VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E/OU SUPLEMENTAR NA INTERVENÇÃO
TERAPÊUTICA OCUPACIONAL DE PACIENTE COM SÍNDROME DE WERDNIG
HOFFMANN
RAYANE TOTTI FÉLIX DE ARAÚJO 1
NATÁLIA DE ANDRADE TEIXEIRA2
BEATRIZ DA MOTTA MEIRA3
ANDRÉA RIZZO DOS SANTOS BOETTGER GIARDINETTO4
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DE MARÍLIA
Resumo: A comunicação é a forma pela qual um indivíduo socializa-se, adquire e transmite o
conhecimento. Algumas doenças neuromusculares podem levar à incapacidade de comunicação oral,
dificultando a expressão de seus desejos, pensamentos e necessidades. A dificuldade de comunicação
oral ou a ausência dela provoca uma disfunção ocupacional, que modificará o cotidiano do indivíduo.
Nesse sentido, a Terapia Ocupacional pode contribuir promovendo uma comunicação funcional, que
possibilite a integração social, expressão de afetividade, aquisição de conhecimentos e melhoria de
qualidade de vida segundo suas potencialidades por meio da comunicação alternativa e/ou
suplementar. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi proporcionar uma forma de comunicação
funcional a uma criança com graves limitações motoras e comunicativas. A pesquisa foi desenvolvida
no setor de uma enfermaria pediátrica do hospital materno infantil, localizado em uma cidade de
médio porte do Estado de São Paulo. O participante foi uma criança de 2 anos e 9 meses, com
diagnóstico da Síndrome de Werdnig Hoffmann. Para a coleta de dados foi confeccionada uma mesa
adaptada com plano inclinado e apoio lateral, permitindo um aumento de seu campo visual e
oferecendo posicionamento adequado de seus membros superiores. Também foram confeccionadas
placas de papel cartão com figuras simbolizando um rosto feliz e um rosto triste, que foram utilizadas
para a criança aprender a expressar o sim e o não e cartões com figuras para um jogo da memória,
estimulando o brincar e a aquisição de conceitos. Todas as figuras utilizadas foram retiradas do PCS.
Os resultados obtidos demonstraram que a criança por meio do uso da comunicação alternativa,
iniciou uma comunicação independente, expressando seus desejos e vontades. O trabalho
desenvolvido promoveu curiosidade, a aquisição de conceitos, interação social, reconhecimento da
mãe, pai e dos profissionais envolvidos diretamente com a criança, tais como médicos, enfermeiros, a
psicopedagoga, a supervisora e as estagiárias de terapia ocupacional, a fisioterapeuta e a
fonoaudióloga.
Palavras-chaves: Terapia ocupacional. Comunicação alternativa. Síndrome de Werdnig Hoffmann.
1
Graduanda em Terapia Ocupacional pela UNESP – Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, SP.
[email protected]
2
Graduanda em Terapia Ocupacional pela UNESP – Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, SP.
[email protected]
3
Graduanda em Terapia Ocupacional pela UNESP – Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, SP.
[email protected].
4
4. Professora Assistente Doutora do Curso de Terapia Ocupacional - Departamento de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional da Universidade Estadual Paulista - Campus de Marília, SP. [email protected]
Endereço para correspondência: Rua Vicente Fernandes Figueiredo, 180. CEP: 19802.180. Assis-SP, Brasil.
Tel: (18) 3322-6862
3076
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
INTRODUÇÃO
A comunicação é uma necessidade vital para o ser humano, é a forma pela qual um indivíduo
se socializa, adquire e transmite o conhecimento. Algumas doenças neuromusculares podem
levar à incapacidade de comunicação oral, dificultando a expressão de seus desejos,
pensamentos e necessidades (DUDUCHI, M.; MACEDO, E. C. 2009; REILY, L. 2007).
Porém, a comunicação compreende muito mais do que a fala propriamente dita, ela se dá pelo
ato de trocar uma mensagem com um receptor, sendo que essa troca deve ser compreendida
tanto pelo emissor quanto pelo receptor.
A comunicação alternativa e/ou suplementar (CAS) é uma área da prática clínica que se
destina a compensar tanto temporária quanto permanentemente as alterações ou incapacidades
de comunicação expressiva, distúrbios severos na fala, linguagem e na escrita. (ASHA, 1989
apud SAMESHIMA, F.S.; DELIBERATO, D., 2009)
É nesse sentido que a CAS pode oferecer a possibilidade de uma interlocução não verbal,
substituindo, melhorando e/ou complementando a comunicação para que o indivíduo possa
inter-relacionar com o outro.
A CAS dá voz ao indivíduo não oralizado para que o mesmo possa escolher, expressar seus
sentimentos e necessidades de forma com que o seu interlocutor seja capaz de interagir e se
conscientizar do mundo interno desse indivíduo, favorecendo seu papel de cidadão atuante na
sociedade. (NUNES, L. R. O. P; NUNES, D. R. P., 2007).
Garzon, Franco e Paiva (2007, p. 239) ainda citam que a CAS tem um importante papel
subjetivante e subjetivador, propiciando condições para o ser humano acreditar em si, ser
capaz de expressar-se, de interagir, ter voz, e assim, existir.
Um dos recursos da CSA é o Picture Communication Symbols (PCS), que foi desenvolvido
por Roxana Mayer no EUA, em 1981. Esse sistema possui desenhos bidimensionais,
constituindo relação idêntica com o objeto a que se refere, possibilitando um reconhecimento
imediato da intenção de expressão do indivíduo. Além disso, inclui alfabeto, números e
permite o uso de fotos. Algumas palavras têm dois ou mais pictogramas correspondentes, o
que permite ao usuário escolher o símbolo mais próximo de seu contexto. (DELIBERATO, D.
2005)
Devido a sua configuração basicamente formada por desenhos que indicam substantivos,
pronomes, verbos e adjetivos, o nível de dificuldade de abstração é menor por parte do
usuário, sendo por isso, também indicado para crianças menores. (DELIBERATO, D. 2005)
O PCS é um tipo de sistema pictorial que apresenta uma relação dialógica e contínua com
seus referentes, comunicando conceitos concretos e imagináveis de modo não ambíguo,
permitindo a comunicação entre um emissor e um receptor que não falem a mesma língua.
(DELIBERATO, D., 2008, p.238)
Dessa forma, a dificuldade de comunicação ou a ausência dela provoca uma disfunção
ocupacional, que irá se traduzir no cotidiano do indivíduo. Assim, o terapeuta ocupacional
buscará o desenvolvimento de uma comunicação funcional e efetiva que possibilite integração
social, expressão de afetividade, aquisição de conhecimentos e melhoria na qualidade de vida,
segundo as potencialidades de cada indivíduo. (PELOSI, M. B., 2009)
3077
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida ”trata-se da percepção, por parte
dos indivíduos ou grupos, da satisfação das suas necessidades e daquilo que lhes é recusado
nas ocasiões propícias à sua realização e à sua felicidade”. (COUVREUR, 1999, p. 42, apud
LOPES, 2012, p. 175)
A qualidade de vida na infância é um conceito multidimensional, dependente da concepção da
criança e do seu meio ambiente. Está intimamente ligada com a noção de desenvolvimento da
criança e com as reações cognitivas e emocionais perante as diferentes doenças, assim, como
com a idade, com o nível cognitivo, com os sentimentos e reconhecimento de estados
emocionais. (LOPES, 2012, p. 210)
A doença crônica muitas vezes pode levar às hospitalizações prolongadas, alterando
significativamente a vida da criança, não só no que se refere à sua rotina, mas também
podendo comprometer expressivamente o seu desenvolvimento. (PEREZ-RAMOS; A. M. Q.,
2006)
Devido à internação, a criança e sua família têm a necessidade de organizar as atividades do
cotidiano, gerando uma demanda da Terapia Ocupacional. A intervenção não está ligada
somente ao fato de a criança estar hospitalizada, mas de como ela vive esse momento de
modo mais ameno e com maior qualidade de vida. (TAKATORI, M.; OSHIRO, M.;
OTASHIMA, C., 2004)
Além das limitações impostas pela doença, a hospitalização também afeta diretamente o papel
da criança como ser brincante. A ausência do brincar acarreta na restrição de estímulos
adequados para o desenvolvimento da criança, uma vez que impossibilitam a exploração e
experimentação do meio. (SILVA, S. M. M., 2006)
As brincadeiras durante o processo de hospitalização são excelentes oportunidades
para a criança vivenciar experiências, que irão contribuir para seu amadurecimento
emocional, aprendendo a respeitar as diferenças entre as pessoas e os objetos. Além
desses benefícios, estimulam o raciocínio e a compreensão de estratégias envolvidas,
permitindo à criança dominar a própria conduta com autocontrole e auto-avaliação
de suas capacidades e de seus limites. (SILVA, S. M. M., 2006, p. 128)
O brincar é o meio pelo qual o terapeuta ocupacional faz com que a criança explore o mundo
a sua volta, o prazer e suas potencialidades, como a descoberta, o domínio, a criatividade,
expressão pessoal e desenvolva-se adequadamente.
O brincar esta ligado a qualidade de vida da criança, é uma atividade recreativa, sendo
intrínseco, espontâneo, divertido, flexível, totalmente envolvente, revigorante, desafiador,
pessoal e com um fim em si mesmo. (PARHAM E FAZIO, 2002).
A criança com deficiência que vive o processo de hospitalização, também tem e deve brincar
e conhecer o mundo lúdico, pois este é importantíssimo para desenvolver aspectos não
explorados de outra forma. Para o desenvolvimento adequado desta, são necessárias várias
adaptações devido às suas limitações físicas, comunicativas e cognitivas.
Crianças com Síndrome de Werdnig Hoffmann (SWH) ficam muito tempo hospitalizado, pois
essa a forma mais grave de manifestação da Atrofia Muscular Espinhal, uma doença genética
de herança autossômica recessiva, que afeta o corpo do neurônio motor no corno anterior da
medula espinhal, degenerando-o e levando à fraqueza e atrofia muscular. (ZANOTELI, E., et
al., 2004)
3078
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
Essa síndrome se manifesta precocemente, sendo que alguns sintomas podem ocorrer ainda
no período pré-natal sendo observada através da redução dos movimentos fetais. Após o
nascimento, o bebê pode apresentar problemas de sucção, dificuldades na deglutição e
ausência de resposta para os reflexos de moro, tônicos do pescoço e falta de respostas
adutoras cruzadas. Antes dos 6 meses de vida, o bebê deve apresentar: hipotonia à palpação
muscular; ausência de movimentação ativa e grave comprometimento motor e respiratório, já
que todos os músculos são acometidos pela atrofia, ficando poupados apenas o diafragma e
músculos oculares; fraqueza simétrica e generalizada, sendo a musculatura proximal mais
acometida; ausência de controle cervical e de tronco; presença de tremores finos e rítmicos
dos dedos e fasciculações da língua. Não há alteração da sensibilidade, do controle de
esfíncteres nem da área cognitiva, mas a comunicação é severamente prejudicada. (LIMA, M.
B., et al., 2010)
Por entender que a comunicação é fundamental para a interação com as pessoas e com o meio,
esta pesquisa tem como objetivo proporcionar a uma criança com Síndrome de Werdnig
Hoffmann e sua família, independência e uma melhor qualidade de vida no ambiente
hospitalar, por meio da comunicação alternativa e/ou suplementar, contribuindo para o
desenvolvimento de suas potencialidades e capacidades.
MÉTODO
A pesquisa foi desenvolvida no setor de uma enfermaria pediátrica do hospital materno
infantil, localizado em uma cidade de médio porte do interior do Estado de São Paulo. O
participante foi uma criança de 2 anos e 9 meses, com diagnóstico da Síndrome de Werdnig
Hoffmann, internada no referido hospital.
Breve histórico
A criança nasceu de parto normal, sem intercorrências pré e pós-natais, pesando 3.170g,
medindo 47 centímetros e apresentando Apgar 4/9.
Quando completou um mês, a mãe notou que o bebê tinha pouca movimentação, e procurou
atendimento médico, nessa época não foi diagnosticado. Somente aos 3 meses de idade o bebê
foi encaminhada ao neurologista, estando já internada há um dia na UTI Pediátrica do hospital
devido à pneumonia.
Após 3 meses de internação foi confirmado o diagnóstico da Síndrome de Werdnig
Hoffmann, confirmando a suspeita clínica. Desde o dia 02 de novembro de 2010 a criança
está internada no hospital. Ficou 11 meses na UTI Pediátrica e atualmente se encontra
internada em um quarto preparado com equipamentos semi-intensivos na enfermaria
pediátrica.
A criança faz uso de ventilação mecânica, sonda replog, aspirador, fez gastrostomia e
traqueostomia. Além disso, apresenta quadro de hipotonia generalizada, déficit de controle
cervical e de tronco, diminuição de força muscular global e pequena movimentação nas
extremidades dos MMSS e MMII. Em decúbito ventral, pode-se observar rotação externa de
quadril e pés equinos.
Recebe atendimento de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, psicopedagogas e estagiárias de terapia
ocupacional.
3079
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
Antes da intervenção da terapia ocupacional, a criança ficava a maior parte do dia assistindo
televisão. Apresentava alguns sinais que eram interpretados pelas pessoas mais próximas
como comunicação, como por exemplo, suas expressões faciais (franzimento da sobrancelha,
vermelhidão facial, movimentos oculares e lágrimas) e o apertar levemente a mão das pessoas
quando lhe era solicitado.
Para a intervenção terapêutica ocupacional foi confeccionada uma mesa adaptada com plano
inclinado e apoio lateral, permitindo um aumento de seu campo visual e oferecendo
posicionamento adequado de seus membros superiores. Além disso, aperfeiçoou as
possibilidades de uso dos recursos, trazendo-os mais próximo do paciente acamado, evitando
o estresse das articulações dos membros superiores.
Também foram confeccionadas, uma órtese abdutora de polegar com suporte para colocar giz
de cera, uma vez que o paciente não possui preensão; placas de papel cartão com figuras
simbolizando um rosto feliz e um rosto triste, que foram utilizadas para a criança aprender a
expressar o sim e o não e cartões com figuras para um jogo da memória, estimulando o
brincar e a aquisição de conceitos. Todas as figuras utilizadas foram retiradas do PCS.
Durante a intervenção foram utilizadas as placas, o jogo da memória e um tablet, que facilitou
a manipulação de outro jogo da memória oferecido.
As placas foram posicionadas cada uma em um canto da mesa adaptada e o plano inclinado
apoiava o tablet ou as cartas do jogo da memória. O jogo foi realizado pelo método de
varredura com o olhar, assim, quando desejava as cartas, olhava para a placa com rosto feliz,
que simbolizava o sim.
Além desse recurso, foi utilizada como brincadeira o pintar. Foram oferecidos diferentes
desenhos impressos e várias cores de giz de cera, o qual a criança utilizava com o auxílio da
órtese. A criança escolhia o desenho e as cores desejadas, também através do olhar para as
placas de CAS.
As intervenções foram realizadas quatro vezes por semana, durante um mês e meio, entre os
meses de abril e maio de 2013. O tempo de duração de cada sessão foi de 30 minutos, e
registradas em vídeo e fotos. A intervenção sempre respeitou o estado físico e emocional da
criança.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos em um mês e meio de intervenção terapêutica ocupacional
demonstraram que a criança obteve melhor qualidade de vida por meio do uso da
comunicação alternativa, iniciando uma comunicação independente, expressando seus desejos
e vontades. Por meio das placas do sim e do não, expressava seu desejo ou não de brincar,
indicava quando estava com dor ou não dentre outros, pois ao ser questionado olhava para a
placa correspondente ao seu desejo ou necessidade.
A CAS também permitiu que as pessoas que se relacionam com a criança pudessem entendêla e assim interagir mais satisfatoriamente, fato esse que anteriormente estava bastante
comprometido.
Por meio das placas, a mãe foi capaz de aumentar seu vínculo com o filho, obtendo uma real
comunicação. O vínculo mãe-filho e a presença da mãe na hospitalização são de extrema
importância na hospitalização. Silva, Cervi e Cupo (2009) apontam que é fundamental que a
3080
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
criança tenha alguém em quem confie, para além de minimizar os possíveis efeitos deletérios
da hospitalização, também encorajar ganhos e desafios, possibilitando a continuidade de
atividades próprias e particulares a cada criança. Isso pode ser observado a partir dos relatos
da mãe sobre o uso da comunicação alternativa:
“Ele está se expressando mais. Foi uma coisa boa. Quando ele está com dor, vamos
apontando as partes do corpo e ele responde.”
“Foi bom. Porque antes eu só sabia que ele queria alguma coisa quando ele chorava.”
“Olha lá como ele esta respondendo às meninas, agora tem como saber o que ele quer.” –
(mãe em conversa com o pai).
A equipe que intervém diariamente com a criança também notou melhora no tratamento que
pôde ser oferecido com o uso das placas da comunicação alternativa. Os profissionais
atendem respeitando o desejo do paciente frente às intervenções e podem avaliar com clareza
suas necessidades, como exposto nos relatos a seguir.
“Eu acho que é uma resposta objetiva. Tem que saber fazer a pergunta para ver se a resposta
esta dentro do contexto. Ele já tinha sinais que a gente conhecia, mas esse recurso ajuda
bem.” (Fonoaudióloga)
“Meninas, posso olhar o que vocês estão trabalhando com ele? É que estão comentando e
gostaria de analisar (...) Nossa que legal, é uma forma dele se comunicar!” (Médica
plantonista)
“Melhora a comunicação.” (Enfermeira)
“O trabalho realizado com o ele foi de muita eficácia, sempre visando a melhor qualidade de
vida para o mesmo. Acredito que a comunicação alternativa ofereceu muitos benefícios ao
paciente e conforto a mãe que pode ver as possibilidades de comunicação do filho.”
(Estagiária de Terapia Ocupacional)
Pérez-Ramos (2006) destacam que as pessoas que mantêm contato regular e diário com a
criança são de extrema importância para o tratamento no contexto hospitalar e restituição de
sua vivacidade, auxiliando também no apropriado desenvolvimento da criança.
Outra modificação foi o poder de escolha proporcionado ao paciente, que passa a ter
autonomia e independência. A partir da CSA, o paciente passou a escolher os desenhos que
queria assistir e as roupas que queria vestir, por exemplo.
Além disso, o brincar tornou-se mais funcional. Por meio das adaptações e pela comunicação
alternativa, a criança passou a escolher se queria jogar, pintar, ouvir uma história ou ouvir
músicas. A brincadeira começou a auxiliar no desenvolvimento da criança, uma vez que passa
a ganhar sentido, podendo estimular as capacidades cognitivas e de linguagem.
O uso do tablet proporcionou as etapas atraentes da motivação lúdica descritas por Parham e
Fazio (2002), já que o recurso era uma novidade para a criança, oferecendo desafios e
descobertas a serem alcançadas ao desenvolver o jogo, com reações independentes, sendo
estas as animações provenientes do próprio jogo escolhido. A reatividade também esteve
presente, pois a partir da utilização da CAS, a criança pôde oferecer uma ação a fim de obter
uma reação oriunda do brinquedo. Dessa forma, entendendo a ação e reação da brincadeira, a
criança passa a ser desafiada pela complexidade das etapas envolvidas no brincar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3081
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
A partir da intervenção realizada, pode-se observar a importância da intervenção da Terapia
Ocupacional junto ao paciente com Síndrome de Werdnig Hoffmann, buscando uma
comunicação funcional, provida de escolhas, podendo assim expressar suas vontades e
desejos. Além disso, proporcionou ao paciente uma interação efetiva com seus interlocutores.
Essa interação possibilitou maior vínculo entre familiares-paciente-equipe multidisciplinar.
Tendo a criança seu papel de ser brincante, a intervenção da Terapia Ocupacional voltou-se ao
brincar, tendo como objetivo garantir melhor qualidade de vida e autonomia para que o
indivíduo possa atuar em seus papéis ocupacionais dentro de seu ambiente.
O início deste trabalho foi concluído e atualmente é utilizado pelas estagiárias de Terapia
Ocupacional e profissionais do hospital, visando inovações através dos recursos utilizados.
Para que haja melhorias no desenvolvimento do paciente, o trabalho terá continuidade com a
inserção de mais símbolos para melhorar e efetivar sua comunicação.
REFERÊNCIAS
American Speech Language Hearing Association (ASHA). Competences for speech-language
pathologists providing services in augmentative and alternative communication. ASHA. 1989;
In: SAMESHIMA, F. S.; DELIBERATO, D. Habilidades expressivas de um grupo de alunos
com paralisia cerebral na atividade de jogo. Revista da sociedade brasileira de
fonoaudiologia, São Paulo, v. 14, n. 2, 2009.
CUNHA, N.H.S. Brinquedo, desafio e descobertas: subsídios para utilização e confecção
de brinquedos. Rio de Janeiro: FAE, 1988. 426p.
DELIBERATO, D. Comunicação alternativa: recursos e procedimentos utilizados no
processo de inclusão do aluno com severo distúrbio na comunicação. 2005.
DELIBERATO, D. Comunicação Alternativa: informações básicas para o professor. In:
OLIVEIRA, A. A. S.; OMOTE, S.; GIROTO, C. R. M. Inclusão Escolar: As contribuições
da educação especial. São Paulo: 1. ed, 2008. Cap. 14. p. 233-250
DUDUCHI, M.; MACEDO, E. C. Interação multimodal em sistemas de comunicação
alternativa e construção de interfaces com acionamento por direção do olhar. In:
DELIBERATO, D.; GONÇALVES, M. J.; MACEDO, E. C. Comunicação Alternativa:
Teoria, prática, tecnologias e pesquisa. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2009,
cap.20.
FERLAND, Francine. Além da deficiência física ou intelectual: um filho a ser descoberto.
Londrina: Lazer e Sport, 2009.
FERLAND, Francine. O modelo lúdico: O brincar, a criança com deficiência física e a
Terapia Ocupacional. 3. ed. São Paulo: Roca, 2006.
HEYMEYER, U.; GANEM, L. O bebê, o pequerrucho e a criança maior: guia para
interação com crianças com necessidades especiais. São Paulo: Memnon, 2004.
3082
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
GARZON, R.; FRANCO, M. J.; PAIVA, M. Abordagem transdisciplinar na comunicação:
evolução de um caso clínico. In: NUNES, L. R. d’O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. R. Um
retrato da comunicação alternativa no Brasil: Relatos de pesquisas e experiências. Rio de
Janeiro: 4 pontos Estúdio Gráfico e Papéis, 2007. Cap. 28. Volume II.
LIMA, M. B. et al. Atuação da fisioterapia na doença de Werdnig Hoffmann: relato de caso.
Revista Neurociências, v. 18, n. 1, p. 50-54, 2010. Disponível em:
<http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2010/RN1801/321%20relato%20de%20cas
o.pdf>
LOPES, M.G.C. Estudo da Saúde e da Qualidade de Vida Percebida pela Criança
Hospitalizada, Salamanca, 2012.
MITTAG, B. F.; WALL, M. L. Pais com filhos internados na uti neonatal – sentimentos e
percepções. Fam. Saúde Desenv., Curitiba, v.6, n.2, p.134-145, maio/ago. 2004
NUNES, L. R. O. P; NUNES, D. R. P. Um breve histórico da pesquisa em comunicação
alternativa na UERJ. In: NUNES, L. R. d’O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. R. Um retrato
da comunicação alternativa no Brasil: Relatos de pesquisas e experiências. Rio de Janeiro:
4 pontos Estúdio Gráfico e Papéis, 2007. Cap.1. Volume I.
NUNES, L. R. d’O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. R. Um retrato da comunicação
alternativa no Brasil: Relatos de pesquisas e experiências. Rio de Janeiro: 4 pontos Estúdio
Gráfico e Papéis, 2007.Volume I.
NUNES, L. R. d’O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. R. Um retrato da comunicação
alternativa no Brasil: Relatos de pesquisas e experiências. Rio de Janeiro: 4 pontos Estúdio
Gráfico e Papéis, 2007. Volume II.
PARHAM, L.D.; FAZIO L.S. A recreação na terapia ocupacional pediátrica. São
Paulo:Santos Ed. 2002, 267p.
PELOSI, M. B. Tecnologias em comunicação alternativa sob enfoque da terapia ocupacional.
In: DELIBERATO, D.; GONÇALVES, M. J.; MACEDO, E. C. Comunicação Alternativa:
Teoria, prática, tecnologias e pesquisa. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2009,
cap.17.
PÉREZ-RAMOS, A. M. Q. O ambiente na vida da criança hospitalizada. In: BOMTEMPO,
E.; ANTUNHA, E. G.; OLIVEIRA, V. B. Brincando na escola, no hospital e na rua. Rio de
Janeiro: Wak Ed., 2006. 192 p.
REILY, L. Como o sistema bliss de comunicação foi introduzido no Brasil. In: NUNES, L. R.
d’O. P.; PELOSI, M. B.; GOMES, M. R. Um retrato da comunicação alternativa no
Brasil: Relatos de pesquisas e experiências. Rio de Janeiro: 4 pontos Estúdio Gráfico e
Papéis, 2007. Cap. 1. Volume II.
3083
VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
SILVA, S. M. M. Atividades lúdicas e crianças hospitalizadas por câncer: o olhar dos
profissionais e das voluntárias. . In: BOMTEMPO, E.; ANTUNHA, E. G.; OLIVEIRA, V. B.
Brincando na escola, no hospital e na rua. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2006. 192 p.
SILVA, M. B. D. C.; CERVI, M. C.; CUPO, P. A hospitalização de crianças em unidade de
emergência: o papel da terapia ocupacional. In: UCHÔA-FIGUEIREDO, L. R.; NEGRINI, S.
F. B. M. Terapia Ocupacional: diferentes práticas em hospital geral. Ribeirão Preto: Legis
Summa, 2009, cap. 3. 305 p.
TAKATORI, M.; OSHIRO, M.; OTASHIMA, C. O hospital e a assistência em Terapia
Ocupacional com a população infantil. In: DE CARLO, M. M. R. P; LUZO, M. C. M.
Terapia Ocupacional: reabilitação física e contextos hospitalares. São Paulo: 1ª ed, Roca,
2004.
TAVARES, A. S.; QUEIROZ, M. V. O.; JORGE, M. S. B. Atenção e cuidado à família do
recém-nascido em unidade neonatal: perspectivas da equipe de saúde. Revista Ciência,
Cuidado e Saúde Maringá, v. 5, n. 2, p. 193-203, maio/ago. 2006
TELFORT, C. W.; SAWREY, J. M. Problemas familiares e pessoais das pessoas
excepcionais. In: O Indivíduo Excepcional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, s.d. cap. 5
UCHÔA-FIGUEIREDO, L. R.; et al. A atuação Interdisciplinar da Terapia Ocupacional em
enfermaria de neurologia infantil. In: UCHÔA-FIGUEIREDO, L. R.; NEGRINI, S. F. B. M.
Terapia Ocupacional: diferentes práticas em hospital geral. Ribeirão Preto: Legis Summa,
2009, cap. 6. 305 p.
ZANOTELI, E. et al. Biologia molecular nas doenças do neurônio motor. Revista
Neurociências, v. 12, n. 1, 2004. Disponível em:
<http://www.unifesp.br/dneuro/neurociencias/vol12_1/neuroniomotor.htm>.
3084
Download

comunicação alternativa e/ou suplementar na intervenção