Avaliação do Desgaste para Previsão da Durabilidade de Cerâmicas Vermelhas Bruno Magno Gomes Ramos e Paulo César de Almeida Maia Laboratório de Engenharia Civil - LECIV, Centro de Ciência e Tecnologia - CCT, Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro RESUMO: Este trabalho tem por objetivo a determinação da influência da forma das partículas no desgaste do material. Para isto, são utilizados corpos de prova cerâmicos fabricados a partir de massa argilosa e calcinados a três diferentes temperaturas. Este procedimento permite a obtenção de corpos de prova com diferentes formas e resistências. A determinação do desgaste é feita através do ensaio slake durability. São avaliadas dez formas diferentes de partículas: esfera, cubo, três formas cilíndricas e cinco formas prismáticas. Os resultados obtidos permitem mostram que a forma das partículas influencia significativamente no desgaste do material. A dispersão do valor do desgaste gerada pela forma das partículas sugere a necessidade da normalização dos resultados do ensaio slake durability a fim de uma previsão adequada da durabilidade do material. PALAVRAS-CHAVE: Cerâmica Vermelha, Durabilidade, Slake Durability, Alteração. 1 INTRODUÇÃO Particularmente na construção civil, as propriedades mecânicas de construção são fundamentais nos projetos de obras. Neste sentido, aspectos também importantes são as características de alteração e alterabilidade destes materais. A alteração é o processo de modificação das propriedades devido a exposição do material aos agentes de alteração do meio ambiente exógeno. A alterabilidade é definida como a maior ou menor susceptibilidade do material à alteração. Os principais agentes de alteração são de ordem climática, envolvendo processos físicos e/ou processos químicos Maia (2001). Dentre os processos de alteração, destaque especial merece o desgaste do material, que se caracteriza pela perda de material da superfície externa e redução de resistência mecânica (2). Deste modo, espera-se que o desgaste provocado pela alteração dos materiais possa afetar consideravelmente o custo das obras civis. As modificações das propriedades dos materiais de construção ocorrem de modo gradativo. No entanto, a literatura indica que alterações rápidas podem provocar até mesmo a ruptura de obras civis (3) (4) (5). A quantificação da alteração pode ser feita avaliando-se as modificações dos parâmetros dos materiais com diferentes níveis de alteração, tais como, resistência à tração e compressão, permeabilidade, e outros. Alternativamente, a durabilidade de materais pode ser feita através de ensaios de desgaste (Salles 2006). Dentre os diferentes tipos de ensaios de desgaste, desstaque especial merece o slake durability test (6). Este ensaio permite uma avaliação qualitativa utilizando-se pequenos fragmentos do material. No entanto, os fragmentos apresentam, normalmente, formas irregulares que podem condicionar o resultado de ensaio. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo avaliar o efeito da forma das partículas nos resultados dos ensaios de slake durability. Para isto são utilizados corpos-de-prova com dimesões e forma pre-estabelcidas, fabricados a partir de massa argilosa calcinda em forno em elevada temperatura. Os corpos de prova são constituidos, deste modo, por peças cerâmicas. A cerâmica é tradicionalmente definida como uma classe de materiais não metálicos, inorgânicos, cuja estrutura, após calcinação em altas temperaturas, apresenta-se inteira ou parcialmente cristalizada conferindo ao material cerâmico importantes propriedades, tais como: resistência ao ataque de produtos químicos, resistência à tração e a compressão e dureza. 2 MATERIAIS ESTUDO E MÉTODOS DE O material utilizado para moldagem dos corpos de prova foi o solo argiloso passante na peneira #10 (2mm). O solo é umedecido e homogeneizado a fim de se obter uma massa uniforme. A massa de solo é, inicialmente, extrusada e conformada para se obter partículas com diferentes formas (Tabela 1). As partículas foram calcinados a três temperaturas diferentes, 350, 500 e 900ºC. Estas temperaturas de queima permitem obter partículas com diferentes níveis de resistência, branda, média e alta, respectivamente. Destaca-se que o peso das partículas foram iguais a 53,8±4,6; 52,4±4,8 e 49,0±4,2g para as temperaturas de calcinação de 350, 500 e 900ºC, respectivamente. Tipo Tabela 1. Tipos e variações da forma dos corpos de prova. regulares Variações da forma cubo cilindro prisma prismas planas esfera concorrente esconso regular concorrente esconso cilindros regular A extrusora, equipamento utilizado para confecção dos corpos de prova, é apresentado na Figura 1. Figura 1. Extrusora para conformação de peças cerâmicas de pequenas dimensões. O desgaste é avaliado através do ensaio slake durability, freqüentemente, utilizado na determinação da durabilidade de rochas brandas. Neste ensaio, a amostra é composta de 10 corpos de prova que são introduzidos dentro de um cilindro metálico e vazado, malha com abertura de 2mm, no qual é colocado dentro de um recipiente com água. O nível d’água deve permanecer 2cm abaixo do eixo do cilindro. O conjunto é submetido a 200 revoluções durante 10 minutos, o que corresponde a uma baixa rotação em um curto intervalo de tempo. Este procedimento constitui um ciclo de ensaio. No ensaio slake durability a avaliação do desgaste é feito através da perda de massa observada em cada ciclo do ensaio. Considerase material perdido aquele que passa pela malha do cilindro metálico. Nesta pesquisa consideram-se os desgastes obtidos no primeiro e segundo ciclos de ensaio. O equipamento slake durability utilizado neste trabalho é apresentado na Figura 2. Os resultados indicam o aumento do desgaste com a redução da temperatura de queima (resistência) das partículas. Nota-se uma significativa influencia da forma das partículas no desgaste, independentemente do numero de ciclos de ensaio. As partículas esféricas apresentaram as menores taxas de desgaste. Isto se justifica pela ausência de arestas, que são mais facilmente desgastadas durante o ensaio. Nota-se que o efeito da forma no desgaste é influenciado pela temperatura de queima (resistência) das partículas. Figura 2. Equipamento Slake Durability. 50 3 primeiro ciclo segundo ciclo 45 RESULTADOS E ANÁLISES 40 35 Desgaste (%) A Figura 3 ilustra a variação do desgaste com a temperatura de queima das partículas esféricas. Destaca-se que o modo de variação do desgaste com a temperatura observado nas partículas esféricas dói similar ao das partículas com outras formas. 30 25 20 15 10 100.0 Cilindro esconso Cilindro plano Cilindro regular Prisma esconso Cilindro concorrente 0.1 Prisma concorrente 2º ciclo Prisma plano Esfera Desgaste (%) 1.0 Cubo 0 10.0 Prisma regular 5 1º ciclo Figura 4. Desgaste das partículas calcinadas a 350ºC 0.0 300 450 600 750 900 Temperatura (ºC) Figura 3. Variação do desgaste com a temperatura de queima das partículas esféricas. As Figuras 4 a 6 mostram, para cada forma de partícula, as perdas de massa do material calcinado a 350ºC, 500ºC e 900ºC, respectivamente, em função do número de ciclos de ensaio slake durability. As figuras 7 e 8 apresentam a variação do valor médio e a dispersão dos desgaste provocada pela forma das partículas no primeiro e segundo ciclo de ensaio, respectivamente. Nota-se uma significativa influência da forma das partículas no desgaste. Este efeito é melhor verificado pela variação da variância gerada pela forma das partículas para as diferentes temperaturas de queima (Figura 9). 3.0 primeiro ciclo segundo ciclo 100.0 2.5 Desgaste (%) 10.0 1.5 1.0 1.0 0.1 0.5 0.0 300 450 600 750 900 Cilindro esconso Cilindro concorrente Cilindro plano Cilindro regular Prisma esconso Prisma concorrente Prisma plano Esfera Prisma regular Temperatura (ºC) 0.0 Cubo Desgaste (%) 2.0 Desgaste (%) segundo ciclo primeiro ciclo 0.6 100.0 10.0 Figura 5. Desgaste das partículas calcinadas a 700ºC 0.7 Figura 7. Desgaste médio e desvio no segundo ciclo de ensaio slake durability 1.0 0.1 Desgaste (%) 0.5 0.0 300 0.4 450 600 750 900 Temperatura (ºC) 0.3 Figura 8. Desgaste médio e desvio no primeiro ciclo de ensaio slake durability 0.2 Figura 6. Desgaste das partículas calcinadas a 900ºC Cilindro esconso Cilindro concorrente Cilindro plano Cilindro regular Prisma esconso Prisma concorrente Prisma plano Cubo Esfera 0.0 Prisma regular 0.1 Da Figura 9 observa-se inicialmente a redução da variância no segundo ciclo de ensaio. Isto se justifica pelo menor efeito das arestas das partículas no segundo ciclo de ensaio. Nota-se, também, elevados valores da variância do desgaste devido a forma das partículas, sugerindo que o desgaste obtido pelo ensaio slake durability seja normalizado em função da forma das partículas para uma avaliação mais concreto da durabilidade do material. REFERÊNCIAS 80 70 1º ciclo Variância (%) 60 50 40 30 2º ciclo 20 10 0 300 450 600 750 900 Temperatura (ºC) Figura 9. Variância nos resultados dos ensaios de desgaste devido à forma das partículas 4 CONCLUSÕES O presente trabalho procura atingir o objetivo da avaliação da influência da forma das amostras no ensaio slake durability. Os procedimentos de ensaios foram adequados para a análise quantitativa da influência da forma dos materiais. A partir dos ensaios realizados, observou-se que o desgaste das amostras com diferentes formas é significativamente afetada pela resistência das peças cerâmicas. A forma das partículas afeta significativamente os valores de desgaste obtidos no ensaio slake durability. Os elevados valores da variância provocados pela forma das partículas indicam a necessidade da normalização do desgaste para uma avaliação adequada da durabilidade dos materiais. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Laboratório de Engenharia Civil (Leciv) pelo apoio laboratorial, ao Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio pelo empréstimo do equipamento de ensaio Slake Durability, à Cerâmica Primeira pelo fornecimento do material de estudo e à Tecnorte pelo apoio financeiro. Alexandre, J. - Análise de matéria-prima e composições de massa utilizada em cerâmicas vermelhas, Tese de Doutorado, fevereiro (2000). Amorim, L. V.; Neves, G. A.; Oliveira, R. A.; Ferreira, H. C. Estudo da Expansão por Umidade (EPU) em Tijolos Cerâmicos Provenientes de Edifícios em Alvenaria com Falência Estrutura. Florianópolis, (2001). ASTM - American Society for Testing Materials. Slake Durability of Shales and Similar Weak Rocks. Reaproved1992. ASTM Test Designation: D 464487, (1987). Fookes, P. G.; Gourley, C. S.; Ohikere, C. Rock Weathering in Engineering Time. Quarterly Journal of Engineering Geology, London, vol. 21, (1988), p. 33-57. Frazão, E. B.; Caruso, L. G. 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