1 EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE: o negro no imaginário social e o ensino de História. Célia Regina Tokarski1 RESUMO O presente artigo busca discutir as permanências do racismo no imaginário social brasileiro, suas influências no cotidiano escolar e as conseqüências na sala de aula. A partir de um referencial teórico buscou-se a construção de um projeto que contribuísse para a implementação da Lei 10.639/03 nas escolas públicas estaduais do Paraná, repensando o racismo evidenciado no discurso de docentes e discentes e na invisibilidade do negro na construção do nosso país, ainda presente nos materiais didáticos. Palavras-chave: Racismo. Imaginário social. Cotidiano. Preconceito. Abstrat This article aims to discuss the permanence of racism in Brazilian social imaginary, their influence in everyday school life and the consequences in the classroom. From a theoretical framework aimed to build a project to contribute to the implementation of the Law 10639/03 in public schools state of Paraná, rethinking racism evident in the discourse of teachers and students and the invisibility of blacks in the construction of our country, still present in materials. Keywords: Racism. Social Imaginary. Daily. Prejudice. 1 Professora de História da Rede Pública do Estado do Paraná, especialista em História e Cultura Afrobrasileira e Africana e ações afirmativas em educação. Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná. [email protected] Orientador: professor Mestre Ivo Pereira de Queiroz - UTFPR 2 Introdução A legislação brasileira, mais especificamente a Lei 10.639/03, ressalta a necessidade de se trabalhar a diversidade em sala de aula e, para mais além, no espaço escolar. As situações de racismo vivenciadas por docentes e discentes no cotidiano da escola e suas ações de enfrentamento aos preconceitos oriundos da sociedade na qual estão inseridos é tema que preocupa os educadores/pesquisadores interessados em promover uma educação de qualidade para todos. Diante dessa premissa buscou-se discorrer acerca do racismo como construção de um imaginário estigmatizador em relação ao negro, intensificado no final do século XIX, justamente no período em que se debatia o fim do regime escravista. Essa construção no ideário nacional perpetuou-se através de décadas, chegando aos nossos dias de uma forma velada, onde a maioria da população não se considera racista, mas ao mesmo tempo, admite a existência do racismo. A percepção das palavras e conceitos utilizados, muitas vezes, não é percebida como sendo preconceituosa. Quantas vezes já utilizamos palavras que nem percebemos o quanto estão carregadas de pré-conceitos concebidos no imaginário social? Não o percebemos nas nossas ações porque ele está tão impregnado no nosso cotidiano que já o internalizamos. Nascimento (s/data) ao citar Castoriadis, afirma que “o imaginário social, muito mais que imagem de, é potência criadora e força instituinte que circunscreve a práxis social”. O imaginário social, antes de ser a representação de uma sociedade, é a força que cria, que institue normas, valores e símbolos que passam a ser aceitos como verdadeiros e que permitem a criação de “um projeto de sociedade”. Esse projeto é antes de tudo político e permeia as relações sociais. E são nestas que as relações de poder se evidenciam. A escola, instituição muito importante na construção da identidade de crianças e jovens, vivencia essas relações de poder e no seu interior transparecem os conflitos decorrentes destas relações. Se a sociedade na qual está inserida for racista, preconceituosa, que trata de forma diferenciada os seus vários segmentos, então no espaço escolar veremos essa realidade refletida no discurso de docentes e discentes e no currículo que privilegia uma cultura em detrimento de outras, no 3 vocabulário utilizado, nas piadas nas brincadeiras, no silêncio dos oprimidos, na não intervenção dos docentes quando o assunto é preconceito e discriminação. Buscou-se, assim, com o presente trabalho verificar como esse imaginário em relação ao negro está presente na Escola Estadual Guaraituba, do município de Colombo e, em que medida as relações presentes no cotidiano escolar, através do material didático utilizado e dos discursos dos docentes e discentes contribuem para que este estereótipo, presente na sociedade, seja reforçado. Refletir sobre o racismo e suas nefastas conseqüências, como a perpetuação das desigualdades sociais entre brancos e negros nos leva a pensar estratégias que possam ser realizadas no espaço escolar, visando a desconstrução das mesmas. Ao provocar a reflexão sobre o racismo e o imaginário social em relação ao negro, procurou-se abordar como esse estereótipo foi sendo construído historicamente e como foi decisivo para a construção da sociedade brasileira da atualidade. No segmento, desenvolvemos um trabalho com os sujeitos do “chão da escola”, aqueles que no seu cotidiano vivenciam as relações discriminatórias no espaço escolar. Entender como estas representações do negro no imaginário social brasileiro atuam no espaço escolar e quais as implicações no cotidiano da sala de aula e no processo de ensino-aprendizagem é uma tarefa que se pretendeu abordar no presente trabalho através do projeto desenvolvido no PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná) que permitiu um trabalho compartilhado com educadores e educandos de uma escola pública do município de Colombo, Paraná. Além da implementação do projeto buscou-se a elaboração de um OAC (objeto ambiente colaborativo), que se constitui num material destinado a colaborar com o professor no desenvolvimento de sua ação pedagógica em sala de aula. Este material discutiu, mais especificamente, a participação do negro no processo da abolição, entendendo essa ação política como fruto também da resistência negra ao escravismo. Este trabalho atende ainda a uma demanda social disposta na legislação brasileira que, a partir de uma série de ações do Movimento Negro, criou a Lei 10.639/03 alterando a Lei 9.394/96 que passou a vigorar acrescida dos artigos 26 A e 79 B tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. Reafirmando o estabelecido nesta lei foram criados o Parecer 003/04 do Conselho 4 Nacional de Educação e a Deliberação 04/06 do Conselho Estadual de Educação do Paraná estabelecendo a necessidade de se buscar a igualdade entre as diferentes etnias que compõem a nação brasileira e também a valorização de cada uma destas que formam este emaranhado de culturas existentes no solo brasileiro. 1. Delimitação do estudo e fundamentação teórica Ao trabalhar em História a construção do racismo brasileiro2 nos últimos anos, a desconstrução da teoria de raças diferenciadas e ao mesmo tempo a sua perpetuação no imaginário brasileiro optou-se pela abordagem da dimensão cultural proposta nas Diretrizes Curriculares de História entendendo esta dimensão perpassa desde a construção de símbolos até a sua apropriação pelos sujeitos em diversas sociedades ao longo do tempo. Por esse viés, podem-se decifrar os sentidos atribuídos às palavras, ações e relações entre os diversos atores sociais e os contextos históricos. (DCEs, 2006,35). Dessa forma, trabalhar o racismo brasileiro e suas permanências na História através da dimensão cultural permitirá uma abordagem que possibilite aos docentes e educandos perceber as mudanças e permanências do racismo na história brasileira e as novas formas de percepção deste fenômeno e suas conseqüências nefastas para os educandos negros. Ao tratar da discriminação3 no ambiente escolar pretendemos dar visibilidade a um problema (do grego pró+balos= avanço do dardo, da flecha, aqui no sentido de inquietação filosófica enquanto condição para o avanço do pensamento) que muitas vezes parece tão distante que nem percebemos o quanto ele está próximo de nós. O que se pretende em suma é oportunizar a reflexão e buscar a elaboração de estratégias pedagógicas de combate ao racismo no ambiente escolar. Para combater o racismo e toda forma de preconceito no espaço escolar acreditamos que seja necessário, em primeiro lugar, entender como o mesmo foi 2 Racismo: prática que reproduz na consciência social falsos valores e falsas verdades e tornam o resultado da própria ação como comprovação dessas verdades falseadas. (CUNHA,in: CAVALLEIRO, 2000, p.22) 3 Discriminação racial é a manifestação comportamental, ou seja, a expressão materializada do preconceito. Podem ser práticas individuais ou institucionais ou ainda coletivas. (BORGES, 2006) 5 sendo construído historicamente no imaginário popular brasileiro, levando os sujeitos sociais a práticas excludentes tanto dentro quanto fora do espaço escolar. As situações de preconceito vivenciadas por educandos negros são vistas como uma generalidade, o que impede que percebamos como uma prática do cotidiano, onde a discriminação é utilizada no jogo de poder nas relações entre os sujeitos, entre estes e o grupo ou entre grupos, visando a manutenção da ordem pré- estabelecida. O racismo existente no imaginário social brasileiro atua no espaço escolar através do discurso de docentes (quando ouvimos o professor dizer “aquele aluno é negro, mas é limpinho”) e discentes (muitos alunos se referem às características fenotípicas de seus colegas negros de forma pejorativa) e da utilização de material didático que não ressalta a importância da participação do negro no contexto histórico, social, cultural e econômico do nosso país. Essa ação na formação de nossos educandos impossibilita àqueles que são afrodescendentes o reconhecimento e a valorização de seu pertencimento étnicoracial, além de suscitar nos demais uma imagem errônea da participação do povo negro na nossa história e na construção do conhecimento desenvolvido pela humanidade. Essa imagem errônea veio sendo construída ao longo da história humana, mas é num determinado momento histórico que ela toma corpo. Nas últimas décadas do século XIX, o Brasil presenciou um acirrado debate sobre as diferenças raciais e suas conseqüências para o desenvolvimento da nação. Nação esta que segundo Schwarcz (1993) era apontada como um caso único, onde ocorria uma grande miscigenação racial. O conde Arthur de Gobineau4 deixou sua impressão da população brasileira como sendo totalmente mulata e desprovida de beleza. Além disso, a mestiçagem era retratada como a causa do atraso econômico do país. Mas de onde vinha esta teoria? Foi desenvolvida na Europa e EUA no século XVIIII, mas é no século XIX que ganha força no Brasil com a entrada das idéias evolucionistas e positivistas. Os jornais que divulgavam o escravizado enquanto 4 Joseph Arthur de Gobineau, diplomata, escritor e filósofo francês, autor do Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas. Este foi um dos primeiros ensaios sobre eugenia e racismo. SCHWARCZ, 1993). 6 mercadoria passaram a retratar o negro como perigoso marginal. É interessante perceber que: Se na época próxima à Abolição poucos intelectuais buscaram defender a imagem do negro como bom e útil e condenar o racismo, já que não existia o cidadão brasileiro de sangue branco puro, esse quadro se modifica após a emancipação como se, vencido o perigo da revolta, coubesse colocar o negro no seu devido lugar. As teorias racistas ganham novo vulto. (SANTOS, 2005, p.129). Assim a elite cultural brasileira, influenciada pelo pensamento dominante da superioridade do branco europeu sobre as demais nações, passou a negar tudo e todos que fossem diferentes, cultuando a idéia de miscigenação e assimilação cultural como um meio de se aproximar do ideal de população de um país que almejava alcançar o mundo do progresso e da ordem. Além da divulgação da imagem estereotipada do negro, buscou-se o embranquecimento da população através do incentivo da imigração européia e possível aumento da miscigenação que em algumas décadas possibilitaria o desaparecimento dos traços negróides na população brasileira. João Batista Lacerda5 afirmava que em quatro gerações o Brasil seria branco. Podemos observar na afirmação abaixo, essa idéia em relação ao negro: A preocupação com o futuro do país, com um progresso que seria bem vindo, colocava em destaque as teses racistas de então, que, com todo vigor, tomavam as falas dos parlamentares e intelectuais brasileiros. Eles passavam a encarar o negro como signo de atraso do país e a considerar a imigração como única saída honrosa. (SANTOS, 2005, p.83). Como afirma Marinho (2004), os filósofos iluministas receberam influência da literatura de viajantes, que desde o período das grandes navegações, descobriram povos que não estavam previstos pela teologia tradicional cristã. E estes povos não foram vistos como semelhantes aos europeus. É a partir do seu olhar que os europeus classificarão o “outro” numa divisão claramente preconceituosa, onde o negro foi muitas vezes comparado a animais. Suscitou-se a discussão entre as 5 João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, afirmou em 1911 “que o Brasil mestiço de hoje tem no branqueamento em um século sua perspectiva, saída e solução” (SCHWARCZ, 1993, p.11). 7 teorias monogenistas e poligenistas, ou seja, de um lado teóricos influenciados pela teologia cristã acreditavam na existência de uma só raça, mas com variáveis ou subespécies e de outro lado aqueles que acreditavam na existência de várias raças, sendo que a branca estaria no topo da hierarquia. Se os filósofos iluministas receberam influência das descrições destes viajantes, conseguiram aprimorar estes conceitos. Embora o século das Luzes tenha sido o momento em que se declarou o direito universal dos homens: igualdade, fraternidade, liberdade, esses direitos não eram iguais para todos, assim como se definiu o ser universal, portador de direitos políticos iguais, “despido de qualquer substância individual” (MARINHO, 2004) que fazia com que se parecesse com qualquer pessoa de qualquer local do globo, se examinado mais de perto, revelava uma especificidade: era branco, macho e europeu. Ou seja, os filósofos iluministas pensaram um modelo de cidadão baseado em si, os direitos eram iguais para todos desde que estes fossem europeus. Os principais iluministas que se dedicaram a pensar o homem, sua essência e, principalmente, identificando-o como destituído de qualquer traço ou influência divina, procuravam na natureza a resposta para as diferenças encontradas entre os seres humanos. Segundo Diderot e Voltaire, citados por (SANTOS), o homem não se separa da natureza, portanto para pensá-lo é necessário que se utilize o mesmo método usado para estudar todos os seres vivos. Nota-se assim, uma forte influência da biologia onde ocorre a observação, experiência e descrição dos hábitos do objeto de estudo, no caso específico, dos seres humanos. Mas quem é esse homem? Para Diderot, “o homem é um ser que sente, reflete, pensa, que passeia livremente pelo planeta (...) vive em sociedade e inventou as artes, as ciências e as leis e além disso teria uma bondade que lhe seria própria ( Diderot, 1778-1779, tomo 17, p.668, apud SANTOS, 2005, p. 25). Este autor ainda considera que o homem, enquanto espécie apresenta variações de cor, de forma (dimensões do corpo) e de diferenças que seriam naturais entre os diversos povos, como os costumes. Voltaire, outro Iluminista, no seu Tratado de Metafísica, “expõe que nem os camponeses, nem os ilustres filósofos conseguem expressar com clareza esta idéia” (VOLTAIRE, 8 apud SANTOS, 2005, p. 27), mas quando se refere ao homem negro o compara aos animais: um animal preto, que possui lã sobre a cabeça, caminha sobre duas patas, é quase tão destro quanto um símio, é menos forte do que outros animais de seu tamanho, provido de um pouco mais de idéias do que eles e dotado de maior facilidade de expressão. Ademais, está submetido igualmente às mesmas necessidades que os outros, nascendo, vivendo e morrendo exatamente como eles. Já Diderot descrevia os habitantes do continente africano da seguinte maneira: “Não somente sua cor os distingue, mas eles diferem dos outros homens pelos traços de seu rosto, narizes largos e chatos, lábios grossos, lã no lugar de cabelos, que parecem constituir uma nova espécie de homem” (DIDEROT, apud SANTOS, 2005, p.32). Podemos perceber a idéia de diferenciação entre os povos que eram inerentes a estes iluministas e que ambos tentavam entender de onde provinham estas diferenças. Outra observação que se faz é que o negro foi constantemente comparado aos animais, sendo relegado a um patamar inferior, quando muito tomado como representante de outra espécie humana, enquanto que os indígenas eram tratados com certa condolência sendo retratados como iguais aos europeus, porém num estágio menos avançado. É a teoria do bom selvagem de Rousseau, outro iluminista. Para Marinho (2004), enquanto os iluministas se referiam ao indígena com certa benevolência, tratando o fruto dos contatos sexuais entre estes e os brancos europeus apenas como mestiços, enquanto que o filho de branco com negro recebeu a alcunha pejorativa de mulato, que seria um ser híbrido resultante do cruzamento de eqüino com muar. Ainda para a mesma autora, o racismo contra os negros passou a existir a partir do momento em que os filósofos iluministas voltaram seu olhar para a escravidão. Se segundo suas concepções todos os homens nascem livres, com direitos iguais, como poderiam pensar a escravidão moderna como legítima? A saída para sua legitimação estava na diferença entre as raças, ou melhor, na aceitação da teoria das raças humanas e de que existia uma hierarquia entre elas. O branco estava no topo da mesma e o negro na camada inferior, por isso se justificava sua escravização, uma vez que o branco o retiraria do seu estado de 9 selvageria, dando-lhe a oportunidade de apreender os princípios de civilidade com o trabalho forçado e a religião, cristã é claro, imposta aos africanos. Os filósofos iluministas defendiam também a tese de que as desigualdades sociais seriam naturais, uma vez que para existir progresso era necessário que alguns estivessem a trabalhar para o bem de outros, que seria a minoria, como bem aponta Voltaire: O gênero humano, tal como na realidade é, não pode subsistir a menos que haja uma infinidade de homens úteis que nada possuam; porque, é mais do que certo, um homem que possua o suficiente e viva a seu bel-prazer não vai abandonar a sua terra para vir cultivar a vossa (...). Por isso, a igualdade é, simultaneamente, a coisa mais natural e mais quimérica que existe. (VOLTAIRE, apud SANTOS, 2005, p.42). Resultado também do pensamento iluminista, o determinismo geográfico exerce forte influência sobre as teorias racistas que estão se desenhando. Para os pensadores do século das luzes as diferenças raciais poderiam ser explicadas pela influência do clima e das diferenças geográficas como o relevo e o solo. Aqui a noção de perfectibilidade do homem, de que todos podem chegar ao mesmo estágio, ou seja, o do europeu que é tomado como o ideal, perpassa pela idéia de que o meio natural em que o homem está inserido influencia a maneira como produz cultura. Assim aqueles que vivem em condições geográficas consideradas mais propícias desenvolveriam uma sociedade mais adiantada em relação àqueles que vivem nas zonas tórridas do planeta. No século XIX, as teorias racialistas que pensavam a existência de raças como grupos de indivíduos com características próprias, continuavam divididos em culturas diferentes que são transmitidas para todos dentro do grupo e que o comportamento do indivíduo está atrelado ao do grupo étnico ao qual pertence e de que existe um parâmetro único para avaliar essas culturas unem-se ao racismo que prega a submissão das raças inferiores por aquelas consideradas superiores. Encontra-se nas teorias racialistas a resposta para a prática de uma política racista onde os povos asiáticos, africanos e indígenas, que agora estavam sendo subordinados, eram concebidos como inferiores e desta forma a legitimidade do 10 escravismo: “(...) a necessidade de teorizar as “raças”, como elas são, ou seja, construtos sociais, formas de identidade baseadas numa idéia biológica erronea, mas socialmente eficaz para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios” (GUIMARÃES, 1999, p. 64). Estas teorias são ressuscitadas no Brasil num momento específico, onde a partir de 1871 encaminhava-se para o desmantelamento da escravidão e acenava para o fim do regime monárquico. As idéias racistas européias chegam ao país e aqui são reproduzidas de modo singular, sem nenhuma crítica mais apurada. Absorver estas teorias que condenavam a miscigenação e ao mesmo tempo adaptálas a um país que se caracterizava pela mistura das raças foi um desafio para a elite cultural brasileira. Corroborando esta tese SCHWARCZ (1993, p. 14) observa: Paradoxo interessante, liberalismo e racismo corporificaram, nesse momento, dois grandes modelos teóricos explicativos de sucesso local, equivalente e, no entanto contraditório: o primeiro fundava-se no indivíduo e em sua responsabilidade pessoal; o segundo retirava a atenção colocada no sujeito para centrá-la na atuação do grupo entendido enquanto resultado de uma estrutura biológica singular. Os intelectuais brasileiros, segundo a mesma autora, utilizaram dois modelos teóricos completamente diferentes e até contraditórios. Do darwinismo social utilizaram a idéia da diferença entre as raças e sua hierarquização (poligenismo) sem, no entanto, discutir as implicações negativas da miscigenação propagada por esta teoria. Do evolucionismo social utilizaram a noção de que as diferentes raças passariam por uma evolução até chegar à mais perfeita, demonstrando o esforço em adaptar à realidade brasileira as teorias estrangeiras. Aqueles que se enquadravam no modelo menos evoluído tornaram-se objeto de estudos: negros, pobres e escravizados passaram a ser encarados como perigosos, um dificultador para o progresso da nação. As antigas noções iluministas de perfectibilidade, do determinismo geográfico e da poligenia (origens separadas das diferentes raças) somam-se às teorias elaboradas a partir das ciências biológicas. Surge o darwinismo social6 que 6 O darwinismo social, teoria criada por Herber Spencer, foi influenciada pela teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. Para os darwinistas sociais as características inatas ou herdadas têm uma influência muito maior do que a educação recebida pelo indivíduo. Os mais fortes e aptos estariam também mais desenvolvidos 11 pressupõe a existência de espécies humanas separadas por estágios de evolução e, portanto, em diferentes estágios culturais e de conhecimento. Passou-se a destinar um lugar no mundo a cada povo de acordo com sua classificação evolucionista, assim nada mais natural que o branco, por estar no topo da evolução, subjugasse os demais, menos evoluídos. Os escritos sobre as diferenças entre os vários povos impunham certa hierarquia, que através de uma explicação anatômica vinha tentar explicar as mesmas. Dessa forma surgem as ciências da época como a frenologia, a antropometria7 e a eugenia8, todas muito difundidas no Brasil de fins do século XIX e início do XX. Assim o darwinismo social - com seu ideal de evolução das espécies, que preconiza a existência de uma raça pura, mais evoluída e por isso vitoriosa, “vem coroar de êxito a teoria das raças que vinha se desenvolvendo por mais de um século” (SANTOS, 2005, p.52). Corroborando estas teorias, a ascensão da sociedade industrial com seu elogio ao trabalho e ao sucesso pessoal, através do desempenho do mesmo, fez com que os povos que não estavam neste “estágio de desenvolvimento”, como os africanos e indígenas brasileiros, fossem considerados inferiores, incapazes de se afeiçoar ao trabalho, de chegar a uma moral evoluída. Naturalizava-se a concepção de inferioridade, de incapacidade mental, da falta de beleza e de senso moral destes povos. Apenas o branco poderia chegar ao mais pleno desenvolvimento, tanto material quanto moral e estético. Os teóricos brasileiros tentaram explicar as diferenças e hierarquias sociais de modo bem particular. Enquanto as teorias racistas eram contrárias à miscigenação por acreditar na degeneração das espécies, no Brasil a elite cultural se atrevia a certos “rearranjos teóricos, pensando na viabilidade de uma nação mestiça” (SCHWARCZ, 1993, p.65). Esses teóricos inventam o “ser negro brasileiro” a partir da influência destas teorias racistas e do liberalismo. Assim passam a condenar o negro, a sua religião, a sua inteligência e capacidade para trabalhar e constituir família. Mesmo para alguns abolicionistas era contundente a inferioridade do negro. Os estereótipos afirmavam a incapacidade intelectual do negro, o que levava muitos deles a negarem sua economicamente, justificando as desigualdades sociais existentes nas sociedades. Influenciou a eugenia e o nazismo. 7 Segundo SCHARCZ, p. 48, frenologia e antropometria são teorias que procuravam interpretar a capacidade humana tomando em conta o tamanho e a proporção do cérebro dos povos. 8 Para SANTOS, p. 51, é a crença de que existiria uma raça pura, mais forte e sábia que eliminaria as raças mais fracas, desenvolvendo o extermínio das mesmas. 12 identidade negra. Foi o caso de André Rebouças, por exemplo, que sendo mestiço de negro e branco, conseguindo circular nos meios brancos procurou negar de toda forma sua ascendência africana. Somente mais tarde é que se engaja na campanha abolicionista. Outro abolicionista, José Bonifácio, acreditava que o africano possuía pouca capacidade mental, porém como afirma SANTOS (2005, p.105) “não se negava a utilizá-lo como mão-de-obra livre para a efetiva ocupação do território e progresso nacional”, já outro defensor da emancipação do negro escravizado, Cesar Burlamarque (presidente da província do Paraná entre os anos de 1866 e 1867), alegava a necessidade de devolver a todos para o solo africano, garantindo-se a paz e a segurança para a população branca. Joaquim Nabuco, importante abolicionista escreveu a obra “O abolicionismo” em 1883 e teve grande influência sobre os militantes de então. Sua obra defendia a necessidade de que o processo emancipatório corresse por vias legais, através da Câmara e do Senado, jamais pelas mãos dos escravizados, ou seja, “tomar o movimento das mãos deles e institucionalizá-lo como se fosse um presente, um brinde aos cidadãos brasileiros” (SANTOS, 2005, p.122). Dessa forma pretendia-se dar a impressão de que os negros foram passivos neste processo, necessitando da bondade dos brancos para libertá-los do jugo da escravidão. No mesmo contexto veremos que com o fim da escravidão, agora com os negros libertos, era necessário pensar um ideal de sociedade onde todos tivessem seu lugar definido. Não se poderia pensar a igualdade que as conquistas políticas trouxeram para toda a população numa forma geral, a elite brasileira, então ressaltou as idéias racistas para colocar brancos e negros em condições desiguais: Finda a escravidão e instaurada a democracia por meio da República, toma força um discurso racial, tardio se comparado ao modelo liberal presente desde 1822. Ante a liberdade prometida pela abolição e a igualdade oferecida pela nova Constituição – que transformava todos em cidadãos-, parecia imperativo repensar a organização desse país (...). Transformada em utopia pelos cientistas nacionais, a igualdade conseguida mediante as conquistas políticas era negada em nome da natureza. (SCHWARCZ, 1993, p.241). Iniciamos o século XX dentro deste contexto teórico que acabou por construir no imaginário social a imagem estereotipada do negro. Entre os que discutiam essa imagem distorcida está Nina Rodrigues que dizia “se um país não é velho para se 13 venerar ou rico para se fazer representar, precisa ao menos tornar-se interessante” (SCHWARCZ, 1993, p.239). Ser interessante neste momento era livrar-se do grande problema que se apontava: o de ser uma nação mestiça! E este era um obstáculo para o desenvolvimento e o progresso do país. Era uma constatação que gerava desconforto. Para Nina Rodrigues, jurista afamado, “o convívio entre as raças diferentes e uma forçosa adaptação imposta aos negros e índios criam tipos anormais” (SANTOS p.2005, 144). Para ele, tanto os indígenas quanto os negros não são completamente humanos, portanto não deveriam ter direitos iguais aos brancos, porém não poderiam deixar de ser punidos pelos seus atos. Quando trata do mestiço, leva seu preconceito às alturas, alegando que os mesmos já nascem predispostos ao crime9. Aqui se evidencia o que os teóricos já preconizavam desde o Iluminismo de que a mistura de raças distintas leva ao surgimento de seres híbridos, sem moral, fadados ao fracasso. Assim chegamos ao conceito de democracia racial10 preconizada por Gilberto Freyre. Se de um lado vimos como se construiu o referencial para o imaginário negativo em relação ao negro e à mestiçagem, com Freyre veremos que seria esta a saída para afastar da população brasileira os traços fenotípicos e culturais e as degenerescências próprias do africano. Somente com a mestiçagem chegaríamos à redenção e, enfim a nação brasileira poderia adentrar no caminho da civilidade e do ideal de sociedade preconizada pelos teóricos europeus. A teoria freyriana levou a crer que justamente por sermos uma população mestiça, em solo brasileiro ocorria o que se batizou de democracia racial. Reconheceu-se a contribuição da cultura africana, porém enaltece o branco português como o “colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos (...) sempre pendeu para o contato voluptuoso com mulher exótica para o cruzamento e a miscigenação” (FREYRE, apud SANTOS, 2005, p.152). O escravocrata passa a ser designado como bondoso e ávido por construir um bom relacionamento com os escravizados. O estupro sistemático a que foram submetidas as mulheres africanas RODRIGUES Nina. Os africanos no Brasil. São Paulo:Companhia Editora Nacional, 1976. Democracia racial: termo usado para designar uma imposição de que no Brasil não existe racismo, haja visto que até a escravidão foi branda(HASENBALG, in:MAIO) 9 10 14 ao longo de todo o período da escravidão passa a ser relatado em suas obras como encontro consentido e por elas desejado. É nas palavras de Freyre que se constrói a idéia de escravidão branda e que ainda hoje perpassa os discursos de muitos estudiosos brasileiros. Se não fez uma apologia ao racismo, também não conseguiu se desvencilhar de suas amarras: (...) se por um lado critica o arianismo e toda a teoria de superioridade racial, valoriza o branqueamento da pele como símbolo de desenvolvimento cultural. (...) Freyre separa os melhores negros (os de pele mais clara) dos piores negros (os de pele mais escura). Já se esboça assim toda a apologia do mulato e da mistura entre as raças para o embranquecimento redentor. Freyre desliza de um ponto a outro gerando novos mitos com o uso de velhos preconceitos. ( SANTOS, 2005,p.158). Poderiam perguntar qual o problema de Freyre? O problema em sua apologia à mestiçagem está justamente na negação do negro. O mestiço só tem mais qualidades porque tem uma parcela de sangue branco correndo em suas veias. O que ele faz é inventar outra forma de racismo, de preconceito, negando o racismo que já existia e que foi desenvolvido no Brasil pela elite cultural impregnada de conceitos racistas europeus. Portanto os fatos evidenciam que o Brasil foi fértil na construção de preconceitos contra o negro ao longo de sua história. Na década de 20 a educação brasileira foi sendo impregnada das idéias racistas que condenavam o contágio entre pessoas de etnias diferentes e os intelectuais brasileiros discutem as diferenças raciais propagadas pela ciência. Como enfatiza a citação abaixo: Se a abolição – 46 anos antes- tornou os negros “iguais”, buscou-se constituir argumentos que desprezavam essa condição baseados em abordagens científicas introduzidas no Brasil por vários intelectuais. (ROMÂO, 2002, p.25). A pergunta que se fazia era: o que fazer com os negros? Se eram considerados inferiores dentro da ideologia racista que se impregnou nas elites, era necessário agir para minimizar o mal que propagavam existir. A educação passou a ser um dos canais de ressocialização, levando aos negros e aos pobres os ideais da 15 cultura europeia através da educação. Dessa forma o currículo escolar foi pensado para compactuar com os ideais da elite dominante, norteados pelos referenciais da cultura europeia em detrimento da cultura popular. Ao longo das décadas seguintes não se possibilitou a discussão das diferenças étnicas. Os governos, um após outro, lançavam programas visando a unidade nacional, unidade esta que não permitia se pensar as diferenças. Indígenas, negros e todas as outras etnias passaram a se constituir numa só nação. Una, logo sem diferenças regionais ou étnicas que permitissem projetos que visassem atingir particularidades culturais. No período da ditadura militar a questão racial passa a ser proibida e figuras de destaque dos Movimentos Negros são coibidas de expressarem suas idéias. Segundo ROMÂO, o governo militar passa a cuidar do conteúdo da disciplina de História que se torna um importante instrumento na constituição do Estado Nacional que se pretendia. A participação do negro nas aulas de História é relegada ao período escravista e nada mais. Hoje, em pleno século XXI nos debatemos ainda com o preconceito em relação ao negro. Se os teóricos hoje abominam todo e qualquer tipo de preconceito e a legislação também o faz, temos um problema emblemático a resolver. O senso comum persiste em reproduzir as teorias racistas que o movimento tanto procura desmascarar. Se a genética nos mostra que raça não existe, no imaginário popular ainda persistem representações que relacionam as pessoas à cor e estas à maior ou menor capacidade intelectual, ideal de estética e de cultura. Analisar como esse imaginário está presente nas relações sociais dentro do espaço escolar se faz necessário para entender a ressignificação do conceito de raça, agora utilizada de forma velada. É nas relações sociais que os sujeitos vão se construindo enquanto pessoas. Tornam-se fortes ou vulneráveis a partir da ação de outros agentes sociais, daí a importância de se discutir este assunto no ambiente escolar. As pessoas não herdam, geneticamente, idéias de racismo, sentimentos de preconceitos e modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na família, no trabalho, no grupo religioso, na escola. (LOPES, in: MUNANGA, 2005, p.188) 16 Se o racismo e toda forma de preconceito não nascem na escola, é nela que devemos discutir sua existência, educar de maneira que nossos jovens percebam que somos todos iguais, apesar das diferenças que apresentamos e, portanto, educar para a cidadania exige que professores e alunos compreendam que: A sociedade brasileira é preconceituosa e discriminadora em relação à sua população. Em decorrência, o modelo de educação não tem sido inclusivo, ainda quando permita a entrada de todos na escola. Todos entram, ou a maioria entra, mas nem todos saem devidamente escolarizados, aptos a enfrentar a vida como verdadeiros cidadãos. A instituição escolar precisa desenvolver programas que, reconhecendo as diferenças e respeitando-as, promovam a igualdade de oportunidades para todos, o que se traduz pela oferta de escola de qualidade. (LOPES: 2005, p.187). 2. Metodologia e reflexões da ação pedagógica no espaço escolar Pensando na oferta de uma escola de qualidade é que nos preocupamos em desenvolver uma pesquisa que proporcione a leitura da realidade encontrada no espaço escolar. E que essa leitura instigue educadores, comprometidos com sua prática docente, a relativizar essa realidade, buscando novas abordagens e o enfrentamento ao preconceito no cotidiano da sala de aula. Ao propor a implementação do projeto do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado de Educação do Paraná) na Escola Estadual de Ensino Fundamental Guaraituba, do município de Colombo, pensamos em construir com os pares, que estão atuando no cotidiano escolar, uma forma de abordagem da problemática discutida neste trabalho. Optamos, num primeiro momento, trabalhar com todos os professores por compreendermos que para a implementação do disposto na legislação brasileira e mais especificamente, na Lei 10.639/03, necessitamos do engajamento dos docentes de todas as disciplinas e também que a discussão deve permear o currículo escolar e não ser apenas trabalhado em momentos específicos, de forma pontual, como no 20 de novembro (Dia Nacional da Consciência Negra) ou na Semana Cultural. Direcionamos as discussões em momentos específicos como a Semana Pedagógica no início do ano letivo e durante a hora atividade dos professores no 17 turno da manhã e da tarde, no primeiro semestre de 2008. Num primeiro momento os professores que se dispuseram a participar das discussões, responderam a um questionário que serviu como parâmetro para observar o nível de conhecimento da legislação brasileira que trata da diversidade e, principalmente, no que diz respeito à Lei 10.639/03 que discorre sobre a obrigatoriedade do ensino de História e cultura afrobrasileira e africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. Todos os professores, de um universo de 10, responderam que tinham conhecimento da legislação e que a escola trabalhava as questões da diversidade, porém os alunos, segundo a fala de alguns destes professores, adotavam práticas preconceituosas nos seus relacionamentos e que isso era evidente na forma de tratamento, nas brincadeiras, piadas e nas expressões utilizadas pelos mesmos no espaço escolar. Essa observação dos professores fez com que optássemos por desenvolver também um trabalho com os alunos, para entendermos esta contradição: se a escola trabalha a diversidade em todas as suas nuances, o que direciona a prática de atitudes preconceituosas pelos alunos de um modo geral? Sabemos que a escola não está isolada na sociedade e que se o racismo e outras formas de preconceito não nascem na escola, perpassam por ela. Na escola e nas suas ações, o combate ao preconceito fica evidente ao se educar para a diversidade. Concordando com a afirmação de que “o racismo é uma prática diária e difundida. Ele é onipresente e forte” (SANT’ANA, 2005, p. 49), vimos a necessidade de buscar elementos que evidenciassem essa atitude dos alunos observada por seus educadores. Na busca pelo entendimento deste panorama trabalhamos com uma parcela dos alunos da referida escola (438 de um total de 956) enquanto programávamos as discussões com os professores procurando abordar historicamente a intensificação do racismo num contexto mundial e principalmente a invenção do racismo brasileiro onde se criou o mito da democracia racial brasileira que nega as relações conflituosas entre as etnias que formam nossa população, exercendo a função política de 18 (...) apagar da memória coletiva as lembranças conflituosas do nosso passado escravocrata e apaziguar a relação racial entre o negro e o branco. Por exemplo, a história ensinada na escola é a versão do vencedor, mas do vencedor de uma luta que se travou em bases desiguais e injustas. (SANTOS:2002, p.73). Ao trabalhar apenas a versão do vencedor a escola aumenta as desigualdades sociais uma vez que contempla apenas um elemento da diversidade étnico-racial presente na sociedade brasileira. Isso alimenta o racismo e suas práticas preconceituosas, levando os alunos negros a não se enxergarem no currículo escolar, o que contribui muitas vezes para aumentar a evasão escolar. Procurando auxiliar o professor na implementação da Lei 10.639/03, discutimos o Plano de Trabalho Docente e a inclusão da temática de história e cultura afrobrasileira e africana no currículo das disciplinas de História, Língua Portuguesa, Ciências e Artes. Os professores destas disciplinas procuraram desenvolver no conteúdo programático ao longo de 2008, abordagens que contemplassem o disposto na legislação. Apesar do trabalho de implementação ter ocorrido todas as semanas, em dias alternados, não conseguimos oportunizar a participação de todos professores aos debates e ações junto aos educandos. Lembramos também que a participação no projeto de implementação não era uma condição obrigatória e nem caracterizava um curso com certificação, portanto os professores que participaram, assim o fizeram por entender a necessidade do debate das relações étnico raciais no espaço escolar. Para realizar o trabalho junto aos alunos utilizamo-nos da pesquisa realizada por Vera Moreira Figueira (in: SANT’ANA, 2005, p.51) que verificou a existência do preconceito racial em escolas do Rio de Janeiro. Pelo número de alunos atingidos, a metodologia que adotamos foi a de realizar trabalho em grupos, tanto para obter os dados, quanto para observarmos as reações dos alunos no debate em grupo. As questões utilizadas para a pesquisa encontram-se no anexo. Com a participação de professores da disciplina de História, retiramos de revistas, imagens de pessoas das diferentes etnias que compõem a sociedade brasileira e agrupamos aleatoriamente em envelopes e, em seguida apresentamos 19 aos alunos dizendo que aquelas imagens representavam a sociedade brasileira e que, em grupo, deveriam escolher qualidades positivas e negativas para estas pessoas. Comentamos que na nossa sociedade as pessoas são, muitas vezes, julgadas por seu estereótipo, pela aparência e que esse fato implica em discriminações. Enquanto os alunos debatiam sobre suas escolhas, observamos muitas frases preconceituosas como: “esse não pode exercer tal função porque é feio” ou ainda “negro não pode ser um engenheiro civil” ou “este rapaz não pode ser considerado bonito por causa do seu cabelo. Ele tem cabelo ruim”. Pelas falas dos alunos pudemos perceber o quanto seu discurso estava impregnado de preconceitos que foram internalizados, tanto que mesmo alunos negros não se viam como tal, o que reforça o quanto o racismo brasileiro é cruel ao negar as suas vítimas o autoreconhecimento de sua identidade étnico racial. As respostas foram agrupadas em dois blocos dispostos em tabelas com qualidades positivas e negativas. Ao observar a resposta dos alunos nos quadros abaixo podemos detectar que enquanto 67,12% escolheram um negro para ser seu melhor amigo, para o quesito inteligência 83,56% escolheram um branco. Outro dado que chamou a atenção é que 60,27% dos alunos consideraram os negros mais simpáticos, enquanto que 64,38% escolheram brancos para a característica de “estudioso”. Percebemos que para as qualidades positivas mais contundentes foram considerados os brancos, enquanto que para as características menos aceitas socialmente os escolhidos foram negros. Em alguns momentos é explícito o racismo embutido nas escolhas e no discurso dos discentes ao realizar a tarefa em grupo. Quando apresentamos os dados notamos que os alunos ficaram espantados com o resultado, pois não se percebiam preconceituosos. Questionados acerca das suas escolhas percebemos que elas foram o resultado da imagem que os alunos têm do negro na sociedade e isso mesmo considerando que boa parcela destes apresenta características fenotípicas de negros. 20 za nã o go st a de li m pe so ne st o o de io tu d es ric so io fe ni to bo o pa tic s im el ig en te e im nt st id ad ho ne am ig o 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 brancos negros Tabela 1 – Atribuição de características positivas e negativas O terceiro quadro apresentado aos alunos faz relação com a mobilidade ocupacional de negros e brancos. Mais uma vez notamos a existência do preconceito marcado pelas escolhas dos alunos: quando para a função de engenheiro apenas 12,33% determinaram que o engenheiro de sua empresa fosse negro e para a função de médico 86,31% preferiram brancos. Já para as funções que exigem menor qualificação os escolhidos foram negros, sendo que para encarregado de limpeza a escolha foi de 41,10% para brancos e 58,90% para negros o que corrobora o discurso dos alunos quando realizavam o trabalho em grupo, demonstrando no seu discurso o preconceito embutido nas práticas diárias. Observarmos que para exercer a função de professor, 54,79% dos alunos escolheram pessoas brancas o que nos leva a questionar o ideal de professor que está incutido no imaginário destes alunos. 21 brancos ) r( a pr of es so he iro (a ) co zin da lim pe za ge re nt e en ca r re ga do tá rio (a ) se cr e o éd ic m en ge nh e iro 70 60 50 40 30 20 10 0 negros Tabela 2 – Mobilidade Social percebida pelos entrevistados Feita a devolução dos resultados da pesquisa para os alunos procuramos discutir as relações de preconceito existente no espaço escolar e o que leva à ocorrência do mesmo. Muitos alunos declararam que se sentem ofendidos quando são chamados de “neguinho” pelos colegas. Uma aluna fez o depoimento de que várias vezes, na hora do recreio, colegas se referiram a ela como “macaca”. Isso surpreendeu os professores de História que estavam acompanhando o trabalho junto com os alunos. Indagamos se a escola tem trabalhado a participação do negro na história do Brasil e quando. Segundo os alunos eles “estudam sobre o negro quando vêem o período da escravidão” no Brasil e ficaram surpreendidos quando apresentamos algumas invenções que foram realizadas por negros e que são utilizadas por todos no dia a dia. Procuramos então trabalhar com estes alunos alguns vídeos que mostravam a escravidão nos dias atuais, debatendo com eles as permanências de um estado de subordinação e de coisificação do ser humano que perdura até os dias atuais e, ao mesmo tempo, as condições históricas que criaram o racismo e suas nefastas 22 conseqüências para a sociedade, pois aos negros nega-se o acesso a melhores condições de vida e de orgulho de seu pertencimento étnico racial, aos brancos impede o conhecimento da história dos negros, dos indígenas e da diversidade étnico racial como um todo. O próximo passo para a desconstrução do imaginário em relação ao negro constatado entre os alunos foi a exibição do documentário “Vista a minha pele” de Joel Zitto, com duração de 20 minutos, onde o diretor debate as relações étnico raciais no Brasil ao caracterizar uma sociedade onde o negro se sobressaía nos programas de televisão, nas profissões mais conceituadas, nas melhores posições sociais, na história do Brasil, onde foi o negro que escravizou o branco e o dilema vivido pela personagem central que sonhava em ganhar um concurso mis sinhazinha da escola e se sentia constrangida ao ver a história do branco ser contada apenas enquanto escravizado. O documentário proporcionou um longo debate com os alunos, pois ao mesmo tempo em que muitos deles se sentiram desconfortáveis com a história abordada, eles puderam relativizar suas ações no cotidiano e relacionar com o racismo que ainda perdura em nossa sociedade. Foi gratificante ao final da implementação perceber que muitos alunos nos procuravam para comentar dúvidas, filmes sobre racismo e pedir sugestões de leituras sobre a para. Para complementar esta ação junto aos alunos, trabalhamos o OAC construído ao longo do segundo semestre do PDE, sob a supervisão do professor orientador que também acompanhou e orientou a implementação do projeto na escola. O OAC com título “O processo Abolicionista” procurou analisar o fim do escravismo entendendo o papel dos Parlamentares, dos escravocratas, dos escravizados e toda política econômica e social que estava se instituindo naquele momento e que contribuíram para o desenrolar das ações que culminaram com a abolição da escravidão no Brasil. Dessa forma os alunos perceberam que a abolição do escravismo foi um processo de ação de sujeitos que, incógnitos ou famosos, deixaram sua contribuição na história do país. Desconstruiu-se assim o mito de que a abolição do escravismo tenha sido uma dádiva das elites dominantes do país. Corroborando a tese de que o material didático utilizado em sala de aula muitas vezes contribui para a perpetuação do racismo, analisamos o livro de História 23 utilizado pelos professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Guaraituba, durante o ano de 2008, quando foi objeto de implementação do projeto do PDE. O livro didático de História utilizado no referido ano pelos professores de 6ª e 7ª séries era História Temática: Diversidade Cultural e Conflitos – Cabrini, Catelli e Montellato. São Paulo:Scipione, 2004 O livro da 6ª série, já nas primeiras páginas apresenta uma ilustração de negros acorrentados e apesar de se intitular com uma proposta inovadora na maneira de discutir a História, trabalha de forma tradicional a história da humanidade vista através da história do continente europeu. Assim, América, África, Ásia e a infinidade de povos que habitavam e que ainda habitam estes continentes permanecem suspensos, como se interagissem com o continente europeu como meros coadjuvantes da sua história. De repente, sem contextualizar, lá pelo meio do livro, aparecem os africanos no Brasil, já escravizados, sem uma contextualização que mostre aos alunos quem eram esses africanos, suas culturas, idiomas, suas organizações sociais, econômicas ou culturais no continente africano. Os grandes reinos africanos são simplesmente ignorados. Vemos também ilustrações que representam o negro brasileiro principalmente no capítulo em que explora as festas populares no Brasil colonial. Outro fator importante a ressaltar é que nas ilustrações que caracterizam o trabalho pesado, portanto, menos qualificado, aparecem novamente os negros, embora devamos salientar que o livro destaca um texto que trata da escravidão ao longo da história da humanidade, mostrando aos alunos que não existiu apenas a escravização do negro, mas que em determinados períodos, qualquer povo corria o risco de ser escravizado por outro. Depois de discorrer sobre todos os castigos infligidos aos escravizados, de trabalhar a escravização dos povos africanos, já no final do livro, é dedicado um espaço para se tratar da África antes da diáspora. Apesar do livro já conter alguns avanços em relação ao trato da História e Cultura Afrobrasileira e Africana, nota-se que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que não somente os brancos europeus tenham sua história contada e recontada, mas que todos os povos possam se ver contemplados nos materiais didáticos. 24 No livro da 7ª série, pela temática desenvolvida, aparecem ilustrações que contemplam os negros, mas sempre em situação de inferioridade, como por exemplo, numa imagem que mostra moradores de rua. Não foi contemplada, por exemplo, imagem de famílias negras, tratando de forma positivada a presença do negro na nossa sociedade. Novamente a história do continente europeu é privilegiada e quando se refere ao negro brasileiro, o faz apenas enquanto escravizado. Mesmo quando trata das leis emancipacionistas, o faz de forma superficial, sem abordar que estas leis não foram cumpridas e nem tampouco criadas para serem efetivamente cumpridas. Ao tratar da questão da Guerra de Canudos e do Contestado, dois importantes conflitos do início da República são considerados apenas como resultado da questão fundiária injusta do nosso país. O trabalho desenvolvido com os alunos caracterizou a necessidade de se pensar a diversidade no currículo da escola, em todas as disciplinas, em toda ação pedagógica desenvolvida no espaço escolar, pois acreditamos que isso tudo nos mostra a urgência em debater as questões étnico-raciais na escola, promovendo uma nova forma de pensar o currículo na amplitude de sua abrangência, ou seja, “na totalidade das relações que se estabelecem no espaço escolar, independente de ser sala de aula, quadra, atendimento na secretaria, sala dos professores ou horário de recreio” (Rocha, 2005). Portanto, repensando o currículo sob outra perspectiva, buscando uma educação que respeite as diferenças, que ajude a criar cidadãos conscientes de que a diversidade não pode acarretar em desigualdades, procurando uma democracia justa com direitos iguais para todos. Percebemos, no decorrer do trabalho, na fala de alguns professores, a perpetuação do preconceito em relação ao negro e muitas vezes, sem que percebessem, o seu discurso deixava transparecer estereótipos já cristalizados no senso comum. Ao referir-se a determinado aluno pela sua cor, de forma pejorativa ou ao privilegiar determinados conteúdos onde a hegemonia do branco estava presente reforçava a hipótese de que o imaginário social atua de forma decisiva na formação de educadores e de educandos. Uma vez que recebem uma educação que privilegia a cultura ocidental, o cristianismo e a valorização do branco, ao não ver contemplada a participação positivada do negro e do indígena na formação da nossa sociedade, os educandos 25 acabam reproduzindo todos os estereótipos presentes na nossa sociedade. Assim faz-se necessário pensar a educação por outro prisma. Portanto, ao pensar a educação devemos propor um modelo que não seja excludente, que realmente integre a todos em busca da valorização e dos direitos sociais de todos os grupos humanos. Para nós educadores que queremos questionar as desigualdades sociais e toda forma de discriminação no espaço social e, principalmente no espaço escolar, promovendo a igualdade, construindo uma escola em que haja um espaço democrático, humano, que eduque para a cidadania plena de todos os indivíduos é: (...) necessário buscar responder algumas questões básicas na educação: como corrigir as distorções educacionais? Qual o papel dos educadores no combate ao racismo? Ou, por que é tão difícil discutir práticas racistas no interior das escolas? (ROCHA, in: ROMÃO, 2005, p.203). Outro fator importante a ressaltar é o silêncio que impera nos casos de racismo que acontecem no espaço escolar. Não podemos continuar culpabilizando a vítima da agressão, como se fosse de sua inteira responsabilidade o preconceito que sofreu. Faz-se necessário que o professor, interessado em combater o racismo e toda forma de preconceito no espaço escolar, esteja atento para a postura, para a linguagem, aos textos e materiais didáticos utilizados em sala de aula para que tratem de forma positiva a todas as etnias e todas as culturas que compõem este emaranhado de culturas que é o Brasil. 3. Algumas Considerações: Acreditamos que a ação de repensar as práticas pedagógicas deve estar respaldada no Projeto Político Pedagógico da escola, pois só assim, efetivamente ocorrerão mudanças que proporcionem a construção da alteridade de alunos negros e brancos. Hoje a escola ainda é excludente, pois mesmo que se enalteça o mito da 26 “democracia racial” ou que existam leis que condenem o racismo, o espaço escolar continua excluindo, pois “além de discriminar não é capaz de promover a igualdade”. (SANTOS in: CAVALLEIRO, 2001, p.98). Entendemos que Ainda que a escola sozinha não seja capaz de reverter anos de desqualificação da população negra e supervalorização da população branca, a longo prazo ela pode desempenhar um importante papel na construção de uma nova cultura, de novas relações que vão além do respeito às diferenças. Possibilitando que todas as vozes possam ecoar no espaço escolar, chegar-se à consciência de que é na diversidade que se constrói algo novo. (SANTOS, in: CAVALLEIRO, p.102). Entender desta forma que a escola e nós educadores temos um papel importante na construção de uma sociedade justa e igualitária, onde nossa prática pedagógica, enquanto professores, esteja voltada para repensar, o questionamento constante do que é ser professor na atualidade. Não basta entrarmos em sala de aula e simplesmente reproduzirmos o conteúdo do livro didático. É muito mais! É um compromisso constante com o que ensinar e de que forma ensinar. Entender de que forma este pode acontecer, e também Fazer com que os alunos não só reconheçam preconceitos, mas compreendam seu desenvolvimento e mecanismos de atuação, para poder criticá-los com bases e argumentos mais sólidos. (apud PINSKI, in: KARNAL, 2005, 26) O professor de História tem também que demonstrar aos seus educandos que a história de um país não é resultado de figuras de destaque, dos grandes heróis, mas se faz pela “construção consciente/inconsciente, paulatina e imperceptível de todos os agentes sociais, individuais ou coletivos” (BEZERRA, in: KARNAL, 2005, p.45). E é este o nosso papel, de sujeitos históricos, capazes de mudar e transformar o que foi historicamente construído, no caso em destaque, o racismo. Enquanto educadora consciente do seu papel na sociedade em que vive “descubro-me no mundo e me reconheço com um único direito: aquele de exigir do outro um comportamento humano” (FANON, 1983, p.187). Nada mais natural, então, que o professor trabalhe em sua disciplina “a inclusão dos conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (...) em todas 27 as séries(...) ao longo do ano letivo”. (DCEs, História,2006, p.39) e o debate das relações étnico-raciais no espaço escolar. A partir do trabalho desenvolvido na implementação do Projeto do PDE vimos a necessidade de se reavaliar o material didático utilizado pelos professores, uma vez que grande número deles continua excluindo o negro do seu papel na construção do Brasil que temos hoje. Somente com um trabalho pedagógico bem estruturado conseguiremos reverter o quadro de exclusão social que ainda atinge parte da população brasileira, notadamente os negros, que destituídos de seu papel de sujeitos atuantes da história do país, não se enxergam no currículo escolar e nem no discurso de alguns docentes. Entendemos também que muito se cobra do professor, exigindo-se que ele dê conta de todo um trabalho pedagógico, para o qual, muitas vezes, não está preparado para contemplá-lo, seja por falta de preparo ou de conhecimento que sua formação não possibilitou ou, ainda, que as capacitações promovidas pela SEED, embora sejam muitas, não conseguiram atingir a todos os professores da rede pública estadual. Mas somente com estudo, muita vontade de aprender e de partilhar seus conhecimentos com seus educandos é que possibilitaremos uma educação que realmente prime pela qualidade e oportunidades iguais para todos. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Anti-racismo e seus paradoxos: reflexões sobre cota racial, raça e racismo. São Paulo: ANNABLUMME, 2004. BARROS, José D’Assunção. O campo abordagens. Petrópolis, RJ : Vozes, 2004. da História: especialidades e BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: Conteúdos e Conceitos Básicos. In: KARNAL, LEANDRO (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 4. ed. – São Paulo: Contexto, 2005. BORGES, Edson. MEDEIROS, Carlos Alberto. D’ADESKI, Jacques. Racismo, preconceito e intolerância. São Paulo, Atual: 2002. 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( ) 10- Quem você classificaria como uma pessoa que não gosta de limpeza? ( ) 31 ANEXO 2 2ª Dinâmica: Vocês farão o exercício de imaginarem-se como grandes empresários que precisam contratar profissionais para exercer várias atividades dentro da sua empresa. Já analisaram o currículo de vários candidatos e precisarão escolher também pela aparência de cada um. De acordo com as fotos que você tem no seu cadastro, escolha os profissionais para cada atividade a seguir: 1- Engenheiro (a) ( ) 2- Médico (a) ( ) 3- Secretário (a) ( ) 4- Gerente ( ) 5- Encarregado (a) ( ) 6- Cozinheiro (a) ( ) 7- Professor (a) ( )