Livros e leituras: as práticas de leitura na obra Mãe Judia de
Moacyr Scliar
Viviane da Silveira Neto1
Resumo: Este artigo pretende tratar das práticas de leituras na obra Mãe Judia, 1964 de Moacyr
Scliar, partindo do pressuposto que a leitura e o livro estão intimamente relacionado com a
personagem principal. O conto trata de uma mãe enlouquecida após seu filho ter sido preso pelo
regime militar. Mas o enredo desta história vai além, e, chega até o livro, onde esta mãe desde sua
adolescência encontra nele uma válvula de escape para sua vida sem sentido. Nele ela busca
esperança para um futuro de felicidade, respostas para suas angústias. Mas as respostas não vieram
e sufocada pela decepção, desiste do livro e de suas ilusões, entregando-se a loucura. Através de
análises dessas práticas que acontecem neste conto, procurarei fazer ligações com o tempo em que
a história é narrada, 1964, e o tempo em que a obra foi lançada, que é 2004, quando foram
completados 40 anos do golpe Militar no Brasil. Também tratarei nos diálogos deste conto de
reflexões acerca dos discursos e de suas representações, de uma submissão feminina dentro de uma
sociedade machista e paternalista e de que forma a leitura pôde ser para esta mãe, mulher e judia,
um refúgio.
Palavra-chave: história, leitura, livro.
Abstract: This article intends to address the practices of reading the book ‘Jewish Mother’, 1964 by
Moacyr Scliar, on the assumption that reading and the book are closely related to the main character.
The tale tells of a mother that gone mad after his son was arrested by the military regime. But the plot
of this story goes further, and come to the book, where the mother since his teens see with an outlet
for his life meaningless. In it she seeks a future of hope for happiness, answers to their troubles. But
the answers did not come and suffocated by the disappointment give up their illusions, indulging in the
madness. Through analysis of these practices that happen in this tale, I will try to make connections
with the time and the story that is narrated, 1964, and the time when the book was launched, which is
2004, when they were completed 40 years of military coup in Brazil. Also is covered in the dialogues
of this tale, about the speeches and reflections of their representation, a female submission in a
patronizing and sexist society and how the reading might be for this mother, wife and Jewish, a refuge.
Keyword: History, reading, book.
O campo por onde trilha o historiador é longo e com riquíssimas possibilidades, e o
campo da leitura e do livro é algo instigante e que esta por toda parte, em todas as
camadas da sociedade, merecendo assim nossa atenção.
Na obra Mãe Judia o personagem principal é uma mãe que atravessa as fases de
sua vida sempre recorrendo à leitura e ao livro em busca de soluções para seus
problemas. Este contexto lembra uma frase de Mário Vargas Llosa, escritor peruano,
1
Graduada em História pela Faculdade Cenecista de Osório.
Pós-graduanda em Diálogos entre História e Literatura do Rio Grande do Sul pela Faculdade
Cenecista de Osório.
E-mail: [email protected]
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onde ele fala que “a literatura não é algo que nos faça felizes, mas ajuda-nos a
defendermo-nos da infelicidade.” E, era isso o que essa Mãe tentava fazer.
O autor Moacyr Scliar, como sempre, escreve este conto com brilhante literariedade.
Faz com que o leitor adentre a obra sem conseguir sair até terminar de ler o final da
história imaginando cada parágrafo.
Levarei em conta três momentos principais em que a personagem principal se
relaciona com a leitura neste conto: enquanto menina, onde busca explicações para
seus vazios existenciais. Após o casamento, utiliza a leitura como fuga, quando
percebe o insucesso deste, e quando percebe seu filho envolvido com
revolucionários no período da ditadura, utiliza então a leitura como forma de
aproximação dele e como possibilidade de controlá-lo.
O livro e a leitura têm poderes inenarráveis, pois conseguem nos fazer viver em
outro mundo, nos transporta em pensamento para encontrarmos respostas, sentido
para algo. Michel de Certeau coloca que ler “[...] é estar alhures, onde não se está,
em outro mundo; é constituir uma cena secreta, lugar onde se entra e de onde se sai
à vontade.” (1994: 269).
É exatamente o que acontece no conto Mãe Judia, 1964 de Moacyr Scliar, onde o
autor, com grande literariedade, utilizando de personagens planas, que são tipos
caricaturados representativos de uma classe, trata de maneira espetacular as
práticas de leituras.
Moacyr Scliar foi o sétimo ocupante da Cadeira de número nº. 31, da Academia
Brasileira de Letras, eleito em 2003. É hoje um dos escritores mais representativos
da literatura brasileira contemporânea. Scliar nos deixou órfãos este ano, no mês de
fevereiro, perdemos assim um grande escritor.
Os temas dominantes de sua obra é a realidade social da classe média urbana no
Brasil, a medicina e o judaísmo. No conto citado, a Mãe Judia, vê-se enlouquecida
após seu filho, militante de esquerda, sumir em pleno 1964. Sendo internada em
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uma clínica psiquiátrica, trava um diálogo imaginário com uma santa de gesso onde
conta toda sua história desde a infância.
Há na obra dois tempos distintos, o do narrador e outro do escritor. O primeiro
retrata o período entre 1961 e 1964, quando o golpe militar acontece. E o segundo,
o tempo do escritor, é o ano de 2004 quando a obra foi lançada, onde se
completaram 40 anos de Golpe Militar no Brasil.
Percebe-se que a muito do escritor na obra. Traz nas entrelinhas do conto, suas
vivências e sua memória. De família judia, Moacyr também era médico, como o
narrador. E viveu toda a instabilidade do país com o golpe militar. Era morador de
Porto Alegre, no bairro Bom fim, sendo ainda um jovem acadêmico.
Este conto consegue juntar a História e a Literatura de forma espetacular,
explorando cada uma delas em seus respectivos campos. Pois estas possuem
muitas características comuns, ambas têm a possibilidade ter o mundo em forma de
texto.
Como Sandra Pesavento expõe: “[...] História e Literatura são formas
distintas, porém próximas, de dizer a realidade e de lhe atribuir/desvelar sentidos.”
(2003: 32).
Em relação ao tempo delimitado, tratarei de fazer um apanhado geral das
circunstancias históricas de tais épocas.
Entre 1961 a 1964, o Brasil viveu um de seus momentos mais críticos politicamente,
situações de grandes tensões e transições de um regime “aparentemente
democrático” para uma ditadura militar, onde o povo, em boa parte, não queria
aceitar tal imposição. Foi para as ruas lutar pela democracia. Como o autor Marcelo
Ridenti coloca: “[...] a utopia que ganhava corações e mentes era a revolução.” (S.d.:
135).
Este impasse pelo qual o Brasil passou, repercutiu em todas as áreas, como na arte
através de criação de músicas como forma de protesto, nas artes plásticas, nas
escolas e universidades. Ridenti também coloca que a “rebeldia contra a ordem e
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revolução social por uma nova ordem mantinham diálogo tenso e criativo,
interpenetrando-se em diferentes medidas na prática dos movimentos sociais,
expressa também nas manifestações artísticas.” (S.d.: 135).
A situação do governo era muito difícil, principalmente com o aumento da dívida
externa. No comício realizado na Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, o
presidente João Goulart assinou sua sentença. O autor Jorge Ferreira resume bem
esta situação:
“Não se tratava apenas de um movimento militar, mas sim de uma ampla
coalizão civil-militar brasileira com apoio de forças estrangeiras. O
presidente, depois de pesar a disposição de forças, não aceitou a proposta
de resistir. Naquele momento, ele não tinha mais alternativas. A resistência
jogaria o país em uma guerra civil de conseqüências imprevisíveis, foi a sua
avaliação.”(S.d.: 399).
O ano de 2004, onde o escritor lança a obra Mãe Judia foram marcados por alguns
acontecimentos importantes como a morte de Leonel Brizola, grande político que
participou ativamente da campanha da Legalidade em 1961. A nível mundial
aconteceu à reeleição de George W. Bush e morte do presidente da Palestina,
Yasser Arafat, e o Brasil completando 40 anos de Golpe Militar.
Algumas revistas da época falaram a respeito deste “triste aniversário”, como a
Revista Época fala na reportagem abaixo datada em 31/03/2004:
“O regime militar impediu a construção de um compromisso social que o
Brasil discute até hoje. Os custos e repercussões de tamanha insanidade
podem ser sentidos até hoje. O Brasil viveu um processo alienante na
educação que desmobilizou algumas gerações. Aqueles que resistiram e
lutaram movidos por ideais nacionalistas foram mortos pelo regime.
Lideranças democráticas foram sacrificadas ou envelheceram sem que
pudessem ter contribuído significativamente para o crescimento do país.
Passamos anos amargando insucessos nas artes, sucateadas pela
ausência de nossos maiores expoentes, exilados no exterior. Sofremos com
a censura que silenciou Glauber Rocha, Geraldo Vandré e até José Mojica
Marins (o Zé do Caixão).”
Foram épocas que estavam separadas por 40 anos, mas que trouxeram grandes
acontecimentos e grandes memórias.
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Uma grande memória é o conto Mãe Judia. Já no início do conto o autor deixa claro
o interesse desta personagem pelos livros, e ao longo da história percebemos a
existência de catarse na obra, onde ele fala muito nas tradições e costumes
judaicos. A personagem, desde menina, enfrentou muito preconceito por parte de
sua família, pois eram de descendência judia, e o papel das mulheres era bem
definido, cuidar da casa e dos filhos, como ela explica neste trecho: “Minha mãe não
gostava que eu fosse à biblioteca. Não gostava de livros, ela. Para começar, mal
sabia ler. Como meus avós, era imigrante; tinha vindo de uma aldeia da Europa
Oriental; lá, leitura e livros eram coisa para homem.” (2004: 28)
Desde adolescência esta mulher se achou inferior às outras pessoas, buscou
respostas para um imenso vazio que atordoava seu coração e sua mente. Buscava
estas respostas na leitura, acreditava que, em algum de todos os livros que lia,
encontraria o caminho da felicidade. Percebemos aqui, então, o sentido que ela deu
a leitura e ao livro neste momento.
A leitura transformou-se para esta mulher em algo superior a qualquer ordem ou
desejo da família e apesar de toda a dificuldade ela entregava-se a leitura.
Dificuldades que o autor explana neste trecho: “Ainda por cima usava óculos. [...]
Ler, às vezes, era uma coisa muito difícil. Mas, apesar da contrariedade de minha
mãe, e da dor de cabeça que às vezes me assaltava, não abandonava a leitura.”
(2004: 31).
Ela procurava algo em cada livro que lia, talvez nem ela mesma soubesse o que era,
mas em uma frase percebemos o que talvez fosse: “Mais que um prazer, era uma
esperança, a única esperança. Tinha certeza que um dia, em algum livro,
encontraria a resposta definitiva para minhas dúvidas, a fórmula mágica da
felicidade. Eu queria ser feliz.” (2004: 31).
Mas o livro que ela procurava para responder as suas dúvidas não encontrou nunca,
como ela coloca: “Mas o livro definitivo, o livro que daria as respostas às minhas
dúvidas, o livro que me ensinaria o caminho dessa sonhada felicidade, o Grande
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Livro, esse livro eu não o encontrava. Não o encontrava na biblioteca, não o
encontrava entre as obras que me emprestava o vizinho. Lia, lia, e nada.” (2004: 33).
A mãe decidiu que esta filha deveria trabalhar já que somente o que fazia era ler. Foi
trabalhar em uma ferragem, e, mesmo em meio à “parafusos” encontrou formas para
continuar lendo: “[...] apesar de todos os obstáculos; quando o patrão me proibiu de
trazer livros para a loja, passei a arrancar páginas de meu Machado, colocando-as
dentro do livro caixa. Ele pensava que eu estava examinando a contabilidade. Nada.
Nada de “deve”, nada de “haver”. Não estava examinando – desculpa o palavrão –
bosta nenhuma. Eu estava lendo, estava seguindo, emocionada, a trajetória de
Capitu.” (2004: 36).
Em sua adolescência, diferente das outras meninas, não namorava, não fazia nada
o que uma menina da sua idade deveria fazer. Ao contrário, reclusa em suas
leituras, sonhava somente. Em uma parte do conto ela diz que: “Não sabia falar
sobre nada a não ser livros, e mesmo assim tinha vergonha disso, de falar sobre
minhas leituras, não queria que me julgassem metida a sebo.” (2004: 37).
Quando conheceu aquele que seria seu esposo, percebeu que havia alguém que
também gostava de ler tanto quanto ela: “Um rapaz baixinho, encolhido. Como eu,
quieto, meio deprimido. Mas, como eu, lia muito; e gostava de cinema, como eu.”
(2004: 38).
Como vemos, o livro e a leitura percorrem quase todo o conto, onde esta Mãe Judia,
passa cronologicamente por todas as fases da vida, sem abandonar o livro, às vezes
o descartava momentaneamente, mas logo se via novamente ligada a ele. O livro foi
peça incontestável em sua vida. Percebe-se nitidamente esta questão no trecho:
[...] os livros transformaram-se, para nós, em salva-vidas, o salva-vidas que
nos resgataria do naufrágio do sexo. Mergulhávamos na leitura, ou
fingíamos que mergulhávamos na leitura, mas a dúvida estava ali,
ameaçadora: por quanto tempo poderíamos manter aquela encenação? Por
quanto tempo se pode fugir das obrigações conjugais que, para nós, eram
exatamente isso, obrigações? De tempos em tempos, e movidos pela culpa,
partíamos para uma nova tentativa. Que sempre se revelava frustrada. E aí,
volta aos livros. (2004: 42).
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O conto passa pela morte de seu marido, Samuel, e percorre a vida de seu filho,
Gabriel, que desde menino pulsava dentro de si, um coração marxista. Este menino,
desde criança, vê-se também envolvido com o livro e a leitura, como coloca a Mãe:
Tenho uma pasta com as redações que ele fez quando era criança. Precisa
ver as maravilhas que o Gabriel escrevia, mesmo sobre assuntos banais,
especialmente sobre assuntos banais. “Como passei minhas férias”, por
exemplo. Banal, não é? Mas ele ia fundo. Explicava o que significa para
uma pessoa tirar férias. Até me lembro de uma frase: “Férias não são para
descansar, férias são para escapar”. (2004: 54).
Este menino cresce, torna-se adulto, envolvido com o livro e pelo livro. Pois como
indaga a mãe, a sua opção política reflete em suas leituras: “Lia muito: o quarto dele,
no apartamento – e era um quarto grande, muito maior que o meu -, estava
abarrotado de livros. Todos sobre socialismo, comunismo, luta de classes. Obtinhaos em uma pequena livraria comunista que existia no centro de Porto Alegre.” (2004:
69).
Esta Mãe se vê atordoada, com o fato de seu filho ser um militante de esquerda em
pleno 1964, com o golpe militar se confirmando. Em uma tentativa desesperadora,
ela busca novamente o livro, mas agora é com o objetivo de se interar dos reais
objetivos do filho, para tentar “salvá-lo”. Como ela coloca:
Fui até a livraria comunista [...] o velho indicou-me os livros básicos, o
Manifesto comunista e vários outros. Fui para casa com o enorme pacote,
disposta a estudar aquele material todo [...] tinha perdido a fé nos livros,
achava que nada tinham a ver com a vida. Mas agora a leitura era uma
imposição e assim aquela noite mesmo abri o Manifesto... (2004: 83).
Scliar, desde o início do conto, deixa claro o interesse da personagem principal pelo
livro, esta utiliza-o como forma de refúgio. Uma procura de respostas para suas
indagações. Em um trecho ela fala que em meios aos livros sentia-se bem, que no
silêncio de uma biblioteca sentia-se calma. (2004: 26).
Para Chartier, a construção da leitura é “[...] uma esfera da intimidade, ao mesmo
tempo retiro e refúgio para o indivíduo subtraído aos controles da comunidade”.
(2009: 113).
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A partir deste momento podemos ler o que nos interessa realmente e com um
objetivo. Seja ele íntimo, procurando encontrar respostas para algo que exista dentro
de nós, seja ele para objetivos eruditos, como Jacques Leenhardt conceitua “[...] a
dupla literatura-leitura reside numa necessidade social que se pode aproximar de
uma necessidade de conhecimento”. (1998: 45). Estes variam de acordo com cada
sujeito, inseridos em determinada cultura.
A leitura não é apenas uma operação abstrata, ela é o uso do corpo, inscrição
dentro de um espaço, relação consigo mesmo ou com os outros. Mas ao mesmo
tempo, nesta transformação no ato de ler, foi-nos dada à possibilidade de uma
reclusão literal, pois no momento em que estamos lendo, mantemos uma relação
solitária, onde você e o livro dialogam em silêncio. Chartier argumenta que: “Ler em
silêncio, para si mesmo, basta para criar uma área de intimidade que separa o leitor
do mundo exterior; portanto, mesmo no meio da cidade, na presença de outrem, ele
pode ficar sozinho com seu livro e seus pensamentos”. (2009: 144).
Os historiadores que pesquisam o ato de ler afirmam que um texto existe porque há
um leitor para dar-lhe significação, e que todos aqueles que lêem textos, o fazem de
maneiras diferentes, ou seja, para cada comunidade de leitores existem maneiras de
ler e interpretações diferenciadas. Portanto como expõe Chartier, é necessário
perceber também que a leitura é sempre uma prática representada através de
gestos, espaços e hábitos.
Mas também devemos pensar que tal “liberdade” existe até certo ponto, pois não
podemos esquecer da ideologia impregnada neste ato, como Stecart Hall nos
coloca: “Somos livres até certo ponto, somos livres no mundo que não foi nós que o
escolheu”. Tal afirmativa nos remete a questão intrínseca em uma sociedade, que é
a questão da ideologia. Esta nos leva de certa forma, inconscientemente, a optar por
leituras que a cultura localizada nos levou a pensá-la. Como Sandra Pesavento
esclarece: “[...] a identidade é um processo ao mesmo tempo pessoal e coletivo,
onde cada indivíduo se define com relação a um “nós”, que por sua vez, se
diferencia dos “outros”“. (1998: 18).
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É com o que esta por “detrás das cortinas” que a maioria dos historiadores hoje
trabalha. Buscando o não dito, o que foi “jogado para baixo do tapete”. A história
esta fragmentada é feita também das pequenas fontes, das quase impossíveis
fontes. Podemos comparar o trabalho do historiados com o do médico. Scliar expõe
muito bem esta idéia no conto onde ele diz que: “[...] o diagnóstico é a arte de reunir
indícios às vezes vagos em um quadro coerente e revelador, examinando todas as
possibilidades.” (2004: 103).
É exatamente o que o Método Indiciário propõe. Fazer pesquisa como trabalha um
médico, que através dos sintomas do paciente, ou seja, sinais, indícios, chegam a
um diagnóstico. Ginzburg argumenta que: “Se a realidade é opaca, existem zonas
privilegiadas –sinais, indícios – que permitem decifrá-las.” (1989: 177).
O Historiador deve, portanto, ficar atento a todas as possibilidades quando busca
construir as representações de um passado. O autor Carlo Ginzburg fala que: “A
história pode nos despertar para a percepção de culturas diferentes, para a idéia de
que as pessoas podem ser diferentes e, com isso, contribuir para a ampliação das
fronteiras de nossa imaginação.” (1989: 299).
Uma sociedade leitora será uma sociedade mais consciente de seu papel e
importância. Não sendo, portanto, frágil e passível de manipulação e controle. Há
uma frase de Antonio Cândido que expressa exatamente isto: “Um leitor atento e
reflexivo, capaz de viver no silêncio e na meditação o sentido de seu canto mudo.”
(S.d.: 33).
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http://revistaepoca.globo.com. Pesquisa realizada em 20/04/2011.
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