Classificação valutativa de estoques (Curva ABC)
Elton Alonso Nogueira
No dia a dia da nossa lida diária, vemo-nos sempre envolvidos com centenas de decisões a serem
tomadas, tarefas e obrigações a cumprir, onde cada uma delas é mais urgente e importante que as
outras.
Chega-se à conclusão que separar o essencial do acessório segundo uma sequência de
prioridades é dever inalienável do Administrador de Materiais e com base nesse princípio,
voltamos nossa atenção para um dos mais eficazes métodos de classificação de estoques que
conhecemos, denominado de sistema ABC ou simplesmente Curva ABC.
Tal classificação foi criada por um estudioso italiano chamado Pareto, sendo mais tarde amoldada
à Administração de Material por Henry Ford Dickie nos EUA, definindo criteriosamente uma
distribuição de consumo que determina a importância dos itens do estoque em função do valor
expresso pelo próprio consumo.
1. Metodologia
O método para se chegar à classificação ABC consiste em:
1. Calcular o valor do consumo do item nos últimos 12 meses, multiplicando o valor médio
unitário pela quantidade anual consumida;
2. Ordenar todos os itens decrescentemente segundo o valor de consumo anual de cada um;
3. Acumular o valor do consumo anual;
4. Calcular a percentagem do valor de cada ítem em função do valor total do consumo
acumulado;
5. Calcular a percentagem correspondente de cada item em função do número total de ítens;
6. Separar os itens em 3 (três) classes, as quais são:
A
– Aqueles itens que se constituem em minoria quanto ao número, mas que apresentam o
maior valor de consumo, que merecem um tratamento preferencial e que justificam um
procedimento meticuloso pelo órgão de Controle de Estoques e cuidados por parte da
alta administração da Empresa;
B – Aqueles que apresentam valores médios de consumo e de número de ítens, representando
a situação intermediária entre as classes A e C;
C – Aqueles que se constituem em maioria quanto ao número de itens e que apresentam
baixo valor de consumo.
A definição das classes é de competência do órgão de Administração de Estoques, devendo
porém situar-se relativamente nas faixas que aparecem na tabela abaixo.
Classe
% Itens
% Valor
A
5 a 20
80 a 65
B
15 a 30
15 a 25
C
50 a 80
10 a 5
Para mostrar na prática, como pode ser construída a curva ABC, adotaremos um exemplo pelo
custo médio negociado que contenha apenas 10 (dez) itens.
Na tabela I a seguir aparecem os 10 itens já com seus respectivos valores anuais de consumo e a
posição ou ordem de cada ítem, do valor mais alto para o mais baixo.
Código
Azul
Branco
Amarelo
Vermelho
Rosa
Verde
Preto
Cinza
Laranja
Violeta
Valor unitário
50,00
1.500,00
50,00
100,00
200,00
300,00
200,00
15,00
100,00
80,00
Consumo Anual
3.000
1.000
4.000
200
5.000
250
300
6.000
1.000
10.000
Valor do Consumo
150.000,00
1.500.000,00
200.000,00
20.000,00
1.000.000,00
75.000,00
60.000,00
90.000,00
100.000,00
800.000,00
Ordem
5º
1º
4º
10º
2º
8º
9º
7º
6º
3º
Na tabela II os itens foram ordenados, e em seguida calcula-se o percentual do valor de cada item
em relação ao valor total do consumo acumulado e o percentual de cada item em relação ao
número total de ítens.
Finalmente foi aplicada a tabela de intervalos de classes e identificados os itens A, B e C.
Ordem
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
Nº item
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
% Nº itens
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Codigo
Valor Consumo % valor % Acum Classe
Branco
1.500.000,00
37,5
37,5
A
Rosa
1.000.000,00
25,0
62,5
A
Violeta
800.000,00
20,1
82,6
B
Amarelo
200.000,00
5,1
87,7
B
Azul
150.000,00
3,7
91,4
B
Laranja
100.000,00
2,5
93,9
C
Cinza
90.000,00
2,3
96,2
C
Verde
75.000,00
1,8
97,0
C
Preto
60.000,00
1,5
99,5
C
Vermelho
20.000,00
0,5
100,0
C
3.995.000,00
Para se visualizar melhor a distribuição dos valores bastará transportá-los para um sistema de
coordenadas como o que aparece na figura abaixo:
Valor
80
10
30
Itens
Na curva ABC do exemplo dado, os itens que possuem os códigos branco e rosa seriam
classificados como A, pois representam 62,5% do valor acumulado no período de 12 meses e
20% do total de itens.
Os itens com os códigos violeta, amarelo e azul, seriam classificados como B, pois representam
28,9% do valor acumulado e 30% do total de itens.
Os demais itens seriam classificados como C, pois representam 8,6% do valor acumulado e 50%
do total dos itens.
Note-se que os itens de alto custo unitário poderão não pertencer à classe A, podendo até mesmo
pertencer à classe C, pois o que determina o seu peso é o valor unitário em relação ao consumo
do período. Os objetivos da curva ABC são imediatos e visam determinar os estoques de
utilização frequente com alta movimentação de capital.
2. Conceituação
Conceituaremos como grau de valor, o critério de classificação que exprime a importância dos
materiais em função do seu valor absoluto de consumo num determinado período.
Deve-se entender aqui o 0 (zero) como tendo o valor absoluto. Em outras palavras, para nós, o
item sem consumo no período tem consumo zero.
Segundo o grau de valor os materiais classificados como A,B,C,D e E, já definidas anteriormente
as classes ABC.
Uma classificação adicional incluiria então:
D
– Compõem a classe D todos os itens que, na época da classificação estão sem registros de
consumo num periodo superior a 12 mêses, isto é, sem movimentação há mais de 1 ano,
enquadrados, provavelmente, num processo de descontinuação dentro da Empresa.
E
– Fazem parte dessa classe todos os itens recém admitidos ou incluídos em estoque após o
período considerado para se fazer a classificação, caracterizados num processo
embrionário de consumo.
3. Análise de itens de classe D e E
Evidentemente que na distribuição de Pareto (curva ABC) os materiais com grau de valor D e E
não são representados pelo simples fato dos seus consumos no período considerado serem zero.
De posse de um relatório classificado pela curva ABC ou pelo grau de valor ( ABCDE ) a atitude
mais natural para um Administrador de estoques será a análise de itens sem demanda por mais de
12 meses, por exemplo. Os relatórios de itens sem movimentação que conhecemos simplesmente
listam todos aqueles materiais que não aparecem na listagem dos classificados como A, B ou C
na classificação ABC.
A partir deste ponto, teremos o pesado e monótono objetivo de analisar os itens não consumidos
nos últimos 12 meses, um a um, visando sua eliminação do estoque.
Como a classificação pelo grau de valor destaca também os itens de materiais que tiveram
consumo zero no mesmo período, teremos, para efeito de análise, duas etapas bem definidas. Na
primeira etapa concluiremos que a classe E, por estar destacada no relatório classificado, por si
mesma se justifica no que se refere ao consumo zero.
Em outras palavras, não precisamos realizar aquela análise ítem a ítem com o intuito de eliminar
do estoque materiais que não possuem demanda, pois a classe E refere-se a itens incluídos
recentemente no cadastro.
Com isso conseguiremos segregar automaticamente uma série de itens que, pelo seu grau de valor
E, estará isenta de um estudo demorado visando sua eliminação.
Na Segunda etapa, visando a eliminação de itens sem movimentação, teremos a classe D. Para
este caso deveremos promover uma análise com os usuários na tentativa de identificar que itens
podem ser alienados, entretanto tal análise deve ser subsidiada por outras classificações de itens
de estoque (por ex: criticidade, aplicação, etc).
Fonte: NOGUEIRA, Elton Alonso; GOMES, Aristides Julio da S. Suprimento – métodos e
técnicas. Salvador: Estrutural, 1984, cap. 6, p. 117 – 125.
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