ISBN 978-85-237-0630-2
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Reitora
MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ
Vice-reitor
EDUARDO RAMALHO RABENHORST
Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza
IERECE MARIA DE LUCENA ROSA
Chefe do Departamento de Geociências
ANIERES BARBOSA DA SILVA
EDITORA UNIVERSITÁRIA
Diretor
IZABEL FRANÇA DE LIMA
Vice-diretor
JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
Supervisor de Editoração
ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Editoração e Capa
CRISTIANE DE MELO NEVES
2
Giovanni Seabra
(organizador)
TERRA
Qualidade de Vida, Mobilidade
e Segurança nas Cidades
Editora Universitária da UFPB
João Pessoa, Paraíba.
2013
3
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Giovanni Seabra – UFPB
Prof. Dr. Antônio Carlos Brasil Pinto – UFSC
Prof. Dr. Anderson Portuguêz – UFU
Prof. Dr. Khosrow Ghavami – UNICAP – RJ
Prof. Dr. José Mateo Rodriguez – Universidad de Habana
Profª. Drª. Aldemir Barboza – UFPE
Prof. Dr. Geraldo Moura – UFRPE
Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa – UFPB
Profª. Drª Vanice Selva – UFPE
Prof. Dr. Luis Tomás Domingos – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
Prof. Dr. Edson Vicente da Silva – UFC
Prof. Dr. Jacques Ribemboim – UFRPE
Profª. Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes – UFPE
Profª. Drª. Andrea Pacheco Pacifico – UEPB
Prof. Dr. Fernando Luiz Araújo Sobrinho – UNB
T323
Terra: [livro eletrônico]: Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas
Cidades / Giovanni Seabra (organizador). – João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2013.
16.891 kb/pdf.
V4
854 pag
ISBN 978-85-237-0630-2
1. Meio Ambiente 2. Biodiversidade. 3. Mudanças Climáticas. 4.
Agroecologia. 5. Recursos Hídricos. 6. Degradação Ambiental. I. Seabra,
Giovanni.
UFPB/BC
CDU: 504
Nota:
Este livro é resultado do Fórum Internacional do Meio Ambiente - A Conferência da Terra, uma realização da
Universidade Federal da Paraíba e GS Consultoria, cujo tema central - Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança
nas Cidades, proporcionou amplo debate durante as conferências, palestras e grupos de trabalhos.
As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores.
Todos os direitos desta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.
E-mail:[email protected]
4
APRESENTAÇÃO
Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades
O Desenvolvimento Sustentável do Planeta é um compromisso assumido por 170 países no
Protocolo A Cúpula da Terra, assinado durante a realização da Rio–92, no Rio de Janeiro. Para
atender as aspirações das nações presentes, a Rio-92 aprovou a Agenda 21, documento contendo
uma série de intenções acordadas pelos países signatários. Inúmeros problemas urbanos seriam
solucionados, caso as cláusulas da Agenda 21 fossem obedecidas. Contudo, o cumprimento dos
objetivos da Agenda 21 depende da inversão de capitais na execução de programas destinados à
melhoria da qualidade de vida da população dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Após 20 anos de sua concepção, o grande desafio da Agenda 21persiste: tornar as cidades
sustentáveis e humanamente habitáveis.
O livro Terra: qualidade de vida, mobilidade e segurança nas cidades contém 530
capítulos, editados em cinco volumes, contendo os trabalhos acadêmicos e científicos apresentados
durante a realização da A Conferência da Terra – Fórum Internacional do Meio Ambiente.
Realizada no período de 20 a 23 de novembro de 2012, em sua terceira edição, A Conferência da
Terra foi sediada na cidade de João Pessoa, reunindo 1500 participantes do País e do exterior.
O tema geral do colóquio Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades, título
deste livro, é pautado em 17 eixos temáticos. Os eixos balizaram os trabalhos teóricos,
metodológicos e técnicos, desenvolvidos nos diferentes campos da ciência, aplicados em situações e
cenários ambientais diversos, e publicados na forma de capítulos.
A riqueza e excelência do conteúdo deste livro constituem uma singular fonte de
informação e de pesquisa a todos aqueles que se interessam pelas questões ambientais em suas
dimensões ecológicas, naturais, sociais, econômicas, culturais e éticas.
Com a edição desta obra, A Conferência da Terra confirma o seu objetivo primordial de
sensibilizar, mobilizar e conscientizar os diversos setores da sociedade para a tomada de atitudes de
modo a assegurar uma agenda ambiental comprometida com a conservação da biodiversidade e o
desenvolvimento ecologicamente e socialmente equilibrado.
Giovanni Seabra
5
SUMÁRIO
10 – Mudanças Climáticas:
implicações ambientais e socioeconômicas.........................................................10
Precipitação Extrema na Área Urbana de Salvador
Condições Atmosféricas, Atividade Aérea e Distúrbios Cardiovasculares no Organismo
Humano
Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental em Microbacia Hidrográfica Localizada em um
Núcleo de Desertificação
Potencial de Reservação D‘água em uma Barragem Subterrânea no Cariri Paraibano
11
22
33
43
Mudanças Climáticas em Ambientes Urbanos – Teresina - PI
53
Clima Urbano e sua Relação com o Uso e Cobertura do Solo em João Pessoa/PB
64
Mudanças Climáticas e seus Impactos no Semiárido Brasileiro
75
Regime Pluvial do Sertão da Paraíba: variabilidade ou mudança climática?
82
Uso de Técnicas de Sensoriamento Remoto na Detecção de Áreas Degradadas e
Susceptíveis a Desertificação no Semiárido Paraibano
Análise das Práticas Agrícolas Sustentáveis do Cultivo da Mamona no Sertão Central
Cearense: uma alternativa para redução dos efeitos das mudanças climáticas
Influência dos Fatores Climáticos na Manifestação de Doenças do Aparelho Respiratório:
uma abordagem teórica
Mudanças Climáticas e Mídia: configurando o cientificismo ambiental
As Mudanças Climáticas e suas Implicações na Saúde Humana
Eventos Pluviométricos Extremos e seus Impactos na Região Metropolitana do Recife:
episódio de 2010
O Uso de Pluviômetros Caseiros em Bairros Selecionados no Município de Curvelo para
Elaboração de um Gráfico Simples de Precipitação
Dinâmicas Hídricas no Alto Curso do Rio Paraíba, o Caso do Município de Cabaceiras –
PB.
Desertificação no Semiárido Brasileiro: implicações geoambientais nos sertões do médio
Jaguaribe
Teste de Infiltrômetro em Área Desertificada no Município de Caraúbas – PB
93
104
113
124
135
146
158
170
182
194
Desertificação no Seridó – Oriental: a ótica do sertanejo e contribuições para a mitigação
desse processo
203
Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa a partir da Degradação de Resíduos
213
Depositados em Aterros Sanitários no Rio Grande do Norte
6
Análise Socioeconômica dos Municípios Paraibanos sob a Perspectiva da Desertificação
As Vulnerabilidades Socioeconômica, Política e Ambiental do Haiti Face às Mudanças
Climáticas
Métricas da Paisagem na Análise dos Padrões Espaciais de Desertificação em Ambiente de
Caatinga Utilizado Sistemas de Informações Geográficas
A Praga da Cochonilha de Carmim (Dactylopius Opuntiae) e os Impactos Socioeconômicos
nos Cariris Velhos/PB
A Variabilidade dos Oceanos Atlântico e Pacífico e a Influência sobre a Precipitação e a
Agricultura do Cariri Paraibano
225
235
250
262
271
11 – Turismo, Patrimônio e Responsabilidade Socioambiental............................285
Contribuição ao Estudo do Turismo de Segunda Residência:
o caso do Condomínio Águas da Serra Haras e Golf no Município de Bananeiras - Paraíba
Reflexões Sobre o Turismo na Área Costeira Nordestina
Turismo: por meio do olhar patrimonial no Município de Rosana - SP
Turismo Rural Comunitario y Los Efectos de Calidad y Sostenibilidad Ambiental en Costa
Rica
Incorporación de Atractivos Culturales en la Oferta Turística de Chile
Turismo e Educação Patrimonial Caminho do Itupava, Paraná, Brasil
Análise Sobre os Impactos na Imagem do Produto Turístico Porto de Galinhas Provocadas
Pelo Complexo Industrail e Protuário de Suape
Aplicação da Escala do Novo Paradigma Ecológico na Praia da Pipa/RN
Identidades e Dinâmicas Territoriais: o processo de articulação do turismo rural em
Areia/PB
Propuesta para el Desarrollo de la Actividad Turística Responsable en el Conjunto Urbano
de la Catedral de la Asunción, Ciudad de León, Nicaragua – Centroamerica
Ruralidades no Espaço Urbano: uma análise a partir da restruturaçãode um pesque-pague no
Município de Ituiutaba – MG
O Perfil do Turista Rural em Areia/PB
286
298
310
319
332
343
350
361
370
381
392
403
Galinhos/RN: atividade turística e meio ambiente
412
Avaliação do Estado de Conservaçãoda Trilha do Carteiro, APA Serra São José, Tiradentes,
Minas Gerais
Caminhos dos Engenhos: um passeio turístico pela civilização do açúcar no Brejo Paraibano
419
Meio Ambiente e Turismo: avaliação dos impactos nos manguezais do Município de
Maragogi – AL
Educação Ambiental para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável: uma experiência
com a comunidade de Conceição dos Marreiros-Buriti dos Montes/PI
Planejamento Participativo, Desenvolvimento Local e Turismo Religioso na Cidade de
Santa Cruz(Rio Grande do Norte)
431
438
449
461
7
Turismo e Meio Ambiente como Proposta de Valorização do Semiárido Cearense
476
Potencial Turístico: um estudo acerca do Geoparque Seridó
489
Turismo Comunitário e de Eventos: envolvimento dos moradores locais da Prainha de Canto
Verde em Beberibe – CE
501
A Importâcia do Turismo Sustentável nas Regiões Litorâneas: um estudo de caso da Praia de
Porto de Galinhas / Ipojuca – PE
512
Desenvolvimento Sustentável: um olhar na Comunidade Chã do Jardim / Areia - Paraíba
521
12 – Legislação, Direito Ambiental e Cidadania...................................................532
Legislação Ambiental e Cidadania em Busca do Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente
Equilibrado
O Direito Agrário-Territorial e as Implicações Sobre a Sustentabilidade dos Povos e
Comunidades Tradicionais Amazônicos: breves considerações à luz das Leis Federais N
EN
e do Decreto Federal
Normas Jurídicas Aplicadas a Educação Ambiental: Aspectos gerais da Legislação
Ambiental no Brasil
Desafios Jurídicos do Licenciamento Ambiental e Delimitação Áreas de Preservação
Permanente no Maciço de Baturité (CE)
Evolução das Regras Jurídicas Urbanísticas e Ambientais do Município de Mossoró (RN)
Direitos Humanos, Cidadania e Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988
533
545
557
571
582
591
Ineludíveis Digressões do Standard de Desenvolvimento Sustentável: uma nova matriz de
racionalidade a partir e além da questão canavieira
602
A Dignidade da Pessoa Humana na Concretização dos Princípios Ambientais da Prevenção
e da Precaução
615
A Função Ambiental da Propriedade como Instrumento de Realização da Reforma Agrária
623
Custos Ambientais: uma abordagem sobre o processo de gestão
628
A Legislação Nacional dos Resíduos Sólidos e o Processo de Reciclagem
638
O Judiciário entre a Proteção dos Mananciais e o Desenvolvimento da Atividade Econômica
646
Governança Ambiental como Instrumento no Processo de Construção da Preservação do
Meio Ambiente
651
13 – Usos, Manejo e Gestão dos Recursos Naturais............................................658
Degradação Ambiental, Manejo do Solo e Biodiversidade em Áreas de Nascentes no
Semiárido Pernambucano
659
Reuso de Água e Composto Orgânico na Produção de Algodão Colorido, Respeitando o
Equilíbrio Ambiental
671
8
Regeneração de Espécies Arbóreas Nativas para Formação da Reserva Legal
Plantas Medicinais da Família Asteracea Utilizadas pela Comunidade Rural de Aratama,
Município de Assaré, CE.
Aproveitamento de Água Pluvial no Complexo Central de Tecnologia do Banco do Brasil
A Biomassa Florestal como Insumo Energético: um perfil do consumo no Bioma Caatinga
do Estado da Paraíba
Recuperação de Mata Ciliar na Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró no Perímetro
Urbano de Mossoró - RN
Diagnóstico Com Vistas à Implantação de Técnicas Conservacionistas no Sítio Lutador,
Queimadas - PB
Estádios Ontogenéticos e Variações no Crescimento em Diâmetro de uma Espécie Lenhosa
em uma Área de Caatinga em Caruaru, Pernambuco
682
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701
715
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736
746
14 – Reciclagem e Reaproveitamento dos Produtos Industriais...........................756
Minimização e Valorização de Resíduos Gerados por Indústrias Produtoras de Suco de
Laranja
Ecocampus - Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Cantinas Universitárias Estudo de
Caso Puc Minas - Campus Coração Eucarístico
A Compostagem dos Resíduos Sólidos Urbanos em Pernambuco: dos aspectos legais à
implantação
Estudo do Comportamento Plástico e Mecânico do Concreto com Adição de Resíduo de
Botão
Educação Ambiental: integração entre a comunidade escolar e os comerciantes do mercado
757
768
780
785
público de mangabeira sobre os problemas ambientais causados pelo óleo de cozinha usado
797
Impacto Socioeconômico e Ambiental do Reaproveitamento de Óleo no Município de Areia
– PB
Utilização de Resíduos Agroindustriais como Substratos na Produção de Mudas de
805
Girassóis
815
Valoração Econômica dos Resíduos Sólidos Domiciliares no Município de Jaboatão dos
Guararapes/PE
Potencial do Sertão Central Cearense para a Produção de Energia Elétrica a partir de Biogás
827
Obtido através de Resíduos Sólidos Domiciliares
836
Aspectos Socioeconomico dos Catadores de Materiais Recicláveis do Lixão do Município
de Solânea/PB
843
9
10 – Mudanças Climáticas: implicações
ambientais e socioeconômicas
10
PRECIPITAÇÃO EXTREMA NA ÁREA URBANA DE SALVADOR
Aldinete Bezerra BARRETO
Professora da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
[email protected]
Maria Regina da Silva ARAGÃO
Professora da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
[email protected]
Magaly de Fatima CORREIA
Professora da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
[email protected]
RESUMO
Neste trabalho o objetivo é estudar a variabilidade da precipitação na região de Salvador, com foco
em eventos extremos de chuva (total diário igual ou maior do que 50 mm). Os totais pluviométricos
diários e mensais observados na estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET) no período 1964-2009 possibilitaram analisar a frequência de dias com chuva e a dos
eventos extremos, estudar a variabilidade sazonal da precipitação e obter desvios padronizados
(DPP) mensais em relação à climatologia. Foi observado que o quadrimestre chuvoso é de abril a
julho, representando 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas, com máximo mensal no mês de
maio (359,9 mm). A correlação entre o número de eventos extremos e o Desvio Padronizado de
Precipitação identificou uma relação direta entre a ocorrência de eventos e total mensal de chuva
acima da média, com destaque nos meses do quadrimestre chuvoso (abril, maio e junho) e nos
meses de chuvas atípicas (dezembro e janeiro) que apresentaram os coeficientes máximos (> 0,8).
Palavras-chave: Área Urbana, Variabilidade da Precipitação, Evento Extremo
ABSTRACT
In this work the goal is to study the variability of rainfall in the region of Salvador, focusing on
extreme rainfall events (daily total equal to or greater than 50 mm). The daily and monthly total
rainfall observed at the weather station of the National Institute of Meteorology (INMET) in the
period 1964-2009 to analyze the possible frequency of days with rain and extreme events, study the
seasonal variability of precipitation and obtain standardized deviations (DPP) monthly relative to
climatology. Was observed that the rainiest four is from april to july, representing 51% (1088.4
mm) of the total annual rainfall, with a monthly maximum in May (359.9 mm). The correlation
between the number of extreme events and the Standardized Precipitation Deviation identified a
direct relationship between the occurrence of events and monthly total rainfall above average,
11
especially in the months of the rainiest four (April, May and June) and the months of rain atypical
(december and january) that presented the maximum coefficients (> 0.8).
Keywords: Urban Area, Precipitation Variability, Extreme Event
INTRODUÇÃO
A relação do homem com a natureza faz com que as condições do sistema natural sejam
alteradas, sendo as áreas urbanas as que mais expressam essas alterações. Essas modificações
atingem principalmente as áreas com acelerado processo de urbanização, por serem regiões que
crescem sem planejamento público e modificam intensamente a superfície local através de
processos como: retirada da cobertura vegetal, realização de cortes para nivelar o terreno, aterros,
impermeabilização das vias urbanas, alterações nas bacias de drenagem e ocupação desordenada de
morros e encostas. As alterações ambientais causadas por esses processos são sentidas pela
população, tendo em vista que o ambiente construído pode alterar elementos meteorológicos como a
temperatura, umidade relativa do ar, ventos e precipitação, que apesar de serem fenômenos naturais,
podem ser modificados pela configuração e estrutura da área urbana, dando origem ao clima
urbano. Segundo Monteiro & Mendonça (2003) esse clima consiste na alteração do clima local, o
qual assume importante papel na questão ambiental.
O estudo do clima das áreas urbanas e suas alterações têm recebido atenção da sociedade
civil e cientistas, e vem sendo discutidos em fóruns de discussão sobre meio ambiente. O IPCC Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change), nos
cenários de mudanças climáticas do seu 4° Relatório IPCC AR4 (2007), aponta para uma série de
mudanças climáticas globais na temperatura do ar à superfície e nos padrões de precipitação. Com
um aumento na temperatura, o número de eventos extremos de precipitação pode aumentar e, com
isso, a média mensal da chuva também aumenta. Num clima mais quente há grande probabilidade
de expressivo crescimento dos desastres naturais pelo aumento da ocorrência de secas e de chuvas
intensas no litoral brasileiro (Silva Dias & Silva Dias, 2007). Nas regiões metropolitanas e pólos
industriais essas mudanças no clima são ainda mais perceptíveis a população, a exemplo do
aumento da temperatura nas áreas centrais, precipitações intensas, inundações e alagamentos.
Nas grandes áreas urbanas do Brasil, a precipitação é o fator meteorológico responsável pela
ocorrência de alagamentos e pelo desabamento de moradias em deslizamentos de encostas. A
vulnerabilidade das áreas urbanas aos eventos intensos de precipitação é agravada quando associada
a problemas de infra-estrutura urbana. A exemplo do sistema de drenagem que não suporta o grande
volume de água, não só por causa das chuvas em excesso, mas também por conta do acúmulo de
resíduos sólidos e entulho, o que dificulta o escoamento da água, interditando vias, e
12
impossibilitando o tráfego de pessoas e de automóveis, causando transtornos e prejuízos à
população. Outros problemas bastante comuns são os deslizamentos de encostas devido à saturação
do solo e alagamentos em ocupações de áreas de várzea.
No Brasil vários estudos têm relatado as alterações na precipitação das grandes cidades,
capitais e regiões metropolitanas, no entanto, ainda são poucos os trabalhos realizados com um
enfoque local, para áreas urbanas do litoral do Nordeste, podendo citar Silva Aragão et al. (2006),
Santos et al. (2008a e 2008b) e Santos (2008) que analisaram um evento de chuva extrema em
Salvador.
Na cidade de Salvador, capital baiana situada no litoral leste do Nordeste, cujo total anual de
chuva é de 2144,0 mm (RAMOS et al., 2009), os riscos e prejuízos relacionados com chuvas
intensas e continuas ocorrem principalmente no outono e inverno (Barreto et al., 2008). Sendo a
terceira cidade do Brasil com 2.675.656 habitantes (IBGE, 2010), Salvador é particularmente
vulnerável a eventos intensos de chuva, não somente pela ocupação precária e desordenada do solo
urbano, mas também por seu relevo acidentado.
Considerando as chuvas ou a falta delas, em qualquer magnitude, como um fator essencial
para o desenvolvimento das atividades humanas, que pode resultar em prejuízos socio-ambientias,
este estudo teve como objetivo de investigar a variabilidade da precipitação da cidade de Salvador,
partindo do presuposto que as consequências das chuvas intensas em área urbana requer uma
abordagem multifatorial que envolve, desde a implantação de políticas públicas para o uso e a
ocupação do solo urbano, até um conhecimento mais profundo do regime pluviométrico.
MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho foram utilizados totais diários de precipitação observados na estação
climatológica principal do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) em Salvador (13°00'S,
38°30'W, 51,41m), no período de 1964 a 2009. Foram excluídos 11 anos da análise, dos quais 7 por
total ausência de dados (1971-1972, 1981-1985) e os anos de 1986, 1988, 1989 e 1990 por
apresentarem alguns meses sem dados diários. Os dados foram usados para identificar variações
diárias, sazonais e interanuais da chuva em Salvador, incluindo a identificação e freqüência dos
eventos extremos de precipitação. Foi calculado, para cada mês do período, o número de dias com
chuva, o número de eventos extremos de precipitação (NEE), a Chuva Mensal (x i), a Média Mensal
Climatológica (µi) e o Desvio Padrão (σi) que permitiu o cálculo posterior do Desvio Padrão
Padronizado (DPP), e por último os coeficientes de correlação entre os DPPs e os NEE.
13
O Desvio Padronizado de Precipitação Mensal (DPPij) permite alocar os dados em classes
positivas e negativas, fornecendo informações quanto à magnitude da anomalia da precipitação, e é
dado por:
na qual i=1, 2, 3, ..., 12 identifica o mês e j=1,2,3, ... identifica o ano.
Utilizando a técnica do percentil, foram considerados eventos extremos aqueles com valor
diário igual ou maior do que o percentil P=98, que é determinado considerando a notação P[(n)x(p)]+,
na qual n é o total de valores da série, p o percentil em decimais e [(n)x(p)] a posição daquele valor
após os dados terem sido ordenados de modo crescente, de forma que P[(n)x(p)]+ é o ponto
percentílico do percentil desejado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A normal climatológica da chuva anual em Salvador é de 2144,0 mm (RAMOS et al., 2009),
enquanto que a média anual do período em estudo é de 1997,2 mm. Essa média e a distribuição
anual da precipitação são apresentadas na figura 1. O ano com maior total anual foi 1964 (3.223,20
mm), seguido por 1999 (2677,9 mm) e 1975 (2672,9 mm). Os episódios de La Niña registrados
nesses anos podem ter contribuído para esses valores elevados. O menor total anual de precipitação
foi registrado em 1993 (1233,2 mm), ano de El Niño.
Figura 1. Distribuição do total anual de precipitação e média climatológica do período 1964-2009
da estação de Salvador (Fonte dos dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)).
Já a Figura 2 ilustra as normais mensais de precipitação do período 1961-1990 (RAMOS et
al., 2009), e as médias mensais e desvios padrões do período em estudo. Observa-se que as normais
mensais de precipitação e as médias mensais apresentam valores bem próximos, e evidencia que os
meses de abril a julho constituem o quadrimestre mais chuvoso, com precipitação média mensal que
varia de 175,0 mm a 359,9 mm, representando quase 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas
na cidade. Rao et al. (1993), destacaram esse período de abril a julho no período de 1964-1983
14
como a estação chuvosa no litoral leste do Brasil e Barreto et al. (2008) encontraram o mesmo
quadrimestre chuvoso nos dados de Salvador do período 1964-2007. Nos meses de dezembro e
janeiro há indicação de ocorrência de chuvas atípicas, considerando os altos valores do desvio
padrão em relação à média mensal.
Figura 2. Distribuição mensal da normal climatológica de precipitação (1961-1990) e da
precipitação média e desvio padrão (DP) do período 1964-2009 da estação de Salvador (Fonte dos
dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)).
A Figura 3 apresenta o número de dias com chuva quando considerado o período mensal e
anual. O quadrimestre chuvoso (Fig. 3a) apresenta a maior frequência mensal, 114 dias com chuva,
e observa-se que seu valor médio varia entre 21 e 23 dias. O valor máximo, 29 dias, é visto nos
meses de maio, junho e julho, e o valor mínimo, 12 dias, em maio de 1973. Na Figura 3b que
representa os meses de agosto-novembro, a freqüência mensal é de 97 dias de chuva. Já o valor
médio mensal varia entre 12 e 16 dias, exceto pelo mês de agosto com 20 dias. O valor máximo, 28
dias, é visto em agosto de 1967, e o valor mínimo, 5 dias, em outubro (1992 e 1995) e novembro
(2009). A frequência mensal dos meses de dezembro a janeiro (Fig. 3c) é de 95 dias de chuva, com
valor médio mensal que varia entre 11 e 17 dias. O valor máximo (27 dias) e o valor mínimo (3dias)
são vistos em fevereiro de 1997 e dezembro de 1994, respectivamente.
(a)
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1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
0
Ano
dez
jan
fev
mar
Figura 3. Frequência mensal do número de dias com chuva no período em estudo em Salvador nos
meses de: (a) abril-maio (quadrimestre chuvoso), (b) agosto-novembro e (c) dezembro-março.
É importante ressaltar que todos os meses da série temporal no período em estudo
apresentaram dias com chuva. No entanto, esses totais pluviométricos mensais, em alguns casos, se
apresentam acima da normal climatológica. Esse fato está associado com dias de chuvas mais
intensas no determinado mês. Dependendo da intensidade e continuidade dessas chuvas,
potencializam-se os riscos e prejuízos sócio-ambiental na cidade de Salvador.
A freqüência dessas chuvas intensas é apresentada na Tabela 1, que contém dados relativos
ao número de eventos extremos (NEE) de chuva determinado através da técnica do percentil. Essa
técnica aplicada à série temporal dos dados diários permitiu identificar um total de 228 eventos
extremos de precipitação (total diário igual ou maior do que 50 mm), dos quais 140 ocorreram nos
meses de abril, maio, junho e julho, com valores de 49, 48, 28 e 15, respectivamente, e número
máximo de eventos (5) no bimestre abril-maio. A Figura 4 mostra os resultados da análise dos
16
dados mensais da precipitação de Salvador, em conjunto com a normal climatológica e com o
número de eventos extremos de precipitação, observados no quadrimestre chuvoso da série em
estudo.
TABELA 1 Frequência (número mensal e anual) de eventos extremos de chuva (total diário igual
ou maior que 50 mm) no período de estudo.
Ano/Mês
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1987
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total
3
2
1
1
2
1
1
2
13
1
1
2
4
3
1
4
2
2
1
5
1
2
1
3
2 1
1
11
1
1
5
2
1
2
12
1
2
1
1
1 1
1
8
3
3
1
1
8
1
2
2
1
6
5
2
7
1
1 1
3
1
1
1
1
2 1
2
9
2
3
1
1
2
9
2
1
3
1
1
1
3
1
1 1
1
4
1
2
1
4
1
1
1
3
2
1
3
2
2
3 1 1
9
1
2
1 1
5
5
1
1
1
8
1
1
1
1
4
1
2 2
5
1
2
3
1
1 2
1 1
3
15
1
2
1
1
5
1
1
2
1
2
1 1 1
1
7
1
3
1 1
6
2
1
1
2
2
1
9
3
3
3
9
5
2
2
1
2
12
1
1
2
1
1
2
4
4
1
9
TOTAL
11
14
11
49
48
28 15
8
7
12
16
9
Total Acumulado
13
17
21
26
37
49
57
65
71
78
81
90
99
102
105
109
113
116
119
128
133
141
145
150
165
170
172
179
185
194
203
215
217
219
228
228
No mês de abril (Fig. 4a) há 13 anos com chuva acima da normal climatológica (309,7 mm), nos
quais há 39 eventos extremos de precipitação (80% do total de eventos de abril). Os valores
17
máximos da série são vistos no ano de 1975 (737,9 mm), 1996 (757,8 mm) e 2006 (587,4 mm),
todos com 5 eventos. Essas chuvas do ano de 1996 provocaram enchentes no litoral da Região
Nordeste e foram destaques no Boletim de Monitoramento e Análise Climática (CLIMANÁLISE),
que associou as chuvas intensas à atuação de distúrbios de leste e de sistemas frontais. No dia 21 de
abril de 1996, em Salvador, 14 pessoas perderam a vida em um soterramento na favela do Barro
Branco, região do Retiro (CODESAL).
A Figura 4b, que ilustra os totais pluviométricos do mês de maio, apresenta 15 anos com
chuva acima da normal climatológica (359,9 mm), nos quais há 41 eventos extremos (85% do total
de eventos de maio). Os máximos mensais (valores acima de 500 mm) estão nos anos de 1969
(592,2 mm), 1973 (599,9 mm), 1975 (560,4 mm), 2003 (550,5 mm) e 2009 (549,3 mm). No mês de
maio de 1973, em apenas três dias consecutivos choveu 309,3 mm, o que representa mais de 95%
da normal mensal. O mês de maio de 2009 também se caracterizou por fortes chuvas. Houve quatro
(4) eventos extremos de precipitação. O Relatório Final da Operação Chuva 2009, elaborado pela
COORDENADORIA DE DEFESA CIVIL DE SALVADOR (CODESAL), documenta que as
chuvas intensas e contínuas provocaram a saturação do solo, o que ocasionou inúmeros acidentes
tais como deslizamento de encostas, desabamento de imóveis e alagamento de áreas. Houve vítimas
fatais em alguns desses acidentes, além da grande quantidade de famílias desabrigadas e
desalojadas. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e os distúrbios de leste foram os
principais sistemas responsáveis pelas chuvas de maio de 2009, na região Nordeste
(CLIMANÁLISE).
Na série temporal do mês de junho (Fig. 4c) são observados 18 casos de chuvas muito
próximas ou acima da normal (243,7 mm), nos quais há 25 eventos extremos. Os máximos mensais
são vistos em 1973 (479,3 mm), 1994 (477,8 mm) e 2006 (401,4 mm); os dois primeiros com três
(3) e o último com dois (2) eventos. As chuvas do dia 11-12 de junho de 2006 foi objeto de estudo
de silva Aragão et al. (2006) e Santos et al. (2008), em que observou-se totais diários acima de 80
mm causados por aglomerados convectivos decorrentes da configuração de um distúrbio de leste.
Os danos causados pela chuva forte que castigou a capital baiana foram resultantes de acidentes
como deslizamentos de terra, desabamento de imóveis, rompimento de fiação elétrica e queda de
árvores (http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php).
Julho é o último mês do quadrimestre chuvoso e está representado na Figura 4d. Nele são
observados 21 meses com totais iguais ou acima da normal climatológica (175,0 mm), dos quais 11
deles apresentam um total de 14 eventos extremos, com apenas um máximo (2) em 1998. Os
valores máximos estão no ano de 1994 (336,5 mm), 1998 (306,5 mm) e 2002 (254,8 mm).
18
chuva/jun
Ano
Nº de eventos extremos
(c)
Nº d eventos extremos
Nº de eventos extremos
2005
2008
1999
2002
1993
1996
1978
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Nº de eventos extremos
chuva/jul
2008
2002
2005
1999
1993
1996
1978
1987
1970
1975
1967
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1964
2008
2005
2002
1999
1993
1996
1978
1987
1970
1975
1964
8
7
6
5
4
3
2
1
0
chuva/mai
(b)
Nº de eventos extremos
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1967
Precipitação (mm)
Nº de eventos extremos
Precipitação (mm)
chuva/abr
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Ano
Ano
(a)
1987
1975
1967
1970
2008
2002
2005
1996
1999
1993
1978
1987
1970
1975
1964
0
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1964
2
Precipitação (mm)
4
Nº de eventos extremos
6
1967
Precipitação (mm)
8
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Ano
Nº de eventos extremos
(d)
Figura 2. Variabilidade interanual dos totais mensais e do número de eventos extremos de
precipitação em Salvador para o período 1964-2009 no mês de: (a) abril, (b) maio, (c) junho, (d)
julho. A linha vermelha horizontal representa a normal climatológica mensal do período 1961-1990.
(Fonte dos dados: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)).
No quadrimestre chuvoso, os meses em que a chuva esteve acima da normal são vistos 119
eventos extremos (85% do total de eventos dos meses de abril a julho). Esse resultado indica uma
relação direta entre a ocorrência de eventos extremos e a chuva máxima mensal. Para estudar essa
relação foi feita uma análise do Desvio Padronizado de precipitação Mensal (DPP) em conjunto
com a análise da correlação linear entre os DPPs de cada mês e o número de eventos
correspondentes.
Na série dos DPP (não mostrada) seus valores (negativos e positivos) variam de -2,0 a 3,8.
DPP negativo (positivo) indica que a chuva acumulada num determinado mês esteve abaixo
(acima) da média mensal do período São
meses com DPP ≤ -1, no entanto, apenas 3, todos da
estação chuvosa, apresentam evento extremo de precipitação Já para os meses em que o DPP ≥
ocorre o contrário, ou seja, dentre os 68 meses encontrados, 57 apresentam eventos intensos.
Os coeficientes da correlação linear são apresentados na Tabela 2. Esses coeficientes são
máximos (> 0,8) nos meses de abril, maio e junho, os quais apresentam os totais máximos mensais
de chuva e também os números máximos de eventos extremos. Os meses de dezembro e janeiro
também apresentam coeficiente máximo de correlação (0,9), embora seus totais mensais de chuva
sejam os mínimos da série. Por outro lado, são meses que apresentam valores máximos de desvio
padrão e DPP, indicando a ocorrência de chuvas atípicas, como já discutido em relação à Figura 2.
19
No mês de julho observa-se o valor mínimo do coeficiente de correlação (0,4). Portanto, em
julho não há indicação de relação entre a magnitude do DPP e o número de eventos extremos de
chuva, diferentemente do que foi encontrado nos outros meses. Esse resultado está associado ao fato
de que, apesar de fazer parte do quadrimestre chuvoso e apresentar totais mensais de chuva
elevados, o mês de julho tem número reduzido de eventos extremos.
Tabela 2. Correlação entre Desvio Padronizado de Precipitação (DPP) e Número de Eventos
Extremos de Precipitação (NEE).
Mês
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Correlação entre
DPP e NEE
0,9
0,7
0,7
0,9
0,8
0,8
0,4
0,6
0,6
0,7
0,7
0,9
CONCLUSÃO
Na análise da variabilidade temporal das chuvas de Salvador, com foco nos eventos
extremos de chuva (total diário igual ou maior do que 50 mm), foi observado que o quadrimestre
chuvoso é de abril a julho, representando 51% (1088,4 mm) do total anual das chuvas. O mês de
maio é o mais chuvoso do ano (359,9 mm). Nos anos que compõem a série foram observados 228
eventos extremos de precipitação (total diário igual ou maior do que 50 mm), dos quais 140
ocorreram no quadrimestre chuvoso, que equivalem a 61% de todos os eventos da série. O estudo
da correlação entre o número de eventos extremos e o Desvio Padronizado de Precipitação
identificou uma relação direta entre a ocorrência de eventos e total mensal de chuva acima da
média, com destaque nos meses do quadrimestre chuvoso (abril, maio e junho) e nos meses de
chuvas atípicas (dezembro e janeiro) que apresentaram os coeficientes máximos (> 0,8).
REFERÊNCIAS
BARRETO, A. B.; SILVA ARAGÃO, M. R.; CORREIA, M. F.; SANTOS, A. H. M. (2008). Uma
investigação sobre eventos de chuva intensa na cidade de Salvador, Bahia. in Anais XV
CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, São Paulo, 2008. 1 CD.
20
DEFESA CIVIL (CODESAL). (2009). Relatório Final da Operação Chuva 2009. (disponível em
http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php) (acessado em 14 de dezembro de 2009).
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2010.
MONTEIRO, Carlos A. F.; MENDONÇA, Francisco. Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003.
RAMOS, A. M., SANTOS, L. A. R.; FORTES, L. T. G. (Org.). (2009). Normais climatológicas do
Brasil 1961-1990. Brasília: INMET.
RAO, V.B., LIMA, M.C., FRANCHITO, S.H. (1993). Seasonal and Interannual Variations of
Rainfall over Eastern Northeast Brazil. Journal of Climate. v. 6, p.1754 –1763.
SANTOS, A. H. M. Eventos Extremos de Chuva em Salvador, Bahia: Condições Atmosféricas e
Impactos Ambientais. 2008. 65 f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia) – Universidade Federal
de Campina Grande-UFCG, Campina Grande. 2008c.
SANTOS, A. H. M; SILVA ARAGÃO, M. F; BARRETO, A. B. Chuvas intensas na cidade de
Salvador, Bahia: o evento de novembro de 2006. CONGRESSO BRASILEIRO DE
METEOROLOGIA, 15., 2008. Anais... São Paulo, 2008a. 1 CD.
SANTOS, A. H. M; SILVA ARAGÃO, M. R; ARAÚJO, H. A. Evento Extremo de Chuva na
Cidade
de
Salvador,
Bahia:
Fevereiro
de
2008.
CONGRESSO
BRASILEIRO
DE
METEOROLOGIA, 15., 2008. Anais... São Paulo, 2008b. 1 CD.
SILVA ARAGÃO, M.R., BARRETO, A.B., ARAÚJO, H.A., CORREIA, M.F. Desastres Naturais
na Cidade do Salvador, Bahia: Evento Chuvoso Extremo em Junho de 2006. XIV Congresso
Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis-RS, 2006.
SILVA DIAS. M.A.F., SILVA DIAS, P.L. As Incertezas Regionais nos Cenários de Mudanças
Climáticas Globais. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia, v. 30, n. 4, abril 2007.
 www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 (acessado em maio de 2012).
 http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/
 http://www.defesacivil.salvador.ba.gov.br/index.php
21
CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS, ATIVIDADE AÉREA E DISTÚRBIOS CARDIOVASCULARES NO
ORGANISMO HUMANO
Audy Nunes BEZERRA FILHO
Médico (UFCG) E-mail: [email protected]
Valdir Cesarino de SOUZA
Doutor em Recursos Naturais (UFCG), Médico, Bacharel em Aviação Civil. E-mail:
[email protected]
Sandra Sereide Ferreira da SILVA
Doutoranda em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected]
José Romero Rodrigues de ANDRADE
Mestre em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected]
RESUMO
A intensidade do tráfego aéreo aumentou assustadoramente nos últimos anos e os ―passageiros
habituais‖ constituem uma magnitude substancial dos viajantes atuais. Conforme a Organização
Internacional da Aviação Civil estima-se que o tráfego de passageiros duplique entre os anos de
2006 e 2020. Neste enfoque, as viagens aéreas podem acondicionar vários riscos para a saúde,
dependendo das características do viajante e da viagem. Este estudo teve por objetivo apresentar a
influência dos distúrbios cardiovasculares e condições atmosféricas no organismo humano durante a
atividade aérea. Como resultado, constata-se que a altitude pode ser responsável por distúrbios
fisiológicos, às vezes irreversíveis para o corpo humano.
PALAVRAS-CHAVE: Aviação. Altitude. Distúrbios Cardiovasculares.
ABSTRACT
The intensity of air traffic has increased alarmingly in recent years and the "passengers usual"
constitute a substantial magnitude of today's travelers. According to the International Civil Aviation
Organization estimated that passenger traffic will double between the years 2006 and 2020. In this
approach, air travel can pack several health risks, depending on the characteristics of the traveler
and the travel. This study aimed to present the influence of cardiovascular disorders and
atmospheric conditions in the human body during aerial activity. As a result, it was found that the
altitude may be responsible for physiological disorders, sometimes irreversible damage to the
human
body.
KEYWORDS: Aviation. Altitude. Cardiovascular Disorders.
1. INTRODUÇÃO
Durante toda a história, o homem tem sentido os efeitos das condições atmosféricas, como
as flutuações lentas do clima, que ocasionam migrações, os extremos dos tempos sazonais, que
causam a fome, e os vários desastres, que levam à morte e à destruição. De tal modo se observa que,
na conjuntura aeronáutica, tais mudanças podem ocorrer de forma brusca causando adversidades ao
organismo humano. Entretanto, os efeitos atmosféricos sobre a saúde humana ainda não são bem
compreendidos.
22
Pitton e Domingos (2004) asseguram que os parâmetros climáticos temperatura do ar,
umidade, precipitação, pressão atmosférica e ventos afetam a saúde humana de forma direta
(sensação de conforto, mortalidade e morbidade por doenças sistêmicas) e indireta (doenças
infecciosas transportadas por vetores – ar, água, solo e alimentos), pois o corpo humano está em
permanente contato com seu meio ambiente atmosférico pelo intermédio de trocas térmicas,
hídricas e gasosas.
Nesse sentido, a revisão de literatura aborda os possíveis efeitos maléficos de certos fatores
climáticos nos distúrbios cardiovasculares durante atividades ligadas a aviação e as implicações do
clima e do tempo atmosférico sobre a saúde humana como decorrências ainda não bem entendidas,
tendo em vista o fato de que as enfermidades ocasionadas durante a atividade aérea, principalmente,
as cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias estão entre os maiores problemas de aviação
no mundo. Além de estarem associadas à elevada morbidade, implicam em elevados custos para o
sistema de saúde, pois os distúrbios podem desqualificar alguns pilotos e tripulantes, além de causar
distúrbios deletérios ao organismo, induzindo, consigo, distúrbios como: internações hospitalares,
tratamentos cirúrgicos e uso contínuo de medicamentos.
Atualmente, uma importante ferramenta de mitigação dos efeitos das enfermidades
ocasionados pelos transportes aéreos é o uso das informações da meteorologia (observações e
previsões de tempo e clima) para a emissão de alertas e adoção de políticas por parte dos
representantes do setor aéreo em âmbito nacional e internacional (McGREGOR et al., 2006).
A vasta literatura recente sobre o tema aborda a importância que o assunto vem recebendo
mundo a fora. Essa mesma literatura mostra que a relação entre variáveis atmosféricas e as
enfermidades ocasionadas pela atividade aérea não é única. Pessoas de diferentes regiões do globo,
distintas idades, diversos gêneros e múltiplos estilos de vida estão sujeitas a diferentes riscos em
determinadas condições atmosféricas (BARNETT et al., 2005; CAGLE; HUBBARD, 2005;
GOERRE et al., 2007).
No Brasil, as previsões de tempo e clima experimentaram um forte acréscimo de qualidade
de dados nas últimas décadas. Isso significa que o estabelecimento de relações consistentes entre
variáveis de tempo e clima e a ocorrência de enfermidades ocasionadas pelos transportes aéreos
podem contribuir substancialmente com a política de saúde pública para o setor aéreo. Além disso,
a produção científica brasileira é bastante escassa nesse sentido e a maioria dos estudos, embora
associe as enfermidades com os tipos de tempo, abordam a relação com a poluição. Poucos
enfatizam os distúrbios hipóxicos/fisiológicos pré e pós voo.
Diante desse enfoque, a habilidade brasileira de geração de dados, com alusão espaçotemporal cresceu muito. O que não progrediu como esperadas foram as políticas de acesso como
frisa Brasil (2008). Superar esse desafio não é tarefa fácil, torna-se preciso para tanto, partilhar
23
trabalhos científicos, dados da aviação, metodologias, softwares e resultados correlacionados com a
saúde humana.
Conseguinte esse contexto, o presente trabalho objetiva apresentar a influência dos
distúrbios cardiovasculares e das condições atmosféricas no organismo humano durante a atividade
aérea. Para tanto, ressalta-se a importância de sua realização pela forte relação multidisciplinar entre
Medicina, Ciências Aeronáuticas e Meteorologia, com importante ímpeto na aviação.
Quanto aos procedimentos metodológicos para realização desse estudo, foi realizada uma
revisão bibliográfica com base em estudos retrospectivos e também prospectivos que abordam a
relação mudanças climáticas, aviação e distúrbios cardiovasculares. Apresentam-se, na sequencia,
os principais pontos da literatura utilizados como aporte teórico bem como os resultados
encontrados que servem de base para a conclusão.
2. REVISÃO DE LITERATURA
A temática ―distúrbios cardiovasculares e condições atmosféricas na atividade aérea‖ pode
ser apresentada por meio de múltiplos vértices do saber. Todavia, objetivando abordar os conteúdos
necessários para a compreensão sistemática das informações, optou-se pela seleção de assuntos
fundamentais, cujo aporte teórico é contextualizado a seguir.
2.1. Viagens Aéreas e Riscos para a Saúde
Na primeira década do Século XXI, a aviação se tornou uma das atividades de maior
destaque para o desenvolvimento da sociedade; integrando saberes, encurtando caminhos e
perpassando subsídios para o desenvolvimento econômico, comunicação entre povos e culturas da
sociedade global e para o bem estar da população com benefícios e desafios reconhecidos por todos.
Em face desse enfoque, a intensidade do tráfego aéreo aumentou assustadoramente nos últimos anos
e os ―passageiros habituais‖ constituem uma magnitude substancial dos viajantes atuais Com a
quantidade de vôos de longa distância crescendo de forma considerada, a OAIC - Organização
Internacional da Aviação Civil (2009) estima que o tráfego de passageiros duplique entre os anos de
2006 e 2020.
Conforme dados estatísticos da Organização Mundial do Turismo (2008), o número de
chegadas de turistas internacionais no ano de 2007 atingiu os 903 milhões. Os resultados do turismo
internacional ascenderam para 856 bilhões de dólares americanos (625 bilhões de euros) em 2007.
E aguardado que em 2012 as chegadas de turistas internacionais cheguem a 1 bilhão e, 1,6 bilhões
em 2020. Em 2007, mais da metade das chegadas de turistas internacionais apresentavam como
finalidade de lazer, entretenimento e ferias (51%) – um total de 458 milhões. As viagens em
trabalho corresponderam a 15% (138 milhões) e 27% das viagens eram por outros motivos, como
24
por exemplo, visitas a familiares e amigos, motivos religiosos / peregrinações e tratamentos de
saúde, etc. (240 milhões). Um número suavemente inferior a metade dos turistas usaram transporte
aéreo (47%) em 2007, enquanto os restantes utilizaram transporte de superfície (53%) – automóvel
(42%), comboio (4%) ou barco (7%).
Ainda de acordo com a OAIC (2009) a cada ano, em torno de um bilhão de pessoas realiza
viagens aéreas domésticas ou internacionais, para as mais variadas distâncias e a velocidades cada
vez mais rápidas, número que aumenta de forma constante, com previsão de triplicar nas próximas
décadas devido a inúmeros motivos, dentre os quais: profissional, recreativo e humanitário. Por
razões como essas, os viajantes encontram-se expostos a uma variedade de riscos para a saúde em
ambientes com os quais não estão familiarizados. Grande parte desses riscos pode ser minimizada
mediante a prática de precauções adequadas antes, durante e depois da viagem. Sendo plausível
inferir também que deverá haver um aumento no número de passageiros portadores de doenças
diversas, bem como no número de pessoas idosas (grupo muito propenso a viagens turísticas).
2.1.1 Alterações Cardiorrespiratórias em Altitude
Os viajantes frequentemente sentem alterações bruscas e expressivas de condições
ambientais, que podem ter implicações prejudiciais na sua saúde e bem-estar. Neste enfoque, a
altitude propicia diversas alterações fisiológicas. As patologias da altitude podem acorrer tanto em
indivíduos atletas como em sedentários como consequência de uma adaptação ineficiente
(CAMPOS; COSTA, 1999; SCHOENE, 2008).
No momento que os indivíduos são expostos a uma altitude considerada, o sistema
cardiorrespiratório prepara-se para não sofrer com a carência de O2 e consequentemente evitar
distúrbios, às vezes irremediáveis. Uma das primeiras alterações fisiológicas que ocorrem é um
aumento na frequência cardíaca e respiratória para tentar suprir a pouca saturação de O 2 presente no
ambiente. Com essa atitude, o corpo aumenta a excreção de CO2 levando a uma mudança da PCO2,
fazendo com que ocorra um aumento no pH sanguíneo. Esse aumento na frequência cardíaca devese ao fato do corpo possuir quimiorreceptores em torno do coração, permitindo uma percepção do
conteúdo arterial de O2. A partir do momento que o conteúdo arterial de O2 diminui, o corpo, em
resposta aumenta o número de respirações para minimizar os efeitos da hipóxia. (BRASH, 2000;
MAGALHÃES et al., 2002; LEVINE et al., 2008; CALBET et al., 2010).
A dificuldade do processo respiratório em grandes altitudes deve-se ao fato da troca gasosa
estar com gradiente de pressão diferenciado quando comparado ao nível do mar. O ar fica mais
rarefeito em altitude, porém a saturação de O2 em altitude é menor que ao nível do mar. O ar
penetra com mais facilidade nos pulmões, contudo como a saturação de O2 é reduzida, a frequência
respiratória é aumentada para que seja inspirado o mesmo número de moléculas de O2 que ao nível
25
do mar. A quantidade de O2 entregue para os músculos realizarem trabalho sem entrar em fadiga
depende muito dessa troca gasosa. A PO2 no tecido tem uma estabilidade no seu valor de
aproximadamente 40mmHg em repouso.
Já a PO2 arterial varia de valor, sendo que 104mmHg é a pressão normalmente encontrada
ao nível do mar. A diferença 64mmHg, ou seja, gradiente de pressão, define o sentido dessa troca.
O sentido é sempre de um local com maior pressão parcial, para um de menor pressão parcial.
Porém, quando se ascende a uma altitude mais elevada, o valor da PO2 arterial tende a sofrer um
decréscimo, já o valor da PO2 tecidual permanece praticamente inalterado. O gradiente de pressão
antes visto como 64mmHg ao nível do mar sofre uma redução e pode alcançar o valor de apenas
20mmHg em uma altitude maior. Como a transferência de O2 do sangue para os tecidos depende
desse gradiente, pode ocorrer uma deficiência no transporte para o músculo, o que poderá acarretar
uma fadiga precoce. (BERNE et al., 2004; LEVINE; STRAYGUNDERSEN, 2005; SHEEL et al.,
2010; WILMORE; COSTILL, 2010).
Martins et al. (2008) apontam que os valores da ventilação em altitude podem ser de 2 a 5
vezes maiores do que quando comparado com a mesma atividade ao nível do mar. A frequência
respiratória apresenta um aumento quando se adentra um ambiente hipobárico, como no caso de
altitudes maiores do que ao nível do mar. Com isso, mudanças no consumo de O2 ocorrem.
Campos e Costa (1999) afirmam que o consumo máximo de O2 (VO2 máx) tende a diminuir
em repouso, quando exposto a uma grande altitude. Corroborando com essa idéia, Levine e col.
(apud CAMPOS; COSTA, 1999) fizeram um estudo com 20 idosos numa altitude de 2500 metros e
relataram uma diminuição de 12% do VO2 máx na exposição aguda à altitude.
Segundo Wilmore e Costill (2002), o consumo máximo de O2 não sofre reduções
significativas até a altitude de 1.600 metros. A partir dessa altitude, que o consumo máximo de O2
tem uma decadência. Os mesmos autores relatam também que, a partir de 1.600 metros, o VO2máx.
diminui aproximadamente 11% a cada 1.000 metros, ou seja, mais que 1% de queda do consumo
máximo de oxigênio a cada 100 metros de ascensão. Contudo, Favret et al. (2003) não encontraram
melhoras do VO2máx mesmo após a aclimatação. Outra alteração importante é o fato de o fluxo
sanguíneo ser mais seletivo. Essa seleção é devido a não existência de O2 em abundância para os
sistemas corporais e desta forma os locais que necessitam com urgência de O2 têm prioridade
(MAGALHÃES et al., 2002).
Em alturas elevadas, o ar fica mais seco e a temperatura sofre uma redução em seu valor. A
atividade em altitude faz com que ocorra perda de água corporal, aumentando assim a viscosidade
sanguínea. Com o sangue mais denso, o volume de ejeção decai, contudo, como precisa ocorrer um
aumento no débito cardíaco a frequência cardíaca aumenta para sanar temporariamente essa queda
de volume. O aumento da densidade sanguínea faz com que o coração trabalhe com mais força, pois
26
a resistência exercida pelo sangue na parede dos vasos está aumentada. (CAMPOS; COSTA, 1999;
BRASH, 2000; MARTIN, 2008; WILMORE; 2002).
A transudação capilar (edema cerebral) de altitude é uma doença ligada à altura, mais grave
ainda que o edema pulmonar de altitude. Altitudes acima de 4.500 metros são onde o número de
casos de edema cerebral ligado a altitude são mais comuns. O acumulo de liquido no interior do
cérebro caracteriza a doença. A dificuldade em andar, ou mesmo das mãos em realizar tarefas
simples são um alerta para que seja detectado o edema cerebral. As dores de cabeça ou cefaléia são
frequentes; a pessoa se sente cansada e pode apresentar quadros de alucinações. O grau de
gravidade dessa patologia pode evoluir em muito pouco tempo, saindo de um estado estável para
grave em poucas horas. A medida mais rápida a ser tomada é transferir a pessoa afetada pelo edema
cerebral de altitude para uma localidade de altitude menos elevada. Martin et al. (2008) afirma que
mesmo as pessoas que nasceram e vivem em locais com altitudes elevadas correm o risco de
desenvolver as patologias ligadas altitude.
2.2. Doenças Cardiovasculares
Com o advento da modernidade, o homem experimentou uma, até então, inimaginável
revolução no seu modo de vida, no seu cotidiano, nas suas idéias. Em uma sociedade altamente
globalizada e competitiva, que extrai cada vez mais dos seus trabalhadores; o stress, os maus
hábitos alimentares, meios de transporte e a falta de cuidados básicos com a saúde passaram a fazer
parte do modo de vida da população em geral. Dessa forma, juntamente com os adventos
tecnológicos, a sociedade passou a conviver cada vez mais com os distúrbios cardiovasculares e,
dentre eles, uma das mais letais patologias desse grupo: a Insuficiência Coronariana (ICO).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC - 2011), Insuficiência
Coronariana é uma situação clínica patológica, na qual o sistema arterial coronariano não tem
capacidade fisiológica de suprir as necessidades miocárdicas de demanda de oxigênio e metabólitos.
Há um desbalanço entre a oferta e o consumo de nutrientes e oxigênio. Sabendo-se que o tecido
miocárdico é o de maior demanda metabólica do organismo, não é surpreendente que uma série de
distúrbios potencialmente letais decorram da incapacidade de o sistema arterial coronariano em
suprir a musculatura cardíaca. Assim, esse grande grupo de distúrbios, juntamente com outras
patologias do Sistema Cardiovascular é responsável por um número crescente de mortes no tocante
a aviação.
Dados da SBC mostram que 50% das mortes das pessoas com mais de 50 anos devem-se a
patologias do aparelho Cardiovascular, no Brasil e no mundo (principalmente na sociedade
ocidental), e em 2020, esse número tende a aumentar para 70%.
27
A insuficiência cardíaca coronariana, ou doença das coronárias, é, basicamente, uma
síndrome caracterizada por um desequilíbrio entre o aporte e a demanda metabólica de oxigênio
(O2) ao nível da fibra miocárdica, seja por diminuição da oferta ou por aumento de consumo. Pode
estar relacionada a vários fatores, porém, geralmente, ocorre por obstrução coronariana, sendo esta
quase sempre causada por doença aterosclerótica. A oferta de oxigênio para o miocárdio depende
da capacidade de transporte do oxigênio no sangue e do fluxo coronário, sendo que o primeiro
depende diretamente da hemoglobina e da saturação de oxigênio no sangue. Na ausência de anemia
ou doença pulmonar a capacidade de transporte de oxigênio é em geral constante. Por sua vez, o
fluxo coronariano é bem mais dinâmico e a regulação do fluxo é responsável pelo equilíbrio entre
oferta de oxigênio e demanda metabólica (GUYTON, 2008).
No coração normal, mecanismos de auto-regulação ajustam o tônus vascular, mantendo um
equilíbrio entre fluxo coronariano e demanda de oxigênio miocárdico. Na ausência de doença
obstrutiva coronariana, os mecanismos regulatórios mantêm um fluxo constante até o limite mínimo
de 60mmHg de pressão diastólica na raiz da aorta. Na presença de doença coronariana, a queda da
pressão de perfusão distal e a lesão associada à disfunção do endotélio na região levam a um
desequilíbrio entre o suprimento disponível de sangue e oxigênio e a demanda metabólica
miocárdica. Qualquer desequilíbrio em um desses processos pode resultar em insuficiência das
coronárias. Seja qual for a causa, sem o sangue necessário o coração fica carente de oxigênio e de
nutrientes vitais para que ele opere de forma adequada, podendo trazer grandes consequências
(SBC, 2011).
Podemos definir como grupos mais susceptíveis ao desenvolvimento da doença das
coronárias aquelas pessoas incluídas nos seguintes grupos: Idade e gênero: homem com mais de 45
anos / mulher com mais de 55 anos; História familiar precoce de aterosclerose (parentes de primeiro
grau com menos de 55 anos para homens e menos de 65 anos para mulheres); Hipertensão arterial;
Tabagismo e história de Diabetes Mellitus.
2.2.1. Fisiologia Cardiovascular
Segundo Guyton (2008) o débito cardíaco em repouso ao nível do mar varia de 0,8 a 1,0
ml/g/mim, já em casos de esforço e/ou hipóxia esse débito tende a aumentar significativamente
chegando a 6,0 ml/g/min. Nessa mesma correlação em repouso observa-se que a extração de O2 por
parte do miocárdio atinge cerca de 75% e em casos de esforço induzido ou hipóxia as células
miocárdicas extraem aproximadamente de 90% do oxigênio que lhe é ofertado.
Devido ao quadro de hipóxia miocárdica, diversas alterações metabólicas serão detectadas: a
acidose intracelular, com importante redução do pH, acúmulo de ácido láctico, redução do potássio
e magnésio intracelular, redução síntese energética (ATP), disfunção sisto-diastólica do ventrículo
28
esquerdo. Já o consumo de O2 em repouso situa-se em torno de 8 a 10 ml/100g/min enquanto que
nos casos de esforço e/ou hipóxia esse consumo poderá aumentar para até 50 ml/100g/min,
agravando ainda mais os casos de isquemia miocárdica. Visto assim, fica evidente que o disbarismo
contribui significativamente para piora do quadro isquêmico miocárdico.
2.3. Impacto das Viagens Aéreas nas Principais Patologias Cardiovasculares
De acordo com as Diretrizes De Doença Cardiovascular e Viagem Aérea da SBC, todo
passageiro portador de uma condição de saúde que possa, potencialmente, descompensar a bordo
deve tomar alguns cuidados básicos: · ter em mãos relatório médico sucinto de sua condição, bem
como informações de contato do médico assistente e do seguro saúde; manter sempre consigo, na
bagagem de mão, a medicação de uso diário, evitando atrasos posológicos no caso de extravio de
bagagem; informar-se de condições de saúde pública do local de destino, adotando medidas
preventivas quando indicado, como vacinações específicas; consultar as páginas da Internet das
empresas aéreas escolhidas, para verificação dos recursos disponíveis a bordo e outras informações
de saúde; fazer contato com os serviços médicos das empresas aéreas em caso de dúvidas. Os
passageiros cardiopatas estarão, potencialmente, afetados por três fatores principais relacionados à
fisiologia da altitude e às particularidades dos vôos comerciais: a hipóxia, a aerodilatação e a
imobilidade prolongada em posição sentada.
A hipóxia pode ser fator de descompensação em casos limítrofes, agravando as condições
clínicas preexistentes. A aerodilatação pode, pela expansão dos gases abdominais, determinar, nos
casos mais importantes, uma restrição de mobilidade diafragmática, contribuindo adicionalmente
para a hipóxia.
A imobilidade prolongada é certamente um fator de risco para o desenvolvimento de
trombose venosa profunda. A grande maioria das grandes empresas aéreas é capaz de prover
oxigênio medicinal para o passageiro, embora, como regra, esses sejam serviços taxados. Por
questões de segurança, com raras exceções, não é possível a utilização de equipamentos próprios
dos pacientes, uma vez que os cilindros de oxigênio necessitam ser homologados para uso
aeronáutico. Em parte das situações, pode ser feita uma avaliação individual que leve em conta o
tempo de vôo, as condições clínicas e a disponibilidade de recursos. Poucas são as contraindicações cardiovasculares para o vôo: infarto miocárdico não-complicado em prazo menor do que
2 semanas; infarto miocárdico complicado em prazo menor que 6 semanas; angina instável;
insuficiência cardíaca congestiva; hipertensão grave descontrolada; cirurgia cardíaca em prazo
menor que 10 a 14 dias; acidente vascular encefálico em prazo menor que 2 semanas; taquiarritmias
supraventriculares ou ventriculares sem controle; síndrome de Einsenmenger; doença orovalvar
sintomática.
29
Diante desse contexto, permite-se assegurar que no transporte aéreo, as pessoas em suas
diversas finalidades pelas quais se deslocam para os mais variados lugares têm em comum o mesmo
objetivo: chegar em segurança a um determinado destino e em tempo hábil para atender aos seus
compromissos. Neste contexto, a atividade aérea constitui uma forma de organização de trabalho
que exige um controle sistemático da saúde de seus integrantes, pelos numerosos fatores de risco
presentes no ambiente de trabalho.
3. CONCLUSÃO
Ao analisarem-se os estudos referentes aos distúrbios cardiovasculares relacionados à
aviação, sobretudo aqueles relacionados à queda da pressão atmosférica e a temperatura conclui-se
que é extenso o quadro de patologias relacionadas à aviação e é de fundamental importância que as
pessoas envolvidas identifiquem os sintomas e procedam de maneira correta ao se observar
alterações de evidência médico. O percentual de indivíduos expostas às influências da altitude na
aviação é elevado, seja a tripulação ou os passageiros.
O número daqueles que usufruem do transporte aéreo está aumentando significativamente.
Observa-se concomitantemente que, devido aos avanços tecnológicos, mais seguros e confiáveis,
incrementou-se o número de voos com aeronaves que sobrevoam espaços atmosféricos mais
distintos, atingindo altitudes inimagináveis com a própria estratosfera. Para isto, tornam-se mais
imperativos os cuidados, as orientações e as medidas de precaução para que sejam evitados os
danos fisiológicos relacionados à aviação.
Todos aqueles ligados diretamente a atividade aérea são submetidos inicialmente a um
rigoroso exame médico, o Certificado de Capacidade Física (CCF), para averiguar se suas
condições anatômicas e fisiológicas estão compatíveis com a prática da profissão, contudo observase que, graças à cobiça e concorrência descomedida das companhias aéreas, muitos cuidados
concernentes aos passageiros e até mesmo aos tripulantes são relegados a própria sorte de cada um.
Manuais diversos são expostos à população, muitas vezes em linguajar incompreensível para a
maioria, proporcionando um incitamento dos problemas médicos relacionados com a aviação.
Assim como o aviador deve conhecer o funcionamento da aeronave, este deve estar ciente
das limitações do seu corpo e das variações da fisiologia humana em resposta aos estímulos
externos. Observa-se que, aquele envolvido na aviação está sujeitos, constantemente, a riscos à
saúde e à própria vida, mesmo que de forma atenuada. Um monitoramento preventivo e sistemático
da saúde resultará em uma contribuição para a segurança daqueles que utilizam esse meio de
transporte e/ou recreio, pois permitirá associar os limites fisiológicos do setor aéreo com a
regulamentação aérea.
30
O desenvolvimento da medicina aeronáutica voltada para os trabalhadores e passageiros e a
criação de programas de mudanças de hábitos, de comportamento de vida e de controle alimentar
baseados em evidências científicas, pode a estimular-nos a adoção de medidas e comportamentos
que minimizem as influências da altitude no nosso organismo.
Conclui-se assim que é de extrema relevância o conhecimento científico sobre as doenças
relacionadas à atividade aérea, sobretudo as cardiovasculares, essas as mais danosas e, às vezes de
caráter irreversível ao organismo humano. Faz-se necessário que se conheçam os principais
sintomas relacionados às patologias, as condutas básicas terapêuticas e as incidências dessas
patologias para que se possa desfrutar de uma boa viajem e que não haja exposição daqueles
supostamente doentes a atividade aérea.
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32
DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL EM MICROBACIA HIDROGRÁFICA
LOCALIZADA EM UM NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÃO
Ms. Danilo Duarte Costa e Silva (PPGES/ UFRN) – [email protected]
Dr. Arthur Mattos (PPGES/ UFRN) – [email protected]
Resumo
As pressões antrópicas sobre os recursos naturais motivadas pela necessidade de sobrevivência,
principalmente em locais deteriorados (como áreas ameaçadas pela desertificação), geram a
necessidade de uma análise que contemple tantos os aspectos socioeconômicos quanto ambientais.
Com intuito de analisar a deterioração socioeconômica e ambiental na microbacia do Riacho do
Trapiá, localizada em um núcleo de desertificação no estado do Rio Grande do Norte, foi aplicada a
matriz de Leopold adaptada pelo Rocha (1997). Os índices calculados para deterioração social,
econômica, tecnológica, socioeconômica e ambiental foram de 29,55%; 81,08%; 58,82%; 39,59% e
30,00% respectivamente. Conforme observado a microbacia do Riacho do Trapiá se encontra em
elevado processo de deterioração, com mais de 50% da área comprometida. A deterioração para o
fator econômico de 81,08% reflete as condições precárias de vida do morador da região.
Palavras-chave: Diagnóstico socioeconômico, Diagnóstico ambiental, Impacto Ambiental e
Desertificação.
Abstract
The anthropogenic pressures on natural resources motivated the need for survival, especially in
places damaged (such as areas threatened by desertification) generate the need the analyses both the
socio-economic, and environmental concerns. In order to analyze the socioeconomic and
environmental deterioration in the Riacho do Trapiá watershed, located in a nucleus of
desertification in the state of Rio Grande do Norte, was applied to Leopold matrix adapted by
Rocha (1997). The indices calculated for deteriorating social, economic, technological,
socioeconomic and environmental were 29.55%, 81.08%, 58.82%, 39.59% and 30.00%
respectively. As noted the watershed of the Riacho do Trapiá is high in case of damage, more than
50% of the affected area. The deterioration of the economic factor to 81.08% reflects the precarious
conditions of life of residents of the region.
Key-words:
diagnosis
socioeconomic,
diagnosis
environmental,
environmental
impact,
Desertification.
Introdução
Atualmente a temática ligada a analise ambiental em bacias hidrográficas tem tido uma
importância cada vez maior (TUNDISI, 2003:107). Intervenções voltadas para a bacia hidrográfica
em todo mundo (DARGHOUTH ET AL, 2008:93) tem crescido nos últimos anos e dentre os
33
maiores problemas relacionados à temática, a necessidade de se aliar a subsistência da população
com a conservação dos recursos naturais (DEBARRY, 2004:3) tem sido um dos maiores desafios.
No Brasil esta realidade não tem sido diferente, Tucci (2001:149) a partir de uma ampla
análise da situação da gestão de águas no país destaca que o maior desafio hoje é de se aliar
aspectos do desenvolvimento com a conservação dos recursos naturais e apresenta a região
semiárida do país como a mais problemática. Cirilo (2008:79) destacando a necessidade de
subsistência (de uma população considerada a maior entre os semiáridos do mundo) aliada às
consequentes pressões oriundas da luta pela sobrevivência que esta população exerce sobre o meio
ambiente (já deteriorada por um histórico de políticas públicas equivocadas) considerar o semiárido
brasileiro o mais problemático do mundo.
Nestes termos convém destacar que tais fatores tem sido intensificados em uma micro-bacia
localizada na zona rural do município de Currais Novos (semiárido do Rio Grande do norte), uma
vez que além de já ter como plano de fundo a problemáticas característica do semiárido a mesma
também é parte integrante de um dos quatro únicos núcleos1 de desertificação2 do país (MATALO
JUNIOR, 2001, MORAIS, ET AL 2010). Lima & Lima (2009) em estudo recente desenvolvido na
região apresentaram algumas atividades ligadas à necessidade de sobrevivência que podem está
contribuindo com o fenômeno da desertificação, dentre as quais as atividades de base mineral (tanto
em termos de extrações minerais em garimpos clandestinos, quanto atividades do setor ceramista) e
o cultivo agrícola desenvolvido de forma equivocada (tanto em área de declive gerando erosão,
quanto sendo desenvolvido a partir do desmatamento da vegetação nativa).
Freire (2010) por sua vez destaca que este núcleo de desertificação (onde a microbacia está
localizada) tem a base da economia ligada, tanto ao setor terciário, quanto às atividades mineradoras
(FREIRE, 2010:169):
Em relação à atividade extrativista mineral na região do Seridó norte-rio-grandense
caracteriza-se pela presença de pequenas empresas de mineração e pelo trabalho informal
de garimpeiros (Mineração Artesanal e de Pequena Escala). Atividades de base mineral que
consomem lenha (principalmente as indústrias de cerâmicas vermelha e de beneficiamento
de caulim) são realizadas nos municípios do Núcleo de Desertificação do Seridó (Acari,
Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, Equador, Jardim do Seridó e Parelhas). Nessa porção
do semiárido nordestino a mineração é uma atividade econômica que tem permitido a
fixação do homem no campo e sua convivência com longos períodos de estiagem.
De um lado, portanto, existe a necessidade de sobrevivência da população (cuja base é o
setor mineral) e de outro há a clara necessidade de preservação do meio ambiente já em estágio
1
Os núcleos de desertificação correspondem à áreas de amplitude variável onde aparecem manchas aproximadamente
circulares e a fisionomia desértica se imprime mais denunciadora (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002: 65).
2
Desertificação é definida como a deterioração do solo em áreas áridas, semi-áridas e subsúmidas secas, resultante de
diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas (MMA, 199-).
34
avançado quanto ao processo de desertificação. Com base no referido percebe-se a necessidade de
entender não somente os aspectos ambientais (como deterioração ambiental da área ameaçada pela
desertificação), mas também o quadro socioeconômico (que por sua vez exerce as pressões
antrópicas sobre o meio, a partir da necessidade de subsistência). Nestes termos Rocha & Kurtz
(2007) e Rocha (1997) apresentam uma metodologia voltada para a análise ambiental em bacias
hidrográficas que é baseada em uma adaptação da matriz de Leopold (CANTER, 1999) e contempla
tanto a análise dos aspectos socioeconômicos, quanto ambientais. Tal metodologia tem se destacado
por seu viés quantitativo na apresentação dos resultados e já vem sendo usada em diversos
contextos pelo Brasil (TORRES ET AL, 2007; TORRES ET AL, 2008; TORRES ET AL, 2009;
FRANCO ET AL, 2005; PEREIRA & BARBOSA, 2009) carecendo, entretanto de aplicação em
áreas ameaçadas pela desertificação.
O presente artigo apresenta uma análise da deterioração socioeconômica e ambiental a partir
do modelo desenvolvido pelo Rocha (1997) e Rocha & Kurtz (2007) da microbacia hidrográfica do
Riacho do Trapiá localizada na zona rural de Currais Novos – RN – Brasil.
Materiais e método
A Microbacia Hidrográfica do Riacho do Trapiá pertence à Bacia Hidrográfica PiranhasAçu, localizada (conforme apresenta a figura 1, a seguir) na zona rural do município de Currais
Novos, RN – Brasil faz parte do Núcleo de Desertificação do Seridó, tem uma área de
aproximadamente 39 km² e tem uma população residente formada predominantemente por
produtores rurais.
Figura 1 - Microbacia Riacho do Trapiá - zona rural de Currais Novos – RN – Brasil (Elaboração do próprio
autor)
Aplicações de diagnósticos
35
O diagnóstico ambiental (ROCHA, 1997) consiste em obter e fazer a análise dos diversos
elementos de poluição direta das microbacias hidrográficas, com o objetivo de investigar o grau
de deterioração da mesma. A primeira etapa do diagnóstico consiste na aplicação de questionário
com 21 indicadores e na segunda etapa (a partir do estudo adaptado e portanto com certa
similaridade ao que é feito na matriz de Leopold) atribui-se os pesos 1 ou 2 (classificando cada
resposta do questionário), a partir do cruzamento das atividades ao fator ambiental. Por último,
faz-se a aplicação da equação da reta. A seguir o quadro 1 apresenta um exemplo de aplicação3
da equação da reta a um questionário (neste caso o ambiental, porém o principio é o mesmo para
o questionário socioeconômico):
Continuação...
-21a – b = 0
42a + b = 100
y = ax + b
Valores significativos
Diagnóstico Ambiental
1. Equação da reta
Onde:
y = deterioração (%)
x = valor da moda
encontrado;
a e b = coeficiente da
equação da reta.
21a = 100
2. Exemplo de
aplicação da equação
da reta ao diagnóstico
ambiental:
b = - 99,92
y = ax + b
Tem-se:
ax + b = 0
x‘ = valor mínimo ( )
ax + b = 100
x‖ = valor máximo ( )
Logo:
21a + b = 0 (*–1)
42a + b = 100
Onde:
y = deterioração
ambiental
x = valor encontrado
(moda4)
y = (4,76*22) –
99,92 ∴
a = 4,76
(42*4,76) + b = 100
b = 100 – 199,92
y = 4,76x –99,92
y = 4,8 %
Indicadores
1.1
Estocagem de defensivos agrícolas
Códigos Depósitos de embalagens de agrotóxicos
1.2
1.3
Locais de lavagem de implementos com
1.4
Pedreiras
agrotóxicos
1.5
Minas
1.6
Lixeiras (lixo urbano, rural).
1.7
Exploração de areias
1.8
Pocilgas
1.9
Aviários
1.10
Matadouros
1.11
Estradas rurais degradadas
1.12
Erosões marcantes (lavouras)
1.13
Exploração de madeira
1.14
Esgotos
1.15
Depósitos de pneus
1.16
Queimadas
1.17
Poluição química (fábricas, curtumes, etc.).
1.18
Aplicação de agrotóxicos
1.19
Acidentes com derivados de petróleo ou
1.20
Bombas
recalque d‘água em rios/açudes
produtosde
químicos
1.21
Carvoarias (fornos).
Total do Fator Ambiental
Deterioração Ambiental (%)
Encontrado
(Moda)
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
22
Mínimo
(não)
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
21
Máximo
(sim)
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
42
4,8%
Quadro 1 – Exemplo de aplicação da equação da reta as respostas do questionário
Outro diagnóstico aplicado no estudo ambiental em bacias hidrográficas é o diagnóstico
socioeconômico (ROCHA, 1997). Este diagnóstico tem um enfoque voltado para o produtor rural 5
e baseia-se na análise da situação social, econômica, tecnológica da população do meio rural.
Nestes termos o modelo desenvolvido pelo Rocha (1997) enfoca variáveis diretamente ligadas ao
3
A maneira de aplicação da equação ao diagnóstico socioeconômico é a mesma, só altera o peso (em intervalos que vão
de 1 até 12) e evidentemente os indicadores (neste caso são indicadores socioeconômicos).
4
Como o exemplo é apenas de um único questionário, a moda naturalmente já é o valor encontrado.
5
Convém destacar que a metodologia do Rocha (1997) foi desenvolvida para aplicação em bacias hidrográficas (e suas variantes) de características
rurais. Em contextos urbanos o autor sugere outro método de intervenção.
36
que se encontra em um contexto rural6. Em termos de aplicação tal metodologia (a exemplo do que
acontece no diagnóstico ambiental) consiste em inicialmente em obter (através da aplicação de
questionários, com diversos indicadores) informações gerais sobre suas atividades inerentes ao
produtor rural, seguido pela classificação das respostas (neste caso com uma amplitude diferenciada
do diagnóstico ambiental, conforme mostra a figura 2, a seguir) atribuindo um peso de acordo com
critérios estabelecidos (ROCHA, 1997). Quanto maior for o peso atribuído, maior será a
deterioração. Por fim, a exemplo do diagnóstico ambiental, é feita a aplicação é feita a aplicação da
equação da reta7.
Figura 2 – Indicadores socioeconômicos e amplitude dos pesos (adaptado de Rocha, 1997)
Determinação da deterioração socioeconômica e ambiental
Para determinação da deterioração atribui-se pesos para cada item do questionário, pois
quanto maior for o número, maior a deterioração do fator. Para definir os percentuais de
deterioração (y), utilizou-se a equação da reta (1):
6
Nestes termos convém destacar a ressalva feita pelo autor da necessidade de adaptação das variáveis, segundo o contexto rural encontrado.
7
A introdução da equação da reta ao questionário é detalhada no quadro 1.
37
y = ax + b
(1)
Onde, y varia de 0 a 100 (de zero a 100% de deterioração) e os valores mínimos x e os
máximos x‘ determinam os valores do modelo a e b, respectivamente, onde:
y = unidade crítica de deterioração (%);
x = valor modal encontrado;
a e b = coeficiente da equação da reta.
Para interpretar os valores obtidos Rocha & Kurtz (2007) apresentam um valor de até dez
por cento (10%) de deterioração como aceitável, ou seja, com valores acima de dez por cento são
necessárias medidas que possam mitigar tal situação e com valores abaixo não há necessidade de
tais medidas.
Amostra estatística para aplicação do diagnóstico
Para aplicação da metodologia Rocha (1997) propõe que se estabeleça uma amostra de
propriedades rurais a serem visitadas. Para estabelecer esta amostra o autor apresenta a formula 2,
abaixo:
n
3,841  N  0,25
[(0,1)²  ( N  1)  3,841  0,25]
(2)
Observando-se que:
n = número de visitas a serem feitas pelos pesquisadores;
3,841 = valor tabelado proveniente do qui-quadrado;
0,25 = variância máxima para um desvio padrão 0,5;
0,1 = erro (10%) escolhido pelo pesquisador;
N = número total de propriedades rurais do compartimento avaliado.
3. Resultados e discussão
Definição da amostra para aplicação de questionário por minibacia
Com um dado de entrada de N = 19 na microbacia analisada (após aplicação da formula 2)
foram selecionadas 16 (dezesseis) propriedades rurais para serem aplicados os questionários.
Resultados do diagnóstico socioeconômico
Com a utilização da metodologia, pode-se observar a deterioração ambiental e
socioeconômica determinada a partir da aplicação da equação da reta aos questionários
socioeconômico e ambiental, conforme a tabela 1, abaixo:
Tabela 1 - Deterioração Socioeconômica e Ambiental
38
Deterioração Socioeconômica e Ambiental do Riacho do Trapiá
Diagnóstico
Mínima
Máxima
Moda
Equação da reta
Deterioração (%)
Social
46
266
111 Y = 0,455*x – 20,909
29,55%
Econômico
17
54
47 Y = 2,703*x – 45,946
81,08%
Tecnológico
17
51
37 Y = 2,941*x – 50,000
58,82%
80
371
195 Y = 0,344*x – 27,490
39,59%
20
40
Socioeconôm
ico
Ambiental
26 Y = 5,000*x – 100,000
30,00%
O valor de deterioração social de 29,55% (conforme representado pela linha azul do gráfico
1, a seguir) foi impulsionado pelos altos índices de natalidade, e pela alta média de idade do
produtor. A deterioração econômica de 81,08% (como mostra a linha vermelha do gráfico 1,
abaixo) apresentou um valor elevado em decorrência das baixas produtividades agrícolas, da falta
de acesso à crédito agrário e da renda com a produção agrícola de modo geral. Pode-se observar que
em temos tecnológicos a situação não é tão diferente do que foi observado em termos econômicos,
pois a deterioração tecnológica de 58,82% (representada pela linha verde, do gráfico 1, a seguir) é
reflexo da falta de máquinas apropriadas e de uma infraestrutura não adequada para produção.
Gráfico 1 - Deterioração social, econômica e tecnológica
Os valores de deterioração econômica e de deterioração tecnológica foram os que
impulsionaram o valor de deterioração socioeconômica de 39,59% (representada pela linha azul do
gráfico 2, abaixo), mostrando dessa forma que existe a necessidade de se buscar alternativas
39
tecnológicas e medidas que possam contribuir com os índices econômicos, essencialmente na renda.
Uma vez que a mesma está bem acima dos 10% (parâmetro apresentado como aceitável). No que
diz respeito à deterioração ambiental, a utilização de agrotóxicos, a presença de pocilgas e aviários,
a realização de queimadas e a existência do setor mineral, inclusive com garimpos clandestinos,
contribuíram para o elevado valor encontrado de deterioração ambiental de 30% (trinta por cento).
A deterioração ambiental (conforme linha vermelha do gráfico 2, a seguir) embora esteja abaixo dos
50% (cinquenta por cento), ainda está bem acima do mínimo de 10% (dez por cento). Dentre os
principais indicadores, as queimadas (alimento do setor ceramista, conforme apresentado na figura
3, abaixo) foi um dos fatores que contribuiu para o valor.
Gráfico 2 - Deterioração socioeconômica e ambiental
Figura 3 – Queimadas na microbacia hidrográfica (foto do próprio autor: 15/12/2009)
Conclusões
40
A aplicação dos diagnósticos ambiental e socioeconômico em uma microbacia inserida em
um núcleo de desertificação trouxe a tona uma situação preocupante. Primeiro pelos altos índices
socioeconômicos observados (bem acima do requerido pela metodologia) se destacando os
parâmetros econômicos (acima de 80% de deterioração) culminando em uma deterioração
socioeconômica de 39,59%. E segundo pelo que se viu em relação aos parâmetros ambientais onde
o valor de 30% (com o destaque para a presença de queimadas) reflete um preocupante cenário uma
vez que a além da problemática comum ao que se observa no semiárido brasileiro a microbacia está
inserida em um núcleo de desertificação. Nestes termos convém destacar a contribuição prática
que uma metodologia quantitativa prestou a análise ambiental em uma microbacia hidrográfica
localizada em núcleo de desertificação, uma vez que através de valores quantitativos pode-se
apresentar o quanto (em termos percentuais) a unidade está deteriorada e dessa forma podendo
servir como instrumento (a partir da veiculação de tais informações) que contribuirá com a urgência
da implementação de ações mitigadoras, uma vez que dados os altos valores observados carecem de
aplicação o quanto antes possível.
5. Referências
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2002.
42
POTENCIAL DE RESERVAÇÃO D‘ÁGUA EM UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA NO
CARIRI PARAIBANO
Denise de Jesus Lemos Ferreira (UAEA/UFCG); [email protected] (Doutoranda)
Vera Lúcia Antunes de Lima (UAEA/UFCG); [email protected] (Orientadora)
Abel Henrique Santos Gomes (UAEA/UFCG); [email protected] (Mestrando)
Joelma Sales dos Santos (CDSA/UFCG); [email protected] (Profª. Colaboradora)
Resumo
Desenvolver de forma sustentável a região Semiárida do Nordeste tem sido um grande desafio.
Nesse contexto, a água é um fator limitante, sendo necessário buscar formas viáveis de captação e
armazenamento da mesma para que na época de estiagem tenham-se subsídios para manter o
abastecimento humano e a produção agrícola. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a
implantação das técnicas agrícolas para contenção de solo e água, no município de Serra Branca,
Paraíba. O local escolhido foi a comunidade ligeiro de baixo, no município de Serra Branca,
Paraíba. As coordenadas geográficas da área foram georreferenciadas com auxílio de GPS, como
pode-se verificar a seguir:
3 ‘
, ‖ de Latitude Sul, 3
3 ‘
‖ de Longitude Oeste e 3
metros de Altitude. A construção da barragem subterrânea obteve as seguintes dimensões:
comprimento de 24 m apresentou profundidade relativamente baixa, com profundidade média de
1,90 m e, ao longo de seu perfil ocorreu variação de 1,60 m a 2,35 m, chegando a obter como base
da barragem, a rocha mãe, que representa a base mais sólida. Em conjunto com a barragem
subterrânea foi construído um poço amazonas tipo anel pré-moldado com 1,5 m de diâmetro e 0,5
m de altura, atingindo a profundidade de 2,5 m inserido na bacia hidráulica a montante da
barragem e, um barramento superficial com pneus usados (BAPUCOSA) com extensão de 20 m, a
distância de 2,0 m à jusante da barragem subterrânea. O volume de água médio previsto de
acumulação foi estimado através de porosidade do solo retirado do local, profundidade e
declividade longitudinal média, resultando num acúmulo máximo de 2.114 m3 de água.
Palavras-chave: bacia hidráulica, barragem subterrânea, porosidade do solo.
Abstract
Sustainably develop the semi-arid region of the northeastern has been a major challenge. In this
context, water is a limiting factor, being necessity to seek viable forms to capture and store the same
to that in the dry season are up subsidies to keep the human supply and agricultural production. The
aim of this study was to evaluate the implantation of farming techniques for containment of soil and
43
water in the city of Serra Branca, Paraíba. The venue was the slight low community in the
municipality of Serra Branca, Paraíba. The geographical coordinates of the area were georeferenced
using GPS, as it can be seen below: 07 ° 32 '59.9" South Latitude, 36 ° 39' 07" West Longitude and
Altitude 530 meters. The construction of underground dam obtained the following dimensions:
length 24 m depth had relatively low, with an average depth of 1.90 m along its profile variation
was 1.60 m to 2.35 m, reaching gain based dam, the bedrock, which is the more solid basis. In
conjunction with the underground dam was built a Amazons well-ring precast type, with 1.5 m
diameter and 0.5 m high, reaching a depth of 2.5 m in the basin hydraulic inserted upstream of the
dam and a surface bus with used tires (BAPUCOSA) with extension of 20 m, a distance of 2.0 m
downstream of the dam underground. The volume of the average water accumulation estimated by
soil porosity left the location, depth and medium longitudinal slope, resulting in accumulation of
maximum 2114 m3 of water.
Keywords: hydraulic basin, underground dam, soil porosity
Introdução
Desenvolver de forma sustentável a região Semiárida do Nordeste tem sido um grande
desafio. Nesse contexto a água é um fator limitante, sendo necessário buscar formas viáveis de
captação e armazenamento da mesma para que na época de estiagem tenham-se subsídios para
manter o abastecimento humano e a produção agrícola.
A captação de água na Região Nordeste Brasileira é de extrema importância, pois a partir da
mesma podem-se ter subsídios para abastecimento humano, animal e produção agrícola. Entretanto,
o resultado diante de uma precipitação média de 600 mm.ano-1 associada a uma evaporação de 2000
mm.ano-1 (Baracuhy, 2001), gera um déficit hídrico nos reservatórios durante os períodos secos,
justificando a importância da tecnologia de barragem subterrânea. A barragem subterrânea é uma
obra de engenharia de baixo custo, simples processo construtivo e operacional, tendo por finalidade
interceptar o fluxo de água subterrâneo freático do depósito aluvial de um rio, desde que esse
ofereça condições naturais para tal interceptação.
Segundo Costa (
), esse tipo de intervenção se constitui, assim, numa ―pequena grande
obra‖, pequena por se tratar de uma obra de baixo custo e de fácil e rápida construção e grande por
representar uma ação de elevado cunho social, que tende a minimizar o flagelo da seca e a
proporcionar meios de manutenção do homem no campo, na medida que disponha de água para
plantar, manter sua família e dessedentar os animais de criação.
As barragens subterrâneas são obras de engenharia implantadas no perfil de depósitos
aluvionares que tem por finalidade interceptar o fluxo de água subterrânea. Visando aperfeiçoar o
armazenamento de água na barragem subterrânea é construído na mesma área um poço amazonas,
44
com a finalidade é a disponibilidade de água livre e extração de sais do lençol freático. Além do
poço é construído um barramento de pneus usados, tendo como função aumentar a infiltração de
água no solo e diminuir a perda de solo devido ao escoamento superficial, sendo um obstáculo para
enxurrada.
Portanto, a barragem subterrânea é uma técnica que além de proporcionar o armazenamento
de água no solo promove a recuperação da vegetação mediante bom manejo, recuperando dessa
forma as camadas superficiais do solo que em geral são as mais férteis e de melhor qualidade para
exploração agrícola. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a implantação das técnicas agrícolas
para contenção de solo e água (barragens subterrâneas, poços amazonas e barramento de pneus para
contenção de solo e água – BAPUCOSA), no município de Serra Branca, Paraíba.
Materiais e Métodos
O trabalho foi realizado no município de Serra Branca, Paraíba, resultado de uma
capacitação para produtores rurais sobre o conjunto de técnicas (Barragens subterrâneas, poço
amazonas e BAPUCOSA), financiado pela FUNASA e executado pela Unidade Acadêmica de
Engenharia Agrícola UAEAg/UFCG. Na escolha do local de implantação das técnicas foi levada
em consideração a área que apresentou melhor infra-estrutura e características técnicas pertinentes
para a construção.
O município de Serra Branca está situado na microrregião do Cariri Paraibano, onde o clima
é considerado segundo a classificação de Köeppen, como do tipo BSwh‘, isto é, semi-árido quente,
com as precipitações médias situam-se em torno de 400 mm.ano-1 (AESA, 2010) e tendo estação
seca podendo ter um período de 8 a 9 meses, associada a uma evapotranspiração de referência de
1.913,9 mm.ano-1 (HARGREAVES, 1974).
O local escolhido foi a comunidade ligeiro de baixo, georreferenciada com auxílio de GPS,
cujas coordenadas foram:
3 ‘
, ‖ de Latitude Sul, 3
3 ‘
‖ de Longitude Oeste e 3
metros de Altitude (Figura 1).
Figura 1. Drenagem do Município de Serra Branca, identificando o local da construção das técnicas
45
Na Figura 2, pode-se observar o panorama do local escolhido para locação da obra, percebese que a mata ciliar do riacho é formada por plantas de algaroba, que apesar de não ser espécie
nativa tem sido encontrada com frequência na região devido a profundidade de suas raízes o que
facilita a busca de água no lençol freático, em época de seca sua vargem é utilizada como fonte de
alimentação para o gado.
Figura 2. Panorama do local escolhido para a realização do conjunto de técnicas
No processo construtivo das técnicas, foram coletadas amostras de solo retiradas do perfil da
vala da barragem subterrânea a profundidade de 0,50 m, 1,0 m e 2,0 m. O objetivo desse
procedimento foi caracterizar o solo da área de captação/plantio, em diferentes profundidades.
Foram determinados em laboratório os atributos físicos: textura, densidade do solo e das partículas,
capacidade de campo (0,10 atm) e ponto de murcha permanente (15,0 atm).
Além da coleta de solo, foi realizada a coleta de água de uma cacimba situada na área de
captação a montante da barragem subterrânea, onde foram analisados parâmetros referentes ao teor
de sais presentes na água. Classificando-a de acordo com a metodologia de Richard (1954) e tendo
o resultado posteriormente comparando com a recomendação da FAO, classificação proposta pelo
Comitê dos Consultores da Universidade da Califórnia – UCCC (1974) citado por Ayers e Westcot
(1999), para uso na irrigação de áreas cultivadas.
As análises de água foram obtidas quanto à salinidade e as amostras de solo foram
submetidas a leituras de salinidade e parâmetros físico-hídricos, ambas realizadas no Laboratório de
Irrigação e Salinidade (LIS), da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.
Para possibilitar uma exploração agrícola na bacia hidráulica da barragem subterrânea é
imprescindível que se tenha água disponível para as plantas. Assim, através do cálculo de volume
total obstruído de água e solo (Vt), Equação 1, determina-se o volume total de água no solo e, com
46
esse resultado calcula-se o volume de máxima captação de água (Vc) da barragem subterrânea
(Equação 2).
Vt 
H .L.S
2
(1)
em que:
H – Altura média da secção transversal do riacho;
L – Largura do riacho;
S – Declividade 1%
Vc  Vt .
(2)
em que:
Vt – Volume total obstruído de água+solo;
α – Porosidade média do solo
Resultados e Discussões
A construção da barragem subterrânea se deu no leito do riacho XXXX, localizado na
comunidade Ligeiro de Baixo, com as seguintes dimensões: comprimento de 24 m, apresentou
profundidade relativamente baixa, com profundidade média de 1,90 m e, ao longo de seu perfil
ocorreu variação de 1,60 m a 2,35 m, chegando a obter como base da barragem, a rocha mãe, que
representa a base mais sólida.
O solo do local apresentou textura grossa, tendo em sua composição predominantemente
areia sem presença de pedras. A BAPUCOSA foi construída com 30 pneus de caminhão e 05 de
carro de passeio, distribuídos em duas camadas e grampeados com vergalhão de diâmetro ½
polegada, para dá estabilidade a obra são inseridas dentro dos pneus pedras que geralmente estão
dispostas nos leitos dos riachos. Entretanto, próximo a área de implantação da obra não haviam
pedras suficientes, ficando sob responsabilidade da comunidade a colocação das mesmas nos pneus.
A BAPUCOSA construída obteve uma extensão final de 20 m de comprimento, a uma distância de
2,0 m à jusante da barragem subterrânea. O poço amazonas alcançou a profundidade de 2,5 m,
sendo colocados 07 anéis pré-moldados (altura (H) – 0,5 m e diâmetro (ϕ) – 1,5 m), deixando 1,0 m
acima do nível do solo, esse procedimento é feito com o intuito de evitar o entupimento por solo em
suspensão que é carreado durante o período chuvoso. A distância de alocação do poço amazonas foi
de 3,0 m a montante da barragem subterrânea, a declividade longitudinal do riacho foi calculada em
47
torno de 1%. Utilizando a Equação 1 e Equação 2, obtém-se o valor do volume total obstruído de
água e solo e o volume de captação da barragem subterrânea respectivamente (Tabela 1).
Tabela 1. Cálculo do volume máximo de captação da barragem subterrânea no município de Serra Branca
Parâmetros
Valores (m)
Volume total
obstruído de água e
solo (m3)
Volume de máxima
captação de água da
Barragem subterrânea
(m3)
1,9
4332
2114
Altura média da
secção transversal do
riacho (H)
Largura do riacho
(L)
Declividade 1% (S)
Porosidade 48,8%
(α)
24
190
0,488
Na Figura 3 está apresentado o gráfico do perfil de escavação da barragem subterrânea
(limitada pela rocha mãe), bem como, a área de captação de água ―in situ‖ ao longo da área da
barragem subterrânea.
Profundidade da Rocha
(m)
Perfil de Escavação da Barragem Subterrrânea
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Distância Transversal (m)
Estratificação da Rocha
Figura 3. Perfil de escavação da vala da barragem subterrânea no município de Serra Branca
Os detalhes construtivos das técnicas agrícolas para contenção de solo e água podem ser
acompanhados pela sequência de Figuras de 4 a 9.
48
Figura 4. Comprimento da vala escavada Figura 5. Medição da profundidade da vala para
(transversal ao riacho)
conhecimento do perfil da barragem
subterrânea
Figura 6. Colocação da lona plástica com 200 Figura 7. Colocação dos anéis pré-moldados
micras, 6 m de largura, ao longo da vala da para a construção do poço amazonas.
barragem subterrânea.
49
Figura 8. Construção do barramento com pneus Figura 9. Finalização da barragem subterrânea
usados
com construção da BAPUCOSA a sua jusante
A classificação das amostras de solo coletada em diferentes profundidades, bem como, os
parâmetros físico-hídricos do solo, estão representadas na Tabela 2. Observa-se que apenas à
profundidade do solo de 0,5 m foi classificada com salinidade normal.
Tabela 2. Caracterização físico-hídrica do solo coletado na área da instalação da barragem
Variável
Densidade aparente (g/cm3)
Porosidade (%)
Cap. de Campo - 0,10 atm (cm3/cm3)
Ponto de Murcha - 15 atm (cm3/cm3)
Salinidade
Classe Textural
0,5 m
1,50
45,93
0,06
0,02
Normal
Areia Franca
Profundidades
1,0 m
2,0 m
1,35
1,43
51,49
48,84
0,06
0,06
0,02
0,04
Salino Sódico Salino Sódico
Areia Franca
Areia
A água coletada para análise foi proveniente de uma cacimba, os valores dos parâmetros
encontrados após análise em laboratório estão representadas na Tabela 3.
Tabela 3. Parâmetros de qualidade de água no município de Serra Branca
Propriedade
Ligeiro de Baixo
pH
CEa (µS cm-1)
Cálcio (meq L-1)
Magnésio (meq L-1)
Sódio (meq L-1)
Potássio (meq L-1)
Carbonato (meq L-1)
Bicarbonato (meq L-1)
Cloreto (meq L-1)
Sulfato (meq L-1)
RAS
7,92
6.500
18,76
27,48
45,98
0,72
1,7
5,29
74,75
Presença
9,52
50
Classe
C4
Pela classificação de Richard (1954) a água proveniente de cacimba do ligeiro de baixo, foi
classificada como sendo uma C4S3. Indicando que pelo valor da condutividade elétrica (6.500 µS
cm-1), a água apresenta salinidade muito alta, não deve ser aplicada ao solo em condições normais,
podendo ser utilizada ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais, tais como em solo de boa
drenagem no cultivo de plantas halófitas, misturada a águas com baixa concentração de sais,
mantendo-se o solo a capacidade de campo ou com o uso de mulching, dentre outras.
Comparando os valores da Tabela 3 com os parâmetros apresentados pela UCCC (1974), em
relação à qualidade da água para irrigação, observa-se que a mesma tem restrição severa quanto ao
seu uso, e quanto a Razão de Adsorção de Sódio (RAS) não existe nenhum grau de restrição
indicando que para a planta haverá grandes riscos a toxidade e, para o solo não apresentará
problemas de desagregação das partículas. Vale salientar que a água foi coletada no verão onde a
concentração de sais é maior devido à evaporação.
CONCLUSÕES
A barragem subterrânea construída no local apresentou boa capacidade de armazenamento
de água, propiciando aos moradores da comunidade a exploração agrícola durante a época de
estiagem.
A construção do poço amazonas mostra-se de grande importância por disponibilizar água
livre para consumo animal e monitoramento do nível de sais na água do aquífero freático.
Foi possível avaliar que o uso dos pneus além da funcionar como uma barreira diminuindo a
velocidade da água no riacho interceptado possibilita a retirada desse material do meio ambiente,
promovendo dessa forma a sua conservação.
AGRADECIMENTOS
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Fundação Nacional de Saúde – FUNASA
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2010.
Monitoramento
de
chuvas,
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do
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http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/jsp/monitoramento/chuvas/climatologiasGraficos.jsp acessado em
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52
MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM AMBIENTES URBANOS-TERESINA-PI
João Alvino Sampaio da SILVA (DCA/UFCG) – [email protected]
Raimundo Mainar de MEDEIROS (DCA/UFCG) – [email protected]
Camilla Karssar BORGES (DCA/UFCG) – [email protected]
Maria da Conceição Marcelino PATRÍCIO (CTRN/UFCG) – [email protected]
Resumo
Teve-se como objetivo analisar as mudanças climáticas ocorridas no centro urbano, caracterizandoas para o Município de Teresina-PI. Analisaram-se tanto fatores e elementos climáticos e
dinâmicos, como também fatores estáticos e climatológicos como suportem a uma análise dos
eventuais efeitos da urbanização na modificação climática da cidade, no que diz respeito a ilhas de
calor, trocas de calor entre as diversas camadas de ar sobre as cidades. Obteve-se como resultado
que o processo de urbanização das cidades adquiriu um grande desenvolvimento horizontal e
vertical, passando a atuar como uma grande modificadora do clima local. As mudanças climáticas
geradas pelas atividades humanas modificam o balanço de radiação, a temperatura, o balanço
hídrico, a umidade, cria células de alta e baixa pressão e modifica os sistemas de ventos, assim
como a aerodinâmica do meio, através dos prédios. As camadas de ar adjacentes à cidade, o ar é
mais quente que em ambientes a sua volta, o tamanho deste fenômeno varia de acordo com a forma
e tamanho em um determinado tempo e espaço. Ocorreram flutuações elevadas em vários índices
climatológicos, entre eles na temperatura mínima e precipitação, o município sofreu bruscas
alterações em sua estrutura urbana, afetando o clima a sua volta.
Palavras Chaves: Clima urbano; atores meteorológicos.
Abstract
This study was undertaken to analyze the changes in climate in the urban center, characterizing it
for the city of Teresina - PI. These missions was to analyze both factors and environmental
elements and dynamic, but also sticking to static and climatological factors. These factors should
support an analysis of possible effects of urbanization on climate change in the city, both in respect
of heat islands, such as heat exchange between the various layers of air over the cities. We obtained
the result that the process of urbanization of the cities acquired a large horizontal and vertical
development, starting to act as a major modifier of local climate, climate change, generated by
human activities modify the radiation balance, temperature, balance water, moisture, creates cells of
high and low pressure systems and modifies the winds, as well as the aerodynamics of the medium,
through buildings, layers of air adjacent to the city, the air is warmer than the environment around
53
them; the exact size of this phenomenon varies with the shape and size in a given time and space,
there was high fluctuations in various climatological indices, including the minimum temperature
and precipitation, the city of Teresina suffered sudden changes in its urban structure, affecting the
climate around them.
Keywords: Climate urban; meteorological factors.
Introdução
Com o passar do tempo, a superfície terrestre foi se modificando, cidades cada vez mais
populosas e povoadas e o processo de verticalização destas. A cidade passa a atuar como um fator
modificador do clima regional, criando atmosferas específicas em sua área influência, que são
definidas como clima urbano; ou seja, toda a área de influência que uma cidade tem é capaz de
modificar e criar condições adversas na atmosfera local.
Muitos são os fatores responsáveis pela modificação topo e microclimática nas cidades, tais
como, a substituição dos materiais naturais pelos materiais urbanos, mudanças na circulação dos
ventos devido às construções urbanas, mudança no balanço energético de radiação
(consequentemente o albedo), mudanças de amplitudes térmicas, etc.
Segundo Amorim (2000), a partir da cidade, o clima começa a sofrer mudanças, causando na
população desconforto térmico, interferindo na qualidade do ar e provocando crescentes inundações
urbanas. Com o passar do tempo, estes problemas urbanos começam a fazerem parte do dia-a-dia da
população, como ilhas de calor, poluição do ar, alta incidência de radiação solar direta à superfície,
baixa quantidade de nebulosidade, variabilidade da umidade relativa do ar, chuvas intensas
(acompanhadas de vendavais e descargas elétricas), inversão térmica.
Muitas podem ser as causas da formação de uma ilha de calor, porém, alguns fatores
propiciam a formação, especificamente para o município de Teresina-PI, o aumento da radiação de
ondas longas e sua reemissão pelos poluentes da atmosfera, diminuição do albedo dada à maior
absorção das ondas curtas devido às construções; gerando um grande armazenamento de calor
durante o dia, adicionado ao calor antropogênico (frotas de veículos coletivos, industriais,
refrigeradores, lixões a céu aberto). O que, causam um aumento da temperatura em relação às áreas
suburbanas e periféricas da cidade e do campo.
O clima, no decorrer da crescente urbanização na qual passa a sociedade brasileira, é um dos
elementos que mais tem sofrido impactos. Para Monteiro (1997) o clima pode ser definido como um
sistema aberto, ativo e complexo, cuja vitalidade está na dependência direta da capacidade de trocar
energia e matéria com o exterior. Neste trabalho devem-se analisar as mudanças climáticas que vem
ocorrendo do ambiente para o município, pois apesar de ocuparem parcelas territoriais
54
significativas, estes constituem a maior transformação da paisagem natural e do clima da região
onde se encontram localizados.
Pretende-se assim analisar tanto fatores dinâmicos, como massas de ar, circulação geral e
secundária, como também se ater a fatores estáticos e climatológicos, como temperatura, pressão,
domínio de ventos, umidade, precipitação, entre outros. Tais fatores devem dar suporte a uma
análise ainda maior, que tem como objetivo analisar os eventuais efeitos da urbanização na
modificação climática da cidade, tanto no que diz respeito a ilhas de calor, como trocas de calor
entre as diversas camadas de ar sobre as cidades, as chamados Limites das Camadas Climáticas que
tanto enfatiza Oke (1998).
Assim, este trabalho tem como objetivo analisar os fatores modificadores do clima local,
caracterizando-a para o municípioem questão, informando as características climáticas da área de
estudo, citando os dados causadores desta mudança. Pretende-se penetrar no interior das cidades,
aceitando-a como fato geográfico, analisando sua real estruturação físico-natural de ambiente
altamente produzido pelo homem, através de uma dinâmica estrutural conduzida pelos processos
econômicos vigentes na sociedade e suas reais implicações na mudança climática.
Com a substituição das paisagens e materiais naturais pelos antropogênicos, o balanço de
radiação, a circulação local dos ventos, o balanço hídrico, entre outros, sofreram modificações
significativas. Mudanças estas que afetam a camada de ar que está adjacente à cidade,
transformando o clima local. Com isso toda a área de influência que uma cidade tem, capaz de
modificar e criar condições adversas na atmosfera local pode ser caracterizado como clima urbano.
Com as ações antrópicas no meio urbano, modificam-se as superfícies de absorção, a
cobertura vegetal, impermeabilizam-se os solos, e tais fatos criam uma variação no balanço de
radiação, caracterizando e constituindo uma ilha de calor. O balanço de energia, contabiliza todas as
trocas de fluxos de energia existentes entre a atmosfera e a superfície terrestre, e o saldo recai sobre
a cidade e áreas circunvizinhas em quantidades iguais. Porém, a cobertura natural do terreno, nas
cidades é substituído por asfalto, concreto e outros materiais com baixo albedo, produzindo maior
absorção de calor, caracterizando um novo clima, diferente das áreas circundantes.
Outro fator que é modificado pela cidade é o balanço hídrico, representa a disponibilidade
de água, contabilizando a precipitação perante evapotranspiração potencial, a partir de um valor
determinado de capacidade de armazenamento de água no solo. Com a construção de cidades o solo
é praticamente substituído por materiais urbanos, se cria um déficit na evaporação. Outro fator
agravante é a falta de áreas verdes, diminuindo também os índices de evapotranspiração.
Estima-se, que na cidade chova mais que em áreas circunvizinhas, devido criação de células
de baixa pressão. Estas zonas são criadas devido ao aquecimento diferencial da cidade e fazem com
55
que o vento gire em torno destas células. Segundo Lombardo (1985) nestas áreas tem-se uma
variação pluviométrica de até +7% em relação às zonas rurais ou áreas próximas.
Outro aspecto causado pela edificação vertical é o sombreamento, o desvio e o represamento
dos ventos. Com a construção de edifícios cada vez maiores e mais altos, certas áreas da cidade
ficam sem receber iluminação solar no decorrer do dia, tal fator completa caracterizando ilhas de
frio, parte da cidade onde a temperatura é mais baixa e o vento represado, ocorrendo mudanças nos
hábitos da população e ocorrendo o aumento das incidências de doenças e fungos. Estas zonas
constituem células de alta pressão, criando uma circulação de vento local. Podemos observar que na
cidade o vento adquire várias direções predominantes, isso se deve a constituição de células de alta
e baixa pressão e a interferência das edificações na circulação local.
Figura 1. Fotos do passado do município.
Figura 2. Fotos atuais do município.
Todos estes fatores irão compor os principais problemas urbanos, geralmente associados
com desconforto térmico e perda da qualidade ambiental nas cidades. Entre as interferências
56
humanas no clima local, podemos citar a poluição do ar, chuvas intensas em curto intervalo de
tempo, seguido de vendavais e alto índices de descarga elétrica, inundações, alagamento, enchentes,
desmoronamento.
Com o desequilíbrio no balanço de radiação, esta ilha de calor adquire maior intensidade, e
provoca um aumento térmico, adquirindo um caráter de emissão de ondas longas tanto no período
diurno, quanto o noturno, permitindo assim identificar a perda progressiva de calor na cidade
durante o período da noite.
Muitos são os fatores causadores desta ilha de calor, entre eles podemos citar: a elevada
capacidade de absorção de calor de superfícies urbanas, ausência de áreas verdes
impermeabilização dos solos, concentração de edifícios; a utilização de energia pelos veículos de
combustão interna e pelas residências. A falta de vegetação cria uma variação no balanço hídrico e
na umidade do ar, que adicionado à barreira causada pelos edifícios cria um grande desconforto
térmico. Sem levarmos em conta a questão ambiental presente nas cidades e áreas próximas.
Nas cidades os materiais naturais dão lugar aos materiais urbanos, materiais estes, que
possuem um albedo bem menor, e absorvem a radiação de ondas longas. Este fato é facilmente
percebido na cidade, onde a temperatura é maior que as áreas subjacentes.
Segundo Oke (1978) ao substituir os materiais naturais pelos urbanos, as propriedades
físicas presentes neste espaço modificado pelo homem se alteram, entre elas o calor específico e o
latente, a capacidade de calor (quantidade de calor absorvida ou cedida por uma unidade de volume
de um sistema para que a temperatura aumente, ou reduzam um grau), a condutividade térmica e a
difusão de calor (Tabela 1).
Tabela 1. Condutividade térmica e a difusão de calor.
Material
Solo Arenoso
Seco
Solo Argiloso
Saturado
Concreto Denso
Tijolo
Aço
Madeira
Água (4ºC)
Densidade
(Kg m-3 x
103)
Calor
Específico
(J Kg-1 K-1
x103)
Capacidade de
Calor
(J m-3 K-1 x 106)
Condutivida
de Térmica
(W m-1 K-1)
Taxa de
Difusão
Térmica
(m2 s-1 x 10-6)
1,60
0,8
1,28
0,30
0,24
2,00
1,55
3,10
1,58
0,51
2,40
1,83
7,85
0,32
1,00
0,88
0,75
0,50
1,42
4,18
2,11
1,37
3,93
0,45
4,18
1,51
0,83
53,3
0,09
0,57
0,72
0,61
13,6
0,20
0,14
Fonte: Adaptado de Oke (1978).
57
Sabe-se que os materiais urbanos possuem um baixo valor de calor específico e elevada
absorção de calor, permitindo um maior aquecimento durante o período da manhã e da tarde (as
temperaturas máximas tenham redução e as mínimas aumento) e uma perda, gradativamente rápida,
durante a noite. No período chuvoso, onde as temperaturas são mais baixas e os ventos úmidos e
frios sopram com maiores intensidades, estas propriedades físicas perdem o calor acumulado
durante o dia, fazendo com que as temperaturas mínimas permanecem abaixo da média nas cidades,
já que este material urbano resfria-se mais que os materiais naturais que ali existiam. Ressalta-se
que a sensação térmica na cidade é atenuada pela falta de umidade, advinda da evapotranspiração e
prejudicada pela barreira causada pelos edifícios, algo que não ocorre no campo.
Nos centros urbanos a temperatura é um grande indicador de mudança climática, já que é
pelas ilhas de calor que se pode diagnosticar o processo de variação ocorrido no clima local. Porém,
este não é o único elemento climático que sofre profundas modificações. Com o passar do tempo à
cidade cria áreas onde o ar converge para camadas superiores, nestas zonas de ar convergente
formam-se nuvens, geralmente estratos-cúmulos que, com o passar do dia, tornam-se cumulonimbus. Esta dinâmica atmosférica local cria áreas de altas e baixas pressões, que associadas às
modificações urbanas criam um sistema que atrai os sistemas convectivos.
Devido a esses fatores estáticos e dinâmicos, muitos estudos tentam comprovar o aumento
de precipitação nas cidades, entretanto, embora o ar convectivo crie uma maior quantidade de
nuvens, fica difícil chegar a uma conclusão teórica, pois a chuva não cai uniformemente sobre uma
determinada área. Nas cidades temos um sistema de microcirculação, que localmente modifica as
camadas de ar adjacentes à superfície. Estas por sua vez, dão origem a um sistema de perturbações
que cria áreas onde os processos convectivos se acentuam, provocando assim eventuais diferenças
nos índices pluviométrico da cidade.
Material E Métodos
Teresina está localizada na região centro-norte piauiense, à margem direita do rio Parnaíba.
A capital do Piauí possui uma área de 1.755,70 km² e um total da área urbanizada de 140,00 km². É
composta por população de 715.360 habitantes, correspondente a 25,16% da população do Estado
(Amorim, 2010).
Quanto à hidrografia, está situada na bacia do Parnaíba. A cidade é banhada por dois
grandes rios: o Parnaíba e o Poti. Teresina apresenta uma das mais baixas altitudes do Estado,
caracterizando-se por apresentar relevo plano, com suaves ondulações. As colinas com topo
achatado e flancos muito inclinados, e as chapadas apresentando a superfície plana e os vales
entalhados são as feições topográficas mais frequentes na área do município. A altitude média é de
72 m, variando de 100 a 150 m (Amorim, 2010).
58
A vegetação local é composta pelo cerrado e cerradão constituem a forma mais generalizada
que é representada por uma cobertura arbustiva de médio porte e densa. Integra ainda a paisagem os
babaçuais e os carnaubais nativos, que se estendem por toda a área (Amorim, 2010).
Conforme Monteiro (1963) o município está inserido no caráter mesotérmico, com uma
temperatura média anual entre 26,5º e 29,0ºC, com elevada amplitude térmica com oscilação entre
9,0 e 14,5ºC (Figura 3). Tais valores são característicos das correntes perturbadas ali presentes,
aliados aos resfriamentos ocorridos após a sua passagem. Estas temperaturas elevadas variam de
acordo com a altitude do entorno, dada à característica geográfica municipal e os maiores
aquecimentos encontram-se em superfícies mais baixas.
Dadas às informações climatológicas e dinâmicas do Nordeste do Brasil, o município tem
seu clima controlado pela variabilidade espacial e temporal da Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT), sendo sua atividade mais ao sul do equador, contribuição dos Vórtices Ciclônicos de altos
níveis, deste que seu centro esteja no oceano, às formações e intensificações das linhas de
instabilidade e dos aglomerados convectivos, auxiliado pelos ventos alísios de nordeste, a
convergência de umidade e a troca de calor sensível por latente e vice-versa, as contribuições dos
efeitos locais, fatores que aumentam a cobertura de nuvens, a umidade relativa do ar e provocam
chuvas de intensidades moderadas à fraca em quase todos os meses do ano, sendo o fenômeno La
Ninã o principal fator para ocorrência de chuvas acima da média histórica provocando inundações,
alagamento, enchentes, enxurradas e desmoronamento.
Na metodologia deste trabalho foram utilizados os dados provenientes da Estação
Meteorológica do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) localizada no pátio da EMBRAPA
Meio-Norte que se encontra a menos de 3,0 km do centro da cidade. Para isso utilizou-se uma série
histórica das temperaturas máximas, médias e mínimas, compreendendo ao período de dados
meteorológicos observados entre 1976 a 2010.
Utilizando o software Microsoft Excel® elaboraram-se gráficos que exemplificam as
temperaturas e a linha de tendência que as acompanham. Após foi analisado os gráficos de:
temperatura máxima, média e mínima, mínimas e máximas absolutas climatológicas do período de
1976 a 2010, e a temperatura média anual e sua tendência e a inclinação da reta de tendência.
59
Figura3. Mapa de temperatura média e
precipitação. Fonte: EMBRAPA (2010).
Resultados e Discussões
A temperatura máxima das máximas tem seu pico de decaimento nos meses de março, maio
e junho e seu pico de enlevamento nos meses de agosto, outubro, novembro e janeiro conforme
demonstração nas figuras 5 e 6.
Observam-se na figura 7, as temperaturas mínimas absolutas mantiveram um padrão no
decorrer dos anos, mantendo sua tendência inconstante. Isto significa que o balanço de radiação
persiste durante todo o dia. Com isso o input do sistema, se considerarmos a cidade um sistema
aberto a trocas de energia, receberia uma grande carga de radiação, aumentando sua temperatura no
primeiro momento. Com o término da emissão de ondas curtas diretas pelo sol, o output de energia
começa a disponibilizar sua energia para o meio, constituindo-se numa alimentação retro negativa,
onde toda a energia adquirida é perdida numa espécie de ciclo.
Figura 5. Temperatura máxima das máximas Figura 6. Temperatura máxima das mínimas
absoluta. Fonte: INMET.
absoluta. Fonte: INMET.
60
Sendo assim, a temperatura mínima absoluta tende a adquirir seu padrão anormal, sendo
influenciada pelas ilhas de calor em cidades de médio e grande porte, variando de maneira quase
significante durante as análises termo climáticas deste estudo. Dos meses estudados, os únicos que
tiveram um aumento gradativo de temperatura foram de junho, julho e agosto, porém este
decréscimo chega, em ambos os meses, a oscilar de 2,8 a 8,0ºC (Figura 8).
Figura 7. Temperatura mínima das máximas Figura 8. Temperatura mínima das mínimas
absoluta. Fonte: INMET.
absoluta. Fonte: INMET.
Devido ao aumento das temperaturas máximas absolutas, causadas pela modificação no
balanço de radiação, as temperaturas médias tiveram um, ligeiro aumento. Fato que pode ser
comprovado pela figura 9.
Observam-se as flutuações das temperaturas médias absolutas com variações acentuadas de
reduções nos meses de outubro a dezembro. Nos meses de maio a setembro ocorre uma
variabilidade na temperatura média absoluta provocada pelos sistemas locais e suas variações
devidas aos fatores meteorológicos atuantes.
Após analisarmos o gráfico abaixo (figura 9) pode-se comparar com as médias anuais, a fim
de estabelecer um padrão. Como podemos perceber nas figuras 9 e 10, as temperaturas seguiram um
padrão de acréscimo térmico com relação aos referidos. Sendo assim, a temperatura média anual
teve um aumento significativo, que pode ser constatado na inclinação da reta de tendência, onde a
maioria dos meses apresentou características térmicas em gradual aumento. Podemos observar no
gráfico que nos meses de inverno as temperaturas tiveram um decréscimo, ou seja, hoje as
temperaturas médias no inverno são mais frias que no passado, tal fato se deve a substituição da
vegetação que constituía numa fonte de manutenção térmica, visto que as propriedades dos
materiais urbanos resfriam consideravelmente no inverno.
Pode-se afirmar que nos meses de junho a agosto as temperaturas máximas absolutas
tiveram uma pequena queda durante os anos analisados, sendo suas variações observadas nas
temperaturas médias anuais e com a temperatura mínimas absolutas. A substituição dos materiais
61
naturais pelos antropogênicos causa mudanças significativas na constituição climática das cidades.
Porém, esta mudança não se dá apenas pelo acréscimo ou redução de temperatura.
O mesmo acontece com as temperaturas médias anuais e com as temperaturas mínimas
absolutas de junho a agosto. Como se pode observar na figura 9.
Figura 9. Temperatura média e reta de Figura 10. Temperatura mínima máxima
tendência para a série de 1976 a 2010.
absoluta da série de 1976 a 2010 e a reta de
tendência.
Figura 11. Temperatura mínima absoluta da Figura 12. Precipitação anual de 1976 – 2010
série de 1976 a 2010 e a reta de tendência.
com reta de tendência.
Ao analisar os dados climatológicos da estação de Teresina - PI pode-se observar uma
elevação da taxa de precipitação no decorrer dos anos, porém, ao analisar a linha de tendência não
se levou em conta os fenômenos climatológicos de escala zonal, se atendo apenas aos fatores locais
e aos dados climatológicos da área de estudo.
Através deste estudo podem observar a importância de se estudar as modificações climáticas
ocorridas em centros urbanos, já que é estimado que mais de 60% da população viva em cidades
com 5.000 ou mais habitantes. Isto torna o estudo de clima urbano importante, já que ele pode
ocasionar um melhor controle na qualidade de vida dos habitantes destas cidades, incluído a parte
relacionada à saúde e bem estar. Podendo demonstrar os efeitos da urbanização e suas repercussões
em escalas climáticas, a fim de diagnosticar possíveis soluções e problemas destas modificações
que ocorrem em todos os ambientes urbanos do país e do mundo.
Para isso é necessário que os governos Federal, Estadual e Municipal criem determinações
de altitudes máximas de construção das edificações, levando-se em consideração as predominâncias
dos ventos locais. Sendo necessário que estabeleçam limites para as aplicações de asfaltos nas vias
62
urbanas. Criem decretos para implantações de novas áreas verdes e recuperem as arborizações já
existentes nas vias urbanas, e também cuidar das margens dos rios com novos plantios de
arborização e a redução do lixo. E a recomendação que nas construções de novos bairros deve-se
utilizar-se de matérias que armazenem menos calor e que a arquitetura use os meios naturais de
ventilações.
Conclusões
O processo de urbanização das cidades adquiriu um grande desenvolvimento horizontal e
vertical, passando a atuar como uma grande modificadora do clima local;
As mudanças climáticas, geradas pelas atividades humanas, são muitas e variadas, elas
modificam o balanço de radiação, a temperatura, o balanço hídrico, a umidade, cria células de alta e
baixa pressão e modifica os sistemas de ventos, assim como a aerodinâmica do meio, através dos
prédios;
Nas camadas de ar adjacentes à cidade, o ar é mais quente que em ambientes a sua volta,
com isso as ilhas de calor constituem-se nos mais claros e documentados exemplos de uma
mudança climática;
O exato tamanho deste fenômeno varia de acordo com a forma e tamanho em um
determinado tempo e espaço originado como um resultado de condições meteorológicas e das
características urbanas de um determinado lugar;
Houve flutuações elevadas em vários índices climatológicos, entre eles na temperatura
mínima e precipitação, fato que vem reforçar a ideia que a urbanização desenfreada, causa
profundas modificações no clima local;
Com o decorrer dos anos o município sofreu bruscas alterações em sua estrutura urbana,
afetando o clima a sua volta.
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Joel Silva dos SANTOS (DEMA\UFPB) – [email protected]
Vicente de Paulo Rodrigues da SILVA (DCA\UFCG) – [email protected]
Eduardo Rodrigues Viana de LIMA (DGEOC\UFPB) – [email protected]
Lincoln Eloi de ARAÚJO (DEMA\UFPB) – [email protected]
Resumo
As alterações ocorridas no sistema climático urbano das grandes cidades são processos relacionados
ao adensamento urbano e às diferentes formas de uso e cobertura do solo. O objetivo deste trabalho
foi analisar o campo térmico urbano e a sua relação com as diversas formas de uso e cobertura do
solo em cidade tropical úmida, especificamente a cidade de João Pessoa, PB. As medições da
temperatura do ar e umidade relativa foram realizadas em dois períodos distintos de três meses
(seco e chuvoso), utilizando-se termo-higrômetro da marca Hobos em nove pontos representativos
da malha urbana de cidade. O nível de estresse térmico foi avaliado com base no índice de
desconforto de Thom (IDT) para regiões tropicais, ajustado através de questionários de avaliação da
sensação térmica das pessoas nos pontos monitorados. O teste de Mann-Kendall foi utilizado para
avaliar a tendência temporal das séries climatológicas de temperatura, umidade relativa do ar e do
IDT no período de 1963 a 2011. Os tipos de cobertura de solo de cada ponto monitorado foram
classificados dentro de nove classes de acordo com a percentagem de vegetação e de materiais
permeáveis e impermeáveis utilizando métodos quantitativos e qualitativos. Os resultados do
trabalho indicam que a faixa de classificação do índice de desconforto de Thom não é apropriada
para regiões tropicais úmidas. A ilha de calor urbano é um fenômeno que ocorre preferencialmente
durante o período noturno enquanto a intensidade máxima dos gradientes de temperatura e umidade
relativa do ar são fenômenos essencialmente diurnos. Os cenários dos níveis de conforto térmico
indicam condições de forte desconforto ambiental para os anos de 2050 e 2060 durante o período
seco e desconfortável para o período chuvoso no ano de 2060 em toda área de estudo.
Palavras chaves: Conforto Térmico, Ilha de calor, Gradiente de Temperatura
Abstract
The changes in the urban climate system in great cities are processes related to urban density and
the different forms of use and land cover. The objective of this study was to analyze the thermal
urban field and its relation to the various forms of use and land cover in a humid tropical city,
64
specifically Joao Pessoa city, PB, Brazil. Measurements in air temperature and relative humidity
were carried out in two distinct periods of three months (dry and wet seasons), using thermohygrometer Hobos located in nine representative areas of the city. The level of heat stress was
evaluated based on Thom's discomfort index (IDT, in Portuguese), adjusted for tropical regions
based on questionnaires for assessing the thermal sensation that people have in function to the
parameters that determine the environment in which they live. Mann-Kendall test was used to
assess the temporal trends of time series in temperature, relative humidity and IDT for the period
from 1963 to 2011. The types of ground cover of each monitored point were classified into nine
classes according to the percentage of vegetation coverage and permeable and impermeable
materials by utilizing both qualitative and quantitative methods. The results of the study indicated
that the classification range of the Thom‘s discomfort index is not suitable for humid tropical
regions. The urban heat island is a phenomenon that occurs preferentially during the night while the
maximum intensity of the temperature and relative humidity gradients are essentially diurnal
phenomena. The scenarios of the thermal comfort levels indicated a strong discomfort for the 2050
and 2060 years during the dry season and uncomfortable condition during the rainy season in the
2060 year throughout the study area.
Keywords: Thermal Comfort, Heat Island, Temperature Gradient.
Introdução
Dentre os vários sistemas ambientais, o atmosférico vem sendo um dos mais afetados nesses
últimos séculos, principalmente no que diz respeito ao seu estado de equilíbrio dinâmico, pois
segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007), os diversos gases
do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis e das mais diversas atividades
antrópicas têm alterado significativamente a composição química desse sistema, colaborando para a
elevação das temperaturas médias do planeta e gerando inúmeros problemas com implicações
socioambientais para a sociedade em geral. Sendo assim, os centros urbanos acabam sendo áreas
potenciais a esses problemas, pois o calor antropogênico oriundo das diversas atividades
desenvolvidas nessas áreas, associado ao aumento das temperaturas médias globais acaba por
alterar as condições de conforto térmico nesses ambientes, gerando consequências diretas na
qualidade de vida das populações (Silva et al., 2010). A partir da Revolução Industrial na Inglaterra,
tais problemas passaram a ser monitorados e tornaram-se cada vez mais alvo de vários estudos,
envolvendo temas relacionados à compreensão da dinâmica do clima urbano e sua relação com o
uso e cobertura do solo nesses ambientes.
65
As diferenciações no uso e cobertura do solo associadas à dinâmica climática local geram
implicações socioambientais em ambientes urbanos, onde os elementos naturais foram
transformados segundo os interesses e a necessidade da sociedade pós-moderna capitalista. As
mudanças na paisagem, através das diversas formas de uso e ocupação do solo, têm gerado
transformações significativas na dinâmica climática de áreas urbanas. A formação de ilhas de calor,
inversão térmica, poluição atmosférica, dentre outros processos ocasionados pela ação antrópica em
função de transformações ocorridas no balanço de energia das cidades, têm comprometido cada vez
mais a qualidade de vida das populações que residem nesses ambientes.
A carência de estudos interdisciplinares e holísticos sobre a dinâmica climática da perímetro
urbanpo do município de João Pessoa/PB, relativos aos diversos campos de estudo da climatologia
urbana (termo-higrométrico, físico-químico e hidro-meteórico) tem deixado lacunas para os
planejadores, que necessitam de informações sobre o ambiente urbano, principalmente no que se
refere à dinâmica climática local. Dessa forma, a hipótese principal da presente pesquisa supõe que
as diferentes formas de uso e cobertura do solo, com o processo de urbanização das últimas
décadas, têm provocado alterações no campo
térmico do clima urbano da cidade de João
Pessoa/PB, gerando assim, desconforto e a formação de ilha de calor urbano.
Material e Métodos
Para a realização da pesquisa foram definidos dez pontos dentro do perímetro urbano da
cidade de João Pessoa-PB (figura 01) visando o monitoramento climático das variáveis: temperatura
e umidade relativa do ar. As medições foram realizadas em dois períodos distintos: seco e chuvoso,
utilizando-se de equipamento termo-higrômetro da marca Hobos espalhados em nove pontos
representativos da malha urbana de cidade durante 06 meses (três para cada período observado). O
outro ponto de monitoramento observado foi a Estação Meteorológica do INMET localizado às
margens da Br 230 da capital paraibana. Para esse ponto de monitoramento foram utilizados os
dados da série climatológica disponível pela estação meteorológica, compreendido entre o período
de 1963 a 2011. O teste de Mann-Kendall foi utilizado para avaliar a tendência temporal das séries
climatológicas de temperatura, umidade relativa do ar e do IDT no período de 1963 a 2011 para a
cidade de João Pessoa-PB.
A Figura 1 apresenta as localizações dos nove pontos selecionados para o estudo em função
das suas diferenciações quanto ao uso e cobertura do solo dentro do espaço intra-urbano da cidade
de João Pessoa, PB. A figura também apresenta a Estação do INMET.
66
Figura 1. Localização dos pontos de medições e da Estação Meteorológica do INMET no perímetro
urbano da cidade de João Pessoa. Mata do Buraquinho (P01), Bairro Expedicionários (P02), Bairro
Manaíra (P03), Bairro Cabo Branco (P04), Bairro Manguabeira (P05), Bairro Cruz das Armas
(P06), Bairro Alto do Mateus (P07), Bairro Centro (P08) e Bairro dos Bancários (P09). As
coordenadas geográficas estão no Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM), fuso 25.
Para medição das variáveis em todos os pontos do experimento, foi determinado para cada
unidade climática local um raio de 150m da localização do ponto de coleta, nas direções norte e
oeste (Katzschner et al., 2002) e um raio de 350m nas direções leste e sul, de maneira que se
obtenha o valor total de 500 m que correspondesse à medida de 0,5 km defendida por Oke (2004).
Tal procedimento objetiva analisar a importância da ventilação como um elemento de controle
climático para o campo térmico da área. Dessa forma, foi determinada a análise numa área total de
0,21 km² no entorno de cada ponto analisado.
Os tipos de cobertura de solo de cada ponto monitorado foram classificados dentro de nove
classes de acordo com a percentagem de vegetação e de materiais permeáveis e impermeáveis
utilizando métodos quantitativos e qualitativos.
Para a avaliação do estresse térmico da população foi utilizado o índice de Thom (1959). O
IDT oferece uma medida razoável do grau de desconforto para várias combinações de temperatura e
umidade relativa do ar, expresso em graus Celsius, e pode ser obtido pela seguinte equação:
IDT = T – (0,55-0,0055 UR)(T -14,5)
em que T é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umidade relativa do ar (%). Na caracterização do
nível de desconforto térmico, utiliza-se a classificação apresentada por Giles et al., (1990).
67
Entretanto, a faixa de variação dos níveis de conforto térmico expresso por esse índice foi ajustada
às condições climáticas da área de estudo. Para tanto, foram realizadas entrevistas na área de estudo
com base em questionários para coletar informações sobre a sensação térmica da população local
(confortável, desconfortável e parcialmente confortável). Vale salientar que foram aplicados 300
questionários para ajustar o índice de Thom para à cidade de João Pessoa-PB. Para o cálculo da
intensidade da ilha de calor urbana na cidade de João Pessoa-PB foi utilizado como ponto de
referência, o ponto 01 da cidade, uma área de reserva florestal conhecida como Mata do Buraquinho
que apresenta condições semelhantes a um ambiente rural.
Resultados e discussões
Médias das temperaturas e umidade relativa do ar nos pontos monitorados
De acordo com os dados analisados referentes às médias diárias dos pontos experimentais,
verifica-se que os pontos 03 e 04 são os que apresentam as maiores temperaturas médias diárias, menores
taxas de umidade relativa do ar e maior desconforto térmico. Destaca-se, nos dois pontos, a semelhança
das características do entorno que é caracterizado por materiais que possuem propriedades térmicas de
absorção e retenção de calor contribuindo assim, para o aumento da temperatura e o decréscimo das
taxas de umidade relativa do ar. Verifica-se também como característica dos dois pontos, a ausência de
sombreamento e consequentemente o aumento do número de horas de insolação que incide sobre eles.
Hwang et.al., (2011) em estudo realizado na região central de Taiwan destaca o efeito do sombreamento
sobre as condições de conforto térmico. Para os autores, o fator visível do céu, bem como, as horas de
insolação e o sombreamento dos pontos, são fatores que conjugados contribuem para alterar as variáveis:
temperatura, umidade relativa do ar e níveis de desconforto térmico. Duarte (2010) em pesquisa realizada
em Manaíra, bairro onde está localizado o ponto 03, avalia a correlação entre o comportamento da
temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento, com a presença de vegetação
(sombreamento) associada às características morfológicas do meio urbano, e chega a resultados
semelhantes, destacando que outros fatores como fator de céu visível, horas de insolação, bem como, as
características do entorno e a velocidade do vento, exercem maior influencia sobre o aumento da
temperatura do ar do que a proximidade da vegetação existente. A pesquisa foi desenvolvida na Praça
Silvio Porto, e neste caso, a vegetação não se constitui na principal variável para a amenização climática
local. Ela contribui apenas pontualmente através do seu sombreamento, diferentemente do que ocorre na
Mata do Buraquinho ponto de referencia da pesquisa.
No caso da Mata do Buraquinho, a vegetação exerce papel significativo para a redução da
temperatura e aumento da umidade relativa do ar. A vegetação neste caso, contribuiu para a amenização
climática e serve como um regulador térmico condicionando um melhor índice de conforto térmico para
o ambiente. O Ponto 01 de referência (Mata do Buraquinho) apresenta as menores temperaturas, os
valores mais altos relativos à umidade relativa do ar e melhores índices de conforto térmico nos períodos
68
investigados (seco e chuvoso) com relação aos demais pontos de observação. Outros estudos também
apontam para esta perspectiva. Amorim (2011) em estudo realizado em alguns pontos experimentais
adjacentes ao entorno da Mata do Buraquinho, destaca o papel dessa cobertura vegetal para a amenização
climática local. O autor afirma que a mata exerce influencia no campo térmico dos pontos monitorados
no entorno da reserva florestal contribuindo para a amenização climática e melhor conforto térmico.
Estudo similar também foi realizado em Recife por Nóbrega & Vital (2010) demonstrando a influencia
da Reserva Dois Irmãos nas condições microclimáticas da Av. Conde da Boa Vista, onde apontam para
esta perspectiva. Os autores chegaram à conclusão de que a cobertura vegetal dessa reserva favorece as
melhores condições de conforto térmico e a redução das temperaturas médias do ar, além do aumento da
umidade relativa no ponto de referência.
Os autores afirmam que o aumento da urbanização e a redução da cobertura vegetal contribuem
positivamente para a formação de ilha de calor urbano e desconforto térmico na área de estudo.
Com relação aos demais pontos, todos apresentam valores semelhantes relativos a umidade
relativa do ar e as médias diárias das temperaturas. A umidade relativa do ar, assim como, as
temperaturas médias diárias, sofreram pequenas oscilações entre o período seco e chuvoso e
obtiveram valores distintos do ponto de referência, Mata do Buraquinho. Dessa forma, pode-se
afirmar que as diferentes formas de uso e cobertura do solo exercem influencia direta nas condições
microclimáticas locais.
Índice de desconforto térmico
Com relação ao IDT, todos os pontos apresentaram índice de desconforto térmico oscilando
entre parcialmente confortável e desconfortável no período seco, à parcialmente confortável à
desconfortável no período chuvoso. Dessa forma, verifica-se que as características do entorno de
cada ponto, em função do uso e cobertura do solo , exercem influencia sobre o aumento do
desconforto térmico dos pontos monitorados.
A tabela 01, expressa o índice de Thom ajustado para a cidade de João Pessoa-PB. As
entrevistas realizadas com base em questionários aplicados nos dois períodos de monitoramento
para coletar informações sobre a sensação térmica dos cidadãos pessoenses resultaram no ajuste das
faixas de conforto térmico do índice de Thom para a área de estudo, conforme exibe a Tabela 02.
Constatou-se, portanto, que os valores do índice de Thom ajustado indicam níveis de conforto
significativamente diferentes daqueles propostos por Giles et al. (1990) expresso na tabela 01.
Tabela 01. Faixa de classificação do índice de desconforto de Thom (IDT) ajustado às condições
climáticas da cidade de João Pessoa
69
Faixas
IDT (º C)
Nível de desconforto
térmico
1
IDT < 24,0
2
≤ IDT ≤
3
4
Confortável
,
Parcialmente confortável
26 < IDT < 28,0
IDT ≥
,
Desconfortável
Muito desconfortável
O IDT não ajustado apresentado por Giles et al., (1990) indica sensação térmica
desconfortável para a área de estudo apenas a partir de 27oC, enquanto o IDT ajustado, indica
sensação de desconforto a partir de 26oC. Essa diferença aparentemente pequena, de apenas 1oC, é
particularmente significativa, principalmente na cidade de João Pessoa, ou em qualquer cidade
litorânea, onde a umidade relativa combinada com temperaturas elevadas contribuem para elevar o
grau de desconforto térmico.
As quatro classes de IDT ajustado expressam os efeitos das alterações do campo térmico
urbano na sensação do conforto térmico ambiental da população de João Pessoa, PB. Como os
questionários foram aplicados em todos os pontos experimentais que representam as diferentes
formas de uso e cobertura do solo, afirma-se que o IDT ajustado, expressa de forma confiável as
condições climáticas de estresse térmico da população.
Intensidade da ilha de calor urbana
A ilha de calor urbano para a cidade de João Pessoa oscilou entre 3,33 e 5,32 oC sendo os
pontos 03, 04 e 09 os que apresentaram as maiores intensidades.
A maior intensidade foi registrada nesse período no ponto P03 (Manaíra) no dia 13 de março
de 2011, às 6h; enquanto a menor IICH ocorreu no ponto P05 (Mangabeira), no dia 19 de fevereiro
de 2011, também às 6h. Kolokotroni & Giridharan (2008) encontraram intensidade de ilha de calor
urbano um pouco superior aquela relatada neste estudo quando analisaram o clima urbano de
Londres. Esses autores encontraram IICU de 8,6 oC durante noites de céu claro com velocidade do
vento inferior a 5 m s-1. Essa comparação é particularmente importante porque a cidade de João
Pessoa é de porte médio sem cânions tão pronunciados como aqueles encontrados numa metrópole
como Londres. Isso remete a possibilidade de inferir que a cidade de João Pessoa, PB, se encontra
num processo de urbanização desordenado com grandes impactos no nível de conforto térmico de
seus habitantes. Como as classes de coberturas de solo desses pontos envolvem alta percentagem de
cobertura cerâmica e de pavimento de concreto/calçamento, as razões para o menor valor no IICU
no ponto P05 são atribuídas às condições climáticas. Nos dias 13 e 14 de março não ocorreu
nenhuma precipitação na área de estudo (máxima IICU), enquanto nos dias 19 e 20 de fevereiro
70
(mínima IICU) o total pluviométrico superou 120 mm, produzindo, assim, alta umidade relativa que
refletiu na redução da ilha de calor urbano, principalmente nas áreas mais arborizada da cidade.
O ponto P04 (Cabo Branco) também apresentou alto valor na IICU, de 4,95 oC, embora
tenha alta cobertura com área vegetada que supera 30%. Por outro lado, a variabilidade da IICU no
período chuvoso foi menor, com valor mínimo de 2,98 oC no ponto P02 (Expedicionários) e
máximo de 4,34 oC no ponto P04 (Cabo Branco). Também nesse período do ano não existe uma
correlação entre as IICU maiores e menores com a cobertura do solo das áreas analisadas. Por outro
lado, o coeficiente de determinação entre o IDT e IICU foram inferiores a 0,30 em ambos os
períodos do ano. Esse resultado assegura que o tipo de cobertura do solo influencia no nível de
conforto térmico, porém não interfere na intensidade da formação de ilha de calor urbano, estando
essa última mais relacionada com as condições climáticas numa escala maior. Portanto, o nível de
conforto térmico é influenciado principalmente pelas condições microclimáticas, enquanto a
intensidade de ilha de calor é mais influenciada pelas condições macroclimáticas, não estando,
porém, nenhuma dessas variáveis (conforto térmico ou ilha de calor urbano) correlacionada apenas
com uma condição climática isoladamente.
A intensidade máxima de ilha de calor urbano na cidade de João Pessoa foi maior e ocorreu
preferencialmente durante à noite e nas primeiras horas da manhã durante o período seco. Isso está
relacionado com as propriedades físicas dos materiais impermeáveis (concreto, asfalto, etc) em
absorver grande quantidade de energia durante o dia, em face da forte incidência de radiação solar
nesse período, e perda calor rapidamente durante à noite. No período chuvoso a vegetação tem a
propriedade de armazenar vapor d‘água e transferir para a atmosfera através do processo de
evapotranspiração. Por essa razão, nesse período do ano (chuvoso) a IICU ocorreu
preferencialmente nas primeiras horas da manhã e ao longo do dia, inclusive entre 12 e 15h. As
variações do balanço energético à superfície estão relacionadas com o decréscimo de radiação
recebida pelas áreas sombreadas, aumento de radiação recebida e refletida internamente em cânions
urbanos, bem como pela captação e armazenamento de calor pelos materiais de construção e pela
redução da radiação de onda longa emitida para atmosfera devido às obstruções locais (Oke, 1978).
Classes e índices de recobrimento do solo dos pontos experimentais e sua relação com o campo
térmico da cidade de João Pessoa-PB
Os diversos índices e classes de recobrimento do solo nos pontos experimentais
determinaram o microclima local e do entorno, apresentando diferenças de temperatura, umidade
relativa do ar, índice de desconforto térmico e formação de ilha de calor urbana em função das
condições climáticas locais e dos materiais de recobrimento de cada ponto analisado.
No ponto P01, as variáveis foram sempre inferiores em relação aos demais pontos analisados,
esse ponto de monitoramento é representativo de uma área rural e, portanto, eficiente para o cálculo
de ilha de calor urbano. A temperatura máxima em todos pontos analisados foram inferiores a 30
o
C, exceto no ponto P03 no período seco, em face da alta concentração de materiais do tipo I
71
(cobertura cerâmica) e tipo VII (pavimento de concreto/calçamento), respectivamente, de 34,21 e
40% da área total. Por outro lado, em todos os pontos de observação a temperatura mínima foi em
torno de 24 oC no período seco e em torno de 22 oC no período chuvoso. A avaliação do conforto
térmico utilizando o índice de Thom ajustado sugere que a cidade de João Pessoa é confortável
durante o período chuvoso e parcialmente desconfortável durante o período seco, atingindo níveis
totalmente desconfortável entre meio dia e 14h.
Os fatores positivos para a formação de ilha de calor urbano e do desconforto térmico são
relacionados com a composição dos materiais constituintes do recobrimento do solo do elemento
urbano. Esses materiais apresentam propriedades térmicas distintas que afetam diretamente as
condições microclimáticas urbanas locais de cada ponto analisado. Esses resultados estão em
concordância com aqueles obtidos por Santos et al. (2011), em estudo realizado no Campus da
UFPB para avaliar os fatores positivos e negativos das classes de cobertura do solo no cálculo do
nível do conforto térmico da população. Os autores também destacam a importância do papel da
vegetação na amenização climática.
No que diz respeito aos cenários de conforto ambiental para a cidade de João Pessoa-PB, o
gráfico da estimativa da temperatura e umidade relativa do ar para João Pessoa/PB (fig. 02) da série
de 45 anos da Estação Meteorológica do INMET, apresenta uma tendência para o aumento da
temperatura na cidade a uma taxa de 0,034 ao ano, e um decréscimo de - 0,049 para a umidade
relativa do ar ao ano. Jusuf et.al., (2007) afirma que as temperaturas do ar estão aumentando
gradualmente em todas as cidades do mundo. Isso significa que para as próximas décadas teremos
temperaturas mais elevadas com a intensificação da ilha de calor urbana e aumento do desconforto
térmico associado à queda da umidade relativa do ar nos centros urbanos.
Fig. 02. Gráfico da estimativa da temperatura e umidade relativa do ar em João Pessoa/PB no
período compreendido entre 1963 e 2008.
Conclusões
72
Os resultados da pesquisa sobre a análise do campo térmico urbano e a sua relação com o
uso e cobertura do solo em cidade tropical úmida, com foco principal para a cidade de João Pessoa,
PB, permitiram concluir o seguinte:
1. A composição dos materiais constituintes do recobrimento do solo do elemento urbano exerce
influencia sobre as trocas de energia e calor, alterando diretamente os valores das variáveis
atmosféricas que controlam o nível de estresse térmico ambiental;
2. A amplitude térmica na cidade de João Pessoa oscila em torno de 10 oC e as temperaturas mais
elevadas ocorreram sempre entre 12 e 14 h e as mínimas nas primeiras horas do período diurno.
A intensidade máxima de ilha de calor urbano na cidade de João Pessoa varia entre 3,33 e 5,32
o
C. A intensidade de ilha de calor urbano é maior durante o período seco do que no período
chuvoso;
3. A ilha de calor urbano é um fenômeno que geralmente ocorre durante o período noturno
enquanto a intensidade máxima dos gradientes de temperatura e umidade relativa do ar são
fenômenos essencialmente diurnos.
4. O nível de conforto térmico é influenciado principalmente pelas condições microclimáticas,
enquanto a intensidade de ilha de calor é mais influenciada pelas condições macroclimáticas
conjugadas com os fatores locais;
A temperatura do ar e o nível de conforto térmico têm tendência crescente e a umidade relativa
tendência decrescente para a cidade de João Pessoa-PB;
5. Os cenários dos níveis de conforto térmico indicam condições de forte desconforto ambiental
para os anos de 2050 e 2060 durante o período seco e desconfortável para o período chuvoso no
ano de 2060 em toda área de estudo. Para os anos de 2020, 2030 e 2040 são previstos níveis de
conforto térmico desconfortável para o período seco e parcialmente confortável para o período
chuvoso;
6. O conhecimento das alterações ocorridas no campo térmico urbano da cidade de João Pessoa,
PB, torna-se imprescindível para a manutenção da qualidade de vida da população, podendo
contribuir diretamente para a elaboração de políticas públicas que possibilitem o planejamento
e a gestão ambiental do espaço intra-urbano.
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74
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
José Deomar de Souza BARROS
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; UFCG.
Especialista em Agroecologia; UFPB.
Especialista em Ensino de Química; URCA.
Mestre e Doutorando em Recursos Naturais; UFCG.
E-mail: [email protected]
Resumo
O presente artigo teve por objetivo identificar as correlações entre as mudanças climáticas e seus
efeitos sobre o Semiárido brasileiro. O Semiárido brasileiro apresenta características climáticas
típicas, apresentando ciclos de secas frequentes e atividades eminentemente agropastoris, resultando
em um processo de desertificação acentuado. Além disso, o Semiárido brasileiro será uma das
regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, cenários futuros indicam que nesta região haverá
alteração em suas características climáticas, com intensificação das estiagens e da aridez.
Palavras-chave: mudanças climáticas, Semiárido, desertificação.
Abstract
This article aims to identify the correlations between climate change and its effects on the Brazilian
semiarid. The Brazilian semiarid climate has characteristics typical, with frequent cycles of drought
and eminently agropastoral activities, resulting in an accentuated desertification process.
Furthermore, the Brazilian Semiarid will be one of the regions most affected by climate change,
future scenarios indicate that this region will be no change in its climatic characteristics, with
intensification of droughts and aridity.
Key-words: climate change, Semiarid, desertification.
INTRODUÇÃO
Segundo Neves et al. (2010), o Semiárido brasileiro compreende todos os estados do
nordeste além da região norte do Estado de Minas Gerais e nordeste do Espírito Santo, abrangendo
uma área de 969.584,4 Km2. Sua população estimada é de 21 milhões de pessoas, correspondendo a
11% da população brasileira, constituindo assim a região semiárida mais populosa do planeta.
Nesta região, a presença de períodos prolongados de baixa pluviosidade é constante, com
concomitantemente aumento significativo da temperatura, o que pode provocar altos índices de
evaporação da água presente nos reservatórios (SANTOS & SILVA, 2009).
75
Nessa região, a vegetação predominante é a caatinga, que tem uma diversidade maior que
qualquer outro bioma do mundo sob as mesmas condições de clima e de solo, mas está entre os
biomas brasileiros mais degradados pela ação antrópica. Este Bioma encontra-se em acentuado
processo de degradação, ocasionado principalmente, pelo desmatamento e uso inadequado dos
recursos naturais (ARAÚJO 2010).
A degradação dos ecossistemas da caatinga traz como consequência o declínio da
produtividade do sistema de produção, da renda e qualidade de vida do produtor rural (ARAUJO,
2010). O desmatamento e as queimadas são práticas comuns para a preparação da terra com fins
agropecuários, alterando esses ambientes e tendo como consequência a diminuição da diversidade
vegetal e animal (ALBUQUERQUE, et al., 2010).
O manejo inadequado e a superação da capacidade de suporte de ambientes semiáridos
contribuem na intensificação do processo de desertificação em localidades que apresentam maior
vulnerabilidade ou intensificação mais acentuada da exploração dos recursos naturais. Neste
sentido, o processo de desertificação é resultante de uma relação direta entre fatores climáticos e
mecanismos de manejo do Bioma Caatinga (SÁ e ANGELOTTI, 2009).
Assim, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento
sustentável no Semiárido brasileiro, no sentido de aumentar a capacidade de adaptação da sociedade
e do sistema produtivo regional para uma melhor convivência com condições ambientais associadas
às mudanças climáticas globais e ao processo de desertificação.
O Semiárido brasileiro
O processo de ocupação, na região semiárida, deu-se de forma desordenada, através da
substituição da agricultura itinerante pela agricultura permanente, aumentando assim a pressão do
pastejo e derrubada da vegetação natural para utilização da lenha, intensificando assim a exploração
dos recursos naturais. Como consequência ocorreu um decréscimo significativo da biomassa
produzida e reciclada, provocando a redução significativa da fertilidade do solo, diminuindo assim a
capacidade de suporte animal. Além disso, esta interferência neste ecossistema tem contribuído no
aumento das emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera (SILVEIRA, 2009).
Nesta região a presença de períodos prolongados de baixa pluviosidade é constante,
concomitantemente a isso durante os períodos de estiagem ocorre um aumento significativo da
temperatura provocando assim altos índices de evaporação da água presente nos reservatórios
(SANTOS & SILVA, 2009). A variação nos índices pluviométricos nesta região é um fato; mas,
apesar da irregularidade e má distribuição nas ocorrências de chuvas, o Semiárido no Brasil é uma
das regiões mais úmidas (média de 750 mm) em relação a outras regiões Semiáridas do planeta.
(SILVA, et al., 2006).
76
O manejo inadequado e a superação da capacidade de suporte de ambientes Semiárido
contribuem na intensificação do processo de desertificação em localidades que apresentam maior
vulnerabilidade ou intensificação mais acentuada da exploração dos recursos naturais. Neste
sentido, o processo de desertificação é resultante de uma relação direta entre fatores climáticos e
mecanismos de manejo do Bioma Caatinga (SÁ e ANGELOTTI, 2009).
Assim, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento
sustentável no Semiárido brasileiro, no sentido de aumentar a capacidade de adaptação da sociedade
e do sistema produtivo regional para uma melhor convivência com condições ambientais associadas
às mudanças climáticas globais e ao processo de desertificação.
Emissões de gases de efeito estufa – GEE e mudanças climáticas
O fenômeno mundial conhecido como aquecimento global ocorre pelo aumento da
concentração de gases do efeito estufa que mantém o calor próximo da superfície da Terra, em
condições normais essa manutenção é ideal para manter a temperatura normal do planeta. Com o
aumento da emissão desses gases elevou consideravelmente sua concentração provocando aumento
da temperatura global exercendo uma pressão sobre o sistema climático do planeta (FLANNERY,
2007).
É sabido que a concentração dos gases de efeito estufa – GEE vem aumentado
espantosamente desde a revolução industrial. Segundo o Inventário Brasileiro sobre GEE, no Brasil
as queimadas e desmatamentos respondem por 75% das emissões de CO2, enquanto as outras fontes
respondem por 25% (MARCOVITCH, 2006).
De acordo com o IPCC (Intergovernanmental Panel on Climate Change) no seu terceiro
relatório publicado em 2001 o aumento da concentração dos GEE na atmosfera pode levar a um
aumento da temperatura média na Terra, esse aumento ficaria entre 1,1% a 6,4% entre 1990 e 2100.
Com esse aumento todas as esferas da sociedade sofreram impactos, decorrentes do aquecimento
global (BARROS ET AL., 2009).
Os gases de efeito estufa, como o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), óxido nitroso (N2O)
e vapor d`água, entre outros são responsáveis pelo fenômeno natural chamado efeito estufa. Essa
mistura de gases na atmosfera exerce função primordial para o planeta mantendo sua temperatura,
proporcionando assim o equilíbrio da temperatura, o que permite que a radiação solar incida sobre a
superfície e quando esta é refletida entram em contato com esses gases, por sua vez, também
passam a irradiar no infravermelho. Essa radiação se espalha em varias direções, inclusive
retornando à superfície, que se mantém mais quente do que seria na ausência da atmosfera. A ação
antrópica tem provocado o aumento do teor desses gases na atmosfera, provocando uma
exacerbação do efeito estufa e, consequentemente, um aquecimento global do planeta (MARCHEZI
77
e AMARAL, 2008).
Atualmente não existe ainda um consenso entre os cientistas e pesquisadores sobre as
consequências desse fenômeno, mais a maioria concordam que ocorreram impactos relevantes,
colocando em risco o equilíbrio do planeta como conhecemos (GORE, 2006).
Esse aquecimento vem provocando diversos efeitos ambientais, tais como o derretimento
das calotas polares, e o consequente aumento do nível dos oceanos, alterações na salinidade do mar,
mudanças na dinâmica de ventos e chuvas, intensificação de ciclones tropicais, exacerbação de
secas e enchentes, redução da biodiversidade terrestre, aumento da desertificação. Além disto, há
grande preocupação com os efeitos sociais causados pelo impacto na agricultura, decorrentes das
perdas de produção de alimentos resultantes destas alterações. Entre estas implicações encontra-se
maior risco de fome, inanição, doenças, insegurança alimentar. Há de se considerar, ainda, a
possibilidade de deslocamento de populações residentes em áreas baixas e costeiras, por inundação
de seus territórios (ANDRADE, 2008).
Com a transformação de ecossistemas naturais em sistemas agrícolas, ocorre a substituição
de sistemas biológicos complexos e estáveis por sistemas simples e instáveis, provocando assim
modificação nos estoques dos componentes orgânicos do solo, por alterar, as taxas de adição e
decomposição da matéria orgânica. Com isso, o equilíbrio dos ciclos do carbono (C) e do nitrogênio
(N) é alterado e, as entradas de C tornam-se inferiores as saídas, o que acarreta à redução da
quantidade e modificação da qualidade da matéria orgânica do solo (BARROS, 2011).
As previsões climáticas associadas ao aquecimento global anunciam para o Semiárido
brasileiro aumento significativo dos extremos climáticos, agravando assim as condições naturais de
irregularidades pluviais. Neste sentido, se não ocorrer alterações nos modelos de exploração dos
recursos naturais da caatinga, as mudanças climáticas tenderão a aguçar os ciclos viciosos da
pobreza social e degradação ambiental, contribuindo assim para acelerar os processos de
desertificação (PAN-BRASIL, 2004).
Desertificação no Semiárido
A região semiárida abrange uma área de 969.589 km2, nesta área estão inseridos 1.133
municípios, totalizando uma média de 28 milhões de habitantes. Possui na atividade agropastoril
sua atividade preponderante, apresenta condições climáticas típicas, apresentado constantemente
períodos de baixa pluviosidade (secas). A exploração intensiva dos recursos naturais desta região
tem provocado uma forte pressão sobre o meio, ocasionando assim áreas com suscetíveis à
desertificação (SÁ e ANGELOTTI, 2009).
De acordo com o PAN BRASIL (2004) a desertificação é a degradação de terra nas zonas
áridas, semiáridas e subúmidas secas do planeta. Ou seja, degradação de recursos naturais, como
78
resultado da atuação antrópica sobre o meio ambiente, e de fenômenos naturais assim como
variabilidade climática.
As ações antrópicas dar-se especialmente pelo desmatamento, extração desordenada de
produtos florestais, incêndios, manejo inadequado do solo, emprego de técnicas de cultivo agrícola
inadequada às características do ecossistema, entre outros fatores. Em relação às condições
climáticas relacionadas ao processo de desertificação destacam-se as frequentes e demoradas secas
que afetam esta região, tornando ainda mais drástica as consequências das atividades humanas (SÁ
et al., 2010).
A desertificação é a degradação das terras secas. Este processo consiste na perda da
produtividade biológica e econômica das terras agrícolas, das pastagens e das áreas de matas nativas
devido às variabilidades climáticas e às atividades humanas. Isto é, desertificação é um processo de
fragilidade dos ecossistemas das terras secas em geral, que em decorrência da pressão excessiva
exercida pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna autóctone, perdem sua produtividade e
capacidade de recuperar-se. As causas da desertificação na Paraíba não diferem das que são
encontradas em outros estados nordestinos. Elas são decorrentes do uso inadequado dos recursos
naturais, de práticas agrícolas inapropriadas e, sobretudo de modelos de desenvolvimento macro e
microeconômicos de curto prazo. Outro grave aspecto a considerar são as práticas agrícolas
tradicionais, geralmente associadas a um sistema concentrado de propriedade da terra e da água
conduzindo a graves problemas socioeconômicos que se aprofundam quando sobrevêm as secas
(ALVES et al., 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Semiárido brasileiro tem apresentado nas últimas décadas impactos resultantes da ação
humana sobre o meio ambiente local. As áreas em processo de desertificação já ocupam uma
superfície significativa da área total do Semiárido. Assim, o processo de desertificação no Brasil
não se manifesta apenas pela fragilidade natural do ambiente, mas, especialmente, pelo uso a ele
imposto. Neste sentido, faz-se necessário a adoção de mecanismos no sentido de buscar a conter e
reverter o processo de desertificação, como parte estratégica de um amplo programa de convivência
com o Semiárido.
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81
REGIME PLUVIAL DO SERTÃO DA PARAÍBA: VARIABILIDADE OU MUDANÇA
CLIMÁTICA?
Jório Bezerra CABRAL JÚNIOR* (DG/UEPB) - [email protected]
Maysa Porto FARIAS* (DG/UEPB) – [email protected]
Hermes Alves de ALMEIDA8 (DG/UEPB) - [email protected]
Resumo
O regime pluvial do semiárido nordestino caracteriza-se pela irregularidade espacial e temporal na
quantidade e na distribuição de chuvas. Há anos em que as chuvas se concentram em um a dois meses e em
outros chovem torrencialmente. Efeitos extremos desse elemento do clima dizimam a agricultura e o meio
ambiente. O principal objetivo deste trabalho foi o de estabelecer o regime pluvial para a microrregião de
Cajazeiras e caracterizar se a dispersão é uma variabilidade e/ou uma mudança climática. Foram escolhidas
as localidades com séries pluviais ≥ 3 anos, sendo determinadas às medidas de tendência central e de
dispersão, nas escalas mensais, anuais e por décadas. Os principais resultados mostraram que as distribuições
mensais e anuais são assimétricas e os coeficientes de assimetria positivos. A estação chuvosa dura cerca de
quatro meses (jan-abr), sendo março o mês mais chuvoso. As localidades mais e menos chuvosas desta
microrregião são, respectivamente, São José de Piranhas (997,0 mm) e Triunfo (792,4 mm). A distribuição
média por décadas é variável no tempo e no espaço e, portanto, não coincidiu a localidade mais seca ou a
mais chuvosa. A dispersão mostrada nas séries pluviais está dentro do intervalo entre a média  o desvio
padrão, ou seja, uma variabilidade natural e não uma mudança climática.
Palavras-chave: variabilidade do clima, precipitação pluvial, seca.
Abstract
The rainfall patterns in semiarid northeastern characterized by spatial and temporal irregularity in
the quantity and distribution of rains. There are years in that the rains concentrate on one to two
months and in other strong rainfall. Extreme effects of that element of the climate decimate the
agriculture and the environment. The main objective of this work was it of to establish the rainfall
regime for the micro region of Cajazeiras and to characterize if the dispersion is variability or a
climatic change. Were the places chosen with pluvial series ≥ 30 years, being certain to the
measures of central tendency and of dispersion, in the scales monthly, annual and per decades, The
main results showed that the monthly and annual distributions are asymmetrical and the positive
asymmetry coefficients. The rainy season lasts approximately four months (Jan-Apr), March being
the wettest month. The localities more and less rain this micro region are, respectively, San José de
*Pós-Graduandos (Lato Sensu) em GeoAmbiência e Recursos Hídricos do Semiárido /Departamento de Geografia/
UEPB/Campina Grande, PB.
**
o
Prof Dr, Orientador, Departamento de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, PB.
82
Piranhas (997.0 mm) and Triunfo (792.4 mm). The average distribution for decades is variable in
time and space and therefore not matched the location driest or wettest. The dispersion shown in
series rainwater is within the range between the mean  standard deviation, in other words, a natural
variation rather than a climate change.
Key-words: variability of the climate, precipitation pluvial, dry.
INTRODUÇÃO
A precipitação pluvial é para o meio ambiente o único componente do ciclo hidrológico
capaz de reparar as perdas da água na superfície, seja por evaporação ou evapotranspiração
(CABRAL JÚNIOR, SANTOS & ALMEIDA, 2011), portanto tem grande influência
socioeconômica, pois está diretamente relacionada à agricultura, pecuária, qualidade de vida e
diversos outros setores socioambientais. Por isso, o regime pluvial afeta a economia, o meio
ambiente e a sociedade, como um todo (SILVA et al., 2007).
A distribuição da precipitação pluvial no semiárido do Nordeste brasileiro (NEB) é bastante
irregular no tempo e no espaço. Essa característica anômala ocorre até mesmo numa escala de
tempo e espaço curtos. Há meses que chove torrencialmente e outros em que não ocorre sequer um
milímetro de chuva.
Essas características são típicas do regime pluvial nas diferentes microrregiões do Estado da
Paraíba, além disso, as estações chuvosas ocorrem de forma diferenciada, em quantidade,
distribuição e duração (ALMEIDA & SOUSA NETO, 2005).
Para Almeida (2001), a distribuição mensal da chuva nas regiões áridas e semiáridas ocorre
de forma assimétrica. Isso indica que a média, mesmo sendo à medida de tendência central mais
usada, não é o valor mais provável de ocorrer.
Para Nobre & Molion (1988), a variabilidade pluvial no NE brasileiro resulta de efeitos
combinados da ação de vários sistemas meteorológicos e das variações na intensidade e posição das
circulações de Hadley e Walker.
O termo Mudança do Clima ou Alterações Climáticas refere-se às alterações em um e/ou
mais elementos climatológicos, dentre eles, destaca-se a precipitação pluvial como um dos mais
importantes.
Essas ―Mudanças ou Alterações‖ do Clima se relacionam com as médias históricas, em
escala global ou regional ao longo do tempo (IPCC, 2001). Esses termos têm sido usados como
senso comum, pois também é utilizado para indicar as mudanças climáticas atuais, bem como o
aquecimento global originado por causas antropogênicas.
83
É importante ressaltar que existe uma dinâmica na atmosfera, repercutindo em variações de
escala micro a macro ―A evolução do comportamento atmosférico nunca é igual de um ano para o
outro e mesmo de uma década para outra, podendo se verificar flutuações a curto, médio e longo
prazo‖ (CONTI,
)
É comum o indagar pela população e pelos meios midiáticos se está havendo aumento ou
diminuição das chuvas no semiárido paraibano. Diante disto, optou-se inicialmente analisar uma
microrregião do Sertão da Paraíba, estabelecer o regime pluvial desta e averiguar se há mudança ou
variabilidade na distribuição das chuvas, sendo esses os objetivos principais deste trabalho.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados mensais e anuais de precipitação pluvial das localidades da microrregião de
Cajazeiras situada na mesorregião do Sertão da Paraíba, no extremo Oeste deste estado, foram
cedidos pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), em Campina
Grande, e/ou de registros da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
Em seguida foram determinadas as medidas de tendência central (média e mediana) e de
dispersão (amplitude, desvio padrão e variância) e outras análises estatísticas conforme
recomendações, critérios estatísticos e equações descritas por Assis, Arruda & Pereira (1996).
O agrupamento dos dados anuais foram feitos utilizando-se a distribuição de frequência,
arranjando-os em classes ou categorias, sendo determinados os intervalos de classe, amplitudes de
classe e representados em histograma de frequências.
No Quadro 1 observa-se as localidades estudas da microrregião de Cajazeiras, assim como
as coordenadas geográficas e os respectivos períodos de observação.
Quadro 1. Localidades e microrregiões da mesorregião do Sertão da Paraíba, com as suas respectivas
coordenadas geográficas e os períodos de dados utilizados.
Microrregião
Latitude (S)
Longitude
(W)
Período de observação
Bonito de Santa Fé
Cajazeiras
07º18'48"
38º30'54"
1950/59 e 1962/2010
59
Cajazeiras
Cajazeiras
06º53'25"
38º33'19"
1950/89 e 1992/2010
59
São João do Rio do Peixe
Cajazeiras
06º43'45"
38º26'56"
1950/91 e 1993/2008
58
São José de Piranhas
Cajazeiras
07º07'14"
38º30'07"
1950/91 e 1993/ 2006
56
Triúnfo
Cajazeiras
06º34'43"
38º35'49"
1950/2010
61
Localidades
N° de
anos
De posse das séries dos totais anuais, foram calculadas as médias aritméticas por décadas, e
comparadas tanto inter como extra localidade da referida microrregião. As análises comparativas
84
foram feitas com base na média ± o desvio padrão. O critério consistiu em averiguar se os valores
médios, por décadas, ao longo da série histórica ocorrem entre valores estatisticamente esperados.
Os cálculos, as análises estatísticas, bem com a confecção dos Quadros, gráficos e
histogramas foram feitos usando uma planilha Microsoft Office Excel 2003.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verifica-se nas Figuras de 1 e 2, ordenadas de forma decrescente, as médias e medianas
mensais da precipitação pluvial, por localidades, da microrregião de Cajazeiras. De forma geral, os
maiores valores concentram-se nos primeiros quatro e/ou cinco meses do ano, sendo março o mês
mais chuvoso, com 234,7 mm em média, e os meses mais secos de julho a novembro (11,7 mm).
Fazendo-se uma análise comparativa, para qualquer uma das localidades estudadas, observase que há uma elevada irregularidade das chuvas, tanto na escala espacial quanto temporal. Isso
demonstra, portanto, a elevada variabilidade espacial e temporal do elemento chuva, o que
corrobora com os resultados encontrados por Almeida & Silva (2004); Almeida & Pereira (2007),
Almeida & Oliveira (2009); Almeida & Gomes (2011); Cabral Júnior (2012); Farias (2012) que
mostram a extrema variabilidade do elemento precipitação pluvial em qualquer região e, em
especial, em outras microrregiões paraibanas.
Nota-se ainda nas citadas Figuras (1 e 2) que as médias mensais superam as respectivas
medianas. Sendo assim, os modelos de distribuição de chuvas mensais são assimétricos, cujo
coeficiente de assimetria é positivo. Logo, a mediana é o valor mais provável de ocorrer e não a
Média da Chuva (mm)
média, o que concorda com Almeida (2001); Almeida & Pereira, 2007.
280
São J. de Piranhas
São J. do Rio do Peixe
240
Bonito de Sta Fé
Cajazeiras
200
Triúnfo
160
120
80
40
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Figura 1. Médias mensais da precipitação pluvial de cinco localidades da microrregião de
Cajazeiras, PB.
85
Mediana da Chuva (mm)
240
200
São J. de Piranhas
São J. do Rio do Peixe
Bonito de Sta Fé
Cajazeiras
Triúnfo
160
120
80
40
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Figura 2. Medianas mensais da precipitação pluvial de cinco localidades da microrregião de
Cajazeiras, PB.
Outra característica importante no regime pluvial é a elevada dispersão dos seus valores
mensais (Figura 3). Os desvios padrão mensais chegam a superar as próprias médias no segundo
semestre do ano, até mesmo nos meses mais chuvosos (janeiro a abril) esse quantitativo oscila, em
média de 97 a 130 mm. Em termos percentuais representa cerca de 67%, ou seja, a variabilidade é
muito grande mesmo quando se espera que ocorra chuvas. Isso revela muito mais a irregularidade
temporal e espacial deste regime nas localidades mencionadas, do que uma mudança climática,
como já citado por Almeida & Sousa Neto (2005); Cabral Júnior, Santos & Almeida (2011).
Desvio Padrão (mm)
150
São J. de Piranhas
São J. do Rio do Peixe
Bonito de Sta Fé
Cajazeiras
125
Triúnfo
100
75
50
25
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Meses
Figura 3. Médias mensais dos desvios padrão da precipitação pluvial das cinco localidades da
microrregião de Cajazeiras, PB.
86
No que se refere as médias, medianas e DP dos totais anuais para as localidades no
Sertão paraibano (Figura 4), de forma decrescente, nota-se em média que, São José de Piranhas
é a localidade mais chuvosa (997,0 mm) e Triunfo a mais seca (792,4 mm). Fazendo-se uma
análise comparativa, a localidade mais chuvosa chove 25,8% a mais do que a localidade mais
seca. O modelo de distribuição é irregular temporal e espacialmente, e assimétrico positivo. A
média e mediana para a microrregião de Cajazeiras corresponde a 929,1 e 894,9 mm. Já os DP
oscilaram entre 309,1 e 391,9 mm em S. J. de Piranhas e Bonito de Sta. Fé respectivamente.
Mediana
DP
800
800
600
600
400
400
200
200
Chuva (mm)
1000
0
Desvio Padrão (mm)
Média
1000
0
São José de
Piranhas
São João do Rio do Bonito de Sta Fé
Peixe
Cajazeiras
Triúnfo
Média
Localidades
Figura 4. Médias anuais da média, mediana e desvio padrão (DP) da precipitação pluvial de cinco
localidades da microrregião de Cajazeiras, PB.
Na Figura 5, em que são apresentados os desvios relativos da chuva em relação a média da
microrregião cajazeirense (929,1 mm), em mm e %, e na Figura 6 a distribuição de frequências para
diferentes intervalos de chuvas, pode-se observar que não há homogeneidade do regime pluvial em
qualquer situação, revelando que há localidades mais e outras menos chuvosas. Até mesmo a
distribuição, duração e freqüência ocorrem de forma irregular. Em São J. de Piranhas e Cajazeiras a
maior freqüência de ocorrer chuva está no intervalo entre 800 e 1000 mm com 26,8 e 28,8%
respectivamente, já em São J. do Rio do Peixe e Triunfo a chance maior de ocorrer chuva
contempla a faixa entre 600 a 800 mm com 27,6 e 24,6%.
87
100
DR (mm)
10
DR (%)
5
50
-5
-50
DR (%)
DR (mm)
0
0
-10
-100
-15
-150
-20
São José de
Piranhas
São João do Rio do Bonito de Sta Fé
Peixe
Cajazeiras
Triúnfo
Localidades
Figura 5. Desvios relativos dos totais médios de chuvas anuais em relação à média da
microrregião de Cajazeiras, PB.
≤400mm
400-600
600-800
800-1000
1000-1200
>1200mm
30
25
Fr (%)
20
15
10
5
0
São José de
Piranhas
São João do
Rio do Peixe
Bonito de Sta
Fé
Cajazeiras
Triúnfo
Localidades
Figura 6. Histograma de freqüências relativas (%) da repetição da quantidade de chuva anual,
por faixa e por localidade da microrregião de Cajazeiras, PB.
Diante da grande irregularidade do regime pluvial da microrregião sertaneja de Cajazeiras,
optou-se para melhor entendimento analisar a distribuição por décadas das chuvas por cada
localidade, Figura 7 a 11, adotando-se o critério estatístico da dispersão dos dados (DP) para
observar se está ocorrendo com freqüência valores fora do esperado, e se há aumento ou diminuição
no regime pluvial médio.
Verifica-se que a década mais chuvosa não coincidiu nas localidades de mesma
microrregião, embora a de 50 tenha sido a mais seca, exceto em São J. do Rio do Peixe que
opostamente foi a mais chuvosa. É importante destacar que houve alternância de décadas mais e
88
outras menos chuvosas, analisando década a década não houve tendência de aumento ou diminuição
de chuva. Triunfo foi a localidade que apresentou um sutil aumento médio na década de 50 a 80,
embora tenha diminuído na década de 90 e aumentado novamente na de 00. Isso diagnostica muito
mais a variabilidade do regime pluvial, comprovado pela média associada ao DP, em que ocorreram
dentro dessa faixa com muito mais predominância (média ± DP).
Esses resultados convergem com as citações mencionadas por Conti (
) que: ―a evolução
do comportamento atmosférico nunca é igual de um ano para o outro e mesmo de uma década para
outra, podendo se verificar flutuações a curto, médio e longo prazo‖ Ayoade (
) cita que a
precipitação pluvial é altamente variável em sua incidência, em especial nas baixas latitudes,
ratificando o que foi dito por Almeida & Silva (2008); Almeida & Sousa Neto (2005) que além da
concentração a distribuição e duração ocorrem de forma diferenciada.
Média da chuva (mm)
1400
1200
1000
800
600
400
200
50
60
70
80
90
0
Média-DP Média+DP
Décadas
Figura 7. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. São José de Piranhas, PB.
Média da chuva (mm)
1400
1200
1000
800
600
400
200
50
60
70
80
90
0
Média-DP Média+DP
Décadas
Figura 8. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. São João do Rio do Peixe, PB.
89
Média da chuva (mm)
1400
1200
1000
800
600
400
200
50
60
70
80
90
0
Média-DP Média+DP
Décadas
Figura 9. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Bonito de Santa Fé, PB.
Média da chuva (mm)
1400
1200
1000
800
600
400
200
50
60
70
80
90
0
Média-DP Média+DP
Décadas
Figura 10. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Cajazeiras, PB.
Média da chuva (mm)
1200
1000
800
600
400
200
50
60
70
80
90
0
Média-DP Média+DP
Décadas
Figura 11. Médias anuais de chuvas por décadas, e média ±DP. Triunfo, PB.
90
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados encontrados sobre o regime pluvial da microrregião de
Cajazeiras, conclui-se:
 O modelo de distribuição das chuvas é assimétrico positivo;
 A estação chuvosa dura cerca de quatro meses (jan-abr) sendo março o mês mais
chuvoso;
 As dispersões médias das chuvas superam 60% do total esperado na estação chuvosa;
 São José de Piranhas é a localidade mais chuvosa e Triunfo a mais seca;
 Há uma grande variabilidade desse regime no espaço e no tempo, tanto em localidades
distintas como dentro de uma mesma localidade;
 A década mais chuvosa não coincidiu em todas as localidades;
 Embora a década de 50 tenha sido a mais seca em quatro das cinco localidades
estudadas, contrariamente foi a mais chuvosa em São João do Rio do Peixe;
 Não houve aumento ou diminuição no regime pluvial por décadas.
REFERÊNCIAS
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91
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Circular Técnica n.12, 103p, 1984.
92
USO DE TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA DETECÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS E SUSCEPTÍVEIS A DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO PARAIBANO
Lidiane Cristina Félix GOMES (PPGE/UFC) – [email protected]
Glauciene Justino Ferreira da SILVA (UFPB) - [email protected]
Lúcia Helena Gurjão de SOUSA (DCA/UFCG) – [email protected]
Resumo
A exploração não sustentada da cobertura vegetal, recursos hídricos e do solo em uma região
provoca sérias implicações na manutenção do equilíbrio ambiental. Em regiões semiáridas propícias
à desertificação, por exemplo, a degradação das terras provoca o assoreamento dos rios, interfere
nas propriedades físico-químicas dos solos e afeta a biodiversidade. Modificando a paisagem e
desencadeando conflitos socioambientais. Neste contexto, esse trabalho visa realizar uma análise
espaço temporal do índice de vegetação, o NDVI - Normalized Difefference Vegetation Index, do
albedo da superfície e do campo térmico, com o intuito de verificar a dinâmica destas variáveis e
fornecer informações para criação de políticas de preservação dos recursos naturais proporcionando
alternativas para o combate a desertificação no município de Patos-PB, empregando para isso o
Sensoriamento Remoto e SIG.
Palavras-chave: desertificação; Sensoriamento Remoto; degradação ambiental.
Abstract
The exploration not sustained of plant cover, water resources and soil in a region causes serious
implications for maintaining environmental balance. In semiarid regions conducive to
desertification, for example, the land degradation causes siltation of rivers, interferes with physical
and chemical properties of soils and affects biodiversity, changing the landscape and triggering
environmental conflicts. In this context, this work aims to conduct an analysis of spatial and
temporal vegetation index, NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) of surface albedo and
thermal field, in order to verify the dynamics of these variables and provide information for political
of preservation of natural resources providing alternatives to combat desertification in the city of
Patos-PB, employing it for the remote sensing and GIS.
Keywords: desertification; remote sensing; environmental degradation.
93
Introdução
O homem tem modificado o meio ambiente de forma mais intensa nos últimos dois séculos.
Para isso, ele altera drasticamente as características naturais de determinadas áreas na superfície da
Terra. Essas alterações são provocadas pela utilização predatória dos recursos naturais, atividades
agrícolas inadequadas e pela expansão urbana.
Os processos naturais têm sido acelerados pela modernização das técnicas exploratórias,
mesmo diante das inovações tecnológicas que proporcionam um conhecimento maior de
determinadas áreas e temas, o uso insustentável dos recursos naturais continua a ser praticado.
Em regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas secas a degradação das terras provocada pelas
ações antrópicas, associado às condições climáticas tem intensificando o processo de desertificação.
Um problema global que tem propiciado a perda da biodiversidade, degradado os solos, e os
recursos hídricos devido ao assoreamento de rios e reservatórios, além de perda da vegetação; em
ambientes ecologicamente fragilizados. O fenômeno tem avançado consideravelmente nas regiões
susceptíveis a esse processo no território brasileiro.
O processo de desertificação e as modificações que consequentemente provoca ocorrem de
forma dinâmica e temporal, dessa forma, o estudo desse fenômeno necessita de técnicas seguras que
possibilitem o acompanhamento contínuo de suas alterações, que forneçam dados confiáveis
servindo de suporte para a tomada de decisões.
Nesse contexto, as geotecnologias permitem a obtenção de informações que ajudam a
entender o atual quadro, além de estimar a expansão e intensidade das alterações no meio, aliado ao
Sensoriamento Remoto e aos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) possibilitam através da
análise de imagens de satélites espacializar a ocorrência desses processos.
Partindo desse pressuposto, esse trabalho visa realizar uma análise espaço temporal do
índice de vegetação, o NDVI - Normalized Difefference Vegetation Index, do albedo da superfície e
do campo térmico, com o intuito de verificar se está desencadeando um processo de desertificação
no município de Patos-PB, usando para isso o Sensoriamento Remoto e SIG.
Degradação ambiental e o processo de desertificação
Mesmo sendo um tipo de degradação muito antigo, a desertificação só passou efetivamente
a ser alvo de discussões internacionais a partir da década de 1970, quando uma grande seca atingiu
o Sahel africano, provocando forte impacto econômico, social e ambiental (SOUZA, 2008).
Diante da catástrofe africana, os pesquisadores passaram a estudar o fenômeno e procurar
alternativas para deter o avanço em áreas vulneráveis.
94
De acordo com (Drew, 1998 apud Alves, 2009) desertificação é um vocábulo de significado
amplo, que inclui várias alterações climáticas, ecológicas e geomorfológicas que diminuem a
produtividade biológica de uma área tornando-a enfim inaproveitável para a agricultura.
Segundo Conti (1995), há duas concepções para a desertificação: a desertificação climática e
a desertificação ecológica.
A primeira teria a natureza como responsável, caracterizando-se
principalmente pela redução da água no sistema. A segunda teria o homem como originador do
processo, onde a pressão intensa das atividades desenvolvidas em ecossistemas frágeis produziria
ambientes semelhantes aos desertos.
Desta forma, as atividades humanas realizadas sem planejamento como a irrigação, pecuária
extensiva, mineração, desmatamento, queimadas e práticas agrícolas inadequadas tem causada a
exaustão dos recursos naturais e a degradação colaborando para a intensificação do processo de
desertificação.
Para estudo da desertificação o uso de indicadores é uma necessidade colocada pela
Convenção das Nações Unidas para Combate à desertificação (UNCCD) são eles: Indicadores
físicos e ecológicos, indicadores econômicos relacionados com o uso do solo, indicadores sociais,
indicadores institucionais, entre outros.
Os indicadores de desertificação são instrumentos adequados para fornecer apoio
operacional para a estimação, avaliação, mapeamento da extensão da desertificação, bem como para
quantificação dos impactos e monitoramento, além das medidas de mitigação.
No caso do Brasil, à elaboração e apresentação de um documento dessa natureza ocorreu em
2004, intitulando Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação PAN-Brasil
(NASCIMENTO e ALVES, 2009).
Esse documento norteia, desde o momento de sua elaboração, os estudos e planos que
buscam combater o avanço do processo de desertificação e a mitigação dos problemas
socioambientais gerados pelo fenômeno no Semiárido brasileiro. São estabelecidos os critérios para
avaliação e monitoramento das áreas afetadas e em processo de desertificação.
Segundo o Pan Brasil (2004) no Brasil 74,34% da região semiárida do FNE (Fundo
Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste) encontram-se submetidos a alterações ambientais
variadas, correspondentes ao grau ―moderado‖ (
, %), ―grave‖ (
,
%) e ―muito grave‖
(5,86%). O nível de desertificação nas áreas afetadas ou susceptíveis ao processo (Figura 1) estão
distribuídos em todo nordeste semiárido.
95
Figura 1: Mapa das áreas susceptíveis e afetadas por processos de desertificação.
Fonte: BRASIL, (2004).
No nordeste brasileiro há áreas onde o processo se encontra mais acentuado estas são
definidas como núcleos de desertificação (Tabela 1). Nestes ambientes as interferências no meio
ambiente e na vida da população são evidentes.
Tabela 01 – Núcleos de desertificação no Nordeste brasileiro. Fonte: LANDIM, et. al, 2011.
Núcleo
Localização
Área (Km2)
Seridó
Região centro-sul do Rio Grande do Norte e
centro- norte da Paraíba, envolvendo vários
municípios em torno do município de
Parelhas.
2.341
Irauçuba
Noroeste do Estado do Ceará abrangendo uma
área de 4.000 km2 incluindo os municípios de
Irauçuba, Forquilha e Sobral.
4.000
Gilbués
Localizado no Piauí envolvendo
municípios de Gilbués e Monte Alegre.
Cabrobó
Pernambuco que totaliza uma área de 5.960
km2 abrangendo os municípios de Cabrobó,
Belém de São Francisco e Floresta.
5.960
os
6.131
96
Os processos de degradação, principalmente nos níveis mais altos, provocam impactos
sociais, econômicos, culturais, políticos e ambientais, os quais se relacionam entre si e, ao longo dos
anos, vem intensificando e aumentando a vulnerabilidade da população, produzindo grandes perdas
sociais e econômicas para a região Nordeste (SOUSA, 2007).
Por isso, é essencial a realização de estudos sobre este fenômeno que além de ser um
problema ambiental é um dos mais graves problemas sociais enfrentados no Semiárido brasileiro.
Tendo em vista todos os problemas ambientais e socioeconômicos como o aumento da
pobreza, migração e diminuição da produção agrícola, torna-se fundamental o estudo da
desertificação.
Materiais e Métodos
A análise será realizada no município de Patos (Figura 2), mesorregião do Sertão Paraibano
(latitude
‘ ‖ S, longitude 3
‘
‖ W e altitude
m) O relevo varia de
a
m, a
área territorial é de 506,5 km² e uma população de 100.675 habitantes, sendo que 97.296 residem na
zona urbana e 3.393 na área rural (IBGE, 2010).
De acordo coma classificação climática de Köppen (1948), o clima predominante é do tipo
semiárido (BS) e quente (h), temperatura média anual superior a 18°C e precipitação pluvial
máxima ocorrendo entre o final do verão e o outono. A vegetação é constituída por Caatinga
arbustiva arbórea xerófila.
O município está incluído na área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro,
definida pelo Ministério da Integração Nacional em 2005.
Figura 2: Mapa de localização do município de Patos-PB.
Fonte: Dados Geoportal –AESA-PB.
97
Para realização do presente trabalho, utilizou-se uma imagem do satélite Landsat 5 TM, na
órbita 215, ponto 65, para os anos de 1984 e 2010. Para visualizar e realizar as manipulações da
imagem, como recortes, classificação e outros procedimentos, foi utilizado o software ERDAS
Imagine 8.7. O processamento da imagem foi feito através da ferramenta Model Maker e para a
confecção dos mapas temáticos o software ArcGis, constituído por um grupo de programas do
Sistema de Informação Geográfica. Para obtenção das variáveis em estudo foi empregado o
algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land). A seguir são apresentadas as
etapas do processamento das imagens utilizando o modelo SEBAL para a obtenção do albedo,
NDVI e da temperatura da superfície.
A calibração radiométrica (Lλi) foi obtida segundo a equação 1, proposta por Markham &
Baker (1987):
(1)
em que,
e
, são as radiâncias espectrais mínima e máxima (Wm-2sr-1μm-1), ND é a intensidade
do pixel, cujos valores variam entre 0 e 255, no caso do satélite Landsat o i corresponde as bandas
(1, 2, ... e 7). A unidade de
é Wm-2sr-1μm-1. Os coeficientes de calibração utilizados para o
Landsat são os propostos por Chander e Markham (2003).
A reflectância de cada banda (
) foi obtida através da equação 2, segundo Allen et al.
(2002):
(2)
em que
é a radiância espectral de cada banda,
cada banda do sensor,
é a constante monocromática solar associada a
é o ângulo zenital do Sol e dr é o inverso do quadrado da distância relativa
Terra-Sol. O cálculo de dr foi obtido de acordo com a equação 3:
(3)
onde DJ é o dia de ordem do ano em que são obtidos os dados radiométricos (imagens de satélite),
cujos valores correspondem ao dia da geração das imagens.
O cálculo do albedo no topo da atmosfera foi feito através de combinação linear das
reflectâncias monocromáticas, obtidos pela equação 4:
(4)
onde,
e
são as reflectâncias nas bandas 1,2, 3, 4, 5 e 7.
O albedo da superfície foi computado através da equação (5):
r0=
(5)
98
onde
é o albedo planetário,
atmosfera (Bastiaanssen, 2000) e
= 0,03 é a porção da radiação solar refletida pela
é a transmissividade atmosférica (Allen et al., 2002). A
transmissividade atmosférica foi computada em função da altitude local (z), conforme a equação:
(6)
Para o cálculo do índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN) foi utilizada a
seguinte equação (ALLEN et al., 2002):
(7)
O índice de vegetação ajustado para os efeitos do solo (Soil Adjusted Vegetation Index SAVI), proposto por Huete (1988) foi obtido pela equação:
(8)
onde L=0,5 é o fator de ajuste do solo.
O índice de área foliar (IAF) foi calculado por expressão empírica proposta por Allen et al.
(2002):
(9)
Para o cômputo da temperatura da superfície foi utilizada a equação de Planck invertida,
válida para um corpo negro para o qual a emissividade é igual a 1. Como cada pixel não emite
radiação eletromagnética como um corpo negro, é necessário introduzir a emissividade de cada
pixel no domínio espectral da banda termal
, para fins do cômputo da Ts, bem como no cômputo
da radiação de onda longa emitida pela superfície, que nesse caso é considerada a emissividade da
banda larga
(5 –
μm) Segundo Allen et al (
), a emissividades
(equação 10)
(10)
Foi considerado
=
= 0,98 quando IAF
e para IVDN < 0.
A obtenção da temperatura da superfície (Ts) é determinada em função da radiância
espectral da banda 6 (termal) e da emissividade termal (equação 10) através da seguinte expressão
(Allen et al., 2002):
(11)
em que
banda 6,
= 607,76 W m-2sr-1µm-1,
= 1260,56 W m-2sr-1 µm-1,
é a radiância espectral da
é a emissividade de cada pixel na porção da banda termal do Landsat 5 – TM.
99
Resultados e discussões
Análise espaço-temporal do albedo
Correia et al. (2002) afirmam que os valores de albedo de superfície estão associados a
superfícies suaves, secas e de coloração clara quando elevados, enquanto que os valores menores
são associados a superfícies rugosas, úmidas e de coloração escura.
Na Figura 3 podem-se observar mudanças expressivas na paisagem, principalmente na área
central que corresponde a malha urbana do município. O aumento do albedo nessa área se deve ao
fato de ter havido uma expansão urbana bem significativa no espaço de tempo analisado, o que
implica em diminuição de áreas vegetadas e maior presença de solo desnudo e seco.
Figura 3: Evolução espaço-temporal do albedo da superfície.
.
O aumento do albedo, nas áreas que não correspondem a malha urbana, também está
associado a redução de áreas vegetadas, só que devido a atividades relacionadas a agropecuária. O
uso da terra para atividades agrícolas e pecuárias expõem o solo a constantes processos de
degradação, e com o passar do tempo vai se tornando frágil e infértil, aumentando sua exposição e
com isso auxiliando no aumento de temperatura.
Índice de vegetação da diferença normalizada
100
O Índice de vegetação da diferença normalizada indica a quantidade e as condições da
vegetação verde. A Figura 4 apresenta variações ocorridas na cobertura vegetal do solo entre os
anos de 1984 a 2010, sendo valores obtidos no intervalo de -1 a 0,85m2/m2.
Figura 4 – Mapa temático representando os índices de vegetação normalizada - IVDN para os anos de 1984 e
2010, números 1, 2 e 3 são respectivamente a subbacia do rio Espinharas, o açude Jatobá e o açude Farinha.
Os valores negativos são atribuídos aos corpos hídricos e foram representados pela cor roxo,
em um tom lilás se apresenta o solo exposto e as demais cores foram atribuídos aos tipos e
quantidade de vegetação presentes na área de estudo, sendo o tom mais escuro de verde e como
maior valor apresentado, em um intervalo de 0,6 a 0,85 m2/m2 refere-se ao maior índice de
vegetação presente.
Nos 3 pontos destacados na imagem pode-se observar uma diminuição marcante dos corpos
d‘água e um aumento expressivo de solo exposto, que se deve a processos de degradação citados
anteriormente.
Temperatura da Superfície
Em toda a área do município houve um aumento acentuado da temperatura da superfície,
que pode ser associado a alta exposição sofrida pelo solo no decorrer dos anos e a diminuição
marcante dos corpos d‘água (Figura 5).
101
Figura 5: Mapa de distribuição espacial da temperatura de superfície no município de
Patos-PB, em um intervalo de 16 anos.
Considerações Finais
Pôde-se observar ao longo dos anos uma redução nos índices de vegetação, devido
principalmente à ação antrópica, áreas consideráveis de vegetação foram desmatadas por conta da
expansão urbana, outras que ainda apresentavam um expressivo índice de vegetação foram
substituídas por cultivo. Já na carta de temperatura da superfície pode ser observado um aumento
significativo distribuído por toda área de estudo, que é atribuído principalmente ao solo exposto. As
imagens obtidas foram de diferentes períodos do ano, sendo a de 1984 o fim da estação chuvosa e a
mais recente de 2010 no inicio do período de estiagem na região, o que também influenciou a
redução brusca na quantidade de vegetação. As análises das imagens de diferentes épocas
possibilitaram uma maior compreensão das transformações ocorridas ao longo dos anos. A
observância do albedo da superfície no estudo corroborou com a investigação sobre as áreas
degradadas, visto que a reflectividade dos alvos tem forte influência no estudo climático. O que
viabiliza quaisquer medidas de recuperação das áreas degradadas e projetos na busca pelo uso
sustentando dos recursos florestais, na tentativa de minimizar e combater os impactos ambientais na
região. Com isso, pode dizer que a análise destas variáveis possibilita monitorar a degradação das
terras e consequentemente fornece dados para diagnosticar pontualmente o processo de
desertificação no município.
102
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ANÁLISE DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS DO CULTIVO DA MAMONA NO
SERTÃO CENTRAL CEARENSE: UMA ALTERNATIVA PARA REDUÇÃO DOS EFEITOS
DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
103
Lucas da SILVA (IFCE) 9 – [email protected]
Jordânia Kênia Cândido GOMES (IFCE/CE)10 – [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade a análise e identificação das principais práticas agrícolas
sustentáveis do cultivo da mamona para a produção de biodiesel em propriedades rurais na área do
Sertão Central Cearense, como forma de reduzir os efeitos das mudanças climáticas no Sertão
Cearense. Esse tipo de atividade, apesar de trazer oportunidade de emprego e renda para a
população local, tem ocasionado alguns impactos ambientais característicos da agricultura. E, a
partir da análise e identificação desses impactos, visa contribuir na aplicação de ações mitigadoras
desses impactos no processo de cultivo da mamona e na educação ambiental dos agricultores dessa
região. Resultando, assim, em práticas sustentáveis que beneficiem tanto o agricultor quanto ao
meio ambiente. O estudo foi realizado em propriedades localizadas no município de Quixadá,
interior do Ceará, na região do semiárido. A pesquisa deu-se através da investigação do campo, com
aplicação de questionários socioambientais e utilizando-se do método quantitativo-descritivo. Tratase de um tema de interesse atual, com poucos estudos, nessa área, no âmbito local e de grande
importância para o desenvolvimento sustentável da região.
Palavras-chaves: Mamona; Agricultura; Impactos; Meio ambiente.
ABSTRACT
This search aims at analyzing and identifying the main environmental impacts caused by the
cultivation of castor for biodiesel production on farms in the area of the Hinterland Central
Cearense, as well as the social situation of producers. This type of activity, despite the opportunity
to bring jobs and income for local people, has caused some characteristic environmental impacts of
agriculture. From the analysis and identification of these impacts, aimed at contributing in the
implementation of mitigating actions such impacts in the process of cultivation of castor and
environmental education of farmers in this region. Thus resulting in sustainable practices that
benefit both the farmer on the environment. The study was conducted on properties located in the
county of Quixadá, interior of Ceará, in the semiarid region. Search was made through the field
investigation, with questionnaires and environmental using quantitative-descriptive method. This is
a topic of current interest, with few studies in this area, at the local level and of great importance to
the sustainable development of the region.
Keywords: Mammon; Agriculture; Impacts; Environment.
9
Prof. MsC. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Quixadá.
10
Estudante do Curso Técnico em Controle Ambiental do IFCE, campus de Quixadá e bolsista do
Programa Petrobrás de Desenvolvimento de Recursos Humanos – PFRH.
104
INTRODUÇÃO
As questões sobre os problemas ambientais não é um tema recente, entretanto estudos mais
pontuais e consistentes sobre o assunto estão sendo tratados atualmente com maior importância.
Nesse contexto, a crise ambiental atual fez surgir a preocupação com novas fontes de energia
renováveis, uma vez que a principal fonte de energia atualmente é o petróleo que é não renovável e
é de origem mineral. Nesse sentido, surge o advento do biodiesel, um combustível cultivável e de
origem vegetal. Diversas discussões têm sido travadas em torno do tema biocombustíveis. Algumas
pesquisas apontam o biodiesel como a solução para crise energética mundial em longo prazo; outras
defendem a ideia de que o mesmo é mais um instrumento de manutenção da atual situação de
consumo energético no mundo, onde 80% da energia total gerada no planeta é utilizada por 20% da
população mundial (APS, 2009).
O fato é que a mamona vem despontando como uma fonte de combustível promissora, em
virtude da crise do petróleo e da necessidade urgente de se buscar alternativas que possam substituir
e serem compatíveis com a atual demanda do uso de fontes energéticas no mundo.
A mamona (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa de grande importância no Brasil e no
mundo. A mamoneira é uma planta resistente, se adaptando de modo perfeito às zonas semiáridas
do Nordeste, onde há poucas alternativas agrícolas rentáveis, devido às suas peculiaridades
climáticas. Possivelmente originária do continente asiático e introduzida no Brasil pelos africanos,
essa oleaginosa está difundida em quase todo o território brasileiro e, por suportar a seca e requerer
calor e luminosidade, o seu crescimento e desenvolvimento se adéquam as condições climáticas da
região nordeste (BELTRÃO et al., 2001).
A cultura da mamona tem revelado grande importância para a economia do semiárido
nordestino, sendo uma fonte de renda viável para a população rural e de baixa renda. Por sua
resistência à seca, a planta tem obtido grande êxito em seus cultivares nessa região do Brasil.
Contudo as atividades agrícolas têm provocado alguns impactos sobre o ambiente, tais como
desmatamentos, queimadas, poluição por agrotóxicos, degradação e erosão dos solos e
contaminação de mananciais e as consequências desses impactos se tornam evidentes a cada dia.
Além disso, existem outras consequências que podem ser originadas dessas atividades, como por
exemplo, extinções de espécies e populações (animais e vegetais), diminuição da diversidade
biológica, perda de variedades, entre outros.
Contudo, vale ressaltar que os impactos causados por essa atividade não devem ser
caracterizados apenas como impactos negativos, visto que há a presença de impactos positivos, tais
como geração de emprego e renda para essas famílias e para uma parte da população da região, a
105
possibilidade do cultivo da mamona com outras culturas, a exemplo do milho e do feijão, e a
disseminação da educação ambiental para esses pequenos agricultores através de treinamento para o
aperfeiçoamento das técnicas de cultivo.
Alem disso, para que se faça suscitar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, fazse necessário conscientizar o agricultor sobre a conservação do meio ambiente, além de a ele
oferecer os meios e métodos para alcançar esse desenvolvimento sustentável.
Um dos fatores que fizeram culminar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável foi o
advento das mudanças climáticas. Essas mudanças climáticas têm tido como principal causa o efeito
estufa que atualmente é o mais intenso. Um dos principais causadores do efeito estufa é a emissão
de gases poluentes advindos das queimadas ainda praticadas por alguns agricultores. O efeito estufa
é causado pela emissão dos gases de efeito estufa (GEE), tais como: óxido nitroso (N2O), dióxido
de carbono (CO2), ozônio (O3), metano (CH4), clorofluorcarbono e vapor de água. O dióxido de
carbono, produzido pela combustão de combustíveis fosseis (carvão, petróleo e gás natural) e pelo
desmatamento das florestas, tem sido um dos mais significativos gases poluentes.
Esses gases impedem que o calor (radiação infravermelha) seja irradiado de volta para o
espaço e, devido a este processo, a atmosfera se aquece. Parte deste calor é transferida para os
oceanos, elevando sua temperatura. Quando o aquecimento da atmosfera e dos oceanos acontece em
demasia, a temperatura global da Terra aumenta, ocasionando a elevação das marés e o
derretimento das geleiras.
Como uma das causas das mudanças climáticas, podemos citar a redução e o atraso na
floração das espécies frutíferas nativas do semiárido, devido à ausência de chuvas regulares. Outro
exemplo que podemos citar é o aumento da acidez dos oceanos por causa do elevado índice de
concentração de CO2 em suas águas.
Apesar de parecer que o aquecimento global é uma inevitável consequência das atividades
humanas (passadas e presentes), esforços nacionais e internacionais devem ser feitos para que se
desenvolvam estratégias que melhorem as técnicas de agricultura e diminuam o uso de energia de
fontes não-renováveis.
Este estudo foi desenvolvido em propriedades localizadas nos distritos do município de
Quixadá no interior do Sertão Central Cearense. E tem como objetivo avaliar a situação ambiental
das propriedades com cultivo de mamona para a produção de biodiesel nessa região, a partir do
diagnóstico, da avaliação e do desempenho ambientais dessas propriedades, identificados e
analisados por meio da aplicação de questionário socioambiental.
DESENVOLVIMENTO
106
Caracterização da Área de Estudo
A área de estudo da pesquisa foi o município de Quixadá (ver Figura 01), localizado na região
do sertão central cearense. O município tem uma área de 2.019,82 km² e está localizado a 175 km
de Fortaleza, capital do Estado.
Figura 01 – Mapa do município de Quixadá - Fonte: CPRM (1998)
O Município está inserido no semiárido nordestino, caracterizado por solos que ressecam
rapidamente nos períodos de estiagem e se encharcam na chuva. A vegetação é típica da caatinga,
com cactáceas, lençóis de água superficiais geralmente salinizados e com clima tropical quente.
Uma característica bastante presente no relevo da cidade são as rochas graníticas de diferentes
formatos que se destacam na paisagem, essas rochas são denominadas monólitos. Apresenta clima
tropical quente semiárido, com precipitação média anual de 838,1 mm e temperatura média
variando entre 26°C a 28°C. A vegetação é caatinga arbustiva densa, caatinga arbustiva fechada e
floresta caducifólia espinhosa (IPECE, 2009).
O cultivo da mamona para a produção de biodiesel no Sertão Central Cearense
107
Metodologicamente a pesquisa foi desenvolvida através da investigação de campo, com
aplicação de questionários, utilizando-se do método quantitativo–descritivo. A análise, organização
e síntese dos dados foram realizadas durante todo o processo de coleta e pesquisa.
Foi utilizada a técnica de coleta de dados com a aplicação de dezenove (19) questionários,
contendo dez (10) questões de múltipla escolha, aplicados aos produtores da região. A pesquisa de
campo abrangeu 04 (quatro) distritos (Custódio, Café Campestre, Cipó dos Anjos e Califórnia) e
suas localidades. Fez-se o uso de uma câmera digital para o registro de imagens das propriedades e
de seu entorno para a melhor análise e interpretação dos dados.
Utilizando-se, também, o sistema do projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise – AMA
do Ministério do Meio Ambiente, que mede o nível de adoção de práticas agrícolas sustentáveis,
baseado em 15 questões com opção de sim ou não, para classificar a propriedade quanto ao nível de
adoção de práticas agrícolas, numa escala de gradação de 05 (cinco) níveis em: muito baixo (0 a 2
sim); baixo (3 a 5 sim); médio (6 a 8 sim); alto (9 a 11 sim), e muito alto (acima de 12 sim).
O cultivo da mamona na região do Sertão Central Cearense tem crescido em função da
instalação de uma usina de biodiesel no município de Quixadá, no ano de 2008; facilitando, assim, a
venda direta da matéria-prima (semente da mamona) para a produção de biodiesel, pelos
agricultores à empresa que produz o biocombustível na região, a Petrobrás e proporcionando uma
maior geração de emprego e renda na região.
Os agricultores que participam desse programa do governo, além de terem garantia de venda,
recebem subsídio de R$ 200,00 por hectare plantado, num total de 5 hectares, além do fornecimento
das sementes para o plantio. Todas as propriedades visitadas obedecem a esse limite de hectares
destinados à plantação de mamona, bem como ao seu consórcio com outras culturas.
Principais Impactos das Atividades Agrícolas sobre o Meio Ambiente
Os impactos ambientais das atividades agrícolas são, em geral, frágeis e bastante dependentes
de fatores pouco controláveis, tais como chuvas, temperaturas, ventos e etc. Atingem grandes áreas
com pouca precisão, frequentemente crônica, intermitente e de difícil quantificação. Em muitos
casos os piores impactos ambientais da agricultura são invisíveis aos olhos da população, dos
consumidores e dos próprios agricultores, ao contrário do que ocorre com uma mineradora, por
exemplo.
Os principais impactos ambientais verificados nesse estudo foram sobre os efeitos no solo.
Dentre eles destacam-se a compactação do solo devido ao uso intensivo de máquinas agrícolas,
neste caso trator, a erosão e a perda de nutrientes, estes últimos não tão acentuados, porém
presentes. As emissões de poluentes pela prática corrente de queimar o que havia no local destinado
ao plantio para preparar o solo e/ou o lixo produzido após a colheita, também é algo a se mencionar
108
neste estudo, pois as emissões de gases poluentes acabam contribuindo nos fatores que têm
favorecido o aquecimento global, já que a emissão desses gases de efeito estufa é um dos principais
causadores das mudanças climáticas no planeta Terra.
Visando diminuir os efeitos desses impactos no meio ambiente, a adoção de técnicas de
plantação sustentáveis e a difusão da educação ambiental devem ser empregadas ao cotidiano
desses agricultores. A partir de dados colhidos através dos questionários aplicados, verificou-se a já
existência de um treinamento desses agricultores quanto a essa questão ambiental, por parte de um
convênio entre a Prefeitura Municipal de Quixadá e a empresa (Petrobrás) que realiza a compra da
semente da mamona desses agricultores.
Práticas Agrícolas Sustentáveis Adotadas pelos Produtores
Conforme se pode observar na tabela 01, 21% das propriedades estudadas adotam de 3 (três) a
5 (cinco) tipos de práticas agrícolas sustentáveis, 32% das propriedades têm adotado de 9 (nove) a
11 (onze) dessas práticas e 47% delas realizam de 6 (seis) a 8 (oito) dessas práticas. Isso mostra que
os produtores têm se preocupado com as questões ambientais. No entanto, em nenhuma delas foi
apresentado nível muito alto de adoção das práticas agrícolas sustentáveis.
Tabela 01 - Nível de adoção das práticas agrícolas sustentáveis adotadas pelos produtores de
mamonas da região do sertão central cearense.
MEDIDA DO
NÚMERO DE
INDICADOR
PROPRIEDADES
Muito baixo
(de 0 a 2 sim)
0
0%
Baixo
(de 3 a 5 sim)
04
21%
Médio
(de 6 a 8 sim)
09
47%
Alto;
(de 9 a 11 sim)
06
32%
(maior que 12 sim)
0
0%
INDICADOR
Muito alto.
%
Dentre as práticas agrícolas sustentáveis estudadas, o consórcio de culturas está presente em
todas as propriedades pesquisadas, principalmente a associação da mamona com o feijão e o milho,
culturas tradicionais na região. Isso mostra que os protodures não estão substituindo as tradicionais
culturas de subsistência pelo cultivo da mamona e, sim, consorciando-as.
Outra prática comum adotada pelos produtores é a integração animal-lavoura, presentes em
dezessete das propriedades, que corresponde a 90%. Ou seja, a grande maioria solta seu rebanho
dentro da área de cultivo da mamona após sua colheita.
109
Dentre as propriedades estudadas, em 84 % delas existe presença de área de conservação, no
entanto, em alguns casos, existem áreas de preservação coletiva, principalmente em áreas de
assentamento rural. (ver Tabela 02).
Tabela 02 - Práticas agrícolas sustentáveis adotadas pelos produtores de mamona da região do
sertão central cearense.
PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS
Faz consórcio de culturas
Faz integração animal-lavoura
Tem área de conservação
Realiza manejos florestais de não madeireiros
Faz rotação de culturas
Usa adubos orgânicos
Faz manejo e conservação do solo
Faz manejo ecológico de pragas
Tem área de SAF's/Silvipastoril
Tem práticas de conservação da água
Faz manejo de paisagens
Realiza práticas de conservação e recuperação de nascentes de água
Utiliza quebraventos
Faz preservação do patrimônio genético
Faz outras práticas sustentáveis
Propriedades
Quant.
(%)
19
100%
17
89%
16
84%
14
74%
13
68%
13
68%
12
63%
8
42%
6
32%
6
32%
4
21%
4
21%
3
16%
3
16%
1
5%
Os problemas provenientes dos processos industriais da agricultura têm provocado o advento
de diversos sistemas de exploração agrícola que não recorrem aos defensivos atuais. Segundo Jesus
(1996), a agricultura orgânica surge como alternativa e resposta à agricultura de base urbana
industrial, visto que esta proporciona a viabilidade da agricultura familiar, associando os aspectos
do bem-estar social, a segurança alimentar e o desenvolvimento dos mercados locais.
Contrário ao pensamento de sustentabilidade, a agricultura convencional vem provocando
diversos desequilíbrios na natureza, como podem ser constatados no pensamento de Capra (1982,
p.21-22),
[...] além da poluição atmosférica, nossa saúde está ameaçada pela água e pelos
alimentos, uma e outros contaminados por uma grande variedade de produtos
químicos. Conforme o meio ambiente é atingido pelos resíduos químicos jogados
em diversas atividades, sejam elas na produção, industrialização, no comércio, nas
rotinas domésticas e diárias aumentam os problemas de saúde dos indivíduos.
A problemática ambiental tornou-se uma velha e conhecida questão que vem transcorrendo
toda a construção do conhecimento humano, desde os seus primórdios até os dias atuais.
110
Nos dias de hoje, conhecemos a agroecologia, uma ciência que não está voltada somente ao
manejo dos recursos naturais. A partir dela, tem-se constituído uma estratégia considerável para
avaliação dos impactos socioambientais e para instalação de programas sustentáveis no meio rural.
Esse modelo de agricultura é resultado de movimentos em que diversas correntes
estabeleceram diferentes formas de manejo das criações de animais e do sistema solo/planta.
A grande questão se encontra em se planejar um futuro onde, quem produz, receba
qualificação e incentivos capazes de minimizar os efeitos negativos que os impactos ambientais
proporcionam.
Vivemos hoje um dilema global entre a necessidade humana de se alimentar e a produção de
agroenergia, devido a algumas linhas de estudos que defendem que o cultivo de matéria-prima para
a produção de biocombustíveis estará competindo diretamente com a produção de alimento para a
população.
Mas, se por um lado, os combustíveis de origem vegetal podem ser uma ameaça à produção
de alimentos, devido à competição por terras e água, elevando preços de alimentos e causando
instabilidade; por outro lado, eles também podem gerar emprego e renda no campo, propiciando o
desenvolvimento rural da região.
CONCLUSÕES
Conclui-se que, mesmo percebendo-se um nível médio de adoções de práticas agrícolas
sustentáveis por parte dos produtores de mamona, nota-se que ainda se está distante de alcançar
uma cultura preservacionista e conservacionista dos produtores, pois notou-se que as práticas
aderidas por parte dos entrevistados se fazia por costumes herdados pelos pais, por exigência dos
órgãos governamentais e/ou por cumprimento da legislação vigente.
Foram identificados impactos ambientais negativos significativos que devem ser estudados
com o intuito de propiciar e facilitar a aplicação de ações mitigadoras, tais como a adesão de
práticas agrícolas sustentáveis, a conscientização ambiental da população e das autoridades
competentes e a redução do lixo produzido a partir dessas atividades de agricultura, fazendo o
aproveitamento desses resíduos na própria propriedade.
Além disso, deve-se desenvolver uma melhor sintonia entre os órgãos governamentais
envolvidos no cultivo de mamona para a produção de biodiesel, no sentido de incentivar com maior
ênfase, práticas agrícolas sustentáveis, através de programas específicos de produção ecológica e
sustentável, bem como através da promoção da educação ambiental. Com isso contribuiremos para
a redução da emissão de gases poluentes e de efeito estufa para a atmosfera.
111
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1982.
112
INFLUÊNCIA DOS FATORES CLIMÁTICOS NA MANIFESTAÇÃO DE DOENÇAS DO
APARELHO RESPIRATÓRIO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA
Myrthis Virgínia Alves de Almeida REINALDO (Unesc Faculdades) –
[email protected]
Manoel Francisco GOMES FILHO (UACA/CTRN/UFCG) – [email protected]
Resumo
Os seres humanos são direta ou indiretamente afetados pelas alterações cíclicas da atmosfera e do
meio ambiente por estarem continuamente inseridos neste. As causas da influência do tempo e do
clima sobre os seres humanos não são totalmente conhecidas, logo é de grande importância a
elaboração de estudos relacionando clima e saúde humana. Do ponto de vista epidemiológico, se as
mudanças climáticas representam uma série de exposições a diversos fatores de risco que
influenciam o organismo humano, a causa mais distal dessas exposições é a alteração do estado
ambiental devido à acumulação de gases do efeito estufa. As mudanças prolongadas no quadro
geral do clima influem na distribuição geográfica de muitas enfermidades. Este trabalho se propõe a
discutir a influência do clima e suas variáveis na manifestação de doenças do aparelho respiratório.
Palavras-chaves: Meio Ambiente e Saúde; Mudanças Climáticas; Doenças Respiratórias.
Abstract
Humans are directly or indirectly affected by cyclical changes in the atmosphere and the
environment because they are continuously entered into this. The causes of the influence of weather
and climate on humans are not fully known, so it is of great importance to the development of
studies linking climate and human health. From the epidemiological point of view, if climate
change is a series of exposures to various risk factors that influence the human body, the most distal
of these exhibitions is to change the environmental status due to the accumulation of greenhouse
gases. Prolonged changes in the general climate influence the geographical distribution of many
diseases. This paper aims to discuss the influence of climate and its variations in the manifestation
of respiratory diseases.
Keywords: Health and the Environment, Climate Change; Respiratory Diseases.
113
Introdução
É do conhecimento de toda humanidade, hoje em dia, que a degradação do meio ambiente
põe em perigo as espécies animais e vegetais que habitam o nosso planeta e compromete, muitas
vezes de maneira irreversível, por assim dizer, insustentável, a saúde humana, tanto da geração atual
quanto das gerações futuras.
Preservar o meio ambiente implica diretamente na redução das emissões de poluentes
resultantes das atividades antrópicas, sejam eles atmosféricos, resíduos sólidos e líquidos, bem
como os poluentes térmicos, acústicos e visuais, pois todos eles são capazes de alterar o equilíbrio
fisiológico do organismo humano, e, consequentemente o seu estado de ―saúde‖
Considerando o conceito adotado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em 1948:
―Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença‖, o meio ambiente está intrinsecamente relacionado, já que as alterações no mesmo
interferem muito na saúde e na qualidade de vida das pessoas. E como na vida, no meio ambiente
predominam os ciclos que envolvem uma dinâmica série de mudanças e não a estabilidade.
Portanto, o meio ambiente constitui um importante fator da saúde humana e da qualidade de vida.
A proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais devem ser obrigações
constantes, pois os problemas ambientais têm sido apontados como fatores de risco para a saúde
humana. Segundo a WHO (2002), aproximadamente um terço das doenças humanas em escala
global podem ser atribuídas a fatores ambientais, incluindo-se aí as mudanças climáticas.
As mudanças climáticas podem ser de origens naturais ou antrópicas e sua influência sobre a
saúde humana tem sido estudada desde a Grécia antiga (séc. V- IV a.C.) por Hipócrates, em seu
tratado intitulado: ―De ares, águas e lugares‖, no qual são apresentadas suas teorias sobre a
influência do meio ambiente nas doenças humanas e sobre algumas peculiaridades físicas e
espirituais dos habitantes de diferentes regiões, como é descrito no trecho a seguir (PHILIPPI JR.,
2005):
[...] Quem desejar estudar corretamente a ciência da medicina deverá proceder
da seguinte maneira. Primeiro, deverá considerar quais efeitos pode produzir
cada estação do ano, visto que as estações não são todas iguais, mas diferem
amplamente tanto em si mesmas como nas mudanças [...]
Porém, naquela época, Hipócrates não considerou as mudanças ambientais antropogênicas
que interferem na saúde humana. Mudanças estas que tem como responsável o grande
desenvolvimento industrial do século XX e o modo de vida capitalista extrativista, potencial
gerador de resíduos provenientes das atividades humanas. E como consequência disto, a biosfera foi
acumulando substâncias indesejáveis que, ao serem lançadas na atmosfera, acabam por cair nos
114
ecossistemas; ou são despejadas diretamente no solo ou nos corpos aquáticos (rios e lagos) e no
oceano.
Os fatores atmosféricos e os de ordem econômica e social têm grande influência no processo
desencadeador de vulnerabilidade para grande parte da população residente nas cidades. Doenças
respiratórias apresentam uma vinculação muito estreita com o ambiente, pois muitas patologias
como as viroses e a asma, podem ser desencadeadas ou agravadas por condições ambientais, a
exemplo da poluição do ar, as baixas temperaturas e as inversões térmicas. Por esta amplitude, as
doenças respiratórias são responsáveis por um grande número de internações hospitalares no Brasil,
provocados por altos índices de comorbidades. Acometem todas as faixas etárias, sexo e classe
social e estabelece estreita relação com os indicadores econômicos, estando os mais pobres,
consequentemente, mais vulneráveis a instalação das doenças (PHILIPPI JR., 2007).
Mudanças Climáticas
No contexto das mudanças climáticas e ambientais globais, em que as incertezas sobre a
natureza de seu impacto na escala dos ecossistemas locais se somam às complexidades das novas
realidades de um Brasil urbano, surgem novas questões no enfrentamento do velho problema das
doenças transmissíveis no setor da saúde pública. A sinergia existente entre os processos sociais e
os ecossistemas sobre os quais eles se desenvolvem, associada à persistência de condições
inadequadas de vida, tem possibilitado a proliferação de doenças endêmicas em novos contextos
(BARCELLOS et al., 2009).
Segundo Barcellos et al. (2009), o mundo vem passando por mudanças que não estão
limitadas apenas a aspectos climáticos. Paralelas aos processos de mudanças climáticas vêm
acelerando-se a globalização (aumentando a conectividade de pessoas, mercadorias e informação) e
as mudanças ambientais (alterando ecossistemas, reduzindo investimentos em saúde, aumentando a
dependência de mercados e aumentando as desigualdades sociais).
Diante do exposto, entende-se que as mudanças climáticas e os fatores ambientais têm
importância no aparecimento de novas doenças, bem como pela volta de doenças já controladas
(PECONICK et al., 2011).
Saúde e Meio Ambiente
O estado de saúde da população é um dos importantes indicadores sociais, assim como o
método de direcionamento de políticas públicas, pelo delineamento do perfil de morbidades e
mortalidade de grupos sociais e da população residente. As cidades estão convivendo com
problemas sanitários e ambientais que refletem diretamente na qualidade de vida de sua população
115
em relação ao adensamento populacional e a marginalização socioeconômica e a carência de
serviços de saneamento básico e ambiental, intimamente ligados às condições de vida e saúde da
população. A multicomplexidade que envolve a relação ambiente/saúde/doença assume atualmente
uma determinação de causa/efeito ou vice-versa, entretanto poucos estudos têm sido desenvolvidos
para consolidar esta inter-relação (MOURA, 2009).
De acordo com Figueiredo (2011), nos países desenvolvidos, pela maior longevidade da
população, as doenças crônico-degenerativas são as mais comuns, porém as infecciosas têm se
tornado uma ameaça constante, principalmente pela facilidade de deslocamento com um maior
intercâmbio entre as populações. Por outro lado, os países em desenvolvimento vivenciam a difícil
batalha contra as doenças infecciosas, que envolve não apenas o combate ao agente infeccioso, mas
a necessidade de transformar toda uma estrutura sócio-político-econômica.
A partir da década de 1980, muitas enfermidades que estavam sob controle passaram a
recrudescer. Novas doenças surgiram e outras antigas reapareceram em vários pontos do globo,
estabelecendo-se os conceitos de doenças emergentes e reemergentes como novas ameaças à saúde
pública do planeta. No contexto complexo da atualidade, sabe-se que inúmeros fatores contribuem
na configuração deste novo cenário, como a poluição, o desmatamento, o crescimento populacional,
a urbanização, a redução da camada de ozônio e as variações meteorológicas (FIGUEIREDO,
2011).
O tempo pode afetar diretamente a saúde humana através da exposição a eventos
meteorológicos extremos, como inundações e tempestades; ou períodos de muito calor e frio. O
fenômeno El Niño é um exemplo clássico, caracterizado como um fenômeno que, por vezes,
assume proporções particularmente violentas, apresentando fortes chuvas, inundações e períodos de
estiagem, associados a um acentuado aquecimento das águas oceânicas. Segundo Peconick et al.
(2011), o aumento da temperatura ambiente também tem sido importante para a extinção e/ou
diminuição dos mananciais hídricos. A deterioração da água ou sua ausência contribuem
diretamente para o aumento da incidência de doenças causadas por parasitos de veiculação hídrica,
ou seja, àqueles que utilizam a água como veículo de transporte. Com isso, observa-se o aumento
do número de casos de diarreia e alterações gerais que podem inclusive culminar em óbito.
Clima e Saúde
Os seres humanos, por estarem permanentemente em contato com a atmosfera, alteram sua
dinâmica e desta forma tornam-se vítimas da influência que exercem sobre o ambiente. Desta
maneira, determinadas doenças manifestam-se, surgem ou desenvolvem-se devida às variações
(naturais ou antrópicas) periódicas dos elementos climáticos. O clima e os diferentes tipos de tempo
116
(ondas de calor, períodos de estiagem, variações súbitas das temperaturas), são entendidos como um
fator ambiental que influencia no organismo humano, não como um caráter determinista, mas como
um elemento que pode contribuir de maneira benéfica ou maléfica para a saúde humana (LACAZ,
1972 apud PEREIRA, 2012).
De acordo com Sousa (2003), o clima é o aspecto do ambiente físico que tem concentrado
maior atenção para os estudos no campo epidemiológico. O clima é resultante da variabilidade dos
fenômenos meteorológicos específicos, que caracterizam a situação média da atmosfera, em uma
região delimitada da superfície terrestre. Estudam-se os fatores climáticos para que, através deles,
possam ser inferidas hipóteses de causalidade quanto aos agentes, transmissores e reservatórios, e
mesmo, possivelmente, quanto a algum fator de risco cuja variação na natureza dependa da variação
de algum desses fatores, verificando algumas relações existentes entre a correlação das variáveis
meteorológicas e as mortalidades.
A vida fisiológica em condições de clima tropical apresenta-se perfeitamente adaptada às
características ambientais fortemente cambiáveis em espaços de tempo curto (sazonalidade
climática), mas a ocorrência de fenômenos meteorológicos em escala temporal muito rápida
(horária, diária e semanal) lhe traz perturbações. O clima tropical, por suas características
particulares, reúne excelentes condições para o desenvolvimento de um considerável número de
doenças, tanto ligadas ao excesso de calor quanto à queda abrupta do mesmo e à variabilidade
termo-higro-pluviométrica. A entrada rápida de frentes frias de forte intensidade, por exemplo,
engendra consideráveis impactos sobre os seres vivos e sobre a população humana desta área
(MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2005).
A saúde pública, em grande parte, depende do acesso à água potável, do suprimento
adequado de alimentos, de habitações seguras e de estabilidade social, sendo as alterações
climáticas suscetíveis de modificar todas estas condições.
Mudanças Climáticas e Poluição Ambiental
As relações do homem com a natureza tornam-se complexas com o aparecimento dos
espaços urbanos e o crescimento desordenado causando impactos ambientais com repercussões
negativas sobre a saúde e a qualidade de vida das pessoas. As variáveis climáticas representadas
pela direção dos ventos, precipitação, umidade, temperatura, velocidade e direção dos ventos,
modificados pelos processos antropogênicos causam impactos relacionados às inundações, a
poluição do ar, deslizamento de encostas e geram ou agravam muitas doenças, principalmente as
respiratórias, muitas vezes de forma epidêmica como as gripes, acometendo, principalmente, as
pessoas submetidas a segregação espacial, ocupadas pela população de baixa renda, com déficit de
117
infraestrutura, resultando num alto grau de vulnerabilidade ambiental aos fenômenos naturais,
especialmente os meteorológicos extremos (VERÍSSIMO e MENDONÇA, 2004).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as mudanças climáticas vêm afetando a saúde da
população em vários lugares do mundo. Com essas mudanças, os fenômenos meteorológicos ficam
extremos, ou seja, muito calor seguido de muito frio (ou o contrário). Estes extremos provocam
recordes de temperatura podendo afetar o desenvolvimento da biocenose (comunidades resultantes
da associação de populações, as mais variadas, confinadas em determinados ambientes dentro do
ecossistema) (COELHO-ZANOTTI, 2007).
Sabe-se que parte desses fenômenos é atribuída às mudanças climáticas globais, já que uma parcela
dos fenômenos atmosféricos se deve ao aumento do efeito estufa, outra parte é inerente de ciclos
naturais.
Influência do Clima nas Doenças
Apesar da capacidade das pessoas se adaptarem ao meio ambiente, podendo suportar
alterações climáticas dentro de certos limites, estes quando ultrapassados podem afetar seriamente a
saúde através das ondas de calor ou de frio, ou quando a poluição atmosférica encontra-se elevada.
O ser humano é homeotérmico, com uma temperatura do corpo entre 36 e 37ºC. Abaixo destes
valores há hipotermia e mecanismos de controle são acionados, como a vasoconstrição, tiritar, arrepios,
aumento da taxa metabólica, na tentativa de se elevar a temperatura corporal. Estas são respostas de
curto prazo, há respostas mais longas, com o aumento dos depósitos de gordura, gordura subcutânea e
outros mecanismos. Para o caso de hipertermia, acima de 37ºC, ocorre o suor, a vasodilatação e
respostas também de mais longo prazo. Portanto, a zona de conforto se dá quando nenhum destes
mecanismos foi acionado, gerando um estado de neutralidade.
Ayoade (2007) destaca que os elementos meteorológicos interferem de modo marcante no
aparecimento e manutenção de determinadas doenças e afirma que temperaturas extremamente altas
provocam incidência de choques térmicos, exaustão e câimbras pelo calor. Por outro lado,
temperaturas extremamente baixas causam doenças como artrites, sinusites e enrijecimento de
juntas. O ar muito seco prejudica ou diminui o vigor físico e a disposição para o trabalho mental.
Há uma preocupação crescente em compreender o impacto das variações climáticas na
epidemiologia das doenças. Esse interesse está fortalecido pelas consequências das mudanças
climáticas ocorridas em nível mundial nos últimos anos e melhora das habilidades para detectar e
predizer as variações ambientais (GONZÁLEZ, 2008).
A importância da inter-relação entre gripe, resfriado e as patologias respiratórias com as
variações climáticas, principalmente no inverno e outono, atribui-se, principalmente, a elevadíssima
118
prevalência nesta época do ano. As viroses, como causas etiopatogênicas deste grupo patológico,
são entidades precursoras de outras morbidades, como pneumonias, asma, bronquite e exacerbação
infecciosa da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (MOURA, 2009).
Doenças do Aparelho Respiratório
O aparelho respiratório mantém contato direto com o ambiente, sendo alvo das interações
físicas e químicas do mesmo, da umidade, temperatura, pressão, velocidade dos ventos e qualidade
do ar. Por esta razão, as doenças respiratórias apresentam sazonalidade ligada a mudanças
climáticas e outros determinantes ambientais como habitat e condições de ordem econômica e
social, promovendo uma inter-relação entre homem e ambiente. O organismo humano se mantém
em constante intercâmbio com o meio, especialmente o sistema respiratório ao promover trocas de
gases como ambiente através dos pulmões e das vias respiratórias (MOURA, 2009).
As doenças respiratórias, com relação ao meio ambiente e os agentes patogênicos podem ter
determinação biológica e/ou físico-química. Entendendo-se por agentes biológicos as doenças de
caráter infeccioso e não infeccioso, que reúne uma grande quantidade de agentes, propiciando e
desencadeando o desenvolvimento de doenças. Assim, os organismos biológicos que têm
classificação infecciosa como os vírus, bactérias e fungos são os principais responsáveis pelo
desenvolvimento de infecções e inflamações de todo curso de doenças respiratórias que vão desde
vias superiores: nasofaringe, laringe e traqueia até as vias aéreas inferiores, como brônquios,
bronquíolos e alvéolos manifestando-se na forma de sinusites, laringites e faringites; bronquites,
bronquiolites, pneumonias e exacerbações infecciosas das doenças pulmonares obstrutivas crônicas
(TARANTINO, 2008).
Doenças respiratórias constituem importante causa de adoecimento e morte em adultos e
crianças em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), essas
doenças representam 8% do total de mortes em países desenvolvidos e 5% em países em
desenvolvimento. Quarenta milhões de crianças menores de cinco anos adquirem pneumonia
anualmente. 5% a 15% da população adulta nos países industrializados têm DPOC. No Brasil, as
doenças respiratórias agudas e crônicas também ocupam lugar de destaque – 2º em frequência entre as causas de internação no sistema único de saúde, sendo responsáveis por 6% de todos os
internamentos do sistema (BRASIL, 2007).
De acordo com González (2008), no Brasil, as doenças do aparelho respiratório representam
a segunda causa mais frequente de internação em idoso, cerca de 160 mil internações, relacionadas
à influenza e a pneumonias. A respeito da maior frequência de hospitalizações nos dois primeiros
anos de vida destacam-se, como principais infecções respiratórias, as que acometem o trato
119
respiratório inferior, estando pneumonias e bronquiolites entre os principais apontamentos do
diagnóstico principal, sendo estas consideradas infecções respiratórias graves, podendo ser causada
por vírus e/ou bactérias.
As infecções respiratórias mais severas são causadas, principalmente, pelo vírus sincicial
respiratório, agente etiológico de alteração sazonal. O vírus sincicial respiratório causa a maioria
dos casos de bronquiolites no mundo e pode ocasionar 70% a 80% das infecções respiratórias nos
meses de frios do ano. Outro agente viral concorrente para infecções respiratórias severas são os
vírus do tipo parainfluenza, que não apresentam sazonalidade. A maior aglomeração de pessoas em
ambientes fechados durante os meses frios explica a maior transmissibilidade de diversos agentes e
uma relação de maior intensidade no inverno, sejam virais ou bacterianos (GONZÁLEZ, 2008).
O inverno acarreta no aumento das doenças respiratórias, como gripes e resfriados,
faringites, otites e pneumonias, da mesma forma aumentam as crises de asma e exacerbam as
DPOCs, acometem, de modo geral, todas as faixas etárias como grupos de maiores vulnerabilidades
– idosos e crianças. As baixas temperaturas e a chegada de massas de ar frio (acompanhando as
frentes frias) propiciam a congestão do nariz e órgãos adjacentes como seios da face e ouvidos,
podendo gerar sintomas típicos dos resfriados, como obstrução nasal, coriza e espirros. O ar frio
também provoca aumento da contração dos vasos brônquicos, causando broncoespasmo e
desencadeando crises nas pessoas portadoras de asma e bronquites (CASTRO, 2008).
De acordo com Moura (2009), os fatores ambientais, como a variável meteorológica da
umidade, exercem papel preponderante no desenvolvimento de asma e outras doenças alérgicas por
influenciar na proliferação de agentes biológicos, ácaros e fungos. Sendo a sobrevivência dos ácaros
dependente dos níveis de umidade absoluta do ar superior a 45% a 20% de umidade média. Alergias
causadas por ácaros têm manifestação mais acentuada nos meses mais frios e úmidos; são
dependentes da idade, da condição de habitação e a quantidade de moradores por domicílio. Os
esporos fúngicos, importantes causadores de alergias, constituem a maior parte dos bioaerossóis,
tem grande variabilidade e são dependentes dos fatores como temperatura, umidade relativa, hora
do dia, velocidade dos ventos e ainda variam conforme as condições de relevo, hidrografia, tipo de
solo e níveis de poluição ambiental de cada região.
Os fatores ambientais e a poluição do ar destacam-se como determinantes do aumento de
casos e da gravidade nas infecções respiratórias agudas (IRA) que, pela mudança brusca de
temperatura, dificulta as correntes do vento e faz precipitar o material particulado das grandes
cidades. A umidade média do ar em torno de 40% é responsável pela proliferação de fungos e
ácaros, agentes etiológicos de grande número de asmáticos, número este que tem aumentado sua
prevalência nos últimos anos. Segundo estudos realizados pela International Study of Asthma and
Allergies em Childhood – ISAAC, 24,3% da população pediátrica brasileira entre 6 e 7 anos
120
apresenta asma ativa e 25,7% rinite. Entre adolescentes de 13 e 14 anos, o percentual médio
encontrado no Brasil foi de 19% para asma ativa e 29,6% para rinite alérgica (CASTRO, 2008).
As pneumonias, como entidade primária ou resultante de muitas outras doenças respiratórias
requer grande relevância na epidemiologia das patologias relacionadas ao aparelho respiratório, haja
vista a alta incidência em que se apresentam, sendo responsáveis por elevado número de internações
no Brasil.
Nos países em desenvolvimento, alguns fatores são identificados com responsáveis por
maior gravidade e mortalidade das pneumonias em crianças, a saber: aglomeração, baixa cobertura
vacinal, baixo nível socioeconômico, baixo peso ao nascer, desmame precoce, desnutrição,
tabagismo domiciliar e, preponderantemente, dificuldade e demora no acesso aos serviços de saúde.
As pneumonias, de origem tanto comunitária como nosocomial, são causadas por microrganismos
aeróbicos gram-positivos, Staphylococcus e Streptococcos pneumoniae (pneumococo), sendo este
último como seu principal responsável, acometendo adultos e crianças. Existe mais de 80 sorotipos
distintos de Streptococcos pneumoniae, e os que mais atingem o homem, causando cerca de 90%
das pneumonias, por ordem de frequência são os tipos 1, 3, 2, 5, 7, 8 e 9. Dentre os quais, os tipos 1,
2 e 3 são responsáveis por 70% dos casos, principalmente o tipo 3 devido sua cápsula
hidrocarbonada o tornar mais virulento, atinge idosos e portadores de doença crônica. Os tipos 1 e 2
atingem jovens e pessoas sadias e os tipos 19 e 23 são os que provocam com maior frequência
pneumonias em crianças (TARANTINO, 2008).
Conclusão
Grande parte das doenças respiratórias têm sua etiologia e acometimento fortemente ligados
a muitos aspectos de ordem biológica, econômica e social, além dos fatores ambientais. As doenças
respiratórias afetam a população em todas as faixas etárias nas mais variadas formas de
manifestação que, por vezes desencadeiam em surtos epidêmicos, constituindo-se num grave
problema de saúde pública e ambiental.
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123
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E MÍDIA: CONFIGURANDO O CIENTIFICISMO AMBIENTAL
Robério Daniel da Silva COUTINHO (PPGCOM/UFPE) - [email protected] (mestrando)
Laudiélcio Ferreira Maciel da SILVA (PPGEDU/UFPE) - [email protected] (mestrando)
Francinete Francis LACERDA (IPA)- [email protected] (profissional)
Rodrigo Correia de LIMA (FCAP/UPE) - [email protected] (mestrando)
Resumo
O trabalho visa mostrar a apropriação da perspectiva cientificista nos discursos das mudanças
climáticas configuradas pelos meios de comunicação social. O estudo aborda o jornalismo numa
epistemologia construtivista e compreende que ele pode contribuir na construção social da realidade
frete a agenda ambiental. Neste viés, as enunciações midiáticas se tornam um relevante instrumento
no processo educacional dos indivíduos em sociedade. Assim, a investigação aponta para a
ampliação da audiência social sobre os fenômenos das mudanças climáticas globais, uma das
agendas da cobertura ambiental da mídia, que tem sido legitimado por discursos técnico-científicos.
Não obstante, revela a pseudoneutralidade dos interesses ideológicos destas enunciações, que, por
conseguinte, tem potencializado a fragmentação da educação ambiental emancipatória a cerca da
conjuntura climática, esvaziando-o das questões política, econômica e social do problema
ambiental, pelo prisma pseudossuperior da ciência.
Palavras-chave: mudanças climáticas, mídia, tecnicista, educação ambiental
Abstract
The work aims at showing the appropriation of the scientistic perspective the discourses of climate
change set by the media. The study focuses on a constructivist epistemology journalism and
understands that he can contribute to the social construction of reality freight environmental agenda.
This bias, the media utterances become an important tool in the educational process of individuals
in society. Thus, the research points to the expansion of hearing about social phenomena of global
climate change, one of the environmental agendas of the media coverage, which has been
legitimized by scientific-technical discourses. Nevertheless, pseudo neutrality reveals the
ideological interests of these utterances, which therefore has enhanced the fragmentation of
environmental education emancipatory about the climate situation, emptying the issues of political,
economic and social environmental problem through the prism of science pseudo top.
Keywords: climate change, media, technicist, environmental education
124
Introdução
As mudanças climáticas (MCs) associadas ao aquecimento global estão se acelerando e seus
impactos já são visíveis sobre os ecossistemas naturais, geleiras, agricultura, recursos hídricos,
zonas costeiras e saúde humana, em escala global. Além disso, surgem novas evidências de
aumento dos desastres naturais associados à intensificação de fenômenos meteorológicos e
climáticos extremos. Assim, os impactos das MCs nas sociedades constituem um dos maiores
desafios que a humanidade já enfrentou. Neste contexto, associada às emissões antrópicas de gases
de efeito estufa na atmosfera, medidas mitigatórias e de adaptação às MCs requerem um
aprofundado conhecimento sobre o funcionamento do sistema terra, nas suas dimensões bio-físicoquímico, mas também em relação às questões econômica, social e política.
Assim, o complexo e específico problema ambiental e as suas consequências à humanidade,
em decorrência das MCs, ultrapassa as questões de um fórum científico especializado por
defensores ou céticos da questão, mas é um assunto de interesse coletivo, público; é um quesito
político na acepção da palavra, na qual demanda um maior (re)conhecimento, interação e
participação da sociedade sobre a abordagem. Esta é a posição da Organização das Nações Unidas
(ONU), que, no relatório do Programa para o Desenvolvimento Humano, classifica o fenômeno
climático como ―um problema único e mais difícil que outros problemas políticos‖ (PNUD,
,
p.V). Assim, as evidências e tendências dos impactos das MCs à humanidade, conforme aponta o
relatório, provoca indissociável reflexão crítica sobre a avaliação da produção noticiosa da temática
na mídia.
No entanto, mesmo diante da complexidade do problema social e ambiental das mudanças
climáticas, a temática que, desde o furacão Catrina nos EUA (2004), e a divulgação do relatório das
mudanças climáticas (AR4), produzidas pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas
(IPCC), ganha maior audiência dos meios de comunicação, tem enquadrado a abordagem numa
dimensão técnico-científica centrado no questionamento sobre a existência do fenômeno do clima.
Assim sendo, entendendo a mídia também como processo de formação educacional, o trabalho
analisa os meios de comunicação como importante instrumento social, que, cotidianamente, tem
agendado e contribuído para legitimar a perspectiva ancorada nas concepções convencionais da
educação ambiental, a qual fragmenta o problema, através da totalização da dimensão cientificista,
encobrindo a complexidade política do fenômeno.
Jornalismo construtivista como prática educacional
O papel central do jornalismo neste trabalho está fundamentado num paradigma
construtivista, por entender que esta perspectiva epistemológica pode aprofundar os estudos na área
125
do jornalismo, esclarecendo ―o papel central e estratégico que este campo desempenha na definição
dos sentidos e ideologias que orientam a ação das pessoas na sociedade contemporânea‖ (VIZEU &
ROCHA, 2012). A investigação por este prisma se faz ainda mais necessária em virtude do
desafiador problema global proveniente das MCs. Assim, é urgente o exercício de um jornalismo
que contribua na transformação da realidade social por meio de uma comunicação ―que tem como
objetivo primeiro a compreensão mútua, o conhecimento compartilhado‖ (EPSTEIN,
p
)
Para isso, é preciso ultrapassar a barreira da concepção de mundo naturalizado com uma
postura crítica em relação ao conhecimento dado, uma vez que a compreensão do mundo, como
conhecemos, é historicamente e culturalmente específica e relativa ―Nossas maneiras atuais de
compreender o mundo são determinadas não pela natureza do mundo em si mesmo: mas pelos
processos sociais‖, salienta Rosalind Gill (
,p
)
Neste viés, a veiculação de notícias por parte da mídia, cumpre uma fusão social superior ao
registro dos fatos, dos acontecimentos, contrariando sua epistemologia tradicional onde jornalismo
é visto como mero espelho da realidade. Por este contexto, a mídia também pode cumprir o papel
educativo, colaborando na construção social da realidade. A posição encontra suporte em Freire
(2006). O autor compreende o campo educacional para além da centralidade da escola, portanto, na
sua visão, outros campos do saber podem cumprir a respectiva função, a exemplo da comunicação.
Neste sentido, os meios de comunicação constituídos por um jornalismo numa perspectiva
construtivista podem contribuir para educação ambiental social mediante a elaboração e divulgação
de matérias sobre a temática ambiental que abordem uma visão de mundo não fragmentado do
problema ambiental que integra as questões social, econômico, político, científico, cultural, entre
outros, ou seja, enquanto tema-gerador do problema, apresentando o foco sobre a causa, a ação
preventiva e o diálogo plural entre os atores envolvidos.
Neste contexto, a televisão, rádio, jornal e a internet podem ser compreendidos como espaço
de troca de saberes, constituindo o presente social, logo, um espaço de aprendizagem, sobretudo,
contemporaneamente, onde a mídia é cada vez mais receptora da audiência social.
A imprensa na transmissão dos conhecimentos
Desde o advento da imprensa, ainda no século XV, elemento constituinte da amplificação do
conhecimento em sociedade, que, ela cumpre uma função superior à ampliação da transmissão,
revelando que realiza mais funções ao socializar conhecimentos para outros ― a importância do
novo meio (imprensa) não se limitou à difusão mais ampla do conhecimento e à publicidade...,
também facilitou a interação entre diferentes conhecimentos‖ (BURKE,
3, p
)
Esta característica revela que a imprensa, produz a interação entre os conhecimentos dos
atores sociais (privado e Estado), por meio da transmissão do conhecimento destes, para toda a
126
sociedade. Entretanto, a operação desta difusão não inclui todos os conhecimentos plurais e
complexos da sociedade, mas, somente, daqueles conhecimentos dos respectivos atores que estão
sendo impressos. Logo, por conseguinte, este mecanismo define o conhecimento que ganha
audiência, daqueles que são fragmentados desta discussão na esfera pública.
A imprensa ―também padronizou o conhecimento ao permitir que pessoas em lugares
diferentes lessem os mesmo textos ou examinassem imagens idênticas‖ (BURKE,
3, p
)
Assim, no ato da ampliação da transmissão, a imprensa além de selecionar a audiência do
conhecimento e autor específico, também nivela o conhecimento social a partir destes
conhecimentos veiculados. Assim sendo, a imprensa, desde sua origem, opera, a partir da seleção da
transmissão do respectivo conhecimento, definindo a base de conhecimento comum a ser
comentado na dimensão social.
Mas, além de selecionar o conhecimento e seus autores que passa a ter maior audiência em
sociedade, e de padronizá-las como base para a discussão pública, a imprensa, desde sua origem,
também produz outras funções a partir da transmissão do conhecimento. Ela ainda ofusca a
totalidade e complexidade da realidade social ― estimula ―o ceticismo
ao permitir que a mesma
pessoa comparasse e contrastasse explicações alternativas e incompatíveis do mesmo fenômeno ou
evento‖ (BURKE,
3, p
)
Levando em conta, que, desde o princípio, a transmissão de conhecimento pela imprensa
parte de uma seleção (dos conhecimentos e de seus autores), a mesma se constitui de escolhas, as
quais estão engendradas da realidade social, ou seja, das suas ideologias hegemônicas, revelando as
tensões sociais em voga. Assim, o respectivo ceticismo frente às dinâmicas dos fenômenos ou
eventos retrata a conjuntura social contemporânea à sua transmissão de conhecimentos.
A imprensa pode contribuir para ofuscar ou revelar a integralidade da realidade social, por
meio da transmissão de conhecimentos. Entretanto, vale ressaltar que ela não está isolada da
sociedade, logo, não tem autonomia na definição da verdade social, mas, é um instrumento
poderosíssimo de ampliação desta, legitimando a verdade parcial dos conhecimentos e autores em
busca da configuração de maior status social.
Assim, levando em conta que integra e tem uma função significativa no macro sistema
social (economia, política, Estado, cultura, trabalho, família), a imprensa pode contribuir para
sedimentar a fragmentação ou integralidade da complexidade das relações sociais. Neste sentido, a
imprensa ética e democrática, pode ser considerada como termômetro do nível de emancipação
social, demonstrando a cidadania e a participação social dos seus atores.
Não obstante, a imprensa, é a base da transmissão ampliada de conhecimentos sociais,
característica de significativa projeção social, cenário que atualmente, tem a companhia de outros
127
meios de comunicação, a exemplo, das mídias eletrônicas (rádio, TV, internet), tornando-se ainda
mais sofisticada as suas funções legitimadoras da realidade social.
A construção social da realidade e a linguagem
O conhecimento e a sua transmissão tem relação direta com a realidade social ―Toda forma
de conhecimento, quer de sentido comum como também científico está conexo estreitamente com o
contexto sociocultural, onde tal conhecimento se desenvolve‖ (CRESPI & FORNARI,
, p
145). Sendo assim, o conhecimento é socialmente e culturalmente construído. Ele é vivo e
dinâmico. Ele é produzido dentro dos próprios contextos vividos em sociedade, inclusive, a própria
criatividade e consciência dos indivíduos são produtos desta relação social cultural e histórica ― as
atividades cognitivas e interpretativas efetivadas pelos atores sociais são constitutivas da própria
realidade social‖ (CRESPI & FORNARI,
,p
)
Dessa forma, o conhecimento está para a realidade social, assim como a realidade social
para o conhecimento Eles não estão relacionados, mas imbricados ― são um processo em que,
desde o início, elementos cognitivos e agir prático aparecem intimamente conexos‖ (CRESPI &
FORNARI, 2000, p. 145). Assim, a realidade social é construída a parte da comunicação dos seus
conhecimentos entre os indivíduos sociais. Esta comunicação institucionaliza os fatos, tornando-se
de autorreferência para os participantes desde processo, que interligam com outros fatos
institucionalizados, referenciados também pela transmissão do conhecimento.
―A construção da realidade social aparece, portanto, como resultado de contínuos
processos de criação, produção e reprodução de fatos institucionais, que subsistem
com base nas crenças (fatos institucionalizados) e na intencionalidade coletiva, bem
como na efetiva observância prática das regras que os constituem‖ (CRESPI &
FORNARI, 2000, p. 145).
A linguagem, portanto, é por excelência, o fio condutor desde processo desencadeador da
realidade social. Por ela se atribui as funções dos indivíduos em sociedade, bem como a
constituição de regras. Dessa maneira, é por meio das palavras em que se revelam e exprimem as
ideias dos indivíduos para a constituição da respectiva realidade social.
Para Thompson (
), estudioso da ciência das ideias, a ideia (ideologia) é ―o emprego (a
prática) de formas simbólicas para criar e reproduzir relações de dominação‖ Portanto, através da
linguagem, ―a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é
absorvida por sua função de signo‖ (BAKHTIN
,p3 )
Assim sendo, a palavra, portanto, é por excelência um signo ideológico e cumpre sua função
ideológica quando exercida. Neste viés, uma vez que a existência de todo e qualquer signo está
materializado na sua comunicação, os fenômenos ideológicos estão associados à comunicação
128
social e, tais fenômenos, conforme classificou Thompson (1995), operam por diversas estratégias:
legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação.
Dessa maneira, eles estão presentes nos meios de comunicação sociais. Entretanto, esta
reprodução ideológica é feita pela mídia de forma bastante sofisticada, pois ela agenda, enquadra e
contextualiza cotidianamente temáticas na discussão da esfera pública. Neste contexto, a mídia pode
contribuir para construção da realidade sobre qualquer tema no pertencimento social, inclusive, a
agenda ambiental, configurando a compreensão sobre a educação ambiental e a reposta frente aos
problemas, como no caso das mudanças climáticas.
Jornalista e o cientificismo das mudanças climáticas
A mídia é atualmente a nova esfera pública de debates. O mundo vive o fenômeno da
―sociedade midiatizada‖ Sendo assim, a ágora agora é o espaço público da mídia que contribui
diariamente para a construção do real, por meio da representação social (BERGER E
LUCKMANN, 2011). Portanto, ela torna-se o local ideal para fazer o debate ambiental. E esta
representação social é fomentada através da interlocução com aspectos culturais e valorativos, que
são inseridos para o diálogo sistemático da sociedade (GUARESCHI, 2002; 2004).
Assim sendo, o jornalismo tem esta dimensão de educação ambiental e seu alcance social é
amplificado por meio de sua esfera midiática. É bem verdade que é remota a possibilidade de
alguma temática entrar na arena do discurso público sem a colaboração da mídia. Para Hannigan
(2010, p.121), é crucial a visibilidade da mídia para fazer um assunto entrar no debate da esfera
pública ou se tornar do processo político.
O fato é que a publicação de notícias é indispensável para poder cumprir o papel de informar
a opinião pública, mas também para fomentar a sociedade para a necessidade de acumular, repensar
e realizar novas práticas sociais com relação à questão da sustentabilidade ―Para passar os
problemas ambientais da condição de questão para uma política pública, a visibilidade da mídia é
crucial‖ (HANNIGAN,
)
A noticiabilidade da agenda ambiental, em destaca sobre as mudanças climáticas,
consequentemente, amplia do conhecimento da sociedade sobre o fenômeno, condição fundamental
para o advento de mobilizações sociais e implementações políticas frente ao problema. No entanto,
quando a cobertura é carregada de cientificismo e tecnicismo, esvaziando de sentido o conteúdo
sobre as questões políticas da temática, a mídia produz um efeito contrário A mídia serve ―como
instrumento ideológico para prestidigitar os poderosos interesses particulares das corporações nesta
área como expressão do bem comum‖ (COUTINHO ET AL ,
,p )
129
Entretanto, como observamos anteriormente, é reducionista depositar exclusivamente aos
meios de comunicação, seja por intenção, ou omissão dos mesmos, total autonomia social. Os meios
de comunicação integram a sociedade, não o inverso, assim, a mídia representa os interesses
ideológicos da mesma, permeada em sua trama social. O processo produtivo da notícia possui
sofisticados mecanismos de seleção ao fechamento de sua composição, capaz de reduzir a
complexidade da realidade.
No entanto, mesmo assim, dentro deste processo, pode a mídia privilegiar ainda mais a
fragmentação da realidade social, produzindo pautas esvaziadas de conteúdo social, econômico e
políticos específicos no pano de fundo cultural da sociedade em disputa. Neste contexto,
justamente, é quando a ciência veste a ―áurea‖ da neutralidade ou avaloratividade, classificando-a
como isenta dos interesses humanos; acima do bem ou do mal.
No entanto, conforme revela Brugger (
, p
), ―é possível hoje, mas do que nunca,
ocultar sob a fachada de um saber técnico uma decisão na verdade política‖ Neste sentido, a ciência
encontra abrigo na ideologia. O autor compreende que a comunicação desse cientificismo tem
finalidade planejada ―
o universo da locução técnica serve para reproduzir e legitimar o status
quo e repelir alternativas que porventura se coloquem contra ele‖ (ibidem)
Esta é a realidade da comunicação midiática das mudanças climáticas, que, conforme
denuncia o PNUD (
) existe uma ―complicada atenção dada pela mídia a projetos minoritários
que não condizem com os consensos científicos internacionais que comprovam as MCs‖
(COUTINHO et al., 2012). O autor conta que o PNUD chega a afirmar que muitos dos
posicionamentos céticos sobre a existência das mudanças climáticas que ganham repercussão nos
meios de comunicação mundial, são patrocinados por grupos de interesses específicos na sociedade.
Conforme aponta o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, organismo de
cientistas da ONU, todas as evidências demonstram que a principal causa das MCs é a emissão dos
gases de efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono oriundo da queima de combustíveis fósseis.
Se a emissão se mantiver ou aumentar, os próximos anos serão ainda mais quentes e as alterações
climáticas ainda mais drásticas. Todas as regiões do planeta sofrerão com seus impactos, que
variarão tanto em forma como em intensidade. Poderá haver comprometimento do acesso à água
potável, diminuição da oferta de alimentos ou efeitos nocivos à saúde humana. A economia global e
a sociedade enfrentarão sérias ameaças, caso não tomem providências (IPCC AR4, 2007 & STEN,
2006). Esse cenário apresenta difíceis escolhas para governantes, corporações econômicas e
populações do mundo.
No entanto, mesmo diante da constatação científica do IPCC-ONU, as MCs ainda são
questionadas por algumas corporações científicas e acadêmicas. Para os céticos, as evidências
científicas mostram, inclusive, que, ao invés de aquecimento das temperaturas, haverá um
130
resfriamento global, com mais invernos rigorosos e má distribuição de chuvas. ―Os modelos
matemáticos do aquecimento global são meros exercícios acadêmicos‖ (MOLION,
) Porém,
estas críticas não são aceitas pelas ONU. Até aí não há nada de errado na crítica, pelo contrário, é
válida porque o contraditório é imprescindível à investigação científica. Entretanto, o incomum em
questão é a grande atenção que a respectiva posição recebe da mídia mundial. O critério de
imparcialidade e neutralidade pode em primeiro olhar questionar o posicionamento como arbitrário,
porém, estes critérios jornalísticos não são tão usuais às minorias quando contrárias aos interesses
corporativos econômicos e políticos hegemônicos.
Não obstante, o ponto nefrálgico dessa polarização midiática é o encobrimento do debate
necessário e urgente sobre os impactos socioeconômicos do fenômeno para a sociedade. Assim, a
questão central da discórdia, pelo menos divulgado amplamente na esfera midiática, refere-se
prioritariamente à existência das MCs, deixando em segundo plano o debate sobre as consequências
do fenômeno para a população, pelo menos até enquanto não se resolve a veracidade dele.
Consequentemente, a gravidade do fenômeno é esvaziada de sentido social, enfraquecendo a
conscientização e pressões sociais necessárias frente à responsabilidade dos governos e corporações
para a manutenção da ordem social diante do problema.
Comunicando para uma educação emancipatória
Antes de tecer as considerações finais frente à problemática comunicação cientificistas das
mudanças climáticas pela mídia, é oportuno ratificar que, por meio do agendamento,
enquadramentos e contextualizações das notícias, os meios de comunicação social podem
fragmentar ou revelar a complexidade deste problema ambiental, logo, pode contribuir para uma
conscientização parcial ou integral da temática. Por conseguinte, o jornalismo pode contribuir para
o avanço ou para a manutenção dos problemas ambientais através transmissão ampla ou unilateral
da temática às audiências respectivamente, favorecendo a compreensão ou confusão social,
politizando ou despolitizando a sociedade sobre o assunto.
Nesta perspectiva, fazendo o diálogo da comunicação com a educação, entendendo esta não
pela centralidade da escola, mas pela contribuição no processo educacional das visões de mundo,
conforme revelou Freire (2006), o papel da escola na sociedade, logo também da comunicação, tem
a função de contribuir para o sujeito fazer a ―leitura de mundo‖, de forma ―contextualizada‖,
―esperançosa‖ e ―transformadora‖ No entanto, esta leitura se faz através do diálogo, fator
indispensável à construção do conhecimento. Assim, é por meio do diálogo que se transforma ou
perpetua as relações sociais e o poder delas. Logo, esta condição fortalece ainda mais o poder da
131
mídia na atual configuração social, uma vez que a enunciação é justamente seu instrumento
constituinte.
Sendo assim, para cumprir uma função educacional crítica frente aos problemas ambientais
decorrentes das mudanças climáticas, a comunicação precisa superar a despolitização das
enunciações sobre a temática, na qual encontra abrigo apenas no cientificismo de seu agendamento,
contextualizações e enquadramentos. O desdobramento dessas matérias e reportagens através da
interação das pessoas em sociedade precisa subsidiar a temática da crise ambiental contemporânea,
e, para tal finalidade, é preciso ultrapassar a visão de mundo unilateral das problemáticas deste
campo.
Neste sentido, a comunicação ambiental precisa ser constituída a partir de uma concepção
crítica capaz de produzir reflexões e ações emancipatórias, promovendo uma conscientização nos
indivíduos em coletividade aonde associa as noções de mudança social e cultural, de emancipaçãolibertação individual e social e de integração no sentido de complexidade da realidade social. Esta
posição encontra abrigo em Lima (2004) ao criticar a visão unilateral das vertentes conservadoras
de educação ambiental quando insistem em fragmentar a realidade e explicar sua totalidade através
de uma de suas partes.
Para o autor, dentre as concepções conversadoras, a abordagem tecnocientífica é uma das
que promove a redução da crítica ―Essa leitura da realidade, por se apoiar no saber da ciência que é
reconhecido como o saber socialmente dominante, se reveste de um poder especial e aparece como
argumento neutro, objetivo e portador de uma autoridade que o imuniza a qualquer
questionamento‖ (
,
)
Este é o caso da comunicação midiática das mudanças climáticas, conforme denunciou
COUTINHO et al. (
,p
): ―Neste sentido, deixar de mostrar a existência das MCs (critério
somente técnico-científico) pode conotar que elas não existem, portanto, não serão tomadas as
devidas medidas de adaptações e mitigações do fenômeno para as populações do mundo‖ A mídia
tem o poder de agendar a discussão social (TRAQUINA,
to face‖ (BERGER & LUCKMANN,
) e a comunicação não é mais ―face
) O repertório cultural de visão de mundo da sociedade
passa a existir só pelo que é visto, ou lido, portanto, pelo o que a mídia ressalta. Sendo assim, é
fundamental destacar a existência das MCs na mídia, e, consequentemente, mostrar as tensões
sociais que se dão neste processo de interação social, por meio da ciência, mas também pelo viés
econômico, ambiental e político.
Numa sociedade democrática, a mídia é justamente a instância que luta pela cidadania ―Ela
é o porta-voz dos seus membros na construção de uma sociedade que se quer: os meios de
comunicação são a nova ágora, imprescindível numa democracia e fundamental para a cidadania‖
(GUARESCHI, 2004). Portanto, estabelecer para mídia o papel de estimular uma consciência mais
132
cidadã diante do problema das MCs, logo, uma função educacional, e de seus impactos no planeta,
não se trata de ideologia. Os meios de comunicação são hoje responsáveis pelo planejamento e
participação política da sociedade. Esta é a função social da mídia, enquanto renegar a respectiva
tarefa, esta sim, é pura ideologia. Neste sentido, evidencia-se a mais perversa das consequências de
uma comunicação descomprometida socialmente, uma vez que a ideologia não é nada subjetiva,
pelo contrário, ela tem efeito objetivo e real, que pode ajudar a consolidação na construção social de
um projeto que possui a visão de mundo de setores específicos (dominantes) em detrimento a
outros.
Assim, finalizamos, mas sem esgotar o debate aqui, porém, ratificando que a prática ideal da
comunicação das MCs, bem como qualquer outra agenda ambiental, contribuindo para a formação
cidadã (educação), faz-se necessária através de uma praxe jornalística que contribua para revelar as
tensões e visões de mundo como constitutivas do processo cotidiano de construção social da
realidade, concebendo o consenso social como fator de emancipação dos sujeitos através da
conscientização e solução dos problemas conforme a pragmática construtivista contida na Teoria do
Agir Comunicativo (HABERMAS, 1989).
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134
AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA
Valdir Cesarino de SOUZA
Doutorando em Recursos Naturais (UFCG), Médico, Bacharel em Aviação Civil. E-mail:
[email protected]
Sandra Sereide Ferreira da SILVA
Doutoranda em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected]
José Romero Rodrigues de ANDRADE
Mestre em Recursos Naturais (UFCG). E-mail: [email protected]
Audy Nunes BEZERRA FILHO
Médico (UFCG) E-mail: [email protected]
RESUMO
O início do Século XXI tem sido marcado por discussões expressivas sobre as mudanças climáticas,
suas origens e suas implicações sobre a biodiversidade. Estudos recentes apontam para a percepção
emblemática da relação entre as variáveis atmosféricas e a saúde dos seres humanos, sinalizando
para a necessidade de se ampliar o entendimento das especificidades dessa relação para que
medidas de mitigações que envolvam o uso de informações de tempo e clima possam ser adotadas
pelos serviços de saúde pública e pela população em geral. Em face desse pressuposto, este estudo
tem como objetivo principal mapear questões pontuais acerca da interconexão meio ambiente,
mudanças climáticas e suas implicações na saúde humana. Como resultados permite-se afirmar que
o aquecimento global é possivelmente o desafio mais expressivo do Século XXI que há muito já faz
perceber seus efeitos, sendo um deles os impactos do clima sobre a saúde humana. Em virtude
disso, acredita-se que os problemas de saúde humana associados às mudanças climáticas não têm
sua origem necessariamente nas alterações climáticas. Isto porque, a população humana sob
influência das mudanças climáticas apresentará as implicações, de procedência multicausal, de
maneira acentuada ou intensificada. Inúmeras têm sido as pesquisas tendo como direcionamento as
questões de saúde pública, relacionando-as com as mudanças climáticas. Entretanto, essas pesquisas
na maioria das vezes chamam a atenção para fatores relacionados às alterações climáticas que
comprometem a saúde das pessoas, porém não são desenvolvidas objetivando atender esse sentido.
Palavras – Chaves: Mudanças Climáticas. Aquecimento Global. Saúde Humana.
ABSTRACT
The beginning of the XXI century has been marked by significant discussions about climate
change, its origins and its implications on biodiversity. Recent studies point to the perception
emblematic of the relationship between atmospheric variables and health of humans, signaling the
need to broaden the understanding of the specifics of this relationship so that mitigation measures
involving the use of weather and climate information can be adopted by public health services and
the general population. Given this assumption, this study's main objective is to map specific
questions about the interconnection environment, climate change and its implications on human
health. The results allow to assert that global warming is possibly the most significant challenge of
the twenty-first century that long already does realize its effects, one of the impacts of climate on
human health. As a result, it is believed that human health problems associated with climate change
do not necessarily have their origin in climate change. This is because the human population under
the influence of climate change will present the implications of multicausal origin, or sharply
135
intensified. Numerous researches have been having as targeting the public health issues, relating
them to climate change. However, these studies mostly call attention to climate change related
factors that affect people's health, but are not developed aiming to meet this end.
Key - Words: Climate Change. Global Warming. Human Health
INTRODUÇÃO
A intensificação das mudanças climáticas mapeadas na Era Moderna, suas causas e
consequências têm ganhado cada vez mais importância e têm despertado a atenção de todo o
mundo, delineando por sua vez o discurso climático-meteorológico-ambiental e se impõem
definitivamente na pauta da geopolítica internacional do presente e do futuro. Um consenso
internacional, ainda que pontuado por algumas acepções dissonantes, formado acerca das previsões
para a intensificação do aquecimento climático planetário no Século XXI aponta para a inserção de
cenários complicados para os ecossistemas, o meio ambiente e a vida dos seres humanos.
Mapeando-se o clima da Terra desde os primórdios dos tempos, constata-se que este sempre
esteve dependente de alterações ocasionadas por ciclos longos ou curtos, catalogados ao longo dos
anos pela história da humanidade. Na Idade Média, houve períodos de aquecimento acompanhado
por períodos de esfriamento, que ficou conhecimento como a Era do Gelo, a qual acarretou muitas
migrações humanas devidas, em especial, a fenômenos climáticos, como por exemplo, as ―invasões
bárbaras‖ de povos do norte em direção ao sul da Europa, como também a entrada de asiáticos no
continente americano pelo Estreito de Bhering. A origem desses ciclos é elucidada pela ciência
como procedentes de métodos naturais, acoplados a mudanças no eixo de rotação da terra,
explosões solares e disseminação de aerossóis lançados por vulcões.
Assim, no decorrer dos anos, diversos outros fenômenos climáticos fixados no espaço e mais
concentrados no tempo, têm sido muito frequentes, dentre os quais, furacões, enchentes oriundas de
chuvas intensas, ondas de calor, entre outros. Esses fenômenos até o Século XX foram apreciados
como mostra da ―natureza‖, ou concepção aristotélica, não podendo ser previstos, controlados ou
mitigados. De maneira recente, outros fenômenos também foram cominados como mudanças
climáticas globais.
Contudo, o despertar mundial para as mudanças climáticas, ocasionadas, especialmente pelo
aquecimento global provocado pela ação antrópica, somente teve início na década de 1950.
Entretanto, a partir dos anos de 1980, foi que se intensificou a preocupação da comunidade
científica com as questões ambientais, bem como o impacto de suas implicações sobre os
ecossistemas, resultando nos anos de 1990 no desenvolvimento de modelos que possibilitaram, de
uma forma explicar a variabilidade climática ocorrida ao longo do Século, e, de outra maneira
136
avaliar o aporte de elementos naturais (vulcões, alterações da órbita da Terra, explosões solares,
dentre outras) e antropogênicas (as oriundas da emissão de gases do efeito estufa, desmatamento e
queimadas, destruição de ecossistemas naturais, etc.) sobre essas alterações.
Um marco importante nesse contexto foi o primeiro relatório global a respeito das mudanças
climáticas e implicações na saúde. Publicado pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 1990,
teve importante destaque durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CNUMAD. Nessa mesma conferência também foi instalada a convenção sobre
mudanças climáticas, contíguas com as convenções sobre diversidade biológica e a desertificação.
Nos últimos anos, tem-se observado que a finalidade do enfoque saúde tem saído de sua
concepção clássica e sistematicamente incorporado uma abordagem climática ambiental, que visa
não só a promover a saúde do homem, mas, também, o entendimento conjunto dessa nova
abordagem. Confirmando essa constatação McMichael (2003) afirma que a avaliação dos efeitos
sobre a saúde humana relacionados com os impactos climáticos é consideravelmente complexa e
demanda uma avaliação conjunta e interdisciplinar dos profissionais de saúde, climatologia, dentre
outros, para que possam ser analisadas as diversas relações entre os sistemas sociais, econômicos,
ecológicos, físicos bem como suas afinidades com as alterações climáticas.
Em face desse pressuposto, este estudo tem como objetivo principal mapear questões
pontuais acerca da interconexão meio ambiente, mudanças climáticas e suas implicações na saúde
humana. Além deste item introdutório, o artigo aborda as principais bases conceituais acerca da
temática em epígrafe, os resultados mapeados, bem como as considerações finais deste estudo.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE
O início do Século XXI tem sido marcado por discussões expressivas sobre as mudanças
climáticas, suas origens e suas implicações sobre a biodiversidade. Estudos recentes apontam para a
percepção emblemática da relação entre as variáveis atmosféricas e a saúde dos seres humanos,
sinalizando para a necessidade de se ampliar o entendimento das especificidades dessa relação para
que medidas de mitigações que envolvam o uso de informações de tempo e clima possam ser
adotadas pelos serviços de saúde pública e pela população em geral, já que os efeitos das condições
atmosféricas, como as flutuações lentas do clima, que ocasionam migrações, os extremos dos
tempos sazonais, que causam a fome, e os vários desastres, que levam à morte e à destruição podem
ser considerados fenômenos de magnitude mundial.
Eerola (2003) elucidando esse enfoque afirma que durante os 4,5 bilhões de anos da Terra,
aconteceram infinitas mudanças climáticas tidas como radicais e caracterizadas por intensos
períodos de clima estável, sucedidos por glaciações acompanhados por efeito-estufa. Contudo, em
se tratando dos dois últimos séculos, os debates científicos têm acontecido especialmente
137
relacionados à tese de que a intensificação do efeito estufa planetário está diretamente ligado ao
padrão de produção e consumo da sociedade moderna, isto porque a elevação dos gases de
aquecimento na alta troposfera, dinamizadas frente às atividades humanas e associadas, sobretudo à
destruição da camada de ozônio estratosférico é que estariam provocando uma importante alteração
da composição atmosférica e do mecanismo dos gases da mesma. Essa modificação, segundo
Mendonça (2003) resultaria num aquecimento do ar cujas previsões mais apavorantes corroboram
para uma temperatura média do planeta na ordem de 3,5 °C a 6 °C por volta do ano de 2100, mais
elevada que a média do presente, que é de cerca de 16,5 °C.
Na divulgação do seu último relatório em 2007, o IPCC enfatizou alguns dos efeitos do
aquecimento global, dentre os quais que: até o fim deste século, a temperatura média da Terra pode
subir de 1,8 ºC até 4º C. Na pior das previsões, essa alta pode chegar a 6,4° C; o nível dos oceanos
vai aumentar de 18 a 59 centímetros até 2100; As chuvas devem aumentar em cerca de 20%; o gelo
do Pólo Norte poderá ser completamente derretido no verão, por volta de 2100; o aquecimento da
Terra não será homogêneo e será mais sentido nos continentes que no oceano e o hemisfério norte
será mais afetado que o sul.
Essas previsões são decorrências de modelos de simulação que vêm sendo aperfeiçoados por
distintas instituições do mundo. No Brasil, destaca-se o papel do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), especialmente o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) no
monitoramento e desenvolvimento de Modelos Globais Atmosféricos (GCMs) e Modelos Globais
Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs) para a previsão de mudanças climáticas (MARENGO,
2007). Contudo, deve-se advertir que estes modelos são sensíveis a condições de cobertura como os
cenários de emissão de gases e à condição e alcance de dados meteorológicos.
No decorrer dos anos, três importantes Conferências instituíram os fundamentos conceituais
e políticas contemporâneas de promoção da saúde, sendo elas: OTTAWA - 1986, ADELAIDE 1988 e SUNDSVAL em 1991. Conforme a Carta de Ottawa, a promoção da saúde é um processo,
através do qual a população se certifica e busca os meios para conseguir controlar os fatores que
beneficiam seu bem-estar e os da comunidade, ou que a podem estar colocando-os em risco,
tornado-a vulnerável ao adoecimento e prejudicando sua qualidade de vida. Além disso, enumera
cinco áreas prioritárias de ação: elaboração de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes
favoráveis; fortalecimento da ação comunitária; desenvolvimento de habilidades pessoais e
mudanças nos estilos de vida; e reorientação dos serviços de saúde (BUSS, 2003).
Além da abordagem de elementos imprescindíveis à impulsão de novas premissas
orientadoras da práxis em saúde, percebe-se também a busca do estabelecimento de uma interface
com a questão ambiental e a valorização da sua importância para a saúde, a partir da definição de
uma área prioritária relacionada à criação de ambientes saudáveis (CAMPONOGARA, 2012).
138
No que se refere a III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em
SUNDSVALL, na Suécia, em 1991, a questão foi estabelecida, do ponto de vista da
interdependência entre saúde e ambiente em todos os seus aspectos, não somente físico, mas
também social, econômico, político, cultural. A criação de ambientes adequados à saúde alude
reconhecer a complexidade das sociedades e as relações de interdependência entre múltiplos
setores, passando pela proteção do meio ambiente e o acompanhamento do impacto que as
mudanças no meio ambiente causam sobre a saúde, a ter maior ênfase na agenda da saúde (BUSS,
2003).
Sendo assim, o setor saúde necessita adotar algumas medidas e interferência de ―ajuste‖,
para amortizar ao máximo os impactos via mudanças climáticas, que de diferente modo serão
inevitáveis. Essa adequação deve principiar por: discussões intersetoriais, investimento estratégico
em programas de assistência a saúde para populações ameaçadas pelas transformações climáticas e
ambientais, como princípios de precaução de doenças transmitidas por vetores, fornecimento de
água e saneamento, bem como a redução do impacto de desastres.
RESULTADOS
Muitas são as vias pelas quais as mudanças climáticas podem causar impactos sobre a saúde
humana. De forma direta, os impactos configuram-se nas ondas de calor, ou mortes causadas por
outros eventos extremos como furacões e inundações. Já de maneira indireta os impactos são
mediados por alterações no ambiente como as alterações de ecossistemas e de ciclos
biogeoquímicos, que podem aumentar a incidência de doenças infecciosas. Entretanto, ressalte-se
que nem todos os impactos sobre a saúde humana são negativos. Por exemplo, a alta taxa na
mortalidade que acontece nos invernos poderia ser diminuída com o aumento das temperaturas.
Também o aumento de áreas e períodos secos pode enfraquecer a propagação de alguns vetores.
Contudo, em geral, considere-se que os impactos negativos são mais intensos que os positivos.
No caso dos fenômenos de seca, conforme Confalonieri et al. (2002), a saúde da população é
afetada primeiramente pela condição de fome epidêmica, que induz a um sistema imunológico
debilitado, à migração e a problemas sócio-econômicos, todos ocasionando um risco acrescido de
infecção. Os problemas de saúde exercerão influência na infra-estrutura de saúde pública,
provocando superlotação de serviços, contribuindo para um mau atendimento IPCC (2007).
Estudo realizado por McMichael (2003) demonstrou que o aquecimento global pode ter
influências diretas sobre a morbidade e mortalidade, através da produção de desastres como
enchentes, ondas de calor, secas e queimadas. A onda de calor que abrangeu a Europa Ocidental no
verão de 2003 causou cerca de 12.000 óbitos na França. Porém, nesse e em múltiplos outros
episódios, o clima e os eventos extremos não podem ser culpados pelos agravos à saúde.
139
Implicaram sobre os resultados a insuficiência do setor saúde de lidar com situações de emergência
e as intensas heterogeneidades sociais, mesmo em países centrais com grande tradição de políticas
de bem-estar social.
As flutuações climáticas sazonais provocam efeito na dinâmica das doenças vetoriais como,
por exemplo, a maior incidência de dengue no verão e de malária na Amazônia durante o período de
estiagem. Assim, os eventos extremos introduzem importante flutuação que podem mascarar à
dinâmica das doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenças
diarréicas, etc. Essas doenças podem se agravar com as enchentes ou secas que interferem na
qualidade e no acesso à água. Da mesma forma, as doenças respiratórias são provocadas também
por queimadas e pelos efeitos de inversões térmicas que concentram a poluição, impactando
diretamente na qualidade do ar, sobretudo nas áreas urbanas. Analogamente, situações de
desnutrição podem ser provocadas por perdas na agricultura, especialmente a de subsistência, em
face das geadas, vendavais, secas e cheias abruptas. Assim, percebe-se que a diferença de respostas
humanas associadas às mudanças climáticas parece estar inteiramente relacionada às questões de
vulnerabilidade individual e coletiva.
Martins et al. (2004) afirmam que variáveis como idade, perfil de saúde, resiliência
fisiológica e condições sociais contribuem diretamente para as respostas humanas relacionadas às
variáveis climáticas. Segundo o IPCC (2007) e McMichael (apud BRASIL, 2008) alguns estudos
apontam que fatores que aumentam a vulnerabilidade dos problemas climáticos são uma
combinação das variáveis crescimento populacional, pobreza e degradação ambiental. As alterações
de temperatura, umidade e o regime de chuvas podem aumentar os efeitos das doenças respiratórias,
assim como alterar as condições de exposição aos poluentes atmosféricos.
No entendimento de Moreno (2006) a qualidade atmosférica pode influenciar a condução de
microorganismos, bem como de poluentes advindos de fontes fixas e instáveis. Nesse contexto, as
implicações das mudanças climáticas podem ser potencializadas, estando sujeitas às condições
físicas e químicas dos poluentes climáticas como temperatura, umidade e precipitação. Essas
características determinam o tempo de residência dos poluentes na atmosfera, possibilitando ser
transportados a longas distâncias em condições favoráveis de altas temperaturas e baixa umidade.
Esses poluentes somados às condições climáticas podem comprometer a saúde de populações
longínquas das fontes causadoras de poluição. Ainda assim, em áreas urbanas algumas
consequências da exposição a poluentes atmosféricos são potencializados quando incidem
alterações climáticas, sobretudo as inversões térmicas. Isto se averigua em relação a doenças como
asma, alergias, infecções bronco-pulmonares e infecções das vias aéreas superiores (sinusite),
especialmente nos grupos mais susceptíveis, que compreendem as crianças menores de cinco anos e
140
indivíduos a cima de 65 anos de idade, motivo pelo qual as implicações da poluição atmosférica na
saúde humana têm sido vastamente estudadas em todo o mundo.
Brasil (2008) esclarece que estudos epidemiológicos comprovam um incremento de risco
associado às doenças respiratórias e cardiovasculares, assim como da mortalidade geral e específica
associadas à exposição a poluentes presentes na atmosfera. Conforme dados da OMS, 50% das
doenças respiratórias crônicas e 60% das doenças respiratórias agudas estão relacionadas à
exposição a poluentes atmosféricos. A maioria dos estudos agregando os coeficientes de poluição
do ar com resultância na saúde foi desenvolvida em áreas metropolitanas, abarcando as grandes
capitais da Região Sudeste do Brasil, e apontam associação da carga de morbimortalidade por
doenças respiratórias, com acréscimo de poluentes atmosféricos, notadamente, de material
particulado (SALDIVA et al., 1994; GOUVEIA et al., 2006).
Pitton e Domingos (2004) asseguram que os parâmetros climáticos temperatura do ar,
umidade, precipitação, pressão atmosférica e ventos afetam a saúde humana de forma direta
(sensação de conforto, mortalidade e morbidade por doenças sistêmicas) e indireta (doenças
infecciosas transportadas por vetores – ar, água, solo e alimentos), pois o corpo humano está em
permanente contato com seu meio ambiente atmosférico pelo intermédio de trocas térmicas,
hídricas e gasosas. A revisão da literatura mostra os possíveis efeitos maléficos de certos fatores
climáticos nas condições respiratórias, nas doenças reumáticas, câncer de pele e distúrbios
cardiovasculares.
De acordo com o United States Environmental Protection Agency - EPA. (2007) alguns
estudos comprovam que a relação entre altas temperaturas e elevadas concentrações de poluentes
atmosféricos suscita maiores números de hospitalizações, bem como atendimento de emergência,
consumo de medicamentos e taxas de mortalidade. A associação entre poluição e clima também
deve ser apreciada como fator de risco para as doenças do coração, seja como sequela de stress
oxidativo, infecções respiratórias ou alterações hemodinâmicas (ZAMORANO et al., 2003;
UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE, 2007).
Mesmo assim, as implicações do clima e do tempo atmosférico sobre a saúde humana ainda
não são bem entendidos. Contudo, há uma quantidade estimável de estudos que corroboraram que
as mudanças climáticas cíclicas influenciam os ritmos biológicos, os quais interferem em todas as
atividades e funções humanas, é o que Besancenot (1997) define como Climatossensibilidade. Esse
termo indica as influências que as condições climáticas desempenham sobre um determinado
número de indivíduos vulneráveis à ação de seus elementos no interior de um mesmo grupo.
A despeito de o corpo humano possuir um sistema (homeotermia) que regula e mantém o
equilíbrio térmico, situações extremas de calor no verão e de frio no inverno podem exercer impacto
sobre diversas categorias de enfermidade cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias. Os
141
efeitos podem ser sentidos em pessoas predispostas, tais como as idosas, as crianças e as portadoras
de doenças crônicas, os indivíduos com boa saúde suportam com facilidade a estas situações de
estresse térmico, a tensão arterial diminui no verão e aumenta no inverno, favorecendo ataques do
coração e derrames cerebrais.
Quanto ao metabolismo celular e a atividade muscular, estes são mais acentuados no
inverno, ocasionando uma sobrecarga no coração, pois passa a trabalhar mais. Assim, o trabalho do
músculo cardíaco é mais eficiente no verão e nas regiões tropicais e menores no inverno e nas
regiões frias, especialmente, nas ciclônicas, onde o metabolismo é alto. O calor desafoga os vasos
sanguíneos e melhora a atividade do coração, enquanto as quedas bruscas de temperatura provocam
a vasoconstricção, sobrecarrega os vasos e o coração, aumentando a tensão arterial, o pH do sangue
e a taxa de açúcar (SERRA, 2002).
Situações extremas, como ondas de calor no verão e de frio no inverno, afetam a saúde e o
bem-estar de diversas formas. A combinação de temperaturas baixas e vento podem fazer com que a
temperatura do ar seja significativamente mais fria, podendo conduzir mais facilmente à hipotermia
(temperatura corporal abaixo de 35 ºC), que é produzido pelo estresse e frio excessivo. Neste caso o
cérebro perde a capacidade de regular a temperatura corporal. A frequência cardíaca cai, a
respiração fica mais lenta e os vasos se contraem, aumentando a pressão sanguínea, podendo
ocorrer perda de consciência (desmaio), congelamento das extremidades infarto agudo do miocárdio
e parada cardíaca. A hipertermia, oposto da hipotermia, é resultante do estresse de calor excessivo
(temperatura corporal acima de 40 ºC). (SERRA, 2002).
Os primeiros sinais da hipertermia são: irritabilidade, dor de cabeça e tontura. Depois pode
haver confusão mental e perda de coordenação motora. Devido à desidratação, o sangue fica mais
viscoso, aumentando a possibilidade de derrame e infarto agudo do miocárdio. A 41,5 ºC já há
danos cerebrais e pode conduzir o indivíduo ao óbito. O processo que conduz à morte devido ao
calor excessivo é mais acelerado entre aqueles com problemas cardiovasculares, respiratórios ou
com doenças mais graves.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aquecimento global é possivelmente o desafio mais expressivo do Século XXI que há
muito já faz perceber seus efeitos, sendo um deles os impactos do clima sobre a saúde humana. Em
virtude disso, acredita-se que os problemas de saúde humana associados às mudanças climáticas
não têm sua origem necessariamente nas alterações climáticas. Isto porque, a população humana
sob influência das mudanças climáticas apresentará as implicações, de procedência multicausal, de
maneira acentuada ou intensificada. Inúmeras têm sido as pesquisas tendo como direcionamento as
questões de saúde pública, relacionando-as com as mudanças climáticas. Entretanto, essas pesquisas
142
na maioria das vezes chamam a atenção para fatores relacionados às alterações climáticas que
comprometem a saúde das pessoas, porém não são desenvolvidas objetivando atender esse sentido.
Nesse sentido, torna-se importante o estabelecimento de critérios de qualidade ambiental
dependentes, em parte, da mensuração das suas implicações sobre os sistemas biológicos, em
particular, sobre a saúde e a sobrevivência humana. Para tanto, são critérios essenciais: a construção
de modelos conceituais adequados para se abordar cientificamente os processos das mudanças
ambientais globais, incluindo-se os impactos na saúde da coletividade; inclusão das mudanças
ambientais globais na agenda científica e institucional, notadamente no campo das ciências da
Saúde-Pública; buscando modelos de desenvolvimento compatíveis com a sustentabilidade
econômica e ambiental, em longo prazo; criação de mecanismos que interrompam ou minimizem a
perda exponencial da biodiversidade, garantindo a prestação dos serviços pelos ecossistemas
íntegros; bem como a sensibilização das pessoas para a constatação de que todos os recursos
naturais renováveis não são infinitos.
Diante desse enfoque, a compreensão das relações entre saúde e meio ambiente traz um
importante desafio para os pesquisadores em saúde pública visto que, para que esses critérios sejam
alcançados, a transposição de limites disciplinares tradicionais deverá acontecer. A Saúde Pública,
apesar de se utilizar com frequência das ciências sociais como marco de referência, necessita fazer o
mesmo com as ciências da terra, tais como a climatologia, hidrologia, meteorologia, ecologia,
sensoriamento remoto e disciplinas afins.
Portanto, a correlação entre condições atmosféricas e saúde, exemplifica a importância de
trabalhos de Bioclimatologia Humana, com caráter interdisciplinar, para o planejamento de ações
em prol da melhoria da qualidade de vida humana, ressalvando-se a possibilidade de se advertir a
população, através de órgãos públicos a solicitar-lhe a tomar as devidas iniciativas e precauções
quanto à variabilidade meteorológica, minimizando de tal maneira os custos sociais e econômicos
advindos das complicações das doenças correlatas, nesse caso, as cardiovasculares.
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145
EVENTOS PLUVIOMÉTRICOS EXTREMOS E SEUS IMPACTOS NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE: EPISÓDIO DE 2010
Ygor Cristiano Brito MORAIS
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela [email protected]
Antônio Marcos dos SANTOS
Doutorando em Geografia pela UFPE - [email protected]
Jacicleide Ramos de SOUZA
Graduada em Geografia pela UFPE - [email protected]
Josiclêda Domiciano GALVÍNCIO
Professora Dra. do Departamento de Ciências Geográficas/UFPE - [email protected]
Resumo
Os eventos pluviométricos extremos vêm nos últimos anos se tornando uma das grandes dores de
cabeça para a gestão pública brasileira, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Dentre os
episódios extremos destacam-se os pluviométricos, os quais vêm ocorrendo com mais frequência no
setor oriental da América do Sul e Norte e nas regiões centrais do continente asiático. A Região
Metropolitana do Recife (RMR) não foge a situação descrita anteriormente, neste contexto o
presente estudo tem como objetivo analisar o evento extremo pluviométrico ocorrido no mês de
junho de 2010 sobre a RMR, assim como, seus impactos, sobre a referida região levando em
consideração a perspectiva da análise rítmica. Para isto utilizou-se das cartas sinóticas de superfície
dos dias em que foi registrado o evento extremo, além de imagens do satélite meteorológico GOES
e dados pluviométricos de doze estações. Os resultados apontam que o episódio pluviométrico
extremo estudado foi devido à atuação dos distúrbios ondulatórios de leste associados a vestígios de
uma Frente fria. As consequências foram centenas de movimentos de massas, inundações, entre
outros problemas, os quais causaram danos a população da RMR como perdas de bens materiais e
de vidas humanas.
Palavras-chaves: Clima; evento meteorológico extremo; ondas de leste.
Abstract
The extreme rainfall events have in recent years become a major headache for Brazilian public
management, whether at the local, state or federal. Among the episodes stand out extreme rainfall,
which are occurring more frequently in the eastern sector of the North and South America and
146
central regions of the Asian continent. The Metropolitan Region of Recife (RMR) does not escape
the situation described above, in this context, the present study is to analyze the extreme rainfall
event occurred in June 2010 on the RMR as well as their impacts on that region taking into account
the perspective of rhythmic analysis. For this we used the synoptic maps of the surface of the days
preceding the event recorded on June 18 of that year, plus satellite images and meteorological
GOES rainfall data, the average air temperature, relative humidity and wind direction. The results
indicate that the episode of extreme rainfall studied was a consequence of disorders associated with
an easterly wave, remains of a cold front. The consequences were hundreds of mass movements,
floods and other problems, which caused harm to the population from RMR as losses of material
and human lives.
Keyworks: climate; extreme weather event; waves east.
Introdução
Os eventos pluviométricos extremos vêm nos últimos anos se tornando uma das grandes
dores de cabeças para a gestão pública brasileira, seja no âmbito municipal, estadual ou federal.
Bernstein et al. (2007) destaca que nas últimas décadas os eventos climáticos extremos tem
aumentando seus frequências de ocorrências e intensidades de atuação. Dentre os episódios
extremos destacam-se os pluviométricos, os quais vêm ocorrem com mais frequência no setor
oriental da América do Sul e Norte e nas regiões centrais do continente asiático.
As consequências da atuação dos referidos eventos estão nos números de uma série de
estudos com destaque para os movimentos de massas, enchentes, inundações, entre outros, os quais
colocam a cada ano centenas de famílias desabrigadas, com problemas futuros de saúde e centenas
de vidas ceifadas.
Sant‘Anna Neto (
) destaca que apesar das intensificações destes eventos os problemas
consequentes estão na organização dos espaços urbanos, os quais na maioria das vezes carecem de
infraestrutura adequada, além das ocupações das áreas susceptíveis as enchentes e movimentos de
massa pela população de baixo poder aquisitivos, parábola que impulsiona o aumento de tragédias
atreladas a este tipo de extremo climático.
Compreender os fatores climáticos que impulsionam o excesso de chuvas em uma
determinada região é de fundamental importância para a ciência e para o planejamento local. Entre
as proposições metodológicas para determinada análise encontra-se o estudo rítmico do clima.
A análise rítmica do clima tem suas bases na meteorologia dinâmica, a qual surgiu como
contraponto aos estudos baseados na meteorologia regional, esta última considerava cada elemento
do clima de forma isolada e com base nas observações meteorológicas obtêm-se as médias que são
empregadas em seus estudos. Já a climatologia dinâmica estuda o complexo atmosférico em
147
amostras diferenciadas, a partir, das massas de ar atuantes, com destaques para os mecanismos
frontológicos que elas próprias produzem. Consequentemente, o mais importante na meteorologia
dinâmica é compreender a maneira como os complexos atmosféricos se manifestam perpassando
pelas ações fisiológicas que ele exerce (MONTEIRO, 1962; GIRÃO, CORRÊA e TEIXEIRA,
2006; BARROS e ZAVATTINI, 2009).
Diante do apresentado o objetivo do presente artigo é analisar o evento extremo
pluviométrico ocorrido no mês de junho de 2010 sobre a Região Metropolitana do Recife - RMR,
assim como, seus impactos, sobre a referida região levando em consideração a perspectiva da
análise rítmica.
Localização e caracterização da área de estudo
A RMR foi instituída pela Lei Complementar Federal de Número 14 em junho de 1973. É
formada, atualmente, por 14 municípios localizados na porção leste do estado de Pernambuco
(Figura 1). Possui uma população que ultrapassa os três milhões de habitantes. Segundo o IBGE
(2012) a cidade com o maior contingente populacional é Recife (1.537.704) seguida por Jaboatão
dos Guararapes com 664.620 habitantes.
A tipologia climática da região é composta pelo clima úmido levando em consideração a
classificação climática de Thornthwaite. As chuvas concentram-se entre os meses de abril a agosto
sendo o mês de julho mais frio da região (PERNAMBUCO, 2008).
Figura 1: Localização da área de estudo.
148
Procedimentos metodológicos
Para alcançar o objetivo proposto o presente estudo amparou-se na perspectiva do Ritmo
Climático preconizado no Brasil por Monteiro (1962). Partindo do principio de que para
compreender determinado evento pluviométrico é necessário conhecer os mecanismos que lhe
proporcionou, a análise rítmica segundo Borsato e Souza Filho (2008) tem como objetivo
caracterizar o tempo atmosférico a partir do dinamismo da circulação regional utilizando a escala
espacial e/ou temporal.
Inicialmente, foram selecionados os dias que mais choveram no mês de junho de 2010 a
partir dos dados registrados em 12 postos pluviométricos localizados ao longo da RMR, dados
disponibilizados pela Agência Pernambucana de Águas e Climas (APAC).
De posse das datas mencionadas anteriormente, assim como, dos totais diários
pluviométricos, foram obtidas cartas de pressão ao nível do mar (cartas sinóticas) referentes aos
dias com os maiores índices pluviométricos. Material disponível pelo Serviço Meteorológico
Marinho locado na Marinha do Brasil. Para complementar as análises, utilizou-se imagens do
satélite meteorológico GOES disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).
Por último foram obtidas informações referentes aos impactos do evento extremo
pluviométrico sobre algumas localidades da RMR.
Resultados e discussão
Observa-se na carta sinótica das 1200Z (09h horário de Brasília) do dia 16/06/2010 (Figura
2A) a presença do Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul (ASAS) com núcleo a aproximadamente
25°S e 37°W e apresentando pressão atmosférica de 1024mb. Na área de previsão F, onde está
localizado o município do Recife e sua região metropolitana, atuam-se ventos de sudeste com
velocidade média de 1 a 2 nós, céu totalmente coberto e pressão atmosférica de 1016mb. Na carta
das 00Z do dia 17/06/2010 (21h de 16/06/10 – horário de Brasília) (Figura 2B) verifica-se o
deslocamento para leste do ASAS, com pressão atmosférica de 1026mb a 20°S e 23°W. Observa-se,
ainda, uma frontogênese próxima a Santa Catarina, dando origem a uma frente fria que se desloca
para o litoral de São Paulo as 1200Z do mesmo dia. Na área de previsão F, o céu continua
totalmente coberto, com ventos de sul apresentando velocidade de 3 a 7 nós. Além disso, as feições
das isóbaras, principalmente na carta 00Z do dia 17/06/10 (21h – 16/06/10) (Figura 3A), sugerem o
avanço das ondas de leste (ou Distúrbios Ondulatórios de Leste), que poderão ser mais bem
visualizados nas imagens do satélite GOES.
149
Fonte: Marinha do Brasil
Figura 2. Cartas sinóticas dos dias 16/06/2010 1200Z (A) esquerda e 17/06/2010 às 00Z (B) direita.
Na carta das 1200Z do dia 17/06/10 (09h) (Figura 3A) os ventos são de sudeste e o céu se
encontra totalmente coberto, com presença de isóbaras referentes a impulsos do ASAS, que ao
passar sobre o Oceano adquirem umidade. Enquanto isso, verifica-se na carta do dia 18/06/2010 às
00Z (21h do dia 17/06/10) (Figura 3B) a presença de dois centros de alta pressão, um com núcleo
de 1026mb a 35° S/49°W e o outro correspondente ao ASAS, com alta de 1024mb a 21°S/15°W.
Entre esses anticiclones tem-se uma zona depressionária com baixa de 996mb a 35°S/33°W,
originando uma frente fria que avança sobre a costa do Rio de Janeiro. Essa posição da zona de alta
pressão pode permitir a atuação de sistemas causadores de perturbações no litoral do Nordeste do
Brasil, já que essas áreas geram estabilidade atmosférica, dificultando a formação de nuvens de
chuva. Com isso, a nebulosidade continua alta na área F, enquanto os ventos sopram da direção sul.
150
Fonte: Marinha do Brasil.
Figura 3. Cartas sinóticas dos dias 17/06/2010 às 1200Z (A) direita e 18/06/2010 às 00Z (B) esquerda .
Barbosa (1999) associa a variabilidade anual de chuvas no Nordeste à posição do ASAS.
Segundo o autor, em anos secos o sistema costuma encontrar-se ampliado latitudinalmente sobre o
oceano com o eixo de seu centro inclinado para o norte. Já em anos de chuva acima da média na
região, o eixo do ASAS apresenta-se expandido zonalmente para oeste, com uma maior penetração
sobre o continente sul-americano na altura do Sudeste brasileiro.
O dia 18/06/10 foi marcado pelos maiores valores de precipitação na RMR em comparação
aos dias anteriores (Figura 7). Na carta sinótica das 1200Z (Figura 4A) desse dia nota-se o ASAS
com alta 1024 mb a aproximadamente 27°S/5°W. A frente fria que se deslocava sobre a costa do
Rio de Janeiro perde intensidade e se desloca para leste às 1200Z e 00Z do dia 19/06/10 (21h de
18/06/10) (Figura 4B), devido a um bloqueio atmosférico provocado por dois centros de alta
pressão. Na área de previsão F, os ventos sopram de sudeste e com velocidade média de 1 a 2 nós,
estando o céu totalmente coberto às 12Z e parcamente coberto às 00Z.
151
Fonte: Marinha do Brasil.
Figura 4. Cartas sinóticas dos dias 18/06/2010 às 1200Z (A) direita e 19/06/2010 às 00Z (B) esquerda
A análise da carta sinótica e das imagens de satélite de dias anteriores da ocorrência do
evento extremo permite a observação de um centro de baixa pressão com núcleo de 1010mb a 30°S
e 32° W, com consequente formação de uma frente fria que avança no sentido nordeste sob a costa
leste do NEB. Essa frente, inicialmente localizada sobre o Estado da Bahia (no dia 12/06/2010),
atingiu o litoral de Pernambuco em 13/06/10 (figura 5).
Fonte: Cetro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC, 2012.
Fig. 5. Imagens do Satélite GOES 12 do canal infravermelho dos dias: a) 12/06/2010 1200Z; b)
13/06/2010 1200Z e c) 14/06/2010 1200Z, respectivamente.
152
A existência de uma área de baixa pressão na região de 30° de latitude sul não é comum, já
que esta zona é caracterizada pela subsidência do ar, estando inserida na célula de Hadley. Segundo
Girão, Teixeira e Correa (2006) o avanço das Emissões do Anticiclone Móvel Polar (EAMP) rumo
ao norte implica na gênese de uma zona depressionária, ou descontinuidade frontal, na região
situada entre os dois centros de alta pressão (o polar móvel e o semifixo do atlântico sul) para a qual
convergem os ventos provenientes desses centros. A frente fria originada a partir deste centro
depressionário geralmente se deslocam de sudoeste para nordeste sobre o continente e oceano
Atlântico adjacente, e algumas vezes durante o inverno conseguem atingir latitudes mais baixas,
como o oeste da Amazônia e também ao longo da costa NEB (CAVALCANTI e KOUSKY, 2009).
A análise imagens do satélite GOES permite uma melhor compreensão sobre a ocorrência de
alguns fenômenos e foi utilizada como forma complementar a análise das cartas sinóticas. Sendo
assim, nota-se que a nebulosidade alta sobre a área de estudo entre os dias 16/06/2010 e 18/06/2010
(Figura 6) dá-se em função da chegada de ondas de leste no litoral leste da região Nordeste do
Brasil, adquirindo umidade ao passar sobre o oceano.
Fonte: Cetro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC, 2012.
Figura 6: Imagens do satélite GOES dos dias: a) 16/06/2010 às 1200Z; b) 17/06/2010 às 00Z; c) 17/06/2010
às 1200Z; d) 18/06/2010 às 00Z; e) 18/06/2010 às 1200Z e f) 19/06/2010 às 00Z.
A interpretação e visualização das cartas sinóticas e imagens de satélite corroboram o
relatório do CPTEC/INPE (2010). Segundo Kayano e Andreoli (2009) para o setor leste do NEB, a
máxima precipitação mensal de maio a julho se justifica pela propagação de aglomerados de nuvens
153
para oeste (ondas de leste) e pelos remanescentes de Sistemas Frontais (SFs), que se deslocam sobre
a região e podem atingir latitudes equatoriais.
Oliveira et al. (2011), analisando os dados pluviométricos do ano 2010, destacam que apesar
deste ter sido marcado pela ocorrência de um fenômeno extremo, somente o mês de junho
apresentou uma anormalidade nos valores de precipitação com relação a média anual e o desvio
padrão. Conforme os autores o referido ano teve a influência do El Niño, contudo o volume de
chuvas acima do esperado se deu em decorrência da atuação dos distúrbios ondulatórios de leste.
Conforme o INPE-CPTEC (2010) outro fator que pode ter contribuído para intensificar as
áreas de instabilidades na região foi a temperatura da superfície do mar anomalamente mais alta,
próxima a costa da região Nordeste. Esta característica anômala ajuda a aumentar a disponibilidade
de vapor d´água e, em consequência, a intensidade e quantidade da chuva, quando este ar muito
úmido penetra no continente.
Os dados pluviométricos do período analisado (Figura 7) mostram que o dia 16/06/10
apresentou os menores valores de precipitação em todos os postos de coleta, destacando-se os
municípios do Recife (82,4mm), Camaragibe (80,2mm), Ipojuca (88mm) e Jaboatão dos
Guararapes (80,6mm). Enquanto isso, o dia 18/06/10 registrou os maiores valores de precipitação,
em decorrência do aumento da instabilidade provocada pelas ondas de leste, com ganho de umidade
do oceano. Nesse sentido, registrou-se 161mm no município de Igarassu, 159mm em Ipojuca e
149,9 no Recife (posto pluviométrico da Várzea).
Figura 7: Precipitação pluviométrica do período analisado em diferentes postos de coleta, sendo
elas: 1) Cabo (Barragem de Suape); 2) Camaragibe; 3) Igarassu (Usina São José); 4) Ipojuca; 5)
Itamaracá; 6) Itapissuma; 7) Jaboatão dos Guararapes; 8) Olinda; 9) Paulista; 10) Recife (Alto da
Brasileira); 11) Recife (Várzea) e 12) São Lourenço da Mata (Tapacurá).
154
Sendo assim, os altos índices pluviométricos nos três dias analisados acarretaram diversos
transtornos tanto da Região Metropolitana do Recife como em outras áreas da Zona da Mata do
Estado. Só no dia 18 de junho, de acordo com o Portal G1 da Rede Globo, foram registrados 44
deslizamentos em diversos bairros do Recife. Além disso, as aulas noturnas foram suspensas em
todas as escolas municipais da capital.
De acordo com notícia publicada pela Agência Estado no dia 18/06/10:
O Corpo de Bombeiros informou hoje que subiu para oito o número de mortes
causadas pelas chuvas de ontem em Pernambuco. Um bebê de sete meses segue
desaparecido. Os bombeiros informaram ainda que cinco pessoas da mesma família,
dois adultos e três crianças, morreram em um deslizamento de terra, no Córrego do
Sargento, em Recife.
Em outras localidades, como nos município de Paulista e Olinda, foram registradas
enchentes e alagamentos em várias ruas prejudicando o trânsito nestas vias. Houve, também,
registros de movimentos de massa, principalmente nas áreas de morros nas cidades do Recife e
Camaragibe.
Várias famílias que residem nos leitos maiores e menores dos rios que cortam ou margeiam
as áreas urbanas tiveram suas casas tomadas pela água, destaque para os rios Beberibe em Olinda e
recife, o Camaragibe nas cidades de mesmo nome e em Recife e São Lourenço da Mata e córregos
de pequenos portes espalhados em várias cidades da região.
O risco de contraírem doenças transmitidas pelo contato de água poluída tornou-se grande
neste período principalmente a leptospirose. Sem falar nos prejuízos materiais e vidas ceifadas.
Tudo isto, aponta para a situação do ordenamento urbano das cidades da RMR, o qual ocorre de
maneira desigual levando em consideração a estratificação social latente.
Considerações finais
Três dias de intensas chuvas foi o suficiente para deixar várias cidades da RMR em caos,
caos proporcionado por dois fatores distintos, mas ao mesmo tempo ligados entre si. O primeiro
refere-se ao estado da atmosfera nos dias 16, 17 e 18 de junho de 2020, proporcionando um
quantitativo de chuva suficiente para revelar os reflexos do ordenamento urbano desta região. O
segundo fator está estritamente ligado aos condicionantes sociais dos grupos populacionais que
residem nas cidades atingidas, visto que, a população mais atingida com o episódio estudado são as
que possuem o menor poder aquisitivo, as quais ocupam as áreas mais susceptíveis a enchentes,
alagamentos e movimentos de massa.
155
Os resultados aqui apresentados não encerram por aqui, eles tendem a contribuir com
novos estudos que possam ampliar o debate sobre a atuação dos fenômenos atmosféricos que
atuaram no período analisado, assim como, contribuírem com a expansão dos estudos que venham a
utilizar a perspectiva da análise rítmica na identificação do comportamento da circulação
atmosférica em episódios pluviométricos extremos.
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157
O USO DE PLUVIÔMETROS CASEIROS EM BAIRROS SELECIONADOS NO MUNICÍPIO
DE CURVELO PARA ELABORAÇÃO DE UM GRÁFICO SIMPLES DE PRECIPITAÇÃO
Island Costa Pereira JÚNIOR11 (CEFET/MG) – [email protected]
Resumo
Este artigo irá abordar a área da Climatologia, a qual pode ser definida como o estudo científico do
clima, tratando exclusivamente dos índices pluviométricos de bairros do município de Curvelo/MG.
Os bairros Centro, Jardim América e Santa Rita foram os locais escolhidos para a realização do
estudo. Como suporte da pesquisa, implantou-se um (1) pluviômetro caseiro em cada bairro
mencionado, obtendo-se, através das coletas, durante o período analisado, dados quantitativos, ou
seja, informações e/ou dados pluviométricos a respeito desses locais na cidade em questão.
Posteriormente, confeccionou-se tabela e gráfico com os dados oriundos das coletas, além de
figuras, mapas e fotografias. O objetivo do artigo é possibilitar aos leitores a capacidade de
visualizarem os dados pluviométricos de um local e/ou lugar qualquer mediante o apoio ou suporte
de ferramentas gráficas, como mapa, gráfico e tabela. Nessa perspectiva, o leitor poderá perceber
que é possível realizar estudos dos índices pluviométricos de um determinado local a partir de suas
próprias pesquisas e também construir pluviômetros caseiros, aguçando este, a mergulhar na
iniciação científica e, consequentemente, contribuir para o campo das pesquisas. O presente artigo
está estruturado da seguinte maneira: uma introdução abarcando conceitos e relações entre as
medições pluviométricas com temas afins, principalmente às mudanças climáticas, posteriormente,
discorrerá sobre a metodologia utilizada na pesquisa, em seguida, os resultados e discussões
apoiados na interpretação de tabela e de gráfico gerados a partir da pesquisa que foi aplicada,
transitando entre figuras, mapas e fotografias. E por fim, as considerações finais, situando a
importância de todo o ferramental utilizado no estudo em questão.
Palavras-chaves: Climatologia; Curvelo; Iniciação Científica; Pluviômetros Caseiros; Precipitação.
Abstract
This article will address the area of climatology, which can be defined as the scientific study of
climate, addressing only the rainfall districts of the city of Curvelo/MG. The neighborhoods Center,
11
Estudante do Curso Técnico Integrado de Nível Médio em Meio Ambiente no CEFET/MG – Campus Curvelo.
Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, da Fundação de Amparo à Pesquisa de
Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Orientador: Prof. Clayton Angelo Silva Costa, Professor Efetivo do CEFET/MG. Graduado em Geografia, Licenciatura
Plena e Bacharelado pela PUC/Minas. Mestre em Ciências Ambientais pela UEMG. Doutorando em Relações
Internacionais pela PUC/Minas.
158
Jardim América and Santa Rita were the sites chosen for the study. In support of the research was
implemented one (1) homemade rain gauge in each district mentioned, obtaining, through
collections during the period analyzed, quantitative data, or information and/or rainfall data about
these places in the city question. Later, concocted up table and chart with the data from the
collections, as well as images, maps and photographs. The aim of the paper is to enable readers the
ability to visualize the rainfall data from one location and/or place any support or through support of
graphical tools, such as map, graph and table. From this perspective, the reader will realize that it is
possible to perform studies of rainfall for a given location from their own research and also build
homemade rain gauge, this sharpening, scientific initiative to dive in and hence contribute to the
field of research. This paper is structured as follows; an introduction covering concepts and
relations between the rainfall measurements with similar themes, especially climate change,
subsequently, will discuss the methodology used in the research, then the results supported the
interpretation and discussion of table chart and generated the departure of the research that has been
applied, shifting figures, maps and photographs. And finally, the final considerations, placing the
importance of all tools used in this study.
Keywords:
Climatology;
Curvelo;
Undergraduate
Research;
Homemade
Rain
Gauges;
Precipitation.
Introdução
O clima exerce grande influência sobre a Terra, desde os processos naturais, como a
formação de solos, até as atividades humanas, como a agricultura. Essa influência é uma das razões
pelas quais, cada vez mais, o clima vem sendo estudado por grande parte dos cientistas do mundo.
As mudanças climáticas acontecem naturalmente, no entanto, o ser humano vem
modificando a natureza, o que faz com que essas mudanças aconteçam em maior escala. Segundo
Siqueira (2010),
no passado, mesmo antes da presença humana sobre a face da terra, as mudanças
climáticas ocorreram dentro de uma paisagem ecossistêmica mais íntegra e, por
vezes, em processos de transformação e evolução. A grande diferença hoje,
comparada com outros períodos e eras geológicas, é que as atuais mudanças
climáticas ocorrem num contexto de biomas e ecossistemas profundamente alterados
e fragmentados, sem a menor possibilidade de evolução e expansão (SIQUEIRA,
2010, p. 326).
Diante dessas grandes alterações do clima, a partir das mudanças constantes que o ser
humano vem realizando no ambiente, muitas implicações negativas são causadas. De acordo com
Walter (2007, p. 169), estamos vivenciando uma época de intensas ondas de calor em todo o
mundo, de tempestades, secas e furacões cada vez mais severos, assim como o aumento de
159
epidemias e a extinção de inúmeras espécies. Conforme Nunes (2008, p. 66), diversas atividades
econômicas, a arquitetura e até o nosso vestuário são condicionados, em alguma extensão, pelo
clima. Dessa forma, implicações socioeconômicas oriundas dessas implicações naturais vêm
surgindo gradativamente.
Ao se referir às mudanças climáticas, Juras (2008) aponta sobre um estudo feito a respeito
das ameaças pelas mudanças climáticas à população mundial. Assim, esse autor disse que,
o estudo realizado a pedido do governo britânico por uma equipe de economistas
chefiados por Nicholas Stern, o chamado Relatório Stern10 conclui que as mudanças
climáticas ameaçam os elementos básicos da vida das pessoas ao redor do mundo:
acesso à água, produção de alimentos, saúde e meio ambiente. Centenas de milhões
de pessoas poderão enfrentar fome e racionamento de água com o aumento da
temperatura, além das consequências do desaparecimento de muitas áreas costeiras
pela elevação do nível do mar. Todos os países serão afetados, mas os mais
vulneráveis – justamente os países e as populações mais pobres – sofrerão mais e
mais cedo, embora tenham contribuído muito menos para as mudanças do clima
(JURAS, 2008, p. 39).
Sendo o clima muito dinâmico, torna-se necessária a observação de seus principais
elementos, como a temperatura, a umidade e a pluviosidade, por um longo período de tempo, para
se verificar se as variações de seu comportamento são realmente permanentes, ou são fatores de
mudança climática, ou se são ciclos periódicos que tendem a se repetir de tempos em tempos,
tratando-se apenas de variabilidade do clima (SANT‘ANNA NETO e ZAVATINI,
apud
BALDO, 2006, p. 01). Além disso, é necessário observar o que pode influenciar nos valores
pluviométricos (vegetação, massa asfáltica, altitude e poluição atmosférica, por exemplo). A cidade
de Curvelo, na qual o Campus X foi implantado, apresenta esses fatores influenciadores das
precipitações como parte integrante de sua paisagem e que serão tratados mais à frente.
Nesse estudo, é importante definir dois conceitos básicos muito importantes: pluviosidade e
precipitação pluviométrica. A pluviosidade aborda a quantidade de precipitação ocorrida em um
dado lugar durante um período determinado. A precipitação pluviométrica é o processo pelo qual a
água condensada na atmosfera atinge gravitacionalmente a superfície terrestre.
As precipitações vão variar de local para local, dependendo dos fatores e atributos climáticos
que os mesmos possuírem. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o clima é
definido como:
o estudo médio do tempo para o determinado período ou mês em uma certa
localidade. Também, se refere às características da atmosfera inseridas das
observações contínuas durante certo período. O clima abrange maior número de
dados e eventos possíveis das condições de tempo para uma determinada localidade
ou região. Inclui considerações sobre os desvios em relação às médias, variabilidade
climática, condições extremas e frequências de eventos que ocorrem em determinada
condição do tempo.
160
O instrumento meteorológico utilizado para realizar a medição de precipitação é
denominado pluviômetro. O presente estudo utilizou pluviômetros caseiros que foram instalados em
alguns bairros no município de Curvelo. A figura a seguir apresenta a localização do município.
Fonte: Mapa retirado da internet. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Curvelo>. Acesso em: 17 jul. 2012.
Mapa 01 - Localização do município de Curvelo em Minas Gerais (área em vermelho).
Segundo dados que constam no sítio eletrônico do CEFET, a cidade de Curvelo está situada
na região central de Minas Gerais. Possui cerca de 80 mil habitantes e encontra-se distante,
aproximadamente, 170 km de Belo Horizonte/MG. O Campus X foi instalado em um terreno de
47.444,00 m² doado pela prefeitura, situado na margem do trecho do desvio da BR 135, no bairro
Santa Rita.
Os dados pluviométricos, alvo deste estudo, em sua forma de aplicação, podem ser
utilizados para realização de planejamento, programas e ações ambientais, pretendendo prever
futuras precipitações, e assim ter precaução/prevenção para os possíveis fenômenos naturais que
podem ocorrer e interferir em muitos setores, como por exemplo, o da agricultura. Nesse setor, caso
haja uma previsão de quando e/ou quanto as precipitações poderão ocorrer, o agricultor saberá o
tempo certo para cultivar sua dada cultura. O estudo realizado por Mundstock e Silva (2005), no
estado do Rio Grande do Sul, o qual trata sobre o manejo da cultura do milho para altos
rendimentos de grãos, apresenta justamente essa questão. Segundo eles,
o aproveitamento ideal da precipitação pluvial ocorre adequando-se a época de
semeadura para fazer coincidir a maior radiação solar com a menor probabilidade de
falta de umidade nos períodos críticos da cultura (MUNDSTOCK e SILVA, 2005, p.
15).
No caso desta pesquisa, foram instalados três (3) pluviômetros caseiros em bairros
selecionados do município de Curvelo a fim de obter conhecimento dos índices pluviométricos que
cada um apresentavam em sua localidade. Os dados foram coletados e transcritos para um gráfico
de precipitação, que foi analisado e interpretado, chegando-se a um relato sobre os índices
pluviométricos dos locais escolhidos. O objetivo do artigo é possibilitar aos leitores a capacidade de
visualizarem os dados pluviométricos de um local e/ou lugar qualquer mediante o apoio ou suporte
161
de ferramentas gráficas, como mapa, gráfico e tabela. Nessa perspectiva, o leitor poderá perceber
que é possível realizar estudos dos índices pluviométricos de um determinado local a partir de seu
próprio estudo e confecção de pluviômetros caseiros, aguçando este, a mergulhar na iniciação
cientifica e, consequentemente, contribuir para o campo das pesquisas.
Metodologia
O presente artigo foi apoiado por intermédio de bolsa vinculada ao Programa de Iniciação
Científica BIC-Jr, com o prazo de um (1) ano para o desenvolvimento da pesquisa. Esta foi
desenvolvida mediante o arcabouço teórico construído ao longo da disciplina de Climatologia.
Logo, os procedimentos metodológicos foram fielmente cumpridos e/ou seguidos mediante os
prazos estabelecidos no referido Programa de Iniciação Científica.
Os procedimentos metodológicos utilizados foram baseados em análises quantitativas, tendo
em vista os dados coletados em campo nos postos pluviométricos. Os registros realizados das
precipitações compreenderam os meses de Agosto de 2011 a Junho de 2012 e foram anotados numa
planilha de leitura do pluviômetro. O mapa 02 representa a distribuição espacial dos postos
pluviométricos que compuseram este estudo.
Fonte: Imagem cedida pela Prefeitura Municipal de Curvelo e adaptada por Island
Costa Pereira Júnior, 2012.
Mapa 02 - Localização dos postos pluviométricos no município de
Curvelo.
162
Os bairros selecionados foram Centro, Jardim América e Santa Rita como pode ser
visualizado no mapa 02. Essa seleção foi realizada conforme as características que definem o clima
como a vegetação, massa asfáltica, altitude, poluição atmosférica e a disponibilidade desses postos
para poder realizar a pesquisa. Dessa forma, os três (3) bairros escolhidos apresentaram ao mesmo
tempo, características importantes para o estudo da precipitação e disponibilidade necessária para
alocação dos pluviômetros caseiros nos mesmos. As características que definem o clima e que se
relacionam ao projeto serão abordadas com mais detalhes nos resultados e discussões do artigo.
Os pluviômetros, instrumentos que forneceram os dados pluviométricos, foram
confeccionados ao modo caseiro. Cada pluviômetro foi feito com garrafa PET que foi recortada e
dividida em duas partes: o coletor, parte que acumula a precipitação e o antievaporador, parte que
aumentará o tempo contra a evaporação da água. Foi usado também um pincel para fazer a
calibração em mm, fita adesiva para afixar o antievaporador ao coletor, haste de madeira para
sustentar o pluviômetro e um fio metálico para ligar o pluviômetro à haste de madeira. Para
milimetrar os mesmos, houve o processo de calibragem e as marcações foram feitas de 0 mm a 110
mm.
Durante a instalação do pluviômetro foi necessário tomar alguns cuidados em termos de
posição tanto geográfica, quanto do instrumento em relação a sua haste que o sustenta. Segundo a
Nós da Escola (2005, p. 17), o pluviômetro deve ser colocado em local aberto, como em um quintal
ou terraço, longe de árvores, paredes ou de qualquer objeto que possa obstruir ou desviar os pingos
da chuva. Como foi falado, os locais mais apropriados para as instalações foram aqueles que não
havia a presença de árvores, muros, casas, prédios e construções afins que pudessem bloquear a
entrada de água nos pluviômetros. Além disso, a parte superior dos pluviômetros foi e deve ser
colocada bem perpendicular ao solo e o topo da haste abaixo da parte superior do pluviômetro,
conforme Kobiyama et al. (2006, p. 94), para que a mesma não bloqueasse a entrada de água no
instrumento, como pode ser visto na figura 01 e nas fotografias 01, 02 e 03.
Fonte: Livro Prevenção de Desastres Naturais: Conceitos Básicos, 2006.
Figura 01 - Modo como se deve instalar um pluviômetro caseiro.
163
Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012.
Fotografias 01, 02 e 03 (da esquerda para direita): postos pluviométricos instalados nos bairros Centro,
Jardim América e Santa Rita, respectivamente.
No posto pluviométrico do Centro percebe-se que o pluviômetro está suspenso e afixado
rente ao muro, isso porque no local havia casas ao lado e também a própria residência onde o
instrumento estava, de forma que não pudesse ser instalado no solo. No Jardim América, isso
também é visto, no entanto, o pluviômetro foi colocado no telhado da residência, para uma melhor
capitação de precipitação sem interferência de muros, árvores, prédios e casas que estavam ao
redor. Enquanto que, no Santa Rita, a situação foi outra, o pluviômetro foi colocado no próprio solo,
pois o Campus X possui espaço disponível para isso, além de não ter presença de árvores, muros e
outras interferências que foram citadas para os bairros anteriores.
Em seguida, os dados foram coletados diariamente, assim como é feito nas estações
meteorológicas convencionais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e toda a água que
acumulava nos pluviômetros era retirada para fazer a próxima coleta. Os dados foram anotados e, a
partir deles, foi possível montar tabela, gráfico e fazer análises dos mesmos chegando aos resultados
e discussões via uso de pluviômetros caseiros.
Resultados e Discussões
Após nove (9) meses de coleta de dados, estendendo-se de Outubro de 2011 a Junho de 2012,
os resultados indicaram que o bairro Centro é o que apresentou maiores índices pluviométricos, em
seguida o Santa Rita e por último o Jardim América, como pode ser visualizado no gráfico 01.
164
* P = Posto pluviométrico
Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012.
Gráfico 01 - Gráfico de precipitação do município de Curvelo durante o período de Outubro – 2011a
Junho – 2012 (em mm).
Perante esse gráfico, pode-se perceber que houve em alguns meses pouca variação entre os
índices pluviométricos dos bairros e que em outros a variação foi expressiva. No mês de Outubro,
quando iniciou o período de precipitações no município, os índices pluviométricos não
apresentaram grandes variações entre os postos pluviométricos. Entre os postos P1 e P2, a diferença
de mm foi de 0.47, entre P2 e P3 essa diferença foi de 0.09 mm e entre P1 e P3, a diferença de mm
foi de 0.56, ou seja, nenhum posto teve uma disparidade grande de precipitação que pudesse indicar
de modo conciso, o que estaria influenciando nesses resultados.
Em Novembro, P3 apresentou um grande índice pluviométrico (12.01 mm), diferentemente
dos outros dois, P1 e P2, com índices de 9.63 mm e 10.48 mm, respectivamente. A partir do mês de
Dezembro até o mês de Maio, P1 foi o posto que pode ser constatado maiores índices
pluviométricos em relação aos outros dois postos, sendo esses índices, respectivamente, 12.42 mm,
12.75 mm, 12.61 mm, 8.50 mm, 9.16 mm e 9.52 mm. Isso porque, provavelmente, P1 tem muita
poluição atmosférica e grande presença de concreto. Nessa linha de raciocínio, Veríssimo e
Mendonça (2004, p. 11) procuraram entender a dinâmica atmosférica de Curitiba/PR. Eles
realizaram um estudo cujo objetivo foi considerar aspectos sobre o clima urbano da cidade e sua
influência nos citadinos, principalmente, com relação à saúde, a partir da análise de pesquisas já
realizadas por especialistas ligados a esta temática. Nas áreas onde se concentram edifícios, trânsito
de veículos, indústrias e pessoas, as temperaturas do ar tendem a ser mais elevadas do que nas áreas
verdes e de baixa densidade de edificações e pessoas. Com relação à poluição das camadas
165
atmosféricas, os estudos mostraram que o aumento expressivo da frota de veículos e as indústrias se
constituem nas principais fontes de poluentes do ar, o que repercute no aumento de doenças,
principalmente do sistema respiratório, sobretudo no inverno. O impacto das precipitações tem
gerado problemas para a população instalada em áreas sujeitas à inundações, notadamente no que
concerne ao eixo do rio Iguaçu e os afluentes que drenam áreas urbanizadas, repercutindo no
aumento do caso de leptospirose na cidade.
O estudo realizado em São Paulo por Pivetta e Ramos (2005, p. 40-44), sobre o aumento de
temporais e de chuvas na cidade, constatou que em cerca de 80 anos, a quantidade de chuva anual
que cai na Região Metropolitana de São Paulo, onde 1 em cada 10 brasileiros vive numa área
equivalente a quase 1% do território nacional, aumentou 425 milímetros (mm), metade do que
chove em boa parte do semiárido brasileiro e que segundo eles, se 25% do território da Grande São
Paulo fosse coberto por árvores, a temperatura média cairia até 2,5 ºC.
Nos meses de Outubro, Novembro, Dezembro, Fevereiro e Abril, P3 teve como índices
pluviométricos: 11.08 mm, 12.01 mm, 11.76 mm, 8.20 mm, 6.33 mm, respectivamente. Dados que
significam maiores índices pluviométricos em relação a P2. Mesmo sendo dois (2) desses valores
superiores a P1 (11.08 mm e 12.01 mm), a análise nesse momento será entre P2 e P3. Ambos os
postos possuíam área com uma quantidade considerável de vegetação, o que pode ter influenciado
nesses resultados. Segundo Mendonça, Oliveira e Moresco (2007),
a vegetação desempenha um papel regulador de umidade e de temperatura
extremamente importante. Tomando- se as áreas florestadas como exemplo, observase que suas temperaturas serão inferiores às das áreas vizinhas com outro tipo de
cobertura – como campo, por exemplo, uma vez que as copas, os troncos e os galhos
das árvores atuam como barreira à radiação solar direta, diminuindo a
disponibilidade de energia para aquecer o ar.
Entretanto, há o fator altitude que pode ter contribuído com os referidos resultados. Os
locais dos postos estavam a uma altitude de 637 m e 632 m (P2 e P3, respectivamente). As
diferenças de altitude acarretam mudanças na temperatura e na pressão atmosférica. À medida que a
altitude aumenta, a pressão fica menor, pois diminui o peso da coluna de ar acima da superfície.
Inversamente, quando a altitude diminui, aumentam a pressão e a densidade atmosférica.
Considerando-se dois lugares de mesma latitude e diferentes altitudes, aquele mais elevado
apresentará temperaturas mais baixas, obedecendo à proporção de 0,6 °C a menos para cada 100
metros de altitude (MENDONÇA, OLIVEIRA e MORESCO, 2007). Situação essa, que está
esboçada na figura 02.
166
Fonte: Figura obtida de documento na internet. Disponível em:
<http://portalcp2.files.wordpress.com/2010/09/dinc3a2mica_climc3a1tica.pdf>. Acesso em: 18 de jul. 2012.
Figura 02: Diminuição da temperatura com o aumento da altitude.
Como pode ser visto na figura 02, quanto maior for a altitude, menor serão as temperaturas
e, consequentemente, menores quantidades de precipitações podem ocorrer.
Para um melhor entendimento, segundo Mendonça, Oliveira e Moresco (2007),
a posição do relevo favorece ou dificulta os fluxos de calor e umidade entre áreas
contíguas. Um sistema orográfico que se disponha latitudinalmente em uma região
como o Himalaia, por exemplo, irá dificultar as trocas de calor e umidade entre as
áreas frias do interior da China e aquelas mais quentes da Índia. Já a cordilheira dos
Andes, por se dispor no sentido dos meridianos, não impede que as massas polares
atinjam o norte da América do Sul e nem que as equatoriais cheguem ao sul do
Brasil. Entretanto, inibem a penetração da umidade proveniente do Pacífico para o
interior do continente.
Continuando a análise, o mês de Junho foi o que teve o menor índice pluviométrico em
todos os postos: 0 mm, 1 mm e 1 mm (P1, P2 e P3, respectivamente).
Os resultados ainda mostram que o mês que ocorreu maior índice de precipitação foi
Janeiro, como pode ser observado na tabela abaixo através das médias.
Fonte: Island Costa Pereira Júnior, 2012.
Tabela 01 - Distribuição temporal de precipitação mensal (em mm) para três (3) postos pluviométricos
no município de Curvelo/MG, de Outubro de 2011 a Junho de 2012.
167
Ao longo dos meses, os índices pluviométricos foram crescendo gradativamente, de 10.86
mm (menor média) até o ápice das médias (11.52 mm) e logo em seguida, decrescendo até o valor 1
mm, correspondente ao mês de Junho.
Considerações Finais
Percebe-se que Curvelo obteve uma heterogeneidade de valores entre os postos
pluviométricos P1, P2 e P3 (Centro, Jardim América e Santa Rita). Isso porque cada posto,
provavelmente, tenha sofrido influência de características determinantes para um clima, como a
vegetação, a massa asfáltica, a poluição atmosférica e a altitude.
Em alguns dos meses entre os bairros selecionados houve pouca variação dos índices
pluviométricos e em outros a variação foi eminente. Além disso, no mês de Janeiro, o município de
Curvelo teve os maiores índices pluviométricos.
Nos dias atuais, a intensidade de estudos e pesquisas sobre os índices pluviométricos é cada
vez mais crescente, uma vez que há necessidade de conhecer dados que possam indicar a chegada
de algum fenômeno natural, ou algo do gênero e, por conseguinte, tentar amenizar os impactos
causados pelo mesmo.
Como disse Kobiyama et al. (2006, p. 89-90),
os dados medidos de chuva podem ajudar na previsão do tempo, estabelecimento de
sistema de alerta, mapeamento de áreas de risco e na construção de obras de
engenharia, como barragens, pontes, estradas, portos, diques, entre outros. Esse tipo
de medida é, por sua vez, de suma importância perante a expressividade dos assuntos
referentes às mudanças climáticas. Já que com os dados em mãos torna-se mais fácil
tomar medidas de prevenção, as quais implicam diretamente no ambiente, na
sociedade, na política e na economia.
Muito já se tem feito sobre essa temática, realizando-se planejamentos, programas e ações
ambientais para amenizar essa situação. Em São Paulo, isso já é realidade, uma vez que a cidade
possuiu um plano de prevenção à escorregamentos e inundações, mediante observação dos índices
pluviométricos do município. Conforme Souza et al. (2009),
a ‗Operação Chuvas de Verão‘ é um plano de prevenção a escorregamentos e
inundações, implantado pela Prefeitura Municipal de São Paulo e coordenado pela
Defesa Civil Municipal (COMDEC). Tem como objetivo realizar ações de caráter
preventivo, de socorro, assistencial e recuperativo. Sua operação baseia-se no
monitoramento do índice pluviométrico, que é realizado pelo Centro de
Gerenciamento de Emergências (CGE), que repassa para a COMDEC (SOUZA et
al., 2009, p. 171).
Segundo Pinheiro, Dereczynski e Hora (2009, p. 09) a familiarização da comunidade, com a
utilização do pluviômetro caseiro, pode ter resultados muito positivos na prevenção de desastres.
Isso mostra que programas e ações ambientais ligados à Educação Ambiental, juntamente com a
168
Climatologia, pode sim ter sucesso e que isso deve ser casa vez mais incentivado e trabalhado, tanto
na teoria como na prática, entre comunidade e o meio científico.
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169
DINÂMICAS HÍDRICAS NO ALTO CURSO DO RIO PARAÍBA, O CASO DO MUNICÍPIO DE
CABACEIRAS-PB.
Eliamin Eldan Queiroz ROSENDO
Mestrando em Engenharia Urbana e Ambiental, [email protected]
Bartolomeu Israel de SOUZA
Dr. em Geografia, Prof. do Dep. de Geociências, [email protected]
Hamilcar José Almeida FILGUEIRA
Dr. em Recursos Naturais, Prof. do Dep. de Eng. Civil e Ambiental, [email protected]
André Lucena PIRES
Geó[email protected]
RESUMO
O presente estudo se propôs a identificar as relações de causa e efeito entre o processo de
desertificação, o uso dos solos e os eventos climáticos extremos no alto curso da bacia hidrográfica
dorio Paraíba, mais precisamente no município de Cabaceiras, Paraíba,região Nordeste do Brasil, e
de forma particular em sua sede municipal. Buscou-se ainda identificar e analisar, por meio do uso
de técnicas de sensoriamento remoto, as características físicas da região e a sua relação com as
secas e eventos pluviométricos extremos. Utilizando-se de uma revisão bibliográfica dos aspectos
físicos da região, aliado a realização de trabalhos de campo e uma analise de produtos de
sensoriamento remoto, foram identificadas as principais causas e efeitos das inundações no
município de Cabaceiras. Com a análise dos dados levantados nesta pesquisa concluiu-se que o
município de Cabaceiras possui solos rasos degradados e com problemas de drenagem, altos e
médio níveis de desertificação ao longo de grandes extensões de terras e, aliados ao mau uso do
solo urbano e rural e a falta de prevenção faz com que esse município seja alvo de
inundaçõesperiódicas em precipitações extremas.
PALAVRAS CHAVE: semiárido, inundações, Cabaceiras-PB.
ABSTRACT
This study aimed to identify the cause and effect relationships between the process of
desertification, land use and climate extremes in the upper course of the river basin, Paraíba, more
precisely in the city of Cabaceiras, Paraíba, Northeast Brazil, and particularly so in its headquarters
city.We sought to further identify and analyze, through the use of remote sensing techniques, the
physical characteristics of the region and its relationship with drought and extreme rainfall events.
Using a literature review of the physical aspects of the region, coupled with the completion of field
work and analysis of remote sensing products, we identified the main causes and effects of flooding
in the city of Cabaceiras. With the analysis of data obtained in this study it was concluded that the
municipality has Cabaceiras shallow soils and degraded with drainage problems, high and medium
170
levels of desertification over large tracts of land and, together with the misuse of urban land and
rural and lack of prevention makes this municipality is subject to periodic flooding in extreme
precipitation.
KEYSWORDS: semiarid, floods, Cabaceiras-PB.
INTRODUÇÃO
A região Nordeste do Brasil ocupa uma área de 1.539.000 km², correspondente a 18% do
seu território e abriga uma população de 45,5 milhões, equivalentes a 29% do total nacional. Em
termos geográficos a região mostra-se bastante heterogênea, apresentando grande variedade de
situações físico-climáticas. Dentre estas se destaca a zona semiárida, que além da sua extensão de
882.000 km² (cerca de 57% do território nordestino), singulariza-se por ser castigada
periodicamente por fenômenos de secas prolongadas (DUARTE, 2011).
Segundo Araújo (
) ―A intervenção das atividades humanas nesse cenário tem
propiciado a degradação acentuada dos recursos naturais, originando em algumas áreas os
denominados ―núcleos de desertificação‖, onde a degradação é muito mais intensa‖ Esses núcleos
são criados pelas ações antrópicas, particularmente o desmatamento para fins de ocupação
agropecuária e expansão urbana.
Segundo Sousa (2007) esse processo é responsável pela perda de mais de 6 milhões de
hectares de terras produtivas anualmente, afetando, de forma assustadora, 1/3 da superfície terrestre
e assolando, direta ou indiretamente, mais de 900 milhões de pessoas no mundo inteiro, segundo os
dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
No caso do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) considera que o país tenha uma
área susceptível sujeitas a esse fenômeno na ordem de 1.338.076km², onde vivem 31.663.671
pessoas, em 1.482 municípios, estando distribuída por toda a Região Nordeste, norte de Minas
Gerais e noroeste do Espírito Santo (BRASIL, 2004).
Em se tratando da Paraíba, levando em consideração a ocorrência dos climas semiáridos e
subúmido-seco, associados às determinadas formas como a população têm lidado com o uso da
terra, o MMA considera que, dos 223 municípios existentes, em 208 esse tipo de degradação
poderia ocorrer ou já estar ocorrendo (mais de 90% do estado), o que equivale em termos relativos,
a uma das maiores áreas ameaçados dentre os estados brasileiros onde é possível se desenvolver ou
estar se desenvolvendo a degradação em questão.Mesmo assim, somente a partir da década de 1990
esse problema começou a ser pesquisado de forma mais direcionada às regiões susceptíveis à
desertificação no estado. Portanto, muitas lacunas científicas ainda precisam ser preenchidas a
respeito da presença e da dinâmica da desertificação nessas terras.
171
Dentre as áreas do estado onde esse fenômeno tem se manifestado, tem-se a bacia
hidrográfica do rio Paraíba, a segunda maior do estado, ocupando 20.071,83 km² (Agência
Executiva de Gestão das Águas/PB – AESA). A importância dessa bacia é fundamental devido ao
uso múltiplo de suas águas e pelo fato de suas terras englobarem os dois maiores núcleos urbanos
do estado (João Pessoa e Campina Grande) que, junto às demais áreas que dependem direta e
indiretamente dos recursos hídricos aí existentes, apresentam quase dois milhões de habitantes.
Este estudo optou como área de trabalho o município de Cabaceiras, PB, localizado na
microrregião Cariri Paraibano e na Mesorregião da Borborema, considerado por muitos autores
como um dos mais ―secos‖ da Paraíba ou quiçá do Nordeste e do Brasil Porém, em eventos
pluviométricos extremos anteriormente ocorridos na região, parte de sua sede municipal se deparou
com algumas áreas alagadas, principalmente na entrada da cidade, deixando assim os munícipes
ilhados e com acesso limitado aos municípios vizinhos.As chuvas nessa região são geralmente
irregulares e esparsas com temperaturas médias de 27°C, tendo uma precipitação média de 234mm
de chuva durante o ano todo, precipitações estas que ocorrem apenas durante três meses, podendo
ocasionar assim longos períodos de estiagens que duram até dez meses nos períodos mais secos.
Segundo SOUZA (2008) os elementos comuns do conjunto de paisagens existentes em
praticamente todo o Cariri Paraibano são os baixos índices pluviométricos, as temperaturas médias
elevadas (cerca de 27ºC), os déficits hídricos acentuados, a caatinga hiperxerófila, as limitações
edáficas (solos rasos e, em muitos casos, com altos teores de salinidade), cidades pequenas e baixa
densidade demográfica. Em termos administrativos, essa região é composta por 29 municípios,
dos quais 12 fazem parte do Cariri Oriental (polarizada por Cabaceiras) e 17 estão inseridos no
Cariri Ocidental (polarizada por Monteiro).
Apesar do município de Cabaceira ter características de semiaridez, existe registro da
ocorrência de fortes chuvas na região. Como exemplos disso, as precipitações ocorridas em janeiro
de 2004 ultrapassaram mais de 500% do índice pluviométrico médio previsto para todo este mês na
região. Em Cabaceiras choveu só nesse mês mais da metade da média anual do município, que é de
234mm (O Norte, fevereiro de 2004). Já em 2008, segundo o jornal A União (abril de 2008), nos
últimos dias do mês de março, ocorreram fortes chuvas em Cabaceiras que chegaram a inundar
praticamente toda a parte baixa da cidade. Foram precipitados nos três primeiros meses desse ano
um total de 398mm de chuva, um recorde até então superior a média anual de 295 mm.
Ainda segundo o jornal A União (2008), cerca de quarenta famílias foi prejudicada com o
avanço das águas, muitas ficaram desalojadas e desabrigadas e tiveram que deixar, de forma
urgente, suas casas com a ajuda da população e de servidores municipais. As casas que se situavam
na parte baixa da cidade exibiram uma marca d´água que atingiu até 1,8 metros de altura, sendo que
três casas ruíram. Alguns moradores da região afirmaram que isso tudo só ocorreu, porque houve o
172
rompimento de um pequeno açude popularmente chamado de ―Namorado‖, localizado no município
de São João do Cariri, localizado a montante de Cabaceiras.
Tendo em vista estes eventos climáticos adversos e inesperados que surpreendem toda uma
população vulnerável é que foi desenvolvido este estudo, cujo objetivo principal é encontrar as
principais causas que contribuem para que estas inundações ocorram, pois só assim poder-se-á
prevenir a população e os órgãos competentes, para um mal maior que pode vir a ocorrer,
quantificar e qualificar o quanto o município encontra-se vulnerável a estes eventos e em ultimo
caso subsidiar políticas de mitigação dos danos causados por estes eventos extremos.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido de acordo com as etapas de atividades a seguir relacionadas,
de forma integrada e inter-relacionadas. Foram realizados levantamento de bibliografia de suporte,
leitura e fichamento das obras e textos selecionados; discussão das obras selecionadas para ampliar
o conhecimento sobre questões conceituais e teóricas que envolvem a temática a ser
desenvolvida;trabalho de gabinete utilizando-se de SIGs livres para análise da evolução histórica da
devastação na região e a sua influência no transporte de sedimentos, aumento do escoamento
superficial e lixiviação do solo; realização de trabalhos de campo que visaram identificar in situ
algumas áreas desertificadas; realização levantamento da vegetação em áreas com diferentes tipos
de uso da caatinga; realização de entrevistas informais com a população; observar e analisar como a
população se organiza no espaço atualmente; realizar documentação fotográfica; levantamento de
características físicas de Cabaceiras, como, geologia, pedologia, cobertura vegetal, hidrografia,
clima, estado atual de desertificação, entre outros;e, utilização de um banco de dados geográficos
desenvolvido em momentos anteriores por outros membros deste projeto. Esse banco de dados
conta com imagens de satélites do sensor do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres
(CBERS, em sua sigla em inglês),com resolução espacial de 20m, obtidas no ano de 2005 e imagens
do sensor de satélite LANDSAT TM5, obtidas no ano de 1989, com resolução espacial de 30 m.
Essas imagens foram utilizadas para a geração de mapas que foram confrontados com as referencias
bibliográficas levantadas na etapa anterior.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
CARATERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O município de Cabaceiras - PB possui uma área de aproximada de 452,920 km², tendo seu
marco zero localizado nas coordenadas geográficas 07° 29' 20" de latitude Sul e 36° 17' 13" de
longitude Oeste, com altitude média de 450 metros em relação ao nível do mar.De acordo com o
173
IBGE 2010, a população de Cabaceiras foi estimada em 5.035 habitantes, com uma densidade
demográfica de 11,12 hab/km².
- Clima
Nos Cariris, os maiores valores das precipitações ocorrem durante as atuações da Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) e da Frente Polar Atlântica (FPA), sendo esses dois sistemas
responsáveis pelo regime das chuvas na região. A FPA, em suas pulsações rumo ao norte, atinge o
litoral do Nordeste até as proximidades da latitude da cidade de Natal, provocando o choque entre
as massas de ar polar e massa equatorial Atlântica (NIMER, 1980).
De acordo com Sousa (2007), na região do Cariri Paraibano, seguindo a classificação de
Köppen, predomina o tipo climático Bsh (semiárido quente), com precipitações pluviométricas
médias anuais muito baixas (em torno de 400 mm) e uma estação seca que pode atingir 11 meses. O
que caracteriza o clima da região é a grande irregularidade de seu regime pluviométrico, que
depende das massas de ar que vêm do litoral (Massa Equatorial Atlântica - MEA) e do oeste (Massa
Equatorial Continental - MEC).
A maior ou menor intensidade de influência dessas massas de ar provoca aumento ou
diminuição das chuvas na região, que caem quase sempre em apenas dois ou três meses, e assim
mesmo, na maioria das vezes, em quantidades pequenas. A evaporação é bastante variável e a
insolação atinge o total médio anual de 2.800 horas. A estação das chuvas ou inverno é reduzida
praticamente aos meses de fevereiro, março, abril, e maio, podendo às vezes também ocorrer
precipitações no mês de janeiro. A temperatura média anual gira em torno de 24,5 ºC.
Mapa1. Climatologia da Paraíba segundo Köppen (adaptado de Franco, 2009).
De acordo com a classificação de Gaussen, a área de Cabaceiras está sob a influência de
dois tipos climáticos: 2b – subdesértico quente de tendência tropical, cujo índice xerotérmico (nº de
dias secos) varia de 200 a 300 com um período seco variando de 9 a 11 meses, estando a maior
174
parte da área estudada sobre influência deste clima. Uma pequena parte do município encontra-se
inserida no clima 3aTh– mediterrâneo quente ou nordestino de seca acentuada, com temperatura
média em torno de 23°C, precipitação pluviométrica média anual entre 300 mm e 400 mm e
umidade relativa do ar de 75%, com estação seca de sete a oito meses (LIMA & HECKENDORFF,
1985).
Mapa2. Climatologia do Cariri segundo Gaussen, evidenciando o município de Cabaceiras(adaptado de Franco, 2009).
- Hidrografia
A área do município é banhada por vários rios e riachos, porém, todos de regime
intermitente, algo muito comum na região, sendo o principal destes o rio Taperoá (figura 1), o qual
faz parte da bacia do médio Paraíba que converge suas águas para o açude Epitácio Pessoa, no
município de Boqueirão-PB (Mapa1).
Figura1. Leito seco no Rio Taperoá (vista da Ponte de Cabaceiras). Foto: PIRES A. L. 27-01-2012
175
Mapa3. Drenagem natural do município de Cabaceiras-PB.
- Pedologia
Segundo SOUSA (2008) apud BRASIL (1972) e EMBRAPA (1999), os solos encontrados
no município de Cabaceiras são:
o
LUVISSOLO CRÔMICO Órtico vértico (nomenclatura antiga solos BRUNO NÃO
CÁLCICO vértico): Ocorrem em relevo suave ondulado e raramente ondulado, sendo
pouco profundos ou rasos, com PH de baixa acidez, e em alguns casos, básicos. Na
superfície é comum a ocorrência de cascalhos e calhaus de quartzo (Pavimento
Desértico);
o
NEOSSOLOS LITÓLICOS Eutróficos, (nomenclatura antiga Regossolos): Ocorrem
em áreas de relevo suave ondulado a montanhoso, sendo pouco desenvolvido, muito
raso ou raso, moderadamente ácido, com drenagem moderada a acentuada. Apresentam
rica cobertura vegetal quando isentos de uso;
o
VERTISSOLO Hidromórfico, (nomenclatura antiga VERTISSOLO): Ocorrem nas
áreas de relevo suave ondulado a ondulado, em depressões com problemas de
drenagem e elevada presença de argilas de alta atividade química (montmoriloníticas),
o que confere a esses solos notável capacidade de dilatação, quando molhados, e
contração, quando secos. Nesse processo, nas fendas abertas durante a estação seca,
caem materiais da parte superficial que atingem as partes profundas do perfil,
enquanto durante a estação chuvosa, devido à expansão das argilas, materiais das
partes baixas do perfil são pressionados e podem ser expelidos, existindo assim um
auto-revolvimento nesses solos, o que lhes confere elevada fragilidade à erosão. Dessa
176
forma, apesar de, em princípio, apresentarem cobertura vegetal relativamente densa e
variada, em caso de desmatamento, é muito difícil sua recolonização, uma vez que as
suas sementes, junto com algumas partículas desse solo, são reviradas horizontalmente
nesse processo de expansão/retração. Além dessa característica, em virtude da maior
deficiência de drenagem presente em algumas áreas, podem, ocasionalmente, ocorrer
problemas em relação ao desenvolvimento das plantas devido ao acúmulo de sais,
(Souza 2008); e
o
Além dos solos acima expostos encontram-se também alguns afloramentos rochosos
em todo o município e principalmente no extremo norte.
Através da ferramenta medida de classe do SIG livre SPRING 5.2 obteve-se a seguinte
distribuição para os solos da região:
Tabela 1. Distribuição dos solos e água no município de Cabaceiras-PB
CLASSE
Área (km²)
Área (%)
LUVISSOLO CRÔMICO
180,92
44,43
NEOSSOLOS LITÓLICOS
75,23
18,47
VERTISSOLO HIDROMÓRFICO
122,16
30,00
Afloramento Rochoso
21,70
5,33
Água
7,23
1,78
Utilizando-se de um banco de dados pré-existente, foi elaborado um mapa temático de
solos onde se pode ver toda a sua distribuição:
Mapa4. Solos do município de Cabaceiras-PB.
177
- Desertificação
Através da consulta de trabalhos já realizados no Cariri e no próprio município de
Cabaceiras, aliando-se a uma interpretação das imagens já existentes no banco de dados geográficos
que possuía imagens CEBERS da região no ano de 2005 e a ferramenta de quantificação de
medidas de classes disponível no software SPRIG 5.2, foram encontrados os seguintes valores para
a distribuição da desertificação no município:
Tabela 2. Distribuição dos níveis de desertificação no município de Cabaceiras-PB
CLASSE
Área (km²)
Área (%)
Não desertificado
73,96
18,23
Baixo nível de desertificação
219,18
54,02
Médio nível de desertificação
47,61
11,73
Alto nível de desertificação
57,77
14,24
Água
7,23
1,78
Como se pode ver no mapa abaixo, o município de Cabaceiras apresenta um alto índice de
desertificação principalmente ao logo de todo o rio Taperoá, fator este que pode vir a contribuir
para o assoreamento do rio em tempo de precipitações extremas.
Mapa6. Distribuição da desertificação no município de Cabaceiras, 2005.
178
Tendo em vista todos os dados levantados através de diversas revisões bibliográficas em
trabalhos que versam sobre o tema e o município, aliado a trabalhos realizados in loco, podem-se
inferir alguns dos motivos que fazem com que o município de Cabaceiras depare-se com
inundações periódicas quando ocorre um evento extremo de precipitação. São eles:
o Boa parte da área que foi inundada nos anos de 2004, 2008 e 2011, encontra-se parcialmente
impermeabilizada pelo calçamento existente na cidade e sendo esta uma área mais baixa,
todas as águas precipitadas a montante drenam para a mesma, fazendo com que a
microdrenagem projetada não consiga absorver o volume precipitado, formando assim poças
que aumentam com o tempo formando um verdadeiro ―lago‖ nas ruas estreitas do município
(Figura 2).
Figura 2. Entrada da cidade de Cabaceiras no dia 02/05/2011, Fonte: Folha do Cariri.
o Outro fator que pode vir a contribuir para estas inundações periódicas é a existência de solos
com deficiência de drenagem na região inundável, pois os solos mais encontrados nesta, são
os VERTISSOLOS Hidromórficos, os quais originam problemas de drenagem nas áreas não
impermeabilizadas, pois possuem uma elevada presença de argilas. Em virtude dessa
deficiência de drenagem presente nessa área, ocorrem problemas em relação ao
desenvolvimento das plantas devido ao acúmulo de sais, deixando o solo exposto a erosão,
ocasionando assim a eutrofização de rios e córregos, evento este que como pode ser
observado na entrada da cidade de Cabaceiras.
o Quanto à pedologia do município, pode-se dizer também que as maiorias dos solos da região
são rasos, fator que faz com que pouco do que é precipitado se infiltre, tornando-se
escoamento superficial. Através do levantamento do panorama de desertificação do
município pode-se observar que as áreas mais afetadas (médio e altos níveis de
179
desertificação) por este fenômeno encontram-se relativamente próximas ao rio Taperoá.
Esses dois fatores fazem com que praticamente todo o escoamento superficial em uma
grande chuva arraste os sedimentos do solo para as calhas dos rios e córregos afluentes do
Taperoá, assoreando-o, problema que influir nas áreas inundáveis.
o Devido a certa inconstância destas precipitações extremas, aliado muitas vezes à
inobservância do poder público, a população encontra-se extremamente vulnerável a este
evento, aumentando assim o risco de danos não só materiais, mas como também danos a
vida humana da população em geral.
o Em conversas informais com os munícipes, percebemos que muitos deles põe a culpa deste
evento na ―sangria‖ da Barragem Presidente Epitácio Pessoa, popularmente conhecida como
Açude de Boqueirão. Porém, depois de algumas análises feitas, esta hipótese foi descartada,
pois o Açude de Boqueirão encontra-se a jusante da área inundada. Ainda assim não se
descartou a hipótese de que a barragem, em tempos de vazão máxima do rio Taperoá, pode
atuar no efeito de remanso, uma vez que este reduz a capacidade de escoamento por
centenas de metros a montante, provocando contínuos alagamentos nas regiões próximas.
o Outra consideração importante a ser feita é que, devido a pouca profundidade dos solos,
onde o substrato cristalino encontra-se muito próximo a superfície, a saturação deste fino
lençol freático ocorre muito rápido, gerando assim rapidamente áreas alagadiças, se
comparado com áreas onde o lençol freático encontra-se mais profundo.
CONCLUSÕES
Através da realização deste estudo pode-se concluir que não só um, mas vários fatores
podem vir a contribuir para que ocorram inundações em algumas áreas no município de Cabaceiras.
Buscou-se também assim incentivar a elaboração de mais estudos que versem sobre o
tema, o município, e a região semiárida como um todo, tendo em vista que uma grade parte da
nação brasileira vive nessa região, ainda tão carente de informação e investimentos científicos.
Torna-se importante salientar que todos os resultados aqui obtidos serão disponibilizados e
divulgados através de meios acadêmicos para as autoridades estaduais e municipais, para que os
mesmos possam tomar as providencias cabíveis no que tange a autoridade de cada uma delas e
também serão disponibilizados para a sociedade em geral, principalmente para as pessoas que
residem no município alvo deste estudo.
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11
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181
DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: IMPLICAÇÕES GEOAMBIENTAIS NOS
SERTÕES DO MÉDIO JAGUARIBE
Francisco Leandro de Almeida SANTOS
Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará
E-mail: [email protected]
Ésulo Maia MEDEIROS
Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará
E-mail: [email protected]
Marcos Venício do Nascimento RODRIGUES
Graduando em Geografia – Universidade Estadual do Ceará
E-mail: [email protected]
Marcos José Nogueira de SOUZA
Professor Doutor em Geografia – Universidade Estadual do Ceará
E-mail: [email protected]
Resumo
A desertificação no semiárido brasileiro está estreitamente vinculada a um histórico de ocupação
intensamente predatório baseado no imediatismo das atividades econômicas que não levaram em
consideração as limitações e fragilidades geoambientais do bioma caatinga conduzindo à
intensificação dos processos degradacionais a partir da utilização desordenada dos recursos naturais
disponíveis. No Ceará, os Sertões do Médio Jaguaribe expõem essa problemática de forma evidente,
sobretudo, às custas da expansão do sobrepastoreio, da agricultura em moldes rudimentares e do
extrativismo vegetal. Esses vetores de pressão são responsáveis pelo agravamento dos
desequilíbrios ambientais culminando com a expansão de paisagens desérticas. Dessa forma, o
presente trabalho busca investigar as implicações geoambientais resultantes da desertificação nos
Sertões do Médio Jaguaribe identificando as áreas susceptíveis que exibem diversos aspectos
quanto ao uso e ocupação da terra e os atributos naturais envolvidos na dinâmica do meio ambiente.
Após as discussões sobre a temática são elaboradas propostas para o combate à desertificação em
bases sustentáveis subsidiando diretrizes para o controle da qualidade ambiental e manutenção da
biodiversidade, através do uso adequado dos recursos naturais compatibilizando as atividades
econômicas com a manutenção do equilíbrio ecológico dos sistemas ambientais.
Palavras-chave: Desertificação, degradação ambiental, atividades humanas.
Abstract
Desertification in the Brazilian semiarid region is closely linked to a history of occupation intensily
predatory based on immediacy of economic activities that did not take into consideration limitations
and weaknesses of geoenvironmental caatinga biome leading to intensification of the processes
degradational from disorderly use of available natural resources. In Ceará, the Sertões Middle
Jaguaribe expose this problem so evident, especially at the expense of expansion of overgrazing,
agriculture and rudimentary molds in the extraction plant. These vectors pressure are responsible for
the worsening of environmental imbalances culminating with the expansion of desert landscapes.
Thus, this paper investigates the implications of geoenvironmental resulting desertification in the
Middle Sertões Jaguaribe identifying areas likely to exhibit different aspects regarding the use end
182
occupation of land and the natural attributes involved in the dynamics of the environment. After
discussions on the issue are proposed to control desertification in a sustainable subsidizing
guidelines for the control of environmental quality and biodiversity, through are appropriate use of
natural resources compatibilizing economic activities with the maintenance of the ecological
balance of environmental systems.
Keywords: Desertification, environmental degradation, human activities.
Introdução
A problemática da desertificação tem sido discutida numa amplitude internacional
proporcionando novas reflexões acerca da relação sociedade x natureza, destacam-se as
contribuições das Conferências de Estocolmo (1972), Nairobi (1977) e Rio de Janeiro (1992) que
estimularam a cooperação entre os países no intuito de minimizar os efeitos das agressões sobre o
meio ambiente estabelecendo bases sustentáveis para o uso adequado dos recursos naturais nos
ecossistemas frágeis e susceptíveis aos processos de desertificação.
A Agenda
(capítulo
) considera a desertificação como ―a degradação da terra nas
regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles, as variações
climáticas e as atividades humanas‖ Na conceituação proposta pela ECO
, a desertificação
consiste na degradação dos solos, dos recursos hídricos, da cobertura vegetal implicando na redução
da qualidade de vida das populações afetadas (CEARÁ,
) Para Conti (
), a ―desertificação
é um conjunto de fenômenos que conduz determinadas áreas a transformarem-se em desertos ou a
eles se assemelharem. Origina-se da pressão interna de atividades humanas sobre ecossistemas
frágeis ou de mudanças climáticas determinadas por causas naturais‖
Como aporte teórico-metodológico, a pesquisa utilizou critérios formulados por Bertrand
(1972), Tricart (1977) e Souza (2000) no viés da análise geosistêmica e ecodinâmica das paisagens
como instrumentos capazes de entender a natureza de forma integrada. Avaliou-se o grau de
vulnerabilidade de cada ambiente fundamentada na classificação da bio-resistasia de H. Enhart
como parâmetro para definir a dinâmica dos componentes geoambientais, bem como, a
susceptibilidade aos desequilíbrios ecológicos. Os procedimentos técnicos operacionais cumpriram
as seguintes etapas: revisão bibliográfica com a interpretação de imagens de geoprocessamento,
trabalho de campo e levantamento de dados secundários.
No semiárido brasileiro, as irregularidades pluviométricas condicionam a existência de secas
recorrentes implicando negativamente no aproveitamento dos recursos naturais para satisfazer às
necessidades das atividades do meio rural. A desorganização dos sistemas socioeconômicos
expressa-se através da utilização predatória dos recursos disponíveis acentuando os processos de
degradação ambiental (SOUZA, 2006).
183
A pressão demográfica sobre os sistemas ambientais perante as condições naturais
limitativas ao uso e ocupação da terra potencializa a instalação da degradação ambiental em
variados graus de severidade. O desmatamento indiscriminado nas áreas susceptíveis a esse
fenômeno dotadas de vulnerabilidades ambientais tem contribuído para impactar a biodiversidade
primária, anulação da pedogênese e consequente preponderância da morfogênese, assoreamento dos
rios e deterioração generalizada dos solos. Há então, o descompasso entre a capacidade produtiva
dos recursos naturais e a sua capacidade de recuperação resultando um quadro de dinâmica
regressiva do ambiente.
Os Sertões do Médio Jaguaribe no Ceará exibem particularidades quanto ao panorama da
desertificação do semiárido brasileiro abrange em seu complexo contexto geoambiental diferentes
mosaicos paisagísticos, alvos historicamente do manejo inadequado dos recursos naturais,
traduzidos na extrema pressão exercida pela prática do sobrepastoreio, emprego de técnicas danosas
ao equilíbrio dinâmico do ambiente nos setores de produção agrícola e o extrativismo vegetal.
Dessa forma, o presente trabalho busca investigar as implicações geoambientais resultantes da
expansão da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe, possuindo relevância para a sociedade
no sentido de identificar os vetores de pressão ambiental e estabelecendo estratégias para o
desenvolvimento sustentável local através da recuperação das áreas degradadas e mitigação dos
efeitos dessa problemática no âmbito da convivência com o semiárido.
Desenvolvimento
O caráter da semiaridez sempre marcou a história do uso da terra no Nordeste do Brasil
tornando-se empecilho para a ocupação humana. Apesar dessa característica tão presente e
marcante, o aproveitamento da terra nas últimas décadas tem sido cada vez mais evidente
resultando numa utilização desordenada sobre a base dos recursos naturais disponíveis. O avanço da
degradação ambiental exerce extrema pressão ao suporte fitoecológico contribuindo para a evolução
de áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação.
Sabe-se que a desertificação assume proporções globais gerando enormes prejuízos à
economia mundial. No Brasil, o semiárido nordestino apresenta variados núcleos susceptíveis aos
processos de desertificação, em face das vulnerabilidades geoambientais impostas para o
desenvolvimento das atividades humanas.
No Nordeste brasileiro, grande parte do território está submetido às influências da
semiaridez condicionando a intermitência sazonal dos cursos d‘água No entanto, a drenagem tem
caráter exorréico aberto para o mar em função de paleoclimas úmidos responsáveis pela
esculturação prévia dos vales dos grandes rios sertanejos. A título de exemplificação destaca-se o
rio Jaguaribe no Ceará, que nasce na Serra da Joaninha, no município de Tauá, percorrendo
184
aproximadamente 620 km até desaguar no Oceano Atlântico entre os municípios de Fortim e
Aracati (CEARÁ, 2010).
Os municípios em estudo, Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara, estão situados na
Microrregião do Médio Jaguaribe na porção Centro-Oriental do estado do Ceará localizando-se
entre os paralelos
‘ e
‘ e meridianos 3
‘ e 3
‘ a oeste de Greenwich tendo
aproximadamente 4.214,7 Km² (IPLANCE, 2000).
Figura 1: Localização dos municípios de Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara que formam a
Microrregião do Médio Jaguaribe. Fonte: Abreu (2006).
185
As variações climáticas do Quaternário foram responsáveis pela elaboração das superfícies
sertanejas do Médio Jaguaribe onde os efeitos da semiaridez expressaram-se através dos processos
de pedimentação esboçando a configuração de níveis escalonados de erosão como resultado do
aplainamento progressivo do relevo regional. A imposição da morfogênese mecânica promoveu
complexos esquemas de erosão diferencial nos compartimentos geomorfológicos proporcionando a
existência de núcleos de planaltos residuais e campos de inselbergues dispersos pelas depressões
semiáridas.
Os climas semiáridos predominavam durante todo o Quaternário na região
Nordeste. As flutuações para condições climáticas úmidas apenas retratariam
melhor a distribuição das chuvas. A cada retorno à semiaridez, agrava-se-ia a
irregularidade das chuvas capazes de promover um escoamento violento, desgaste
das encostas e consequente retomada da morfogênese mecânica (TRICART, 1959
apud SOUZA, 2000, p. 64).
Bigarella (2003) salienta que as flutuações climáticas do Quaternário brasileiro foram
documentadas por Bigarella e Ab‘ Saber (
), Bigarella e Andrade (
) e Bigarella e
Mousinho (1966) a partir dos aspectos erosivos e sedimentares encontrados nas diversas sequências
de depósitos correlativos e níveis topográficos. Nessa perspectiva, os referidos autores concluíram
que longas fases semiáridas alternavam-se com fases úmidas, visto que, as flutuações climáticas
para o seco contribuíram para a ação das chuvas concentradas promovendo a rápida remoção dos
solos desprotegidos pela redução das florestas tropicais.
―O estudo dos processos morfogenéticos demonstram a importância que o fator climático
assume no condicionamento para esculturação das formas do relevo‖ (CHRISTOFOLETTI,
)
As superfícies de erosão sertanejas, sob condições climáticas semiáridas pretéritas, foram
progressivamente rebaixadas a níveis de depressões intermontanas.
O desenvolvimento das vastas superfícies de aplainamento, formadas por processos
morfogenéticos condicionados por climas secos, conduziram à formação de feições que convergem
através de declives suaves para os fundos dos vales (pedimentos). A coalecência das rampas
pedimentadas proporcionaram o expraiamento da depressão periférica oriental do Ceará,
posicionada a oeste da bacia mesozóica potiguar. A Depressão do Sertão do Médio Jaguaribe é,
portanto, herança dessas condições paleoclimáticas cujas características morfogenéticas foram
mantidas devido à semiaridez atual do clima (CEARÁ, 2007).
Geologicamente a maior parte dos Sertões do Médio Jaguaribe é composta por litologias
pertencentes ao embasamento cristalino datadas do Pré-Cambriano com eventuais coberturas
sedimentares cretáceas como as bacias de Iguatú, Icó e Lavras. A superfície apresenta-se
conservada e moderadamente dissecada em colinas rasas e em interflúvos tabulares com níveis
altimétricos entre 200 – 400 m intercalados por amplas planícies fluviais como a do rio Jaguaribe.
186
As formas de relevo que o integram exibem reflexos de eventos tectônicos remotos evidenciando a
relação da morfologia com fatores litológicos cujo mecanismo de evolução geoambiental está
associado às flutuações climáticas do Quaternário (SOUZA, 2000).
A Zona de Convergência Intertropical constitui o principal sistema atmosférico atuante no
Estado do Ceará sendo responsável pela distribuição das chuvas que se concentram no primeiro
semestre do ano.
A sazonalidade desse sistema atmosférico impõe irregularidades na distribuição
pluviométrica na área dos Sertões do Médio Jaguaribe havendo prolongados eventos de estiagem
típicos da influência do clima semiárido.
Sob o ponto de vista hidroclimático, a totalidade da área tem valores pluviométricos médios
anuais inferiores ou próximos de 800 mm, configurando condições de semiaridez em virtude das
acentuadas deficiências hídricas durante a maior parte do ano (CEARÁ, 2007).
Dessas condições emerge o recobrimento vegetal como componente que melhor reflete o
jogo de relações mútuas entre os demais componentes geoambientais. Há uma dispersão das
formações de caatingas que ostentam variados padrões fisionômicos e florísticos (SOUZA, 2000).
Em virtude da impermeabilidade do material rochoso, a rede de drenagem apresenta-se com
padrões dendríticos e subdendríticos favorecendo a ramificação e o adensamento dos cursos fluviais
decorrentes do escoamento superficial. O porte e o espaçamento das plantas da caatinga
subordinados a adaptações fisiológicas potencializam a ação dos agentes morfodinâmicos através da
remoção dos horizontes superficiais dos solos por efeitos das chuvas torrenciais sendo frequentes a
exposição de afloramentos rochosos, chãos pedregosos e matacões.
Tendo em vista o predomínio de processos de morfogênese mecânica, constata-se uma
pequena alteração no manto superficial das rochas, o que justifica a presença de solos rasos e
pedregosos bastante susceptíveis aos processos erosivos. Prevalecem os Neossolos Litólicos,
Planossolos Háplicos e Neossolos Flúvicos revestidos pela caatinga arbustiva (CEARÁ, 2007).
As marcas do antropismo expressam-se por meio da implementação das atividades
econômicas no decorrer do processo histórico denotando a superutilização da terra a partir do
emprego de técnicas predatórias sobre a base dos recursos naturais renováveis.
―O sistema agropastoril apresenta-se como fator que maior pressão exerce sobre a cobertura
vegetal do semiárido nordestino e essa pressão varia de intensidade em função da localização,
estrutura e tamanho dos remanescentes‖ (CEARÁ, 2007).
Nos Sertões do Médio Jaguaribe a prática do sobrepastoreio, o extrativismo vegetal e a
atividade agrícola contribuíram, historicamente, para a instalação de um quadro preocupante de
degradação ambiental exercendo extrema pressão para equilíbrio espontâneo da natureza.
187
Assim, elementos naturais e não naturais integram a paisagem, mas a alteração drástica de
alguns desses elementos podem comprometer as características naturais do ambiente. É justamente
nesse contexto que está inserida a região dos Sertões do Médio Jaguaribe. Mas para um melhor
entendimento sobre as alterações existentes na referida região é necessário compreender como
ocorreu o processo de ocupação.
De forma geral, a ocupação dos sertões do estado do Ceará se deu através da criação de gado
o que possibilitou o avanço e posterior conhecimento do interior. Na região do Médio Jaguaribe não
foi diferente sendo a criação de gado e as charqueadas os grandes responsáveis pela ocupação da
região no início do século XVII ficando esse período conhecido como Civilização do Couro ou
Ciclo do Gado (CEARÁ, 2007).
A pecuária, como atividade econômica, trouxe significativo resultado para a região, mas
mesmo com a sua expansão. As grandes secas provocavam mortandade de animais, mas ainda
assim, devido à riqueza dos pastos, a recuperação era rápida desde que estabelecida a regularidade
climática (CEARÁ, 2007).
O auge da produção de couros e carnes no Jaguaribe se deu no século XVIII impulsionada
pelo encerramento de oficinas de charque como, por exemplo, a de Mossoró em 1788. Porém, as
secas do final do século XVIII, especialmente a do período de 1790 – 1793, prejudicaram
sobremaneira a produção de charque da região através da drástica redução dos rebanhos onde
medidas apenas paliativas não foram capazes de reerguer a produção ao que era antes
(PANTAELA, 2012).
No final do século XVIII e início do século XIX o algodão, junto com a produção de
charque restante, passa a compor a economia da região. Mas com a Guerra de Independência da
América do Norte que interrompeu a produção de alguns produtos, o algodão Nordestino ganha
importância e passa a ser exportado para o continente europeu (GIRÃO apud PANTAELA, 2012).
Apesar das oscilações históricas na produção de algodão, no século XX esse produto se consolidou
como um dos principais do Ceará sendo o Vale do Jaguaribe uma região muito importante com um
produto bastante elogiado por especialistas (FERREIRA NETO; SOUSA apud PANTAELA,
2012).
Historicamente as ações predatórias de manejo inadequado dos recursos naturais disponíveis
contribuíram para o avanço dos desequilíbrios ambientais traduzidos no processo de desertificação.
Os vetores de pressão são representados pela pecuária extensiva, agricultura de subsistência e pela
extração da lenha utilizada para compor matriz energética através da produção do carvão vegetal.
Dentre os municípios que integram os Sertões do Médio Jaguaribe, o município de Jaguaribe
aparece com a maior extração de lenha durante todo o período 1998 – 2007. Este comportamento
permanece na análise da produção de carvão. Além das consequências ambientais, essas atividades
188
contribuem para agravar os problemas sociais. No caso das carvoarias utilizam mão de obra infantil
e não fornecem condições adequadas de trabalho expondo as populações ao aparecimento de
doenças respiratórias (CEARÁ, 2010).
Ab‘ Saber (
), afirma que a desertificação é resultado das atividades socioeconômicas
sobre a base da estrutura geológica do Nordeste, com suas particularidades de vulnerabilidades
ambientais marcadas pela susceptibilidade a degradações irreversíveis na paisagem e nos tecidos
ecológicos naturais.
A desertificação no Brasil atinge, sobretudo, a porção semiárida do país,
concentrada basicamente na região Nordeste, cujas características físicoambientais, tais como, evaporação e evapotranspiração elevadas, ocorrência de
secas, solos rasos bastante susceptíveis a erosão com alta salinidade e reduzida
capacidade de retenção de água limitam o seu potencial produtivo (CEARÁ, 2007,
p. 25).
Nos Sertões do Médio Jaguaribe, os impactos produzidos pelas atividades socioeconômicas
são decorrentes das condições de uso e ocupação da terra ao longo do processo histórico, resultando
numa devastação generalizada do bioma caatinga em virtude do aumento do contingente
populacional nos mais variados mosaicos paisagísticos. A desertificação expressa-se na região
através da perda progressiva da biodiversidade primária, havendo o processo de dinâmica regressiva
do ambiente sob os efeitos de resistasia antrópica. Ela materializa-se na dispersão edáfica de
espécies invasoras menos exigentes a condições naturais adversas, exibindo diferentes estágios de
sucessão ecológica, dominadas por plantas como Mimosa Acutistipula (jurema preta), Cereus
Jamacuru (Mandacaru) e Cereus Gounellei (Xique-xique).
―Nas áreas circunvizinhas da cidade de Jaguaribe, os efeitos do desmatamento
indiscriminado são bem evidentes. A sucessão ecológica secundária apresenta uma cobertura
bastante descaracterizada, predominando espécies de caatinga arbustiva associadas a um tapete
herbáceo‖ (FUNCEME/UFC/UFPI,
apud CEARÁ, 2007).
As queimadas desordenadas adotadas nos sistemas agrícolas de subsistência implicam
negativamente na capacidade produtiva dos solos proporcionando o esgotamento do potencial
edáfico com perdas qualitativas nos índices de produção. As áreas dos Sertões do Médio Jaguaribe
sujeitas à expansão da desertificação constituem-se em ambientes fortemente instáveis, impactados
por atividades socioeconômicas incompatíveis com a capacidade de suporte dos sistemas
ambientais. O pisoteio excessivo do gado nas áreas de expansão da pecuária extensiva provocam a
impermeabilização e compactação dos solos conduzindo ao aumento do escoamento superficial e
maior potencial para a atuação de processos erosivos ativos. Há o assoreamento do rio Jaguaribe em
189
virtude da intensa mobilização de partículas para os fundos de vales resultando na ruptura do
equilíbrio dinâmico do ambiente.
A planície fluvial do rio Jaguaribe representa um ambiente de diferenciação no contexto dos
sertões semiáridos abrigando melhores condições de solos e disponibilidades hídricas. O
revestimento vegetacional expressa-se em resposta às interconexões dos condicionantes
geoambientais expondo formações de carnaubais, cuja fisionomia de mata galeria contrasta com a
vegetação caducifólia e de baixo porte dos interflúvios sertanejos (SOUZA, 1988).
Na planície do rio Jaguaribe, as potencialidades dos recursos naturais propiciaram, por parte
das atividades socioeconômicas, uma exploração irracional do ambiente, sobretudo, através da
implementação de técnicas inadequadas nos sistemas de uso da terra ―Nas planícies fluviais o
manejo inadequado dos solos pela agricultura irrigada conduz a salinização dos mesmos.
Inviabiliza-se, por consequência, a possibilidade de recuperação de solos dotados de alta fertilidade
natural como Neossolos Flúvicos‖ (CEARÁ,
)
―Com os desmatamentos, há uma diminuição da matéria orgânica e ablação dos horizontes
superficiais dos solos. Esse fato conduz a uma modificação nas propriedades físicas dos solos a uma
menor capacidade de retenção de umidade e de nutrientes‖ (CEARÁ,
)
Nessas condições, a ecodinâmica tende às condições fortemente instáveis com
possibilidades para manifestação de níveis diferenciados de degradação e principalmente de
instalação da desertificação (CEARÁ, 2010).
Figura 2: Área visivelmente degradada na planície fluvial do Médio Jaguaribe. Fonte: Góes (2010).
190
O aumento de áreas em processo de desertificação no médio curso do rio Jaguaribe ativa
com maior velocidade os efeitos da morfodinâmica traduzidos na exposição dos solos à erosão
ampliando-se os setores com afloramentos rochosos e ravinamentos.
Figura 3: Área em processo de desertificação próximo a cidade de Jaguaribe na BR 116. Fonte: Almeida
(2010).
Ceará (2007) abordando os aspectos quantitativos do fenômeno da desertificação nos
Sertões do Médio Jaguaribe verifica que 44.167 ha do município de Jaguaribe enquadra-se no
quesito de alta susceptibilidade à desertificação apresentando evidências marcantes de degradação
ambiental, o que representa 23,54% da área municipal total. Em Jaguaretama, as áreas degradadas
concentram-se ao Sul, Sudoeste e Sudeste abrangendo um total de áreas comprometidas quanto à
degradação de 29.588 ha, ou seja, 17,59% do total do município.
O município de Nova Jaguaribara é o menos afetado pelo processo ambiental observado,
abrangendo 7.434 ha de terras degradadas, correspondentes a 11,34% de sua área total (CEARÁ,
2007). Vale ressaltar que o município de Nova Jaguaribara foi fundado em 2001 em decorrência da
inundação provocada pela construção da barragem do Castanhão concluída em 2002, próxima a
antiga sede municipal.
191
Nos municípios de Jaguaribe, Jaguaretama e Nova Jaguaribara, as condições de extrema
pobreza dessas populações perante a uma estrutura fundiária excludente e concentradora
evidenciam que a problemática da desertificação possui dimensão socioambiental. A busca pela
sobrevivência num ambiente semiárido marcado por limitações naturais conduzem a uma utilização
predatória dos recursos naturais disponíveis condicionando os solos a exaustão e o empobrecimento
comprometendo o controle da qualidade ambiental.
Considerações finais
A análise das questões ambientais contextualizadas nessa pesquisa indica a ampliação do
panorama da desertificação nos Sertões do Médio Jaguaribe como produto da incorporação de
novas terras para atender à demanda dos ciclos produtivos. Nesse viés, torna-se necessário
promover diretrizes ao combate à desertificação através de medidas cabíveis na perspectiva do
ordenamento territorial, subsidiando bases para a elaboração de estudos interdisciplinares que
conduzam o poder público para a implementação de ações pautadas nos preceitos do
desenvolvimento sustentável. As diretrizes consistem em:
- recuperar áreas degradadas através da recomposição florística da mata ciliar do rio Jaguaribe. Isso
pode atenuar o desencadeamento dos processos erosivos e o consequente assoreamento do talvegue;
- adotar técnicas de conservação dos solos com a implementação de sistemas agroecológicos e de
manejo florestal visando o controle de espécies invasoras com o reflorestamento de espécies do
conjunto vegetacional primário;
- controlar o sobrepastoreio e o extrativismo vegetal indiscriminado;
- integrar a comunidade científica com as populações locais levando à difusão da educação
ambiental e de técnicas de uso sustentável dos recursos naturais disponíveis.
Essas medidas tornam-se imprescindíveis para o controle da qualidade ambiental nos
Sertões do Médio Jaguaribe viabilizando o incentivo a programas de inclusão social e erradicação
da pobreza no intuito de minimizar as agressões aos vulneráveis sistemas ambientais susceptíveis ao
processo de desertificação.
Referências
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193
TESTE DE INFILTRÔMETRO EM ÁREA DESERTIFICADA NO MUNICÍPIO DE
CARAÚBAS – PB12
Haerte Durgel de MELO
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
Dennys da Silva BIZERRA
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
RESUMO
A nossa pesquisa está pautada em dissertar sobre a Desertificação em um contesto local, no
município de Caraúbas, Cariri Paraibano, que está inserido na Mesorregião da Borborema,
localizada entre o Sertão e o Agreste, na porção central do Estado. O seu Bioma é a Caatinga, com
ocorrência somente no Brasil na região nordeste do país e norte de Minas Gerais, correspondendo a
10% do território nacional. A desertificação é uma das grandes preocupações sobre impactos
ambientais, sendo discutida em vários níveis acadêmicos, inclusive em eventos internacionais. Para
uma análise mais cientifica, usamos a técnica de infiltração que foi baseado no infiltrômetro de
simples anel ou de cilindro único de Hills, adaptado por Guerra e Cunha. O objetivo do presente
trabalho é analisar o gral de compactação do solo, fazendo uma relação com o uso do solo e
analisando fisionomicamente a paisagem. Os resultados obtidos foram condizentes com o esperado,
portanto, vem a confirmar que se trata de uma área desertificada e com o solo compactado.
Palavras-Chave: Desertificação; Cariri Paraibano; Caraúbas; Teste de Infiltrômetro; Compactação
do Solo.
ABSTRACT
Our research is grounded in discourse on Desertification in a contest site in the
municipality of Caraúbas, Cariri Paraibano, which is inserted in Mesoregion Borborema, located
between Hinterland and the Wasteland, in the central portion of the state. His is the Caatinga
Biome, occurring only in Brazil in the northeast region of the country and northern Minas Gerais,
corresponding to 10% of the national territory. Desertification is a major concern about
environmental impacts, being discussed at various academic levels, including international events.
For a more scientific, we use the technique of infiltration which was based on simple ring
infiltrometer or single cylinder Hills, adapted by War and Cunha. The aim of this paper is to
12
Orientador: Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza, [email protected] - Universidade Federal da Paraíba
194
analyze the grail of soil compaction, making a relationship with the land use and analyzing
physiognomic landscape. The results obtained were consistent with the expected thus comes to
confirm that it is a desertification area and the compacted soil.
Keyswords: Desertification; Cariri Paraibano; Caraúbas; infiltrometer test, Soil Compaction
INTRODUÇÃO
O estado da Paraíba está situado entre 3
(meridiano de referência 3 W), e
‘
‘‘ e
‘ ‘‘e 3
‘
‘‘de Longitude Oeste
‘ ‘‘ de Latitude Sul (paralelo de referência
07ºS). Com uma área de 56.584 Km², a sua maior extensão é na direção leste-oeste, com uma
distancia linear de 443Km, sendo menor a sua extensão na direção norte – sul, com uma distancia
linear de 263Km.
Atualmente a Paraíba é composta por 223 municípios, somando uma população de
aproximadamente 3,5 milhões de habitantes (IDEME, 2010). O estado está dividido em oito zonas
fisiográficas que foram definidas através de um estudo do IBGE, o qual teve por objetivo delimitar
as paisagens naturais que caracterizam o espaço físico paraibano, baseando-se no critério ecológico
da diferenciação espacial. Essas zonas fisiográficas são: Zona do Litoral ou Mata, Agreste
Litorâneo, Brejo, Agreste Central, Sertão dos Cariris Velhos, Seridó, Baixo Sertão de Piranhas e
Alto Sertão (MOREIRA, 1989).
A cidade de Caraúbas está inserida na Mesorregião da Borborema, localizada entre o
Sertão e o Agreste, na porção central do Estado. A Mesorregião da Borborema é um espaço
subdividido em 4 microrregiões: Seridó Ocidental, Seridó Oriental, Cariri Ocidental e Cariri
Oriental, este ultimo é onde se localiza Caraúbas.
Segundo MOREIRA (1989) a Microrregião do Cariri Oriental é aquela que apresenta os
mais baixos índices pluviométricos do Estado. E caracteriza-se pela ocorrência de solos pobres e
salinos. O IBGE (2010) calculou a população total em 61.388 habitantes. Possui 12 municípios
(Alcantil, Barra de Santana, Barra de São Miguel, Boqueirão, Cabaceiras, Caraúbas, Caturité,
Gurjão, Riacho de Santo Antônio, Santo André, São Domingos do Cariri, São João do Cariri).
DESERTIFICAÇÃO E O CARIRI PARAIBANO
Uma das preocupações atuais sobre os impactos ambientais provocados pelo Homem é a
desertificação. De acordo com Tavares de Melo (1998, apud SOUZA, 2008, p.16).
195
A palavra desertificação é de ordem latina, sendo uma derivação de desertus
e fixação. A primeira apresenta duplo significado. Como adjetivo, pode ser
traduzido para desabitado, abandonado, inculto, selvagem. Como substantivo
quer dizer solidão, desolação, área vazia. A segunda é um sufixo verbal
proveniente do verbo ficare, significando ação de fazer, ser feito, ser
produzido.
A partir da década de 1970, esse termo passa a expressar um conjunto de processos que
dão origens á áreas degradadas nas regiões de clima seco (MAINGUET, 1992), resultando de vários
fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas (CCD, 1995). Por esta definição,
sua origem está relacionada tanto a causas naturais tanto a causas relacionadas da pressão exercidas
pela atividade humana em ecossistemas frágeis, o que conduziria determinadas áreas a se
transformarem em desertos ou a eles se assemelharem (CONTI, 1995).
O Bioma Caatinga ocorre somente no Brasil na região nordeste do país e norte de Minas
Gerais, correspondendo a 10% do território nacional. Desde o período colonial, o ecossistema vem
sofrendo drásticas modificações devido às ações humanas, tendo hoje mais de 45% de sua área
desmatada. Isso a torna um bioma vulnerável principalmente pelo processo de desertificação
(ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2012).
A Caatinga por muito tempo foi tratado, erroneamente, como um ambiente de pouca
riqueza biológica, entretanto, quando comparada a outras regiões semiáridas do mundo, a Caatinga
apresenta um alto grau de diversidade biológica e grande quantidade de espécies endêmicas (LEAL
et al., 2005; MENDES, 1997). Por tanto a degradação deste Bioma levara a um grande impacto
biológico e social, tendo em vista que a medida que a desertificação vai se instalando e se
intensificando fica mais difícil a permanência do homem do Cariri em seu Território.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Cariri esta situado no final do percurso dos fluxos úmidos que se direcionam para o
semiárido nordestino e em situação de sotavento, fazendo parte da diagonal mais seca do Brasil,
com médias pluviométricas de cerca de 500mm/ano (NIMER, 1979).
Na região do Cariri predomina o clima semi-árido quente e seco, com chuvas de verão e
outono. A estação chuvosa ocorre de janeiro a abril.
CARVALHO (1982) descreve o clima no Cariri como os índices pluviométricos, no geral,
entre 400-800 mm anuais, caracterizado como área do clima semiárido, as chuvas distribuem-se no
verão e inverno. As temperaturas médias anuais variam entre 21º e 28ºC e a umidade relativa fica
entre 60 e 70%.
196
Os aspectos climatológicos tornam a caatinga uma formação complexa do ponto de vista
espacial, fazendo com que a sua fisionomia varia bastante dentro do semiárido, o que resulta em
diferentes fitofisionomias (ALVES, 2009), sendo predominantemente mais arbustiva e esparsa em
grande parte dos Cariris Velhos.
Além da questão pluvial, as caatingas também são influenciadas pelos tipos de solos e pela
condição geomorfológica em que estão inseridas. Neste sentido, podemos considerar que esse tipo
de vegetação é um mosaico de diferentes formações reunidas pelas mais variadas transições, isto
causa muitos problemas para enquadrá-la em uma classificação universal, uma vez que a maioria de
seus aspectos fisionômicos é decorrente da inter-relação complexa entre fatores ecológicos (clima,
topoclima, condições edáficas e topográficas) e fatores antrópicos (ALVES, 2006).
Nos aspectos socioeconômicos, as limitações do solo no Cariri repercutem fortemente
sobre a atividade agrícola, restringindo, seu desenvolvimento. Com o aproveitamento das áreas
circundantes da barragem de Boqueirão para a produção de uma agricultura irrigada, é que se
observa a expansão da cultura do tomate, esta passa a ter peso significativo no final do Século XX,
além da criação de médio porte. Encontra-se com destaque na região a palma forrageira e a
algaroba. (MOREIRA, 1989)
Atualmente a policultura alimentar tradicional (com ênfase para o feijão e o milho) e a
pecuária extensiva de médio porte comandam a organização do espaço
APLICAÇÃO DO INFILTRÔMETRO
O teste de infiltrômetro serve para identificar qual a capacidade de um solo em relação a
infiltração da água, obtendo-se, através dele, uma amostra de como está o nível de compactação do
solo, o qual interfere diretamente nos resultados obtidos. O uso da técnica do infiltrômetro foi
baseado no infiltrômetro de simples anel ou de cilindro único de Hills (1970), adaptado por Guerra
e Cunha (1996).
197
FIGURA 01: Infiltrômetro utilizado nos experimentos. Adaptado de Guerra (2002).
Para fazermos o teste de Infiltrômetro utilizamos um cilindro de ferro com as seguintes
dimensões: 15 cm de altura e 10 cm de diâmetro interno, sendo que a parte do Infiltrômetro que vai
penetrar no solo era mais fina que o topo. Para este equipamento poder penetrar no solo com mais
facilidade, utilizamos um martelo, além de régua e caderneta de campo para fazermos as anotações
necessárias, relativas ao quanto de água penetrava no solo, e um relógio para sabermos em quanto
tempo isso ocorria. Esses equipamentos podem ser vistos parcialmente na figura 02, abaixo.
Figura 02: Material utilizado para fazer o teste de infiltrômetro.
(Foto: Haerte Melo)
Colocamos o Infiltrômetro no solo, utilizando um martelo para bater no infiltrômetro com
o intuito de penetrar 5 cm no solo. Procuramos não perturbar muito o solo, para que não houvesse
interferência nas características de compactação original. Depois de feito isso, colocamos uma
régua graduada dentro do Infiltrômetro e prendemos com um pregador de roupa. Após essa
montagem, o Infiltrômetro ficou preparado para receber a água e ser utilizado. Colocamos água ate
encher, marcando no cronômetro e anotando na seguinte sequencia: profundidade da água após 30
segundos, 60 segundos, 1 minuto e 30 segundos e 2 minutos. Após essa sequencia anotamos a
profundidade da água a cada minuto ate completar 30 minutos de experiência. Cada vez que a
profundidade dentro do infiltrômetro atingia 5 centímetros marcávamos um asterisco e
reabastecíamos o infiltrômetro com água, sem zerar o cronômetro.
198
Tal como foi dito anteriormente, esse experimento nos apresenta a Taxa de infiltração, que
é o índice que mede a velocidade que a água da chuva se infiltra no solo. Ela exerce um importante
papel sobre o escoamento superficial. Essa taxa de infiltração pode ser mensurada e assim
chegarmos a dados que se assemelham com o natural.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O solo encontrado em Caraúbas e mais especificamente na área do teste é do tipo Neossolo
Flúvico.
Os Neossolos Flúvicos são derivados de sedimentos aluviais com horizonte A assentado
diretamente sobre um Horizonte C, constituídos de camadas estratificadas, sem relação
pedogenética entre si. O horizonte A é a porção superior do perfil do solo, em geral bastante
intemperizado e rico em matéria orgânica, onde vive a maior parte dos organismos do solo Já o
horizonte C tem o nível de embasamento intemperizado na base de um perfil de solo. Em geral,
apresenta-se pouco alterado por organismos e acredita-se que seja de composições físicas, química e
mineralógica semelhante á rocha da qual teve origem. (SUGUIO, 1998.).
A área de ocorre do Neossolos Flúvicos se expande em toda a região das caatingas, ao
longo de cursos d‘água As áreas de dominância destes solos perfazem um total de
3 km² e
constituem 2,0% da região semiárida. (JACOMINE,1996).
Os Neossolos Flúvicos são considerados de grande potencialidade agrícola, por se localizar
em áreas de várzea, a suceptividade a erosão é pouca ou quase nenhuma, entretanto este uso
agrícola e ou pastoril pode ter compactado o solo da área estudada.
Tabela 01:
Amostra
1
Município
Tipo de
Caatinga
Caraterística
Morfológica
do Relevo
Tipo de Solo
Número de
Reabastecimentos
Caraúbas
Arbustiva
aberta, com
pouca ou
quase
nenhuma
cobertura
vegetal
Pouco
inclinado
Neo Solo
Flúvico
1
199
TABELA DE INFILTRAÇÃO NO CAMPO.
Ponto 01
Caraúbas
Lat.
Long.
778121 9173936
Tempo
Mm
10
0
9,5
30"
9,4
60"
9,2
90"
9
120"
8,7
3'
8,5
4'
8,3
5'
8
6'
7,7
7'
7,5
8'
7,1
9'
7
10'
6,8
11'
6,6
12'
6,4
13'
6,2
14'
6
15'
5,7
16'
5,5
17'
5,4
18'
5,2
19'
*
9,9
20'
9,7
21'
9,4
22'
9,2
23'
9
24'
8,7
25'
8,5
26'
8,3
27'
8,1
28'
7,9
29'
7,7
30'
* reabastecimento
Este resultado nos mostra que por se tratar de uma área desertificada o seu grau de
compactação é alto, pois o solo está visivelmente compactado e a água demorou muito para
200
conseguir percolar o solo, tendo em vista que fizemos outros testes de infiltração que não entra
nesta pesquisa, e esses testes nos mostrou que em área de mesmo solo e inclinação, porem com
muito mais cobertura vegetal e de porte Arbustivo Arboreo e com claras evidencias da lcencia do
uso do solo o reabastecimento foi de 5 vezes, por tanto em casos reais de precipitação, a água iria
escorrer muito mais que infiltrar, retardando mais ainda a recuperação espontânea da cobertura
vegetal, fazendo assim com que os nutrientes do solo fiquem cada vez mais, em níveis baixos,
deixando o solo empobrecido.
CONCLUSÃO
A desertificação do Cariri não significa que vai virar um deserto, e sim uma área com solos
empobrecidos e inférteis, fazendo com que a vida do Caririzeiro se complique cada vez mais.
A recuperação para estas regiões esbarra em um grande empecilho, como o custo, já que
para a recuperação de áreas desertificadas demanda muito dinheiro e tecnologia, coisa que não se vê
muito quando a temática é recuperação de áreas no Cariri Paraibano.
O teste de Infiltrômetro nos fornece uma amostra do real, já que ele imita a infiltração da
água no solo e por isto é uma técnica segura, que nos da dados concretos da real situação do solo. É
importante que se diga que antes de ir a campo verificamos se havia chovido na região dias atrás,
pois este fenômeno iria mascarar a nossa pesquisa. Por isso, deduzimos que no período chuvoso a
captação da água para o subsolo é ainda mais difícil, pois ele logo fica saturado, por ter a rocha mãe
bem perto da superfície e ter o solo compactado, impedindo a infiltração da água no solo.
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Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 1.222p.
202
DESERTIFICAÇÃO NO SERIDÓ – ORIENTAL: A ÓTICA DO SERTANEJO E
CONTRIBUIÇÕES PARA A MITIGAÇÃO DESSE PROCESSO13
Larissa Maia de SOUZA (NESA/IFRN) – [email protected]
Valdenildo Pedro da SILVA (NESSA/IFRN) – [email protected]
Resumo
O ultimo século foi caracterizado por um aumento dos problemas ambientais produzidos pela ação
humana, dentre os quais, destacamos o processo de desertificação que já assola uma considerável
fatia da população brasileira. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo analisar a
percepção dos seridoenses sobre o processo de desertificação do Seridó Oriental norte-riograndense, almejando levantar estratégias de mitigação desse processo, tendo por base os
depoimentos e opiniões dos sertanejos locais. Para tanto, realizamos pesquisa bibliográfica,
levantamento documental e pesquisa empírica, através de estudo de caso em municípios dessa
microrregião onde foram aplicados instrumentos de entrevistas em profundidade utilizando o
―critério saturação‖ Diante das discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa
observamos que osseridoenses sentem o fenômeno da desertificação (seca) e que o classificam
como intenso aos seus olhos.Em cada fala, discurso ou comentário, observamos que no combate à
esse processo, o conformismo da população afetada e a falta de políticas públicas apresentaram-se
como sendo os principais problemas. Assim, ações mitigatórias desse processo são questões centrais
que devem ser mais bem discutidas visando uma maior eficiência em ações de atenuação ou
eliminação desse fenômeno, além disso, focamos a preocupante a influencia que a indústria de
cerâmica vermelha possui sobre o Seridó e seus habitantes, uma vez que esta se configura por ser
um dos maiores meios de empregabilidade e se apropria desse fator para exercer sua cadeia
produtiva de maneira irresponsável e prejudicial ao meio ambiente e aos habitantes locais.
Palavras–chave:Desertificação, Percepção ambiental, Seridó – oriental.
Abstract
The last century was characterized by an increase of environmental problems produced by human
activity, among which we highlight the process of desertification already plaguing a considerable
slice of the population. In this sense, the present study aimed to analyze the perception of
seridoenses about the process of desertification of north-eastern Seridó Rio Grande, aiming to raise
13
Essa pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Estudos do Semi - Árido (NESA) da Diretoria Acadêmica de Recursos
Naturais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. E contou com apoio
financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
203
mitigation strategies that process, based on the testimony and opinions of backland sites. Thus, we
performed literature search, survey and documentary empirical research through case study in
municipalities where this micro instruments were administered in-depth interviews using the
"saturation criterion." Given the discussions and reflections developed during the research found
that osseridoenses feel the phenomenon of desertification (drought) and for classification as to their
intense olhos.Em each speech, speech or comment, we note that in combating this process,
conformity of affected population and the lack of public policies presented themselves as being the
main problems. Thus, mitigating actions of this process are key issues that must be further
discussed towards greater efficiency in actions to mitigate or eliminate this phenomenon, in
addition, the focus of concern the influence that the red ceramic industry has on the Seridó and its
inhabitants, once this is set to be one of the greatest means of employability and appropriates this
factor to exert its supply chain so irresponsible and harmful to the environment and local people.
Keywords: Desertification, Environmental Perception, Seridó - Eastern.
Introdução
Vários são os problemas ambientais produzidos pela ação humana que comprometem a
sustentabilidade das sociedades, pressionando o meio ambiente, afetando o equilíbrio dos sistemas
naturais e, consequentemente, a qualidade de vida das populações.
Dentre os processos que interferem diretamente para o estado de declínio dos estoques dos
recursos naturais podemos citar o processo da desertificação o qual, admitimos em parte, ter como
principal causa a ação antrópica sobre ecossistemas, que mediante sua exploração irracional trazem
transformações muitas vezes irremediáveis para a natureza e para o próprio homem.
Analisando preliminarmente a literatura que vem tratando do processo de desertificação,
com ênfase para causas e conseqüências, bem como para ações de mitigação e de combate desse
processo entendemos que esta, dentre todas as interferências que o homem tem provocado, é uma
das que mais afetam o Planeta. Segundo Conti (2008), a desertificação é entendida como um
conjunto de fenômenos que conduz determinadas áreas a se transformar em desertos ou a eles se
assemelharem. Podendo, portanto, resultar de mudanças climáticas determinadas por causas
naturais ou pela pressão das atividades humanas sobre ecossistemas frágeis, sendo, neste caso, as
periferias dos desertos (ou áreas transicionais) as de maior risco de degradação generalizada em
virtude do seu precário equilíbrio ambiental. Esse processo provocado por ações naturais e
principalmente humanas (GEDS, 1999) colabora para um estado de deterioração do meio e é um
problema que vem ganhando espaço nos debates nas áreas que a norteiam.
204
Para Araújo (2002), o processo de desertificação pode ser entendido como um círculo
vicioso de deterioração crescente na qual a erosão causa a redução da capacidade de retenção de
água pelos solos, e consequentemente de biomassa, com menores aportes de matéria orgânica ao
solo. Logo, a cobertura vegetal torna-se rala e depaupera, a radiação solar intensa desseca ainda
mais o solo e o processo de erosão acentua promovendo a aridez. Trata-se de um processo em que a
ação do homem tem um papel preponderantemente ativo, acelerando seu desenvolvimento e
agravando as consequências através de práticas impróprias de uso dos recursos naturais.
No Brasil, as áreas propensas ao desencadeamento do processo de desertificação se
encontram principalmente na região nordeste, ocupando mais de 900.000 km2 e abrigando
aproximadamente 18 milhões de pessoas, muitas delas tendo a agricultura, pecuária e/ou ambos
como meio de subsistência.
Já no Sertão, que representa parte desse espaço nordestino, devido os processos de
desertificação, podem gerar uma alta no preço dos alimentos, desemprego e aumento nos gastos
públicos com programas de emergência. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), cerca de
300 milhões de dólares ao ano é o estrago econômico provocado pelos desertos no nordeste, o que
gera migração das populações, uma vez que estas se deslocam de suas terras para centros urbanos
(MMA, 2007).
Dessa forma, o olhar das populações que sofrem com esse estado de degradação contínua
deve ser analisado, para se entender como esse fenômeno pode ser mitigado e a partir disso levantar
estratégias que visem uma melhoria desse estado. Assim, o papel da percepção vem com o intuito
de criar relação entre o sujeito que vivencia esse processo diretamente e tais processos.
Continuando este pensamento, temos que os estudos perceptivos dão origem a diversos
trabalhos realizados por vários autores com a preocupação de examinar, através do homem, o que se
passa ao seu meio e se ele realmente tem consciência da realidade.
Entende-se percepção ambiental como a intervenção que expõe a lógica da linguagem que
estabelece os signos expressivos dos usos e hábitos de um ambiente. É a explicitação da imagem de
um lugar, ligada aos signos que uma comunidade constrói em torno de si. Neste sentido, a
percepção ambiental é revelada mediante uma leitura semiótica da produção discursiva de uma
comunidade (FERRARA, 1993).
É nesse contexto que o problema da percepção ambiental surge no que tange ao estudo da
desertificação, fazendo-se necessário, a observação do meio, não só a partir de uma visão científica,
mas também sob o olhar do sertanejo que presencia subjetivamente essas modificações dos últimos
tempos. Como afirma Faggionato (2002, p. 1):
Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o
meio. As respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos
processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem
todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam
nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente.
205
Dessa forma, a percepção que os sertanejos tem acerca de seu meio, é essencialmente
importante para que possamos compreender melhor as inter-relações homem-ambiente, bem como o
desenvolvimento de ações de mitigação e combate do processo de desertificação. Assim, de acordo
com Isnard (
, p
): ―Sociedade e espaço apresentam-se assim, tal como a relação entre
criador e criação. Esta permite àquele realizar-se segundo a sua própria razão de ser, nela refletindo
a sua imagem fiel Entre eles, a identificação é total‖
.Nesse contexto, surge a necessidade de uma pesquisa que contemple a experiência
cotidiana e as opiniões do homem sertanejo sobre o seu espaço vivencial. Bem como, levar em
consideração suas emoções, intuições e vivências em suas dimensões ambientais, sociais, culturais,
históricas e paradigmáticas de convivência com a desertificação. Dessa forma, o presente estudo
tem como objetivo descrever e refletir a respeito da percepção dos seridoenses sobre o processo de
desertificação no Seridó Oriental norte-rio-grandense.
A área geográfica escolhida para o estudo em tela foi o Seridó Oriental, uma vez que este
tem sido considerado o núcleo de maior degradação e gravidade na desertificação do semiárido do
Estado do Rio Grande do Norte.
A Microrregião do Seridó Oriental está situada na área Centro Sul do estado do Rio
Grande do Norte fazendo divisa ao sul e ao leste com o estado da Paraíba, ao norte e ao oeste,
respectivamente, com as Microrregiões da Serra de Santana e do Seridó Oriental. Fazem parte
dessaMicrorregião os seguintes municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos,
Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó e São José do Seridó (Mapa
01).
Mapa 01- Seridó - oriental
206
Material e Métodos
O estudo aqui proposto trata-se de uma pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (2002),
visa aprofundar-se no mundo dos significados, das ações e relações humanas, ou seja, um lado não
perceptível e não captável por meio de equações, médias e dados estatísticos. Logo, esse tipo de
pesquisa se caracteriza por investigar o problema no seu espaço natural, constituindo-se o
entrevistado no elemento principal de investigação.
Ainda, consideramos a pesquisa como exploratória e descritiva objetivaa fim
deproporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou
construir hipóteses e a descrever as características de determinada população (GIL, 1996).
Como nosso estudo caracteriza-se por investigar a realidade humana a partir do significado
dado pelos sujeitos participantes do estudo, os dados foram colhidos no próprio cotidiano dos
sujeitos, e, utilizamos para coleta de dados, essencialmente a entrevista semi-estruturada e a
observação participante.
Assim, foram entrevistadas 18 pessoas escolhidas de maneira aleatória, com faixas etárias
variadas, de ambos os sexos, residentes na área do Seridó Oriental. Essa quantidade de
entrevistados foi delimitada baseando-se no ―critério de saturação‖ proposto por Sá (1998), pois
segundo esse autor, o número de sujeitos da pesquisa deve ser interrompido quando os discursos
passarem a se repetir continuamente, sem que novos temas sejam observados nas respostas dos
indivíduos entrevistados.
Resultados e Discussão
O conhecimento histórico que se faz de um objeto de estudo sempre se mostra relevante,
no caso do estudo sobre Percepção Ambiental isso se faz essencial, porque somente ao se conhecer
o meio vivencial em que o sujeito encontra-se inserido, podemos compreender de forma
generalizada sua relação de causa e seu efeito.
Como mencionado anteriormente, é preciso ter ciência do espaço pesquisado para que se
haja uma melhor compreensão a respeito do contexto em que se está vinculando tal observação.
Portanto, a Percepção Ambiental dos seridoenses a respeito do seu meio vivencial ocorreu por
intermédio da valorização de seus discursos e opiniões e de suas práticas cotidianas, procurando
estabelecer, a partir de suas falas, possíveis maneiras de mitigação para o processo de desertificação
que assola os municípios estudados.
Dessa forma, ao utilizarmos a percepção dos moradores como um meio de elucidação
dessa realidade socioespacial, estaremos valorizando a experiência vivida (FRÉMOND, 1976) de
207
cada um dos que habitam os municípios do Semi Árido norte-rio-grandense, para externarem suas
observações, sentimentos, utopias e sonhos.
Em se tratando das entrevistas, quando questionados se existia desertificação em seu
município, 77% dos entrevistados responderam que sim e 23% responderam que não. Os sertanejos
que afirmaram existir desertificação na área pesquisada fundamentaram suas respostas baseadas em
fatores como a falta de chuvas, na pobreza do solo que dificulta o plantio, nas altas temperaturas,
alguns inclusive se mostram conformados com essa problemática afirmando que o homem sertanejo
não tem outra saída a não ser adaptar-se às condições que o sertão impõe. Assim, para validar essas
informações sobre a resposta afirmativa, podemos observar como os sertanejos se referiram:
―Aqui a seca é muito grande porque quando o inverno para, agente fica nessa
agonia pedindo a prefeitura, á vezes eles mandam água, ás vezes não. Mas agente
precisa então tem que comprar água‖
―Existe O sol é muito quente, o solo é muito pobre
inverno morre tudo‖
Aqui depois que passa o
Como visto, os entrevistados ressaltaram que dentre os agravantes do processo de
desertificação o que mais incomoda é a falta de água, visto que esse elemento é imprescindível à
vida. Muitos deles queixam-se da falta de compromisso da prefeitura em enviar água aos
municípios, deixando a população desamparada de modo que esta tenha que recorrer à compra de
―carros pipa‖ a fim de suprir suas necessidades.
Nesse contexto levamos em consideração o discurso de Malvezzi (2007, p. 16) quando
afirma que “no Nordeste, os políticos que controlam o poder local tem uma longa experiência no
exercício desse poder. São hábeis na manipulação das necessidades humanas. Os três esteios
básicos do controle sobre a população são a fome, a sede e a saúde”.
Ainda, na análise da percepção ambiental dos sertanejos, questionamos as causas da
desertificação no Seridó Oriental, é importante enfatizar que essa pergunta era aberta, permitindo a
livre interpretação do entrevistado com relação aos causadores da desertificação. Dessa forma, a
maioria dos entrevistados (40%) indica como grandes causadores da desertificação o desmatamento
e a ação de devastadora das cerâmicas (Figura 04).
208
Figura 01 – Percepção da população sobre os causadores da desertificação
Os resultados apresentados na figura anterior revelam a gravidade da problemática
ambiental, tornando claro que muitos dos entrevistados acusam o próprio homem como o grande
causador do processo de desertificação, como relatado no seguinte depoimento:
―Nós já estamos sofrendo com toda essa destruição que o próprio homem criou por
falta de cuidado com o meio ambiente‖
Além disso, eles enfatizaram o papel devastador que as indústrias de cerâmica vermelha
possuem em prejudicar a vegetação característica do Semi Árido. Abaixo seguem alguns relatos da
população entrevistada:
―Você vê que aqui é deserto, agente não vê nenhuma árvore, não tem fruteira, não
tem nada, essa vila não tem uma planta, agora é que o pessoal tá começando a
plantar umas coisinhas‖
―O desmatamento é grande de mais, aqui as cerâmicas pegam a vegetação da
caatinga, do cerrado Muito desmatamento e extinção de animais‖
―Os homens cortam as plantas, se eles não cortassem tanto e desmatassem... ai
chovia mais. Eles cortam e vendem a lenha para cerâmica, os caminhões passam
todos lotados aqui‖
Os depoimentos acima demonstram uma preocupação a respeito dos efeitos que as
cerâmicas produzem ao usar a vegetação nativa para alimentar as suas fornalhas, uma vez que estas
contribuem diretamente para intensificação do fenômeno da desertificação. Porém, a controversa
nesse contexto é que, infelizmente, várias dessas famílias são dependentes financeiramente dessas
empresas, pois nelas encontram seu sustento direto ou indireto. O depoimento a seguir demonstra
claramente essa problemática:
209
―O problema aqui em Acari são as cerâmicas, mas se fechar fica todo mundo
desempregado. O emprego que o povo tem aqui é as cerâmicas mesmo‖
Os informantes ainda foram indagados sobre o que poderia ser feito para evitar a
desertificação, suas contribuições foram:
―Ter mais trabalho, sem ser nas cerâmicas‖
―Reduzir os desperdícios de água e acabar o desmatamento‖
―Para mudar essa situação só se mandar fechar as cerâmicas ―tudinho‖ porque elas
desmatam tudo para pegar a lenha‖
Por fim, destacamos que as práticas dos seridoenses para evitarem ou diminuírem a
desertificação são ações de cunho individual. Uma vez que não existe uma organização da
população para cobrar dos poderes públicos locais iniciativas e atitudes voltadas para a preservação
da vegetação da caatinga e para amenização e combate dos efeitos que as indústrias de cerâmica
vermelha causam ao meio ambiente e as populações locais.
Dessa forma, é possível afirmar que os seridoenses estão abandonando o seu dever de
atuar, monitorar, pressionar e cobrar primeiramente deles mesmos e, em seguida, dos poderes
públicos ações e compromissos com o desenvolvimento sustentável e com a qualidade de vida
local, quer seja por descompromisso com o meio que o cerca, quer seja por medo das relações de
poder que ainda se mantém no sertão norte-rio-grandense, como pode ser observado na fala de uns
dos nossos entrevistados:
―Tentarammontar para queimar ―bujão‖, queimar o gás nas cerâmicas, mas ai não
deu certo, eles não aprovaram. Eles vivem prometendo que não vão desmatar a
caatinga Promete, mas o homem não cumpre, né?‖
―Eu fico calada, porque tenho medo de falar das cerâmicas e depois eu me
prejudicar‖
Assim, podemos perceber que partir dessas e outras falas fica evidente a influência vital e
destrutiva que as indústrias de cerâmica vermelha produzem na população local, dando subsídios
para a sobrevivência delas concomitantemente em que degrada seu habitat natural.
Conclusões
Diante das discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa, embasada pelos
levantamentos bibliográficos e pelo trabalho de campo, foi possível investigar os problemas
210
ambientais, no enfoque da desertificação, a partir de uma análise da percepção dos seridoenses
envolvidos com essa problemática em seu meio vivencial.
Dessa forma, pode-se observar que as localidades seridoenses há a presença do fenômeno
da desertificação, que se caracteriza por ser intenso aos olhares dos habitantes daquela região.
Em cada fala, discurso ou comentário, observamos que no combate à esse processo, o
conformismo da população afetada e a falta de políticas públicas apresentaram-se como sendo os
principais problemas. Assim, ações mitigatórias do processo de desertificação, logo, são questões
centrais que devem ser mais bem discutidas visando à assistência de uma maior eficiência em ações
de atenuação ou eliminação desse fenômeno.
Além disso, é preocupante a influencia que a indústria de cerâmica vermelha possui sobre
o Seridó e seus habitantes. Uma vez que esta se configura por ser um dos maiores meios de
empregabilidade dos habitantes e se apropria desse fator para exercer sua cadeia produtiva de
maneira irresponsável e prejudicial.
Assim sendo, com a posse desses subsídios e do conhecimento levantado os poderes
públicos locais devem atuar no combate a desertificação buscando estratégias que visem uma maior
fiscalização junto as indústrias ceramistas, bem como, o auxílio de água por meio de poços ou
cisternas, recursos humanos, materiais e financeiros para conduzir a educação de sua população à
uma sensibilização ambiental que venha amenizar os efeitos do processo de desertificação.
Ainda, evitando responsabilizar somente os órgãos políticos, torna-se necessário a
organização da população local a fim de cobrar dos poderes públicos uma maior participação nos
assuntos referentes às políticas de mitigação desse processo ambiental. Assim, acreditamos que o
trabalho em conjunto do sertanejo com a esfera política conseguirá alcançar objetivos em comuns.
Com base nessa pesquisa, sobretudo, pensamos que tais reflexões levem a investigações
mais profundas levando em consideração a percepção ambiental e a sua contribuição para melhorar
as condições de vida da população residentes de áreas fustigadas pela seca.
Referências
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sustentabilidade do semi-árido do Nordeste do Brasil. Recife: Nordeste, 2002.
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Nordeste Brasileiro. 1995. Tese (Livre Docência). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP, São Paulo, 1995.
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Difel, 1980.
212
ESTIMATIVA DE EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA A PARTIR DA
DEGRADAÇAO DE RESÍDUOS DEPOSITADOS EM ATERROS SANITÁRIOS NO RIO
GRANDE DO NORTE
Luara Oliveira MUSSE (UFRN) – [email protected]
Regia Lucia LOPES (IFRN) – [email protected] (Orientadora)
Resumo
A disposição correta dos resíduos sólidos é uma preocupação ambiental e urbana na atualidade,
levando em consideração a grande quantidade de resíduos gerados pela população mundial e a
emissão de gases do efeito estufa proveniente desses resíduos. No RN, para atender aos 167
municípios do estado, existem apenas dois aterros sanitários, um localizado em Ceará-Mirim, na
Região Metropolitana de Natal, e outro na cidade de Mossoró. Nas demais localidades, o destino
final dos resíduos sólidos são os lixões a céu aberto. O PEGIRS/RN publicado em 2012 mostra uma
estratégia de divisão do estado em seis regiões e a construção de Aterros Sanitários as regiões que
ainda não os possui. Em 1992, na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do
Clima, foi firmado um compromisso de todos os países para elaborar, atualizar periodicamente,
publicar e por à disposição da Conferência das Partes inventários nacionais de emissões de Gases
do Efeito Estufa – GEE. Este artigo tem por objetivo estimar a emissão de GEE a partir da
degradação de resíduos depositados em aterros sanitários no Rio Grande do Norte, realizando o
levantamento bibliográfico dos dados dos seus 167 municípios, além das informações técnicas
locais referentes à quantidade de habitantes, taxa de geração de resíduos por habitantes, composição
gravimétrica, taxa de coleta, tipo de destinação, dados sobre a operação dos aterros sanitários e a
taxa de recuperação do biogás, além de estimar as emissões de CH4, utilizando os dados levantados
e aplicá-los à metodologia do IPCC de modo a estimar a quantidade de emissão, caso os sete
Aterros Sanitários planejados para o estado, distribuídos nos seis agrupamentos territoriais
sugeridos pelo PEGIRS/RN sejam utilizados da maneira correta.
Palavras-chaves: Gases de Efeito Estufa; Inventário; Aterro Sanitário; Resíduos Sólidos; Metano
Abstract
The proper disposal of solid waste is an environmental concern and urban nowadays, considering
the large amount of waste generated by the population and the emission of greenhouse gases from
such waste. In RN, to meet the 167 municipalities of the state, there are only two landfills, one
located at Ceará Mirim, in the metropolitan area of Natal, and another in the city of Mossoro. In
213
other locations, the final destination of solid waste are open dumps. The PEGIRS / RN published in
2012 shows a strategy of dividing the state into six regions and the construction of Landfill regions
that do not have them yet. In 1992, the Framework Convention of the United Nations on Climate
Change was signed a commitment from all countries to develop, periodically update, publish and
make available to the Conference of the Parties national inventories of emissions of Greenhouse
Gas - GHG. This paper aims to estimate the GHG emissions from the degradation of waste
deposited in landfills in Rio Grande do Norte, performing the bibliographic data of its 167
municipalities, and technical information regarding the amount of local inhabitants, rate generation
of waste per inhabitant, gravimetric composition, collection rate, type of allocation, data on the
operation of the landfill and biogas recovery rate, plus estimate CH4 emissions using the data
obtained and apply them to the methodology of IPCC to estimate the amount of issuance, if the
seven landfills planned for the state, distributed in six clusters suggested by territorial PEGIRS / RN
are used in the right way.
Keywords: Greenhouse Gases; Inventory; Landfill, Solid Waste; Methane
Introdução
A disposição correta dos resíduos sólidos é uma preocupação ambiental e urbana da
atualidade, levando em consideração a grande quantidade de resíduos gerados pela população
mundial e a emissão de gases do efeito estufa proveniente desses resíduos. Estes resíduos são cada
vez mais prejudiciais ao meio ambiente, uma vez que estão ficando cada vez mais industrializados.
Uma solução para o manejo correto e diminuição desde impacto ambiental está na adoção de
tecnologias adequadas e estas, por sua vez, devem ser definidas por informações técnicas
consistentes. (PEGIRS/RN, 2012, p.13).
De acordo com a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, resíduos
sólidos são ―Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição‖ (ABNT
,p
)
Sendo assim, é necessário que se tenha a preocupação e o planejamento adequados para se fazer a
destinação final correta destes resíduos, uma vez que cada brasileiro produz 1,1 Kg de lixo em
média por dia, de modo que no País, são coletadas diariamente 188,8 toneladas de resíduos sólidos.
Desse total, em 50,8% dos municípios, os resíduos ainda têm destino inadequado, pois vão para os
2.906 lixões que o Brasil possui (IPEA, 2012).
O nosso estado é um exemplo concreto destas estatísticas, uma vez que, para atender aos
167 municípios do estado, temos apenas dois aterros sanitários, um localizado em Ceará-Mirim, na
214
Região Metropolitana de Natal, e um segundo na cidade de Mossoró. Nas demais localidades, o
destino final dos resíduos sólidos são os lixões a céu aberto (PEGIRS, 2012). Mas esta é uma
realidade que está para mudar, pois o PEGIRS publicado este ano mostra uma estratégia de divisão
do estado em seis regiões e a construção de Aterros Sanitários para cada uma das regiões que ainda
não os possui.
O Plano Estadual dividiu o Estado em seis regiões: Seridó, Alto Oeste, Agreste, Mato
Grande, Assu e Região Metropolitana. Apesar de o Plano ter levado em consideração as regiões
geográficas do Estado, para garantir o funcionamento da logística do trabalho de resíduos sólidos,
algumas cidades de outra região estão incluídas na área de determinado consórcio. Desta forma foi
prevista a melhor forma de fazer chegar os resíduos sólidos aos aterros sanitários por meio das
estações de transbordo. Este é um grande passo dado para atingir a meta de ter a disposição final
adequada de resíduos sólidos urbanos no estado. (PEGIRS, 2012)
Um grande problema que permeia esta questão da disposição inadequada dos resíduos
sólidos consiste no fato de que os depósitos de lixo, sejam eles aterros ou lixões, geram metano que,
depois do CO2, é o gás de origem antropogênica que mais contribui para o efeito estufa, se
tornando um dos gases mais importantes nos estudos sobre alterações climáticas induzidas pelo
homem (Alves e Vieira, 2006)
Este artigo tem por objetivo estimar a emissão de GEE a partir da degradação de resíduos
depositados em aterros sanitários no Rio Grande do Norte, realizando o levantamento de dados dos
167 municípios que o compõem, presentes na literatura nacional e municipal e informações técnicas
locais referentes à quantidade de habitantes, taxa de geração de resíduos por habitantes, composição
gravimétrica, taxa de coleta, tipo de destinação, dados sobre a operação dos aterros sanitários e a
taxa de recuperação do biogás, além de estimar as emissões de CH4, utilizando os dados levantados
e aplicá-los ao Modelo de Decaimento de Primeira Ordem definido pelo Intergovernamental Panel
on Climate Change – IPCC (2000). Assim, este trabalho faz uma projeção de como será esta
emissão, caso todos os sete Aterros Sanitários planejados para o estado, distribuídos nos seis
agrupamentos territoriais sugeridos pelo PEGIRS/RN (o da Região Metropolitana e o de Mossoró já
estão em atividade e serão construídos mais cinco Aterros Sanitários) sejam utilizados da maneira
correta e a taxa de coleta seja de 100%.
Metodologia
Os dados ainda estão sendo processados e levantados, uma vez que é necessária a
colaboração de órgãos estaduais e o levantamento de dados é feito para os 167 municípios do
Estado do Rio Grande do Norte.
215
A metodologia de pesquisa para elaboração do presente inventário foi dividida em duas
vertentes, quais sejam: pesquisa bibliográfica e levantamento de dados. Para a pesquisa
bibliográfica foram utilizados livros, artigos, trabalhos, normas e leis sobre ao tema abordado. O
levantamento bibliográfico também serviu de base para firmamento de conceitos na aplicação do
método escolhido. Já para o levantamento de dados foram utilizados os dados fornecidos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do RN – IDEMA, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
– SEMARH e Prefeitura, sobretudo os Relatórios Anuais de Atividades e dados referentes à
população e à dinâmica dessa com a geração de Resíduos Sólidos Urbanos, os quais são o
fundamento para aplicação do método adotado.
Neste trabalho foi utilizada a metodologia revisada de 1996 (IPCC, 1996), onde é utilizada a
fórmula abaixo para a determinação da emissão anual de CH4, para cada país ou região, no nosso
caso, o estado do Rio Grande do Norte.
Sendo que: Popurb: População urbana do país [habitantes]; taxa RSD: Taxa de geração de
resíduos sólidos domésticos por habitante por ano; RSDF: Fração de resíduos sólidos domésticos
que é depositada em locais de disposição de resíduos sólidos [fração adimensional]; FCM: Fator de
correção de metano [fração adimensional]; COD: Carbono orgânico degradável no resíduo sólido
doméstico [fração adimensional]; CODF: Fração de COD que realmente degrada [fração
adimensional]; F: Fração de CH4 no gás de aterro [fração adimensional]; 16/12: Taxa de conversão
de carbono em metano [fração adimensional]; R: Quantidade de metano recuperado [GgCH4/ano]
e, por fim, OX: Fator de oxidação [fração adimensional].
A elaboração do inventário compreende o levantamento de dados dos 167 municípios do
Estado do Rio Grande do Norte, referente ao ano de 2010, que foi o último ano de censo realizado
pelo IBGE. Porém, os dados de composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos e outros
dados relativos à disposição de resíduos foram levados em consideração os dados do PEGIRS/RN,
realizado em 2012. Os dados levantados e utilizados estão listados a seguir:

Quantidade de habitantes em cada município;

Taxa de geração de resíduos por habitante;

Composição gravimétrica dos resíduos, utilizado para o cálculo do Carbono
Orgânico Degradável (COD);
216

Taxa de coleta dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU);

Tipo e qualidade da destinação final dos RSU, utilizado para o cálculo do Fator de
Correção de Metano (FCM);

Taxa de recuperação de biogás, caso exista.
A seguir, temos o detalhamento de cada uma das variáveis da fórmula. As demais variáveis
que não são explicitadas abaixo ainda não foram determinados, mas está em processo de cálculo e
determinação.
Levantamento de Dados e Características Gerais do Estado
Com uma área de 52.810,699 km², o Estado do Rio Grande do Norte se situa na Região
Nordeste do Brasil, tendo como limites o Oceano Atlântico a norte e a leste, a Paraíba ao sul, e o
Ceará a oeste. Segundo dados do IBGE - Censo 2010, a população do RN é de 3.168.027
habitantes, sendo que três municípios no Rio Grande do Norte têm mais de 150 mil habitantes:
Natal (capital, com 803.739 habitantes), Mossoró (259.815 habitantes) e Parnamirim (202.456
habitantes). Com mais de 50 mil habitantes temos os municípios de São Gonçalo do Amarante
(87.668 habitantes), Ceará-Mirim (68.141 habitantes), Macaíba (69.467 habitantes), Caicó (62.709
habitantes) e Assu (53.227 habitantes).
Para efeito de planejamento, gestão e administração dos Resíduos Sólidos produzidos no
estado, o PEGIRS/RN dividiu o estado em cinco regiões, onde terão sete Aterros Sanitários
funcionando e atendendo aos 167 municípios do estado (quadro 1). O Agrupamento Territorial
escolhido foi o quinto apresentado e conta com as regiões: Seridó, Alto Oeste, Vale do Assú (com
um Aterro Sanitário exclusivo para Mossoró), Mato Grande, Agreste e Região Metropolitana, como
mostra o mapa a seguir:
Figura 2: Mapa de Regionalização para a formação de Consórcios de Resíduos Sólidos/Saneamento
no RN. Apresenta as seis regiões onde serão construídos ou já existem os Aterros Sanitários.
217
Fonte: PEGIRS/RN, 2012
Tabela 1: Agrupamento Territorial proposto pelo PEGIRS/RN, mostrando as regiões, quantos
municípios fazem parte dela e o detalhamento de cada Município.
Agrupamento
Territorial
Quantidade
de
Municípios
1º -SERIDÓ
25
2º - ALTO OESTE
44
3º - VALE DO ASSÚ
24
1
4º - MATO GRANDE
26
5º - AGRESTE
39
6º-REGIÃO
METROPOLITANA
8
Municípios
Acari, Bodó, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta,
Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas,
Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco,
Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi,
São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente
Laurentino Cruz, Timbaúba dos Batistas e Triunfo Potiguar.
Água Nova, Alexandria, Almino Afonso, Antônio Martins,
Apodi, Campo Grande, Caraúbas, Coronel João Pessoa, Doutor
Severiano, Encanto, Felipe Guerra, Francisco Dantas, Frutuoso
Gomes, Governador Dix-Sept Rosado, Itaú, Janduis, João Dias,
José da Penha, Lucrécia, Luis Gomes, Major Sales, Marcelino
Vieira, Martins, Messias Targino, Olho-d‘Água do Borges,
Paraná, Patu, Pau dos Ferros, Pilões, Portalegre, Rafael
Fernandes, Rafael Godeiro, Riacho da Cruz, Riacho de Santana,
Rodolfo Fernandes, São Francisco do Oeste, São Miguel,
Serrinha dos Pintos, Severiano Melo, Taboleiro Grande, Tenente
Ananias, Umarizal, Venha Ver e Viçosa.
Afonso Bezerra, Alto do Rodrigues, Angicos, Areia Branca,
Assú, Baraúna, Carnaubais, Espírito Santo do Oeste (Paraú),
Fernando Pedroza, Grossos, Guamaré, Ipanguaçu, Itajá, Lajes,
Macau, Pedra Preta, Pedro Avelino, Pendências, Porto do
Mangue, Santana do Matos, São Rafael, Serra do Mel, Tibau e
Upanema.
Mossoró
Barcelona, Bento Fernandes, Bom Jesus, Caiçara do Norte,
Caiçara do Rio dos Ventos, Galinhos, Jandaíra, Jardim de
Angicos, João Câmara, Lagoa de Velhos, Parazinho, Pedra
Grande, Poço Branco, Pureza, Riachuelo, Rio do Fogo, Ruy
Barbosa, Santa Maria, São Bento do Norte, São Miguel do
Gostoso, São Paulo do Potengi, São Pedro, São Tomé, Senador
Elói de Souza, Taipu, Touros.
Arêz, Baía Formosa, Boa Saúde, Brejinho, Campo Redondo,
Canguaretama, Coronel Ezequiel, Espírito Santo, Goianinha,
Jaçanã, Japi, Jundiaí, Lagoa d‘Anta, Lagoa de Pedras, Lagoa
Salgada, Lajes Pintadas, Montanhas, Monte Alegre, Monte das
Gameleiras, Nísia Floresta, Nova Cruz, Passa e Fica, Passagem,
Pedro Velho, Serra Caiada, Santa Cruz, Santo Antônio, São
Bento do Trairí, São José de Mipibu, São José de Campestre,
Senados Georgino Avelino, Serra de São Bento, Serrinha, Sítio
Novo, Tangará, Tibau do Sul, Várzea, Vera Cruz e Vila Flor.
Ceará-Mirim,
Extremoz,
Ielmo
Marinho,
Macaíba,
Maxaranguape, Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante.
Fonte: PEGIRS/RN, 2012
218
Dados Populacionais
Os dados relativos à população de todos os municípios do Estado do Rio Grande do Norte
foram obtidos no Censo de 2010 do IBGE. A metodologia do IPCC foi utilizada separadamente
para cada um dos seis Agrupamentos Territoriais, de modo que se pretende ter um resultado para
cada Aterro Sanitário do Estado.
Taxa de geração de Resíduos Sólidos Domésticos – RSD por Habitante (TaxaRSD)
A TaxaRSD foi estimada utilizando os dados de geração de RSU per capita da CETESB/SP
para o ano de 1970 e os dados de população do Censo do IBGE de 2010. O cálculo foi feito de
acordo com a tabela abaixo:
Tabela 2: Mostra a Taxa de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) gerados por habitante por dia. Leva
em consideração a quantidade de habitantes de determinada área.
Taxa de RSU gerados por habitante (taxa RSD)
Até 100.000 hab.
0,4kg/hab.dia
De 100.001 a 500.000 hab.
0,5kg/hab.dia
De 500.001 a 1.000.000 hab.
0,6kg/hab.dia
Mais que 1.000.000 hab.
0,7kg/hab.dia
Fonte: CETESB, 1992
Essa tabela não leva em conta fatores como o nível de renda, as práticas de reciclagem ou
outras que possam induzir a variação das quantidades geradas por habitante e que, sabidamente,
variam de residência para residência, de bairro para bairro, de cidade para cidade e variam mesmo
entre os dias da semana ou os meses do ano. Essas variações todas não são levadas em conta nesse
modelo.
Taxa de Coleta de RSD (RSDF)
Consiste na relação entre os resíduos gerados pela população e a fração destes que são
depositados nos locais de disposição final, neste casso, o Aterro Sanitário. Aqui, usaremos o valor
de 100%, uma vez que estamos considerando as condições ideais de gestão dos RSU, para depois
determinar qual seria a Emissão de GEE por estes Aterros, fazendo uma estimativa de como seria o
quadro do Estado, se fosse feito toda a Gestão de maneira eficiente e completa.
Composição Gravimétrica dos RSU
Consiste na obtenção dos percentuais em peso dos principais componentes dos RSU, como o
papel, vidro, alumínio, papelão, plástico, e outros. Estes dados são utilizados para calcular o
Carbono Orgânico Degradável (COD), usando equação abaixo, sugerida pelo IPCC e modificada
219
devido à dificuldade em discriminar Resíduos de jardim, parques e outros orgânicos putrescíveis
não alimentares (B) de resíduos de alimentos (C) e dos resíduos de madeira e palha (D), sendo
assim, a equação original foi substituída pela apresentada a seguir, onde A é o percentual de
resíduos de papel/papelão e têxteis:
Os valores encontrados nesta fórmula são baseados na seguinte tabela:
Tabela 3: Frações de carbono orgânico degradável (DOC) por diferentes tipos de resíduos
Dado default de DOC
Percentual do DOC (em
Fração do resíduos
peso)
A - Papéis e têxteis
40
B - Resíduos de parques e jardins e outros
orgânicos putrecíveis, exceto alimento
17
C - Resíduos alimentares
15
D - Resíduos de madeira e palha
30
Fonte: Adaptado (Oliveira, 2009, p.48 apud IPCC, 1996)
Fator de Correção de Metano (FCM)
O IPCC recomenda valores de FCM de acordo com a profundidade do local de disposição
de resíduos sólidos, de acordo com a tabela abaixo, de modo que estaremos trabalhando apenas com
Aterros Sanitários.
Tabela 4: Valores para Fator de Correção de Metano (FCM), de acordo com o recomendado
pelo IPCC
Valores para Fator de Correção de Metano (FCM)
Tipo de local de disposição
FCM
Vazadouros a céu aberto(Lixão)
0,4
Aterro Controlado
0,8
Aterro Sanitário
1
Local sem categoria
0,6
Fonte: IPCC, 1996
220
Resultados obtidos e esperados
Ainda está sendo realizado o levantamento dos dados necessários para se calcular a emissão
de metano pelos aterros sanitários do Rio Grande do Norte, porém, já é possível tirar algumas
conclusões e estimativas a respeito dos resultados concretos que serão obtidos.
O aterro sanitário de Ceará-Mirim (Região Metropolitana de Natal) realiza a disposição final
dos resíduos sólidos de Natal, Ceará-Mirim e Parnamirim, além dos resíduos oriundos dos
municípios de Ielmo Marinho, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Rio do Fogo e Macaíba. O
aterro instalado em Mossoró realiza a coleta do resíduo sólido domiciliar e comercial da área urbana
e das localidades rurais do município.
Os resultados obtidos até o momento estão explicitados nos tópicos a seguir:
Carbono Orgânico Degradável (COD)
O COD foi calculado baseado nos estudos feitos para elaboração do PEGIRS/RN, 2012,
onde foram coletados dados a respeito da composição gravimétrica dos resíduos sólidos do RN,
tendo sido feito uma média de valores, para ser utilizado o mesmo valor para todas as seis Regiões
do Estado (tabela 5). Com o valor percentual da composição gravimétrica, foi possível colocar os
valores na fórmula e elaborar a tabela 6.
Tabela 5: Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos no Estado do Rio Grande do Norte. Em
amarelo são as variáveis B+C+D e em verde a variável A
Composição Gravimétrica dos Resíduos Sólidos no RN
Tipo de resíduo
Matéria Orgânica
Madeira
Melissa
Papel
Metais Ferrosos
Papelão
Plástico Duro
Plástico Filme
Longa Vida
Vidro
Têxteis
Alumínio
%
37,49
0,12
0,26
2,03
1,37
2,92
4,39
8,7
0,82
1
3,15
0,18
221
37,57
100
Rejeito
TOTAL
Fonte: PEGIRS/RN, 2012
Tabela 6: Estimativa do carbono orgânico degradável (COD) dos resíduos sólidos urbanos (RSU)
no estado do Rio Grande do Norte (RN)
Carbônico Orgânico Degradável - COD
Tipo
de
a = % COD
resíduo
A
40
B+C
b=
%
Resíduo
c
=
a.b/100
8,1
3,24
37,61
+D
m
in
m
ax
5,641
15
5
11,28
30
3
A = percentual de resíduos de papéis e
têxteis.
SOMA
B = percentual de resíduos de jardim,
resíduos de parques ou resíduos orgânicos
8,881
min
5
putrescíveis sem serem alimentos.
14,52
max
C = percentual de resíduos alimentares.
D =
percentual de resíduos de
madeira.
3
Média
11,70
= (max+min)/2 225
Fonte: Elaborado pelo autor
O valor do COD para o Estado do Rio Grande do Norte está de acordo com o sugerido pelo
IPCC, que é igual a 12. Se este valor for comparado ao valor calculado para o Brasil no Inventário
Nacional de Emissão de Metano pelo Manejo de Resíduos, realizado pela SETESB, vemos uma
grande diferença, uma vez que os valores encontrados foram de mínimo de 17,8 e máximo de 28,4,
de modo que cada estado tem uma peculiaridade sua, sendo importante a realização de inventários
estaduais.
População, FCM e Taxa RSD
222
Temos abaixo uma tabela com as regiões do Estado, sua respectiva população, com os
valores do FCM, Taxa RSD e o COD, já discutido no tópico anterior.
Para chegar ao valor de habitantes, foi feita uma tabela com todos os municípios
pertencentes a cada região e sua respectiva população, usando dados do Censo do IBGE de 2010. A
soma foi realizada e os valores estão na tabela 7. O FCM utilizado foi com o valor 1, pois estamos
lidando com Aterros Sanitários com uma administração e gestão adequados. A taxa RSD foi
utilizada de acordo com a tabela 2 mostrada na metodologia, e leva em consideração o a quantidade
de habitantes da região.
Tabela 7: Regiões, com os devidos valores de habitantes, Fator de Correção de Metano (FCM),
Taxa de Produção de Resíduos Sólidos Domésticos por habitante (RSD) e Carbono Orgânico
Degradável.
Habit
Região
antes
CM
F
RSD
taxa
COD
(kg/hab.dia)
285.2
Seridó
85
1
333.2
Alto Oeste
75
Mossoró
Vale do
Assú
259.8
15
Demais
Municípios
Mato Grande
Agreste
Região Metropolitana
313.1
13
223.6
23
474.2
64
1.278
.652
1
1
1
1
1
1
0,5
11,7
0,5
11,7
0,5
11,7
0,5
11,7
0,5
11,7
0,5
11,7
0,7
11,7
Fonte: Elaborado pelo autor
Até o momento, estes foram os dados coletados e trabalhados, porém, para que se tenha o
valor da emissão de GEE será necessário obter os valores das outras variáveis da fórmula da
metodologia sugerida pelo IPCC.
Referências
223
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.004: 2004 - Resíduos sólidos Classificação. Rio 12 de Janeiro, 2004.
ALVES, J.W.S., VIEIRA, S. M. M. Inventário Nacional de Emissões de Metano pelo manejo de
Resíduos – 1990 a 1994 in Biogás: projetos e pesquisas no Brasil/CETESB, Secretaria do Meio
Ambiente; organização Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer; responsável técnico João Wagner Silva
Alves. São Paulo: SMA, 2006.
CETESB – Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental. 1° Relatório de Referência do
Estado de São Paulo de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa, período de
1990 – 2008. São Paulo, 2010.
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Solid Waste Disposal – Guidelines for
National Greenhouse Gas Inventories. Report produced by Intergovernmental Panel on Climate
Change (IPCC) on the invitation of the United Nations Framework Convention on Climate Change.
London, 2006.
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Good Practice Guidance and Uncertainty
Management in National Greenhouse Gas Inventories. Report produced by Intergovernmental
Panel on Climate Change (IPCC) on the invitation of the United Nations Framework Convention on
Climate Change. London, 1996.
PEGIRS/RN – Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Rio Grande do Norte –
Relatório Síntese. Natal (RN): Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos –
SEMARH, 2012.
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Urbanos:
Relatório de Pesquisa. Brasília, 2012.
224
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DOS MUNICÍPIOS PARAIBANOS SOB A PERSPECTIVA
DA DESERTIFICAÇÃO
Lucivânia RANGEL de Araújo Medeiros (UFCG/PB)[email protected]
Luara LOURENÇO Ismael-(UFCG/PB)[email protected]
Lucas NUNES Brasiliano-(UFCG/PB)[email protected]
Ricardo SCHMIDT Filho-(UFCG/PB)- [email protected]
Resumo
As regiões subúmidas, áridas e semiáridas estão sujeitas a fenômenos climáticos, como a seca,
resultando na maior probabilidade de intensificação dos processos de desertificação.
A
desertificação pode ser entendia como o estágio final da degradação dos recursos naturais e dar-se
em função das características climáticas dessas regiões, além do manejo inadequado realizado pelas
atividades antrópicas. O presente trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico e avaliação do
processo de desertificação no estado da Paraíba, relacionando os municípios menos afetados pelo
problema de desertificação com os que estão em áreas susceptíveis a desertificação (ASD) através
de indicadores sócio-econômicos, como intuito de verificar se os municípios em ASD apresentam
uma maior vulnerabilidade. Os resultados apontam para um situação de maior precariedade nos
municípios mais afetados pela desertificação quando comparadas com os municípios menos
afetadas no Estado da Paraíba.
Palavras-chave: Seca; Vulnerabilidade; Indicadores.
Abstract
The subhumid, arid and semiarid regions are under effect of climatic phenomenons, like drought,
resulting in a higher probability of intensification of desertification processes. Desertification can be
understood as the final stage of degradation of natural resources and can be given due to climatic
characteristics of these certain regions, in addition to inappropriate management performed by
human activities. This paper aims to make a diagnosis and assessment of desertification process in
the state of Paraíba, linking the cities least affected by the problem of desertification with those in
areas susceptible to desertification (ASD) through socio-economic indicators, in order to ascertain
whether the municipalities in ASD have a higher vulnerability. The results point to a more
precarious situation in the municipalities most affected by desertification compared to the less
affected municipalities in the state of Paraíba.
225
Keywords: Drought; Vulnerability; Indicators.
Introdução
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, ocupando quase 10% do território
nacional com 736.833 km2. Situa-se no "Polígono das Secas", região do Nordeste brasileiro que
compreende ecossistemas frágeis e vulneráveis à desertificação, principalmente devido às condições
climáticas, como também às características dos solos, à exploração inadequada dos recursos
naturais, e ao superpastoreio (PAE, 2011).
No Estado da Paraíba, dois terços da área total do Estado correspondem ao ecossistema
Caatinga. Esse bioma estende-se por cerca de 4/5 da superfície do seu território, abrangendo as
regiões do Sertão, Cariri, Seridó e Curimataú (WWF-BRASIL, 2008; TAVARES DE MELO;
RODRIGUEZ, 2003).
Além de ser um bioma frágil e sob forte pressão, é o menos protegido dos biomas
brasileiros. Menos de 1% de sua área está protegida em Unidades de Conservação (UC‘s) de uso
indireto e é o bioma com o menor número de Unidades de Conservação de proteção integral. É
também o menos estudado e conhecido e um dos mais antropizados, ultrapassado apenas pela Mata
Atlântica e Cerrado (CAVALCANTE, 2007).
Desertificação pode ser definida através do capitulo 12 da agenda 21 do United Nations
Conference on Environment and Development (UNCED), como: ―A degradação de terras em áreas
áridas, semi- áridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo variações e atividades
humanas‖ Degradação da terra corresponde à degradação dos solos, dos recursos hídricos, da
vegetação e da biodiversidade. A degradação esta ligada diretamente a redução da qualidade de vida
das populações afetadas pelo conjunto combinado desses fatores (PAN-Brasil, 2004).
O processo de desertificação tem como causas tanto a ação do homem sobre o seu ambiente
como os fenômenos de origem natural. Estas mudanças naturais são características do processo
evolutivo do planeta, ou seja, mudanças naturais associadas ao seu ciclo evolutivo, mas além destas,
apresenta também impactos causados pelo ser humano, estes gerando grandes prejuízos
econômicos, sociais, culturais, políticos e ambientais (PAN-Brasil, 2004).
Quanto mais seca a região mais susceptível é o local a desertificação. O índice de aridez é um
fator climático que pode identificar as áreas susceptíveis à desertificação (ASD), embora este
critério sozinho não seja suficiente para identificar essas áreas de riscos. O índice de aridez varia de
0,05 até 0,65. Esta susceptibilidade pode variar de muito alta até moderada, as áreas que estão
dentro desse índice de aridez são conhecidas como ―terras secas‖ (MATALLO E SCHENKEL,
1999).
226
No que se refere ao estado da Paraíba temos que 93,27% de seus municípios encontra-se em
ASD, somando um total de 208 municípios dos 223 existentes, os quais 150 estão na área
semiárida, 47 em áreas subúmidas secas e 11 em áreas de entorno. Apenas 15 municípios do estado
não se encontram em ASD (ALVES et al. , 2009).
BARBOSA et al. (2005) aponta que 63,54% do território paraibano está em processo de
desertificação moderados ou severos o que é um dado alarmante. Os maiores níveis de degradação
do estado estão localizados nas microrregiões da Mesorregião da Borborema, mais especificamente
no Cariri Oriental e Ocidental e Seridó Oriental e Ocidental e em algumas outras localizadas na
Mesorregião do Sertão, em especial os municípios de Patos e partes de Catolé do Rocha, Piancó,
Sousa, Itaporanga e Cajazeiras. Já no Seridó Oriental e Ocidental, ou seja, no centro-norte da
Paraíba o que se observar é que há uma extensão das áreas degradadas do Seridó do Estado do Rio
Grande do Norte (PAE, 2011)
Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico e avaliação da
relação entre o processo desertificação e a evolução de indicadores socioeconômicos dos
municípios do estado da Paraíba, com especial destaque para as regiões secas (semi-áridas)
procurando testar a hipótese de que municípios em ASD apresentam maior vulnerabilidade
socioeconômica no estado.
Material e métodos
Esta pesquisa é de natureza qualitativa na medida em que busca avaliar a relação entre a
desertificação e vulnerabilidade socioeconômica dentro do estado da Paraíba, levando em
consideração os municípios com maiores índices de desertificação e os que não são afetados pelo
problema.
Com este intuito foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o problema da seca no
Nordeste e em especial na Paraíba, destacando suas causas, principais problemas e tentativas de
solução. A partir deste ponto foi realizada uma análise sobre o tema da desertificação, com especial
destaque para as ações humanas que aceleram este processo, identificando quais as causas e
consequências deste problema, focando-se para a situação e identificação dos municípios no estado
da Paraíba que sofrem com este fenômeno de degradação ambiental. Os municípios em ASD que
apresentam os maiores graus de desertificação são 28, sendo estes: Baraúna, Camalaú, Caraúbas,
Coxixola, Cubati, Cacimba de Areia, Seridó, Juazeirinho, Patos, Frei Martinho, Picuí, Nova
Palmeira, Santa Luzia, Barra de São Miguel, São José dos Cordeiros, Serra Branca, Pedra Lavrada,
Tenório, São João Do Tigre, São José do Sabugi, São Mamede, Taperoá, Várzea, Santo André,
Santa Teresinha, Congo, Parari e Gurjão. Já os municípios menos afetados por essa problemática
227
são 15: Alhandra, Baía da Traição, Bayeux, Caaporã, Cabedelo, Capim, Conde, João Pessoa,
Lucena, Marcação, Mataraca, Pedras de Fogo, Pitimbu, Rio Tinto, Santa Rita.
Após a identificação das áreas citadas anteriormente, foram capturados indicadores
socioeconômicos para os municípios paraibanos, a fim de verificar se os municípios com maior
presença do fenômeno da desertificação apresentam maior vulnerabilidade socioeconômica. Os
indicadores utilizados foram separados por grupos14: a) Demografia; b) Desenvolvimento Humano;
c) Educação; d) Saúde.
O intuito destas comparações é identificar se existe um comportamento sistemático nos
resultados dos indicadores, sendo o resultado esperado os municípios mais atingidos apresentarem
indicadores com valores piores do que os municípios que não se encontram em ASD.
Resultados e discussão
Neste tópico serão avaliadas as médias dos dados socioeconômicos dos anos de 1991 e 2000
para os dois grupos dos municípios paraibanos, o primeiro grupo está sendo representado pelos
municípios em ASD que apresentam os maiores graus de desertificação, já o segundo, pelos
municípios menos afetados por esse problema.
Quadro 01 – Análise para as variáveis de Demografia.
Indicador:
Municípios mais
Municípios menos
afetados
afetados
Demografia
1991
2000
Evolução
1991
2000
Evolução
População
8.64
9.16
5,9
54.74
65.94
20,47
População Rural
3.32
2.84
-14,5
4.86
4.78
-1,43
Professores do fundamental residentes com
8.36
8.57
2,49
9,58
11,81
23,32
curso superior
Fonte: Elaboração Própria.
14
Todos estes indicadores encontram-se disponíveis no site: www.ipeadata.gov.br. Eles estão desagregados a um nível municipal, sendo assim
possível a sua plena utilização nos objetivos propostos no trabalho.
228
A análise dos dados para o critério Demografia está representada no Quadro 01. Este
indicador foi dividido em 3 sub-indicadores: População, população rural e professores do
fundamental residentes com curso superior.
População: Trata-se do número de pessoas moradoras presentes, que tinham a unidade
domiciliar como local de residência habitual e se achavam presentes na data da referência, e pessoas
moradoras ausentes, que tinham a unidade domiciliar como local de residência habitual e na data de
referência estavam ausentes temporariamente, por período não superior a 12 (doze) meses em
relação àquela data. Ao analisar este indicador pode-se perceber que teve um aumento da população
entre os anos de 1991 a 2000, obtendo assim uma evolução média positiva e crescente para os dois
grupos, porém o segundo grupo atingiu uma evolução bem mais expressiva que o primeiro.
População rural: O indicador população rural consiste em identificar o número total de
pessoas que residem em áreas rurais, ou seja, fora do perímetro urbano. Os dois grupos
apresentaram uma redução na população rural para os anos de 1991 e 2000, obtendo assim uma
evolução média negativa e decrescente, o segundo grupo tendo uma evolução bem mais expressiva,
este valores representando o êxodo rural que se deu nesse período, designando o abandono do
campo por seus habitantes, em busca de melhores condições de vida.
Professores do fundamental residentes com curso superior: Razão entre o total de pessoas
residentes no município que exercem a profissão de professor de curso fundamental e que têm curso
superior e o total das pessoas residentes no município que exercem esta profissão, vezes cem. Os
dois grupos apresentaram um aumento da quantidade de professores residentes com curso superior
nos anos de 1991 e 2000, embora o segundo grupo exponha um valor bem mais expressivo que o
primeiro.
Quando comparamos a evolução dos dois grupos para o indicador demografia, percebe-se
que o segundo apresenta os melhores valores, este fator se dá em consequência de que é nesse grupo
que estão concentrados os grandes centros urbanos do estado da Paraíba, comprovando que os
municípios que não estão em ASD apresentam os melhores resultados demográficos.
No quadro 02 são analisados indicadores de desenvolvimento humano. Serão avaliados o
Índice de desenvolvimento Humano, e seus sub-componentes de Educação, Longevidade e Renda.
Estes indicadores são importantes para avaliar a questão do desenvolvimento socioeconômico dos
municípios.
229
Quadro 02 – Análise para as variáveis de Desenvolvimento Humano.
Indicador:
Desenvolvimento Humano
Municípios mais afetados
Municípios menos afetados
1991
2000
Evolução
1991
2000
Evolução
IDH
0,509
0,616
20,95
0,511
0,620
21,49
IDH-longevidade
0,54
0,62
14,75
0,55
0,63
12,87
IDH-Renda
0,44
0,51
17,52
0,48
0,54
11,46
IDH-educação
0,55
0,71
29,71
0,49
0,69
41,1
Fonte: Elaboração Própria.
Índice de desenvolvimento humano: É obtido pela média aritmética simples de três subíndices, referentes às dimensões Longevidade (IDH-Longevidade), Educação (IDH-Educação) e
Renda (IDH-Renda), é uma medida comparativa usada para classificar os municípios pelo seu grau
de desenvolvimento humano. Pode-se percebe que os dois grupos apresentaram uma evolução
média positiva, embora o segundo grupo tenha se sobressaído sobre o primeiro, apresentando um
IDH mais elevado.
Índice de desenvolvimento humano-longevidade: Obtido a partir do indicador esperança de
vida ao nascer, através da fórmula: (valor observado do indicador - limite inferior) / (limite superior
- limite inferior), onde os limites inferior e superior são equivalentes a 25 e 85 anos,
respectivamente. Os dos grupos apresentaram-se de forma positiva nos anos de 1991 e 2000. O
segundo grupo exibiu o maior índice do que o primeiro.
Índice de desenvolvimento humano- renda: É alcançado a partir do indicador renda familiar
per capita média, através da fórmula: [ln (valor observado do indicador) - ln (limite inferior)] / [ln
(limite superior) - ln (limite inferior)], onde os limites inferior e superior são equivalentes a R$3,85
e R$1540,25, respectivamente. Estes limites correspondem à conversão dos PIB em dólar PPC2000
para RFPC em reais de 2000. Os dois grupos apresentaram para este indicador um evolução
positiva, embora o primeiro apresentasse o maior IDH-renda.
230
Índice de desenvolvimento humano- educação: Seu resultado se dá a partir da taxa de
alfabetização e da taxa bruta de frequência à escola, convertidas em índices por: (valor observado limite inferior) / (limite superior - limite inferior), com limites inferior e superior de 0% e 100%. O
IDH-Educação é à média desses 2 índices, com peso 2 para o da taxa de alfabetização e peso 1 para
o da taxa bruta de frequência. Os dois grupos apresentaram evolução média positiva entre 1991 e
2000, embora o segundo tenha apresentado índices mais expressivos.
O indicador que vai ser analisado agora é Saúde (Quadro 03), este foi dividido em 3
Subgrupos: Enfermeiros residentes com curso superior, Médicos residentes (por mil habitantes) e
Mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos.
Quadro 03 – Análise para as variáveis de Saúde
Indicador:
Saúde
Municípios mais afetados
1991
2000
9,88
16,10
62,86
0,032857 0,095
Enfermeiros residentes C.S
Médicos residentes
Mulheres chefes de familia S. C
6,93
5,66
Municípios menos afetados
Evolução 1991
2000
Evolução
7,09
7,03
-0,95
189,13
6,3
5,66
-10,15
-18,35
8,99
6,03
-32,88
Fonte: Elaboração Própria.
Enfermeiros residentes com curso superior: Razão entre o total de pessoas residentes no
município que exercem a profissão de enfermeiro e que têm curso superior e o total das pessoas
residentes no município que exercem esta profissão vezes cem. Ao analisar este indicador, podemos
perceber que entre os anos de 1991 e 2000 teve um amento no número de enfermeiros residentes no
primeiro grupo, apresentando assim, uma evolução média positiva e crescente, no segundo grupo
esse índice reduziu de forma insignificante para tal análise. Os municípios mais afetados pelo
processo de desertificação obtiveram o maior valor de evolução.
Médicos residentes (por mil habitantes): Razão entre o total de médicos residentes no
município e o total de habitantes do mesmo, vezes mil. Houve um aumento de médicos residentes
nos primeiro grupo entre os anos de 1991 e 2000. No grupo dois nos anos de 1991 e 2000 a
quantidade de médicos residentes reduziu.
231
Mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos: Percentual de
mulheres chefes de família, sem cônjuge e com filhos menores de 15 anos em casa. Ao analisar este
indicador percebe-se que houve uma redução na quantidade desse indicador para os dois grupos
entre os anos de 1991 e 2000, implicando para o estado pontos positivos, já que as crianças dessas
relações vão possuir uma melhor base familiar, influenciando na sua educação. O primeiro grupo
foi o que apresentou uma maior evolução média, quando comprado com o primeiro.
O próximo indicador a ser analisado é Educação, este foi dividido em 5 sub-indicadores:
Analfabetos 25 anos e mais, Anos de estudo- média - pessoas 25 anos e mais, Evasão escolar
pessoas 15 a 17 anos - fora da escola, frequência escolar pessoas 7 a 14 anos, como podemos
verificar no Quadro 04.
Quadro 04 – Análise para as variáveis de Educação.
Indicador:
Municípios mais
Municípios menos
afetados
afetados
Educação
1991
Evolução
1991
2000
Evolução
49,71 38,15
-23,26
55,26
40,77
-26,21
2,17
3,10
16,27
2,48
3,55
43,27
Evasão escolar pessoas 15 a 17 anos
51,16 27,90
-45,46
52,70
27,95
-46,96
Frequência escolar pessoas 7 a 14 anos
70,68 94,44
33,62
60,42
92,11
52,44
Analfabetos 25 anos e mais
Anos de estudo- média - pessoas 25 anos e
2000
mais
Fonte: Elaboração Própria.
Analfabetos -25 anos e mais: Percentual de pessoas de 25 ou mais anos de idade que não
sabem ler nem escrever um bilhete simples. Percebe-se que para os dois grupos a quantidade de
pessoas analfabetas reduziram, indicando que a educação no estado melhorou entre os anos de 1991
e 2000. Os municípios do segundo grupo apresentaram os melhores resultados, refletindo que as
políticas públicas de incentivo a alfabetização estão sendo colocadas em prática.
Anos de estudo (média - pessoas 25 anos e mais): Razão entre o somatório do número de
anos de estudo completados pelas pessoas que tem 25 ou mais anos de idade e o número de pessoas
nessa faixa etária. Este indicador é sensível às políticas ativas na área de educação, ele aponta as
232
condições de fornecimento dos serviços educacionais e padrão de vida da população. Nos anos de
1991 e 2000 para os dois grupos a quantidade de pessoas com anos de estudo aumentou, o segundo
grupo foi o que apresentou a maior evolução média, proporcionando para o estado um aumento no
Capital
Humano
disponível,
em
consequência,
produzindo
efeitos
benéficos
a
nível
microeconômico (ganhos individuais crescentes no mercado de trabalho) e macro (elevação da
produtividade da mão de obra).
Evasão escolar (pessoas 15 anos a 17 anos): Percentual de pessoas de 15 a 17 anos de idade
que não frequentam a escola. Este indicador mede a eficácia do sistema escolar em garantir a
frequência da população-alvo. Ela é computada a partir dos registros de alunos matriculados ao
começo e ao fim do período letivo. Este indicador mostra pontos positivos para a educação
paraibana, já que, o número de pessoas fora da escola diminuíram para os dois grupos ao analisar os
anos de 1991 e 2000, o segundo grupo foi o que apresentou os melhores índices, refletindo no
aumento do número de adolescentes na escola.
Frequência escolar (pessoas 7 a 14 anos): Percentual de pessoas de 7 a 14 anos de idade que
estão frequentando a escola, independentemente do grau e série. Nos anos de 1991 e 2000 um maior
número de crianças passou a frequentar a escola, obtendo assim, uma evolução média positiva e
crescente para os dois grupos, porém, o segundo foi o que apresentado a maior evolução média de
quantidade de crianças na escola. Essa situação refletindo de forma positiva para a economia
brasileira, tendo em vista que futuramente irá ocorrer um aumento nos ganhos individuais
crescentes no mercado de trabalho e na produtividade da mão de obra e uma consequente redução
nas mazelas sociais.
De forma geral, o primeiro grupo vem melhorando os valores dos índices educacionais para
os indicadores de educação, porém ainda é o segundo grupo que se destaca, percebendo-se que a
população desses municípios apresentam melhores resultados a nível educacional.
Conclusão
A análise dos dados coletados nesta pesquisa mostrou que os municípios mais desertificados
do estado da Paraíba apresentam resultados socioeconômicos piores que os municípios menos
desertificados, indicando que são regiões carentes, não apenas de uma solução para o fenômeno da
desertificação, mas também carentes sob a perspectiva social. Aqui não busca-se estabelecer
apenas uma relação e determinação entre desertificação e vulnerabilidade, mas sim ressaltar pelo
uso de algumas variáveis que a precariedade destas regiões mais desertificadas não é apenas hídrica,
é bem mais ampla que isso.
233
É preciso entender que o fenômeno natural climático e meteorológico seca não é a causa em si
do subdesenvolvimento, da desigualdade social, da pobreza e da miséria da região semiárida
brasileira. O grande problema, muitas vezes, esta na exploração que dela fazem os pequenos, porem
dominantes, ―grupos políticos‖ locais que deixam grande parte da população em estado de carência
Para o Nordeste brasileiro, e quiçá para todo o Brasil, se faz necessário ter políticas públicas
mais consistentes para preparar a população e para entender melhor as suas vulnerabilidades.
Referências
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Paraíba .R. RA´E GA, Curitiba, n. 17, p. 139-152, 2009.
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WWF-BRASIL. Caatinga. Disponível em: <http://www.wwf.org.br>. Acessado em 28 sets 2012.
234
AS VULNERABILIDADES SOCIOECONÔMICA, POLÍTICA E AMBIENTAL DO HAITI FACE
ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Andrea Pacheco PACÍFICO (Nepda/UEPB)15 - [email protected]
Laís Azeredo ALVES (Nepda/UEPB)16 – [email protected]
Nara Braga Cavalcante de FARIAS (Nepda/UEPB)17 – [email protected]
Resumo
O presente artigo visa analisar a vulnerabilidade ambiental, socioeconômica e política do Haiti,
enfatizando o papel das mudanças climáticas no alargamento desta problemática. A definição de
vulnerabilidade é variável de acordo com atores, tempo e espaço e, por este motivo, busca-se
delimitá-la nos âmbitos ambiental, socioeconômico e político, com foco no Estado haitiano e,
analisando, especialmente, as duas últimas décadas, que contribuíram de forma significativa para a
construção de seu status de país vulnerável. A pesquisa parte da definição de vulnerabilidade e de
suas variações e, posteriormente, é realizada sua aplicação ao Estado Haitiano. Trata-se de um tema
que mostra a interrelação entre os diversos fatores que causam a vulnerabilidade e que contribui
para que haja uma melhor compreensão da multicausalidade dos problemas vivenciados por este
país. Constatar-se-á, por fim, a ineficiência do Estado Haitiano em responder a tais problemas,
sendo este, falho no que diz respeito à proteção de seu território em termos físicos e de sua
população. A metodologia utilizada foi dedutiva, pois partiu de uma análise geral da problemática
da vulnerabilidade para a situação específica do Estado Haitiano, tendo sido utilizada a pesquisa
bibliográfica como fonte de informação.
Palavras-chaves: Vulnerabilidades; Mudanças Climáticas; Haiti.
Abstract
This article aims to analyze the environmental, socioeconomic and political vulnerability of Haiti,
emphasizing the role of climate change in the extension of this problem. The definition of
vulnerability is variable according to actors, time and space and, therefore, this research seeks to
Pesquisa patrocinada pelo Governo Brasileiro, dentro do marco do PIBIC/CNPq
15
Professora adjunta do Curso de Relações Internacionais e coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre
Deslocados Ambientais (Nepda) – UEPB, além de orientadora da pesquisa.
16 Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Membro do Nepda.
17 Bacharelanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e Membro do Nepda.
235
enclose it at the environmental, socioeconomic and politial, focusing on the Haitian State and
analyzing specially the last two decades, that contributed significantly to the construction of it's
vulnerable status. The research starts from the definition of vulnerability and its variations, and
subsequently its applications are held to the haitian state. This is a theme that shows the
interrelationship between the various factos that cause vulnerability and contributes to providing a
better understanding of the multiple problems faced by this country. It will be noted, finally, the
inefficiency of the Haitian State to respond to such problems, being flawed with regard to the
protection of its territory in it's physical terms and its population. The methodology was deductive
therefore started from a general analysis of the problem of vulnerability to the specific situation of
the Haitian State, and was used as a source of bibliographic information.
Keywords: Vulnerabilities; Climate Changes; Haiti.
Introdução
As mudanças climáticas têm, atualmente, provocado intensas discussões acerca de suas
consequências para toda a humanidade, observando-se principalmente seus efeitos negativos. O fato
é que inúmeros países vêm enfrentando desafios em razão deste fenômeno, que, por sua vez, pode
vir a ocasionar o alargamento de vulnerabilidades pré-existentes, como em seus âmbitos social,
econômico, político e ambiental.
Cada país, dependendo de seu nível de desenvolvimento e de sua capacidade de resposta
face aos problemas que se impõem, pode possuir um tipo específico de vulnerabilidade ou vários
deles ao mesmo tempo, como também pode não tê-lo. Desta forma, é possível observar que
fenômenos semelhantes possuem efeitos diferentes em cada lugar afetado, pois cada região possui
distintas maneiras e condições de lidar com eles.
Esta pesquisa tem como foco o Haiti, um dos países mais pobres do continente americano,
marcado por décadas de violência, por governos instáveis e que se encontra em uma das áreas com
maior incidência de fenômenos naturais desestabilizadores, como furacões, terremotos, tsunamis e
secas periódicas. Segundo o Atlas de Mudanças Climáticas e Riscos Ambientais da Maplecroft
(2011), o Haiti ocupa a primeira posição em uma escala com dez Estados mais vulneráveis às
mudanças climáticas, estando classificado em situação de extremo risco.
O objetivo desta pesquisa é analisar as vulnerabilidades existentes no Estado Haitiano,
observando os aspectos sócio-econômicos, políticos e ambientais que o caracterizam e destacando
os efeitos das mudanças climáticas no aprofundamento destas vulnerabilidades.
Dissertar-se-á acerca dos principais tipos de vulnerabilidade, nos aspectos já destacados
236
anteriormente, a saber, socioeconômico, político e ambiental, para, então, a partir deles, analisar
como as mudanças climáticas afetaram ainda mais os problemas enfrentados pelos haitianos e a
forma como o Estado Haitiano lida com estes problemas. Neste momento, observar-se-á a
ineficiência deste último que, encontrando-se extremamente vulnerável nos âmbitos citados,
possuem imensas dificuldades de responder com agilidade e precisão à proteção de seus nacionais e
de sua estrutura física. Visto que existe uma interrelação direta entre as vulnerabilidades, conclui-se
que é necessário que sejam desenvolvidas políticas conjuntas que sanem as deficiências do Haiti
para que este possa responder de forma eficiente às vulnerabilidades inevitáveis, como aquelas
provocadas pelas mudanças climáticas.
Vulnerabilidade socioeconômica, política e ambiental
Definir vulnerabilidade é essencial para compreender os inúmeros processos de fragilização
que Estados podem sofrer em seus distintos âmbitos: social, econômico e ambiental. Assim, duas
áreas, a geografia e a demografia, vêm trabalhando enfaticamente nas pesquisas sobre a
vulnerabilidade. De acordo com Barcellos e Oliveira (s.d.), a geografia discute a problemática da
vulnerabilidade a partir da relação existente entre a sociedade e o meio ambiente; já os demógrafos,
segundo os autores, acreditam ser necessário pensar-se nos componentes socioeconômicos como
fatores que determinam também esta vulnerabilidade, observando, desta forma, elementos
sociológicos e utilizando uma percepção mais crítica sobre a realidade.
De acordo com Birkmann (2006), apud Almeida (2010, p. 151), a vulnerabilidade é algo
multidimensional, pois se relativiza dependendo do espaço físico e dos grupos sociais que afeta.
Além disso, ainda pode ser definida como dependente da escala, ou seja, varia de acordo com o
tempo, o espaço e os atores. Além disso, é dinâmica, com suas características e forças motrizes se
transformando frequentemente. Existem, de acordo com Cutter e Finch (2008, p. 2.301), duas
comunidades atuantes na ciência que analisam a problemática da vulnerabilidade: a humanenvironmental research e a risk-hazards. Segundo os autores, na primeira, os processos ambientais
são analisados em uma perspectiva mais global destacando os efeitos locais, como as mudanças
climáticas, por exemplo. Já a segunda, faz pesquisas sobre desastres naturais e sua relação com a
vulnerabilidade, incorporando o conceito desta na gestão de emergências e na redução dos perigos.
O fato é que, segundo Almeida (2010, p.153), medir a vulnerabilidade consiste em uma
tarefa complexa que envolve fatores quantitativos, análises qualitativas e metodologias mais amplas
de avaliação: ―a grande complexidade do conceito de vulnerabilidade requer uma ‗redução‘ na
quantidade de dados coletáveis, para um conjunto de indicadores e critérios relevantes, que
facilitem uma avaliação ou estimação exequível da vulnerabilidade‖ Três princípios, seguindo a
237
perspectiva de Cutter et al (2003), apud Almeida (2010, p.155), devem ser analisados quando se
pretende medir a vulnerabilidade:
[A] primeira é identificação das condições que fazem com que as pessoas ou lugares sejam
vulneráveis a eventos naturais extremos, um modelo de exposição; a segunda é a suposição
de que a vulnerabilidade é uma condição social, uma medida da resistência ou resiliência
social aos perigos; e a terceira, é que há integração da exposição potencial e da resiliência
social com lugares e regiões específicos.
Barcellos e Ferreira (s.d., p.7) acreditam que os diversos sistemas naturais existentes mantém entre
si interrelações por meio de fluxos e ciclos e, desta forma, tirar o equilíbrio de um destes sistemas
pode desestabilizar os demais, cada um à sua maneira, dependendo de suas peculiaridades naturais,
de sua persistência, de capacidade de resistir ao desequilíbrio sem mudar seu estado em essência, e
da resiliência que consiste na capacidade de retornar a seu estado de equilíbrio, após sofrer um
distúrbio. Assim, os autores afirmam que
[a] ocorrência de um desastre ou acidente ambiental pode ser entendido, então, como o
resultado de um ou mais eventos adversos sobre um espaço com certa vulnerabilidade. A
busca da definição dos processos que constituem os espaços de risco ambiental aponta para
a necessidade de articulação entre as diferentes escalas de ocorrência desses processos.
Desta forma, observa-se que a vulnerabilidade pode ser proveniente de diversos âmbitos, quais
sejam o sócio-econômico, o político e o ambiental, consistindo em um produto das deficiências
existentes nestas escalas. Moser (1998), apud Alves et al. (2006, p.4), define a vulnerabilidade a
partir da análise de três elementos: exposição ao risco, incapacidade de reação e dificuldade de
adaptação diante da materialização do risco. Desta forma, observa-se que a área ou grupo social
mais sujeita à vulnerabilidade é aquela em que a probabilidade de um desastre seja mais propensa e
cuja capacidade de resposta seja mínima ou insuficiente. É essencial destacar este último ponto,
visto que inúmeros países sofrem com desastres ambientais semelhantes. Todavia, as consequências
variam de local para local, em razão do preparo de algumas regiões no recebimento destes
fenômenos e de sua capacidade material de recuperação.
Um exemplo emblemático seria a comparação dos efeitos causados pelos terremotos no Chile, em
2011, cuja intensidade foi de 8,8 pontos na escala richter, e com o número de mortos e feridos
totalizando 25,5 mil, de acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, 2010) apud
Arraes, Carvalho, Freitas, Gomes Ximenes (2012), com o caso do terremoto no Haiti, em janeiro de
2010, que atingiu o grau 7 na escala richter (PNUMA, 2010, p.8) e causou a morte de cerca de 222
mil pessoas (PNUMA, 2010, p.11). Os dados supracitados mostram que os efeitos provocados pelos
desastres dependeram diretamente da preparação e da capacidade de cada Estado em responder aos
problemas.
Barcellos e Ferreira (s.d., p.6) acreditam que a vulnerabilidade pode afetar uma região ou
238
uma população quando um conjunto de fatores, quais sejam, físicos, sociais, econômicos ou
ambientais, existentes são capazes de potencializar a ocorrência de eventos maléficos como: danos à
propriedade, perdas econômicas e degradação ambiental. Metzger et al. (2006) e Schoter et al.
(2004), apud Figueirêdo et al. (2010, p.9), de forma mais geral, relacionam a definição de
vulnerabilidade ―ao grau de susceptibilidade de um sistema aos efeitos negativos provenientes de
mudanças globais‖
Esta pesquisa distingue três tipos de vulnerabilidade: a socioeconômica, a política e a
ambiental, destacando seus principais aspectos e lembrando, entretanto, da intrínseca relação entres
eles, visto que a ausência de políticas afirmativas em uma área pode prejudicar a outra.
Em se tratando da definição de vulnerabilidade social, observa-se uma grande variedade de
percepções por parte dos teóricos. Nesta pesquisa, será adotado o pensamento de Guareschi et al.
(2007), que afirma ser a vulnerabilidade social, a ausência de condições para se obter acesso à bens
e serviços, cuja falta tornam o indivíduo vulnerável, em risco nos campos social e econômico. Para
Abramovay (2002), apud Guareschi (2007, p.19),
a vulnerabilidade social é definida como situação em que os recursos e habilidades de um
dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades
oferecidas pela sociedade. [...] o conceito de vulnerabilidade social está indiretamente
vinculado com o de mobilidade social, posto que as possibilidades que indivíduos em
vulnerabilidade social possuem de se movimentarem nas estruturas sociais e econômicas
são restritas em termos de modificação de inscrição social.
Desta forma, Guareschi acredita que a vulnerabilidade social existe quando falta aos
cidadãos o acesso à informação e à educação básica e quando faltam estratégias positivas de
inclusão. Paulilo e Bello (s.d., p.) acrescentam ainda a necessidade de programas de saúde e
condições de vida digna.
Katzman (2005), apud Da Silva (2007, p.1), afirma que a vulnerabilidade inclui a pobreza,
não se restringindo, pois, a esta: ―la vulnerabilidad trasciende esta condición proyectando a futuro la
posibilidad de padeceria a partir de ciertas debilidades, que se constatan en el presente ‖
Padoin e Virgolin (s.d., p.1) acreditam que a vulnerabilidade social esteja no fato de que o
indivíduo ou os grupos sociais estejam excluídos do acesso às oportunidades econômicas e sociais,
além das culturais, oferecidas pelo Estado e pela sociedade. Para as autoras, a ausência desse tipo de
serviço ou bem favorece o estabelecimento da vulnerabilidade social.
Existe ainda o que pode ser chamado de vulnerabilidade política, que seguindo o
pensamento de Maskrey (1998) apud Relatório do Global Crisis Solutions (s.d., p.3) é resultado de
um sistema autoritário, corrupto, com baixo nível de participação popular nos processos de decisão
e com a existência ainda de violência política. Compreende-se, desta forma, que o Estado é um ator
incapaz de controlar e manter a ordem dentro de seu território e entre seus cidadãos, o que ocasiona
239
situações de violência civil e caos político. De acordo com a OEA (2012), faz-se necessária a
existência de mecanismos de transparência, participação política popular e boa governança para que
os riscos e as vulnerabilidades sejam mitigadas. A organização acredita ainda que
[a]ctive and responsible public participation results in self-awareness […], while fostering
transparency and accountability in the administration of emergency assistance, leading to
more resilient and prepared communities. Capacity building and institutional strengthening
particularly at the local government and organized civil society group level is also crucial,
as these are the first to respond in a disaster and are in the best position to work with
communities.18
Em se tratando de vulnerabilidade ambiental, observa-se mais uma vez a variedade de
definições que a permeiam, dependendo do tipo de situação de cada região analisada. Vale ainda
lembrar que, este tipo de vulnerabilidade se encontra diretamente relacionada às questões
socioeconômicas e políticas recém-discutidas. A definição aqui utilizada segue o Painel
Internacional de Mudança Climática de 2007 (IPCC, na sigla em inglês) que define a
vulnerabilidade da mudança climática como
the degree to which a system is susceptible to, and unable to cope with, adverse effects of
climate change, including climate variability and extremes. Vulnerability is a function of
the character, magnitude, and rate of climate change and variation to which a system is
exposed, its sensitivity, and its adaptive capacity. 19
Na realidade, ao tratar-se de vulnerabilidade ambiental, segue-se a mesma linha de
pensamento do já tratado anteriormente, colocando, todavia, como foco, as questões do meio
ambiente paralelamente aos fatores econômico-sociais. A mudança climática é um dos principais
fatores que causa a vulnerabilidade ambiental (Bruckner, 2012) e consiste no objeto principal desta
pesquisa. Segundo o artigo 1° da Convenção das Nações Unidas para Mudança Climática, mudança
climática é a ―mudança de clima atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altera a
composição da atmosfera global e que se soma à variabilidade climática natural observada ao longo
de períodos comparáveis ‖ De acordo com Bruckner (
), a mudança climática é um fenômeno
que não ocorre isoladamente, consistindo, na realidade, em um dos fatores que dificultam o
desenvolvimento.
18 A participação popular ativa e responsável resulta em autoconhecimento [...] enquanto que a promoção de
transparência e de responsabilidade na administração da assistência de emergência geram comunidades mais resistentes
e preparadas. A capacitação e o fortalecimento institucional particularmente no governo local e na sociedade civil
organizada também são cruciais, uma vez que estes são os primeiros a responder a um desastre e estão em melhor
posição para trabalhar com as comunidades.(Tradução livre das autoras)
19 O grau em que um sistema é suscetível aos, e incapaz de lidar com os, efeitos adversos da mudança do clima,
incluindo a variabilidade climática e temperaturas extremas. A vulnerabilidade está em função do caráter, da magnitude
e da taxa de mudança e variação do clima a que um sistema (e sua sensibilidade e capacidade de adaptação) é exposto.
(Tradução livre das autoras)
240
As mudanças climáticas, segundo o supracitado autor (Bruckner, 2012), são amplificadores
das vulnerabilidades, principalmente em regiões já fragilizadas por outros problemas, já que
influenciam na produtividade laboral, no incremento da pobreza e no aumento dos fluxos
migratórios. Estas mudanças podem causar desastres naturais, insuficiência na agricultura, dificultar
a produção para subsistência, ocasionar problemas na disponibilidade de água potável, entre
inúmeros outros obstáculos para o desenvolvimento dos países afetados.
Utilizando-se destas definições de vulnerabilidade, nos âmbitos socioeconômico, político e
ambiental, percebe-se, de acordo com Gauthier e Moita (2010), que o Haiti é um Estado vulnerável
com uma característica acentuada de ocorrência de mudanças climáticas, conforme se verá adiante.
Utilizando-se das definições de vulnerabilidade trazidas por Moser (1998), apud Alves
(2006) e Bruckner (2012), é possível compreender o Haiti como um país que se encontra em uma
área de vulnerabilidade ambiental e sofre com as mudanças climáticas (CIA, 2011). Além disso,
possui uma capacidade insuficiente de resposta a estes problemas, devido à sua fragilidade
socioeconômica e política, sendo este um exemplo emblemático de Estado vulnerável.
As vulnerabilidades do Haiti
Partindo do que foi exposto anteriormente, serão abordadas as vulnerabilidades
socioeconômicas, políticas e ambientais da República do Haiti, relacionando-as com as mudanças
climáticas, vistas como ampliadoras dos problemas resultantes destas vulnerabilidades.
Em se tratando de indicadores de vulnerabilidades socioeconômicas, o Haiti é o país mais
pobre do hemisfério ocidental (Gauthier e Moita, 2010, p. 5), apresentando um PIB, segundo a
ONU (2010), de US $ 11,86 bilhões. E, dados dos Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD, 2011) mostram que, em termos de Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), o Haiti ocupa a 149° posição em um ranking com 182 países, além de ocupar a 97° posição
no índice de pobreza humana20, em uma lista de 135 países.
É também importante observar os indicadores educacionais para perceber a fragilidade
social deste Estado: Dados do PNUD (2011) apontam que apenas 52% da população é alfabetizada,
e a média de anos de escola frequentada por adultos é de apenas 4,9. O PNUD informa ainda que,
em 2011, apenas 27% da população total (incluindo todos os sexos) estavam matriculados na
escola. Ademais, constata-se que 36% dos haitianos possuem até 15 anos, faixa etária ideal para a
vivência escolar, constatando-se mais uma vez a deficiência educacional do país. Este aspecto é
20 De acordo com o Banco Mundial, este indicador é composto por três elementos: longevidade, educação e acesso a
serviços básicos (saúde, água potável, e alimentação)
241
importante, pois, segundo a definição de Guareschi de vulnerabilidade social, o acesso aos recursos
sociais básicos inclui também a educação.
Os problemas sociais enfrentados pelo Haiti são reflexos diretos de sua economia, que se
encontra em uma situação de difícil dependência externa. Seu maior parceiro comercial são os
Estados Unidos, responsáveis por comprar 83,3% das exportações totais do Haiti (CIA, 2011),
caracterizando uma forte vulnerabilidade frente a este mercado. Além disso, a ajuda internacional
humanitária a este país tem aumentado em grandes fluxos, principalmente devido aos desastres
naturais, como tormentas e furacões de 2008 (Rencoret, Stoddard et al., 2010, p. 12), sendo esta
outra fonte de fluxos financeiros do país. Este auxílio, segundo Gauthier e Moita, também resulta
em efeitos negativos para o país, particularmente no que diz respeito à relação entre o Estado e a
sociedade. As autoras explicam que
[d]amaging activities include the repeated short international interventions focused on
security since 1994 and most importantly, the World Bank and International Monetary Fund
imposing standard structural adjustment programs that harmed Haiti‘s economy in the long
term, in addition to fluctuating and discontinued aid programs. Haiti had little influence
onthe design of its own public policies; this power was concentrated in the hands of foreign
institutions.21
A economia do Haiti, de acordo com Gauthier e Moita (2010, p. 3), é amplamente moldada por
forças externas, possui elevado grau de abertura e concentração de suas exportações e depende de
importações estratégicas. As autoras lembram ainda que, na década de 90, o Haiti promoveu a
liberalização de sua economia, a privatização de ativos do governo e a desregulação da economia, o
que não significou que o país obteve benefícios advindos destas políticas, pois de acordo com o
Banco Mundial (s.d.), apud Gauthier e Moita (2010, p. 3), os componentes estruturais da reforma,
necessários para o sucesso da abertura, não foram realizados.
Assim, Gauthier e Moita (2010, p. 2-3) afirmam que a falta de diversificação da economia
haitiana, que como foi dito anteriormente, tem quase 90% de seus negócios ligados aos Estados
Unidos, contribui diretamente para que haja um retrocesso no caminho para sair da pobreza e do
subdesenvolvimento e, consequentemente, da situação de Estado fraco e vulnerável em que se
encontra a República do Haiti. Entretando, deve-se lembrar que, por vezes, alguns eventos
provocadores de vulnerabilidades são de natureza econômica ou ambiental mas que, de acordo com
Gauthier e Moita (2010, p. 10), terminam por causar sofrimento social e até mesmo crises políticas
mais complexas, expressando desta forma, não só a vulnerabilidade e a fragilidade do Estado em
21 Atividades prejudiciais incluem as repetidas e curtas intervenções internacionais focadas em segurança desde 1994 e,
mais importante, as imposições de programas de ajuste estrutural do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional que prejudicavam a economia do Haiti a longo prazo, além de programas de ajuda flutuantes e
descontinuadas. O Haiti teve pouca influência sobre o desenho de suas próprias políticas públicas; este poder estava
concentrado nas mãos de instituições estrangeiras.(Tradução Livre das autoras)
242
termos econômicos e ambientais, como também a ineficiência do Estado, como instituição, em
responder a esta problemática, visando proteger a sua integridade e a de sua população. Para
compreender esta vulnerabilidade política, é necessário observar alguns fatos que ocorreram durante
a história do país, especialmente após a sua independência.
O Haiti foi, historicamente, palco de intensas disputas, as quais, segundo Buss (2008), apud
Rencoret, Stoddard et al. (2010, p. 10), culminaram com a morte ou a deposição de muitos de seus
líderes. Buss cita, mais precisamente, que de sua independência (1804) até 2008, dos 55
governantes do país, apenas nove terminaram seu mandato, sendo que a mais longa ditadura em que
viveu o país foi entre 1957 e 1986, sob o regime de François Duvalier e, posteriormente, de seu
filho Jean-Claude Duvalier, conhecidos como ―Papa doc‖ e ―Baby doc‖, respectivamente Após
este período de dura repressão, de acordo com o relatório de síntese do Cadre de Cooperation
Interimaire (CCI, 2004, p.1), o Haiti teve uma nova constituição promulgada em 1987 e a eleição de
1990 foi fortemente acreditada pela população que apareceu em grande número às urnas. A
esperança dos haitianos em ver seu país sob um regime democrático findou logo em seguida
quando, em 1991, o então eleito presidente Jean-Bertrand Aristide, foi deposto de seu cargo pelo
General Raul Cedra (CCI, 2004, p.1).
Assim, durante as duas últimas décadas, o Haiti sofreu com disputas de poder, golpes de
Estado, eleições fraudulentas e outros tipos de violência que, segundo Gauthier e Moita (2010, p. 1),
fizeram com que o Haiti não ensaiasse progresso na construção e no funcionamento de uma
democracia. De acordo com as duas autoras, a elite haitiana é em grande parte a provocadora da
condição de instabilidade em que vive o país, pois esta controla a política, a economia e sustenta
uma cruel exclusão (Gauthier e Moita, 2010, p. 2). A situação política do Estado está, como foi dito
anteriormente, intimamente ligada ao setor econômico, como resumem Gauthier e Moita (2010, p.
5).
In practical terms, the state‘s inability and unwillingness to provide public services is most
evident in the lack of investment in both education and employment; investments which
could in time be converted into production and ultimately state revenues.22
As autoras supracitadas afirmam ainda que, além da ineficiência do Estado em cumprir com
suas obrigações previstas, este é também vulnerável no que se refere à sua relação com a sociedade
civil, pois não honra o pacto político, social e econômico estabelecido entre eles.
No que diz respeito aos impactos das mudanças climáticas e às respostas do governo aos
possíveis prejuízos causados por elas, Gauthier e Moita (2010, p. 4) ressaltam que estes problemas
22 Em termos práticos, a incapacidade do Estado e falta de vontade em prestar serviços públicos é mais evidente na
falta de investimento na educação e no emprego; investimentos que poderiam ser convertidos em produção e,
finalmente, receitas do Estado.(Tradução livre das autoras)
243
irão afetar diversos países, mas que estas vulnerabilidades irão particularmente provocar um
agravamento na já frágil estabilidade política do Haiti, especialmente se este país continuar sendo
castigado pelas intempéries causadoras das vulnerabilidades ambientais.
Em se tratando de geografia física e ambiental, importa mencionar que o Haiti é composto
por cinco ilhas, com um território principal localizado na segunda maior ilha do caribe, depois de
Cuba, com 27.750Km² de extensão e limitado ao norte pelo Oceano Altântico, ao sul pelo mar do
Caribe e ao leste pela República Dominicana, possuindo uma costa de 1771km no total. O relevo
que cobre ¾ do território haitiano é montanhoso e as áreas mais planas representam apenas 29,5%
da superfície total do país. (República do Haiti, 2003). Ainda, de acordo com dados fornecidos pelo
governo Haitiano, em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA, 2003, p.2), o clima do país é subtropical, com duas estações chuvosas intercaladas por
uma estação de seca, além de variações regionais devido à direção dos ventos e às topografias
variáveis. A temperatura varia de acordo com a estação do ano e a altitude, mas permanece entre 15º
e 35º celsius.
No que diz respeito à sua vulnerabilidade ambiental, seu território está localizado no
cinturão de furacões das Américas, sofrendo com terremotos, inundações ocasionais, secas
periódicas, e fortes tempestades entre junho e outubro (CIA, 2011). De acordo com o Cadre de
Coopération Interimaire23 (CCI, 2004), estas ameaças são de origem hidrometerológica (ciclones e
secas), sísmica (terremotos e tsunamis) ou topográficas (inundações, deslizamentos e
desmoronamentos de terra), infracitadas.
Dentre as ameaças hidrometeorológicas, dá-se ênfase aos ciclones e às secas (CCI, 2004).
Os primeiros, segundo Astrel (2004, p. 39), são uma das principais ameaças naturais sofridas pelo
Haiti, existindo registros de que nos últimos 50 anos o país fora atingido por cerca de vinte e sete
ciclones, dos quais oito causaram imensa devastação. Este mesmo autor defende que os efeitos
podem ser diretos, por meio de chuvas e fortes ventos, ou indiretos, causando efeitos secundários
como inundações, deslizamentos de terra, epidemias de doenças tropicais etc. As secas, por sua vez,
castigam a população devido à necessidade do consumo de água, à produção alimentar (agricultura)
e à produção energética (hidrelétricas). Nexte contexto, Astrel (2004, p. 40) frisa que as regiões
áridas e semi-áridas constituem 50% do território haitiano, sendo a situação destas áreas agravadas
com secas periódicas, que ocorrem em intervalos de cinco à sete anos.
A configuração geológica em que se encontra o território haitiano, possibilita que haja
ameaças de origens sísmicas, como terremotos e tsunamis (CCI, 2004). Localizado entre as placas
23 Quadro de Cooperação Interina (tradução livre das autoras), formada pelas Nações Unidas, Comissão Europeia,
Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
244
tectônicas do Caribe e da América do Norte, o país é extremamente vulnerável aos abalos sísmicos
provocados pelo choque entre as duas placas. Algumas consequências deste tipo de catástrofe são a
destruição física das construções e, portanto, a interrupção de serviços essenciais à população, como
a distribuição de energia e de água (PNUMA, 2010).
Em se tratando de topografia, o Cadre de Coopération Interimaire (2004) lista que as
ameaças são, principalmente, as inundações e os deslizamentos e desmoronamentos de terra. Sendo
o terreno do Haiti bastante acidentado, Astrel (2004, p. 40) afirma que este fator, somado à chuvas
excessivas, provoca a ocorrência de deslizamentos de terra que, causam, principalmente, o
descolamento de partes inteiras de montanhas, erosão das margens dos rios, lixiviação e erosão do
solo. Além disso, as inundações e as enchentes também são problemas graves enfrentados pelo país,
ocorrendo em lugares onde não necessariamente choveu, mas que são atingidos por excesso de água
em outros lugares.
Estes problemas naturais enfrentados pelo Haiti, segundo Arenas, Cárdenas e Kalali (2008,
p.9), têm sido mais frequentes com o passar dos anos. Estes autores provam seus argumentos
mostrando que em torno de 80% das catástrofes naturais ocorridas e registradas no século XX,
aconteceram após 1954, sendo 44% delas na década de 90. Ainda, segundo eles, estes problemas
ocorrem a cada cinco ou sete anos, além de que essa frequência na ocorrência, somada à degradação
do meio ambiente e das condições de vida da população, faz com que não seja necessário ocorrer
uma grande catástrofe para haver grandes perdas físicas e humanas no país.
O aumento da intensidade dos desastres naturais e da frequência com que ocorrem estão
intimamente ligados às mudanças climáticas, como confirmam Arenas, Cárdenas e Kalali
(2008,p.10)
Les données scientifiques récemment établies indiquent que les nouvelles tendances
climatiques en cours entraineront des nouvelles configurations de risques, qui se traduiront
par une augmentation de température ainsi que é une accélération des précipitations et
notamment à une baisse de précipitation. Ces phénomènes se traduiront par une
augmentation dans la fréquence et intensité des inondations et de prolongement de périodes
de sécheresses. Ces prévisions scientifiques sont confirmées par les observations
quotidiennes.24
Este prolongamento das inundações, destacado na citação, tem suas consequências negativas
ampliadas, visto que as zonas costeiras de baixa elevação são fortemente povoadas pela recente e
não coordenada urbanização do país. Esta vulnerabilidade às mudanças climáticas, como observam
Arenas, Cárdenas e Kalali (2008, p. 11), é, então, especialmente acentuada devido aos fenômenos
24 Os dados científicos recentemente estabelecidos indicam que as novas tendências climáticas em curso levarão ao
surgimento de novas configurações de riscos, que resultarão em um aumento de temperatura assim como a uma
aceleração de precipitação e, particularmente, uma redução desta precipitação. Estes fenômenos resultarão em um
aumento na frequência e na intensidade das inundações e no prolongamento dos períodos de seca. Estas previsões
científicas são confirmadas por meio de observações cotidianas. (Tradução livre das autoras)
245
hidrometeriológicos em andamento; fenômenos estes representados por situações em que há, por
exemplo, o aumento do nível do mar, devido ao aquecimento global, que no Haiti provoca intensa
erosão nas zonas costeiras e ameaçam as águas subterrâneas. Além disso, os autores supracitados
também destacam o aumento das atividades ciclônicas, que já apresentam nos últimos anos uma
aceleração no número de ocorrências.
Na visão de Arenas, Cárdenas e Kalali (2008, p. 10), a situação tenderá a piorar no futuro em
consequência do aumento das vulnerabilidades, visto que existe uma alta exposição de pessoas e
bens a riscos naturais ao mesmo tempo em que o Haiti carece de uma estratégia que reduza estes
riscos. Eles afirmam, então, que novas evoluções ligadas às mudanças climáticas e à reativação de
focos sísmicos ajudarão, certamente, a aumentar as vulnerabilidades do Haiti, expondo-o a novos
riscos de catástrofes.
Conclusão
O estudo dos diferentes tipos de vulnerabilidades mostra que as mudanças climáticas estão
intimamente ligadas ao agravamento delas. Os problemas ocasionados pelas diferentes variáveis de
vulnerabilidade, quais sejam, políticas, socioeconômicas e ambientais, acontecem de forma
simultânea e suas consequências afetam as populações de acordo com a preparação do Estado para
lidar com estes fenômenos e sua capacidade de mitigar os problemas por eles causados.
O Haiti, como exposto, é um exemplo de Estado que ilustra bem esta condição de
vulnerabilidade, pois está localizado em uma área geograficamente instável e, por consequência,
sofre especialmente com as mudanças climáticas. Assim, este país se encontra em uma situação em
que, mais do que qualquer outro país caribenho, necessita resolver ou ao menos reduzir suas
vulnerabilidades socioeconômicas e políticas, para que seja capaz de lidar com os efeitos da
vulnerabilidade ambiental que, naturalmente, não pode ser evitada.
Conclui-se, então, que a situação de vulnerabilidade do Haiti abrange especialmente os três
âmbitos abordados: socioeconômico, político e ambiental, cujas causas e consequências são
interligadas. Conhecendo melhor esta problemática, sabe-se que o país demanda urgentemente de
mecanismos institucionais, legislativos e técnicos para superar o desafio de reduzir, mitigar ou
eliminar suas vulnerabilidades.
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249
MÉTRICAS DA PAISAGEM NA ANÁLISE DOS PADROES ESPACIAIS DE
DESERTIFICAÇÃO EM AMBIENTE DE CAATINGA UTILIZADO SISTEMAS DE
INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
Shirley Coutinho Alves RÊGO (UFPB) – [email protected]
Priscila Pereira Souza de LIMA (PRODEMA/UFPB) – [email protected]
Mônica Larissa Aires de MACEDO (FURNE/PB) – [email protected]
Resumo
O meio ambiente vem sofrendo transformações, muitas decorrentes da ação humana no nosso
planeta, essas consequência têm ganhado destaque nas ultimas décadas e necessitam ser
compreendidas e diagnosticadas. O desenvolvimento de ferramentas que proporcionem a
compreensão e o inter-relacionamento dos impactos ambientais ocorridos no nosso território são
informações essencialmente necessárias para o planejamento ambiental. O geoprocessamento tem
subsidiado estudos ambientais, auxiliando na compreensão dos fenômenos ocorridos no meio
ambiente e suas implicações. Este trabalho propõe a discussão da utilização da técnica da ecologia
da paisagem na análise de padrões espaciais de desertificação quantificando e qualificando áreas de
vegetação em regiões semiáridas, utilizando como auxílio o geoprocessamento e suas ferramentas,
dentre elas o Sensoriamento Remoto e o Sistema de Informação Geográfica (SIG).
Palavras-chave: Ecologia da Paisagem; Geoprocessamento; Meio Ambiente.
Abstract
The environment has suffered many transformations resulting from human action on our planet,
such a result have gained prominence in the last decades and need to be understood and diagnosed.
The development of tools that provide the understanding and the interrelationship of environmental
impacts occurring in our territory are essentially necessary information for environmental planning.
The GIS has subsidized environmental studies, aiding in the understanding of the phenomena
occurring in the environment and its implications. This paper proposes a discussion of the use of the
technique of landscape ecology in the analysis of spatial patterns of desertification by quantifying
and qualifying areas of vegetation in semiarid regions, using as the GIS and its tools, including
Remote Sensing and geographic information system (GIS).
Keywords: landscape ecology, GIS, Environment.Knowledge
250
Introdução
O momento atual em que vivemos enfatiza as questões ambientais e tenta impor limite e
controle no uso dos recursos naturais. Neste sentido, o uso sustentável e a conservação dos recursos
florestais do bioma Caatinga passam por duas questões fundamentais. A primeira diz respeito à
importância econômica regional como fonte de energia. A segunda questão refere-se à sua
potencialidade, ainda pouco disseminada entre os produtores rurais que nele vivam.
A Caatinga está entre os biomas brasileiros mais alterados pelas atividades humanas, sendo
o único exclusivamente brasileiro. Possui área de 735.000 km2, sendo composto por um mosaico de
arbustos espinhosos e de florestas sazonalmente secas, com mais de 2.000 espécies de plantas
vasculares, peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos (BRASIL, 2012). O endemismo nesses
grupos varia entre 7% e 57% (LEAL, 2005).
O bioma Caatinga está Sob o clima predominantemente semiárido, cerca de 40% da área
original desde Bioma ainda está coberta de vegetação nativa, mas quase toda ela é utilizada para
extração de lenha, como pastagem para os rebanhos, bovino, caprino e ovino ou como parte do
sistema de agricultura itinerante, formando um imenso mosaico de áreas em distintos estádios de
regeneração, localizadas nos pontos mais inacessíveis (BRASIL, 2010).
Diante deste cenário, a proteção das áreas de caatinga ainda pouco degradadas ou em
processo de regeneração se faz necessária para a manutenção dos ecossistemas existentes,
orientando a geração de políticas públicas para mitigar os efeitos do desmatamento e da perda de
biodiversidade.
Nesse contesto, a compreensão da dinâmica da vegetação, assim como da forma com que
seus padrões se refletem na configuração da paisagem, é de fundamental importância para o
entendimento
das
relações
existentes
em
qualquer
ecossistema
(METZGER,
1999;
CONSTANTINO et al., 2005).
Neste sentido os recentes avanços tecnológicos, principalmente no campo da informática,
têm proporcionado uma melhoria na capacidade de tomada de decisões, principalmente pela
utilização de sistemas computacionais, os quais dão suporte analítico aos estudos da natureza.
O surgimento das novas tecnologias e o avanço dos trabalhos científicos sobre o tema meio
ambiente proporcionou o desenvolvimento considerado, na década de 90, da área de conhecimento
denominada de Ecologia da Paisagem. Como a Ecologia da Paisagem aborda o estudo dos padrões
espaciais da paisagem e as interações entre suas unidades (manchas), os cálculos para quantificar a
estrutura da paisagem envolvem a utilização de métricas ou indicadores de paisagem que incluem
basicamente as seguintes métricas: métricas de área, fragmentos, bordas, formas, área central
251
(―core‖), de contágio e intercalação (ou mistura), vizinho mais próximo, diversidade, conectividade
entre outros (ROCHA, 2011). Em suma, analisa-se a heterogeneidade, fragmentação, isolamento e
conectividade de todo o mosaico, ou seja, calculam-se os compartimentos ecológicos da paisagem
como um todo.
Segundo Carrão et al. (2001), a existência de inúmeras medidas quantitativas de composição
da paisagem, conhecidas como métricas ou indicadores da paisagem, ganham cada vez mais
atenção, na medida em que auxilia a compreender a estrutura complexa da paisagem e a forma
como esta influencia determinadas relações ecológicas.
A incorporação de dados de sensores remotos, visando avaliar a saúde e a diversidade da
vegetação, resultou no desenvolvimento, na década de 90, de numerosas métricas de Ecologia de
Paisagem ou índices que são de grande valor quando se analisam pastagens nativas, campos,
florestas e planícies inundáveis (FROHN, 1998).
Essa nova concepção de análise da estrutura da paisagem é composta por uma integração de
softwares geoestatísticos específicos de análise espacial da paisagem (possuem inúmeros algoritmos
especificamente para calcular, através das métricas, os padrões espaciais da estrutura da paisagem),
Sistema de Informação Geográfica (SIG), com parâmetros indicadores ou métricas de paisagem,
técnicas de fotointerpretação e imagens orbitais.
Ecologia da Paisagem e Geotecnologia
Embora existam muitas interpretações diferentes do termo ―paisagem", todas as definições
incluem invariavelmente uma área contendo um mosaico de manchas ou elementos que interagem.
Quanto ao termo Ecologia da Paisagem (―Landscape Ecology‖), este foi introduzido
primeiramente por Carl Troll em 1939, o qual fez uso de fotografias aéreas para interpretar a
interação da água, solo, vegetação e uso da terra através das técnicas de interpretação de imagens
fotográficas. Carl Troll conclamou geógrafos e ecólogos a trabalharem em estreita colaboração,
visando à fundação de uma nova ciência, que teria como objetivo central o estudo da paisagem
(MORELLI, 2002).
A Ecologia da Paisagem é vista na Europa como uma base cientifica para o planejamento,
manejo, conservação, desenvolvimento e melhoria da paisagem. Ela conteve os objetivos puramente
naturais da bioecologia clássica e tem tentado incluir as áreas nas quais o ser humano é o centro da
questão: sociologia, economia, geografia e cultura (NAVEH e LIEBERMAN, 1994).
De acordo com o estatuto da International Association for Landscape Ecology (IALE,
2011),
Ecologia da Paisagem é o estudo da variação espacial de paisagem em uma
variedade de escalas. Ele inclui as causas biofísicas e sociais e as
252
consequências da heterogeneidade da paisagem. Acima de tudo é
amplamente interdisciplinar.
A Ecologia da Paisagem envolve o estudo de padrões da paisagem, a interação entre
manchas no interior do mosaico da paisagem e a forma como padrões e interações mudam no
tempo. Considera ainda o desenvolvimento e dinâmica da heterogeneidade espacial e os seus efeitos
nos processos ecológicos. A Ecologia da Paisagem pode ser analisada considerando três
características da paisagem (FORMAN E GODRON 1986): Estrutura, Função e Mudança.
Como a Ecologia da Paisagem aborda o estudo dos padrões espaciais da paisagem e a
interação entre suas unidades, os cálculos para quantificar a estrutura da paisagem envolvem a
utilização de métricas ou indicadores de paisagem que incluem basicamente as seguintes métricas:
métricas de área, fragmentos bordas, formas, área central, de contagio e intercalação, vizinho mais
próximo, diversidade, conectividade entre outros.
De forma geral, analisa-se a heterogeneidade, fragmentação, isolamento e conectividade de
todo mosaico, ou seja, calculam-se os compartimentos ecológicos da paisagem como um todo.
A Agência Europeia do Ambiente (European Environment Agency –EEA) reconhece a
necessidade e importância de indicadores de paisagem no planejamento espacial, uma vez que a
avaliação das consequências das atividades humanas no ambiente pode ser expressa em termos de
uso de solo e de variação na estrutura da paisagem, que podem ser quantificadas através de tais
indicadores.
Segundo Carrão et al. (2001), a existência de inúmeras medidas quantitativas de
composição da paisagem, conhecidas como métricas da paisagem, ganham cada vez mais atenção,
na medida em que ajudam a compreender a estrutura complexa da paisagem e a forma como esta
influência determinadas relações ecológicas.
As medidas da estrutura da paisagem ou métricas da paisagem é a estrutura metodológica
para quantificar padrões de paisagem. Este se baseia na medição e na quantificação da paisagem sob
diversos aspectos estruturais/espaciais, com valores de medições.
Os modelos de aplicação de métricas da paisagem foram propostos inicialmente pelos
estudos da Ecologia da Paisagem e da Biologia da Conservação. O objetivo era identificar e
caracterizar os fragmentos da paisagem para selecionar as unidades com melhores condições para a
preservação ambiental, assim como dar apoio às escolhas de arranjos espaciais que poderiam
favorecer a biodiversidade, o equilíbrio das espécies, o fluxo gênico entre unidades e a formação de
corredores ecológicos que estariam em equilíbrio com as ocupações antrópicas do território
(ROCHA, 2011).
Para a aplicabilidade dessa metodologia é necessário que existam ferramentas de qualidade
que permitam a detecção, gestão e análise de grande quantidade de dados espaciais. Precisamos
diferenciar metodologicamente entre a gestão, ou seja, a análise de conjuntos de dados já existentes,
253
e a detecção e interpretação de dados primários (espacialmente a partir de imagens) para a geração
de novas e atualizadas camadas de informação. (LANG & BLASCHKE, 2009). Sendo assim o SIG
e o Sensoriamento Remoto são algumas das mais importantes ferramentas holísticas para análise,
planejamento e gestão da paisagem.
A riqueza de respostas que podem ser obtidas através da aplicação dos modelos de
mensuração de métricas de paisagens, utilizadas em conjunto com a técnica do SIG e
Sensoriamento Remoto, nos estudos de avaliação de áreas de interesse ambiental, são extremamente
valiosos.
O Geoprocessamento é uma tecnologia que, através da axiomática da localização e do
processamento de dados geográficos, integra várias disciplinas, equipamentos, programas,
processos, entidades, dados, metodologias e pessoas para coleta, tratamento, análises e apresentação
de informações, associadas a mapas digitais georreferenciados (ROCHA, 2000). Uma da suas
ferramentas é o Sensoriamento Remoto que pode ser aplicado às diversas finalidades,
principalmente ás análises ambientais.
Sabendo-se que a maioria dos estudos da Ecologia da Paisagem utiliza para calcular os
padrões espaciais da cobertura vegetal, imagens de satélite orbitais de média resolução espacial, o
uso do Sensoriamento Remoto é fundamental para o seu desenvolvimento.
Métricas ou Indicadores da Paisagem
Tendo em vista que o objetivo geral da Ecologia da Paisagem é quantificar os padrões
espaciais da paisagem e entender o desenvolvimento e a dinâmica da heterogeneidade espacial, bem
como as interações espaciais, o que nos remete à medição da estrutura e a complexidade da
paisagem, é que se faz necessário a aplicação de índices de paisagem, os quais estão inseridos na
denominada métrica de paisagem (Landscape Metrics). Esses índices baseiam-se na análise da
distribuição, forma e arranjo espacial das manchas.
A quantificação da paisagem, através da ―Landscape Metrics‖, pode ser feita em três níveis:
à resolução individual das manchas (calculando todas, uma a uma), à escala das classes de manchas
(calcula todas as classes da classificação que foram utilizadas como material base) e a escala da
paisagem como um todo (calcula a interação entre diferentes classes de manchas).
Alguns índices são espacialmente explícitos somente porque representam, segundo o autor,
ao nível da paisagem, a localização relativa individual das manchas. Esse procedimento faz com
que se reconheçam os processos ecológicos e organismos afetados pela inter-dispersão e
justaposição de tipos de manchas numa paisagem. Por exemplo, tem-se polígono de maior área,
número de polígonos, tamanho médio dos polígonos e densidade de bordas
254
Conforme Casimiro (2002), em termos de métrica de paisagem existe quatro grandes
categorias ou tipos de índices, espacialmente explícitos ou não. Na seqüência são demonstrados os
índices e alguns exemplos.
1. Forma – dimensão das manchas
2. Complexidade – irregularidades
3. Arranjo – organização espacial
4. Diversidade
Nesse contexto, algumas métricas quantificam a composição, representando a variedade e
abundância de fragmentos, e outras quantificam a configuração, estando relacionadas à forma e à
posição dos elementos na paisagem.
Assim, conforme McGarical et al. (p.11, 1995),
― mais importante do que classificar os índices da métrica de paisagem
numa dicotomia composição – configuração é reconhecer que a estrutura
da paisagem consiste tanto na composição como na configuração, e que
foram desenvolvidos índices para representar estes aspectos da estrutura da
paisagem, separadamente ou de forma combinada‖
A aplicação de índices para avaliar a estrutura em estudos de paisagem deve-se ao fato de
que eles foram deliberadamente projetados para minimizarem a necessidade de informação
adquirida em campo (O'NEIL, 1988). Com isso, a utilização desses índices abre uma nova
perspectiva para a aplicação do sensoriamento remoto em estudos da paisagem, com a finalidade de
acompanhar e compreender as transformações numa determinada paisagem.
O uso de índices é particularmente interessante por permitir o realce de determinadas
características e o obscurecimento de características secundárias, o que é fundamental quando se
trabalha em áreas de grande extensão como bacias hidrográficas, por exemplo. Da mesma forma, o
emprego de sensoriamento remoto e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são de grande valia
nesse tipo de avaliação e facilita a compreensão do território, sua evolução e consequentemente sua
gestão.
O Sensoriamento Remoto e o Sistema de Informações Geográficas (SIG) no Estudo das Métricas da
Paisagem
O ambiente e os recursos terrestres estão sofrendo mudanças constantemente em resposta à
evolução natural e às atividades humanas. Para entender a complexa inter-relação dos fenômenos
que causam essas mudanças, é necessário fazer diversas observações com uma série de dados do
espaço e escalas no tempo. A observação terrestre feita do espaço é o meio mais efetivo e
255
econômico de unir os dados necessários para monitorar e modelar esses fenômenos (VIEIRA,
2000).
Nesse contexto, a tecnologia de Sensoriamento Remoto emprega os subsídios mais
importantes para identificar e monitorar a superfície da terra, apoiando a investigação efetivamente
das interações entre o ambiente e as atividades de planejamento agrícola, ambiental e urbano
(EHLERS et al., 2002).
Para a análise e a quantificação da estrutura da paisagem, são utilizados índices/métricas que
podem ser distribuídos em diversas categorias. Esses índice/métricas estão embutidos através de
algoritmos em softwares Geoestatísticos, como, por exemplo, o FRAGSTATS e o LANDIC. Esses
índices/métricas permitem descrever o nível de uniformidade ou fragmentação espacial de uma
paisagem, essenciais para avaliação dos mecanismos ecológicos responsáveis pelas distribuições
populacionais, trabalhando essencialmente com imagens orbitais classificadas através do
processamento digital de imagens.
O uso de imagens de satélite, cada vez com mais plataformas orbitais disponíveis, melhores
resoluções espaciais, radiométricas e temporais, diminuição dos preços de aquisição, e maior
número de pacotes de software para visualização e tratamento de imagens, torna os documentos de
Sensoriamento Remoto, produtos incontestáveis para estudos de Ecologia da Paisagem.
A utilização de imagens orbitais, conforme Quattochi e Goodchild (1997) uniformiza a
escala de generalização da paisagem, permitindo mensurar propriedades espaciais, ou seja,
informações sobre a geometria e posição (dimensão, forma, arranjo e textura), informação pontual
(por pixel) e informação espacial (integração das propriedades espaciais), bem como a capacidade
de análise multitemporal.
Segundo Chagas et al. (2009), nos estudos envolvendo imagens de alta resolução, uma
grande problemática a ser enfrentada diz respeito à grande heterogeneidade de objetos, que
constituem complexos alvos de análise. Para contornar tal problema, os autores enfatizam que se faz
necessário desenvolver novas técnicas que possam auxiliar no processo de análise das imagens, com
intuito de separar os objetos não só pelas propriedades espectrais, mas também pela característica
da forma, auxiliando na etapa de discriminação dos objetos com valores espectrais similares, mas
com formas diferentes.
Aliado também a utilização de SIG, como meio de tratamento, cruzamento e visualização de
informações temáticas, está colaborando intensamente paras as análises de padrões espaciais.
Atualmente existem inúmeros pacotes de aplicativos desenvolvidos para alguns softwares de fácil
utilização, que permitem medições de heterogeneidade e estrutura espacial, como por exemplo,
IDRISI, Grass GIS e ArcView GIS.
256
Nesse contexto, o Sensoriamento Remoto inserido no universo das Geotecnologias
apresenta-se como importante instrumento de análise para a Ecologia de Paisagem, pois propicia
classificar e quantificar os padrões espaciais de todo um mosaico, através da geoestatística espacial
e o tratamento de imagens digitais.
As Questões Ambientais no Semiárido Nordestino
A antropização em regiões semiáridas torna-se um fator agravante, devido às condições
hidroclimáticas desfavoráveis (SOUSA, 2003). Neste sentido a desertificação e degradação do solo
nas regiões semiáridas são intensificadas devido à destruição da cobertura vegetal que muitas vezes
cede lugar para expansão das áreas agrícolas, queimadas, crescimento urbano, etc.
Os processos de uso e ocupação do solo alteram e degradam em um processo progressivo. A
Estrutura instável leva a compactação, menor porosidade e menor permeabilidade que por sua vez
reduz a micro, meso e macro flora e fauna e as relações de simbiose (LE HOUÉROU, 1996). Na
atualidade, esse problema vem se agravando por conta das recentes secas que assolaram o Nordeste.
Na maior parte dessa área predominam solos rasos e uma cobertura vegetal esparsa de caatinga
hiperxerófila. Sob estas condições e nos locais onde os agroecossistemas são dependentes da chuva,
a perda de solo por erosão é o principal fator que conduz a redução das terras produtivas do
semiárido.
Nesse contexto, as áreas semiáridas do Nordeste do Brasil representam um desafio
particularmente importante para o aumento da produtividade e a melhoria dos recursos naturais
devido as suas características de incertezas nas precipitações pluviométricas, fertilidade dos seus
solos e pressões populacionais em ambiente tipicamente frágil.
A compreensão da dinâmica da vegetação em regiões semiáridas e a forma com que seus
padrões se refletem na configuração da paisagem, se fazem necessárias e são de fundamental
importância para o entendimento das relações existentes neste Bioma. Pelo que foi exposto, o uso
da Ecologia da Paisagem, que é de fundamental importância no que se refere à dinâmica da
paisagem, podendo se constituir num procedimento de elevada relevância na compreensão das
dinâmicas existentes na caatinga, que sejam elas naturais, que sejam provenientes da interferência
humana.
Ecologia da Paisagem em Ambiente de Caatinga
A história tem mostrado que a maior parte do desenvolvimento recente da paisagem está
diretamente conectada com a forma de uso e ocupação da terra pelo Homem. No Nordeste brasileiro
257
isso ficou bem evidente a partir das últimas décadas, quando teve início à implantação de várias
grandes obras infra-estruturais. Assim, obras como rodovias, grandes açudes etc. fizeram surgir
novas configurações de paisagens.
Destaque para os açudes, que remodelaram a paisagem
semiárida regional por meio da introdução de massas d‘água
Diante desse cenário, cria-se um novo espaço de uso do solo no semiárido brasileiro, devido
a construções nas últimas décadas das massas de água perenes que surgem em grande número e em
diferentes tamanhos, formatos e isolamentos. Assim, naturalmente, essas áreas se tornaram novos
espaços à espera de estudos no âmbito da Ecologia da Paisagem, biologia da conservação,
biogeografia etc. A Caatinga está entre os biomas brasileiros mais alterados pelas atividades
humanas, assim tem ganhando importância paulatinamente.
A paisagem é entendida como uma configuração particular da topografia, cobertura vegetal,
uso e ocupação da terra que delimita alguns processos e atividades naturais e culturais.
Recentemente, esse processo tem se colocado como questão central na Ecologia da Paisagem e no
planejamento para conservação da biodiversidade.
Desse modo, alguns projetos podem ser encontrados no que diz respeito à Ecologia da
Paisagem para conservação da biodiversidade do ambiente de caatinga Neste sentido, destacamos
os seguintes trabalhos: Shittini et al (2009) que Avaliou o estado de fragmentação de áreas de
Caatinga importantes para a conservação da biodiversidade da Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco, como subsídio para a elaboração e priorização de propostas concretas para o manejo da
paisagem da região.; Fernandes, Almeida e Rato (2009) que utilizou a Dinâmica da Paisagem como
indice de degradação da terra, comparando a evolução espaço-temporal da cobertura vegetal para o
núcleo de desertificação do Seridó com foco no município de Carnaúba dos Dantes, detectando de
forma indireta, a susceptibilidade de áreas a degradação e consequentemente desertificação; Rocha
(2011) que utilizou as Métricas da Paisagem para Identificar e Analisar Padrões Espaciais em
Ambiente de Caatinga, identificando padrões espaciais com recursos da ecologia da paisagem e
imagens orbitais de alta resolução espacial através da integração das geotecnologias (Processamento
Digital de Imagens – PDI – Geoestatística e Sistemas de Informação Geográfica) com as técnicas de
fotointerpretação, e avaliar como o uso de imagens orbitais de alta resolução espacial pode contribuir,
através da associação da modelagem de conhecimento – baseada na classificação orientada por objeto
que utiliza a lógica Fuzzy com nível de organização hierárquico -, com alguns parâmetros de métrica de
paisagem para identificar a estrutura da paisagem e os padrões espaciais da cobertura vegetal de duas
áreas na Microrregião do Cariri Oriental no Estado da Paraíba.
258
Considerações Finais
O tema Ecologia da Paisagem na análise dos padrões espaciais de desertificação em
ambiente de caatinga como diagnósticos ambientais no semiárido, se mostra através da discussão
teórica explanatória que as informações geradas a partir da metodologia das métricas da paisagem
aliadas às geotecnologias, juntamente com outras informações de cunho social, econômico e
político pode contribuir para a sustentabilidade ambiental e promoção de políticas públicas na
região do Semiárido Nordestino.
Observou-se a necessidade da construção de outras metodologias de aplicações para o
estudo da espacialização do parâmetro vegetação chamada Caatinga, como forma, de visualizar com
mais fidedignidade a realidade ambiental que é representada graficamente nas imagens de satélites e
em outros dados espaciais. Em suma utilizar as metodologias existente reajustando quando e se
necessário para ser aplicado em regiões semiáridas, assim tornando-a mais representativa para a
realidade da região.
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de 2012.
261
A PRAGA DA COCHONILHA DE CARMIM (Dactylopius Opuntiae) E OS IMPACTOS
SOCIOECONÔMICOS NOS CARIRIS VELHOS/PB25
Dennys da Silva BIZERRA
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
Haerte Durgel de MELO
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
Resumo
A economia dos Cariris Velhos é baseada no criatório extensivo de ovinos e caprinos, a palma
forrageira (Opuntia ficus-indica) é um alimento de suma importância para os animais, onde as
características nutricionais do vegetal atendem as necessidades dos rebanhos, com fácil adaptação
aos solos, temperaturas elevadas e chuvas irregulares. A partir da disseminação da Cochonilha de
Carmim (Dactylopius opuntiae), inseto mexicano primeiramente utilizado na produção dos corantes
naturais carmim que se tornou praga, os palmais do Cariri paraibano e entorno foram
gradativamente afetados. A economia da região sofreu consequências significativas, com a palma já
infectada pela praga os alimentos tornaram-se escassos, prejudicando a manutenção dos animais nas
propriedades, resultando na venda a preços baixos. O objetivo do presente estudo é analisar os
impactos caudados pela praga da Cochonilha no Cariri paraibano, através do estudo de campo,
descrevendo os problemas e apresentando possíveis soluções.
Palavras-Chave: Cochonilha de Carmim, Cariris Velhos, Palma, impactos, animais.
Abstract
The economy of the Old Cariris is based on extensive rearing of sheep and goats, spineless cactus
(Opuntia ficus-indica) is a very important food for animals, where the nutritional characteristics of
the plant meet the needs of livestock with easy adaptation to soils, high temperatures and erratic
rainfall. From the spread of the Cochineal Carmine (Dactylopius opuntiae), insect Mexican first
used in the production of natural dyes that became crimson plague, palmais the Cariri around and
were gradually affected. The region's economy has suffered significant consequences, palm already
infected by the plague food became scarce, harming keeping animals in the properties, resulting in
the sale at low prices. The aim of this study is to analyze the impacts of the plague caudate
Cochineal in Cariri through field study, describing the problems and presenting possible solutions.
Keyswords: Cochineal carmine, Cariris Old, Palma, Impacts, animals.
25
Artigo orientado pelo Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza, [email protected] - Universidade Federal da
Paraíba
262
INTRODUÇÃO
A Caatinga é um grande domínio morfoclimático que se estende por grande parte do
semiárido brasileiro, possui relevo deprimido, com altas temperaturas e principalmente com
irregularidades na ocorrência de chuvas.
No Nordeste brasileiro, por volta de 300 mil famílias cultivam a Palma. Alguns fatores
tornam-na uma planta essencial para a criação de animais na região, como a alta concentração de
água nos seus tecidos e a pouca matéria seca, sem perder as qualidades nutricionais.
A pecuária é a atividade dominante nos Cariris Velhos desde o período colonial, com os
caprinos, ovelhas e porcos. O predomínio recente dos caprinos está intrinsecamente relacionado à
sua maior resistência a seca e à necessidade de alimento que, comparada a dos bovinos, é bem
menor.
As regiões com má distribuição e irregularidade de chuvas, juntamente com condições de
solos adversas resultam em sérios prejuízos econômicos para os criadores e seus rebanhos. Diante
desse cenário, surge a Palma forrageira, um vegetal capaz de resistir aos longos períodos secos,
permanecendo verde e com condições de atender as necessidades nutricionais dos animais.
Na medida em que o inseto da Cochonilha de carmim (Dactylopius opuntiae) virou praga,
há cerca de 10 anos, os palmais começaram a ser dizimados, atingindo outros Estados
circunvizinhos, o foco ocorreu no município de Sertânia, em Pernambuco. Os impactos causados
nos Cariris Velhos foram devastadores, afetando diretamente a economia local, pois sem alimento,
houve a necessidade de comercializar os animais com preços baixos.
A ideia de realizar o trabalho partiu das experiências e viagens dos autores no Cariri
paraibano ao longo dos anos de 2010, 2011 e 2012, após uma pesquisa bibliográfica chegamos há
elaboração do artigo.
LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Os Cariris Velhos (Cariri paraibano) está localizado no centro-sul do estado da Paraíba
(Figura 1), na Mesorregião da Borborema, um espaço subdividido em 4 microrregiões: Seridó
Ocidental, Seridó Oriental, Cariri Ocidental e Cariri Oriental. O acesso é realizado, a partir de João
Pessoa, pelas rodovias BR-230 e PB-148, com distancia de 180 a pouco mais de 300 km de João
Pessoa (capital).
263
Figura 1. Localização do Cariri na Paraíba/Brasil. Fonte: Souza, 2008.
CARACTERIZAÇÃO DOS CARIRIS VELHOS
Os elementos comuns do conjunto de paisagens existentes nos Cariri são os baixos índices
pluviométricos (cerca de 500 mm/ano, a menor do Brasil), as temperaturas médias elevadas (cerca
de 27ºC), os déficits hídricos acentuados, vegetação xerófila (um tipo de savana estépica conhecida
nacionalmente como ―caatinga‖), as limitações edáficas (solos rasos e, em muitos casos, com altos
teores de salinidade), grandes extensões de vegetação e de solos degradados, cidades pequenas e
baixa densidade demográfica. (SOUZA, 2008)
Clima:
Na região do Cariri predomina o clima semiárido quente e seco, com chuvas de verão e
outono. A estação chuvosa ocorre de janeiro a abril. O índice pluviométrico da região entre a fim de
2011 e metade de 2012 apresenta-se extremamente baixo. As consequências são observadas na
vegetação de caatinga, com as folhas...
CARVALHO (1982) descreve o clima no Cariri com os índices pluviométricos, no geral,
entre 400-800 mm anuais, caracterizado como área do clima semiárido, as chuvas distribuem-se no
verão e inverno. As temperaturas médias anuais variam entre 21º e 28ºC e a umidade relativa fica
entre 60 e 70%.
264
Vegetação:
A vegetação predominante é a caatinga, onde as espécies são, na maioria, caducifólias,
espinhosas, de folhas pequenas, destacando-se entre outras espécies, o Mandacaru (Cereus
jamacaru), Macambira (Bromelia laciniosa Mart.), Catingueira (Caesalpinia pyramidalis), Xiquexique (Pilosocereus goinallei), etc. (CARVALHO, 1982)
São Formações xerófilas, lenhosas, arbustivas e arbustivo-arbóreas, com espécies vegetais
espinhosas, folhas pequenas, raízes profundas e cor cinzenta no período seco.
Solos:
Os solos desse domínio são rasos e pedregosos sofrendo intemperismo físico nos latossolos
e pouca erosão nos litólicos e há influência de sais em solo, como: solonetz, solodizados,
planossolos, solódicos e soonchacks.
Segundo AB‘SABER (
3) a textura dos solos da caatinga passa de argilosa para textura
média, outra característica é a diversidade de solos e ambientes, como o sertão e o agreste. Mesmo
tendo aspectos de um solo pobre a caatinga necessita apenas de irrigação para florescer e
desenvolver a cultura implantada.
Aspectos Socioeconômicos:
As limitações do solo no Cariri repercutem fortemente sobre a atividade agrícola,
restringindo seu desenvolvimento. Com o aproveitamento das áreas circundantes da barragem de
Boqueirão para a produção de uma agricultura irrigada, é que se observa a expansão da cultura do
tomate, esta passa a ter peso significativo no final do Século XX, além da criação de médio porte.
Encontra-se com destaque na região a palma forrageira e a Algaroba. (MOREIRA, 1989)
Atualmente a policultura alimentar tradicional (com ênfase para o feijão e o milho) e a
pecuária extensiva de médio porte comandam a organização do espaço.
A PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus-indica)
De origem mexicana, a Palma forrageira é uma planta resistente a altas temperaturas, de
fácil adaptação nas regiões com má distribuição de chuvas e condições de solo adversas. Segundo
Bravo (1978) as palmas forrageiras pertencem à classe Liliateae; família Cactaceae; subfamília
Opuntioideae, tribu Opuntiae; gênero Opuntia, subgênero Opuntia e Nopalea; do reino Vegetal;
sub-reino Embryophita; divisão Angiospermae.
265
Primeiramente, o plantio da Palma (Figura 2) estava voltado à produção dos corantes
naturais carmim, no final do século XIX, a partir do século seguinte, começou a ser utilizada no
Nordeste como forragem.
Figura 2: Cultivo da Palma na zona rural do município da Prata/PB – Cariri paraibano.
Foto: Dennys Bizerra
A Forrageira é utilizada no mundo inteiro em diversas formas, principalmente para a
alimentação humana e animal, como fonte de energia, indústria de cosméticos, na medicina, entre
outros.
O plantio é realizado no terço final do período seco, com a posição do artículo, que é um
cladódio, também chamado de raquete e de ―folha‖ pelo produtor, sendo inclinada ou vertical
dentro da cova, com a parte cortada da articulação voltada para o solo. (DIAS; MELO, 2006)
A COCHONILHA DE CARMIM (Dactylopius opuntiae)
A Cochonilha de Carmim é um inseto de origem mexicana, criado também em outros países
da América, com destaque para o Peru. Os insetos sugam a seiva das plantas e introduzirem toxinas,
com contínuo processo de alimentação pela praga, aliado ao aumento da infestação, a planta fica
debilitada provocando o amarelecimento, seca e atrofiamento das folhas, denominadas raquetes, em
curto espaço de tempo, podendo causar a morte do vegetal.
Sua utilização está relacionada à produção de corante natural, já que não afeta a saúde,
diferentemente dos corantes sintéticos. Os principais corantes naturais são o urucum (extraído de
sementes do urucuzeiro, das quais se prepara o colorau), a páprica (de pimentões), a cúrcuma (de
gengibre), as antocianinas (de cascas de uvas) e o carmim (de insetos cochonilhas). (CHIACCHIO;
MESQUITA; SANTOS, 2006)
266
Dentre alguns tipos de cochonilhas que atacam as plantações, a cochonilha de carmim é
caracterizada por uma proteção de cera e gordura que no envolto de suas colônias.
De acordo com CHIACCHIO; MESQUITA; SANTOS (2006) a proteção de cor branca faz
com que as colônias da cochonilha do carmim se assemelhem a flocos de algodão colados nas
raquetes de palma. Quando essas colônias são pressionadas, com a mão ou com um objeto, as
fêmeas são esmagadas, liberando um líquido vermelho parecido com sangue, contendo o ácido
carmínico, fonte do corante carmim.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A praga da cochonilha de carmim (Dactylopius opuntiae) está ameaçando as lavouras no
semiárido nordestino desde os anos 90 do século XX. O inseto que se transformou em praga,
começou a se disseminar em Pernambuco, a partir de um foco experimental no Instituto de
Pesquisas Agronômicas – IPA, no Município de Sertânia/PE, chegando até o Cariri paraibano.
Com a perda de controle dos experimentos da cochonilha, a infestação se alastrou nos
municípios Pernambucanos, atingindo outros estados do nordeste como Paraíba, Rio Grande do
Norte, Bahia, Ceará.
Com a disseminação, ocorre o processo de alimentação da praga, onde o vegetal fica
debilitado, causando amarelecimento, seca e atrofiamento das plantas em um pequeno espaço de
tempo. (Figura 3)
Figura 3: Exemplo da Palma infectada pela praga da Cochonilha de carmim.
Foto: Dennys Bizerra
267
Os estudos da técnica conhecida como cultura de tecidos vegetais in vitro vêm sendo
utilizada em Pernambuco, nas entidades parceiras ao Centro de Tecnologias Estratégicas do
Nordeste - CETENE, o Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA, a Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE e a Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, para produção de
mudas de uma variedade resistente da Palma forrageira, conhecida como orelha de elefante
mexicana. Os pesquisadores utilizam a técnica com um pequeno fragmento da Palma resistente,
para produzir milhares de mudas, que serão clones.
A principal ação dos Órgãos competentes para controlar a praga é a distribuição da Palma
forrageira resistente a Cochonilha, citada anteriormente, conhecida vulgarmente como orelha de
elefante mexicana (Figura 4). Com a entrega dessas novas raquetes, disponível a partir de 2011,
brotarão novas raquetes, que substituirão as Palmas infectadas, assim combatendo a praga sem
agredir o meio ambiente.
Figura 4: Palma conhecida como orelha de elefante mexicana.
Foto: Dennys Bizerra.
268
No município da Prata, Cariri paraibano, precisamente na comunidade rural Serra da
Matarina, os moradores relataram que no período de seca que estendeu em vários meses de 2012, as
consequências foram significativas, a partir da falta de água e da disseminação da Cochonilha, os
animais morreram, os alimentos tornaram-se escassos e a palma foi infectada pela praga,
prejudicando a manutenção dos animais nas propriedades.
Na Paraíba, foram destruídos milhares de hectares da palma, principalmente nas regiões do
Cariri ocidental, Vale do Piancó e Serra do Teixeira. É necessário o rápido controle da praga, pois a
economia caririzeira baseada na criação dos ovinos e caprinos não pode ser afetada, sem os animais
ficaram comprometidos à carne, o couro, o leite, derivados de grande importância no Estado e fora
dele.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A resistência da Palma ao clima semiárido, aliado as qualidades nutricionais que fornece aos
rebanhos no período de secas prolongadas é ideal para os criadores de animais, na medida em que
partes das necessidades são atendidas devido ao alto teor de água que a planta armazena.
Com a praga da Cochonilha de carmim destruindo a Palma Forrageira, a falta de alimentos
para fornecer aos animais é um problema grave para os criadores, onde são obrigados a
comercializar os animais com preços abaixo do mercado.
Diante desse cenário, surge como fundamental importância a Palma forrageira resistente à
disseminação da Cochonilha de carmim, com o intuito de amenizar as consequências geradas pela
praga.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB‘SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas. São
Paulo, Ateliê Editorial, 2003.
BRAVO, H. Las cactáceas de México. 2.ed. México: Uni. Nac, Aut. México, 1978. v.1.
CARVALHO, Ma. Gelza F. de. “Estado da Paraíba”; classificação geomorfológica. João Pessoa,
Editora Universitária/ Funape, 1982.
CHIACCHIO, F; MESQUITA, A; SANTOS, J. Palma Forrageira: uma oportunidade econômica
ainda desperdiçada para o Semiárido baiano. Revista Bahia Agrícola., v.7, n.3, nov. 2006.
DIAS, F. M.; MELO, J. N. de. Manejo e utilização da palma forrageira (Opuntia e Nopalea) em
Pernambuco. Recife: IPA, 2006.
269
MOREIRA, Emília. Mesorregiões e Microrregiões da Paraíba: Delimitação e Caracterização.
João Pessoa: Graff-Set, 1989.
SANTOS, D. C. dos; FARIAS, I.; LIRA, M. de A.; SANTOS, M. V. F. dos; ARRUDA, G. P. de;
COELHO, R. S. B.; DIAS, F. M.; MELO, J. N. de. Manejo e utilização da palma forrageira
(Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA, 2006.
SOUZA, B. I. Cariri paraibano: do silêncio do lugar à desertificação. Tese de doutorado sob a
orientação da Profa. Dra. Dirce Maria Antunes Suertegaray. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
270
A VARIABILIDADE DOS OCEANOS ATLÂNTICO E PACÍFICO E A INFLUÊNCIA SOBRE
A PRECIPITAÇÃO E A AGRICULTURA DO CARIRI PARAIBANO
Jaricélia Patrícia de Oliveira SENA (UATEC/CDSA/UFCG26) - [email protected]
Jordanna Sousa de MELO (UATEC/CDSA/UFCG27) – [email protected]
Daisy Beserra LUCENA (UATEC/CDSA/UFCG28) – [email protected]
RESUMO
A variabilidade da precipitação para a região semiárida da Paraíba, como em qualquer outra
localidade do Nordeste, é muito importante para o desenvolvimento econômico/social. A grande
irregularidade da precipitação provoca impacto nos diversos setores da sociedade e, principalmente
na agricultura que na região é praticamente de subsistência. Portanto, o conhecimento detalhado da
distribuição espacial e temporal da precipitação, bem como a influência das anomalias da
Temperatura da Superfície do Mar nos Oceanos Tropicais sobre ela e, por conseguinte, na
agricultura, é de grande importância para a tomada de decisões por parte dos governos e da
sociedade civil. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é verificar possíveis relações entre as
anomalias da Temperatura da superfície do mar e a precipitação, como também o impacto sobre a
agricultura no Cariri Paraibano. Para isto foram utilizados dados de precipitação, dados da
temperatura da superfície do mar, durante o período de 1979 a 2010 e dados da quantidade
produzida das culturas de milho e feijão. A associação qualitativa entre os eventos sobre os Oceanos
demonstra que eles apresentam um impacto na precipitação da região, isto também foi confirmado
na análise quantitativa, em que os valores encontrados podem ser um indicativo da importância dos
oceanos, todavia é bom ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí a
dificuldade em encontrar respostas diretas. A correlação linear entre a precipitação e as culturas do
milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, com significância estatística. Nenhum padrão entre
os dois oceanos e a quantidade produzida pode ser verificado para remeter a uma condição de
influencia direta na agricultura, entretanto indiretamente deve existir devido a ela ser intimamente
ligada a precipitação.
26
Aluna do Curso de Engenharia de Biossistemas, Bolsista PIBIC, Unidade Acadêmica de Tecnologia e
Desenvolvimento, Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido, UFCG, Sumé, PB.
27
Aluna do Curso de Engenharia de Biossistemas.
28
Professora - Orientadora.
271
Palavras-chave: ENOS, Gradiente inter-hemisférico da TSM, Região Semiárida.
VARIABILITY OF THE ATLANTIC AND PACIFIC OCEANS AND INFLUENCE ON
AGRICULTURE AND THE PRECIPITATION IN PARAIBA'S CARIRI AREA
ABSTRACT
The variability of precipitation for the semiarid region of Paraíba, as in any other location in the
Northeast, it is very important for economic/social. The irregularity of rainfall causes great impact
on the various sectors of society, and especially in agriculture in the region that is virtually
subsistence. Therefore, detailed knowledge of the spatial and temporal distribution of precipitation,
and the influence of the anomalies of sea surface temperature in the Tropical Oceans on it and
therefore, agriculture is of great importance for decision-making by governments and civil society.
Therefore, the aim of this paper is to investigate possible relationships between the anomalies of sea
surface temperature and precipitation, but also the impact on agriculture Paraiba‘s Cariri area For
this we used data of precipitation, temperature data of the surface of the sea, during period since
1979 to 2010 and data of produced of corn and beans cultures. Qualitative association among events
on the Oceans demonstrates that present an impact in area rainfall, this was also confirmed on
quantitative analysis, in that found values can be an indicative of oceans importance, though it is
good to point out that oceans don‘t act isolated but do simultaneously, then the difficulty in finding
direct answers. Linear correlation between rainfall and corn and beans cultures is 0.65 and 0.70,
respectively, with statistical significant. Any pattern between two oceans and produced amount can
be verified to send to condition of direct influences in agriculture, however indirectly it should exist
due to her to be intimately linked to rainfall.
Keywords: ENSO, Interhemispheric gradient of SST, Semiarid Region.
272
INTRODUÇÃO
Atualmente o clima vem passando continuamente por mudanças até certo ponto bruscas, e
tem sido motivo de vários estudos visando minimizar os efeitos, diretos ou indiretamente, causados
que prejudicam as diversas formas de vida na superfície da terra. O conhecimento dessas mudanças
em uma determinada região faz-se necessário, pois o clima é um dos principais fatores para a
existência da vida de um modo geral e no desenvolvimento das diversas atividades humanas. As
adversidades no clima podem ser causadas por mudanças antropogênicas ou naturais.
O Estado da Paraíba está situado no extremo leste da região NEB, faz limite ao norte com o
Rio Grande Norte, ao sul com Pernambuco, a leste com Oceano Atlântico e a oeste com o Ceará.
Ocupa uma área de 56.584,6 km2, apresentando um clima semiárido, em mais de 70% do seu
território, que é caracterizado pela baixa umidade e pouco volume pluviométrico.
A variabilidade interanual do clima na região do semiárido nordestino é merecedor de
grandes atenções. Apresenta duas estações bem distintas: uma seca na qual chove muito pouco, e
uma úmida quando ocorrem precipitações irregulares que vão de um mínimo de 300 mm a um
máximo de 800 mm (LIMA, 2008).
Na região NEB as atividades agrícolas, quase que em sua totalidade, são baseadas na
precipitação e o conhecimento de sua variabilidade é de extrema importância, principalmente para
os setores sociais e econômicos. Entre as culturas implantadas, o feijão e o milho, continuam tendo
grande importância para a economia nas regiões semiáridas, onde as incertezas de colheitas são
cada vez mais acentuadas diante das irregularidades climáticas.
Essa grande variabilidade na precipitação na escala temporal como espacial, é modulada por
fenômenos atmosféricos decorrentes de interações oceano/atmosfera, como as oscilações das
Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) sobre os Oceanos Tropicais (EL Niño - EN, La Niña LN, Gradiente Inter-hemisférico - GRADM) (SOARES e BRITO, 2006).
No Pacífico Tropical a presença de eventos quentes (frios) denominados de El Niño (La
Niña), anomalias positivas (negativas) da TSM, causa fenômenos climáticos diferenciados em
várias áreas do Nordeste (PHILANDER, 1991). O El Niño (EN) é caracterizado pelo aquecimento
anômalo da camada superficial e sub-superficial do Oceano Pacífico Central e Leste
(RASMUSSON e CARPENTER, 1982). Condição oposta caracteriza eventos de La Niña (LN).
Estes sistemas produzem flutuações intensas no clima que são capazes de interferir positivamente
ou negativamente na atividade agrícola e na dinâmica da vegetação regional.
Além da influência do oceano Pacífico, a variabilidade da TSM no Oceano Atlântico
Tropical também apresenta sua importância e impacto sobre o clima da região NEB (MARKHAM e
273
MCLAIN, 1977; HASTENRATH e HELLER, 1977; MOURA e SHUKLA, 1981; ANDREOLI e
KAYANO, 2004). O Atlântico é controlado por um gradiente meridional ou inter-hemisférico da
TSM (GRADM), conhecido também como padrão de dipolo (MOURA e SHUKLA, 1981;
SERVAIN, 1991). Essa variabilidade ocorre em escala interanual e decadal e está ligada ao
deslocamento meridional da ZCIT, que é um dos principais mecanismos que provoca precipitação
no norte e também sobre o leste do NEB.
A variabilidade do clima do Nordeste, principalmente da precipitação é uma variável muito
importante para o desenvolvimento econômico/social do Estado da Paraíba, em particular, da
microrregião do Cariri Paraibano provocando impactos diretamente sobre a enorme população que
vive na região. Portanto, o conhecimento detalhado da distribuição espacial e temporal da
precipitação, bem como a influência das anomalias da TSM dos Oceanos Tropicais sobre a
precipitação e, por conseguinte, na agricultura, é de grande importância para a tomada de decisões
por parte dos governos e da sociedade civil.
Diante do que foi exposto, este trabalho tem por objetivo geral verificar possíveis relações
sazonais entre as anomalias da Temperatura da superfície do mar, a precipitação e o impacto sobre a
agricultura no Cariri Paraibano.
MATERIAL E MÉTODOS
O Estado da Paraíba localiza-se na região nordeste do Brasil e divide-se em seis
microrregiões com características distintas quanto à precipitação e sistemas meteorológicos
atuantes, a saber: litoral, agreste, cariri, curimataú, sertão e alto sertão. O Cariri paraibano está
localizado no sul do Estado e é composto por 29 cidades, como pode ser visualizado na Figura 1.
Figura 1 – Localização do Cariri Paraibano.
274
Os dados utilizados neste estudo foram:
- Dados de precipitação mensal proveniente do CPC (Climate Prediction Center), centro
pertencente ao NCEP (National Centers for Environmental Prediction). A análise da precipitação
global diária baseada em pluviômetros do CPC é um conjunto de produtos de precipitação,
combinando todas as fontes de informação disponíveis de medidas em estações de superficie. Estes
dados em ponto de grade possui uma resolução espacial de 0,5° para todo o globo, são dados diários
e estão disponivel de 1979 até o presente29 (CHEN et al., 2008). Para extração dos dados para cada
uma das cidades que compõe a região do Cariri utilizamos o software Grid Analysis and Display
System (GrADS). Informações, detalhes, bem como download do GrADS, veja o sitio
<http://www.iges.org/grads/>. Estes dados para a região do Cariri paraibano foram analisados por
SENA et al. (2012), os resultados mostram que estes representam bem a precipitação, bem como
conseguiram representar o período chuvoso (FMA) da região em estudo, o mesmo não se pode
afirmar para o período seco.
- Dados de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) para as regiões do Niño 1+2 (0-10°S; 90°80°W), Niño 3 (5°N-5°S; 150°-90°W), Niño 4 (5°N-5°S; 160°E-150°W) e Niño 3.4 (5°N-5°S;
170°-120°W) sobre o Oceano Pacífico e TSM sobre as Bacias Norte (5°-20°N; 60°-30°W) e Sul (020°S; 30°W-10°E) do Atlântico foram obtidos através do site do CPC30.
- Dados da quantidade produzida para as culturas do feijão e do milho para a região em estudo
obtidos junto ao portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através do link
banco de dados Séries Estatísticas & Séries Históricas31. Esses dados são para o período
compreendido entre 1997 a 2010, entretanto o ano de 1998 não possui informação.
Os cálculos das correlações foram obtidos por meio de equações de regressão linear simples.
Utilizou-se a planilha do Microsoft Excel 2007 para o cálculo deste coeficiente.
Contudo, para tirar qualquer conclusão sobre o valor estimado do coeficiente de correlação
linear (r) é necessária à aplicação de um teste estatístico para testar a existência de uma relação
significativa entre as duas variáveis. Utilizou-se o teste t para inferência de associação da
29
Disponível em < ftp://ftp.cpc.ncep.noaa.gov/precip/CPC_UNI_PRCP/GAUGE_GLB/>
30
Disponível em <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/data/indices/>
31
Disponível em <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/>
275
correlação. Segundo Silva (2007) é um teste de fácil aplicação e mundialmente aceito como um
teste eficiente no cômputo da significância estatística de coeficiente.
Também se realizou a padronização dos dados, que é indispensável para os casos em que
diferentes variáveis serão submetidas á análise estatística. Segundo Wilks (2006) esta transformação
é por vezes também referida como uma normalização. As unidades físicas dos dados originais são
canceladas, ou seja, as variáveis padronizadas são adimensionais.
Para a seleção dos eventos será utilizada a região do Niño 3.4, por ser um dos índices mais
difundidos operacionalmente para fins de monitoramento e previsão dos eventos ENOS e suas
teleconexões (TRENBERTH, 1997). Os anos de El Niño e La Niña foram selecionados tendo como
base a relação do CPC/NOAA32. Os episódios quentes baseiam-se no trabalho de Rasmusson e
Carpenter (1982), enquanto a fonte dos episódios frios é Ropelewski e Halpert (1989). Foram
selecionados 09 anos de EN (82/83-F, 86/87-M, 87/88-M, 91/92-F, 94/95-M, 97/98-F, 02/03-M,
06/07-M e 09/10-F) e 06 anos de eventos LN (84/85-M, 88/89-F, 95/96-M, 98/99-M, 99/00-M e
07/08-F). A classificação dos episódios nas categorias moderado (M) e forte (F) foi realizada
também com base nas informações contidas no sitio do CPC/NOAA.
Por outro lado, os anos correspondentes aos anos com gradiente meridional ou interhemisfério da TSM sobre o Atlântico (GRADM) positivo ou negativo foram escolhidos com base
no cálculo do índice proposto por Servain (1991) que consiste na diferença entre as médias da TSM
na área delimitada na bacia norte do Atlântico, menos a área na bacia sul. Foram selecionados 10
episódios com GRADM positivo (anos de 79, 80, 81, 83, 92, 97, 02, 04, 05 e 10) e 08 com
GRADM negativo (anos de 84, 85, 86, 89, 91, 94, 08 e 09) sobre o Oceano Atlântico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente foi realizada uma associação qualitativa entre a precipitação anual para o Cariri
Paraibano e os eventos sobre os oceanos, com o intuito de verificar se haveria uma relação entre
estes (Figura 2). Na Figura 2a são apresentados os desvios da precipitação anual padronizada para o
Cariri Paraibano no período em estudo, destacando-se os eventos sobre o Oceano Pacifico (El Niño
e La Niña). É possível observar nos anos em que o evento EN esteve configurado (barras em
vermelho) que aproximadamente 67% da precipitação foram abaixo da média, tal como referido na
literatura (por exemplo, PHILANDER, 1991, dentre outros). Entretanto, nos anos de 1995, 2007 e
2010 observa-se desvios de precipitações positivas, vale ressaltar que com exceção do ano de 2010
com precipitação de 772 mm, nos anos de 1995 e 2007 os desvios são inferiores a 0,5, deste modo
32
Disponível no site <http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ensoyears.shtml>
276
podendo ser considerados dentro da média climatológica. Nos anos de LN (Figura 2a – barras em
verde) a precipitação apresenta-se positivas, ou seja, acima da média, com exceção para o ano de
1999 em que se tem uma precipitação negativa, apesar de que o desvio é inferior a 0,5.
Em anos com condições neutras sobre o Pacífico tem-se uma variabilidade da precipitação
não sendo observado qualquer padrão, o que pode ser visualizado é que a partir do ano de 2004 os
desvios de precipitação aparecem sempre positivos. Percebe-se claramente que tal como dito em
(JÚNIOR e GALVINCIO, 2009) os eventos sobre o Pacífico El Niño e La Niña indicam uma
influencia negativa ou positiva, respectivamente, no comportamento das chuvas sobre a região em
estudo, entretanto nem sempre ano de El Niño ou La Niña são necessariamente um ano seco ou
chuvoso, respectivamente, pois como mostram os estudos o impacto dependerá também de outras
condições, como as condições do Oceano Atlântico e condições locais.
Na Figura 2b pode-se observar o que acontece com a precipitação interanual em associação
com os eventos de gradiente meridional ou inter-hemisférico da TSM sobre o Atlântico. Observarse que quando o gradiente é positivo, sendo considerado condição desfavorável para a nossa região
(Hastenrath e Heller, 1977; Moura e Shukla, 1981), o número de anos com precipitação abaixo da
média é maior do que o número de anos com precipitação acima da média, entretanto o que chama a
atenção é que todos os eventos antes de 1997 tal como relatado em literatura essa condição no
oceano Atlântico tende a diminuir a precipitação na região NEB, porém depois desta data todos os
desvios apresentam-se positivos. Analisando o gradiente negativo (barras em verdes) tem-se que o
resultado é exatamente o oposto, ou seja, com exceção do ano de 1991 que apresentou precipitação
abaixo da média, com um desvio superior a 0,5, os demais anos em que observa-se precipitações
variando acima da média. Quando o gradiente é neutro observa-se uma grande variabilidade
oscilando entre valores abaixo e acima da média.
2,5
a)
1,5
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-2
-2,5
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
DESVIO DA PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO
2
ANOS
277
2,5
b)
2
1,5
DESVIO DA PRECIPITAÇÃO PADRONIZADO
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-2
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
-2,5
ANOS
Figura 2 – Desvio da Precipitação anual padronizada para o Cariri Paraibano (1979–2010) ( =
mm e δ = 3 mm), com destaque os eventos extremos sobre: a) o Oceano Pacífico: Eventos El
Nino (representados em barras vermelhas) e La Nina (em barras verdes) e b) o Oceano Atlântico:
Eventos Gradiente inter-hemisférico positivo (representados em barras vermelhas) e negativo (em
barras verdes). As barras em azul identificam os anos neutros.
Analisando conjuntamente os anos de eventos extremos (indicados pelos círculos nas Figura
2) com a configuração sobre os dois oceanos, pode se observar, em geral, que nos casos dos eventos
extremos de precipitações (desvios positivos) os eventos sobre os dois oceanos são os que
favorecem a mesma, ou seja, La Niña no Pacífico ou GRADM – sobre o Atlântico. Tem-se, por
exemplo, que nos anos de 1985 e 2008 estes dois eventos ocorreram simultaneamente, tendo o ano
de 1985 como o que apresentou maior precipitação em todo o período em estudo, 1103,7 mm. A
exceção ocorre no ano de 2004 e 2006, em 2004 sobre o Atlântico configurava o GRADM + e no
outro ano em que as condições sobre os dois oceanos eram neutras.
No caso em que as precipitações foram abaixo da média, acima do limiar de -1 desvio
padrão tem-se que as condições eram de El Niño ou GRADM +, o que não favorece a formação de
chuvas na região. Estes eventos no ano de 1983 ocorreram simultaneamente. Em 1982, 1990 e 1993
a precipitação foi abaixo da média, porém não tem associação com nenhum evento sobre os
oceanos, condições locais deve ter influenciado as precipitações.
A partir das variáveis padronizadas foram calculados os coeficientes de correlação linear
entre a precipitação e a TSM sobre regiões dos Oceanos Pacífico e Atlântico. Realizou-se
correlação com defasagem temporal, em que se desloca no tempo uma das variáveis em estudo.
Neste trabalho, optou-se por fixar a precipitação no período chuvoso (fevereiro, março e abril), e
por variar a TSM sobre as regiões, para permitir a obtenção de resultados que pudessem expressar
278
alguma sugestão sobre a influência dos oceanos sobre a precipitação. O Quadro 1 apresenta a
montagem das correlações defasadas (lags) e simultâneas, ou seja, sem defasagem (lag = 0).
Defasagens (lags)
PRECIPITAÇÃO
TSM‘s
LAG 0
FEV-MAR-ABR
FEV-MARABR
LAG -1
FEV-MAR-ABR
JAN-FEVMAR
LAG -2
FEV-MAR-ABR
DEZ-JANFEV
LAG -3
FEV-MAR-ABR
NOV-DEZJAN
LAG -4
FEV-MAR-ABR
OUT-NOVDEZ
LAG -5
FEV-MAR-ABR
SET-OUTNOV
LAG -6
FEV-MAR-ABR
AGO-SETOUT
Quadro 1 – Montagem dos meses para realização da correlação entre as TSM sobre os Oceanos e a
precipitação sobre o Cariri Paraibano durante o período chuvoso (FMA).
Os valores obtidos para o coeficiente de correlação são apresentados na Tabela 1. Observase que as correlações com as áreas sobre o Pacífico não apresenta correlação linear absoluta
superior a 0,51 e no Atlântico superior a 0,47. Nota-se que sobre o Pacífico a região que apresentou
uma maior correlação significativa com a precipitação no Cariri Paraibano foi a região Niño 3,
seguido da região Niño 3.4, e estas tem-se influencia negativa, isto pode ser verificado pelos valores
negativos do coeficiente. Pode ser observado também que os valores do coeficiente de correlação
decresce com a defasagem indicando que as condições sobre o Pacífico apesar de ter influencia
deste o trimestre agosto-setembro-outubro (lag 6) do ano anterior a estação chuvosa, essa influencia
vai intensificando a medida que as condições permaneçam sobre a região e perdurem até o trimestre
chuvoso (lag 0).
Com relação ao Atlântico, apesar dos valores em termos absolutos serem menores é
observado que as condições sobre o Atlântico influenciam favoravelmente as chuvas na região em
279
estudo. O GRADM está em acordo com os estudos em que ele favorece negativamente, e é bom
chamar a atenção ao sinal contrário entre as bacias norte e sul, que explica o GRADM.
A análise das correlações defasadas e simultâneas indica que existe um comportamento fora
de fase entre o sinal de aquecimento das águas sobre os oceanos e a precipitação. Além disso, os
maiores valores encontrados podem ser um indicativo da importância dos oceanos, todavia é bom
ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí a dificuldade em encontrar
respostas diretas. Os resultados das correlações estão em concordância com todos os estudos
realizados para a região NEB, em que mostra que as condições sobre os dois oceanos impactam na
precipitação.
LAGS
PACÍFICO
ATLÂNTICO
NINO
1+2
NINO 3
NINO3.4
NINO 4
ATN
ATS
GRADM
0
-0,37
-0,51
-0,49
-0,41
-0,31
0,21
-0,40
1
-0,35
-0,46
-0,43
-0,36
-0,25
0,24
-0,39
2
-0,32
-0,42
-0,40
-0,33
-0,19
0,24
-0,34
3
-0,27
-0,37
-0,36
-0,29
-0,18
0,23
-0,33
4
-0,26
-0,35
-0,32
-0,25
-0,19
0,27
-0,37
5
-0,22
-0,30
-0,27
-0,20
-0,17
0,37 *
-0,42
6
-0,20
-0,25
-0,22
-0,20
-0,14
0,47 *
-0,47
Observação: Os valores com asteriscos não apresentaram significância estatística de 95% de
confiança pelo teste t.
Tabela 3 – Coeficiente de correlação para precipitação versus regiões sobre os Oceanos Pacífico e
Atlântico
Na Figura 3 observa-se o desvio padronizado da quantidade produzida de feijão e milho para
o Cariri Paraibano durante o período (1997 – 2010), com a indicação dos eventos sobre os oceanos
Pacífico (EN e LN) e Atlântico (GRADM + e GRAM-). Pode verificar que a quantidade produzida
de feijão e milho segue a mesma característica, ou seja, as duas apresentam desvios positivos ou
negativos, isto porque na região as culturas são desenvolvidas em consórcio, ou seja, é um sistema
em que o cultivo de uma ou mais espécies é realizado em uma mesma área, de modo que uma
conviva com a outra. Desta forma o aproveitamento da área é melhor porque ao se cultivar duas
280
culturas o agricultor quase sempre tem maior eficiência no uso da sua terra, produzindo uma
quantidade maior de grãos comparada com o monocultivo.
A precipitação também é representada na Figura 3 com a linha preta, em geral mostra que
períodos de quantidade produzida mais altas coincidem com anos com precipitações acima da
média, dos 13 anos em análise, apenas 31% não apresentou uma concordância com a precipitação.
O coeficiente da correlação linear entre os desvios normalizados da precipitação e as
culturas do milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, significativas a 95% de confiança
testado pelo teste t, reforçando assim a análise da influência direta da precipitação com as culturas.
Associando o aumento ou diminuição da produção de feijão e milho com as condições sobre
o Oceano Pacífico (Figura 3a) nota-se que nos anos em que se configura o El Niño (indicado pelas
barras vermelhas) que se tem uma redução na quantidade produzida, já nos anos de La Niña tem
uma indicação de aumento, porém o ano de 1999 foi uma exceção em que foi observado uma
redução de mais de 1 desvio padrão, a quantidade produzida foi a menor do período em estudo, 176
toneladas. Nos anos neutros nada pode se afirmar, apresentado variabilidade.
Nos anos em que se verificou o GRADM negativo (Figura 3b) observa-se um desvio
positivo das culturas, enquanto que nos anos de GRADM positivo apresentou uma oscilação acima
e abaixo da média, não demonstrando nenhuma associação, isto também é verificado nos anos
neutros. Quando se observam as duas figuras (3a e 3b) concomitantemente não foi observado
nenhum padrão entre os dois oceanos que possam agregar ou remeter a uma condição de influencia
ou não conjunta.
CONCLUSÃO
A associação qualitativa entre os eventos sobre os Oceanos demonstrou que eles apresentam
um impacto na precipitação da região, porém o que pode ser observado é que estes não podem ser
estudados isoladamente e sim simultaneamente.
A análise quantitativa foi concordante com outros estudos bem como a análise qualitativa
realizada. Em que a análise das correlações defasadas e simultâneas indica que existe um
comportamento fora de fase entre o sinal de aquecimento das águas sobre os oceanos e a
precipitação. Além disso, os maiores valores encontrados podem ser um indicativo da importância
dos oceanos, todavia é bom ressaltar que os oceanos não agem isolados e sim simultaneamente, daí
a dificuldade em encontrar respostas diretas.
281
A correlação linear entre os desvios normalizados (padronizados) da precipitação e as
culturas do milho e feijão são 0,65 e 0,70, respectivamente, significativas a 95% de confiança
testado pelo teste t, reforçando assim a análise da influência direta da precipitação com as culturas.
Nenhum padrão entre os dois oceanos e a quantidade produzida pode ser verificado para
remeter a uma condição de influencia direta na agricultura, entretanto indiretamente deve existir
devido a ela ser intimamente ligada a precipitação.
2,0
a)
Desvio Padronizado da Quantidade Produzida
1,5
1,0
0,5
0,0
-0,5
-1,0
-1,5
-2,0
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003 2004
Anos
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2,0
b)
Desvio Padronizado da Quantidade Produzida
1,5
1,0
0,5
0,0
-0,5
-1,0
-1,5
-2,0
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003 2004
Anos
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Figura 3 – Desvio padronizado da Quantidade Produzida para as culturas de feijão (cores mais
claras à esquerda) e milho (cores mais escuras à direita) para o período de 1997 a 2010. a) os em
tonalidade verde representam os anos de eventos La Niña e os em vermelhos os de El Niño. b) os
em tonalidade verde representam os anos de Gradiente negativo e os em vermelho Gradiente
positivo. As barras em tonalidades azuis identificam os anos neutros sobre os oceanos.
282
AGRADECIMENTOS
A UFCG juntamente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pela concessão da bolsa da aluna de Iniciação Científica (PIBIC).
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284
11 – Turismo, Patrimônio e
Responsabilidade Socioambiental
285
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA:
O caso do Condomínio Águas da Serra Haras e Golf no Município de Bananeiras - Paraíba
Aluisio Nicácio Cavalcanti NETO
Estudante de pós-graduação em Gestão Ambiental do Centro Integrado de
Tecnologia e pesquisa; Bacharel e Licenciado em Geografia pela
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
Sergio Fernandes ALONSO
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
RESUMO
O estudo do Turismo é interdisciplinar, e no caso da Geografia o interesse por essa área tem
aumentado ao longo dos anos. O município de Bananeiras na Paraíba apresenta grande potencial
turístico, quer seja: natural, cultural e histórico. A busca pelo município para a prática do turismo
evidencia também a particularidade da segunda residência, o que resulta no aumento da especulação
imobiliária, principalmente no contexto dos condomínios fechados. O objetivo do trabalho é discutir
o conceito de paisagem e lazer e relacioná-los ao turismo; explicar a relação do turismo com a
Geografia e por fim estudar o Condomínio Águas da Serra Haras e Golf e o seu papel na estrutura
socioespacial de Bananeiras. Neste contexto espera- se que este estudo contribua para denotar a
importância destas estruturas em estreita conexão com a atividade turística.
PALAVRAS – CHAVE: Paisagem; Geografia do turismo; Turismo de Segunda Residência.
ABSTRACT
The study of tourism is interdisciplinary, and in the case of interest in Geography this area has
increased over the years. The town of Banana in Paraíba has great tourism potential, either: natural,
cultural and historical. The search for the municipality to the practice of tourism also highlights the
peculiarity of the second residence, which results in increased speculation, especially in the context
of gated communities. The objective is to discuss the concept of landscape and leisure and relate
them to tourism; explain the relationship of tourism with Geography and finally study the waters of
Sierra Haras Condo and Golf and its role in the structure of sociospace Bananeiras. In this context it
is hoped that this study contributes to denote the importance of these structures in close connection
with the tourist activity.
KEYWORDS: Landscape; Geography of the tourism; Tourism of Second Residence.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como estudo de caso o Condomínio Águas da Serra Haras e Golf, um
empreendimento idealizado pela LTL Construção e Incorporação LTDA. localizado no município de
Bananeiras – Paraíba, a 141 quilômetros distantes de João Pessoa, 131 quilômetros de Natal e 250
quilômetros de Recife.
O município em tela é alvo de turistas de quase todas as regiões brasileiras, pois conta com
um grande potencial turístico em suas singularidades natural, cultural e histórica. Bananeiras abriga
cachoeira, serras, reservas florestais, monumentos históricos, casarões antigos, igrejas, engenhos,
além de um clima agradável, o que torna intensa a procura do município para a prática do turismo,
inclusive o de segunda residência, o que ocasionou o aumento da especulação imobiliária da região.
Os condomínios fechados, que se somam sete atualmente, podem ser entendidos como um dos
286
efeitos dessa especulação.
As regiões serranas e as praias apresentam grande potencial para o turismo de segunda
residência, fazendo com que essas paisagens naturais transformem-se de maneira vertiginosa.
Geralmente alavancadas por tendências de ―moda‖, onde as construtoras e/ou corretores de imóveis
loteiam granjas, fazendas ou terrenos de usucapião, (e são seguidos por outras construtoras e/ou
corretores de imóveis), contando muitas vezes com um planejamento precário, ou mesmo com a
falta dele, visando prioritariamente o lucro. No caso específico do condomínio Águas da Serra
Haras e Golf, percebe-se esta exceção, visto que o planejamento espacial fora levado em
consideração.
A escolha deste tema justifica-se pelo fato do município de Bananeiras apresentar uma
prática considerável do turismo de segunda residência, o que motivou a construção de condomínios
fechados, e através de um estudo de caso no Condomínio Águas da Serra Haras e Golf procura-se
entender o porquê da escolha por Bananeiras, como o poder público local, a população fixa, os
comerciantes e prestadores de serviço veem o condomínio, que benefícios a construção trará para a
população local.
O trabalho teve como objetivos discutir o conceito de paisagem e lazer e relaciona-los ao
turismo de segunda residência, explicar a relação do turismo com a Geografia - particularmente o
turismo de segunda residência - e por fim, estudar o Condomínio Águas da Serra e o seu papel na
estrutura socioespacial de Bananeiras.
A pesquisa é de caráter analítico-descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa,
utilizando-se da aplicação de entrevista ao proprietário do condomínio, condôminos e a atual
secretária de turismo em Bananeiras.
A GEOGRAFIA E O TURISMO
O conceito de turismo nasceu no Séc. XVII, mas suas primeiras teorias datam do período
pós Segunda Guerra Mundial. É apresentado por De La Torre (apud. ASSIS, 2003) como:
[...] um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de
indivíduos ou grupos de pessoas, que fundamentalmente por motivos de recreação,
descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de residência habitual para outro, no
qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando múltiplas
inter-relações de importância social, econômica e cultural. (p. 109).
O interesse pelo turismo na Geografia é recente (remonta a década de 1970), entretanto este
interesse por parte dos geógrafos pelo estudo desta ciência ou fenômeno cresce, uma vez que a
prática do turismo transforma o espaço e a economia local.
287
Cumpre lembrar que o turismo não era privilégio de todos, restringia-se apenas aos mais
abastados da sociedade, que dispunham de tempo e principalmente de dinheiro para realizar suas
viagens. Atualmente essa discrepância vem diminuindo sensivelmente, visto que o turismo de massa
tornou-se um fenômeno crescente a partir do final do século XX.
Os Grand-Tour's, viagens do século XIX, tinham um propósito diferenciado do turismo de
hoje, eram motivos culturais e educacionais, agregados a práticas de lazer. Após a II Revolução
Industrial, a sociedade passou a valorizar o descanso e o lazer, e algumas conquistas nas lutas
trabalhistas - como a carga horária de trabalho reduzida e as férias remuneradas, por exemplo contribuíram para o incremento da atividade turística O descanso ou o ―não-trabalho‖ pode
representar de uma forma lógica um prejuízo para os empregadores e uma necessidade para os
empregados; e foi no turismo que o capitalismo encontrou um meio de transformar esse ―prejuízo‖
em lucros, explorando os serviços turísticos, a exemplo das agências de viagens, dos hotéis, bares,
boates e restaurantes.
No campo geográfico, o turismo é muito mais do que o simples deslocamento de pessoas
com fins de lazer; é uma prática socioespacial complexa e multifacetada que interage os fixos e
fluxos e tem seus rebatimentos nas distintas esferas da organização socioespacial. Dentre essas se
destacam o setor econômico, político, cultural, ideológico e espacial (ASSIS, 2003). O turismo afeta
a economia de uma determinada região, pois altera o perfil de empregos e gera renda, atinge a
cultura, através da interação das pessoas, e o que é mais importante de se destacar: o turismo
transforma o espaço natural e geográfico.
E é de competência do geógrafo:
[...]. Avaliar os impactos por ele produzidos, explicar as formas de apropriação dos
recursos naturais e suas transformações para chegar à oferta turística, compreender
as relações sócio-espaciais do turismo, analisar a mobilidade dos fluxos turísticos
nos territórios, explicar os discursos que elaboram estratégias político-espaciais,
planejar os usos dos espaços para segmentos turísticos diferenciados e ainda
explicar a contribuição do turismo no processo do desenvolvimento regional e
local. (CORIOLANO E SILVA, 2005. p.98).
O turista vive a Geografia, o território, a paisagem, o espaço rural e urbano, o ambiente, etc.
A cartografia, por exemplo, pode ser muito importante para um turista ou um aventureiro; além
disso, ―o turismo aposta nas diferenças locais e regionais, tão valorizadas pela geografia‖ (Op cit,
2005, p.78). Ou seja, a geografia está muito presente no turismo, por ser uma prática relacionada a
pessoas e lugares.
TURISMO DE SEGUNDA RESIDÊNCIA
As residências secundárias são aquelas de caráter particular, notadamente, vinculadas ao
288
turismo de fins de semana e temporadas (ASSIS, 2003, p.5). TULIK, apud. GARCIA (2007, p.57),
define-as como: “Casas de temporada, de praia, de campo, chalé, cabana, rancho, sítio ou chácara
de lazer são alguns termos comumente aplicados às propriedades particulares utilizadas
temporariamente, nos períodos de tempo livre por pessoas que tem sua residência permanente em
outro lugar”.
Essas residências estão diretamente ligadas ao lazer e ao turismo, apesar de não estarem
totalmente vinculadas ao estudo do turismo. Em outras localidades - a exemplo dos Estados Unidos
e países da Europa – essa associação já vem sendo levada em consideração há mais tempo. No
Brasil, tal fenômeno ainda é pouco estudado os primeiros trabalhos datam do final década de 1980.
Segundo BECKER, citado em ASSIS (1995, p. 110),
No Brasil, o aparecimento do fenômeno da segunda residência dá-se na década de
1950 sob a égide do 'nacional-desenvolvimentismo' que foi responsável pela
implantação da indústria automobilística, pela ascensão do rodoviarismo como
matriz principal dos transportes e pela emergência de novos estratos sociais médios
e urbanos que, aos poucos, começaria a incorporar entre os seus valores sócioculturais a ideologia do turismo e do lazer … O veraneio ou o descanso dos fins de
semana se transformaram em valor social cuja satisfação levaria ao turismo, de um
modo muitas vezes predatório e desordenado, a regiões acessíveis a grandes
centros urbanos do Centro-Sul, e com atributos ambientais valorizados (Zonas
costeiras e/ou serranas).
É sabido que os espaços com potencial para o turismo de segunda residência se transformam
de forma rápida e na maioria das vezes desordenada, onde as construtoras e/ou corretores de
imóveis loteiam áreas geralmente de fazendas e estes são seguidos por uma gama de outras
construtoras e/ou corretores de imóveis, provocando uma alteração drástica na paisagem. Ignoram
as consequências das intervenções na natureza, e visam exclusivamente à obtenção progressiva de
lucros.
Os órgãos públicos com poder de fiscalizar essas ocupações, muitas vezes ilegais,
dificilmente o fazem com rigor. No caso específico de Bananeiras a ocupação através de
condomínios horizontais foi até o momento realizado de forma ordenada e segundo parâmetros
legais. Para que os parâmetros continuem de acordo com o desejável, é necessário que a
fiscalização continue a fazer o seu papel, uma vez que esses investimentos vão provavelmente gerar
outros tipos de investimentos – como uma reação em cadeia. A exploração do meio ambiente sem o
devido planejamento espacial vem geralmente acompanhada por prejuízos muitas vezes
irreversíveis. Podemos citar os municípios Paraibanos de Lucena e Conde - onde a movimentação
turística acarretou em ocupações desordenadas - comprometendo mangues, APA‘s, entre outros
fatores, como quando compromete a qualidade de vida dos nativos.
289
Geralmente, as regiões que possuem uma grande quantidade de habitações secundárias, em
princípio surgem como vilas de pescadores, ou pequenos sítios, que posteriormente são loteados e
vendidos como terrenos independentes ou em condomínios fechados, de preferência próximos dos
centros urbanos, que gradativamente empurram a população local para as periferias, desarticulando
sua cultura e modos de viver, e os submetendo ao trabalho meramente turístico. Muitas vezes as
cidades ao se munirem de infraestrutura, incorporam essas regiões à malha urbana e transferem os
loteamentos e condomínios de segunda residência para um novo local.
O Turismo de segunda residência despontou na Paraíba a partir da década de 1970, com o
surgimento das vilas de veraneio e, por conseguinte uma grande febre desse tipo de habitação.
Como descreve MADRUGA (1992, p.32) ―Crescem então nos anos de
os finais de semana
passados nas praias, pelos moradores das cidades, trabalhadores em seu descanso semanal
(conquista histórica das lutas trabalhadoras)‖ As primeiras vilas a se transformarem foram àquelas
mais próximas dos centros urbanizados: Tambaú, Penha e Cabedelo (MADRUGA, 1992, p.32).
O interesse pelas regiões interioranas é recente na Paraíba no quesito segunda residência,
pois muitas famílias que residem no litoral possuem laços com as famílias do interior,
consequentemente sempre ou quase sempre existe um ponto de apoio em alguma dessas cidades. À
medida que os pontos de apoio se diluem e os laços permanecem, abre espaço para o interesse das
pessoas em possuir residências no interior.
Os proprietários das segundas residências diferenciam-se dos turistas das redes hoteleiras,
pois em geral, têm ou criam identificação com o lugar que escolhem para passar suas horas de
descanso. E quem são os proprietários dessas residências secundárias ou segundas residências?
Estão ao alcance de todos? São perguntas que tentaremos responder ao longo deste trabalho, porém,
uma coisa é certa: a renda é um fator importante quando se trata de possuir esse tipo de imóvel,
pois, subtende-se que para mantê-los ou usufruí-los é necessário uma renda extra.
Existem os gastos com a compra do terreno, construção, impostos, manutenção e
locomoção, de acordo com ASSIS (2003) tais fatores fazem da segunda residência uma modalidade
de alojamento turístico elitista, marca de status social, particularidade das camadas sociais alta e, na
sua maioria, média. Para a classe média, pelas condições financeiras e falta de tempo, a segunda
residência acaba por tornar-se a melhor opção de aproveitamento do reduzido tempo livre, pois
muitas vezes a compra de um terreno ou imóvel em locais de potencial turístico, representa também
um investimento financeiro.
O CONDOMÍNIO ÁGUAS DA SERRA – BANANEIRAS – PB.
O Condomínio Águas da Serra Haras e Golf situa-se a 141 quilômetros distantes de João
Pessoa, 131 quilômetros de Natal e 250 quilômetros de Recife. Foi idealizado pela LTL Construção
290
e Incorporação LTDA. O espaço onde hoje se encontra o condomínio anteriormente abrigava uma
propriedade rural - denominada Fazenda Bebedouro - que dista apenas 2 quilômetros do marco zero
do município de Bananeiras, ao considerar a Igreja Matriz como ponto principal. O planejamento e
construção do condomínio só se tornaram possíveis graças a incentivos fiscais proporcionados pela
prefeitura (previstos nas leis nº 313/2005 e nº 366/2007), além da disposição do antigo proprietário
de vender as terras da fazenda. Este é um grande condomínio, utilizado aqui como referência para
representar uma tendência turística em Bananeiras nos últimos cinco anos.
A EMERGÊNCIA DO CONDOMÍNIO
O município de Bananeiras foi escolhida pela LTL, por haver uma grande identificação dos
empresários da construtora Alírio Trindade e Josenes Ramalho com o município. O primeiro por
possuir vários imóveis na cidade e o segundo que hoje reside na mesma. Além disso, existem por
parte da prefeitura leis (LEI Nº 313/2005 e LEI Nº 366/2007), que garantem a empreendimentos de
hospedagem para fins de turismo e lazer, tratamento fiscal especial e isenção de impostos, por um
período de dez anos, contanto que setenta por cento da mão de obra seja local.
A região que se encontra o condomínio fazia parte da Fazenda Bebedouro e foi adquirida no
ano de 2007 pela LTL Construções. Em maio de 2010 haviam sido vendidos pouco mais da metade
de um total de seiscentos e cinquenta e quatro lotes. Apresenta 20 funcionários diretos, dos quais 3
são exclusivos para o campo de golfe.
O município de Bananeiras possui sete condomínios horizontais e o Condomínio Águas da
Serra Haras e Golfe e é sem dúvida o que conta com a maior estrutura para o entretenimento dos
condôminos. De acordo com a construtora responsável pelo condomínio, este possui as seguintes
especificações: Heliporto, o primeiro campo de golfe do Estado da Paraíba, cinco lagos, clube privê,
campo de futebol, duas quadras de tênis, trilhas ecológicas, engenho de cachaça, duas ilhas, casa de
vegetação, haras com dezessete baias, piscina térmica, quarenta hectares de mata nativa, cem por
cento pavimentados, ponte pênsil, espaço para academia, energia/iluminação e abastecimento de
água próprio.
Desde a sua inauguração ao dia da pesquisa os valores dos lotes chegaram a variar 60% para
mais (sem levar em consideração a inflação), e a tendência é valorizar, uma vez que uma parcela
dos lotes comprados já possuem casas construídas ou em processo de construção.
É visível a diferença absurda em alguns setores como os da rede hoteleira e o setor
comercial, por exemplo. A iniciativa do campo de golf trouxe consigo a construção do Serra Golf
Apart Hotel, o que proporciona mais visibilidade para o município, além do mais, trouxe também
empregos diretos e indiretos. De acordo com a então secretária de turismo de Bananeiras, os
condomínios (no geral), trouxeram qualidade de vida para os moradores do município junto com os
291
empregos e a melhoria nos serviços. Ela complementa que sua única preocupação seria com futuras
agressões ao meio ambiente e com a falta de consciência dos moradores locais e turistas com a
preservação do mesmo e do patrimônio cultural e histórico da cidade. A secretária ainda afirma que
estão sendo feitas campanhas através de palestras e seminários para que essa preocupação não se
torne um problema de fato.
O CONDOMÍNIO ENQUANTO UM EMPREENDIMENTO TURÍSTICO DE SEGUNDA
RESIDÊNCIA
Os atrativos naturais de Bananeiras são os principais motivos que trazem turistas para o
município: o clima agradável do Brejo Paraibano, a mata praticamente intocável, as trilhas
ecológicas, são alguns desses atrativos, além dos atrativos culturais como a arquitetura dos prédios
antigos, a organização do centro da cidade e ―o melhor São João pé-de-serra do mundo‖, como
anuncia o próprio ―slogan‖ da festa O geólogo Nivaldo Garcia, proprietário de um dos lotes,
explica que ficou atraído pelo investimento financeiro e pela similaridade de Bananeiras com sua
terra natal no Sul da Bahia. Muitos dos proprietários dos lotes escolhem a região pela identificação
que tem ou criam pelo lugar.
O tipo de ocupação de segundas residências em Bananeiras, que é uma região serrana, se
assimila de outras regiões serranas como Gravatá e Garanhuns em Pernambuco ou Gramado no Rio
Grande do Sul. Dá-se principalmente através de condomínios horizontais, uma vez que a principal
intenção de um indivíduo residente em grandes capitais ou regiões metropolitanas é justamente a
busca da paz e do sossego, nos fins de semana, que dificilmente encontrarão onde vivem. Esses
condomínios são assim projetados para proporcionar no mínimo a sensação dessa paz. Em
contrapartida, nas regiões de praias com potencial para exploração do turismo de segunda residência
são feitas geralmente com condições precárias ou mesmo sem planejamento algum, através de
loteamentos e venda de terrenos. As residências são geralmente construídas por conta dos próprios
proprietários e não por construtoras, em quase todos os casos. O objetivo do turismo nas praias é,
em tese, o oposto das regiões serranas, busca-se o divertimento e a agitação.
Para analisar o perfil socioeconômico dos turistas de segunda residência em nosso estudo de
caso, basta inferir sobre o valor dos lotes juntamente com a média no valor das construções que se
seguiram. Por exemplo, se um lote custa em média trinta e cinco mil reais, e para se construir um
imóvel no mesmo padrão das casas construídas ou em andamento pela construtora Bomcasa, os
condôminos gastam em média duzentos mil reais, isso daria um investimento financeiro de
duzentos e trinta e cinco mil reais, sem contar com os gastos para a manutenção do imóvel,
transporte (subentendendo que todos ou quase todos possuam carro), alimentação e taxa de
condomínio. Fica compreensível perceber que o custo para ter esse sossego que se busca não é
292
baixo. Então se pode concluir que esses condôminos se encaixam nas classes média-alta a alta,
salvo raras exceções de pessoas que segundo informação dos próprios empresários compram apenas
os lotes visando o divertimento dos seus filhos ou o próprio divertimento nas áreas de lazer do
condomínio.
Outro ponto a ser analisado refere-se ao modo como o poder público local, a população fixa,
os comerciantes e prestadores de serviço veem o condomínio. A prefeitura apesar da isenção de
impostos, ganha muito com a construção desse e dos outros seis condomínios; através da
visibilidade que ganha o município e a geração de empregos e serviços trazem a simpatia da
população para com a gestão ―responsável‖ por esses benefícios
O crescimento da cidade caminha lado a lado com o crescimento do turismo nesse caso. A
grande preocupação do poder público com o avanço desses empreendimentos deve ser com a
preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, pois as atividades turísticas muitas vezes,
quando não controladas, trazem prejuízos a esses patrimônios locais, pela exploração dos mesmos.
A população nada tem a reclamar enquanto esses empreendimentos trouxerem a valorização do
espaço onde vivem, os empregos e o crescimento do comércio local, assim também como os
comerciantes e prestadores de serviços. Porém vale salientar que é importante para a população
estar ciente dos processos que vive a sua cidade; como a especulação imobiliária, e a exploração
dos bens do município pelas empresas ligadas ao turismo e conscientizar-se também para a
importância a preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, denunciando e fiscalizando.
DADOS SOBRE AS RESIDÊNCIAS DE ORIGEM DOS CONDÔMINOS
Ao observar os dados sobre a origem dos condôminos podemos perceber uma importante
característica no que diz respeito a segundas residências, ou seja, a proximidade do proprietário em
termos de sua residência principal.
No caso de Bananeiras, mais especificamente do Condomínio Águas da Serra e Golf, os
condôminos do Estado da Paraíba estão perceptivelmente em maior porcentagem, reapresentam
76% do total, seguidos dos condôminos do Estado do Rio Grande do Norte, 21%, que na sua
maioria são das cidades de Natal e Parnamirim. Aliás, ambas têm acesso a bananeiras pelas
rodovias BR-304, pelas rodovias BR-226, RN-093, até a PB-109, distantes apenas 141 quilômetros
e 121 quilômetros respectivamente, os outros 3% correspondem a condôminos de outros estados
brasileiros.
No entanto há poucos proprietários do Estado de Pernambuco, apesar da proximidade com o
município de Bananeiras, a explicação mais plausível para isso seria de que o Estado de
Pernambuco já explora esse tipo de turismo há mais tempo e já está bem a frente da Paraíba nesse
quesito, a exemplo da microrregião de Garanhuns que é composta por dezenove municípios. Além
293
destes três estados, encontramos proprietários de São Paulo, Rio de janeiro, e Distrito Federal.
Em relação aos municípios paraibanos, o que possui o maior número de representantes
condôminos no condomínio Águas da Serra Haras e Golf, é a capital João Pessoa, com uma
representação de 78%. Este fato tem a ver que João Pessoa é o município que detém a maior
concentração de renda, além de ser uma cidade praiana, que concentra o maior número de pessoas
com condições financeiras e interesse de usufruir de uma paisagem e clima serrano, diferente do
litoral.
O poder aquisitivo relacionado com o volume da população, pode ser considerado um fator
importante no quesito proprietários de residências secundárias. Podemos destacar os bairros do
Bessa, Cabo Branco, Manaíra e Miramar - que estão entre os cinco bairros com a maior renda
mensal do município de João Pessoa, e não coincidentemente são os quatro com o maior número de
representantes no Condomínio Águas da Serra.
O fato de haver uma quantidade razoável de condôminos que residem no Rio Grande do
Norte nos remete ao fato de que o alto custo nos valores dos imóveis (devido à especulação
imobiliária e o alto investimento no turismo) deste Estado, faz com que a própria população local
invista em imóveis de outros Estados, principalmente na Paraíba. No condomínio Paraíso Serrano
localizado em Lagoa Nova – Rio Grande do Norte, município com clima similar ao de Bananeiras,
um lote chega a ter o dobro do valor do Condomínio Águas da Serra, que seria o condomínio mais
luxuoso do brejo paraibano.
Natal é o município com o maior número de condôminos que investiram no Condomínio
Águas da Serra. Com 77%, Parnamirim, vem na sequência com 20%, Passa e Fica 1,5%, Lagoa
Nova 1,5% do total de condôminos residentes no Rio Grande do Norte.
GERAÇÃO DE EMPREGOS E SERVIÇOS
É fato que a atividade turística traz consigo pontos negativos e positivos para a região de
influência, e um destes pontos positivos é sem dúvida a geração de empregos diretos e indiretos. No
caso da construção do Condomínio Águas da Serra e Golf, necessitou-se mão-de-obra,
principalmente da construção civil, o que gerou a implantação depósitos de material de construção,
antes não havia nenhum, quatro novos hotéis, além de diversas lojinhas de variedades e
restaurantes.
O condomínio em questão apresenta uma demanda de serviços atuais e futuros, um
empreendimento criado em função do condomínio, onde passará então a oferecer serviço de
hotelaria, principalmente para as pessoas interessados no campo de golfe.
Com relação à mão-de-obra, a empresa LTL Construções, conta com um total de cento e
oitenta e cinco pessoas direta ou indiretamente ligadas a essa organização.
294
Um condomínio como o Águas da Serra, atrela oportunidades de emprego relativo a vários
tipos de classes, a exemplo de classe de serviços prestados às famílias, como empregados
domésticos em geral; classe de atividades prestadas às empresas, como: segurança, vigilância,
atividades de serviços de manutenção e reparação e, por fim, atividade de limpeza urbana.
Para
um município de pequeno porte como é o caso de Bananeiras, todas as mudanças no quadro dos
empregos é bem significativa, alterando o quadro de subempregos vivificados em atividades
comerciais de natureza informal e empregos em atividades rurais muito mal remuneradas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações espaciais, econômicas e sociais geradas pelos investimentos turísticos no
Séc. XX estão chamando a atenção de várias ciências - em especial a Geografia. Apesar da pouca
bibliografia específica sobre o tema, pode se observar o interesse pelo estudo do turismo em
variadas obras da literatura Geográfica. O turismo de segunda residência é um tema a ser
incorporado à temática científica geográfica, com desdobramentos atinentes ao desenvolvimento e a
cultura local, expressão da interação entre o novo (representado pelo turista) e o tradicional
(representado pelo nativo).
A análise desse condomínio como empreendimento de turismo de segunda residência, revela
a investida do setor imobiliário para que este fenômeno cada vez mais se torne uma tendência
turística, que atinge principalmente as classes média e média alta. E no caso dos empreendimentos
localizados em regiões serranas e pacatas há uma diferença significativa na organização espacial das
construções em relação às casas de praia, uma vez que a publicidade promove um objetivo
diferenciado de uma situação para a outra.
As razões para o interesse das construtoras estão principalmente nas leis de incentivo fiscal,
além dos atrativos naturais e culturais, que trazem cada vez mais turistas, e a promessa de
investimentos por parte da prefeitura.
O investimento turístico pode trazer o crescimento da região através, em grande parte da
geração de emprego e renda e da circulação de capital. A principal preocupação do poder público
local e da população residente deve ser em primeiro plano com a desorganização das construções e
a degradação do meio ambiente e patrimônios histórico culturais. O que requer um cauteloso
planejamento turístico e programas educativos de conscientização da população.
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297
REFLEXÕES SOBRE O TURISMO NA ÁREA COSTEIRA NORDESTINA
Celso Cardoso GOMES
Mestrando do PRODEMA/UFPE
[email protected]
João Paulo Gomes de Vasconcelos ARAGÃO
Mestrando do PRODEMA/UFPE
[email protected]
Vanice Santiago Fragoso Selva- (Orientadora)
Doutora em Geografia
Coordenadora do PRODEMA/UFPE
Professora do Departamento de Geografia e
Turismo/UFPE
[email protected]
Resumo
O turismo no litoral nordestino tem sido alvo do setor público e privado para mitigar os problemas
sociais e, particularmente, econômicos dos municípios litorâneos, pois é entendido como atividade
que pode alavancar o crescimento econômico dessas comunidades. Todavia fica esquecida a
possibilidade que o turismo possui de desenvolvimento social e de propiciar benefícios ecológicos,
com isso podendo corroborar com o desenvolvimento local. O presente artigo abordará reflexões
sobre o crescimento e dinâmica do turismo na área costeira nordestina, pois tem se intensificado os
impactos negativos nas comunidades receptoras. As características físicas, históricas e culturais
deste ambiente propiciam uma vasta utilização pela atividade turística. De fato a Região Nordeste é
beneficiada de um turismo de sol e praia, inclusive, os investimentos são direcionados,
especialmente, para este setor devido à beleza cênica do seu litoral. Para a análise, inicialmente foi
realizado um levantamento bibliográfico, posteriormente observação de campo e entrevistas nos
órgãos públicos, associações ligadas ao turismo e instituições privadas que fazem parte do arranjo
produtivo do turismo, visando alcançar o objetivo do artigo. Os resultados das reflexões indicam
que basicamente a faixa litorânea nordestina tem sido alvo dos grandes resorts, condomínios/prives
e luxuosos hotéis que se aproveitam da beleza cênica e das condições oferecidas pelo Estado com
uma perspectiva de lucrar. Esta dinâmica é corriqueira por toda a faixa litorânea nordestina, onde
prevalecem os tipos de empreendimentos citados, assim como um turismo de segunda-residência
que transforma os espaços em verdadeiros bairros fantasmas, por efeito da sazonalidade, retendo a
dinâmica socioeconômica local em detrimento do turismo veranista. A atividade turística tem sido
implantada apoiada em um discurso desenvolvimentista do poder público, mas que na verdade visa
apenas o crescimento econômico.
Palavras-chave: Turismo; Reflexões; Dinâmicas; Nordeste; Desenvolvimento Local.
Abstract
Tourism in the northeastern coast has been the target of public and private sector to mitigate social
problems and particularly the economic coastal municipalities, it is understood as an activity that
can boost economic growth in these communities. But forgotten is the possibility that tourism
development has to provide social and ecological benefits, it may corroborate with local
development. This article will discuss reflections on the growth and dynamics of tourism in the
northeastern coastal area, it has intensified the negative impacts on host communities. The physical,
historical and cultural environment provide this extensive use by tourism. In fact the Northeast
benefits from a sun and beach tourism, including investments are targeted especially for this sector
due to the scenic beauty of its coastline. For the analysis, was initially based on a literature
subsequently field observation and interviews at public agencies, associations related to tourism and
private institutions that are part of the productive arrangement of tourism in order to achieve the
298
objective of the article. The results indicate that the reflections basically the northeastern coastal
strip has been the target of large resorts, condominiums / Deprive and luxurious hotels that take
advantage of the scenic beauty and the conditions offered by the State with a view to profit. This
dynamic is commonplace throughout the northeastern coastline, where the prevalent types of
projects cited, as well as a second-home tourism that transforms spaces into veritable ghost
neighborhoods, the effect of seasonality, retaining the socioeconomic dynamics at the expense of
the local tourism vacationer. Tourism activity has been deployed in a development discourse
supported the government, but actually refers only to economic growth.
Keywords: Tourism; Reflections; Dynamics; Northeast; Local Development.
Introdução
O turismo no litoral nordestino tem sido alvo do setor público e privado para mitigar os
problemas sociais e, particularmente, econômicos dos municípios litorâneos, pois é entendido como
atividade que pode alavancar o crescimento econômico dessas comunidades. Todavia fica esquecida
a possibilidade que o turismo possui de desenvolvimento social e de propiciar benefícios
ecológicos, com isso podendo corroborar com o desenvolvimento local.
O presente artigo abordará reflexões sobre o crescimento e dinâmica do turismo na área
costeira nordestina, pois tem se intensificado os impactos negativos nas comunidades receptoras. As
características físicas, históricas e culturais deste ambiente propiciam uma vasta utilização pela
atividade turística. De fato a Região Nordeste é beneficiada de um turismo de sol e praia, inclusive,
os investimentos são direcionados, especialmente, para este setor devido à beleza cênica do seu
litoral.
Para a análise, inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, posteriormente
observação de campo e entrevistas nos órgãos públicos, associações ligadas ao turismo e
instituições privadas que fazem parte do arranjo produtivo do turismo, visando alcançar o objetivo
do artigo que é refletir sobre o crescimento e dinâmica do turismo na faixa costeira nordestina, de
forma a perceber as transformações sociais, econômicas e ecológicas. As devidas conclusões
obtidas poderão subsidiar a compreensão das políticas públicas, programas, projetos e da dinâmica
do turismo no litoral da Região Nordeste, assim como seu planejamento e execução.
Características do litoral brasileiro
O Brasil possui aproximadamente 8.514.876 km2 que o faz ser o quinto país em extensão
territorial do mundo, nesse vasto território apresenta características geológicas, climáticas,
demográficos, econômicas e culturais diversas. O litoral brasileiro possui aproximadamente 7.367
km de extensão que pode se estender no contorno da costa para 9.200 km quando considerada as
saliências e reentrâncias desse litoral. Em se tratando do contexto paisagístico também é muito
299
diverso, pois possui áreas de falésias, recifes, baías, praias, restingas, recifes de corais, estuários e
mangues.
Cerca de 26,6% dos 193.946.886 habitantes (IBGE, 2012), residem na zona costeira, fato
ocorrido em função do contexto histórico da ocupação do território. Mundialmente ocorre uma
tendência de ocupação nas áreas litorâneas, o caso brasileiro não foi diferente contribuindo para que
463 municípios costeiros atualmente possuam 50,7 milhões de habitantes aproximadamente e sejam
em geral os mais habitados do país.
De forma direta ou indireta parte da população da zona costeira está conectada a atividades
econômicas como a pesca, produção de petróleo e gás natural, turismo e comércio (IBGE, 2012).
Dentre as atividades o turismo tem se destacado, já que o litoral extenso, repleto de praias,
enseadas, baías, entre outros atrativos que condicionam a utilização deste espaço.
Nos últimos três anos o número de desembarque de passageiros internacionais no Brasil
(Figura 01) tem aumentado substancialmente (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2012), isto tem
ocorrido pelo fortalecimento do setor através de investimentos do Governo Federal em projetos e
programas como o PRODETUR/NE I e II, mas também pela beleza cênica das paisagens
brasileiras.
Figura 01 – Desembarque de passageiros internacionais no Brasil
Fonte: MTur, 2012.
A receita cambial turística brasileira (Gráfico 1) ascendeu sensivelmente neste 1º semestre
de 2012 e as recentes pesquisas mostram que o Brasil liderará o crescimento do turismo na América
Latina em termos do Produto Interno Bruto (WTTC, 2012), como também de empregos gerados
pelo setor.
Gráfico 1 Receita Cambial Turística Anual (US$ milhões)
Fonte: Banco Central do Brasil, 2012.
300
O crescimento do turismo no Brasil também tem sido impulsionado pelas viagens
domésticas. De acordo com o Departamento de Estudos e Pesquisas (DEPES) do Ministério de
Turismo (MTUR) a melhoria de renda de novos segmentos da população contribuiu para ascensão
do setor, de fato em 2007 foram 43 milhões de brasileiros que viajaram, já em 2010 este número
atinge os 50 milhões. Quando se observa o número de desembarques doméstico entre 2010 e 2012
(Figura 02) também é perceptível a devida evolução.
Figura 02 – Desembarque de passageiros domésticos no Brasil
Fonte: MTur, 2012.
Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA, 2012) o
Nordeste brasileiro fica com 54 % da fatia do turismo doméstico, comprovando assim que os
investimentos têm acontecido, especialmente, no litoral, privilegiando o turismo de sol e praia.
Portanto o privilégio dado ao turismo de sol e praia é uma particularidade que proporciona
benefícios a Região Nordeste do Brasil em virtude das suas características geográficas, isto é, as
condições climáticas, geológicas e geomorfológicas oferecem possibilidade de utilização deste
espaço praticamente durante todo o ano, além de sua diversidade histórica e cultural.
Desenvolvimento do turismo no litoral nordestino
A Região Nordeste do Brasil possui aproximadamente 1.561.177,8 km2, equivale a 18,3%
do território nacional, composta pelos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
O Nordeste brasileiro possui aproximadamente 53 milhões de habitantes, sendo que a
maior parte está concentrada na faixa litorânea que inicia na foz do Rio Parnaíba e prossegue até o
Recôncavo Baiano, ou seja, em parte da Zona da Mata. O litoral apresenta características diversas e
marcantes como recifes calcários e areníticos, assim como dunas, restingas, manguezais e matas
(WWF, 2012). Estas características rementem a interessante beleza cênica, com isso possibilita a
utilização deste espaço para uso turístico, entretanto a zona costeira nordestina possui
peculiaridades contrastantes quando observadas as questões sociais, econômicas, culturais e
301
climáticas, fato que conduz a um estereótipo de ―paraíso tropical‖ (CRUZ,
), mas diante das
especificidades da área a homogeneização fica limitada neste ambiente, particularmente, corrobora
para o desenvolvimento socioeconômico do turismo, a partir das transformações produzidas nesse
espaço.
A faixa litorânea nordestina apresenta uma constante transformação do seu espaço pelo
turismo em função do seu potencial natural (SELVA, 1999), especialmente motivada pela
necessidade de preservação e conservação do patrimônio natural, bem como pela vulnerabilidade do
ambiente costeiro. De fato tem ocorrido forte urbanização turística do litoral nordestino, pelos
resorts e turismo de segunda residência ambos amparados pelo turismo de sol e praia que tem sido
alvo das políticas públicas federais, estaduais e municipais. Segundo Cruz (1999) a quantidade de
turistas, o volume de capital proveniente do turismo, os investimento em infraestrutura turística tem
refletido em um rápido crescimento do turismo no Nordeste, porém os impactos negativos tem se
intensificado nas comunidades receptoras pela falta de planejamento e participação ativa dos atores
sociais.
O planejamento e a participação social são itens indispensáveis no processo de
implementação da atividade turística, de fato a Região Nordeste é alvo do turismo, contudo este
processo se intensifica a partir da década de 1970 com o declínio da indústria sucroalcooleira.
Portanto esta região fica fora do contexto econômico nacional, somente retornando a partir de uma
nova territorialidade promovida pela ascensão turística na faixa litorânea nordestina, numa dinâmica
que segundo Rodrigues (
, p
) ―[ ] caracteriza-se pelo uso efêmero do território num
processo contínuo de desterritorialização e reterritorialização‖, isto é, atividades seculares são
abandonadas como a pesca, o artesanato, entre outras, para dar espaço aos hotéis, resorts, prives e
condomínios de segunda residência, nos quais serão empregada esta comunidade enquanto a
paisagem puder ser consumida.
O turismo tem acarretado na área costeira segundo Selva e Coutinho (2010)
[...] um processo contínuo e dialético de desconstrução das paisagens naturais e culturais
por vezes desestruturando economias e comunidades tradicionais e um processo de
construção de equipamentos turísticos e serviços para o funcionamento e expansão da
atividade propiciando o surgimento de serviços e de novas atividades econômicas .(p. 4)
Destarte descaracterizando a territorialidade vigente, com isso transformando o espaço e dando
origem a setores econômicos de importância superior as atividades tradicionais, logo se
distanciando dos preceitos do desenvolvimento local (BUARQUE, 2004). São características do
contexto turístico da faixa litorânea nordestina, pois o discurso do poder público é de
implementação da atividade com fins de mitigar os problemas socioeconômicos e até ecológicos, de
302
certo modo desenvolvimentista, na verdade tem acarretado apenas crescimento econômico e
centralização do capital.
O turismo é visto como a solução dos problemas ocorrentes em dada comunidade, bem
como é entendido como opção geradora de maior crescimento econômico, contudo parte da
população não consegue ser absorvida pelo novo mercado de trabalho surgido com o turismo, desta
forma é excluída e expropriada do processo fruto do capital privado apoiado pelas ações de
infraestrutura do poder público com um discurso de salvaguarda a comunidade. Por conseguinte
está população tem como resultados a perda da identidade cultural com o decorrer do tempo,
processo migratório e subemprego.
Deste modo deixa de ser estimulador do desenvolvimento local através da sustentabilidade
para ser excludente, centralizador, provocador de impactos apenas negativos, fato contraditório, já
que se o turismo for planejado e gerido com a participação efetiva dos atores sociais, assim como
possuir uma estrutura de gestão ambiental e turística é possível corroborar para o desenvolvimento e
não apenas para o crescimento econômico.
O papel do Estado é incentivar o setor turístico através políticas públicas abrangentes que
promovam a inclusão desta sociedade, especialmente, na zona costeira, em virtude que a Região
Nordeste possui uma concentração populacional nessa área. Sociedade esta que é advinda da
agroindústria sucroalcooleira, sobretudo da Zona da Mata Nordestina, pois o processo de
modernização tem acarretado o desemprego, justamente um dos motivos utilizados pelo setor
público e privado no processo de construção dos empreendimentos turísticos, uma vez que irá
contribuir com a geração de emprego e renda.
Infelizmente os objetivos econômicos são preponderantes no processo de planejamento e
ordenamento da atividade turísticas (SELVA e COUTINHO, 2010, p. 7), desta forma não se tem por
base a complexidade da realidade social, econômica e ecológica na qual o turismo está inserido,
fatalmente contribuindo adiante para prováveis impactos negativos, quando planejado de forma
integral pode acarretar o desenvolvimento local através da sustentabilidade.
O planejamento do turismo deve nortear uma política social local que interaja entre as
dimensões sociais, econômicas e ecológicas de forma integrada e articulada (SELVA e
COUTINHO, 2010, p. 7) para não ocasionar desarticulação entre as políticas públicas e os agentes
produtores do turismo, pois certamente acarretará em impactos para sociedade local. Esta estrutura
administrativa e institucional existe em alguns municípios que possuem vocação turística, porém
falta integração, articulação e evidentemente planejamento, logo a representação dos atores sociais é
excluída refletindo contradições na prática turística.
O planejamento do turismo no Brasil, particularmente, na Região Nordeste é fruto das
políticas públicas oriundas do surgimento do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) e o
303
Conselho Nacional de Turismo pelo Decreto-lei no 55 de 18 de novembro de 1996. A partir deste
ponto foi elaborada a Política Nacional do Turismo, inclusive como relevante para o
desenvolvimento econômico do país, pois possibilitaria geração de divisas, emprego e renda para as
comunidades locais. (SELVA, 1999, p. 118)
Entre 1975 e 1979 foi elaborado o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Este
plano tinha como característica primordial desenvolver o turismo no contexto regional,
particularmente na Região Norte e Nordeste do Brasil através das denominadas Políticas de
Megaprojetos e do Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste (PRODETUR). Segundo
Cruz (1999, p. 268) afirma que tais políticas visavam ―[ ] consolidar o território litorâneo
nordestino dentro do mercado turístico global e, segundo esta lógica, obedecem a um modelo global
de urbanização turística que implica uso intensivo do solo e reprodução de padrões urbanísticos
estranhos ao local‖ Por conseguinte o modelo citado pode provocar profundas transformações no
território, inclusive, a perda da identidade cultural.
As políticas públicas para o turismo procedentes da Política de Megaprojetos obtiveram
força na década de oitenta com o fortalecimento do setor no âmbito internacional, fato que
pressionou o governo brasileiro a investir na promoção do turismo nacional, bem como estruturar
uma política para o setor embasado particularmente no planejamento (LIMA, 2006). Logo na
década de 1990 surge o Plano Nacional de Turismo (PLANTUR), instrumento que servirá de base
para execução da Política Nacional de Turismo.
Este cenário colaborou com significativas mudanças sociais, econômicas e ecológicas, na
faixa costeira nordestina, em virtude que possui características que a condiciona a um processo de
turistificação, deste modo os programas e projetos ao longo das últimas décadas tem sempre
contemplado esta área com o foco a inserir o Brasil no mercado global (FIRMINO, 2006).
Entretanto a Região Nordeste é um exemplo das contradições das políticas públicas realizadas pela
esfera federal, pois segundo Firmino (
,p
) ―[ ] na medida em que a orientação em escala
nacional para o desenvolvimento de planos estaduais e municipais era praticamente inexistente‖
Assim sendo foi inevitável o surgimento de impactos negativos da atividade, por conta da falta de
articulação nas esferas públicas, como também com o setor privado. De fato o planejamento e
gestão integrada e participativa do turismo eram ineficientes condicionando a efeitos negativos que
foram entendidos como motivação para superação da problemática socioeconômica através do
turismo.
As falhas das políticas públicas e os insucessos dos programas e projetos, bem como a
necessidade de incorporar o Brasil no mercado turístico globalizado propiciaram a construção na
década de 1990 do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE). O
intuito do PRODETUR/NE foi de promover a infraestrutura básica e de serviços públicos com a
304
perspectiva de dinamizar o turismo, isto é, proporcionar a solidez do setor turístico no contexto
nacional e internacional (SILVA, 2011, p. 45).
Na execução das políticas, programas e projetos turísticos realizados pelo poder público,
evidentemente o espaço geográfico sofre modificações, c para cuja perspectiva é contribuir com a
infraestrutura na execução de grandes projetos hoteleiros privados, com isso propiciando
atratividade para o capital privado. Portanto foram estabelecidas áreas estratégicas para ampliar e
diversificar a oferta turística, desta forma iniciando o projeto de expansão do turismo na Região
Nordeste (SILVA, 2011, p. 46).
De forma geral o Estado tem o papel de gerenciar os conflitos existentes na execução dos
programas e projetos, mas também de organizar e ordenar as atividades econômicas, de modo que
promova a infraestrutura básica e de serviços públicos nas localidades para que seja inserida a
atividade turística (SILVA, 2011).visando à inserção no mercado global, possibilitando o
desenvolvimento da atividade, todavia é necessário o devido planejamento integrado e gestão
participativa dos atores sociais para evitar os possíveis impactos negativos nas localidades que
apresentam esta vocação turística. Basicamente o Nordeste tem sido alvo dos grandes resorts,
condomínios/prives e hotéis de grande porte que se aproveitam da beleza cênica e das condições
oferecidas pelo Estado com uma perspectiva de lucrar. Esta dinâmica é corriqueira por toda a faixa
litorânea nordestina, onde prevalecem os tipos de empreendimentos citados, assim como um
turismo de segunda-residência que transforma os espaços em verdadeiros bairros fantasmas, por
efeito da sazonalidade, retendo a dinâmica socioeconômica local em detrimento do turismo
veranista.
Reflexões
É indiscutível, as possibilidades de desenvolvimento do turismo na Região Nordeste, em
virtude das suas características físicas, sociais, econômicas e culturais que corroboram para
atratividade local. Por conseguinte a região possui vocação natural que tem sido fortalecida pelas
iniciativas do setor público, especialmente, na região litorânea com um turismo de sol e praia,
entretanto o discurso governamental vislumbra resolver os problemas sociais, econômicos e
ecológicos dos municípios/comunidades envolvidas através do turismo numa perspectiva de
desenvolvimento, mas que na verdade caminha no sentido do crescimento econômico (FURTADO,
1980), isto é, modelo que se desvincula da sustentabilidade e da capacidade de contribuir com o
desenvolvimento local.
Diante do declínio da indústria sucroalcooleira a faixa litorânea nordestina tem enfrentado
a ascensão dos problemas socioeconômicos, com isso o poder público materializa como principal
305
argumento para implantação da atividade turística nessas localidades, por sua vez, as características
as fazem possuir uma vocação turística natural, mas o modelo empregado visa o crescimento
econômico. Logo se percebe a contradição entre o discurso governamental e a prática realizada,
porquanto a participação social é inexistente, planejamento desarticulado e sem integração, assim
como a infraestrutura proporcionada pelo Estado aponta apenas para atender os empreendimentos
turísticos que são verdadeiros complexos artificiais, denominados de resorts.
A Associação Brasileira de Resorts define resorts sendo ―um empreendimento hoteleiro de
alto padrão em instalações e serviços, fortemente voltado para o lazer em área de amplo convívio
com a natureza, no qual o hóspede não precisa se afastar para atender suas necessidades de
conforto, alimentação, lazer e entretenimento‖, ou seja, artificializa o território através da
turistificação que reflete um arquétipo contraditório produto articulado do mercado e estado sobre o
espaço, desta forma provocando uma territorialidade artificializada que Urry (2001) designa de
―bolhas‖, Yázigi (
Cruz (
3) rótula de ―confinamento territorial‖, verdadeiros espaço simulacros que
) denomina de ―pseudo-lugares‖, isto é,
[...] são lugares cuja história e identidade são prostituídas em nome de um uso
especializado, de relações alienadas e alienígenas, produzidas pelo e para o turismo.
Simulacros, por vezes espaços hiper-reais, espaços à margem, por vezes metonímias
espaciais e, em todos os casos, metáforas da aldeia global, num mundo em que a aparência
é cada vez mais importante que a essência e o falsa ocupa, sem qualquer constrangimento, o
lugar do real. (p. 25)
Destarte o lugar perde espaço para o pseudo-lugar se transformando em autênticas ilhas da
fantasia que o turista utiliza seu tempo livre usufruindo totalmente isolado da realidade local, onde a
comunidade local é excluída e expropriada do seu lugar, em detrimento dos grandes
empreendimentos turísticos, a partir de um discurso desenvolvimentista que aqui é entendido como
crescimento econômico que apenas irá atender os interesses do capital. Este processo é denominado
de turistificação que segundo Firmino (2
,p
3) ―A turistificação dos territórios consiste na sua
transformação em verdadeiras ilhas de lazer e contemplação das paisagens para turistas, de modo
alheio à realidade dos residentes‖, assim sendo a identidade cultural, bem como as peculiaridades
do local ficam fora do contexto turístico, sendo a comunidade local aproveitada como mão de obra
barata. A atividade turística consome e produz o espaço sem promover melhoria da qualidade de
vida no âmbito receptor, desta forma se distanciando da sustentabilidade e de colaborar com o
desenvolvimento local.
Este padrão de intervenção do mercado e estado de implantação da atividade turística na
faixa litorânea, denominado de turistificação (CRUZ, 2000, p. 7), provoca impactos negativos que
podem afetar as esferas sociais, econômicas, ecológicas e culturais da realidade local. A prática
referida apoiada no contexto turismo global e do capital internacionalizado confere um padrão
306
excludente que implantam grandes cadeias de hotéis (FIRMINO, 2006). Desde modo constituindo
um processo que desencadeia impactos negativos, pois é entendido apenas como atividade que pode
contribuir com o crescimento econômico distanciada dos preceitos da sustentabilidade
(FOLADORI, 2007). Este modelo do turismo global tem acarretado uma territorialidade propulsora
de impactos negativos e desvalorização local, tal qual ressalta Firmino (2006)
Nos moldes do turismo global, o padrão de uso e ocupação do litoral baseia-se na
desapropriação de comunidades tradicionais, na introdução de formas elitistas de ocupação,
explicitando, assim, territorialidades que representam uma dicotomia: busca insaciável de
lucros versus busca de condições básicas de sobrevivência. Essas diferentes significações
do litoral, desde a colonização até os dias atuais, marcam o processo contraditório e
conflitante pelos povos que o utilizam. (p. 75).
Evidentemente o turismo é peça chave para o desenvolvimento da faixa litorânea
brasileira, todavia se for planejado de forma integrada, assim como haja a participação efetiva dos
atores sociais, o envolvimento do poder público, especialmente, o municipal, em virtude que nesta
esfera é que ocorre a materialização dos problemas e soluções advindos do turismo, portanto a
atividade pode ser entendida como mola propulsora do desenvolvimento local pautado na
sustentabilidade.
As possibilidades de o turismo contribuir com o desenvolvimento local estão circundadas
pelo planejamento, desta forma tem se tornado um desafio no contexto da gestão ambiental
(QUINTAS, 2006, p. 30) e turística, isto se dá por conta, particularmente, da turistificação
ocasionada pelo modelo vigente do capital que promove um discurso desenvolvimentista,
desarticulado da esfera local, contribuindo para impactos negativos como conflitos ambientais nesta
zona costeira oriundos do uso do território, mas também da fragilidade dos ecossistemas,
evidentemente fruto da carência do planejamento, gestão integrada e participativa, além da
desarticulação dos diversos setores sociais no contexto de gestão da atividade turística.
É inegável que a faixa litorânea possui urbanização turística direcionada aos grandes
empreendimentos turísticos e turismo de segunda residência, característica que provocam uma
homogeneização do território pela elevada concentração de equipamentos e segregação entre
turistas e população local (CRUZ, 1997), mas também pressão demográfica e econômica, uso
intensivo dos recursos naturais, incidindo em conflitos ambientais, como também comprometimento
dos recursos e em casos mais graves, à sua extinção (FIRMINO, 2006, p. 80).
O modelo de urbanização turística na faixa litorânea nordestina com certeza é um desafio
para o planejamento e gestão do turismo, visto que a falta de integração e participação dos atores
sociais fazem originar a implantação de projetos que estão distantes da realidade do destino
receptor, com isso propiciando impactos negativos ao local É imprescindível reavaliar o padrão de
307
decisões no processo de urbanização turística litorânea para possibilitar o desenvolvimento local
embasado na sustentabilidade.
Logo a prática da atividade turística se dá via consumo da paisagem, caso esteja impactado
se torna um impedimento e decréscimo da qualidade estética local, convergindo na possibilidade de
se transformar em um não-lugar, devido aos possíveis impactos negativos desta urbanização aos
elementos ambientais que compõem a faixa litorânea. Problemática que tem origem na
desarticulação das políticas públicas e gestão da atividade, computando prejuízos que por vezes são
irreversíveis para o ambiente e comunidade, pois a identidade local é substituída pelos traços
culturais da nova territorialidade, com isso as práticas tradicionais são destituídas em função da
nova construção do lugar que tem foco apenas em atender os grandes empreendimentos turísticos,
ficando esquecido o lugar, bem como sua base local em detrimento do capital internacionalizado.
De forma geral a faixa litorânea é vulnerável socioeconomicamente por conta do seu processo
histórico, mas também devido as ineficientes políticas públicas de gerenciamento do território.
As políticas públicas devem garantir que o turismo represente uma alternativa de
desenvolvimento local com bases na sustentabilidade, por conseguinte contribuindo para melhoria
da qualidade de vida (SEN, 2000) e o respeito às diversidades dos lugares, contribuirá desta forma
para atenuar a problemática socioeconômica, ecológica e cultural, possibilitando e superando o
desafio de contribuir com o desenvolvimento da localidade. Todavia o processo de urbanização
turística deve está pautado no planejamento e gestão para que se torne uma possibilidade e não um
desafio.
Considerações Finais
O grande desafio para o turismo na faixa litorânea da Região Nordeste é o planejamento da
atividade agregada às políticas públicas ambientais e turísticas, sobretudo, com respeito à identidade
local, mas também o envolvimento e participação ativa dos atores sociais na construção e execução
deste planejamento e, o poder público, especialmente, na esfera municipal, precisa garantir a
formação técnica e aperfeiçoamento da comunidade local para lidar com a territorialidade proposta,
denominada de turistificação. Desde modo o turismo se traduzirá em possibilidades de contribuir
com o desenvolvimento local pautado na sustentabilidade, bem como modificará a dinâmica
turística existente que tem por base atender as perspectivas dos grandes empreendimentos turísticos
em detrimento da população local.
O caminhar para o desenvolvimento local com bases na sustentabilidade vislumbra uma
articulação, integração e participação da comunidade envolvida, assim como melhoria e adequação
de infraestrutura para a sociedade local, logo se refletirão no uso turístico, enquadrar o turismo
como mais uma atividade econômica e não apenas como a grande salvação dos problemas desse
308
território, evidentemente são desafios que superados se transformarão em possibilidades para o
turismo na faixa litorânea nordestina, com isso poderá ser somado a vocação já existente, a beleza
cênica, a diversidade histórica e cultural para dinamizar atividade e refletir em contribuições para o
desenvolvimento local. Nesta trajetória é importante envolver instituições públicas, como
universidades, institutos técnicos, entre outros, como também privadas, juntamente a comunidade
local para planejar e executar a atividade, sendo esta gerenciada pelo Estado.
Referências
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setembro de 2008, que trata da Política Nacional de Turismo. Disponível em:
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2004. BUARQUE, S.C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
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LIMA, Clarisse Vasconcelos Fraga de Melo. Urbanização turística no Litoral Sul de Pernambuco: o caso do
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Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhias das Letras, 2000.
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14.10.2012 às 17h45.
acesso
em
http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/home.html, acesso em 12.10.2012 às 12h50.
309
TURISMO: POR MEIO DO OLHAR PATRIMONIAL NO MUNICÍPIO DE ROSANA-SP
Clediane Nascimento SANTOS
Mestranda do curso de Pós Graduação em Geografia da UNESP – Univ. Estadual Paulista, Presidente Prudente.
Bolsista FAPESP. Membra Grupo de Estudos e Pesquisa em Turismo no Espaço Rural – GEPTER.
E-mail: [email protected].
Rosangela C. Cortez THOMAZ
Coordenadora Executiva da UNESP – Univ Estadual Paulista, Rosana/SP. Pós - Doutora em Turismo pela Universidade
de Santiago de Compostela – ES. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Turismo no Espaço Rural –
GEPTER. E-mail: [email protected].
Resumo
O presente trabalho tem o propósito de estudar o potencial turístico no município de Rosana-SP
abrangendo o estudo patrimonial. Assim, o presente artigo pretende discutir a cerca da realidade
patrimonial deste municipio, no tocante a cultura popular e o uso do patrimonio natural
materializado nas águas do rio Paranapanema e rio Paraná. Para isso, foi necessário o estudo sobre
patrimônio cultural, cultura e meio ambiente. Dessa forma, também um aprofundamento teórico da
relação espaço, turismo e cultura se fez necessário para melhor compreender as suas interfaces.
Palavras-chave: Assentamentos rurais. Cultura. Manifestações culturais. Turismo no espaço rural.
Abstract
The present work aims to study the tourism potential in the municipality of Rosana SPencompassing study sheet. Thus, this article discusses the fact sheet about this municipality,
regarding the use of popular culture and natural heritage embodied in the river and the Paraná River
Paranapanema. For this, we need the study of cultural heritage, culture and environment. Thus, also
a theoretical deepening of the relationship space, tourism and culture was necessary to better
understand their interfaces.
Keywords: Rural Settlements. Culture. Cultural Manifestation. Tourism in Rural Areas
Introdução
Localizado em um ponto estratégico, tendo como limite ao sul o estado do Paraná e a oeste o
estado do Mato grosso do Sul. Isso é um ponto favorável, pois futuramente poderá contribuir para o
aumento do fluxo turístico, podendo ser transformado em um verdadeiro centro de lazer. Para isso,
sua infraestrutura turística deve estar preparada para suprir todas as necessidades e vontades de seus
moradores e posteriormente os visitantes e/ou turistas. O município de Rosana localizado no
extremo oeste paulista, pertencente à microrregião de Presidente Prudente, está situado a 780 km da
capital do estado. O município de Rosana encontra-se localizado na área do território paulista
denominado Pontal do Paranapanema, situado no extremo oeste do estado, no triângulo formado
pelos rios Paraná e Paranapanema.
310
Fonte: Thomaz Jr, A. 2009. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/ceget/LD/inciar.html>.Acesso: 14 Abr. de
2011.
Figura 01 - Localização de Rosana/SP
Historicamente onde se localiza Rosana/SP teve sua base econômica na extração de madeira,
nas lavouras de subsistência e na pesca. Atualmente é a criação de gado bovina a atividade de maior
importância econômica, seguida da criação de bovino leiteiro e no turismo com exploração
desordenada e ainda incipiente.
No contexto regional, o município possui infraestrutura que poderia ser consolidada num
polo de atração turística. No entanto, observa-se que o crescimento tanto urbano como rural vem
ocorrendo de forma desordenada com destaque para alguns pontos de pobreza.
Assim, a atividade turística para ser boa para o local deve priorizar a responsabilidade social,
pois implica em desenvolver a atividade turística pensando no beneficio da sociedade em longo
prazo. A base de desenvolvimento do turismo correto está na preservação do patrimônio cultural,
dos recursos naturais e do desenvolvimento econômico.
Consequentemente, o desenvolvimento sustentável necessita da participação da comunidade
para que seja possível, em primeiro lugar discutir seus valores socioculturais e nesta perspectiva o
turismo pode ser um agente promotor de desenvolvimento econômico e político dos municípios,
abrangendo dimensões que promovem o exercício da cidadania.
O município de Rosana não é um polo turístico, porém tem potencial para abarcar tal
estruturação. No entanto necessita urgentemente e clama agonizante por planejamento.
Os principais recursos locais são:
311
 Porto da Amizade: Localizado as margens do rio Paranapanema, ao sul da cidade de
Rosana. O local era o antigo porto de travessia de balsa entre os estados de São Paulo
e Paraná;
 Porto Rosana e Mirante: Localizado as margens do rio Paraná, no perímetro urbano
da cidade de Rosana. O local apresenta vegetação remanescente, mirante para ilhas e
o rio Paraná em um dos pontos de maior elevação da cidade. Possui também
afloramento de arenito em taludes de cerca de dez metros de altura. Nessa área,
antigo Porto Rosana, há projetos de implantação de atividades turísticas pela
Prefeitura Municipal, com edificação de pousadas e quiosques;
 Bairro Beira Rio: Situado às margens do rio Paraná, no local funcionava a balsa de
travessia entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, recentemente
desativado Também nesse bairro a ―Praia Dourado‖ local de grande fluxo de
banhistas no verão;
 Balneário de Rosana: Construído pela Prefeitura às margens do rio Paraná. Possui
restaurantes, quiosques, locais para camping, campo de areia, prainha. Neste local
também se realizam festas tradicionais do município como carnaval, aniversário da
cidade, torneios de pesca. E grande movimentação de banhistas no verão.
As principais festas e eventos tradicionais são: o carnaval no balneário de Rosana; a Festa de
Nossa Senhora dos Navegantes (padroeira da cidade); e Procissão; Festas Juninas comunitárias;
Primarosa (Feira industrial e comercial); Rosana Fest (Festa de aniversário de Rosana) e as Festas
de final de ano. Há também as festas dos assentamentos rurais tais como: Nossa Senhora Aparecida,
Sagrado Coração de Jesus, Santa Luzia e São Francisco de Assis; Folias de Reis, Festa de
Aniversário da Gleba XV de Novembro, Roda de Viola.
Dentre as diversas possibilidades de dinamização das atividades econômicas no município
de Rosana/SP, o incremento do turismo aparece como uma das mais atraentes tendo em vista um
conjunto de pontos de interesse, que podem constituir atrativos para praticantes do turismo:
ecológico, de pesca, técnico - cientifico e turismo no espaço rural.
As áreas com vocação para implantação e expansão do turismo regional e local são
caracterizadas a seguir: 1- A confluência do rio Paraná e Paranapanema, no extremo Sudoeste do
município e do Pontal do Paranapanema, os ―bicos‖ do estado, poderá ter a implantação de mirante
e marco geodésico; 2- A fazenda Tranin localizada no Pontal poderá constituir-se em área de
turismo ecológico, com demarcação de trilhas para caminhada, quiosques, além de área para
implantação de reflorestamento de futuras compensações ambientais; 3- O Clube de Pesca que já
312
possui apartamentos, restaurantes e rampa de acesso ao rio; 4- A Usina Hidrelétrica Engenheiro
Sergio Motta, além do seu grande porte, dispõe de eclusa para navegação, possibilitando o
transporte fluvial que futuramente ligará o município ao Mercosul, e também poderá ser explorado
como atrativo turístico a passagem pela eclusa.
Turismo, Cultura e Patrimônio
Para o professor Milton Santos (2007, p. 14) o território já não pode ser entendido apenas
como o conjunto de sistemas naturais e sistema técnico-científico; o território é o conjunto dos
aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais É aquilo que o autor chama de ―território usado‖,
no qual este nada mais é do que o chão que se pisa mais a identidade ―A identidade é o sentimento
de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência,
das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida‖
O estudo do território nos permite enfatizar o estudo do turismo e cultura. Para isso será
discutido as conceituações, as questões relevantes quanto à implantação de um turismo responsável,
nesse sentido a percepção do planejamento e a modalidade de turismo existente no espaço rural, por
exemplo, o turismo cultural.
De acordo com Ruschmann (2003), o turismo rural na Europa já era presente desde o século
XIX, devido ao estresse gerado pelo aumento da industrialização. A vida metropolitana estimulou
as pessoas que residiam na cidade, cidades denominadas dormitórios, ou mesmo aquelas que
trabalhavam na indústria à busca de lugares mais calmos, nos quais poderiam renovar suas forças.
A atividade surgiu no estado de São Paulo a partir do ano de 1996, por meio de um
programa que incentivava o desenvolvimento do meio rural, que teve a colaboração do SEBRAE,
equipe especializada na área. Nesse programa, foram visitadas propriedades rurais, na tentativa de
sensibilizar os proprietários e orientá-los para a atividade turística (ZIMMERMANN, 2003).
Em princípio, o planejamento turístico deve envolver os atrativos, recursos em potencial, a
região, fatores climáticos, as formas de acesso, as possíveis dificuldades relacionadas à tomada de
decisões, a questão de divulgação e promoção do produto.
Para a Organização Mundial do Turismo (2001, p.154-155), o setor público deve ter
responsabilidade por falhas que ocorram com o desenvolvimento turístico, pois:
―[ ] todas as consequências de um programa público são fáceis de prever, deve ser
levadas em consideração uma série de fatores que condicionam a atuação pública
fazendo com que a mesma tome uma direção ou outra. Assim, por exemplo, cabe
mencionar a existência de interesses próprios dentro das administrações públicas,
que podem distorcer uma tomada racional de decisões (por exemplo, a necessidade
de financiamento dos municípios pode determinar o processo de construção de
segundas residências ou a maneira de atuar dos próprios funcionários); também não
313
se pode esquecer que geralmente a decisão pública está condicionada a interesses
particulares de grupos de pressão, tanto locais como regionais e até nacionais‖
Assim, o turismo é o responsável também pela preservação de todos os aspectos que
envolvem o modo de vida local, em especial o uso que faz do patrimônio cultural. Na maioria das
vezes se lembra de mediar os impactos decorrentes do turismo na economia, na infraestrutura, mas
pouco se remete a cultura.
De acordo com Thomaz (2005) a inquietação em relação ao patrimônio se deu recentemente
por meio de um ―boom do patrimônio‖ No qual a influência de uma ―corrente social poderosa‖ que
reforça a questão da valoração e recuperação do passado, porque percebe que essa atitude se faz
necessário para se entender sua raiz e sua existência. Assim na contemporaneidade, em muitas
sociedades modernas, surge a apreensão que motiva a conservação desse legado histórico, como
fator crescente e constante.
A palavra cultura vem ―do verbo latino colere que significa cultivar ou instruir‖,
relacionando cultura com as atividades agrícolas (MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 42). Nesse
sentido, o contexto em que a palavra cultura está relacionada nos instiga a imaginar que, ao mesmo
tempo em que é necessário desenvolver etapas no plantio de qualquer produto, como preparar a
terra, lançar a semente, ter os cuidados durante o crescimento para que ela dê o fruto esperado, a
mesma coisa também ocorre com a cultura. Dessa forma, a cultura aparece como um elemento que
deve ser desenvolvido num indivíduo para que ele cultive dentro de si tudo o que for necessário
para o bem-estar da convivência social.
As primeiras formulações para o que seja cultura foram de Edward B. Taylor, em 1871, ao
conceituar cultura como ―todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a
lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da
sociedade‖ (KAHN,
,p
apud MARCONI; PRESOTTO,
, p 3)
Segundo este conceito, fica evidente a ligação que se faz entre a cultura, o pensamento e a
percepção intelectual. Dessa forma, observa-se certo distanciamento em relação àquele pensamento
romano de que cultura é sinal de escolaridade, requinte e sofisticação, e passa-se a incluir, também,
todos os eventos e formas de expressão do homem. É importante lembrar que a palavra homem,
utilizada neste trabalho, refere-se ao gênero masculino e feminino, não fazendo de forma nenhuma
apologia ao sexo masculino.
Em contrapartida, há os estudos de Foster (1964, p.22), que definem a cultura como:
―[ ] o modo de vida comum, aprendido, partilhado pelos membros duma
sociedade e consistindo na totalidade de instrumentos, técnicas, instituições sociais,
atitudes, crenças, motivações e sistemas de valores conhecidos do grupo‖.
314
A definição de Foster difere-se da anterior na medida em que procura incluir aspectos
materiais, e não só os imateriais até então propostos, mas abrangendo também os instrumentos
utilizados pela sociedade. Sua contribuição alude também ao fato de que a cultura é todo o
comportamento gerado por um sistema de aprendizagem.
Neste caso, já temos embutido no conceito de cultura as motivações e as instituições sociais.
Estas, segundo Foster, são responsáveis por mudanças que podem ocorrer na cultura e, por isso,
devem ser incorporadas ao conceito de cultura.
Em oposição a estas definições sugeridas, temos Clifford Geertz (1989), que redefine o
conceito de cultura e contribui para pensá-lo sob a ótica das relações de poder. Este autor
diferencia-se dos autores mencionados acima, pois compreende cultura como uma forma de
controle da sociedade para com seus cidadãos, deixando evidente que essa mesma cultura
representa a estrutura da classe social dominante.
O conceito de Clifford demonstra a preocupação de a cultura ser uma ferramenta utilizada
por quem exerce o poder. De fato, isto faz sentido ao pensarmos no jogo de poder entre classes
sociais vigentes na contemporaneidade, em que a classe dominante constitui os moldes culturais,
submetendo todos ao mesmo padrão. Assim, aqueles que tentam fugir dessa homogeneização são
vistos preconceituosamente. É o caso, por exemplo, das manifestações culturais brasileiras, ditas
como populares, cultura operária, ou dos assentamentos rurais de reforma agraria.
A preocupação com a cultura deixou de ser uma referência apenas de antropólogos,
sociólogos, geógrafos, entre outros estudiosos das ciências humanas. Isto é perceptível em
instituições mundiais, tais como a Organização das Nações Unidas. A partir disso, percebe-se que a
importância da cultura nas sociedades como forma de permanência, apesar de todo o processo de
globalização e adensamento do capitalismo.
Conforme Boham (1974 apud Pelegrini, 2009, p. 25), a cultura ou o patrimônio cultural:
―conjuga representações da memória social, divididos em três grandes grupos O
primeiro deles refere-se ao meio ambiente. O segundo engloba a produção
intelectual humana armazenada ao longo da história. O último agrega os bens
culturais resultantes do processo de sobrevivência humana [ ]‖
Vale lembrar também, que ao dizer que uma comunidade possui uma determinada
característica cultural, não significa que ela não ficará inerte ao longo do tempo, pois a cultura é
dinâmica. Isso significa que ela mudará conforme as necessidades dos indivíduos que a compõem e
as influências que recebem em suas trocas culturais.
Assim, na relação entre cultura e sociedade, também é necessário entender as questões que
envolvem a identidade. Há uma busca significativa nas sociedades pela identidade de um povo, ou
nação. Nesta perspectiva, Bosi (1999), diz que no desejo que as pessoas têm de criar uma identidade
315
nacional, em meio a tantas manifestações existentes, corre-se o risco de fortalecer uma imagem
cultural que não representa a diversidade da cultura brasileira.
De tudo que foi mencionado, percebe-se que a cultura tem um viés do saber e do poder. Há
uma apreensão sobre a cultura como forma de entender o processo histórico social, os costumes, os
hábitos, a religiosidade, o modo de vida, enfim, vários elementos importantes que fazem parte da
realidade social. Por isso, a cultura tornou-se pauta das discussões mundiais, na tentativa de
verificar ações que possibilite a preservação das culturais locais, das identidades nacionais e por
isso a preocupação com a preservação do patrimônio.
Toda sociedade possui patrimônio cultural, alguns identificados com as diferentes classes
sociais que a compõem. Contudo, como afirma Pelegrini:
―Importa-nos destacar que a relevância atribuída aos bens de natureza imaterial é,
praticamente nova entre a civilização ocidental, mas não entre os países orientais.
Nestes últimos, a preservação das tradições incidiu, principalmente, sobre a
valorização da transmissão dos ―saberes‖ referentes aos processos de produção
artesanal, mais do que cerca dos objetos resultantes de tais conhecimentos. Desse
ponto de vista, parece haver uma integração maior entre os elementos da tradição e
as práticas coletivas no presente. Apenas para citar e referências do passado
fundamentam, por um lado, a coesão entre os indivíduos que compartilham afetos,
sensibilidades, tradições histórias. E por outro, evidenciam diferenças culturais que
podem favorecer a aceitação da diversidade como valor essencial para o convívio
em sociedade‖ (PELEGRINI,
, p 3-4).
Segundo Mészaros, a educação é o único caminho para a mudança, pois:
―Poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais mais
abrangentes de reprodução estão intimamente ligados. Consequentemente, uma
reformulação significativa as educação é inconcebível sem a correspondente
transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade
devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança
[ ]‖ (MÉSZAROS,
,p )
Conforme Horta (1999, p. 36 apud Pelegrini, 2009) aponta que a educação voltada ao
patrimônio requer força conjunta de diversas áreas de atuação, pois:
―a integração de diversos conhecimentos visando à analise dos bens culturais
implica explicações múltiplas sobre o sentido do passado e da memória, associados
à política e à educação ambiental, ao direito e ao desenvolvimento tecnológico,
industrial e social. Em outras palavras, a educação patrimonial foi admitida como
uma estratégia fundamental para a transmissão dos valores atribuídos aos bens
culturais‖
Assim, a realidade do município de Rosana/SP, requer uma educação patrimonial no tocante
as manifestações culturais populares no que envolve a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a
316
Folias de Reis no assentamento Gleba XV de Novembro, ao Ponto de Cultura ―ISCAP pela
Cultura‖, na relação dos ribeirinhos com os rios Paranapanema e Paraná. A educação patrimonial
seria uma ferramenta que permitiria o dialogo da comunidade com os bens locais e permitiria a sua
valorização.
As casas, como patrimônio material, pois demonstra como o distrito de Primavera foi
planejado para abrigar os barrageiros a época da construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro
Sérgio Motta, e conta como era o modo de vida, as diferenças sociais existentes daquela época. É
um bem material de vital importância para se compreender a formação deste distrito.
Não há outro caminho para a valoração da cultura local se não for por meio da prática
educativa de sua população, seja ela efetivada nas escolas municipais, estudais e particulares, ou
seja, por meio de exposição com recursos áudio visual nos espaços públicos. Dessa forma,
demonstrando a importância dos recursos culturais como bens associados a vida e ao
desenvolvimento local.
―A educação patrimonial formal e informal constitui uma prática educativa e social
que visa à organização de estudos e atividades pedagógicas interdisciplinares. O
objetivo da interdisciplinaridade centra-se na tentativa de superar a excessiva
fragmentação e linearidade dos currículos escolares. A transversalidade, alcançada
por meio de projetos temáticos, é um recurso pedagógico que visa auxiliar os
alunos a compreender a sua realidade‖ (PELEGRINI,
p 3 )
Com a educação patrimonial os beneficiados é a própria comunidade, que poderá aliar a
prática turística, que ocorre de forma amadora, aos recursos culturais, não porque é importante para
o turista ver, mas porque é importante e faz parte da vida e da história de muitas pessoas que
viveram e ajudaram a construir a cidade. Nessa perspectiva, Pelegrini enfatiza que:
―A educação patrimonial na contemporaneidade vem adquirindo proeminência e
apontando possibilidades de inclusão do cidadão e do desenvolvimento de
economia locais por meio do turismo cultural e desenvolvimento sustentável,
fortalecendo o sentimento de pertencimento e de fraternidade entre os membros de
distintas comunidades‖ (PELEGRINI,
p )
Partindo do potencial que o patrimônio cultural tem de agregar valor econômico, observa-se,
também, a motivação das localidades para cuidar dele, sendo responsabilidade de todos os cidadãos
à sua manutenção. Quanto mais diverso e singular for mais benefícios poderá ter por meio da
atividade turística.
Conclusão
Diante do estudo efetuado sobre o turismo em Rosana, percebe-se que poderá ser uma saída
para acelerar o desenvolvimento do município, desde que adote o planejamento para que a atividade
se desenvolva de forma a beneficiar a população. Caso contrário, a atividade vai acarretar
317
problemas, como já foi detectado em estudo anterior. Dentro dos diversos problemas que podem ser
ocasionados pelo turismo pode-se citar: sazonalidade, desarticulação das atividades tradicionais,
ressentimento local devido ao choque de culturas, transformação dos valores e condutas morais, a
transmissão de doenças, entre outros.
Primeiro temos que partir do fato de que a população posiciona-se favoravelmente pelo
desenvolvimento do turismo na cidade. Isso se justifica pelo desejo da geração de emprego, logo
que o município não pode se industrializar por ser uma Área de Preservação Ambiental, e devido a
isso, as pessoas saem para outros lugares a procura de emprego. Outro ponto positivo do turismo é o
aumento e diversificação na prestação de serviços; aumento da demanda e oferta turística; e
projeção da cidade associada a imagem turística.
A lista dos benefícios não esconde os pontos cruciais do turismo. Os pontos negativos, na
sua maioria estão relacionados a ausência de planejamento. No caso de Rosana/SP, o planejamento
contribuiria para alavancar a autoestima dos munícipes quanto a importância dos seus recursos
como patrimônio que mereça ser preservado e mostrado. Enquanto a população não reconhecer e se
reconhecer no seu patrimônio material e imaterial a atividade turística não acontecerá de forma
plena.
Referências
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situações. 4. ed. São Paulo: Ática, 1999. p. 7-15.
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cultura, 1964.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução.
5. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Introdução ao turismo. São Paulo: Roca,
2001.
PELEGRINI, Sandra C.A. Patrimônio cultural: consciência e preservação. São Paulo: Brasiliense,
2009.
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ed. Campinas: Papirus, 2003. p. 63-73.
SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: SANTOS, Milton et. al. Territórios, territórios:
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THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez. A revalorização e o uso do patrimônio arqueológico como
estratégia para o desenvolvimento do turismo rural e cultural na Galicia. In: III CONGRESO
VIRTUAL DE TURISMO CULTURAL, 3, 2005, Argentina. Los deretos humanos em el turismo.
Disponível em: < http://www.naya.org.ar/turismo/congreso2005>. Acesso em 10 out.2008.
ZIMMERMANN, Adonis. Planejamento e organização do turismo rural no Brasil. In: ALMEIDA,
Joaquim A.; FROEHLICH, José M; RIEDL, Mário (Orgs.). Turismo rural e desenvolvimento
sustentável. Campinas: Papirus, 2004. p.127-142.
318
TURISMO RURAL COMUNITARIO Y LOS EFECTOS DE CALIDAD Y
SOSTENIBILIDAD AMBIENTAL EN COSTA RICA
Damaris Caravaca Mendoza
Enfoque histórico sobre el turismo rural comunitario en Costa Rica
Algunas entidades de cooperación internacional y nacional dirigieron su mirada a proyectos
que se proponen desarrollar y apoyar a pequeñas empresas y comunidades que cuentan con gran
potencial desde el punto de vista del uso de los recursos naturales, culturales; mediante un manejo
sostenible.
En 1990 se destacan organismos de cooperación internacional que han fortalecido el TRC, el
Fondo Mundial para la Naturaleza (WWF) siendo uno de los primeros programas en torno al área
de Conservación Arenal, donde promovieron iniciativas como el Albergue Heliconias de la
Asociación Bijagueña de Productores Agrícolas; figura también el Albergue la Catarata en la
Fortuna de San Carlos.
En 1995 se inició la ejecución del Convenio Bilateral de Desarrollo Sostenible Costa RicaHolanda, el cual definió como uno de sus ejes fundamentales, el financiamiento del turismo
comunitario. Al 2005, Fundecooperación, ente encargado de manejar los recursos provenientes de
este convenio, ha financiado alrededor de 50 proyectos. También figura el Programa de Pequeñas
Donaciones (PPD / PNUD), la Fundación Costa Rica/Canadá, la Cooperación Española (AECI).
Así como Organizaciones no gubernamentales como la Asociación del Corredor Biológico
Talamanca Caribe.
Se destaca el programa de Pequeñas Donaciones (PNUD), Programa de las Naciones Unidas
para el Desarrollo, que desde 1993, ha financiado a mas de 500 proyectos, siendo el 90% para
organizaciones de base comunitaria, con una alta participación de grupos de mujeres y poblaciones
indígenas, proyectos propuestos por ONGs y organizaciones de base comunal; donde los recursos
se dirigen principalmente hacia acciones ambientales locales con incidencia global.
Se facilita el desarrollo de proyectos debido a las diversas organizaciones existentes con
integración en las áreas rurales que permite la organización y desarrollo interno.
De esta forma el programa del PNUD llamado Proyecto Estratégico de Fortalecimiento
Organizativo para la Acción Ambiental de grupos socios toma fuerza, por lo que a partir del año
2001 se inicia un acompañamiento mas integral lo que permite el acercamiento y valoración de
estos grupos de base comunitaria, donde se refleja que tienen grandes debilidades en aspectos
organizativos y de gestión, por lo que se requiere dar respuestas.
Esto se convirtió en un
319
compromiso del programa a mediano y largo plazo, por el alto número de organizaciones socias
atendidas.
Mediante una caracterización inicial se determino la línea de base y se identificaron las
principales debilidades y que la mayoría de proyectos financiados no estaban generando ingresos o
se desconocía la fase de operación, el financiamiento se había concentrado en la infraestructura
descuidando la capacitación y comercialización, era evidente la desarticulación de la oferta, tarifas
dispares con una calidad muy heterogénea, existía un divorcio entre las instituciones, no se contaba
con planes de promoción y comercialización adecuados.
Por esta problemática el PNUD puso en marcha una estrategia para el fortalecimiento con
acciones en varios ámbitos:
 Asistencia técnica y formación de acuerdo a las debilidades identificadas: calidad en
el servicio y el producto, promoción y comercialización, seguridad, gestión
empresarial, uso de tecnologías de la información, aspectos culturales y gestión
ambiental;
 Acompañamiento al trabajo en red, con la constitución de ACTUAR (la Asociación
Costarricense de Turismo Rural Comunitario)) y el apoyo en su planificación y
gestión;
 Alianzas estratégicas con instituciones relacionadas como el Instituto Costarricense
de Turismo (ICT) y el Instituto Nacional de Aprendizaje (INA);
 Incidencia política, con acciones de cabildeo ante los ministerios de Turismo,
Agricultura, Trabajo, y Ambiente, diputados de la asamblea legislativa y el
posicionamiento a nivel nacional del sector de Turismo Rural Comunitario;
 Facilitación de la comercialización, con el acercamiento a la industria turística, la
publicación de la Guía de Turismo Rural Comunitario (primera y segunda y tercera
edición), la edición de material audiovisual de conceptualización del sector, la
organización de la Feria de Turismo Rural Comunitario (2002, 2003) y el apoyo
para la participación en otras ferias nacionales e internacionales.
Este Programa de Pequeñas Donaciones de las Naciones Unidas (PNUD), propicia la
formación de la Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario (ACTUAR), para el
desarrollo y representación gremial del Turismo Rural Comunitario, entre otros objetivos, así como
encadenamientos y alianzas estratégicas con diferentes entes con fines similares.
Entre las organizaciones que generaron un rol protagónico para la consolidación del turismo
rural comunitario en Costa Rica, participando activamente y de forma comprometida junto con
actores sociales y públicos para incidir favorablemente en la política turística nacional relativa al
turismo rural comunitario figuran: Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario
(ACTUAR), Asociación Centroamericana para la Economía la Salud y el Ambiente (ACEPESA),
Consorcio Cooperativo Red Eco turística Nacional (COOPRENA), Programa de Pequeñas
320
Donaciones (PPD), que con su ―esfuerzo coordinado” logran la conformación de la Cámara
Nacional de Turismo Rural Comunitario (CANTURURAL) y un hecho preponderante que marca la
historia en la aplicación de leyes turísticas e incentivos donde los pequeños empresarios quedaban
fuera. La aprobación de la Ley 8724 de 17 de julio del 2009, publicada en la Gaceta No 191 del 1
de octubre del 2009, Ley para el Fomento de Turismo Rural Comunitario (TRC).
La Asociación Costarricense de Turismo Rural Comunitario (ACTUAR)
Su formación surge en el 2001 al realizarse el primer Encuentro de Ecoturismo, organizado
por el Programa de Pequeñas Donaciones (PND) de Naciones Unidas. Evento que deja huella en la
historia diferentes grupos con experiencias en Turismo Rural Comunitario, lo que les permite la
representación gremial y agrupar en una actividad en común, pudiendo así debatir sus problemas,
necesidades, retos y por supuesto triunfos; quedando atrás el hecho de que tales situaciones
quedaran solo en el papel o en discusiones de grupos. El fin principal de ACTUAR es promover la
sostenibilidad ambiental, social, cultural y económica de las iniciativas de Turismo Rural
Comunitario en Costa Rica, por medio del establecimiento de alianzas estratégicas para el mercadeo
turístico comunitario, el fortalecimiento de la capacidad de los socios y la gestión de recursos.
Consorcio Cooperativo Red Eco turística Nacional (COOPRENA R.L)
Es una organización que nace en 1994 como una necesidad constituida por un pequeño
grupo de cooperativas autogestionarias que vieron en el mercado turístico una opción de
incrementar sus ingresos. Su función se basa en la gestión para desarrollar y ejecutar modelos de
desarrollo local enfocados al turismo rural comunitario para activar la economía local, generando
redes comerciales y de servicios turísticos, para convertirlo en productos turístico integrado donde
participan la comunidad en una sinergia entre ambiente, comunidad y los recursos financieros. Su
estructura organizacional se divide en: Desarrollo Sostenible y Proyectos, Financiamiento y
Mercadeo y Ventas. Para apoyar el mercadeo de sus afiliados Cooprena, crea a Simbiosis Tours,
que es un tour operador, con certificado de nivel 5 de CST dedicado al desarrollo del turismo rural
y turismo rural comunitario sobre una base de turismo sostenible en comunidades rurales que tienen
un producto turístico que ofrecer. A través de Simbiosis Tour del turista
nacional como
internacional pueden disfrutar y colaborar con un tipo de turismo que beneficia la protección
ambiental, la preservación de nuestra cultura, y a las comunidades por medio de la creación de
empleo, disminuyendo la migración de lo rural a lo urbano.
321
Asociación Centroamericana para la Economía la Salud y el Ambiente (ACEPESA)
Es una ONGs con amplio reconocimiento a nivel de Costa Rica y a nivel Centroamericano
por su proyección relacionados con productos técnicos innovadores y de alta calidad; ha contribuido
en la articulación de los esfuerzos públicos y privados en gestión del desarrollo sostenible. Sus
objetivos es brindar asesoría y capacitaciones a empresas, comunidades y municipalidades para la
gestión ambiental de los residuos sólidos, recuperación de materiales reciclables, elaboración de
planes municipales; así como diseño y construcción de sistemas alternativos para el manejo de
aguas residuales. Se propone crear y promover espacios de negociación, articulación y coordinación
de acciones por parte de las comunidades y organizaciones con el fin de facilitar el desarrollo de
condiciones que permitan convertir al turismo rural comunitario en un instrumento de desarrollo
local en conservación de la naturaleza. La articulación para que este tipo de turismo alternativo se
brinde con éxito tiene un gran reto por cuanto el Estado debe agrandar el presupuesto de los
municipios con el fin de invertir en mejores caminos rurales y servicios comunitarios, el Instituto
Costarricense de Electricidad (ICE) debe mejorar la conectividad en estas zonas rurales, el Instituto
Nacional de Aprendizaje (INA) y las universidades deben continuar ampliando la oferta de
asistencia técnica e investigación para la innovación y obviamente el fortalecimiento para la banca
de desarrollo por medio de créditos accesibles para estas pequeñas empresas.
El nuevo reto para las empresas de turismo rural comunitario
Desde el nacimiento de la Ley de Fomento del Turismo Rural Comunitario, Ley No 8724
del 17 de julio del 2009, publicada en la Gaceta No 191 del 01 de octubre del 2009, nace también
un desafío para las empresas de base familiar y comunitaria. Esta Ley de TRC* tiene como
objetivo fomentar la actividad turística de tipo rural y comunitario pretendiendo que las personas
habitantes de las comunidades rurales procuren la gestión de su propio desarrollo, incluido el
manejo de destinos turísticos locales, planificando adecuadamente los recursos naturales de su
entorno de manera sostenible, permitiéndoles una mejor condición de vida. Este tipo de turismo
contribuye a la diversificación de la oferta turística nacional, innovando mediantes nuevas formas
de producir y consumir productos turísticos en destinos rurales comunitarios con gestión directa por
parte de las organizaciones locales;
por lo tanto el uso del suelo destinado a la producción
agropecuaria, adquiere un valor agregado ya que cuenta con espacios y estructuras turísticas
especificas para los visitantes con propósitos de disfrutar de ambientes y experiencias diferentes a
los ofrecidos en destinos tradicionales. Lo que ha permitido efectos positivos importantes en el
desarrollo de las localidades y la oferta turística, las cuales deben potencializarse, entre ellos:
322

La diversificación de la oferta turística Costarricense;

Valor agregado a la producción agropecuária;

Promoción de la protección de los recursos naturales y la identidad de nuestras
comunidades rurales;

Motivación del orgullo y conservación del patrimonio de las familias locales y
favorecimiento;

Facilitación de la equidad de género con destacada participación de la mujer.
Cabe destacar que el Plan Nacional de Turismo 2002 – 2012 enfoca al TRC como uno de
sus instrumentos indispensables en pro de un turismo sostenible, por cuanto representa una etapa
avanzada del ecoturismo en términos socioeconómicos, al complementar y diversificar los ingresos
de las familias campesinas, combatiendo el aislamiento económico, desarrollando la capacidad
empresarial, contribuyendo a frenar la migración rural, permitiendo valorar y recuperar la cultura
local y estimulando el desarrollo de infraestructura en zonas rurales.
Es competencia del Instituto Costarricense de Turismo en pro del fomento y desarrollo de
las actividades de TRC, que implican la inserción de las empresas de TRC dentro de los regímenes
voluntarios de la Declaratoria Turística y del Contrato Turístico, regímenes que tienen su base
reglamentaria en el Reglamento de las Empresas y Actividades turísticas, Decreto Ejecutivo No
25226 – MEIC – TUR, del 15 de marzo de 1996 y sus reformas y en el Reglamento de la Ley de
Incentivos para el Desarrollo Turístico Ley 6990, Decreto Ejecutivo No 24863 – H – TUR del 5 de
diciembre de 1995 y sus reformas. Por lo tanto el Instituto Costarricense de Turismo esta obligado
a promover y fomentar la actividad del TRC, por lo que deberá coordinar, promover e impulsar ante
otras instituciones del Estado y gobiernos locales, acciones específicas propias de las competencias
de estos entes. A través de estas leyes las empresas de TRC pueden obtener una serie de beneficios
e incentivos fiscales y no fiscales para lograr su desarrollo. No obstante existe desconocimiento
sobre la existencia de estas leyes lo que limita el desarrollo de estas pequeñas empresas, es aquí
donde el acompañamiento de ONGs, universidades es prioritaria.
Proyecto de apoyo para el desarrollo del turismo rural comunitario
Bajo este panorama se hace necesario tomar acciones institucionales para el apoyo en la
capacitación de estos entes productivos con el fin de desarrollar sus competencias empresariales a
fin de brindar un servicio de calidad y amigable con el ambiente. Las acciones implican el
acompañamiento por parte de instituciones estatales u otras organizaciones para divulgar el alcance
de esta ley de Fomento al TRC, debido a esta situación ha originado la formulación de proyectos
desde la Universidad Nacional para las empresas de TRC.
323
Se promueve que los estudiantes realicen proyectos con el fin de graduarse pero que
contribuyan con su conocimiento a comunidades con gran potencial que lo requieran, así los
académicos a cargo seleccionan, y lo elevan al Consejo Académico para su aprobación con fondos
designados para elevar las capacidades en las comunidades. Un ejemplo de proyecto de la
Universidad Nacional de Costa Rica, dirigido a la comunidad de Colorado de Abangares y San
Buena Ventura comunidad seleccionada para desarrollar el turismo rural comunitario en la zona, la
cual posee gran potencial turístico. Este proyecto es formulado por un grupo de académicos entre
ellos: la profesora Alba Berrocal (Coordinadora del proyecto), Jenny Rodríguez, Aurora Hernández,
Merlyn Gutiérrez, el profesor Didier Villarreal y quién escribe Damaris Caravaca; el cual se
denomina:
Desarrollo de capacidades para las empresas de turismo rural comunitario del sector de
colorado de abangares en estándares de calidad, sostenibilidad y manejo de un segundo idioma.
El proyecto se dirige hacia la capacitación en algunas áreas entre ellas: Servicio al Cliente,
Hotelería, Sistema Turístico, Inglés, adaptados a sus necesidades, así como talleres de
Categorización Hotelera con el fin de que las empresas seleccionadas puedan obtener al menos una
estrella; y también un nivel de sostenibilidad para la obtención del Certificado de Sostenibilidad
turística (CST). Se coordina con otras entidades para articular esta actividad para así cumplir con lo
establecido en la ley de fomento para el turismo rural comunitario, para que puedan dar los
primeros pasos y obtener los beneficios que esa ley permite. Estas empresas de TRC, deben obtener
la Declaratoria Turística, un paso previo para la obtención del Contrato Turístico lo que permite una
serie de beneficios fiscales, donde estas empresas podrían exonerar vehículos, motores fuera de
borda, materiales para la construcción entre otros y dependiendo de la actividad, así mismo deben
tener al menos una estrella en la categorización hotelera entre otras actividades como parques
temáticos.
Todos estos lineamientos a su vez conllevan en garantizar la calidad de los servicios
turísticos propios de la gestión operativa en un sentido sostenible. En el marco de este desarrollo del
turismo rural comunitario es necesario fomentar en los involucrados las capacidades indispensables
para el ejercicio de sus funciones en las empresas que les permita una ventaja competitiva e
innovadora. *TRC: Turismo Rural Comunitario.
Marco legal ley de fomento para el turismo rural comunitário
Es la Ley No 8724 del 17 de julio del 2009, publicado en la Gaceta No 191 del 1 de octubre
del 2009, cuyo objetivo es fomentar la actividad turística de tipo rural comunitario, cuyas siglas
324
serán TRC, por medio del impulso de empresas de base familiar comunitaria. Deben estar
conformadas según la Ley de Asociaciones No 218, o conformada como cooperativa de autogestión
de la zona rural, regulada por la Ley de Asociaciones Cooperativas y creación del Instituto
Nacional de Fomento Cooperativo, No 4179 y sus reformas, con el fin de que las personas
habitantes de las comunidades rurales procuren la gestión de su propio desarrollo, incluido el
manejo de destinos turísticos locales; además, que participen en la planificación y el
aprovechamiento de los recursos naturales de su entorno de manera sostenible, a fin de que les
permita una mejor condición de vida.
Ha sido declarada de interés público el TRC como actividad socioeconómica, estratégica y
esencial para el desarrollo de las comunidades rurales del territorio nacional. Al ser el TRC una
actividad prioritaria dentro de las políticas del Estado, se le autoriza a las instituciones de la
Administración Pública, los entes estatales y no estatales, las empresas públicas y las
municipalidades a impulsar actividades de apoyo para su desarrollo. Las modalidades del TRC son:

Posadas de turismo rural: hospedaje mínimo 3 habitaciones, dotadas de baño privado,
que pueda ofrecer los servicios de alimentación y se encuentre localizado en un entorno rural,
definido por el ICT;

Agencias de viajes especializadas en TRC: ubicados en zonas rurales, que ofrezcan
un destino turístico local;

Transporte acuático de turistas – cabotaje turístico – muelles;

Actividades temáticas especializadas en TRC: área destinada a ofrecer servicios
turísticos y /o de rescate del patrimonio cultural (manifestaciones históricas, culturales, fincas
agropecuarias demostrativas, áreas naturales dedicadas a la protección y aprovechamiento de los
recursos naturales, zoo criaderos, zoológicos, acuarios, parques de diversión y acuáticos);

Servicios de alimentos y bebidas: (restaurantes rurales, fondas, sodas de comidas
locales y servicios de comidas criollas a domicilio).
Sem enbargo, lós benefícios de la Ley TRC son:






Obtención de la declaratoria turística;
Obtención de la categorización (empresas de hospedaje, restaurantes);
Obtención del contrato turístico (exoneraciones);
Trato prioritario y preferencial en sistema de banca de desarrollo;
Vinculación con las diferentes instituciones del estado;
Capacitación, asesoría técnica, publicidad, entre otros.

Instituto Costarricense de Turismo: otorgar declaratoria y contrato turístico,
regular, tramitar, incorporar esta actividad en sus planes de desarrollo turístico
y en sus planes anuales operativos, garantizar el fomento y promoción,
destinar recursos humanos, técnicos y económicos para la ejecución de las
325






políticas que fomenten y promuevan el TRC, impulsando a nivel nacional e
internacional las campañas promocionales …entre otras;
Municípios: Según art. 11: establecer mecanismos para que las comunidades
organizadas participen en la planificación del desarrollo local. Desarrollar e
implementar políticas de fomento al sector, basadas en criterios de
sostenibilidad relacionados con el desarrollo turístico de su municipio y
considerando las condiciones propias y necesarias para la implementación de
proyectos de TRC. Crear una oficina de gestión local en turismo rural
comunitario, con el fin de incentivar la coordinación de las actividades
turísticas de la comunidad y la regulación competente; para ello procederá a la
elaboración del reglamento municipal correspondiente.
INA: formación y asistencia técnica, incorporar en sus planes anuales
operativos programas que garanticen la formación y asistencia técnica para las
agrupaciones del TRC.
INSTITUTO MIXTO DE AYUDA SOCIAL - IMAS: Podrá incorporar en sus
programas de generación de empleo y desarrollo comunitario, para el fomento
y apoyo a las iniciativas del TRC.
COMISIÓN DE COOPERATIVAS DE AUTOGESTIÓN: otorgar recursos
del fondo nacional de cooperativas, puede otorgar financiamiento para
proyectos viables, avales, asistencia técnica, formación, capacitación, asesoría,
estudios de pre inversión, la viabilidad y estudios de factibilidad.
SINART: debe facilitar espacios de promoción y divulgación de las
actividades del TRC dentro de su sistema de comunicación, el cual esta
compuesto por los siguientes medios: red nacional de televisión, radio
nacional, la revista contrapunto y la agencia de publicidad de radio y
televisión nacional, al menos una vez cada 3 meses, para contribuir al
desarrollo y el enriquecimiento del TRC.
DECLARATORIA TURISTICA: Es el acto mediante el cual la Gerencia del
ICT declara a una empresa o actividad como turística, luego de cumplir con
los requisitos técnicos, económicos y legales señalados en este reglamento en
los manuales respectivos.
Los beneficios de la declaratoria turística estan incluidos en la pagina del ICTwww.visitcostarica.com; Asesoría técnica; Categorización – Alta calidad, Ferias turísticas
Nacionales, Participación en campañas turísticas internacionales. Sem embargo, lo contrato
turístico, según el artículo 4 de la Ley No 6990, es el acto mediante el cual el ICT otorga a la
empresa turística beneficiada, los incentivos establecidos en dicho cuerpo normativo y que incluye
además de dichos beneficios, las obligaciones y garantías que corresponda exigir al solicitante.
Incentivos para posadas del turismo rural comunitário

Exonerar de todo tributo y sobretasas que se aplique a la importación o compra local de
motores fuera de borda, cuando quien lo requiera se ubique en una zona geográfica aledaña
326






a ríos navegables, lagos navegables, canales navegables o zonas costeras, así como del pago
de los impuestos de inscripción.
Exonerar del pago de tributos y sobretasas que se aplique a la importación o compra local de
vehículos tipo doble tracción o microbuses con capacidad de 8 a 12 pasajeros, cuyas
características serán definidas por el ICT, así como el pago de los impuestos de inscripción.
Los vehículos de doble tracción, deberán ser nuevos y no sobrepasar una cilindrada máxima
de 2.500 c.c
Exonerar del pago de todo tributo y sobretasas que se aplique a la importación o compra
local de tecnologías alternativas para el tratamiento de aguas residuales y sus componentes,
así como de los materiales e insumos que se incorporen directamente en la construcción de
este tipo de plantas, para su instalación en el territorio nacional.
Tanto los motores fuera de borda como los vehículos doble tracción o microbuses de 8 a 12
solo pueden ser solicitados únicamente por las posadas de TRC y las agencias de viajes
especializadas en TRC.
Exención de todo tributo y sobretasa que se aplique a la importación o compra local de
bienes indispensables para el funcionamiento o instalación de empresas nuevas o de las
establecidas que ofrezcan nuevos servicios. Estos bienes deben guardar una relación
estrecha con la actividad a que serán destinados. Dentro de los beneficios a disfrutar dentro
del plazo de vigencia del contrato, se tendrán la actualización y modernización de los
servicios ya existentes.
El mismo beneficio fiscal aplicará para toda compra de aquellos bienes necesarios para la
construcción, ampliación y remodelación de los edificios donde desarrollen sus actividades
y para su equipamiento.
Concesión por las municipalidades correspondientes, dentro de los 30 días siguientes a la
solicitud de las patentes y permisos municipales, que requieran las empresas para el
desarrollo de sus actividades, incluyendo las de licores nacionales y extranjeros.
Los incentivos para agencias de viajes para el TRC incluen a la exención de todo tributo con
excepción del impuesto de ventas y de sobretasas excepto de los derechos arancelarios, en la
importación de vehículos con una capacidad mínima de 15 personas, cuando tales vehículos se
destinen exclusivamente al transporte colectivo de turistas. Si la tarifa del impuesto Ad-Valorem
supera el 5%, se exonerará la obligación tributaria correspondiente a dicho exceso tarifario.
También que sea ambientalmente responsable, y que se promueva un aprovechamiento sostenible
de los ecosistemas, es decir que se evalúen los impactos de la actividad turística sobre el entorno
natural y se establezcan medidas correctivas y buenas prácticas para evitar que estos impactos
pongan e riesgo la integridad de los ecosistemas.
Estándares de calidad para las empresas de TRC
Se aplica el manual de Categorización Hotelera para las empresas de hospedaje, manual que
fue aprobado en Sesión Ordinaria de Junta Directiva del Instituto Costarricense de Turismo, N°
327
4707, artículo 5,inciso XIII, celebrada el día 24 de febrero de 1997. Integra estándares de calidad
que deben utilizar las empresas de hospedaje para brindar un excelente servicio al cliente
considerando las diferentes áreas de operación y servicio, entre ellos: vestíbulos y espacios
públicos, habitaciones, cuartos de baño, equipo recreativo, restaurantes y comedores, cocina,
servicio para el huésped, limpieza,
mantenimiento, aspectos de estructura, ambientales de
seguridad, servicio a personas con alguna discapacidad física y de capacitación entre otros Existen
otros lineamientos de calidad los cuales se aplican a Parques Temáticos.
A continuación se muestran los requerimientos que deben cumplir las empresas de
hospedaje, que para el caso de la TRC, se les denomina ―posadas‖ para obtener al menos una
estrella. Se consideran los parámetros para el servicio limitado y mínimo, a lo que se le aplica un
puntaje máximo de 3 puntos sobre lo indicado en el manual.
TABLA DE CLASIFICACIÓN:
Cinco Estrellas: de 461-500 ptos; Cuatro Estrellas de 361-460 ptos; Tres Estrellas: de 261360; Dos Estrellas: de 161-260; Una Estrella: 100-160 ptos.
COMO FUNCIONA:
 El ICT visita solo a las empresas que cuentan con declaratoria turística y aquellas empresas
que solicitan inspección;
 Si obtiene una categoría de cero estrellas, se le da un plazo de treinta días hábiles para
cumplir con las observaciones dadas por el Supervisor;
 Se realiza una nueva visita para corroborar y si se sigue incumpliendo, se le da un plazo de
diez días para que la empresa se pronuncie al respecto.
La orientación de sostenibilidad para el desarrollo surge en Costa Rica con el programa de
Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST), cuyo propósito fundamental del CST es
convertir el concepto de sostenibilidad en algo real, práctico y necesario en el contexto de la
competitividad turística del país, con miras a mejorar la forma en que se utilizan los recursos
naturales y sociales, incentivar la participación activa de las comunidades locales, y brindar un
nuevo soporte para la competitividad del sector empresarial (ICT, turismo-sostenible, 2011).
A continuación se muestra un ejemplo del Ámbito Físico Biológico el cual propone:

En políticas y programas en los siguientes elementos: para el diseño de planes: para
la protección de los recursos, conservación de áreas, reforestación, embellecimiento, otros.

En Emisiones y desechos: aguas servidas, disposición de aguas, contaminación.

En áreas verdes: diseño de jardines.

Áreas naturales: conservando.

Protección de flora y fauna: protegiendo.
328
En todos los aspectos antes mencionados se brindan una serie de prácticas recomendadas
para que sea implementada por las empresas, así mismo en cada uno de los cuatro ámbitos.
A continuación se brinda un ejemplo sobre las preguntas de evaluación que se les plantea a
las empresas de hospedaje. Son prácticas recomendadas:
•
Diseñar un plan en donde se estipulen las principales normas de gestión y operación
de la empresa en materia ambiental, que permita más o mejor calidad y cantidad de agua, mejores
vistas escénicas, más cobertura vegetal, fauna silvestre en hábitats naturales, infraestructura con
diseños más sostenibles, bioclimáticos (diseño de edificaciones teniendo en cuenta las condiciones
climáticas, aprovechando los recursos disponibles (sol, vegetación, lluvia, vientos) para disminuir
los impactos ambientales, intentando reducir los consumos de energía), reducción de costos de
operación por ahorro de agua, energía e insumos, entre otros.
•
Generar un círculo de discusión periódica entre funcionarios clave de la empresa
sobre impactos actuales y potenciales que genera la actividad de la empresa.
•
Realizar un seguimiento a los impactos y los resultados de las acciones para su
mitigación, como actividad paralela a las actividades diarias de la empresa.
•
Atender las sugerencias o reclamos provenientes de las comunidades y entidades
oficiales respecto a prácticas perjudiciales de parte de la empresa.
•
La evaluación de estas acciones de mitigación debe mostrarse con indicadores
cuantitativos o cualitativos.
•
Respetar y promover la legislación y reglamentos pertinentes nacionales e
internacionales, en materia ambiental.
•
Contar con el apoyo activo de la Gerencia, de tal manera que sea visible la misión,
visión, políticas, objetivos estratégicos y planes operativos.
En las áreas verdes la vegetación está compuesta en forma predominante por especies
nativas de la región o del país, gracias a que la empresa lo ha considerado como prioritario en la
planificación paisajística.
Las especies introducidas de carácter ornamental, no se están
propagando hacia otras áreas del entorno gracias a un plan de manejo. Las especies nativas están
debidamente identificadas con su respectiva taxonomía. Se mantiene por escrito una pequeña reseña
ilustrativa para efectos divulgativos sobre historia natural y el uso de las especies nativas rotuladas
en las áreas verdes. Para el mantenimiento de las áreas verdes, se utilizan insumos amigables con el
ambiente, evitándose el uso de abonos, herbicidas, plaguicidas y/o químicos.
Las áreas verdes constituyen un elemento estético muy valioso dentro de las empresas
turísticas. Se pueden utilizar como espacios de luz, pulmón, bio-climatización (diseño de
edificaciones teniendo en cuenta las condiciones climáticas, aprovechando los recursos disponibles
(sol, vegetación, lluvia, vientos) para disminuir los impactos ambientales, intentando reducir los
329
consumos de energía), o potenciarse con usos menos convencionales como salas de espera y
descanso, observación de aves, jardines de plantas medicinales, viveros, exhibición de arte de
exteriores o educación e interpretación ambiental.
El diseño de áreas verdes, es una parte muy importante de la empresa, por lo tanto ante el
turista debe reflejar la visión de la empresa con respecto al medio ambiente, naturaleza y el
producto turístico del país. Ellas son puntos de atracción de especies nativas de fauna y aves
migratórias y por esto son prácticas recomendadas:
•
Utilizar los criterios de sostenibilidad deseables en áreas verdes como: uso de
especies nativas, uso de especies que no generen amenazas a la seguridad (frutos o defoliación que
se tornen resbalosos, atraer plagas o enfermedades, levantar el piso con las raíces, auto poda de
ramas que caen).
•
Hacer un levantamiento de especies en las áreas verdes, principalmente de las que se
encuentran en los alrededores de áreas comunes, esto para determinar el porcentaje de especies
nativas en la propiedad, el mismo debe estar avalado por un profesional en la materia
•
Emplear especies que alimenten y refugien flora y fauna nativa por ejemplo:
bromelias, orquídeas, aves, mamíferos e insectos, emplear fertilizantes y controladores de
enfermedades y plagas inocuos u orgánicos, diversificar estratos y las especies utilizadas.
•
Establecer rotulaciones interpretativas. Para efectos de colocar rótulos en la flora de
jardines, áreas verdes, patios de luz, antejardines, viveros o en miradores y senderos, se deben
considerar los siguientes datos: nombre común, nombre científico, familia botánica, distribución,
usos actuales o potenciales, otros datos de interés.
Se recomienda no clavar o atornillar la rotulación en los árboles y/o plantas
•
El conocimiento de la historia natural de los recursos biológicos de un espacio es
fundamental, de modo que se pueda divulgar la información más relevante y de manera técnica, los
datos taxonómicos. Para darlos a conocer se puede diseñar una auto-guía para el cliente ubicándola
en las áreas de estancia, en habitaciones, entre otros.
•
Utilizar medios naturales para el mantenimiento, tales como abonos orgánicos,
repelentes naturales (plantas con aromas repelentes), insecticidas a base de extractos vegetales,
evitando así el uso de productos químicos. Esto debe ser manejado como un elemento más de
educación y divulgación.
•
Mantener información proporcionada por el proveedor de los productos utilizados
y/o procesos realizados para obtenerlos si los abonos y/o repelentes son producidos en la propiedad.
Así sucesivamente se brindan lineamentos claros para que sean implementadas por las
empresas en los diferentes ámbitos indicados anteriormente.
Referencias
Instituto Costarricense de Turismo. 17 julio 2009. Ley de Fomento del Turismo Rural Comunitario
No 8724. Costa Rica.
Instituto Costarricense de Turismo. 1998. Manual de Clasificación Hotelera para Costa Rica.
330
Instituto Costarricense de Turismo. Reglamento de las Empresas y Actividades Turísticas. Costa
Rica.
Instituto Costarricense de Turismo. 1997. Manual de Categorización para Hoteles en Costa Rica,
Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST).
Instituto Costarricense de Turismo. 1997. Guía de Aplicación. Procedimientos y Recomendaciones
para la implementación en hoteles Certificación para la Sostenibilidad Turística (CST) en Costa
Rica.
http://turismoruralcr.com. (Visitado el 12 de setiembre 2012).
http://www.pequenasdonacionescr.org/ppd-en-costa-rica . (Visitado el 12 de setiembre 2012).
http://www.canturural.org/jos/index.php/conozca-nuestros-afiliados/12-acepsa . (Visitado el 12 de
setiembre 2012).
http://www.canturural.org/jos/index.php/ix-feria-de-turismo-rural-comunitario (Visitado el 13 de
setiembre 2012).
http://www.visitcostarica.com/ict/paginas/ict.asp (Visitado el 13 de setiembre 2012).
http://www.inec.go.cr/Web/Home/pagPrincipal.aspx (Visitado el 13 de setiembre 2012).
http://www.cinde.org/es/ipor-que-invertir-en-costa-rica (Visitado el 13 de setiembre 2012).
http://www.sinac.go.cr/ (Visitado el 13 de setiembre 2012).
331
INCORPORACIÓN DE ATRACTIVOS CULTURALES
EN LA OFERTA TURÍSTICA DE CHILE
Miguel GARCÍA (Instituto del Patrimonio Turístico) - [email protected]
María José SOLÍS (Instituto del Patrimonio Turístico) – [email protected]
Juan Luis DELGADO (Instituto del Patrimonio Turístico) – [email protected]
María Javiera ERRAZURIZ (Instituto del Patrimonio Turístico) - [email protected]
RESUMO
Apesar do Chile contar com um relevante número de atrativos culturais, a imagem transmitida ao
exterior foi construída em base às suas paisagens naturais 33, marginalizando o patrimônio cultural
da cadeia de comercialização.Para a determinação de brechas de comercialização, a investigação se
aprofunda no vínculo entre o patrimônio cultural e a oferta turística presente na cadeia de
comercialização receptiva, contraste que cifra em 1.117 os atrativos não incorporados na oferta
organizada e que demonstra a precariedade do desenvolvimento de produtos desta tipologia.
Somam-se à esta identificação de brechas as razões expostas por representantes da indústria
turística receptiva, que explicam a limitada oferta cultural em seus catálogos desde a carência de
operadores locais, escassa informação e calendarização de festas tradicionais, e problemas de infra
estrutura e segurança. Ao analizar as variáveis relativas a cada atrativo, identificam-se cinco zonas
territoriais de alto potencial turístico cultural que valorizam tradições, costumes, história e
arquitetura próprios do país, e que não possuem uma demanda organizada identificável.Finalmente,
e a partir do problema enunciado, a conclusão é de que o patrimônio cultural não constitui um
atrativo turístico motivador de deslocamento de visitantes.
Palavras-chave: Turismo cultural, atrativo turístico, patrimônio turístico, oferta turística.
ABSTRACT
Although Chile has a significant number of cultural attractions, the image transmitted abroad has
been built around its natural landscapes34, marginalizing cultural heritage from the
commercialization chain.To determine the commercialization gaps, the link between cultural
heritage considered attractive by SERNATUR (National Tourism Service) and the tourism offer
present in the receptive marketing chain was investigated. The results of the research showed that
1.117 attractions had not been included in the organized offer and evidenced the precariousness in
the development of products of this type. In this identification of gaps, consideration was also
given to the reasons provided by representatives of the receptive tourism industry, who explained
that the limited cultural offer in their catalogues is due to the lack of local operators, scarce
information and scheduling of traditional festivals, and infrastructure and security problems. After
analyzing variables in relation to each attraction, five territorial areas of high cultural tourism
33
o slogan para a promoção turística do Chile no exterior, durante os anos 90 e parte da primeira década deste século,
foi "Chile, Natureza que Comove". SERNATUR
34
The slogan to promote tourism in Chile abroad, in the 90s and part of the first decade of this century, was "Chile,
Nature that Moves our Emotions‖ National Tourism Service.
332
potential were identified that highlight traditions, customs, history and architecture of the country,
without having a recognizable organized demand. Finally, and starting from the stated problem, it is
possible to conclude that (Chile‘s) cultural heritage is not a tourism attraction that encourages
visitors to travel.
Key words: Cultural tourism, tourism attraction, tourism heritage, tourism offer.
INTRODUCCIÓN.
Chile en materia turística es reconocido internacionalmente por la variedad y singularidad de
sus paisajes naturales. Sin embargo, posee una importante cantidad y calidad de recursos culturales
que no han sido incorporados en la oferta turística actual, limitando de esta forma la imagen
turística del país a la presencia prioritaria de recursos naturales, los cuales han sido destacados
como sitios excepcionales.
La carencia de patrimonio cultural en la oferta turística del país se relaciona directamente
con el protagonismo de estos recursos en la vida cotidiana de los chilenos, hecho consignado por el
estudio Los Chilenos y el Patrimonio Cultural (Fundación Futuro, 2006) que releva que el 44% de
los chilenos no sabe definir lo que es el patrimonio cultural. De esta forma, es posible presumir
que uno de los componentes del problema se podría encontrar en la carencia de información y
desconocimiento por parte de los jefes de productos turísticos de agencias de viajes y operadores
turísticos respecto de los recursos culturales existentes en Chile.
En esta misma línea de análisis se puede identificar la existencia de una opinión muy
negativa del estado de protección del patrimonio cultural en el país. Respecto a esto, el estudio
citado anteriormente indica que el 61% de los empadronados considera que en Chile el patrimonio
cultural se protege ―poco‖, información que entrega antecedentes para sostener una segunda
vertiente del problema, vinculada a la escasa valorización existente del estado de conservación y
por consiguiente del potencial turístico que posee el patrimonio cultural.
Los argumentos expuestos anteriormente, describen desde la oferta una parte importante del
problema. Un enfoque complementario, obliga a analizar la situación desde la demanda, contexto en
el cual es posible indicar que según el Servicio Nacional de Turismo (
), ―la principal razón
para elegir a Chile como destino turístico se encuentra estrechamente vinculada a la naturaleza y a
los paisajes con un 65% de las motivaciones del total de visitantes. Por su parte, la motivación por
conocer la cultura chilena se encuentra en segundo orden de importancia, representando sólo el
34% de las preferencias”. En el contexto expuesto, cabe preguntarse si esto es parte del problema,
o sólo la consecuencia esperable del desarrollo de campañas sistemáticas por posicionar a Chile
como destino de naturaleza, sumado a la correlacionada carencia de oferta de productos culturales
descrita anteriormente.
Desde los intermediarios turísticos internacionales, quienes juegan un rol fundamental en la
promoción y difusión de la oferta turística nacional , es posible indicar los resultados del estudio
Tipificación de la Demanda Turística Potencial de Chile (SERNATUR, 2010), los cuales indican
que el país ―no es percibido ni proyectado como un país atractivo en cuanto a destino turístico”;
los turistas extranjeros y agentes de viajes/tour operadores que venden Latinoamérica “lo perciben
sin un atractivo cultural, sin identidad”, debido a que “no lo conocen, no manejan información, no
surge como alternativa” de desplazamientos turísticos al país. Se considera que estas aseveraciones
333
son el reflejo de las vertientes del problema anteriormente expuesto, siendo también esta situación
un efecto del problema central.
Finalmente desde la perspectiva de la competencia de destinos en materia turística, se
aprecia un efecto del problema expuesto, en el cual los entrevistados en el estudio anteriormente
citado indican que Chile “se percibe como un país carente de identidad que lo defina, distinga y
represente en el extranjero”. En el contexto expuesto, los turistas con motivaciones culturales
prefieren viajar a Argentina, Perú, Brasil y Ecuador, países que poseen una clara identidad cultural
En resumen, se ha identificado que la falta de una identidad distintiva a nivel país en
materia turística, como el desconocimiento generalizado de los recursos patrimoniales existentes en
él, se perciben como algunas de las principales causas de la escasa oferta de productos turísticos
culturales en Chile, generándose de esta manera un efecto directo: la mermada presencia del país en
el mercado internacional del turismo cultural. Según lo expuesto anteriormente, proveer de
identidad y cultura a la oferta turística de Chile parece ser una alternativa para diversificar la oferta
y dotar de identidad al país como destino, permitiendo que esta tipología de turismo surja como
una manera en que el patrimonio sea conocido, apreciado y valorado por habitantes locales,
nacionales y también por visitantes extranjeros.
METODOLOGÍA
El análisis del problema comienza con una revisión sistemática de políticas sectoriales y
estrategias de promoción y difusión de Chile como destino turístico en el exterior, así como la
revisión de casos y bibliografía complementaria que aborda la correlación entre el turismo y los
recursos culturales y patrimoniales.
Con el fin de conocer la oferta de turismo cultural en el país, se realizaron catastro de
fuentes secundarias las cuales permitieron establecer:


Oferta potencial de atractivos culturales.
Oferta actual de productos turísticos culturales comercializados, considerando
principalmente la oferta vigente a la fecha de operadores turísticos y agencias de
viajes que incorporan dentro de sus programas a atractivos culturales.
En una segunda fase, se realizaron entrevistas telefónicas dirigidas a operadores turísticos
nacionales, las cuales han permitido validar el perfil del turista cultural que viaja al país a través de
la cadena de comercialización tradicional.
Finalmente, para identificar los principales factores que dificultan la incorporación del
patrimonio cultural en la oferta turística nacional y conocer la visión de los operadores turísticos se
realizó un Focus Group en conjunto con la Asociación Chilena de Empresas Turísticas – ACHET,
el cual contó con la presencia de jefes de productos de las principales empresas de operación
turística nacional, lo cual además contribuyó a validar los resultados obtenidos por el estudio.
MARCO CONCEPTUAL: RELACIÓN ENTRE CULTURA Y TURISMO
Existe una compleja relación entre turismo y patrimonio cultural, pues ambos sectores tienen
necesidades, usos y lógicas diferentes y a la vez complementarias. Además, el recurso patrimonial
tiene una sensibilidad especial, por lo que su uso en la industria turística debe considerar la
identidad del territorio, el respeto en el tratamiento del patrimonio y la racionalidad de su
explotación.
334
La cultura y el turismo son dos actividades que se sustentan entre sí en torno a lo que se ha
denominado el turismo cultural; la primera, representa la base que nutre la identidad de los
territorios y la segunda permite compartir estos elementos identitarios, dinamizando los territorios y
transformándolos en destino. Es así como la Association for Tourism and Leisure Education
(ATLAS) define turismo cultural como el “movimiento de personas hacia manifestaciones
culturales fuera de su área de residencia, con la finalidad de obtener nuevos datos y experiencias
para satisfacer sus necesidades culturales”.
Esta tipología de turismo contribuye al rescate, conservación y preservación de los bienes
culturales, ampliando el conocimiento y la imagen que a través de éstos se forma el visitante de una
determina cultura anfitriona.
Según lo expuesto, se infiere la necesidad de establecer que no todos los bienes culturales y
patrimoniales existentes en un territorio poseen valor turístico. De acuerdo a lo expresado en
Patrimonio Turístico en Iberoamérica, Experiencias de investigación, desarrollo e innovación,
Instituto del Patrimonio Turístico, 2010 Universidad Central “sólo una parte de todo el patrimonio
individual y social, natural o cultural, es posible de ser puesto a disposición del turismo”, de esta
forma deben observarse las siguientes condicionantes:
 Quienes ostentan el patrimonio deben estar dispuestos a compartirlo y conocer los impactos
(positivos como negativos) que esta actividad puede generar.
 Deben existir las condiciones para compatibilizar el uso turístico y la conservación del
patrimonio.
 El patrimonio debe generar interés legítimo en los visitantes, compartiendo un relato
interpretativo que permita y facilite su comprensión e interpretación.
El Patrimonio Turístico será entonces entendido como el “conjunto de
bienes patrimoniales naturales y culturales que pueden ponerse en valor
para su uso turístico mediante un proceso de transformación que
permita su accesibilidad temporal, espacial, económica y psicológica,
respetando la sustentabilidad económica, social y ambiental de los
destinos y sus recursos”35. (Imagen N°1)
Imagen Nº 1: Tipologías de patrimonio
que conforman el Patrimonio Turístico
Treserras (2006), indica que es posible considerar la cultura como un
producto turístico de una forma sostenible, atractiva y rentable, (ver
cuadro N°1):
Cuadro Nº 1: La cultura como producto turístico.
Fuente: Instituto del
Patrimonio Turístico, 2010
35
Concepto desarrollado por el Instituto del Patrimonio Turístico. 2010
335
De esta forma, la relación entre turismo y patrimonio cultural constituye una oportunidad y
una responsabilidad tanto en términos de su disponibilidad real, como de la gestión necesaria para
ser puesto a disposición de la industria turística sin perder su esencia y valor patrimonial.
Para Prats (2003), el producto turístico se fundamenta en la mantención activa y no sólo en
la conservación, ya que los sitios patrimoniales en general se encuentran localizados en lugares que
no son turísticos, por lo que no tienen asegurada la rentabilidad del negocio.
El turismo cultural es un mercado que ha presentado una gran expansión en los últimos
años, al existir una sociedad que ha aumentado su formación académica, cultural y por supuesto de
ocio, los cuales demandan cada vez una mayor cantidad productos de esta tipificación, motivando a
las administraciones públicas y al sector privado a recuperar el patrimonio, revalorizándolo e
integrándolo como parte de productos turísticos atractivos y rentables. Esto involucra la necesidad
de determinar una imagen exterior del destino, eligiendo los factores diferenciadores que van a
determinar el posicionamiento específico para consensuar las acciones a emitir en el mercado.
Si bien Treserras da cuenta de esta capacidad de la cultura de convertirse en producto, y la
presente investigación se concentra en la capacidad de los recursos culturales de componer parte de
uno o varios productos turísticos, se realiza un análisis correlacionado entre ambas definiciones,
dando cuenta que:
 El turismo cultural genera oportunidades para el desarrollo de un turismo sostenible, aportando
a la conservación de los recursos culturales a través de su valorización e interpretación. De
igual modo, el turismo cultural es capaz de valorizar los recursos culturales, favoreciendo la
dinamización de las economías locales a través del ingreso de divisas y la generación de
empleo. Por otra parte, el desarrollo del turismo cultural en forma planificada y responsable
contribuye a la participación social, vinculando a defensores del patrimonio con su propia
responsabilidad de conservación, permitiendo procesos de planificación participativa en torno a
la relación cultura y turismo.
 De igual forma, el turismo cultural rescata desde lo más profundo de la identidad territorial,
elementos capaces de constituirse en atractivos, poniéndolos a disposición de la demanda
formada por los propios habitantes y por diversos visitantes, lo que potencia la singularidad
local, constituye lo que se denomina imagen de marca y permite fortalecer la originalidad del
territorio. A esto se suma la virtud del turismo cultural de generar mecanismos de
interpretación de los recursos patrimoniales, poniéndolos a disposición de un conjunto amplio
de la población, ofreciendo atractivas experiencias culturales centradas en el usuario y su
satisfacción, en busca de la calidad del servicio.
 Finalmente, el turismo cultural se proyecta como una actividad rentable, en busca de la
generación de una oferta autosostenible, fundada en la puesta en valor escalable a la demanda y
336
de bajo impacto a las comunidades locales. Esto conlleva una atracción sostenida de
inversiones y la consolidación de una demanda no estacional basada en la singularidad de los
atractivos culturales locales y la rentabilidad de las inversiones en negocios turísticos.
EL TURISMO CULTURAL EN CHILE
La relevancia que el sector turismo ha cobrado dentro de los últimos diez años en Chile y la
necesidad de ordenar su desarrollo y estructurar la participación del Estado en su consolidación, han
sido los principales impulsores en el diseño, discusión y promulgación de la Ley 20.423 del Sistema
Institucional para el Desarrollo del Turismo (
), la cual establece, en su artículo , que ―el
Estado impulsará, por intermedio de sus organismos, una imagen del país tanto en el territorio
nacional como en el exterior, que promueva sus atractivos de carácter patrimonial, natural,
cultural y cualquier otro con valor turístico, que conduzca a la inserción de Chile en los mercados
internacionales”.
Por su parte, el Ministerio de Economía, Fomento y Turismo, indica que esta actividad ―es
capaz de generar nuevas oportunidades laborales y contribuir a una mejor distribución geográfica
de la riqueza debido a sus potenciales efectos en la descentralización y desarrollo territorial‖, lo
cual permitiría consolidar a Chile como un país turístico, generando efectos positivos para otras
actividades.
En particular en los últimos años, se han desarrollado iniciativas públicas para fomentar el
turismo cultural. En este sentido, SERNATUR (2001) estableció los lineamientos del turismo
cultural, en el cual reafirma la ―necesidad de la administración del patrimonio frente a la amenaza
de la ejecución de proyectos públicos y privados de gran escala, el rápido desarrollo urbano o
turístico, los cambios en el uso de la propiedad, los conflictos armados, los incendios y los
desastres naturales”.
De esta forma, en Chile la relación entre cultura y turismo ha sido construida formalmente
en la última década: como se expresa en el párrafo anterior, ya en el 2001 SERNATUR realizó las
primeras definiciones, dando cuenta muy sutilmente de sus ventajas en cuanto a la diversificación
de destinos, oportunidades de negocio, incentivo del aumento de gasto de visitantes y disminución
de la estacionalidad. Por su parte, en 2005 el Consejo Nacional de la Cultura y las Artes comienza a
desarrollar el Programa de Turismo Cultural, iniciativa enmarcada en la Política Cultural 20052010, dando cuenta de la necesidad de un plan nacional para la correcta puesta en valor del
patrimonio para su uso turístico En esta línea se diseña ―El Plan Nacional de Turismo Cultural‖,
instrumento que dirigido a la valoración de los sitios culturales de alto contenido histórico,
arqueológico y/o natural y, con ello, a la valoración de las identidades regionales.
Sin perjuicio de lo anterior, la puesta en marcha del ―Plan Nacional de Turismo Cultural
Sustentable‖, se ha desarrollado desde los inicios de la administración del Presidente Sebastián
Piñera (2010-2014), como parte de una política pública de rescate, promoción y preservación de las
riquezas patrimoniales de Chile, con énfasis en la valoración de las tradiciones locales y el uso
sostenible de los recursos turísticos. Para su implementación se han constituido mesas regionales y
proyectos pilotos locales, concentrando los esfuerzos en la capacitación y transferencia de
conocimiento a nivel regional, lo que ha reforzado la visión cultural como una oportunidad para el
desarrollo de diversas comunas del país, sobre todo teniendo en consideración que “el turismo es
un factor estratégico de desarrollo para el país, convirtiéndose en un potente elemento de
337
descentralización y crecimiento territorial, generador de oportunidades laborales y con una
importante contribución a una mejor distribución geográfica de la riqueza36‖
En paralelo a estos esfuerzos provenientes desde el ámbito político-técnico, se ha
comenzado a identificar desde el ámbito comercial, la presencia de una gran cantidad de atractivos
culturales, muchos de los cuales constituyen la base para el desarrollo de una tipología de productos
turísticos cuyas motivaciones de desplazamiento se vinculan a la ―cultura‖ y sus distintas
expresiones y registros patrimoniales. Esto es reforzado al considerar el interés de los turistas por
conocer los atractivos culturales del país, el cual sin mediar esfuerzos promocionales sustantivos en
esta materia, incrementó en un 13,2% entre los años 2009-2010.
Este escenario al parecer favorable política y comercialmente para el desarrollo del turismo
cultural, se ve fortalecido al profundizar en el catastro de bienes con valor patrimonial, lo que se
podría denominar la materia prima esencial para el desarrollo del turismo cultural en Chile. De esta
forma a junio de 2012 el Consejo de Monumentos Nacionales identifica en su catastro 1.119
Monumentos Históricos y 110 Zonas Típicas distribuidos a lo largo del país. Por otro lado en el
contexto del turismo cultural a nivel internacional, en el año 2009 Chile ocupaba el 32° puesto en el
ranking de posicionamiento como destino de turismo cultural, destacado en este sentido por la
ciudad de Valparaíso, Patrimonio Cultural de la Humanidad de UNESCO (Observatorio IBERTUR,
2009).
De acuerdo a lo anterior, se considera que la mejor forma de conocimiento del patrimonio es
la experiencia del contacto directo con los paisajes históricos, arquitectónicos y arqueológicos, la
gente, sus tradiciones y creencias, como una forma de ser valorado por la gente que lo visita y por la
comunidad donde se inserta, de tal modo que su conservación y difusión se transformen en una
prioridad, gracias al desarrollo de la actividad turística. Esto es ratificado por las declaraciones de
la Directora de la Dirección de Bibliotecas, Archivos y Museos (DIBAM) Magdalena Krebs K.,
quien señala que “cuando no se conoce algo, no se cuida”37.
De esta forma se identifica la convicción en la necesidad país de concentrar los esfuerzos en
el fomento del turismo cultural, lo que se estima dotaría a Chile no sólo de recursos económicos,
sino que también contribuiría a fortalecer la identidad y cultura de los diversos grupos y
expresiones presentes a lo largo del país, aportando de esta manera elementos de diferenciación y
valor agregado, permitiendo distinguir la oferta turística chilena de aquella con similares
características desde la perspectiva de los recursos naturales.
RESULTADOS DE LA INVESTIGACIÓN
Catastro de atractivos culturales que no están incorporados en la oferta turística actual. La
revisión de fuentes secundarias para la confección de este catastro consideró el análisis de las
fichas de atractivos turísticos del Servicio Nacional de Turismo que considera aprox. 4.000
atractivos, excluyendo los atractivos turísticos naturales y los culturales ya comercializados por
empresas de turismo receptivo y nacional, obteniendo de lo anterior un total de 1.117 atractivos no
incorporados en la cadena de comercialización turística.
36
Cuenta Pública 2010. Ministerio de Economía, Fomento y Turismo. Declaraciones de Juan Andrés Fontaine
37
Entrevista al Portal de Educación Educar Chile
/ /
―Patrimonio Cultural de Chile: un tema para reflexionar.
http://www.educarchile.cl/Portal.Base/Web/verContenido.aspx?ID=203188
338
Concentración de Atractivos culturales por comuna. A partir de los datos consignados en la
base de datos destaca la densidad de atractivos por comuna, factor que permite identificar territorios
de alto valor turístico cultural con atractivos no comercializados, tal es el caso de Putre (47
atractivos culturales), Huara (21 a atractivos ), San Pedro de Atacama (21 atractivos ), Sierra Gorda
(20 atractivos culturales ), La Serena (20 atractivos culturales), Valparaíso (20 atractivos culturales
), Talca (18 atractivos culturales ) , General Lagos (17 atractivos culturales, entre otros, de esta
forma la comuna de Putre es la que presenta mayor concentración de atractivos culturales no
comercializados en el país, territorio en el cual el patrimonio intangible representado por fiestas
típicas y religiosas cobra gran importancia. Destacan también los pueblos y la arquitectura típica de
los pueblos del altiplano, los cuales no son tan conocidos por la mayoría de los turistas, pero que
representan la identidad del norte chileno. Esta información permite visualizar en el mapa del
territorio nacional dónde están los espacios que turísticamente poseen mayor cantidad de atractivos
que no están siendo empleados por la cadena de comercialización. A partir de la gran cantidad de
atractivos culturales no comercializados se infiere la precariedad existente en torno al desarrollo de
productos de esta tipología y la necesidad de abordar el tema para consolidar la puesta en valor de la
oferta potencial identificada, fundamentalmente en las regiones del norte y centro de Chile.
Definición de zonas territoriales temáticas. Como un producto adicional generado a partir
de la presente investigación, con la finalidad de potenciar áreas que cuentan con un gran potencial
en cuanto a su patrimonio cultural, ya sea tangible como intangible y que actualmente no son
incorporados en la oferta de operadores turísticos receptivos y/o nacionales, el análisis de la
información permitió identificar cinco zonas territoriales turístico culturales, las cuales tienen
potencial turístico cultural, y que a la vez ponen en valor las tradiciones, costumbres, historia y
arquitectura propia del país. Éstas son las siguientes:
1. Poblados y festividades andinas de la pre cordillera y altiplano de Arica y Parinacota
2. Arte rupestre y pueblos típicos sobre la Pampa del Tamarugal y zona andina de la Región de
Tarapacá.
3. Patrimonio Industrial de María Elena y Sierra Gorda.
4. Barrios y Palacios de Santiago y Providencia
5. Arquitectura típica y ruralidad en la zona costera de la Región de O‘Higgins.
Perfil del turista cultural que utiliza paquetes turísticos. Profundizando en las características
de la demanda y utilizando diversas fuentes de información adicionales y complementarias a la
fuentes primarias ya mencionadas, el equipo de investigación desarrolló una primera aproximación
al ―Perfil turista cultural que utiliza paquetes turístico‖ obteniendo los siguientes resultados (ver
cuadro N°2):
Cuadro Nº 2: Síntesis Perfil turista cultural que utiliza paquetes turísticos
INDICADOR
PROCEDENCIA
GRUPO ETARIO
GRUPO DE VIAJE
OCUPACIÓN
RANGO
43% Latinoamérica
16% Europa
11% Asia y Oceanía.
Adultos (25 a 55 años)
Sénior (56 y más años)
Parejas
Grupos adultos
Mayoritariamente:
 Profesionales
 Jubilados
FUENTE
―Perfil turista cultural que utiliza
paquetes turístico‖, IPT
―Determinación del perfil del visitante
que realiza turismo cultural a nivel
nacional‖ Consejo Nacional de la
339
INDICADOR
ACCESO A LA
INFORMACIÓN
ACTIVIDADES QUE
REALIZA
DESTINOS
CULTURALES MÁS
SOLICITADOS
RANGO
Principalmente:
 Anuncios de internet-página web
 Recomendación amigos y familia
 Agencias de viaje
Destacan:
 Visitas a museos
 Centros históricos

City tour
 Rutas temáticas (vino).




Santiago
Valparaíso
Isla de Pascua
San Pedro de Atacama
FUENTE
Cultura y las Artes, 2010
―Estudio del comportamiento turismo
receptivo año
‖ Servicio Nacional
de Turismo 2010.
―Perfil turista cultural que utiliza
paquetes turístico‖, IPT
Validación de resultados con representantes de la demanda. Con la finalidad de identificar
los principales factores que dificultan la incorporación del patrimonio cultural en la oferta turística
nacional, se desarrolló un Focus Group con los jefes de productos de las principales empresas
operadoras de turismo en Chile, definiéndose los siguientes factores que impiden que muchos
atractivos culturales formen parte de su oferta:
 Carencia de operadores locales.
 Poca claridad en información y fechas de fiestas tradicionales.
 Falta de seguridad e infraestructura.
 Corta permanencia de los visitantes en Santiago, situación que produce que la oferta existente
alcance para llenar esos días.
 Requerimiento de una alta inversión en el desarrollo de nuevos productos de turismo cultural,
versus la baja inversión y retorno inmediato en productos turísticos de naturaleza.
CONCLUSIONES
La relación entre patrimonio y turismo plantea un primer desafío conceptual al desarrollo de
esta actividad productiva desde una base sustentable en busca del desarrollo social y económico,
que garantice la conservación de aquellos elementos que en su calidad de bienes patrimoniales son
la esencia identitaria del grupo humano anfitrión, capaz de ser puesta en valor en base a la
administración de las experiencias de turistas y excursionistas. De esta manera, si se mantiene el
postulado que define que la materia prima de la actividad turística son los atractivos que motivan la
visita, en particular en el caso de los países en que estos atractivos son recursos patrimoniales,
muchos de los cuales son parte del legado cultural, es factible su incorporación a la oferta turística,
ya sea mediante productos turísticos o como atractivos complementarios a otros de mayor jerarquía.
Como parte de la estrategia de desarrollo turístico, el Gobierno actual se ha propuesto como
meta al año 2014 superar los 4.000.000 de turistas internacionales que visitan Chile y la
incorporación de atractivos culturales a la oferta turística constituye una alternativa de ampliar el
mercado, junto a incorporar elementos que otorguen identidad y diferenciación al país como destino
turístico. Desde una visión positiva de la oportunidad surge el turismo cultural como una forma en
340
que el patrimonio sea conocido, valorado y apreciado por habitantes locales, y visitantes nacionales
y extranjeros.
Por medio de la metodología de trabajo planteada para la realización de esta investigación se
evidencia que la oferta turístico - cultural tiene mínimas variaciones entre una empresa y otra, lo
cual se explica desde el escaso conocimiento de los atractivos culturales con potencial turístico del
territorio nacional por parte de los operadores y agencias de viajes mayoristas de turismo receptivo
y nacional, a lo cual se agrega la carencia de operadores locales que diseñen oferta en distintos
territorios en el país. Finalmente, esto plantea el desafío de innovar y de replantear el mercado
asociado a nuevos atractivos culturales.
Tras el desarrollo de la investigación se pudo determinar la dimensión de la oferta de
turismo cultural efectivamente existente en Chile, comprobando su profundidad en el mercado, el
nivel de relevancia en la oferta total y estado de desarrollo a nivel regional, identificándose la
precariedad existente en torno al desarrollo de productos de turismo cultural y la necesidad de
abordar el tema para consolidar la puesta en valor de la oferta potencial identificada. Los resultados
de la presente investigación dan cuenta del escaso valor turístico atribuido por la oferta organizada
a una parte importante del patrimonio cultural nacional, pero a su vez de la necesidad de promover
la incorporación de éste en la oferta turística chilena, como una alternativa para que este patrimonio
sea difundido y valorado, potenciando esencialmente una mirada intercultural del territorio. Si bien,
como es de esperar, se advierte que las empresas intermediarias del turismo nacional se rigen
prioritariamente por lógicas de mercado, ofertando según la demanda tradicional y asumiendo por
lo tanto un bajo nivel de riesgo en la innovación a través de nuevas experiencias, se percibe un
interés en buscar nueva oferta con el fin de (muy cautamente) incorporarlas a los nuevos catálogos
de comercialización. De esta forma el bajo nivel de riesgo que asume el sector privado en la
innovación frente a la opción de proveer nuevas experiencias de turismo cultural, requiere de
coordinación con el sector público, acercando las estrategias y acciones que hoy se lideran desde lo
público a la visión comercial que dinamiza la oferta, fortaleciendo la imagen cultural de Chile en
materias turísticas.
Se desprende entonces una desvinculación entre el sector público y privado, donde
instituciones gubernamentales principalmente representadas por el Servicio Nacional de Turismo y
el Consejo Nacional de la Cultura y las Artes llevan a cabo esfuerzos dirigidos a incorporar nuevos
destinos culturales que representen la identidad nacional, estrategias que no se reflejan en los
programas de las empresas de turismo receptivo y nacional; la oferta cultural del sector privado se
tiende a reducir a Isla de Pascua, San Pedro de Atacama y city tours por las principales ciudades y
capitales regionales del país. En este contexto, la importancia que tiene para el turismo nacional el
desarrollo de una oferta turística basada en su patrimonio cultural, tiene su fundamento en el rol
determinante de la identidad de los destinos y las personas que en ellos habitan, diferenciando la
oferta y la experiencia de viaje en los distintos territorios. De acuerdo a lo expresado, se propone el
fortalecimiento de centros de investigación en turismo y patrimonio como instituciones capaces de
vincular y aproximar visiones entre los sectores público y privado, nexo que se orienta a que la
oferta del sector privado se encuentre en concordancia con las políticas públicas, y que éstas a su
vez recojan las expectativas de los empresarios para la creación de estrategias respecto al turismo
cultural.
Finalmente, y a partir del problema enunciado se concluye que el patrimonio cultural no ha
constituido un atractivo turístico motivador de desplazamiento de visitantes al sitio donde se
localiza el bien cultural, esto debido al desconocimiento del patrimonio existente en el país, lo que
341
se refleja en la imagen turística que el país transmitió por más diez años al extranjero basando su
promoción prioritariamente en paisajes y atractivos naturales.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Final. Santiago. Consejo Nacional de la Cultura y las Artes.
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Prats, L. (2 3) ―Patrimonio + turismo= ¿desarrollo?‖ Pasos; Volumen 1, N°2, páginas 127-136.
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cultural. Santiago, Chile.
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Treserras, J. (2006, junio). Gestión pública privada del turismo cultural y el desarrollo
comunitario. Ponencia presentada en el VIII Congreso Nacional de Turismo, Monterrey, México.
www.educarchile.cl/Portal.Base/Web/verContenido.aspx?ID=203188
342
TURISMO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL CAMINHO DO ITUPAVA, PARANÁ, BRASIL
RAQUEL RIBEIRO DE SOUZA SILVA
[email protected]
PROFISSIONAL
RESUMO
O Caminho do Itupava é um sítio histórico-arqueológico em área natural localizado entre o litoral e
o planalto paranaense, que é considerado um patrimônio arqueológico e histórico-cultural. Neste
cenário foi analisada a viabilidade do uso deste sítio arqueológico para a educação patrimonial com
escolares do ensino fundamental. Baseando-se nas referências bibliográficas e na aplicação de
questionários abordando os aspectos históricos do Caminho foi possível verificar a viabilidade de
uma visitação interpretativa neste sítio e acompanhar as atividades relacionadas ao conhecimento
histórico sobre o Caminho adquiridos em sala de aula. A área em estudo é aberta a visitação
turística, concluiu-se, portanto, que o turismo junto à educação patrimonial pode atuar como
instrumento de sensibilização e de orientação em relação à necessidade da preservação do
patrimônio cultural com vistas ao resgate da memória e da cidadania, beneficiando assim, visitantes
e visitados.
Palavras chaves: Turismo. Arqueologia. História. Educação Patrimonial.
ABSTRACT
The Itupava Path is an archeological-historical site in a natural area, located between the coastline
and the Parana plateau, which is considerate an archeological heritage and historical-cultural. In this
scenery was analyzed the viability to use this archeological site for heritage education with students
from elementary school. Based on bibliographic researches and surveys about the historical aspects
of the Path was possible to verify the viability of an interpretative visit in this site and also to follow
the activities related to the historical knowledge of the Itupava Path acquired in the classroom. The
study area is open to tourist visits, it was concluded, therefore, that tourism along the heritage
education can act as a tool for awareness and guidance in relation to the need for preservation of
cultural heritage with a view to restoring memory and citizenship thus benefiting visitors and
visited.
Keywords: Tourism. History. Arqueology. Heritage Education.
INTRODUÇÃO
O turismo cultural é um dos segmentos da atividade turística cuja finalidade está na
valorização dos aspectos culturais de uma localidade, tanto por parte dos visitantes como por parte
da população residente, e estes aspectos culturais podem ser representados por intermédio de
patrimônios de caráter material ou imaterial.
Como definição tem-se que turismo cultural é tudo aquilo que constitui um bem apropriado
pelo homem, com suas características únicas e particulares (PINSKY; FUNARI, 2003).
343
O turismo cultural pode ser compreendido, então, como uma atividade que possui como
principal atrativo algum aspecto da cultura humana e esse aspecto pode ser a história, o cotidiano,
entre outros aspectos que o conceito de cultura abrange (BARRETO, 2000).
Considerando a amplitude do termo turismo cultural, o conceito de patrimônio arqueológico
também está inserido em seus múltiplos significados. Desta forma, patrimônio arqueológico pode
ser compreendido como algo que faz parte de uma cultura material, produzida pelos diversos povos
em todos os tempos e lugares e em constante interação com o meio ambiente, constituindo um
suporte para o desenvolvimento de culturas (PINSKY; FUNARI, 2003).
A sociedade em geral deve estar comprometida com a preservação dos bens culturais, tanto
no aspecto material como simbólico e significativo, seja por meio do turismo cultural, da educação
patrimonial ou até mesmo integrando estas duas atividades.
A educação patrimonial é definida como ―o ensino centrado no objeto cultural, na evidência
material da cultura, ou ainda o processo educacional que considera o objeto como fonte primária de
ensino‖ (HORTA,
3 apud TAMANI,
)
O turismo junto à educação patrimonial pode atuar como instrumento de sensibilização e de
orientação em relação à necessidade da preservação do patrimônio cultural com vistas ao resgate da
cidadania, pois atualmente a atividade turística não é mais considerada um bem supérfluo, pois
constantemente há uma agregação de valor a esta atividade, e com o acréscimo de que o turismo
está perfeitamente integrado a todas as manifestações, inclusive as culturais, de uma sociedade.
Refletindo sobre a necessidade de adquirir e passar adiante o conhecimento histórico de uma
localidade, além da necessidade de conservar os bens culturais, este artigo trata a problemática da
visitação a sítios arqueológicos junto à educação patrimonial.
O objeto de estudo desta pesquisa é um patrimônio de caráter material, o Caminho do
Itupava, uma área tombada da Serra do Mar (PARANÁ, 2012). Estudos realizados no local,
(FILHO; KLÜPPEL; THOMAZ, 2006) confirmam sua importância como patrimônio arqueológico
e histórico do Estado do Paraná.
O objetivo do estudo foi analisar a viabilidade do uso deste sítio arqueológico para a
educação patrimonial com escolares do ensino fundamental.
A decisão pelo público de escolares do ensino fundamental justifica-se pela excelente
capacidade de retenção que este possui junto à facilidade de transmitir aos adultos os
conhecimentos adquiridos durante as atividades de caráter patrimonial.
As metodologias utilizadas nesta pesquisa foram: a pesquisa bibliográfica, documental e de
campo (DENCKER, 1998), (SILVA; MENEZES, 2000) e (MARCONI; LAKATOS, 2006). O
estudo de campo foi realizado na escola Rui Valdir Pereira Kern, localizada no município de Quatro
344
Barras (PR), local onde foi aplicado um à professora da 3° série do ensino fundamental e outro aos
seus alunos.
O questionário solicitava a opinião da professora sobre a realização de atividades de
educação patrimonial com escolares do ensino fundamental, enquanto que aos alunos foi solicitado
que escrevessem tudo que sabiam sobre o Caminho e se já haviam visitado o local.
LOCALIZAÇÃO ÁREA DE ESTUDO
O Caminho do Itupava está localizado na faixa montanhosa da Serra do Mar, entre o litoral e
o primeiro Planalto, estendendo-se de Borda do Campo, distrito do município de Quatro Barras (PR), até Porto de Cima, distrito do município de Morretes - (PR).
Segundo Moreira (1975), a denominação Itupava é de origem Tupi - Guarani que significa
rio encachoeirado, que é uma característica dos rios da Serra do Mar. Esta designação deveu-se a
localização de uma das Barreiras ás margens do rio Itupava, local onde os viajantes comerciantes e
tropeiros pagavam uma taxa de imposto para a manutenção da estrada.
Aberto por volta de 1625, o Caminho do Itupava foi a principal via de comunicação entre o
litoral e o planalto curitibano. Era um dos caminhos mais curtos que, na época cruzava a Serra do
Mar, possuindo um percurso de 55 quilômetros, os quais consumiam dois dias de uma viagem
carregada de ásperos percalços (MOREIRA, 1975).
Este caminho é considerado por alguns historiadores como o mais importante caminho
para o trânsito de aventureiros e comerciantes no período do Brasil Colônia e atualmente é uma área
aberta à visitação tendo seu trajeto realizado por fins turísticos e educacionais.
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COM ESCOLARES
A educação patrimonial é ―um processo permanente e sistemático de trabalho educacional
centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento individual e coletivo‖
(HORTA, 1999, p. 06).
O objetivo da educação patrimonial para Horta (1991, p.12 apud CAMPANI, 1997 p. 12)
―está no conhecimento da herança que recebemos e sobre a qual construímos nosso presente e nosso
futuro, do patrimônio visto como fundo contra o qual podemos traçar o perfil da nossa identidade,
individual e coletiva‖
Segundo uma pesquisa realizada para o Ministério do Turismo, o turismo cultural ocupa o
terceiro lugar na preferência dos turistas que viajam pelo Brasil. Neste contexto é que a educação
345
patrimonial ganha destaque nas discussões sobre patrimônio histórico e também encontra espaço no
segmento do turismo cultural (CHIOZZINI, 2008).
O desafio da educação patrimonial é ―ensinar‖, por meio de informações sobre a história do
local visitado tornado o patrimônio, mais do que um objeto de mera contemplação e sim um meio
de conhecer sua cultura e identidade (CHIOZZINI, 2008).
Partindo da idéia de Chiozzini (2008) de que o turismo cultural é uma via de valorização do
patrimônio, a ênfase destes aspectos em sala de aula a partir do ensino fundamental enriqueceria o
currículo escolar por meio de questões relacionadas à história, à cultura, aos bens patrimoniais
locais e iniciaria um processo de conservação e a recuperação da memória coletiva, por meio da
qual, segundo Barreto (2000) os povos mantêm sua identidade.
O conceito de memória coletiva de acordo com Halbwachs (1968, p.36-37 apud BARRETO,
,p
) ―refere-se a uma memória social, exterior ao indivíduo, estendida no tempo, que guarda
eventos acontecidos há muito‖ Por meio desta memória é possível conservar os fatos acontecidos
na sociedade pertencente ao indivíduo. Quando quer saber sobre fatos que não testemunhou e que
fazem parte de seu passado e de sua comunidade os indivíduos recorrem a essa memória coletiva.
Para Luporini (1998), a preservação da memória é uma possibilidade de reinterpretação do
passado, por meio da constituição do espaço vivencial, no cotidiano e no presente. A autora
considera ainda que a questão patrimonial esteja articulada a questão cidadã contribuindo para uma
consciência do uso social do patrimônio cultural, permitindo a democratização dos espaços culturais
e a socialização do conhecimento da realidade patrimonial.
Apesar de não existir uma política oficial consistente de preservação do patrimônio cultural,
atualmente no Estado do Paraná há uma onda de preservação de memória, seja das famílias,
(referência aos imigrantes), das instituições, dos caminhos, das ruas, das praças, das festas, entre
outros símbolos que representam à presença material do homem, tanto por parte das autoridades
vigentes bem como também da sociedade civil (LUPORINI, 1998).
Especificamente no Estado do Paraná, na última década ―
o governo paranaense criou um
programa que objetivou a elaboração de um inventário de bens culturais que atingiu significativa
amplitude territorial e temática‖ (LUPORINI,
,p
).
A busca por esse conhecimento reflete a consciência que está se formando em relação ao
patrimônio, não apenas no Brasil, mas na América Latina como um todo, pois, ―a apropriação
democrática do patrimônio depende da criação de condições materiais para que os diferenciados
grupos sociais possam nele encontrar uma significação, compartilhando-o‖ (CANCLINI,
,
p.95-114 apud LUPORINI, 1998, p. 121).
346
Neste sentido, segundo Luporini (
,p
) ―o objetivo de uma política cultural deixa de
ser apenas a preservação do passado para converter-se na ampliação do espaço de participação no
presente, o que envolve o espaço da cidadania‖
No exercício da cidadania, a articulação entre a constituição do patrimônio e as políticas
preservacionistas torna-se cada vez mais importantes neste contexto contemporâneo, pois nas
últimas décadas vêm se destacando uma política preservacionista, principalmente no que diz
respeito aos aspectos ecológicos.
Desta forma, a preservação de bens cultural-naturais possui um papel fundamental para a
garantia dos direitos universais que ultrapassam especificidades, sejam elas nacionais ou locais, e
contribui ainda para a incorporação de perspectivas cidadãs e para a garantia de direitos culturais.
Os lugares da memória, que ―
materialmente apresentam-se como vestígios, restos,
testemunhos do que já passou representam um destes direitos culturais‖ (LUPORINI,
p
)
Os lugares da memória se caracterizam ainda como um movimento que articula memória e história,
pois intencionalmente se busca preservar os vestígios impedindo a ação do esquecimento e a
história quando interpreta estes lugares e devolve-os a sociedade está instituindo-os simbolicamente
(LUPORINI, 1998).
Alguns municípios paranaenses já investem na possibilidade de utilização dos patrimônios
como objetos de ensino e discussão da relação memória-história, segundo Luporini (1998), esta
metodologia é de fundamental importância, pois permite uma maior compreensão da história local,
o modo de viver e pensar local e, por fim, um aprofundamento no conhecimento sobre a identidade
cultural.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em resposta a questionário aplicado, a professora responsável pela classe afirmou que a
atividade de educação patrimonial não ocorre em sala de aula, o que acontece são aulas de história e
geografia do município, quando são citados seus locais históricos e turísticos. Acrescentou ainda
que uma vez ao ano são realizados passeios a alguns destes pontos turísticos.
Apesar da inexistência de atividades de cunho patrimonial, a professora afirma ser relevante
este tipo de educação para que os alunos aprendam, conheçam e valorizem os patrimônios do
município.
Luporini (
p
) afirma que ―a produção do saber por alunos, tendo a história local
como objeto de estudo, pode ser uma experiência potencializadora para o currículo escolar‖
Ao observar as respostas dos alunos, ficou claro que o Caminho do Itupava não é um
atrativo difundido entre os moradores locais, pois dos vinte e três alunos entrevistados apenas dois
347
tinham conhecimento extraclasse do local, um porque havia visitado e outro por ter visto ilustrações
em livros.
Observou-se, ainda, que as atividades realizadas em sala durante as aulas de história do
município fazem parte da educação formal regular do ensino fundamental e não podem ser
consideradas atividades de educação patrimonial.
Segundo a professora entrevistada, um fator prejudicial no desenvolvimento do aprendizado
sobre a história do município e, conseqüentemente, do Caminho do Itupava, é a ausência de
material didático para trabalhar estes tópicos.
Segundo Campani (1997) a aprendizagem do aluno não se limita aos conteúdos trabalhados
em sala de aula, é possível aprender por meio de elementos externos que fazem parte das vivências,
conhecimentos, enfim, da cultura de cada aluno.
Observou-se, ainda que o Caminho do Itupava não faz parte do roteiro de excursões da sala
de aula utilizada como amostra para esta pesquisa, possivelmente esta ausência experiencial da
história local por meio da visitação seja o motivo pelo qual os alunos não tem lembrança do
conteúdo histórico do atrativo em estudo.
CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o conhecimento da história de determinada
localidade aliada à atividade turística e à educação patrimonial, pode vir a ser um fator colaborador
para propiciar a identificação do indivíduo com o local que faz parte de seu cotidiano e a
contribuição deste conhecimento pode ser demonstrada por intermédio da valorização e
conservação destes locais, resultando no exercício da cidadania por parte dos moradores da região e,
consequentemente, por parte dos visitantes.
REFERÊNCIAS
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Papirus, 2000.
CAMPANI, A. Educação patrimonial: uma experiência em busca de uma inovação no ensinar e no
aprender. In: Revista Brasileira de Estudo Pedagógico, n°78. p. 7-21. Brasília, 1997.
CASCO, A. Sociedade e Educação Patrimonial. Patrimônio: Revista Eletrônica do IPHAN.
Disponível em <http://www.revista.iphan.gov.br>. Acesso em 04 de nov. de 2011.
CHIOZZINI, D. Turismo cultural e educação patrimonial mais próximos. Patrimônio: Revista
Eletrônica do IPHAN. Disponível em:
<http://www.revista.iphan.gov.br/materia>. Acesso em: 09 abr. 2011.
348
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FILHO, A; KLÜPPEL, C; THOMAZ, J. Caminho do Itupava: Patrimônio – HistóricoArqueológico da Serra do Mar, Estado do Paraná, Brasil. Arqueologia: Revista do Centro de
Estudos e Pesquisas Arqueológicas, n° 10, p.35-9 2006.
HORTA, M; GRUNBERG, E; MONTEIRO, A. Guia Básico de Educação Patrimonial. Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Brasília, 1999.
LUPORINI, T. J. Lugares da memória no Estado do Paraná: demandas e políticas pela
preservação do patrimônio cultural. In: Olhar de Professor, n°1. p.115-128. Ponta Grossa, 1998.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2006.
MOREIRA, J. Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá, até a emancipação da Província.
Curitiba: Imprensa Oficial, 1975.
PARANÁ. Normativa de uso do Caminho do Itupava. Disponível em:
<http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6>. Acesso
em 26 de set. de 2012.
PINSKY, J.; FUNARI, P. P. (org.) Turismo e patrimônio cultural. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2003.
SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação.
Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2000.
TAMANINI, Elizabete. Museu, Arqueologia e o Público: Um olhar necessário. Cultura material e
arqueologia histórica. Coleção Idéias. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1998.
349
ANÁLISE SOBRE OS IMPACTOS NA IMAGEM DO PRODUTO TURÍSTICO PORTO DE
GALINHAS PROVOCADAS PELO COMPLEXO INDUSTRAIL E PROTUÁRIO DE SUAPE 38.
Rita Maria de Cassia Rodrigues VIANA (PRODEMA – UFPE) – [email protected]
Danielle Alencar DANTAS (PRODEMA – UFPE) - [email protected]
Resumo
O presente artigo aborda uma análise dos impactos no Produto turístico Porto de Galinhas a partir
da expansão de Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS), considerando complementaridades
e in (compatibilidades) entre a imagem mercadológica e a expansão industrial portuária propostas
para o desenvolvimento socioeconômico do Estado de Pernambuco.
Palavras-Chave : Turismo, Produto Turístico, Porto de Galinhas, CIPS, Planejamento, Sustentável.
Abstract
This article discusses an analysis of impacts in Porto de Galinhas resort Product from the expansion
of Suape Port and Industrial Complex (CIPS), and in considering complementarities (compatibility)
between the image and marketing industrial port expansion proposals for the socioeconomic
development of the State Pernambuco.
Keywords: Tourism, Tourism Product, Porto de Galinhas, CIPS, Planning, Sustainable.
A criação de um produto
O que diferencia um Destino Turístico de um Produto Turístico é o tratamento
mercadológico. O Destino Turístico é um local que possui um ou mais atrativos, que podem ser dos
mais variados, desde os de Natureza, possuindo este, segmentos como: Sol & Mar, Fotográfico,
etc.; o Cultural, o de Esportes, e assim por diante. O Produto Turístico vai além do atrativo, ele
acontece quando uma destinação turística sofre um planejamento mercadológico; O Produto
38
Pesquisa está sendo desenvolvida no PRODEMA – Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade
Federal de Pernambuco - UFPE . Conta com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – CAPES.
350
Turístico nasce para atender a necessidades de um público especifico e para isso ele é adequado; e a
partir disso é divulgado.
O conhecimento prévio de qual segmento de mercado se quer atingir é fundamental para a
adequação do produto turístico ao modelo de prestação de serviços que cada grupo econômico
demanda. Embora o atrativo em si seja o Cultural, Histórico ou de Sol & Mar outros aspectos
influenciam ou determinam qual tipo de turista se quer captar. Além do nível da qualidade dos
serviços, devem-se considerar as motivações que agregam valor e podem determinar a escolha entre
um ou outro produto.
O consumo de produtos na sociedade moderna vai além das necessidades vitais, elas se
confundem com o fetichismo baseada na estética da mercadoria e na ideologia. As necessidades são
criadas pelo capitalismo comercial e apoiadas pelas expectativas sociais de ascensão e poder. As
estratégias mercadológicas dos produtos turísticos estão cada vez mais utilizando de técnicas de
sedução que vão além dos atrativos, criando motivações que estão ligadas ao status social dos
indivíduos que as utilizam. Uma das estratégias mais comuns é a utilização da mídia,
principalmente a televisiva. Aliar a imagem da localidade a eventos em moda ou pela sua utilização
por pessoas que são retratadas como modelos de sucesso e fortuna tem sido uma forma bastante
comum de construção de marca.
Segundo Cara (1999), a atividade turística cria uma sociedade artificial, constituída através
de um sistema próprio de relações e pelas imagens que o caracterizam e isso ocorre sem a
necessária relação ou vinculo com as imagens socioculturais locais.
O produto turístico Porto de Galinhas não é original, a construção de sua imagem se deu aos
moldes da Praia do Forte (BA) e Búzios (RJ), um modelo que reduz a diversidade histórico cultural
de Pernambuco ao atrativo de Sol & Mar, para atender ao plano hegemônico instituído pelo turismo
internacional.
Pequena localidade com características de vila de pescadores, porém com infraestrutura para
atender a turistas psicocêntricos. É criado o paraíso artificial seja, imagem de praia paradisíaca,
porem, com os serviços de metrópoles, lojas de grifes, restaurante de cozinha internacional, resorts,
pousadas de charme, bancos, são expostas de forma sutil se misturando ao cenário bucólico.
Selva (1999) destaca dentre os aspectos que tornam as praias do Nordeste região favorável
ao desenvolvimento do turismo: os regimes de temperatura e insolação, com mais de 2000 horas de
sol durante o ano, os mangues, as baias, as vegetações de praia, os recifes, entre outros.
A estratégia se deu através de famtours para jornalistas de periódicos especializados,
operadores internacionais e convidando personalidades formadoras de opinião a conhecer Porto de
Galinhas e opinar sobre ela, além da participação nos eventos promotores do turismo nacional e
internacional. Como resultado destas ações, Porto de Galinhas figurou por 11 anos consecutivos
351
como a melhor praia do Brasil, segundo a revista Viagem & Turismo, da editora Abril. Também
foram muito bem ranqueadas pelo Guia 4 Rodas da mesma editora..
O planejamento estratégico teve êxito e Porto de Galinhas tornou-se um dos principais
destinos indutores de Pernambuco e do Brasil como atesta os Planos Estratégicos para o Turismo de
Pernambuco e do Brasil.
Porto de Galinhas traduz a imagem da tranquilidade, beleza e ótimos serviços. Tornou-se
sonho de consumo de muitos. Consolidando sua imagem como destino de charme onde o turista alia
sua imagem às imagens estampadas nas principais revistas como o ―paraíso‖ tropical, reservado
para poucos. Porto de Galinhas transformou-se num símbolo de ―status‖ social
Todavia, no mesmo município onde está localizado o produto turístico Porto de Galinhas,
foi implantado o megaprojeto industrial e portuário de Suape, denominado Complexo Industrial e
Portuário Governador Eraldo Gueiros – SUAPE (CIPS) segundo seu presidente. Sr. Frederico
Amâncio: ―o maior canteiro de obras do país‖
As diversas influências que transformaram o espaço onde coexistem o CIPS e o destino
turístico Porto de Galinhas promoveram alterações que vão desde a forma ocupação, quem e
quantos ocupam e como ocupam, passando aos acessos e formas de acesso até a maneira como o
mercado local percebeu estas alterações e como reagiram a ela. Esse grande movimento está
promovendo reações díspares entre as populações locais, dividindo-as entre comerciantes,
moradores e trabalhadores externos; de um lado a panacéia econômica do outro a o confronto
cultural, social e gênero. A diminuição das distâncias promovida pelos meios de transportes, de
comunicação; a massificação das necessidades provocada pela estética das mercadorias tem
alterado e distorcido o olhar dos grupos envolvidos. Os conflitos vão desde a inclusão social e os
formatos culturais diversos, passando pelo esgotamento da infraestrutura existente, criada para
atender um determinado tipo de demanda e que hoje se encontra saturada. Porém as diferenças
culturais e econômicas têm sido percebidas de maneira contundente e tem gerado reações imediatas
com efeito no turismo em Porto de Galinhas (CHAUI, 1978; GARCIA, 2006, SCHIMIDT, 1977).
Nesta região as mudanças da paisagem espacial e territorial são de certa forma recorrente,
visto que o primeiro impacto foi provocado pela turistificação de Porto de Galinhas, porém esses
movimentos não pressupõem alterações para melhor no modo de vida da população local, é mais
um movimento decorrente de ações globais ou funcionais. Considerando o contexto apresentado,
onde se deve considerar a questão, não apenas como de interesse do município ou municípios
envolvidos, mas, um tema de interesse nacional e com possíveis rebatimentos internacionais, em
função da continuidade da promoção do produto turístico Porto de Galinhas quando as suas
características originais estão sofrendo modificações. Esse trabalho também visa contribuir para o
352
entendimento de como acontecem o planejamento dos espaços geográficos e do ordenamento
econômico, bem como isso reflete nas populações envolvidas. (SANTOS – 2006)
A análise passa pelo entendimento inicial sobre a dialética entre necessidade e a liberdade
(MARX), pois, dentro da construção do entendimento do que é necessário ao humano e o que é de
sua cultura, o que o faz feliz, entrelaçado pela necessidade, seja ela a primária ou a criada pela
estética manipulada que, segundo Haug, o valor está além da necessidade. Para esse entendimento a
pesquisa busca a percepção dos agentes diretamente envolvidos através de entrevistas e da
percepção do próprio pesquisador em observação local.
Histórico
Pertencente ao município de Ipojuca, Porto de Galinhas surgiu originalmente como uma vila
de pescadores. A partir da década de 1970, passou a experimentar um processo de turistificação
viabilizado pelos investimentos advindos do Programa de Desenvolvimento de TurismoPRODETUR/NE na década de 1990 (SELVA, 2000). Iniciando como turismo de veraneio, ou
segunda residência passando logo a seguir para uma organização mais estruturada para o turismo,
com a criação de algumas pousadas, restaurantes, receptivo entre outras estruturas para atender o
turista (MENDONÇA, 2004). Em 2000 é instalado o primeiro resort e a criação do cluster turístico
Porto de Galinhas por alguns empresários locais visando o incremento e divulgação do destino para
as principais localidades emissoras dentro e fora do Brasil; alterando o turismo em Porto de
Galinhas e adequando-o a novos moldes para atendimento de um público especifico, caracterizado
pelo padrão sócio econômico, de maior poder aquisitivo e também com foco no turismo
internacional Para Beni (
3), ―cluster é um conjunto de atrativos com destacado diferencial
turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial, concentrado
num espaço geográfico delimitado ‖ A beleza e balneabilidade de suas praias, assim como a
pequena distancia que a separa de Recife, capital de Pernambuco contribuíram para o rápido
sucesso e transformando Porto de Galinhas em ―Destino Turístico Indutor‖ (EMPETUR) Eleita a
melhor praia do Brasil da Revista Viagem e Turismo por 11 anos consecutivos (de 2000 a 2011)
tornou-se um Produto Turístico com alta rentabilidade e promovendo a ampliação da visibilidade
de Pernambuco, de modo que atualmente é considerado um dos principais atrativos turísticos de
Pernambuco, (Ministério do Turismo e Empresa Pernambucana de Turismo). Sobre o conceito de
Destino Turístico, Cunha (2006) diz que o destino pode ser visto sob duas ópticas: como forma de
identificação do local visitado ou como espaço territorial onde se desenvolve um complexo de interrelações que garantam a existência de fatores de atração bem como, processos de produção e
consumo com vistas a satisfazer necessidades turísticas. Já o Produto Turístico, segundo Valls
(1996, apud IGNARRA, 2003), apresenta-se como um aglomerado, um amálgama, um grupo de
353
elementos tangíveis e intangíveis em particular. Entre os tangíveis estão os bens, os recursos, as
infraestruturas e os equipamentos; entre os intangíveis estão os serviços, a gestão, a imagem da
marca e o preço. O produto, considerando a função, suas formas, estruturas e processos (SANTOS,
2009) representam o espaço turístico.
O turismo em Porto de Galinhas possui alto padrão receptivo, nele foram instalados resorts,
hotéis, pousadas: lá é onde está localizada a única pousada a fazer parte do selo ―Pousadas de
Charme‖ em Pernambuco O conceito dos serviços hoteleiro é muito bem visualizado pelos turistas
e é também utilizado por cidadãos pernambucanos para o lazer em fins de semana, bem como férias
ou lua de mel.
Quanto à gastronomia local, Porto de Galinhas conta com a mais requintada cozinha
regional ―revisitada‖ como se habitou ao referir-se a pratos tradicionais com novo visual
modernizados pelos chefs de cozinha até o cardápio internacional.
A transformação de Porto de Galinhas em destino turístico de alto padrão trouxe ainda
outros mercados, como o de roupas, acessórios; adequou o artesanato local buscando uma
identidade local através do uso da imagem das galinhas esculpidas por artista plástico local. Além
do passeio ameno, PG ainda possibilita a prática de esportes como o mergulho, o surf, esportes a
vela, Wind surf, Parapente ou Kitesurf, bem como incursões pelos manguezais e acesso ao habitat
de cavalos marinhos. Há poucos km é também possível mergulhar um pouco na historia de
Pernambuco, através dos engenhos, igrejas e áreas de patrimônio.
Tudo isso, mobilizou os governantes a implantar melhorias na urbanização da vila, nas vias
de acesso, na infraestrutura local. Atender as necessidades desse turismo e torna-lo um padrão em
excelência foi mote constante tanto para o trade turístico local, quanto para os governos envolvidos.
E assim se vende Porto de Galinhas.
O produto turístico Porto de Galinhas não apenas trouxe visibilidade ao estado de
Pernambuco e ao Brasil como também foi responsável pela elevação do PIB passando Ipojuca a
quarta economia do estado. A demanda internacional também foi responsável pela entrada de
divisas para o país.
Entretanto, em 1960 o Governo Federal realizou estudos sobre a viabilidade da implantação
de um complexo portuário nos moldes do Conceito Polo-Industrial de Masselhe-Foz (França) e de
Kashima (Japão). A intenção era a de criar uma estrutura que contivesse um porto destinado à
exportação e indústrias em seu entorno, uma estrutura que fosse capaz de gerar demanda e não
apenas de atender àquela existente. Os estudos apontaram Suape, como o local mais indicado para a
iniciativa. Assim, foi criada no dia 07 de novembro de 1978, através da Lei nº 7.763, a empresa
SUAPE – Complexo Industrial e Portuário, com objetivo de administrar a implantação do distrito
industrial e a exploração das atividades portuárias.
354
O Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) está situado na Nucleação Sul da Região
Metropolitana do Recife, distante cerca de 40 quilômetros de Recife. O CIPS cresceu rapidamente
ao longo das décadas, de modo que no início do ano 2000 figurava entre os 11 portos mais
importantes do país. Entre 2007 a 2010 o CIPS recebeu mais de 17 bilhões de investimentos em
obras estruturadoras, além de um estaleiro e uma refinaria de petróleo.
Em 2007, a Agência Condepe/Fidem, órgão estadual de planejamento e pesquisas de
Pernambuco deu início ao Plano Território Estratégico de Suape que tem como objetivo a promoção
da ocupação sustentável do território com a melhoria da habitabilidade e da competitividade.
Impactos
Já é perceptível que o CIPS, tem afetado a dinâmica do turismo em Porto de Galinhas. Entre
as principais alterações, conforme pesquisa empírica realizada no primeiro semestre de 2011 podese citar a ocorrência de um processo de direcionamento dos meios de hospedagem para acolher
hóspedes que não são turistas de lazer e sim, trabalhadores do CIPS, principalmente do setor da
construção civil deslocados de outros estados. Portanto, no processo de expansão, constatou-se que
cerca de 20 unidades hoteleiras, estavam arrendadas a empresas do CIPS. Até o mês de abril de
2012, existiam 23, entre hotéis e pousadas em processo de descredenciamento perante a Empresa
Pernambucana de Turismo-EMPETUR por utilização indevida ou desvio de utilização turística. Se
por um lado o desvio da utilização de equipamentos turísticos representa um aspecto negativo para
EMPETUR, para alguns empresários do trade turístico, isto é positivo porque afasta as
consequências negativas relacionadas à sazonalidade do turismo.
No entanto, atrelado aos benefícios decorrentes para alguns empresários locais, o aumento
populacional para a área do CIPS e seu entorno, compreendendo o território Estratégico, promoveu
uma diminuição da qualidade de vida experimentada no local. Aumento da poluição sonora e visual,
aumento na demanda por água, energia elétrica, esgotamento sanitário, maior geração de efluentes
domiciliares e de resíduos sólidos domiciliares são questões que põem em xeque a sustentabilidade
de Porto de Galinhas tanto enquanto assentamento humano como enquanto destino turístico
(VALENÇA et al, 2008). Some-se a isso um potencial quadro de favelização decorrente de uma
ocupação desordenada do espaço, típico de áreas que experimentam um surto repentino de
crescimento.
Turismo
O Turismo causa sensações e emoções no sujeito, que reage em resposta aos diversos
estímulos que recebe. Às reações causadas por esses impulsos dá-se o nome de comportamento.
355
No Brasil, o Turismo já é considerado o quinto gerador de renda em moeda estrangeira para
o país. Em 2006 tivemos um ingresso recorde de visitantes que gastaram US$ 4,3 bilhões em nosso
país. Um salta de quase 12% sobre a receita de 2005 e nada menos que 116% acima do valor
apurado em 2002 (PLANO NACIONAL DE TURISMO, 2007).
O Turismo é um fenômeno social de extrema complexidade. A conceituação mais aceita
pela Organização Mundial de Turismo é a que se refere ao Turismo como ―[ ] soma de relações e
de serviços resultantes de um câmbio de residência temporária e voluntária motivada por razões
alheias a negócios ou profissionais‖ Esse é um fenômeno de caráter humano, no qual acontece
deslocamento de pessoas, e não de mercadorias, como produto final. O que é consumido é um
conjunto de bens e serviços e o que proporciona a satisfação do cliente são sensações de prazer
sentidas pelo mesmo. (IGNARRA, 2003)
Mercado Turístico
Mercadologia ou marketing é a totalidade de estudos e medidas que determinam a estratégia
de lançamento e sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor, garantido seu êxito
comercial. É mais que uma mera comercialização. O marketing turístico é um processo
administrativo através do qual as empresas identificam seus clientes reais e potenciais e com ele se
comunicam para poder conhecer e influenciarem suas necessidades, desejos e motivações. O
objetivo é formular e/ou adaptar seus produtos para alcançar a satisfação ótima da demanda. (BENI,
2003)
Os mercados em turismo não são homogêneos ou intercambiáveis, embora diferenciados, e
por essa razão está inserido na ―concorrência imperfeita‖ Cada produto é de certo modo único e
diferenciado dos demais. Não existem dois hotéis iguais, nem instalados no mesmo local e o que um
oferece não é idêntico ao outro.
O mercado turístico pode ser segmentado. A segmentação possibilita o conhecimento tanto
do destino turísticos quanto ao perfil de seu turista ou mesmo dos tipos de atrativos que possuem,
como também reconhece a demanda, seja as necessidades de determinados grupos em relação às
destinações (BENI, 2003).
A competitividade geral, como também no turismo, segundo a teoria econômica
convencional é determinada pelo baixo custo da mão de obra, juros baixos, taxas de cambio
favoráveis e economia de escala. A competitividade da destinação turística depende da capacidade
de seu setor de inovar e melhorar permanentemente sua oferta.(GUTIERREZ e BORDAS, 1993). A
qualidade é fator decisivo num mercado competitivo como o do turismo. A qualidade pode
determinar o êxito ou não de um produto ou serviço; ela deve ser usada como estratégia aplicada
para garantir a permanência competitiva no mercado. Quando a qualidade se manifesta
356
simultaneamente ao serviço, o resultado é a satisfação do cliente e essa satisfação é que imprimirá a
imagem símbolo do produto turístico. (BENE, 2003)
Produto Turístico
Por sua própria natureza o turismo não é setor de produção bem definido como a agricultura
ou a indústria de automóveis pro exemplo. O turismo é resultado de várias atividades econômicas;
utiliza bens e serviços de outras indústrias para oferecer o que se pode chamar de produto final.
Esse produto final não é o mesmo para duas pessoas que fazem a mesma viagem, por exemplo, pois
o individualismo gera experiências diferentes para cada um.
O Produto turístico total, no sentido macroeconômico é constituído de uma serie de
subprodutos como transporte, hotelaria, restaurantes filmes, livros, diversões, suvenires, seguros,
roupas para férias. No sentido mercadológico se diz de uma destinação que se organizou de modo a
conhecer e planejar previamente o seu mercado potencial.
Considerações Finais
Considerando a imagem construída para se atingir o segmento de mercado escolhido como
alvo para o produto turístico Porto de Galinhas, sendo ele de poder aquisitivo de alto padrão,
aprimorado paladar e requinte estético, podemos analisar que os impactos já provocados neste
primeiro momento, o de implantação do CIPS, já interferiram negativamente na imagem que se
promoveu para o destino turístico. Isso se reflete na fala dos empresários da praia de Muro Alto
onde se concentram os resorts e hotéis de alto padrão quando reclamam do numero de operários
instalados em Porto de Galinhas e das alterações na dinâmica da Vila provocada pela presença
deles; em contraponto a de alguns empresários da Vila, que veem no CIPS uma realidade de retorno
imediato.
É importante ressaltar que se foi percebido uma divisão territorial no produto turístico PG. A
divisão se dá através de diversos códigos e símbolos mercadológicos e socioeconômicos. Na
percepção deste pesquisador o produto turístico PG está dividido como segue:
Praia de Muro Alto – concentração de resorts e hotéis de alto padrão socioeconômico
em praias de difícil acesso a população e ambulantes.
Praia do Cupe – onde ficam a maioria dos hotéis e pousadas de charme, de padrão
diferenciado com foco em segmentação ainda mais especifica, como turistas
sulamericanos, friendly e casais sem filhos.
Vila de Porto de Galinhas – onde se localiza a saída das jangadas para o passeio às
piscinas nos recifes de corais; concentram-se as lojas de artesanato, grifes,
357
restaurantes e bares, bem como os serviços de apoio: bancos, farmácias, etc., é onde
estão a maioria das pousadas familiares e das casas de aluguel para veraneio.
Maracaipe – recentemente introduzida ao circuito, foi por muito tempo apenas a área
para a prática dos esportes radicais e acesso aos manguezais e a observação dos
hipocampos.
Sendo assim, cada grupo empresarial destes, tem visão diferente sobre os impactos do CIPS
na imagem do turismo em PG. Os empresários de Muro Alto, oriundos do mercado de investimento
e tendo o conhecimento turístico a partir do exercício do trabalho, já se movimentam no sentido de
se adequarem as mudanças, entretanto reclamam da não blindagem da Vila pelos organismos
públicos. Já os empresários do Cupe estão estimulando o turismo de massa, alterando assim o seu
perfil de segmentação. Para os comerciantes da Vila e de Maracaipe, principalmente os pequenos e
médios vindos da economia familiar, estes veem o CIPS como uma alternativa a sazonalidade
inerente ao turismo. Outra percepção é o aumento da margem de lucro, visto que na relação custo
versus benefícios, a demanda gerada pelo CIPS prevê menos custos ao mesmo preço. Em função da
mudança dos grupos sociais e no padrão de exigência advindo do tipo de permanência no local. As
empresas fazem contratos anuais, garantindo renda e os hóspedes, estes praticamente usam o
equipamento como dormitório, seja: diminuição dos serviços com mesma lucratividade.
Essa construção de pensamento nos leva a outros questionamentos como: Por que estes
grupos, numa avaliação inicial, só percebem o lucro e não olham a questão do ambiente original?
Será pela lógica do Capital ou será que o desapego ao lugar em função destas populações não serem
mais as originais, seja as naturais do local? Estas serão questões para outras discussões.
O grande canteiro de obras que se transformou o entorno da pequena Porto de Galinhas, a
proximidade entre ela e o CIPS, permitiram uma interação comprometedora. As expectativas dos
turistas que compraram a ideia de tranquilidade e paisagens bucólicas foram traídas já no acesso,
com rodovias esburacadas e congestionadas principalmente por ônibus e caminhões de transporte de
carga. Alheios as característica de cidade turística, os trabalhadores do CIPS promovem diariamente
uma invasão em PG, provocando um ―choque de realidade‖ num público que buscava ali somente o
lazer. Deparar-se com grupos de trabalhadores fardados pelas pequenas ruas da Vila não é
exatamente a imagem que se espera numa viagem de férias a ambientes paradisíacos.
O volume de homens em Porto de Galinhas aumentou significativamente e isso alterou
significativamente a dinâmica da cidade, promoveu uma alteração na qualidade dos serviços e
onerou a infraestrutura local. As reclamações são várias, entre elas o mau cheiro provocado por
esgotos saturados e, o aumento exponencial da criminalidade e da prostituição. Praias lotadas,
358
serviços caros e com baixa qualidade também são motivo de constantes reclamações feitas pelos
turistas, empresários e população residente.
A mudança já se configura como fato. Entretanto este trabalho é parte de uma pesquisa
maior que ainda está acontecendo e onde a percepção de cada agente envolvido será definidora do
resultado. Por enquanto o prognóstico indica que é tempo dos representantes do trade turístico local
e o governo através de seus órgãos de turismo reformular suas estratégias mercadológicas
redefinindo a qual nicho de mercado se adequará Porto de Galinhas.
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360
APLICAÇÃO DA ESCALA DO NOVO PARADIGMA ECOLÓGICO NA PRAIA DA PIPA/RN 39
Taciana da Silva BERTO
Estagiária (LABCEN / UFRN)
Engenheira Química (UNAERP)
Especialista em Gestão Ambiental (UFSCar)
E-mail: [email protected]
RESUMO
Após a virada da década de 1960, a humanidade tem sido confrontada com um novo paradigma
sócio-ambiental, que alguns cientistas passaram a chamar de ―Novo Paradigma Ambiental (NPA)‖
Em 1978, DUNLAP e VAN LIERE, propõe uma escala para medição de tal paradigma em 2000
uma revisão do mesmo, incluindo novos itens, ―Novo Paradigma Ecológico‖, (New Ecological
Paradigm – NEP) para representar o seu caráter sistêmico. Aqui se propõe sistematização da
aplicação da escala, através do levantamento bibliográfico, para medir e avaliar a percepção
ambiental junto a três grupos sociais: turistas, moradores e mediadores do turismo da famosa Praia
da Pipa (Tibau do Sul, município do estado do Rio Grande do Norte); cujo local é um importante
polo indutor de turismo. A Praia da Pipa é o principal balneário do Litoral Sul do estado, ficando a
85 km de Natal, capital do estado. Este paraíso tropical é a junção entre dunas imponentes
sobrepostas no horizonte em cima dos tabuleiros que acabam em falésias geomorfologicamente
vivas pela ação do mar e ventos; não se conhece outro lugar do mundo em que a costa de dunas e
falésias sedimentares se recombinem de forma tão espetacular com um verde denso que chega a
tomar a parte frontal das falésias. Por isso faz-se importante à aplicação da escala para a avaliação
da percepção ambiental das pessoas que transitam pela Praia da Pipa para que se possa comparar
com a percepção de outras sociedades.
PALAVRAS CHAVE: Consciência ecológica, Escala de medição, Litoral, Sustentabilidade, e
Turismo.
39
Orientador: Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa Docente do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e-mail: [email protected];
361
ABSTRACT
After the turn of the 1960s, humanity has been confronted with a new socio-environmental
paradigm, that some scientists now call "New Environmental Paradigm (NPA)." In 1978, Dunlap
and VAN LIERE proposes a scale for measuring such a paradigm in 2000 a review of the same,
including new items, "New Ecological Paradigm" (New Ecological Paradigm - NEP) to represent
its systemic character. Here we propose the application of systematic scale, through literature, to
measure and evaluate the environmental perception with three social groups: tourists, locals and
tourism mediators of the famous Praia da Pipa (Tibau do Sul municipality of Rio Grande North),
whose place is an important inducer polo tourism. The Pipa is the main resort in the South Coast of
the state, being 85 km from Natal, the state capital. This tropical paradise is the junction between
towering dunes superposed on the horizon over the boards ending in cliffs geomorphologically
living by the sea and wind action, not known elsewhere in the world where the coastline of dunes
and sedimentary cliffs to recombine so spectacular with a dense green that comes to take the front
of the cliffs. Therefore it is important to apply the scale for the assessment of environmental
perception of people passing by Pipa so you can compare with the perception of other companies.
INDEX TERMS: Ecological consciousness, measuring range, Coastline, Sustainability, and
Tourism.
INTRODUÇÃO
Desde a década de 1970 a preocupação com a deterioração do meio ambiente como
resultado de ações humanas é impulsionado por diversos elementos da sociedade, partidos políticos,
organizações nacionais e internacionais. Neste período, tornou-se evidente o esgotamento do
modelo até então vigente de exploração da natureza, seja na capacidade de fornecer materiais, ou na
capacidade de absorção de dejetos diretos e indiretos da produção de bens de consumo. Surgiram
daí diversos acordos ambientais multilaterais, como, por exemplo, o Protocolo de Kyoto.
Dentro deste cenário, a indústria hoteleira também se insere como corresponsável. DIAS
(2008) considera que a ausência de um planejamento e organização adequada, o desenvolvimento
do turismo poderia contribuir para um aproveitamento inadequado do território, o que poderia
causar desflorestamento, erosão dos solos e perda da diversidade biológica.
BERTO (2011) caracteriza a situação da fragilidade ambiental das cidades litorâneas:
―No litoral, principalmente nas praias, a densificação humana e a concentração sazonal
provocam a poluição das águas e o acúmulo de detritos deixados na areia. A partir de um
362
ponto central, o crescimento urbano das praias ocorre em
e a ―frente para o mar‖ é a
parte mais disputada e valorizada‖
Neste contexto, se insere a famosa Praia da Pipa – Tibau do Sul / RN, cujo local é um antigo
vilarejo de pescadores e atualmente sofre as consequências do turismo exploratório em que a
exploração da atividade turística implica em modificações e degradações ao meio ambiente que
muitas vezes são irreversíveis.
A imagem 01 a seguir, mostra o descaso com o cuidado com os resíduos gerados pelo setor
hoteleiro. O lixo foi deixado próximo à escadaria de acesso a Praia do Madeiro. O acesso é feito
tanto por pessoas que ali visitam quanto pelos hóspedes do hotel. Observa-se que o lixo não é
armazenado de maneira correta, em que o mesmo de desloca por toda área. Inclusive para área da
praia e mar.
Imagem 01 – Lixo deixado ao descaso por hotel próximo a escadaria da Praia do Madeiro, Pipa/RN. (Foto:
Berto, 2011)
Em 2007, o município de Tibau do Sul foi rotulado como ―indutor de turismo‖ pelo Plano
Nacional de Turismo Um local que se caracteriza como ―indutor de turismo‖, ou seja, destino que é
de atrair e/ou distribuir significativo número de turistas para seu entorno e dinamizar a economia do
território onde estão inseridas, há a necessidade de se refletir como esse movimento de inserção de
empreendimentos, pessoas que ali circulam e outros tipos de exploração do local, podem afetar a
comunidade já ali existente e o meio ambiente natural.
A economia da cidade gira em torno da pesca, artesanato e principalmente do turismo, Tibau
do Sul necessita de iniciativas para melhorar e manter a comunidade e o meio ambiente
equilibrados. Deste modo, a questão ambiental e cidadania são indissociáveis pela necessidade
363
absoluta de que a qualidade de vida do ser humano está diretamente relacionada com o estado do
meio ambiente, SILVA BERTO (2011).
Segundo CORRÊA et al. (2009) afirmam a relação da responsabilidade de uma empresa
frente às questões sócio-ambientais como ―compromisso continuo da empresa em adotar a ética do
desenvolvimento social, sustentada sobre o tripé da qualidade de vida, inclusão social e respeito ao
homem, à natureza e ás gerações futuras. Nela estão presentes a responsabilidade ambiental e
responsabilidade cultural‖
Do ponto de vista individual, considera-se que o cidadão pode minimizar o impacto de suas
atividades rotineiras sobre o meio ambiente por meio de comportamentos pró-ambiental como:
jogar lixo no local adequado, separar os resíduos domésticos, diminuir o consumo de água, de
energia e de bens de consumo. A definição de comportamento pró-ambiental para SUAREZ (1998)
se refere a um conjunto de atividades humanas cujo objetivo é minimizar os efeitos negativos sobre
o meio ambiente.
Essa alteração da abordagem sobre o meio ambiente de grande parte das sociedades
modernas é percebido por vários autores, entre eles o próprio DALY, que já na introdução de sua
obra, propõe a existência de um ―novo paradigma sócio-econômico‖ (
3)
Em 1978, DUNLAP e VAN LIERE, propõem uma escala para medição de tal paradigma e
em
uma revisão do mesmo, incluindo novos itens, rotulado como ―Novo Paradigma
Ecológico‖, (New Ecological Paradigm – NEP) para representar o seu caráter sistêmico. SILVA et
al. (2009) afirmam que a escala ―já possui validação internacional e esta em fase de validação no
Brasil‖ Portanto, é um método de avaliar a percepção ambiental que deverá ser explorado pelos
pesquisadores brasileiros.
Neste estudo, propõe-se a sistematização da aplicação da escala NEP, através de
levantamento bibliográfico, para medir a percepção ambiental junto a três grupos sociais
(NASCIMENTO-SCHULZE, 2002): turistas, moradores e mediadores do turismo da famosa Praia
da Pipa, antigo vilarejo de pescadores do município de Tibau do Sul. Objetiva-se comparar a
percepção ambiental das pessoas conforme origem (Estado/País), gênero, faixa etária, renda e
escolaridade. Este método sistematizado poderá ser aplicado a outras localidades com
características ambientais, sociais e econômicas semelhantes a do presente estudo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Com o propósito de conhecer melhor a percepção ambiental das pessoas que transitam pela
Praia da Pipa, optou-se pela utilização do modelo de pesquisa exploratória e descritiva, pois,
enquanto descritiva pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade e
exploratória porque visa levantar questões e hipóteses para futuros estudos.
364
Sugere-se por aplicar a pesquisa de campo (Quadro 1 e 2) a três grupos sociais: turistas,
moradores e mediadores do turismo.
O instrumento de pesquisa escolhido foi a escala NEP em sua versão 2000 que apresenta 15
itens e a escala Likert com 5 Itens, sendo que 1 significa a total discordância dos respondentes em
relação à assertiva e 5 a total concordância, que são apresentados conforme o Quadro 1:
Item
Você concorda ou discorda que:
CF1
(5)
CM1
(4)
I1
(3)
DM1
(2)
DF1
(1)
1
Nós estamos chegando ao numero de
pessoas que a Terra pode suportar.
22 inv.
Os seres humanos tem o direito de
modificar o ambiente natural para atingir
suas necessidades
3
Quando os seres humanos interferem na
natureza, se produz frequentemente
consequências desastrosas.
42 inv.
A perspicácia humana ira assegurar que
nos NÃO faremos a Terra inabitável.
5
Os seres humanos estão abusando
seriamente do meio ambiente.
6
A terra tem riquezas em fontes naturais,
nos temos apenas que aprendermos a
desenvolvê-las.
7
Plantas e animais têm tanto direito de
existir quanto os seres humanos.
82 inv.
O equilíbrio natural é suficientemente
estável para absorver os impactos das
nações industriais modernas.
9
Apesar de nossas habilidades especiais, os
seres humanos seguem sujeitos as leis da
natureza.
102 inv. A chamada ‖Crise Ecológica‖ que
enfrenta a humanidade tem sido
grandemente exagerada.
11
A terra e uma espaçonave com espaço e
fontes muito limitados.
2
12 inv.
O ser humano foi feito para reinar sobre o
resto da natureza.
13
O equilíbrio natural e muito delicado e
facilmente abalado.
142 inv. Os seres humanos irão aprender o
suficiente sobre como a natureza funciona
para serem capazes de controla-la.
15
Se as coisas continuarem no curso atual,
nos iremos breve experimentar uma
catástrofe ecológica maior.
1
Concorda Fortemente (CF), Concorda Medianamente (CM), Indeciso (I), Discorda Medianamente (DM),
Discorda Fortemente (DF).
2
Itens ―invertidos‖: concordar significa negar o paradigma
Quadro : Escala ―Novo Paradigma Ecológico‖ (NEP) Fonte: DUNLAP et al., 2000.
365
Para a complementação da escala NEP, também objetiva-se comparar a percepção ambiental
das pessoas de diferentes grupos (turista, morador e mediador do turismo), origens (Estado/País),
gêneros, faixas etárias, renda e escolaridade, apresentada no Quadro 2 a seguir:
Item
Resposta
Grupo
( ) turista, ( ) morador ou ( ) mediador do turismo
Origem (Estado/Pais), Brasil (Cidade/Estado)
Sexo
Idade
Renda mensal
Escolaridade
Quadro 2: Características sociodemográficas dos participantes da pesquisa.
A ferramenta a ser utilizada para validação dos questionários anteriormente citados é o
coeficiente alfa de Cronbach (1951), que foi desenvolvido para calcular a confiabilidade de um
teste naquelas situações em que o pesquisador não tem a oportunidade de fazer outra entrevista com
o indivíduo; contudo, precisa obter uma estimativa apropriada da magnitude do erro da medida.
Como ressaltam ZELLER E CARMINES (1980, p. 60), o alfa fornece uma condição mínima
(menor que a real) de consistência quando há uma heterogeneidade de itens, como o do paradigma
proposto (escala NEP).
A obra de MUELLER (1986) reafirma os parâmetros de aceitação para a avaliação da
escala, e assim, por exemplo, um ―alfa de Cronbach (α)‖ com valor de ,
é suficiente para
confirmar a consistência interna em casos de pesquisas exploratórias como essa.
Para suporte dos cálculos da escala NEP indica-se o Reliability Statistics do software SPSS
17.0 para facilitar a apuração dos resultados.
Com o fim de avaliar, para discussão e conclusão do questionário a ser aplicado, os
resultados da escala NEP e distribuição de resultados de Likert, aplica-se a estatística básica,
tamanho da amostra, valor médio e desvio padrão.
A complementação da escala NEP, conforme Quadro 2, se deve para avaliar a
particularidade do local, pois a região é de importante turismo e de alta fragilidade da natureza,
caracterizando a grande movimentação de pessoas de diferentes locais do planeta Terra.
Consequentemente, exploração inadequada dos recursos sociais, ambientais e econômicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como exemplo de resultado, que utiliza a escala NEP para a avaliação da percepção
ambiental dos três grupos anteriormente discutido na introdução, cita-se a pesquisa feita por
NASCIMENTO-SCHULZE (2000b) na cidade de Florianópolis do estado de Santa Catarina ―Os
366
sujeitos demonstraram preocupação em relação à preservação da natureza e ao futuro dos seres
humanos assim como atitudes extremamente favoráveis ao novo paradigma ambiental‖
É importante ressaltar que homens e mulheres contemporâneos têm passado por mudanças
profundas de valores nas últimas décadas, valores estes que são adotados por uns e resistidos por
outros (INGLEHART, 1990), sendo que as questões ambientais têm estado no centro deste embate.
Portanto, não é surpreendente que tenhamos encontrado resultados tão favoráveis ao novo
paradigma ambiental por parte dos turistas e moradores de Florianópolis, seja o de moradores ou o
de mediadores, NASCIMENTO-SCHULZE (2000b).Para tanto, a realidade do estado do Rio
Grande do Norte é diferente do estado de Santa Catarina, espera-se resultados diferentes.
O Nordeste é de alta especulação turística, de alta fragilidade ecossistêmica e de carente do
mais básico para a condição humana, como o saneamento básico. Por isso, se faz necessário a
avaliação da percepção desse povo que carece de tudo.
Atualmente, nota-se que o vilarejo Praia da Pipa apresenta diversas complicações
ambientais:







Falta coleta seletiva dos resíduos sólidos urbanos;
Acumulação de resíduos pelas ruas por tempo indeterminado;
Ocupação urbana inadequada;
Falta de fiscalização ambiental;
Falta de sensibilização ambiental, principalmente no turismo;
Poluição das águas e areia da praia;
Superexploração do local, alguns turistas já ―fogem‖, buscando outros locais menos
invadidos para gozar de suas férias.
Por outros tantos problemas que a Praia da Pipa vive, é de suma importância à aplicação do
Novo Paradigma Ecológico juntamente com os dados qualitativos que o local nos apresenta, para
que se possa avaliar a percepção ambiental das pessoas que ali frequentam e redirecionar para uma
percepção global. Pois a Praia da Pipa é conhecida mundialmente.
A partir da avaliação, qualitativa e quantitativa, é possível fazer a divulgação desse resultado
e fomentar ações que visem à sustentabilidade do local, sem que entre ainda mais em decadência e
abandono, tanto pelos turistas, pelos moradores e pelos empresários de Tibau do Sul.
O investimento em Educação Ambiental (entre outros BUTTEL & FLINN, 1976) pode ser
um caminho para o desenvolvimento do paradigma da comunidade da Praia da Pipa, visando
acompanhar a realidade global, não apenas como objetivo ético da sociedade, mas também como
opção por um desenvolvimento econômico sustentável, visto que a lacuna entre empresas focando
um mercado interno sem exigências, e a possível participação dessas em um mercado externo com
exigências pode ser diminuído e facilitado com uma evolução do mercado interno. Porter e Linde já
367
afirmavam que ―uma regulação ambiental correta contribui para o aumento da competitividade das
empresas ( ) através do estimulo a inovação‖ (PORTER e LINDE,
)
CONCLUSÃO
Conclui-se que é de suma importância a aplicação deste estudo para validar a sistematização
ora apresentada, para a avaliação, qualitativa e quantitativa, e fazer a divulgação desse resultado e
fomentar ações que visem à percepção ambiental global.
Apesar das limitações encontradas no presente estudo, acredita-se que a partir dos resultados
obtidos orientados para a sistematização da aplicação da escala NEP a locais com as mesmas
características da Praia da Pipa, poderão surgir outras pesquisas que se proponham a analisar a
consciência ambiental, visto que um dos objetivos de um estudo acadêmico é ampliar o caminho
para pesquisas futuras.
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369
IDENTIDADES E DINÂMICAS TERRITORIAIS: O PROCESSO DE ARTICULAÇÃO DO
TURISMO RURAL EM AREIA/PB
Vanderleia dos SANTOS (PPGDR–UEPB/UFCG) – [email protected]
Luciana Gomes da SILVA (Colégio Santa Rita) – [email protected]
Perla Joana Souza GONDIM (PPGA–CCA/UFPB) – [email protected]
Flávio Ricardo da Silva CRUZ (PPGA–CCA/UFPB) – [email protected]
Resumo
A atividade turística tem se firmado como uma alternativa econômica promissora, sendo capaz de
gerar desenvolvimento econômico às localidades e melhorias nas condições de vida de seus
habitantes. Dentre os vários segmentos turísticos, destaca-se o que valoriza o espaço rural,
viabilizando novas funções econômicas para o local, fomentando iniciativas de cunho social e
movimentos de preservação ambiental. O município de Areia, na Paraíba, vem a ser representativo
nessa atividade por possuir engenhos que, além de resguardarem aspectos arquitetônicos do século
XIX e práticas produtivas tradicionais, são formados por destacado patrimônio natural. Dentro desta
perspectiva, foram analisados os aspectos constitutivos da dinâmica territorial em Areia, em cujo
espaço rural são desenvolvidas atividades produtivas pautadas na tradição dos engenhos de cana-deaçúcar. A partir de uma abordagem descritiva e qualitativa, com técnicas de investigação e
procedimentos metodológicos pautados em entrevistas e visitações à área de estudo, o trabalho
realizado analisou as representações que os atores sociais (proprietários de engenhos e funcionários)
e institucionais (SEBRAE e Secretaria de Turismo do município) constroem sobre o espaço rural
areiense, e quais as dinâmicas territoriais com respaldo turístico incrementadas nas unidades
produtivas em questão. Após reflexões, constatou-se que os usos do território, embora apresentem
avanços efetivos, enfrentam variados aspectos limitantes quanto à promoção do turismo rural na
localidade.
Palavras-chaves: Representações Sociais; Desenvolvimento local; Turismo Rural.
Abstract
Tourist activity has established itself as a promising economic alternative, and able to generate
economic development for places and improvements in the conditions of its inhabitants‘ life
Among the various tourism segments, highlight the rural areas value, creating new economic roles
for local initiatives fostering of social and environmental preservation movements. The City of
Areia, in Paraiba, comes to be representative in this activity by mills that have, besides safeguarding
architectural aspects of the nineteenth century and traditional production practices, are formed by
outstanding natural heritage. Within this approach, we analyzed the constitutive aspects of territorial
dynamics in Areia, in which rural areas are developed productive activities guided by the tradition
of the sugar cane plantations. From a descriptive approach and quantitative research techniques,
with methodological procedures and guided by interviews and visitations in the study area, the work
analyzed the representations that social actors such as (owners of mills and employees) and
institutional (SEBRAE and Tourism Department Municipality) build on the countryside areiense,
and in what territorial dynamics tourist augmented with support in the production units concerned.
Upon reflection, it was found that the uses of the territory, although they present effective advances,
face various aspects limiting as to promote rural tourism in the locality.
Keywords: Social Representations; Local Development; Rural Tourism.
370
Introdução
Uma das estratégias de grande significância quanto à busca de valorização dos aspectos
locais para a viabilização do crescimento diz respeito às atividades turísticas. Com o aumento do
consumo simbólico, o turismo recebe um forte impulso, constituindo-se um elemento de
desenvolvimento quando é capaz de oferecer oportunidades aos empreendedores, geração de
emprego e renda para os membros da comunidade, e melhorias na qualidade de vida da população.
E dentre os vários segmentos turísticos, destaca-se o que valoriza o espaço rural por possibilitar –
além da revitalização econômica, social e ambiental – a promoção do patrimônio cultural e a
valorização dos produtos característicos da região.
No espaço rural areiense são desenvolvidas atividades produtivas pautadas na tradição dos
engenhos de cana-de-açúcar, como a confecção de mel, melaço, rapadura e aguardente. A produção,
além do valor comercial, possui expressiva representatividade cultural por apresentar modos de ser
e fazer a muito realizados. Os indícios do passado podem ser encontrados nos engenhos que
continuam atuando no espaço rural. Tal forma de condução nessas áreas possibilita a visualização
de práticas produtivas tradicionais, o que acaba por se tornar um atrativo capaz de fomentar o
Turismo Rural. Dessa forma, há a necessidade de se entender quais as representações e dinâmicas
territoriais que se formam a partir dos significados e usos que os atores sociais (proprietários de
engenhos, trabalhadores, SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –,
e Secretaria de Turismo de Areia) constroem sobre esse espaço.
Além dos aspectos levantados, aborda-se a trajetória desenvolvimentista na área rural de
Areia, discorrendo sobre a precariedade das políticas públicas voltadas para o crescimento de
atividades turísticas na zona rural, e as contribuições que a atividade gera com relação ao
crescimento econômico e social na região.
Importância dos Engenhos Areienses e Formação da Identidade Territorial
O Brasil tem sua história econômica marcada pela importância aferida ao espaço rural,
mediante as concepções políticas e a realidade objetiva. Nos tempos que se seguem, as intervenções
se desdobram e dotam o rural de novas significâncias, de acordo com as representações que vão
sendo formuladas pelos atores sociais. Essa reorganização faz referência às relações e às
circunstâncias que envolvem os homens e o tratamento por eles desprendido sobre território com
base nas identidades formuladas, uma vez que o território influencia o aspecto econômico, social,
político e cultural dos grupos distintos, originando um conjunto de símbolos que o nutrem de
significados.
371
Segundo ALMEIDA: ( ) ―o território é, antes de tudo, uma convivialidade, uma espécie de
relação social, política e simbólica que liga o homem à sua terra e, simultaneamente, estabelece
sua identidade cultural‖ (ALMEIDA,
,p
) O uso do território, portanto, se constrói a partir
da dinâmica dos lugares com efeito integrador. E em se tratando do espaço rural em Areia, as
representações são formuladas de acordo com a significância que o território passa a ter para os
diferentes atores de promoção do desenvolvimento, sejam estes os donos de engenhos, os
trabalhadores envolvidos nas atividades realizadas nessas unidades produtivas, a Secretaria de
Turismo do município, ou o SEBRAE.
Areia é reconhecida por alguns estudiosos, a exemplo de ALMEIDA (1957), como um
município de grande expressividade enquanto pólo econômico do brejo paraibano no século XIX
com a cana-de-açúcar, que passou a ocupar maior espaço nas zonas de produção agrícola da região,
acionando a indústria de beneficiamento do produto nos engenhos fabricantes de açúcar e de
rapadura. (CAVALCANTI FILHO; MOURA, 2003).
Com as pragas que invadiam as plantações da cana-de-açúcar, entretanto, Areia conheceu
um dos períodos mais caóticos de sua história econômica, agravada pela construção da estrada de
ferro no final do século XIX que, ao privilegiar a região circunvizinha e excluir Areia, dificultou
ainda mais sua condição de competitividade comercial (ALMEIDA, 1957). Numa tentativa de sanar
as dificuldades, no início do século XX foram realizadas as primeiras grandes plantações de café.
Mas devido a novas pragas, a cultura agrícola teve que ser substituída pelo agave, cuja produção
conseguiu, enfim, alavancar a economia do município, tornando-o novamente competitivo.
Porém, o retraimento do mercado na segunda metade do século XX, fez com que, mais uma
vez, esse produto agrícola promissor para a região não conseguisse lograr êxito. A alternativa foi
voltar ao plantio da cana-de-açúcar e se deter à produção da rapadura e aguardente para
comercialização, cuja prática se desenvolve até os dias atuais. E mesmo havendo a oscilação
econômica, é graças aos seus momentos de ascensão que Areia conseguiu erguer construções
opulentas ou mais simples que ostentam aparência característica das construções do século XIX,
com fachadas trabalhadas e sobrados ricos em detalhes que sugerem a prosperidade do local.
Todo o desenvolvimento agrário possibilitou à zona urbana um dinamismo comercial pouco
visto em outras cidades. Ou seja, a produção agrícola dotou a cidade de uma prosperidade
percebida, tanto nas relações comerciais de seu centro, como nas construções arquitetônicas, no
florescimento cultural e na projeção política de seus membros. (CAVALCANTI FILHO; MOURA,
2003).
Toda essa importância histórica do rural na formulação da sociedade, da economia, da
política e da cultura faz com que os proprietários de engenho, descendentes dos principais
produtores de períodos anteriores, sintam um misto de orgulho e saudosismo. Um dos proprietários
372
do Engenho Tapuio40, afirma terem sido os engenhos os principais responsáveis pela projeção
econômica e cultural que a cidade de Areia possui hoje. As construções do centro histórico têm sua
base nas prósperas iniciativas comerciais desenvolvidas nas unidades produtoras.
Com base na colocação exposta, percebe-se que os engenhos possuem uma importância
justificada num passado próspero, que permitia aos seus proprietários investirem no crescimento da
zona urbana, sendo eles os responsáveis pela construção e aquisição dos mais notórios imóveis.
Esse aspecto era utilizado como forma de destaque social, e hoje essa simbologia persiste, como um
reclamo à lembrança dos que antigamente contribuíram para que toda a riqueza cultural e
arquitetônica dotasse a cidade de uma singularidade notória. Ter o sobrenome de um desses grandes
senhores de engenho do passado é um elemento de visibilidade social, embora economicamente
esses engenhos não possuam mais a mesma relevância.
O desenvolvimento motivado pela cana-de-açúcar no decorrer dos séculos, fez com que os
olhares se voltassem para Areia sob outro viés. Para um dos proprietários do Engenho Mineiro41,
essas unidades produtoras têm muito a contribuir quanto ao aspecto cultural. Segundo ele, o
Engenho Mineiro mantém uma estrutura tradicional, com construções e maquinário antigos, o que é
um importante elemento para o conhecimento dos costumes e do modo de produção.
No momento atual, os engenhos têm recebido novas motivações para seu funcionamento,
sendo a aguardente e a rapadura dois dos principais produtos feitos para comercialização, e que têm
propiciado a geração de empregos e renda para o município. Esse aspecto também é lembrado pelo
proprietário do Engenho Bujari quando indagado sobre a importância econômica dos engenhos na
atualidade42. De acordo com o referido proprietário, dos engenhos areienses saem cachaças de
qualidade, vendidas para o brejo e o sertão. Portanto, é possível afirmar que os engenhos continuam
sendo de grande importância para a economia local.
As representações desprendidas sobre o território, em se tratando do grupo específico dos
donos de engenhos, têm na vertente econômica a maior visibilidade, posto que o espaço é entendido
como fonte de recursos. Sob outro olhar, é possível se perceber o entendimento do território com
base na vertente cultural quando se evidencia o caráter simbólico e subjetivo das unidades
produtoras.
Os engenhos areienses, enquanto espaços de vivência e de entendimento múltiplo, têm uma
importância que abrange outros grupos sociais, a exemplo dos trabalhadores, homens e mulheres
responsáveis pelas atividades desempenhadas nessas unidades produtoras. Embora tenha havido
40
Entrevista realizada no dia 12 de abril de 2012.
Entrevista realizada no dia 03 de maio de 2012.
42
Entrevista realizada no dia 25 de maio de 2012.
41
373
uma saída massiva dos habitantes da zona rural43, é possível localizar alguns grupos familiares
dentro dos engenhos Mineiro, Bujari e Triunfo.
Entre os moradores mais antigos do Bujari, o território possui uma representatividade ampla.
Para uma das mulheres que nasceu e cresceu na propriedade44, o engenho lhe remete a boas
recordações, desde os tempos de seus avós quando estes realizavam trabalhos diversos, indo do
plantio da cana-de-açúcar à confecção da rapadura. As tradicionais atividades foram realizadas
também por seus pais, que a levavam consigo quando se destinavam aos trabalhos produtivos.
Para um dos moradores do Engenho Mineiro45, essa unidade produtora é o cenário no qual
sua vida foi se construindo por gerações seguidas, afirmando não se imaginar deixando a casa em
que mora, nem o engenho que marcou sua infância, onde é possível recordar tantos momentos bons.
Seus relatos misturam o saudosismo, a identidade com o território e a importância do mesmo para a
subsistência de toda uma família por gerações. O engenho é, portanto, constituído por elementos
simbólicos e concretos, unindo subjetividade e objetividade na elaboração de consciências
individuais e conjuntas, com base na perspectiva integradora.
Para BOSSÈ (
, p
), os atores sociais ( ) ―recebem e percebem, constroem e
reivindicam identidades cristalizadas em suas representações e em suas interpretações dos lugares
e das relações sociais”. As representações são construídas no transcorrer da história por meio de
práticas discursivas que são acrescidas mediante novas vivências e novos relatos, que muitas das
vezes vêm a legitimar antigos sentidos e valores atribuídos aos espaços. Os engenhos areienses,
nutridos dessas representações, surgem como lugares de pertencimento, já que seus elementos
constitutivos vão para além da materialidade, sendo perpassados por significâncias que possibilitam
a integração entre o território e os atores sociais.
Seguindo a tendência capitalista, o SEBRAE e a Secretaria de Turismo do município sugerem
que as localidades são espaços nutridos de potencialidades que podem ser exploradas em vista ao
desenvolvimento. Para os agentes que representam esses órgãos institucionais e que buscam
construir parcerias com a sociedade areiense, a zona rural do município possui grande
expressividade cultural, arquitetônica e histórica. De acordo com os referidos órgãos, os elementos
diversos (como a culinária típica; a ambiência natural e construída; os costumes na fabricação da
cachaça, melaço e rapadura), unidos a iniciativas planejadas e ousadas de promoção da tradição
local poderiam se apresentar como um grande atrativo na região.
43
De acordo com os dados oferecidos pelo IBGE, a população rural areiense, no ano de 1970, era de 22.712. Numa
queda considerável, em 2010 o mesmo órgão afirmou que o número de habitantes da zona rural areiense passou para
9.231.
44
Impressões expressas durante entrevista, no dia 12 de maio de 2012.
45
Entrevista realizada no dia 13 de maio de 2012.
374
As produções culturais dos engenhos, seus artefatos e os atributos naturais representam, para
o SEBRAE e a Secretaria de Turismo, parte integrante das possibilidades de crescimento
econômico para a cidade de Areia, principalmente a partir da associação com o turismo. Vendo o
espaço rural como um elemento de promoção do local mediante iniciativas turísticas, essas
instituições oferecem apoio por meio de capacitações, parcerias com os proprietários,
implementação de associações de turismo rural, material gráfico com as etapas para o alcance do
desenvolvimento na zona rural, entre outras medidas.
Para os representantes do SEBRAE e o gestor de turismo46, os engenhos são vistos sob a
perspectiva materialista quando o destaque recai sob a possibilidade que a região possui de gerar
emprego e renda. Embora trabalhe com o cultural, como a forma tradicional de confecção dos
produtos advindos da cana, o artesanato realizado na zona rural, o fim último do território seria o
desenvolvimento econômico que ele pode propiciar se trabalhadas suas potencialidades. Com esse
discurso, o SEBRAE consegue vencer certas oposições às iniciativas de fomento à indústria do
conhecimento e do patrimônio.
Segundo HARVEY (2006, p
3 ), ―o que está em jogo é o poder do capital simbólico
coletivo, isto é, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a algum lugar, dotados de um
poder de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral‖ Essa é a
representatividade que o território areiense desperta no SEBRAE e na Secretaria de Turismo, um
local dotado de riquezas naturais, arquitetônicas e culturais que pode ser explorado em nome da
geração de emprego e renda por meio de atividades turísticas. Ainda que predominantemente
materialista, a perspectiva em voga com relação ao SEBRAE e à Secretaria de Turismo também
passa pela perspectiva integradora apresentada por HAESBAERT (2010)47, posto que a cultura está
em evidência na busca pela promoção do local. Os modos de ser e fazer nos engenhos entram como
um atrativo essencial, um produto a ser consumido, o que mostra a junção entre a produção
imaterial e as necessidades materiais numa mesma esfera.
Assim, surgem variadas práticas sociais e dinâmicas territoriais, por ora dando ênfase ao
econômico, por ora destacando os aspectos culturais, ou políticos, ou sociais, dependendo da
necessidade vigente e das expectativas a serem alcançadas. O território onde se desenvolvem as
dinâmicas territoriais passa a ser visualizado como espaço de ação, no qual os grupos sociais
apresentam seus objetivos de uso e forjam seus movimentos de construção, intercalando
46
Entrevista realizada com um dos representantes do SEBRAE e o gestor de Turismo do município no dia 25 de maio
de 2012.
47
Para Haesbaert, o território é formado por questões materiais (tendência tradicional de definição do território), mas
também é ideal quando desperta sentimentos de pertencimentos e se torna um elemento simbólico para os grupos
sociais que dele fazem parte, numa perspectiva que integra o material e o imaterial.
375
subjetividade e prática. Os diversos atores são chamados a se posicionar e atuar frente às roupagens
que revestem o espaço, gerando relações de mediação, ou de justaposição, ou de contradição que
tanto podem unir como separá-los ideologicamente, tornando complexa e fascinante a realidade que
nele se constrói.
Turismo Rural em Areia: Avanços e Desafios
O município de Areia, conta hoje com aproximadamente 24 engenhos (MIRANDA, 2007),
entre eles se encontram o Engenho Triunfo, Engenho Tapuio, Engenho Várzea do Quati, Engenho
Carro, Engenho Ipueira. Além da maioria realizar uma produção artesanal da aguardente e da
rapadura, resguardam construções do século XIX e início do século XX, o que se torna um atrativo
para a região. Um dos exemplos é a Capela do Engenho Ipueira, dedicada a São João; a Casa
Grande da Várzea do Quati; e os vários imóveis do Engenho Mineiro, um dos remanescentes de
1880, que também conserva os móveis antigos da Casa Grande48. No período áureo da cultura
canavieira, no século XIX, Areia chegou a computar um número aproximado de cem engenhos.
Com a estagnação e a falta de fortalecimento da atividade nos anos que se seguiram, esse número
decresceu significativamente (FERREIRA, 2010, p. 57).
A influência dos engenhos tem uma expressividade tão marcante para o município que um
dos pontos mais emblemáticos e valorizados é o Museu da Rapadura. Situado nas proximidades da
cidade, o museu guarda em si elementos de valor histórico, tanto no que concerne à arquitetura da
casa grande e da casa da moenda, como pelos objetos que preenchem ambas as edificações. A casa
grande traduz a pomposidade dos grandes proprietários em suas muitas janelas e portas, sinal de
prosperidade e poder, além de vários móveis de estilo colonial; na casa da moenda podem ser
encontrados utensílios portugueses para a depuração do caldo, e a moenda, própria para tração
animal.
No interior do Campus da UFPB está o Museu do Brejo Paraibano (Museu da Rapadura),
formado por um antigo casarão de fazenda e um engenho dos velhos tempos, com a
moenda que era puxada por bois – um dos atrativos turísticos mais importantes de Areia.
(BRASIL, 2009, p.70).
Os elementos histórico/culturais que a prosperidade econômica agrícola gerou fazem de
Areia um município de destaque no brejo paraibano. Pela importância aferida aos seus elementos
arquitetônicos e os vários artistas que nela tiveram seu berço (a exemplo de Pedro Américo, José
Américo de Almeida, Horácio de Almeida, Aurélio de Figueiredo e tantos outros), Areia foi elevada
48
Informações adquiridas mediante entrevista com os representantes do SEBRAE e com o gestor de turismo de Areia,
no dia 25 de maio de 2012.
376
à categoria de Patrimônio Histórico Cultural da Paraíba, pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba), em 1979. Embora o tombamento só fizesse referência
ao seu centro histórico, é inegável o elo entre o rural e o urbano nesse processo, uma vez que, como
já foi exposto, a exuberância de sua arquitetura se deva ao sucesso dos empreendimentos agrícolas
realizados nos engenhos.
Entre 2005 e 2006, o município passa por uma nova avaliação e, mais uma vez, seu centro é
reconhecido como patrimônio histórico, cultural, tendo seu entorno valorizado mediante sua
classificação de patrimônio paisagístico. O tombamento de 2006 é assinado pelo IPHAN, a partir do
qual o centro de Areia, assim como seu entorno e sua paisagem, passa a ser considerados
patrimônio Nacional, com a Portaria nº 073, de 29 de agosto de 2006 (SUPERINTENDÊNCIA
REGIONAL DO IPHAN, 2007).
Um dos intuitos dos tombamentos apresentados é revestir a cidade de Areia de significância
simbólica capaz de viabilizar sua ascensão enquanto ponto turístico. De acordo com OLIVEIRA
(2002), o tombamento realizado pelo IPHAEP se dá na década de 1970, quando o Brasil passa a
receber mais investimentos no que diz respeito às atividades de cunho turístico, numa tentativa de
soerguimento econômico para as regiões menos industrializadas. O discurso envolvendo a
necessidade de conservação dos elementos histórico-culturais e sua associação às atividades
turísticas também é defendido pelo IPHAN, quando este afirma que os ―engenhos, é claro, estão
interessados no incremento do turismo em Areia. Vários já abrem as portas para os visitantes e
lhes permitem percorrer suas instalações. Alguns têm restaurantes onde servem comidas típicas‖
(BRASIL, 2009, p.65).
De acordo com um dos representantes do SEBRAE, a importância da zona rural de Areia
reside primeiramente no fato de ter sido ela uma localidade nascida como entreposto comercial
entre o sertão e o litoral, quando os tropeiros faziam o percurso pelo interior e usavam esse espaço
como paragem, dando origem a um dos principais povoados do brejo nos séculos XVII e XVIII.
Para os representantes do referido órgão, a paisagem que circunda Areia é de uma beleza singular
que, unida à sua importância história e econômica, torna-se extremamente atraente. E são os
engenhos o registro de toda essa riqueza comercial, cultural, arquitetônica. Por toda essa
expressividade, Areia apresenta um grande potencial turístico no âmbito cultural, urbano e rural.
Pensando dessa forma, o SEBRAE busca novas alternativas na busca de superar os
problemas advindos com os novos tempos. Uma das iniciativas mais consistentes diz respeito ao
projeto A Cidade de Areia nos Roteiros Turísticos do Brejo Paraibano, cuja iniciativa contou com a
parceria da AMAR (Associação dos Amigos de Areia), e cujo intuito é possibilitar a integração
entre os municípios da região interiorana da Paraíba. Nesse projeto é desenvolvido o evento
Caminhos do Frio – Rota Cultural, que propicia ao turista que se destina a Areia, conhecer seus
377
vários atrativos culturais, participar de trilhas ecológicas e visitações a alguns dos engenhos da
região.
Outra alternativa encontrada para a viabilização do turismo na região é o projeto Caminhos
dos Engenhos, que tem nas iniciativas do SEBRAE um de seus principais aportes. Esse projeto,
(...) se desenvolve no Brejo e na Várzea da Paraíba, que é a região litorânea. Trata-se de um
inventário, uma identificação preliminar de todos os engenhos que foram implantados
nessas áreas ao longo de 400 anos, às margens do rio Paraíba, do litoral à zona da mata. No
município de Areia, fizemos uma parte da pesquisa histórica, uma radiografia de todas as
unidades, muitas delas desaparecidas. Outras ainda estão em funcionamento ou em ruínas.
A partir dessa radiografia será possível identificar os exemplares mais significativos para se
ter uma referência sobre o modo de construir essas fábricas, e sua disposição no terreno.
Além das instalações de produção, havia a casa-grande, a capela, a senzala e a bagaceira,
área onde o bagaço da cana-de-açúcar era acumulado. A idéia é obter recursos para
recuperar esses elementos. (BRASIL, 2009, p.87).
Os projetos implantados na região têm motivado os proprietários dos engenhos a
melhorarem sua estrutura física para a recepção dos turistas, e a buscarem realizar uma maior e
melhor produção da cachaça e da rapadura. Entretanto, as ações realizadas até então não são
suficientes para fazer com que a economia da região tenha expressivos índices de desenvolvimento
(incluindo a questão social) mediante a implementação do turismo rural. O número de pousadas e
restaurantes é baixo e, embora tenha havido melhorias significativas (atrativos como feiras
artesanais, concursos gastronômicos, degustação de bebidas produzidas nos engenhos e um maior
movimento integrador entre o urbano e o rural), ainda são insuficientes para que a região seja
considerada um dos principais pontos de atração turística na Paraíba.
Para o gestor de turismo, os engenhos de aguardente, mel e melaço traduzem a identidade e
a diversidade cultural da população, simbolizando a tradição no plantio da cana-de-açúcar, na forma
de trabalhar a garapa, nas festas populares, na arquitetura representativa de outras épocas. Quanto às
iniciativas que visem a possibilitar a inserção de Areia nos roteiros turísticos, de forma consistente e
satisfatória, o gestor afirma que algumas estradas de acesso aos engenhos foram melhoradas, houve
uma maior divulgação dos atrativos rurais, e cursos de capacitação para os guias oferecerem um
melhor atendimento aos turistas. Entretanto, afirma que muito ainda deve ser feito para que seja
despertado o interesse do turista em visitar o espaço rural do município areiense.
Um dos proprietários do Engenho Tapuio afirma que as melhorias são mínimas, resumindose à passagem de tratores pelas estradas de barro que, no inverno sequencial, apresentam os mesmos
buracos, os mesmos sulcos. As parcerias entre poder público e iniciativas privadas para a abertura
de restaurantes ou pousadas nas proximidades são quase inexistentes. Além disso, os encartes com
divulgação dos atrativos municipais dão bem mais ênfase ao centro histórico, à zona urbana, sendo
deficitários quanto à propagação dos elementos rurais.
378
Portanto, ―somente configurar-se como potencial turístico não lhe dá a primazia de
desenvolver o turismo‖ (SIMÃO,
,p
) É imprescindível a crença nas possibilidades e maior
investimento, tanto do setor público, quanto do setor privado. Só assim haveria a agilização e
efetivação dos ensejos de tornar o município de Areia um ponto turístico reconhecido na Paraíba,
nas vertentes cultural, histórica, urbana e rural. Para haver o desenvolvimento do turismo, é
essencial que se construa um modelo de relações entre as organizações locais e os diversos atores
envolvidos no processo de construção do território, levando-se em consideração a história da
comunidade, a origem das suas atividades econômicas e a importância de cada grupo para a
promoção do local.
Considerações Finais
Em todos os períodos da História do Brasil se percebe a importância do rural como base de
sustentação para a economia, a partir da implementação de várias culturas agrícolas, sendo a canade-açúcar uma das mais destacadas. Na Paraíba a presença do rural se sobressai com o
funcionamento dos engenhos. Esses núcleos produtores têm forte influência sobre as representações
territoriais formuladas pelos distintos atores sociais de Areia, sejam eles proprietários,
trabalhadores, representantes do SEBRAE, ou gestores da Secretaria de Turismo do município.
Para os proprietários, os engenhos se apresentam como espaços de perpetuação de uma
história econômica, em cujas bases as famílias tradicionais se destacam, dando-lhes no presente
uma maior visibilidade social. Embora sem possuir a efervescência produtiva de tempos de outrora,
são os engenhos defendidos enquanto locais que resguardam a cultura agrícola da região.
Por sua vez, os trabalhadores dos engenhos vêm nas unidades produtoras um ponto de
sustentação, onde podem suprir suas necessidades vitais, praticando atividades que herdaram de
seus parentes e que são acostumados a desempenhar. A realização desses trabalhos fortalece os
laços identitários que os unem ao espaço e despertam o saudosismo de tempos de outrora, nutrindo
os engenhos de aspectos simbólicos e representativos.
Para o SEBRAE e a Secretaria de Turismo, os engenhos são lugares capazes de fortalecer os
laços identitários da população por resguardarem em si aspectos da cultura material e imaterial
desenvolvida na região durante séculos. Numa tentativa de soerguimento da economia local, as
entidades buscam a implementação do desenvolvimento pautado no turismo rural. Alguns passos
foram dados nessa direção, unindo proprietários de engenhos, representantes do SEBRAE e da
Secretaria de Turismo.
Entretanto, com o presente estudo, constatou-se a fragilidade das políticas voltadas para o
incremento do turismo rural na região. Embora alguns avanços sejam percebidos, as ações
379
desprendidas não conseguem motivar os grupos privados a fazerem investimentos mais ousados na
busca de tornar mais atrativas suas propriedades ou estabelecimentos. Projetos são desenvolvidos, o
aumento da produção de mercadorias típicas da região acontece, guias turísticos são preparados,
investimentos são realizados, mas sem a consistência necessária para a consolidação da zona rural
de Areia como ponto turístico capaz de possibilitar um desenvolvimento sócio-econômico
satisfatório.
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380
PROPUESTA PARA EL DESARROLLO DE LA ACTIVIDAD TURÍSTICA RESPONSABLE
EN EL CONJUNTO URBANO DE LA CATEDRAL DE LA ASUNCIÓN,
CIUDAD DE LEÓN, NICARAGUA – CENTROAMERICA
MSc. Vianney del Carmen Fornos García.
Universidad Nacional Autónoma de Nicaragua. UNAN-León.
Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales.
Departamento de Turismo.
[email protected] [email protected]
INTRODUCCIÓN
El presente documento pretende presentar una síntesis de la propuesta de desarrollo para la
realización de prácticas turísticas responsables en el Conjunto Urbano de La Insigne y Real Basílica
Catedral de la Asunción de la Bienaventurada Virgen María de la ciudad de León-Nicaragua; la
cual representa un Patrimonio de la Humanidad recién declarado en el ano 2011.Este conjunto
urbano se encuentra enclavado en la zona central de la ciudad de León-Nicaragua.
En este conjunto no se ha desarrollado en su totalidad el turismo, siendo esta una zona apta para el
desarrollo del turismo cultural por poseer el legado histórico -artístico representativo de la
arquitectura barroca y neoclásica, que datan del período colonial (siglo XVIII) y por poseer una
gran variedad de recursos culturales que se consideran con un alto potencial para ser aprovechados
para el desarrollo responsable de la actividad turística. Partiendo de que existe un problema de falta
de aprovechamiento óptimo de la actividad turística en un área con un alto potencial, en donde han
surgido elementos para el turismo de forma espontânea sin la planificación adecuada, sin
orientación, regulación y de forma aislada.
Por tal razón seleccioné este espacio para proponer un plan de desarrollo turístico que
plantee un aprovechamiento integral de los recursos contenidos en el objeto de estudio.
OBJETIVO
Disenar una propuesta de desarrollo turístico responsable para el conjunto urbano de la
Catedral de la Asunción, con características de utilización para prácticas adecuadas a la tipologia de
un modelo de turismo cultural.
METODOLOGIA
Para la realización de esta investigación se utilizó el método inductivo- deductivo.
El método de pensamiento utilizado fue el clínico, realizando una revalorización y
actualización del diagnóstico existente, en los estudios realizados en el Centro Histórico de la
381
ciudad de León: "El Plan Especial de revitalización del Centro Histórico", "El Plan Preliminar de
Desarrollo Turístico Sostenible - Abril 2001" y El Proyecto de "Mejoramiento Físico Catedral de
León y su entorno urbano - Abril 2002". Para ello se aplicaron aspectos generales del Turismo
Cultural a los problemas particulares presentes en el Conjunto Urbano de la Catedral de la
Asunción, el cual es el objeto específico de estudio.
El método de trabajo fue explicativo en el que se analizaron variables como el tipo de
turismo, las condiciones de la infraestructura, entre otras.
Como parte importante de este trabajo, se realizó un análisis FODA, un inventario de los
facilitadores e incentivadores para la oferta turística existente en el área, entrevistas al responsable
de la oficina del Centro Histórico de la ciudad de León. Se aplicaron encuestas que fueron dirigidas
a los ciudadanos leoneses y visitantes nacionales y extranjeros.
El diseno de la investigación fue no experimental, de tipo transversal en el que no se
manipularon las variables. En el estudio se analizaron la situación de la oferta y la demanda, en
relación a la actividad turística ya existente en el Conjunto y en relación a la actividad potencial.
Para la realización de la propuesta se disenaron y aplicaron unas fichas de evaluación de la
oferta y la demanda turísticas existente el conjunto urbano, se analizaron unas fichas de evaluación
del estado de conservación del patrimonio monumental, expuestas en el plan de revitalización del
Centro Histórico y se aplicaron encuestas para determinar el punto de vista de la población local y
de los turistas y visitantes que a diario visitan el Centro Histórico de la ciudad de León.
A través de un diagnóstico utilizando como metodología el FODA, se identificaron las
principales características del Conjunto Urbano contrastándolas con los resultados que brindaron
los instrumentos de investigación aplicados. Dando como resultado la siguiente síntesis:
SÍNTESIS DEL DIAGNÓSTICO
Principales Fortalezas
• El conjunto urbano de la Catedral posee espacios con potencial turístico centrado en valores
culturales y artísticos.
• La mayor parte de la arquitectura monumental, civil y religiosa dei conjunto está bien
conservada.
• Interés académico y de la sociedad civil en el desarrollo de la actividad turística.
• Clima favorable la mayor parte del el ano.
• Surgimiento de iniciativas para la preparación de actividades turísticas. Por ejemplo: el
patronato de turismo.
382
Principales Debilidades
• Desaprovechamiento de los recursos turísticos existentes.
• Escasez de profesionales especializados para la actividad turística cultural.
• Actitud poco profesional dei personal de contacto con el visitante.
• Descoordinación de acciones en el sector público y privado
• Falta de imagen turística.
• Falta de cultura turística.
• Muy poca presencia de empresas turísticas especializadas.
Principales Oportunidades
• Preservación y recuperación física de la arquitectura colonial.
• El planeamiento y la ordenación dei territorio.
• Nuevas fuentes de empleo para la población local.
• Integración de la riqueza patrimonial dei conjunto urbano de la Catedral en la conformación de
patrimonios históricos de la Humanidad, declarados por la UNESCO.
• Los benefícios que otorga la Ley Nacional de Incentivos para la industria turística
• La existencia de alianzas estratégicas de mercado para ejercer un mayor liderato en el mercado
turístico.
Principales Amenazas
• Descaracterización cultural.
• Ocupación ilegal de espacios.
• Utilización y manipulación política de iniciativas dei turismo cultural en el conjunto urbano.
• La falta de planificación.
La demolición y pérdida de importantes patrimonios arquitectónicos y monumentales, por la
sustitución de nuevas construcciones.
• La vulnerabilidad natural de la zona.
• La falta de limpieza en el área.
383
SÍNTESIS DE LA PROPUESTA PARA LA IMPLEMENTACIÓN DE LA PLANIFICACIÓN
ESTRATÉGICA TURÍSTICA EN EL CONJUNTO URBANO DE LA CATEDRAL DE LA
ASUNCIÓN
La propuesta para la implementación de la planificación del Turismo Cultural en el
Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, se basa fundamentalmente en el Modelo funcional
del patrimonio, expuesto por PRADO (1996), quien plantea una subdivisión de acuerdo a la
función principal que se desee destacar entre la fusión turismo y patrimonio cultural- monumental.
De dicho planteamiento se retomó el "Modelo Patrimonial", el cual hace referencia al desarrollo de
la nueva Museologia, ésta permite el aprovechamiento de recursos que hasta hoy no se han
potencializado y que representan elementos de mucho interés para el Turista Cultural.
También se retomaron los planteamientos realizados por FERNÁNDEZ Y LEBOREIDO
(1994), ya que ellos proponen una clasificación sectorial para el caso de Centros Históricos, al igual
que las acciones que propone ANTOINE (1987) y las fases para la planificación Interpretativa en
los conjuntos Históricos-monumentales.
El enfoque que se pretende arraigar en esta propuesta es el de convertir el turismo cultural y
patrimonial en un instrumento eficiente para el desarrollo local sostenible, dando siempre prioridad
a la preservación del patrimonio.
En la propuesta no se retomó fielmente un modelo previamente establecido, sino que se
disenó uno propio con la finalidad de acercarlo más a las características propias y hacerlo más
autêntico, basado en las diversas teorias retomadas de diferentes autores, que han realizado
modelos para los espacios urbanos con caracteristicas similares o parecidas al Conjunto Urbano
seleccionado y que además no se propone en función propiamente del área de estudio ya que se
considera, que la planificación turística debe realizarse como un todo armónico, para que podamos
hablar de una planificación responsable social y culturalmente.
Por tanto se debe dejar claro, que no se persigue saturar, ni destruir el patrimonio
monumental y cultural existente, sino; dotarlo de medios para que se logre cumplir el objetivo
fundamental de desarrollar el espacio turisticamente conservando el patrimonio.
Objetivos de la propuesta de aprovechamiento turístico. General:
• Proponer estrategias de planificación para el Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, que
sean capaces de desarrollar el Turismo Cultural de una forma sostenible conservando el patrimonio
histórico-cultural y monumental de la ciudad.
384
Objetivos específicos
• Indicar estrategias que permitan mejorar la imagen de la ciudad
• Proponer el incremento de la infraestructura turística salvaguardando el entorno
• Disenar actividades dirigidas a mejorar la animación del Conjunto Urbano de la Catedral, que no
desentonen con los caracteres particulares del recurso.
• Senalar los posibles medios que propicien la obtención del recurso financiero
• Sugerir el incremento de programas de capacitación que propicien el surgimiento de pequenas
empresas relacionadas al Turismo Cultural.
• Indicar estrategias que permitan organizar un mercado nacional o regional de productos turísticos
culturales.
• Sugerir medios para optimizar el enfoque publicitario y de promoción del Turismo Cultural de la
ciudad.
Indicar mecanismos que se pueden utilizar para lograr la sostenibilidad del recurso y la
satisfacción del visitante.
La propuesta de aprovechamiento se centró en los siguientes ejes, de los cuales se derivan diversas
estrategias que al ponerse en práctica se lograria alcanzar el modelo funcional del patrimonio
monumental, acercándonos asi a un autêntico desarrollo turístico sostenible.
Los principales ejes propuestos en el modelo son los siguientes de los cuales enumerarê las
principales estrategias propuestas:
Mejoras de la imagen, incremento de la promoción y el marketing
Como se define en la Carta Internacional para la Conservación de poblaciones y áreas
urbanas históricas (1987), todos los Conjuntos Urbanos del mundo, al ser el resultado de un
proceso gradual de desarrollo, más o menos espontâneo, o de un proyecto deliberado, son la
expresión material de la diversidad de las sociedades a lo largo de la historia.
En la propuesta el conjunto Urbano de la Catedral es considerado más que un conjunto
monumental con un alto contenido histórico- artístico y como la más alta expresión de los valores
de la población leonesa, es el núcleo en que convergen las influencias culturales y artísticas de anos
de tradición y es la expresión viva del orgullo de nuestra gente.
Por tanto no debemos permitir la degradación, el deterioro o la destrucción de toda esta
gama de valores por una forma de desarrollo urbano o económico incoherente que no considere las
peculiaridades que el recurso posee.
385
Conservar y comunicar el patrimonio histórico y cultural
Las nuevas teorias sobre la utilización del Patrimonio sostienen que el patrimonio es el
producto de una acomodación histórica, un proceso que abarca no sólo un alto grado de
selectividad, sino tambiên de creatividad; bajo esta perspectiva la industria del patrimonio debe
tratarse como una actividad moderna con miras a producir un producto comercializable, por tanto
debemos centrarnos más en la creación del producto de una forma sostenible, ya que este
contribuirá positivamente a su conservación. En cambio si nos dedicamos sólo a conservar y
proteger, no será posible lograr vender este recurso.
Adoptar el modelo de la "nueva museización", es obvio que la ciudad en su conjunto posee
una amplia riqueza para potenciar e incrementar el número de museos existentes, ya que estos no
corresponden a la cantidad de recursos reales y potenciales; esto significa una de las principales
debilidades de la oferta existente para la satisfacción de la demanda del Turista Cultural.
Hacer ênfasis en la recreación del pasado, para cubrir las expectativas de conocimiento del
Turista Cultural. Por ejemplo: acondicionar una de las casas coloniales que no tengan uso de
vivienda para recrear la forma de vida en el S. XIX, en que êsta pudo haber sido habitada por algún
personaje relevante en la ciudad; por ejemplo: la casa del poeta posmodernista Alfonso Cortês.
Reactivar de una manera adecuada los festivales artísticos importantes como: el festival
"Viva León", ya que estos son elementos importantes para reavivar la dinámica de la ciudad,
especialmente cuando es temporada de vacaciones en las universidades.
Desempeno y funcionamiento del recurso humano
Para el adecuado funcionamiento del recurso humano que labora en turismo, es necesario
retomar los planteamientos de los nuevos modelos administrativos, que hacen referencia
particularmente al trabajo en equipo, a un rendimiento laboral en ascenso basado en la eficacia y la
eficiencia. Por tanto partiremos de que el éxito del desarrollo del turismo ligado al patrimonio,
depende de una eficaz colaboración entre lo público, lo privado y los sectores voluntarios.
La gestión, administración y planificación turística deben contar con una estructura de
personal capacitado suficiente para el cumplimiento de objetivos y metas que se definan para el
aprovechamiento turístico del Conjunto Urbano y de la ciudad de León en general.
Incentivo de la inversión y financiamiento en el desarrollo de la oferta turística
Es necesario incrementar la oferta turística en el Conjunto Urbano de la Catedral y en la
ciudad en general; estamos claros que una de las mejores estrategias para lograrlo es captando
fuentes de financiamiento interesadas principalmente en la preservación del patrimonio, esto está
vinculado directamente a la buena organización de los actores responsables que pasarán de un
386
segundo plano a ser gestores y a la realización de una buena actividad publicitaria, la cual permite
definir el segmento de mercado ideal y aplicar las técnicas adecuadas para lograr el desarrollo de la
oferta e incentivar la inversión, sin embargo debemos retomar la importancia que tiene la existencia
de proyectos viables para el desarrollo turístico, que puedan presentarse en el momento oportuno.
Como:
• Crear mayores opciones de recreación en el área, por Ej.: festivales artísticos culturales,
foros históricos, exposiciones, etc.
• Aprovechar la producción artesanal local y exponerlo en un sitio destinado de forma
ordenada y armónica con el entorno para ello.
Ordenamiento territorial e infraestructura
Realizar un plan general turístico de la ciudad, agrupando los recursos de una forma
temática, de esta manera formar circuitos que permitan enfocar las principales riquezas
patrimoniales de acuerdo a las características, de esta manera se pueden descentralizar las
actividades turísticas.
Disenar un sistema digital de mapas que ilustren las diferentes rutas en tiempo y forma que
se pueden hacer en la ciudad y sus alrededores.
Zonificar el espacio para contribuir a la dispersion de los flujos turísticos.
Descongestionar el espacio de alambrados públicos, los cuales interrumpen la imagen del
Centro Histórico de la ciudad.
Sostenibilidad del recurso
Tener presente la importancia de un plan de contingencia que salve la situación de las bajas
temporadas de la demanda turística cuando se amerite.
La evaluación y determinación de las capacidades de cargas en el Conjunto Urbano, deben
asumirse como un compromiso en la gestión, asumiendo como principales objetivos; la mejora de
la calidad de vida, la conservación de los recursos patrimoniales y el equilibrio en el uso turístico.
Debe existir una permanente y continua evaluación del desarrollo de la actividad turística.
El desarrollo e implantación de los sistemas de control, regulación y monitoreo, se
constituyen en instrumentos necesarios para la ademada gestión del patrimonio cultural.
CONCLUSIONES
• El Conjunto Urbano de la Catedral de la Asunción, posee un alcance internacional debido a su
riqueza histórica y arquitectónica invaluable, el cual puede ser aprovechado para la oferta del
Turismo Cultural.
387
• El área en estudio ofrece el marco adecuado para implementar proyectos de turismo sustentable de
bajo impacto. Esto permitirá preservar los recursos culturales y arquitectónicos y activar las
economías locales deprimidas.
• El conjunto Urbano de la catedral de la Asunción es un importante recurso cultural que puede
integrarse plenamente dentro de un producto turístico regional.
• La trilogia "arquitectura, historia, ciência" son los recursos turísticos de mayor fuerza del
Conjunto Urbano, por tanto se deben tomar muy en cuenta al momento de establecer una marca
Turística.
• Es necesario hacer énfasis en la oferta de servicios tanto públicos como privados e institucionales,
para mejorar la imagen y la presentación de los productos, sean estos tangibles o intangibles.
• El patrimonio puede tener uso comercial, pero siempre se deben considerar los principios de
conservación y protección del mismo.
• La propuesta debe contribuir a un mejor aprovechamiento del patrimonio histórico- artísticomonumental existente en el Conjunto Urbano de la Catedral y el Centro Histórico en general, ya
que ésta ofrece indicaciones concretas para la mejora de la gestión turística basada en criterios de
planificación turística en espacios urbanos de ciudades históricas
y monumentales
particularmente.
Las características de la demanda potencial no son completamente definidas, debido a la
inexistencia de una fuente íntegra en relación con los registros de llegadas de turistas al Centro
Histórico, elaborados por el Museo Archivo y Oficina de Información Turística Municipal.
RECOMENDACIONES
Sugerir a la Dirección del Uso y Funcionamiento del Centro Histórico, al grupo GEHO, al
INTUR y al patronato de Turismo de la ciudad de León; evaluar e implementar la propuesta de
acciones que se les presenta, la cual ha sido elaborada, como resultado de este estudio y
considerando que contiene elementos básicos para la implementación y desarrollo del Turismo
Cultural en el Conjunto Urbano de la Catedral, con el objetivo de convertir este espacio en un
destino de Turismo Cultural en Centroamérica y el mundo.
Que la empresa privada y las instituciones públicas encargadas del desarrollo turístico de la
ciudad de León, divulguen a través de los diferentes medios de comunicación, Los Planes y
Proyectos que se relacionen con el mismo, con el fin de no cometer errores en los trabajos de
investigación, ahorrando esfuerzo, tiempo y dinero.
Que los responsables de la Oficina del Centro Histórico publiquen las normativas que rigen
el uso y manejo del Centro Histórico, en revistas locales, guías turísticas y materiales informativos,
388
con el fin de que sean del conocimiento de la población local residente y de los turistas nacionales y
extranjeros, para que no se irrespeten por motivo de desconocimiento.
Que el Instituto Nicaragüense de Turismo (INTUR) y la Oficina de Información Turística
elaboren una base de datos completa de los flujos de visitantes nacionales y extranjeros y que estos
sean publicados en un boletín anual, para que podamos cuantificar y evaluar el crecimiento y
desarrollo del turismo local, al igual que podamos conocer las características de la Demanda.
Que los empresarios turísticos y las entidades públicas encargadas del desarrollo turístico
local logren establecer una marca turística clara y sencilla para promocionar el Turismo Cultural en
el Centro Histórico de la ciudad.
Que el INTUR Institucionalice los diferentes organismos creados para el desarrollo de
funciones específicas ligadas a la actividad turística ( GEHO, PATRONATO, OFICINA DE
INFORMACIÓN, CENTRO HISTORICO), mediante el establecimiento de estatutos, para los
cuales existan sanciones por incumplimiento.
Que los responsables del manejo de tour por la Catedral, procuren Nevar un registro exacto
de los visitantes que acuden al lugar, respetando la capacidad de carga.
Que se busque el financiamiento para la realización de un estudio de capacidad de carga, en
el Conjunto Urbano de la Catedral.
389
MÁGENES: Plano del conjunto urbano de la Ciudad e Imágenes de
la Catedral.
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391
RURALIDADES NO ESPAÇO URBANO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA
RESTRUTURAÇÃODE UM PESQUE-PAGUE NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA-MG
Daniel Medeiros MAIA
[email protected]
Vanda Aparecida Silva ALVES
[email protected]
Bruno de FREITAS
[email protected]
Anderson Pereira PORTUGUEZ49
[email protected]
Resumo
Este trabalho traz uma análise teórica sobre os conteúdos de ruralidade presentes nos espaços
urbanos e foca-se em um estudo de caso no município de Ituiutaba (MG). Para tanto, realizou-se
revisão de literatura sobre os temas pertinentes à abordagem pretendida, assim como análise
documental e trabalhos de campo, durante os quais se realizou entrevistas semi-estruturadas com os
proprietários dos pesque-pague da cidade estudada. Em campo coletou-se ainda os dados para a
produção dos mapas utilizados nesta pesquisa e realizou-se a cobertura fotográfica dos
empreendimentos visitados. Concluiu-se que os pesque-pague são de fato expressões de ruralidades
no espaço urbano de Ituiutaba e atendem a uma demanda cada vez maior, no município investigado,
por espaços seguros e acolhedores para a prática do lazer e do turismo.
Palavras-Chave: Ituiutaba. Pesque-pague. Ruralidades. Urbanidades. Meio Ambiente.
Abstract
This paper presents a theoretical analysis of the contents of rurality present in urban spaces and
focuses on a case study in the municipality of Ituiutaba (MG). To this end, were carried out a
literature review on topics related to the intended approach, as well as documentary analysis and
fieldwork, which were took semi-structured interviews with the owners of fish-pay establishments
in the city studied. In fieldwork were collected data for the production of the maps used in this
research and was realized photographic coverage of the visited ventures. Was concluded that the
49
- Professor Doutor do Curso de Geografia da FACIP-UFU e Professor Colaborador do Programa de Mestrado
Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da UECE
392
fish-pays are in fact expressions of ruralities in the urban space of Ituiutaba and meet a growing
demand in the investigated municipality, for safe and welcoming spaces to the practice of leisure
and tourism.
Keywords: Ituiutaba. Feefishing. Ruralities. Urbanities. Environment.
Introdução
Este trabalho enfoca o desenvolvimento de um conteúdo de ruralidade existente no espaço
urbanodo município de Ituiutaba/MG. A concepção tradicional de rural como a dimensão
atrasada do espaço e o urbano como expressão de progresso, não poder sertomadas como
verdadeiras, pois, em escala global, esses espaços vêm sendo modificados profundamente no
decorrer dos anos.
As conexões existentes entre o urbano e o rural fazem com que estes espaços se
entrelacem, se envolvam, se relacionem, mas também se contraponham, se hierarquizem, se
excluam, enfim. Trata-se, portanto, de uma relação espacial complexa e heterogênea, que
justificam estudos com este que ora se apresenta. A Geografia tem o papel de avançar nas
análises desta temática e, neste sentido, este estudo pretende contribuir com um dos debates
mais importantes na atualidade, que se refere à identidades espaciais.
Ituiutaba, município localizado no Pontal do Triângulo Mineiro, no Estado de Minas
Gerais, foi escolhido como local de realização desta pesquisa, pois a cidade vem apresentando
expressivo crescimento urbano, de forma que o elastecimento físico da cidade projeta seu
conteúdo de urbanidade sobre as áreas rurais, mas, ao mesmo tempo, mantém os conteúdos de
ruralidade em alguns recantos de seu espaço urbano.
Os pesque-pague existentes em Ituiutaba exemplificam bem a referida presença do rural
no urbano. Dentro da cidade, ou em seu entorno periurbano, encontram-se empreendimentos
que mantêm a paisagem com aspectos tipicamente rurais e/ou naturais, com o intuito de oferecer
opções de lazer e turismo, sobretudo para a classe média local. E será sobre este fenômeno que
este estudo tratará, buscando-se entender suas lógicas espaciais e sua representação identitária.
A coleta de dados sobre os pesque-pague e sua localização no município de Ituiutaba deuse por meio de trabalhos de campo, pois não se detectou na literatura disponível sobre esta
cidade, estudos que focassem esta categoria de empreendimento em escala local. Visitou-se
ainda órgãos públicos e no empreendimento escolhido como estudo de caso, realizou-se uma
entrevista semi-estruturada com o profissional responsável.
393
Localização da Área Estudada
O município de Ituiutaba acha-se localizado na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba (figura 1)., no Estado de Minas Gerais, a 685km da capital de Belo Horizonte. Sua área é
de 2.598km², e de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 50,
Ituiutaba possuía em 2010, uma população de 97.159 habitantes, sendo que 93.122 habitantes
(95,8%) residiam na zona urbana e 4.037 habitantes (4,2%) na área rural.
Fig. 1: Localização do Município de Ituiutaba na Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro
e Alto Paranaíba/MG.
Fonte: Pedroso e Moura (2012, p. 367).
Ituiutaba vem apresentando forte crescimento populacional, comercial, industrial e agrícola
nos últimos 10 anos, em função da incorporação do município no rol de cidades foco de altos
investimentos do grande capital sucroalcooleiro. A figura 2, a continuação, mostra como este
cultivo tem dominado a paisagem local e regional, transformando fortemente a paisagem e levando
elevado grau de tecnificação para o campo, sobretudo nas áreas mais próximas ao perímetro urbano
e as grandes usinas de bioenergia. Mostra ainda, vista parcial da periferia em expansão, onde há
capital oficial empregado para o assentamento de população predominantemente migrante, atraída
pelo desenvolvimento municipal.
50
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidades. Acessado em 10 de abril de 2012.
394
Fig. 2: Áreas de expansão urbana e grandes canaviais no entorno de Ituiutaba.
Fonte: Anderson Pereira Portuguez (2011).
É neste cenário que a presente pesquisa foi realizada, ou seja, em uma cidade que vem
projetando seu conteúdo de urbanidade sobre a área rural imediata e que assimila em contrapartida,
conteúdos de ruralidade em seu espaço urbano.
O setor recreativo encontra-se ainda em estágio embrionário na cidade estuda. No entanto, nos
últimos anos, com o aumento quantitativo da classe média local, novas oportunidades de lazer e
entretenimento estão surgindo, muitas delas relacionadas à cultura sertaneja e aos conteúdos que
compõem a esfera cultural da ruralidade regional. Neste sentido, a escolha de um pesque-pague para
a realização da incursão empírica deste estudo, despontou como uma oportunidade de estudar a
relação cidade-campo e, neste contexto, a ruralidade no urbano.
Referencial Teórico
Em cidades de pequeno porte, onde a economia baseia-se fundamentalmente no setor
agropecuário e agroindustrial, delimitar rigidamente o que é espaço rural e espaço urbano está se
tornando complexo, pois nos dias atuais, estes espaços vão se tecnificando e densificando cada vez
mais, sobretudo onde há presença significativa do grande capital comumente designado como
―agronegócio‖
Lindner (2008) considera ultrapassada a idéia de que o espaço rural é um conjunto de
lugaressimples e atrasados, enquanto o espaço urbano seria globalizado e moderno. O processo de
modernização da agricultura, apoiando-se nos meios da globalização (tais com as indústrias
transnacionais no campo, maquinarias mais aperfeiçoadas e outros), transformou profundamente
esses ―novos‖ espaços
395
SegundoTeixeira e Lages (
,p
), ―o rural se define, antes de tudo, por sua população
ocupando e transformando um espaço, que se torna o rural por usos diversos que não unicamente
agrícolas‖ Santos (
,p
) complementou esta idéia, afirmando que: ―o espaço rural é uma
construção social, partindo-se das relações do homem com a natureza, relações que não se
restringem somente na visão do espaço rural voltado para as atividades agrícolas, mas como uma
construção social que vai além dessas atividades‖
A modernização produtiva e as transformações técnicas que vêm ocorrendo no espaço rural
nos últimos 50 anostêm proporcionado sua constante reconfiguração. A diversificação das
atividades rurais modificou o paradigma de que o rural é espaço fundamentalmente voltado para a
agricultura. Este processo, associado à mecanização acabou por liberar a mão-de-obra ocupada,
originando grandes fluxos migratórios para cidades e/ou zonas mais desenvolvidas do território
nacional.
A pequenas cidades do interior do Brasil, já nas décadas de 1970-1990, começaram a crescer
na medida em que sua população rural migrou gradativamente para a sede municipal. Trouxeram
consigo, do campo para a cidade, uma série de características da identidade ruralque podem ser
percebidas no cotidiano das pequenas cidades, como lembrou Lindner e Wandscheer (2010):
Nestes locais existe uma grande carga cultural, que pode ser traduzida através do
apego as tradições, muito evidenciadas nas relações sociais da população, suas
festividades, gastronomia e economia. Esse conjunto de fatores representa a
identidade social da comunidade, a qual reproduz o modo de vida do campo na
cidade, ou seja, as ruralidades, que representa a articulação entre as noções de
rural e de identidade social (LINDER e WANDSCHEER, 2010. p. 149).
Para Côrtes (2008), os territórios rurais qualificam-se como espaços, interagindo-se com as
funções econômicas (produções agrícolas, artesanato, turismo e lazer, e dentre outros), ambientais
(conservação dos bens materiais, como água e solo, educação ambiental) e socioculturais (proteção
e desenvolvimento referente a cultura dessas comunidades). O conteúdo do que aqui se entende
como ruralidade é entendido a partir de uma visão que integra as formas espaciais, as
funcionalidades historicamente atribuídas, a sua carga cultural e os aspectos relacionais deste todo
descontínuo, que é o meio rural. Para Sarraceno (1996):
A ruralidade é um conceito territorial que pressupõe a homogeneidade dos
territórios agregados sob esta categoria analítica, e isto naturalmente vale
também para o conceito de urbano. Ainda que não contíguos, os territórios
rurais compartem, de fato, algumas características comuns que no entanto
foram definidas de maneira clara nem no que concerne aos indicadores que
devem ser utilizados, nem no que se refere ao limite que deveria distinguir o
rural do urbano. Na maior parte dos casos, o que é rural e o que é urbano
vem intuitivamente reconhecido e depois medido. Com frequência tem-se
396
sustentado que a diferença é de natureza social e relativa ao modo como
estão distribuídas as populações e as cidades no território, ou francamente
cultural, tanto que nenhum órgão oficial empenhado nessa tarefa (Nações
Unidas, Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico –
OCDE, União Europeia, Escritórios de Estatísticas) tem conseguido
encontrar uma definição que satisfaça a todos, ainda que por tempo
indeterminado (SARRACENO, 199651).
Já na percepção urbanista, defendido por Cunha (2008, p. 13), no decorrer do processo de
ocupação do mundo, o homem modificou e transformou o seu território, tornando-os reflexos de si
mesmos, ou seja, ―territorialidades que expressam a ligação entre o substrato material da vida e a
atividade humana de produção dos meios de existência que, juntas, constituem a forma-conteúdo
reveladora de modos de vida que é a cidade‖
O conceito de espaço urbano, unificando-se com o conceito de cidade, como aborda Corrêa
(2005), é bastante complexo, pois cada sociedade observa o espaço de forma diversificada, nas suas
concepções sociais e culturais:
O espaço urbano capitalista – Fragmentado, articulado, reflexo, condicionante
social, cheios de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado de
ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e
consomem o espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível
ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é
complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades
mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classes que
dela emergem. A complexidade da ação dos agentes sociais incluem práticas que
levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via
incorporação de novas áreas do espaço urbano, densificação do uso do solo,
deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da
infraestrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de
determinadas áreas da cidade (CORRÊA, 2005. p. 11).
Estes fragmentos espaciais se articulam, pois, como esclarece Moreira (2003), o meio urbano
se unifica suas partes, ainda que de forma caótica, como na correria dos veículos e das pessoas no
dia-a-dia, estabelecendo uma movimentação humana intensa entre suas áreas residenciais para os
seus locais de trabalho. Para este autor, as conexões entre as partes que compõem o urbano
―desenvolvem-se também por meio de deslocamentos menos frenéticos, tais como compras no
centro da cidade ou nas lojas do bairro, visitas aos parentes, idas ao cinema, e dentre outros,
promovendo uma relação espacial totalmente capitalista‖ (MOREIRA,
3 p
) Dessa forma, o
espaço urbano constitui uma relação espacial de processos sociais, constituindo um reflexo da
sociedade.
51
Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/textos/downlo/textos>. Acesso em: 10 de abril de 2012.
397
No entanto, esta mesma lógica fragmentária pode ser verificada nas áreas rurais mais
tecnificadas e já densamente incorporadas ao modo de produção do capitalismo informacional. Em
Ituiutaba, por exemplo, a maior parte da massa de trabalhadores que se emprega nas usinas de
bioenergia mora nos bairros da periferia urbana, deslocando-se diariamente para a zona rural, onde
estão as vastas plantações de cana-de-açúcar e as grandes usinas sucroalcooleiras. Acrescenta-se a
este quadro de fragmentação/reintegração, a movimentação incansável de caminhões carregados de
cana, que cruzam as estradas rurais em ritmo constante levando a matéria-prima colhida nas
fazendas da região para as grandes usinas.
De acordo com Rosas (
, p
), ―depois do processo de consolidação das cidades,
passando de uma simples vila para uma expansão urbana, o espaço de transição entre o rural e o
urbano passou a ser pesquisado sobre a sua delimitação, constituindo uma fronteira‖ Esse espaço,
um tanto rural, um tanto urbano, é comumente designado como periurbano. Smitet al. (1996)
conceituou o espaço periurbano como sendo formado pelas áreas localizadas na linha entre o rural e
o urbano, próximo da periferia, ou seja, do limite legal e administrativo de uma cidade. Para este
autor, estas áreas incluem terrenos situados dentro ou fora de um plano de área e comumente elas
são caracterizadas pela ocupação de terras de forma pouco formal e com pouca concentração de
serviços básicos.
É nesta área limítrofe, que as cidades têm preferido instalar uma série de equipamentos
urbanos e empreendimentos cuja localização em áreas mais centrais pode representar complicações
na circulação, desvalorização imobiliária, poluição e outros fenômenos indesejados. Desta forma, os
espaços periurbanos são frequentemente utilizados para a instalação de distritos industriais,
cemitérios, aeroportos, penitenciárias, estações de tratamento de esgoto, aterros sanitários, estações
e terminais ferroviários e outros, além de serem ainda transformados, com alguma frequência, em
locais de lazer e entretenimento, pois permitem a sensação de estar na cidade e, simultaneamente,
―fora dela‖
No caso específico do turismo e do lazer, este tipo de espaço, que em si é da cidade, vem
sendo valorizado de forma bastante significativa por algumas categorias de empreendimentos. É o
caso, por exemplo, de SPAs, de hotéis-fazenda e de pesque-pague. São empreendimentos que
podem oferecer produtos e serviços que promovem a desvinculação (ainda que parcial) dos clientes
com o cotidiano citadino. Para isto, suas estratégias de publicidade reforçam a imagem caótica da
cidade como um ambiente sempre massacrante e a imagem do campo, como a alternativa saudável
para a cura do estresse, por meio do contato com a água, com a terra, com animais domesticados,
com a comida caseira, enfim, com outra esfera da cotidianidade.
Dito isto, pode-se então passar ao estudo de caso proposto para este trabalho. Trata-se de um
pesque-pague localizado justamente no espaço periurbano de Ituiutaba, que como qualquer outro,
398
mostra-se como uma zona citadina, de transição do conteúdo tecnoesférico entre o urbano e o rural
apropriável para fins de lazer e/ou turismo.
Resultados
Atualmente, existem três pesque-pague em Ituiutaba. O primeiro está localiza na área central
da cidade e encontra-se atualmente fechado para reforma e reestruturação. O segundo, que está em
fase inicial de construção, está localizado na zona rural de Ituiutaba, em área do baixo curso do
Ribeirão São Vicente. O terceiro pesque-pague, onde o presente estudo foi realizado, se localiza a 1
km da borda urbana sudoeste do município, vizinho ao bairro Lagoa Azul II, cujo acesso se dá por
meio de um trecho não pavimentado da Rodovia BR 154, que corresponde à extensão da Av.
Jandiro Vilela de Freitas (figura 3).
Fig. 3: Localização dos Pesque-Pague urbanos de Ituiutaba-MG.
Fonte: PRMI/AMVAP (2003). Organização: FREITAS, B. e PORTUGUEZ, A. P. (2012).
O pesque-pague estudado (figura 4), como se viu, está localizado na borda periurbana
sudoeste do município, próximo a outros tipos de equipamentos e empreendimentos típicos de áreas
limítrofes do rural e do urbano, como é o caso do aeroporto, por exemplo. Em trabalho de campo
399
realizada em maio de 2012, constatou-se que a área de 2 alqueires atualmente encontra-se alugada
para um empreendedor que a administra e a prepara para reabertura ainda em 2012.
O pesque-pague é, em si, a própria representação do limiar urbano-rural. A paisagem, a
localização, os serviços, o entretenimento oferecido, enfim, todo o conteúdo técnico que ele
representa, aponta para a própria identidade periurbana. É rural ao mesmo tempo em que é urbano.
Figura 4: Aspectos de ruralidade do empreendimento estudado.
Fonte: Bruno de Freitas (2012).
Em relação à sua aparência rural, observou-se que o empreendedor soube aproveitar bem os
aspectos menos tecnificados da borda urbana, no sentido de oferecer um espaço visualmente
agradável para seus clientes, onde a natureza se faz mais presente, ainda que representada de forma
artificial.Em termos mercadológicos, esta iniciativa faz todo sentido, uma vez que o município não
conta com muitas áreas verdes estruturadas para o uso recreativo. A única Unidade de Conservação
do município, o Parque Municipal do Goiabal, se encontra em estado de relativo abandono e não foi
estruturado para a visitação pública. A empresa oferece, neste sentido, a paisagem (simulacro) como
atrativo e como recurso.
Há áreas com vegetação no empreendimento. Não se trata de bosques de Cerrados típicos,
mas sim de formação mista, na qual foi possível detectar espécies nativas e introduzidas
artificialmente. De acordo com o gestor do empreendimento, esta vegetação constitui-se também
em oferta do pesque-pague, que pretende incentivar a contemplação e o contato com a natureza por
meio de realização de trilhas.
A pesca recreativa, que é também uma atividade muito comum em áreas rurais, sempre foi e
permanecerá praticada em tanques artificialmente povoados por peixes nativos do Brasil central e
exóticos. Para tanto, os mesmos são alimentados e futuramente haverá oferta de toda a
infraestrutura necessária: iscas, varas de pesca, gelo, recipientes, refeições e outros. Para o gestor
400
entrevistado, é importante ainda disponibilizar a cozinha para que o pescado (e acompanhamentos)
seja preparado ali mesmo pelo/para os clientes.
Em relação à alimentação vale à pena fazer uma observação importante. Trata-se de um
serviço que representa bem o caráter rural-urbano do empreendimento, pois de acordo com o
empreendedor, ele pretende oferecer opções gastronômicas regionais e opções diferenciadas,
baseadas na criação de cardápios que contenham pratos comerciais e/ou de identidade global.
Outra proposta de serviço em fase de estudo, refere-se à acomodação de visitantes e turistas.
Para tanto, o empreendedor está planejando uma área para camping com disponibilização de
churrasqueiras de concreto com um tanque para higienização de utensílios domésticos e alimentos.
O pesque-pague já foi palco para a realização de shows com atrações nacionalmente
conhecidas, o que gera, em alguns casos, usos desvinculados da identidade rural, de forma que o
empreendimento passa a assumir as mesmas funções que qualquer casa de eventos urbana. Esta é
uma tendência nacional, pois como as cidades pequenas e de médio porte não contam com muitos
cerimoniais a céu aberto, diversos pesque-pagues são locados para a realização de raves,
casamentos, festas, reuniões sociais e outros.
Por fim, é interessante citar que empreendimentos desta natureza, contam com uma estrutura
gerencial que não se assemelha à administração de fazendas e sítios. Possuem ampla rede de
fornecedores (ração para peixes, material de consumo, bebidas, refrigerantes, equipamentos
eletrônicos, alimentos e outros) que os categorizam como uma empresa eminentemente urbana.
Relaciona-se ainda com empresas prestadoras de serviços (bancos, escritório de contabilidade, de
advocacia, cartórios, de publicidade e propaganda e outras) que as inserem em redes empresariais
complexas e bem articuladas.
Considerações Finais
O presente estudo trouxe uma breve reflexão sobre o espaço periurbano da cidade de
Ituiutaba. Compreendeu-se que estas áreas limítrofes entre o rural e o urbano são, em geral,
utilizadas para a instalação de equipamentos urbanos e empresariais que não fazem muito sentido,
ou que prejudicam a organização do espaço central das cidades.
Para o lazer associado à lógica do espaço rural, o meio periurbano mostra-se interessante, pois
está próximo do urbano o suficiente para facilitar o acesso de funcionários e da demanda e, ao
mesmo tempo, isolados do caráter citadino dos bairros e áreas centrais.
Os pesque-pague são exemplos de empreendimentos que atendem a esta caracterização
híbrida de ruralidade e urbanidade quando localizados no setor periurbano. O estudo de caso
realizado mostra claramente este aspecto do empreendimento que, apesar de oferecer serviços
401
urbanos e ser de fato uma empresa nos moldes da urbanidade, organizou-se fisicamente como uma
paisagem rural relacionada à natureza e à pesca.
Referências
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Logepa – Série Texto Didático. ano 02. nº 3. set/dez. 2003. 17p.
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discussão. Revista de Geografia, São Paulo: UEP, v. 14, p. 1-185, 1997.
402
O PERFIL DO TURISTA RURAL EM AREIA/PB
Edilberto BARBOSA52
[email protected]
Ilana KIYOTANI53
[email protected]
RESUMO
Com o crescimento do turismo e com os diversos segmentos que fazem desta atividade um
verdadeiro fenômeno, o turista também vem se tornando mais exigente, devido ao acesso às
informações sobre os mais variados destinos e seus atrativos. As iniciativas de desenvolver o
turismo rural aproveitando o potencial turístico nas áreas das fazendas e outras propriedades no
ambiente interiorano é essencial para a comunidade local. Com a adoção dessas atividades turísticas
no meio rural, as mudanças na realidade da comunidade também são evidentes. A valorização da
cultura local e outros fatores, como infraestrutura e atendimento podem determinar qual o perfil de
turista que buscará esse segmento turístico. Diante disso tentou-se saber qual o perfil do turista que
pratica o turismo rural no município de Areia/PB.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo rural, perfil, turista
ABSTRACT
With the growth of tourism and the various segments that make this activity a real phenomenon, the
tourist has also become more demanding, due to the access to information on the most varied
destinations and its attractions. The initiatives to develop rural tourism taking advantage of the
tourism potential in the areas of farms and other properties in country's vast interior environment is
essential for the local community. With the adoption of these tourist activities in the rural
environment, the changes in the reality of the community are also evident. Valuation of the local
culture and other factors, such as infrastructure and care may determine what is the profile of
tourists who seek this tourism segment. Faced with that attempted to know the profile of the tourist
that practice the rural tourism in the municipality of Areia/PB.
KEY-WORDS: rural tourism, profile, tourist
52
53
Estudante do Curso de Turismo da Universidade Federal da Paraíba
Bacharel em Turismo – UFPB, Especialista em Análise Ambiental pela UFPR e Mestre em Geografia pela UFPB.
403
INTRODUÇÃO
Com o crescimento do turismo e com os diversos segmentos que fazem desta atividade um
verdadeiro fenômeno, o turista também vem se tornando mais exigente, devido ao acesso às
informações sobre os mais variados destinos e seus atrativos. De acordo com Dencker (2007), o
turismo é hoje um dos setores mais importantes da economia ocidental. No Brasil o turismo vem se
desenvolvendo de forma expressiva, sendo objeto de políticas públicas específicas por parte dos
governos federal, estaduais e municipais, possuindo desde 2002 um Ministério próprio.
Um dos seus segmentos que vem se destacando é o turismo rural, que vem atraindo no
decorrer dos últimos anos muitos adeptos, justamente em contra ponto ao tradicional turismo de sol
e mar.
De acordo com Tomio e Dreher (
, p
) ―no Brasil, em função de mudanças
substanciais no perfil dos turistas que passaram a buscar novos destinos para áreas não-urbanas, o
turismo rural apresenta-se em evidência‖ Como afirmam esses autores, vem ocorrendo uma
mudança no perfil dos turistas no Brasil que pode ser devido à procura por destinos que
proporcionem um contato mais direto com a comunidade local com caráter mais familiar e
bucólico.
Com crescimento de aproximadamente 30% ao ano, o turismo rural é uma das atividades
econômicas que mais se desenvolve no país. No ranking mundial, o Brasil ocupa a quarta
posição no segmento, perdendo apenas para Espanha, Portugal e Argentina. Segundo a Organização
Mundial do Turismo, o crescimento internacional do setor é de 6% ao ano e pelo menos 3% dos
turistas do mundo direcionam suas viagens para destinos rurais. (SEBRAE – MG, 2010)
Diante do crescimento desse segmento e das mudanças que o meio rural vem conseguindo,
provavelmente o aumento do fluxo de turistas que buscam atrativos novos também seja de um perfil
de turista que não experimentou ainda os valores do turismo rural. Desta forma é que decidiu-se
verificar qual o perfil desses turistas que visitam os atrativos rurais na cidade de Areia/PB e o que
essa mudança pode provocar de positivo para a comunidade local.
TURISMO RURAL: BREVE HISTÓRICO
O turismo rural é um segmento que vem ganhando espaço entre os turistas como uma boa
opção, principalmente para os que procuram por novas experiências, conhecimentos e interação
com a comunidade local. Essa modalidade vem se destacando no mercado, principalmente
brasileiro De acordo com Portuguez et al (
) ―o segmento turismo rural foi criado inicialmente
sobre uma estrutura de marketing, ou seja, para designar um nicho de mercado, passando a ser a
404
nova salvação da lavoura‖ Segundo Tulik (
, p 3) ―( ) o turismo rural foi uma alternativa para
contornar problemas financeiros decorrentes de crises agrárias‖
Os autores relatam que as atividades não agrícolas, no caso o turismo rural, passaram a ser
adotadas, como uma nova forma de complementar as atividades agrícolas de muitas comunidades
que não conseguem sobreviver apenas com as atividades primárias, como agricultura e pecuária.
Segundo Roque e Alencar (
, p 3) ―na Idade Média, os nobres retornavam ao campo,
mesmo que temporariamente, à procura do descanso e lazer. Tem-se notícia, na Espanha do início
do século XI, o surgimento das primeiras hospedarias rurais no Caminho de Santiago de
Compostela, centro de peregrinação cristã‖ Vê-se o quanto a prática do lazer no campo é antiga a
nível internacional. Já no Brasil, precisa ser mais estimulada, pois possuímos um território rico em
atrativos culturais e naturais no meio rural ainda desconhecidos de muitos turistas, como é o caso
dos atrativos que se visitou em Areia/PB.
Rodrigues (2001, p.51) afirma que:
Não há marcos precisos para datar o início dessa atividade devido à grande extensão
geográfica do país. Com o rótulo de turismo rural, entretanto, sabe-se que as primeiras
iniciativas oficiais, em escala estadual, ocorreram no município de Lages, localizado no
planalto catarinense, na Fazenda Pedras Brancas. Em 1986, a fazenda propôs a acolher
visitantes para passar ‗um dia no campo
As iniciativas de desenvolver o turismo rural em Lages (SC) aproveitando o potencial
turístico nas áreas rurais das fazendas e propriedades da comunidade é um fator essencial para as
famílias locais, pois, com a atividade turística, essas famílias conseguem complementar seus
rendimentos, além de promoverem lazer e descanso para os turistas.
OS ADEPTOS DO TURISMO RURAL
Com a adoção dessas atividades turísticas no meio rural, as mudanças na realidade da
comunidade local também são evidentes, pois além de valorizar a cultura local, promove emprego e
renda e consequentemente atrai um fluxo de turistas que ainda não conhecem as belezas que o meio
rural oferece, diante disso tentou-se saber qual o perfil do turista que pratica o turismo rural nessas
localidades, bem como o que visita os atrativos rurais de Areia/PB.
De acordo com o Manual de Orientação do Turismo Rural (2010):
O consumidor de Turismo Rural busca a possibilidade de reaproximação com a natureza
em relação às ―coisas da terra‖, mesmo que por um curto espaço de tempo Está interessado
405
em vivenciar e experimentar os valores da natureza e do modo de vida local caracterizado
por elementos singulares
da cultura, pela gastronomia típica, pela tradição e pelo modo como se dá a
relação homem e natureza.
Como se verifica, o perfil dos turistas que praticam o turismo rural buscam uma interação
direta com os modos de vida local, além de vivenciar a cultura e as tradições locais, esses turistas
procuram por algo mais familiar e peculiar, que em segmentos como o turismo de sol e mar não se
encontram tão evidentes. Esse perfil de turista já traz em si, experiências com segmentos que já não
satisfazem ou proporcionam o lazer que eles procuram.
O Manual do Turismo Rural (2010) coloca algumas características dos turistas que praticam
o turismo rural:

São moradores de grandes centros urbanos.

Possuem entre 25 e 50 anos.

São casais com filhos.

Têm formação superior e a maioria pós-graduação.

São de classe média para média alta.

Usam automóvel próprio ou vans.

Deslocam-se, geralmente, em um raio de até 150 km do núcleo emissor.

Fazem viagens de curta duração – fins de semana e feriados.

São apreciadores da gastronomia típica regional.

Possuem elevado nível de consciência a respeito das questões ambientais.

Valorizam produtos autênticos e artesanais.
Como se percebe, as características desses turistas são de pessoas que valorizam a cultura
autêntica, são experientes, possuindo cursos superiores e a consciência e respeito nas questões
ambientais, isso faz com que o turismo rural seja um dos que mais crescem, principalmente em
qualidade. Além disso, são turistas que procuram esses atrativos rurais para minimizar as tensões
advindas do dia-a-dia dos grandes centros urbanos.
De acordo com a pesquisa que realizou-se em Areia, as características do perfil do turista
rural são:

95% possuem de 20 a 50 anos;

A maioria são turistas de centros urbanos advindos de: João Pessoa, Campina Grande e
Natal;
406

89% possuem renda de 1 a 3 salários mínimos;

A maioria procuram por conhecimento, história e a cultura de Areia/PB;

São pessoas que na maioria souberam do atrativo rural através de amigos e familiares;

Deslocam-se em um raio de 40km a 210km até Areia/PB;

São de classe média para alta;

São pessoas que tem uma maior consciência ambiental.
Verificou-se que há uma similaridade entre o perfil apresentado pelo Manual do Turismo
Rural (2010) com o perfil pesquisado em Areia/PB, no entanto, devido a grande extensão que o
Brasil possui, onde o turismo rural tem suas peculiaridades em cada região, esse perfil do turista
poderá apresentar algumas diferenças. Observou-se através de pesquisa de campo em Areia que o
potencial do turismo rural é imenso e que a facilidade e acessibilidade da prática desse segmento faz
com que exista uma demanda de turistas que são atraídos pela qualidade e a viabilidade de um
segmento que tem uma tendência de crescimento.
No entanto com essa tendência de crescimento do Turismo Rural no Brasil, a ferramenta do
planejamento é de fundamental importância para disponibilizar os serviços e atrativos com a
infraestrutura adequada para receber essa provável demanda de turistas que procuram por esse
segmento, pois sem a ferramenta do planejamento, haverá provavelmente nesses atrativos uma série
de problemas que poderá comprometer a qualidade dos atrativos, fazendo com que essa falta de
qualidade interfira direta ou indiretamente no perfil do turista aqui apresentado.
Elesbão (
,p
) acrescenta que ―o grande fluxo de turistas somado a não existência de
infraestrutura adequada e à falta de capacitação técnica dos funcionários pode causar uma série de
problemas, comprometendo inclusive o futuro das iniciativas‖
Como afirma o autor, é importante ter uma infraestrutura para receber ou atender o turista
com serviços de qualidade sem causar problemas para a localidade. Pois oferecendo bons serviços,
consequentemente, esses turistas retornarão para a localidade, além de que os benefícios sociais,
culturais e econômicos para a comunidade local serão mais evidentes.
É importante saber o perfil de turistas que visitam determinada localidade, porque se saberá
assim melhorar a oferta dos serviços para a demanda de turistas que visitam o atrativo. Em uma
pesquisa sobre a oferta e demanda realizada sobre o perfil do turista rural no Rio Grande do Sul
relata que:
A proposta da pesquisa é apontar as possíveis melhorias para desenvolver esse nicho de
mercado no Estado. Por intermédio de pesquisa de oferta e demanda, que ainda será
aprofundada com levantamento de dados nos principais mercados emissores do país,
poderemos compreender o que o turista brasileiro deseja usufruir quando procura essa
407
modalidade de lazer e entretenimento, explica Daniela Bitencout, diretora do Instituto
Marca Brasil. (HOTELIER NEWS, 2010)
Desta forma, a pesquisa da demanda e oferta é outra ferramenta imprescindível, pois com ela
poderemos definir as estratégias e melhorar os produtos que podem ser ofertados para uma
determinada demanda de turistas que visitam a localidade. Fica claro que esse levantamento poderá
trazer vários impactos positivos que podemos chamar de efeito multiplicador, fator esse que
dependendo do perfil do turista, levará benefícios para a comunidade, seja na hospedagem,
restaurantes, produtos locais, artesanato, dentre outros.
De acordo com Ruschmann (
apud ELESBÃO,
, p
), ―ao atrair fluxos de
pessoas de outros espaços econômicos, o turismo rural estimula o consumo nas áreas onde ocorre,
desencadeando o tradicional efeito multiplicador da atividade turística‖
Os fluxos de turistas causam o efeito multiplicador, mas para que não influencie de modo
negativo é necessário planejar as ações que serão utilizadas para atender esses visitantes do meio
rural. Em Areia/PB existe a parceria com o SEBRAE/PB para capacitar a comunidade local no
atendimento ao turista e o incentivo a valorização da cultura local, isso poderá influenciar no perfil
do turista que pretende visitar a cidade, pois encontrará atrativos valorizados e a comunidade
atendendo bem os turistas.
Outros fatores que podem influenciar no perfil do turista são: a limpeza do local, a
sinalização, a segurança pública, dentre outros. Esses fatores também podem influenciar no perfil
do turista, pois o turista de classe média alta valoriza ou tem a consciência de ver o atrativo bem
cuidado e valorizado pela comunidade. Mas no caso do turismo rural, ainda há outra vantagem que
é a diversificação do produto ou do atrativo que poderá influenciar nesse perfil do turista.
É importante ressaltar que o Brasil, como possuidor de grandes extensões territoriais com
características que diferem cada região, poderá trazer um diferencial no próprio turismo rural
devido a concorrência que porventura se encontre entre essas regiões, portanto a responsabilidade
de cuidar do turismo rural é essencial, fornecendo a infra-estrutura adequada e isso não seria
diferente em Areia/PB. Apesar da pouca infra-estrutura, as parcerias existentes com órgãos como o
SEBRAE vem ajudando a tornar o turismo em um diferencial para quem visita a cidade, pois existe
a valorização da cultura e das comunidades locais, ocasionando a vinda de vários turistas.
Souza e Assis (2005, p.2) destacam que:
Diante da concorrência pela atração dos eventos nos dias atuais, leva maior vantagem quem
melhor conhece o seu mercado potencial, podendo, desta forma, planejar as suas ações e
direcionar os seus recursos financeiros e humanos.
408
Não se pode esquecer de outro fator importante que é a sustentabilidade do local, que precisa
ser desenvolvida nas ações que porventura sejam aplicadas no meio rural, pois o turista poderá
observar essas características do atrativo, se os proprietários e as comunidades locais adotam meios
de minimizar os impactos negativos no meio rural, isso poderá a ser um dado que o turista definirá
quando escolher um determinado atrativo turístico.
Conforme Marinho e Martins (2010, p.4):
O turismo visto como uma atividade econômica vem se tornando cada vez mais crescente.
Quem trabalha com o turismo, qualquer que seja seu segmento, vem percebendo que o
turista é um consumidor em busca de uma empresa que ofereça o serviço mais adequado e
que satisfaça a suas expectativas. Cabe a empresa perceber como e porque o consumidor
faz as suas escolhas, isso lhe dará a chance de oferecer o produto certo ao seu público alvo
de um modo mais persuasivo.
Desta forma, é importante trabalhar os dados pesquisados sobre as características dos
turistas e aplicar os mesmos nos planejamentos turísticos locais para determinar quais os melhores
produtos que podem atender as expectativas dos turistas que visitam Areia/PB ou em qualquer outro
município que possui potencial turístico no meio rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo, como uma das atividades que mais cresce no Brasil, pode vir a ser também
indutor do desenvolvimento para algumas comunidades. Dentre os segmentos que vem ganhando
muitos adeptos está o turismo no espaço rural, merecendo uma atenção especial dos gestores, pois
vem se fortalecendo diante de um mercado ainda pouco explorado, principalmente na Paraíba.
As iniciativas de Lages (SC), pioneira em desenvolver o turismo rural, fizeram com que
outros municípios circunvizinhos começassem a desenvolver esse segmento, utilizando-se de
propriedades herdadas dos ciclos econômicos que representavam a política e a economia do país.
Com a adoção dessas atividades turísticas no meio rural, as mudanças na realidade da
comunidade local poderão ser mais evidentes, além de atrair um fluxo de turistas que ainda não
conhecem as belezas que o meio rural oferece, e que a cidade de Areia/PB poderá ter um perfil de
turista que valorize as tradições e a cultura local através desse segmento rural.
Tornou-se perceptível os benefícios sociais, culturais e econômicos que o turismo rural
proporciona aos proprietários e aos turistas, pois com a prática dessa atividade, a comunidade local
se sente estimulada com o sentimento de valorização da cultura local. Há realmente uma interação
entre turistas e comunidade local. Em Areia, vários proprietários relataram os benefícios com o
409
turismo rural, como empregar gente da própria comunidade, complementando as suas rendas e ao
mesmo tempo dando emprego as pessoas da região, movimentando a economia local. Além disso,
trabalhar com as pesquisas sobre o fluxo de turistas como uma forma de descobrir o perfil dos
mesmos, isso possibilitará uma melhor ação a ser desenvolvida para atender as expectativas dos
turistas e consequentemente qualificar o atrativo com um diferencial que possa atrair ainda mais
outros turistas.
Enfim, é importante saber qual o perfil do turista que pratica o turismo rural, pois possibilita
uma melhor forma de planejar as ações de oferta e demanda, trazendo mais qualidade aos produtos
a serem oferecidos a essa demanda de turistas, atendendo a todas as expectativas necessárias desses.
Além disso, Areia/PB guarda um grande potencial para o turismo rural e que poderá ser dentro de
alguns anos um dos mais freqüentados na cidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sul e sudoeste de Minas Gerais. REVISTA Faculdade Teresa Martin. SP.2004. Disponível em:
<http://www.idestur.org.br/download/20080614220159.pdf> Acesso em: 03/10/2012.
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2010. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publi
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<http://hoteliernews.com.br/2010/01/PesquisaapontaoperfildoturistaruralnoRioGrandedoSul/>
Acesso em: 03/10/2012.
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Paulo: Futura, 2007.
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Oliveira; SOUZA, Marcelino de. Teoria e prática do turismo no espaço rural. São Paulo: Manole,
2010.
410
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escolha do seu destino turístico. Revista eletrônica Aboré – Publicação da Escola Superior de Artes
e Turismo de Manaus. Edição 04 de dezembro de 2010. Disponível em:
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sustentabilidade econômica dos empreendimentos de turismo rural. In: PORTUGUEZ, Anderson
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SANTOS, Eurico de Oliveira; SOUZA, Marcelino de. Teoria e prática do turismo no espaço rural.
São Paulo: Manole, 2010.
411
GALINHOS/RN: ATIVIDADE TURÍSTICA E MEIO AMBIENTE
Hionne Mara da Silva CÂMARA
[email protected]
Emilly Julianny de Sousa APOLINÁRIO
[email protected]
Joiça Belarmino da SILVA
[email protected]
Salete GONÇALVES
[email protected]
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo geral investigar o município de Galinhos/RN, que a partir
dos anos 2000, vem passando pelo processo de turistificação, desencadeado principalmente pelos
agentes de mercado. Buscou-se também realizar um levantamento histórico do desenvolvimento
turístico na localidade, considerando as mudanças nos modos de produção local e o papel dos
residentes diante desse fenômeno. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, documental,
além de uma visita in loco. Face ao exposto, conclui-se que o turismo tem gerado transformações
vitais dentro do município, como o trabalho ativo da comunidade em reuniões relacionadas à
atividade turística, que já é considerada geradora de renda.
Palavras-chaves: Galinhos/RN; Atividade Turística; Meio Ambiente.
Abstract
The present paper has as the main objective to show the reality of Galinhos/RN, that has been, in
since the late 2000s passing for a touristification process, initiated specially by the market agents. It
was also quested to make a historical survey of the tourism development at the locality, considering
the changes in the local production ways and the part of the residents ahead this phenomenon. For
this, it was accomplished a bibliographical, documental research, besides an in loco visit. Facing to
the exposed, it‘s concluded that tourism has generated vital transformations in the city, like the
active part of the community in meeting related to the tourism activity, which is already considered
income generator.
Key words: Galinhos/RN; Tourist Activity; Environment.
412
INTRODUÇÃO
O turismo, por ser uma atividade que gera impactos diretos e indiretos na comunidade em
que acontece, deve ser bem planejado, especialmente quando realizado em áreas naturais, o que é o
caso de Galinhos. Para Dias
―[ ] o turismo [ ] não necessita extrair da natureza os recursos de que utiliza para serem
consumidos pelos turistas, [...], existe a perspectiva real de que a atividade turística seja a
melhor forma de se obter recursos para a preservação do meio ambiente natural. Isto é
possível porque os recursos naturais só mantêm seu atrativo quando permanecem o menos
alterados possível, preservando sua autenticidade natural‖ (
,p
)
A preservação, de acordo com Dias, é essencial no equilíbrio e manutenção da atividade
turística, formando, assim, o que seria a ideia de turismo de base comunitária. A partir do momento
em que a comunidade percebe a relevância do ambiente natural e sua manutenção para si e para os
visitantes, ela passa a se conscientizar e respeitar este espaço, pondo em prática a educação
ambiental.
No Rio Grande do Norte, Galinhos não é a única cidade que planeja o turismo com os
cidadãos. A ideia de turismo comunitário (feito pela e para a comunidade) também ocorre em Ponta
do Tubarão, de maneira ainda mais prática, tendo em vista que Galinhos já tem empresas turísticas
que trabalham para o desenvolvimento da atividade, e presença de pousadas.
O presente trabalho se trata de uma tentativa de investigação do município de Galinhos, que
é recentemente considerado um local turístico. Esta observação ocorreu através de uma viagem de
campo da turma do curso de Turismo, da UERN, onde foi conduzida pelos próprios estudantes do
curso. Antes da realização do roteiro, foram feitas pesquisas e contatos acerca da comunidade, para
que este se desse de forma simples e clara para os estudantes que seriam conduzidos.
Galinhos é uma península, localizada no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte,
Nordeste do Brasil, aproximadamente 170 km da capital potiguar, Natal, com uma população de
cerca de 2.100 habitantes (MARINO, 2012), Galinhos é dividido entre o a sede do município (1.200
habitantes), a comunidade de Galos (500 habitantes) e o Assentamento Pirangi-Barrocão (400
habitantes).
Galinhos tornou-se município no ano de 1963. Ressalta-se que o município está inserido no
Pólo Turístico Costa Branca, que é composta por 17 municípios do Rio Grande do Norte, onde se
busca acolher pontos como a história, cultura, ruralismo, turismo dessas cidades, que compõem em
sua grande parte o litoral norte do RN e cidades interioranas como Mossoró, Apodi e Assú. O
município de Galinhos é considerado turístico, compondo o pólo e permanecendo com algumas
413
singularidades, sejam nos costumes, ou na maneira como se realiza o turismo, desde o momento do
início da experiência.
A chegada ao município ocorre através de barco. O visitante deixa o seu transporte no porto
Pratagil e segue de barco cerca de 20 minutos até a chegada à cidade de Galinhos. Na cidade não há
carros. O que foi observado em relação a isso foram os carros da polícia local e os bugues que
fazem passeios turísticos nas dunas com os que visitam o local. A ausência de veículos faz com que
a cidade tenha uma imagem de tranqüilidade e simplicidade, mantendo-se como comunidade ainda
com seus traços pesqueiros, onde a qualidade de vida é mantida.
O município mantém em suas características traços de sua configuração original, ou seja,
ruas de areia, casas com aparência rústicas de vila de pescador, praias consideradas ―selvagens‖,
com poucas modificações feita pelo homem. Esses fatores aliados às belezas naturais são os
atrativos de Galinhos que vem despertando o interesse para o turismo (ROCHA, 2008).
Em meados da década de 1980, a cidade passou por um desastre, que foi a destruição de
mangues, com morte de diversas espécies de peixes, em vista da criação de um criadouro de
camarões, que ainda é ativo no município. Desde então, a comunidade, ao notar que foi prejudicada,
passou a atuar de maneira a evitar certas escolhas que diziam ser de desenvolvimento, mas não
levavam em conta a sustentabilidade local. Outras ações voltadas para a proteção ambiental serão
vistas no decorrer do trabalho.
ATUAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL FRENTE AOS NOVOS MODOS DE PRODUÇÃO
Galinhos, que como já citado, se tornou município na década de 1980, era inicialmente uma
comunidade pesqueira, onde a pesca era a principal atividade econômica, vista praticamente como
meio de subsistência. A comunidade viveu por décadas com tal realidade, e nas proximidades dos
anos 2000 começou a receber visitantes e turistas, alertando para um outro viés econômico. A partir
deste momento, a população galinhense passou a construir pousadas, criar passeios de buggy e
charrete para os turistas. O turismo passou, então, a ser diretamente um gerado de renda, e de
acordo com Lickorish, ―o turismo pode gerar muitos benefícios, inclusive emprego e receita [...]
pode oferecer meios de manter um nível de atividade econômica suficiente para evitar migração de
pessoas para as áreas mais desenvolvidas de um país‖ (
,p
) No tocante ao citado,
Nesse contexto, em maio de 2012, a população Galinhense passou por um desafio, que foi a
implantação de um parque eólico nas dunas próximas ao município, que fazem parte da paisagem
da península A comunidade fez protesto, fazendo o ―abraço das dunas‖, para impossibilitar que a
ação fosse posta em prática, mas a tentativa não trouxe resultados concretos para a comunidade,
apesar de ter dado grande visibilidade para a atuação da mesma. A ação não teve retorno palpável
414
tendo em vista que as grandes empresas já haviam fechado negócio, e hoje grande parte das dunas
já está terraplanada para receber mais aerogeradores, onde alguns dos que já existiam próximo à
praia (conforme Ilustração 1) podem ser vistos do Farol Galinhos (Ilustração 2).
Ilustração 1: Parque eólico localizado na proximidade do Farol Galinhos
Fonte: Câmara, 2012
Ilustração 2: Farol Galinhos
Fonte: Brasil, 2012
No projeto da criação do novo parque eólico, estavam previstas as instalações de 35
aerogeradores, localizados nas dunas de Galos, que é um dos atrativos turísticos do município (e o
mais visitado, pelas belezas naturais). O abraço das dunas ocorreu no dia 20 de maio, nas dunas de
Galos. Um representante da cidade postou num blog fotos do momento e descreveu a indignação
dele e de muitos moradores, citando que há diversos lugares nas proximidades onde poderiam ser
instalados os aerogeradores, mas as empresas insistiam em instalá-las em cima das dunas de Galos.
Ele cita, ainda, que o somente um órgão de caráter ambiental poderia proteger a área em questão era
415
o IDEMA, que, no entanto ―foi o 1º à dar a licença para a empresa explorar aquela área sendo
impedida pelo ministério público [...]‖ (MARINO,
) Segue, abaixo, uma das fotos do protesto,
postada no blog pelo morador de Galinhos:
Ilustração 3: Abraço nas dunas
Fonte: Marino, 2012
A RELAÇÃO MEIO AMBIENTE E TURISMO NO MUNICÍPIO DE GALINHOS
Galinhos é uma comunidade pesqueira com exuberante beleza natural, que na década de
2000 foi despertada para o turismo, por apresentar potencial nessa área. Hoje, início da segunda
década do século XXI, grande parte da população complementa sua renda familiar com recursos
obtidos nesse setor, com a venda de produtos e serviços para os turistas que visitam o local.
A comunidade se mostra bastante ativa no tocante à atividade turística, agindo de maneira a
defender seu patrimônio natural. Sempre busca acolher os turistas e visitantes de todas as partes do
mundo. Segundo relatos das duas condutoras que acompanharam o grupo em Galinhos, no
município há duas cooperativas: a dos barqueiros e a dos charreteiros. Os barqueiros são
responsáveis de conduzir grupos no momento de chegada ao porto da cidade, acompanhá-lo nos
traslados entre Galos e Galinhos e no retorno ao porto; Os responsáveis por dirigir as charretes
realizam passeios entre o centro da cidade (local do porto onde chegam os turistas) e o Farol
Galinhos.
Neste sentido, observa-se que apesar do turismo ser uma atividade nova no município e com
pouco planejamento, a comunidade está tentando se organizar para ofertar o mínimo de serviços
para os visitantes.
416
No que se refere ao planejamento Ruschmann (
, p ) revela que ―a finalidade do
planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem sobre o território e ocupa-se em
direcionar a construção de equipamentos e facilidades de forma adequada evitando, dessa forma, os
efeitos negativos nos recursos, que os destroem ou reduzem sua atratividade‖
Como mostra o trecho citado acima, o planejamento é a base para o desenvolvimento do
turismo de modo equilibrado e em harmonia com os recursos que o sustenta, e busca evitar a
destruição dos mesmos.
Pode-se concluir, então, que a comunidade de Galinhos/RN consegue agir de forma racional
para obter um retorno da atividade turística, mesmo se tratando de um município turisticamente
recente. Galinho se diferencia dos demais atrativos que compõem o Pólo Costa Branca por seu fator
comunitário, onde a cidade participa ativamente de processos como tomada de decisões, que
influenciam diretamente na prática turística.
BREVES CONSIDERAÇÕES
A proposta inicial do trabalho seria identificar no município de Galinhos peculiaridades para
se compreender como ocorre o turismo, numa análise in loco, onde seria notada a presença do
planejamento, do comportamento dos trabalhadores do setor no local e dos turistas e visitantes que
frequentam a cidade.
Observando como se encontra o turismo no município de Galinhos atualmente, uma
alternativa para que prospere e se desenvolva de modo menos agressivo possível para a comunidade
e seu patrimônio, seria a realização de varias ações na voltadas para a busca desse equilíbrio, como
um estudo de capacidade carga do local, o treinamento dos associados das duas cooperativas, para
que eles possam atender de modo mais adequado os turistas, formação de condutores de grupo,
formação de Guias locais, inserir na educação básica ensino de educação ambiental e patrimonial,
dentre outras iniciativas.
Sabe-se, ainda, que no Rio Grande do Norte e no Ceará houveram outras manifestações
contra a implantação de Parques Eólicos, que não foram citados pelo fato de Galinhos ser o
município estudado e analisado. Entretanto, vale salientar que é perceptível a atuação comunitária
em novos municípios turísticos, que vêm investindo cada vez mais na sustentabilidade e na
responsabilidade ambiental.
417
REFERÊNCIAS
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<http://www.tempodeaventura.com.br/pt-BR/passeio/eco-jipe-safari-galinhos> Acesso em: 18 de
setembro de 2012.
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MARINO, Stephason. SOS Península de Galinhos/RN: Destruição de dunas e mangues. Blog
S.O.S. Rios do Brasil, 28 de maio de 2012. Disponível em: <http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br
/2012/05/sos-peninsula-de-galinhos-rn-destruicao.html> Acesso em: 20 de setembro de 2012.
ROCHA, Adriana Cristina Soares. Saúde e saneamento no município de Galinhos – RN.
Dissertação (Mestrado em Geografia), Natal – RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
2008. 194 f. Disponível em: http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde_arquivos/16/TDE-201102-10T011723Z-3292/Publico/AdrianaCSR_DISSERT_1_a_107.pdf. Acesso em: 29 set. 2012.
RUSCHMANN, Doris. Turismo Planejamento Sustentável: a proteção do meio ambiente. 13a ed.
Campinas – SP: Papirus, 2006.
418
AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA TRILHA
DO CARTEIRO, APA SERRA SÃO JOSÉ, TIRADENTES, MINAS GERAIS
Ítalo Sousa de SENA _ [email protected]
Hilton Wagner TEIXEIRA - [email protected]
Leonardo Cristian ROCHA - [email protected]
Múcio do Amaral FIGUEIREDO - [email protected]
Resumo
A busca da população das cidades por um contato mais estreito com a natureza fez crescer a procura
por locais de visitação que proporcionassem esta aproximação. Com isso, surgiram novas
modalidades de turismo, dentre elas o turismo de natureza. Esta modalidade de turismo contribuiu
para o aumento nos índices de visitação nas trilhas em Unidades de Conservação (UCs) e suas
adjacências. Junto com isso, veio a intensificação dos impactos causados nestas áreas. O presente
trabalho discute o atual estado dos níveis de erosão e compactação na Trilha do Carteiro, situada na
Área de Proteção Ambiental (APA) Serra São José, no município de Tiradentes, Minas Gerais,
através da utilização da técnica do cálculo da Área da Seção Transversal (AST) e medidas de
compactação da superfície do solo com uso de penetrômetro. Analisando três trechos da trilha, a
AST revelou estágios distintos de erosão em função de características pedológicas e de declividade.
Os dados penetrométricos revelaram, conforme esperado, índices de compactação maiores no leito
da trilha e menores nas bordas.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo de Natureza, Trilhas, AST, Compactação do Solo.
Abstract
The search of the urban population by a closer contact with nature has increased the demand
for local visitation that provided this approach. Thus, new forms of tourism, among them the nature
tourism. This type of tourism has contributed to increased rates of visitation on the trails in
protected areas and its surroundings. Along with that came the intensification of impacts in these
areas. This paper discusses the current state of erosion and compaction levels in Carteiro Trail,
located in the Serra São José Environmental Protection Area, in the city of Tiradentes, State of
Minas Gerais,Brazil, using the technique of calculating the Cross Sectional Area (CSA) and
measures compaction of the soil surface using a penetrometer. Analyzing three reaches of the trail,
the CSA revealed distinct stages of erosion due to pedological characteristics and declivity. The
419
penetrometer data showed, as expected, higher compaction ratios in the trail bed and lower in the
trail edges.
KEYWORDS: Nature Tourism, Trails, CSA, Soil Compaction
INTRODUÇÃO
A humanidade tem entronizado cada vez mais no seu dia-a-dia, a conscientização e
atitudesecológicas. Como grande parte da população mundial vive atualmente em espaços urbanos,
acarência por áreas verdes, aliada à conscientização cada vez maior dos valores ecológicos,
temlevado um crescente contingente de pessoas a buscar um contato mais estreito com a
natureza.Seja para lazer, prática de esportes ou simples contemplação, a visitação pública em
áreasprotegidas vem aumentando continuamente. Isso é um fator positivo. No entanto, o aumento
docontingente de pessoas nas áreas silvestres deveria ser acompanhado de planejamento
degerenciamento, principalmente quando se trata de áreas protegidas.
O trânsito de pessoas nessas áreas se dá, em sua maioria, através de trilhas existentes para
esse fim. No entanto, assim como as trilhas servem como elo entre as pessoas e a natureza, servem
também como vetores de propagação de diversos desequilíbrios ambientais, tais como introdução e
propagação de espécies vegetais exóticas, pisoteio na vegetação, exposição, compactação e erosão
do solo (LIDDLE, 1975). A compactação tem desdobramentos, pois afeta o desenvolvimento de
raízes vegetais, interfere nas taxas de infiltração hídrica, além de favorecer processos erosivos
(HAMMITT & COLE, 1998). Quando tais fenômenos se intensificam, passam a ser um sério
problema gerencial para os administradores das áreas protegidas.
Com base nessas definições, algumas atividades como caminhada, observação de aves,
camping e natação, entre várias, são promovidas em áreas protegidas. A localização das áreas para o
desenvolvimento dessas atividades ocorre, geralmente, em sítios de grande valor cênico. Pode
ocorrer que os pontos de maior qualidade visual coincidam com os ecossistemas mais frágeis, neste
caso, provavelmente os recursos naturais podem ser danificados (MAGRO, 1999).
A principal função das trilhas sempre foi suprir a necessidade de deslocamento, assim como
ocorreu com a Trilha do Carteiro, onde o trajeto era realizado como comunicação entre diferentes
vilas da região, fazendo parte do circuito de caminhos do Brasil Colonial em Minas Gerais,
conhecido como Estrada Real. No entanto, pode-se verificar que ao longo dos anos houve uma
alteração de valores em relação àstrilhas. De simples meio de deslocamento, as trilhas surgem como
novo meio de contato com a natureza. A caminhada incorpora um novo sentido, passa a ter um
sentido em si própria e recebe um grande número de adeptos (ANDRADE, 2003).
420
A trilha analisada é historicamente conhecida como Trilha do Carteiro, que segundo guias
locais, serviria de acesso às vilas que circundam a formação rochosa. Por se tratar de uma trilha de
secular utilização, é possível perceber que em certos trechos existem estruturas criadas para facilitar
o trajeto assim como evitar a degradação da trilha, podendo-se observar blocos da rocha constituinte
da serra servindo como calçamento em certos trechos da trilha, principalmente em locais de alta
declividade, inclusive com pequenas adaptações para desvio de drenagem pluvial para fora da
trilha.
METODOLOGIA
A Serra de São José situa-se entre os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Coronel
Xavier Chaves e Prados, nas coordenadas 21°4'54"S e 44°9'44"W. O clima da região enquadra-se
no tipo Cwb, segundo a classificação de Köppen, ou seja, subtropical moderado úmido, também
chamado tropical de altitude (Silva et al, 2004), com temperatura média dos meses mais quente e
mais frio, respectivamente, de 22 e de 15 °C. Apresenta duas estações bem definidas (verão quente
e úmido e inverno frio e seco), com a precipitação média anual em torno de 1.500 mm. A vegetação
natural é bastante diversificada (Radambrasil, 1983), apresentando vários ecótipos em um raio de 1
km.No talus da escarpa da serra, a Floresta Estacional Semidecidual é a vegetação dominante, mas
nas proximidades são encontradas florestas mistas, com a ocorrência de Araucária. Ao norte e ao
leste, predominam os cerrados (Cerrado Stricto sensu, Campo cerrado e Cerradão) (Silva et al,
2004). A partir de 1.250 m de altitude, no maciço metarenítico, predominam os Campos Rupestres,
caracterizados por apresentar ampla variedade de espécies de Orchidaceae, Bromeliaceae,
Xyridaceaee Velloziaceae(Alves &Kolbek, 1994) se desenvolvendo sobre as rochas e sobre solos
pouco desenvolvidos.
Geologicamente, as litologias da Formação Tiradentes compõem a Serra São de José e
sãoconstituídas por metarenitos puros com níveis ortoconglomeráticos e estruturas preservadas
como ripples(marcas de ondas). Constata as demais formações do Grupo São João Del Rei
porplanos de falha, (Radambrasil, 1983). Saadi (1991) identificou a ação da tectônica ressurgente
nadinâmica da paisagem das adjacências da área estudada, analisando a descrição de um
―Graben‖formado no contato entre os metarenitos da Formação Tiradentes e metassiltitos da
Formação Prados. A região faz parte do Planalto de Andrelândia, caracterizado por colinas com
toposconvexos e tabulares e encostas convexizadas. Elevações metareníticas como a Serra São
Josérepresentam estruturas com vertentes assimétricas, sendo a parte voltada para sudeste e sul
umaescarpa vertical, mostrando os efeitos de basculamento a que foram submetidas
(Radambrasil,1983). Os solos predominantes na região são os Cambissolos cascalhentos, formados
421
a partir daslitologias metassedimentares do Grupo São João Del Rei. Nos topos concordantes do
níveltopográfico regional (em torno de 1.000 m), são encontrados Latossolos formados a partir
demateriais retrabalhados (Muggler, 1998). Argissolos ocorrem em encostas e estão associados
apequenos diques de rochas básicas. Nas partes baixas da paisagem, são encontrados
Gleissolosindiscriminados e Neossolos Flúvicos. No maciço metarenítico e em seus talus,
predominam a floramentos de rochas, Neossolos Litólicos e Neossolos Quartzarênicos. Em áreas do
topo, sãoencontrados solos arenosos com singular alternância de camadas enriquecidas com
matériaorgânica em profundidade (Silva et al, 2004).
Para realização da análise da perda ou acúmulo de solo no leito da Trilha do Carteiro,
utilizou-se o método de cálculo da Área Seccional Transversal (AST), do leito da trilha (COLE,
1983; MARION & OLIVE, 2006), e para um melhor acompanhamento, foram selecionados pontos
a cada 400 metros ao longo da trilha, o que facilita o acompanhamento e acelera o processo de
análise comparativa (COLE, 1983). Porém, para o presente trabalho foram selecionados trechos
específicos dentre os 19 marcados ao longo da trilha. Estes trechos foram escolhidos por
apresentarem importantes variações em relação à compactação, exposição e perda de solo.
A Trilha do Carteiro foi mapeada com o auxílio de um GPS e uma trena de 30 metros, sendo
marcados pontos com intervalos de 400 metros. No total foram marcados 19 pontos, totalizando
6,3km, gerando o trajeto utilizado como atrativo turístico (Fig. 1), em todo o trajeto foram
selecionados três pontos que favorecessem uma análise mais pertinente ao objetivo do trabalho,
sendo estes os pontos 3, 6 e 17.
Figura 01: Imagem orbital do Google Earth™ mostrando o trajeto completo da trilha e os pontos
marcados durante o levantamento.
422
O método do cálculo da AST se baseia em selecionar dois pontos fixos nas laterais da trilha,
de maneira que formem uma linha perpendicular à trilha, para que, com o auxílio de uma trena,
sejam realizados os cálculos de altura da fita em relação ao solo, sendo estas medidas retiradas no
intervalo de 10 centímentros ao longo da fita (Fig. 2). Foi possível gerar gráficos de cortes
transversais ao longo da trilha utilizando uma fórmula descrita por Cole (1983), onde o mesmo é
expresso por:
A = V1+2V2+.......+2Vn+Vn+1x L
2
Onde:
A = Área Seccional Transversal (AST).
V1 - Vn+1 = Medidas verticais começando em V1, e terminando em Vn+1.
L = Intervalo horizontal entre as medidas verticais.
Figura 2: Exemplo de fixação da linha horizontal para cálculo da AST, tendo como ponto fixo piquetes ou caules de
plantas nas laterais da trilha (COLE, 1983).
Para a realização das medidas das taxas de compactação do solo foi utilizado um
penetrômetro de cone, com anel dinamométrico, de marca Solotest.As medições foram realizadas
no leito da Trilha do Carteiro (área impactada) e à 1m de distância de cada borda da mesma (área de
controle), com três repetições de penetrometria para cada local analisado, finalizando um valor
único através de cálculo de média aritmética para cada local escolhido (FIGUEIREDO et al, 2010),
sendo os pontos de coleta de dados os mesmos escolhidos para a realização dos cálculos da AST. A
fim de uma leitura mais fiel dos dados, posicionou-se o penetrômetro verticalmente, pressionando-o
contra o solo de forma contínua até que o cone penetrasse inteiramente no solo. Os dados foram
423
coletados em Kgf (quilograma-força), sendo a resistência de penetração (qc em Kgf/cm²) obtida
dividindo-se a carga de penetração (em Kgf) pela área da base do cone (em cm²). Sendo o diâmetro
do cone 28,4mm, a área da base será 6,33cm² (FIGUEIREDO et al, 2010). Os valores finais foram
transformados em Mpa (megapascal) com a finalidade de padronizar os dados com a esta unidade
de medida, utilizada internacionalmente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A erosão do solo é um importante e significativo indicador da degradação da trilha. A
utilização do método do cálculo da Área Seccional Transversal (AST) é provavelmente o método
replicável mais frequentemente utilizado para monitorar segmentos da trilha afetados por erosão.
Esse método pode ser aplicado sistematicamente em posições fixas para redes inteiras de
monitoramento de trilhas. A erosão ou a deposição de solos e sedimentos pode ser medida com
muito mais precisão e exatidão com esse método, e os dados coletados usando este método são
adequados para os gestores que precisam tomar decisões a respeito da manutenção e conservação
das trilhas monitoradas (JEWELL & HAMMITT, 2000; GUALTIERI-PINTO et al, 2008).
Foram monitorados três diferentes pontos na Trilha do Carteiro. Seu percurso atravessa
diferentes domínios vegetacionais (campo, mata, campo de altitude) e cotas altimétricas,
proporcionando ao visitante uma prazerosa experiência com a natureza local. Os pontos
monitorados foram escolhidos por estarem em trechos com evidência visual de atividade erosiva.
O primeiro trecho selecionado (ponto 3), encontra-se a 700m do início da trilha, e mostrouse o local mais degradado ao longo de toda a trilha. Com o auxílio do método da AST gerou-se um
gráfico demonstrativo do atual estado do leito da trilha (Fig. 3), que, por ter sofrido intenso
processo erosivo histórico, apresenta pronunciado aprofundamento do leito, com taludes laterais de
cerca de 3m de altura, cujo cálculo da perda de solo por aprofundamento da trilha, pelo método de
Cole (1983), foi de 139600 cm². Por conseqüência, verificou-se instabilidade dos taludes laterais,
devido à sua sub-verticalidade e exposição do saprolito.Verificou-se nesse trecho de trilha,uma série
de pequenos deslizamentos de terra (Fig. 4). O referido trecho da Trilha do Carteiro encontra-se
fora da Unidade de Conservação APA Serra São José, e cruza trechos de propriedades particulares,
onde foi possível observar indícios de pisoteio de animais, o que contribui ainda mais os problemas
verificados, cujo resultado pode ser a intensificação da compactação e erosão do solo.
424
0
50
Profundidade (cm)
100
150
200
250
300
350
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
Distância transversal da trilha (cm)
Figura 3: Perfil da Área Seccional Transversal (AST) do ponto 3, conforme Cole (1983).
Figura 4: Deslizamento de terra dos taludes do ponto 3, originados pelo aprofundamento do leito da trilha.
O segundo ponto analisado (ponto 6 na trilha) encontra-se a 1500m do início da trilha. Este
também apresentou avançado estágio de processo erosivo, onde se observou que a profundidade do
leito da trilha alcança 1,58m (Fig. 5), e cujo cálculo da AST apresentou perda de solo da ordem
de18595cm². Contudo, neste trecho a trilha é menos larga e mais profunda, com uma declividade
mais acentuada do que do trecho anterior, propiciando maior concentração do escoamento
425
superficial pluvial. Esse cenário aponta para um provável agravamento da erosão. Neste trecho
verifica-se cobertura pedológica de caráter psamítico, menos coesa e, assim, maior
0
20
Profundidade (cm)
40
60
80
100
120
140
160
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
Distância transversal da trilha (cm)
Figura 5: Área Seccional Transversal (AST) do ponto 6, conforme Cole (1983).
propensão à erosão. O trânsito de animais já não é intenso, pois, entre os pontos 4 e 5 (Fig. 1) existe
um quebra-corpo, numa cerca divisória, impedindo que animais de montaria, por exemplo, ou
outros animais de porte similar, prossigam pela trilha.
No terceiro trecho selecionado (ponto 17) foi possível perceber um padrão diferente dos
demais pontos selecionados. Localiza-se no vale do Córrego do Mangue, no alto da Serra de São
José, em 3/4 do percurso da Trilha do Carteiro. A cobertura pedológica local é pouco desenvolvida,
de caráter psefítico, onde abundam seixos de cascalho angulosos. Contudo, neste trecho também se
verifica ocorrência de erosão no leito da trilha, pois a circulação de pessoas neste trecho parece ser
intensa. O cálculo da AST apresentou a menor perda de solos entre os três pontos analisados neste
trabalho, com 1140cm² de perda de solo. A erosão do solo raso no leito da trilha faz aflorar o
substrato rochoso quartzítico, predominante nesse setor da APA Serra São José. O leito da trilha
apresenta profundidade de cerca de 13 cm (Fig. 6), não sendo maior devido ao afloramento rochoso,
que dificulta a atuação da erosão. Neste local, apesar da declividade suave, o processo de erosão
parece ser intensificado pelo trânsito de pessoas, cujo pisoteio sobre a vegetação rasteira, expôs o
solo, facilitando a atuação da erosão.
426
0
2
Profundidade (cm)
4
6
8
10
12
14
16
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Distância transversal da trilha (cm)
Figura 5: Área Seccional Transversal (AST) do ponto 17, conforme Cole (1983).
Além do cálculo da AST para verificação da perda de solo no leito da trilha, foram efetuadas
medidas de compactação do solo. A compactação é definida como diminuição do volume do solo
ocasionado por compressão, causando um rearranjo mais denso das partículas do solo e conseqüente
redução da porosidade (CURI, 1993). Este processo faz com que o solo fique mais vulnerável a
outros tipos de processos. Por consequência da diminuição das taxas de infiltração, a drenagem
pluvial tende a seguir a o sentido da trilha, assim carreando os sedimentos desagregados do solo.
A retirada da vegetação e o consequente pisoteio dos horizontes superficiais do solo, são os
principais vetores para a intensificação do processo erosivo. Para entender melhor este processo,
procedeu-se o levantamento de dados penetrométricos dentro e fora da trilha, como forma de
comparar as taxas de compactação do solo. Foi percebido que o ponto 3 mostrou-se o mais alterado,
apresentando uma variação de cerca de 35 Mpa entre o leito da trilha e as suas bordas, onde ainda
existe cobertura vegetal (Tabela 1). Por se tratar de um solo de natureza pelítica, tende a sofrer
compactação mais intensa, pois, sendo constituído de partículas menores (silte e argila), a
compactação promove um intenso rearranjamento dessas partículas, resultando na compactação, e,
conseqüente, diminuição da porosidade do solo, cujos desdobramentos originam processos erosivos.
427
Tabela 1: Dados penetrométricosdos pontos selecionados.
Ponto
Leito da trilha
Margem Esquerda
Margem Direita
Selecionado
(MPa)
(MPa)
(MPa)
03
46,4
7,5
6,3
06
6,6
2,4
1,4
17
10,3
3,6
6,4
.
Nos outros dois pontos, 6 e 17, observou-se também uma diferença entre a compactação do
solo dentro e fora da trilha, porém esta compactação foi menos intensa. O caráter psamítico e
psefítico, respectivamente, dos solos desses dois pontos de análise na trilha, de textura grosseira
(areia/cascalho), tendem a sofrer menos o impacto do pisoteio, cujos dados penetrométricos
apresentaram números bem menores, porém, mantendo a tendência de maior compactação no leito
da trilha em relação às suas bordas. Isso sugere que o trânsito de pedestres, animais de montaria,
bicicletas e demais veículos pela trilha, promove progressiva degradação do solo, justificando a
realização de monitoramentos regulares das condições das trilhas da referida área protegida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, percebe-se que é necessário pensar um manejo integrado de toda a trilha,
que abranja não somente problemas como a intensificação dos processos erosivos, mas também
com a dinâmica ecogeossistêmica que circunda todo o percurso da trilha, passível de desequilíbrios
originados a partir da intensificação da utilização e visitação turística da trilha.
Para que a crescente utilização ecogeoturística seja ambiental e economicamente viável, há
de se investir em conservação da trilha.Contudo,tais ações poderiam ser otimizadas, se precedidas
de monitoramento da sua qualidade ambiental, com o intuito de adequá-la para que a visitação
ecogeoturística cause menos impactos. Portanto, um manejo sustentável se faz necessário quando é
perceptível que os níveis de degradação erosiva da trilha tendem a um ambiente de desequilíbrio,
aumentando os impactos geoambientais, podendo alterar seus níveis de dificuldade. No caso dos
trechos escolhidos, os principais problemas constatados foram o aprofundamento do leito da trilha,
sendo que em um dos pontos analisados (ponto 3), verificou-se instabilidade dos taludes laterais,
ocasionando deslizamentos de terra, e outros problemas relacionados, tais como o acúmulo de
sedimentos no leito, que, em períodos chuvosos, tornam-se lamaçais, dificultando, e até impedindo,
a passagem de transeuntes. O equacionamento do problema está no contínuo monitoramento das
condições físicas da trilha, de modo que os dados apurados possam subsidiar as decisões sobre as
intervenções necessárias à correta manutenção das condições de sua utilização pública.
428
Agradecimentos: os autores agradecem a Fapemig pelo suporte financeiro, a UFSJ pelo suporte
logístico, e o IEF-MG pela concessão das licenças de pesquisa na APA Serra São José.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Bras. Ci. Solo, 28: 455-466, 2004.
430
CAMINHOS DOS ENGENHOS: UM PASSEIO TURÍSTICO PELA CIVILIZAÇÃO DO
AÇÚCAR NO BREJO PARAIBANO
Laura Isabel Guimarães de SOUZA
[email protected]
Renata de Sousa CORDEIRO
[email protected]
Roberlândia Rodrigues da COSTA
[email protected]
Resumo
O presente trabalho tem por finalidade divulgar a Civilização do Açúcar Caminhos dos Engenhos,
região do Brejo Paraibano que faz parte da programação da Rota Cultural - Caminhos do Frio, um
roteiro que possibilita uma verdadeira viagem no tempo. Transportando-se até as remotas épocas do
ciclo do açúcar, engenhos de cana em toda a sua ancestralidade em pleno funcionamento, e
possibilita conhecer a produção de rapadura e cachaça, complementando assim um roteiro em
grande estilo, com passeios ecológicos para apreciar a fauna e a flora da região. Esse segmento
incrementa a economia local e oferece novas atividades e sensações a quem visita as cidades,
proporcionando o conhecimento e a participação com a cultura e a gastronomia local. Assim, o
presente estudo tem como objetivo fomentar a pratica ―Caminhos do Engenho‖ nos municípios
pertencente à rota cultural. Entendida, como uma maneira pela qual o individuo conhece e participa
ativamente da cultura local e das transformações que se manifestam ao seu entorno, busca-se então
incentivar a conservar dos bens material e imaterial que decorrem desse processo de
desenvolvimento cultural.
PALAVRAS-CHAVES: Rota Cultura, Açúcar, Historia Regional, Turismo.
Abstract
This paper aims to disseminate the Paths of Civilization Sugar Mills, Brejo region that is part of the
Rota Cultural Programming - Paths Frio, a roadmap that enables a real time travel. Hauling up the
remote to cycle times of sugar, sugar mills across its ancestry in full operation, and allows
understanding the production of molasses and rum, thereby complementing a tour in style with ecotours to enjoy the wildlife and flora. This segment boosts local economy and offers new activities
and feelings to anyone visiting the cities, providing knowledge and involvement with the local
cuisine and culture. Thus, this study aims to encourage the practice "Ingenuity Pathways" in the
431
municipalities belonging to the cultural route. Understood as a way in which the individual knows
and actively participates in the local culture and the transformations that manifest themselves to
their surroundings, seek to encourage then to preserve tangible and intangible assets arising from
this process of cultural development.
KEYWORDS: Route Culture, Sugar, History Regional, Tourism.
INTRODUÇÃO
Historicamente, desde os primórdios o Brejo Paraibano destacou-se economicamente no
cultivo da cana – de - açúcar. Desde meados de 1630 ela foi introduzida na província da Paraíba, em
média 18 engenhos em funcionamento, mas só a partir do século XIX essa cultura passou ser a mais
explorada na região do Brejo Paraibano (ALMEIDA, 1994: 20-21). As implantações dos engenhos
no interior nordestino surgiram bem depois dos engenhos localizados na faixa litorânea. Há
registros da existência de engenhos no Brejo Paraibano desde a segunda metade do século XVIII.
Nesta época os engenhos do brejo seguindo o exemplo dos engenhos do litoral nordestino, mesmo
possuindo pequeno porte deram origem a uma pequena burguesia rural entorno desta atividade
produtiva. Assumindo assim, um importante papel na economia colonial, citamos os engenhos de
Goiamunduba em Bananeiras, Vaga Brava em Areia e Olho D‘Agua de Bujari em Alagoa Nova,
Paraíba.
A civilização dos engenhos do Brejo Paraibano deixou as suas marcas no tempo e espaço,
sobrevivem às diversas transformações ocorridas pelas gerações e permanecendo viva a historia
local na memória e nas construções arquitetônicos. Os edifícios que restaram nesta microrregião são
considerados espécimes da arquitetura dos antigos engenhos de açúcar na Paraíba, que hoje
representam a riqueza da região em determinada época.
Segundo pesquisa feita por Antonio Augusto de Almeida em 1994, existiam
aproximadamente 294 engenhos catalogados no Brejo Paraibano. Como principal produto o açúcar,
sendo logo substituído pela produção de cachaça e rapadura, por estes possuírem um processo de
fabricação mais rápido e rentável (ALMEIDA, 1958: 101).
Atualmente existem 52 engenhos ativos, após 240 anos de sobrevivência (dados do IBGE
de 2000), divididos por municípios: cinco em Alagoa Grande, um em Bananeiras, seis em Alagoa
Nova, dois em Borborema, cinco em Pilões e Serraria, e vinte e oito em areia. Dentre eles só vinte e
cinco produzem aguardente, dezenove fabricam aguardente e rapadura e oito só produzem rapadura,
totalizando 52 engenhos. (Jônatas Rodrigues Pereira)
Marcados pela tradição do cultivo e processamento da cana – de – açúcar, os engenhos
conquistaram o valor histórico e cultural da região, o conjunto das suas edificações (casarões,
432
usinas, currais, casa dos moradores, capelas, senzalas entre outros), justificando como valor
patrimonial tem a cidade de Areia, elevado no ano de 2006, à categoria de Patrimônio Histórico
Nacional, através do tombamento federal, Processo N° 1489-T-02 (MORAIS, 2008: 61).
Neste contexto entende-se por monumento histórico o bem selecionado pelo seu valor de
rememoração, capaz de manter viva a herança cultural de uma comunidade (CHOAY, 2001: 18). E
como afirma José Reginaldo Gonçalves.
―[ ] classificar uma cultura como patrimônio pressupõe que alguém, algum sujeito
individual ou coletivo, esteja agindo em relação a ela como se fosse uma propriedade. De
um ponto de vista nacionalista, apropriar-se de uma cultura nacional significa um
empreendimento no sentido de restabelecer ou defender a integridade e a continuidade de
valores supostamente ameaçados [...]. Uma nação é concebida como legitima proprietária
de sua cultura‖ (GONÇALVES,
: 3)
À vista do acima exposto se propõe que os engenhos não podem desaparecer, uma vez que
marcou no tempo os hábitos, costumes e tradições seculares da herança colonizadora. A essa
Civilização do Açúcar é ampla e difusa em todo estado da Paraíba, abrange toda essa cultura
inclusive expandi-se além desta. Uma vez que, trata-se do berço da civilização no Estado da
Paraíba, o qual teve a sua importância no desenvolvimento dessa atividade econômica no Brasil.
Nos arredores da capital estão cidades – Cabedelo, Lucena, Santa Rita e Conde – que
contribuíram muito no desenvolvimento do ciclo do açúcar no Nordeste. Ainda hoje elas mantêm
equipamentos, serviços e atrativos que remetem ao Século XVIII. As bases socioeconômicas
estruturadas a partir do desenvolvimento do comércio e do acúmulo de riquezas refletiram-se na
arte, cultura e arquitetura local.
O percurso delimitado no roteiro dos engenhos oportuniza o reconhecimento do passado e o
acompanhamento do processo produtivo da cana-de-açúcar local, além de agregar outros elementos
turísticos como as paisagens dos canaviais, Igrejas e Capelas de engenho, plantação de flores,
teatros, museus, sítios históricos, gastronomia, artesanato entre outros. A arquitetura de alguns
engenhos data-se do século XIX,que ainda encontra-se em boas condições de preservação.
As cidades que estão inseridas na rota dos Caminhos dos Engenhos, dispõem de um rico
acervo histórico, cultural e ambiental, apresentando recursos potenciais e infraestrutura viáveis
economicamente para o turismo. Este roteiro é para quem deseja conhecer os principais engenhos
do brejo, elaborado com a parceria entre SEBRAE, PBTUR, prefeituras e donos dos engenhos, com
o intuito de fortalecer o turismo dessa região. Participam do projeto 15 engenhos localizados
principalmente nas cidades de Bananeiras, Pilões, Areia, Alagoa Grande, Alagoa Nova e Serraria
(entre maio e agosto). Passear pela civilização do açúcar, conhecer os engenhos, as suas origens e
433
todo processo de fabricação da cachaça e rapadura, permite o visitante ter oportunidade de esta em
contato com os fatos históricos, e também vivenciar a experiência de épocas passadas.
Diante dessas características, metodologicamente o estudo em tela baseia-se, neste
momento, numa abordagem teórica centrada num enfoque descritivo-reflexivo, como referencial
para a análise do desenvolvimento desse setor o chamado Turismo de Experiência, o novo nicho
que estimulam empresários e gestores locais a inovar seus roteiros e programações. Procurou-se
também pesquisar a História das cidades e das comunidades a partir do materialismo histórico e
dialético, evidenciando o valor simbólico da identidade local.
Para tanto, o turismo é uma atividade multifacetada que se inter-relaciona com diversos
segmentos econômicos e demanda um complexo conjunto de ações setoriais para o seu
desenvolvimento (PLANO NACIONAL DE TURISMO 2007/2010, p. 13). Os vários recursos que
a região do Brejo Paraibano proporciona se transformam em produtos turísticos, mas direcionado
para o desenvolvimento sustentável da atividade, com a preservação e a proteção do patrimônio
natural e cultural, respeitando assim as diversidades regionais.
De acordo com o pensamento dos autores Guerra e Marçal:
O Turismo é uma atividade que pode estar intimamente relacionada ao meio físico, em
especial aquele que está vinculado à exploração das belezas naturais de uma determinada
área, o turismo de aventura, o turismo ecológico, o turismo saúde, o turismo lazer, o
turismo rural, o turismo climático, e hidrotermal etc [...] Tem sido a atividade econômica
que mais tem crescido nas ultimas décadas, acontecendo praticamente em qualquer parte da
superfície terrestre (GUERRA & MARÇAL, 2006, p. 42).
Partindo desse pressuposto temos aqui o turismo de experiência, no qual o turista vivencia o
dia a dia das cidades visitadas, o lazer e a culinária local, sobre tudo é essa interação do turista e o
lugar em que ele visita. Pois o individuo hoje, procura por novos rumos, novas sensações, novas
conhecimentos, quebrando com o tradicional, à busca por experiências únicas e originais.
TURISMO DE EXPERÊNCIA NO BREJO PARAIBANO
Na Região do Brejo Paraibano, o turismo tem cada vez mais sido apontado como um dos
roteiros mais atrativos, pois permite o visitante esta em contato direto com as experiências
cotidianas vivenciadas por cada comunidade. As potencialidades do destino que vem despontando
atualmente reflete um modelo de turismo inovador, competitivo, e sustentável, atendendo as
expectativas do seu publico alvo, e com possibilidade do crescimento econômica em cada
município.
434
Para acompanhar esse segmento se faz necessários que todos os envolvidos com a prática do
turismo (municípios, órgãos e gestores) estejam dispostos para inovar, criar e oferecer produtos e
serviços compatíveis e que satisfaçam às novas necessidades do cliente. Acreditando nessa nova
face da economia, buscar sempre a criatividade e autenticidade na formatação de produtos e
serviços prestados.
Ressaltando o pensamento de Furtado (2001):
Quando a capacidade criativa do homem se volta para a descoberta de suas potencialidades,
e ele se empenha em enriquecer o universo que o gerou, produz-se o que chamamos
desenvolvimento ―Este somente se efetiva quando a acumulação conduz à criação de
valores que se difundem na coletividade‖ (FURTADO,
,p
)
Diante desses aspectos o planejamento para elaboração desses roteiros é voltado para um
segmento de mercado que antes não explorado. Adotados pelo Programa de Regionalização que
valorizam a questão da participação e da articulação entre as distintas regiões. E proporcionar
atrativos turísticos através de roteiros regionais facilitando a divulgação, agregando valor aos
produtos e, principalmente, oportunizando roteiros diversos aos turistas. Tendo como enfoque, cada
município deve participar ativamente da construção do desenvolvimento regional a partir do seu
território, da força e empreendedorismo de sua comunidade, da ação articulada e integrada de sua
administração.
Os Caminhos do Engenho fazem parte do projeto Roteiro Turísticos do Brejo, também
integram o roteiro os Caminhos do Frio desenvolvido pelo SEBRAE. Esse Roteiro surgiu em 2006
envolvendo Prefeituras Municipais, Governo do Estado, Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), Ministério do Turismo e iniciativa privada.
Tal concepção promove o desenvolvimento local, e leva os visitantes a conhecer aspectos
importantes da riquíssima e diversificada cultura paraibana, abrindo caminhos para a existência do
Turismo de Experiência na região, e contribuindo para os avanços e inovações das práticas
turísticas na rota Caminhos dos Engenhos, impulsionando o crescimento desse segmento na região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O reconhecimento dessa atividade turística no núcleo rural e urbano da região do Brejo
Paraíba, demonstra a preocupação em se preservar os diversos monumentos arquitetônicos
tradicionais, sobretudo os engenhos de cachaça e rapadura. Pelo exposto e que foi suscitado, esses
destinos ainda enfrenta a dificuldade da desvalorização desses recursos ambientais, sociais e
culturais.
435
Contudo a demanda e a oferta valoriza esse momento de transição, onde o consumo passa a
ser mais emocional do que racional, cujas empresas terão que agregar seus valores e suas histórias.
Mas para que isso ocorra às instituições promotoras do turismo precisam esta de acordo com as
necessidades locais, e comprometidas para a sustentabilidade local.
Nesta visão, os municípios inseridos no Caminho dos Engenhos contam com as expressões
artístico-culturais de seu povo, das atividades que abrigam e dos inúmeros atrativos promovidos
durante esse percurso, tudo que o destino tem para oferecer. Apenas necessitam de ações de
planejamento que assegurem maior controle desta prática por parte das próprias comunidades e o
apoio ao desenvolvimento deste segmento nas suas localidades.
Acredita-se que é possível existir esse turismo de forma sustentável, cabe aos gestores
responsáveis em se empenharem em criar novos métodos que assegurem a possibilidade desta
participação. Mas são as comunidades locais responsáveis em escolher o que deve ser melhorado
por meio da pratica turística.
Mesmo assim, ainda se mantém viva a tradição da civilização do açúcar o seu cultivo e o
processamento da cana-de-açúcar, por quase dois séculos e meio, e essa tradição produtiva vem
persistindo na região. Não são apenas construções seculares abandonadas, como em muitos casos,
mas sim, sua utilização como recurso dessa atividade turística, que represente a riqueza da região
nordestina em determinada época, convidando a quem visita voltar a experimentar as histórias, as
sensações e as emoções de um período colonial.
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437
MEIO AMBIENTE E TURISMO: AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS NOS MANGUEZAIS DO
MUNICÍPIO DE MARAGOGI – AL
Lydayanne Lilás de Melo NOBRE
[email protected]
Esron PINHO.
[email protected]
Andrea Santana Gomes de MELO
[email protected]
José Jenivaldo de Melo IRMÃO
[email protected]
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo investigar a percepção da população nativa da região de
estudo sobre os principais agentes degradantes ambientais e suas influências na importância e
valoração do turismo. Primeiramente foi feita uma pesquisa de campo nas áreas de manguezais para
verificar as áreas em que estão degradadas, além de observar a intensidade dos agentes degradantes
que influenciam negativamente a preservação do ecossistema manguezal, como também
constatarem se o turismo tem sido um fator degradante para as áreas. No segundo momento foram
elaborados questionários semi-estruturados. Foram aplicados 42 questionários com pessoas nativas
que convivem intensamente com o ecossistema de manguezal, as quais vêm acompanhando a
décadas o desenvolvimento dos manguezais e os fatores que influenciam na sua alteração e
deterioração.e se com qual intensidade e freqüência tais situações ocorrem. Também foram
analisados diferentes tipos de imagens de diversos lugares dos manguezais para a observação e
identificação dos deflagradores de impactos e, com isso, vincular a pesquisa de campo às
observações com a finalidade de comparar os dados e se ter uma noção mais acurada da realidade.
A atividade turística é muito importante para o município, mas o que se verificou é que esta vem
atrelada a degradação ambiental e a própria população tem consciência disto e acham que somente
o poder público tem responsabilidade em preservar o ecossistema de mangue, relatando até que são
estes os responsáveis pela construção de grandes hotéis no lugar antes habitado por manguezais.
Mesmo assim, acreditam que pode haver solução para esta problemática, conservando o que resta,
realizando conscientização e recuperando o que se pode, aproveitando destes para desenvolver no
município um turismo sustentável.
Palavras–chave:Ecossistema, Manguezal, População nativa.
438
Abstract
The present study objective to investigate the perception of the native population of the study area
on the main degrading environmental agents and their influences on the importance of tourism and
valuation. First we made a field research in the areas of mangroves to check the areas where they
are degraded, besides observing the intensity of degrading agents that negatively influence the
preservation of the mangrove ecosystem, but also if they find tourism has been a factor for
degrading areas. In the second phase were prepared semi-structured questionnaires. Forty-two
questionnaires were applied to native people who live intensely with the mangrove ecosystem,
which for decades have been following the development of mangroves and the factors that influence
their deterioration. and change and with what intensity and frequency such situations occur. Were
also analyzed different types of images of various places of mangroves for observation and
identification of triggers impacts and thereby bind the search field to the observations in order to
compare the data and get a more accurate sense of reality. The tourism industry is very important
for the city, but what we found is that this is linked to environmental degradation and the population
is aware of this and think that only the government has a responsibility to preserve the mangrove
ecosystem, reporting until these are responsible for the construction of large hotels in place before
inhabited by mangroves. Still, believe it may be no solution to this problem, conserving what
remains, conducting awareness and salvaging what they can, using these to develop sustainable
tourism in the municipality.
Keywords: Ecosystem, Mangrove, Native.
Introdução
Para as gerações anteriores à década de 1950, meio ambiente era tido como meio de vida
apenas, lugar onde se buscava os recursos para a sobrevivência. Época em que homem e natureza
viviam em harmonia, pois o ambiente era considerado o único provedor da vida, sem o qual esta se
extinguiria. Mas com o tempo as aspirações humanas desvirtuaram o foco até então dado ao meio
ambiente. Este, com isso, tornaram-se meio fornecedor de recursos para o desempenho de funções
não essenciais a vida, mas simplesmente para saciar a comodidade e vaidade humanas.
A verdadeira acepção desse termo não tem apenas relevância conceitual para o mundo
acadêmico e científico. É pressuposto indispensável para a formulação de políticas públicas, para a
tomada de decisões dos mais diversos ramos institucionais que influenciam na qualidade de vida de
nossas futuras gerações, para as aspirações da sociedade que está sempre em busca de soluções para
seus problemas; é determinante intenção para a conceituação dos demais termos, pois tudo parte de
um gênero, do qual derivam espécies.
439
E, além disso, determinar esse conceito é abrir o leque das abrangências que nossos estudos
podem tomar, pois meio ambiente pode perpassar as esferas biológicas e físicas, e alcançar as
culturais, econômicas e sociais. O aterramento de um manguezal afeta não apenas aquele
ecossistema, mas também as pessoas que vivem dele e o modo de vida das pessoas do entorno.
Com isso, os estudos de impactos ambientais não devem ser limitados a elementos físicos e
ecológicos, mas também a conseqüências sócio-econômicas, pois os diversos impactos causados,
direta ou indiretamente, afetam o modo de vida e a situação financeira e de sobrevivência da
sociedade influenciada pelo ecossistema degradado.
Para Lana (2003), uma das conseqüências paradoxais destas atuais normas restritivas seria o
fato de que, uma vez que os manguezais não podem ser legalmente explorados ou utilizados,
costumam ser tratados como recursos sem valor, não havendo interesse das populações locais em
conservá-los.
O que se vislumbra é que o homem busca, de forma direta ou indireta, o uso da natureza, e
que no caso específico dos manguezais, a restrição total ao uso do ecossistema pode
paradoxalmente colocá-los em risco.
O turismo pelas suas características e, em especial, pela sua dependência da conservação
ambiental, encontra dificuldades em sobreviver sem a cooperação entre os setores público, privado
e terceiro setor (Gorni &Dreher, 2010).
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo investigar a percepção da população
nativa da região de estudo, sobre existência da relação entre a preservação ambiental dos mangues e
o possível aumento de capital através do turismo.
Material e Métodos
Primeiramente foi feita uma pesquisa de campo nos entornos dos manguezais para verificar
as áreas em que estão degradadas, além de observar a intensidade dos agentes degradantes que
influenciam negativamente a preservação do ecossistema manguezal, como também constatar se o
turismo tem sido um fator degradante para as áreas.
No segundo momento foram elaborados questionários semi-estruturados para saber da
população nativa entende e identifica os impactos antrópicos, responsáveis pela degradação do meio
ambiente, a correlação com a atividade turística, tão importante no município.
Foram aplicados 42 questionários com pessoas nativas que convivem intensamente com o
ecossistema de manguezal, as quais vêm acompanhando há décadas o desenvolvimento dos
manguezais e os fatores que influenciam na sua alteração e deterioração e com qual intensidade e
freqüência tais situações ocorrem. Essas perguntas foram formuladas de acordo com os fins que se
pretende alcançar, que foi o entendimento dos aspectos sociais, econômicos e ambientais daqueles
440
que vivem no entorno dos referidos manguezais. Por isso, as perguntam foram aplicadas a pessoas
com diferentes níveis sociais intelectuais.
Também foram analisados diferentes tipos de imagens de diversos lugares dos manguezais
para a observação e identificação dos deflagradores de impactos e, com isso, vincular a pesquisa de
campo às observações com a finalidade de comparar os dados e se ter uma noção mais acurada da
realidade.
Nesse sentido, também foram estudadas uma variedade de imagens adquiridas por satélite,
as quais mostraram em parte a ofegante luta pela sobrevivência desse ecossistema literalmente
indispensável à manutenção do equilíbrio ambiental e, conseqüentemente, sócio-econômico,
revelando a dependência desse meio para a manutenção da própria vida. Estas imagens foram
obtidas
da
―APOLO
SATMAPS‖,
ano
,
proveniente
de
http://www.apolo11.com/satmap2_cidades.php?citynum=96, acessado em 27 de janeiro de 2010.
Resultados e Discussão
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2005), o município de Maragogi (centro,
onde fica o manguezal em estudo) está localizado na região norte-nordeste do Estado de Alagoas,
limitando-se a norte com o Estado de Pernambuco, a sul com Japaratinga e com o Oceano
Atlântico, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com Jacuípe e Porto Calvo. A área municipal
ocupa 333,57 km2 (1,20% de AL), inserida na mesoregião do Leste Alagoano e na microregião do
Litoral Norte Alagoano, predominantemente na Folha Sirinhaém (SC.25-V-A-IV) e, parcialmente,
na
Folha
Porto
Calvo
(SC.25-V-C-II),
ambas
na
escala
1:100.000,
editadas
pelo
MINTER/SUDENE, em 1989.
O município de Maragogi está localizado no Litoral Norte do Estado de Alagoas e possui
área de 333,73 quilômetros quadrados.A região Norte de Alagoas é composta por dez municípios:
Paripoeira, Barra de Santo Antônio, São Luiz de Quitunde, Matriz de Camaragibe, Passo de
Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga, Porto Calvo e Maragogi.
É uma região em que predomina a indústria sucro-alcooleira, tendo como mercado crescente
o turismo, especialmente nos municípios à beira mar, com um potencial turístico incontestável,
além de contar com cooperativas agrícolas, que beneficiam a agricultura familiar.
Segundo o último Censo do IBGE 2010, a população de Maragogi é de 28.746 habitantes. A
maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) municipal é proveniente da prestação de serviços,
seguido da agropecuária. Apresenta como principais atividades econômicas: agricultura, pesca e
turismo.
O município de Maragogi integra a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, a
APA Costa dos Corais foi criada em 23 de outubro de 1997 e abrange os Estados de Alagoas e
Pernambuco, com extensão de aproximadamente 150 Km², que se estende de Maceió, em Alagoas,
441
ao município de Rio Formoso, em Pernambuco. A área foi criada para garantir a conservação dos
recifes coralígenos e de arenito, assim como os ambientes costeiros (COSTA DOS CORAIS, 2010).
O Maragogi é um dos principais destinos turísticos de Alagoas depois da capital, no entanto,
são as Galés, arrecifes de coral que, na maré baixa, formam piscinas naturais a aproximadamente 5
km da costa. Possui Área de Preservação Ambiental Costa dos Corais, maior unidade de
conservação marinha do Brasil, as Galés fazem parte da segunda mais extensa barreira coralina do
planeta, estendida ao longo de 135 km, desde Paripueira, em Alagoas, até Tamandaré, em
Pernambuco.
Figura 1– Manguezal degradado do município de Maragogi - AL
Fonte: http://www.panoramio.com/photos/original/2819884.jpg
Nesse mesmo sentido, foi verificado também o tipo de agente, supracitados, que, além de
ocorrerem com mais freqüência, é mais prejudicial ao meio em termos de impactos ambientais.
Com todas as suas experiências, foi identificado entre os pesquisados que 38,1% afirmaram ser o
desmatamento (Fig. 1 e 2), o principal agente que, sob as condições encontradas, revelam um
potencial ofensivo indistintamente maior que os outros pesquisados.
Figura 2– Áreas desmatadas no município de Maragogi - AL
Fonte: Satélite ―APOLO
SATMAPS‖
442
Isso é demonstrado, em parte, pelo avanço da atividade de urbanismo e do turismo nas áreas
de manguezais (Fig. 3).
Figura 3– Área de expansão urbana e turística nos manguezais do município de Maragogi - AL
Fonte: Satélite ―APOLO
SATMAPS‖
Além disso, 76,2% dos entrevistados disseram que o governo e a iniciativa privada não estão
preocupados com a preservação dos manguezais (Gráfico 1), revelando a indiferença desses em
relação a esses ecossistemas. Isso demonstra o total descaso das autoridades locais em reação ao
meio ambiente daquela cidade, pois, além de não existirem dispositivos legais de controle da
urbanização, não há nenhuma preocupação em proteger os ecossistemas costeiros (principalmente
os manguezais). Foi perguntado sobre a relevância em instituir medidas de proteção aos mangues
concluiu-se que 81% tomam os manguezais como de relevante valor ambiental a ponto de a grande
maioria esmagadora da amostra pesquisada achar imprescindível instituir medidas locais de
proteção, como, por exemplo, proibição de crescimento da urbanização e dos esgotos, como mostra
o gráfico 2.
Gráfico 1– Interesse do governo e iniciativa privada locais em relação proteção dos manguezais
Fonte: Autor
443
Gráfico 2– Importância na instituição de medidas de proteção ambiental.
Fonte: Autor
Mas, apesar das considerações importantes acerca dos manguezais feitas pelos pesquisados,
99,9% (Gráfico 3) das pessoas afirmaram não manter nenhuma relação direta de dependência
econômica com os mangues. Segundo eles, suas principais atividades de sustentação familiar são a
pesca e o turismo. Apesar da importância atribuída aos manguezais em relação aos ecossistemas,
85,7% (Gráfico 4) das pessoas pesquisadas revelaram que os manguezais não desempenham
nenhuma relevância econômica em suas famílias, demonstrando uma situação a ser pensada: a
sustentabilidade de algo depende da relação de interesse direto e imediato que se mantêm, e que
suas consequências futuras não são levadas em consideração. Isso mostra que, apesar da
importância percebida dos manguezais, eles não são tratados como essenciais, pois não se têm
nenhuma relação de dependência econômica direta que desencadeie ações que protegem e são
consistentes.
Gráfico 3– Dependência econômica dos nativos em relação aos manguezais.
Fonte: Autor
444
Gráfico 4– Relevância econômica familiar nas famílias.
Fonte: Autor
Em relação à valoração dos manguezais associados à cultura, 52,4% (Gráfico 5) das pessoas
analisadas disseram que existem relações culturais entre a comunidade e os manguezais,
enfatizando a importante influência desses ambientes na formação da comunidade. Mas, em
contraposição a esses pontos de vista, existem os intensos e constantes impactos ambientais
promovidos pela falta de educação ambiental e pela própria inconsciência, idealizados pela ausência
de relação de dependência econômico-social.
Contanto o turismo seja a atividade econômica responsável pela sobrevivência da população
local, 66,67% (Gráfico 6) dos nativos responderam que essa atividade não compensa os impactos
ambientais derivados, pois além de reduzir a própria atividade do turismo, retrai aquilo que mais
atrai o turista que é o meio ambiente em estado natural de conservação e que, por isso, deveria
haver também controles legais no sentido de diminuir a quantidade de turistas nos principais pontos
turistas e até mesmo na cidade, reduzindo assim a carga sobre os manguezais e outros ecossistemas
costeiros.
Gráfico 5– Relevância cultural dos manguezais em relação à população.
Fonte: Autor
445
Gráfico 6– Capacidade de compensação do turismo em relação a suas consequências ambientais.
Fonte: Autor
Conclusões
Constatou-se que o manguezal do município de Maragogi sofre a influência intensa de
diferentes impactos ambientais causados pelo homem e decorrentes de atividades mal planejadas e
mesmo executadas. Entre estes impactos antrópicos foram identificados como atividades
impactantes o processo de urbanização, turismo, lixo e desmatamento.
Verificou-se que o referido ecossistema encontra-se desprotegido com relação aos impactos
causados pelas atividades antrópicas, resultando em fatores degradantes como a erosão e a redução
dos produtos da pesca. Além destes impactos mencionados, o manguezal de Maragogi apresenta
atualmente uma tendência ao aumento da deposição de areias como resultado de intensificação dos
processos erosivos na bacia de drenagem o que em curto prazo poderá levar a extinção deste
ecossistema, assim como toda a fauna e floras típicas deste ambiente.
Sendo assim, as conclusões traduzem uma realidade bem próxima da verdade (a de que os dados
não foram dissimulados por opiniões tendenciosas de partes interessadas da sociedade local). Com
base no exposto acima fica registrado um alerta para que aos órgãos competentes, os pescadores e
catadores, assim como a comunidade do em tono do manguezal de Maragogi, tomem providencias
adequadas a preservação e passem a atuar de forma ambientalmente correta visando o
desenvolvimento sustentável da região.
A atividade turística é muito importante para o município, mas o que se verificou é que esta vem
atrelada a degradação ambiental e a própria população tem consciência disto e acham que somente
o poder público tem responsabilidade em preservar o ecossistema de mangue, relatando até que são
estes os responsáveis pela construção de grandes hotéis no lugar antes habitado por manguezais.
Mesmo assim, acreditam que pode haver solução para esta problemática, conservando o que resta,
realizando conscientização e recuperando o que se pode, aproveitando destes para desenvolver no
município um turismo sustentável.
446
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448
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTÁVEL:
UMA EXPERIÊNCIA COM A COMUNIDADE DE CONCEIÇÃO DOS MARREIROS-BURITI
DOS MONTES/PI
Hildengard da Silva ALVES
[email protected]
Islândia Sousa SILVA (UESPI/PI)
Maíra de Araújo da SILVA
[email protected]
Moniza Rafaela da SILVA
[email protected]
Resumo
O presente estudo descreve a experiência de educação ambiental realizada em Conceição dos
Marreiros por meio da conscientização das necessidades de preservação do patrimônio
socioambiental e cultural local. O povoado de Conceição dos Marreiros está localizado no
município de Buriti dos Montes- PI que dispõe de um atrativo natural de grande relevância para o
desenvolvimento do turismo piauiense, o Cânion do Rio Poti, além de possuir um ecossistema
genuinamente brasileiro: a caatinga. Todavia, há a necessidade de se elaborar estratégias que
possam capacitar os habitantes do povoado, pois com os estudos realizados observou-se que os
residentes não têm informações adequadas para o desenvolvimento ordenado da atividade turística
de forma equilibrada, uma vez que é fundamental o envolvimento da comunidade no processo de
transformação do atrativo, tendo em vista a significância de agente modificador do contexto em que
se encontra o destino.
Palavra-chave: Educação Ambiental; Turismo Sustentável; Conceição dos Marreiros.
Abstract
The present study describes the experience of environmental education accomplished in Conceição
dos Marreiros, through awareness of the needs of social, environmental and preservation of local
culture. The town of Conceição dos Marreiros is located in the city of Buriti dos Montes-PI that has
a natural attraction of great importance for the tourism development of Piauí, the Poti River
Canyon, besides has genuinely Brazilian ecosystems: caatinga. However, there is a need to develop
strategies to empower the villagers, as with the studies showed that residents do not have adequate
information to the orderly development of tourism in a balanced way, since it is crucial involvement
449
community in the transformation process of the appeal in view of the significance of modifier on
the context in which it is the destination.
Keyword: Environmental Education for Sustainable Tourism; Conceição dos Marreiros.
Uma viagem introdutória
Para que o desenvolvimento sustentável perdure no tempo e beneficie a atual e as futuras
gerações, faz-se necessária sabedoria e conhecimento para que as escolhas e decisões tomadas
sejam responsáveis e para que não agravem os problemas que pretendem resolver.
Ignorar as consequências negativas das ações é o maior impasse do desenvolvimento
sustentável. Tal desconhecimento pode produzir a irresponsabilidade das ações voltadas para
resultados imediatos que desprezam os custos de médio e longo prazo.
O desenvolvimento sustentável deve ainda sustentar-se em envolvimentos sociais através de
metodologia de conscientização ambiental atrelado ao processo educativo que fortaleça a
preservação dos recursos naturais e as características culturais.
Partindo dessas premissas realizou-se um trabalho de educação ambiental em Conceição dos
Marreiros que objetivou sensibilizar a comunidade para a importância do patrimônio histórico e
ecológico, possibilitando-lhes acesso à aprendizagem através da vivência e do contato direto com a
natureza. Procurou-se estimular a mudança de atitudes e hábitos através da compreensão dos limites
e potencialidades local, bem como desenvolver a consciência ética, que possibilite as pessoas
entenderem e respeitarem sua cultura e seus atrativos naturais.
Os aspectos históricos do município chamaram atenção por se localizarem estrategicamente
na rota de migração das populações pré-históricas, onde as evidências podem ser observadas nas
gravuras rupestres encravadas no sopé da serra, demonstrando uma ocupação pelos índios Tacarijus,
massacrados nos primeiros anos do século XVII pelos colonizadores que transformaram a região
em fazendas de gado.
A grande quantidade de sítios arqueológicos torna a região um atrativo natural de rara beleza
e expressivo acervo arqueológico a céu aberto que chama a atenção de pesquisadores e curiosos.
Na cidade de Buriti dos Montes encontra-se parte da história da colonização do Piauí
registrada nos casarões de fazendas centenárias, muros e currais de pedra. Além de manifestações
culturais e um rico artesanato, dispondo ainda de atrativos naturais que fazem do local uma
potencialidade turística, em especial, por abrigar o Cânion do Rio Poti, um recurso natural de beleza
cênica que chama a atenção pelos paredões rochosos que margeiam o Rio Poti, que torna a
paisagem deslumbrante e convidativa aos mais aventureiros.
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Considerando estes recursos naturais e culturais foi realizada visita técnica à comunidade de
Conceição dos Marreiros, no intuito de aplicar o projeto de educação ambiental desenvolvido no
curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual do Piauí, o mesmo foi bem aceito pela
comunidade, a qual se mostrou receptiva no que se refere a projetos para a melhoria de seu
ambiente local. Dentre as atividades desenvolvidas pelo projeto, estão:
 Plantio e distribuição de mudas para as famílias da comunidade;
 Palestra sobre a problemática do descarte de embalagens de produtos agropastoris;
 Apresentação de uma peça teatral, que tinha como tema turismo e meio ambiente;
 Brincadeiras e distribuição de cartilhas educativas, cujo conteúdo estava ligado a peça.
Partindo desses pontos, tem-se um direcionamento de como serão aplicadas as estratégias e
abordagens na comunidade quanto à proposta de Educação Ambiental, visto que ―pequenas atitudes
fazem a diferença‖
Turismo sustentável e educação ambiental - um breve debate
As preocupações acerca dos temas ambientais iniciaram-se nas décadas 60 e 70, quando o
homem passou a questionar-se sobre o modelo de crescimento existente e os impactos negativos
que este causava ao meio ambiente. Mas foi somente a partir da década de 80 que surgiu o termo
desenvolvimento sustentável.
O meio ambiente ecologicamente equilibrado foi incluído como direito fundamental entre os
direitos sociais do homem, isso em decorrência direta da Declaração de Estocolmo de 1972, e de
lutas e movimentos sociais do período. Fato esse ainda ampliado pela Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad) realizada no Rio de Janeiro, em
1992, que incluiu em sua Declaração de Princípios a participação da sociedade como o melhor
modo de tratar as questões ambientais.
O debate acerca do Turismo Sustentável é um fenômeno dos anos 90. Segundo
Ruschmann(1997), os conceitos de turismo sustentável e desenvolvimento sustentável estão
intimamente ligados à sustentabilidade do meio ambiente, principalmente nos países menos
desenvolvidos. Seguindo esta linha, Swarbrooke (2000), coloca que o turismo sustentável não é
apenas o contato com meio ambiente, ele também está ligado à viabilidade econômica a longo prazo
e à justiça social, não podendo ser separado do debate mais amplo sobre desenvolvimento
sustentável em geral.
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Essa evolução do pensamento e conscientização do homem quanto às questões ambientais
vem sendo discutidas paralelamente a evolução da prática da Educação Ambiental, pois ambas
estão intimamente ligadas.
Um dos eventos mais importantes que tratam da temática da educação ambiental foi a
Conferência de Tbilisi, realizada na Geórgia em 1977, da qual foi extraída uma Declaração sobre a
Educação Ambiental. Tal documento continha princípios norteadores e estratégias a serem
implementadas quanto à promoção de ações educativas a respeito da conservação do meio
ambiente, compreendendo não apenas o meio natural, mas também aqueles produzidos pela ação
humana.
Na Conferência de Tbilisi, a educação ambiental foi discutida como interdisciplinar e
voltada à resolução de problemas locais, devendo ser integrada na educação formal e informal.
Dentre as medidas adotadas é citado o treinamento de pessoal e a elaboração de material educativo.
Também é reconhecida, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano
(Estocolmo, 1992), a importância da educação para atingir os anseios que elencava no que diz
respeito à conservação do meio ambiente. No seu contexto, a Conferência diz que todos os órgãos e
agências internacionais devem, por meio de acordos, estabelecer ações para a formulação de um
sistema de educação ambiental em nível internacional.
Ainda neste mesmo período ocorreu a Conferência Mundial realizada no Rio de Janeiro,
conhecida como Rio-92, que dentre outros documentos produziu a Agenda 21, onde destinou um
capitulo somente a Educação Ambiental, além de discussões das soluções globais necessárias para o
desenvolvimento sustentável.
Portanto, percebe-se que o agravamento dos problemas socioambientais provocados pela
dinâmica do crescimento econômico, que a globalização impõe, estimula os debates sobre questões
ambientais que são cada vez mais discutidos nas esferas sociais e políticas de diversos países,
fortalecendo dessa forma um desenvolvimento de forma mais sustentável e justo. Para isso são
necessárias mudanças de comportamento individual e coletivo onde as pessoas devem ceder a
estilos de vida menos impactantes.
Interpretação e conscientização ambiental - uma abordagem educacional junto à comunidade
A educação ambiental é uma das ferramentas indispensáveis, utilizada na estratégia de
desenvolvimento do turismo sustentável, pois fortalece e estimular a conscientização da
comunidade no processo de preservação e conservação dos seus recursos naturais e culturais.
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A percepção da valoração das riquezas naturais e culturais perpassa pela forma
interpretativa que é dada a estes recursos, pois através da interpretação ambiental o indivíduo é
estimulado a perceber mais detalhadamente e, consequentemente, valorizá-las, dada a importância
que estes recursos representam no seu cotidiano.
Da mesma visão compartilham Del Rio & Oliveira (1999) e Kuhnen (2001), onde:
[...] a percepção é um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente,
sendo dirigido por dois mecanismos: o sensorial, constituído pelos 5 sentidos; e o
cognitivo, na qual há a contribuição da inteligência, motivação, humores, necessidades,
conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas.
Foto 01, 02 e 03 - Realização de atividades de educação ambiental e integração junto à
comunidade de Conceição dos Marreiros - PI.
Fonte: Acervo pessoal dos Pesquisadores
Para este estudo, levou-se em consideração essa percepção, onde foram estimulados debates
junto à comunidade sobre os atrativos naturais e culturais existentes na localidade, com o intuito de
despertar o sentimento de pertencimento na comunidade, como um item complementar e
indispensável do processo de educação e interpretação ambiental.
Para Delgado (2000:156) in: Serrano (2000), a interpretação ambiental, propõe:
[...] a preparação e a realização de uma série de atividades específicas, dirigidas a um
público ―mutante‖ ou miscelâneo, durante o tempo de sua passagem pelo lugar...tais
atividades, preparadas com o intuito de sensibilizar o público a respeito da importância e
fragilidade dos sistemas visitados, tentam diminuir ou resolver problemas de impacto
decorrentes da presença do turista naquela área especifica ou comunidade, conduzindo a
favor da causa ambientalista e procurando reduzir as interferências obrigatoriamente
provocadas pela presença de pessoas alheias a elas.
Metodologia da Experiência
As ações de motivação e conscientização à preservação dos recursos naturais da região de
Conceição dos Marreiros foram motivadas quando se observou, através de diagnóstico rápido, o
potencial dos aspectos ambientais e culturais que a comunidade se insere, onde se destaca como
sendo uma comunidade com potencial de desenvolvimento de um turismo mais sustentável. Nessa
análise, observou-se também que a percepção da comunidade em relação as suas debilidades,
ameaças, forças e oportunidades do potencial turístico embutido no atrativo Cânion do Rio Poti, não
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eram suficientemente claras a ponto de ser utilizada como estratégia de desenvolvimento do turismo
sustentável local.
Foi traçado como estratégia um trabalho de educação ambiental como mecanismo de
fortalecimento do sentimento de pertencimento cultural e especialmente de conscientização
ambiental que teve como objetivo o intercâmbio de experiências sobre turismo sustentável,
promovida pelos alunos do curso de turismo da Universidade Estadual do Piauí – UESPI junto à
comunidade do povoado de Conceição dos Marreiros, município de Buriti dos Montes-PI.
A experiência baseou-se no Diagnóstico Rápido do potencial turístico natural e cultural da
região, destacando, em especial, o Cânion do Rio Poti, objeto principal de estudo, onde se buscou
destacar os aspectos ecológicos mais relevantes desse atrativo, para que estas informações fossem
utilizadas como ferramentas de conscientização no processo de envolvime
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Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades_ Vol. 4