TÍTULO DO ARTIGO: PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO
SUDOESTE DE GOIÁS 1
AUTORES: Cinára Lopes de Moraes – CPF 283.284.931-87
Instituição: Universidade de Rio Verde
Cidade/Estado: Rio Verde - Goiás
Divina Aparecida L. L. Lima – CPF 577.889.281-00
Instituição: Universidade de Rio Verde
Cidade/Estado: Rio Verde - Goiás
ENDEREÇO: Correspondência para Divina Aparecida L. L. Lima
Rua Luiz Antônio de Oliveira, Qd. 59, Lt. 26 – Bairro Brasil
Santa Helena de Goiás – GO
CEP. : 75.920-000
ENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]
[email protected]
NÚMERO DO GRUPO DE PESQUISA SUGERIDO: 7
FORMA DE APRESENTAÇÃO: Apresentação em sessão sem debatedor
1
Pesquisa financiada com o apoio financeiro do Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás e pela
Universidade de Rio Verde – FESURV – Goiás, tendo como estagiário o acadêmico do curso de Ciências
Econômicas Leucivaldo Carneiro de Morais.
PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUDOESTE DE GOIÁS
RESUMO
O conhecimento do perfil na agricultura familiar brasileira tem sido objeto de
vários estudos acadêmicos, pois se entende que as políticas públicas devem ser elaboradas e
exercitadas quando se conhece a realidade que se quer mudar. Este artigo foi resultado de uma
pesquisa de campo objetivando conhecer o perfil da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás
que demonstrou ser diferente da tradição nordestina e sulista que tem conseguido ainda
manter parte da mão-de-obra no campo. Percebe-se que a realidade no Sudoeste de Goiás é
manter no campo apenas os agricultores que conseguem a incorporação da tecnologia,
enquanto que, os demais segregam a família na busca de sobrevivência no setor urbano
inviabilizando-se assim, a permanência de forma sustentável dos mesmos no campo.
PALAVRAS-CHAVES: perfil da agricultura familiar, políticas públicas, sustentabilidade.
PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUDOESTE DE GOIÁS
1 – INTRODUÇÃO
O perfil de um segmento pode indicar as melhores alternativas para a sua inserção
dentro de uma atividade produtiva com sustentabilidade e rentabilidade. O conhecimento do
perfil na agricultura familiar brasileira tem sido objeto de vários estudos acadêmicos, pois
entende-se que as políticas públicas devem ser elaboradas e exercitadas quando se conhece a
realidade que se quer mudar.
Sendo assim, o primeiro passo para sugestões de mudanças a serem propostas na
agricultura familiar da região do Sudoeste de Goiás foi buscar conhecer o perfil de forma
aprofundada para que venha possibilitar a indicação de diretrizes mais eficientes que
viabilizem a implantação de uma política de incentivo à cotonicultura de forma sustentada.
Na metodologia da pesquisa foi feita uma revisão bibliográfica sobre a agricultura
familiar no Brasil e a evolução das políticas públicas para este segmento, com levantamento
de dados primários através de um questionário, visando identificar políticas públicas que
garantissem a sustentabilidade da produção rural neste segmento. Dados da FETAEG, de
Julho de 2002, indicam 637 produtores familiares nos 04 municípios pesquisados (Rio Verde,
Santa Helena de Goiás, Jataí e Chapadão do Céu). Deste total de produtores familiares, foi
retirada uma amostra utilizando uma proporção de 20% e erro amostral de 8%. Os dados
primários foram obtidos a partir de aplicação de um questionário nesta amostra e a tabulação
dos dados foi feita através do uso do software SPSS. Com o auxílio do programa, obtiveramse indicadores estatísticos para a análise da pesquisa. Neste artigo encontra-se apenas a
análise do perfil da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás.
2 - PERFIL DO AGRICULTOR FAMILIAR
2.1.1 - Origem do produtor
Nos quatro municípios escolhidos para desenvolver esta pesquisa verificou-se que a
origem do produtor familiar é predominantemente goiana com uma concentração acima de
70%, dada a amostra utilizada, como pode ser verificada na Tabela 1.
Os dados sobre a origem do produtor familiar pesquisado indicam que a maioria é
goiana, com uma concentração acima de 70% nos quatro municípios da amostra. A Tabela 1
apresenta os dados desta variável.
Foi informado separadamente um assentamento com o nome de Agrovila Rio
Verdinho, devido ao tipo de posse da terra neste assentamento que fica localizado em Rio
Verde. A terra é de propriedade comunitária, ou seja, é de todos que fazem parte do
assentamento. Não existe um espaço para o cultivo individual. Esta experiência é pioneira no
Estado de Goiás. As famílias deste assentamento possuem um lote de 2,5 hectares onde
podem criar animais para o sustento e construir sua residência. As decisões sobre o plantio
nos 446 hectares restantes são tomadas pela associação dos produtores rurais do
assentamento. Cabe salientar que para todos os demais dados foi adotada esta metodologia
devido à característica particular deste assentamento.
TABELA 1 – Regiões de procedência dos produtores familiares (assentados).
Regiões
Rio
Verde
%
Agrovila
%
Santa
Helena
%
Jataí
%
Chapadão
do Céu
%
CentroOeste
55
75
7
64
11
73
14
70
6
60
Nordeste
7
10
4
36
3
20
3
15
-
-
Sudeste
6
8
-
-
1
7
1
5
-
-
Sul
5
7
-
-
-
-
2
10
4
40
Total
73
100 11
100 15
100 20
100
10
100
Fonte: Pesquisa de campo (2003).
A Tabela 1 apresenta os dados agregando as regiões brasileiras na amostra
pesquisada. Não foi detectado nenhum produtor familiar procedente da região do Norte.
Provavelmente, este fato é devido à baixa densidade populacional desta região, além da
grande disponibilidade de terras para ocupação de forma produtiva que pode funcionar como
elemento de fixação do homem na região.
Quanto aos dados da região Sul, percebe-se que também tem uma reduzida
participação na composição dos agricultores familiares da região, concentrando-se em
pequena participação apenas no município de Rio Verde com 7% (Rio Grande do Sul), Jataí
com 10% (Rio Grande do Sul) e em Chapadão do Céu com 40% (30% do Paraná e 10% do
Rio Grande do Sul). O menor índice de participação de famílias de origem goiana pesquisadas
foi no município de Chapadão do Céu.
2.1.2 - Sexo dos produtores familiares
Os dados sobre o sexo dos chefes das famílias na agricultura familiar nos municípios
pesquisados, conforme a amostra, indicam que existe uma tendência de concentração no sexo
masculino de 79,50%, com uma participação na média de 20,50% de sexo feminino. Os dados
podem ser visualizados no Gráfico 1.
2.1.3 - Escolaridade e aperfeiçoamento dos produtores familiares
Um dos fatores que podem favorecer a implantação de novas oportunidades
produtivas em qualquer segmento é o grau de escolaridade dos indivíduos que vão receber
este treinamento e colocar em prática as atividades técnicas, por isso uma das variáveis mais
importantes para a caracterização do perfil do produtor familiar foi à escolaridade e a
participação dos produtores familiares em treinamentos, principalmente os técnicos e
administrativos.
Os dados sobre o sexo dos chefes das famílias na agricultura familiar nos municípios
pesquisados, conforme a amostra, indicam que existe uma tendência de concentração no sexo
masculino de 79,50%, com uma participação na média de 20,50% de sexo feminino. Os dados
podem ser visualizados no Gráfico 1.
G R Á F IC O 1 - S e xo s d o s c h e f e s d e f a m í lia s
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
8 1 ,8
80
7 9 ,5
70
65
35
1 8 ,2
20
2 0 ,5
A g ro vila
S anta
H e le n a
R io V e rd e
F e m inino
Ja ta í
30
Chapadão
do Céu
M a s c u li n o
Fonte: Dados da Pesquisa de Campo (2003).
Os dados analisados indicam que um dos gargalos para a atividade familiar está no
baixo nível de escolaridade dos mesmos, já que, conforme pode ser observado no Gráfico 2,
mais de 75,4% declararam ter o primeiro grau incompleto. Quanto a este primeiro grau
incompleto, a maioria informou que possuía apenas em média quatro anos de ensino, o que
indica que não terminaram nem a primeira fase do primeiro grau que compreende a primeira
série até a quarta série. Isto, com certeza, dificulta a participação destes produtores em
treinamentos principalmente os ligados às áreas administrativas já que exigem um mínimo de
domínio sobre a leitura e as operações matemáticas. Quanto aos dados sobre o 2° grau
completo, 3° grau incompleto e não informaram não houve nenhuma participação na amostra
pesquisada.
No Gráfico 2, encontra-se outro motivo de preocupação, pois além de índice de
produtores familiares que se declaram com o primeiro grau incompleto, o número que se
declarou sem instrução é três vezes maior que o número de pessoas com o primeiro grau e
segundo grau completo. Percebe-se que existe uma necessidade de uma política urgente de
educação básica para os produtores familiares da região, iniciando com as primeiras fases de
ensino para a alfabetização básica e buscando, paulatinamente, a inserção destes produtores
pelo menos no domínio da leitura e escrita e das operações matemáticas básicas. Este fato só
não é mais grave devido à experiência que estes produtores têm com a atividade rural, e que
será relatado no próximo item. Com certeza, a prática dos mesmos com as atividades
produtivas tem garantido a produção e os procedimentos técnicos dentro da sua atividade.
GRÁFICO 2 - Escolaridade dos produtores familiares da amostra
75,4
80
70
60
50
40
30
20
15
4,6
10
4,8
0,2
0
Sem instrução
1º Grau
incompleto
1° Grau completo 2° grau completo 3° grau completo
Fonte: Pesquisa de campo (2003)
Quanto à participação em curso de aperfeiçoamento percebeu-se um índice na média
das cinco regiões entrevistadas de apenas 16,6% e 71,6% declaram não fazer cursos e 11,8%
não responderam esta questão. Este fato também demonstra que o possível gargalo que se tem
na região quanto à falta de competitividade da agricultura familiar e sua baixa rentabilidade é
a falta de políticas públicas voltadas para o aperfeiçoamento da prática que os mesmos já
possuem.
Uma das alternativas que se tem para resolver este problema no curto prazo é buscar
parcerias com a iniciativa privada e pública, já que a região do Sudoeste de Goiás conta com
um setor rural altamente qualificado e organizado, principalmente quanto às representações de
classe, e que poderia ser buscado para orientar os cursos e as metodologias a serem adotadas
para garantir o sucesso na atividade rural dos produtores familiares.
2.1.4 - Idade e experiência do produtor familiar na atividade rural
Os dados quanto à idade dos produtores familiares indicam que a maioria se
encontra na faixa etária acima dos 40 anos. Quanto à experiência dos produtores familiares
com atividade rural, há uma concentração em mais de 20 anos de experiência, o que pode
indicar que os mesmos têm uma origem muito forte no setor rural, muitas vezes, atuando
como empregados de propriedades rurais e outras, em sua maioria como lavradores,
conhecidos na região como bóias-frias. A Tabela 2 apresenta os dados sobre os anos de
experiências dos produtores.
Quanto ao período de experiência dos produtores familiares, percebe-se que a
maioria declarou possuir mais de 20 anos de experiência. Este fato pode auxiliar na condução
de políticas públicas, pois os mesmos já possuem a parte prática, restando garantir uma
qualificação administrativa e financeira da atividade. Quanto a esta elevada experiência no
setor agrícola, deve se fazer uma ressalva, pois muitos são originários do sistema de trabalho
rural, conhecido como bóias-frias. Outros são descendentes de produtores meeiros que
utilizavam a terra de grandes produtores para o cultivo de subsistência com pouco ou nenhum
fim comercial. Isto criou uma geração de produtores familiares que não foram educados para
a atividade comercial, que com a profissionalização do setor rural passa a ser a única forma de
inserção com sustentabilidade neste segmento.
TABELA 2 – Anos de experiência dos produtores familiares na atividade rural
Anos
Rio
Verde
%
Agrovila
%
Santa
Helena
%
Jataí
%
Chapadão
do Céu
%
0a 5
4
5
1
9
4
27
1
5
3
30
5 a 10
3
4
-
-
2
13
1
5
3
30
10 a 15
3
4
2
18
2
13
-
-
2
20
15 a 20
7
10
1
9
-
-
-
-
-
-
mais de 20
56
77
7
64
7
47
18
90
2
20
Total
73
100
11
100
15
100
20
100
10
100
Fonte: Pesquisa de campo (2003).
Outra questão que envolve a administração da propriedade foi sobre a participação
dos integrantes familiares nas decisões produtivas. Percebeu-se que ainda existe uma
concentração na figura do homem como responsável pelas principais decisões. Este índice
ficou em 56% dos homens na média das cinco regiões pesquisadas contra uma porcentagem
de 6,2% de mulheres como o agente que toma a decisão. O índice referente quando as
decisões são tomadas por homens e mulheres ficaram em 21,8% na média e toda família
tomando as decisões da propriedade ficou em 11,2%. Outros 4,8% da média ficaram
concentrados no conjunto que declarou que são os filhos que tomam as decisões, com 1,4%, e
homens e filhos com 3,4%.
Reforça-se assim que a tradição da agricultura familiar das regiões nordeste e sul
que envolve toda a família na atividade não é a realidade da região do Sudoeste de Goiás. A
família não permanece junta no campo decidindo a melhor alternativa de produção e
fornecendo a mão-de-obra necessária para tocar a atividade. Os filhos geralmente saem da
propriedade em busca de trabalho assalariado ou não.
2.1.5 – Estrutura da propriedade e infra-estrutura disponível no assentamento
Um fato que pode facilitar políticas de integração e desenvolvimento das
propriedades familiares é que as mesmas se encontram na média de 60 Km dos centros
urbanos onde realizam os negócios de compra de insumos e vendas de produtos. Na pesquisa
com os assentados, verificou-se que esta distância facilita a implantação de políticas de
capacitação para estes assentados, pois permite um intercâmbio entre as agências de fomento
e instituições de pesquisa a um custo reduzido, caso seja necessário o deslocamento de
equipes ou equipamentos para cursos.
Deve ser destacado que os tamanhos das propriedades tiveram uma pequena
variação de acordo com os municípios pesquisados. Em Santa Helena de Goiás, a média de
área das propriedades familiares é de 22 ha, em Rio Verde, a média sobe para 31 ha, em Jataí
e Chapadão do Céu a média é de 32 ha. Considerando a estratificação da COMIGO adotada
na região, todos os produtores familiares são considerados mini-produtores. Devido à pequena
área das propriedades familiares, percebe-se uma intensa diversificação de atividades
produtivas, principalmente o gado de leite e a criação de aves caipiras para revenda nos
centros urbanos.
Outra questão que foi percebida é que dois assentamentos pesquisados possuem
disponível infra-estrutura composta de armazéns e que poderia ser utilizada de forma mais
eficiente, pois atualmente um está sem utilização e outro está alugado. Estes assentamentos
são os da Agrovila e da Ponte de Pedra, todos localizados no município de Rio Verde. No
Assentamento Ponte de Pedra, existe uma usina hidrelétrica que abastece a pequena vila do
assentamento e os armazéns do assentamento são alugados para uma empresa de
comercialização de grãos. Na Agrovila, os armazéns não estavam sendo utilizados para
nenhuma finalidade, apresentando, inclusive, sinais de degradação pelo tempo.
2.1.6 - Representação de classes dos produtores familiares
A representação e organização da agricultura familiar por entidades de classe podem
permitir uma melhor articulação entre as demandas dos produtores e a agilização das políticas
feitas para o setor. Entende-se que quanto mais organizado for um setor, mais forte é sua
capacidade de reivindicações para os poderes públicos. Os dados da pesquisa indicam que a
maioria concentra sua representação através de associações de produtores feitas em nível de
assentamentos, que são organizadas para resolver problemas ligados à infra-estrutura do
assentamento e articular as reuniões com órgãos governamentais e federações de
trabalhadores rurais. Na Tabela 3, encontram-se os dados sobre a participação dos produtores
familiares em entidades de classe.
O associativismo foi apontado por 100% dos assentados como alternativa para
organizar as reivindicações e melhorar sua representatividade nas negociações. Nos estudos
feitos para a análise da eficiência econômica e da competitividade da cadeia têxtil brasileira
(2000), demonstra-se a importância do cooperativismo, como confirmado pelo caso do estado
do Paraná, onde as cooperativas contribuíram para a melhoria do poder de barganha do
produtor, pois as mesmas possuíam infra-estrutura de armazenagem e beneficiamento dos
produtos. Com isso, conseguiam elevar a rentabilidade da atividade e permitir que os
pequenos produtores pudessem se inserir, com competitividade, à cadeia.
2.1.7 - O financiamento da atividade rural
O problema do financiamento apresentado pelos produtores foi quanto ao montante,
pois os mesmos recebem através da linha de crédito do PRONAF C R$ 2.000,00 (dois mil
reais) para o custeio das atividades agrícolas. Uma grande parte dos produtores salientou que
este capital inicial é insuficiente para o pagamento dos custos de produção das propriedades,
sendo que seria mais adequada a elaboração de um projeto de safra prevendo o custo de
produção e a liberação de uma porcentagem sobre este valor, ou do total do montante para o
produtor. Outro problema é o tempo de liberação, que sempre acontece no meio da safra o que
eleva o custo de produção. Segundo os produtores, se houvesse mecanismos de melhoria para
a política de distribuição dos recursos financeiros, o produtor teria mais opções para a escolha
do tipo de cultura a ser praticada.
TABELA 3 – Participação dos produtores familiares em entidades de classe
Entidade
Classe
Rio
Verde
%
Agrovila
%
Santa
Helena
%
Jataí
%
Chapadão
do Céu
%
Cooperativa
2
3
1
9
-
-
5
25
7
70
Ass. de Prod.
26
36
3
27
-
-
1
5
1
10
Sindicatos
8
11
3
27
12
80
2
10
-
-
Coop./Assoc.
3
4
-
-
-
-
1
5
-
-
Coop./Sind.
1
-
-
2
13
5
25
-
-
Sind./Assoc.
6
8
2
18
-
-
1
5
-
-
Coop./Sind/
Assoc.
-
-
-
-
-
-
3
15
-
-
Todos e outros
1
1
-
-
-
-
2
10
-
-
Outros
2
3
-
-
1
7
-
-
-
-
Não participa
24
33
2
18
-
-
-
-
2
20
Total
73
100
11
100
15
100
20
100
10
100
1
Fonte: Pesquisa de campo (2003).
Uma possibilidade que pode ser tentada para a viabilidade da cotonicultura é o apoio
através de linhas de financiamento para a produção e aquisição de maquinário que possibilite
o beneficiamento da cultura dentro da propriedade. Este tipo de política tem sido
implementado através de UTD (Unidade Teste de Demonstração) na região Norte de Goiás e
tem demonstrado resultados positivos. De acordo com Cartaxo et. all. (setembro de 2003), o
modelo de apropriação tecnológica através das UTDs tem garantido a absorção de
informações técnicas e a união dos produtores mantendo-os engajados com o objetivo de
produzir com viabilidade. Cabe destacar que, neste trabalho, é salientado que mesmo
utilizando a metodologia da UTD que fornece assistência técnica e administrativa em tempo
real é necessário que outras medidas a nível governamental com caráter de longo prazo sejam
tomadas. Poder-se-ia resumir estas medidas em:
a)
A recuperação das terras dos assentamentos que se encontram
degradadas e com uma alta perda de qualidade, isso demandaria um
programa de incentivo ao calcareamento da terra, o que pode elevar a
produtividade da terra e favorecer as técnicas de plantio viabilizando as
culturas nesta terra.
b)
A necessidade de uma assistência técnica real para os assentamentos,
melhorando o relacionamento entre assentado e o técnico agrícola e
administrativo. Esta prática pode favorecer a continuidade de um
processo de qualificação devido ao nível de confiança que se eleva a
cada atividade produtiva.
c)
Necessidade de implantar uma política de diversificação dentro das
propriedades familiares, com vários sistemas produtivos integrados e
rotativos.
d)
O financiamento de máquinas para as práticas do sistema produtivo
adotado nos assentamentos.
e)
Viabilizar a integração da comercialização dos assentados para garantir a
rentabilidade depois da porteira.
f)
Estabelecer incentivos
assentamentos.
para
agroindustrialização
dentro
dos
Quanto ao último aspecto destacado no trabalho de Cartaxo et. all. (setembro de
2003), cabe salientar que, no caso da cotonicultura a agroindustrialização é uma meta para
implantação dentro dos assentamentos na região do Sudoeste de Goiás. Sem esta etapa, a
cotonicultura para agricultura familiar na região com certeza ficaria comprometida, por isso o
que se pretende através deste relatório é conscientizar os poderes públicos da necessidade de
buscar alternativas que garantam no mínimo o beneficiamento do algodão nas propriedades
familiares.
2.1.8 - Assistência técnica
Conforme destacado anteriormente, a assistência técnica é um dos fatores
importantes para a viabilidade das atividades produtivas dentro dos assentamentos. No caso
da pesquisa de campo feita na região do Sudoeste de Goiás, detectou-se que estas visitas
técnicas são feitas através da Agência Rural e concentram-se no período de atividade
produtiva. Este fato pode minimizar a falta de preparo dos produtores para o cultivo da
cultura, mas não garante a rentabilidade da atividade. Muitos dos problemas enfrentados pelos
produtores vão além das técnicas de produção e são ligadas a decisões administrativas que
afetam a longo prazo sua atividade dentro de sua propriedade.
Quanto maior for a confiança do produtor familiar no técnico agrícola, maiores são
as possibilidades de seguir todas as orientações recebidas e mesmo de alterar planos de
plantio que não recebem o apoio da assistência técnica.
A Tabela 4 destaca os dados sobre o recebimento das visitas técnicas nas
propriedades familiares. Optou-se por apresentar apenas os dados da porcentagem para a
melhor visualização desta variável. Percebe-se que os maiores números de visitas
concentram-se nos assentamentos da Agrovila e de Santa Helena. Na Agrovila, a
característica da propriedade da terra facilita que a assistência técnica seja de 100%, pois,
neste caso, a área visitada e orientada é apenas uma. Em Santa Helena, apesar de áreas
individuais, a assistência técnica tem cumprido com êxito suas atividades, já que os
assentados declaram que as visitas têm sido feitas regularmente no período de cultivo. Nos
demais assentamentos, percebe-se que o índice cai um pouco. Em conversa com os assentados
da Região, principalmente de Rio Verde, foi reivindicada uma assistência maior da Agência
Rural, inclusive com atividades de combate a pragas de animais. No caso de um dos
assentamentos, o problema era morcegos que estavam atacando o gado no período noturno, o
que já havia causado perdas aos produtores.
TABELA 4 – Visitas técnicas aos produtores familiares
Visita Técnica
Rio Verde
Agrovila
Santa Helena
Jataí
Chapadão do Céu
Sim
64
100
93
65
50
Não
36
0
7
35
50
Total
100
100
100
100
100
Fonte: Pesquisa de campo (2003).
Cabe destacar que durante as entrevistas, inclusive com o pessoal da assistência
técnica da Agência Rural, foi levantado que uma ação que deve ser tomada para melhorar a
realidade dos assentamentos é aumentar o número de visitas, mas que não há como ser feito
isto devido às verbas destinadas às visitas terem diminuído em relação ao número de
assentamentos que são formados na região. Outro fator é que estas verbas devem ser
destinadas inclusive o pernoite dos pesquisadores e técnicos agrícolas, já que alguns
assentamentos são distantes e as condições das rodovias são consideradas ruins.
Quanto ao período de assistência, a maioria dos assentados declarara que é assistida
durante todo o período produtivo. Neste item, cabe fazer uma ressalva a assistência técnica,
pelo menos a que este grupo de pesquisadores analisa ser adequada para a agricultura familiar.
Ela não deve se concentrar em períodos produtivos, mas sim fomentar um relacionamento
com os produtores familiares, garantindo uma união de força para a adequação de suas
atividades à realidade social e condições de suas terras. Sem este apoio que se caracteriza pela
confiança a ser desenvolvida, a agricultura familiar pode ficar fadada a uma produção sem
qualidade e sem rentabilidade o que condenaria este segmento a uma prática assistencialista
de políticas públicas sem uma sustentabilidade que fixaria esta família realmente ao campo.
A Tabela 5, tem-se os dados sobre a questão dos problemas técnicos que os
produtores tiveram com as orientações obtidas através das visitas dos técnicos da Agência
Rural. Percebe-se pelos dados que o número em porcentagem de produtores que declaram que
não tiveram problemas técnicos ficou na média em 71,4% e os que declaram terem problemas
com as orientações técnicas foi de 28,6%. Apesar deste número ser bem menor que os que
não tiveram problemas, devem ser buscadas soluções para que haja uma redução no índice de
28,6%, pois os produtores familiares, devido ao baixo índice de liquidez obtido e a escassez
de capital de juros, não possuem capacidade para administrar perdas e prejuízos em suas
propriedades.
TABELA 5 – Demonstração de problemas na obtenção de informações técnicas.
Visita Técnica Rio Verde
Agrovila
Santa Helena
Jataí
Chapadão
do Céu
Média
Sim
27
36
20
20
40
28,6
Não
73
64
80
80
60
71,4
Total
100
100
100
100
100
100
Fonte: Pesquisa de campo (2003).
Percebe-se que muitos assentados que se encontram produzindo têm como meta uma
melhor qualificação e aumento da produção via tecnologia. Caso o produtor comece a ter
problemas com a cultura escolhida, provavelmente poderá até mesmo abandonar a
propriedade familiar.
Este fato tem sido relatado na região, onde produtores familiares que não têm
condições de produzir devido a problemas técnicos e falta de capital têm arrendado suas terras
e desenvolvido atividades em outras propriedades como trabalhadores rurais. Este fato tende a
se agravar caso não haja uma política para a fixação e fiscalização, com condições de
sustentabilidade, do homem na terra e comprometidos com a mesma.
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados da pesquisa indicam que a agricultura familiar nos municípios estudados
apresenta um baixo padrão tecnológico, principalmente quanto ao maquinário e aos insumos
agrícolas, sendo necessária uma revisão nos valores liberados para o custeio e investimentos
neste segmento. Deve ser implantadas políticas de capacitação na região com o apoio das
instituições de pesquisa, do setor público tanto na esfera municipal, na estadual e na federal
juntamente com a iniciativa privada. Os oferecimentos de cursos e alternativas econômicas
para agricultores familiares podem ser conduzidos por instituições de ensino superior, caso da
FESURV, que já tem uma política de extensão implantada, utilizando os conhecimentos
básicos produzidos nos seus cursos da área de agrárias e de humanas podendo, assim, alterar a
realidade da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás.
Outro fator relevante é que alguns setores da agricultura familiar na região
encontram-se organizados através de associações, o que pode facilitar uma política de
capacitação. Alguns assentamentos já contam com uma infra-estrutura de galpões e geração
de energia podendo facilitar implantações de atividades, inclusive com possibilidades de
agroindustrialização através de parcerias nas propriedades, contribuindo, assim, com a
melhoria da renda e a inserção da agricultura familiar no cenário competitivo da região.
Percebe-se na agricultura familiar da região uma reprodução do quadro nacional, ou
seja, a falta de capital e estrutura tornou este segmento altamente dependente de políticas
públicas. Sem uma organização de alternativas produtivas pelos poderes públicos da região
comprometidos no fornecimento de recursos com fiscalização e conscientização,
provavelmente as propriedades familiares serão abandonadas na busca de outras alternativas
no setor urbano.
4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARTAXO, W. V. et. all. Unidades de Testes e Demonstração/Escola de Campo: Ferramenta
para Apropriação Tecnológica de Agricultores Familiares na Cultura do Algodão em Áreas de
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do Algodão em Goiás).
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Perfil da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás.