DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA
LITERATURA PORTUGUESA II
PROFESSOR: IDMAR BOAVENTURA
JOÃO BOSCO DA SILVA
([email protected])
SIMBOLISMO, UMA VOLTA AO ROMANTISMO.
FEIRA DE SANTANA – BAHIA
2008
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1. SIMBOLISMO:
1.1 – Origens: Surgiu a partir da crise cultural e do pessimismo no fim do século XIX,
como resultado dos efeitos ruins da revolução industrial, da razão e dos pressupostos
científicos e positivistas. Nasceu na França em 1857 quando Charles Baudelaire (18211867) publicou “As Flores do Mal”. Teve como os mais autênticos representantes: Mallamé e
Verlaine. Em 1866 Baudelaire lançou o seu primeiro número da antologia “Le Parnasse
Contemporain”, expondo composições simbolistas e produções parnasianas.
Segundo Mallarmé, os parnasianos buscam descrever as coisas, enquanto que o
sonho está em sugeri-las. A visão simbolista consiste no envolvimento entre o “eu” e as
coisas. Essa misteriosa relação entre o estado de espírito do poeta e o mundo não pode ser
descrita, apenas sugerida.
Schopenhauer contesta o princípio positivista da realidade e diz que ela é mera ilusão,
longe do contato racional. Esse pensamento, por sua vez, se identificava com o
“desconhecido” de Spencer ou com “o inconsciente” de Hartmann, como um espírito
possante e inatingível ao conhecimento humano. Schopenhauer ainda complementa que o
nosso corpo é contaminado pelo mundo exterior, fazendo uma relação entre o ser e a
natureza, havendo, portanto, uma correspondência entre eles.
1.2 - Desalento e descrença: É uma época de sensação de desalento e de descrença
nos valores. É quando os aristocratas entregam-se à uma vida apenas contemplativa, cuja
atitude recebe o nome de “Decadentismo”, e é nesse clima
pessimista que nasce o
Simbolismo, cuja relação estética encontra suas raízes no Romantismo, com identidade
espiritualista em relação à crença num ideal e no desapego do materialismo, nem sempre
muito perceptível pelos homens.
O Simbolismo representa uma espécie de volta ao Romantismo, especificamente ao
"mal do século", que marcou a segunda fase romântica. Mas o mergulho simbolista no
universo metafísico foi mais profundo que a imersão no movimento anterior. Os simbolistas
buscavam integrar a poesia na vida cósmica, usando uma linguagem indireta e figurada.
Cabe ainda ressaltar que a diferença entre o Simbolismo e o Parnasianismo não está
primeiramente na forma, já que ambos empregam certos formalismos (uso do soneto, da
métrica tradicional, das rimas ricas e raras e de vocabulário rico), mas no conteúdo e na
visão de mundo do artista.
Os simbolistas são os críticos em movimento, repudiando o romantismo, pelo seu
emocionalismo e linguagem convencional metafórica e à idéia de que o acaso viria a
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interferir na criação poética. Enquanto os poetas Simbolistas via a Divindade como uma
situação que chegaria somente até aos limites da natureza e agregado à coisas, os
românticos descrevia como algo além da realidade, procurando fazer uma poesia pura. Com
isso, o fazer poético fica sendo uma tarefa essencial do homem.
1.3 - A doutrina: a doutrina do Simbolismo começa em 1857, com a profissão de fé
simbolista de Baudelaire, no soneto “Correspondências”. No manifesto de Jean Moréas, de
1886, é utilizada pela primeira vez a palavra “Simbolismo”. Na concepção simbolista o louco
era um ser completamente livre, por não obedecer a regras, e teoricamente o poeta
simbolista é um ser feliz.
1.4 - Decadência do Positivismo: Na Europa, por volta de 1870, as ciências
positivistas e materialistas vão perdendo terreno e se tornando impotentes, surgindo então
uma nova forma de encarar o mundo, a partir da explicação dos “mistérios” da realidade e
verdades espirituais adormecidas como a Fé, as verdades do sentimento e do inconsciente.
Nesse período a Europa vê-se atingida por uma série de crises de ordem política, social e
econômica. O progresso industrial não atende mais às necessidades das massas populares
e a decadência é inevitável; as rivalidades entre monarquistas e republicanos se
intensificam; as desavenças entre a Áustria e a Rússia agravam-se, e a guerra é iminente.
De um lado, a luta das nações mais poderosas por mercados consumidores e produtores da
matéria-prima; por outro lado, as classes trabalhadoras, cientes da exploração dos
capitalistas, reivindicam melhores salários e melhores condições de trabalho.
1.5 – Características do Simbolismo: Como vimos, o Simbolismo tem início com
Baudelaire, que não se limitava a explicar a relação do homem com o mundo. Os românticos
admitiam a unidade entre o ser e o mundo, ao mesmo tempo em que viviam tentando
explicar a consciência entre o sujeito e o objeto, do “eu” e do mundo.
Na correspondência em Baudelaire vai surgir a perfeita interação entre o sujeito e o
objeto e o homem e a natureza, para tentar explicar a separação difundida pelo
Racionalismo ou pelo culto apenas do “eu” provocando um distanciamento do ser no mundo.
Indiretamente ele denuncia a desagregação do homem com a natureza e com si mesmo.
Para que o homem penetre no estado edênico (relativo ao jardim do Éden), ele deve ser um
decifrador da natureza da linguagem da natureza. Mais especificamente, apresentou
algumas características, tais como:
a) A poesia como mistério: idéias vagas e obscuras, ilogismo, hermetismo, imprecisão.
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b) A poesia como evocação: distanciamento do real, culto do etéreo, espiritualismo,
misticismo, ânsia de superação.
c) A poesia como fruto do inconsciente: evocação do mundo íntimo, incompreensível
através de confissões indiretas (opostas ao lirismo romântico).
d) A poesia como fruto do conflito eu versus mundo: tédio, desilusão, pessimismo,
melancolia, consciência da efemeridade da vida.
e) A poesia como símbolo: uso de alegorias, metáforas, comparações, sinestesias
(relação subjetiva que se estabelece entre uma percepção e outra) que pertença ao domínio
de um sentido diferente: perfume que evoca uma cor; som que evoca uma imagem.
f) A poesia como música: aliterações, assonâncias, harmonia entre as palavras, ritmo
marcante.
g) A poesia como manifestação do Belo: escolha cuidadosa de palavras que causem
impressões sensíveis, neologismos, combinações novas entre vocábulos.
Como se percebe, o Simbolismo tem seu conteúdo relacionado com o espiritual, o
místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas,
predestinação, sorte, introspecção, com mais ênfase pelo particular e individual do que pelo
geral e Universal: valorização máxima do “eu interior”. Tentativa de afastamento da realidade
e da sociedade contemporânea: valorização máxima do cosmos, do misticismo e negação à
Terra. Normalmente os textos retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens
grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a idéia de liberdade. Um conhecimento
intuitivo e não-lógico, com ênfase na imaginação e na fantasia. Desprezo à natureza: as
concepções voltam-se ao místico e sobrenatural. Pouco interesse pelo enredo e ação
narrativa: pouquíssimos textos em prosa. Preferência por momentos incomuns: amanhecer
ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite. Linguagem ornada, colorida, exótica,
bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num
ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.
1.6 - Estética do Simbolismo: alguns dos fundamentos se aproximam dos
fundamentos esotéricos, fazendo com que o conhecimento da natureza ou de um poema se
pareça com uma experiência mística, quando um iniciante tem contato com uma linguagem
ambígua. Por isso é que Rimbaud define o poeta como um vidente, desagregando os
sentidos, controlados pelos simbolistas. As expressões como “sugestão” e “evocação”
tornam-se mais comuns aos simbolistas.
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A poesia simbolista é algo inefável que só pode ser alcançado pelo sonho da magia da
sugestão, evocando pouco a pouco o objeto para mostrar ou extrair o estado d’alma. A
poesia permite recuperar a essência do poético.
O princípio da sugestão e da evocação é explicado por Jean Moréas, como a procura
de se revestir a idéia de uma forma sensível e que a ela fique submissa. Segundo Edmundo
Wilson, os símbolos do simbolismo devem ser definidos diferentemente dos símbolos
comuns. Uma das correntes do simbolismo chegou a defender a criação simbólica como
algo espontâneo, condenando toda artificialidade e intencionalidade no ato de criação e da
alegoria. Contrariando essa descriminação, Baudelaire e Camilo Pessanha vão usar da
alegoria com ótimos resultados.
Apesar de seguir alguns efeitos estéticos do Parnaso, esse movimento desrespeitou a
gramática tradicional com o intuito de não limitar a arte ao objeto, trabalhando conteúdos
místicos e sentimentais, usando para tanto a sinestesia (mistura de sensações: tato, visão,
olfato...). Essa corrente literária deu atenção exclusiva à matéria submersa do "eu",
explorando-a por meio de uma linguagem pessimista e musical, na qual a carga emotiva das
palavras é ressaltada; a poesia aproxima-se da música usando aliterações.
Para Hegel, a música é uma forma subjetiva representação, sendo a arte uma forma de
comunicar a interioridade, permanecendo subjetiva na sua objetividade. Para o autor de
“Flores do mal”. Segundo Kiekegaard – o homem passa por três estágios em sua existência:
o estético (presença do novo); o ético (gravidade e responsabilidade da vida) e o religioso
(relação com Deus). Já a filosofia de Bergson afirma que não é a inteligência que chega a
compreender a vida, e sim a intuição.
A poesia simbolista está ligada à idéia de decadência, daí seu primeiro nome ter sido
Decadentismo; só mais tarde essa nova estética passou a chamar-se Simbolismo. Jean
Moréas, teórico do grupo, em 1886 publicou um artigo chamado “O século XX”, que definia o
movimento como "não tanto em seu tom decadente quanto em seu caráter simbólico"; essa
publicação colocou um ponto final na nomeação da nova estética, que passou a chamar-se
Simbolismo.
Tendo por base as idéias de Moréas, Eugênio de Castro lançou o movimento em
Portugal com Oaristo; o nome dessa obra, em grego, significa "Diálogo íntimo". No Brasil, o
movimento chegou, sem influências portuguesas, com a publicação de Missal e de Broqueis,
ambas de Cruz e Souza.
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1.7 - O Simbolismo em Portugal: Ocorre no final do século XIX (Início: 1890 com a
Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro) e início do século XX (final em 1915, com o
surgimento da Revista Orpheu), inaugurando o Modernismo.
A crise econômica de 1890 a 1891 possibilitou transformação na vida de Portugal,
como também não poderia deixar e ser, na atividade literária. O “Ultimatum inglês” – obrigou
os portugueses a se retirarem do Xire, na África, aumentando o pessimismo e a decadência
de Portugal. Nesse período nascem duas tendências espirituais opostas, mas interligadas e
próximas, sendo uma na crença numa renovação total da pátria, numa paixão nacionalista,
com o Neogarretismo – corrente literária no nacionalismo de Garret. Mesmo assim Portugal
cede às imposições inglesas e os portugueses entram ainda mais profundamente numa
onda de derrota.
Acontecem fatos extremamente tristes, como por exemplo, o suicídio de Antero. Esse
tédio mórbido e o pessimismo estão explícitos nas obras de Mário Laranjeira e na mística
sebastianista de Antônio Nobre.
Como as pessoas passaram a não respeitar as tradições, os ideais revolucionários
vãos sendo substituídos por um grande desalento, surgindo em 1887 o grupo “Vencido da
Vida”, que passa a ter uma atitude social cínica de desalento, nada convencional para quem
pretendia ser a força progressista. Como exemplo de mudança literária, Antero de Quental
passa a escrever a valorização de mitos cristãos, como Jesus Cristo e Nossa Senhora,
mostrando nitidamente uma descrença na vida real.
Eça de Queiroz e Guerra Junqueira passam a concentrar-se no consciente inocente do
povo português vivendo num momento de crise e aflição. Eça passa a ficar mais atento aos
efeitos da linguagem, sua cadência e musicalidade das palavras, fazendo a descrição
plástica da natureza com mais atenção e valorização, como no caso da obra “A cidade e as
serras”.
Gomes Leal, o poeta maldito, reflete em suas obras um certo satanismo de Baudelaire,
registrando a tendência Simbolista do fim do século XIX. É aquela visão das relações
misteriosas e de que a natureza se utiliza de uma linguagem simbólica, essencialmente
musical, para acesso apenas aos noviços.
As primeiras manifestações dessa nova estética em favor dessa nova corrente em
Portugal estão marcadas nas duas revistas rivais: “Os Insubmissos” e “Boêmia Nova” em
1889.
Os prefácios das obras “Horas” e Oaristos” de Eugênio de Castro causaram impacto no
acanhado meio cultural da época, traçando o perfil do que seria um poeta simbolista. Talvez
por isso outros autores, como Antônio Nobre e Camilo Pessanha, por exemplo, procuraram
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seguir caminhos próprios, concebendo a poesia simbolista numa perfeita interação de visão
de mundo e forma, evitando um simples receituário formal.
2. A POESIA:
A poesia desse movimento expressa uma nova visão de mundo que contraria os
preceitos realistas, valorizando o subjetivismo e o inconsciente, tornando-se uma forma de
sondagem do mundo inteiro do “eu” lírico. Essa introspecção criou caminhos diferentes nos
vários poetas simbolistas, levando uns ao intimismo saudosista, outros à expressão dos
desencontros da vida como à angústia diante do destino da morte.
Assim, embora os poetas simbolistas tenham características comuns do movimento
como a evasão. Eles se diferenciam uns dos outros de forma peculiar.
2.1 - Eugênio de Castro e Almeida (1869-1944): a sua obra pode ser dividida em
duas fases: simbolista e neoclássica. A simboliza corresponde aos poemas escritos já no
século XX. Novas rimas, novas métricas, aliterações, versos alexandrinos, vocabulário mais
rico, ele expõe no prefácio – manifesto de “Oaristos”. Na fase neoclássica apresenta temas
voltados à Antigüidade clássica e ao passado português (profundamente saudosista).
É introdutor do simbolismo em Portugal através da obra “Oaristo”, apresenta uma
poesia que se opõe a lugares comuns, rimas atuais e vocábulos pobres que tanto
caracterizavam a poesia portuguesa. E propõem uma nova maneira do fazer poético
apelando para o vago, o misterioso e o ímpar.
Com isso o poeta pretendia revolucionar a poesia introduzindo inovações ao nível da
imagem, da rima e do trabalho do verso em geral e da explosão musical da língua. Apesar
de ser o precursor do Simbolismo português, o autor permaneceu fiel apenas em “Oaristo e
Horas”, tendendo as outras obras ao estilo parnasiano. Essa confusão surgiu em virtude dos
“ismo” da época que propiciou a obra de Castro diferentes manifestações que foram do
decadentismo, a ações parnasianas, voltando-se depois para o classicismo. Sua produção
foi mais clássica do que simbolista, porque tal como os poetas clássicos ele não deixou o
sentimento extravasar.
Castro é altamente formal, trabalhando uma linguagem rebuscada que aborda temas
clássicos e universais. Não tem qualquer preocupação com o leitor, assim, apresenta uma
leitura fria sem sentimentos, como é um profundo conhecedor da língua utiliza a assonância
e a aliteração para produzir a musicalidade de sua obra.
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2.2 - Antônio Nobre (1867-1900): Antônio Pereira Nobre exaltou a vida provinciana do
norte de Portugal, por influência de Garrett e de Júlio Dinis. Ingressou na carreira
diplomática, morrendo de tuberculose aos 33 anos. Estudou em Paris. Obras: Só (Paris,
1892), Despedidas (1902), Primeiros versos (1921), Correspondência. É simbolista, mas não
tem seus cacoetes. Considerado como nacionalista e romântico retardatário. A sua poesia
manifesta rica musicalidade rítmica e linguagem com um falar cotidiano e coloquial, além do
pessimismo.
Sendo um dos mais populares poetas português, em vida deixou apenas um livro
publicado (Nome do Livro: Só) e com ele obteve grande sucesso. Com temas voltados para
os saudosos tempos da infância, falando com simpatia das pessoas simples e cantando
numa linguagem suave e espontânea os devaneios, as tristezas, o amor e o sonho, com isso
o autor seduziu o público. A sua poesia é presa às tradições e apresenta temas da cultura
portuguesa. Os versos são livres com ritmo musical expressando a cultura popular, pois as
pessoas não podiam se desprender das tradições, onde o ser humano encontra equilíbrio,
se estiver sintonizado com o passado.
Ao contrário de Eugênio de Castro, obedeceu fielmente aos princípios simbolistas,
através da manifestação de um lirismo sentimental, romântico, muito subjetivo que
conservando as raízes tradicionais, responsáveis pela extensa ressonância nas almas
populares, fazendo com que a sua poesia se assemelhe à prosa de Garrett, com as
inovações narrativas, o tom coloquial e uma obra mais romântica do que simbolista.
Nobre apresenta uma linguagem popular falando do cotidiano, preocupando-se com o
leitor, por isso utiliza uma linguagem simples espontânea, carregada de sentimentos, feita
para ser compartilhada com o povo. Em função disso Nobre trabalha a musicalidade das
canções populares (cantigas de amigo), empregando, assim, uma espécie de neogarretismo.
2.3 - Camilo Pessanha (1867-1926): é considerado o mais simbolista dos poetas da
época. Autor de apenas um livro: Clepsidra, influenciou a geração de Orpheu, que iniciou o
Modernismo em Portugal.. Passou grande parte da vida em Macau (China), tornando-se
tradutor da poesia chinesa para o português. Autor considerado de difícil leitura, pois
trabalha bem a linguagem. No seu livro predomina o estranhamento entre o eu e o corpo; o
eu e a existência e o mundo. Em sua obra ele se distancia de uma situação concreta e
pessoal, e sua poesia é pura abstração.
É o expoente máximo da poesia do simbolismo de Portugal. Sensível e senhor de um
estilo próprio, teve a capacidade de dar bela expressão artística a seus dramas, em função
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disso colocou-se no mesmo patamar dos grandes poetas que expressam a angústia
humana. Formado em Coimbra, passou a maior parte de sua existência no oriente. Teve
publicado em vida, apenas uma obra de poemas “Clepsidra”, tratando de temas que
degenera o belo e o bom e despreza a materialidade da época, revelando uma arte que
possui sentimentos estranhos em função do mundo e até de si próprio, e de tudo que o ligue
a realidade concreta. Ele traça um quadro pessimista e melancólico bastante influenciado
pelas correntes de pensamento da época, retratando de um lado a dor o sofrimento,
associado ao pessimismo de Schopenhauer, e de outro a obra é movida pela crise
existencial, seguida de um horror ou medo da vida cercada de desgosto de viver.
Ele segue em busca de explicações para a vida no místico, inconsciente,
subconsciente, vago, etéreo e misterioso, num universo que parece existir apenas em sua
visão, com uma extrema musicalidade em seus versos, que serve bem ao propósito da
escola simbolista.
Portanto, Pessanha diferencia-se de Castro e compartilha com Nobre a inquietação
diante da vida e do mundo, dos homens e de si e é mais simbolista, pois não está preso a
escolas anteriores. É livre para produzir a sua obra, evadindo-se para o próprio “eu”,
envolvido num lirismo suave, cujos sentimentos e sensações sugerem e insinua através do
vago e do indefinido. Sua realidade não é concreta ela é substituída pelo sonho e o
visionário que lhe dá uma visão espiritual das coisas.
Analisadas essas três vertentes, percebemos que embora Eugênio de Castro, Antônio
Nobre e Camilo Pessanha pertençam à mesma escola literária, cada um possui um estilo
próprio de fazer poesia. Apesar das diferenças mencionadas, os poetas possuíam algo em
comum que era a evasão que propiciou uma total falta de compromisso com o real, o
concreto, o palpável, expressando, assim um mundo multifacetado onde cada poeta
exprimia um mundo novo, particular e pessoal.
Enquanto o Simbolismo francês prezava o artificial e tinha caráter urbano, o português
valorizava o natural e a vida no campo, buscando a fixação dos temas nos tempos heróicos
e vitoriosos de Portugal. No espaço urbano pode-se sentir com mais força a ação do tempo,
mas não campo essas sensações praticamente não conta, porque as estruturas
permanecem intactas, imutáveis, por isso o poeta sente-se mais humano, como uma eterna
criança. Enfim, os simbolistas concebem a vida como uma onda passageira.
REFERÊNCIA:
GOMES, Álvaro Cardoso. “O simbolismo”. In: Massaud, Moises (org). A Literatura
Portuguesa em Perspectiva. V. iv. São Paulo : Atlas, 1994. P. 15 a 61.
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