diálogos Intolerância: um desafio para a vida vitória Ano X • Nº 122 • Outubro de 2015 Revista da Arquidiocese de Vitória - ES O Papa tem pressa Alívio para o sofrimento dos casais separados: agilidade nos processos de nulidade editorial É pra frente que se anda A ‘pressa’ do papa Francisco em agilizar processos de nulidade matrimonial não é fruto de uma das característica dos tempos pós-modernos. O Papa tem pressa, como ele mesmo disse a um jornalista, de ver os católicos pondo em prática aquilo que os documentos da Igreja tão bem descrevem desde os primeiros escritos: ser expressão do amor e da misericórdia de Deus. O Papa vem chamando isso de cultura do encontro e da proximidade. Então, ‘é pra frente que se anda’, como diz o ditado popular. Tentativas e exemplos de acolhimento e compreensão ao outro e do outro é o que traz esta edição. Boa leitura n Maria da Luz Fernandes Editora fale com a gente @arquivix arquivix mitraaves www.aves.org.br Envie suas opiniões e sugestões de pauta para [email protected] anuncie Associe a marca de sua empresa ao projeto desta Revista e seja visto pelas lideranças das comunidades. Ligue para (27) 3198-0850 ou [email protected] ASSINATURA Faça a assinatura anual da Revista e receba com toda tranquilidade. Ligue para (27) 3198-0850 vitória 22 Revista da Arquidiocese de Vitória - ES viver bem Ano X – Edição 122 – Outubro/2015 Publicação da Arquidiocese de Vitória Vamos brincar? 09 micronotícias O valor da amizade 16 39 espiritualidade sugestões SantaTeresa de Ávila 12 15 22 27 34 46 ideias Que história é essa? Economia Política Crise institucional viver bem Vamos brincar? arquivo e memória Missão em Peixe Verde - Viana Reportagem O Papa tem pressa acontece A Magia de Miró 03 Editorial 05 atualidade 11 Especial 17 aspas 20 pensar 26 Comunicação 29 entrevista 42 ensinamentos 18 21 33 caminhos da bíblia carismas religiosos mundo litúrgico Que se eleve a voz daesperança! Agostinianos Recoletos O uso da vela na liturgia 24 40 45 diálogos Pergunte a quem sabe cultura capixaba Intolerância: um desafio para a vida Como identificar o diácono? Rota Imperial São Pedro de Alcântara Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 Ilustradores: Richelmy Lorencini e Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266 Atualidade Gilliard Zuque Vander Silva Transferência de “V afetos em aqui com a mamãe”, “filho, olha pra mim”, “passeando com papai”, “cara feia pra tomar vacina”, “olha quem chegou... papai”. Ouvidas por qualquer pessoa, essas frases certamente seriam interpretadas como sendo um diálogo entre pais e filhos ou legendas para fotos de família. Mas não são! Cada vez mais, ouvimos e vemos essas expressões e manifestações de afeto na relação entre humanos e animais. Pesquisa divulgada pelo IBGE confirma o que vemos nas ruas, praças e parques: 44,3% dos domicílios do país (cerca de 28,9 milhões de casas) possuem pelo menos um cachorro. São 52,2 revista vitória I Outubro/2015 5 milhões de cachorros, uma média de 1,8 cachorro por domicílio. Os dados, levantados em 2013 e só agora apresentados, mostram também que, no Brasil, existem mais cachorros de estimação do que crianças: eram 44,9 milhões de crianças de até 14 anos. Os animais de estimação ganharam tanto destaque na sociedade ao ponto de, pela primeira vez, o número de cães e gatos de estimação ser medido com esta metodologia. A notícia ganhou pouca importância nos meios de comunicação, no entanto, serve para uma série de perguntas: há exageros nessas manifestações de afetividade? Por que elas acontecem? Quais os ris- Atualidade cos, para as pessoas e os animais? O mercado em torno dos ‘novos filhos’ de quatro patas move, a cada ano, no Brasil a cifra de 16 bilhões de reais. Em São Paulo, por exemplo, já há mais pet shops do que padarias. Na medicina veterinária os bichos são tratados como gente. Raios X, ultrassom para identificar câncer, exames para colesterol, diabetes, triglicérides, tomografia magnética para identificar tumores e derrames, ecocardiograma, colocação de marca passo e válvulas do coração nos animais, etc. Equipamentos caros e sofisticados garantem rapidez e precisão no diagnóstico. A indústria farmacêutica também já descobriu o filão e investe na medicação animal. Também em São Paulo, já existe até crematório animal. São cerca de 120 atendimentos mensais. O plano mais barato, para cremação coletiva, custa R$ 960 e o mais caro, com direito à cremação individual e urna de mármore carrara fica por R$ 3.200. É possível parcelar em até 18 vezes. Evidente que o carinho, zelo e respeito pelos animais é um comportamento digno da atitude cristã. O Catecismo da Igreja Católica diz que “Deus confiou os animais à administração daquele que criou à sua imagem. (...) Podem ser domesticados, para ajudar o homem em seus trabalhos e lazeres” (n. 2417). Mas ressalta no item seguinte que é “indigno gastar com eles o que deveria prioritariamente aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, porém não se deve orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas”. A psicóloga Luciene Lima faz coro ao pensamento cristão: “É claro que não devemos de maneira alguma maltratar animais, mas é importante reconhecer o humano como seu semelhante”, afirma. Para o funcionário público federal, Revan Berger, dono de Lucky, uma Ihasa Apso de 12 anos, a relação é bem clara: “trato como animal. Todos os cuidados que ele precisa (...) só come ração e não dorme na cama”. Um dos fatores que podem ajudar a entender este fenômeno é porque, na maioria dos países as mulheres vêm tendo menos filhos. Ao mesmo tempo, há o aumento da população idosa, cujos filhos já saíram de casa. Então sobra espaço, tempo e dinheiro para gastar com os animais. “Acredito que essa relação estreita com os animais reflete a revista vitória I Outubro/2015 6 necessidade de suprir carências, de preencher vazios. A sociedade moderna faz-nos cada vez mais distantes e assim, encontrar um ser com o qual o eu não tenha que discutir ou discordar, um ser que vê em mim um objeto de importância é gratificante e consolador”, aponta a psicóloga. É claro que em algumas situ- é realmente essencial, por exemplo: você já deixou de viajar, mesmo tendo alguém confiável para cuidar dele? Esta relação entre as pessoas e os animais de estimação é uma realidade e os dados estatísticos do IBGE provocam surpresa. O que devemos nos atentar é para a necessidade de que esta relação seja sadia, que a guarda dos animais seja responsável e que o afeto e a relação interpessoal não seja substituída. Projeto ‘PraCão’ ações estes animais surgem de um desejo de alguém na família, como no caso da contadora Alexandra Madeira. Ela comprou o Yorshire, Boo, a pedido das filhas e viu isto como uma boa oportunidade de criar o senso de responsabilidade nelas. Mas ela não passa imune por esta situação: “eu não gosto de animais, mas sinto tanto amor por meu pequeno York que é como se fosse um filho”, revela. Ao mesmo tempo em que se discute essa relação e as consequências para os seres humanos, é importante avaliar os desdobramentos para os animais. Tanta afinidade está transformando profundamente os cachorros - para o bem e para o mal. Paparicar demais o cachorro, como é comum hoje em dia, também faz mal para a cabeça dele. Quando o dono é muito apegado, aumenta o risco de que o cachorro desenvolva síndrome de separação (um distúrbio que causa no animal uma dependência insuportável do dono). Funcionário público, Thiago Pereira, trata seu cachorro, um Bull Terrier como uma criança, “até porque ele age como uma”, afirma. Ele não vê mal nenhum nisso, mas acredita que tanto ele como o cachorro sofrem com os períodos de separação. Por fim a psicóloga deixa uma dica de como “ajustar” essa relação. “Nosso tempo deve sempre encontrar um equilíbrio, ainda mais quando vivemos em uma época em que ele se tornou tão raro e vivido tão superficialmente. Analise o que revista vitória I Outubro/2015 7 O bairro Jardim Camburi, em Vitória será o primeiro da capital a ter uma praça adaptada para os cães. A iniciativa é da Prefeitura de Vitória que, com a ação, pretende promover o bem estar dos animais, a socialização entre os donos e mais qualidade de vida para a população. A praça Nilze Mendes passará por intervenções como cercamento, controle de pragas e instalação de brinquedos para os cachorros. A previsão é de que em até 60 dias a adequação do local esteja concluída. Já existem indicações para a implantação do projeto em Maria Ortiz, Parque Moscoso e Jardim da Penha. n micronotícias Deficiências na área digital Os alunos brasileiros estão nas últimas posições em um ranking de 31 países que avaliou a habilidade de navegar em sites e compreender leituras na internet, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O Prótese com se Brasil ficou na antepenúltima posição no ranking, à frente apenas dos Emirados Árabes e da Colômbia. Robôs x Humanos O debate sobre se as máquinas vão dispensar a força de trabalho humana já não está mais restrito aos filmes. A consultoria Boston Consulting Group prevê que, em 2025, até um quarto dos empregos seja substituído por softwares ou robôs, enquanto que um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que 35% dos atuais empregos no país correm o risco de serem automatizados nas próximas duas décadas. revista vitória I Outubro/2015 8 Cientistas da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos anunciaram a criação de uma prótese de mão que devolve o tato ao usuário. Para testar o funcionamento do membro robótico, uma rede de eletrodos foi conectada ao cérebro de uma pessoa. Parte dos fios ficou ligada ao córtex motor, que controla os movimentos Consultas facilitade-aamserica- rt A startup no d e se nvo lve u s e n a E ko D ev ic ete gia que prom uma tecnolo icas. nsultas méd facilitar as co rizacebeu a auto A empresa re ko ercializar o ‘E ção para com it ig a l is p o si ti v o d Co re’, u m d sten e cta r a o e q u e a o se co ões ia as informaç toscópio, env ível ativo dispon para um aplic in Segundo os p a ra Ip h o n e. sete cn o lo g ia é v e n to re s, a s a de d e à s n o rm g u ra e ate n privacidade. ntido do corpo e a outra criou uma conexão com o córtex sensorial, responsável por identificar sensações em todo o corpo humano. Em seguida, os pesquisadores vendaram o voluntário e começaram a fazer pressão nos dedos da prótese. Ao ser questionado, ele conseguiu dizer com quase 100% de precisão qual dedo estava sendo tocado pelos cientistas. Imprimindo casa s Estudantes de En genharia Elétrica da Universidade de Brasília cria ram o protótipo de uma impressora 3D feita de metal e plástico que te m capacidade de construir casas de 30 a 50m 2. O prin cipal objetivo do projeto é levar m oradia a um preç o ab aixo do que é cobrado para pe ssoas que ganhem de 3 a 7 salários mínimos. O obje tivo é que as ca sa s já comecem a ser impressas da qui a cinco anos . Horta Urbana São Paulo já entrou na rota das cidades mais verdes e ‘temperadas’. Mudas de manjericão, alecrim e hortelã estão sendo plantadas em sapateiras e amarradas em postes de energia, no entorno das árvores formando pequenas hortas na cidade. A ideia do projeto é que as pessoas possam plantar e colher sem custos. Uma iniciativa que aponta como os pequenos gestos podem indicar grandes soluções para os tempos de crise. (Catraca livre) O valor da amizade Pesquisadores britânicos revelaram em estudo que adolescentes não correm o risco de desenvolverem depressão ao se relacionar com amigos que sofrem com a doença. Pelo contrário, o estudo comprovou que a presença de amigos equilibrados pode reduzir a probabilidade de se desenvolver depressão e duplicar as chances de cura do deprimido no prazo de seis a doze meses. revista vitória I Outubro/2015 9 Evangelizar é comprometer-se Ministério do catequista Elementos básicos para a formação Humberto Robson de Carvalho 148 págs. A finalidade deste livro é colaborar com a formação de catequistas, uma dimensão indispensável para o processo de evangelização da Igreja. A Palavra de Deus na catequese é um precioso meio de sustentação da vida, da fé e da missão de catequistas e de catequizandos. PAULUS Livraria Vitória Rua Duque de Caxias, 121 - Centro CEP: 29010-120 | Vitória/ES Tel.: (27) 3323-0116 | [email protected] paulus.com.br especial Letra cursiva A notícia de que na Finlânpreocupando-se com a inclusão início ao escritos filosóficos. dia as aulas de caligrafia digital, entretanto não aborda o Para minimizar os efeitos para os alunos da escola uso da letra cursiva. Já as Direangustiantes de tais mudanças é primária serão substituídas por trizes da Prefeitura de Vitória preciso levar em conta oportuniaulas de datilografia, a partir de estabelecem como objetivo para dades e desafios. Quanto ao uso 2016, tornando opcional o ensino a escrita, que os alunos aprendam do tablet, não podemos ser ingêda letra cursiva tem gerado preoa “conhecer e utilizar diferentes nuos e pensar que se trata apenas cupação entre pais e educadores. tipos de letra (de forma e curde uma mudança de suporte que O que, de certo modo, se justifisiva)”, em consonância com os não terá reflexos sobre as atitudes ca, pois a Finlândia é referência recentes avanços das pesquisas e disposições de nossas crianças mundial em educação, com as na área, que recomendam que na no processo de alfabetização e melhores avaliações no PISA. alfabetização, as escolas ensinem no seu desenvolvimento geral. No Brasil, cada vez mais É preciso, entretanto, se observa o uso de tecnocautela para não acelerar o Quanto ao uso do tablet, logias móveis como o tablet ritmo dessas mudanças que não podemos ser ingênuos pelas crianças, movimento se dão por “deslizamentos acompanhado pelas escolas, e sobreposições” (CHARe pensar que se trata apenas especialmente da rede partiTIER), pois a letra cursiva de uma mudança de suporte cular, que o vêm adotando ainda conviverá por um bom como recurso pedagógico, tempo com outras práticas que não terá reflexos sobre desde o ensino fundamental. de escrita em meio eletrô Diante disso, obsernico. Prova disso é o uso as atitudes e disposições de vam-se posturas divergende tablets, em escolas, exates, há quem acredite que nossas crianças no processo de tamente para ensinar letra o uso do tablet não acarcursiva e desenvolver habialfabetização. retará perdas no processo lidade motora, e a existênde aprendizagem das crianças, inicialmente a letra bastão para, cia de recursos que possibilitam defendendo que para “nativos depois ensinar a letra cursiva, escrever à mão em meio digital. tecnológicos”, a habilidade da por ser esse procedimento mais Outro caso curioso é a fabricação escrita manual não é relevante. adequado ao processo e para de cadernos de notas (moleskines) Há, por outro lado, quem defenda atender à importância cultural livres de ácido que aumentam a sua importância para o processo e social que essa letra cursiva durabilidade do papel, permitincognitivo do aluno e para sua ainda tem em nossa sociedade. do que os registros manuscritos identidade cultural, sendo, por Sociedades da cultura do possam ser lidos daqui a décadas, tanto favoráveis a seu ensino. escrito como a nossa já viveram quem sabe séculos. Quem serão O Currículo Básico Estaduinúmeras transformações e crios leitores dessas e de outras tanal (ES) prevê “suprir as escolas ses. Sempre que há mudanças, tas escritas pessoais, se pararmos públicas estaduais com equipafortes suspeitas cercam os novos de ensinar a letra cursiva? n mentos de alta tecnologia aliados modos, exemplo disso é que o à prática pedagógica, buscando filósofo Sócrates não escreveu Joana d’Arc Batista Herkenhoff Doutoranda em Letras melhorar o desempenho dos nosuma linha de sua obra, pois via Membro do Grupo de Pesquisa, Literatura e sos alunos, a sua inclusão digicom reservas a escrita. Foi seu Educação/Ufes tal e a atualização da escola”, seguidor, Aristóteles, que deu revista vitória I Outubro/2015 11 ideias “A narrativa assim “naturalmente” construída torna-se senso-comum. Torna-se discurso que angaria facilmente a concordância, a aprovação e o aplauso.” Que história é U ma narrativa. Estão nos propondo uma narrativa. A grande mídia no Brasil, marcadamente nos dias atuais, está nos propondo uma narrativa. Não necessariamente uma que traga as complexidades da vida, os enredamentos dos fatos, e a veracidade dos mesmos. Não. A narrativa que nos é apresentada, diuturnamente, se vale da prerrogativa de que ela apenas precisa ser convincente. Ou melhor, ela nem precisa ser convincente. Basta que seja bem contada, e repetidamente bem contada, para que possa se impor sobre quaisquer outras possibilidades de entendimento das realidades. Temas como maioridade penal, violência, economia, corrupção e etc. ganham versões hegemônicas em todos os veículos de comunicação. A narrativa precisa ser simples o suficiente pra ser facilmente assimilada e reproduzida por qualquer um como a mais completa, bela, sensata e nobre expressão da verdade. E para assim funcionar a narrativa precisa de personagens caricaturais. Não vem ao caso personagens que funcionem como revista vitória I Outubro/2015 12 essa? espelhos para as nossas próprias contradições e pecados, como um bom romance, como um bom filme ou uma peça de teatro faz. Não, a narrativa tem que propor personagens estereotipados e que mobilizem sentimentos, e os sentimentos mais fortes, aqueles que são capazes de garantir ao que se submete à narrativa o honroso e enganador lugar do justiceiro, do paladino da verdade, do defensor disso e daquilo. Vemos aos montes estas figuras aparecerem por aí nas ruas e nas redes sociais destilando ódio e arrogância. Uma narrativa que leve à compaixão, à equidade, à responsabilidade, e que estimule os sujeitos a exigirem de si o que cobram dos outros, nem pensar. Não. Essa narrativa não produziria o efeito que precisa produzir: mentes e atitudes que defendam interesses, privilégios seculares, visões de mundo, modos de vida. Como sempre – e ainda mais fortemente nos dias atuais – um poder só é poder de fato pela força do dinheiro. Tem poder quem tem dinheiro. Todo e qualquer outro poder neste mundo é menor. Nem são os estados, partidos políticos e governos que detém este poder, portanto. E quanto maioria das populações. E ela não suportará outras versões e desmerecerá qualquer outro modo de ver o mundo. Demonizará uns e escolherá outros pra carregar todas as culpas. A narrativa assim “naturalmente” construída torna-se senso-comum. Torna-se discurso que angaria facilmente a “A narrativa do poder, é claro, tem que arrogar que só há um mundo possível, o que está estabelecido, mesmo que este mundo tenha sido cruel para a maioria das populações.” mais este poder estiver ameaçado mais ele se arranjará em construir narrativas que afetem o coração das pessoas com sentimentos fortes, tais quais aqueles de um torcedor de futebol diante de seu time de coração. Mais do que nunca, quando sob ameaça, ele precisará de sujeitos que sejam dóceis às suas proposições e servidores passionais de seus propósitos. A narrativa do poder, é claro, tem que arrogar que só há um mundo possível, o que está estabelecido, mesmo que este mundo tenha sido cruel para a concordância, a aprovação e o aplauso. Quando isso acontece, quando uma narrativa se torna assim tão hegemonicamente poderosa – como acontece no Brasil no momento – ah... é preciso desconfiar. E desconfiar significa colocar a narrativa sob o império da dúvida. A palavra dúvida vem de dois (duo), de dúbio, de olhar para os vários lados. As realidades são complexas, a vida é multifacetada, uma única e simplificada narrativa está com certeza desperdiçando possibilidades variadas de se entender os acontecimentos. n Dauri Batisti revista vitória I Outubro/2015 13 Economia Política Crise institucional A s manifestações ocorridas no Brasil desde 2013 apontam para insatisfações para com o funcionamento de instituições. Dentre essas, as que mereceram maior atenção foi a ‘geni’ de quase tudo que se identifica como mazela nacional (a classe política) e a prestação de serviços públicos (com destaque para transporte, saúde e educação). Um olhar um pouco mais amplo, no entanto, pode indicar que a inadequação das instituições abrange hoje a toda gama delas, indo daquela básica em nossa sociedade (a família), passando pelas igrejas, veículos de comunicação, empresas de um modo geral, além dos sempre mencionados órgãos públicos. A maneira como informações e notícias são veiculadas por jornais, rádios, televisões e pelas redes sociais na internet, são fontes ricas de evidências para inade- do que a questões econômicas. É crescente a carência de mudanças nesses tempos de abundâncias materiais. Exemplos podem ser colhidos nas reclamações junto a órgãos de defesa do consumidor; nas frustrações sociais com a lentidão na tomada de decisões e na execução de projetos que poderiam melhorar a qualidade de vida de todos; na apatia para com uma cidadania mais participativa. Essas insatisfações, certamente poderiam ser diminuídas se as instituições fossem mais flexíveis e estivessem mais atentas aos interesses da cidadania em suas dimensões política, social, econômica e cultural. As redes sociais há muito sinalizam e ecoam frustrações com a forma de se fazer política; com a falta de debate plural pelo rádio, jornal e televisão; com a inadequação na prestação de serviços como educação, saúde, transporte e segurança; com a falta de atenção de “Essas insatisfações, certamente poderiam empresas para com ser diminuídas se as instituições fossem o cliente. mais flexíveis e estivessem mais atentas Essas frustrações podem ser razoaaos interesses da cidadania em suas velmente respondimensões política, social, econômica e didas se houver cultural. As redes sociais há muito sinalizam e flexibilidade para usar melhor as tececoam frustrações com a forma de se fazer política.” nologias disponíquações institucionais que vão muito além veis. Mas antes de qualquer coisa, há que da classe política. ser superada a baixa disponibilidade para Inúmeras questões ligadas ao forne- ouvir e debater opiniões diferentes. cimento de bens, serviços e conhecimento Afinal, o exercício da escutatória é por agentes públicos e privados poderiam fundamental para o diálogo efetivo e para ser melhores resolvidas caso as instituições o exercício da democracia. n estivessem mais atentas a tecnologias que podem torná-las mais acessíveis. Na maioria Arlindo Vilaschi das vezes essa falta de atenção está mais Professor de Economia e Coordenador do Grupo de Pesquisa em Inovação e Desenvolvimento Capixaba da Ufes ligada à rigidez do ‘deste jeito já está bom’ revista vitória I Outubro/2015 15 espiritualidade Santa Teresa de Ávila A festa de Santa Teresa no dia 15 de outubro terá, nesse ano, um significado especial: estamos celebrando os 500 anos do nascimento dela em Ávila, na Espanha (1515 – 2015). N aquela época onde a maioria das mulheres não sabia ler e escrever, Teresa foi voraz leitora, escreveu vários livros que contribuíram para a rica literatura espanhola e, devido à sua profunda vida mística, recebeu o título de Doutora da Igreja. Foi a primeira mulher na história da Igreja a receber esse título, outorgado pelo Beato Papa Paulo VI no dia 27 de setembro de 1970. Entrou para o mosteiro das monjas carmelitas e, vários anos depois, fundou um novo estilo de vida carmelitana mais simples e recolhida para monjas e frades que, por isso, foram chamados de “carmelitas descalças”. Teresa foi a única mulher na história da Igreja que refor- mou e fundou também conventos masculinos. Entre seus livros temos sua autobiografia espiritual chamado Livro da Vida, além de vários outros escritos sobre oração e vida espiritual: Caminho de Perfeição, Castelo Interior, Fundações, Orações, Poesias e, além destes, ainda chegaram até nós cerca de quatrocentas cartas endereçadas a vários tipos de pessoas. Santa Teresa compara a oração à água com a qual regamos um jardim. Sem oração a alma seca. Quanto mais irrigar o jardim da alma, mais flores de virtudes e obras boas brotarão. A oração não consiste em muito pensar ou falar, mas em muito amar. Para ela a oração é “uma conversa de amigos, muitas ve- “a oração à água com a qual regamos um jardim. Sem oração a alma seca. Quanto mais irrigar o jardim da alma, mais flores de virtudes e obras boas brotarão.” (SantaTeresa de Ávila) revista vitória I Outubro/2015 16 zes e a sós, com quem sabemos que nos ama” (Vida 8,5). A espiritualidade teresiana é concreta e objetiva: não há verdadeira vida de oração onde não há boas obras: “a primeira é o amor de um para com o outro. A segunda é o desapego de todas as coisas. A terceira é a verdadeira humildade, e esta, embora seja enumerada por último, é a principal e abrange a todos” (Caminho, 4,4). Morreu com 67 anos de idade. A mensagem de Santa Teresa pode ser resumida nessa conhecida exortação dela: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta!” n Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória aspas Como elas conversam com Nossa Senhora “Eu me comunico com Maria pela sua oração ‘Ave Maria’, e eu peço proteção, saúde e paz. E que eu sempre vá pelo caminho de Deus! E agradeço por tudo o que tenho!” Giovana Luz – Paróquia Santa Rita Praia do Canto “Eu rezo para Maria com calma, paciência, para ela me escutar e me ajudar no que preciso. Ela sempre me escuta e me ajuda. Sempre rezo a Ave Maria” Lara Pontin – Comunidade São Camilo de Lellis – Mata da Praia “Eu peço perdão por tudo e para que abençoe os outros, em especial pelo meu avô que está pela terceira vez com câncer.” Julia Furieri – Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora – Laranjeiras “Peço a Maria para abençoar minha família, a todos que conheço e que eu não conheço. Peço também para perdoar nossos pecados e os pecados de todo mundo. Peço pra Ela fazer meus favores que eu desejo para que os meus pais possam realizá-los.” Luís Gustavo – Comunidade São Francisco de Assis (Paróquia Sta. Terezinha do Menino Jesus) – Vila Velha “Quando eu converso com Maria, sempre agradeço por mais um dia de vida que tive e sempre rezo pedindo saúde, paz e muito amor no meu coração, da minha família, e dos meus amigos!” Marcela Mesquita – Comunidade São Camilo de Lellis Mata da Praia “Eu peço a Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora da Aparecida, depois peço para Ela cobrir todos com seu manto, mas primeiro peço a Jesus, aí eu rezo por todos os motivos. Peço a todas as denominações de Maria que eu sou mais devoto e peço algumas bênçãos e rogue ao Pai por nós.” Raphael – Comunidade Nossa Senhora da Saúde “Eu rezo e peço a ela para ajudar a gente em todos os momentos, e acredito que ela vai atender a nossa oração. Eu penso que ela vai ajudar, estar sempre comigo e nunca vai me abandonar quando eu precisar dela.” Maria Eduarda – Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora - Laranjeiras “Oro pedindo intercessão de Nossa Senhora junto de Deus. Peço para ela me cobrir com seu manto sagrado e depois rezo uma Ave Maria junto com outras orações. Mas, claro que oro mais para Deus.” Manuela Gomes – Comunidade Nossa Senhora de Fátima (Paróquia Santa Mãe de Deus) - Ibes “Me concentro, fecho os olhos, agradeço por tudo na minha vida, rezo um Pai nosso, uma Ave Maria e um Santo Anjo.” Davi Baldi – Santuário Divino Espírito Santo - Vila Velha revista vitória I Outubro/2015 17 caminhos da bíblia Que se eleve a voz da esperança! E m tempos onde as notícias correm velozes, onde as palavras se perdem pelas esquinas das cidades, onde os símbolos permeiam os jornais diários, onde as imagens nas TVs invadem as casas, onde o ruído das rádios corta o país, onde a rede de comunicação propõe um modo de vida; deparamo-nos com a realidade marcada pela violência. Desde as pequenas comunidades rurais, passando pelos grandes centros urbanos e chegando agora às fronteiras dos países, ouvem-se lamentos, gritos de dor e choro silenciado pela morte de inteiras famílias, de jovens e de crianças inocentes. A sociedade “Hoje a história anseia pela manifestação torna-se uma espectadora atônita diante dos filhos e filhas de Deus, pela ação de cenas que dilaceconcreta dos homens e mulheres de boa ram o tecido social, vontade; seja por meio de um olhar aberto e violam os direitos compassivo, seja pela escuta atenta e cuidadosa, bem humanos e questionam a capacidade de como pela presença solidária e disponível. ” nossos governos de tratar desses desafios. Não é uma realidade que surge sem aviso prévio, ao contrário, é uma situação anunciada e construída por escolhas, decisões e posturas que, por vezes, desconsideram aqueles que jamais deveriam ser desconsiderados: os pequenos, os pobres e os indefesos. revista vitória I Outubro/2015 18 “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo (...) Ouvi o seu clamor (...) pois conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo (Ex 3,7-8) Nas palavras do Livro do Êxodo encontra-se presente a base da profissão de Fé do povo de Israel. Deus toma para si o cuidado da história do povo eleito, conhece as suas aflições, envolve-se nas suas misérias e sofrimentos e engaja-se na defesa daqueles que elegeu: “Eu vi, Eu ouvi, Eu conheço e por isso desci”. No coração dos filhos de Israel foram gravadas essas palavras, de modo que, em todos os seus caminhos, tinham a certeza de que Aquele que os criou, os elegeu, os libertou e os conduziu pelos caminhos da história, deu-lhes também uma vocação. O povo de Israel deveria ser um sinal para todos os povos do cuidado amoroso de Deus. Em Jesus Cristo, o Verbo de Deus Encarnado na história humana, as promessas divinas são elevadas à sua plenitude, Ele é o Filho de Deus feito homem. Ao assumir a condição humana ouviu os gritos, os lamentos, as dores e as esperanças dos filhos e filhas de Deus. A começar pelas estradas de Israel, Ele foi capaz de encontrar e tocar as mais diversas realidades humanas. Assim, ainda hoje, a sua presença e Palavra chegam junto aos mais diversos povos, raças, línguas e nações. No convívio com Ele, os seus discípulos foram formados pelas escolhas e posturas do Mestre, pois viram o envolvimento, a aproximação e o engajamento de Jesus nas dores e na defesa da vida dos pequenos e excluídos. Hoje a história anseia pela manifestação dos filhos e filhas de Deus, pela ação concreta dos homens e mulheres de boa vontade; seja por meio de um olhar aberto e compassivo, seja pela escuta atenta e cuidadosa, bem como pela presença solidária e disponível. Que no horizonte da humanidade, onde se ouvem os lamentos e suspiros dos sofredores e excluídos, os gritos de dor e sofrimento, também sejam ouvidas as vozes cheias de esperança, criativas e comprometidas daqueles que propõem os caminhos para a paz, e a construção da casa comum, na qual ninguém é estrangeiro, mas todos são irmãos e irmãs. n Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura revista vitória I Outubro/2015 19 Foto: Lucas Rocha Cosme pensar carismas religiosos Marcus Tullius “O Senhor reza para que gozemos ‘da plenitude da alegria’ que Ele tem (cf. Jo 17, 13). A alegria dos cristãos, especialmente dos consagrados, é um sinal muito claro da presença de Cristo nas suas vidas. Quando há rostos tristes, isso é um sinal de alerta, alguma coisa não está bem. E Jesus pede isto ao Pai precisamente antes de sair para o Horto das Oliveiras, ocasião em que tem de renovar o seu ‘fiat’.” (Papa Francisco aos consagrados em Cuba, 20 de setembro de 2015) Agostinianos Recoletos Maristas Irmãs Agostinianas Na segunda metade do século XVI, nascia na Espanha, dentro da Ordem Agostiniana, um movimento de recoleção, ou seja, uma vida voltada para a oração, penitência e conversão. “Uma só alma e um só coração dirigidos para Deus”. Este é o ideal de Santo Agostinho que inspira todos os religiosos. Os recoletos chegaram ao Espírito Santo no ano de 1899, trabalhando em várias regiões do estado. Na Arquidiocese de Vitória, atuam na Paróquia Santa Rita de Cássia, Praia do Canto, desde a sua fundação, em 1935. Atualmente a comunidade é formada por 4 religiosos. O Instituto Marista foi fundado na França, em 1817, por São Marcelino Champagnat e espalhou-se pelo mundo com o carisma voltado para a promoção da vida através da educação. É uma congregação formada somente por irmãos, cuja missão é educar e evangelizar crianças e jovens para formar cristãos e cidadãos comprometidos na construção de uma sociedade sustentável, justa e solidária. A atuação marista na Arquidiocese iniciou no ano de 1950, em Vila Velha, com a construção do colégio e posteriormente, o projeto social que possuem em Terra Vermelha, Vila Velha. As Missionárias Agostinianas Recoletas foram fundadas no ano de 1947. É uma congregação essencialmente missionária, aberta a várias realidades para concretizar o carisma. Atuam em paróquias, colégios, atividades pastorais, em especial, as pastorais sociais. Estão em Vitória desde o ano de 1959, onde possuem duas comunidades religiosas. Em Vitória está a casa provincial e o colégio. No bairro Tabajara, em Cariacica, uma casa para encontros pastorais e acolhimento das jovens vocacionadas. Atualmente a presença missionária na Arquidiocese conta com 12 irmãs. revista vitória I Outubro/2015 21 viver bem Vamos brincar? Q uantas vezes você já testemunhou uma criança que, mesmo após ter acabado de receber um brinquedo novo, voltou ao velho e desgastado brinquedo de sua estima (seja um carrinho sem rodinha, uma boneca sem braço)? Quantas vezes viu a criança receber um joguinho eletrônico – quase sempre barulhento – no único intuito de distraí-la, quando o que mais a diverte, mais lhe arranca gostosas gargalhadas, é brincar de “cavalinho” com você? Quase sempre estamos dando aos nossos pequeninos, seja em seu aniversário, Natal ou outras ocasiões, jogos e demais brinquedos que mais os afastam de nós do que os aproximam. Como é bom brincar! Disso ninguém revista vitória I Outubro/2015 22 tem dúvida. Mas às vezes a gente se esquece do quanto, para além do puro entretenimento, é importante brincar. Por meio da arte do brincar vem também a arte da interação, da inclusão, da busca conjunta por melhores estratégias, da busca por solução de problemas/enigmas, da autorrealização, e mais uma lista enorme de benefícios na construção do espírito de pertença. E essa lista de benefícios conquista-se tanto mais rápido quanto mais e melhor for a participação de terceiros (pais, avós, tios, ou outras crianças) nas brincadeiras. Lembra-se da sua infância? Recorda-se das brincadeiras grupais que entretinham você e seus coleguinhas? Quais eram? Refresquemos um pouco a memória: Pique-esconde, pique-pega, pique-lata, pique-bandeira, pique- -boia, pique-ajuda, pique-alto, morto-ou-vivo, caí no poço, a galinha do vizinho, boca de forno, banho de mangueira no quintal, bolinha de gude, elástico, pomponeta, adoleta, amarelinha, peão, passar-anel, pula-carniça,... Nossa! Talvez você esteja pensando: “Passou agora um filme na minha cabeça”. Quantas lembranças, não é mesmo?! E as velhas cantigas de roda? “A Carrocinha pegou”, “A barata diz que tinha”, “De abóbora faz melão”, “Atirei o pau no gato”, “Sambalelê”, “O peão entrou na roda”, ... O Dia das Crianças está chegando. E a gente já fica pensando no presente que vai dar aos nossos pequeninos. Vai aqui a nossa dica: Que tal brincar? Que tal juntar adultos e crianças numa gostosa e animada brincadeira, res- gatando as brincadeiras de outrora? Temos certeza de que vai ser tão bom como há muito tempo não tem sido, tanto para você quanto para elas. Afinal, criança adora brincar com adultos: sente-se valorizada, amada, realizada, incluída. Você sabe disso. Ou será que já se esqueceu de quando o vovô brincava de “serra-serra-serrador” com você? Que o Espírito de Deus nos ensine sempre caminhos criativos na condução de nossos pequeninos por um mundo de mais e mais inclusão social! “Levanta-te e venha para o meio” (Mc 3,3b). n revista vitória I Outubro/2015 23 Jovanir Poleze Coordenador do Centro Nova Geração, Obra Social da Congregação Redentorista em Nova Rosa da Penha, Cariacica. Graduado em Letras Português-Francês pela UFES diálogos Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES Intolerância: um desafio para A lguém comentou comigo: “A sociedade hoje parece estar mais intolerante do que em outros tempos! O trânsito, por exemplo, torna-se cada vez mais perigoso. Qualquer discussão pode tornar-se motivo de agressão. Como fazer para sair desta situação de violência?” De fato as relações humanas nem sempre são construtivas. A intolerância no trânsito e em diversos lugares da convivência humana está cada vez mais acentuada. É a cultura da violência que se cultiva impensadamente desde os pequenos atos e pequenas situações até as grandes e graves agressões. Veja o que acontece quando uma ideologia se torna perversa, a tal ponto de impe- revista vitória I Outubro/2015 24 dir que alguém pratique uma religião segundo a sua consciência. O triste fenômeno da imigração de tanta gente do oriente para a Europa, enfrentando perigos no mar, perigo de morrer de fome em busca liberdade. A guerra é cer- a vida tamente o grande sinal de intolerância nas relações humanas. Muita gente sente-se desanimada diante de tantos problemas que provocam miséria e desumanidade. Não podemos ficar desanimados e nem perder a esperança. Acredito que há um caminho de solução para superação deste mal que nos atinge a todos de uma ou de outra maneira. Jesus nos ensina no Evangelho: “Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel nas grandes”. As pequenas coisas, os atos pequenos e simples nós aprendemos na família, desenvolvemos na escola e seguem-se nas relações humanas em geral. A família é a base humana das relações iniciadas originariamente na vida conjugal. O casal é responsável pelo seu futuro e o futuro dos frutos do amor ou desamor conjugal. A família nasce e se desenvolve no amor. No ninho familiar aprende-se a amar, o respeito a si mesmo e ao semelhante. Na “Maior do que a intolerância é a fé amorosa, Dom que vem do Alto e se concretiza no casal fiel, na família fiel e na empresa fiel e construtora de uma nova sociedade baseada não na desconfiança e intolerância, mas baseada na fé amorosa, libertadora, revelada por Aquele que é livre e nos criou livres, DEUS AMOR!” família aprende-se a ser honesto consigo mesmo e com o outro. E, necessariamente, é de suma importância que a família dê um passo para além do humano: na família aprende-se especialmente a ser honesto com Deus! São as três colunas fundamentais do edifício humano: honestidade consigo mesmo, honestidade com o semelhante e honestidade com Deus seu Criador e Senhor. Estabelecida esta base, o ser humano cresce, amadurece, convive e sente-se feliz. A intolerância é um ato humano frustrado, carente de ternura, carente de compreensão, carente de amor. Torna-se por si mesma um ato desumano. A intolerância só poderá ser vencida e superada se estas três colunas tornarem-se realidade no fundamento das relações humanas. Na vida conjugal e, consequentemente, na vida familiar, e, por sua vez, na sociedade. Fé humana e fé transcendente, isto é, o casal vive da fé no seu parceiro, movido por uma fé que ultrapassa quaisquer barreiras: a fé em Deus, Dom que vem do Alto e que move a ação humana e a transforma em Amor, concretização do Dom de Deus. Este dom que se torna concreto no ato de amar, na ternura do sair de si é o perfume da sabedoria que inunda o coração conjugal e o coração da família. Fé revista vitória I Outubro/2015 25 que transporta montanhas, fé que produz sabedoria, paz no coração, respeito ao semelhante, alegria de viver... destruição das pequenas e grandes guerras... Fé no trânsito... Anulação da intolerância! Há, pois, solução para a intolerância, seja ela pequena em sua expressão, seja ela grande. Maior do que a intolerância é a fé amorosa, Dom que vem do Alto e se concretiza no casal fiel, na família fiel e na empresa fiel e construtora de uma nova sociedade baseada não na desconfiança e intolerância, mas baseada na fé amorosa,libertadora, revelada por Aquele que é livre e nos criou livres, DEUS AMOR! n Comunicação “Mostra-me o que postas, e eu te direi quem és” N as relações que se estabelecem nas redes sociais digitais, proliferam conteúdos que, por assim dizer, “exageram” a realidade. Às vezes, isso ocorre em sentido exageradamente positivo, construindo um mundo que navega em um “mar de rosas”, onde todos são felizes e a diversão é eterna. Outras vezes, a realidade vista nas redes beira o extremo oposto, em que a vida se desenrola entre “choro e ranger de dentes”, e a raiva e o ódio são moeda de troca – especialmente em âmbito político e religioso. Por vivermos em uma “sociedade do espetáculo”, grande parte do que fazemos na rede se insere em uma cultura do entretenimento, que pode passar também por uma teatralização das nossas vidas, reconstruídas – em textos, imagens e vídeos – a partir de lógicas de consumo. Chega-se a extrapolar a própria intimidade, criando uma verdadeira “extimidade”, em que toda a vida pessoal se torna pública, sobrecarregada de novas cores e valores. Em tudo isso, há também alguns elementos que nos ajudam a repensar nossas ações em rede. Em primeiro lugar, vemos aí a grande centralidade assumida pela expressão pessoal e social. Antes, as fotos das nossas férias ou as nossas opiniões pessoais eram conhecidas apenas pelos nossos familiares e amigos mais próximos. Hoje, porém, podemos deixá-las ao acesso livre de qualquer pessoa na rede. Expressar-se torna-se, assim, uma possibilidade que, com o passar do tempo, converte-se em uma necessidade. Quando nos expressamos, esperamos que alguém nos veja, nos escute, nos perceba. A percepção do outro sobre nós é a resposta à nossa abertura inicial, que completa a nossa necessidade de contato. Por isso, buscamos ser “bem percebidos” e construímos mundos à nossa imagem e semelhança. O risco é parar por aí, passando a vida por inúmeros “filtros”, para dar mais cor e mais brilho a tudo o que somos e fazemos. Ao nos expressarmos para buscar a mera percepção do outro, acabamos também não lhe dando o espaço verdadeiro e apenas o usamos como “receptáculo” dos nossos desejos. Para evitar isso, podemos dar dois passos a mais: o primeiro é a reflexão. Se a minha expressão própria e a percepção do outro são importantes e me constituem, seria interessante revista vitória I Outubro/2015 26 um olhar crítico: quem é esse “eu” que me comunica? O que está sendo comunicado pelo meu “eu”? Que “eu” está sendo construído no conjunto dessas postagens? Na revisitação da minha presença online, posso me deparar com diversos excessos e carências nas minhas tentativas de comunicação. E, para repará-los, o melhor remédio é focar todos os esforços comunicativos – em rede e fora dela – na relação. Eu sou porque me comunico com alguém que também se comunica comigo. Somos porque nos comunicamos. A partir disso, não interessa apenas o “eu” inicial que se expressa, nem apenas o outro que me percebe, ou do qual eu me uso para ser percebido, mas sim o “nós” que aí se constrói. Para isso, é necessário também perceber o outro, “ouvi-lo”, reconhecer suas necessidades, acolher o que ele me comunica. Nessa relação, não faz sentido “aumentar” ou “exagerar” a realidade, porque ela não é apenas minha, mas é compartilhada – vivida e comunicada com o outro. n Moisés Sbardelotto Jornalista, doutorando em Ciências da Comunicação pela Unisinos (RS) arquivo e memória Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc Missão em Peixe Verde - Viana Misssionários na localidade de Peixe Verde, hoje comunidade que pertence a paróquia de Viana, década de 40 revista vitória I Outubro/2015 27 entrevista Leticia Bazet Movido a novos desafios O jornalista Julius Carvalho superou a obesidade após uma cirurgia bariátrica e tornou-se adepto da corrida de rua. Nesta entrevista ele conta sobre a sua transformação física e, acima de tudo, psicológica. vitória - Como era a vida que você levava? Completamente errada. Eu chegava em uma festa, por exemplo, e só saía na hora que terminava tudo. O primeiro lugar que eu ia depois de cumprimentar os anfitriões era para ver o que tinha para comer. Era completamente sedentário, cheio de problemas de saúde, já cheguei a tomar nove remédios por dia, tive quatro erisipelas e em uma delas quase perdi a perna, tamanha a infecção. Até que chegou o Natal de 87 e eu tive outra erisipela, minha família ficou muito chateada, minha médica queria me internar e aquilo me bateu muito forte. Eu tinha uma amiga jornalista que casou com um cirurgião bariátrico e começou a falar comigo sobre a cirurgia, me incentivando a fazer. Eu não dormia à noite, tinha medo de dirigir, dormia no trabalho, tinha apneia, chegou um momento que eu comecei a ter inchaço nas pernas e deixei de ter vida social porque não conseguia calçar um sapato. Jullius - vitória - Qual foi o limite que te fez querer mudar? O medo de não acordar no dia seguinte. Eu dormia sem saber se ia acordar no dia seguinte. Era uma bomba relógio. Aí eu comecei a estudar sobre a bariátrica, porque não era tão popular, e essa colega minha me ajudou bastante, comecei a participar de grupos do Brasil, até que decidi fazer a cirurgia, em 2008. Na primeira consulta que eu tive a médica deu um sorriso de um lado a outro e falou que eu tinha ganhado 10 anos de vida, porque eu era diabético tipo 2 e a doença estava controlada. Eu não tive nenhum problema, me adaptei a tudo. Comecei então a fazer atividade física, colocava o tênis e corria por conta própria. Jullius - Participei da corrida da mulher, a primeira, e foquei em correr a Corrida da Garoto, eu queria isso. Juntei com uns amigos e comecei a treinar. A partir daí comecei a dar entrevista para rádio, televisão e as pessoas começaram a reconhecer a minha história. Culminou que nas 10 milhas Garoto, entre os três amigos que participaram comigo, eu fui o primeiro a chegar, e aí eu virei meio que um xodó da corrida de rua. vitória - A que você se apegou nesse processo de mudança? Jullius - Logicamente que a família, mas... eu me emociono (pausa). Eu me apeguei a uma pessoa que eu não conhecia mais que era eu mesmo. Descobri um cara completamente focado, determinado e pensei “esse é o cara que vai me levar”. Tem o benefício da cirurgia, mas é preciso agregar outros valores a ela. Muitos falam que eu sou o responsável por eles correrem. Eu fiquei muito querido revista vitória I Outubro/2015 29 entrevista entre as pessoas da corrida de rua, vinha gente se oferecer para me treinar. A minha vida mudou, eu hoje tenho 55 anos e há sete anos ela era completamente diferente, cheia de limitações, complicações e hoje eu estou aqui, sonhando, quero correr a São Silvestre. Foi uma transformação maravilhosa. o que era uma cirurgia bariátrica, que eu consegui, aquele cara cheio de problemas se transformou em um corredor, correu 16 km, aos 50 anos de idade. Isso mudou a minha vida, por isso até hoje eu sinto esse carinho. Ali eu vi que eu podia, eu tinha condição. vitória - O que foi mais impor- mexe muito com o psicológico. Foi o lado mais difícil do processo? Jullius - A gente fala que, principalmente, tem que operar a cabeça, e quem não opera a cabeça não tem sucesso. Na cirurgia é preciso principalmente se conhecer, porque senão o corpo vai sentir. Na época que eu fiz, pesquisei muito, estudei, pensei, e hoje vejo que as pessoas querem simplesmente operar. O principal foco da cirurgia é o emocional. O primeiro mês é um sufoco muito grande, um grande desafio, você passa tomando aqueles copinhos de café, tem que mudar os hábitos, a mastigação é muito importante, então é reaprender a se alimentar, conhecer seus limites. O que eu queria era saúde, tudo o que veio depois foi consequência. Nunca imaginei que iria correr, eu queria poder caminhar. Meu primeiro prazer foi andar. Imagine uma coisa básica que é andar, eu tante para você? Você nunca emagrece, torna-se um emagrecido. Eu falo que a bariátrica é cheia de ‘R’, reprogramar, repensar, reeducar. Mas o grande divisor de águas foi essa primeira Dez Milhas, ali eu mostrei para o mundo, para o meu mundo Jullius - vitória - A cirurgia bariátrica comemorei quando consegui andar uma rua sem sentir dor. vitória - O apoio das pessoas é importante para quem passa por esse processo? Jullius - Muito! Da família principalmente. A tentação à comida em sua volta não é muito fácil. Lá em casa eu não tive tanto problema. Eu sempre gostei muito de cozinhar e como é uma nova vida a gente reaprende tudo. Tem comidas que não me fazem falta e outras que não posso de forma nenhuma porque me fazem mal, como o alimento gorduroso, qualquer quantidade meu estômago já sente. vitória - O que te motiva hoje? Jullius - Com certeza são os novos desafios. Depois da bariátrica eu não fiz a cirurgia reparadora, mas eu tive uma hérnia inguinal muito grande e aquilo me incomodava muito. No ano passado meu foco foi fazer essa cirurgia e aí eu fiquei sem correr. Nesse tempo parado eu ganhei seis quilos. Esse ano eu voltei para a academia e eles me ofereceram participar de um projeto. Falei que topava se eles me treinassem para a São Silvestre e assim fechamos a parceria, estou lá treinando, fazendo fisioterapia, “O que eu queria era saúde, tudo o que veio depois foi consequência. Nunca imaginei que iria correr, eu queria poder caminhar. Meu primeiro prazer foi andar.” revista vitória I Outubro/2015 30 preciso perder oito quilos, virei o personagem deles (risos). O objetivo agora é voltar ao meu peso e meu foco desse ano é correr a São Silvestre. Eu tenho que colocar metas. Tenho outro sonho que é oficializar o grupo de corredores bariátricos. vitória - O que foi mais difícil? Jullius - O primeiro mês, com certeza! Tem que ter muito foco. Você sai de uma semana que come normal e passa a se alimentar em copinhos. Ali começa a sua prova de fogo. Você começa a enjoar de várias coisas, de cheiros, de tudo. Quando vem a comida mais pastosa já dá um certo alívio. Várias vezes já levantei da mesa passando mal. Hoje eu não consigo comer muito, não forço. Não como uma maçã inteira de vez nem pensar. vitória - Você se arrepende de alguma coisa nesse processo? Faria algo diferente? Jullius - Não, acho que demorei a fazer. Poderia estar hoje em outro estágio, não que seja melhor ou pior, mas tudo é no momento de Deus. Eu tive que passar por tudo para tomar consciência do que eu precisava. Cheguei a um estágio impressionante. Fiz com a pessoa certa, que foi o marido dessa amiga, me deu tranquilidade. Precisei passar por tudo para perceber que tinha que mudar. vitória - E o Jullius de hoje quem é? Jullius - Nossa...o que eu procuro fazer, além de me manter saudável, no meu foco, na prática de corrida de rua, de colocar sempre um objetivo, eu tenho esse grupo de bariátricos que eu administro e tenho um trabalho muito legal com ele. Uma menina de Minas Gerais está vindo operar aqui porque se sentiu acolhida pelo grupo. Eu coloco muito o coração nas coisas que eu faço. Não é só um grupo de bariátricos para trocar algumas experiências e marcar saidinha no shopping, ele é muito solidário. É um grupo de referência, os médicos do Brasil acompanham também. Não há nenhum interesse meu ali que não seja ajudar. As pessoas se acolhem, é maravilhoso. vitória - Além de você ter re- nascido, acha que fez reviver outras pessoas? Jullius - Muitas pessoas. Tem uma menina que é bem bonita, tem vários seguidores de todo o país, dá dicas de alimentação e até hoje ela fala “você é o responsável por isso”. Eu vou a lugares que as pessoas falam que se sentiram motivadas ao conhecerem minha história, começaram a correr. Eu nunca falei isso, mas acredito que com a minha participação na Dez Milhas eu fiz acender uma luz diferente sobre a bariátrica, antigamente era tudo muito escondido, cheio de medo. Depois que eu fui o primeiro a chegar, que eu consegui, acho que a abordagem sobre a cirurgia ganhou um novo foco. Ao mesmo tempo eu me preocupo porque algumas revista vitória I Outubro/2015 31 pessoas acham que é uma varinha de condão. Manter-se emagrecido é uma luta diária. vitória - Como se sente sendo espelho para tanta gente? Imaginava isso? Jullius - Nunca imaginava. Eu tive noção quando acabou a Dez Milhas e todo mundo veio me cumprimentar, dizendo que tinham torcido por mim, parabenizando por eu ter conseguido e eu não conhecia aquelas pessoas, os corredores, eu conhecia os jornalistas. Até que a assessoria da prova me chamou, eu agradeci o professor que correu comigo e eu não imaginava, e me chamaram onde estavam as autoridades. Muito louco (pausa). Fez uma fila de pessoas para falar comigo, tinha gente do mundo do esporte. Eu demorei a cumprimentar a minha mãe, que era quem eu tinha de mais próxima de mim ali(pausa). Eu não esperava que a história chegasse nesse ponto. Naquele momento eu vi que estava realizando um sonho. Sinto-me muito agradecido, sinto que Deus falou, “você vai no fundo do poço, mas vai dar a volta por cima”. Mesmo muitas pessoas falando que eu sou um operado, que operado é fácil, não é. Se eu não tivesse operado não estaria aqui, é uma difícil decisão. Eu vou na São Silvestre, depois quero correr a meia maratona e mostrar que é possível. E vou levar mais gente junto comigo! Vou continuar motivado e vou continuar motivando outras pessoas. n Mundo Litúrgico Igreja e relações com as religiões não-cristãs. 50 anos da Declaração “Nostra Aetate” Em 28 de outubro de 1965 – há 50 anos, no contexto do Concílio Vaticano II, foi promulgada a Declaração Nostra Aetate – sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs - como confirmação de que a Igreja é o sacramento da unidade e da caridade entre a humanidade, considerando o que os seres humanos têm de comum, pois Deus é o criador e a origem de todas as criaturas, como de todo o cosmos. A diversidade religiosa dos povos desperta na Igreja a sensibilização de que a verdade também é manifestada nas várias expressões religiosas. Consciente, a Igreja coloca-se com respeito diante do modo de viver e cultuar das outras tradições, e exorta seus filhos – os batizados, a dar testemunho da fé cristã por meio do diálogo e da colaboração com os membros das outras religiões, proclamando, com atitudes caritativas e solidárias, o Cristo “caminho, verdade e vida” (cf. Jo 14,6). A liturgia cristã expressa, na culminância da ação eucarística, a verdadeira unidade de todas as criaturas com o Criador, pela mediação e intercessão de Cristo a favor de todo o gênero humano, pois ele, sem distinções ou condições, entregou a sua vida pela salvação de todos. revista vitória I Outubro/2015 32 Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap O uso da vela na liturgia Em muitas comunidades sempre surgem dúvidas sobre a quantidade de velas na celebração e a sua disposição no espaço celebrativo. A Instrução Geral do Missal Romano orienta o seguinte: “sobre o altar ou perto dele, dispõem-se, em qualquer celebração, pelo menos dois castiçais com velas acesas, ou quatro ou seis, sobretudo no caso da Missa dominical ou festiva de preceito, e até sete, se for o Bispo diocesano a celebrar.” (cf. IGMR, 117) Diante disso, as equipes de liturgia devem ter o bom senso na hora de adquirirem os castiçais e as velas. Deve-se levar em consideração o tamanho do altar e do presbitério, para que seja proporcional e esteja em harmonia com o ambiente. Nem todas as comunidades tem espaço suficiente para se usar quatro ou seis velas. Não convém que os castiçais e as velas tirem a centralidade do mistério celebrado. Eles são acessórios. O centro é Jesus Cristo, é o altar. Marcus Tullius Comissão Arquidiocesana de Liturgia O lugar da Eucaristia Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. (...) Chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai. (Jo 15, 12-15) O “lugar da Eucaristia” tem o altar como objeto simbólico mais importante e que ocupa o lugar central no interior de nossas igrejas. Evocando a entrega da própria vida que Cristo fez ao morrer na cruz, ele representa os dois aspectos de um único mistério: é o altar do sacrifício e a mesa do Senhor. A partir do altar nasce o sacramento da Eucaristia. Ele é símbolo de Cristo, é mesa festiva, é lugar de íntima comunhão, é fonte de unidade da Igreja e de concórdia dos irmãos e irmãs, é o centro do nosso louvor e ação de graças. A Igreja orienta que seja digno, sólido, de material nobre e verdadeiro, não removível. Reunidos em torno do altar, celebramos os mistérios de nossa fé e formamos um só corpo, unidos em seu amor, como nos mostra a imagem do interior do Santuário de N. Sra. Aparecida. n Raquel Tonini R. Schneider Comissão Arte Sacra e Bens Culturais da Arquidiocese de Vitória, Setor Espaço Celebrativo - CNBB Reportagem Letícia Bazet Maria da Luz Fernandes O Papa tem pressa Alívio para o sofrimento dos casais separados: agilidade nos processos de nulidade A declaração do papa Francisco sobre mudanças no Código de Direito Canônico (Cânones 1671 a 1691) a partir de 08 de dezembro de 2015, para agilizar os processos de nulidade matrimonial causou, no início de setembro, um verdadeiro rebuliço e rendeu muita conversa nas redes sociais e na mídia em geral. O objetivo do papa é, apenas, tornar mais simples e ágeis os processos de nulidade, mas as interpretações foram diversas. Para alguns, a decisão foi uma surpresa, pois acreditaram que assim, a Igreja incentivava os pedidos de divórcio. Para outros como Natália, que aguardou três anos “quando a separação acontece, para receber a declaração de nulidade de seu casamento, nenhum católico está automaticamente o sentimento foi “Porque impedido de participar do Sacramento isso não aconteceu antes?”. da Eucaristia” A reação de Natália pode mostrar àqueles que se surpreenderam, o porquê da decisão do papa: “Eu sou professora, precisei pegar uma licença de 30 dias porque estava muito abalada, eu chorava muito, parecia que minha vida estava destruída”, contou. O papa demonstra com seu gesto que a Igreja entende os dramas humanos e se empenha para amenizá-los e encurtá-los naquilo que lhe é possível. Com essas e outras atitudes o papa Francisco vem convocando a todos para a cultura do encontro e da proximidade com discursos e com a prática. O Sínodo dos Bispos vai refletir e discutir as demandas e realidades revista vitória I Outubro/2015 34 vindas das dioceses através de questionários, espera-se na perspectiva do Ano da Misericórdia conforme vem sinalizando o Papa Francisco. Angústias e incertezas No caso dos casais que se separam e entram com o pedido de averiguação de nulidade, os sentimentos de angústia, ansiedade, tristeza, entre outros transformam-se em verdadeiros dramas. “A gente vira meio psicóloga porque aqui elas se abrem, choram, contam suas histórias. Já tem um alívio quando vêm na audiência e falam, depois escrevem para dar abertura ao processo. Quando conseguem a declaração de nulidade são dominados (as) pelo sentimento de alegria, emoção e gratidão”, afirmou Cristina, notária do Tribunal Eclesiástico de Vitória, contato primeiro de quem busca a entidade para abrir o processo na Província Eclesiástica do Espírito Santo. Os dramas humanos muitas vezes não partem das questões reais porque a emoção e os sentimentos não obedecem à razão. No caso dos casais separados, católicos, o peso da indissolubilidade do casamento é muito grande. A frase “não separe o homem o que Deus uniu” passa, no momento da separação, a fazer com que a pessoa se sinta em pecado e excluída da comu- nidade e da comunhão. Alguns deixam as atividades na comunidade e de comungar mesmo que, como explica o padre Teodósio, membro do Tribunal Eclesiástico: “quando a separação acontece, nenhum católico está automaticamente impedido de participar do Sacramento da Eucaristia”. A pessoa só precisa afastar-se da Sagrada Comunhão se contrair novas núpcias ou passar a viver maritalmente com outra pessoa. Padre Wladimir Porreca diz, em artigo publicado na revista Vida Pastoral que “o modelo de Igreja “se a vida do casal se tornar insuportável e prejudicial, a Igreja acolhe os separados e não os penitencia por isso” sacramental e a redução da celebração da missa à comunhão eucarística contribuem para que o sentimento de exclusão seja reforçado nos casais separados”. Dom Luiz Mancilha Vilela explicou que “se a vida do casal se tornar insuportável e prejudicial, a Igreja acolhe os separados e não os penitencia por isso”. E Dom Luiz acrescenta: “o Santo Padre ouviu o clamor da Igreja revista vitória I Outubro/2015 35 durante a preparação para o Sínodo da Família e já começou a propor mudanças para diminuir os sofrimentos”. As razões e os dramas de cada um, porém, não cabem e não se resolvem com a aplicação das leis canônicas e agilidade nos processos de nulidade. Encontramos situações de casais separados reconhecerem a existência de provas de nulidade, mas recuarem perante a influência dos filhos da primeira união para que o pai não tente provar a nulidade do matrimônio, achando que isso prejudicaria moralmente a mãe, ou ainda, o casal que separou julgar que ao pedir a nulidade está negando a experiência vivida que não foi feita apenas de enganos ou erros. Este pensamento é endossado por padre Wladimir Porreca, que afirma: “existe uma ruptura nas relações, sobretudo da conjugal, mas não uma anulação do que foi construído e vivenciado na família precedente”. Reportagem Estas e outras questões relacionadas a casais em segunda união serão discutidas no Sínodo dos Bispos sobre a família que acontece no Vaticano de 4 a 25 de outubro. Nos casos que tivemos contato, que aguardam ou receberam a declaração de nulidade, percebemos que, embora na prática a Igreja não exclua, muitos separados se auto-excluem e se prejudicam na vivência comunitária. Em alguns casos, a própria comunidade passa a “olhar” a pessoa de outra forma e com desconfiança o que acaba criando distância e a sensação de abandono. “Eu não tinha coragem de comungar, eu ia à missa e chorava muito, me sentia culpada, com vergonha, me privei de muita coisa de dentro da igreja por causa disso. Foram três anos difíceis, me privando, por causa da minha consciência”, contou Natália. Para Ellen, que entrou com o processo recentemente, a situação não é diferente: “a gente vai à missa, frequenta, mas eu me sinto como se fosse estranha, isolada, então isso é ruim, me incomoda”. O que o Papa Francisco mudou nas leis canônicas não resolve os dramas de consciência, mas a aceleração nos processos daqueles que descobrem motivos comprovatórios de que o casamento foi nulo, vai com certeza diminuir o tempo de angústia e ansiedade e amenizar os sofrimentos. Como se dá o processo de nulidade Iniciado, o processo passa, obrigatoriamente, por dois Tribunais. O Tribunal de Primeira Instância, local onde se dá entrada ao processo e se obtém a primeira sentença, e o Tribunal de Segunda Instância, onde se teria um novo parecer de outros juízes, mesmo que a primeira sentença fosse favorável à declaração da nulidade. Cabe, se necessário, o apelo à Santa Sé, em Terceira Instância. Com a mudança, os casos em que as evidências da nulidade estejam claras, basta o reconhecimento da nulidade no primeiro Tribunal para que a declaração seja dada. De acordo com padre Teodósio, a mudança pode agilizar o processo de seis meses a um ano. Principais mudanças wA primeira decisão é de que não haverá a partir de agora necessidade da decisão de dois tribunais. A declaração de nulidade será dada após o pronunciamento do primeiro juiz. wO bispo é juiz em sua Igreja, por isso ele mesmo é o juiz, principalmente nos processos mais breves quando as evidências da nulidade são mais perceptíveis e existem mais argumentos para ela ser comprovada. De acordo com padre Teodósio, se aprovada a nulidade, a conclusão prevista – com a sentença – será realizada em até 02 meses. wFoi pedido às Conferencias Episcopais que estudassem meios para garantir o funcionamento dos Tribunais e que os gastos com os processos fossem, se não gratuitos, o mais baixo possível. Já é costume do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Vitória conceder descontos, ou até mesmo gratuidade, aos que, com dificuldade para arcar com as despesas, precisam entrar com o processo de nulidade matrimonial. revista vitória I Outubro/2015 36 Esperança Para quem entrou com o processo e ainda aguarda os trâmites do Tribunal Eclesiástico, o anúncio do Papa Francisco reacendeu a esperança. É o caso de Clarissa. “Para mim é muito importante, para eu poder casar novamente na Igreja, receber essa bênção e que eu tenha uma nova oportunidade. Saber que meu processo poderá ser julgado com menos tempo do que eu imaginava me traz muita felicidade”, disse. Ellen, que após uma confissão foi orientada a pedir a nulidade, diz que achou muito boa a decisão do Papa, “porque as pessoas não devem ser excluídas pelo Matrimônio não ter dado certo, é justamente um momento em que precisam ser acolhidas”. Em uma semana após as mudanças anunciadas, Cristina afirma que mais de dez processos foram reabertos. “O telefone não para de tocar, todos os dias aparece quem já havia parado com o processo, pedindo para reabrir. Está tudo aqui arquivado, e nós vamos analisar a melhor forma de retomá-los”. Enquanto aguardamos o Sínodo, ficamos com o relato dos padres sinodais: “evitar qualquer linguagem e atitude que faça os casais separados se sentirem discriminados, além de buscar promover a participação desses casais na vida da comunidade”. De fevereiro a setembro deste ano, 76 pedidos de nulidade matrimonial foram abertos No Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Vitória Etapas do processo em primeira instância 01 Reunião com o Vigário Judicial para apresentar as razões do pedido de nulidade; 02 A parte demandante (quem pede a nulidade) recebe um roteiro e é orientada a escrever o libelo introdutório, ou seja, detalhar a história que motiva o seu pedido; 03 A parte demandada é convocada para tomar ciência do libelo e pode optar em participar ou não do processo; 04 O defensor do vínculo elabora perguntas, de acordo com o libelo, e com a contestação da parte demandada, caso haja; 05 O demandante e suas testemunhas são ouvidos. A parte demandada também é ouvida, caso tenha feito a contestação; 06 O defensor do vínculo dá o seu parecer, o qual é encaminhado para três juízes, que dão seus votos. Após, eles se reúnem para julgar o processo e a sentença é apresentada às partes. revista vitória I Outubro/2015 37 sugestões ARTE Museu da Vale Viagem Lugar da tranquilidade Fugir da rotina e buscar um pouco de paz não exige uma longa viagem. Ibiraçu é um pequeno município a 70km da capital do Estado. É conhecido pelo pastel com caldo de cana, mas também abriga dois recantos para quem busca um pouco de sossego: o Santuário de Nossa Senhora da Saúde e o Mosteiro Zen Morro da Vargem, ambos ao lado da cidade e cercados de verde. O Santuário fica aberto à visitação todos os dias e tem missas e eventos recorrentes. O Mosteiro abre à visitação aos domingos, a partir das 10h. Os dois são uma ótima opção para quem quer ter contato com a natureza, se desligar da agitação e fazer caminhadas. Vale a pena! Estabelecendo uma relação entre desenho e fotografia, o artista plástico Vik Muniz utiliza materiais inusitados como açúcar, chocolate líquido, doce de leite, geleia, e lixo para criar as suas ou fazer a releitura das obras. Seu processo de trabalho consiste em compor as imagens com os materiais sobre uma superfície e fotografá-las. A partir do dia 16 de outubro a mostra estará aberta no Museu da Vale, onde também será exibido diariamente, em horário pré-estabelecido, um vídeo sobre a obra do artista. cultura A Magia de Miró Dica de seriado Arrow O milionário Oliver Queen passou anos de sua vida em uma ilha e foi dado como morto após um naufrágio que provocou a morte de seu pai. Ele voltou para casa com o objetivo de salvar sua cidade das mãos de criminosos e corruptos. Antes de seu pai morrer, deixou uma lista com o nome das pessoas responsáveis por conspirar contra a cidade e seus cidadãos. O personagem é solitário, dramático e cheio de conflitos, mas se empenha em salvar a todos sem que a polícia e os mais próximos descubram sua identidade. Em exposição no Espaço Cultural do Palácio Anchieta, em Vitória, até o dia 15 de novembro, ‘A Magia de Miró’ mostra as cores, criatividade e traço único do artista catalão Joan Miró, ícone do surrealismo. Com entrada gratuita, o público pode conferir 69 obras do pintor expostas, além de fotografias que mostram a sua vida pelas lentes de Alfredo Melgar. Dica da servidora pública Juliana Reblin revista vitória I Outubro/2015 39 Religião Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe. Envie sua pergunta para [email protected] Esporte Pergunte a quem sabe Denise Silva Profissional da Educação Física/ Coordenadora da Academia Positiva Club Qual a melhor atividade física, correr ou andar? Pe. Arlindo Moura de Melo Diretor da Escola Diaconal Qual a diferença entre diácono e Padre? O Padre é ministro ordenado para o ministério sacerdotal com tempo integral, abrangendo o pastoreio de uma parcela do rebanho que lhe foi confiada na paróquia e administração de cinco sacramentos: Batismo; Confissão; Eucaristia; Matrimônio e Unção dos enfermos. O diácono é ordenado para o ministério da caridade, (serviço aos necessitados), da Palavra e da Liturgia. Podendo administrar dois sacramentos: Batismo e Matrimônio. É casado. Tem o seu trabalho profissional e exerce a pastoral por tempo parcial. Como identificar o diácono? Podemos identificar o diácono permanente, pela ação pastoral, pela constituição familiar e pelas vestes litúrgicas. O Padre é pároco, Administrador paroquial, não é casado e nas celebrações usa a estola sobre a túnica de forma vertical e nas solenidades usa casula. O diácono usa a estola sobre a túnica de forma horizontal e nas solenidades usa dalmática. Temos também o diaconato temporário. O seminarista é ordenado diácono para exercer o ministério diaconal em preparação para ser ordenado presbítero (Padre). revista vitória I Outubro/2015 40 A caminhada e a corrida são atividades físicas importantes para melhorar o condicionamento físico, fortalecer o coração e emagrecer. Uma não é melhor do que a outra, ambas são benéficas à saúde. O que difere uma da outra é o nível de condicionamento físico que o praticante de atividade física se encontra. Por exemplo: se uma pessoa sedentária, que está sem praticar atividade física há mais de 3 meses ou nunca praticou, deseja iniciar um programa de atividade física, o recomendado para ela é uma caminhada de no mínimo 3 vezes por semana. Se por outro lado temos outra pessoa que faz atividade física regularmente, ela poderá iniciar um programa de corrida com uma intensidade leve a moderada e progredir na velocidade da corrida (do trote leve a uma corrida intensa) gradativamente. O mais importante é saber para quem estamos prescrevendo o exercício, pois diante do histórico físico da pessoa podemos indicar essa ou aquela atividade física. Qual o tempo diário ideal de prática de atividade física? Segundo a Organização Mundial de Saúde a atividade física para promover melhora no condicionamento físico e no coração de um indivíduo deverá ser de no mínimo 30 minutos e no máximo 1 hora, sendo o mesmo realizado 3 a 5 vezes por semana. Se uma pessoa só tem 30 minutos diários para se exercitar, pois exercite-se, pois isso irá trazer benefícios a saúde. saúde Helder Carnielli Presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do ES (Crea-ES) O que é o amianto? O amianto tem origem mineral e é uma fibra derivada de rochas metamórficas eruptivas, que por processo natural de recristalização transforma-se em material fibroso. O material é composto por silicatos hidratados de magnésio, ferro, cálcio e sódio e se divide em dois grandes grupos: serpentinas (crisotila ou amianto branco) e anfibólios (tremolita, actinolita, amosita, etc.). Essas fibras geralmente são invisíveis, inodoras, muito duráveis ou persistentes, e altamente aerodinâmicas. Elas podem se deslocar por longas distâncias e permanecem no meio ambiente por tempo muito longo. Por que ele foi banido? previdência Ao todo, 52 países proibiram o uso do amian- to. O Programa de Segurança Química da Organização Mundial da Saúde de 1998 concluiu “que a exposição ao amianto aumenta os riscos de asbestose (doença que tenta cicatrizar o tecido pulmonar), câncer de pulmão e mesotelioma (tipo de câncer que ocorre nas camadas mesoteliais da pleura, pericárdio, peritônio e da túnica vaginal do testículo) em função da dose”. Em termos de saúde humana é um material prejudicial, pois a exposição às suas fibras está associada a doenças, que podem ser de natureza ocupacional, como as que dependem de dose de exposição (asbestose e câncer de pulmão); de natureza ocupacional, que tem menor dependência (doença pleural e mesotelioma) e podem ocorrer por exposição ambiental e/ou ocupacional. Todas as doenças causadas pelo amianto são progressivas e incuráveis. A doença evolui mesmo após o afastamento do paciente da exposição ao mineral. Não há como evitar a evolução das doenças e, muitas vezes, a morte, consistindo o tratamento exclusivamente em aliviar as dores e sintomas. Marcos Augusto Rodrigues Gerente da Agência da Previdência Social de Cariacica O que é a desaposentadoria? A chamada desaposentação consiste na renúncia da aposentadoria pelo segurado que já recebe o benefício do INSS. No entanto, este pedido não possui amparo legal; o assunto está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal, sem uma decisão final. Atualmente, conforme a legislação previdenciária, as aposentadorias são irreversíveis e irrenunciáveis, salvo se o requerente não tiver recebido o primeiro pagamento do benefício. revista vitória I Outubro/2015 41 ensinamentos “Série especial sobre os Sacramentos” Confirmação ou Cr A Crisma ou o Crisma? O Sacramento é chamado de “a Crisma”, ao passo que o óleo utilizado para a unção é denominado “o crisma”. Crisma é uma palavra grega que denomina um unguento que mistura azeite e perfume, com o qual se unge ou massageia. Tem sua origem no verbo chrio, que significa ungir. Christós significa o Ungido de Deus e nós, cristãos, somos ungidos pois pertencemos a Ele. Desde o século V, esse Sacramento é chamado de Confirmação (ALDAZÁBAL, 2013). Fundamenta-se biblicamente, dentre outras perícopes, em Atos dos Apóstolos (8, 14-17): Pedro e João impuseram as mãos sobre os que haviam sido batizados e eles recebiam o Espírito Santo. O Sacramento da Confirmação não é uma “confirmação” do Batismo, já que as crianças não têm consciência quando são batizadas. Se fosse assim, não haveria sentido os que foram batizados adultos receberem este sacramento. Ou seja, o Batismo não é incompleto. A Confirmação aperfeiçoa a graça do Batismo. Por ela, Deus dá o Espírito Santo para nos enraizar mais profundamente na filiação divina e nos tornar membros mais revista vitória I Outubro/2015 42 risma firmes do Corpo de Cristo – a Igreja, ajudando-nos a assumir com compromisso a sua missão, dando testemunho da fé cristã pela palavra e pelas obras. Pela Confirmação, o cristão é enriquecido com a força especial do Espírito Santo. Em outras palavras, esse sacramento potencializa as graças recebidas no Batismo. Assim como o Batismo, a Confirmação imprime um sinal espiritual irrevogável na alma do cristão. Por isso, só pode ser recebida uma vez na vida. É necessário haver uma preparação consistente para as pessoas receberem o Sacramento da Confirmação, levando-as a uma comunhão com Cristo, a uma familiaridade com o Espírito Santo e ao compromisso com a missão da Igreja. O ministro ordinário da Confirmação é o Bispo (sucessor dos Apóstolos), que, em caso de necessidade, concede aos padres a faculdade de administrar esse sacramento. Por exemplo, na celebração dos Sacramentos da Iniciação Cristã com adultos. Geralmente, opta-se pelo padre batizar e, em outro momento, o Bispo revista vitória I Outubro/2015 43 administrar a Confirmação. Conforme explica o Catecismo, no rito romano, o Bispo estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito Santo. Cabe ao Bispo invocar a efusão do Espírito Santo. O rito essencial da Confirmação é a unção com o santo crisma na testa do “confirmando”, feita com a imposição da mão e pelas palavras ...(nome), recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus”. n Vitor Nunes Rosa Professor de Filosofia na Faesa Que veste devo usar ao entrar em uma Igreja ou para participar de uma Santa Missa A igreja é chamada por nós, cristãos católicos, como “Casa de Deus”! É um lugar especial, mesmo quando simples e pobre. As construções buscam arte, bom gosto, aconchego e, principalmente, um espaço que proporcione o encontro com Deus. É o local onde a Comunidade Eclesial, Comunidade de Fé, Esperança e Caridade se reúne para oração e adoração do Senhor, nosso Deus, especialmente para a Celebração da Sagrada Eucaristia. A igreja é um lugar de oração e de respeito! Por isso, seja bem-vindo à casa de Deus! Cada ocasião e cada ambiente exigem um tipo de compor tamento e de estilo no vestir. Em alguns As roupas devem estar limpas e a pessoa arrumada. Isso não depende de riqueza ou de pobreza. Trajes de praia não combinam com o ambiente de respeito que a igreja exige de todos. Repare nos condomínios dos prédios, geralmente a entrada de pessoas com trajes de praia não é feita pela entrada social. espaços da sociedade exige-se do visitante vestes adequadas para aquele ambiente, como por exemplo a Assembleia Legislativa. É normal a pessoa perguntar-se antes de se arrumar para um evento ou festa: que roupa vou usar? A decisão leva em conta que tipo de evento, quem se irá encontrar, o local do evento, se é de dia ou de noite, se é festa comemorativa ou confraternização. Pois bem, esta pergunta também deve ser feita antes de ir para a igreja par ticipar de um ato de fé. Para ir à igreja é impor tante que as roupas sejam adequadas ao ambiente (lugar de oração) e à finalidade do templo (proporcionar a quem entra um encontro com Deus). Vestes esportivas são próprias para momentos de lazer e de descanso, não são próprias para ir à igreja. Na hora de escolher as vestes para ir à igreja use bom senso. Deus merece todo o respeito! Adoramos o Senhor nosso Deus com o coração e a mente. As vestes expressam esta atitude do ser humano! Deus o(a) abençoe! Obrigado. cultura capixaba Rota Imperial São Pedro de Alcântara N Diovani Favoreto Historiadora o inicio do século XIX foi construída uma estrada para ligar Vitória, no Espírito Santo, a Ouro Preto, nas Minas Gerais. O objetivo desse caminho era melhorar o comércio entre as duas províncias. Esta estrada se chamou São Pedro de Alcântara ou, como ficou conhecida, Estrada do Rubim. Recentemente, Assembleia Legislativa, FINDES, SEBRAE e Governo do Estado lançaram a “Rota Imperial São Pedro de Alcântara” como alternativa para o desenvolvimento do turismo pelo interior do Estado do Espírito Santo. Esse percurso que liga os extremos do Estado, de leste a oeste, é composto de belezas naturais e características culturais que só o estado capixaba possui. O antigo caminho percorrido pelos tropeiros, que traziam boiadas e levavam produtos para Minas foi mapeado e seu potencial cultural identificado. Com isso, as regiões de montanha e suas tradições podem agora ser apreciadas através dos roteiros turísticos criados. O turista pode comer uma moqueca de peixes em Vitória, experimentar o broti (pão) de Santa Maria de Jetibá, o socol (salaminho) de Venda Nova do Imigrante e o feijão tropeiro de Ibatiba enquanto desfruta a hospitalidade desses municípios. n revista vitória I Outubro/2015 45 Municípios que compõem a Rota Imperial São Pedro de Alcântara: Cariacica, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Iúna, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Muniz Freire, Viana, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Venda Nova do Imigrante. Acontece IPAC Nos dias 17 e 18 de outubro, sob assessoria do padre Domingos Ormonde, da Diocese de Duque de Caxias e do liturgista Ir. Francisco Assis Dias, os participantes do IPAC, encontro voltado para a formação dos catequistas, discutem o tema ‘Catequese e Liturgia’. O encontro acontece em Ponta Formosa, de 8h às 17h. Sínodo dos Bispos sobre a família De 04 a 25 de outubro, acontece em Roma a 14ª assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Onze brasileiros estarão presentes. A assembleia extraordinária, ocorrida em outubro de 2014, apontou as principais necessidades que devem ser observa- Encontro de Universitários e Fórum Nacional de Cultura Colatina será sede, de 10 a 12 de outubro, de dois encontros nacionais, o 3º Encontro Brasileiro de Universitários Cristãos (Ebruc) e o 3º Fórum Nacional de Cultura. Com o tema “Universidade e Sociedade”, o Ebruc reunirá jovens que atuam no meio universitário para refletir, partilhar e articular a ação evangelizadora nas universidades. Na programação, mesas de diálogo, apresentações culturais, trocas de experiências, debates e oficinas. Já o Fórum Nacional de Cultura, que propõe o tema “Patrimônio Cultural, Educação e Evangelização”, envolverá artistas e pessoas ligadas à produção de projetos culturais que envolvem a realidade da Igreja do Brasil e da sociedade, por meio de debates, conferências, exposições e intervenções culturais, além do show dos artistas que estarão reunidos no encontro. revista vitória I Outubro/2015 46 das para a evangelização das famílias hoje. No decorrer deste ano, as dioceses foram convidadas através de questionários, a amadurecer as ideias e propor soluções concretas para os desafios. O resultado dessas reflexões será analisado pelos sinodais e, certamente, será a base para as orientações finais que o Papa dará à Igreja para o cuidado pastoral das famílias. Abertura do Ano Santo da Misericórdia Anunciado pelo Papa Francisco como o Jubileu Extraordinário, que tem como centro a misericórdia de Deus, o Ano Santo da Misericórdia terá início no dia 08 de dezembro de 2015 e seguirá por todo o ano de 2016. Na Arquidiocese de Vitória, será realizada a abertura no dia 13 de dezembro com uma solenidade na Praça da Catedral e abertura das portas da igreja, às 11h.