{1} Attribution-NonCommercialShareAlike 3.0 Unported {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {3} * Lúcia Fernandes Lobato (Universidade Federal Da Bahia - BRA) {em_01 - Estado da arte (da arte). Junho– 2010 {{em_01 em Inglés e espanhol disponível em http://emergenciaemergencia emergencia.com Portada/Cover {{em_01: estado da arte da arte. Foto/Photo: Miler Lagos Sombrillas Luminosas (2001) {{em_rgencia} e possível nesta edição em agradecimiento a: Colaboradores * Santiago Eraso (ESP) * Guillermo Vanegas * Maria Mercedes Salgado * Alvaro Herrera * Miler Lagos * Luis Camnitzer (URU) * Paula Silva * Hunza Vargas * Lucas Ospina * Victor Laignelet (Universidad Jorge Tadeo Lozano) * Carlos García (Universidad Javeriana) * David Lozano (Universidad Nacional de Colombia) * Milianie Lage Matos (BRA) * Andres Murillo * Liliana Cortés (Facultad de Artes ASAB - Universidad Distrital) * Amigos de la Libertad de Nicolas Castro Equipe Editorial - Colômbia Maria Fernanda Ariza Carlos Guzmán Cuberos David Ayala Alfonso Alix Camacho Vargas Juliana Escobar Cuéllar William Gutiérrez Equipe Editorial - Brasil Direção executiva/ Milianie Lage Matos Produtor editorial/ Andres Sebastian Murillo Tradução português/ Unamorinmanente Dora á Curadora Marcelo Delcampo Gaston D’Maquilart Desenho / Design 0,29 Edições 5 //Editorial 8 {{ENTRE_VISTAS} Encuesta aos programas universitários de artes ROGOFF. (Tradução: Unamorinmanente) 20 IRIT FREE* VARGAS. 26 HUNZA TEORIA E PRÁTICA, NA MINHA OPINIÃO FERNANDA ARIZA. 30 MARIA ESTADO DE EMERGÊNCIA ERASO. 34 SANTIAGO SEDUÇÕES E RUPTURAS HERRERA. 42 ÁLVARO UMA VOLTA RE-VOLTA 46 LUIS CAMNITZER. A CORRUPÇÃO NA ARTE / A ARTE DA CORRUPÇÃO 64 PAULA SILVA. COPY WRIGHT - COPY WRONG Salvo nos casos mencionados, o conteúdo de {{em_rgencia} é e pode ter distribuição pelas licenças siguintes: DE LA LIBERTAD DE NICOLÁS CASTRO. 78 AMIGOS AMIGOS DA LIBERDADE DE NICOLAS CASTRO 90 LUCAS OSPINA. O CIDADÃO KASTRO (COM K DE KAFKA) {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {4} {5} CORTÉS. 100 LILIANA [RES] III Coloquio de estudantes de artes plasti- cas e visuais em Bogotá-Colômbia DELCAMPO 104 MARCELO GASTÓN D´ MAQUILART DORA A CURADORA {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {6} {7} social da arte na nossa sociedade a partir dos seguintes eixos de problematização: Editorial Equipe Editorial de {{em_rgencia} [email protected] } Quando falamos da política e seu exercício nos remetemos, por partes, à série de fenômenos que involucram ao ser em comunidade, além de entender este fato extraordinário como uma possível forma de manifestação, nos referimos a um amplo, porém torcido, processo de reflexão tanto artística, quanto acadêmica e política. Mas não se trata unicamente de enunciar o pouco quanto a ordem tem mudado, ou melhor, o governo das coisas, o importante deste assunto seria a possibilidade de reconhecer o por quê tem acontecido essas mudanças, com o ânimo de possibilitar uma transformação da citada ordem nos cruzamentos onde a academia e a prática artística se vinculam com o cotidiano. A nossa reflexão sobre o discurso contemporâneo se situa desde uma resignificação histórica e política que se relaciona com a proposta de uma ação cambiante apropriada a nossa época, a qual nasce do entendimento da relação de sustentabilidade da arte desde as instituições, de maneira que esta dependência nos faz pensar na prática artística em conjunto com sua definição conceitual. Desde este panorama acreditamos que o alçar a voz, pronunciar fortemente e estabelecer um (contra)ponto de partida que ative uma nova atitude, um temperamento que discirna, que se oponha, que seja propositivo e permita que a consciência política se dissemine pelo espaço. Achamos que é desta maneira que o manhoso da arte pode ser aproveitado, evitando a redução do espectador à leitura de discursos projetados indiscriminadamente sobre as formas permitiremos que possa ser mobilizado a reestudar a própria imagem que vai ser projetada agora enquanto ele morre. {{em_01: estado da arte (da arte) se distancia das unívoca mirada jornalística e gera uma visão crítica sobre a prática e a função FENÔMENO. Dinâmicas particulares que afetam e dão forma a nosso contexto. Por exemplo, o narcotráfico na Colômbia e sua relação com o mercado da arte é fenômeno, que desde nosso ponto de vista tem sido estudado demais, agora de maneira propositiva nós pensamos: Quais poderiam ser outros fenômenos que importaria estudar? ACONTECIMENTO. Fatos que durante o desenvolvimento permitem refletir sobre a maneira como os diferente agentes culturais participam e constroem o campo da arte. Neste eixo nós pensamos na maneira como as disciplinas são pensadas localmente e como se constroem a partir das conexões, contextualizamos e analisamos a maneira como os temas se subjugam os líderes de opinião internacionais (revistas, eventos, personagens, jornais, etc.). Nesta caso um exemplo e o caso de Nicolas Castro[1] e nosso questionamento, analise e visualização se desenvolvem ao redor da reflexão que o circuito da arte gerou sobre o tema. RECEPÇÃO/TRADUÇÃO. As perguntas que nos interessam são: Por que se dão estas tendências? Que dinâmicas são significativas no intercâmbio local-internacional em relação a arte contemporânea? Que papel joga a história da arte na construção do meio local e vice-versa? Quais problemas de tradução cultural surgem ao interior das próprias dinâmicas do campo artístico das diferentes localidades? ACADEMIA. A visão que tem determinada «escola» da arte da cidade e o país afeta profundamente a construção dos diferentes imaginários sobre a disciplina. Um olhar sobre a olhar dos diferentes programas das determinadas cidades, em perspectiva com alguns programas nacionais e internacionais. O projeto emergente esta para pensar o acontecimento como uma estrutura complexa sustentada por meio da articulação de momentos relacionados e característicos. Por considerar mais que uma urgência, a emergência não redutível das partes ou processos a suas diferentes interações. Porque é possível afetar a trajetória de nosso Tempo, através de processos analíticos e conceituais {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {8} {9} com um caráter visualizável. pratico e Assim que frente a você tem esta incitação a ser parte de um continuo diálogo transformador, em uma mutação associada que emerge sem mais preâmbulos à novidade “radical” do ser-em-comum. } Notas 1. Estudante universitário Colombiano que foi preso pelo governo por causa de um comentário, que fez via Internet, contra um dos filhos do presidente, de maneira que agentes locais e até o FBI estadunidense participaram de sua captura, sendo posteriormente preso até que a justiça mostrou que tudo tinha sido um fato de paranóia governamental que prejudicou a um jovem ingênuo. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {11} UNIVERSITÁRIOS DE ARTES 1. DANZA CONTEMPORÂNEA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHÍA (BR) 2. ARTES VISUAIES - UNIVERSIDADE JAVERIANA 3. BELAS ARTES - UNIVERSIDADE JORGE TADEO LOZANO 4. ARTES PLÁSTICAS - UNIVERSIDADE NACIONAL DE COLÔMBIA* *Disponível em versão de audio no endereço: http://www. emergenciaemergenciaemergencia.com/ revista/index.php/e-01-portugues/em-01encuesta-aos-programas-universitariosde-artes/ Encuesta aos programas universitários de artes Equipe editorial de {{em_rgencia} revista@emergenciaemergencia emergencia.com } {{entre_vistas} {{em_01: ENCUESTA AOS PROGRAMAS Com o intuito de oferecer leituras diversas sobre o lugar outorgado à prática e o discurso da arte no espaço acadêmico, e como as instituições educativas concebem o problema da arte em relação com seu entorno e as dinâmicas sociais e econômicas que lhe afetam (e às que afeta), apresentamos algumas perguntas que feitas atualmente em diversas universidades da cidade de Bogotá, algumas instituições Brasileiras e dos Estados Unidos. A seguir publicamos as respostas das universidades que se manifestaram. Revise esta página com freqüência para conhecer as novas respostas dos participantes. 1 Asumiendo as condições antagônicas próprias de cada contexto como se entiende a arte e embaixo de que termino se ensina desde a academia? 2 Num contexto que não está familiarizado com as teorias que sustentam as práticas artísticas contemporâneas, para você, qual é o efeito que a academia exerce sobre a maneira de pensar-fazer arte? 3 Partindo de uma reflexão sobre os fenômenos que involucram a pessoa em comunidade, como se pensa a arte através das relações espaço-temporais que a sustentam? 4 Neste sentido, para você, quais podem ser os riscos de institucionalizar as diferentes práticas artísticas inerentes a processos dissidentes? {12} {13} DANZA CONTEMPORÁNEA UNIVERSIDAD FEDERAL DA BAHÍA LÚCIA FERNANDES LOBATO* 1 LÚCIA FERNANDES: Considero que a arte compreende as escrituras sensíveis de cada tempo e testemunhos de sobrevida na morte das conjunturas civilizatórias. Nesse sentido, para mim a arte é testemunho da vida dos homens, suas ideologias, suas histórias e trajetos coletivos no mundo. Até pouco tempo a Arte era pouco considerada na Academia em função da hierarquia das ciências exatas e a primazia da razão sobre o conhecimento sensível. Hoje, no entanto, esta questão está sendo superada, eis que estamos em tempos da incerteza e do risco nos quais até as ciências exatas já não se consideram tão exatas assim. Nem se ousa pensar em verdade universal e a probabilidade substitui a comprovação! Nesse contexto contemporâneo a Arte na academia alcançou status, inclusive na pesquisa com a criação dos cursos de pós-graduação em Artes e o grande número de graduações que estão sendo implantadas. o constitui. O perigo não está na institucionalização e sim em se tornar um modelo tão rígido quanto a sua referência. Segundo Derrida quando o sujeito tem que se afrouxar do logocentrismo para se reconhecer suas diferenças. Mas desconstruir não significa destruir. Ou seja, o risco existe com ou sem a institucionalização. O risco é você mesmo. 2 LF: Para mim academia fornece instrumentos para o pensar sistemático sobre qualquer conhecimento, não é diferente com a Arte. Vai dar condições ao artista para um pensar mais crítico e analítico sobre o fazer artístico 3 LF: Toda arte é territorializada na sua origem e provem dos saberes locais. Só a partir daí pode universalizar-se. Ou seja, o artista tem território, carteira de identidade, digitais e é dessas impressões, ambiências, heranças culturais, relações tribalistas (no sentido contemporâneo Maffesoliano) que pode surgir sua sensibilidade e capacidade de criação. 4 LF: Todo dissidente é dissidente de alguma coisa. Não pode negar as referências que ___________________________ *Lúcia fernandes Lobato. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (UFRJ-1969), graduada em Dançarina Profissional (UFBA-1981), Licenciada em Dança (UFBA1982), mestre em Ciências Sociais (UFBA-1990) e doutora em Artes Cênicas (UFBA-2002). Professora adjunta da Universidade Federal da Bahia onde atua na Escola de Dança e pertence ao quadro permanente do Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas, onde também é membro do colegiado.. {14} {15} ARTES VISUAiES - UNIVERSIDADE JAVERIANA (COL) CARLOS GARCÍA 1 CARLOS GARCÍA: Este é um programa que se orienta para a formação de artistas em três campos: O campo da expressão gráfica, o campo da expressão plástica, e o campo da expressão audiovisual… Quando surgiu o programa, a pergunta era, Qual é a formação, ou qual é a pertinência da formação contemporânea nas academias? E o que encontrávamos foi um grande vazio, uma falta de diálogo entre as novas tecnologias, e o que considerávamos tradicionalmente o oficio de um artista. De maneira que nossa proposta se orienta a partir desse ponto, porém tendo em conta essas três perspectivas que sinalei anteriormente, que para nós se constituem em ênfase. Nós consideramos que o termo da “arte” varia de acordo ao contexto, portanto, se pensamos no campo da formação, a formação em artes tem que ser muito flexível e tem que ser muito mutável com respeito a um contexto, por isso falamos de uma carreira de Artes Visuais e não de uma carreira tradicional. {{em: Como e através de que ferramentas vocês apropriam a transformação desse conceito num contexto como o nosso? CG: Estando muito perto da prática artística, do contexto e do meio de emergência das próprias práticas artísticas com diferentes orientações. Ou seja, o programa tem que ser capaz de evoluir sobre o que é a realidade, e essa realidade é mutável. 2 CG: Poderia abordar da seguinte maneira, a Universidade Javeriana cada vez más está interessada no assunto de interdisciplinaridade, esta é uma maneira de assumir essa parte prática. Eu poderia sinalar exemplos concretos em Artes Visuais, na matéria Trabalho Social em Artes, que o que busca é justamente criar uma relação entre o exercício da prática artística, e o contexto social. Digamos, este é um terreno que não estava sendo manejado, ou se manejava de uma maneira muito romântica, o artista que chega como um Rei Midas que tudo o que toca vira ouro, não nos interessa. Nosso interesse está no artista que se mimetiza que faz parte de um contexto e que desenvolve uma prática artística, onde se envolve no social. {{em: Neste sentido, que função desempenha a especificidade já mencionada no campo interdisciplinar? CG: Esta é uma disciplina que está aberta, que é optativa de 4 créditos, ou seja, tem uma intensidade considerável, aberta a diferentes disciplinas. De maneira que, colocar um estudante de artes, com um estudante de música, um estudante de literatura, um estudante de arquitetura, um estudante de psicologia, entre outras… O que facilita é quebrar justamente essas diretrizes disciplinares, e favorecer a prática. E volto a insistir sobre um programa de artes que seja flexível, ou seja, impor um tipo de prática que envolva o social, não sempre é o interesse de todos os estudantes. Porém, este é só um exemplo, a Universidade conta com muitíssimos programas de impacto social, nos quais, os estudantes de artes também se vinculam, e também com diferentes disciplinas. Eu estou sinalando só um exemplo de uma disciplina optativa, porém poderia dizer que as matérias de prática como as oficinas, também permitem essas observações, porque o estudante é livre em algumas disciplinas para propor suas próprias temáticas. 3 CG: Eu acredito que se vincula com o modo de pensar a arte, já não se pensaria desde uma definição, ou desde uma nominação tradicional, mas pelo contrário, se pensaria quebrar essas condições tradicionais que definem o termo, isto se alcança quando o artista já não é o artista, é simplesmente um individuo a mais em uma particularidade, um indivíduo que é capaz de ativar processos de diálogo. Quando se ativam processos de diálogo creio que o artista já não é isso que entre aspas chamamos Arte… Haveria que ampliar então o campo da Arte, isto que chamamos uma prática artística contemporânea no é somente um terreno, mas sim algo que pode ter mais {16} terrenos que podem interessar a um artista, que não é necessariamente os processos sociais ou as práticas, é possível que um artista se interesse somente por ser um pintor tradicional que a sua vez pode querer ser consciente ou não dos fenômenos sociais… A mesma coisa poderia aplicar para outras disciplinas, a pessoa poderia se perguntar hoje em dia se o advogado é o advogado em termos tradicionais, se pensamos que o que prevalece cada vez mais é a perda das bordas, o fato de que as disciplinas já não se constituem nas disciplinas pontuais, senão em diálogos contínuos, nessa medida é hora, talvez, de se perguntar se o médico é o médico tradicional. 4 CG: As universidades também têm que começar se questionar sobre sua função com este tipo de contexto, a perda de limites e como se diluem esses limites, podemos considerar que a universidade também faz parte disso, eu creio que não haveria riscos de institucionalizar algumas práticas, porque os programas se movimentam de acordo a os interesses e de acordo a os movimentos que propõe esse contexto, e os programas tem que, de uma ou outra {17} forma, garantir esses espaços. Nós temos experiências muito similares ou tendentes a essas perspectivas em projetos e trabalhos de graduação que tem implicado uma prática, uma perda da definição do que tradicionalmente chamamos artista, e o mesmo processo de reflexão admite e permite isso, ou seja, se não o permitisse poderia dizer que o programa se [des] atualiza… Acredito que se existe, é uma responsabilidade saber como guiar esse tipo de propostas. Nós, por exemplo, nos rodeamos de uma boa equipe para isso, um corpo docente que tenha experiência nesse caso, estava pensando agora num projeto que é Cultus de uma de nossas graduadas que se deu na Cidade Bolívar propondo exatamente a mesma coisa, desde uma quebra acerca das definições tradicionais da arte e do papel que tem que cumprir o artista… Vou ler um pouco a esse respeito: “Este projeto buscou gerar através do exercício artístico processos de criação e resistência em espaços usualmente olvidados para a centralidade da arte e do poder, as ferramentas de dita resistência não foram muralhas, nem barricadas, sua estratégia não concebe trincheiras nem uniformes, tampouco se vale de fuzis, nem de granadas, os elementos desta resistência são frágeis e passam despercebidos, têm a sutileza das fintadas e a naturalidade das obras que germinem, porém guardam a força entrançada das redes, dos tecidos e a nutrida couraça das sementes”. O título é prática artística na greta, articulações periféricas da resistência, projeto cultural no Bairro Cidade Bolívar . Então, ela, Luzmila, trabalha com uma população de manobrados** que vivem em Cidade Bolívar1*, e que chegam a esses espaços onde nem sequer tem diálogo com a natureza, ou seja, o campesino vem, chega à cidade, onde somente há uma árvore, e ela começa a propor um trabalho com essa comunidade, esse interesse ela já o tinha manifestado aqui na universidade, e começou a trabalhar com uma das propostas dos jesuítas de inserção social, com estudantes de enfermagem, de psicologia, e ela começou fazer toda uma série de oficinas com estas pessoas. Cultus tem uma origem em cultura, porém Cultus é cultivar também, e o resultado disto é uma espécie de granja na que se cultiva. Por exemplo, ação social, tem algumas experiências muito similares, porém aqui, obviamente, o artista passa a ser outra coisa. O projeto Cultus se fez somente no bairro Cidade Bolívar, eu acredito que daí vem o respeito por isto, e volto a insistir, o social as vezes se borra quando pensamos que o artista que trabalha, isto é, como o Rey Midas, que vai e toca e logo vai para uma galeria e expõe, isto não! Este é um projeto que se desenvolve na Cidade Bolívar e somente ali, de fato, quando se fez a apresentação pública, porque tinha que fazer uma apresentação pública dos trabalhos de graduação, se escolheu a Biblioteca do Tunal, porque era a mais próxima ao contexto, nunca se fala em termos de curadorias nesse sentido. Eu acredito que neste caso é clave ver como surge a inquietude, porém é clave também ver como se guia essa inquietude, neste caso, Fernando Escobar foi o assessor durante mais de um ano de trabalho muito constante. *: Cidade Bolivar é a favela mais conhecida da cidade de Bogotá. **: Na Colômbia a situação de desplazamiento (manejo – manobra) dos campesinos às cidades é constantemente acentuada por causa do conflito rural armado que há um século afeta este país. {18} {19} BELAS ARTES - UNIVERSIDADE JORGE TADEO LOZANO VICTOR LAIGNELET 1 VICTOR LAIGNELET: O Programa de Artes Plásticas da Universidade Jorge Tadeo Lozano procura abordar a dimensão paradóxica da arte e seu ensinamento, reconhece a complexidade e importância do processo histórico e cultural da formação em artes, e busca assimilar e compreender criticamente seu desenvolvimento histórico. A partir de um marco histórico amplo num contexto diverso, a atualização do Programa de Artes Plásticas entende a pedagogia contemporânea em artes a partir de distintas posturas históricas e contemporâneas contraditórias e as une simultaneamente. Nessa ordem de idéias acolhe a tensão entre regra e a falta de sistematização que há acompanhado dialeticamente a educação da arte através da história. Igualmente contrasta as diferentes posturas históricas com a noção de pedagogia poética, segundo a qual a pedagogia é uma forma de agenciamento criativo para fazer visíveis dimensões não visíveis ou excluídas do regime sensível. Finalmente propõe modelos e alternativas pedagógicas diversas, com o fim de procurar que seja o estudante quem, participativamente, tome posições. 2 VL: As práticas e teorias da arte contemporânea podem representar um certo perigo em contextos pouco familiarizados com as práticas contemporâneas, ainda que depende do contexto e de quais teorias ou práticas estejamos considerando, portanto, não se pode generalizar. As teorias contemporâneas podem gerar expectativas de ação que estejam muito distantes das possibilidades do contexto, não obstante, também podem aportar um marco de liberação e empoderamento, porém de novo depende de quais teorias e práticas estejam falando. Em última instância o conceito “contemporâneo” dificilmente quer dizer algo, pois compreende uma grande diversidade de aproximações heterogêneas e de debate. Com respeito à segunda parte da pergunta; a academia exerce uma importante influência nos modos de pensar-fazer a arte, como o demonstra uma análise da história da formação em artes, desde as escolas e colégios greco-latinos, as oficinas monásticas e catedráticas, as oficinas gremiais da idade media, o humanismo renascentista, a academia nos períodos do absolutismo e a ilustração, a contracultura romântica, os ateliers privados do século XIX, a Bauhause nos albores da modernidade, o conceito disciplinar e profissionalizante da universidade, a contracultura dos sessenta e sua proposta de uma formação em arte pela arte, a significativa influência de Beuys na academia de Dusseldorf, finalmente o domínio do paradigma científico nas universidades e em seus modos de gerar conhecimento segundo o modelo da investigação, para citar só alguns momentos relevantes. É inseparável a relação entre os modos de fazerpensar nas práticas artísticas e os contextos culturais nos quais se inscrevem os modelos de formação em artes, já seja desde uma perspectiva racionalista ou idealista, fundamentalista ou liberal, dogmática ou emancipatória, individu- alista ou coletivista, etc. A influência pode ser positiva ou negativa, no sentido de sua capacidade de persuadir, manipular e dominar, ou pelo contrário, agenciar criativamente processos de formação e liberação de potencialidades. Hoje em dia convivem distintas aproximações à pedagogia em artes, o assunto é: De qual academia concretamente estamos falando? 3 VL: A arte pode estar sustentada em contextos espaços-temporais, e de fato está condicionada por eles, porém não necessariamente determinada. As práticas artísticas podem se inscrever no seio da grande massa cultural ou na de una comunidade singular, não obstante, simultaneamente podem defender seu direito a propor uma margem de excepcionalidade à regra cultural e temporal. 4 VL: A academia, em relação com as artes, deve ser capaz de pegar a tensão existente entre os modos de expressão e produção artística, e a avaliação acadêmica, no marco da aceitação livre por parte do estudante e do docente de participar na instituição. A formação em artes comporta assumir paradoxos: formar para liberar e por outra parte construir e descon- {20} struir o sujeito. Simultaneamente. Nesse sentido a formação em artes com relação a suas práticas mantém uma maior tensão com os modos de formação de outras disciplinas. O risco pode ser negativo no sentido de “oficializar” a dissidência e pode ser positivo no sentido de mobilizar transformativamente à instituição, depende se a dissidência tem como fim conservar sua “pureza”, a qual síria outra forma de institucionalização ou se prefere atuar no regime do político e aposta em afetar a instituição, no sentido de modificá-la. As instituições não são negativas nelas mesmas, nem as dissidências positivas em se mesmas, em ambos casos depende como institucionalizam e com respeito a que diferem, e qualquer que seja a resposta é sujeito de possível dissenso já que a dicotomia instituição-dissidência se retroalimenta. É claro que as instituições educativas em nosso meio estão reguladas por paradigmas distintos à arte, e talvez por causa disso é que as práticas artísticas, incluídas as autodenominadas dissidências, podem atuar como um fator de transformação institucional, nisso consiste a política, posto em termos de Rancière; propor um litígio para gerar uma redistribuição do sensível que se institucionalizará no {21} seu momento e devirá uma forma de “polícia”, seguindo de novo a Rancière a “polícia” não é boa nem má em si mesma, depende do que procura preservar e administrar, de todos modos outros num futuro pleitearão novos litígios e novas redistribuições do sensível num processo sem solução de continuidade conhecido faz muito tempo como solve et coaguala, não obstante há um poder mais sutil que o “litígio” político e é o poder do pensamento poético, posto graças a sua polissemia ser incapturável, juridicamente falando. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {22} {23} FREE* Irit Rogoff. Tradução: Unamorinmanente Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } - Quem quer saber? - Eu. - O que você quer saber? - Não sei! Em algum momento do ano passado propus na minha instituição, Goldsmiths, University of London, que criássemos uma academia livre, adjacente a nossa instituição e lhe daríamos o nome de “Goldsmiths Free”. As respostas ante esta proposta, que não eram sorrisos desbotados frente a sua natureza, aparentemente, adolescente oscilavam entre a perplexidade – “O que obteríamos com isso?” –, e o pânico – “Como poderíamos financiar isso?”. Ninguém discutiu o que seria ensinado ou de que maneira se iria distinguiria o trabalho feito ali do que se fazia em uma instituição como a nossa, onde se pagam honorários, se outorgam graus e dirigem investigações. Por suposto esse era o ponto: O que faria diferente essa instituição – não só em termos de redefinir o lugar de entrada dentro da estrutura (exonerada de custos de inscrição ou de matrícula e de qualificações prévias) ou seu modus operandi de trabalho (não baseado na obtenção de graus, sem exames e sem estar sujeito aos mecanismos estaduais de monitoramento e avaliação) -, e como se poderia localizar ali um tipo de conhecimento distinto. E sobre isso era o que eu queria que se pensasse, sobre a diferença no próprio conhecimento, sua natureza, seu status e sua influência. A classe de conhecimento que me interessava analisar na minha proposta tinha a ver com um entendimento que não estivesse concebido pelas ordens disciplinares ou temáticas, que pudesse ser válido em relação a um problema urgente – e não com problemas predefinidos pelas convenções do conhecimento -, e que atendesse melhor as pressões e lutas da contemporaneidade. Quando o conhecimento está “desenmarcado”, está menos fundamentado genealogicamente e pode se deslocar com maior facilidade para adiante do que para atrás. Essa forma de conhecimento teria muito a ver, obviamente, com tudo aquilo que adquiri com minha experiência no mundo da arte (em grande parte um equipamento de permissões que vêm no saber de um reconhecimento de suas faculdades performativas – aquilo que o conhecimento permite, mais que aquele que o é). Porém as permissões que localizei no mundo da arte vem com a sua própria carga de limitações, uma tendência a reduzir as operações complexas da especulação a sua ilustração ou a um gênero que poderia se exemplificar visualmente como “estudo” ou “investigação”. Poderia haver, me perguntava, outro modo no qual o conhecimento possa se liberar sem ter que assumir uma ampla série de maneirismos genéricos, sem se converter numa tropa estética posta em mãos de curadores famintos por encontrar o último “giro”? {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {24} Seguramente as cabeças entrechocariam! A noção de “liberdade” tem sido tão degradada por seu uso em expressões como “livre mercado”, as propostas discutíveis da nova economia “livre” da Internet ou as promessas historicamente falsas de liberdade individual, que resulta ser bastante difícil encontrar o que tem alem desses lemas vazios. Sem embargo, a possibilidade de produzir alguma proximidade interrogativa entre “conhecimento” e “gratuidade” parece tanto inevitável como irresistível, em particular desde a perspectiva das lutas atuais sobre a educação em Europa. A atual direção para o conhecimento e, por conseguinte, indo a alguma forma de sua expansão e transformação, parece muita mais importante que a simples discussão sobre as categorias em que este opera. Para tentar esta transição, gostaria de pensar em várias questões que considero relevantes: {25} Evidentemente necessito pensar sobre as lutas em torno da educação, suas localizações alternativas, os tipos de economias emergentes que poderiam ter algum interesse no seu replanejamento y, finalmente, na maneira que a “educação” pode ser percebida como um modo organizacional alternativo, não de informação ou de conhecimentos formais – com seu mercadejo concomitante -, mas sim como outra forma de estar juntos, não predeterminada pela obtenção de logros, mas sim pelo seguimento de direções. Aqui, tenho em mente um processo de “singularização do conhecimento”, que discutirei mais adiante. 3.- ¿Quais são as implicações institucionais de albergar um conhecimento que seja “gratuito”? Obviamente que, em relação com “livre” não tenho em mente certa forma de liberação romântica. O conhecimento não pode ser “liberado”, se encontra infinitamente incorporado a largas linhas de transformações que se enlaçam de formas inexplicáveis para produzir novas conjunções. Nem tampouco tenho em mente o romanticismo do conhecimento de “vanguarda”, com seus modos de confrontação da “inovação” como ruptura e partida. Nem estou particularmente interessado naquilo que se tem chamado “interdisciplinaridade” que, com suas insinuações de mobilidade e “cooperação” entre disciplinas, deixa intactas de fato todas aquelas membranas de divisão e suas lógicas de separação e compartimentação. 4.- ¿Quais são aquelas economias do “livre” que poderiam provar uma alternativa ao mercado e das economias de obtenção de resultados e de orientação através da comparação do conhecimento institucionalmente estruturado no presente? Nem tampouco, finalmente, (e digo isto estando algo qualificado), é minha principal meta desfazer as categorias disciplinárias e profissionais que tem dividido e isolado corpos do conhecimento uns de outros para, assim, promover um campo heterogêneo de corpos povoados de conhecimento 1.- Primeiro, e sobre tudo, o que é o conhecimento quando é “livre”? 2.- Existem lugares, tais como os espaços da arte, onde o conhecimento pode ser mais “espontâneo” que em outros? {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {26} {27} similares às estratégias de mercado que asseguram a eleição e multiplicidade, e dignificam as práticas de segregação epistemológica através da produção de infinitas novas subcategorias para corpos herdados de conhecimento contido e nomeado. seja o conhecimento des-individualizado, desradicalizado –no sentido convencional da definição do radical como ruptura - e ainda operativo dentro dos circuitos da singularidade – do “novo modo relacional do sujeito”-, que me preocupa nesta instância. Existe uma relação irritante entre liberdade, individualidade e soberania, que possui uma relevância particular no contexto do que se está discutindo aqui, posto que o conhecimento e a educação tem um ponto de apoio tanto em processos de individualização como de socialização. Hannah Arendt expressa isto concisamente quando adverte que: Desta forma, a tarefa que tenho entre as mãos tem menos a ver com um tipo de liberação do confinamento do que com um desfazer das próprias condições deste confinamento. Politicamente, esta identificação de liberdade com soberania quiçá seja a conseqüência mais perniciosa e perigosa da equação filosófica de liberdade e livre vontade. Por esta via, qualquer uma das duas conduz a uma negação da liberdade humana – a saber, que se todo homem pode realizar-la, então ninguém síria soberano -, ou a idéia de que a liberdade de um homem, grupo ou corpo político somente pode ser obtida ao preço da liberdade, ou a soberania, de todos os demais. Dentro do marco de trabalho conceitual da filosofia tradicional, certamente resulta bastante complicado compreender de que forma a liberdade e não a soberania podem existir juntas ou, em outras palavras, como pode outorgar liberdade a homens que vivem baixo condições da não soberania [1]. Finalmente, meu interesse é trabalhar ao redor de ambos conceitos, liberdade e soberania; através de operações de “singularização”. Talvez este Enquanto a circulação ilimitada de capital, bens, informação, alianças hegemônicas, temores populistas, patrões de excelência, recentemente, globalizados, etc., funcionem como alguns dos distintivos da última fase neoliberal do capitalismo, nós não podemos simplesmente equiparar cada forma do ilimitado para julgálas a todas como igualmente insidiosas. “Livre”, em relação com o conhecimento, me parece que tem menos poder em sua expansão que num movimento fundamentalmente centrípeto; menos em um processo de penetração e colonização do todo, segundo o modelo implacável do capital, que em alcançar entidades inesperadas e logo representá-las, projetando-as dentro do campo da percepção. _____________________ Guillermo Vanegas. Psicólogo.Trabalha como professor universitário e crítico da arte em BogotáEste artigo está publicado originalmente em: Colômbia. http://e-flux.com/journal/view/120. Última entrada: María Mercedes maio 25 de 2010.. Salgado e formada pelo Departamento da Arte da Universidade dos Andes de Bogotá. } 1. 1.- Hannah Arendt, “What is Freedom?”, capítulo VI “Revolution and Preservation” em The Portable Hannah Arendt, (ed. Peter R. Baehr) (Penguin, Londres, Penguin, 2000), p.455. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {28} {29} Teoria e prática, na minha opinião Hunza Vargas. Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } O primeiro semestre que ministrei algumas aulas em uma faculdade de artes, escutei uma anedota que quero compartilhar. Durante uma aula numa escola de artes, uma estudante apresenta os desenvolvimentos de seu trabalho e começa falar a partir dos autores e autoras que tinha lido ao longo do semestre. A professora a detém e lhe diz que não leia mais, que perdeu a capacidade de falar desde si mesma, e que só está falando a partir dos autores, lembrando-lhe mais uma vez que há dissipado essa capacidade, porém não o direito de falar. Sem embargo, ao finalizar a disciplina, a estudante obteve 05 (nota máxima no sistema quantitativo da educação colombiana) como qualificação definitiva, de modo que outros e outras estudantes respondem com frases depreciativas como “eu vou ficar lendo livros para que me dêem 05”. Como antropólogo e como docente, fiquei surpreendido com a história, pois nunca havia escutado uma professora desestimular a leitura entre seus estudantes. Sem embargo, esta não foi a última vez que escutei esta contrariedade frente à leitura no contexto universitário da arte. Em mais de uma faculdade de artes tenho escutado que o fazer é tão importante quanto ler, escrever ou investigar, ao mesmo tempo em que se demérita a leito-escritura frente ao labor plástico. Por parte dos estudantes, é muito comum escutar frases como “ler não faz falta” ou “li somente a primeira parte, porque achei o que me servia” fazendo alusão a projetos que requerem de uma sustentação teórica ao tempo que de um exercício de escrita básica no momento de definir, descrever, construir ou desconstruir um exercício de criação. Por outro lado, dos docentes, podemse escutar frases como “o texto não é o que se avalia a um artista” ou “os referentes plásticos são claros, com isso basta”. Não é minha intenção dar mais importância à teoria que à prática na arte, pois isso não depende de um grande consenso, mas sim de cada projeto. Não obstante, quero outorgar à teoria um lugar equivalente a pratica, pois de fato, ler e escrever são práticas que tem muito de visualidade e de criatividade e em muitos outros casos são em si mesmos exercícios plásticos. As qualidades argumentativas dos e das estudantes de artes plásticas, usualmente, estão ligadas a seus referentes plásticos mais do que a um conceito que estejam trabalhando ao longo do processo. Isso implica por um lado, um interesse permanente no processo de outras pessoas que nutrem o próprio trabalho, porém, ao mesmo tempo uma falta de interesse pelas noções, conceitos e argumentos que conduziram a essas pessoas a desenvolver certos trabalhos de ma{{emergenciaemergenciaemergencia.com} {30} neiras particulares. Assim, a teoria começa a ser entendida através de terceiros que tenham um processo particular, e o próprio trabalho se torna com facilidade em uma exegese do trabalho de mais alguém. Por suposto, não se pode esperar que em um só projeto o ou a artista (menos o ou a estudante de artes) enfrente por completo um conceito e o delimite por completo, porém se é possível pedir que haja uma abordagem a partir da teoria ao redor de conceitos, idéias e formas, de maneira tal, que una revisão crítica da teoria, nutra um processo plástico que vincula materiais, meios, procedimentos e reflexões pessoais sobre o que esse processo plástico tem que dizer ao redor do tema ou conceito que se está trabalhando. Neste sentido, a teoria na arte passa pelo fazer, sem deixar de ler nem de escrever. A idéia decimonónica (pertencente a uma época anterior – ultrapassada) do artista como inspirado ou com capacidades além da percepção da maioria das pessoas, tem posto em dúvida e tem criticado duramente a arte, porém as críticas, que têm conduzido a toda uma estrutura na que a teoria tem aportado um andaime (construção, degraus acima), tem levado ao mesmo tempo um apreço da técnica passando por cima da reflexão cuidadosa em termos teóricos dentro da academia. A que se deve isto, sobretudo nos estudantes? {31} das matérias que os estudantes de artes deveriam ver com estudantes de outras carreiras? Estas perguntas nascem a partir de uma idéia: a arte não produz conhecimento da mesma maneira que as ciências, porém isso não a exclui da produção de sentido e significados na vida social e cultural de um povo. Por isso, é de vital importância gerar nas novas gerações perspectivas críticas, com capacidades analíticas e argumentativas dentro das formas em que a arte tem se construído, sem esquecer que precisamente a arte percorreu sempre a reinterpretações das metodologias científicas e as fez suas através de maneiras particulares, pois não há nada mais prático que uma boa teoria. } __________________ Hunza Vargas. Antropólogo e docente no Programa de Belas Artes da Universidade Jorge Tadeo Lozano de Bogotá. A relação problemática entre teoria e prática na arte tem muito a ver com a academia, porém Quais são as opções teóricas que os e as estudantes têm dentro da academia? São as aulas de história ditadas por artistas ou por pessoas com formação em história da arte? Qual é a ênfase {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {32} {33} Estado de Emergência* Agora bem, a idéia de penetrar e de algum modo infectar este espaço de maneira simbólica substitui uma renovação constante de perguntas acerca do exercício prático no ritual acadêmico. María Fernanda Ariza. Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ A irrupção do tema dos imaginários políticos de nação através de iniciativas muitas vezes performativas sobre a palavra e o rol que desempenha a academia nestes processos politicamente intencionados é um fenômeno de grande atualidade, porém de pouco alcance, e até com dificuldades para sua própria compreensão, geradas pela tensão entre o pensar-fazer da arte, e o campo de ação dela no projeto pedagógico da Colômbia. Como abordar esta questão? Há princípio, o grupo constituído para desenvolver esta iniciativa surgiu fruto de uma carência, que chegou rapidamente a se converter em necessidade de reflexão enfocada para o desenvolvimento de um projeto conformado por 8 processos de investigação, a relação destes decanta no cenário no qual foram concebidos, a Universidade Jorge Tadeo Lozano, e a cadeia de ação–participação direta de alguns de suas integrantes na transformação do que até então havia sido uma campanha geral de inconformismo e resistência passiva. Notas * Sobre o projeto de investigação – criação Estado de Prova da Universidade Jorge Tadeo Lozano de Bogotá. A ação política que nestes projetos se transforma, nos fala de um contexto específico, de uma experiência atravessada por tempos e espaços determinados, e de um compromisso politicamente consciente sobre cada um dos sucessivos modos de ser ou estar na comunidade. Estas formas que se atualizam no espaço público, privado de corporalidade, são o corpo social que baila sem parar a parodia do que comumente se conhece como “o social” contemporâneo e que faz referência ao modo em que estes seres sociais se identificam no plano da vida cotidiana. Esta aproximação permite se perguntar, por sua vez, pelas dinâmicas institucionais, sejam individuais ou coletivas, que tenham sustentado historicamente a idéia de nação, fazendo visíveis o cúmulo de efeitos culturais que conformam nosso estado social de direito. Neste debate simbólico, porém não menos importante, o que se quer romper é com o unanimismo cultual no qual circulam todos os pressupostos nacionais, incluindo a educação, se trata de entender o caminhar como uma forma de intervir, como um mecanismo de participação menos invisível, mais consciente, e que de alguma maneira responde a uma familiaridade muito intuitiva sobre o que-fazer, que-dizer disciplinado. A reflexão se situa em espaços sociais de grande impacto, cada um dos projetos põe em evidência sua existência dentro de um contexto através de diferentes táticas retóricas, imagens, discursos, {{emergenciaemergenciaemergencia.com} } {34} ações, metáforas que se materializam no fato de se pensar e se localizar num espaço. Isto supõe uma necessidade urgente de resignificar as estruturas e os compromissos sociais de antemão presentes, e desta forma, reescrever cada um dos capítulos que sustentam nossa maneira de ver-passar a história. {35} social” (Vich e Zabala, 2004). Neste sentido, se trata de potenciar e questionar o saber em outros saberes diferentes, transmutáveis, que podem ser ou não desiguais, e que estão presentes nas explicações que eles mesmos reconstroem sobre a experiência. } Tal exercício obriga à suspeita, pois produz simultaneamente a outro antagônico, que nos princípios de inclusão e exclusão reproduz a esfera do público costumbrista amanhado no marco do Estado-nação. Nestes processos o que se faz público é a relação amplamente considerada do termo, o espaço de diálogo como um âmbito aberto de debate onde os cidadãos deliberam sobre os assuntos de interesse comum (Jürgen Habermas) e ainda mais mostram uma apropriação sobre os processos de imersão que desde a instituição suportam os conteúdos de dita prática, os estudantes, também cidadãos, tomam partida no discurso da arte de maneira própria e é esta confrontação constante entre o que é necessário para a continuidade do sistema de educativo e aquele que emerge precisamente para sua transformação o que prova mais uma vez a possibilidade de converter a empresa privada num meio de ação política, no sentido consciente da palavra. Estado de prova é, sobretudo, um estado de emergência próprio de discussão, responde assim aos fenômenos manifestos na consciência de um suceder diário, “forma de expressividade que se atualiza no espaço público, encarregada de dramatizar relações e identidades sociais, de questionar as práticas ou símbolos que estruturam a vida comunitária e de revelar as possibilidades de agência dos sujeitos na constituição do mundo {{emergenciaemergenciaemergencia.com} Seduções e Rupturas {36} Santiago Eraso. Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } Parece que as atuais políticas culturais hegemônicas estão cada vez mais fascinadas e seducidas pelos modelos de produção cultural baseados sobre todo na espectacularização da produção subjetiva, na banalização dos discursos, a descontextualização das obras e sua conseguinte mercantilização.Neste sentido, a proliferação A actualidade Revisada. Tabacalera 2005 {37} de museus, centros de cultura contemporânea e acontecimentos artísticos -bienais, feiras- tem muito que ver sobre todo com una visão utilitária da cultura, na que esta funciona, sobre todo, como escaparate para o consumo passivo -ou ativo para os que dispõem de recursos-, elemento de promoção turística, reforma urbana ou aberta propaganda política e não como um médio de autêntica construção social. Não há que ir muito longe para encontrar exemplos concretos que funcionam como paradigma destas estratégias. Em Donostia/São Sebastião se consolida uma feira de fotografia, que baixo os auspícios de um coleccionista privado, se está convertendo num dos referentes principais para prover de conteúdos ao futuro Centro Internacional de Cultura Contemporânea que se prevê construir na antiga fábrica de tabacos, ubicada no centro topográfico da cidade e com más de trinta mil metros quadros para sua utilização. Em seus imensos espaços, ainda assim re-habilitar e coincidindo com a feira, se ha organizado una mostra de vídeo -A atualidade revisada- que reproduze até a última conseqüência os clichês do internacionalismo artístico mais convencional; a monumentalização da experiência estética, por causa a uma desmedida utilização das técnicas de reprodução; a construção de espacios “fascinantes“ que desenvolvem estrategias de sedução e alienação do espectador; a anulaçnao de cualquier posibilidade de interação que não pase pela simples contemplação; a neutralização da crítica e por suposto o ocultamento e negação de todo tipo de informação e documentação que permita uma mutação nos comportamentos dos ciudadãos e sua relação com as obras apresentadas. Nestas condiciões, o público muitas poucas vezes se detem na frente de un vídeo de principio a fin e sua {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {38} atenção rara vez é intensa e in-interrupta. Faz muitos pocos meses, coincidiendo com o último Festival de Cine se celebró em Donostia/ São Sebastião um “evento cultural” - eufemismo que a organización utilizou para nombrar o acontecimiento festivo- que sirvió para celebrar o fechamento da Bienal Manifesta. O fato teve lugar tambem em Tabacalera.[*] {39} *.- O autor se refere a algunas localidades do Pais Vasco do qual ele é residente. oração, enquanto os assistentes à festa se deleitaban entre “pintxos”[**] sofistados e helados. Por nossa parte, projetamos o documental no contexto de um seminario que tratava de desvelar as contradições nas que se produz a Durante aquela festa, à que assistiram varios Tabacalera 2004 centos de invitados, se apresentó um dos mejores trabalhos que se pude ver em Manifesta: Route 181, um documental sobre o conflito palestino, realizado por Eyal Sivan e Michel Khleifi. O filme a apresentamos em Arteleku com ocasão da celebração do seminario Representações Árabes Contemporâneas. Discursos críticosey pensamento político coordinado por Gema Martín Muñoz. Agora bem, a organização do “evento cultural” não teve ninhum reparo em descontextualizar sua proyeção e emitirla na fiesta, produciendo um efeito de extranhamiento e estetização tal que o trabajo ficou convertido em simples dec- 1. Representaçnoes árabes contemporáneas é um projeto dirigido por Catherine David e organizado por Witte de With, Rotterdam e á Fundação Antoni Tápies de Barcelona, em colaboração com a Universidade Internacional de Andalucía (UNIA arteypensamiento) e Arteleku (Diputación Foral de Gipuzkoa). Representações Arábes Contemporâneas. Eyal Sivan em Arteleku. subjetividade no mundo árabe e intentando conectar com públicos específicos. Este projeto se inscribe numa rede máis amplia de colaborações que permite uma reflexão continua e ininterrumpida mediante um processo participativo de todos os atores que participam na amplia rede de colaborações internacionais. Do mesmo modo, temos chegado a um acordo com a productora para editar o filme e adicionarla à publicação que **.- É uma palavra em euskera ou lenguagem vasco que designa um pedasinho de pão sobre o que se colocam diferentes poucos de comida e se utiliza em brasil e colômbia em coquetéeles e eventos especiais, enquanto no Pais Vasco e uma costume comer-os. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {40} recogerá as ponencias dos participantes e das intervenções dos assistentes ao seminario. Tudo este material se encontra disponivel em nossa página de intenet e em algum momento fue emitido ao vivo pela internet. Muitos agentes e productores culturais levamos anos tentando re-pensar os medios de produção e recepção da imagem-tempo para garantizar umas condicições mínimas de visibilidade das obras. Neste sentido, tratamos de desenvolver fórmulas que permitam uma mayor e melhor adecuação entre o receitor e as condicições do espaço / tempo que se necesitam para que a interação se produça nas melhores circunstancias. Este trabalho supõe, por suposto, uma menor eficacia mediática e processos de produção menos espectaculares baseados, sobre todo, em conseguir o máximo compromiso entre o autor, o análisis do contexto no que surgem as obras e o receitor que passa a ser sujeito activo. Desacordos. Exposição. Mutações do Feminismo. Oficina de Diane Torr. Arteleku 2005 {41} Catherine David, diretora da Documenta X, faz pouco, numa entrevista para o projeto Desacordos diz que nos anos 90 se produz o agravamiento de uma cultura espectacular, mediática, que supõe o abandono de qualquier tipo de política cultural que tenha que ver com a produção e transmissão da complexidade social, e com a toma de conciência crítica dos falhos e faltas de dita sociedade. Como consecuência se produz uma demissão generalizada de todo tipo de compromisso cultural, um compromisso que é sempre político. Tras os 90, o que fica bem claro é que se, de um lado, há todo um setor do mundo da arte que se alinea com essa espectacularidade, homogeneidade e evanescencia da cultura dominante, existem a parte outras prácticas que tem máis futuro e que são as que tem que ver con processos de longa duração e com espaços muito heterogéneos. Neste sentido, Martha Rosler, da que tomo enprestado o título deste texto, redunda no que o trabalho artístico se deve centrar não só na produção, exposição ou difusão, sim não no contexto social e político que o determina. 2. Desacordos. Sobre arte, política e esfera pública no Estado espanhol é um projeto em coprodução entre Arteleku-Diputación Foral de Gipuzkoa, Museu d’Art Contemporani de BarcelonaMACBA e Universidade Internacional de Andalucia-UNIA arteypensamiento. www. desacuerdos.org {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {42} A pretendida “neutralidade” da arte e a cultura respeito a o político e á socialização do espaço público pode conducir, deliberada ou inconscientemente, uma parcialidade vergonhoza que ampara estrategias de privatização de todo tipo de experiência. Em nosso tempo, a pertenência irrenunciavel da arte e a cultura ao compromisso social, se encontra obstruida pelas condições objetivas de certas políticas dominantes e a hegemonía consecuente de determinadas prácticas artísticas e culturais, empenhadas em legitimar certas actitudes complacentes e um sistema que impide a visibilidade de outras formas emergêntes de produção cultural. E como diz muito bem Marius Babias, em seu texto Produção de sujeito e prática artística-política, publicado no Zehar nº 55, em perpetuar um sistema que reforza a função da arte e a cultura como mecanismo sociopolítico de integração, em vez de, como anticiparem as vanguardias, como medio para liberar as posibilidades de emancipação. Trata se de perguntarnos cómo e até ónde é posivel pensar e actuar de outra maneira. Parece que ao exercicio de determinadas práticas culturais se lhe impõe um caráter decididamente sacrificial e, em alguns casos, agónico, e em antagonismo aberto com os consensos da opinião pública e o discurso político dominante. Sem duvida, o límite pode ser transgredido porem se recomponhe de inmediato. Em esse desplazamento continuo é onde podemos abrir espaços para repensar as relações do sujeito, as palavras e as cosas, crear novas formas, maneiras de ser e estar, outros modos de pensar. Tambem em esse antagonismo entre asimilação e resistência se trata de pensar em estructuras de produção social e colectiva que acentúem as perspectivas {43} políticas da práctica cultural. Neste marco, onde o espaço público adquiere sua máxima significação, se trata de alertar sobre estrategias culturais de liquidação que impidem o mantenimiento e desenvolvimento de espaços para a experimentação e de projetos de innovação. A pesar de certas estrategias políticas que promuevem sua marginalização crecente, sobrevive e continúa evolucionando uma forma de práctica artística que apunta a novas possibilidades de ressistencia cultural e à construção de redes críticas nas que “intelectuais específicos”, no sentido foucaultiano, se unam para formar um auténtico intelectual colectivo que possa dirigir seus pensamientos, ações e rupturas de manera independiente. 3. Tester é um projeto coordinado pela Fundação Rodriguez. Está enfocado à produção e difusión de propostas artísticas contemporâneas. Especialmente as relacionadas com as novas posibilidades tecnológicas. Utiliza a tecnología como ferramenta para a produção, como medio de comunicaão entre os participantes e como vehículo para a difusión do proyecto. TESTER quer prestar atenção a ámbitos locais (internacionais) de creação, que não tem presencia ou visibilidade nos circuitos internacionais ou que não se conhecem atraves do panorama hegemónico das artes visuales. É um sistema Neste sentido Tester é um projeto que ha intentado ser consecuente com estas premisas políticas contrapondo a construção de modelos organizativos e sistemas de produção renovados às prácticas culturales hegemónicas e, do mesmo modo, à retórica de uma crítica muitas vezes pensada desde o simples espíritu destructivo. Nossa apuesta se orienta nesta dirección. Não se trata de negar a existencia de diferentes maneras de entender a acción cultural, sim não de posibilitar a emergência de novas e impedir a desaparição de outras, de tal maneira que a diversidade e a heterogeneidade possa seguir ocupando um lugar no complexo mapa cultural onde se inscribe Arteleku e manter o valor añadido que a o longo de estos anos ha incorporado o tesido social. } de detecção de actividade creativa, proposto como projeto em processo, como rede e como estructura de produção. Conta com a participação de diferentes nodos de produção: Marina Grzinic –Eslovenia -, Oliver Ressler –Viena -, Marcus Neustetter – Johannesburg -, José Carlos Mariategui- Lima- y los artistas Tanja Ostojic, Masaki Hirano, Ralo Mayer, Philipp Haupt, Sejla Kameric, David Throrne, Usha Seejarim, Robin Rode, Kathryn Smith, Stephen Hobbs, Diego Lama, Gabriela Golder, Iván Lozano, Lucas Bambozzi, Yael Katz, Kirmen Uribe, Ibon Saenz de Olazagoitia, Hacklab Leioa, Zoran Pantelic, Kristian Lukic, Trinity Session, Iñaki Arzoz, Andoi Alonso, Kien Nghi Ha, Shulin Zhao, Jorge La Ferla. __________________ Santiago Eraso. Gestor cultural. Reside em Tolosa, Gipuzkoa. Desde faz dizoito anos dirige o centro de arte e cultura contemporânea Arteleku em São Sebastião, País Vasco, Espanha {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {44} {45} Uma volta Revolta Álvaro Ricardo Herrera. Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } Escrevo este ensaio ou talvez devo dizer que ensaio escrever, enquanto meu cachorro morde o próprio rabo. Tratarei de me enfocar em mostrar porque sua imagem de cão hiperativo me lembra tanto a arte nacional (Colombiana). O estado da arte talvez seja um assunto de Performance canino, de saber fazer as ordens determinadas, de ir aonde se tem que ir e claro, colocar boa pinta e fazer alguma macacada. Em que momento de nossa formação universitária aprendemos a nos comportar da maneira apropriada? Hoje em dia várias Faculdades de Arte, tem espaços específicos de treinamento, por exemplo, aulas de “Gestão Cultural”, porém à luz de várias coisas, a queixa é que não se “sai” o suficientemente treinado nessas atitudes “extra artísticas”, que se vêm como o augúrio de um “êxito” profissional. Como melhorar a “performance” de um recentemente graduado? Como medir-lo? Deveria ser de fato a primeira pergunta. Se treinamos profissionais ávidos de ganâncias, ou perseguidores do reconhecimento, se requerem exercícios diferentes, ensaios diferentes para ofícios específicos. O meio artístico nacional é especialista em esquecer. O novo espetáculo, não é mais que outra revolta ao velho ensaio. Não quero dizer que a atitude seja deplorável, mas que muitas vezes o são seus resultados. O que pode existir de novo, se tudo é um “restored behavior”? Existirão novas formas ou modos de recombinar esses comportamentos, um meio amnésico, sempre pensará que à ordem de se sentar, só se responde sentando-se. A emergência da Arte, talvez requeira cuidados intensivos, esse é outro tema que as vezes me tira o sono. À falta de sono, continua alguma frase desconectada, que me perdoará o leitor com olhos menos vermelhos. Tenho pensado em sair com minha ambulância a recolher enfermos terminais que as vezes se confundem com estrelas fulgurantes. Tenho visto desde o camarote[1] e metido até os joelhos, o transcorrer das danças de acasalamento da feira de arte local, mas ainda me falta poder escrever essa história animal de ciúme, paqueras e “desplantes”. Por outra parte, em meio a este estado, intui-se que não se está preparado para tudo e que as exposições de galerias as caracteriza o não-risco e que seu valor principal é cotizar mais aos que já foram cotizados. Na crise mundial, ainda há espaço para especular um pouco com a saúde e a vitalidade da arte jovem. Por que a idéia não tem o valor que deve ter em um espaço onde se supõe que nós estamos brincando com o pensamento? Se fala de “retornos ao ofício”, que talvez seja outra forma de chamar {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {46} ao fato de que nos sentimos mais cômodos com o mesmo ou quiçá que gostamos de falar o pouco que sabemos falar. Não vou negar que talvez também esteja contaminado, caso no qual a ambulância também deve vir por mim para me internar. Qual seria o diagnóstico deste paciente? Visão curta, apetite voraz (canibalismo), pouco olfato, tato seletivo só para o conveniente e um sem sabor amplo, que só o acalmam muitos poucos placebos. } __________________ Alvaro R. Herrera. é artista plástico e visual, observador do meio artístico e escritor emergente. Amigos da libertade de Nicolas Castro. Página 78. A corrupção na arte / a arte da corrupção {48} Luis Camnitzer Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } Um dia muito preciso, faz quarenta anos, compreendi cabalmente a obviedade de que a mesma obra de arte que cumpria com meus propósitos como artista era, simultaneamente, um objeto comercial. Era ainda um estudante de arte nessa época nos ensinava fazer “arte” (acadêmico e desconectado da vida real) e não negócios, e o mercado eram, para mim, tanto uma utopia como uma revolução social. Apesar da distância das vendas (não totalmente salva até o dia de hoje), desde o momento que me afetou essa realização tive pânico com respeito à negociação do meu trabalho. Não foi porque não me interessara o dinheiro, ou porque considerara que minha obra era demasiado “pura” para o comércio. Era mais devido a uma vaga intuição e desconfiança de minhas próprias debilidades – algo ao redor do medo a uma contaminação de minha faculdade de julgar as coisas. Caso chegasse a vender uma obra, nunca alcançaria certezas sobre as motivações que gerariam a Notas 1. Quando o autor escriveu o texto en 1995, a última Bienal de La Habana havia sido a quinta (nota do redator) {49} criação da seguinte obra. Nunca saberia realmente se essa nova obra, no caso de seguir pelo caminho da obra vendida, seria feita para repetir a venda ou porque a investigação merecia ser continuada. Infortunadamente o problema não se limitava a minhas tribulações pessoais. A dicotomia comércio/arte na realidade também contaminava as certezas sobre o próprio objeto. Pleiteava as dúvidas sobre o respeito invertido num objeto, sobre o qual era a cota de experiência autêntica em relação com a intimidação produzida por um preço e, em última instancia, sobre as causas dos fetichismos que governam os gostos, as coleções e os museus. Como estudante, a percepção dessas contaminações foram estendendo à situações mais complexas. Por exemplo, o fato de que os sinais indicativos de uma identidade têm uma vida extremadamente curta logo morrem no estereótipo. Esta foi uma percepção que, numa micro escala, me foi revelada ao ver a obra repetitiva dos últimos anos de Chagall. Em uma escala maior e, como adulto, o exemplo claro foi dado por certa arte latino-americana que culminou nos anos oitenta. No caso de Chagall a conformação do estereótipo era conseqüência da perda de suas faculdades criativas. No segundo era conseqüência de um processo de generalização imposto desde fora. Em ambas foram produto do mercado. Durante a década dos oitenta, a arte latino-americana teve uma reviravolta em direção aos artesanatos locais. A cerâmica, as costuras, o rústico (o uso do barro, palha, pedras e materiais descartáveis) tenderam a substituir o selo de identifi{{emergenciaemergenciaemergencia.com} {50} cação que até então havia sido dado à arte pelo realismo mágico. A mudança foi produzida por uma confluência de vários fatores. Por um lado estavam as ideais (mais que as próprias obras) da “Arte Povera” (Arte Pobre – movimento criado na Itália na segunda metade da década de 60) ou, talvez mais, as férteis evocações geradas pelo nome. Por outro, foi a consciência da relação centro/periferia no campo artístico. Depois de as batalhas perdidas no campo político durante as décadas anteriores ficou a tentativa de seguir a luta em forma artística. Finalmente, por essa época se renovou um interesse na busca das raízes culturais – nacionais ou continentais. O que começou como uma busca de identidade coletiva foi rapidamente absorvida pelo mercado intrernacional como uma identidade realizada. O que era nada mais do que um proceso de tentativa, foi congelado em uma forma. Foi uma manobra inteigente, porque o que havia surgido como uma resposta a uma necessidade local pode, assim, ser insertado no mercado como uma categoria separada. Constituia uma categoria não competitiva e, apesar disso, comercializante. E ainda melhor, coincidia com uma estética avaliada pela exposição de “Primitivismo” do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque em 1984. O processo esteriotipação foi ganhando uma complexidade durante os últimos anos. Com uma nova rede de galerias locais, economicamente, forte e uja proliferação de feiras de arte em Latinoamérica, o mercado internacional deixou de atuar unicamente de longe, e se sobrepôs à periferia. A retroalimentação da transformação de identidade em estereótipo se fez ainda mais imediata que no sistema mais polarizado do passado. {51} A transição da identidade ao esteriótipo, desgraçadamente, não é reversível. No mesmo momento em que o artista preocupado por uma arte de identidade, comunitário ou regionalista é comercializado, sua arte passa a ser estereótipo e perde sua força comunicativa coletiva inicial. O recurso artístico sobre que está embasada sua obra perde efetividade e tem que ser descartado para deixar lugar a novos recursos, ou tem que ser reapropriado de tal forma que o estereótipo volte a ser fresco e útil. Esta reapropriação é difícil e geralmente vai mediada por períodos de tiempo relativamente langos (o estereótipo tem que chegar a ser identificável como tal e seus elementos des-internalizados). Um dos veículos possíveis mais imediatos e efetivos para esta reapropriação é o humor e a ironia, os quais, o expor o processo, abrem as portas para a reutilização de certos recursos. O artista colombiano Nadín Ospina tratou de resolver o problema criando versões precolombinas da família Simpson. As esculturas são feitas por falsificadores professionais de peças arqueológicas em forma suficientemente precisa como para confundir os esquemas culturais de arqueólogos em séulos por vir. Uma exposição recente de três artistas latino-americanos José Bedia, Carlos Capelán e Saint Clair Cemin oferece um exemplo no qual, no lugar de uma obra utilizaram as relações públicas. Os artistas, conscientes das dinâmicas descritas, escreveram um comunicado sardônico para a imprensa declarando que: “Depois de longas discussões e autoanálises chegamos à siguente conclusão: somos ‘artesãos’ e, portanto nossa atividade será concebida como {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {52} o próprio ‘artesanato’ de nossa profissão [...]. Neste caso Nossa condição de latinoamericanos nos permite introduzir uma nova brisa criativa na produção artesanal ocidental, a qual carece da ‘irradiação espiritual’ e do ‘intangível’, resultando hoje ainda mais codificada que o objeto mais ‘perfeito’. [...] A vocês, este pacote artesanal típico de nossa condição canibal, pobre e periférica, porém completamente pessoal.” O interessante do caso foi que a mostra, que fora organizada privadamente por um galerista para coincidir con a 46º Bienal de Veneza, foi promocionada baixo o título de “Artesanato da Periferia”. Também foi notável o fato que o título tenha sido criado pelo galerista e não pelos artistas. Assim, o que havia começado como ironia voltou ao estereotipo. Não é casual que tudo isto – tanto pelo lado do galerista como por parte dos artistas – tenha sido efetuado no contexto de uma bienal internacional. Até meados da década de oitenta estas bienais não vacilavan em presumir em que a arte é única, universal e com valores homogêneos. A equação de arte-comércio e arte-hegemonização não eram ainda o objeto de desafios sérios. Em 1984 se inaugurou a Primeira Bienal de Habana, começando assim uma nova série de mostras institucionalizadas disenhadas, queira ou não, para criar uma caixa de ressonância específica para a arte da periferia. A distância de uma década, a Bienal de Habana foi a mais ambiciosa, experimental (com relação a sua própria estrutura), e mais claramente preocupada pelos temas da marginalidade. A parte da exposição de obra foi posta num contexto de {53} discussões e de atividades culturais com a ideia geral de alcançar um fórum para o intercâmbio de ideais para os artistas do Terceiro Mundo (ainda quando não se conseguira precisar quem pertence quem não a este mundo). Em suas cinco versões, a mais recente em 1994 [1], a Bienal foi se afirmando no âmbito internacional como o lu“Kuba O.K. – akgar de apresentação daquela arte que geralmente tuelle Kunst aus Kuba”, é invisível no mercado hegemônico. 2. O projeto da Bienal não foi puramente filantrópico e idealista. A imagen de Cuba se promocionou efetivamente e a arte cubano, até então práticamente desconhecida no resto do mundo, começou a circular rápidamente. O turismo artístico cresceu em progressão geométrica de bienal em bienal, incluído trabalho provenientes dos Estados Unidos, desafiando as múltiples proibições do embargo. Com o progressivo éxito da Bienal, as galerias internacionais começaram a enviar seus exploradores. Era claro que a Bienal era o lugar para identificar novos talentos a baixo preço, um abastecedor de material rejuvenecedor para o mercado. Em uma das mesas redondas da V Bienal, foi precisamente esse comentário que o galerista norteamericano Alex Rosenberg usou para elogiar a Bienal. Foi também um conselho que o colecionador alemão Peter Ludwig havia posto em prática dois anos antes, quando adquiriu práticamente toda a exposição “Kuba O.K.” que aconteceu em Düsseldorf. [2] A equação arte-comércio e arte-hegemonização, portanto, començaram a substituir os ideais iniciais da Bienal. É assim que o êxito da Bienal de Habana também simboliza sua morte e obriga a uma séria revisão estrutural. [3] Os dilemas da Bienal sintetizados em um: é possível utilizar a Pe- (arte atual de Cuba) Städtische Kunsthalle Düsseldorf, em colaboração com o Centro de Desenvolvimento das Artes Visuais, Cuba. 1º de abril até 13 de maio de 1990. A exposição organizada pelo diretor da Kunsthalle, Jürgen Harten, e pelo artista e curador cubano Antonio Eligio Fernández (Tonel), gerou muita atenção na Alemanha com relação à arte joven cubano. Por meio dela Peter Ludwig chegou a conhecer esta arte, da qual adquiriu numerosas obras. (nota do redator) 3. Os organizadores da Bienal são conscientes do problema e estão tratando de reorganizar o formato para a bienal que vem. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {54} ter Ludwig sem ser utilizado por ele? Provocados por suas ofertas de dinheiro para marcar obras na Bienal, se repitem para Cuba inteira. [4] Abel Prieto, presidente da União de Escritores e Artistas Cubanos, frente à intimação de que Cuba estava fazendo concesões, não somente ao capitalismo senão também ao neoliberalismo, recentemente respondeu: “Estamos transitando em sentido contrário dos esquemas clássicos do neoliberalismo: O estado cubano se associa ao capital extrangeiro, porém com o fim de gerar e redistribuir os beneficios com um princípio socialista. Apelamos a certos instrumentos capitalistas para poder sobreviver, porém não despojamos ao Estado de sua capacidade de atuar sobre os processos econômicos.” [5] Temos assim, com tudo dito anteriormente, três casos representando o mesmo problema, um individual, um coletivo e um institucional (e nacional). Em outras épocas, como a minha pessoal há quarenta anos, tudo o que se percebia como corrupção se enfrentava em uma forma maniqueísta. Esta percepção extrema das coisas gerava as intermináveis trifulcas estudantis sobre o fim e os meios durante minha juventude. Hoje o assunto se converteu em algo mais borroso, complexo e frágil: se trata do problema – traduzindo o encontro de Prieto a sua essência – de “como utilizar a corrupção sem se corromper”. O dilema não tem solução e, como consequência, armei, para mim mesmo, uma estrutura moral que terminei denominando “cinismo ético”. A essência desta posição se baseia na ideia de que se prostituir conscientemente é melhor que se prostituir inconscientemente. No primeiro caso é {55} estratégia, no segundo é corrupção. Como uma estratégia me serve para identificar a linha que está por cruzar e, portanto me permite, até certo ponto, a reversibilidade do ato. Limitando-se a ser uma corrupção produto da inconsciência, o ato se vê forçado a desembocar numa retórica justificativa, sem a possibilidade de que aluguém possa assumir a responsabilidade da decisão. 4. O uso de Ludwig aqui quiz ser uma metáfora, porém adquiriu outra dimensão ao ler uma reportagem (La Maga, Buenos Aires, maio 24, 1995, pp. 36-37) que finaliza com Ludwig declarando com relação à Fundação Ludwig que creara em La Habana despois da V Bienal: “Porém primeiro o importante é ajudar a artistas cubanos. Despois o siguinte passo será também ensinar arte internacional em La Habana e em Cuba.” 5. Nelson Cesin, “Fórum de São Paulo: Os primeiros aportes”, Brecha, Montevideo, Maio 25, 1995, p. 8 A vantagem do uso da estratégia é que permite uma análise das condições. Entre essas condições, permite a utilização daquelas que podem levar à implementação de uma ideologia, mesmo quando esta possa parecer contraditória pelos passos tomados para instrumentar-la. Porém esta frase que acabo de escrever é realmente terrível, porque o que termina afirmando é que o fim justifica os meios. E aquele dia em que comprendi que o objeto de arte também é um objeto comercial, a iluminação havia vindo da crença profunda no oposto: de que o fim jamais pode justificar os meios. Os quarenta anos transcurridos não borraram minha ideologia de então, porém me aclararam que há uma diferença séria entre minhas crenças utópicas e puras e a realidade que vivemos. Com o “cinismo ético” consegui, ao menos, fabricar em mim a ilusão de que posso seguir mantendo minhas ideas puras ou que, pelo menos, as posso identificar. Essa pureza (ou, a partir de alguns pontos de vista, ingenuidade) inclui várias crenças que ainda tratam de guiar meus pensamentos. Uma é que o trabalho artístico individual é incidental e que a cultura é um processo coletivo. Outra é que a comercialização é o que sublinha o mito individualista. E, além disso, que é a comercialização a qual manipula e distorsiona as fun{{emergenciaemergenciaemergencia.com} {56} ções das artes nacionais de serem originalmente expressões comunais a se converterem em expressões chovinistas. E, finalmente, que é a comercialização quem, no campo artístico, converte a polaridade centro/periferia em uma relação de poder. {57} atributos formais no lugar de comunicativos. Passam a ser uma parte do envoltório artístico no lugar de permanecer como um elemento intrínseco da comunicação. De acordo com a escala de valores que determina a qualidade, o envoltório artístico tem que presumir de certas aspirações de eternidade. Assim, como a comunicação local está sujeita a parâmetros temporais variáveis e passageiros, o “regionalismo” não serviria a menos que contribua com elementos formais à arte hegemônica. Estabelece-se assim um semi-respeito hegemônico pela arte periférica. Estas constatações me fecham irremediavelmente em um passado longínquo, porém particularmente a última aparece estupidamente banal. Dizer que a relação centro/periferia é uma relação de poder é uma declaração tautológica, já que precisamente é a relação de poder a que gerou a nomenclatura. Porém o que é uma obviedade para os intercâmbios bélicos, políticos e econômicos (e também para os intercâmbios artísticos na medida em que servem aos anteriores), é ainda menos para o campo artístico discutido isoladamente. É menos óbvio porque, em primeiro lugar, as discussões sobre arte se concentram, ainda, na “qualidade” do objeto no lugar da escala de valores que determina essa qualidade. Em segundo lugar, porque presumem que se a qualidade é legível, transferível, e válida no nível hegemônico, é também na periferia e, em menor grau, porém também, ao contrário (neste caso a ilegibilidade muitas vezes é atribuída a uma falta de qualidade). Em terceiro lugar, as discussões não diferenciam entre função cultural e função comercial. Quando se fala de crise na arte, se fala simultaneamente de crise formal e comercial no mercado hegemônico. [6] Tudo isto é para projetar uma imagem da arte como uma atividade incontaminada, de caráter universal, eterno e absoluto. É assim que os elementos identificatórios culturais, regionais ou comunais passam a ser 6. Em um recente simpósio em que se discutera a “crise” da arte de hoje, um dos artistas participantes, Carlos Capelán, tratou de reorientar a discussão pleiteando que se sentia muito bem e que estava criando com toda tranquilidade e satisfação. Se os efeitos desta relação de poder consistirem somente na aceotação de certa arte periférica no mercado hegemônico e na comercialização de seus produtos comerciabilizáveis, o tema não mereceria maior discussão. A outra arte, a dirigida culturalmente a seu público local, poderia continuar com sua função sem tropeços. Porém as disjuntivas referentes à corrupção discutidas a nível individual também operam a nível coletivo. Os elementos identificatórios, uma vez digeridos pelo mercado como elementos formais retornam à periferia como um reflexo enviado por um espelho autoritativo e autoritário. A nível coletivo, a adoção de certos recursos “refletidos” nesse espelho impede determinar se está confirmando um estereótipo com um potencial comercial ou se está consolidando uma identidade. As opções viáveis parecem cada vez mais limitadas e as cooptações e estereotipações cada vez mais rápidas, fortes e, desgraçadamente, inteligentes. O neo-conservatismo já havia conseguido o desprestígio de muitas posições progressistas simplesmente estereotipando-as com o termo de “politicamente correto”, termo que, {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {58} paradóxicamente, foi criado burlonamente pela própria esquerda norteamericana e que resultara sua primeira vítima. Um termo de aparição mais recente, esta vez aplicado mais diretamente às artes, é o de “arte de vítima”. Foi popularizado por uma crítica de dança norteamericana, Arlene Croce, em referência à peça de balé de Bill T. Jones “Still/Here” (criada ao redor do tema da SIDA) para justificar sua não assistência ao espetáculo. [7] Em seu artigo Croce tratou de separar o voyeurismo da crítica, a queixa da expressão, a terapia da criação. A primeira vista, esta tarefa parece louvável e necessária. Croce sintiu que Jones a forçaria demagogicamente a ter comArlene Croce, paixão pelas vítimas da SIDA – pessoas que são “Discussing the Unentrevistadas e atuam na peça – e com isso a discussable”, The New invalida da possibilidade de um juizo crítico. Yorker, dezembro 26/ 7. Croce, implicitamente, tratou de manter sua própria escala de valores (e sua definição da arte) intocada pelo conteúdo. Fala de “arte de vítima” como “uma versão politizada da extorsão à que apelam criadores, inclusive grandes criadores como Chaplin em seus momentos de maior autocompaixão”, e termina seu ensaio dizendo que “somente o narcisismo dos noventa pôde por o eu no lugar do espírito”. Aos seis meses de existência, o termo “arte de vítima” pôs toda expressão artística política ou representante de alguma minoria (ou maioria) moderadamente oprimida, em um contexto de autocompaixão e de explosão sentimental. Alcançou uma redireção política da percepção da arte de uma efetividade como poucas obras alcançaram em toda a história da arte. Se a Croce lhe escape a possível necesidade de uma redefinição da arte que possa acomodar a ambas, ética e estética, parece um fato incidental e secundário dentro de sua ideologia. Uma vez janeiro 2, 1995, pp. 53-60. O termo foi criado pelo crítico de Time Magazine, Robert Hughes. {59} mais a necessidade de mudança e a prória mudança são denominadas “crise”. Croce, dentro de suas limitações, trata de manter suas escalas de valores claras e separadas. Nesse sentido, representa dentro do que podemos chamar de uma ideologia hegemonista, uma posição tradicionalista e conservadora. A posição de Croce se enfrenta, dentro desse mesmo hegemonismo, a uma tendência muito mais confusa. É a posição paradigmáticamente representada pelas campanhas publicitárias de Benetton. As escalas de valores teoricamente incompativeis, arte-causas ideológicas no caso de Croce, artecomércio em partes desta nota, todas confluem completamente em direção a um total integrado na obra publicitária de Benetton, a qual pareceria tratar de validar a “arte de vítima”. A integração é tão exitosa que ainda não encontrei nenhum texto com uma estrutura teórica coerente capaz de desarticular o que alguns chaman “benettonismo” sem destruir as próprias posições desde as quais possa quebrar essa teoria. Por sorte Benetton ainda não teve a ideia de convidar a artistas “políticos” para a produção de avisos para sua campanha. O dia que o faça, estes artistas terão dificuldades para rechaçar a oferta de forma que não seja usando uma negação fanática, quase religiosa e não argumentativa. A tentação do poder outorgado por uma difusão extrema, somada à ausência de uma publicidade comercial explícita, daria – aparentemente – uma espécie de pretexto moral para aceitar a oportunidade. Porém seria cair em uma situação na qual se pode crer que se está utilizando a corrupção sem se corromper, e onde se cai – pelo menos a partir do punto de vista aqui expresado – na prostitução inconsciente. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {60} Só posso dizer que sou consciente que o “cinismo ético” ao que me referia antes é uma resposta de caráter esquizofrênico frente a toda esta situação. Com esta resposta trato de manter separadas nítidamente duas escalas de valores contraditórias. É meu único recurso (até este momento) no meio onde sinto que a esquizofrenia, com relação aos valores, há conseguido un estado de implosão. Nesse estado as superposições de escalas de valores não similares ocultam todas aquelas discrepâncias que antes nos permitiam, com tanta elegância, os maniqueísmos e os purismos essencialistas. Esta esquizofrenia implosionada, que mais superficialmente e com certo simplismo se registra simplesmente como hipocresia, conseguiu o milagre admirável de elevar a esquizofrenia aberta e tradicional a um nível ético superior. Tenho que terminar, entãos, confessando uma saudade romântica pela época em que era possível crer solidamente que o fim jamais justifica os meios. Não era realmente certo naquele, pero a pessoa tinha o poder de pensar que era certo. Quiçá, na atualidade, o único caminho que fica transitável em direção a uma utopia seja o de manter viva a facultad de especular, não que seja certo, senão sobre a possibilidade de que seja certo. Quiçá a luta de hoje, muito modesta, tenha que se limitar a tratar de que não nos tirem isso também. Porém há outra coisa que é evidente. Se um simples uso dos termos tão esquemáticos como “políticamente correto” e “arte de vítima” alcança para maltratar e desprestigiar ideias que percebimos como complexas e válidas, quer dizer que há algo em nossas plataforma que necessita um {61} sério ajuste. E esta tarefa de ajuste provavelmente é uma tarefa na qual a saudade não tem cabimento. Este texto ia terminar aqui, porém na pude ficar nisso. Entreguei a vários amigos para lê-lo para ver que o pensavam. Um em particular, com a metade de minha idade e autodefinido como esquerdista, fez três comentários. O primeiro, meio fulminante consistiu em: “Muito bom, sem buracos, porém muito setentoide.” O segundo, meio desconcertante, foi: “A mim não parece ruim a compania de Benetton.” O terceiro, quiçá com mais fermento, foi: “Não tenho uma solução clara, creio que a ética é fundamental, e penso que o assunto consiste em continuamente entrar e sair, entrar e sair.” Não consegui tirar arteiramente elaborações teóricas sobre tudo isto e meu primeiro trabalho consistiu em me levantar do descobrimento que a quebra das gerações me tocou tão sério. Sempre falo dessa quebra, porém é uma forma de charme, uma afetação que tampa a crença de que sigo vivendo dentro da geração jovem. Porém uma vez recomposto, a terceira observação se fez mais e mais interessante. O que meu amigo pleiteava era uma estratégia de infiltrações múltiples, suficientemente curtas como para não terminar absorvido ou coagido, porém aceitando a existência da realidade em seus próprios termos no lugar de negá-la em termos idealistas. O secredo do tipo, que nunca alcançou a me dizer – quiçá porque ele mesmo não se deu conta – era que aceitar a realidade em seus próprios termos não é sinônimo de aproaar essa realidade. As infiltrações sucessivas – e estou falando teoricamente, porque não tenho ideia de como se instrumenta isto na {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {62} prática – tem a vantagem de não ter tempo para contaminar ao infiltrado. A diferença de generações, então, está em certa inocência das novas generações e sua presumível capacidade de manter-la. Quando eu falo de “prostituir-se conscientemente” como uma forma de proteção contra a corrupção, estou na realidade pleiteando uma estratégia que também é maniqueísta. Equipara o “entrar” com o “prostituir-se” e aceita a perda da inocência como algo inevitável, como um evento de dimensões quase bíblicas. A estratégia da infiltração múltiple e curta parece não tocar a inocência. É interessante, voltando ao exemplo de Cuba, que no principio desta década, quando a maioria dos artistas consagrados tinham ido embora do e a economia também, mi predição foi o desastre artístico. O anel pedagógico entre os formados e os formandos quase havia partido, os subsídios para a arte desapareceram, a competição entre os artistas por se estabelecerem em um mercado limitado se fez aguda. E sem embargo surgiu uma nova geração fértil, estéticamente e éticamente crìtica. Que vende e que apesar de vender mantem seu humor. E no final da contas tudo parece confuso e confusionista, falsamente aclarado por esquemas insatisfatórios, porque não enfocamos o nó do problema. Na realidade todos estamos lutando pelo poder em dar significado às coisas. Como disse o antropólogo sueco Ulf Hannerz, está o mercado, está o governo e está a “forma de vida”, ou seja, a cultura produzida pelas pessoas à margem do mercado e do governo. [8] Ainda que às vezes coincidam em seus valores, cada {63} um destes entes tem suas próprias dinâmicas para significar as coisas. É um fato que temos que passar por alto, em grande parte porque o artista, o significador por excelência, se prende a distintas causas em distintos momentos, melhor dizendo, distintos artistas se comprometem com entes distintos. Então um governo e um mercado podem ser nacionalistas enquanto a forma de vida e os artistas são regionalistas, ou os artistas e o mercado são globalistas enquanto que o governo e a forma de vida são localistas, ou o governo serve a outro governo enquanto que os artistas e a forma de vida resistem etc. As permutações são muitas, porém ao final o que fica é uma acumulação de significados que determinam a cultura a qual formamos parte, a qual, querendo ou não, todos contribuíram. O sociólogo francês Pierre Bourdieu analizou algumas destas coisas em seu livro “O Campo da Produção Cultural”. Descrive a arte autônoma como aquela que históricamente surgiu em oposição a, por um lado, arte representante dos valores burgueses ou dominantes no século XIX e, àquele outro que, socialmente revolucionário, foi criado para combater esses valores. Porém também aqui tem uma tríade impura, onde as alienações mudam constantemente de acordo à situação social e a que poderes dominam a sociedade. 8. Ulf Hannerz, “Scenarios for Peripheral Cultures” en: Culture, Globalization and the World System, pp. 107-128. A verdade é que o purismo de minha juventude, rígido y dogmático, conduzia irremediávelmente a um elitismo que minha generação, em termos políticos, negava fervorosamente. Separava ao artista, ainda quando politizado, da realidada, dessa realidade que inclue governos, mercados e gente, para lhe dar o monopólio do proceso de significar as coisas. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} SETEMBRO 1 - 2010 } __________________ Luis Camnitzer. 1937 Lübeck, Alemanha. Crecseu em Uruguay, país do que é cidadão. Mora em Nueva York EE.UU. Em 2002 participou na Documenta 11 de Kassel. Fotografías: Sub Cooperativa de Fotógrafos {{em_2: BICENTENÁRIOS POSTMORTEM {64} O reconhecimento desses erros do passado não implica uma mudança em minha posição ética. Quiçá resulte, em um futuro, em uma mudança de estratégias, ainda que em meu caso duvide. E todas estas considerações tampouco geram em mim uma maior simpatia pelos avisos de Benetton, ainda que não possa evitar certa admiração. Assim que o único que alcanço com tudo isso é voltar a sentir o principio das coisas e renovar a certeza de que tudo é muito, muito complicado. . {66} {67} Paula Silva. Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } Copy wright Copy wrong De meu último projeto surgiu uma pergunta tremendamente importante que nunca tinha feito a mim mesma e que nunca tinha perguntado a ninguém mais: Está claro que quando um artista está vivo tem todo o direito de decidir em que exibições participa, pelo menos quando as obras expostas ainda lhe pertencem. Porém o que acontece quando um colecionador empresta uma de suas obras para que seja incluída em uma exibição? É mais, há que perguntar o que acontece com estas decisões quando o artista já não está vivo e portanto já não pode emitir juízos e tomar decisões sobre os projetos os quais lhes propõe participar? Quem decide que é uma boa idéia, que tem sentido participar em uma exibição determinada e não em outra? Isto foi o que aconteceu: 1. O Centro de Formação da Cooperação Espanhola em Cartagena na Colômbia me pediu que fizesse uma curadoria para uma exibição. O tempo de aviso foi realmente curto. A exibição estava planejada para o mês de Maio, e fui avisada em Março, de forma que só tive um par de meses para planejar e executar tudo. Da esquerda para direita: Isabel Ramirez, Adriana Marmorek, “Feliza Bursztyn”, Paula Silva Foto: Angela María Arango 2. Decidi trabalhar com Adriana Marmorek. Faz anos tive uma frutífera relação curador - artista com ela, e me interessou muito a idéia de trabalhar com uma artista que já explorou o tema do {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {68} desejo a partir de uma posição feminina, heterossexual (porém não feminista e militante) e exibir o trabalho que costuma ser um claustro para seminaristas católicos. 3. O Centro (CFCE) me informou que sua política é nunca fazer exposições individuais. Isto gerou o dilema de encontrar um artista que pudesse estabelecer um diálogo coerente com o trabalho de Marmorek. Depois de pensar, profundamente, por várias semanas e de revisar, literalmente, até o último catálogo em minha biblioteca decidi trabalhar com Feliza Bursztyn. Ela foi uma das artistas conceptuais mais importantes da Colômbia, porém morreu em 1982 enquanto almoçava em Paris com Gabriel García Márquez; com uma brilhante carreira artística ainda diante dela. Cheguei à conclusão que ambas são figuras insulares no tratamento do tema do desejo a partir de um ponto de vista similar e que suas obras ressonam de maneira surpreendente, tanto conceitual quanto formalmente. 4. Encontrei o e-mail do viúvo de Feliza. Escrevilhe. Descrevi-lhe o projeto. Mandei-lhe um link ao portfólio de Adriana e, mandei-lhe, ainda, o meu currículo resumido. 5. Ele respondeu. Disse: “Muito obrigado por seu interesse na obra de Feliza. Com relação à exposição neste momento eu não posso lhe colaborar porque estou com muitos compromissos que ocupam todo meu tempo e atenção. A parabenizo por seu currículo e lhe agradeço toda a informação que me enviou e lhe desejo os maiores êxitos em seu trabalho. Cordialmente, Pablo Leyva”. {69} ele me desejou boa sorte! Consegui que dois museus me emprestassem obras de suas coleções permanentes (Museu de Arte Moderna de Bogotá - MAMBo e o Museu de Arte Moderna de Cali, La Tertulia). De fato, me emprestaram as obras mais representativas que Feliza fez falando clara e abertamente sobre o sexo e o desejo. Emprestaram-me também duas de suas Camas [Obra importante de Bursztyn]. 7. O projeto ficou nas mãos da impecável coordenação logística de Isabel Ramírez. As obras chegaram a Cartagena em caixas adaptadas, perfeita e profissionalmente embaladas, na tarde de 30 de Abril. 8. Justo antes de sair da oficina naquela tarde de sexta-feira recebi uma ligação da assistente de Isabel, que em pânico me falou que Pablo Leyva tinha ligado para ela e de maneira bastante grossa alegava negar a permissão para utilização do nome da artista e usar imagens de sua obra. Disse-lhe que deveria estar agradecida por ele ter telefonado e não o seu advogado. A chamada veio acompanhada de um e-mail dirigido à diretora do Centro (CFCE) informando ambas as notícias. 9. Adriana e eu chegamos a Cartagena no domingo à tarde, prontas para iniciar o processo de montagem na segunda-feira 03 de Maio. Justo antes de começar o Centro me pediu para atender as mensagens de Pablo Leyva. Deixei-lhe uma mensagem no celular (que não respondeu) e lhe enviei um e-mail (que também não respondeu). Simplesmente lhe pedia que elaborasse um pouco os motivos de suas contestações. 6. Continuei com meu trabalho. Depois de tudo, {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {70} 10. Comentamos a situação a uma advogada especialista em direitos do autor. Ela nos explicou algumas coisas que já sabíamos (que estamos legalmente obrigadas a mencionar os nomes de todos os artistas em exibição e que a pessoa ou instituição que é dona do material fotográfico tem que autorizar sua reprodução em meios impressos). Porém, também mencionou coisas que não sabíamos (que os direitos morais de um artista sobre sua obra são intransferíveis, que as imagens que se utilizam para jornal e comunicados públicos não necessitam permissão porque estão dentro da lei de liberdade de expressão e comunicação pública, e que a aplicação dos direitos do autor tem limitações a favor da exibição de obras em instituições educativas e com finalidades de formação). 11. Ao ter recebido um e-mail do MAMBo no qual autorizava a impressão e publicação da única foto da obra de Feliza que havia no catálogo, liguei para o museu para colocá-los a par da situação. Ainda que não houvesse uma situação similar com o Museu da Cidade de Cali “La Tertulia”, também nos comunicamos com eles para informar sobre o tema. 12. A pessoa do MAMBo que havia enviado a autorização mencionou que conhece a Pablo Leyva faz décadas e que se oferecia a chamá-lo para convencê-lo a conceder-nos a permissão para publicar a foto da obra no catálogo. 13. No dia antes da inauguração recebi uma chamada do MAMBo. Eles tinham falado com Pablo Leyva e ele havia dito que desde o principio tinha se manifestado, abertamente, contra a exibição (o que é falso, como consta no único {71} e-mail que ele me enviou), e que não autorizaria que se levasse a cabo o projeto. A diretora e a curadora do museu se reuniram e decidiram retirar o empréstimo, no momento em que o projeto estava a ponto de ser aberto ao público e quando o Centro já havia pagado todos os custos de seguro, transporte, conservação e montagem. 14. Um pouco mais tarde, o Centro recebeu um email de Pablo Leyva dizendo que o MamBo tinha ligado para lhe perguntar se ele tinha autorizado a exposição (que não é o que a pessoa no MAMBo tenha dito que ia fazer) e no qual dizia que não autorizaria usar o nome de Feliza ou imagens de sua obra. 15. A reação do Museu La Tertulia foi exatamente a oposta: nos comunicaram sua firme intenção de manter a obra em exibição e sua fé no projeto. 16. Tomei a decisão curatorial de lacrar a obra novamente e exibir a embalagem onde antes teria ficado a Cama. Sem embargo, a direção do centro cedeu às reclamações de Leyva. O nome de Feliza está coberto com uma faixa preta em todos os lugares onde aparecia no espaço destinado na exposição. Também decidiram manter a obra retirada em exibição, porém fora do espaço da exposição. Isto foi possível porque o MAMBo nunca comunicou formalmente que tinha retirado as obras emprestadas. Se isto tivesse chegado a acontecer, o Centro lhe cobraria ao MAMBo todos os custos relacionados com esta obra. Então: definitivamente, não é um debate fácil de solucionar. Feliza doou a obra diretamente ao MAMBo em um momento no qual não era usual que os artistas deixassem um papel assinado {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {72} explicando as condições nas quais se doava uma obra. Isso não é surpreendente; depois de tudo, isto só está começando a se converter, lentamente, em uma prática usual hoje em dia na Colômbia. Sem embargo, a lei Colombiana diz que os direitos morais são intransferíveis; que estes são direitos que todo artista tem para decidir o que fazer, onde exibir, como vender e como promover suas obras. Se queremos ser legalmente justos, Pablo Leyva não tem o direito de vetar ou aprovar a exibição das obras de sua falecida esposa. Esses direitos morreram com ela. Serão dela para sempre e agora essas decisões são do domínio das pessoas e das instituições que hoje são donas de suas obras. {73} seguinte, a pessoa que estava encarregada de responder pela obra era Pablo Leyva. Portanto, não me surpreendeu de forma alguma que desde sua morte em 1982 sua obra só foi exibida em oito exposições coletivas (o que da uma média de una exibição a cada três anos; porém é importante mencionar que só teve uma exposição em toda a década de 90) e em somente uma exposição individual (não sorprendentemente, organizada por um grupo de três exclusivos curadores, incluindo o filho de Pablo Leyva). Porém a história se enreda mais: Feliza Bursztyn teve três filhas de um matrimônio anterior. Os direitos patrimoniais (o direito de lucro de uma obra de arte) são herdados de uma maneira genealógica, não através de contratos matrimoniais. Isto quer dizer que quem tem direitos sobre as obras de Feliza são suas filhas e não seu viúvo. Não quero descartar a possibilidade de que é verdade que se precisará da autorização do herdeiro para publicar a foto, porém acredito que há que revisar esta questão porque o Centro de Formação da Cooperação Espanhola está dedicado à promoção educativa e cultural, e está é uma das circunstâncias que limita a aplicação da lei de direito de autoria. Eu assumiria que ao estar atuando dentro de um entorno educativo poderíamos promover a obra de Feliza livremente, incluindo imagens. Porém, acredito que este é um veredicto que deve emitir um advogado especialista em diretos de autoria. Ainda que tenha sido possível distribuir as imagens da obra na imprensa, deduzimos que o problema estava na publicação da foto no catálogo. Tínhamos a razão em pedir licença ao MAMBo. Eles contrataram a um fotógrafo para que tirasse a foto, e, portanto deveríamos dar-lhe créditos (como, efetivamente, se fez na publicação). Sem embargo, depois da primeira ligação de Leyva assumimos que também era necessária a permissão dos herdeiros. As filhas de Feliza vivem fora da Colômbia e não pudemos encontrar a maneira de contatar-nos com elas. Por con- Não há debate no circuito artístico Colombiano e Latinoamericano sobre a crucial importância de Feliza Bursztyn no desenvolvimento da arte colombiana contemporânea. Era una artista valente, irreverente e altamente inovadora. Cruzou limites, burlou-se da sociedade conservadora colombiana dentro da que viveu e trabalhou. A tragédia não é só que tivesse morrido tão jovem, mas também porque sua obra tivesse sido silenciada consistentemente, e, portanto tem estado ausente da exibição, promoção e estudo do importante trabalho artístico de sua geração. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {74} Suponho que a figura que oferece o maior contraste é a de Marta Traba, a crítica Argentina que teve o poder de afundar a carreira de vários artistas porém que demonstrou ser fundamental para a promoção da geração de artistas da que Feliza fez parte. A obra de Traba ainda é publicada, revisada, estudada e lida. Ela é ainda uma figura vivente na cultura contemporânea Latinoamericana, apesar de ter morrido apenas um ano depois de Feliza. Outra seqüência de perguntas surge de toda a situação: Que classe de título Pablo Leyva tem que lhe permita autorizar ou não a reprodução de imagens da obra de Feliza? Tem um testamento, um poder legal que Feliza ou suas filhas lhe tenha entregado que lhe permita fazer isto? Estas são perguntas puramente práticas. Obviamente, eu imagino que a obra de Feliza é um assunto profundamente pessoal para ele (e isto é algo que verdadeiramente respeito), porém, ele não deveria pelo menos ser capaz de demonstrar sua habilidade legal para atuar, especialmente se sua intenção é impedir a promoção artística e cultural e o entendimento do seu trabalho da artista? Ninguém nunca lhe pediu que apresentasse essa documentação? Terminamos com a pragmática. Agora vamos passar às perguntas mais filosóficas: Se uma instituição cultural, tal como é o Centro de Formação da Cooperação Espanhola, contrata um curador e lhe encarrega a realização de una exposição, seguramente isto quer dizer que confiam no critério e habilidade da pessoa para realizá-la. Mais ainda; dois dos mais importantes museus da Colômbia, contando com a opinião de {75} suas equipes profissionais em arte, tomaram a decisão (devidamente informada) de emprestar suas obras para o projeto. Como é que alguém, não só alheio ao mundo da arte como também da esfera institucional envolvida na produção do projeto, tem o poder de intimidar a equipe profissional de um museu e se converter em um obstáculo para o êxito deste? A julgar pelo número de exibições nas quais se apresentaram obras de Feliza durante os últimos 28 anos, assumirei que esta não é a primeira vez que algo assim sucede (e não deixarei de pedir desculpas se estiver equivocada). Mais ainda, se isto pode acontecer e de fato ocorre, não poderia acontecer também o contrario? Não poderia alguém, qualquer pessoa, apresentar uma autorização escrita para que a exposição se celebrasse? Nenhum dos dois terá a documentação escrita que contradiga ou afirme suas ações. Qual síria a diferença? Suponhamos que Pablo Leyva tem os seguintes diretos (devidamente documentados por escrito, firmados por Feliza): * Proibir o uso de seu nome (tecnicamente, isto queria dizer que teríamos que lhe pedir uma permissão para poder ter esta discussão). * Proibir a reprodução de imagens de sua obra, inclusive em esferas não comerciais e educativas. * Vetar e aprovar as circunstâncias nas quais sua obra pode e não pode ser promovida e exibida. Nesse caso, não deveríamos estar revisando {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {76} muito cuidadosamente a maneira como temos escrito nossa lei de direitos de autoria? Não estamos condenando aos artistas ao olvido se esta é a maneira como se deve aplicar essa lei? Uma vez mais, chego a uma conclusão a partir de assumir certas coisas. Assumamos que o objetivo de Pablo Leyva é preservar a memória de Feliza e honrar a importância de seu trabalho para a arte colombiana. Não o alcançaria melhor se apoiasse sua promoção, estudo e exibição? Agora assumamos que talvez não esteja motivado por essas intenções altruístas, mas sim que seu interesse é se beneficiar economicamente da obra de Feliza. De acordo com o comportamento normal do mercado da arte, os preços das obras de arte tendem a subir, proporcionalmente, com a visibilidade e atividade do artista no circuito artístico. Não deveria então, Pablo Leyva, se dar conta de que ajudar a promover a obra de Feliza é uma opção muita melhor do que proibir sua exibição? Ainda que Leyva nunca mencione em seus emails e o MAMBo não me disse em muitas palavras, entendo que Pablo Leyva se sente incômodo com o tema da exposição. Quando Feliza exibiu suas Camas pela primeira vez no MAMBo em 1974 (se, o próprio MAMBo que faz um par de semanas retirou a mesma Cama da exibição em Cartagena) teve dois debates que suas obras motivaram: o primeiro ocorreu entre Marta Traba e Álvaro Medina (Medina alegava que as obras não eram originais e que Bursztyn tinha copiado a idéia de uma artista dos Estados Unidos, enquanto que Traba a defendia); o segundo, sobre sua alusão sexual, não esteve presente nas pági- {77} nas dos jornais e revistas, mas sim nas bocas dos conservadores colombianos que viram a mostra. Imagino que a Feliza deu muita risada dos comentários. Depois de tudo, não se suponha que a obra fosse uma dissertação séria sobre o sexo e sobre o desejo. Supor-se-ia que tinha que ser divertida. A ironia não é que a obra se deparara com a censura em 1974, mas sim que hoje em dia esteja sendo submetida a esse mesmo tipo de censura, porém desta vez exercida pela pessoa a quem ela escolheu como companheiro na vida (e para ela, a vida e a arte eram uma mesma coisa). Tenho tentado analisar a situação desde o ponto de vista do senhor Leyva. A melhor conclusão à que posso chegar e que ele acredita que estudar a obra de Feliza desde o ponto de vista de suas alusões ao sexo e o desejo poderiam danificar a percepção de sua obra. Quero dizer que sua obra poderia perder seriedade, perder valor no mercado da arte, fazer-se menos interessante para que críticos de arte e para que curadores trabalhem com ela. A outra opção é que considere que a obra de Adriana Marmorek é irrelevante. O dia depois da inauguração “El Universal”, um dos jornais mais importantes de Cartagena, publicou uma crítica da exposição. Dizia que “As obras de Burzstyn estabelecem uma nova dimensão contemporânea ao se apresentar com as obras de Adriana Marmorek, quem integra a fotografia, o vídeo e a instalação”. Tendo em conta o amplo interesse da arte contemporânea em relação ao corpo e sua construção social, o redator da seção cultural do jornal faz afirmações que tem sentido. A obra de Feliza tem sido estudada, {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {78} {79} tradicionalmente, em seu aspecto formal. Tem sido amplamente reconhecida como uma figura crucial para a escultura colombiana e sempre mencionada como a primeira artista que introduziu o movimento físico em seu trabalho. Porém sua posição sobre ser mulher, sobre ser ativista, sobre o corpo e sobre o sexo (ao que várias de suas obras aludem) tem sido escassamente estudada. Não deveria, então, resultar um beneficio o fato de sua obra ser considerada desde um ponto de vista contemporâneo? Isto não valida sua importância tanto no passado quanto no presente da arte contemporânea colombiana? Poderíamos iniciar uma discussão distinta e muito longa sobre como se entende e se aplica a lei de direitos autorais nas artes visuais. Acredito que a música e o cinema são gêneros que hoje têm regras mais claras às que nós devemos atender (e há que aclarar que o caminho que tem levado ao estabelecimento dessas leis não tem sido pouco complexo e está longe de estar terminado), porém acredito que é hora dos profissionais das Artes Os museus deveriam ter o direito de reproduzir imagens de obras que estejam em suas coleções. Isto é parte de sua responsabilidade frente aos artistas os quais acreditaram. Porém, os museus deveriam estar mais interados dos direitos que os herdeiros dos artistas têm e saber o quão tão longe pode chegar na vigilância dos direitos da obra do seu ser querido. E triste ver como uma aplicação excessiva dos direitos autorais (possibilitada pela profunda incompreensão das leis de direitos autorais, leis simples, básicas e disponíveis publicamente) pode silenciar e danificar um artista em vez de protegê-lo. É claramente um péssimo uso das leis de direitos autorais. } Já é hora de começar a ter esta conversa. } É correto assumir que Pablo Leyva impediu a celebração de outros projetos. Por que não há instituições que respondam e façam algo a esse respeito? Sempre entendi que a missão de um museu não é somente a preservação de objetos culturalmente relevantes, mas também a promoção de seu estudo em conferências cada vez mais amplas no decorrer do tempo. Se o museu entra em pânico ao perceber uma situação incômoda (porém de nenhum ponto de vista problemática ou paralisante) está faltando com sua missão? Não está faltando se prefere evitar uma conversa incomoda a defender sua decisão de promover um artista em um evento determinado? Visuais começarem a pensar nesta questão. Este texto está dedicado a Adriana Marmorek e a Feliza Bursztyn. Duas artistas valentes e inovadoras que nunca temeram manifestar suas opiniões abertamente. } __________________ Paula Silva. Crítica e critica da arte colombiana. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {80} {81} Amigos da libertade de nicolas. http://amigosdelalibertaddenicolascastro.wordpress.com/ Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } Amigos da liberdade de Nicolas Castro Os amigos da liberdade de Nicolás é um grupo heterogêneo de pessoas que desde dezembro de 2009, nos unimos baixo a consigna de sermos “amigos da liberdade”. O grupo, inicialmente, formado por companheiros e amigos mais próximos a Nicolás Castro, se expandiu rapidamente na comunidade artística local, chegando inclusive a receber apoio desde fora do país. O comunicado inicial, que define a razão de ser desta coletividade foi redigido e enviado pela web, no dia 3 de Dezembro de 2009, data em que os meios de comunicação na Colômbia mostraram a captura do jovem universitário, por fatos que hoje em dia parecem ser produto de uma montagem midiática, do que alguns qualificaram como um “falso positivo judicial”[1]; o comunicado foi o seguinte: Nicolás Castro de 23 anos, estudante de Belas Artes da Universidade Jorge Tadeo Lozano de Bogotá-Colômbia, foi levado pela policia judicial no dia 2 de dezembro de 2009, acusado de criar um grupo na rede social de internet Facebook, intitulado “me comprometo a matar a Jerónimo Alberto Uribe filho de Álvaro Uribe”. Na Colômbia ele é acusado de instigação a delinqüir segundo o artigo 348 do Código Penal, o qual significa que Nicolás Castro estaria incitando a outras pessoas a cometer o delito de matar a Jerónimo Uribe filho do presidente. Por tal razão, desde o dia 3 de dezembro Nicolás está no Presídio “La Picota” de Bogotá esperando ser julgado. Nós, os “amigos da liberdade de Nicolás Castro”, queremos convidar a comunidade nacional e internacional a se unir a esta causa, pois nós que o conhecemos podemos dizer que Nicolás não seria capaz de http://www. atentar contra a vida de um ser, ou incitar a out- lasillavacia.com/ ros a fazê-lo. Suas expressões sempre têm sido historia/9091 pacíficas quando expressa seu desacordo com Notas 1. Nicolas Castro Plested na Universidade Jorge Tadeo Lozano. 2009 {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {82} {83} diferentes situações, como no caso do maltrato animal, a falta de proteção às crianças ou quando manifesta sua posição frente ao consumo; razões pelas quais decidiu ser vegetariano e estar contra às corridas de touros, participar de projetos sociais que vão a favor da infância, organizar venda de frutas e alimentos saudáveis dentro da Universidade Jorge Tadeo Lozano (como forma de gerar opções de consumo dentro da comunidade estudantil), entre muitas outras ações que realiza no seu cotidiano que confirmam as qualidades humanas de Nicolás. Os “amigos da liberdade de Nicolás Castro” apoiamos as palavras que ele pronunciou durante sua primeira audiência: “Eu somente sou um estudante, não sou um instigador, nem um terrorista”. Os Fatos que este primeiro comunicado cita, foram amplamente conhecidos pela opinião pública colombiana, desatando um boom midiático gigantesco, o qual teve cobertura nacional e internacional da imprensa, rádio e televisão. No dia 3 de Dezembro, o rosto de Nicolás já era conhecido por todo o país. A imagem projetada na tela de televisão e nos fragmentos de imprensa local do jovem Nicolás Castro era o clássico retrato do terrorista, que inclusive parecia ter “conexões com Al-Qaeda e afinidades com o regime político da Irã” [1]. Esta situação, que para aqueles que o conhecemos no diário viver de um estudante de artes universitário era o reflexo alarmante de uma mentira a gritos, uma macabra versão de nosso amigo fabricada por aquela maquinaria midiática, tão grande que o tinha engolido. Desde aquele momento ele era um produto empacado, etiquetado e posto ao consumidor, com o típico discurso do medo e do terror. Esta situação nos conduziu a nos unir como amigos e companheiros de Nicolás. Aquela união foi motivada pelo verdadeiro terror que se produzia em nosso corpo, sentir esse grande poder imensurável, incontrolável, que os meios de comunicação e o estado poderiam chegar a exercer sobre nossa subjetividade como indivíduos. Do medo e do terror nasceu a união, a amizade e a força que combateu o cenário no qual agora éramos partícipes. Desta forma, o pequeno grupo de amigos começou a buscar a forma de expandir a mensagem liberadora, sobre nossa versão (que era verdadeiramente oficial) sobre Nicolás Castro Plested. 2. Para maior informação dirija-se à página de internet dos amigos da libertade de Nicolás, para sessão Blogroll: http://amigosdelalibertaddenicolascastro.wordpress.com/ {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {84} {85} Aquela mensagem era por sua vez, uma forma de expandir o grupo amigos da liberdade, de chamar o desconhecido para formar parte dessa comunidade e a ser portador de nossa mensagem. Assim, nós amigos da liberdade de Nicolás geramos uma rede de comunicações num grupo crescente de pessoas (artistas, professores, estudantes, etc.), aqueles que durante os quatro meses nos quais Nicolás esteve na prisão, permitiram criar um lugar para combater o medo e, de igual forma, fazer ouvir a verdadeira voz do estudante universitário, calada por um grande tempo pelos meios massivos de comunicação. A mensagem que os amigos da liberdade de Nicolás levaram foi transmitida para o público, mediante uma série de ações artísticas levadas a cabo no espaço urbano da cidade, assim como na web onde o caso alcançou um seguimento permanente e onde se buscou expandir os efeitos das ações que se desenvolveram na rua. Entre as ações feitas em Bogotá podemos mencionar “É melhor dar pouquinho mamão”[3], onde se entregava ao transeunte um pequeno jornal com nossa mensagem sobre Nicolás, ao mesmo tempo que se tocava música e se oferecia pequenos pedaços de mamão ao público, fazendo alusão a esta frase popular colombiana. De igual forma, se desenvolveu a ação plástica “O carteiro”, realizada em conjunto com o artista Mario Opazo. Nesta atividade convidavam ao público a se converterem em “carteiro” de uma mensagem sobre a situação e a realidade de Nicolás que era entregue nas ruas e deixada embaixo das portas de casas e apartamentos, para esta atividade se redigiu uma carta que era assumida conceitualmente, como uma prisão. A mensagem convidava a liberar a mensagem, para que fosse replicado na comuni- dade e no entorno de quem o recebera. De igual forma, realizou-se uma jornada de impressão em camisetas com mensagens de apoio 3. Para ver o registro da ação dirija-se a: http://www.youtube. com/watch?v=j_jxF0dpKHo a Nicolás na Universidade Jorge Tadeo Lozano no primeiro dia de aulas do primeiro semestre de 2010, tempo acadêmico durante o qual o jovem universitário permaneceu preso na “La Picota”. Esta atividade fez parte da ação “O carteiro”, a qual se somou a palestra “A liberdade de expressão na arte” [4], realizada na ASAB (Academia Superior de Artes de Bogotá) como parte das atividades desenvolvidas dentro da mostra de projetos de graduação dos estudantes, com o Doutor José Gregório Hernández, ex-magistrado da Corte Constitucional, o Doutor Guillermo Hoyos, Diretor 4. Para escutar o registro completo da palestra dirija-se a: http://www.goear. com/listen/393d6ae/ conversatorio-del2-de-febrero-en-laasab-sobre-el-casode-nicol%C3%A1scastro-y-la-libertadde-expresi%C3%B3nconversatorio-asab {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {86} do Instituto Pensar da Universidade Javeriana e Victor Laignelet, diretor de Artes da Universidade Jorge Tadeo Lozano. Paralelamente a estas atividades o artista Mario Opazo, quem já tinha entrado no grupo amigos {87} da liberdade de Nicolás na ação plástica “O carteiro”, levou a cabo uma performance que intitulou “Aquí falta alguém”, no campus da Universidade Jorge Tadeo Lozano, como resistência ou rechaço ante o aprisionamento do estudante. Com os olhos vendados e um livro de filosofia de Platão em sua mão esquerda, percorreu os corredores e diversos lugares da universidade no horário de classes diurno, desde as nove da manhã até as cinco da tarde no dia 29 de Janeiro de 2010. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {88} {89} Internacional errorista Primeira Declaração “Todos somos erroristas”. 1.- O “Errorismo” sustenta seu conceito e sua ação sobre a idéia que o “erro” é o novo principio ordenador da realidade atual. 2.- O “Errorismo” é uma posição filosófica equivocada, ritual da negação, uma organização da inexistência desorganizada. A falha como perfeição, o erro como acerto. 3.- O campo de ação do “Errorismo” abarca todas as práticas que tendem para a LIBERAÇÃO do ser humano e da linguagem. 4.- A confusão e a surpresa são as ferramentas preferidas dos “erroristas”. O apoio ativo deste artista local se somou um tempo depois, o respaldo da Internacional Errorista, que a partir do grupo Etc. da Argentina criaram um movimento mundial, cujo principio se baseia na reivindicação do erro como principio liberador do homem. A Internacional Errorista realizou uma manifestação no Fórum Social Mundial em Porto Alegre - Brasil, onde se fez presente o apoio àliberdade imediata de Nicolás. 5.- O humor negro e o absurdo são os métodos erroristas por excelência. 6.- Os “lapsos” e fatos falhos são nosso deleite. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {90} {91} mente a Nicolás na criação do grupo virtual “me comprometo a matar a Jerónimo Alberto Uribe, filho de Álvaro Uribe”. Nós amigos da liberdade de Nicolás seguimos esperando o fim do processo que, desde quarta-feira 02 de dezembro de 2009, enfrenta a um jovem de 23 anos estudante de Belas Artes contra o maior poder da mídia e governamental, que uma pessoa comum jamais imaginaria sequer ver em seus pesadelos mais crus. Esta situação, que pareceria de um livro de Kafka, até a data se mantém vigente, esperando fechar este duro capítulo de uma narração que poderia voltar a aparecer em sua tela de televisão ou no próximo cinema, muito perto de você. } Depois de ter passado quase dois meses desde que um juiz de controle de garantias dera prisão domiciliar a Nicolás Castro, em um processo que vimos como todas as provas com que a Fiscalização o inculpava e com as quais justificou seu confinamento durante quatro meses na prisão La Picota de Bogotá, tem caído uma a uma por erros de procedimento e manipulação. Onde inclusive os advogados de Jerónimo Uribe, filho do presidente da república Álvaro Uribe e supostamente “vítima” das ameaças postadas na rede social de internet facebook, têm declinado sua intenção de seguir com o caso, mencionando seu interesse para que o jovem volte a seus estudos e a sua vida ordinária. Sem mencionar que até a presente data não existiram provas que vinculem direta- __________________ Amigos da liberdade de nicolas. http://amigosdela libertaddenicolas castro.wordpress. com/ {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {92} {93} Lucas Ospina Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } O cidadão Kastro (com K de Kafka) 1. K. “Não confunda a cibernética com a predição da fortuna”, lhe diz uma funcionária de um banco de dados a K, o protagonista do filme O Processo, na adaptação da novela de Kafka que Orson Welles levou ao cinema em 1962. A cena, suprimida do filme, não aparecia na novela, ela era uma analogia do que Kafka apenas aguardava cautelosamente como um sistema imenso de arquivos, advogados leigos e corredores que Welles atualizou e traduz a uma imensa maquina kafkiana de computação. O começo do filme O Processo é simples, um homem acorda sendo vítima de uma metamorfose, isto não quer dizer que ele tenha se convertido em um inseto (ao menos alguns bichos podem voar), acontece algo pior: está capturado. Em seu quarto tem dois agentes sem identificação, logo entra um supervisor, e lhe diz que está vinculado em um processo por um crime sem identificação, que está preso, porém que ainda assim pode ir trabalhar, em breve será chamado perante a lei. Nos diálogos da cena suprimida do filme de Welles, K quer que o poderoso computador do banco onde trabalha lhe dê algum indício sobre o seu futuro judicial, a funcionária que lhe ajuda é escéptica (incrédula), não tem dados suficientes e dar conselhos jurídicos não é seu território, porém afirma que ainda assim tem algo para colaborar-lhe. Orson Welles - El Proceso (1962). Escena omitida en la versión final. K, voluntarioso, faz uma apologia à imparcialidade da máquina, “Adivinho que o computador é mais como um juiz… e Não seria isso um adianto? Não {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {94} mais erros estúpidos, tudo limpo e preciso. Em vez de se gloriar de sua inteligência, como os homens convencidos de si mesmos, os advogados teriam que ser precisos. Como os contadores ou os científicos. De fato, imagine uma corte de lei como um laboratório… Você pensa que alguma vez será assim?” Quando K pede a resposta, a máquina vomita um papelzinho onde está escrito o crime mais provável que há de cometer. “Isso parece uma adivinhação”, disse K ao ver na cartolina uns pontinhos. “São fatores, a matemática da probabilidade”. Talvez meu caso, infere K, supera a máquina, porém a mulher lhe informa que “se a máquina se alimenta com besteiras ela só responde com silêncios… só podemos resolver o que pode ser formulado… lingüística… até que você não possa precisar com exatidão o que quer dizer, não poderá saber o que você quer saber… as perguntas sobre a lei ou o crime estão emaranhadas sem remédio nos chamados valores morais… consciência, inocência, culpa, bom, mau”, “E tudo isso são besteiras?”, pergunta K. “É nada para nós”. No final, K diz que não entende o código do cartão, pede uma tradução, um significado, a resposta é que o dito pela máquina é o “usual”. E o crime mais provável que K tem que cometer é o “suicídio”. 2. Uma Captura de cache “Grande trabalho policial para capturar ao homem que ameaçou de morte ao filho do presidente” foi a maneira como intitulou a Polícia Nacional em {95} sua página da Internet sobre detenção de Nicolás Castro. A página, agora que o caso caiu pelo medíocre trabalho policial que propiciou a captura de um inocente que nunca ameaçou ao filho do presidente, esta queda, trocada, seu conteúdo apagado. Só fica um fantasma na rede, o “cache” como o chamam na informática, a “memória de acesso rápido de um computador, que guarda temporalmente as últimas informações processadas”. À página fantasma que ficou se perdeu a foto que trazia de Nicolás Castro algemado no dia de sua detenção, acompanhado por dois agentes Na Colômbia os sem identificação (seus rostos foram pixelados ainda que em outros meios circulou a mesma foto militares desaparecem cidadãos, principalsem essa alteração). Notas 1. Afortunadamente, no cache, o conteúdo se conserva. É uma auto-sátira involuntária e triunfalista da velha brutalidade policial traduzida a linguagem do computador: uma série de eufemismos “que tiram onda” e estúpidos, de agentes que tentaram justificar este “falso positivo judicial”[1] ante seus superiores e estes ante seus superiores e novamente estes ante seus superiores até chegar ao Ministro da Defesa e ao primeiro mandatário da nação; em uma cadeia de fidelidade que Álvaro Uribe seguramente terá em consideração no momento de celebrar sua orgia patriótica de 13º salarial, condecorações, ascensões e nomeamentos, um ritual de auto-perpetuação onde os “falsos positivos” são o sangue que mantém ereto ao espírito de corpo. Agora à Polícia que pouco lhe interessa que esta informação seja lida é ainda mais importante que as pessoas a leiam. O satirizado se condena por suas próprias palavras, e isso é o que tem sucedido logo que todas as provas da polícia e da Fis- mente estudantes de baixos recursos, os disfarçavam de guerrilheiros e os apresentavam frente aos altos mandos como caídos em combate, tudo isto para ganhar privilégios, como a extensão das festividades, prêmios militares, aumento salarial e toda uma série de benefícios que os militares dão neste país por matar o maior número de “inimigos”. No total alguns Entes Militares do Estado desapareceu e matou mais de 3000 mil pessoas. No final os militares presos foram liberados porque a justiça militar que os julgava deixou vencer os termos dos processos judiciais. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {96} calização se derrubaram uma atrás da outra. E as evidências não caíram somente pela forma como muitos destes dados foram conseguidos, mas sim pela forma como de estes foram tratados. A “prova real”, uma sessão de “chat” de três horas que Castro teve com sua namorada, foi editada para que se convertesse em uma auto-culpabilidade acomodada ao roteiro preestabelecido. Onde Castro dizia, entre jocoso e assustado, que a esse ritmo teria que trocar de identidade ou ir embora com ela e se esconder em Medellín (Cidade Colombiana), a Fiscalização eliminou o contexto da frase e a incluiu em uma novela de um criminoso capaz de apagar seu rastro e produzir terror desde qualquer computador. Vale a pena ler este comercial informativo punitivo disfarçado de operação contra-terrorista que Imagem de Nicolas capturado, difundida amplamente pelos meios. {97} a Polícia fez. Agora, que querem ocultar o documento, há mais razões para mostrar-lo e guardarlo como tesouro. 3. Ante a lei “¡Ah! Siga, você é pai da vítima”, disse ao padre de Nicolás Castro o policial que regulava a entrada da última audiência, em frente do Juiz 48 Penal Municipal de Garantias de Bogotá, Javier García Prieto, na audiência que finalmente se julgou conceder ao detendo prisão domiciliar. O agente estava certo, não todos os polícias são insensíveis à dor, “vítima” era a palavra. Este policial entendeu o que muitos outros não compreenderem desde o começo porque só sabem cumprir ordens ou porque só são formados pela informação da grande imprensa. Porém, entre os formadores de opinião que dizem ter critério e dizem poder separar a apresentação dos fatos da representação da noticia também teve muitos que falharam: desde mal-pensantes até professores que pediram para Castro penas legais y “castigos acadêmicos”. Talvez um dos casos mais notórios de falsas manobras foi o de um político mais oportunista que oportuno, a candidata à presidência Noemí Sanín, que pediu justo ao início do processo, em una entrevista radial, que Castro fosse condenado. Ainda depois da última audiência o caso continua sendo tergiversado com simplicidade: “Outorgam prisão domiciliar ao jovem que criou grupo no Facebook contra Jerónimo Uribe” dizia um titular. Impressiona a imprecisão: ficou claro, pelas provas apresentadas nesta e na audiência anterior ante um juiz especializado, que Castro não criou {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {98} o grupo, só opinou e o fez com o seu nome, não assumiu uma falsa identidade, e sobre o filho do presidente escreveu o seguinte no muro de Facebook: “Este cara com seus artesanatos da Colômbia não faz mais que explodir indígenas e pessoas de baixos recursos, além de estar acusado de plágio na universidade dos Andes, e é bem conhecido por calar esse e outros tipos de problemas que tem tido no interior dessa universidade, ameaçando de morte a quem se enfrente com ele…fp (filho da puta)”. Ou seja, se disser a verdade é “incitação a delinqüir” e um palavrão é um ato de “terrorismo”, os presídios não caberiam mais pessoas. A respeito o juiz Garcia Prieto, que não é um funcionário da comum, como o juiz que Castro teve anteriormente, mas sim é um intérprete cuidadoso da lei, faz um tempo, disse em uma entrevista: “Nós juízes não podemos fazer o que fez o Presidente da República em Buenaventura quando ordenou a captura de um funcionário supostamente comprometido em um delito. Nós não podemos atuar por impulsos e o Presidente não pode fazer esse tipo de coisa”. E sobre o labor fiscal disse: “Hoje o fiscal é quem acusa, este é quem deve chegar à sentença com uma teoria do caso para demonstrar-la, se não o faz o único caminho é absolver. Se falha a apresentação de provas, devese absolver e liberar”. E isto foi o que aconteceu na última audiência do caso de Nicolás Castro: atuou a lei, não o impulso, valorizou-se a prova, não o espírito de corpo. Tanto é assim que apesar de o juiz Garcia Prieto ter se mostrado favorável à liberação de Castro negou a revocatória da medida de asseguramento que o advogado de defesa pedia, pois ainda não existia uma constância legal válida e favorável da sentença dada na audiência anterior. {99} Na audiência a defesa apresentou todo tipo de testemunhos de amigos e professores favoráveis a Castro, sinalavam como havia tido uma posição de mediador nos conflitos do programa de Belas Artes da universidade —seu texto “Donde no hay ni villano ni héroes” (“Onde não há vilões nem heróis”) é prova disto— até como “Nicolás é vegetariano”. O juiz García Prieto afirmou que talvez estas declarações estivessem mediadas pela camaradagem e pela amizade, preferiu centrar a decisão de outorgar-lhe a prisão domiciliar baseado numa série de dados institucionais e numéricos que antecederam a sua detenção: as notas das médias semestrais da universidade. “4.1, 4.3, 4.2, 4.2” leu, e concluiu “estas não parecem ser as notas de um terrorista”. O advogado que representa a Jerónimo Uribe, o filho do presidente, que com certeza, falando de rendimento acadêmico, teve uma matrícula condicional por plágio na Universidade de los Andes e que ao ser acusado de copia por um professor não pôde —por um mero erro de procedimento— ser processado, ele manifestou que a seus clientes —como no caso do plagio acadêmico— não lhes interessa continuar com o processo. Ainda que a Fiscalização, por ofício, ou por inoficiosa, insista em manter o caso aberto, já não tem provas e o que se deveria fazer é concentrar suas energias onde há indícios de criminalidade latente, do contrário seguirão ocorrendo fatos como o de Ana Maria Chávez, que foi contatada —através de seus contatos de Facebook— por um par de criminosos que a assinaram, e que se não fosse pelo trabalho investigativo de seu irmão jamais teria feito justiça; tão seguro estava, um dos assassinos, da inoperância e analfabetismo informático da Fiscalização que {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {100} Orson Welles – O Processo (1962). Cena omitida na versão final. ao momento de ter sido detido ele disse às autoridades: “Pensei que nunca iam me encontrar”. 4. Fim… Em uma entrevista feita na prisão “La Picota” perguntaram a Nicolás Castro o que ele estava lendo: “Vigiar e Punir do filósofo Francês, Michael Foucault. O livro fala de todo este assunto das prisões, de dar justiça e de como vigia as pessoas. Também estou lendo O Processo, de Kafka. Leio muito sobre todo este assunto da parafernália de conceder justiça”. Seguramente teria sinalado a página da cena inicial da novela quando K é apreendido: “K incorreu sem querer em um intercâmbio de miradas com Franz, porém agitou seus papeis e {101} disse, “Aqui estão meus documentos de identidade.” “E que nos importa?”, replicou gritando o avultado agente. “A maneira a qual o senhor está se portando é pior do que a de uma criança. O que o senhor quer? Por acaso pretende que ao falar conosco sobre documentos de identidade e sobre ordens de detenção seu maldito processo acabe logo? Nós, somente, somos empregados subalternos. Oficiais menores que apenas podemos distinguir uma carteira de identidade de outra, o único que temos que fazer com o senhor é vigiar-lo dez horas diárias, para isso nos pagam. Isso é todo o que somos. Não obstante, podemos informar às instâncias superiores sobre o tipo de pessoa que vão apreender antes que emitam a ordem de detenção. Aí não há erro algum. Nossas autoridades, até onde eu sei, só conheço as instâncias inferiores, não se dedicam a procurar a culpa entre a população; é a culpa que faz com que saiam a buscar, como o diz na lei, e então eles nos envia para fora. Isso é a lei. Onde pode ter um erro aí?” “Não conheço essa lei,” disse K. “Então muito pior para o senhor”, disse o agente. “É provável que só exista em suas cabeças”, disse K, querendo, de alguma maneira, influir nos pensamentos dos agentes, reformar esses pensamentos a seu favor ou ir ganhando terreno. Porém, o agente, displicente, só disse, “O senhor já saberá quando o afete.” Franz se uniu e disse, “Olha isto, Willem, ele admite que não conhece a lei e ao mesmo tempo afirma que é inocente”. “Está muito certo, não podemos fazer que entenda coisa alguma”, disse o outro.” __________________ Lucas Ospina Artista, crítico da arte e jornalista independente. Atualmente trabalha como professor nu Departamento da Arte da Universidade dos Andes da Colômbia Castro já terminou O Processo, uma novela que na área de projetos Kafka deixou sem terminar, porém à que alcanculturais. çou a escrever um capítulo de encerramento no K, diferente da maioria dos leitores desta história, não pode evitar ou se esquivar de um trágico final. } {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {102} {103} III Coloquio de estudantes de artes plasticas e visuais em BogotáColômbia Liliana Cortés ([email protected]) Versões em espanhol e inglês no endereço: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ } No projeto curricular de Artes Plásticas e Visuais da Faculdade de Artes ASAB, da Universidade Distrital Francisco José de Caldas, nasceu a idéia de gerar um espaço de diálogo entre estudantes de artes das diferentes Faculdades de Artes da cidade de Bogotá, com o intuito de realizar palestras que mostrem investigações, criações e trabalhos de impacto na cidade. Este projeto desde o ano de 2008 vem trabalhando na realização de Colóquios de estudantes através de um edital público enviado a diferentes Faculdades de Artes da cidade, com a finalidade de realizar uma seleção de palestras e colocar em cena os estudantes e seus trabalhos tanto teóricos como práticos na atualidade. Durante o primeiro semestre do 2010, 29 de abril na Biblioteca Luis Ángel Arango, se reuniram os organizadores: Universidade Distrital, Universidade Pedagógica Nacional, Universidade Jorge Tadeo Lozano, Universidade Javeriana e a Universidade Nacional, com o objetivo de apresentar as propostas de estudantes de artes sobre seus trabalhos na cidade. Teve uma assistência de aproximadamente 250 estudantes da cidade com 12 conferências de coletivos e estudantes. Para quê e por quê? vas reflexões do campo artístico e promover conversas, trocas entre diferentes perspectivas artísticas. Um Colóquio de estudantes nos permite tanto a professores, pesquisadores como a estudantes conhecermos e intercambiar experiências em nossas áreas de trabalho teórico, plástico y visual. A realização de um Colóquio de estudantes em Artes Plásticas e Visuais permite construir espaços de diálogo entre estudantes e docentes das Faculdades de Arte da cidade Versões anteriores e fortalece o âmbito artístico, ao mesmo tempo em que permite es- Foram realizados dois Colóquios tabelecer projetos comparados, no- durante os anos de 2007 e 2008. {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {104} {105} O primeiro foi organizado na Biblioteca Luís Ángel Arango com o apoio de José Ignácio Roca, Gerente de Artes Plásticas do Banco da República. Na segunda edição do evento a Gerência de Artes Plásticas da Fundação Gilberto Álzate Avendaño apoiou com difusão e uma parte do financiamento do custo total da produção. Para o ano de 2010, a Faculdade de Artes ASAB realizará sua terceira versão para o primeiro semestre de 2010. } Texto no Blog. Site: http://coloquiodeestudiantesdeartesplasticas. blogspot.com http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {106} Dora a Curadora Marcelo Delcampo e Gaston D´Maquilart. Versão para web no site: http://www.emergenciaemergenciaemergencia.com/ {{emergenciaemergenciaemergencia.com} {{emergenciaemergenciaemergencia.com} seja, o assunto não é mudar, pelo contrário a procura é pelo “como (mudar)?”. [1]: A palavra venias vem do verbo em espanhol “venir” e sua conjugação em segunda pessoa e “venias” (tu venias), consequentemente “venias” e “vénias” se confundem na suas entonações no espanhol da Espanha de tal forma que pode significar vir ou fazer uma reverencia, esta última ação vem igualmente com a colonização e mais que tudo um costume do sistema monárquico e cristão. BICENTENARIO Por favor não olvide re-bobinar a fita 1. Toda cultura constrói desde o passado, a política não é a exceção. É ali quando as definições do passado se convertem em preconceito, que possibilitam a mobilização e atualização de uma cultura, e também possibilitam o mal-entendido quando se utilizam desconhecendo sua origem. ira se caracteriza por ser psuedoconservadora, aceita o cambio por estar justificado pelo ideal de independência igualitária e liberdade fraternal e a “ordem e progresso” de nossa bandeira. 3. Se compara que nos anos do regeneracionismo começávamos a entender as artes como um exercício moderno no qual sua prática era delimitada por um fazer medieval, ligado às distinções entre a arte e o oficio, o homem e a mulher, Europa e América, e desde já, entre colônia 2. Combatem-se os costumes vin- e pátria independente. A questão dos (vindas -venias [1] - da coloni- estriba na forma em que se toma zação de costume taurina-espanho- consciência dessa transformação, la nos países vizinhos) de Portugal, não só como mera mudança, mas e ainda que a sociedade Brasile- sim no curso que este tomará, ou e um pós-bicentenário à luz das contingências atuais. TEXTOS Aceitamos contribuições em português, espanhol e/ou inglês. Os trabalhos selecionados serão publicados nos três idiomas. Estes poderão ter uma extensão mínima de 2000 palavras, e quando forem resenhas deveram ter entre 500 y 800. OUTRAS CONTRIBUIÇÕES (Imagem / Video / Interativo / etc.) Outros materiais relacionados com PÓS-BICENTENÁRIO o tema deste edital serão recebidos, e sua seleção dependerá da perConsidera a possibilidade de deslo- tinência com os assuntos tratados car e/ou recompor os espaços e também a possibilidade de sua políticos pensando-os como es- publicação em suporte eletrônico paços públicos, onde tem lugar a (Web) e/ou formato para impressão discussão das coisas comuns, um (PDF). mundo proposto a partir da transformação do mobiliário da vida cotidi- DATA LIMITE DE ENTREGA ana, que para ser possível deve encontrar um equilibro, também, entre SEXTA 20 de Agosto de 2010, a as condições baixo as quais tem meia noite horário de Brasilia (GMT sido produzidos, os meios que usa -3), através do correio eletrônico: e o uso que faz e tem feito destes. Este é um convite a retroceder- revista@emergenciaemergencinos na história, debatendo sobre aemergencia.com nosso presente, da maneira como se apresenta, procurando refletir, e se fosse possível compreender as múltiples relações entre um bicentenário de princípios do século XIX,