ESTADO DO TOCANTINS TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete da Presidência Planejamento Participativo Uma Proposta Para A Democratização Da Justiça (Documento apresentado ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro NELSON JOBIM) Ao assumir a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins em 2 de fevereiro de 2003, encontrei uma situação administrativa “sui generis”. Meu antecessor realizou uma administração ímpar, colocou em prática, em toda sua intensidade, a lei de responsabilidade fiscal, saneou as dívidas do Tribunal, conteve gastos, adequou a folha de pagamento aos padrões e dimensões suportáveis pelos cofres públicos e deixou projetado e em fase de execução o maior Fórum da Região Norte do Brasil. Entretanto, a realidade orçamentária, imposta pela incontida e clamorosa necessidade de infraestrutura e desenvolvimento do Estado, traçava limitações que sufocavam o Poder Judiciário, chegando a contornos preocupantes que acabaram por ser intensamente evidenciados no décimo quinto ano de instalação do Poder Judiciário. Não bastasse esse problema, o descontentamento da Magistratura de primeiro grau, com a falta de estrutura e apoio para o desenvolvimento da prestação jurisdicional, provocava situações de antagonismo e contestação dentro do Poder Judiciário. Essa estrutura precisava ganhar reforço para manter incólume a grandeza e dignidade do Poder Judiciário. Era necessário, portanto, dar ouvido às contestações internas e externas, estabelecer um direcionamento institucional com práticas efetivas que satisfizessem os anseios da Magistratura e da comunidade tocantinense. O primeiro passo foi convidar os juízes a apresentarem sugestões para melhorar a prestação jurisdicional, oferecendo subsídio para um plano judiciário viável. A ideia de ouvir os que estavam mais perto da comunidade e dos problemas que atormentam a administração da Justiça, em que o movimento de petições e audiências é significativamente maior, provocou a abertura de um amplo debate sobre a estrutura e funcionamento do Judiciário no Estado do Tocantins, levando-me a instituir formalmente uma comissão de juízes de direito da Capital, com a tarefa de elaborar um plano judiciário que servisse de base para nossa proposta orçamentária (PPA 2004/2007 e LOA 2004). ESTADO DO TOCANTINS TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete da Presidência A um dos juízes da comissão entreguei a responsabilidade de participar de outra comissão composta pelo Diretor Geral do Tribunal de Justiça e assessores da Presidência e da Corregedoria, incumbida de elaborar as propostas do plano plurianual e da lei orçamentária do Tribunal de Justiça. Os Membros da Comissão do Plano Plurianual (PPA) e Lei Orçamentária (LOA) estiveram na sede de todas as Comarcas do Estado e em todos os seus distritos judiciários, ouvindo servidores, operadores do direito e a comunidade, perfazendo um total de 139 municípios visitados. Pela primeira vez ofereceu-se ao Tribunal de Justiça uma verdadeira radiografia do Poder Judiciário. O conhecimento dos problemas trouxe-nos a possibilidade de melhor planejar nossos programas e ações, com vistas a solucioná-los, preveni-los e otimizar a prestação jurisdicional. A tarefa de recuperação e melhoria da estrutura física, reorganização administrativa, implantação de tecnologias e qualificação pessoal pareceu-nos, à primeira vista, impossível de ser realizada em apenas dois anos, o que nos levou a recomendar um projeto de plano judiciário, não apenas para os próximos quatro anos, nos moldes exigidos pelo PPA, mas para uma década, de forma que sempre pudesse ser reavaliado, readaptado e aprimorado a cada novo ano, sem perder sua estrutura original. Os estudos, apresentados pela comissão de plano judiciário, resultaram em um trabalho bastante objetivo e didático, o qual facilitou sua adequação ao PPA pela comissão respectiva. Apesar de ter assumido, nos primeiros momentos, o compromisso de levar ao Pleno, pela primeira vez, a discussão orçamentária, entendi que era conveniente democratizar, também, esse processo dentro do Tribunal, com o objetivo de envolver e angariar compromisso e simpatia dos demais Desembargadores a essa nova proposta de trabalho, criando uma cultura de planejamento e gestão. Com esse pensamento, resolvi apresentar ao Pleno a proposta de criação de uma Comissão de Orçamento, Finanças e Planejamento, composta pelo Presidente, VicePresidente e Corregedor Geral, com atribuições de examinar e aprovar, previamente, a proposta oriunda das comissões de primeiro grau, antes de serem levadas ao colegiado. A proposta foi acolhida, resultando na criação de uma comissão temporária, encaminhando-se à Assembleia Legislativa do Estado um projeto de lei para torná-la definitiva, o que efetivamente veio a acontecer. Aprovados pela Comissão de Orçamento, Finanças e Planejamento, sem ressalvas ou adequações, o Plano Judiciário, PPA e LOA foram levados ao Pleno, onde, de igual forma, restaram aprovados. Estava, enfim, democratizado e implantado o 2 ESTADO DO TOCANTINS TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete da Presidência panejamento participativo no Tribunal de Justiça do Tocantins, primeiro tribunal brasileiro a adotar esse modelo. As dificuldades financeiras, todavia, levaram-nos a reexaminar a proposta, adequando-a aos valores possíveis dentro do contexto orçamentário do Estado, o que também foi submetido ao Tribunal Pleno. Mesmo assim, conseguimos dobrar o orçamento do Poder Judiciário, criando programas e ações necessários ao seu desenvolvimento. Essas dificuldades levaram-nos a buscar meios de melhorar a receita do fundo de modernização, composto pelas custas judiciais e outras taxas a ele destinadas. A implantação de um sistema eletrônico de arrecadação nas Comarcas do Estado foi a solução encontrada, surtindo substanciais resultados. Paralelamente, implantamos um sistema de intranet, denominado Telejuris, com o objetivo de interligar todas as Comarcas do Estado ao Tribunal de Justiça, unificando seus bancos de dados e trazendo padronização e sistematização ao andamento processual, permitindo seu acompanhamento pela Internet, de qualquer canto do mundo onde um computador possa ser ligado a uma linha telefônica convencional ou celular. Nesse projeto também estiveram envolvidos os Juízes de primeiro grau, opinando sobre a arquitetura da rede e apresentando sugestões para as adequações do sistema de acompanhamento processual cedido em cooperação pelo Tribunal de Justiça do Ceará. Outro sonho da Magistratura do Tocantins era a instalação de sua escola superior, o que providenciei nos primeiros dias de gestão, dando-lhe a estrutura possível para realizar palestras, cursos, inclusive de pós-graduação, e até mesmo um congresso jurídico, no qual estiveram presentes grandes expoentes do direito nacional. A qualificação do pessoal do interior, que encontrava barreira nos deslocamentos, será possível por meio de cursos telepresenciais a partir do mês de agosto vindouro, em convênio com a Universidade do Tocantins. Através do mesmo convênio, um curso superior de técnico jurídico, sequencial e telepresencial, será oferecido a todos os servidores do Poder Judiciário que tenham o segundo grau completo. Tudo isso e muitos outros programas e ações têm a participação direta dos juízes de primeiro grau, da Associação dos Magistrados e da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (ESMAT). O bom relacionamento que estamos mantendo com os Tribunais Superiores e com o Congresso Nacional permitiu que conseguíssemos doações de computadores e até mesmo uma emenda de bancada no PPA da União, com previsão de R$ 32.000.000,00 (trinta e dois milhões de reais) para a construção de sedes do Poder Judiciário, dentro do projeto de implantação dos Centros Integrados de Cidadania, nos anos de 2004 a 2007, sendo R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) referentes a quatro unidades, para o ano de 2004. 3 ESTADO DO TOCANTINS TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete da Presidência Dentre outros, é digno de nota o projeto dos Centros Integrados de Atendimento à Criança e ao Adolescente implantado em Palmas, Capital do Estado, que reúne sob o mesmo teto todos os atores responsáveis pela área, ou sejam, Juizado da Infância e Juventude, Ministério Público, Defensoria Pública, Conselho Tutelar, Secretarias de Justiça, Segurança Pública e de Ação Social, além do Município. Apesar de existirem outros Juizados da Infância e Juventude no Estado, o modelo implantado na Capital constitui um módulo que deve ser referência para implantação nas demais comarcas. Diga-se de passagem que esse projeto do CIACA somente foi possível de ser implantado devido à aproximação entre a Juíza titular do juizado, demais atores do sistema e a Presidência do Tribunal de Justiça, que elegeu como prioridade seu funcionamento, destinando todo apoio e estrutura material para a concretização de um sonho que em outros locais do Brasil ainda não se realizou. O sucesso alcançado no primeiro ano de trabalho atestou a funcionalidade do novo sistema de gestão, levando-me a reeditar os atos administrativos que trouxeram a magistratura de primeiro grau a trabalhar em conjunto com os órgãos diretivos do Tribunal de Justiça, ampliando, desta feita, suas atribuições, a fim de reestruturarmos a organização judiciária, planejando a redivisão das comarcas e a criação de outras, bem como dos cargos necessários para atender às necessidades já existentes e futuras, que devem ser projetadas racionalmente para os próximos anos, haja vista os limites orçamentários, financeiros e de responsabilidade fiscal. A comissão de juízes tem se reunido duas vezes por semana, debruçando-se sobre os estudos do plano de reorganização judiciária, devendo concluir a primeira fase dos trabalhos até o mês de agosto, passando-se à peregrinação nos municípios do Estado para ouvir a comunidade e os operadores do direito sobre o desempenho do Judiciário nas Comarcas, proporcionando uma atualização das informações necessárias aos últimos acertos do trabalho. Além de todo esse trabalho, tenho ido às comarcas da Capital e do interior discutir com os juízes e operadores do direito a execução orçamentária e o planejamento estratégico para melhorar a prestação jurisdicional. Dessa forma, penso que o novo sistema proporcionará estabilidade administrativa e financeira ao Tribunal de Justiça, garantindo a continuidade dos projetos iniciados, por constituírem anseios da comunidade e da magistratura. Palmas –TO, 29 de junho de 2004. Desembargador MARCO VILLASBOAS Presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins 4