Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição de hoje do Jornal de Negócios on line Ulrich: "Estado devia privatizar uma parte da Caixa Geral de Depósitos" Andreia Major - [email protected] Fernando Ulrich defende a privatização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e refere que enquanto o banco não for cotado perde "agilidade estratégica". O banqueiro diz ser "recomendável" que a Caixa siga o exemplo espanhol. "Estou hoje muito mais confiante sobre Portugal do que estava há uns meses", declarou Fernando Ulrich em entrevista ao "Diário Económico". O banqueiro do BPI fez considerações sobre vários temas da atualidade, passado pelos números do desemprego, pelos bancos, empresas e empresários, a irresponsabilidade do país, e, por fim, os políticos e a política. Questionado pelo jornal económico sobre se concordava com a privatização da Caixa Geral de Depósitos, Ulrich manifestou-se claramente a favor. "O Estado deveria colocar no mercado uma minoria do capital da Caixa – seguindo, aliás, o modelo relativamente às cajas que existem em Espanha e que estão muito ligadas aos governos regionais", explicou o banqueiro. "Nos últimos dois anos e, em particular, no último, os espanhóis abriram o capital das caixas em boa situação, como é o caso da nossa. A partir do momento em que têm uma parte do seu capital cotado na bolsa, não só se sujeitam a uma disciplina de mercado e à observação dos investidores, como beneficiam da possibilidade – determinante numa instituição financeira – de poder comprar outros bancos ou fundir-se com outras instituições bancárias", continuou. Ulrich explicou que se a Caixa não tiver ações cotadas em bolsa, o único modo que tem de comprar outro banco é pedir ao seu acionista, o Estado português, que lhe forneça o dinheiro. "Ou seja, enquanto a CGD não tiver ações cotadas na bolsa, está coarctada de uma parte importante da agilidade estratégica que devia ter e que as espanholas têm", disse Ulrich ao "Diário Económico". O banqueiro defende ainda que esta cotação em bolsa traria outra grande vantagem: a Caixa tornarse-ia menos politizada e mais independente dos governos. Relativamente ao trabalho de Carlos Costa no Banco de Portugal, Fernando Ulrich afirma que o banqueiro tem feito um "excelente trabalho". "(…) uma parte do mérito dos exames positivos da troika resulta, sem dúvida alguma, do magnífico trabalho que o BdP tem feito, e do esforço de toda uma equipa comandada pelo governador (…)", disse o CEO do BPI. "O facto de terem surgido, por vezes, opiniões diferentes entre o governador e alguns responsáveis bancários – até posso ter sido eu, num caso ou noutro – não pode, de modo algum, confundir-se com menor apreço ou menos reconhecimento pelo trabalho que é feito", avançou Ulrich, reiterando a sua estima pelo trabalho de Carlos Costa. Quanto à compra de dívida grega pelo BPI, Ulrich não se mostrou perturbado, assumindo, no entanto, que cometeu um erro. "(…) cometemos um erro ou uma sucessão de erros pelos quais eu sou o principal responsável e obviamente que ser responsável por um erro de consequências pesadas me penaliza", disse Ulrich, garantindo, no entanto, que o "BPI está de saúde e recomenda-se! Estamos em condições de contribuir para a recuperação da economia portuguesa e esse é o trabalho fundamental agora". "Tal como está, o BCP faz bastante mal aos outros concorrentes" Questionado sobre o futuro da banca portuguesa, Ulrich admitiu dois cenários: "um cenário de status quo sem alteração e outros de alterações profundas: em vez de haver cinco grandes bancos haver dois". "A minha preferência, puramente egoísta, era que ficasse tudo na mesma", admitiu Fernando Ulrich. "Gosto muito da situação do BPI, gosto muito dos acionistas que temos, o Itaú, a La Caixa, a Allianz, da Alemanha, o grupo de acionistas portugueses que está com o banco desde a fundação, há 30 anos. Algo de raro, uma situação única e invejável!." Ulrich falou ainda sobre o BCP e confrontado com a expressão "o BCP ontem era português, hoje é angolano", afirmou: "Não subscreveria que, pelo menos hoje, o BCP seja angolano". "Há uma forte influência angolana mas ainda é cedo para dizer que é apenas angolano", disse. Ulrich manifestou esperança na nova administração do banco e sublinhou que "enquanto persistirem as atuais fragilidades, nomeadamente do ponto de vista financeiro, o BCP é um problema muito grande para todo o sistema financeiro: prejudica grandemente os outros bancos porque devido às suas dificuldades financeiras, paga muito caro pelos depósitos, para conseguir captar financiamento." "Há crédito a mais, deve ser equilibrado" No campo das empresas, Ulrich marca uma posição firme: "Só as empresas que conseguem internacionalizar-se têm uma saída para o crescimento", alertando que o mercado interno "não recuperará tão cedo". Quanto ao crédito à economia, o banqueiro avança que tem de ser "equilibrado". "Todas as pessoas que se pronunciam sobre a economia portuguesa – o primeiro-ministro, o ministro das Finanças, os economistas, os analistas internacionais – estão de acordo que a economia portuguesa tem excesso de crédito. No seu conjunto – no Estado, nas empresas, nas famílias – há crédito a mais, logo, deve ser equilibrado." O banqueiro explicou ainda que "não há maneira de o equilibrar e ao mesmo tempo querer que ele continue a aumentar e que os problemas se resolvam com crédito!". "(…) para reequilibrar as nossas finanças públicas e as contas com o exterior, também não há outra maneira que não inclua uma dose significativa de contração da procura interna: é preciso diminuir o consumo das famílias e do Estado, tal como é preciso diminuir o investimento, durante algum tempo, pelo menos". Relativamente às empresas, Ulrich declarou que "se [as empresas] tivessem mais crédito, poderiam sobreviver algum tempo, mas era artificialmente, o mercado interno não recuperará tão cedo". "As que conseguem internacionalizar-se possuem uma saída de crescimento, quem não consegue ou terá de fechar – algumas já o fazem -, de se fundir com outras ou reduzir o seu tamanho", acrescentou o líder do BPI. Quanto à classe empresarial, Ulrich reconhece a competência dos empresários portugueses e afirma que "temos excelentes empresários e excelentes empresas". "Precisamos é de ter mais, o que aliás está a acontecer, num processo paralelo ao da melhoria educacional do País. Nos últimos 30 anos houve um grande progresso educacional (…)", disse o banqueiro. "O ano de 2012 vai ser muito exigente, muito difícil" Questionado sobre os progressos do País e as avaliações positivas da troika, Ulrich declara que "Portugal está a ganhar credibilidade perante a troika", afirmando que o País já dobrou o cabo das Tormentas. Sobre a questão da "receita" de austeridade poder não ser a mais indicada para Portugal, o banqueiro revelou que não havia "margem de manobra". "Não temos acesso a financiamento, a única entidade que nos financia hoje é exatamente a troika (…)". "O programa que querem que cumpramos e que acordaram connosco é este e só está em curso há sete meses. Parece-me muito pouco para se estar permanentemente a sugerir que devia ser alterado, atenuado, melhorado. Não é o momento. Há-de vir mais à frente e… além disso, o programa tem registado melhorias", disse Ulrich. "Estou contente que o país esteja no euro. Mas logo no dia seguinte deveríamos ter iniciado um percurso de um percurso de rigor e competitividade. Tanto mais que a Alemanha, já de si o país mais forte, fez também um esforço para ser ainda mais competitiva, porque o mundo se globalizava. Mas não percebemos: íamos num comboio em movimento e quem ia a puxar a composição acelerava ainda mais o passo!", disse. "Espantou-me o desemprego" Ulrich mostrou-se surpreso quanto aos números do desemprego: "Espantou-me que o desemprego tivesse alcançado um nível já tão alto! Esperava que essa barreira fosse ultrapassada mais lá para o fim do ano, ou no próximo", comentou. O banqueiro revelou-se "muito preocupado" e alertou que acredita que os números do desemprego "vão ainda aumentar, com algum significado". 05-03-2012