UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LEI 10.639/03 E O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL Por: Lygia de Oliveira Fernandes Orientadora Profª Geni Lima Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LEI 10.639/03 E O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica Por: . Lygia de Oliveira Fernandes 3 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais pelo apoio, aos amigos o incentivo. Ao meu amor sou grata pela paciência e compreensão, e ao meu Deus, força da natureza, sou sempre e eternamente agradecida pela proteção, zelo, força e energia. Ao AXÈ que me movimenta só posso dizer obrigada. 4 DEDICATÓRIA às crianças, negras em especial, que passeiam pelo chão da escola e plantam por nele seus sonhos e esperanças 5 RESUMO Esta pesquisa se propõe a investigar a problemática racial no contexto escolar. A partir da sanção da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil analisada aqui como uma conquista dos Movimentos Negros brasileiros e dos negros, em particular, bem como da sociedade mais ampla, inicia-se um questionamento sobre o papel do orientador na implementação da referida lei e nas práticas exercidas no cotidiano escolar. Ciente da importância da inclusão dos conteúdos acima citados nos currículos escolares, o presente trabalho limitar –se –á as estratégias que podem ser adotadas o orientador para desenvolver o tema dentro dos muros da escola. 6 METODOLOGIA Por meio da pesquisa bibliográfica o presente trabalho tenta apresentar um panorama geral sobre a problemática racial no âmbito da Educação. A população negra que constitui a maioria, se não quase, da população brasileira analisada em vários momentos como marginal, aqui será examinada como protagonista, pois através da promulgação da lei que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e ainda estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", o povo negro e afro descendente passa a ser alvo de preocupações dentro do contexto escolar. Devido ao tempo restrito e com o intuito de fazer um trabalho que contribua verdadeiramente para o dia a dia dos profissionais de educação, em especial o Orientador Educacional, a presente pesquisa por meio de pesquisadores e pesquisadoras da atualidade que se dedicam a falar de temas ligados a diversidade e relações raciais, faz um diálogo com documentos oficiais do Estado Brasileiro que se refere à promulgação da Lei 10639/03 e o seu respectivo desenvolvimento e implementação. De modo a inserir o Orientador Educacional nessa pauta de discussão, esta pesquisa, além de apresentar uma proposta de ação para que este profissional perceba que é possível tratar das africanidades brasileiras no contexto escolar, mostra por meio de teorias atuais que o orientador, assim como os demais profissionais de educação deve estar atento para a diversidade étnico cultural presente entre os muros da escola. A bibliografia básica que confere suporte a esse estudo contempla autores como Canen (2002), Kabengele Munanga (2004, 2005), Mônica Lima (2006), Nilma Lino Gomes (2005), Ahyas Siss (2003, 2009), Garcia (2002). Ainda que outros autores expoentes na área não tenham sido utilizados, seus trabalhos não foram desconsiderados e ao longo do texto alguns podem ser encontrados. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULOI - A Formação da Identidade Nacional e os Impactos na Educação: Contextualizando a discussão 12 CAPÍTULO II - As Relações Raciais e a Educação 17 CAPÍTULO III - Lei 10.639/03: A África na Escola 22 CAPÍTULO IV – O Papel do Orientador Educacional para formar crianças e jovens intolerantes ao preconceito e orgulhosos de seu pertencimento étnico racial 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 ÍNDICE 41 FOLHA DE AVALIAÇÃO 42 8 INTRODUÇÃO A educação incorpora diversas formas e modelos, e os professores, professoras e demais profissionais, a frente do processo educativo, não são os únicos responsáveis pelo seu exercício. A escola não é detentora exclusiva do ator de educar, pois o mesmo pode ocorrer em diversos setores da sociedade: no âmbito familiar, no ambiente de trabalho, nos movimentos sociais, na comunidade, nas instituições escolares e atualmente a tecnologia midiática tem ensinado bastante aos jovens, crianças e adultos. Apesar de considerar essa dimensão mais ampla da educação, o presente trabalho concentrará seus estudos nas relações educacionais existentes dentro dos muros da escola e não necessariamente dentro da sala de aula, pois o ato de ensinar perpassa toda a estrutura escolar. Desta forma a instituição escolar, aqui será analisada, como um espaço de aprendizado e partilha de conteúdos, saberes escolares, valores, crenças e hábitos, assim como espaço de partilha e disseminação de determinados preconceitos, sejam eles étnico raciais, de gênero e classe e/ou de idade. Ao considerar a escola como locus privilegiado de relações podemos perceber que na História do Negro no Brasil encontramos uma escola de caráter bastante ativo e permissivo diante da discriminação e do racismo. Como prova disso, dois exemplos podem mostrar nitidamente esse modo peculiar da escola tratar as pessoas de descendência africana: em 1854, o Decreto n º 1.331 estabelecia a não admissão de escravos nas escolas públicas, e a instrução de adultos negros dependeria da disponibilidade de professores; anos mais tarde, em 1878, o Decreto nº 7.031- A estabelece aos negros o período noturno para os estudos. Além disso, “é importante lembrar que o acesso dos escravos a alfabetização era freqüentemente negado sob pena de morte, e apenas poucas oportunidades culturais eram oferecidas como sucedâneo para outras formas de autonomia individual negadas pela vida nas fazendas”.1 1 GILROY, Paul. Atlântico negro: Modernidade e Dupla Consciência, 2001: p. 160. 9 A arbitrariedade de medidas e estratégias com o propósito de afastar o negro da escola, tomadas ao longo da História, atinge a população afro descendente brasileira até os dias de hoje por meio da negação de conteúdos que façam referência a ancestralidade africana da humanidade. Com vista disso, uma legislação promulgada que tornou obrigatória a inclusão dos estudos em História da África e Cultura Afro brasileira nos diferentes níveis de ensino demonstra a preocupação do Estado Brasileiro e da população em geral de afastar da escola toda e qualquer postura permissiva a discriminação 2 e ao racismo . Isso não quer dizer que a escola é o nascedouro das diversas formas de discriminação, porém ainda que não brote do chão da escola o racismo, as desigualdades e as discriminações correntes na sociedade, perpassam por ela essas e outras formas desqualificadoras dos seres humanos (Brasil, 2004). As relações existentes na sociedade, onde vivem os profissionais da educação, acabam por refletir nos cotidianos escolares, onde atuam esses profissionais. O que se vê nas relações educacionais muitas vezes não é favorável ao reconhecimento e valorização da diversidade étnica e cultural existente em nosso meio social. A escola, com a sua lógica de uniformização e homogeneidade, muitas vezes não valoriza as diferenças existentes em seu espaço cotidiano. Rezas, hinos, comemorações de datas cívicas e/ou de cunho religioso somente caminham para a valorização de uma determinada cultura, descuidando e esquecendo outras manifestações culturais correntes em nosso cotidiano. Isso significa que a busca por uma identidade racial negra acaba por ser negligenciada em favor de uma pretensiosa identidade branca, julgada superior. Aos indígenas e negros, na maioria das vezes, é reservado o folclore, o estigma de exótico e primitivo. O intercurso sexual entre as raças 3 promovido pela política de miscigenação no início do século XX possibilitava aos negros retintos, ou como 2 3 Lei Nº 10.639, De 9 De Janeiro De 2003. Segundo Petronilha Beatriz Silva a raça assume nesse contexto um sentido político além de informar como determinadas características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre 10 em boa parte das ocasiões, possibilitava a negras retintas se relacionarem com indivíduos brancos produzindo indivíduos mais claros e possivelmente mais aceitos em uma nação em formação que almejava a cor e cultura européia. Para por fim a essa ideologia que ainda se encontra presente no imaginário de uma determinada parcela da população é necessário promover uma nova consciência na população negra brasileira capaz de livrá-la da passiva aceitação da superioridade cultural branca (Munanga, 2004) . Assim, o objetivo deste trabalho não é discutir sobre as estratégias de impedimento ao acesso da população negra aos bancos escolares, tão pouco verificar o número de crianças e jovens negros ingressos e egressos do sistema ensino regular. O que proponho é a discussão sobre os olhares e as práticas pedagógicas em relação ao corpo negro discente. Para isso será feita uma análise sobre as estratégias que a escola, na figura do orientador educacional, tem adotado para combater o racismo e as discriminações. Das últimas décadas do século XX ao dias atuais, apesar de todos os avanços nas discussões e posturas em relação ao negro, a escola está realmente preparada para acolher o negro e formá-lo orgulhoso de sua história ancestral?Como o orientador planeja a sua prática de modo a inserir no cotidiano da escola práticas que valorizem a diversidade e a multiculturalidade existente em nossa sociedade? O maior número de crianças e jovens negros e negras ingressos na escola representa um avanço da escola brasileira e também uma vitória para a comunidade afro brasileira, no entanto um grande desafio há de ser vencido: a permanência e o sucesso de todos. Crianças e jovens negros e negras, cotidianamente se deparam como um ambiente escolar pouco favorável ao seu sucesso e bastante inibidor ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades cognitivas. Desta forma, a fim de estender as discussões sobre as relações raciais existentes no campo educacional, será feito uma reflexão sobre a instituição escolar e as relações raciais que ocorrem no seu interior de modo a outras, influenciam, interferem e até mesmo determina o destino e o lugar social dos indivíduos no interior da sociedade brasileira. Ao ser usado com conotação política, o termo raça permite, por exemplo, aos negros valorizar a característica que difere das outras populações e romper 11 proporcionar reflexões sobre os discursos educacionais voltados à formação de indivíduos abertos a pluralidade cultural e ao repúdio e combate de preconceitos.Além disso, a partir da Lei 10.639/03, será proposto uma breve reflexão a cerca do reconhecimento e a valorização da cultura negra na escola. O mundo em que vivemos tem se caracterizado por grandes conflitos relacionados à afirmação das identidades plurais em sociedades cada vez mais diversas e desiguais. A escola ao dar visibilidade ao caráter plural e multicultural da sociedade pode, com certeza, contribuir para a formação de indivíduos intolerantes ao racismo e orgulhosos de seu pertencimento racial. Pensando na contribuição do orientador educacional para a formação desse sujeito capaz entendedor da diversidade, será feito, por meio de uma breve retomada histórica e exame de dados atuais, uma análise geral sobre o papel deste profissional na construção das identidades brasileira e negra. CAPÍTULO I RESUMO com as teorias raciais que foram formuladas no século XIX e que até hoje povoam o imaginário popular. 12 O capítulo que introduz este trabalho vem mostrar –nos os impactos educacionais advindos dos valores civilizatórios afro brasileiros. De modo a averiguar o processo de reestruturação social proporcionado pela presença na sociedade brasileira de um patrimônio imaterial africano, traduzido em saberes e práticas, o conceito de diáspora é analisado aqui a partir de significados relacionados a dispersão de pessoas, encontro com o mar, união de culturas e formação de identidades. Para fundamentar essa discussão autores como Gilroy ( 2006), Canclini ( 2008), Lopes ( 2004). A Formação da Identidade Nacional e os impactos na Educação: contextualizando a discussão “Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. 13 Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente dos seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: -Me ajuda a olhar” (Eduardo Galeano) Essa pequena história tem por objetivo maior ilustrar as reflexões apresentadas ao longo deste texto, cuja principal temática é fazer uma análise da relação entre os elementos culturais de descendência africana presentes na cultura brasileira herdados de um passado de misérias e glórias, e os processos educativos formais pelos quais, se não todos, a maioria de nós, passamos. Na história acima citada, Diego, o menino que nunca tinha visto o mar, ciente de suas limitações para apreciar a beleza do que avistava pediu ao pai que lhe ajudasse compreender a maravilha que estava diante de seus olhos. Assim como aquele menino que queria orientações de alguém mais experiente para ensiná-lo a olhar e entender a grandeza do que não lhe era familiar, nossos jovens e crianças espalhados pelos espaços das escolas também precisam de auxílio para entender o mundo que os cercam. Desta forma, nada mais conveniente questionar o papel da escola em relação as suas formas de ajudar a construir um olhar “entendedor” das tradições e contradições que compõe a cultura brasileira. Assim como o pai de Diego, cujos ensinamentos foram solicitados por seu filho, a escola tem como principal atividade educar olhares para que seus freqüentadores sejam capazes de enxergar flores onde a sombra do preconceito e a ignorância só permitiam ver espinhos. A beleza dos componentes da cultura brasileira impregnada de elementos de descendência africana, somente poderão ser realmente enxergados partir de uma reeducação do olhar tanto de quem ensina, como daquele que aprende. As idéias de Galeano foram tomadas de empréstimos para ilustrar a formação da identidade nacional, devido ao grande significado que o mar possui na memória afro descendente. Ele, o mar, foi testemunha de um 14 aviltante comércio de seres humanos que desencadeou em um processo de aproximação entre localidades que há milhões de anos a natureza apartou (LOPES, 2004). Esse comércio, cujo cenário era o oceano Atlântico, tinha uma característica interessante e brutal de coisificação de homens e mulheres que por ele eram submetidos. Contam histórias que antes de embarcar nos grandes navios negreiros que atravessariam o Atlântico, os negros escravizados eram obrigados a dar voltas em uma árvore, denominada “Árvore do Esquecimento”. Depois de caminhar em volta da árvore por algumas vezes supunha-se que os escravos perderiam a memória e esqueceriam seu passado, suas origens e sua identidade cultural para se tornarem seres sem nenhuma vontade de reagir ou se rebelar. Por ironia dos acontecimentos, ao passear pela História podemos notar a falha deste procedimento de perda de memória, pois além de não esquecer suas origens, os negros e negras instalados forçosamente em terras brasileiras criaram formas alternativas de vida contrárias a realidade da escravidão, e recriaram suas formas de ver e interpretar o mundo.4 O primeiro pressuposto, para se iniciar uma análise do processo de reestruturação social, de mistura intercultural proporcionado por essa dinâmica de deslocamento de pessoas, é o navio negreiro. O navio deve ser visto como "um sistema vivo, microcultural e micropolítico em movimento que coloca em circulação, idéias, ativistas, artefatos culturais e políticos".5 O movimento proporcionado pelo navio contraria a noção de identidades fixas, estáticas e estáveis que se opõem a qualquer descolamento da formação do sujeito para identidades flexíveis, conseqüentemente inacabadas, como afirma Hall (2006), a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. No livro “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana”, Nei Lopes define diáspora como um reinventar de um povo por meio da memória de um lugar, 4 Ver em Atlântico Negro Rota dos Orixás (75 mim), documentário dirigido por Renato Barbieri em 1998. 5 GILROY, Paul. Atlântico Negro: Modernidade e Dupla consciência, 2006, p.38. 15 de um clima, de um passado, de uma história. “O termo diáspora serve também para designar, por extensão de sentido, os descendentes de africanos nas Américas e na Europa e o rico patrimônio cultural que construíram.” 6 Na viajem entre a costa africana e os portos americanos de desembarque de escravos não era permitido aos negros carregar seus pertences, portanto só lhes restava trazer em suas memórias aquilo que lhes era mais significativo para a reconstrução de suas identidades. Sob a idéia chave da diáspora nós poderemos então ver não a raça, e sim formas geopolíticas e geoculturais de vida que são resultantes da interação entre sistemas comunicativos e contextos que elas não só incorporam, mas também modificam e transcendem. (GILROY, 2006, p: 25) A diáspora é um conceito que está intimamente ligado ao processo de escravidão, pois por meio dele milhões de africanos e africanas foram espalhados pelos mais diversos lugares através de várias rotas. Dos principais portos africanos localizados no golfo do Benin, Angola, São Tomé, Senegal e Moçambique (CONCEIÇÃO, 2006) os traficantes comercializavam escravos para as Américas tendo o lucro como principal objetivo. Os escravistas estavam interessados exclusivamente na força de trabalho dos africanos. Contudo, alheio a essa incansável busca por lucratividade, nos porões dos navios os africanos, pertencentes a vários grupos étnicos com distintas formas culturais, traziam consigo, além de músculos, principal interesse dos traficantes, idéias, sentimentos, tradições, mentalidades, hábitos alimentares, ritmos, canções, palavras, crenças religiosas, formas de ver a vida. Esses costumes aproximados pela dinâmica brutal da escravidão foram recriados em 7 terras brasileiras e se desenvolveram em uma cultura de aspecto híbrido e dinâmico. O conceito da diáspora remete à formação de culturas que não podem ser denominadas como pertencentes a uma fronteira restrita e sim estruturas 6 7 LOPES, Nei. A Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, 2004, p. 236 Entende-se por hibridação os “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objeto e práticas. ( CANCLINI, 2008:p. XIX) 16 que se desenvolveram e deram origem a um sistema de comunicações marcado por fluxos e trocas culturais. Esse fluxo de pessoas, característico do processo diaspórico e, por conseguinte a troca de idéias, histórias e memórias, remete ao sentimento de desterritorialização da cultura em oposição à idéia de uma cultura territorial fechada. Gilroy (2006) não analisa a diáspora como a representação de uma forma de dispersão catastrófica, ele analisa esse processo como uma ação que redefine a mecânica cultural e histórica do pertencimento de um povo a uma determinada localidade. Para Gilroy a diáspora rompe a seqüência dos laços explicativos entre lugar, posição e consciência, e conseqüentemente rompe também com o poder do território para determinar a identidade. Pensar no conceito de diáspora é pensar em multiplicidade, ou mais especificamente, em identidade multicentradas e /ou híbridas pois, “(...) frequentemente a hibridação surge da criatividade individual e coletiva”, como postula Canclini (2008). Esse mesmo autor afirma que Estudar processos culturais, por isso, mais do que levar-nos a afirmar identidades auto - suficientes, serve para conhecer formas de situar-se em meio á heterogeneidade e entender como produzem as hibridações (CANCLINI, 2008: p.24). Quando as fronteiras parecem dissolvidas, as velhas certezas e hierarquias de identidade são postas em questão. Desta forma, o processo da diáspora provocou um alargamento das fronteiras identitárias, antes estreitadas por certo essencialismo sedento por homogeneizar homens e mulheres. Os sujeitos compostos por uma identidade unificada e estável passa a possuir então várias identidades, sendo elas às vezes contraditórias. O processo da diáspora, estritamente vinculado ao trabalho escravo nas Américas, ajuda a compreender a construção da identidade nacional brasileira, pois para além dos traumas causados pela truculência desse processo, essa experiência fez surgir novas formas de pensamento. 17 CAPÍTULO II RESUMO Ser negro remete a um sem números de significações e identificações. Esses modos e formas de pertencer a um determinado grupo étnico racial significa estar inserido em um ser e estar no mundo que interfere significativamente nos processos educacionais. De acordo com dados do IBGE, do ano de 2004, 18 convivem de maneira pouco pacífica em nossa sociedade grupos étnicos distintos, entre eles brancos, negros e indígenas. Para construir uma nação compreesiva e sensível a diversidade cultural e racial existente em seu espaço é necessário caminhar rumo a uma educação anti racista capaz de trabalhar as variedades culturais sem dissolver as marcas identitárias dos diversos grupos que a compõem. De modo a não confundir variedade com mistura e não transformar multiplicidade em unidade este capítulo fará uma reflexão sobre a raça nos meios escolares. As Relações Raciais na Educação “O silêncio da escola sobre as dinâmicas das relações raciais tem permitido que seja transmitida aos (as) alunos (as) uma pretensa superioridade branca, sem que haja questionamento desse problema por parte dos (as) profissionais de educação e envolvendo o cotidiano escolar em práticas prejudiciais ao grupo negro” (BRASIL, 2006) 19 Identificar-se ao grupo negro remete a idéia de pertencimento e coletividade, significa estar inserido em categorias que diferem o sujeito de outros grupos. Os grupos identitários ainda que construídos socialmente designam uma identidade pessoal. Desta forma, quando identificado com o grupo étnico racial negro o indivíduo é inserido em uma rede de significações , e quando mal percebidas ou mal interpretadas essas identidades incorporam significados e imagens estereotipados, que interferem na visão do sujeito negro em relação a si, aos outros e ao mundo que o cerca. Seja nos meios acadêmicos ou aos olhos do senso comum, o negro é incorporado ao processo histórico da construção da sociedade brasileira em uma perspectiva de escravo, vinculado ao trabalho servil, ou analisado como objeto exótico e caricato. Já África mostrada nos meios de comunicação em geral, incluindo os livros didáticos, muitas vezes é mostrada homogênea, marcada por conflitos, arrasada pela fome, por um clima hostil, e pelas mais diversas enfermidades; com um passado, considerado primitivo, e presente, avaliado com certo pessimismo. Quando a escola por meio de histórias infantis e/ou apresentação de ilustrações inadequadas enfatiza aspectos folclóricos e/ou estereotipados da cultura negra favorece para a legitimação de tal informação. (LEMOS, 2001) Os livros didáticos, são bons exemplos da caracterização negativa que o negro pode adquirir na escola. Descendentes dos livros de leitura do início do século passado, os livros didáticos que deveriam adquirir um caráter de parceria com o profissional da educação em sua prática pedagógica muitas vezes se mostra como vilão no processo de construção do conhecimento por propagar informações preconceituosas dos negros e contribuir para a sua baixa auto-estima. “Recentemente, tivemos notícia do papel importante desempenhado pelo Ministério de Educação e do Desporto, ao fornecer uma extensa lista com livros didáticos impróprios para serem usados na educação de jovens e crianças . Este trabalho originou o Guia de Livros Didáticos de 5ª a 8ª series ( ...) Ao ser divulgada a lista de livros que incorriam nos pontos levantados acima, vimos que as editoras se disseram perseguidas. Para nós não existe perseguição maior que a imposta aos afro descendentes e explicitadas nos livros(...).” (LEMOS, 2001, p:32) 20 O pouco mais de um século que nos separa da Lei Áurea não foram suficientes para resolver uma série de problemas discriminatórios forjados ao longo dos quatro séculos de regime escravocrata. Ainda hoje, permanece na ordem do dia a luta pela participação equitativa de negros e negras nos espaços sociais e pelo respeito à humanidade dessas mulheres e homens reprodutores e produtores de cultura. (BRASIL,2006) “Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro e africano e um padrão estético e cultural branco europeu. Porém, a presença da cultura negra e o fato de 45% da população brasileira ser composta de negros (segundo o censo do IBGE) não têm sido suficientes para eliminar ideologias, desigualdades e esteriótipos racistas. Ainda persistem em nosso país um imaginário étnico racial que privilegia a brancura e que valoriza principalmente as raízes européias da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras culturas não brancas.” (BRASIL, 2004, p14) Ainda de acordo com a fonte citada acima è importante insistir que se entende por raça a construção social forjada nas tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosa, escamoteada pela ideologia da falsa democracia racial. O conceito de raça, portanto, nada tem haver com o conceito biológico cunhado no século XVII e atualmente superado. Assumir-se enquanto negro, além de deter traços físicos característicos ,como a cor da pele e a textura do cabelo, trata-se de uma escolha política. A identidade negra é construída a partir de uma identificação a um passado histórico em que os escravizados africanos protagonizaram, além de uma identificação com os membros de um grupo protagonistas de uma situação estigmatizada que levou a negação de sua humanidade e a interiorização de sua cultura. (MUNANGA,2004) “(...) pensar em raça também é pensar em estratégias de resistência, de luta por representação, por justiça social, por currículos que contribuam para subverter a lógica da discriminação, desvelando mecanismos de construção das diferenças e preparando futuras gerações para uma cidadania multicultural.” (CANEN,2001, p:63) A identidade racial jamais será um produto acabado, e sim um processo em construção. A escola, espaço de formação de identidades, não pode ignorar as tensões que são geradas pelas lutas por representação das 21 identidades. As relações educacionais não podem esquivar-se da pluralidade cultural e das tensões relacionadas a ela. Os currículos escolares não podem prosseguir culturalmente cegos, construídos sobre uma noção de universalidade que nada mais é do que uma construção simbólica, a partir de valores raciais e culturais dominantes. (Canen, 2001). A escola deve trabalhar no sentido de valorização e reconhecer as práticas pluriculturais e desafiadoras de preconceitos e estereótipos, de modo a desvincular de certos grupos ou indivíduos pertencentes a minorias étnicas ou comunidades religiosas imagens depreciativa ou conceitos que venham a prejudicar a auto estima desses grupos ou indivíduos. O reconhecimento da contribuição do negro e seu papel na cultura nacional não podem ficar restritos à comemoração de datas históricas _ como o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, ou odia 13 de maio, no qual comemora-se a data da abolição oficial da escravatura _ também não pode restringir - se ao reconhecimento e valorização de expressões artísticas, culinárias, folclóricas e outras, calando discussões sobre processos discriminatórios que, ao longo da história, marginalizam a identidade negra, e que precisam urgentemente serem superados. A escola deve caminhar rumo a uma educação anti racista, capaz de trabalhar as variedades culturais sem dissolver as marcas identitárias dos diversos grupos que a compõem, sem transformar multiplicidade em unidade, ou variedade em mistura. A educação rumo ao anti-racismo diferencialista estaria coerente ao projeto de sociedade equitativa que a escola pode se propor a desenvolver, ainda que de acordo com Canen ( 2001) a tensão dialética entre ambas as concepções universalista e diferencialista poderia ser o caminho perseguido nos discursos e práticas multiculturais. O anti-racismo diferencialista consiste em buscar a construção de uma sociedade igualitária baseada no respeito das diferenças tidas como valores positivos e como riqueza da humanidade. Oposto a esse, o anti-racismo universalista busca a integração na sociedade nacional, baseando-se em valores universais do respeito à natureza, sem discriminação de cor, raça, 22 sexo, religião, classe social, etc, e é chamado integracionismo fundamentado no indivíduo universal (MUNANGA, 2004). Uma das medidas decorrentes favoráveis a perspectiva diferencialista do anti-racismo, é a fundação de escolas diferenciais para identidades específicas. No Brasil podemos citar um exemplo para ilustrar a possibilidade da elaboração de uma escola que contemple de modo a diversidade cultural existente na sociedade. A Mini Comunidade Oba Biyi fundada em 1978 pelo Mestre Didi, que consiste em um espaço alternativo de educação para as crianças vinculadas aos tradicionais terreiros da Bahia pode ser considerado um exemplo de medida educacional anti- racista diferencialista. A criação desse espaço educacional se fez necessária devido a necessidade de se criar uma linguagem pedagógica capaz de superar o hiato entre o universo cultural das crianças das comunidades - terreiros e a escola . (LUZ, 1997) “A Mini Comunidade Oba Biyi caracteriza-se como a primeira proposta de educação no Brasil que considerou, na sua composição curricular, a dinâmica da pulsão pluticultural (...) O projeto e a experiência da Mini Comunidade Oba Biyi foram desenvolvidos durante dez anos, e a sua propsta não estava condicionada no sentido lato, mas sim como alternativa de educação paralela à educação formal do Estado. As crianças, portanto freqüentavam a partir dos sete anos um turno das escolas oficiais, mas encontravam no espaço Oba Biyi possibilidades de aprender a enfrentar a rejeição, o recalque e o complexo de inferioridade contidos na ideologia pedagógica que estrutura e faz funcionar o ensino no Brasil.” (LUZ, 1997, p: 200/2001) Apesar da discussão sobre as pluralidade cultural estar na pauta de discussão de vários setores da sociedade há muito tempo, encontramos muitos educadores que pensam que discutir sobre relações raciais não é tarefa da educação. Para que a escola consiga avançar na relação entre saberes escolares/ realidade social/diversidade étnico-cultural é preciso que os educadores compreendam que o processo educacional também é formado por dimensões como a ética, as diferentes identidades, a diversidade, a sexualidade, a cultura, as relações raciais, entre outras A identidade do negro que foi, e a ainda é, marginalizada no processo de construção da identidade nacional e no acesso a bens materiais e simbólicos usufruídos por camadas dominantes da população, não pode 23 encontrar na escola de hoje em dia empecilhos para a sua construção e desenvolvimento. A identidade negra pode ser construída a partir do resgate da cultura do grupo, da busca de um passado histórico comum que por muito tempo foi negado e falsificado, de um estudo da participação positiva do grupo negro na construção do Brasil. A memória pode ser considerada a instância que armazena as experiências positivas e negativas e que formam o patrimônio cultural de cada pessoa. A memória, vinda das experiências com a escola, a igreja, os meios de comunicação, com as expressões orais – piadas, música, anedotas – mantém em evidência uma clara referência ao passado escravo vivido pela ancestralidade negra no Brasil. A introjeção desse passado fragmenta negativamente a identidade da criança negra quando ela quer reconhecer-se no passado e imaginar-se no futuro (Andrade, 2005), por isso faz –se necessário o papel da escola para formar um povo simpático a diversidade e estritamente contra a preconceitos e discriminações. CAPÍTULO III RESUMO Para que e para quem as escolas são projetadas? Quais são os pilares que sustentam a identidade de uma escola? Perguntas que deveriam estar cotidianamente entre os pensamentos de todos os profissionais da educação, 24 não somente do orientador educacional estarão aqui neste capítulo como pano de fundo para maiores reflexões. A lei 10. 639 / 03 anteriormente definida como uma conquistas por meio da luta de determinados segmentos da população em busca de exercício pleno da cidadania funcionará como argumento para a introdução de saberes e práticas por muito tempo marginalizados entre os muros da escola. Lei 10.639/03: A África na Escola “(...)uma escola para os patinhos?Para os cisnes? Uma escola para a granja mas tendo como padrão, referência os patinhos? Ou os cisnes? Ou uma escola para todos /as os/as habitantes da granja? Destacamos estas questões, pois a opção em atender a Lei nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional acrescida do Artigo A, graças a Lei nº 10639/03, não implica necessariamente uma escola inclusiva, sem racismo, sem etnocentrismo , sem exlusões. É bom que se lembre isso. (TRINDADE, 2007) 25 O regime escravista causou muitos danos aos descendentes de negros africanos devidos às recorrentes violações dos direitos civis e humanos desses povos. Danos psicológicos, já que milhões de homens e mulheres africanos, vítimas do tráfico negreiro, passaram pela traumatizante experiência de serem retirados forçosamente de sua terra natal, separados de suas famílias e levados para terras desconhecidas. Além de danos materiais, sociais e políticos, a população negra sobre até os dias de hoje desvantagens educacionais, pois de acordo com dados estatísticos, além de estarem na parcela mais pobre da população, os negros e negras tem menos anos de estudo e menor expectativa de vida. “Escravidão e grande propriedade não constituíam ambiente favorável à formação de futuros cidadãos. Os escravos não tinham os direitos civis básicos à integridade física, à liberdade, à própria vida, já que a lei o considerava propriedade do senhor, como os animais. À população legalmente livre faltavam quase todas as condições para o exercício dos direitos civis, sobretudo a educação, pois dependia dos grandes proprietários para morar, trabalhar e defender-se contra o arbítrio do governo e de outros proprietários. Quanto aos senhores não se pode dizer que fossem cidadãos. Eram livres para votarem e serem votados nas eleições municipais. Mas faltava-lhes o próprio sentido da cidadania, a noção de igualdade de todos perante a lei.” (CARVALHO, 1998, p. 19) Abolida, oficialmente, a escravidão inúmeras políticas viriam para agravar os danos sofridos pela população negra devido à diáspora. Através das políticas de branqueamento, implantadas em fins do século XIX e início do século XX, acreditava-se na possibilidade de liquidar a população negra das terras brasileiras, seja fisicamente através da mestiçagem, pela mistura do sangue negro com o sangue branco, estimulado pelas políticas migratórias européias, seja culturalmente com a injeção de valores da civilização ocidental européia na formação cultural brasileira. O primeiro reconhecimento do negro na formação da sociedade brasileira se deu a partir da década de 30 do século XX. Gilberto Freyre,em sua tese de doutoramento Casa Grande e Senzala, promove grande impacto no pensamento social das elites com o mito da democracia racial, cuja criação pode ser considerada como um meio para a desmobilização de conflitos sociais em potencial. Enquanto aquele autor considerava o negro como contribuinte nas bases formadoras da sociedade e da cultura brasileira, 26 enfatizava o colonizador português como herói humanizador, e também glorificava a mestiçagem como etapa do branqueamento da população brasileira: uma nova forma de conceber a questão racial no Brasil (PEREIRA, 2006) A partir da década de 50 inicia uma modificação dos estudos das relações raciais no Brasil com a participação da população negra na superação da discriminação e das desigualdades sociais. O desafio na época era a construção de uma sociedade efetivamente justa e democrática, e o estudo da História da África foi essencial para embasar teoricamente esse desafio, pois é nesse estudo que se encontram manifestações, comportamentos, expressões de sentimentos, formas de organização e de convivência comunitária que sobreviveram à escravidão e que estão presentes em nosso dinâmica social brasileira. “ (...) a História da África oferece àqueles que se debruçarem com seriedade sobre os seus conteúdos a possibilidade de ampliarem seus horizontes, descolonizarem suas consciências e se capacitarem a compreender melhor o processo histórico no qual foi gerada a globalização contemporânea e que, hoje, desafia interpretações, no Brasil e no mundo.” (PEREIRA, 2006, p. 8) A lei 10.639/ 03 ( Art.26 – A) da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, considerada uma política reparadora, uma conquista anti discriminatória no campo educacional, devido a luta dos movimentos sociais e do movimento negro em especial, vem cumprir um papel fundamental na formação do povo brasileiro. Ao obrigar o ensino e o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, esta lei passa a suprir a necessidade do povo brasileiro de se conhecer melhor, para ser melhor e construir uma sociedade melhor. A lei 10639/03, promulgada devido à demanda da comunidade afro brasileira por reconhecimento valorização e afirmação de direitos, não possibilita somente o acesso ao estudo de um passado histórico vez por outra esquecido ou escondido, mas também permite uma formação cidadã, responsável pela construção de uma sociedade mais justa e democrática. 27 A publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro – brasileira e Africana, no ano de 2004, veio para regulamentar a alteração sofrida na Lei 9394/1996 de Diretrizes e Bases na Educação. Com esta publicação espera-se concretizar as políticas educacionais que se preocupam verdadeiramente em efetivar uma educação plenamente democrática estabelecida na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional, além de valorizar e reconhecer a diversidade racial existente em nossa sociedade. O reconhecimento da comunidade afro - brasileira implica na valorização de tudo aquilo que a distingue dos demais grupos étnicos. Reconhecer, também significa ser sensível ao sofrimento causado pelo processo de desqualificação que determinado grupo étnico é atingido cotidianamente por diversas formas: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularização de trações físicos, textura do cabelo e/ou desmerecimento das religiões de matrizes africanas. “A sanção da Lei 10.639/03 e da Resolução CNE/CP1/2004 é um passo inicial rumo à separação humanitária do povo negro brasleiro, pois abre caminho para a nação brasileira adotar medidas para corrigir os danos materiais, físicos e psicológicos resultantes do racismo e de formas conexas de discriminação.” (CAVALLEIRO, 2006, In: Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico – Raciais, p.19) De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a escola tem a responsabilidade de discutir a questão racial, pois a mesma se faz presente enquanto uma instituição social responsável por assegurar o direito à educação de todo e qualquer cidadão e garantir igual direito ao acesso às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, portanto, deve a escola, se posicionar contra toda e qualquer forma de discriminação. A luta anti racista se apresenta como uma bandeira fundamental para a escola, já que estão acessíveis a ela conhecimentos científicos, registros culturais diferenciados, referencias necessárias para o conhecimento do passado histórico da população, enfim instrumentos apropriados para formar um povo consciente dos processos que o formaram. 28 Para se obter êxito na formação de crianças e jovens conscientes de sua descendência africana, a escola e seus professores não podem improvisar. A escola e seu corpo de profissionais têm que desfazer-se da mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu. Entende-se aqui por etnocentrismo europeu a visão de que a Europa é o centro do mundo, esta visão de mundo perde seu sentido, quando aprendemos com o estudo da pré história africana que lá , provavelmente, se encontram as origens do homem sobre a terra. (CONCEIÇÃO, 2006) “As pesquisas arqueológicas, que vem tendo êxito desde a década de 1960, levaram à descobertas em 1974 , no Quênia, do esqueleto de uma mulher a quem apelidaram de Lucy, que seria a Eva da humanidade. Essa pesquisa foi feita pela Universidade da Califórnia que investigou o material genético de 189 mulheres de diversas etnias e concluiu que todas seriam descendentes de uma única, Eva, que teria vivido na África entre 160 e 200 mil anos atrás.” (CONCEIÇÃO, 2006, p.9) Para a real efetivação da lei e o real reconhecimento da comunidade negra no espaço escolar, é necessário pessoal qualificado, adoção de políticas educacionais, estratégias pedagógicas de valorização da diversidade e principalmente professores que se sintam apoiados ao tratar do assunto, pois iniciativas individuais farão do assunto um tema esporádico e muito provavelmente o tratará em seu aspecto folclórico, dando destaque somente a elementos artísticos e culinários do grupo étnico estudado. O ensino da História Africana e Cultura Afro brasileira se demonstram necessário e obrigatório, de modo a proporcionar ao povo brasileiro o conhecimentos de suas origens, a descolonização de pensamentos e consciências, além da ampliação de horizontes o que leva a uma melhor compreensão do processo histórico pelo qual passamos. (PEREIRA, 2006) Quando falamos em discriminação étnico-racial nas escolas,certamente estamos falando de práticas discriminatórias,preconceituosas,que envolvem um universo composto de relações raciais pessoais entre os estudantes, professores,direção da escola,mas também o forte racismo repassado através dos livros didáticos.Não nos esquecendo,ainda,do racismo institucional, refletido através de políticas educacionais que afetam negativamente o negro. (SANT’ANNA, 2004). 29 CAPÍTULO IV RESUMO Este capítulo tenta sistematizar as discussões levantadas ao longo de todo o trabalho incluindo nesse cenário, mais enfaticamente, a figura do orientador educacional. A participação do orientador educacional será questionada como fundamental para o planejamento e a elaboração de um ambiente escolar acolhedor e intolerante em relação a qualquer tipo de discriminação e preconceito. A partir de uma perspectiva do currículo, o 30 multiculturalismo crítico que baseia suas teorias na superação de uma visão pouco problemática da diversidade cultural, analisará as possibilidades da construção de uma educação verdadeiramente democrática. O Papel do Orientador Educacional para formar crianças e jovens intolerantes ao preconceito e orgulhosos de seu pertencimento étnico racial “ _ Lá eles não gostam da gente!” ( Depoimento de uma criança pertencente a uma comunidade de terreiro quando perguntada sobre o motivo que lhe fez abandonar a escola – LUZ, 1998) As instituições formais de ensino foram historicamente criadas no Brasil com o propósito de formar a identidade da nação brasileira. E a professora primária assumiu essa papel de construtora da identidade da nacional por meio 31 de diversas estratégias, como difusão de símbolos pátrios, modelos educativos higienistas, além do ensino de uma moral que nos aproximava do povo que gostaríamos de ser. ( MÜLLER, 2006) O país em fins do século XIX e início do século XX busca em teóricos europeus razões e explicações para a situação racial no Brasil. O objetivo era receber propostas para a construção de uma nacionalidade brasileira considerada problemática devido as suas nuances de cores e sua diversidade cultural. Passado o ano de 1888, os pensadores brasileiros diante de uma diversidade racial em terras brasileiras, se depararam essa questão: a construção de uma nação e de uma identidade nacional. “(...) posso afirmar que os debates sobre a construção da nação brasileira terminaram por definir a escola primária pública como espaço privilegiado para a modelagem da população que aqui vivia. Essa modelagem tinha um conteúdo fortemente civilizatório, principalmente no que se referia aos aspectos morais e éticos, privilegiando uma nova ética do trabalho.” (MÜLLER, 2006, p. 188) A diversidade racial e cultural para a elite da época era uma barreira a ser ultrapassada para a construção de uma nação que sonhava possuir características fenotípicas e culturais europeias. Desta forma, políticas de branqueamento foram implementadas, como a política da mestiçagem considerada uma fase transitória para a construção de uma nação brasileira branca. O estímulo a imigração européia seria um passo importante rumo ao branqueamento da população, pois assim esperava-se uma predominância quantitativa branca que misturada ao quantitativo negro, inventaria um Brasil mestiço, futuramente branco. Ainda que houvesse uma minimização da população negra em terras brasileiras, algo faltaria, pois a diversidade racial trazia consigo uma heterogeneidade cultural, o que significava um obstáculo à formação de sentimentos nacionais. Existia a necessidade portanto de inculcar nas mentes desse povo diverso o sentimento e a identidade nacional. A escola foi uma via escolhida para a construção dessa tal identidade nacional, e os programas escolares, de história pátria, moral e cívica, reproduziam a história oficial e conferiam a negros, índios e mestiços o mesmo papel subalterno e inferiorizado que lhes era dado pela maioria de nossas 32 elites intelectuais. (MÜLLER, 2006) Os livros de leitura, percussores nos livros didáticos, eram instrumentos utilizados nos programas escolares em difundir uma imagem depreciativa e preconceituosa de negros e índios. (LEMOS, 2001) A escola, até a década de sessenta do século XX, um espaço privilegiado no qual a população foi modelada, não poderia ter somente programas escolares que enaltecessem o branco e desvalorizasse o índio e o negro, desta forma além dos programas escolares a escola teve um importante agente construtor da identidade da nação: a professora primária. A professora primária foi responsável pela difusão dos símbolos pátrios, pela execução dos rituais cívicos , assim como pela propagação dos mitos de origem e dos heróis, ela foi um agente responsável pela construção da nação, um agente difusor de elementos pátrios e disciplinadores. (MÜLLER, 2006) A professora primária, além de todas as suas atribuições, também necessitava ter a aparência física, estética, social e moral de uma nação que sonhava – se erguer, porém que ainda não éramos, e não somos até hoje. A fórmula do branqueamento cultural da época era: professores fenotipicamente europeus e programas escolares de grande valorização do branco. Nesse mesmo contexto, início primeiras décadas do século XX surge a figura orientador educacional, denominado supervisor educacional. Esse profissional que migrava de profissões como o jornalismo, medicina ( SAVIANI, 1999) tentava implantar na educação as mesmas resoluções implantadas no campo da engenharia e das finanças. “No plano federal, a Reforma João Luís Alves, de 1925, , cria pelo Decreto n. 16.782 – A, o Departamento Nacional do Ensino e o Conselho Nacional de Ensino, em substituição ao Conselho Superior, que entre 1911 e 1925, era o único órgão encarregado da administração escolar. A importância do referido decreto se deve, pois, ao fato de que, com essas medidas, se começa a reservar a órgãos específicos, de caráter técnico, o tratamento dos assuntos educacionais. ( SAVIANI, 1999 ,p. 26) Passado quase um século o perfil dos profissionais da educação dos primeiros anos de escolarização mudou. Por meio de um estudo quantitativo, conclui – se que a maior parte do professorado na Educação Infantil, e nas 33 Séries Iniciais do Ensino Fundamental tem cor e sexo, o corpo docente nessa etapa da escolarização, onde a criança inicia o processo de construção de identidades, é feminino e negro (TEIXEIRA, 2006). Apesar dessa presença negra nos anos iniciais de escolarização, muitas vezes questões relativas ao negro não estão incluídas no planejamento pedagógico docente ou no plano de ação da unidade escolar. As séries iniciais do ensino fundamental, assim como todo o processo de escolarização é a etapa em que a criança e o jovem está em processo de desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Nessa fase, esses sujeitos podem congregar com mais facilidade toda e qualquer tipo de mensagens, seja ela positiva ou negativa, e isso inclui as mensagens com conteúdos discriminatórios presentes nas nossas relações sociais cotidianas. As atitudes de preconceito étnico dentro da escola podem comprometer a identidade e autoestima da criança negra. Pensando nisso, o orientador educacional deve estar ciente da sua importância de criar um ambiente formador de indivíduos capazes de não se calarem mediante o racismo. O profissional da educação que possui o cargo de orientador educacional tem como função principal participar do planejamento e da construção de uma escola que possa contribuir significativamente para a formação cidadã de seu corpo discente. “(...) o currículo da escola, no que respeita a inclusão de disciplinas optativas e atividades extraclasse; a distribuição das diferentes séries no prédio por períodos; o uso ou não de salas ambientes nas quais os professores permaneceriam e para quais os alunos se deslocariam ; a problemática da disciplina e o código disciplinar; os critérios de avaliação, de promoção e de atribuição de notas ou conceitos; os cronogramas das atividades. É importante que ele participe, pois ativamente de todas as decisões de ordem técnica a serem tomadas no âmbito escolar.” ( GIACAGLIA & PENTEADO, 2000, P 17) A escola possui a sua dimensão político cultural, por isso tudo que a ela pertence seu objetivo e ele está em algo fundamentado. O orientador educacional ao se propor conhecer todas dimensão da escola e a comunidade que ali frequenta pode estar traçando um caminho para a elaboração de um espaço que valorize a diversidade. 34 “Quem definiu que se deve conhecer a história da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos, ao invés da Europa Oriental ou dos países africanos de onde vieram os escravos para o Brasil ?”(AZEVEDO, 2002, p. 55) Seletiva e discriminadora a escola em seu currículo oficial ou oculto decide quais bens culturais serão ensinados e ministrados na escola o que acaba por reproduzir uma marginalização existente na sociedade. Ao invés de batuque violino, nos livros infantis heróis brancos e europeu e na hora da prece orações cristãs, tudo isso indica a sociedade que se quer e aquela que se deseja rejeitar. Por isso quando a criança de terreiro diz que na escola oficial ninguém gosta dela, pode-se refletir sobre a permissividade do orientador e também dos demais membros da instituição escolar para proporcionar esse tipo de postura. “Numa escola democrática, busca-se reverter a seletividade e a discriminação; busca-se encontrar os meios que garantam a todos a apropriação do conhecimento da leitura e da escrita, e seu sentido estrito e em seu sentido mais amplo, de forma crítica. E a procura desses meios traz consigo a exigência natural da participação de todos nessa procura. Em decorrência , as relações de saber e de poder se democratizam.” ( AZEVEDO, 2002, p. 59) Para caminhar rumo a edificação de uma escola verdadeiramente democrática o orientador deve ser capaz de identificar os aspectos que orientam a formação social e trabalhar significativamente todos esses conhecimentos. De que maneira então o orientador educacional pode lidar comas questão em relação a formação cultural diversa do povo brasileiro? Ainda de acordo com Azevedo ( 2002) temos de fazer esse diagnóstico junto com os demais profissionais da escola e discuti-lo., pois somente quando alcançarmos essa compreensão é que vamos avançar na construção de uma escola de qualidade e com metodologias de ensino diferenciadas. Uma educação que respeite e contemple o repertório cultural de seus educandos possivelmente terá mais êxito do que aquela cuja ação tem por objetivo reduzir as diferenças por uma prática homogeinezante. Como alerta Canen (2001), não podemos continuar com currículos monoculturais, racial e culturalmente cegos, construídos sobre uma noção de universalidade que nada mais é do que uma construção simbólica, a partir de valores raciais e culturais 35 dominantes. O orientador educacional deve ser aquele que faza ponte entre os hiatos de universos culturais distintos. Uma perspectiva de educação baseada na valorização da diferença é um atributo primordial no que diz respeito ao ensino dos valores que permeia a sociedade brasileira cuja origem vem de além mar. Para o ensino de identidades raciais multireferenciadas e a formação de práticas educativas anti racistas é necessário diálogos que promovam intercâmbios sem sentimentos de superioridade, além principalmente do estudo da recriação das diferentes raízes da cultura brasileira que nos encontros e desencontros de umas com as outras se refizeram e hoje não são mais jejês, nagôs, bantus; mas brasileiras de origem africana. Com o intuito de instigar a reflexão, levanto as questões apresentadas acima para que de algum modo em um futuro próximo passa-se a identificar uma cultura escolar de reconhecimento dos valores civilizatórios africanos, assim como a sua prática, pois não basta integrar no currículo escolar novos conteúdos referentes a variedade de culturas existente em nossa sociedade, deve –se transformar o chão da escola. Uma das atribuições do orientador educacional pode ser a de tornar a escola um ambiente acolhedor e educador de posturas e falas que ao invés de aviltar ou agredir possa elogiar, acariciar. O orientador educacional pode sim transformar a escola em um espaço que os indivíduos e sujeitos que ali estão passem a gostar de todas as “gentes”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Discutir a diversidade cultural e racial dentro do espaço escolar é algo que está na pauta de reinvindicações daqules que lutam por uma educação verdadeiramente justa e democrática. Mesmo assim, pouco se estuda sobre África, em quaisquer segmentos de ensino, e quando o faz é por meio de estereótipos. Estudiosos e a população em geral muitas vezes se mostram incapazes de reconhecer o continente africano como matriz geradora da humanidade e termina por qualificar o continente como atrasado, miserável, ignorante, exótico e/ou violento. 36 O espaço escolar pode ser compreendido como um local privilegiado no combate ao racismo e a discriminação racial, e os profissionais de ensino, principalmente o orientador educacional, cuja função prioritária é trabalhar junto com os alunos com o propósito de auxiliá-los em seu desenvolvimento e em parceria com o professor, precisa permitir que a escola cumpra devidamente seu papel. O educador ciente que a desqualificação sofrida pelo negro entra pelo portão da frente da escola e empenhado a zelar pela auto-estima da criança negra deve estar atento para a complexidade que envolve o processo de construção de identidade negra em nosso país. Pois de acordo com Müller (2006), a construção de nossa identidade inicia quando começamos a conhecer a nossa história. No passado foi retirado das nossas memórias escolares tudo o que se referia à produção cultural africana ou indígena. Hoje em dia apesar do advento da lei 10. 649/03 quando algum conteúdo positivo referente a esses grupo étnico é transmitido na escola, o é, na maioria das vezes, como folclore, como uma celebração ritual antiga e/ou muito atrasada, ou então muito miscigenado. Para que haja a construção e a afirmação da identidade negra na escola, há de se criar uma pedagogia que seja capaz de contemplar a história e a cultura de um povo que sempre foi subjugado por uma história parcial. Essa pedagogia que trata de modo positivo a história e a cultura afro brasileira e não deve somente subjugá-los e minimizar seus valores ao folclorismo ou extremismo. Educar crianças para um bom relacionamento com o seu corpo e a sua história pode ser um caminho adequado para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. Diante da Lei 10639/03, a qual obriga toda instituição de ensino seja ela pública ou privada ao ensino de História da África e Cultura Afro brasileira, o orientador educacional em parceria com o corpo docente deve compartilhar com os mesmos suas dificuldades, deficiências, erros, acertos e vitórias ao trabalhar o tema racial no espaço escolar. 37 Longe de esgotar a discussão sobre as atribuições do orientador educacional no que tange a formação de indivíduos conscientes de seu pertencimento, finalizo prematuramente este trabalho ciente de que a idéia de uma identidade brasileira mestiça, fruto das misturas de povos e raças, ausência de conflitos entres brancos e negros reforça a falácia da ideologia da democracia racial. (MUNANGA, 2004) Essa mestiçagem, acreditada por muitos, que diluiu, e ainda dilui a linha demarcatória entre brancos e negros legitima o discurso encontrado nas escolas de que não é necessário exaltar a negritude por não haver diferenças entre as raças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Inaldete Pinheiro de. “Construindo a auto –estima da criança negra”,p.p117-124 IN: Superando o Racismo na Escola. 2ª edição revisada / Kabengele Munanga (organizador). Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 38 AZEVEDO, Joanir Gomes de (coord.).O Orientador Educacional e o Currículo, In: Garcia, Regina Leite (orgs.) A Orientação Educacional na Escola.4 edição/ Regina Leite Garcia. São Paulo: Editora Loyola, 2002. BRASIL. Ministério da Educação / Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília: SECAD, 2006 BRASIL. Ministério da Educação / Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial. Diretrizes Curriculares nacionais para a Educação das relações Étnico-Racial e para o Ensino de História e Cultura Afro- brasileira e Africana. – Brasília: MEC/SEPPIR, 2004. CANCLINI, Nestor García. 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São Paulo: Cortez, 1999. cap. 1, p.13-38. 40 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO __________________________________________ p. 02 AGRADECIMENTO _________________________________________ p. 03 DEDICATÓRIA _____________________________________________ p. 04 RESUMO __________________________________________________ p.05 METODOLOGIA______________________________________________p.06 41 SUMÁRIO__________________________________________________ p.07 INTRODUÇÃO_______________________________________________p.08 CAPÍTULO I________________________________________________ p.12 CAPÍTULO II________________________________________________ p.18 CAPÍTULO III________________________________________________ p.24 CAPÍTULO IV________________________________________________ p.30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ____________________________________ p.36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________p.38 ÍNDICE _____________________________________________________p.41 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes / Instituto A vez do Mestre Título da Monografia: A lei 10. 639/03 e o papel do Orientador Educacional Autor: Lygia de Oliveira Fernandes Data da entrega: 01 de outubro de 2010 Avaliado por: Geni Lima Conceito: