Exposição “Afinal era uma borboleta”, de João Queiroz
Por Laurem Crossetti
Está em cartaz até o dia 10 de fevereiro de 2013 a individual do pintor português João
Queiroz, no Pavilhão Branco do Museu da Cidade, em Lisboa. Intitulada “Afinal era uma
borboleta”, estão expostas nos dois andares do espaço seis pinturas a óleo realizadas especialmente
para essa ocasião.
A pintura de Queiroz, mesmo sendo de grandes dimensões, não se interessa pelo grito ou
pela monumentalidade. Pelo contrário, prefere as provocações causadas por detalhes delicados e
especiais - aqueles que só um olhar atento e disposto pode perceber. Prova disso é o título da
mostra, frase extraída de um hai-kai japonês que trata exatamente da questão de darmos mais
atenção ao sutil, de percebermos a complexidade contida nas coisas aparentemente simples.
Portanto, ao visitar a exposição, esteja de olhos bem abertos. Observe com delicadeza a
relação entre o espaço interior do Pavilhão Branco e o ambiente externo. Perceba a tensão existente
entre estas diferentes paisagens. Procure ver nas obras as diferenças e similitudes entre os elementos
pictóricos e os naturais. Repita a tentativa de compreender o vocabulário capcioso e particular do
artista.
Ao fim do percurso da visita percebemos que a pintura de paisagem realizada por Queiroz
não procura retratar nenhum lugar conhecido ou existente. Nem pretende tampouco propor ao
visitante uma experiência de contemplação livremente desinteressada. O artista utiliza os elementos
comuns ao gênero da paisagem para criar representações não-descritivas da natureza e sua
preocupação gira muito mais em torno dos atritos que podem ser gerados na relação entre o
observador e a obra.
Seja pela dimensão, pela sensação de profundidade da paisagem, pela mistura de pinceladas
e espessuras de tinta ou mesmo pelo incômodo causado por aquela natureza desconhecida, é
particularmente difícil mantermos uma postura passível perante a pintura de Queiroz. Questionando
tradições e embaralhando gêneros da pintura, arrisco dizer que o que o artista nos propõe são
abstrações da anti-natureza e não-retratos da paisagem.
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