Memorias Convención Internacional de Salud. Cuba Salud 2015
ISBN 978-959-212-963-4
ID:1769
ACEITAÇÃO E USO DE TECNOLOGIAS MÓVEIS DE INFORMAÇÃO PELOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE SAPEAÇU-BAHIA-BRASIL
Fonseca Marinho de Anias Daltro, Emmanuelle; Santana de Jesus Barbosa, Deise; Marques dos Santos,
Ernani; Pires Reis Machado, Aline; Moreira Molina Barrios, Raul . Brasil
RESUMO
A disseminação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e a crescente informatização nos
serviços públicos têm levado o setor de saúde a experimentar mudanças significativas nos processos de
registro e transmissão de dados e informações. Embora a política de informatização do setor saúde no
Brasil seja insuficiente, algumas soluções têm sido desenvolvidas e testadas pela iniciativa privada em
regime de contratação por alguns governos locais. Este trabalho analisou de forma quantitativa os
fatores condicionantes da aceitação e uso de tecnologias móveis de informação (tablets) pelos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) do município de Sapeaçu-Bahia-Brasil, com base em constructos da
Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)(1). Os principais resultados revelam que
mesmo com pouca experiência pregressa com o uso de tecnologias similares, 77% dos ACS
consideram o uso do tablet mais fácil do que imaginavam; 65% usam o equipamento todos os dias,
muito embora não façam a totalidade dos registros por meio dele; 91% estão satisfeitos com o uso e
95% recomendariam a adoção da tecnologia para outros municípios.
Palavras-chave: TIC, SIS, ACS, Tablets, UTAUT
INTRODUÇÃO
Desde longa data, uma das principais queixas dos profissionais de saúde pública no Brasil é quanto ao
preenchimento manual de uma grande quantidade de formulários que servem de base para a coleta de
dados que são inseridos nos diversos Sistemas de Informação em Saúde (SIS). Entretanto, com a
disseminação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ocorrida a partir da década de 1990
e a crescente informatização nos serviços públicos, o setor saúde vem experimentando mudanças
significativas nos processos de registro e transmissão de dados e informações (2,3).
Neste cenário, inúmeros são os desafios enfrentados pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS)
para assegurar a qualidade da informação gerada a partir da assistência executada, bem como a sua
confiabilidade para avaliação e monitoramento dos indicadores de saúde através dos SIS, visto que
ainda prevalece, na maioria dos municípios do Brasil, a prática da coleta de dados de forma manual
feita pelos profissionais de saúde com posterior encaminhamento para um profissional do setor
administrativo que os recebe - muitas vezes com grafia ilegível - e procede à digitação (4).
De acordo com Lima et al (5) a garantia de uma informação de qualidade é condição essencial para a
análise objetiva da situação sanitária, para a tomada de decisões baseadas em evidências e para a
programação de ações de saúde. Neste sentido, cabe destacar iniciativas do Ministério da Saúde do
Brasil (MS) para elevar a qualidade da informação gerada pelas equipes de saúde, dentre elas a
implantação do SIS e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) com o objetivo de reestruturar as informações
da Atenção Básica em nível nacional. O e-SUS faz referência ao processo de informatização
qualificada em busca de um SUS eletrônico.
Dentre os diversos SIS, o e-SUS AB é o que possui maior capilaridade, sendo alimentado por meio da
coleta diária de dados efetuada pelos profissionais que atuam nos serviços de Atenção Primária em
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Saúde, onde o Agente Comunitário de Saúde (ACS) atua como um elo entre a população adstrita e a
equipe, fortalecendo as ações de vigilância e promoção da saúde. Ressalta-se que um volume
significativo de dados é de preenchimento exclusivo do ACS, que o faz durante as visitas domiciliares
no território ao qual está vinculado e, de forma geral, os mesmos dispensam um tempo considerável de
sua carga horária de trabalho para preencher manualmente, consolidar e encaminhar formulários do eSUS AB para as Secretarias Municipais de Saúde: tarefa repetitiva e sujeita a falhas.
Para atenuar esta problemática, os gestores de saúde brasileiros têm discutido formas de incorporação
de tecnologias ao processo de registro de dados produzidos pelos serviços de saúde, visando facilitar a
coleta e dar maior celeridade ao processamento, sendo a adoção de soluções informatizadas uma
tendência neste sentido. Contudo, ainda existem muitos obstáculos para a implantação destas soluções,
sobretudo no que se refere à incipiente informatização das unidades de saúde e a insuficiência de
financiamento específico para aplicação nestes projetos.
Embora a política de informatização do setor saúde seja insuficiente, algumas soluções têm sido
desenvolvidas e testadas pela iniciativa privada em regime de contratação por alguns governos locais.
Em Sapeaçu, um pequeno município da região Nordeste do Brasil, localizado no Estado da Bahia, uma
experiência inovadora pode trazer benefícios para o processo de trabalho dos ACS. Trata-se da
aquisição, pelo poder público municipal, e distribuição, de tablets para o registro, consolidação e
transmissão dos dados coletados nos domicílios visitados.
Pressupõe-se que o principal benefício desta ação seja qualificar e dar celeridade ao processo de
informação em saúde que por sua vez resulta na tomada de decisão oportuna e racional pelo gestor em
saúde. Entretanto, é observado na literatura que a aceitação e o uso de uma tecnologia são
condicionados por diversos fatores. Neste trabalho são observadas características pessoais dos ACS,
bem como expectativa de performance, expectativa de esforço e condições facilitadoras que, segundo a
Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) (1) podem influenciar na aceitação e no
uso do tablet pelos ACS no município de Sapeaçu-BA, Brasil.
Este trabalho tem como objetivo analisar os fatores condicionantes da aceitação e uso de tecnologias
móveis (tablets) pelos Agentes Comunitários de Saúde do município de Sapeaçu-BA, Brasil, e esperase que os resultados relatados contribuam para ampliar a discussão sobre a adoção de TIC na área de
saúde, com ênfase na informatização dos processos de trabalho dos ACS e qualificação das
informações de saúde produzidas no SUS.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem quantitativa que adota o estudo
documental e a aplicação de questionários como estratégias metodológicas.
A pesquisa foi desenvolvida em Sapeaçu, um município de 17 mil habitantes, localizado no Território
Recôncavo do Estado da Bahia, na Região Nordeste do Brasil, entre outubro e dezembro de 2014. O
referido município tem 100% de cobertura da Estratégia Saúde da Família, possuindo 7 Unidades de
Saúde da Família, nas quais atuam médicos, enfermeiros, dentistas, técnicos de enfermagem e de saúde
bucal e os ACS. A escolha do município como cenário deu-se em função de seu pioneirismo na adoção
do uso de tablets pelos ACS, fato que ocorreu a partir de junho de 2014.
Num universo de 43 Agentes Comunitários de Saúde que atuam no município de Sapeaçu foi aplicado
um questionário com questões acerca de fatores que podem influenciar no uso da tecnologia baseadas
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nos construtos extraídos da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) (1), obtendose respostas de 23, o que corresponde a 53,4%.
O modelo de Venkatesh et al (1) apresenta construtos que visam explicar a intenção de um indivíduo de
usar uma tecnologia e considera que quatro dele são fundamentais na determinação da aceitação e do
comportamento de uso, a saber: expectativa de desempenho, expectativa de esforço, influência social e
condições facilitadoras, sendo a expectativa de desempenho o construto que mais influencia a intenção
de uso. Segundo os autores, esses construtos são moderados por quatro fatores: sexo, idade,
voluntariedade e experiência (5). Elementos baseados em todos os constructos foram analisados neste
trabalho, com exceção da influência social.
Figura 1: Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) (1)
As respostas foram organizadas com a utilização de planilhas eletrônicas e analisadas com o auxílio
de pacotes estatísticos específicos.
RESULTADOS
Dentre os 23 Agentes Comunitários de Saúde que participaram do estudo há a predominância do sexo
feminino (82,6%) reproduzindo uma constante no setor saúde. A média de idade dos respondentes é de
40,7 anos. Quanto à formação escolar 60,9% concluíram o ensino médio/técnico, 21,7% têm ensino
superior incompleto, 8,7% ensino fundamental e 8,7% ensino superior completo. O uso de tablets é
percebido como obrigatório por 90,9% dos entrevistados, sendo que 77,3% acreditam que o não uso
pode trazer consequências negativas para seu trabalho.
Tabela 1: Experiência prévia com uso de TIC
Opções de resposta
computador
internet
smartphone
tablet
Nenhuma
17,4%
13,0%
47,8%
65,2%
Pouca
17,4%
21,7%
17,4%
17,4%
Regular
47,8%
47,8%
17,4%
13,0%
Muita
17,4%
17,4%
17,4%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
4,3%
A pesquisa evidenciou, conforme se observa na Tabela 1, que poucos respondentes (4,3%) possuíam
uma experiência prévia significativa no uso de tablets, com mais de 65% afirmando que não possuíam
nenhuma experiência anterior, e que também quase metade não fazia uso de smartphones.
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Tabela 2: Percepção da rapidez do trabalho usando o tablete
Opções de resposta
Percentual
Mais rápida do que eu imaginava
64%
Igual ao que eu imaginava
14%
Mais lenta do que eu imaginava
23%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
Tabela 3: Percepção da facilidade para usar o tablete
Opções de resposta
Percentual
Maior do que eu imaginava
77%
Igual ao que eu imaginava
18%
Menor do que eu imaginava
5%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
Conforme evidenciado nas Tabelas 2 e 3, a pouca experiência prévia com TIC não foi impeditiva do
uso do tablet. Observa-se que 64% dos entrevistados afirmaram que a rapidez do trabalho utilizando o
equipamento foi maior do que a imaginada e 77% revelaram que a facilidade do uso, também, foi
maior do que a imaginada. Desta forma, demonstra-se que tanto a expectativa de desempenho quanto a
de esforço foram superadas.
Na pesquisa também foram evidenciadas condições facilitadoras para o uso do tablet, é o caso da
tecnologia recente do equipamento, referida por 90,9% dos entrevistados e o treinamento inicial que foi
referido por todos os respondentes. Entretanto, apenas 36,4% concordam totalmente que o treinamento
recebido proporcionou segurança para a utilização da TIC recém incorporada. Sinalizando uma
possível ação compensatória à insuficiência do treinamento inicial, a disponibilidade de suporte técnico
para auxiliar no uso da tecnologia foi apontada por 95,7% dos entrevistados.
Um programa específico para os registros de trabalho do ACS instalado nos tablets constitui-se,
também, uma condição facilitadora referida por 100% dos entrevistados. Trata-se do programa
AtendSaúde que tem relativa integração/interoperabilidade com os Sistemas de Informação em Saúde
do Ministério da Saúde do Brasil.
Tabela 4: Frequência de uso tablet/ mês
Opções de resposta
Percentual
Uso o tablet todos os dias
65%
Uso o tablet mais da metade dos dias
26%
Uso o tablet menos da metade dos dias
4%
Não uso o tablet nenhum dia
4%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
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Tabela 5: Quantitativo de registros no tablet/mês
Opções de resposta
Todos os registros são feitos no tablet
Mais da metade dos registros são feitos no tablet
Menos da metade dos registros são feitos no tablet
Nenhum registro é feito no tablet
Percentual
13%
65%
17%
4%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
As observações quanto ao uso efetivo do equipamento, registradas nas Tabelas 4 e 5, evidencia que
embora 65% dos ACS afirmem que usam os tablets diariamente, apenas 13% deles fazem todos os
registros dos dados pelos equipamentos e há ainda casos onde nenhum registro é feito.
Quanto à satisfação com o uso, 91% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos com o uso dos tablets
para a execução de suas tarefas (ver Tabela 6) e 95% recomendaria o uso para ACS de outros
municípios.
Tabela 6: Satisfação com o uso do tablete
Opções de resposta
Percentual
Concordo totalmente
73%
Concordo parcialmente
18%
Nem discordo nem concordo
0%
Discordo parcialmente
5%
Discordo totalmente
5%
Fonte: elaboração dos autores, a partir dos dados da pesquisa.
Aproximadamente 70% dos ACS transferem os registros efetuados por meio do tablet para a SMS pela
internet, embora 78% ainda o fazem numa periodicidade semanal ou maior.
CONCLUSÕES
Mesmo considerando as dificuldades encontradas ante o pioneirismo desta incorporação tecnológica,
da pouca experiência prévia dos ACS com tecnologias similares e do treinamento insuficiente para o
uso do equipamento, este estudo revela que os fatores condicionantes da aceitação e uso de tecnologias
móveis (tablets) pelos Agentes Comunitários de Saúde do município de Sapeaçu-BA, Brasil são
favoráveis. A superação da expectativa do desempenho, que segundo Venkatesh et al (1) é o constructo
que mais influencia a intenção de uso é o principal indicativo de que a experiência estudada é exitosa.
Ressalta-se que algumas fragilidades apontadas pelo estudo, tais como concomitância de registros
manuais e informatizados e relativa demora na transmissão dos dados coletados, podem minimizar
parte dos benefícios esperados com o uso do tablet.
Registra-se como limitações deste trabalho a insuficiência de experiências similares que pudessem
servir de comparativo para o caso em tela e a não realização da correlação dos dados devido ao n
reduzido. Ante as limitações, os pesquisadores indicam a realização de estudos futuros com a
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continuidade da coleta de dados visando atingir a população de ACS do município de Sapeaçu e
aprofundar as análises no banco de dados constituído.
REFERÊNCIAS
1. Venkatesh, V.; Morris, M.G.; Davis, G.B.; Davis, F.D. User acceptance of Information Technology:
toward a unified view. MIS Quarlerly, v.27, n.3, pp. 425-478, 2003.
2. Moraes, I.H.S. Política Nacional de Informação, Informática e Comunicação em Saúde: um pacto a
ser construído. Revista Saúde em Debate 2005; 29(69):86-98.
3. Marin, H. F. Sistemas de informação em saúde: considerações gerais. J. Health Inform. 2010 JanMar; 2(1): 20-4.
4. Silva, A.S.; Laprega, M.R. Avaliação crítica do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) e
de sua implantação na região de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, 21(6):1821-1828, nov-dez, 2005.
5. Lima, C. R. A. et al. Revisão das dimensões de qualidade dos dados e métodos aplicados na
avaliação dos sistemas de informação em saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n. 10, p. 20952109, 2009.
6. Gouvêa, M.A.; Nakagawa, S.S.Y.; Oliveira, B. Um estudo sobre os aspectos que contribuem para a
adoção do canal on-line para compra de livros, CDs e DVDs. R.Adm., São Paulo, v.48, n.3, p.500515, jul./ago./set. 2013.
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