O PAPEL DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO SUCESSO DE UMA PEQUENA EMPRESA: O CASO DA RDK MOLAS Lucas Nunes1,Claudinete Salvato Lima2, Roberto Grechi3 ETEP/Departamento de Engenharia Industrial, Av. Barão do Rio Branco, 882, JD. Esplanada, 1 0 Cursando 9 período de engenharia de produção, [email protected] 2 Professora orientadora, [email protected] 3 Coordenador e co-orientador do projeto, [email protected] Resumo - Mudanças constantes e acentuadas na economia obrigaram as micros e pequenas empresas a apresentarem respostas criativas, rápidas e dinâmicas diante das exigências da sociedade atual. A competitividade exige talento e planejamento por parte das MPEs, muito mais do que para as empresas médias e grandes, já que estas são geralmente bem estruturadas, além de possuir facilidades para investimento e modernização. Devido ao ambiente de instabilidades em que se desenvolvem, as pequenas empresas no Brasil encontram grande dificuldade para realizar um planejamento estratégico. Este artigo está baseado na análise de evidências decorrentes da execução das atividades que compõem a elaboração de estratégias na rotina da RDK Molas, uma empresa de pequeno porte. Nesse sentido, o principal objetivo deste trabalho é discutir o papel do planejamento estratégico numa pequena empresa como ferramenta de auxílio no gerenciamento de seus recursos, sustentabilidade e conseqüente manutenção de vantagem competitiva. Palavras-chave: Pequena empresa, Planejamento Estratégico, Sustentabilidade, Vantagem Competitiva. Área do Conhecimento: Engenharia Industrial Introdução O atual cenário econômico tem sido marcado por uma série de transformações tecnológicas e organizacionais no contexto mundial. Novas tecnologias e inovações de produto e de processo contribuem cada vez mais para elevar a competitividade das empresas dos diversos ramos industriais. Estas mudanças constantes e acentuadas na economia obrigaram as micros e pequenas empresas a apresentarem respostas criativas, rápidas e dinâmicas diante das exigências da sociedade atual. A competitividade exige talento e planejamento por parte das MPEs, muito mais do que para as empresas médias e grandes, já que estas são geralmente bem estruturadas além de possuir facilidades para investimento e modernização. Devido ao ambiente de instabilidades em que se desenvolvem, as pequenas empresas no Brasil encontram grande dificuldade para realizar um planejamento estratégico. Além disso, normalmente faltam nestas empresas pessoas capacitadas para exercer tal planejamento. Buchele (1980) chama atenção para o fato de que as limitações de recursos financeiros impossibilitam à pequena empresa competir em várias frentes, e isto reforça a necessidade destas empresas em ter suas ações planejadas. (Apud Terence 2002). Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo discutir o papel do planejamento estratégico numa pequena empresa como ferramenta de auxílio no gerenciamento de seus recursos, sustentabilidade e conseqüente manutenção de vantagem competitiva. Metodologia O planejamento estratégico deve ser visto como uma ferramenta de auxílio para reflexões, análises sobre supostos acontecimentos futuros, propiciando um melhor conhecimento sobre o ambiente no qual a empresa atua. A metodologia utilizada neste trabalho é baseada numa pesquisa exploratória, observacional e dedutiva, lançando mão de ampla revisão bibliográfica, a partir do embasamento teórico de diversos autores além de dados obtidos através da empresa RDK Molas e de publicações na área de planejamento estratégico em pequenas empresas. Este artigo está baseado na análise de evidências decorrentes da execução das atividades que compõem a elaboração de estratégias na rotina de uma organização. Para isto, são utilizadas pesquisas teóricas bem como a coleta de dados e informações necessárias ao desenvolvimento deste estudo. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Resultados Tabela 2- Pontos fracos e deficiências A empresa RDK Molas atua no setor metalmecânico na fabricação de molas de compressão, torção, tração, travas de fixação, argolas, grampos, anéis de retenção, correlatos, máquinas para molas, desbobinadores eletrônicos e retíficas de molas desde 1996. Está localizada numa área 2 de 1800 m na cidade de Igaratá, interior de São Paulo. Para a elaboração do planejamento estratégico foi definida uma equipe principal, composta por responsáveis dos mais diversos setores. Por meio de reuniões, análises de resultados e pelo conhecimento histórico da empresa, foram levantados os principais pontos fortes e deficiências, conforme demonstrados na tabela 1 e 2. O QUÊ? O QUÊ? PONTOS FORTES E EFICIÊNCIAS QUALIDADE PRAZO PREÇO TECNOLOGIA POR QUÊ? Produtos finais conforme especificado Poucas reclamações de clientes Alto índice de satisfação de clientes Atendimento ao cliente eficiente Constantes treinamentos realizados Incentivos a cursos técnicos e superiores Produtos são entregues dentro dos prazos estabelecidos Flexibilidade na solicitação de entrega de produtos Fornecedores entregam no prazo Fidelidade dos clientes justifica os bons preços praticados Máquinas, ferramentas e dispositivos são de fabricação própria. Fornecedores praticam bons preços Capacidade técnica no desenvolvimento de novos produtos Capacidade de fabricação de novos dispositivos Capacidade de alteração de projetos Desenvolvimento de novas máquinas PONTOS FRACOS E DEFICIÊNCIAS Tabela 1- Pontos fortes e eficiências PLANEJAMENTO COMERCIAL PRODUÇÃO CUSTOS TECNOLOGIA POR QUÊ? Ausência de planejamento financeiro Ausência de planejamento estratégico Ausência de controle formal da produção Sugestões de melhorias não são efetivamente concretizadas Ausência de feedback dos orçamentos gerados Ausência de novos clientes Ociosidade de produção alta em alguns grupos de máquina Ausência de políticas de marketing Capacidade limitada de alguns setores Ferramental defasado em algumas máquinas Logística ineficiente de materiais Ausência de sistemática de custos (indicadores, controle, ações) Ausência de política de redução de custos Ausência de sistema integrado de informações Deficiências de novas tecnologias na transformação de arames. Foram também realizadas análises externas do mercado. Em 2008 foi realizada uma visita a uma feira internacional de tecnologias de transformação de arames na Alemanha pelos dois sócios e durante o início do ano de 2009 o Gerente Comercial realizou diversas visitas aos principais clientes, bem como têm estudado índices econômicos de vários setores, projeções para curto e longo prazo. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Após o estabelecimento das metas é necessário definir, dentre as metas, quais devem ter prioridades e pesos maiores. A tabela 3 apresenta o detalhamento das metas de cada setor, acompanhadas pelas respectivas propostas de planos de ação, na ordem das prioridades competitivas estabelecidas pela equipe principal. Tabela 3: Metas e Planos de Ação Metas- Comercial Aumentar a área de atuação da empresa. Fornecer produtos para no mínimo mais dois setores da economia. Aumentar a taxa de ocupação das máquinas para 75%. Implementar processo de marketing da empresa, tornando-a mais conhecida. Dividir o faturamento entre setores estratégicos. Procurar manter no máximo 30% do faturamento por setor. Metas - Produção Aumentar a eficiência produtiva. Metas Planejamento Assegurar que haja uma sistemática de planejamento financeiro. Assegurar que novas idéias sejam planejadas, executadas e controladas. Metas - Custos Desenvolver Planos de Ação Realizar pesquisa dos setores com abertura de mercado; Realizar pesquisas econômicas e financeiras; Desenvolver representantes comerciais em regiões estratégicas. Desenvolver novos produtos para grupos de máquinas com ociosidade de produção. Participar de no mínimo duas feiras ligadas à área de negócio; Promover a divulgação da empresa através de revistas, Internet e feiras. Controlar o faturamento por setor; Quando necessário desenvolver novos produtos em setores com faturamento baixo. Planos de Ação Desenvolvimento de novos ferramentais; Padronização do tempo de preparação das máquinas; Melhoria no sistema logístico dos produtos em processo. Planos de Ação Através de um sistema informatizado de planejamento financeiro. Criação de sistemática de efetivação de novas idéias. Planos de Ação Estudo dos custos gerais da sistemática de controle de custos Reduzir custos operacionais em 15% Metas Tecnologias Informatizar e integrar toda a cadeia produtiva Desenvolver novas tecnologias em dispositivos e comandos eletrônicos para as máquinas empresa; Criação de sistemática de controle de custos. Melhoria no layout dos processos; Diminuir desperdícios; Eliminar retrabalhos; Aquisição Just in time para algumas matérias-primas; Desenvolver novas embalagens; Diminuir despesas com transporte; Diminuir processos manuais; Diminuir estoques. Planos de Ação Adquirir e implantar sistema informatizado de gestão integrado. Treinamento dos funcionários; Participação em feiras nacionais e internacionais; Adquirir novas tecnologias de terceiros; Investimento em pesquisa. Discussão Através de entrevistas com os participantes da equipe envolvida no planejamento estratégico, foi possível identificar características estratégicas analíticas na empresa RDK Molas, apesar de também apresentar características defensivas, tais como manter uma linha de produtos e serviços relativamente estáveis e os gestores serem altamente especialistas em sua área de atuação. Em relação às características analíticas é possível identificar que a empresa garante parcela do mercado oferecendo produtos com qualidade, cumprimento de prazos e bons preços. Constata-se que a empresa desenvolve uma quantidade expressiva de produtos ao ano e desde 2008 tem tentado adicionar novos produtos de outros setores e com alto nível de exigência, característica também analítica. É possível observar ainda flexibilidade nas ações e na tomada de decisões, sendo que os responsáveis pelos setores têm certa liberdade para tomar certas decisões. Conclusão O estudo realizado teve como principal objetivo mostrar que pequenas empresas podem conseguir estabelecer, de forma prática, um processo de planejamento estratégico, ou mais simplesmente, XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 uma forma de se garantir, num ambiente cheio de competitividade, incertezas, de dificuldades e entraves das mais diversas formas. Sabe-se que as pequenas empresas sofrem demasiadamente e encerram suas atividades por problemas financeiros, econômicos e tributários, entretanto muitas vezes esses problemas são acarretados por falhas na administração e gerenciamento. Com certeza existem dificuldades externas, como a atual crise econômica, fatores que não dependem do gerenciamento da empresa, mas são fatores que devem ser encarados como oportunidades e desafios. Sem planejamento nenhuma empresa conseguirá um crescimento sustentável e rentável nesses novos cenários econômicos que surgem diariamente. Sempre há uma meta maior a ser alcançada, um novo problema a ser resolvido, uma nova tecnologia a ser adquirida, um novo treinamento a ser realizado, ou seja, sempre há o que se melhorar. É a constância de propósito que define a idéia principal da melhoria contínua. . Referências - PRAHALAD, C. K. Estratégia empresarial in Pergunte ao guru. www.intermanagers.com, Acesso em 20 maio. 2009. - PORTER, M. E. Competitive strategy. New York: Free Press, 1980. - PORTER, M. E. Competição – on competition: estratégias competitivas essenciais, Rio de Janeiro: Câmpus, 1999. - SEBRAE. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Pesquisa a base de dados, Disponível em http:/www.sebrae.com.br, acesso em 24 abr. 2002. - RUGMAN, A. M.; VERBEKE, A. Does competitive strategy work for small business? Journal of Small Business and Entrepreneurship, v. 5, n. 3, p.45-50, 1987. -TERENCE, A. C. F., ESCRIVÃO, E.,. As Particularidades das Pequenas Empresas no Planejamento Estratégico: A Elaboração de um Roteiro Prático. Anais do II Encontro de Estudos Sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas – EGEPE, p. 592-602, 2001. -CONANT, J. S.; MOKWA, M. P.; VARADARAJAN, P. R. Strategic types, distinctive marketing competencies and organisational performance : a multiple measures-based study. Strategic Management Journal, v. 11, p. 365-383, 1990. - DOLABELA, F. - O Segredo de Luísa. São Paulo: Cultura Editores Associados. 1999. - DAVIG, W. Business strategies in smaller manufacturing firms. Journal of Small Business Management, v. 24, n. 1, p. 38-46, 1986. - HAMBRICK, D. C. Some tests of the effectiveness and functional attributes of Miles and Snow’s strategic types. Academy of Management Journal, v. 26, n. 1, p. 05-26, 1983. - MILES, R. E.; SNOW, C. C. Organizational strategy, structure, and process. New York: Mc Graw-Hill, pp.3-30, 1978. - MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. O Processo de Estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2001. - PARNELL, J. A.; WRIGHT, P. Generic strategy and performance: an empirical test of the Miles and Snow typology. British Journal of Management, v. 4, n.1, p. 29-36, 1993. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4