Formação de Professores, Tecnologias de Informação e
Comunicação e Educação em Saúde
Heloisa Helena Oliveira de Magalhães Couto1 (UFRJ)
Resumo:
Como os professores compartilham seus saberes e práticas referentes às
TIC é a pesquisa associada a esse artigo. Busco descrever não apenas a
forma de apropriação pedagógica, mas compreender os efeitos dessa
transposição para os Currículos. Nesse trabalho, orientada pelos subsídios
do Ciclo Contínuo de Produção de Políticas (BALL, 2009), defendo a
micropolítica escolar na ressignificação de Políticas Curriculares
concernentes à temática Promoção da Saúde. Em projeto interdisciplinar,
os professores hibridizam conhecimentos curriculares, com a sua própria
visão educacional e usos das TIC, e mais do que reiterando uma intenção,
tais práticas inovadoras estão buscando trilhar uma trajetória
transformadora em educação em saúde.
Palavras-chave: tecnologias de informação e comunicação; formação de
professores; políticas curriculares.
Abstract:
How teachers share their knowledge and practices referring to ICT is the
research associated with this article. I seek not only to describe how the
pedagogical appropriation happens, but also to understand the effects of
this transposition to the curriculums. In this study, oriented by the
subsidies provided by the Continuous Policy Production Cycle (BALL,
2009), I defend the school micropolitics in the resignification of
Curriculum Policies on the Health Promotion thematic. In interdisciplinary
project, teachers hybridize curricular knowledge with their own
educational vision and usage of ICT and more than reiterating an
intention, such innovative practices seek to tread on a critical education
on health trajectory.
Keywords: Information and Communication Technologies; teacher
training; curricular policies.
Introdução
Como os professores compartilham seus saberes e práticas referentes às
tecnologias de informação e comunicação (TIC) é a pesquisa associada a esse
1
Heloisa Helena Oliveira de Magalhães Couto. Doutoranda
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Núcleo de Tecnologia Educacional (NUTES)
[email protected]
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-1-
estudo. Busco descrever não apenas a forma de apropriação pedagógica, mas
compreender os efeitos dessa transposição para os Currículos. Nesse trabalho,
orientada pelos subsídios teórico-metodológicos do Ciclo Contínuo de Produção de
Políticas (BALL, 2009), defendo a micropolítica escolar na ressignificação de
Políticas Curriculares concernentes à temática Promoção da Saúde.
Trago o estudo de práticas, definidas a partir da adoção de TIC na ação
educacional, constituídas no cotidiano de uma escola pública, de nível médio, para
a Formação de Professores, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro.
Parto do princípio que tais práticas inovadoras não estão descoladas de outros
discursos e práticas que circulam no contexto escolar e nos Programas de Formação
de
Professores,
especialmente
os
produzidos
pelas
Políticas
educacionais
referentes ao incentivo e à incorporação das TIC ao espaço escolar. Nesse estudo,
todavia, operei com a orientação de que a produção de políticas se desenvolve de
modo cíclico (Ball, 2009) – contextos se interpenetram e atores de vários contextos
constituem suas práticas e influenciam outros atores e práticas, ao mesmo tempo
em que sofrem a influência dos sentidos em circulação. A transferência de sentidos
de um contexto a outro sofre deslizamentos interpretativos.
Para Ball (2009) as políticas são compreendidas como produções híbridas de
textos e discursos continuamente ressignificados em múltiplos contextos – nacionais
internacionais e locais – que se inter-relacionam. São geradas em processos de
negociação complexos que articulam as definições políticas dos dispositivos legais,
à produção dos documentos curriculares e ao trabalho dos professores, e o que se
produz nessas instâncias não têm sentidos fixos. Ele destaca que as políticas são
instáveis, não são claras e geralmente são contraditórias. São constituídas em
campos de lutas, conflitos entre valores, interesses e significados. O contexto da
prática, onde as definições curriculares são recriadas e reinterpretadas, envolve o
trabalho dos professores. Assim, as propostas fomentadas nas escolas também são
produtoras de sentidos para as Políticas Curriculares. No entanto, se o contexto da
prática não reproduz os dispositivos governamentais, mas sentidos novos, ele
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-2-
também não imprime sentidos independentes das disposições geradas. As omissões
e contradições dos textos possibilitam a produção das políticas de uso, ou as
propostas vivenciadas nas escolas, que denominamos micropolíticas.
O estudo foi configurado, a partir da análise de documentos e de
entrevistas, e buscou discutir a recontextualização do tópico curricular Promoção
da saúde em Programa de Formação de Professores, provocada pela mediação das
TIC e da reconfiguração do papel da docência.
A experiência interdisciplinar foi vivenciada, entre 2011 e 2012, por três
segmentos distintos de alunos e dois professores, das disciplinas Ciências Físicas e
da Natureza e Conhecimentos Didáticos Pedagógicos em Educação Infantil. Os
professores procuravam com a implantação do projeto, mais do que fixar
conteúdos e favorecer uma visão crítica concernente à Educação em Saúde,
potencializar, pelo uso das mídias, uma postura discente de autoria e educação
permanente, que consideravam vital para a formação de um futuro docente.
Em sua atuação, os professores hibridizaram conhecimentos pedagógicos,
disciplinares, curriculares, com a sua própria visão educacional, seus valores e
práticas cotidianas de utilização das TIC, em sua experiência de vida. Assim,
percebo a micropolítica escolar como prática institucionalizada, capaz de imprimir
sentidos e definir estratégias que, ao configurar a apropriação pedagógica das TIC
no espaço da educação, descontextualizaram práticas tradicionais de Promoção da
Saúde, vigentes em Programas de Formação de Professores; ainda marcadas pelo
paradigma
biomédico,
o
tratamento
a
partir
da
individualidade,
e
a
responsabilização do sujeito pelo adoecimento, ou por qualquer desequilíbrio na
relação saúde-doença; e mais do que reiterando uma intenção, as ações inovadoras
propostas caminharam no sentido de trilhar uma trajetória em Educação em Saúde
transformadora, porque colocaram em questão a ação de autoria coletiva e o papel
do professor frente aos desafios da contemporaneidade.
Entendo com ajuda de Laclau (2011), que as Políticas Curriculares são
tentativas de fixação provisórias e contingentes e, até mesmo, as omissões são
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-3-
resultado de processos articulatórios que implicam conflitos constituídos por
interesses defendidos por grupos sociais diversos. As micropolíticas produzidas nas
escolas são também enunciadas a partir de disputas em torno de concepções e
objetivos educacionais e institucionais diversos; e resultado de trajetórias
individuais e coletivas de integrantes da comunidade escolar, e da própria história
da instituição e de suas relações em tempo e lugar determinados .
As TIC em cena educacional
O uso das TIC e especialmente a convergência entre mídias e dispositivos
como celulares, internet, vídeos têm constituído mudanças significativas na vida
diária, na natureza de atividades profissionais, no compartilhamento de ideias,
imagens, sons e na democratização de acesso à informação. O que não significa que
não se constituam arenas de muitos antagonismos e lutas. Santaella (2011) ressalta
que as tecnologias digitais e as móveis foram criadas e incrementadas para fins
militares, mas “parece ter se convertido em regra que as aplicações apresentem
drásticos desvios do uso originalmente esperado”. São de fato “os usuários que
criam novos domínios de aplicação e funcionalidades”, e a ainda pequena história
da revolução digital traz muitos exemplos de linhas de fuga, como as cooperativas
dos sistemas abertos.
Os discursos em torno das TIC ganharam visibilidade em nosso país, na última
década do século XX, sobretudo após o lançamento da internet (comercial) e da
implementação de Políticas, programas e ações do Estado que procuravam tornar
acessíveis equipamentos e conhecimentos sobre as novas tecnologias. Estes, por
sua vez, eram considerados, por um lado, necessários para a participação cidadã e
para a educação, e por outro, ainda desigualmente distribuídos. É evidente que
esses entendimentos estavam conjugados com Políticas e recomendações emanadas
por organismos multilaterais e concorreram por produzir demandas no plano
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-4-
educacional. A formulação de um projeto educativo hoje é afetada pelas novas
concepções de ciência, verdade, sujeito e pelas novas tecnologias comunicacionais
e cognitivas (MOREIRA, 2005). Quando chegam a seu campo de atuação
profissional, em função de suas experiências cotidianas com as novas TIC, os
professores instituem novas formas de produzir conhecimento?
Parto do princípio que os professores e as suas práticas e produções são
interdependentes, refletem uma visão de mundo, atravessada por dupla influência:
do seu tempo e de sua história.
As questões levantadas para empreender essa pesquisa estão alicerçadas na
compreensão de que a apropriação pedagógica das mídias na cena educacional tem
definido um descentramento do professor da figura de autoridade, passando de
detentor do conhecimento para o de orientador de aprendizagem. Assim, a
mudança de papel de quem ensina para quem aprende, compartilha e colabora
com a aprendizagem de seus alunos, tem sido provocada pela perspectiva dos
ambientes virtuais, quando constituídos como espaços coletivos de cooperação e
autoria coletiva e individual. Nesse contexto, autoria é processo de produção,
desconstrução e reconstrução de conhecimento e pode ser tomada como resultado
de boa aprendizagem.
Apesar dos investimentos, no aparelhamento das escolas e na capacitação
dos professores, as TIC não têm ocupado um lugar de destaque no processo de
ensino-aprendizagem das escolas. Uma incorporação de infraestrutura sem as
mudanças de tempos e espaços, sem alterar a finalidade, ou até mesmo a forma,
com que se realizam as atividades curriculares, pressupõe novos enfoques do
processo ensino-aprendizagem? Rosa (2011) relatando uma experiência de
utilização de TIC, em uma escola de ensino médio, aponta as dificuldades de
professores e alunos em lidar com uma situação nova e desafiadora, mesmo para
aqueles que têm interesse, dispõem de tecnologia e de conhecimento. Um dos
professores destaca que o problema é “saber usar com um fim pedagógico”, ou
“fugir da tradição da aula”.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-5-
Alonso (2008) destaca que em função do modelo econômico atual, a
incorporação das TIC aos contextos educativos tem implicado em usos mecânicos e
eficientistas, ignorando suas características e minimizando suas potencialidades de
uso mais criativo. Assim, a responsabilidade pela transformação acaba recaindo
sobre aqueles que estão diretamente envolvidos com as práticas escolares, os
professores, e em um contexto profissional completamente diferente daquele em
que a maioria deles se formou e atua.
Enfim, nesse novo campo o redimensionamento do papel do professor, como
produtor, como usuário ativo e crítico, e mediador entre esses meios e os alunos,
que prepara e imprime condições às novas gerações para uma apropriação ativa e
crítica dessas novas tecnologias, tem sido tomado como um dos componentes
essenciais para introdução de mudanças na cena educacional (BELLONI,1998).
Educação em Saúde
O projeto foi constituído a partir de uma situação concreta de trabalho em
que se viu envolvido um dos professores. Na ocasião, foi constatada a necessidade
dos educadores identificarem doenças infantis e como proceder diante delas. Nada
muito diferente do que era demandado e ensinado aos futuros professores do
ensino básico na década de 70.
Foi a partir da lei de Diretrizes e Bases 5692/71 (Brasil, 1971) que ficaram
estabelecidos nos Currículos brasileiros os Programas de Saúde. A Formação de
Professores, que estava em curso, na disciplina de Higiene, que tinha como
propósito capacitar os futuros professores para participar, promover, colaborar
com Programas de Saúde, ainda repassava conceitos eugenistas e concebia uma
educação em saúde prescritiva e normativa. Para ilustrar, trago uma breve análise
de um livro didático veiculado nos principais cursos de Formação de Professores de
ensino fundamental, no Rio de Janeiro, à época. O livro que estava em sua quarta
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-6-
edição, revisada e atualizada em 1970, destacava uma abordagem não dissociada
do desenvolvimento somático e do psíquico e o autor, médico e também professor,
segundo sua própria acepção, esforçava-se para sistematizar conceitos de Saúde
Infantil, da Psicologia, da Pedagogia, da Auxologia, da Higiene. Não preconizava a
análise de implicações políticas, econômicas e culturais incidindo sobre o binômio
saúde-doença, a não ser na vertente da desinformação, ou relativos à ignorância de
hábitos e comportamentos mais adequados à preservação da vida e à prevenção de
doenças. Os capítulos versam sobre a infância normal, e ensejam recomendações,
iniciando com a seguinte definição de Puericultura:
é a ciência e arte eugênico-higiênica da procriação e da criação do ser
humano que lhe previne a morbi-letalidade pré-natal e por toda a infância
(...) arte de prevenir enfermidades quer sejam hereditárias (agravo
hereditário), congênitas (agravo congênito ou obstétrico) e adquiridas
depois do nascimento (agravo alimentar ou infeccioso), também preventiva
da morte prematura (SALLES, 1970, p.9).
Segundo Salles, “todas as nações divulgam, ensinam e aplicam a Saúde
Infantil por instinto de conservação social”, mais do que por solidariedade humana.
Para ele, a Puericultura é questão máxima da vida brasileira e a infância,
“fundamento natural da etnia, para sua normalidade, sobrevivência e dignidade”,
tanto no sentido material quanto moral. Prossegue, enfatizando sua perspectiva
preventiva, que deve começar pela obrigação da própria mãe estar preparada para
educar
de
forma
adequada
os
filhos,
sabendo
“criá-los
higiênica
e
fisiologicamente” e corrobora o endereçamento das informações aos profissionais
da área da saúde, tais como médicos não especializados, acadêmicos de medicina,
psicologia, pedagogia, enfermagem, assistência social, e de escolas de formação de
professores.
Para o autor, compreendendo o desenvolvimento físico e mental, prénupcial, pré-natal e normal da saúde infantil, os futuros professores estariam aptos
a observar e identificar imperfeições, objetivando a correção e a conscientização
de adultos e crianças. Conclui o documento com uma orientação para trabalhos
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-7-
práticos com a criança normal e a criança especial que permitiria o diagnóstico, o
prognóstico e orientação do desenvolvimento.
A abordagem enfatizava a responsabilidade individual e estava centrada em
uma perspectiva biomédica, e não preconizava a análise de implicações políticas,
econômicas e culturais incidindo sobre o binômio saúde-doença, a não ser na
vertente da desinformação, ou relativas à ignorância de hábitos e comportamentos
mais adequados à preservação da vida e à prevenção de doenças.
A partir da I Conferência sobre Promoção da Saúde (Brasil, 1986), em 1986,
não se desvinculariam mais os impactos que as condições políticas, econômicas e
culturais exercem sobre a saúde das pessoas e nem se entenderia mais a promoção
da saúde como um encargo de um setor específico voltado para a saúde.
Em revisão de literatura, identificamos que tem predominado uma
concepção, tanto para saúde, quanto para educação, baseada numa pretensa
objetividade e neutralidade do conhecimento (Morosini et al, 2009). Nessa visão
técnica, a educação é ato normativo, e a prescrição e a instrumentalização as
práticas dominantes. O agente educacional um transmissor de informações, e o
sujeito a ser educado um mero receptor das informações educativas. Silva (1994)
destaca e nos ajuda a entender que, ainda hoje, saúde e educação se apresentam
quase sempre sem articulação, ficando a educação em posição subalterna, voltada
a uma ação metodológica específica. Por outro lado, o trabalho em Saúde
estruturou-se com base no modelo biomédico e o processo de trabalho organizado
de forma médico-centrada tem se constituído na forma histórica hegemônica.
Assim, a educação em saúde esteve também subordinada a esse modelo, cumprindo
uma função de controle estatal sobre os indivíduos e as relações sociais.
Stotz (1993), ao analisar os diferentes enfoques educativos no campo de
educação em saúde, distingue a área do ponto de vista dominante e tradicional,
como um saber técnico, voltado para instrumentalizar o controle dos doentes pelos
serviços e a prevenção das doenças pelas pessoas. Há uma apropriação dos
conhecimentos técnico-científicos da biomedicina pelos educadores que são
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-8-
repassados sob a forma de normas de conduta. O enfoque predominante é o
preventivo. Ressalta que, a partir do final da década de 60, correlato à crise do
sistema capitalista, o modelo biomédico passa a sofrer críticas contundentes. Tais
críticas, segundo o autor, não estão dissociadas das críticas dirigidas aos
paradigmas de cientificismo, e as ideias de neutralidade e atemporalidade da
ciência concebida como universal.
Com a mudança de modelo de atenção à saúde novos enfoques tomam lugar.
No entanto, o enfoque da escolha informada e o enfoque de desenvolvimento
pessoal também se baseiam na assunção da responsabilidade individual sobre a
ação e no aperfeiçoamento do homem pela educação e acabam por transferir aos
indivíduos a responsabilidade por problemas cuja determinação se encontra nas
relações sociais e, portanto, na própria estrutura da sociedade, conforme nos
adverte Stotz. Alternativamente a estes, o enfoque radical parte exatamente da
constatação de que as condições e a estrutura social são causas básicas dos
problemas de saúde. O diferencial do enfoque educação popular e saúde reside no
método que toma como ponto de partida do processo pedagógico o conhecimento
prévio das classes populares. O próprio conhecimento técnico-científico é
problematizado, vis-a-vis suas limitações, seja porque desconhece as causas de
variadas doenças, seja porque muitos tratamentos não acarretam cura e ainda
provocam, em muitos casos, efeitos adversos. Ao educador popular, destaca o
autor, caberá “a criação de espaços de elaboração das perplexidades e angústias
advindas do contato intercultural, denunciando situações em que a diferença de
poder entre os grupos e pessoas envolvidas transforme as trocas culturais em
imposição”.
É possível que os enfoques convivam, ou reapareçam recontextualizados,
pois todo campo científico é um campo de forças e um campo de lutas para
transformar ou conservar esse campo de forças. Em um determinado tempo e
lugar, os pesquisadores e as pesquisas dominantes definem os objetos; as questões
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-9-
relevantes a serem respondidas; e qual a sua contribuição específica. Aquela que é
diferente dos outros campos, e é insubstituível em sua cultura e sociedade.
Casotti (2009) buscando entender o domínio conceitual e epistemológico
subjacente às práticas de educação em saúde destacou como características
predominantes, que embora referenciadas a determinados períodos, não são
exclusivas de um momento histórico específico:
- no início do século, foi identificada uma prática verticalista e autoritária,
que não considerava o agenciamento dos sujeitos, ainda que diretamente
envolvidos e/ou atingidos pelas ações e que buscava o controle dos fatores de risco
das grandes epidemias. Estava fundada numa visão de polícia sanitária.
- a partir da década de 30, a difusão de hábitos e comportamentos
desejáveis, que pretendia capacitar segmentos da população que não dispunham de
informações elementares de educação para a saúde, foi intensificada pela
utilização de meios de comunicação de massa e com a criação do Serviço Especial
de Saúde Pública (SESP), em 1950. Estava fundada no ideário eugenista, associada
à ideologia liberal e centrava-se, como descrito no verbete de educação e saúde
(Morosini et al, 2009), “nas responsabilidades individuais na produção da saúde”.
Dessa maneira, a solução de problemas em saúde ficava restrita à aplicação de
formas de intervenção alicerçadas na prescrição de normas.
- esboçada na década de 60, uma nova concepção, associada a movimentos
sociais
que
reivindicavam
mudanças
estruturais
(saneamento,
educação,
assistência), só se desenvolveu após a queda da ditadura militar, no final da década
de setenta, contextualizada dentro do movimento da reforma sanitária. Teve forte
influência da pedagogia de Paulo Freire e estava fundada no ideário do Sistema
Único de Saúde, que colocava o sujeito e seu coletivo como parte central do
projeto setorial e também de um projeto mais amplo de sociedade.
Numa concepção crítica, saúde não é decorrente de ausência de doença. A
ideia de vida saudável está mais próxima da saúde como um direito social, de
condições de vida dignas, e não apenas com o acesso aos serviços de saúde. Nesse
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 10 -
sentido, conforme aponta o verbete de educação e saúde, saúde e doença são
entendidas como produções sociais, passíveis de ação e transformação e implicam
também em ações coletivas e não somente em planos individuais de intervenção.
- a partir da década de noventa, a educação em saúde torna-se inscrita em
dois grandes movimentos: a Promoção de Saúde, de abrangência internacional, e a
Formação dos profissionais de saúde, com peculiaridade nacional. A formação passa
por significativas reconfigurações, face às mudanças paradigmáticas que lhe
perpassam e ainda as decorrentes de mudanças tecnológicas e informacionais. As
principais
tendências
se
referem
à
oferta
de
educação
permanente; a
reorganização hierárquica de funções e ao aparecimento de novas especializações e
atividades profissionais; as mudanças curriculares na formação inicial, na pósgraduação e na formação continuada, voltadas, por exemplo, à qualificação de
equipes multiprofissionais.
Gazinelli et al (2005) observam que as reflexões que vem sendo realizadas,
durante
as
últimas
décadas,
apresentam
significativo
desenvolvimento
e
reorientação tanto nas formulações teóricas, quanto nas metodológicas, mas que
não estão sendo traduzidas em intervenções educativas concretas. A dificuldade de
transposição está associada, segundo os autores, à hegemonia do modelo em que
não são as situações de desigualdade que têm que mudar, mas os sujeitos.
A experiência de uso das TIC
Em nosso estudo de caso, havia o compromisso de tornar o processo da
Formação Inicial de professores reflexivo e crítico, sobre as práticas educacionais
referenciadas à Promoção da Saúde e ao uso das TIC; e indissociável de uma
profissionalização permanente, de professores autores. Os professores do 4º ano do
ensino médio optaram por fazer um trabalho pedagógico interdisciplinar, com base
no
desenvolvimento
de
projetos,
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
e
sob
enfoque
do
aprender
fazendo,
- 11 -
estabelecendo
relações,
ressignificando
sentidos
e
práticas
e
buscando
potencializar uma postura discente de autoria.
Um dos professores é egresso do Programa de Formação Continuada Mídias
na Educação, na modalidade a distância (EaD), e entendeu o projeto como
oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos sobre a apropriação
pedagógica das TIC. Por isso, foram também delineados como objetivos específicos
a serem atingidos: fomentar a utilização das mídias, na construção de
conhecimento; refletir sobre a utilização das mídias em ações educativas que
envolvam
cooperação; analisar a efetividade
do
planejamento e o uso
compartilhado de mídias.
Para nós o estudo tem especial relevância porque incide no esforço de
constituir conhecimento coletivo sobre Promoção da Saúde, numa perspectiva
transformadora, e usa as TIC para facilitar sua configuração. Vale lembrar que
parte de nossa investigação está vinculada a conhecer as experiências de
apropriação pedagógica das TIC vivenciadas por professores egressos do Programa
de Formação Continuada Mídias na Educação, que pretendia, conforme divulgação
promovida, na oportunidade do seu lançamento, pela Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes, 2007), ser uma
referência para os cursos on-line. Fundado na concepção da coautoria como
estratégia de aprendizagem, em uma perspectiva problematizadora analíticocrítica e associado a uma visão sócio-interacionista, sem, contudo, em algumas
ocasiões, deixar de estar atrelado a enfoques instrumentais, em seu Projeto Básico
(Brasil, 2005) apresenta como uma de suas principais características “a integração
das diferentes mídias ao processo de ensino e de aprendizagem, promovendo a
diversificação de linguagens e o estímulo à autoria em diferentes mídias”.
Nessa nova proposta pedagógica, divulgada pelo Programa, o professor
conteudista, o livro-texto, as atividades curriculares que prescindem da construção
coletiva e conjunta com os alunos, dentro e fora da sala de aula, perdem sentido,
enquanto aumenta a aplicação de novas tecnologias. Não se trata, no entanto,
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 12 -
durante a especialização, apenas de informar, ou admitir uma mudança cultural.
Trata-se de constituir a partir do ensaio, ou da experimentação, individual e
coletiva, um saber fazer, em nova perspectiva, pois uma incorporação de
infraestrutura sem redimensionar a distribuição de tempos e espaços, ou sem
alterar a forma como se realizam as atividades curriculares, é mera colonização
das TIC. Alguns relatos sobre as práticas e invenções de professores egressos do
Curso Mídias nos mostraram que as TIC podem ajudar a renovar e recriar as ações
pedagógicas, caso sejam enfrentadas as condições concretas de trabalho; e as
apropriações simplificadas, reducionistas e redentoras de inovação educacional.
Vamos nos ater nesse artigo, porém, apenas ao relato do projeto interdisciplinar.
Danelon (2012) assinalou que, ao promoverem o projeto, consideravam os
seguintes princípios: no mundo globalizado de hoje “está sendo gerada e
constantemente recriada outra forma de viver em sociedade”; há um ritmo cada
vez mais acelerado e um volume cada vez maior de informações disponíveis; “a
escola precisa migrar da posição de ambiente informativo” para um ambiente
construtivo; há uma mudança de papel e funções do professor (que deixa de ser o
único detentor de conhecimento e que também aprende no ato de educar) e da
relação do aluno com a produção do conhecimento escolar (que deixa de ser mero
receptor do conhecimento e também educa no ato de aprender); a aprendizagem
está associada a processos de reflexão, diálogo e cooperação (Freire, 1996); as
mídias podem e devem ser apropriadas pedagogicamente; a escola deve buscar a
emancipação social dos que estão envolvidos no processo educacional. Além disso,
foi ressaltada a relevância do projeto, considerando que a sua implantação poderia
interferir na própria construção de identidade e formação de um discente, que é
também um futuro profissional na área educacional, seja por estar permeado pelos
princípios
assinalados,
seja
por
investir
na
interdisciplinaridade,
e
pela
potencialização das ações de autoria. A opção metodológica foi a realização de
oficinas pedagógicas, que pressupõem a produção de conhecimentos coletiva e
fundada em histórias de vida ou situações cotidianas. Pretendia-se com as oficinas
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 13 -
superar a distância entre teoria e prática, além de divulgar um produto para além
dos muros escolares.
Cabe destacar que, para os professores, há um descompasso entre os
discursos referentes à adoção das TIC nas escolas e as condições concretas de
trabalho, que tornam inviável qualquer experimentação, sendo comum que a
responsabilidade sobre o fracasso incida principalmente sobre o professor. Há
escolas, todavia, com recursos compatíveis para a inserção de novos paradigmas,
porém, com práticas que são mera transposição de aulas tradicionais. Nesse
aspecto, aponta Danelon, há que se refletir sobre o tipo de formação que pais e
professores receberam e, até mesmo a que os alunos vêm recebendo, e que de
certa forma impacta com a introdução de práticas inovadoras. Para o docente que
não consegue vislumbrar de forma clara um novo tipo de atuação, este lançar-se ao
desconhecido, torna ainda mais desafiador experimentar uma pedagogia proativa.
Análise dos resultados
A proposta inicial consistiu em que os alunos apresentassem informações
sobre algumas doenças infantis através de um DVD, que seria enviado à Secretaria
de Educação para análise do conteúdo e da formatação, tendo em vista sua
distribuição como ferramenta de Formação Continuada. Paralelamente os
professores compartilharam uma proposta de Promoção de Saúde que concebia a
temática como um processo de capacitação da comunidade, com o propósito de
melhorar sua própria qualidade de vida, e buscando fortalecer sua autonomia.
Ao final do trabalho do primeiro grupo foi identificada uma produção híbrida,
que continha muito mais elementos informativos direcionados a uma ação
individual, que a uma ação coletiva; e principalmente voltados a uma perspectiva
de Promoção da Saúde comportamental. Além disso, observou-se que os conteúdos
não sofreram uma adequação às especificidades do meio proposto para divulgação.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 14 -
Para o segundo grupo, os professores produziram novo planejamento e
buscaram apresentar, inclusive, as produções da primeira turma, para evidenciar os
discursos híbridos. O ponto de partida foi a análise da produção textual dos alunos
sobre expectativas quanto aos resultados e sobre o conceito Promoção da Saúde,
que possibilitou desconstruir mitos e mal entendidos, e incentivar a ação coletiva
no ambiente escolar. A ideia de construção de um Blog para divulgar as ações da
equipe foi retomada e, dessa feita, implementada. Apesar dos discursos oficiais
destacarem como pressuposto à qualificação dos professores referenciada às TIC,
que necessitam estar preparados para interagir com alunos cada vez mais
desinteressados pela escola, porém mais atualizados e informados pelas TIC, isso
nem sempre é constatado no cotidiano das escolas, uma vez que nem todos os
alunos dispõem, ou têm facilidade de acesso a equipamentos, podendo inclusive
morar em localidades com restrições a esse acesso. Por outro lado, a análise dos
trabalhos
dos
colegas
mostrou-se
um
poderoso
recurso
para
tornar
as
apresentações mais atrativas, no que se refere ao interesse do público-alvo.
Algumas das dicas disponibilizadas constituíam novidades até para os professores.
Assim, a importância e o como mobilizar o público-alvo, com as ferramentas
disponíveis, além das críticas aos resultados alcançados pelo grupo de colegas que
os precederam, foram não apenas elencados, mas se constituíram elementos de
troca efetiva de conhecimentos entre os alunos e professores.
As estratégias de aprendizagem selecionadas, no entanto, de acordo com o
relato
dos
professores,
não
foram
suficientes
para
desfazer
o
aspecto
comportamentalista, o que os levou a novas ações educacionais, no sentido de
evidenciar saúde como conquista coletiva e o processo educacional direcionado
como uma das alternativas para modificação da realidade local. Uma das ações
buscou conciliar o interesse dos professores com uma demanda dos alunos, que
queriam descobrir formas mais interativas e lúdicas, para dinamizar o Blog. Uma
videoconferência, com uma consultora sobre novas tecnologias, que avaliou o Blog
e ofereceu sugestões sobre como ampliar a quantidade de acessos; estabelecer
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 15 -
parcerias; realizar links ou associações com outras redes sociais; e incluir
atividades de sensibilização para divulgação de eventos e conhecimentos em
Saúde, potencializou a percepção dos alunos sobre a importância e abrangência do
projeto. Isso fez com que elencassem ações para a melhoria do trabalho, entre as
quais, uma pesquisa com professores das escolas da região quanto ao conteúdo a
ser postado, bem como para divulgação do Blog e as atualizações no Facebook.
O projeto encontra-se em andamento com um terceiro grupo.
Os docentes não deixaram de registrar que tiveram muitos conflitos e
dificuldades e destacaram seu próprio amadurecimento na função de mediação.
Tais percalços tanto se instalaram na apropriação pedagógica das mídias, quanto no
que se refere à construção de um novo papel para o discente co-autor, e para o
professor mediador no processo ensino aprendizagem. Os alunos vivenciam, no
próprio ambiente educacional, outras práticas pedagógicas, em que são chamados
a se manter, não ativos, mas receptivos a uma educação travestida de moderna,
com a mera transposição do tradicional para efeitos e recursos mediáticos. Apesar
de considerarem que a Promoção da saúde, na perspectiva transformadora, traz em
si o conceito de autoria, sabem que se trata de um processo em construção, que se
contrapõe a própria evolução histórica de educação em saúde; admitem que muitos
alunos agem dentro do modelo comportamental; e têm buscado novas estratégias
no prosseguimento do trabalho. Consideraram a experiência bem-sucedida porque
os alunos foram mudando o foco do trabalho e ampliando a compreensão sobre a
Promoção da Saúde, que resulta de um processo reflexivo e coletivo, e que gera
efeitos sobre a qualidade de vida da comunidade. Também puderam discutir a
importância das condições de produção do trabalho para a formação docente, já
que conjuga o exercício de trabalho coletivo e de compartilhamento entre todo o
grupo, consolidando que todos aprendem e ensinam durante uma ação educacional.
Segundo Danelon (2012) a proposta motivou os alunos a participarem de uma nova
forma de ver a educação. A produção do Blog (visto como processo e produto, ou
seja, como fonte de pesquisa; de troca de informações; e divulgação de
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 16 -
conhecimento; além de registro das ações desenvolvidas, das etapas concluídas e
socialização do material produzido) foi entendida como ação coletiva, que permite
interação e olhares diferenciados e uma forma de dinamizar, impedindo que as
informações fossem tomadas como algo mecânico.
Considerações finais
A grande maioria das Políticas Curriculares são fotografias que desenham as
escolas e as pessoas que as integram como tipificações hegemônicas de lugares e
tempos particulares, próprios para a experimentação de acordos contingentes e
precários, resultantes de muitas disputas, mas passíveis de serem organizados em
uma totalidade discursiva e de incorporarem múltiplos sentidos. As Políticas
definem como devemos agir e a que regras devemos obedecer; legitimam valores e
crenças de seus autores; e causam maior, ou menor, efeito conforme os
dispositivos de controle que consigam acionar (financiamentos, avaliações,
promoções).
Entendo as práticas propostas pelos professores-formadores como
tentativas de representação das Políticas Curriculares locais, que contribuem, com
base em Ball (2009), para a produção de sentidos no Processo Contínuo de
Produção de Políticas.
As significações, contudo, não são produto de um único contexto e se
encontravam articuladas, por exemplo, às concepções integrantes de Políticas
Curriculares como interdisciplinaridade, contextualização, cotidiano e formação
para cidadania. No contexto da prática dessa escola foram tratados problemas
próximos da vida dos alunos em suas futuras atividades profissionais. Aproximar-se
do cotidiano dos jovens, conhecer seus conhecimentos prévios, motiva os alunos,
permitindo a construção de um diálogo que resulta na produção coletiva de novos
saberes e práticas cotidianas. A contextualização esteve vinculada não apenas à
ideia de tirar o aluno da condição de passividade, mas também de elucidar as
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 17 -
implicações sociais que afetam a vida daquela comunidade, da qual também fazem
parte. Para o exercício de cidadania foram consideradas as relações entre
Promoção da saúde e as novas tecnologias, que podem auxiliar na tomada de
decisões, por permitir acesso às informações e o compartilhamento e a troca
inerentes a uma ação política. A utilização das TIC, articulada com esses princípios
e sentidos, possibilitou que os professores pudessem defender a incorporação do
uso das tecnologias em oposição a um ensino tradicional; e a melhoria do processo
ensino-aprendizagem, não no sentido de sua eficiência, mas de construção coletiva
de conhecimento, praticando a co-autoria e a redefinição do papel docente.
Nenhum recurso, por si só, promove mudanças.
É muito mais fácil aceitar novas ideias ou informações, do que mudar
práticas. São os alunos e os professores os principais agentes de mudança do
ambiente de ensino e aprendizagem e que em conjunto e dialeticamente vão
constituir as trilhas para a produção de conhecimentos. O novo papel do professor
como orientador de aprendizagem, ou co-aprendiz, implica alteração substantiva
em práticas tradicionais da docência, esteja este relacionado ou não à apropriação
pedagógica de TIC. Costa (2012) destaca que é necessário tempo para que as
transformações possam ter lugar; e que nunca podem ser impostas. Argumenta se,
por exemplo, o domínio das ferramentas digitais contribui para o desenvolvimento
da confiança são, sobretudo, fatores internos que determinam sua utilização. Isso
não significa prescindir de Formação, ou da colaboração entre pares, mas entender
que por si só não serão suficientes.
Ainda que haja Políticas mais favoráveis para o desenvolvimento de práticas
que ajudam a promover mudanças, convivendo com outras mais cristalizadas
(incentivos, bolsas, exames nacionais, por exemplo) que obrigam a continuidade, a
instituição de mudanças na cena educacional e a adoção de novas práticas não se
concretizam apenas em função da compreensão ou aceitação de políticas. São
muitos os condicionantes para a atuação do professor. O contexto escolar e a sua
Formação são apenas alguns deles. Acredito, todavia, como Figueiredo (2012) que
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 18 -
há professores colaboradores, cidadãos empenhados em introduzir alternativas
pelas margens, que com suas práticas não apenas oferecem contextos para
acolhermos
a
diversidade,
trabalhando
em
cooperação
e
de
maneira
interdisciplinar, mas inspiram a configuração de uma escola em que aprender é
construir o próprio saber, em que se aprende fazendo coisas, experienciando e não
apenas ouvindo, em um processo de ajuda mútua, entre pares (professores e
professores; alunos entre si) e, mesmo, entre professores e alunos.
Referências
ALONSO, Katia Morosov. Tecnologias da informação e comunicação e formação de
professores: sobre redes e escolas. Educação e Sociedade. Campinas, v. 29, n. 104
– especial, p. 747-768, out. 2008.
ANDIFES. MEC institui Programa de Formação Continuada Mídias na Educação.
Publicado em 19 out.2007. Disponível em:
http://www.contee.org.br/noticias/educacao/nedu32.asp Acesso em 23 abr. 2012.
BALL, S. Palestra realizada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro em
novembro de 2009. Disponível em:
http://kaxinawa.wordpress.com/palestras/stephen-ball/Acesso em: 28/01/2012.
BELLONI, M. L. Tecnologia e Formação de professores: rumo a uma pedagogia pósmoderna? Educação e Sociedade. Campinas, v. 19, n. 65, dez. 1998.
BRASIL. Lei n. 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Brasília, Diário Oficial de
12/08/1971.
BRASIL. Carta de Ottawa. 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde.
1986. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/declaracoesecarta_portugues.pdf
Acesso em: 21/12/2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Programa de
Formação Continuada Mídias na Educação. Projeto Básico (disponível no e-ProInfo).
2005.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 19 -
CASOTTI, E. et al. Educação em Saúde: reflexão preliminar sobre a constituição do
campo. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências,
Florianópolis, 2009.
COSTA, F. A. (coord.). Repensar as TIC na educação. Lisboa: Santillana, 2012.
DANELON, Maria Cristina Tavares de Moraes. O uso de mídias na formação de
professores: um início de conversa. 2012. 51 p. Monografia (especialização em
Mídias na Educação), Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de janeiro.
FIGUEIREDO, António Dias de. Painel Educação, Inovação e Tecnologias. In: II
Congresso Internacional TIC e Educação, nov. 2012, Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012. Disponível em: http://ticeduca.ie.ul.pt/atas
Acesso em: 21/12/2012.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 19ª
ed. SP: Paz e Terra, 1996.
GAZZINELLI, M. F. et al. Educação em saúde: conhecimentos, representações
sociais e experiências da doença. Cadernos de Saúde Pública, RJ, 21, v.1, p.200206, jan.-fev, 2005.
LACLAU, E. Emancipação e Diferença. Rio de janeiro: EdUERJ, 2011.
MOREIRA, A. F. B. A crise da teoria curricular crítica. In COSTA, Marisa V. (org.). O
currículo nos limiares do contemporâneo. 4ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
MOROSINI, M. V. et al. Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Verbete
Educação em Saúde. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio, 2009.
ROSA, Ana Carolina P. da S. Escola e Cultura Digital: um mundo à sua frente. In: VI
Seminário Internacional As Redes Educativas e as Tecnologias, jun. 2011, Faculdade
de Educação da UERJ, Rio de Janeiro, 2011. Anais. Rio de Janeiro: UERJ, 2011.
SALLES, Arthur. Desenvolvimento Físico e Mental – Pré-nupcial, Pré-natal, Saúde
Infantil – Recomendações. 4ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1970.
SANTAELLA, L. As ambivalências das mídias móveis e locativas. In BEIGUELMAN, G e
FERLA, J (orgs.). Nomadismos Tecnológicos. São Paulo: Senac, 2011.
SILVA, J. O. Educação em Saúde: notas para a discussão de um campo temático.
Saúde em debate, nº 42, p.36-39, 1994.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 20 -
SILVA, Tomaz Tadeu d. Documentos de Identidade: Uma introdução à Teoria do
Currículo. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
STOTZ, Eduardo Navarro. Enfoques sobre Educação e Saúde. In: VALLA, Victor &
STOTZ, Eduardo Navarro (orgs.). Participação Popular, Educação e Saúde: teoria
e prática. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 21 -
Download

formação de professores, tecnologias de informação e comunicação