ISBN 978-85-237-0630-2 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Reitora MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ Vice-reitor EDUARDO RAMALHO RABENHORST Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza IERECE MARIA DE LUCENA ROSA Chefe do Departamento de Geociências ANIERES BARBOSA DA SILVA EDITORA UNIVERSITÁRIA Diretor IZABEL FRANÇA DE LIMA Vice-diretor JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO Supervisor de Editoração ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR Editoração e Capa CRISTIANE DE MELO NEVES 2 Giovanni Seabra (organizador) TERRA Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades Editora Universitária da UFPB João Pessoa, Paraíba. 2013 3 COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Giovanni Seabra – UFPB Prof. Dr. Antônio Carlos Brasil Pinto – UFSC Prof. Dr. Anderson Portuguêz – UFU Prof. Dr. Khosrow Ghavami – UNICAP – RJ Prof. Dr. José Mateo Rodriguez – Universidad de Habana Profª. Drª. Aldemir Barboza – UFPE Prof. Dr. Geraldo Moura – UFRPE Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa – UFPB Profª. Drª Vanice Selva – UFPE Prof. Dr. Luis Tomás Domingos – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Prof. Dr. Edson Vicente da Silva – UFC Prof. Dr. Jacques Ribemboim – UFRPE Profª. Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes – UFPE Profª. Drª. Andrea Pacheco Pacifico – UEPB Prof. Dr. Fernando Luiz Araújo Sobrinho – UNB T323 Terra: [livro eletrônico]: Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades / Giovanni Seabra (organizador). – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2013. 16.891 kb/pdf. V4 854 pag ISBN 978-85-237-0630-2 1. Meio Ambiente 2. Biodiversidade. 3. Mudanças Climáticas. 4. Agroecologia. 5. Recursos Hídricos. 6. Degradação Ambiental. I. Seabra, Giovanni. UFPB/BC CDU: 504 Nota: Este livro é resultado do Fórum Internacional do Meio Ambiente - A Conferência da Terra, uma realização da Universidade Federal da Paraíba e GS Consultoria, cujo tema central - Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades, proporcionou amplo debate durante as conferências, palestras e grupos de trabalhos. As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores. Todos os direitos desta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda. E-mail:[email protected] 4 APRESENTAÇÃO Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades O Desenvolvimento Sustentável do Planeta é um compromisso assumido por 170 países no Protocolo A Cúpula da Terra, assinado durante a realização da Rio–92, no Rio de Janeiro. Para atender as aspirações das nações presentes, a Rio-92 aprovou a Agenda 21, documento contendo uma série de intenções acordadas pelos países signatários. Inúmeros problemas urbanos seriam solucionados, caso as cláusulas da Agenda 21 fossem obedecidas. Contudo, o cumprimento dos objetivos da Agenda 21 depende da inversão de capitais na execução de programas destinados à melhoria da qualidade de vida da população dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Após 20 anos de sua concepção, o grande desafio da Agenda 21persiste: tornar as cidades sustentáveis e humanamente habitáveis. O livro Terra: qualidade de vida, mobilidade e segurança nas cidades contém 530 capítulos, editados em cinco volumes, contendo os trabalhos acadêmicos e científicos apresentados durante a realização da A Conferência da Terra – Fórum Internacional do Meio Ambiente. Realizada no período de 20 a 23 de novembro de 2012, em sua terceira edição, A Conferência da Terra foi sediada na cidade de João Pessoa, reunindo 1500 participantes do País e do exterior. O tema geral do colóquio Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades, título deste livro, é pautado em 17 eixos temáticos. Os eixos balizaram os trabalhos teóricos, metodológicos e técnicos, desenvolvidos nos diferentes campos da ciência, aplicados em situações e cenários ambientais diversos, e publicados na forma de capítulos. A riqueza e excelência do conteúdo deste livro constituem uma singular fonte de informação e de pesquisa a todos aqueles que se interessam pelas questões ambientais em suas dimensões ecológicas, naturais, sociais, econômicas, culturais e éticas. Com a edição desta obra, A Conferência da Terra confirma o seu objetivo primordial de sensibilizar, mobilizar e conscientizar os diversos setores da sociedade para a tomada de atitudes de modo a assegurar uma agenda ambiental comprometida com a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento ecologicamente e socialmente equilibrado. Giovanni Seabra 5 SUMÁRIO 10 – Mudanças Climáticas: implicações ambientais e socioeconômicas.........................................................10 Precipitação Extrema na Área Urbana de Salvador Condições Atmosféricas, Atividade Aérea e Distúrbios Cardiovasculares no Organismo Humano Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental em Microbacia Hidrográfica Localizada em um Núcleo de Desertificação Potencial de Reservação D‘água em uma Barragem Subterrânea no Cariri Paraibano 11 22 33 43 Mudanças Climáticas em Ambientes Urbanos – Teresina - PI 53 Clima Urbano e sua Relação com o Uso e Cobertura do Solo em João Pessoa/PB 64 Mudanças Climáticas e seus Impactos no Semiárido Brasileiro 75 Regime Pluvial do Sertão da Paraíba: variabilidade ou mudança climática? 82 Uso de Técnicas de Sensoriamento Remoto na Detecção de Áreas Degradadas e Susceptíveis a Desertificação no Semiárido Paraibano Análise das Práticas Agrícolas Sustentáveis do Cultivo da Mamona no Sertão Central Cearense: uma alternativa para redução dos efeitos das mudanças climáticas Influência dos Fatores Climáticos na Manifestação de Doenças do Aparelho Respiratório: uma abordagem teórica Mudanças Climáticas e Mídia: configurando o cientificismo ambiental As Mudanças Climáticas e suas Implicações na Saúde Humana Eventos Pluviométricos Extremos e seus Impactos na Região Metropolitana do Recife: episódio de 2010 O Uso de Pluviômetros Caseiros em Bairros Selecionados no Município de Curvelo para Elaboração de um Gráfico Simples de Precipitação Dinâmicas Hídricas no Alto Curso do Rio Paraíba, o Caso do Município de Cabaceiras – PB. Desertificação no Semiárido Brasileiro: implicações geoambientais nos sertões do médio Jaguaribe Teste de Infiltrômetro em Área Desertificada no Município de Caraúbas – PB 93 104 113 124 135 146 158 170 182 194 Desertificação no Seridó – Oriental: a ótica do sertanejo e contribuições para a mitigação desse processo 203 Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa a partir da Degradação de Resíduos 213 Depositados em Aterros Sanitários no Rio Grande do Norte 6 Análise Socioeconômica dos Municípios Paraibanos sob a Perspectiva da Desertificação As Vulnerabilidades Socioeconômica, Política e Ambiental do Haiti Face às Mudanças Climáticas Métricas da Paisagem na Análise dos Padrões Espaciais de Desertificação em Ambiente de Caatinga Utilizado Sistemas de Informações Geográficas A Praga da Cochonilha de Carmim (Dactylopius Opuntiae) e os Impactos Socioeconômicos nos Cariris Velhos/PB A Variabilidade dos Oceanos Atlântico e Pacífico e a Influência sobre a Precipitação e a Agricultura do Cariri Paraibano 225 235 250 262 271 11 – Turismo, Patrimônio e Responsabilidade Socioambiental............................285 Contribuição ao Estudo do Turismo de Segunda Residência: o caso do Condomínio Águas da Serra Haras e Golf no Município de Bananeiras - Paraíba Reflexões Sobre o Turismo na Área Costeira Nordestina Turismo: por meio do olhar patrimonial no Município de Rosana - SP Turismo Rural Comunitario y Los Efectos de Calidad y Sostenibilidad Ambiental en Costa Rica Incorporación de Atractivos Culturales en la Oferta Turística de Chile Turismo e Educação Patrimonial Caminho do Itupava, Paraná, Brasil Análise Sobre os Impactos na Imagem do Produto Turístico Porto de Galinhas Provocadas Pelo Complexo Industrail e Protuário de Suape Aplicação da Escala do Novo Paradigma Ecológico na Praia da Pipa/RN Identidades e Dinâmicas Territoriais: o processo de articulação do turismo rural em Areia/PB Propuesta para el Desarrollo de la Actividad Turística Responsable en el Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, Ciudad de León, Nicaragua – Centroamerica Ruralidades no Espaço Urbano: uma análise a partir da restruturaçãode um pesque-pague no Município de Ituiutaba – MG O Perfil do Turista Rural em Areia/PB 286 298 310 319 332 343 350 361 370 381 392 403 Galinhos/RN: atividade turística e meio ambiente 412 Avaliação do Estado de Conservaçãoda Trilha do Carteiro, APA Serra São José, Tiradentes, Minas Gerais Caminhos dos Engenhos: um passeio turístico pela civilização do açúcar no Brejo Paraibano 419 Meio Ambiente e Turismo: avaliação dos impactos nos manguezais do Município de Maragogi – AL Educação Ambiental para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável: uma experiência com a comunidade de Conceição dos Marreiros-Buriti dos Montes/PI Planejamento Participativo, Desenvolvimento Local e Turismo Religioso na Cidade de Santa Cruz(Rio Grande do Norte) 431 438 449 461 7 Turismo e Meio Ambiente como Proposta de Valorização do Semiárido Cearense 476 Potencial Turístico: um estudo acerca do Geoparque Seridó 489 Turismo Comunitário e de Eventos: envolvimento dos moradores locais da Prainha de Canto Verde em Beberibe – CE 501 A Importâcia do Turismo Sustentável nas Regiões Litorâneas: um estudo de caso da Praia de Porto de Galinhas / Ipojuca – PE 512 Desenvolvimento Sustentável: um olhar na Comunidade Chã do Jardim / Areia - Paraíba 521 12 – Legislação, Direito Ambiental e Cidadania...................................................532 Legislação Ambiental e Cidadania em Busca do Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado O Direito Agrário-Territorial e as Implicações Sobre a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais Amazônicos: breves considerações à luz das Leis Federais N EN e do Decreto Federal Normas Jurídicas Aplicadas a Educação Ambiental: Aspectos gerais da Legislação Ambiental no Brasil Desafios Jurídicos do Licenciamento Ambiental e Delimitação Áreas de Preservação Permanente no Maciço de Baturité (CE) Evolução das Regras Jurídicas Urbanísticas e Ambientais do Município de Mossoró (RN) Direitos Humanos, Cidadania e Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988 533 545 557 571 582 591 Ineludíveis Digressões do Standard de Desenvolvimento Sustentável: uma nova matriz de racionalidade a partir e além da questão canavieira 602 A Dignidade da Pessoa Humana na Concretização dos Princípios Ambientais da Prevenção e da Precaução 615 A Função Ambiental da Propriedade como Instrumento de Realização da Reforma Agrária 623 Custos Ambientais: uma abordagem sobre o processo de gestão 628 A Legislação Nacional dos Resíduos Sólidos e o Processo de Reciclagem 638 O Judiciário entre a Proteção dos Mananciais e o Desenvolvimento da Atividade Econômica 646 Governança Ambiental como Instrumento no Processo de Construção da Preservação do Meio Ambiente 651 13 – Usos, Manejo e Gestão dos Recursos Naturais............................................658 Degradação Ambiental, Manejo do Solo e Biodiversidade em Áreas de Nascentes no Semiárido Pernambucano 659 Reuso de Água e Composto Orgânico na Produção de Algodão Colorido, Respeitando o Equilíbrio Ambiental 671 8 Regeneração de Espécies Arbóreas Nativas para Formação da Reserva Legal Plantas Medicinais da Família Asteracea Utilizadas pela Comunidade Rural de Aratama, Município de Assaré, CE. Aproveitamento de Água Pluvial no Complexo Central de Tecnologia do Banco do Brasil A Biomassa Florestal como Insumo Energético: um perfil do consumo no Bioma Caatinga do Estado da Paraíba Recuperação de Mata Ciliar na Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró no Perímetro Urbano de Mossoró - RN Diagnóstico Com Vistas à Implantação de Técnicas Conservacionistas no Sítio Lutador, Queimadas - PB Estádios Ontogenéticos e Variações no Crescimento em Diâmetro de uma Espécie Lenhosa em uma Área de Caatinga em Caruaru, Pernambuco 682 690 701 715 725 736 746 14 – Reciclagem e Reaproveitamento dos Produtos Industriais...........................756 Minimização e Valorização de Resíduos Gerados por Indústrias Produtoras de Suco de Laranja Ecocampus - Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Cantinas Universitárias Estudo de Caso Puc Minas - Campus Coração Eucarístico A Compostagem dos Resíduos Sólidos Urbanos em Pernambuco: dos aspectos legais à implantação Estudo do Comportamento Plástico e Mecânico do Concreto com Adição de Resíduo de Botão Educação Ambiental: integração entre a comunidade escolar e os comerciantes do mercado 757 768 780 785 público de mangabeira sobre os problemas ambientais causados pelo óleo de cozinha usado 797 Impacto Socioeconômico e Ambiental do Reaproveitamento de Óleo no Município de Areia – PB Utilização de Resíduos Agroindustriais como Substratos na Produção de Mudas de 805 Girassóis 815 Valoração Econômica dos Resíduos Sólidos Domiciliares no Município de Jaboatão dos Guararapes/PE Potencial do Sertão Central Cearense para a Produção de Energia Elétrica a partir de Biogás 827 Obtido através de Resíduos Sólidos Domiciliares 836 Aspectos Socioeconomico dos Catadores de Materiais Recicláveis do Lixão do Município de Solânea/PB 843 9 10 – Mudanças Climáticas: implicações ambientais e socioeconômicas 10 PRECIPITAÇÃO EXTREMA NA ÁREA URBANA DE SALVADOR Aldinete Bezerra BARRETO Professora da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG [email protected] Maria Regina da Silva ARAGÃO Professora da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG [email protected] Magaly de Fatima CORREIA Professora da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG [email protected] RESUMO Neste trabalho o objetivo é estudar a variabilidade da precipitação na região de Salvador, com foco em eventos extremos de chuva (total diário igual ou maior do que 50 mm). Os totais pluviométricos diários e mensais observados na estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no período 1964-2009 possibilitaram analisar a frequência de dias com chuva e a dos eventos extremos, estudar a variabilidade sazonal da precipitação e obter desvios padronizados (DPP) mensais em relação à climatologia. Foi observado que o quadrimestre chuvoso é de abril a julho, representando 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas, com máximo mensal no mês de maio (359,9 mm). A correlação entre o número de eventos extremos e o Desvio Padronizado de Precipitação identificou uma relação direta entre a ocorrência de eventos e total mensal de chuva acima da média, com destaque nos meses do quadrimestre chuvoso (abril, maio e junho) e nos meses de chuvas atípicas (dezembro e janeiro) que apresentaram os coeficientes máximos (> 0,8). Palavras-chave: Área Urbana, Variabilidade da Precipitação, Evento Extremo ABSTRACT In this work the goal is to study the variability of rainfall in the region of Salvador, focusing on extreme rainfall events (daily total equal to or greater than 50 mm). The daily and monthly total rainfall observed at the weather station of the National Institute of Meteorology (INMET) in the period 1964-2009 to analyze the possible frequency of days with rain and extreme events, study the seasonal variability of precipitation and obtain standardized deviations (DPP) monthly relative to climatology. Was observed that the rainiest four is from april to july, representing 51% (1088.4 mm) of the total annual rainfall, with a monthly maximum in May (359.9 mm). The correlation between the number of extreme events and the Standardized Precipitation Deviation identified a direct relationship between the occurrence of events and monthly total rainfall above average, 11 especially in the months of the rainiest four (April, May and June) and the months of rain atypical (december and january) that presented the maximum coefficients (> 0.8). Keywords: Urban Area, Precipitation Variability, Extreme Event INTRODUÇÃO A relação do homem com a natureza faz com que as condições do sistema natural sejam alteradas, sendo as áreas urbanas as que mais expressam essas alterações. Essas modificações atingem principalmente as áreas com acelerado processo de urbanização, por serem regiões que crescem sem planejamento público e modificam intensamente a superfície local através de processos como: retirada da cobertura vegetal, realização de cortes para nivelar o terreno, aterros, impermeabilização das vias urbanas, alterações nas bacias de drenagem e ocupação desordenada de morros e encostas. As alterações ambientais causadas por esses processos são sentidas pela população, tendo em vista que o ambiente construído pode alterar elementos meteorológicos como a temperatura, umidade relativa do ar, ventos e precipitação, que apesar de serem fenômenos naturais, podem ser modificados pela configuração e estrutura da área urbana, dando origem ao clima urbano. Segundo Monteiro & Mendonça (2003) esse clima consiste na alteração do clima local, o qual assume importante papel na questão ambiental. O estudo do clima das áreas urbanas e suas alterações têm recebido atenção da sociedade civil e cientistas, e vem sendo discutidos em fóruns de discussão sobre meio ambiente. O IPCC Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change), nos cenários de mudanças climáticas do seu 4° Relatório IPCC AR4 (2007), aponta para uma série de mudanças climáticas globais na temperatura do ar à superfície e nos padrões de precipitação. Com um aumento na temperatura, o número de eventos extremos de precipitação pode aumentar e, com isso, a média mensal da chuva também aumenta. Num clima mais quente há grande probabilidade de expressivo crescimento dos desastres naturais pelo aumento da ocorrência de secas e de chuvas intensas no litoral brasileiro (Silva Dias & Silva Dias, 2007). Nas regiões metropolitanas e pólos industriais essas mudanças no clima são ainda mais perceptíveis a população, a exemplo do aumento da temperatura nas áreas centrais, precipitações intensas, inundações e alagamentos. Nas grandes áreas urbanas do Brasil, a precipitação é o fator meteorológico responsável pela ocorrência de alagamentos e pelo desabamento de moradias em deslizamentos de encostas. A vulnerabilidade das áreas urbanas aos eventos intensos de precipitação é agravada quando associada a problemas de infra-estrutura urbana. A exemplo do sistema de drenagem que não suporta o grande volume de água, não só por causa das chuvas em excesso, mas também por conta do acúmulo de resíduos sólidos e entulho, o que dificulta o escoamento da água, interditando vias, e 12 impossibilitando o tráfego de pessoas e de automóveis, causando transtornos e prejuízos à população. Outros problemas bastante comuns são os deslizamentos de encostas devido à saturação do solo e alagamentos em ocupações de áreas de várzea. No Brasil vários estudos têm relatado as alterações na precipitação das grandes cidades, capitais e regiões metropolitanas, no entanto, ainda são poucos os trabalhos realizados com um enfoque local, para áreas urbanas do litoral do Nordeste, podendo citar Silva Aragão et al. (2006), Santos et al. (2008a e 2008b) e Santos (2008) que analisaram um evento de chuva extrema em Salvador. Na cidade de Salvador, capital baiana situada no litoral leste do Nordeste, cujo total anual de chuva é de 2144,0 mm (RAMOS et al., 2009), os riscos e prejuízos relacionados com chuvas intensas e continuas ocorrem principalmente no outono e inverno (Barreto et al., 2008). Sendo a terceira cidade do Brasil com 2.675.656 habitantes (IBGE, 2010), Salvador é particularmente vulnerável a eventos intensos de chuva, não somente pela ocupação precária e desordenada do solo urbano, mas também por seu relevo acidentado. Considerando as chuvas ou a falta delas, em qualquer magnitude, como um fator essencial para o desenvolvimento das atividades humanas, que pode resultar em prejuízos socio-ambientias, este estudo teve como objetivo de investigar a variabilidade da precipitação da cidade de Salvador, partindo do presuposto que as consequências das chuvas intensas em área urbana requer uma abordagem multifatorial que envolve, desde a implantação de políticas públicas para o uso e a ocupação do solo urbano, até um conhecimento mais profundo do regime pluviométrico. MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho foram utilizados totais diários de precipitação observados na estação climatológica principal do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) em Salvador (13°00'S, 38°30'W, 51,41m), no período de 1964 a 2009. Foram excluídos 11 anos da análise, dos quais 7 por total ausência de dados (1971-1972, 1981-1985) e os anos de 1986, 1988, 1989 e 1990 por apresentarem alguns meses sem dados diários. Os dados foram usados para identificar variações diárias, sazonais e interanuais da chuva em Salvador, incluindo a identificação e freqüência dos eventos extremos de precipitação. Foi calculado, para cada mês do período, o número de dias com chuva, o número de eventos extremos de precipitação (NEE), a Chuva Mensal (x i), a Média Mensal Climatológica (µi) e o Desvio Padrão (σi) que permitiu o cálculo posterior do Desvio Padrão Padronizado (DPP), e por último os coeficientes de correlação entre os DPPs e os NEE. 13 O Desvio Padronizado de Precipitação Mensal (DPPij) permite alocar os dados em classes positivas e negativas, fornecendo informações quanto à magnitude da anomalia da precipitação, e é dado por: na qual i=1, 2, 3, ..., 12 identifica o mês e j=1,2,3, ... identifica o ano. Utilizando a técnica do percentil, foram considerados eventos extremos aqueles com valor diário igual ou maior do que o percentil P=98, que é determinado considerando a notação P[(n)x(p)]+, na qual n é o total de valores da série, p o percentil em decimais e [(n)x(p)] a posição daquele valor após os dados terem sido ordenados de modo crescente, de forma que P[(n)x(p)]+ é o ponto percentílico do percentil desejado. RESULTADOS E DISCUSSÕES A normal climatológica da chuva anual em Salvador é de 2144,0 mm (RAMOS et al., 2009), enquanto que a média anual do período em estudo é de 1997,2 mm. Essa média e a distribuição anual da precipitação são apresentadas na figura 1. O ano com maior total anual foi 1964 (3.223,20 mm), seguido por 1999 (2677,9 mm) e 1975 (2672,9 mm). Os episódios de La Niña registrados nesses anos podem ter contribuído para esses valores elevados. O menor total anual de precipitação foi registrado em 1993 (1233,2 mm), ano de El Niño. Figura 1. Distribuição do total anual de precipitação e média climatológica do período 1964-2009 da estação de Salvador (Fonte dos dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)). Já a Figura 2 ilustra as normais mensais de precipitação do período 1961-1990 (RAMOS et al., 2009), e as médias mensais e desvios padrões do período em estudo. Observa-se que as normais mensais de precipitação e as médias mensais apresentam valores bem próximos, e evidencia que os meses de abril a julho constituem o quadrimestre mais chuvoso, com precipitação média mensal que varia de 175,0 mm a 359,9 mm, representando quase 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas na cidade. Rao et al. (1993), destacaram esse período de abril a julho no período de 1964-1983 14 como a estação chuvosa no litoral leste do Brasil e Barreto et al. (2008) encontraram o mesmo quadrimestre chuvoso nos dados de Salvador do período 1964-2007. Nos meses de dezembro e janeiro há indicação de ocorrência de chuvas atípicas, considerando os altos valores do desvio padrão em relação à média mensal. Figura 2. Distribuição mensal da normal climatológica de precipitação (1961-1990) e da precipitação média e desvio padrão (DP) do período 1964-2009 da estação de Salvador (Fonte dos dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)). A Figura 3 apresenta o número de dias com chuva quando considerado o período mensal e anual. O quadrimestre chuvoso (Fig. 3a) apresenta a maior frequência mensal, 114 dias com chuva, e observa-se que seu valor médio varia entre 21 e 23 dias. O valor máximo, 29 dias, é visto nos meses de maio, junho e julho, e o valor mínimo, 12 dias, em maio de 1973. Na Figura 3b que representa os meses de agosto-novembro, a freqüência mensal é de 97 dias de chuva. Já o valor médio mensal varia entre 12 e 16 dias, exceto pelo mês de agosto com 20 dias. O valor máximo, 28 dias, é visto em agosto de 1967, e o valor mínimo, 5 dias, em outubro (1992 e 1995) e novembro (2009). A frequência mensal dos meses de dezembro a janeiro (Fig. 3c) é de 95 dias de chuva, com valor médio mensal que varia entre 11 e 17 dias. O valor máximo (27 dias) e o valor mínimo (3dias) são vistos em fevereiro de 1997 e dezembro de 1994, respectivamente. (a) 30 24 21 18 15 12 9 6 3 0 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1987 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Frequência Mensal 27 Ano abr mai jun jul 15 (b) 30 Frequência Mensal 27 24 21 18 15 12 9 6 3 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1987 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0 Ano ago (c) set out nov 30 Frequência Mensal 27 24 21 18 15 12 9 6 3 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1987 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0 Ano dez jan fev mar Figura 3. Frequência mensal do número de dias com chuva no período em estudo em Salvador nos meses de: (a) abril-maio (quadrimestre chuvoso), (b) agosto-novembro e (c) dezembro-março. É importante ressaltar que todos os meses da série temporal no período em estudo apresentaram dias com chuva. No entanto, esses totais pluviométricos mensais, em alguns casos, se apresentam acima da normal climatológica. Esse fato está associado com dias de chuvas mais intensas no determinado mês. Dependendo da intensidade e continuidade dessas chuvas, potencializam-se os riscos e prejuízos sócio-ambiental na cidade de Salvador. A freqüência dessas chuvas intensas é apresentada na Tabela 1, que contém dados relativos ao número de eventos extremos (NEE) de chuva determinado através da técnica do percentil. Essa técnica aplicada à série temporal dos dados diários permitiu identificar um total de 228 eventos extremos de precipitação (total diário igual ou maior do que 50 mm), dos quais 140 ocorreram nos meses de abril, maio, junho e julho, com valores de 49, 48, 28 e 15, respectivamente, e número máximo de eventos (5) no bimestre abril-maio. A Figura 4 mostra os resultados da análise dos 16 dados mensais da precipitação de Salvador, em conjunto com a normal climatológica e com o número de eventos extremos de precipitação, observados no quadrimestre chuvoso da série em estudo. TABELA 1 Frequência (número mensal e anual) de eventos extremos de chuva (total diário igual ou maior que 50 mm) no período de estudo. Ano/Mês 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1987 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total 3 2 1 1 2 1 1 2 13 1 1 2 4 3 1 4 2 2 1 5 1 2 1 3 2 1 1 11 1 1 5 2 1 2 12 1 2 1 1 1 1 1 8 3 3 1 1 8 1 2 2 1 6 5 2 7 1 1 1 3 1 1 1 1 2 1 2 9 2 3 1 1 2 9 2 1 3 1 1 1 3 1 1 1 1 4 1 2 1 4 1 1 1 3 2 1 3 2 2 3 1 1 9 1 2 1 1 5 5 1 1 1 8 1 1 1 1 4 1 2 2 5 1 2 3 1 1 2 1 1 3 15 1 2 1 1 5 1 1 2 1 2 1 1 1 1 7 1 3 1 1 6 2 1 1 2 2 1 9 3 3 3 9 5 2 2 1 2 12 1 1 2 1 1 2 4 4 1 9 TOTAL 11 14 11 49 48 28 15 8 7 12 16 9 Total Acumulado 13 17 21 26 37 49 57 65 71 78 81 90 99 102 105 109 113 116 119 128 133 141 145 150 165 170 172 179 185 194 203 215 217 219 228 228 No mês de abril (Fig. 4a) há 13 anos com chuva acima da normal climatológica (309,7 mm), nos quais há 39 eventos extremos de precipitação (80% do total de eventos de abril). Os valores 17 máximos da série são vistos no ano de 1975 (737,9 mm), 1996 (757,8 mm) e 2006 (587,4 mm), todos com 5 eventos. Essas chuvas do ano de 1996 provocaram enchentes no litoral da Região Nordeste e foram destaques no Boletim de Monitoramento e Análise Climática (CLIMANÁLISE), que associou as chuvas intensas à atuação de distúrbios de leste e de sistemas frontais. No dia 21 de abril de 1996, em Salvador, 14 pessoas perderam a vida em um soterramento na favela do Barro Branco, região do Retiro (CODESAL). A Figura 4b, que ilustra os totais pluviométricos do mês de maio, apresenta 15 anos com chuva acima da normal climatológica (359,9 mm), nos quais há 41 eventos extremos (85% do total de eventos de maio). Os máximos mensais (valores acima de 500 mm) estão nos anos de 1969 (592,2 mm), 1973 (599,9 mm), 1975 (560,4 mm), 2003 (550,5 mm) e 2009 (549,3 mm). No mês de maio de 1973, em apenas três dias consecutivos choveu 309,3 mm, o que representa mais de 95% da normal mensal. O mês de maio de 2009 também se caracterizou por fortes chuvas. Houve quatro (4) eventos extremos de precipitação. O Relatório Final da Operação Chuva 2009, elaborado pela COORDENADORIA DE DEFESA CIVIL DE SALVADOR (CODESAL), documenta que as chuvas intensas e contínuas provocaram a saturação do solo, o que ocasionou inúmeros acidentes tais como deslizamento de encostas, desabamento de imóveis e alagamento de áreas. Houve vítimas fatais em alguns desses acidentes, além da grande quantidade de famílias desabrigadas e desalojadas. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e os distúrbios de leste foram os principais sistemas responsáveis pelas chuvas de maio de 2009, na região Nordeste (CLIMANÁLISE). Na série temporal do mês de junho (Fig. 4c) são observados 18 casos de chuvas muito próximas ou acima da normal (243,7 mm), nos quais há 25 eventos extremos. Os máximos mensais são vistos em 1973 (479,3 mm), 1994 (477,8 mm) e 2006 (401,4 mm); os dois primeiros com três (3) e o último com dois (2) eventos. As chuvas do dia 11-12 de junho de 2006 foi objeto de estudo de silva Aragão et al. (2006) e Santos et al. (2008), em que observou-se totais diários acima de 80 mm causados por aglomerados convectivos decorrentes da configuração de um distúrbio de leste. Os danos causados pela chuva forte que castigou a capital baiana foram resultantes de acidentes como deslizamentos de terra, desabamento de imóveis, rompimento de fiação elétrica e queda de árvores (http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php). Julho é o último mês do quadrimestre chuvoso e está representado na Figura 4d. Nele são observados 21 meses com totais iguais ou acima da normal climatológica (175,0 mm), dos quais 11 deles apresentam um total de 14 eventos extremos, com apenas um máximo (2) em 1998. Os valores máximos estão no ano de 1994 (336,5 mm), 1998 (306,5 mm) e 2002 (254,8 mm). 18 chuva/jun Ano Nº de eventos extremos (c) Nº d eventos extremos Nº de eventos extremos 2005 2008 1999 2002 1993 1996 1978 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Nº de eventos extremos chuva/jul 2008 2002 2005 1999 1993 1996 1978 1987 1970 1975 1967 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1964 2008 2005 2002 1999 1993 1996 1978 1987 1970 1975 1964 8 7 6 5 4 3 2 1 0 chuva/mai (b) Nº de eventos extremos 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1967 Precipitação (mm) Nº de eventos extremos Precipitação (mm) chuva/abr 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Ano Ano (a) 1987 1975 1967 1970 2008 2002 2005 1996 1999 1993 1978 1987 1970 1975 1964 0 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1964 2 Precipitação (mm) 4 Nº de eventos extremos 6 1967 Precipitação (mm) 8 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Ano Nº de eventos extremos (d) Figura 2. Variabilidade interanual dos totais mensais e do número de eventos extremos de precipitação em Salvador para o período 1964-2009 no mês de: (a) abril, (b) maio, (c) junho, (d) julho. A linha vermelha horizontal representa a normal climatológica mensal do período 1961-1990. (Fonte dos dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)). No quadrimestre chuvoso, os meses em que a chuva esteve acima da normal são vistos 119 eventos extremos (85% do total de eventos dos meses de abril a julho). Esse resultado indica uma relação direta entre a ocorrência de eventos extremos e a chuva máxima mensal. Para estudar essa relação foi feita uma análise do Desvio Padronizado de precipitação Mensal (DPP) em conjunto com a análise da correlação linear entre os DPPs de cada mês e o número de eventos correspondentes. Na série dos DPP (não mostrada) seus valores (negativos e positivos) variam de -2,0 a 3,8. DPP negativo (positivo) indica que a chuva acumulada num determinado mês esteve abaixo (acima) da média mensal do período São meses com DPP ≤ -1, no entanto, apenas 3, todos da estação chuvosa, apresentam evento extremo de precipitação Já para os meses em que o DPP ≥ ocorre o contrário, ou seja, dentre os 68 meses encontrados, 57 apresentam eventos intensos. Os coeficientes da correlação linear são apresentados na Tabela 2. Esses coeficientes são máximos (> 0,8) nos meses de abril, maio e junho, os quais apresentam os totais máximos mensais de chuva e também os números máximos de eventos extremos. Os meses de dezembro e janeiro também apresentam coeficiente máximo de correlação (0,9), embora seus totais mensais de chuva sejam os mínimos da série. Por outro lado, são meses que apresentam valores máximos de desvio padrão e DPP, indicando a ocorrência de chuvas atípicas, como já discutido em relação à Figura 2. 19 No mês de julho observa-se o valor mínimo do coeficiente de correlação (0,4). Portanto, em julho não há indicação de relação entre a magnitude do DPP e o número de eventos extremos de chuva, diferentemente do que foi encontrado nos outros meses. Esse resultado está associado ao fato de que, apesar de fazer parte do quadrimestre chuvoso e apresentar totais mensais de chuva elevados, o mês de julho tem número reduzido de eventos extremos. Tabela 2. Correlação entre Desvio Padronizado de Precipitação (DPP) e Número de Eventos Extremos de Precipitação (NEE). Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Correlação entre DPP e NEE 0,9 0,7 0,7 0,9 0,8 0,8 0,4 0,6 0,6 0,7 0,7 0,9 CONCLUSÃO Na análise da variabilidade temporal das chuvas de Salvador, com foco nos eventos extremos de chuva (total diário igual ou maior do que 50 mm), foi observado que o quadrimestre chuvoso é de abril a julho, representando 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas. O mês de maio é o mais chuvoso do ano (359,9 mm). Nos anos que compõem a série foram observados 228 eventos extremos de precipitação (total diário igual ou maior do que 50 mm), dos quais 140 ocorreram no quadrimestre chuvoso, que equivalem a 61% de todos os eventos da série. O estudo da correlação entre o número de eventos extremos e o Desvio Padronizado de Precipitação identificou uma relação direta entre a ocorrência de eventos e total mensal de chuva acima da média, com destaque nos meses do quadrimestre chuvoso (abril, maio e junho) e nos meses de chuvas atípicas (dezembro e janeiro) que apresentaram os coeficientes máximos (> 0,8). REFERÊNCIAS BARRETO, A. B.; SILVA ARAGÃO, M. R.; CORREIA, M. F.; SANTOS, A. H. M. (2008). Uma investigação sobre eventos de chuva intensa na cidade de Salvador, Bahia. in Anais XV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, São Paulo, 2008. 1 CD. 20 DEFESA CIVIL (CODESAL). (2009). Relatório Final da Operação Chuva 2009. (disponível em http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php) (acessado em 14 de dezembro de 2009). IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2010. MONTEIRO, Carlos A. F.; MENDONÇA, Francisco. Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003. RAMOS, A. M., SANTOS, L. A. R.; FORTES, L. T. G. (Org.). (2009). Normais climatológicas do Brasil 1961-1990. Brasília: INMET. RAO, V.B., LIMA, M.C., FRANCHITO, S.H. (1993). Seasonal and Interannual Variations of Rainfall over Eastern Northeast Brazil. Journal of Climate. v. 6, p.1754 –1763. SANTOS, A. H. M. Eventos Extremos de Chuva em Salvador, Bahia: Condições Atmosféricas e Impactos Ambientais. 2008. 65 f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia) – Universidade Federal de Campina Grande-UFCG, Campina Grande. 2008c. SANTOS, A. H. M; SILVA ARAGÃO, M. F; BARRETO, A. B. Chuvas intensas na cidade de Salvador, Bahia: o evento de novembro de 2006. CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 15., 2008. Anais... São Paulo, 2008a. 1 CD. SANTOS, A. H. M; SILVA ARAGÃO, M. R; ARAÚJO, H. A. Evento Extremo de Chuva na Cidade de Salvador, Bahia: Fevereiro de 2008. CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 15., 2008. Anais... São Paulo, 2008b. 1 CD. SILVA ARAGÃO, M.R., BARRETO, A.B., ARAÚJO, H.A., CORREIA, M.F. Desastres Naturais na Cidade do Salvador, Bahia: Evento Chuvoso Extremo em Junho de 2006. XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis-RS, 2006. SILVA DIAS. M.A.F., SILVA DIAS, P.L. As Incertezas Regionais nos Cenários de Mudanças Climáticas Globais. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia, v. 30, n. 4, abril 2007. www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 (acessado em maio de 2012). http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/ http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php 21 CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS, ATIVIDADE AÉREA E DISTÚRBIOS CARDIOVASCULARES NO ORGANISMO HUMANO Audy Nunes BEZERRA FILHO Médico (UFCG) E-mail: [email protected] Valdir Cesarino de SOUZA Doutor em Recursos Naturais (UFCG), Médico, Bacharel em Aviação Civil. E-mail: [email protected] Sandra Sereide Ferreira da SILVA Doutoranda em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected] José Romero Rodrigues de ANDRADE Mestre em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected] RESUMO A intensidade do tráfego aéreo aumentou assustadoramente nos últimos anos e os ―passageiros habituais‖ constituem uma magnitude substancial dos viajantes atuais. Conforme a Organização Internacional da Aviação Civil estima-se que o tráfego de passageiros duplique entre os anos de 2006 e 2020. Neste enfoque, as viagens aéreas podem acondicionar vários riscos para a saúde, dependendo das características do viajante e da viagem. Este estudo teve por objetivo apresentar a influência dos distúrbios cardiovasculares e condições atmosféricas no organismo humano durante a atividade aérea. Como resultado, constata-se que a altitude pode ser responsável por distúrbios fisiológicos, às vezes irreversíveis para o corpo humano. PALAVRAS-CHAVE: Aviação. Altitude. Distúrbios Cardiovasculares. ABSTRACT The intensity of air traffic has increased alarmingly in recent years and the "passengers usual" constitute a substantial magnitude of today's travelers. According to the International Civil Aviation Organization estimated that passenger traffic will double between the years 2006 and 2020. In this approach, air travel can pack several health risks, depending on the characteristics of the traveler and the travel. This study aimed to present the influence of cardiovascular disorders and atmospheric conditions in the human body during aerial activity. As a result, it was found that the altitude may be responsible for physiological disorders, sometimes irreversible damage to the human body. KEYWORDS: Aviation. Altitude. Cardiovascular Disorders. 1. INTRODUÇÃO Durante toda a história, o homem tem sentido os efeitos das condições atmosféricas, como as flutuações lentas do clima, que ocasionam migrações, os extremos dos tempos sazonais, que causam a fome, e os vários desastres, que levam à morte e à destruição. De tal modo se observa que, na conjuntura aeronáutica, tais mudanças podem ocorrer de forma brusca causando adversidades ao organismo humano. Entretanto, os efeitos atmosféricos sobre a saúde humana ainda não são bem compreendidos. 22 Pitton e Domingos (2004) asseguram que os parâmetros climáticos temperatura do ar, umidade, precipitação, pressão atmosférica e ventos afetam a saúde humana de forma direta (sensação de conforto, mortalidade e morbidade por doenças sistêmicas) e indireta (doenças infecciosas transportadas por vetores – ar, água, solo e alimentos), pois o corpo humano está em permanente contato com seu meio ambiente atmosférico pelo intermédio de trocas térmicas, hídricas e gasosas. Nesse sentido, a revisão de literatura aborda os possíveis efeitos maléficos de certos fatores climáticos nos distúrbios cardiovasculares durante atividades ligadas a aviação e as implicações do clima e do tempo atmosférico sobre a saúde humana como decorrências ainda não bem entendidas, tendo em vista o fato de que as enfermidades ocasionadas durante a atividade aérea, principalmente, as cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias estão entre os maiores problemas de aviação no mundo. Além de estarem associadas à elevada morbidade, implicam em elevados custos para o sistema de saúde, pois os distúrbios podem desqualificar alguns pilotos e tripulantes, além de causar distúrbios deletérios ao organismo, induzindo, consigo, distúrbios como: internações hospitalares, tratamentos cirúrgicos e uso contínuo de medicamentos. Atualmente, uma importante ferramenta de mitigação dos efeitos das enfermidades ocasionados pelos transportes aéreos é o uso das informações da meteorologia (observações e previsões de tempo e clima) para a emissão de alertas e adoção de políticas por parte dos representantes do setor aéreo em âmbito nacional e internacional (McGREGOR et al., 2006). A vasta literatura recente sobre o tema aborda a importância que o assunto vem recebendo mundo a fora. Essa mesma literatura mostra que a relação entre variáveis atmosféricas e as enfermidades ocasionadas pela atividade aérea não é única. Pessoas de diferentes regiões do globo, distintas idades, diversos gêneros e múltiplos estilos de vida estão sujeitas a diferentes riscos em determinadas condições atmosféricas (BARNETT et al., 2005; CAGLE; HUBBARD, 2005; GOERRE et al., 2007). No Brasil, as previsões de tempo e clima experimentaram um forte acréscimo de qualidade de dados nas últimas décadas. Isso significa que o estabelecimento de relações consistentes entre variáveis de tempo e clima e a ocorrência de enfermidades ocasionadas pelos transportes aéreos podem contribuir substancialmente com a política de saúde pública para o setor aéreo. Além disso, a produção científica brasileira é bastante escassa nesse sentido e a maioria dos estudos, embora associe as enfermidades com os tipos de tempo, abordam a relação com a poluição. Poucos enfatizam os distúrbios hipóxicos/fisiológicos pré e pós voo. Diante desse enfoque, a habilidade brasileira de geração de dados, com alusão espaçotemporal cresceu muito. O que não progrediu como esperadas foram as políticas de acesso como frisa Brasil (2008). Superar esse desafio não é tarefa fácil, torna-se preciso para tanto, partilhar 23 trabalhos científicos, dados da aviação, metodologias, softwares e resultados correlacionados com a saúde humana. Conseguinte esse contexto, o presente trabalho objetiva apresentar a influência dos distúrbios cardiovasculares e das condições atmosféricas no organismo humano durante a atividade aérea. Para tanto, ressalta-se a importância de sua realização pela forte relação multidisciplinar entre Medicina, Ciências Aeronáuticas e Meteorologia, com importante ímpeto na aviação. Quanto aos procedimentos metodológicos para realização desse estudo, foi realizada uma revisão bibliográfica com base em estudos retrospectivos e também prospectivos que abordam a relação mudanças climáticas, aviação e distúrbios cardiovasculares. Apresentam-se, na sequencia, os principais pontos da literatura utilizados como aporte teórico bem como os resultados encontrados que servem de base para a conclusão. 2. REVISÃO DE LITERATURA A temática ―distúrbios cardiovasculares e condições atmosféricas na atividade aérea‖ pode ser apresentada por meio de múltiplos vértices do saber. Todavia, objetivando abordar os conteúdos necessários para a compreensão sistemática das informações, optou-se pela seleção de assuntos fundamentais, cujo aporte teórico é contextualizado a seguir. 2.1. Viagens Aéreas e Riscos para a Saúde Na primeira década do Século XXI, a aviação se tornou uma das atividades de maior destaque para o desenvolvimento da sociedade; integrando saberes, encurtando caminhos e perpassando subsídios para o desenvolvimento econômico, comunicação entre povos e culturas da sociedade global e para o bem estar da população com benefícios e desafios reconhecidos por todos. Em face desse enfoque, a intensidade do tráfego aéreo aumentou assustadoramente nos últimos anos e os ―passageiros habituais‖ constituem uma magnitude substancial dos viajantes atuais Com a quantidade de vôos de longa distância crescendo de forma considerada, a OAIC - Organização Internacional da Aviação Civil (2009) estima que o tráfego de passageiros duplique entre os anos de 2006 e 2020. Conforme dados estatísticos da Organização Mundial do Turismo (2008), o número de chegadas de turistas internacionais no ano de 2007 atingiu os 903 milhões. Os resultados do turismo internacional ascenderam para 856 bilhões de dólares americanos (625 bilhões de euros) em 2007. E aguardado que em 2012 as chegadas de turistas internacionais cheguem a 1 bilhão e, 1,6 bilhões em 2020. Em 2007, mais da metade das chegadas de turistas internacionais apresentavam como finalidade de lazer, entretenimento e ferias (51%) – um total de 458 milhões. As viagens em trabalho corresponderam a 15% (138 milhões) e 27% das viagens eram por outros motivos, como 24 por exemplo, visitas a familiares e amigos, motivos religiosos / peregrinações e tratamentos de saúde, etc. (240 milhões). Um número suavemente inferior a metade dos turistas usaram transporte aéreo (47%) em 2007, enquanto os restantes utilizaram transporte de superfície (53%) – automóvel (42%), comboio (4%) ou barco (7%). Ainda de acordo com a OAIC (2009) a cada ano, em torno de um bilhão de pessoas realiza viagens aéreas domésticas ou internacionais, para as mais variadas distâncias e a velocidades cada vez mais rápidas, número que aumenta de forma constante, com previsão de triplicar nas próximas décadas devido a inúmeros motivos, dentre os quais: profissional, recreativo e humanitário. Por razões como essas, os viajantes encontram-se expostos a uma variedade de riscos para a saúde em ambientes com os quais não estão familiarizados. Grande parte desses riscos pode ser minimizada mediante a prática de precauções adequadas antes, durante e depois da viagem. Sendo plausível inferir também que deverá haver um aumento no número de passageiros portadores de doenças diversas, bem como no número de pessoas idosas (grupo muito propenso a viagens turísticas). 2.1.1 Alterações Cardiorrespiratórias em Altitude Os viajantes frequentemente sentem alterações bruscas e expressivas de condições ambientais, que podem ter implicações prejudiciais na sua saúde e bem-estar. Neste enfoque, a altitude propicia diversas alterações fisiológicas. As patologias da altitude podem acorrer tanto em indivíduos atletas como em sedentários como consequência de uma adaptação ineficiente (CAMPOS; COSTA, 1999; SCHOENE, 2008). No momento que os indivíduos são expostos a uma altitude considerada, o sistema cardiorrespiratório prepara-se para não sofrer com a carência de O2 e consequentemente evitar distúrbios, às vezes irremediáveis. Uma das primeiras alterações fisiológicas que ocorrem é um aumento na frequência cardíaca e respiratória para tentar suprir a pouca saturação de O 2 presente no ambiente. Com essa atitude, o corpo aumenta a excreção de CO2 levando a uma mudança da PCO2, fazendo com que ocorra um aumento no pH sanguíneo. Esse aumento na frequência cardíaca devese ao fato do corpo possuir quimiorreceptores em torno do coração, permitindo uma percepção do conteúdo arterial de O2. A partir do momento que o conteúdo arterial de O2 diminui, o corpo, em resposta aumenta o número de respirações para minimizar os efeitos da hipóxia. (BRASH, 2000; MAGALHÃES et al., 2002; LEVINE et al., 2008; CALBET et al., 2010). A dificuldade do processo respiratório em grandes altitudes deve-se ao fato da troca gasosa estar com gradiente de pressão diferenciado quando comparado ao nível do mar. O ar fica mais rarefeito em altitude, porém a saturação de O2 em altitude é menor que ao nível do mar. O ar penetra com mais facilidade nos pulmões, contudo como a saturação de O2 é reduzida, a frequência respiratória é aumentada para que seja inspirado o mesmo número de moléculas de O2 que ao nível 25 do mar. A quantidade de O2 entregue para os músculos realizarem trabalho sem entrar em fadiga depende muito dessa troca gasosa. A PO2 no tecido tem uma estabilidade no seu valor de aproximadamente 40mmHg em repouso. Já a PO2 arterial varia de valor, sendo que 104mmHg é a pressão normalmente encontrada ao nível do mar. A diferença 64mmHg, ou seja, gradiente de pressão, define o sentido dessa troca. O sentido é sempre de um local com maior pressão parcial, para um de menor pressão parcial. Porém, quando se ascende a uma altitude mais elevada, o valor da PO2 arterial tende a sofrer um decréscimo, já o valor da PO2 tecidual permanece praticamente inalterado. O gradiente de pressão antes visto como 64mmHg ao nível do mar sofre uma redução e pode alcançar o valor de apenas 20mmHg em uma altitude maior. Como a transferência de O2 do sangue para os tecidos depende desse gradiente, pode ocorrer uma deficiência no transporte para o músculo, o que poderá acarretar uma fadiga precoce. (BERNE et al., 2004; LEVINE; STRAYGUNDERSEN, 2005; SHEEL et al., 2010; WILMORE; COSTILL, 2010). Martins et al. (2008) apontam que os valores da ventilação em altitude podem ser de 2 a 5 vezes maiores do que quando comparado com a mesma atividade ao nível do mar. A frequência respiratória apresenta um aumento quando se adentra um ambiente hipobárico, como no caso de altitudes maiores do que ao nível do mar. Com isso, mudanças no consumo de O2 ocorrem. Campos e Costa (1999) afirmam que o consumo máximo de O2 (VO2 máx) tende a diminuir em repouso, quando exposto a uma grande altitude. Corroborando com essa idéia, Levine e col. (apud CAMPOS; COSTA, 1999) fizeram um estudo com 20 idosos numa altitude de 2500 metros e relataram uma diminuição de 12% do VO2 máx na exposição aguda à altitude. Segundo Wilmore e Costill (2002), o consumo máximo de O2 não sofre reduções significativas até a altitude de 1.600 metros. A partir dessa altitude, que o consumo máximo de O2 tem uma decadência. Os mesmos autores relatam também que, a partir de 1.600 metros, o VO2máx. diminui aproximadamente 11% a cada 1.000 metros, ou seja, mais que 1% de queda do consumo máximo de oxigênio a cada 100 metros de ascensão. Contudo, Favret et al. (2003) não encontraram melhoras do VO2máx mesmo após a aclimatação. Outra alteração importante é o fato de o fluxo sanguíneo ser mais seletivo. Essa seleção é devido a não existência de O2 em abundância para os sistemas corporais e desta forma os locais que necessitam com urgência de O2 têm prioridade (MAGALHÃES et al., 2002). Em alturas elevadas, o ar fica mais seco e a temperatura sofre uma redução em seu valor. A atividade em altitude faz com que ocorra perda de água corporal, aumentando assim a viscosidade sanguínea. Com o sangue mais denso, o volume de ejeção decai, contudo, como precisa ocorrer um aumento no débito cardíaco a frequência cardíaca aumenta para sanar temporariamente essa queda de volume. O aumento da densidade sanguínea faz com que o coração trabalhe com mais força, pois 26 a resistência exercida pelo sangue na parede dos vasos está aumentada. (CAMPOS; COSTA, 1999; BRASH, 2000; MARTIN, 2008; WILMORE; 2002). A transudação capilar (edema cerebral) de altitude é uma doença ligada à altura, mais grave ainda que o edema pulmonar de altitude. Altitudes acima de 4.500 metros são onde o número de casos de edema cerebral ligado a altitude são mais comuns. O acumulo de liquido no interior do cérebro caracteriza a doença. A dificuldade em andar, ou mesmo das mãos em realizar tarefas simples são um alerta para que seja detectado o edema cerebral. As dores de cabeça ou cefaléia são frequentes; a pessoa se sente cansada e pode apresentar quadros de alucinações. O grau de gravidade dessa patologia pode evoluir em muito pouco tempo, saindo de um estado estável para grave em poucas horas. A medida mais rápida a ser tomada é transferir a pessoa afetada pelo edema cerebral de altitude para uma localidade de altitude menos elevada. Martin et al. (2008) afirma que mesmo as pessoas que nasceram e vivem em locais com altitudes elevadas correm o risco de desenvolver as patologias ligadas altitude. 2.2. Doenças Cardiovasculares Com o advento da modernidade, o homem experimentou uma, até então, inimaginável revolução no seu modo de vida, no seu cotidiano, nas suas idéias. Em uma sociedade altamente globalizada e competitiva, que extrai cada vez mais dos seus trabalhadores; o stress, os maus hábitos alimentares, meios de transporte e a falta de cuidados básicos com a saúde passaram a fazer parte do modo de vida da população em geral. Dessa forma, juntamente com os adventos tecnológicos, a sociedade passou a conviver cada vez mais com os distúrbios cardiovasculares e, dentre eles, uma das mais letais patologias desse grupo: a Insuficiência Coronariana (ICO). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC - 2011), Insuficiência Coronariana é uma situação clínica patológica, na qual o sistema arterial coronariano não tem capacidade fisiológica de suprir as necessidades miocárdicas de demanda de oxigênio e metabólitos. Há um desbalanço entre a oferta e o consumo de nutrientes e oxigênio. Sabendo-se que o tecido miocárdico é o de maior demanda metabólica do organismo, não é surpreendente que uma série de distúrbios potencialmente letais decorram da incapacidade de o sistema arterial coronariano em suprir a musculatura cardíaca. Assim, esse grande grupo de distúrbios, juntamente com outras patologias do Sistema Cardiovascular é responsável por um número crescente de mortes no tocante a aviação. Dados da SBC mostram que 50% das mortes das pessoas com mais de 50 anos devem-se a patologias do aparelho Cardiovascular, no Brasil e no mundo (principalmente na sociedade ocidental), e em 2020, esse número tende a aumentar para 70%. 27 A insuficiência cardíaca coronariana, ou doença das coronárias, é, basicamente, uma síndrome caracterizada por um desequilíbrio entre o aporte e a demanda metabólica de oxigênio (O2) ao nível da fibra miocárdica, seja por diminuição da oferta ou por aumento de consumo. Pode estar relacionada a vários fatores, porém, geralmente, ocorre por obstrução coronariana, sendo esta quase sempre causada por doença aterosclerótica. A oferta de oxigênio para o miocárdio depende da capacidade de transporte do oxigênio no sangue e do fluxo coronário, sendo que o primeiro depende diretamente da hemoglobina e da saturação de oxigênio no sangue. Na ausência de anemia ou doença pulmonar a capacidade de transporte de oxigênio é em geral constante. Por sua vez, o fluxo coronariano é bem mais dinâmico e a regulação do fluxo é responsável pelo equilíbrio entre oferta de oxigênio e demanda metabólica (GUYTON, 2008). No coração normal, mecanismos de auto-regulação ajustam o tônus vascular, mantendo um equilíbrio entre fluxo coronariano e demanda de oxigênio miocárdico. Na ausência de doença obstrutiva coronariana, os mecanismos regulatórios mantêm um fluxo constante até o limite mínimo de 60mmHg de pressão diastólica na raiz da aorta. Na presença de doença coronariana, a queda da pressão de perfusão distal e a lesão associada à disfunção do endotélio na região levam a um desequilíbrio entre o suprimento disponível de sangue e oxigênio e a demanda metabólica miocárdica. Qualquer desequilíbrio em um desses processos pode resultar em insuficiência das coronárias. Seja qual for a causa, sem o sangue necessário o coração fica carente de oxigênio e de nutrientes vitais para que ele opere de forma adequada, podendo trazer grandes consequências (SBC, 2011). Podemos definir como grupos mais susceptíveis ao desenvolvimento da doença das coronárias aquelas pessoas incluídas nos seguintes grupos: Idade e gênero: homem com mais de 45 anos / mulher com mais de 55 anos; História familiar precoce de aterosclerose (parentes de primeiro grau com menos de 55 anos para homens e menos de 65 anos para mulheres); Hipertensão arterial; Tabagismo e história de Diabetes Mellitus. 2.2.1. Fisiologia Cardiovascular Segundo Guyton (2008) o débito cardíaco em repouso ao nível do mar varia de 0,8 a 1,0 ml/g/mim, já em casos de esforço e/ou hipóxia esse débito tende a aumentar significativamente chegando a 6,0 ml/g/min. Nessa mesma correlação em repouso observa-se que a extração de O2 por parte do miocárdio atinge cerca de 75% e em casos de esforço induzido ou hipóxia as células miocárdicas extraem aproximadamente de 90% do oxigênio que lhe é ofertado. Devido ao quadro de hipóxia miocárdica, diversas alterações metabólicas serão detectadas: a acidose intracelular, com importante redução do pH, acúmulo de ácido láctico, redução do potássio e magnésio intracelular, redução síntese energética (ATP), disfunção sisto-diastólica do ventrículo 28 esquerdo. Já o consumo de O2 em repouso situa-se em torno de 8 a 10 ml/100g/min enquanto que nos casos de esforço e/ou hipóxia esse consumo poderá aumentar para até 50 ml/100g/min, agravando ainda mais os casos de isquemia miocárdica. Visto assim, fica evidente que o disbarismo contribui significativamente para piora do quadro isquêmico miocárdico. 2.3. Impacto das Viagens Aéreas nas Principais Patologias Cardiovasculares De acordo com as Diretrizes De Doença Cardiovascular e Viagem Aérea da SBC, todo passageiro portador de uma condição de saúde que possa, potencialmente, descompensar a bordo deve tomar alguns cuidados básicos: · ter em mãos relatório médico sucinto de sua condição, bem como informações de contato do médico assistente e do seguro saúde; manter sempre consigo, na bagagem de mão, a medicação de uso diário, evitando atrasos posológicos no caso de extravio de bagagem; informar-se de condições de saúde pública do local de destino, adotando medidas preventivas quando indicado, como vacinações específicas; consultar as páginas da Internet das empresas aéreas escolhidas, para verificação dos recursos disponíveis a bordo e outras informações de saúde; fazer contato com os serviços médicos das empresas aéreas em caso de dúvidas. Os passageiros cardiopatas estarão, potencialmente, afetados por três fatores principais relacionados à fisiologia da altitude e às particularidades dos vôos comerciais: a hipóxia, a aerodilatação e a imobilidade prolongada em posição sentada. A hipóxia pode ser fator de descompensação em casos limítrofes, agravando as condições clínicas preexistentes. A aerodilatação pode, pela expansão dos gases abdominais, determinar, nos casos mais importantes, uma restrição de mobilidade diafragmática, contribuindo adicionalmente para a hipóxia. A imobilidade prolongada é certamente um fator de risco para o desenvolvimento de trombose venosa profunda. A grande maioria das grandes empresas aéreas é capaz de prover oxigênio medicinal para o passageiro, embora, como regra, esses sejam serviços taxados. Por questões de segurança, com raras exceções, não é possível a utilização de equipamentos próprios dos pacientes, uma vez que os cilindros de oxigênio necessitam ser homologados para uso aeronáutico. Em parte das situações, pode ser feita uma avaliação individual que leve em conta o tempo de vôo, as condições clínicas e a disponibilidade de recursos. Poucas são as contraindicações cardiovasculares para o vôo: infarto miocárdico não-complicado em prazo menor do que 2 semanas; infarto miocárdico complicado em prazo menor que 6 semanas; angina instável; insuficiência cardíaca congestiva; hipertensão grave descontrolada; cirurgia cardíaca em prazo menor que 10 a 14 dias; acidente vascular encefálico em prazo menor que 2 semanas; taquiarritmias supraventriculares ou ventriculares sem controle; síndrome de Einsenmenger; doença orovalvar sintomática. 29 Diante desse contexto, permite-se assegurar que no transporte aéreo, as pessoas em suas diversas finalidades pelas quais se deslocam para os mais variados lugares têm em comum o mesmo objetivo: chegar em segurança a um determinado destino e em tempo hábil para atender aos seus compromissos. Neste contexto, a atividade aérea constitui uma forma de organização de trabalho que exige um controle sistemático da saúde de seus integrantes, pelos numerosos fatores de risco presentes no ambiente de trabalho. 3. CONCLUSÃO Ao analisarem-se os estudos referentes aos distúrbios cardiovasculares relacionados à aviação, sobretudo aqueles relacionados à queda da pressão atmosférica e a temperatura conclui-se que é extenso o quadro de patologias relacionadas à aviação e é de fundamental importância que as pessoas envolvidas identifiquem os sintomas e procedam de maneira correta ao se observar alterações de evidência médico. O percentual de indivíduos expostas às influências da altitude na aviação é elevado, seja a tripulação ou os passageiros. O número daqueles que usufruem do transporte aéreo está aumentando significativamente. Observa-se concomitantemente que, devido aos avanços tecnológicos, mais seguros e confiáveis, incrementou-se o número de voos com aeronaves que sobrevoam espaços atmosféricos mais distintos, atingindo altitudes inimagináveis com a própria estratosfera. Para isto, tornam-se mais imperativos os cuidados, as orientações e as medidas de precaução para que sejam evitados os danos fisiológicos relacionados à aviação. Todos aqueles ligados diretamente a atividade aérea são submetidos inicialmente a um rigoroso exame médico, o Certificado de Capacidade Física (CCF), para averiguar se suas condições anatômicas e fisiológicas estão compatíveis com a prática da profissão, contudo observase que, graças à cobiça e concorrência descomedida das companhias aéreas, muitos cuidados concernentes aos passageiros e até mesmo aos tripulantes são relegados a própria sorte de cada um. Manuais diversos são expostos à população, muitas vezes em linguajar incompreensível para a maioria, proporcionando um incitamento dos problemas médicos relacionados com a aviação. Assim como o aviador deve conhecer o funcionamento da aeronave, este deve estar ciente das limitações do seu corpo e das variações da fisiologia humana em resposta aos estímulos externos. Observa-se que, aquele envolvido na aviação está sujeitos, constantemente, a riscos à saúde e à própria vida, mesmo que de forma atenuada. Um monitoramento preventivo e sistemático da saúde resultará em uma contribuição para a segurança daqueles que utilizam esse meio de transporte e/ou recreio, pois permitirá associar os limites fisiológicos do setor aéreo com a regulamentação aérea. 30 O desenvolvimento da medicina aeronáutica voltada para os trabalhadores e passageiros e a criação de programas de mudanças de hábitos, de comportamento de vida e de controle alimentar baseados em evidências científicas, pode a estimular-nos a adoção de medidas e comportamentos que minimizem as influências da altitude no nosso organismo. Conclui-se assim que é de extrema relevância o conhecimento científico sobre as doenças relacionadas à atividade aérea, sobretudo as cardiovasculares, essas as mais danosas e, às vezes de caráter irreversível ao organismo humano. Faz-se necessário que se conheçam os principais sintomas relacionados às patologias, as condutas básicas terapêuticas e as incidências dessas patologias para que se possa desfrutar de uma boa viajem e que não haja exposição daqueles supostamente doentes a atividade aérea. REFERÊNCIAS BARNETT, A. G.; DOBSON, A. J.; MCELDUFF, P. Cold periods and coronary events: an analysis of populations worldwide. J. Epidemiol. and Community Heal. v. 59, p. 551-557, 2005. BERNE, R. M.; LEVY, M. N.; KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Braile Biomédica Disponível em: <http://www.fbo.com.br/images/stories/editores/ Prof_domingos/3hipoxia.pdf>. Acesso em: 22 out. 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e incertezas para o Brasil/Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008. BRASH, N. 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Acesso em: 22 ago. 2012. www.scielo.br/pdf/abc/v79s4/a01v79s4.pdf. Diretrizes de doenças Cardiovasculares e Viagem Aérea da SBC. 32 DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL EM MICROBACIA HIDROGRÁFICA LOCALIZADA EM UM NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÃO Ms. Danilo Duarte Costa e Silva (PPGES/ UFRN) – [email protected] Dr. Arthur Mattos (PPGES/ UFRN) – [email protected] Resumo As pressões antrópicas sobre os recursos naturais motivadas pela necessidade de sobrevivência, principalmente em locais deteriorados (como áreas ameaçadas pela desertificação), geram a necessidade de uma análise que contemple tantos os aspectos socioeconômicos quanto ambientais. Com intuito de analisar a deterioração socioeconômica e ambiental na microbacia do Riacho do Trapiá, localizada em um núcleo de desertificação no estado do Rio Grande do Norte, foi aplicada a matriz de Leopold adaptada pelo Rocha (1997). Os índices calculados para deterioração social, econômica, tecnológica, socioeconômica e ambiental foram de 29,55%; 81,08%; 58,82%; 39,59% e 30,00% respectivamente. Conforme observado a microbacia do Riacho do Trapiá se encontra em elevado processo de deterioração, com mais de 50% da área comprometida. A deterioração para o fator econômico de 81,08% reflete as condições precárias de vida do morador da região. Palavras-chave: Diagnóstico socioeconômico, Diagnóstico ambiental, Impacto Ambiental e Desertificação. Abstract The anthropogenic pressures on natural resources motivated the need for survival, especially in places damaged (such as areas threatened by desertification) generate the need the analyses both the socio-economic, and environmental concerns. In order to analyze the socioeconomic and environmental deterioration in the Riacho do Trapiá watershed, located in a nucleus of desertification in the state of Rio Grande do Norte, was applied to Leopold matrix adapted by Rocha (1997). The indices calculated for deteriorating social, economic, technological, socioeconomic and environmental were 29.55%, 81.08%, 58.82%, 39.59% and 30.00% respectively. As noted the watershed of the Riacho do Trapiá is high in case of damage, more than 50% of the affected area. The deterioration of the economic factor to 81.08% reflects the precarious conditions of life of residents of the region. Key-words: diagnosis socioeconomic, diagnosis environmental, environmental impact, Desertification. Introdução Atualmente a temática ligada a analise ambiental em bacias hidrográficas tem tido uma importância cada vez maior (TUNDISI, 2003:107). Intervenções voltadas para a bacia hidrográfica em todo mundo (DARGHOUTH ET AL, 2008:93) tem crescido nos últimos anos e dentre os 33 maiores problemas relacionados à temática, a necessidade de se aliar a subsistência da população com a conservação dos recursos naturais (DEBARRY, 2004:3) tem sido um dos maiores desafios. No Brasil esta realidade não tem sido diferente, Tucci (2001:149) a partir de uma ampla análise da situação da gestão de águas no país destaca que o maior desafio hoje é de se aliar aspectos do desenvolvimento com a conservação dos recursos naturais e apresenta a região semiárida do país como a mais problemática. Cirilo (2008:79) destacando a necessidade de subsistência (de uma população considerada a maior entre os semiáridos do mundo) aliada às consequentes pressões oriundas da luta pela sobrevivência que esta população exerce sobre o meio ambiente (já deteriorada por um histórico de políticas públicas equivocadas) considerar o semiárido brasileiro o mais problemático do mundo. Nestes termos convém destacar que tais fatores tem sido intensificados em uma micro-bacia localizada na zona rural do município de Currais Novos (semiárido do Rio Grande do norte), uma vez que além de já ter como plano de fundo a problemáticas característica do semiárido a mesma também é parte integrante de um dos quatro únicos núcleos1 de desertificação2 do país (MATALO JUNIOR, 2001, MORAIS, ET AL 2010). Lima & Lima (2009) em estudo recente desenvolvido na região apresentaram algumas atividades ligadas à necessidade de sobrevivência que podem está contribuindo com o fenômeno da desertificação, dentre as quais as atividades de base mineral (tanto em termos de extrações minerais em garimpos clandestinos, quanto atividades do setor ceramista) e o cultivo agrícola desenvolvido de forma equivocada (tanto em área de declive gerando erosão, quanto sendo desenvolvido a partir do desmatamento da vegetação nativa). Freire (2010) por sua vez destaca que este núcleo de desertificação (onde a microbacia está localizada) tem a base da economia ligada, tanto ao setor terciário, quanto às atividades mineradoras (FREIRE, 2010:169): Em relação à atividade extrativista mineral na região do Seridó norte-rio-grandense caracteriza-se pela presença de pequenas empresas de mineração e pelo trabalho informal de garimpeiros (Mineração Artesanal e de Pequena Escala). Atividades de base mineral que consomem lenha (principalmente as indústrias de cerâmicas vermelha e de beneficiamento de caulim) são realizadas nos municípios do Núcleo de Desertificação do Seridó (Acari, Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, Equador, Jardim do Seridó e Parelhas). Nessa porção do semiárido nordestino a mineração é uma atividade econômica que tem permitido a fixação do homem no campo e sua convivência com longos períodos de estiagem. De um lado, portanto, existe a necessidade de sobrevivência da população (cuja base é o setor mineral) e de outro há a clara necessidade de preservação do meio ambiente já em estágio 1 Os núcleos de desertificação correspondem à áreas de amplitude variável onde aparecem manchas aproximadamente circulares e a fisionomia desértica se imprime mais denunciadora (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002: 65). 2 Desertificação é definida como a deterioração do solo em áreas áridas, semi-áridas e subsúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas (MMA, 199-). 34 avançado quanto ao processo de desertificação. Com base no referido percebe-se a necessidade de entender não somente os aspectos ambientais (como deterioração ambiental da área ameaçada pela desertificação), mas também o quadro socioeconômico (que por sua vez exerce as pressões antrópicas sobre o meio, a partir da necessidade de subsistência). Nestes termos Rocha & Kurtz (2007) e Rocha (1997) apresentam uma metodologia voltada para a análise ambiental em bacias hidrográficas que é baseada em uma adaptação da matriz de Leopold (CANTER, 1999) e contempla tanto a análise dos aspectos socioeconômicos, quanto ambientais. Tal metodologia tem se destacado por seu viés quantitativo na apresentação dos resultados e já vem sendo usada em diversos contextos pelo Brasil (TORRES ET AL, 2007; TORRES ET AL, 2008; TORRES ET AL, 2009; FRANCO ET AL, 2005; PEREIRA & BARBOSA, 2009) carecendo, entretanto de aplicação em áreas ameaçadas pela desertificação. O presente artigo apresenta uma análise da deterioração socioeconômica e ambiental a partir do modelo desenvolvido pelo Rocha (1997) e Rocha & Kurtz (2007) da microbacia hidrográfica do Riacho do Trapiá localizada na zona rural de Currais Novos – RN – Brasil. Materiais e método A Microbacia Hidrográfica do Riacho do Trapiá pertence à Bacia Hidrográfica PiranhasAçu, localizada (conforme apresenta a figura 1, a seguir) na zona rural do município de Currais Novos, RN – Brasil faz parte do Núcleo de Desertificação do Seridó, tem uma área de aproximadamente 39 km² e tem uma população residente formada predominantemente por produtores rurais. Figura 1 - Microbacia Riacho do Trapiá - zona rural de Currais Novos – RN – Brasil (Elaboração do próprio autor) Aplicações de diagnósticos 35 O diagnóstico ambiental (ROCHA, 1997) consiste em obter e fazer a análise dos diversos elementos de poluição direta das microbacias hidrográficas, com o objetivo de investigar o grau de deterioração da mesma. A primeira etapa do diagnóstico consiste na aplicação de questionário com 21 indicadores e na segunda etapa (a partir do estudo adaptado e portanto com certa similaridade ao que é feito na matriz de Leopold) atribui-se os pesos 1 ou 2 (classificando cada resposta do questionário), a partir do cruzamento das atividades ao fator ambiental. Por último, faz-se a aplicação da equação da reta. A seguir o quadro 1 apresenta um exemplo de aplicação3 da equação da reta a um questionário (neste caso o ambiental, porém o principio é o mesmo para o questionário socioeconômico): Continuação... -21a – b = 0 42a + b = 100 y = ax + b Valores significativos Diagnóstico Ambiental 1. Equação da reta Onde: y = deterioração (%) x = valor da moda encontrado; a e b = coeficiente da equação da reta. 21a = 100 2. Exemplo de aplicação da equação da reta ao diagnóstico ambiental: b = - 99,92 y = ax + b Tem-se: ax + b = 0 x‘ = valor mínimo ( ) ax + b = 100 x‖ = valor máximo ( ) Logo: 21a + b = 0 (*–1) 42a + b = 100 Onde: y = deterioração ambiental x = valor encontrado (moda4) y = (4,76*22) – 99,92 ∴ a = 4,76 (42*4,76) + b = 100 b = 100 – 199,92 y = 4,76x –99,92 y = 4,8 % Indicadores 1.1 Estocagem de defensivos agrícolas Códigos Depósitos de embalagens de agrotóxicos 1.2 1.3 Locais de lavagem de implementos com 1.4 Pedreiras agrotóxicos 1.5 Minas 1.6 Lixeiras (lixo urbano, rural). 1.7 Exploração de areias 1.8 Pocilgas 1.9 Aviários 1.10 Matadouros 1.11 Estradas rurais degradadas 1.12 Erosões marcantes (lavouras) 1.13 Exploração de madeira 1.14 Esgotos 1.15 Depósitos de pneus 1.16 Queimadas 1.17 Poluição química (fábricas, curtumes, etc.). 1.18 Aplicação de agrotóxicos 1.19 Acidentes com derivados de petróleo ou 1.20 Bombas recalque d‘água em rios/açudes produtosde químicos 1.21 Carvoarias (fornos). Total do Fator Ambiental Deterioração Ambiental (%) Encontrado (Moda) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 22 Mínimo (não) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 21 Máximo (sim) 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 42 4,8% Quadro 1 – Exemplo de aplicação da equação da reta as respostas do questionário Outro diagnóstico aplicado no estudo ambiental em bacias hidrográficas é o diagnóstico socioeconômico (ROCHA, 1997). Este diagnóstico tem um enfoque voltado para o produtor rural 5 e baseia-se na análise da situação social, econômica, tecnológica da população do meio rural. Nestes termos o modelo desenvolvido pelo Rocha (1997) enfoca variáveis diretamente ligadas ao 3 A maneira de aplicação da equação ao diagnóstico socioeconômico é a mesma, só altera o peso (em intervalos que vão de 1 até 12) e evidentemente os indicadores (neste caso são indicadores socioeconômicos). 4 Como o exemplo é apenas de um único questionário, a moda naturalmente já é o valor encontrado. 5 Convém destacar que a metodologia do Rocha (1997) foi desenvolvida para aplicação em bacias hidrográficas (e suas variantes) de características rurais. Em contextos urbanos o autor sugere outro método de intervenção. 36 que se encontra em um contexto rural6. Em termos de aplicação tal metodologia (a exemplo do que acontece no diagnóstico ambiental) consiste em inicialmente em obter (através da aplicação de questionários, com diversos indicadores) informações gerais sobre suas atividades inerentes ao produtor rural, seguido pela classificação das respostas (neste caso com uma amplitude diferenciada do diagnóstico ambiental, conforme mostra a figura 2, a seguir) atribuindo um peso de acordo com critérios estabelecidos (ROCHA, 1997). Quanto maior for o peso atribuído, maior será a deterioração. Por fim, a exemplo do diagnóstico ambiental, é feita a aplicação é feita a aplicação da equação da reta7. Figura 2 – Indicadores socioeconômicos e amplitude dos pesos (adaptado de Rocha, 1997) Determinação da deterioração socioeconômica e ambiental Para determinação da deterioração atribui-se pesos para cada item do questionário, pois quanto maior for o número, maior a deterioração do fator. Para definir os percentuais de deterioração (y), utilizou-se a equação da reta (1): 6 Nestes termos convém destacar a ressalva feita pelo autor da necessidade de adaptação das variáveis, segundo o contexto rural encontrado. 7 A introdução da equação da reta ao questionário é detalhada no quadro 1. 37 y = ax + b (1) Onde, y varia de 0 a 100 (de zero a 100% de deterioração) e os valores mínimos x e os máximos x‘ determinam os valores do modelo a e b, respectivamente, onde: y = unidade crítica de deterioração (%); x = valor modal encontrado; a e b = coeficiente da equação da reta. Para interpretar os valores obtidos Rocha & Kurtz (2007) apresentam um valor de até dez por cento (10%) de deterioração como aceitável, ou seja, com valores acima de dez por cento são necessárias medidas que possam mitigar tal situação e com valores abaixo não há necessidade de tais medidas. Amostra estatística para aplicação do diagnóstico Para aplicação da metodologia Rocha (1997) propõe que se estabeleça uma amostra de propriedades rurais a serem visitadas. Para estabelecer esta amostra o autor apresenta a formula 2, abaixo: n 3,841 N 0,25 [(0,1)² ( N 1) 3,841 0,25] (2) Observando-se que: n = número de visitas a serem feitas pelos pesquisadores; 3,841 = valor tabelado proveniente do qui-quadrado; 0,25 = variância máxima para um desvio padrão 0,5; 0,1 = erro (10%) escolhido pelo pesquisador; N = número total de propriedades rurais do compartimento avaliado. 3. Resultados e discussão Definição da amostra para aplicação de questionário por minibacia Com um dado de entrada de N = 19 na microbacia analisada (após aplicação da formula 2) foram selecionadas 16 (dezesseis) propriedades rurais para serem aplicados os questionários. Resultados do diagnóstico socioeconômico Com a utilização da metodologia, pode-se observar a deterioração ambiental e socioeconômica determinada a partir da aplicação da equação da reta aos questionários socioeconômico e ambiental, conforme a tabela 1, abaixo: Tabela 1 - Deterioração Socioeconômica e Ambiental 38 Deterioração Socioeconômica e Ambiental do Riacho do Trapiá Diagnóstico Mínima Máxima Moda Equação da reta Deterioração (%) Social 46 266 111 Y = 0,455*x – 20,909 29,55% Econômico 17 54 47 Y = 2,703*x – 45,946 81,08% Tecnológico 17 51 37 Y = 2,941*x – 50,000 58,82% 80 371 195 Y = 0,344*x – 27,490 39,59% 20 40 Socioeconôm ico Ambiental 26 Y = 5,000*x – 100,000 30,00% O valor de deterioração social de 29,55% (conforme representado pela linha azul do gráfico 1, a seguir) foi impulsionado pelos altos índices de natalidade, e pela alta média de idade do produtor. A deterioração econômica de 81,08% (como mostra a linha vermelha do gráfico 1, abaixo) apresentou um valor elevado em decorrência das baixas produtividades agrícolas, da falta de acesso à crédito agrário e da renda com a produção agrícola de modo geral. Pode-se observar que em temos tecnológicos a situação não é tão diferente do que foi observado em termos econômicos, pois a deterioração tecnológica de 58,82% (representada pela linha verde, do gráfico 1, a seguir) é reflexo da falta de máquinas apropriadas e de uma infraestrutura não adequada para produção. Gráfico 1 - Deterioração social, econômica e tecnológica Os valores de deterioração econômica e de deterioração tecnológica foram os que impulsionaram o valor de deterioração socioeconômica de 39,59% (representada pela linha azul do gráfico 2, abaixo), mostrando dessa forma que existe a necessidade de se buscar alternativas 39 tecnológicas e medidas que possam contribuir com os índices econômicos, essencialmente na renda. Uma vez que a mesma está bem acima dos 10% (parâmetro apresentado como aceitável). No que diz respeito à deterioração ambiental, a utilização de agrotóxicos, a presença de pocilgas e aviários, a realização de queimadas e a existência do setor mineral, inclusive com garimpos clandestinos, contribuíram para o elevado valor encontrado de deterioração ambiental de 30% (trinta por cento). A deterioração ambiental (conforme linha vermelha do gráfico 2, a seguir) embora esteja abaixo dos 50% (cinquenta por cento), ainda está bem acima do mínimo de 10% (dez por cento). Dentre os principais indicadores, as queimadas (alimento do setor ceramista, conforme apresentado na figura 3, abaixo) foi um dos fatores que contribuiu para o valor. Gráfico 2 - Deterioração socioeconômica e ambiental Figura 3 – Queimadas na microbacia hidrográfica (foto do próprio autor: 15/12/2009) Conclusões 40 A aplicação dos diagnósticos ambiental e socioeconômico em uma microbacia inserida em um núcleo de desertificação trouxe a tona uma situação preocupante. Primeiro pelos altos índices socioeconômicos observados (bem acima do requerido pela metodologia) se destacando os parâmetros econômicos (acima de 80% de deterioração) culminando em uma deterioração socioeconômica de 39,59%. E segundo pelo que se viu em relação aos parâmetros ambientais onde o valor de 30% (com o destaque para a presença de queimadas) reflete um preocupante cenário uma vez que a além da problemática comum ao que se observa no semiárido brasileiro a microbacia está inserida em um núcleo de desertificação. Nestes termos convém destacar a contribuição prática que uma metodologia quantitativa prestou a análise ambiental em uma microbacia hidrográfica localizada em núcleo de desertificação, uma vez que através de valores quantitativos pode-se apresentar o quanto (em termos percentuais) a unidade está deteriorada e dessa forma podendo servir como instrumento (a partir da veiculação de tais informações) que contribuirá com a urgência da implementação de ações mitigadoras, uma vez que dados os altos valores observados carecem de aplicação o quanto antes possível. 5. Referências BARACUHY, J.G.V. Manejo integrado de microbacias no semi-árido nordestino: estudo de um caso. Campina Grande: UFPB, 2001. 221p. Tese Doutorado CANTER, L. W. Manual de Evaluacion de Impacto Ambiental. Madri: Mc-Graw-Hill/ Interamericana de Espana, 1999. DARGHOUTH, Salah et al. Water Sector Board Discussion Watershed Management Approaches, Policies, and Operations: Lessons for Scaling Up The World Bank. 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Convenção das Nações Unidas de combate à desertificação nos países afetados por seca grave e/ou desertificação, particularmente na África. Brasília, [199-]. MORAIS, Ione Rodrigues Diniz, et. al. A desertificação no Seridó potiguar. IN: MOREIRA, E. & TARGINO, I. Desertificação, desenvolvimento sustentável e agricultura familiar: recortes no Brasil, em Portugal e na África. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB; Ministério do Meio Ambiente. 2010. p. 65 a 84. PEREIRA, R. A. & BARBOSA, M. F. Diagnóstico socioeconômico e ambiental de uma microbacia hidrográfica no semi-árido paraibano. Engenharia Ambiental, Espírito Santo do Pinhal, v. 6, n. 1, p. 137-153, jan/abr 2009. ROCHA, J. S. M. da. Manual de projetos ambientais, Santa Maria: Imprensa Universitária, 1997. ROCHA, J. S. M. & Kurtz, S. M. J. M. Manual de Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas, Santa Maria: Edições UFSM CCR/UFSM, 2007. TORRES, José Luiz Rodrigues et. al. . 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O objetivo do presente trabalho foi avaliar a implantação das técnicas agrícolas para contenção de solo e água, no município de Serra Branca, Paraíba. O local escolhido foi a comunidade ligeiro de baixo, no município de Serra Branca, Paraíba. As coordenadas geográficas da área foram georreferenciadas com auxílio de GPS, como pode-se verificar a seguir: 3 ‘ , ‖ de Latitude Sul, 3 3 ‘ ‖ de Longitude Oeste e 3 metros de Altitude. A construção da barragem subterrânea obteve as seguintes dimensões: comprimento de 24 m apresentou profundidade relativamente baixa, com profundidade média de 1,90 m e, ao longo de seu perfil ocorreu variação de 1,60 m a 2,35 m, chegando a obter como base da barragem, a rocha mãe, que representa a base mais sólida. Em conjunto com a barragem subterrânea foi construído um poço amazonas tipo anel pré-moldado com 1,5 m de diâmetro e 0,5 m de altura, atingindo a profundidade de 2,5 m inserido na bacia hidráulica a montante da barragem e, um barramento superficial com pneus usados (BAPUCOSA) com extensão de 20 m, a distância de 2,0 m à jusante da barragem subterrânea. O volume de água médio previsto de acumulação foi estimado através de porosidade do solo retirado do local, profundidade e declividade longitudinal média, resultando num acúmulo máximo de 2.114 m3 de água. Palavras-chave: bacia hidráulica, barragem subterrânea, porosidade do solo. Abstract Sustainably develop the semi-arid region of the northeastern has been a major challenge. In this context, water is a limiting factor, being necessity to seek viable forms to capture and store the same to that in the dry season are up subsidies to keep the human supply and agricultural production. The aim of this study was to evaluate the implantation of farming techniques for containment of soil and 43 water in the city of Serra Branca, Paraíba. The venue was the slight low community in the municipality of Serra Branca, Paraíba. The geographical coordinates of the area were georeferenced using GPS, as it can be seen below: 07 ° 32 '59.9" South Latitude, 36 ° 39' 07" West Longitude and Altitude 530 meters. The construction of underground dam obtained the following dimensions: length 24 m depth had relatively low, with an average depth of 1.90 m along its profile variation was 1.60 m to 2.35 m, reaching gain based dam, the bedrock, which is the more solid basis. In conjunction with the underground dam was built a Amazons well-ring precast type, with 1.5 m diameter and 0.5 m high, reaching a depth of 2.5 m in the basin hydraulic inserted upstream of the dam and a surface bus with used tires (BAPUCOSA) with extension of 20 m, a distance of 2.0 m downstream of the dam underground. The volume of the average water accumulation estimated by soil porosity left the location, depth and medium longitudinal slope, resulting in accumulation of maximum 2114 m3 of water. Keywords: hydraulic basin, underground dam, soil porosity Introdução Desenvolver de forma sustentável a região Semiárida do Nordeste tem sido um grande desafio. Nesse contexto a água é um fator limitante, sendo necessário buscar formas viáveis de captação e armazenamento da mesma para que na época de estiagem tenham-se subsídios para manter o abastecimento humano e a produção agrícola. A captação de água na Região Nordeste Brasileira é de extrema importância, pois a partir da mesma podem-se ter subsídios para abastecimento humano, animal e produção agrícola. Entretanto, o resultado diante de uma precipitação média de 600 mm.ano-1 associada a uma evaporação de 2000 mm.ano-1 (Baracuhy, 2001), gera um déficit hídrico nos reservatórios durante os períodos secos, justificando a importância da tecnologia de barragem subterrânea. A barragem subterrânea é uma obra de engenharia de baixo custo, simples processo construtivo e operacional, tendo por finalidade interceptar o fluxo de água subterrâneo freático do depósito aluvial de um rio, desde que esse ofereça condições naturais para tal interceptação. Segundo Costa ( ), esse tipo de intervenção se constitui, assim, numa ―pequena grande obra‖, pequena por se tratar de uma obra de baixo custo e de fácil e rápida construção e grande por representar uma ação de elevado cunho social, que tende a minimizar o flagelo da seca e a proporcionar meios de manutenção do homem no campo, na medida que disponha de água para plantar, manter sua família e dessedentar os animais de criação. As barragens subterrâneas são obras de engenharia implantadas no perfil de depósitos aluvionares que tem por finalidade interceptar o fluxo de água subterrânea. Visando aperfeiçoar o armazenamento de água na barragem subterrânea é construído na mesma área um poço amazonas, 44 com a finalidade é a disponibilidade de água livre e extração de sais do lençol freático. Além do poço é construído um barramento de pneus usados, tendo como função aumentar a infiltração de água no solo e diminuir a perda de solo devido ao escoamento superficial, sendo um obstáculo para enxurrada. Portanto, a barragem subterrânea é uma técnica que além de proporcionar o armazenamento de água no solo promove a recuperação da vegetação mediante bom manejo, recuperando dessa forma as camadas superficiais do solo que em geral são as mais férteis e de melhor qualidade para exploração agrícola. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a implantação das técnicas agrícolas para contenção de solo e água (barragens subterrâneas, poços amazonas e barramento de pneus para contenção de solo e água – BAPUCOSA), no município de Serra Branca, Paraíba. Materiais e Métodos O trabalho foi realizado no município de Serra Branca, Paraíba, resultado de uma capacitação para produtores rurais sobre o conjunto de técnicas (Barragens subterrâneas, poço amazonas e BAPUCOSA), financiado pela FUNASA e executado pela Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola UAEAg/UFCG. Na escolha do local de implantação das técnicas foi levada em consideração a área que apresentou melhor infra-estrutura e características técnicas pertinentes para a construção. O município de Serra Branca está situado na microrregião do Cariri Paraibano, onde o clima é considerado segundo a classificação de Köeppen, como do tipo BSwh‘, isto é, semi-árido quente, com as precipitações médias situam-se em torno de 400 mm.ano-1 (AESA, 2010) e tendo estação seca podendo ter um período de 8 a 9 meses, associada a uma evapotranspiração de referência de 1.913,9 mm.ano-1 (HARGREAVES, 1974). O local escolhido foi a comunidade ligeiro de baixo, georreferenciada com auxílio de GPS, cujas coordenadas foram: 3 ‘ , ‖ de Latitude Sul, 3 3 ‘ ‖ de Longitude Oeste e 3 metros de Altitude (Figura 1). Figura 1. Drenagem do Município de Serra Branca, identificando o local da construção das técnicas 45 Na Figura 2, pode-se observar o panorama do local escolhido para locação da obra, percebese que a mata ciliar do riacho é formada por plantas de algaroba, que apesar de não ser espécie nativa tem sido encontrada com frequência na região devido a profundidade de suas raízes o que facilita a busca de água no lençol freático, em época de seca sua vargem é utilizada como fonte de alimentação para o gado. Figura 2. Panorama do local escolhido para a realização do conjunto de técnicas No processo construtivo das técnicas, foram coletadas amostras de solo retiradas do perfil da vala da barragem subterrânea a profundidade de 0,50 m, 1,0 m e 2,0 m. O objetivo desse procedimento foi caracterizar o solo da área de captação/plantio, em diferentes profundidades. Foram determinados em laboratório os atributos físicos: textura, densidade do solo e das partículas, capacidade de campo (0,10 atm) e ponto de murcha permanente (15,0 atm). Além da coleta de solo, foi realizada a coleta de água de uma cacimba situada na área de captação a montante da barragem subterrânea, onde foram analisados parâmetros referentes ao teor de sais presentes na água. Classificando-a de acordo com a metodologia de Richard (1954) e tendo o resultado posteriormente comparando com a recomendação da FAO, classificação proposta pelo Comitê dos Consultores da Universidade da Califórnia – UCCC (1974) citado por Ayers e Westcot (1999), para uso na irrigação de áreas cultivadas. As análises de água foram obtidas quanto à salinidade e as amostras de solo foram submetidas a leituras de salinidade e parâmetros físico-hídricos, ambas realizadas no Laboratório de Irrigação e Salinidade (LIS), da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Para possibilitar uma exploração agrícola na bacia hidráulica da barragem subterrânea é imprescindível que se tenha água disponível para as plantas. Assim, através do cálculo de volume total obstruído de água e solo (Vt), Equação 1, determina-se o volume total de água no solo e, com 46 esse resultado calcula-se o volume de máxima captação de água (Vc) da barragem subterrânea (Equação 2). Vt H .L.S 2 (1) em que: H – Altura média da secção transversal do riacho; L – Largura do riacho; S – Declividade 1% Vc Vt . (2) em que: Vt – Volume total obstruído de água+solo; α – Porosidade média do solo Resultados e Discussões A construção da barragem subterrânea se deu no leito do riacho XXXX, localizado na comunidade Ligeiro de Baixo, com as seguintes dimensões: comprimento de 24 m, apresentou profundidade relativamente baixa, com profundidade média de 1,90 m e, ao longo de seu perfil ocorreu variação de 1,60 m a 2,35 m, chegando a obter como base da barragem, a rocha mãe, que representa a base mais sólida. O solo do local apresentou textura grossa, tendo em sua composição predominantemente areia sem presença de pedras. A BAPUCOSA foi construída com 30 pneus de caminhão e 05 de carro de passeio, distribuídos em duas camadas e grampeados com vergalhão de diâmetro ½ polegada, para dá estabilidade a obra são inseridas dentro dos pneus pedras que geralmente estão dispostas nos leitos dos riachos. Entretanto, próximo a área de implantação da obra não haviam pedras suficientes, ficando sob responsabilidade da comunidade a colocação das mesmas nos pneus. A BAPUCOSA construída obteve uma extensão final de 20 m de comprimento, a uma distância de 2,0 m à jusante da barragem subterrânea. O poço amazonas alcançou a profundidade de 2,5 m, sendo colocados 07 anéis pré-moldados (altura (H) – 0,5 m e diâmetro (ϕ) – 1,5 m), deixando 1,0 m acima do nível do solo, esse procedimento é feito com o intuito de evitar o entupimento por solo em suspensão que é carreado durante o período chuvoso. A distância de alocação do poço amazonas foi de 3,0 m a montante da barragem subterrânea, a declividade longitudinal do riacho foi calculada em 47 torno de 1%. Utilizando a Equação 1 e Equação 2, obtém-se o valor do volume total obstruído de água e solo e o volume de captação da barragem subterrânea respectivamente (Tabela 1). Tabela 1. Cálculo do volume máximo de captação da barragem subterrânea no município de Serra Branca Parâmetros Valores (m) Volume total obstruído de água e solo (m3) Volume de máxima captação de água da Barragem subterrânea (m3) 1,9 4332 2114 Altura média da secção transversal do riacho (H) Largura do riacho (L) Declividade 1% (S) Porosidade 48,8% (α) 24 190 0,488 Na Figura 3 está apresentado o gráfico do perfil de escavação da barragem subterrânea (limitada pela rocha mãe), bem como, a área de captação de água ―in situ‖ ao longo da área da barragem subterrânea. Profundidade da Rocha (m) Perfil de Escavação da Barragem Subterrrânea 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Distância Transversal (m) Estratificação da Rocha Figura 3. Perfil de escavação da vala da barragem subterrânea no município de Serra Branca Os detalhes construtivos das técnicas agrícolas para contenção de solo e água podem ser acompanhados pela sequência de Figuras de 4 a 9. 48 Figura 4. Comprimento da vala escavada Figura 5. Medição da profundidade da vala para (transversal ao riacho) conhecimento do perfil da barragem subterrânea Figura 6. Colocação da lona plástica com 200 Figura 7. Colocação dos anéis pré-moldados micras, 6 m de largura, ao longo da vala da para a construção do poço amazonas. barragem subterrânea. 49 Figura 8. Construção do barramento com pneus Figura 9. Finalização da barragem subterrânea usados com construção da BAPUCOSA a sua jusante A classificação das amostras de solo coletada em diferentes profundidades, bem como, os parâmetros físico-hídricos do solo, estão representadas na Tabela 2. Observa-se que apenas à profundidade do solo de 0,5 m foi classificada com salinidade normal. Tabela 2. Caracterização físico-hídrica do solo coletado na área da instalação da barragem Variável Densidade aparente (g/cm3) Porosidade (%) Cap. de Campo - 0,10 atm (cm3/cm3) Ponto de Murcha - 15 atm (cm3/cm3) Salinidade Classe Textural 0,5 m 1,50 45,93 0,06 0,02 Normal Areia Franca Profundidades 1,0 m 2,0 m 1,35 1,43 51,49 48,84 0,06 0,06 0,02 0,04 Salino Sódico Salino Sódico Areia Franca Areia A água coletada para análise foi proveniente de uma cacimba, os valores dos parâmetros encontrados após análise em laboratório estão representadas na Tabela 3. Tabela 3. Parâmetros de qualidade de água no município de Serra Branca Propriedade Ligeiro de Baixo pH CEa (µS cm-1) Cálcio (meq L-1) Magnésio (meq L-1) Sódio (meq L-1) Potássio (meq L-1) Carbonato (meq L-1) Bicarbonato (meq L-1) Cloreto (meq L-1) Sulfato (meq L-1) RAS 7,92 6.500 18,76 27,48 45,98 0,72 1,7 5,29 74,75 Presença 9,52 50 Classe C4 Pela classificação de Richard (1954) a água proveniente de cacimba do ligeiro de baixo, foi classificada como sendo uma C4S3. Indicando que pelo valor da condutividade elétrica (6.500 µS cm-1), a água apresenta salinidade muito alta, não deve ser aplicada ao solo em condições normais, podendo ser utilizada ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais, tais como em solo de boa drenagem no cultivo de plantas halófitas, misturada a águas com baixa concentração de sais, mantendo-se o solo a capacidade de campo ou com o uso de mulching, dentre outras. Comparando os valores da Tabela 3 com os parâmetros apresentados pela UCCC (1974), em relação à qualidade da água para irrigação, observa-se que a mesma tem restrição severa quanto ao seu uso, e quanto a Razão de Adsorção de Sódio (RAS) não existe nenhum grau de restrição indicando que para a planta haverá grandes riscos a toxidade e, para o solo não apresentará problemas de desagregação das partículas. Vale salientar que a água foi coletada no verão onde a concentração de sais é maior devido à evaporação. CONCLUSÕES A barragem subterrânea construída no local apresentou boa capacidade de armazenamento de água, propiciando aos moradores da comunidade a exploração agrícola durante a época de estiagem. A construção do poço amazonas mostra-se de grande importância por disponibilizar água livre para consumo animal e monitoramento do nível de sais na água do aquífero freático. Foi possível avaliar que o uso dos pneus além da funcionar como uma barreira diminuindo a velocidade da água no riacho interceptado possibilita a retirada desse material do meio ambiente, promovendo dessa forma a sua conservação. AGRADECIMENTOS Universidade Federal de Campina Grande – UFCG Fundação Nacional de Saúde – FUNASA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AESA, 2010. Monitoramento de chuvas, através do site http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/jsp/monitoramento/chuvas/climatologiasGraficos.jsp acessado em 01 de maio de 2010. 51 BARACUHY, J. G. V. Manejo Integrado de Microbacias Hidrográficas no Semi-árido Nordestino: Estudo de Caso. Campina Grande: UFPB, 2001, 220p. Tese (Doutorado em Recursos Naturais) COSTA, W. D. Manual de Barragens Subterrâneas: Conceitos Básicos, Aspectos Locacionais e Construtivos. Laboratório de Hidráulica/CTG/UFPE – Grupo de Recursos Hídricos, Recife – PE, 2009. HARGREAVES, G. H. Potential Evapotranspiration and Irrigation Requirements for Northeast Brazil, Utah State University-E.U.A., Dept. of Agriculture and Irrigation Engineering (CUSUSWASH), 1974 55p. 52 MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM AMBIENTES URBANOS-TERESINA-PI João Alvino Sampaio da SILVA (DCA/UFCG) – [email protected] Raimundo Mainar de MEDEIROS (DCA/UFCG) – [email protected] Camilla Karssar BORGES (DCA/UFCG) – [email protected] Maria da Conceição Marcelino PATRÍCIO (CTRN/UFCG) – [email protected] Resumo Teve-se como objetivo analisar as mudanças climáticas ocorridas no centro urbano, caracterizandoas para o Município de Teresina-PI. Analisaram-se tanto fatores e elementos climáticos e dinâmicos, como também fatores estáticos e climatológicos como suportem a uma análise dos eventuais efeitos da urbanização na modificação climática da cidade, no que diz respeito a ilhas de calor, trocas de calor entre as diversas camadas de ar sobre as cidades. Obteve-se como resultado que o processo de urbanização das cidades adquiriu um grande desenvolvimento horizontal e vertical, passando a atuar como uma grande modificadora do clima local. As mudanças climáticas geradas pelas atividades humanas modificam o balanço de radiação, a temperatura, o balanço hídrico, a umidade, cria células de alta e baixa pressão e modifica os sistemas de ventos, assim como a aerodinâmica do meio, através dos prédios. As camadas de ar adjacentes à cidade, o ar é mais quente que em ambientes a sua volta, o tamanho deste fenômeno varia de acordo com a forma e tamanho em um determinado tempo e espaço. Ocorreram flutuações elevadas em vários índices climatológicos, entre eles na temperatura mínima e precipitação, o município sofreu bruscas alterações em sua estrutura urbana, afetando o clima a sua volta. Palavras Chaves: Clima urbano; atores meteorológicos. Abstract This study was undertaken to analyze the changes in climate in the urban center, characterizing it for the city of Teresina - PI. These missions was to analyze both factors and environmental elements and dynamic, but also sticking to static and climatological factors. These factors should support an analysis of possible effects of urbanization on climate change in the city, both in respect of heat islands, such as heat exchange between the various layers of air over the cities. We obtained the result that the process of urbanization of the cities acquired a large horizontal and vertical development, starting to act as a major modifier of local climate, climate change, generated by human activities modify the radiation balance, temperature, balance water, moisture, creates cells of high and low pressure systems and modifies the winds, as well as the aerodynamics of the medium, through buildings, layers of air adjacent to the city, the air is warmer than the environment around 53 them; the exact size of this phenomenon varies with the shape and size in a given time and space, there was high fluctuations in various climatological indices, including the minimum temperature and precipitation, the city of Teresina suffered sudden changes in its urban structure, affecting the climate around them. Keywords: Climate urban; meteorological factors. Introdução Com o passar do tempo, a superfície terrestre foi se modificando, cidades cada vez mais populosas e povoadas e o processo de verticalização destas. A cidade passa a atuar como um fator modificador do clima regional, criando atmosferas específicas em sua área influência, que são definidas como clima urbano; ou seja, toda a área de influência que uma cidade tem é capaz de modificar e criar condições adversas na atmosfera local. Muitos são os fatores responsáveis pela modificação topo e microclimática nas cidades, tais como, a substituição dos materiais naturais pelos materiais urbanos, mudanças na circulação dos ventos devido às construções urbanas, mudança no balanço energético de radiação (consequentemente o albedo), mudanças de amplitudes térmicas, etc. Segundo Amorim (2000), a partir da cidade, o clima começa a sofrer mudanças, causando na população desconforto térmico, interferindo na qualidade do ar e provocando crescentes inundações urbanas. Com o passar do tempo, estes problemas urbanos começam a fazerem parte do dia-a-dia da população, como ilhas de calor, poluição do ar, alta incidência de radiação solar direta à superfície, baixa quantidade de nebulosidade, variabilidade da umidade relativa do ar, chuvas intensas (acompanhadas de vendavais e descargas elétricas), inversão térmica. Muitas podem ser as causas da formação de uma ilha de calor, porém, alguns fatores propiciam a formação, especificamente para o município de Teresina-PI, o aumento da radiação de ondas longas e sua reemissão pelos poluentes da atmosfera, diminuição do albedo dada à maior absorção das ondas curtas devido às construções; gerando um grande armazenamento de calor durante o dia, adicionado ao calor antropogênico (frotas de veículos coletivos, industriais, refrigeradores, lixões a céu aberto). O que, causam um aumento da temperatura em relação às áreas suburbanas e periféricas da cidade e do campo. O clima, no decorrer da crescente urbanização na qual passa a sociedade brasileira, é um dos elementos que mais tem sofrido impactos. Para Monteiro (1997) o clima pode ser definido como um sistema aberto, ativo e complexo, cuja vitalidade está na dependência direta da capacidade de trocar energia e matéria com o exterior. Neste trabalho devem-se analisar as mudanças climáticas que vem ocorrendo do ambiente para o município, pois apesar de ocuparem parcelas territoriais 54 significativas, estes constituem a maior transformação da paisagem natural e do clima da região onde se encontram localizados. Pretende-se assim analisar tanto fatores dinâmicos, como massas de ar, circulação geral e secundária, como também se ater a fatores estáticos e climatológicos, como temperatura, pressão, domínio de ventos, umidade, precipitação, entre outros. Tais fatores devem dar suporte a uma análise ainda maior, que tem como objetivo analisar os eventuais efeitos da urbanização na modificação climática da cidade, tanto no que diz respeito a ilhas de calor, como trocas de calor entre as diversas camadas de ar sobre as cidades, as chamados Limites das Camadas Climáticas que tanto enfatiza Oke (1998). Assim, este trabalho tem como objetivo analisar os fatores modificadores do clima local, caracterizando-a para o municípioem questão, informando as características climáticas da área de estudo, citando os dados causadores desta mudança. Pretende-se penetrar no interior das cidades, aceitando-a como fato geográfico, analisando sua real estruturação físico-natural de ambiente altamente produzido pelo homem, através de uma dinâmica estrutural conduzida pelos processos econômicos vigentes na sociedade e suas reais implicações na mudança climática. Com a substituição das paisagens e materiais naturais pelos antropogênicos, o balanço de radiação, a circulação local dos ventos, o balanço hídrico, entre outros, sofreram modificações significativas. Mudanças estas que afetam a camada de ar que está adjacente à cidade, transformando o clima local. Com isso toda a área de influência que uma cidade tem, capaz de modificar e criar condições adversas na atmosfera local pode ser caracterizado como clima urbano. Com as ações antrópicas no meio urbano, modificam-se as superfícies de absorção, a cobertura vegetal, impermeabilizam-se os solos, e tais fatos criam uma variação no balanço de radiação, caracterizando e constituindo uma ilha de calor. O balanço de energia, contabiliza todas as trocas de fluxos de energia existentes entre a atmosfera e a superfície terrestre, e o saldo recai sobre a cidade e áreas circunvizinhas em quantidades iguais. Porém, a cobertura natural do terreno, nas cidades é substituído por asfalto, concreto e outros materiais com baixo albedo, produzindo maior absorção de calor, caracterizando um novo clima, diferente das áreas circundantes. Outro fator que é modificado pela cidade é o balanço hídrico, representa a disponibilidade de água, contabilizando a precipitação perante evapotranspiração potencial, a partir de um valor determinado de capacidade de armazenamento de água no solo. Com a construção de cidades o solo é praticamente substituído por materiais urbanos, se cria um déficit na evaporação. Outro fator agravante é a falta de áreas verdes, diminuindo também os índices de evapotranspiração. Estima-se, que na cidade chova mais que em áreas circunvizinhas, devido criação de células de baixa pressão. Estas zonas são criadas devido ao aquecimento diferencial da cidade e fazem com 55 que o vento gire em torno destas células. Segundo Lombardo (1985) nestas áreas tem-se uma variação pluviométrica de até +7% em relação às zonas rurais ou áreas próximas. Outro aspecto causado pela edificação vertical é o sombreamento, o desvio e o represamento dos ventos. Com a construção de edifícios cada vez maiores e mais altos, certas áreas da cidade ficam sem receber iluminação solar no decorrer do dia, tal fator completa caracterizando ilhas de frio, parte da cidade onde a temperatura é mais baixa e o vento represado, ocorrendo mudanças nos hábitos da população e ocorrendo o aumento das incidências de doenças e fungos. Estas zonas constituem células de alta pressão, criando uma circulação de vento local. Podemos observar que na cidade o vento adquire várias direções predominantes, isso se deve a constituição de células de alta e baixa pressão e a interferência das edificações na circulação local. Figura 1. Fotos do passado do município. Figura 2. Fotos atuais do município. Todos estes fatores irão compor os principais problemas urbanos, geralmente associados com desconforto térmico e perda da qualidade ambiental nas cidades. Entre as interferências 56 humanas no clima local, podemos citar a poluição do ar, chuvas intensas em curto intervalo de tempo, seguido de vendavais e alto índices de descarga elétrica, inundações, alagamento, enchentes, desmoronamento. Com o desequilíbrio no balanço de radiação, esta ilha de calor adquire maior intensidade, e provoca um aumento térmico, adquirindo um caráter de emissão de ondas longas tanto no período diurno, quanto o noturno, permitindo assim identificar a perda progressiva de calor na cidade durante o período da noite. Muitos são os fatores causadores desta ilha de calor, entre eles podemos citar: a elevada capacidade de absorção de calor de superfícies urbanas, ausência de áreas verdes impermeabilização dos solos, concentração de edifícios; a utilização de energia pelos veículos de combustão interna e pelas residências. A falta de vegetação cria uma variação no balanço hídrico e na umidade do ar, que adicionado à barreira causada pelos edifícios cria um grande desconforto térmico. Sem levarmos em conta a questão ambiental presente nas cidades e áreas próximas. Nas cidades os materiais naturais dão lugar aos materiais urbanos, materiais estes, que possuem um albedo bem menor, e absorvem a radiação de ondas longas. Este fato é facilmente percebido na cidade, onde a temperatura é maior que as áreas subjacentes. Segundo Oke (1978) ao substituir os materiais naturais pelos urbanos, as propriedades físicas presentes neste espaço modificado pelo homem se alteram, entre elas o calor específico e o latente, a capacidade de calor (quantidade de calor absorvida ou cedida por uma unidade de volume de um sistema para que a temperatura aumente, ou reduzam um grau), a condutividade térmica e a difusão de calor (Tabela 1). Tabela 1. Condutividade térmica e a difusão de calor. Material Solo Arenoso Seco Solo Argiloso Saturado Concreto Denso Tijolo Aço Madeira Água (4ºC) Densidade (Kg m-3 x 103) Calor Específico (J Kg-1 K-1 x103) Capacidade de Calor (J m-3 K-1 x 106) Condutivida de Térmica (W m-1 K-1) Taxa de Difusão Térmica (m2 s-1 x 10-6) 1,60 0,8 1,28 0,30 0,24 2,00 1,55 3,10 1,58 0,51 2,40 1,83 7,85 0,32 1,00 0,88 0,75 0,50 1,42 4,18 2,11 1,37 3,93 0,45 4,18 1,51 0,83 53,3 0,09 0,57 0,72 0,61 13,6 0,20 0,14 Fonte: Adaptado de Oke (1978). 57 Sabe-se que os materiais urbanos possuem um baixo valor de calor específico e elevada absorção de calor, permitindo um maior aquecimento durante o período da manhã e da tarde (as temperaturas máximas tenham redução e as mínimas aumento) e uma perda, gradativamente rápida, durante a noite. No período chuvoso, onde as temperaturas são mais baixas e os ventos úmidos e frios sopram com maiores intensidades, estas propriedades físicas perdem o calor acumulado durante o dia, fazendo com que as temperaturas mínimas permanecem abaixo da média nas cidades, já que este material urbano resfria-se mais que os materiais naturais que ali existiam. Ressalta-se que a sensação térmica na cidade é atenuada pela falta de umidade, advinda da evapotranspiração e prejudicada pela barreira causada pelos edifícios, algo que não ocorre no campo. Nos centros urbanos a temperatura é um grande indicador de mudança climática, já que é pelas ilhas de calor que se pode diagnosticar o processo de variação ocorrido no clima local. Porém, este não é o único elemento climático que sofre profundas modificações. Com o passar do tempo à cidade cria áreas onde o ar converge para camadas superiores, nestas zonas de ar convergente formam-se nuvens, geralmente estratos-cúmulos que, com o passar do dia, tornam-se cumulonimbus. Esta dinâmica atmosférica local cria áreas de altas e baixas pressões, que associadas às modificações urbanas criam um sistema que atrai os sistemas convectivos. Devido a esses fatores estáticos e dinâmicos, muitos estudos tentam comprovar o aumento de precipitação nas cidades, entretanto, embora o ar convectivo crie uma maior quantidade de nuvens, fica difícil chegar a uma conclusão teórica, pois a chuva não cai uniformemente sobre uma determinada área. Nas cidades temos um sistema de microcirculação, que localmente modifica as camadas de ar adjacentes à superfície. Estas por sua vez, dão origem a um sistema de perturbações que cria áreas onde os processos convectivos se acentuam, provocando assim eventuais diferenças nos índices pluviométrico da cidade. Material E Métodos Teresina está localizada na região centro-norte piauiense, à margem direita do rio Parnaíba. A capital do Piauí possui uma área de 1.755,70 km² e um total da área urbanizada de 140,00 km². É composta por população de 715.360 habitantes, correspondente a 25,16% da população do Estado (Amorim, 2010). Quanto à hidrografia, está situada na bacia do Parnaíba. A cidade é banhada por dois grandes rios: o Parnaíba e o Poti. Teresina apresenta uma das mais baixas altitudes do Estado, caracterizando-se por apresentar relevo plano, com suaves ondulações. As colinas com topo achatado e flancos muito inclinados, e as chapadas apresentando a superfície plana e os vales entalhados são as feições topográficas mais frequentes na área do município. A altitude média é de 72 m, variando de 100 a 150 m (Amorim, 2010). 58 A vegetação local é composta pelo cerrado e cerradão constituem a forma mais generalizada que é representada por uma cobertura arbustiva de médio porte e densa. Integra ainda a paisagem os babaçuais e os carnaubais nativos, que se estendem por toda a área (Amorim, 2010). Conforme Monteiro (1963) o município está inserido no caráter mesotérmico, com uma temperatura média anual entre 26,5º e 29,0ºC, com elevada amplitude térmica com oscilação entre 9,0 e 14,5ºC (Figura 3). Tais valores são característicos das correntes perturbadas ali presentes, aliados aos resfriamentos ocorridos após a sua passagem. Estas temperaturas elevadas variam de acordo com a altitude do entorno, dada à característica geográfica municipal e os maiores aquecimentos encontram-se em superfícies mais baixas. Dadas às informações climatológicas e dinâmicas do Nordeste do Brasil, o município tem seu clima controlado pela variabilidade espacial e temporal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), sendo sua atividade mais ao sul do equador, contribuição dos Vórtices Ciclônicos de altos níveis, deste que seu centro esteja no oceano, às formações e intensificações das linhas de instabilidade e dos aglomerados convectivos, auxiliado pelos ventos alísios de nordeste, a convergência de umidade e a troca de calor sensível por latente e vice-versa, as contribuições dos efeitos locais, fatores que aumentam a cobertura de nuvens, a umidade relativa do ar e provocam chuvas de intensidades moderadas à fraca em quase todos os meses do ano, sendo o fenômeno La Ninã o principal fator para ocorrência de chuvas acima da média histórica provocando inundações, alagamento, enchentes, enxurradas e desmoronamento. Na metodologia deste trabalho foram utilizados os dados provenientes da Estação Meteorológica do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) localizada no pátio da EMBRAPA Meio-Norte que se encontra a menos de 3,0 km do centro da cidade. Para isso utilizou-se uma série histórica das temperaturas máximas, médias e mínimas, compreendendo ao período de dados meteorológicos observados entre 1976 a 2010. Utilizando o software Microsoft Excel® elaboraram-se gráficos que exemplificam as temperaturas e a linha de tendência que as acompanham. Após foi analisado os gráficos de: temperatura máxima, média e mínima, mínimas e máximas absolutas climatológicas do período de 1976 a 2010, e a temperatura média anual e sua tendência e a inclinação da reta de tendência. 59 Figura3. Mapa de temperatura média e precipitação. Fonte: EMBRAPA (2010). Resultados e Discussões A temperatura máxima das máximas tem seu pico de decaimento nos meses de março, maio e junho e seu pico de enlevamento nos meses de agosto, outubro, novembro e janeiro conforme demonstração nas figuras 5 e 6. Observam-se na figura 7, as temperaturas mínimas absolutas mantiveram um padrão no decorrer dos anos, mantendo sua tendência inconstante. Isto significa que o balanço de radiação persiste durante todo o dia. Com isso o input do sistema, se considerarmos a cidade um sistema aberto a trocas de energia, receberia uma grande carga de radiação, aumentando sua temperatura no primeiro momento. Com o término da emissão de ondas curtas diretas pelo sol, o output de energia começa a disponibilizar sua energia para o meio, constituindo-se numa alimentação retro negativa, onde toda a energia adquirida é perdida numa espécie de ciclo. Figura 5. Temperatura máxima das máximas Figura 6. Temperatura máxima das mínimas absoluta. Fonte: INMET. absoluta. Fonte: INMET. 60 Sendo assim, a temperatura mínima absoluta tende a adquirir seu padrão anormal, sendo influenciada pelas ilhas de calor em cidades de médio e grande porte, variando de maneira quase significante durante as análises termo climáticas deste estudo. Dos meses estudados, os únicos que tiveram um aumento gradativo de temperatura foram de junho, julho e agosto, porém este decréscimo chega, em ambos os meses, a oscilar de 2,8 a 8,0ºC (Figura 8). Figura 7. Temperatura mínima das máximas Figura 8. Temperatura mínima das mínimas absoluta. Fonte: INMET. absoluta. Fonte: INMET. Devido ao aumento das temperaturas máximas absolutas, causadas pela modificação no balanço de radiação, as temperaturas médias tiveram um, ligeiro aumento. Fato que pode ser comprovado pela figura 9. Observam-se as flutuações das temperaturas médias absolutas com variações acentuadas de reduções nos meses de outubro a dezembro. Nos meses de maio a setembro ocorre uma variabilidade na temperatura média absoluta provocada pelos sistemas locais e suas variações devidas aos fatores meteorológicos atuantes. Após analisarmos o gráfico abaixo (figura 9) pode-se comparar com as médias anuais, a fim de estabelecer um padrão. Como podemos perceber nas figuras 9 e 10, as temperaturas seguiram um padrão de acréscimo térmico com relação aos referidos. Sendo assim, a temperatura média anual teve um aumento significativo, que pode ser constatado na inclinação da reta de tendência, onde a maioria dos meses apresentou características térmicas em gradual aumento. Podemos observar no gráfico que nos meses de inverno as temperaturas tiveram um decréscimo, ou seja, hoje as temperaturas médias no inverno são mais frias que no passado, tal fato se deve a substituição da vegetação que constituía numa fonte de manutenção térmica, visto que as propriedades dos materiais urbanos resfriam consideravelmente no inverno. Pode-se afirmar que nos meses de junho a agosto as temperaturas máximas absolutas tiveram uma pequena queda durante os anos analisados, sendo suas variações observadas nas temperaturas médias anuais e com a temperatura mínimas absolutas. A substituição dos materiais 61 naturais pelos antropogênicos causa mudanças significativas na constituição climática das cidades. Porém, esta mudança não se dá apenas pelo acréscimo ou redução de temperatura. O mesmo acontece com as temperaturas médias anuais e com as temperaturas mínimas absolutas de junho a agosto. Como se pode observar na figura 9. Figura 9. Temperatura média e reta de Figura 10. Temperatura mínima máxima tendência para a série de 1976 a 2010. absoluta da série de 1976 a 2010 e a reta de tendência. Figura 11. Temperatura mínima absoluta da Figura 12. Precipitação anual de 1976 – 2010 série de 1976 a 2010 e a reta de tendência. com reta de tendência. Ao analisar os dados climatológicos da estação de Teresina - PI pode-se observar uma elevação da taxa de precipitação no decorrer dos anos, porém, ao analisar a linha de tendência não se levou em conta os fenômenos climatológicos de escala zonal, se atendo apenas aos fatores locais e aos dados climatológicos da área de estudo. Através deste estudo podem observar a importância de se estudar as modificações climáticas ocorridas em centros urbanos, já que é estimado que mais de 60% da população viva em cidades com 5.000 ou mais habitantes. Isto torna o estudo de clima urbano importante, já que ele pode ocasionar um melhor controle na qualidade de vida dos habitantes destas cidades, incluído a parte relacionada à saúde e bem estar. Podendo demonstrar os efeitos da urbanização e suas repercussões em escalas climáticas, a fim de diagnosticar possíveis soluções e problemas destas modificações que ocorrem em todos os ambientes urbanos do país e do mundo. Para isso é necessário que os governos Federal, Estadual e Municipal criem determinações de altitudes máximas de construção das edificações, levando-se em consideração as predominâncias dos ventos locais. Sendo necessário que estabeleçam limites para as aplicações de asfaltos nas vias 62 urbanas. Criem decretos para implantações de novas áreas verdes e recuperem as arborizações já existentes nas vias urbanas, e também cuidar das margens dos rios com novos plantios de arborização e a redução do lixo. E a recomendação que nas construções de novos bairros deve-se utilizar-se de matérias que armazenem menos calor e que a arquitetura use os meios naturais de ventilações. Conclusões O processo de urbanização das cidades adquiriu um grande desenvolvimento horizontal e vertical, passando a atuar como uma grande modificadora do clima local; As mudanças climáticas, geradas pelas atividades humanas, são muitas e variadas, elas modificam o balanço de radiação, a temperatura, o balanço hídrico, a umidade, cria células de alta e baixa pressão e modifica os sistemas de ventos, assim como a aerodinâmica do meio, através dos prédios; Nas camadas de ar adjacentes à cidade, o ar é mais quente que em ambientes a sua volta, com isso as ilhas de calor constituem-se nos mais claros e documentados exemplos de uma mudança climática; O exato tamanho deste fenômeno varia de acordo com a forma e tamanho em um determinado tempo e espaço originado como um resultado de condições meteorológicas e das características urbanas de um determinado lugar; Houve flutuações elevadas em vários índices climatológicos, entre eles na temperatura mínima e precipitação, fato que vem reforçar a ideia que a urbanização desenfreada, causa profundas modificações no clima local; Com o decorrer dos anos o município sofreu bruscas alterações em sua estrutura urbana, afetando o clima a sua volta. Referências: AMORIM, C. de C.T. Mudanças climáticas no ambiente urbano. Revista Geografia em Atos, v; 1 n; 2 2000. AMORIM, A.N. Etnobiologia da comunidade de pescadores artesanais urbanos do bairro Poti Velho, Teresina/PI, Brasil. Mestrado (Desenvolvimento e Meio Ambiente). UFPI, Piauí, 2010. EMBRAPA. Zoneamento de risco climático para as culturas de algodão e feijão-caupi consorciadas no Estado do Piauí. Embrapa Meio-Norte, Teresina, 2010. LOMBARDO, M.A. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo: HUCITEC, 1985. 244 p. OKE, T. R. Boundary Layer Climates. London: Methuem & Ltd. A. Halsted Press Book, John Wiley & Sons. New York, 1978. 372p. 63 CLIMA URBANO E SUA RELAÇÃO COM O USO E COBERTURA DO SOLO EM JOÃO PESSOA\PB Joel Silva dos SANTOS (DEMA\UFPB) – [email protected] Vicente de Paulo Rodrigues da SILVA (DCA\UFCG) – [email protected] Eduardo Rodrigues Viana de LIMA (DGEOC\UFPB) – [email protected] Lincoln Eloi de ARAÚJO (DEMA\UFPB) – [email protected] Resumo As alterações ocorridas no sistema climático urbano das grandes cidades são processos relacionados ao adensamento urbano e às diferentes formas de uso e cobertura do solo. O objetivo deste trabalho foi analisar o campo térmico urbano e a sua relação com as diversas formas de uso e cobertura do solo em cidade tropical úmida, especificamente a cidade de João Pessoa, PB. As medições da temperatura do ar e umidade relativa foram realizadas em dois períodos distintos de três meses (seco e chuvoso), utilizando-se termo-higrômetro da marca Hobos em nove pontos representativos da malha urbana de cidade. O nível de estresse térmico foi avaliado com base no índice de desconforto de Thom (IDT) para regiões tropicais, ajustado através de questionários de avaliação da sensação térmica das pessoas nos pontos monitorados. O teste de Mann-Kendall foi utilizado para avaliar a tendência temporal das séries climatológicas de temperatura, umidade relativa do ar e do IDT no período de 1963 a 2011. Os tipos de cobertura de solo de cada ponto monitorado foram classificados dentro de nove classes de acordo com a percentagem de vegetação e de materiais permeáveis e impermeáveis utilizando métodos quantitativos e qualitativos. Os resultados do trabalho indicam que a faixa de classificação do índice de desconforto de Thom não é apropriada para regiões tropicais úmidas. A ilha de calor urbano é um fenômeno que ocorre preferencialmente durante o período noturno enquanto a intensidade máxima dos gradientes de temperatura e umidade relativa do ar são fenômenos essencialmente diurnos. Os cenários dos níveis de conforto térmico indicam condições de forte desconforto ambiental para os anos de 2050 e 2060 durante o período seco e desconfortável para o período chuvoso no ano de 2060 em toda área de estudo. Palavras chaves: Conforto Térmico, Ilha de calor, Gradiente de Temperatura Abstract The changes in the urban climate system in great cities are processes related to urban density and the different forms of use and land cover. The objective of this study was to analyze the thermal urban field and its relation to the various forms of use and land cover in a humid tropical city, 64 specifically Joao Pessoa city, PB, Brazil. Measurements in air temperature and relative humidity were carried out in two distinct periods of three months (dry and wet seasons), using thermohygrometer Hobos located in nine representative areas of the city. The level of heat stress was evaluated based on Thom's discomfort index (IDT, in Portuguese), adjusted for tropical regions based on questionnaires for assessing the thermal sensation that people have in function to the parameters that determine the environment in which they live. Mann-Kendall test was used to assess the temporal trends of time series in temperature, relative humidity and IDT for the period from 1963 to 2011. The types of ground cover of each monitored point were classified into nine classes according to the percentage of vegetation coverage and permeable and impermeable materials by utilizing both qualitative and quantitative methods. The results of the study indicated that the classification range of the Thom‘s discomfort index is not suitable for humid tropical regions. The urban heat island is a phenomenon that occurs preferentially during the night while the maximum intensity of the temperature and relative humidity gradients are essentially diurnal phenomena. The scenarios of the thermal comfort levels indicated a strong discomfort for the 2050 and 2060 years during the dry season and uncomfortable condition during the rainy season in the 2060 year throughout the study area. Keywords: Thermal Comfort, Heat Island, Temperature Gradient. Introdução Dentre os vários sistemas ambientais, o atmosférico vem sendo um dos mais afetados nesses últimos séculos, principalmente no que diz respeito ao seu estado de equilíbrio dinâmico, pois segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007), os diversos gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis e das mais diversas atividades antrópicas têm alterado significativamente a composição química desse sistema, colaborando para a elevação das temperaturas médias do planeta e gerando inúmeros problemas com implicações socioambientais para a sociedade em geral. Sendo assim, os centros urbanos acabam sendo áreas potenciais a esses problemas, pois o calor antropogênico oriundo das diversas atividades desenvolvidas nessas áreas, associado ao aumento das temperaturas médias globais acaba por alterar as condições de conforto térmico nesses ambientes, gerando consequências diretas na qualidade de vida das populações (Silva et al., 2010). A partir da Revolução Industrial na Inglaterra, tais problemas passaram a ser monitorados e tornaram-se cada vez mais alvo de vários estudos, envolvendo temas relacionados à compreensão da dinâmica do clima urbano e sua relação com o uso e cobertura do solo nesses ambientes. 65 As diferenciações no uso e cobertura do solo associadas à dinâmica climática local geram implicações socioambientais em ambientes urbanos, onde os elementos naturais foram transformados segundo os interesses e a necessidade da sociedade pós-moderna capitalista. As mudanças na paisagem, através das diversas formas de uso e ocupação do solo, têm gerado transformações significativas na dinâmica climática de áreas urbanas. A formação de ilhas de calor, inversão térmica, poluição atmosférica, dentre outros processos ocasionados pela ação antrópica em função de transformações ocorridas no balanço de energia das cidades, têm comprometido cada vez mais a qualidade de vida das populações que residem nesses ambientes. A carência de estudos interdisciplinares e holísticos sobre a dinâmica climática da perímetro urbanpo do município de João Pessoa/PB, relativos aos diversos campos de estudo da climatologia urbana (termo-higrométrico, físico-químico e hidro-meteórico) tem deixado lacunas para os planejadores, que necessitam de informações sobre o ambiente urbano, principalmente no que se refere à dinâmica climática local. Dessa forma, a hipótese principal da presente pesquisa supõe que as diferentes formas de uso e cobertura do solo, com o processo de urbanização das últimas décadas, têm provocado alterações no campo térmico do clima urbano da cidade de João Pessoa/PB, gerando assim, desconforto e a formação de ilha de calor urbano. Material e Métodos Para a realização da pesquisa foram definidos dez pontos dentro do perímetro urbano da cidade de João Pessoa-PB (figura 01) visando o monitoramento climático das variáveis: temperatura e umidade relativa do ar. As medições foram realizadas em dois períodos distintos: seco e chuvoso, utilizando-se de equipamento termo-higrômetro da marca Hobos espalhados em nove pontos representativos da malha urbana de cidade durante 06 meses (três para cada período observado). O outro ponto de monitoramento observado foi a Estação Meteorológica do INMET localizado às margens da Br 230 da capital paraibana. Para esse ponto de monitoramento foram utilizados os dados da série climatológica disponível pela estação meteorológica, compreendido entre o período de 1963 a 2011. O teste de Mann-Kendall foi utilizado para avaliar a tendência temporal das séries climatológicas de temperatura, umidade relativa do ar e do IDT no período de 1963 a 2011 para a cidade de João Pessoa-PB. A Figura 1 apresenta as localizações dos nove pontos selecionados para o estudo em função das suas diferenciações quanto ao uso e cobertura do solo dentro do espaço intra-urbano da cidade de João Pessoa, PB. A figura também apresenta a Estação do INMET. 66 Figura 1. Localização dos pontos de medições e da Estação Meteorológica do INMET no perímetro urbano da cidade de João Pessoa. Mata do Buraquinho (P01), Bairro Expedicionários (P02), Bairro Manaíra (P03), Bairro Cabo Branco (P04), Bairro Manguabeira (P05), Bairro Cruz das Armas (P06), Bairro Alto do Mateus (P07), Bairro Centro (P08) e Bairro dos Bancários (P09). As coordenadas geográficas estão no Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM), fuso 25. Para medição das variáveis em todos os pontos do experimento, foi determinado para cada unidade climática local um raio de 150m da localização do ponto de coleta, nas direções norte e oeste (Katzschner et al., 2002) e um raio de 350m nas direções leste e sul, de maneira que se obtenha o valor total de 500 m que correspondesse à medida de 0,5 km defendida por Oke (2004). Tal procedimento objetiva analisar a importância da ventilação como um elemento de controle climático para o campo térmico da área. Dessa forma, foi determinada a análise numa área total de 0,21 km² no entorno de cada ponto analisado. Os tipos de cobertura de solo de cada ponto monitorado foram classificados dentro de nove classes de acordo com a percentagem de vegetação e de materiais permeáveis e impermeáveis utilizando métodos quantitativos e qualitativos. Para a avaliação do estresse térmico da população foi utilizado o índice de Thom (1959). O IDT oferece uma medida razoável do grau de desconforto para várias combinações de temperatura e umidade relativa do ar, expresso em graus Celsius, e pode ser obtido pela seguinte equação: IDT = T – (0,55-0,0055 UR)(T -14,5) em que T é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umidade relativa do ar (%). Na caracterização do nível de desconforto térmico, utiliza-se a classificação apresentada por Giles et al., (1990). 67 Entretanto, a faixa de variação dos níveis de conforto térmico expresso por esse índice foi ajustada às condições climáticas da área de estudo. Para tanto, foram realizadas entrevistas na área de estudo com base em questionários para coletar informações sobre a sensação térmica da população local (confortável, desconfortável e parcialmente confortável). Vale salientar que foram aplicados 300 questionários para ajustar o índice de Thom para à cidade de João Pessoa-PB. Para o cálculo da intensidade da ilha de calor urbana na cidade de João Pessoa-PB foi utilizado como ponto de referência, o ponto 01 da cidade, uma área de reserva florestal conhecida como Mata do Buraquinho que apresenta condições semelhantes a um ambiente rural. Resultados e discussões Médias das temperaturas e umidade relativa do ar nos pontos monitorados De acordo com os dados analisados referentes às médias diárias dos pontos experimentais, verifica-se que os pontos 03 e 04 são os que apresentam as maiores temperaturas médias diárias, menores taxas de umidade relativa do ar e maior desconforto térmico. Destaca-se, nos dois pontos, a semelhança das características do entorno que é caracterizado por materiais que possuem propriedades térmicas de absorção e retenção de calor contribuindo assim, para o aumento da temperatura e o decréscimo das taxas de umidade relativa do ar. Verifica-se também como característica dos dois pontos, a ausência de sombreamento e consequentemente o aumento do número de horas de insolação que incide sobre eles. Hwang et.al., (2011) em estudo realizado na região central de Taiwan destaca o efeito do sombreamento sobre as condições de conforto térmico. Para os autores, o fator visível do céu, bem como, as horas de insolação e o sombreamento dos pontos, são fatores que conjugados contribuem para alterar as variáveis: temperatura, umidade relativa do ar e níveis de desconforto térmico. Duarte (2010) em pesquisa realizada em Manaíra, bairro onde está localizado o ponto 03, avalia a correlação entre o comportamento da temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento, com a presença de vegetação (sombreamento) associada às características morfológicas do meio urbano, e chega a resultados semelhantes, destacando que outros fatores como fator de céu visível, horas de insolação, bem como, as características do entorno e a velocidade do vento, exercem maior influencia sobre o aumento da temperatura do ar do que a proximidade da vegetação existente. A pesquisa foi desenvolvida na Praça Silvio Porto, e neste caso, a vegetação não se constitui na principal variável para a amenização climática local. Ela contribui apenas pontualmente através do seu sombreamento, diferentemente do que ocorre na Mata do Buraquinho ponto de referencia da pesquisa. No caso da Mata do Buraquinho, a vegetação exerce papel significativo para a redução da temperatura e aumento da umidade relativa do ar. A vegetação neste caso, contribuiu para a amenização climática e serve como um regulador térmico condicionando um melhor índice de conforto térmico para o ambiente. O Ponto 01 de referência (Mata do Buraquinho) apresenta as menores temperaturas, os valores mais altos relativos à umidade relativa do ar e melhores índices de conforto térmico nos períodos 68 investigados (seco e chuvoso) com relação aos demais pontos de observação. Outros estudos também apontam para esta perspectiva. Amorim (2011) em estudo realizado em alguns pontos experimentais adjacentes ao entorno da Mata do Buraquinho, destaca o papel dessa cobertura vegetal para a amenização climática local. O autor afirma que a mata exerce influencia no campo térmico dos pontos monitorados no entorno da reserva florestal contribuindo para a amenização climática e melhor conforto térmico. Estudo similar também foi realizado em Recife por Nóbrega & Vital (2010) demonstrando a influencia da Reserva Dois Irmãos nas condições microclimáticas da Av. Conde da Boa Vista, onde apontam para esta perspectiva. Os autores chegaram à conclusão de que a cobertura vegetal dessa reserva favorece as melhores condições de conforto térmico e a redução das temperaturas médias do ar, além do aumento da umidade relativa no ponto de referência. Os autores afirmam que o aumento da urbanização e a redução da cobertura vegetal contribuem positivamente para a formação de ilha de calor urbano e desconforto térmico na área de estudo. Com relação aos demais pontos, todos apresentam valores semelhantes relativos a umidade relativa do ar e as médias diárias das temperaturas. A umidade relativa do ar, assim como, as temperaturas médias diárias, sofreram pequenas oscilações entre o período seco e chuvoso e obtiveram valores distintos do ponto de referência, Mata do Buraquinho. Dessa forma, pode-se afirmar que as diferentes formas de uso e cobertura do solo exercem influencia direta nas condições microclimáticas locais. Índice de desconforto térmico Com relação ao IDT, todos os pontos apresentaram índice de desconforto térmico oscilando entre parcialmente confortável e desconfortável no período seco, à parcialmente confortável à desconfortável no período chuvoso. Dessa forma, verifica-se que as características do entorno de cada ponto, em função do uso e cobertura do solo , exercem influencia sobre o aumento do desconforto térmico dos pontos monitorados. A tabela 01, expressa o índice de Thom ajustado para a cidade de João Pessoa-PB. As entrevistas realizadas com base em questionários aplicados nos dois períodos de monitoramento para coletar informações sobre a sensação térmica dos cidadãos pessoenses resultaram no ajuste das faixas de conforto térmico do índice de Thom para a área de estudo, conforme exibe a Tabela 02. Constatou-se, portanto, que os valores do índice de Thom ajustado indicam níveis de conforto significativamente diferentes daqueles propostos por Giles et al. (1990) expresso na tabela 01. Tabela 01. Faixa de classificação do índice de desconforto de Thom (IDT) ajustado às condições climáticas da cidade de João Pessoa 69 Faixas IDT (º C) Nível de desconforto térmico 1 IDT < 24,0 2 ≤ IDT ≤ 3 4 Confortável , Parcialmente confortável 26 < IDT < 28,0 IDT ≥ , Desconfortável Muito desconfortável O IDT não ajustado apresentado por Giles et al., (1990) indica sensação térmica desconfortável para a área de estudo apenas a partir de 27oC, enquanto o IDT ajustado, indica sensação de desconforto a partir de 26oC. Essa diferença aparentemente pequena, de apenas 1oC, é particularmente significativa, principalmente na cidade de João Pessoa, ou em qualquer cidade litorânea, onde a umidade relativa combinada com temperaturas elevadas contribuem para elevar o grau de desconforto térmico. As quatro classes de IDT ajustado expressam os efeitos das alterações do campo térmico urbano na sensação do conforto térmico ambiental da população de João Pessoa, PB. Como os questionários foram aplicados em todos os pontos experimentais que representam as diferentes formas de uso e cobertura do solo, afirma-se que o IDT ajustado, expressa de forma confiável as condições climáticas de estresse térmico da população. Intensidade da ilha de calor urbana A ilha de calor urbano para a cidade de João Pessoa oscilou entre 3,33 e 5,32 oC sendo os pontos 03, 04 e 09 os que apresentaram as maiores intensidades. A maior intensidade foi registrada nesse período no ponto P03 (Manaíra) no dia 13 de março de 2011, às 6h; enquanto a menor IICH ocorreu no ponto P05 (Mangabeira), no dia 19 de fevereiro de 2011, também às 6h. Kolokotroni & Giridharan (2008) encontraram intensidade de ilha de calor urbano um pouco superior aquela relatada neste estudo quando analisaram o clima urbano de Londres. Esses autores encontraram IICU de 8,6 oC durante noites de céu claro com velocidade do vento inferior a 5 m s-1. Essa comparação é particularmente importante porque a cidade de João Pessoa é de porte médio sem cânions tão pronunciados como aqueles encontrados numa metrópole como Londres. Isso remete a possibilidade de inferir que a cidade de João Pessoa, PB, se encontra num processo de urbanização desordenado com grandes impactos no nível de conforto térmico de seus habitantes. Como as classes de coberturas de solo desses pontos envolvem alta percentagem de cobertura cerâmica e de pavimento de concreto/calçamento, as razões para o menor valor no IICU no ponto P05 são atribuídas às condições climáticas. Nos dias 13 e 14 de março não ocorreu nenhuma precipitação na área de estudo (máxima IICU), enquanto nos dias 19 e 20 de fevereiro 70 (mínima IICU) o total pluviométrico superou 120 mm, produzindo, assim, alta umidade relativa que refletiu na redução da ilha de calor urbano, principalmente nas áreas mais arborizada da cidade. O ponto P04 (Cabo Branco) também apresentou alto valor na IICU, de 4,95 oC, embora tenha alta cobertura com área vegetada que supera 30%. Por outro lado, a variabilidade da IICU no período chuvoso foi menor, com valor mínimo de 2,98 oC no ponto P02 (Expedicionários) e máximo de 4,34 oC no ponto P04 (Cabo Branco). Também nesse período do ano não existe uma correlação entre as IICU maiores e menores com a cobertura do solo das áreas analisadas. Por outro lado, o coeficiente de determinação entre o IDT e IICU foram inferiores a 0,30 em ambos os períodos do ano. Esse resultado assegura que o tipo de cobertura do solo influencia no nível de conforto térmico, porém não interfere na intensidade da formação de ilha de calor urbano, estando essa última mais relacionada com as condições climáticas numa escala maior. Portanto, o nível de conforto térmico é influenciado principalmente pelas condições microclimáticas, enquanto a intensidade de ilha de calor é mais influenciada pelas condições macroclimáticas, não estando, porém, nenhuma dessas variáveis (conforto térmico ou ilha de calor urbano) correlacionada apenas com uma condição climática isoladamente. A intensidade máxima de ilha de calor urbano na cidade de João Pessoa foi maior e ocorreu preferencialmente durante à noite e nas primeiras horas da manhã durante o período seco. Isso está relacionado com as propriedades físicas dos materiais impermeáveis (concreto, asfalto, etc) em absorver grande quantidade de energia durante o dia, em face da forte incidência de radiação solar nesse período, e perda calor rapidamente durante à noite. No período chuvoso a vegetação tem a propriedade de armazenar vapor d‘água e transferir para a atmosfera através do processo de evapotranspiração. Por essa razão, nesse período do ano (chuvoso) a IICU ocorreu preferencialmente nas primeiras horas da manhã e ao longo do dia, inclusive entre 12 e 15h. As variações do balanço energético à superfície estão relacionadas com o decréscimo de radiação recebida pelas áreas sombreadas, aumento de radiação recebida e refletida internamente em cânions urbanos, bem como pela captação e armazenamento de calor pelos materiais de construção e pela redução da radiação de onda longa emitida para atmosfera devido às obstruções locais (Oke, 1978). Classes e índices de recobrimento do solo dos pontos experimentais e sua relação com o campo térmico da cidade de João Pessoa-PB Os diversos índices e classes de recobrimento do solo nos pontos experimentais determinaram o microclima local e do entorno, apresentando diferenças de temperatura, umidade relativa do ar, índice de desconforto térmico e formação de ilha de calor urbana em função das condições climáticas locais e dos materiais de recobrimento de cada ponto analisado. No ponto P01, as variáveis foram sempre inferiores em relação aos demais pontos analisados, esse ponto de monitoramento é representativo de uma área rural e, portanto, eficiente para o cálculo de ilha de calor urbano. A temperatura máxima em todos pontos analisados foram inferiores a 30 o C, exceto no ponto P03 no período seco, em face da alta concentração de materiais do tipo I 71 (cobertura cerâmica) e tipo VII (pavimento de concreto/calçamento), respectivamente, de 34,21 e 40% da área total. Por outro lado, em todos os pontos de observação a temperatura mínima foi em torno de 24 oC no período seco e em torno de 22 oC no período chuvoso. A avaliação do conforto térmico utilizando o índice de Thom ajustado sugere que a cidade de João Pessoa é confortável durante o período chuvoso e parcialmente desconfortável durante o período seco, atingindo níveis totalmente desconfortável entre meio dia e 14h. Os fatores positivos para a formação de ilha de calor urbano e do desconforto térmico são relacionados com a composição dos materiais constituintes do recobrimento do solo do elemento urbano. Esses materiais apresentam propriedades térmicas distintas que afetam diretamente as condições microclimáticas urbanas locais de cada ponto analisado. Esses resultados estão em concordância com aqueles obtidos por Santos et al. (2011), em estudo realizado no Campus da UFPB para avaliar os fatores positivos e negativos das classes de cobertura do solo no cálculo do nível do conforto térmico da população. Os autores também destacam a importância do papel da vegetação na amenização climática. No que diz respeito aos cenários de conforto ambiental para a cidade de João Pessoa-PB, o gráfico da estimativa da temperatura e umidade relativa do ar para João Pessoa/PB (fig. 02) da série de 45 anos da Estação Meteorológica do INMET, apresenta uma tendência para o aumento da temperatura na cidade a uma taxa de 0,034 ao ano, e um decréscimo de - 0,049 para a umidade relativa do ar ao ano. Jusuf et.al., (2007) afirma que as temperaturas do ar estão aumentando gradualmente em todas as cidades do mundo. Isso significa que para as próximas décadas teremos temperaturas mais elevadas com a intensificação da ilha de calor urbana e aumento do desconforto térmico associado à queda da umidade relativa do ar nos centros urbanos. Fig. 02. Gráfico da estimativa da temperatura e umidade relativa do ar em João Pessoa/PB no período compreendido entre 1963 e 2008. Conclusões 72 Os resultados da pesquisa sobre a análise do campo térmico urbano e a sua relação com o uso e cobertura do solo em cidade tropical úmida, com foco principal para a cidade de João Pessoa, PB, permitiram concluir o seguinte: 1. A composição dos materiais constituintes do recobrimento do solo do elemento urbano exerce influencia sobre as trocas de energia e calor, alterando diretamente os valores das variáveis atmosféricas que controlam o nível de estresse térmico ambiental; 2. A amplitude térmica na cidade de João Pessoa oscila em torno de 10 oC e as temperaturas mais elevadas ocorreram sempre entre 12 e 14 h e as mínimas nas primeiras horas do período diurno. A intensidade máxima de ilha de calor urbano na cidade de João Pessoa varia entre 3,33 e 5,32 o C. A intensidade de ilha de calor urbano é maior durante o período seco do que no período chuvoso; 3. A ilha de calor urbano é um fenômeno que geralmente ocorre durante o período noturno enquanto a intensidade máxima dos gradientes de temperatura e umidade relativa do ar são fenômenos essencialmente diurnos. 4. O nível de conforto térmico é influenciado principalmente pelas condições microclimáticas, enquanto a intensidade de ilha de calor é mais influenciada pelas condições macroclimáticas conjugadas com os fatores locais; A temperatura do ar e o nível de conforto térmico têm tendência crescente e a umidade relativa tendência decrescente para a cidade de João Pessoa-PB; 5. Os cenários dos níveis de conforto térmico indicam condições de forte desconforto ambiental para os anos de 2050 e 2060 durante o período seco e desconfortável para o período chuvoso no ano de 2060 em toda área de estudo. Para os anos de 2020, 2030 e 2040 são previstos níveis de conforto térmico desconfortável para o período seco e parcialmente confortável para o período chuvoso; 6. O conhecimento das alterações ocorridas no campo térmico urbano da cidade de João Pessoa, PB, torna-se imprescindível para a manutenção da qualidade de vida da população, podendo contribuir diretamente para a elaboração de políticas públicas que possibilitem o planejamento e a gestão ambiental do espaço intra-urbano. Referências Bibliográficas Amorim, R. P. L. (2011). Análise da magnitude de influência climática de um remanescente de Mata Atlântica sobre o seu entorno urbanizado em clima quente-úmido. João Pessoa: UFPB, 92p. Dissertação Mestrado. Braga, B.; Hespanhol, I.; Conejo, J. G. L.; Mierzwa.; J. C.; Barros, M. T. L.; Spencer, M.; Monica, P.; Nucci, N.; Juliano, N.; Eiger, Sérgio. (2005). Introdução à engenharia ambiental – o desafio do desenvolvimento sustentável. 2.ed. São Paulo: Pearson, 336p. 73 Costa, A. D. L. 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Impact of urban geometry on outdoor thermal comfort and air quality from field measurements in Curitiba, Brazil. Building and Environment, v.46, n.1, p.621-634. 74 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO José Deomar de Souza BARROS Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; UFCG. Especialista em Agroecologia; UFPB. Especialista em Ensino de Química; URCA. Mestre e Doutorando em Recursos Naturais; UFCG. E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo teve por objetivo identificar as correlações entre as mudanças climáticas e seus efeitos sobre o Semiárido brasileiro. O Semiárido brasileiro apresenta características climáticas típicas, apresentando ciclos de secas frequentes e atividades eminentemente agropastoris, resultando em um processo de desertificação acentuado. Além disso, o Semiárido brasileiro será uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, cenários futuros indicam que nesta região haverá alteração em suas características climáticas, com intensificação das estiagens e da aridez. Palavras-chave: mudanças climáticas, Semiárido, desertificação. Abstract This article aims to identify the correlations between climate change and its effects on the Brazilian semiarid. The Brazilian semiarid climate has characteristics typical, with frequent cycles of drought and eminently agropastoral activities, resulting in an accentuated desertification process. Furthermore, the Brazilian Semiarid will be one of the regions most affected by climate change, future scenarios indicate that this region will be no change in its climatic characteristics, with intensification of droughts and aridity. Key-words: climate change, Semiarid, desertification. INTRODUÇÃO Segundo Neves et al. (2010), o Semiárido brasileiro compreende todos os estados do nordeste além da região norte do Estado de Minas Gerais e nordeste do Espírito Santo, abrangendo uma área de 969.584,4 Km2. Sua população estimada é de 21 milhões de pessoas, correspondendo a 11% da população brasileira, constituindo assim a região semiárida mais populosa do planeta. Nesta região, a presença de períodos prolongados de baixa pluviosidade é constante, com concomitantemente aumento significativo da temperatura, o que pode provocar altos índices de evaporação da água presente nos reservatórios (SANTOS & SILVA, 2009). 75 Nessa região, a vegetação predominante é a caatinga, que tem uma diversidade maior que qualquer outro bioma do mundo sob as mesmas condições de clima e de solo, mas está entre os biomas brasileiros mais degradados pela ação antrópica. Este Bioma encontra-se em acentuado processo de degradação, ocasionado principalmente, pelo desmatamento e uso inadequado dos recursos naturais (ARAÚJO 2010). A degradação dos ecossistemas da caatinga traz como consequência o declínio da produtividade do sistema de produção, da renda e qualidade de vida do produtor rural (ARAUJO, 2010). O desmatamento e as queimadas são práticas comuns para a preparação da terra com fins agropecuários, alterando esses ambientes e tendo como consequência a diminuição da diversidade vegetal e animal (ALBUQUERQUE, et al., 2010). O manejo inadequado e a superação da capacidade de suporte de ambientes semiáridos contribuem na intensificação do processo de desertificação em localidades que apresentam maior vulnerabilidade ou intensificação mais acentuada da exploração dos recursos naturais. Neste sentido, o processo de desertificação é resultante de uma relação direta entre fatores climáticos e mecanismos de manejo do Bioma Caatinga (SÁ e ANGELOTTI, 2009). Assim, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável no Semiárido brasileiro, no sentido de aumentar a capacidade de adaptação da sociedade e do sistema produtivo regional para uma melhor convivência com condições ambientais associadas às mudanças climáticas globais e ao processo de desertificação. O Semiárido brasileiro O processo de ocupação, na região semiárida, deu-se de forma desordenada, através da substituição da agricultura itinerante pela agricultura permanente, aumentando assim a pressão do pastejo e derrubada da vegetação natural para utilização da lenha, intensificando assim a exploração dos recursos naturais. Como consequência ocorreu um decréscimo significativo da biomassa produzida e reciclada, provocando a redução significativa da fertilidade do solo, diminuindo assim a capacidade de suporte animal. Além disso, esta interferência neste ecossistema tem contribuído no aumento das emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera (SILVEIRA, 2009). Nesta região a presença de períodos prolongados de baixa pluviosidade é constante, concomitantemente a isso durante os períodos de estiagem ocorre um aumento significativo da temperatura provocando assim altos índices de evaporação da água presente nos reservatórios (SANTOS & SILVA, 2009). A variação nos índices pluviométricos nesta região é um fato; mas, apesar da irregularidade e má distribuição nas ocorrências de chuvas, o Semiárido no Brasil é uma das regiões mais úmidas (média de 750 mm) em relação a outras regiões Semiáridas do planeta. (SILVA, et al., 2006). 76 O manejo inadequado e a superação da capacidade de suporte de ambientes Semiárido contribuem na intensificação do processo de desertificação em localidades que apresentam maior vulnerabilidade ou intensificação mais acentuada da exploração dos recursos naturais. Neste sentido, o processo de desertificação é resultante de uma relação direta entre fatores climáticos e mecanismos de manejo do Bioma Caatinga (SÁ e ANGELOTTI, 2009). Assim, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável no Semiárido brasileiro, no sentido de aumentar a capacidade de adaptação da sociedade e do sistema produtivo regional para uma melhor convivência com condições ambientais associadas às mudanças climáticas globais e ao processo de desertificação. Emissões de gases de efeito estufa – GEE e mudanças climáticas O fenômeno mundial conhecido como aquecimento global ocorre pelo aumento da concentração de gases do efeito estufa que mantém o calor próximo da superfície da Terra, em condições normais essa manutenção é ideal para manter a temperatura normal do planeta. Com o aumento da emissão desses gases elevou consideravelmente sua concentração provocando aumento da temperatura global exercendo uma pressão sobre o sistema climático do planeta (FLANNERY, 2007). É sabido que a concentração dos gases de efeito estufa – GEE vem aumentado espantosamente desde a revolução industrial. Segundo o Inventário Brasileiro sobre GEE, no Brasil as queimadas e desmatamentos respondem por 75% das emissões de CO2, enquanto as outras fontes respondem por 25% (MARCOVITCH, 2006). De acordo com o IPCC (Intergovernanmental Panel on Climate Change) no seu terceiro relatório publicado em 2001 o aumento da concentração dos GEE na atmosfera pode levar a um aumento da temperatura média na Terra, esse aumento ficaria entre 1,1% a 6,4% entre 1990 e 2100. Com esse aumento todas as esferas da sociedade sofreram impactos, decorrentes do aquecimento global (BARROS ET AL., 2009). Os gases de efeito estufa, como o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e vapor d`água, entre outros são responsáveis pelo fenômeno natural chamado efeito estufa. Essa mistura de gases na atmosfera exerce função primordial para o planeta mantendo sua temperatura, proporcionando assim o equilíbrio da temperatura, o que permite que a radiação solar incida sobre a superfície e quando esta é refletida entram em contato com esses gases, por sua vez, também passam a irradiar no infravermelho. Essa radiação se espalha em varias direções, inclusive retornando à superfície, que se mantém mais quente do que seria na ausência da atmosfera. A ação antrópica tem provocado o aumento do teor desses gases na atmosfera, provocando uma exacerbação do efeito estufa e, consequentemente, um aquecimento global do planeta (MARCHEZI 77 e AMARAL, 2008). Atualmente não existe ainda um consenso entre os cientistas e pesquisadores sobre as consequências desse fenômeno, mais a maioria concordam que ocorreram impactos relevantes, colocando em risco o equilíbrio do planeta como conhecemos (GORE, 2006). Esse aquecimento vem provocando diversos efeitos ambientais, tais como o derretimento das calotas polares, e o consequente aumento do nível dos oceanos, alterações na salinidade do mar, mudanças na dinâmica de ventos e chuvas, intensificação de ciclones tropicais, exacerbação de secas e enchentes, redução da biodiversidade terrestre, aumento da desertificação. Além disto, há grande preocupação com os efeitos sociais causados pelo impacto na agricultura, decorrentes das perdas de produção de alimentos resultantes destas alterações. Entre estas implicações encontra-se maior risco de fome, inanição, doenças, insegurança alimentar. Há de se considerar, ainda, a possibilidade de deslocamento de populações residentes em áreas baixas e costeiras, por inundação de seus territórios (ANDRADE, 2008). Com a transformação de ecossistemas naturais em sistemas agrícolas, ocorre a substituição de sistemas biológicos complexos e estáveis por sistemas simples e instáveis, provocando assim modificação nos estoques dos componentes orgânicos do solo, por alterar, as taxas de adição e decomposição da matéria orgânica. Com isso, o equilíbrio dos ciclos do carbono (C) e do nitrogênio (N) é alterado e, as entradas de C tornam-se inferiores as saídas, o que acarreta à redução da quantidade e modificação da qualidade da matéria orgânica do solo (BARROS, 2011). As previsões climáticas associadas ao aquecimento global anunciam para o Semiárido brasileiro aumento significativo dos extremos climáticos, agravando assim as condições naturais de irregularidades pluviais. Neste sentido, se não ocorrer alterações nos modelos de exploração dos recursos naturais da caatinga, as mudanças climáticas tenderão a aguçar os ciclos viciosos da pobreza social e degradação ambiental, contribuindo assim para acelerar os processos de desertificação (PAN-BRASIL, 2004). Desertificação no Semiárido A região semiárida abrange uma área de 969.589 km2, nesta área estão inseridos 1.133 municípios, totalizando uma média de 28 milhões de habitantes. Possui na atividade agropastoril sua atividade preponderante, apresenta condições climáticas típicas, apresentado constantemente períodos de baixa pluviosidade (secas). A exploração intensiva dos recursos naturais desta região tem provocado uma forte pressão sobre o meio, ocasionando assim áreas com suscetíveis à desertificação (SÁ e ANGELOTTI, 2009). De acordo com o PAN BRASIL (2004) a desertificação é a degradação de terra nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas do planeta. Ou seja, degradação de recursos naturais, como 78 resultado da atuação antrópica sobre o meio ambiente, e de fenômenos naturais assim como variabilidade climática. As ações antrópicas dar-se especialmente pelo desmatamento, extração desordenada de produtos florestais, incêndios, manejo inadequado do solo, emprego de técnicas de cultivo agrícola inadequada às características do ecossistema, entre outros fatores. Em relação às condições climáticas relacionadas ao processo de desertificação destacam-se as frequentes e demoradas secas que afetam esta região, tornando ainda mais drástica as consequências das atividades humanas (SÁ et al., 2010). A desertificação é a degradação das terras secas. Este processo consiste na perda da produtividade biológica e econômica das terras agrícolas, das pastagens e das áreas de matas nativas devido às variabilidades climáticas e às atividades humanas. Isto é, desertificação é um processo de fragilidade dos ecossistemas das terras secas em geral, que em decorrência da pressão excessiva exercida pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna autóctone, perdem sua produtividade e capacidade de recuperar-se. As causas da desertificação na Paraíba não diferem das que são encontradas em outros estados nordestinos. Elas são decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, de práticas agrícolas inapropriadas e, sobretudo de modelos de desenvolvimento macro e microeconômicos de curto prazo. Outro grave aspecto a considerar são as práticas agrícolas tradicionais, geralmente associadas a um sistema concentrado de propriedade da terra e da água conduzindo a graves problemas socioeconômicos que se aprofundam quando sobrevêm as secas (ALVES et al., 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS O Semiárido brasileiro tem apresentado nas últimas décadas impactos resultantes da ação humana sobre o meio ambiente local. As áreas em processo de desertificação já ocupam uma superfície significativa da área total do Semiárido. Assim, o processo de desertificação no Brasil não se manifesta apenas pela fragilidade natural do ambiente, mas, especialmente, pelo uso a ele imposto. Neste sentido, faz-se necessário a adoção de mecanismos no sentido de buscar a conter e reverter o processo de desertificação, como parte estratégica de um amplo programa de convivência com o Semiárido. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, U. P. de; et al. Caatinga Biodiversidade e Qualidade de Vida. Recife: UFRP, 2010. 113 p. ALVES, J. J. A.; SOUZA, E. N. de; NASCIMENTO, S. S. do. Núcleos de Desertificação no Estado da Paraíba. RA´EGA, Curitiba, n. 17, p. 139-152, 2009. 79 ANDRADE, J. C. S.; COSTA, P. Mudança Climática, Protocolo de Kyoto e Mercado de Créditos de Carbono: Desafios à Governança Ambiental Global. Organização e Sociedade, v. 15, n. 45, abr/jun, 2008. ARAUJO, K. D. 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Efeitos extremos desse elemento do clima dizimam a agricultura e o meio ambiente. O principal objetivo deste trabalho foi o de estabelecer o regime pluvial para a microrregião de Cajazeiras e caracterizar se a dispersão é uma variabilidade e/ou uma mudança climática. Foram escolhidas as localidades com séries pluviais ≥ 3 anos, sendo determinadas às medidas de tendência central e de dispersão, nas escalas mensais, anuais e por décadas. Os principais resultados mostraram que as distribuições mensais e anuais são assimétricas e os coeficientes de assimetria positivos. A estação chuvosa dura cerca de quatro meses (jan-abr), sendo março o mês mais chuvoso. As localidades mais e menos chuvosas desta microrregião são, respectivamente, São José de Piranhas (997,0 mm) e Triunfo (792,4 mm). A distribuição média por décadas é variável no tempo e no espaço e, portanto, não coincidiu a localidade mais seca ou a mais chuvosa. A dispersão mostrada nas séries pluviais está dentro do intervalo entre a média o desvio padrão, ou seja, uma variabilidade natural e não uma mudança climática. Palavras-chave: variabilidade do clima, precipitação pluvial, seca. Abstract The rainfall patterns in semiarid northeastern characterized by spatial and temporal irregularity in the quantity and distribution of rains. There are years in that the rains concentrate on one to two months and in other strong rainfall. Extreme effects of that element of the climate decimate the agriculture and the environment. The main objective of this work was it of to establish the rainfall regime for the micro region of Cajazeiras and to characterize if the dispersion is variability or a climatic change. Were the places chosen with pluvial series ≥ 30 years, being certain to the measures of central tendency and of dispersion, in the scales monthly, annual and per decades, The main results showed that the monthly and annual distributions are asymmetrical and the positive asymmetry coefficients. The rainy season lasts approximately four months (Jan-Apr), March being the wettest month. The localities more and less rain this micro region are, respectively, San José de *Pós-Graduandos (Lato Sensu) em GeoAmbiência e Recursos Hídricos do Semiárido /Departamento de Geografia/ UEPB/Campina Grande, PB. ** o Prof Dr, Orientador, Departamento de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, PB. 82 Piranhas (997.0 mm) and Triunfo (792.4 mm). The average distribution for decades is variable in time and space and therefore not matched the location driest or wettest. The dispersion shown in series rainwater is within the range between the mean standard deviation, in other words, a natural variation rather than a climate change. Key-words: variability of the climate, precipitation pluvial, dry. INTRODUÇÃO A precipitação pluvial é para o meio ambiente o único componente do ciclo hidrológico capaz de reparar as perdas da água na superfície, seja por evaporação ou evapotranspiração (CABRAL JÚNIOR, SANTOS & ALMEIDA, 2011), portanto tem grande influência socioeconômica, pois está diretamente relacionada à agricultura, pecuária, qualidade de vida e diversos outros setores socioambientais. Por isso, o regime pluvial afeta a economia, o meio ambiente e a sociedade, como um todo (SILVA et al., 2007). A distribuição da precipitação pluvial no semiárido do Nordeste brasileiro (NEB) é bastante irregular no tempo e no espaço. Essa característica anômala ocorre até mesmo numa escala de tempo e espaço curtos. Há meses que chove torrencialmente e outros em que não ocorre sequer um milímetro de chuva. Essas características são típicas do regime pluvial nas diferentes microrregiões do Estado da Paraíba, além disso, as estações chuvosas ocorrem de forma diferenciada, em quantidade, distribuição e duração (ALMEIDA & SOUSA NETO, 2005). Para Almeida (2001), a distribuição mensal da chuva nas regiões áridas e semiáridas ocorre de forma assimétrica. Isso indica que a média, mesmo sendo à medida de tendência central mais usada, não é o valor mais provável de ocorrer. Para Nobre & Molion (1988), a variabilidade pluvial no NE brasileiro resulta de efeitos combinados da ação de vários sistemas meteorológicos e das variações na intensidade e posição das circulações de Hadley e Walker. O termo Mudança do Clima ou Alterações Climáticas refere-se às alterações em um e/ou mais elementos climatológicos, dentre eles, destaca-se a precipitação pluvial como um dos mais importantes. Essas ―Mudanças ou Alterações‖ do Clima se relacionam com as médias históricas, em escala global ou regional ao longo do tempo (IPCC, 2001). Esses termos têm sido usados como senso comum, pois também é utilizado para indicar as mudanças climáticas atuais, bem como o aquecimento global originado por causas antropogênicas. 83 É importante ressaltar que existe uma dinâmica na atmosfera, repercutindo em variações de escala micro a macro ―A evolução do comportamento atmosférico nunca é igual de um ano para o outro e mesmo de uma década para outra, podendo se verificar flutuações a curto, médio e longo prazo‖ (CONTI, ) É comum o indagar pela população e pelos meios midiáticos se está havendo aumento ou diminuição das chuvas no semiárido paraibano. Diante disto, optou-se inicialmente analisar uma microrregião do Sertão da Paraíba, estabelecer o regime pluvial desta e averiguar se há mudança ou variabilidade na distribuição das chuvas, sendo esses os objetivos principais deste trabalho. MATERIAIS E MÉTODOS Os dados mensais e anuais de precipitação pluvial das localidades da microrregião de Cajazeiras situada na mesorregião do Sertão da Paraíba, no extremo Oeste deste estado, foram cedidos pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), em Campina Grande, e/ou de registros da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Em seguida foram determinadas as medidas de tendência central (média e mediana) e de dispersão (amplitude, desvio padrão e variância) e outras análises estatísticas conforme recomendações, critérios estatísticos e equações descritas por Assis, Arruda & Pereira (1996). O agrupamento dos dados anuais foram feitos utilizando-se a distribuição de frequência, arranjando-os em classes ou categorias, sendo determinados os intervalos de classe, amplitudes de classe e representados em histograma de frequências. No Quadro 1 observa-se as localidades estudas da microrregião de Cajazeiras, assim como as coordenadas geográficas e os respectivos períodos de observação. Quadro 1. Localidades e microrregiões da mesorregião do Sertão da Paraíba, com as suas respectivas coordenadas geográficas e os períodos de dados utilizados. Microrregião Latitude (S) Longitude (W) Período de observação Bonito de Santa Fé Cajazeiras 07º18'48" 38º30'54" 1950/59 e 1962/2010 59 Cajazeiras Cajazeiras 06º53'25" 38º33'19" 1950/89 e 1992/2010 59 São João do Rio do Peixe Cajazeiras 06º43'45" 38º26'56" 1950/91 e 1993/2008 58 São José de Piranhas Cajazeiras 07º07'14" 38º30'07" 1950/91 e 1993/ 2006 56 Triúnfo Cajazeiras 06º34'43" 38º35'49" 1950/2010 61 Localidades N° de anos De posse das séries dos totais anuais, foram calculadas as médias aritméticas por décadas, e comparadas tanto inter como extra localidade da referida microrregião. As análises comparativas 84 foram feitas com base na média ± o desvio padrão. O critério consistiu em averiguar se os valores médios, por décadas, ao longo da série histórica ocorrem entre valores estatisticamente esperados. Os cálculos, as análises estatísticas, bem com a confecção dos Quadros, gráficos e histogramas foram feitos usando uma planilha Microsoft Office Excel 2003. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verifica-se nas Figuras de 1 e 2, ordenadas de forma decrescente, as médias e medianas mensais da precipitação pluvial, por localidades, da microrregião de Cajazeiras. De forma geral, os maiores valores concentram-se nos primeiros quatro e/ou cinco meses do ano, sendo março o mês mais chuvoso, com 234,7 mm em média, e os meses mais secos de julho a novembro (11,7 mm). Fazendo-se uma análise comparativa, para qualquer uma das localidades estudadas, observase que há uma elevada irregularidade das chuvas, tanto na escala espacial quanto temporal. Isso demonstra, portanto, a elevada variabilidade espacial e temporal do elemento chuva, o que corrobora com os resultados encontrados por Almeida & Silva (2004); Almeida & Pereira (2007), Almeida & Oliveira (2009); Almeida & Gomes (2011); Cabral Júnior (2012); Farias (2012) que mostram a extrema variabilidade do elemento precipitação pluvial em qualquer região e, em especial, em outras microrregiões paraibanas. Nota-se ainda nas citadas Figuras (1 e 2) que as médias mensais superam as respectivas medianas. Sendo assim, os modelos de distribuição de chuvas mensais são assimétricos, cujo coeficiente de assimetria é positivo. Logo, a mediana é o valor mais provável de ocorrer e não a Média da Chuva (mm) média, o que concorda com Almeida (2001); Almeida & Pereira, 2007. 280 São J. de Piranhas São J. do Rio do Peixe 240 Bonito de Sta Fé Cajazeiras 200 Triúnfo 160 120 80 40 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Meses Figura 1. Médias mensais da precipitação pluvial de cinco localidades da microrregião de Cajazeiras, PB. 85 Mediana da Chuva (mm) 240 200 São J. de Piranhas São J. do Rio do Peixe Bonito de Sta Fé Cajazeiras Triúnfo 160 120 80 40 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Meses Figura 2. Medianas mensais da precipitação pluvial de cinco localidades da microrregião de Cajazeiras, PB. Outra característica importante no regime pluvial é a elevada dispersão dos seus valores mensais (Figura 3). Os desvios padrão mensais chegam a superar as próprias médias no segundo semestre do ano, até mesmo nos meses mais chuvosos (janeiro a abril) esse quantitativo oscila, em média de 97 a 130 mm. Em termos percentuais representa cerca de 67%, ou seja, a variabilidade é muito grande mesmo quando se espera que ocorra chuvas. Isso revela muito mais a irregularidade temporal e espacial deste regime nas localidades mencionadas, do que uma mudança climática, como já citado por Almeida & Sousa Neto (2005); Cabral Júnior, Santos & Almeida (2011). Desvio Padrão (mm) 150 São J. de Piranhas São J. do Rio do Peixe Bonito de Sta Fé Cajazeiras 125 Triúnfo 100 75 50 25 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Meses Figura 3. Médias mensais dos desvios padrão da precipitação pluvial das cinco localidades da microrregião de Cajazeiras, PB. 86 No que se refere as médias, medianas e DP dos totais anuais para as localidades no Sertão paraibano (Figura 4), de forma decrescente, nota-se em média que, São José de Piranhas é a localidade mais chuvosa (997,0 mm) e Triunfo a mais seca (792,4 mm). Fazendo-se uma análise comparativa, a localidade mais chuvosa chove 25,8% a mais do que a localidade mais seca. O modelo de distribuição é irregular temporal e espacialmente, e assimétrico positivo. A média e mediana para a microrregião de Cajazeiras corresponde a 929,1 e 894,9 mm. Já os DP oscilaram entre 309,1 e 391,9 mm em S. J. de Piranhas e Bonito de Sta. Fé respectivamente. Mediana DP 800 800 600 600 400 400 200 200 Chuva (mm) 1000 0 Desvio Padrão (mm) Média 1000 0 São José de Piranhas São João do Rio do Bonito de Sta Fé Peixe Cajazeiras Triúnfo Média Localidades Figura 4. Médias anuais da média, mediana e desvio padrão (DP) da precipitação pluvial de cinco localidades da microrregião de Cajazeiras, PB. Na Figura 5, em que são apresentados os desvios relativos da chuva em relação a média da microrregião cajazeirense (929,1 mm), em mm e %, e na Figura 6 a distribuição de frequências para diferentes intervalos de chuvas, pode-se observar que não há homogeneidade do regime pluvial em qualquer situação, revelando que há localidades mais e outras menos chuvosas. Até mesmo a distribuição, duração e freqüência ocorrem de forma irregular. Em São J. de Piranhas e Cajazeiras a maior freqüência de ocorrer chuva está no intervalo entre 800 e 1000 mm com 26,8 e 28,8% respectivamente, já em São J. do Rio do Peixe e Triunfo a chance maior de ocorrer chuva contempla a faixa entre 600 a 800 mm com 27,6 e 24,6%. 87 100 DR (mm) 10 DR (%) 5 50 -5 -50 DR (%) DR (mm) 0 0 -10 -100 -15 -150 -20 São José de Piranhas São João do Rio do Bonito de Sta Fé Peixe Cajazeiras Triúnfo Localidades Figura 5. Desvios relativos dos totais médios de chuvas anuais em relação à média da microrregião de Cajazeiras, PB. ≤400mm 400-600 600-800 800-1000 1000-1200 >1200mm 30 25 Fr (%) 20 15 10 5 0 São José de Piranhas São João do Rio do Peixe Bonito de Sta Fé Cajazeiras Triúnfo Localidades Figura 6. Histograma de freqüências relativas (%) da repetição da quantidade de chuva anual, por faixa e por localidade da microrregião de Cajazeiras, PB. Diante da grande irregularidade do regime pluvial da microrregião sertaneja de Cajazeiras, optou-se para melhor entendimento analisar a distribuição por décadas das chuvas por cada localidade, Figura 7 a 11, adotando-se o critério estatístico da dispersão dos dados (DP) para observar se está ocorrendo com freqüência valores fora do esperado, e se há aumento ou diminuição no regime pluvial médio. Verifica-se que a década mais chuvosa não coincidiu nas localidades de mesma microrregião, embora a de 50 tenha sido a mais seca, exceto em São J. do Rio do Peixe que opostamente foi a mais chuvosa. É importante destacar que houve alternância de décadas mais e 88 outras menos chuvosas, analisando década a década não houve tendência de aumento ou diminuição de chuva. Triunfo foi a localidade que apresentou um sutil aumento médio na década de 50 a 80, embora tenha diminuído na década de 90 e aumentado novamente na de 00. Isso diagnostica muito mais a variabilidade do regime pluvial, comprovado pela média associada ao DP, em que ocorreram dentro dessa faixa com muito mais predominância (média ± DP). Esses resultados convergem com as citações mencionadas por Conti ( ) que: ―a evolução do comportamento atmosférico nunca é igual de um ano para o outro e mesmo de uma década para outra, podendo se verificar flutuações a curto, médio e longo prazo‖ Ayoade ( ) cita que a precipitação pluvial é altamente variável em sua incidência, em especial nas baixas latitudes, ratificando o que foi dito por Almeida & Silva (2008); Almeida & Sousa Neto (2005) que além da concentração a distribuição e duração ocorrem de forma diferenciada. Média da chuva (mm) 1400 1200 1000 800 600 400 200 50 60 70 80 90 0 Média-DP Média+DP Décadas Figura 7. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. São José de Piranhas, PB. Média da chuva (mm) 1400 1200 1000 800 600 400 200 50 60 70 80 90 0 Média-DP Média+DP Décadas Figura 8. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. São João do Rio do Peixe, PB. 89 Média da chuva (mm) 1400 1200 1000 800 600 400 200 50 60 70 80 90 0 Média-DP Média+DP Décadas Figura 9. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Bonito de Santa Fé, PB. Média da chuva (mm) 1400 1200 1000 800 600 400 200 50 60 70 80 90 0 Média-DP Média+DP Décadas Figura 10. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Cajazeiras, PB. Média da chuva (mm) 1200 1000 800 600 400 200 50 60 70 80 90 0 Média-DP Média+DP Décadas Figura 11. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Triunfo, PB. 90 CONCLUSÕES De acordo com os resultados encontrados sobre o regime pluvial da microrregião de Cajazeiras, conclui-se: O modelo de distribuição das chuvas é assimétrico positivo; A estação chuvosa dura cerca de quatro meses (jan-abr) sendo março o mês mais chuvoso; As dispersões médias das chuvas superam 60% do total esperado na estação chuvosa; São José de Piranhas é a localidade mais chuvosa e Triunfo a mais seca; Há uma grande variabilidade desse regime no espaço e no tempo, tanto em localidades distintas como dentro de uma mesma localidade; A década mais chuvosa não coincidiu em todas as localidades; Embora a década de 50 tenha sido a mais seca em quatro das cinco localidades estudadas, contrariamente foi a mais chuvosa em São João do Rio do Peixe; Não houve aumento ou diminuição no regime pluvial por décadas. REFERÊNCIAS ALMEIDA, H. A. de., GOMES, M. V. A. 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Neste contexto, esse trabalho visa realizar uma análise espaço temporal do índice de vegetação, o NDVI - Normalized Difefference Vegetation Index, do albedo da superfície e do campo térmico, com o intuito de verificar a dinâmica destas variáveis e fornecer informações para criação de políticas de preservação dos recursos naturais proporcionando alternativas para o combate a desertificação no município de Patos-PB, empregando para isso o Sensoriamento Remoto e SIG. Palavras-chave: desertificação; Sensoriamento Remoto; degradação ambiental. Abstract The exploration not sustained of plant cover, water resources and soil in a region causes serious implications for maintaining environmental balance. In semiarid regions conducive to desertification, for example, the land degradation causes siltation of rivers, interferes with physical and chemical properties of soils and affects biodiversity, changing the landscape and triggering environmental conflicts. In this context, this work aims to conduct an analysis of spatial and temporal vegetation index, NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) of surface albedo and thermal field, in order to verify the dynamics of these variables and provide information for political of preservation of natural resources providing alternatives to combat desertification in the city of Patos-PB, employing it for the remote sensing and GIS. Keywords: desertification; remote sensing; environmental degradation. 93 Introdução O homem tem modificado o meio ambiente de forma mais intensa nos últimos dois séculos. Para isso, ele altera drasticamente as características naturais de determinadas áreas na superfície da Terra. Essas alterações são provocadas pela utilização predatória dos recursos naturais, atividades agrícolas inadequadas e pela expansão urbana. Os processos naturais têm sido acelerados pela modernização das técnicas exploratórias, mesmo diante das inovações tecnológicas que proporcionam um conhecimento maior de determinadas áreas e temas, o uso insustentável dos recursos naturais continua a ser praticado. Em regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas secas a degradação das terras provocada pelas ações antrópicas, associado às condições climáticas tem intensificando o processo de desertificação. Um problema global que tem propiciado a perda da biodiversidade, degradado os solos, e os recursos hídricos devido ao assoreamento de rios e reservatórios, além de perda da vegetação; em ambientes ecologicamente fragilizados. O fenômeno tem avançado consideravelmente nas regiões susceptíveis a esse processo no território brasileiro. O processo de desertificação e as modificações que consequentemente provoca ocorrem de forma dinâmica e temporal, dessa forma, o estudo desse fenômeno necessita de técnicas seguras que possibilitem o acompanhamento contínuo de suas alterações, que forneçam dados confiáveis servindo de suporte para a tomada de decisões. Nesse contexto, as geotecnologias permitem a obtenção de informações que ajudam a entender o atual quadro, além de estimar a expansão e intensidade das alterações no meio, aliado ao Sensoriamento Remoto e aos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) possibilitam através da análise de imagens de satélites espacializar a ocorrência desses processos. Partindo desse pressuposto, esse trabalho visa realizar uma análise espaço temporal do índice de vegetação, o NDVI - Normalized Difefference Vegetation Index, do albedo da superfície e do campo térmico, com o intuito de verificar se está desencadeando um processo de desertificação no município de Patos-PB, usando para isso o Sensoriamento Remoto e SIG. Degradação ambiental e o processo de desertificação Mesmo sendo um tipo de degradação muito antigo, a desertificação só passou efetivamente a ser alvo de discussões internacionais a partir da década de 1970, quando uma grande seca atingiu o Sahel africano, provocando forte impacto econômico, social e ambiental (SOUZA, 2008). Diante da catástrofe africana, os pesquisadores passaram a estudar o fenômeno e procurar alternativas para deter o avanço em áreas vulneráveis. 94 De acordo com (Drew, 1998 apud Alves, 2009) desertificação é um vocábulo de significado amplo, que inclui várias alterações climáticas, ecológicas e geomorfológicas que diminuem a produtividade biológica de uma área tornando-a enfim inaproveitável para a agricultura. Segundo Conti (1995), há duas concepções para a desertificação: a desertificação climática e a desertificação ecológica. A primeira teria a natureza como responsável, caracterizando-se principalmente pela redução da água no sistema. A segunda teria o homem como originador do processo, onde a pressão intensa das atividades desenvolvidas em ecossistemas frágeis produziria ambientes semelhantes aos desertos. Desta forma, as atividades humanas realizadas sem planejamento como a irrigação, pecuária extensiva, mineração, desmatamento, queimadas e práticas agrícolas inadequadas tem causada a exaustão dos recursos naturais e a degradação colaborando para a intensificação do processo de desertificação. Para estudo da desertificação o uso de indicadores é uma necessidade colocada pela Convenção das Nações Unidas para Combate à desertificação (UNCCD) são eles: Indicadores físicos e ecológicos, indicadores econômicos relacionados com o uso do solo, indicadores sociais, indicadores institucionais, entre outros. Os indicadores de desertificação são instrumentos adequados para fornecer apoio operacional para a estimação, avaliação, mapeamento da extensão da desertificação, bem como para quantificação dos impactos e monitoramento, além das medidas de mitigação. No caso do Brasil, à elaboração e apresentação de um documento dessa natureza ocorreu em 2004, intitulando Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação PAN-Brasil (NASCIMENTO e ALVES, 2009). Esse documento norteia, desde o momento de sua elaboração, os estudos e planos que buscam combater o avanço do processo de desertificação e a mitigação dos problemas socioambientais gerados pelo fenômeno no Semiárido brasileiro. São estabelecidos os critérios para avaliação e monitoramento das áreas afetadas e em processo de desertificação. Segundo o Pan Brasil (2004) no Brasil 74,34% da região semiárida do FNE (Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste) encontram-se submetidos a alterações ambientais variadas, correspondentes ao grau ―moderado‖ ( , %), ―grave‖ ( , %) e ―muito grave‖ (5,86%). O nível de desertificação nas áreas afetadas ou susceptíveis ao processo (Figura 1) estão distribuídos em todo nordeste semiárido. 95 Figura 1: Mapa das áreas susceptíveis e afetadas por processos de desertificação. Fonte: BRASIL, (2004). No nordeste brasileiro há áreas onde o processo se encontra mais acentuado estas são definidas como núcleos de desertificação (Tabela 1). Nestes ambientes as interferências no meio ambiente e na vida da população são evidentes. Tabela 01 – Núcleos de desertificação no Nordeste brasileiro. Fonte: LANDIM, et. al, 2011. Núcleo Localização Área (Km2) Seridó Região centro-sul do Rio Grande do Norte e centro- norte da Paraíba, envolvendo vários municípios em torno do município de Parelhas. 2.341 Irauçuba Noroeste do Estado do Ceará abrangendo uma área de 4.000 km2 incluindo os municípios de Irauçuba, Forquilha e Sobral. 4.000 Gilbués Localizado no Piauí envolvendo municípios de Gilbués e Monte Alegre. Cabrobó Pernambuco que totaliza uma área de 5.960 km2 abrangendo os municípios de Cabrobó, Belém de São Francisco e Floresta. 5.960 os 6.131 96 Os processos de degradação, principalmente nos níveis mais altos, provocam impactos sociais, econômicos, culturais, políticos e ambientais, os quais se relacionam entre si e, ao longo dos anos, vem intensificando e aumentando a vulnerabilidade da população, produzindo grandes perdas sociais e econômicas para a região Nordeste (SOUSA, 2007). Por isso, é essencial a realização de estudos sobre este fenômeno que além de ser um problema ambiental é um dos mais graves problemas sociais enfrentados no Semiárido brasileiro. Tendo em vista todos os problemas ambientais e socioeconômicos como o aumento da pobreza, migração e diminuição da produção agrícola, torna-se fundamental o estudo da desertificação. Materiais e Métodos A análise será realizada no município de Patos (Figura 2), mesorregião do Sertão Paraibano (latitude ‘ ‖ S, longitude 3 ‘ ‖ W e altitude m) O relevo varia de a m, a área territorial é de 506,5 km² e uma população de 100.675 habitantes, sendo que 97.296 residem na zona urbana e 3.393 na área rural (IBGE, 2010). De acordo coma classificação climática de Köppen (1948), o clima predominante é do tipo semiárido (BS) e quente (h), temperatura média anual superior a 18°C e precipitação pluvial máxima ocorrendo entre o final do verão e o outono. A vegetação é constituída por Caatinga arbustiva arbórea xerófila. O município está incluído na área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro, definida pelo Ministério da Integração Nacional em 2005. Figura 2: Mapa de localização do município de Patos-PB. Fonte: Dados Geoportal –AESA-PB. 97 Para realização do presente trabalho, utilizou-se uma imagem do satélite Landsat 5 TM, na órbita 215, ponto 65, para os anos de 1984 e 2010. Para visualizar e realizar as manipulações da imagem, como recortes, classificação e outros procedimentos, foi utilizado o software ERDAS Imagine 8.7. O processamento da imagem foi feito através da ferramenta Model Maker e para a confecção dos mapas temáticos o software ArcGis, constituído por um grupo de programas do Sistema de Informação Geográfica. Para obtenção das variáveis em estudo foi empregado o algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land). A seguir são apresentadas as etapas do processamento das imagens utilizando o modelo SEBAL para a obtenção do albedo, NDVI e da temperatura da superfície. A calibração radiométrica (Lλi) foi obtida segundo a equação 1, proposta por Markham & Baker (1987): (1) em que, e , são as radiâncias espectrais mínima e máxima (Wm-2sr-1μm-1), ND é a intensidade do pixel, cujos valores variam entre 0 e 255, no caso do satélite Landsat o i corresponde as bandas (1, 2, ... e 7). A unidade de é Wm-2sr-1μm-1. Os coeficientes de calibração utilizados para o Landsat são os propostos por Chander e Markham (2003). A reflectância de cada banda ( ) foi obtida através da equação 2, segundo Allen et al. (2002): (2) em que é a radiância espectral de cada banda, cada banda do sensor, é a constante monocromática solar associada a é o ângulo zenital do Sol e dr é o inverso do quadrado da distância relativa Terra-Sol. O cálculo de dr foi obtido de acordo com a equação 3: (3) onde DJ é o dia de ordem do ano em que são obtidos os dados radiométricos (imagens de satélite), cujos valores correspondem ao dia da geração das imagens. O cálculo do albedo no topo da atmosfera foi feito através de combinação linear das reflectâncias monocromáticas, obtidos pela equação 4: (4) onde, e são as reflectâncias nas bandas 1,2, 3, 4, 5 e 7. O albedo da superfície foi computado através da equação (5): r0= (5) 98 onde é o albedo planetário, atmosfera (Bastiaanssen, 2000) e = 0,03 é a porção da radiação solar refletida pela é a transmissividade atmosférica (Allen et al., 2002). A transmissividade atmosférica foi computada em função da altitude local (z), conforme a equação: (6) Para o cálculo do índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN) foi utilizada a seguinte equação (ALLEN et al., 2002): (7) O índice de vegetação ajustado para os efeitos do solo (Soil Adjusted Vegetation Index SAVI), proposto por Huete (1988) foi obtido pela equação: (8) onde L=0,5 é o fator de ajuste do solo. O índice de área foliar (IAF) foi calculado por expressão empírica proposta por Allen et al. (2002): (9) Para o cômputo da temperatura da superfície foi utilizada a equação de Planck invertida, válida para um corpo negro para o qual a emissividade é igual a 1. Como cada pixel não emite radiação eletromagnética como um corpo negro, é necessário introduzir a emissividade de cada pixel no domínio espectral da banda termal , para fins do cômputo da Ts, bem como no cômputo da radiação de onda longa emitida pela superfície, que nesse caso é considerada a emissividade da banda larga (5 – μm) Segundo Allen et al ( ), a emissividades (equação 10) (10) Foi considerado = = 0,98 quando IAF e para IVDN < 0. A obtenção da temperatura da superfície (Ts) é determinada em função da radiância espectral da banda 6 (termal) e da emissividade termal (equação 10) através da seguinte expressão (Allen et al., 2002): (11) em que banda 6, = 607,76 W m-2sr-1µm-1, = 1260,56 W m-2sr-1 µm-1, é a radiância espectral da é a emissividade de cada pixel na porção da banda termal do Landsat 5 – TM. 99 Resultados e discussões Análise espaço-temporal do albedo Correia et al. (2002) afirmam que os valores de albedo de superfície estão associados a superfícies suaves, secas e de coloração clara quando elevados, enquanto que os valores menores são associados a superfícies rugosas, úmidas e de coloração escura. Na Figura 3 podem-se observar mudanças expressivas na paisagem, principalmente na área central que corresponde a malha urbana do município. O aumento do albedo nessa área se deve ao fato de ter havido uma expansão urbana bem significativa no espaço de tempo analisado, o que implica em diminuição de áreas vegetadas e maior presença de solo desnudo e seco. Figura 3: Evolução espaço-temporal do albedo da superfície. . O aumento do albedo, nas áreas que não correspondem a malha urbana, também está associado a redução de áreas vegetadas, só que devido a atividades relacionadas a agropecuária. O uso da terra para atividades agrícolas e pecuárias expõem o solo a constantes processos de degradação, e com o passar do tempo vai se tornando frágil e infértil, aumentando sua exposição e com isso auxiliando no aumento de temperatura. Índice de vegetação da diferença normalizada 100 O Índice de vegetação da diferença normalizada indica a quantidade e as condições da vegetação verde. A Figura 4 apresenta variações ocorridas na cobertura vegetal do solo entre os anos de 1984 a 2010, sendo valores obtidos no intervalo de -1 a 0,85m2/m2. Figura 4 – Mapa temático representando os índices de vegetação normalizada - IVDN para os anos de 1984 e 2010, números 1, 2 e 3 são respectivamente a subbacia do rio Espinharas, o açude Jatobá e o açude Farinha. Os valores negativos são atribuídos aos corpos hídricos e foram representados pela cor roxo, em um tom lilás se apresenta o solo exposto e as demais cores foram atribuídos aos tipos e quantidade de vegetação presentes na área de estudo, sendo o tom mais escuro de verde e como maior valor apresentado, em um intervalo de 0,6 a 0,85 m2/m2 refere-se ao maior índice de vegetação presente. Nos 3 pontos destacados na imagem pode-se observar uma diminuição marcante dos corpos d‘água e um aumento expressivo de solo exposto, que se deve a processos de degradação citados anteriormente. Temperatura da Superfície Em toda a área do município houve um aumento acentuado da temperatura da superfície, que pode ser associado a alta exposição sofrida pelo solo no decorrer dos anos e a diminuição marcante dos corpos d‘água (Figura 5). 101 Figura 5: Mapa de distribuição espacial da temperatura de superfície no município de Patos-PB, em um intervalo de 16 anos. Considerações Finais Pôde-se observar ao longo dos anos uma redução nos índices de vegetação, devido principalmente à ação antrópica, áreas consideráveis de vegetação foram desmatadas por conta da expansão urbana, outras que ainda apresentavam um expressivo índice de vegetação foram substituídas por cultivo. Já na carta de temperatura da superfície pode ser observado um aumento significativo distribuído por toda área de estudo, que é atribuído principalmente ao solo exposto. As imagens obtidas foram de diferentes períodos do ano, sendo a de 1984 o fim da estação chuvosa e a mais recente de 2010 no inicio do período de estiagem na região, o que também influenciou a redução brusca na quantidade de vegetação. As análises das imagens de diferentes épocas possibilitaram uma maior compreensão das transformações ocorridas ao longo dos anos. A observância do albedo da superfície no estudo corroborou com a investigação sobre as áreas degradadas, visto que a reflectividade dos alvos tem forte influência no estudo climático. O que viabiliza quaisquer medidas de recuperação das áreas degradadas e projetos na busca pelo uso sustentando dos recursos florestais, na tentativa de minimizar e combater os impactos ambientais na região. Com isso, pode dizer que a análise destas variáveis possibilita monitorar a degradação das terras e consequentemente fornece dados para diagnosticar pontualmente o processo de desertificação no município. 102 Referências ALLEN, R.; Tasumi, M.; Trezza, R. (2002). SEBAL (Surface Energy Balance Algorithms for Land) – Advanced Training and Users Manual – Idaho Implementation, version 1.0. ALVES, J. J. A.; SOUZA, E. N. de; NASCIMENTO, S. S. do. Núcleos de Desertificação no Estado da Paraíba. RA´EGA, Curitiba, n. 17, p. 139-152, 2009. BASTIAANSSEN, W. G. M. (2000). SEBAL-based sensible and latent heat fluxes in the irrigated Gediz Basin, Turkey. Journal of Hidrology, v. 229, p. 87-100. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, PAN-Brasil. Edição Comemorativa dos 10 anos da Convenção das Nações Unidades de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – CCD. Brasília: MMA, 2004, p. 15-55. CONTI, J. B. Desertificação nos trópicos. Proposta de metodologia de estudo aplicada ao Nordeste Brasileiro. Tese (Livre Docência). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, São Paulo, 1995. CORREIA, F. W. S.; ALVALA, R. C. S.; GIELOW, R. Albedo do Pantanal Sul Matogrossense durante o período de transição seco-úmido de 2001-2002, In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 12., Foz do Iguaçu. Anais... Rio de Janeiro: SBMET, 2002. Chander, G.; Markham, B. (2003). Revised Landsat-5 TM Radiometric Calibration Procedures and Postcalibration Dynamic Ranges. IEEE Transactions On Geoscience And Remote Sensing. v. 41. n. 11. HUETE, A. R. (1988). A soil adjusted vegetation index – SAVI. Remote Sensing of Environment, v. 25, p. 295–309. MATALLO JÚNIOR, H. Indicadores de desertificação: histórico e perspectiva. Brasília: UNESCO, 2001. SOUSA et, al. Estudo do processo da desertificação e das vulnerabilidades do município de Cabaceiras–Paraíba. Revista de Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 4, n. 1, p. 089-102, jan/jun, 2007. SOUZA, B. I. Cariri paraibano: do silêncio do lugar à desertificação. 198 f. Tese (Doutorado em Geografia) - UFRGS, Porto Alegre, 2008. UNITED NATIONS. Text of the United Nations Convention to Combat Desertification. Disponível em: www.unccd.int/convention/text/convention.php. Acesso em: 16 Out. 2012. ANÁLISE DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS DO CULTIVO DA MAMONA NO SERTÃO CENTRAL CEARENSE: UMA ALTERNATIVA PARA REDUÇÃO DOS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 103 Lucas da SILVA (IFCE) 9 – [email protected] Jordânia Kênia Cândido GOMES (IFCE/CE)10 – [email protected] RESUMO O presente trabalho tem por finalidade a análise e identificação das principais práticas agrícolas sustentáveis do cultivo da mamona para a produção de biodiesel em propriedades rurais na área do Sertão Central Cearense, como forma de reduzir os efeitos das mudanças climáticas no Sertão Cearense. Esse tipo de atividade, apesar de trazer oportunidade de emprego e renda para a população local, tem ocasionado alguns impactos ambientais característicos da agricultura. E, a partir da análise e identificação desses impactos, visa contribuir na aplicação de ações mitigadoras desses impactos no processo de cultivo da mamona e na educação ambiental dos agricultores dessa região. Resultando, assim, em práticas sustentáveis que beneficiem tanto o agricultor quanto ao meio ambiente. O estudo foi realizado em propriedades localizadas no município de Quixadá, interior do Ceará, na região do semiárido. A pesquisa deu-se através da investigação do campo, com aplicação de questionários socioambientais e utilizando-se do método quantitativo-descritivo. Tratase de um tema de interesse atual, com poucos estudos, nessa área, no âmbito local e de grande importância para o desenvolvimento sustentável da região. Palavras-chaves: Mamona; Agricultura; Impactos; Meio ambiente. ABSTRACT This search aims at analyzing and identifying the main environmental impacts caused by the cultivation of castor for biodiesel production on farms in the area of the Hinterland Central Cearense, as well as the social situation of producers. This type of activity, despite the opportunity to bring jobs and income for local people, has caused some characteristic environmental impacts of agriculture. From the analysis and identification of these impacts, aimed at contributing in the implementation of mitigating actions such impacts in the process of cultivation of castor and environmental education of farmers in this region. Thus resulting in sustainable practices that benefit both the farmer on the environment. The study was conducted on properties located in the county of Quixadá, interior of Ceará, in the semiarid region. Search was made through the field investigation, with questionnaires and environmental using quantitative-descriptive method. This is a topic of current interest, with few studies in this area, at the local level and of great importance to the sustainable development of the region. Keywords: Mammon; Agriculture; Impacts; Environment. 9 Prof. MsC. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Quixadá. 10 Estudante do Curso Técnico em Controle Ambiental do IFCE, campus de Quixadá e bolsista do Programa Petrobrás de Desenvolvimento de Recursos Humanos – PFRH. 104 INTRODUÇÃO As questões sobre os problemas ambientais não é um tema recente, entretanto estudos mais pontuais e consistentes sobre o assunto estão sendo tratados atualmente com maior importância. Nesse contexto, a crise ambiental atual fez surgir a preocupação com novas fontes de energia renováveis, uma vez que a principal fonte de energia atualmente é o petróleo que é não renovável e é de origem mineral. Nesse sentido, surge o advento do biodiesel, um combustível cultivável e de origem vegetal. Diversas discussões têm sido travadas em torno do tema biocombustíveis. Algumas pesquisas apontam o biodiesel como a solução para crise energética mundial em longo prazo; outras defendem a ideia de que o mesmo é mais um instrumento de manutenção da atual situação de consumo energético no mundo, onde 80% da energia total gerada no planeta é utilizada por 20% da população mundial (APS, 2009). O fato é que a mamona vem despontando como uma fonte de combustível promissora, em virtude da crise do petróleo e da necessidade urgente de se buscar alternativas que possam substituir e serem compatíveis com a atual demanda do uso de fontes energéticas no mundo. A mamona (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa de grande importância no Brasil e no mundo. A mamoneira é uma planta resistente, se adaptando de modo perfeito às zonas semiáridas do Nordeste, onde há poucas alternativas agrícolas rentáveis, devido às suas peculiaridades climáticas. Possivelmente originária do continente asiático e introduzida no Brasil pelos africanos, essa oleaginosa está difundida em quase todo o território brasileiro e, por suportar a seca e requerer calor e luminosidade, o seu crescimento e desenvolvimento se adéquam as condições climáticas da região nordeste (BELTRÃO et al., 2001). A cultura da mamona tem revelado grande importância para a economia do semiárido nordestino, sendo uma fonte de renda viável para a população rural e de baixa renda. Por sua resistência à seca, a planta tem obtido grande êxito em seus cultivares nessa região do Brasil. Contudo as atividades agrícolas têm provocado alguns impactos sobre o ambiente, tais como desmatamentos, queimadas, poluição por agrotóxicos, degradação e erosão dos solos e contaminação de mananciais e as consequências desses impactos se tornam evidentes a cada dia. Além disso, existem outras consequências que podem ser originadas dessas atividades, como por exemplo, extinções de espécies e populações (animais e vegetais), diminuição da diversidade biológica, perda de variedades, entre outros. Contudo, vale ressaltar que os impactos causados por essa atividade não devem ser caracterizados apenas como impactos negativos, visto que há a presença de impactos positivos, tais como geração de emprego e renda para essas famílias e para uma parte da população da região, a 105 possibilidade do cultivo da mamona com outras culturas, a exemplo do milho e do feijão, e a disseminação da educação ambiental para esses pequenos agricultores através de treinamento para o aperfeiçoamento das técnicas de cultivo. Alem disso, para que se faça suscitar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, fazse necessário conscientizar o agricultor sobre a conservação do meio ambiente, além de a ele oferecer os meios e métodos para alcançar esse desenvolvimento sustentável. Um dos fatores que fizeram culminar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável foi o advento das mudanças climáticas. Essas mudanças climáticas têm tido como principal causa o efeito estufa que atualmente é o mais intenso. Um dos principais causadores do efeito estufa é a emissão de gases poluentes advindos das queimadas ainda praticadas por alguns agricultores. O efeito estufa é causado pela emissão dos gases de efeito estufa (GEE), tais como: óxido nitroso (N2O), dióxido de carbono (CO2), ozônio (O3), metano (CH4), clorofluorcarbono e vapor de água. O dióxido de carbono, produzido pela combustão de combustíveis fosseis (carvão, petróleo e gás natural) e pelo desmatamento das florestas, tem sido um dos mais significativos gases poluentes. Esses gases impedem que o calor (radiação infravermelha) seja irradiado de volta para o espaço e, devido a este processo, a atmosfera se aquece. Parte deste calor é transferida para os oceanos, elevando sua temperatura. Quando o aquecimento da atmosfera e dos oceanos acontece em demasia, a temperatura global da Terra aumenta, ocasionando a elevação das marés e o derretimento das geleiras. Como uma das causas das mudanças climáticas, podemos citar a redução e o atraso na floração das espécies frutíferas nativas do semiárido, devido à ausência de chuvas regulares. Outro exemplo que podemos citar é o aumento da acidez dos oceanos por causa do elevado índice de concentração de CO2 em suas águas. Apesar de parecer que o aquecimento global é uma inevitável consequência das atividades humanas (passadas e presentes), esforços nacionais e internacionais devem ser feitos para que se desenvolvam estratégias que melhorem as técnicas de agricultura e diminuam o uso de energia de fontes não-renováveis. Este estudo foi desenvolvido em propriedades localizadas nos distritos do município de Quixadá no interior do Sertão Central Cearense. E tem como objetivo avaliar a situação ambiental das propriedades com cultivo de mamona para a produção de biodiesel nessa região, a partir do diagnóstico, da avaliação e do desempenho ambientais dessas propriedades, identificados e analisados por meio da aplicação de questionário socioambiental. DESENVOLVIMENTO 106 Caracterização da Área de Estudo A área de estudo da pesquisa foi o município de Quixadá (ver Figura 01), localizado na região do sertão central cearense. O município tem uma área de 2.019,82 km² e está localizado a 175 km de Fortaleza, capital do Estado. Figura 01 – Mapa do município de Quixadá - Fonte: CPRM (1998) O Município está inserido no semiárido nordestino, caracterizado por solos que ressecam rapidamente nos períodos de estiagem e se encharcam na chuva. A vegetação é típica da caatinga, com cactáceas, lençóis de água superficiais geralmente salinizados e com clima tropical quente. Uma característica bastante presente no relevo da cidade são as rochas graníticas de diferentes formatos que se destacam na paisagem, essas rochas são denominadas monólitos. Apresenta clima tropical quente semiárido, com precipitação média anual de 838,1 mm e temperatura média variando entre 26°C a 28°C. A vegetação é caatinga arbustiva densa, caatinga arbustiva fechada e floresta caducifólia espinhosa (IPECE, 2009). O cultivo da mamona para a produção de biodiesel no Sertão Central Cearense 107 Metodologicamente a pesquisa foi desenvolvida através da investigação de campo, com aplicação de questionários, utilizando-se do método quantitativo–descritivo. A análise, organização e síntese dos dados foram realizadas durante todo o processo de coleta e pesquisa. Foi utilizada a técnica de coleta de dados com a aplicação de dezenove (19) questionários, contendo dez (10) questões de múltipla escolha, aplicados aos produtores da região. A pesquisa de campo abrangeu 04 (quatro) distritos (Custódio, Café Campestre, Cipó dos Anjos e Califórnia) e suas localidades. Fez-se o uso de uma câmera digital para o registro de imagens das propriedades e de seu entorno para a melhor análise e interpretação dos dados. Utilizando-se, também, o sistema do projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise – AMA do Ministério do Meio Ambiente, que mede o nível de adoção de práticas agrícolas sustentáveis, baseado em 15 questões com opção de sim ou não, para classificar a propriedade quanto ao nível de adoção de práticas agrícolas, numa escala de gradação de 05 (cinco) níveis em: muito baixo (0 a 2 sim); baixo (3 a 5 sim); médio (6 a 8 sim); alto (9 a 11 sim), e muito alto (acima de 12 sim). O cultivo da mamona na região do Sertão Central Cearense tem crescido em função da instalação de uma usina de biodiesel no município de Quixadá, no ano de 2008; facilitando, assim, a venda direta da matéria-prima (semente da mamona) para a produção de biodiesel, pelos agricultores à empresa que produz o biocombustível na região, a Petrobrás e proporcionando uma maior geração de emprego e renda na região. Os agricultores que participam desse programa do governo, além de terem garantia de venda, recebem subsídio de R$ 200,00 por hectare plantado, num total de 5 hectares, além do fornecimento das sementes para o plantio. Todas as propriedades visitadas obedecem a esse limite de hectares destinados à plantação de mamona, bem como ao seu consórcio com outras culturas. Principais Impactos das Atividades Agrícolas sobre o Meio Ambiente Os impactos ambientais das atividades agrícolas são, em geral, frágeis e bastante dependentes de fatores pouco controláveis, tais como chuvas, temperaturas, ventos e etc. Atingem grandes áreas com pouca precisão, frequentemente crônica, intermitente e de difícil quantificação. Em muitos casos os piores impactos ambientais da agricultura são invisíveis aos olhos da população, dos consumidores e dos próprios agricultores, ao contrário do que ocorre com uma mineradora, por exemplo. Os principais impactos ambientais verificados nesse estudo foram sobre os efeitos no solo. Dentre eles destacam-se a compactação do solo devido ao uso intensivo de máquinas agrícolas, neste caso trator, a erosão e a perda de nutrientes, estes últimos não tão acentuados, porém presentes. As emissões de poluentes pela prática corrente de queimar o que havia no local destinado ao plantio para preparar o solo e/ou o lixo produzido após a colheita, também é algo a se mencionar 108 neste estudo, pois as emissões de gases poluentes acabam contribuindo nos fatores que têm favorecido o aquecimento global, já que a emissão desses gases de efeito estufa é um dos principais causadores das mudanças climáticas no planeta Terra. Visando diminuir os efeitos desses impactos no meio ambiente, a adoção de técnicas de plantação sustentáveis e a difusão da educação ambiental devem ser empregadas ao cotidiano desses agricultores. A partir de dados colhidos através dos questionários aplicados, verificou-se a já existência de um treinamento desses agricultores quanto a essa questão ambiental, por parte de um convênio entre a Prefeitura Municipal de Quixadá e a empresa (Petrobrás) que realiza a compra da semente da mamona desses agricultores. Práticas Agrícolas Sustentáveis Adotadas pelos Produtores Conforme se pode observar na tabela 01, 21% das propriedades estudadas adotam de 3 (três) a 5 (cinco) tipos de práticas agrícolas sustentáveis, 32% das propriedades têm adotado de 9 (nove) a 11 (onze) dessas práticas e 47% delas realizam de 6 (seis) a 8 (oito) dessas práticas. Isso mostra que os produtores têm se preocupado com as questões ambientais. No entanto, em nenhuma delas foi apresentado nível muito alto de adoção das práticas agrícolas sustentáveis. Tabela 01 - Nível de adoção das práticas agrícolas sustentáveis adotadas pelos produtores de mamonas da região do sertão central cearense. MEDIDA DO NÚMERO DE INDICADOR PROPRIEDADES Muito baixo (de 0 a 2 sim) 0 0% Baixo (de 3 a 5 sim) 04 21% Médio (de 6 a 8 sim) 09 47% Alto; (de 9 a 11 sim) 06 32% (maior que 12 sim) 0 0% INDICADOR Muito alto. % Dentre as práticas agrícolas sustentáveis estudadas, o consórcio de culturas está presente em todas as propriedades pesquisadas, principalmente a associação da mamona com o feijão e o milho, culturas tradicionais na região. Isso mostra que os protodures não estão substituindo as tradicionais culturas de subsistência pelo cultivo da mamona e, sim, consorciando-as. Outra prática comum adotada pelos produtores é a integração animal-lavoura, presentes em dezessete das propriedades, que corresponde a 90%. Ou seja, a grande maioria solta seu rebanho dentro da área de cultivo da mamona após sua colheita. 109 Dentre as propriedades estudadas, em 84 % delas existe presença de área de conservação, no entanto, em alguns casos, existem áreas de preservação coletiva, principalmente em áreas de assentamento rural. (ver Tabela 02). Tabela 02 - Práticas agrícolas sustentáveis adotadas pelos produtores de mamona da região do sertão central cearense. PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS Faz consórcio de culturas Faz integração animal-lavoura Tem área de conservação Realiza manejos florestais de não madeireiros Faz rotação de culturas Usa adubos orgânicos Faz manejo e conservação do solo Faz manejo ecológico de pragas Tem área de SAF's/Silvipastoril Tem práticas de conservação da água Faz manejo de paisagens Realiza práticas de conservação e recuperação de nascentes de água Utiliza quebraventos Faz preservação do patrimônio genético Faz outras práticas sustentáveis Propriedades Quant. (%) 19 100% 17 89% 16 84% 14 74% 13 68% 13 68% 12 63% 8 42% 6 32% 6 32% 4 21% 4 21% 3 16% 3 16% 1 5% Os problemas provenientes dos processos industriais da agricultura têm provocado o advento de diversos sistemas de exploração agrícola que não recorrem aos defensivos atuais. Segundo Jesus (1996), a agricultura orgânica surge como alternativa e resposta à agricultura de base urbana industrial, visto que esta proporciona a viabilidade da agricultura familiar, associando os aspectos do bem-estar social, a segurança alimentar e o desenvolvimento dos mercados locais. Contrário ao pensamento de sustentabilidade, a agricultura convencional vem provocando diversos desequilíbrios na natureza, como podem ser constatados no pensamento de Capra (1982, p.21-22), [...] além da poluição atmosférica, nossa saúde está ameaçada pela água e pelos alimentos, uma e outros contaminados por uma grande variedade de produtos químicos. Conforme o meio ambiente é atingido pelos resíduos químicos jogados em diversas atividades, sejam elas na produção, industrialização, no comércio, nas rotinas domésticas e diárias aumentam os problemas de saúde dos indivíduos. A problemática ambiental tornou-se uma velha e conhecida questão que vem transcorrendo toda a construção do conhecimento humano, desde os seus primórdios até os dias atuais. 110 Nos dias de hoje, conhecemos a agroecologia, uma ciência que não está voltada somente ao manejo dos recursos naturais. A partir dela, tem-se constituído uma estratégia considerável para avaliação dos impactos socioambientais e para instalação de programas sustentáveis no meio rural. Esse modelo de agricultura é resultado de movimentos em que diversas correntes estabeleceram diferentes formas de manejo das criações de animais e do sistema solo/planta. A grande questão se encontra em se planejar um futuro onde, quem produz, receba qualificação e incentivos capazes de minimizar os efeitos negativos que os impactos ambientais proporcionam. Vivemos hoje um dilema global entre a necessidade humana de se alimentar e a produção de agroenergia, devido a algumas linhas de estudos que defendem que o cultivo de matéria-prima para a produção de biocombustíveis estará competindo diretamente com a produção de alimento para a população. Mas, se por um lado, os combustíveis de origem vegetal podem ser uma ameaça à produção de alimentos, devido à competição por terras e água, elevando preços de alimentos e causando instabilidade; por outro lado, eles também podem gerar emprego e renda no campo, propiciando o desenvolvimento rural da região. CONCLUSÕES Conclui-se que, mesmo percebendo-se um nível médio de adoções de práticas agrícolas sustentáveis por parte dos produtores de mamona, nota-se que ainda se está distante de alcançar uma cultura preservacionista e conservacionista dos produtores, pois notou-se que as práticas aderidas por parte dos entrevistados se fazia por costumes herdados pelos pais, por exigência dos órgãos governamentais e/ou por cumprimento da legislação vigente. Foram identificados impactos ambientais negativos significativos que devem ser estudados com o intuito de propiciar e facilitar a aplicação de ações mitigadoras, tais como a adesão de práticas agrícolas sustentáveis, a conscientização ambiental da população e das autoridades competentes e a redução do lixo produzido a partir dessas atividades de agricultura, fazendo o aproveitamento desses resíduos na própria propriedade. Além disso, deve-se desenvolver uma melhor sintonia entre os órgãos governamentais envolvidos no cultivo de mamona para a produção de biodiesel, no sentido de incentivar com maior ênfase, práticas agrícolas sustentáveis, através de programas específicos de produção ecológica e sustentável, bem como através da promoção da educação ambiental. Com isso contribuiremos para a redução da emissão de gases poluentes e de efeito estufa para a atmosfera. 111 REFERÊNCIAS ARANHA, F. Alternativas em transporte: novos combustíveis prometem reduzir emissões de gases que provocam o aquecimento global. Nós da Escola, nº44/2006. Disponível em: <http://www.abve.org.br/imagens/Alternativas_Transportes_NosDaEscola_N44.pdf.> Acesso em: 25 ago. 2012. APS – Assessoria Empresarial - Panorama energético mundial atual. Disponível em: <http://www.apsassessoria.com.br/textos.htm> Acesso em: 25 set. 2012. IPECE - INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ - Perfil básico municipal – Quixadá. 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São Paulo: Cultrix, 1982. 112 INFLUÊNCIA DOS FATORES CLIMÁTICOS NA MANIFESTAÇÃO DE DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA Myrthis Virgínia Alves de Almeida REINALDO (Unesc Faculdades) – [email protected] Manoel Francisco GOMES FILHO (UACA/CTRN/UFCG) – [email protected] Resumo Os seres humanos são direta ou indiretamente afetados pelas alterações cíclicas da atmosfera e do meio ambiente por estarem continuamente inseridos neste. As causas da influência do tempo e do clima sobre os seres humanos não são totalmente conhecidas, logo é de grande importância a elaboração de estudos relacionando clima e saúde humana. Do ponto de vista epidemiológico, se as mudanças climáticas representam uma série de exposições a diversos fatores de risco que influenciam o organismo humano, a causa mais distal dessas exposições é a alteração do estado ambiental devido à acumulação de gases do efeito estufa. As mudanças prolongadas no quadro geral do clima influem na distribuição geográfica de muitas enfermidades. Este trabalho se propõe a discutir a influência do clima e suas variáveis na manifestação de doenças do aparelho respiratório. Palavras-chaves: Meio Ambiente e Saúde; Mudanças Climáticas; Doenças Respiratórias. Abstract Humans are directly or indirectly affected by cyclical changes in the atmosphere and the environment because they are continuously entered into this. The causes of the influence of weather and climate on humans are not fully known, so it is of great importance to the development of studies linking climate and human health. From the epidemiological point of view, if climate change is a series of exposures to various risk factors that influence the human body, the most distal of these exhibitions is to change the environmental status due to the accumulation of greenhouse gases. Prolonged changes in the general climate influence the geographical distribution of many diseases. This paper aims to discuss the influence of climate and its variations in the manifestation of respiratory diseases. Keywords: Health and the Environment, Climate Change; Respiratory Diseases. 113 Introdução É do conhecimento de toda humanidade, hoje em dia, que a degradação do meio ambiente põe em perigo as espécies animais e vegetais que habitam o nosso planeta e compromete, muitas vezes de maneira irreversível, por assim dizer, insustentável, a saúde humana, tanto da geração atual quanto das gerações futuras. Preservar o meio ambiente implica diretamente na redução das emissões de poluentes resultantes das atividades antrópicas, sejam eles atmosféricos, resíduos sólidos e líquidos, bem como os poluentes térmicos, acústicos e visuais, pois todos eles são capazes de alterar o equilíbrio fisiológico do organismo humano, e, consequentemente o seu estado de ―saúde‖ Considerando o conceito adotado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1948: ―Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença‖, o meio ambiente está intrinsecamente relacionado, já que as alterações no mesmo interferem muito na saúde e na qualidade de vida das pessoas. E como na vida, no meio ambiente predominam os ciclos que envolvem uma dinâmica série de mudanças e não a estabilidade. Portanto, o meio ambiente constitui um importante fator da saúde humana e da qualidade de vida. A proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais devem ser obrigações constantes, pois os problemas ambientais têm sido apontados como fatores de risco para a saúde humana. Segundo a WHO (2002), aproximadamente um terço das doenças humanas em escala global podem ser atribuídas a fatores ambientais, incluindo-se aí as mudanças climáticas. As mudanças climáticas podem ser de origens naturais ou antrópicas e sua influência sobre a saúde humana tem sido estudada desde a Grécia antiga (séc. V- IV a.C.) por Hipócrates, em seu tratado intitulado: ―De ares, águas e lugares‖, no qual são apresentadas suas teorias sobre a influência do meio ambiente nas doenças humanas e sobre algumas peculiaridades físicas e espirituais dos habitantes de diferentes regiões, como é descrito no trecho a seguir (PHILIPPI JR., 2005): [...] Quem desejar estudar corretamente a ciência da medicina deverá proceder da seguinte maneira. Primeiro, deverá considerar quais efeitos pode produzir cada estação do ano, visto que as estações não são todas iguais, mas diferem amplamente tanto em si mesmas como nas mudanças [...] Porém, naquela época, Hipócrates não considerou as mudanças ambientais antropogênicas que interferem na saúde humana. Mudanças estas que tem como responsável o grande desenvolvimento industrial do século XX e o modo de vida capitalista extrativista, potencial gerador de resíduos provenientes das atividades humanas. E como consequência disto, a biosfera foi acumulando substâncias indesejáveis que, ao serem lançadas na atmosfera, acabam por cair nos 114 ecossistemas; ou são despejadas diretamente no solo ou nos corpos aquáticos (rios e lagos) e no oceano. Os fatores atmosféricos e os de ordem econômica e social têm grande influência no processo desencadeador de vulnerabilidade para grande parte da população residente nas cidades. Doenças respiratórias apresentam uma vinculação muito estreita com o ambiente, pois muitas patologias como as viroses e a asma, podem ser desencadeadas ou agravadas por condições ambientais, a exemplo da poluição do ar, as baixas temperaturas e as inversões térmicas. Por esta amplitude, as doenças respiratórias são responsáveis por um grande número de internações hospitalares no Brasil, provocados por altos índices de comorbidades. Acometem todas as faixas etárias, sexo e classe social e estabelece estreita relação com os indicadores econômicos, estando os mais pobres, consequentemente, mais vulneráveis a instalação das doenças (PHILIPPI JR., 2007). Mudanças Climáticas No contexto das mudanças climáticas e ambientais globais, em que as incertezas sobre a natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas locais se somam às complexidades das novas realidades de um Brasil urbano, surgem novas questões no enfrentamento do velho problema das doenças transmissíveis no setor da saúde pública. A sinergia existente entre os processos sociais e os ecossistemas sobre os quais eles se desenvolvem, associada à persistência de condições inadequadas de vida, tem possibilitado a proliferação de doenças endêmicas em novos contextos (BARCELLOS et al., 2009). Segundo Barcellos et al. (2009), o mundo vem passando por mudanças que não estão limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelas aos processos de mudanças climáticas vêm acelerando-se a globalização (aumentando a conectividade de pessoas, mercadorias e informação) e as mudanças ambientais (alterando ecossistemas, reduzindo investimentos em saúde, aumentando a dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais). Diante do exposto, entende-se que as mudanças climáticas e os fatores ambientais têm importância no aparecimento de novas doenças, bem como pela volta de doenças já controladas (PECONICK et al., 2011). Saúde e Meio Ambiente O estado de saúde da população é um dos importantes indicadores sociais, assim como o método de direcionamento de políticas públicas, pelo delineamento do perfil de morbidades e mortalidade de grupos sociais e da população residente. As cidades estão convivendo com problemas sanitários e ambientais que refletem diretamente na qualidade de vida de sua população 115 em relação ao adensamento populacional e a marginalização socioeconômica e a carência de serviços de saneamento básico e ambiental, intimamente ligados às condições de vida e saúde da população. A multicomplexidade que envolve a relação ambiente/saúde/doença assume atualmente uma determinação de causa/efeito ou vice-versa, entretanto poucos estudos têm sido desenvolvidos para consolidar esta inter-relação (MOURA, 2009). De acordo com Figueiredo (2011), nos países desenvolvidos, pela maior longevidade da população, as doenças crônico-degenerativas são as mais comuns, porém as infecciosas têm se tornado uma ameaça constante, principalmente pela facilidade de deslocamento com um maior intercâmbio entre as populações. Por outro lado, os países em desenvolvimento vivenciam a difícil batalha contra as doenças infecciosas, que envolve não apenas o combate ao agente infeccioso, mas a necessidade de transformar toda uma estrutura sócio-político-econômica. A partir da década de 1980, muitas enfermidades que estavam sob controle passaram a recrudescer. Novas doenças surgiram e outras antigas reapareceram em vários pontos do globo, estabelecendo-se os conceitos de doenças emergentes e reemergentes como novas ameaças à saúde pública do planeta. No contexto complexo da atualidade, sabe-se que inúmeros fatores contribuem na configuração deste novo cenário, como a poluição, o desmatamento, o crescimento populacional, a urbanização, a redução da camada de ozônio e as variações meteorológicas (FIGUEIREDO, 2011). O tempo pode afetar diretamente a saúde humana através da exposição a eventos meteorológicos extremos, como inundações e tempestades; ou períodos de muito calor e frio. O fenômeno El Niño é um exemplo clássico, caracterizado como um fenômeno que, por vezes, assume proporções particularmente violentas, apresentando fortes chuvas, inundações e períodos de estiagem, associados a um acentuado aquecimento das águas oceânicas. Segundo Peconick et al. (2011), o aumento da temperatura ambiente também tem sido importante para a extinção e/ou diminuição dos mananciais hídricos. A deterioração da água ou sua ausência contribuem diretamente para o aumento da incidência de doenças causadas por parasitos de veiculação hídrica, ou seja, àqueles que utilizam a água como veículo de transporte. Com isso, observa-se o aumento do número de casos de diarreia e alterações gerais que podem inclusive culminar em óbito. Clima e Saúde Os seres humanos, por estarem permanentemente em contato com a atmosfera, alteram sua dinâmica e desta forma tornam-se vítimas da influência que exercem sobre o ambiente. Desta maneira, determinadas doenças manifestam-se, surgem ou desenvolvem-se devida às variações (naturais ou antrópicas) periódicas dos elementos climáticos. O clima e os diferentes tipos de tempo 116 (ondas de calor, períodos de estiagem, variações súbitas das temperaturas), são entendidos como um fator ambiental que influencia no organismo humano, não como um caráter determinista, mas como um elemento que pode contribuir de maneira benéfica ou maléfica para a saúde humana (LACAZ, 1972 apud PEREIRA, 2012). De acordo com Sousa (2003), o clima é o aspecto do ambiente físico que tem concentrado maior atenção para os estudos no campo epidemiológico. O clima é resultante da variabilidade dos fenômenos meteorológicos específicos, que caracterizam a situação média da atmosfera, em uma região delimitada da superfície terrestre. Estudam-se os fatores climáticos para que, através deles, possam ser inferidas hipóteses de causalidade quanto aos agentes, transmissores e reservatórios, e mesmo, possivelmente, quanto a algum fator de risco cuja variação na natureza dependa da variação de algum desses fatores, verificando algumas relações existentes entre a correlação das variáveis meteorológicas e as mortalidades. A vida fisiológica em condições de clima tropical apresenta-se perfeitamente adaptada às características ambientais fortemente cambiáveis em espaços de tempo curto (sazonalidade climática), mas a ocorrência de fenômenos meteorológicos em escala temporal muito rápida (horária, diária e semanal) lhe traz perturbações. O clima tropical, por suas características particulares, reúne excelentes condições para o desenvolvimento de um considerável número de doenças, tanto ligadas ao excesso de calor quanto à queda abrupta do mesmo e à variabilidade termo-higro-pluviométrica. A entrada rápida de frentes frias de forte intensidade, por exemplo, engendra consideráveis impactos sobre os seres vivos e sobre a população humana desta área (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2005). A saúde pública, em grande parte, depende do acesso à água potável, do suprimento adequado de alimentos, de habitações seguras e de estabilidade social, sendo as alterações climáticas suscetíveis de modificar todas estas condições. Mudanças Climáticas e Poluição Ambiental As relações do homem com a natureza tornam-se complexas com o aparecimento dos espaços urbanos e o crescimento desordenado causando impactos ambientais com repercussões negativas sobre a saúde e a qualidade de vida das pessoas. As variáveis climáticas representadas pela direção dos ventos, precipitação, umidade, temperatura, velocidade e direção dos ventos, modificados pelos processos antropogênicos causam impactos relacionados às inundações, a poluição do ar, deslizamento de encostas e geram ou agravam muitas doenças, principalmente as respiratórias, muitas vezes de forma epidêmica como as gripes, acometendo, principalmente, as pessoas submetidas a segregação espacial, ocupadas pela população de baixa renda, com déficit de 117 infraestrutura, resultando num alto grau de vulnerabilidade ambiental aos fenômenos naturais, especialmente os meteorológicos extremos (VERÍSSIMO e MENDONÇA, 2004). Segundo a Organização Mundial de Saúde, as mudanças climáticas vêm afetando a saúde da população em vários lugares do mundo. Com essas mudanças, os fenômenos meteorológicos ficam extremos, ou seja, muito calor seguido de muito frio (ou o contrário). Estes extremos provocam recordes de temperatura podendo afetar o desenvolvimento da biocenose (comunidades resultantes da associação de populações, as mais variadas, confinadas em determinados ambientes dentro do ecossistema) (COELHO-ZANOTTI, 2007). Sabe-se que parte desses fenômenos é atribuída às mudanças climáticas globais, já que uma parcela dos fenômenos atmosféricos se deve ao aumento do efeito estufa, outra parte é inerente de ciclos naturais. Influência do Clima nas Doenças Apesar da capacidade das pessoas se adaptarem ao meio ambiente, podendo suportar alterações climáticas dentro de certos limites, estes quando ultrapassados podem afetar seriamente a saúde através das ondas de calor ou de frio, ou quando a poluição atmosférica encontra-se elevada. O ser humano é homeotérmico, com uma temperatura do corpo entre 36 e 37ºC. Abaixo destes valores há hipotermia e mecanismos de controle são acionados, como a vasoconstrição, tiritar, arrepios, aumento da taxa metabólica, na tentativa de se elevar a temperatura corporal. Estas são respostas de curto prazo, há respostas mais longas, com o aumento dos depósitos de gordura, gordura subcutânea e outros mecanismos. Para o caso de hipertermia, acima de 37ºC, ocorre o suor, a vasodilatação e respostas também de mais longo prazo. Portanto, a zona de conforto se dá quando nenhum destes mecanismos foi acionado, gerando um estado de neutralidade. Ayoade (2007) destaca que os elementos meteorológicos interferem de modo marcante no aparecimento e manutenção de determinadas doenças e afirma que temperaturas extremamente altas provocam incidência de choques térmicos, exaustão e câimbras pelo calor. Por outro lado, temperaturas extremamente baixas causam doenças como artrites, sinusites e enrijecimento de juntas. O ar muito seco prejudica ou diminui o vigor físico e a disposição para o trabalho mental. Há uma preocupação crescente em compreender o impacto das variações climáticas na epidemiologia das doenças. Esse interesse está fortalecido pelas consequências das mudanças climáticas ocorridas em nível mundial nos últimos anos e melhora das habilidades para detectar e predizer as variações ambientais (GONZÁLEZ, 2008). A importância da inter-relação entre gripe, resfriado e as patologias respiratórias com as variações climáticas, principalmente no inverno e outono, atribui-se, principalmente, a elevadíssima 118 prevalência nesta época do ano. As viroses, como causas etiopatogênicas deste grupo patológico, são entidades precursoras de outras morbidades, como pneumonias, asma, bronquite e exacerbação infecciosa da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (MOURA, 2009). Doenças do Aparelho Respiratório O aparelho respiratório mantém contato direto com o ambiente, sendo alvo das interações físicas e químicas do mesmo, da umidade, temperatura, pressão, velocidade dos ventos e qualidade do ar. Por esta razão, as doenças respiratórias apresentam sazonalidade ligada a mudanças climáticas e outros determinantes ambientais como habitat e condições de ordem econômica e social, promovendo uma inter-relação entre homem e ambiente. O organismo humano se mantém em constante intercâmbio com o meio, especialmente o sistema respiratório ao promover trocas de gases como ambiente através dos pulmões e das vias respiratórias (MOURA, 2009). As doenças respiratórias, com relação ao meio ambiente e os agentes patogênicos podem ter determinação biológica e/ou físico-química. Entendendo-se por agentes biológicos as doenças de caráter infeccioso e não infeccioso, que reúne uma grande quantidade de agentes, propiciando e desencadeando o desenvolvimento de doenças. Assim, os organismos biológicos que têm classificação infecciosa como os vírus, bactérias e fungos são os principais responsáveis pelo desenvolvimento de infecções e inflamações de todo curso de doenças respiratórias que vão desde vias superiores: nasofaringe, laringe e traqueia até as vias aéreas inferiores, como brônquios, bronquíolos e alvéolos manifestando-se na forma de sinusites, laringites e faringites; bronquites, bronquiolites, pneumonias e exacerbações infecciosas das doenças pulmonares obstrutivas crônicas (TARANTINO, 2008). Doenças respiratórias constituem importante causa de adoecimento e morte em adultos e crianças em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), essas doenças representam 8% do total de mortes em países desenvolvidos e 5% em países em desenvolvimento. Quarenta milhões de crianças menores de cinco anos adquirem pneumonia anualmente. 5% a 15% da população adulta nos países industrializados têm DPOC. No Brasil, as doenças respiratórias agudas e crônicas também ocupam lugar de destaque – 2º em frequência entre as causas de internação no sistema único de saúde, sendo responsáveis por 6% de todos os internamentos do sistema (BRASIL, 2007). De acordo com González (2008), no Brasil, as doenças do aparelho respiratório representam a segunda causa mais frequente de internação em idoso, cerca de 160 mil internações, relacionadas à influenza e a pneumonias. A respeito da maior frequência de hospitalizações nos dois primeiros anos de vida destacam-se, como principais infecções respiratórias, as que acometem o trato 119 respiratório inferior, estando pneumonias e bronquiolites entre os principais apontamentos do diagnóstico principal, sendo estas consideradas infecções respiratórias graves, podendo ser causada por vírus e/ou bactérias. As infecções respiratórias mais severas são causadas, principalmente, pelo vírus sincicial respiratório, agente etiológico de alteração sazonal. O vírus sincicial respiratório causa a maioria dos casos de bronquiolites no mundo e pode ocasionar 70% a 80% das infecções respiratórias nos meses de frios do ano. Outro agente viral concorrente para infecções respiratórias severas são os vírus do tipo parainfluenza, que não apresentam sazonalidade. A maior aglomeração de pessoas em ambientes fechados durante os meses frios explica a maior transmissibilidade de diversos agentes e uma relação de maior intensidade no inverno, sejam virais ou bacterianos (GONZÁLEZ, 2008). O inverno acarreta no aumento das doenças respiratórias, como gripes e resfriados, faringites, otites e pneumonias, da mesma forma aumentam as crises de asma e exacerbam as DPOCs, acometem, de modo geral, todas as faixas etárias como grupos de maiores vulnerabilidades – idosos e crianças. As baixas temperaturas e a chegada de massas de ar frio (acompanhando as frentes frias) propiciam a congestão do nariz e órgãos adjacentes como seios da face e ouvidos, podendo gerar sintomas típicos dos resfriados, como obstrução nasal, coriza e espirros. O ar frio também provoca aumento da contração dos vasos brônquicos, causando broncoespasmo e desencadeando crises nas pessoas portadoras de asma e bronquites (CASTRO, 2008). De acordo com Moura (2009), os fatores ambientais, como a variável meteorológica da umidade, exercem papel preponderante no desenvolvimento de asma e outras doenças alérgicas por influenciar na proliferação de agentes biológicos, ácaros e fungos. Sendo a sobrevivência dos ácaros dependente dos níveis de umidade absoluta do ar superior a 45% a 20% de umidade média. Alergias causadas por ácaros têm manifestação mais acentuada nos meses mais frios e úmidos; são dependentes da idade, da condição de habitação e a quantidade de moradores por domicílio. Os esporos fúngicos, importantes causadores de alergias, constituem a maior parte dos bioaerossóis, tem grande variabilidade e são dependentes dos fatores como temperatura, umidade relativa, hora do dia, velocidade dos ventos e ainda variam conforme as condições de relevo, hidrografia, tipo de solo e níveis de poluição ambiental de cada região. Os fatores ambientais e a poluição do ar destacam-se como determinantes do aumento de casos e da gravidade nas infecções respiratórias agudas (IRA) que, pela mudança brusca de temperatura, dificulta as correntes do vento e faz precipitar o material particulado das grandes cidades. A umidade média do ar em torno de 40% é responsável pela proliferação de fungos e ácaros, agentes etiológicos de grande número de asmáticos, número este que tem aumentado sua prevalência nos últimos anos. Segundo estudos realizados pela International Study of Asthma and Allergies em Childhood – ISAAC, 24,3% da população pediátrica brasileira entre 6 e 7 anos 120 apresenta asma ativa e 25,7% rinite. Entre adolescentes de 13 e 14 anos, o percentual médio encontrado no Brasil foi de 19% para asma ativa e 29,6% para rinite alérgica (CASTRO, 2008). As pneumonias, como entidade primária ou resultante de muitas outras doenças respiratórias requer grande relevância na epidemiologia das patologias relacionadas ao aparelho respiratório, haja vista a alta incidência em que se apresentam, sendo responsáveis por elevado número de internações no Brasil. Nos países em desenvolvimento, alguns fatores são identificados com responsáveis por maior gravidade e mortalidade das pneumonias em crianças, a saber: aglomeração, baixa cobertura vacinal, baixo nível socioeconômico, baixo peso ao nascer, desmame precoce, desnutrição, tabagismo domiciliar e, preponderantemente, dificuldade e demora no acesso aos serviços de saúde. As pneumonias, de origem tanto comunitária como nosocomial, são causadas por microrganismos aeróbicos gram-positivos, Staphylococcus e Streptococcos pneumoniae (pneumococo), sendo este último como seu principal responsável, acometendo adultos e crianças. Existe mais de 80 sorotipos distintos de Streptococcos pneumoniae, e os que mais atingem o homem, causando cerca de 90% das pneumonias, por ordem de frequência são os tipos 1, 3, 2, 5, 7, 8 e 9. Dentre os quais, os tipos 1, 2 e 3 são responsáveis por 70% dos casos, principalmente o tipo 3 devido sua cápsula hidrocarbonada o tornar mais virulento, atinge idosos e portadores de doença crônica. Os tipos 1 e 2 atingem jovens e pessoas sadias e os tipos 19 e 23 são os que provocam com maior frequência pneumonias em crianças (TARANTINO, 2008). Conclusão Grande parte das doenças respiratórias têm sua etiologia e acometimento fortemente ligados a muitos aspectos de ordem biológica, econômica e social, além dos fatores ambientais. As doenças respiratórias afetam a população em todas as faixas etárias nas mais variadas formas de manifestação que, por vezes desencadeiam em surtos epidêmicos, constituindo-se num grave problema de saúde pública e ambiental. Referências ARAÚJO, R A F ―Utilização de modelos na avaliação de risco de epidemia por ação de vetores vs clima: estudo do caso da dengue na Paraíba‖ Universidade Federal de Campina Grande, 107p. Tese (Doutorado). 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Neste viés, as enunciações midiáticas se tornam um relevante instrumento no processo educacional dos indivíduos em sociedade. Assim, a investigação aponta para a ampliação da audiência social sobre os fenômenos das mudanças climáticas globais, uma das agendas da cobertura ambiental da mídia, que tem sido legitimado por discursos técnico-científicos. Não obstante, revela a pseudoneutralidade dos interesses ideológicos destas enunciações, que, por conseguinte, tem potencializado a fragmentação da educação ambiental emancipatória a cerca da conjuntura climática, esvaziando-o das questões política, econômica e social do problema ambiental, pelo prisma pseudossuperior da ciência. Palavras-chave: mudanças climáticas, mídia, tecnicista, educação ambiental Abstract The work aims at showing the appropriation of the scientistic perspective the discourses of climate change set by the media. The study focuses on a constructivist epistemology journalism and understands that he can contribute to the social construction of reality freight environmental agenda. This bias, the media utterances become an important tool in the educational process of individuals in society. Thus, the research points to the expansion of hearing about social phenomena of global climate change, one of the environmental agendas of the media coverage, which has been legitimized by scientific-technical discourses. Nevertheless, pseudo neutrality reveals the ideological interests of these utterances, which therefore has enhanced the fragmentation of environmental education emancipatory about the climate situation, emptying the issues of political, economic and social environmental problem through the prism of science pseudo top. Keywords: climate change, media, technicist, environmental education 124 Introdução As mudanças climáticas (MCs) associadas ao aquecimento global estão se acelerando e seus impactos já são visíveis sobre os ecossistemas naturais, geleiras, agricultura, recursos hídricos, zonas costeiras e saúde humana, em escala global. Além disso, surgem novas evidências de aumento dos desastres naturais associados à intensificação de fenômenos meteorológicos e climáticos extremos. Assim, os impactos das MCs nas sociedades constituem um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou. Neste contexto, associada às emissões antrópicas de gases de efeito estufa na atmosfera, medidas mitigatórias e de adaptação às MCs requerem um aprofundado conhecimento sobre o funcionamento do sistema terra, nas suas dimensões bio-físicoquímico, mas também em relação às questões econômica, social e política. Assim, o complexo e específico problema ambiental e as suas consequências à humanidade, em decorrência das MCs, ultrapassa as questões de um fórum científico especializado por defensores ou céticos da questão, mas é um assunto de interesse coletivo, público; é um quesito político na acepção da palavra, na qual demanda um maior (re)conhecimento, interação e participação da sociedade sobre a abordagem. Esta é a posição da Organização das Nações Unidas (ONU), que, no relatório do Programa para o Desenvolvimento Humano, classifica o fenômeno climático como ―um problema único e mais difícil que outros problemas políticos‖ (PNUD, , p.V). Assim, as evidências e tendências dos impactos das MCs à humanidade, conforme aponta o relatório, provoca indissociável reflexão crítica sobre a avaliação da produção noticiosa da temática na mídia. No entanto, mesmo diante da complexidade do problema social e ambiental das mudanças climáticas, a temática que, desde o furacão Catrina nos EUA (2004), e a divulgação do relatório das mudanças climáticas (AR4), produzidas pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), ganha maior audiência dos meios de comunicação, tem enquadrado a abordagem numa dimensão técnico-científica centrado no questionamento sobre a existência do fenômeno do clima. Assim sendo, entendendo a mídia também como processo de formação educacional, o trabalho analisa os meios de comunicação como importante instrumento social, que, cotidianamente, tem agendado e contribuído para legitimar a perspectiva ancorada nas concepções convencionais da educação ambiental, a qual fragmenta o problema, através da totalização da dimensão cientificista, encobrindo a complexidade política do fenômeno. Jornalismo construtivista como prática educacional O papel central do jornalismo neste trabalho está fundamentado num paradigma construtivista, por entender que esta perspectiva epistemológica pode aprofundar os estudos na área 125 do jornalismo, esclarecendo ―o papel central e estratégico que este campo desempenha na definição dos sentidos e ideologias que orientam a ação das pessoas na sociedade contemporânea‖ (VIZEU & ROCHA, 2012). A investigação por este prisma se faz ainda mais necessária em virtude do desafiador problema global proveniente das MCs. Assim, é urgente o exercício de um jornalismo que contribua na transformação da realidade social por meio de uma comunicação ―que tem como objetivo primeiro a compreensão mútua, o conhecimento compartilhado‖ (EPSTEIN, p ) Para isso, é preciso ultrapassar a barreira da concepção de mundo naturalizado com uma postura crítica em relação ao conhecimento dado, uma vez que a compreensão do mundo, como conhecemos, é historicamente e culturalmente específica e relativa ―Nossas maneiras atuais de compreender o mundo são determinadas não pela natureza do mundo em si mesmo: mas pelos processos sociais‖, salienta Rosalind Gill ( ,p ) Neste viés, a veiculação de notícias por parte da mídia, cumpre uma fusão social superior ao registro dos fatos, dos acontecimentos, contrariando sua epistemologia tradicional onde jornalismo é visto como mero espelho da realidade. Por este contexto, a mídia também pode cumprir o papel educativo, colaborando na construção social da realidade. A posição encontra suporte em Freire (2006). O autor compreende o campo educacional para além da centralidade da escola, portanto, na sua visão, outros campos do saber podem cumprir a respectiva função, a exemplo da comunicação. Neste sentido, os meios de comunicação constituídos por um jornalismo numa perspectiva construtivista podem contribuir para educação ambiental social mediante a elaboração e divulgação de matérias sobre a temática ambiental que abordem uma visão de mundo não fragmentado do problema ambiental que integra as questões social, econômico, político, científico, cultural, entre outros, ou seja, enquanto tema-gerador do problema, apresentando o foco sobre a causa, a ação preventiva e o diálogo plural entre os atores envolvidos. Neste contexto, a televisão, rádio, jornal e a internet podem ser compreendidos como espaço de troca de saberes, constituindo o presente social, logo, um espaço de aprendizagem, sobretudo, contemporaneamente, onde a mídia é cada vez mais receptora da audiência social. A imprensa na transmissão dos conhecimentos Desde o advento da imprensa, ainda no século XV, elemento constituinte da amplificação do conhecimento em sociedade, que, ela cumpre uma função superior à ampliação da transmissão, revelando que realiza mais funções ao socializar conhecimentos para outros ― a importância do novo meio (imprensa) não se limitou à difusão mais ampla do conhecimento e à publicidade..., também facilitou a interação entre diferentes conhecimentos‖ (BURKE, 3, p ) Esta característica revela que a imprensa, produz a interação entre os conhecimentos dos atores sociais (privado e Estado), por meio da transmissão do conhecimento destes, para toda a 126 sociedade. Entretanto, a operação desta difusão não inclui todos os conhecimentos plurais e complexos da sociedade, mas, somente, daqueles conhecimentos dos respectivos atores que estão sendo impressos. Logo, por conseguinte, este mecanismo define o conhecimento que ganha audiência, daqueles que são fragmentados desta discussão na esfera pública. A imprensa ―também padronizou o conhecimento ao permitir que pessoas em lugares diferentes lessem os mesmo textos ou examinassem imagens idênticas‖ (BURKE, 3, p ) Assim, no ato da ampliação da transmissão, a imprensa além de selecionar a audiência do conhecimento e autor específico, também nivela o conhecimento social a partir destes conhecimentos veiculados. Assim sendo, a imprensa, desde sua origem, opera, a partir da seleção da transmissão do respectivo conhecimento, definindo a base de conhecimento comum a ser comentado na dimensão social. Mas, além de selecionar o conhecimento e seus autores que passa a ter maior audiência em sociedade, e de padronizá-las como base para a discussão pública, a imprensa, desde sua origem, também produz outras funções a partir da transmissão do conhecimento. Ela ainda ofusca a totalidade e complexidade da realidade social ― estimula ―o ceticismo ao permitir que a mesma pessoa comparasse e contrastasse explicações alternativas e incompatíveis do mesmo fenômeno ou evento‖ (BURKE, 3, p ) Levando em conta, que, desde o princípio, a transmissão de conhecimento pela imprensa parte de uma seleção (dos conhecimentos e de seus autores), a mesma se constitui de escolhas, as quais estão engendradas da realidade social, ou seja, das suas ideologias hegemônicas, revelando as tensões sociais em voga. Assim, o respectivo ceticismo frente às dinâmicas dos fenômenos ou eventos retrata a conjuntura social contemporânea à sua transmissão de conhecimentos. A imprensa pode contribuir para ofuscar ou revelar a integralidade da realidade social, por meio da transmissão de conhecimentos. Entretanto, vale ressaltar que ela não está isolada da sociedade, logo, não tem autonomia na definição da verdade social, mas, é um instrumento poderosíssimo de ampliação desta, legitimando a verdade parcial dos conhecimentos e autores em busca da configuração de maior status social. Assim, levando em conta que integra e tem uma função significativa no macro sistema social (economia, política, Estado, cultura, trabalho, família), a imprensa pode contribuir para sedimentar a fragmentação ou integralidade da complexidade das relações sociais. Neste sentido, a imprensa ética e democrática, pode ser considerada como termômetro do nível de emancipação social, demonstrando a cidadania e a participação social dos seus atores. Não obstante, a imprensa, é a base da transmissão ampliada de conhecimentos sociais, característica de significativa projeção social, cenário que atualmente, tem a companhia de outros 127 meios de comunicação, a exemplo, das mídias eletrônicas (rádio, TV, internet), tornando-se ainda mais sofisticada as suas funções legitimadoras da realidade social. A construção social da realidade e a linguagem O conhecimento e a sua transmissão tem relação direta com a realidade social ―Toda forma de conhecimento, quer de sentido comum como também científico está conexo estreitamente com o contexto sociocultural, onde tal conhecimento se desenvolve‖ (CRESPI & FORNARI, , p 145). Sendo assim, o conhecimento é socialmente e culturalmente construído. Ele é vivo e dinâmico. Ele é produzido dentro dos próprios contextos vividos em sociedade, inclusive, a própria criatividade e consciência dos indivíduos são produtos desta relação social cultural e histórica ― as atividades cognitivas e interpretativas efetivadas pelos atores sociais são constitutivas da própria realidade social‖ (CRESPI & FORNARI, ,p ) Dessa forma, o conhecimento está para a realidade social, assim como a realidade social para o conhecimento Eles não estão relacionados, mas imbricados ― são um processo em que, desde o início, elementos cognitivos e agir prático aparecem intimamente conexos‖ (CRESPI & FORNARI, 2000, p. 145). Assim, a realidade social é construída a parte da comunicação dos seus conhecimentos entre os indivíduos sociais. Esta comunicação institucionaliza os fatos, tornando-se de autorreferência para os participantes desde processo, que interligam com outros fatos institucionalizados, referenciados também pela transmissão do conhecimento. ―A construção da realidade social aparece, portanto, como resultado de contínuos processos de criação, produção e reprodução de fatos institucionais, que subsistem com base nas crenças (fatos institucionalizados) e na intencionalidade coletiva, bem como na efetiva observância prática das regras que os constituem‖ (CRESPI & FORNARI, 2000, p. 145). A linguagem, portanto, é por excelência, o fio condutor desde processo desencadeador da realidade social. Por ela se atribui as funções dos indivíduos em sociedade, bem como a constituição de regras. Dessa maneira, é por meio das palavras em que se revelam e exprimem as ideias dos indivíduos para a constituição da respectiva realidade social. Para Thompson ( ), estudioso da ciência das ideias, a ideia (ideologia) é ―o emprego (a prática) de formas simbólicas para criar e reproduzir relações de dominação‖ Portanto, através da linguagem, ―a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo‖ (BAKHTIN ,p3 ) Assim sendo, a palavra, portanto, é por excelência um signo ideológico e cumpre sua função ideológica quando exercida. Neste viés, uma vez que a existência de todo e qualquer signo está materializado na sua comunicação, os fenômenos ideológicos estão associados à comunicação 128 social e, tais fenômenos, conforme classificou Thompson (1995), operam por diversas estratégias: legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação. Dessa maneira, eles estão presentes nos meios de comunicação sociais. Entretanto, esta reprodução ideológica é feita pela mídia de forma bastante sofisticada, pois ela agenda, enquadra e contextualiza cotidianamente temáticas na discussão da esfera pública. Neste contexto, a mídia pode contribuir para construção da realidade sobre qualquer tema no pertencimento social, inclusive, a agenda ambiental, configurando a compreensão sobre a educação ambiental e a reposta frente aos problemas, como no caso das mudanças climáticas. Jornalista e o cientificismo das mudanças climáticas A mídia é atualmente a nova esfera pública de debates. O mundo vive o fenômeno da ―sociedade midiatizada‖ Sendo assim, a ágora agora é o espaço público da mídia que contribui diariamente para a construção do real, por meio da representação social (BERGER E LUCKMANN, 2011). Portanto, ela torna-se o local ideal para fazer o debate ambiental. E esta representação social é fomentada através da interlocução com aspectos culturais e valorativos, que são inseridos para o diálogo sistemático da sociedade (GUARESCHI, 2002; 2004). Assim sendo, o jornalismo tem esta dimensão de educação ambiental e seu alcance social é amplificado por meio de sua esfera midiática. É bem verdade que é remota a possibilidade de alguma temática entrar na arena do discurso público sem a colaboração da mídia. Para Hannigan (2010, p.121), é crucial a visibilidade da mídia para fazer um assunto entrar no debate da esfera pública ou se tornar do processo político. O fato é que a publicação de notícias é indispensável para poder cumprir o papel de informar a opinião pública, mas também para fomentar a sociedade para a necessidade de acumular, repensar e realizar novas práticas sociais com relação à questão da sustentabilidade ―Para passar os problemas ambientais da condição de questão para uma política pública, a visibilidade da mídia é crucial‖ (HANNIGAN, ) A noticiabilidade da agenda ambiental, em destaca sobre as mudanças climáticas, consequentemente, amplia do conhecimento da sociedade sobre o fenômeno, condição fundamental para o advento de mobilizações sociais e implementações políticas frente ao problema. No entanto, quando a cobertura é carregada de cientificismo e tecnicismo, esvaziando de sentido o conteúdo sobre as questões políticas da temática, a mídia produz um efeito contrário A mídia serve ―como instrumento ideológico para prestidigitar os poderosos interesses particulares das corporações nesta área como expressão do bem comum‖ (COUTINHO ET AL , ,p ) 129 Entretanto, como observamos anteriormente, é reducionista depositar exclusivamente aos meios de comunicação, seja por intenção, ou omissão dos mesmos, total autonomia social. Os meios de comunicação integram a sociedade, não o inverso, assim, a mídia representa os interesses ideológicos da mesma, permeada em sua trama social. O processo produtivo da notícia possui sofisticados mecanismos de seleção ao fechamento de sua composição, capaz de reduzir a complexidade da realidade. No entanto, mesmo assim, dentro deste processo, pode a mídia privilegiar ainda mais a fragmentação da realidade social, produzindo pautas esvaziadas de conteúdo social, econômico e políticos específicos no pano de fundo cultural da sociedade em disputa. Neste contexto, justamente, é quando a ciência veste a ―áurea‖ da neutralidade ou avaloratividade, classificando-a como isenta dos interesses humanos; acima do bem ou do mal. No entanto, conforme revela Brugger ( , p ), ―é possível hoje, mas do que nunca, ocultar sob a fachada de um saber técnico uma decisão na verdade política‖ Neste sentido, a ciência encontra abrigo na ideologia. O autor compreende que a comunicação desse cientificismo tem finalidade planejada ― o universo da locução técnica serve para reproduzir e legitimar o status quo e repelir alternativas que porventura se coloquem contra ele‖ (ibidem) Esta é a realidade da comunicação midiática das mudanças climáticas, que, conforme denuncia o PNUD ( ) existe uma ―complicada atenção dada pela mídia a projetos minoritários que não condizem com os consensos científicos internacionais que comprovam as MCs‖ (COUTINHO et al., 2012). O autor conta que o PNUD chega a afirmar que muitos dos posicionamentos céticos sobre a existência das mudanças climáticas que ganham repercussão nos meios de comunicação mundial, são patrocinados por grupos de interesses específicos na sociedade. Conforme aponta o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, organismo de cientistas da ONU, todas as evidências demonstram que a principal causa das MCs é a emissão dos gases de efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono oriundo da queima de combustíveis fósseis. Se a emissão se mantiver ou aumentar, os próximos anos serão ainda mais quentes e as alterações climáticas ainda mais drásticas. Todas as regiões do planeta sofrerão com seus impactos, que variarão tanto em forma como em intensidade. Poderá haver comprometimento do acesso à água potável, diminuição da oferta de alimentos ou efeitos nocivos à saúde humana. A economia global e a sociedade enfrentarão sérias ameaças, caso não tomem providências (IPCC AR4, 2007 & STEN, 2006). Esse cenário apresenta difíceis escolhas para governantes, corporações econômicas e populações do mundo. No entanto, mesmo diante da constatação científica do IPCC-ONU, as MCs ainda são questionadas por algumas corporações científicas e acadêmicas. Para os céticos, as evidências científicas mostram, inclusive, que, ao invés de aquecimento das temperaturas, haverá um 130 resfriamento global, com mais invernos rigorosos e má distribuição de chuvas. ―Os modelos matemáticos do aquecimento global são meros exercícios acadêmicos‖ (MOLION, ) Porém, estas críticas não são aceitas pelas ONU. Até aí não há nada de errado na crítica, pelo contrário, é válida porque o contraditório é imprescindível à investigação científica. Entretanto, o incomum em questão é a grande atenção que a respectiva posição recebe da mídia mundial. O critério de imparcialidade e neutralidade pode em primeiro olhar questionar o posicionamento como arbitrário, porém, estes critérios jornalísticos não são tão usuais às minorias quando contrárias aos interesses corporativos econômicos e políticos hegemônicos. Não obstante, o ponto nefrálgico dessa polarização midiática é o encobrimento do debate necessário e urgente sobre os impactos socioeconômicos do fenômeno para a sociedade. Assim, a questão central da discórdia, pelo menos divulgado amplamente na esfera midiática, refere-se prioritariamente à existência das MCs, deixando em segundo plano o debate sobre as consequências do fenômeno para a população, pelo menos até enquanto não se resolve a veracidade dele. Consequentemente, a gravidade do fenômeno é esvaziada de sentido social, enfraquecendo a conscientização e pressões sociais necessárias frente à responsabilidade dos governos e corporações para a manutenção da ordem social diante do problema. Comunicando para uma educação emancipatória Antes de tecer as considerações finais frente à problemática comunicação cientificistas das mudanças climáticas pela mídia, é oportuno ratificar que, por meio do agendamento, enquadramentos e contextualizações das notícias, os meios de comunicação social podem fragmentar ou revelar a complexidade deste problema ambiental, logo, pode contribuir para uma conscientização parcial ou integral da temática. Por conseguinte, o jornalismo pode contribuir para o avanço ou para a manutenção dos problemas ambientais através transmissão ampla ou unilateral da temática às audiências respectivamente, favorecendo a compreensão ou confusão social, politizando ou despolitizando a sociedade sobre o assunto. Nesta perspectiva, fazendo o diálogo da comunicação com a educação, entendendo esta não pela centralidade da escola, mas pela contribuição no processo educacional das visões de mundo, conforme revelou Freire (2006), o papel da escola na sociedade, logo também da comunicação, tem a função de contribuir para o sujeito fazer a ―leitura de mundo‖, de forma ―contextualizada‖, ―esperançosa‖ e ―transformadora‖ No entanto, esta leitura se faz através do diálogo, fator indispensável à construção do conhecimento. Assim, é por meio do diálogo que se transforma ou perpetua as relações sociais e o poder delas. Logo, esta condição fortalece ainda mais o poder da 131 mídia na atual configuração social, uma vez que a enunciação é justamente seu instrumento constituinte. Sendo assim, para cumprir uma função educacional crítica frente aos problemas ambientais decorrentes das mudanças climáticas, a comunicação precisa superar a despolitização das enunciações sobre a temática, na qual encontra abrigo apenas no cientificismo de seu agendamento, contextualizações e enquadramentos. O desdobramento dessas matérias e reportagens através da interação das pessoas em sociedade precisa subsidiar a temática da crise ambiental contemporânea, e, para tal finalidade, é preciso ultrapassar a visão de mundo unilateral das problemáticas deste campo. Neste sentido, a comunicação ambiental precisa ser constituída a partir de uma concepção crítica capaz de produzir reflexões e ações emancipatórias, promovendo uma conscientização nos indivíduos em coletividade aonde associa as noções de mudança social e cultural, de emancipaçãolibertação individual e social e de integração no sentido de complexidade da realidade social. Esta posição encontra abrigo em Lima (2004) ao criticar a visão unilateral das vertentes conservadoras de educação ambiental quando insistem em fragmentar a realidade e explicar sua totalidade através de uma de suas partes. Para o autor, dentre as concepções conversadoras, a abordagem tecnocientífica é uma das que promove a redução da crítica ―Essa leitura da realidade, por se apoiar no saber da ciência que é reconhecido como o saber socialmente dominante, se reveste de um poder especial e aparece como argumento neutro, objetivo e portador de uma autoridade que o imuniza a qualquer questionamento‖ ( , ) Este é o caso da comunicação midiática das mudanças climáticas, conforme denunciou COUTINHO et al. ( ,p ): ―Neste sentido, deixar de mostrar a existência das MCs (critério somente técnico-científico) pode conotar que elas não existem, portanto, não serão tomadas as devidas medidas de adaptações e mitigações do fenômeno para as populações do mundo‖ A mídia tem o poder de agendar a discussão social (TRAQUINA, to face‖ (BERGER & LUCKMANN, ) e a comunicação não é mais ―face ) O repertório cultural de visão de mundo da sociedade passa a existir só pelo que é visto, ou lido, portanto, pelo o que a mídia ressalta. Sendo assim, é fundamental destacar a existência das MCs na mídia, e, consequentemente, mostrar as tensões sociais que se dão neste processo de interação social, por meio da ciência, mas também pelo viés econômico, ambiental e político. Numa sociedade democrática, a mídia é justamente a instância que luta pela cidadania ―Ela é o porta-voz dos seus membros na construção de uma sociedade que se quer: os meios de comunicação são a nova ágora, imprescindível numa democracia e fundamental para a cidadania‖ (GUARESCHI, 2004). Portanto, estabelecer para mídia o papel de estimular uma consciência mais 132 cidadã diante do problema das MCs, logo, uma função educacional, e de seus impactos no planeta, não se trata de ideologia. Os meios de comunicação são hoje responsáveis pelo planejamento e participação política da sociedade. Esta é a função social da mídia, enquanto renegar a respectiva tarefa, esta sim, é pura ideologia. Neste sentido, evidencia-se a mais perversa das consequências de uma comunicação descomprometida socialmente, uma vez que a ideologia não é nada subjetiva, pelo contrário, ela tem efeito objetivo e real, que pode ajudar a consolidação na construção social de um projeto que possui a visão de mundo de setores específicos (dominantes) em detrimento a outros. Assim, finalizamos, mas sem esgotar o debate aqui, porém, ratificando que a prática ideal da comunicação das MCs, bem como qualquer outra agenda ambiental, contribuindo para a formação cidadã (educação), faz-se necessária através de uma praxe jornalística que contribua para revelar as tensões e visões de mundo como constitutivas do processo cotidiano de construção social da realidade, concebendo o consenso social como fator de emancipação dos sujeitos através da conscientização e solução dos problemas conforme a pragmática construtivista contida na Teoria do Agir Comunicativo (HABERMAS, 1989). Referências BAKHTIN, Mikhail. 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Estudos recentes apontam para a percepção emblemática da relação entre as variáveis atmosféricas e a saúde dos seres humanos, sinalizando para a necessidade de se ampliar o entendimento das especificidades dessa relação para que medidas de mitigações que envolvam o uso de informações de tempo e clima possam ser adotadas pelos serviços de saúde pública e pela população em geral. Em face desse pressuposto, este estudo tem como objetivo principal mapear questões pontuais acerca da interconexão meio ambiente, mudanças climáticas e suas implicações na saúde humana. Como resultados permite-se afirmar que o aquecimento global é possivelmente o desafio mais expressivo do Século XXI que há muito já faz perceber seus efeitos, sendo um deles os impactos do clima sobre a saúde humana. Em virtude disso, acredita-se que os problemas de saúde humana associados às mudanças climáticas não têm sua origem necessariamente nas alterações climáticas. Isto porque, a população humana sob influência das mudanças climáticas apresentará as implicações, de procedência multicausal, de maneira acentuada ou intensificada. Inúmeras têm sido as pesquisas tendo como direcionamento as questões de saúde pública, relacionando-as com as mudanças climáticas. Entretanto, essas pesquisas na maioria das vezes chamam a atenção para fatores relacionados às alterações climáticas que comprometem a saúde das pessoas, porém não são desenvolvidas objetivando atender esse sentido. Palavras – Chaves: Mudanças Climáticas. Aquecimento Global. Saúde Humana. ABSTRACT The beginning of the XXI century has been marked by significant discussions about climate change, its origins and its implications on biodiversity. Recent studies point to the perception emblematic of the relationship between atmospheric variables and health of humans, signaling the need to broaden the understanding of the specifics of this relationship so that mitigation measures involving the use of weather and climate information can be adopted by public health services and the general population. Given this assumption, this study's main objective is to map specific questions about the interconnection environment, climate change and its implications on human health. The results allow to assert that global warming is possibly the most significant challenge of the twenty-first century that long already does realize its effects, one of the impacts of climate on human health. As a result, it is believed that human health problems associated with climate change do not necessarily have their origin in climate change. This is because the human population under the influence of climate change will present the implications of multicausal origin, or sharply 135 intensified. Numerous researches have been having as targeting the public health issues, relating them to climate change. However, these studies mostly call attention to climate change related factors that affect people's health, but are not developed aiming to meet this end. Key - Words: Climate Change. Global Warming. Human Health INTRODUÇÃO A intensificação das mudanças climáticas mapeadas na Era Moderna, suas causas e consequências têm ganhado cada vez mais importância e têm despertado a atenção de todo o mundo, delineando por sua vez o discurso climático-meteorológico-ambiental e se impõem definitivamente na pauta da geopolítica internacional do presente e do futuro. Um consenso internacional, ainda que pontuado por algumas acepções dissonantes, formado acerca das previsões para a intensificação do aquecimento climático planetário no Século XXI aponta para a inserção de cenários complicados para os ecossistemas, o meio ambiente e a vida dos seres humanos. Mapeando-se o clima da Terra desde os primórdios dos tempos, constata-se que este sempre esteve dependente de alterações ocasionadas por ciclos longos ou curtos, catalogados ao longo dos anos pela história da humanidade. Na Idade Média, houve períodos de aquecimento acompanhado por períodos de esfriamento, que ficou conhecimento como a Era do Gelo, a qual acarretou muitas migrações humanas devidas, em especial, a fenômenos climáticos, como por exemplo, as ―invasões bárbaras‖ de povos do norte em direção ao sul da Europa, como também a entrada de asiáticos no continente americano pelo Estreito de Bhering. A origem desses ciclos é elucidada pela ciência como procedentes de métodos naturais, acoplados a mudanças no eixo de rotação da terra, explosões solares e disseminação de aerossóis lançados por vulcões. Assim, no decorrer dos anos, diversos outros fenômenos climáticos fixados no espaço e mais concentrados no tempo, têm sido muito frequentes, dentre os quais, furacões, enchentes oriundas de chuvas intensas, ondas de calor, entre outros. Esses fenômenos até o Século XX foram apreciados como mostra da ―natureza‖, ou concepção aristotélica, não podendo ser previstos, controlados ou mitigados. De maneira recente, outros fenômenos também foram cominados como mudanças climáticas globais. Contudo, o despertar mundial para as mudanças climáticas, ocasionadas, especialmente pelo aquecimento global provocado pela ação antrópica, somente teve início na década de 1950. Entretanto, a partir dos anos de 1980, foi que se intensificou a preocupação da comunidade científica com as questões ambientais, bem como o impacto de suas implicações sobre os ecossistemas, resultando nos anos de 1990 no desenvolvimento de modelos que possibilitaram, de uma forma explicar a variabilidade climática ocorrida ao longo do Século, e, de outra maneira 136 avaliar o aporte de elementos naturais (vulcões, alterações da órbita da Terra, explosões solares, dentre outras) e antropogênicas (as oriundas da emissão de gases do efeito estufa, desmatamento e queimadas, destruição de ecossistemas naturais, etc.) sobre essas alterações. Um marco importante nesse contexto foi o primeiro relatório global a respeito das mudanças climáticas e implicações na saúde. Publicado pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 1990, teve importante destaque durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD. Nessa mesma conferência também foi instalada a convenção sobre mudanças climáticas, contíguas com as convenções sobre diversidade biológica e a desertificação. Nos últimos anos, tem-se observado que a finalidade do enfoque saúde tem saído de sua concepção clássica e sistematicamente incorporado uma abordagem climática ambiental, que visa não só a promover a saúde do homem, mas, também, o entendimento conjunto dessa nova abordagem. Confirmando essa constatação McMichael (2003) afirma que a avaliação dos efeitos sobre a saúde humana relacionados com os impactos climáticos é consideravelmente complexa e demanda uma avaliação conjunta e interdisciplinar dos profissionais de saúde, climatologia, dentre outros, para que possam ser analisadas as diversas relações entre os sistemas sociais, econômicos, ecológicos, físicos bem como suas afinidades com as alterações climáticas. Em face desse pressuposto, este estudo tem como objetivo principal mapear questões pontuais acerca da interconexão meio ambiente, mudanças climáticas e suas implicações na saúde humana. Além deste item introdutório, o artigo aborda as principais bases conceituais acerca da temática em epígrafe, os resultados mapeados, bem como as considerações finais deste estudo. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE O início do Século XXI tem sido marcado por discussões expressivas sobre as mudanças climáticas, suas origens e suas implicações sobre a biodiversidade. Estudos recentes apontam para a percepção emblemática da relação entre as variáveis atmosféricas e a saúde dos seres humanos, sinalizando para a necessidade de se ampliar o entendimento das especificidades dessa relação para que medidas de mitigações que envolvam o uso de informações de tempo e clima possam ser adotadas pelos serviços de saúde pública e pela população em geral, já que os efeitos das condições atmosféricas, como as flutuações lentas do clima, que ocasionam migrações, os extremos dos tempos sazonais, que causam a fome, e os vários desastres, que levam à morte e à destruição podem ser considerados fenômenos de magnitude mundial. Eerola (2003) elucidando esse enfoque afirma que durante os 4,5 bilhões de anos da Terra, aconteceram infinitas mudanças climáticas tidas como radicais e caracterizadas por intensos períodos de clima estável, sucedidos por glaciações acompanhados por efeito-estufa. Contudo, em se tratando dos dois últimos séculos, os debates científicos têm acontecido especialmente 137 relacionados à tese de que a intensificação do efeito estufa planetário está diretamente ligado ao padrão de produção e consumo da sociedade moderna, isto porque a elevação dos gases de aquecimento na alta troposfera, dinamizadas frente às atividades humanas e associadas, sobretudo à destruição da camada de ozônio estratosférico é que estariam provocando uma importante alteração da composição atmosférica e do mecanismo dos gases da mesma. Essa modificação, segundo Mendonça (2003) resultaria num aquecimento do ar cujas previsões mais apavorantes corroboram para uma temperatura média do planeta na ordem de 3,5 °C a 6 °C por volta do ano de 2100, mais elevada que a média do presente, que é de cerca de 16,5 °C. Na divulgação do seu último relatório em 2007, o IPCC enfatizou alguns dos efeitos do aquecimento global, dentre os quais que: até o fim deste século, a temperatura média da Terra pode subir de 1,8 ºC até 4º C. Na pior das previsões, essa alta pode chegar a 6,4° C; o nível dos oceanos vai aumentar de 18 a 59 centímetros até 2100; As chuvas devem aumentar em cerca de 20%; o gelo do Pólo Norte poderá ser completamente derretido no verão, por volta de 2100; o aquecimento da Terra não será homogêneo e será mais sentido nos continentes que no oceano e o hemisfério norte será mais afetado que o sul. Essas previsões são decorrências de modelos de simulação que vêm sendo aperfeiçoados por distintas instituições do mundo. No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), especialmente o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) no monitoramento e desenvolvimento de Modelos Globais Atmosféricos (GCMs) e Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs) para a previsão de mudanças climáticas (MARENGO, 2007). Contudo, deve-se advertir que estes modelos são sensíveis a condições de cobertura como os cenários de emissão de gases e à condição e alcance de dados meteorológicos. No decorrer dos anos, três importantes Conferências instituíram os fundamentos conceituais e políticas contemporâneas de promoção da saúde, sendo elas: OTTAWA - 1986, ADELAIDE 1988 e SUNDSVAL em 1991. Conforme a Carta de Ottawa, a promoção da saúde é um processo, através do qual a população se certifica e busca os meios para conseguir controlar os fatores que beneficiam seu bem-estar e os da comunidade, ou que a podem estar colocando-os em risco, tornado-a vulnerável ao adoecimento e prejudicando sua qualidade de vida. Além disso, enumera cinco áreas prioritárias de ação: elaboração de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes favoráveis; fortalecimento da ação comunitária; desenvolvimento de habilidades pessoais e mudanças nos estilos de vida; e reorientação dos serviços de saúde (BUSS, 2003). Além da abordagem de elementos imprescindíveis à impulsão de novas premissas orientadoras da práxis em saúde, percebe-se também a busca do estabelecimento de uma interface com a questão ambiental e a valorização da sua importância para a saúde, a partir da definição de uma área prioritária relacionada à criação de ambientes saudáveis (CAMPONOGARA, 2012). 138 No que se refere a III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em SUNDSVALL, na Suécia, em 1991, a questão foi estabelecida, do ponto de vista da interdependência entre saúde e ambiente em todos os seus aspectos, não somente físico, mas também social, econômico, político, cultural. A criação de ambientes adequados à saúde alude reconhecer a complexidade das sociedades e as relações de interdependência entre múltiplos setores, passando pela proteção do meio ambiente e o acompanhamento do impacto que as mudanças no meio ambiente causam sobre a saúde, a ter maior ênfase na agenda da saúde (BUSS, 2003). Sendo assim, o setor saúde necessita adotar algumas medidas e interferência de ―ajuste‖, para amortizar ao máximo os impactos via mudanças climáticas, que de diferente modo serão inevitáveis. Essa adequação deve principiar por: discussões intersetoriais, investimento estratégico em programas de assistência a saúde para populações ameaçadas pelas transformações climáticas e ambientais, como princípios de precaução de doenças transmitidas por vetores, fornecimento de água e saneamento, bem como a redução do impacto de desastres. RESULTADOS Muitas são as vias pelas quais as mudanças climáticas podem causar impactos sobre a saúde humana. De forma direta, os impactos configuram-se nas ondas de calor, ou mortes causadas por outros eventos extremos como furacões e inundações. Já de maneira indireta os impactos são mediados por alterações no ambiente como as alterações de ecossistemas e de ciclos biogeoquímicos, que podem aumentar a incidência de doenças infecciosas. Entretanto, ressalte-se que nem todos os impactos sobre a saúde humana são negativos. Por exemplo, a alta taxa na mortalidade que acontece nos invernos poderia ser diminuída com o aumento das temperaturas. Também o aumento de áreas e períodos secos pode enfraquecer a propagação de alguns vetores. Contudo, em geral, considere-se que os impactos negativos são mais intensos que os positivos. No caso dos fenômenos de seca, conforme Confalonieri et al. (2002), a saúde da população é afetada primeiramente pela condição de fome epidêmica, que induz a um sistema imunológico debilitado, à migração e a problemas sócio-econômicos, todos ocasionando um risco acrescido de infecção. Os problemas de saúde exercerão influência na infra-estrutura de saúde pública, provocando superlotação de serviços, contribuindo para um mau atendimento IPCC (2007). Estudo realizado por McMichael (2003) demonstrou que o aquecimento global pode ter influências diretas sobre a morbidade e mortalidade, através da produção de desastres como enchentes, ondas de calor, secas e queimadas. A onda de calor que abrangeu a Europa Ocidental no verão de 2003 causou cerca de 12.000 óbitos na França. Porém, nesse e em múltiplos outros episódios, o clima e os eventos extremos não podem ser culpados pelos agravos à saúde. 139 Implicaram sobre os resultados a insuficiência do setor saúde de lidar com situações de emergência e as intensas heterogeneidades sociais, mesmo em países centrais com grande tradição de políticas de bem-estar social. As flutuações climáticas sazonais provocam efeito na dinâmica das doenças vetoriais como, por exemplo, a maior incidência de dengue no verão e de malária na Amazônia durante o período de estiagem. Assim, os eventos extremos introduzem importante flutuação que podem mascarar à dinâmica das doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenças diarréicas, etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou secas que interferem na qualidade e no acesso à água. Da mesma forma, as doenças respiratórias são provocadas também por queimadas e pelos efeitos de inversões térmicas que concentram a poluição, impactando diretamente na qualidade do ar, sobretudo nas áreas urbanas. Analogamente, situações de desnutrição podem ser provocadas por perdas na agricultura, especialmente a de subsistência, em face das geadas, vendavais, secas e cheias abruptas. Assim, percebe-se que a diferença de respostas humanas associadas às mudanças climáticas parece estar inteiramente relacionada às questões de vulnerabilidade individual e coletiva. Martins et al. (2004) afirmam que variáveis como idade, perfil de saúde, resiliência fisiológica e condições sociais contribuem diretamente para as respostas humanas relacionadas às variáveis climáticas. Segundo o IPCC (2007) e McMichael (apud BRASIL, 2008) alguns estudos apontam que fatores que aumentam a vulnerabilidade dos problemas climáticos são uma combinação das variáveis crescimento populacional, pobreza e degradação ambiental. As alterações de temperatura, umidade e o regime de chuvas podem aumentar os efeitos das doenças respiratórias, assim como alterar as condições de exposição aos poluentes atmosféricos. No entendimento de Moreno (2006) a qualidade atmosférica pode influenciar a condução de microorganismos, bem como de poluentes advindos de fontes fixas e instáveis. Nesse contexto, as implicações das mudanças climáticas podem ser potencializadas, estando sujeitas às condições físicas e químicas dos poluentes climáticas como temperatura, umidade e precipitação. Essas características determinam o tempo de residência dos poluentes na atmosfera, possibilitando ser transportados a longas distâncias em condições favoráveis de altas temperaturas e baixa umidade. Esses poluentes somados às condições climáticas podem comprometer a saúde de populações longínquas das fontes causadoras de poluição. Ainda assim, em áreas urbanas algumas consequências da exposição a poluentes atmosféricos são potencializados quando incidem alterações climáticas, sobretudo as inversões térmicas. Isto se averigua em relação a doenças como asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite), especialmente nos grupos mais susceptíveis, que compreendem as crianças menores de cinco anos e 140 indivíduos a cima de 65 anos de idade, motivo pelo qual as implicações da poluição atmosférica na saúde humana têm sido vastamente estudadas em todo o mundo. Brasil (2008) esclarece que estudos epidemiológicos comprovam um incremento de risco associado às doenças respiratórias e cardiovasculares, assim como da mortalidade geral e específica associadas à exposição a poluentes presentes na atmosfera. Conforme dados da OMS, 50% das doenças respiratórias crônicas e 60% das doenças respiratórias agudas estão relacionadas à exposição a poluentes atmosféricos. A maioria dos estudos agregando os coeficientes de poluição do ar com resultância na saúde foi desenvolvida em áreas metropolitanas, abarcando as grandes capitais da Região Sudeste do Brasil, e apontam associação da carga de morbimortalidade por doenças respiratórias, com acréscimo de poluentes atmosféricos, notadamente, de material particulado (SALDIVA et al., 1994; GOUVEIA et al., 2006). Pitton e Domingos (2004) asseguram que os parâmetros climáticos temperatura do ar, umidade, precipitação, pressão atmosférica e ventos afetam a saúde humana de forma direta (sensação de conforto, mortalidade e morbidade por doenças sistêmicas) e indireta (doenças infecciosas transportadas por vetores – ar, água, solo e alimentos), pois o corpo humano está em permanente contato com seu meio ambiente atmosférico pelo intermédio de trocas térmicas, hídricas e gasosas. A revisão da literatura mostra os possíveis efeitos maléficos de certos fatores climáticos nas condições respiratórias, nas doenças reumáticas, câncer de pele e distúrbios cardiovasculares. De acordo com o United States Environmental Protection Agency - EPA. (2007) alguns estudos comprovam que a relação entre altas temperaturas e elevadas concentrações de poluentes atmosféricos suscita maiores números de hospitalizações, bem como atendimento de emergência, consumo de medicamentos e taxas de mortalidade. A associação entre poluição e clima também deve ser apreciada como fator de risco para as doenças do coração, seja como sequela de stress oxidativo, infecções respiratórias ou alterações hemodinâmicas (ZAMORANO et al., 2003; UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE, 2007). Mesmo assim, as implicações do clima e do tempo atmosférico sobre a saúde humana ainda não são bem entendidos. Contudo, há uma quantidade estimável de estudos que corroboraram que as mudanças climáticas cíclicas influenciam os ritmos biológicos, os quais interferem em todas as atividades e funções humanas, é o que Besancenot (1997) define como Climatossensibilidade. Esse termo indica as influências que as condições climáticas desempenham sobre um determinado número de indivíduos vulneráveis à ação de seus elementos no interior de um mesmo grupo. A despeito de o corpo humano possuir um sistema (homeotermia) que regula e mantém o equilíbrio térmico, situações extremas de calor no verão e de frio no inverno podem exercer impacto sobre diversas categorias de enfermidade cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias. Os 141 efeitos podem ser sentidos em pessoas predispostas, tais como as idosas, as crianças e as portadoras de doenças crônicas, os indivíduos com boa saúde suportam com facilidade a estas situações de estresse térmico, a tensão arterial diminui no verão e aumenta no inverno, favorecendo ataques do coração e derrames cerebrais. Quanto ao metabolismo celular e a atividade muscular, estes são mais acentuados no inverno, ocasionando uma sobrecarga no coração, pois passa a trabalhar mais. Assim, o trabalho do músculo cardíaco é mais eficiente no verão e nas regiões tropicais e menores no inverno e nas regiões frias, especialmente, nas ciclônicas, onde o metabolismo é alto. O calor desafoga os vasos sanguíneos e melhora a atividade do coração, enquanto as quedas bruscas de temperatura provocam a vasoconstricção, sobrecarrega os vasos e o coração, aumentando a tensão arterial, o pH do sangue e a taxa de açúcar (SERRA, 2002). Situações extremas, como ondas de calor no verão e de frio no inverno, afetam a saúde e o bem-estar de diversas formas. A combinação de temperaturas baixas e vento podem fazer com que a temperatura do ar seja significativamente mais fria, podendo conduzir mais facilmente à hipotermia (temperatura corporal abaixo de 35 ºC), que é produzido pelo estresse e frio excessivo. Neste caso o cérebro perde a capacidade de regular a temperatura corporal. A frequência cardíaca cai, a respiração fica mais lenta e os vasos se contraem, aumentando a pressão sanguínea, podendo ocorrer perda de consciência (desmaio), congelamento das extremidades infarto agudo do miocárdio e parada cardíaca. A hipertermia, oposto da hipotermia, é resultante do estresse de calor excessivo (temperatura corporal acima de 40 ºC). (SERRA, 2002). Os primeiros sinais da hipertermia são: irritabilidade, dor de cabeça e tontura. Depois pode haver confusão mental e perda de coordenação motora. Devido à desidratação, o sangue fica mais viscoso, aumentando a possibilidade de derrame e infarto agudo do miocárdio. A 41,5 ºC já há danos cerebrais e pode conduzir o indivíduo ao óbito. O processo que conduz à morte devido ao calor excessivo é mais acelerado entre aqueles com problemas cardiovasculares, respiratórios ou com doenças mais graves. CONSIDERAÇÕES FINAIS O aquecimento global é possivelmente o desafio mais expressivo do Século XXI que há muito já faz perceber seus efeitos, sendo um deles os impactos do clima sobre a saúde humana. Em virtude disso, acredita-se que os problemas de saúde humana associados às mudanças climáticas não têm sua origem necessariamente nas alterações climáticas. Isto porque, a população humana sob influência das mudanças climáticas apresentará as implicações, de procedência multicausal, de maneira acentuada ou intensificada. Inúmeras têm sido as pesquisas tendo como direcionamento as questões de saúde pública, relacionando-as com as mudanças climáticas. Entretanto, essas pesquisas 142 na maioria das vezes chamam a atenção para fatores relacionados às alterações climáticas que comprometem a saúde das pessoas, porém não são desenvolvidas objetivando atender esse sentido. Nesse sentido, torna-se importante o estabelecimento de critérios de qualidade ambiental dependentes, em parte, da mensuração das suas implicações sobre os sistemas biológicos, em particular, sobre a saúde e a sobrevivência humana. Para tanto, são critérios essenciais: a construção de modelos conceituais adequados para se abordar cientificamente os processos das mudanças ambientais globais, incluindo-se os impactos na saúde da coletividade; inclusão das mudanças ambientais globais na agenda científica e institucional, notadamente no campo das ciências da Saúde-Pública; buscando modelos de desenvolvimento compatíveis com a sustentabilidade econômica e ambiental, em longo prazo; criação de mecanismos que interrompam ou minimizem a perda exponencial da biodiversidade, garantindo a prestação dos serviços pelos ecossistemas íntegros; bem como a sensibilização das pessoas para a constatação de que todos os recursos naturais renováveis não são infinitos. Diante desse enfoque, a compreensão das relações entre saúde e meio ambiente traz um importante desafio para os pesquisadores em saúde pública visto que, para que esses critérios sejam alcançados, a transposição de limites disciplinares tradicionais deverá acontecer. A Saúde Pública, apesar de se utilizar com frequência das ciências sociais como marco de referência, necessita fazer o mesmo com as ciências da terra, tais como a climatologia, hidrologia, meteorologia, ecologia, sensoriamento remoto e disciplinas afins. Portanto, a correlação entre condições atmosféricas e saúde, exemplifica a importância de trabalhos de Bioclimatologia Humana, com caráter interdisciplinar, para o planejamento de ações em prol da melhoria da qualidade de vida humana, ressalvando-se a possibilidade de se advertir a população, através de órgãos públicos a solicitar-lhe a tomar as devidas iniciativas e precauções quanto à variabilidade meteorológica, minimizando de tal maneira os custos sociais e econômicos advindos das complicações das doenças correlatas, nesse caso, as cardiovasculares. 5. REFERÊNCIAS BESANCENOT, J. P. Le climat et la santé. (org. DUBREVIL, V. et MARCHAND, J. P. Le climat, L’eau et les hommes). France, Presses Universitaires de Rennes. 1997. 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Revista médica de Chile, v. 131, n. 10, p. 1117-1122, 2003. 145 EVENTOS PLUVIOMÉTRICOS EXTREMOS E SEUS IMPACTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE: EPISÓDIO DE 2010 Ygor Cristiano Brito MORAIS Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela [email protected] Antônio Marcos dos SANTOS Doutorando em Geografia pela UFPE - [email protected] Jacicleide Ramos de SOUZA Graduada em Geografia pela UFPE - [email protected] Josiclêda Domiciano GALVÍNCIO Professora Dra. do Departamento de Ciências Geográficas/UFPE - [email protected] Resumo Os eventos pluviométricos extremos vêm nos últimos anos se tornando uma das grandes dores de cabeça para a gestão pública brasileira, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Dentre os episódios extremos destacam-se os pluviométricos, os quais vêm ocorrendo com mais frequência no setor oriental da América do Sul e Norte e nas regiões centrais do continente asiático. A Região Metropolitana do Recife (RMR) não foge a situação descrita anteriormente, neste contexto o presente estudo tem como objetivo analisar o evento extremo pluviométrico ocorrido no mês de junho de 2010 sobre a RMR, assim como, seus impactos, sobre a referida região levando em consideração a perspectiva da análise rítmica. Para isto utilizou-se das cartas sinóticas de superfície dos dias em que foi registrado o evento extremo, além de imagens do satélite meteorológico GOES e dados pluviométricos de doze estações. Os resultados apontam que o episódio pluviométrico extremo estudado foi devido à atuação dos distúrbios ondulatórios de leste associados a vestígios de uma Frente fria. As consequências foram centenas de movimentos de massas, inundações, entre outros problemas, os quais causaram danos a população da RMR como perdas de bens materiais e de vidas humanas. Palavras-chaves: Clima; evento meteorológico extremo; ondas de leste. Abstract The extreme rainfall events have in recent years become a major headache for Brazilian public management, whether at the local, state or federal. Among the episodes stand out extreme rainfall, which are occurring more frequently in the eastern sector of the North and South America and 146 central regions of the Asian continent. The Metropolitan Region of Recife (RMR) does not escape the situation described above, in this context, the present study is to analyze the extreme rainfall event occurred in June 2010 on the RMR as well as their impacts on that region taking into account the perspective of rhythmic analysis. For this we used the synoptic maps of the surface of the days preceding the event recorded on June 18 of that year, plus satellite images and meteorological GOES rainfall data, the average air temperature, relative humidity and wind direction. The results indicate that the episode of extreme rainfall studied was a consequence of disorders associated with an easterly wave, remains of a cold front. The consequences were hundreds of mass movements, floods and other problems, which caused harm to the population from RMR as losses of material and human lives. Keyworks: climate; extreme weather event; waves east. Introdução Os eventos pluviométricos extremos vêm nos últimos anos se tornando uma das grandes dores de cabeças para a gestão pública brasileira, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Bernstein et al. (2007) destaca que nas últimas décadas os eventos climáticos extremos tem aumentando seus frequências de ocorrências e intensidades de atuação. Dentre os episódios extremos destacam-se os pluviométricos, os quais vêm ocorrem com mais frequência no setor oriental da América do Sul e Norte e nas regiões centrais do continente asiático. As consequências da atuação dos referidos eventos estão nos números de uma série de estudos com destaque para os movimentos de massas, enchentes, inundações, entre outros, os quais colocam a cada ano centenas de famílias desabrigadas, com problemas futuros de saúde e centenas de vidas ceifadas. Sant‘Anna Neto ( ) destaca que apesar das intensificações destes eventos os problemas consequentes estão na organização dos espaços urbanos, os quais na maioria das vezes carecem de infraestrutura adequada, além das ocupações das áreas susceptíveis as enchentes e movimentos de massa pela população de baixo poder aquisitivos, parábola que impulsiona o aumento de tragédias atreladas a este tipo de extremo climático. Compreender os fatores climáticos que impulsionam o excesso de chuvas em uma determinada região é de fundamental importância para a ciência e para o planejamento local. Entre as proposições metodológicas para determinada análise encontra-se o estudo rítmico do clima. A análise rítmica do clima tem suas bases na meteorologia dinâmica, a qual surgiu como contraponto aos estudos baseados na meteorologia regional, esta última considerava cada elemento do clima de forma isolada e com base nas observações meteorológicas obtêm-se as médias que são empregadas em seus estudos. Já a climatologia dinâmica estuda o complexo atmosférico em 147 amostras diferenciadas, a partir, das massas de ar atuantes, com destaques para os mecanismos frontológicos que elas próprias produzem. Consequentemente, o mais importante na meteorologia dinâmica é compreender a maneira como os complexos atmosféricos se manifestam perpassando pelas ações fisiológicas que ele exerce (MONTEIRO, 1962; GIRÃO, CORRÊA e TEIXEIRA, 2006; BARROS e ZAVATTINI, 2009). Diante do apresentado o objetivo do presente artigo é analisar o evento extremo pluviométrico ocorrido no mês de junho de 2010 sobre a Região Metropolitana do Recife - RMR, assim como, seus impactos, sobre a referida região levando em consideração a perspectiva da análise rítmica. Localização e caracterização da área de estudo A RMR foi instituída pela Lei Complementar Federal de Número 14 em junho de 1973. É formada, atualmente, por 14 municípios localizados na porção leste do estado de Pernambuco (Figura 1). Possui uma população que ultrapassa os três milhões de habitantes. Segundo o IBGE (2012) a cidade com o maior contingente populacional é Recife (1.537.704) seguida por Jaboatão dos Guararapes com 664.620 habitantes. A tipologia climática da região é composta pelo clima úmido levando em consideração a classificação climática de Thornthwaite. As chuvas concentram-se entre os meses de abril a agosto sendo o mês de julho mais frio da região (PERNAMBUCO, 2008). Figura 1: Localização da área de estudo. 148 Procedimentos metodológicos Para alcançar o objetivo proposto o presente estudo amparou-se na perspectiva do Ritmo Climático preconizado no Brasil por Monteiro (1962). Partindo do principio de que para compreender determinado evento pluviométrico é necessário conhecer os mecanismos que lhe proporcionou, a análise rítmica segundo Borsato e Souza Filho (2008) tem como objetivo caracterizar o tempo atmosférico a partir do dinamismo da circulação regional utilizando a escala espacial e/ou temporal. Inicialmente, foram selecionados os dias que mais choveram no mês de junho de 2010 a partir dos dados registrados em 12 postos pluviométricos localizados ao longo da RMR, dados disponibilizados pela Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC). De posse das datas mencionadas anteriormente, assim como, dos totais diários pluviométricos, foram obtidas cartas de pressão ao nível do mar (cartas sinóticas) referentes aos dias com os maiores índices pluviométricos. Material disponível pelo Serviço Meteorológico Marinho locado na Marinha do Brasil. Para complementar as análises, utilizou-se imagens do satélite meteorológico GOES disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Por último foram obtidas informações referentes aos impactos do evento extremo pluviométrico sobre algumas localidades da RMR. Resultados e discussão Observa-se na carta sinótica das 1200Z (09h horário de Brasília) do dia 16/06/2010 (Figura 2A) a presença do Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul (ASAS) com núcleo a aproximadamente 25°S e 37°W e apresentando pressão atmosférica de 1024mb. Na área de previsão F, onde está localizado o município do Recife e sua região metropolitana, atuam-se ventos de sudeste com velocidade média de 1 a 2 nós, céu totalmente coberto e pressão atmosférica de 1016mb. Na carta das 00Z do dia 17/06/2010 (21h de 16/06/10 – horário de Brasília) (Figura 2B) verifica-se o deslocamento para leste do ASAS, com pressão atmosférica de 1026mb a 20°S e 23°W. Observa-se, ainda, uma frontogênese próxima a Santa Catarina, dando origem a uma frente fria que se desloca para o litoral de São Paulo as 1200Z do mesmo dia. Na área de previsão F, o céu continua totalmente coberto, com ventos de sul apresentando velocidade de 3 a 7 nós. Além disso, as feições das isóbaras, principalmente na carta 00Z do dia 17/06/10 (21h – 16/06/10) (Figura 3A), sugerem o avanço das ondas de leste (ou Distúrbios Ondulatórios de Leste), que poderão ser mais bem visualizados nas imagens do satélite GOES. 149 Fonte: Marinha do Brasil Figura 2. Cartas sinóticas dos dias 16/06/2010 1200Z (A) esquerda e 17/06/2010 às 00Z (B) direita. Na carta das 1200Z do dia 17/06/10 (09h) (Figura 3A) os ventos são de sudeste e o céu se encontra totalmente coberto, com presença de isóbaras referentes a impulsos do ASAS, que ao passar sobre o Oceano adquirem umidade. Enquanto isso, verifica-se na carta do dia 18/06/2010 às 00Z (21h do dia 17/06/10) (Figura 3B) a presença de dois centros de alta pressão, um com núcleo de 1026mb a 35° S/49°W e o outro correspondente ao ASAS, com alta de 1024mb a 21°S/15°W. Entre esses anticiclones tem-se uma zona depressionária com baixa de 996mb a 35°S/33°W, originando uma frente fria que avança sobre a costa do Rio de Janeiro. Essa posição da zona de alta pressão pode permitir a atuação de sistemas causadores de perturbações no litoral do Nordeste do Brasil, já que essas áreas geram estabilidade atmosférica, dificultando a formação de nuvens de chuva. Com isso, a nebulosidade continua alta na área F, enquanto os ventos sopram da direção sul. 150 Fonte: Marinha do Brasil. Figura 3. Cartas sinóticas dos dias 17/06/2010 às 1200Z (A) direita e 18/06/2010 às 00Z (B) esquerda . Barbosa (1999) associa a variabilidade anual de chuvas no Nordeste à posição do ASAS. Segundo o autor, em anos secos o sistema costuma encontrar-se ampliado latitudinalmente sobre o oceano com o eixo de seu centro inclinado para o norte. Já em anos de chuva acima da média na região, o eixo do ASAS apresenta-se expandido zonalmente para oeste, com uma maior penetração sobre o continente sul-americano na altura do Sudeste brasileiro. O dia 18/06/10 foi marcado pelos maiores valores de precipitação na RMR em comparação aos dias anteriores (Figura 7). Na carta sinótica das 1200Z (Figura 4A) desse dia nota-se o ASAS com alta 1024 mb a aproximadamente 27°S/5°W. A frente fria que se deslocava sobre a costa do Rio de Janeiro perde intensidade e se desloca para leste às 1200Z e 00Z do dia 19/06/10 (21h de 18/06/10) (Figura 4B), devido a um bloqueio atmosférico provocado por dois centros de alta pressão. Na área de previsão F, os ventos sopram de sudeste e com velocidade média de 1 a 2 nós, estando o céu totalmente coberto às 12Z e parcamente coberto às 00Z. 151 Fonte: Marinha do Brasil. Figura 4. Cartas sinóticas dos dias 18/06/2010 às 1200Z (A) direita e 19/06/2010 às 00Z (B) esquerda A análise da carta sinótica e das imagens de satélite de dias anteriores da ocorrência do evento extremo permite a observação de um centro de baixa pressão com núcleo de 1010mb a 30°S e 32° W, com consequente formação de uma frente fria que avança no sentido nordeste sob a costa leste do NEB. Essa frente, inicialmente localizada sobre o Estado da Bahia (no dia 12/06/2010), atingiu o litoral de Pernambuco em 13/06/10 (figura 5). Fonte: Cetro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC, 2012. Fig. 5. Imagens do Satélite GOES 12 do canal infravermelho dos dias: a) 12/06/2010 1200Z; b) 13/06/2010 1200Z e c) 14/06/2010 1200Z, respectivamente. 152 A existência de uma área de baixa pressão na região de 30° de latitude sul não é comum, já que esta zona é caracterizada pela subsidência do ar, estando inserida na célula de Hadley. Segundo Girão, Teixeira e Correa (2006) o avanço das Emissões do Anticiclone Móvel Polar (EAMP) rumo ao norte implica na gênese de uma zona depressionária, ou descontinuidade frontal, na região situada entre os dois centros de alta pressão (o polar móvel e o semifixo do atlântico sul) para a qual convergem os ventos provenientes desses centros. A frente fria originada a partir deste centro depressionário geralmente se deslocam de sudoeste para nordeste sobre o continente e oceano Atlântico adjacente, e algumas vezes durante o inverno conseguem atingir latitudes mais baixas, como o oeste da Amazônia e também ao longo da costa NEB (CAVALCANTI e KOUSKY, 2009). A análise imagens do satélite GOES permite uma melhor compreensão sobre a ocorrência de alguns fenômenos e foi utilizada como forma complementar a análise das cartas sinóticas. Sendo assim, nota-se que a nebulosidade alta sobre a área de estudo entre os dias 16/06/2010 e 18/06/2010 (Figura 6) dá-se em função da chegada de ondas de leste no litoral leste da região Nordeste do Brasil, adquirindo umidade ao passar sobre o oceano. Fonte: Cetro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC, 2012. Figura 6: Imagens do satélite GOES dos dias: a) 16/06/2010 às 1200Z; b) 17/06/2010 às 00Z; c) 17/06/2010 às 1200Z; d) 18/06/2010 às 00Z; e) 18/06/2010 às 1200Z e f) 19/06/2010 às 00Z. A interpretação e visualização das cartas sinóticas e imagens de satélite corroboram o relatório do CPTEC/INPE (2010). Segundo Kayano e Andreoli (2009) para o setor leste do NEB, a máxima precipitação mensal de maio a julho se justifica pela propagação de aglomerados de nuvens 153 para oeste (ondas de leste) e pelos remanescentes de Sistemas Frontais (SFs), que se deslocam sobre a região e podem atingir latitudes equatoriais. Oliveira et al. (2011), analisando os dados pluviométricos do ano 2010, destacam que apesar deste ter sido marcado pela ocorrência de um fenômeno extremo, somente o mês de junho apresentou uma anormalidade nos valores de precipitação com relação a média anual e o desvio padrão. Conforme os autores o referido ano teve a influência do El Niño, contudo o volume de chuvas acima do esperado se deu em decorrência da atuação dos distúrbios ondulatórios de leste. Conforme o INPE-CPTEC (2010) outro fator que pode ter contribuído para intensificar as áreas de instabilidades na região foi a temperatura da superfície do mar anomalamente mais alta, próxima a costa da região Nordeste. Esta característica anômala ajuda a aumentar a disponibilidade de vapor d´água e, em consequência, a intensidade e quantidade da chuva, quando este ar muito úmido penetra no continente. Os dados pluviométricos do período analisado (Figura 7) mostram que o dia 16/06/10 apresentou os menores valores de precipitação em todos os postos de coleta, destacando-se os municípios do Recife (82,4mm), Camaragibe (80,2mm), Ipojuca (88mm) e Jaboatão dos Guararapes (80,6mm). Enquanto isso, o dia 18/06/10 registrou os maiores valores de precipitação, em decorrência do aumento da instabilidade provocada pelas ondas de leste, com ganho de umidade do oceano. Nesse sentido, registrou-se 161mm no município de Igarassu, 159mm em Ipojuca e 149,9 no Recife (posto pluviométrico da Várzea). Figura 7: Precipitação pluviométrica do período analisado em diferentes postos de coleta, sendo elas: 1) Cabo (Barragem de Suape); 2) Camaragibe; 3) Igarassu (Usina São José); 4) Ipojuca; 5) Itamaracá; 6) Itapissuma; 7) Jaboatão dos Guararapes; 8) Olinda; 9) Paulista; 10) Recife (Alto da Brasileira); 11) Recife (Várzea) e 12) São Lourenço da Mata (Tapacurá). 154 Sendo assim, os altos índices pluviométricos nos três dias analisados acarretaram diversos transtornos tanto da Região Metropolitana do Recife como em outras áreas da Zona da Mata do Estado. Só no dia 18 de junho, de acordo com o Portal G1 da Rede Globo, foram registrados 44 deslizamentos em diversos bairros do Recife. Além disso, as aulas noturnas foram suspensas em todas as escolas municipais da capital. De acordo com notícia publicada pela Agência Estado no dia 18/06/10: O Corpo de Bombeiros informou hoje que subiu para oito o número de mortes causadas pelas chuvas de ontem em Pernambuco. Um bebê de sete meses segue desaparecido. Os bombeiros informaram ainda que cinco pessoas da mesma família, dois adultos e três crianças, morreram em um deslizamento de terra, no Córrego do Sargento, em Recife. Em outras localidades, como nos município de Paulista e Olinda, foram registradas enchentes e alagamentos em várias ruas prejudicando o trânsito nestas vias. Houve, também, registros de movimentos de massa, principalmente nas áreas de morros nas cidades do Recife e Camaragibe. Várias famílias que residem nos leitos maiores e menores dos rios que cortam ou margeiam as áreas urbanas tiveram suas casas tomadas pela água, destaque para os rios Beberibe em Olinda e recife, o Camaragibe nas cidades de mesmo nome e em Recife e São Lourenço da Mata e córregos de pequenos portes espalhados em várias cidades da região. O risco de contraírem doenças transmitidas pelo contato de água poluída tornou-se grande neste período principalmente a leptospirose. Sem falar nos prejuízos materiais e vidas ceifadas. Tudo isto, aponta para a situação do ordenamento urbano das cidades da RMR, o qual ocorre de maneira desigual levando em consideração a estratificação social latente. Considerações finais Três dias de intensas chuvas foi o suficiente para deixar várias cidades da RMR em caos, caos proporcionado por dois fatores distintos, mas ao mesmo tempo ligados entre si. O primeiro refere-se ao estado da atmosfera nos dias 16, 17 e 18 de junho de 2020, proporcionando um quantitativo de chuva suficiente para revelar os reflexos do ordenamento urbano desta região. O segundo fator está estritamente ligado aos condicionantes sociais dos grupos populacionais que residem nas cidades atingidas, visto que, a população mais atingida com o episódio estudado são as que possuem o menor poder aquisitivo, as quais ocupam as áreas mais susceptíveis a enchentes, alagamentos e movimentos de massa. 155 Os resultados aqui apresentados não encerram por aqui, eles tendem a contribuir com novos estudos que possam ampliar o debate sobre a atuação dos fenômenos atmosféricos que atuaram no período analisado, assim como, contribuírem com a expansão dos estudos que venham a utilizar a perspectiva da análise rítmica na identificação do comportamento da circulação atmosférica em episódios pluviométricos extremos. Referências AGÊNCIA ESTADO. 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Como suporte da pesquisa, implantou-se um (1) pluviômetro caseiro em cada bairro mencionado, obtendo-se, através das coletas, durante o período analisado, dados quantitativos, ou seja, informações e/ou dados pluviométricos a respeito desses locais na cidade em questão. Posteriormente, confeccionou-se tabela e gráfico com os dados oriundos das coletas, além de figuras, mapas e fotografias. O objetivo do artigo é possibilitar aos leitores a capacidade de visualizarem os dados pluviométricos de um local e/ou lugar qualquer mediante o apoio ou suporte de ferramentas gráficas, como mapa, gráfico e tabela. Nessa perspectiva, o leitor poderá perceber que é possível realizar estudos dos índices pluviométricos de um determinado local a partir de suas próprias pesquisas e também construir pluviômetros caseiros, aguçando este, a mergulhar na iniciação científica e, consequentemente, contribuir para o campo das pesquisas. O presente artigo está estruturado da seguinte maneira: uma introdução abarcando conceitos e relações entre as medições pluviométricas com temas afins, principalmente às mudanças climáticas, posteriormente, discorrerá sobre a metodologia utilizada na pesquisa, em seguida, os resultados e discussões apoiados na interpretação de tabela e de gráfico gerados a partir da pesquisa que foi aplicada, transitando entre figuras, mapas e fotografias. E por fim, as considerações finais, situando a importância de todo o ferramental utilizado no estudo em questão. Palavras-chaves: Climatologia; Curvelo; Iniciação Científica; Pluviômetros Caseiros; Precipitação. Abstract This article will address the area of climatology, which can be defined as the scientific study of climate, addressing only the rainfall districts of the city of Curvelo/MG. The neighborhoods Center, 11 Estudante do Curso Técnico Integrado de Nível Médio em Meio Ambiente no CEFET/MG – Campus Curvelo. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Orientador: Prof. Clayton Angelo Silva Costa, Professor Efetivo do CEFET/MG. Graduado em Geografia, Licenciatura Plena e Bacharelado pela PUC/Minas. Mestre em Ciências Ambientais pela UEMG. Doutorando em Relações Internacionais pela PUC/Minas. 158 Jardim América and Santa Rita were the sites chosen for the study. In support of the research was implemented one (1) homemade rain gauge in each district mentioned, obtaining, through collections during the period analyzed, quantitative data, or information and/or rainfall data about these places in the city question. Later, concocted up table and chart with the data from the collections, as well as images, maps and photographs. The aim of the paper is to enable readers the ability to visualize the rainfall data from one location and/or place any support or through support of graphical tools, such as map, graph and table. From this perspective, the reader will realize that it is possible to perform studies of rainfall for a given location from their own research and also build homemade rain gauge, this sharpening, scientific initiative to dive in and hence contribute to the field of research. This paper is structured as follows; an introduction covering concepts and relations between the rainfall measurements with similar themes, especially climate change, subsequently, will discuss the methodology used in the research, then the results supported the interpretation and discussion of table chart and generated the departure of the research that has been applied, shifting figures, maps and photographs. And finally, the final considerations, placing the importance of all tools used in this study. Keywords: Climatology; Curvelo; Undergraduate Research; Homemade Rain Gauges; Precipitation. Introdução O clima exerce grande influência sobre a Terra, desde os processos naturais, como a formação de solos, até as atividades humanas, como a agricultura. Essa influência é uma das razões pelas quais, cada vez mais, o clima vem sendo estudado por grande parte dos cientistas do mundo. As mudanças climáticas acontecem naturalmente, no entanto, o ser humano vem modificando a natureza, o que faz com que essas mudanças aconteçam em maior escala. Segundo Siqueira (2010), no passado, mesmo antes da presença humana sobre a face da terra, as mudanças climáticas ocorreram dentro de uma paisagem ecossistêmica mais íntegra e, por vezes, em processos de transformação e evolução. A grande diferença hoje, comparada com outros períodos e eras geológicas, é que as atuais mudanças climáticas ocorrem num contexto de biomas e ecossistemas profundamente alterados e fragmentados, sem a menor possibilidade de evolução e expansão (SIQUEIRA, 2010, p. 326). Diante dessas grandes alterações do clima, a partir das mudanças constantes que o ser humano vem realizando no ambiente, muitas implicações negativas são causadas. De acordo com Walter (2007, p. 169), estamos vivenciando uma época de intensas ondas de calor em todo o mundo, de tempestades, secas e furacões cada vez mais severos, assim como o aumento de 159 epidemias e a extinção de inúmeras espécies. Conforme Nunes (2008, p. 66), diversas atividades econômicas, a arquitetura e até o nosso vestuário são condicionados, em alguma extensão, pelo clima. Dessa forma, implicações socioeconômicas oriundas dessas implicações naturais vêm surgindo gradativamente. Ao se referir às mudanças climáticas, Juras (2008) aponta sobre um estudo feito a respeito das ameaças pelas mudanças climáticas à população mundial. Assim, esse autor disse que, o estudo realizado a pedido do governo britânico por uma equipe de economistas chefiados por Nicholas Stern, o chamado Relatório Stern10 conclui que as mudanças climáticas ameaçam os elementos básicos da vida das pessoas ao redor do mundo: acesso à água, produção de alimentos, saúde e meio ambiente. Centenas de milhões de pessoas poderão enfrentar fome e racionamento de água com o aumento da temperatura, além das consequências do desaparecimento de muitas áreas costeiras pela elevação do nível do mar. Todos os países serão afetados, mas os mais vulneráveis – justamente os países e as populações mais pobres – sofrerão mais e mais cedo, embora tenham contribuído muito menos para as mudanças do clima (JURAS, 2008, p. 39). Sendo o clima muito dinâmico, torna-se necessária a observação de seus principais elementos, como a temperatura, a umidade e a pluviosidade, por um longo período de tempo, para se verificar se as variações de seu comportamento são realmente permanentes, ou são fatores de mudança climática, ou se são ciclos periódicos que tendem a se repetir de tempos em tempos, tratando-se apenas de variabilidade do clima (SANT‘ANNA NETO e ZAVATINI, apud BALDO, 2006, p. 01). Além disso, é necessário observar o que pode influenciar nos valores pluviométricos (vegetação, massa asfáltica, altitude e poluição atmosférica, por exemplo). A cidade de Curvelo, na qual o Campus X foi implantado, apresenta esses fatores influenciadores das precipitações como parte integrante de sua paisagem e que serão tratados mais à frente. Nesse estudo, é importante definir dois conceitos básicos muito importantes: pluviosidade e precipitação pluviométrica. A pluviosidade aborda a quantidade de precipitação ocorrida em um dado lugar durante um período determinado. A precipitação pluviométrica é o processo pelo qual a água condensada na atmosfera atinge gravitacionalmente a superfície terrestre. As precipitações vão variar de local para local, dependendo dos fatores e atributos climáticos que os mesmos possuírem. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o clima é definido como: o estudo médio do tempo para o determinado período ou mês em uma certa localidade. Também, se refere às características da atmosfera inseridas das observações contínuas durante certo período. O clima abrange maior número de dados e eventos possíveis das condições de tempo para uma determinada localidade ou região. Inclui considerações sobre os desvios em relação às médias, variabilidade climática, condições extremas e frequências de eventos que ocorrem em determinada condição do tempo. 160 O instrumento meteorológico utilizado para realizar a medição de precipitação é denominado pluviômetro. O presente estudo utilizou pluviômetros caseiros que foram instalados em alguns bairros no município de Curvelo. A figura a seguir apresenta a localização do município. Fonte: Mapa retirado da internet. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Curvelo>. Acesso em: 17 jul. 2012. Mapa 01 - Localização do município de Curvelo em Minas Gerais (área em vermelho). Segundo dados que constam no sítio eletrônico do CEFET, a cidade de Curvelo está situada na região central de Minas Gerais. Possui cerca de 80 mil habitantes e encontra-se distante, aproximadamente, 170 km de Belo Horizonte/MG. O Campus X foi instalado em um terreno de 47.444,00 m² doado pela prefeitura, situado na margem do trecho do desvio da BR 135, no bairro Santa Rita. Os dados pluviométricos, alvo deste estudo, em sua forma de aplicação, podem ser utilizados para realização de planejamento, programas e ações ambientais, pretendendo prever futuras precipitações, e assim ter precaução/prevenção para os possíveis fenômenos naturais que podem ocorrer e interferir em muitos setores, como por exemplo, o da agricultura. Nesse setor, caso haja uma previsão de quando e/ou quanto as precipitações poderão ocorrer, o agricultor saberá o tempo certo para cultivar sua dada cultura. O estudo realizado por Mundstock e Silva (2005), no estado do Rio Grande do Sul, o qual trata sobre o manejo da cultura do milho para altos rendimentos de grãos, apresenta justamente essa questão. Segundo eles, o aproveitamento ideal da precipitação pluvial ocorre adequando-se a época de semeadura para fazer coincidir a maior radiação solar com a menor probabilidade de falta de umidade nos períodos críticos da cultura (MUNDSTOCK e SILVA, 2005, p. 15). No caso desta pesquisa, foram instalados três (3) pluviômetros caseiros em bairros selecionados do município de Curvelo a fim de obter conhecimento dos índices pluviométricos que cada um apresentavam em sua localidade. Os dados foram coletados e transcritos para um gráfico de precipitação, que foi analisado e interpretado, chegando-se a um relato sobre os índices pluviométricos dos locais escolhidos. O objetivo do artigo é possibilitar aos leitores a capacidade de visualizarem os dados pluviométricos de um local e/ou lugar qualquer mediante o apoio ou suporte 161 de ferramentas gráficas, como mapa, gráfico e tabela. Nessa perspectiva, o leitor poderá perceber que é possível realizar estudos dos índices pluviométricos de um determinado local a partir de seu próprio estudo e confecção de pluviômetros caseiros, aguçando este, a mergulhar na iniciação cientifica e, consequentemente, contribuir para o campo das pesquisas. Metodologia O presente artigo foi apoiado por intermédio de bolsa vinculada ao Programa de Iniciação Científica BIC-Jr, com o prazo de um (1) ano para o desenvolvimento da pesquisa. Esta foi desenvolvida mediante o arcabouço teórico construído ao longo da disciplina de Climatologia. Logo, os procedimentos metodológicos foram fielmente cumpridos e/ou seguidos mediante os prazos estabelecidos no referido Programa de Iniciação Científica. Os procedimentos metodológicos utilizados foram baseados em análises quantitativas, tendo em vista os dados coletados em campo nos postos pluviométricos. Os registros realizados das precipitações compreenderam os meses de Agosto de 2011 a Junho de 2012 e foram anotados numa planilha de leitura do pluviômetro. O mapa 02 representa a distribuição espacial dos postos pluviométricos que compuseram este estudo. Fonte: Imagem cedida pela Prefeitura Municipal de Curvelo e adaptada por Island Costa Pereira Júnior, 2012. Mapa 02 - Localização dos postos pluviométricos no município de Curvelo. 162 Os bairros selecionados foram Centro, Jardim América e Santa Rita como pode ser visualizado no mapa 02. Essa seleção foi realizada conforme as características que definem o clima como a vegetação, massa asfáltica, altitude, poluição atmosférica e a disponibilidade desses postos para poder realizar a pesquisa. Dessa forma, os três (3) bairros escolhidos apresentaram ao mesmo tempo, características importantes para o estudo da precipitação e disponibilidade necessária para alocação dos pluviômetros caseiros nos mesmos. As características que definem o clima e que se relacionam ao projeto serão abordadas com mais detalhes nos resultados e discussões do artigo. Os pluviômetros, instrumentos que forneceram os dados pluviométricos, foram confeccionados ao modo caseiro. Cada pluviômetro foi feito com garrafa PET que foi recortada e dividida em duas partes: o coletor, parte que acumula a precipitação e o antievaporador, parte que aumentará o tempo contra a evaporação da água. Foi usado também um pincel para fazer a calibração em mm, fita adesiva para afixar o antievaporador ao coletor, haste de madeira para sustentar o pluviômetro e um fio metálico para ligar o pluviômetro à haste de madeira. Para milimetrar os mesmos, houve o processo de calibragem e as marcações foram feitas de 0 mm a 110 mm. Durante a instalação do pluviômetro foi necessário tomar alguns cuidados em termos de posição tanto geográfica, quanto do instrumento em relação a sua haste que o sustenta. Segundo a Nós da Escola (2005, p. 17), o pluviômetro deve ser colocado em local aberto, como em um quintal ou terraço, longe de árvores, paredes ou de qualquer objeto que possa obstruir ou desviar os pingos da chuva. Como foi falado, os locais mais apropriados para as instalações foram aqueles que não havia a presença de árvores, muros, casas, prédios e construções afins que pudessem bloquear a entrada de água nos pluviômetros. Além disso, a parte superior dos pluviômetros foi e deve ser colocada bem perpendicular ao solo e o topo da haste abaixo da parte superior do pluviômetro, conforme Kobiyama et al. (2006, p. 94), para que a mesma não bloqueasse a entrada de água no instrumento, como pode ser visto na figura 01 e nas fotografias 01, 02 e 03. Fonte: Livro Prevenção de Desastres Naturais: Conceitos Básicos, 2006. Figura 01 - Modo como se deve instalar um pluviômetro caseiro. 163 Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012. Fotografias 01, 02 e 03 (da esquerda para direita): postos pluviométricos instalados nos bairros Centro, Jardim América e Santa Rita, respectivamente. No posto pluviométrico do Centro percebe-se que o pluviômetro está suspenso e afixado rente ao muro, isso porque no local havia casas ao lado e também a própria residência onde o instrumento estava, de forma que não pudesse ser instalado no solo. No Jardim América, isso também é visto, no entanto, o pluviômetro foi colocado no telhado da residência, para uma melhor capitação de precipitação sem interferência de muros, árvores, prédios e casas que estavam ao redor. Enquanto que, no Santa Rita, a situação foi outra, o pluviômetro foi colocado no próprio solo, pois o Campus X possui espaço disponível para isso, além de não ter presença de árvores, muros e outras interferências que foram citadas para os bairros anteriores. Em seguida, os dados foram coletados diariamente, assim como é feito nas estações meteorológicas convencionais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e toda a água que acumulava nos pluviômetros era retirada para fazer a próxima coleta. Os dados foram anotados e, a partir deles, foi possível montar tabela, gráfico e fazer análises dos mesmos chegando aos resultados e discussões via uso de pluviômetros caseiros. Resultados e Discussões Após nove (9) meses de coleta de dados, estendendo-se de Outubro de 2011 a Junho de 2012, os resultados indicaram que o bairro Centro é o que apresentou maiores índices pluviométricos, em seguida o Santa Rita e por último o Jardim América, como pode ser visualizado no gráfico 01. 164 * P = Posto pluviométrico Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012. Gráfico 01 - Gráfico de precipitação do município de Curvelo durante o período de Outubro – 2011a Junho – 2012 (em mm). Perante esse gráfico, pode-se perceber que houve em alguns meses pouca variação entre os índices pluviométricos dos bairros e que em outros a variação foi expressiva. No mês de Outubro, quando iniciou o período de precipitações no município, os índices pluviométricos não apresentaram grandes variações entre os postos pluviométricos. Entre os postos P1 e P2, a diferença de mm foi de 0.47, entre P2 e P3 essa diferença foi de 0.09 mm e entre P1 e P3, a diferença de mm foi de 0.56, ou seja, nenhum posto teve uma disparidade grande de precipitação que pudesse indicar de modo conciso, o que estaria influenciando nesses resultados. Em Novembro, P3 apresentou um grande índice pluviométrico (12.01 mm), diferentemente dos outros dois, P1 e P2, com índices de 9.63 mm e 10.48 mm, respectivamente. A partir do mês de Dezembro até o mês de Maio, P1 foi o posto que pode ser constatado maiores índices pluviométricos em relação aos outros dois postos, sendo esses índices, respectivamente, 12.42 mm, 12.75 mm, 12.61 mm, 8.50 mm, 9.16 mm e 9.52 mm. Isso porque, provavelmente, P1 tem muita poluição atmosférica e grande presença de concreto. Nessa linha de raciocínio, Veríssimo e Mendonça (2004, p. 11) procuraram entender a dinâmica atmosférica de Curitiba/PR. Eles realizaram um estudo cujo objetivo foi considerar aspectos sobre o clima urbano da cidade e sua influência nos citadinos, principalmente, com relação à saúde, a partir da análise de pesquisas já realizadas por especialistas ligados a esta temática. Nas áreas onde se concentram edifícios, trânsito de veículos, indústrias e pessoas, as temperaturas do ar tendem a ser mais elevadas do que nas áreas verdes e de baixa densidade de edificações e pessoas. Com relação à poluição das camadas 165 atmosféricas, os estudos mostraram que o aumento expressivo da frota de veículos e as indústrias se constituem nas principais fontes de poluentes do ar, o que repercute no aumento de doenças, principalmente do sistema respiratório, sobretudo no inverno. O impacto das precipitações tem gerado problemas para a população instalada em áreas sujeitas à inundações, notadamente no que concerne ao eixo do rio Iguaçu e os afluentes que drenam áreas urbanizadas, repercutindo no aumento do caso de leptospirose na cidade. O estudo realizado em São Paulo por Pivetta e Ramos (2005, p. 40-44), sobre o aumento de temporais e de chuvas na cidade, constatou que em cerca de 80 anos, a quantidade de chuva anual que cai na Região Metropolitana de São Paulo, onde 1 em cada 10 brasileiros vive numa área equivalente a quase 1% do território nacional, aumentou 425 milímetros (mm), metade do que chove em boa parte do semiárido brasileiro e que segundo eles, se 25% do território da Grande São Paulo fosse coberto por árvores, a temperatura média cairia até 2,5 ºC. Nos meses de Outubro, Novembro, Dezembro, Fevereiro e Abril, P3 teve como índices pluviométricos: 11.08 mm, 12.01 mm, 11.76 mm, 8.20 mm, 6.33 mm, respectivamente. Dados que significam maiores índices pluviométricos em relação a P2. Mesmo sendo dois (2) desses valores superiores a P1 (11.08 mm e 12.01 mm), a análise nesse momento será entre P2 e P3. Ambos os postos possuíam área com uma quantidade considerável de vegetação, o que pode ter influenciado nesses resultados. Segundo Mendonça, Oliveira e Moresco (2007), a vegetação desempenha um papel regulador de umidade e de temperatura extremamente importante. Tomando- se as áreas florestadas como exemplo, observase que suas temperaturas serão inferiores às das áreas vizinhas com outro tipo de cobertura – como campo, por exemplo, uma vez que as copas, os troncos e os galhos das árvores atuam como barreira à radiação solar direta, diminuindo a disponibilidade de energia para aquecer o ar. Entretanto, há o fator altitude que pode ter contribuído com os referidos resultados. Os locais dos postos estavam a uma altitude de 637 m e 632 m (P2 e P3, respectivamente). As diferenças de altitude acarretam mudanças na temperatura e na pressão atmosférica. À medida que a altitude aumenta, a pressão fica menor, pois diminui o peso da coluna de ar acima da superfície. Inversamente, quando a altitude diminui, aumentam a pressão e a densidade atmosférica. Considerando-se dois lugares de mesma latitude e diferentes altitudes, aquele mais elevado apresentará temperaturas mais baixas, obedecendo à proporção de 0,6 °C a menos para cada 100 metros de altitude (MENDONÇA, OLIVEIRA e MORESCO, 2007). Situação essa, que está esboçada na figura 02. 166 Fonte: Figura obtida de documento na internet. Disponível em: <http://portalcp2.files.wordpress.com/2010/09/dinc3a2mica_climc3a1tica.pdf>. Acesso em: 18 de jul. 2012. Figura 02: Diminuição da temperatura com o aumento da altitude. Como pode ser visto na figura 02, quanto maior for a altitude, menor serão as temperaturas e, consequentemente, menores quantidades de precipitações podem ocorrer. Para um melhor entendimento, segundo Mendonça, Oliveira e Moresco (2007), a posição do relevo favorece ou dificulta os fluxos de calor e umidade entre áreas contíguas. Um sistema orográfico que se disponha latitudinalmente em uma região como o Himalaia, por exemplo, irá dificultar as trocas de calor e umidade entre as áreas frias do interior da China e aquelas mais quentes da Índia. Já a cordilheira dos Andes, por se dispor no sentido dos meridianos, não impede que as massas polares atinjam o norte da América do Sul e nem que as equatoriais cheguem ao sul do Brasil. Entretanto, inibem a penetração da umidade proveniente do Pacífico para o interior do continente. Continuando a análise, o mês de Junho foi o que teve o menor índice pluviométrico em todos os postos: 0 mm, 1 mm e 1 mm (P1, P2 e P3, respectivamente). Os resultados ainda mostram que o mês que ocorreu maior índice de precipitação foi Janeiro, como pode ser observado na tabela abaixo através das médias. Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012. Tabela 01 - Distribuição temporal de precipitação mensal (em mm) para três (3) postos pluviométricos no município de Curvelo/MG, de Outubro de 2011 a Junho de 2012. 167 Ao longo dos meses, os índices pluviométricos foram crescendo gradativamente, de 10.86 mm (menor média) até o ápice das médias (11.52 mm) e logo em seguida, decrescendo até o valor 1 mm, correspondente ao mês de Junho. Considerações Finais Percebe-se que Curvelo obteve uma heterogeneidade de valores entre os postos pluviométricos P1, P2 e P3 (Centro, Jardim América e Santa Rita). Isso porque cada posto, provavelmente, tenha sofrido influência de características determinantes para um clima, como a vegetação, a massa asfáltica, a poluição atmosférica e a altitude. Em alguns dos meses entre os bairros selecionados houve pouca variação dos índices pluviométricos e em outros a variação foi eminente. Além disso, no mês de Janeiro, o município de Curvelo teve os maiores índices pluviométricos. Nos dias atuais, a intensidade de estudos e pesquisas sobre os índices pluviométricos é cada vez mais crescente, uma vez que há necessidade de conhecer dados que possam indicar a chegada de algum fenômeno natural, ou algo do gênero e, por conseguinte, tentar amenizar os impactos causados pelo mesmo. Como disse Kobiyama et al. (2006, p. 89-90), os dados medidos de chuva podem ajudar na previsão do tempo, estabelecimento de sistema de alerta, mapeamento de áreas de risco e na construção de obras de engenharia, como barragens, pontes, estradas, portos, diques, entre outros. Esse tipo de medida é, por sua vez, de suma importância perante a expressividade dos assuntos referentes às mudanças climáticas. Já que com os dados em mãos torna-se mais fácil tomar medidas de prevenção, as quais implicam diretamente no ambiente, na sociedade, na política e na economia. Muito já se tem feito sobre essa temática, realizando-se planejamentos, programas e ações ambientais para amenizar essa situação. Em São Paulo, isso já é realidade, uma vez que a cidade possuiu um plano de prevenção à escorregamentos e inundações, mediante observação dos índices pluviométricos do município. Conforme Souza et al. (2009), a ‗Operação Chuvas de Verão‘ é um plano de prevenção a escorregamentos e inundações, implantado pela Prefeitura Municipal de São Paulo e coordenado pela Defesa Civil Municipal (COMDEC). Tem como objetivo realizar ações de caráter preventivo, de socorro, assistencial e recuperativo. Sua operação baseia-se no monitoramento do índice pluviométrico, que é realizado pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), que repassa para a COMDEC (SOUZA et al., 2009, p. 171). Segundo Pinheiro, Dereczynski e Hora (2009, p. 09) a familiarização da comunidade, com a utilização do pluviômetro caseiro, pode ter resultados muito positivos na prevenção de desastres. Isso mostra que programas e ações ambientais ligados à Educação Ambiental, juntamente com a 168 Climatologia, pode sim ter sucesso e que isso deve ser casa vez mais incentivado e trabalhado, tanto na teoria como na prática, entre comunidade e o meio científico. Referências BALDO, Maria Cleide. Variabilidade pluviométrica e a dinâmica atmosférica na bacia hidrográfica do rio Ivaí-PR. 2006. 172 p. Tese. Trabalho apresentado ao curso de pós-graduação em Geografia, para obtenção do título de doutora em Geografia. Universidade Estadual Paulista. Presidente Prudente, 2006. BRASIL. Instituto Nacional de Meteorologia. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/. Acesso em: 18 ago. 2012. JURAS, Ilidia da Ascenção Garrido Martins. Aquecimento global e mudanças climáticas: uma introdução. Biblioteca digital da câmara dos deputados. Plenarium, v.5, n.5, p. 34-46, out. 2008. KOBIYAMA, Masato et al. Prevenção de Desastres Naturais: conceitos básicos. 1ª Edição. 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Civil e Ambiental, [email protected] André Lucena PIRES Geó[email protected] RESUMO O presente estudo se propôs a identificar as relações de causa e efeito entre o processo de desertificação, o uso dos solos e os eventos climáticos extremos no alto curso da bacia hidrográfica dorio Paraíba, mais precisamente no município de Cabaceiras, Paraíba,região Nordeste do Brasil, e de forma particular em sua sede municipal. Buscou-se ainda identificar e analisar, por meio do uso de técnicas de sensoriamento remoto, as características físicas da região e a sua relação com as secas e eventos pluviométricos extremos. Utilizando-se de uma revisão bibliográfica dos aspectos físicos da região, aliado a realização de trabalhos de campo e uma analise de produtos de sensoriamento remoto, foram identificadas as principais causas e efeitos das inundações no município de Cabaceiras. Com a análise dos dados levantados nesta pesquisa concluiu-se que o município de Cabaceiras possui solos rasos degradados e com problemas de drenagem, altos e médio níveis de desertificação ao longo de grandes extensões de terras e, aliados ao mau uso do solo urbano e rural e a falta de prevenção faz com que esse município seja alvo de inundaçõesperiódicas em precipitações extremas. PALAVRAS CHAVE: semiárido, inundações, Cabaceiras-PB. ABSTRACT This study aimed to identify the cause and effect relationships between the process of desertification, land use and climate extremes in the upper course of the river basin, Paraíba, more precisely in the city of Cabaceiras, Paraíba, Northeast Brazil, and particularly so in its headquarters city.We sought to further identify and analyze, through the use of remote sensing techniques, the physical characteristics of the region and its relationship with drought and extreme rainfall events. Using a literature review of the physical aspects of the region, coupled with the completion of field work and analysis of remote sensing products, we identified the main causes and effects of flooding in the city of Cabaceiras. With the analysis of data obtained in this study it was concluded that the municipality has Cabaceiras shallow soils and degraded with drainage problems, high and medium 170 levels of desertification over large tracts of land and, together with the misuse of urban land and rural and lack of prevention makes this municipality is subject to periodic flooding in extreme precipitation. KEYSWORDS: semiarid, floods, Cabaceiras-PB. INTRODUÇÃO A região Nordeste do Brasil ocupa uma área de 1.539.000 km², correspondente a 18% do seu território e abriga uma população de 45,5 milhões, equivalentes a 29% do total nacional. Em termos geográficos a região mostra-se bastante heterogênea, apresentando grande variedade de situações físico-climáticas. Dentre estas se destaca a zona semiárida, que além da sua extensão de 882.000 km² (cerca de 57% do território nordestino), singulariza-se por ser castigada periodicamente por fenômenos de secas prolongadas (DUARTE, 2011). Segundo Araújo ( ) ―A intervenção das atividades humanas nesse cenário tem propiciado a degradação acentuada dos recursos naturais, originando em algumas áreas os denominados ―núcleos de desertificação‖, onde a degradação é muito mais intensa‖ Esses núcleos são criados pelas ações antrópicas, particularmente o desmatamento para fins de ocupação agropecuária e expansão urbana. Segundo Sousa (2007) esse processo é responsável pela perda de mais de 6 milhões de hectares de terras produtivas anualmente, afetando, de forma assustadora, 1/3 da superfície terrestre e assolando, direta ou indiretamente, mais de 900 milhões de pessoas no mundo inteiro, segundo os dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. No caso do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) considera que o país tenha uma área susceptível sujeitas a esse fenômeno na ordem de 1.338.076km², onde vivem 31.663.671 pessoas, em 1.482 municípios, estando distribuída por toda a Região Nordeste, norte de Minas Gerais e noroeste do Espírito Santo (BRASIL, 2004). Em se tratando da Paraíba, levando em consideração a ocorrência dos climas semiáridos e subúmido-seco, associados às determinadas formas como a população têm lidado com o uso da terra, o MMA considera que, dos 223 municípios existentes, em 208 esse tipo de degradação poderia ocorrer ou já estar ocorrendo (mais de 90% do estado), o que equivale em termos relativos, a uma das maiores áreas ameaçados dentre os estados brasileiros onde é possível se desenvolver ou estar se desenvolvendo a degradação em questão.Mesmo assim, somente a partir da década de 1990 esse problema começou a ser pesquisado de forma mais direcionada às regiões susceptíveis à desertificação no estado. Portanto, muitas lacunas científicas ainda precisam ser preenchidas a respeito da presença e da dinâmica da desertificação nessas terras. 171 Dentre as áreas do estado onde esse fenômeno tem se manifestado, tem-se a bacia hidrográfica do rio Paraíba, a segunda maior do estado, ocupando 20.071,83 km² (Agência Executiva de Gestão das Águas/PB – AESA). A importância dessa bacia é fundamental devido ao uso múltiplo de suas águas e pelo fato de suas terras englobarem os dois maiores núcleos urbanos do estado (João Pessoa e Campina Grande) que, junto às demais áreas que dependem direta e indiretamente dos recursos hídricos aí existentes, apresentam quase dois milhões de habitantes. Este estudo optou como área de trabalho o município de Cabaceiras, PB, localizado na microrregião Cariri Paraibano e na Mesorregião da Borborema, considerado por muitos autores como um dos mais ―secos‖ da Paraíba ou quiçá do Nordeste e do Brasil Porém, em eventos pluviométricos extremos anteriormente ocorridos na região, parte de sua sede municipal se deparou com algumas áreas alagadas, principalmente na entrada da cidade, deixando assim os munícipes ilhados e com acesso limitado aos municípios vizinhos.As chuvas nessa região são geralmente irregulares e esparsas com temperaturas médias de 27°C, tendo uma precipitação média de 234mm de chuva durante o ano todo, precipitações estas que ocorrem apenas durante três meses, podendo ocasionar assim longos períodos de estiagens que duram até dez meses nos períodos mais secos. Segundo SOUZA (2008) os elementos comuns do conjunto de paisagens existentes em praticamente todo o Cariri Paraibano são os baixos índices pluviométricos, as temperaturas médias elevadas (cerca de 27ºC), os déficits hídricos acentuados, a caatinga hiperxerófila, as limitações edáficas (solos rasos e, em muitos casos, com altos teores de salinidade), cidades pequenas e baixa densidade demográfica. Em termos administrativos, essa região é composta por 29 municípios, dos quais 12 fazem parte do Cariri Oriental (polarizada por Cabaceiras) e 17 estão inseridos no Cariri Ocidental (polarizada por Monteiro). Apesar do município de Cabaceira ter características de semiaridez, existe registro da ocorrência de fortes chuvas na região. Como exemplos disso, as precipitações ocorridas em janeiro de 2004 ultrapassaram mais de 500% do índice pluviométrico médio previsto para todo este mês na região. Em Cabaceiras choveu só nesse mês mais da metade da média anual do município, que é de 234mm (O Norte, fevereiro de 2004). Já em 2008, segundo o jornal A União (abril de 2008), nos últimos dias do mês de março, ocorreram fortes chuvas em Cabaceiras que chegaram a inundar praticamente toda a parte baixa da cidade. Foram precipitados nos três primeiros meses desse ano um total de 398mm de chuva, um recorde até então superior a média anual de 295 mm. Ainda segundo o jornal A União (2008), cerca de quarenta famílias foi prejudicada com o avanço das águas, muitas ficaram desalojadas e desabrigadas e tiveram que deixar, de forma urgente, suas casas com a ajuda da população e de servidores municipais. As casas que se situavam na parte baixa da cidade exibiram uma marca d´água que atingiu até 1,8 metros de altura, sendo que três casas ruíram. Alguns moradores da região afirmaram que isso tudo só ocorreu, porque houve o 172 rompimento de um pequeno açude popularmente chamado de ―Namorado‖, localizado no município de São João do Cariri, localizado a montante de Cabaceiras. Tendo em vista estes eventos climáticos adversos e inesperados que surpreendem toda uma população vulnerável é que foi desenvolvido este estudo, cujo objetivo principal é encontrar as principais causas que contribuem para que estas inundações ocorram, pois só assim poder-se-á prevenir a população e os órgãos competentes, para um mal maior que pode vir a ocorrer, quantificar e qualificar o quanto o município encontra-se vulnerável a estes eventos e em ultimo caso subsidiar políticas de mitigação dos danos causados por estes eventos extremos. METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido de acordo com as etapas de atividades a seguir relacionadas, de forma integrada e inter-relacionadas. Foram realizados levantamento de bibliografia de suporte, leitura e fichamento das obras e textos selecionados; discussão das obras selecionadas para ampliar o conhecimento sobre questões conceituais e teóricas que envolvem a temática a ser desenvolvida;trabalho de gabinete utilizando-se de SIGs livres para análise da evolução histórica da devastação na região e a sua influência no transporte de sedimentos, aumento do escoamento superficial e lixiviação do solo; realização de trabalhos de campo que visaram identificar in situ algumas áreas desertificadas; realização levantamento da vegetação em áreas com diferentes tipos de uso da caatinga; realização de entrevistas informais com a população; observar e analisar como a população se organiza no espaço atualmente; realizar documentação fotográfica; levantamento de características físicas de Cabaceiras, como, geologia, pedologia, cobertura vegetal, hidrografia, clima, estado atual de desertificação, entre outros;e, utilização de um banco de dados geográficos desenvolvido em momentos anteriores por outros membros deste projeto. Esse banco de dados conta com imagens de satélites do sensor do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, em sua sigla em inglês),com resolução espacial de 20m, obtidas no ano de 2005 e imagens do sensor de satélite LANDSAT TM5, obtidas no ano de 1989, com resolução espacial de 30 m. Essas imagens foram utilizadas para a geração de mapas que foram confrontados com as referencias bibliográficas levantadas na etapa anterior. RESULTADOS E DISCUSSÕES CARATERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O município de Cabaceiras - PB possui uma área de aproximada de 452,920 km², tendo seu marco zero localizado nas coordenadas geográficas 07° 29' 20" de latitude Sul e 36° 17' 13" de longitude Oeste, com altitude média de 450 metros em relação ao nível do mar.De acordo com o 173 IBGE 2010, a população de Cabaceiras foi estimada em 5.035 habitantes, com uma densidade demográfica de 11,12 hab/km². - Clima Nos Cariris, os maiores valores das precipitações ocorrem durante as atuações da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e da Frente Polar Atlântica (FPA), sendo esses dois sistemas responsáveis pelo regime das chuvas na região. A FPA, em suas pulsações rumo ao norte, atinge o litoral do Nordeste até as proximidades da latitude da cidade de Natal, provocando o choque entre as massas de ar polar e massa equatorial Atlântica (NIMER, 1980). De acordo com Sousa (2007), na região do Cariri Paraibano, seguindo a classificação de Köppen, predomina o tipo climático Bsh (semiárido quente), com precipitações pluviométricas médias anuais muito baixas (em torno de 400 mm) e uma estação seca que pode atingir 11 meses. O que caracteriza o clima da região é a grande irregularidade de seu regime pluviométrico, que depende das massas de ar que vêm do litoral (Massa Equatorial Atlântica - MEA) e do oeste (Massa Equatorial Continental - MEC). A maior ou menor intensidade de influência dessas massas de ar provoca aumento ou diminuição das chuvas na região, que caem quase sempre em apenas dois ou três meses, e assim mesmo, na maioria das vezes, em quantidades pequenas. A evaporação é bastante variável e a insolação atinge o total médio anual de 2.800 horas. A estação das chuvas ou inverno é reduzida praticamente aos meses de fevereiro, março, abril, e maio, podendo às vezes também ocorrer precipitações no mês de janeiro. A temperatura média anual gira em torno de 24,5 ºC. Mapa1. Climatologia da Paraíba segundo Köppen (adaptado de Franco, 2009). De acordo com a classificação de Gaussen, a área de Cabaceiras está sob a influência de dois tipos climáticos: 2b – subdesértico quente de tendência tropical, cujo índice xerotérmico (nº de dias secos) varia de 200 a 300 com um período seco variando de 9 a 11 meses, estando a maior 174 parte da área estudada sobre influência deste clima. Uma pequena parte do município encontra-se inserida no clima 3aTh– mediterrâneo quente ou nordestino de seca acentuada, com temperatura média em torno de 23°C, precipitação pluviométrica média anual entre 300 mm e 400 mm e umidade relativa do ar de 75%, com estação seca de sete a oito meses (LIMA & HECKENDORFF, 1985). Mapa2. Climatologia do Cariri segundo Gaussen, evidenciando o município de Cabaceiras(adaptado de Franco, 2009). - Hidrografia A área do município é banhada por vários rios e riachos, porém, todos de regime intermitente, algo muito comum na região, sendo o principal destes o rio Taperoá (figura 1), o qual faz parte da bacia do médio Paraíba que converge suas águas para o açude Epitácio Pessoa, no município de Boqueirão-PB (Mapa1). Figura1. Leito seco no Rio Taperoá (vista da Ponte de Cabaceiras). Foto: PIRES A. L. 27-01-2012 175 Mapa3. Drenagem natural do município de Cabaceiras-PB. - Pedologia Segundo SOUSA (2008) apud BRASIL (1972) e EMBRAPA (1999), os solos encontrados no município de Cabaceiras são: o LUVISSOLO CRÔMICO Órtico vértico (nomenclatura antiga solos BRUNO NÃO CÁLCICO vértico): Ocorrem em relevo suave ondulado e raramente ondulado, sendo pouco profundos ou rasos, com PH de baixa acidez, e em alguns casos, básicos. Na superfície é comum a ocorrência de cascalhos e calhaus de quartzo (Pavimento Desértico); o NEOSSOLOS LITÓLICOS Eutróficos, (nomenclatura antiga Regossolos): Ocorrem em áreas de relevo suave ondulado a montanhoso, sendo pouco desenvolvido, muito raso ou raso, moderadamente ácido, com drenagem moderada a acentuada. Apresentam rica cobertura vegetal quando isentos de uso; o VERTISSOLO Hidromórfico, (nomenclatura antiga VERTISSOLO): Ocorrem nas áreas de relevo suave ondulado a ondulado, em depressões com problemas de drenagem e elevada presença de argilas de alta atividade química (montmoriloníticas), o que confere a esses solos notável capacidade de dilatação, quando molhados, e contração, quando secos. Nesse processo, nas fendas abertas durante a estação seca, caem materiais da parte superficial que atingem as partes profundas do perfil, enquanto durante a estação chuvosa, devido à expansão das argilas, materiais das partes baixas do perfil são pressionados e podem ser expelidos, existindo assim um auto-revolvimento nesses solos, o que lhes confere elevada fragilidade à erosão. Dessa 176 forma, apesar de, em princípio, apresentarem cobertura vegetal relativamente densa e variada, em caso de desmatamento, é muito difícil sua recolonização, uma vez que as suas sementes, junto com algumas partículas desse solo, são reviradas horizontalmente nesse processo de expansão/retração. Além dessa característica, em virtude da maior deficiência de drenagem presente em algumas áreas, podem, ocasionalmente, ocorrer problemas em relação ao desenvolvimento das plantas devido ao acúmulo de sais, (Souza 2008); e o Além dos solos acima expostos encontram-se também alguns afloramentos rochosos em todo o município e principalmente no extremo norte. Através da ferramenta medida de classe do SIG livre SPRING 5.2 obteve-se a seguinte distribuição para os solos da região: Tabela 1. Distribuição dos solos e água no município de Cabaceiras-PB CLASSE Área (km²) Área (%) LUVISSOLO CRÔMICO 180,92 44,43 NEOSSOLOS LITÓLICOS 75,23 18,47 VERTISSOLO HIDROMÓRFICO 122,16 30,00 Afloramento Rochoso 21,70 5,33 Água 7,23 1,78 Utilizando-se de um banco de dados pré-existente, foi elaborado um mapa temático de solos onde se pode ver toda a sua distribuição: Mapa4. Solos do município de Cabaceiras-PB. 177 - Desertificação Através da consulta de trabalhos já realizados no Cariri e no próprio município de Cabaceiras, aliando-se a uma interpretação das imagens já existentes no banco de dados geográficos que possuía imagens CEBERS da região no ano de 2005 e a ferramenta de quantificação de medidas de classes disponível no software SPRIG 5.2, foram encontrados os seguintes valores para a distribuição da desertificação no município: Tabela 2. Distribuição dos níveis de desertificação no município de Cabaceiras-PB CLASSE Área (km²) Área (%) Não desertificado 73,96 18,23 Baixo nível de desertificação 219,18 54,02 Médio nível de desertificação 47,61 11,73 Alto nível de desertificação 57,77 14,24 Água 7,23 1,78 Como se pode ver no mapa abaixo, o município de Cabaceiras apresenta um alto índice de desertificação principalmente ao logo de todo o rio Taperoá, fator este que pode vir a contribuir para o assoreamento do rio em tempo de precipitações extremas. Mapa6. Distribuição da desertificação no município de Cabaceiras, 2005. 178 Tendo em vista todos os dados levantados através de diversas revisões bibliográficas em trabalhos que versam sobre o tema e o município, aliado a trabalhos realizados in loco, podem-se inferir alguns dos motivos que fazem com que o município de Cabaceiras depare-se com inundações periódicas quando ocorre um evento extremo de precipitação. São eles: o Boa parte da área que foi inundada nos anos de 2004, 2008 e 2011, encontra-se parcialmente impermeabilizada pelo calçamento existente na cidade e sendo esta uma área mais baixa, todas as águas precipitadas a montante drenam para a mesma, fazendo com que a microdrenagem projetada não consiga absorver o volume precipitado, formando assim poças que aumentam com o tempo formando um verdadeiro ―lago‖ nas ruas estreitas do município (Figura 2). Figura 2. Entrada da cidade de Cabaceiras no dia 02/05/2011, Fonte: Folha do Cariri. o Outro fator que pode vir a contribuir para estas inundações periódicas é a existência de solos com deficiência de drenagem na região inundável, pois os solos mais encontrados nesta, são os VERTISSOLOS Hidromórficos, os quais originam problemas de drenagem nas áreas não impermeabilizadas, pois possuem uma elevada presença de argilas. Em virtude dessa deficiência de drenagem presente nessa área, ocorrem problemas em relação ao desenvolvimento das plantas devido ao acúmulo de sais, deixando o solo exposto a erosão, ocasionando assim a eutrofização de rios e córregos, evento este que como pode ser observado na entrada da cidade de Cabaceiras. o Quanto à pedologia do município, pode-se dizer também que as maiorias dos solos da região são rasos, fator que faz com que pouco do que é precipitado se infiltre, tornando-se escoamento superficial. Através do levantamento do panorama de desertificação do município pode-se observar que as áreas mais afetadas (médio e altos níveis de 179 desertificação) por este fenômeno encontram-se relativamente próximas ao rio Taperoá. Esses dois fatores fazem com que praticamente todo o escoamento superficial em uma grande chuva arraste os sedimentos do solo para as calhas dos rios e córregos afluentes do Taperoá, assoreando-o, problema que influir nas áreas inundáveis. o Devido a certa inconstância destas precipitações extremas, aliado muitas vezes à inobservância do poder público, a população encontra-se extremamente vulnerável a este evento, aumentando assim o risco de danos não só materiais, mas como também danos a vida humana da população em geral. o Em conversas informais com os munícipes, percebemos que muitos deles põe a culpa deste evento na ―sangria‖ da Barragem Presidente Epitácio Pessoa, popularmente conhecida como Açude de Boqueirão. Porém, depois de algumas análises feitas, esta hipótese foi descartada, pois o Açude de Boqueirão encontra-se a jusante da área inundada. Ainda assim não se descartou a hipótese de que a barragem, em tempos de vazão máxima do rio Taperoá, pode atuar no efeito de remanso, uma vez que este reduz a capacidade de escoamento por centenas de metros a montante, provocando contínuos alagamentos nas regiões próximas. o Outra consideração importante a ser feita é que, devido a pouca profundidade dos solos, onde o substrato cristalino encontra-se muito próximo a superfície, a saturação deste fino lençol freático ocorre muito rápido, gerando assim rapidamente áreas alagadiças, se comparado com áreas onde o lençol freático encontra-se mais profundo. CONCLUSÕES Através da realização deste estudo pode-se concluir que não só um, mas vários fatores podem vir a contribuir para que ocorram inundações em algumas áreas no município de Cabaceiras. Buscou-se também assim incentivar a elaboração de mais estudos que versem sobre o tema, o município, e a região semiárida como um todo, tendo em vista que uma grade parte da nação brasileira vive nessa região, ainda tão carente de informação e investimentos científicos. Torna-se importante salientar que todos os resultados aqui obtidos serão disponibilizados e divulgados através de meios acadêmicos para as autoridades estaduais e municipais, para que os mesmos possam tomar as providencias cabíveis no que tange a autoridade de cada uma delas e também serão disponibilizados para a sociedade em geral, principalmente para as pessoas que residem no município alvo deste estudo. REFERÊNCIAS A UNIÃO, “Cabaceiras não é mais a cidade mais seca do Brasil”, 2008. Matéria publicada no dia 11 de Abril de 2008. Disponível em 180 <http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=14759&Itemid= 44>, acesso em 10 ago 2012. BRASIL. Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca PAN-Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Recursos Hídricos, 2004. BRASIL. SUDENE. 1972. Ministério do Exército – Departamento de Engenharia e Comunicações Diretoria de Serviços Geográficos. Região Nordeste do Brasil. CCD. Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Tradução: Delegação de Portugal. Lisboa: Instituto de Promoção Ambiental, 1995. DUARTE, R. Seca, pobreza e políticas públicas no nordeste do Brasil. Pobreza, desigualdad social y ciudadanía. Los límites de las políticas sociales en América Latina. Clacso. Buenos Aires. 2001. 464p. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/pobreza/duarte.pdf >. Acesso em 01 set 2011. FRANCO, Euler Soares. Os discursos e contra-discursos sobre o consumo hídrico da algaroba no semiárido brasileiro. ─ Campina Grande,Tese (Doutorado em Recursos Naturais) – Universidade Federal de Campina Grande, 2009 IBGE, Censo Populacional 2010. Censo Populacional 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Disponível:<http://www.ibge.gov.br>acesso em 10 mar 2012. LIMA, P.J. & W.D. HECKENDORFF.1985. Climatologia. In:Atlas geográfico do estado da Paraíba. João Pessoa, Secretária de Educação do Estado. Universidade Federal da Paraíba UFPB, 100p. NIMER, E. 1977. Pluviometria e Recursos Hídricos de Pernambuco e Paraíba, Rio de Janeiro, IBGE/SUPREN. Série Recursos Naturais e Meio Ambiente, v3. 117 p. O NORTE on line. Previsão do tempo revela mais chuvas durante mês de fevereiro, 2004 Matéria divulgada no dia 01 de fevereiro de 2004. Disponível:<http://www.db.com.br/noticia/25516.html> acesso em 10 ago 2012. SOUSA, R. F. de, FERNANDES M. de F. e BARBOSA, M. P. VULNERABILIDADES, SEMIARIDEZ E DESERTIFICAÇÃO: cenários de riscos no Cariri Paraibano. In: Revista OKARA: Geografia em debate, v.2, n.2, p. 128-206, 2008. SOUSA, R. F. de. Terras agrícolas e o processo de desertificação em municípios do semiárido paraibano. 2007. 180p.: il. Tese (Doutorado Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais. Campina Grande, 2007. SOUZA, B. I. Cariri paraibano: do silêncio do lugar à desertificação. 198 p. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Geografia-UFRGS, Porto Alegre, 2008. 181 DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: IMPLICAÇÕES GEOAMBIENTAIS NOS SERTÕES DO MÉDIO JAGUARIBE Francisco Leandro de Almeida SANTOS Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará E-mail: [email protected] Ésulo Maia MEDEIROS Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará E-mail: [email protected] Marcos Venício do Nascimento RODRIGUES Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará E-mail: [email protected] Marcos José Nogueira de SOUZA Professor Doutor em Geografia – Universidade Estadual do Ceará E-mail: [email protected] Resumo A desertificação no semiárido brasileiro está estreitamente vinculada a um histórico de ocupação intensamente predatório baseado no imediatismo das atividades econômicas que não levaram em consideração as limitações e fragilidades geoambientais do bioma caatinga conduzindo à intensificação dos processos degradacionais a partir da utilização desordenada dos recursos naturais disponíveis. No Ceará, os Sertões do Médio Jaguaribe expõem essa problemática de forma evidente, sobretudo, às custas da expansão do sobrepastoreio, da agricultura em moldes rudimentares e do extrativismo vegetal. Esses vetores de pressão são responsáveis pelo agravamento dos desequilíbrios ambientais culminando com a expansão de paisagens desérticas. Dessa forma, o presente trabalho busca investigar as implicações geoambientais resultantes da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe identificando as áreas susceptíveis que exibem diversos aspectos quanto ao uso e ocupação da terra e os atributos naturais envolvidos na dinâmica do meio ambiente. Após as discussões sobre a temática são elaboradas propostas para o combate à desertificação em bases sustentáveis subsidiando diretrizes para o controle da qualidade ambiental e manutenção da biodiversidade, através do uso adequado dos recursos naturais compatibilizando as atividades econômicas com a manutenção do equilíbrio ecológico dos sistemas ambientais. Palavras-chave: Desertificação, degradação ambiental, atividades humanas. Abstract Desertification in the Brazilian semiarid region is closely linked to a history of occupation intensily predatory based on immediacy of economic activities that did not take into consideration limitations and weaknesses of geoenvironmental caatinga biome leading to intensification of the processes degradational from disorderly use of available natural resources. In Ceará, the Sertões Middle Jaguaribe expose this problem so evident, especially at the expense of expansion of overgrazing, agriculture and rudimentary molds in the extraction plant. These vectors pressure are responsible for the worsening of environmental imbalances culminating with the expansion of desert landscapes. Thus, this paper investigates the implications of geoenvironmental resulting desertification in the Middle Sertões Jaguaribe identifying areas likely to exhibit different aspects regarding the use end 182 occupation of land and the natural attributes involved in the dynamics of the environment. After discussions on the issue are proposed to control desertification in a sustainable subsidizing guidelines for the control of environmental quality and biodiversity, through are appropriate use of natural resources compatibilizing economic activities with the maintenance of the ecological balance of environmental systems. Keywords: Desertification, environmental degradation, human activities. Introdução A problemática da desertificação tem sido discutida numa amplitude internacional proporcionando novas reflexões acerca da relação sociedade x natureza, destacam-se as contribuições das Conferências de Estocolmo (1972), Nairobi (1977) e Rio de Janeiro (1992) que estimularam a cooperação entre os países no intuito de minimizar os efeitos das agressões sobre o meio ambiente estabelecendo bases sustentáveis para o uso adequado dos recursos naturais nos ecossistemas frágeis e susceptíveis aos processos de desertificação. A Agenda (capítulo ) considera a desertificação como ―a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles, as variações climáticas e as atividades humanas‖ Na conceituação proposta pela ECO , a desertificação consiste na degradação dos solos, dos recursos hídricos, da cobertura vegetal implicando na redução da qualidade de vida das populações afetadas (CEARÁ, ) Para Conti ( ), a ―desertificação é um conjunto de fenômenos que conduz determinadas áreas a transformarem-se em desertos ou a eles se assemelharem. Origina-se da pressão interna de atividades humanas sobre ecossistemas frágeis ou de mudanças climáticas determinadas por causas naturais‖ Como aporte teórico-metodológico, a pesquisa utilizou critérios formulados por Bertrand (1972), Tricart (1977) e Souza (2000) no viés da análise geosistêmica e ecodinâmica das paisagens como instrumentos capazes de entender a natureza de forma integrada. Avaliou-se o grau de vulnerabilidade de cada ambiente fundamentada na classificação da bio-resistasia de H. Enhart como parâmetro para definir a dinâmica dos componentes geoambientais, bem como, a susceptibilidade aos desequilíbrios ecológicos. Os procedimentos técnicos operacionais cumpriram as seguintes etapas: revisão bibliográfica com a interpretação de imagens de geoprocessamento, trabalho de campo e levantamento de dados secundários. No semiárido brasileiro, as irregularidades pluviométricas condicionam a existência de secas recorrentes implicando negativamente no aproveitamento dos recursos naturais para satisfazer às necessidades das atividades do meio rural. A desorganização dos sistemas socioeconômicos expressa-se através da utilização predatória dos recursos disponíveis acentuando os processos de degradação ambiental (SOUZA, 2006). 183 A pressão demográfica sobre os sistemas ambientais perante as condições naturais limitativas ao uso e ocupação da terra potencializa a instalação da degradação ambiental em variados graus de severidade. O desmatamento indiscriminado nas áreas susceptíveis a esse fenômeno dotadas de vulnerabilidades ambientais tem contribuído para impactar a biodiversidade primária, anulação da pedogênese e consequente preponderância da morfogênese, assoreamento dos rios e deterioração generalizada dos solos. Há então, o descompasso entre a capacidade produtiva dos recursos naturais e a sua capacidade de recuperação resultando um quadro de dinâmica regressiva do ambiente. Os Sertões do Médio Jaguaribe no Ceará exibem particularidades quanto ao panorama da desertificação do semiárido brasileiro abrange em seu complexo contexto geoambiental diferentes mosaicos paisagísticos, alvos historicamente do manejo inadequado dos recursos naturais, traduzidos na extrema pressão exercida pela prática do sobrepastoreio, emprego de técnicas danosas ao equilíbrio dinâmico do ambiente nos setores de produção agrícola e o extrativismo vegetal. Dessa forma, o presente trabalho busca investigar as implicações geoambientais resultantes da expansão da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe, possuindo relevância para a sociedade no sentido de identificar os vetores de pressão ambiental e estabelecendo estratégias para o desenvolvimento sustentável local através da recuperação das áreas degradadas e mitigação dos efeitos dessa problemática no âmbito da convivência com o semiárido. Desenvolvimento O caráter da semiaridez sempre marcou a história do uso da terra no Nordeste do Brasil tornando-se empecilho para a ocupação humana. Apesar dessa característica tão presente e marcante, o aproveitamento da terra nas últimas décadas tem sido cada vez mais evidente resultando numa utilização desordenada sobre a base dos recursos naturais disponíveis. O avanço da degradação ambiental exerce extrema pressão ao suporte fitoecológico contribuindo para a evolução de áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação. Sabe-se que a desertificação assume proporções globais gerando enormes prejuízos à economia mundial. No Brasil, o semiárido nordestino apresenta variados núcleos susceptíveis aos processos de desertificação, em face das vulnerabilidades geoambientais impostas para o desenvolvimento das atividades humanas. No Nordeste brasileiro, grande parte do território está submetido às influências da semiaridez condicionando a intermitência sazonal dos cursos d‘água No entanto, a drenagem tem caráter exorréico aberto para o mar em função de paleoclimas úmidos responsáveis pela esculturação prévia dos vales dos grandes rios sertanejos. A título de exemplificação destaca-se o rio Jaguaribe no Ceará, que nasce na Serra da Joaninha, no município de Tauá, percorrendo 184 aproximadamente 620 km até desaguar no Oceano Atlântico entre os municípios de Fortim e Aracati (CEARÁ, 2010). Os municípios em estudo, Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara, estão situados na Microrregião do Médio Jaguaribe na porção Centro-Oriental do estado do Ceará localizando-se entre os paralelos ‘ e ‘ e meridianos 3 ‘ e 3 ‘ a oeste de Greenwich tendo aproximadamente 4.214,7 Km² (IPLANCE, 2000). Figura 1: Localização dos municípios de Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara que formam a Microrregião do Médio Jaguaribe. Fonte: Abreu (2006). 185 As variações climáticas do Quaternário foram responsáveis pela elaboração das superfícies sertanejas do Médio Jaguaribe onde os efeitos da semiaridez expressaram-se através dos processos de pedimentação esboçando a configuração de níveis escalonados de erosão como resultado do aplainamento progressivo do relevo regional. A imposição da morfogênese mecânica promoveu complexos esquemas de erosão diferencial nos compartimentos geomorfológicos proporcionando a existência de núcleos de planaltos residuais e campos de inselbergues dispersos pelas depressões semiáridas. Os climas semiáridos predominavam durante todo o Quaternário na região Nordeste. As flutuações para condições climáticas úmidas apenas retratariam melhor a distribuição das chuvas. A cada retorno à semiaridez, agrava-se-ia a irregularidade das chuvas capazes de promover um escoamento violento, desgaste das encostas e consequente retomada da morfogênese mecânica (TRICART, 1959 apud SOUZA, 2000, p. 64). Bigarella (2003) salienta que as flutuações climáticas do Quaternário brasileiro foram documentadas por Bigarella e Ab‘ Saber ( ), Bigarella e Andrade ( ) e Bigarella e Mousinho (1966) a partir dos aspectos erosivos e sedimentares encontrados nas diversas sequências de depósitos correlativos e níveis topográficos. Nessa perspectiva, os referidos autores concluíram que longas fases semiáridas alternavam-se com fases úmidas, visto que, as flutuações climáticas para o seco contribuíram para a ação das chuvas concentradas promovendo a rápida remoção dos solos desprotegidos pela redução das florestas tropicais. ―O estudo dos processos morfogenéticos demonstram a importância que o fator climático assume no condicionamento para esculturação das formas do relevo‖ (CHRISTOFOLETTI, ) As superfícies de erosão sertanejas, sob condições climáticas semiáridas pretéritas, foram progressivamente rebaixadas a níveis de depressões intermontanas. O desenvolvimento das vastas superfícies de aplainamento, formadas por processos morfogenéticos condicionados por climas secos, conduziram à formação de feições que convergem através de declives suaves para os fundos dos vales (pedimentos). A coalecência das rampas pedimentadas proporcionaram o expraiamento da depressão periférica oriental do Ceará, posicionada a oeste da bacia mesozóica potiguar. A Depressão do Sertão do Médio Jaguaribe é, portanto, herança dessas condições paleoclimáticas cujas características morfogenéticas foram mantidas devido à semiaridez atual do clima (CEARÁ, 2007). Geologicamente a maior parte dos Sertões do Médio Jaguaribe é composta por litologias pertencentes ao embasamento cristalino datadas do Pré-Cambriano com eventuais coberturas sedimentares cretáceas como as bacias de Iguatú, Icó e Lavras. A superfície apresenta-se conservada e moderadamente dissecada em colinas rasas e em interflúvos tabulares com níveis altimétricos entre 200 – 400 m intercalados por amplas planícies fluviais como a do rio Jaguaribe. 186 As formas de relevo que o integram exibem reflexos de eventos tectônicos remotos evidenciando a relação da morfologia com fatores litológicos cujo mecanismo de evolução geoambiental está associado às flutuações climáticas do Quaternário (SOUZA, 2000). A Zona de Convergência Intertropical constitui o principal sistema atmosférico atuante no Estado do Ceará sendo responsável pela distribuição das chuvas que se concentram no primeiro semestre do ano. A sazonalidade desse sistema atmosférico impõe irregularidades na distribuição pluviométrica na área dos Sertões do Médio Jaguaribe havendo prolongados eventos de estiagem típicos da influência do clima semiárido. Sob o ponto de vista hidroclimático, a totalidade da área tem valores pluviométricos médios anuais inferiores ou próximos de 800 mm, configurando condições de semiaridez em virtude das acentuadas deficiências hídricas durante a maior parte do ano (CEARÁ, 2007). Dessas condições emerge o recobrimento vegetal como componente que melhor reflete o jogo de relações mútuas entre os demais componentes geoambientais. Há uma dispersão das formações de caatingas que ostentam variados padrões fisionômicos e florísticos (SOUZA, 2000). Em virtude da impermeabilidade do material rochoso, a rede de drenagem apresenta-se com padrões dendríticos e subdendríticos favorecendo a ramificação e o adensamento dos cursos fluviais decorrentes do escoamento superficial. O porte e o espaçamento das plantas da caatinga subordinados a adaptações fisiológicas potencializam a ação dos agentes morfodinâmicos através da remoção dos horizontes superficiais dos solos por efeitos das chuvas torrenciais sendo frequentes a exposição de afloramentos rochosos, chãos pedregosos e matacões. Tendo em vista o predomínio de processos de morfogênese mecânica, constata-se uma pequena alteração no manto superficial das rochas, o que justifica a presença de solos rasos e pedregosos bastante susceptíveis aos processos erosivos. Prevalecem os Neossolos Litólicos, Planossolos Háplicos e Neossolos Flúvicos revestidos pela caatinga arbustiva (CEARÁ, 2007). As marcas do antropismo expressam-se por meio da implementação das atividades econômicas no decorrer do processo histórico denotando a superutilização da terra a partir do emprego de técnicas predatórias sobre a base dos recursos naturais renováveis. ―O sistema agropastoril apresenta-se como fator que maior pressão exerce sobre a cobertura vegetal do semiárido nordestino e essa pressão varia de intensidade em função da localização, estrutura e tamanho dos remanescentes‖ (CEARÁ, 2007). Nos Sertões do Médio Jaguaribe a prática do sobrepastoreio, o extrativismo vegetal e a atividade agrícola contribuíram, historicamente, para a instalação de um quadro preocupante de degradação ambiental exercendo extrema pressão para equilíbrio espontâneo da natureza. 187 Assim, elementos naturais e não naturais integram a paisagem, mas a alteração drástica de alguns desses elementos podem comprometer as características naturais do ambiente. É justamente nesse contexto que está inserida a região dos Sertões do Médio Jaguaribe. Mas para um melhor entendimento sobre as alterações existentes na referida região é necessário compreender como ocorreu o processo de ocupação. De forma geral, a ocupação dos sertões do estado do Ceará se deu através da criação de gado o que possibilitou o avanço e posterior conhecimento do interior. Na região do Médio Jaguaribe não foi diferente sendo a criação de gado e as charqueadas os grandes responsáveis pela ocupação da região no início do século XVII ficando esse período conhecido como Civilização do Couro ou Ciclo do Gado (CEARÁ, 2007). A pecuária, como atividade econômica, trouxe significativo resultado para a região, mas mesmo com a sua expansão. As grandes secas provocavam mortandade de animais, mas ainda assim, devido à riqueza dos pastos, a recuperação era rápida desde que estabelecida a regularidade climática (CEARÁ, 2007). O auge da produção de couros e carnes no Jaguaribe se deu no século XVIII impulsionada pelo encerramento de oficinas de charque como, por exemplo, a de Mossoró em 1788. Porém, as secas do final do século XVIII, especialmente a do período de 1790 – 1793, prejudicaram sobremaneira a produção de charque da região através da drástica redução dos rebanhos onde medidas apenas paliativas não foram capazes de reerguer a produção ao que era antes (PANTAELA, 2012). No final do século XVIII e início do século XIX o algodão, junto com a produção de charque restante, passa a compor a economia da região. Mas com a Guerra de Independência da América do Norte que interrompeu a produção de alguns produtos, o algodão Nordestino ganha importância e passa a ser exportado para o continente europeu (GIRÃO apud PANTAELA, 2012). Apesar das oscilações históricas na produção de algodão, no século XX esse produto se consolidou como um dos principais do Ceará sendo o Vale do Jaguaribe uma região muito importante com um produto bastante elogiado por especialistas (FERREIRA NETO; SOUSA apud PANTAELA, 2012). Historicamente as ações predatórias de manejo inadequado dos recursos naturais disponíveis contribuíram para o avanço dos desequilíbrios ambientais traduzidos no processo de desertificação. Os vetores de pressão são representados pela pecuária extensiva, agricultura de subsistência e pela extração da lenha utilizada para compor matriz energética através da produção do carvão vegetal. Dentre os municípios que integram os Sertões do Médio Jaguaribe, o município de Jaguaribe aparece com a maior extração de lenha durante todo o período 1998 – 2007. Este comportamento permanece na análise da produção de carvão. Além das consequências ambientais, essas atividades 188 contribuem para agravar os problemas sociais. No caso das carvoarias utilizam mão de obra infantil e não fornecem condições adequadas de trabalho expondo as populações ao aparecimento de doenças respiratórias (CEARÁ, 2010). Ab‘ Saber ( ), afirma que a desertificação é resultado das atividades socioeconômicas sobre a base da estrutura geológica do Nordeste, com suas particularidades de vulnerabilidades ambientais marcadas pela susceptibilidade a degradações irreversíveis na paisagem e nos tecidos ecológicos naturais. A desertificação no Brasil atinge, sobretudo, a porção semiárida do país, concentrada basicamente na região Nordeste, cujas características físicoambientais, tais como, evaporação e evapotranspiração elevadas, ocorrência de secas, solos rasos bastante susceptíveis a erosão com alta salinidade e reduzida capacidade de retenção de água limitam o seu potencial produtivo (CEARÁ, 2007, p. 25). Nos Sertões do Médio Jaguaribe, os impactos produzidos pelas atividades socioeconômicas são decorrentes das condições de uso e ocupação da terra ao longo do processo histórico, resultando numa devastação generalizada do bioma caatinga em virtude do aumento do contingente populacional nos mais variados mosaicos paisagísticos. A desertificação expressa-se na região através da perda progressiva da biodiversidade primária, havendo o processo de dinâmica regressiva do ambiente sob os efeitos de resistasia antrópica. Ela materializa-se na dispersão edáfica de espécies invasoras menos exigentes a condições naturais adversas, exibindo diferentes estágios de sucessão ecológica, dominadas por plantas como Mimosa Acutistipula (jurema preta), Cereus Jamacuru (Mandacaru) e Cereus Gounellei (Xique-xique). ―Nas áreas circunvizinhas da cidade de Jaguaribe, os efeitos do desmatamento indiscriminado são bem evidentes. A sucessão ecológica secundária apresenta uma cobertura bastante descaracterizada, predominando espécies de caatinga arbustiva associadas a um tapete herbáceo‖ (FUNCEME/UFC/UFPI, apud CEARÁ, 2007). As queimadas desordenadas adotadas nos sistemas agrícolas de subsistência implicam negativamente na capacidade produtiva dos solos proporcionando o esgotamento do potencial edáfico com perdas qualitativas nos índices de produção. As áreas dos Sertões do Médio Jaguaribe sujeitas à expansão da desertificação constituem-se em ambientes fortemente instáveis, impactados por atividades socioeconômicas incompatíveis com a capacidade de suporte dos sistemas ambientais. O pisoteio excessivo do gado nas áreas de expansão da pecuária extensiva provocam a impermeabilização e compactação dos solos conduzindo ao aumento do escoamento superficial e maior potencial para a atuação de processos erosivos ativos. Há o assoreamento do rio Jaguaribe em 189 virtude da intensa mobilização de partículas para os fundos de vales resultando na ruptura do equilíbrio dinâmico do ambiente. A planície fluvial do rio Jaguaribe representa um ambiente de diferenciação no contexto dos sertões semiáridos abrigando melhores condições de solos e disponibilidades hídricas. O revestimento vegetacional expressa-se em resposta às interconexões dos condicionantes geoambientais expondo formações de carnaubais, cuja fisionomia de mata galeria contrasta com a vegetação caducifólia e de baixo porte dos interflúvios sertanejos (SOUZA, 1988). Na planície do rio Jaguaribe, as potencialidades dos recursos naturais propiciaram, por parte das atividades socioeconômicas, uma exploração irracional do ambiente, sobretudo, através da implementação de técnicas inadequadas nos sistemas de uso da terra ―Nas planícies fluviais o manejo inadequado dos solos pela agricultura irrigada conduz a salinização dos mesmos. Inviabiliza-se, por consequência, a possibilidade de recuperação de solos dotados de alta fertilidade natural como Neossolos Flúvicos‖ (CEARÁ, ) ―Com os desmatamentos, há uma diminuição da matéria orgânica e ablação dos horizontes superficiais dos solos. Esse fato conduz a uma modificação nas propriedades físicas dos solos a uma menor capacidade de retenção de umidade e de nutrientes‖ (CEARÁ, ) Nessas condições, a ecodinâmica tende às condições fortemente instáveis com possibilidades para manifestação de níveis diferenciados de degradação e principalmente de instalação da desertificação (CEARÁ, 2010). Figura 2: Área visivelmente degradada na planície fluvial do Médio Jaguaribe. Fonte: Góes (2010). 190 O aumento de áreas em processo de desertificação no médio curso do rio Jaguaribe ativa com maior velocidade os efeitos da morfodinâmica traduzidos na exposição dos solos à erosão ampliando-se os setores com afloramentos rochosos e ravinamentos. Figura 3: Área em processo de desertificação próximo a cidade de Jaguaribe na BR 116. Fonte: Almeida (2010). Ceará (2007) abordando os aspectos quantitativos do fenômeno da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe verifica que 44.167 ha do município de Jaguaribe enquadra-se no quesito de alta susceptibilidade à desertificação apresentando evidências marcantes de degradação ambiental, o que representa 23,54% da área municipal total. Em Jaguaretama, as áreas degradadas concentram-se ao Sul, Sudoeste e Sudeste abrangendo um total de áreas comprometidas quanto à degradação de 29.588 ha, ou seja, 17,59% do total do município. O município de Nova Jaguaribara é o menos afetado pelo processo ambiental observado, abrangendo 7.434 ha de terras degradadas, correspondentes a 11,34% de sua área total (CEARÁ, 2007). Vale ressaltar que o município de Nova Jaguaribara foi fundado em 2001 em decorrência da inundação provocada pela construção da barragem do Castanhão concluída em 2002, próxima a antiga sede municipal. 191 Nos municípios de Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara, as condições de extrema pobreza dessas populações perante a uma estrutura fundiária excludente e concentradora evidenciam que a problemática da desertificação possui dimensão socioambiental. A busca pela sobrevivência num ambiente semiárido marcado por limitações naturais conduzem a uma utilização predatória dos recursos naturais disponíveis condicionando os solos a exaustão e o empobrecimento comprometendo o controle da qualidade ambiental. Considerações finais A análise das questões ambientais contextualizadas nessa pesquisa indica a ampliação do panorama da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe como produto da incorporação de novas terras para atender à demanda dos ciclos produtivos. Nesse viés, torna-se necessário promover diretrizes ao combate à desertificação através de medidas cabíveis na perspectiva do ordenamento territorial, subsidiando bases para a elaboração de estudos interdisciplinares que conduzam o poder público para a implementação de ações pautadas nos preceitos do desenvolvimento sustentável. As diretrizes consistem em: - recuperar áreas degradadas através da recomposição florística da mata ciliar do rio Jaguaribe. Isso pode atenuar o desencadeamento dos processos erosivos e o consequente assoreamento do talvegue; - adotar técnicas de conservação dos solos com a implementação de sistemas agroecológicos e de manejo florestal visando o controle de espécies invasoras com o reflorestamento de espécies do conjunto vegetacional primário; - controlar o sobrepastoreio e o extrativismo vegetal indiscriminado; - integrar a comunidade científica com as populações locais levando à difusão da educação ambiental e de técnicas de uso sustentável dos recursos naturais disponíveis. Essas medidas tornam-se imprescindíveis para o controle da qualidade ambiental nos Sertões do Médio Jaguaribe viabilizando o incentivo a programas de inclusão social e erradicação da pobreza no intuito de minimizar as agressões aos vulneráveis sistemas ambientais susceptíveis ao processo de desertificação. Referências AB‘ SABER, A N Problemática da desertificação e da savanização do Brasil intertropical. 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Fortaleza: ABS Editora, 2006, p. 33-35. 193 TESTE DE INFILTRÔMETRO EM ÁREA DESERTIFICADA NO MUNICÍPIO DE CARAÚBAS – PB12 Haerte Durgel de MELO Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba [email protected] Dennys da Silva BIZERRA Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba [email protected] RESUMO A nossa pesquisa está pautada em dissertar sobre a Desertificação em um contesto local, no município de Caraúbas, Cariri Paraibano, que está inserido na Mesorregião da Borborema, localizada entre o Sertão e o Agreste, na porção central do Estado. O seu Bioma é a Caatinga, com ocorrência somente no Brasil na região nordeste do país e norte de Minas Gerais, correspondendo a 10% do território nacional. A desertificação é uma das grandes preocupações sobre impactos ambientais, sendo discutida em vários níveis acadêmicos, inclusive em eventos internacionais. Para uma análise mais cientifica, usamos a técnica de infiltração que foi baseado no infiltrômetro de simples anel ou de cilindro único de Hills, adaptado por Guerra e Cunha. O objetivo do presente trabalho é analisar o gral de compactação do solo, fazendo uma relação com o uso do solo e analisando fisionomicamente a paisagem. Os resultados obtidos foram condizentes com o esperado, portanto, vem a confirmar que se trata de uma área desertificada e com o solo compactado. Palavras-Chave: Desertificação; Cariri Paraibano; Caraúbas; Teste de Infiltrômetro; Compactação do Solo. ABSTRACT Our research is grounded in discourse on Desertification in a contest site in the municipality of Caraúbas, Cariri Paraibano, which is inserted in Mesoregion Borborema, located between Hinterland and the Wasteland, in the central portion of the state. His is the Caatinga Biome, occurring only in Brazil in the northeast region of the country and northern Minas Gerais, corresponding to 10% of the national territory. Desertification is a major concern about environmental impacts, being discussed at various academic levels, including international events. For a more scientific, we use the technique of infiltration which was based on simple ring infiltrometer or single cylinder Hills, adapted by War and Cunha. The aim of this paper is to 12 Orientador: Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza, [email protected] - Universidade Federal da Paraíba 194 analyze the grail of soil compaction, making a relationship with the land use and analyzing physiognomic landscape. The results obtained were consistent with the expected thus comes to confirm that it is a desertification area and the compacted soil. Keyswords: Desertification; Cariri Paraibano; Caraúbas; infiltrometer test, Soil Compaction INTRODUÇÃO O estado da Paraíba está situado entre 3 (meridiano de referência 3 W), e ‘ ‘‘ e ‘ ‘‘e 3 ‘ ‘‘de Longitude Oeste ‘ ‘‘ de Latitude Sul (paralelo de referência 07ºS). Com uma área de 56.584 Km², a sua maior extensão é na direção leste-oeste, com uma distancia linear de 443Km, sendo menor a sua extensão na direção norte – sul, com uma distancia linear de 263Km. Atualmente a Paraíba é composta por 223 municípios, somando uma população de aproximadamente 3,5 milhões de habitantes (IDEME, 2010). O estado está dividido em oito zonas fisiográficas que foram definidas através de um estudo do IBGE, o qual teve por objetivo delimitar as paisagens naturais que caracterizam o espaço físico paraibano, baseando-se no critério ecológico da diferenciação espacial. Essas zonas fisiográficas são: Zona do Litoral ou Mata, Agreste Litorâneo, Brejo, Agreste Central, Sertão dos Cariris Velhos, Seridó, Baixo Sertão de Piranhas e Alto Sertão (MOREIRA, 1989). A cidade de Caraúbas está inserida na Mesorregião da Borborema, localizada entre o Sertão e o Agreste, na porção central do Estado. A Mesorregião da Borborema é um espaço subdividido em 4 microrregiões: Seridó Ocidental, Seridó Oriental, Cariri Ocidental e Cariri Oriental, este ultimo é onde se localiza Caraúbas. Segundo MOREIRA (1989) a Microrregião do Cariri Oriental é aquela que apresenta os mais baixos índices pluviométricos do Estado. E caracteriza-se pela ocorrência de solos pobres e salinos. O IBGE (2010) calculou a população total em 61.388 habitantes. Possui 12 municípios (Alcantil, Barra de Santana, Barra de São Miguel, Boqueirão, Cabaceiras, Caraúbas, Caturité, Gurjão, Riacho de Santo Antônio, Santo André, São Domingos do Cariri, São João do Cariri). DESERTIFICAÇÃO E O CARIRI PARAIBANO Uma das preocupações atuais sobre os impactos ambientais provocados pelo Homem é a desertificação. De acordo com Tavares de Melo (1998, apud SOUZA, 2008, p.16). 195 A palavra desertificação é de ordem latina, sendo uma derivação de desertus e fixação. A primeira apresenta duplo significado. Como adjetivo, pode ser traduzido para desabitado, abandonado, inculto, selvagem. Como substantivo quer dizer solidão, desolação, área vazia. A segunda é um sufixo verbal proveniente do verbo ficare, significando ação de fazer, ser feito, ser produzido. A partir da década de 1970, esse termo passa a expressar um conjunto de processos que dão origens á áreas degradadas nas regiões de clima seco (MAINGUET, 1992), resultando de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas (CCD, 1995). Por esta definição, sua origem está relacionada tanto a causas naturais tanto a causas relacionadas da pressão exercidas pela atividade humana em ecossistemas frágeis, o que conduziria determinadas áreas a se transformarem em desertos ou a eles se assemelharem (CONTI, 1995). O Bioma Caatinga ocorre somente no Brasil na região nordeste do país e norte de Minas Gerais, correspondendo a 10% do território nacional. Desde o período colonial, o ecossistema vem sofrendo drásticas modificações devido às ações humanas, tendo hoje mais de 45% de sua área desmatada. Isso a torna um bioma vulnerável principalmente pelo processo de desertificação (ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2012). A Caatinga por muito tempo foi tratado, erroneamente, como um ambiente de pouca riqueza biológica, entretanto, quando comparada a outras regiões semiáridas do mundo, a Caatinga apresenta um alto grau de diversidade biológica e grande quantidade de espécies endêmicas (LEAL et al., 2005; MENDES, 1997). Por tanto a degradação deste Bioma levara a um grande impacto biológico e social, tendo em vista que a medida que a desertificação vai se instalando e se intensificando fica mais difícil a permanência do homem do Cariri em seu Território. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Cariri esta situado no final do percurso dos fluxos úmidos que se direcionam para o semiárido nordestino e em situação de sotavento, fazendo parte da diagonal mais seca do Brasil, com médias pluviométricas de cerca de 500mm/ano (NIMER, 1979). Na região do Cariri predomina o clima semi-árido quente e seco, com chuvas de verão e outono. A estação chuvosa ocorre de janeiro a abril. CARVALHO (1982) descreve o clima no Cariri como os índices pluviométricos, no geral, entre 400-800 mm anuais, caracterizado como área do clima semiárido, as chuvas distribuem-se no verão e inverno. As temperaturas médias anuais variam entre 21º e 28ºC e a umidade relativa fica entre 60 e 70%. 196 Os aspectos climatológicos tornam a caatinga uma formação complexa do ponto de vista espacial, fazendo com que a sua fisionomia varia bastante dentro do semiárido, o que resulta em diferentes fitofisionomias (ALVES, 2009), sendo predominantemente mais arbustiva e esparsa em grande parte dos Cariris Velhos. Além da questão pluvial, as caatingas também são influenciadas pelos tipos de solos e pela condição geomorfológica em que estão inseridas. Neste sentido, podemos considerar que esse tipo de vegetação é um mosaico de diferentes formações reunidas pelas mais variadas transições, isto causa muitos problemas para enquadrá-la em uma classificação universal, uma vez que a maioria de seus aspectos fisionômicos é decorrente da inter-relação complexa entre fatores ecológicos (clima, topoclima, condições edáficas e topográficas) e fatores antrópicos (ALVES, 2006). Nos aspectos socioeconômicos, as limitações do solo no Cariri repercutem fortemente sobre a atividade agrícola, restringindo, seu desenvolvimento. Com o aproveitamento das áreas circundantes da barragem de Boqueirão para a produção de uma agricultura irrigada, é que se observa a expansão da cultura do tomate, esta passa a ter peso significativo no final do Século XX, além da criação de médio porte. Encontra-se com destaque na região a palma forrageira e a algaroba. (MOREIRA, 1989) Atualmente a policultura alimentar tradicional (com ênfase para o feijão e o milho) e a pecuária extensiva de médio porte comandam a organização do espaço APLICAÇÃO DO INFILTRÔMETRO O teste de infiltrômetro serve para identificar qual a capacidade de um solo em relação a infiltração da água, obtendo-se, através dele, uma amostra de como está o nível de compactação do solo, o qual interfere diretamente nos resultados obtidos. O uso da técnica do infiltrômetro foi baseado no infiltrômetro de simples anel ou de cilindro único de Hills (1970), adaptado por Guerra e Cunha (1996). 197 FIGURA 01: Infiltrômetro utilizado nos experimentos. Adaptado de Guerra (2002). Para fazermos o teste de Infiltrômetro utilizamos um cilindro de ferro com as seguintes dimensões: 15 cm de altura e 10 cm de diâmetro interno, sendo que a parte do Infiltrômetro que vai penetrar no solo era mais fina que o topo. Para este equipamento poder penetrar no solo com mais facilidade, utilizamos um martelo, além de régua e caderneta de campo para fazermos as anotações necessárias, relativas ao quanto de água penetrava no solo, e um relógio para sabermos em quanto tempo isso ocorria. Esses equipamentos podem ser vistos parcialmente na figura 02, abaixo. Figura 02: Material utilizado para fazer o teste de infiltrômetro. (Foto: Haerte Melo) Colocamos o Infiltrômetro no solo, utilizando um martelo para bater no infiltrômetro com o intuito de penetrar 5 cm no solo. Procuramos não perturbar muito o solo, para que não houvesse interferência nas características de compactação original. Depois de feito isso, colocamos uma régua graduada dentro do Infiltrômetro e prendemos com um pregador de roupa. Após essa montagem, o Infiltrômetro ficou preparado para receber a água e ser utilizado. Colocamos água ate encher, marcando no cronômetro e anotando na seguinte sequencia: profundidade da água após 30 segundos, 60 segundos, 1 minuto e 30 segundos e 2 minutos. Após essa sequencia anotamos a profundidade da água a cada minuto ate completar 30 minutos de experiência. Cada vez que a profundidade dentro do infiltrômetro atingia 5 centímetros marcávamos um asterisco e reabastecíamos o infiltrômetro com água, sem zerar o cronômetro. 198 Tal como foi dito anteriormente, esse experimento nos apresenta a Taxa de infiltração, que é o índice que mede a velocidade que a água da chuva se infiltra no solo. Ela exerce um importante papel sobre o escoamento superficial. Essa taxa de infiltração pode ser mensurada e assim chegarmos a dados que se assemelham com o natural. RESULTADOS E DISCUSSÕES O solo encontrado em Caraúbas e mais especificamente na área do teste é do tipo Neossolo Flúvico. Os Neossolos Flúvicos são derivados de sedimentos aluviais com horizonte A assentado diretamente sobre um Horizonte C, constituídos de camadas estratificadas, sem relação pedogenética entre si. O horizonte A é a porção superior do perfil do solo, em geral bastante intemperizado e rico em matéria orgânica, onde vive a maior parte dos organismos do solo Já o horizonte C tem o nível de embasamento intemperizado na base de um perfil de solo. Em geral, apresenta-se pouco alterado por organismos e acredita-se que seja de composições físicas, química e mineralógica semelhante á rocha da qual teve origem. (SUGUIO, 1998.). A área de ocorre do Neossolos Flúvicos se expande em toda a região das caatingas, ao longo de cursos d‘água As áreas de dominância destes solos perfazem um total de 3 km² e constituem 2,0% da região semiárida. (JACOMINE,1996). Os Neossolos Flúvicos são considerados de grande potencialidade agrícola, por se localizar em áreas de várzea, a suceptividade a erosão é pouca ou quase nenhuma, entretanto este uso agrícola e ou pastoril pode ter compactado o solo da área estudada. Tabela 01: Amostra 1 Município Tipo de Caatinga Caraterística Morfológica do Relevo Tipo de Solo Número de Reabastecimentos Caraúbas Arbustiva aberta, com pouca ou quase nenhuma cobertura vegetal Pouco inclinado Neo Solo Flúvico 1 199 TABELA DE INFILTRAÇÃO NO CAMPO. Ponto 01 Caraúbas Lat. Long. 778121 9173936 Tempo Mm 10 0 9,5 30" 9,4 60" 9,2 90" 9 120" 8,7 3' 8,5 4' 8,3 5' 8 6' 7,7 7' 7,5 8' 7,1 9' 7 10' 6,8 11' 6,6 12' 6,4 13' 6,2 14' 6 15' 5,7 16' 5,5 17' 5,4 18' 5,2 19' * 9,9 20' 9,7 21' 9,4 22' 9,2 23' 9 24' 8,7 25' 8,5 26' 8,3 27' 8,1 28' 7,9 29' 7,7 30' * reabastecimento Este resultado nos mostra que por se tratar de uma área desertificada o seu grau de compactação é alto, pois o solo está visivelmente compactado e a água demorou muito para 200 conseguir percolar o solo, tendo em vista que fizemos outros testes de infiltração que não entra nesta pesquisa, e esses testes nos mostrou que em área de mesmo solo e inclinação, porem com muito mais cobertura vegetal e de porte Arbustivo Arboreo e com claras evidencias da lcencia do uso do solo o reabastecimento foi de 5 vezes, por tanto em casos reais de precipitação, a água iria escorrer muito mais que infiltrar, retardando mais ainda a recuperação espontânea da cobertura vegetal, fazendo assim com que os nutrientes do solo fiquem cada vez mais, em níveis baixos, deixando o solo empobrecido. CONCLUSÃO A desertificação do Cariri não significa que vai virar um deserto, e sim uma área com solos empobrecidos e inférteis, fazendo com que a vida do Caririzeiro se complique cada vez mais. A recuperação para estas regiões esbarra em um grande empecilho, como o custo, já que para a recuperação de áreas desertificadas demanda muito dinheiro e tecnologia, coisa que não se vê muito quando a temática é recuperação de áreas no Cariri Paraibano. O teste de Infiltrômetro nos fornece uma amostra do real, já que ele imita a infiltração da água no solo e por isto é uma técnica segura, que nos da dados concretos da real situação do solo. É importante que se diga que antes de ir a campo verificamos se havia chovido na região dias atrás, pois este fenômeno iria mascarar a nossa pesquisa. Por isso, deduzimos que no período chuvoso a captação da água para o subsolo é ainda mais difícil, pois ele logo fica saturado, por ter a rocha mãe bem perto da superfície e ter o solo compactado, impedindo a infiltração da água no solo. REFERÊNCIAS ALVAREZ, V. H.; FONTES, L. E. F.; FONTES, M. P. F. O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa, MG:SBCS, 1996. P. 95-133. CARVALHO, Ma. Gelza F. de. “Estado da Paraíba”; classificação geomorfológica. João Pessoa, Editora Universitária/ Funape, 1982. CARVALHO, Ma. Gelza F. e CARVALHO, F. de. Vegetação. In. Atlas Geográfico do Estado da Paraíba. João Pessoa, Graff-Set, 1985. IDEME – Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba. Disponível em: http//www.ideme.pb.gov.br. Senso 2010. Acesso em: 5 out. 2012. ANDRADE – LIMA, D. 1981 The Caatingas dominium. Revista Nrasileira de Botânica 4: 149-163. ASSOCIAÇÃO CAATINGA.2011.Disponível em: http://www.acaatinga.org.br/. 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Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo analisar a percepção dos seridoenses sobre o processo de desertificação do Seridó Oriental norte-riograndense, almejando levantar estratégias de mitigação desse processo, tendo por base os depoimentos e opiniões dos sertanejos locais. Para tanto, realizamos pesquisa bibliográfica, levantamento documental e pesquisa empírica, através de estudo de caso em municípios dessa microrregião onde foram aplicados instrumentos de entrevistas em profundidade utilizando o ―critério saturação‖ Diante das discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa observamos que osseridoenses sentem o fenômeno da desertificação (seca) e que o classificam como intenso aos seus olhos.Em cada fala, discurso ou comentário, observamos que no combate à esse processo, o conformismo da população afetada e a falta de políticas públicas apresentaram-se como sendo os principais problemas. Assim, ações mitigatórias desse processo são questões centrais que devem ser mais bem discutidas visando uma maior eficiência em ações de atenuação ou eliminação desse fenômeno, além disso, focamos a preocupante a influencia que a indústria de cerâmica vermelha possui sobre o Seridó e seus habitantes, uma vez que esta se configura por ser um dos maiores meios de empregabilidade e se apropria desse fator para exercer sua cadeia produtiva de maneira irresponsável e prejudicial ao meio ambiente e aos habitantes locais. Palavras–chave:Desertificação, Percepção ambiental, Seridó – oriental. Abstract The last century was characterized by an increase of environmental problems produced by human activity, among which we highlight the process of desertification already plaguing a considerable slice of the population. In this sense, the present study aimed to analyze the perception of seridoenses about the process of desertification of north-eastern Seridó Rio Grande, aiming to raise 13 Essa pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Estudos do Semi - Árido (NESA) da Diretoria Acadêmica de Recursos Naturais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. E contou com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 203 mitigation strategies that process, based on the testimony and opinions of backland sites. Thus, we performed literature search, survey and documentary empirical research through case study in municipalities where this micro instruments were administered in-depth interviews using the "saturation criterion." Given the discussions and reflections developed during the research found that osseridoenses feel the phenomenon of desertification (drought) and for classification as to their intense olhos.Em each speech, speech or comment, we note that in combating this process, conformity of affected population and the lack of public policies presented themselves as being the main problems. Thus, mitigating actions of this process are key issues that must be further discussed towards greater efficiency in actions to mitigate or eliminate this phenomenon, in addition, the focus of concern the influence that the red ceramic industry has on the Seridó and its inhabitants, once this is set to be one of the greatest means of employability and appropriates this factor to exert its supply chain so irresponsible and harmful to the environment and local people. Keywords: Desertification, Environmental Perception, Seridó - Eastern. Introdução Vários são os problemas ambientais produzidos pela ação humana que comprometem a sustentabilidade das sociedades, pressionando o meio ambiente, afetando o equilíbrio dos sistemas naturais e, consequentemente, a qualidade de vida das populações. Dentre os processos que interferem diretamente para o estado de declínio dos estoques dos recursos naturais podemos citar o processo da desertificação o qual, admitimos em parte, ter como principal causa a ação antrópica sobre ecossistemas, que mediante sua exploração irracional trazem transformações muitas vezes irremediáveis para a natureza e para o próprio homem. Analisando preliminarmente a literatura que vem tratando do processo de desertificação, com ênfase para causas e conseqüências, bem como para ações de mitigação e de combate desse processo entendemos que esta, dentre todas as interferências que o homem tem provocado, é uma das que mais afetam o Planeta. Segundo Conti (2008), a desertificação é entendida como um conjunto de fenômenos que conduz determinadas áreas a se transformar em desertos ou a eles se assemelharem. Podendo, portanto, resultar de mudanças climáticas determinadas por causas naturais ou pela pressão das atividades humanas sobre ecossistemas frágeis, sendo, neste caso, as periferias dos desertos (ou áreas transicionais) as de maior risco de degradação generalizada em virtude do seu precário equilíbrio ambiental. Esse processo provocado por ações naturais e principalmente humanas (GEDS, 1999) colabora para um estado de deterioração do meio e é um problema que vem ganhando espaço nos debates nas áreas que a norteiam. 204 Para Araújo (2002), o processo de desertificação pode ser entendido como um círculo vicioso de deterioração crescente na qual a erosão causa a redução da capacidade de retenção de água pelos solos, e consequentemente de biomassa, com menores aportes de matéria orgânica ao solo. Logo, a cobertura vegetal torna-se rala e depaupera, a radiação solar intensa desseca ainda mais o solo e o processo de erosão acentua promovendo a aridez. Trata-se de um processo em que a ação do homem tem um papel preponderantemente ativo, acelerando seu desenvolvimento e agravando as consequências através de práticas impróprias de uso dos recursos naturais. No Brasil, as áreas propensas ao desencadeamento do processo de desertificação se encontram principalmente na região nordeste, ocupando mais de 900.000 km2 e abrigando aproximadamente 18 milhões de pessoas, muitas delas tendo a agricultura, pecuária e/ou ambos como meio de subsistência. Já no Sertão, que representa parte desse espaço nordestino, devido os processos de desertificação, podem gerar uma alta no preço dos alimentos, desemprego e aumento nos gastos públicos com programas de emergência. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), cerca de 300 milhões de dólares ao ano é o estrago econômico provocado pelos desertos no nordeste, o que gera migração das populações, uma vez que estas se deslocam de suas terras para centros urbanos (MMA, 2007). Dessa forma, o olhar das populações que sofrem com esse estado de degradação contínua deve ser analisado, para se entender como esse fenômeno pode ser mitigado e a partir disso levantar estratégias que visem uma melhoria desse estado. Assim, o papel da percepção vem com o intuito de criar relação entre o sujeito que vivencia esse processo diretamente e tais processos. Continuando este pensamento, temos que os estudos perceptivos dão origem a diversos trabalhos realizados por vários autores com a preocupação de examinar, através do homem, o que se passa ao seu meio e se ele realmente tem consciência da realidade. Entende-se percepção ambiental como a intervenção que expõe a lógica da linguagem que estabelece os signos expressivos dos usos e hábitos de um ambiente. É a explicitação da imagem de um lugar, ligada aos signos que uma comunidade constrói em torno de si. Neste sentido, a percepção ambiental é revelada mediante uma leitura semiótica da produção discursiva de uma comunidade (FERRARA, 1993). É nesse contexto que o problema da percepção ambiental surge no que tange ao estudo da desertificação, fazendo-se necessário, a observação do meio, não só a partir de uma visão científica, mas também sob o olhar do sertanejo que presencia subjetivamente essas modificações dos últimos tempos. Como afirma Faggionato (2002, p. 1): Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente. 205 Dessa forma, a percepção que os sertanejos tem acerca de seu meio, é essencialmente importante para que possamos compreender melhor as inter-relações homem-ambiente, bem como o desenvolvimento de ações de mitigação e combate do processo de desertificação. Assim, de acordo com Isnard ( , p ): ―Sociedade e espaço apresentam-se assim, tal como a relação entre criador e criação. Esta permite àquele realizar-se segundo a sua própria razão de ser, nela refletindo a sua imagem fiel Entre eles, a identificação é total‖ .Nesse contexto, surge a necessidade de uma pesquisa que contemple a experiência cotidiana e as opiniões do homem sertanejo sobre o seu espaço vivencial. Bem como, levar em consideração suas emoções, intuições e vivências em suas dimensões ambientais, sociais, culturais, históricas e paradigmáticas de convivência com a desertificação. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo descrever e refletir a respeito da percepção dos seridoenses sobre o processo de desertificação no Seridó Oriental norte-rio-grandense. A área geográfica escolhida para o estudo em tela foi o Seridó Oriental, uma vez que este tem sido considerado o núcleo de maior degradação e gravidade na desertificação do semiárido do Estado do Rio Grande do Norte. A Microrregião do Seridó Oriental está situada na área Centro Sul do estado do Rio Grande do Norte fazendo divisa ao sul e ao leste com o estado da Paraíba, ao norte e ao oeste, respectivamente, com as Microrregiões da Serra de Santana e do Seridó Oriental. Fazem parte dessaMicrorregião os seguintes municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó e São José do Seridó (Mapa 01). Mapa 01- Seridó - oriental 206 Material e Métodos O estudo aqui proposto trata-se de uma pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (2002), visa aprofundar-se no mundo dos significados, das ações e relações humanas, ou seja, um lado não perceptível e não captável por meio de equações, médias e dados estatísticos. Logo, esse tipo de pesquisa se caracteriza por investigar o problema no seu espaço natural, constituindo-se o entrevistado no elemento principal de investigação. Ainda, consideramos a pesquisa como exploratória e descritiva objetivaa fim deproporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou construir hipóteses e a descrever as características de determinada população (GIL, 1996). Como nosso estudo caracteriza-se por investigar a realidade humana a partir do significado dado pelos sujeitos participantes do estudo, os dados foram colhidos no próprio cotidiano dos sujeitos, e, utilizamos para coleta de dados, essencialmente a entrevista semi-estruturada e a observação participante. Assim, foram entrevistadas 18 pessoas escolhidas de maneira aleatória, com faixas etárias variadas, de ambos os sexos, residentes na área do Seridó Oriental. Essa quantidade de entrevistados foi delimitada baseando-se no ―critério de saturação‖ proposto por Sá (1998), pois segundo esse autor, o número de sujeitos da pesquisa deve ser interrompido quando os discursos passarem a se repetir continuamente, sem que novos temas sejam observados nas respostas dos indivíduos entrevistados. Resultados e Discussão O conhecimento histórico que se faz de um objeto de estudo sempre se mostra relevante, no caso do estudo sobre Percepção Ambiental isso se faz essencial, porque somente ao se conhecer o meio vivencial em que o sujeito encontra-se inserido, podemos compreender de forma generalizada sua relação de causa e seu efeito. Como mencionado anteriormente, é preciso ter ciência do espaço pesquisado para que se haja uma melhor compreensão a respeito do contexto em que se está vinculando tal observação. Portanto, a Percepção Ambiental dos seridoenses a respeito do seu meio vivencial ocorreu por intermédio da valorização de seus discursos e opiniões e de suas práticas cotidianas, procurando estabelecer, a partir de suas falas, possíveis maneiras de mitigação para o processo de desertificação que assola os municípios estudados. Dessa forma, ao utilizarmos a percepção dos moradores como um meio de elucidação dessa realidade socioespacial, estaremos valorizando a experiência vivida (FRÉMOND, 1976) de 207 cada um dos que habitam os municípios do Semi Árido norte-rio-grandense, para externarem suas observações, sentimentos, utopias e sonhos. Em se tratando das entrevistas, quando questionados se existia desertificação em seu município, 77% dos entrevistados responderam que sim e 23% responderam que não. Os sertanejos que afirmaram existir desertificação na área pesquisada fundamentaram suas respostas baseadas em fatores como a falta de chuvas, na pobreza do solo que dificulta o plantio, nas altas temperaturas, alguns inclusive se mostram conformados com essa problemática afirmando que o homem sertanejo não tem outra saída a não ser adaptar-se às condições que o sertão impõe. Assim, para validar essas informações sobre a resposta afirmativa, podemos observar como os sertanejos se referiram: ―Aqui a seca é muito grande porque quando o inverno para, agente fica nessa agonia pedindo a prefeitura, á vezes eles mandam água, ás vezes não. Mas agente precisa então tem que comprar água‖ ―Existe O sol é muito quente, o solo é muito pobre inverno morre tudo‖ Aqui depois que passa o Como visto, os entrevistados ressaltaram que dentre os agravantes do processo de desertificação o que mais incomoda é a falta de água, visto que esse elemento é imprescindível à vida. Muitos deles queixam-se da falta de compromisso da prefeitura em enviar água aos municípios, deixando a população desamparada de modo que esta tenha que recorrer à compra de ―carros pipa‖ a fim de suprir suas necessidades. Nesse contexto levamos em consideração o discurso de Malvezzi (2007, p. 16) quando afirma que “no Nordeste, os políticos que controlam o poder local tem uma longa experiência no exercício desse poder. São hábeis na manipulação das necessidades humanas. Os três esteios básicos do controle sobre a população são a fome, a sede e a saúde”. Ainda, na análise da percepção ambiental dos sertanejos, questionamos as causas da desertificação no Seridó Oriental, é importante enfatizar que essa pergunta era aberta, permitindo a livre interpretação do entrevistado com relação aos causadores da desertificação. Dessa forma, a maioria dos entrevistados (40%) indica como grandes causadores da desertificação o desmatamento e a ação de devastadora das cerâmicas (Figura 04). 208 Figura 01 – Percepção da população sobre os causadores da desertificação Os resultados apresentados na figura anterior revelam a gravidade da problemática ambiental, tornando claro que muitos dos entrevistados acusam o próprio homem como o grande causador do processo de desertificação, como relatado no seguinte depoimento: ―Nós já estamos sofrendo com toda essa destruição que o próprio homem criou por falta de cuidado com o meio ambiente‖ Além disso, eles enfatizaram o papel devastador que as indústrias de cerâmica vermelha possuem em prejudicar a vegetação característica do Semi Árido. Abaixo seguem alguns relatos da população entrevistada: ―Você vê que aqui é deserto, agente não vê nenhuma árvore, não tem fruteira, não tem nada, essa vila não tem uma planta, agora é que o pessoal tá começando a plantar umas coisinhas‖ ―O desmatamento é grande de mais, aqui as cerâmicas pegam a vegetação da caatinga, do cerrado Muito desmatamento e extinção de animais‖ ―Os homens cortam as plantas, se eles não cortassem tanto e desmatassem... ai chovia mais. Eles cortam e vendem a lenha para cerâmica, os caminhões passam todos lotados aqui‖ Os depoimentos acima demonstram uma preocupação a respeito dos efeitos que as cerâmicas produzem ao usar a vegetação nativa para alimentar as suas fornalhas, uma vez que estas contribuem diretamente para intensificação do fenômeno da desertificação. Porém, a controversa nesse contexto é que, infelizmente, várias dessas famílias são dependentes financeiramente dessas empresas, pois nelas encontram seu sustento direto ou indireto. O depoimento a seguir demonstra claramente essa problemática: 209 ―O problema aqui em Acari são as cerâmicas, mas se fechar fica todo mundo desempregado. O emprego que o povo tem aqui é as cerâmicas mesmo‖ Os informantes ainda foram indagados sobre o que poderia ser feito para evitar a desertificação, suas contribuições foram: ―Ter mais trabalho, sem ser nas cerâmicas‖ ―Reduzir os desperdícios de água e acabar o desmatamento‖ ―Para mudar essa situação só se mandar fechar as cerâmicas ―tudinho‖ porque elas desmatam tudo para pegar a lenha‖ Por fim, destacamos que as práticas dos seridoenses para evitarem ou diminuírem a desertificação são ações de cunho individual. Uma vez que não existe uma organização da população para cobrar dos poderes públicos locais iniciativas e atitudes voltadas para a preservação da vegetação da caatinga e para amenização e combate dos efeitos que as indústrias de cerâmica vermelha causam ao meio ambiente e as populações locais. Dessa forma, é possível afirmar que os seridoenses estão abandonando o seu dever de atuar, monitorar, pressionar e cobrar primeiramente deles mesmos e, em seguida, dos poderes públicos ações e compromissos com o desenvolvimento sustentável e com a qualidade de vida local, quer seja por descompromisso com o meio que o cerca, quer seja por medo das relações de poder que ainda se mantém no sertão norte-rio-grandense, como pode ser observado na fala de uns dos nossos entrevistados: ―Tentarammontar para queimar ―bujão‖, queimar o gás nas cerâmicas, mas ai não deu certo, eles não aprovaram. Eles vivem prometendo que não vão desmatar a caatinga Promete, mas o homem não cumpre, né?‖ ―Eu fico calada, porque tenho medo de falar das cerâmicas e depois eu me prejudicar‖ Assim, podemos perceber que partir dessas e outras falas fica evidente a influência vital e destrutiva que as indústrias de cerâmica vermelha produzem na população local, dando subsídios para a sobrevivência delas concomitantemente em que degrada seu habitat natural. Conclusões Diante das discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa, embasada pelos levantamentos bibliográficos e pelo trabalho de campo, foi possível investigar os problemas 210 ambientais, no enfoque da desertificação, a partir de uma análise da percepção dos seridoenses envolvidos com essa problemática em seu meio vivencial. Dessa forma, pode-se observar que as localidades seridoenses há a presença do fenômeno da desertificação, que se caracteriza por ser intenso aos olhares dos habitantes daquela região. Em cada fala, discurso ou comentário, observamos que no combate à esse processo, o conformismo da população afetada e a falta de políticas públicas apresentaram-se como sendo os principais problemas. Assim, ações mitigatórias do processo de desertificação, logo, são questões centrais que devem ser mais bem discutidas visando à assistência de uma maior eficiência em ações de atenuação ou eliminação desse fenômeno. Além disso, é preocupante a influencia que a indústria de cerâmica vermelha possui sobre o Seridó e seus habitantes. Uma vez que esta se configura por ser um dos maiores meios de empregabilidade dos habitantes e se apropria desse fator para exercer sua cadeia produtiva de maneira irresponsável e prejudicial. Assim sendo, com a posse desses subsídios e do conhecimento levantado os poderes públicos locais devem atuar no combate a desertificação buscando estratégias que visem uma maior fiscalização junto as indústrias ceramistas, bem como, o auxílio de água por meio de poços ou cisternas, recursos humanos, materiais e financeiros para conduzir a educação de sua população à uma sensibilização ambiental que venha amenizar os efeitos do processo de desertificação. Ainda, evitando responsabilizar somente os órgãos políticos, torna-se necessário a organização da população local a fim de cobrar dos poderes públicos uma maior participação nos assuntos referentes às políticas de mitigação desse processo ambiental. Assim, acreditamos que o trabalho em conjunto do sertanejo com a esfera política conseguirá alcançar objetivos em comuns. Com base nessa pesquisa, sobretudo, pensamos que tais reflexões levem a investigações mais profundas levando em consideração a percepção ambiental e a sua contribuição para melhorar as condições de vida da população residentes de áreas fustigadas pela seca. Referências ARAÚJO, A. J. R. P. et al. Desertificação e seca:contribuição da ciência e tecnologia para a sustentabilidade do semi-árido do Nordeste do Brasil. Recife: Nordeste, 2002. CONTI, J. B. Desertificação nos trópicos. Proposta de metodologia de estudo aplicada ao Nordeste Brasileiro. 1995. Tese (Livre Docência). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, São Paulo, 1995. ______. O conceito de desertificação. Rio Claro – Vol.3 – n.2 – julho/dezembro/2008. FAGGIONATO, S. Percepção ambiental.Texto disponibilizado em 2002, p. 1. Disponivel em: (http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html). (Acesso em: 03 de nov. de 2010). 211 FERRARA, L D‘A Olhar Periférico: informação, Linguagem, Percepção Ambiental. 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Em 1992, na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, foi firmado um compromisso de todos os países para elaborar, atualizar periodicamente, publicar e por à disposição da Conferência das Partes inventários nacionais de emissões de Gases do Efeito Estufa – GEE. Este artigo tem por objetivo estimar a emissão de GEE a partir da degradação de resíduos depositados em aterros sanitários no Rio Grande do Norte, realizando o levantamento bibliográfico dos dados dos seus 167 municípios, além das informações técnicas locais referentes à quantidade de habitantes, taxa de geração de resíduos por habitantes, composição gravimétrica, taxa de coleta, tipo de destinação, dados sobre a operação dos aterros sanitários e a taxa de recuperação do biogás, além de estimar as emissões de CH4, utilizando os dados levantados e aplicá-los à metodologia do IPCC de modo a estimar a quantidade de emissão, caso os sete Aterros Sanitários planejados para o estado, distribuídos nos seis agrupamentos territoriais sugeridos pelo PEGIRS/RN sejam utilizados da maneira correta. Palavras-chaves: Gases de Efeito Estufa; Inventário; Aterro Sanitário; Resíduos Sólidos; Metano Abstract The proper disposal of solid waste is an environmental concern and urban nowadays, considering the large amount of waste generated by the population and the emission of greenhouse gases from such waste. In RN, to meet the 167 municipalities of the state, there are only two landfills, one located at Ceará Mirim, in the metropolitan area of Natal, and another in the city of Mossoro. In 213 other locations, the final destination of solid waste are open dumps. The PEGIRS / RN published in 2012 shows a strategy of dividing the state into six regions and the construction of Landfill regions that do not have them yet. In 1992, the Framework Convention of the United Nations on Climate Change was signed a commitment from all countries to develop, periodically update, publish and make available to the Conference of the Parties national inventories of emissions of Greenhouse Gas - GHG. This paper aims to estimate the GHG emissions from the degradation of waste deposited in landfills in Rio Grande do Norte, performing the bibliographic data of its 167 municipalities, and technical information regarding the amount of local inhabitants, rate generation of waste per inhabitant, gravimetric composition, collection rate, type of allocation, data on the operation of the landfill and biogas recovery rate, plus estimate CH4 emissions using the data obtained and apply them to the methodology of IPCC to estimate the amount of issuance, if the seven landfills planned for the state, distributed in six clusters suggested by territorial PEGIRS / RN are used in the right way. Keywords: Greenhouse Gases; Inventory; Landfill, Solid Waste; Methane Introdução A disposição correta dos resíduos sólidos é uma preocupação ambiental e urbana da atualidade, levando em consideração a grande quantidade de resíduos gerados pela população mundial e a emissão de gases do efeito estufa proveniente desses resíduos. Estes resíduos são cada vez mais prejudiciais ao meio ambiente, uma vez que estão ficando cada vez mais industrializados. Uma solução para o manejo correto e diminuição desde impacto ambiental está na adoção de tecnologias adequadas e estas, por sua vez, devem ser definidas por informações técnicas consistentes. (PEGIRS/RN, 2012, p.13). De acordo com a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, resíduos sólidos são ―Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição‖ (ABNT ,p ) Sendo assim, é necessário que se tenha a preocupação e o planejamento adequados para se fazer a destinação final correta destes resíduos, uma vez que cada brasileiro produz 1,1 Kg de lixo em média por dia, de modo que no País, são coletadas diariamente 188,8 toneladas de resíduos sólidos. Desse total, em 50,8% dos municípios, os resíduos ainda têm destino inadequado, pois vão para os 2.906 lixões que o Brasil possui (IPEA, 2012). O nosso estado é um exemplo concreto destas estatísticas, uma vez que, para atender aos 167 municípios do estado, temos apenas dois aterros sanitários, um localizado em Ceará-Mirim, na 214 Região Metropolitana de Natal, e um segundo na cidade de Mossoró. Nas demais localidades, o destino final dos resíduos sólidos são os lixões a céu aberto (PEGIRS, 2012). Mas esta é uma realidade que está para mudar, pois o PEGIRS publicado este ano mostra uma estratégia de divisão do estado em seis regiões e a construção de Aterros Sanitários para cada uma das regiões que ainda não os possui. O Plano Estadual dividiu o Estado em seis regiões: Seridó, Alto Oeste, Agreste, Mato Grande, Assu e Região Metropolitana. Apesar de o Plano ter levado em consideração as regiões geográficas do Estado, para garantir o funcionamento da logística do trabalho de resíduos sólidos, algumas cidades de outra região estão incluídas na área de determinado consórcio. Desta forma foi prevista a melhor forma de fazer chegar os resíduos sólidos aos aterros sanitários por meio das estações de transbordo. Este é um grande passo dado para atingir a meta de ter a disposição final adequada de resíduos sólidos urbanos no estado. (PEGIRS, 2012) Um grande problema que permeia esta questão da disposição inadequada dos resíduos sólidos consiste no fato de que os depósitos de lixo, sejam eles aterros ou lixões, geram metano que, depois do CO2, é o gás de origem antropogênica que mais contribui para o efeito estufa, se tornando um dos gases mais importantes nos estudos sobre alterações climáticas induzidas pelo homem (Alves e Vieira, 2006) Este artigo tem por objetivo estimar a emissão de GEE a partir da degradação de resíduos depositados em aterros sanitários no Rio Grande do Norte, realizando o levantamento de dados dos 167 municípios que o compõem, presentes na literatura nacional e municipal e informações técnicas locais referentes à quantidade de habitantes, taxa de geração de resíduos por habitantes, composição gravimétrica, taxa de coleta, tipo de destinação, dados sobre a operação dos aterros sanitários e a taxa de recuperação do biogás, além de estimar as emissões de CH4, utilizando os dados levantados e aplicá-los ao Modelo de Decaimento de Primeira Ordem definido pelo Intergovernamental Panel on Climate Change – IPCC (2000). Assim, este trabalho faz uma projeção de como será esta emissão, caso todos os sete Aterros Sanitários planejados para o estado, distribuídos nos seis agrupamentos territoriais sugeridos pelo PEGIRS/RN (o da Região Metropolitana e o de Mossoró já estão em atividade e serão construídos mais cinco Aterros Sanitários) sejam utilizados da maneira correta e a taxa de coleta seja de 100%. Metodologia Os dados ainda estão sendo processados e levantados, uma vez que é necessária a colaboração de órgãos estaduais e o levantamento de dados é feito para os 167 municípios do Estado do Rio Grande do Norte. 215 A metodologia de pesquisa para elaboração do presente inventário foi dividida em duas vertentes, quais sejam: pesquisa bibliográfica e levantamento de dados. Para a pesquisa bibliográfica foram utilizados livros, artigos, trabalhos, normas e leis sobre ao tema abordado. O levantamento bibliográfico também serviu de base para firmamento de conceitos na aplicação do método escolhido. Já para o levantamento de dados foram utilizados os dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN – IDEMA, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – SEMARH e Prefeitura, sobretudo os Relatórios Anuais de Atividades e dados referentes à população e à dinâmica dessa com a geração de Resíduos Sólidos Urbanos, os quais são o fundamento para aplicação do método adotado. Neste trabalho foi utilizada a metodologia revisada de 1996 (IPCC, 1996), onde é utilizada a fórmula abaixo para a determinação da emissão anual de CH4, para cada país ou região, no nosso caso, o estado do Rio Grande do Norte. Sendo que: Popurb: População urbana do país [habitantes]; taxa RSD: Taxa de geração de resíduos sólidos domésticos por habitante por ano; RSDF: Fração de resíduos sólidos domésticos que é depositada em locais de disposição de resíduos sólidos [fração adimensional]; FCM: Fator de correção de metano [fração adimensional]; COD: Carbono orgânico degradável no resíduo sólido doméstico [fração adimensional]; CODF: Fração de COD que realmente degrada [fração adimensional]; F: Fração de CH4 no gás de aterro [fração adimensional]; 16/12: Taxa de conversão de carbono em metano [fração adimensional]; R: Quantidade de metano recuperado [GgCH4/ano] e, por fim, OX: Fator de oxidação [fração adimensional]. A elaboração do inventário compreende o levantamento de dados dos 167 municípios do Estado do Rio Grande do Norte, referente ao ano de 2010, que foi o último ano de censo realizado pelo IBGE. Porém, os dados de composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos e outros dados relativos à disposição de resíduos foram levados em consideração os dados do PEGIRS/RN, realizado em 2012. Os dados levantados e utilizados estão listados a seguir: Quantidade de habitantes em cada município; Taxa de geração de resíduos por habitante; Composição gravimétrica dos resíduos, utilizado para o cálculo do Carbono Orgânico Degradável (COD); 216 Taxa de coleta dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU); Tipo e qualidade da destinação final dos RSU, utilizado para o cálculo do Fator de Correção de Metano (FCM); Taxa de recuperação de biogás, caso exista. A seguir, temos o detalhamento de cada uma das variáveis da fórmula. As demais variáveis que não são explicitadas abaixo ainda não foram determinados, mas está em processo de cálculo e determinação. Levantamento de Dados e Características Gerais do Estado Com uma área de 52.810,699 km², o Estado do Rio Grande do Norte se situa na Região Nordeste do Brasil, tendo como limites o Oceano Atlântico a norte e a leste, a Paraíba ao sul, e o Ceará a oeste. Segundo dados do IBGE - Censo 2010, a população do RN é de 3.168.027 habitantes, sendo que três municípios no Rio Grande do Norte têm mais de 150 mil habitantes: Natal (capital, com 803.739 habitantes), Mossoró (259.815 habitantes) e Parnamirim (202.456 habitantes). Com mais de 50 mil habitantes temos os municípios de São Gonçalo do Amarante (87.668 habitantes), Ceará-Mirim (68.141 habitantes), Macaíba (69.467 habitantes), Caicó (62.709 habitantes) e Assu (53.227 habitantes). Para efeito de planejamento, gestão e administração dos Resíduos Sólidos produzidos no estado, o PEGIRS/RN dividiu o estado em cinco regiões, onde terão sete Aterros Sanitários funcionando e atendendo aos 167 municípios do estado (quadro 1). O Agrupamento Territorial escolhido foi o quinto apresentado e conta com as regiões: Seridó, Alto Oeste, Vale do Assú (com um Aterro Sanitário exclusivo para Mossoró), Mato Grande, Agreste e Região Metropolitana, como mostra o mapa a seguir: Figura 2: Mapa de Regionalização para a formação de Consórcios de Resíduos Sólidos/Saneamento no RN. Apresenta as seis regiões onde serão construídos ou já existem os Aterros Sanitários. 217 Fonte: PEGIRS/RN, 2012 Tabela 1: Agrupamento Territorial proposto pelo PEGIRS/RN, mostrando as regiões, quantos municípios fazem parte dela e o detalhamento de cada Município. Agrupamento Territorial Quantidade de Municípios 1º -SERIDÓ 25 2º - ALTO OESTE 44 3º - VALE DO ASSÚ 24 1 4º - MATO GRANDE 26 5º - AGRESTE 39 6º-REGIÃO METROPOLITANA 8 Municípios Acari, Bodó, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz, Timbaúba dos Batistas e Triunfo Potiguar. Água Nova, Alexandria, Almino Afonso, Antônio Martins, Apodi, Campo Grande, Caraúbas, Coronel João Pessoa, Doutor Severiano, Encanto, Felipe Guerra, Francisco Dantas, Frutuoso Gomes, Governador Dix-Sept Rosado, Itaú, Janduis, João Dias, José da Penha, Lucrécia, Luis Gomes, Major Sales, Marcelino Vieira, Martins, Messias Targino, Olho-d‘Água do Borges, Paraná, Patu, Pau dos Ferros, Pilões, Portalegre, Rafael Fernandes, Rafael Godeiro, Riacho da Cruz, Riacho de Santana, Rodolfo Fernandes, São Francisco do Oeste, São Miguel, Serrinha dos Pintos, Severiano Melo, Taboleiro Grande, Tenente Ananias, Umarizal, Venha Ver e Viçosa. Afonso Bezerra, Alto do Rodrigues, Angicos, Areia Branca, Assú, Baraúna, Carnaubais, Espírito Santo do Oeste (Paraú), Fernando Pedroza, Grossos, Guamaré, Ipanguaçu, Itajá, Lajes, Macau, Pedra Preta, Pedro Avelino, Pendências, Porto do Mangue, Santana do Matos, São Rafael, Serra do Mel, Tibau e Upanema. Mossoró Barcelona, Bento Fernandes, Bom Jesus, Caiçara do Norte, Caiçara do Rio dos Ventos, Galinhos, Jandaíra, Jardim de Angicos, João Câmara, Lagoa de Velhos, Parazinho, Pedra Grande, Poço Branco, Pureza, Riachuelo, Rio do Fogo, Ruy Barbosa, Santa Maria, São Bento do Norte, São Miguel do Gostoso, São Paulo do Potengi, São Pedro, São Tomé, Senador Elói de Souza, Taipu, Touros. Arêz, Baía Formosa, Boa Saúde, Brejinho, Campo Redondo, Canguaretama, Coronel Ezequiel, Espírito Santo, Goianinha, Jaçanã, Japi, Jundiaí, Lagoa d‘Anta, Lagoa de Pedras, Lagoa Salgada, Lajes Pintadas, Montanhas, Monte Alegre, Monte das Gameleiras, Nísia Floresta, Nova Cruz, Passa e Fica, Passagem, Pedro Velho, Serra Caiada, Santa Cruz, Santo Antônio, São Bento do Trairí, São José de Mipibu, São José de Campestre, Senados Georgino Avelino, Serra de São Bento, Serrinha, Sítio Novo, Tangará, Tibau do Sul, Várzea, Vera Cruz e Vila Flor. Ceará-Mirim, Extremoz, Ielmo Marinho, Macaíba, Maxaranguape, Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante. Fonte: PEGIRS/RN, 2012 218 Dados Populacionais Os dados relativos à população de todos os municípios do Estado do Rio Grande do Norte foram obtidos no Censo de 2010 do IBGE. A metodologia do IPCC foi utilizada separadamente para cada um dos seis Agrupamentos Territoriais, de modo que se pretende ter um resultado para cada Aterro Sanitário do Estado. Taxa de geração de Resíduos Sólidos Domésticos – RSD por Habitante (TaxaRSD) A TaxaRSD foi estimada utilizando os dados de geração de RSU per capita da CETESB/SP para o ano de 1970 e os dados de população do Censo do IBGE de 2010. O cálculo foi feito de acordo com a tabela abaixo: Tabela 2: Mostra a Taxa de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) gerados por habitante por dia. Leva em consideração a quantidade de habitantes de determinada área. Taxa de RSU gerados por habitante (taxa RSD) Até 100.000 hab. 0,4kg/hab.dia De 100.001 a 500.000 hab. 0,5kg/hab.dia De 500.001 a 1.000.000 hab. 0,6kg/hab.dia Mais que 1.000.000 hab. 0,7kg/hab.dia Fonte: CETESB, 1992 Essa tabela não leva em conta fatores como o nível de renda, as práticas de reciclagem ou outras que possam induzir a variação das quantidades geradas por habitante e que, sabidamente, variam de residência para residência, de bairro para bairro, de cidade para cidade e variam mesmo entre os dias da semana ou os meses do ano. Essas variações todas não são levadas em conta nesse modelo. Taxa de Coleta de RSD (RSDF) Consiste na relação entre os resíduos gerados pela população e a fração destes que são depositados nos locais de disposição final, neste casso, o Aterro Sanitário. Aqui, usaremos o valor de 100%, uma vez que estamos considerando as condições ideais de gestão dos RSU, para depois determinar qual seria a Emissão de GEE por estes Aterros, fazendo uma estimativa de como seria o quadro do Estado, se fosse feito toda a Gestão de maneira eficiente e completa. Composição Gravimétrica dos RSU Consiste na obtenção dos percentuais em peso dos principais componentes dos RSU, como o papel, vidro, alumínio, papelão, plástico, e outros. Estes dados são utilizados para calcular o Carbono Orgânico Degradável (COD), usando equação abaixo, sugerida pelo IPCC e modificada 219 devido à dificuldade em discriminar Resíduos de jardim, parques e outros orgânicos putrescíveis não alimentares (B) de resíduos de alimentos (C) e dos resíduos de madeira e palha (D), sendo assim, a equação original foi substituída pela apresentada a seguir, onde A é o percentual de resíduos de papel/papelão e têxteis: Os valores encontrados nesta fórmula são baseados na seguinte tabela: Tabela 3: Frações de carbono orgânico degradável (DOC) por diferentes tipos de resíduos Dado default de DOC Percentual do DOC (em Fração do resíduos peso) A - Papéis e têxteis 40 B - Resíduos de parques e jardins e outros orgânicos putrecíveis, exceto alimento 17 C - Resíduos alimentares 15 D - Resíduos de madeira e palha 30 Fonte: Adaptado (Oliveira, 2009, p.48 apud IPCC, 1996) Fator de Correção de Metano (FCM) O IPCC recomenda valores de FCM de acordo com a profundidade do local de disposição de resíduos sólidos, de acordo com a tabela abaixo, de modo que estaremos trabalhando apenas com Aterros Sanitários. Tabela 4: Valores para Fator de Correção de Metano (FCM), de acordo com o recomendado pelo IPCC Valores para Fator de Correção de Metano (FCM) Tipo de local de disposição FCM Vazadouros a céu aberto(Lixão) 0,4 Aterro Controlado 0,8 Aterro Sanitário 1 Local sem categoria 0,6 Fonte: IPCC, 1996 220 Resultados obtidos e esperados Ainda está sendo realizado o levantamento dos dados necessários para se calcular a emissão de metano pelos aterros sanitários do Rio Grande do Norte, porém, já é possível tirar algumas conclusões e estimativas a respeito dos resultados concretos que serão obtidos. O aterro sanitário de Ceará-Mirim (Região Metropolitana de Natal) realiza a disposição final dos resíduos sólidos de Natal, Ceará-Mirim e Parnamirim, além dos resíduos oriundos dos municípios de Ielmo Marinho, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Rio do Fogo e Macaíba. O aterro instalado em Mossoró realiza a coleta do resíduo sólido domiciliar e comercial da área urbana e das localidades rurais do município. Os resultados obtidos até o momento estão explicitados nos tópicos a seguir: Carbono Orgânico Degradável (COD) O COD foi calculado baseado nos estudos feitos para elaboração do PEGIRS/RN, 2012, onde foram coletados dados a respeito da composição gravimétrica dos resíduos sólidos do RN, tendo sido feito uma média de valores, para ser utilizado o mesmo valor para todas as seis Regiões do Estado (tabela 5). Com o valor percentual da composição gravimétrica, foi possível colocar os valores na fórmula e elaborar a tabela 6. Tabela 5: Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos no Estado do Rio Grande do Norte. Em amarelo são as variáveis B+C+D e em verde a variável A Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos no RN Tipo de resíduo Matéria Orgânica Madeira Melissa Papel Metais Ferrosos Papelão Plástico Duro Plástico Filme Longa Vida Vidro Têxteis Alumínio % 37,49 0,12 0,26 2,03 1,37 2,92 4,39 8,7 0,82 1 3,15 0,18 221 37,57 100 Rejeito TOTAL Fonte: PEGIRS/RN, 2012 Tabela 6: Estimativa do carbono orgânico degradável (COD) dos resíduos sólidos urbanos (RSU) no estado do Rio Grande do Norte (RN) Carbônico Orgânico Degradável - COD Tipo de a = % COD resíduo A 40 B+C b= % Resíduo c = a.b/100 8,1 3,24 37,61 +D m in m ax 5,641 15 5 11,28 30 3 A = percentual de resíduos de papéis e têxteis. SOMA B = percentual de resíduos de jardim, resíduos de parques ou resíduos orgânicos 8,881 min 5 putrescíveis sem serem alimentos. 14,52 max C = percentual de resíduos alimentares. D = percentual de resíduos de madeira. 3 Média 11,70 = (max+min)/2 225 Fonte: Elaborado pelo autor O valor do COD para o Estado do Rio Grande do Norte está de acordo com o sugerido pelo IPCC, que é igual a 12. Se este valor for comparado ao valor calculado para o Brasil no Inventário Nacional de Emissão de Metano pelo Manejo de Resíduos, realizado pela SETESB, vemos uma grande diferença, uma vez que os valores encontrados foram de mínimo de 17,8 e máximo de 28,4, de modo que cada estado tem uma peculiaridade sua, sendo importante a realização de inventários estaduais. População, FCM e Taxa RSD 222 Temos abaixo uma tabela com as regiões do Estado, sua respectiva população, com os valores do FCM, Taxa RSD e o COD, já discutido no tópico anterior. Para chegar ao valor de habitantes, foi feita uma tabela com todos os municípios pertencentes a cada região e sua respectiva população, usando dados do Censo do IBGE de 2010. A soma foi realizada e os valores estão na tabela 7. O FCM utilizado foi com o valor 1, pois estamos lidando com Aterros Sanitários com uma administração e gestão adequados. A taxa RSD foi utilizada de acordo com a tabela 2 mostrada na metodologia, e leva em consideração o a quantidade de habitantes da região. Tabela 7: Regiões, com os devidos valores de habitantes, Fator de Correção de Metano (FCM), Taxa de Produção de Resíduos Sólidos Domésticos por habitante (RSD) e Carbono Orgânico Degradável. Habit Região antes CM F RSD taxa COD (kg/hab.dia) 285.2 Seridó 85 1 333.2 Alto Oeste 75 Mossoró Vale do Assú 259.8 15 Demais Municípios Mato Grande Agreste Região Metropolitana 313.1 13 223.6 23 474.2 64 1.278 .652 1 1 1 1 1 1 0,5 11,7 0,5 11,7 0,5 11,7 0,5 11,7 0,5 11,7 0,5 11,7 0,7 11,7 Fonte: Elaborado pelo autor Até o momento, estes foram os dados coletados e trabalhados, porém, para que se tenha o valor da emissão de GEE será necessário obter os valores das outras variáveis da fórmula da metodologia sugerida pelo IPCC. Referências 223 ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004: 2004 - Resíduos sólidos Classificação. Rio 12 de Janeiro, 2004. ALVES, J.W.S., VIEIRA, S. M. M. Inventário Nacional de Emissões de Metano pelo manejo de Resíduos – 1990 a 1994 in Biogás: projetos e pesquisas no Brasil/CETESB, Secretaria do Meio Ambiente; organização Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer; responsável técnico João Wagner Silva Alves. São Paulo: SMA, 2006. CETESB – Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental. 1° Relatório de Referência do Estado de São Paulo de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa, período de 1990 – 2008. São Paulo, 2010. IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Solid Waste Disposal – Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories. Report produced by Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) on the invitation of the United Nations Framework Convention on Climate Change. London, 2006. IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Good Practice Guidance and Uncertainty Management in National Greenhouse Gas Inventories. Report produced by Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) on the invitation of the United Nations Framework Convention on Climate Change. London, 1996. PEGIRS/RN – Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Rio Grande do Norte – Relatório Síntese. Natal (RN): Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – SEMARH, 2012. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Urbanos: Relatório de Pesquisa. Brasília, 2012. 224 ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DOS MUNICÍPIOS PARAIBANOS SOB A PERSPECTIVA DA DESERTIFICAÇÃO Lucivânia RANGEL de Araújo Medeiros (UFCG/PB)[email protected] Luara LOURENÇO Ismael-(UFCG/PB)[email protected] Lucas NUNES Brasiliano-(UFCG/PB)[email protected] Ricardo SCHMIDT Filho-(UFCG/PB)- [email protected] Resumo As regiões subúmidas, áridas e semiáridas estão sujeitas a fenômenos climáticos, como a seca, resultando na maior probabilidade de intensificação dos processos de desertificação. A desertificação pode ser entendia como o estágio final da degradação dos recursos naturais e dar-se em função das características climáticas dessas regiões, além do manejo inadequado realizado pelas atividades antrópicas. O presente trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico e avaliação do processo de desertificação no estado da Paraíba, relacionando os municípios menos afetados pelo problema de desertificação com os que estão em áreas susceptíveis a desertificação (ASD) através de indicadores sócio-econômicos, como intuito de verificar se os municípios em ASD apresentam uma maior vulnerabilidade. Os resultados apontam para um situação de maior precariedade nos municípios mais afetados pela desertificação quando comparadas com os municípios menos afetadas no Estado da Paraíba. Palavras-chave: Seca; Vulnerabilidade; Indicadores. Abstract The subhumid, arid and semiarid regions are under effect of climatic phenomenons, like drought, resulting in a higher probability of intensification of desertification processes. Desertification can be understood as the final stage of degradation of natural resources and can be given due to climatic characteristics of these certain regions, in addition to inappropriate management performed by human activities. This paper aims to make a diagnosis and assessment of desertification process in the state of Paraíba, linking the cities least affected by the problem of desertification with those in areas susceptible to desertification (ASD) through socio-economic indicators, in order to ascertain whether the municipalities in ASD have a higher vulnerability. The results point to a more precarious situation in the municipalities most affected by desertification compared to the less affected municipalities in the state of Paraíba. 225 Keywords: Drought; Vulnerability; Indicators. Introdução A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, ocupando quase 10% do território nacional com 736.833 km2. Situa-se no "Polígono das Secas", região do Nordeste brasileiro que compreende ecossistemas frágeis e vulneráveis à desertificação, principalmente devido às condições climáticas, como também às características dos solos, à exploração inadequada dos recursos naturais, e ao superpastoreio (PAE, 2011). No Estado da Paraíba, dois terços da área total do Estado correspondem ao ecossistema Caatinga. Esse bioma estende-se por cerca de 4/5 da superfície do seu território, abrangendo as regiões do Sertão, Cariri, Seridó e Curimataú (WWF-BRASIL, 2008; TAVARES DE MELO; RODRIGUEZ, 2003). Além de ser um bioma frágil e sob forte pressão, é o menos protegido dos biomas brasileiros. Menos de 1% de sua área está protegida em Unidades de Conservação (UC‘s) de uso indireto e é o bioma com o menor número de Unidades de Conservação de proteção integral. É também o menos estudado e conhecido e um dos mais antropizados, ultrapassado apenas pela Mata Atlântica e Cerrado (CAVALCANTE, 2007). Desertificação pode ser definida através do capitulo 12 da agenda 21 do United Nations Conference on Environment and Development (UNCED), como: ―A degradação de terras em áreas áridas, semi- áridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo variações e atividades humanas‖ Degradação da terra corresponde à degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e da biodiversidade. A degradação esta ligada diretamente a redução da qualidade de vida das populações afetadas pelo conjunto combinado desses fatores (PAN-Brasil, 2004). O processo de desertificação tem como causas tanto a ação do homem sobre o seu ambiente como os fenômenos de origem natural. Estas mudanças naturais são características do processo evolutivo do planeta, ou seja, mudanças naturais associadas ao seu ciclo evolutivo, mas além destas, apresenta também impactos causados pelo ser humano, estes gerando grandes prejuízos econômicos, sociais, culturais, políticos e ambientais (PAN-Brasil, 2004). Quanto mais seca a região mais susceptível é o local a desertificação. O índice de aridez é um fator climático que pode identificar as áreas susceptíveis à desertificação (ASD), embora este critério sozinho não seja suficiente para identificar essas áreas de riscos. O índice de aridez varia de 0,05 até 0,65. Esta susceptibilidade pode variar de muito alta até moderada, as áreas que estão dentro desse índice de aridez são conhecidas como ―terras secas‖ (MATALLO E SCHENKEL, 1999). 226 No que se refere ao estado da Paraíba temos que 93,27% de seus municípios encontra-se em ASD, somando um total de 208 municípios dos 223 existentes, os quais 150 estão na área semiárida, 47 em áreas subúmidas secas e 11 em áreas de entorno. Apenas 15 municípios do estado não se encontram em ASD (ALVES et al. , 2009). BARBOSA et al. (2005) aponta que 63,54% do território paraibano está em processo de desertificação moderados ou severos o que é um dado alarmante. Os maiores níveis de degradação do estado estão localizados nas microrregiões da Mesorregião da Borborema, mais especificamente no Cariri Oriental e Ocidental e Seridó Oriental e Ocidental e em algumas outras localizadas na Mesorregião do Sertão, em especial os municípios de Patos e partes de Catolé do Rocha, Piancó, Sousa, Itaporanga e Cajazeiras. Já no Seridó Oriental e Ocidental, ou seja, no centro-norte da Paraíba o que se observar é que há uma extensão das áreas degradadas do Seridó do Estado do Rio Grande do Norte (PAE, 2011) Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico e avaliação da relação entre o processo desertificação e a evolução de indicadores socioeconômicos dos municípios do estado da Paraíba, com especial destaque para as regiões secas (semi-áridas) procurando testar a hipótese de que municípios em ASD apresentam maior vulnerabilidade socioeconômica no estado. Material e métodos Esta pesquisa é de natureza qualitativa na medida em que busca avaliar a relação entre a desertificação e vulnerabilidade socioeconômica dentro do estado da Paraíba, levando em consideração os municípios com maiores índices de desertificação e os que não são afetados pelo problema. Com este intuito foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o problema da seca no Nordeste e em especial na Paraíba, destacando suas causas, principais problemas e tentativas de solução. A partir deste ponto foi realizada uma análise sobre o tema da desertificação, com especial destaque para as ações humanas que aceleram este processo, identificando quais as causas e consequências deste problema, focando-se para a situação e identificação dos municípios no estado da Paraíba que sofrem com este fenômeno de degradação ambiental. Os municípios em ASD que apresentam os maiores graus de desertificação são 28, sendo estes: Baraúna, Camalaú, Caraúbas, Coxixola, Cubati, Cacimba de Areia, Seridó, Juazeirinho, Patos, Frei Martinho, Picuí, Nova Palmeira, Santa Luzia, Barra de São Miguel, São José dos Cordeiros, Serra Branca, Pedra Lavrada, Tenório, São João Do Tigre, São José do Sabugi, São Mamede, Taperoá, Várzea, Santo André, Santa Teresinha, Congo, Parari e Gurjão. Já os municípios menos afetados por essa problemática 227 são 15: Alhandra, Baía da Traição, Bayeux, Caaporã, Cabedelo, Capim, Conde, João Pessoa, Lucena, Marcação, Mataraca, Pedras de Fogo, Pitimbu, Rio Tinto, Santa Rita. Após a identificação das áreas citadas anteriormente, foram capturados indicadores socioeconômicos para os municípios paraibanos, a fim de verificar se os municípios com maior presença do fenômeno da desertificação apresentam maior vulnerabilidade socioeconômica. Os indicadores utilizados foram separados por grupos14: a) Demografia; b) Desenvolvimento Humano; c) Educação; d) Saúde. O intuito destas comparações é identificar se existe um comportamento sistemático nos resultados dos indicadores, sendo o resultado esperado os municípios mais atingidos apresentarem indicadores com valores piores do que os municípios que não se encontram em ASD. Resultados e discussão Neste tópico serão avaliadas as médias dos dados socioeconômicos dos anos de 1991 e 2000 para os dois grupos dos municípios paraibanos, o primeiro grupo está sendo representado pelos municípios em ASD que apresentam os maiores graus de desertificação, já o segundo, pelos municípios menos afetados por esse problema. Quadro 01 – Análise para as variáveis de Demografia. Indicador: Municípios mais Municípios menos afetados afetados Demografia 1991 2000 Evolução 1991 2000 Evolução População 8.64 9.16 5,9 54.74 65.94 20,47 População Rural 3.32 2.84 -14,5 4.86 4.78 -1,43 Professores do fundamental residentes com 8.36 8.57 2,49 9,58 11,81 23,32 curso superior Fonte: Elaboração Própria. 14 Todos estes indicadores encontram-se disponíveis no site: www.ipeadata.gov.br. Eles estão desagregados a um nível municipal, sendo assim possível a sua plena utilização nos objetivos propostos no trabalho. 228 A análise dos dados para o critério Demografia está representada no Quadro 01. Este indicador foi dividido em 3 sub-indicadores: População, população rural e professores do fundamental residentes com curso superior. População: Trata-se do número de pessoas moradoras presentes, que tinham a unidade domiciliar como local de residência habitual e se achavam presentes na data da referência, e pessoas moradoras ausentes, que tinham a unidade domiciliar como local de residência habitual e na data de referência estavam ausentes temporariamente, por período não superior a 12 (doze) meses em relação àquela data. Ao analisar este indicador pode-se perceber que teve um aumento da população entre os anos de 1991 a 2000, obtendo assim uma evolução média positiva e crescente para os dois grupos, porém o segundo grupo atingiu uma evolução bem mais expressiva que o primeiro. População rural: O indicador população rural consiste em identificar o número total de pessoas que residem em áreas rurais, ou seja, fora do perímetro urbano. Os dois grupos apresentaram uma redução na população rural para os anos de 1991 e 2000, obtendo assim uma evolução média negativa e decrescente, o segundo grupo tendo uma evolução bem mais expressiva, este valores representando o êxodo rural que se deu nesse período, designando o abandono do campo por seus habitantes, em busca de melhores condições de vida. Professores do fundamental residentes com curso superior: Razão entre o total de pessoas residentes no município que exercem a profissão de professor de curso fundamental e que têm curso superior e o total das pessoas residentes no município que exercem esta profissão, vezes cem. Os dois grupos apresentaram um aumento da quantidade de professores residentes com curso superior nos anos de 1991 e 2000, embora o segundo grupo exponha um valor bem mais expressivo que o primeiro. Quando comparamos a evolução dos dois grupos para o indicador demografia, percebe-se que o segundo apresenta os melhores valores, este fator se dá em consequência de que é nesse grupo que estão concentrados os grandes centros urbanos do estado da Paraíba, comprovando que os municípios que não estão em ASD apresentam os melhores resultados demográficos. No quadro 02 são analisados indicadores de desenvolvimento humano. Serão avaliados o Índice de desenvolvimento Humano, e seus sub-componentes de Educação, Longevidade e Renda. Estes indicadores são importantes para avaliar a questão do desenvolvimento socioeconômico dos municípios. 229 Quadro 02 – Análise para as variáveis de Desenvolvimento Humano. Indicador: Desenvolvimento Humano Municípios mais afetados Municípios menos afetados 1991 2000 Evolução 1991 2000 Evolução IDH 0,509 0,616 20,95 0,511 0,620 21,49 IDH-longevidade 0,54 0,62 14,75 0,55 0,63 12,87 IDH-Renda 0,44 0,51 17,52 0,48 0,54 11,46 IDH-educação 0,55 0,71 29,71 0,49 0,69 41,1 Fonte: Elaboração Própria. Índice de desenvolvimento humano: É obtido pela média aritmética simples de três subíndices, referentes às dimensões Longevidade (IDH-Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda), é uma medida comparativa usada para classificar os municípios pelo seu grau de desenvolvimento humano. Pode-se percebe que os dois grupos apresentaram uma evolução média positiva, embora o segundo grupo tenha se sobressaído sobre o primeiro, apresentando um IDH mais elevado. Índice de desenvolvimento humano-longevidade: Obtido a partir do indicador esperança de vida ao nascer, através da fórmula: (valor observado do indicador - limite inferior) / (limite superior - limite inferior), onde os limites inferior e superior são equivalentes a 25 e 85 anos, respectivamente. Os dos grupos apresentaram-se de forma positiva nos anos de 1991 e 2000. O segundo grupo exibiu o maior índice do que o primeiro. Índice de desenvolvimento humano- renda: É alcançado a partir do indicador renda familiar per capita média, através da fórmula: [ln (valor observado do indicador) - ln (limite inferior)] / [ln (limite superior) - ln (limite inferior)], onde os limites inferior e superior são equivalentes a R$3,85 e R$1540,25, respectivamente. Estes limites correspondem à conversão dos PIB em dólar PPC2000 para RFPC em reais de 2000. Os dois grupos apresentaram para este indicador um evolução positiva, embora o primeiro apresentasse o maior IDH-renda. 230 Índice de desenvolvimento humano- educação: Seu resultado se dá a partir da taxa de alfabetização e da taxa bruta de frequência à escola, convertidas em índices por: (valor observado limite inferior) / (limite superior - limite inferior), com limites inferior e superior de 0% e 100%. O IDH-Educação é à média desses 2 índices, com peso 2 para o da taxa de alfabetização e peso 1 para o da taxa bruta de frequência. Os dois grupos apresentaram evolução média positiva entre 1991 e 2000, embora o segundo tenha apresentado índices mais expressivos. O indicador que vai ser analisado agora é Saúde (Quadro 03), este foi dividido em 3 Subgrupos: Enfermeiros residentes com curso superior, Médicos residentes (por mil habitantes) e Mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos. Quadro 03 – Análise para as variáveis de Saúde Indicador: Saúde Municípios mais afetados 1991 2000 9,88 16,10 62,86 0,032857 0,095 Enfermeiros residentes C.S Médicos residentes Mulheres chefes de familia S. C 6,93 5,66 Municípios menos afetados Evolução 1991 2000 Evolução 7,09 7,03 -0,95 189,13 6,3 5,66 -10,15 -18,35 8,99 6,03 -32,88 Fonte: Elaboração Própria. Enfermeiros residentes com curso superior: Razão entre o total de pessoas residentes no município que exercem a profissão de enfermeiro e que têm curso superior e o total das pessoas residentes no município que exercem esta profissão vezes cem. Ao analisar este indicador, podemos perceber que entre os anos de 1991 e 2000 teve um amento no número de enfermeiros residentes no primeiro grupo, apresentando assim, uma evolução média positiva e crescente, no segundo grupo esse índice reduziu de forma insignificante para tal análise. Os municípios mais afetados pelo processo de desertificação obtiveram o maior valor de evolução. Médicos residentes (por mil habitantes): Razão entre o total de médicos residentes no município e o total de habitantes do mesmo, vezes mil. Houve um aumento de médicos residentes nos primeiro grupo entre os anos de 1991 e 2000. No grupo dois nos anos de 1991 e 2000 a quantidade de médicos residentes reduziu. 231 Mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos: Percentual de mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos em casa. Ao analisar este indicador percebe-se que houve uma redução na quantidade desse indicador para os dois grupos entre os anos de 1991 e 2000, implicando para o estado pontos positivos, já que as crianças dessas relações vão possuir uma melhor base familiar, influenciando na sua educação. O primeiro grupo foi o que apresentou uma maior evolução média, quando comprado com o primeiro. O próximo indicador a ser analisado é Educação, este foi dividido em 5 sub-indicadores: Analfabetos 25 anos e mais, Anos de estudo- média - pessoas 25 anos e mais, Evasão escolar pessoas 15 a 17 anos - fora da escola, frequência escolar pessoas 7 a 14 anos, como podemos verificar no Quadro 04. Quadro 04 – Análise para as variáveis de Educação. Indicador: Municípios mais Municípios menos afetados afetados Educação 1991 Evolução 1991 2000 Evolução 49,71 38,15 -23,26 55,26 40,77 -26,21 2,17 3,10 16,27 2,48 3,55 43,27 Evasão escolar pessoas 15 a 17 anos 51,16 27,90 -45,46 52,70 27,95 -46,96 Frequência escolar pessoas 7 a 14 anos 70,68 94,44 33,62 60,42 92,11 52,44 Analfabetos 25 anos e mais Anos de estudo- média - pessoas 25 anos e 2000 mais Fonte: Elaboração Própria. Analfabetos -25 anos e mais: Percentual de pessoas de 25 ou mais anos de idade que não sabem ler nem escrever um bilhete simples. Percebe-se que para os dois grupos a quantidade de pessoas analfabetas reduziram, indicando que a educação no estado melhorou entre os anos de 1991 e 2000. Os municípios do segundo grupo apresentaram os melhores resultados, refletindo que as políticas públicas de incentivo a alfabetização estão sendo colocadas em prática. Anos de estudo (média - pessoas 25 anos e mais): Razão entre o somatório do número de anos de estudo completados pelas pessoas que tem 25 ou mais anos de idade e o número de pessoas nessa faixa etária. Este indicador é sensível às políticas ativas na área de educação, ele aponta as 232 condições de fornecimento dos serviços educacionais e padrão de vida da população. Nos anos de 1991 e 2000 para os dois grupos a quantidade de pessoas com anos de estudo aumentou, o segundo grupo foi o que apresentou a maior evolução média, proporcionando para o estado um aumento no Capital Humano disponível, em consequência, produzindo efeitos benéficos a nível microeconômico (ganhos individuais crescentes no mercado de trabalho) e macro (elevação da produtividade da mão de obra). Evasão escolar (pessoas 15 anos a 17 anos): Percentual de pessoas de 15 a 17 anos de idade que não frequentam a escola. Este indicador mede a eficácia do sistema escolar em garantir a frequência da população-alvo. Ela é computada a partir dos registros de alunos matriculados ao começo e ao fim do período letivo. Este indicador mostra pontos positivos para a educação paraibana, já que, o número de pessoas fora da escola diminuíram para os dois grupos ao analisar os anos de 1991 e 2000, o segundo grupo foi o que apresentou os melhores índices, refletindo no aumento do número de adolescentes na escola. Frequência escolar (pessoas 7 a 14 anos): Percentual de pessoas de 7 a 14 anos de idade que estão frequentando a escola, independentemente do grau e série. Nos anos de 1991 e 2000 um maior número de crianças passou a frequentar a escola, obtendo assim, uma evolução média positiva e crescente para os dois grupos, porém, o segundo foi o que apresentado a maior evolução média de quantidade de crianças na escola. Essa situação refletindo de forma positiva para a economia brasileira, tendo em vista que futuramente irá ocorrer um aumento nos ganhos individuais crescentes no mercado de trabalho e na produtividade da mão de obra e uma consequente redução nas mazelas sociais. De forma geral, o primeiro grupo vem melhorando os valores dos índices educacionais para os indicadores de educação, porém ainda é o segundo grupo que se destaca, percebendo-se que a população desses municípios apresentam melhores resultados a nível educacional. Conclusão A análise dos dados coletados nesta pesquisa mostrou que os municípios mais desertificados do estado da Paraíba apresentam resultados socioeconômicos piores que os municípios menos desertificados, indicando que são regiões carentes, não apenas de uma solução para o fenômeno da desertificação, mas também carentes sob a perspectiva social. Aqui não busca-se estabelecer apenas uma relação e determinação entre desertificação e vulnerabilidade, mas sim ressaltar pelo uso de algumas variáveis que a precariedade destas regiões mais desertificadas não é apenas hídrica, é bem mais ampla que isso. 233 É preciso entender que o fenômeno natural climático e meteorológico seca não é a causa em si do subdesenvolvimento, da desigualdade social, da pobreza e da miséria da região semiárida brasileira. O grande problema, muitas vezes, esta na exploração que dela fazem os pequenos, porem dominantes, ―grupos políticos‖ locais que deixam grande parte da população em estado de carência Para o Nordeste brasileiro, e quiçá para todo o Brasil, se faz necessário ter políticas públicas mais consistentes para preparar a população e para entender melhor as suas vulnerabilidades. Referências ALVES, J. J. A.; SOUZA, E. N.; NASCIMENTO, S. S. Núcleos de Desertificação no Estado da Paraíba .R. RA´E GA, Curitiba, n. 17, p. 139-152, 2009. BARBOSA, M. P., PEREIRA, D. D., ARAUJO, A. E. Programa de ação estadual de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – Termo de Referência, UFCG, Campina Grande, 2005. CAVALCANTE, M. B.; MARIANO NETO, B. Reflexões sobre os impactos sócio-ambientais da atividade ecoturística no Parque Estadual da Pedra da Boca, Paraíba. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia/UFU, v.8, n.24, p.46-55, 2007. IPEADATA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>. Acessado em: 15 Jun 2012 MATALLO JR , Heitor ―A desertificação no mundo e no Brasil ‖ In: SCHENKEL, Celso Salatino & MATALLO JR., Heitor. Desertificação. Brasília: UNESCO, 1999. PAE. Programa de ação estadual de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca. João Pessoa: Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia. Superintendência de Administração do Meio Ambiente, 2011. PAN-BRASIL. Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN- Brasil) Brasília: Ministério do Meio Ambiente/ Secretaria de Recursos Hídricos, 2004. TAVARES DE MELO, A. S.; RODRIGUEZ, J. L.. Paraíba, desenvolvimento econômico e a questão ambiental. João Pessoa: Grafiset, 2003. WWF-BRASIL. Caatinga. Disponível em: <http://www.wwf.org.br>. Acessado em 28 sets 2012. 234 AS VULNERABILIDADES SOCIOECONÔMICA, POLÍTICA E AMBIENTAL DO HAITI FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Andrea Pacheco PACÍFICO (Nepda/UEPB)15 - [email protected] Laís Azeredo ALVES (Nepda/UEPB)16 – [email protected] Nara Braga Cavalcante de FARIAS (Nepda/UEPB)17 – [email protected] Resumo O presente artigo visa analisar a vulnerabilidade ambiental, socioeconômica e política do Haiti, enfatizando o papel das mudanças climáticas no alargamento desta problemática. A definição de vulnerabilidade é variável de acordo com atores, tempo e espaço e, por este motivo, busca-se delimitá-la nos âmbitos ambiental, socioeconômico e político, com foco no Estado haitiano e, analisando, especialmente, as duas últimas décadas, que contribuíram de forma significativa para a construção de seu status de país vulnerável. A pesquisa parte da definição de vulnerabilidade e de suas variações e, posteriormente, é realizada sua aplicação ao Estado Haitiano. Trata-se de um tema que mostra a interrelação entre os diversos fatores que causam a vulnerabilidade e que contribui para que haja uma melhor compreensão da multicausalidade dos problemas vivenciados por este país. Constatar-se-á, por fim, a ineficiência do Estado Haitiano em responder a tais problemas, sendo este, falho no que diz respeito à proteção de seu território em termos físicos e de sua população. A metodologia utilizada foi dedutiva, pois partiu de uma análise geral da problemática da vulnerabilidade para a situação específica do Estado Haitiano, tendo sido utilizada a pesquisa bibliográfica como fonte de informação. Palavras-chaves: Vulnerabilidades; Mudanças Climáticas; Haiti. Abstract This article aims to analyze the environmental, socioeconomic and political vulnerability of Haiti, emphasizing the role of climate change in the extension of this problem. The definition of vulnerability is variable according to actors, time and space and, therefore, this research seeks to Pesquisa patrocinada pelo Governo Brasileiro, dentro do marco do PIBIC/CNPq 15 Professora adjunta do Curso de Relações Internacionais e coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Deslocados Ambientais (Nepda) – UEPB, além de orientadora da pesquisa. 16 Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Membro do Nepda. 17 Bacharelanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Membro do Nepda. 235 enclose it at the environmental, socioeconomic and politial, focusing on the Haitian State and analyzing specially the last two decades, that contributed significantly to the construction of it's vulnerable status. The research starts from the definition of vulnerability and its variations, and subsequently its applications are held to the haitian state. This is a theme that shows the interrelationship between the various factos that cause vulnerability and contributes to providing a better understanding of the multiple problems faced by this country. It will be noted, finally, the inefficiency of the Haitian State to respond to such problems, being flawed with regard to the protection of its territory in it's physical terms and its population. The methodology was deductive therefore started from a general analysis of the problem of vulnerability to the specific situation of the Haitian State, and was used as a source of bibliographic information. Keywords: Vulnerabilities; Climate Changes; Haiti. Introdução As mudanças climáticas têm, atualmente, provocado intensas discussões acerca de suas consequências para toda a humanidade, observando-se principalmente seus efeitos negativos. O fato é que inúmeros países vêm enfrentando desafios em razão deste fenômeno, que, por sua vez, pode vir a ocasionar o alargamento de vulnerabilidades pré-existentes, como em seus âmbitos social, econômico, político e ambiental. Cada país, dependendo de seu nível de desenvolvimento e de sua capacidade de resposta face aos problemas que se impõem, pode possuir um tipo específico de vulnerabilidade ou vários deles ao mesmo tempo, como também pode não tê-lo. Desta forma, é possível observar que fenômenos semelhantes possuem efeitos diferentes em cada lugar afetado, pois cada região possui distintas maneiras e condições de lidar com eles. Esta pesquisa tem como foco o Haiti, um dos países mais pobres do continente americano, marcado por décadas de violência, por governos instáveis e que se encontra em uma das áreas com maior incidência de fenômenos naturais desestabilizadores, como furacões, terremotos, tsunamis e secas periódicas. Segundo o Atlas de Mudanças Climáticas e Riscos Ambientais da Maplecroft (2011), o Haiti ocupa a primeira posição em uma escala com dez Estados mais vulneráveis às mudanças climáticas, estando classificado em situação de extremo risco. O objetivo desta pesquisa é analisar as vulnerabilidades existentes no Estado Haitiano, observando os aspectos sócio-econômicos, políticos e ambientais que o caracterizam e destacando os efeitos das mudanças climáticas no aprofundamento destas vulnerabilidades. Dissertar-se-á acerca dos principais tipos de vulnerabilidade, nos aspectos já destacados 236 anteriormente, a saber, socioeconômico, político e ambiental, para, então, a partir deles, analisar como as mudanças climáticas afetaram ainda mais os problemas enfrentados pelos haitianos e a forma como o Estado Haitiano lida com estes problemas. Neste momento, observar-se-á a ineficiência deste último que, encontrando-se extremamente vulnerável nos âmbitos citados, possuem imensas dificuldades de responder com agilidade e precisão à proteção de seus nacionais e de sua estrutura física. Visto que existe uma interrelação direta entre as vulnerabilidades, conclui-se que é necessário que sejam desenvolvidas políticas conjuntas que sanem as deficiências do Haiti para que este possa responder de forma eficiente às vulnerabilidades inevitáveis, como aquelas provocadas pelas mudanças climáticas. Vulnerabilidade socioeconômica, política e ambiental Definir vulnerabilidade é essencial para compreender os inúmeros processos de fragilização que Estados podem sofrer em seus distintos âmbitos: social, econômico e ambiental. Assim, duas áreas, a geografia e a demografia, vêm trabalhando enfaticamente nas pesquisas sobre a vulnerabilidade. De acordo com Barcellos e Oliveira (s.d.), a geografia discute a problemática da vulnerabilidade a partir da relação existente entre a sociedade e o meio ambiente; já os demógrafos, segundo os autores, acreditam ser necessário pensar-se nos componentes socioeconômicos como fatores que determinam também esta vulnerabilidade, observando, desta forma, elementos sociológicos e utilizando uma percepção mais crítica sobre a realidade. De acordo com Birkmann (2006), apud Almeida (2010, p. 151), a vulnerabilidade é algo multidimensional, pois se relativiza dependendo do espaço físico e dos grupos sociais que afeta. Além disso, ainda pode ser definida como dependente da escala, ou seja, varia de acordo com o tempo, o espaço e os atores. Além disso, é dinâmica, com suas características e forças motrizes se transformando frequentemente. Existem, de acordo com Cutter e Finch (2008, p. 2.301), duas comunidades atuantes na ciência que analisam a problemática da vulnerabilidade: a humanenvironmental research e a risk-hazards. Segundo os autores, na primeira, os processos ambientais são analisados em uma perspectiva mais global destacando os efeitos locais, como as mudanças climáticas, por exemplo. Já a segunda, faz pesquisas sobre desastres naturais e sua relação com a vulnerabilidade, incorporando o conceito desta na gestão de emergências e na redução dos perigos. O fato é que, segundo Almeida (2010, p.153), medir a vulnerabilidade consiste em uma tarefa complexa que envolve fatores quantitativos, análises qualitativas e metodologias mais amplas de avaliação: ―a grande complexidade do conceito de vulnerabilidade requer uma ‗redução‘ na quantidade de dados coletáveis, para um conjunto de indicadores e critérios relevantes, que facilitem uma avaliação ou estimação exequível da vulnerabilidade‖ Três princípios, seguindo a 237 perspectiva de Cutter et al (2003), apud Almeida (2010, p.155), devem ser analisados quando se pretende medir a vulnerabilidade: [A] primeira é identificação das condições que fazem com que as pessoas ou lugares sejam vulneráveis a eventos naturais extremos, um modelo de exposição; a segunda é a suposição de que a vulnerabilidade é uma condição social, uma medida da resistência ou resiliência social aos perigos; e a terceira, é que há integração da exposição potencial e da resiliência social com lugares e regiões específicos. Barcellos e Ferreira (s.d., p.7) acreditam que os diversos sistemas naturais existentes mantém entre si interrelações por meio de fluxos e ciclos e, desta forma, tirar o equilíbrio de um destes sistemas pode desestabilizar os demais, cada um à sua maneira, dependendo de suas peculiaridades naturais, de sua persistência, de capacidade de resistir ao desequilíbrio sem mudar seu estado em essência, e da resiliência que consiste na capacidade de retornar a seu estado de equilíbrio, após sofrer um distúrbio. Assim, os autores afirmam que [a] ocorrência de um desastre ou acidente ambiental pode ser entendido, então, como o resultado de um ou mais eventos adversos sobre um espaço com certa vulnerabilidade. A busca da definição dos processos que constituem os espaços de risco ambiental aponta para a necessidade de articulação entre as diferentes escalas de ocorrência desses processos. Desta forma, observa-se que a vulnerabilidade pode ser proveniente de diversos âmbitos, quais sejam o sócio-econômico, o político e o ambiental, consistindo em um produto das deficiências existentes nestas escalas. Moser (1998), apud Alves et al. (2006, p.4), define a vulnerabilidade a partir da análise de três elementos: exposição ao risco, incapacidade de reação e dificuldade de adaptação diante da materialização do risco. Desta forma, observa-se que a área ou grupo social mais sujeita à vulnerabilidade é aquela em que a probabilidade de um desastre seja mais propensa e cuja capacidade de resposta seja mínima ou insuficiente. É essencial destacar este último ponto, visto que inúmeros países sofrem com desastres ambientais semelhantes. Todavia, as consequências variam de local para local, em razão do preparo de algumas regiões no recebimento destes fenômenos e de sua capacidade material de recuperação. Um exemplo emblemático seria a comparação dos efeitos causados pelos terremotos no Chile, em 2011, cuja intensidade foi de 8,8 pontos na escala richter, e com o número de mortos e feridos totalizando 25,5 mil, de acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, 2010) apud Arraes, Carvalho, Freitas, Gomes Ximenes (2012), com o caso do terremoto no Haiti, em janeiro de 2010, que atingiu o grau 7 na escala richter (PNUMA, 2010, p.8) e causou a morte de cerca de 222 mil pessoas (PNUMA, 2010, p.11). Os dados supracitados mostram que os efeitos provocados pelos desastres dependeram diretamente da preparação e da capacidade de cada Estado em responder aos problemas. Barcellos e Ferreira (s.d., p.6) acreditam que a vulnerabilidade pode afetar uma região ou 238 uma população quando um conjunto de fatores, quais sejam, físicos, sociais, econômicos ou ambientais, existentes são capazes de potencializar a ocorrência de eventos maléficos como: danos à propriedade, perdas econômicas e degradação ambiental. Metzger et al. (2006) e Schoter et al. (2004), apud Figueirêdo et al. (2010, p.9), de forma mais geral, relacionam a definição de vulnerabilidade ―ao grau de susceptibilidade de um sistema aos efeitos negativos provenientes de mudanças globais‖ Esta pesquisa distingue três tipos de vulnerabilidade: a socioeconômica, a política e a ambiental, destacando seus principais aspectos e lembrando, entretanto, da intrínseca relação entres eles, visto que a ausência de políticas afirmativas em uma área pode prejudicar a outra. Em se tratando da definição de vulnerabilidade social, observa-se uma grande variedade de percepções por parte dos teóricos. Nesta pesquisa, será adotado o pensamento de Guareschi et al. (2007), que afirma ser a vulnerabilidade social, a ausência de condições para se obter acesso à bens e serviços, cuja falta tornam o indivíduo vulnerável, em risco nos campos social e econômico. Para Abramovay (2002), apud Guareschi (2007, p.19), a vulnerabilidade social é definida como situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade. [...] o conceito de vulnerabilidade social está indiretamente vinculado com o de mobilidade social, posto que as possibilidades que indivíduos em vulnerabilidade social possuem de se movimentarem nas estruturas sociais e econômicas são restritas em termos de modificação de inscrição social. Desta forma, Guareschi acredita que a vulnerabilidade social existe quando falta aos cidadãos o acesso à informação e à educação básica e quando faltam estratégias positivas de inclusão. Paulilo e Bello (s.d., p.) acrescentam ainda a necessidade de programas de saúde e condições de vida digna. Katzman (2005), apud Da Silva (2007, p.1), afirma que a vulnerabilidade inclui a pobreza, não se restringindo, pois, a esta: ―la vulnerabilidad trasciende esta condición proyectando a futuro la posibilidad de padeceria a partir de ciertas debilidades, que se constatan en el presente ‖ Padoin e Virgolin (s.d., p.1) acreditam que a vulnerabilidade social esteja no fato de que o indivíduo ou os grupos sociais estejam excluídos do acesso às oportunidades econômicas e sociais, além das culturais, oferecidas pelo Estado e pela sociedade. Para as autoras, a ausência desse tipo de serviço ou bem favorece o estabelecimento da vulnerabilidade social. Existe ainda o que pode ser chamado de vulnerabilidade política, que seguindo o pensamento de Maskrey (1998) apud Relatório do Global Crisis Solutions (s.d., p.3) é resultado de um sistema autoritário, corrupto, com baixo nível de participação popular nos processos de decisão e com a existência ainda de violência política. Compreende-se, desta forma, que o Estado é um ator incapaz de controlar e manter a ordem dentro de seu território e entre seus cidadãos, o que ocasiona 239 situações de violência civil e caos político. De acordo com a OEA (2012), faz-se necessária a existência de mecanismos de transparência, participação política popular e boa governança para que os riscos e as vulnerabilidades sejam mitigadas. A organização acredita ainda que [a]ctive and responsible public participation results in self-awareness […], while fostering transparency and accountability in the administration of emergency assistance, leading to more resilient and prepared communities. Capacity building and institutional strengthening particularly at the local government and organized civil society group level is also crucial, as these are the first to respond in a disaster and are in the best position to work with communities.18 Em se tratando de vulnerabilidade ambiental, observa-se mais uma vez a variedade de definições que a permeiam, dependendo do tipo de situação de cada região analisada. Vale ainda lembrar que, este tipo de vulnerabilidade se encontra diretamente relacionada às questões socioeconômicas e políticas recém-discutidas. A definição aqui utilizada segue o Painel Internacional de Mudança Climática de 2007 (IPCC, na sigla em inglês) que define a vulnerabilidade da mudança climática como the degree to which a system is susceptible to, and unable to cope with, adverse effects of climate change, including climate variability and extremes. Vulnerability is a function of the character, magnitude, and rate of climate change and variation to which a system is exposed, its sensitivity, and its adaptive capacity. 19 Na realidade, ao tratar-se de vulnerabilidade ambiental, segue-se a mesma linha de pensamento do já tratado anteriormente, colocando, todavia, como foco, as questões do meio ambiente paralelamente aos fatores econômico-sociais. A mudança climática é um dos principais fatores que causa a vulnerabilidade ambiental (Bruckner, 2012) e consiste no objeto principal desta pesquisa. Segundo o artigo 1° da Convenção das Nações Unidas para Mudança Climática, mudança climática é a ―mudança de clima atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altera a composição da atmosfera global e que se soma à variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis ‖ De acordo com Bruckner ( ), a mudança climática é um fenômeno que não ocorre isoladamente, consistindo, na realidade, em um dos fatores que dificultam o desenvolvimento. 18 A participação popular ativa e responsável resulta em autoconhecimento [...] enquanto que a promoção de transparência e de responsabilidade na administração da assistência de emergência geram comunidades mais resistentes e preparadas. A capacitação e o fortalecimento institucional particularmente no governo local e na sociedade civil organizada também são cruciais, uma vez que estes são os primeiros a responder a um desastre e estão em melhor posição para trabalhar com as comunidades.(Tradução livre das autoras) 19 O grau em que um sistema é suscetível aos, e incapaz de lidar com os, efeitos adversos da mudança do clima, incluindo a variabilidade climática e temperaturas extremas. A vulnerabilidade está em função do caráter, da magnitude e da taxa de mudança e variação do clima a que um sistema (e sua sensibilidade e capacidade de adaptação) é exposto. (Tradução livre das autoras) 240 As mudanças climáticas, segundo o supracitado autor (Bruckner, 2012), são amplificadores das vulnerabilidades, principalmente em regiões já fragilizadas por outros problemas, já que influenciam na produtividade laboral, no incremento da pobreza e no aumento dos fluxos migratórios. Estas mudanças podem causar desastres naturais, insuficiência na agricultura, dificultar a produção para subsistência, ocasionar problemas na disponibilidade de água potável, entre inúmeros outros obstáculos para o desenvolvimento dos países afetados. Utilizando-se destas definições de vulnerabilidade, nos âmbitos socioeconômico, político e ambiental, percebe-se, de acordo com Gauthier e Moita (2010), que o Haiti é um Estado vulnerável com uma característica acentuada de ocorrência de mudanças climáticas, conforme se verá adiante. Utilizando-se das definições de vulnerabilidade trazidas por Moser (1998), apud Alves (2006) e Bruckner (2012), é possível compreender o Haiti como um país que se encontra em uma área de vulnerabilidade ambiental e sofre com as mudanças climáticas (CIA, 2011). Além disso, possui uma capacidade insuficiente de resposta a estes problemas, devido à sua fragilidade socioeconômica e política, sendo este um exemplo emblemático de Estado vulnerável. As vulnerabilidades do Haiti Partindo do que foi exposto anteriormente, serão abordadas as vulnerabilidades socioeconômicas, políticas e ambientais da República do Haiti, relacionando-as com as mudanças climáticas, vistas como ampliadoras dos problemas resultantes destas vulnerabilidades. Em se tratando de indicadores de vulnerabilidades socioeconômicas, o Haiti é o país mais pobre do hemisfério ocidental (Gauthier e Moita, 2010, p. 5), apresentando um PIB, segundo a ONU (2010), de US $ 11,86 bilhões. E, dados dos Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2011) mostram que, em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Haiti ocupa a 149° posição em um ranking com 182 países, além de ocupar a 97° posição no índice de pobreza humana20, em uma lista de 135 países. É também importante observar os indicadores educacionais para perceber a fragilidade social deste Estado: Dados do PNUD (2011) apontam que apenas 52% da população é alfabetizada, e a média de anos de escola frequentada por adultos é de apenas 4,9. O PNUD informa ainda que, em 2011, apenas 27% da população total (incluindo todos os sexos) estavam matriculados na escola. Ademais, constata-se que 36% dos haitianos possuem até 15 anos, faixa etária ideal para a vivência escolar, constatando-se mais uma vez a deficiência educacional do país. Este aspecto é 20 De acordo com o Banco Mundial, este indicador é composto por três elementos: longevidade, educação e acesso a serviços básicos (saúde, água potável, e alimentação) 241 importante, pois, segundo a definição de Guareschi de vulnerabilidade social, o acesso aos recursos sociais básicos inclui também a educação. Os problemas sociais enfrentados pelo Haiti são reflexos diretos de sua economia, que se encontra em uma situação de difícil dependência externa. Seu maior parceiro comercial são os Estados Unidos, responsáveis por comprar 83,3% das exportações totais do Haiti (CIA, 2011), caracterizando uma forte vulnerabilidade frente a este mercado. Além disso, a ajuda internacional humanitária a este país tem aumentado em grandes fluxos, principalmente devido aos desastres naturais, como tormentas e furacões de 2008 (Rencoret, Stoddard et al., 2010, p. 12), sendo esta outra fonte de fluxos financeiros do país. Este auxílio, segundo Gauthier e Moita, também resulta em efeitos negativos para o país, particularmente no que diz respeito à relação entre o Estado e a sociedade. As autoras explicam que [d]amaging activities include the repeated short international interventions focused on security since 1994 and most importantly, the World Bank and International Monetary Fund imposing standard structural adjustment programs that harmed Haiti‘s economy in the long term, in addition to fluctuating and discontinued aid programs. Haiti had little influence onthe design of its own public policies; this power was concentrated in the hands of foreign institutions.21 A economia do Haiti, de acordo com Gauthier e Moita (2010, p. 3), é amplamente moldada por forças externas, possui elevado grau de abertura e concentração de suas exportações e depende de importações estratégicas. As autoras lembram ainda que, na década de 90, o Haiti promoveu a liberalização de sua economia, a privatização de ativos do governo e a desregulação da economia, o que não significou que o país obteve benefícios advindos destas políticas, pois de acordo com o Banco Mundial (s.d.), apud Gauthier e Moita (2010, p. 3), os componentes estruturais da reforma, necessários para o sucesso da abertura, não foram realizados. Assim, Gauthier e Moita (2010, p. 2-3) afirmam que a falta de diversificação da economia haitiana, que como foi dito anteriormente, tem quase 90% de seus negócios ligados aos Estados Unidos, contribui diretamente para que haja um retrocesso no caminho para sair da pobreza e do subdesenvolvimento e, consequentemente, da situação de Estado fraco e vulnerável em que se encontra a República do Haiti. Entretando, deve-se lembrar que, por vezes, alguns eventos provocadores de vulnerabilidades são de natureza econômica ou ambiental mas que, de acordo com Gauthier e Moita (2010, p. 10), terminam por causar sofrimento social e até mesmo crises políticas mais complexas, expressando desta forma, não só a vulnerabilidade e a fragilidade do Estado em 21 Atividades prejudiciais incluem as repetidas e curtas intervenções internacionais focadas em segurança desde 1994 e, mais importante, as imposições de programas de ajuste estrutural do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional que prejudicavam a economia do Haiti a longo prazo, além de programas de ajuda flutuantes e descontinuadas. O Haiti teve pouca influência sobre o desenho de suas próprias políticas públicas; este poder estava concentrado nas mãos de instituições estrangeiras.(Tradução Livre das autoras) 242 termos econômicos e ambientais, como também a ineficiência do Estado, como instituição, em responder a esta problemática, visando proteger a sua integridade e a de sua população. Para compreender esta vulnerabilidade política, é necessário observar alguns fatos que ocorreram durante a história do país, especialmente após a sua independência. O Haiti foi, historicamente, palco de intensas disputas, as quais, segundo Buss (2008), apud Rencoret, Stoddard et al. (2010, p. 10), culminaram com a morte ou a deposição de muitos de seus líderes. Buss cita, mais precisamente, que de sua independência (1804) até 2008, dos 55 governantes do país, apenas nove terminaram seu mandato, sendo que a mais longa ditadura em que viveu o país foi entre 1957 e 1986, sob o regime de François Duvalier e, posteriormente, de seu filho Jean-Claude Duvalier, conhecidos como ―Papa doc‖ e ―Baby doc‖, respectivamente Após este período de dura repressão, de acordo com o relatório de síntese do Cadre de Cooperation Interimaire (CCI, 2004, p.1), o Haiti teve uma nova constituição promulgada em 1987 e a eleição de 1990 foi fortemente acreditada pela população que apareceu em grande número às urnas. A esperança dos haitianos em ver seu país sob um regime democrático findou logo em seguida quando, em 1991, o então eleito presidente Jean-Bertrand Aristide, foi deposto de seu cargo pelo General Raul Cedra (CCI, 2004, p.1). Assim, durante as duas últimas décadas, o Haiti sofreu com disputas de poder, golpes de Estado, eleições fraudulentas e outros tipos de violência que, segundo Gauthier e Moita (2010, p. 1), fizeram com que o Haiti não ensaiasse progresso na construção e no funcionamento de uma democracia. De acordo com as duas autoras, a elite haitiana é em grande parte a provocadora da condição de instabilidade em que vive o país, pois esta controla a política, a economia e sustenta uma cruel exclusão (Gauthier e Moita, 2010, p. 2). A situação política do Estado está, como foi dito anteriormente, intimamente ligada ao setor econômico, como resumem Gauthier e Moita (2010, p. 5). In practical terms, the state‘s inability and unwillingness to provide public services is most evident in the lack of investment in both education and employment; investments which could in time be converted into production and ultimately state revenues.22 As autoras supracitadas afirmam ainda que, além da ineficiência do Estado em cumprir com suas obrigações previstas, este é também vulnerável no que se refere à sua relação com a sociedade civil, pois não honra o pacto político, social e econômico estabelecido entre eles. No que diz respeito aos impactos das mudanças climáticas e às respostas do governo aos possíveis prejuízos causados por elas, Gauthier e Moita (2010, p. 4) ressaltam que estes problemas 22 Em termos práticos, a incapacidade do Estado e falta de vontade em prestar serviços públicos é mais evidente na falta de investimento na educação e no emprego; investimentos que poderiam ser convertidos em produção e, finalmente, receitas do Estado.(Tradução livre das autoras) 243 irão afetar diversos países, mas que estas vulnerabilidades irão particularmente provocar um agravamento na já frágil estabilidade política do Haiti, especialmente se este país continuar sendo castigado pelas intempéries causadoras das vulnerabilidades ambientais. Em se tratando de geografia física e ambiental, importa mencionar que o Haiti é composto por cinco ilhas, com um território principal localizado na segunda maior ilha do caribe, depois de Cuba, com 27.750Km² de extensão e limitado ao norte pelo Oceano Altântico, ao sul pelo mar do Caribe e ao leste pela República Dominicana, possuindo uma costa de 1771km no total. O relevo que cobre ¾ do território haitiano é montanhoso e as áreas mais planas representam apenas 29,5% da superfície total do país. (República do Haiti, 2003). Ainda, de acordo com dados fornecidos pelo governo Haitiano, em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA, 2003, p.2), o clima do país é subtropical, com duas estações chuvosas intercaladas por uma estação de seca, além de variações regionais devido à direção dos ventos e às topografias variáveis. A temperatura varia de acordo com a estação do ano e a altitude, mas permanece entre 15º e 35º celsius. No que diz respeito à sua vulnerabilidade ambiental, seu território está localizado no cinturão de furacões das Américas, sofrendo com terremotos, inundações ocasionais, secas periódicas, e fortes tempestades entre junho e outubro (CIA, 2011). De acordo com o Cadre de Coopération Interimaire23 (CCI, 2004), estas ameaças são de origem hidrometerológica (ciclones e secas), sísmica (terremotos e tsunamis) ou topográficas (inundações, deslizamentos e desmoronamentos de terra), infracitadas. Dentre as ameaças hidrometeorológicas, dá-se ênfase aos ciclones e às secas (CCI, 2004). Os primeiros, segundo Astrel (2004, p. 39), são uma das principais ameaças naturais sofridas pelo Haiti, existindo registros de que nos últimos 50 anos o país fora atingido por cerca de vinte e sete ciclones, dos quais oito causaram imensa devastação. Este mesmo autor defende que os efeitos podem ser diretos, por meio de chuvas e fortes ventos, ou indiretos, causando efeitos secundários como inundações, deslizamentos de terra, epidemias de doenças tropicais etc. As secas, por sua vez, castigam a população devido à necessidade do consumo de água, à produção alimentar (agricultura) e à produção energética (hidrelétricas). Nexte contexto, Astrel (2004, p. 40) frisa que as regiões áridas e semi-áridas constituem 50% do território haitiano, sendo a situação destas áreas agravadas com secas periódicas, que ocorrem em intervalos de cinco à sete anos. A configuração geológica em que se encontra o território haitiano, possibilita que haja ameaças de origens sísmicas, como terremotos e tsunamis (CCI, 2004). Localizado entre as placas 23 Quadro de Cooperação Interina (tradução livre das autoras), formada pelas Nações Unidas, Comissão Europeia, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento. 244 tectônicas do Caribe e da América do Norte, o país é extremamente vulnerável aos abalos sísmicos provocados pelo choque entre as duas placas. Algumas consequências deste tipo de catástrofe são a destruição física das construções e, portanto, a interrupção de serviços essenciais à população, como a distribuição de energia e de água (PNUMA, 2010). Em se tratando de topografia, o Cadre de Coopération Interimaire (2004) lista que as ameaças são, principalmente, as inundações e os deslizamentos e desmoronamentos de terra. Sendo o terreno do Haiti bastante acidentado, Astrel (2004, p. 40) afirma que este fator, somado à chuvas excessivas, provoca a ocorrência de deslizamentos de terra que, causam, principalmente, o descolamento de partes inteiras de montanhas, erosão das margens dos rios, lixiviação e erosão do solo. Além disso, as inundações e as enchentes também são problemas graves enfrentados pelo país, ocorrendo em lugares onde não necessariamente choveu, mas que são atingidos por excesso de água em outros lugares. Estes problemas naturais enfrentados pelo Haiti, segundo Arenas, Cárdenas e Kalali (2008, p.9), têm sido mais frequentes com o passar dos anos. Estes autores provam seus argumentos mostrando que em torno de 80% das catástrofes naturais ocorridas e registradas no século XX, aconteceram após 1954, sendo 44% delas na década de 90. Ainda, segundo eles, estes problemas ocorrem a cada cinco ou sete anos, além de que essa frequência na ocorrência, somada à degradação do meio ambiente e das condições de vida da população, faz com que não seja necessário ocorrer uma grande catástrofe para haver grandes perdas físicas e humanas no país. O aumento da intensidade dos desastres naturais e da frequência com que ocorrem estão intimamente ligados às mudanças climáticas, como confirmam Arenas, Cárdenas e Kalali (2008,p.10) Les données scientifiques récemment établies indiquent que les nouvelles tendances climatiques en cours entraineront des nouvelles configurations de risques, qui se traduiront par une augmentation de température ainsi que é une accélération des précipitations et notamment à une baisse de précipitation. Ces phénomènes se traduiront par une augmentation dans la fréquence et intensité des inondations et de prolongement de périodes de sécheresses. Ces prévisions scientifiques sont confirmées par les observations quotidiennes.24 Este prolongamento das inundações, destacado na citação, tem suas consequências negativas ampliadas, visto que as zonas costeiras de baixa elevação são fortemente povoadas pela recente e não coordenada urbanização do país. Esta vulnerabilidade às mudanças climáticas, como observam Arenas, Cárdenas e Kalali (2008, p. 11), é, então, especialmente acentuada devido aos fenômenos 24 Os dados científicos recentemente estabelecidos indicam que as novas tendências climáticas em curso levarão ao surgimento de novas configurações de riscos, que resultarão em um aumento de temperatura assim como a uma aceleração de precipitação e, particularmente, uma redução desta precipitação. Estes fenômenos resultarão em um aumento na frequência e na intensidade das inundações e no prolongamento dos períodos de seca. Estas previsões científicas são confirmadas por meio de observações cotidianas. (Tradução livre das autoras) 245 hidrometeriológicos em andamento; fenômenos estes representados por situações em que há, por exemplo, o aumento do nível do mar, devido ao aquecimento global, que no Haiti provoca intensa erosão nas zonas costeiras e ameaçam as águas subterrâneas. Além disso, os autores supracitados também destacam o aumento das atividades ciclônicas, que já apresentam nos últimos anos uma aceleração no número de ocorrências. Na visão de Arenas, Cárdenas e Kalali (2008, p. 10), a situação tenderá a piorar no futuro em consequência do aumento das vulnerabilidades, visto que existe uma alta exposição de pessoas e bens a riscos naturais ao mesmo tempo em que o Haiti carece de uma estratégia que reduza estes riscos. Eles afirmam, então, que novas evoluções ligadas às mudanças climáticas e à reativação de focos sísmicos ajudarão, certamente, a aumentar as vulnerabilidades do Haiti, expondo-o a novos riscos de catástrofes. Conclusão O estudo dos diferentes tipos de vulnerabilidades mostra que as mudanças climáticas estão intimamente ligadas ao agravamento delas. Os problemas ocasionados pelas diferentes variáveis de vulnerabilidade, quais sejam, políticas, socioeconômicas e ambientais, acontecem de forma simultânea e suas consequências afetam as populações de acordo com a preparação do Estado para lidar com estes fenômenos e sua capacidade de mitigar os problemas por eles causados. O Haiti, como exposto, é um exemplo de Estado que ilustra bem esta condição de vulnerabilidade, pois está localizado em uma área geograficamente instável e, por consequência, sofre especialmente com as mudanças climáticas. Assim, este país se encontra em uma situação em que, mais do que qualquer outro país caribenho, necessita resolver ou ao menos reduzir suas vulnerabilidades socioeconômicas e políticas, para que seja capaz de lidar com os efeitos da vulnerabilidade ambiental que, naturalmente, não pode ser evitada. Conclui-se, então, que a situação de vulnerabilidade do Haiti abrange especialmente os três âmbitos abordados: socioeconômico, político e ambiental, cujas causas e consequências são interligadas. Conhecendo melhor esta problemática, sabe-se que o país demanda urgentemente de mecanismos institucionais, legislativos e técnicos para superar o desafio de reduzir, mitigar ou eliminar suas vulnerabilidades. Referências ALVES, Humberto Prates; MELLO, Allan Yu; D‘Antona, Álvaro; CARMO, Roberto Luiz Vulnerabilidade socioambiental nos municípios do litoral paulista no contexto das mudanças climáticas. 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O geoprocessamento tem subsidiado estudos ambientais, auxiliando na compreensão dos fenômenos ocorridos no meio ambiente e suas implicações. Este trabalho propõe a discussão da utilização da técnica da ecologia da paisagem na análise de padrões espaciais de desertificação quantificando e qualificando áreas de vegetação em regiões semiáridas, utilizando como auxílio o geoprocessamento e suas ferramentas, dentre elas o Sensoriamento Remoto e o Sistema de Informação Geográfica (SIG). Palavras-chave: Ecologia da Paisagem; Geoprocessamento; Meio Ambiente. Abstract The environment has suffered many transformations resulting from human action on our planet, such a result have gained prominence in the last decades and need to be understood and diagnosed. The development of tools that provide the understanding and the interrelationship of environmental impacts occurring in our territory are essentially necessary information for environmental planning. The GIS has subsidized environmental studies, aiding in the understanding of the phenomena occurring in the environment and its implications. This paper proposes a discussion of the use of the technique of landscape ecology in the analysis of spatial patterns of desertification by quantifying and qualifying areas of vegetation in semiarid regions, using as the GIS and its tools, including Remote Sensing and geographic information system (GIS). Keywords: landscape ecology, GIS, Environment.Knowledge 250 Introdução O momento atual em que vivemos enfatiza as questões ambientais e tenta impor limite e controle no uso dos recursos naturais. Neste sentido, o uso sustentável e a conservação dos recursos florestais do bioma Caatinga passam por duas questões fundamentais. A primeira diz respeito à importância econômica regional como fonte de energia. A segunda questão refere-se à sua potencialidade, ainda pouco disseminada entre os produtores rurais que nele vivam. A Caatinga está entre os biomas brasileiros mais alterados pelas atividades humanas, sendo o único exclusivamente brasileiro. Possui área de 735.000 km2, sendo composto por um mosaico de arbustos espinhosos e de florestas sazonalmente secas, com mais de 2.000 espécies de plantas vasculares, peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos (BRASIL, 2012). O endemismo nesses grupos varia entre 7% e 57% (LEAL, 2005). O bioma Caatinga está Sob o clima predominantemente semiárido, cerca de 40% da área original desde Bioma ainda está coberta de vegetação nativa, mas quase toda ela é utilizada para extração de lenha, como pastagem para os rebanhos, bovino, caprino e ovino ou como parte do sistema de agricultura itinerante, formando um imenso mosaico de áreas em distintos estádios de regeneração, localizadas nos pontos mais inacessíveis (BRASIL, 2010). Diante deste cenário, a proteção das áreas de caatinga ainda pouco degradadas ou em processo de regeneração se faz necessária para a manutenção dos ecossistemas existentes, orientando a geração de políticas públicas para mitigar os efeitos do desmatamento e da perda de biodiversidade. Nesse contesto, a compreensão da dinâmica da vegetação, assim como da forma com que seus padrões se refletem na configuração da paisagem, é de fundamental importância para o entendimento das relações existentes em qualquer ecossistema (METZGER, 1999; CONSTANTINO et al., 2005). Neste sentido os recentes avanços tecnológicos, principalmente no campo da informática, têm proporcionado uma melhoria na capacidade de tomada de decisões, principalmente pela utilização de sistemas computacionais, os quais dão suporte analítico aos estudos da natureza. O surgimento das novas tecnologias e o avanço dos trabalhos científicos sobre o tema meio ambiente proporcionou o desenvolvimento considerado, na década de 90, da área de conhecimento denominada de Ecologia da Paisagem. Como a Ecologia da Paisagem aborda o estudo dos padrões espaciais da paisagem e as interações entre suas unidades (manchas), os cálculos para quantificar a estrutura da paisagem envolvem a utilização de métricas ou indicadores de paisagem que incluem basicamente as seguintes métricas: métricas de área, fragmentos, bordas, formas, área central 251 (―core‖), de contágio e intercalação (ou mistura), vizinho mais próximo, diversidade, conectividade entre outros (ROCHA, 2011). Em suma, analisa-se a heterogeneidade, fragmentação, isolamento e conectividade de todo o mosaico, ou seja, calculam-se os compartimentos ecológicos da paisagem como um todo. Segundo Carrão et al. (2001), a existência de inúmeras medidas quantitativas de composição da paisagem, conhecidas como métricas ou indicadores da paisagem, ganham cada vez mais atenção, na medida em que auxilia a compreender a estrutura complexa da paisagem e a forma como esta influencia determinadas relações ecológicas. A incorporação de dados de sensores remotos, visando avaliar a saúde e a diversidade da vegetação, resultou no desenvolvimento, na década de 90, de numerosas métricas de Ecologia de Paisagem ou índices que são de grande valor quando se analisam pastagens nativas, campos, florestas e planícies inundáveis (FROHN, 1998). Essa nova concepção de análise da estrutura da paisagem é composta por uma integração de softwares geoestatísticos específicos de análise espacial da paisagem (possuem inúmeros algoritmos especificamente para calcular, através das métricas, os padrões espaciais da estrutura da paisagem), Sistema de Informação Geográfica (SIG), com parâmetros indicadores ou métricas de paisagem, técnicas de fotointerpretação e imagens orbitais. Ecologia da Paisagem e Geotecnologia Embora existam muitas interpretações diferentes do termo ―paisagem", todas as definições incluem invariavelmente uma área contendo um mosaico de manchas ou elementos que interagem. Quanto ao termo Ecologia da Paisagem (―Landscape Ecology‖), este foi introduzido primeiramente por Carl Troll em 1939, o qual fez uso de fotografias aéreas para interpretar a interação da água, solo, vegetação e uso da terra através das técnicas de interpretação de imagens fotográficas. Carl Troll conclamou geógrafos e ecólogos a trabalharem em estreita colaboração, visando à fundação de uma nova ciência, que teria como objetivo central o estudo da paisagem (MORELLI, 2002). A Ecologia da Paisagem é vista na Europa como uma base cientifica para o planejamento, manejo, conservação, desenvolvimento e melhoria da paisagem. Ela conteve os objetivos puramente naturais da bioecologia clássica e tem tentado incluir as áreas nas quais o ser humano é o centro da questão: sociologia, economia, geografia e cultura (NAVEH e LIEBERMAN, 1994). De acordo com o estatuto da International Association for Landscape Ecology (IALE, 2011), Ecologia da Paisagem é o estudo da variação espacial de paisagem em uma variedade de escalas. Ele inclui as causas biofísicas e sociais e as 252 consequências da heterogeneidade da paisagem. Acima de tudo é amplamente interdisciplinar. A Ecologia da Paisagem envolve o estudo de padrões da paisagem, a interação entre manchas no interior do mosaico da paisagem e a forma como padrões e interações mudam no tempo. Considera ainda o desenvolvimento e dinâmica da heterogeneidade espacial e os seus efeitos nos processos ecológicos. A Ecologia da Paisagem pode ser analisada considerando três características da paisagem (FORMAN E GODRON 1986): Estrutura, Função e Mudança. Como a Ecologia da Paisagem aborda o estudo dos padrões espaciais da paisagem e a interação entre suas unidades, os cálculos para quantificar a estrutura da paisagem envolvem a utilização de métricas ou indicadores de paisagem que incluem basicamente as seguintes métricas: métricas de área, fragmentos bordas, formas, área central, de contagio e intercalação, vizinho mais próximo, diversidade, conectividade entre outros. De forma geral, analisa-se a heterogeneidade, fragmentação, isolamento e conectividade de todo mosaico, ou seja, calculam-se os compartimentos ecológicos da paisagem como um todo. A Agência Europeia do Ambiente (European Environment Agency –EEA) reconhece a necessidade e importância de indicadores de paisagem no planejamento espacial, uma vez que a avaliação das consequências das atividades humanas no ambiente pode ser expressa em termos de uso de solo e de variação na estrutura da paisagem, que podem ser quantificadas através de tais indicadores. Segundo Carrão et al. (2001), a existência de inúmeras medidas quantitativas de composição da paisagem, conhecidas como métricas da paisagem, ganham cada vez mais atenção, na medida em que ajudam a compreender a estrutura complexa da paisagem e a forma como esta influência determinadas relações ecológicas. As medidas da estrutura da paisagem ou métricas da paisagem é a estrutura metodológica para quantificar padrões de paisagem. Este se baseia na medição e na quantificação da paisagem sob diversos aspectos estruturais/espaciais, com valores de medições. Os modelos de aplicação de métricas da paisagem foram propostos inicialmente pelos estudos da Ecologia da Paisagem e da Biologia da Conservação. O objetivo era identificar e caracterizar os fragmentos da paisagem para selecionar as unidades com melhores condições para a preservação ambiental, assim como dar apoio às escolhas de arranjos espaciais que poderiam favorecer a biodiversidade, o equilíbrio das espécies, o fluxo gênico entre unidades e a formação de corredores ecológicos que estariam em equilíbrio com as ocupações antrópicas do território (ROCHA, 2011). Para a aplicabilidade dessa metodologia é necessário que existam ferramentas de qualidade que permitam a detecção, gestão e análise de grande quantidade de dados espaciais. Precisamos diferenciar metodologicamente entre a gestão, ou seja, a análise de conjuntos de dados já existentes, 253 e a detecção e interpretação de dados primários (espacialmente a partir de imagens) para a geração de novas e atualizadas camadas de informação. (LANG & BLASCHKE, 2009). Sendo assim o SIG e o Sensoriamento Remoto são algumas das mais importantes ferramentas holísticas para análise, planejamento e gestão da paisagem. A riqueza de respostas que podem ser obtidas através da aplicação dos modelos de mensuração de métricas de paisagens, utilizadas em conjunto com a técnica do SIG e Sensoriamento Remoto, nos estudos de avaliação de áreas de interesse ambiental, são extremamente valiosos. O Geoprocessamento é uma tecnologia que, através da axiomática da localização e do processamento de dados geográficos, integra várias disciplinas, equipamentos, programas, processos, entidades, dados, metodologias e pessoas para coleta, tratamento, análises e apresentação de informações, associadas a mapas digitais georreferenciados (ROCHA, 2000). Uma da suas ferramentas é o Sensoriamento Remoto que pode ser aplicado às diversas finalidades, principalmente ás análises ambientais. Sabendo-se que a maioria dos estudos da Ecologia da Paisagem utiliza para calcular os padrões espaciais da cobertura vegetal, imagens de satélite orbitais de média resolução espacial, o uso do Sensoriamento Remoto é fundamental para o seu desenvolvimento. Métricas ou Indicadores da Paisagem Tendo em vista que o objetivo geral da Ecologia da Paisagem é quantificar os padrões espaciais da paisagem e entender o desenvolvimento e a dinâmica da heterogeneidade espacial, bem como as interações espaciais, o que nos remete à medição da estrutura e a complexidade da paisagem, é que se faz necessário a aplicação de índices de paisagem, os quais estão inseridos na denominada métrica de paisagem (Landscape Metrics). Esses índices baseiam-se na análise da distribuição, forma e arranjo espacial das manchas. A quantificação da paisagem, através da ―Landscape Metrics‖, pode ser feita em três níveis: à resolução individual das manchas (calculando todas, uma a uma), à escala das classes de manchas (calcula todas as classes da classificação que foram utilizadas como material base) e a escala da paisagem como um todo (calcula a interação entre diferentes classes de manchas). Alguns índices são espacialmente explícitos somente porque representam, segundo o autor, ao nível da paisagem, a localização relativa individual das manchas. Esse procedimento faz com que se reconheçam os processos ecológicos e organismos afetados pela inter-dispersão e justaposição de tipos de manchas numa paisagem. Por exemplo, tem-se polígono de maior área, número de polígonos, tamanho médio dos polígonos e densidade de bordas 254 Conforme Casimiro (2002), em termos de métrica de paisagem existe quatro grandes categorias ou tipos de índices, espacialmente explícitos ou não. Na seqüência são demonstrados os índices e alguns exemplos. 1. Forma – dimensão das manchas 2. Complexidade – irregularidades 3. Arranjo – organização espacial 4. Diversidade Nesse contexto, algumas métricas quantificam a composição, representando a variedade e abundância de fragmentos, e outras quantificam a configuração, estando relacionadas à forma e à posição dos elementos na paisagem. Assim, conforme McGarical et al. (p.11, 1995), ― mais importante do que classificar os índices da métrica de paisagem numa dicotomia composição – configuração é reconhecer que a estrutura da paisagem consiste tanto na composição como na configuração, e que foram desenvolvidos índices para representar estes aspectos da estrutura da paisagem, separadamente ou de forma combinada‖ A aplicação de índices para avaliar a estrutura em estudos de paisagem deve-se ao fato de que eles foram deliberadamente projetados para minimizarem a necessidade de informação adquirida em campo (O'NEIL, 1988). Com isso, a utilização desses índices abre uma nova perspectiva para a aplicação do sensoriamento remoto em estudos da paisagem, com a finalidade de acompanhar e compreender as transformações numa determinada paisagem. O uso de índices é particularmente interessante por permitir o realce de determinadas características e o obscurecimento de características secundárias, o que é fundamental quando se trabalha em áreas de grande extensão como bacias hidrográficas, por exemplo. Da mesma forma, o emprego de sensoriamento remoto e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são de grande valia nesse tipo de avaliação e facilita a compreensão do território, sua evolução e consequentemente sua gestão. O Sensoriamento Remoto e o Sistema de Informações Geográficas (SIG) no Estudo das Métricas da Paisagem O ambiente e os recursos terrestres estão sofrendo mudanças constantemente em resposta à evolução natural e às atividades humanas. Para entender a complexa inter-relação dos fenômenos que causam essas mudanças, é necessário fazer diversas observações com uma série de dados do espaço e escalas no tempo. A observação terrestre feita do espaço é o meio mais efetivo e 255 econômico de unir os dados necessários para monitorar e modelar esses fenômenos (VIEIRA, 2000). Nesse contexto, a tecnologia de Sensoriamento Remoto emprega os subsídios mais importantes para identificar e monitorar a superfície da terra, apoiando a investigação efetivamente das interações entre o ambiente e as atividades de planejamento agrícola, ambiental e urbano (EHLERS et al., 2002). Para a análise e a quantificação da estrutura da paisagem, são utilizados índices/métricas que podem ser distribuídos em diversas categorias. Esses índice/métricas estão embutidos através de algoritmos em softwares Geoestatísticos, como, por exemplo, o FRAGSTATS e o LANDIC. Esses índices/métricas permitem descrever o nível de uniformidade ou fragmentação espacial de uma paisagem, essenciais para avaliação dos mecanismos ecológicos responsáveis pelas distribuições populacionais, trabalhando essencialmente com imagens orbitais classificadas através do processamento digital de imagens. O uso de imagens de satélite, cada vez com mais plataformas orbitais disponíveis, melhores resoluções espaciais, radiométricas e temporais, diminuição dos preços de aquisição, e maior número de pacotes de software para visualização e tratamento de imagens, torna os documentos de Sensoriamento Remoto, produtos incontestáveis para estudos de Ecologia da Paisagem. A utilização de imagens orbitais, conforme Quattochi e Goodchild (1997) uniformiza a escala de generalização da paisagem, permitindo mensurar propriedades espaciais, ou seja, informações sobre a geometria e posição (dimensão, forma, arranjo e textura), informação pontual (por pixel) e informação espacial (integração das propriedades espaciais), bem como a capacidade de análise multitemporal. Segundo Chagas et al. (2009), nos estudos envolvendo imagens de alta resolução, uma grande problemática a ser enfrentada diz respeito à grande heterogeneidade de objetos, que constituem complexos alvos de análise. Para contornar tal problema, os autores enfatizam que se faz necessário desenvolver novas técnicas que possam auxiliar no processo de análise das imagens, com intuito de separar os objetos não só pelas propriedades espectrais, mas também pela característica da forma, auxiliando na etapa de discriminação dos objetos com valores espectrais similares, mas com formas diferentes. Aliado também a utilização de SIG, como meio de tratamento, cruzamento e visualização de informações temáticas, está colaborando intensamente paras as análises de padrões espaciais. Atualmente existem inúmeros pacotes de aplicativos desenvolvidos para alguns softwares de fácil utilização, que permitem medições de heterogeneidade e estrutura espacial, como por exemplo, IDRISI, Grass GIS e ArcView GIS. 256 Nesse contexto, o Sensoriamento Remoto inserido no universo das Geotecnologias apresenta-se como importante instrumento de análise para a Ecologia de Paisagem, pois propicia classificar e quantificar os padrões espaciais de todo um mosaico, através da geoestatística espacial e o tratamento de imagens digitais. As Questões Ambientais no Semiárido Nordestino A antropização em regiões semiáridas torna-se um fator agravante, devido às condições hidroclimáticas desfavoráveis (SOUSA, 2003). Neste sentido a desertificação e degradação do solo nas regiões semiáridas são intensificadas devido à destruição da cobertura vegetal que muitas vezes cede lugar para expansão das áreas agrícolas, queimadas, crescimento urbano, etc. Os processos de uso e ocupação do solo alteram e degradam em um processo progressivo. A Estrutura instável leva a compactação, menor porosidade e menor permeabilidade que por sua vez reduz a micro, meso e macro flora e fauna e as relações de simbiose (LE HOUÉROU, 1996). Na atualidade, esse problema vem se agravando por conta das recentes secas que assolaram o Nordeste. Na maior parte dessa área predominam solos rasos e uma cobertura vegetal esparsa de caatinga hiperxerófila. Sob estas condições e nos locais onde os agroecossistemas são dependentes da chuva, a perda de solo por erosão é o principal fator que conduz a redução das terras produtivas do semiárido. Nesse contexto, as áreas semiáridas do Nordeste do Brasil representam um desafio particularmente importante para o aumento da produtividade e a melhoria dos recursos naturais devido as suas características de incertezas nas precipitações pluviométricas, fertilidade dos seus solos e pressões populacionais em ambiente tipicamente frágil. A compreensão da dinâmica da vegetação em regiões semiáridas e a forma com que seus padrões se refletem na configuração da paisagem, se fazem necessárias e são de fundamental importância para o entendimento das relações existentes neste Bioma. Pelo que foi exposto, o uso da Ecologia da Paisagem, que é de fundamental importância no que se refere à dinâmica da paisagem, podendo se constituir num procedimento de elevada relevância na compreensão das dinâmicas existentes na caatinga, que sejam elas naturais, que sejam provenientes da interferência humana. Ecologia da Paisagem em Ambiente de Caatinga A história tem mostrado que a maior parte do desenvolvimento recente da paisagem está diretamente conectada com a forma de uso e ocupação da terra pelo Homem. No Nordeste brasileiro 257 isso ficou bem evidente a partir das últimas décadas, quando teve início à implantação de várias grandes obras infra-estruturais. Assim, obras como rodovias, grandes açudes etc. fizeram surgir novas configurações de paisagens. Destaque para os açudes, que remodelaram a paisagem semiárida regional por meio da introdução de massas d‘água Diante desse cenário, cria-se um novo espaço de uso do solo no semiárido brasileiro, devido a construções nas últimas décadas das massas de água perenes que surgem em grande número e em diferentes tamanhos, formatos e isolamentos. Assim, naturalmente, essas áreas se tornaram novos espaços à espera de estudos no âmbito da Ecologia da Paisagem, biologia da conservação, biogeografia etc. A Caatinga está entre os biomas brasileiros mais alterados pelas atividades humanas, assim tem ganhando importância paulatinamente. A paisagem é entendida como uma configuração particular da topografia, cobertura vegetal, uso e ocupação da terra que delimita alguns processos e atividades naturais e culturais. Recentemente, esse processo tem se colocado como questão central na Ecologia da Paisagem e no planejamento para conservação da biodiversidade. Desse modo, alguns projetos podem ser encontrados no que diz respeito à Ecologia da Paisagem para conservação da biodiversidade do ambiente de caatinga Neste sentido, destacamos os seguintes trabalhos: Shittini et al (2009) que Avaliou o estado de fragmentação de áreas de Caatinga importantes para a conservação da biodiversidade da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, como subsídio para a elaboração e priorização de propostas concretas para o manejo da paisagem da região.; Fernandes, Almeida e Rato (2009) que utilizou a Dinâmica da Paisagem como indice de degradação da terra, comparando a evolução espaço-temporal da cobertura vegetal para o núcleo de desertificação do Seridó com foco no município de Carnaúba dos Dantes, detectando de forma indireta, a susceptibilidade de áreas a degradação e consequentemente desertificação; Rocha (2011) que utilizou as Métricas da Paisagem para Identificar e Analisar Padrões Espaciais em Ambiente de Caatinga, identificando padrões espaciais com recursos da ecologia da paisagem e imagens orbitais de alta resolução espacial através da integração das geotecnologias (Processamento Digital de Imagens – PDI – Geoestatística e Sistemas de Informação Geográfica) com as técnicas de fotointerpretação, e avaliar como o uso de imagens orbitais de alta resolução espacial pode contribuir, através da associação da modelagem de conhecimento – baseada na classificação orientada por objeto que utiliza a lógica Fuzzy com nível de organização hierárquico -, com alguns parâmetros de métrica de paisagem para identificar a estrutura da paisagem e os padrões espaciais da cobertura vegetal de duas áreas na Microrregião do Cariri Oriental no Estado da Paraíba. 258 Considerações Finais O tema Ecologia da Paisagem na análise dos padrões espaciais de desertificação em ambiente de caatinga como diagnósticos ambientais no semiárido, se mostra através da discussão teórica explanatória que as informações geradas a partir da metodologia das métricas da paisagem aliadas às geotecnologias, juntamente com outras informações de cunho social, econômico e político pode contribuir para a sustentabilidade ambiental e promoção de políticas públicas na região do Semiárido Nordestino. Observou-se a necessidade da construção de outras metodologias de aplicações para o estudo da espacialização do parâmetro vegetação chamada Caatinga, como forma, de visualizar com mais fidedignidade a realidade ambiental que é representada graficamente nas imagens de satélites e em outros dados espaciais. Em suma utilizar as metodologias existente reajustando quando e se necessário para ser aplicado em regiões semiáridas, assim tornando-a mais representativa para a realidade da região. Referências BRASIL. Uso Sustentável e Conservação dos Recursos Florestais da Caatinga. Org. Maria Auxiliadora Gariglio. et al. 2010. 368p. BLASHKE, T (2000a); Landscape Métrics: Konzepte eines Jungen Ansatzes der Landschaftsokologie und Anwendungen in Naturschutz und Landschaftsforschung. Archiv fur Naturschutz und Landschaftsforschung, 39, 267-99. In: LANG, Stefan & BLASCHKE, Thomas; Análise da Paisagem com SIG; Tradução: Hermann Kux. São Paulo, 2009. CARRAO, Hugo; CAETANO M.R.; NEVES Nuno. 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(Ph.D. Thesis University of Nottingham) Disponível em: http://www.scielo.br/scieloOrg/php/reflinks. php?refpid=S1415- 4366200900030001400027&pid=S1415-43662009000300014&lng=en: acessado em 22 de janeiro de 2012. 261 A PRAGA DA COCHONILHA DE CARMIM (Dactylopius Opuntiae) E OS IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS NOS CARIRIS VELHOS/PB25 Dennys da Silva BIZERRA Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba [email protected] Haerte Durgel de MELO Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba [email protected] Resumo A economia dos Cariris Velhos é baseada no criatório extensivo de ovinos e caprinos, a palma forrageira (Opuntia ficus-indica) é um alimento de suma importância para os animais, onde as características nutricionais do vegetal atendem as necessidades dos rebanhos, com fácil adaptação aos solos, temperaturas elevadas e chuvas irregulares. A partir da disseminação da Cochonilha de Carmim (Dactylopius opuntiae), inseto mexicano primeiramente utilizado na produção dos corantes naturais carmim que se tornou praga, os palmais do Cariri paraibano e entorno foram gradativamente afetados. A economia da região sofreu consequências significativas, com a palma já infectada pela praga os alimentos tornaram-se escassos, prejudicando a manutenção dos animais nas propriedades, resultando na venda a preços baixos. O objetivo do presente estudo é analisar os impactos caudados pela praga da Cochonilha no Cariri paraibano, através do estudo de campo, descrevendo os problemas e apresentando possíveis soluções. Palavras-Chave: Cochonilha de Carmim, Cariris Velhos, Palma, impactos, animais. Abstract The economy of the Old Cariris is based on extensive rearing of sheep and goats, spineless cactus (Opuntia ficus-indica) is a very important food for animals, where the nutritional characteristics of the plant meet the needs of livestock with easy adaptation to soils, high temperatures and erratic rainfall. From the spread of the Cochineal Carmine (Dactylopius opuntiae), insect Mexican first used in the production of natural dyes that became crimson plague, palmais the Cariri around and were gradually affected. The region's economy has suffered significant consequences, palm already infected by the plague food became scarce, harming keeping animals in the properties, resulting in the sale at low prices. The aim of this study is to analyze the impacts of the plague caudate Cochineal in Cariri through field study, describing the problems and presenting possible solutions. Keyswords: Cochineal carmine, Cariris Old, Palma, Impacts, animals. 25 Artigo orientado pelo Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza, [email protected] - Universidade Federal da Paraíba 262 INTRODUÇÃO A Caatinga é um grande domínio morfoclimático que se estende por grande parte do semiárido brasileiro, possui relevo deprimido, com altas temperaturas e principalmente com irregularidades na ocorrência de chuvas. No Nordeste brasileiro, por volta de 300 mil famílias cultivam a Palma. Alguns fatores tornam-na uma planta essencial para a criação de animais na região, como a alta concentração de água nos seus tecidos e a pouca matéria seca, sem perder as qualidades nutricionais. A pecuária é a atividade dominante nos Cariris Velhos desde o período colonial, com os caprinos, ovelhas e porcos. O predomínio recente dos caprinos está intrinsecamente relacionado à sua maior resistência a seca e à necessidade de alimento que, comparada a dos bovinos, é bem menor. As regiões com má distribuição e irregularidade de chuvas, juntamente com condições de solos adversas resultam em sérios prejuízos econômicos para os criadores e seus rebanhos. Diante desse cenário, surge a Palma forrageira, um vegetal capaz de resistir aos longos períodos secos, permanecendo verde e com condições de atender as necessidades nutricionais dos animais. Na medida em que o inseto da Cochonilha de carmim (Dactylopius opuntiae) virou praga, há cerca de 10 anos, os palmais começaram a ser dizimados, atingindo outros Estados circunvizinhos, o foco ocorreu no município de Sertânia, em Pernambuco. Os impactos causados nos Cariris Velhos foram devastadores, afetando diretamente a economia local, pois sem alimento, houve a necessidade de comercializar os animais com preços baixos. A ideia de realizar o trabalho partiu das experiências e viagens dos autores no Cariri paraibano ao longo dos anos de 2010, 2011 e 2012, após uma pesquisa bibliográfica chegamos há elaboração do artigo. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Os Cariris Velhos (Cariri paraibano) está localizado no centro-sul do estado da Paraíba (Figura 1), na Mesorregião da Borborema, um espaço subdividido em 4 microrregiões: Seridó Ocidental, Seridó Oriental, Cariri Ocidental e Cariri Oriental. O acesso é realizado, a partir de João Pessoa, pelas rodovias BR-230 e PB-148, com distancia de 180 a pouco mais de 300 km de João Pessoa (capital). 263 Figura 1. Localização do Cariri na Paraíba/Brasil. Fonte: Souza, 2008. CARACTERIZAÇÃO DOS CARIRIS VELHOS Os elementos comuns do conjunto de paisagens existentes nos Cariri são os baixos índices pluviométricos (cerca de 500 mm/ano, a menor do Brasil), as temperaturas médias elevadas (cerca de 27ºC), os déficits hídricos acentuados, vegetação xerófila (um tipo de savana estépica conhecida nacionalmente como ―caatinga‖), as limitações edáficas (solos rasos e, em muitos casos, com altos teores de salinidade), grandes extensões de vegetação e de solos degradados, cidades pequenas e baixa densidade demográfica. (SOUZA, 2008) Clima: Na região do Cariri predomina o clima semiárido quente e seco, com chuvas de verão e outono. A estação chuvosa ocorre de janeiro a abril. O índice pluviométrico da região entre a fim de 2011 e metade de 2012 apresenta-se extremamente baixo. As consequências são observadas na vegetação de caatinga, com as folhas... CARVALHO (1982) descreve o clima no Cariri com os índices pluviométricos, no geral, entre 400-800 mm anuais, caracterizado como área do clima semiárido, as chuvas distribuem-se no verão e inverno. As temperaturas médias anuais variam entre 21º e 28ºC e a umidade relativa fica entre 60 e 70%. 264 Vegetação: A vegetação predominante é a caatinga, onde as espécies são, na maioria, caducifólias, espinhosas, de folhas pequenas, destacando-se entre outras espécies, o Mandacaru (Cereus jamacaru), Macambira (Bromelia laciniosa Mart.), Catingueira (Caesalpinia pyramidalis), Xiquexique (Pilosocereus goinallei), etc. (CARVALHO, 1982) São Formações xerófilas, lenhosas, arbustivas e arbustivo-arbóreas, com espécies vegetais espinhosas, folhas pequenas, raízes profundas e cor cinzenta no período seco. Solos: Os solos desse domínio são rasos e pedregosos sofrendo intemperismo físico nos latossolos e pouca erosão nos litólicos e há influência de sais em solo, como: solonetz, solodizados, planossolos, solódicos e soonchacks. Segundo AB‘SABER ( 3) a textura dos solos da caatinga passa de argilosa para textura média, outra característica é a diversidade de solos e ambientes, como o sertão e o agreste. Mesmo tendo aspectos de um solo pobre a caatinga necessita apenas de irrigação para florescer e desenvolver a cultura implantada. Aspectos Socioeconômicos: As limitações do solo no Cariri repercutem fortemente sobre a atividade agrícola, restringindo seu desenvolvimento. Com o aproveitamento das áreas circundantes da barragem de Boqueirão para a produção de uma agricultura irrigada, é que se observa a expansão da cultura do tomate, esta passa a ter peso significativo no final do Século XX, além da criação de médio porte. Encontra-se com destaque na região a palma forrageira e a Algaroba. (MOREIRA, 1989) Atualmente a policultura alimentar tradicional (com ênfase para o feijão e o milho) e a pecuária extensiva de médio porte comandam a organização do espaço. A PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica) De origem mexicana, a Palma forrageira é uma planta resistente a altas temperaturas, de fácil adaptação nas regiões com má distribuição de chuvas e condições de solo adversas. Segundo Bravo (1978) as palmas forrageiras pertencem à classe Liliateae; família Cactaceae; subfamília Opuntioideae, tribu Opuntiae; gênero Opuntia, subgênero Opuntia e Nopalea; do reino Vegetal; sub-reino Embryophita; divisão Angiospermae. 265 Primeiramente, o plantio da Palma (Figura 2) estava voltado à produção dos corantes naturais carmim, no final do século XIX, a partir do século seguinte, começou a ser utilizada no Nordeste como forragem. Figura 2: Cultivo da Palma na zona rural do município da Prata/PB – Cariri paraibano. Foto: Dennys Bizerra A Forrageira é utilizada no mundo inteiro em diversas formas, principalmente para a alimentação humana e animal, como fonte de energia, indústria de cosméticos, na medicina, entre outros. O plantio é realizado no terço final do período seco, com a posição do artículo, que é um cladódio, também chamado de raquete e de ―folha‖ pelo produtor, sendo inclinada ou vertical dentro da cova, com a parte cortada da articulação voltada para o solo. (DIAS; MELO, 2006) A COCHONILHA DE CARMIM (Dactylopius opuntiae) A Cochonilha de Carmim é um inseto de origem mexicana, criado também em outros países da América, com destaque para o Peru. Os insetos sugam a seiva das plantas e introduzirem toxinas, com contínuo processo de alimentação pela praga, aliado ao aumento da infestação, a planta fica debilitada provocando o amarelecimento, seca e atrofiamento das folhas, denominadas raquetes, em curto espaço de tempo, podendo causar a morte do vegetal. Sua utilização está relacionada à produção de corante natural, já que não afeta a saúde, diferentemente dos corantes sintéticos. Os principais corantes naturais são o urucum (extraído de sementes do urucuzeiro, das quais se prepara o colorau), a páprica (de pimentões), a cúrcuma (de gengibre), as antocianinas (de cascas de uvas) e o carmim (de insetos cochonilhas). (CHIACCHIO; MESQUITA; SANTOS, 2006) 266 Dentre alguns tipos de cochonilhas que atacam as plantações, a cochonilha de carmim é caracterizada por uma proteção de cera e gordura que no envolto de suas colônias. De acordo com CHIACCHIO; MESQUITA; SANTOS (2006) a proteção de cor branca faz com que as colônias da cochonilha do carmim se assemelhem a flocos de algodão colados nas raquetes de palma. Quando essas colônias são pressionadas, com a mão ou com um objeto, as fêmeas são esmagadas, liberando um líquido vermelho parecido com sangue, contendo o ácido carmínico, fonte do corante carmim. RESULTADOS E DISCUSSÃO A praga da cochonilha de carmim (Dactylopius opuntiae) está ameaçando as lavouras no semiárido nordestino desde os anos 90 do século XX. O inseto que se transformou em praga, começou a se disseminar em Pernambuco, a partir de um foco experimental no Instituto de Pesquisas Agronômicas – IPA, no Município de Sertânia/PE, chegando até o Cariri paraibano. Com a perda de controle dos experimentos da cochonilha, a infestação se alastrou nos municípios Pernambucanos, atingindo outros estados do nordeste como Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará. Com a disseminação, ocorre o processo de alimentação da praga, onde o vegetal fica debilitado, causando amarelecimento, seca e atrofiamento das plantas em um pequeno espaço de tempo. (Figura 3) Figura 3: Exemplo da Palma infectada pela praga da Cochonilha de carmim. Foto: Dennys Bizerra 267 Os estudos da técnica conhecida como cultura de tecidos vegetais in vitro vêm sendo utilizada em Pernambuco, nas entidades parceiras ao Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste - CETENE, o Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA, a Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e a Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, para produção de mudas de uma variedade resistente da Palma forrageira, conhecida como orelha de elefante mexicana. Os pesquisadores utilizam a técnica com um pequeno fragmento da Palma resistente, para produzir milhares de mudas, que serão clones. A principal ação dos Órgãos competentes para controlar a praga é a distribuição da Palma forrageira resistente a Cochonilha, citada anteriormente, conhecida vulgarmente como orelha de elefante mexicana (Figura 4). Com a entrega dessas novas raquetes, disponível a partir de 2011, brotarão novas raquetes, que substituirão as Palmas infectadas, assim combatendo a praga sem agredir o meio ambiente. Figura 4: Palma conhecida como orelha de elefante mexicana. Foto: Dennys Bizerra. 268 No município da Prata, Cariri paraibano, precisamente na comunidade rural Serra da Matarina, os moradores relataram que no período de seca que estendeu em vários meses de 2012, as consequências foram significativas, a partir da falta de água e da disseminação da Cochonilha, os animais morreram, os alimentos tornaram-se escassos e a palma foi infectada pela praga, prejudicando a manutenção dos animais nas propriedades. Na Paraíba, foram destruídos milhares de hectares da palma, principalmente nas regiões do Cariri ocidental, Vale do Piancó e Serra do Teixeira. É necessário o rápido controle da praga, pois a economia caririzeira baseada na criação dos ovinos e caprinos não pode ser afetada, sem os animais ficaram comprometidos à carne, o couro, o leite, derivados de grande importância no Estado e fora dele. CONSIDERAÇÕES FINAIS A resistência da Palma ao clima semiárido, aliado as qualidades nutricionais que fornece aos rebanhos no período de secas prolongadas é ideal para os criadores de animais, na medida em que partes das necessidades são atendidas devido ao alto teor de água que a planta armazena. Com a praga da Cochonilha de carmim destruindo a Palma Forrageira, a falta de alimentos para fornecer aos animais é um problema grave para os criadores, onde são obrigados a comercializar os animais com preços abaixo do mercado. Diante desse cenário, surge como fundamental importância a Palma forrageira resistente à disseminação da Cochonilha de carmim, com o intuito de amenizar as consequências geradas pela praga. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB‘SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo, Ateliê Editorial, 2003. BRAVO, H. Las cactáceas de México. 2.ed. México: Uni. Nac, Aut. México, 1978. v.1. CARVALHO, Ma. Gelza F. de. “Estado da Paraíba”; classificação geomorfológica. João Pessoa, Editora Universitária/ Funape, 1982. CHIACCHIO, F; MESQUITA, A; SANTOS, J. Palma Forrageira: uma oportunidade econômica ainda desperdiçada para o Semiárido baiano. Revista Bahia Agrícola., v.7, n.3, nov. 2006. DIAS, F. M.; MELO, J. N. de. Manejo e utilização da palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA, 2006. 269 MOREIRA, Emília. Mesorregiões e Microrregiões da Paraíba: Delimitação e Caracterização. João Pessoa: Graff-Set, 1989. SANTOS, D. C. dos; FARIAS, I.; LIRA, M. de A.; SANTOS, M. V. F. dos; ARRUDA, G. P. de; COELHO, R. S. B.; DIAS, F. M.; MELO, J. N. de. Manejo e utilização da palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA, 2006. SOUZA, B. I. Cariri paraibano: do silêncio do lugar à desertificação. Tese de doutorado sob a orientação da Profa. Dra. Dirce Maria Antunes Suertegaray. Porto Alegre: UFRGS, 2008. 270 A VARIABILIDADE DOS OCEANOS ATLÂNTICO E PACÍFICO E A INFLUÊNCIA SOBRE A PRECIPITAÇÃO E A AGRICULTURA DO CARIRI PARAIBANO Jaricélia Patrícia de Oliveira SENA (UATEC/CDSA/UFCG26) - [email protected] Jordanna Sousa de MELO (UATEC/CDSA/UFCG27) – [email protected] Daisy Beserra LUCENA (UATEC/CDSA/UFCG28) – [email protected] RESUMO A variabilidade da precipitação para a região semiárida da Paraíba, como em qualquer outra localidade do Nordeste, é muito importante para o desenvolvimento econômico/social. A grande irregularidade da precipitação provoca impacto nos diversos setores da sociedade e, principalmente na agricultura que na região é praticamente de subsistência. Portanto, o conhecimento detalhado da distribuição espacial e temporal da precipitação, bem como a influência das anomalias da Temperatura da Superfície do Mar nos Oceanos Tropicais sobre ela e, por conseguinte, na agricultura, é de grande importância para a tomada de decisões por parte dos governos e da sociedade civil. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é verificar possíveis relações entre as anomalias da Temperatura da superfície do mar e a precipitação, como também o impacto sobre a agricultura no Cariri Paraibano. Para isto foram utilizados dados de precipitação, dados da temperatura da superfície do mar, durante o período de 1979 a 2010 e dados da quantidade produzida das culturas de milho e feijão. A associação qualitativa entre os eventos sobre os Oceanos demonstra que eles apresentam um impacto na precipitação da região, isto também foi confirmado na análise quantitativa, em que os valores encontrados podem ser um indicativo da importância dos oceanos, todavia é bom ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí a dificuldade em encontrar respostas diretas. A correlação linear entre a precipitação e as culturas do milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, com significância estatística. Nenhum padrão entre os dois oceanos e a quantidade produzida pode ser verificado para remeter a uma condição de influencia direta na agricultura, entretanto indiretamente deve existir devido a ela ser intimamente ligada a precipitação. 26 Aluna do Curso de Engenharia de Biossistemas, Bolsista PIBIC, Unidade Acadêmica de Tecnologia e Desenvolvimento, Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido, UFCG, Sumé, PB. 27 Aluna do Curso de Engenharia de Biossistemas. 28 Professora - Orientadora. 271 Palavras-chave: ENOS, Gradiente inter-hemisférico da TSM, Região Semiárida. VARIABILITY OF THE ATLANTIC AND PACIFIC OCEANS AND INFLUENCE ON AGRICULTURE AND THE PRECIPITATION IN PARAIBA'S CARIRI AREA ABSTRACT The variability of precipitation for the semiarid region of Paraíba, as in any other location in the Northeast, it is very important for economic/social. The irregularity of rainfall causes great impact on the various sectors of society, and especially in agriculture in the region that is virtually subsistence. Therefore, detailed knowledge of the spatial and temporal distribution of precipitation, and the influence of the anomalies of sea surface temperature in the Tropical Oceans on it and therefore, agriculture is of great importance for decision-making by governments and civil society. Therefore, the aim of this paper is to investigate possible relationships between the anomalies of sea surface temperature and precipitation, but also the impact on agriculture Paraiba‘s Cariri area For this we used data of precipitation, temperature data of the surface of the sea, during period since 1979 to 2010 and data of produced of corn and beans cultures. Qualitative association among events on the Oceans demonstrates that present an impact in area rainfall, this was also confirmed on quantitative analysis, in that found values can be an indicative of oceans importance, though it is good to point out that oceans don‘t act isolated but do simultaneously, then the difficulty in finding direct answers. Linear correlation between rainfall and corn and beans cultures is 0.65 and 0.70, respectively, with statistical significant. Any pattern between two oceans and produced amount can be verified to send to condition of direct influences in agriculture, however indirectly it should exist due to her to be intimately linked to rainfall. Keywords: ENSO, Interhemispheric gradient of SST, Semiarid Region. 272 INTRODUÇÃO Atualmente o clima vem passando continuamente por mudanças até certo ponto bruscas, e tem sido motivo de vários estudos visando minimizar os efeitos, diretos ou indiretamente, causados que prejudicam as diversas formas de vida na superfície da terra. O conhecimento dessas mudanças em uma determinada região faz-se necessário, pois o clima é um dos principais fatores para a existência da vida de um modo geral e no desenvolvimento das diversas atividades humanas. As adversidades no clima podem ser causadas por mudanças antropogênicas ou naturais. O Estado da Paraíba está situado no extremo leste da região NEB, faz limite ao norte com o Rio Grande Norte, ao sul com Pernambuco, a leste com Oceano Atlântico e a oeste com o Ceará. Ocupa uma área de 56.584,6 km2, apresentando um clima semiárido, em mais de 70% do seu território, que é caracterizado pela baixa umidade e pouco volume pluviométrico. A variabilidade interanual do clima na região do semiárido nordestino é merecedor de grandes atenções. Apresenta duas estações bem distintas: uma seca na qual chove muito pouco, e uma úmida quando ocorrem precipitações irregulares que vão de um mínimo de 300 mm a um máximo de 800 mm (LIMA, 2008). Na região NEB as atividades agrícolas, quase que em sua totalidade, são baseadas na precipitação e o conhecimento de sua variabilidade é de extrema importância, principalmente para os setores sociais e econômicos. Entre as culturas implantadas, o feijão e o milho, continuam tendo grande importância para a economia nas regiões semiáridas, onde as incertezas de colheitas são cada vez mais acentuadas diante das irregularidades climáticas. Essa grande variabilidade na precipitação na escala temporal como espacial, é modulada por fenômenos atmosféricos decorrentes de interações oceano/atmosfera, como as oscilações das Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) sobre os Oceanos Tropicais (EL Niño - EN, La Niña LN, Gradiente Inter-hemisférico - GRADM) (SOARES e BRITO, 2006). No Pacífico Tropical a presença de eventos quentes (frios) denominados de El Niño (La Niña), anomalias positivas (negativas) da TSM, causa fenômenos climáticos diferenciados em várias áreas do Nordeste (PHILANDER, 1991). O El Niño (EN) é caracterizado pelo aquecimento anômalo da camada superficial e sub-superficial do Oceano Pacífico Central e Leste (RASMUSSON e CARPENTER, 1982). Condição oposta caracteriza eventos de La Niña (LN). Estes sistemas produzem flutuações intensas no clima que são capazes de interferir positivamente ou negativamente na atividade agrícola e na dinâmica da vegetação regional. Além da influência do oceano Pacífico, a variabilidade da TSM no Oceano Atlântico Tropical também apresenta sua importância e impacto sobre o clima da região NEB (MARKHAM e 273 MCLAIN, 1977; HASTENRATH e HELLER, 1977; MOURA e SHUKLA, 1981; ANDREOLI e KAYANO, 2004). O Atlântico é controlado por um gradiente meridional ou inter-hemisférico da TSM (GRADM), conhecido também como padrão de dipolo (MOURA e SHUKLA, 1981; SERVAIN, 1991). Essa variabilidade ocorre em escala interanual e decadal e está ligada ao deslocamento meridional da ZCIT, que é um dos principais mecanismos que provoca precipitação no norte e também sobre o leste do NEB. A variabilidade do clima do Nordeste, principalmente da precipitação é uma variável muito importante para o desenvolvimento econômico/social do Estado da Paraíba, em particular, da microrregião do Cariri Paraibano provocando impactos diretamente sobre a enorme população que vive na região. Portanto, o conhecimento detalhado da distribuição espacial e temporal da precipitação, bem como a influência das anomalias da TSM dos Oceanos Tropicais sobre a precipitação e, por conseguinte, na agricultura, é de grande importância para a tomada de decisões por parte dos governos e da sociedade civil. Diante do que foi exposto, este trabalho tem por objetivo geral verificar possíveis relações sazonais entre as anomalias da Temperatura da superfície do mar, a precipitação e o impacto sobre a agricultura no Cariri Paraibano. MATERIAL E MÉTODOS O Estado da Paraíba localiza-se na região nordeste do Brasil e divide-se em seis microrregiões com características distintas quanto à precipitação e sistemas meteorológicos atuantes, a saber: litoral, agreste, cariri, curimataú, sertão e alto sertão. O Cariri paraibano está localizado no sul do Estado e é composto por 29 cidades, como pode ser visualizado na Figura 1. Figura 1 – Localização do Cariri Paraibano. 274 Os dados utilizados neste estudo foram: - Dados de precipitação mensal proveniente do CPC (Climate Prediction Center), centro pertencente ao NCEP (National Centers for Environmental Prediction). A análise da precipitação global diária baseada em pluviômetros do CPC é um conjunto de produtos de precipitação, combinando todas as fontes de informação disponíveis de medidas em estações de superficie. Estes dados em ponto de grade possui uma resolução espacial de 0,5° para todo o globo, são dados diários e estão disponivel de 1979 até o presente29 (CHEN et al., 2008). Para extração dos dados para cada uma das cidades que compõe a região do Cariri utilizamos o software Grid Analysis and Display System (GrADS). Informações, detalhes, bem como download do GrADS, veja o sitio <http://www.iges.org/grads/>. Estes dados para a região do Cariri paraibano foram analisados por SENA et al. (2012), os resultados mostram que estes representam bem a precipitação, bem como conseguiram representar o período chuvoso (FMA) da região em estudo, o mesmo não se pode afirmar para o período seco. - Dados de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) para as regiões do Niño 1+2 (0-10°S; 90°80°W), Niño 3 (5°N-5°S; 150°-90°W), Niño 4 (5°N-5°S; 160°E-150°W) e Niño 3.4 (5°N-5°S; 170°-120°W) sobre o Oceano Pacífico e TSM sobre as Bacias Norte (5°-20°N; 60°-30°W) e Sul (020°S; 30°W-10°E) do Atlântico foram obtidos através do site do CPC30. - Dados da quantidade produzida para as culturas do feijão e do milho para a região em estudo obtidos junto ao portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através do link banco de dados Séries Estatísticas & Séries Históricas31. Esses dados são para o período compreendido entre 1997 a 2010, entretanto o ano de 1998 não possui informação. Os cálculos das correlações foram obtidos por meio de equações de regressão linear simples. Utilizou-se a planilha do Microsoft Excel 2007 para o cálculo deste coeficiente. Contudo, para tirar qualquer conclusão sobre o valor estimado do coeficiente de correlação linear (r) é necessária à aplicação de um teste estatístico para testar a existência de uma relação significativa entre as duas variáveis. Utilizou-se o teste t para inferência de associação da 29 Disponível em < ftp://ftp.cpc.ncep.noaa.gov/precip/CPC_UNI_PRCP/GAUGE_GLB/> 30 Disponível em <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/data/indices/> 31 Disponível em <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/> 275 correlação. Segundo Silva (2007) é um teste de fácil aplicação e mundialmente aceito como um teste eficiente no cômputo da significância estatística de coeficiente. Também se realizou a padronização dos dados, que é indispensável para os casos em que diferentes variáveis serão submetidas á análise estatística. Segundo Wilks (2006) esta transformação é por vezes também referida como uma normalização. As unidades físicas dos dados originais são canceladas, ou seja, as variáveis padronizadas são adimensionais. Para a seleção dos eventos será utilizada a região do Niño 3.4, por ser um dos índices mais difundidos operacionalmente para fins de monitoramento e previsão dos eventos ENOS e suas teleconexões (TRENBERTH, 1997). Os anos de El Niño e La Niña foram selecionados tendo como base a relação do CPC/NOAA32. Os episódios quentes baseiam-se no trabalho de Rasmusson e Carpenter (1982), enquanto a fonte dos episódios frios é Ropelewski e Halpert (1989). Foram selecionados 09 anos de EN (82/83-F, 86/87-M, 87/88-M, 91/92-F, 94/95-M, 97/98-F, 02/03-M, 06/07-M e 09/10-F) e 06 anos de eventos LN (84/85-M, 88/89-F, 95/96-M, 98/99-M, 99/00-M e 07/08-F). A classificação dos episódios nas categorias moderado (M) e forte (F) foi realizada também com base nas informações contidas no sitio do CPC/NOAA. Por outro lado, os anos correspondentes aos anos com gradiente meridional ou interhemisfério da TSM sobre o Atlântico (GRADM) positivo ou negativo foram escolhidos com base no cálculo do índice proposto por Servain (1991) que consiste na diferença entre as médias da TSM na área delimitada na bacia norte do Atlântico, menos a área na bacia sul. Foram selecionados 10 episódios com GRADM positivo (anos de 79, 80, 81, 83, 92, 97, 02, 04, 05 e 10) e 08 com GRADM negativo (anos de 84, 85, 86, 89, 91, 94, 08 e 09) sobre o Oceano Atlântico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente foi realizada uma associação qualitativa entre a precipitação anual para o Cariri Paraibano e os eventos sobre os oceanos, com o intuito de verificar se haveria uma relação entre estes (Figura 2). Na Figura 2a são apresentados os desvios da precipitação anual padronizada para o Cariri Paraibano no período em estudo, destacando-se os eventos sobre o Oceano Pacifico (El Niño e La Niña). É possível observar nos anos em que o evento EN esteve configurado (barras em vermelho) que aproximadamente 67% da precipitação foram abaixo da média, tal como referido na literatura (por exemplo, PHILANDER, 1991, dentre outros). Entretanto, nos anos de 1995, 2007 e 2010 observa-se desvios de precipitações positivas, vale ressaltar que com exceção do ano de 2010 com precipitação de 772 mm, nos anos de 1995 e 2007 os desvios são inferiores a 0,5, deste modo 32 Disponível no site <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ensoyears.shtml> 276 podendo ser considerados dentro da média climatológica. Nos anos de LN (Figura 2a – barras em verde) a precipitação apresenta-se positivas, ou seja, acima da média, com exceção para o ano de 1999 em que se tem uma precipitação negativa, apesar de que o desvio é inferior a 0,5. Em anos com condições neutras sobre o Pacífico tem-se uma variabilidade da precipitação não sendo observado qualquer padrão, o que pode ser visualizado é que a partir do ano de 2004 os desvios de precipitação aparecem sempre positivos. Percebe-se claramente que tal como dito em (JÚNIOR e GALVINCIO, 2009) os eventos sobre o Pacífico El Niño e La Niña indicam uma influencia negativa ou positiva, respectivamente, no comportamento das chuvas sobre a região em estudo, entretanto nem sempre ano de El Niño ou La Niña são necessariamente um ano seco ou chuvoso, respectivamente, pois como mostram os estudos o impacto dependerá também de outras condições, como as condições do Oceano Atlântico e condições locais. Na Figura 2b pode-se observar o que acontece com a precipitação interanual em associação com os eventos de gradiente meridional ou inter-hemisférico da TSM sobre o Atlântico. Observarse que quando o gradiente é positivo, sendo considerado condição desfavorável para a nossa região (Hastenrath e Heller, 1977; Moura e Shukla, 1981), o número de anos com precipitação abaixo da média é maior do que o número de anos com precipitação acima da média, entretanto o que chama a atenção é que todos os eventos antes de 1997 tal como relatado em literatura essa condição no oceano Atlântico tende a diminuir a precipitação na região NEB, porém depois desta data todos os desvios apresentam-se positivos. Analisando o gradiente negativo (barras em verdes) tem-se que o resultado é exatamente o oposto, ou seja, com exceção do ano de 1991 que apresentou precipitação abaixo da média, com um desvio superior a 0,5, os demais anos em que observa-se precipitações variando acima da média. Quando o gradiente é neutro observa-se uma grande variabilidade oscilando entre valores abaixo e acima da média. 2,5 a) 1,5 1 0,5 0 -0,5 -1 -1,5 -2 -2,5 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 DESVIO DA PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO 2 ANOS 277 2,5 b) 2 1,5 DESVIO DA PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO 1 0,5 0 -0,5 -1 -1,5 -2 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 -2,5 ANOS Figura 2 – Desvio da Precipitação anual padronizada para o Cariri Paraibano (1979–2010) ( = mm e δ = 3 mm), com destaque os eventos extremos sobre: a) o Oceano Pacífico: Eventos El Nino (representados em barras vermelhas) e La Nina (em barras verdes) e b) o Oceano Atlântico: Eventos Gradiente inter-hemisférico positivo (representados em barras vermelhas) e negativo (em barras verdes). As barras em azul identificam os anos neutros. Analisando conjuntamente os anos de eventos extremos (indicados pelos círculos nas Figura 2) com a configuração sobre os dois oceanos, pode se observar, em geral, que nos casos dos eventos extremos de precipitações (desvios positivos) os eventos sobre os dois oceanos são os que favorecem a mesma, ou seja, La Niña no Pacífico ou GRADM – sobre o Atlântico. Tem-se, por exemplo, que nos anos de 1985 e 2008 estes dois eventos ocorreram simultaneamente, tendo o ano de 1985 como o que apresentou maior precipitação em todo o período em estudo, 1103,7 mm. A exceção ocorre no ano de 2004 e 2006, em 2004 sobre o Atlântico configurava o GRADM + e no outro ano em que as condições sobre os dois oceanos eram neutras. No caso em que as precipitações foram abaixo da média, acima do limiar de -1 desvio padrão tem-se que as condições eram de El Niño ou GRADM +, o que não favorece a formação de chuvas na região. Estes eventos no ano de 1983 ocorreram simultaneamente. Em 1982, 1990 e 1993 a precipitação foi abaixo da média, porém não tem associação com nenhum evento sobre os oceanos, condições locais deve ter influenciado as precipitações. A partir das variáveis padronizadas foram calculados os coeficientes de correlação linear entre a precipitação e a TSM sobre regiões dos Oceanos Pacífico e Atlântico. Realizou-se correlação com defasagem temporal, em que se desloca no tempo uma das variáveis em estudo. Neste trabalho, optou-se por fixar a precipitação no período chuvoso (fevereiro, março e abril), e por variar a TSM sobre as regiões, para permitir a obtenção de resultados que pudessem expressar 278 alguma sugestão sobre a influência dos oceanos sobre a precipitação. O Quadro 1 apresenta a montagem das correlações defasadas (lags) e simultâneas, ou seja, sem defasagem (lag = 0). Defasagens (lags) PRECIPITAÇÃO TSM‘s LAG 0 FEV-MAR-ABR FEV-MARABR LAG -1 FEV-MAR-ABR JAN-FEVMAR LAG -2 FEV-MAR-ABR DEZ-JANFEV LAG -3 FEV-MAR-ABR NOV-DEZJAN LAG -4 FEV-MAR-ABR OUT-NOVDEZ LAG -5 FEV-MAR-ABR SET-OUTNOV LAG -6 FEV-MAR-ABR AGO-SETOUT Quadro 1 – Montagem dos meses para realização da correlação entre as TSM sobre os Oceanos e a precipitação sobre o Cariri Paraibano durante o período chuvoso (FMA). Os valores obtidos para o coeficiente de correlação são apresentados na Tabela 1. Observase que as correlações com as áreas sobre o Pacífico não apresenta correlação linear absoluta superior a 0,51 e no Atlântico superior a 0,47. Nota-se que sobre o Pacífico a região que apresentou uma maior correlação significativa com a precipitação no Cariri Paraibano foi a região Niño 3, seguido da região Niño 3.4, e estas tem-se influencia negativa, isto pode ser verificado pelos valores negativos do coeficiente. Pode ser observado também que os valores do coeficiente de correlação decresce com a defasagem indicando que as condições sobre o Pacífico apesar de ter influencia deste o trimestre agosto-setembro-outubro (lag 6) do ano anterior a estação chuvosa, essa influencia vai intensificando a medida que as condições permaneçam sobre a região e perdurem até o trimestre chuvoso (lag 0). Com relação ao Atlântico, apesar dos valores em termos absolutos serem menores é observado que as condições sobre o Atlântico influenciam favoravelmente as chuvas na região em 279 estudo. O GRADM está em acordo com os estudos em que ele favorece negativamente, e é bom chamar a atenção ao sinal contrário entre as bacias norte e sul, que explica o GRADM. A análise das correlações defasadas e simultâneas indica que existe um comportamento fora de fase entre o sinal de aquecimento das águas sobre os oceanos e a precipitação. Além disso, os maiores valores encontrados podem ser um indicativo da importância dos oceanos, todavia é bom ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí a dificuldade em encontrar respostas diretas. Os resultados das correlações estão em concordância com todos os estudos realizados para a região NEB, em que mostra que as condições sobre os dois oceanos impactam na precipitação. LAGS PACÍFICO ATLÂNTICO NINO 1+2 NINO 3 NINO3.4 NINO 4 ATN ATS GRADM 0 -0,37 -0,51 -0,49 -0,41 -0,31 0,21 -0,40 1 -0,35 -0,46 -0,43 -0,36 -0,25 0,24 -0,39 2 -0,32 -0,42 -0,40 -0,33 -0,19 0,24 -0,34 3 -0,27 -0,37 -0,36 -0,29 -0,18 0,23 -0,33 4 -0,26 -0,35 -0,32 -0,25 -0,19 0,27 -0,37 5 -0,22 -0,30 -0,27 -0,20 -0,17 0,37 * -0,42 6 -0,20 -0,25 -0,22 -0,20 -0,14 0,47 * -0,47 Observação: Os valores com asteriscos não apresentaram significância estatística de 95% de confiança pelo teste t. Tabela 3 – Coeficiente de correlação para precipitação versus regiões sobre os Oceanos Pacífico e Atlântico Na Figura 3 observa-se o desvio padronizado da quantidade produzida de feijão e milho para o Cariri Paraibano durante o período (1997 – 2010), com a indicação dos eventos sobre os oceanos Pacífico (EN e LN) e Atlântico (GRADM + e GRAM-). Pode verificar que a quantidade produzida de feijão e milho segue a mesma característica, ou seja, as duas apresentam desvios positivos ou negativos, isto porque na região as culturas são desenvolvidas em consórcio, ou seja, é um sistema em que o cultivo de uma ou mais espécies é realizado em uma mesma área, de modo que uma conviva com a outra. Desta forma o aproveitamento da área é melhor porque ao se cultivar duas 280 culturas o agricultor quase sempre tem maior eficiência no uso da sua terra, produzindo uma quantidade maior de grãos comparada com o monocultivo. A precipitação também é representada na Figura 3 com a linha preta, em geral mostra que períodos de quantidade produzida mais altas coincidem com anos com precipitações acima da média, dos 13 anos em análise, apenas 31% não apresentou uma concordância com a precipitação. O coeficiente da correlação linear entre os desvios normalizados da precipitação e as culturas do milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, significativas a 95% de confiança testado pelo teste t, reforçando assim a análise da influência direta da precipitação com as culturas. Associando o aumento ou diminuição da produção de feijão e milho com as condições sobre o Oceano Pacífico (Figura 3a) nota-se que nos anos em que se configura o El Niño (indicado pelas barras vermelhas) que se tem uma redução na quantidade produzida, já nos anos de La Niña tem uma indicação de aumento, porém o ano de 1999 foi uma exceção em que foi observado uma redução de mais de 1 desvio padrão, a quantidade produzida foi a menor do período em estudo, 176 toneladas. Nos anos neutros nada pode se afirmar, apresentado variabilidade. Nos anos em que se verificou o GRADM negativo (Figura 3b) observa-se um desvio positivo das culturas, enquanto que nos anos de GRADM positivo apresentou uma oscilação acima e abaixo da média, não demonstrando nenhuma associação, isto também é verificado nos anos neutros. Quando se observam as duas figuras (3a e 3b) concomitantemente não foi observado nenhum padrão entre os dois oceanos que possam agregar ou remeter a uma condição de influencia ou não conjunta. CONCLUSÃO A associação qualitativa entre os eventos sobre os Oceanos demonstrou que eles apresentam um impacto na precipitação da região, porém o que pode ser observado é que estes não podem ser estudados isoladamente e sim simultaneamente. A análise quantitativa foi concordante com outros estudos bem como a análise qualitativa realizada. Em que a análise das correlações defasadas e simultâneas indica que existe um comportamento fora de fase entre o sinal de aquecimento das águas sobre os oceanos e a precipitação. Além disso, os maiores valores encontrados podem ser um indicativo da importância dos oceanos, todavia é bom ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí a dificuldade em encontrar respostas diretas. 281 A correlação linear entre os desvios normalizados (padronizados) da precipitação e as culturas do milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, significativas a 95% de confiança testado pelo teste t, reforçando assim a análise da influência direta da precipitação com as culturas. Nenhum padrão entre os dois oceanos e a quantidade produzida pode ser verificado para remeter a uma condição de influencia direta na agricultura, entretanto indiretamente deve existir devido a ela ser intimamente ligada a precipitação. 2,0 a) Desvio Padronizado da Quantidade Produzida 1,5 1,0 0,5 0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anos 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2,0 b) Desvio Padronizado da Quantidade Produzida 1,5 1,0 0,5 0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anos 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 3 – Desvio padronizado da Quantidade Produzida para as culturas de feijão (cores mais claras à esquerda) e milho (cores mais escuras à direita) para o período de 1997 a 2010. a) os em tonalidade verde representam os anos de eventos La Niña e os em vermelhos os de El Niño. b) os em tonalidade verde representam os anos de Gradiente negativo e os em vermelho Gradiente positivo. As barras em tonalidades azuis identificam os anos neutros sobre os oceanos. 282 AGRADECIMENTOS A UFCG juntamente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa da aluna de Iniciação Científica (PIBIC). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREOLI, R.V.; KAYANO, M.T. Multi-scale variability of sea surface temperature in the tropical Atlantic. Journal of Geophysical Research, 109, 2004. CHEN, M.; XIE, P.; CPC precipitation working group. CPC Unified Gauge-based Analysis of Global Daily Precipitation, Western Pacific Geophysics Meeting, Cairns, Australia, 2008. CPC – Climate Prediction Center. Disponível em: < http://www.cpc.ncep.noaa.gov/>. Acesso em 20 de agosto de 2011. HASTENRATH, S.; HELLER, L. Dynamics of climatic hazards in Northeast Brazil. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society, 102, 77-92, 1977. JÚNIOR, E.V.B. ; GALVÍNCIO, J.D. 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ROPELEWSKI, C.H.; HALPERT, M.S. Precipitation patterns associated with the high index phase of Southern Oscillation. Journal of Climate, 2(3), 268 – 284, 1989. 283 SENA, J. P.O; MELO, J.S.; LUCENA, D.B.; MELO, E.C.S. Comparação entre dados de chuva derivados do Climate Prediction Center e observados para a região do Cariri Paraibano. Revista Brasileira de Geografia Física. v.02, 412-420, 2012. SERVAIN, J. Simple climatic indices for the tropical Atlantic Ocean and some applications. Journal of Geophysical Research, 96, 15.137 – 15.146, 1991. SILVA, L. L. da. Precipitações Pluviais da Pré-estação chuvosa no período chuvoso e suas influências na produtividade agrícola da Paraíba. Dissertação de Mestrado em Meteorologia, UFCG, Campina Grande – PB, 114p, 2007. SOARES, F.R.; BRITO, J.I.B. Estudo da Variabilidade Interanual da Aridez e da Vegetação (IVDN) da Região do Seridó do Rio Grande do Norte e Paraíba. 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O município de Bananeiras na Paraíba apresenta grande potencial turístico, quer seja: natural, cultural e histórico. A busca pelo município para a prática do turismo evidencia também a particularidade da segunda residência, o que resulta no aumento da especulação imobiliária, principalmente no contexto dos condomínios fechados. O objetivo do trabalho é discutir o conceito de paisagem e lazer e relacioná-los ao turismo; explicar a relação do turismo com a Geografia e por fim estudar o Condomínio Águas da Serra Haras e Golf e o seu papel na estrutura socioespacial de Bananeiras. Neste contexto espera- se que este estudo contribua para denotar a importância destas estruturas em estreita conexão com a atividade turística. PALAVRAS – CHAVE: Paisagem; Geografia do turismo; Turismo de Segunda Residência. ABSTRACT The study of tourism is interdisciplinary, and in the case of interest in Geography this area has increased over the years. The town of Banana in Paraíba has great tourism potential, either: natural, cultural and historical. The search for the municipality to the practice of tourism also highlights the peculiarity of the second residence, which results in increased speculation, especially in the context of gated communities. The objective is to discuss the concept of landscape and leisure and relate them to tourism; explain the relationship of tourism with Geography and finally study the waters of Sierra Haras Condo and Golf and its role in the structure of sociospace Bananeiras. In this context it is hoped that this study contributes to denote the importance of these structures in close connection with the tourist activity. KEYWORDS: Landscape; Geography of the tourism; Tourism of Second Residence. INTRODUÇÃO Este artigo tem como estudo de caso o Condomínio Águas da Serra Haras e Golf, um empreendimento idealizado pela LTL Construção e Incorporação LTDA. localizado no município de Bananeiras – Paraíba, a 141 quilômetros distantes de João Pessoa, 131 quilômetros de Natal e 250 quilômetros de Recife. O município em tela é alvo de turistas de quase todas as regiões brasileiras, pois conta com um grande potencial turístico em suas singularidades natural, cultural e histórica. Bananeiras abriga cachoeira, serras, reservas florestais, monumentos históricos, casarões antigos, igrejas, engenhos, além de um clima agradável, o que torna intensa a procura do município para a prática do turismo, inclusive o de segunda residência, o que ocasionou o aumento da especulação imobiliária da região. Os condomínios fechados, que se somam sete atualmente, podem ser entendidos como um dos 286 efeitos dessa especulação. As regiões serranas e as praias apresentam grande potencial para o turismo de segunda residência, fazendo com que essas paisagens naturais transformem-se de maneira vertiginosa. Geralmente alavancadas por tendências de ―moda‖, onde as construtoras e/ou corretores de imóveis loteiam granjas, fazendas ou terrenos de usucapião, (e são seguidos por outras construtoras e/ou corretores de imóveis), contando muitas vezes com um planejamento precário, ou mesmo com a falta dele, visando prioritariamente o lucro. No caso específico do condomínio Águas da Serra Haras e Golf, percebe-se esta exceção, visto que o planejamento espacial fora levado em consideração. A escolha deste tema justifica-se pelo fato do município de Bananeiras apresentar uma prática considerável do turismo de segunda residência, o que motivou a construção de condomínios fechados, e através de um estudo de caso no Condomínio Águas da Serra Haras e Golf procura-se entender o porquê da escolha por Bananeiras, como o poder público local, a população fixa, os comerciantes e prestadores de serviço veem o condomínio, que benefícios a construção trará para a população local. O trabalho teve como objetivos discutir o conceito de paisagem e lazer e relaciona-los ao turismo de segunda residência, explicar a relação do turismo com a Geografia - particularmente o turismo de segunda residência - e por fim, estudar o Condomínio Águas da Serra e o seu papel na estrutura socioespacial de Bananeiras. A pesquisa é de caráter analítico-descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa, utilizando-se da aplicação de entrevista ao proprietário do condomínio, condôminos e a atual secretária de turismo em Bananeiras. A GEOGRAFIA E O TURISMO O conceito de turismo nasceu no Séc. XVII, mas suas primeiras teorias datam do período pós Segunda Guerra Mundial. É apresentado por De La Torre (apud. ASSIS, 2003) como: [...] um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas, que fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural. (p. 109). O interesse pelo turismo na Geografia é recente (remonta a década de 1970), entretanto este interesse por parte dos geógrafos pelo estudo desta ciência ou fenômeno cresce, uma vez que a prática do turismo transforma o espaço e a economia local. 287 Cumpre lembrar que o turismo não era privilégio de todos, restringia-se apenas aos mais abastados da sociedade, que dispunham de tempo e principalmente de dinheiro para realizar suas viagens. Atualmente essa discrepância vem diminuindo sensivelmente, visto que o turismo de massa tornou-se um fenômeno crescente a partir do final do século XX. Os Grand-Tour's, viagens do século XIX, tinham um propósito diferenciado do turismo de hoje, eram motivos culturais e educacionais, agregados a práticas de lazer. Após a II Revolução Industrial, a sociedade passou a valorizar o descanso e o lazer, e algumas conquistas nas lutas trabalhistas - como a carga horária de trabalho reduzida e as férias remuneradas, por exemplo contribuíram para o incremento da atividade turística O descanso ou o ―não-trabalho‖ pode representar de uma forma lógica um prejuízo para os empregadores e uma necessidade para os empregados; e foi no turismo que o capitalismo encontrou um meio de transformar esse ―prejuízo‖ em lucros, explorando os serviços turísticos, a exemplo das agências de viagens, dos hotéis, bares, boates e restaurantes. No campo geográfico, o turismo é muito mais do que o simples deslocamento de pessoas com fins de lazer; é uma prática socioespacial complexa e multifacetada que interage os fixos e fluxos e tem seus rebatimentos nas distintas esferas da organização socioespacial. Dentre essas se destacam o setor econômico, político, cultural, ideológico e espacial (ASSIS, 2003). O turismo afeta a economia de uma determinada região, pois altera o perfil de empregos e gera renda, atinge a cultura, através da interação das pessoas, e o que é mais importante de se destacar: o turismo transforma o espaço natural e geográfico. E é de competência do geógrafo: [...]. Avaliar os impactos por ele produzidos, explicar as formas de apropriação dos recursos naturais e suas transformações para chegar à oferta turística, compreender as relações sócio-espaciais do turismo, analisar a mobilidade dos fluxos turísticos nos territórios, explicar os discursos que elaboram estratégias político-espaciais, planejar os usos dos espaços para segmentos turísticos diferenciados e ainda explicar a contribuição do turismo no processo do desenvolvimento regional e local. (CORIOLANO E SILVA, 2005. p.98). O turista vive a Geografia, o território, a paisagem, o espaço rural e urbano, o ambiente, etc. A cartografia, por exemplo, pode ser muito importante para um turista ou um aventureiro; além disso, ―o turismo aposta nas diferenças locais e regionais, tão valorizadas pela geografia‖ (Op cit, 2005, p.78). Ou seja, a geografia está muito presente no turismo, por ser uma prática relacionada a pessoas e lugares. TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA As residências secundárias são aquelas de caráter particular, notadamente, vinculadas ao 288 turismo de fins de semana e temporadas (ASSIS, 2003, p.5). TULIK, apud. GARCIA (2007, p.57), define-as como: “Casas de temporada, de praia, de campo, chalé, cabana, rancho, sítio ou chácara de lazer são alguns termos comumente aplicados às propriedades particulares utilizadas temporariamente, nos períodos de tempo livre por pessoas que tem sua residência permanente em outro lugar”. Essas residências estão diretamente ligadas ao lazer e ao turismo, apesar de não estarem totalmente vinculadas ao estudo do turismo. Em outras localidades - a exemplo dos Estados Unidos e países da Europa – essa associação já vem sendo levada em consideração há mais tempo. No Brasil, tal fenômeno ainda é pouco estudado os primeiros trabalhos datam do final década de 1980. Segundo BECKER, citado em ASSIS (1995, p. 110), No Brasil, o aparecimento do fenômeno da segunda residência dá-se na década de 1950 sob a égide do 'nacional-desenvolvimentismo' que foi responsável pela implantação da indústria automobilística, pela ascensão do rodoviarismo como matriz principal dos transportes e pela emergência de novos estratos sociais médios e urbanos que, aos poucos, começaria a incorporar entre os seus valores sócioculturais a ideologia do turismo e do lazer … O veraneio ou o descanso dos fins de semana se transformaram em valor social cuja satisfação levaria ao turismo, de um modo muitas vezes predatório e desordenado, a regiões acessíveis a grandes centros urbanos do Centro-Sul, e com atributos ambientais valorizados (Zonas costeiras e/ou serranas). É sabido que os espaços com potencial para o turismo de segunda residência se transformam de forma rápida e na maioria das vezes desordenada, onde as construtoras e/ou corretores de imóveis loteiam áreas geralmente de fazendas e estes são seguidos por uma gama de outras construtoras e/ou corretores de imóveis, provocando uma alteração drástica na paisagem. Ignoram as consequências das intervenções na natureza, e visam exclusivamente à obtenção progressiva de lucros. Os órgãos públicos com poder de fiscalizar essas ocupações, muitas vezes ilegais, dificilmente o fazem com rigor. No caso específico de Bananeiras a ocupação através de condomínios horizontais foi até o momento realizado de forma ordenada e segundo parâmetros legais. Para que os parâmetros continuem de acordo com o desejável, é necessário que a fiscalização continue a fazer o seu papel, uma vez que esses investimentos vão provavelmente gerar outros tipos de investimentos – como uma reação em cadeia. A exploração do meio ambiente sem o devido planejamento espacial vem geralmente acompanhada por prejuízos muitas vezes irreversíveis. Podemos citar os municípios Paraibanos de Lucena e Conde - onde a movimentação turística acarretou em ocupações desordenadas - comprometendo mangues, APA‘s, entre outros fatores, como quando compromete a qualidade de vida dos nativos. 289 Geralmente, as regiões que possuem uma grande quantidade de habitações secundárias, em princípio surgem como vilas de pescadores, ou pequenos sítios, que posteriormente são loteados e vendidos como terrenos independentes ou em condomínios fechados, de preferência próximos dos centros urbanos, que gradativamente empurram a população local para as periferias, desarticulando sua cultura e modos de viver, e os submetendo ao trabalho meramente turístico. Muitas vezes as cidades ao se munirem de infraestrutura, incorporam essas regiões à malha urbana e transferem os loteamentos e condomínios de segunda residência para um novo local. O Turismo de segunda residência despontou na Paraíba a partir da década de 1970, com o surgimento das vilas de veraneio e, por conseguinte uma grande febre desse tipo de habitação. Como descreve MADRUGA (1992, p.32) ―Crescem então nos anos de os finais de semana passados nas praias, pelos moradores das cidades, trabalhadores em seu descanso semanal (conquista histórica das lutas trabalhadoras)‖ As primeiras vilas a se transformarem foram àquelas mais próximas dos centros urbanizados: Tambaú, Penha e Cabedelo (MADRUGA, 1992, p.32). O interesse pelas regiões interioranas é recente na Paraíba no quesito segunda residência, pois muitas famílias que residem no litoral possuem laços com as famílias do interior, consequentemente sempre ou quase sempre existe um ponto de apoio em alguma dessas cidades. À medida que os pontos de apoio se diluem e os laços permanecem, abre espaço para o interesse das pessoas em possuir residências no interior. Os proprietários das segundas residências diferenciam-se dos turistas das redes hoteleiras, pois em geral, têm ou criam identificação com o lugar que escolhem para passar suas horas de descanso. E quem são os proprietários dessas residências secundárias ou segundas residências? Estão ao alcance de todos? São perguntas que tentaremos responder ao longo deste trabalho, porém, uma coisa é certa: a renda é um fator importante quando se trata de possuir esse tipo de imóvel, pois, subtende-se que para mantê-los ou usufruí-los é necessário uma renda extra. Existem os gastos com a compra do terreno, construção, impostos, manutenção e locomoção, de acordo com ASSIS (2003) tais fatores fazem da segunda residência uma modalidade de alojamento turístico elitista, marca de status social, particularidade das camadas sociais alta e, na sua maioria, média. Para a classe média, pelas condições financeiras e falta de tempo, a segunda residência acaba por tornar-se a melhor opção de aproveitamento do reduzido tempo livre, pois muitas vezes a compra de um terreno ou imóvel em locais de potencial turístico, representa também um investimento financeiro. O CONDOMÍNIO ÁGUAS DA SERRA – BANANEIRAS – PB. O Condomínio Águas da Serra Haras e Golf situa-se a 141 quilômetros distantes de João Pessoa, 131 quilômetros de Natal e 250 quilômetros de Recife. Foi idealizado pela LTL Construção 290 e Incorporação LTDA. O espaço onde hoje se encontra o condomínio anteriormente abrigava uma propriedade rural - denominada Fazenda Bebedouro - que dista apenas 2 quilômetros do marco zero do município de Bananeiras, ao considerar a Igreja Matriz como ponto principal. O planejamento e construção do condomínio só se tornaram possíveis graças a incentivos fiscais proporcionados pela prefeitura (previstos nas leis nº 313/2005 e nº 366/2007), além da disposição do antigo proprietário de vender as terras da fazenda. Este é um grande condomínio, utilizado aqui como referência para representar uma tendência turística em Bananeiras nos últimos cinco anos. A EMERGÊNCIA DO CONDOMÍNIO O município de Bananeiras foi escolhida pela LTL, por haver uma grande identificação dos empresários da construtora Alírio Trindade e Josenes Ramalho com o município. O primeiro por possuir vários imóveis na cidade e o segundo que hoje reside na mesma. Além disso, existem por parte da prefeitura leis (LEI Nº 313/2005 e LEI Nº 366/2007), que garantem a empreendimentos de hospedagem para fins de turismo e lazer, tratamento fiscal especial e isenção de impostos, por um período de dez anos, contanto que setenta por cento da mão de obra seja local. A região que se encontra o condomínio fazia parte da Fazenda Bebedouro e foi adquirida no ano de 2007 pela LTL Construções. Em maio de 2010 haviam sido vendidos pouco mais da metade de um total de seiscentos e cinquenta e quatro lotes. Apresenta 20 funcionários diretos, dos quais 3 são exclusivos para o campo de golfe. O município de Bananeiras possui sete condomínios horizontais e o Condomínio Águas da Serra Haras e Golfe e é sem dúvida o que conta com a maior estrutura para o entretenimento dos condôminos. De acordo com a construtora responsável pelo condomínio, este possui as seguintes especificações: Heliporto, o primeiro campo de golfe do Estado da Paraíba, cinco lagos, clube privê, campo de futebol, duas quadras de tênis, trilhas ecológicas, engenho de cachaça, duas ilhas, casa de vegetação, haras com dezessete baias, piscina térmica, quarenta hectares de mata nativa, cem por cento pavimentados, ponte pênsil, espaço para academia, energia/iluminação e abastecimento de água próprio. Desde a sua inauguração ao dia da pesquisa os valores dos lotes chegaram a variar 60% para mais (sem levar em consideração a inflação), e a tendência é valorizar, uma vez que uma parcela dos lotes comprados já possuem casas construídas ou em processo de construção. É visível a diferença absurda em alguns setores como os da rede hoteleira e o setor comercial, por exemplo. A iniciativa do campo de golf trouxe consigo a construção do Serra Golf Apart Hotel, o que proporciona mais visibilidade para o município, além do mais, trouxe também empregos diretos e indiretos. De acordo com a então secretária de turismo de Bananeiras, os condomínios (no geral), trouxeram qualidade de vida para os moradores do município junto com os 291 empregos e a melhoria nos serviços. Ela complementa que sua única preocupação seria com futuras agressões ao meio ambiente e com a falta de consciência dos moradores locais e turistas com a preservação do mesmo e do patrimônio cultural e histórico da cidade. A secretária ainda afirma que estão sendo feitas campanhas através de palestras e seminários para que essa preocupação não se torne um problema de fato. O CONDOMÍNIO ENQUANTO UM EMPREENDIMENTO TURÍSTICO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA Os atrativos naturais de Bananeiras são os principais motivos que trazem turistas para o município: o clima agradável do Brejo Paraibano, a mata praticamente intocável, as trilhas ecológicas, são alguns desses atrativos, além dos atrativos culturais como a arquitetura dos prédios antigos, a organização do centro da cidade e ―o melhor São João pé-de-serra do mundo‖, como anuncia o próprio ―slogan‖ da festa O geólogo Nivaldo Garcia, proprietário de um dos lotes, explica que ficou atraído pelo investimento financeiro e pela similaridade de Bananeiras com sua terra natal no Sul da Bahia. Muitos dos proprietários dos lotes escolhem a região pela identificação que tem ou criam pelo lugar. O tipo de ocupação de segundas residências em Bananeiras, que é uma região serrana, se assimila de outras regiões serranas como Gravatá e Garanhuns em Pernambuco ou Gramado no Rio Grande do Sul. Dá-se principalmente através de condomínios horizontais, uma vez que a principal intenção de um indivíduo residente em grandes capitais ou regiões metropolitanas é justamente a busca da paz e do sossego, nos fins de semana, que dificilmente encontrarão onde vivem. Esses condomínios são assim projetados para proporcionar no mínimo a sensação dessa paz. Em contrapartida, nas regiões de praias com potencial para exploração do turismo de segunda residência são feitas geralmente com condições precárias ou mesmo sem planejamento algum, através de loteamentos e venda de terrenos. As residências são geralmente construídas por conta dos próprios proprietários e não por construtoras, em quase todos os casos. O objetivo do turismo nas praias é, em tese, o oposto das regiões serranas, busca-se o divertimento e a agitação. Para analisar o perfil socioeconômico dos turistas de segunda residência em nosso estudo de caso, basta inferir sobre o valor dos lotes juntamente com a média no valor das construções que se seguiram. Por exemplo, se um lote custa em média trinta e cinco mil reais, e para se construir um imóvel no mesmo padrão das casas construídas ou em andamento pela construtora Bomcasa, os condôminos gastam em média duzentos mil reais, isso daria um investimento financeiro de duzentos e trinta e cinco mil reais, sem contar com os gastos para a manutenção do imóvel, transporte (subentendendo que todos ou quase todos possuam carro), alimentação e taxa de condomínio. Fica compreensível perceber que o custo para ter esse sossego que se busca não é 292 baixo. Então se pode concluir que esses condôminos se encaixam nas classes média-alta a alta, salvo raras exceções de pessoas que segundo informação dos próprios empresários compram apenas os lotes visando o divertimento dos seus filhos ou o próprio divertimento nas áreas de lazer do condomínio. Outro ponto a ser analisado refere-se ao modo como o poder público local, a população fixa, os comerciantes e prestadores de serviço veem o condomínio. A prefeitura apesar da isenção de impostos, ganha muito com a construção desse e dos outros seis condomínios; através da visibilidade que ganha o município e a geração de empregos e serviços trazem a simpatia da população para com a gestão ―responsável‖ por esses benefícios O crescimento da cidade caminha lado a lado com o crescimento do turismo nesse caso. A grande preocupação do poder público com o avanço desses empreendimentos deve ser com a preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, pois as atividades turísticas muitas vezes, quando não controladas, trazem prejuízos a esses patrimônios locais, pela exploração dos mesmos. A população nada tem a reclamar enquanto esses empreendimentos trouxerem a valorização do espaço onde vivem, os empregos e o crescimento do comércio local, assim também como os comerciantes e prestadores de serviços. Porém vale salientar que é importante para a população estar ciente dos processos que vive a sua cidade; como a especulação imobiliária, e a exploração dos bens do município pelas empresas ligadas ao turismo e conscientizar-se também para a importância a preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, denunciando e fiscalizando. DADOS SOBRE AS RESIDÊNCIAS DE ORIGEM DOS CONDÔMINOS Ao observar os dados sobre a origem dos condôminos podemos perceber uma importante característica no que diz respeito a segundas residências, ou seja, a proximidade do proprietário em termos de sua residência principal. No caso de Bananeiras, mais especificamente do Condomínio Águas da Serra e Golf, os condôminos do Estado da Paraíba estão perceptivelmente em maior porcentagem, reapresentam 76% do total, seguidos dos condôminos do Estado do Rio Grande do Norte, 21%, que na sua maioria são das cidades de Natal e Parnamirim. Aliás, ambas têm acesso a bananeiras pelas rodovias BR-304, pelas rodovias BR-226, RN-093, até a PB-109, distantes apenas 141 quilômetros e 121 quilômetros respectivamente, os outros 3% correspondem a condôminos de outros estados brasileiros. No entanto há poucos proprietários do Estado de Pernambuco, apesar da proximidade com o município de Bananeiras, a explicação mais plausível para isso seria de que o Estado de Pernambuco já explora esse tipo de turismo há mais tempo e já está bem a frente da Paraíba nesse quesito, a exemplo da microrregião de Garanhuns que é composta por dezenove municípios. Além 293 destes três estados, encontramos proprietários de São Paulo, Rio de janeiro, e Distrito Federal. Em relação aos municípios paraibanos, o que possui o maior número de representantes condôminos no condomínio Águas da Serra Haras e Golf, é a capital João Pessoa, com uma representação de 78%. Este fato tem a ver que João Pessoa é o município que detém a maior concentração de renda, além de ser uma cidade praiana, que concentra o maior número de pessoas com condições financeiras e interesse de usufruir de uma paisagem e clima serrano, diferente do litoral. O poder aquisitivo relacionado com o volume da população, pode ser considerado um fator importante no quesito proprietários de residências secundárias. Podemos destacar os bairros do Bessa, Cabo Branco, Manaíra e Miramar - que estão entre os cinco bairros com a maior renda mensal do município de João Pessoa, e não coincidentemente são os quatro com o maior número de representantes no Condomínio Águas da Serra. O fato de haver uma quantidade razoável de condôminos que residem no Rio Grande do Norte nos remete ao fato de que o alto custo nos valores dos imóveis (devido à especulação imobiliária e o alto investimento no turismo) deste Estado, faz com que a própria população local invista em imóveis de outros Estados, principalmente na Paraíba. No condomínio Paraíso Serrano localizado em Lagoa Nova – Rio Grande do Norte, município com clima similar ao de Bananeiras, um lote chega a ter o dobro do valor do Condomínio Águas da Serra, que seria o condomínio mais luxuoso do brejo paraibano. Natal é o município com o maior número de condôminos que investiram no Condomínio Águas da Serra. Com 77%, Parnamirim, vem na sequência com 20%, Passa e Fica 1,5%, Lagoa Nova 1,5% do total de condôminos residentes no Rio Grande do Norte. GERAÇÃO DE EMPREGOS E SERVIÇOS É fato que a atividade turística traz consigo pontos negativos e positivos para a região de influência, e um destes pontos positivos é sem dúvida a geração de empregos diretos e indiretos. No caso da construção do Condomínio Águas da Serra e Golf, necessitou-se mão-de-obra, principalmente da construção civil, o que gerou a implantação depósitos de material de construção, antes não havia nenhum, quatro novos hotéis, além de diversas lojinhas de variedades e restaurantes. O condomínio em questão apresenta uma demanda de serviços atuais e futuros, um empreendimento criado em função do condomínio, onde passará então a oferecer serviço de hotelaria, principalmente para as pessoas interessados no campo de golfe. Com relação à mão-de-obra, a empresa LTL Construções, conta com um total de cento e oitenta e cinco pessoas direta ou indiretamente ligadas a essa organização. 294 Um condomínio como o Águas da Serra, atrela oportunidades de emprego relativo a vários tipos de classes, a exemplo de classe de serviços prestados às famílias, como empregados domésticos em geral; classe de atividades prestadas às empresas, como: segurança, vigilância, atividades de serviços de manutenção e reparação e, por fim, atividade de limpeza urbana. Para um município de pequeno porte como é o caso de Bananeiras, todas as mudanças no quadro dos empregos é bem significativa, alterando o quadro de subempregos vivificados em atividades comerciais de natureza informal e empregos em atividades rurais muito mal remuneradas. CONSIDERAÇÕES FINAIS As transformações espaciais, econômicas e sociais geradas pelos investimentos turísticos no Séc. XX estão chamando a atenção de várias ciências - em especial a Geografia. Apesar da pouca bibliografia específica sobre o tema, pode se observar o interesse pelo estudo do turismo em variadas obras da literatura Geográfica. O turismo de segunda residência é um tema a ser incorporado à temática científica geográfica, com desdobramentos atinentes ao desenvolvimento e a cultura local, expressão da interação entre o novo (representado pelo turista) e o tradicional (representado pelo nativo). A análise desse condomínio como empreendimento de turismo de segunda residência, revela a investida do setor imobiliário para que este fenômeno cada vez mais se torne uma tendência turística, que atinge principalmente as classes média e média alta. E no caso dos empreendimentos localizados em regiões serranas e pacatas há uma diferença significativa na organização espacial das construções em relação às casas de praia, uma vez que a publicidade promove um objetivo diferenciado de uma situação para a outra. As razões para o interesse das construtoras estão principalmente nas leis de incentivo fiscal, além dos atrativos naturais e culturais, que trazem cada vez mais turistas, e a promessa de investimentos por parte da prefeitura. O investimento turístico pode trazer o crescimento da região através, em grande parte da geração de emprego e renda e da circulação de capital. A principal preocupação do poder público local e da população residente deve ser em primeiro plano com a desorganização das construções e a degradação do meio ambiente e patrimônios histórico culturais. O que requer um cauteloso planejamento turístico e programas educativos de conscientização da população. REFERÊNCIAS ASSIS, Lenilton Campos. Turismo de segunda residência: a expressão espacial do fenômeno e as possibilidades de análise geográfica. Revista Território – Rio de Janeiro – Ano VII- nº 11, 12 e 13 – set./out. 2003. 295 BARROS, Marina Carla Cassimiro. 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Todavia fica esquecida a possibilidade que o turismo possui de desenvolvimento social e de propiciar benefícios ecológicos, com isso podendo corroborar com o desenvolvimento local. O presente artigo abordará reflexões sobre o crescimento e dinâmica do turismo na área costeira nordestina, pois tem se intensificado os impactos negativos nas comunidades receptoras. As características físicas, históricas e culturais deste ambiente propiciam uma vasta utilização pela atividade turística. De fato a Região Nordeste é beneficiada de um turismo de sol e praia, inclusive, os investimentos são direcionados, especialmente, para este setor devido à beleza cênica do seu litoral. Para a análise, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, posteriormente observação de campo e entrevistas nos órgãos públicos, associações ligadas ao turismo e instituições privadas que fazem parte do arranjo produtivo do turismo, visando alcançar o objetivo do artigo. Os resultados das reflexões indicam que basicamente a faixa litorânea nordestina tem sido alvo dos grandes resorts, condomínios/prives e luxuosos hotéis que se aproveitam da beleza cênica e das condições oferecidas pelo Estado com uma perspectiva de lucrar. Esta dinâmica é corriqueira por toda a faixa litorânea nordestina, onde prevalecem os tipos de empreendimentos citados, assim como um turismo de segunda-residência que transforma os espaços em verdadeiros bairros fantasmas, por efeito da sazonalidade, retendo a dinâmica socioeconômica local em detrimento do turismo veranista. A atividade turística tem sido implantada apoiada em um discurso desenvolvimentista do poder público, mas que na verdade visa apenas o crescimento econômico. Palavras-chave: Turismo; Reflexões; Dinâmicas; Nordeste; Desenvolvimento Local. Abstract Tourism in the northeastern coast has been the target of public and private sector to mitigate social problems and particularly the economic coastal municipalities, it is understood as an activity that can boost economic growth in these communities. But forgotten is the possibility that tourism development has to provide social and ecological benefits, it may corroborate with local development. This article will discuss reflections on the growth and dynamics of tourism in the northeastern coastal area, it has intensified the negative impacts on host communities. The physical, historical and cultural environment provide this extensive use by tourism. In fact the Northeast benefits from a sun and beach tourism, including investments are targeted especially for this sector due to the scenic beauty of its coastline. For the analysis, was initially based on a literature subsequently field observation and interviews at public agencies, associations related to tourism and private institutions that are part of the productive arrangement of tourism in order to achieve the 298 objective of the article. The results indicate that the reflections basically the northeastern coastal strip has been the target of large resorts, condominiums / Deprive and luxurious hotels that take advantage of the scenic beauty and the conditions offered by the State with a view to profit. This dynamic is commonplace throughout the northeastern coastline, where the prevalent types of projects cited, as well as a second-home tourism that transforms spaces into veritable ghost neighborhoods, the effect of seasonality, retaining the socioeconomic dynamics at the expense of the local tourism vacationer. Tourism activity has been deployed in a development discourse supported the government, but actually refers only to economic growth. Keywords: Tourism; Reflections; Dynamics; Northeast; Local Development. Introdução O turismo no litoral nordestino tem sido alvo do setor público e privado para mitigar os problemas sociais e, particularmente, econômicos dos municípios litorâneos, pois é entendido como atividade que pode alavancar o crescimento econômico dessas comunidades. Todavia fica esquecida a possibilidade que o turismo possui de desenvolvimento social e de propiciar benefícios ecológicos, com isso podendo corroborar com o desenvolvimento local. O presente artigo abordará reflexões sobre o crescimento e dinâmica do turismo na área costeira nordestina, pois tem se intensificado os impactos negativos nas comunidades receptoras. As características físicas, históricas e culturais deste ambiente propiciam uma vasta utilização pela atividade turística. De fato a Região Nordeste é beneficiada de um turismo de sol e praia, inclusive, os investimentos são direcionados, especialmente, para este setor devido à beleza cênica do seu litoral. Para a análise, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, posteriormente observação de campo e entrevistas nos órgãos públicos, associações ligadas ao turismo e instituições privadas que fazem parte do arranjo produtivo do turismo, visando alcançar o objetivo do artigo que é refletir sobre o crescimento e dinâmica do turismo na faixa costeira nordestina, de forma a perceber as transformações sociais, econômicas e ecológicas. As devidas conclusões obtidas poderão subsidiar a compreensão das políticas públicas, programas, projetos e da dinâmica do turismo no litoral da Região Nordeste, assim como seu planejamento e execução. Características do litoral brasileiro O Brasil possui aproximadamente 8.514.876 km2 que o faz ser o quinto país em extensão territorial do mundo, nesse vasto território apresenta características geológicas, climáticas, demográficos, econômicas e culturais diversas. O litoral brasileiro possui aproximadamente 7.367 km de extensão que pode se estender no contorno da costa para 9.200 km quando considerada as saliências e reentrâncias desse litoral. Em se tratando do contexto paisagístico também é muito 299 diverso, pois possui áreas de falésias, recifes, baías, praias, restingas, recifes de corais, estuários e mangues. Cerca de 26,6% dos 193.946.886 habitantes (IBGE, 2012), residem na zona costeira, fato ocorrido em função do contexto histórico da ocupação do território. Mundialmente ocorre uma tendência de ocupação nas áreas litorâneas, o caso brasileiro não foi diferente contribuindo para que 463 municípios costeiros atualmente possuam 50,7 milhões de habitantes aproximadamente e sejam em geral os mais habitados do país. De forma direta ou indireta parte da população da zona costeira está conectada a atividades econômicas como a pesca, produção de petróleo e gás natural, turismo e comércio (IBGE, 2012). Dentre as atividades o turismo tem se destacado, já que o litoral extenso, repleto de praias, enseadas, baías, entre outros atrativos que condicionam a utilização deste espaço. Nos últimos três anos o número de desembarque de passageiros internacionais no Brasil (Figura 01) tem aumentado substancialmente (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2012), isto tem ocorrido pelo fortalecimento do setor através de investimentos do Governo Federal em projetos e programas como o PRODETUR/NE I e II, mas também pela beleza cênica das paisagens brasileiras. Figura 01 – Desembarque de passageiros internacionais no Brasil Fonte: MTur, 2012. A receita cambial turística brasileira (Gráfico 1) ascendeu sensivelmente neste 1º semestre de 2012 e as recentes pesquisas mostram que o Brasil liderará o crescimento do turismo na América Latina em termos do Produto Interno Bruto (WTTC, 2012), como também de empregos gerados pelo setor. Gráfico 1 Receita Cambial Turística Anual (US$ milhões) Fonte: Banco Central do Brasil, 2012. 300 O crescimento do turismo no Brasil também tem sido impulsionado pelas viagens domésticas. De acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas (DEPES) do Ministério de Turismo (MTUR) a melhoria de renda de novos segmentos da população contribuiu para ascensão do setor, de fato em 2007 foram 43 milhões de brasileiros que viajaram, já em 2010 este número atinge os 50 milhões. Quando se observa o número de desembarques doméstico entre 2010 e 2012 (Figura 02) também é perceptível a devida evolução. Figura 02 – Desembarque de passageiros domésticos no Brasil Fonte: MTur, 2012. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA, 2012) o Nordeste brasileiro fica com 54 % da fatia do turismo doméstico, comprovando assim que os investimentos têm acontecido, especialmente, no litoral, privilegiando o turismo de sol e praia. Portanto o privilégio dado ao turismo de sol e praia é uma particularidade que proporciona benefícios a Região Nordeste do Brasil em virtude das suas características geográficas, isto é, as condições climáticas, geológicas e geomorfológicas oferecem possibilidade de utilização deste espaço praticamente durante todo o ano, além de sua diversidade histórica e cultural. Desenvolvimento do turismo no litoral nordestino A Região Nordeste do Brasil possui aproximadamente 1.561.177,8 km2, equivale a 18,3% do território nacional, composta pelos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. O Nordeste brasileiro possui aproximadamente 53 milhões de habitantes, sendo que a maior parte está concentrada na faixa litorânea que inicia na foz do Rio Parnaíba e prossegue até o Recôncavo Baiano, ou seja, em parte da Zona da Mata. O litoral apresenta características diversas e marcantes como recifes calcários e areníticos, assim como dunas, restingas, manguezais e matas (WWF, 2012). Estas características rementem a interessante beleza cênica, com isso possibilita a utilização deste espaço para uso turístico, entretanto a zona costeira nordestina possui peculiaridades contrastantes quando observadas as questões sociais, econômicas, culturais e 301 climáticas, fato que conduz a um estereótipo de ―paraíso tropical‖ (CRUZ, ), mas diante das especificidades da área a homogeneização fica limitada neste ambiente, particularmente, corrobora para o desenvolvimento socioeconômico do turismo, a partir das transformações produzidas nesse espaço. A faixa litorânea nordestina apresenta uma constante transformação do seu espaço pelo turismo em função do seu potencial natural (SELVA, 1999), especialmente motivada pela necessidade de preservação e conservação do patrimônio natural, bem como pela vulnerabilidade do ambiente costeiro. De fato tem ocorrido forte urbanização turística do litoral nordestino, pelos resorts e turismo de segunda residência ambos amparados pelo turismo de sol e praia que tem sido alvo das políticas públicas federais, estaduais e municipais. Segundo Cruz (1999) a quantidade de turistas, o volume de capital proveniente do turismo, os investimento em infraestrutura turística tem refletido em um rápido crescimento do turismo no Nordeste, porém os impactos negativos tem se intensificado nas comunidades receptoras pela falta de planejamento e participação ativa dos atores sociais. O planejamento e a participação social são itens indispensáveis no processo de implementação da atividade turística, de fato a Região Nordeste é alvo do turismo, contudo este processo se intensifica a partir da década de 1970 com o declínio da indústria sucroalcooleira. Portanto esta região fica fora do contexto econômico nacional, somente retornando a partir de uma nova territorialidade promovida pela ascensão turística na faixa litorânea nordestina, numa dinâmica que segundo Rodrigues ( , p ) ―[ ] caracteriza-se pelo uso efêmero do território num processo contínuo de desterritorialização e reterritorialização‖, isto é, atividades seculares são abandonadas como a pesca, o artesanato, entre outras, para dar espaço aos hotéis, resorts, prives e condomínios de segunda residência, nos quais serão empregada esta comunidade enquanto a paisagem puder ser consumida. O turismo tem acarretado na área costeira segundo Selva e Coutinho (2010) [...] um processo contínuo e dialético de desconstrução das paisagens naturais e culturais por vezes desestruturando economias e comunidades tradicionais e um processo de construção de equipamentos turísticos e serviços para o funcionamento e expansão da atividade propiciando o surgimento de serviços e de novas atividades econômicas .(p. 4) Destarte descaracterizando a territorialidade vigente, com isso transformando o espaço e dando origem a setores econômicos de importância superior as atividades tradicionais, logo se distanciando dos preceitos do desenvolvimento local (BUARQUE, 2004). São características do contexto turístico da faixa litorânea nordestina, pois o discurso do poder público é de implementação da atividade com fins de mitigar os problemas socioeconômicos e até ecológicos, de 302 certo modo desenvolvimentista, na verdade tem acarretado apenas crescimento econômico e centralização do capital. O turismo é visto como a solução dos problemas ocorrentes em dada comunidade, bem como é entendido como opção geradora de maior crescimento econômico, contudo parte da população não consegue ser absorvida pelo novo mercado de trabalho surgido com o turismo, desta forma é excluída e expropriada do processo fruto do capital privado apoiado pelas ações de infraestrutura do poder público com um discurso de salvaguarda a comunidade. Por conseguinte está população tem como resultados a perda da identidade cultural com o decorrer do tempo, processo migratório e subemprego. Deste modo deixa de ser estimulador do desenvolvimento local através da sustentabilidade para ser excludente, centralizador, provocador de impactos apenas negativos, fato contraditório, já que se o turismo for planejado e gerido com a participação efetiva dos atores sociais, assim como possuir uma estrutura de gestão ambiental e turística é possível corroborar para o desenvolvimento e não apenas para o crescimento econômico. O papel do Estado é incentivar o setor turístico através políticas públicas abrangentes que promovam a inclusão desta sociedade, especialmente, na zona costeira, em virtude que a Região Nordeste possui uma concentração populacional nessa área. Sociedade esta que é advinda da agroindústria sucroalcooleira, sobretudo da Zona da Mata Nordestina, pois o processo de modernização tem acarretado o desemprego, justamente um dos motivos utilizados pelo setor público e privado no processo de construção dos empreendimentos turísticos, uma vez que irá contribuir com a geração de emprego e renda. Infelizmente os objetivos econômicos são preponderantes no processo de planejamento e ordenamento da atividade turísticas (SELVA e COUTINHO, 2010, p. 7), desta forma não se tem por base a complexidade da realidade social, econômica e ecológica na qual o turismo está inserido, fatalmente contribuindo adiante para prováveis impactos negativos, quando planejado de forma integral pode acarretar o desenvolvimento local através da sustentabilidade. O planejamento do turismo deve nortear uma política social local que interaja entre as dimensões sociais, econômicas e ecológicas de forma integrada e articulada (SELVA e COUTINHO, 2010, p. 7) para não ocasionar desarticulação entre as políticas públicas e os agentes produtores do turismo, pois certamente acarretará em impactos para sociedade local. Esta estrutura administrativa e institucional existe em alguns municípios que possuem vocação turística, porém falta integração, articulação e evidentemente planejamento, logo a representação dos atores sociais é excluída refletindo contradições na prática turística. O planejamento do turismo no Brasil, particularmente, na Região Nordeste é fruto das políticas públicas oriundas do surgimento do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) e o 303 Conselho Nacional de Turismo pelo Decreto-lei no 55 de 18 de novembro de 1996. A partir deste ponto foi elaborada a Política Nacional do Turismo, inclusive como relevante para o desenvolvimento econômico do país, pois possibilitaria geração de divisas, emprego e renda para as comunidades locais. (SELVA, 1999, p. 118) Entre 1975 e 1979 foi elaborado o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Este plano tinha como característica primordial desenvolver o turismo no contexto regional, particularmente na Região Norte e Nordeste do Brasil através das denominadas Políticas de Megaprojetos e do Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste (PRODETUR). Segundo Cruz (1999, p. 268) afirma que tais políticas visavam ―[ ] consolidar o território litorâneo nordestino dentro do mercado turístico global e, segundo esta lógica, obedecem a um modelo global de urbanização turística que implica uso intensivo do solo e reprodução de padrões urbanísticos estranhos ao local‖ Por conseguinte o modelo citado pode provocar profundas transformações no território, inclusive, a perda da identidade cultural. As políticas públicas para o turismo procedentes da Política de Megaprojetos obtiveram força na década de oitenta com o fortalecimento do setor no âmbito internacional, fato que pressionou o governo brasileiro a investir na promoção do turismo nacional, bem como estruturar uma política para o setor embasado particularmente no planejamento (LIMA, 2006). Logo na década de 1990 surge o Plano Nacional de Turismo (PLANTUR), instrumento que servirá de base para execução da Política Nacional de Turismo. Este cenário colaborou com significativas mudanças sociais, econômicas e ecológicas, na faixa costeira nordestina, em virtude que possui características que a condiciona a um processo de turistificação, deste modo os programas e projetos ao longo das últimas décadas tem sempre contemplado esta área com o foco a inserir o Brasil no mercado global (FIRMINO, 2006). Entretanto a Região Nordeste é um exemplo das contradições das políticas públicas realizadas pela esfera federal, pois segundo Firmino ( ,p ) ―[ ] na medida em que a orientação em escala nacional para o desenvolvimento de planos estaduais e municipais era praticamente inexistente‖ Assim sendo foi inevitável o surgimento de impactos negativos da atividade, por conta da falta de articulação nas esferas públicas, como também com o setor privado. De fato o planejamento e gestão integrada e participativa do turismo eram ineficientes condicionando a efeitos negativos que foram entendidos como motivação para superação da problemática socioeconômica através do turismo. As falhas das políticas públicas e os insucessos dos programas e projetos, bem como a necessidade de incorporar o Brasil no mercado turístico globalizado propiciaram a construção na década de 1990 do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE). O intuito do PRODETUR/NE foi de promover a infraestrutura básica e de serviços públicos com a 304 perspectiva de dinamizar o turismo, isto é, proporcionar a solidez do setor turístico no contexto nacional e internacional (SILVA, 2011, p. 45). Na execução das políticas, programas e projetos turísticos realizados pelo poder público, evidentemente o espaço geográfico sofre modificações, c para cuja perspectiva é contribuir com a infraestrutura na execução de grandes projetos hoteleiros privados, com isso propiciando atratividade para o capital privado. Portanto foram estabelecidas áreas estratégicas para ampliar e diversificar a oferta turística, desta forma iniciando o projeto de expansão do turismo na Região Nordeste (SILVA, 2011, p. 46). De forma geral o Estado tem o papel de gerenciar os conflitos existentes na execução dos programas e projetos, mas também de organizar e ordenar as atividades econômicas, de modo que promova a infraestrutura básica e de serviços públicos nas localidades para que seja inserida a atividade turística (SILVA, 2011).visando à inserção no mercado global, possibilitando o desenvolvimento da atividade, todavia é necessário o devido planejamento integrado e gestão participativa dos atores sociais para evitar os possíveis impactos negativos nas localidades que apresentam esta vocação turística. Basicamente o Nordeste tem sido alvo dos grandes resorts, condomínios/prives e hotéis de grande porte que se aproveitam da beleza cênica e das condições oferecidas pelo Estado com uma perspectiva de lucrar. Esta dinâmica é corriqueira por toda a faixa litorânea nordestina, onde prevalecem os tipos de empreendimentos citados, assim como um turismo de segunda-residência que transforma os espaços em verdadeiros bairros fantasmas, por efeito da sazonalidade, retendo a dinâmica socioeconômica local em detrimento do turismo veranista. Reflexões É indiscutível, as possibilidades de desenvolvimento do turismo na Região Nordeste, em virtude das suas características físicas, sociais, econômicas e culturais que corroboram para atratividade local. Por conseguinte a região possui vocação natural que tem sido fortalecida pelas iniciativas do setor público, especialmente, na região litorânea com um turismo de sol e praia, entretanto o discurso governamental vislumbra resolver os problemas sociais, econômicos e ecológicos dos municípios/comunidades envolvidas através do turismo numa perspectiva de desenvolvimento, mas que na verdade caminha no sentido do crescimento econômico (FURTADO, 1980), isto é, modelo que se desvincula da sustentabilidade e da capacidade de contribuir com o desenvolvimento local. Diante do declínio da indústria sucroalcooleira a faixa litorânea nordestina tem enfrentado a ascensão dos problemas socioeconômicos, com isso o poder público materializa como principal 305 argumento para implantação da atividade turística nessas localidades, por sua vez, as características as fazem possuir uma vocação turística natural, mas o modelo empregado visa o crescimento econômico. Logo se percebe a contradição entre o discurso governamental e a prática realizada, porquanto a participação social é inexistente, planejamento desarticulado e sem integração, assim como a infraestrutura proporcionada pelo Estado aponta apenas para atender os empreendimentos turísticos que são verdadeiros complexos artificiais, denominados de resorts. A Associação Brasileira de Resorts define resorts sendo ―um empreendimento hoteleiro de alto padrão em instalações e serviços, fortemente voltado para o lazer em área de amplo convívio com a natureza, no qual o hóspede não precisa se afastar para atender suas necessidades de conforto, alimentação, lazer e entretenimento‖, ou seja, artificializa o território através da turistificação que reflete um arquétipo contraditório produto articulado do mercado e estado sobre o espaço, desta forma provocando uma territorialidade artificializada que Urry (2001) designa de ―bolhas‖, Yázigi ( Cruz ( 3) rótula de ―confinamento territorial‖, verdadeiros espaço simulacros que ) denomina de ―pseudo-lugares‖, isto é, [...] são lugares cuja história e identidade são prostituídas em nome de um uso especializado, de relações alienadas e alienígenas, produzidas pelo e para o turismo. Simulacros, por vezes espaços hiper-reais, espaços à margem, por vezes metonímias espaciais e, em todos os casos, metáforas da aldeia global, num mundo em que a aparência é cada vez mais importante que a essência e o falsa ocupa, sem qualquer constrangimento, o lugar do real. (p. 25) Destarte o lugar perde espaço para o pseudo-lugar se transformando em autênticas ilhas da fantasia que o turista utiliza seu tempo livre usufruindo totalmente isolado da realidade local, onde a comunidade local é excluída e expropriada do seu lugar, em detrimento dos grandes empreendimentos turísticos, a partir de um discurso desenvolvimentista que aqui é entendido como crescimento econômico que apenas irá atender os interesses do capital. Este processo é denominado de turistificação que segundo Firmino (2 ,p 3) ―A turistificação dos territórios consiste na sua transformação em verdadeiras ilhas de lazer e contemplação das paisagens para turistas, de modo alheio à realidade dos residentes‖, assim sendo a identidade cultural, bem como as peculiaridades do local ficam fora do contexto turístico, sendo a comunidade local aproveitada como mão de obra barata. A atividade turística consome e produz o espaço sem promover melhoria da qualidade de vida no âmbito receptor, desta forma se distanciando da sustentabilidade e de colaborar com o desenvolvimento local. Este padrão de intervenção do mercado e estado de implantação da atividade turística na faixa litorânea, denominado de turistificação (CRUZ, 2000, p. 7), provoca impactos negativos que podem afetar as esferas sociais, econômicas, ecológicas e culturais da realidade local. A prática referida apoiada no contexto turismo global e do capital internacionalizado confere um padrão 306 excludente que implantam grandes cadeias de hotéis (FIRMINO, 2006). Desde modo constituindo um processo que desencadeia impactos negativos, pois é entendido apenas como atividade que pode contribuir com o crescimento econômico distanciada dos preceitos da sustentabilidade (FOLADORI, 2007). Este modelo do turismo global tem acarretado uma territorialidade propulsora de impactos negativos e desvalorização local, tal qual ressalta Firmino (2006) Nos moldes do turismo global, o padrão de uso e ocupação do litoral baseia-se na desapropriação de comunidades tradicionais, na introdução de formas elitistas de ocupação, explicitando, assim, territorialidades que representam uma dicotomia: busca insaciável de lucros versus busca de condições básicas de sobrevivência. Essas diferentes significações do litoral, desde a colonização até os dias atuais, marcam o processo contraditório e conflitante pelos povos que o utilizam. (p. 75). Evidentemente o turismo é peça chave para o desenvolvimento da faixa litorânea brasileira, todavia se for planejado de forma integrada, assim como haja a participação efetiva dos atores sociais, o envolvimento do poder público, especialmente, o municipal, em virtude que nesta esfera é que ocorre a materialização dos problemas e soluções advindos do turismo, portanto a atividade pode ser entendida como mola propulsora do desenvolvimento local pautado na sustentabilidade. As possibilidades de o turismo contribuir com o desenvolvimento local estão circundadas pelo planejamento, desta forma tem se tornado um desafio no contexto da gestão ambiental (QUINTAS, 2006, p. 30) e turística, isto se dá por conta, particularmente, da turistificação ocasionada pelo modelo vigente do capital que promove um discurso desenvolvimentista, desarticulado da esfera local, contribuindo para impactos negativos como conflitos ambientais nesta zona costeira oriundos do uso do território, mas também da fragilidade dos ecossistemas, evidentemente fruto da carência do planejamento, gestão integrada e participativa, além da desarticulação dos diversos setores sociais no contexto de gestão da atividade turística. É inegável que a faixa litorânea possui urbanização turística direcionada aos grandes empreendimentos turísticos e turismo de segunda residência, característica que provocam uma homogeneização do território pela elevada concentração de equipamentos e segregação entre turistas e população local (CRUZ, 1997), mas também pressão demográfica e econômica, uso intensivo dos recursos naturais, incidindo em conflitos ambientais, como também comprometimento dos recursos e em casos mais graves, à sua extinção (FIRMINO, 2006, p. 80). O modelo de urbanização turística na faixa litorânea nordestina com certeza é um desafio para o planejamento e gestão do turismo, visto que a falta de integração e participação dos atores sociais fazem originar a implantação de projetos que estão distantes da realidade do destino receptor, com isso propiciando impactos negativos ao local É imprescindível reavaliar o padrão de 307 decisões no processo de urbanização turística litorânea para possibilitar o desenvolvimento local embasado na sustentabilidade. Logo a prática da atividade turística se dá via consumo da paisagem, caso esteja impactado se torna um impedimento e decréscimo da qualidade estética local, convergindo na possibilidade de se transformar em um não-lugar, devido aos possíveis impactos negativos desta urbanização aos elementos ambientais que compõem a faixa litorânea. Problemática que tem origem na desarticulação das políticas públicas e gestão da atividade, computando prejuízos que por vezes são irreversíveis para o ambiente e comunidade, pois a identidade local é substituída pelos traços culturais da nova territorialidade, com isso as práticas tradicionais são destituídas em função da nova construção do lugar que tem foco apenas em atender os grandes empreendimentos turísticos, ficando esquecido o lugar, bem como sua base local em detrimento do capital internacionalizado. De forma geral a faixa litorânea é vulnerável socioeconomicamente por conta do seu processo histórico, mas também devido as ineficientes políticas públicas de gerenciamento do território. As políticas públicas devem garantir que o turismo represente uma alternativa de desenvolvimento local com bases na sustentabilidade, por conseguinte contribuindo para melhoria da qualidade de vida (SEN, 2000) e o respeito às diversidades dos lugares, contribuirá desta forma para atenuar a problemática socioeconômica, ecológica e cultural, possibilitando e superando o desafio de contribuir com o desenvolvimento da localidade. Todavia o processo de urbanização turística deve está pautado no planejamento e gestão para que se torne uma possibilidade e não um desafio. Considerações Finais O grande desafio para o turismo na faixa litorânea da Região Nordeste é o planejamento da atividade agregada às políticas públicas ambientais e turísticas, sobretudo, com respeito à identidade local, mas também o envolvimento e participação ativa dos atores sociais na construção e execução deste planejamento e, o poder público, especialmente, na esfera municipal, precisa garantir a formação técnica e aperfeiçoamento da comunidade local para lidar com a territorialidade proposta, denominada de turistificação. Desde modo o turismo se traduzirá em possibilidades de contribuir com o desenvolvimento local pautado na sustentabilidade, bem como modificará a dinâmica turística existente que tem por base atender as perspectivas dos grandes empreendimentos turísticos em detrimento da população local. O caminhar para o desenvolvimento local com bases na sustentabilidade vislumbra uma articulação, integração e participação da comunidade envolvida, assim como melhoria e adequação de infraestrutura para a sociedade local, logo se refletirão no uso turístico, enquadrar o turismo como mais uma atividade econômica e não apenas como a grande salvação dos problemas desse 308 território, evidentemente são desafios que superados se transformarão em possibilidades para o turismo na faixa litorânea nordestina, com isso poderá ser somado a vocação já existente, a beleza cênica, a diversidade histórica e cultural para dinamizar atividade e refletir em contribuições para o desenvolvimento local. Nesta trajetória é importante envolver instituições públicas, como universidades, institutos técnicos, entre outros, como também privadas, juntamente a comunidade local para planejar e executar a atividade, sendo esta gerenciada pelo Estado. Referências BRASIL. Decreto nº 7.381/2010, de 02 de dezembro de 2010, regulamentou a Lei nº 11.771/2008, 17 setembro de 2008, que trata da Política Nacional de Turismo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7381.htm>. Acesso em 10.06.2011. BRASIL, Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. Ministério do Turismo. Brasília-DF, 2004. BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. 180 p. CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Geografias do Turismo: de lugares a pseudo-lugares. São Paulo, Roca, 2007. 140p. FIRMINO, Fabiana dos Santos. Dinâmica do Turismo na Zona Costeira Nordestina: Questões conflitantes do desenvolvimento turístico da Praia dos Carneiros (Tamandaré/PE). 2006. 217 f. Dissertação (Mestrado) Curso de Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais, Departamento de Ciências Geográficas, UFPE, Recife, 2006. FURTADO, Celso. Pequena Introdução ao Desenvolvimento: enfoque interdisciplinar. São Paulo: Ed. 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E-mail: [email protected]. Rosangela C. Cortez THOMAZ Coordenadora Executiva da UNESP – Univ Estadual Paulista, Rosana/SP. Pós - Doutora em Turismo pela Universidade de Santiago de Compostela – ES. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Turismo no Espaço Rural – GEPTER. E-mail: [email protected]. Resumo O presente trabalho tem o propósito de estudar o potencial turístico no município de Rosana-SP abrangendo o estudo patrimonial. Assim, o presente artigo pretende discutir a cerca da realidade patrimonial deste municipio, no tocante a cultura popular e o uso do patrimonio natural materializado nas águas do rio Paranapanema e rio Paraná. Para isso, foi necessário o estudo sobre patrimônio cultural, cultura e meio ambiente. Dessa forma, também um aprofundamento teórico da relação espaço, turismo e cultura se fez necessário para melhor compreender as suas interfaces. Palavras-chave: Assentamentos rurais. Cultura. Manifestações culturais. Turismo no espaço rural. Abstract The present work aims to study the tourism potential in the municipality of Rosana SPencompassing study sheet. Thus, this article discusses the fact sheet about this municipality, regarding the use of popular culture and natural heritage embodied in the river and the Paraná River Paranapanema. For this, we need the study of cultural heritage, culture and environment. Thus, also a theoretical deepening of the relationship space, tourism and culture was necessary to better understand their interfaces. Keywords: Rural Settlements. Culture. Cultural Manifestation. Tourism in Rural Areas Introdução Localizado em um ponto estratégico, tendo como limite ao sul o estado do Paraná e a oeste o estado do Mato grosso do Sul. Isso é um ponto favorável, pois futuramente poderá contribuir para o aumento do fluxo turístico, podendo ser transformado em um verdadeiro centro de lazer. Para isso, sua infraestrutura turística deve estar preparada para suprir todas as necessidades e vontades de seus moradores e posteriormente os visitantes e/ou turistas. O município de Rosana localizado no extremo oeste paulista, pertencente à microrregião de Presidente Prudente, está situado a 780 km da capital do estado. O município de Rosana encontra-se localizado na área do território paulista denominado Pontal do Paranapanema, situado no extremo oeste do estado, no triângulo formado pelos rios Paraná e Paranapanema. 310 Fonte: Thomaz Jr, A. 2009. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/ceget/LD/inciar.html>.Acesso: 14 Abr. de 2011. Figura 01 - Localização de Rosana/SP Historicamente onde se localiza Rosana/SP teve sua base econômica na extração de madeira, nas lavouras de subsistência e na pesca. Atualmente é a criação de gado bovina a atividade de maior importância econômica, seguida da criação de bovino leiteiro e no turismo com exploração desordenada e ainda incipiente. No contexto regional, o município possui infraestrutura que poderia ser consolidada num polo de atração turística. No entanto, observa-se que o crescimento tanto urbano como rural vem ocorrendo de forma desordenada com destaque para alguns pontos de pobreza. Assim, a atividade turística para ser boa para o local deve priorizar a responsabilidade social, pois implica em desenvolver a atividade turística pensando no beneficio da sociedade em longo prazo. A base de desenvolvimento do turismo correto está na preservação do patrimônio cultural, dos recursos naturais e do desenvolvimento econômico. Consequentemente, o desenvolvimento sustentável necessita da participação da comunidade para que seja possível, em primeiro lugar discutir seus valores socioculturais e nesta perspectiva o turismo pode ser um agente promotor de desenvolvimento econômico e político dos municípios, abrangendo dimensões que promovem o exercício da cidadania. O município de Rosana não é um polo turístico, porém tem potencial para abarcar tal estruturação. No entanto necessita urgentemente e clama agonizante por planejamento. Os principais recursos locais são: 311 Porto da Amizade: Localizado as margens do rio Paranapanema, ao sul da cidade de Rosana. O local era o antigo porto de travessia de balsa entre os estados de São Paulo e Paraná; Porto Rosana e Mirante: Localizado as margens do rio Paraná, no perímetro urbano da cidade de Rosana. O local apresenta vegetação remanescente, mirante para ilhas e o rio Paraná em um dos pontos de maior elevação da cidade. Possui também afloramento de arenito em taludes de cerca de dez metros de altura. Nessa área, antigo Porto Rosana, há projetos de implantação de atividades turísticas pela Prefeitura Municipal, com edificação de pousadas e quiosques; Bairro Beira Rio: Situado às margens do rio Paraná, no local funcionava a balsa de travessia entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, recentemente desativado Também nesse bairro a ―Praia Dourado‖ local de grande fluxo de banhistas no verão; Balneário de Rosana: Construído pela Prefeitura às margens do rio Paraná. Possui restaurantes, quiosques, locais para camping, campo de areia, prainha. Neste local também se realizam festas tradicionais do município como carnaval, aniversário da cidade, torneios de pesca. E grande movimentação de banhistas no verão. As principais festas e eventos tradicionais são: o carnaval no balneário de Rosana; a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes (padroeira da cidade); e Procissão; Festas Juninas comunitárias; Primarosa (Feira industrial e comercial); Rosana Fest (Festa de aniversário de Rosana) e as Festas de final de ano. Há também as festas dos assentamentos rurais tais como: Nossa Senhora Aparecida, Sagrado Coração de Jesus, Santa Luzia e São Francisco de Assis; Folias de Reis, Festa de Aniversário da Gleba XV de Novembro, Roda de Viola. Dentre as diversas possibilidades de dinamização das atividades econômicas no município de Rosana/SP, o incremento do turismo aparece como uma das mais atraentes tendo em vista um conjunto de pontos de interesse, que podem constituir atrativos para praticantes do turismo: ecológico, de pesca, técnico - cientifico e turismo no espaço rural. As áreas com vocação para implantação e expansão do turismo regional e local são caracterizadas a seguir: 1- A confluência do rio Paraná e Paranapanema, no extremo Sudoeste do município e do Pontal do Paranapanema, os ―bicos‖ do estado, poderá ter a implantação de mirante e marco geodésico; 2- A fazenda Tranin localizada no Pontal poderá constituir-se em área de turismo ecológico, com demarcação de trilhas para caminhada, quiosques, além de área para implantação de reflorestamento de futuras compensações ambientais; 3- O Clube de Pesca que já 312 possui apartamentos, restaurantes e rampa de acesso ao rio; 4- A Usina Hidrelétrica Engenheiro Sergio Motta, além do seu grande porte, dispõe de eclusa para navegação, possibilitando o transporte fluvial que futuramente ligará o município ao Mercosul, e também poderá ser explorado como atrativo turístico a passagem pela eclusa. Turismo, Cultura e Patrimônio Para o professor Milton Santos (2007, p. 14) o território já não pode ser entendido apenas como o conjunto de sistemas naturais e sistema técnico-científico; o território é o conjunto dos aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais É aquilo que o autor chama de ―território usado‖, no qual este nada mais é do que o chão que se pisa mais a identidade ―A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida‖ O estudo do território nos permite enfatizar o estudo do turismo e cultura. Para isso será discutido as conceituações, as questões relevantes quanto à implantação de um turismo responsável, nesse sentido a percepção do planejamento e a modalidade de turismo existente no espaço rural, por exemplo, o turismo cultural. De acordo com Ruschmann (2003), o turismo rural na Europa já era presente desde o século XIX, devido ao estresse gerado pelo aumento da industrialização. A vida metropolitana estimulou as pessoas que residiam na cidade, cidades denominadas dormitórios, ou mesmo aquelas que trabalhavam na indústria à busca de lugares mais calmos, nos quais poderiam renovar suas forças. A atividade surgiu no estado de São Paulo a partir do ano de 1996, por meio de um programa que incentivava o desenvolvimento do meio rural, que teve a colaboração do SEBRAE, equipe especializada na área. Nesse programa, foram visitadas propriedades rurais, na tentativa de sensibilizar os proprietários e orientá-los para a atividade turística (ZIMMERMANN, 2003). Em princípio, o planejamento turístico deve envolver os atrativos, recursos em potencial, a região, fatores climáticos, as formas de acesso, as possíveis dificuldades relacionadas à tomada de decisões, a questão de divulgação e promoção do produto. Para a Organização Mundial do Turismo (2001, p.154-155), o setor público deve ter responsabilidade por falhas que ocorram com o desenvolvimento turístico, pois: ―[ ] todas as consequências de um programa público são fáceis de prever, deve ser levadas em consideração uma série de fatores que condicionam a atuação pública fazendo com que a mesma tome uma direção ou outra. Assim, por exemplo, cabe mencionar a existência de interesses próprios dentro das administrações públicas, que podem distorcer uma tomada racional de decisões (por exemplo, a necessidade de financiamento dos municípios pode determinar o processo de construção de segundas residências ou a maneira de atuar dos próprios funcionários); também não 313 se pode esquecer que geralmente a decisão pública está condicionada a interesses particulares de grupos de pressão, tanto locais como regionais e até nacionais‖ Assim, o turismo é o responsável também pela preservação de todos os aspectos que envolvem o modo de vida local, em especial o uso que faz do patrimônio cultural. Na maioria das vezes se lembra de mediar os impactos decorrentes do turismo na economia, na infraestrutura, mas pouco se remete a cultura. De acordo com Thomaz (2005) a inquietação em relação ao patrimônio se deu recentemente por meio de um ―boom do patrimônio‖ No qual a influência de uma ―corrente social poderosa‖ que reforça a questão da valoração e recuperação do passado, porque percebe que essa atitude se faz necessário para se entender sua raiz e sua existência. Assim na contemporaneidade, em muitas sociedades modernas, surge a apreensão que motiva a conservação desse legado histórico, como fator crescente e constante. A palavra cultura vem ―do verbo latino colere que significa cultivar ou instruir‖, relacionando cultura com as atividades agrícolas (MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 42). Nesse sentido, o contexto em que a palavra cultura está relacionada nos instiga a imaginar que, ao mesmo tempo em que é necessário desenvolver etapas no plantio de qualquer produto, como preparar a terra, lançar a semente, ter os cuidados durante o crescimento para que ela dê o fruto esperado, a mesma coisa também ocorre com a cultura. Dessa forma, a cultura aparece como um elemento que deve ser desenvolvido num indivíduo para que ele cultive dentro de si tudo o que for necessário para o bem-estar da convivência social. As primeiras formulações para o que seja cultura foram de Edward B. Taylor, em 1871, ao conceituar cultura como ―todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade‖ (KAHN, ,p apud MARCONI; PRESOTTO, , p 3) Segundo este conceito, fica evidente a ligação que se faz entre a cultura, o pensamento e a percepção intelectual. Dessa forma, observa-se certo distanciamento em relação àquele pensamento romano de que cultura é sinal de escolaridade, requinte e sofisticação, e passa-se a incluir, também, todos os eventos e formas de expressão do homem. É importante lembrar que a palavra homem, utilizada neste trabalho, refere-se ao gênero masculino e feminino, não fazendo de forma nenhuma apologia ao sexo masculino. Em contrapartida, há os estudos de Foster (1964, p.22), que definem a cultura como: ―[ ] o modo de vida comum, aprendido, partilhado pelos membros duma sociedade e consistindo na totalidade de instrumentos, técnicas, instituições sociais, atitudes, crenças, motivações e sistemas de valores conhecidos do grupo‖. 314 A definição de Foster difere-se da anterior na medida em que procura incluir aspectos materiais, e não só os imateriais até então propostos, mas abrangendo também os instrumentos utilizados pela sociedade. Sua contribuição alude também ao fato de que a cultura é todo o comportamento gerado por um sistema de aprendizagem. Neste caso, já temos embutido no conceito de cultura as motivações e as instituições sociais. Estas, segundo Foster, são responsáveis por mudanças que podem ocorrer na cultura e, por isso, devem ser incorporadas ao conceito de cultura. Em oposição a estas definições sugeridas, temos Clifford Geertz (1989), que redefine o conceito de cultura e contribui para pensá-lo sob a ótica das relações de poder. Este autor diferencia-se dos autores mencionados acima, pois compreende cultura como uma forma de controle da sociedade para com seus cidadãos, deixando evidente que essa mesma cultura representa a estrutura da classe social dominante. O conceito de Clifford demonstra a preocupação de a cultura ser uma ferramenta utilizada por quem exerce o poder. De fato, isto faz sentido ao pensarmos no jogo de poder entre classes sociais vigentes na contemporaneidade, em que a classe dominante constitui os moldes culturais, submetendo todos ao mesmo padrão. Assim, aqueles que tentam fugir dessa homogeneização são vistos preconceituosamente. É o caso, por exemplo, das manifestações culturais brasileiras, ditas como populares, cultura operária, ou dos assentamentos rurais de reforma agraria. A preocupação com a cultura deixou de ser uma referência apenas de antropólogos, sociólogos, geógrafos, entre outros estudiosos das ciências humanas. Isto é perceptível em instituições mundiais, tais como a Organização das Nações Unidas. A partir disso, percebe-se que a importância da cultura nas sociedades como forma de permanência, apesar de todo o processo de globalização e adensamento do capitalismo. Conforme Boham (1974 apud Pelegrini, 2009, p. 25), a cultura ou o patrimônio cultural: ―conjuga representações da memória social, divididos em três grandes grupos O primeiro deles refere-se ao meio ambiente. O segundo engloba a produção intelectual humana armazenada ao longo da história. O último agrega os bens culturais resultantes do processo de sobrevivência humana [ ]‖ Vale lembrar também, que ao dizer que uma comunidade possui uma determinada característica cultural, não significa que ela não ficará inerte ao longo do tempo, pois a cultura é dinâmica. Isso significa que ela mudará conforme as necessidades dos indivíduos que a compõem e as influências que recebem em suas trocas culturais. Assim, na relação entre cultura e sociedade, também é necessário entender as questões que envolvem a identidade. Há uma busca significativa nas sociedades pela identidade de um povo, ou nação. Nesta perspectiva, Bosi (1999), diz que no desejo que as pessoas têm de criar uma identidade 315 nacional, em meio a tantas manifestações existentes, corre-se o risco de fortalecer uma imagem cultural que não representa a diversidade da cultura brasileira. De tudo que foi mencionado, percebe-se que a cultura tem um viés do saber e do poder. Há uma apreensão sobre a cultura como forma de entender o processo histórico social, os costumes, os hábitos, a religiosidade, o modo de vida, enfim, vários elementos importantes que fazem parte da realidade social. Por isso, a cultura tornou-se pauta das discussões mundiais, na tentativa de verificar ações que possibilite a preservação das culturais locais, das identidades nacionais e por isso a preocupação com a preservação do patrimônio. Toda sociedade possui patrimônio cultural, alguns identificados com as diferentes classes sociais que a compõem. Contudo, como afirma Pelegrini: ―Importa-nos destacar que a relevância atribuída aos bens de natureza imaterial é, praticamente nova entre a civilização ocidental, mas não entre os países orientais. Nestes últimos, a preservação das tradições incidiu, principalmente, sobre a valorização da transmissão dos ―saberes‖ referentes aos processos de produção artesanal, mais do que cerca dos objetos resultantes de tais conhecimentos. Desse ponto de vista, parece haver uma integração maior entre os elementos da tradição e as práticas coletivas no presente. Apenas para citar e referências do passado fundamentam, por um lado, a coesão entre os indivíduos que compartilham afetos, sensibilidades, tradições histórias. E por outro, evidenciam diferenças culturais que podem favorecer a aceitação da diversidade como valor essencial para o convívio em sociedade‖ (PELEGRINI, , p 3-4). Segundo Mészaros, a educação é o único caminho para a mudança, pois: ―Poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais mais abrangentes de reprodução estão intimamente ligados. Consequentemente, uma reformulação significativa as educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança [ ]‖ (MÉSZAROS, ,p ) Conforme Horta (1999, p. 36 apud Pelegrini, 2009) aponta que a educação voltada ao patrimônio requer força conjunta de diversas áreas de atuação, pois: ―a integração de diversos conhecimentos visando à analise dos bens culturais implica explicações múltiplas sobre o sentido do passado e da memória, associados à política e à educação ambiental, ao direito e ao desenvolvimento tecnológico, industrial e social. Em outras palavras, a educação patrimonial foi admitida como uma estratégia fundamental para a transmissão dos valores atribuídos aos bens culturais‖ Assim, a realidade do município de Rosana/SP, requer uma educação patrimonial no tocante as manifestações culturais populares no que envolve a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a 316 Folias de Reis no assentamento Gleba XV de Novembro, ao Ponto de Cultura ―ISCAP pela Cultura‖, na relação dos ribeirinhos com os rios Paranapanema e Paraná. A educação patrimonial seria uma ferramenta que permitiria o dialogo da comunidade com os bens locais e permitiria a sua valorização. As casas, como patrimônio material, pois demonstra como o distrito de Primavera foi planejado para abrigar os barrageiros a época da construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, e conta como era o modo de vida, as diferenças sociais existentes daquela época. É um bem material de vital importância para se compreender a formação deste distrito. Não há outro caminho para a valoração da cultura local se não for por meio da prática educativa de sua população, seja ela efetivada nas escolas municipais, estudais e particulares, ou seja, por meio de exposição com recursos áudio visual nos espaços públicos. Dessa forma, demonstrando a importância dos recursos culturais como bens associados a vida e ao desenvolvimento local. ―A educação patrimonial formal e informal constitui uma prática educativa e social que visa à organização de estudos e atividades pedagógicas interdisciplinares. O objetivo da interdisciplinaridade centra-se na tentativa de superar a excessiva fragmentação e linearidade dos currículos escolares. A transversalidade, alcançada por meio de projetos temáticos, é um recurso pedagógico que visa auxiliar os alunos a compreender a sua realidade‖ (PELEGRINI, p 3 ) Com a educação patrimonial os beneficiados é a própria comunidade, que poderá aliar a prática turística, que ocorre de forma amadora, aos recursos culturais, não porque é importante para o turista ver, mas porque é importante e faz parte da vida e da história de muitas pessoas que viveram e ajudaram a construir a cidade. Nessa perspectiva, Pelegrini enfatiza que: ―A educação patrimonial na contemporaneidade vem adquirindo proeminência e apontando possibilidades de inclusão do cidadão e do desenvolvimento de economia locais por meio do turismo cultural e desenvolvimento sustentável, fortalecendo o sentimento de pertencimento e de fraternidade entre os membros de distintas comunidades‖ (PELEGRINI, p ) Partindo do potencial que o patrimônio cultural tem de agregar valor econômico, observa-se, também, a motivação das localidades para cuidar dele, sendo responsabilidade de todos os cidadãos à sua manutenção. Quanto mais diverso e singular for mais benefícios poderá ter por meio da atividade turística. Conclusão Diante do estudo efetuado sobre o turismo em Rosana, percebe-se que poderá ser uma saída para acelerar o desenvolvimento do município, desde que adote o planejamento para que a atividade se desenvolva de forma a beneficiar a população. Caso contrário, a atividade vai acarretar 317 problemas, como já foi detectado em estudo anterior. Dentro dos diversos problemas que podem ser ocasionados pelo turismo pode-se citar: sazonalidade, desarticulação das atividades tradicionais, ressentimento local devido ao choque de culturas, transformação dos valores e condutas morais, a transmissão de doenças, entre outros. Primeiro temos que partir do fato de que a população posiciona-se favoravelmente pelo desenvolvimento do turismo na cidade. Isso se justifica pelo desejo da geração de emprego, logo que o município não pode se industrializar por ser uma Área de Preservação Ambiental, e devido a isso, as pessoas saem para outros lugares a procura de emprego. Outro ponto positivo do turismo é o aumento e diversificação na prestação de serviços; aumento da demanda e oferta turística; e projeção da cidade associada a imagem turística. A lista dos benefícios não esconde os pontos cruciais do turismo. Os pontos negativos, na sua maioria estão relacionados a ausência de planejamento. No caso de Rosana/SP, o planejamento contribuiria para alavancar a autoestima dos munícipes quanto a importância dos seus recursos como patrimônio que mereça ser preservado e mostrado. Enquanto a população não reconhecer e se reconhecer no seu patrimônio material e imaterial a atividade turística não acontecerá de forma plena. Referências BOSI, Alfredo. Plural, mas não caótico. In: BOSI, Alfredo (Org.). Cultura brasileira: temas e situações. 4. ed. São Paulo: Ática, 1999. p. 7-15. FOSTER, George M. As culturas tradicionais e o impacto da tecnologia. São Paulo: Fundo de cultura, 1964. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2008. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, 2001. PELEGRINI, Sandra C.A. Patrimônio cultural: consciência e preservação. São Paulo: Brasiliense, 2009. RUSCHMANN, Doris. O turismo rural e o desenvolvimento sustentável. In: ALMEIDA, Joaquim A.; FROEHLICH, José M; RIEDL, Mário (Org.). Turismo rural e desenvolvimento sustentável. 3. ed. Campinas: Papirus, 2003. p. 63-73. SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: SANTOS, Milton et. al. Territórios, territórios: ensaios sobre ordenamento territorial. 3. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. p. 13-21. THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez. A revalorização e o uso do patrimônio arqueológico como estratégia para o desenvolvimento do turismo rural e cultural na Galicia. In: III CONGRESO VIRTUAL DE TURISMO CULTURAL, 3, 2005, Argentina. Los deretos humanos em el turismo. Disponível em: < http://www.naya.org.ar/turismo/congreso2005>. Acesso em 10 out.2008. ZIMMERMANN, Adonis. Planejamento e organização do turismo rural no Brasil. In: ALMEIDA, Joaquim A.; FROEHLICH, José M; RIEDL, Mário (Orgs.). Turismo rural e desenvolvimento sustentável. Campinas: Papirus, 2004. p.127-142. 318 TURISMO RURAL COMUNITARIO Y LOS EFECTOS DE CALIDAD Y SOSTENIBILIDAD AMBIENTAL EN COSTA RICA Damaris Caravaca Mendoza Enfoque histórico sobre el turismo rural comunitario en Costa Rica Algunas entidades de cooperación internacional y nacional dirigieron su mirada a proyectos que se proponen desarrollar y apoyar a pequeñas empresas y comunidades que cuentan con gran potencial desde el punto de vista del uso de los recursos naturales, culturales; mediante un manejo sostenible. En 1990 se destacan organismos de cooperación internacional que han fortalecido el TRC, el Fondo Mundial para la Naturaleza (WWF) siendo uno de los primeros programas en torno al área de Conservación Arenal, donde promovieron iniciativas como el Albergue Heliconias de la Asociación Bijagueña de Productores Agrícolas; figura también el Albergue la Catarata en la Fortuna de San Carlos. En 1995 se inició la ejecución del Convenio Bilateral de Desarrollo Sostenible Costa RicaHolanda, el cual definió como uno de sus ejes fundamentales, el financiamiento del turismo comunitario. Al 2005, Fundecooperación, ente encargado de manejar los recursos provenientes de este convenio, ha financiado alrededor de 50 proyectos. También figura el Programa de Pequeñas Donaciones (PPD / PNUD), la Fundación Costa Rica/Canadá, la Cooperación Española (AECI). Así como Organizaciones no gubernamentales como la Asociación del Corredor Biológico Talamanca Caribe. Se destaca el programa de Pequeñas Donaciones (PNUD), Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo, que desde 1993, ha financiado a mas de 500 proyectos, siendo el 90% para organizaciones de base comunitaria, con una alta participación de grupos de mujeres y poblaciones indígenas, proyectos propuestos por ONGs y organizaciones de base comunal; donde los recursos se dirigen principalmente hacia acciones ambientales locales con incidencia global. Se facilita el desarrollo de proyectos debido a las diversas organizaciones existentes con integración en las áreas rurales que permite la organización y desarrollo interno. De esta forma el programa del PNUD llamado Proyecto Estratégico de Fortalecimiento Organizativo para la Acción Ambiental de grupos socios toma fuerza, por lo que a partir del año 2001 se inicia un acompañamiento mas integral lo que permite el acercamiento y valoración de estos grupos de base comunitaria, donde se refleja que tienen grandes debilidades en aspectos organizativos y de gestión, por lo que se requiere dar respuestas. Esto se convirtió en un 319 compromiso del programa a mediano y largo plazo, por el alto número de organizaciones socias atendidas. Mediante una caracterización inicial se determino la línea de base y se identificaron las principales debilidades y que la mayoría de proyectos financiados no estaban generando ingresos o se desconocía la fase de operación, el financiamiento se había concentrado en la infraestructura descuidando la capacitación y comercialización, era evidente la desarticulación de la oferta, tarifas dispares con una calidad muy heterogénea, existía un divorcio entre las instituciones, no se contaba con planes de promoción y comercialización adecuados. Por esta problemática el PNUD puso en marcha una estrategia para el fortalecimiento con acciones en varios ámbitos: Asistencia técnica y formación de acuerdo a las debilidades identificadas: calidad en el servicio y el producto, promoción y comercialización, seguridad, gestión empresarial, uso de tecnologías de la información, aspectos culturales y gestión ambiental; Acompañamiento al trabajo en red, con la constitución de ACTUAR (la Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario)) y el apoyo en su planificación y gestión; Alianzas estratégicas con instituciones relacionadas como el Instituto Costarricense de Turismo (ICT) y el Instituto Nacional de Aprendizaje (INA); Incidencia política, con acciones de cabildeo ante los ministerios de Turismo, Agricultura, Trabajo, y Ambiente, diputados de la asamblea legislativa y el posicionamiento a nivel nacional del sector de Turismo Rural Comunitario; Facilitación de la comercialización, con el acercamiento a la industria turística, la publicación de la Guía de Turismo Rural Comunitario (primera y segunda y tercera edición), la edición de material audiovisual de conceptualización del sector, la organización de la Feria de Turismo Rural Comunitario (2002, 2003) y el apoyo para la participación en otras ferias nacionales e internacionales. Este Programa de Pequeñas Donaciones de las Naciones Unidas (PNUD), propicia la formación de la Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario (ACTUAR), para el desarrollo y representación gremial del Turismo Rural Comunitario, entre otros objetivos, así como encadenamientos y alianzas estratégicas con diferentes entes con fines similares. Entre las organizaciones que generaron un rol protagónico para la consolidación del turismo rural comunitario en Costa Rica, participando activamente y de forma comprometida junto con actores sociales y públicos para incidir favorablemente en la política turística nacional relativa al turismo rural comunitario figuran: Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario (ACTUAR), Asociación Centroamericana para la Economía la Salud y el Ambiente (ACEPESA), Consorcio Cooperativo Red Eco turística Nacional (COOPRENA), Programa de Pequeñas 320 Donaciones (PPD), que con su ―esfuerzo coordinado” logran la conformación de la Cámara Nacional de Turismo Rural Comunitario (CANTURURAL) y un hecho preponderante que marca la historia en la aplicación de leyes turísticas e incentivos donde los pequeños empresarios quedaban fuera. La aprobación de la Ley 8724 de 17 de julio del 2009, publicada en la Gaceta No 191 del 1 de octubre del 2009, Ley para el Fomento de Turismo Rural Comunitario (TRC). La Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario (ACTUAR) Su formación surge en el 2001 al realizarse el primer Encuentro de Ecoturismo, organizado por el Programa de Pequeñas Donaciones (PND) de Naciones Unidas. Evento que deja huella en la historia diferentes grupos con experiencias en Turismo Rural Comunitario, lo que les permite la representación gremial y agrupar en una actividad en común, pudiendo así debatir sus problemas, necesidades, retos y por supuesto triunfos; quedando atrás el hecho de que tales situaciones quedaran solo en el papel o en discusiones de grupos. El fin principal de ACTUAR es promover la sostenibilidad ambiental, social, cultural y económica de las iniciativas de Turismo Rural Comunitario en Costa Rica, por medio del establecimiento de alianzas estratégicas para el mercadeo turístico comunitario, el fortalecimiento de la capacidad de los socios y la gestión de recursos. Consorcio Cooperativo Red Eco turística Nacional (COOPRENA R.L) Es una organización que nace en 1994 como una necesidad constituida por un pequeño grupo de cooperativas autogestionarias que vieron en el mercado turístico una opción de incrementar sus ingresos. Su función se basa en la gestión para desarrollar y ejecutar modelos de desarrollo local enfocados al turismo rural comunitario para activar la economía local, generando redes comerciales y de servicios turísticos, para convertirlo en productos turístico integrado donde participan la comunidad en una sinergia entre ambiente, comunidad y los recursos financieros. Su estructura organizacional se divide en: Desarrollo Sostenible y Proyectos, Financiamiento y Mercadeo y Ventas. Para apoyar el mercadeo de sus afiliados Cooprena, crea a Simbiosis Tours, que es un tour operador, con certificado de nivel 5 de CST dedicado al desarrollo del turismo rural y turismo rural comunitario sobre una base de turismo sostenible en comunidades rurales que tienen un producto turístico que ofrecer. A través de Simbiosis Tour del turista nacional como internacional pueden disfrutar y colaborar con un tipo de turismo que beneficia la protección ambiental, la preservación de nuestra cultura, y a las comunidades por medio de la creación de empleo, disminuyendo la migración de lo rural a lo urbano. 321 Asociación Centroamericana para la Economía la Salud y el Ambiente (ACEPESA) Es una ONGs con amplio reconocimiento a nivel de Costa Rica y a nivel Centroamericano por su proyección relacionados con productos técnicos innovadores y de alta calidad; ha contribuido en la articulación de los esfuerzos públicos y privados en gestión del desarrollo sostenible. Sus objetivos es brindar asesoría y capacitaciones a empresas, comunidades y municipalidades para la gestión ambiental de los residuos sólidos, recuperación de materiales reciclables, elaboración de planes municipales; así como diseño y construcción de sistemas alternativos para el manejo de aguas residuales. Se propone crear y promover espacios de negociación, articulación y coordinación de acciones por parte de las comunidades y organizaciones con el fin de facilitar el desarrollo de condiciones que permitan convertir al turismo rural comunitario en un instrumento de desarrollo local en conservación de la naturaleza. La articulación para que este tipo de turismo alternativo se brinde con éxito tiene un gran reto por cuanto el Estado debe agrandar el presupuesto de los municipios con el fin de invertir en mejores caminos rurales y servicios comunitarios, el Instituto Costarricense de Electricidad (ICE) debe mejorar la conectividad en estas zonas rurales, el Instituto Nacional de Aprendizaje (INA) y las universidades deben continuar ampliando la oferta de asistencia técnica e investigación para la innovación y obviamente el fortalecimiento para la banca de desarrollo por medio de créditos accesibles para estas pequeñas empresas. El nuevo reto para las empresas de turismo rural comunitario Desde el nacimiento de la Ley de Fomento del Turismo Rural Comunitario, Ley No 8724 del 17 de julio del 2009, publicada en la Gaceta No 191 del 01 de octubre del 2009, nace también un desafío para las empresas de base familiar y comunitaria. Esta Ley de TRC* tiene como objetivo fomentar la actividad turística de tipo rural y comunitario pretendiendo que las personas habitantes de las comunidades rurales procuren la gestión de su propio desarrollo, incluido el manejo de destinos turísticos locales, planificando adecuadamente los recursos naturales de su entorno de manera sostenible, permitiéndoles una mejor condición de vida. Este tipo de turismo contribuye a la diversificación de la oferta turística nacional, innovando mediantes nuevas formas de producir y consumir productos turísticos en destinos rurales comunitarios con gestión directa por parte de las organizaciones locales; por lo tanto el uso del suelo destinado a la producción agropecuaria, adquiere un valor agregado ya que cuenta con espacios y estructuras turísticas especificas para los visitantes con propósitos de disfrutar de ambientes y experiencias diferentes a los ofrecidos en destinos tradicionales. Lo que ha permitido efectos positivos importantes en el desarrollo de las localidades y la oferta turística, las cuales deben potencializarse, entre ellos: 322 La diversificación de la oferta turística Costarricense; Valor agregado a la producción agropecuária; Promoción de la protección de los recursos naturales y la identidad de nuestras comunidades rurales; Motivación del orgullo y conservación del patrimonio de las familias locales y favorecimiento; Facilitación de la equidad de género con destacada participación de la mujer. Cabe destacar que el Plan Nacional de Turismo 2002 – 2012 enfoca al TRC como uno de sus instrumentos indispensables en pro de un turismo sostenible, por cuanto representa una etapa avanzada del ecoturismo en términos socioeconómicos, al complementar y diversificar los ingresos de las familias campesinas, combatiendo el aislamiento económico, desarrollando la capacidad empresarial, contribuyendo a frenar la migración rural, permitiendo valorar y recuperar la cultura local y estimulando el desarrollo de infraestructura en zonas rurales. Es competencia del Instituto Costarricense de Turismo en pro del fomento y desarrollo de las actividades de TRC, que implican la inserción de las empresas de TRC dentro de los regímenes voluntarios de la Declaratoria Turística y del Contrato Turístico, regímenes que tienen su base reglamentaria en el Reglamento de las Empresas y Actividades turísticas, Decreto Ejecutivo No 25226 – MEIC – TUR, del 15 de marzo de 1996 y sus reformas y en el Reglamento de la Ley de Incentivos para el Desarrollo Turístico Ley 6990, Decreto Ejecutivo No 24863 – H – TUR del 5 de diciembre de 1995 y sus reformas. Por lo tanto el Instituto Costarricense de Turismo esta obligado a promover y fomentar la actividad del TRC, por lo que deberá coordinar, promover e impulsar ante otras instituciones del Estado y gobiernos locales, acciones específicas propias de las competencias de estos entes. A través de estas leyes las empresas de TRC pueden obtener una serie de beneficios e incentivos fiscales y no fiscales para lograr su desarrollo. No obstante existe desconocimiento sobre la existencia de estas leyes lo que limita el desarrollo de estas pequeñas empresas, es aquí donde el acompañamiento de ONGs, universidades es prioritaria. Proyecto de apoyo para el desarrollo del turismo rural comunitario Bajo este panorama se hace necesario tomar acciones institucionales para el apoyo en la capacitación de estos entes productivos con el fin de desarrollar sus competencias empresariales a fin de brindar un servicio de calidad y amigable con el ambiente. Las acciones implican el acompañamiento por parte de instituciones estatales u otras organizaciones para divulgar el alcance de esta ley de Fomento al TRC, debido a esta situación ha originado la formulación de proyectos desde la Universidad Nacional para las empresas de TRC. 323 Se promueve que los estudiantes realicen proyectos con el fin de graduarse pero que contribuyan con su conocimiento a comunidades con gran potencial que lo requieran, así los académicos a cargo seleccionan, y lo elevan al Consejo Académico para su aprobación con fondos designados para elevar las capacidades en las comunidades. Un ejemplo de proyecto de la Universidad Nacional de Costa Rica, dirigido a la comunidad de Colorado de Abangares y San Buena Ventura comunidad seleccionada para desarrollar el turismo rural comunitario en la zona, la cual posee gran potencial turístico. Este proyecto es formulado por un grupo de académicos entre ellos: la profesora Alba Berrocal (Coordinadora del proyecto), Jenny Rodríguez, Aurora Hernández, Merlyn Gutiérrez, el profesor Didier Villarreal y quién escribe Damaris Caravaca; el cual se denomina: Desarrollo de capacidades para las empresas de turismo rural comunitario del sector de colorado de abangares en estándares de calidad, sostenibilidad y manejo de un segundo idioma. El proyecto se dirige hacia la capacitación en algunas áreas entre ellas: Servicio al Cliente, Hotelería, Sistema Turístico, Inglés, adaptados a sus necesidades, así como talleres de Categorización Hotelera con el fin de que las empresas seleccionadas puedan obtener al menos una estrella; y también un nivel de sostenibilidad para la obtención del Certificado de Sostenibilidad turística (CST). Se coordina con otras entidades para articular esta actividad para así cumplir con lo establecido en la ley de fomento para el turismo rural comunitario, para que puedan dar los primeros pasos y obtener los beneficios que esa ley permite. Estas empresas de TRC, deben obtener la Declaratoria Turística, un paso previo para la obtención del Contrato Turístico lo que permite una serie de beneficios fiscales, donde estas empresas podrían exonerar vehículos, motores fuera de borda, materiales para la construcción entre otros y dependiendo de la actividad, así mismo deben tener al menos una estrella en la categorización hotelera entre otras actividades como parques temáticos. Todos estos lineamientos a su vez conllevan en garantizar la calidad de los servicios turísticos propios de la gestión operativa en un sentido sostenible. En el marco de este desarrollo del turismo rural comunitario es necesario fomentar en los involucrados las capacidades indispensables para el ejercicio de sus funciones en las empresas que les permita una ventaja competitiva e innovadora. *TRC: Turismo Rural Comunitario. Marco legal ley de fomento para el turismo rural comunitário Es la Ley No 8724 del 17 de julio del 2009, publicado en la Gaceta No 191 del 1 de octubre del 2009, cuyo objetivo es fomentar la actividad turística de tipo rural comunitario, cuyas siglas 324 serán TRC, por medio del impulso de empresas de base familiar comunitaria. Deben estar conformadas según la Ley de Asociaciones No 218, o conformada como cooperativa de autogestión de la zona rural, regulada por la Ley de Asociaciones Cooperativas y creación del Instituto Nacional de Fomento Cooperativo, No 4179 y sus reformas, con el fin de que las personas habitantes de las comunidades rurales procuren la gestión de su propio desarrollo, incluido el manejo de destinos turísticos locales; además, que participen en la planificación y el aprovechamiento de los recursos naturales de su entorno de manera sostenible, a fin de que les permita una mejor condición de vida. Ha sido declarada de interés público el TRC como actividad socioeconómica, estratégica y esencial para el desarrollo de las comunidades rurales del territorio nacional. Al ser el TRC una actividad prioritaria dentro de las políticas del Estado, se le autoriza a las instituciones de la Administración Pública, los entes estatales y no estatales, las empresas públicas y las municipalidades a impulsar actividades de apoyo para su desarrollo. Las modalidades del TRC son: Posadas de turismo rural: hospedaje mínimo 3 habitaciones, dotadas de baño privado, que pueda ofrecer los servicios de alimentación y se encuentre localizado en un entorno rural, definido por el ICT; Agencias de viajes especializadas en TRC: ubicados en zonas rurales, que ofrezcan un destino turístico local; Transporte acuático de turistas – cabotaje turístico – muelles; Actividades temáticas especializadas en TRC: área destinada a ofrecer servicios turísticos y /o de rescate del patrimonio cultural (manifestaciones históricas, culturales, fincas agropecuarias demostrativas, áreas naturales dedicadas a la protección y aprovechamiento de los recursos naturales, zoo criaderos, zoológicos, acuarios, parques de diversión y acuáticos); Servicios de alimentos y bebidas: (restaurantes rurales, fondas, sodas de comidas locales y servicios de comidas criollas a domicilio). Sem enbargo, lós benefícios de la Ley TRC son: Obtención de la declaratoria turística; Obtención de la categorización (empresas de hospedaje, restaurantes); Obtención del contrato turístico (exoneraciones); Trato prioritario y preferencial en sistema de banca de desarrollo; Vinculación con las diferentes instituciones del estado; Capacitación, asesoría técnica, publicidad, entre otros. Instituto Costarricense de Turismo: otorgar declaratoria y contrato turístico, regular, tramitar, incorporar esta actividad en sus planes de desarrollo turístico y en sus planes anuales operativos, garantizar el fomento y promoción, destinar recursos humanos, técnicos y económicos para la ejecución de las 325 políticas que fomenten y promuevan el TRC, impulsando a nivel nacional e internacional las campañas promocionales …entre otras; Municípios: Según art. 11: establecer mecanismos para que las comunidades organizadas participen en la planificación del desarrollo local. Desarrollar e implementar políticas de fomento al sector, basadas en criterios de sostenibilidad relacionados con el desarrollo turístico de su municipio y considerando las condiciones propias y necesarias para la implementación de proyectos de TRC. Crear una oficina de gestión local en turismo rural comunitario, con el fin de incentivar la coordinación de las actividades turísticas de la comunidad y la regulación competente; para ello procederá a la elaboración del reglamento municipal correspondiente. INA: formación y asistencia técnica, incorporar en sus planes anuales operativos programas que garanticen la formación y asistencia técnica para las agrupaciones del TRC. INSTITUTO MIXTO DE AYUDA SOCIAL - IMAS: Podrá incorporar en sus programas de generación de empleo y desarrollo comunitario, para el fomento y apoyo a las iniciativas del TRC. COMISIÓN DE COOPERATIVAS DE AUTOGESTIÓN: otorgar recursos del fondo nacional de cooperativas, puede otorgar financiamiento para proyectos viables, avales, asistencia técnica, formación, capacitación, asesoría, estudios de pre inversión, la viabilidad y estudios de factibilidad. SINART: debe facilitar espacios de promoción y divulgación de las actividades del TRC dentro de su sistema de comunicación, el cual esta compuesto por los siguientes medios: red nacional de televisión, radio nacional, la revista contrapunto y la agencia de publicidad de radio y televisión nacional, al menos una vez cada 3 meses, para contribuir al desarrollo y el enriquecimiento del TRC. DECLARATORIA TURISTICA: Es el acto mediante el cual la Gerencia del ICT declara a una empresa o actividad como turística, luego de cumplir con los requisitos técnicos, económicos y legales señalados en este reglamento en los manuales respectivos. Los beneficios de la declaratoria turística estan incluidos en la pagina del ICTwww.visitcostarica.com; Asesoría técnica; Categorización – Alta calidad, Ferias turísticas Nacionales, Participación en campañas turísticas internacionales. Sem embargo, lo contrato turístico, según el artículo 4 de la Ley No 6990, es el acto mediante el cual el ICT otorga a la empresa turística beneficiada, los incentivos establecidos en dicho cuerpo normativo y que incluye además de dichos beneficios, las obligaciones y garantías que corresponda exigir al solicitante. Incentivos para posadas del turismo rural comunitário Exonerar de todo tributo y sobretasas que se aplique a la importación o compra local de motores fuera de borda, cuando quien lo requiera se ubique en una zona geográfica aledaña 326 a ríos navegables, lagos navegables, canales navegables o zonas costeras, así como del pago de los impuestos de inscripción. Exonerar del pago de tributos y sobretasas que se aplique a la importación o compra local de vehículos tipo doble tracción o microbuses con capacidad de 8 a 12 pasajeros, cuyas características serán definidas por el ICT, así como el pago de los impuestos de inscripción. Los vehículos de doble tracción, deberán ser nuevos y no sobrepasar una cilindrada máxima de 2.500 c.c Exonerar del pago de todo tributo y sobretasas que se aplique a la importación o compra local de tecnologías alternativas para el tratamiento de aguas residuales y sus componentes, así como de los materiales e insumos que se incorporen directamente en la construcción de este tipo de plantas, para su instalación en el territorio nacional. Tanto los motores fuera de borda como los vehículos doble tracción o microbuses de 8 a 12 solo pueden ser solicitados únicamente por las posadas de TRC y las agencias de viajes especializadas en TRC. Exención de todo tributo y sobretasa que se aplique a la importación o compra local de bienes indispensables para el funcionamiento o instalación de empresas nuevas o de las establecidas que ofrezcan nuevos servicios. Estos bienes deben guardar una relación estrecha con la actividad a que serán destinados. Dentro de los beneficios a disfrutar dentro del plazo de vigencia del contrato, se tendrán la actualización y modernización de los servicios ya existentes. El mismo beneficio fiscal aplicará para toda compra de aquellos bienes necesarios para la construcción, ampliación y remodelación de los edificios donde desarrollen sus actividades y para su equipamiento. Concesión por las municipalidades correspondientes, dentro de los 30 días siguientes a la solicitud de las patentes y permisos municipales, que requieran las empresas para el desarrollo de sus actividades, incluyendo las de licores nacionales y extranjeros. Los incentivos para agencias de viajes para el TRC incluen a la exención de todo tributo con excepción del impuesto de ventas y de sobretasas excepto de los derechos arancelarios, en la importación de vehículos con una capacidad mínima de 15 personas, cuando tales vehículos se destinen exclusivamente al transporte colectivo de turistas. Si la tarifa del impuesto Ad-Valorem supera el 5%, se exonerará la obligación tributaria correspondiente a dicho exceso tarifario. También que sea ambientalmente responsable, y que se promueva un aprovechamiento sostenible de los ecosistemas, es decir que se evalúen los impactos de la actividad turística sobre el entorno natural y se establezcan medidas correctivas y buenas prácticas para evitar que estos impactos pongan e riesgo la integridad de los ecosistemas. Estándares de calidad para las empresas de TRC Se aplica el manual de Categorización Hotelera para las empresas de hospedaje, manual que fue aprobado en Sesión Ordinaria de Junta Directiva del Instituto Costarricense de Turismo, N° 327 4707, artículo 5,inciso XIII, celebrada el día 24 de febrero de 1997. Integra estándares de calidad que deben utilizar las empresas de hospedaje para brindar un excelente servicio al cliente considerando las diferentes áreas de operación y servicio, entre ellos: vestíbulos y espacios públicos, habitaciones, cuartos de baño, equipo recreativo, restaurantes y comedores, cocina, servicio para el huésped, limpieza, mantenimiento, aspectos de estructura, ambientales de seguridad, servicio a personas con alguna discapacidad física y de capacitación entre otros Existen otros lineamientos de calidad los cuales se aplican a Parques Temáticos. A continuación se muestran los requerimientos que deben cumplir las empresas de hospedaje, que para el caso de la TRC, se les denomina ―posadas‖ para obtener al menos una estrella. Se consideran los parámetros para el servicio limitado y mínimo, a lo que se le aplica un puntaje máximo de 3 puntos sobre lo indicado en el manual. TABLA DE CLASIFICACIÓN: Cinco Estrellas: de 461-500 ptos; Cuatro Estrellas de 361-460 ptos; Tres Estrellas: de 261360; Dos Estrellas: de 161-260; Una Estrella: 100-160 ptos. COMO FUNCIONA: El ICT visita solo a las empresas que cuentan con declaratoria turística y aquellas empresas que solicitan inspección; Si obtiene una categoría de cero estrellas, se le da un plazo de treinta días hábiles para cumplir con las observaciones dadas por el Supervisor; Se realiza una nueva visita para corroborar y si se sigue incumpliendo, se le da un plazo de diez días para que la empresa se pronuncie al respecto. La orientación de sostenibilidad para el desarrollo surge en Costa Rica con el programa de Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST), cuyo propósito fundamental del CST es convertir el concepto de sostenibilidad en algo real, práctico y necesario en el contexto de la competitividad turística del país, con miras a mejorar la forma en que se utilizan los recursos naturales y sociales, incentivar la participación activa de las comunidades locales, y brindar un nuevo soporte para la competitividad del sector empresarial (ICT, turismo-sostenible, 2011). A continuación se muestra un ejemplo del Ámbito Físico Biológico el cual propone: En políticas y programas en los siguientes elementos: para el diseño de planes: para la protección de los recursos, conservación de áreas, reforestación, embellecimiento, otros. En Emisiones y desechos: aguas servidas, disposición de aguas, contaminación. En áreas verdes: diseño de jardines. Áreas naturales: conservando. Protección de flora y fauna: protegiendo. 328 En todos los aspectos antes mencionados se brindan una serie de prácticas recomendadas para que sea implementada por las empresas, así mismo en cada uno de los cuatro ámbitos. A continuación se brinda un ejemplo sobre las preguntas de evaluación que se les plantea a las empresas de hospedaje. Son prácticas recomendadas: • Diseñar un plan en donde se estipulen las principales normas de gestión y operación de la empresa en materia ambiental, que permita más o mejor calidad y cantidad de agua, mejores vistas escénicas, más cobertura vegetal, fauna silvestre en hábitats naturales, infraestructura con diseños más sostenibles, bioclimáticos (diseño de edificaciones teniendo en cuenta las condiciones climáticas, aprovechando los recursos disponibles (sol, vegetación, lluvia, vientos) para disminuir los impactos ambientales, intentando reducir los consumos de energía), reducción de costos de operación por ahorro de agua, energía e insumos, entre otros. • Generar un círculo de discusión periódica entre funcionarios clave de la empresa sobre impactos actuales y potenciales que genera la actividad de la empresa. • Realizar un seguimiento a los impactos y los resultados de las acciones para su mitigación, como actividad paralela a las actividades diarias de la empresa. • Atender las sugerencias o reclamos provenientes de las comunidades y entidades oficiales respecto a prácticas perjudiciales de parte de la empresa. • La evaluación de estas acciones de mitigación debe mostrarse con indicadores cuantitativos o cualitativos. • Respetar y promover la legislación y reglamentos pertinentes nacionales e internacionales, en materia ambiental. • Contar con el apoyo activo de la Gerencia, de tal manera que sea visible la misión, visión, políticas, objetivos estratégicos y planes operativos. En las áreas verdes la vegetación está compuesta en forma predominante por especies nativas de la región o del país, gracias a que la empresa lo ha considerado como prioritario en la planificación paisajística. Las especies introducidas de carácter ornamental, no se están propagando hacia otras áreas del entorno gracias a un plan de manejo. Las especies nativas están debidamente identificadas con su respectiva taxonomía. Se mantiene por escrito una pequeña reseña ilustrativa para efectos divulgativos sobre historia natural y el uso de las especies nativas rotuladas en las áreas verdes. Para el mantenimiento de las áreas verdes, se utilizan insumos amigables con el ambiente, evitándose el uso de abonos, herbicidas, plaguicidas y/o químicos. Las áreas verdes constituyen un elemento estético muy valioso dentro de las empresas turísticas. Se pueden utilizar como espacios de luz, pulmón, bio-climatización (diseño de edificaciones teniendo en cuenta las condiciones climáticas, aprovechando los recursos disponibles (sol, vegetación, lluvia, vientos) para disminuir los impactos ambientales, intentando reducir los 329 consumos de energía), o potenciarse con usos menos convencionales como salas de espera y descanso, observación de aves, jardines de plantas medicinales, viveros, exhibición de arte de exteriores o educación e interpretación ambiental. El diseño de áreas verdes, es una parte muy importante de la empresa, por lo tanto ante el turista debe reflejar la visión de la empresa con respecto al medio ambiente, naturaleza y el producto turístico del país. Ellas son puntos de atracción de especies nativas de fauna y aves migratórias y por esto son prácticas recomendadas: • Utilizar los criterios de sostenibilidad deseables en áreas verdes como: uso de especies nativas, uso de especies que no generen amenazas a la seguridad (frutos o defoliación que se tornen resbalosos, atraer plagas o enfermedades, levantar el piso con las raíces, auto poda de ramas que caen). • Hacer un levantamiento de especies en las áreas verdes, principalmente de las que se encuentran en los alrededores de áreas comunes, esto para determinar el porcentaje de especies nativas en la propiedad, el mismo debe estar avalado por un profesional en la materia • Emplear especies que alimenten y refugien flora y fauna nativa por ejemplo: bromelias, orquídeas, aves, mamíferos e insectos, emplear fertilizantes y controladores de enfermedades y plagas inocuos u orgánicos, diversificar estratos y las especies utilizadas. • Establecer rotulaciones interpretativas. Para efectos de colocar rótulos en la flora de jardines, áreas verdes, patios de luz, antejardines, viveros o en miradores y senderos, se deben considerar los siguientes datos: nombre común, nombre científico, familia botánica, distribución, usos actuales o potenciales, otros datos de interés. Se recomienda no clavar o atornillar la rotulación en los árboles y/o plantas • El conocimiento de la historia natural de los recursos biológicos de un espacio es fundamental, de modo que se pueda divulgar la información más relevante y de manera técnica, los datos taxonómicos. Para darlos a conocer se puede diseñar una auto-guía para el cliente ubicándola en las áreas de estancia, en habitaciones, entre otros. • Utilizar medios naturales para el mantenimiento, tales como abonos orgánicos, repelentes naturales (plantas con aromas repelentes), insecticidas a base de extractos vegetales, evitando así el uso de productos químicos. Esto debe ser manejado como un elemento más de educación y divulgación. • Mantener información proporcionada por el proveedor de los productos utilizados y/o procesos realizados para obtenerlos si los abonos y/o repelentes son producidos en la propiedad. Así sucesivamente se brindan lineamentos claros para que sean implementadas por las empresas en los diferentes ámbitos indicados anteriormente. Referencias Instituto Costarricense de Turismo. 17 julio 2009. Ley de Fomento del Turismo Rural Comunitario No 8724. Costa Rica. Instituto Costarricense de Turismo. 1998. Manual de Clasificación Hotelera para Costa Rica. 330 Instituto Costarricense de Turismo. Reglamento de las Empresas y Actividades Turísticas. Costa Rica. Instituto Costarricense de Turismo. 1997. Manual de Categorización para Hoteles en Costa Rica, Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST). Instituto Costarricense de Turismo. 1997. Guía de Aplicación. Procedimientos y Recomendaciones para la implementación en hoteles Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST) en Costa Rica. http://turismoruralcr.com. (Visitado el 12 de setiembre 2012). http://www.pequenasdonacionescr.org/ppd-en-costa-rica . (Visitado el 12 de setiembre 2012). http://www.canturural.org/jos/index.php/conozca-nuestros-afiliados/12-acepsa . 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Somam-se à esta identificação de brechas as razões expostas por representantes da indústria turística receptiva, que explicam a limitada oferta cultural em seus catálogos desde a carência de operadores locais, escassa informação e calendarização de festas tradicionais, e problemas de infra estrutura e segurança. Ao analizar as variáveis relativas a cada atrativo, identificam-se cinco zonas territoriais de alto potencial turístico cultural que valorizam tradições, costumes, história e arquitetura próprios do país, e que não possuem uma demanda organizada identificável.Finalmente, e a partir do problema enunciado, a conclusão é de que o patrimônio cultural não constitui um atrativo turístico motivador de deslocamento de visitantes. Palavras-chave: Turismo cultural, atrativo turístico, patrimônio turístico, oferta turística. ABSTRACT Although Chile has a significant number of cultural attractions, the image transmitted abroad has been built around its natural landscapes34, marginalizing cultural heritage from the commercialization chain.To determine the commercialization gaps, the link between cultural heritage considered attractive by SERNATUR (National Tourism Service) and the tourism offer present in the receptive marketing chain was investigated. The results of the research showed that 1.117 attractions had not been included in the organized offer and evidenced the precariousness in the development of products of this type. In this identification of gaps, consideration was also given to the reasons provided by representatives of the receptive tourism industry, who explained that the limited cultural offer in their catalogues is due to the lack of local operators, scarce information and scheduling of traditional festivals, and infrastructure and security problems. After analyzing variables in relation to each attraction, five territorial areas of high cultural tourism 33 o slogan para a promoção turística do Chile no exterior, durante os anos 90 e parte da primeira década deste século, foi "Chile, Natureza que Comove". SERNATUR 34 The slogan to promote tourism in Chile abroad, in the 90s and part of the first decade of this century, was "Chile, Nature that Moves our Emotions‖ National Tourism Service. 332 potential were identified that highlight traditions, customs, history and architecture of the country, without having a recognizable organized demand. Finally, and starting from the stated problem, it is possible to conclude that (Chile‘s) cultural heritage is not a tourism attraction that encourages visitors to travel. Key words: Cultural tourism, tourism attraction, tourism heritage, tourism offer. INTRODUCCIÓN. Chile en materia turística es reconocido internacionalmente por la variedad y singularidad de sus paisajes naturales. Sin embargo, posee una importante cantidad y calidad de recursos culturales que no han sido incorporados en la oferta turística actual, limitando de esta forma la imagen turística del país a la presencia prioritaria de recursos naturales, los cuales han sido destacados como sitios excepcionales. La carencia de patrimonio cultural en la oferta turística del país se relaciona directamente con el protagonismo de estos recursos en la vida cotidiana de los chilenos, hecho consignado por el estudio Los Chilenos y el Patrimonio Cultural (Fundación Futuro, 2006) que releva que el 44% de los chilenos no sabe definir lo que es el patrimonio cultural. De esta forma, es posible presumir que uno de los componentes del problema se podría encontrar en la carencia de información y desconocimiento por parte de los jefes de productos turísticos de agencias de viajes y operadores turísticos respecto de los recursos culturales existentes en Chile. En esta misma línea de análisis se puede identificar la existencia de una opinión muy negativa del estado de protección del patrimonio cultural en el país. Respecto a esto, el estudio citado anteriormente indica que el 61% de los empadronados considera que en Chile el patrimonio cultural se protege ―poco‖, información que entrega antecedentes para sostener una segunda vertiente del problema, vinculada a la escasa valorización existente del estado de conservación y por consiguiente del potencial turístico que posee el patrimonio cultural. Los argumentos expuestos anteriormente, describen desde la oferta una parte importante del problema. Un enfoque complementario, obliga a analizar la situación desde la demanda, contexto en el cual es posible indicar que según el Servicio Nacional de Turismo ( ), ―la principal razón para elegir a Chile como destino turístico se encuentra estrechamente vinculada a la naturaleza y a los paisajes con un 65% de las motivaciones del total de visitantes. Por su parte, la motivación por conocer la cultura chilena se encuentra en segundo orden de importancia, representando sólo el 34% de las preferencias”. En el contexto expuesto, cabe preguntarse si esto es parte del problema, o sólo la consecuencia esperable del desarrollo de campañas sistemáticas por posicionar a Chile como destino de naturaleza, sumado a la correlacionada carencia de oferta de productos culturales descrita anteriormente. Desde los intermediarios turísticos internacionales, quienes juegan un rol fundamental en la promoción y difusión de la oferta turística nacional , es posible indicar los resultados del estudio Tipificación de la Demanda Turística Potencial de Chile (SERNATUR, 2010), los cuales indican que el país ―no es percibido ni proyectado como un país atractivo en cuanto a destino turístico”; los turistas extranjeros y agentes de viajes/tour operadores que venden Latinoamérica “lo perciben sin un atractivo cultural, sin identidad”, debido a que “no lo conocen, no manejan información, no surge como alternativa” de desplazamientos turísticos al país. Se considera que estas aseveraciones 333 son el reflejo de las vertientes del problema anteriormente expuesto, siendo también esta situación un efecto del problema central. Finalmente desde la perspectiva de la competencia de destinos en materia turística, se aprecia un efecto del problema expuesto, en el cual los entrevistados en el estudio anteriormente citado indican que Chile “se percibe como un país carente de identidad que lo defina, distinga y represente en el extranjero”. En el contexto expuesto, los turistas con motivaciones culturales prefieren viajar a Argentina, Perú, Brasil y Ecuador, países que poseen una clara identidad cultural En resumen, se ha identificado que la falta de una identidad distintiva a nivel país en materia turística, como el desconocimiento generalizado de los recursos patrimoniales existentes en él, se perciben como algunas de las principales causas de la escasa oferta de productos turísticos culturales en Chile, generándose de esta manera un efecto directo: la mermada presencia del país en el mercado internacional del turismo cultural. Según lo expuesto anteriormente, proveer de identidad y cultura a la oferta turística de Chile parece ser una alternativa para diversificar la oferta y dotar de identidad al país como destino, permitiendo que esta tipología de turismo surja como una manera en que el patrimonio sea conocido, apreciado y valorado por habitantes locales, nacionales y también por visitantes extranjeros. METODOLOGÍA El análisis del problema comienza con una revisión sistemática de políticas sectoriales y estrategias de promoción y difusión de Chile como destino turístico en el exterior, así como la revisión de casos y bibliografía complementaria que aborda la correlación entre el turismo y los recursos culturales y patrimoniales. Con el fin de conocer la oferta de turismo cultural en el país, se realizaron catastro de fuentes secundarias las cuales permitieron establecer: Oferta potencial de atractivos culturales. Oferta actual de productos turísticos culturales comercializados, considerando principalmente la oferta vigente a la fecha de operadores turísticos y agencias de viajes que incorporan dentro de sus programas a atractivos culturales. En una segunda fase, se realizaron entrevistas telefónicas dirigidas a operadores turísticos nacionales, las cuales han permitido validar el perfil del turista cultural que viaja al país a través de la cadena de comercialización tradicional. Finalmente, para identificar los principales factores que dificultan la incorporación del patrimonio cultural en la oferta turística nacional y conocer la visión de los operadores turísticos se realizó un Focus Group en conjunto con la Asociación Chilena de Empresas Turísticas – ACHET, el cual contó con la presencia de jefes de productos de las principales empresas de operación turística nacional, lo cual además contribuyó a validar los resultados obtenidos por el estudio. MARCO CONCEPTUAL: RELACIÓN ENTRE CULTURA Y TURISMO Existe una compleja relación entre turismo y patrimonio cultural, pues ambos sectores tienen necesidades, usos y lógicas diferentes y a la vez complementarias. Además, el recurso patrimonial tiene una sensibilidad especial, por lo que su uso en la industria turística debe considerar la identidad del territorio, el respeto en el tratamiento del patrimonio y la racionalidad de su explotación. 334 La cultura y el turismo son dos actividades que se sustentan entre sí en torno a lo que se ha denominado el turismo cultural; la primera, representa la base que nutre la identidad de los territorios y la segunda permite compartir estos elementos identitarios, dinamizando los territorios y transformándolos en destino. Es así como la Association for Tourism and Leisure Education (ATLAS) define turismo cultural como el “movimiento de personas hacia manifestaciones culturales fuera de su área de residencia, con la finalidad de obtener nuevos datos y experiencias para satisfacer sus necesidades culturales”. Esta tipología de turismo contribuye al rescate, conservación y preservación de los bienes culturales, ampliando el conocimiento y la imagen que a través de éstos se forma el visitante de una determina cultura anfitriona. Según lo expuesto, se infiere la necesidad de establecer que no todos los bienes culturales y patrimoniales existentes en un territorio poseen valor turístico. De acuerdo a lo expresado en Patrimonio Turístico en Iberoamérica, Experiencias de investigación, desarrollo e innovación, Instituto del Patrimonio Turístico, 2010 Universidad Central “sólo una parte de todo el patrimonio individual y social, natural o cultural, es posible de ser puesto a disposición del turismo”, de esta forma deben observarse las siguientes condicionantes: Quienes ostentan el patrimonio deben estar dispuestos a compartirlo y conocer los impactos (positivos como negativos) que esta actividad puede generar. Deben existir las condiciones para compatibilizar el uso turístico y la conservación del patrimonio. El patrimonio debe generar interés legítimo en los visitantes, compartiendo un relato interpretativo que permita y facilite su comprensión e interpretación. El Patrimonio Turístico será entonces entendido como el “conjunto de bienes patrimoniales naturales y culturales que pueden ponerse en valor para su uso turístico mediante un proceso de transformación que permita su accesibilidad temporal, espacial, económica y psicológica, respetando la sustentabilidad económica, social y ambiental de los destinos y sus recursos”35. (Imagen N°1) Imagen Nº 1: Tipologías de patrimonio que conforman el Patrimonio Turístico Treserras (2006), indica que es posible considerar la cultura como un producto turístico de una forma sostenible, atractiva y rentable, (ver cuadro N°1): Cuadro Nº 1: La cultura como producto turístico. Fuente: Instituto del Patrimonio Turístico, 2010 35 Concepto desarrollado por el Instituto del Patrimonio Turístico. 2010 335 De esta forma, la relación entre turismo y patrimonio cultural constituye una oportunidad y una responsabilidad tanto en términos de su disponibilidad real, como de la gestión necesaria para ser puesto a disposición de la industria turística sin perder su esencia y valor patrimonial. Para Prats (2003), el producto turístico se fundamenta en la mantención activa y no sólo en la conservación, ya que los sitios patrimoniales en general se encuentran localizados en lugares que no son turísticos, por lo que no tienen asegurada la rentabilidad del negocio. El turismo cultural es un mercado que ha presentado una gran expansión en los últimos años, al existir una sociedad que ha aumentado su formación académica, cultural y por supuesto de ocio, los cuales demandan cada vez una mayor cantidad productos de esta tipificación, motivando a las administraciones públicas y al sector privado a recuperar el patrimonio, revalorizándolo e integrándolo como parte de productos turísticos atractivos y rentables. Esto involucra la necesidad de determinar una imagen exterior del destino, eligiendo los factores diferenciadores que van a determinar el posicionamiento específico para consensuar las acciones a emitir en el mercado. Si bien Treserras da cuenta de esta capacidad de la cultura de convertirse en producto, y la presente investigación se concentra en la capacidad de los recursos culturales de componer parte de uno o varios productos turísticos, se realiza un análisis correlacionado entre ambas definiciones, dando cuenta que: El turismo cultural genera oportunidades para el desarrollo de un turismo sostenible, aportando a la conservación de los recursos culturales a través de su valorización e interpretación. De igual modo, el turismo cultural es capaz de valorizar los recursos culturales, favoreciendo la dinamización de las economías locales a través del ingreso de divisas y la generación de empleo. Por otra parte, el desarrollo del turismo cultural en forma planificada y responsable contribuye a la participación social, vinculando a defensores del patrimonio con su propia responsabilidad de conservación, permitiendo procesos de planificación participativa en torno a la relación cultura y turismo. De igual forma, el turismo cultural rescata desde lo más profundo de la identidad territorial, elementos capaces de constituirse en atractivos, poniéndolos a disposición de la demanda formada por los propios habitantes y por diversos visitantes, lo que potencia la singularidad local, constituye lo que se denomina imagen de marca y permite fortalecer la originalidad del territorio. A esto se suma la virtud del turismo cultural de generar mecanismos de interpretación de los recursos patrimoniales, poniéndolos a disposición de un conjunto amplio de la población, ofreciendo atractivas experiencias culturales centradas en el usuario y su satisfacción, en busca de la calidad del servicio. Finalmente, el turismo cultural se proyecta como una actividad rentable, en busca de la generación de una oferta autosostenible, fundada en la puesta en valor escalable a la demanda y 336 de bajo impacto a las comunidades locales. Esto conlleva una atracción sostenida de inversiones y la consolidación de una demanda no estacional basada en la singularidad de los atractivos culturales locales y la rentabilidad de las inversiones en negocios turísticos. EL TURISMO CULTURAL EN CHILE La relevancia que el sector turismo ha cobrado dentro de los últimos diez años en Chile y la necesidad de ordenar su desarrollo y estructurar la participación del Estado en su consolidación, han sido los principales impulsores en el diseño, discusión y promulgación de la Ley 20.423 del Sistema Institucional para el Desarrollo del Turismo ( ), la cual establece, en su artículo , que ―el Estado impulsará, por intermedio de sus organismos, una imagen del país tanto en el territorio nacional como en el exterior, que promueva sus atractivos de carácter patrimonial, natural, cultural y cualquier otro con valor turístico, que conduzca a la inserción de Chile en los mercados internacionales”. Por su parte, el Ministerio de Economía, Fomento y Turismo, indica que esta actividad ―es capaz de generar nuevas oportunidades laborales y contribuir a una mejor distribución geográfica de la riqueza debido a sus potenciales efectos en la descentralización y desarrollo territorial‖, lo cual permitiría consolidar a Chile como un país turístico, generando efectos positivos para otras actividades. En particular en los últimos años, se han desarrollado iniciativas públicas para fomentar el turismo cultural. En este sentido, SERNATUR (2001) estableció los lineamientos del turismo cultural, en el cual reafirma la ―necesidad de la administración del patrimonio frente a la amenaza de la ejecución de proyectos públicos y privados de gran escala, el rápido desarrollo urbano o turístico, los cambios en el uso de la propiedad, los conflictos armados, los incendios y los desastres naturales”. De esta forma, en Chile la relación entre cultura y turismo ha sido construida formalmente en la última década: como se expresa en el párrafo anterior, ya en el 2001 SERNATUR realizó las primeras definiciones, dando cuenta muy sutilmente de sus ventajas en cuanto a la diversificación de destinos, oportunidades de negocio, incentivo del aumento de gasto de visitantes y disminución de la estacionalidad. Por su parte, en 2005 el Consejo Nacional de la Cultura y las Artes comienza a desarrollar el Programa de Turismo Cultural, iniciativa enmarcada en la Política Cultural 20052010, dando cuenta de la necesidad de un plan nacional para la correcta puesta en valor del patrimonio para su uso turístico En esta línea se diseña ―El Plan Nacional de Turismo Cultural‖, instrumento que dirigido a la valoración de los sitios culturales de alto contenido histórico, arqueológico y/o natural y, con ello, a la valoración de las identidades regionales. Sin perjuicio de lo anterior, la puesta en marcha del ―Plan Nacional de Turismo Cultural Sustentable‖, se ha desarrollado desde los inicios de la administración del Presidente Sebastián Piñera (2010-2014), como parte de una política pública de rescate, promoción y preservación de las riquezas patrimoniales de Chile, con énfasis en la valoración de las tradiciones locales y el uso sostenible de los recursos turísticos. Para su implementación se han constituido mesas regionales y proyectos pilotos locales, concentrando los esfuerzos en la capacitación y transferencia de conocimiento a nivel regional, lo que ha reforzado la visión cultural como una oportunidad para el desarrollo de diversas comunas del país, sobre todo teniendo en consideración que “el turismo es un factor estratégico de desarrollo para el país, convirtiéndose en un potente elemento de 337 descentralización y crecimiento territorial, generador de oportunidades laborales y con una importante contribución a una mejor distribución geográfica de la riqueza36‖ En paralelo a estos esfuerzos provenientes desde el ámbito político-técnico, se ha comenzado a identificar desde el ámbito comercial, la presencia de una gran cantidad de atractivos culturales, muchos de los cuales constituyen la base para el desarrollo de una tipología de productos turísticos cuyas motivaciones de desplazamiento se vinculan a la ―cultura‖ y sus distintas expresiones y registros patrimoniales. Esto es reforzado al considerar el interés de los turistas por conocer los atractivos culturales del país, el cual sin mediar esfuerzos promocionales sustantivos en esta materia, incrementó en un 13,2% entre los años 2009-2010. Este escenario al parecer favorable política y comercialmente para el desarrollo del turismo cultural, se ve fortalecido al profundizar en el catastro de bienes con valor patrimonial, lo que se podría denominar la materia prima esencial para el desarrollo del turismo cultural en Chile. De esta forma a junio de 2012 el Consejo de Monumentos Nacionales identifica en su catastro 1.119 Monumentos Históricos y 110 Zonas Típicas distribuidos a lo largo del país. Por otro lado en el contexto del turismo cultural a nivel internacional, en el año 2009 Chile ocupaba el 32° puesto en el ranking de posicionamiento como destino de turismo cultural, destacado en este sentido por la ciudad de Valparaíso, Patrimonio Cultural de la Humanidad de UNESCO (Observatorio IBERTUR, 2009). De acuerdo a lo anterior, se considera que la mejor forma de conocimiento del patrimonio es la experiencia del contacto directo con los paisajes históricos, arquitectónicos y arqueológicos, la gente, sus tradiciones y creencias, como una forma de ser valorado por la gente que lo visita y por la comunidad donde se inserta, de tal modo que su conservación y difusión se transformen en una prioridad, gracias al desarrollo de la actividad turística. Esto es ratificado por las declaraciones de la Directora de la Dirección de Bibliotecas, Archivos y Museos (DIBAM) Magdalena Krebs K., quien señala que “cuando no se conoce algo, no se cuida”37. De esta forma se identifica la convicción en la necesidad país de concentrar los esfuerzos en el fomento del turismo cultural, lo que se estima dotaría a Chile no sólo de recursos económicos, sino que también contribuiría a fortalecer la identidad y cultura de los diversos grupos y expresiones presentes a lo largo del país, aportando de esta manera elementos de diferenciación y valor agregado, permitiendo distinguir la oferta turística chilena de aquella con similares características desde la perspectiva de los recursos naturales. RESULTADOS DE LA INVESTIGACIÓN Catastro de atractivos culturales que no están incorporados en la oferta turística actual. La revisión de fuentes secundarias para la confección de este catastro consideró el análisis de las fichas de atractivos turísticos del Servicio Nacional de Turismo que considera aprox. 4.000 atractivos, excluyendo los atractivos turísticos naturales y los culturales ya comercializados por empresas de turismo receptivo y nacional, obteniendo de lo anterior un total de 1.117 atractivos no incorporados en la cadena de comercialización turística. 36 Cuenta Pública 2010. Ministerio de Economía, Fomento y Turismo. Declaraciones de Juan Andrés Fontaine 37 Entrevista al Portal de Educación Educar Chile / / ―Patrimonio Cultural de Chile: un tema para reflexionar. http://www.educarchile.cl/Portal.Base/Web/verContenido.aspx?ID=203188 338 Concentración de Atractivos culturales por comuna. A partir de los datos consignados en la base de datos destaca la densidad de atractivos por comuna, factor que permite identificar territorios de alto valor turístico cultural con atractivos no comercializados, tal es el caso de Putre (47 atractivos culturales), Huara (21 a atractivos ), San Pedro de Atacama (21 atractivos ), Sierra Gorda (20 atractivos culturales ), La Serena (20 atractivos culturales), Valparaíso (20 atractivos culturales ), Talca (18 atractivos culturales ) , General Lagos (17 atractivos culturales, entre otros, de esta forma la comuna de Putre es la que presenta mayor concentración de atractivos culturales no comercializados en el país, territorio en el cual el patrimonio intangible representado por fiestas típicas y religiosas cobra gran importancia. Destacan también los pueblos y la arquitectura típica de los pueblos del altiplano, los cuales no son tan conocidos por la mayoría de los turistas, pero que representan la identidad del norte chileno. Esta información permite visualizar en el mapa del territorio nacional dónde están los espacios que turísticamente poseen mayor cantidad de atractivos que no están siendo empleados por la cadena de comercialización. A partir de la gran cantidad de atractivos culturales no comercializados se infiere la precariedad existente en torno al desarrollo de productos de esta tipología y la necesidad de abordar el tema para consolidar la puesta en valor de la oferta potencial identificada, fundamentalmente en las regiones del norte y centro de Chile. Definición de zonas territoriales temáticas. Como un producto adicional generado a partir de la presente investigación, con la finalidad de potenciar áreas que cuentan con un gran potencial en cuanto a su patrimonio cultural, ya sea tangible como intangible y que actualmente no son incorporados en la oferta de operadores turísticos receptivos y/o nacionales, el análisis de la información permitió identificar cinco zonas territoriales turístico culturales, las cuales tienen potencial turístico cultural, y que a la vez ponen en valor las tradiciones, costumbres, historia y arquitectura propia del país. Éstas son las siguientes: 1. Poblados y festividades andinas de la pre cordillera y altiplano de Arica y Parinacota 2. Arte rupestre y pueblos típicos sobre la Pampa del Tamarugal y zona andina de la Región de Tarapacá. 3. Patrimonio Industrial de María Elena y Sierra Gorda. 4. Barrios y Palacios de Santiago y Providencia 5. Arquitectura típica y ruralidad en la zona costera de la Región de O‘Higgins. Perfil del turista cultural que utiliza paquetes turísticos. Profundizando en las características de la demanda y utilizando diversas fuentes de información adicionales y complementarias a la fuentes primarias ya mencionadas, el equipo de investigación desarrolló una primera aproximación al ―Perfil turista cultural que utiliza paquetes turístico‖ obteniendo los siguientes resultados (ver cuadro N°2): Cuadro Nº 2: Síntesis Perfil turista cultural que utiliza paquetes turísticos INDICADOR PROCEDENCIA GRUPO ETARIO GRUPO DE VIAJE OCUPACIÓN RANGO 43% Latinoamérica 16% Europa 11% Asia y Oceanía. Adultos (25 a 55 años) Sénior (56 y más años) Parejas Grupos adultos Mayoritariamente: Profesionales Jubilados FUENTE ―Perfil turista cultural que utiliza paquetes turístico‖, IPT ―Determinación del perfil del visitante que realiza turismo cultural a nivel nacional‖ Consejo Nacional de la 339 INDICADOR ACCESO A LA INFORMACIÓN ACTIVIDADES QUE REALIZA DESTINOS CULTURALES MÁS SOLICITADOS RANGO Principalmente: Anuncios de internet-página web Recomendación amigos y familia Agencias de viaje Destacan: Visitas a museos Centros históricos City tour Rutas temáticas (vino). Santiago Valparaíso Isla de Pascua San Pedro de Atacama FUENTE Cultura y las Artes, 2010 ―Estudio del comportamiento turismo receptivo año ‖ Servicio Nacional de Turismo 2010. ―Perfil turista cultural que utiliza paquetes turístico‖, IPT Validación de resultados con representantes de la demanda. Con la finalidad de identificar los principales factores que dificultan la incorporación del patrimonio cultural en la oferta turística nacional, se desarrolló un Focus Group con los jefes de productos de las principales empresas operadoras de turismo en Chile, definiéndose los siguientes factores que impiden que muchos atractivos culturales formen parte de su oferta: Carencia de operadores locales. Poca claridad en información y fechas de fiestas tradicionales. Falta de seguridad e infraestructura. Corta permanencia de los visitantes en Santiago, situación que produce que la oferta existente alcance para llenar esos días. Requerimiento de una alta inversión en el desarrollo de nuevos productos de turismo cultural, versus la baja inversión y retorno inmediato en productos turísticos de naturaleza. CONCLUSIONES La relación entre patrimonio y turismo plantea un primer desafío conceptual al desarrollo de esta actividad productiva desde una base sustentable en busca del desarrollo social y económico, que garantice la conservación de aquellos elementos que en su calidad de bienes patrimoniales son la esencia identitaria del grupo humano anfitrión, capaz de ser puesta en valor en base a la administración de las experiencias de turistas y excursionistas. De esta manera, si se mantiene el postulado que define que la materia prima de la actividad turística son los atractivos que motivan la visita, en particular en el caso de los países en que estos atractivos son recursos patrimoniales, muchos de los cuales son parte del legado cultural, es factible su incorporación a la oferta turística, ya sea mediante productos turísticos o como atractivos complementarios a otros de mayor jerarquía. Como parte de la estrategia de desarrollo turístico, el Gobierno actual se ha propuesto como meta al año 2014 superar los 4.000.000 de turistas internacionales que visitan Chile y la incorporación de atractivos culturales a la oferta turística constituye una alternativa de ampliar el mercado, junto a incorporar elementos que otorguen identidad y diferenciación al país como destino turístico. Desde una visión positiva de la oportunidad surge el turismo cultural como una forma en 340 que el patrimonio sea conocido, valorado y apreciado por habitantes locales, y visitantes nacionales y extranjeros. Por medio de la metodología de trabajo planteada para la realización de esta investigación se evidencia que la oferta turístico - cultural tiene mínimas variaciones entre una empresa y otra, lo cual se explica desde el escaso conocimiento de los atractivos culturales con potencial turístico del territorio nacional por parte de los operadores y agencias de viajes mayoristas de turismo receptivo y nacional, a lo cual se agrega la carencia de operadores locales que diseñen oferta en distintos territorios en el país. Finalmente, esto plantea el desafío de innovar y de replantear el mercado asociado a nuevos atractivos culturales. Tras el desarrollo de la investigación se pudo determinar la dimensión de la oferta de turismo cultural efectivamente existente en Chile, comprobando su profundidad en el mercado, el nivel de relevancia en la oferta total y estado de desarrollo a nivel regional, identificándose la precariedad existente en torno al desarrollo de productos de turismo cultural y la necesidad de abordar el tema para consolidar la puesta en valor de la oferta potencial identificada. Los resultados de la presente investigación dan cuenta del escaso valor turístico atribuido por la oferta organizada a una parte importante del patrimonio cultural nacional, pero a su vez de la necesidad de promover la incorporación de éste en la oferta turística chilena, como una alternativa para que este patrimonio sea difundido y valorado, potenciando esencialmente una mirada intercultural del territorio. Si bien, como es de esperar, se advierte que las empresas intermediarias del turismo nacional se rigen prioritariamente por lógicas de mercado, ofertando según la demanda tradicional y asumiendo por lo tanto un bajo nivel de riesgo en la innovación a través de nuevas experiencias, se percibe un interés en buscar nueva oferta con el fin de (muy cautamente) incorporarlas a los nuevos catálogos de comercialización. De esta forma el bajo nivel de riesgo que asume el sector privado en la innovación frente a la opción de proveer nuevas experiencias de turismo cultural, requiere de coordinación con el sector público, acercando las estrategias y acciones que hoy se lideran desde lo público a la visión comercial que dinamiza la oferta, fortaleciendo la imagen cultural de Chile en materias turísticas. Se desprende entonces una desvinculación entre el sector público y privado, donde instituciones gubernamentales principalmente representadas por el Servicio Nacional de Turismo y el Consejo Nacional de la Cultura y las Artes llevan a cabo esfuerzos dirigidos a incorporar nuevos destinos culturales que representen la identidad nacional, estrategias que no se reflejan en los programas de las empresas de turismo receptivo y nacional; la oferta cultural del sector privado se tiende a reducir a Isla de Pascua, San Pedro de Atacama y city tours por las principales ciudades y capitales regionales del país. En este contexto, la importancia que tiene para el turismo nacional el desarrollo de una oferta turística basada en su patrimonio cultural, tiene su fundamento en el rol determinante de la identidad de los destinos y las personas que en ellos habitan, diferenciando la oferta y la experiencia de viaje en los distintos territorios. De acuerdo a lo expresado, se propone el fortalecimiento de centros de investigación en turismo y patrimonio como instituciones capaces de vincular y aproximar visiones entre los sectores público y privado, nexo que se orienta a que la oferta del sector privado se encuentre en concordancia con las políticas públicas, y que éstas a su vez recojan las expectativas de los empresarios para la creación de estrategias respecto al turismo cultural. Finalmente, y a partir del problema enunciado se concluye que el patrimonio cultural no ha constituido un atractivo turístico motivador de desplazamiento de visitantes al sitio donde se localiza el bien cultural, esto debido al desconocimiento del patrimonio existente en el país, lo que 341 se refleja en la imagen turística que el país transmitió por más diez años al extranjero basando su promoción prioritariamente en paisajes y atractivos naturales. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMBAR. (2010). Elaboración y Diseño del Plan Nacional de Turismo Cultural en Chile Informe Final. Santiago. Consejo Nacional de la Cultura y las Artes. Crespi, M.; Planells, M.; (2003) Patrimonio Cultural. Madrid, España. Ley Nº 20.423. Diario Oficial de la República de Chile, Santiago, Chile, 28 de enero de 2010. Prats, L. (2 3) ―Patrimonio + turismo= ¿desarrollo?‖ Pasos; Volumen 1, N°2, páginas 127-136. Servicio Nacional de Turismo. (2001). Lineamientos para la elaboración de una política de turismo cultural. Santiago, Chile. Servicio Nacional de Turismo. (2011). Estudio de la Tipificación de la Demanda Turística real de Chile‖ Santiago, Chile Treserras, J. (2006, junio). Gestión pública privada del turismo cultural y el desarrollo comunitario. Ponencia presentada en el VIII Congreso Nacional de Turismo, Monterrey, México. www.educarchile.cl/Portal.Base/Web/verContenido.aspx?ID=203188 342 TURISMO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL CAMINHO DO ITUPAVA, PARANÁ, BRASIL RAQUEL RIBEIRO DE SOUZA SILVA [email protected] PROFISSIONAL RESUMO O Caminho do Itupava é um sítio histórico-arqueológico em área natural localizado entre o litoral e o planalto paranaense, que é considerado um patrimônio arqueológico e histórico-cultural. Neste cenário foi analisada a viabilidade do uso deste sítio arqueológico para a educação patrimonial com escolares do ensino fundamental. Baseando-se nas referências bibliográficas e na aplicação de questionários abordando os aspectos históricos do Caminho foi possível verificar a viabilidade de uma visitação interpretativa neste sítio e acompanhar as atividades relacionadas ao conhecimento histórico sobre o Caminho adquiridos em sala de aula. A área em estudo é aberta a visitação turística, concluiu-se, portanto, que o turismo junto à educação patrimonial pode atuar como instrumento de sensibilização e de orientação em relação à necessidade da preservação do patrimônio cultural com vistas ao resgate da memória e da cidadania, beneficiando assim, visitantes e visitados. Palavras chaves: Turismo. Arqueologia. História. Educação Patrimonial. ABSTRACT The Itupava Path is an archeological-historical site in a natural area, located between the coastline and the Parana plateau, which is considerate an archeological heritage and historical-cultural. In this scenery was analyzed the viability to use this archeological site for heritage education with students from elementary school. Based on bibliographic researches and surveys about the historical aspects of the Path was possible to verify the viability of an interpretative visit in this site and also to follow the activities related to the historical knowledge of the Itupava Path acquired in the classroom. The study area is open to tourist visits, it was concluded, therefore, that tourism along the heritage education can act as a tool for awareness and guidance in relation to the need for preservation of cultural heritage with a view to restoring memory and citizenship thus benefiting visitors and visited. Keywords: Tourism. History. Arqueology. Heritage Education. INTRODUÇÃO O turismo cultural é um dos segmentos da atividade turística cuja finalidade está na valorização dos aspectos culturais de uma localidade, tanto por parte dos visitantes como por parte da população residente, e estes aspectos culturais podem ser representados por intermédio de patrimônios de caráter material ou imaterial. Como definição tem-se que turismo cultural é tudo aquilo que constitui um bem apropriado pelo homem, com suas características únicas e particulares (PINSKY; FUNARI, 2003). 343 O turismo cultural pode ser compreendido, então, como uma atividade que possui como principal atrativo algum aspecto da cultura humana e esse aspecto pode ser a história, o cotidiano, entre outros aspectos que o conceito de cultura abrange (BARRETO, 2000). Considerando a amplitude do termo turismo cultural, o conceito de patrimônio arqueológico também está inserido em seus múltiplos significados. Desta forma, patrimônio arqueológico pode ser compreendido como algo que faz parte de uma cultura material, produzida pelos diversos povos em todos os tempos e lugares e em constante interação com o meio ambiente, constituindo um suporte para o desenvolvimento de culturas (PINSKY; FUNARI, 2003). A sociedade em geral deve estar comprometida com a preservação dos bens culturais, tanto no aspecto material como simbólico e significativo, seja por meio do turismo cultural, da educação patrimonial ou até mesmo integrando estas duas atividades. A educação patrimonial é definida como ―o ensino centrado no objeto cultural, na evidência material da cultura, ou ainda o processo educacional que considera o objeto como fonte primária de ensino‖ (HORTA, 3 apud TAMANI, ) O turismo junto à educação patrimonial pode atuar como instrumento de sensibilização e de orientação em relação à necessidade da preservação do patrimônio cultural com vistas ao resgate da cidadania, pois atualmente a atividade turística não é mais considerada um bem supérfluo, pois constantemente há uma agregação de valor a esta atividade, e com o acréscimo de que o turismo está perfeitamente integrado a todas as manifestações, inclusive as culturais, de uma sociedade. Refletindo sobre a necessidade de adquirir e passar adiante o conhecimento histórico de uma localidade, além da necessidade de conservar os bens culturais, este artigo trata a problemática da visitação a sítios arqueológicos junto à educação patrimonial. O objeto de estudo desta pesquisa é um patrimônio de caráter material, o Caminho do Itupava, uma área tombada da Serra do Mar (PARANÁ, 2012). Estudos realizados no local, (FILHO; KLÜPPEL; THOMAZ, 2006) confirmam sua importância como patrimônio arqueológico e histórico do Estado do Paraná. O objetivo do estudo foi analisar a viabilidade do uso deste sítio arqueológico para a educação patrimonial com escolares do ensino fundamental. A decisão pelo público de escolares do ensino fundamental justifica-se pela excelente capacidade de retenção que este possui junto à facilidade de transmitir aos adultos os conhecimentos adquiridos durante as atividades de caráter patrimonial. As metodologias utilizadas nesta pesquisa foram: a pesquisa bibliográfica, documental e de campo (DENCKER, 1998), (SILVA; MENEZES, 2000) e (MARCONI; LAKATOS, 2006). O estudo de campo foi realizado na escola Rui Valdir Pereira Kern, localizada no município de Quatro 344 Barras (PR), local onde foi aplicado um à professora da 3° série do ensino fundamental e outro aos seus alunos. O questionário solicitava a opinião da professora sobre a realização de atividades de educação patrimonial com escolares do ensino fundamental, enquanto que aos alunos foi solicitado que escrevessem tudo que sabiam sobre o Caminho e se já haviam visitado o local. LOCALIZAÇÃO ÁREA DE ESTUDO O Caminho do Itupava está localizado na faixa montanhosa da Serra do Mar, entre o litoral e o primeiro Planalto, estendendo-se de Borda do Campo, distrito do município de Quatro Barras (PR), até Porto de Cima, distrito do município de Morretes - (PR). Segundo Moreira (1975), a denominação Itupava é de origem Tupi - Guarani que significa rio encachoeirado, que é uma característica dos rios da Serra do Mar. Esta designação deveu-se a localização de uma das Barreiras ás margens do rio Itupava, local onde os viajantes comerciantes e tropeiros pagavam uma taxa de imposto para a manutenção da estrada. Aberto por volta de 1625, o Caminho do Itupava foi a principal via de comunicação entre o litoral e o planalto curitibano. Era um dos caminhos mais curtos que, na época cruzava a Serra do Mar, possuindo um percurso de 55 quilômetros, os quais consumiam dois dias de uma viagem carregada de ásperos percalços (MOREIRA, 1975). Este caminho é considerado por alguns historiadores como o mais importante caminho para o trânsito de aventureiros e comerciantes no período do Brasil Colônia e atualmente é uma área aberta à visitação tendo seu trajeto realizado por fins turísticos e educacionais. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COM ESCOLARES A educação patrimonial é ―um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento individual e coletivo‖ (HORTA, 1999, p. 06). O objetivo da educação patrimonial para Horta (1991, p.12 apud CAMPANI, 1997 p. 12) ―está no conhecimento da herança que recebemos e sobre a qual construímos nosso presente e nosso futuro, do patrimônio visto como fundo contra o qual podemos traçar o perfil da nossa identidade, individual e coletiva‖ Segundo uma pesquisa realizada para o Ministério do Turismo, o turismo cultural ocupa o terceiro lugar na preferência dos turistas que viajam pelo Brasil. Neste contexto é que a educação 345 patrimonial ganha destaque nas discussões sobre patrimônio histórico e também encontra espaço no segmento do turismo cultural (CHIOZZINI, 2008). O desafio da educação patrimonial é ―ensinar‖, por meio de informações sobre a história do local visitado tornado o patrimônio, mais do que um objeto de mera contemplação e sim um meio de conhecer sua cultura e identidade (CHIOZZINI, 2008). Partindo da idéia de Chiozzini (2008) de que o turismo cultural é uma via de valorização do patrimônio, a ênfase destes aspectos em sala de aula a partir do ensino fundamental enriqueceria o currículo escolar por meio de questões relacionadas à história, à cultura, aos bens patrimoniais locais e iniciaria um processo de conservação e a recuperação da memória coletiva, por meio da qual, segundo Barreto (2000) os povos mantêm sua identidade. O conceito de memória coletiva de acordo com Halbwachs (1968, p.36-37 apud BARRETO, ,p ) ―refere-se a uma memória social, exterior ao indivíduo, estendida no tempo, que guarda eventos acontecidos há muito‖ Por meio desta memória é possível conservar os fatos acontecidos na sociedade pertencente ao indivíduo. Quando quer saber sobre fatos que não testemunhou e que fazem parte de seu passado e de sua comunidade os indivíduos recorrem a essa memória coletiva. Para Luporini (1998), a preservação da memória é uma possibilidade de reinterpretação do passado, por meio da constituição do espaço vivencial, no cotidiano e no presente. A autora considera ainda que a questão patrimonial esteja articulada a questão cidadã contribuindo para uma consciência do uso social do patrimônio cultural, permitindo a democratização dos espaços culturais e a socialização do conhecimento da realidade patrimonial. Apesar de não existir uma política oficial consistente de preservação do patrimônio cultural, atualmente no Estado do Paraná há uma onda de preservação de memória, seja das famílias, (referência aos imigrantes), das instituições, dos caminhos, das ruas, das praças, das festas, entre outros símbolos que representam à presença material do homem, tanto por parte das autoridades vigentes bem como também da sociedade civil (LUPORINI, 1998). Especificamente no Estado do Paraná, na última década ― o governo paranaense criou um programa que objetivou a elaboração de um inventário de bens culturais que atingiu significativa amplitude territorial e temática‖ (LUPORINI, ,p ). A busca por esse conhecimento reflete a consciência que está se formando em relação ao patrimônio, não apenas no Brasil, mas na América Latina como um todo, pois, ―a apropriação democrática do patrimônio depende da criação de condições materiais para que os diferenciados grupos sociais possam nele encontrar uma significação, compartilhando-o‖ (CANCLINI, , p.95-114 apud LUPORINI, 1998, p. 121). 346 Neste sentido, segundo Luporini ( ,p ) ―o objetivo de uma política cultural deixa de ser apenas a preservação do passado para converter-se na ampliação do espaço de participação no presente, o que envolve o espaço da cidadania‖ No exercício da cidadania, a articulação entre a constituição do patrimônio e as políticas preservacionistas torna-se cada vez mais importantes neste contexto contemporâneo, pois nas últimas décadas vêm se destacando uma política preservacionista, principalmente no que diz respeito aos aspectos ecológicos. Desta forma, a preservação de bens cultural-naturais possui um papel fundamental para a garantia dos direitos universais que ultrapassam especificidades, sejam elas nacionais ou locais, e contribui ainda para a incorporação de perspectivas cidadãs e para a garantia de direitos culturais. Os lugares da memória, que ― materialmente apresentam-se como vestígios, restos, testemunhos do que já passou representam um destes direitos culturais‖ (LUPORINI, p ) Os lugares da memória se caracterizam ainda como um movimento que articula memória e história, pois intencionalmente se busca preservar os vestígios impedindo a ação do esquecimento e a história quando interpreta estes lugares e devolve-os a sociedade está instituindo-os simbolicamente (LUPORINI, 1998). Alguns municípios paranaenses já investem na possibilidade de utilização dos patrimônios como objetos de ensino e discussão da relação memória-história, segundo Luporini (1998), esta metodologia é de fundamental importância, pois permite uma maior compreensão da história local, o modo de viver e pensar local e, por fim, um aprofundamento no conhecimento sobre a identidade cultural. RESULTADOS E DISCUSSÕES Em resposta a questionário aplicado, a professora responsável pela classe afirmou que a atividade de educação patrimonial não ocorre em sala de aula, o que acontece são aulas de história e geografia do município, quando são citados seus locais históricos e turísticos. Acrescentou ainda que uma vez ao ano são realizados passeios a alguns destes pontos turísticos. Apesar da inexistência de atividades de cunho patrimonial, a professora afirma ser relevante este tipo de educação para que os alunos aprendam, conheçam e valorizem os patrimônios do município. Luporini ( p ) afirma que ―a produção do saber por alunos, tendo a história local como objeto de estudo, pode ser uma experiência potencializadora para o currículo escolar‖ Ao observar as respostas dos alunos, ficou claro que o Caminho do Itupava não é um atrativo difundido entre os moradores locais, pois dos vinte e três alunos entrevistados apenas dois 347 tinham conhecimento extraclasse do local, um porque havia visitado e outro por ter visto ilustrações em livros. Observou-se, ainda, que as atividades realizadas em sala durante as aulas de história do município fazem parte da educação formal regular do ensino fundamental e não podem ser consideradas atividades de educação patrimonial. Segundo a professora entrevistada, um fator prejudicial no desenvolvimento do aprendizado sobre a história do município e, conseqüentemente, do Caminho do Itupava, é a ausência de material didático para trabalhar estes tópicos. Segundo Campani (1997) a aprendizagem do aluno não se limita aos conteúdos trabalhados em sala de aula, é possível aprender por meio de elementos externos que fazem parte das vivências, conhecimentos, enfim, da cultura de cada aluno. Observou-se, ainda que o Caminho do Itupava não faz parte do roteiro de excursões da sala de aula utilizada como amostra para esta pesquisa, possivelmente esta ausência experiencial da história local por meio da visitação seja o motivo pelo qual os alunos não tem lembrança do conteúdo histórico do atrativo em estudo. CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o conhecimento da história de determinada localidade aliada à atividade turística e à educação patrimonial, pode vir a ser um fator colaborador para propiciar a identificação do indivíduo com o local que faz parte de seu cotidiano e a contribuição deste conhecimento pode ser demonstrada por intermédio da valorização e conservação destes locais, resultando no exercício da cidadania por parte dos moradores da região e, consequentemente, por parte dos visitantes. REFERÊNCIAS BARRETO, M. Turismo e legado cultural: As possibilidades do planejamento. Campinas, SP: Papirus, 2000. CAMPANI, A. Educação patrimonial: uma experiência em busca de uma inovação no ensinar e no aprender. In: Revista Brasileira de Estudo Pedagógico, n°78. p. 7-21. Brasília, 1997. CASCO, A. Sociedade e Educação Patrimonial. Patrimônio: Revista Eletrônica do IPHAN. Disponível em <http://www.revista.iphan.gov.br>. Acesso em 04 de nov. de 2011. CHIOZZINI, D. Turismo cultural e educação patrimonial mais próximos. Patrimônio: Revista Eletrônica do IPHAN. Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br/materia>. Acesso em: 09 abr. 2011. 348 DENCKER, A. F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 8. ed. São Paulo: Futura, 1998. FILHO, A; KLÜPPEL, C; THOMAZ, J. Caminho do Itupava: Patrimônio – HistóricoArqueológico da Serra do Mar, Estado do Paraná, Brasil. Arqueologia: Revista do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, n° 10, p.35-9 2006. HORTA, M; GRUNBERG, E; MONTEIRO, A. Guia Básico de Educação Patrimonial. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Brasília, 1999. LUPORINI, T. J. Lugares da memória no Estado do Paraná: demandas e políticas pela preservação do patrimônio cultural. In: Olhar de Professor, n°1. p.115-128. Ponta Grossa, 1998. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. MOREIRA, J. Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá, até a emancipação da Província. Curitiba: Imprensa Oficial, 1975. PARANÁ. Normativa de uso do Caminho do Itupava. Disponível em: <http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6>. Acesso em 26 de set. de 2012. PINSKY, J.; FUNARI, P. P. (org.) Turismo e patrimônio cultural. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2003. SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2000. TAMANINI, Elizabete. Museu, Arqueologia e o Público: Um olhar necessário. Cultura material e arqueologia histórica. Coleção Idéias. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1998. 349 ANÁLISE SOBRE OS IMPACTOS NA IMAGEM DO PRODUTO TURÍSTICO PORTO DE GALINHAS PROVOCADAS PELO COMPLEXO INDUSTRAIL E PROTUÁRIO DE SUAPE 38. Rita Maria de Cassia Rodrigues VIANA (PRODEMA – UFPE) – [email protected] Danielle Alencar DANTAS (PRODEMA – UFPE) - [email protected] Resumo O presente artigo aborda uma análise dos impactos no Produto turístico Porto de Galinhas a partir da expansão de Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS), considerando complementaridades e in (compatibilidades) entre a imagem mercadológica e a expansão industrial portuária propostas para o desenvolvimento socioeconômico do Estado de Pernambuco. Palavras-Chave : Turismo, Produto Turístico, Porto de Galinhas, CIPS, Planejamento, Sustentável. Abstract This article discusses an analysis of impacts in Porto de Galinhas resort Product from the expansion of Suape Port and Industrial Complex (CIPS), and in considering complementarities (compatibility) between the image and marketing industrial port expansion proposals for the socioeconomic development of the State Pernambuco. Keywords: Tourism, Tourism Product, Porto de Galinhas, CIPS, Planning, Sustainable. A criação de um produto O que diferencia um Destino Turístico de um Produto Turístico é o tratamento mercadológico. O Destino Turístico é um local que possui um ou mais atrativos, que podem ser dos mais variados, desde os de Natureza, possuindo este, segmentos como: Sol & Mar, Fotográfico, etc.; o Cultural, o de Esportes, e assim por diante. O Produto Turístico vai além do atrativo, ele acontece quando uma destinação turística sofre um planejamento mercadológico; O Produto 38 Pesquisa está sendo desenvolvida no PRODEMA – Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE . Conta com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. 350 Turístico nasce para atender a necessidades de um público especifico e para isso ele é adequado; e a partir disso é divulgado. O conhecimento prévio de qual segmento de mercado se quer atingir é fundamental para a adequação do produto turístico ao modelo de prestação de serviços que cada grupo econômico demanda. Embora o atrativo em si seja o Cultural, Histórico ou de Sol & Mar outros aspectos influenciam ou determinam qual tipo de turista se quer captar. Além do nível da qualidade dos serviços, devem-se considerar as motivações que agregam valor e podem determinar a escolha entre um ou outro produto. O consumo de produtos na sociedade moderna vai além das necessidades vitais, elas se confundem com o fetichismo baseada na estética da mercadoria e na ideologia. As necessidades são criadas pelo capitalismo comercial e apoiadas pelas expectativas sociais de ascensão e poder. As estratégias mercadológicas dos produtos turísticos estão cada vez mais utilizando de técnicas de sedução que vão além dos atrativos, criando motivações que estão ligadas ao status social dos indivíduos que as utilizam. Uma das estratégias mais comuns é a utilização da mídia, principalmente a televisiva. Aliar a imagem da localidade a eventos em moda ou pela sua utilização por pessoas que são retratadas como modelos de sucesso e fortuna tem sido uma forma bastante comum de construção de marca. Segundo Cara (1999), a atividade turística cria uma sociedade artificial, constituída através de um sistema próprio de relações e pelas imagens que o caracterizam e isso ocorre sem a necessária relação ou vinculo com as imagens socioculturais locais. O produto turístico Porto de Galinhas não é original, a construção de sua imagem se deu aos moldes da Praia do Forte (BA) e Búzios (RJ), um modelo que reduz a diversidade histórico cultural de Pernambuco ao atrativo de Sol & Mar, para atender ao plano hegemônico instituído pelo turismo internacional. Pequena localidade com características de vila de pescadores, porém com infraestrutura para atender a turistas psicocêntricos. É criado o paraíso artificial seja, imagem de praia paradisíaca, porem, com os serviços de metrópoles, lojas de grifes, restaurante de cozinha internacional, resorts, pousadas de charme, bancos, são expostas de forma sutil se misturando ao cenário bucólico. Selva (1999) destaca dentre os aspectos que tornam as praias do Nordeste região favorável ao desenvolvimento do turismo: os regimes de temperatura e insolação, com mais de 2000 horas de sol durante o ano, os mangues, as baias, as vegetações de praia, os recifes, entre outros. A estratégia se deu através de famtours para jornalistas de periódicos especializados, operadores internacionais e convidando personalidades formadoras de opinião a conhecer Porto de Galinhas e opinar sobre ela, além da participação nos eventos promotores do turismo nacional e internacional. Como resultado destas ações, Porto de Galinhas figurou por 11 anos consecutivos 351 como a melhor praia do Brasil, segundo a revista Viagem & Turismo, da editora Abril. Também foram muito bem ranqueadas pelo Guia 4 Rodas da mesma editora.. O planejamento estratégico teve êxito e Porto de Galinhas tornou-se um dos principais destinos indutores de Pernambuco e do Brasil como atesta os Planos Estratégicos para o Turismo de Pernambuco e do Brasil. Porto de Galinhas traduz a imagem da tranquilidade, beleza e ótimos serviços. Tornou-se sonho de consumo de muitos. Consolidando sua imagem como destino de charme onde o turista alia sua imagem às imagens estampadas nas principais revistas como o ―paraíso‖ tropical, reservado para poucos. Porto de Galinhas transformou-se num símbolo de ―status‖ social Todavia, no mesmo município onde está localizado o produto turístico Porto de Galinhas, foi implantado o megaprojeto industrial e portuário de Suape, denominado Complexo Industrial e Portuário Governador Eraldo Gueiros – SUAPE (CIPS) segundo seu presidente. Sr. Frederico Amâncio: ―o maior canteiro de obras do país‖ As diversas influências que transformaram o espaço onde coexistem o CIPS e o destino turístico Porto de Galinhas promoveram alterações que vão desde a forma ocupação, quem e quantos ocupam e como ocupam, passando aos acessos e formas de acesso até a maneira como o mercado local percebeu estas alterações e como reagiram a ela. Esse grande movimento está promovendo reações díspares entre as populações locais, dividindo-as entre comerciantes, moradores e trabalhadores externos; de um lado a panacéia econômica do outro a o confronto cultural, social e gênero. A diminuição das distâncias promovida pelos meios de transportes, de comunicação; a massificação das necessidades provocada pela estética das mercadorias tem alterado e distorcido o olhar dos grupos envolvidos. Os conflitos vão desde a inclusão social e os formatos culturais diversos, passando pelo esgotamento da infraestrutura existente, criada para atender um determinado tipo de demanda e que hoje se encontra saturada. Porém as diferenças culturais e econômicas têm sido percebidas de maneira contundente e tem gerado reações imediatas com efeito no turismo em Porto de Galinhas (CHAUI, 1978; GARCIA, 2006, SCHIMIDT, 1977). Nesta região as mudanças da paisagem espacial e territorial são de certa forma recorrente, visto que o primeiro impacto foi provocado pela turistificação de Porto de Galinhas, porém esses movimentos não pressupõem alterações para melhor no modo de vida da população local, é mais um movimento decorrente de ações globais ou funcionais. Considerando o contexto apresentado, onde se deve considerar a questão, não apenas como de interesse do município ou municípios envolvidos, mas, um tema de interesse nacional e com possíveis rebatimentos internacionais, em função da continuidade da promoção do produto turístico Porto de Galinhas quando as suas características originais estão sofrendo modificações. Esse trabalho também visa contribuir para o 352 entendimento de como acontecem o planejamento dos espaços geográficos e do ordenamento econômico, bem como isso reflete nas populações envolvidas. (SANTOS – 2006) A análise passa pelo entendimento inicial sobre a dialética entre necessidade e a liberdade (MARX), pois, dentro da construção do entendimento do que é necessário ao humano e o que é de sua cultura, o que o faz feliz, entrelaçado pela necessidade, seja ela a primária ou a criada pela estética manipulada que, segundo Haug, o valor está além da necessidade. Para esse entendimento a pesquisa busca a percepção dos agentes diretamente envolvidos através de entrevistas e da percepção do próprio pesquisador em observação local. Histórico Pertencente ao município de Ipojuca, Porto de Galinhas surgiu originalmente como uma vila de pescadores. A partir da década de 1970, passou a experimentar um processo de turistificação viabilizado pelos investimentos advindos do Programa de Desenvolvimento de TurismoPRODETUR/NE na década de 1990 (SELVA, 2000). Iniciando como turismo de veraneio, ou segunda residência passando logo a seguir para uma organização mais estruturada para o turismo, com a criação de algumas pousadas, restaurantes, receptivo entre outras estruturas para atender o turista (MENDONÇA, 2004). Em 2000 é instalado o primeiro resort e a criação do cluster turístico Porto de Galinhas por alguns empresários locais visando o incremento e divulgação do destino para as principais localidades emissoras dentro e fora do Brasil; alterando o turismo em Porto de Galinhas e adequando-o a novos moldes para atendimento de um público especifico, caracterizado pelo padrão sócio econômico, de maior poder aquisitivo e também com foco no turismo internacional Para Beni ( 3), ―cluster é um conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial, concentrado num espaço geográfico delimitado ‖ A beleza e balneabilidade de suas praias, assim como a pequena distancia que a separa de Recife, capital de Pernambuco contribuíram para o rápido sucesso e transformando Porto de Galinhas em ―Destino Turístico Indutor‖ (EMPETUR) Eleita a melhor praia do Brasil da Revista Viagem e Turismo por 11 anos consecutivos (de 2000 a 2011) tornou-se um Produto Turístico com alta rentabilidade e promovendo a ampliação da visibilidade de Pernambuco, de modo que atualmente é considerado um dos principais atrativos turísticos de Pernambuco, (Ministério do Turismo e Empresa Pernambucana de Turismo). Sobre o conceito de Destino Turístico, Cunha (2006) diz que o destino pode ser visto sob duas ópticas: como forma de identificação do local visitado ou como espaço territorial onde se desenvolve um complexo de interrelações que garantam a existência de fatores de atração bem como, processos de produção e consumo com vistas a satisfazer necessidades turísticas. Já o Produto Turístico, segundo Valls (1996, apud IGNARRA, 2003), apresenta-se como um aglomerado, um amálgama, um grupo de 353 elementos tangíveis e intangíveis em particular. Entre os tangíveis estão os bens, os recursos, as infraestruturas e os equipamentos; entre os intangíveis estão os serviços, a gestão, a imagem da marca e o preço. O produto, considerando a função, suas formas, estruturas e processos (SANTOS, 2009) representam o espaço turístico. O turismo em Porto de Galinhas possui alto padrão receptivo, nele foram instalados resorts, hotéis, pousadas: lá é onde está localizada a única pousada a fazer parte do selo ―Pousadas de Charme‖ em Pernambuco O conceito dos serviços hoteleiro é muito bem visualizado pelos turistas e é também utilizado por cidadãos pernambucanos para o lazer em fins de semana, bem como férias ou lua de mel. Quanto à gastronomia local, Porto de Galinhas conta com a mais requintada cozinha regional ―revisitada‖ como se habitou ao referir-se a pratos tradicionais com novo visual modernizados pelos chefs de cozinha até o cardápio internacional. A transformação de Porto de Galinhas em destino turístico de alto padrão trouxe ainda outros mercados, como o de roupas, acessórios; adequou o artesanato local buscando uma identidade local através do uso da imagem das galinhas esculpidas por artista plástico local. Além do passeio ameno, PG ainda possibilita a prática de esportes como o mergulho, o surf, esportes a vela, Wind surf, Parapente ou Kitesurf, bem como incursões pelos manguezais e acesso ao habitat de cavalos marinhos. Há poucos km é também possível mergulhar um pouco na historia de Pernambuco, através dos engenhos, igrejas e áreas de patrimônio. Tudo isso, mobilizou os governantes a implantar melhorias na urbanização da vila, nas vias de acesso, na infraestrutura local. Atender as necessidades desse turismo e torna-lo um padrão em excelência foi mote constante tanto para o trade turístico local, quanto para os governos envolvidos. E assim se vende Porto de Galinhas. O produto turístico Porto de Galinhas não apenas trouxe visibilidade ao estado de Pernambuco e ao Brasil como também foi responsável pela elevação do PIB passando Ipojuca a quarta economia do estado. A demanda internacional também foi responsável pela entrada de divisas para o país. Entretanto, em 1960 o Governo Federal realizou estudos sobre a viabilidade da implantação de um complexo portuário nos moldes do Conceito Polo-Industrial de Masselhe-Foz (França) e de Kashima (Japão). A intenção era a de criar uma estrutura que contivesse um porto destinado à exportação e indústrias em seu entorno, uma estrutura que fosse capaz de gerar demanda e não apenas de atender àquela existente. Os estudos apontaram Suape, como o local mais indicado para a iniciativa. Assim, foi criada no dia 07 de novembro de 1978, através da Lei nº 7.763, a empresa SUAPE – Complexo Industrial e Portuário, com objetivo de administrar a implantação do distrito industrial e a exploração das atividades portuárias. 354 O Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) está situado na Nucleação Sul da Região Metropolitana do Recife, distante cerca de 40 quilômetros de Recife. O CIPS cresceu rapidamente ao longo das décadas, de modo que no início do ano 2000 figurava entre os 11 portos mais importantes do país. Entre 2007 a 2010 o CIPS recebeu mais de 17 bilhões de investimentos em obras estruturadoras, além de um estaleiro e uma refinaria de petróleo. Em 2007, a Agência Condepe/Fidem, órgão estadual de planejamento e pesquisas de Pernambuco deu início ao Plano Território Estratégico de Suape que tem como objetivo a promoção da ocupação sustentável do território com a melhoria da habitabilidade e da competitividade. Impactos Já é perceptível que o CIPS, tem afetado a dinâmica do turismo em Porto de Galinhas. Entre as principais alterações, conforme pesquisa empírica realizada no primeiro semestre de 2011 podese citar a ocorrência de um processo de direcionamento dos meios de hospedagem para acolher hóspedes que não são turistas de lazer e sim, trabalhadores do CIPS, principalmente do setor da construção civil deslocados de outros estados. Portanto, no processo de expansão, constatou-se que cerca de 20 unidades hoteleiras, estavam arrendadas a empresas do CIPS. Até o mês de abril de 2012, existiam 23, entre hotéis e pousadas em processo de descredenciamento perante a Empresa Pernambucana de Turismo-EMPETUR por utilização indevida ou desvio de utilização turística. Se por um lado o desvio da utilização de equipamentos turísticos representa um aspecto negativo para EMPETUR, para alguns empresários do trade turístico, isto é positivo porque afasta as consequências negativas relacionadas à sazonalidade do turismo. No entanto, atrelado aos benefícios decorrentes para alguns empresários locais, o aumento populacional para a área do CIPS e seu entorno, compreendendo o território Estratégico, promoveu uma diminuição da qualidade de vida experimentada no local. Aumento da poluição sonora e visual, aumento na demanda por água, energia elétrica, esgotamento sanitário, maior geração de efluentes domiciliares e de resíduos sólidos domiciliares são questões que põem em xeque a sustentabilidade de Porto de Galinhas tanto enquanto assentamento humano como enquanto destino turístico (VALENÇA et al, 2008). Some-se a isso um potencial quadro de favelização decorrente de uma ocupação desordenada do espaço, típico de áreas que experimentam um surto repentino de crescimento. Turismo O Turismo causa sensações e emoções no sujeito, que reage em resposta aos diversos estímulos que recebe. Às reações causadas por esses impulsos dá-se o nome de comportamento. 355 No Brasil, o Turismo já é considerado o quinto gerador de renda em moeda estrangeira para o país. Em 2006 tivemos um ingresso recorde de visitantes que gastaram US$ 4,3 bilhões em nosso país. Um salta de quase 12% sobre a receita de 2005 e nada menos que 116% acima do valor apurado em 2002 (PLANO NACIONAL DE TURISMO, 2007). O Turismo é um fenômeno social de extrema complexidade. A conceituação mais aceita pela Organização Mundial de Turismo é a que se refere ao Turismo como ―[ ] soma de relações e de serviços resultantes de um câmbio de residência temporária e voluntária motivada por razões alheias a negócios ou profissionais‖ Esse é um fenômeno de caráter humano, no qual acontece deslocamento de pessoas, e não de mercadorias, como produto final. O que é consumido é um conjunto de bens e serviços e o que proporciona a satisfação do cliente são sensações de prazer sentidas pelo mesmo. (IGNARRA, 2003) Mercado Turístico Mercadologia ou marketing é a totalidade de estudos e medidas que determinam a estratégia de lançamento e sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor, garantido seu êxito comercial. É mais que uma mera comercialização. O marketing turístico é um processo administrativo através do qual as empresas identificam seus clientes reais e potenciais e com ele se comunicam para poder conhecer e influenciarem suas necessidades, desejos e motivações. O objetivo é formular e/ou adaptar seus produtos para alcançar a satisfação ótima da demanda. (BENI, 2003) Os mercados em turismo não são homogêneos ou intercambiáveis, embora diferenciados, e por essa razão está inserido na ―concorrência imperfeita‖ Cada produto é de certo modo único e diferenciado dos demais. Não existem dois hotéis iguais, nem instalados no mesmo local e o que um oferece não é idêntico ao outro. O mercado turístico pode ser segmentado. A segmentação possibilita o conhecimento tanto do destino turísticos quanto ao perfil de seu turista ou mesmo dos tipos de atrativos que possuem, como também reconhece a demanda, seja as necessidades de determinados grupos em relação às destinações (BENI, 2003). A competitividade geral, como também no turismo, segundo a teoria econômica convencional é determinada pelo baixo custo da mão de obra, juros baixos, taxas de cambio favoráveis e economia de escala. A competitividade da destinação turística depende da capacidade de seu setor de inovar e melhorar permanentemente sua oferta.(GUTIERREZ e BORDAS, 1993). A qualidade é fator decisivo num mercado competitivo como o do turismo. A qualidade pode determinar o êxito ou não de um produto ou serviço; ela deve ser usada como estratégia aplicada para garantir a permanência competitiva no mercado. Quando a qualidade se manifesta 356 simultaneamente ao serviço, o resultado é a satisfação do cliente e essa satisfação é que imprimirá a imagem símbolo do produto turístico. (BENE, 2003) Produto Turístico Por sua própria natureza o turismo não é setor de produção bem definido como a agricultura ou a indústria de automóveis pro exemplo. O turismo é resultado de várias atividades econômicas; utiliza bens e serviços de outras indústrias para oferecer o que se pode chamar de produto final. Esse produto final não é o mesmo para duas pessoas que fazem a mesma viagem, por exemplo, pois o individualismo gera experiências diferentes para cada um. O Produto turístico total, no sentido macroeconômico é constituído de uma serie de subprodutos como transporte, hotelaria, restaurantes filmes, livros, diversões, suvenires, seguros, roupas para férias. No sentido mercadológico se diz de uma destinação que se organizou de modo a conhecer e planejar previamente o seu mercado potencial. Considerações Finais Considerando a imagem construída para se atingir o segmento de mercado escolhido como alvo para o produto turístico Porto de Galinhas, sendo ele de poder aquisitivo de alto padrão, aprimorado paladar e requinte estético, podemos analisar que os impactos já provocados neste primeiro momento, o de implantação do CIPS, já interferiram negativamente na imagem que se promoveu para o destino turístico. Isso se reflete na fala dos empresários da praia de Muro Alto onde se concentram os resorts e hotéis de alto padrão quando reclamam do numero de operários instalados em Porto de Galinhas e das alterações na dinâmica da Vila provocada pela presença deles; em contraponto a de alguns empresários da Vila, que veem no CIPS uma realidade de retorno imediato. É importante ressaltar que se foi percebido uma divisão territorial no produto turístico PG. A divisão se dá através de diversos códigos e símbolos mercadológicos e socioeconômicos. Na percepção deste pesquisador o produto turístico PG está dividido como segue: Praia de Muro Alto – concentração de resorts e hotéis de alto padrão socioeconômico em praias de difícil acesso a população e ambulantes. Praia do Cupe – onde ficam a maioria dos hotéis e pousadas de charme, de padrão diferenciado com foco em segmentação ainda mais especifica, como turistas sulamericanos, friendly e casais sem filhos. Vila de Porto de Galinhas – onde se localiza a saída das jangadas para o passeio às piscinas nos recifes de corais; concentram-se as lojas de artesanato, grifes, 357 restaurantes e bares, bem como os serviços de apoio: bancos, farmácias, etc., é onde estão a maioria das pousadas familiares e das casas de aluguel para veraneio. Maracaipe – recentemente introduzida ao circuito, foi por muito tempo apenas a área para a prática dos esportes radicais e acesso aos manguezais e a observação dos hipocampos. Sendo assim, cada grupo empresarial destes, tem visão diferente sobre os impactos do CIPS na imagem do turismo em PG. Os empresários de Muro Alto, oriundos do mercado de investimento e tendo o conhecimento turístico a partir do exercício do trabalho, já se movimentam no sentido de se adequarem as mudanças, entretanto reclamam da não blindagem da Vila pelos organismos públicos. Já os empresários do Cupe estão estimulando o turismo de massa, alterando assim o seu perfil de segmentação. Para os comerciantes da Vila e de Maracaipe, principalmente os pequenos e médios vindos da economia familiar, estes veem o CIPS como uma alternativa a sazonalidade inerente ao turismo. Outra percepção é o aumento da margem de lucro, visto que na relação custo versus benefícios, a demanda gerada pelo CIPS prevê menos custos ao mesmo preço. Em função da mudança dos grupos sociais e no padrão de exigência advindo do tipo de permanência no local. As empresas fazem contratos anuais, garantindo renda e os hóspedes, estes praticamente usam o equipamento como dormitório, seja: diminuição dos serviços com mesma lucratividade. Essa construção de pensamento nos leva a outros questionamentos como: Por que estes grupos, numa avaliação inicial, só percebem o lucro e não olham a questão do ambiente original? Será pela lógica do Capital ou será que o desapego ao lugar em função destas populações não serem mais as originais, seja as naturais do local? Estas serão questões para outras discussões. O grande canteiro de obras que se transformou o entorno da pequena Porto de Galinhas, a proximidade entre ela e o CIPS, permitiram uma interação comprometedora. As expectativas dos turistas que compraram a ideia de tranquilidade e paisagens bucólicas foram traídas já no acesso, com rodovias esburacadas e congestionadas principalmente por ônibus e caminhões de transporte de carga. Alheios as característica de cidade turística, os trabalhadores do CIPS promovem diariamente uma invasão em PG, provocando um ―choque de realidade‖ num público que buscava ali somente o lazer. Deparar-se com grupos de trabalhadores fardados pelas pequenas ruas da Vila não é exatamente a imagem que se espera numa viagem de férias a ambientes paradisíacos. O volume de homens em Porto de Galinhas aumentou significativamente e isso alterou significativamente a dinâmica da cidade, promoveu uma alteração na qualidade dos serviços e onerou a infraestrutura local. As reclamações são várias, entre elas o mau cheiro provocado por esgotos saturados e, o aumento exponencial da criminalidade e da prostituição. Praias lotadas, 358 serviços caros e com baixa qualidade também são motivo de constantes reclamações feitas pelos turistas, empresários e população residente. A mudança já se configura como fato. Entretanto este trabalho é parte de uma pesquisa maior que ainda está acontecendo e onde a percepção de cada agente envolvido será definidora do resultado. Por enquanto o prognóstico indica que é tempo dos representantes do trade turístico local e o governo através de seus órgãos de turismo reformular suas estratégias mercadológicas redefinindo a qual nicho de mercado se adequará Porto de Galinhas. Referências BENI, M. C. Análise estrutural do Turismo. 8. Ed. São Paulo: SENAC, 2003. CARA, Roberto B., El turismo y los processos processos de transformación territorial. In: RODRIGUES BALASTRERI, Adyr. Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 2. Ed.São Paulo: Hucitec. 1999. P. 86-93. CHAUI,M.. O discurso competente. Bahia. Revista da Associação de Psiquiatria da Bahia. 1978. CUNHA, Licínio., Economia e Política do Turismo. , edição n.º 3170, Editorial Verbo, Lisboa, 2006. EMPRESA DE TURISMO DE PERNAMBUCO - Empetur apresenta Pernambuco em Feiras do Sul e Sudeste. 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Aqui se propõe sistematização da aplicação da escala, através do levantamento bibliográfico, para medir e avaliar a percepção ambiental junto a três grupos sociais: turistas, moradores e mediadores do turismo da famosa Praia da Pipa (Tibau do Sul, município do estado do Rio Grande do Norte); cujo local é um importante polo indutor de turismo. A Praia da Pipa é o principal balneário do Litoral Sul do estado, ficando a 85 km de Natal, capital do estado. Este paraíso tropical é a junção entre dunas imponentes sobrepostas no horizonte em cima dos tabuleiros que acabam em falésias geomorfologicamente vivas pela ação do mar e ventos; não se conhece outro lugar do mundo em que a costa de dunas e falésias sedimentares se recombinem de forma tão espetacular com um verde denso que chega a tomar a parte frontal das falésias. Por isso faz-se importante à aplicação da escala para a avaliação da percepção ambiental das pessoas que transitam pela Praia da Pipa para que se possa comparar com a percepção de outras sociedades. PALAVRAS CHAVE: Consciência ecológica, Escala de medição, Litoral, Sustentabilidade, e Turismo. 39 Orientador: Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa Docente do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: [email protected]; 361 ABSTRACT After the turn of the 1960s, humanity has been confronted with a new socio-environmental paradigm, that some scientists now call "New Environmental Paradigm (NPA)." In 1978, Dunlap and VAN LIERE proposes a scale for measuring such a paradigm in 2000 a review of the same, including new items, "New Ecological Paradigm" (New Ecological Paradigm - NEP) to represent its systemic character. Here we propose the application of systematic scale, through literature, to measure and evaluate the environmental perception with three social groups: tourists, locals and tourism mediators of the famous Praia da Pipa (Tibau do Sul municipality of Rio Grande North), whose place is an important inducer polo tourism. The Pipa is the main resort in the South Coast of the state, being 85 km from Natal, the state capital. This tropical paradise is the junction between towering dunes superposed on the horizon over the boards ending in cliffs geomorphologically living by the sea and wind action, not known elsewhere in the world where the coastline of dunes and sedimentary cliffs to recombine so spectacular with a dense green that comes to take the front of the cliffs. Therefore it is important to apply the scale for the assessment of environmental perception of people passing by Pipa so you can compare with the perception of other companies. INDEX TERMS: Ecological consciousness, measuring range, Coastline, Sustainability, and Tourism. INTRODUÇÃO Desde a década de 1970 a preocupação com a deterioração do meio ambiente como resultado de ações humanas é impulsionado por diversos elementos da sociedade, partidos políticos, organizações nacionais e internacionais. Neste período, tornou-se evidente o esgotamento do modelo até então vigente de exploração da natureza, seja na capacidade de fornecer materiais, ou na capacidade de absorção de dejetos diretos e indiretos da produção de bens de consumo. Surgiram daí diversos acordos ambientais multilaterais, como, por exemplo, o Protocolo de Kyoto. Dentro deste cenário, a indústria hoteleira também se insere como corresponsável. DIAS (2008) considera que a ausência de um planejamento e organização adequada, o desenvolvimento do turismo poderia contribuir para um aproveitamento inadequado do território, o que poderia causar desflorestamento, erosão dos solos e perda da diversidade biológica. BERTO (2011) caracteriza a situação da fragilidade ambiental das cidades litorâneas: ―No litoral, principalmente nas praias, a densificação humana e a concentração sazonal provocam a poluição das águas e o acúmulo de detritos deixados na areia. A partir de um 362 ponto central, o crescimento urbano das praias ocorre em e a ―frente para o mar‖ é a parte mais disputada e valorizada‖ Neste contexto, se insere a famosa Praia da Pipa – Tibau do Sul / RN, cujo local é um antigo vilarejo de pescadores e atualmente sofre as consequências do turismo exploratório em que a exploração da atividade turística implica em modificações e degradações ao meio ambiente que muitas vezes são irreversíveis. A imagem 01 a seguir, mostra o descaso com o cuidado com os resíduos gerados pelo setor hoteleiro. O lixo foi deixado próximo à escadaria de acesso a Praia do Madeiro. O acesso é feito tanto por pessoas que ali visitam quanto pelos hóspedes do hotel. Observa-se que o lixo não é armazenado de maneira correta, em que o mesmo de desloca por toda área. Inclusive para área da praia e mar. Imagem 01 – Lixo deixado ao descaso por hotel próximo a escadaria da Praia do Madeiro, Pipa/RN. (Foto: Berto, 2011) Em 2007, o município de Tibau do Sul foi rotulado como ―indutor de turismo‖ pelo Plano Nacional de Turismo Um local que se caracteriza como ―indutor de turismo‖, ou seja, destino que é de atrair e/ou distribuir significativo número de turistas para seu entorno e dinamizar a economia do território onde estão inseridas, há a necessidade de se refletir como esse movimento de inserção de empreendimentos, pessoas que ali circulam e outros tipos de exploração do local, podem afetar a comunidade já ali existente e o meio ambiente natural. A economia da cidade gira em torno da pesca, artesanato e principalmente do turismo, Tibau do Sul necessita de iniciativas para melhorar e manter a comunidade e o meio ambiente equilibrados. Deste modo, a questão ambiental e cidadania são indissociáveis pela necessidade 363 absoluta de que a qualidade de vida do ser humano está diretamente relacionada com o estado do meio ambiente, SILVA BERTO (2011). Segundo CORRÊA et al. (2009) afirmam a relação da responsabilidade de uma empresa frente às questões sócio-ambientais como ―compromisso continuo da empresa em adotar a ética do desenvolvimento social, sustentada sobre o tripé da qualidade de vida, inclusão social e respeito ao homem, à natureza e ás gerações futuras. Nela estão presentes a responsabilidade ambiental e responsabilidade cultural‖ Do ponto de vista individual, considera-se que o cidadão pode minimizar o impacto de suas atividades rotineiras sobre o meio ambiente por meio de comportamentos pró-ambiental como: jogar lixo no local adequado, separar os resíduos domésticos, diminuir o consumo de água, de energia e de bens de consumo. A definição de comportamento pró-ambiental para SUAREZ (1998) se refere a um conjunto de atividades humanas cujo objetivo é minimizar os efeitos negativos sobre o meio ambiente. Essa alteração da abordagem sobre o meio ambiente de grande parte das sociedades modernas é percebido por vários autores, entre eles o próprio DALY, que já na introdução de sua obra, propõe a existência de um ―novo paradigma sócio-econômico‖ ( 3) Em 1978, DUNLAP e VAN LIERE, propõem uma escala para medição de tal paradigma e em uma revisão do mesmo, incluindo novos itens, rotulado como ―Novo Paradigma Ecológico‖, (New Ecological Paradigm – NEP) para representar o seu caráter sistêmico. SILVA et al. (2009) afirmam que a escala ―já possui validação internacional e esta em fase de validação no Brasil‖ Portanto, é um método de avaliar a percepção ambiental que deverá ser explorado pelos pesquisadores brasileiros. Neste estudo, propõe-se a sistematização da aplicação da escala NEP, através de levantamento bibliográfico, para medir a percepção ambiental junto a três grupos sociais (NASCIMENTO-SCHULZE, 2002): turistas, moradores e mediadores do turismo da famosa Praia da Pipa, antigo vilarejo de pescadores do município de Tibau do Sul. Objetiva-se comparar a percepção ambiental das pessoas conforme origem (Estado/País), gênero, faixa etária, renda e escolaridade. Este método sistematizado poderá ser aplicado a outras localidades com características ambientais, sociais e econômicas semelhantes a do presente estudo. MATERIAIS E MÉTODOS Com o propósito de conhecer melhor a percepção ambiental das pessoas que transitam pela Praia da Pipa, optou-se pela utilização do modelo de pesquisa exploratória e descritiva, pois, enquanto descritiva pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade e exploratória porque visa levantar questões e hipóteses para futuros estudos. 364 Sugere-se por aplicar a pesquisa de campo (Quadro 1 e 2) a três grupos sociais: turistas, moradores e mediadores do turismo. O instrumento de pesquisa escolhido foi a escala NEP em sua versão 2000 que apresenta 15 itens e a escala Likert com 5 Itens, sendo que 1 significa a total discordância dos respondentes em relação à assertiva e 5 a total concordância, que são apresentados conforme o Quadro 1: Item Você concorda ou discorda que: CF1 (5) CM1 (4) I1 (3) DM1 (2) DF1 (1) 1 Nós estamos chegando ao numero de pessoas que a Terra pode suportar. 22 inv. Os seres humanos tem o direito de modificar o ambiente natural para atingir suas necessidades 3 Quando os seres humanos interferem na natureza, se produz frequentemente consequências desastrosas. 42 inv. A perspicácia humana ira assegurar que nos NÃO faremos a Terra inabitável. 5 Os seres humanos estão abusando seriamente do meio ambiente. 6 A terra tem riquezas em fontes naturais, nos temos apenas que aprendermos a desenvolvê-las. 7 Plantas e animais têm tanto direito de existir quanto os seres humanos. 82 inv. O equilíbrio natural é suficientemente estável para absorver os impactos das nações industriais modernas. 9 Apesar de nossas habilidades especiais, os seres humanos seguem sujeitos as leis da natureza. 102 inv. A chamada ‖Crise Ecológica‖ que enfrenta a humanidade tem sido grandemente exagerada. 11 A terra e uma espaçonave com espaço e fontes muito limitados. 2 12 inv. O ser humano foi feito para reinar sobre o resto da natureza. 13 O equilíbrio natural e muito delicado e facilmente abalado. 142 inv. Os seres humanos irão aprender o suficiente sobre como a natureza funciona para serem capazes de controla-la. 15 Se as coisas continuarem no curso atual, nos iremos breve experimentar uma catástrofe ecológica maior. 1 Concorda Fortemente (CF), Concorda Medianamente (CM), Indeciso (I), Discorda Medianamente (DM), Discorda Fortemente (DF). 2 Itens ―invertidos‖: concordar significa negar o paradigma Quadro : Escala ―Novo Paradigma Ecológico‖ (NEP) Fonte: DUNLAP et al., 2000. 365 Para a complementação da escala NEP, também objetiva-se comparar a percepção ambiental das pessoas de diferentes grupos (turista, morador e mediador do turismo), origens (Estado/País), gêneros, faixas etárias, renda e escolaridade, apresentada no Quadro 2 a seguir: Item Resposta Grupo ( ) turista, ( ) morador ou ( ) mediador do turismo Origem (Estado/Pais), Brasil (Cidade/Estado) Sexo Idade Renda mensal Escolaridade Quadro 2: Características sociodemográficas dos participantes da pesquisa. A ferramenta a ser utilizada para validação dos questionários anteriormente citados é o coeficiente alfa de Cronbach (1951), que foi desenvolvido para calcular a confiabilidade de um teste naquelas situações em que o pesquisador não tem a oportunidade de fazer outra entrevista com o indivíduo; contudo, precisa obter uma estimativa apropriada da magnitude do erro da medida. Como ressaltam ZELLER E CARMINES (1980, p. 60), o alfa fornece uma condição mínima (menor que a real) de consistência quando há uma heterogeneidade de itens, como o do paradigma proposto (escala NEP). A obra de MUELLER (1986) reafirma os parâmetros de aceitação para a avaliação da escala, e assim, por exemplo, um ―alfa de Cronbach (α)‖ com valor de , é suficiente para confirmar a consistência interna em casos de pesquisas exploratórias como essa. Para suporte dos cálculos da escala NEP indica-se o Reliability Statistics do software SPSS 17.0 para facilitar a apuração dos resultados. Com o fim de avaliar, para discussão e conclusão do questionário a ser aplicado, os resultados da escala NEP e distribuição de resultados de Likert, aplica-se a estatística básica, tamanho da amostra, valor médio e desvio padrão. A complementação da escala NEP, conforme Quadro 2, se deve para avaliar a particularidade do local, pois a região é de importante turismo e de alta fragilidade da natureza, caracterizando a grande movimentação de pessoas de diferentes locais do planeta Terra. Consequentemente, exploração inadequada dos recursos sociais, ambientais e econômicos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como exemplo de resultado, que utiliza a escala NEP para a avaliação da percepção ambiental dos três grupos anteriormente discutido na introdução, cita-se a pesquisa feita por NASCIMENTO-SCHULZE (2000b) na cidade de Florianópolis do estado de Santa Catarina ―Os 366 sujeitos demonstraram preocupação em relação à preservação da natureza e ao futuro dos seres humanos assim como atitudes extremamente favoráveis ao novo paradigma ambiental‖ É importante ressaltar que homens e mulheres contemporâneos têm passado por mudanças profundas de valores nas últimas décadas, valores estes que são adotados por uns e resistidos por outros (INGLEHART, 1990), sendo que as questões ambientais têm estado no centro deste embate. Portanto, não é surpreendente que tenhamos encontrado resultados tão favoráveis ao novo paradigma ambiental por parte dos turistas e moradores de Florianópolis, seja o de moradores ou o de mediadores, NASCIMENTO-SCHULZE (2000b).Para tanto, a realidade do estado do Rio Grande do Norte é diferente do estado de Santa Catarina, espera-se resultados diferentes. O Nordeste é de alta especulação turística, de alta fragilidade ecossistêmica e de carente do mais básico para a condição humana, como o saneamento básico. Por isso, se faz necessário a avaliação da percepção desse povo que carece de tudo. Atualmente, nota-se que o vilarejo Praia da Pipa apresenta diversas complicações ambientais: Falta coleta seletiva dos resíduos sólidos urbanos; Acumulação de resíduos pelas ruas por tempo indeterminado; Ocupação urbana inadequada; Falta de fiscalização ambiental; Falta de sensibilização ambiental, principalmente no turismo; Poluição das águas e areia da praia; Superexploração do local, alguns turistas já ―fogem‖, buscando outros locais menos invadidos para gozar de suas férias. Por outros tantos problemas que a Praia da Pipa vive, é de suma importância à aplicação do Novo Paradigma Ecológico juntamente com os dados qualitativos que o local nos apresenta, para que se possa avaliar a percepção ambiental das pessoas que ali frequentam e redirecionar para uma percepção global. Pois a Praia da Pipa é conhecida mundialmente. A partir da avaliação, qualitativa e quantitativa, é possível fazer a divulgação desse resultado e fomentar ações que visem à sustentabilidade do local, sem que entre ainda mais em decadência e abandono, tanto pelos turistas, pelos moradores e pelos empresários de Tibau do Sul. O investimento em Educação Ambiental (entre outros BUTTEL & FLINN, 1976) pode ser um caminho para o desenvolvimento do paradigma da comunidade da Praia da Pipa, visando acompanhar a realidade global, não apenas como objetivo ético da sociedade, mas também como opção por um desenvolvimento econômico sustentável, visto que a lacuna entre empresas focando um mercado interno sem exigências, e a possível participação dessas em um mercado externo com exigências pode ser diminuído e facilitado com uma evolução do mercado interno. Porter e Linde já 367 afirmavam que ―uma regulação ambiental correta contribui para o aumento da competitividade das empresas ( ) através do estimulo a inovação‖ (PORTER e LINDE, ) CONCLUSÃO Conclui-se que é de suma importância a aplicação deste estudo para validar a sistematização ora apresentada, para a avaliação, qualitativa e quantitativa, e fazer a divulgação desse resultado e fomentar ações que visem à percepção ambiental global. Apesar das limitações encontradas no presente estudo, acredita-se que a partir dos resultados obtidos orientados para a sistematização da aplicação da escala NEP a locais com as mesmas características da Praia da Pipa, poderão surgir outras pesquisas que se proponham a analisar a consciência ambiental, visto que um dos objetivos de um estudo acadêmico é ampliar o caminho para pesquisas futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTO, T.S. Responsabilidade socioambiental setor hoteleiro de Pipa/RN. 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Cambridge: Cambridge University Press, 1980. 369 IDENTIDADES E DINÂMICAS TERRITORIAIS: O PROCESSO DE ARTICULAÇÃO DO TURISMO RURAL EM AREIA/PB Vanderleia dos SANTOS (PPGDR–UEPB/UFCG) – [email protected] Luciana Gomes da SILVA (Colégio Santa Rita) – [email protected] Perla Joana Souza GONDIM (PPGA–CCA/UFPB) – [email protected] Flávio Ricardo da Silva CRUZ (PPGA–CCA/UFPB) – [email protected] Resumo A atividade turística tem se firmado como uma alternativa econômica promissora, sendo capaz de gerar desenvolvimento econômico às localidades e melhorias nas condições de vida de seus habitantes. Dentre os vários segmentos turísticos, destaca-se o que valoriza o espaço rural, viabilizando novas funções econômicas para o local, fomentando iniciativas de cunho social e movimentos de preservação ambiental. O município de Areia, na Paraíba, vem a ser representativo nessa atividade por possuir engenhos que, além de resguardarem aspectos arquitetônicos do século XIX e práticas produtivas tradicionais, são formados por destacado patrimônio natural. Dentro desta perspectiva, foram analisados os aspectos constitutivos da dinâmica territorial em Areia, em cujo espaço rural são desenvolvidas atividades produtivas pautadas na tradição dos engenhos de cana-deaçúcar. A partir de uma abordagem descritiva e qualitativa, com técnicas de investigação e procedimentos metodológicos pautados em entrevistas e visitações à área de estudo, o trabalho realizado analisou as representações que os atores sociais (proprietários de engenhos e funcionários) e institucionais (SEBRAE e Secretaria de Turismo do município) constroem sobre o espaço rural areiense, e quais as dinâmicas territoriais com respaldo turístico incrementadas nas unidades produtivas em questão. Após reflexões, constatou-se que os usos do território, embora apresentem avanços efetivos, enfrentam variados aspectos limitantes quanto à promoção do turismo rural na localidade. Palavras-chaves: Representações Sociais; Desenvolvimento local; Turismo Rural. Abstract Tourist activity has established itself as a promising economic alternative, and able to generate economic development for places and improvements in the conditions of its inhabitants‘ life Among the various tourism segments, highlight the rural areas value, creating new economic roles for local initiatives fostering of social and environmental preservation movements. The City of Areia, in Paraiba, comes to be representative in this activity by mills that have, besides safeguarding architectural aspects of the nineteenth century and traditional production practices, are formed by outstanding natural heritage. Within this approach, we analyzed the constitutive aspects of territorial dynamics in Areia, in which rural areas are developed productive activities guided by the tradition of the sugar cane plantations. From a descriptive approach and quantitative research techniques, with methodological procedures and guided by interviews and visitations in the study area, the work analyzed the representations that social actors such as (owners of mills and employees) and institutional (SEBRAE and Tourism Department Municipality) build on the countryside areiense, and in what territorial dynamics tourist augmented with support in the production units concerned. Upon reflection, it was found that the uses of the territory, although they present effective advances, face various aspects limiting as to promote rural tourism in the locality. Keywords: Social Representations; Local Development; Rural Tourism. 370 Introdução Uma das estratégias de grande significância quanto à busca de valorização dos aspectos locais para a viabilização do crescimento diz respeito às atividades turísticas. Com o aumento do consumo simbólico, o turismo recebe um forte impulso, constituindo-se um elemento de desenvolvimento quando é capaz de oferecer oportunidades aos empreendedores, geração de emprego e renda para os membros da comunidade, e melhorias na qualidade de vida da população. E dentre os vários segmentos turísticos, destaca-se o que valoriza o espaço rural por possibilitar – além da revitalização econômica, social e ambiental – a promoção do patrimônio cultural e a valorização dos produtos característicos da região. No espaço rural areiense são desenvolvidas atividades produtivas pautadas na tradição dos engenhos de cana-de-açúcar, como a confecção de mel, melaço, rapadura e aguardente. A produção, além do valor comercial, possui expressiva representatividade cultural por apresentar modos de ser e fazer a muito realizados. Os indícios do passado podem ser encontrados nos engenhos que continuam atuando no espaço rural. Tal forma de condução nessas áreas possibilita a visualização de práticas produtivas tradicionais, o que acaba por se tornar um atrativo capaz de fomentar o Turismo Rural. Dessa forma, há a necessidade de se entender quais as representações e dinâmicas territoriais que se formam a partir dos significados e usos que os atores sociais (proprietários de engenhos, trabalhadores, SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –, e Secretaria de Turismo de Areia) constroem sobre esse espaço. Além dos aspectos levantados, aborda-se a trajetória desenvolvimentista na área rural de Areia, discorrendo sobre a precariedade das políticas públicas voltadas para o crescimento de atividades turísticas na zona rural, e as contribuições que a atividade gera com relação ao crescimento econômico e social na região. Importância dos Engenhos Areienses e Formação da Identidade Territorial O Brasil tem sua história econômica marcada pela importância aferida ao espaço rural, mediante as concepções políticas e a realidade objetiva. Nos tempos que se seguem, as intervenções se desdobram e dotam o rural de novas significâncias, de acordo com as representações que vão sendo formuladas pelos atores sociais. Essa reorganização faz referência às relações e às circunstâncias que envolvem os homens e o tratamento por eles desprendido sobre território com base nas identidades formuladas, uma vez que o território influencia o aspecto econômico, social, político e cultural dos grupos distintos, originando um conjunto de símbolos que o nutrem de significados. 371 Segundo ALMEIDA: ( ) ―o território é, antes de tudo, uma convivialidade, uma espécie de relação social, política e simbólica que liga o homem à sua terra e, simultaneamente, estabelece sua identidade cultural‖ (ALMEIDA, ,p ) O uso do território, portanto, se constrói a partir da dinâmica dos lugares com efeito integrador. E em se tratando do espaço rural em Areia, as representações são formuladas de acordo com a significância que o território passa a ter para os diferentes atores de promoção do desenvolvimento, sejam estes os donos de engenhos, os trabalhadores envolvidos nas atividades realizadas nessas unidades produtivas, a Secretaria de Turismo do município, ou o SEBRAE. Areia é reconhecida por alguns estudiosos, a exemplo de ALMEIDA (1957), como um município de grande expressividade enquanto pólo econômico do brejo paraibano no século XIX com a cana-de-açúcar, que passou a ocupar maior espaço nas zonas de produção agrícola da região, acionando a indústria de beneficiamento do produto nos engenhos fabricantes de açúcar e de rapadura. (CAVALCANTI FILHO; MOURA, 2003). Com as pragas que invadiam as plantações da cana-de-açúcar, entretanto, Areia conheceu um dos períodos mais caóticos de sua história econômica, agravada pela construção da estrada de ferro no final do século XIX que, ao privilegiar a região circunvizinha e excluir Areia, dificultou ainda mais sua condição de competitividade comercial (ALMEIDA, 1957). Numa tentativa de sanar as dificuldades, no início do século XX foram realizadas as primeiras grandes plantações de café. Mas devido a novas pragas, a cultura agrícola teve que ser substituída pelo agave, cuja produção conseguiu, enfim, alavancar a economia do município, tornando-o novamente competitivo. Porém, o retraimento do mercado na segunda metade do século XX, fez com que, mais uma vez, esse produto agrícola promissor para a região não conseguisse lograr êxito. A alternativa foi voltar ao plantio da cana-de-açúcar e se deter à produção da rapadura e aguardente para comercialização, cuja prática se desenvolve até os dias atuais. E mesmo havendo a oscilação econômica, é graças aos seus momentos de ascensão que Areia conseguiu erguer construções opulentas ou mais simples que ostentam aparência característica das construções do século XIX, com fachadas trabalhadas e sobrados ricos em detalhes que sugerem a prosperidade do local. Todo o desenvolvimento agrário possibilitou à zona urbana um dinamismo comercial pouco visto em outras cidades. Ou seja, a produção agrícola dotou a cidade de uma prosperidade percebida, tanto nas relações comerciais de seu centro, como nas construções arquitetônicas, no florescimento cultural e na projeção política de seus membros. (CAVALCANTI FILHO; MOURA, 2003). Toda essa importância histórica do rural na formulação da sociedade, da economia, da política e da cultura faz com que os proprietários de engenho, descendentes dos principais produtores de períodos anteriores, sintam um misto de orgulho e saudosismo. Um dos proprietários 372 do Engenho Tapuio40, afirma terem sido os engenhos os principais responsáveis pela projeção econômica e cultural que a cidade de Areia possui hoje. As construções do centro histórico têm sua base nas prósperas iniciativas comerciais desenvolvidas nas unidades produtoras. Com base na colocação exposta, percebe-se que os engenhos possuem uma importância justificada num passado próspero, que permitia aos seus proprietários investirem no crescimento da zona urbana, sendo eles os responsáveis pela construção e aquisição dos mais notórios imóveis. Esse aspecto era utilizado como forma de destaque social, e hoje essa simbologia persiste, como um reclamo à lembrança dos que antigamente contribuíram para que toda a riqueza cultural e arquitetônica dotasse a cidade de uma singularidade notória. Ter o sobrenome de um desses grandes senhores de engenho do passado é um elemento de visibilidade social, embora economicamente esses engenhos não possuam mais a mesma relevância. O desenvolvimento motivado pela cana-de-açúcar no decorrer dos séculos, fez com que os olhares se voltassem para Areia sob outro viés. Para um dos proprietários do Engenho Mineiro41, essas unidades produtoras têm muito a contribuir quanto ao aspecto cultural. Segundo ele, o Engenho Mineiro mantém uma estrutura tradicional, com construções e maquinário antigos, o que é um importante elemento para o conhecimento dos costumes e do modo de produção. No momento atual, os engenhos têm recebido novas motivações para seu funcionamento, sendo a aguardente e a rapadura dois dos principais produtos feitos para comercialização, e que têm propiciado a geração de empregos e renda para o município. Esse aspecto também é lembrado pelo proprietário do Engenho Bujari quando indagado sobre a importância econômica dos engenhos na atualidade42. De acordo com o referido proprietário, dos engenhos areienses saem cachaças de qualidade, vendidas para o brejo e o sertão. Portanto, é possível afirmar que os engenhos continuam sendo de grande importância para a economia local. As representações desprendidas sobre o território, em se tratando do grupo específico dos donos de engenhos, têm na vertente econômica a maior visibilidade, posto que o espaço é entendido como fonte de recursos. Sob outro olhar, é possível se perceber o entendimento do território com base na vertente cultural quando se evidencia o caráter simbólico e subjetivo das unidades produtoras. Os engenhos areienses, enquanto espaços de vivência e de entendimento múltiplo, têm uma importância que abrange outros grupos sociais, a exemplo dos trabalhadores, homens e mulheres responsáveis pelas atividades desempenhadas nessas unidades produtoras. Embora tenha havido 40 Entrevista realizada no dia 12 de abril de 2012. Entrevista realizada no dia 03 de maio de 2012. 42 Entrevista realizada no dia 25 de maio de 2012. 41 373 uma saída massiva dos habitantes da zona rural43, é possível localizar alguns grupos familiares dentro dos engenhos Mineiro, Bujari e Triunfo. Entre os moradores mais antigos do Bujari, o território possui uma representatividade ampla. Para uma das mulheres que nasceu e cresceu na propriedade44, o engenho lhe remete a boas recordações, desde os tempos de seus avós quando estes realizavam trabalhos diversos, indo do plantio da cana-de-açúcar à confecção da rapadura. As tradicionais atividades foram realizadas também por seus pais, que a levavam consigo quando se destinavam aos trabalhos produtivos. Para um dos moradores do Engenho Mineiro45, essa unidade produtora é o cenário no qual sua vida foi se construindo por gerações seguidas, afirmando não se imaginar deixando a casa em que mora, nem o engenho que marcou sua infância, onde é possível recordar tantos momentos bons. Seus relatos misturam o saudosismo, a identidade com o território e a importância do mesmo para a subsistência de toda uma família por gerações. O engenho é, portanto, constituído por elementos simbólicos e concretos, unindo subjetividade e objetividade na elaboração de consciências individuais e conjuntas, com base na perspectiva integradora. Para BOSSÈ ( , p ), os atores sociais ( ) ―recebem e percebem, constroem e reivindicam identidades cristalizadas em suas representações e em suas interpretações dos lugares e das relações sociais”. As representações são construídas no transcorrer da história por meio de práticas discursivas que são acrescidas mediante novas vivências e novos relatos, que muitas das vezes vêm a legitimar antigos sentidos e valores atribuídos aos espaços. Os engenhos areienses, nutridos dessas representações, surgem como lugares de pertencimento, já que seus elementos constitutivos vão para além da materialidade, sendo perpassados por significâncias que possibilitam a integração entre o território e os atores sociais. Seguindo a tendência capitalista, o SEBRAE e a Secretaria de Turismo do município sugerem que as localidades são espaços nutridos de potencialidades que podem ser exploradas em vista ao desenvolvimento. Para os agentes que representam esses órgãos institucionais e que buscam construir parcerias com a sociedade areiense, a zona rural do município possui grande expressividade cultural, arquitetônica e histórica. De acordo com os referidos órgãos, os elementos diversos (como a culinária típica; a ambiência natural e construída; os costumes na fabricação da cachaça, melaço e rapadura), unidos a iniciativas planejadas e ousadas de promoção da tradição local poderiam se apresentar como um grande atrativo na região. 43 De acordo com os dados oferecidos pelo IBGE, a população rural areiense, no ano de 1970, era de 22.712. Numa queda considerável, em 2010 o mesmo órgão afirmou que o número de habitantes da zona rural areiense passou para 9.231. 44 Impressões expressas durante entrevista, no dia 12 de maio de 2012. 45 Entrevista realizada no dia 13 de maio de 2012. 374 As produções culturais dos engenhos, seus artefatos e os atributos naturais representam, para o SEBRAE e a Secretaria de Turismo, parte integrante das possibilidades de crescimento econômico para a cidade de Areia, principalmente a partir da associação com o turismo. Vendo o espaço rural como um elemento de promoção do local mediante iniciativas turísticas, essas instituições oferecem apoio por meio de capacitações, parcerias com os proprietários, implementação de associações de turismo rural, material gráfico com as etapas para o alcance do desenvolvimento na zona rural, entre outras medidas. Para os representantes do SEBRAE e o gestor de turismo46, os engenhos são vistos sob a perspectiva materialista quando o destaque recai sob a possibilidade que a região possui de gerar emprego e renda. Embora trabalhe com o cultural, como a forma tradicional de confecção dos produtos advindos da cana, o artesanato realizado na zona rural, o fim último do território seria o desenvolvimento econômico que ele pode propiciar se trabalhadas suas potencialidades. Com esse discurso, o SEBRAE consegue vencer certas oposições às iniciativas de fomento à indústria do conhecimento e do patrimônio. Segundo HARVEY (2006, p 3 ), ―o que está em jogo é o poder do capital simbólico coletivo, isto é, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a algum lugar, dotados de um poder de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral‖ Essa é a representatividade que o território areiense desperta no SEBRAE e na Secretaria de Turismo, um local dotado de riquezas naturais, arquitetônicas e culturais que pode ser explorado em nome da geração de emprego e renda por meio de atividades turísticas. Ainda que predominantemente materialista, a perspectiva em voga com relação ao SEBRAE e à Secretaria de Turismo também passa pela perspectiva integradora apresentada por HAESBAERT (2010)47, posto que a cultura está em evidência na busca pela promoção do local. Os modos de ser e fazer nos engenhos entram como um atrativo essencial, um produto a ser consumido, o que mostra a junção entre a produção imaterial e as necessidades materiais numa mesma esfera. Assim, surgem variadas práticas sociais e dinâmicas territoriais, por ora dando ênfase ao econômico, por ora destacando os aspectos culturais, ou políticos, ou sociais, dependendo da necessidade vigente e das expectativas a serem alcançadas. O território onde se desenvolvem as dinâmicas territoriais passa a ser visualizado como espaço de ação, no qual os grupos sociais apresentam seus objetivos de uso e forjam seus movimentos de construção, intercalando 46 Entrevista realizada com um dos representantes do SEBRAE e o gestor de Turismo do município no dia 25 de maio de 2012. 47 Para Haesbaert, o território é formado por questões materiais (tendência tradicional de definição do território), mas também é ideal quando desperta sentimentos de pertencimentos e se torna um elemento simbólico para os grupos sociais que dele fazem parte, numa perspectiva que integra o material e o imaterial. 375 subjetividade e prática. Os diversos atores são chamados a se posicionar e atuar frente às roupagens que revestem o espaço, gerando relações de mediação, ou de justaposição, ou de contradição que tanto podem unir como separá-los ideologicamente, tornando complexa e fascinante a realidade que nele se constrói. Turismo Rural em Areia: Avanços e Desafios O município de Areia, conta hoje com aproximadamente 24 engenhos (MIRANDA, 2007), entre eles se encontram o Engenho Triunfo, Engenho Tapuio, Engenho Várzea do Quati, Engenho Carro, Engenho Ipueira. Além da maioria realizar uma produção artesanal da aguardente e da rapadura, resguardam construções do século XIX e início do século XX, o que se torna um atrativo para a região. Um dos exemplos é a Capela do Engenho Ipueira, dedicada a São João; a Casa Grande da Várzea do Quati; e os vários imóveis do Engenho Mineiro, um dos remanescentes de 1880, que também conserva os móveis antigos da Casa Grande48. No período áureo da cultura canavieira, no século XIX, Areia chegou a computar um número aproximado de cem engenhos. Com a estagnação e a falta de fortalecimento da atividade nos anos que se seguiram, esse número decresceu significativamente (FERREIRA, 2010, p. 57). A influência dos engenhos tem uma expressividade tão marcante para o município que um dos pontos mais emblemáticos e valorizados é o Museu da Rapadura. Situado nas proximidades da cidade, o museu guarda em si elementos de valor histórico, tanto no que concerne à arquitetura da casa grande e da casa da moenda, como pelos objetos que preenchem ambas as edificações. A casa grande traduz a pomposidade dos grandes proprietários em suas muitas janelas e portas, sinal de prosperidade e poder, além de vários móveis de estilo colonial; na casa da moenda podem ser encontrados utensílios portugueses para a depuração do caldo, e a moenda, própria para tração animal. No interior do Campus da UFPB está o Museu do Brejo Paraibano (Museu da Rapadura), formado por um antigo casarão de fazenda e um engenho dos velhos tempos, com a moenda que era puxada por bois – um dos atrativos turísticos mais importantes de Areia. (BRASIL, 2009, p.70). Os elementos histórico/culturais que a prosperidade econômica agrícola gerou fazem de Areia um município de destaque no brejo paraibano. Pela importância aferida aos seus elementos arquitetônicos e os vários artistas que nela tiveram seu berço (a exemplo de Pedro Américo, José Américo de Almeida, Horácio de Almeida, Aurélio de Figueiredo e tantos outros), Areia foi elevada 48 Informações adquiridas mediante entrevista com os representantes do SEBRAE e com o gestor de turismo de Areia, no dia 25 de maio de 2012. 376 à categoria de Patrimônio Histórico Cultural da Paraíba, pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba), em 1979. Embora o tombamento só fizesse referência ao seu centro histórico, é inegável o elo entre o rural e o urbano nesse processo, uma vez que, como já foi exposto, a exuberância de sua arquitetura se deva ao sucesso dos empreendimentos agrícolas realizados nos engenhos. Entre 2005 e 2006, o município passa por uma nova avaliação e, mais uma vez, seu centro é reconhecido como patrimônio histórico, cultural, tendo seu entorno valorizado mediante sua classificação de patrimônio paisagístico. O tombamento de 2006 é assinado pelo IPHAN, a partir do qual o centro de Areia, assim como seu entorno e sua paisagem, passa a ser considerados patrimônio Nacional, com a Portaria nº 073, de 29 de agosto de 2006 (SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO IPHAN, 2007). Um dos intuitos dos tombamentos apresentados é revestir a cidade de Areia de significância simbólica capaz de viabilizar sua ascensão enquanto ponto turístico. De acordo com OLIVEIRA (2002), o tombamento realizado pelo IPHAEP se dá na década de 1970, quando o Brasil passa a receber mais investimentos no que diz respeito às atividades de cunho turístico, numa tentativa de soerguimento econômico para as regiões menos industrializadas. O discurso envolvendo a necessidade de conservação dos elementos histórico-culturais e sua associação às atividades turísticas também é defendido pelo IPHAN, quando este afirma que os ―engenhos, é claro, estão interessados no incremento do turismo em Areia. Vários já abrem as portas para os visitantes e lhes permitem percorrer suas instalações. Alguns têm restaurantes onde servem comidas típicas‖ (BRASIL, 2009, p.65). De acordo com um dos representantes do SEBRAE, a importância da zona rural de Areia reside primeiramente no fato de ter sido ela uma localidade nascida como entreposto comercial entre o sertão e o litoral, quando os tropeiros faziam o percurso pelo interior e usavam esse espaço como paragem, dando origem a um dos principais povoados do brejo nos séculos XVII e XVIII. Para os representantes do referido órgão, a paisagem que circunda Areia é de uma beleza singular que, unida à sua importância história e econômica, torna-se extremamente atraente. E são os engenhos o registro de toda essa riqueza comercial, cultural, arquitetônica. Por toda essa expressividade, Areia apresenta um grande potencial turístico no âmbito cultural, urbano e rural. Pensando dessa forma, o SEBRAE busca novas alternativas na busca de superar os problemas advindos com os novos tempos. Uma das iniciativas mais consistentes diz respeito ao projeto A Cidade de Areia nos Roteiros Turísticos do Brejo Paraibano, cuja iniciativa contou com a parceria da AMAR (Associação dos Amigos de Areia), e cujo intuito é possibilitar a integração entre os municípios da região interiorana da Paraíba. Nesse projeto é desenvolvido o evento Caminhos do Frio – Rota Cultural, que propicia ao turista que se destina a Areia, conhecer seus 377 vários atrativos culturais, participar de trilhas ecológicas e visitações a alguns dos engenhos da região. Outra alternativa encontrada para a viabilização do turismo na região é o projeto Caminhos dos Engenhos, que tem nas iniciativas do SEBRAE um de seus principais aportes. Esse projeto, (...) se desenvolve no Brejo e na Várzea da Paraíba, que é a região litorânea. Trata-se de um inventário, uma identificação preliminar de todos os engenhos que foram implantados nessas áreas ao longo de 400 anos, às margens do rio Paraíba, do litoral à zona da mata. No município de Areia, fizemos uma parte da pesquisa histórica, uma radiografia de todas as unidades, muitas delas desaparecidas. Outras ainda estão em funcionamento ou em ruínas. A partir dessa radiografia será possível identificar os exemplares mais significativos para se ter uma referência sobre o modo de construir essas fábricas, e sua disposição no terreno. Além das instalações de produção, havia a casa-grande, a capela, a senzala e a bagaceira, área onde o bagaço da cana-de-açúcar era acumulado. A idéia é obter recursos para recuperar esses elementos. (BRASIL, 2009, p.87). Os projetos implantados na região têm motivado os proprietários dos engenhos a melhorarem sua estrutura física para a recepção dos turistas, e a buscarem realizar uma maior e melhor produção da cachaça e da rapadura. Entretanto, as ações realizadas até então não são suficientes para fazer com que a economia da região tenha expressivos índices de desenvolvimento (incluindo a questão social) mediante a implementação do turismo rural. O número de pousadas e restaurantes é baixo e, embora tenha havido melhorias significativas (atrativos como feiras artesanais, concursos gastronômicos, degustação de bebidas produzidas nos engenhos e um maior movimento integrador entre o urbano e o rural), ainda são insuficientes para que a região seja considerada um dos principais pontos de atração turística na Paraíba. Para o gestor de turismo, os engenhos de aguardente, mel e melaço traduzem a identidade e a diversidade cultural da população, simbolizando a tradição no plantio da cana-de-açúcar, na forma de trabalhar a garapa, nas festas populares, na arquitetura representativa de outras épocas. Quanto às iniciativas que visem a possibilitar a inserção de Areia nos roteiros turísticos, de forma consistente e satisfatória, o gestor afirma que algumas estradas de acesso aos engenhos foram melhoradas, houve uma maior divulgação dos atrativos rurais, e cursos de capacitação para os guias oferecerem um melhor atendimento aos turistas. Entretanto, afirma que muito ainda deve ser feito para que seja despertado o interesse do turista em visitar o espaço rural do município areiense. Um dos proprietários do Engenho Tapuio afirma que as melhorias são mínimas, resumindose à passagem de tratores pelas estradas de barro que, no inverno sequencial, apresentam os mesmos buracos, os mesmos sulcos. As parcerias entre poder público e iniciativas privadas para a abertura de restaurantes ou pousadas nas proximidades são quase inexistentes. Além disso, os encartes com divulgação dos atrativos municipais dão bem mais ênfase ao centro histórico, à zona urbana, sendo deficitários quanto à propagação dos elementos rurais. 378 Portanto, ―somente configurar-se como potencial turístico não lhe dá a primazia de desenvolver o turismo‖ (SIMÃO, ,p ) É imprescindível a crença nas possibilidades e maior investimento, tanto do setor público, quanto do setor privado. Só assim haveria a agilização e efetivação dos ensejos de tornar o município de Areia um ponto turístico reconhecido na Paraíba, nas vertentes cultural, histórica, urbana e rural. Para haver o desenvolvimento do turismo, é essencial que se construa um modelo de relações entre as organizações locais e os diversos atores envolvidos no processo de construção do território, levando-se em consideração a história da comunidade, a origem das suas atividades econômicas e a importância de cada grupo para a promoção do local. Considerações Finais Em todos os períodos da História do Brasil se percebe a importância do rural como base de sustentação para a economia, a partir da implementação de várias culturas agrícolas, sendo a canade-açúcar uma das mais destacadas. Na Paraíba a presença do rural se sobressai com o funcionamento dos engenhos. Esses núcleos produtores têm forte influência sobre as representações territoriais formuladas pelos distintos atores sociais de Areia, sejam eles proprietários, trabalhadores, representantes do SEBRAE, ou gestores da Secretaria de Turismo do município. Para os proprietários, os engenhos se apresentam como espaços de perpetuação de uma história econômica, em cujas bases as famílias tradicionais se destacam, dando-lhes no presente uma maior visibilidade social. Embora sem possuir a efervescência produtiva de tempos de outrora, são os engenhos defendidos enquanto locais que resguardam a cultura agrícola da região. Por sua vez, os trabalhadores dos engenhos vêm nas unidades produtoras um ponto de sustentação, onde podem suprir suas necessidades vitais, praticando atividades que herdaram de seus parentes e que são acostumados a desempenhar. A realização desses trabalhos fortalece os laços identitários que os unem ao espaço e despertam o saudosismo de tempos de outrora, nutrindo os engenhos de aspectos simbólicos e representativos. Para o SEBRAE e a Secretaria de Turismo, os engenhos são lugares capazes de fortalecer os laços identitários da população por resguardarem em si aspectos da cultura material e imaterial desenvolvida na região durante séculos. Numa tentativa de soerguimento da economia local, as entidades buscam a implementação do desenvolvimento pautado no turismo rural. Alguns passos foram dados nessa direção, unindo proprietários de engenhos, representantes do SEBRAE e da Secretaria de Turismo. Entretanto, com o presente estudo, constatou-se a fragilidade das políticas voltadas para o incremento do turismo rural na região. Embora alguns avanços sejam percebidos, as ações 379 desprendidas não conseguem motivar os grupos privados a fazerem investimentos mais ousados na busca de tornar mais atrativas suas propriedades ou estabelecimentos. Projetos são desenvolvidos, o aumento da produção de mercadorias típicas da região acontece, guias turísticos são preparados, investimentos são realizados, mas sem a consistência necessária para a consolidação da zona rural de Areia como ponto turístico capaz de possibilitar um desenvolvimento sócio-econômico satisfatório. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia: Memórias de Um Município. Ministério da Educação e Cultura: João Pessoa, 1957. ALMEIDA, M. G.; CHAVEIRO, E. F.; BRAGA, H. C. (Orgs.). Geografia e cultura: Os Lugares da Vida e a Vida dos Lugares. Goiânia: Vieira, 2008. BOSSÈ, Mathias Le. (2004). 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[email protected] [email protected] INTRODUCCIÓN El presente documento pretende presentar una síntesis de la propuesta de desarrollo para la realización de prácticas turísticas responsables en el Conjunto Urbano de La Insigne y Real Basílica Catedral de la Asunción de la Bienaventurada Virgen María de la ciudad de León-Nicaragua; la cual representa un Patrimonio de la Humanidad recién declarado en el ano 2011.Este conjunto urbano se encuentra enclavado en la zona central de la ciudad de León-Nicaragua. En este conjunto no se ha desarrollado en su totalidad el turismo, siendo esta una zona apta para el desarrollo del turismo cultural por poseer el legado histórico -artístico representativo de la arquitectura barroca y neoclásica, que datan del período colonial (siglo XVIII) y por poseer una gran variedad de recursos culturales que se consideran con un alto potencial para ser aprovechados para el desarrollo responsable de la actividad turística. Partiendo de que existe un problema de falta de aprovechamiento óptimo de la actividad turística en un área con un alto potencial, en donde han surgido elementos para el turismo de forma espontânea sin la planificación adecuada, sin orientación, regulación y de forma aislada. Por tal razón seleccioné este espacio para proponer un plan de desarrollo turístico que plantee un aprovechamiento integral de los recursos contenidos en el objeto de estudio. OBJETIVO Disenar una propuesta de desarrollo turístico responsable para el conjunto urbano de la Catedral de la Asunción, con características de utilización para prácticas adecuadas a la tipologia de un modelo de turismo cultural. METODOLOGIA Para la realización de esta investigación se utilizó el método inductivo- deductivo. El método de pensamiento utilizado fue el clínico, realizando una revalorización y actualización del diagnóstico existente, en los estudios realizados en el Centro Histórico de la 381 ciudad de León: "El Plan Especial de revitalización del Centro Histórico", "El Plan Preliminar de Desarrollo Turístico Sostenible - Abril 2001" y El Proyecto de "Mejoramiento Físico Catedral de León y su entorno urbano - Abril 2002". Para ello se aplicaron aspectos generales del Turismo Cultural a los problemas particulares presentes en el Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, el cual es el objeto específico de estudio. El método de trabajo fue explicativo en el que se analizaron variables como el tipo de turismo, las condiciones de la infraestructura, entre otras. Como parte importante de este trabajo, se realizó un análisis FODA, un inventario de los facilitadores e incentivadores para la oferta turística existente en el área, entrevistas al responsable de la oficina del Centro Histórico de la ciudad de León. Se aplicaron encuestas que fueron dirigidas a los ciudadanos leoneses y visitantes nacionales y extranjeros. El diseno de la investigación fue no experimental, de tipo transversal en el que no se manipularon las variables. En el estudio se analizaron la situación de la oferta y la demanda, en relación a la actividad turística ya existente en el Conjunto y en relación a la actividad potencial. Para la realización de la propuesta se disenaron y aplicaron unas fichas de evaluación de la oferta y la demanda turísticas existente el conjunto urbano, se analizaron unas fichas de evaluación del estado de conservación del patrimonio monumental, expuestas en el plan de revitalización del Centro Histórico y se aplicaron encuestas para determinar el punto de vista de la población local y de los turistas y visitantes que a diario visitan el Centro Histórico de la ciudad de León. A través de un diagnóstico utilizando como metodología el FODA, se identificaron las principales características del Conjunto Urbano contrastándolas con los resultados que brindaron los instrumentos de investigación aplicados. Dando como resultado la siguiente síntesis: SÍNTESIS DEL DIAGNÓSTICO Principales Fortalezas • El conjunto urbano de la Catedral posee espacios con potencial turístico centrado en valores culturales y artísticos. • La mayor parte de la arquitectura monumental, civil y religiosa dei conjunto está bien conservada. • Interés académico y de la sociedad civil en el desarrollo de la actividad turística. • Clima favorable la mayor parte del el ano. • Surgimiento de iniciativas para la preparación de actividades turísticas. Por ejemplo: el patronato de turismo. 382 Principales Debilidades • Desaprovechamiento de los recursos turísticos existentes. • Escasez de profesionales especializados para la actividad turística cultural. • Actitud poco profesional dei personal de contacto con el visitante. • Descoordinación de acciones en el sector público y privado • Falta de imagen turística. • Falta de cultura turística. • Muy poca presencia de empresas turísticas especializadas. Principales Oportunidades • Preservación y recuperación física de la arquitectura colonial. • El planeamiento y la ordenación dei territorio. • Nuevas fuentes de empleo para la población local. • Integración de la riqueza patrimonial dei conjunto urbano de la Catedral en la conformación de patrimonios históricos de la Humanidad, declarados por la UNESCO. • Los benefícios que otorga la Ley Nacional de Incentivos para la industria turística • La existencia de alianzas estratégicas de mercado para ejercer un mayor liderato en el mercado turístico. Principales Amenazas • Descaracterización cultural. • Ocupación ilegal de espacios. • Utilización y manipulación política de iniciativas dei turismo cultural en el conjunto urbano. • La falta de planificación. La demolición y pérdida de importantes patrimonios arquitectónicos y monumentales, por la sustitución de nuevas construcciones. • La vulnerabilidad natural de la zona. • La falta de limpieza en el área. 383 SÍNTESIS DE LA PROPUESTA PARA LA IMPLEMENTACIÓN DE LA PLANIFICACIÓN ESTRATÉGICA TURÍSTICA EN EL CONJUNTO URBANO DE LA CATEDRAL DE LA ASUNCIÓN La propuesta para la implementación de la planificación del Turismo Cultural en el Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, se basa fundamentalmente en el Modelo funcional del patrimonio, expuesto por PRADO (1996), quien plantea una subdivisión de acuerdo a la función principal que se desee destacar entre la fusión turismo y patrimonio cultural- monumental. De dicho planteamiento se retomó el "Modelo Patrimonial", el cual hace referencia al desarrollo de la nueva Museologia, ésta permite el aprovechamiento de recursos que hasta hoy no se han potencializado y que representan elementos de mucho interés para el Turista Cultural. También se retomaron los planteamientos realizados por FERNÁNDEZ Y LEBOREIDO (1994), ya que ellos proponen una clasificación sectorial para el caso de Centros Históricos, al igual que las acciones que propone ANTOINE (1987) y las fases para la planificación Interpretativa en los conjuntos Históricos-monumentales. El enfoque que se pretende arraigar en esta propuesta es el de convertir el turismo cultural y patrimonial en un instrumento eficiente para el desarrollo local sostenible, dando siempre prioridad a la preservación del patrimonio. En la propuesta no se retomó fielmente un modelo previamente establecido, sino que se disenó uno propio con la finalidad de acercarlo más a las características propias y hacerlo más autêntico, basado en las diversas teorias retomadas de diferentes autores, que han realizado modelos para los espacios urbanos con caracteristicas similares o parecidas al Conjunto Urbano seleccionado y que además no se propone en función propiamente del área de estudio ya que se considera, que la planificación turística debe realizarse como un todo armónico, para que podamos hablar de una planificación responsable social y culturalmente. Por tanto se debe dejar claro, que no se persigue saturar, ni destruir el patrimonio monumental y cultural existente, sino; dotarlo de medios para que se logre cumplir el objetivo fundamental de desarrollar el espacio turisticamente conservando el patrimonio. Objetivos de la propuesta de aprovechamiento turístico. General: • Proponer estrategias de planificación para el Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, que sean capaces de desarrollar el Turismo Cultural de una forma sostenible conservando el patrimonio histórico-cultural y monumental de la ciudad. 384 Objetivos específicos • Indicar estrategias que permitan mejorar la imagen de la ciudad • Proponer el incremento de la infraestructura turística salvaguardando el entorno • Disenar actividades dirigidas a mejorar la animación del Conjunto Urbano de la Catedral, que no desentonen con los caracteres particulares del recurso. • Senalar los posibles medios que propicien la obtención del recurso financiero • Sugerir el incremento de programas de capacitación que propicien el surgimiento de pequenas empresas relacionadas al Turismo Cultural. • Indicar estrategias que permitan organizar un mercado nacional o regional de productos turísticos culturales. • Sugerir medios para optimizar el enfoque publicitario y de promoción del Turismo Cultural de la ciudad. Indicar mecanismos que se pueden utilizar para lograr la sostenibilidad del recurso y la satisfacción del visitante. La propuesta de aprovechamiento se centró en los siguientes ejes, de los cuales se derivan diversas estrategias que al ponerse en práctica se lograria alcanzar el modelo funcional del patrimonio monumental, acercándonos asi a un autêntico desarrollo turístico sostenible. Los principales ejes propuestos en el modelo son los siguientes de los cuales enumerarê las principales estrategias propuestas: Mejoras de la imagen, incremento de la promoción y el marketing Como se define en la Carta Internacional para la Conservación de poblaciones y áreas urbanas históricas (1987), todos los Conjuntos Urbanos del mundo, al ser el resultado de un proceso gradual de desarrollo, más o menos espontâneo, o de un proyecto deliberado, son la expresión material de la diversidad de las sociedades a lo largo de la historia. En la propuesta el conjunto Urbano de la Catedral es considerado más que un conjunto monumental con un alto contenido histórico- artístico y como la más alta expresión de los valores de la población leonesa, es el núcleo en que convergen las influencias culturales y artísticas de anos de tradición y es la expresión viva del orgullo de nuestra gente. Por tanto no debemos permitir la degradación, el deterioro o la destrucción de toda esta gama de valores por una forma de desarrollo urbano o económico incoherente que no considere las peculiaridades que el recurso posee. 385 Conservar y comunicar el patrimonio histórico y cultural Las nuevas teorias sobre la utilización del Patrimonio sostienen que el patrimonio es el producto de una acomodación histórica, un proceso que abarca no sólo un alto grado de selectividad, sino tambiên de creatividad; bajo esta perspectiva la industria del patrimonio debe tratarse como una actividad moderna con miras a producir un producto comercializable, por tanto debemos centrarnos más en la creación del producto de una forma sostenible, ya que este contribuirá positivamente a su conservación. En cambio si nos dedicamos sólo a conservar y proteger, no será posible lograr vender este recurso. Adoptar el modelo de la "nueva museización", es obvio que la ciudad en su conjunto posee una amplia riqueza para potenciar e incrementar el número de museos existentes, ya que estos no corresponden a la cantidad de recursos reales y potenciales; esto significa una de las principales debilidades de la oferta existente para la satisfacción de la demanda del Turista Cultural. Hacer ênfasis en la recreación del pasado, para cubrir las expectativas de conocimiento del Turista Cultural. Por ejemplo: acondicionar una de las casas coloniales que no tengan uso de vivienda para recrear la forma de vida en el S. XIX, en que êsta pudo haber sido habitada por algún personaje relevante en la ciudad; por ejemplo: la casa del poeta posmodernista Alfonso Cortês. Reactivar de una manera adecuada los festivales artísticos importantes como: el festival "Viva León", ya que estos son elementos importantes para reavivar la dinámica de la ciudad, especialmente cuando es temporada de vacaciones en las universidades. Desempeno y funcionamiento del recurso humano Para el adecuado funcionamiento del recurso humano que labora en turismo, es necesario retomar los planteamientos de los nuevos modelos administrativos, que hacen referencia particularmente al trabajo en equipo, a un rendimiento laboral en ascenso basado en la eficacia y la eficiencia. Por tanto partiremos de que el éxito del desarrollo del turismo ligado al patrimonio, depende de una eficaz colaboración entre lo público, lo privado y los sectores voluntarios. La gestión, administración y planificación turística deben contar con una estructura de personal capacitado suficiente para el cumplimiento de objetivos y metas que se definan para el aprovechamiento turístico del Conjunto Urbano y de la ciudad de León en general. Incentivo de la inversión y financiamiento en el desarrollo de la oferta turística Es necesario incrementar la oferta turística en el Conjunto Urbano de la Catedral y en la ciudad en general; estamos claros que una de las mejores estrategias para lograrlo es captando fuentes de financiamiento interesadas principalmente en la preservación del patrimonio, esto está vinculado directamente a la buena organización de los actores responsables que pasarán de un 386 segundo plano a ser gestores y a la realización de una buena actividad publicitaria, la cual permite definir el segmento de mercado ideal y aplicar las técnicas adecuadas para lograr el desarrollo de la oferta e incentivar la inversión, sin embargo debemos retomar la importancia que tiene la existencia de proyectos viables para el desarrollo turístico, que puedan presentarse en el momento oportuno. Como: • Crear mayores opciones de recreación en el área, por Ej.: festivales artísticos culturales, foros históricos, exposiciones, etc. • Aprovechar la producción artesanal local y exponerlo en un sitio destinado de forma ordenada y armónica con el entorno para ello. Ordenamiento territorial e infraestructura Realizar un plan general turístico de la ciudad, agrupando los recursos de una forma temática, de esta manera formar circuitos que permitan enfocar las principales riquezas patrimoniales de acuerdo a las características, de esta manera se pueden descentralizar las actividades turísticas. Disenar un sistema digital de mapas que ilustren las diferentes rutas en tiempo y forma que se pueden hacer en la ciudad y sus alrededores. Zonificar el espacio para contribuir a la dispersion de los flujos turísticos. Descongestionar el espacio de alambrados públicos, los cuales interrumpen la imagen del Centro Histórico de la ciudad. Sostenibilidad del recurso Tener presente la importancia de un plan de contingencia que salve la situación de las bajas temporadas de la demanda turística cuando se amerite. La evaluación y determinación de las capacidades de cargas en el Conjunto Urbano, deben asumirse como un compromiso en la gestión, asumiendo como principales objetivos; la mejora de la calidad de vida, la conservación de los recursos patrimoniales y el equilibrio en el uso turístico. Debe existir una permanente y continua evaluación del desarrollo de la actividad turística. El desarrollo e implantación de los sistemas de control, regulación y monitoreo, se constituyen en instrumentos necesarios para la ademada gestión del patrimonio cultural. CONCLUSIONES • El Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, posee un alcance internacional debido a su riqueza histórica y arquitectónica invaluable, el cual puede ser aprovechado para la oferta del Turismo Cultural. 387 • El área en estudio ofrece el marco adecuado para implementar proyectos de turismo sustentable de bajo impacto. Esto permitirá preservar los recursos culturales y arquitectónicos y activar las economías locales deprimidas. • El conjunto Urbano de la catedral de la Asunción es un importante recurso cultural que puede integrarse plenamente dentro de un producto turístico regional. • La trilogia "arquitectura, historia, ciência" son los recursos turísticos de mayor fuerza del Conjunto Urbano, por tanto se deben tomar muy en cuenta al momento de establecer una marca Turística. • Es necesario hacer énfasis en la oferta de servicios tanto públicos como privados e institucionales, para mejorar la imagen y la presentación de los productos, sean estos tangibles o intangibles. • El patrimonio puede tener uso comercial, pero siempre se deben considerar los principios de conservación y protección del mismo. • La propuesta debe contribuir a un mejor aprovechamiento del patrimonio histórico- artísticomonumental existente en el Conjunto Urbano de la Catedral y el Centro Histórico en general, ya que ésta ofrece indicaciones concretas para la mejora de la gestión turística basada en criterios de planificación turística en espacios urbanos de ciudades históricas y monumentales particularmente. Las características de la demanda potencial no son completamente definidas, debido a la inexistencia de una fuente íntegra en relación con los registros de llegadas de turistas al Centro Histórico, elaborados por el Museo Archivo y Oficina de Información Turística Municipal. RECOMENDACIONES Sugerir a la Dirección del Uso y Funcionamiento del Centro Histórico, al grupo GEHO, al INTUR y al patronato de Turismo de la ciudad de León; evaluar e implementar la propuesta de acciones que se les presenta, la cual ha sido elaborada, como resultado de este estudio y considerando que contiene elementos básicos para la implementación y desarrollo del Turismo Cultural en el Conjunto Urbano de la Catedral, con el objetivo de convertir este espacio en un destino de Turismo Cultural en Centroamérica y el mundo. Que la empresa privada y las instituciones públicas encargadas del desarrollo turístico de la ciudad de León, divulguen a través de los diferentes medios de comunicación, Los Planes y Proyectos que se relacionen con el mismo, con el fin de no cometer errores en los trabajos de investigación, ahorrando esfuerzo, tiempo y dinero. Que los responsables de la Oficina del Centro Histórico publiquen las normativas que rigen el uso y manejo del Centro Histórico, en revistas locales, guías turísticas y materiales informativos, 388 con el fin de que sean del conocimiento de la población local residente y de los turistas nacionales y extranjeros, para que no se irrespeten por motivo de desconocimiento. Que el Instituto Nicaragüense de Turismo (INTUR) y la Oficina de Información Turística elaboren una base de datos completa de los flujos de visitantes nacionales y extranjeros y que estos sean publicados en un boletín anual, para que podamos cuantificar y evaluar el crecimiento y desarrollo del turismo local, al igual que podamos conocer las características de la Demanda. Que los empresarios turísticos y las entidades públicas encargadas del desarrollo turístico local logren establecer una marca turística clara y sencilla para promocionar el Turismo Cultural en el Centro Histórico de la ciudad. Que el INTUR Institucionalice los diferentes organismos creados para el desarrollo de funciones específicas ligadas a la actividad turística ( GEHO, PATRONATO, OFICINA DE INFORMACIÓN, CENTRO HISTORICO), mediante el establecimiento de estatutos, para los cuales existan sanciones por incumplimiento. Que los responsables del manejo de tour por la Catedral, procuren Nevar un registro exacto de los visitantes que acuden al lugar, respetando la capacidad de carga. Que se busque el financiamiento para la realización de un estudio de capacidad de carga, en el Conjunto Urbano de la Catedral. 389 MÁGENES: Plano del conjunto urbano de la Ciudad e Imágenes de la Catedral. BIBLIOGRAFÍA CONSULTADA Acerenza Miguel Ángel: Administración del Turismo" Planificación y Dirección. Editorial Trillas S.A. de C.V, 1997. Antón Clavé Salvador, 1997: "Turismo y gestión municipal del patrimonio cultural y monumental". Unidad de Geografia, universitat Rovira i Virgili PL. Imperial Terraco, I43005 Terragona. 390 Bellorí A Nancy., Espinoza Mildred, Tiberino Doris, Evaluación de la Imagen Turística de León Propuesta de Mejora, Monografía, Escuela de Turismo UNAN-León 2002. Centro Histórico-León, septiembre del 2003. Catálogo de Bienes e Inmuebles Patrimoniales, del Centro Histórico de la ciudad de León. Espinosa Raquel (et...al), 2000: Plan Especial de Revitalización del Centro Histórico de León. Alcaldía Municipal de León. Gómez M. Manuel J.: Turismo Urbano y Patrimonio Cultural. Una Perspectiva Europea. Diputación de Sevilla, 1998. Hernández Edgar Alfonso: "Planificación turística, un enfoque Metodológico". Editorial Trillas. Inskeep Edward, 1991: "TOURISM PLANNING. An integrated and Sustainable Development Approach". Van Reinhold New York. Martin Latorre Elena, 2002: Utilización turística del Patrimonio Cultural Urbano. Post-grado sobre Turismo y desarrollo sostenible universidad de Cantabria. Documento 3; León. Molina Sergio & Rodriguez Sergio: "Planificación Integral del Turismo, Un enfoque para Latinoamérica". Editorial Trillas. Milán P. José A. (et...al), 2001: Plan Preliminar de Desarrollo Turístico Sostenible. Taller de Planificación Ambiental Turístico. León 27 - 28 Marzo, 2001 López Tania Alejandra, Ocana Gladis Maria: Museo Archivo Rubén Darío: Una propuesta de Gestión Turística. Monografía, UAM-Managua 2001. 391 RURALIDADES NO ESPAÇO URBANO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA RESTRUTURAÇÃODE UM PESQUE-PAGUE NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA-MG Daniel Medeiros MAIA [email protected] Vanda Aparecida Silva ALVES [email protected] Bruno de FREITAS [email protected] Anderson Pereira PORTUGUEZ49 [email protected] Resumo Este trabalho traz uma análise teórica sobre os conteúdos de ruralidade presentes nos espaços urbanos e foca-se em um estudo de caso no município de Ituiutaba (MG). Para tanto, realizou-se revisão de literatura sobre os temas pertinentes à abordagem pretendida, assim como análise documental e trabalhos de campo, durante os quais se realizou entrevistas semi-estruturadas com os proprietários dos pesque-pague da cidade estudada. Em campo coletou-se ainda os dados para a produção dos mapas utilizados nesta pesquisa e realizou-se a cobertura fotográfica dos empreendimentos visitados. Concluiu-se que os pesque-pague são de fato expressões de ruralidades no espaço urbano de Ituiutaba e atendem a uma demanda cada vez maior, no município investigado, por espaços seguros e acolhedores para a prática do lazer e do turismo. Palavras-Chave: Ituiutaba. Pesque-pague. Ruralidades. Urbanidades. Meio Ambiente. Abstract This paper presents a theoretical analysis of the contents of rurality present in urban spaces and focuses on a case study in the municipality of Ituiutaba (MG). To this end, were carried out a literature review on topics related to the intended approach, as well as documentary analysis and fieldwork, which were took semi-structured interviews with the owners of fish-pay establishments in the city studied. In fieldwork were collected data for the production of the maps used in this research and was realized photographic coverage of the visited ventures. Was concluded that the 49 - Professor Doutor do Curso de Geografia da FACIP-UFU e Professor Colaborador do Programa de Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da UECE 392 fish-pays are in fact expressions of ruralities in the urban space of Ituiutaba and meet a growing demand in the investigated municipality, for safe and welcoming spaces to the practice of leisure and tourism. Keywords: Ituiutaba. Feefishing. Ruralities. Urbanities. Environment. Introdução Este trabalho enfoca o desenvolvimento de um conteúdo de ruralidade existente no espaço urbanodo município de Ituiutaba/MG. A concepção tradicional de rural como a dimensão atrasada do espaço e o urbano como expressão de progresso, não poder sertomadas como verdadeiras, pois, em escala global, esses espaços vêm sendo modificados profundamente no decorrer dos anos. As conexões existentes entre o urbano e o rural fazem com que estes espaços se entrelacem, se envolvam, se relacionem, mas também se contraponham, se hierarquizem, se excluam, enfim. Trata-se, portanto, de uma relação espacial complexa e heterogênea, que justificam estudos com este que ora se apresenta. A Geografia tem o papel de avançar nas análises desta temática e, neste sentido, este estudo pretende contribuir com um dos debates mais importantes na atualidade, que se refere à identidades espaciais. Ituiutaba, município localizado no Pontal do Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais, foi escolhido como local de realização desta pesquisa, pois a cidade vem apresentando expressivo crescimento urbano, de forma que o elastecimento físico da cidade projeta seu conteúdo de urbanidade sobre as áreas rurais, mas, ao mesmo tempo, mantém os conteúdos de ruralidade em alguns recantos de seu espaço urbano. Os pesque-pague existentes em Ituiutaba exemplificam bem a referida presença do rural no urbano. Dentro da cidade, ou em seu entorno periurbano, encontram-se empreendimentos que mantêm a paisagem com aspectos tipicamente rurais e/ou naturais, com o intuito de oferecer opções de lazer e turismo, sobretudo para a classe média local. E será sobre este fenômeno que este estudo tratará, buscando-se entender suas lógicas espaciais e sua representação identitária. A coleta de dados sobre os pesque-pague e sua localização no município de Ituiutaba deuse por meio de trabalhos de campo, pois não se detectou na literatura disponível sobre esta cidade, estudos que focassem esta categoria de empreendimento em escala local. Visitou-se ainda órgãos públicos e no empreendimento escolhido como estudo de caso, realizou-se uma entrevista semi-estruturada com o profissional responsável. 393 Localização da Área Estudada O município de Ituiutaba acha-se localizado na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (figura 1)., no Estado de Minas Gerais, a 685km da capital de Belo Horizonte. Sua área é de 2.598km², e de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 50, Ituiutaba possuía em 2010, uma população de 97.159 habitantes, sendo que 93.122 habitantes (95,8%) residiam na zona urbana e 4.037 habitantes (4,2%) na área rural. Fig. 1: Localização do Município de Ituiutaba na Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba/MG. Fonte: Pedroso e Moura (2012, p. 367). Ituiutaba vem apresentando forte crescimento populacional, comercial, industrial e agrícola nos últimos 10 anos, em função da incorporação do município no rol de cidades foco de altos investimentos do grande capital sucroalcooleiro. A figura 2, a continuação, mostra como este cultivo tem dominado a paisagem local e regional, transformando fortemente a paisagem e levando elevado grau de tecnificação para o campo, sobretudo nas áreas mais próximas ao perímetro urbano e as grandes usinas de bioenergia. Mostra ainda, vista parcial da periferia em expansão, onde há capital oficial empregado para o assentamento de população predominantemente migrante, atraída pelo desenvolvimento municipal. 50 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidades. Acessado em 10 de abril de 2012. 394 Fig. 2: Áreas de expansão urbana e grandes canaviais no entorno de Ituiutaba. Fonte: Anderson Pereira Portuguez (2011). É neste cenário que a presente pesquisa foi realizada, ou seja, em uma cidade que vem projetando seu conteúdo de urbanidade sobre a área rural imediata e que assimila em contrapartida, conteúdos de ruralidade em seu espaço urbano. O setor recreativo encontra-se ainda em estágio embrionário na cidade estuda. No entanto, nos últimos anos, com o aumento quantitativo da classe média local, novas oportunidades de lazer e entretenimento estão surgindo, muitas delas relacionadas à cultura sertaneja e aos conteúdos que compõem a esfera cultural da ruralidade regional. Neste sentido, a escolha de um pesque-pague para a realização da incursão empírica deste estudo, despontou como uma oportunidade de estudar a relação cidade-campo e, neste contexto, a ruralidade no urbano. Referencial Teórico Em cidades de pequeno porte, onde a economia baseia-se fundamentalmente no setor agropecuário e agroindustrial, delimitar rigidamente o que é espaço rural e espaço urbano está se tornando complexo, pois nos dias atuais, estes espaços vão se tecnificando e densificando cada vez mais, sobretudo onde há presença significativa do grande capital comumente designado como ―agronegócio‖ Lindner (2008) considera ultrapassada a idéia de que o espaço rural é um conjunto de lugaressimples e atrasados, enquanto o espaço urbano seria globalizado e moderno. O processo de modernização da agricultura, apoiando-se nos meios da globalização (tais com as indústrias transnacionais no campo, maquinarias mais aperfeiçoadas e outros), transformou profundamente esses ―novos‖ espaços 395 SegundoTeixeira e Lages ( ,p ), ―o rural se define, antes de tudo, por sua população ocupando e transformando um espaço, que se torna o rural por usos diversos que não unicamente agrícolas‖ Santos ( ,p ) complementou esta idéia, afirmando que: ―o espaço rural é uma construção social, partindo-se das relações do homem com a natureza, relações que não se restringem somente na visão do espaço rural voltado para as atividades agrícolas, mas como uma construção social que vai além dessas atividades‖ A modernização produtiva e as transformações técnicas que vêm ocorrendo no espaço rural nos últimos 50 anostêm proporcionado sua constante reconfiguração. A diversificação das atividades rurais modificou o paradigma de que o rural é espaço fundamentalmente voltado para a agricultura. Este processo, associado à mecanização acabou por liberar a mão-de-obra ocupada, originando grandes fluxos migratórios para cidades e/ou zonas mais desenvolvidas do território nacional. A pequenas cidades do interior do Brasil, já nas décadas de 1970-1990, começaram a crescer na medida em que sua população rural migrou gradativamente para a sede municipal. Trouxeram consigo, do campo para a cidade, uma série de características da identidade ruralque podem ser percebidas no cotidiano das pequenas cidades, como lembrou Lindner e Wandscheer (2010): Nestes locais existe uma grande carga cultural, que pode ser traduzida através do apego as tradições, muito evidenciadas nas relações sociais da população, suas festividades, gastronomia e economia. Esse conjunto de fatores representa a identidade social da comunidade, a qual reproduz o modo de vida do campo na cidade, ou seja, as ruralidades, que representa a articulação entre as noções de rural e de identidade social (LINDER e WANDSCHEER, 2010. p. 149). Para Côrtes (2008), os territórios rurais qualificam-se como espaços, interagindo-se com as funções econômicas (produções agrícolas, artesanato, turismo e lazer, e dentre outros), ambientais (conservação dos bens materiais, como água e solo, educação ambiental) e socioculturais (proteção e desenvolvimento referente a cultura dessas comunidades). O conteúdo do que aqui se entende como ruralidade é entendido a partir de uma visão que integra as formas espaciais, as funcionalidades historicamente atribuídas, a sua carga cultural e os aspectos relacionais deste todo descontínuo, que é o meio rural. Para Sarraceno (1996): A ruralidade é um conceito territorial que pressupõe a homogeneidade dos territórios agregados sob esta categoria analítica, e isto naturalmente vale também para o conceito de urbano. Ainda que não contíguos, os territórios rurais compartem, de fato, algumas características comuns que no entanto foram definidas de maneira clara nem no que concerne aos indicadores que devem ser utilizados, nem no que se refere ao limite que deveria distinguir o rural do urbano. Na maior parte dos casos, o que é rural e o que é urbano vem intuitivamente reconhecido e depois medido. Com frequência tem-se 396 sustentado que a diferença é de natureza social e relativa ao modo como estão distribuídas as populações e as cidades no território, ou francamente cultural, tanto que nenhum órgão oficial empenhado nessa tarefa (Nações Unidas, Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE, União Europeia, Escritórios de Estatísticas) tem conseguido encontrar uma definição que satisfaça a todos, ainda que por tempo indeterminado (SARRACENO, 199651). Já na percepção urbanista, defendido por Cunha (2008, p. 13), no decorrer do processo de ocupação do mundo, o homem modificou e transformou o seu território, tornando-os reflexos de si mesmos, ou seja, ―territorialidades que expressam a ligação entre o substrato material da vida e a atividade humana de produção dos meios de existência que, juntas, constituem a forma-conteúdo reveladora de modos de vida que é a cidade‖ O conceito de espaço urbano, unificando-se com o conceito de cidade, como aborda Corrêa (2005), é bastante complexo, pois cada sociedade observa o espaço de forma diversificada, nas suas concepções sociais e culturais: O espaço urbano capitalista – Fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheios de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classes que dela emergem. A complexidade da ação dos agentes sociais incluem práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas do espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infraestrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade (CORRÊA, 2005. p. 11). Estes fragmentos espaciais se articulam, pois, como esclarece Moreira (2003), o meio urbano se unifica suas partes, ainda que de forma caótica, como na correria dos veículos e das pessoas no dia-a-dia, estabelecendo uma movimentação humana intensa entre suas áreas residenciais para os seus locais de trabalho. Para este autor, as conexões entre as partes que compõem o urbano ―desenvolvem-se também por meio de deslocamentos menos frenéticos, tais como compras no centro da cidade ou nas lojas do bairro, visitas aos parentes, idas ao cinema, e dentre outros, promovendo uma relação espacial totalmente capitalista‖ (MOREIRA, 3 p ) Dessa forma, o espaço urbano constitui uma relação espacial de processos sociais, constituindo um reflexo da sociedade. 51 Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/textos/downlo/textos>. Acesso em: 10 de abril de 2012. 397 No entanto, esta mesma lógica fragmentária pode ser verificada nas áreas rurais mais tecnificadas e já densamente incorporadas ao modo de produção do capitalismo informacional. Em Ituiutaba, por exemplo, a maior parte da massa de trabalhadores que se emprega nas usinas de bioenergia mora nos bairros da periferia urbana, deslocando-se diariamente para a zona rural, onde estão as vastas plantações de cana-de-açúcar e as grandes usinas sucroalcooleiras. Acrescenta-se a este quadro de fragmentação/reintegração, a movimentação incansável de caminhões carregados de cana, que cruzam as estradas rurais em ritmo constante levando a matéria-prima colhida nas fazendas da região para as grandes usinas. De acordo com Rosas ( , p ), ―depois do processo de consolidação das cidades, passando de uma simples vila para uma expansão urbana, o espaço de transição entre o rural e o urbano passou a ser pesquisado sobre a sua delimitação, constituindo uma fronteira‖ Esse espaço, um tanto rural, um tanto urbano, é comumente designado como periurbano. Smitet al. (1996) conceituou o espaço periurbano como sendo formado pelas áreas localizadas na linha entre o rural e o urbano, próximo da periferia, ou seja, do limite legal e administrativo de uma cidade. Para este autor, estas áreas incluem terrenos situados dentro ou fora de um plano de área e comumente elas são caracterizadas pela ocupação de terras de forma pouco formal e com pouca concentração de serviços básicos. É nesta área limítrofe, que as cidades têm preferido instalar uma série de equipamentos urbanos e empreendimentos cuja localização em áreas mais centrais pode representar complicações na circulação, desvalorização imobiliária, poluição e outros fenômenos indesejados. Desta forma, os espaços periurbanos são frequentemente utilizados para a instalação de distritos industriais, cemitérios, aeroportos, penitenciárias, estações de tratamento de esgoto, aterros sanitários, estações e terminais ferroviários e outros, além de serem ainda transformados, com alguma frequência, em locais de lazer e entretenimento, pois permitem a sensação de estar na cidade e, simultaneamente, ―fora dela‖ No caso específico do turismo e do lazer, este tipo de espaço, que em si é da cidade, vem sendo valorizado de forma bastante significativa por algumas categorias de empreendimentos. É o caso, por exemplo, de SPAs, de hotéis-fazenda e de pesque-pague. São empreendimentos que podem oferecer produtos e serviços que promovem a desvinculação (ainda que parcial) dos clientes com o cotidiano citadino. Para isto, suas estratégias de publicidade reforçam a imagem caótica da cidade como um ambiente sempre massacrante e a imagem do campo, como a alternativa saudável para a cura do estresse, por meio do contato com a água, com a terra, com animais domesticados, com a comida caseira, enfim, com outra esfera da cotidianidade. Dito isto, pode-se então passar ao estudo de caso proposto para este trabalho. Trata-se de um pesque-pague localizado justamente no espaço periurbano de Ituiutaba, que como qualquer outro, 398 mostra-se como uma zona citadina, de transição do conteúdo tecnoesférico entre o urbano e o rural apropriável para fins de lazer e/ou turismo. Resultados Atualmente, existem três pesque-pague em Ituiutaba. O primeiro está localiza na área central da cidade e encontra-se atualmente fechado para reforma e reestruturação. O segundo, que está em fase inicial de construção, está localizado na zona rural de Ituiutaba, em área do baixo curso do Ribeirão São Vicente. O terceiro pesque-pague, onde o presente estudo foi realizado, se localiza a 1 km da borda urbana sudoeste do município, vizinho ao bairro Lagoa Azul II, cujo acesso se dá por meio de um trecho não pavimentado da Rodovia BR 154, que corresponde à extensão da Av. Jandiro Vilela de Freitas (figura 3). Fig. 3: Localização dos Pesque-Pague urbanos de Ituiutaba-MG. Fonte: PRMI/AMVAP (2003). Organização: FREITAS, B. e PORTUGUEZ, A. P. (2012). O pesque-pague estudado (figura 4), como se viu, está localizado na borda periurbana sudoeste do município, próximo a outros tipos de equipamentos e empreendimentos típicos de áreas limítrofes do rural e do urbano, como é o caso do aeroporto, por exemplo. Em trabalho de campo 399 realizada em maio de 2012, constatou-se que a área de 2 alqueires atualmente encontra-se alugada para um empreendedor que a administra e a prepara para reabertura ainda em 2012. O pesque-pague é, em si, a própria representação do limiar urbano-rural. A paisagem, a localização, os serviços, o entretenimento oferecido, enfim, todo o conteúdo técnico que ele representa, aponta para a própria identidade periurbana. É rural ao mesmo tempo em que é urbano. Figura 4: Aspectos de ruralidade do empreendimento estudado. Fonte: Bruno de Freitas (2012). Em relação à sua aparência rural, observou-se que o empreendedor soube aproveitar bem os aspectos menos tecnificados da borda urbana, no sentido de oferecer um espaço visualmente agradável para seus clientes, onde a natureza se faz mais presente, ainda que representada de forma artificial.Em termos mercadológicos, esta iniciativa faz todo sentido, uma vez que o município não conta com muitas áreas verdes estruturadas para o uso recreativo. A única Unidade de Conservação do município, o Parque Municipal do Goiabal, se encontra em estado de relativo abandono e não foi estruturado para a visitação pública. A empresa oferece, neste sentido, a paisagem (simulacro) como atrativo e como recurso. Há áreas com vegetação no empreendimento. Não se trata de bosques de Cerrados típicos, mas sim de formação mista, na qual foi possível detectar espécies nativas e introduzidas artificialmente. De acordo com o gestor do empreendimento, esta vegetação constitui-se também em oferta do pesque-pague, que pretende incentivar a contemplação e o contato com a natureza por meio de realização de trilhas. A pesca recreativa, que é também uma atividade muito comum em áreas rurais, sempre foi e permanecerá praticada em tanques artificialmente povoados por peixes nativos do Brasil central e exóticos. Para tanto, os mesmos são alimentados e futuramente haverá oferta de toda a infraestrutura necessária: iscas, varas de pesca, gelo, recipientes, refeições e outros. Para o gestor 400 entrevistado, é importante ainda disponibilizar a cozinha para que o pescado (e acompanhamentos) seja preparado ali mesmo pelo/para os clientes. Em relação à alimentação vale à pena fazer uma observação importante. Trata-se de um serviço que representa bem o caráter rural-urbano do empreendimento, pois de acordo com o empreendedor, ele pretende oferecer opções gastronômicas regionais e opções diferenciadas, baseadas na criação de cardápios que contenham pratos comerciais e/ou de identidade global. Outra proposta de serviço em fase de estudo, refere-se à acomodação de visitantes e turistas. Para tanto, o empreendedor está planejando uma área para camping com disponibilização de churrasqueiras de concreto com um tanque para higienização de utensílios domésticos e alimentos. O pesque-pague já foi palco para a realização de shows com atrações nacionalmente conhecidas, o que gera, em alguns casos, usos desvinculados da identidade rural, de forma que o empreendimento passa a assumir as mesmas funções que qualquer casa de eventos urbana. Esta é uma tendência nacional, pois como as cidades pequenas e de médio porte não contam com muitos cerimoniais a céu aberto, diversos pesque-pagues são locados para a realização de raves, casamentos, festas, reuniões sociais e outros. Por fim, é interessante citar que empreendimentos desta natureza, contam com uma estrutura gerencial que não se assemelha à administração de fazendas e sítios. Possuem ampla rede de fornecedores (ração para peixes, material de consumo, bebidas, refrigerantes, equipamentos eletrônicos, alimentos e outros) que os categorizam como uma empresa eminentemente urbana. Relaciona-se ainda com empresas prestadoras de serviços (bancos, escritório de contabilidade, de advocacia, cartórios, de publicidade e propaganda e outras) que as inserem em redes empresariais complexas e bem articuladas. Considerações Finais O presente estudo trouxe uma breve reflexão sobre o espaço periurbano da cidade de Ituiutaba. Compreendeu-se que estas áreas limítrofes entre o rural e o urbano são, em geral, utilizadas para a instalação de equipamentos urbanos e empresariais que não fazem muito sentido, ou que prejudicam a organização do espaço central das cidades. Para o lazer associado à lógica do espaço rural, o meio periurbano mostra-se interessante, pois está próximo do urbano o suficiente para facilitar o acesso de funcionários e da demanda e, ao mesmo tempo, isolados do caráter citadino dos bairros e áreas centrais. Os pesque-pague são exemplos de empreendimentos que atendem a esta caracterização híbrida de ruralidade e urbanidade quando localizados no setor periurbano. O estudo de caso realizado mostra claramente este aspecto do empreendimento que, apesar de oferecer serviços 401 urbanos e ser de fato uma empresa nos moldes da urbanidade, organizou-se fisicamente como uma paisagem rural relacionada à natureza e à pesca. Referências CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano.4ª ed. 2ª reimpressão. 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As iniciativas de desenvolver o turismo rural aproveitando o potencial turístico nas áreas das fazendas e outras propriedades no ambiente interiorano é essencial para a comunidade local. Com a adoção dessas atividades turísticas no meio rural, as mudanças na realidade da comunidade também são evidentes. A valorização da cultura local e outros fatores, como infraestrutura e atendimento podem determinar qual o perfil de turista que buscará esse segmento turístico. Diante disso tentou-se saber qual o perfil do turista que pratica o turismo rural no município de Areia/PB. PALAVRAS-CHAVE: Turismo rural, perfil, turista ABSTRACT With the growth of tourism and the various segments that make this activity a real phenomenon, the tourist has also become more demanding, due to the access to information on the most varied destinations and its attractions. The initiatives to develop rural tourism taking advantage of the tourism potential in the areas of farms and other properties in country's vast interior environment is essential for the local community. With the adoption of these tourist activities in the rural environment, the changes in the reality of the community are also evident. Valuation of the local culture and other factors, such as infrastructure and care may determine what is the profile of tourists who seek this tourism segment. Faced with that attempted to know the profile of the tourist that practice the rural tourism in the municipality of Areia/PB. KEY-WORDS: rural tourism, profile, tourist 52 53 Estudante do Curso de Turismo da Universidade Federal da Paraíba Bacharel em Turismo – UFPB, Especialista em Análise Ambiental pela UFPR e Mestre em Geografia pela UFPB. 403 INTRODUÇÃO Com o crescimento do turismo e com os diversos segmentos que fazem desta atividade um verdadeiro fenômeno, o turista também vem se tornando mais exigente, devido ao acesso às informações sobre os mais variados destinos e seus atrativos. De acordo com Dencker (2007), o turismo é hoje um dos setores mais importantes da economia ocidental. No Brasil o turismo vem se desenvolvendo de forma expressiva, sendo objeto de políticas públicas específicas por parte dos governos federal, estaduais e municipais, possuindo desde 2002 um Ministério próprio. Um dos seus segmentos que vem se destacando é o turismo rural, que vem atraindo no decorrer dos últimos anos muitos adeptos, justamente em contra ponto ao tradicional turismo de sol e mar. De acordo com Tomio e Dreher ( , p ) ―no Brasil, em função de mudanças substanciais no perfil dos turistas que passaram a buscar novos destinos para áreas não-urbanas, o turismo rural apresenta-se em evidência‖ Como afirmam esses autores, vem ocorrendo uma mudança no perfil dos turistas no Brasil que pode ser devido à procura por destinos que proporcionem um contato mais direto com a comunidade local com caráter mais familiar e bucólico. Com crescimento de aproximadamente 30% ao ano, o turismo rural é uma das atividades econômicas que mais se desenvolve no país. No ranking mundial, o Brasil ocupa a quarta posição no segmento, perdendo apenas para Espanha, Portugal e Argentina. Segundo a Organização Mundial do Turismo, o crescimento internacional do setor é de 6% ao ano e pelo menos 3% dos turistas do mundo direcionam suas viagens para destinos rurais. (SEBRAE – MG, 2010) Diante do crescimento desse segmento e das mudanças que o meio rural vem conseguindo, provavelmente o aumento do fluxo de turistas que buscam atrativos novos também seja de um perfil de turista que não experimentou ainda os valores do turismo rural. Desta forma é que decidiu-se verificar qual o perfil desses turistas que visitam os atrativos rurais na cidade de Areia/PB e o que essa mudança pode provocar de positivo para a comunidade local. TURISMO RURAL: BREVE HISTÓRICO O turismo rural é um segmento que vem ganhando espaço entre os turistas como uma boa opção, principalmente para os que procuram por novas experiências, conhecimentos e interação com a comunidade local. Essa modalidade vem se destacando no mercado, principalmente brasileiro De acordo com Portuguez et al ( ) ―o segmento turismo rural foi criado inicialmente sobre uma estrutura de marketing, ou seja, para designar um nicho de mercado, passando a ser a 404 nova salvação da lavoura‖ Segundo Tulik ( , p 3) ―( ) o turismo rural foi uma alternativa para contornar problemas financeiros decorrentes de crises agrárias‖ Os autores relatam que as atividades não agrícolas, no caso o turismo rural, passaram a ser adotadas, como uma nova forma de complementar as atividades agrícolas de muitas comunidades que não conseguem sobreviver apenas com as atividades primárias, como agricultura e pecuária. Segundo Roque e Alencar ( , p 3) ―na Idade Média, os nobres retornavam ao campo, mesmo que temporariamente, à procura do descanso e lazer. Tem-se notícia, na Espanha do início do século XI, o surgimento das primeiras hospedarias rurais no Caminho de Santiago de Compostela, centro de peregrinação cristã‖ Vê-se o quanto a prática do lazer no campo é antiga a nível internacional. Já no Brasil, precisa ser mais estimulada, pois possuímos um território rico em atrativos culturais e naturais no meio rural ainda desconhecidos de muitos turistas, como é o caso dos atrativos que se visitou em Areia/PB. Rodrigues (2001, p.51) afirma que: Não há marcos precisos para datar o início dessa atividade devido à grande extensão geográfica do país. Com o rótulo de turismo rural, entretanto, sabe-se que as primeiras iniciativas oficiais, em escala estadual, ocorreram no município de Lages, localizado no planalto catarinense, na Fazenda Pedras Brancas. Em 1986, a fazenda propôs a acolher visitantes para passar ‗um dia no campo As iniciativas de desenvolver o turismo rural em Lages (SC) aproveitando o potencial turístico nas áreas rurais das fazendas e propriedades da comunidade é um fator essencial para as famílias locais, pois, com a atividade turística, essas famílias conseguem complementar seus rendimentos, além de promoverem lazer e descanso para os turistas. OS ADEPTOS DO TURISMO RURAL Com a adoção dessas atividades turísticas no meio rural, as mudanças na realidade da comunidade local também são evidentes, pois além de valorizar a cultura local, promove emprego e renda e consequentemente atrai um fluxo de turistas que ainda não conhecem as belezas que o meio rural oferece, diante disso tentou-se saber qual o perfil do turista que pratica o turismo rural nessas localidades, bem como o que visita os atrativos rurais de Areia/PB. De acordo com o Manual de Orientação do Turismo Rural (2010): O consumidor de Turismo Rural busca a possibilidade de reaproximação com a natureza em relação às ―coisas da terra‖, mesmo que por um curto espaço de tempo Está interessado 405 em vivenciar e experimentar os valores da natureza e do modo de vida local caracterizado por elementos singulares da cultura, pela gastronomia típica, pela tradição e pelo modo como se dá a relação homem e natureza. Como se verifica, o perfil dos turistas que praticam o turismo rural buscam uma interação direta com os modos de vida local, além de vivenciar a cultura e as tradições locais, esses turistas procuram por algo mais familiar e peculiar, que em segmentos como o turismo de sol e mar não se encontram tão evidentes. Esse perfil de turista já traz em si, experiências com segmentos que já não satisfazem ou proporcionam o lazer que eles procuram. O Manual do Turismo Rural (2010) coloca algumas características dos turistas que praticam o turismo rural: São moradores de grandes centros urbanos. Possuem entre 25 e 50 anos. São casais com filhos. Têm formação superior e a maioria pós-graduação. São de classe média para média alta. Usam automóvel próprio ou vans. Deslocam-se, geralmente, em um raio de até 150 km do núcleo emissor. Fazem viagens de curta duração – fins de semana e feriados. São apreciadores da gastronomia típica regional. Possuem elevado nível de consciência a respeito das questões ambientais. Valorizam produtos autênticos e artesanais. Como se percebe, as características desses turistas são de pessoas que valorizam a cultura autêntica, são experientes, possuindo cursos superiores e a consciência e respeito nas questões ambientais, isso faz com que o turismo rural seja um dos que mais crescem, principalmente em qualidade. Além disso, são turistas que procuram esses atrativos rurais para minimizar as tensões advindas do dia-a-dia dos grandes centros urbanos. De acordo com a pesquisa que realizou-se em Areia, as características do perfil do turista rural são: 95% possuem de 20 a 50 anos; A maioria são turistas de centros urbanos advindos de: João Pessoa, Campina Grande e Natal; 406 89% possuem renda de 1 a 3 salários mínimos; A maioria procuram por conhecimento, história e a cultura de Areia/PB; São pessoas que na maioria souberam do atrativo rural através de amigos e familiares; Deslocam-se em um raio de 40km a 210km até Areia/PB; São de classe média para alta; São pessoas que tem uma maior consciência ambiental. Verificou-se que há uma similaridade entre o perfil apresentado pelo Manual do Turismo Rural (2010) com o perfil pesquisado em Areia/PB, no entanto, devido a grande extensão que o Brasil possui, onde o turismo rural tem suas peculiaridades em cada região, esse perfil do turista poderá apresentar algumas diferenças. Observou-se através de pesquisa de campo em Areia que o potencial do turismo rural é imenso e que a facilidade e acessibilidade da prática desse segmento faz com que exista uma demanda de turistas que são atraídos pela qualidade e a viabilidade de um segmento que tem uma tendência de crescimento. No entanto com essa tendência de crescimento do Turismo Rural no Brasil, a ferramenta do planejamento é de fundamental importância para disponibilizar os serviços e atrativos com a infraestrutura adequada para receber essa provável demanda de turistas que procuram por esse segmento, pois sem a ferramenta do planejamento, haverá provavelmente nesses atrativos uma série de problemas que poderá comprometer a qualidade dos atrativos, fazendo com que essa falta de qualidade interfira direta ou indiretamente no perfil do turista aqui apresentado. Elesbão ( ,p ) acrescenta que ―o grande fluxo de turistas somado a não existência de infraestrutura adequada e à falta de capacitação técnica dos funcionários pode causar uma série de problemas, comprometendo inclusive o futuro das iniciativas‖ Como afirma o autor, é importante ter uma infraestrutura para receber ou atender o turista com serviços de qualidade sem causar problemas para a localidade. Pois oferecendo bons serviços, consequentemente, esses turistas retornarão para a localidade, além de que os benefícios sociais, culturais e econômicos para a comunidade local serão mais evidentes. É importante saber o perfil de turistas que visitam determinada localidade, porque se saberá assim melhorar a oferta dos serviços para a demanda de turistas que visitam o atrativo. Em uma pesquisa sobre a oferta e demanda realizada sobre o perfil do turista rural no Rio Grande do Sul relata que: A proposta da pesquisa é apontar as possíveis melhorias para desenvolver esse nicho de mercado no Estado. Por intermédio de pesquisa de oferta e demanda, que ainda será aprofundada com levantamento de dados nos principais mercados emissores do país, poderemos compreender o que o turista brasileiro deseja usufruir quando procura essa 407 modalidade de lazer e entretenimento, explica Daniela Bitencout, diretora do Instituto Marca Brasil. (HOTELIER NEWS, 2010) Desta forma, a pesquisa da demanda e oferta é outra ferramenta imprescindível, pois com ela poderemos definir as estratégias e melhorar os produtos que podem ser ofertados para uma determinada demanda de turistas que visitam a localidade. Fica claro que esse levantamento poderá trazer vários impactos positivos que podemos chamar de efeito multiplicador, fator esse que dependendo do perfil do turista, levará benefícios para a comunidade, seja na hospedagem, restaurantes, produtos locais, artesanato, dentre outros. De acordo com Ruschmann ( apud ELESBÃO, , p ), ―ao atrair fluxos de pessoas de outros espaços econômicos, o turismo rural estimula o consumo nas áreas onde ocorre, desencadeando o tradicional efeito multiplicador da atividade turística‖ Os fluxos de turistas causam o efeito multiplicador, mas para que não influencie de modo negativo é necessário planejar as ações que serão utilizadas para atender esses visitantes do meio rural. Em Areia/PB existe a parceria com o SEBRAE/PB para capacitar a comunidade local no atendimento ao turista e o incentivo a valorização da cultura local, isso poderá influenciar no perfil do turista que pretende visitar a cidade, pois encontrará atrativos valorizados e a comunidade atendendo bem os turistas. Outros fatores que podem influenciar no perfil do turista são: a limpeza do local, a sinalização, a segurança pública, dentre outros. Esses fatores também podem influenciar no perfil do turista, pois o turista de classe média alta valoriza ou tem a consciência de ver o atrativo bem cuidado e valorizado pela comunidade. Mas no caso do turismo rural, ainda há outra vantagem que é a diversificação do produto ou do atrativo que poderá influenciar nesse perfil do turista. É importante ressaltar que o Brasil, como possuidor de grandes extensões territoriais com características que diferem cada região, poderá trazer um diferencial no próprio turismo rural devido a concorrência que porventura se encontre entre essas regiões, portanto a responsabilidade de cuidar do turismo rural é essencial, fornecendo a infra-estrutura adequada e isso não seria diferente em Areia/PB. Apesar da pouca infra-estrutura, as parcerias existentes com órgãos como o SEBRAE vem ajudando a tornar o turismo em um diferencial para quem visita a cidade, pois existe a valorização da cultura e das comunidades locais, ocasionando a vinda de vários turistas. Souza e Assis (2005, p.2) destacam que: Diante da concorrência pela atração dos eventos nos dias atuais, leva maior vantagem quem melhor conhece o seu mercado potencial, podendo, desta forma, planejar as suas ações e direcionar os seus recursos financeiros e humanos. 408 Não se pode esquecer de outro fator importante que é a sustentabilidade do local, que precisa ser desenvolvida nas ações que porventura sejam aplicadas no meio rural, pois o turista poderá observar essas características do atrativo, se os proprietários e as comunidades locais adotam meios de minimizar os impactos negativos no meio rural, isso poderá a ser um dado que o turista definirá quando escolher um determinado atrativo turístico. Conforme Marinho e Martins (2010, p.4): O turismo visto como uma atividade econômica vem se tornando cada vez mais crescente. Quem trabalha com o turismo, qualquer que seja seu segmento, vem percebendo que o turista é um consumidor em busca de uma empresa que ofereça o serviço mais adequado e que satisfaça a suas expectativas. Cabe a empresa perceber como e porque o consumidor faz as suas escolhas, isso lhe dará a chance de oferecer o produto certo ao seu público alvo de um modo mais persuasivo. Desta forma, é importante trabalhar os dados pesquisados sobre as características dos turistas e aplicar os mesmos nos planejamentos turísticos locais para determinar quais os melhores produtos que podem atender as expectativas dos turistas que visitam Areia/PB ou em qualquer outro município que possui potencial turístico no meio rural. CONSIDERAÇÕES FINAIS O turismo, como uma das atividades que mais cresce no Brasil, pode vir a ser também indutor do desenvolvimento para algumas comunidades. Dentre os segmentos que vem ganhando muitos adeptos está o turismo no espaço rural, merecendo uma atenção especial dos gestores, pois vem se fortalecendo diante de um mercado ainda pouco explorado, principalmente na Paraíba. As iniciativas de Lages (SC), pioneira em desenvolver o turismo rural, fizeram com que outros municípios circunvizinhos começassem a desenvolver esse segmento, utilizando-se de propriedades herdadas dos ciclos econômicos que representavam a política e a economia do país. Com a adoção dessas atividades turísticas no meio rural, as mudanças na realidade da comunidade local poderão ser mais evidentes, além de atrair um fluxo de turistas que ainda não conhecem as belezas que o meio rural oferece, e que a cidade de Areia/PB poderá ter um perfil de turista que valorize as tradições e a cultura local através desse segmento rural. Tornou-se perceptível os benefícios sociais, culturais e econômicos que o turismo rural proporciona aos proprietários e aos turistas, pois com a prática dessa atividade, a comunidade local se sente estimulada com o sentimento de valorização da cultura local. Há realmente uma interação entre turistas e comunidade local. Em Areia, vários proprietários relataram os benefícios com o 409 turismo rural, como empregar gente da própria comunidade, complementando as suas rendas e ao mesmo tempo dando emprego as pessoas da região, movimentando a economia local. Além disso, trabalhar com as pesquisas sobre o fluxo de turistas como uma forma de descobrir o perfil dos mesmos, isso possibilitará uma melhor ação a ser desenvolvida para atender as expectativas dos turistas e consequentemente qualificar o atrativo com um diferencial que possa atrair ainda mais outros turistas. Enfim, é importante saber qual o perfil do turista que pratica o turismo rural, pois possibilita uma melhor forma de planejar as ações de oferta e demanda, trazendo mais qualidade aos produtos a serem oferecidos a essa demanda de turistas, atendendo a todas as expectativas necessárias desses. Além disso, Areia/PB guarda um grande potencial para o turismo rural e que poderá ser dentro de alguns anos um dos mais freqüentados na cidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, Edgar; ROQUE, Andreia. Turismo no espaço rural. Um estudo multicaso nas regiões sul e sudoeste de Minas Gerais. REVISTA Faculdade Teresa Martin. SP.2004. Disponível em: <http://www.idestur.org.br/download/20080614220159.pdf> Acesso em: 03/10/2012. BRASIL. Manual do Turismo Rural – Orientações Básicas. 2ª ed. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publi cacoes/Turismo_Rural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf>. 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Palavras-chaves: Galinhos/RN; Atividade Turística; Meio Ambiente. Abstract The present paper has as the main objective to show the reality of Galinhos/RN, that has been, in since the late 2000s passing for a touristification process, initiated specially by the market agents. It was also quested to make a historical survey of the tourism development at the locality, considering the changes in the local production ways and the part of the residents ahead this phenomenon. For this, it was accomplished a bibliographical, documental research, besides an in loco visit. Facing to the exposed, it‘s concluded that tourism has generated vital transformations in the city, like the active part of the community in meeting related to the tourism activity, which is already considered income generator. Key words: Galinhos/RN; Tourist Activity; Environment. 412 INTRODUÇÃO O turismo, por ser uma atividade que gera impactos diretos e indiretos na comunidade em que acontece, deve ser bem planejado, especialmente quando realizado em áreas naturais, o que é o caso de Galinhos. Para Dias ―[ ] o turismo [ ] não necessita extrair da natureza os recursos de que utiliza para serem consumidos pelos turistas, [...], existe a perspectiva real de que a atividade turística seja a melhor forma de se obter recursos para a preservação do meio ambiente natural. Isto é possível porque os recursos naturais só mantêm seu atrativo quando permanecem o menos alterados possível, preservando sua autenticidade natural‖ ( ,p ) A preservação, de acordo com Dias, é essencial no equilíbrio e manutenção da atividade turística, formando, assim, o que seria a ideia de turismo de base comunitária. A partir do momento em que a comunidade percebe a relevância do ambiente natural e sua manutenção para si e para os visitantes, ela passa a se conscientizar e respeitar este espaço, pondo em prática a educação ambiental. No Rio Grande do Norte, Galinhos não é a única cidade que planeja o turismo com os cidadãos. A ideia de turismo comunitário (feito pela e para a comunidade) também ocorre em Ponta do Tubarão, de maneira ainda mais prática, tendo em vista que Galinhos já tem empresas turísticas que trabalham para o desenvolvimento da atividade, e presença de pousadas. O presente trabalho se trata de uma tentativa de investigação do município de Galinhos, que é recentemente considerado um local turístico. Esta observação ocorreu através de uma viagem de campo da turma do curso de Turismo, da UERN, onde foi conduzida pelos próprios estudantes do curso. Antes da realização do roteiro, foram feitas pesquisas e contatos acerca da comunidade, para que este se desse de forma simples e clara para os estudantes que seriam conduzidos. Galinhos é uma península, localizada no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, aproximadamente 170 km da capital potiguar, Natal, com uma população de cerca de 2.100 habitantes (MARINO, 2012), Galinhos é dividido entre o a sede do município (1.200 habitantes), a comunidade de Galos (500 habitantes) e o Assentamento Pirangi-Barrocão (400 habitantes). Galinhos tornou-se município no ano de 1963. Ressalta-se que o município está inserido no Pólo Turístico Costa Branca, que é composta por 17 municípios do Rio Grande do Norte, onde se busca acolher pontos como a história, cultura, ruralismo, turismo dessas cidades, que compõem em sua grande parte o litoral norte do RN e cidades interioranas como Mossoró, Apodi e Assú. O município de Galinhos é considerado turístico, compondo o pólo e permanecendo com algumas 413 singularidades, sejam nos costumes, ou na maneira como se realiza o turismo, desde o momento do início da experiência. A chegada ao município ocorre através de barco. O visitante deixa o seu transporte no porto Pratagil e segue de barco cerca de 20 minutos até a chegada à cidade de Galinhos. Na cidade não há carros. O que foi observado em relação a isso foram os carros da polícia local e os bugues que fazem passeios turísticos nas dunas com os que visitam o local. A ausência de veículos faz com que a cidade tenha uma imagem de tranqüilidade e simplicidade, mantendo-se como comunidade ainda com seus traços pesqueiros, onde a qualidade de vida é mantida. O município mantém em suas características traços de sua configuração original, ou seja, ruas de areia, casas com aparência rústicas de vila de pescador, praias consideradas ―selvagens‖, com poucas modificações feita pelo homem. Esses fatores aliados às belezas naturais são os atrativos de Galinhos que vem despertando o interesse para o turismo (ROCHA, 2008). Em meados da década de 1980, a cidade passou por um desastre, que foi a destruição de mangues, com morte de diversas espécies de peixes, em vista da criação de um criadouro de camarões, que ainda é ativo no município. Desde então, a comunidade, ao notar que foi prejudicada, passou a atuar de maneira a evitar certas escolhas que diziam ser de desenvolvimento, mas não levavam em conta a sustentabilidade local. Outras ações voltadas para a proteção ambiental serão vistas no decorrer do trabalho. ATUAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL FRENTE AOS NOVOS MODOS DE PRODUÇÃO Galinhos, que como já citado, se tornou município na década de 1980, era inicialmente uma comunidade pesqueira, onde a pesca era a principal atividade econômica, vista praticamente como meio de subsistência. A comunidade viveu por décadas com tal realidade, e nas proximidades dos anos 2000 começou a receber visitantes e turistas, alertando para um outro viés econômico. A partir deste momento, a população galinhense passou a construir pousadas, criar passeios de buggy e charrete para os turistas. O turismo passou, então, a ser diretamente um gerado de renda, e de acordo com Lickorish, ―o turismo pode gerar muitos benefícios, inclusive emprego e receita [...] pode oferecer meios de manter um nível de atividade econômica suficiente para evitar migração de pessoas para as áreas mais desenvolvidas de um país‖ ( ,p ) No tocante ao citado, Nesse contexto, em maio de 2012, a população Galinhense passou por um desafio, que foi a implantação de um parque eólico nas dunas próximas ao município, que fazem parte da paisagem da península A comunidade fez protesto, fazendo o ―abraço das dunas‖, para impossibilitar que a ação fosse posta em prática, mas a tentativa não trouxe resultados concretos para a comunidade, apesar de ter dado grande visibilidade para a atuação da mesma. A ação não teve retorno palpável 414 tendo em vista que as grandes empresas já haviam fechado negócio, e hoje grande parte das dunas já está terraplanada para receber mais aerogeradores, onde alguns dos que já existiam próximo à praia (conforme Ilustração 1) podem ser vistos do Farol Galinhos (Ilustração 2). Ilustração 1: Parque eólico localizado na proximidade do Farol Galinhos Fonte: Câmara, 2012 Ilustração 2: Farol Galinhos Fonte: Brasil, 2012 No projeto da criação do novo parque eólico, estavam previstas as instalações de 35 aerogeradores, localizados nas dunas de Galos, que é um dos atrativos turísticos do município (e o mais visitado, pelas belezas naturais). O abraço das dunas ocorreu no dia 20 de maio, nas dunas de Galos. Um representante da cidade postou num blog fotos do momento e descreveu a indignação dele e de muitos moradores, citando que há diversos lugares nas proximidades onde poderiam ser instalados os aerogeradores, mas as empresas insistiam em instalá-las em cima das dunas de Galos. Ele cita, ainda, que o somente um órgão de caráter ambiental poderia proteger a área em questão era 415 o IDEMA, que, no entanto ―foi o 1º à dar a licença para a empresa explorar aquela área sendo impedida pelo ministério público [...]‖ (MARINO, ) Segue, abaixo, uma das fotos do protesto, postada no blog pelo morador de Galinhos: Ilustração 3: Abraço nas dunas Fonte: Marino, 2012 A RELAÇÃO MEIO AMBIENTE E TURISMO NO MUNICÍPIO DE GALINHOS Galinhos é uma comunidade pesqueira com exuberante beleza natural, que na década de 2000 foi despertada para o turismo, por apresentar potencial nessa área. Hoje, início da segunda década do século XXI, grande parte da população complementa sua renda familiar com recursos obtidos nesse setor, com a venda de produtos e serviços para os turistas que visitam o local. A comunidade se mostra bastante ativa no tocante à atividade turística, agindo de maneira a defender seu patrimônio natural. Sempre busca acolher os turistas e visitantes de todas as partes do mundo. Segundo relatos das duas condutoras que acompanharam o grupo em Galinhos, no município há duas cooperativas: a dos barqueiros e a dos charreteiros. Os barqueiros são responsáveis de conduzir grupos no momento de chegada ao porto da cidade, acompanhá-lo nos traslados entre Galos e Galinhos e no retorno ao porto; Os responsáveis por dirigir as charretes realizam passeios entre o centro da cidade (local do porto onde chegam os turistas) e o Farol Galinhos. Neste sentido, observa-se que apesar do turismo ser uma atividade nova no município e com pouco planejamento, a comunidade está tentando se organizar para ofertar o mínimo de serviços para os visitantes. 416 No que se refere ao planejamento Ruschmann ( , p ) revela que ―a finalidade do planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem sobre o território e ocupa-se em direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os efeitos negativos nos recursos, que os destroem ou reduzem sua atratividade‖ Como mostra o trecho citado acima, o planejamento é a base para o desenvolvimento do turismo de modo equilibrado e em harmonia com os recursos que o sustenta, e busca evitar a destruição dos mesmos. Pode-se concluir, então, que a comunidade de Galinhos/RN consegue agir de forma racional para obter um retorno da atividade turística, mesmo se tratando de um município turisticamente recente. Galinho se diferencia dos demais atrativos que compõem o Pólo Costa Branca por seu fator comunitário, onde a cidade participa ativamente de processos como tomada de decisões, que influenciam diretamente na prática turística. BREVES CONSIDERAÇÕES A proposta inicial do trabalho seria identificar no município de Galinhos peculiaridades para se compreender como ocorre o turismo, numa análise in loco, onde seria notada a presença do planejamento, do comportamento dos trabalhadores do setor no local e dos turistas e visitantes que frequentam a cidade. Observando como se encontra o turismo no município de Galinhos atualmente, uma alternativa para que prospere e se desenvolva de modo menos agressivo possível para a comunidade e seu patrimônio, seria a realização de varias ações na voltadas para a busca desse equilíbrio, como um estudo de capacidade carga do local, o treinamento dos associados das duas cooperativas, para que eles possam atender de modo mais adequado os turistas, formação de condutores de grupo, formação de Guias locais, inserir na educação básica ensino de educação ambiental e patrimonial, dentre outras iniciativas. Sabe-se, ainda, que no Rio Grande do Norte e no Ceará houveram outras manifestações contra a implantação de Parques Eólicos, que não foram citados pelo fato de Galinhos ser o município estudado e analisado. Entretanto, vale salientar que é perceptível a atuação comunitária em novos municípios turísticos, que vêm investindo cada vez mais na sustentabilidade e na responsabilidade ambiental. 417 REFERÊNCIAS BRASIL, Tempo de Aventura. Eco-jipe safári – Galinhos (Roteiro dia-a-dia). Disponível em: <http://www.tempodeaventura.com.br/pt-BR/passeio/eco-jipe-safari-galinhos> Acesso em: 18 de setembro de 2012. DIAS, Reinaldo. Introdução ao turismo. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARINO, Stephason. SOS Península de Galinhos/RN: Destruição de dunas e mangues. Blog S.O.S. Rios do Brasil, 28 de maio de 2012. Disponível em: <http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br /2012/05/sos-peninsula-de-galinhos-rn-destruicao.html> Acesso em: 20 de setembro de 2012. ROCHA, Adriana Cristina Soares. Saúde e saneamento no município de Galinhos – RN. Dissertação (Mestrado em Geografia), Natal – RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2008. 194 f. Disponível em: http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde_arquivos/16/TDE-201102-10T011723Z-3292/Publico/AdrianaCSR_DISSERT_1_a_107.pdf. Acesso em: 29 set. 2012. RUSCHMANN, Doris. Turismo Planejamento Sustentável: a proteção do meio ambiente. 13a ed. Campinas – SP: Papirus, 2006. 418 AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA TRILHA DO CARTEIRO, APA SERRA SÃO JOSÉ, TIRADENTES, MINAS GERAIS Ítalo Sousa de SENA _ [email protected] Hilton Wagner TEIXEIRA - [email protected] Leonardo Cristian ROCHA - [email protected] Múcio do Amaral FIGUEIREDO - [email protected] Resumo A busca da população das cidades por um contato mais estreito com a natureza fez crescer a procura por locais de visitação que proporcionassem esta aproximação. Com isso, surgiram novas modalidades de turismo, dentre elas o turismo de natureza. Esta modalidade de turismo contribuiu para o aumento nos índices de visitação nas trilhas em Unidades de Conservação (UCs) e suas adjacências. Junto com isso, veio a intensificação dos impactos causados nestas áreas. O presente trabalho discute o atual estado dos níveis de erosão e compactação na Trilha do Carteiro, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) Serra São José, no município de Tiradentes, Minas Gerais, através da utilização da técnica do cálculo da Área da Seção Transversal (AST) e medidas de compactação da superfície do solo com uso de penetrômetro. Analisando três trechos da trilha, a AST revelou estágios distintos de erosão em função de características pedológicas e de declividade. Os dados penetrométricos revelaram, conforme esperado, índices de compactação maiores no leito da trilha e menores nas bordas. PALAVRAS-CHAVE: Turismo de Natureza, Trilhas, AST, Compactação do Solo. Abstract The search of the urban population by a closer contact with nature has increased the demand for local visitation that provided this approach. Thus, new forms of tourism, among them the nature tourism. This type of tourism has contributed to increased rates of visitation on the trails in protected areas and its surroundings. Along with that came the intensification of impacts in these areas. This paper discusses the current state of erosion and compaction levels in Carteiro Trail, located in the Serra São José Environmental Protection Area, in the city of Tiradentes, State of Minas Gerais,Brazil, using the technique of calculating the Cross Sectional Area (CSA) and measures compaction of the soil surface using a penetrometer. Analyzing three reaches of the trail, the CSA revealed distinct stages of erosion due to pedological characteristics and declivity. The 419 penetrometer data showed, as expected, higher compaction ratios in the trail bed and lower in the trail edges. KEYWORDS: Nature Tourism, Trails, CSA, Soil Compaction INTRODUÇÃO A humanidade tem entronizado cada vez mais no seu dia-a-dia, a conscientização e atitudesecológicas. Como grande parte da população mundial vive atualmente em espaços urbanos, acarência por áreas verdes, aliada à conscientização cada vez maior dos valores ecológicos, temlevado um crescente contingente de pessoas a buscar um contato mais estreito com a natureza.Seja para lazer, prática de esportes ou simples contemplação, a visitação pública em áreasprotegidas vem aumentando continuamente. Isso é um fator positivo. No entanto, o aumento docontingente de pessoas nas áreas silvestres deveria ser acompanhado de planejamento degerenciamento, principalmente quando se trata de áreas protegidas. O trânsito de pessoas nessas áreas se dá, em sua maioria, através de trilhas existentes para esse fim. No entanto, assim como as trilhas servem como elo entre as pessoas e a natureza, servem também como vetores de propagação de diversos desequilíbrios ambientais, tais como introdução e propagação de espécies vegetais exóticas, pisoteio na vegetação, exposição, compactação e erosão do solo (LIDDLE, 1975). A compactação tem desdobramentos, pois afeta o desenvolvimento de raízes vegetais, interfere nas taxas de infiltração hídrica, além de favorecer processos erosivos (HAMMITT & COLE, 1998). Quando tais fenômenos se intensificam, passam a ser um sério problema gerencial para os administradores das áreas protegidas. Com base nessas definições, algumas atividades como caminhada, observação de aves, camping e natação, entre várias, são promovidas em áreas protegidas. A localização das áreas para o desenvolvimento dessas atividades ocorre, geralmente, em sítios de grande valor cênico. Pode ocorrer que os pontos de maior qualidade visual coincidam com os ecossistemas mais frágeis, neste caso, provavelmente os recursos naturais podem ser danificados (MAGRO, 1999). A principal função das trilhas sempre foi suprir a necessidade de deslocamento, assim como ocorreu com a Trilha do Carteiro, onde o trajeto era realizado como comunicação entre diferentes vilas da região, fazendo parte do circuito de caminhos do Brasil Colonial em Minas Gerais, conhecido como Estrada Real. No entanto, pode-se verificar que ao longo dos anos houve uma alteração de valores em relação àstrilhas. De simples meio de deslocamento, as trilhas surgem como novo meio de contato com a natureza. A caminhada incorpora um novo sentido, passa a ter um sentido em si própria e recebe um grande número de adeptos (ANDRADE, 2003). 420 A trilha analisada é historicamente conhecida como Trilha do Carteiro, que segundo guias locais, serviria de acesso às vilas que circundam a formação rochosa. Por se tratar de uma trilha de secular utilização, é possível perceber que em certos trechos existem estruturas criadas para facilitar o trajeto assim como evitar a degradação da trilha, podendo-se observar blocos da rocha constituinte da serra servindo como calçamento em certos trechos da trilha, principalmente em locais de alta declividade, inclusive com pequenas adaptações para desvio de drenagem pluvial para fora da trilha. METODOLOGIA A Serra de São José situa-se entre os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Coronel Xavier Chaves e Prados, nas coordenadas 21°4'54"S e 44°9'44"W. O clima da região enquadra-se no tipo Cwb, segundo a classificação de Köppen, ou seja, subtropical moderado úmido, também chamado tropical de altitude (Silva et al, 2004), com temperatura média dos meses mais quente e mais frio, respectivamente, de 22 e de 15 °C. Apresenta duas estações bem definidas (verão quente e úmido e inverno frio e seco), com a precipitação média anual em torno de 1.500 mm. A vegetação natural é bastante diversificada (Radambrasil, 1983), apresentando vários ecótipos em um raio de 1 km.No talus da escarpa da serra, a Floresta Estacional Semidecidual é a vegetação dominante, mas nas proximidades são encontradas florestas mistas, com a ocorrência de Araucária. Ao norte e ao leste, predominam os cerrados (Cerrado Stricto sensu, Campo cerrado e Cerradão) (Silva et al, 2004). A partir de 1.250 m de altitude, no maciço metarenítico, predominam os Campos Rupestres, caracterizados por apresentar ampla variedade de espécies de Orchidaceae, Bromeliaceae, Xyridaceaee Velloziaceae(Alves &Kolbek, 1994) se desenvolvendo sobre as rochas e sobre solos pouco desenvolvidos. Geologicamente, as litologias da Formação Tiradentes compõem a Serra São de José e sãoconstituídas por metarenitos puros com níveis ortoconglomeráticos e estruturas preservadas como ripples(marcas de ondas). Constata as demais formações do Grupo São João Del Rei porplanos de falha, (Radambrasil, 1983). Saadi (1991) identificou a ação da tectônica ressurgente nadinâmica da paisagem das adjacências da área estudada, analisando a descrição de um ―Graben‖formado no contato entre os metarenitos da Formação Tiradentes e metassiltitos da Formação Prados. A região faz parte do Planalto de Andrelândia, caracterizado por colinas com toposconvexos e tabulares e encostas convexizadas. Elevações metareníticas como a Serra São Josérepresentam estruturas com vertentes assimétricas, sendo a parte voltada para sudeste e sul umaescarpa vertical, mostrando os efeitos de basculamento a que foram submetidas (Radambrasil,1983). Os solos predominantes na região são os Cambissolos cascalhentos, formados 421 a partir daslitologias metassedimentares do Grupo São João Del Rei. Nos topos concordantes do níveltopográfico regional (em torno de 1.000 m), são encontrados Latossolos formados a partir demateriais retrabalhados (Muggler, 1998). Argissolos ocorrem em encostas e estão associados apequenos diques de rochas básicas. Nas partes baixas da paisagem, são encontrados Gleissolosindiscriminados e Neossolos Flúvicos. No maciço metarenítico e em seus talus, predominam a floramentos de rochas, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos. Em áreas do topo, sãoencontrados solos arenosos com singular alternância de camadas enriquecidas com matériaorgânica em profundidade (Silva et al, 2004). Para realização da análise da perda ou acúmulo de solo no leito da Trilha do Carteiro, utilizou-se o método de cálculo da Área Seccional Transversal (AST), do leito da trilha (COLE, 1983; MARION & OLIVE, 2006), e para um melhor acompanhamento, foram selecionados pontos a cada 400 metros ao longo da trilha, o que facilita o acompanhamento e acelera o processo de análise comparativa (COLE, 1983). Porém, para o presente trabalho foram selecionados trechos específicos dentre os 19 marcados ao longo da trilha. Estes trechos foram escolhidos por apresentarem importantes variações em relação à compactação, exposição e perda de solo. A Trilha do Carteiro foi mapeada com o auxílio de um GPS e uma trena de 30 metros, sendo marcados pontos com intervalos de 400 metros. No total foram marcados 19 pontos, totalizando 6,3km, gerando o trajeto utilizado como atrativo turístico (Fig. 1), em todo o trajeto foram selecionados três pontos que favorecessem uma análise mais pertinente ao objetivo do trabalho, sendo estes os pontos 3, 6 e 17. Figura 01: Imagem orbital do Google Earth™ mostrando o trajeto completo da trilha e os pontos marcados durante o levantamento. 422 O método do cálculo da AST se baseia em selecionar dois pontos fixos nas laterais da trilha, de maneira que formem uma linha perpendicular à trilha, para que, com o auxílio de uma trena, sejam realizados os cálculos de altura da fita em relação ao solo, sendo estas medidas retiradas no intervalo de 10 centímentros ao longo da fita (Fig. 2). Foi possível gerar gráficos de cortes transversais ao longo da trilha utilizando uma fórmula descrita por Cole (1983), onde o mesmo é expresso por: A = V1+2V2+.......+2Vn+Vn+1x L 2 Onde: A = Área Seccional Transversal (AST). V1 - Vn+1 = Medidas verticais começando em V1, e terminando em Vn+1. L = Intervalo horizontal entre as medidas verticais. Figura 2: Exemplo de fixação da linha horizontal para cálculo da AST, tendo como ponto fixo piquetes ou caules de plantas nas laterais da trilha (COLE, 1983). Para a realização das medidas das taxas de compactação do solo foi utilizado um penetrômetro de cone, com anel dinamométrico, de marca Solotest.As medições foram realizadas no leito da Trilha do Carteiro (área impactada) e à 1m de distância de cada borda da mesma (área de controle), com três repetições de penetrometria para cada local analisado, finalizando um valor único através de cálculo de média aritmética para cada local escolhido (FIGUEIREDO et al, 2010), sendo os pontos de coleta de dados os mesmos escolhidos para a realização dos cálculos da AST. A fim de uma leitura mais fiel dos dados, posicionou-se o penetrômetro verticalmente, pressionando-o contra o solo de forma contínua até que o cone penetrasse inteiramente no solo. Os dados foram 423 coletados em Kgf (quilograma-força), sendo a resistência de penetração (qc em Kgf/cm²) obtida dividindo-se a carga de penetração (em Kgf) pela área da base do cone (em cm²). Sendo o diâmetro do cone 28,4mm, a área da base será 6,33cm² (FIGUEIREDO et al, 2010). Os valores finais foram transformados em Mpa (megapascal) com a finalidade de padronizar os dados com a esta unidade de medida, utilizada internacionalmente. RESULTADOS E DISCUSSÃO A erosão do solo é um importante e significativo indicador da degradação da trilha. A utilização do método do cálculo da Área Seccional Transversal (AST) é provavelmente o método replicável mais frequentemente utilizado para monitorar segmentos da trilha afetados por erosão. Esse método pode ser aplicado sistematicamente em posições fixas para redes inteiras de monitoramento de trilhas. A erosão ou a deposição de solos e sedimentos pode ser medida com muito mais precisão e exatidão com esse método, e os dados coletados usando este método são adequados para os gestores que precisam tomar decisões a respeito da manutenção e conservação das trilhas monitoradas (JEWELL & HAMMITT, 2000; GUALTIERI-PINTO et al, 2008). Foram monitorados três diferentes pontos na Trilha do Carteiro. Seu percurso atravessa diferentes domínios vegetacionais (campo, mata, campo de altitude) e cotas altimétricas, proporcionando ao visitante uma prazerosa experiência com a natureza local. Os pontos monitorados foram escolhidos por estarem em trechos com evidência visual de atividade erosiva. O primeiro trecho selecionado (ponto 3), encontra-se a 700m do início da trilha, e mostrouse o local mais degradado ao longo de toda a trilha. Com o auxílio do método da AST gerou-se um gráfico demonstrativo do atual estado do leito da trilha (Fig. 3), que, por ter sofrido intenso processo erosivo histórico, apresenta pronunciado aprofundamento do leito, com taludes laterais de cerca de 3m de altura, cujo cálculo da perda de solo por aprofundamento da trilha, pelo método de Cole (1983), foi de 139600 cm². Por conseqüência, verificou-se instabilidade dos taludes laterais, devido à sua sub-verticalidade e exposição do saprolito.Verificou-se nesse trecho de trilha,uma série de pequenos deslizamentos de terra (Fig. 4). O referido trecho da Trilha do Carteiro encontra-se fora da Unidade de Conservação APA Serra São José, e cruza trechos de propriedades particulares, onde foi possível observar indícios de pisoteio de animais, o que contribui ainda mais os problemas verificados, cujo resultado pode ser a intensificação da compactação e erosão do solo. 424 0 50 Profundidade (cm) 100 150 200 250 300 350 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Distância transversal da trilha (cm) Figura 3: Perfil da Área Seccional Transversal (AST) do ponto 3, conforme Cole (1983). Figura 4: Deslizamento de terra dos taludes do ponto 3, originados pelo aprofundamento do leito da trilha. O segundo ponto analisado (ponto 6 na trilha) encontra-se a 1500m do início da trilha. Este também apresentou avançado estágio de processo erosivo, onde se observou que a profundidade do leito da trilha alcança 1,58m (Fig. 5), e cujo cálculo da AST apresentou perda de solo da ordem de18595cm². Contudo, neste trecho a trilha é menos larga e mais profunda, com uma declividade mais acentuada do que do trecho anterior, propiciando maior concentração do escoamento 425 superficial pluvial. Esse cenário aponta para um provável agravamento da erosão. Neste trecho verifica-se cobertura pedológica de caráter psamítico, menos coesa e, assim, maior 0 20 Profundidade (cm) 40 60 80 100 120 140 160 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 Distância transversal da trilha (cm) Figura 5: Área Seccional Transversal (AST) do ponto 6, conforme Cole (1983). propensão à erosão. O trânsito de animais já não é intenso, pois, entre os pontos 4 e 5 (Fig. 1) existe um quebra-corpo, numa cerca divisória, impedindo que animais de montaria, por exemplo, ou outros animais de porte similar, prossigam pela trilha. No terceiro trecho selecionado (ponto 17) foi possível perceber um padrão diferente dos demais pontos selecionados. Localiza-se no vale do Córrego do Mangue, no alto da Serra de São José, em 3/4 do percurso da Trilha do Carteiro. A cobertura pedológica local é pouco desenvolvida, de caráter psefítico, onde abundam seixos de cascalho angulosos. Contudo, neste trecho também se verifica ocorrência de erosão no leito da trilha, pois a circulação de pessoas neste trecho parece ser intensa. O cálculo da AST apresentou a menor perda de solos entre os três pontos analisados neste trabalho, com 1140cm² de perda de solo. A erosão do solo raso no leito da trilha faz aflorar o substrato rochoso quartzítico, predominante nesse setor da APA Serra São José. O leito da trilha apresenta profundidade de cerca de 13 cm (Fig. 6), não sendo maior devido ao afloramento rochoso, que dificulta a atuação da erosão. Neste local, apesar da declividade suave, o processo de erosão parece ser intensificado pelo trânsito de pessoas, cujo pisoteio sobre a vegetação rasteira, expôs o solo, facilitando a atuação da erosão. 426 0 2 Profundidade (cm) 4 6 8 10 12 14 16 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Distância transversal da trilha (cm) Figura 5: Área Seccional Transversal (AST) do ponto 17, conforme Cole (1983). Além do cálculo da AST para verificação da perda de solo no leito da trilha, foram efetuadas medidas de compactação do solo. A compactação é definida como diminuição do volume do solo ocasionado por compressão, causando um rearranjo mais denso das partículas do solo e conseqüente redução da porosidade (CURI, 1993). Este processo faz com que o solo fique mais vulnerável a outros tipos de processos. Por consequência da diminuição das taxas de infiltração, a drenagem pluvial tende a seguir a o sentido da trilha, assim carreando os sedimentos desagregados do solo. A retirada da vegetação e o consequente pisoteio dos horizontes superficiais do solo, são os principais vetores para a intensificação do processo erosivo. Para entender melhor este processo, procedeu-se o levantamento de dados penetrométricos dentro e fora da trilha, como forma de comparar as taxas de compactação do solo. Foi percebido que o ponto 3 mostrou-se o mais alterado, apresentando uma variação de cerca de 35 Mpa entre o leito da trilha e as suas bordas, onde ainda existe cobertura vegetal (Tabela 1). Por se tratar de um solo de natureza pelítica, tende a sofrer compactação mais intensa, pois, sendo constituído de partículas menores (silte e argila), a compactação promove um intenso rearranjamento dessas partículas, resultando na compactação, e, conseqüente, diminuição da porosidade do solo, cujos desdobramentos originam processos erosivos. 427 Tabela 1: Dados penetrométricosdos pontos selecionados. Ponto Leito da trilha Margem Esquerda Margem Direita Selecionado (MPa) (MPa) (MPa) 03 46,4 7,5 6,3 06 6,6 2,4 1,4 17 10,3 3,6 6,4 . Nos outros dois pontos, 6 e 17, observou-se também uma diferença entre a compactação do solo dentro e fora da trilha, porém esta compactação foi menos intensa. O caráter psamítico e psefítico, respectivamente, dos solos desses dois pontos de análise na trilha, de textura grosseira (areia/cascalho), tendem a sofrer menos o impacto do pisoteio, cujos dados penetrométricos apresentaram números bem menores, porém, mantendo a tendência de maior compactação no leito da trilha em relação às suas bordas. Isso sugere que o trânsito de pedestres, animais de montaria, bicicletas e demais veículos pela trilha, promove progressiva degradação do solo, justificando a realização de monitoramentos regulares das condições das trilhas da referida área protegida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, percebe-se que é necessário pensar um manejo integrado de toda a trilha, que abranja não somente problemas como a intensificação dos processos erosivos, mas também com a dinâmica ecogeossistêmica que circunda todo o percurso da trilha, passível de desequilíbrios originados a partir da intensificação da utilização e visitação turística da trilha. Para que a crescente utilização ecogeoturística seja ambiental e economicamente viável, há de se investir em conservação da trilha.Contudo,tais ações poderiam ser otimizadas, se precedidas de monitoramento da sua qualidade ambiental, com o intuito de adequá-la para que a visitação ecogeoturística cause menos impactos. Portanto, um manejo sustentável se faz necessário quando é perceptível que os níveis de degradação erosiva da trilha tendem a um ambiente de desequilíbrio, aumentando os impactos geoambientais, podendo alterar seus níveis de dificuldade. No caso dos trechos escolhidos, os principais problemas constatados foram o aprofundamento do leito da trilha, sendo que em um dos pontos analisados (ponto 3), verificou-se instabilidade dos taludes laterais, ocasionando deslizamentos de terra, e outros problemas relacionados, tais como o acúmulo de sedimentos no leito, que, em períodos chuvosos, tornam-se lamaçais, dificultando, e até impedindo, a passagem de transeuntes. O equacionamento do problema está no contínuo monitoramento das condições físicas da trilha, de modo que os dados apurados possam subsidiar as decisões sobre as intervenções necessárias à correta manutenção das condições de sua utilização pública. 428 Agradecimentos: os autores agradecem a Fapemig pelo suporte financeiro, a UFSJ pelo suporte logístico, e o IEF-MG pela concessão das licenças de pesquisa na APA Serra São José. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, R. J. V. & KOLBEK, J. Plant species endemism in savanna vegetation on table mountains (Campo Rupestre) in Brazil. Vegetatio, 113: 125-139. 1994. ANDRADE, W. J. Implantação e manejo de trilhas. In: MITRAUD, S. (Ed.) Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília: WWF. p.247- 259. 2003. COLE, D. N. Minimizing conflict between recreation and nature. In: SMITH D.S.; HELLMUND, P.C. (Eds). Ecology of greenways: design and function of linear conservation areas. 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Solo, 28: 455-466, 2004. 430 CAMINHOS DOS ENGENHOS: UM PASSEIO TURÍSTICO PELA CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR NO BREJO PARAIBANO Laura Isabel Guimarães de SOUZA [email protected] Renata de Sousa CORDEIRO [email protected] Roberlândia Rodrigues da COSTA [email protected] Resumo O presente trabalho tem por finalidade divulgar a Civilização do Açúcar Caminhos dos Engenhos, região do Brejo Paraibano que faz parte da programação da Rota Cultural - Caminhos do Frio, um roteiro que possibilita uma verdadeira viagem no tempo. Transportando-se até as remotas épocas do ciclo do açúcar, engenhos de cana em toda a sua ancestralidade em pleno funcionamento, e possibilita conhecer a produção de rapadura e cachaça, complementando assim um roteiro em grande estilo, com passeios ecológicos para apreciar a fauna e a flora da região. Esse segmento incrementa a economia local e oferece novas atividades e sensações a quem visita as cidades, proporcionando o conhecimento e a participação com a cultura e a gastronomia local. Assim, o presente estudo tem como objetivo fomentar a pratica ―Caminhos do Engenho‖ nos municípios pertencente à rota cultural. Entendida, como uma maneira pela qual o individuo conhece e participa ativamente da cultura local e das transformações que se manifestam ao seu entorno, busca-se então incentivar a conservar dos bens material e imaterial que decorrem desse processo de desenvolvimento cultural. PALAVRAS-CHAVES: Rota Cultura, Açúcar, Historia Regional, Turismo. Abstract This paper aims to disseminate the Paths of Civilization Sugar Mills, Brejo region that is part of the Rota Cultural Programming - Paths Frio, a roadmap that enables a real time travel. Hauling up the remote to cycle times of sugar, sugar mills across its ancestry in full operation, and allows understanding the production of molasses and rum, thereby complementing a tour in style with ecotours to enjoy the wildlife and flora. This segment boosts local economy and offers new activities and feelings to anyone visiting the cities, providing knowledge and involvement with the local cuisine and culture. Thus, this study aims to encourage the practice "Ingenuity Pathways" in the 431 municipalities belonging to the cultural route. Understood as a way in which the individual knows and actively participates in the local culture and the transformations that manifest themselves to their surroundings, seek to encourage then to preserve tangible and intangible assets arising from this process of cultural development. KEYWORDS: Route Culture, Sugar, History Regional, Tourism. INTRODUÇÃO Historicamente, desde os primórdios o Brejo Paraibano destacou-se economicamente no cultivo da cana – de - açúcar. Desde meados de 1630 ela foi introduzida na província da Paraíba, em média 18 engenhos em funcionamento, mas só a partir do século XIX essa cultura passou ser a mais explorada na região do Brejo Paraibano (ALMEIDA, 1994: 20-21). As implantações dos engenhos no interior nordestino surgiram bem depois dos engenhos localizados na faixa litorânea. Há registros da existência de engenhos no Brejo Paraibano desde a segunda metade do século XVIII. Nesta época os engenhos do brejo seguindo o exemplo dos engenhos do litoral nordestino, mesmo possuindo pequeno porte deram origem a uma pequena burguesia rural entorno desta atividade produtiva. Assumindo assim, um importante papel na economia colonial, citamos os engenhos de Goiamunduba em Bananeiras, Vaga Brava em Areia e Olho D‘Agua de Bujari em Alagoa Nova, Paraíba. A civilização dos engenhos do Brejo Paraibano deixou as suas marcas no tempo e espaço, sobrevivem às diversas transformações ocorridas pelas gerações e permanecendo viva a historia local na memória e nas construções arquitetônicos. Os edifícios que restaram nesta microrregião são considerados espécimes da arquitetura dos antigos engenhos de açúcar na Paraíba, que hoje representam a riqueza da região em determinada época. Segundo pesquisa feita por Antonio Augusto de Almeida em 1994, existiam aproximadamente 294 engenhos catalogados no Brejo Paraibano. Como principal produto o açúcar, sendo logo substituído pela produção de cachaça e rapadura, por estes possuírem um processo de fabricação mais rápido e rentável (ALMEIDA, 1958: 101). Atualmente existem 52 engenhos ativos, após 240 anos de sobrevivência (dados do IBGE de 2000), divididos por municípios: cinco em Alagoa Grande, um em Bananeiras, seis em Alagoa Nova, dois em Borborema, cinco em Pilões e Serraria, e vinte e oito em areia. Dentre eles só vinte e cinco produzem aguardente, dezenove fabricam aguardente e rapadura e oito só produzem rapadura, totalizando 52 engenhos. (Jônatas Rodrigues Pereira) Marcados pela tradição do cultivo e processamento da cana – de – açúcar, os engenhos conquistaram o valor histórico e cultural da região, o conjunto das suas edificações (casarões, 432 usinas, currais, casa dos moradores, capelas, senzalas entre outros), justificando como valor patrimonial tem a cidade de Areia, elevado no ano de 2006, à categoria de Patrimônio Histórico Nacional, através do tombamento federal, Processo N° 1489-T-02 (MORAIS, 2008: 61). Neste contexto entende-se por monumento histórico o bem selecionado pelo seu valor de rememoração, capaz de manter viva a herança cultural de uma comunidade (CHOAY, 2001: 18). E como afirma José Reginaldo Gonçalves. ―[ ] classificar uma cultura como patrimônio pressupõe que alguém, algum sujeito individual ou coletivo, esteja agindo em relação a ela como se fosse uma propriedade. De um ponto de vista nacionalista, apropriar-se de uma cultura nacional significa um empreendimento no sentido de restabelecer ou defender a integridade e a continuidade de valores supostamente ameaçados [...]. Uma nação é concebida como legitima proprietária de sua cultura‖ (GONÇALVES, : 3) À vista do acima exposto se propõe que os engenhos não podem desaparecer, uma vez que marcou no tempo os hábitos, costumes e tradições seculares da herança colonizadora. A essa Civilização do Açúcar é ampla e difusa em todo estado da Paraíba, abrange toda essa cultura inclusive expandi-se além desta. Uma vez que, trata-se do berço da civilização no Estado da Paraíba, o qual teve a sua importância no desenvolvimento dessa atividade econômica no Brasil. Nos arredores da capital estão cidades – Cabedelo, Lucena, Santa Rita e Conde – que contribuíram muito no desenvolvimento do ciclo do açúcar no Nordeste. Ainda hoje elas mantêm equipamentos, serviços e atrativos que remetem ao Século XVIII. As bases socioeconômicas estruturadas a partir do desenvolvimento do comércio e do acúmulo de riquezas refletiram-se na arte, cultura e arquitetura local. O percurso delimitado no roteiro dos engenhos oportuniza o reconhecimento do passado e o acompanhamento do processo produtivo da cana-de-açúcar local, além de agregar outros elementos turísticos como as paisagens dos canaviais, Igrejas e Capelas de engenho, plantação de flores, teatros, museus, sítios históricos, gastronomia, artesanato entre outros. A arquitetura de alguns engenhos data-se do século XIX,que ainda encontra-se em boas condições de preservação. As cidades que estão inseridas na rota dos Caminhos dos Engenhos, dispõem de um rico acervo histórico, cultural e ambiental, apresentando recursos potenciais e infraestrutura viáveis economicamente para o turismo. Este roteiro é para quem deseja conhecer os principais engenhos do brejo, elaborado com a parceria entre SEBRAE, PBTUR, prefeituras e donos dos engenhos, com o intuito de fortalecer o turismo dessa região. Participam do projeto 15 engenhos localizados principalmente nas cidades de Bananeiras, Pilões, Areia, Alagoa Grande, Alagoa Nova e Serraria (entre maio e agosto). Passear pela civilização do açúcar, conhecer os engenhos, as suas origens e 433 todo processo de fabricação da cachaça e rapadura, permite o visitante ter oportunidade de esta em contato com os fatos históricos, e também vivenciar a experiência de épocas passadas. Diante dessas características, metodologicamente o estudo em tela baseia-se, neste momento, numa abordagem teórica centrada num enfoque descritivo-reflexivo, como referencial para a análise do desenvolvimento desse setor o chamado Turismo de Experiência, o novo nicho que estimulam empresários e gestores locais a inovar seus roteiros e programações. Procurou-se também pesquisar a História das cidades e das comunidades a partir do materialismo histórico e dialético, evidenciando o valor simbólico da identidade local. Para tanto, o turismo é uma atividade multifacetada que se inter-relaciona com diversos segmentos econômicos e demanda um complexo conjunto de ações setoriais para o seu desenvolvimento (PLANO NACIONAL DE TURISMO 2007/2010, p. 13). Os vários recursos que a região do Brejo Paraibano proporciona se transformam em produtos turísticos, mas direcionado para o desenvolvimento sustentável da atividade, com a preservação e a proteção do patrimônio natural e cultural, respeitando assim as diversidades regionais. De acordo com o pensamento dos autores Guerra e Marçal: O Turismo é uma atividade que pode estar intimamente relacionada ao meio físico, em especial aquele que está vinculado à exploração das belezas naturais de uma determinada área, o turismo de aventura, o turismo ecológico, o turismo saúde, o turismo lazer, o turismo rural, o turismo climático, e hidrotermal etc [...] Tem sido a atividade econômica que mais tem crescido nas ultimas décadas, acontecendo praticamente em qualquer parte da superfície terrestre (GUERRA & MARÇAL, 2006, p. 42). Partindo desse pressuposto temos aqui o turismo de experiência, no qual o turista vivencia o dia a dia das cidades visitadas, o lazer e a culinária local, sobre tudo é essa interação do turista e o lugar em que ele visita. Pois o individuo hoje, procura por novos rumos, novas sensações, novas conhecimentos, quebrando com o tradicional, à busca por experiências únicas e originais. TURISMO DE EXPERÊNCIA NO BREJO PARAIBANO Na Região do Brejo Paraibano, o turismo tem cada vez mais sido apontado como um dos roteiros mais atrativos, pois permite o visitante esta em contato direto com as experiências cotidianas vivenciadas por cada comunidade. As potencialidades do destino que vem despontando atualmente reflete um modelo de turismo inovador, competitivo, e sustentável, atendendo as expectativas do seu publico alvo, e com possibilidade do crescimento econômica em cada município. 434 Para acompanhar esse segmento se faz necessários que todos os envolvidos com a prática do turismo (municípios, órgãos e gestores) estejam dispostos para inovar, criar e oferecer produtos e serviços compatíveis e que satisfaçam às novas necessidades do cliente. Acreditando nessa nova face da economia, buscar sempre a criatividade e autenticidade na formatação de produtos e serviços prestados. Ressaltando o pensamento de Furtado (2001): Quando a capacidade criativa do homem se volta para a descoberta de suas potencialidades, e ele se empenha em enriquecer o universo que o gerou, produz-se o que chamamos desenvolvimento ―Este somente se efetiva quando a acumulação conduz à criação de valores que se difundem na coletividade‖ (FURTADO, ,p ) Diante desses aspectos o planejamento para elaboração desses roteiros é voltado para um segmento de mercado que antes não explorado. Adotados pelo Programa de Regionalização que valorizam a questão da participação e da articulação entre as distintas regiões. E proporcionar atrativos turísticos através de roteiros regionais facilitando a divulgação, agregando valor aos produtos e, principalmente, oportunizando roteiros diversos aos turistas. Tendo como enfoque, cada município deve participar ativamente da construção do desenvolvimento regional a partir do seu território, da força e empreendedorismo de sua comunidade, da ação articulada e integrada de sua administração. Os Caminhos do Engenho fazem parte do projeto Roteiro Turísticos do Brejo, também integram o roteiro os Caminhos do Frio desenvolvido pelo SEBRAE. Esse Roteiro surgiu em 2006 envolvendo Prefeituras Municipais, Governo do Estado, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério do Turismo e iniciativa privada. Tal concepção promove o desenvolvimento local, e leva os visitantes a conhecer aspectos importantes da riquíssima e diversificada cultura paraibana, abrindo caminhos para a existência do Turismo de Experiência na região, e contribuindo para os avanços e inovações das práticas turísticas na rota Caminhos dos Engenhos, impulsionando o crescimento desse segmento na região. CONSIDERAÇÕES FINAIS O reconhecimento dessa atividade turística no núcleo rural e urbano da região do Brejo Paraíba, demonstra a preocupação em se preservar os diversos monumentos arquitetônicos tradicionais, sobretudo os engenhos de cachaça e rapadura. Pelo exposto e que foi suscitado, esses destinos ainda enfrenta a dificuldade da desvalorização desses recursos ambientais, sociais e culturais. 435 Contudo a demanda e a oferta valoriza esse momento de transição, onde o consumo passa a ser mais emocional do que racional, cujas empresas terão que agregar seus valores e suas histórias. Mas para que isso ocorra às instituições promotoras do turismo precisam esta de acordo com as necessidades locais, e comprometidas para a sustentabilidade local. Nesta visão, os municípios inseridos no Caminho dos Engenhos contam com as expressões artístico-culturais de seu povo, das atividades que abrigam e dos inúmeros atrativos promovidos durante esse percurso, tudo que o destino tem para oferecer. Apenas necessitam de ações de planejamento que assegurem maior controle desta prática por parte das próprias comunidades e o apoio ao desenvolvimento deste segmento nas suas localidades. Acredita-se que é possível existir esse turismo de forma sustentável, cabe aos gestores responsáveis em se empenharem em criar novos métodos que assegurem a possibilidade desta participação. Mas são as comunidades locais responsáveis em escolher o que deve ser melhorado por meio da pratica turística. Mesmo assim, ainda se mantém viva a tradição da civilização do açúcar o seu cultivo e o processamento da cana-de-açúcar, por quase dois séculos e meio, e essa tradição produtiva vem persistindo na região. Não são apenas construções seculares abandonadas, como em muitos casos, mas sim, sua utilização como recurso dessa atividade turística, que represente a riqueza da região nordestina em determinada época, convidando a quem visita voltar a experimentar as histórias, as sensações e as emoções de um período colonial. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Antônio Augusto de. Brejo Paraibano: contribuição para o inventário do patrimônio cultural. João Pessoa: Museu do Brejo Paraibano, 1994. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia: memórias de um município. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1958. BRASIL. Ministério do Turismo. Gestão das Instâncias de Governança Regionais. Disponívelem:<www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/gestao_ instancias. html>. Acesso em 1 de julho de 2010. CORIOLANO, L. N. M. T. Os limites do desenvolvimento e do turismo. In.: O turismo de inclusão e o desenvolvimento local. CORIOLANO L. N. M. T. (Org.) Fortaleza: FUNECE, 2003. 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Recife: UFPE / MDU / Dissertação de Mestrado, 2008. 437 MEIO AMBIENTE E TURISMO: AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS NOS MANGUEZAIS DO MUNICÍPIO DE MARAGOGI – AL Lydayanne Lilás de Melo NOBRE [email protected] Esron PINHO. [email protected] Andrea Santana Gomes de MELO [email protected] José Jenivaldo de Melo IRMÃO [email protected] Resumo O presente trabalho tem como objetivo investigar a percepção da população nativa da região de estudo sobre os principais agentes degradantes ambientais e suas influências na importância e valoração do turismo. Primeiramente foi feita uma pesquisa de campo nas áreas de manguezais para verificar as áreas em que estão degradadas, além de observar a intensidade dos agentes degradantes que influenciam negativamente a preservação do ecossistema manguezal, como também constatarem se o turismo tem sido um fator degradante para as áreas. No segundo momento foram elaborados questionários semi-estruturados. Foram aplicados 42 questionários com pessoas nativas que convivem intensamente com o ecossistema de manguezal, as quais vêm acompanhando a décadas o desenvolvimento dos manguezais e os fatores que influenciam na sua alteração e deterioração.e se com qual intensidade e freqüência tais situações ocorrem. Também foram analisados diferentes tipos de imagens de diversos lugares dos manguezais para a observação e identificação dos deflagradores de impactos e, com isso, vincular a pesquisa de campo às observações com a finalidade de comparar os dados e se ter uma noção mais acurada da realidade. A atividade turística é muito importante para o município, mas o que se verificou é que esta vem atrelada a degradação ambiental e a própria população tem consciência disto e acham que somente o poder público tem responsabilidade em preservar o ecossistema de mangue, relatando até que são estes os responsáveis pela construção de grandes hotéis no lugar antes habitado por manguezais. Mesmo assim, acreditam que pode haver solução para esta problemática, conservando o que resta, realizando conscientização e recuperando o que se pode, aproveitando destes para desenvolver no município um turismo sustentável. Palavras–chave:Ecossistema, Manguezal, População nativa. 438 Abstract The present study objective to investigate the perception of the native population of the study area on the main degrading environmental agents and their influences on the importance of tourism and valuation. First we made a field research in the areas of mangroves to check the areas where they are degraded, besides observing the intensity of degrading agents that negatively influence the preservation of the mangrove ecosystem, but also if they find tourism has been a factor for degrading areas. In the second phase were prepared semi-structured questionnaires. Forty-two questionnaires were applied to native people who live intensely with the mangrove ecosystem, which for decades have been following the development of mangroves and the factors that influence their deterioration. and change and with what intensity and frequency such situations occur. Were also analyzed different types of images of various places of mangroves for observation and identification of triggers impacts and thereby bind the search field to the observations in order to compare the data and get a more accurate sense of reality. The tourism industry is very important for the city, but what we found is that this is linked to environmental degradation and the population is aware of this and think that only the government has a responsibility to preserve the mangrove ecosystem, reporting until these are responsible for the construction of large hotels in place before inhabited by mangroves. Still, believe it may be no solution to this problem, conserving what remains, conducting awareness and salvaging what they can, using these to develop sustainable tourism in the municipality. Keywords: Ecosystem, Mangrove, Native. Introdução Para as gerações anteriores à década de 1950, meio ambiente era tido como meio de vida apenas, lugar onde se buscava os recursos para a sobrevivência. Época em que homem e natureza viviam em harmonia, pois o ambiente era considerado o único provedor da vida, sem o qual esta se extinguiria. Mas com o tempo as aspirações humanas desvirtuaram o foco até então dado ao meio ambiente. Este, com isso, tornaram-se meio fornecedor de recursos para o desempenho de funções não essenciais a vida, mas simplesmente para saciar a comodidade e vaidade humanas. A verdadeira acepção desse termo não tem apenas relevância conceitual para o mundo acadêmico e científico. É pressuposto indispensável para a formulação de políticas públicas, para a tomada de decisões dos mais diversos ramos institucionais que influenciam na qualidade de vida de nossas futuras gerações, para as aspirações da sociedade que está sempre em busca de soluções para seus problemas; é determinante intenção para a conceituação dos demais termos, pois tudo parte de um gênero, do qual derivam espécies. 439 E, além disso, determinar esse conceito é abrir o leque das abrangências que nossos estudos podem tomar, pois meio ambiente pode perpassar as esferas biológicas e físicas, e alcançar as culturais, econômicas e sociais. O aterramento de um manguezal afeta não apenas aquele ecossistema, mas também as pessoas que vivem dele e o modo de vida das pessoas do entorno. Com isso, os estudos de impactos ambientais não devem ser limitados a elementos físicos e ecológicos, mas também a conseqüências sócio-econômicas, pois os diversos impactos causados, direta ou indiretamente, afetam o modo de vida e a situação financeira e de sobrevivência da sociedade influenciada pelo ecossistema degradado. Para Lana (2003), uma das conseqüências paradoxais destas atuais normas restritivas seria o fato de que, uma vez que os manguezais não podem ser legalmente explorados ou utilizados, costumam ser tratados como recursos sem valor, não havendo interesse das populações locais em conservá-los. O que se vislumbra é que o homem busca, de forma direta ou indireta, o uso da natureza, e que no caso específico dos manguezais, a restrição total ao uso do ecossistema pode paradoxalmente colocá-los em risco. O turismo pelas suas características e, em especial, pela sua dependência da conservação ambiental, encontra dificuldades em sobreviver sem a cooperação entre os setores público, privado e terceiro setor (Gorni &Dreher, 2010). Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo investigar a percepção da população nativa da região de estudo, sobre existência da relação entre a preservação ambiental dos mangues e o possível aumento de capital através do turismo. Material e Métodos Primeiramente foi feita uma pesquisa de campo nos entornos dos manguezais para verificar as áreas em que estão degradadas, além de observar a intensidade dos agentes degradantes que influenciam negativamente a preservação do ecossistema manguezal, como também constatar se o turismo tem sido um fator degradante para as áreas. No segundo momento foram elaborados questionários semi-estruturados para saber da população nativa entende e identifica os impactos antrópicos, responsáveis pela degradação do meio ambiente, a correlação com a atividade turística, tão importante no município. Foram aplicados 42 questionários com pessoas nativas que convivem intensamente com o ecossistema de manguezal, as quais vêm acompanhando há décadas o desenvolvimento dos manguezais e os fatores que influenciam na sua alteração e deterioração e com qual intensidade e freqüência tais situações ocorrem. Essas perguntas foram formuladas de acordo com os fins que se pretende alcançar, que foi o entendimento dos aspectos sociais, econômicos e ambientais daqueles 440 que vivem no entorno dos referidos manguezais. Por isso, as perguntam foram aplicadas a pessoas com diferentes níveis sociais intelectuais. Também foram analisados diferentes tipos de imagens de diversos lugares dos manguezais para a observação e identificação dos deflagradores de impactos e, com isso, vincular a pesquisa de campo às observações com a finalidade de comparar os dados e se ter uma noção mais acurada da realidade. Nesse sentido, também foram estudadas uma variedade de imagens adquiridas por satélite, as quais mostraram em parte a ofegante luta pela sobrevivência desse ecossistema literalmente indispensável à manutenção do equilíbrio ambiental e, conseqüentemente, sócio-econômico, revelando a dependência desse meio para a manutenção da própria vida. Estas imagens foram obtidas da ―APOLO SATMAPS‖, ano , proveniente de http://www.apolo11.com/satmap2_cidades.php?citynum=96, acessado em 27 de janeiro de 2010. Resultados e Discussão De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2005), o município de Maragogi (centro, onde fica o manguezal em estudo) está localizado na região norte-nordeste do Estado de Alagoas, limitando-se a norte com o Estado de Pernambuco, a sul com Japaratinga e com o Oceano Atlântico, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com Jacuípe e Porto Calvo. A área municipal ocupa 333,57 km2 (1,20% de AL), inserida na mesoregião do Leste Alagoano e na microregião do Litoral Norte Alagoano, predominantemente na Folha Sirinhaém (SC.25-V-A-IV) e, parcialmente, na Folha Porto Calvo (SC.25-V-C-II), ambas na escala 1:100.000, editadas pelo MINTER/SUDENE, em 1989. O município de Maragogi está localizado no Litoral Norte do Estado de Alagoas e possui área de 333,73 quilômetros quadrados.A região Norte de Alagoas é composta por dez municípios: Paripoeira, Barra de Santo Antônio, São Luiz de Quitunde, Matriz de Camaragibe, Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga, Porto Calvo e Maragogi. É uma região em que predomina a indústria sucro-alcooleira, tendo como mercado crescente o turismo, especialmente nos municípios à beira mar, com um potencial turístico incontestável, além de contar com cooperativas agrícolas, que beneficiam a agricultura familiar. Segundo o último Censo do IBGE 2010, a população de Maragogi é de 28.746 habitantes. A maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) municipal é proveniente da prestação de serviços, seguido da agropecuária. Apresenta como principais atividades econômicas: agricultura, pesca e turismo. O município de Maragogi integra a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, a APA Costa dos Corais foi criada em 23 de outubro de 1997 e abrange os Estados de Alagoas e Pernambuco, com extensão de aproximadamente 150 Km², que se estende de Maceió, em Alagoas, 441 ao município de Rio Formoso, em Pernambuco. A área foi criada para garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, assim como os ambientes costeiros (COSTA DOS CORAIS, 2010). O Maragogi é um dos principais destinos turísticos de Alagoas depois da capital, no entanto, são as Galés, arrecifes de coral que, na maré baixa, formam piscinas naturais a aproximadamente 5 km da costa. Possui Área de Preservação Ambiental Costa dos Corais, maior unidade de conservação marinha do Brasil, as Galés fazem parte da segunda mais extensa barreira coralina do planeta, estendida ao longo de 135 km, desde Paripueira, em Alagoas, até Tamandaré, em Pernambuco. Figura 1– Manguezal degradado do município de Maragogi - AL Fonte: http://www.panoramio.com/photos/original/2819884.jpg Nesse mesmo sentido, foi verificado também o tipo de agente, supracitados, que, além de ocorrerem com mais freqüência, é mais prejudicial ao meio em termos de impactos ambientais. Com todas as suas experiências, foi identificado entre os pesquisados que 38,1% afirmaram ser o desmatamento (Fig. 1 e 2), o principal agente que, sob as condições encontradas, revelam um potencial ofensivo indistintamente maior que os outros pesquisados. Figura 2– Áreas desmatadas no município de Maragogi - AL Fonte: Satélite ―APOLO SATMAPS‖ 442 Isso é demonstrado, em parte, pelo avanço da atividade de urbanismo e do turismo nas áreas de manguezais (Fig. 3). Figura 3– Área de expansão urbana e turística nos manguezais do município de Maragogi - AL Fonte: Satélite ―APOLO SATMAPS‖ Além disso, 76,2% dos entrevistados disseram que o governo e a iniciativa privada não estão preocupados com a preservação dos manguezais (Gráfico 1), revelando a indiferença desses em relação a esses ecossistemas. Isso demonstra o total descaso das autoridades locais em reação ao meio ambiente daquela cidade, pois, além de não existirem dispositivos legais de controle da urbanização, não há nenhuma preocupação em proteger os ecossistemas costeiros (principalmente os manguezais). Foi perguntado sobre a relevância em instituir medidas de proteção aos mangues concluiu-se que 81% tomam os manguezais como de relevante valor ambiental a ponto de a grande maioria esmagadora da amostra pesquisada achar imprescindível instituir medidas locais de proteção, como, por exemplo, proibição de crescimento da urbanização e dos esgotos, como mostra o gráfico 2. Gráfico 1– Interesse do governo e iniciativa privada locais em relação proteção dos manguezais Fonte: Autor 443 Gráfico 2– Importância na instituição de medidas de proteção ambiental. Fonte: Autor Mas, apesar das considerações importantes acerca dos manguezais feitas pelos pesquisados, 99,9% (Gráfico 3) das pessoas afirmaram não manter nenhuma relação direta de dependência econômica com os mangues. Segundo eles, suas principais atividades de sustentação familiar são a pesca e o turismo. Apesar da importância atribuída aos manguezais em relação aos ecossistemas, 85,7% (Gráfico 4) das pessoas pesquisadas revelaram que os manguezais não desempenham nenhuma relevância econômica em suas famílias, demonstrando uma situação a ser pensada: a sustentabilidade de algo depende da relação de interesse direto e imediato que se mantêm, e que suas consequências futuras não são levadas em consideração. Isso mostra que, apesar da importância percebida dos manguezais, eles não são tratados como essenciais, pois não se têm nenhuma relação de dependência econômica direta que desencadeie ações que protegem e são consistentes. Gráfico 3– Dependência econômica dos nativos em relação aos manguezais. Fonte: Autor 444 Gráfico 4– Relevância econômica familiar nas famílias. Fonte: Autor Em relação à valoração dos manguezais associados à cultura, 52,4% (Gráfico 5) das pessoas analisadas disseram que existem relações culturais entre a comunidade e os manguezais, enfatizando a importante influência desses ambientes na formação da comunidade. Mas, em contraposição a esses pontos de vista, existem os intensos e constantes impactos ambientais promovidos pela falta de educação ambiental e pela própria inconsciência, idealizados pela ausência de relação de dependência econômico-social. Contanto o turismo seja a atividade econômica responsável pela sobrevivência da população local, 66,67% (Gráfico 6) dos nativos responderam que essa atividade não compensa os impactos ambientais derivados, pois além de reduzir a própria atividade do turismo, retrai aquilo que mais atrai o turista que é o meio ambiente em estado natural de conservação e que, por isso, deveria haver também controles legais no sentido de diminuir a quantidade de turistas nos principais pontos turistas e até mesmo na cidade, reduzindo assim a carga sobre os manguezais e outros ecossistemas costeiros. Gráfico 5– Relevância cultural dos manguezais em relação à população. Fonte: Autor 445 Gráfico 6– Capacidade de compensação do turismo em relação a suas consequências ambientais. Fonte: Autor Conclusões Constatou-se que o manguezal do município de Maragogi sofre a influência intensa de diferentes impactos ambientais causados pelo homem e decorrentes de atividades mal planejadas e mesmo executadas. Entre estes impactos antrópicos foram identificados como atividades impactantes o processo de urbanização, turismo, lixo e desmatamento. Verificou-se que o referido ecossistema encontra-se desprotegido com relação aos impactos causados pelas atividades antrópicas, resultando em fatores degradantes como a erosão e a redução dos produtos da pesca. Além destes impactos mencionados, o manguezal de Maragogi apresenta atualmente uma tendência ao aumento da deposição de areias como resultado de intensificação dos processos erosivos na bacia de drenagem o que em curto prazo poderá levar a extinção deste ecossistema, assim como toda a fauna e floras típicas deste ambiente. Sendo assim, as conclusões traduzem uma realidade bem próxima da verdade (a de que os dados não foram dissimulados por opiniões tendenciosas de partes interessadas da sociedade local). Com base no exposto acima fica registrado um alerta para que aos órgãos competentes, os pescadores e catadores, assim como a comunidade do em tono do manguezal de Maragogi, tomem providencias adequadas a preservação e passem a atuar de forma ambientalmente correta visando o desenvolvimento sustentável da região. A atividade turística é muito importante para o município, mas o que se verificou é que esta vem atrelada a degradação ambiental e a própria população tem consciência disto e acham que somente o poder público tem responsabilidade em preservar o ecossistema de mangue, relatando até que são estes os responsáveis pela construção de grandes hotéis no lugar antes habitado por manguezais. Mesmo assim, acreditam que pode haver solução para esta problemática, conservando o que resta, realizando conscientização e recuperando o que se pode, aproveitando destes para desenvolver no município um turismo sustentável. 446 Referências ALVES, Jorge Rogério Pereira (Org.). 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O povoado de Conceição dos Marreiros está localizado no município de Buriti dos Montes- PI que dispõe de um atrativo natural de grande relevância para o desenvolvimento do turismo piauiense, o Cânion do Rio Poti, além de possuir um ecossistema genuinamente brasileiro: a caatinga. Todavia, há a necessidade de se elaborar estratégias que possam capacitar os habitantes do povoado, pois com os estudos realizados observou-se que os residentes não têm informações adequadas para o desenvolvimento ordenado da atividade turística de forma equilibrada, uma vez que é fundamental o envolvimento da comunidade no processo de transformação do atrativo, tendo em vista a significância de agente modificador do contexto em que se encontra o destino. Palavra-chave: Educação Ambiental; Turismo Sustentável; Conceição dos Marreiros. Abstract The present study describes the experience of environmental education accomplished in Conceição dos Marreiros, through awareness of the needs of social, environmental and preservation of local culture. The town of Conceição dos Marreiros is located in the city of Buriti dos Montes-PI that has a natural attraction of great importance for the tourism development of Piauí, the Poti River Canyon, besides has genuinely Brazilian ecosystems: caatinga. However, there is a need to develop strategies to empower the villagers, as with the studies showed that residents do not have adequate information to the orderly development of tourism in a balanced way, since it is crucial involvement 449 community in the transformation process of the appeal in view of the significance of modifier on the context in which it is the destination. Keyword: Environmental Education for Sustainable Tourism; Conceição dos Marreiros. Uma viagem introdutória Para que o desenvolvimento sustentável perdure no tempo e beneficie a atual e as futuras gerações, faz-se necessária sabedoria e conhecimento para que as escolhas e decisões tomadas sejam responsáveis e para que não agravem os problemas que pretendem resolver. Ignorar as consequências negativas das ações é o maior impasse do desenvolvimento sustentável. Tal desconhecimento pode produzir a irresponsabilidade das ações voltadas para resultados imediatos que desprezam os custos de médio e longo prazo. O desenvolvimento sustentável deve ainda sustentar-se em envolvimentos sociais através de metodologia de conscientização ambiental atrelado ao processo educativo que fortaleça a preservação dos recursos naturais e as características culturais. Partindo dessas premissas realizou-se um trabalho de educação ambiental em Conceição dos Marreiros que objetivou sensibilizar a comunidade para a importância do patrimônio histórico e ecológico, possibilitando-lhes acesso à aprendizagem através da vivência e do contato direto com a natureza. Procurou-se estimular a mudança de atitudes e hábitos através da compreensão dos limites e potencialidades local, bem como desenvolver a consciência ética, que possibilite as pessoas entenderem e respeitarem sua cultura e seus atrativos naturais. Os aspectos históricos do município chamaram atenção por se localizarem estrategicamente na rota de migração das populações pré-históricas, onde as evidências podem ser observadas nas gravuras rupestres encravadas no sopé da serra, demonstrando uma ocupação pelos índios Tacarijus, massacrados nos primeiros anos do século XVII pelos colonizadores que transformaram a região em fazendas de gado. A grande quantidade de sítios arqueológicos torna a região um atrativo natural de rara beleza e expressivo acervo arqueológico a céu aberto que chama a atenção de pesquisadores e curiosos. Na cidade de Buriti dos Montes encontra-se parte da história da colonização do Piauí registrada nos casarões de fazendas centenárias, muros e currais de pedra. Além de manifestações culturais e um rico artesanato, dispondo ainda de atrativos naturais que fazem do local uma potencialidade turística, em especial, por abrigar o Cânion do Rio Poti, um recurso natural de beleza cênica que chama a atenção pelos paredões rochosos que margeiam o Rio Poti, que torna a paisagem deslumbrante e convidativa aos mais aventureiros. 450 Considerando estes recursos naturais e culturais foi realizada visita técnica à comunidade de Conceição dos Marreiros, no intuito de aplicar o projeto de educação ambiental desenvolvido no curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual do Piauí, o mesmo foi bem aceito pela comunidade, a qual se mostrou receptiva no que se refere a projetos para a melhoria de seu ambiente local. Dentre as atividades desenvolvidas pelo projeto, estão: Plantio e distribuição de mudas para as famílias da comunidade; Palestra sobre a problemática do descarte de embalagens de produtos agropastoris; Apresentação de uma peça teatral, que tinha como tema turismo e meio ambiente; Brincadeiras e distribuição de cartilhas educativas, cujo conteúdo estava ligado a peça. Partindo desses pontos, tem-se um direcionamento de como serão aplicadas as estratégias e abordagens na comunidade quanto à proposta de Educação Ambiental, visto que ―pequenas atitudes fazem a diferença‖ Turismo sustentável e educação ambiental - um breve debate As preocupações acerca dos temas ambientais iniciaram-se nas décadas 60 e 70, quando o homem passou a questionar-se sobre o modelo de crescimento existente e os impactos negativos que este causava ao meio ambiente. Mas foi somente a partir da década de 80 que surgiu o termo desenvolvimento sustentável. O meio ambiente ecologicamente equilibrado foi incluído como direito fundamental entre os direitos sociais do homem, isso em decorrência direta da Declaração de Estocolmo de 1972, e de lutas e movimentos sociais do período. Fato esse ainda ampliado pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad) realizada no Rio de Janeiro, em 1992, que incluiu em sua Declaração de Princípios a participação da sociedade como o melhor modo de tratar as questões ambientais. O debate acerca do Turismo Sustentável é um fenômeno dos anos 90. Segundo Ruschmann(1997), os conceitos de turismo sustentável e desenvolvimento sustentável estão intimamente ligados à sustentabilidade do meio ambiente, principalmente nos países menos desenvolvidos. Seguindo esta linha, Swarbrooke (2000), coloca que o turismo sustentável não é apenas o contato com meio ambiente, ele também está ligado à viabilidade econômica a longo prazo e à justiça social, não podendo ser separado do debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentável em geral. 451 Essa evolução do pensamento e conscientização do homem quanto às questões ambientais vem sendo discutidas paralelamente a evolução da prática da Educação Ambiental, pois ambas estão intimamente ligadas. Um dos eventos mais importantes que tratam da temática da educação ambiental foi a Conferência de Tbilisi, realizada na Geórgia em 1977, da qual foi extraída uma Declaração sobre a Educação Ambiental. Tal documento continha princípios norteadores e estratégias a serem implementadas quanto à promoção de ações educativas a respeito da conservação do meio ambiente, compreendendo não apenas o meio natural, mas também aqueles produzidos pela ação humana. Na Conferência de Tbilisi, a educação ambiental foi discutida como interdisciplinar e voltada à resolução de problemas locais, devendo ser integrada na educação formal e informal. Dentre as medidas adotadas é citado o treinamento de pessoal e a elaboração de material educativo. Também é reconhecida, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1992), a importância da educação para atingir os anseios que elencava no que diz respeito à conservação do meio ambiente. No seu contexto, a Conferência diz que todos os órgãos e agências internacionais devem, por meio de acordos, estabelecer ações para a formulação de um sistema de educação ambiental em nível internacional. Ainda neste mesmo período ocorreu a Conferência Mundial realizada no Rio de Janeiro, conhecida como Rio-92, que dentre outros documentos produziu a Agenda 21, onde destinou um capitulo somente a Educação Ambiental, além de discussões das soluções globais necessárias para o desenvolvimento sustentável. Portanto, percebe-se que o agravamento dos problemas socioambientais provocados pela dinâmica do crescimento econômico, que a globalização impõe, estimula os debates sobre questões ambientais que são cada vez mais discutidos nas esferas sociais e políticas de diversos países, fortalecendo dessa forma um desenvolvimento de forma mais sustentável e justo. Para isso são necessárias mudanças de comportamento individual e coletivo onde as pessoas devem ceder a estilos de vida menos impactantes. Interpretação e conscientização ambiental - uma abordagem educacional junto à comunidade A educação ambiental é uma das ferramentas indispensáveis, utilizada na estratégia de desenvolvimento do turismo sustentável, pois fortalece e estimular a conscientização da comunidade no processo de preservação e conservação dos seus recursos naturais e culturais. 452 A percepção da valoração das riquezas naturais e culturais perpassa pela forma interpretativa que é dada a estes recursos, pois através da interpretação ambiental o indivíduo é estimulado a perceber mais detalhadamente e, consequentemente, valorizá-las, dada a importância que estes recursos representam no seu cotidiano. Da mesma visão compartilham Del Rio & Oliveira (1999) e Kuhnen (2001), onde: [...] a percepção é um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente, sendo dirigido por dois mecanismos: o sensorial, constituído pelos 5 sentidos; e o cognitivo, na qual há a contribuição da inteligência, motivação, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas. Foto 01, 02 e 03 - Realização de atividades de educação ambiental e integração junto à comunidade de Conceição dos Marreiros - PI. Fonte: Acervo pessoal dos Pesquisadores Para este estudo, levou-se em consideração essa percepção, onde foram estimulados debates junto à comunidade sobre os atrativos naturais e culturais existentes na localidade, com o intuito de despertar o sentimento de pertencimento na comunidade, como um item complementar e indispensável do processo de educação e interpretação ambiental. Para Delgado (2000:156) in: Serrano (2000), a interpretação ambiental, propõe: [...] a preparação e a realização de uma série de atividades específicas, dirigidas a um público ―mutante‖ ou miscelâneo, durante o tempo de sua passagem pelo lugar...tais atividades, preparadas com o intuito de sensibilizar o público a respeito da importância e fragilidade dos sistemas visitados, tentam diminuir ou resolver problemas de impacto decorrentes da presença do turista naquela área especifica ou comunidade, conduzindo a favor da causa ambientalista e procurando reduzir as interferências obrigatoriamente provocadas pela presença de pessoas alheias a elas. Metodologia da Experiência As ações de motivação e conscientização à preservação dos recursos naturais da região de Conceição dos Marreiros foram motivadas quando se observou, através de diagnóstico rápido, o potencial dos aspectos ambientais e culturais que a comunidade se insere, onde se destaca como sendo uma comunidade com potencial de desenvolvimento de um turismo mais sustentável. Nessa análise, observou-se também que a percepção da comunidade em relação as suas debilidades, ameaças, forças e oportunidades do potencial turístico embutido no atrativo Cânion do Rio Poti, não 453 eram suficientemente claras a ponto de ser utilizada como estratégia de desenvolvimento do turismo sustentável local. Foi traçado como estratégia um trabalho de educação ambiental como mecanismo de fortalecimento do sentimento de pertencimento cultural e especialmente de conscientização ambiental que teve como objetivo o intercâmbio de experiências sobre turismo sustentável, promovida pelos alunos do curso de turismo da Universidade Estadual do Piauí – UESPI junto à comunidade do povoado de Conceição dos Marreiros, município de Buriti dos Montes-PI. A experiência baseou-se no Diagnóstico Rápido do potencial turístico natural e cultural da região, destacando, em especial, o Cânion do Rio Poti, objeto principal de estudo, onde se buscou destacar os aspectos ecológicos mais relevantes desse atrativo, para que estas informações fossem utilizadas como ferramentas de conscientização no processo de envolvime