PROTEÇÃO DE ALGODÃO CONTRA Colletotrichum gossypii E Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides POR EXTRATOS AQUOSOS DE PLANTAS MEDICINAIS E DE ESPÉCIES FLORESTAIS Berenice Teodosio dos Santos 1, Solange Maria Bonaldo2,Cerezo Cavalcante Bulhões1. ¹Graduandos em Agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Sinop. 2 Professora Doutora da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT/Campus Sinop. Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais – ICAA. Avenida Alexandre Ferronato, 1.200, Reserva 35, Distrito Industrial, Cep: 78.557-267, Sinop, MT – Brasil. ([email protected]). Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito protetor de extratos brutos aquosos das plantas medicinais arruda (Ruta graveolens), carqueja (Baccharis trimera), manjerona (Origanum majorana) e, das espécies florestais, eucalipto (Corymbia citriodora) e angelim (Parkia pendula) na proteção de algodão contra Colletotrichum gossypii e no controle curativo de ramulose (C. gossypii var. cephalosporioides) em campo. Para verificar o efeito protetor dos extratos brutos aquosos contra C. gossypii, folhas destacadas de algodão das cultivares LDCV03 e LDCV 22 foram tratadas com os extratos na concentração de 25%. Água destilada esterilizada foi utilizada como controle. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco repetições. Após 24 horas do tratamento indutor as folhas foram inoculadas com uma suspensão de C. gossypii (2,0x105 conídios.mL-1) e mantidas em câmara úmida por 24 horas/fotoperíodo. A doença foi avaliada pela contagem das lesões nas folhas, sendo realizadas sete avaliações. Na avaliação do efeito protetor em campo, plantas das cultivares LDCV03 e LDCV22 foram tratadas com os extratos brutos aquosos a 25% após o surgimento dos primeiros sintomas de ramulose. As avaliações iniciaram-se logo após o tratamento curativo. Foram realizadas seis avaliações da doença para obtenção da Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). No controle de antracnose em folhas destacadas, o extrato aquoso de arruda não foi efetivo no controle da doença nas cultivares avaliadas. Enquanto que os demais extratos reduziram a doença. No controle da ramulose a campo, nas cultivares LDCV03 e LDCV22, todos os extratos testados não apresentaram diferença significativa em relação à testemunha, PALAVRAS-CHAVE: Antracnose, controle alternativo, extratos aquosos. PROTECTION OF COTTON AGAINST Colletotrichum gossypii AND Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides BY AQUEOUS EXTRACTS OF MEDICINAL PLANTS AND FOREST SPECIES ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 862 ABSTRACT This study aimed to evaluate the protective effect of aqueous extracts of medicinal plants rue (Ruta graveolens), broom (Baccharis trimera), marjoram (Origanum majorana), and forest species, eucalyptus (Corymbia citriodora) and angelim (Parkia pendula) to protect cotton against Colletotrichum gossypii and control C. gossypii var. cephalosporioides in the field. To verify the protective effect of aqueous extracts from C. gossypii, detached leaves of cotton cultivars LDCV03 and LDCV22 were treated with the extracts at a concentration of 25%. Sterile distilled water was used as control. The design was completely randomized, with five repetitions. After 24 hours of treatment induces the leaves were inoculated with a suspension of C. gossypii (2.0 x105 conídios.mL-1) and kept in a moist chamber for 24 hours/photoperiod. The disease was assessed by counting the lesions on the leaves, seven assessments being carried out. In evaluating the protective effect on the field and plantlets of LDCV03 and LDCV22 were treated with aqueous extracts of 25% after the onset of symptoms of ramulosis. The assessments began after curative treatment. Six evaluations were conducted of the disease to obtain the Area Under Disease Progress Curve (AUDPC). In the control of anthracnose in detached leaves, the aqueous extract of rue was not effective in controlling the disease in cultivars. While the others extracts reduced the disease. In the control of ramulosis in field, with LDCV22 and LDCV03 cultivars, all the extracts tested showed no significant difference compared to control. KEYWORDS: Anthracnose, alternative control. INTRODUÇÃO Entres as perdas ocasionadas pelos danos de pragas, plantas daninhas e doenças que acatam a cultura do algodoeiro, as doenças são consideradas uma das causas de grandes perdas na cultura do algodão em todas as regiões produtoras, principalmente na região do Cerrado, isso ocorre devido às condições ambientais que são amplamente favoráveis ao desenvolvimento dos principais patógenos que afetam a cultura. Ultimamente, observa-se alta incidência de doenças, inclusive daquelas consideradas, até então, de pouca importância nas regiões tradicionalmente produtoras (SIQUERI, 2001). De acordo com CIA e SALGADO (2005) são relatados pelo menos 250 patógenos na cultura do algodoeiro, dos quais 90% são fungos, além de 16 estirpes de vírus, dois micoplasmas, 10 nematóides e uma bactéria. O algodoeiro é atacado durante todo seu ciclo por várias doenças fúngicas, que podem causar prejuízos tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos da fibra e da semente. A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura do algodão é causada por patógenos que são transmitidos via semente, resultando na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo na sua reintrodução em áreas já cultivadas. Dentre as doenças fúngicas que atacam a cultura do algodão, a antracnose e a ramulose são consideradas as principais, podendo reduzir o estande de plantas e a produtividade da lavoura de algodão (GOULART, 2001). A antracnose é causada pelo fungo por Colletotrichum gossypii, que tem como principal meio de disseminação as sementes de algodão contaminadas ou infectadas pelo fungo (GOULART, 2001). Outros modos de disseminação também são importantes, tais como a chuva, o orvalho, a neblina, nevoeiro e o molhamento foliar (VALE e ZAMBOLIM, 1997). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 863 Os sintomas, nas folhas, são manchas pardas muito limitadas e, no centro dessas manchas, sob condições de alta umidade, desenvolve-se uma coloração rósea constituída por uma massa de esporos do fungo, aglutinados por uma substância gelatinosa. No caule, as lesões são deprimidas, pardoavermelhadas a pardo-escuras. As raízes atacadas apresentam lesões deprimidas, pardo-avermelhadas a pardo-escuras (VALE e ZAMBOLIM, 1997). A ramulose é causada pelo fungo, Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides podendo afetar plantas em qualquer estágio de desenvolvimento. A transmissão ocorre pelas sementes de algodão contaminadas, que são consideradas veículos de maior eficiência na disseminação do mesmo. O fungo afeta várias espécies do gênero Gossypium, o que garante a sobrevivência na ausência da planta, sobrevive em restos culturais depositados no solo. Sua disseminação no campo de cultivo ocorre por meio de respingos de chuva, que liberam os esporos do fungo de uma substância mucilaginosa que os mantêm agregados. Condições climáticas de alta precipitação pluviométrica e alta umidade relativa do ar favorecem a ocorrência desta doença (ARAÚJO, 2003). Os sintomas das plantas doentes se caracterizam pelo surgimento de lesões necróticas de formato circular, quando situado no limbo foliar entre as nervuras, nas folhas mais novas tanto na haste principal como na haste laterais. O tecido necrótico tende a cair formando perfurações. Essas lesões nas folhas mais novas são denominadas de ‘‘mancha estrela”. As lesões das nervuras promovem um enrugamento da superfície do limpo foliar, devido as mesmas apresentarem desenvolvimento desigual dos tecidos foliares. O fungo afeta o meristema apical da planta, provocando sua morte, o que estimula a brotação de ramos laterais e culmina com a formação de um aglomerado de ramos conferindo a planta um aspecto de superbrotamento (CIA e SALGADO, 2005). De acordo com RODRIGUES et al. (2006), a utilização de extratos vegetais no controle de fungos fitopatogênicos apresenta grande eficiência, levando-se a considerar esta prática promissora dentre os métodos de controle alternativo utilizados. Trabalhos de pesquisas desenvolvidos com extratos brutos obtidos a partir de plantas medicinais e florestais, têm indicado o potencial das mesmas no controle de fitopatógenos por sua ação fungitóxica direta, inibindo o crescimento micelial e a germinação de esporos e também, por sua ação indireta pela indução de fitoalexinas, indicando a presença de composto(s) com característica de elicitor(es) (SCHWAN-ESTRADA et al., 2000). O método mais adotado pelos cotonicultores para controle dessas doenças é o controle químico, onde são realizadas várias aplicações de fungicidas para controle das mesmas. Levando conseqüentemente, a grande impacto ambiental, como: contaminação de rios, solo, fauna, flora e principalmente acarretando prejuízos a saúde do homem. Assim, o presente trabalho avaliou o potencial de extratos brutos aquosos de plantas medicinais e de espécies florestais na proteção de plantas de algodão contra Colletotrichum gossypii, in vitro e contra Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, em campo. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 864 MATÉRIAIS E MÉTODOS Proteção de algodão contra Colletotrichum gossypii, agente causal da antracnose, em laboratório O experimento foi realizado no laboratório de Microbiologia/Fitopatologia da Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Sinop. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC) com cinco extratos diferentes na concentração de 25% e cinco repetições de cada tratamento. Após a obtenção dos dados de avaliação de incidência da doença os mesmos foram submetidos à analise de variância e quando significativos, a Teste de Tukey 5%. O programa estatístico utilizado foi o ESTAT (Versão 2.0). Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizadas as plantas medicinais arruda (Ruta graveolens L), manjerona (Origanum majorana) e carqueja (Baccharis trimera) e as espécies florestais: angelim (Hyemenolobium petraeum) e eucalipto (Corymbia citriodora). O extrato bruto a 25% de material vegetal foi obtido conforme BONALDO et al. (2004). Para tanto, folhas foram coletadas, lavadas em água destilada e trituradas em liquidificador com água destilada esterilizada. Este extrato bruto foi então filtrado em gaze e em papel de filtro Whatman n. 41 e utilizado no bioensaios. Foram coletadas no campo 60 folhas do ponteiro de algodão das cultivares LDCV 03 e LDCV 22, que foram previamente tratadas com os extratos brutos aquosos das plantas medicinais e florestais a 25%. Os extratos foram aplicados nas folhas com auxílio de um borrifado até o ponto de escorrimento. Água destilada esterilizada foi utilizada como controle. Após 24 horas do tratamento indutor, as folhas foram inoculadas com uma suspensão de Colletotrichum gossypii (2,0x105 conídios mL-1) e mantidas em câmara úmida por 24 horas/fotoperíodo. Cada tratamento foi constituído de cinco repetições com uma folha cada. Após a inoculação, as folhas foram mantidas em placas de Petri contendo um papel de filtro, umedecido diariamente com água destilada estéril A avaliação dos sintomas da doença iniciou-se 3 dias após a inoculação do patógeno, sendo a incidência da doença determinada visualmente. No total,foram realizadas 7 avaliações. Após o término da coleta dos dados foi construída a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), conforme fórmula a seguir: n-1 AACPD= ∑ [(Yi + Yi+1)/2] (ti+1 – ti) i Onde, n é o número de avaliações, Yi e Y(i+1) são os valores de incidência observados em duas avaliações consecutivas e t(i+1)-ti é o intervalo entre duas avaliações consecutivas (CAMPBELL; MADDEN, 1990) apud (BRANDÃO et al., 2003). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), aplicando-se o teste F, no nível de 5% de probabilidade, e como as médias não foram significativas não foi possível realizar a comparação das mesmas. Assim, optou-se pela análise descritiva dos dados obtidos. Controle da ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides), em campo, por extratos brutos aquosos ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 865 O experimento foi conduzido na Chácara Itapiranga localizada na Rodovia MT- 140, Estrada Rosália, Km 2, Sinop, Mato Grosso, Brasil. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado (DIC) com cincos extratos na concentração 25%. Utilizou-se 5 repetições por tratamento, sendo que cada repetição foi composta por uma planta. As plantas medicinais utilizadas foram: arruda (R. graveolens L), manjerona (O. majorana) e carqueja (B. trimera) e as espécies florestais: angelim (H. petraeum) e eucalipto (C. citriodora).O extrato bruto aquoso a 25% de material vegetal foi obtido conforme BONALDO et al. (2004) e, conforme já descrito anteriormente. Neste experimento, foram utilizadas duas variedades de algodão LDCV 03 e LDCV 22, plantadas em faixas com espaçamento de 0,50m entre fileiras, em parcelas com 2,0x 2,5m e com 10 plantas por metro linear. Utilizou-se 5 repetições por tratamento, sendo que cada repetição foi composta por uma planta. No plantio, foi realizado adubação com 00-00-36 na dosagem de 185 Kg ha-1, sendo a aplicação fosfatada realizada 30 dias antes (200 kg ha-1). Os tratos culturais nesta etapa foram realizados de acordo com o manejo do produtor rural. Após 20 dias da emergência das plantas realizou-se a adubação foliar com uréia na dosagem 150 kg ha-1 e Cloreto de potássio 200 kg ha-1 e uma aplicação de inseticida Tamaron (Metamidofós) na dosagem de 0,35 L ha1 para controle de pulgão (Aphis gossypii). Devido ocorrência de grande incidência de plantas daninhas no início da cultura foi necessária a realização de três capinas manuais. Quando a cultura encontrava-se com quarenta dias após a emergência e já apresentava sintomas de ramulose (C. gossypii var. cephalosporioides), realizou-se a primeira aplicação dos extratos brutos aquosos. A segunda aplicação dos extratos brutos aquosos foi realizada trinta dias após a primeira aplicação em todas as plantas. Os extratos brutos aquosos foram pulverizados nas folhas até o ponto de escorrimento. Água destilada foi utilizada como controle (testemunha). A primeira avaliação de ramulose foi realizada antes da aplicação dos extratos brutos aquosos, onde foram observadas todas as folhas e em seguida, atribuída uma nota de acordo com a escala de COSTA (1941) (Quadro 1). Quadro 1. Escala de notas para avaliação da severidade de ramulose em plantas de algodão (COSTA, 1941). Nota Descrição dos sintomas 1 Ausência de sintomas. 2 Poucas lesões necróticas nas folhas. 3 Muitas lesões necróticas nas folhas. 4 Plantas com internódios superiores curtos. Plantas com internódios superiores curtos, associados a 5 superbrotamento. 6 Plantas com internódios curtos com superbrotamento. 7 Plantas com internódios curtos com superbrotamento sem possibilidade de produzir frutos (abaixo de três frutos/planta). 8 Superbrotamento acentuado comporte reduzido. Superbrotamento excessivo com porte reduzido e ausência total de 9 frutos. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 866 RESULTADOS E DISCUSSÕES Bioensaio de proteção de algodão contra Colletotrichum gossypii in vivo O extrato de arruda não foi eficiente na proteção de folhas destacadas de algodão, cultivar LDCV 03 (AACPD: 145,0), contra C. gossypii, pois houve aumento na severidade da doença (Figura 1), quando comparado com os demais tratamentos. SOUZA (2010) observou que extratos de arruda na concentração de 10, 15, 20, 25% apresentou inibição do crescimento micelial de C. gossypii var. cephalosporioides in vitro. Apesar do trabalho de SALVARTORI et al. (2003) relatar o efeito fungitóxico de extrato de folhas de arruda na inibição do crescimento micelial de C. gloeosporioides, quando adicionado a 25% em meio BDA, o mesmo comportamento não foi observado no presente trabalho in vivo, usando a mesma concentração do extrato de arruda no controle de C. gossypii em folhas destacadas de algodão. FIGURA 1. Área abaixo da curva de progresso da incidência de antracnose (Colletotrichum gossypii) (AACPD), em folhas destacadas de algodão – cultivar LDCV 03, tratadas com extratos brutos aquosos de plantas medicinais e espécies florestais. Médias seguidas da mesma letra, não apresentam diferença estatística; Tukey (P < 0, 05 %). Estatisticamente, os demais extratos brutos aquosos, carqueja, manjerona, angelim e eucalipto, não apresentaram diferença significativa quando comparados com o tratamento controle (água) (Figura 1). Resultados semelhantes foram obtidos por ALMEIDA et al. (2009) quando testaram o efeito de extratos vegetais no controle de patógenos de pós-colheita em frutos de morangueiro. Os mesmos observaram que os extratos de nim, arruda e vinca não foram eficientes no controle de Botrytis sp., Penicillium sp. e Rhizopus sp., apresentando alta incidência dos patógenos. Na cultivar LDCV 03, apesar de não apresentar diferença estatisticamente significativa, houve redução da AACPD quando as plantas ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 867 foram tratadas com extrato bruto aquoso de carqueja (AACPD: 60,5), apresentando 26% de inibição da doença (Figura 1). Os extratos de manjerona (AACPD: 62,4), angelim (AACPD: 69,2) e eucalipto (AACPD: 68,5) apresentaram 23,7%, 15,4% e 16,3% de inibição da doença, respectivamente, indicando, portanto, que estes extratos, podem apresentar substâncias com potencial de induzir mecanismos de defesa na planta e, proporcionar o controle da antracnose em algodão. Para a cultivar LDCV 22 não houve diferença significativa (Figura 2) entre os extratos brutos aquosos e a água. Porém, o extrato de angelim (AACPD: 37.90) proporcionou 52,2% de redução da doença, enquanto que os demais extratos reduziram a doença em 17%, 18,9% e 19,8%, respectivamente. O extrato bruto aquoso de arruda apresentou o mesmo comportamento observado na cultivar LDCV 03, induzindo a AACPD da doença. FIGURA 2. Área abaixo da curva de progresso da incidência de antracnose (Colletotrichum gossypii) (AACPD), em folhas destacadas de algodão – cultivar LDCV 22, tratadas com extratos brutos aquosos de plantas medicinais e espécies florestais. Médias seguidas da mesma letra, não apresentam diferença estatística; Tukey (P < 0, 05 %). Quando comparado o efeito dos extratos brutos aquosos nas duas cultivares, observou-se que, na cultivar LDCV 03 (Figura 1), o extrato de carqueja apresentou maior eficiência, inibindo a doença em 26% em relação a testemunha. Na cultivar LDCV 22 (Figura 2) o extrato de angelim foi o mais eficiente na redução da doença. Isto indica que há variação entre os genótipos das cultivares e a resposta destes ao tratamento com diferentes extratos. De acordo com PASCHOLATI (1998), as plantas possuem diferentes mecanismos estruturais e bioquímicos que podem contribuir para a resistência das mesmas contra fitopatógenos. Porém, esses mecanismos de resistências são determinados geneticamente e a sua eficiência é dependente da expressão dos mesmos em local e momentos adequados, e seqüência lógica que deve ocorrer após o contato do patógeno com o hospedeiro. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 868 Controle da ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides), em campo, por extratos brutos aquosos Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), aplicando-se o teste F, 5% de probabilidade, e como as médias não foram significativas, não foi possível realizar a comparação das mesmas. Portanto, de acordo com os cálculos da AACPD observa-se que na cultivar LDCV 03 nenhum extrato bruto aquoso proporcionou redução da doença (Figura 3), indicando que os extratos não apresentaram efeito curativo da doença. SILVA et al. (2007) estudou o efeito fungitóxico in vivo dos extratos de cravo-da-índia, canela, alho, manjericão, gengibre e arruda, no controle alternativo do mal-do-Panamá (Fusarium oxysporim f.sp. cubense) em muda de banana maçã (Musa spp.) e observou que os extratos de manjerona, cravo-daíndia e arruda proporcionaram menores índices de doença: 12,5; 25; 41 e 46%, respectivamente, nas mudas de banana maçã. PEDROSO et al. (2009), observaram que o extrato de manjerona na concentração de 20% apresentou maior potencial de inibição micelial do fungo Alternaria solani in vitro. O Extrato bruto e o óleo essencial de manjerona, têm sido utilizados para estudos in vitro de inibição de crescimento micelial e esporulação de diversos fungos fitopatogênicos (SCHWAN-ESTRADA et al., 2003). SOUZA (2010), relatou que o extrato bruto aquoso de manjerona nas concentrações 5, 10, 20, 25%, proporcionou inibição no crescimento micelial de C. var. cephalosporioides, porém, quando aplicados em campo, não demonstraram potencial fungicida sobre o patógeno deste estudo. FIGURA 3. Área abaixo da curva de progresso de ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides) (AACPD), em plantas de algodão – cultivar LDCV 03, tratadas com extratos brutos aquosos de plantas medicinais e de espécies florestais. Na variedade LDCV 22, os extratos brutos aquosos que proporcionaram maior controle da doença em campo foram arruda e carqueja, quando ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 869 comparados com o tratamento controle, que inibiram em 13% a doença no campo. Os extratos aquosos de angelim, manjerona e eucalipto não proporcionaram o controle da doença (Figura 4). FIGURA 4. Área abaixo da curva de progresso de ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides) (AACPD), em plantas de algodão – cultivar LDCV 22, tratadas com extratos brutos aquosos de plantas medicinais e espécies florestais. O extrato bruto aquoso de eucalipto não foi eficiente no controle da ramulose em campo, discordando do estudo feito por BONALDO et al. (2004) que, observaram que o extrato de eucalipto na concentração de 20% apresentou potencial para o controle da antracnose (C. lagenarium) em pepino, tanto por sua atividade antifúngica direta quanto pela capacidade de indução local de resistência. Segundo o trabalho de MENEZES et al. (2009), os extratos de carqueja, capim-limão e alecrim não diferiram entre si e foram os menos eficientes no controle da pinta preta (Alternaria solani) do tomateiro em teste in vivo, quando comparados com os extratos de alho e gengibre que proporcionaram melhor controle da doença. Na maioria dos extratos de plantas medicinais estudados em outros trabalhos são encontradas propriedades antifúngicas. Porém, essas propriedades podem ser afetadas por alguns fatores inerentes às plantas, como órgão utilizado, idade, estágio vegetativo e época de colheita. Fatores do ambiente, como o pH do solo, bem como, a estação do ano e a temperatura. A eficiência do produto também depende da espécie envolvida, do tipo de patógeno a ser controlado e dos processos, obtenção e manipulação do extrato (HERNÁNDEZ, 1996). Existem, poucos trabalhos na literatura relatando o efeito antifúngico dos extratos de plantas em teste in vivo. MILANESI et al. (2009) observaram os mesmos resultados quando estudaram a ação fungitóxica de extratos vegetais ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 870 sobre o crescimento micelial de Colletotrichum gloeosporioides, onde houve inibição parcial no crescimento do patógeno, sendo os extratos de carqueja e cinamomo, na concentração de 20%, os mais eficientes no controle do fungo. Como no presente estudo o tratamento realizado foi curativo, não controlando a doença, não se pode descartar o potencial destes extratos no controle da ramulose. É possível que os extratos brutos aquosos avaliados possam apresentar potencial na redução da doença, se aplicados antes da chegada do patógeno, uma vez que já induzem fitoalexinas em soja como demonstrado por MATIELLO (2010). Este autor observou que o extrato bruto aquoso de eucalipto proporcionou maior síntese de fitoalexinas em cotilédones de soja nas concentrações de 20%, 25% e 50%. CONCLUSÕES Conclui-se que os extratos brutos aquosos estudados não foram eficientes no controle da antracnose em folhas destacadas de algodão, sendo que o extrato bruto aquoso de arruda induziu a doença. Na cultivar LDCV 03, os extratos de arruda, angelim e manjerona apresentaram potencial curativo de ramulose, a campo e, na cultivar LDCV22, os extratos de arruda e carqueja apresentaram potencial no controle da doença em campo. AGRADECIMENTOS A FAPEMAT pelo auxílio financeiro – Processo número 578323/2008. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, T.F.; MARGARETE, C.; AMARGO, M.; PANIZZI, R.C. Efeito de extratos de plantas medicinais no controle de Colletotrichum acutatum, agente causal da flor preta do morangueiro. Summa Phytopathologica v.35, p.196201, 2009. ARAÚJO, A.E.de. Embrapa Algodão. Ramulose do algodoeiro (causada pelo fungo Colletotrichum gossypii) provoca excesso de brotação e pode comprometer a produtividade da cultura. Revista Cultivar Grandes Culturas. n.21, out, 2000. 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