Estudo do Efeito da Energia de Desgaste na Previsão da Durabilidade de Gnaisse Ornamental de Pádua-RJ José Luiz Ernandes Dias Filho Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, [email protected] Paulo César de A. Maia UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, [email protected] Gustavo de Castro Xavier UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, [email protected] Priscila Alves Marques Fernandes UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, [email protected] RESUMO: Este trabalho apresenta uma avaliação do comportamento de um gnaisse ornamental proveniente de pedreira da Região Norte Fluminense, submetida a processo de degradação acelerada em equipamento de degradação. Foi analisado o comportamento do material rochoso através do ensaio de resistência a desgaste, utilizando-se corpos de prova prismáticos. Observou-se um significativo aumento no desgaste dos materiais estudados, alterados aceleradamente no laboratório, quando comparada ao intacto. No estudo a variação da energia de desgaste é feita através da variação da velocidade de rotação de um equipamento slake durability, adaptado para a pesquisa. Os resultados indicam que o aumento da velocidade de rotação da câmara de desgaste provoca um aumento não linear do desgaste. Esse comportamento confirma que a velocidade de alteração da rocha é maior em ambientes com maior energia de degradação e que o nível de alteração não obedece a uma função linear com a energia de degradação do meio. Este trabalho traz uma análise crítica sobre o assunto e assim, espera-se melhor entender a relação entre a energia de desgaste e a durabilidade nos materiais estudados. PALAVRAS-CHAVE: Rocha ornamental, desgaste, durabilidade. 1 INTRODUÇÃO A durabilidade de materiais geotécnicos se constitui hoje um importante objeto de pesquisa na engenharia geotécnica. Isso se justifica, sobretudo pela constatação de problemas relacionados à eventual degradação rápida de alguns materiais, trazendo prejuízos financeiros às obras. Aspecto relevante no estudo da durabilidade é a relação entre a energia de desgaste e a durabilidade dos materiais. Neste sentido, um mesmo material pode ser considerado apropriado sob determinadas condições intempéricas, enquanto que em outras não. As dificuldades experimentais para avaliação desta interação se maximizam quando os procedimentos de laboratório traduzem a durabilidade como uma função da alteração provocada sob uma determina energia de desgaste associada a um procedimento de ensaios em particular. Dentre os materiais de construção, a rocha está presente na construção civil com diversidade em suas aplicações. Antes de serem extraídos das jazidas, porém, estes materiais apresentam-se num estado de alteração equilibrado com o meio, o qual foi atingido num intervalo geológico de tempo, ou seja, de centenas a milhares de anos. A partir do momento em que temos a extração até a aplicação temos a mudança do meio. Então, a rocha passa a sofrer transformações em busca de equilíbrio. A velocidade de alteração no novo meio depende da susceptibilidade da rocha à alteração. Assim, a alterabilidade vai depender das características do material, do meio externo e do tempo de exposição. Dependendo das características de alterabilidade, a rocha pode sofrer alterações em um intervalo de tempo que pode variar de milhares de anos a poucos meses. Neste sentido, o presente trabalho busca o estudo da durabilidade de rochas, especialmente as utilizadas em fachadas de edifícios, considerando-se as variações da energia de desgaste provocada pelos diferentes ambientes exógenos. Sendo assim, A seleção destes materiais se justifica pelas suas características intrínsecas, normalmente susceptíveis à degradação, além da frequente utilização em obras. A rocha de estudo é um gnaisse minolitizado proveniente de Santo Antônio de Pádua/RJ denominado comercialmente de Pedra Olho do Pombo. No estudo a variação da energia de desgaste é feita através da variação da velocidade de rotação de um equipamento slake durability, adaptado para a pesquisa. A literatura cita exemplos de estudos com durabilidade e procedimentos com análise do comportamento de rochas decorrentes da alteração de rochas utilizadas na construção civil utilizando o slake durability e na (Tabela 1). Tabela 1. Alguns trabalhos desenvolvidos em degradação com slake durability em rochas. Material Referência Análises realizadas Observação utilizado Índices Físicos, Esclerometria, Basaltos e Ensaios adequados para a previsão do Maia (2001) Slake Durability Test granitos comportamento dos materiais e Micro Deval Índices Físicos, Esclerometria, Rochas Ensaios adequados para a previsão do Dhakal et al (2002) Slake Durability Test sedimentares comportamento dos materiais e Micro Deval Lashkaripour e Análise Petrográfica e Resultados variando de acordo Rochas brandas Boomeri (2002) Slake Durability Test com mineralogia das rochas. Agustawijaya Mudanças significativas dos resultados de Rochas brandas Slake Durability Test (2003) acordo com a geometria dos corpos de prova Alterações físicas nos materiais e mudança na Fuenkajorn & ScriVárias Rochas Slake Durability Test resistência mecânica. Durabilidade in(2007) satisfatória Análise Petrográfica, Poin O material rochoso entre 25 a 40 anos Nunoo et al (2009) Granito Load e Slake Durability Test apresentam ainda alta resistência Índices Físicos e Fuenkajorn (2010) Rochas brandas Alterações físicas nos materiais Slake Durability Test Rochas Correlação da quantidade dos ciclos no Slake Yagis (2010) Slake Durability Test sedimentares na análise de resultados Rochas Modificação no tempo de duração do ensaio e Keaton et al (2010) Slake Durability Test sedimentares eliminação do processo de secagem. Slake Durability Test, Point Confirmou-se baixa durabilidade deste Miscevic (2011) Rochas brandas Load e Índices Físicos material de acordo com teor de carbonato 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Material de Estudo O material rochoso analisado é oriundo de Pedreiras de Santo Antonio de Pádua, localizada ao norte do Estado do Rio de Janeiro. Vale destacar que a rocha estudada é utilizada para fins ornamentais e é reconhecida na prática como a Pedra Olho de Pombo. Esta rocha é um de gnaisse quartzo milonitizado de granulação média com porfiroclastos de ortoclásio branco, rico em quartzo. Soldati (2004) realizou alguns estudos que caracterizam o material rochoso da região quanto as suas características físicas e mecânicas. 2.2. Metodologia de estudo 2.3. Programa experimental A metodologia para a avaliação da alteração de rochas está ilustrada na Figura 1 (Maia et al., 2001). É importante que o material seja representativo da condição intacta e da condição de alteração no laboratório e no campo. O presente trabalho realizou uma comparação entre o desgaste do material intacto e o degradado em laboratório, destacado em cinza no fluxograma. Esta metodologia difundiu-se no meio acadêmico e para o material em estudo há trabalhos importantes de caracterização e durabilidade com Salles & Maia (2004) e Maia & Salles (2006). O parâmetro do material estudado foi a perda de massa através do desgaste. Para isso foi utilizado o equipamento slake durability adaptado para esta pesquisa (Fig. 2). Este equipamento possui características físicas segundo a norma Rock Characterization Testing and Monitoring da ISRM (1981). No equipamento a amostra é colocada dentro de uma câmara metálica cilíndrica vazada, que roda em torno de um eixo horizontal, promovendo o choque das partículas de rocha entre si. A câmara é parcialmente submersa o que permite o contacto das partículas com a água, favorecendo a desagregação por desgaste. No estudo a variação da energia de desgaste é feita através do controle da velocidade de rotação da câmara. Foram utilizados sete níveis de rotação: 10, 20, 40, 80, 140, 150 e 160 rotações por minuto. Para a avaliação do material alterado no laboratório foram produzidas amostras degradadas por lixiviação contínua com três tempos de degradação: 12, 18 e 34 dias na lixiviação. Esses ensaios foram conduzidos no Laboratório de Engenharia Civil da UENF utilizando o Equipamento de Degradação Universal da UENF. Através deste equipamento é possível submeter amostras de rocha de grande volume a condições controladas de temperatura, precipitação e de umidade. Cada amostra é constituída por 10 partículas cúbicas com 3 cm de lado, aproximadamente. E a quantidade de material utilizado para a pesquisa resultou em 28 amostras, totalizando 280 partículas, sendo: 7 amostras intactas e 21 amostras submetidas a degradação por lixiviação contínua. MATERIAL DE ESTUDO Material intacto Alteração no laboratório Material alterado no campo Material alterado em laboratório Parâmetros do material alterado no laboratório Parâmetros do material intacto Parâmetros do materia alterado no campo Correlações do tempo de alteração no campo com o tempo de alteração em laboratório Previsão do comportamento do material a longo prazo Figura 1: Organograma ilustrativo da metodologia para avaliação da alterabilidade de materiais rochosos Para a avaliação do desgaste do material é suficiente comparar os parâmetros do material alterado com os parâmetros do material intacto. No entanto, para análise mais profunda do comportamento do material em outras regiões, onde este será aplicado, faz-se necessário a produção de amostras para realização de ensaios em diferentes energias de desgaste. Deste modo, uma parte do material intacto deve ser destinada para os ensaios de alteração acelerada no laboratório. Após o processo, serão medidos os parâmetros do material alterado para os diferentes níveis de alteração. Figura 2: Equipamento Slake Modificado. 3. RESULTADOS E ANÁLISES. Os resultados experimentais indicam que a perda de massa aumenta com a energia de desgaste e com no nível de alteração de laboratório. Com o aumento do número de ciclos no ensaio observa-se uma sensível redução da taxa de aumento de desgaste. Isso deve ser consequência do arredondamento das arestas das partículas provocada pelo atrito no ensaio. A Figura 3 – A, apresenta a variação da perda de massa com o número de ciclos e com o número de rotações da rocha olho do pombo não degradado, obtido através do programa experimental. A Figura 3 - B, C e D, apresentam a variação da perda de massa com o número de ciclos e com o número de rotações para as amostras degradadas no laboratório, obtida através do programa experimental. 4,5% 4,5% 4,0% Perda de Massa 3,5% RPM 4,0% 140 3,5% 3,0% 80 2,5% 2,0% 1,5% 40 20 10 160 1,0% 0,5% 0,0% 0 1 2 3 4 Ciclos de Ensaio 140 80 2,0% 40 1,5% 1,0% 20 10 160 0,5% 0,0% 0 1 2 3 4 Ciclos de Ensaio 5 4,5% RPM 140 (D) 4,0% 3,5% 3,0% 80 2,5% 40 2,0% 1,5% Perda de Massa 3,5% Perda de Massa RPM 2,5% RPM 140 (C) (B) 3,0% 5 4,5% 4,0% Perda de Massa (A) 2,5% 40 2,0% 1,5% 1,0% 20 1,0% 0,5% 10 160 0,5% 0,0% 80 3,0% 20 10 160 0,0% 0 1 2 3 4 Ciclos de Ensaio 5 0 1 2 3 4 Ciclos de Ensaio 5 Figura 4: Resultado do ensaio na rocha Olho do Pombo intacto (A) e em laboratório para sete energias de desgaste diferentes nos seguintes tempos de degradação: (B) 12, (C) 18 e (D) 34 dias. A partir dos resultados experimentais pode-se determinar a variação da perda de massa com o número de rotações (Figura 4 – A, B, C e D). A partir destas figuras nota-se que a perda de massa cresce com o número de rotação. No entanto, a partir de um determinado número de rotações nota-se tendência à estabilização e logo uma posterior redução brusca da perda de massa com o aumento do número de rotações. Este comportamento se justifica pelo aumento da força centrífuga que provoca a redução da mobilidade relativa entre as partículas, até o limite onde as partículas ficam completamente imobilizadas e presas na parede da câmara. Neste momento o ensaio perde eficiência e não representa mais uma condição de campo. A determinação do numero de rotações teórico pode ser feito através do equilíbrio de forças presentes no momento crítico de movimentação da partícula na câmara (Figura 5). A partir do momento que o atrito é igual a força peso tem-se a RPM crítica (Equação 1). 4,5% 4,5% Ciclo (A) 4,0% 5° 3,0% 2,5% 2° 2,0% 1,5% 3,0% 2,5% 2° 2,0% 1,5% 1,0% 1,0% 0,5% 0,5% 0,0% 0,0% 0 20 40 60 80 100 120 140 160 RPM 4,5% 0 20 40 60 80 100 120 140 160 RPM 4,5% Ciclo 5° (C) 4,0% Ciclo 5° (D) 4,0% 3,5% Perda de Massa 3,5% Perda de Massa 5° 3,5% Perda de Massa Perda de Massa 3,5% Ciclo (B) 4,0% 3,0% 2,5% 2° 2,0% 1,5% 3,0% 2,5% 1,5% 1,0% 1,0% 0,5% 0,5% 0,0% 2° 2,0% 0,0% 0 20 40 60 80 100 120 140 160 RPM 0 20 40 60 80 100 120 140 160 RPM Figura 4: Resultado do ensaio na rocha Olho do Pombo intacto (A) e em laboratório comparando 2° e 5° ciclos em RPM diferentes nos seguintes tempos de degradação: (B) 12, (C) 18 e (D) 34 dias. v= Figura 5: Posição crítica da partícula na câmara metálica e sua equação de equilíbrio. W = Fc (1) Substituindo a Equação 2, 3 e 4 na Equação 1 e isolando “v” tem-se a Equação 5: W = força peso m g mv r = força de atrito tan Fc = força centrífuga (2) 2 (3) (4) gr tan (5) A divisão entre a velocidade da Equação 5 pela velocidade na parede da câmara é a rotação crítica do ensaio. O valor encontrado é próximo a 165 RPM. Através dos ensaios da Figura 4 constata-se que o número de rotações crítico não varia entre os resultados do 2° e 5° ciclos e observam-se duas situações. A determinação analítica teórica para a rotação crítica é confirmada. Porém, a partir de 140 RPM a curva de resultados apresenta-se em uma queda não acentuada contrariando a idéia de crescente perda de massa até a total inércia da partícula na parede da câmara. Como a principal causa se encontra a diminuição do atrito entre as partículas na câmara que pode ser observada durante o ensaio. A criação de um gráfico analítico (Figura 6) considera a análise de regressões lineares entre Máximo valor de perda de massa (%) os cincos primeiros pontos das figuras apresentadas. O coeficiente de determinação, R², diminui de 1 para 0,98 na última regressão com os 5 pontos. Este comportamento garante qualidade para utilização destes resultados. Os gráficos experimentais confirmam esta idéia onde o resultado já não será representativo após 140 RPM mesmo que a perda de massa se aproxima de zero somente em 160 RPM. Ciclo relação entre a energia de desgaste e a durabilidade nos materiais estudados. AGRADECIMENTOS Os autores registrar agradecimentos a CAPES e ao micro-empresário Antônio Camacho Brum pelo fornecimento do material estudado. REFERÊNCIAS 5° 2° 0 20 40 60 80 100 120 140 160 RPM Figura 6: Gráfico analítico. 4. CONCLUSÃO. A metodologia aplicada para o estudo da alterabilidade dos material rochoso Olho de Pombo mostrou-se adequada para o objetivo da pesquisa. No entanto ainda faz-se necessário à continuidade do programa experimental para permitir a previsão do comportamento dos materiais estudados em longo prazo correlação da energia de degradação no campo com o laboratório. A variação da perda de massa no material intacto ficou entre 0,27 e 1,91% no ensaio padrão. Porém com as outras seis variações da energia de desgaste durante o ensaio tem-se o mínimo com 0,13% e o máximo de 3,71%. É fundamental, também, o estabelecimento de procedimentos de laboratório que conduzam a determinação das características de durabilidade da rocha como uma função das características intempéricas do meio. Este trabalho traz uma análise crítica sobre o assunto e assim, espera-se melhor entender a Agustawijaya, D. S. (2003). Modelled Mechanisms in The Slake-Durability Test For Soft Rocks. Lecturer, Department of Civil Engineering, Faculty of Engineering Mataram Univerisity. DIMENSI TEKNIK SIPIL VOL 5, NO. 2: 87 – 92. Dhakal, G.; Yoneda, T.; Kato, M.; Kaneko, K. 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