ANAIS
COMO MENSURAR O SISTEMA INOVATIVO DE UMA PEQUENA EMPRESA
DE BASE TECNOLÓGICA?
BRUNA CARVALHO DA SILVA ( [email protected] )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
MARIANA RODRIGUES DE ALMEIDA ( [email protected] )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Resumo
O objetivo deste estudo é formular um procedimento para a mensuração de um sistema
inovativo e apresentar os principais indicadores e métodos sugeridos pela literatura,
desenhando, assim, um marco teórico que facilita a compreensão, análise e mensuração do
processo de desenvolvimento da inovação em pequenas empresas de base tecnológica.
Realizou-se uma sistematização do estado da arte, considerando a evolução do conceito de
inovação e sua adequação ao contexto atual das empresas. Como resultado, foi proposto um
quadro conceitual que apresenta os procedimentos necessários para mensurar um sistema
inovativo. Esta pesquisa é uma contribuição para futuros estudos na área, fornecendo
feedbacks para orientar as políticas públicas de fomento e financiamento a pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, podendo também, subsidiar às pequenas empresas no
aprimoramento dos seus processos inovativos internos.
Palavras-chave: Inovação tecnológica. Sistema inovativo. Procedimento de mensuração.
Pequena empresa de Base Tecnológica.
1. Introdução
A globalização, mediante a internacionalização dos mercados, intensificou a
concorrência entre empresas, elevando a necessidade de novos produtos e serviços
caracterizados por operações de baixo custo, tempo rápido de resposta, confiabilidade de
entrega e flexibilidade. Nesse ambiente dinâmico, a inovação tecnológica é considerada como
um fator estratégico potencial para o aumento da competitividade, criação de novos e
melhores empregos, melhoria da produtividade e, consequentemente, aumento das receitas
das organizações empresariais, responsáveis por financiar uma parcela dos avanços
tecnológicos, econômicos e sociais das nações.
As empresas de alta tecnologia têm sido reconhecidas como fonte de vantagem
competitiva, visto que, efetivamente, exploram oportunidades de mercado, desempenhando
um papel central na economia. Dessa maneira, faz-se necessário medir e avaliar a mudança
tecnológica resultante dos sistemas inovativos desse grupo de empresas a fim de aumentar o
conhecimento sobre as forças motrizes e as consequências socioeconômicas da inovação.
Embora a inovação seja um processo dinâmico e multidimensional, contextualizado
em termos de ideias, aprendizagem, criação de conhecimento, competências e, inerentemente,
difícil de quantificar e mensurar, alguns dos seus aspectos podem ser estudados em termos de
indicadores de processos e outputs (SMITH, 2005).
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Neste contexto, o objetivo geral do presente estudo é formular um procedimento para a
mensuração de um sistema inovativo e apresentar os principais indicadores e métodos
sugeridos pela literatura desenhando um quadro conceitual que facilite a compreensão, análise
e mensuração do processo de desenvolvimento de uma inovação em pequenas empresas de
base tecnológica.
O trabalho inclui a evolução dos conceitos de inovação, além dos tipos de inovação
tecnológica referenciados na literatura; em seguida, são caracterizadas as pequenas empresas
de base tecnológica, enfatizando o ciclo de vida e barreiras às inovações. Na sequência se
propõe um quadro conceitual para a mensuração dos sistemas inovativos, sendo especificados
os principais indicadores e métodos utilizados para capturar os resultados em um processo de
desenvolvimento de uma inovação. Finalmente, são apresentadas as conclusões do estudo.
2. Inovação Tecnológica
A inovação tecnológica abrange a busca por soluções a problemas tecnológicos,
tipicamente desestruturados, de maneira que a informação disponível não fornece uma
alternativa praticável (DOSI, 1988). Por sua vez, essas soluções inovativas contribuem para o
surgimento de descobertas e criações, envolvendo experiências anteriores, conhecimento
formal e capacitações específicas.
Delimitada pelos conceitos de ciência e tecnologia, a inovação pode ser visualizada
como uma resposta tecnológica a uma demanda de mercado (CARAYANNIS; ROY, 2000).
Segundo Matias-Pereira e Kruglianskas (2005, p. 3), a “inovação tecnológica deve ser
resultado de um ambiente que produz ciência de ponta e influencia direta e indiretamente o
setor produtivo, especialmente por meio dos setores de pesquisa e desenvolvimento gerados
no bojo das empresas”.
Nesse sentido, a origem de uma inovação, envolve, primariamente, a geração de
muitas invenções relacionadas entre si. Entretanto, quando a solução de um enigma científico
básico permanece no ambiente do laboratório, esta não proporciona nenhuma contribuição
econômica direta, ou seja, uma descoberta que não explora os limites além dos laboratórios
não é uma inovação. Uma inovação inclui não só a pesquisa básica e aplicada, mas também, o
desenvolvimento, a manufatura, o marketing, a distribuição, a manutenção, e mais tarde a
adaptação e atualização de produtos (SMITH; BARFIELD, 1996).
Alguns economistas (SCHUMPETER, 1911; 1927; SOLOW, 1957; NELSON;
WINTER, 1974; PAVITT, 1984; DOSI, 1988) se propuseram a explicar o crescimento
econômico, fazendo da inovação tecnológica o cerne dos fenômenos econômicos essenciais
(FREEMAN et al., 1997). Isto tem desencadeado vários estudos teóricos e empíricos, que,
ascendentemente vêm fornecendo novas alternativas para o tratamento da inovação e do
progresso técnico. Desde modo, a inovação tecnológica pode ter sua estrutura conceitual
baseada em quatro diferentes correntes de pensamento: (a) visão schumpeteriana
(SCHUMPETER, 1911; 1927); (b) teoria neoclássica (SOLOW, 1957); (c) teoria
evolucionária (NELSON; WINTER, 1974); e, (d) visão neo-schumpeterina (FREEMAN et
al., 1997; DOSI, 1988).
Em termos gerais, ao longo da evolução dessas correntes de pensamento, o conceito
geral de inovação tecnológica foi incorporando novos e diferentes conhecimentos, ainda que,
seus princípios básicos sejam comuns na maioria das definições. A Tabela 1 oferece um
resumo de diversas explanações para inovação a partir da visão dos autores supracitados.
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Inovação Tecnológica
Autores
Conceito
As inovações são mudanças nas combinações dos fatores de
produção, que consistem, principalmente, em mudanças nos
Schumpeter (1927, p. 295)
métodos de produção e transporte, ou em mudanças na organização
industrial, ou na produção de novas fontes de materiais.
As inovações são mudanças nas regras de decisão existentes.
Nelson e Winter (1974, p. 894)
A inovação é definida como um produto ou processo de produção
Pavitt (1984, p. 344)
novo ou melhorado, comercializado ou utilizado em um país, quer
tinha sido desenvolvido primeiro nesse país ou em outro.
Uma inovação é realizada apenas com a primeira transação
Freeman et al. (1997)
comercial envolvendo um novo produto ou processo.
Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço)
novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um
OCDE (2005, p. 55)
novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas
práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas
relações externas.
Tabela 1 - Evolução dos conceitos de inovação tecnológica.
A intensificação da concorrência expôs o processo de inovação a influências
significativas, alterando a natureza e os cenários existentes. As empresas, nesse novo
panorama, implementaram uma diversidade de novas práticas com a finalidade de melhorar o
desempenho e aumentar o retorno econômico. Diante deste cenário, um conjunto maior de
tipos de inovação foi possível, contemplando as dimensões: (a) inovação em produto; (b)
inovação em processo; (c) inovação em marketing; e (d) inovação organizacional.
No primórdio das discussões sobre inovação, Schumpeter (1911) já assumia um amplo
conjunto de variações para as manifestações de novas realizações, englobando os cinco casos
seguintes: (1) introdução de um novo bem; (2) introdução de um novo método de produção;
(3) abertura de um novo mercado; (4) conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de
bens semimanufaturados; e, (5) estabelecimento de uma nova organização de qualquer
indústria. Percebe-se com isso, que os tipos de inovação estão gradativamente evoluindo,
acompanhando tanto as tecnologias demandadas pelo mercado quanto aquelas empurradas
para o mercado.
Desse modo, a inovação passa a ser compreendida como um processo de natureza
interativa envolvendo duas importantes abordagens: (1) o desenvolvimento tecnológico
de uma invenção, combinado com a introdução no mercado aos usuários finais por meio de
difusão e adoção; e, (2) o processo de inovação incluindo, automaticamente, a primeira
introdução de uma inovação e a reintrodução de uma inovação melhorada.
A capacidade de inovar está atrelada ao surgimento de uma mudança de paradigma na
ciência, tecnologia e/ou na estrutura de mercado de uma indústria, ou à influência da inovação
nos recursos tecnológicos, marketing, habilidades, conhecimentos, ou estratégias existentes na
empresa. No entanto, vale enfatizar a existência de algumas limitações associadas às
atividades inovativas de empresas privadas, particularmente, as de pequeno porte, como a
falta de recursos de capital e a incidência de elevada incerteza no desenvolvimento e
comercialização da inovação.
Frente a esses tipos de limitações e a contribuição das pequenas empresas de base
tecnológica a atividade inovativa, faz-se necessário analisar a dinâmica dos sistemas de
inovação desse grupo de empresas, objetivando respaldar futuros estudos na área, bem como
fornecer feedbacks na tomada de decisões, no que concerne as políticas públicas de
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financiamento e/ou fomento de subsídios financeiros as atividades de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) no setor privado.
3. Pequena Empresa de Base Tecnológica (PEBT)
As pequenas empresas de base tecnológica são conceituadas como aquelas que
“dispõem de competência rara ou exclusiva em termos de produtos e processos, viáveis
comercialmente, que incorporam grau elevado de conhecimento científico” (FERRO et al.,
1988). Sendo assim, são responsáveis por investir 5% ou mais de suas receitas de vendas
anuais em P&D (BALKIN; GOMEZ-MEJIA, 1987), destacando-se por serem,
predominantemente, empresas jovens. Normalmente, originam-se em circunstâncias de
crescimento altamente restrito, devido ao foco em um único produto e ao caráter de nicho de
mercado (HOFFMAN et al., 1998)..
A literatura apresenta uma variedade de terminologias para circunscrever esse objeto
de estudo, as quais podem ser demarcadas por alguns autores, como: (1) pequenas empresas
de alta tecnologia - high technology small firms (O’REGAN; SIMS, 2008); (2) empresas
baseadas em novas tecnologias – new technology-based firms – NTBFs (HOFFMAN et al.,
1998); (3) empresas emergentes de alta tecnologia – high-technology Start-Ups (KOGA,
2005); e, (4) pequenas empresas inovativas – Small Innovative Companies (ACS;
AUDRETSCH, 1988).
Ao longo das últimas décadas, as empresas de alta tecnologia têm sido reconhecidas
como fonte de vantagens competitivas, visto que, efetivamente, exploram oportunidades de
mercado, desempenhando um papel central na economia, pela criação de empregos
(O’REGAN E SIMS, 2008). No Japão, as Start-Ups de alta tecnologia são esperadas para
revitalizar a economia japonesa pelo estímulo à inovação, criação de novos mercados, e
aumento da renda nacional (KOGA, 2005, p. 54). Em uma realidade de países em
desenvolvimento, estas empresas têm uma grande representatividade na economia, como no
caso de Israel, onde 75% do PNB (Produto Nacional Bruto) de 2000 teve origem nas
pequenas empresas de base tecnológica (CHOREV; ANDERSON, 2008).
Com frequência, as empresas de alta tecnologia estão presentes nos setores de
eletrônica, telecomunicações, aeroespacial, biotecnologia, medicamentos e tecnologia da
informação (MILKOVICH et al., 1990). No Brasil, atuam nos setores de informática,
biotecnologia, robótica e novos materiais (FERRO et al., 1988).
Geralmente, embora em setores distintos, as empresas high-tech apresentam algumas
características em comum, entre elas: (1) apresentam ciclo de vida dos produtos mais curto
quando compradas com empresas tradicionais; (2) são lideradas por empresários que obtém
apoio financeiro de investidores de risco (venture capitalists), os quais, na maioria das vezes,
detêm uma parte da empresa; (3) possuem investimentos significativos em P&D focados,
principalmente, em produtos na vanguarda da tecnologia (BALKIN; GOMEZ-MEJIA, 1987);
e, (4) tendem a ter funcionários que são altamente qualificados, disponibilizando grande
proporção de seus ativos em capital intelectual humano, não possuindo, assim, grandes
investimentos
de
capital intensivo,
como
em
empresas tradicionais;
(MILKOVICH et al., 1990).
Apesar das empresas de alta tecnologia possuir algumas características específicas, os
limites entre estas e aquelas de baixa tecnologia são muitas vezes confusos. Com o propósito
de explorar as categorias existentes para classificar empresas como de alta ou baixa
tecnologia, O’Regan e Sims (2008) propõem uma abordagem baseada em critérios de inputs e
outputs; assim, na perspectiva dos inputs, a essência de empresas high-tech pode ser capturada
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pelos fatores: (1) grau de ênfase ou investimento em P&D; (2) inovação; (3) criatividade; e,
(4) capacidades; enquanto na perspectiva dos outputs, são considerados importantes para a
mensuração do desempenho desse grupo de empresas, critérios como: (1) lucratividade; (2)
crescimento; e (3) patentes.
Para o nascimento e desenvolvimento das pequenas empresas tecnológicas algumas
condições ambientais são necessárias. Segundo Ferro et al. (1988), estas condições
compreendem uma política estatal favorável, podendo ou não fornecer formas de subsídios e
apoio, mão de obra altamente qualificada e uma economia suficientemente desenvolvida para
absorver produtos tecnologicamente avançados. Essas empresas dependem de relações com
universidades, empresas públicas ou privadas, institutos de pesquisa e desenvolvimento, entre
outros, sendo o processo de criação classificado em três formas “ideais”, embora a realidade
seja muito mais rica e complexa: (1) spin-offs; (2) empresas geradas ou estimuladas por
grandes empresas; e, (3) empresas criadas por pessoas ligadas a universidade ou a instituições
de pesquisa.
Por outro lado, o processo de criação de empresas de alta tecnologia está sujeito a
diversos obstáculos, os quais incluem: (1) deficiências de recursos financeiros; (2) falta de
habilidades específicas dos recursos humanos (FERRO et al., 1988); (3) custos fixos elevados
(BALKIN; GOMEZ-MEJIA, 1987; MILKOVICH et al., 1990); (4) elevadas taxas de
mudança tecnológica; (5) dependência por inovações radicais para se estabelecerem em
determinados setores industriais; (6) exposição a ambientes de incerteza, que requerem uma
maior disposição para assumir riscos; e, (7) altas taxas de mortalidade (BALKIN; GOMEZMEJIA, 1987).
Alguns autores (Hadjimanolis, 1999; Galia e Legros, 2004; Madrid-Guijarro et al.,
2009) analisaram as principais barreiras à inovação, que, em um nível macro, podem ser
caracterizadas em seis grandes categorias: (1) informacional - falta de informações sobre
tecnologia; falta de informação sobre mercado; e, falta de conhecimento básico de negócios;
(2) financeira - custo elevado da inovação; acesso difícil a fontes de financiamento externo; e
riscos excessivos; (3) governo - burocracia governamental; falta de oportunidade de parcerias
com instituições de pesquisa; e, falta de assistência do governo; (4) organizacional - fraquezas
nas habilidades gerenciais e falta de infraestrutura; (5) mercado - falta de demanda para a
inovação; e, (6) recursos humanos - falta de pessoal qualificado.
Neste contexto, a fim de encorajar o desenvolvimento de empresas de alta tecnologia e
diminuir as altas taxas de mortalidade das quais são vítimas, têm-se sugerido ações ativas do
governo e de agências de desenvolvimento (O’REGAN; SIMS, 2008). Todavia, tais ações
devem focar nas necessidades específicas dos diferentes estágios do ciclo de vida dessas
empresas. Normalmente, um modelo sequencial de desenvolvimento para tecnologias
nascentes apresenta-se sob uma natureza de multiestágios, a qual pode variar entre três a dez
estágios (Lester et al., 2003). Scott e Bruce (1987) e Auerswald e Branscomb (2003)
corroboram que o modelo de crescimento para pequena empresa engloba cinco estágios
distintos: (1) pesquisa básica; (2) ideia / invenção; (3) estágio inicial do desenvolvimento
tecnológico - EIDT; (4) desenvolvimento do produto; e, (5) produção / marketing – e, que, ao
longo do processo, diferentes fundos de financiamento são necessários para converter os
resultados da pesquisa básica em produtos comerciais de sucesso.
Em síntese, o processo de desenvolvimento de uma inovação em uma PEBT implica
geração, difusão e utilização de tecnologias (artefatos físicos, know-how técnico) que possuem
valor econômico em diferentes esferas. Dessa forma, para compreender o papel relevante que
esse grupo de empresas representa no estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias, e
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consequentemente da economia, é importante mensurar o sistema inovativo dessas empresas,
considerando uma variedade de combinações de medidas e os diferentes estágios que
constituem o modelo de crescimento de uma inovação.
4. Mensurando a Inovação nas PEBT’s
Diante do interesse da política pública em promover a atividade inovativa, estimular o
crescimento econômico e a empregabilidade há, claramente, uma crescente necessidade
de medir e avaliar a mudança tecnológica para aumentar o conhecimento sobre as forças
motrizes e as consequências socioeconômicas da inovação (KLEINKNECHT et al., 2002).
A inovação se caracteriza por ser um processo dinâmico e multidimensional,
contextualizado em termos de ideias, aprendizagem, criação de conhecimento, competências e
capacidades, sendo algumas vezes sugerido como inerentemente impossível de quantificar e
mensurar, embora, não se exclua a medição das dimensões-chave dos processos e outputs
(SMITH, 2005). Assim, mensurar a mudança tecnológica envolve, tipicamente, um dos três
principais aspectos: (1) mensurar uma variável de entrada; (2) uma variável de
saída intermediária; ou, (3) uma medida direta da produção inovativa (ACS et al., 2002).
Outros autores (ARCHIBUGI; PIANTA, 1996) sugerem que a inovação pode ser
analisada, classificada e mensurada por meio várias perspectivas: (1) quanto à tecnologia –
características técnicas da inovação; (2) quanto ao produto – natureza do produto na qual a
inovação é provável de ser incorporada; (3) quanto ao setor de produção – principal atividade
econômica da empresa que gerou a inovação; e, (4) quanto ao setor de uso – principal
atividade econômica dos usuários da inovação.
Geralmente, a quantificação do desempenho inovativo é representada por um processo
do tipo input-transformação-output, no qual a combinação de fatores produtivos de entrada
resulta em saídas inovativas (SMITH, 2005).
Guan e Chen (2010) propõem uma perspectiva ampla para mensurar a inovação,
incorporando tanto medidas relacionadas ao processo global quanto aquelas em termos de
subprocessos internos, ou seja, os processos de P&D a montante e o processo de
comercialização a jusante. Esses autores consideram que inputs originais, acarretam em
outputs intermediários que geram os resultados finais. A execução desse processo de
transformação é suportada por atividades primárias – pesquisa, desenvolvimento e testes –
destinadas à produção dos outputs intermediários e, atividades secundárias – marketing,
manufatura e engenharia – empreendidas no subprocesso de comercialização.
Normalmente, os principais indicadores de entrada e saída apresentados pela literatura
para mensuração da inovação envolvem os recursos destinados a P&D e estatísticas de
patentes (BASBERG, 1987; ANCHIBUGI; PIANTA, 1996; SMITH, 2005; OCDE, 2005).
Apesar da relevância dessas variáveis, foram verificadas a existência de algumas
desvantagens que podem sub- ou sobreestimar o desempenho inovativo das empresas
(KLEINKNECHT et al., 2002).
Em primeiro lugar, as medições de despesas com P&D não mostram a eficiência do
processo pelo qual os insumos são transformados em outputs intermediários ou em produtos
inovadores, também, não expõem a importância quantitativa ou econômica das inovações
produzidas, nem indicam o nível de complexidade tecnológica dos produtos resultantes
(COOMBS et al., 1996).
As estatísticas de patentes, mesmo estando disponíveis ao público em grandes
números e a baixo custo (ANCHIBUGI; PIANTA, 1996), não são bons indicadores do valor
econômico (Acs et al., 2002), já que, uma proporção de patentes nunca será traduzida em
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produtos, processos e/ou serviços comercialmente viáveis (BASBERG, 1987; COOMBS et
al., 1996); algumas invenções e inovações não são patenteáveis (OCDE, 2005); e,
estrategicamente, algumas empresas não comercializam a patente, para impedir que um
concorrente possa usá-la (KLEINKNECHT et al., 2002).
Esses indicadores tendem a ser ainda mais subestimados, especialmente, nas micro e
pequenas empresas em estágio inicial de desenvolvimento, em que a presença de diferentes
barreiras e a falta de padronização e formalização, muitas vezes, limita as atividades durante o
processo de desenvolvimento inovativo. De acordo com O’Regan e Sims (2008), à medida
que esse grupo de empresas amadurece o número de registros de patentes e despesas com
P&D irá aumentar.
Em pesquisa realizada nas Start-Ups de alta tecnologia japonesas, Koga (2005)
confirma esse fato, considerando que empresas em estágios iniciais de desenvolvimento,
nomeadas de “recém-nascidas”, possuem restrições orçamentárias, não são tão propensas a
receber subsídios e, mesmo que, obtendo fundos de fontes externas, não apresentam forte
incentivo para a realização adicional de P&D, podendo, assim, ser incentivada a utilizar esses
fundos para outros fins. Em contrapartida, as empresas que estão em fase de crescimento,
denominadas como “empresas jovens”, têm forte demanda por fundos para P&D, isto porque,
a P&D é reconhecida como fonte de vantagem competitiva e, portanto, de crescimento.
Em virtude dos problemas existentes com o uso dos indicadores tradicionais, muitos
pesquisadores estão sugerindo a utilização de indicadores múltiplos (EVANGELISTA et al.,
2001; HAGEDOORN et al., 2003; FLOR; OLTRA, 2004; GUAN; CHEN, 2010) para
quantificar o desempenho tecnológico, uma vez que estes indicadores vêm a atender
ambientes dinâmicos e mais complexos.
Nesses ambientes, como nos tradicionais, os processos estão transformando,
normalmente, inputs, incluindo as ações, métodos e operações, em outputs. Porém,
especialmente, durante os estágios de crescimento da inovação, devido à complexidade,
incerteza e à falta de linearidade, uma variedade maior de processos ocorre, resultando em
uma multiplicidade de interações e, logo, na existência de inputs e outputs intermediários.
Para atender a uma demanda puxada ou empurrada decorrente de forças do mercado
(DOSI, 1988), o processo de desenvolvimento tecnológico irá demandar a mobilização de
vários tipos de conhecimentos tecnológicos e científicos, mas também, a formação de
relacionamentos com clientes, fornecedores, institutos de pesquisa, universidades e
associações de indústrias. No entanto, ao transitarem através dos vários estágios de
crescimento, as empresas passam a lidar com diferentes obstáculos, resultando na necessidade
de competências gerenciais, prioridades e configurações estruturais específicas (HANKS et
al., 1993).
Desse modo, os processos e subprocessos nos estágios de desenvolvimento da
inovação em pequenas empresas, estarão expostos a uma diversidade de limitações,
principalmente, no que remete a recursos financeiros. Auerswald e Branscomb (2003)
afirmam que para superar esta barreira as empresas devem ser estimuladas por diferentes
agentes, incluindo: (1) investidores “anjo”; (2) empresas estabelecidas que investem em startups de alta tecnologia; (3) empresas de venture capital; e, (4) programas governamentais
especificamente concebidos para este fim.
Assim sendo, considerando que para desenvolver uma inovação, o sistema requer
processos e subprocessos interconectados, relacionamentos ou parcerias com uma variedade
de entidades e auxílio financeiro de diferentes agentes externos, uma releitura dessa rede
complexa de processos para promover as atividades inovativas se faz necessária. A Figura 1
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expressa uma proposta de leitura da complexa rede dos processos de desenvolvimento da
inovação.
COLABORAÇÕES
MANUFATURA
ESTÁGIO INICIAL DE
DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO
Universidade
ATIVIDADES
SECUNDÁRIAS
Centro de Pesquisa
PESQUISA
BÁSICA
ENGENHARIA
DESENVOLVIMENTO
DO PRODUTO
INVENÇÃO
PRODUÇÃO
E
MARKETING
COLABORAÇÕES
FONTES DE
FINANCIAMENTO
Cliente
Empresa
TREINAMENTO
Fornecedor
Governo
P&D
DESIGN
Empresa
ATIVIDADES
PRIMÁRIAS
PESQUISA DE
MERCADO
Investidores Anjos
Áreas
de
particular
interesse de entidades
externas e agentes de
financiamento.
PROTOTIPAGEM
PREPRODUÇÃO
Venture Capital
Figura 1 - Leitura da complexa rede dos processos de desenvolvimento da inovação.
Para mensurar esse sistema serão necessários, além de considerar, múltiplos
indicadores, fragmentá-los de acordo com os diferentes estágios que constituem o modelo de
crescimento de uma inovação. Lev (2001) ressalta que a inovação inclui, tipicamente, três
estágios interconectados: (1) estágio de aprendizagem e descoberta – centra-se na geração e
aquisição de conhecimentos e habilidade (fase de pesquisa); (2) estágio de implementação –
demonstra a viabilidade técnica (fase de desenvolvimento) e, (3) estágio de comercialização –
promove a difusão do produto e facilita o retorno financeiro e econômico. Corroborando com
este autor, Guan e Chen (2010; 2012) avaliam o processo global de inovação como a
interação dos subprocessos de P&D a montante e comercialização a jusante, envolvidos,
respectivamente, com atividades primárias e secundárias.
Na passagem de um estágio para outro, os outputs de diferentes fases tornam-se inputs
de outras. Dessa maneira, os indicadores podem ser segmentados em: (1) inputs originais tangíveis ou intangíveis; (2) inputs intermediários; (3) outputs intermediários; (4) outputs
finais; (5) outcomes; e, (6) capital inovativo.
Sustentados nos trabalhos de Lev (2001), Evangelista et al. (2001), Hagedoorn et al.
(2003), Auerswald e Branscomb (2003), Flor e Oltra (2004), Milbergs e Vonortas (2004),
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Milbergs et al. (2007) e Guan e Chen (2010; 2012), na Figura 2, propõe-se um quadro
conceitual envolvendo os estágios de transformação, as atividades de apoio e os indicadores
de entrada e saída originais e intermediários, na tentativa de elucidar o inter-relacionamento
entre as partes envolvidas no sistema, quando o propósito for mensurar um processo típico de
produção de uma inovação.
INPUT INTERMEDIÁRIO
INPUT
TANGÍVEL
PESQUISA
BÁSICA
OUTPUT INTERMEDIÁRIO
DESENVOLVIMENTO
DO PRODUTO
EIDT*
INVENÇÃO
OUTPUT
FINAL
Mensuração e Feedback (2)
INPUT
INTANGÍVEL
PRODUÇÃO
E
MARKETING
CAPITAL
INNOVATIVO
Mensuração
e Feedback (3)
OUTCOME
Mensuração e Feedback (1)
TREINAMENTO
P&D
DESIGN
ATIVIDADES
PRIMÁRIAS
ATIVIDADES
SECUNDÁRIAS
PESQUISA DE
MERCADO
PROTOTIPAGEM
PREPRODUÇÃO
MANUFATURA
Sub-processo P&D (2)
ENGENHARIA
Sub-processo
COMERCIALIZAÇÃO (3)
PROCESSO GLOBAL DE INOVAÇÃO (1)
* Estágio inicial de desenvolvimento tecnológico.
Figura 2 - Quadro conceitual para o processo global de inovação.
Com base na Figura 2, observa-se que, para mensurar um sistema inovativo é
necessário contemplar os diferentes estágios do processo de desenvolvimento de uma
inovação; as variáveis de entrada e saída associadas a cada estágio e as atividades de apoio
para auxiliar na concretização do escopo de cada fase. Dessa forma, dependendo do objetivo e
objeto de estudo, esse processo pode ser orientado tanto para o nível global (macro –
sinalizadas pelas linhas tracejadas (1)), levando em consideração todas as interfaces do
sistema, quanto para subníveis, nesse caso, denominados por subprocessos, os quais
compreendem, na pesquisa e desenvolvimento (ilustradas pelas linhas tracejadas (2)), os
estágios de pesquisa básica, invenção, estágio inicial de desenvolvimento tecnológico e
desenvolvimento de produto e, na comercialização (identificadas pelas linhas tracejadas (3)),
o estágio de produção e marketing.
Ressalta-se, ainda, que a mensuração do processo global terá indicadores de entrada
tangíveis ou intangíveis, uma sequência de outputs e inputs do processo seguinte (outputs
intermediários) e recursos de saída que podem ser representados como outputs finais (um
novo/melhorado produto, processo e/ou serviço), além dos outcomes (valor adicionado, lucro
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– resultados econômicos) e capital inovativo (propriedade intelectual, competências, capital
humano) gerados a partir dos efeitos desencadeados pelo processo. Já o subprocesso de P&D
compartilha dessa sequência, exceto com relação aos indicadores de saída, que neste, são
compreendidos por outputs intermediários, como, por exemplo, patentes. Por fim, o
subprocesso de comercialização, diferentemente, dos demais, possui inputs intermediários
como indicadores de entrada, podendo englobar variáveis em termos de despesas com
ferramental, fabricação e engenharia industrial. Com frequência, esse tipo de modelo de
mensuração tem sido, do ponto de vista macro, intitulado pela literatura internacional (Wu et
al., 2010; Guan e Chen, 2010; 2012; Wang, 2012) como modelo de dois estágios.
4.1. Sistematização dos principais métodos e indicadores de desempenho para a
mensuração de um sistema inovativo
Os sistemas de inovação tecnológica são caracterizados por fenômenos de natureza
complexa, uma vez que compreendem os determinantes do processo inovativo, ou seja, todos
os fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais, institucionais e outros que
influenciam o desenvolvimento, a difusão e o uso das inovações (EDQUIST, 2005). Ancorado
nesta complexidade, Smith (2005) alerta que esta característica não impede a quantificação
das dimensões-chave dos processos.
Neste contexto, alguns especialistas têm desenvolvido uma variedade de métricas para
a inovação, bem como uma infraestrutura que pode ser utilizada para a coleta de dados
(BASBERG, 1987; ARCHIBUGI; PIANTA, 1996; COOMBS et al., 1996; EVANGELISTA
et al., 2001; ACS et al., 2002; KLEINKNECHT et al., 2002; HADEGOORN et al., 2003;
FLOR; OLTRA, 2004; MILBERGS; VONORTAS, 2004; SMITH, 2005; OCDE, 2005;
MILBERGS et al., 2007; NELSON, 2009; GUAN; CHEN, 2010).
Com o objetivo de mensurar a inovação, os indicadores são essenciais para avaliar os
investimentos e o desempenho das atividades inovativas, e, em seguida, possibilitar aos
gestores o gerenciamento da organização com parâmetros adequados para capturar, em
particular, o nível de desenvolvimento inovativo das empresas (HAGEDOORN; CLOODT,
2003).
Milbergs e Vonortas (2004) afirmam que os indicadores de inovação, ciência e
tecnologia têm evoluído em quatro gerações, tornando-se, progressivamente, mais complexos
e significativos. Conforme os autores, esse processo evolutivo inclui: (1) métricas de primeira
geração, refletindo uma concepção linear de inovação, centrada em indicadores de entrada;
(2) métricas de segunda geração, complementando os indicadores de entrada pela
contabilização das saídas intermediárias nas atividades de ciência e tecnologia (C e T); (3)
métricas de terceira geração, representando um conjunto mais relevante de indicadores de
inovação, além de índices com base em surveys e na integração de dados disponíveis
publicamente; e, (4) métricas de quarta geração, com base em indicadores de conhecimento,
relacionamentos em redes e condições do ambiente interno e externo das organizações. A
Tabela 2 expõe a evolução dessas métricas.
Uma vez que os resultados de muitos estudos não conduzem a um indicador ou a um
conjunto comum de indicadores geralmente aceitos, para representar o desempenho inovativo,
alguns autores (EVANGELISTA et al., 2001; HAGEDOORN; CLOODT, 2003; FLOR;
OLTRA, 2004; NELSON, 2009; GUAN; CHEN, 2010) têm proposto uma variedade em
termos de constructos, métodos, amostras e testes estatísticos de confiança e consistência,
capazes de representar o impacto da inovação em um sistema dinâmico e complexo e, dessa
forma, permitir a mensuração das dimensões-chave dos processos inovativos.
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ANAIS
1a GERAÇÃO
(1950s-60s)
Indicadores de Inputs
Despesas com P&D;
Capital;
Intensidade tecnológica;
Funcionários de CeT.
2a GERAÇÃO
(1970s-80s)
Indicadores de Outputs
Patentes;
Publicações;
Produtos;
Mudança da qualidade.
3ª GERAÇÃO
(1990s)
Indicadores de
Inovação
Surveys de inovação;
Indexação;
Capacidade de
benchmarking inovativo.
4ª GERAÇÃO
(2000)
Indicadores de Processo
Conhecimento;
Intangíveis;
Redes;
Demanda;
Clusters;
Técnicas de gestão;
Risco/Retorno;
Dinâmica de sistemas.
Tabela 2 - Evolução das métricas de inovação por geração
Fonte: Milbergs e Vonortas (2004, p.5)
Hagedoorn e Cloodt (2003) investigaram, aproximadamente, 1200 empresas norteamericanas de quatro diferentes setores de alta tecnologia (aeroespacial e defesa,
farmacêutico, eletrônico e comunicação, e, maquinários de escritório e computadores) por
meio de indicadores de P&D, patentes, citações de patentes e anúncios de novos produtos.
Para analisar a utilidade desses indicadores, os autores sugerem a aplicação da análise fatorial,
precedida por medidas de correlação, Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), adequação da amostra e
comunalidade, com o intuito de determinar a adequabilidade do método e a força de
associação linear entre as variáveis.
Por outro lado, para mensurar o desempenho tecnológico de sistemas de inovação
regional, Evangelista et al. (2001) levaram em consideração um conjunto específico de
indicadores tecnológicos, fragmentados em quatro grandes dimensões, envolvendo as
características estruturais básicas das indústrias, o desempenho inovador, a densidade
das empresas e a qualidade das interações sistêmicas entre os principais atores institucionais.
Esse estudo empírico compreende, basicamente, uma survey sobre inovação, na qual dados
disponibilizados pelo Community Innovation Survey (CIS) são analisados a fim de testar a
capacidade de capturar a existência de especificidades regionais em matéria de inovação.
Coeficientes de variação cross-regional e análise de variância (ANOVA) são usados para cada
um dos indicadores propostos.
Enquanto isso, o trabalho realizado por Flor e Oltra (2004) pretende analisar a
aplicabilidade de diferentes indicadores de input/output na identificação de empresas
inovadoras, com especial atenção para aquelas que se baseiam em informações obtidas de
fontes secundárias. São considerados indicadores tecnológicos baseados em inputs inovativos
- despesas com P&D, números de funcionários no departamento de P&D, participação de
projetos de P&D em parceria com outras organizações, aceitação em programas públicos de
apoio financeiro à inovação e base educacional dos funcionários – e, em outputs - a análise de
patentes, identificação de inovações por meio de informações fornecidas por especialistas do
setor, gestores de empresas e a partir de informações divulgadas em revistas técnicas e
comerciais. A consistência do indicador é avaliada comparando os resultados obtidos com um
indicador baseado em fonte primária (auto-avaliação dos gestores).
Para analisar e mensurar o processo de inovação, Guan e Chen (2010) propõem um
quadro conceitual construído a partir da perspectiva do sistema associada com a técnica de
Análise Envoltória de Dados em Redes (NDEA), a qual fornece medidas de
eficiência sistemática e simultânea para o processo global e subprocessos internos, ou seja, o
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ANAIS
Despesas com treinamentos devido a novos
/ melhorados produtos
•
•
•
•
Despesas com ferramental, fabricação e
engenharia industrial
Despesas com marketing devido a novos /
melhorados produtos
• • •
Idade da empresa
Despesas com a importação de tecnologia
Incentivos financeiros por meio de
programas públicos de apoio a inovação
Número de funcionários da empresa
Números de funcionários envolvidos com
atividades de P&D
Valor devido a impostos sobre novos /
melhorados produtos
Despesas com atividades de P&D
Receita de vendas devido a produtos
inovadores
Valor devido à exportação de produtos
inovadores
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
• • • • • • • •
•
•
•
•
•
•
•
•
Número de novos / melhorados produtos
publicados em revistas técnicas ou de
comércio
•
• • Patentes
• • • • • • • •
Autor(s)
Basberg, 1987
Archibugi e Pianta, 1996
Coombs et al., 1996
Rogers, 1998
Evangelista et al., 2001
Kleinknecht et al., 2002
Acs et al., 2002
Hadegoorn et al., 2003
Flor e Oltra, 2004
Smith, 2005
OCDE, 2005
Nelson, 2009
Guan e Chen, 2010
Indicadores
processo de P&D a montante e de comercialização a jusante. Com a finalidade de avaliar a
consistência e confiabilidade do quadro conceitual proposto, este é aplicado a um estudo
empírico cross-regional envolvendo empresas de alta tecnologia da China, sendo utilizados
indicadores de inputs originais (despesas internas de P&D); outputs intermediários (patentes);
outcomes (valor de impostos e lucros, valor agregado, valor exportado e receita de vendas dos
novos produtos); e, inputs intermediários, que incluem variáveis, como despesas com a
absorção e importação de tecnologias.
Alguns trabalhos enfatizaram ainda, variáveis para mensurar a difusão e o
transbordamento do conhecimento (BONTIS et al., 1999; ALCÁCER et al., 2006; NELSON,
2009). Nelson (2009) ressalta variáveis relacionadas a patentes, licenças e publicações e
afirma que além destas, características como a idade e a localização geográfica representam
informações importantes que influenciam o padrão tecnológico da firma. Para compilar os
dados de patentes, licenças e publicações, o autor utilizou, respectivamente, os seguintes
métodos: (1) ferramenta de análise de dados com programação customizada (customprogrammed data-scraping tool); (2) banco de dados do Escritório de Licenciamento de
Tecnologia da Universidade de Stanford - Stanford University Office of Technology Licensing
(OTL); e, (3) banco de dados da ISI SciSearch.
A inovação é um processo complexo e a escala das atividades requeridas para
inovação pode variar consideravelmente (OCDE, 2005), dependendo de cada sistema
inovativo. Para ilustrar essa variedade, a Tabela 3 apresenta uma sistematização de trabalhos
com os principais indicadores para quantificar os processos de inovação tecnológica.
Tabela 3. Sistematização dos principais indicadores para avaliar o ambiente inovativo.
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ANAIS
•
•
•
•
•
•
Modelo KPF (Function Production
Knowledge – Função Cobb-Douglas)
Modelos de Regressão
Análise Econométrica
NDEA
Análise de Variância (ANOVA)
Coeficiente de Variância
Surveys sobre inovação
Análise Fatorial
Autor(s)
Coombs et al., 1996
Rogers, 1998
Evangelista et al., 2001
Kleinknecht et al., 2002
Acs et al., 2002
Hadegoorn et al., 2003
Flor e Oltra, 2004
Nelson, 2009
Guan e Chen, 2010
Método
A partir da Tabela 3, é possível observar que a maioria dos trabalhos utiliza uma
variada combinação de medidas e muitas destas são empregadas por mais de um autor,
especialmente, aquelas que remetem a patentes e despesas com atividades de P&D, conforme
respaldado por Basberg (1987), Anchibugi e Pianta (1996), Smith (2005) e OCDE (2005).
Normalmente, esses indicadores são categorizados em inputs e outputs, embora, em alguns
casos, variáveis de input são outputs e vice-versa, ou são consideradas como indicadores
intermediários, outcomes e, ainda, capital inovativo, estando isto, condicionado ao objetivo do
estudo, ao método de avaliação empregado e, principalmente, ao posicionamento do
pesquisador sobre a perspectiva de análise a ser utilizada no processo de mensuração.
Vale enfatizar, ainda, que fatores como o tamanho amostral, a disponibilidade de
dados relevantes e o contexto no qual as variáveis estão sendo utilizadas, podem ocasionar
algumas restrições quando à aplicabilidade dessas variáveis, sobretudo, nas micro e pequenas
empresas, caracterizadas por uma estrutura com baixo grau de padronização e formalização e
pela presença de diferentes barreiras, que, muitas vezes, limita as atividades durante o
processo de desenvolvimento inovativo.
Por fim, a Tabela 4 proporciona uma sistematização de trabalhos com vários métodos
aplicados para mensurar um sistema de inovação.
•
•
•
•
•
•
Tabela 4. Sistematização dos métodos aplicados para mensurar um sistema de inovação
Salienta-se a dificuldade de identificar a melhor métrica aplicável a estudos na área,
visto que, a escolha do método depende, na maioria das vezes, do julgamento e habilidades do
pesquisador e da tendência da pesquisa. Todavia, é relevante a predominância das surveys
sobre inovação, nas quais as informações se baseiam, essencialmente, em fontes secundárias,
como banco de dados públicos e, em alguns casos, fontes primárias, por exemplo, a
autoavaliação de funcionários envolvidos no processo de desenvolvimento inovativo.
5. Conclusão
13/16
ANAIS
A inovação é constituída por uma arena que envolve novidade multidimensional nos
aspectos de aprendizagem ou conhecimento organizacional, o que dificulta o processo de
mensuração (SMITH, 2005).
Dessa maneira, a fim de facilitar a compreensão e análise do processo de inovação foi
proposto um quadro conceitual que apresenta os procedimentos necessários para mensurar um
sistema inovativo. A partir deste quadro conceitual concluiu-se que esses procedimentos
devem contemplar os diferentes estágios do processo de desenvolvimento de uma inovação;
as variáveis de entrada e saída associadas a cada estágio e as atividades de apoio para auxiliar
na concretização do escopo de cada fase, de modo que o processo de mensuração da inovação
possa ser orientado tanto para o nível global (macro), levando em consideração todas as
interfaces do sistema, quanto para os subníveis, neste caso, denominados de subprocessos, os
quais compreendem, na pesquisa e desenvolvimento, os estágios de pesquisa básica, invenção,
estágio inicial de desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento de produto e, na
comercialização, o estágio de produção e marketing.
Adicionalmente, uma lista extensa dos indicadores utilizados para capturar os
resultados do processo inovativo foi sugerida. Percebeu-se que esses indicadores tendem a ser
categorizados em inputs e outputs, embora, em alguns casos, variáveis de input passem a ser
outputs e vice-versa, mas também, possam ser consideradas como indicadores intermediários,
outcomes e, ainda, capital inovativo, estando isto, condicionado ao objetivo do estudo, ao
método de avaliação empregado e, principalmente, ao posicionamento do pesquisador sobre a
perspectiva de análise a ser utilizada no processo de mensuração.
No que concerne aos métodos aplicados para mensurar um sistema de inovação
observou-se que é difícil afirmar qual representa a melhor métrica para utilizar em estudos da
área, visto que, a escolha do método depende, na maioria das vezes, do julgamento e
habilidades do pesquisador e das tendências das pesquisas. Mesmo assim, notou-se uma
predominância da aplicação das surveys sobre inovação, nas quais as informações se baseiam,
essencialmente, em fontes secundárias, como banco de dados públicos e, em alguns casos,
fontes primárias, por exemplo, a autoavaliação de funcionários envolvidos no processo de
desenvolvimento inovativo.
Nesta arena, faz-se necessário realizar o detalhamento das informações sobre os
avanços tecnológicos, para que sejam selecionadas as inovações promissoras com retornos
econômicos e, também, o gerenciamento de estratégias operacionais eficientes.
6. Referências
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