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FAYE PEDROSA, Cleide Emília. Pesquisa em identidades surdas: “narrativas do eu”.
Trabalho apresentado no 25º Jornada Nacional do GELNE (Grupo de Estudos
Linguísticos e Literários do Nordeste), 1 a 4 de outubro de 2014. UFRN: Natal, 2014.
PESQUISA EM IDENTIDADES SURDAS: “NARRATIVAS DO EU”
Profa. Dra. Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS\UFRN)
[email protected]
INTRODUÇÃO
O objetivo de nossa participação, nesta mesa - Pesquisas e Experiências em
Língua, Cultura e Identidade surda, será apresentar resultados sobre o estudo recente
que desenvolvemos em nossa base de pesquisa sobre a identidade surda. Para tal,
respaldaremos os dados no aparato teórico-metodológico da Análise Crítica do Discurso
(ACD), especificamente nas propostas da Abordagem Sociológica e Comunicacional do
Discurso (ASCD) em relação aos estudos identitários. Esses estudos têm como
referência a interface que fazemos com a Sociologia para a Mudança Social a partir dos
estudos do sociólogo belga Bajoit (2006, 2009, 2012). Também comporão nossas fontes
de referências os autores que trabalham especificamente com identidades surdas (por
exemplos: PERLIN, 2013 e COSTA, 2010). A análise foi desenvolvida com dados
coletados em “narrativas do eu” escritas por sujeitos surdos universitários do curso de
Letras Libras da UFRN e UFS. Os resultados parciais demonstram a fragmentação
identitária dos surdos diante de suas histórias de vida ligada à história de sua educação
formal.
ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO E OS ESTUDOS IDENTITÁRIOS
A Análise Crítica do Discurso (ACD), na década de 1980, surgiu no cenário
internacional. Nesta mesma década também apresenta ramificações aqui no Brasil. O
grande diferencial desta teoria e metodologia em relação a outras propostas de análise
do discurso é fazer uma análise social do discurso textualmente orientada (Linguística
Sistêmico-Funcional, Linguística de Texto) e se preocupar com os discursos dos
“perdedores”, ou seja, das minorias socais. Logo seu cunho investigativo é fortemente
ancorado em relação assimétrica do poder, em investir em discursos de forte
preocupação social (MEURER, 2005). Por isso julgamos que um estudo que envolve a
identidade do surdo se insere nas propostas de sua investigação.
A ACD se constitui como uma teoria sem fronteiras disciplinares para o estudo
da linguagem como prática social (RESENDE, RAMALHO, 2011). Seguindo esta
diretriz de rompimento de fronteiras, a ACD apresenta, em seu escopo, correntes de
pesquisas as mais variadas que se fundamentam em áreas bem distintas (ver outros
trabalhos nossos no site www.ascd.com.br). Respeitando esta diversidade, este trabalho
se baseia na “Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso” (ASCD),
proposta por Pedrosa e seu grupo de pesquisa (2011), no espaço acadêmico da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e defende, como forma da
ACD se (re)escrever, os diálogos com a Sociologia, tanto a para a Mudança Social
(SMS) com base em Bajoit (2006, 2008, 2009, 2012) quanto a Aplicada a Mudança
social (SAMS) a partir da proposta de Saco (2006); com a Comunicação para a
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Mudança social (CMS) com contribuições de Navarro-Dias (2010); com os Estudos
Culturais a partir de autores como Marttelart, 2005; Hall, 2005, entre tantos; e a
Linguística Sistêmico –Funcional, nos moldes como defendida por Halliday e seus
discípulos.
Particularizaremos aqui a contribuição da ACD e ASCD quanto aos estudos
identitários.
Beck, Giddens e Lash (1997, p. 09), no prefacio do livro “Modernização
reflexiva”, defendem que “o mundo da reflexividade desenvolvida, como forma de
interrogação das formas sociais torna-se lugar comum, é um mundo que em muitos
casos estimula a crítica criativa.” Tomando esse pressuposto, consideraremos o estudo
da identidade surda como fazendo parte do escopo da autoconfrontação ou
reflexividade.
Segundo Bajoit (2012), autor no campo da Sociologia para a Mudança Social
(SMS), vivemos a era do modelo cultural identitário ou subjetivista, em que a tônica é a
valorização do indivíduo sujeito de si mesmo. Este o sujeito tem a capacidade reflexiva
de interferir nas amarras sociais e culturais que estruturam suas relações e de gerenciar
seu condicionamento social, decidindo, em parte, o que deseja. A reflexividade,
sinônimo, na teoria da socioanálise (SMS), de inteligência culturalizada por meio do
modelo subjetivista, tem o papel de refletir sobre a legitimidade das injunções culturais.
Leva o sujeito a submeter qualquer imposição à sua crítica a fim de decidir por sua
rejeição ou adoção. A reflexividade permite o sujeito ser um ator social.
Ao interpelar sua condição social, o individuo começa a buscar identificação nas
relações sociais, construindo para si identidades várias (fragmentadas). No que diz
respeito aos campos das identidades, Bajoit (2006, 2008, 2009, 2012) as agrupa em
três esferas distintas e estas, articuladas com três objetivos (bens) que o sujeito busca
atingir: se o objetivo for a realização pessoal, as identidades se (re)cosntroem na esfera
identitária desejada (EID); se for o reconhecimento social, as identidades se
(re)cosntroem na esfera identitária atribuida (EIA) e, por fim, se for a consonância
existencial (conciliar realização pessoal com o reconhecimento social), as identidades se
(re)cosntroem na esfera identitária comprometida ou engajada (EIC).
Ao atender às expectativas relacionais, isto é, conseguindo o equilíbrio entre
sua realização pessoal e o reconhecimento social, o individuo se torna sujeito e ator de
sua vida. A luta (tensões existenciais) para minimizar o desencontro entre a realização
pessoal e o reconhecimento social torna o individuo sempre mais sujeitos de si
mesmos.
Podemos coadunar o pensamento acima com o que expõe Cardoso (no prefacio
do livro “O poder da identidade”, vol 2 de CASTELLS, 2010, p III):
A globalização não apagou a presença de atores políticos. Criou para eles
novos espaços pelos quais se inicia um processo histórico que não tem
direção prevista. A criatividade, a negociação e a capacidade de mobilização
serão os mais importantes instrumentos para conquistar um lugar na
sociedade em rede.
Pelas narrativas coletadas, vemos, com clareza, essa busca dos novos espaços no
processo político que os surdos estão vivenciando. Pelo que acompanhamos em suas
narrativas sinalizadas (em interação em sala de aula) e escritas, a negociação e a
mobilização têm se tornado peças-chave para o espaço ocupado agora pela comunidade
surda na construção identitária coletiva e individual.
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NARRATIVAS E “NARRATIVAS DO EU”
Aceitamos, assim como Beck (1997) que os indivíduos são construídos através
de interações discursivas, sendo estas complexas. Acrescentamos a esta pontuação os
trabalhos também de Esteban (2006) sob as perspectivas da cognição social e da
sociologia.
Sob o enfoque da primeira, baseado em Bruner, o autor destaca o quanto a
narratividade é importante para a construção do conhecimento social. O pensamento
narrativo, diz o autor, “da mesma maneira que um relato, incorpora a realidade social e
cobra sentido a partir de agentes personagens, ambientes, cenários, intencionalidade,
relações e ações” (ESTEBAN, 2006, p. 172). Isto porque é desse modo que o sujeito se
adequa a seu mundo social e é desta forma que este mundo ganha sentido e significado.
“O sujeito entra na vida social a partir de um processo de negociação de significados
públicos (...) os quais conformam o conhecimento aculturado” (ESTEBAN, 2006, p.
172).
É tão somente através do pensamento narrativo que o sujeito consegue atribuir
significado a sua própria experiência. A narração tem o papel de mediar o mundo
canônico da cultura e o mundo mais idiossincrático das crenças, desejos e as esperanças
desse sujeito (ESTEBAN, 2006).
Por meio da cognição narrativa e suas formas de “conceitualização”, os sujeitos
se expressam sejam por desenlaces tristes, cômicos ou sejam pelos absurdos de suas
histórias. Isto porque não se deve esquecer que o pensamento narrativo está mediatizado
pela cultura, pelos relatos que circulam no imaginário coletivo. A nomenclatura que um
grupo social tem construído historicamente é que dar sentido e significado a sua
experiência e a sua vida. “Esse sujeito em particular interpreta o comportamento de
quem conforma seu mundo social; assim como o que efetivamente adquire sentido e
significado para ele” (ESTEBAN, 2006, 172). Deste modo, suas narrativas refletem
tanto os processos psicológicos como as crenças e valores construídos socialmente.
Sob o ponto de vista sociológico, o autor vai buscar respaldo nos pressupostos
da reflexividade de Giddens ,
a consciência discursiva se refere “a que os atores são capazes de dizer, ou
aquilo o qual podem dar expressão, acerca das condições sociais, incluídas,
em especial, as condições de sua própria ação, quer dizer, é a ideia comum de
que o conhecimento é facilmente atualizável e formulável em enunciados
relativamente precisos e coerentes” (apud ESTEBAN, 2006, p. 178).
Para que ocorra o processo identitário, sob esta perspectiva, é necessário que o
sujeito se desenvolva através das diversas narrativas. Este sujeito social é plurifacetado.
Pela construção narrativa se resgata “a voz do sujeito”, se cria espaços de coexistência
para os diversos sujeitos sociais, onde se alargam nossa compreensão “dos seres
humanos como incluídos em nos mesmos” (ESTEBAN, 2006, p. 190).
Este viés pode muito bem ser enriquecido com a visão de Ricoeur (2013, p.02).
Para ele “o conhecimento de si próprio é uma interpretação”, logo a narrativa do sujeito
é uma interpretação de si. E para o autor, conhecer a si-próprio ocorre indiretamente
“pelo desvio dos signos culturais de todas as espécies que se articulam sobre mediações
simbólicas, as quais, por sua vez, articulam já a acção e, entre elas, as narrativas da vida
quotidiana”. É essa interferência pela narrativa que permite este “conhecimento de si
próprio” ser, em última instância, “uma interpretação de si próprio” (RICOEUR, 2013,
p. 13, 14). Essas narrativas sobre si mesmo é, na verdade, uma estratégia de enfrentar o
seu mal-estar identitário. Paul Ricoeur (apud BAJOIT, 2012) nomeia-as de «a
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identidade narrativa», através qual o indivíduo estabelece a sua ipseidade.1 Ricoeur
(2013) também chama de identidade narrativa ao tipo de identidade à qual um ser
humano acede por intermédio da função narrativa.
A partir das pesquisas do sociólogo Bajoit (2012), podemos apontar alguns tipos
de narrativas, a saber: narrativas de compreensão e narrativas de alívio. As narrativas de
compreensão objetiva “explicar para si mesmo o que lhe aconteceu”. Este é um
exercício de regresso a si, seja a um passado distante ou recente. Quanto ao segundo
tipo, o autor explica que são vários os procedimentos narrativos que são ativados para
aliviar o mal-estar identitário. São eles: de avaliação, de desistência, de compensação
ou de perseverança. Nas palavras de Bajoit (2012): “o indivíduo avalia a importância do
seu mal-estar e pode então considerar desistir de satisfazer as expectativas relacionais
com as quais se sente frustrado, de compensar a insatisfação de uma pela satisfação da
outra ou de perseverar no seu esforço para obter o que ele espera”.
O sociólogo, em suas obras, ao aceitar que a construção da identidade pessoal é
um processo identificável na narrativa do sujeito sobre suas tensões existenciais, aponta
a seguinte classificação dos sujeitos de acordo com esfera identitária correspondente:
- Os sujeitos da esfera identitária atribuída (EIA). São os seguintes sujeitos na EIA:
sujeito conformista (SCf), o que evita o desvio social através do conformismo às
regras sociais; sujeito rebelde (SR), o que avalia que o que se espera dele socialmente
não é legitimo, por isso se rebela; sujeito adaptador (SAd), o que procura, através de
várias combinações em suas relações sociais, equilibrar os dos modos extremos, entre o
conformismo e a rebeldia.
- Os sujeitos da esfera identititária desejada (EID). Os sujeitos da EID podem ser:
sujeito autêntico (SAut), aquele que prioriza seus objetivos, desejos; sujeito altruísta
(SAlt), o que assume que ser preferível renunciar a seus projetos e atender ao que os
outros esperam dele; sujeito estrategista (SE), aquele que tenta conciliar os dois
extremos entre seu desejo e o que os outros esperam dele (BAJOIT, 2006, 2008).
- Os sujeitos da esfera identititária comprometida (EIC). Os sujeitos na EIC são os
seguintes: sujeito consequente (SCq), o que assume as consequências de sua que
escolha no que diz respeito a algum projeto especifico; sujeito inovador (SI), o que
pondera quando deve recuar e começar do zero, estes são mais adaptáveis diante das
relações sociais e dos seus objetivos; sujeito pragmático (SP), o que tenta combinar
escolhas anteriores com modificações ou adaptações que são exigidas diante de novas
circunstâncias.
A fim de atender ao modelo cultural subjetivista ou identitário, o individuo
busca conciliar sua necessidade de reconhecimento social com sua realização pessoal.
Essa é o que Bajoit chama de “gestão do sujeito”, que acarretará tensões entre as três
esferas constitutivas da identidade individual, criando mal-estares que levam o
individuo a sempre questionar seu destino ou condição social.
A BASE LINGUÍSTICA DA ANÁLISE: TEORIA SISTÊMICO-FUNCIONAL
1Ver Paul Ricoeur, Temps et récit III, Le temps raconté, Paris, Seuil, 1988. Pela sua identidade, o
indivíduo é idêntico a muitos outros (ele é idem), mas é também único, singular, irredutível a qualquer
outro (ele é ipse) e é pela narrativa sobre si mesmo que ele constrói essa «ipseidade». (nota de rodapé do
original)
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Sinteticamente, faz-se necessário discorrer sobre a Linguística SistêmicoFuncional (LSF) visto a ACD se arrolar em uma análise textualmente orientada. Para a
LSF a gramática de uma língua se baseia nas necessidades dos usuários visto ser a
linguagem um sistema aberto ao meio social; logo; as formas de construir significados
(CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999) são gerenciados pelos usuários, não é uma
forma estanque da gramática de uma língua. Assim, a LSF propõe macrofunções da
linguagem, recontextualizadas pela ACD, em ideacional (linguagem usada para relatar
as experiências e representações do mundo); interpessoal (envolve as relações sociais);
textual (organização do texto para dar conta das macrofunções ideacional e interpessoal)
(FAIRCLOUGH, [2001] 2008).
A gramática, desenvolvida a partir da teoria sistêmico funcional, apresenta
alguns Sistemas, entre eles, focaremos apenas a Avaliatividade que se encontra na
macrofunção interpessoal. Através da linguagem podemos emitir opinião (avaliação). A
avaliatividade pode, através do sistema de Atitude2, expressar afeto (sentimentos e
emoções), ou julgamentos (julgamento de pessoas, caráter), e ou apreciação das
coisas, tudo, isto, através de alguns recursos como da Gradação e do Engajamento.
METODOLOGIA
Como material de análise, recorremos a narrativas do sujeito surdo, coletada por
nós em 2013.2, semestre em que teve início, na UFRN, o curso de Letras-Libras\
Língua Portuguesa como 2ª Língua. E narrativas coletadas em 2014.1, quando
ministramos Linguística Letras Libras para a 1ª turma de Letras Libras da UFS. Antes
de elaborar as narrativas, solicitei aos surdos que preenchessem uma ficha que mapeava
um pouco da ideia de pertencimento à comunidade surda e dados sócio econômico.
As categorias de análise da socioanálise serão o sujeito e suas identidades,
corroboradas pela análise linguística da teoria sistêmico–funcional, especificamente o
Sistema da avaliatividade.
Quanto à questão ética da pesquisa, para a segunda coleta, elaboramos uma
autorização de uso do material, respeitando-se o anonimato, que foi assinado pelos
surdos que participaram da pesquisa. Na primeira coleta, os dados foram enviados por
e-mail, contudo, o anonimato também está sendo respeitado.
ANÁLISE: “NARRATIVAS DO EU” SURDO
Sinto-me impelida a começar esta sessão falando de minha experiência ao lidar
com a cultura surda. Em um congresso da comunidade surda que assisti em 2013
(Caxias do Sul), alguns palestrantes defendiam que apenas os surdos deveriam
pesquisar sobre surdos; porém, por não concordar com este ponto de vista, já que
pesquisamos discursos, continuei com minha pesquisa sobre identidade surda.
Considero que a citação que trago a seguir destaca o valor da alteridade e da imersão em
culturas distintas como básicos para o autoconhecimento (e agradeço publicamente aos
surdos por contribuir com a pesquisa) porque
de fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros,
mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a
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O Subsistema de Atitude é “responsável pela expressão linguística das avaliações positivas e negativas,
que abrange três regiões semânticas: emoção, a ética e a estética, a saber, avaliações de afeto, julgamento
e apreciação” (ALMEIDA, 2011, p. 99).
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elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos
conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que
nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos “evidente”. Aos
poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos, mimicas,
posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de “natural”. Começamos,
então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos
espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa
cultura passa
inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos
especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras,
mas não a única (LAPLANTINE apud PAVLOSKI, 2012, p. 15).
Passo agora aos exemplos a serem analisado:
Exemplos:
1- A vida hoje é difícil pra tudo, mas temos que enfrentar esse desafio pra sobreviver na sociedade que
tem preconceito com deficiente, mas é possível conquistar tudo que deseja com força de vontade. A
minha vida na escola foi muito difícil porque fui excluída na sala por amigos e professores por tem
dificuldade de aprendizagem e só conseguir aprender a ler e escrever porque minha mãe pagou uma aula
particular, então acredito que nem toda família tem condições de pagar uma aula por fora.
Atualmente curso ciências contábeis por vocação e vontade de tem uma carreira fixa e letras libras para
mostrar que os surdos são capazes tem aprenderem e basta os professores oferecerem uma educação
especial. (UFRN, Letras-Libras/Língua Portuguesa como 2a Língua, agosto 2013).
2- Minha historia de vida, com duas meses de gravidez mãe pegou doente rubéola, X nasceu saudável,
sem problema mental. Meu idade 1 anos começou andar no campo de futebol e a família notou que
chamava mais vezes e não respondia ninguém. O pai com eu viajar para Salvador e descobrir a Surdez X.
A família fala oralismo pouco aprender X, É o mais novo de três irmãos. Meu irmão conversa mimica,
gosto brincar mimica.
Passado eu junto irmão vai para escola diretor fala irmão separar só um surdo aqui é não ter
escola deficiente surdo, outra procurar escola inclusão algum deficiente surdo. Estudou no ensino
fundamental tem inclusão cada um mais: - Escola Cinderela - Escola Alternativa de Sergipe - Escola
Caminho do Saber, mas antes não tem surgir interprete de libras no ensinou fundamental ninguém escola.
Primeiro encontro comunicar amigo surdo sabe língua de LIBRAS.
Estudo médio e técnico – Instituto Federal de Sergipe tem deficiente inclusão especial, consegui
ter interprete de libras no ensinou médio e técnico. Não encontro comunicar surdo ninguém. Comunica
mimica amigo pouco social normal e deficiente física. Alguma professora fala muita escuta interprete de
libras ensina difícil aluno surdo. Passou aprovadas disciplinas médias e técnicas. De outro, perdeu muitos
4 vezes vestibular, porque não sei escrever redação sofrer ruim.
Hoje estudo muito e também aprende escrever redação boa quase prova passo em o primeiro no
vestibular Curso de Letras-Libras no ensino superior. Gosto estudar para a UFS, começa 1º período curso
Letras-Libras novas. (UFS, Letras-Libras , 2014.1, setembro)
3. A minha mãe tinha gravida por doença: Rubéola que nasce os gêmeo masculinos duas surdos, era fui
estudar na aula de especial dos surdos, professores são ouvintes sabem Libras de chamado ESCOLA
FONO na escola fundamental até 6 serie outro a Escola Tancredo tem inclusão social com ouvintes e
surdos na sala mas teve interprete, não foi perfeita a própria as línguas sinais , trabalhei na Feneis os
surdos muitos de comunidade surda em Justiça Região. Tive desafio sem comunica ao médico, Loja ,
Turismo, Museu as minhas barreiras onde aprender desenvolver para futuro . Eu já trabalhei catequese de
ensinar os surdos alunos na Igreja Católica em Belo Horizonte-Minas Gerias. Os maiores ouvintes que
viajei passear, onde enderenço que pedi me ajudar para ir ao aeroporto sem comunicação e não ouvi,
radio de destino de embarcar; já aconteci que entro aeroporto de aeromoças ajudam ao deferência auditiva
que aquela pensa cego, não é cego, disse “ sou surdo” , é chateado das aeromoças porque não consegue
falada de ouvir mas só uso falar de sinais isso. A minha família me convida na festa dos amigos ouvintes
que eu estive sozinho à-toa de sentar, comer, tira foto, bobagens , outro e não senti bem , falto conversar
para mim, foi ruim. Foi difícil na rua de calçado quando policia grita chamar o menino , não ouvi que
aquele prende com mãos que me briga de falar português , mas eu falo: sou surdo mas ele é teimoso de
falar muito, sem comunica com surdo. (UFS, Letras-Libras , 2014.1, setembro)
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Como básico para a pesquisa em ACD, está à preocupação com as causas
sociais. É objetivo da ACD dar “voz” (dar a palavra, o signo, o sinal) aos
marginalizados socialmente, as minorias que não têm seus direitos respeitados.
Como podemos acompanhar pelas narrativas acima, as tentativas de erros e
acertos perduraram na educação do surdo: exclusão, separação de irmãos, falta de
intérpretes em sala de aula, inclusão em sala de ouvintes. Discutir estas questões no
âmbito universitário responde ao que Beck et al (1997) explicam sobre a reflexividade
como forma de interrogar a sociedade a fim de procedermos a uma crítica que eles
nomeiam de ‘criativa.’
DISCUSSÃO
Diante das várias informações registradas nas narrativas do eu, priorizaremos ás
referentes à educação. Verificaremos como se constrói a identidade surda neste espaço
politico–pedagógico (ou falta dele).
Fragmentos
1- A minha vida na escola foi muito difícil porque fui excluída na sala por amigos e professores por
tem dificuldade de aprendizagem e só conseguir aprender a ler e escrever porque minha mãe
pagou uma aula particular, então acredito que nem toda família tem condições de pagar uma aula
por fora.
2- Passado eu junto irmão vai para escola diretor fala irmão separar só um surdo aqui é não ter
escola deficiente surdo, outra procurar escola inclusão algum deficiente surdo. Estudou no
ensino fundamental tem inclusão cada um mais: - Escola Cinderela - Escola Alternativa de
Sergipe - Escola Caminho do Saber, mas antes não tem surgir interprete de libras no ensinou
fundamental ninguém escola. Primeiro encontro comunicar amigo surdo sabe língua de
LIBRAS.
Estudo médio e técnico – Instituto Federal de Sergipe tem deficiente inclusão especial, consegui
ter interprete de libras no ensinou médio e técnico. Não encontro comunicar surdo ninguém.
Comunica mimica amigo pouco social normal e deficiente física. Alguma professora fala muita
escuta interprete de libras ensina difícil aluno surdo. Passou aprovadas disciplinas médias e
técnicas.
3- ...era fui estudar na aula de especial dos surdos, professores são ouvintes sabem Libras de
chamado ESCOLA FONO na escola fundamental até 6 serie outro a Escola Tancredo tem
inclusão social com ouvintes e surdos na sala mas teve interprete, não foi perfeita a própria as
línguas sinais...
A história de educação do surdo passa por contextos variados. Se tomarmos
como ponto de partida os aspectos linguísticos e discursivos, identificamos claramente
os subsistemas do sistema de atitude. O afeto se evidencia em trechos das narrativas
onde os sentimentos se afloram: o fato da vida na escola ter sido difícil; por acreditar
que nem todas as famílias tenham condições de pagar escola privada (1); o diretor
separar os irmãos (2). Também se pode destacar a forma como ocorreu o julgamento:
ter sofrido exclusão por amigos e professores (1); implicitamente a um julgamento em
relação à atitude do diretor de separar os irmãos surdos (2); julgamento positivo em
relação à inclusão por causa da presença de interprete (3). A apreciação ocorre em
vários pontos do texto: vida difícil (1); escola não ter deficientes surdos; escolas sem
intérpretes (2); escola com inclusão social (3).
Ao interpelar seu destino social, o individuo busca identificação nas relações
sociais, construindo para si identidades várias (fragmentadas). Identificamos por parte
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do sujeito, da narrativa 2, a busca por sua identidade linguística. No ensino
fundamental, ele encontra identificação com sua língua através de amigo surdo; mas já
no ensino médio, tal fato não acontece. A presença de intérprete em sala de aula vem
dar esse elo de identificação através da língua. Vemos que os sujeitos são capazes de
dizer ou dar expressão às condições sociais pelas quais passaram. Pela construção das
narrativas, podemos recuperar o direito do sujeito expressar a interpretação de si
mesmo (“a voz” do sujeito). Nessas narrativas se criam espações de coexistência para os
diversos sujeitos sociais que constituem a teia social. Como bem pontua Ricoeur (2013,
p. 13, 14): é essa interferência pela narrativa que permite este “conhecimento de si
próprio” ser, em última instância, “uma interpretação de si próprio”.
De acordo com os pressupostos classificatórios de Bajoit (2012), os tipos de
narrativa são de compreensão e narrativas de alívio. Como as narrativas do eu é um tipo
de interpretação de si, então essas são, a nosso ver, narrativas de compreensão porque
tiveram como objetivo, de certa forma, “explicar para si mesmo o que lhe aconteceu”.
A seguir afunilaremos fragmentos das narrativas referentes ao momento atual, a
sua chegada à universidade.
Momento atual: a chegada à Universidade
1-Atualmente curso ciências contábeis por vocação e vontade de tem uma carreira fixa e letras libras
para mostrar que os surdos são capazes tem aprenderem e basta os professores oferecerem uma educação
especial.
2 - De outro, perdeu muitos 4 vezes vestibular, porque não sei escrever redação sofrer ruim.
Hoje estudo muito e também aprende escrever redação boa quase prova passo em o primeiro no vestibular
Curso de Letras-Libras no ensino superior. Gosto estudar para a UFS, começa 1º período curso LetrasLibras novas.
Segundo Hall (2005, p. 13) “O sujeito assume identidades diferentes em
diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente.
(HALL, 2005, p. 13). Observemos o que é pontuado pelo sujeito 1:faz um curso para
provar que os surdos são competentes. Há uma tensão identitária (Bajoit, 2006, 2008,
2012) entre a realização pessoal (curso ciências contábeis para ter uma carreira) e o
reconhecimento social (faz Letras Libras para provar que os surdos são competentes).
Este é um sujeito que luta entre duas esferas identitárias. Um sujeito que se situa na
esfera identitária atribuída (EIA), como um sujeito conformista que responde ao que
ele acha que tem que provar socialmente. Ao mesmo tempo em que quer atender sua
realização pessoal, ele se insere na esfera identititária desejada (EID), como um
sujeito autêntico (SAut), aquele que prioriza seus objetivos, desejos.
Em relação ao sujeito do texto 2, a citação de Gesser (2002, p 83) é bem
apropriada quando ela fala que, na contextualização da educação de surdos, “se
estampam narrativas e relatos tristes e dramáticos”. “Trata-se de uma escrita com
marcas de identidade surda, de um ‘português surdo’, em que suas impressões da
história ficam respaldadas por sua própria maneira de escrever e pela forma que
entendem o mundo”. E pelo que o sujeito justificou foi essa forma de “ escrever surdo”
que o levou a tentar 4 vezes o vestibular sem sucesso. Isso é uma prova de quanto este
meio esteve alheio à realidade do surdo no Brasil. Aspecto que se confirma no trabalho
de Souza (2002), ela relata que até 2002, em Sergipe, apenas um surdo tinha
conseguido ingressar no curso superior.
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CONCLUSÃO
O sociólogo Bajoit, representante da Sociologia para a Mudança, defende que
vivemos segundo o modelo cultural subjetivista ou identitário. Neste modelo, o sujeito
busca conciliar sua necessidade de reconhecimento social com sua realização pessoal,
trabalho chamado também pelo autor de “gestão do sujeito”. Como vimos pelas
narrativas, os sujeitos, ao criar a rede de interlocução através de suas narrativas, constrói
suas identidades.
Para falar de rede de interlocução, o sociólogo referenda Charles Taylor (apud
BAJOIT, 20012), acompanhemos:
Ademais, se a nossa identidade se constrói pela nossa
participação em redes de interlocução, se ela se constrói na
linguagem, ela constrói-se necessariamente como uma narrativa
sobre nós mesmos, sobre o que somos e como nos tornamos
assim, e sobre o que queremos tornar-nos.
Com esta citação fecho o texto e justifico mais uma vez minha participação
como ouvinte pesquisadora da identidade surda. Não estamos analisando o sujeito
empírico surdo, porém sua construção na linguagem e pela linguagem; assim torna-se
viável, mesmo para quem não é surdo, trabalhar a identidade surda.
REFERÊNCIAS
BAJOIT, Guy. Vers une théorie socio-analytique de la relation sociale. 2012. Texto
inédto, cedido pelo autor.
_____. La tiranía del “grand ISA”. Cultura y representaciones sociales. Ano 3, n. 6,
março de 2009, p. 9-24. www.culturayrs.org.mx/revista/.../Bajoit.HTML
_____. El cambio social, análisis sociológico del cambio social y cultural en las
sociedades contemporáneas. Madrid: Siglo, [2003]2008.
_____. Tudo muda: proposta teórica e análise da mudança sociocultural nas sociedades
ocidentais contemporâneas. Lisboa, Portugal: Unijaí, 2006.
BECK, Ulrich, a reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva.
Cap 1. GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Modernização reflexiva:
política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da UNESP,
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“narrativas do eu”.