D'3 sde os Kurdos a"Os próp'~ios tl?3:bal:hador;;; s .
~ assim que a mais profunda
revolução
dos últimos tempos demonstrou como as mulheres são um sector profundamente revolucionário,quando se organizam e mobilizam.
Se não, escutemos organismos como "Bidarieh
Zanan", uma organização feminista Iraniana
qU€ diz: "é absurdo que se pretenda revogar o divórcio e outras leis progressivas,
como por exemplo a igualdade de
sálários
com os ho mens. Nós lutámos contra o Shah,
0
.D8·
de justiça, o testemunho de duas mulheres
é necessário para i gualar o de um homem~
A aplicação do corão não é uma novidade no Irão. E as suas interpretações
ao
longo dos séculos, colocaram a mulher no lu
gar que conhecemos. O que temem C. e D.~
entretanto, é que, a Revolução s e ja recuperada pelo clero. Alimentavam para
elas
própri as e para o povo Iraniano, outras es
peranças.
mas agora não ret r ocedemo s ". Es ta úl t i ma
frase é a que me l hor re fl e ct ~ a po sição da
maioria das mulheres I ranianis.
Ao mesmo tempo que a mobilização das mu
l heres se massificava e or gan i zava , a im~
prensa reacc i onária Mundia l t r at ou de ut ilizar o facto para demonstrar o "progres s i
vo" da soc i edade oc i dental e c r istã
s im:
bolizada pelo Shah . Mi l hares de
tomada s
de posi çao imperial istas , conver t e r am-se do
dia para a noite em "r'lefensor es da
c a usa
feminina", descebri r am a " f orça das mu ~ h e
res " , o seu " p oder de mobilização", a s ua
"valentia e a'ttuácia" . Os jornalistas mai s
destacados escreveram sol-re a sua capac ida
de e che garam a dizer que "Elas podem dar
a volta ao Mundo " , Esta campanha hipóc rita e reaccionária não nos engana . Pretendeu- se utilizar a justa mobi l ização das mu
lheres Iranianas , para re ivindicar o Shah
e o seu re gime .
Pr etend eu- se com tal c a~
panha de monstrar as "b ondades" do imperia~
li smo e d os seus lac a ios , os mesmos que aI tir?m as mul heres dos seus paí ses para as
mais aberrantes e inj ustas desigualdades . ~
creditaram , enfim , poder utilizar a sua ac
ção , para desvi a r as mulheres.do
cam i nhõ
da Juta perm ~ nent e de todo o povo . N6s , so
cialistas , estamos porém convenc i dos
que
no Irão se abriu uma nova et ap a de revo l ução , na qual as massas não s ó questionam o
novo gover no , como l utam para o derrubar .
As mulheres , como parte importantíssi ma des
te processo entenderam muito bem que tê m õ
justo direito de exigir perante Khomeiny .
Ganharam esse di reito nas ru as e na
l uta
- que Kh ocontra o Shah . E, n0 r esta razao
meiny se viu obrigado a retroceder e a d i zer ue " não era obri gató yj o o uso do Tcha
r
dor". A d i nâmica da mob il izaçã o das mul he
r es contra o tcha d or, l onge de se col ocar
de l ado do Shah e d o I mperial i s mo ,
soube
diz e r NÃO à sua campanha demagógica .
Ho je , tanto a c l a sse operár ia no
s eu
c on junto , como a s mul fle r es Iran i a na s de vem
d i scut ir como actua r para avançar c om o
proce sso em c urso . As mulhe re s , s e bem que
de vam manter por um lado a s ua i ndependência , devem incorp or a r - se por out r o l ado ao
movi men t o ma i s ge r a l dos trabalhad or es , únic a fo rma de c onseguir a força sufi c i ente
para de rrotar o novo r egime . P or que
não
s~ o só as l e i s I slâmi cas as que afogam
e
oprime m. Sã o as próprias bases do sistema
capi talista que origi nam a opressã o da Mulhe r , a s que há que derr ubar . As
mesmas
que sustent am as crenças r e li giosas de todo o tipo . 0 <:;\ tra,ba lhador es Iranianos
e
as f or ças d~ esquerda têm também uma obri gaç §o imediata : i nc l " i r no seu programa e
acçaO de conjunto ; as r eivindi caç ões das m::
l he r es .
Nós , mul he r es soc i a l istas saudamos
o
exemp l o das nossas irmãs I ranianas , com a
profunda convi cção da sua f or ça e c apac ida
de não s ó para l utar pelos s e us object i vos
. espec í f ic os , mas também para consti tuir um
motor f undamental que produza , em conjunto
com o s trabalhadores , a ª errota do r egime
capital ista e a constr uç a o ~o social ismo .
As mul he r es e os t rabalhado r es de todo
o mundo , têm uma impor tante exp eriênci a a
r eco l he r .
( extractos de um ar tigo p ublicado
no
jorna l Opc ión -- orgão do Part i do Soc i a l ista dos trabal hador es da Argenti
na) •
"Libe:rdad !" Gritaram as mulheres Ira
e
nianas nas ruas
d. nacionalidade, raça, religião, OU ~er­
tença
A
acção deste
mité, anuncia Simone de Beauvoir , será o en
vio
ao Irão de uma dele gação de mu
lher , encarregada de uma missão de soli:
es
d ariedade
e informação
. Sala al guns iraDi scussão
acesa . Na
niano s e iranianas , manife stam- se contra a
~artida da delegação . OutroS e outras aUm homem diz ' " não é o momento !"
Simo
Beauvoir
" vi muitos
re
de
ses
muitas revoluÇões . Cada vez que
se
tratou de defender as mulheres
' não era o momento o~ortuno '''.
~olftica.
cente"Soud.arl-edade ! " Res~ onderam
todo
nas de mulheres em
o mundO .
~róximo
"Venham até cá . Enviem-nos mulheres
que testemunharão. O mundO tem que saber
a ver dadeira razão das nossas lutas".
Alertadas ~or um tel efonema vindo do
Irão um ~unhadO de j ornal istas ~ari siense s
mobilizam- se . Vi ajar até Teerão ~ara ~ar­
tilhar as horas históricas que vivem as Mias
ranianas e
na sua luta? Sim.
. como , Ae ideia
em nome
~uem? de um c omité Inde de
criação
a~oia-Ias
~oiam-na.
e
ternacional de a~oio e de informaçã o ,nasce .
A~elos na Alemanha , em Es~anha , no Egi~to ,
Ja~ão , noS Estados UnidoS , na Suí ça , etc ••.
Três dias e três noites mais
tarde
o c omité constitufdo conta já com mais de
100 membros
chegam
dar o
e
nomes . Uma pequena sala
LigadOS Direitos do Homem. E~a Im~rensa , alertada à última hora ,
telef one. Câmaras de tüevisão ~ro"tas antes que tudo comece . Uma faixa a~arece , enfim . A tem~o .
Lê- se em grand es letraS negras "Comité Internacional
Lireito s das Mulheres" (C
IDF) . Um c omité
tem
al gumas ho
ra mas que vai dar que falar .
s Si mone ,~_e Beau voir , ~resicF;nte do Comi
té , abre a sessão . Ela descreve a razão de
ser e os objectivOs do CIDF : o seu objeCtivO ~rinci~al será o de inf ormar ~ermanen
t emente sobre os ac ontecimentos que
modificar 0'--' afectar a condição da mulher
em qualquer
do mundo , e de difund ir
ao máximo esta informaçãp . I gual mente , oe
de
todas as acções e lutas das ;TIul re s
seuS direitos , sem discriminação
~ue
~ue
~arte
~elos
--
C~
res~onde ;
~af
disse-se~
~ara
a~oio
em~restada ~ela
~or
~elos
a~oiar
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r~.da,
~,de
~bn?'z,
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mos o direito da mulher a ter um marido ~ a ser mã es com o seu direito prio
ritário . Não podemos privar as mulhe=
res destes direitos e condená- l a a uma
vida de prostituta ou amante . Não é uma obrigação ter várias mulheres.
Ás QUE SE BATEM PELA SUA LIBERDADE E PELA
LIBERDADE DE TODOS OS HOMENS -- O QUE VAI
OFERECER A NOVA CONSTITUIÇÃO?
p.
As mulheres terão o direito a se divor
c iar?
R.
Barri Sadr ( adjunto de Khomeiny)
A mulher tem o direito a divorciar-se,
Khome iny disse - o claramente , pode- seffiffi
mo escrevê-l o no contrato de casamentõ.
O homem n~o tem o direito de castigara
sua mul her : Só se se estiver perante
um caso de masoquismo , se a mulher gos
tar de uma violência do marido ... se
l a não ace ita deitar- se com ele ,
ele
tem o direito de a castigar , é o único
caso que é permitido . ~ o médico que
dirá se houve ou não violê ncia .
e
p.
R.
A poligamia vai ser mantida?
AYatollab Taleghani -- "Falei disso em
. Itáli a : No I slão não há poli gamia . O
I slão diz que o homem tem direito a uma mulher . Se é j usto pode tomar duas,
quer dizer, se pode respeitar o direito das mulheres . ~ um fenómeno permanente na história humana : o número de
mulheres é excedentário . Nós respeita
p.
Haverá igual dade absoluta entre os 2 se
xos?
R.
Primeiro -- ministro Baza rgan -- A na
tureza não qu i s assim , não só p ara
ã
espécie humana , mas igualmente no reino vegetal e animal.
p.
O ministério da just iç a prepara uma cir
cular interd itando as mulheres de se=
rem juizes , porque s~o demasiado sensí
ve i s ., .
R,
Bazargan
p.
O que pensa das mulheres que se
festaram pelas s uas liberdades?
R,
Não foram mani fes tações naturais.Há aí
intrigas por parte de personalidades e
grupos suspe itos , anti-revolucionários,
ant i-Islâmicos .
.
Muito emotivas , sim .,.
mani-
D1.'2.
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DA MULHER, - Amigos Coimbra 70