ID: 42879667 19-07-2012 Tiragem: 15000 Pág: 10 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 26,94 x 31,99 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 3 RICARDO GRAÇA Há uma fábrica de aviões em Monte Real BA5 É na região que existe a única base aérea no Mundo autorizada a realizar todo o tipo de trabalhos nos F-16 Miguel Sampaio [email protected] T Dois F-16 rolam na pista da Base Aérea n.º5 (BA5), em Monte Real. Enquanto o par de pilotos se mantém concentrado no comando das suas máquinas hi-tech, há mais de oito centenas de militares que, impassíveis, continuam no seu labor diário, apesar do ruído ensurdecedor e da vibração provocada pelos aviões ao descolar. No fundo, todos trabalham para aquilo, para que aqueles caças estejam sempre disponíveis para policiar o território do País, todos os dias, 24 horas por dia. Há uma equipa, que trabalha em conjunto, para fazer a “ponta da lança” brilhar. “Confiança”. É esta a palavra-chave de todo o funcionamento daquela unidade militar. É que na base faz-se muito, mas mesmo muito mais do que se possa imaginar. “Esta não é uma base onde apenas descolam e aterram aeronaves. A BA5 é uma verdadeira fábrica de aviões”, diz o comandante da base, o coronel piloto-aviador Paulo Mateus. Depois de Portugal ter adquirido os F-16, nos anos de 1990, houve a necessidade de os actualizar, através do MLU – mid life upgrade. “A carcaça da aeronave, que tem uma performance aerodinâmica exemplar, mantém-se, mas tudo o que está lá dentro vai mudando. No fundo, imagine um computador, em que a caixa é a mesma mas passámos de um 286, para um 386 e depois fizemos o update para o 486 e para o Pentium”, explica Paulo Mateus. E Portugal alcançou know how para fazer praticamente tudo nestas aeronaves, não sendo por acaso que a BA5 é a única autorizada pelo fabricante a fazer praticamente todo o tipo de trabalhos nos aparelhos. “É aqui que se transformam aviões, é aqui que estão montadas uma série de capacidades e competências que Portugal, felizmente, conseguiu ganhar e que nos permitem estar ao mais alto nível.” Transformação É na denominada Doca 4 que a actualização MLU é instalada nos F-16. Num programa que arrancou em 2002, já foram entregues 33 aviões, faltando seis da frota que Portugal possui. A este local chega a carcaça e todas as partes do avião são montadas, desde as asas, os equipamentos eléctricos, aviónicos e de comunicações, o canhão, o sistema de combustível, a cadeira de ejecção e a canopy (cobertura do cockpit). Também é aqui que tudo é testado, desde a pressurização, passando pela climatização e oxigénio. “É o único local, além dos Estados Unidos, a fazer este tipo de trabalho”, assegura o capitão Manuel Soares, chefe da Doca 4. “As primeiras aeronaves modificadas na Doca 4 demoraram, em média, 278 dias a estarem prontas. Em 2011, depois da aplicação das técnicas lean à estrutura de modificação de aeronaves, que potenciam os recursos, passámos para os 74 dias”, revela o tenente Coelho. “Fazemos a modificação total das aeronaves. Preparamos completamente o avião até ao voo. Chega-nos a fuselagem e preparamos o avião, instalando tudo o que ele necessita para voar em segurança”, diz Manuel Soares. Motores O motor é a mais importante peça de um avião, sobretudo quando estamos a falar do F-16. No caso desta aeronave, o propulsor tem uma importância extrema para manobrar, para dar energia ao avião a é de lá que é retirado o calor para aquecer o cockpit.. Também neste caso, a BA5 mereceu a confiança do fabricante, a Pratt and Whitney, para executar a manutenção. De 200 em 200 horas de voo, os motores dos F-16 têm de ser inspeccionados e é em Monte Real que 80% desse trabalho é feito. “Somos o único operador do Mundo inteiro que desmonta o motor com esta profundidade. Aqui não há espaço para erros e os mecânicos têm de ser ainda mais especiais.“”, revela o major Carvalho. No entanto, dos cinco módulos em que o sistema é dividido, a base tem autorização para intervir em quatro. “Desmontamos até ao parafuso, inspeccionamos, medimos e voltamos a montar. No quinto, o departamento de estado americano não nos deu autorização, por questões mais politicas do que técnicas”, entende o major Carvalho. “É para o fabricante e os Estados Unidos garan- Os números 860 é o número de militares que trabalham na Base Aérea n.º5, em Monte Real, 30 deles pilotos 80 metros verticais, é a distância percorrida por um tripulante que é ejectado num F-16 tirem onde andam os motores deles. Porque se conseguir mexer em tudo, acabo por ser autónomo. Assim, têm-nos controlados.” Manutenção Antes e depois do voo há sempre inspecções, mas a manutenção programada de um F-16 é realizada de 300 em 300 horas. Depois os fabricantes decidem quando se faz a inspecção e a do canhão, por exemplo, é de 18 em 18 meses. Há dois anos, a inspecção ao F-16 demorava 74 dias. Hoje, não vai além dos 34. “Os aviões comerciais têm quase todos os sistemas em triplicado, mas como este avião é muito pequeno, tem muitos sistemas únicos”, dia o major Carvalho. “Os básicos, como o trem de aterragem, tem de ter, mas a maioria não tem. Isto faz com que a qualidade de construção e de manutenção tenham de ser óptimas.” Aqui, ninguém trabalha sem ID: 42879667 19-07-2012 Tiragem: 15000 Pág: 11 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 16,14 x 36,34 cm² Âmbito: Regional Corte: 2 de 3 O que é um F-16? O F-16 é um caça a jacto monomotor, altamente manobrável, apto a operar em todas as condições. Originalmente concebido e desenvolvido para a Força Aérea dos EUA, o F-16 voou pela primeira vez em 1976 e 14 anos depois Portugal tornou-se no 17.º país a encomendar esta aeronave. RICARDO GRAÇA Todos os trabalhos feitos nos F-16 são efectuados em Monte Real por militares ao serviço daquela base aérea manual. É mesmo obrigatório e os mecânicos não podem decorar passo nenhum, apesar de haver duplicação e triplicação de inspecção, para nada poder correr mal. A reparação dos computadores de bordo, dos radares, dos painéis e das cablagens também é executada na BA5, e no laboratório de metrologia é feita a calibração de 97% dos equipamentos dos aviões. “O gps está rastreado a oito satélites. Temos umas especificações muito boas, pois temos de ser o mais rigorosos possível”, garante o alferes Duarte Maia. Ejecção Pelas mãos do major Brás, na esquadra de armamento e equipamento, passam assuntos bem delicados. Há algo mais sensível do que a cadeira do piloto? Não por ser confortável ou deixar de ser, mas porque é ela que poderá salvar a vida do tri- pulante. “É o último reduto”, diz o oficial. “Somos os responsáveis pela manutenção, inspecção e modificação do sistema de ejecção da aeronave F-16 a um nível que normalmente não é feito numa base aérea.” Este sistema serve para ejectar o tripulante em situação de emergência ou quando o piloto considera que já não tem condições para controlar o avião. Responsabilidade acrescida, até porque “não pode falhar, mas não pode ser testado”. O sistema de ejecção funciona à base de explosivos, “precisos e enérgicos”, porque a acção tem de ser rápida e eficaz. “Quando o sistema é accionado pelo piloto, sai primeiro a canopy e depois a cadeira é ejectada. Até ao momento do pára-quedas abrir pouco ultrapassará os quatro segundos. No historial dos F-16 da BA5 há duas ejecções, ambas efectuadas com sucesso. Orgulho Os aviões desaparecem no céu. O ruído dos motores, trazido pelo vento, persiste. Para os militares, este é um momento tranquilo. Todos sabem que trabalharam para a “ponta da lança”, os 30 pilotos que assumem os comandos daquelas aves de metal, estarem em segurança. Tudo é feito com um profissionalismo e um know how ímpares. “Quando digo a brincar que trabalho na melhor base do mundo e com os melhores profissionais do mundo é um exagero, mas com alguma razão de ser. Portugal, através da Força Aérea, tem na BA5 um enorme motivo de orgulho”, diz o comandante. “As competências, as qualificações, o que se faz e como se faz, com uma mão-de-obra altamente qualificada, são um exemplo para todos. E neste ambiente meio depressivo, em que parece que tudo está mau, este reconhecimento faz bem.” ID: 42879667 19-07-2012 Tiragem: 15000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 20,58 x 13,89 cm² Âmbito: Regional Corte: 3 de 3 RICADO GRAÇA Há uma fábrica de aviões em Monte Real Págs. 10 e 11