Página 2 Volta ao campo EDITORIAL Os 20 anos do Sul Rural O jornal Sul Rural – órgão oficial de divulgação de Farsul – comemora na Expointer 20 anos de circulação. Em um meio sempre atormentado por crises que dificultam um desenvolvimento contínuo do setor agropecuário, não é pouca coisa. É verdade, não foi sem dificuldades que sobrevivemos. Apesar de lançado em julho de 1985, entre novembro de 1989 e janeiro de 1992, o jornal não circulou - daí os 20 anos de “circulação” agora. Mas, desde que foi relançado, nunca mais deixou de rodar. Apenas uma publicação coerente, de qualidade e ligada a uma entidade forte como a Farsul pode atingir tal longevidade, que esperamos, possa se confirmar por mais décadas e décadas. Na primeira edição do Sul Rural, de 31 de julho de 1985, uma mensagem, assinada pelo então presidente da Farsul Ary Faria Marimon, dizia que o jornal “vem com a finalidade de alargar o canal de comunicação entre a Farsul, os sindicatos e os produtores, buscando mantêlos bem informados de todos os acontecimentos ligados à área rural, bem como as realizações, lutas e reivindicações do setor primário de forma mais ágil e atualizada. Pretendemos fazer com que ele seja mais um instrumento de união e força dos produtores, ampliando a divulgação e o conhecimento da realidade do homem do campo, tantas vezes com sua imagem distorcida. Um jornal do produtor e para o produtor.” Duas décadas depois, podemos nos orgulhar de estar seguindo à risca os princípios do ex-presidente. Por isso, o momento é de comemorar. Uma festa na casa da Farsul, em Esteio, na quinta-feira de Expointer, será palco para brindes e homenagens aos colaboradores que construíram este jornal em um passado que se confunde com a história da própria Farsul e da agropecuária gaúcha. Talvez não seja exagero dizer que o arquivo do Sul Rural é a maior fonte para qualquer pesquisa sobre os últimos 20 anos do setor primário - ou primeiro rio-grandense. Mas, se os festejos e as reflexões sobre o passado nos agradam, também devemos dizer que estamos preocupados com o futuro, não só do setor agropecuário, mas também desta publicação. Por isso, nos últimos anos apresentamos novidades para nossos leitores. Hoje, o conteúdo e parte do arquivo histórico estão no site www.sulrural.com.br. Mais do que isso, temos a preocupação de manter uma página sempre atualizada e também multimídia, com acesso aos programas de rádio Farsul em Notícias. Afinal, estamos muito satisfeitos de chegar mensalmente à sua casa e às casas de outros 29.999 produtores rurais. Mas queremos que essa relação não pare por aqui e seja ainda mais duradoura. EXPEDIENTE Blau Souza* custa da ecologia e onerando toda a sociedade. Certamente, O homem, através dos tem- não será o agricultor sem terra, pos, tem dito da superioridade inferiorizado e dependente de da vida no campo quando com- estruturas governamentais, parada à urbana. Numa civili- quem voltará para o campo zação de cidades, o grego He- como um vencedor. Ele tem síodo já falava disso e ressalta- sido usado por políticos inesva as vivências dos pastores. O crupulosos, que não se perturrenascimento e, mais tarde, o bam ao conviver com velhos e romantismo literário com Cha- crianças em condições insaluteaubriand e Lamartine na bres debaixo das lonas pretas. França, ou com Antônio Felici- São políticos que não escolhem ano de Castilhos em Portugal, meios para obter fins inconfestambém teciam loas ao campo, sados. Não almejam um camà natureza. Mas viver dele nun- po pacífico e produtivo, pregam ca foi fácil. A revolução indus- a luta por uma reforma agrária trial encheu as cidades e esvaziou a campanha criando um Felizmente há um quadro de fome numa fase de agricultura primitiva, com tec- grande número de emprenologia de final da Idade Mé- sários rurais de todos os dia. Nos tempos modernos, a tamanhos que fazem do mecanização das lavouras e as Brasil um grande produatrações urbanas com legisla- tor de alimentos, capaz de ção social e previdência de competir até com o priteores citadinos tornaram o meiro mundo, campeão êxodo rural irrefreável. Faci- em premiar com subvenlidades na educação dos filhos ções e benesses a quem fie na assistência médica, pe- que no campo e produza. quenos luxos e diversões impossíveis no meio rural, incha- retrógrada, socializante da poram as cidades com agriculto- breza. Pregam o ódio ao emres despreparados, incapazes presário rural e se colocam na de exercer atividades diferen- dependência total de governos ciadas nas cidades. Passaram paternalistas e permissivos, caa ser aproveitados como au- pazes de tolerar desordens, ulxiliares de pedreiros ou a con- trajes e o crime. viver com o desemprego. As Mas certamente o retorno ao mulheres viraram lavadeiras e mundo rural está se processanmuitas das filhas se prostituí- do de muitas formas. Atividaram. Diante desse quadro, a des como as de agrônomo, vevolta ao campo passou a ser terinário, zootecnista, inseminaum ideal dourado e muitos dor, tratorista, cabanheiro e políticos a aproveitaram e a tantas outras, propiciam a muiaproveitam de maneira inconse- tos uma volta ao campo que qüente. Sem levar em conside- seus antepassados abandonaração os avanços da produção ram. Voltam como empregados com tecnologia do mundo oci- ou como empregadores, mas dental, pregam algo parecido sempre explorando potenciacom a volta aos lotes dos colo- lidades que ainda farão do nos do século XIX, ainda que à Brasil um país rico. Será pos- FARSUL Presidente: Carlos Rivaci Sperotto Vice-presidente: Gedeão Silveira Pereira Diretor Administrativo: Francisco Lineu Schardong Diretor Financeiro: Jorge Rodrigues SENAR-RS Presidente: Carlos Rivaci Sperotto Superintendente: Eduardo Delgado Chefe Divisão Administrativa: Carlos Alberto Schütz Chefe Divisão Técnica: Taylor Favero Guedes sível a alguém, vítima do êxodo rural, voltar ao campo como proprietário? Sim, num país democrático e regido pela livre iniciativa. Foi-se o tempo de defender a socialização da produção primária como a grande meta a ser alcançada. As relações capitalistas do mundo se impuseram como as mais possíveis de dar certo e as que menos castram o homem na sua integralidade. No momento, não há realidade socialista totalitária que propicie padrão de vida e liberdade aos seus cidadãos a ponto de servir de exemplo ou estimular entusiasmos. Chega de gerações sacrificadas em nome de ideologias e de sonhos. Basta de multidões famintas e de agricultores sem produção. Felizmente há um grande número de empresários rurais de todos os tamanhos que fazem do Brasil um grande produtor de alimentos, capaz de competir até com o primeiro mundo, campeão em premiar com subvenções e benesses a quem fique no campo e produza. Aqui, além da ameaça de invasões, há juros altos, impostos abusivos, insumos caros, produtos sem preço e a má vontade crônica de muitos servidores estatais, cultores da burocracia e de ranços ideológicos. Sem que eu desejasse, esta crônica foi-se enchendo de inconformidade com aspectos de economia interna e espero que a opção por sócios pobres e por lideranças internacionais exóticas não atrapalhe ainda mais o Brasil, nem piore a miopia de seus governantes no trato dos seus reais problemas. * Médico e escritor JORNAL SUL RURAL Diretor: Décio Rosa Marimon Jornalista responsável: Marcela Duarte Fotos: Fabrício Barreto e arquivo Colaboração: Alessandra Bergmann Circulação Mensal Tiragem: 30.000 exemplares Administração, redação e comercial: Praça Saint Pastous, 125 - Fone: (51) 3214.4400 Fax: (51) 3221.9113 e-mail: [email protected] - Porto Alegre/RS - Cep 90051-170