TÍTULO DO ARTIGO: PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUDOESTE DE GOIÁS 1 AUTORES: Cinára Lopes de Moraes – CPF 283.284.931-87 Instituição: Universidade de Rio Verde Cidade/Estado: Rio Verde - Goiás Divina Aparecida L. L. Lima – CPF 577.889.281-00 Instituição: Universidade de Rio Verde Cidade/Estado: Rio Verde - Goiás ENDEREÇO: Correspondência para Divina Aparecida L. L. Lima Rua Luiz Antônio de Oliveira, Qd. 59, Lt. 26 – Bairro Brasil Santa Helena de Goiás – GO CEP. : 75.920-000 ENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected] [email protected] NÚMERO DO GRUPO DE PESQUISA SUGERIDO: 7 FORMA DE APRESENTAÇÃO: Apresentação em sessão sem debatedor 1 Pesquisa financiada com o apoio financeiro do Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás e pela Universidade de Rio Verde – FESURV – Goiás, tendo como estagiário o acadêmico do curso de Ciências Econômicas Leucivaldo Carneiro de Morais. PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUDOESTE DE GOIÁS RESUMO O conhecimento do perfil na agricultura familiar brasileira tem sido objeto de vários estudos acadêmicos, pois se entende que as políticas públicas devem ser elaboradas e exercitadas quando se conhece a realidade que se quer mudar. Este artigo foi resultado de uma pesquisa de campo objetivando conhecer o perfil da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás que demonstrou ser diferente da tradição nordestina e sulista que tem conseguido ainda manter parte da mão-de-obra no campo. Percebe-se que a realidade no Sudoeste de Goiás é manter no campo apenas os agricultores que conseguem a incorporação da tecnologia, enquanto que, os demais segregam a família na busca de sobrevivência no setor urbano inviabilizando-se assim, a permanência de forma sustentável dos mesmos no campo. PALAVRAS-CHAVES: perfil da agricultura familiar, políticas públicas, sustentabilidade. PERFIL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SUDOESTE DE GOIÁS 1 – INTRODUÇÃO O perfil de um segmento pode indicar as melhores alternativas para a sua inserção dentro de uma atividade produtiva com sustentabilidade e rentabilidade. O conhecimento do perfil na agricultura familiar brasileira tem sido objeto de vários estudos acadêmicos, pois entende-se que as políticas públicas devem ser elaboradas e exercitadas quando se conhece a realidade que se quer mudar. Sendo assim, o primeiro passo para sugestões de mudanças a serem propostas na agricultura familiar da região do Sudoeste de Goiás foi buscar conhecer o perfil de forma aprofundada para que venha possibilitar a indicação de diretrizes mais eficientes que viabilizem a implantação de uma política de incentivo à cotonicultura de forma sustentada. Na metodologia da pesquisa foi feita uma revisão bibliográfica sobre a agricultura familiar no Brasil e a evolução das políticas públicas para este segmento, com levantamento de dados primários através de um questionário, visando identificar políticas públicas que garantissem a sustentabilidade da produção rural neste segmento. Dados da FETAEG, de Julho de 2002, indicam 637 produtores familiares nos 04 municípios pesquisados (Rio Verde, Santa Helena de Goiás, Jataí e Chapadão do Céu). Deste total de produtores familiares, foi retirada uma amostra utilizando uma proporção de 20% e erro amostral de 8%. Os dados primários foram obtidos a partir de aplicação de um questionário nesta amostra e a tabulação dos dados foi feita através do uso do software SPSS. Com o auxílio do programa, obtiveramse indicadores estatísticos para a análise da pesquisa. Neste artigo encontra-se apenas a análise do perfil da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás. 2 - PERFIL DO AGRICULTOR FAMILIAR 2.1.1 - Origem do produtor Nos quatro municípios escolhidos para desenvolver esta pesquisa verificou-se que a origem do produtor familiar é predominantemente goiana com uma concentração acima de 70%, dada a amostra utilizada, como pode ser verificada na Tabela 1. Os dados sobre a origem do produtor familiar pesquisado indicam que a maioria é goiana, com uma concentração acima de 70% nos quatro municípios da amostra. A Tabela 1 apresenta os dados desta variável. Foi informado separadamente um assentamento com o nome de Agrovila Rio Verdinho, devido ao tipo de posse da terra neste assentamento que fica localizado em Rio Verde. A terra é de propriedade comunitária, ou seja, é de todos que fazem parte do assentamento. Não existe um espaço para o cultivo individual. Esta experiência é pioneira no Estado de Goiás. As famílias deste assentamento possuem um lote de 2,5 hectares onde podem criar animais para o sustento e construir sua residência. As decisões sobre o plantio nos 446 hectares restantes são tomadas pela associação dos produtores rurais do assentamento. Cabe salientar que para todos os demais dados foi adotada esta metodologia devido à característica particular deste assentamento. TABELA 1 – Regiões de procedência dos produtores familiares (assentados). Regiões Rio Verde % Agrovila % Santa Helena % Jataí % Chapadão do Céu % CentroOeste 55 75 7 64 11 73 14 70 6 60 Nordeste 7 10 4 36 3 20 3 15 - - Sudeste 6 8 - - 1 7 1 5 - - Sul 5 7 - - - - 2 10 4 40 Total 73 100 11 100 15 100 20 100 10 100 Fonte: Pesquisa de campo (2003). A Tabela 1 apresenta os dados agregando as regiões brasileiras na amostra pesquisada. Não foi detectado nenhum produtor familiar procedente da região do Norte. Provavelmente, este fato é devido à baixa densidade populacional desta região, além da grande disponibilidade de terras para ocupação de forma produtiva que pode funcionar como elemento de fixação do homem na região. Quanto aos dados da região Sul, percebe-se que também tem uma reduzida participação na composição dos agricultores familiares da região, concentrando-se em pequena participação apenas no município de Rio Verde com 7% (Rio Grande do Sul), Jataí com 10% (Rio Grande do Sul) e em Chapadão do Céu com 40% (30% do Paraná e 10% do Rio Grande do Sul). O menor índice de participação de famílias de origem goiana pesquisadas foi no município de Chapadão do Céu. 2.1.2 - Sexo dos produtores familiares Os dados sobre o sexo dos chefes das famílias na agricultura familiar nos municípios pesquisados, conforme a amostra, indicam que existe uma tendência de concentração no sexo masculino de 79,50%, com uma participação na média de 20,50% de sexo feminino. Os dados podem ser visualizados no Gráfico 1. 2.1.3 - Escolaridade e aperfeiçoamento dos produtores familiares Um dos fatores que podem favorecer a implantação de novas oportunidades produtivas em qualquer segmento é o grau de escolaridade dos indivíduos que vão receber este treinamento e colocar em prática as atividades técnicas, por isso uma das variáveis mais importantes para a caracterização do perfil do produtor familiar foi à escolaridade e a participação dos produtores familiares em treinamentos, principalmente os técnicos e administrativos. Os dados sobre o sexo dos chefes das famílias na agricultura familiar nos municípios pesquisados, conforme a amostra, indicam que existe uma tendência de concentração no sexo masculino de 79,50%, com uma participação na média de 20,50% de sexo feminino. Os dados podem ser visualizados no Gráfico 1. G R Á F IC O 1 - S e xo s d o s c h e f e s d e f a m í lia s 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 8 1 ,8 80 7 9 ,5 70 65 35 1 8 ,2 20 2 0 ,5 A g ro vila S anta H e le n a R io V e rd e F e m inino Ja ta í 30 Chapadão do Céu M a s c u li n o Fonte: Dados da Pesquisa de Campo (2003). Os dados analisados indicam que um dos gargalos para a atividade familiar está no baixo nível de escolaridade dos mesmos, já que, conforme pode ser observado no Gráfico 2, mais de 75,4% declararam ter o primeiro grau incompleto. Quanto a este primeiro grau incompleto, a maioria informou que possuía apenas em média quatro anos de ensino, o que indica que não terminaram nem a primeira fase do primeiro grau que compreende a primeira série até a quarta série. Isto, com certeza, dificulta a participação destes produtores em treinamentos principalmente os ligados às áreas administrativas já que exigem um mínimo de domínio sobre a leitura e as operações matemáticas. Quanto aos dados sobre o 2° grau completo, 3° grau incompleto e não informaram não houve nenhuma participação na amostra pesquisada. No Gráfico 2, encontra-se outro motivo de preocupação, pois além de índice de produtores familiares que se declaram com o primeiro grau incompleto, o número que se declarou sem instrução é três vezes maior que o número de pessoas com o primeiro grau e segundo grau completo. Percebe-se que existe uma necessidade de uma política urgente de educação básica para os produtores familiares da região, iniciando com as primeiras fases de ensino para a alfabetização básica e buscando, paulatinamente, a inserção destes produtores pelo menos no domínio da leitura e escrita e das operações matemáticas básicas. Este fato só não é mais grave devido à experiência que estes produtores têm com a atividade rural, e que será relatado no próximo item. Com certeza, a prática dos mesmos com as atividades produtivas tem garantido a produção e os procedimentos técnicos dentro da sua atividade. GRÁFICO 2 - Escolaridade dos produtores familiares da amostra 75,4 80 70 60 50 40 30 20 15 4,6 10 4,8 0,2 0 Sem instrução 1º Grau incompleto 1° Grau completo 2° grau completo 3° grau completo Fonte: Pesquisa de campo (2003) Quanto à participação em curso de aperfeiçoamento percebeu-se um índice na média das cinco regiões entrevistadas de apenas 16,6% e 71,6% declaram não fazer cursos e 11,8% não responderam esta questão. Este fato também demonstra que o possível gargalo que se tem na região quanto à falta de competitividade da agricultura familiar e sua baixa rentabilidade é a falta de políticas públicas voltadas para o aperfeiçoamento da prática que os mesmos já possuem. Uma das alternativas que se tem para resolver este problema no curto prazo é buscar parcerias com a iniciativa privada e pública, já que a região do Sudoeste de Goiás conta com um setor rural altamente qualificado e organizado, principalmente quanto às representações de classe, e que poderia ser buscado para orientar os cursos e as metodologias a serem adotadas para garantir o sucesso na atividade rural dos produtores familiares. 2.1.4 - Idade e experiência do produtor familiar na atividade rural Os dados quanto à idade dos produtores familiares indicam que a maioria se encontra na faixa etária acima dos 40 anos. Quanto à experiência dos produtores familiares com atividade rural, há uma concentração em mais de 20 anos de experiência, o que pode indicar que os mesmos têm uma origem muito forte no setor rural, muitas vezes, atuando como empregados de propriedades rurais e outras, em sua maioria como lavradores, conhecidos na região como bóias-frias. A Tabela 2 apresenta os dados sobre os anos de experiências dos produtores. Quanto ao período de experiência dos produtores familiares, percebe-se que a maioria declarou possuir mais de 20 anos de experiência. Este fato pode auxiliar na condução de políticas públicas, pois os mesmos já possuem a parte prática, restando garantir uma qualificação administrativa e financeira da atividade. Quanto a esta elevada experiência no setor agrícola, deve se fazer uma ressalva, pois muitos são originários do sistema de trabalho rural, conhecido como bóias-frias. Outros são descendentes de produtores meeiros que utilizavam a terra de grandes produtores para o cultivo de subsistência com pouco ou nenhum fim comercial. Isto criou uma geração de produtores familiares que não foram educados para a atividade comercial, que com a profissionalização do setor rural passa a ser a única forma de inserção com sustentabilidade neste segmento. TABELA 2 – Anos de experiência dos produtores familiares na atividade rural Anos Rio Verde % Agrovila % Santa Helena % Jataí % Chapadão do Céu % 0a 5 4 5 1 9 4 27 1 5 3 30 5 a 10 3 4 - - 2 13 1 5 3 30 10 a 15 3 4 2 18 2 13 - - 2 20 15 a 20 7 10 1 9 - - - - - - mais de 20 56 77 7 64 7 47 18 90 2 20 Total 73 100 11 100 15 100 20 100 10 100 Fonte: Pesquisa de campo (2003). Outra questão que envolve a administração da propriedade foi sobre a participação dos integrantes familiares nas decisões produtivas. Percebeu-se que ainda existe uma concentração na figura do homem como responsável pelas principais decisões. Este índice ficou em 56% dos homens na média das cinco regiões pesquisadas contra uma porcentagem de 6,2% de mulheres como o agente que toma a decisão. O índice referente quando as decisões são tomadas por homens e mulheres ficaram em 21,8% na média e toda família tomando as decisões da propriedade ficou em 11,2%. Outros 4,8% da média ficaram concentrados no conjunto que declarou que são os filhos que tomam as decisões, com 1,4%, e homens e filhos com 3,4%. Reforça-se assim que a tradição da agricultura familiar das regiões nordeste e sul que envolve toda a família na atividade não é a realidade da região do Sudoeste de Goiás. A família não permanece junta no campo decidindo a melhor alternativa de produção e fornecendo a mão-de-obra necessária para tocar a atividade. Os filhos geralmente saem da propriedade em busca de trabalho assalariado ou não. 2.1.5 – Estrutura da propriedade e infra-estrutura disponível no assentamento Um fato que pode facilitar políticas de integração e desenvolvimento das propriedades familiares é que as mesmas se encontram na média de 60 Km dos centros urbanos onde realizam os negócios de compra de insumos e vendas de produtos. Na pesquisa com os assentados, verificou-se que esta distância facilita a implantação de políticas de capacitação para estes assentados, pois permite um intercâmbio entre as agências de fomento e instituições de pesquisa a um custo reduzido, caso seja necessário o deslocamento de equipes ou equipamentos para cursos. Deve ser destacado que os tamanhos das propriedades tiveram uma pequena variação de acordo com os municípios pesquisados. Em Santa Helena de Goiás, a média de área das propriedades familiares é de 22 ha, em Rio Verde, a média sobe para 31 ha, em Jataí e Chapadão do Céu a média é de 32 ha. Considerando a estratificação da COMIGO adotada na região, todos os produtores familiares são considerados mini-produtores. Devido à pequena área das propriedades familiares, percebe-se uma intensa diversificação de atividades produtivas, principalmente o gado de leite e a criação de aves caipiras para revenda nos centros urbanos. Outra questão que foi percebida é que dois assentamentos pesquisados possuem disponível infra-estrutura composta de armazéns e que poderia ser utilizada de forma mais eficiente, pois atualmente um está sem utilização e outro está alugado. Estes assentamentos são os da Agrovila e da Ponte de Pedra, todos localizados no município de Rio Verde. No Assentamento Ponte de Pedra, existe uma usina hidrelétrica que abastece a pequena vila do assentamento e os armazéns do assentamento são alugados para uma empresa de comercialização de grãos. Na Agrovila, os armazéns não estavam sendo utilizados para nenhuma finalidade, apresentando, inclusive, sinais de degradação pelo tempo. 2.1.6 - Representação de classes dos produtores familiares A representação e organização da agricultura familiar por entidades de classe podem permitir uma melhor articulação entre as demandas dos produtores e a agilização das políticas feitas para o setor. Entende-se que quanto mais organizado for um setor, mais forte é sua capacidade de reivindicações para os poderes públicos. Os dados da pesquisa indicam que a maioria concentra sua representação através de associações de produtores feitas em nível de assentamentos, que são organizadas para resolver problemas ligados à infra-estrutura do assentamento e articular as reuniões com órgãos governamentais e federações de trabalhadores rurais. Na Tabela 3, encontram-se os dados sobre a participação dos produtores familiares em entidades de classe. O associativismo foi apontado por 100% dos assentados como alternativa para organizar as reivindicações e melhorar sua representatividade nas negociações. Nos estudos feitos para a análise da eficiência econômica e da competitividade da cadeia têxtil brasileira (2000), demonstra-se a importância do cooperativismo, como confirmado pelo caso do estado do Paraná, onde as cooperativas contribuíram para a melhoria do poder de barganha do produtor, pois as mesmas possuíam infra-estrutura de armazenagem e beneficiamento dos produtos. Com isso, conseguiam elevar a rentabilidade da atividade e permitir que os pequenos produtores pudessem se inserir, com competitividade, à cadeia. 2.1.7 - O financiamento da atividade rural O problema do financiamento apresentado pelos produtores foi quanto ao montante, pois os mesmos recebem através da linha de crédito do PRONAF C R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o custeio das atividades agrícolas. Uma grande parte dos produtores salientou que este capital inicial é insuficiente para o pagamento dos custos de produção das propriedades, sendo que seria mais adequada a elaboração de um projeto de safra prevendo o custo de produção e a liberação de uma porcentagem sobre este valor, ou do total do montante para o produtor. Outro problema é o tempo de liberação, que sempre acontece no meio da safra o que eleva o custo de produção. Segundo os produtores, se houvesse mecanismos de melhoria para a política de distribuição dos recursos financeiros, o produtor teria mais opções para a escolha do tipo de cultura a ser praticada. TABELA 3 – Participação dos produtores familiares em entidades de classe Entidade Classe Rio Verde % Agrovila % Santa Helena % Jataí % Chapadão do Céu % Cooperativa 2 3 1 9 - - 5 25 7 70 Ass. de Prod. 26 36 3 27 - - 1 5 1 10 Sindicatos 8 11 3 27 12 80 2 10 - - Coop./Assoc. 3 4 - - - - 1 5 - - Coop./Sind. 1 - - 2 13 5 25 - - Sind./Assoc. 6 8 2 18 - - 1 5 - - Coop./Sind/ Assoc. - - - - - - 3 15 - - Todos e outros 1 1 - - - - 2 10 - - Outros 2 3 - - 1 7 - - - - Não participa 24 33 2 18 - - - - 2 20 Total 73 100 11 100 15 100 20 100 10 100 1 Fonte: Pesquisa de campo (2003). Uma possibilidade que pode ser tentada para a viabilidade da cotonicultura é o apoio através de linhas de financiamento para a produção e aquisição de maquinário que possibilite o beneficiamento da cultura dentro da propriedade. Este tipo de política tem sido implementado através de UTD (Unidade Teste de Demonstração) na região Norte de Goiás e tem demonstrado resultados positivos. De acordo com Cartaxo et. all. (setembro de 2003), o modelo de apropriação tecnológica através das UTDs tem garantido a absorção de informações técnicas e a união dos produtores mantendo-os engajados com o objetivo de produzir com viabilidade. Cabe destacar que, neste trabalho, é salientado que mesmo utilizando a metodologia da UTD que fornece assistência técnica e administrativa em tempo real é necessário que outras medidas a nível governamental com caráter de longo prazo sejam tomadas. Poder-se-ia resumir estas medidas em: a) A recuperação das terras dos assentamentos que se encontram degradadas e com uma alta perda de qualidade, isso demandaria um programa de incentivo ao calcareamento da terra, o que pode elevar a produtividade da terra e favorecer as técnicas de plantio viabilizando as culturas nesta terra. b) A necessidade de uma assistência técnica real para os assentamentos, melhorando o relacionamento entre assentado e o técnico agrícola e administrativo. Esta prática pode favorecer a continuidade de um processo de qualificação devido ao nível de confiança que se eleva a cada atividade produtiva. c) Necessidade de implantar uma política de diversificação dentro das propriedades familiares, com vários sistemas produtivos integrados e rotativos. d) O financiamento de máquinas para as práticas do sistema produtivo adotado nos assentamentos. e) Viabilizar a integração da comercialização dos assentados para garantir a rentabilidade depois da porteira. f) Estabelecer incentivos assentamentos. para agroindustrialização dentro dos Quanto ao último aspecto destacado no trabalho de Cartaxo et. all. (setembro de 2003), cabe salientar que, no caso da cotonicultura a agroindustrialização é uma meta para implantação dentro dos assentamentos na região do Sudoeste de Goiás. Sem esta etapa, a cotonicultura para agricultura familiar na região com certeza ficaria comprometida, por isso o que se pretende através deste relatório é conscientizar os poderes públicos da necessidade de buscar alternativas que garantam no mínimo o beneficiamento do algodão nas propriedades familiares. 2.1.8 - Assistência técnica Conforme destacado anteriormente, a assistência técnica é um dos fatores importantes para a viabilidade das atividades produtivas dentro dos assentamentos. No caso da pesquisa de campo feita na região do Sudoeste de Goiás, detectou-se que estas visitas técnicas são feitas através da Agência Rural e concentram-se no período de atividade produtiva. Este fato pode minimizar a falta de preparo dos produtores para o cultivo da cultura, mas não garante a rentabilidade da atividade. Muitos dos problemas enfrentados pelos produtores vão além das técnicas de produção e são ligadas a decisões administrativas que afetam a longo prazo sua atividade dentro de sua propriedade. Quanto maior for a confiança do produtor familiar no técnico agrícola, maiores são as possibilidades de seguir todas as orientações recebidas e mesmo de alterar planos de plantio que não recebem o apoio da assistência técnica. A Tabela 4 destaca os dados sobre o recebimento das visitas técnicas nas propriedades familiares. Optou-se por apresentar apenas os dados da porcentagem para a melhor visualização desta variável. Percebe-se que os maiores números de visitas concentram-se nos assentamentos da Agrovila e de Santa Helena. Na Agrovila, a característica da propriedade da terra facilita que a assistência técnica seja de 100%, pois, neste caso, a área visitada e orientada é apenas uma. Em Santa Helena, apesar de áreas individuais, a assistência técnica tem cumprido com êxito suas atividades, já que os assentados declaram que as visitas têm sido feitas regularmente no período de cultivo. Nos demais assentamentos, percebe-se que o índice cai um pouco. Em conversa com os assentados da Região, principalmente de Rio Verde, foi reivindicada uma assistência maior da Agência Rural, inclusive com atividades de combate a pragas de animais. No caso de um dos assentamentos, o problema era morcegos que estavam atacando o gado no período noturno, o que já havia causado perdas aos produtores. TABELA 4 – Visitas técnicas aos produtores familiares Visita Técnica Rio Verde Agrovila Santa Helena Jataí Chapadão do Céu Sim 64 100 93 65 50 Não 36 0 7 35 50 Total 100 100 100 100 100 Fonte: Pesquisa de campo (2003). Cabe destacar que durante as entrevistas, inclusive com o pessoal da assistência técnica da Agência Rural, foi levantado que uma ação que deve ser tomada para melhorar a realidade dos assentamentos é aumentar o número de visitas, mas que não há como ser feito isto devido às verbas destinadas às visitas terem diminuído em relação ao número de assentamentos que são formados na região. Outro fator é que estas verbas devem ser destinadas inclusive o pernoite dos pesquisadores e técnicos agrícolas, já que alguns assentamentos são distantes e as condições das rodovias são consideradas ruins. Quanto ao período de assistência, a maioria dos assentados declarara que é assistida durante todo o período produtivo. Neste item, cabe fazer uma ressalva a assistência técnica, pelo menos a que este grupo de pesquisadores analisa ser adequada para a agricultura familiar. Ela não deve se concentrar em períodos produtivos, mas sim fomentar um relacionamento com os produtores familiares, garantindo uma união de força para a adequação de suas atividades à realidade social e condições de suas terras. Sem este apoio que se caracteriza pela confiança a ser desenvolvida, a agricultura familiar pode ficar fadada a uma produção sem qualidade e sem rentabilidade o que condenaria este segmento a uma prática assistencialista de políticas públicas sem uma sustentabilidade que fixaria esta família realmente ao campo. A Tabela 5, tem-se os dados sobre a questão dos problemas técnicos que os produtores tiveram com as orientações obtidas através das visitas dos técnicos da Agência Rural. Percebe-se pelos dados que o número em porcentagem de produtores que declaram que não tiveram problemas técnicos ficou na média em 71,4% e os que declaram terem problemas com as orientações técnicas foi de 28,6%. Apesar deste número ser bem menor que os que não tiveram problemas, devem ser buscadas soluções para que haja uma redução no índice de 28,6%, pois os produtores familiares, devido ao baixo índice de liquidez obtido e a escassez de capital de juros, não possuem capacidade para administrar perdas e prejuízos em suas propriedades. TABELA 5 – Demonstração de problemas na obtenção de informações técnicas. Visita Técnica Rio Verde Agrovila Santa Helena Jataí Chapadão do Céu Média Sim 27 36 20 20 40 28,6 Não 73 64 80 80 60 71,4 Total 100 100 100 100 100 100 Fonte: Pesquisa de campo (2003). Percebe-se que muitos assentados que se encontram produzindo têm como meta uma melhor qualificação e aumento da produção via tecnologia. Caso o produtor comece a ter problemas com a cultura escolhida, provavelmente poderá até mesmo abandonar a propriedade familiar. Este fato tem sido relatado na região, onde produtores familiares que não têm condições de produzir devido a problemas técnicos e falta de capital têm arrendado suas terras e desenvolvido atividades em outras propriedades como trabalhadores rurais. Este fato tende a se agravar caso não haja uma política para a fixação e fiscalização, com condições de sustentabilidade, do homem na terra e comprometidos com a mesma. 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados da pesquisa indicam que a agricultura familiar nos municípios estudados apresenta um baixo padrão tecnológico, principalmente quanto ao maquinário e aos insumos agrícolas, sendo necessária uma revisão nos valores liberados para o custeio e investimentos neste segmento. Deve ser implantadas políticas de capacitação na região com o apoio das instituições de pesquisa, do setor público tanto na esfera municipal, na estadual e na federal juntamente com a iniciativa privada. Os oferecimentos de cursos e alternativas econômicas para agricultores familiares podem ser conduzidos por instituições de ensino superior, caso da FESURV, que já tem uma política de extensão implantada, utilizando os conhecimentos básicos produzidos nos seus cursos da área de agrárias e de humanas podendo, assim, alterar a realidade da agricultura familiar no Sudoeste de Goiás. Outro fator relevante é que alguns setores da agricultura familiar na região encontram-se organizados através de associações, o que pode facilitar uma política de capacitação. Alguns assentamentos já contam com uma infra-estrutura de galpões e geração de energia podendo facilitar implantações de atividades, inclusive com possibilidades de agroindustrialização através de parcerias nas propriedades, contribuindo, assim, com a melhoria da renda e a inserção da agricultura familiar no cenário competitivo da região. Percebe-se na agricultura familiar da região uma reprodução do quadro nacional, ou seja, a falta de capital e estrutura tornou este segmento altamente dependente de políticas públicas. Sem uma organização de alternativas produtivas pelos poderes públicos da região comprometidos no fornecimento de recursos com fiscalização e conscientização, provavelmente as propriedades familiares serão abandonadas na busca de outras alternativas no setor urbano. 4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARTAXO, W. V. et. all. Unidades de Testes e Demonstração/Escola de Campo: Ferramenta para Apropriação Tecnológica de Agricultores Familiares na Cultura do Algodão em Áreas de Assentamento no Estado de Goiás, Safras 2001/2002 – 2002/2003. Artigo divulgado no IV Congresso Brasileiro de Algodão, setembro de 2003 – Goiânia, Goiás. (CD-Rom). MORAES, C. L. de; LIMA, D. A. L. L;. Estudo da viabilidade econômica da cultura do algodão em propriedades familiares no Sudoeste de Goiás. Rio Verde: Universidade de Rio Verde – FESURV, 2004. (Relatório de pesquisa financiado pelo Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás).