4573 Trabalho 1240 - 1/4 IMPLANTAÇÃO DE UMA COMISSÃO INTRA-HOSPITALAR DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTE: PERCEPÇÃO DOS TRABALHADORES DA SAÚDE Cappellaro, J.1 Zacarias, C. C.2 Silveira, R. S.3 Cappellaro, J.4 Silva, M. E.5 Busanello, J.6 Introdução: No Brasil, os transplantes de órgãos sólidos tiveram seu início na década de 60. Primeiramente considerados como procedimentos clínicos experimentais, posteriormente como “métodos terapêuticos de comprovada eficácia para tratamento de inúmeras doenças de caráter progressivo e fatal”, influenciando tanto na qualidade, quanto na melhoria da perspectiva de tempo de vida dos doentes, possibilitando o convívio social e o desempenho de atividades profissionais (1:123) . Com o desenvolvimento dos transplantes e sua aplicação no tratamento de doenças terminais de alguns órgãos, converteram-se num dos capítulos de maior êxito na história da medicina. Desde o início da década de 90, o progresso brasileiro na realização de transplantes tem sido notável. Dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, indicam que foram realizados 15.855 transplantes em 2007, com aproximadamente 66.558 mil pessoas aguardando transplantes no país. No primeiro semestre de 2008 a fila de espera encontravase com aproximadamente 68.906 pessoas, com a incidência de 34.247 transplantes de rim; 24.693 de córnea e 6.425 de fígado 2. Entende-se que a constituição de uma Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) é uma possibilidade de aperfeiçoar e contribuir para um efetivo processo de captação, doação e transplante de órgãos. Para implementar uma CIHDOTT é necessário envolver e conscientizar tanto os Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Membro do NEPES. Rua Marechal Floriano, 492. Bairro Centro. Rio Grande/RS. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Bolsista de Apoio Técnico do CNPq. Membro do NEPES. 3 Enfermeira. Professora da Escola de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Doutora em Enfermagem pela UFSC. Membro do NEPES. 4 Enfermeira do Hospital Santa Paula em São Paulo – SP. 5 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Membro do GEP-GERON. 6 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Membro Viver Mulher. 1 4574 Trabalho 1240 - 2/4 trabalhadores da saúde, quanto os usuários a respeito do processo de transplante de órgãos. Objetivo: Conhecer a percepção dos trabalhadores de saúde de um Hospital Universitário (HU) acerca da implantação de uma CIHDOTT. 3 Metodologia: Utilizou-se uma abordagem qualitativa , numa tentativa de compreender e aprofundar os conhecimentos a partir da interação entre a pesquisadora e os trabalhadores da saúde. Os trabalhadores da saúde que constituíram os sujeitos foram três médicos, duas enfermeiras e uma psicóloga, selecionados a partir de alguns critérios: estar ou já ter sido envolvido numa CIHDOTT. Contemplando os aspectos éticos da Resolução CNS – 196/964, obteve-se a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde CEPAS da FURG sob o parecer nº. 70/2008. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas composta por questões abertas a fim de obter o relato das vivências dos trabalhadores, possibilitando a interpretação dos sentidos e os significados das falas. A análise dos dados foi realizada a partir da sua organização, da extração do seu significado na pesquisa, o que exigiu uma atividade intensiva, o uso da criatividade, o resgate da sensibilidade para favorecer a interpretação dos achados 4. Resultados e Discussão: As categorias de análise foram: antecedentes da construção de uma CIHDOTT no HU; dificuldades e necessidades evidenciadas para implementá-la e vantagens e/ou contribuições da implantação da comissão. Na categoria antecedentes da construção de uma CIHDOTT no HU, ficou evidenciado uma tentativa anterior de implantação pela mobilização de alguns trabalhadores da saúde que desenvolveram reuniões; cursos de capacitação para o processo de captação de órgãos e criação de protocolos exigidos pela legislação. No entanto, apesar de ser importante e relevante estas iniciativas, a partir do momento em que o processo foi encaminhado à direção hospitalar, surgiram dificuldades relativas a recursos humanos e materiais, o que possivelmente ocasionou a desmobilização dos envolvidos impossibilitando a continuidade do processo. As dificuldades e necessidades evidenciadas para implementar uma CIHDOTT apontadas pelos trabalhadores, estão relacionadas a recursos materiais e humanos. Foram destacadas como dificuldades no que se refere aos recursos humanos, a não destinação de carga horária de trabalho e a adequada remuneração para os constituintes da comissão. A não disponibilização de recursos financeiros para a 4575 Trabalho 1240 - 3/4 aquisição de equipamentos e de uma estrutura física adequada foi outro impedimento, pois apesar do interesse por parte da direção e dos trabalhadores, a estrutura organizacional não dispunha naquele momento de condições para implantar um serviço desta complexidade. A maioria dos sujeitos salienta como necessário e indispensável, o envolvimento da administração hospitalar na busca dos recursos necessários para iniciar a criação de uma CIHDOTT. Acreditam que com esse apoio o processo de chamamento de pessoal e a organização do espaço físico para tal atividade serão facilitados. Além de ser uma exigência legal, a participação de trabalhadores capacitados de diferentes áreas na comissão, a atuação de uma equipe multidisciplinar favorece as relações interpessoais entre seus membros e a qualidade do processo. Ao mesmo tempo a participação na comissão é enfatizada e valorizada por alguns trabalhadores como uma forma de exercer a cidadania, a solidariedade e o compromisso social. Algumas das vantagens da existência da CIHDOTT referem-se tanto aos benefícios para os usuários que necessitam de um transplante para sobreviver e a conseqüente melhoria na qualidade de vida da população em geral, quanto para a própria instituição. No âmbito da instituição sua existência contribui para a busca da excelência nos serviços prestados, aumenta o aporte de recursos financeiros, e atua como importante laboratório no processo de formação dos acadêmicos da área da saúde, uma vez que no país, são raras as universidades que possuem conteúdos específicos de transplante de órgãos em seus currículos. Considerações Finais: Há a necessidade de uma reflexão e problematização por parte dos educadores da área da saúde quanto à inserção desta temática em seus currículos, a fim de formar profissionais com competência técnica e ética desde a abordagem de um possível doador até a concretização do transplante. Acredita-se que ações de sensibilização e conscientização de toda a sociedade, em especial dos trabalhadores da saúde, deve ser vivenciada em todos os seus processos formativos, o que poderá favorecer o seu engajamento e envolvimento tornando real o processo de doação e captação de órgãos e tecidos. A constituição de uma CIHDOTT se faz necessária, tanto para favorecer o processo de identificação de possíveis doadores para captação e doação de órgãos, para implementar protocolos para realização de testes diagnósticos, comprovar a 4576 Trabalho 1240 - 4/4 existência de morte encefálica e notificá-la, quanto para sensibilizar a família, reduzindo possíveis obstáculos para a efetivação de transplantes no Brasil. Palavras-chave: Ética. Transplante de órgãos. Trabalhadores da saúde. REFERÊNCIAS 1. Bacchella T, Oliveira RA. Bioética dos Transplantes In: Segre M. A Questão Ética e a Saúde Humana. São Paulo: Atheneu. 2006. 2. Marinho A. Um estudo sobre as filas para transplante no Sistema Único de Saúde brasileiro. Caderno Saúde Pública. 2006; 10 (22). 3. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em Enfermagem: Métodos, avaliação e utilização. São Paulo: Artmed. 2004. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 196/96. Dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília. 1996.