CARACTERIZAÇÃO DE AEROSSÓIS EM UMA FÁBRICA DE CAMISAS PARA LAMPIÕES Dias da Cunha, K.*; Moura, J.J.*; Simões*, F; d’Oliveira†, D.; Barros Leite, V.C. ‡; Nazaré Alves, R.# e Mendonça da Silva, I. C. *Instituto de Radioproteção e Dosimetria Av. Salvador Allende s/n, Recreio, CEP 22 780-160 Rio de Janeiro, Brasil Instituto de Engenharia Nuclear Ilha do Fundão s/n, CEP 22650-160 Rio de Janeiro, Brasil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RIO Rua Marquês de São Vicente 226, Gávea, Rio de Janeiro, Brasil Instituto Militar de Engenharia Praça Gen. Tibúcio 80, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, Brasil RESUMO Os trabalhadores envolvidos na confecção de camisas para lampiões a gás estão expostos a aerossóis contedo tório e seus produtos de decaimento. De modo a estimar danos à saúde devido à inalação deste aerossol é necessário determinar o tamanho das partículas inaladas (MMAD), e sua concentração na fração respirável do aerossol. As amostras de aerossóis foram coletas usando o impactador em cascata (ICN), os amostradores do tipo AGF e individuais de lapela com ciclone. As amostras coletadas com o ICN foram analisadas utilizando-se o método PIXE e as amostras coletas com o AGF e amostrador individual de lapela, a técnica de espectrometria alfa. As concentrações de torônio foram determinadas pelas técnicas de Tsivoglou, Kusnetz, Rolle e métodos de dois filtros. Os valores de MMADs foram menores que 1 µm e a concentração de 232Th na fração respirável do aerossol foi menor que 2,1 mBq/m3. A concentração de torônio no ar foi menor que 3,7 mBq /m3. I. INTRODUÇÃO O nitrato de tório é usado como matéria prima na confecção de camisas para lampiões à gás. O processo de confecção das camisas envolve diversas etapas, nas quais os trabalhadores estão expostos a aerossóis contendo tório e seus produtos de decaimento. A inalação desses aerossóis pode causar sérios danos à saúde dos trabalhadores. Os riscos devido à inalação dependem das propriedades fisiológicas, morfológicas dos indivíduos e das propriedades físicas e químicas das partículas inaladas. Dentre as propriedades físicas das partículas uma das mais importantes é o tamanho da partícula. Pois ele determina o local de deposição da partícula no trato respiratório. O risco devido à partícula inalada também depende da concentração do radionuclídeo na fração respirável do aerossol (partículas com diâmetro aerodinâmico <2,5 µ m). O objetivo deste trabalho é determinar o tamanho e a concentração das partículas contendo tório e a concentração de torônio e radônio no ar. II. MÉTODO As amostras de aerossóis foram coletadas em uma fábrica de camisas para lampiões. Na Figura 1 é apresentado o esquema simplificado de confecção das camisas para lampiões a gás. Nesta fábrica, o processo de confecção das camisas para lampiões a gás está concentração dividido em dois setores. O setor de impregnação incluí desde a impregnação da manta com a solução contendo nitrato de tório até a secagem natural do verniz. O segundo setor incluí desde o corte da manta até a embalagem. NITRATO DE TÓRIO IMPREGNAÇÃO SECAGEM EM ESTUFA OXIDAÇÃO (SOLUÇÃO DE AMÔNIA) SECAGEM EM ESTUFA BANHO DE VERNIZ SECAGEM NO AR CORTE DAS MANTAS COSTURA PINTURA EMBALAGEM Figura 1 Esquema simplificado do processo para confecção das camisas para lampiões a gás O tamanho das partículas contendo tório, MMAD Diâmetro Aerodinâmico Mediano de Massa), foi determinado usando-se um impactador em cascata de fabricação nacional (ICN), com vazão de operação de 12,5 l/min. As partículas foram selecionadas segundo seu comportamento aerodinâmico em seis faixas de tamanho, obedecendo os diâmetros de corte de cada estágio do impactador [1]. A massa dos elementos impactada em cada estágio do impactador foi determinada pelo método PIXE (Particle Induced X ray Emission). As amostras foram irradiadas com um feixe de prótons de 2 MeV, no acelerador Van de Graaff da PUC-RIO [2]. Os raios X característicos foram detectados com um detector Si-Li e o espectro de raios-X analisados com auxílio de um computador. No arranjo experimental usado para análise das amostras por PIXE o limite de detecção do tório, foi de 12,5 ng. A concentração mínima detectada corresponde a 5,1 ng/m3. Considerando-se que, a contribuição, em massa, de tório no espectro de raios X característico é devido a contribuição do 232Th, foram estimadas as concentrações deste radionuclídeo, nas amostras coletadas com o ICN. Assim, considerando-se a massa determinada pelo método PIXE e a atividade específica do 232Th foi estimada a concentração de 232Th nas amostras de aerossóis coletadas com ICN. Deste modo, o limite de detecção do 232Th correspondeu a 50,4 mBq e a concentração mínima detectável, a 20,4 mBq/m3. As amostras de aerossóis, para determinação da concentração de 232Th e 228Th, foram coletadas utilizando dois amostradores. As amostras de partículas na fração respirável, foram coletadas utilizando amostradores individuais de lapela, com ciclone para a seleção da fração respirável do aerossol, com vazão de 2,5 l/min. As amostras nas frações respirável e inalável, foram coletadas utilizando amostradores do tipo AGF (Amostrador Grosso e Fino), com vazão operacional de 17 l/min. A concentração de cada radionuclídeo foi determinada pela técnica de espectrometria α, após o tório ter sido extraído e concentrado em cada uma das amostras. O limite de detecção da técnica usada é de 1,0 e 1,2 mBq, para o 232Th e 228Th, respectivamente. Nas amostras coletadas com amostradores individuais de lapela, a concentração mínima detectável destes radionuclídeos no ar foi de 0,9 e 1,1 mBq/m3 respectivamente. A concentração mínima detectável nas amostras coletas com AGF foi de 0,7 mBq/m3 para o 232Th e 0,8 mBq/m3. para o 228Th. As amostras de partículas contendo tório, foram coletadas com o AGF e ICN nos mesmos locais e simultaneamente. Foram coletadas duas amostras com o ICN, sendo uma no setor de impregnação e outra no setor de costura e uma com AGF. Os amostradores individuais de lapela foram usados por trabalhadores de diversas etapas do processo de fabricação das camisas para lampiões. Moura [3] descreve, em detalhes, os procedimentos para coleta de amostra. As concentrações de torônio e radônio foram determinadas por quatro técnicas do método ativo: Tsivoglou, Kusnetz, Rolle e Dois filtros. A concentração mínima detectável foi considerada como 111 mBq/m3. Mendonça da Silva [4] descreve, em detelhe, os procedimentos para determinação de concentração de torônio e radônio no ar. As amostras de aerossóis para determinação da concentração de torônio e radônio foram coletadas nos setores de impregnação e costura, nos mesmos locais onde foram coletadas amostras com ICN e AGF. III. RESULTADOS E DISCUSSÃO No setor de impregnação o MMAD das partículas contendo Th foi 0,9 µm e 1,0 µm no setor de costura . A concentração de tório, determinada nas amostras coletadas com ICN, foi 0,46 µg/m3 na etapa de impregnação e 0,24 µg/m3 na etapa de costura. A massa de urânio nas amostras de aerossóis coletada em cada estágio do ICN, estava abaixo do limite de detecção do método PIXE (12,5 ng). A atividade estimada de 232Th nas amostras coletadas com ICN foi 1,8 mBq/m3 na etapa de impregnação e 0,97 mBq/m3 na etapa de costura. As concentrações de 232Th na fração respirável foi 2,1 mBq/m3 e na fração inalável, 1,6. As concentrações de 228 Th estavam abaixo do limite de detecção nas duas frações do aerossol. Na Tabela 1 são apresentadas as concentrações de 232 Th e de 228Th das amostras coletadas com amostradores individuais de lapela. Os resultados da caracterização das partículas, indicam que a concentração na faixa de 0,5 a 2,5 µm não foi significativa nesta instalação, durante as coletas das amostras. As concentrações de 232Th, na fração respirável determinadas nas amostras coletadas com o ICN e AGF, estão de acordo. Os quatro métodos para derterminação de torônio e radônio foram comparados. O métodos de Tsivoglou e Kusnetz não foram adequados para determinação do torônio, as concentrações de radônio determinadas por estes dois métodos estava abaixo do limite de detecção. As concentrações de torônio, determinadas pelos métodos de Rolle e de dois filtros estavam de acordo. No setor de impregnação a concentração média de torônio foi de 370 mBq/m3 e no setor de costura, estava abaixo do limite de detecção (111 mBq/m3). Em ambos os setores a concentração de radônio estava abaixo do limite de detecção (89 mBq/m3). Comparando-se os resultados das amostras de partículas transportadas pelo ar com os resultados do método para determinação de torônio e radônio, conclui-se que estes resultados estão de acordo. A concentração de urânio , em cada estágio do ICN estava abaixo do limite de detecção do método PIXE, comprovando, portanto, a não contribuição do urânio para a geração de radônio. As concentrações de 232Th no ar indicam que a incorporação via inalação de partículas na faixa de 0,5 a 2,5 µm não é significativa nesta instalação. As concentrações de 232Th nas amostras de fezes de trabalhadores determinados por Dias da Cunha [1] e por Dantas [5] indicam que existe incorporação via ingestão. A ingestão é devido a hábito de comer e beber no local de trabalho, além de hábitos de higiene, como levar a mão a boca durante o trabalho. As concentrações de torônio determinadas neste estudo, estão de acordo com as concentrações de torônio nos pulmões de trabalhadores desta instalação determinadas por Dantas [5]. TABELA 1 Concentração de 232Th e 228Th, na fração respirável das amostras coletadas com amostradores individuais de lapela Concentração (mBq/m3) Etapa Código 232 Impregnação Costura Cl 01 Cl 07 Cl 05 Cl 06 Cl 02 Cl 03 Cl 04 Cl 08 Th <LD <LD 1,2 1,3 2,1 <LD 1,4 <LD 228 Th <LD <LD <LD <LD 1,4 <LD 1,1 <LD IV. CONCLUSÕES Nas diferentes etapas de confecção de camisas para lampiões a gás, as concentrações de tório não são significativas. A maior concentração de 232Th foi 2,1 mBq/m3 e está abaixo de 1/10 do limite derivado para concentração no ar de 232Th para compostos classe W e partículas com AMAD igual a 1 µm. Noentanto, os estudos realizados por Dantas [5] e Dias da Cunha [1] mostram que existe incorporação de tório. Esta incorporação podem ser devido à ingestão de tório, pois os trabalhadores comem e bebem no setor de trabalho e pelo hábito de levar a mão a boca ou pela inalação de partículas menores que 0,64 µm. As concentrações de torônio são significativas, estando de acordo com os dados de concentração de torônio nos pulmões de trabalhadores encontrados na literatura [5]. REFERÊNCIAS [1] Dias da Cunha, Contribuições ao estudo da exposição ocupacional ao tório no Brasil. Tese de doutorado, UFRJ, 1997. [2] Dias da Cunha, Joyce L. Liepsztein, Carlos Barros Leite, Caracterização de aerossóis usando o método PIXE, Anais do III ENAN, vol. 2, 1087-1092. [3] Moura J. J., Caracterização de partículas contendo Th. Estudo de caso: fabricação de camisas de lampião, Tese de Mestrado, Instituto Militar de Engenharia, 1997. [4] Mendonça da Silva, I. C, Determinação da concentração no ar de radônio, torônio e filhos em uma indústria que utiliza o nitrato de tório Tese de Mestrado, Instituto Militar de Engenharia, 1997. [5] Dantas B.M, Proposta e aplicação de uma metodologia para monitoração de trabalhadores ocupacionalmente expostos a 232Th e a seus produtos de decaimento. Tese de Mestrado, UFRJ,1993. ABSTRACT The workers involved in the gas mantel manufacturing are exposure to aerosol containing Th and its decay products. Inhalation of this aerosol can causes serious damage to the worker’s health. In order to evaluate this damage is needed to determine the MMAD, the Th air concentration in the respiration fraction of aerosol and the thoron air concentration. A cascade impactor, a stack filter unit and individual air sampler were used to characterize the airborne particles containing Th. The thoron and radon air concentration were determined using Tsivoglou, Kusnetz, Rolle and Two filters methods. The MMADs were bellow 1 µm and 232 Th air concentration was bellow 2,1 mBq/m3. The thoron air concentration was bellow 3,7 mBq /m3 .