Uma questão de prioridades “Porque não se tem um pólo universitário em Pombal quando existiu uma instituição de ensino superior que o desejou instalar?” Esta questão, dirigida ao presidente da CM de Pombal, Eng. Narciso Mota (NM), foi formulada pelo meu amigo Fernando Carolino (FC) na edição de “O Eco” da semana passada. Penso que ambos me desculparão a intromissão no vosso diálogo (monólogo?). É óbvio que esta questão veicula a opinião de quem a formula: para FC é importante a existência de um pólo de ensino superior em Pombal. Nesse particular, tanto FC como o NM estão plenamente de acordo! Quem se lembra da última campanha autárquica sabe que o PSD (tal como o PS) defendeu, como prioritária, a vinda para Pombal de tal estabelecimento de ensino. A questão que divide os dois interlocutores prende-se com prazos: para FC tal já deveria ter acontecido; para NM ninguém sabe e presumo que nunca ninguém virá a saber. A minha opinião sobre este assunto é radicalmente distinta e vai de encontro à que foi defendida pela CDU nas autárquicas: a vinda de um pólo de ensino superior para Pombal não é, de maneira nenhuma uma prioridade para o desenvolvimento concelhio. Passo a expor os argumentos da minha tese: 1. Segundo os últimos censos, o país possui cerca de 14% da sua população analfabeta e 50% com habilitações literárias inferiores ou iguais ao primeiro ciclo do ensino básico. Tal facto tem como consequências a baixa produtividade, a fraca participação cívica, os mais tristes comportamentos sociais, etc. No concelho de Pombal os valores revelados nos censos são ainda mais preocupantes! Perante esta triste realidade, e uma vez que a responsabilidade pelo ensino básico é da competência das autarquias, penso ser óbvio que a prioridade deve estar na atenção a dar a este nível de ensino. A propósito, diga-se que um político não se avalia pela sua capacidade de efectuar boas propostas mas sim pela capacidade de estabelecer prioridades e de adequar os recursos à sua execução. 2. O ensino superior em Portugal, depois da enorme explosão verificada nos anos 90, atingiu um período de estabilização, senão mesmo de recessão. Muitas das universidades existentes não conseguem preencher o número de vagas disponíveis e muitos cursos apenas o fazem pois admitem alunos com médias muito inferiores às consideradas adequadas. Assim, seria muito pouco crível que uma instituição de ensino superior investisse num curso de sucesso em Pombal podendo fazê-lo na sua cidade de origem, com muito menos custos. Perspectiva-se, assim, a vinda para Pombal de cursos com capacidade para atrair apenas os piores alunos do país. 3. Uma universidade, por muito que certos autarcas pensem o contrário, não é um barracão onde alguém coloca uma placa de mármore a dizer “Universidade inaugurada pelo Senhor Fulano de Tal…” Uma universidade é uma instituição de ensino que necessita de professores altamente qualificados, alunos motivados, infra-estruturas adequadas, bibliotecas, etc. O investimento envolvido na criação de um pólo universitário de qualidade é muito elevado e dificilmente as instituições que conheço tem capacidade para o fazer. De acordo com a legislação em vigor, uma instituição de ensino superior é financiada em função do número de alunos que tem, o que torna inviável economicamente pólos universitários com uma única licenciatura. A solução que as instituições encontram é a de propor cursos “a granel”, de péssima qualidade, apenas para ir buscar financiamento. É isso que queremos para Pombal? Será que o investimento no ensino tecnológico, que tem na ETAP uma das suas primeiras instituições, não seria prioritário? 4. Finalmente, a título de humor: quem paciência para festas académicas em Pombal? Será que já imaginaram o Nicola cheio de estudantes de capa e batina, a beber desalmadamente e a cantar “a mulher gorda/para mim não me convém/…”? Poupem-nos a tristes espectáculos! Caros FC e NM: sejam racionais nas propostas (o primeiro) e eficazes na gestão do orçamento camarário (o segundo). Os pombalenses agradecem. Adérito Araújo (Publicado no jornal “O Eco” em Outubro de 2002)