TEORIA DO CAOS José Júlio Martins Tôrres1 “Sistemas não podem evoluir (gerar novos padrões) em estados de equilíbrio ou próximos do equilíbrio.” Ilya Prigogine “Um empreendimento que não inova, quer se trate de uma empresa ou de qualquer outra instituição, não sobrevive por muito tempo.” Peter Druker A “Teoria do Caos”, assim denominada pelo físico norte-americano James Yorke, teve seu início nos estudos do meteorólogo, também norte-americano, Edward Lorenz, do Massachussets Institute of Technology (M.I.T.), sobre previsões climáticas. Ele conseguiu mostrar que com equações envolvendo apenas três variáveis – temperatura, pressão atmosférica e velocidade dos ventos – era possível fazer previsões do tempo. Lorenz apresentou uma palestra em uma sessão dedicada ao Programa de Pesquisa da Atmosfera Global, no CXXXIX Encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Washington, D.C., em 1972 com o título “Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?”, de onde surgiu a famosa metáfora da Teoria do Caos conhecida como o “Efeito Borboleta” – pequenas causas podem provocar grandes efeitos, independentes do espaço e do tempo. A Teoria do Caos é uma parte importante dos sistemas dinâmicos não-lineares (complexos). O clima é um fenômeno reconhecidamente caótico. Os estudos de Lorenz vieram mostrar cientificamente o determinismo do caos. Um sistema caótico não é aleatório e nem desordenado, pois existe uma ordem, e um padrão no sistema como um todo. É o chamado caos determinístico, pois existe uma equação que define o seu comportamento. Esta equação pode ser representada graficamente, formando uma bela figura chamada atrator. A Teoria do Caos permite que as pessoas passem a ver ordem e padrão onde antes, por conta de uma visão reducionista de mundo, só se observava a aleatoriedade, a irregularidade e a imprevisibilidade. Podemos dizer que com a visão complexa de mundo a realidade tem uma irregularidade regular, uma imprevisibilidade previsível, uma desordem ordenada. O caos pode ser definido como um processo complexo (no qual tudo está tecido junto) – qualitativo e não-linear – caracterizado pela (aparente) imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico. Os estados deste processo podem ser perfeitamente quantificáveis e previsíveis pela utilização de modelos matemáticos, analíticos ou numéricos que descrevem o sistema utilizando equações não lineares além de equações lineares que se utilizavam até bem pouco tempo. Sistemas simples podem apresentar comportamento complexo. Sistemas complexos podem dar origem a comportamentos simples. As relações de causa e efeito não são proporcionais e nem imediatas. A saída gerada por um ciclo do sistema pode ser iterativa, pode alimentar o ciclo seguinte. Os estudos da termodinâmica deram um grande impulso à Teoria do Caos. Ilya Prigogine (19172003) (Prigogine, 1997), um cientista estudioso da termodinâmica, laureado com o Prêmio Nobel de Química, diz que “ordem e organização podem surgir de modo ‘espontâneo’ da desordem e do caos, produzindo novas estruturas, por meio de um processo de auto-organização”. Nenhuma estrutura 1 José Júlio Martins Tôrres é Consultor (aposentado) do Banco do Nordeste, com formação em Consultoria em Método de Processo; Economista pela UFC; Especialista em Computação pela UFC; Especialista em Educação Biocêntrica pela UVA; Mestre em Informática pela PUC/Rio de Janeiro; Professor do Departamento de Computação da UFC – Universidade Federal do Ceará e do Departamento de Informática da UNIFOR – Universidade de Fortaleza; Instrutor de Desenvolvimento de Equipe e Estratégia Corporativa no Banco do Nordeste; Ministra treinamentos e facilita grupos de desenvolvimento humano em empresas; Estudioso da Teoria da Complexidade aplicada à Educação e às Organizações. José JÚLIO Martins TÔRRES – Web Site: www.juliotorres.ws – Blog: blogjuliotorres.blogspot.com – E-mail: [email protected] viva pode ser permanentemente estabilizada. Seria a morte. Para Prigogine (Prigogine, 1997), um sistema pode estar “em equilíbrio”, “perto do equilíbrio” ou “distante do equilíbrio”. Um sistema “em equilíbrio” não gera nova informação, apenas processa a informação já existente. Um sistema “perto do equilíbrio” gera pouquíssima informação, apenas adapta-se, e muito lentamente. Já um sistema “distante do equilíbrio” gera muita informação, não somente se adapta e tanto evolui rapidamente como produz revoluções. É no “Limiar do Caos”, com liberdade suficiente para criar e com estrutura suficiente para não desmoronar que os sistemas apresentam a sua melhor produtividade. Nós temos que reconhecer que nós somos uma metamorfose ambulante, como dizia um maluco: Metamorfose Ambulante Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante... Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo... Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo... Sobre o que é o amor... Sobre que eu nem sei quem sou... Se hoje sou estrela, Amanhã já se apagou... Se hoje eu te odeio, Amanhã lhe tenho amor... Lhe tenho amor... Lhe tenho horror... Lhe faço amor... Eu sou um ator... Raul Seixas – Maluco Beleza. O Atrator Caótico – a ordem no caos A segunda lei da Termodinâmica afirma que os sistemas tendem à desordem. Uma das grandes descobertas da ciência da complexidade foi mostrar que alguns sistemas tendem à ordem, graças aos atratores caóticos. Atrator é uma região (subconjunto) do espaço de fase de sistemas dissipativos para a qual tendem as trajetórias que partem de determinada região. É como um campo de força que exerce uma certa atração numa determinada região do espaço. Os atratores representam o processo de autoorganização dos sistemas. Digamos que o sistema é todo este retângulo da figura 01. Mas existe uma zona de convergência para a qual determinadas trajetórias são puxadas. É um campo de força, como se fosse um campo magnético. Este é o famoso “Atrator de Lorenz”. Isto é no espaço, é tridimensional. Representa a previsão de tempo na Meteorologia. Uma fórmula – envolvendo pressão, temperatura e velocidade dos ventos – colocada no computador, vai dar uma figura desta e, com isso, se sabe que vai chover numa determinada região amanhã, ou depois. Fig. 01: Atrator de Lorenz Um ponto que está viajando nessa figura vai passar de um lado para o outro quando chegar bem na metade vertical do retângulo. Não se sabe para qual das asas ele vai, mas vai para uma dessas asas. E vai ficar fazendo ziguezague no espaço. Mas existe certeza absoluta de que este ponto jamais vai aparecer bem num dos cantos do retângulo. Nem em nenhuma região fora da zona de convergência. Os gestores e os educadores são exatamente os atratores que devem criar a ambiência e os processos para que o processo de docência-desenvolvimento-aprendizagem aconteça. A formulação e a implementação da Estratégia, bem como a Docência, Desenvolvimento e Aprendizagem não se dão José JÚLIO Martins TÔRRES – Web Site: www.juliotorres.ws – Blog: blogjuliotorres.blogspot.com – E-mail: [email protected] 2 separados ao longo do tempo, são concomitantes. Os gestores e os educadores devem provocar o desequilíbrio, a incerteza por meio da problematização, exatamente para criar a zona de desenvolvimento proximal, que é onde a pessoa cria a informação. Na zona de desenvolvimento efetivo ocorre apenas o processamento da informação, a aprendizagem já foi efetivada. À luz da Teoria do Caos os líderes são atratores caóticos (essenciais) que põem a ordem no caos. Executivos superiores são catalisadores que criam ambientes e processos para que as coisas aconteçam. Os próprios processos e as mudanças são atratores. Um processo puxa outro. Cada mudança leva a uma nova mudança. Como os humanos têm uma capacidade ilimitada para criar novas conexões e significados, os processos e sistemas que têm as pessoas como componentes são fortemente caóticos. A Teoria do Caos realça a necessidade de a organização criar (em vez de processar) informações para a auto-renovação; de gerir a capacidade de mudar, em vez de gerenciar as mudanças; da incerteza para a evolução dos processos. Os processos estratégicos são freqüentemente projetados para reduzir a incerteza e diminuir a complexidade nas organizações. A Teoria do Caos sugere que os processos estratégicos devem ser usados para criar incerteza, pois o foco deve ser na criação de informação, e não no processamento dela. Edgar Morin afirma que “conhecer ou pensar não consiste em construir sistemas sobre as bases certas – é dialogar com a incerteza” (MORIN, 2000, p. 163). A sustentabilidade surge dos processos que mantêm as partes conectadas e não de arranjos estruturais que impõem a forma. As escolas precisam concentrar-se na solidez e absorção das mudanças, em vez de na resistência às mudanças. Segundo Prigogine (1997), “Sistemas não podem evoluir (gerar novos padrões) em estados de equilíbrio ou próximos do equilíbrio”. O desequilíbrio (processo dissipativo) é tido como uma fonte de ordem. Antoni Colom (COLOM, 2004, p. 134) afirma: “Acredito que a teoria do caos cumpra essa missão de nos mostrar, tal como é, a realidade da educação: fenômeno irreversível no temporal, de alta complexidade, absolutamente nãolinear, com diferenças significativas em seu ponto de partida (a diversidade genética e social, biológica e psicológica, cultural e de classe, que já se dá entre as crianças das escolas infantis), imprescindível, de alta contingência, continuamente estruturante e, por estruturar, dinâmico e, definitivamente, caótico”. A Teoria do Caos é aplicada no estudo de fenômenos caracterizados pelo comportamento nãolinear, qualitativo, dinâmico, instável, aperiódico, impreditível, porém determinístico – pois existe uma equação matemática, embora não-linear, que determina o comportamento. BIBLIOGRAFIA COLOM. A. J. A (des)construção do conhecimento pedagógico: novas perspectivas para a educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. PRIGOGINE, I. The end of certainty: time, chaos, and the new laws of nature. New York: Free Press, 1997. José JÚLIO Martins TÔRRES – Web Site: www.juliotorres.ws – Blog: blogjuliotorres.blogspot.com – E-mail: [email protected] 3