UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Passado. Presente... Futuro? Uma escrita sobre as trajetórias de vida dos alunos da EJA Ricardo Pampim dos Santos Orientador: Prof. Ms. Rafael Arenhaldt Porto Alegre 2009 FICHA CATALOGRÁFICA ___________________________________________________________________________ S237p Santos, Ricardo Pampim dos Passado. Presente... Futuro? : uma escrita sobre as trajetórias de vida dos alunos da EJA / Ricardo Pampim dos Santos ; orientador Rafael Arenhaldt. – Porto Alegre, 2009. 26 f. : il. Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS. 1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. Memórias – Trajetórias de vida – Alunos – EJA. I. Arenhaldt, Rafael. II. Título CDU 374.7 _____________________________________________________________________________ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. (Jaqueline Trombin – Bibliotecária responsável - CRB10/979) AGRADECIMENTOS Nunca serão suficientes as palavras usadas para expressar algo que tenha sido tão importante para mim. Minha caminhada até aqui tem muito das pessoas que me incentivaram e me motivaram a acreditar em minha capacidade. Primeiramente, agradeço à minha avó Dináh, sem ela não seria possível saborear a sobremesa sem passar pelo prato principal. A ela, minha eterna gratidão por todas as minhas conquistas promissoras. Ao meu orientador, Professor Ms. Rafael Arenhaldt pela paciência, tranquilidade e o conhecimento transmitidos desde o início da caminhada. Sem esses princípios minha chegada não seria a mesma. Ao PPGEdu pela oportunidade de me atualizar naquilo que acredito. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS pelas experiências trocadas, conversas com quem gosta de ensinar e aprender e pelo incentivo de continuar. Aos alunos que foram fundamentais para a realização deste trabalho. Sem eles, nada teria sentido. À Mary Ignez Pires (in memorian) pela atenção e disposição de sempre atender bem. Apenas um estímulo O que pensas da palavra? Tens medo dela!? Por que não me dizes o que tens vontade? Não te escondas de mim. Deixe-me conhecer-te. Senão posso te ouvir, deixe-me ler tuas palavras. Elas dizem tudo. É difícil. Mas deixe-as falarem por ti. Simplesmente tome a iniciativa. Escreva isso mesmo... o agora, o ontem, o passado bem remoto. Por que não sobre o futuro? Não importa. O que precisas? Memória. Eu mesmo. RESUMO Este trabalho é o resultado de uma inquietação durante os anos em que lecionei com a EJA. Memórias pessoais e experiências eram trazidas por alunos quase sempre nas aulas de língua portuguesa. A ideia de uma escrita de suas próprias memórias surgiu a partir de minha percepção de que a vontade de falar de si mesmo precisava ser desafiada. Também trago a reflexão para uma concepção de currículo nesta modalidade voltado para a subjetividade e para as trajetórias formadoras de vida enquanto cidadão e aluno. O que precisa ser percebido? O que eles têm a nos dizer? São alguns dos questionamentos que busquei e que proponho aqui compreender. Palavras-chave: 1. Educação de Jovens e Adultos 2. Memórias 3. Trajetórias de vida SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07 2. PARA INÍCIO DE CONVERSA E O PROBLEMA DE PESQUISA ................. 07 3. O MEMORIAL COMO TEXTO AUTOBIOGRÁFICO: O PROCESSO METODOLÓGICO ................................................................................................08 4. ABRINDO AS CORTINAS, APRESENTANDO O ELENCO: OS PERSONAGENS E O ESPAÇO.......................................................................................................... 09 4.1. O Memorial como Ferramenta Pedagógica em uma turma de EJA ........... 11 4.2. As primeiras considerações: O que dizem os Memoriais ........................... 12 4.3. Das Trajetórias e das Escritas: Entrelaçando o Eu Sujeito e o Eu Poemático ..................................................................................................... 14 4.4. A Fotografia como Objeto da Memória ...................................................... 15 4.5. “Os lugares da Memória” ............................................................................ 16 5. O PROEJA PARA O SÉCULO XXI ...................................................................... 17 6. UMA PROPOSTA INOVADORA ........................................................................ 18 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 19 8. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 20 9. ANEXOS ................................................................................................................ 22 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é refletir sobre as trajetórias de vida escritas pelos meus alunos concluintes da Educação de Jovens e Adultos, Ensino Fundamental, do Instituto Estadual Madre Benícia. Para isso, analisarei os elementos comuns às escritas, buscando uma relação com o cotidiano escolar no âmbito da motivação, do estar em sala de aula, dos objetivos com os estudos, entrelaçando essas histórias/trajetórias para compreender a relação entre vida pessoal, escola, trabalho, família e sonhos. Minha vontade de realizar esse tipo de trabalho surgiu de observações durante o período em que lecionei para turmas de EJA. Desde 2005, quando ingressei nessa escola, comecei a trabalhar com essa modalidade de ensino. Foi um grande desafio, pois nunca havia trabalhado com um grupo tão heterogêneo em vários sentidos. Para começar, o que era bem evidente é que são alunos com diferentes idades e diferentes interesses. Alguns não escondiam que estavam na escola somente para ter um convívio social diferente do familiar. Outros, realmente buscavam melhorar sua condição de trabalhador ou até mesmo para buscar o primeiro emprego. Como premissa para realizar meu trabalho com essa modalidade, penso na necessidade de ter um conhecimento de mundo que me propicie, em um primeiro momento, uma aproximação, uma vez que os alunos precisam retomar o tempo em que estavam distantes do convívio escolar, mas, também, associar conhecimentos de (con)vivência social e profissional. Dúvidas e angústias surgiram a todo o momento. Como iniciar um contato com o grupo, primando pelo convívio produtivo, que fizesse valer o estar em sala de aula e que fosse diferente, para os alunos, de outras épocas escolares? De que forma o meu trabalho poderia ser diferente para que eles tivessem motivação para assistirem às aulas? 2. PARA INÍCIO DE CONVERSA E O PROBLEMA DE PESQUISA Os seres humanos, ao longo dos tempos, sempre desenvolveram formas de comunicação para se proteger das adversidades da natureza, expressar suas emoções e sentimentos, conviverem em grupo. Das cavernas às modernas formas de comunicação, muitos sinais e símbolos foram desenvolvidos por eles para registrar variados momentos de sua trajetória. Os registros mais 7 antigos que se conhecem são as pinturas feitas em paredes de cavernas, as chamadas pinturas rupestres. Mas a linguagem também esteve sempre presente em todas as atividades humanas. As mais diversas formas de registrar essas atividades foram encontradas em diferentes épocas e em diferentes partes do mundo. Tais registros comprovam a necessidade que sempre acompanhou o ser humano: o de se comunicar, guardar de alguma forma sua história, suas idéias e suas emoções. Esses registros são, hoje, parte da memória humana. Diante disso, o registro das histórias de vida dos alunos escrito por eles torna-se um exercício importante em sala de aula. As diferentes concepções de ver e viver a vida, a escola, o mundo, os objetivos, as vivências sociais, os dissabores, os sonhos misturam-se com um passado que, muitas vezes, justifica o estar em sala de aula em busca de um sentido maior da vida. É assim que esse trabalho se propõe a investigar as memórias que os alunos escrevem e narram sobre suas trajetórias/histórias de vida. E como as elas podem sensibilizar e estimular o aluno a refletir e escrever sobre si mesmo. 3. O MEMORIAL COMO TEXTO AUTOBIOGRÁFICO: O PROCESSO METODOLÓGICO Em um artigo intitulado As histórias de vida em formação: gênese de uma corrente de pesquisa-ação-formação existencial, Pineau (2006) aborda a temática de histórias de vida, citando-a como uma nova tendência entre as já existentes que são a biográfica, a autobiográfica e os relatos de vida. O artigo trata, entre outras coisas, da verificação de essa tendência de escrita de histórias de vida tornar-se uma corrente, pois, segundo Pineau (2006, p.5), a auto-reflexão pode contribuir para fazer de suas práticas uma arte poderosa de autoformação da existência ou, ao contrário, de submissão, conforme permite ou não aos sujeitos apropriarem-se do poder de refletir sobre suas vidas e, desse modo, ajudá-los a fazer delas uma obra pessoal. Convém lembrar que será apenas um recorte do artigo no sentido de apontar uma “eclosão” para a prática de escritas de vida. O trabalho de pesquisa de Pineau consiste em mostrar a evolução dessa prática entre os anos de 1980 até 2005. A partir dessa pesquisa que ele chamou de “eclosão de uma corrente de pesquisa-ação-formação existencial”, ele dividiu esse tempo de vinte e cinco anos em três períodos: um período de eclosão (1980), um período 8 de fundação (os anos de 1990) e, finalmente, um período de desenvolvimento diferenciador (os anos de 2000). Essa metodologia de investigação sobre histórias/trajetórias de vida tem sido cada vez mais um potente instrumento no processo de formação, autoformação e reflexão, uma vez que oportuniza uma integração entre instituição, professor e aluno. A partir desta proposta é possível fazer uma síntese das trajetórias narradas/escritas, permitindo, assim, uma melhor compreensão do ponto de vista dos sujeitos aprendizes, bem como de suas aspirações pessoais e profissionais. Definir o processo de uma pesquisa e o instrumento metodológico a ser usado não é tarefa fácil, pois os caminhos a serem tomados para a concretização da mesma representam um momento de fundamental relevância para a construção do objeto de estudo. No tocante às pesquisas no campo das Ciências Humanas, a investigação a partir de narrativas de vida, cada vez mais, vem ocupando um espaço valorizado. Essa tendência, segundo Leônia (2003, p.3) baseia-se numa visão de história de vida que tem como fundamento o conhecimento racional, a consciência, como se essa tivesse a possibilidade de abranger, de dar conta de toda a história do sujeito através do recurso da memória. Os estudos sobre relato de vida apontam para a possibilidade de o sujeito construir uma autoimagem, uma identidade, através da reconstituição de sua história. Enfim, é por considerar as narrativas de vida uma forma de instrumentalizar a escrita e a possibilidade do diálogo com o próprio “eu” que delimito o método da escrita de um memorial de suas histórias/trajetórias para que através de uma investigação da subjetividade possa compreender melhor o aluno da EJA. 4. ABRINDO AS CORTINAS, APRESENTANDO O ELENCO: OS PERSONAGENS E O ESPAÇO As experiências cotidianas parecem minúsculos fragmentos isolados da vida, tão distantes dos vistosos eventos coletivos e das grandes mutações que perpassam a nossa cultura. Contudo, é nessa fina malha de tempos, espaços, gestos e relações que acontece quase tudo o que é importante para a vida social. (FORTES,2006, p.16) O cenário escolhido para a realização deste trabalho localiza-se no Instituto Estadual Madre Benícia em uma área de zona rural de Novo Hamburgo. Trata-se de uma turma de alunos concluintes da modalidade EJA, T6. A escola tem, aproximadamente, oitocentos alunos nos três turnos de funcionamento. 9 O trabalho iniciou com 17 alunos, porém, no decorrer do ano, alguns deixaram de vir às aulas. Alguns motivos explicam a evasão nessa modalidade. A escola funciona em um bairro de difícil acesso, existem poucos horários de ônibus, grandes áreas escuras e os alunos precisam caminhar muito para chegarem às suas casas. Muitos voltam cansados do trabalho e também há casos de violência entre jovens no percurso de volta. Apesar de a turma ser formada por diferentes faixas etárias, a proposta de trabalho teve uma resistência inicial, mas fluiu posteriormente e a aceitação foi boa. 10 4.1. O Memorial como Ferramenta Pedagógica em uma turma de EJA Segundo o Documento Base do PROEJA (2007, p.31), o programa tem como objetivo para a construção do projeto político pedagógico: integrar conhecimentos da educação geral com a formação profissional inicial e continuada por meio de metodologias adequadas aos tempos e espaços da realidade dos sujeitos sociais que constituem o público beneficiário. Sendo assim, o perfil do estudante do PROEJA é fator imprescindível para que a construção do projeto político pedagógico possa atender às necessidades desses alunos. A história de vida dos estudantes deve ser levada em consideração, pois tem forte influência nos caminhos e descaminhos que os afastaram do ambiente escolar. Para este aluno, que retoma os estudos e enfrenta, muitas vezes, uma jornada cansativa de trabalho todos os dias, é importante buscar ao máximo conhecer sua rotina, suas trajetórias e seus desejos: Utilizando os conhecimentos dos alunos, construídos em suas vivências dentro e fora da escola e em diferentes situações de vida, pode-se desenvolver uma prática conectada com situações singulares, visando conduzi-los, progressivamente, a situações de aprendizagem que exigirão reflexões cada vez mais complexas e diferenciadas (PROEJA, 2007, p. 39) É assim que o trabalho de escrita sobre as trajetórias de vida dos alunos do PROEJA torna-se uma peça importante para construir um jogo de aprender-ensinar entre alunos e professores. É fundamental que o professor conheça essas trajetórias, uma vez que elas constituem pistas importantes para orientar cada aluno a ser sujeito de sua própria história. O professor, com o seu conhecimento de mundo e o olhar sobre a diversidade dentro da sala de aula, deverá proporcionar um ambiente que possibilite ao aluno refletir sobre a sua realidade, atrelando suas vivências/experiências ao contexto de mundo. Só assim, a escrita de um memorial formativo através do qual temos a oportunidade de registrarmos e re-fazermos um percurso específico de nossa vida, pode ser uma maneira de divisarmos outros finais para a história que está em pleno transcurso. (Apontamentos de Aula. Memorial Formativo - PROEJA 2008) Fortes (2006, p.91) diz que “a vida humana deve ser analisada no percurso de sua trajetória singular, conforme a situação social e histórica em que se desenvolve”. Sob esse olhar, a importância de aluno compreender os diferentes tempos da sua trajetória consiste em reconhecer-se como um ser capaz de modificar sua caminhada para adaptar-se a uma sociedade em constante transformação. 11 É assim que, ao buscarem oportunidades através dos estudos, estudantes de diferentes idades como os alunos da EJA, precisam entender que há a necessidade de o professor conhecer um pouco da sua história de vida. Nas relações sociais, buscamos sempre conhecer o outro para que possamos escolher aqueles que serão de fato nossos “amigos” ou “conhecidos”. Como se dá o processo dessa escolha e os critérios são questões que se dão através do diálogo, do convívio e da confiança entre as pessoas. Às vezes, não temos coragem de falar o que pensamos por razões como a vergonha, a exposição de si mesmo, ou por não criar uma discordância em relação à opinião do outro. A sala de aula pode se constituir enquanto um espaço mais democrático que proporcione ao aluno refletir sobre as relações humanas, sobre as diferentes formas de ver a vida, de perceber que ele ocupa um lugar na sociedade. O aluno sendo membro de um grupo familiar, escolar e de seu bairro precisa continuar sua trajetória, aprendendo que a vida é feita de cada momento. Pensando no tempo em que professor e aluno convivem semanalmente, é fundamental fazer com que este perceba que sua visão e sua opinião sobre essas questões devem ser manifestadas. Sabendo que o expressar-se oralmente nem sempre é uma facilidade para as pessoas, a escrita vem para contribuir para que a relação do conhecer o outro possa se dar de uma outra forma. É assim que a proposta de escrita de um memorial pode ser uma possibilidade de efetivar esse elo, pois dá a oportunidade de o aluno refletir e de falar sobre os seus diferentes momentos, selecioná-los de acordo com a importância em sua vida, falar de projetos, de sonhos. Uma experiência que pode trazer ao aluno o despertar da sensibilidade, das emoções, das relações entre família, amigos, escola e bairro, enfim, suas perspectivas para a vida; ao professor, a oportunidade de olhar o aluno de outra forma, de entender suas prioridades, de poder orientá-lo para que ele possa fazer dos estudos uma forma de realização dos seus sonhos. E isso, se for o objetivo e o compromisso do educador, poderá alterar o cenário de evasão escolar e poderá trazer um sentido maior do estar em sala de aula para o aluno. 4.2. As primeiras considerações: O que dizem os Memoriais Para dar seguimento e direcionar nossas discussões feitas depois de ter passado o filme Escritores da Liberdade, além das produções textuais sobre o tema da escrita de si mesmo, preparei três perguntas básicas que foram norteadoras para dar início ao pensar sobre a escrita, sobre cada um e como fazer esse registro de forma prazerosa. A primeira delas foi: “você já 12 havia escrito sobre sua trajetória de vida?”. Nessa pergunta, minha intenção foi de verificar qual a reação do grupo sob duas perspectivas: escrever e, ainda por cima, de si mesmo. A segunda pergunta foi a seguinte: “o que você pode escrever de si mesmo para outra pessoa ler?”. Aqui, meu objetivo foi instigá-los a pensar sobre o que deveria aparecer nessa escrita que fosse relevante para seu amadurecimento, para lembrar-se de passagens importantes (infância, juventude, família...) e momentos de escolhas (casamento, estudos, filhos, sonhos...). E a última pergunta foi: “você se sente mais à vontade em escrever ou falar de si mesmo?”. Sobre esse questionamento, meu objetivo foi verificar qual a forma mais apropriada cada aluno escolheria. Diante dos diferentes perfis, achei conveniente fazer essa pergunta, pois no grupo havia pessoas que não gostam de se expor, mas que participam da aula, mesmo que de forma tímida, com boas respostas e bons questionamentos. A escrita de suas vidas, talvez, possa ser um instrumento desencadeador de grandes descobertas pessoais, uma vez que mistura passado e presente, trazendo a reflexão como um recurso de estudo de si mesmo. Um mergulho em suas memórias e nos fatos já vividos e vivenciados pode reacender o desejo pela vida e pelos sonhos que ficaram para trás. Ao começar a ler as memoriais dos alunos, pude perceber a diferença de escritas entre os gêneros. As alunas têm mais subjetividade ao narrar suas trajetórias/histórias marcadas por momentos bons e ruins. Há sentimento e emoção na escrita que são exemplificados através de fotos, poesia, letras de música, cartas, lembranças da infância em Lomba Grande. Os trechos abaixo foram retirados de memoriais escritos por alunas: Confesso que tenho um pouco de trauma ao relembrar da minha vida […]. Vejo que é importante a oportunidade desse trabalho, pois quero um dia poder mostrar para meus filhos os momentos bons e ruins que me fizeram aprender muito com as pessoas. Eu estava passando na rua e vi aquele rapaz parado e ele me chamou a atenção […]. Eu estava de blusa… Eu tinha mania de, quando minha avó fazia salada de frutas, que eu chamava de ‘delícia’ , me ajoelhar embaixo da mesa e miava como se fosse uma gatinha. Então, minha vozinha servia e dizia: ‘vem minha gatinha linda’. Já os alunos são mais objetivos ao escrever. Falam da infância, das brincadeiras com primos, as artes na escola, um pouco da história da família e alguns projetos, mas tudo de forma bem simples, objetiva e pragmática sem uma intencionalidade emotiva ao lembrar de tempos remotos. Os trechos abaixo foram selecionados para exemplificar essa percepção: Na casa de minha avó e meu avô, que na época era vivo, tudo era festa, pois brincávamos muito de tudo. Até na areia a gente rolava... 13 Neste momento da minha vida, eu posso dizer que estou feliz, pois consegui comprar minha moto e voltei com minha namorada… Esta é minha vida. Contei partes mais importantes e espero um dia contar mais um pouco do que virá daqui pra frente. Sensibilizar os alunos para escreverem sobre suas histórias de vida foi um desafio para mim. No entanto, percebo que os memoriais tornaram-se uma fonte de renovação para muitos alunos e que trouxe a oportunidade de se conhecerem melhor. As histórias contadas por eles, muitas vezes, justificam a postura que cada um tem em sala de aula. Momentos difíceis se misturam à superação e a busca por melhores oportunidades na vida. A infância pobre, a família com dificuldades financeiras, a vontade de continuar os estudos, os impedimentos por motivos como casamento precoce, gravidez são os assuntos mais comuns trazidos por todos eles. 4.3. Das Trajetórias e das Escritas: Entrelaçando o Eu Sujeito e o Eu Poemático Quando propus esse trabalho à turma, percebi um estranhamento em um primeiro momento. A ideia de falar de si mesmo trouxe uma preocupação em relação à exposição de cada um. Lembrar de suas trajetórias e falar de suas emoções eram desafios inusitados. No entanto, percebi na leitura dos memoriais que a vontade de falar de si mesmo tomava força a cada página virada. Aquele “eu” que viveu momentos difíceis dava espaço para outro “eu” que se compara a um eu - lírico1. Sobre essa questão da subjetividade, Gonzaga (2004, p.33) diz que “é fundamental o elo entre subjetividade e os componentes emocionais da personalidade” propiciando, assim, o registro das emoções. Ao lermos poesia, fica evidenciado o desnudamento dos sentimentos mais profundos do poeta na voz do eu – lírico. Essa transfiguração do eu sujeito em eu lírico nas escritas dos alunos dá-se na medida em que as suas estórias servem para trazer à tona todas as emoções que ficaram incutidas no tempo. As escritas permitiam um eu - lírico que resistiu aos descaminhos da vida e que se (re)encontra em outro espaço, em outro momento na busca de novos sentidos para a vida, refletindo sobre o passado e o futuro. A exemplo disso cito a poesia Aprendizagem amarga, de Thiago de Mello, que uma aluna trouxe para a sua escrita: Chega um dia em que o dia se termina antes que a noite caia inteiramente. Chega um dia em que a mão, já no caminho, 1 Na concepção de um “eu” que precisa expressar seus sentimentos e emoções reais, portanto, não se trata de uma voz que traz emoções que não sentiu. 14 de repente se esquece do seu gesto. Chega um dia em que a lenha já não chega para acender o fogo da lareira. Chega um dia em que o amor, que era infinito, de repente se acaba, de repente. Força é saber amar, perto e distante, com o encanto de rosa livre na haste, para que o amor ferido não se acabe na eternidade amarga de um instante. Através dessa poesia, a aluna quis demonstrar sua desilusão amorosa aos 19 anos por descobrir, às vésperas do casamento, que o noivo já tinha uma filha. Além disso, ela não teve o apoio da própria família, pois já havia saído de casa. Desiludida e desamparada, ela foi para à casa de uma amiga que a ajudou muito a enfrentar isso tudo. Sem família, sem casa própria, sem o seu grande amor viu-se uma pessoa “ingênua e despreparada para a vida”. 4.4. A Fotografia como Objeto da Memória Hoje em dia, é incontestável a presença da fotografia no cotidiano das pessoas. Por todos os lados que andamos, ela expressa-se com diferentes intencionalidades: propagandas, registros de festas, de eventos, de pequenos momentos, de momentos íntimos, de revistas até mesmo aquela simples fotografia para documentos. A pluralidade de sugestões que a fotografia traz faz com que ela seja um recurso muito utilizado por pessoas de qualquer idade. Parece que guardar somente na memória não é suficiente para lembrar em outros tempos aqueles momentos que merecem registros. Quando sugeri a escrita do memorial, rapidamente os alunos me perguntaram se poderiam anexar fotografias relacionadas aos períodos de suas narrativas. Posteriormente, percebi que a grande maioria optou por colocar fotografias intercaladas com a escrita. A fotografia, assim, complementou o trabalho na medida em que dava crédito no que iam relatando de suas vivências como um código visual revelador de uma subjetividade atemporal. Do ponto de vista das Ciências Humanas, Mary (2008, p.93) nos diz: a fotografia em suas diferentes formas pode fornecer informações importantes [...] em particular, informa sobre os diferentes indivíduos que constituem um grupo social ou uma classe, sobre seus hábitos de vida e sua postura, uma vez que ela constata e revela sem artifícios No memorial de uma aluna, ela relatou sobre um período em que morou com sua avó, em 1962. Anexou algumas fotos para ilustrar alguns costumes da avó ao arrumar a mesa para 15 as refeições e os cuidados que os netos tinham de ter com a louça. Esse fato marcou muito a sua infância, pois a avó era muito caprichosa, cuidava bem da sua casa e de todos os seus pertences. Segundo a aluna, a avó não perdoava se alguém quebrasse um prato. Em anexo, algumas fotos de objetos trazidos por uma aluna que guarda como recordação e que foram fotografados por mim. Um dia solicitei que trouxessem objetos, fotos... qualquer coisa que pudesse trazer a memória de um tempo para uma produção textual. 4.5. “Os lugares da Memória” A museóloga Maria de Lourdes (2008, p.111) traz um conceito do historiador Pierre Nora em seu artigo que diz os lugares da memória locais ou imateriais nos quais se encarnam ou cristalizam as memórias de uma nação, e onde se cruzam memórias pessoais, familiares e de grupo... podem constituir-se em lugares de memória. A proposta de escrita das memórias de infância/juventude tinha como objetivo fazer com que os alunos lembrassem esses períodos, dos acontecimentos e de como era o bairro de Lomba Grande. A escrita poderia ser feita através de pessoas mais velhas da família, já que o grupo de alunos constitui-se de idades entre 17 e 61 anos. Os alunos de mais idade preferiram escrever sobre suas memórias dos tempos remotos do bairro. Em anexo, constam alguns registros dessas escritas, porém sem a identificação, pois os autores assim preferiram. A importância dessa produção consiste em verificar o quanto o aluno aprende e conhece sobre o seu meio através de sua própria memória. O exercício trouxe uma capacitação de o aluno compreender que sua história o habilita à escrita, o que, de início, foi motivo de estranhamento para muitos, pois não sabiam o que iriam escrever. A abertura de seus “baús” serviu para relembrarem as vivências pessoais ou familiares, das emoções e dos sentimentos de terem crescido em um lugar que se modificou com o tempo. 5. O PROEJA PARA O SÉCULO XXI Para poder dar respostas ao conjunto de suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado 16 que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta. (DELORS, 1999, p. 89) A citação acima foi extraída do documento denominado Relatório Jacques Delors, que resultou de trabalhos desenvolvidos de 1993 a 1996 pela Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). O documento representa uma síntese do pensamento pedagógico da humanidade para os re-aprenderes necessários aos homens e mulheres do século XXI. A idéia de trazer “os pilares da educação para o século XXI” para dialogar com o trabalho surgiu a partir de minha reflexão sobre o funcionamento das aulas, tanto minhas quanto dos colegas, além de pensar na motivação necessária para atrair a atenção dos alunos. É notável que os alunos precisam de uma abordagem diferenciada na maneira de ensinar/aprender por parte dos seus professores. Ao deparar-me com uma síntese desse documento, pensei que ela fortaleceria minhas ideias com relação a minha proposta e análise do trabalho uma vez que os pilares citados por Delors se aplicam à construção do ser como um todo. Quando o aluno se propõe a escrever sobre suas memórias, ele aprende a se conhecer, pois busca na sua trajetória de vida todas as experiências boas e ruins que o fizeram amadurecer. O próprio exercício da escrita o ensinará a articular as palavras para que elas representem aquilo que suas memórias desejam. O resultado do trabalho torna-se satisfatório para os alunos, pois proporciona que eles conversem com eles mesmos. A experiência da convivência, a troca de idéias a respeito de como realizar o trabalho, a aproximação e o interesse em ouvir o outro, quando dos relatos orais narrados por alguns alunos, fizeram com eles tivessem a percepção do quanto é importante aprender a viver juntos, cooperando com o colega mesmo que seja somente para ouvi-lo. Por sua vez, o quarto pilar de Delors - aprender a ser - que integra todos os outros, tem uma particularidade subjetiva na confecção do memorial. Tendo em vista a baixa estima dos alunos, ao ler os trabalhos, percebi o quanto a escrita personificou muitos dos alunos que sequer falavam de si durante as aulas. Através dessa proposta, eles tiveram a oportunidade de (re)conhecerem a si mesmos, pois fazem comentários a respeito do momento relembrado e, às vezes, até da emoção vivida por uma situação. Diante dessa experiência de trabalho em sala de aula, que muito contribuiu para além de um exercício de escrita, penso no PROEJA que também é formado por alunos de diferentes 17 idades. A finalidade do Programa é “integrar o Ensino Médio, formação profissional e a Educação de Jovens e Adultos”, contribuindo, assim, para a melhoria das condições de vida nas esferas social, econômica e cultural. Sendo assim, o desafio de fazer uma aula diferente e que integre efetivamente o aluno pode começar por conhecê-lo. A escrita de um memorial pode ser uma fonte riquíssima de conhecimento de cada aluno, de suas condições de vida, família, trabalho, perspectivas e até mesmo das formas que suas manifestações emocionais são representadas. Contudo, os pilares na perspectiva do trabalho proposto servem para formar um aluno que busca uma (re)integração como cidadão na sociedade. O PROEJA, então, precisa, entre outras coisas, analisar aspectos da vida do aluno desde sua infância até os dias de hoje. 6. UMA PROPOSTA INOVADORA Diante da situação de desistência que se agravava a cada semana que passava e dos comentários acompanhados da desmotivação de alguns colegas com relação ao trabalho nessa turma, resolvi buscar uma alternativa de trabalho que chamasse a atenção e obtivesse um envolvimento maior dos alunos. Conversei com eles sobre o trabalho de escrita de trajetórias de vida2. Da importância de repensar o passado numa perspectiva de projetar o futuro. Do comprometimento das ações no presente para que se possa construir um projeto de vida. Também trouxe a questão do tempo que nos deixa lembranças boas e ruins, do conceito de viver nos dias de hoje, da importância da família, do significado do estar em uma escola, das trocas de vivências e experiências com colegas e professores. A aceitação foi boa, embora alguns manifestassem certo constrangimento em falar/escrever sobre suas vidas. Aproveitei o momento para dizer que escrever sobre nós mesmos é algo grandioso, desafiador e de extrema importância, pois nos lembramos de passagens de nossas vidas, refletimos sobre nossas ações, amadurecemos, reconhecemos e compreendemos melhor nossas atitudes. Também aprendemos a olhar o outro, estimulando o convívio social, aproximando mundos, afastando preconceitos. Segundo Melucci (1992, apud FORTES, 2006 p. 14) diz: 2 Inspirada na disciplina Invenções e intervenções pedagógicas da Especialização PROEJA ministrada pelo professor Rafael Arenhaldt, do qual me serviu para refletir sobre meus caminhos e descaminhos durante os anos de minha vida. 18 As experiências cotidianas parecem minúsculos fragmentos isolados da vida, tão distantes dos vistosos eventos coletivos e das grandes mutações que perpassam nossa cultura. Contudo, é nessa fina malha de tempos, espaços, gestos e relações que acontece quase tudo o que é importante para a vida social. Comecei a trazer o assunto das memórias e junto escrevi no quadro o texto que está no início do presente trabalho intitulado Apenas um estímulo, de minha autoria. Em seguida, coloquei a música Como uma onda no mar, de Lulu Santos, para conversarmos sobre nossas vidas. Falei de mim e que já havia feito esse trabalho de escrita. Mostrei meu próprio memorial para que tivessem noção do que eu estava falando. Por fim, entreguei a todos os alunos um roteiro para ajudá-los no ponto de partida, contendo um conceito sobre memorial e o que deve constituí-lo como uma escrita de si mesmo. A proposta inovadora estava lançada! 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A atuação e a formação do professor, muito embora não sejam os únicos fatores que respondam pela crise da educação pública, têm sido motivos de discussão em eventos nacionais e até mesmo internacionais. Profissionais da área da educação têm buscado alternativas através de projetos e pesquisas para que o processo ensino-aprendizagem aconteça de forma mais atraente tanto para o professor quanto para o aluno. No entanto, é necessário lembrar que fatores externos como a vida pessoal, profissional, familiar e escolar do aluno interferem nesse processo. É assim que minha vontade de (re)pensar sobre este trabalho com alunos de EJA surgiu na tentativa de (re) significar esses momentos que constituem suas vidas. Ao ler atentamente todos os trabalhos de escrita e escutar alguns relatos orais que foram colhidos com o propósito de guiar minha pesquisa, constatei o quanto é importante ter sensibilidade para questões ligadas ao processo formador do cidadão/aluno. Muito do que li serviu para que eu pudesse refletir sobre a minha atuação que não contemplava essa interferência das trajetórias dos alunos. Ao oportunizar esse trabalho, eles tiveram o momento de externar não só seus projetos de vida, mas também os dissabores que tiveram ao longo de suas trajetórias. E é nesse momento de contato com suas histórias de vida que se dá o tão falado processo de integração professor-aluno. Ora, de que adianta ter um mestre na sala de aula com muitos títulos, mas que não consegue, de fato, abordar o aluno e realmente saber o que ele quer e precisa para sua vida, para o seu desenvolvimento profissional e pessoal? 19 O professor que chega para “dar aula” e que não percebe que, em se tratando de EJA, tem uma turma heterogênea, dificilmente fará algo por eles do que simplesmente oferecer a oportunidade de concluir seus estudos e conseguir um diploma. E não foi somente isso que eles foram buscar. Percebi que, muito mais do que conhecimento, eles precisavam de atenção. Atenção para suas histórias, para suas realidades. De fato, consegui, apesar de certa resistência no início, fazer com que eles pudessem falar de si mesmo, oportunizando uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro. A experiência foi gratificante e prazerosa porque me aproximou ainda mais de um público ávido pelo conhecimento, mas, sobretudo, ávido de atenção para suas vidas tão diferentes e tão desencontradas das propostas pedagógicas da escola. Fica a compreensão de que a escola de hoje está muito aquém do que os alunos desta modalidade precisam. Não bastam propostas se não há disposição dos professores reverem seus objetivos e se comprometerem com um trabalho que faça sentido na vida do aluno. Para que isso se efetive dentro do ambiente escolar é preciso uma equipe qualificada que traga, sobretudo, ações propositivas e não somente discussões que não levam a nada. Também disposição e disponibilidade de fazer e de mudar e que não prevaleça a hipocrisia de que tudo está bom. 8. REFERÊNCIAS Apontamentos de Aula. Memorial Formativo: um recurso para a formação contínua de professores. PROEJA – 2008. Apresentação. DELLORS, Jacques. Os quatro pilares da Educação. Relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Ed. São Paulo, 1999. FORTES, Maria Carolina. Adultos, escolarização e trajetórias de vida: compreendendo sentidos. Porto Alegre. UFRGS, 2006. 217 f. Dissertação de mestrado – Programa de PósGraduação em Educação, Faculdade de Educação da UFRGS, Porto Alegre,2006. p. 91. GONZAGA,Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004. p.31. HORTA, Maria de Lourdes Parreira. In: SILVA, René Marc da Silva (Org.). Cultura Popular e Educação – Salto para o futuro. Artigos. Brasília, 2008. p. 111. MACHADO, Alexsandro dos Santos. Contar para viver. Porto Alegre. UFSM, 2005. 182 f. Dissertação de mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação da UFSM, Santa Maria, 2005. 20 MELLO, Thiago de. Aprendizagem amarga. Poesia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello . Acesso em: 30.ago.2009. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Documento Base – Ensino Fundamental. Brasília, 2007. PASSEGGI, Maria da Conceição. Memoriais de formação: processos de autoria e de (re) construção identitária, 2000. (Trabalho apresentado na 3ª Conferência de Pesquisa Sóciocultural, São Paulo, 2000) PINEAU, Gaston. As histórias de vida em formação: gênese de uma corrente de pesquisaação-formação existencial, Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, nº 2, p. 329-343, maio/ago. 2006. (tradução de Maria Teresa Van Acker e Helena Coharlk Chamlian) PRIORE, Mary Del. In: SILVA, René Marc da Silva (Org.). Cultura Popular e Educação – Salto para o futuro. Artigos. Brasília, 2008. p. 91-93. TEIXEIRA, Leônia Cavalcante. Escrita autobiográfica e construção subjetiva. São Paulo. USP, 2003.17 f. Ensaio. Psicologia – USP. SP, 2003. 21 9. ANEXOS A FOTOGRAFIA COMO OBJETO DA MEMÓRIA 22 23 OS OBJETOS E A ESCRITA QUE TRAZEM A MEMÓRIA 24 25 DAS TRAJETÓRIAS E DAS ESCRITAS: ENTRELAÇANDO O EU SUJEITO E O EU POEMÁTICO “É fundamental o elo entre subjetividade e os componentes emocionais da personalidade, propiciando, assim, o registro das emoções” Sergius Gonzaga (2004, p.33) Um lugar maravilhoso Lomba Grande é um lugar Com pássaros a voar E campos a brilhar Cachoeiras com águas brilhantes E campos verdejantes Um lugar lindo para viver Com campos para correr Esconderijos para brincar E um arco-íris no ar Lomba grande não tem lixo É limpo como um paraíso Esse é o meu lugar O lugar em que sempre vou morar! N. P. 26