DANIELA VIEIRA NARDI SARAVALLE REABILITAÇAO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF): PRÁTICAS EDUCATIVAS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde. São Paulo 2007 DANIELA VIEIRA NARDI SARAVALLE REABILITAÇÃO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF): PRÁTICAS EDUCATIVAS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde. Orientadora: Prof. Dr.ª Paulete Goldenberg São Paulo 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM SAÚDE MESTRADO EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor (a) do Cedess: Prof Maria Cecília Sonzogno Coordenador do curso de Pós-graduação: Prof Nildo Alves Batista DANIELA VIEIRA NARDI SARAVALLE REABILITAÇÃO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF): PRÁTICAS EDUCATIVAS Presidente da Banca: Prof Dr. ª Paulete Goldenberg. BANCA EXAMINADORA Prof Dr. ª Vera Lúcia Ferreira Mendes ____________________________________ Prof Dr. ª Regina Maria Giffoni Marsiglia __________________________________ Prof Dr. ª Otília Maria L.B. Seiffert________________________________________ Ao Meu Grande e Eterno Amor, Ricardo (TUTO), com muito amor. AGRADECIMENTOS A amável Professora Paulete Goldenberg, pelo acolhimento de minha ansiedade, pelas horas de conversa e dedicação. Aos todos profissionais da Equipe de Reabilitação, que generosamente contribuíram para este trabalho. A todos do CEDESS, que me acolheram de forma ímpar, pelas aulas, pela escuta, por tudo. A Professora Vera Lúcia Ferreira Mendes que me ensinou muito sobre Saúde Pública, e que após a graduação, tenho o privilégio de encontrá-la no mestrado. Ao meu grande amor, Tuto, que me acompanhou incansavelmente durante este trabalho, pelas leituras cuidadosas do texto e principalmente pelo amor, cuidado e compreensão. A minha mãe, Dora, que tanto admiro, por me apoiar sempre, pelo seu amor incondicional. Ao meu pai, Norberto, pelo carinho e apoio. A minha irmã Ale, pelas palavras de apoio e compreensão das minhas ausências. A minha linda sobrinha, Júlia, pelos momentos de alegria. Ao meu irmão, Rodrigo, pelo carinho. A Regina e Clóvis, pelas palavras de incentivo e o carinho de sempre. A Marisa, Gabriela, Adriana Castro, Adriana Fernandez pelo apoio em todos os momentos. As amigas Adriana e Jéssica, pela compreensão e apoio durante todo o trabalho. A minha grande amiga, Alessandra, pelos momentos de desabafo e compreensão de minhas ausências. SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................................ 20 ABSTRACT .................................................................................................... 21 1 Introdução ................................................................................................... 22 1.1 Reabilitação: das origens ................................................................ 22 1.2 Discurso higienista e institucionalização da Reabilitação ................ 25 1.3 Reabilitação na assistência curativa................................................. 29 1.4 Reabilitação diante das novas perspectivas...................................... 32 1.5 Reabilitação: Promoção de Saúde e práticas educativas................... 39 2 Objetivos...................................................................................................... 48 2.1 Objetivo Geral ................................................................................ 48 2.2 Objetivos Específicos ..................................................................... 48 3 Metodologia................................................................................................. 49 3.1 Delineamento do estudo.................................................................. 49 3.2 Perfil profissional e práticas educacionais ....................................... 49 3.3 Modelos de prática, limites e potencialidades.................................. 52 3. 4 Análise de dados ............................................................................ 53 3.5 Procedimentos éticos ...................................................................... 56 4 Resultados ................................................................................................... 57 4.1 Perfil profissional e exercício de uma prática educativa .................. 57 4.2 Qualificação das práticas educativas ............................................... 81 5 Considerações Finais................................................................................. 101 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 103 ANEXOS....................................................................................................... 115 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Perfil dos Profissionais de Reabilitação no PSF/Zona Leste do Município segundo Sexo, Idade e Tempo de Formação, 2007....................................................... 58 TABELA 2 - Formação e Capacitação dos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007....................................................................... 59 TABELA 3 - Atuação dos Profissionais de Reabilitação no PSF Zona Leste no Município de São Paulo/ Santa Marcelina, 2007.......................................................... 60 TABELA 4 - Atividade Educativa Grupal Referida pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007................................................. 63 TABELA 5 - Atividade Educativa Grupal Referenciada pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007............................. 66 TABELA 6 - Estratégias Didáticas na Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. ... 72 TABELA 7 - Avaliação da Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF / Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. ...................... 77 SIGLAS UTILIZADAS CECCO – Centros de convivência e cooperativa ECA – Instituto da criança e do Adolescente ESF – equipe de saúde da família OMS – Organização Mundial de Saúde PSF – Programa de Saúde da Família QUALIS – Qualidade integral a saúde SMS – Secretaria Municipal de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde TO –Terapia Ocupacional UBS – Unidade básica de saúde APRESENTAÇÃO Na graduação de Fonoaudiologia, na PUC-SP, tive a oportunidade de estagiar em várias áreas, entrando em contato, no quarto ano da graduação, com a Disciplina Saúde Pública e feito estágio em uma Unidade de Saúde/Programa de Saúde da Família. Em 2002 cursei o aperfeiçoamento em Fonoaudiologia e Saúde Coletiva, também na PUC-SP. Atualmente atuo no Programa de Saúde da Família em São Paulo. Durante minhas atividades profissionais, percebi a necessidade de aproximação com outras áreas do conhecimento que me auxiliassem, principalmente, no que se refere às práticas educativas, que realizo com freqüência, em meu cotidiano. Assim, realizei o curso de especialização em Ensino e Ciências da Saúde, no ano de 2004 e em seguida ingressei no Programa de Mestrado em Ensino em Ciências da Saúde da UNIFESP. Neste percurso elegi, como projeto de pesquisa, a prática educativa que constitui o objeto da presente investigação. RESUMO No contexto da implantação do Programa de Reabilitação no PSF, ressalta-se, no âmbito da Promoção de Saúde, a relevância das atividades educativas grupais. Neste sentido o estudo teve como propósito caracterizar as práticas educativas grupais dos Profissionais da Equipe de Saúde do Deficiente/Reabilitação (Fonoaudiólogos, Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais) no Programa de Saúde da Família, tendo em vista subsidiar proposta de capacitação. Circunscrevendo o levantamento à equipe de reabilitação na Zona Leste de São Paulo, com a Parceria da Casa de Saúde Santa Marcelina, o estudo envolveu três movimentos de investigação. O primeiro, focalizou o perfil profissional, sendo caracterizada uma prática educativa grupal recente. Num segundo movimento, foram levantadas as concepções de educação que orientam as práticas educativas. No terceiro movimento, foram apontados os limites e potencialidades do exercício das práticas educativas, buscando subsídios para uma proposta de capacitação. O estudo mostrou ausência de capacitação formal e específica para o exercício das atividades educativas grupais, na preparação para atuação no PSF. Todos, entretanto, referiram-se a realização de atividades educativas em grupos, ressaltando o caráter esporádico da realização, que poderia estar a associado à questão da sobrecarga de trabalho. Quanto à organização das atividades educativas foram abordados vários elementos que integram o planejamento, os quais, não sendo tratados de forma sistemática, apontaram para o caráter informal de sua realização. A qualificação das atividades educativas grupais, levando-se em conta as estratégias adotadas, aponta para o exercício de práticas de caráter dialógico, ao lado da permanêcia do modelo de caráter tradicional, no âmbito do PSF. Além da falta de tempo os profissionais referiram restrições de ordem material e espacial, como condições limitantes a realização das atividades educativas grupais. Ao lado da constatação do exercício de práticas educativas grupais pelos profissionais de reabilitação, o estudo apontou para a heterogeneidade da qualificação do seu exercício no âmbito da Promoção de Saúde. Nesse sentido, a investigação registra a propriedade de ser pensado o aprimoramento desses profissionais, integrada ao processo de repensar as atividades educativas grupais da reabilitação no contexto da Promoção de Saúde, em âmbito institucional. Palavras chave: REABILITAÇÃO; PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA; EDUCAÇÃO EM SAÚDE; PROMOÇÃO DE SAÚDE; PRÁTICAS EDUCATIVAS. 20 ABSTRACT In the Family Health Program, Rehabilitation Program Implementation context, it is important to emphasize the relevance of group educational activities, regarding Health Promotion. In this perspective, this study tried to define the group educational practices of Special Needs Health / Rehabilitation professionals team (Speech Therapy, Physiotherapists, Occupational therapist) in the Family Health Program, in order to develop a proposal of capacitating. This assessment was done in Sao Paulo east zone, with partnership with “Casa de Saúde Santa Marcelina”, and the following study involved tree investigation movements. The first movement keeps the focus on professional profile, being characterized a recent group educational practice. At the second movement, the education concepts that guide the educational practices where raised. At the third movement, education practices limits and potentials where appointed, searching requirements to a proposal of capacitating. The study showed the absence of formal and specific capacitating to the practice of group educational activities, at the preparation to Family Health Program actuation. However, all interviewed referred to group educational activities realization, emphasizing the not regular frequency, that can be associated to overtime work issue. When the educational activities were discussed, many elements that participate in planning, but not been treated in a systematic way, showed the informal characteristic of it’s organization. The group educational activities qualification, considering the strategies adopted showed the realization of practices of dialogic characteristics, besides of the traditional characteristics model remaining at Family Health Program context. Besides lacks of time, the professionals mentioned supplies and space restrictions as limit conditions to develop group educational activities. Regarding the Rehabilitation professionals group educational practices, the study showed a heterogeneous qualification on Health Promotion. In this way, the investigation registers the importance of professionals capacitating development, integrated to the process of group educational activities rethinking, in an institutional forum of Health Promotion. Key words: REHABILITATION; FAMILY HEALTH PROGRAM; EDUCATION IN HEALTH; HEALTH PROMOTION; EDUCATIONAL PRACTICES. 21 1 Introdução 1.1 Reabilitação: das origens As deficiências, originalmente, eram associadas a aberrações, sendo consideradas de formas diversas, em contextos sociais distintos. Na ótica da sociedade, a deficiência era resultante de possessão demoníaca, a punição era a única forma de se livrar do pecado, da possessão que recaia sobre o deficiente (ARANHA, 1995). No Século XVI, no contexto da Revolução Burguesa, revoluções de idéias, na forma de ver o homem e a sociedade, acompanharam mudanças no sistema de produção. No que se refere à deficiência, começaram a surgir novas idéias quanto a organicidade de sua natureza, produto de infortúnios naturais, conforme Paracelso e Sir Antony Fitz-Hebert. Assim concebida, passou a ser tratada através de alquimia, da magia e da astrologia (ARANHA, 1995). No século XVII, o fortalecimento do modo de produção capitalista se fez acompanhar da consolidação da classe burguesa no poder. A educação, com padrão de ensino tradicional, até então assumido exclusivamente pela Igreja, passou também a ser oferecida pelo Estado. Concomitantemente, novas idéias foram sendo produzidas tanto na área da medicina, como na da filosofia e na educação (ARANHA, 1995). Thomas Willis baseou sua explicação para a deficiência na neurofisiologia, recorrendo às idéias de “fluido nervoso, suco nervoso, líquido dos nervos e, principalmente, a idéia de fluídos voláteis ou espíritos animais” (PESSOTTI, 1984). Santo Agostinho adotara a doutrina da localização das funções cerebrais nos ventrículos que, para ele, eram três, “ficando no anterior as sensações, no médio a memória e no posterior o raciocínio” (PESSOTTI, 1984). Foi John Locke quem mais contribuiu para alterar a visão da sociedade sobre as causas da deficiência, fundamentando tal explicação na teoria do conhecimento. Ele defendia a elaboração de uma didática para o trabalho pedagógico, pois acreditava que 22 todos os seres humanos eram como uma tábula rasa onde, tudo o que se ensinava seria impresso nesta, possibilitando formar o conhecimento e suprir as carências encontradas (PESSOTTI, 1984). Ainda, assim, prevalecia a idéia de que os deficientes não traziam nenhum proveito para a sociedade, gerando o sentimento de que melhor seria segregálos: “não se pune, nem abandona o deficiente, mas também não sobrecarrega o governo e a família com sua incômoda presença” (PESSOTTI, 1984). Nesse momento surgiram os hospícios que passaram a funcionar em antigos leprosários, lugares para onde eram levados todos que fossem julgados não pertencentes aos padrões sociais vigentes, como prostitutas, loucos, deficientes, delinqüentes, mutilados, etc. Na verdade, as instituições de assistência aos pobres e doentes (incluindo os “deficientes”) funcionavam como recurso de “exclusão social” afastando o “perigo” do resto da sociedade. FOUCAULT (1977) afirma: Antes do século XVIII, o hospital era essencialmente uma instituição de assistência aos pobres. Instituição de assistência, como também de separação e exclusão. O pobre como pobre tem necessidade de assistência e, como doente, portador de doença e de possível contágio, é perigoso. Por estas razões, o hospital deve estar presente tanto para recolhê-lo, quanto para proteger os outros do perigo que ele encarna. (p.101-102). Teve origem nessa trajetória, paralelamente ao fortalecimento da visão organicista, a busca de abrigos, sobre a qual se assentaria a prática do cuidado institucional. Nestas condições se estruturava a preocupação ambígua da assistência: de um lado os “ociosos”, buscando-se encaixar os que ainda estivessem “válidos” no aparelho produtivo, de outro lado, afastando-se ou isolando-se os “não-aproveitáveis”. Na época do Brasil-Império (1831/1840), as pessoas, com recursos, que queriam estudar, iam, em sua maioria, para o exterior, a França, em particular. Uma vez estando lá, recebiam diretamente influências de teóricos e de movimentos sociais, os quais já vinham discutindo o atendimento e direitos dos deficientes e traziam esta reflexão para o Brasil. Nesta época o médico do Imperador, pai de uma menina cega, influenciado pela obra de José Álvares de Azevedo, interveio junto ao monarca e assim foi criado o Instituto de Meninos Cegos, em 1854. O Instituto dos Surdos-Mudos foi implementado pelo educador francês Edouard Hüert, portador de surdez congênita. Apoiado pelo Embaixador da França no Brasil, fora apresentado ao Imperador, o qual concedeu o aval 23 para construir o Instituto. Inaugurou-se, nesse movimento, a emergência de outras instituições especializadas para atendimento de deficientes físicos, deficientes sensoriais e doentes mentais, baseadas nos modelos asilares já existentes (SOARES, 1987). Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram pioneiros, na fundação de hospitais especializados em atender deficientes visuais, auditivos, doentes mentais e de escolas especializadas como: o Hospital do Juqueri, em 1858, em SP, o Instituto Padre Chico, por volta de 1900, em SP, a Colônia Juliano Moreira, em 1911, no RJ e o Centro Psiquiátrico Nacional, em 1929, também no RJ. (SOARES, 1987). Diante do reconhecimento do deficiente e da deficiência, como uma doença que merece tratamento em serviços especiais, delineou-se o ponto de partida para situar a recuperação do deficiente em meio ao desenvolvimento das práticas higienistas, subjacentes à educação em saúde em nosso meio. 24 1.2 Discurso higienista e institucionalização da Reabilitação Segundo COSTA (1987), o Estado tinha função de civilizar e moralizar a população visando assegurar o desenvolvimento das forças produtivas. Objetivando o controle social, o discurso desenvolvido em torno da questão saúde no século XVIII era essencialmente normatizador e regulador. Instrumentalizando a prática, a educação em saúde, historicamente, se fazia marcada por um arraigado e disseminado discurso, literalmente, higienista, segundo COSTA (1987). “A estratégia da educação em saúde foi regulamentar, enquadrar, controlar todos os gestos, atitudes, comportamentos, hábitos e discursos das classes subalternas e destruir ou apropriar-se dos modos e usos do saber estranhos à sua visão do corpo, da saúde, da doença, enfim do ‘bom’ modo de andar a vida” . Na Europa, a prática educativa, no tocante à saúde, era feita recorrendo a elaboração de almanaques, visando difundir cuidados com a higiene que deveriam ser praticados por gestantes, pelas mães, no incentivo de cuidado das crianças, ao lado da preocupação com o controle de endemias (CHIESA; VERÍSSIMO, 2001). As práticas tinham como objetivo ampliar as informações para a população sobre as principais doenças, enfatizando recomendações sobre comportamentos “certos” e “errados”, relacionados à vivência das doenças e sua prevenção. Na segunda metade do século XIX, o crescimento de cidades européias, em virtude da industrialização, favoreceu a precarização das condições de trabalho, moradia e nutrição das classes populares. Este cenário configurava uma ameaça às classes dominantes, seja, pelo risco de rebelião dos populares, cuja aglomeração nos bairros poderia precipitar a organização política, seja, pelas epidemias que já então eram associadas às condições de vida, atingindo em seguida as classes dominantes. Assim, justificavam-se as ações de disciplinamento das classes populares, com difusão de regras de higiene e de condutas morais, e o exercício do controle social e sanitário (COSTA, 1987). 25 No Brasil do século XIX, o discurso sanitário seguiu a tendência européia, concentrando-se nas cidades e desenvolvendo-se em torno da moralidade e da disciplinarização higiênica. O hospital, o hospício, a prisão e a escola despontaram como espaços de atenção, de cuidado e de educação em saúde. Esta época foi identificada por COSTA (1987) como sendo a de fortalecimento do saber técnico do profissional, detentor exclusivo do poder da cura e do controle sobre a doença. Com o desenvolvimento da visão técnico-científica as deficiências foram sendo sistematicamente estudadas, analisadas sob o ponto de vista anatômico, funcional e sintomático. Paralelamente ao desenvolvimento do processo de industrialização, passou-se a se desenvolver uma visão mecanicista do mundo e conseqüentemente, do homem que, tendo o corpo comparado à máquina, se tornava alvo de estudo a partir de sua fragmentação. As ciências e suas produções tecnológicas passaram a buscar a especialização, consubstanciada a normatização do corpo deficiente, no sentido de utilizar capacidades remanescentes de forma a torná-lo útil, produtivo, ou seja, apto ao trabalho. Com base nestes desdobramentos, desde o fim do século XIX e início do século XX, começaram a ser estruturadas as primeiras intervenções ampliadas do Estado, voltadas para a saúde das classes populares, para combater as epidemias de varíola, peste e febre amarela nos grandes centros urbanos, considerando os transtornos que representavam para a economia agro exportadora brasileira (VASCONCELOS, 1999). Neste contexto surgiram as primeiras práticas sistemáticas de educação em saúde direcionada para as classes populares, caracterizadas pelo autoritarismo, a imposição de normas e medidas de saneamento e urbanização, com apoio científico (SMEKE; OLIVEIRA, 2001). As atividades educativas tinham como objetivo mudar as práticas e atitudes dos indivíduos, consideradas inadequadas pelos profissionais, supondo que garantiriam a resolutividade dos problemas de saúde. Estas práticas eram organizadas com aulas ou palestras, sem espaço para a manifestação do educando a menos que fossem a apresentação de dúvidas pontuais a serem respondidas pelos profissionais. Estas 26 posturas traziam a idéia de que a doença se devia à falta de cuidado e desleixo da população. O discurso higienista predominou no campo da educação em saúde durante décadas, podendo ser encontrado, ainda hoje, como orientador de práticas educativas (ALVES, 2005). Vale dizer que após a I Guerra Mundial, diante do grande número de mutilados e inválidos, (re) estruturam-se as práticas de reabilitação que pudessem proporcionar a absorção da mão-de-obra deficiente. Os programas para incapacitados físicos surgiram no Brasil na esteira do movimento internacional de Reabilitação. Os órgãos responsáveis pela divulgação e pela implantação dos serviços de reabilitação eram entidades governamentais e não governamentais. Nesta última vertente, registraram-se a Organização das Nações Unidas (ONU); a Organização Internacional do Trabalho e a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), entre outras, difundindo leis protecionistas aos deficientes mentais e físicos e propondo a implantação de programas especiais para essa população (MANGIA; NICÁCIO, 2001). A grande maioria dos serviços de reabilitação no Brasil foi criada a partir da iniciativa da sociedade civil, constituindo-se em instituições assistenciais, beneficentes e filantrópicas. O setor público realizaria propostas pontuais e específicas (como os Centros de Reabilitação Profissional), limitando a distribuição de subsídios a instituições beneficentes e filantrópicas de tratamento e reabilitação do deficiente (OLIVER, 2000). Por volta dos anos 20, a organização da atenção aos trabalhadores daria origem ao desenvolvimento da assistência previdenciária. Num contexto de grave crise econômica mundial, tensões políticas e sociais internas, sob a crise da economia de exportação, o Brasil buscava uma nova forma de inserção no mundo capitalista. Para além das instituições especiais, a partir de 1930, a população começou a organizar-se e a criar instituições clínicas, centros de reabilitação, revitalizando-se as práticas de recuperação do deficiente nos serviços assistenciais – todas de natureza privada. Tal postura, condizente com o discurso higienista prevalente, comportava, na perspectiva da educação em saúde "a expressão ensino emendativo, de emendare (latim), que significa 27 corrigir falta, tirar defeito e traduziu o sentido diretor desse trabalho educativo em muitas das providências da época” (JANNUZZI, 2004). Diante do assistencialismo, que privilegiava ações curativas, com uma visão biologicista do processo saúde doença, a reabilitação se apóiava no caráter “emendativo”, no âmbito da educação em saúde vigente. Essa vertente, voltada para a individualização da assistência, encontrou pleno desenvolvimento no período pós Segunda Guerra Mundial, associada à profissionalização do campo específico de conhecimentos e práticas. 28 1.3 Reabilitação na assistência curativa A II Guerra, no contexto da reorganização econômica mundial, marcou um período de reorganização dos serviços de reabilitação, com a criação de propostas mais especializadas, que se fez acompanhar da estruturação das profissões correspondentes como: fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, técnicos de prótese e órtese, dentre outras. Diante da necessidade de terapia ocupacional em hospitais civis e militares, os primeiros serviços especializados surgiram dentro dos asilos e hospitais gerais, que foram se transformando em entidades de reabilitação. Enquanto o movimento da reabilitação se originava, principalmente entre os países participantes da II Guerra, como conseqüência do grande número de incapacitados físicos, no Brasil, a preocupação se voltava para os pacientes crônicos, com deficiências congênitas, acidentados no trabalho, no trânsito ou doenças ocupacionais. Com a crise do modelo de substituição de importações na década de 50, o sistema previdenciário paralelamente ao desenvolvimento industrial subsequente, cresceu em volume de recursos, em aparato institucional, aumentando a demanda por serviços médicos assistenciais, vinculados às instituições previdenciárias, que se expandiram nos anos subseqüentes, em detrimento da saúde pública (COHN, 1996). Nessa vertente proliferaram as primeiras instituições brasileiras especializadas no atendimento de pessoas deficientes e doentes mentais (SOARES, 1987). Em São Paulo foram criadas instituições como o Lar Escola São Francisco – 1943, voltado às crianças portadoras de deficiência física; a Fundação Para O Livro Do Cego No Brasil – 1943, iniciando o ensino de crianças cegas; a Associação De Amigos Da Criança Defeituosa (AACD) – 1950, destinada a tratar crianças portadoras de seqüelas de poliomielite, paralisia cerebral ou defeitos congênitos (SOARES, 1987; ROCHA, 1990). 29 No plano internacional, a Organização Mundial do Trabalho, colocava a necessidade de ampliar a atenção ao deficiente ao lado da preocupação com a prestação da assistência ao trabalhador. Nesse contexto, se inscreveu a renovação da questão da assistência ao deficiente, lastreando o movimento de sua expansão de atenção ao deficiente na rede assistencial. Em 1960 foi criada a Lei Orgânica da Previdência Social que propunha a universalização dos benefícios prestados pelos Institutos, de aposentadorias e pensões, que passaria a ser assumida pela Previdência Social, com institucionalização do INPS. Nesta condição se colocava a extensão da assistência médica individual aos seus beneficiários, dentre os quais se incluiriam os deficientes. Na década de 60, tornou-se marcante a promoção de mudanças no padrão da relação das sociedades com o deficiente, estabelecendo-se uma ruptura com a institucionalização segregacionista, de caráter asilar. O fracasso destes empreendimentos no sentido da incorporação do deficiente, aliados aos elevados custos de sua manutenção, induziu a idéia de desinstitucionalização dos pacientes (ARANHA, 1995). Nesse movimento havia que se providenciar a possibilidade de atendimento dos deficientes na rede assistencial regular. Tendo por base, entretanto a consideração da deficiência como um desvio da normalidade, estas disposições propiciaram a restrição do atendimento, ao plano curativo, envolvendo a avaliação, tratamento e encaminhamentos do paciente (ARANHA, 1995). Estas mudanças no modelo de assistência aos deficientes, tiveram seu correlato no modelo de História Natural das doenças de LEAVELL e CLARK (1965). Visando as ações preventivas, o modelo previa três níveis de prevenção. A prevenção primária (primeiro nível) incorporava medidas de Promoção de Saúde e Proteção Específica. As primeiras dirigidas à população em geral, não se restringiam a uma doença em especial. Nessa categoria o autor (LEVELL e CLARK, 1965) destaca a educação e motivação sanitária destinada a saúde em geral, envolvendo boa nutrição, o atendimento às necessidades afetivas, educação sexual, orientação pré-nupcial e parental, boas condições de moradia, trabalho e lazer. Já a proteção específica, destinada aos indivíduos “sadios”, teria em vista estabelecer barreiras contra agentes do meio, pressupondo, portanto, a consideração do risco de ocorrência de doenças específicas. 30 Na prática dos serviços, observava-se, isto sim, uma separação entre a atuação curativa e preventiva, sendo privilegiada na atenção hospitalar o tratamento e a reabilitação dos pacientes, enquanto que os centros de saúde se voltariam para a educação para a proteção específica - e, secundariamente, à promoção de saúde, cujo equacionamento envolveria, inclusive, atuações no plano das políticas (GONDENBERG, 1988). Reafirmaram-se, neste contexto, as práticas preventivistas ao lado da ampliação das atividades relacionadas com a prática assistencialista da reabilitação. A consideração da Promoção da Saúde acabaria por se interpor, juntamente com o desenvolvimento da Reforma Sanitária, que tomava vulto na seqüência dos acontecimentos. As tensões que se seguiam ao governo militar, comportariam uma reorganização da assistência, paralelamente ao processo de redemocratização do país. Em meio às resistências ao centralismo do governo, se desenvolveu a disposição de romper com o modelo autoritário. Destacou-se a propósito a Educação Popular em Saúde (VASCONCELOS, 2001), priorizando a relação educativa direta com a população. Rompendo com a verticalidade da relação entre profissional usuário buscava-se pelo diálogo, a compreensão e explicação do saber popular. Como desdobramento dessa vertente, nos serviços de saúde o usuário era reconhecido como um sujeito que tinha um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado, capaz de participar de uma situação dialógica com o serviço de saúde e de desenvolver uma análise crítica sobre a realidade, que o capacitaria para o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento (VASCONCELOS, 2001). Tal reconhecimento seria potencializado em anos subseqüentes com a institucionalização do SUS e da reconsideração correspondente do conceito de Promoção de Saúde. 31 1.4 Reabilitação diante das novas perspectivas No final da década de 70 e início dos anos 80, surgiram no Brasil movimentos organizados pela luta dos direitos das minorias, entre eles o das crianças e adolescentes e dos deficientes (BRASIL, 1993). Considerado o Ano Internacional do Deficiente, em 1981, foi aprovado na Assembléia Geral das Nações Unidas, o Programa de Ação Mundial para os deficientes, observando-se os avanços no tocante às regulamentações sobre os direitos e a assistência a esta população. Em meados dos anos 70, o desencadeamento da Reforma Sanitária, envolvia críticas à medicina preventiva e comunitária, ao lado da busca de outro modelo explicativo do processo saúde-doença. Ao paradigma da multicausalidade se acrescentava a consideração da dimensão social da doença. Preconizando a atenção às demandas da população o novo modelo se pautava pela constituição de um sistema integrado, ampliando o acesso em todos os níveis de atenção (HEIMANN; MENDONÇA, 2005). Estas proposições se concretizaram com a institucionalização do SUS, a partir da Constituição de 1988. Retrocedendo no tempo, junto com a expansão da cobertura somada à crise internacional, que ocorreu nos países centrais, desde os anos 70, se instalou um período de recessão. À entrada dos anos 80, diante das medidas de contenção de despesas e a compreensão dos gastos com a assistência médica, foram criadas as AIS (Ações Integradas de Saúde) e posteriormente os SUDS que anunciariam as propostas contempladas no SUS - acompanhando a luta pela democratização e melhoria dos direitos sociais e qualidade de vida segundo (CONH, 1996); (HEIMANN E MENDONÇA, 2005). Na contramão da concepção restrita do biologicismo, foram criticadas as práticas pedagógicas persuasivas, a transmissão verticalizada de conhecimentos, refletindo no autoritarismo entre o educador e o educando. Assim como a negação da subjetividade no processo educativo começou a ser questionada. Passou a existir uma preocupação 32 com a autonomia dos sujeitos, ou seja, com a constituição de sujeitos sociais capazes de reivindicar seus interesses (SMEKE; OLIVEIRA, 2001). Nessa vertente a Promoção de Saúde, foi ressignificada. LALONDE (1974) afirmava que, até aquele momento, a maioria dos esforços da sociedade para melhorar a saúde, e a maior parte dos gastos em saúde, se concentraram na organização do cuidado médico. Destacava-se a atenção integral à saúde e, tendo como eixo principal o apoio aos indivíduos e aos grupos sociais para que assumissem mais o controle de sua vida e saúde (VASCONCELOS, 1999). A Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde em 1978, em Alma –focalizaria a primeira aproximação à Atenção Primária (HEIMANN; MENDONÇA, 2005). O eixo da assistência possibilitaria maior integração entre ações preventivas e curativas tornando mais permanente a discussão sobre hierarquização e territorialização a assistência à saúde - os primórdios do Sistema Único de Saúde (VASCONCELOS, 1999). Nesse sentido, o SUS se norteou pela Universalidade, Eqüidade e Integralidade1(BRASIL, 1990). A partir da Reforma Sanitária e do modelo assistencial definido pela constituição de 1988 - o Sistema Único de Saúde (SUS), o Estado direcionou as ações governamentais no sentido de criar uma rede de serviços de saúde, com maior abrangência e com propostas mais integradas à vida e às necessidades da comunidade, de forma que fosse possível garantir o acesso de toda população a estes serviços. 1 A Universalidade envolve a garantia de atenção por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. O individuo tem direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e federal. A Eqüidade pressupõe assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade de cada caso.Todo o cidadão é igual perante o SUS e deve ser atendido conforme suas necessidades. A Integralidade postula que o reconhecimento nas práticas dos serviços que o individuo é um todo indivisível e integrante de uma comunidade, as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas, as unidades prestadoras de serviços, com seus diversos graus de complexidade, formam também um todo indivisível configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. 33 Este direcionamento deveria evitar a segregação dos deficientes ou de doenças crônicas em serviços fechados e de alto custo, por oferecer o atendimento às suas necessidades em locais próximos a sua residência e integrados à comunidade, possibilitando a manutenção dos vínculos familiares. No novo texto da Constituição Federal, foi possibilitada a criação de vários Conselhos para se pensar, propor e lutar pelos direitos dos deficientes, agora a representação de deficientes. Uma das ações governamentais neste sentido foi a implantação de uma rede de serviços públicos de Saúde Mental com diversos níveis de complexidade, constituída de atendimentos em Unidades Básicas de Saúde (UBS), assim como a criação Centros de Convivência e Cooperativa (CECCO) que passariam a oferecer diversas atividades em locais públicos, com objetivo de possibilitar a convivência dos diversos segmentos populacionais marginalizados, como deficientes, doentes mentais, idosos e moradores de rua, com as demais pessoas da região - entre outras medidas visando a redução das internações em Hospitais Psiquiátricos. Outra conquista importante da época foi a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que gerou a criação de órgãos responsáveis por fazer cumprir as regras de atenção a esta população, tendo também a diminuição de internações como um dos objetivos principais. Em relação à questão da deficiência foram redigidos diversos documentos sobre a Atenção à Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência no Sistema Único de Saúde, nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) que passaram a constituir referências aos direitos desta população. As diretrizes para a assistência aos deficientes redigidas pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, subsidiando a implantação de uma Rede de Serviços de Atenção à Saúde dos Deficientes da qual fariam parte, além das já mencionadas Unidades Básicas de Saúde e Centros de Convivência e Cooperativa, a instalação de Ambulatórios de Especialidades, Centros de Reabilitação, Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, Hospitais Gerais, Hospitais de Retaguarda, entre outros (BRASIL, 1993). 34 Nesse movimento, a desinstitucionalização ganharia nova dimensão, não só no sentido da incorporação da minoria, mas ampliando a atenção ao deficiente no âmbito da comunidade voltado para a constituição da autonomia. Na década de 1990, o Ministério da Saúde reuniu alguns coordenadores, de experiência, na atenção primária à saúde centrada nas dimensões da comunidade e da família para discutir um projeto nacional de reorientação dos serviços básicos de saúde, sendo então lançado o Programa de Saúde da Família. Contribuindo para a construção e consolidação do SUS, a estratégia do PSF traz, no centro de sua proposta, a expectativa relativa à reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica (BRASIL, 1997). “Ao contrário do modelo tradicional, centrado na doença e no hospital, o PSF priorizava ações de proteção e promoção da saúde dos indivíduos e da família, tanto adultos, quanto crianças, sadios ou doentes de forma integral e continua” (BRASIL, 1994). Este Programa deslocava, assim, a proposta de medicina familiar que tinha a preocupação centrada no médico para uma preocupação com toda a equipe de saúde envolvida com a atenção no nível primário – preconizada pela reunião de Alma Ata, realizada em 1978 que propunha Saúde para Todos no Ano 2000. Neste contexto a questão da Promoção de Saúde passaria a ser requalificada como perspectiva da implantação da atenção renovada conforme preconizada pelo PSF. Esta proposta foi lastreada pela I Conferência Internacional em Promoção de Saúde, em 1996, em Ottawa no Canadá, patrocinada pela OMS, Ministério da Saúde e Bem Estar do Canadá e Associação Canadense de Saúde Pública, deu origem a Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde. Marco fundamental na história da Saúde Pública, a carta reconheceu como "pré-requisitos fundamentais para a saúde: a paz, a educação, a habitação, o poder aquisitivo, um ecossistema estável, e conservação dos recursos naturais e a equidade" (BRASIL, 1996). Neste contexto a Promoção da Saúde foi conceituada como "o processo de capacitação na comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo". A carta de Ottawa propunha cinco campos de ação: elaboração e 35 implementação de “políticas públicas saudáveis”; criação de “ambientes favoráveis à saúde”; reforço da “ação comunitária”; desenvolvimento de “habilidades pessoais” e “reorientação dos sistemas de Saúde”. Quando referia o “desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais”, segundo BUSS (2003) esse componente resgatava a dimensão de educação em saúde, avançando para a idéia de empowerment, no plano individual, ou seja, no processo de capacitação e de consciência política. A segunda Conferência Internacional de Saúde (Adelaide, 1988), tinha como tema principal as políticas públicas saudáveis, tendo em vista avaliar o impacto destas políticas. Segundo BUSS (2003) a terceira Conferência Internacional (Sundsval, 1991) foi a primeira a focar a dependência entre saúde e ambiente em todos os seus aspectos, e insistindo na elaboração de propostas de ação capazes de viabilizar a criação de ambientes favoráveis. A Conferência de Jakarta (1997), por sua vez, reafirmava a posição central da participação popular e do empowerment, realçando, para isso, a importância do acesso à educação e à informação. A partir destas conferências, a promoção da saúde passou a ser cada vez mais considerada nas políticas de saúde de diversos países. Na América Latina, a OPAS colocou-a como prioridade programática, definindo-a como "a soma das ações da população, dos serviços de saúde, das autoridades sanitárias e de outros setores sociais e produtivos, dirigidas para o desenvolvimento de melhores condições de saúde individual e coletiva" (MENDES, 1996, p.246-247). De acordo com BUSS (2003, p.34-35) a “promoção de saúde apresenta-se como uma estratégia de mediação entre as pessoas e seu ambiente, combinando escolhas individuais com responsabilidade social pela saúde (as chamadas políticas saudáveis)”. Assim, as estratégias de promoção de saúde (entre elas as atividades educativas) se tornavam integradas e intersetoriais, bem como supunham uma efetiva participação da população desde sua formulação até a intervenção. 36 BUSS (2003) citando Fernández e Regules referia que a promoção de saúde “é uma estratégia complementar, não de substituição das demais estratégias em saúde pública, mas (e não há contradição) por sua vez integral, por afetar a todos os elementos que até agora vinham intervindo, aportando novos instrumentos e reorientando suas finalidades” (p.25). Para CZERESNIA (2003) a idéia de Promoção de Saúde envolvia O fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiciplicidade dos condicionantes da saúde. Promoção, nesse sentido, vai além de uma aplicação técnica e normativa, aceitando-se que não basta conhecer o funcionamento das doenças e encontrar mecanismos para o seu controle. Essa concepção diz respeito ao fortalecimento da saúde por meio da construção de capacidade de escolha, bem como a utilização do conhecimento com o discernimento de atentar para as diferenças e singularidade dos acontecimentos. (p.47-48) De acordo com BUSS (2003) Entre os muitos desafios colocados para aqueles que demonstram interesse ou têm experiência profissional no campo da promoção da saúde esta o aperfeiçoamento do conceito, método e práticas desta área, que tem sido avaliada de forma promissora por todos aqueles que, insatisfeitos com os modelos assistenciais vigentes, buscam alternativas mais eficazes para estender a vida com qualidade e assim contribuir com a plena realização do potencial de saúde de indivíduos e comunidade em todo mundo.(p.37). Nos documentos elaborados pelo Ministério da Saúde, a promoção da saúde aparecia sempre em destaque, como parte da lista de elementos e princípios definidores do Programa de Saúde da Família. Com efeito, se a lógica do PSF era a da responsabilização pela saúde de uma determinada população, o serviço deveria necessariamente, superar as preocupações unicamente curativas do modelo tradicional para buscar a promoção da saúde e da qualidade de vida de sua clientela (MATTOS, 2001). A perspectiva de que as políticas de saúde se materializavam na “ponta” do sistema, ou seja, mediante ação de atores sociais e suas práticas no cotidiano dos serviços (PINHEIRO; LUZ, 2003), foi relevante para a reflexão crítica sobre os processos de trabalho em saúde, visando à produção de novos conhecimentos e desenvolvimento de novas práticas de saúde consoantes com os princípios e diretrizes 37 do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido se inscreve a indagação sobre as condições de implantação do PSF levando em conta a sua instalação em São Paulo, particularmente no tocante à reabilitação, enquanto medida da qualidade da incorporação das diretrizes relativas à Promoção de Saúde – na qual se inscrevem as propostas educativas. 38 1.5 Reabilitação: Promoção de Saúde e práticas educativas O PSF, em São Paulo, se instalou em 1996, integrando o projeto QUALIS I2 (Qualidade Integral a Saúde) a partir de um convênio entre o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e a Casa de Saúde Santa Marcelina. Em 2002, as unidades estaduais do Projeto Qualis, foram absorvidas pela prefeitura. Atualmente o PSF conta com 28 unidades de Saúde da Família, localizadas na região leste do Município de São Paulo, com 95 equipes responsáveis pelo atendimento de, aproximadamente, 115 mil famílias ou 336 mil pessoas. A atenção à família no atendimento básico de saúde é efetuada por quatro equipes: a da Família, da Saúde Bucal, da Saúde Mental e, mais recentemente, da Saúde do Deficiente/ Reabilitação. As atribuições dessa equipes3 são amplas. Elas visam proporcionar uma atenção integral às famílias que estão sob sua responsabilidade, implicando identificar os problemas de saúde prevalentes, desenvolver processos educativos em saúde, dar ênfase às ações de prevenção e promoção da saúde, incentivar ações comunitárias intersetoriais, bem como fomentar a participação da população local na solução dos seus problemas e no exercício do controle social (BRASIL, 2000) A Equipe de Saúde do Deficiente/Reabilitação tem como objetivo estabelecer no Programa de Saúde da Família uma política e uma cultura de defesa dos direitos dos deficientes, com o objetivo de favorecer o desmonte dos processos de exclusão social desta população, bem como constituir uma intervenção que articule prevenção às deficiências, reabilitação e educação, envolvendo a mobilização de órgãos governamentais e não-governamentais. 2 3 Outros QUALIS (II,III,IV) também estabeleceram convênios. Cada equipe de saúde é composto por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem além de cinco ou seis agentes comunitários de saúde. Uma equipe atende entre 1000 a 1200 famílias. Esta equipe possui potencial para identificar problemas coletivos, que não são exclusiva do setor saúde, mas que são realidade na saúde da comunidade.Nesse sentido deve ir a busca de parcerias com outros setores, como educação, ação social, meio ambiente, trabalho/renda e outros. 39 Por estar atrelada ao PSF, a Equipe de Saúde do Deficiente/ Reabilitação4 estabelece compromisso com a integralidade da assistência oferecida (atendendo desta forma toda a demanda das UBS, não só deficientes5). As ações dos profissionais desta equipe podem ocorrer nas residências dos usuários (geralmente aqueles com dificuldades de acesso ao serviço de saúde por meios próprios), na comunidade (em sociedades de bairro, escolas, clubes e igrejas), nas Unidades Básicas de Saúde da Família e no próprio ambulatório de referência. As ações estão voltadas aos problemas detectados pelas Equipes de Saúde da Família, sendo as prioridades definidas em conjunto com a Equipe de Família. O serviço de reabilitação na Coordenadoria Leste6 passa por reestruturação desde 2005, apoiado pela Área Temática Saúde da Pessoa com Deficiência/ Cogest-SMS (Secretária Municipal da Saúde), tendo como objetivos articular políticas, diretrizes e estratégias para o desenvolvimento da atenção integral a saúde da população com deficiência no Município de São Paulo e implementar ações de promoção de saúde, prevenção e diagnóstico continuado das deficiências e reabilitação da pessoa com deficiência. ______________________________________________________________________ 4 A Equipe de saúde do deficiente/ reabilitação teve início em 2000 através de uma parceria do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo com a Secretaria Estadual de Saúde. Posteriormente o Projeto piloto foi ampliado com a criação de um grupo técnico de trabalho com membros da Secretaria Estadual da Saúde, Fundação Zerbini, Casa de Saúde Santa Marcelina, Universidade de São Paulo – curso de Terapia Ocupacional, PUC-SP – curso de Fonoaudiologia e APAE-SP, que teve como objetivo estender a proposta para a região Leste da Cidade de São Paulo, PSF/Casa de Saúde Santa Marcelina. 5 Acredito que este não seja o melhor nome para equipe, pois os profissionais não atendem exclusivamente deficientes. 6 A Coordenadoria Leste conta com a equipe de saúde do deficiente/reabilitação (parceria com o Santa Marcelina) nas supervisões de Ermelino Matarazzo, São Miguel, Itaim Paulista, Guainazes, Penha, Itaquera, Cidade Tiradentes, São Mateus. Totalizando 8 supervisões, 22 Unidades Básicas de Saúde/Programa de Saúde da Família. 40 Nesta organização a equipe7 realiza as seguintes atividades: atendimentos individuais, atendimentos em grupo, atendimento e visita domiciliares, adaptação e confecção de objetos para atividades da vida diária e prática, confecção e adequação de órteses, reuniões com as equipes de família, bucal e mental, organização e planejamento das atividades, divulgação do projeto, trabalho administrativo (ficha de produção, prontuários, entre outros), atividades de inclusão e atividades educativas em grupo. A atenção básica é um cenário privilegiado para o desenvolvimento da Educação em Saúde, uma vez que é um dos possíveis recursos pelo qual o conhecimento científico atinge a vida cotidiana das pessoas por intermédio dos profissionais de saúde (ALVES, 2005). A propósito, a portaria n.2.023/GM de 2004 definiu como uma das responsabilidades dos municípios e do Distrito Federal na gestão e execução da atenção básica a saúde o “desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo saúde-doença da população e na qualidade de vida” (Brasil, 2004). Segundo VASCONCELOS (1999), a Secretaria Municipal da Saúde8 tem o discurso de mudança da prática biologizante, porém, existe forte cobrança de maior produtividade de atendimentos individuais, limitando disponibilidades para as atividades educativas. O repasse financeiro do Ministério da saúde aos municípios depende, essencialmente, do volume de atendimentos individuais prestados. Diante da complexidade do quadro de atribuições da equipe de reabilitação, no contexto de sua realização, uma das questões que se coloca é a da fidelidade do programa para com seus princípios básicos, entre eles, o da promoção da saúde. A propósito, ao lado das condições institucionais do exercício das práticas educativas que no âmbito da implantação do PSF, coloca-se a preocupação com a capacitação profissional. 7 A Equipe, atualmente conta com 29 profissionais de saúde na Parceria com a Casa de Saúde Santa Marcelina são 10 fisioterapeutas, cinco terapeutas ocupacionais e cinco fonoaudiólogos. O serviço é organizado a partir dos profissionais distribuídos em duplas ou trios que são referencia para 8 a 10 Equipes de Família. 8 A SMS sugere diretrizes para os profissionais da reabilitação que estabelece parâmetros: 60% da carga horária em atendimento terapêutico, 10% em atividade de promoção e proteção de saúde. 41 A Educação em saúde é função de todos os profissionais que atuam no PSF (BRASIL, 2004) inclusive dos que fazem parte da Equipe de Saúde do Deficiente/Reabilitação. Espera-se que elas estejam capacitadas para propiciar a assistência integral e contínua da comunidade assistida, em consonância com os referenciais teóricos e metodológicos subjacentes às transformações da prática educativa. Os referenciais devem propiciar a construção de um projeto educativo que responda às bases conceituais e objetivas da assistência: integralidade, tratamento do indivíduo como sujeito integrado a família, ao domicílio e a comunidade e o aumento da capacidade resolutiva da rede básica de atenção e a vinculação dos profissionais e serviços de saúde com a comunidade, tendo como perspectiva promover a ação intersetorial. A prática educativa no PSF, porém, não conta necessariamente com um espaço restrito e definido para o seu desenvolvimento. Antes disso, adverte-se os profissionais que devem oportunizar seus contatos com os usuários, ou seja, educar para a saúde implica ir além da assistência curativa, seja em espaços educacionais, a exemplo dos grupos educativos, ou espaços informais como a consulta médica na residência das famílias por ocasião da visita domiciliar, expressando a assimilação do princípio da integralidade. Toda ação em saúde é uma ação educativa. O processo de promoção-prevençãocura-reabilitação é também um processo pedagógico, no sentido de que tanto profissional de saúde quanto cliente-usuário aprende e ensina. Estes conceitos podem mudar efetivamente a forma e os resultados do trabalho em saúde, transformando pacientes em cidadãos co-participantes de um processo de construção da saúde L’ABATTE (1994). Mesmo considerando que toda ação em saúde é uma ação educativa, o estudo focaliza uma das formas de ação educativa em saúde: as atividades educativas grupais, no âmbito da promoção de saúde. Nesse eixo se circunscreve a indagação sobre as condições de seu exercício entre profissionais da reabilitação, ressaltando o caráter inovador do programa. Nas atividades educativas grupais o profissional deve considerar que nas classes populares há uma diversidade de grupos e para otimizar uma ação educativa é 42 necessário planejar, reconhecendo esta diversidade, ter escuta, observar e desenvolver uma interação com o outro. Isto implica tanto numa expertise técnica, como numa disposição teórico-metodológica frente ao processo de ensino - aprendizagem, coerente com as diretrizes de implantação do PSF. Do ponto de vista instrumental, o exercício dessas práticas coloca em questão a capacitação para a sua realização, envolvendo um domínio do planejamento enquanto sistemática de organização. e operacionalização. Segundo PADILHA (2002): Planejar, em sentido amplo é um processo que visa dar respostas a um problema estabelecendo fins e meios que apontem para a sua superação, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando em conta os contextos e pressupostos filosóficos, cultural, econômico e político de quem planeja e com que se planeja (p. 63) Para além do planejamento normativo, ROVERE (1993) destaca a variante do planejamento participativo que busca, em última instância, o comprometimento dos vários atores sociais com um determinado projeto institucional. Ao lado dessas variantes, ressalta-se que o planejamento implica, sobretudo, no exercício de uma racionalidade à busca de maior eficiência/eficácia. Isto pressupõe o entendimento do planejamento como um processo capaz de incorporar a avaliação como um feedback necessário à reavaliação constante (VASCONCELOS, 1999; PADILHA, 2002; GOLDENBERG, 2005). Isso equivale dizer que a avaliação deve subsidiar todo o processo, fundamentando novas decisões, direcionando os destinos do planejamento e reorientando-o quando necessário. Concretamente, ”algumas atividades educativas e comunitárias isoladas começam e terminam sem desdobramentos, o que pode fortalecer a visão do profissional de que as práticas de educação em saúde são enfeites na rotina de atendimentos, com aparência progressista, mas sem resultados significativos” (VASCONCELOS,1000). 43 O que parece existir, na verdade, é uma grande dificuldade de transpor para a prática o discurso da Promoção e pouca valorização de estudos e experiências nesta área (ALBUQUERQUE, 2006). Num outro plano, CHIESA E VERÍSSIMO (2001) afirmam que a organização das ações educativas demonstra fragilidade na operacionalização, devido à falta de discussão, sobre referenciais teóricos adequados para estruturação nos modelos assistenciais adotados. “Há no educar muito mais do que atitudes e técnicas educativas ou conteúdos importantes que devem ser aprendidos. Tem que existir o compromisso pessoal com a educação” (FREIRE, 1979). Relativisando a dimensão da questão, não se pode desconsiderar o contexto social no qual se inscrevem as práticas educativas grupais. De acordo com ALVES (2005), “o desenvolvimento de promoção de saúde e, conseqüentemente, das ações educativas, precisam ter um papel de destaque, que funcione como um eixo condutor do processo de trabalho e da prática dos profissionais do PSF. Entretanto, a visão assistencial ainda predomina nos documentos oficiais sobre o PSF. Prevalece, assim, as condições para o exercício do modelo tradicional de ensino, sob o qual se inscrevem as práticas higienistas - fundamentadas no referencial biologicista do processo saúde-doença, que valoriza a intervenção curativa (CHIESA E VERÍSSIMO, 2003). Privilegiando o caráter normativo as práticas educativas utilizam informações verticalizadas que dizem quais os comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde. Os usuários são tomados como indivíduos carentes de informação em saúde e a relação estabelecida entre profissionais e usuários é assimétrica, um tem o poder do saber técnico cientifico, enquanto o outro necessita ser informado. A comunicação tem um caráter transmissivo, na qual o profissional assume uma posição paternalista, explicitando ao outro hábitos e comportamentos saudáveis, o que fazer e como fazer para manter a saúde. Pressupõe-se que a partir da informação obtida os usuários serão capazes de tomar decisões para a prevenção de doenças e agravos, assim como assumir novos hábitos e condutas. Na perspectiva das estratégias, o profissional dá uma aula (ou palestra) para a população usuária, que na maioria das vezes só escuta. As informações são repassadas 44 de forma prescritiva, como se estivesse explicando uma receita em público, sem considerar o conhecimento pré-existente do usuário ou mesmo no seu contexto social, emocional e cultural. Muitas vezes o usuário é culpabilizado por sua própria doença ou seu agravamento. Mas, a principal crítica a este modelo, por referência às disposições do PSF, é a não consideração dos determinantes psicossociais e culturais dos comportamentos de saúde. Ao tomar o usuário como objeto das práticas educativas e carentes de um saber sobre a saúde perde-se de vista que os comportamentos são orientados por crenças, valores, representações sobre o processo saúde-doença (ALVES, 2005). Nesse sentido se impõe pensar o modelo dialógico como postura alternativa, conseqüente com a concepção de promoção de saúde no âmbito do PSF. No modelo dialógico as práticas educativas são sensíveis às necessidades da população; trabalha-se com a perspectiva de sujeitos das práticas educativas. Neste modelo o sujeito é reconhecido como portador de um saber que, embora diverso do saber técnico científico, não é deslegitimado pelos serviços. (ALVES, 2005) O objetivo da educação dialógica não é informar para a saúde, mas de transformar os saberes existentes, visando o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde. A estratégia valorizada por este modelo é a comunicação dialógica, que visa a construção de um saber sobre o processo saúdedoença-cuidado que capacite os indivíduos a decidirem quais as estratégias mais apropriadas para promover, manter e recuperar a saúde (CHIESA E VERÍSSIMO, 2003). Na comunicação dialógica valoriza-se o espaço das relações interpessoais estabelecidas nos serviços de saúde, como contextos de práticas de saúde. O respeito ao saber previamente existente na cultura, a idéia de diálogo, de construção coletiva do conhecimento e de ação participativa na busca de um cidadão saudável e feliz, com autonomia, deveriam representar uma premissa da promoção de saúde – que está muito longe de ser efetivada nos sistema de saúde, como afirma ALBUQUERQUE (2006). Diante da matriz tecnicista do ensino profissional - que se aplica, em particular, para os integrantes da equipe de reabilitação - GUEDES (1990) considera que a formação 45 dos profissionais na área tem ênfase curativa. O autor destaca que os cursos de graduação habilitam os alunos para a atuação no nível terciário. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996), objeto de longa discussão nos anos 90, buscou assegurar maior flexibilidade à organização dos cursos de graduação. Priorizando a formação generalista, a nova proposta destaca a necessidade de formar profissionais da saúde humanistas e técnicos competentes, que possuam conhecimentos, habilidades psicomotoras, atitudes, comportamentos éticos e compromisso social, tendo em vista responder às demandas sociais de forma condizente com a proposta de implantação do SUS. A propósito, as Diretrizes Curriculares (2001) especificam competências e habilidades relacionadas, na área da saúde, às ações de prevenção, promoção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo, assim como a capacidade de aprender continuamente; aprender e assumir responsabilidades com sua própria educação e com o treinamento das futuras gerações de profissionais. Diante da concomitância, entre a instalação da Lei e do PSF em São Paulo, não se pode pretender que os profissionais envolvidos no Programa de Reabilitação deixem de sentir o peso da formação convencional. Nesse sentido o incentivo à participação comunitária e desenvolvimento do controle social sobre os serviços de saúde, também, colocam em xeque as tradicionais relações sociais distanciadas, sem envolvimento emocional, tecnicistas e autoritárias, tão presentes nos serviços de saúde (VASCONCELOS, 2001). Sendo notório o desencontro entre a formação e os requerimentos profissionais as práticas no âmbito do PSF ressalva-se que nas situações de implantação da lei, não basta a formação dos profissionais para o exercício da medicina de família, na perspectiva em que foi implantada em países europeus, no Canadá ou em Cuba; provavelmente a formação não se esgotará em nível de graduação, mesmo que as instituições de ensino passem por grandes transformações para formar profissionais “generalistas”. Outros conhecimentos, competências e habilidades provavelmente precisarão ser desenvolvidos após a graduação, em nível de especialização (MARSIGLIA, 2004). 46 Vale dizer que o documento da Secretaria de Estado da Saúde, 1997, sobre a estratégia do Programa de Saúde da Família refere a necessidade contínua de capacitação, tendo em vista a adequação da atuação dos profissionais com a nova proposta. Nesse sentido se inscreve a criação dos Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente para o pessoal de Saúde da Família ao lado de cursos como o Aprender SUS e VerSUS (ALMEIDA,2003). A propósito, é necessário reconhecer os desafios de realizar as práticas educativas dialógicas no cotidiano dos serviços de saúde. Para os profissionais de saúde, o saber técnico acumulado ao longo da formação é um instrumento de trabalho; é a partir dele que as decisões são tomadas no exercício da prática. Reconhecer-se portador de um saber inacabado, implica em assumir um confronto, na maioria das vezes angustiante, em vista das próprias limitações, impotências e frustrações (VASCONCELOS, 2001) – o que impõe pensar no requerimento percebido pelos profissionais, no sentido da realização de cursos de capacitação / atualização nesse campo de atividades. Em vista da complexidade do quadro subjacente às práticas educativas grupais, tanto de ordem instrumental quanto de ordem teórico metodológica, coloca-se a disposição de focalizar as condições de seu exercício junto à equipe de reabilitação, no âmbito das unidades básicas de saúde, tendo por suposto os requerimentos das diretrizes do PSF quanto á Promoção de Saúde. 47 2 Objetivos 2.1 Objetivo Geral Caracterizar as práticas educativas grupais dos Profissionais da Equipe de Saúde do Deficiente/Reabilitação (Fonoaudiólogos, Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais) no Programa de Saúde da Família, tendo em vista subsidiar proposta de aprimoramento. 2.2 Objetivos Específicos Identificar o perfil dos profissionais de reabilitação no Programa de Saúde da Família e o exercício da prática educativa grupal. Qualificar as práticas grupais de educação em saúde dos profissionais de Reabilitação, apontando os limites e potencialidades associadas ao seu exercício. 48 3 Metodologia 3.1 Delineamento do estudo Considerando que as práticas na saúde guardam relação com as políticas vigentes e os cenários institucionais que circunscrevem a atuação profissional, de um lado, com a capacitação desses atores, de outro lado, nos detivemos, para efeito do presente trabalho, na consideração desta última vertente da questão. Focalizando a perspectiva dos sujeitos envolvidos com a reabilitação no PSF, privilegiamos a abordagem qualitativa que, segundo Minayo, implica “considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados” (MINAYO, 1998, p.22). Diante dessa disposição, optamos pela realização de um levantamento junto aos profissionais que atuam na Equipe de Saúde do Deficiente/Reabilitação na Coordenadoria de Saúde Leste/ Santa Marcelina. Atualmente compõem este quadro: 5 Fonoaudiólogos, 10 Fisioterapeutas e 4 Terapeutas Ocupacionais O estudo comportou três movimentos. Num primeiro momento, focalizamos o perfil profissional e sua formação no tocante à atividade educativa, sendo caracterizada uma prática educativa grupal recente. Num segundo movimento, buscamos identificar, junto aos profissionais de reabilitação, as concepções e modelos de educação que orientam as práticas educativas. Finalmente, no terceiro movimento, buscando subsidiar uma proposta de capacitação, focalizamos os limites e potencialidades do exercício das práticas educativas no âmbito do Programa de Saúde da Família (PSF). 3.2 Perfil profissional e práticas educacionais A incursão no primeiro movimento de investigação levou em conta informações colhidas a partir da aplicação de um questionário que consta do ANEXO 1. 49 Dos dezoito profissionais da equipe de reabilitação, das unidades básicas/PSF, coordenadas pela Casa de Saúde Santa Marcelina, um se recusou a participar do estudo e cinco não responderam ao questionário. Totalizamos assim o estudo com informações de doze profissionais – tendo sido mantida a representação das três categorias profissionais (7 Fisioterapeutas, 3 Fonoaudiólogos e 2 Terapeutas Ocupacionais). Entregue aos profissionais com antecedência, os questionários, devidamente preenchidos, foram devolvidos posteriormente no momento da entrevista. Num primeiro plano o questionário contemplou: Identificação do perfil profissional (sexo, idade e tempo de formação) Formação após a graduação. Trabalho (tempo de trabalho, supervisões que atuavam e trabalho na UBS) No tocante à identificação dos profissionais, consideramos a caracterização da população do estudo quanto à idade a partir das seguintes grupos etários: 20 a 30 anos, 30 a 40 e 40 a 50 anos de idade. Em relação ao sexo, os dados foram classificados em masculino ou feminino. No caso de tempo de formação, consideramos as seguintes categorias: 3 a 5 anos, 6 a 8 anos, 9 a 11 e mais de 11 anos. Na seqüência, as respostas às questões sobre a formação no âmbito da pósgraduação foram classificadas segundo os seguintes níveis: residência, aperfeiçoamento, especialização, mestrado, doutorado, outros e nenhum. De forma complementar os profissionais foram inquiridos sobre a realização de cursos da capacitação para atuar no PSF, ressaltando-se, em caso positivo, o registro da abordagem do tema atividade educativa grupal (categorizada sim e não). Em relação ao trabalho atual dos profissionais, foi solicitado há quanto tempo atuavam no PSF, utilizando-se para classificação das respostas as categorias: de 0 a 2 50 anos, de 2 a 4 anos, 4 a 6 anos ou mais. Além disso, os profissionais foram solicitados a informar o número de participação em supervisões (variando de uma a três) e sobre o número de Unidades Básicas de Saúde nas quais exerciam suas funções. Num segundo plano, o questionário focalizou a atividade educativa de referência – a última desenvolvida até a data de realização do questionário. Nesse sentido, foram contemplados os eixos de informações que se seguem: Organização da prática (população alvo, profissionais envolvidos, data, horário, local). Justificativa do tema e especificação da população alvo; Divulgação da atividade; Escolha do tema (s) abordado (s); Técnica utilizada na realização de atividade em grupo; Participação de outros profissionais; Objetivos da atividade; Avaliação; Fatores que facilitaram e dificultaram a execução da atividade. Para caracterizar a prática de referência o entrevistado apontou o período de sua realização (menos de 1 mês, de 1 a 2 meses e mais de 3 meses) registrando se, estas atividades eram realizadas de forma eventual ou freqüente. Além disso, foi solicitado ao profissional o local de realização da atividade (UBS, comunidade, outros) e qual era a população alvo da atividade educativa (funcionários, comunidade, outros). A seguir, o questionário contemplou a questão da organização prévia da atividade de referência, envolvendo a realização de divulgação da atividade e participação de outros profissionais (sim ou não/ explicite). A propósito, eles foram inquiridos sobre número de participantes presentes no evento (menor ou maior que 10). Questionados sobre estratégias utilizadas foram registrados os recursos didáticos mobilizados na realização das atividades educativas (palestras, dinâmicas de grupo, uso 51 de transparências ou outras). Dando conta da metodologia adotada foi indagado se os usuários trocavam informações durante a realização da atividade (sim ou não/ explicite). Focalizando questões relativas à avaliação das práticas educativas os entrevistados foram convidados à explicitar se os objetivos da atividade realizada haviam sido alcançados. Neste tópico, ainda, foi considerada a existência de fatores que facilitaram ou dificultaram a atividade desenvolvida (sim ou não/ explicite). Finalizando o questionário, os entrevistados foram convidados a descrever, livremente, como havia sido organizada a atividade de referência, pressupondo que o respondente articularia os itens constitutivos da caracterização precedente. 3.3 Modelos de prática, limites e potencialidades Partindo do plano das atitudes para o plano do conhecimento, buscamos identificar, junto aos sujeitos da investigação, sua postura frente às atividades educativas grupais – por oposição as práticas educativas individuais – buscando identificar os modelos correspondentes de atuação. Nesse movimento precedemos à realização de entrevistas semi-estruturadas, cujo roteiro segue anexo (ANEXO2) Foram contemplados nas entrevistas os seguintes eixos: Conceituação de atividade educativa; Objetivos da atividade educativa em grupo; Importância da atividade educativa; Conteúdo e estratégias; Freqüência; Avaliação da atividade. Na continuidade da entrevista - contemplando o terceiro movimento da investigação - solicitamos aos profissionais que descrevessem como obtinham 52 material de apoio para a construção das atividades educativas. Além disso, os entrevistados foram convidados a apontar as dificuldades e facilidades encontradas, no exercício da prática educativa grupal, que poderiam estar associadas às condições institucionais e aspectos relativos ao próprio programa, aos profissionais ou usuários. Os entrevistados, também, foram questionados sobre a necessidade de aprimoramento profissional, sendo solicitado que fizessem sugestões para futuras capacitações em função de suas necessidades. Finalizando as entrevistas, solicitamos que os profissionais relatassem uma prática de sucesso, tendo em vista obter dados adicionais à consideração da organização das atividades educativas. 3. 4 Análise de dados Os dados do questionário foram quantificados e tabulados para efeito da análise. Originalmente os dados do perfil profissional, particularmente em relação à especialidade, idade e tempo de participação na Equipe de Reabilitação do PSF, seriam cruzados com as demais variáveis do levantamento. Este procedimento, entretanto, foi descartado na presente etapa do estudo, tendo em vista o propósito de evitar comparações entre os membros da equipe. No tocante às questões abertas, levamos em conta, no plano discursivo, a análise temática. A análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado. Ou seja, tradicionalmente, a análise temática se encaminha para a contagem de freqüência das unidades de significação como definitórias do caráter do discurso, ou, ao contrário, qualitativamente a presença de determinados temas que denotam os valores de referência e os modelos de comportamento presentes no discurso. (MINAYO, 1998, p.135). 53 Recorrendo igualmente a técnica da análise temática, para efeito de disposição dos dados das entrevistas, procedemos à categorização das unidades de sentido, referenciadas, com base no referencial teórico, à realização das atividades educativas em grupo no âmbito da reabilitação. A análise de conteúdo pode ser considerada como um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. (BARDIN, 1977, p.38). As análises destas informações se pautaram no plano conceitual pelo Modelo proposto por ALVES (2005) a propósito da caracterização do modelo tradicional e dialógico. De forma esquemática, as características destes modelos encontram-se especificados no Quadro 1. 54 Quadro1. Elementos dos modelos de educação tradicional e dialógico. Modelo Tradicional Dialógico Planejamento Diagnósticos de necessidades Consideração das condições realizadas pelos profissionais de Saúde de existência dos sujeitos assistidos/ coresponsabilidade no diagnóstico dos problemas Considera os determinantes Concepção de Saúde/doença Focaliza a doença; privilegiando a dimensão biológica e a intervenção psicossociais e culturais dos curativa comportamentos de saúde Produção social do processo saúdedoença Centrado na doença Centrado no sujeito a que se Concepção de Promoção Enfoque preventivista destina a prática educativa; saúde Enfoque em promoção de saúde Educação normativa Participação comunitária idéia Concepção de Educação Relação linear entre o saber instituído e (Paulo Freire) o comportamento Relações interpessoais Caráter transmissivo Integração entre assistência e educação em saúde Contextos formais de ensino Contextos formais ou informais de ensino Redução dos riscos individuais; Constituição de sujeitos para a Objetivos prevenção de doenças transformação de condições de saúde e melhoria da qualidade de vida Profissional detentor de saber técnico Profissional - detentor de um saber Estratégias científico técnico científico inacabado/ Reaprende através do diálogo com o saber popular Usuários carentes de informação ou Usuário é portador de saberes, portadores de saberes inacabados sujeito da prática educativa e em busca da autonomia. Relação assimétrica entre profissional/usuário Problematização e reflexão Comunicação unilateral de caráter informativo 55 Comunicação dialógica 3.5 Procedimentos éticos O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP (ANEXO 3). Na seqüência foram obtidas autorizações para levantamento de dados junto à Secretaria da Saúde do Município de São Paulo (ANEXO 4) e pela Casa de Saúde Santa Marcelina (ANEXO 5). No caso das entrevistas e questionários, os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que consta em anexo (ANEXO 6). 56 4 Resultados 4.1 Perfil profissional e exercício de uma prática educativa Perfil Profissional De acordo com a Tabela 1, dos 12 profissionais de reabilitação que responderam ao questionário, 17% eram do sexo masculino e 83% do sexo feminino. Estes profissionais na maioria dos casos eram jovens, com idade variando de 20 a 30 anos. De forma correspondente, 72% dos profissionais tinham mais de 6 anos de formado, evidenciando que haviam feito graduação antes da vigência das Diretrizes Curriculares Nacionais (2001), que balizariam o Ensino Superior no sentido de estimular novas perspectivas de ensino aprendizagem subjacentes à consideração das atividades educativas. De acordo com a Tabela 2, 58% dos profissionais de Reabilitação realizaram algum curso de pós-graduação. Dentre eles 33% fizeram especialização, 17% mestrado e 8% residência multiprofissional. Após terem ingressado no serviço público (PSF), 83% dos profissionais participaram do curso promovido pelo Pólo de Capacitação do Santa Marcelina. Chama atenção, neste caso, a ausência do registro de temáticas relacionadas às atividades educativas. O curso Introdutório possui carga horária de 48 horas (BORGET, 2005), porém, o manual deste curso, também não contempla o tema Atividade Educativa e/ou mesmo Educação em Saúde (ANEXO 7). Estes resultados evidenciam a desconsideração dessas questões na capacitação para o PSF, que se acrescenta à tradicional falta de preparo sobre este campo na graduação. Explicitando o trabalho desenvolvido no PSF - Tabela 3 - chama atenção a presença de profissionais (42%) que estariam no serviço há 7 anos, tendo ingressado, na maioria dos casos, juntamente com a implantação do Projeto de Reabilitação; 25% deles haviam sido incorporados ao serviço há menos de 2 anos. 57 TABELA 1 - Perfil dos Profissionais de Reabilitação no PSF/Zona Leste do Município segundo Sexo, Idade e Tempo de Formação, 2007 TABELA 1 Perfil dos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste do Município de São Paulo segundo Sexo, Idade e Tempo de Formação, 2007 Variáveis Sexo n % Feminino Masculino 15 3 83 17 20 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 12 3 3 67 17 17 3 a 5 anos 6 a 8 anos 9 a11 anos mais de 11 anos 3 5 2 2 12 25 42 17 17 100 Idade Tempo de Formado Total 58 TABELA 2 - Formação e Capacitação dos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. TABELA 2 Formação e Capacitação dos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. Variáveis Nível de Formação Pós Graduada Residência Especialização Mestrado Nenhum Participação no Curso do Pólo de Capacitação Sim Não Capacitação para Atividade Educativa Sim Não Total 59 n % 1 4 2 5 8 33 17 42 10 2 83 17 2 10 12 17 83 100 TABELA 3 - Atuação dos Profissionais de Reabilitação no PSF Zona Leste no Município de São Paulo/ Santa Marcelina, 2007. TABELA 3 Atuação dos Profissionais de Reabilitação no PSF Zona Leste no Município de São Paulo/ Santa Marcelina, 2007. Variáveis Tempo de trabalho no PSF n % De 0 ano a 2 anos De 2 anos a 4 anos De 4 anos a 6 anos Mais que 6 anos Atuação em Supervisões de Saúde 1 2 3 Atuação em Unidades Básicas de Saúde 1 UBSF 2 UBSF 3 UBSF Mais de 3 Total 3 2 2 5 25 17 17 42 4 6 2 33 50 17 4 4 3 1 33 33 25 8 12 100 60 Na falta de informações e treinamentos, no tocante às atividades educativas, passa a ter relevância, a consideração da vivência prática (informal) desses profissionais, lembrando o curto espaço tempo de sua vinculação com o serviço. Chama atenção a sinalização da intensa atividade dos profissionais envolvidos no Programa de Reabilitação - 67% referiram atuar em mais de uma unidade básica. Lembrando que cada unidade é composta por até 6 equipes de saúde da família, e que cada equipe atende de 1000 a 1200 famílias, totalizando uma área de abrangência de, aproximadamente, 5 000 habitantes para cada equipe (BRASIL, 2000). Nestas condições, cada profissional da equipe de reabilitação se responsabiliza, no conjunto das atividades, por um contingente aproximado de 70 000 habitantes – quando, a recomendação realizada por MENDES (2004) preconiza um fonoaudiólogo para aproximadamente 20 000 habitantes. Registra-se, além disso, a participação deles em distintas supervisões de saúde – 67% em mais de duas – o que amplifica os deslocamentos e cobranças, que sobrecarregam as atividades desses profissionais. Sem pretender utilizar isto como justificativa, esta sobrecarga de atividade, aponta para limitações referentes à organização do exercício das atividades educativas no desempenho do profissional. Resumindo, estes resultados apontam para o perfil jovem desses profissionais – quase todos incorporados ao serviço juntamente com a instalação do Programa de Reabilitação, sendo que alguns ingressaram mais recentemente. Na ausência de capacitação formal e específica para o exercício das atividades educativas grupais no âmbito do PSF - num programa que é novo - ressalta-se a sobrecarga de trabalho diante da demanda associada à participação em diferentes UBS/PSF e supervisões. 61 Práticas Educativas Embora todos os entrevistados tivessem relatado o exercício de atividades educativas grupais, de acordo com a Tabela 4, em meio ao acúmulo de atividades, somente 25% referiram sua realização há menos de um mês; 75% referiram que essa última atividade havia ocorrido há mais de três meses. Estes dados coincidem com a categorização das práticas educativas grupais como sendo eventuais (67%). Ressaltando que as atividades educativas constituem o diferencial do PSF (BOUGET, 2005) os dados apresentados sinalizam para o não aproveitamento do espaço proporcionado para o exercício das práticas de Promoção de Saúde – estipulado em 10% do conjunto das atividades (SMS, mimeo). Dentre os profissionais, 85% realizaram a atividade de referência na UBS, ou seja, apenas um profissional relatou ter realizado tal atividade na comunidade. Ele possuía experiência prévia como auxiliar de enfermagem, cuja rotina do Programa de Saúde da Família, envolvia visitas domiciliares regulares para serem cumpridas semanalmente, o que poderia ter facilitado a opção apontada. Mesmo não correspondendo às disposições que valorizam a atuação fora da UBS, as atividades educativas realizadas em relação à população alvo foram dirigidas tanto para os funcionários como para a comunidade – a que concentrou uma proporção de 85% das menções. Justificando a escolha da comunidade, enquanto população alvo, os profissionais remeteram as atividades educativas aos problemas prevalentes no território da Unidade Básica de Saúde em que atuavam, destacando – se as seguintes respostas: “[A atividade foi realizada para] cuidadores de pessoas com deficiência, pelo grande número de doentes acamados que são excluídos da assistência de saúde e de outros recursos sociais”. (Profissional 7) 62 TABELA 4 - Atividade Educativa Grupal Referida pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. TABELA 4 Atividade Educativa Grupal Referida pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. Atividade Educativa/Variáveis Período de realização n % 0 a 1 mês 1mês a 3 meses Mais de 3 meses 3 0 9 25 0 75 Eventualmente Frequentemente 8 4 67 33 UBSF Comunidade Outros 11 2 0 85 15 0 Funcionários da UBS Comunidade Outros 4 4 2 40 40 20 Menor que 10 Maior que 10 2 10 12 17 83 100 Frequência da Atividade Local População Alvo Número de participantes Total 63 “[A atividade foi dirigida para a] população infantil, devido ao fato do PSF priorizar ações com crianças menores de 1 ano e desta ser uma demanda da comunidade”. (Profissional 6) “A equipe definiu como prioridade desenvolver ações com pessoas depressivas, restritas ao lar sem motivação; é um aspecto que aparece bastante na queixa dos usuários”. (Profissional 9) Em relação às atividades dirigidas aos funcionários, enquanto população alvo, a justificativa de sua eleição envolveu as seguintes respostas: “A idéia era trabalhar com os funcionários da unidade, neste primeiro momento [tendo em vista] capacitá-los, discutir um olhar diferenciado para a população sobre questões da fisioterapia e fonoaudiologia, já que o serviço está sendo estruturado na região, para depois realizar grupos com a comunidade sobre questões específicas”. (Profissional 18) “Foi uma solicitação dos próprios agentes, pois se sentiam excluídos e desmotivados”.(Profissional17) Quanto ao número de participantes nas atividades educativas grupais, 83% dos profissionais conseguiram um número maior que 10 integrantes. O documento da Secretária Municipal de Saúde (SMS, 2005) aponta diretrizes para os profissionais de Reabilitação de São Paulo, estabelecendo como parâmetro a realização das atividades educativas para grupos envolvendo no mínimo 10 participantes, para efeito de faturamento. Resumindo, todos os profissionais entrevistados desenvolveram atividades educacionais. Dirigidas para funcionários e comunidade, ressalta- 64 se que elas se circunscreveram ao espaço da UBS. Os grupos contaram com o número mínimo de 10 participantes, conforme preconizam as diretrizes da Secretária Municipal de Saúde. Ressalta-se, outrossim, o caráter esporádico da realização das atividades educacionais – o que nos remete a uma dupla ordem de consideração. De um lado, a questão da sobrecarga de trabalho e, de outro, o despreparo ou a falta de familiaridade com as práticas educativas grupais. Organização Focalizando, agora, a organização das atividades educativas de referência, de acordo com a Tabela 5, os respondentes afirmaram que em 50% dos casos eles atuaram como responsável único e, em 50%, como colaboradores. Apesar das resistências pontuais ou impossibilidade circunstancial, vale dizer que, em 67% dos casos a atividade contava com a presença de outros profissionais , sinalizando para as recomendações a mobilização da equipe multiprofissional (BRASIL, 1997). Especificando estas presenças os entrevistados responderam: “[A atividade de referência] era para profissionais. Estavam presentes coordenando o grupo os especialistas de: fono, fisio, assistente social e enfermeira. Como participantes do grupo: enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, auxiliar de consultório dentário e administrativo”.(Profissional 18) “Participaram fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga, nutricionista e assistente social; (...) com temas específicos da área, realizaram palestras, dinâmicas e ensino de técnicas (noções básicas) de cuidados à pessoa acamada com deficiência”.(Profissional 7) 65 TABELA 5 - Atividade Educativa Grupal Referenciada pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. TABELA 5 Atividade Educativa Grupal Referenciada pelos Profissionais de Reabilitação no PSF/ Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. Atividade Educativa/Variáveis Responsabilidade organização n % Responsável único Colaborador Participação de outros profissionais Sim Não Realização de organização prévia Sim Não Realização de divulgação da atividade Sim Não Total 6 6 50 50 8 4 67 33 12 0 100 0 11 1 12 92 8 100 66 Questionados sobre a organização da atividade, apareceram respostas abordando alguns itens que integram o planejamento da atividade. Algumas respostas foram lacônicas não deixando transparecer, na verdade, o recurso de um planejamento prévio. A maioria, entretanto, apontou questões significativas da elaboração de um planejamento de atividade educativa: “Organizei [a atividade educativa para ser realizada] em quatro dias, em meio período, com temas específicos e com participação e colaboração de outros profissionais, como fisio, psicóloga, assistente social e nutricionista”.(Profissional 7) “Depois de definida a população alvo, [organizamos o fluxo de] encaminhamentos, a data e o material utilizado”. (Profissional 4) “[A organização foi feita a partir do] levantamento da demanda. Após um estudo sobre o assunto, [fiz a] preparação de material didático (apostilas), escolhi a data, local e [a forma de] divulgação”. (Profissional 15) “[Foi organizado] nas discussões em equipe. Discutimos as ações e os materiais utilizados”. (Profissional 9) Dando conta da organização prévia da atividade educativa, a maioria dos profissionais (92%) referiu ter realizado a divulgação do evento, recorrendo, em ordem decrescente, em primeiro lugar, à divulgação realizada por agentes comunitários de saúde e médicos de família; em segundo lugar, ao recurso de cartazes, reunião de equipe, enfermeiros, e, em terceiro lugar, às visitas domiciliares e à supervisão de saúde. Foram significativas, a propósito, as falas que se seguem, combinando várias formas de divulgação: 67 “A divulgação foi realizada pelos agentes comunitários, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos”. (Profissional l1) “Através dos profissionais de equipe de saúde da família”.(Profissional 15) “Através dos médicos, avaliações, cartazes no posto e ACS”.(Profissional 8) “Realizada na própria unidade, com informação dada pelos profissionais envolvidos diretamente com os agentes, acrescentando-se a confirmação [do evento] via telefone, reforçada pela gerência”. (Profissional14) “Através da supervisão de saúde que divulgou para a unidade e convidou os funcionários a participar da discussão”. (Profissional18) “Orientando profissionais médicos e enfermeiro a encaminhar o grupo paciente com queixas osteo-muscular”. (Profissional 4) Estas respostas referenciam, a propósito do planejamento, itens como: profissionais envolvidos, levantamento da demanda, marcação de data e horário, assim como a divulgação. Porém, nenhum depoimento contemplou todos o itens que compõe o planejamento. Tais dados sinalizaram para a informalidade com que é tratado o planejamento, no sentido em que não é concebido como uma atividade sistemática. Resumindo, os profissionais afirmaram organização prévia das atividades educativas realizadas no âmbito das UBS, tendo atuado como responsáveis únicos ou como colaboradores das atividades educativas grupais. Estes dados registram a presença de participação de outros 68 profissionais, em que pese as dificuldades de contar com o suporte da sua presença. Foram abordados vários elementos que compõe a atividade de planejamento, ressaltando-se, entretanto, que em nenhum momento eles tivessem sido considerados em sua totalidade. Os relatos não deram conta do planejamento como uma atividade sistemática, aventando-se, a propósito, a possibilidade de não terem sido suficientemente preparados para tanto. Temas Questionados sobre os temas escolhidos, foram observados basicamente dois eixos de respostas. Num deles, situaram-se referências ao direcionamento das atividades educativas com enfoque na doença e numa intervenção curativa, fundamentadas num referencial biologicista como dispõem SMEKE; OLIVEIRA (2002) CHIESA; VERÍSSÍMO (2003). No outro eixo foi destacada a questão da qualidade de vida, consistente com a Promoção de Saúde. Dentre as respostas referidas a atuação voltada para doença, figuraram respostas expressando o propósito de: “Propor ao participante uma postura ergonômica mais adequada”. (Profissional 4) “[Focalizar] a coluna, problemas comuns, posturas adequadas e exercícios”.(Profissional 6) “[Focalizar] voz, coluna e postura”. (Profissional14) Numa situação intermediária, contemplando uma preposição mais abrangente, embora relacionada, ainda, com a doença, figuraram propósitos tendo em vista: 69 “Fazer com que o paciente, mesmo com uma doença diagnosticada, não desista de poder ter uma vida normal e que saúde não é apenas ausência de doença”. (Profissional 16) “Melhorar o quadro clinico, relaxamento, melhora da autoestima, convívio social e também uma nova postura frente sua vida e seus problemas”. (Profissional 10) “O que é a doença, como curar, importância dos hábitos saudáveis, orientações para os momentos de crises e reabilitação”. (Profissional15) Na vertente mais próxima da concepção de Promoção de Saúde, sem levar em conta a questão de uma doença específica, colocaram-se as seguintes referências: “Melhorar a qualidade de vida dos participantes”. (Profissional 9) “[Estimular] a auto estima, cuidar de si, busca de qualidade de vida”. (Profissional 12) Resumindo, o levantamento, no âmbito do questionário, apontou para uma ampla temática contemplada nas atividades educativas apontadas pelos entrevistados. Em meio às dificuldades associadas à aplicação do conceito de Promoção de Saúde à reabilitação, as propostas temáticas, na forma como foram apresentadas, apontaram para a convivência de concepções ancoradas na prática higienista, como em concepções que se aproximariam da Promoção de Saúde, na forma contemporânea de sua expressão. 70 Estratégias Ao lado dos relatos sumários, contidos nos questionários, focalizamos especificamente as estratégias didáticas utilizadas na realização das atividades. De acordo com a Tabela 6, todos os profissionais referiram realizar dinâmicas de grupo. Em menores proporções foram citadas palestras e o uso de transparências. Convidados a explicitar a escolha de outras técnicas eles apontaram o recurso da escuta (33%), da utilização de música (25%), problemas para discussão (17%) e técnicas de grupo (17%). A propósito,foram significativas as falas que se seguem: “Uso retroprojetor, apostila, dinâmica e exercícios”. (Profissional 14) “Criar no grupo vínculo entre os participantes, para criar ambiente favorável. Realizar discussão sobre o tema e técnicas específicas sobre reabilitação labiríntica”. (Profissional 15) “Foi oferecido um problema para reflexão e depois apresentado e discutido por todo o grupo. Foi utilizado: acolhimento, escuta, participação em grupo, técnicas de grupo de terapia ocupacional.”(Profissional 7) Tendo em vista focalizar as estratégias, do ponto de vista metodológico (vinculadas às teorias de ensino aprendizagem) perguntamos se os usuários trocavam informações durante a atividade desenvolvida. Dentre eles, 75% responderam afirmativamente: 71 TABELA 6 Estratégias Didáticas na Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF / Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. Variáveis Recursos Didáticos Dinâmica Palestra Uso de transparências Música Escuta Exercícios Problema para discussão Troca de informações entre usuários n Sim % Total n % 7 12 4 3 4 2 2 9 58 100 33 25 33 17 17 75 12 12 12 12 12 12 12 12 100 100 100 100 100 100 100 100 TABELA 6 - Estratégias Didáticas na Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. 72 “Cada participante relata sua vivência com o problema que o trouxe ao grupo”. (Profissional 10) “Através de citação de casos, inclusive pessoais”. (Profissional 14) “Cada um teve a liberdade de colocar seu ponto de vista, com esta dinâmica conseguiram atingir o objetivo”. (Profissional 16) “Por meio de diálogo, identificação entre as histórias de vida e necessidades, cada um vai repensando na sua vida e isso gera mudança na vida e conseqüentemente na saúde”. (Profissional 9) No plano discursivo, ao lado de indícios de apego ao modelo transmissivo, estes relatos mostraram aproximação com a prática dialógica da educação, revelando a valorização dos espaços interpessoais na prática voltada para a população, conforme preconiza ALVES (2005). Vislumbrando compensar as restrições das informações disponibilizadas pelo auto preenchimento do questionário, solicitamos aos respondentes que descrevessem a atividade educativa de referência de forma a obter uma versão mais articulada da experiência focalizada. Solicitada uma descrição livre da atividade de referência as descrições foram dirigidas, indistintamente, para a comunidade e funcionários. Os relatos abaixo evidenciam atuação com a comunidade, trazendo implícita a consideração dos usuários como um segmento carente de saber sobre saúde, cabendo pensar a mudança de comportamento como produto da transmissão de informações, como coloca CHIESA; VERÍSSIMO (2001) a propósito de estudo realizado junto aos enfermeiros. 73 “Iniciamos com palestras sobre o tema, depois trocamos experiências e dúvidas (...) foram orientados [quanto à realização de] exercícios”. (Profissional 1) “[As atividades educativas grupais] são realizadas semanalmente, com uma hora de duração. Programo os exercícios de relaxamento para atingir globalmente a todos [os pacientes que participam da atividade]”. (Profissional 11) “Chamamos [as pessoas], avaliamos [as queixas] e colocamos no grupo. Fizemos exercícios dinâmicos, orientação e relaxamento”. (Profissional 10) Da mesma forma, o modelo tradicional também foi observado em relatos dirigidos para profissionais: “Agendada a data [a atividade educativa foi desenvolvida junto aos] agentes comunitários, [utilizando-se] de aulas expositivas, com auxílio de projetor [coordenada pela] presença de fisio e fono”.(Profissional 14) Como contraponto destas posturas, no tocante as estratégias mobilizadas, foram significativos os depoimentos que seguem, tanto dirigidos para a comunidade, quanto para os funcionários. No caso dos primeiros, destaca-se a consideração dos saberes populares e do espaço dos sujeitos no processo de construção da aprendizagem, condizente com os princípios colocados por FREIRE (1996). “Conversamos sobre o que cada um gostava de fazer e [discutimos] porque não faziam mais(...) e depois prepusemos a atividade relacionada ao que cada um gostava de fazer [com objetivo de] potencializar o que sabiam fazer de melhor”. (Profissional 9) 74 No caso de depoimentos relatando atividades educativas voltadas para funcionários das UBS, registra-se a alusão à participação ativa dos sujeitos envolvidos na dinâmica grupal: “A equipe de fisio e fono, mais os funcionários da UBSF, e duas profissionais da supervisão de saúde da região fizeram uma discussão das questões de fisioterapia e fonoaudiologia, [explicitando-se] casos e sugestões para [realização de] novos grupos”. (Profissional 18) “Primeiramente foi realizada uma dinâmica para intervenção no grupo. Após, foram discutidos os anseios e aflições de cada participante e o que poderia ser feito para melhora”. (Profissional 8) Resumindo, a consideração das estratégias, quando não reduzida aos recursos técnicos, apontou para a possibilidade de concretização do modelo dialógico de ensino aprendizagem, ao lado da permanência do modelo transmissivo. Diferenciados em torno das condições de participação dos educandos – passiva ou ativa – este achado é relativisado na medida em que não é cotejado com a concepção de saúde que permitiria identificar modelos ideais, relacionados, ou não, à concepção de Promoção de Saúde. Avaliação, limites e potencialidades. De acordo com a Tabela 7, a maioria (67%) dos profissionais realizaram avaliação da atividade referida, recorrendo a questionários, perguntas para os usuários, depoimento, trocas de informações com o grupo, bem como, a observação de mudanças na vida dos freqüentadores da Unidade Básica de Saúde. Encontramos a propósito dizeres que expressaram o movimento da avaliação: 75 “Através da troca de informação com o grupo”. (Profissional 17) “Pelo bom entendimento da atividade pelo grupo”. (Profissional 4) “Por haver maior entendimento sobre a doença e maior colaboração no tratamento”. (Profissional 15) “Através dos relatos dos usuários e acompanhamento posterior do ACS”.(Profissional 9) É interessante o registro de mudanças nos hábitos e atitudes das pessoas, verificável diante da convivência oportunizada pelo PSF – recurso este que pode ser explorado em avaliações futuras. A identificação de mudanças potencializadas pelas atividades educativas, no contexto da atuação da UBS, foram citados em resposta à indagação: “se os objetivos haviam sido alcançados”. Afirmando positivamente, os respondentes argumentaram, ao se referirem aos trabalhos com a comunidade: “Por ocorrer mudanças na vida e nos hábitos das pessoas que participaram”. (Profissional 9) “Por ter falado dos assuntos colocados pelos pacientes e nunca ninguém discutiu antes com eles [tais assuntos], [o que permite levar] para casa, com seus familiares, suas experiências (...) ampliando assim a divulgação do assunto...” (Profissional 16). Em relação às práticas realizadas com os funcionários, foram sugestivas menções, valorizando as transformações do desempenho associadas às atividades educativas, ancoradas na percepção subjetiva dos educadores. 76 TABELA 7 - Avaliação da Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF / Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. TABELA 7 Avaliação da Atividade Educativa Grupal de Referência dos Profissionais de Reabilitação no PSF / Zona Leste no Município de São Paulo, 2007. Variáveis Realização de avaliação da atividade Sim Não Objetivos alcançados Sim Não Fatores que facilitaram o grupo Participação da equipe Interesse dos envolvidos Profissionais capacitados Fatores que prejudicaram o grupo Espaço inadequado Recursos materiais inadequados Tempo disponível 77 Sim n % Total n % 8 4 67 33 12 12 100 100 12 0 100 0 12 12 100 100 2 7 2 17 58 17 12 12 12 100 100 100 1 3 11 8 25 92 12 12 12 100 100 100 “Para um primeiro contato pode-se perceber o esclarecimento de dúvidas e também a orientação do profissional que já passou a pensar em seus usuários trazendo-os para discussão. Também se pode constatar, através do encaminhamento correto que recebi destes profissionais, enviando crianças menores que já possuem alterações e não somente os casos gritantes”.(Profissional 9). “Sim, pois ouve melhora na conduta dos ACS (Agentes Comunitárias de Saúde), bem como no olhar diante das dificuldades”. (Profissional 17) Estas avaliações positivas das atividades educativas, apoiadas na percepção subjetiva dos profissionais de reabilitação, no papel de educadores, evidenciam a disposição para o exercício das atividades no âmbito do Programa, paralelamente a sua valorização. Vale dizer que não há registros dessas avaliações, que são esporádicas e pontuais, sugerindo a informalidade de sua realização. Convidados a se pronunciarem sobre fatores que facilitaram a execução da atividade (Tabela 7), os profissionais mencionaram, entre outros quisitos, a demanda do serviço e o interesse da população na participação de atividades educativas grupais: “A disposição do grupo em participar”. (Profissional 17) “A boa vontade da comunidade”. (Profissional 11) “A população bastante prestativa, interessada”. (Profissional 10) 78 “A demanda e o encaminhamento virem da equipe médica”. (Profissional 15) No tocante aos fatores que prejudicaram a realização da atividade grupal, um profissional referiu espaço inadequado; três referiram recursos materiais insuficientes; e, 11 profissionais se reportaram à falta de tempo. No plano discursivo foram relacionados: “Pouco espaço e muita gente”. (Profissional 11) “Falta de recursos materiais e participação de outros profissionais”. (Profissional 15) “Falta de recursos visuais e materiais adequados”. (Profissional 8) “As dificuldades que encontro são: a falta material, tempo, a carga horária, trabalhar em várias unidades”.(Profissional 3) Resumindo, os resultados apontados evidenciam a realização da prática avaliativa, das atividades educativas, realizada pelos profissionais. Explicitando os recursos utilizados, os entrevistados ressaltaram, como critério de aferição, a mudança de comportamento dos participantes. Sem questionar o alcance atribuído à capacidade transformadora das atividades educacionais. Os relatos fazem pensar no caráter informal e subjetivo de sua realização. Considerando a presença e a disposição da população como fiel do sucesso, ou não, do empreendimento educativo, as dificuldades relativas ao exercício destas atividades incluíram limitações associadas às condições 79 materiais e à falta de tempo, em meio à sobrecarga de trabalho. Nesse sentido, ao lado da observação das condições limitantes na perspectiva da formação para realizar o planejamento das atividades educativas – associável à provável falta de capacitação - situam-se as limitações relativas às condições institucionais. 80 4.2 Qualificação das práticas educativas Concepção de atividade educativa Os profissionais de reabilitação foram questionados, durante a entrevista, sobre o que entendiam por atividade educativa grupal. Recorrendo à concepção de educação em geral – apoiados no senso comum – eles se reportaram ao efeito propiciado pela educação, incluindo mudanças comportamentais: “A atividade educativa tem temas específicos, objetivos a longo prazo; [ela] se propõe a promover mudanças nas pessoas”. (Profissional 15) “Atividade educativa é um grupo que interage de acordo com a necessidade da comunidade, educando-a no sentido de mudar sua rotina”. (Profisssional1) “Considero [atividade educativa] algo que possa estar acrescentando, beneficiando um grupo de pessoas”.(Profissional 3) De forma mais explícita alguns profissionais ressaltaram a prática educativa como um espaço para informar e transmitir conhecimento. Neste sentido destacaram-se menções a: “Atividade educativa visa dar informações às pessoas”. (Profissional 14) “Atividade educativa é um espaço para se passar conhecimento, não no sentido de capacitar, mas de informar o que não se sabe e reforçar o [conhecimento]” (Profissional 4) 81 “É uma atividade não só com objetivo de esclarecer, mas também, de que possa ser assimilado seu conteúdo”. (Profissional 11) Tais falas reportam aderência dos profissionais da reabilitação ao modelo tradicional de ensino, de caráter transmissivo no dizer de GUEDES (1990), centrado na figura do professor, ancorado numa perspectiva comportamentalista que consubstancia o preventivismo da educação sanitária, como refere BUSS (1999). Numa outra vertente, os depoimentos dos profissionais remeteram ao pressuposto de que o usuário, reconhecido como um sujeito dotado de um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado, é capaz de participar de uma situação dialógica com os profissionais dos serviços de saúde conforme preconiza AYRES (2001). Neste sentido, se inscreveram as falas que se seguem, acrescentando-se a associação com contemporâneas concepções de Promoção de Saúde: “A atividade educativa contém um teor diferente de quando reúno um grupo para discutirmos um tema especifico”. (Profissional 7) “É uma prática educativa que pode ser realizada na unidade básica de saúde ou na comunidade, voltada à população em geral, sem preocupação de cura, somente visando ações de prevenção da saúde. É uma atividade de educação em saúde; [isso] depende da maneira [como o profissional] responde, sua postura, o que propõe e orienta”. (Profissional 9) “É uma prática que você trabalha autonomia, há um enfoque mais aberto, um conceito mais aberto e amplo de saúde, de formação da pessoa, de cidadania”. (Profissional 6 ) 82 “[Atividade educativa é] uma prática onde a pessoa reflete sobre a vida no geral, não só na saúde, e mesmo quem não tenha problemas vai adquirir conhecimentos. Por exemplo: trabalho situações – problema a partir da própria vivência dos participantes do grupo, onde cada um coloca sua idéia a respeito e aos poucos introduzo meus próprios conceitos e experiências”. (Profissional 2) Estas práticas nos remeteram ao modelo dialógico na medida em que são sensíveis à participação da população; trabalha-se com a perspectiva dos sujeitos das práticas educativas o que condiz com a conceituação de AYRES (2001), ALVES (2005) e FREIRE (2005). Neste modelo o sujeito é reconhecido como portador de um saber que, embora diverso do saber técnico cientifico, não é deslegitimado pelo profissional e pelo serviço. Além da preocupação com a cura, trata-se de ampliação do conceito saúde – doença que guarda relação com a concepção de promoção de saúde, preconizada nas diretrizes do PSF (BRASIL, 1997). Nesta perspectiva se inscrevem discursos referindo o caráter dialógico da atividade educativa em saúde, o que pressupõe, segundo VASCONCELOS (2001) “percepção crítica sobre a realidade e aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento” – aonde se inscrevem a referência ao exercício da autonomia. Objetivos A gama de concepções educativas especificadas anteriormente, se reafirmou por ocasião da explicitação dos objetivos pretendidos com a atividade educativa grupal. Alguns se pautam, explicitamente, pelo modelo tradicional: “Promover mudanças, trazer mais informações (...) visa mudar o comportamento a fim de melhorar a função cognitiva, física e social”.(Profissional 7) 83 “[A educação implica em fazer] com que as pessoas realmente entendam o assunto que está sendo abordado”. (Profissional 8) Esses dois depoimentos, trazem a idéia de que a prática educativa irá reduzir os riscos individuais, prevenir doenças e agravos à saúde; estão vinculados à idéia de que a apreensão de um saber instituído leva “automaticamente” à aquisição de novos comportamentos e práticas. Nesse sentido, as atividades educativas têm como objetivo divulgar informações para a população sobre as principais doenças. Enfatizando normatizações de comportamentos “certos” e “errados” no tocante à prevenção, as propostas educativas visam mudar as práticas e atitudes dos indivíduos consideradas inadequadas pelos profissionais. Como contraponto dessa postura, exprimindo o ideário dialógico de prática educativa, alguns profissionais levaram em conta o plano relacional, ao lado da constituição de sujeitos para a transformação de condições de saúde e melhoria da qualidade de vida. Nesse sentido são significativos os seguintes relatos: “É importante ouvir e saber o que o grupo quer de você, e então fazer a abordagem do assunto. Não levo nada pronto e não fico só falando”. (Profissional 9) “Na atividade educativa o objetivo é maior. Você trabalha autonomia, há um enfoque mais aberto, um conceito mais amplo de saúde, de formação da pessoa, de cidadania”. (Profissional 6 ) Nesta condição podemos pensar num profissional cujas atividades educativas se orientam para o usuário como sujeito a que se destina a prática educativa, em contextos formais ou informais das relações interpessoais, na linha de colocações de AYRES (2001) ALVES (2005) e FREIRE (2005). 84 Importância da Atividade Educativa Sobre a importância das atividades educativas, algumas respostas lacônicas falam da importância sumária das atividades educativas, limitando a possibilidade de qualificação das posturas educacionais. Entre elas situamos: “Tem toda a importância”. (Profissional 3) “Acho muito importante, faz diferença na vida dos participantes”. (Profissional 7) “Importante porque é uma demanda deles para nós. (Profissional 5) Ressaltam-se, por outro lado, depoimentos que atribuem importância à atividade educativa como recurso para dar conta da demanda, potencializando o efeito da intervenção na lógica da produção em série. São ilustrativos, a propósito, os relatos que se seguem: “Considero importante, pois, pela demanda não conseguimos atender a todos e, com a atividade educativa podemos abordar o assunto para um maior número de pessoas que precisam de esclarecimento”. (Profissional 4) “Acredito que a atividade educativa diminui as consultas médicas, as dores, a angústia das pessoas”. (Profissional 8) “Algumas dão bons resultados, os pacientes ficam mais esclarecidos. As mães controlam os problemas em casa mesmo e ensinam as vizinhas e acabam trazendo novos participantes”. (Profissional 10) 85 Estas posturas norteadas pela perspectiva de diminuir a demanda sugerem aderência à concepção instrumental de educação em saúde, de caráter transmissivo e normativo, inerente ao modelo tradicional, - condizente com informações disponibilizadas anteriormente no questionário quando classificamos os relatos dos profissionais. Numa apreciação mais elaborada da questão da atividade educativa, fica evidente entre os depoimentos explicitados a seguir, o reconhecimento da concepção de promoção conforme recomendações das diretrizes do PSF. “Esta atividade deve ser vista com mais seriedade. Enquanto a população não for bem instruída, educada, nossa campanha será apenas” tapa buraco”. Deveria ter um maior investimento na saúde como um todo”. (Profissional 11) “É um excelente momento para trocas de experiências, para compartilhar saberes, e isso não acontece dentro do consultório. O clínico diz: “você deve fazer isso, isso, isso...”. Na atividade educativa [grupal] o saber vai sendo construído de acordo com a realidade, de modo que, se chega a um consenso do assunto abordado, com a ajuda profissional”. (Profissional 6) “É fundamental porque você pode orientar como funciona o sistema de saúde, o que [cada um] tem direito e o que pode pedir. A população pedindo o que tem necessidade tem um peso maior do que o profissional sozinho. Trabalha-se prevenção, a comunidade fica consciente dos seus direitos, de suas potencialidades”. (Profissional 12) 86 Estratégias utilizadas Os profissionais quando solicitados a explicitarem quais as estratégias utilizadas em suas atividades educativas grupais, remeteram suas respostas ao papel da comunicação e dos meios utilizados para realizar as atividades educativas, em detrimento da consideração da estratégia enquanto metodologia de ensino – aprendizagem. No plano discursivo algumas falas evocam estratégias do modelo tradicional: “(...) Uso transparências, faço cartilhas para verem em casa, porque eles esquecem o que ouviram. A posição sócioeconômica dificulta a absorção do conteúdo, o nível de entendimento, e às vezes eles têm vergonha de perguntar o que não entendem”.(Profissional 1) “(...) monto algo visual, trabalho o assunto dando liberdade para as pessoas tirarem suas dúvidas. Dependendo do tema também faço uma atividade prática”.(Profissional 4) “Como fisioterapeuta, faço [as atividades educativas] com menos freqüência, mas procuro trocar experiências, conhecimento e informação. Há a necessidade de saber lidar com as pessoas, saber manipula-las. Se [a população] assimilar 40% do que aprenderam, já é um resultado satisfatório. Tento perceber o quanto eles absorveram e pontuo o que acho mais importante para ser gravado na memória”.(Profissional 11) “Aproveito o material que tenho à disposição: música, colchonetes, lençóis, papel, caneta, etc.”.(Profissional 2) 87 É importante dizer que, dentro dos limitados recursos materiais existentes, o profissional que trabalha na rede pública tem de dispor de muita criatividade para realizar certas atividades, quando se considera a estratégia como recurso didático. Tais observações referenciam instrumentos e técnicas que privilegiam uma comunicação de caráter unilateral, associada à transmissão de informações - que compõe uma das características do modelo tradicional conforme apontada por ALVES (2005). Numa nuance desta vertente a fala que segue evoca o processo de ensino aprendizagem onde o modelo dialógico poderia ser pensado (os dados, entretanto, não são suficientemente elucidativos): “Se o espaço é amplo, monto uma roda, explico o objetivo da atividade, proponho um debate. Com crianças proponho uma atividade inicial e depois o debate que vai levar a uma reflexão”. (Profissional 6) Numa perspectiva preventivista, sugestiva da concepção subjacente à educação sanitária, de caráter normativo, apoiada no ensino transmissivo, evidenciam-se relatos sobre atividades educativas dirigidas a doentes, sendo significativos os seguintes relatos: “Reuni um grupo de atendimento e trabalhei problemas da coluna, com transparências, exercícios, mostrando quais patologias afetam a coluna, porquê fazer exercícios, e (...) procurei tirar todas as dúvidas. Foi um sucesso pelo retorno que me deram em relação ao que acharam da atividade, (...) e pediram mais”.(Profissional 14) “Montei um grupo de pacientes que sofreram de AVE (acidente vascular encefálico) e que já estão independentes, com a presença de um acompanhante. Apesar de serem pacientes com 88 seqüelas irreversíveis, deu certo. Trabalhamos o físico e eles contavam como foi a semana e levaram atividades para casa”.(Profissional 13) Destaca-se a seguir o relato de um mesmo profissional que refere duas práticas educativas: a primeira direcionada a atividade para indivíduos sadios, com um tema abrangente, evidenciando preocupação com relação a promoção de saúde; já, o segundo, numa vertente preventivista refere a preocupação com um tema específico, com indícios de uma abordagem transmissiva, ao lado da preocupação com a avaliação dos resultados. Assim como o modelo tradicional se associa às atividades exitosas, um mesmo indíviduo pode adotar práticas de diversas abrangências: “Faço grupos trimestrais de orientação postural abertos a toda comunidade e a profissionais também. É um grupo educativo de posicionamento, de coisa que se pode mudar no dia-a-dia, como: limpeza da casa, lavar roupa, etc. A participação das pessoas é bem grande. Junto com a equipe de saúde, também monto o grupo de pé diabético, onde participam médicos e enfermeiros. Falamos sobre prevenção. Os pacientes aderem e assimilam os conhecimentos, pois quando faço visitas domiciliares vejo que estão aplicando o que aprenderam “. (Profissional 1) As falas que se seguem diferenciam das anteriores, na medida em que são dirigidas a indivíduos sadios, relacionados à abordagem de temas mais amplos, sem dar enfoque a uma patologia específica, aproximando, assim, a prática educativa ao referencial de promoção de saúde: “Foi realizada atividade educativa para agentes comunitários, sobre o desenvolvimento da linguagem. Levei vários dados de patologias da linguagem e pedia para que eles imaginassem a criança e se encaminhariam para o atendimento de fono. Surgiram associações [em relação aos] próprios filhos e de 89 pessoas que elas conheciam. Chegaram até a fazer encaminhamentos”. (Profissional 5) “Fiz uma prática educativa sobre dor crônica, em oito encontros. Trabalhamos vários temas para que se percebesse que tudo é mais amplo, discutimos até temas políticos e valores impostos pela sociedade. Alguns nunca tinham escutado sobre o assunto, falamos bastante, opiniões foram dadas e assim vimos às dificuldades que a comunidade tinha”.(Profissional 12) “Montei um grupo de orientação postural e consegui atrair as pessoas que ainda não têm problemas. Orientamos postura no trabalho, em casa, na execução de certas atividades. Participaram pessoas que trabalharam na montagem de peças e costureiras. Conseguimos passar boas informações”. (Profissional 4) “Fiz uma atividade com filhos de pacientes com problemas na coluna e percebi que a maioria tinha os mesmos problemas dos pais. Através dos filhos, mostrei aos pais que desde criança deve haver mudança de comportamento, que a dor não aparece por acaso, que a patologia se estabelece desde a infância e deve haver tratamento para a doença não evoluir, que tudo começa numa doença simples e avança para algo mais complexo”.(Profissional 10) Outros, ainda, se referiram às atividades educativas destinadas a grupos profissionais, agentes comunitários e para cuidadores. “A comunidade vê a unidade básica como um ponto de referência, um lugar seguro, que auxilia na conquista dos seus direitos. Uma atividade educativa que fiz com os agentes comunitários sobre verminose, montei um teatrinho com pipoca 90 e filmes também. Houve uma conscientização para as crianças, elas se concentraram e foram contando sobre suas famílias”.(Profissional 12) “Fiz um curso de cuidadores, com a participação de outros profissionais, com dinâmicas de grupo. Todos gostaram muito, porque achavam que ouviriam só uma palestra, mas demos oportunidade para colocarem suas experiências, expectativas e a partir disso conseguimos desenvolver temas específicos”. (Profissional 7) Estes relatos remetem à atividade educativa no âmbito da Promoção de Saúde, sendo sugerida uma postura diferenciada em relação às estratégias didáticas, evidenciando a possibilidade da participação ativa dos educandos. Freqüência Quanto à freqüência das atividades educativas, foram significativas as seguintes falas: “As atividades educativas são esporádicas”.(Profissional 14) “Atividade educativa é algo que acontece, esporadicamente, fora do contexto, especificamente, terapêutico. Não cria vínculo, mas organiza-se num trabalho com começo, meio e fim”. (Profissional 5) Considerando a realização de atividades regulares registramos falas explicitando espaços de tempo tão prolongados entre elas que caracterizariam, na verdade, como sendo esporádicas. 91 “Promovo atividades de dois em dois meses, [com vagas] para vinte pessoas; depois troco a turma [de pacientes, mas], só que poucos aderem[ao grupo]”. (Profissional 4) “Há atividades [que são realizadas] de três em três meses”. (Profissional 1) “[As atividades são realizadas] a cada seis meses”.(Profissional 7) “Algumas [atividades] são semanais, outras eventuais”.(Profissional 3) O caráter esporádico foi mencionado repetidas vezes, variando o espaço de tempo que separa uma atividade educativa das outras. Ao lado de respostas dessa ordem, chama a atenção, a consideração de que: “Gostaria que [as atividades educativas] fossem freqüentes, mas, não consigo”.(Profissional 2) Além do caráter esporádico das atividades educativas no Programa de reabilitação, vale dizer que algumas delas começam e terminam sem desdobramentos posteriores. Tais informações fortaleceriam a visão de que “as práticas de educação em saúde são“enfeites” na rotina de atendimentos, com aparência progressista, mas sem resultados significativos”, como coloca VASCONCELOS (1999). Menos da metade dos entrevistados mencionaram a realização freqüente de atividades educativas, considerando a periodicidade de menos de um mês: “[É uma atividade realizada] uma vez por semana em cada Unidade Básica de saúde”.(Profissional 8) 92 “Faço um grupo por mês e falo sobre um assunto que a comunidade está precisando. O posto fica aberto à comunidade e é lá que vão buscar ajuda que não encontram nas escolas e em espaços culturais. Os profissionais da saúde têm obrigação de orientar essas pessoas (....)”. (Profissional 12) Em relação a este último depoimento registra-se o respeito à população, ao lado do reconhecimento de que no ato de educar, muito mais do que a consideração de técnica ou conteúdos a serem ministrados, pressupõe desenvolvimento de uma participação responsável, atendendo aos princípios do PSF (BRASIL, 1997). Avaliação das Atividades Educativas A avaliação destas atividades nos depoimentos profissionais, aparece como produto de relato de pacientes, de agentes comunitários de saúde, reportando a constatação do número crescente de pessoas que participam destas atividades: “Faço duas avaliações: (...) observo o retorno dos pacientes em outras atividades, e (...) o retorno trazido pelas agentes comunitárias, pelos médicos e enfermeiros da equipe de saúde da família”.(Profissional 6). “A avaliação que tenho vem do relato dos agentes comunitários que acompanham de perto a vida dessas pessoas”. (Profissional 9) “(...) faço um questionário e eles próprios avaliam. O que observo é que o número de participantes sempre aumenta”. (Profissional 8) 93 “Sempre passo um questionário para saber o que acharam da apresentação”.(Profissional 7) Salvo indícios esporádicos da intencionalidade da avaliação, parece prevalecer o caráter informal dessa prática, ancorado em apreciações pessoais, reiterando observações realizadas anteriormente na consideração dos questionários. Ao lado do possível despreparo apontado anteriormente, as referências aos componentes da organização prévia das atividades educativas, não dão conta de um tratamento sistemático, inexistindo informações relativas à realização de um planejamento participativo – em contraposição ao normativo - nos termos apontados por BATISTA (2005) e GOLDENBERG (2005), onde a avaliação constitui um instrumento de reorientação das atividades em curso. Em meio à sinalização de aproximações, tanto em relação ao modelo tradicional de ensino, quanto ao modelo dialógico, no sentido atribuído por ALVES (2005), estes resultados apontam para a heterogeneidade de formação dos profissionais da reabilitação. Reafirmando a propriedade da atualização neste campo de conhecimento, a consideração das práticas educativas, no âmbito do PSF induz à consideração das condições propiciadas pela instituição – o que nos remete aos limites e potencialidades identificadas no exercício das práticas referenciadas. Limites e Potencialidades Em relação às dificuldades e facilidades relativas ao desenvolvimento de atividades educativas, os profissionais referiram, com destaque, a falta de tempo e/ou de apoio institucional: “[Encontro] dificuldade [pela falta] de tempo, burocracia, disposição das pessoas, adesão de outros profissionais. [Considero que] não têm facilidades, uma vez que convido as pessoas, me empenho e elas não notam [o esforço que a atividade envolve]”.(Profissional 2) 94 “As maiores dificuldades são a falta de tempo e dispor de autorização da supervisão da saúde. E as facilidades acontecem quando somos autorizados (...), há um bom espaço e temos recursos materiais”. (Profissional 7) “[As dificuldades que] encontro são a [falta de] tempo, falta de material, falta de apoio. A facilidade é que a comunidade está sempre disposta a ajudar”.(Profissional 12) “As dificuldades que encontram são: a falta de material, tempo, a carga horária, trabalhar em várias unidades. E a facilidade é o interesse da comunidade neste tipo de atividade”.(Profissional 3) “Acho difícil montar uma atividade educativa com outros profissionais, realizo sozinha. Quanto mais olhares sobre o grupo, mais há possibilidades de mudanças. A facilidade é do resultado [que] é visível; as pessoas mudam [com a atividade]”. (Profissional 9) O argumento da falta de tempo, reiterada pelos vários profissionais, se associa certamente, ao trabalho em várias unidades. A falta do apoio institucional também se traduziu, na expressão dos profissionais, referenciada a limitada valorização, da parte dos profissionais, para participar das atividades educativas grupais, bem como, às dificuldades burocráticas da autorização para a realização de atividade. Num outro plano o apoio foi referenciado à questão da falta de recursos materiais. Nesse sentido, de acordo com os relatos, pudemos constatar que, a instituição, não proporciona espaço efetivo para o desenvolvimento das atividades educativas. 95 Mereceu destaque o reconhecimento de limitações relativas à capacitação técnica para o desenvolvimento das atividades educativas grupais, conforme refere o depoimento que se segue: “Considero [dificuldade a] falta de uma estratégia mais técnica; percebo que outros profissionais, como os da fono, têm mais facilidade. A facilidade que tenho é de expressar-me muito bem através das palavras”.(Profissional 11) Esse relato distingue a falta de treinamento técnico relativo ao domínio das questões referentes à dinâmica grupal, ressaltando a diversidade de formação existente entre os profissionais que integram a equipe de reabilitação. Estes dados coincidem com as considerações realizadas anteriormente sobre a falta de consideração das atividades educativas no curso de capacitação para a atuação no PSF, que assim reduz o aprendizado às vivências empíricas esporádicas enfrentadas na prática, sem um preparo consistente. A participação da comunidade, por sua vez, ao constituir a medida de sucesso das atividades educativas, traz o contraponto das dificuldades referidas quanto à possibilidade de sua mobilização para compor os grupos. Nesse contexto, contar com a participação da comunidade, constitui de um lado como condição facilitadora; de outro, sua ausência aponta para o insucesso do empreendimento: “As dificuldades [estão relacionadas] aos horários limitados, ao espaço físico e pouca ou nenhuma verba. [Como facilidade] a adesão e o interesse da população”. (Profissional 1) “[Como dificuldade encontro uma] comunidade que não adere, e facilidade quando as pessoas compreendem o que está sendo dito”. (Profissional 10) 96 Delineia-se, assim, o caráter contraditório e/ou complementar da consideração da adesão da comunidade como uma condição que dificulta ou facilita a execução de uma atividade educativa - o que, em certa medida, também pode refletir a capacidade do profissional em planejar e executar a atividade educativa de forma competente. Capacitação profissional Dimensionando o contexto institucional do exercício das práticas educativas grupais, coloca-se a questão do preparo para o exercício das atividades educativas em grupo - 75% dos profissionais referiram falta capacitação: “... estamos mais acostumados a palestras. O profissional detém o saber e não está preparado para ouvir, valorizar e conhecer a verdade do outro. Não somos formados para isso, aprendemos a fazer avaliação, diagnóstico e terapêutica”.(Profissional 6) Ao lado da capacitação técnica os depoimentos ressaltam os limites de uma experiência fundada na prática, sem subsídios “teóricos” para avançar no desempenho das atividades educativas: “... se houvesse uma capacitação facilitaria muito, nós nos sentiríamos mais estimulados para ler, pensar, discutir. Muitas vezes, ficamos só na prática e é importante saber o que as pessoas estão pensando”.(Profissional l2) Conforme referido anteriormente é reiterada a diferenciação em termos de formação no âmbito da graduação entre as categorias de profissionais da equipe de reabilitação: “... como fisioterapeutas não temos formação para isso. A fonoaudiologia e a terapia ocupacional têm mais vivência. 97 Falta ao profissional conhecer esse tipo de abordagem e usa-la a favor de seu trabalho”.(Profissional 4) Estas diferenças, além de apontar para deficiências na formação, comportam desencontros no exercício das práticas educativas no âmbito da equipe multiprofissional, associadas ao conceito de saúde subjacente à concepção de Promoção de Saúde. “Se a relação saúde/doença for entendida como uma causa e você trabalhar somente a causa, há uma limitação. A saúde é algo global, os profissionais têm que fazer parcerias, mas eles não acham importante trabalhar em equipe. O conceito que eles têm de saúde é diferente e isso implica na ação de cada um. Não tem como preparar isso. Será que dar uma aula de como fazer uma atividade educativa resolveria?” (Profissional 9) “Falta-nos uma mudança no olhar. Se você acha que saúde só tem a ver com algumas coisas e não com uma mudança ambiental, social, psíquica, trata-se o assunto do ponto de vista orgânico, como causa e efeito. Se você olha com uma visão mais ampla suas ações e suas buscas na literatura serão diferentes, entram questões de formação, de como a pessoa se constituiu, a visão de saúde que ela têm, no que ela acredita”. (Profissional 9) Em 100% dos casos os profissionais pesquisam material de apoio para a construção de atividades didáticas, sendo significativas as falas: “... procuro material como fotos, material de fisioterapia; estudo; anoto o que vou falar”. (Profissional 1) “Recorro a textos de saúde pública, noticias de jornal, material de artes. Há um site sobre uma revista que fala da interface 98 entre a saúde e a educação, que fala sobre vínculo, acolhimento, com linguagem fácil, nada técnico”. (Profissional 12) Estas falas remetem tanto à busca no âmbito das especialidades como no âmbito da Saúde Pública. Tal esforço aponta para a necessidade de dimensionar as intervenções no âmbito da Saúde Coletiva, o que pressupõe o equacionamento da reabilitação no âmbito da Promoção de Saúde – que, certamente, constitui um campo de atuação em construção. Em relação às necessidades de capacitações profissionais foram enfáticos: “Isso sim falta, porque muito do que faço é por iniciativa própria: faço tudo sozinha. Tem profissionais que não tem esta vontade, não por não querem, mas, porque têm um dia corrido. Se esse assunto [atividade educativa] fosse focado no Introdutório no Pólo de capacitação, por mais que fossem momentos curtos e rápidos, talvez nos sentiríamos mais estimulados a ler, a discutir, a saber, o que esta acontecendo(...), é a coisa do estímulo, mesmo, de ir querer pensar, querer discutir. Muitas vezes ficamos só na prática, mas precisamos de um subsídio teórico para saber como esta aquilo. Às vezes ficamos muito distantes só na prática, mas é importante saber como os autores estão pensando. As vezes o que estão escrevendo está muito longe do que estamos fazendo”.(Profissional 12) “Creio que é importante saber porque alguma atividade não deu certo, assim uma capacitação seria muito útil”. (Profissional 3) Sem desconsiderar a importância de uma capacitação específica para o exercício das atividades educativas grupais, alguns entrevistados questionam as restrições que um 99 curso pode comportar, diante da natureza e do contorno mais amplo da formação. “Acho que tudo está relacionado à formação da pessoa. Se esta formação for rígida, centrada, não vai adiantar (...) talvez fosse interessante mostrar o quanto se ganha, ouvindo, trocando-se idéias e não só falando, falando”. (Profissional 5) “Mas acho que isso [a forma como é realizada a atividade educativa] seja do conceito que eles tem de saúde que é diferente [de uma concepção ampla de saúde], então, isso implica na ação que eles irão fazer. Não acho que seja falta de preparo, acho que nem tem como preparar muito para isso”.(Profissional 9) Estas manifestações de resistência conclamam a necessidade de uma capacitação para além da instrumentalização das atividades educativas. Trata-se, a propósito, não só de questionar os referenciais teóricos metodológicos do processo de ensinoaprendizagem, mas de compatibilizar estes processos com a concepção condizente de Promoção de Saúde. Isso pressupõe, ao lado do movimento instrucional, a criação de espaços de reflexão, em âmbito institucional, de forma a propiciar o desenvolvimento de um campo de conhecimentos e práticas em construção. 100 5 Considerações Finais Os profissionais de Reabilitação que atuam na Coordenadoria Leste de São Paulo/ Santa Marcelina realizam atividades educativas grupais. Sendo jovens, eles participam de um programa novo e inovador, chamando a atenção a ausência de preparo para exercício destas atividades no curso de capacitação para o PSF. Dirigidas para funcionários e comunidade, a grande maioria destas atividades educativas ocorrem no espaço das UBS, não sendo utilizada a potencialidade que o PSF proporciona, no sentido de uma atuação no espaço das vivências da população. Em meio à abrangência da área de atuação sob os encargos dos profissionais de reabilitação, as atividades educativas se fazem, na maioria dos casos, de forma esporádica, envolvendo, inclusive, intervalos superiores a três meses. Não constituindo propósito do presente estudo, verificar se esse volume atende, ou não, aos 10% reservados para atividades de Promoção de Saúde, é preciso cuidar do fato de que esta normalização, também, não esteja engessando as atividades que pretende resguardar considerada esta norma como indicativa das dificuldades de operacionalização do conceito de Promoção de Saúde na prática profissional. Cumprindo com os aspectos formais da organização das atividades grupais, busca-se a participação de outros profissionais – em que pese as dificuldades encontradas nesse sentido – assim como, tem presente a requisição do número mínimo de participantes, que constitui um item de dificuldade a ser enfrentado. As estratégias por sua vez, dão conta, em parte, da participação ativa dos educandos, condição para a caracterização da incorporação de práticas dialógicas, compatíveis com a lógica do PSF. Quanto ao planejamento e avaliação das atividades educativas grupais, o estudo sinaliza para a informalidade de seu tratamento. Estes resultados apontam para a propriedade de investir na atualização dos profissionais de reabilitação, no sentido de 101 instrumentalizar, para além do planejamento normativo, o entendimento da avaliação, como recurso de retroalimentação das disposições relativas às atividades desenvolvidas, de forma a garantir a (re) adequação à dinâmica de uma realidade em construção. A propósito da qualificação das práticas educativas grupais, o estudo observa indícios de aproximações tanto à posturas higienistas como a concepções de promoção de saúde, que conferem a marca distintiva do PSF – condizente com a falta de preparo, nesse campo, para atuar no PSF. As considerações sobre os objetivos e a importância das atividades grupais reafirmam a convivência dessa dupla vertente associada ao modelo tradicional - de caráter transmissivo, com a comunicação unilateral e de cunho comportamentalista tanto quanto ao modelo dialógico. Vários depoimentos são expressivos quanto a esta identidade, explicitando, a propósito das estratégias adotadas, a participação ativa dos educandos, partilhando a idéia de um processo de co-responsabilidade no equacionamento dos problemas vividos na realidade, na abrangência da atuação das UBS. Estas apreciações comportam duas ordens de consideração. Num primeiro plano, elas reportam a heterogeneidade e possíveis desencontros no seio da própria equipe profissional. Num outro plano, para além da dicotomia estrita observada na qualificação das atividades educativas grupais, ressalta-se a idéia de que os propósitos da Promoção de Saúde no PSF se associam à estratégia dialógica, na medida em que pressupõem o desenvolvimento da autonomia do educando, como requisito da coresponsabilidade entre o serviço e a população. E, é sobre este eixo que se delineia o papel da atividade educativa: como elemento adicional aos procedimentos curativos, que legitimam o caráter esporádico (enfeite) de sua realização, ou, como atividade que mantém uma relação orgânica com a promoção de saúde. Na verdade, a opção por qualquer estratégia e a correspondente concepção do processo ensino-aprendizagem, não se estrutura independente da concepção de saúde e de promoção. Sem excluir ou descaracterizar as atividades curativas, se trata de redimensionar práticas no âmbito da Promoção de Saúde. A propósito, compatibilizar a 102 reabilitação com a Promoção de Saúde implica, certamente, num desafio. Ao lado do movimento de desconstrução das marcas de um termo cunhado pelo modelo da História Natural da Doença (LEAVELL E CLARK, 1965), esse desafio envolve o desenvolvimento do espaço de uma nova construção. Sem dúvida, esse esforço pressupõe investir na capacitação profissional – o que implica numa disposição institucional de minimizar os limites apontados em relação à falta de tempo dos profissionais, aos requisitos burocráticos e materiais para o exercício das práticas educativas. Para além destas observações, entretanto, se trata de cuidar das atividades educacionais a serem inscritas num espaço de reflexão compromissado com o pensar e repensar a reabilitação, no âmbito da Promoção de Saúde e no âmbito do Programa de Saúde da Família. RECOMENDAÇÃO Com base nessas apreciações, o estudo recomenda o desenvolvimento de um aprimoramento dos profissionais de reabilitação em relação às atividades educativas grupais, como subsídio para a concretização da participação ativa da comunidade associada à concepção de promoção de saúde, no contexto do Programa de Saúde da Família. Registramos a apresentação e discussão desta proposta no IV Encontro ReabLeste da Prefeitura Municipal de São Paulo, no dia 12 de julho de 2007, a qual foi endossada pelos profissionais (anexo 8). 103 REFERÊNCIAS AYRES, J.R.C.M. Sujeito, Intersubjetividade e práticas de saúde. Ciênc. Saúde Coletiva. v.6, n.1, p 63-70, 2001. ALBUQUERQUE, P.C., STOTZ, E.N. – A educação popular na atenção básica à saúde no município: em busca da integralidade. Interface. – Com., Saúde, Educ., Botucatu, v.8, n15,p. 259-274,mar/ago 2004. ALMEIDA, M.C.; OLIVER, F.C. 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