'Quem não tem medo é uma pessoa irresponsável' O Estado de São Paulo 22 de abril de 2012 | 3h 10 Cláudio Marques Presidente no Brasil há 16 meses da seguradora americana MetLife, o argentino Mario Traverso, de 50 anos, começou sua carreira na Arthur Andersen, mas depois de um tempo achou que seria mais interessante fazer negócios. E pôs em prática uma guinada na sua carreira. A mudança deu certo, pois com sua ajuda a empresa de seguros se tornou a número 1 na Argentina, Chile e México. Agora, ele acredita que sua experiência pode contribuir para fazer com que a filial brasileira se torne uma presença forte no mercado nacional. Como foi o seu trajeto? Tenho 50 anos e comecei minha carreira como contador, estudei como contador público na Argentina e ingressei na Arthur Andersen. Tive meus primeiros cinco a seis anos de carreira como consultor em planejamento estratégico e auditoria na Arthur Andersen. Em algum momento da carreira, eu decidi que fazer negócios seria muito mais interessante. Então eu fiz duas pós graduações, uma em direção estratégica e outra em psicologia do consumidor, para entender como funciona a mente do consumidor. E dessa maneira dei uma virada estratégica em minha carreira e comecei muito ativamente no mundo do marketing. Como foi? Primeiro fui gerente geral de uma companhia local. Depois fui diretor da Sul América na Argentina, a companhia brasileira que tinha sua filial no país e onde fui diretor de linhas pessoais. Em seguida, fui para MetLife, onde era o responsável por todos os canais de distribuição, de marketing, de produtos da Argentina e do Uruguai. O passo seguinte foi a MetLife do Chile, onde fiquei por quase dois anos. A próxima parada foi o Chile, seguido de quase três anos na MetLife do México. E me tornei responsável por vendas, marketing e planejamento estratégico de toda a América Latina e Caribe. Hoje, a MetLife é número 1 no México, Chile, Argentina e Uruguai. E no Brasil? Ainda não é a número 1. Por isso, meu chefe me chamou e me disse: 'Mário, muito obrigado, você tem feito um grande trabalho, mas agora é o momento do Brasil'. Por que Brasil? Muita gente diz que o Brasil é o País do futuro. Para a MetLife, é o País do presente, representa uma grande oportunidade. Então, há 16 meses recebi o convite para trabalhar como presidente aqui e abrir um novo caminho para a MedLife, onde estou há 17 anos. Como a sua trajetória pode ajudar a MetLife a avançar aqui? Basicamente, o que estamos fazendo, é primeiramente entender muito bem o mercado. Minha expertise é entender o mercado, entender o consumidor, entender a concorrência, entender onde está hoje o mercado, para planejar onde vai estar o mercado futuro. Então, tem sido feito um profundo planejamento estratégico no Brasil, porque o mercado está mudando, o consumidor está mudando. O Brasil está num processo de mudança profunda. Qual? A classe média está crescendo. Só para dimensionar, são aproximadamente 30 milhões, 40 milhões de brasileiros que passaram do segmento baixo para o médio. Nós, na MetLife, estamos analisando muito essa evolução, o comportamento do consumidor, comportamento do mercado, necessidades atuais, necessidades futuras. E, em parte, é isso. E o que mais? Estamos desenvolvendo novos canais de distribuição e novos produtos que são novos para a MetLife do Brasil e muitas vezes vão ser novos para o Brasil, mas não para a empresa na América Latina e no mundo. Então, a minha experiência regional de haver morado e vivido em muitos mercados, de entender muito os clientes, de entender muito os canais de distribuição e somado a entender o mercado brasileiro, ajuda a construir uma nova etapa do crescimento da MetLife. O crescimento do mercado brasileiro ajuda a obter resultados? Definitivamente. O Brasil hoje é a sexta potência no mundo. Isso é um dado objetivo e uma oportunidade para a MetLife e para qualquer empresa. O desafio como sempre é como tomar essas oportunidades. Porque muitas vezes, as oportunidades se apresentam e muitos a deixam passar, não entendem que é uma oportunidade. Ou porque não têm as ferramentas, ou o know how, a habilidade, o capital, o desejo, a paixão para tomar para si as oportunidades. Já deixou passar alguma oportunidade? Veja, na minha vida pessoal e na da MetLife na América Latina, existe uma história de permanente crescimento. Se olhar a companhia nos últimos 16, 20 anos, a empresa era pequena no continente e a minha presença era muito pequena. Ao longo dos anos, participei de uma equipe exitosa, que logrou tomar oportunidades no mercado para terminar sendo a companhia número no México, no Chile, na Argentina. Ou seja, não há dúvidas que a MetLife, e no meu caso pessoal, acompanhei um processo de crescimento no qual os acertos e as oportunidades tomadas foram muitas. Sem dúvida, se houve oportunidades que nos escaparam, ou não tivemos consciência de que foram oportunidades e provavelmente ainda ignoramos isso. Mas, graças a Deus, que no balanço da minha vida pessoal e da MetLife há mais acertos do que erros. Qual foi o seu maior medo ao assumir o cargo no Brasil? Algumas pessoas de coaching dizem que medo, todos têm. A diferença é como administrar, como o transformar em responsabilidade, em planejamento, em ação, em inteligência. É certo que uma pessoa que não tivesse medo seria irresponsável. Então, o desafio de um profissional é conduzir sabendo que pode haver problema, mas estando consciente de seu problema e planejar adequadamente, reunir parâmetros necessários para levar o projeto adiante. Então, a mesma receita, o mesmo conceito que temos aplicado em outros países é o mesmo que temos aplicado aqui. É igual a um piloto de avião. Como assim? Ele sabe que tem um certo número de voos, mas tem tudo, ou quase tudo, planejado para sua viagem. A situação passa, primeiro, pelas condições pessoais do piloto, tem treinamento pessoal, segurança pessoal, equilíbrio emocional. Segundo, que por atrás do piloto há uma equipe de talentos que o acompanha. A definição da equipe é algo essencial e indispensável. Nenhum piloto de avião sozinho tem êxito. Ele é apenas um líder, que planeja que coordena a equipe, decide. Mas seleção e motivação da equipe é fundamental. Mas também é importante o respaldo do acionista, porque você pode ser um grande piloto e ter uma equipe, se o acionista não tiver o respaldo financeiro fica difícil conseguir tudo isso.