CASO
GALP - Áreas de serviço energeticamente eficientes
A Galp Energia tem procurado incorporar, no dia-a-dia do seu negócio, questões como a eficiência energética, reduções de emissões de CO2 e produção de energia a partir de fontes
renováveis, desenvolvendo acções internas ao nível das suas infra-estruturas e processos,
bem como junto dos seus clientes. Neste contexto, iniciou-se em 2008 um projecto nas
áreas de serviço que visava a implementação de iniciativas ao nível da eficiência energética,
produção descentralizada de energia a partir de fontes renováveis e monitorização do desempenho energético das áreas de serviço.
Numa primeira fase, o projecto englobou um universo de 12 áreas de serviço, tendo como
meta o alargamento do projecto à restante rede de retalho. Desta forma, seria desenvolvido um conceito de área de serviço energicamente eficiente do ponto de vista dos seus
consumos e, simultaneamente, produtora de energia.
A implementação do projecto passou por uma análise do desempenho energético, espeÁrea de serviço, Galp
cialmente das lojas pelos seus elevados consumos, e em seguida, por intervenções ao nível
dos equipamentos e promoção de alterações de comportamento dos colaboradores. Como resultado obtiveram-se reduções efectivas
nos consumos de electricidade e uma melhoria significativa das condições de conforto das lojas. Das intervenções realizadas, destaca-se
o aproveitamento da energia solar para o aquecimento de águas, a optimização da localização dos grupos de frio, a instalação de cortinas
de ar na entrada da loja e a redução da potência de iluminação da loja.
Outra das vertentes deste projecto, e talvez a mais visível aos olhos dos clientes, está ligada à produção descentralizada de energia
eléctrica nas áreas de serviço. Aproveitando o elevado nível de exposição solar do nosso país e beneficiando do enquadramento legal
DL 363/2007, de 2 de Novembro, o qual incentiva a instalação de sistemas de microgeração com recurso a tecnologias renováveis, foram
instaladas, em cada uma das áreas de serviço, micro-centrais fotovoltaicas com uma potência instalada de 3,6kWp. A escolha da melhor
solução, nomeadamente, tipo de módulos, inversor, entre outros equipamentos acessórios, constituiu um passo chave para os bons
resultados alcançados.
Por último, o desenvolvimento de um sistema integrado de gestão de energia, que monitoriza quer os consumos, quer a energia produzida,
permite saber em tempo real qual o comportamento energético das áreas de serviço.
O consumo energético evitado por via das medidas de eficiência energética implementadas, acrescido à energia produzida, no universo
destas 12 áreas de serviço, é suficiente para tornar uma área de serviço auto-suficiente em termos energéticos. Trata-se de um projecto
que, para além dos resultados obtidos enquanto empresa, vem, pelo seu poder demonstrativo junto dos clientes, reforçar o compromisso
em contribuir para o alcance das metas europeias a atingir em 2020, nos domínios da eficiência energética, redução emissões de CO2 e
maior utilização de energia renováveis.
ACTUALIDADES
O BCSD Portugal realizou, no passado dia 17 de Junho, no Centro Cultural de Belém em Lisboa, a 9ª Conferência Anual, este ano
subordinada ao tema “Alterações Climáticas – Hoje e Amanhã”. Como keynote speaker, contámos com a presença de um dos maiores
especialistas do mundo em Estratégia Ambiental e Corporativa e autor do livro Green to Gold, Daniel Esty, professor de Política e Direito Ambiental e Director do Center for Business and the Environment da Universidade de Yale. Foram também promovidos dois grandes
debates. O primeiro, moderado pelo Presidente do WBCSD, Björn Stigson, contou com a presença de um especialista em alterações
climáticas, Simon Davies da KPMG Internacional, de Bruno Vanderborght, CEO da Holcim e António Mexia, CEO da EDP - Energias de
Portugal. Estes promoveram uma reflexão sobre a agenda pós-Quioto e as expectativas destas organizações em relação à COP 15, a
realizar em Dezembro próximo.
O segundo debate, realizado durante a tarde, contou com um painel constituído por responsáveis de Estado, ONG e empresas nacionais, pretendendo trazer à discussão as grandes questões nacionais no âmbito da Energia e Clima e a resposta que cada um destes
organismos irá dar face aos novos desafios que se avizinham. Pretendemos com esta conferência incentivar a discussão sobre estes
temas e contribuir para um debate mais alargado nas empresas e na sociedade.
NEWS WBCSD
World Water Week 2009 – 16 a 22 de Agosto
Esta semana irá promover um fórum único para a troca de opiniões e experiências entre comunidades científicas, empresariais, políticas e os cidadãos. Incide na nova forma positiva de pensar e agir através dos desafios relacionados com a água e a redução do seu
impacte no mundo, em matérias de ambiente, saúde, economia e pobreza.
19
n.º
Publicação | BCSD Portugal | Junho 2009 | Trimestral | Distribuição gratuita | www.bcsdportugal.org
EVENTOS
Ciclo de Workshops
“Conhecer o Decreto-Lei
n.º 147/2008 de 29 de Julho”
Realizou-se no passado dia 15 de Abril a segunda e última sessão de trabalho do Ciclo
de workshops “Conhecer o Decreto-Lei n.º
147/2008 de 29 de Julho”. Esta sessão, realizada em parceria com a E.Value e com o apoio
da ANA – Aeroportos de Portugal, contou com a
presença de Josh Lipton, da Stratus Consulting,
e Ricardo Sá, da AdP - Águas de Portugal e apresentou os métodos para a avaliação/reparação
de danos ambientais no âmbito do Decreto-Lei
referido e debater as actuais necessidades e
desafios para as empresas.
Ciclo de Conferências
“Implementar a Sustentabilidade”
Integradas no Ciclo de Conferências “Implementar a Sustentabilidade”, realizaram-se
nos meses de Abril e Maio, duas conferências
temáticas. A primeira, realizada em parceria
com a Ecochoice e com o apoio da Somague,
focou a temática da “Eficiência Energética em
Edifícios”. A 6 de Maio decorreu a conferência
“Desenvolvimento Social nas Organizações”,
evento realizado em parceria com a Outcome e
com o apoio da Fidelidade Mundial.
PRODUÇÃO DESCENTRALIZADA DE ENERGIA
Portugal apresenta condições ímpares para a produção descentralizada
de energia a partir de fontes renováveis. A entrada em vigor do diploma
“Renováveis na Hora”, a par dos incentivos fiscais existentes para a
instalação de equipamentos, veio finalmente estimular o investimento por
parte dos cidadãos e empresas. Estamos assim a diminuir a dependência
nacional de combustíveis fósseis, a equilibrar a balança comercial e a
assegurar um futuro mais sustentável.
EDITORIAL
A produção descentralizada de energia constitui, possivelmente, a maior revolução dos
sistemas de energia nos últimos anos. Acredita-se que a energia fotovoltaica venha a atingir
o custo de paridade com a rede no futuro próximo, e que a energia micro-eólica, assim
como os sistemas de micro-CHP (combined heat and power) sejam mais rentáveis.
Sendo que o modelo clássico de produção e transmissão de energia se depara com um
número cada vez maior de dificuldades operacionais e com custos crescentes, a produção
descentralizada, recorrendo a fontes renováveis que permitem a redução dos níveis de
CO2, responde a esses problemas e permite uma maior flexibilidade na eleição das fontes
de produção de energia mais adequadas.
Estas tecnologias põem em questão o modelo hierárquico e centralizado, obrigando a
que as redes passem a funcionar num modelo descentralizado. Esta evolução traduzirá
uma oportunidade para todos os actores do Sistema Energético Nacional. Portugal tem
dado passos relevantes nesta matéria, existindo legislação adequada e protagonistas nos
diferentes elementos da cadeia de valor. Grandes projectos nacionais, como o Veículo Eléctrico, o projecto de redes inteligentes InovGrid, entre outros, constituem marcos relevantes
que ajudarão a colocar o país numa posição de destaque.
Ana Maria Fernandes | CEO da EDP Renováveis | António Vidigal | Administrador da EDP
Ficha técnica | Edição
Redacção e Design
Produção
Coordenação: Luís Rochartre
Susana Azevedo
Tiragem: 500 exemplares
Propriedade
BCSD Portugal | Av. de Berna, 11 - 8º | 1050-036 Lisboa | Portugal
Tel.: (+351) 21 781 90 01 | Fax: (+351) 21 781 91 26
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ENTREVISTA
Manuel Collares Pereira, Vice-presidente da Dreen
O que se entende por microgeração,
e até que ponto pode revolucionar a
forma como as pessoas e as empresas
lidam com as questões energéticas?
A ideia consiste em levar o particular a
encarar a energia solar para produção de
electricidade como algo que se pode fazer
de forma descentralizada, em qualquer
casa, e a partir de uma fonte limpa e de
um recurso próprio e inesgotável. Quando
o cidadão começar a utilizar o que produz,
em vez de simplesmente o vender, como
acontece hoje em dia, iniciar-se-á um novo
paradigma da forma de “estar” no que respeita às questões da energia produzida por
fontes renováveis e da energia para ser
produzida e utilizada, de forma a que a dimensão da procura seja uma condicionante
do sistema e não uma mera consequência
do excesso garantido de oferta, que traduz
o paradigma em que vivemos.
Os regulamentos referentes à microgeração e à eficiência energética dos
edifícios têm contribuído para um
maior aproveitamento das energias
renováveis em Portugal?
A microgeração é ainda, no sentido de
uma grande contribuição, um passo mais
simbólico do que um contribuidor em
larga escala. Já a eficiência energética
em edifícios constitui, por sua vez, uma
contribuição a uma escala muito maior e
com elevada capacidade de crescimento.
Curiosamente vai corresponder a consumos de energia fóssil evitados, pelo
que não vai aparecer de forma directa ou
NOTÍCIAS
inequívoca nas “estatísticas” de energia.
Pode dizer-se que os próximos 15 anos
poderiam assistir a um aumento de consumo de energia convencional nos sectores
Residencial e Serviços, acima dos 10% do
total do consumo de energia final do país.
Este aumento resulta da vontade e possibilidade de se melhorar o conforto em
termos de climatização das casas em que
vivemos, antigas ou novas, especialmente
durante o Verão e Inverno. A regulamentação da eficiência energética nos edifícios
vem precisamente permitir uma redução,
ou até a eliminação do aumento, do consumo de energia, proporcionando um nível
de conforto igual ou superior.
Quanto ao potencial solar do país, temos
ainda muito para caminhar. Basta ver que
o aproveitamento da energia solar para
aquecimento de água é ainda muito limitado, quando comparado com outros países do sul da Europa, como a Grécia e a
vizinha Espanha.
Até que ponto o crescimento da
produção descentralizada de energia
é fundamental para o cumprimento
das metas do protocolo de Quioto?
O cumprimento das metas de Quioto não
pode estar apenas ligado à produção descentralizada de energia eléctrica fotovoltaica. Todas as energias renováveis podem
e devem contribuir, de forma centralizada
ou descentralizada, não apenas para produção de electricidade. A solar térmica,
por exemplo (nos edifícios, na indústria,
etc.), tem muito potencial, assim como os
biocombustíveis. É interessante ver que
uma política que implique uma utilização
“profunda” dos recursos energéticos renováveis de que dispomos permitirá cumprir
Quioto com maior facilidade, mas também
tirar partido disso, gerando valor e dinamizando a economia. Isto é, transformar uma
aparente adversidade numa verdadeira
vantagem estratégica e económica.
Novos Membros do BCSD Portugal
Acontecimentos
Young Managers Team 2009
O BCSD Portugal deu início ao projecto
Young Managers Team Portugal 2009. Este
ano as equipas têm o desafio acrescido de
criar bases para o arranque das áreas de
focalização, pólos fundamentais da actividade futura do BCSD. O primeiro workshop
ocorreu em Sesimbra no início do mês de
Abril. Nesta sessão de três dias foram formadas quatro equipas: H2Ocean, Sardinha,
H2ON e Via Infinitum, que se debruçaram
sobre os temas dos “Ecossistemas”, “Desenvolvimento”, “Energia e Clima” e o
“Papel das Empresas”, respectivamente.
Neste momento, e após a realização do 2º
workshop em Peniche no mês de Maio, as
equipas já apresentaram o planeamento e
irão dar início ao trabalho de pesquisa.
DESTAQUE
Produção descentralizada de energia
A produção descentralizada de energia ou microgeração, refere-se à possibilidade de o consumidor, particular ou empresa, poder
produzir a sua própria energia, recorrendo para tal a equipamentos
de pequena escala, como, por exemplo, painéis solares, microturbinas, microeólicas ou mini-hídricas. A energia produzida pode
ser aproveitada para o aquecimento de águas sanitárias ou para
a produção de energia eléctrica, que pode ser vendida à rede de
distribuição nacional.
O nosso país apresenta condições bastante favoráveis ao aproveitamento da maior parte das fontes de energia renovável existentes,
destacando-se a energia solar pelo facto de Portugal ser um dos
países da Europa com maior disponibilidade de radiação solar.
O número médio anual de horas de Sol varia, no território continental, entre as 2200 e as 3000 horas, enquanto que na Alemanha
este número se situa entre 1200 e 1700 horas. Infelizmente, esta
maior disponibilidade não se traduz num maior aproveitamento,
facto que se torna evidente quando comparamos os 2220 GWh
produzidos na Alemanha em 2006 com os 5 GWh de Portugal.
De forma a inverter esta tendência foi aprovado o Decreto-Lei
363/2007 que avança com o regime simplificado aplicável à produção descentralizada de energia, também designado por “Renováveis na Hora” que entrou em vigor a 2 de Fevereiro de 2008.
Este diploma articula-se com o Sistema Nacional de Certificação
Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), na medida em que as unidades de produção descentralizada de energia
contribuem positivamente para a eficiência energética dos edifícios
residenciais e de serviços. Articula-se igualmente com o Programa
Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), estando a produção
de electricidade a partir de fontes de energia renováveis entre as
medidas que apresentam resultados mais positivos.
Encontram-se igualmente definidos incentivos para o investimento
em equipamentos renováveis, que passam pela aplicação de uma
taxa intermédia de IVA (12%) e por benefícios fiscais, tornando
possível deduzir 30% do valor total do investimento no IRS (até
ao valor máximo de 777), ou amortizar o investimento em apenas
quatro anos para efeito de cálculo do IRC.
As empresas poderão ainda recorrer ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) , o qual prevê o incentivo à instalação
de sistemas energéticos para consumo próprio, utilizando fontes
renováveis de energia.
Os novos clientes/produtores têm acesso a dois regimes remuneratórios para a electricidade produzida: um regime geral, onde o preço
de venda de energia à rede é igual ao preço de compra do kWh
definido pela ERSE (Entidade Reguladora do Sector Energético) e
um regime bonificado, onde o preço de referência é de 650/MWh,
sendo este valor fixo por um período de 5 anos, apenas para os
primeiros 10 MW de potência instalados a nível nacional.
O preço apresenta ainda uma variação consoante o tipo de energia
renovável utilizado, sendo aplicada uma percentagem de 100%
Potencial solar fotovoltaico nos países europeus
As cores mais quentes identificam os países com maior disponibilidade de radiação solar
no solar, 70% na eólica e 30% na hídrica e cogeração a biomassa.
As mudanças em curso no sector eléctrico exigem um novo conceito
de rede de distribuição, integrando mecanismos de inteligência
que estabelecerão uma nova forma de gestão e controlo da rede,
em linha com o conceito de Smart Grids. A nível nacional, a materialização deste conceito teve o seu arranque com o lançamento
do projecto InovGrid, através do qual a EDP pretende dar resposta
a este desafio.
A produção descentralizada de energia possui ainda inúmeras
outras vantagens a nível ambiental, social e económico, entre as
quais se destacam:
> Redução das emissões de gases com efeito de estufa, uma vez
que esta energia é produzida a partir de fontes renováveis;
> Melhoria da balança comercial nacional, pois prevê-se uma
redução na importação de energia e no pagamento de direitos
de emissão de CO2;
> Desenvolvimento de uma indústria de serviços na área da
energia, calculando-se que sejam criados centenas de postos
de trabalho, nomeadamente nas áreas da instalação, manutenção e certificação de equipamentos;
> Criação de fileiras industriais com elevado potencial de inovação e de exportação, produzindo os diferentes equipamentos
necessários à produção descentralizada de energia.
A produção descentralizada de energia é ainda uma hipótese dos
cidadãos e empresas poderem contribuir para os objectivos da
política energética e ambiental nacional, através do alinhamento
da oferta e da procura de energia, aumentando a sua própria eficiência energética e iniciando o seu percurso de sensibilização para
questões mais amplas da sustentabilidade.
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PRODUÇÃO DESCENTRALIZADA DE ENERGIA